apostilado de arquivologia_novo 2012

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Coleção de conhecimentos sobre arquivologia.

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Page 2: Apostilado de Arquivologia_novo 2012

Fundação Universidade Federal do Amapá

MMaaccaappáá –– AAmmaappáá ––

AAmmaazzôônniiaa –– BBrraassiill

11ºº sseemmeessttrree ddee 22001122

APOSTILADO DE

ARQUIVOLOGIA: Guia de

Estudos CURSO BACHARELADO EM HISTÓRIA Org. Prof. Luizel Simões de Brito

Coleção dos conteúdos aplicados nas Disciplina Arquivologia, ministrada para o Curso Bacharelado em História da Fundação Universidade Federal do Amapá, para fins de orientar o aprendizado teórico e as avaliações necessárias, sendo facilitador o Prof. Grad. Luizel Simões de Brito, Assistente II, do quadro efetivo permanente, Secretário Executivo, Registro Profissional 001-SR-MTE/AP.

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"A história é testemunha do passado, luz da verdade, vida da memória, mestra da vida, anunciadora dos tempos antigos."

(Cícero)

"Quando falamos de história, temos o costume de nos refugiar no passado (nos documentos). É neles que se pensa

encontrar o seu começo e o seu fim. Na realidade, é o inverso: a história começa hoje e continua amanhã."

(D. N. Marinotis)

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APRESENTAÇÃO

A cidadania plena ultrapassa o mero conhecimento e respeito aos direitos e deveres individuais, consolidando-se no auto-reconhecimento e no conhecimento do outro, através da identificação sociocultural do grupo em que se vive.

A identidade grupal é alicerçada na memória coletiva, que por sua vez é constituída a partir das memórias individuais que se inter-relacionam. A memória permanece, mesmo que fragmentada, quando transmitida oralmente ou registrada em documentos. Os documentos são, assim, registros históricos, pois através deles a historiografia pode resgatar facetas da memória, tanto individual quanto coletiva.

A documentação oriunda de arquivos pessoais, governamentais ou empresariais, entre outros, constitui o campo de atuação da arquivologia e da história; a primeira direcionada ao seu tratamento documental arquivístico e a segunda, como fonte de pesquisa historiográfica.

Essa co-atuação nos arquivos mostra que é preciso repensar o papel que estes desempenham na produção historiográfica, pois o documento é uma fonte histórica cuja seleção, organização e disponibilização é feita por pessoas que possuem posicionamentos ideológicos (assumidos ou não), que influenciam neste processo, para pessoas que também possuem os seus posicionamentos ideológicos, (igualmente assumidos ou não), os quais também influenciam na historiografia.

Esta problemática é ainda mais complexa diante da chamada revolução documental (o aumento da produção de documentos impressos a partir dos anos 60) e da Nova História, para a qual todo e qualquer documento é uma fonte histórica e não mais apenas os documentos oficiais (governamentais, empresariais, enfim, os documentos formais, conforme a concepção positivista de história).

A preocupação com a revolução documental ocasiona a constatação de que um diálogo interdisciplinar entre a história e a arquivologia é uma necessidade mais do que urgente, pois, se a primeira carece de conhecimento sobre o tratamento dispensado ao documento pelo arquivista, a este falta uma concepção histórica que ultrapasse o “positivismo vulgarizado” (p.18), o qual interfere no seu trabalho e, consequentemente, no do historiador, visto que este, ao desconhecer a atuação arquivística, tende a receber o documento sem

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compreender ou questionar o processo pelo qual o documento passou até chegar as suas mãos.

A contextualização do documento, através do respeito ao princípio da proveniência documental, proposto por Natalis de Wailly em 1841, é fundamental para a produção historiográfica na Nova História, pois “coloca-o em uma série que retrata as atividades desenvolvidas pelo órgão de origem, permitindo ainda uma análise conjuntural do momento e dos motivos de sua geração.” (p. 22). Os documentos gerados, mesmo que sem a intenção de testemunho, no entanto, já o são, visto que são reveladores do pensamento da época em que foram produzidos e da ideologia dos que o produziram, cabendo ao arquivista organizá-los e disponibilizá-los ao historiador e a este analisá-los, deles “extraindo” suas “revelações”, os seus testemunhos...

Se o “documento não é inócuo” (p. 23), também não o são o arquivista e o historiador; ambos precisam adotar uma postura crítica em suas respectivas atuações profissionais, visto que, diante da inesgotável produção documental do mundo pós-moderno, se já não é possível arquivar e preservar todos os documentos, também não é possível descartar o “indescartável”.

É o diálogo interdisciplinar entre a arquivologia e a história que fornecerá a base para a adequação dos arquivos a esta realidade, assim como para a construção historiográfica do cotidiano de hoje, amanhã.

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 8

2. CONCEITOS FUNDAMENTAIS ................................................................................... 11

ARQUIVOLOGIA ............................................................................................................................. 11

INFORMAÇÃO ................................................................................................................................. 11

O Valor da Informação ........................................................................................................ 11

DOCUMENTO.................................................................................................................................. 13

Divisão de Documentos por Natureza ............................................................................ 14

Formato ................................................................................................................................... 15

Espécie .................................................................................................................................... 15

Gênero .................................................................................................................................... 15

Tipo de Documento .............................................................................................................. 15

Valores de Documento ........................................................................................................ 15

DOCUMENTAÇÃO ........................................................................................................................... 16

Importância ........................................................................................................................... 16

Natureza ................................................................................................................................. 16

Finalidade ............................................................................................................................... 16

Características ..................................................................................................................... 17

Normalização ......................................................................................................................... 17

Fases do Processo de Documentação ............................................................................. 17

NÍVEIS DA DOCUMENTAÇÃO NA ORGANIZAÇÃO ..................................................................... 17

Documentação de Nível Estratégico .............................................................................. 17

Documentação de Nível Tático......................................................................................... 17

Documentação de Nével Operacional ............................................................................. 17

3. ARQUIVO E ARQUIVÍSTICA: Evolução Histórica ............................................. 19

O ARQUIVO ................................................................................................................................... 19

Arquivo das Civilizações Clássicas.................................................................................. 20

Arquivos Medievais .............................................................................................................. 21

Arquivo da Idade Moderna............................................................................................... 22

Arquivos da Idade Contemporânea ................................................................................ 24

A ARQUIVÍSTICA ........................................................................................................................ 24

Evolução Histórica .............................................................................................................. 25

4. SISTEMAS NACIONAIS DE ARQUIVOS: A Experiência do Brasil .......... 29

SISTEMAS E POLÍTICAS DE INFORMAÇÃO NA PERSPECTIVA DA UNESCO ......................... 31

A UNESCO e o UNISIST ................................................................................................. 31

O Conceito de NATIS ....................................................................................................... 32

A SISTEMATIZAÇÃO DE ARQUIVOS NO BRASIL ..................................................................... 33

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A Política Nacional de Arquivos no Brasil .................................................................... 34

A Arquivologia no Brasil: breve esboço de um percurso recente ......................... 34

O Sistema Nacional de Arquivos de 1962 ................................................................... 39

O Sistema Nacional de Arquivos de 1978 ................................................................... 43

A Proposta de um Sistema Nacional de Informações Arquivística ..................... 49

O Sistema Nacional de Arquivos de 1994 ................................................................... 50

5. GESTÃO DE DOCUMENTOS: Conceitos, Princípios, Rotinas, etc. ............. 57

A INFORMAÇÃO ARQUIVÍSTICA ............................................................................................... 58

PRINCÍPIOS ARQUIVÍSTICOS .................................................................................................... 59

ESPÉCIE E TIPOLOGIA DOCUMENTAL ....................................................................................... 59

CICLO VITAL DOS DOCUMENTOS (TEORIA DAS 3 IDADES) .................................................... 61

EQUIPE DE TRABALHO ................................................................................................................ 62

A GESTÃO DE DOCUMENTOS SEGUNDO A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA .................................. 64

Etapas de arquivamento .................................................................................................... 65

EMPRÉSTIMO E CONSULTA ......................................................................................................... 65

ANÁLISE, AVALIAÇÃO, SELEÇÃO E ELIMINAÇÃO ..................................................................... 66

VALOR DOS DOCUMENTOS .......................................................................................................... 68

Distinção entre valores primários e secundários ...................................................... 68

Distinção entre valores probatórios e informativos ................................................ 60

DOCUMENTOS RELATIVOS A PESSOAS - SELEÇÃO ESPECIAL E AMOSTRA ESTATÍSTICA ... 70

DOCUMENTOS RELATIVOS A COISAS ......................................................................................... 71

DOCUMENTOS RELATIVOS A FENÔMENOS................................................................................. 71

CONCLUSÕES ................................................................................................................................. 71

6. GESTÃO DE DOCUMENTOS: Operações pela Preservação da Informação

.................................................................................................................................................. 73

MICROFILMAGEM ......................................................................................................................... 73

Filme (rolo) ............................................................................................................................ 73

Jaqueta................................................................................................................................... 73

Microfichas ........................................................................................................................... 74

TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO ................................................................................................. 74

TRANSFERÊNCIA E RECOLHIMENTO .......................................................................................... 74

Tipos de transferência ...................................................................................................... 75

7. TEMPORALIDADE E DESTINAÇÃO DE DOCUMENTOS RELATIVOS ÀS

ATIVIDADES-MEIO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA .................................... 77

INTRODUÇÃO ............................................................................................................................... 77

CONFIGURAÇÃO DA TABELA DE TEMPORALIDADE DOCUMENTAL - TTD.............................. 78

Metodologia para Elaboração da TTD ............................................................................ 81

Aplicação da Tabela de Temporalidade Documental ................................................ 84

ROTINAS PARA DESTINAÇÃO DOS DOCUMENTOS NA FASE CORRENTE ............................... 85

ROTINAS PARA DESTINAÇÃO DOS DOCUMENTOS NA FASE INTERMEDIÁRIAS .................. 85

Alteração do Suporte da Informação........................................................................... 86

Triagem de Documentos em Fase Intermediária ...................................................... 87

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8. ARQUIVO PERMANENTE: O Verdadeiro Arquivo Histórico .......................... 89

ATIVIDADES DE ARRANJO .......................................................................................................... 90

Princípios de arranjo de arquivos ................................................................................... 90

Evolução dos princípios de arranjo ................................................................................. 91

Conclusões finais sobre os princípios de arranjo de documentos ........................ 93

ATIVIDADES DE DESCRIÇÃO E PUBLICAÇÃO ............................................................................. 94

Tipos básicos de instrumentos de pesquisa ................................................................ 95

ISAD(G) – Norma Geral Internacional de descrição arquivística ........................ 96

ISAAR(CPF) – Norma internacional de registro de autoridade arquivística

para entidades coletivas, pessoas e famílias .............................................................. 98

ATIVIDADES DE REFERÊNCIA .................................................................................................... 99

9. ATIVIDADES DE CONSERVAÇÃO ............................................................................100

CONSERVAÇÃO ............................................................................................................................100

Conservação preventiva (restauração) ........................................................................100

Desinfestação .....................................................................................................................102

Limpeza..................................................................................................................................102

Alisamento ............................................................................................................................102

RESTAURAÇÃO ............................................................................................................................102

Banho de gelatina ...............................................................................................................102

Tecido ....................................................................................................................................103

Silking ....................................................................................................................................103

Laminação..............................................................................................................................103

Encapsulação ........................................................................................................................103

REFERÊNCIAS DE PESQUISA

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1| Introdução

Os arquivos permanentes formam-se a partir de documentos recolhidos dos

arquivos correntes, portanto a administração destes influencia diretamente os

arquivos de custódia. Em vista disso, é importantíssima a atuação do arquivista na

fase de administração dos arquivos ativos, incluindo o controle e planejamento da

produção documental.

Os arquivos como instituição tiveram origem na antiga civilização grega. Nos

séculos V e IV a.C. os atenienses guardavam seus documentos de valor no templo

da mãe dos deuses (Metroon). O imperador Justiniano ordenou que se reservasse

um prédio público no qual o magistrado pudesse guardar os documentos,

escolhendo alguém que os mantivesse sob custódia. A finalidade era a de impedir

a adulteração e propiciar as condições necessárias para que pudessem ser

encontrados rapidamente. Entretanto foi a partir da Revolução Francesa que se

reconheceu definitivamente a importância dos documentos para a sociedade.

Desse reconhecimento resultou em três importantes realizações no campo

arquivístico:

a) criação de uma administração nacional e independente dos arquivos;

b) proclamação do princípio de acesso do público aos arquivos;

c) reconhecimento da responsabilidade do Estado pela conservação dos

documentos de valor, do passado.

Várias razões levaram os países a instituir arquivos públicos:

a) necessidade prática de incrementar a eficiência governamental;

b) motivos de ordem cultural, visto que os arquivos públicos constituem uma

espécie de fonte de cultura, ao lado de livros, manuscritos e peças de

museus;

c) razões de interesse pessoal, especialmente na França, que objetivando a

aniquilação de uma sociedade antiga e acreditando que tais documentos

eram imprescindíveis à proteção de direitos feudais e privilégios, criaram

um órgão especial – Agence Temporaire des Titres – cuja atividade

principal era separar, para eliminação, todos os documentos alusivos a tais

direitos e privilégios.

Entretanto, até bem pouco tempo os documentos serviam apenas para

estabelecer ou reivindicar direitos. Quando não atendiam mais a essa exigência,

eram transferidos para museus e bibliotecas, surgindo daí a idéia de arquivo

administrativo e arquivo histórico. Em meados do século XIX começa a

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desabrochar um crescente interesse pelo valor histórico dos arquivos e os

documentos ganham o status de testemunhos da história.

Tem-se então que a cidadania plena ultrapassa o mero conhecimento e

respeito aos direitos e deveres individuais, consolidando-se no auto-

reconhecimento e no conhecimento do outro, através da identificação

sociocultural do grupo em que se vive.

A identidade grupal é alicerçada na memória coletiva, que por sua vez é

constituída a partir das memórias individuais que se inter-relacionam. A memória

permanece, mesmo que fragmentada, quando transmitida oralmente ou

registrada em documentos. Os documentos são, assim, registros históricos, pois

através deles a historiografia pode resgatar facetas da memória, tanto individual

quanto coletiva.

O acervo documental oriundo de arquivos pessoais, governamentais ou

empresariais, entre outros, constitui o campo de atuação da arquivologia e da

história; a primeira direcionada ao seu tratamento documental arquivístico e a

segunda, como fonte de pesquisa historiográfica.

Essa co-atuação nos arquivos mostra que é preciso repensar o papel que

estes desempenham na produção historiográfica, pois o documento é uma fonte

histórica cuja seleção, organização e disponibilização é feita por pessoas que

possuem posicionamentos ideológicos (assumidos ou não), que influenciam neste

processo, para pessoas que também possuem os seus posicionamentos ideológicos,

(igualmente assumidos ou não), os quais também influenciam na historiografia.

Esta problemática é ainda mais complexa diante da chamada revolução

documental (o aumento da produção de documentos impressos a partir dos anos

60) e da Nova História, para a qual todo e qualquer documento é uma fonte

histórica (e não mais apenas os documentos oficiais (governamentais,

empresariais, enfim, os documentos formais, conforme a concepção positivista de

história).

A preocupação com a revolução documental ocasiona a constatação de que um

diálogo interdisciplinar entre a história e a arquivologia é uma necessidade mais do que urgente, pois, se a primeira carece de conhecimento sobre o

tratamento dispensado ao documento pelo arquivista, a este falta uma concepção

histórica que ultrapasse o ―positivismo vulgarizado‖ (p.18), o qual interfere no seu

trabalho e, consequentemente, no do historiador, visto que este, ao desconhecer

a atuação arquivística, tende a receber o documento sem compreender ou

questionar o processo pelo qual o documento passou até chegar as suas mãos.

A contextualização do documento, através do respeito ao princípio da

proveniência documental, proposto por Natalis de Wailly em 1841, é fundamental

para a produção historiográfica na Nova História, pois ―coloca-o em uma série

que retrata as atividades desenvolvidas pelo órgão de origem, permitindo ainda

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uma análise conjuntural do momento e dos motivos de sua geração.‖ (p. 22).

Os documentos gerados, mesmo que sem a intenção de testemunho, no

entanto, já o são, visto que são reveladores do pensamento da época em que

foram produzidos e da ideologia dos que o produziram, cabendo ao arquivista

organizá-los e disponibilizá-los ao historiador e a este analisá-los, deles

―extraindo‖ suas ―revelações‖, os seus testemunhos...etc.

Se o ―documento não é inócuo‖ (p. 23), também não o são o arquivista e o

historiador; ambos precisam adotar uma postura crítica em suas respectivas

atuações profissionais, visto que, diante da inesgotável produção documental do

mundo pós-moderno, se já não é possível arquivar e preservar todos os

documentos, também não é possível descartar o ―indescartável‖.

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P á g i n a | 11

2| Conceitos Fundamentais

ARQUIVOLOGIA

É uma disciplina científica da Ciência da Informação. Com suas bases

modernas fundamentadas na Revolução Francesa, a Arquivologia cuida da

informação que tem por objetivo se tornar evidência, fator de prova de que

algum evento ocorreu. Portanto, a Arquivologia é a ciência que estuda teorias

e métodos de organização e tratamento de documentos, e sua conversão em

potencial de informação.

Por outro lado, Informação e Documento são termos polissêmicos tão

amplamente usados pelos mais diferentes segmentos sociais e profissionais que

se torna quase uma obrigação indicar em que sentido esses termos estão sendo

empregados, ainda que pareça óbvio o seu uso na área de arquivos.

INFORMAÇÃO

É um termo de difícil definição porque permeia toda a estrutura social. Tudo

o que vemos, fazemos, inventamos, construímos, vestimos, falamos, escrevemos,

desenhamos é informação. Usaremos aqui, portanto, uma definição abrangente,

porém menos ampla quanto dizermos que informação é tudo, ou seja, informação

são todos os dados que são organizados e comunicados.

O VALOR DA INFORMAÇÃO

Como é possível admitir que a informação possua valor, é preciso definir

parâmetros capazes de quantificá-lo, o que não é uma tarefa trivial. Uma das

maneiras é realizada por meio dos juízos de valor, que, apesar de serem

indefinidos, consideram que o valor varia de acordo com o tempo e a perspectiva.

Podem, em certos casos, ser negativos, como acontece na sobrecarga de

informação.

Sob esta perspectiva, o valor da informação pode ser classificado nos

seguintes tipos:

a) valor de uso: baseia-se na utilização final que se fará com a informação;

b) valor de troca: é aquele que o usuário está preparado para pagar e variará

de acordo com as leis de oferta e demanda, podendo também ser

denominado de valor de mercado;

c) valor de propriedade: que reflete o custo substitutivo de um bem;

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d) valor de restrição: que surge no caso de informação secreta ou de

interesse comercial, quando o uso fica restrito apenas a algumas pessoas.

Muitas vezes não é possível quantificar o valor da informação estabelecendo

uma equivalência a uma quantia em dinheiro. Por ser um bem abstrato e

intangível, o seu valor estará associado a um contexto. Assim, os valores de uso e

de troca poderão ser úteis na definição de uma provável equivalência monetária.

Por exemplo, uma empresa que atua em bolsa de mercadorias, mais

especificamente no mercado futuro, terá grande interesse em informações

relativas à produção agrícola de um determinado país ou região. Esta empresa,

provavelmente, irá alocar recursos na busca sistemática deste tipo de

informação, que será utilizada na determinação de indicadores de uma tendência

e que fundamentará decisões sobre o tipo de investimento a ser realizado,

caracterizando a importância dos valores de uso e de troca. Considerando que, a

partir delas, poderá ser obtido algum tipo de vantagem competitiva ou de

diferencial de mercado, estas informações assumirão um valor de restrição, para

que se possa preservar o sigilo da aplicação.

Por outro lado, uma organização governamental ou não que realize censos

demográficos, de estilo de vida ou algum outro tipo de pesquisa de

acompanhamento, deverá manter, por razões legais, o armazenamento de dados e

séries históricas sem que haja explícita intenção de exploração ou de uso. Neste

caso, a informação terá um valor de propriedade.

O ponto principal é perceber a informação pertencendo a dois domínios. No

primeiro deles, ela deve atender às necessidades de uma pessoa ou de um grupo.

Nesse caso, a disponibilização da informação deve satisfazer os seguintes

requisitos:

a) ser enviada à pessoa ou ao grupo certos;

b) na hora certa e no local exato;

c) na forma correta.

O segundo domínio é o da organização, que introduz questões a respeito da

determinação do valor da informação. Neste contexto, o valor da informação

está relacionado ao seu papel no processo decisório. A determinação do valor

somente do conteúdo parece um corolário natural do uso da informação como um

insumo da tomada de decisão. Entretanto, ainda que a informação adquira seu

valor a partir de seu papel na tomada de decisão, o produto informacional como

um todo também agrega valor a outras atividades no processamento da

informação.

Cabe então uma questão: a informação possui um valor econômico? Ela terá

valor econômico quando levar à satisfação dos desejos humanos. Uma pequena

parcela da informação disponível constitui-se em produtos finais, ou seja, aqueles

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P á g i n a | 13

que são consumidos diretamente pelas pessoas, cujo valor deriva-se da oferta e

da procura. A porção majoritária, porém, cabe aos bens intermediários, que são

aqueles que conduzem a outros bens e serviços. Neste caso, o valor estará

diretamente relacionado ao dos bens e serviços que deles se utilizam.

Da mesma forma, a informação terá valor econômico para uma organização, se

ela gerar lucros ou for alavancadora de vantagem competitiva. De modo geral, a

percepção de valor pode ser influenciada pelos seguintes fatores:

a) identificação de custos;

b) entendimento da cadeia de uso;

c) incerteza associada ao retorno dos investimentos em informação;

d) dificuldade de se estabelecerem relações causais entre os insumos de

informação e produtos específicos;

e) tradição de se tratar a informação como uma despesa geral;

f) diferentes expectativas e percepções dos usuários;

g) fracasso em reconhecer o potencial comercial e o significado da

informação.

Para concluir, é importante reconhecer que, de modo geral, poucas decisões

são tomadas com informação perfeita, devido a alguma insuficiência de

informação e/ou uma sobrecarga de informação desnecessária. O valor da

informação é uma função do efeito que ela tem sobre o processo decisório.

Se a informação adicional resultar em uma decisão melhor, então ela terá

valor. Caso contrário, ela terá pouco ou nenhum valor.

DOCUMENTO

É um termo também polissêmico, posto que se pode considerar documento

qualquer suporte que registre informações. São documentos as camadas da

terra escavadas pelos geólogos, os vestígios materiais de civilizações

desaparecidas investigados pelos arqueólogos, os registros orais de grupos

humanos estudados pelos antropólogos e sociólogos ou a correspondência, mapas,

contratos privados ou públicos que são estudados pelos historiadores. A partir do

momento em que se fortalece a idéia de que tudo é história, todos os registros,

vestígios, marcas deixadas pela humanidade servem para orientar, provar,

comprovar, informar, refletir sobre determinada coisa ou fato.

Tal abrangência de características físicas e simbólicas dos documentos,

alguns mantidos no seu próprio local de produção (como as montanhas, solos e

edificações), outros reunidos em ambientes diversos do lugar onde foram

produzidos como os museus, as bibliotecas, os arquivos e os centros de

documentação, levou à construção de referenciais teóricos e práticos de

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P á g i n a | 14

organização e preservação.

Os documentos considerados documentos de arquivo, embora possam variar

na forma como se apresentam, ou tecnicamente falando, no suporte em que a

informação está registrada, apresentam algumas características que os diferem

de outros documentos que podem conter informações de valor científico,

histórico e cultural.

Numa visão geral os documentos são produzidos e/ou acumulados

organicamente no decorrer das atividades de uma pessoa, família, instituição

pública ou privada. Ou seja, os documentos são criados uns após os outros, em

decorrência das necessidades sociais e legais da sociedade e do próprio

desenvolvimento da vida pessoal ou institucional. No caso da documentação

privada, um cidadão não terá uma carteira de identidade sem antes ter obtido

uma certidão de nascimento ou, no caso de uma empresa privada, realizar um

contrato de prestação de serviços sem antes ter registrado sua firma num

cartório.

É importante ressaltar a questão da organicidade dos documentos de

arquivos porque isto significa que um documento não tem importância em si

mesmo (embora possa conter informações valiosas), mas no conjunto de

documentos do qual faz parte e que ajuda a explicar, demonstrar, comprovar,

enfim, dar a conhecer a realidade que se busca compreender seja ela a vida de

uma pessoa, as atividades de uma empresa pública ou privada.

Já numa visão específica, os documentos de arquivo são produzidos com

finalidades específicas para atender várias demandas de informações. Embora

alguns documentos possam, no seu momento de criação, já ter um valor histórico

como, por exemplo, a carta deixada pelo presidente Getúlio Vargas em meados do

século 20, no momento do seu suicídio ou um tratado celebrado pelo Brasil,

Argentina e Uruguai para formar uma aliança contra o Paraguai no século 19, a

produção da maioria dos documentos atende primeiramente às necessidades

burocráticas, administrativas ou legais.

DIVISÃO DE DOCUMENTOS POR NATUREZA

Sabemos que as organizações desenvolvem diversas atividades de acordo com

as suas atribuições e os documentos refletem essas atividades, porque fazem

parte do conjunto de seus produtos. Portanto, são variados os tipos de

documentos produzidos e acumulados, bem como são diferentes os formatos, as

espécies, e os gêneros em que se apresentam dentro de um Arquivo. Vamos

conhecê-los:

Natureza Comercial: quando a documentação é principalmente organizada

e utilizada pelas empresas e destina-se a fins extremamente comerciais.

Natureza Científica: a documentação está presente quando seu objetivo

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principal é o de proporcionar informações cientificas ou mesmo didáticas, sem

visar diretamente o lucro.

Natureza Oficial: quando sua organização e utilização têm por finalidade

auxiliar e assessorar a administração pública atual e futura, pressupondo a coleta

e a classificação de documentos oficiais, como por exemplo: leis, decretos,

portarias e demais atos normativos próprios da administração, Federal, Estadual

ou Municipal.

FORMATO

É a configuração física de um suporte de acordo com a sua natureza e o modo

como foi confeccionado:

Exemplos: formulários, ficha, livro, caderno, planta, folha, cartaz,

microficha, rolo, tira de microfilme, mapa.

ESPÉCIE

É a configuração que assume um documento de acordo com a disposição e a

natureza das informações nesse contidas.

Exemplos: ata, relatório, carta, ofício, proposta, diploma, atestado,

requerimento, organograma).

GÊNERO

É a configuração que assume um documento de acordo com o sistema de

signos utilizado na comunicação de seu conteúdo.

Exemplos: audiovisual (filmes); fonográfico (discos, fitas); iconográfico

(obras de arte, fotografias, negativos, slides, microformas; textual (documentos

escritos de uma forma geral); tridimensionais (esculturas, objetos, roupas);

magnéticos/informáticos (disquetes, cd-rom).

TIPO DE DOCUMENTO

É a configuração que assume um documento de acordo com a atividade que a

gerou.

Exemplos: Ata de Posse; Boletim de Notas e Frequência de Alunos,

Regimento de Departamento, Processo de Vida Funcional, Boletim de

Atendimento de Urgência, Prontuário Médico, Tabela Salarial.

VALORES DOS DOCUMENTOS

Os documentos apresentam duas espécies de valores inerentes: o primário e

o secundário.

Valor Primário: estabelecido em função do grau de importância que o

documento a entidade que o acumulou. Este se manifesta sob três diferentes

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P á g i n a | 16

tipos, ou seja:

a) Valor Administrativo: documentos que envolvem política e métodos e que

são necessários para a execução das atividades do órgão. Ex: Planos,

Programas de Trabalho, Relatórios etc;

b) Valor Jurídico ou Legal: documentos que envolvem direitos a curto ou a

longo prazo do Governo ou dos cidadãos, e que produzem efeito perante os

tribunais. Ex: Acordos, Contratos, Convênios etc;

c) Valor Fiscal: documentos que se referem a operações financeiras e à

comprovação de receitas e despesa geradas para atender às exigências

governamentais. Ex: Notas Fiscais, Receitas, Faturas etc.

Valor Secundário: estabelecido em função do grau de importância que o

documento possui para outras entidades e pesquisadores. Subdivide-se em:

a) Valor Histórico Probatório - documentos que retratam a origem,

organização, reforma e história de uma administração. Ex: Atos

Normativos, Exposição de Motivos etc;

b) Valor Histórico Informativo - documentos que, embora recebidos por

uma determinada entidade em função de suas atividades, são valiosos pelas

informações que contém retratando pessoas, fatos ou épocas. Ex: Tabelas

de Recenseamento, Documentos sobre Serviço Militar, Índices de Preços,

Indicadores Econômicos, etc.

DOCUMENTAÇÃO

É um conjunto de técnicas cujo objetivo primordial é a produção,

sistematização, distribuição e utilização de documentos.

IMPORTÂNCIA

Elemento auxiliar do estudo, da pesquisa e do planejamento, em qualquer

campo ou nível, a documentação assume vital importância em nossos dias, haja

vista o aparecimento e desenvolvimento da informática, que pretende colocar à

disposição de todos, principalmente dos administradores, toda sorte de

informações e referências necessárias à tomada de decisão.

NATUREZA

A documentação pode ter natureza comercial, científica ou oficial.

FINALIDADE

Em sentido amplo, reunir e organizar todos os conhecimentos que o homem

adquiriu através dos tempos e com isso permitir sua divulgação e utilização,

proporcionando o desenvolvimento da ciência e da tecnologia. Ou seja, mais

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P á g i n a | 17

restritamente, a finalidade da documentação é a de auxiliar e influir, direta ou

indiretamente, na tomada de decisão pelo administrador, pela autoridade, ou pelo

pesquisador.

CARACTERÍSTICAS

Nos dias atuais a documentação assume uma característica

predominantemente dinâmica, que a impulsiona a alcançar com mais rapidez e

eficácia sua principal finalidade.

NORMALIZAÇÃO

Procura racionalizar a produção, organização e difusão das informações que

se encontram nos vários documentos. Dessa maneira estabelece condições para o

bom andamento da pesquisa, elaboração de projetos, preparação de relatórios,

realização de serviços, obras, etc. O Brasil é representado na Organização

Internacional de Normalização (OIN) pela Associação Brasileira de Normas

Técnicas (ABNT), com sede no Rio de Janeiro.

FASES DO PROCESSO DE DOCUMENTAÇÃO

O processo desenvolve-se em três fases principais:

a) recolhimento: para constituir um serviço de documentação, exige-se

senso de julgamento na escolha de documentos, cultura geral e, além de

discernimento para recolher o que é útil, imparcialidade na seleção de

documentos;

b) leitura: a leitura é fundamental, pois somente a partir dela se poderá

tomar qualquer decisão quanto à utilidade e aplicação dos documentos;

c) classificação: deve seguir uma orientação teórica e, ao mesmo tempo,

antecipar sua utilidade pública.

NÍVEIS DA DOCUMENTAÇÃO NA ORGANIZAÇÃO

É comum considerarmos três níveis de responsabilidade e autoridade, a

saber: o estratégico, o tático e o operacional.

DOCUMENTAÇÃO DE NÍVEL ESTRATÉGICO

É a documentação que retrata as preocupações de longo prazo, de mais alto

nível e que deve conter as informações mais gerais e abrangentes da organização,

cujos efeitos são direcionados aos níveis hierárquicos da alta gerência.

DOCUMENTAÇÃO DE NÍVEL TÁTICO

É a documentação de nível intermediário, tanto em termos hierárquicos,

quanto em termos de gestão da organização. Estes documentos determinam

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"como, quem, quando e onde" para cada grande atividade determinante da

organização (por exemplo: compras, treinamento etc).

Como exemplos de documentos de nível tático, podemos citar: Procedimentos

(ou Manuais de Procedimentos), Plano de Metas, Plano de Cargos e Salários, entre

outros.

DOCUMENTAÇÃO DE NÍVEL OPERACIONAL

É a documentação de nível mais baixo, onde estão as preocupações imediatas,

do curto prazo. Ela contém todos os detalhes e informações técnicas, padrões,

especificações, tabelas etc, para a operação segura dos processos de trabalho.

Como exemplo de documentos de nível operacional, podemos citar: Instruções

de Trabalho, Especificações, Guias de Trabalho, entre outros.

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P á g i n a | 19

3| Arquivo e Arquivística: evolução histórica

O ARQUIVO

Para podermos analisar a evolução histórica dos arquivos, será necessário

estabelecer balizas cronológicas, assim iremos ás origens, desde o nascimento

destes, com as Civilizações Clássicas até aos dias de hoje. Ao longo da História,

que os arquivos se encontraram com diferentes suportes, desde as placas de

argila, do papiro, do papel, entre outros.

Hoje, a variedade de suportes aumentou, o que por sua vez aumentou o

conteúdo destes que se tornou bastante variado. Os arquivos constituem desde

sempre a memória das instituições e das pessoas, e existem desde que o Homem

fixou por escrito as suas relações como ser social.

Vários autores defendem que, a História dos Arquivos não pode ser

considerada à margem da História Geral da que formam parte integrante, tanto

que a sociedade condiciona a sua existência, a sua organização, os seus critérios

de conservação e, mesmo, a sua finalidade. A evolução histórica dos arquivos e do

seu conceito como veremos é paralela ao desenvolvimento das sociedades

humanas.

Assim, os arquivos surgem desde que a escrita começou a estar ao serviço da

sociedade, e terão nascido de forma espontânea no seio das Antigas Civilizações

do Médio Oriente há cerca de seis milênios atrás. O aparecimento da escrita

condicionou o aparecimento dos primeiros Arquivos, de tal forma que desde logo

a humanidade tomou consciência de era necessário conservar os registros

produzidos para mais tarde poderem ser utilizados.

ARQUIVOS DAS CIVILIZAÇÕES CLÁSSICAS

Os Arquivos mais antigos que são conhecidos remontam ao 4º milênio a. C.,

junto das Civilizações do Vale do Nilo e Mesopotâmia. Graças à Arqueologia

foram descobertos, quer em Elba, Lagash, Maari, Ninive, Ugarit, etc. diversos

vestígios dos primeiros Arquivos. Em Elba, por exemplo, encontraram-se

numerosas placas de argila dispostas em estantes de madeira e em distintas

salas, grandes volumes de documentos, missivas governamentais, sentenças

judiciais, cartas, atos privados, etc.

Estes arquivos situavam-se, nesta época em Templos e Palácios, para estarem

mais próximos das classes dirigentes. Há autores que defendem que estas

estruturas se podem já considerar como verdadeiros Arquivos devido ao tipo de

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documentação que lá era conservada.

Descobriu-se que a sua organização tinha já um grau superior, pois

encontraram-se léxicos e catálogos descritivos. Através, também da Arqueologia,

foi possível reconstituir a organização de alguns dos arquivos descobertos, que

demonstraram que estes dispunham já de muitos dos elementos que se iram

tornar clássicos e que ainda hoje são definidos pela Arquivística.

Desde logo, que estes arquivos tiveram grande importância, e constituíam já

um complexo sistema de informação, não sendo concebidos como simples

depósitos de placas de argila, mas como complexas estruturas organizativas e

funcionais.

Aos arquivos desta época podemos apelidá-los de arquivos de palácios ou

arquivos de placas de argila. Tudo indica que alguns dos pressupostos modernos

da Arquivística estavam já patentes nos Arquivos das Civilizações Clássicas.

Arquivos Greco–Romanos

É atribuído a Éfialtes, cerca de 460 a. C., a criação do primeiro arquivo do

mundo grego. Também aqui os arquivos se situavam em templos e em

dependências do Senado, a Sul da Ágora como em Atenas.

Da Grécia Antiga destacam-se os arquivos de Gea e Palas Atenen, por ai se

encontrarem importantes depósitos de documentos, como leis e decretos, atas

judiciais, decretos governamentais, inventários, etc.

Interessante será referir que em Atenas cada magistratura dispunha do seu

Archeion, ou seja o lugar onde se redigem e conservam os documentos expedidos

pelo poder governativo. Este conceito irá ser transmitido ao mundo romano, onde

será conhecido como Archivium. A partir de 350 a. C. aparece-nos o termo

Métrôon que era onde se guardavam leis e decretos governamentais, actas do

Senado, etc., e que funcionava como Arquivo do Estado ateniense. Acredita-se

que um pouco por toda a Grécia haveriam noutras cidades, arquivos civis e

religiosos. Temos, pois, que os arquivos no plano técnico dispunham já de um nível

de maturidade bastante elevado.

Segundo Plutarco, é atribuído a Valerius Publicoa, que exercia a função de

Cônsul em 509 a. C., a criação do primeiro arquivo da Roma antiga. Os arquivos da

Roma antiga seguem de perto os das cidades gregas, continuando na Época

Republicana a funcionar em templos, nomeadamente em Roma, no Templo de

Saturno, junto ao erário público, onde se guardavam as Tabulae Publicae, que

depois se veio a denominar Tabularium, agora situado no Capitólio. O Tabularium,

desempenhava a função de Arquivo Central do Estado, já com a importância de

um grande serviço público. Os documentos diplomáticos eram conservados no

Templo de Júpiter e os testamentos no de Vesta.

Durante a época Imperial, os srinia começaram a especializar-se como

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P á g i n a | 21

srinium a memoria, que estava encarregada de publicar e conservar as ordens do

Imperador, por outro lado, a denominada a libellis, foi criada para atender o

despacho das publicações e consultas elevadas à Corte. A cognitiones ou a

cognitionibus, estava a cargo dos litígios civis e criminais que se apresentavam ao

Imperador.

Haviam ainda os srinia ou rationibus, que tratava das finanças e da

contabilidade Imperial e finalmente a ab epistalis, onde se redigiam as

contestações do Imperador ás consultas formuladas por funcionários e cidadãos.

Sabe-se que cada uma dessas ―repartições‖ tinham os seus próprios arquivos

independentes fisicamente em estantes separadas, onde se aplicava um rigoroso

respeito pela proveniência dos fundos. Um dos grandes feitos dos romanos nesta

área, é o fato de terem instaurado uma verdadeira rede de arquivos, assim um

pouco por todo o Império vamos assistir ao aparecimento de Tabularius nas

cidades provinciais mais importantes, nos quais se recolhia a legislação, a

jurisprudência e a documentação da administração provincial, assim como surge

também os arquivos dos municípios e os arquivos privados, fruto do

desenvolvimento do Direito, e que constituíam um instrumento fundamental para

a garantia da propriedade dos cidadãos. De referir ainda que a organização

romana desenvolveu o conceito da Arquivo Público, pois apesar dos arquivos

centrais terem sido criados para uso estatal, abriram as portas à sociedade,

funcionando como garantia de prova para a reclamação de direitos dos cidadãos.

No âmbito da Organização Arquivística, tivemos grandes progressos, pois os

romanos tinham um grande sentido prático e concediam à administração do

Império uma grande importância, o que levou que muitos dos critérios utilizados

por eles continuam ainda hoje em dia válidos, tanto nas linhas orientadoras da

profissão de arquivista como na configuração da sua rede de arquivos.

A importância concedida à relação entre documento e a entidade produtora

virá, por sua vez a constituir a chave da Arquivística moderna. Também com o

mundo romano assistimos à metamorfose da Arquivística numa disciplina com uma

missão e regras próprias, servida por uma enorme rede de serviços e um corpo

profissional especializado.

Podemos concluir então que, em termos organizacionais os romanos dispõem

já de um desenvolvido sistema público de arquivos, que se denota bem pela

complexidade da sua administração.

ARQUIVOS MEDIEVAIS

Com o advento da Idade Média o Arquivo passa a significar o espaço ou

serviço onde se preservam registros antigos, ou seja começa-se a difundir a ideia

de Arquivo como espaço ou serviço onde se recolhem documentos de valor, por

constituírem prova ou memória de atos ocorridos no passado, sob as designações

de origem Pré-Clássica, como Santuário ou Tesouro.

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P á g i n a | 22

Ao cair o Império Romano vai desaparecer a complexa administração que se

havia desenvolvido até então, onde se vê desaparecer a ideia de saúde pública e

bem comum, aparecendo por sua vez a ideia de vida privada, que se vai converter

no fator predominante desta época.

Do Estado como Respublica passamos ao Estado Propriedade de quem detém

o poder, onde a faculdade ou direito de criar arquivos, só tinham os que detinham

a soberania. Assim desaparece também a noção de Arquivo Público.

Na Idade Média a gestão de documentos vai estar fundamentalmente nas

mãos da Igreja, detentora do ―Saber e da Cultura‖, concentrados em Catedrais e

Mosteiros. Os Arquivos Eclesiásticos vão assim ter a função de guardar e gerir

os títulos de propriedade, quer da Igreja, quer de outras instituições públicas e

particulares.

Apesar disto os Arquivos nesta época recuperam a importância que tinham na

Antiguidade. Sendo que, com o redescobrimento do Direito Romano no Século

XII entramos numa nova fase da história dos arquivos.

Então, a partir do século XIII, começa a ser introduzida a prática dos

registros, que eram livros onde se transcreviam os documentos outorgados por

uma autoridade, ou entidade, nomeadamente nas Chancelarias, e outras

instituições. Nesta época as unidades administrativas destas estruturas

dividiam-se já em secções orgânicas, e com funcionários especializados

(arquivistas) e normas a seguir.

Será importante referir que, a prática arquivística nesta época, não se

confinava só à Europa, conhecendo-se os casos da China e do Mundo Árabe. Com o

Século XIV surgem por toda a Europa vários Arquivos Centrais como o Archivo de la Corona de Aragón em 1318 e o Arquivo da Torre do Tombo em 1325, entre

outros. Ao mesmo tempo dá-se também a descentralização dos arquivos, o que

leva ao aparecimento dos Cartórios Concelhios, é a época de novas tipologias

documentais, como os inventários, dá-se o alargamento ao tipo de documentos a

conservar, como documentos financeiros e historiográficos, etc.

É durante este século que assistimos ao primeiro grande movimento de

nomeação de arquivistas oficiais nas Cortes de Europa. Este movimento, leva a

que os Arquivos sejam encarados de uma forma diferente, contribuído para que a

partir do século XV surjam grandes cronistas oficiais, juntamente com o

aparecimento dos primeiros cultores da crítica filológica e textual.

Como vimos, e ao qual já se havia feito referência, na Idade Média o Arquivo

vai recuperar a sua a importância.

ARQUIVOS DA IDADE MODERNA

Com o século XVI, vemos surgir um novo sistema administrativo, o Estado

Moderno. Absolutista e Centralizador por natureza, contribuirá para a

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concentração dos arquivos, fazendo surgir os primeiros Arquivos de Estado, que

resultam de novas concepções de administração e reformas institucionais. A

criação do Arquivo de Simancas em 1540, em Espanha por ordem de Carlos V,

considerado o Arquivo Moderno do Estado Espanhol, é de fato um sinal bastante

significativo do novo sistema administrativo. Este arquivo é considerado como o

primeiro exemplo de um Arquivo de Estado. Mais tarde, iremos assistir à criação

do Arquivo Secreto do Vaticano em 1611, e ainda na Espanha o Arquivo das

Índias, em 1788, eles também exemplares de Arquivos de Estado.

Será importante referir que, esta centralização dos documentos, irá

provocar ajustamentos metodológicos, sendo frequente a elaboração de normas,

regulando os preceitos de rotina do Arquivista.

Segundo autores como Jean Favier, a noção de Propriedade dos Arquivos foi

substituída pela de Arquivos Públicos depositários dos documentos do Estado e

cuja conservação era ou podia ser de interesse público.

O arquivo vai-se converter num elemento fundamental da administração e a

adquirir uma função predominantemente juridico-politica. Ruiz Rodríguez,

defende que nesta época, se encerra um período da História, em que os Arquivos

tiveram um papel de serviço ás instituições e governos que os fizeram nascer. Em

suma, foram colaboradores dos Estados na administração dos respectivos

territórios.

Este período fica, pois conhecido como a época dos Arquivos de Estado.

Arquivos na Época Contemporânea A partir de 1789, com a Revolução Francesa

iremos assistir a uma verdadeira mudança na História da Europa, que se irá

repercutir na noção e funcionalidade dos Arquivos. Com o advento do Estado de

Direito nasce um novo conceito, a Soberania Nacional. Neste contexto, nascem os

princípios de responsabilidade, de garantia, eficácia e justiça da atuação da

Administração perante os cidadãos.

Associado a isto, o Arquivo passa a ser considerado como Garantia dos

Direitos dos Cidadãos, e Jurisprudência da atuação do Estado. Um dos grandes

marcos, para a História dos Arquivos, é sem sombra de dúvida a fundação de

raiz, logo em 1789, dos Archives Nationales de França, e com eles a já muito

conhecida Lei de 7 Messidor, que sai no Ano II da Revolução, que proclama que os

Arquivos estabelecidos junto da representação nacional eram um depósito

central para toda a República. A esta Lei traz um conceito moderno e liberal de

Arquivo, onde o Arquivo Central do Estado deixou de constituir um privilégio dos

órgãos de poder e passou a ser entendido como Arquivo da Nação aberto ao

cidadão comum.

No século XIX, a política de concentração dos Arquivos vai ser continuada um

pouco por toda a Europa, à exceção da Grã-Bretanha onde o processo vai ser mais

tardio. No início deste século, perante o desenvolvimento do Positivismo, que

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P á g i n a | 24

preconizava a verificação documental ao serviço da análise histórica, contribui

para que os arquivos adquirissem uma posição instrumental relativamente à

Paleografia e à Diplomática. Já na segunda metade deste mesmo século e agora

sob os auspícios do Historicismo os arquivos vão-se transformar em verdadeiros

laboratórios do saber histórico.

ARQUIVOS DA IDADE CONTEMPORÂNEA

Na Época Contemporânea os arquivos vão adquirir dupla dimensão, onde se

por um lado são garantia dos direitos dos cidadãos, por outro conservam e gerem

a memória do passado da nação e por isso vão ser objeto da investigação

histórica.

Bautier defende a ideia de, que até meados do século XX os arquivos

desenvolveram, sobretudo a vertente de conservadores e gestores da memória

do passado, deixando de lado a função de serviço à Administração, que até aí

tinham desempenhado.

No século XX vamos, pois assistir à consolidação do conceito e função de

Arquivo, como conjunto de documentos, independentemente da data, da forma e

do suporte material, produzidos ou recebidos por qualquer pessoa, física ou

moral, ou por qualquer organismo público ou privado no exercício da sua

actividade, conservados pelos seus criadores ou sucessores para as suas próprias

necessidades ou transmitidos a instituições de Arquivos.

A ARQUIVÍSTICA

Segundo a definição que nos é dada pelo Dicionário de Terminologia

Arquivística do Conselho Internacional de Arquivos, ao qual já se fez referencia

neste trabalho, a Arquivística é a disciplina que trata dos aspectos teóricos e

práticos dos arquivos e da sua função.

Assim, vai desenvolver-se a partir da análise, do trabalho de campo e da

investigação sobre as organizações produtoras de documentos, que os reúnem

constituindo arquivos, para fins materiais ou culturais. Temos, pois que a

Arquivística se debruça sobre um dos produtos mais naturais do Homem, os

Arquivos.

A Arquivística estabeleceu princípios essenciais, metodologia e linguagem

próprias, que a faz identificar-se e se distinguir das outras Ciências afins, com

as quais está integrada no conjunto das Ciências da Documentação e da

Informação. O seu objetivo prende-se com a formação, organização e

conservação dos documentos, com a economia de tempo na investigação, economia

de pessoal e no trabalho, e direção do Arquivo.

Nesta perspectiva a Arquivística deve responder com a criação de uma

metodologia própria para que o arquivo possa desempenhar e cumprir os seus

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P á g i n a | 25

objetivos, desenvolver procedimentos e instrumentos de trabalho que permitam

ao Arquivista, conservar, gerir e difundir os documentos de arquivo. Esta

metodologia radical, pois no caráter orgânico do arquivo, e consiste em aplicar o

principio básico, de respeitar a ordem natural de criação dos documentos, a que

chamamos princípio de proveniência ou princípio do respeito pela estrutura dos

fundos.

Em suma, a Arquivística é a Ciência que organiza e torna acessível a

informação documental produzida por uma Organização no desenrolar das suas

relações sociais, a ponto de ser possível conhecer toda a informação que um

documento possa proporcionar.

EVOLUÇÃO HISTÓRICA

A Arquivística nasce na sequência da Revolução Francesa com os novos

serviços de Arquivo que então foram criados e no seio da História Positivista,

fortemente vinculada à Diplomática. Só com a prática da teoria de que os

documentos se devem organizar de acordo com a estrutura da instituição de

onde provêem, a Arquivística se conseguiu autonomizar e tornar-se independente.

Este princípio proveniência é considerado a base desta Ciência.

Estudos apontam que, internacionalmente consensual, a data aceite para o

nascimento da Arquivística, é o dia 24 de Abril de 1841, quando Natalis de Wally

introduziu as normas para a organização dos fundos reunidos nos Arquivos

Nacionais Franceses, de livre acesso de consulta desde a Revolução Francesa.

Mas, o grande marco na evolução da Arquivística pode ser encontrado em

1898, com a publicação do Manual dos Arquivistas Holandeses, por Muller, Feith

e Fruin, onde se abre uma nova era para a disciplina, e que representa a

afirmação e libertação da Arquivística, relativamente ao papel secundário para a

qual tinha sido remetida até então, como veremos mais adiante.

No entanto muito antes, do seu nascimento formal da Arquivística como

disciplina, já existia como prática de sistematização e conservação de fundos

documentais, desde que o Homem criou os primeiros Arquivos, como depósitos

dos testemunhos escritos e como base do seu direito.

Desde a Roma Antiga que, nos encontramos com um método de trabalho, a

que hoje chamamos principio de proveniência, onde os documentos produzidos por

diferentes dependências se conservavam em diferentes galerias do Tabularium e

do Templo de Saturno, mantendo independentes cada um destes fundos, onde em

cada um destes documentos eram já ordenados cronologicamente, formando

séries. No entanto esta prática tinha simplesmente uma orientação lógica, onde

não se pensava num futuro interesse histórico dos documentos nem no

estabelecimento de uma doutrina arquivística.

Com o aparecimento das Chancelarias da Idade Média, e a consequente

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produção e conservação documental, surgem os cartulários onde se copiavam os

documentos recebidos por uma instituição, e os registros. Assistimos a uma

evolução sem sobressaltos na prática arquivística.

Na Idade Moderna, e Ilustração a Arquivística vai evoluir no sentido de

procurar facilitar as técnicas que garantam a organização e conservação dos

depósitos que estão nos arquivos, surgindo para o efeito vários conjuntos de

normas a seguir.

Com, o século XVII veremos proliferar a Literatura Arquivística, aumentando

a sua produção durante o século XVIII, período onde já se discutia os conceitos

para a organização dos arquivos. Paralelamente á emergência deste tipo de

literatura os arquivos, começam a ser consultados por investigadores e eruditos,

tendo em vista a preparação das primeiras histórias cientificas, fenômeno que vai

influenciar a Arquivística no século seguinte.

O papel da Arquivística no século XIX vai ser o de procurar novas teorias,

que facilitem o Arquivo a prestar um bom serviço à História. A mais importante

destas, e que se converterá no principio fundamental da Arquivística, como já se

referiu, vai ser sem dúvida a teoria do principio de proveniência.

A Arquivística vai agora centrar a sua atenção, para a descrição, e para a

elaboração de instrumentos de trabalho que permitam ao historiador encontrar

facilmente a informação de que necessita para investigação.

Surgem, um pouco por todo o lado, Coleções Diplomáticas, Guias, Inventários,

Catálogos e Índices, e muito menos literatura sobre Teoria Arquivística, com

acontecia no século anterior.

Apesar disto, vemos surgir, já desde os finais do século XVIII, por toda a

Europa, Escolas de Formação Profissional de Ensinamentos por Oralidade, o que

representa já a preocupação da Arquivística no campo de formação especializada

dos arquivistas.

Nos finais do século XIX, vamos assistir a um grande marco da evolução da

Arquivística, onde se vai consolidar o Modelo quanto á Origem e Organização dos

Arquivos, o que vai contribuir para que seja criado uma Autoridade Arquivística

Central, resumindo, um órgão que coordene a política relativa aos Arquivos a nível

internacional. Ao mesmo tempo vai-se sentir pela Europa, América e U.R.S.S.

grandes alterações nos campos da Organização e da Política Arquivística. Toda

esta viragem se vai efetuar a partir de 1898, com a edição do Manual dos

Arquivistas Holandeses, que sistematizava a teoria de Natallis de Wally e

fundamentaria as Bases da Arquivística Moderna. É de referir que, na transição

do século XIX para o Século XX, nomeadamente durante o início do segundo se

dará a consolidação definitiva das idéias surgidas na Revolução Francesa quanto

ao Modelo Arquivístico.

Com o século XX, os Arquivos, irão recuperar a sua dimensão administrativa,

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que se irá acentuar nos Anos 30, e se consolidará mais tarde, já nos anos 50,

onde a Arquivística irá desenvolver um sistema para facilitar a Administração nos

momentos mais difíceis, como por exemplo, a Segunda Guerra Mundial.

É precisamente a partir dos Anos 50 que se tenta conciliar as dimensões

tradicionais da Arquivística, a História e a Administração. Surge então no âmbito

da UNESCO, em Agosto de 1950 o Conselho Internacional de Arquivos (CIA), que

vem dar resposta à necessidade de coordenação a nível internacional, da

Arquivística. Com o CIA, vai-se assistir à intensificação da cooperação entre

países, na Organização de Congressos, Mesas Redondas, assim como se

aumentará a publicação de literatura especializada, como a revista Archivium,

que nasce logo em 1951, vemos surgir também as Conferências Internacionais da

Table Ronde des Archives.

Os Anos 60 são envolvidos por preocupações de ordem prática, dando-se uma

acentuação na vertente técnica da Arquivística. O grande marco desta época

acontece em 1964, ano em que é publicado o Elsevier´s Lexicon of Archive

Terminology.

Na década seguinte, por sua vez assiste-se ao aprofundamento das questões

teóricas da Arquivística, que irão contribuir para o seu desenvolvimento

científico. Reforça-se o papel dos profissionais de Arquivo, fazendo surgir as

primeiras Associações de Arquivistas, como a Associação Portuguesa de

Bibliotecários, Arquivistas e Documentalistas (BAD), logo em 1973. E já nos

finais da década, é criado a Programa de Gestão dos Documentos (RAMP), que

assegura a publicação de documentos que abarcam a maior parte dos aspectos da

Arquivística.

Os Anos 70 prendem-se pelo aprofundamento de questões essenciais para a

formulação de um corpo teórico capaz de suportar um fundamentação da

Arquivística. Já com os anos 80 se caminha para a afirmação da Arquivística com

Ciência da Informação, e na procura dos seus fundamentos, que se irá acentuar

nos anos 90.

A Arquivística nos anos 90 entrou numa nova era, onde a grande preocupação

se prendeu e ainda se prende, nos dias de hoje, com a importância da

Informática como meio de gerir novos documentos. Nesta nova era a Arquivística

afirma-se definitivamente como uma Ciência da Informação e se clarificam o seu

objeto e o seu método.

Dentro deste contexto podemos afirmar que a Arquivística é hoje uma

Ciência que procura uma identidade própria que lhe dê autonomia e respeito da

História e da Administração. Os Arquivos de toda as épocas e condições, quer

Históricos quer Administrativos, são por sua vez o seu objeto. Por outro lado a

Arquivística elabora normas e instrumentos de trabalho que permitem ao

Arquivista organizar a documentação e dispô-la ao serviço do utente do Arquivo,

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P á g i n a | 28

assim como deve contribuir para a identificação e valorização Arquivística, criar

normas de reprodução em Arquivos, de instalação, conservação e restauração dos

documentos a cargo dos mesmos.

A gestão de informação, com o advento das novas tecnologias contribuiu para

que a Arquivística adaptasse novas técnicas de trabalho, fazendo com que

entrasse no campo das Ciências da Informação, criando princípios universais

aplicáveis a todos os arquivos do mundo, através da normalização dos seus

princípios orgânico-descritivos, de vocabulário internacional e homologação dos

conteúdos da formação profissional dos Arquivistas.

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4| Sistemas Nacionais de Arquivo: a experiência do Brasil

A história da humanidade compreende as mais diversas classificações da

distribuição da riqueza dos grupos sociais. O imperialismo sempre se impôs ao

direito comum. Foi o que se viu na sociedade feudal, onde senhores de terras

mantinham pobres sob seu domínio, na qualidade de servos e escravos. Também o

foi na sociedade comercial fundada pelas grandes navegações e pelo

mercantilismo, que trouxeram consigo as conquistas d'além mar e a colonização

de continentes inteiros.

Outro exemplo disso foi a sociedade liberal da Revolução Francesa e sua

conseqüente transformação em sociedade industrial, obviamente advinda da

Revolução Industrial. As Guerras Mundiais demonstraram toda a ganância do

homem na busca do aumento dos territórios dominados pelo seu país. As

revoluções antecedentes às Guerras Mundiais demonstraram os primeiros passos

do homem em sua busca do conhecimento, como Napoleão ao estabelecer seu

império e fundando o Arquivo Nacional da França, com a intenção de preservar o

acervo que documentara a história de seu país até então. Da mesma forma, a

Revolução Industrial buscou o conhecimento para construir máquinas mais

eficazes para a mecanização das fábricas.

Quando houve a Guerra de Secessão, os EUA, mesmo sem qualquer

planejamento, armazenaram diversos documentos em um depósito, que mais tarde

foram selecionados, avaliados e classificados por Charles Dewey, formando o

primeiro fundo organizado coerentemente que se tinha conhecimento. A Primeira

Guerra Mundial demonstrou o conhecimento que Adolph Hittler possuía acerca da

importância do saber. Foi isto que o levou a monopolizar os meios de comunicação

e a querer destruir todos os livros, pois sem informações ele não teria a oposição

interna e, sem acervo bibliográfico, ficaria mais fácil manipular as pessoas. A

busca de novos domínios territoriais também trouxe a Segunda Guerra Mundial e

a luta crescente pela obtenção de informações, que já ocorrera na guerra

anterior. O surgimento do socialismo trouxe consigo a Guerra Fria e uma maior

disputa pelo mercado de informações.

O socialismo perdeu todo o seu espaço para o capitalismo e trouxe para a

sociedade do capital um novo conceito de informação: o conceito de informação

global, isto é, a globalização. Tudo isso fez com que informação e história

mantivessem uma estreita ligação e deu ao presente a característica social que

determina o futuro da economia do planeta. Assim, hoje fazemos parte de uma

sociedade dita da informação, pois é ela quem determina o valor de tudo o que se

relaciona com a tecnologia e o conhecimento, os quais trazem embutidos em si as

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determinações de uma economia neoliberal.

Com tudo isso, o arquivo se apresenta, para esta nova realidade, com dois

elementos distintos.

O primeiro elemento essencial refere-se à razão pela qual os materiais foram

produzidos e acumulados. Serão arquivos os documentos criados e acumulados na

consecução de algum objetivo. Em nível governamental, tal objetivo é o

cumprimento de sua finalidade oficial (valor primário). Assim, filmes

cinematográficos, por exemplo, quando produzidos ou recebidos por uma

administração no cumprimento de funções específicas, podem ser considerados

arquivos. Documentos escritos, ainda que classificados como manuscritos

históricos, se tiverem sido produzidos em decorrência de uma atividade

organizada – como por exemplo os de uma igreja, uma empresa, ou mesmo de um

indivíduo – poderão ser considerados arquivos.

O segundo elemento essencial diz respeito aos valores pelos quais os

arquivos são preservados. Para que os documentos sejam arquivados devem ser

preservados por razões outras que não apenas aquelas para as quais foram

criados e acumulados. Essas razões tanto podem ser oficiais quanto culturais.

Serão então preservados para o uso de outros além de seus próprios criadores

(valor secundário).

Devem ainda satisfazer a condição de serem realmente documentos do órgão

que os oferece.

Para que se possa garantir a integridade dos documentos preservados deve-

se mantê-los conservados num todo como documentos do órgão que os produziu,

deve-se ainda guardá-los na sua totalidade, sem mutilação, modificação ou

destruição de parte deles.

Conquanto não haja uma definição de arquivo que possa ser considerada

definitiva, pode-se defini-los como,

os documentos de qualquer instituição pública ou privada que hajam sido

consideradas de valor, merecendo preservação permanente para fins de

referência e de pesquisa e que hajam sido depositados ou selecionados

para depósito, num arquivo permanente. (T.R.Schellenberg).

Ou ainda, segundo Sólon Buck, ex-arquivista dos EUA, assim o definiu:

―Arquivo é o conjunto de documentos oficialmente produzidos e recebidos por um

governo, organização ou firma, no decorrer de suas atividades, arquivados e

conservados por si e seus sucessores para efeitos futuros.‖

Pode-se dizer que a finalidade de um arquivo é a de servir à Administração

e servir à História; e sua função é organizar, guardar, conservar e preservar o

acervo documental para tornar disponível as informações nele contidas.

O art. 2º da Lei 8.159/91 define arquivo da seguinte forma:

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P á g i n a | 31

Consideram-se arquivos, para os fins desta lei, os conjuntos de

documentos produzidos e recebidos por órgãos públicos, instituições de

caráter público e entidades privadas, em decorrência do exercício de

atividades específicas, bem como por pessoa física, qualquer que seja o

suporte da informação ou a natureza dos documentos.

Torna-se então obrigatório, pelo mundo globalizado, a instituição dos

Sistemas Nacionais de Arquivo, conforme as necessidades, as peculiaridades, a

cultura, a memória, enfim, a História de cada Nação.

SISTEMAS E POLÍTICAS DE INFORMAÇÃO NA

PERSPECTIVA DA UNESCO

A UNESCO E O UNISIST

Fundada em 1945, a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência

e Cultura (UNESCO) tem por função primordial ampliar as bases da educação no

mundo, levar os benefícios da ciência a todos os países e fomentar o intercâmbio

e a divulgação cultural. Desde seu início, a UNESCO atua na abordagem de

problemas da informação e da comunicação, ressaltando aspectos relacionados

com as políticas educativas e culturais como fator essencial para o

desenvolvimento. É a partir dos anos sessenta, porém, que a ação da UNESCO

torna-se mais evidente como promotora do debate internacional sobre a

comunicação e a informação. Esta postura coincide, de um lado, com o quadro

histórico no qual a informação passa a ocupar destaque no capitalismo avançado,

evidenciando mais uma variável nas diferenças Norte-Sul. Por outro lado, assinala

a ampliação majoritária, nas Nações Unidas, dos chamados países periféricos.

Na década de 60, a UNESCO e o Conselho Internacional de Associações

Científicas (ICSU) sugerem as bases do Sistema Mundial de Informação

Científica e Tecnológica (UNISlST), discutidas nas XIV (1966) e XV (1968)

Conferências Gerais da entidade. Em 1972, na XVII Conferência Geral da

UNESCO, o programa intergovernamental UNISIST é lançado, apoiado nos

seguintes aspectos:

a importância da cooperação voluntária internacional para a melhoria do

acesso e uso da informação, de forma a contribuir para a superação do

desequilíbrio entre países desenvolvidos e em desenvolvimento;

os países membros deveriam criar organismos nacionais de coordenação

que abordassem os problemas de formulação, planejamento e

coordenação da política nacional de informação;

os comitês nacionais do UNISIST atuariam como elo de ligação entre os

diversos países e o programa.

Conforme assinala GUINCHAT (1984, p. 19),

Page 33: Apostilado de Arquivologia_novo 2012

P á g i n a | 32

orientado de maneira essencialmente prática, o UNISIST não é um

órgão centralizador nem uma estrutura formal, mas um movimento

mundial — tal como ele mesmo se define — orientado para a melhoria da

transferência da informação em três direções‖,

Recomendadas pelo programa:

―a) a disponibilidade e acessibilidade da informação científica,

considerando em particular as dificuldades ligadas aos diferentes

objetivos de níveis de desenvolvimento em diversos países, assim como

outros fatores institucionais;

b) a conectabilidade e a compatibilidade dos sistemas de informação

para um emprego crescente de normas comuns e técnicas modernas de

comunicação;

c) uma seletividade e uma flexibilidade crescente no tratamento e na

distribuição da informação científica e técnica, graças a novos

mecanismos institucionais confiados a diligência das organizações

científicas‖. (UNESCO, 1971, p. 151, tradução nossa).

Na avaliação de PINHEIRO (1994, p. 3), ―os ideais do UNISIST, se

consideradas as injunções políticas e econômico-financeiras que interferem e

regulam o fluxo da informação, tornam-se ingênuos, românticos e utópicos‖.

O CONCEITO DE NATIS

O conceito de NATIS (Sistemas Nacionais de Informação) será um

desdobramento da proposta do UNISIST. Em 1974, a UNESCO organizou em

Paris, de 23 a 27 de setembro, uma Conferência Intergovernamental sobre o

planejamento das infra-estruturas nacionais de documentação, bibliotecas e

arquivos. O evento contou com a cooperação da Federação Internacional de

Documentação (FID), a Federação Internacional de Associações de

Bibliotecários (FIAB) e o Conselho Internacional de Arquivos (CIA). Participaram

da conferência delegados de 86 Estados-Membros, além de organizações

intergovernamentais e não-governamentais internacionais. A conferência foi

convocada ―com vistas a analisar os conceitos gerais, resultantes das conclusões

de conferências regionais sobre planejamento na América Latina, Ásia, África,

Estados Árabes e definir diretrizes gerais da política e a metodologia do

planejamento para aplicá-las aos serviços de documentação, bibliotecas e

arquivos‖. (UNESCO, 1975, p. 10, tradução nossa).

Os três temas principais da Conferência foram: planificação integrada das

infra-estruturas nacionais de documentação, bibliotecas e arquivos; planejamento

da aplicação de tecnologia nos serviços mencionados; planejamento dos recursos

humanos desses serviços.

Entre os resultados da Conferência, destaca-se o apoio ao conceito de

sistema nacional de informação (NATIS), considerado então de especial

importância para os países em desenvolvimento e os desenvolvidos. De acordo

com o Informe Final da reunião, ―o conceito de NATIS implica que a

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P á g i n a | 33

administração central ou local de um Estado deve perseguir uma disponibilidade

máxima de toda informação pertinente, mediante os serviços de documentação,

bibliotecas e arquivos (...) eliminando toda a duplicação de atividades entre

certas classes de serviços através de uma ação planejada (...) provavelmente isto

será mais fácil para os novos países em desenvolvimento que para os antigos, nos

quais há interesses criados (acadêmicos, associações científicas, grupos

industriais) muito fortes‖. (ibid., p. 12, tradução nossa).

Os elementos que deveriam constituir o NATIS são todos os serviços que

intervêm na difusão da informação para todos os setores do país e para as

categorias de usuários. O conceito de NATIS implica conseguir que todos os

usuários em qualquer ramo de atividade recebam a informação necessária,

permitindo-lhes prestar a toda a comunidade a sua máxima contribuição.

Para alcançar tais objetivos, seria necessário preparar um plano nacional de

informação de acordo com a prioridade do planejamento nacional. Este plano

deveria considerar a situação real e os possíveis modos de melhorá-la, analisando

a eficácia e os objetivos de todos os tipos de serviços de informação.

A SISTEMATIZAÇÃO DE ARQUIVOS NO BRASIL

O primeiro esforço de sistematização de terminologia arquivística, no Brasil,

foi apresentado por ocasião do I Congresso Brasileiro de Arquivologia, realizado

no Rio de Janeiro de 15 a 20 de outubro de 1972. Considerando necessário ―criar

uma linguagem uniforme a ser adotada em todo o território nacional, fixar o

sentido exato dos termos técnicos, com vistas a facilitar a comunicação e o

intercâmbio de informações‖ (DANNEMANN et al, 1979, p. 435), um grupo de

arquivistas da Associação dos Arquivistas Brasileiros elaborou uma proposta de

terminologia. Entre os termos apresentados, sistema de arquivos não se

encontra incluído, apesar de alguns membros desse grupo já contarem, à época,

com esta noção norteando suas práticas profissionais. Nesta proposta, o termo

sistema refere-se à ―coordenação das regras empregadas no arranjo dos

documentos‖.

Produzido pelo Curso de Especialização em Arquivologia da Escola de

Biblioteconomia e Documentação da Universidade Federal da Bahia (1989), o

Dicionário de Termos Arquivísticos (1989) não faz referência ao termo.

Segundo PRADO (1977, p. 6), ―sistema é o conjunto de princípios

coordenados entre si, de modo que concorram a um determinado fim‖,

enquanto método ―é justamente a maneira de proceder para atingir esse fim;

é, portanto um plano preestabelecido de colocação de documentos, visando a

facilitar a guarda e pesquisa dos mesmos‖. Apesar do esforço de distinção

entre sistema e método, a autora ressalta que ―em arquivística podemos dizer

que são três os sistemas básicos‖: sistema direto, sistema indireto e sistema

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P á g i n a | 34

semi-indireto em função, nesta ordem, do auxílio de índices.

Ao ressaltarem a elaboração do ―plano de arquivo‖, GOMES e HELLUY (1976,

p. 49) mencionam um ―sistema arquivístico‖ ―como função estrita das

particularidades do serviço considerado‖. Embora sem defini-lo conceitualmente,

considera-se que este sistema depende de fatores como o volume de arquivos

(que leva a organização de sistemas mais ou menos complexos), a freqüência de

consultas e rapidez desejada (―implica o aperfeiçoamento do sistema empregado

e sua sinalização‖), e o tipo de material (―conduz à utilização de uma sinalização

diferente da que seria empregada para fichas ou pastas em papel comum‖).

Observa-se, neste caso, que o ―sistema arquivístico‖ tende a ser associado às

formas de organização física dos documentos.

A POLÍTICA NACIONAL DE ARQUIVO NO BRASIL

Desde o final da década de 50, o Arquivo Nacional vem projetando a

implementação de um sistema composto pelo conjunto de serviços arquivísticos

públicos e privados do país. Nos últimos trinta anos, foram elaborados três

projetos de Sistema Nacional de Arquivos (1962, 1978, 1994). Os de 1962 e 1978

não foram implementados, sendo o de 1993 consubstanciado em Decreto da

Presidência da República de 29 de junho de 1994, posteriormente alterado por

Decreto de 25 de abril de 1995.

Produtos de três momentos distintos do Estado brasileiro — diferenças

menos estruturais que conjunturais — as propostas de Sistema Nacional de

Arquivos apresentam dois aspectos recorrentes: as noções de totalidade e

organização. Em graus diferenciados, os três projetos, liderados pelo Arquivo

Nacional, pressupõem um Sistema Nacional de Arquivos que garanta a

uniformidade técnica de todos os arquivos públicos e privados do país, mediante

normas arquivísticas veiculadas por tal instituição. Por outro lado, a ausência de

políticas públicas na área arquivística parece corresponder à freqüência com que

a noção de Sistema Nacional de Arquivos tem norteado projetos nunca

viabilizados no plano federal, estadual e municipal.

A ARQUIVOLOGIA NO BRASIL: BREVE ESBOÇO DE UM PERCURSO RECENTE

A busca por um Sistema Nacional de Arquivos no Brasil, nos últimos trinta

anos, produz uma dimensão histórica, e nela se insere, na qual o Estado é o seu

monumental cenário, e o Arquivo Nacional, o seu principal personagem. Neste

palco nem sempre iluminado, uma categoria profissional ainda emergente, a dos

arquivistas, é o principal ator, quase um figurante, contido e perifericamente

situado nesta cena.

A vocação autoritária do Estado brasileiro tem sustentado a precária

sobrevivência das diversas instituições públicas voltadas para o patrimônio

documental. Como equipamento governamental, os arquivos públicos brasileiros

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P á g i n a | 35

subsistem como instituições voltadas quase exclusivamente para a guarda de

documentos considerados, na maior parte das vezes sem critérios científicos,

como de valor histórico.

Conforme JARDIM (1993, p. 21),

―os arquivos da América Latina institucionalizaram-se como resultado de

um processo de independência que levou à formação de estados

modernos na região. Sob esta perspectiva, os arquivos foram

considerados repositórios de identidade nacional emergente como

arquivos históricos‖.

Privilegia-se, neste sentido, a dicotomia valor histórico/valor administrativo

dos acervos arquivísticos. Como tal, a monumentalização dos documentos e a

negligência de seus aspectos informacionais têm norteado, com exceções

produzidas a partir dos anos 80, a maioria das nossas instituições arquivísticas

públicas. Suas relações com o conjunto da administração pública são pouco

freqüentes. Isto se dá não apenas nas funções de apoio a pesquisas científicas,

mas também de apoio administrativo ao governo, durante o processo político-

decisório. No tocante ao recolhimento dos documentos produzidos pela

administração pública, a atuação dos arquivos públicos têm-se caracterizado, de

maneira geral, pela passividade.

Deficiências quantitativas e qualitativas de recursos humanos, limitações de

espaço físico, instalações físicas impróprias e a ausência de tecnologias

adequadas favorecem este quadro. O acesso do cidadão à informação

governamental com objetivos científicos ou de comprovação de direitos

mostra-se, portanto, extremamente limitado. Esta situação pode ser ilustrada

com a pesquisa realizada por técnicos da Divisão de Pré-Arquivo do Arquivo

Nacional em 1989, abrangendo 309 depósitos de documentos em 48 órgãos da

administração federal direta, nas cidades do Rio de Janeiro e em Brasília. Os

resultados indicaram a existência de 106.405 metros lineares nestes órgãos, do

período de 1754 a 1989, sendo 62.206 metros lineares no Rio de Janeiro e

44.199 em Brasília.

Atualmente o Arquivo Nacional armazena 26 quilômetros de documentos no

Rio de Janeiro e 14 quilômetros em Brasília. Este quadro detectado no plano

federal pode ser reproduzido, em menor escala, nos planos estaduais e

municipais. Uma cidade com a relevância histórica, a população e a complexidade

administrativa do Rio de Janeiro conta em seu Arquivo Público com cerca de

1.200 metros lineares de documentos, dos quais apenas 300 metros lineares são

objeto de algum tipo de controle físico e intelectual que permita sua utilização

pelo público.

A outra face da moeda são os serviços arquivísticos governamentais, a

maioria desprovida de padrões básicos de gerenciamento da informação

arquivística. Tais serviços encontram-se, via de regra, deslocados do processo

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P á g i n a | 36

político-decisório. Seus recursos humanos tendem a uma baixa produtividade,

agravada pela escassa formação acadêmica e praticamente nenhuma

especialização em administração arquivística. A inexistência de programas de

gestão da informação arquivística resulta em áreas de armazenagem saturadas

de documentos acumulados desnecessariamente, além de equipamentos

inadequados.

De maneira geral, os documentos são acumulados ou eliminados sem ter em

conta critérios de avaliação e seleção documental. As perspectivas de melhoria

desses serviços têm levado a se considerar recursos informáticos como sinônimo

imediato de modernidade, o que acaba não ocorrendo por razões diversas,

inclusive a ausência de parâmetros teóricos arquivísticos em tais projetos. As

deficiências no processamento das informações, aliadas às restrições de consulta

e às condições físicas dos arquivos, limitam consideravelmente as possibilidades

de acesso à informação por parte do administrador e do cidadão.

Os investimentos governamentais em serviços de informação,

particularmente após os anos 60, não resultaram de políticas públicas na área. No

caso específico dos arquivos, jamais se desenvolveram esforços voltados para a

implementação de políticas nacionais de arquivos.

A partir dos anos 80, o tema passa a ser objeto de reflexão, promovida pelo

Arquivo Nacional em função da perspectiva de uma Lei Nacional de Arquivos.

Temos então um quadro no qual o Estado não conhece a si mesmo, dada a

fragilidade da maior parte das suas estruturas organizacionais voltadas à

informação. No caso específico dos serviços e instituições arquivísticas

governamentais, a sua trajetória tem-se dado na periferia do Estado, excluídos

da sua própria vocação. Por outro lado e em conseqüência disso, a sociedade não

dispõe de um dos mecanismos mais fundamentais para controle do Estado: a

informação. A opacidade dos arquivos públicos tem resistido aos diversos

projetos de reforma do Estado, quando a sua exclusão é sempre mantida. A

invisibilidade social daí decorrente acentua ainda mais a sua sobrevida.

A história dos arquivos e da Arquivologia demonstra, no plano internacional, o

papel das instituições arquivísticas públicas como espaços pioneiros de produção

de conhecimento arquivístico. A partir da primeira metade do século XIX, as

escolas européias de Arquivologia têm servido como instrumentos para a

formação de quadros para tais instituições. A vocação atual das instituições

acadêmicas na área como centros de produção de conhecimento ainda tende a ser

ligeiramente secundária em relação às instituições arquivísticas públicas.

De qualquer forma — cabe assinalar — trata-se de uma Arquivologia voltada

prioritariamente para os arquivos de terceira idade (permanente) e de natureza

pública. Embora reconhecendo-se a teoria das três idades nas suas implicações

jurídico-operacionais, o conhecimento arquivístico nos Estados Unidos e Europa é

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P á g i n a | 37

produzido e ensinado privilegiando-se o universo dos arquivos históricos. Pouco

reconhecida pelos arquivistas europeus, a Gestão de Documentos tem seu espaço

demarcado e diferenciado da Arquivologia no Canadá e Estados Unidos. Persiste

ainda, nestes dois países, a distinção entre o records manager (voltado para as

atividades que envolvem da produção, arquivamento corrente e intermediário até

a eliminação ou recolhimento dos documentos) e o archivist (voltado para a

administração de arquivos permanentes).

As novas tecnologias e sua aplicação na produção, circulação, preservação e

uso social da informação vêm confrontando a Arquivologia com novas abordagens

e objetos. Suas especificidades como disciplina científica autônoma e

interdisciplinar — inserida no âmbito de uma Ciência ou Ciências da Informação

— ganham espaço nos debates internacionais dos anos 90 e apontam para a

necessidade de se ampliar a pesquisa na área e discutir o papel da Arquivologia,

do arquivista e das instituições arquivísticas públicas nas chamadas sociedades

da informação.

Como área de conhecimento, a Arquivologia no Brasil mostra-se ainda

incipiente, apesar de avanços significativos nos últimos vinte anos. As

primeiras iniciativas para a divulgação de uma literatura arquivística internacional

no Brasil devem-se ao Arquivo Nacional, quando dirigido por José Honório

Rodrigues.

Em 1971, diversos profissionais em atuação, sobretudo em agências do

Estado, mobilizaram-se, no Rio de Janeiro, pela criação da Associação dos

Arquivistas Brasileiros (AAB). Uma das marcas iniciais da AAB, ou seja, suas

relações viscerais com o Estado, evidencia-se, por exemplo, no fato de, até o

final dos anos 70, a AAB ter sua sede no Arquivo Nacional.

A AAB desempenha, a partir da sua criação, um papel relevante na ampliação

da Arquivologia no Brasil. Esta atuação se expressa, por exemplo, ao iniciar, em

1972, a promoção dos Congressos Brasileiros de Arquivologia, ao liderar os

esforços para a criação do curso universitário de Arquivologia (1974) e a

regulamentação da profissão (1978), ao publicar (a partir de 1971) o primeiro

periódico voltado para a área no Brasil, a revista ―Arquivo e Administração‖.

Na segunda metade dos anos 70, são criados três cursos de graduação em

Arquivologia em universidades federais em que pese então o frágil

desenvolvimento cognitivo da área no Brasil. Encontra-se, provavelmente, na

precipitação deste processo, as raízes dos problemas atuais de ensino e pesquisa

em Arquivologia nas universidades brasileiras.

Neste quadro, a regulamentação da profissão de arquivista e técnico de

arquivo não foi menos precipitada, gerando mecanismos de exclusão e inclusão no

exercício da profissão. Este processo se deu em relação às demandas

quantitativas do mercado e às dificuldades de atender às necessidades de um

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P á g i n a | 38

país da extensão do Brasil, formando-se apenas algumas dezenas de profissionais

no Rio de Janeiro e no interior do Rio Grande do Sul.

Em relação ao projeto que culminou com a instituição do Sistema Nacional de

Arquivos – SINAR, em 1978, a AAB protagonizou, ao contrário dos anos 90, a

pressão pela sua aprovação, ainda que criticando a versão final. Projeto relevante

para a AAB, o Sistema Nacional de Arquivos significava também a possibilidade

de garantir ao profissional em emergência um mercado promissor: o Estado.

Percebe-se, portanto, um panorama no qual o Estado brasileiro, tão

negligente em relação à produção e uso dos seus estoques informacionais, e ao

patrimônio documental, acolhe no seu interior, em pleno autoritarismo, as

demandas de espaço cognitivo e institucionais de uma área socialmente pouco

reconhecida. No caso do Sistema Nacional de Arquivos de 1978, o Estado o

acolhe imprimindo-lhe uma feição legal-institucional, para posteriormente ignorá-

lo.

A chamada ‗modernização‘ do Arquivo Nacional nos anos 80 reforça a

liderança da instituição entre os arquivos públicos do país e a comunidade

profissional. Paralelamente, a AAB perde parte significativa do vigor com que

atuava nos anos 70.

Num primeiro momento, as experiências desenvolvidas pelo Arquivo Nacional

geraram um conjunto de metodologias, divulgadas em congressos, seminários e

mediante a publicação de manuais de trabalho. No final dos anos 80, reduz-se

significativamente a publicação de trabalhos técnico-científicos produzidos pelo

Arquivo Nacional.

No mesmo período, diversas instituições arquivísticas públicas estaduais

(Arquivo Público do Estado de São Paulo, Arquivo Público do Distrito Federal

etc.) e municipais (Arquivo Municipal de Rio Claro, Arquivo Municipal de São Paulo

etc.) desenvolveram projetos com resultados significativos, expostos à

comunidade profissional em congressos e publicações.

A esta altura, já se encontravam consolidadas iniciativas desenvolvidas a

partir dos anos 70 em relação a arquivos privados de valor permanente. São os

casos, por exemplo, do Centro de Pesquisa e Documentação em História

Contemporânea do Brasil (CPDOC) da Fundação Getúlio Vargas e do Arquivo

Edgar Leuenroth da Universidade de Campinas. As soluções metodológicas e

institucionais daí decorrentes forneceram referências a projetos semelhantes. A

publicação dos manuais de PAES (1986) e BELLOTTO (1991) veio contribuir para

a redução das lacunas existentes quanto a este tipo de literatura no Brasil.

A partir de meados dos anos 80, a criação da graduação em Arquivologia da

Universidade de Brasília e o desenvolvimento de alguns cursos de especialização

em outras universidades públicas ampliam o leque de possibilidades de formação

profissional. Nos termos da legislação, porém, ao especialista não é facultado o

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P á g i n a | 39

exercício da profissão, bem como ao contingente de profissionais que, embora

graduados em outras áreas, passaram a desenvolver funções arquivísticas em

arquivos públicos.

Algumas poucas exceções à parte, as universidades que oferecem cursos de

Arquivologia não produzem pesquisas na área. Poucos docentes publicam e, em

termos de titulação, é residual a quantidade de mestres e doutores. Tendo em

vista a composição dos corpos docentes desses cursos — em grande parte ex-

alunos imediatamente alçados à condição docente — muitos professores se

ressentem da falta de experiência no campo arquivístico. Cabe observar que, nos

últimos anos, o único periódico especializado em Arquivologia, publicado pela

AAB, esteve desativado ou com sua periodicidade comprometida. Por outro lado,

as alternativas de pós-graduação stricto sensu limitam-se a aqueles programas

cujas áreas de concentração possam, eventualmente, acolher projetos de

pesquisa na área.

Constata-se, porém, uma demanda crescente por parte do profissional de

Arquivologia em direção à pós-graduação em áreas como Ciência da Informação,

Administração e História.

O SISTEMA NACIONAL DE ARQUIVOS DE 1962

O primeiro projeto de Sistema Nacional de Arquivos encontra suas bases nas

propostas de reformas estruturais do Arquivo Nacional, sugeridas por José

Honório Rodrigues ao assumir a Direção-Geral da instituição a partir de 1958.

Após uma experiência de um ano à frente da instituição e tendo analisado os

relatórios dos ex-diretores desde 1844, Rodrigues elabora um exaustivo

relatório sobre o Arquivo Nacional.

Neste documento, fica evidente o conjunto de limitações da instituição à sua

estrutura organizacional, recursos humanos, instalações físicas, orçamento,

recolhimentos, processamento técnico, acesso etc. RODRIGUES (1959) propõe, a

partir daí, diversas ações que, sob sua perspectiva, permitiriam superar a

situação diagnosticada, tornando o Arquivo Nacional mais compatível com os

modelos internacionalmente consagrados. Ressaltando a necessidade de se

reconhecer a função administrativa do Arquivo Nacional, rompendo com a

exclusividade da função de pesquisa histórica, então privilegiada, RODRIGUES

(ibid.) visualiza as funções documentais do Arquivo numa Lei dos Arquivos

Nacionais mais próxima da organização arquivística dos países unitários que

federalistas.

A unidade e indivisibilidade documental federal e a unidade e

indivisibilidade estadual é o princípio fundamental que a Lei deve fixar.

Não existem arquivos dos Poderes, do Executivo, do Senado, da Câmara e

dos vários Tribunais. É preciso que se reconheça a unidade e

indivisibilidade dos Arquivos Nacionais, como o reconhecem todas as

grandes nações do mundo, qualquer que seja a forma constitucional

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P á g i n a | 40

adotada. Os arquivos constituem uma unidade indivisível do patrimônio

documental da Nação. A unidade e indivisibilidade patrimonial conduzem

à unidade e indivisibilidade da administração, ou seja, do controle,

eliminação, seleção e recolhimento. A única restrição, estabelecida pela

constituição federal, é a divisibilidade documental, federal e estadual.

(ibid. p. 65)

Neste momento, a noção de Sistema Nacional de Arquivos ainda não

apresenta os contornos que adquirirá com o anteprojeto de 1962, mas

RODRIGUES (ibid., p. 12) justifica as reformas na instituição, considerando a

―preeminência do Arquivo Nacional como órgão de cúpula do sistema de unidades

administrativas responsáveis pela guarda de documentos‖. Numa primeira

perspectiva, esta proposta de sistema estabelece ―a ligação íntima entre os

vários serviços de arquivo da União, a fim de normalizar o recolhimento, a seleção

e a eliminação‖ (ibid., p. 12).

Neste caso, o universo do Sistema são os órgãos federais, independente da

distinção entre os Poderes. Numa segunda perspectiva, RODRIGUES (ibid., p. 72)

menciona o Arquivo Nacional como ―cúpula do sistema de arquivos no Brasil‖,

sugerindo uma abrangência além do plano federal. Em 1961 é instituída, pelo

Ministro da Justiça e Negócios Interiores, uma comissão, presidida por José

Honório Rodrigues, com o objetivo de elaborar um anteprojeto para a criação do

Sistema Nacional de Arquivos.

Conforme relatado pela comissão, ―procurou-se encontrar soluções próprias,

adaptadas à conjuntura brasileira, afastada a cópia de um sistema existente, por

mais satisfatório que se apresentasse‖. Cabe assinalar que as experiências

arquivísticas analisadas pela comissão (França, Estados Unidos, Inglaterra e

União Soviética) não se referiam a sistemas nacionais de arquivos no sentido

sugerido no anteprojeto, mas sim às infra-estruturas arquivísticas públicas

desses países e suas formas de interação (BRASIL - Ministério da Justiça e

Negócios Interiores, 1962, p. 1).

Em nome das noções de unidade e indivisibilidade do patrimônio documental,

―imperativo de ordem pública‖, a comissão conclui que

a representação do poder público, nesse campo, é incumbida ao Arquivo

Nacional, com o encargo, embora sob um regime de desconcentração

administrativa, de manter e supervisionar a uniformidade de organização

e funcionamento dos arquivos da União (...). Essa atividade compreende o

conjunto de órgãos públicos, federais, estaduais e municipais, existentes

ou a serem criados, bem como de organizações particulares, destinadas a

recolher, selecionar, conservar e tornar acessíveis os documentos de

valor permanente para vida da Nação. (ibid., p. 2).

Este conjunto de órgãos é, conforme o art. 1º do anteprojeto, o que se

concebe por sistema nacional de arquivos, não incluindo, portanto, os conjuntos

documentais nas fases corrente e intermediária. São considerados

documentos históricos e de valor permanente, todos os livros, papéis,

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P á g i n a | 41

mapas, fotografias, ou qualquer espécie de elemento informativo,

independentemente de sua forma ou características físicas, produzidos,

elaborados ou recebidos por instituições públicas ou privadas, em

conformidade com suas atribuições legais ou em virtude de suas

transações e conservados, ou adequados a tal fim, por essas instituições

ou seus legítimos sucessores, seja como prova de suas funções,

diretrizes, normas, realizações ou atividades, seja em atenção ao valor

informativo dos dados que nos mesmos se contenham. (art. 1º, parágrafo

único).

O anteprojeto traz em seu bojo a proposta de um Arquivo Nacional

reconfigurado estruturalmente em função dos poderes que passaria a adquirir

com suas novas atribuições como órgão central do Sistema Nacional de Arquivos

(SINAR). É significativo o predomínio das noções de unidade e indivisibilidade

documental sobre as possíveis limitações impostas pelo federalismo. O Arquivo

Nacional, em nome do SINAR, passa a centralizar variados poderes, como por

exemplo: autorizar a alienação ou destituição de documentos públicos federais,

estaduais ou municipais, mediante prévia consulta obrigatória; o direito de opção

de compra dos documentos históricos de propriedade particular, cuja existência,

localização e valor tenham sido averiguados pelas instituições; o direito de

supervisionar a uniformidade e organização dos arquivos da União; centralizar,

através do Conselho Nacional de Arquivos, ―a adoção de princípios, normas e

métodos de organização e funcionamento, pelos quais se rege o sistema nacional

de arquivos, respeitada a autonomia administrativa dos mesmos‖ (art. 9º); atuar

mediante agências regionais, incumbidas da seleção, recolhimento e assistência

técnica aos órgãos do Sistema Nacional de Arquivos; recolher a documentação do

Senado Federal e da Câmara dos Deputados, bem como os autos findos do

Supremo Tribunal Federal, do Tribunal Federal de Recursos, do Superior

Tribunal Militar, do Tribunal Superior Eleitoral e do Tribunal Superior do

Trabalho; presidir, através do seu Diretor-Geral, o Conselho Nacional de

Arquivos; centralizar, voluntária ou compulsoriamente, o registro dos documentos

históricos e de propriedade particular; administrar uma Escola Nacional de

Arquivística; administrar o Fundo Nacional de Arquivos, destinado a prover as

despesas com a assistência financeira aos órgãos do Sistema Nacional de

Arquivos e manter a Escola Nacional de Arquivística.

O papel normativo do Arquivo Nacional como órgão central do Sistema

Nacional de Arquivos é explicitado no art. 11 do anteprojeto:

os órgãos componentes do Sistema Nacional de Arquivos obedecem à

orientação técnica e normativa do Arquivo Nacional, e recebem sua

assistência técnica e se for conveniente, financeira, para que possam

preservar os documentos sob sua guarda, aferindo-lhes valor e zelando

pela sua conservação.

O anteprojeto previa ainda um Conselho Nacional de Arquivos, presidido pelo

Diretor do Arquivo Nacional, com a incumbência de estabelecer ―a política do

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Sistema Nacional de Arquivos‖, ou seja, ―o conjunto de princípios, diretrizes,

normas e métodos para administração, organização e funcionamento dos arquivos

do país‖ (art. 61). Considerado um órgão de cooperação interadministrativa,

previa-se que o Conselho exercesse suas atribuições através de um Plenário e

uma Junta Administrativa.

O Plenário seria composto de nove membros da União (o Diretor do Arquivo

Nacional como membro nato), cinco representantes do Poder Executivo, dois do

Poder Legislativo e um do Poder Judiciário, além de um representante de cada

estado, um representante do Instituto Histórico Geográfico Brasileiro e dois

representantes dos Institutos Históricos e Geográficos Estaduais.

A Junta Administrativa seria composta, além do Diretor do Arquivo Nacional,

seu membro nato, de cinco representantes do Poder Executivo e do

representante do Poder Judiciário no Plenário, de um representante do Poder

Legislativo, de quatro representantes do estado e um dos Institutos Históricos e

Geográficos. Como se observa, em ambas as instâncias não há representação dos

municípios, sendo a sociedade civil representada exclusivamente pelos Institutos

Históricos e Geográficos. Se no Plenário o conjunto de representações dos

estados supera o da União, na Junta Administrativa, dos doze membros, sete

representam a União, sendo cinco do Poder Executivo. A tendência

centralizadora da União, particularmente do Poder Executivo, fica evidenciada

nesta composição.

Conforme o anteprojeto, os estados e municípios ―só podem exercer seu

direito de representação no Conselho Nacional de Arquivos após firmar, com o

Arquivo Nacional, convênio sobre a integração dos respectivos arquivos públicos

no Sistema Nacional de Arquivos‖ (art. 41). A orientação técnica e normativa do

Arquivo Nacional, ―a fim de que seja alcançada plena uniformidade técnica na

administração dos arquivos nacionais‖ (art. 9º), é prevista mediante convênios de

assistência técnica entre o Arquivo Nacional e os estados e municípios. Desde

que aceitem esta orientação técnica, os arquivos estaduais e municipais teriam

garantida a assistência financeira por parte do Arquivo Nacional. Seria

possibilitada a participação de entidades privadas no Sistema Nacional de

Arquivos, mediante requisição ao Diretor do Arquivo Nacional. Integradas ao

Sistema, essas entidades deveriam submeter-se à orientação normativa do

Arquivo Nacional, inclusive como condição para obtenção de assistência

financeira.

Semelhantemente ao modelo francês de infra-estrutura arquivística nacional,

previa-se a ação de inspetores de arquivos ―com o encargo de fiscalizar o

disposto nesta Lei, dando necessária assistência técnica, em todos os órgãos

componentes do Sistema Nacional de Arquivos‖ (art. 102).

Este anteprojeto não chegou a ser consolidado legalmente, nem as ações

então previstas a serem executadas. Perdurou, porém, como referência

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fundamental nas propostas das lideranças profissionais da área de Arquivologia.

Assim, em 1968, Esposel manifesta-se a respeito na Revista do Serviço Público,

órgão de comunicação do DASP:

Aguardamos, agora, uma lei que implante um Sistema Nacional de

Arquivos. A idéia já é velha e existe até um magnífico anteprojeto de lei

(...). Com este instrumento o governo estaria capacitado para intervir na

solução de problemas dos mais significativos dentre os quais a

salvaguarda de um patrimônio histórico de valor incalculável e

insubstituível, o incremento de pesquisa científica como condição para o

progresso, a uniformização da orientação para os arquivos estaduais e

municipais (...). (1968, p. 145).

Em 1972, por ocasião do I Congresso Brasileiro de Arquivologia, o

anteprojeto é apresentado por dois membros da comissão encarregada da sua

elaboração em 1961:

A implantação de um sistema nacional de arquivos, que abranja todos os

arquivos brasileiros, que permita estabelecer normas e rotinas

uniformes, é uma aspiração antiga entre nós. (...) Lamentavelmente, esse

projeto ficou em projeto, e nunca mais se falou nisso. Chegou, porém, a

hora de revê-lo, atualizá-lo, por ele batalharmos. (SOUZA; DANNEMAN,

1972, p. 31)

O SISTEMA NACIONAL DE ARQUIVOS DE 1978

A proposta de Sistema Nacional de Arquivos, elaborada em 1977 pela

Secretaria de Planejamento do Ministério da Justiça (SEPLAN/MJ) com o apoio

do Arquivo Nacional, encontra sua justificativa em diversos aspectos. Surge em

cena o conceito de informação, respaldado no II Plano Brasileiro de

Desenvolvimento Científico e Tecnológico (1976). ―É através da informação que

as novas conquistas são colocadas ao alcance dos Governos, das instituições

privadas, dos cientistas, pesquisadores e estudiosos servindo como ponto de

partida da evolução da ciência e da cultura.‖ (BRASIL, Ministério da Justiça,

1977, p. 2).

A informática é mencionada ―visando a eficiência da informação como suporte

valioso à pesquisa‖ (ibid., p. 3). As perspectivas do UNISIST e do NATIS são

abordadas como referência ao sistema em proposição.

Os reflexos da programação integrada dos vários recursos a serviço da

informação, apregoados no plano internacional, devem fazer-se sentir em nosso

meio, considerando que todos os veículos de informação têm no acervo

arquivístico seu ponto de partida, podemos avaliar a importância desse acervo

das técnicas de tratamento que lhe devem ser aplicadas. (ibid., p. 3).

A expressão ―arquivos nacionais‖ é utilizada sem que se explicite a sua

associação às noções de indivisibilidade e unidade do patrimônio arquivístico,

como no projeto de 1962. ―Os arquivos nacionais devem receber tratamento

adequado, dentro dos princípios e técnicas arquivísticas, visando garantirem a

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P á g i n a | 44

integridade dos acervos e a eficiente recuperação das informações.‖ (ibid., p. 3).

A ausência de normalização é apontada como um obstáculo à eficiência

administrativa, ―tendo em vista que a documentação oficial, até aqui vem sendo

preservada de maneira heterogênea e, na ausência de instruções normativas, a

organização mais ou menos racional fica a variar (...)‖ (ibid., p. 5)

Ao longo da proposta, um novo ator, praticamente ausente no projeto de

1962, ocupa um espaço relevante: o arquivista. Esta inserção relaciona-se

diretamente com a Associação dos Arquivistas Brasileiros que marca seu

desempenho, nos anos 70, a partir de três projetos fundamentais: a criação dos

cursos universitários de Arquivologia (1974), a regulamentação da profissão de

arquivista e técnico de arquivos (1978), e a implantação do Sistema Nacional de

Arquivos. A proposta de 1978 evidencia esta perspectiva:

Este trabalho visa a oferecer uma contribuição ao planejamento da

infra-estrutura do arquivo no Brasil. Partindo da análise das soluções

encontradas por outros países e do estudo das técnicas mais ajustáveis à

realidade brasileira constituindo-se um caminho para a reformulação da

atuação do arquivista. Conduzindo este profissional a um desempenho

mais efetivo junto ao complexo administrativo brasileiro, contribuindo

decisivamente para a organização das informações mais racional e

eficiente, assegurando a integridade de nossos acervos documentais.

(ibid., p. 4).

Embora não citado na proposta produzida em 1977 pela SEPLAN/MJ, uma

das referências que nortearam diretamente a sua elaboração é o trabalho de

Maria Aparecida Santos, vencedor do 2º Concurso Nacional de Monografias,

patrocinado pelo Arquivo Nacional. SANTOS (1977, p. 6) destaca o Decreto-Lei

nº 200/67 e sua concepção sistêmica como base para o projeto de Sistema

Nacional de Arquivos:

os princípios de planejamento, coordenação e controle, a organização

sistêmica, os órgãos de ―staff‖ então criados, compreendem uma fusão

das idéias apregoadas pelos grandes mestres da administração científica,

numa tentativa de nossos administradores de conduzir nossa burocracia

a um caminho mais sério, mais produtivo, objetivando a construção de um

país melhor. Legislação teoricamente avançada, o Decreto-Lei nº 200/67

incorpora o conjunto mais belo da administração científica. (...). O modelo

de organização sistêmica adotado no País, para as atividades de

administração geral, revela-se como excelente solução para as atividades

arquivísticas. Consiste na centralização de diretrizes e de orientação

técnica incluindo a fiscalização e controle que possibilitem a avaliação da

atividade planejada e a correção de desvios — com a descentralização

hierárquica (...). A orientação normativa e os critérios científicos serão

adotados naturalmente nos sistemas estaduais e nos demais poderes da

União, desde que o trabalho de conscientização geral seja perfeito.

Segundo FERNANDES (1979, p. 10):

o processo de elaboração da proposta do Sistema Nacional de Arquivo

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inicia-se em fins de 1976, no âmbito da recém-criada Secretaria de

Planejamento do Ministério da Justiça. Embora tenham sido consultados

pela Secretaria de Planejamento, os arquivistas da AAB não foram

incluídos no grupo de trabalho designado pelo Ministério da Justiça para

elaborar anteprojeto de legislação sobre documentação administrativa

da União e criação do Sistema Nacional de Arquivo.

A exclusão da AAB do Grupo de Trabalho e particularmente a ausência de

arquivistas é comentada por Esposel (1968), questionando a possibilidade de

resultados adequados.

O conteúdo de uma legislação sobre arquivos envolve aspectos de grande

complexidade e precisa ser estabelecido com muito cuidado, dedicação e

conhecimento específico. Para que venha a ser corajoso, adequado e

contemporâneo ao atual estágio de desenvolvimento do país. É feito,

inclusive, por profissionais e não por curiosos:

(...). Precisamos em tais comissões de arquivistas e não de arrivistas.

Arquivistas de vocação, escolaridade e passado. No momento atual, e

daqui para diante, não mais se justifica o caso dos arquivistas de

conveniência ou escolha política. Ou o Brasil não se terá adiantado

suficientemente? (...) Cabem aos arquivistas, ainda, esperar para ver.

Tolhidos, sem voz ou participação. Amesquinhados. Na esperança de

melhores dias. A propósito de um Sistema Nacional de Arquivos.

Apesar de tais questionamentos, a AAB manifesta posteriormente suas

expectativas positivas em relação ao projeto de Sistema Nacional de Arquivos,

conforme editorial do periódico da entidade, de autoria da sua presidente,

Marilena Leite Paes.

Queremos crer que, após dezesseis anos de lutas e expectativas,

possamos em breve dar início à tarefa árdua e inadiável que se nos

apresenta com o estabelecimento do Sistema Nacional de Arquivos,

voltada para a preservação da verdadeira memória nacional contida nos

quase sempre esquecidos arquivos da nossa pátria. (...) Julgamos ter

chegado a hora de unir conhecimentos técnicos, esforços, recursos

humanos e financeiro de todas as procedências, canalizando-os sem

vaidades pessoais para um objetivo comum — salvar a memória nacional

como um todo. (PAES, 1977, p. 3).

FERNANDES (1979, p. 11) ressalta que um dos pontos de divergência nos

meios arquivísticos à época referia-se à abrangência do Sistema:

alguns pretendiam que extrapolasse a esfera do governo federal para

abarcar, também, os documentos dos governos dos estados, dos

territórios, do Distrito Federal e os institucionais etc.

Neste caso, predominava o argumento de que seria necessária uma lei cuja

demora e dificuldade de aprovação poderia levar a um insucesso idêntico ao do

anteprojeto de 1962. Outras posições consideravam tal abrangência difícil de ser

alcançada, tendo em vista as limitações do governo federal na gestão de seus

próprios arquivos.

A primeira proposta de Sistema Nacional de Arquivos abrangia as três idades

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P á g i n a | 46

do ciclo vital arquivístico do Governo Federal. Por suas implicações com o Sistema

de Serviços Gerais (SISG), instituído em 1975, a minuta do decreto do Sistema

Nacional de Arquivos foi submetida ao DASP, órgão central daquele sistema, em

janeiro de 1978. Como resultado, o DASP continuou com a competência de órgão

central no que se referia aos arquivos correntes, cabendo ao Arquivo Nacional,

como órgão central do Sistema Nacional de Arquivos, os arquivos intermediários

e permanentes federais.

Assim, apesar de autodenominar-se um sistema nacional, sua possibilidade de

ação era a administração federal. Ainda que centrado neste universo, o Sistema

viu-se limitado aos arquivos intermediários e permanentes. Este fracionamento

do ciclo vital dos documentos em dois sistemas invibializaria, por princípio, o

desenvolvimento de uma política de gestão de documentos no Governo Federal.

O conflito teórico e operacional entre os dois sistemas fica evidenciado

quando se observa o raio de ação do Sistema de Serviços Gerais (SISG). Em

termos de inserção institucional na administração federal, o DASP, órgão central

do Sistema de Serviços Gerais, ultrapassa significativamente o Arquivo Nacional.

O SISG envolve ―as atividades de administração de edifícios públicos, imóveis

residenciais, material, transporte e protocolo, assim como as de movimentação de

expedientes, arquivo e transmissão e recepção de mensagens‖ (art. 1º). No que se

refere às atividades arquivísticas, cabe ao DASP como órgão central:

a) expedir normas para disciplinar o registro de entrada, tramitação e

expedição de processos e documentos;

b) expedir normas para disciplinar o uso, guarda, conservação,

reprodução e incineração de processos e documentos (art. 4º, inciso IV).

Tais ações não foram implementadas pelo DASP, agravando ainda mais o

quadro que caracteriza o gerenciamento da informação arquivística na

administração pública federal. Conforme seu art. 1º, o Sistema Nacional de

Arquivos tinha como finalidade ―assegurar, com vistas ao interesse da

comunidade, ou pelo seu valor histórico, a preservação de documentos do Poder

Público‖. Compunham o sistema os órgãos da Administração Federal Direta e

Indireta ―incumbidos de atividades de arquivo intermediário e permanente‖ (art.

2º). Os princípios federalistas e de autonomia dos Poderes eram assegurados ao

se prever que ―podem também integrar o Sistema mediante convênios (grifo

nosso), os Arquivos dos Poderes Legislativo e Judiciário da União, bem como os

existentes nos Estados, Distrito Federal e Municípios‖ (art. 2º, parágrafo único).

Como órgão central do SINAR, cabia ao Arquivo Nacional desenvolver

atividades que, em diversos aspectos, são inerentes a qualquer instituição

arquivística, a par da sua eventual função de coordenação sistêmica. Entre outras

competências, cabe ressaltar no art. 4º:

• orientar o preparo e organização de documentos em fase de

transferência para o arquivamento intermediário ou permanente;

• supervisionar a conservação dos documentos sob custódia;

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P á g i n a | 47

• decidir sobre a localização e instalação de centros de arquivamento

intermediário;

• celebrar convênios e cooperação técnica e manter intercâmbio com

entidades nacionais e internacionais.

Eram considerados órgãos setoriais e seccionais do Sistema,

respectivamente, as unidades organizacionais incumbidas das atividades de

arquivo intermediário da administração direta e indireta, tendo como

competências (art. 5º):

• executar as atividades do Sistema Nacional de Arquivos em sua área de

atuação, responsabilizando-se pelo seu funcionamento;

• prestar ao órgão central informações sobre suas atividades e

apresentar sugestões para o aprimoramento do Sistema;

• preservar os documentos sob sua guarda, responsabilizando-se pela sua

segurança.

Previa-se que os órgãos setoriais e seccionais receberiam orientação técnica

e normativa do Arquivo Nacional, ―sem prejuízo da subordinação ao Órgão em

cuja estrutura administrativa estiverem integrados‖ (art. 6º).

Conforme JARDIM (1989, p. 16), ―a hipertrofia de competência do órgão

central corresponde a um alto grau de passividade nas atribuições dos órgãos

setoriais e seccionais‖.

A Comissão Nacional de Arquivos era composta de oito membros (art. 8º),

sendo um da Associação dos Arquivistas Brasileiros e sete do Governo Federal (o

Diretor- Geral do Arquivo Nacional, na qualidade de presidente; um

representante da Secretaria de Planejamento da Presidência da República; um

representante do DASP; um representante do Estado-Maior das Forças

Armadas; um representante do Ministério da Educação e Cultura; dois membros a

serem indicados pelo Arquivo Nacional).

Instituída junto ao Arquivo Nacional, cabia à Comissão Nacional (art. 7º):

I - examinar as Instruções Normativas do Órgão Central;

II - prestar, ao Órgão Central, assessoramento de ordem técnica,

jurídica e histórico-cultural;

III - propor ao Órgão Central modificações aprimoradas do Sistema;

IV - propor medidas para o inter-relacionamento das atividades dos

Arquivos Correntes e dos Arquivos Intermediários e Permanentes;

Às dificuldades iniciais para a sua implantação, impostas pelo próprio modelo

de Sistema em vigor, somou-se a decisão política da diretora-geral do Arquivo

Nacional, à época, Celina Vargas do Amaral Peixoto, de excluí-lo da agenda da

instituição em curto prazo.

A partir de 1980, optamos por não reconhecer a estratégia de

desenvolver o Arquivo Nacional através de sua função sistêmica, o que

parecia ser uma tendência das administrações anteriores do Ministério

da Justiça. Achávamos, e achamos ainda hoje, que somente o

fortalecimento institucional, por meio de um sólido e constante processo

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P á g i n a | 48

de modernização, poderia consolidar as bases de uma administração que

durante tanto tempo foi relegada ao esquecimento. Nos primeiros anos, o

Arquivo Nacional praticamente se enclausurou, com a finalidade de

atender prioritariamente às próprias demandas — encontrar um prédio

digno de suas atribuições e formar uma equipe qualificada para o

cumprimento de suas finalidades básicas. (PEIXOTO, 1988, p. 8).

Após 1983, porém, diversas ações são desenvolvidas pelo Arquivo Nacional

sob a justificativa do Sistema, extrapolando-se os limites legais de sua

abrangência ao se priorizar, num primeiro momento, os arquivos públicos

estaduais e posteriormente os municipais. Entre 1983 e 1989, os esforços de

reestruturação organizacional do Arquivo Nacional produziram resultados que

ampliaram significativamente a liderança da instituição no país, além de levarem

ao seu reconhecimento por parte da comunidade arquivística internacional. Os

projetos desenvolvidos junto aos arquivos estaduais e municipais situam-se neste

contexto de mudanças e inovações que marcaram o Arquivo Nacional nos anos 80.

Assim, entre 1984 e 1989, foram realizados seis Seminários Nacionais de

Arquivos Estaduais e, a partir de 1987, três Seminários Nacionais de Arquivos

Municipais. Estes eventos propiciaram, pela primeira vez, uma interação

freqüente no âmbito do conjunto de instituições arquivística públicas do país.

Este processo favoreceu a criação, em 1986, do Fórum Nacional de Diretores de

Arquivos Estaduais e, posteriormente, do de Diretores de Arquivos Municipais.

A partir de 1991, um evento designado Conferência Nacional de Arquivos

passa a ser realizado a cada dois anos, acolhendo no seu bojo os Seminários

Nacionais de Arquivos Estaduais e Municipais, além dos Seminários Nacionais de

Gestão de Documentos, realizados pelo Arquivo Nacional entre 1987 e 1991,

tendo como clientela-alvo os técnicos de serviços arquivísticos federais.

Atualmente esta Conferência é organizada pelo Fórum Nacional de Diretores de

Arquivos Estaduais e não mais pelo Arquivo Nacional.

Além dos seminários nacionais, estabeleceu-se um padrão de assistência

técnica por parte do Arquivo Nacional junto aos arquivos estaduais e municipais.

A esta estratégia somou-se, durante o período mencionado, a realização de

programas de treinamento regionais de 1984 a 1986 e os Estágios Nacionais de

Arquivos em 1986 e 1987.

O avanço alcançado neste quadro de cooperação voluntária e informal

possibilitou também a elaboração, pelo Arquivo Nacional, em 1987, de um

instrumento inédito: um guia com informações básicas sobre os arquivos

estaduais, seus acervos e instrumentos de consulta.

Da mesma forma, favoreceu a produção, pelo Arquivo Nacional, em 1988, do

Guia brasileiro para o estudo das fontes da história da África cujo levantamento

envolveu 21 estados e o Distrito Federal, abrangendo 507 municípios, onde foram

identificados 1.814 fundos ou coleções.

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P á g i n a | 49

Paralelamente, as atividades voltadas para os arquivos da administração

federal eram realizadas pelo Arquivo Nacional, fora da coordenação do Sistema,

pois este era considerado, por suas próprias limitações, um aspecto inibidor de

programas de gestão de documentos junto aos órgãos federais.

Assim, apesar dos avanços alcançados na interação do Arquivo Nacional com

os arquivos federais, estaduais e municipais, não é possível afirmar que o Sistema

Nacional de Arquivos tenha sido implantado. Tal situação sugere, conforme

JARDIM (1989, p. 28), que a rede de cooperação interinstitucional, articulada

pelo Arquivo Nacional, poderia prescindir da concepção e requisitos formais do

tipo sistema nacional de arquivos, desde que democraticamente definidas as

políticas nacionais de arquivos, pelo conjunto de atores envolvidos com a

produção e uso da informação arquivística.

A PROPOSTA DE UM SISTEMA NACIONAL DE INFORMAÇÕES ARQUIVÍSTICAS

A partir de 1988, a direção-geral do Arquivo Nacional, considerando alguns

aspectos da Teoria Geral dos Sistemas, propõe o esboço de uma nova

configuração para o Sistema Nacional de Arquivos. Esta proposta é inovadora em

relação às anteriores ao privilegiar o conjunto das informações arquivísticas do

patrimônio documental do país sobre o conjunto das instituições arquivísticas

responsáveis por este patrimônio.

A atividade relativa ao nível das informações não diz respeito

diretamente às infra-estruturas de arquivos, mas ao relacionamento que

deve existir entre as diferentes instituições, o qual se processa através

de uma troca constante de informações. (...) O Sistema Nacional de

Arquivos, da forma como se propõe agora, precisa estabelecer um

sistema aberto de relações entre as diferentes unidades arquivísticas.

Deve ser complexo porque envolve o conjunto de arquivos públicos e

privados do país (grifo nosso) e deve ser dinâmico porque determina um

fluxo contínuo de serviços e informações. Além disso, tem de se

processar em dois planos: o nacional e o internacional, de intercâmbio de

informações arquivísticas. Seus objetivos seriam os de coordenar e

dinamizar as informações contidas nos arquivos que compõem o

patrimônio documental da Nação, além de contribuir para reforçar a

unidade nacional através do conhecimento e divulgação dessas

informações. (...) Identificamo-nos com a proposta mexicana, que declara

não ter o sistema responsabilidade direta sobre o conjunto de acervos

públicos e privados do país. (...) É relevante para a preservação do

patrimônio documental brasileiro estabelecer sistemas de informação

capazes de ampliar o universo a ser analisado, aprofundar a investigação

de temas específicos para a pesquisa científica, identificar os principais

depósitos de documentos públicos e privados do país e assegurar o

acesso de documentos até então desconhecidos do público interessado

(...). Se enfatizamos a criação de um sistema de informações

arquivísticas no Brasil, é porque acredita mos estar o país amadurecido e

consciente de proteger sua documentação pública e privada. (...) e se

privilegiamos, neste documento de trabalho, o nível das informações

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P á g i n a | 50

arquivísticas, é porque acreditamos estar colaborando para a

consolidação e a construção de novas estruturas arquivísticas, capazes

de defender nosso patrimônio documental. (PEIXOTO, 1988, p 614).

Mantida a totalidade dos projetos anteriores, o mecanismo de organização do

Sistema tende a ser o intercâmbio de informações e não a norma. A proposta

reconhece, porém, a necessidade de ―uma política normativa de arquivos para o

país‖, mediante o estabelecimento de

um centro normativo, capaz de definir regras através de uma operação

descentralizada, a fim de que cada arquivo conserve sua autonomia e

tenha elasticidade necessária para adequar à própria instituição. (...) A

aceitação de regras e normas de conduta, bem como de obrigações e

deveres, implica uma discussão democrática que envolva todo o conjunto

de instituições ocupadas com os arquivos públicos e privados. (ibid., p.

612).

Ainda que não explicitado, parece caber ao Arquivo Nacional a função técnica

de ―centro normativo‖ e a um conselho superior de arquivos,

ponto de reunião de todas as representações nos diferentes níveis e

esferas (...) a possibilidade de uma discussão democrática sobre todas as

questões que envolvem o conjunto do patrimônio documental de uma

nação, tais como as referentes à legislação, às normas de acesso e à

própria difusão nacional e internacional das informações contidas nos

arquivos públicos e privados. (ibid., p. 6.).

Nesta perspectiva, o estabelecimento de um Sistema Nacional de

Informações Arquivísticas, como designado posteriormente por Peixoto (1989),

seria uma atribuição do Conselho Superior de Arquivos e não do Arquivo Nacional.

Embora não aprofundada, esta proposta poderia oferecer algumas

alternativas ao modelo de Sistema Nacional de Arquivos sugerido desde 1962.

Conforme observado a seguir, o Sistema Nacional de Arquivos de 1994

desviou-se dessas possibilidades.

O SISTEMA NACIONAL DE ARQUIVOS DE 1994

Em 1991 é aprovada a Lei nº 8.519, que dispõe sobre a política nacional de

arquivos públicos e privados, após uma década de esforços, liderados pelo

Arquivo Nacional, no sentido de dotar o país de uma legislação arquivística.

A Lei de Arquivos apresenta características marcadamente conceituais,

sobretudo no que se refere ao conjunto de definições apresentadas para termos

como arquivos, gestão de documentos, arquivos públicos, documentos correntes,

intermediários, permanentes, arquivos privados etc. É assegurado o princípio de

acesso do cidadão à informação governamental, bem como previsto o sigilo

relativo a determinadas categorias de documentos. Prevê-se a identificação de

arquivos privados como de interesse público e social, ―desde que sejam

considerados como conjunto de fontes relevantes para a história e

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desenvolvimento científico nacional‖ (art.12).

Ao abordar, no capítulo IV, a organização e administração de instituições

arquivísticas públicas, a Lei evidencia os princípios federalistas e a autonomia dos

Poderes. Assim, conforme o art. 17, ―a administração da documentação pública ou

de caráter público compete às instituições arquivísticas federais, estaduais, do

Distrito Federal e municipais‖.

A vocação federalista da Lei nº 8.159 se expressa ainda no seu art.21,

segundo o qual a ―Legislação Estadual, do Distrito Federal e municipal definirá os

critérios de organização e vinculação dos arquivos estaduais, bem como a gestão

e o acesso aos documentos, observado o disposto na Constituição Federal e nesta

Lei‖.

A Lei estabelece a ordenação da malha arquivística pública do país nos

seguintes termos:

Arquivos Federais: o Arquivo Nacional e outros arquivos do Poder

Executivo (Ministérios da Marinha, Relações Exteriores, Exército e

Aeronáutica), os arquivos dos Poderes Legislativo e Judiciário Federais;

Arquivos Estaduais: o arquivo do Poder Executivo, o arquivo do Poder

Legislativo e o arquivo do Poder Judiciário;

Arquivos do Distrito Federal: os arquivos do Poder Executivo, do Poder

Legislativo e do Poder Judiciário;

Arquivos Municipais: os arquivos do Poder Executivo e do Poder

Legislativo.

O Arquivo Nacional tem, como competências, “a gestão e o recolhimento

dos documentos produzidos e recebidos pelo Poder Executivo Federal, bem

como preservar e facultar o acesso aos documentos sob sua guarda,

acompanhar e implementar a política nacional de arquivos” (art. 18).

Cria-se um Conselho Nacional de Arquivos (CONAR), presidido pelo diretor-

geral do Arquivo Nacional, ―integrado por representantes de instituições

arquivísticas e acadêmicas, públicas e privadas‖ (art. 26) com a atribuição de

definir a política nacional de arquivos e atuar como órgão central do Sistema

Nacional de Arquivos - CONARQ. A lei não explicita, porém, nenhuma definição

quanto aos seus objetivos, forma de estruturação e abrangência. Tampouco há

elementos que indiquem o que se considera política nacional de arquivos.

Antes de sua aprovação, porém, o anteprojeto da Lei nº 8.159 recebeu

críticas provenientes de alguns setores, particularmente dos representantes da

área de preservação do patrimônio cultural do Governo Federal. Cabe observar

que o Decreto-Lei nº 25, de 30 de novembro de 1937, estabelece a interferência

do Estado na preservação dos bens móveis e imóveis que comporiam o patrimônio

cultural do país. Traduz, portanto, o projeto de órgãos federais da área do

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Patrimônio Histórico que se sucederam nas últimas cinco décadas, os quais

privilegiaram a política de preservação arquitetônica do monumento de pedra e

cal.

Ainda assim, as pretensões do Arquivo Nacional, particularmente no que se

refere aos arquivos privados de interesse público e social, expressas no

anteprojeto de lei, pareciam ameaçar política e juridicamente a figura do

tombamento, prevista no Decreto-Lei nº 25. A perspectiva de uma política

nacional de arquivos coordenada pelo Arquivo Nacional, órgão integrante do

Ministério da Justiça, limitaria possíveis ações neste sentido por parte do

Ministério da Cultura ou equivalente.

Tal limitação incidiria sobre um segmento do chamado patrimônio cultura, ou

seja, o patrimônio documental arquivístico, para o qual o setor cultural do

Governo Federal jamais propôs uma política específica. A ação mais próxima

neste sentido foi a do Programa de Preservação da Documentação Histórica (Pró-

Documento), de cujos quadros técnicos sairiam as críticas mais contundentes ao

anteprojeto da Lei de Arquivos.

O artigo de ANTUNES e SOLIS (1990), ―O cesarismo e os arquivos

brasileiros‖, expressa esta postura ao visualizarem no anteprojeto de lei a

perspectiva do Arquivo Nacional extrapolar seu raio de ação no âmbito do

Executivo Federal para atingir também os arquivos dos municípios, estados,

Distrito Federal, territórios e arquivos privados de pessoas físicas e jurídicas.

O Arquivo Nacional queria ser o Arquivo da Nação e dirigir a política de

preservação de documentos do patrimônio arquivístico nacional. Apenas

nos estados cesaristas havia-se tentado a aglutinação de um tal

patrimônio sob uma mesma administração de arquivos. (...) Durante o

Império, o Arquivo Nacional reivindicou tal condição. Isso foi

historicamente possível em virtude do caráter centralizador do Estado,

além de serem muito raros, na época, os documentos privados. (...) Com o

advento da República e a adoção dos princípios de autonomia entre os

três poderes da federação, reduziu-se progressivamente o papel do

Arquivo Nacional, que na prática ficou restrito ao recolhimento dos

documentos permanentes do Executivo Federal. (ibid., p. 17).

Conforme os autores mencionados, há uma contradição entre o mérito

conceitual do projeto e o suposto caráter autoritário dos seus aspectos políticos

e legais. Esta vocação autoritária estaria presente em diversos aspectos como,

por exemplo: na ação do Arquivo Nacional que, comandando um sistema nacional

composto por todas as instituições arquivísticas do Estado, ―coletaria e

centralizaria as informações sobre os acervos das instituições detentoras de

arquivos permanentes, como também integraria os processos técnicos dessas

instituições, independentemente de suas localizações administrativas‖ (ibid., p.

17); no desrespeito aos princípios legais e constitucionais de autonomia entre

poderes, estados e municípios; na indefinição sobre o que seja política nacional de

arquivos, cuja competência é do Conselho Nacional de Arquivos - CONARQ,

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―cabeça do sistema‖, ―desta forma amenizando o caráter cesarista do Arquivo

Nacional‖ (ibid., p. 17); na função do Arquivo Nacional de ―acompanhar e

implementar a política nacional de arquivos‖. ―No contexto da lei, só há um

entendimento possível para essas atribuições: Ao Arquivo Nacional do Poder

Executivo caberá fiscalizar, (‗acompanhar‘) e subordinar (‗implementar‘ a

subordinação) as instituições arquivísticas à política nacional de arquivos (leia-se

às determinações do Conselho)‖ (ibid., p. 17); na indefinição quanto à composição

do CONARQ; na superposição à legislação do patrimônio histórico e artístico

nacional.

Neste sentido, o anteprojeto de Lei de Arquivos não objetivaria a

preservação arquivística, mas o estabelecimento de ―um espaço exclusivo de

poder, não para que o arquivo de toda a nação atue eficazmente, mas para que ele

controle política e arbitrariamente as competências e o campo da preservação

arquivística, delegando ou vetando iniciativas‖ (ibid., p. 17).

Em 1993 o Arquivo Nacional elaborou três projetos de decretos visando à

instituição, respectivamente, do Sistema Nacional de Arquivos, do Conselho

Nacional de Arquivos e do Sistema Federal de Arquivos do Poder Executivo.

Estes projetos não foram objeto de divulgação e consultas formais por parte

do Arquivo Nacional junto a organizações como o Fórum dos Diretores de

Arquivos Estaduais, o Fórum dos Diretores de Arquivos Municipais e as

universidades responsáveis por cursos de Arquivologia. Após mais de três anos de

sancionada a Lei nº 8.159, a primeira regulamentação se dá em 1994, mediante o

Decreto nº 1.173, de 29 de junho, que dispõe sobre o funcionamento do CONARQ

e do SINAR, reunindo os dois projetos específicos, elaborados em 1993.

Tendo como órgão central o CONARQ, o Sistema Nacional de Arquivos tem

por finalidade ―implementar a política nacional de arquivos públicos e privados,

visando à gestão, à preservação e ao acesso aos documentos de arquivo‖ (art. 10).

Neste sentido, verifica-se uma situação ambígua, do ponto de vista jurídico e

político já que, no art. 18 da Lei, compete ao Arquivo Nacional ―acompanhar e

implementar (grifo nosso) a política nacional de arquivos‖. De qualquer forma,

considerando-se a abordagem sistêmica, entende-se que não cabe ao Sistema

implementar políticas arquivísticas. Sua função é favorecer a execução destas

políticas pelos órgãos que o compõem mediante um processo de interação

sistêmica. Um sistema não constitui um órgão executor de políticas públicas.

O Sistema apresenta a seguinte composição:

Arquivo Nacional;

arquivos federais dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário;

arquivos estaduais dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário;

arquivos do Distrito Federal e dos Poderes Executivo, Legislativo e

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P á g i n a | 54

Judiciário;

arquivos municipais dos Poderes Executivo e Legislativo;

pessoas físicas e jurídicas de direito privado, mediante convênio com o

órgão central.

Enquanto no Sistema Nacional de Arquivos de 1978, todos os arquivos fora do

âmbito do Governo Federal integravam o sistema mediante convênio, o atual

Sistema inclui estas instituições por adesão obrigatória. Como tal, ―seguirão as

diretrizes e normas emanadas do órgão central, sem prejuízo de sua

subordinação e vinculação administrativa‖ (art. 14). Observa-se aqui a tendência

— já analisada no capítulo IV — de se considerar as normas técnicas do sistema

como uma instância neutra em relação ao contexto organizacional do qual

resultam e no qual serão aplicadas.

Ainda na qualidade de integrantes do sistema, os arquivos públicos externos

ao Poder Executivo Federal recebem atribuições que colidem com os princípios

de autonomia dos poderes, estados e municípios, previstos na própria Lei nº

8.159. Várias dessas competências foram conferidas anteriormente aos arquivos

integrantes do Sistema pela L ei citada e, como tal, é seu dever executá-las nos

termos desta, independentemente do decreto que institui o Sistema Nacional de

Arquivos. É o caso do dever de gestão, preservação e acesso aos documentos

produzidos e recebidos em cada órbita do Estado (artigos 19, 20 e 21 da Lei),

equivalentes no art. 13 do Decreto aos seguintes incisos:

I. promover a gestão, a preservação e o acesso às informações e aos

documentos na sua esfera de competência, em conformidade com as

diretrizes emanadas do órgão central; (...)

III. implementar a racionalização das atividades arquivísticas, de forma

a garantir a integridade do ciclo documental; (...)

IV. garantir a guarda e o acesso a documentos de valor permanente‖. (...)

Outras competências evidenciam a subordinação técnico-normativa ao órgão

central, previstas no art. 13 do Decreto mediante os seguintes incisos:

II. disseminar, em sua área de atuação, as diretrizes e normas

estabelecidas pelo órgão central, zelando pelo seu cumprimento; (...)

VI. prestar informações sobre suas atividades ao órgão central; (...)

XI. colaborar na elaboração de cadastro nacional de arquivos públicos e

privados, bem como no desenvolvimento de atividades censitárias

referentes a arquivos; (...)

Por outro lado, pode-se questionar os direitos de um órgão do Executivo

Federal solicitar informações a um arquivo estadual ou municipal sobre seu

funcionamento interno e, da parte destes, o dever de fornecê-las, ―sem prejuízo

da sua subordinação e vinculação administrativa‖. O Conselho Nacional de

Arquivos tem por finalidade ―definir a política nacional de arquivos públicos e

privados, bem como exercer orientação normativa visando à gestão documental e

proteção especial aos documentos de arquivos‖ (art. 1º). Entre outras

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P á g i n a | 55

competências do CONARQ, vale ressaltar algumas que sustentam mais

incisivamente a sua finalidade:

estabelecer diretrizes para o funcionamento do Sistema Nacional de

Arquivos, visando à gestão, à preservação e ao acesso aos documentos de

arquivo;

promover o inter-relacionamento de arquivos públicos e privados com

vistas ao intercâmbio e integração sistêmica das atividades arquivísticas;

propor ao Ministro de Estado da Justiça dispositivos legais necessários

ao aperfeiçoamento e à implementação da política nacional de arquivos

públicos e privados;

estimular programas de gestão e de preservação de documentos públicos

de âmbito federal, estadual e municipal, produzidos ou recebidos em

decorrência das funções executiva, legislativa e judiciária;

estimular a implantação de sistemas de arquivos nos Poderes Executivo,

Legislativo e Judiciário, bem como nos estados, no Distrito Federal e nos

municípios.

Vinculado ao Arquivo Nacional, o CONARQ é composto por quatorze

membros, sendo sete do Governo Federal (dois do Poder Executivo, dois do

Poder Judiciário, dois do Poder Legislativo e um do Arquivo Nacional), dois

dos arquivos públicos estaduais, dois dos arquivos públicos municipais, um da

Associação dos Arquivistas Brasileiros e dois representantes de instituições

não-governamentais que atuam na área de ensino, pesquisa, preservação ou

acesso a fontes documentais.

Não se previu, portanto, representação das universidades que oferecem

cursos de Arquivologia. Além de um órgão deliberativo, o CONARQ tem funções

executivas como órgão central do Sistema Nacional de Arquivos. Às funções

políticas são acrescidas as de caráter técnico-normativas mediante a

constituição de ―câmaras técnicas e comissões especiais com a finalidade de

elaborar estudos e normas necessárias à implementação da política nacional de

arquivos públicos e privados e ao funcionamento do SINAR‖ (art. 8º).

Ainda em fase de projeto, o Sistema Federal de Arquivos (SIFAR) tem como

órgão central e normativo, o Arquivo Nacional, sendo um subsistema do Sistema

Nacional de Arquivos ―com a finalidade de assegurar a gestão, a preservação e o

acesso às informações e aos documentos dos arquivos do Poder Executivo

Federal‖ (art. 1º). Integram o SIFAR (art. 4º), além do Arquivo Nacional:

órgãos setoriais: ―as unidades centralizadoras dos serviços arquivísticos

nos órgãos e entidades da Presidência da República, dos Ministérios,

Autarquias e Fundações, responsáveis pelo gerenciamento de atividades

de arquivos no que tange aos documentos em fase corrente e

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P á g i n a | 56

intermediária, bem como as atividades de controle das informações para

fins de atendimento aos usuários‖;

órgãos seccionais: ―as unidades responsáveis pelo recebimento, registro,

controle de tramitação e arquivamento dos documentos que atuem

descentralizadamente em relação ao órgão setorial, considera dos a

complexidade organizacional e o grau de autonomia do órgão ou entidade‖.

Prevê-se a integração ao SIFAR das unidades centralizadoras dos serviços

arquivísticos nas empresas públicas e sociedades de economia mista.

Após os projetos não implementados de 1962 e 1978, reorganiza-se com o

projeto de 1994 a expectativa de, finalmente, alcançar-se a organização na

totalidade (e, possivelmente, a totalidade na organização) dos arquivos da Nação,

sob a égide do Arquivo Nacional.

Entre as recomendações do Congresso aprovou-se que o ―Decreto nº 1.173, de

29 de junho de 1994, que dispõe sobre a organização e funcionamento do

Conselho Nacional de Arquivos e do Sistema Nacional de Arquivos, seja alterado

para permitir a inclusão de um representante das instituições mantenedoras de

curso superior de Arquivologia‖. O Decreto nº 1.461, de 25 de abril de 1995, veio

garantir esta representação.

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P á g i n a | 57

5| Gestão de Documentos: conceitos, princípios, rotinas, etc.

Desde o desenvolvimento da Arquivologia como disciplina, a partir da segunda

metade do século XIX, talvez nada tenha sido tão revolucionário quanto o

desenvolvimento da concepção teórica e dos desdobramentos práticos da gestão.

A gestão de documentos é uma operação arquivística, o processo de reduzir

seletivamente a proporções manipuláveis a massa de documentos, que é

característica da civilização moderna, de forma a conservar permanentemente os

que têm um valor cultural futuro, sem menosprezar a integridade substantiva da

massa documental para efeitos de pesquisa.

Embora sua concepção teórica e prática tenha se desenvolvido após a

Segunda Guerra Mundial, a partir dos E.U.A. e do Canadá, a gestão de

documentos teve suas raízes no final do século XIX, em função dos problemas

detectados nas administrações públicas destes dois países, referentes ao uso e

guarda da documentação.

Na primeira metade do século XX criaram-se comissões que visavam tornar

mais eficiente o uso dos documentos por parte da administração pública.

Vale ressaltar que durante esse período, as instituições arquivísticas

(públicas) caracterizavam-se pela função de órgãos estritamente de apoio à

pesquisa, comprometidas com a conservação e o acesso aos documentos

considerados de valor histórico.

Paralelamente iniciava-se a era da chamada administração "científica", que

procurava mostrar aos administradores como racionalizar o processo

administrativo, desenvolvendo suas atividades de forma menos dispendiosa,

melhor e mais rápida. A palavra-chave das administrações dos países

desenvolvidos - sobretudo gestão de documentos os E. U. A. - passou a ser

eficiência.

A aplicação dos princípios da administração científica para a solução dos

problemas documentais gerou o conjunto de princípios da gestão de documentos,

os quais resultam, sobretudo, na necessidade de se racionalizar e modernizar as

administrações. Não se tratava de uma demanda setorizada, produzida a partir

das próprias instituições arquivísticas. A gestão de documentos veio a contribuir

para as funções arquivísticas sob diversos aspectos:

• ao garantir que as políticas e atividades dos governos fossem

documentadas adequadamente;

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• ao garantir a melhor organização desses documentos, caso tivessem valor

permanente;

• ao inibir a eliminação de documentos de valor permanente;

• ao definir criteriosamente a parcela dos documentos que constituiriam o

patrimônio arquivístico do país, ou seja, 5% da massa documental produzida

(segundo a UNESCO).

No VIII Congresso Internacional de Arquivos, realizado em Washington, em

1976, gerou maior consciência em todo o governo, no caso norte-americano,

quanto ao significado dos documentos, qualquer que fosse o suporte, e as suas

necessidades de conservação.

As instituições arquivísticas públicas, particularmente os Arquivos Nacionais

dos Estados Unidos e do Canadá, adquiriram uma nova feição, assumindo também

a função de órgão de apoio à administração pública, com a competência de

orientar programas de gestão de documentos nos diversos órgãos

governamentais.

A INFORMAÇÃO ARQUIVÍSTICA

Considerando a literatura da área e as práticas desenvolvidas em alguns

países, pode-se sugerir que as políticas arquivísticas têm como pressuposto:

• o reconhecimento da informação governamental como um recurso

fundamental para o Estado e a sociedade civil;

• a informação governamental contempla a sociedade civil com o

conhecimento do Estado e da própria sociedade civil - passado e presente;

• a informação assegura transparência ao Estado, facilitando ao governo

administrar suas diversas funções sociais;

• o livre fluxo de informação entre Estado e sociedade civil é essencial para

uma sociedade democrática: cabe, assim, ao governo minimizar a carga de

demanda sobre a sociedade civil, diminuindo o custo de suas atividades de

informação e maximizando a utilização da informação governamental;

• os benefícios sociais derivados da informação governamental devem

exceder os custos públicos da informação, ainda que tais benefícios não possam

ser sempre quantificáveis;

• a gestão de documentos (correntes e intermediários) governamentais é

essencial para assegurar transparência e, em conjunto com a administração dos

arquivos permanentes, proteger os documentos históricos e assegurar direitos

legais e financeiros ao Estado e à sociedade;

• o intercâmbio transparente e eficiente da informação científica e

tecnológica, estimula a excelência na pesquisa científica e o uso efetivo dos

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P á g i n a | 59

recursos públicos de apoio à pesquisa e ao desenvolvimento;

• a tecnologia da informação não é um fim em si mesmo, trata-se de um

conjunto de recursos que auxilia a efetividade e eficiência das ações do governo.

PRINCÍPIOS ARQUIVÍSTICOS

A disciplina de Arquivologia engloba uma série de princípios, dentre os quais

se destacam os seguintes:

i. Principio da cumulatividade: princípio segundo o qual o arquivo é uma

formação orgânica, progressiva e natural.

ii. Princípio da organicidade: diz respeito à relação natural entre documentos

de um arquivo, em decorrência das atividades da entidade que o acumulou. Os

arquivos produzidos por entidade coletiva, pessoa jurídica ou física refletem a

estrutura e as atividades da sua entidade mantenedora no contexto da

organização dos conjuntos documentais;

iii. Princípio da pertinência: princípio segundo o qual os documentos deveriam

ser reclassificados por assunto sem ter em conta a proveniência e a classificação

original. Também chamado princípio temático;

iv. Princípio da proveniência: princípio básico da Arquivologia segundo o qual o

arquivo produzido por uma entidade coletiva, pessoa ou família não deve ser

misturado aos de outras entidades produtoras. Também chamado princípio do

respeito aos fundos;

v. Princípio da unicidade: os documentos de arquivo conservam seu caráter

único em função do contexto em que foram produzidos. Este aspecto não está

diretamente relacionado ao número de cópias produzidas, mas à função ―única‖

que os documentos executam dentro do contexto organizacional;

vi. Princípio da reversibilidade: princípio segundo o qual todo procedimento

ou tratamento empreendido em arquivos pode ser revertido, se necessário;

vii. Respeito à ordem original: Conservar a ordenação original dada na origem

do documento.

ESPÉCIE E TIPOLOGIA DOCUMENTAL

Espécie: é a denominação que se dá ao aspecto formal de um documento, as

instituições possuem diversas espécies. Exemplo: ofício, memorando, declaração,

certidão.

Tipologia documental: é a denominação que se dá quando reunimos

determinada espécie à função ou atividade que o documento irá exercer.

Logo, Tipologia Documental, como o próprio nome indica (tipo), diz respeito à

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multiplicidade da produção documental. São documentos produzidos por uma

atividade que obedece a uma função específica estando regulados por um

procedimento ou trâmite e que contenha formatos, conteúdos e suportes

semelhantes. De acordo com esta definição, de cada atividade e/ou função se

deriva uma série de documentos. Como exemplo, podemos citar: Declaração de

Imposto de Renda, Certidão de nascimento.

Portanto, por série documental tipológica entendemos o agrupamento de

espécies documentais específicas dentro das respectivas funções geradoras.

A tipologia documental é hoje um dos mais instigantes e importantes temas

para uma renovação teórica da arquivística. Como indicativo dessa transformação

tem-se a própria evolução do conceito de tipo documental, anteriormente

encontrado na literatura com inúmeras variações conceituais entre diversos

autores. As definições aproximavam-se daquilo que hoje denominamos gênero,

espécie, formato, etc., ou uma mescla desses conceitos.

No entanto, os estudiosos que se preocuparam com esse tema sempre

estiveram buscando uma conceituação que definisse o documento em sua essência

arquivística, isto é, enquanto parte integrante de um conjunto de outros

documentos gerados naturalmente no exercício das mesmas atividades. A

particularidade do documento arquivístico, que é ao mesmo tempo único e

múltiplo (quando inserido na série documental), representou um desafio a ser

superado na tentativa de conceituação do tipo documental.

O texto da Prof.ª Heloísa Bellotto, publicado em 1990, pode ser considerado

um marco da literatura arquivística nacional sobre tipologia documental. Os

conceitos ali desenvolvidos são a reformulação de um texto seu anterior, de

1982, e acabaram por ser incorporados ao Dicionário de terminologia arquivística.

A definição proposta de tipo documental passa a ser, então, a espécie documental

somada à função que a produziu, criando séries tipológicas, isto é, cada tipo

documental equivale a uma série documental. Essa nova conceituação, apesar de

aparentemente modesta, é fundamental para uma renovação dos procedimentos

arquivísticos adotados no Brasil e para a solução de muitos problemas, frente aos

quais os métodos tradicionais já começavam a apresentar sinais de esgotamento.

O avanço dessa problemática - e a importância dos estudos de tipologia

documental -, pode ser notado nos arquivos municipais espanhóis que, desde

meados da década de 1980, fazem um trabalho conjunto buscando padronizar um

arranjo documental tipológico. A proposta de elaborar arranjos tipológicos

requer o estabelecimento prévio de tipologias documentais específicas a cada

modalidade de acervo, de acordo com sua própria natureza; assim, por exemplo,

os partidos e associações políticas deverão ter um instrumento metodológico

próprio, que será diferente daqueles destinados, por exemplo, à organização dos

acervos das entidades sindicais ou dos arquivos pessoais.

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P á g i n a | 61

A confecção de tal instrumento é complexa. Supõe uma identificação

preliminar das funções desempenhadas, principalmente no nível formal/legal,

para, a partir daí, identificar nos documentos as espécies presentes em cada

função principal, bem como determinar outras funções além do nível formal/legal;

com a conjunção desses elementos pode-se elaborar a tipologia documental e, por

extensão, séries tipológicas.

Os arquivos devem ser reveladores das atividades efetivamente

desenvolvidas pelas instituições (ou pessoas) ao longo da sua existência,

revalorizando, para isto, os elementos informais, ao lado dos normativos, como

único meio de inserir corretamente os documentos no seu contexto de produção.

Deste modo a tipologia também destaca o formato como uma solução para

explicitar sua diferença em relação às espécies documentais, já que essas

características, muitas vezes, tendem a se assemelhar, podendo causar alguma

confusão na organização arquivística. Assim, por exemplo, panfleto refere-se a

uma espécie e não a um formato.

No quadro abaixo podemos identificar as diferenças entre a Espécie e a

Tipologia Documental.

Espécie Documental Função Tipologia Documental

Ofício Inscrição em curso Ofício de solicitação

Formulário Adquirir material de

consumo

Formulário de aquisição

Ata Registrar assembleia Ata de assembleia

Contrato Contrato de prestação de

serviço

Prestação de serviço

Carta Proposta de patrocínio Carta de apresentação de proposta de

patrocínio

CICLO VITAL DOS DOCUMENTOS (TEORIA DAS 3

IDADES)

Primeira Idade ou Corrente: Documentos em curso ou que sejam

frequentemente consultados, conservados nos escritórios ou nas repartições que

os receberam e os produziram ou em dependências próximas de fácil acesso

Segunda Idade, ou Intermediários: Documentos que deixam de ser

frequentemente consultados, mas cujos órgãos que os receberam ou produziram

podem ainda solicitá-los, para tratar de assunto idêntico ou de retomada de um

problema novamente focalizado. Não há necessidade de se localizarem próximos

aos escritórios e sua permanência é transitória. Em alguns países são

denominados ―Limbo‖ ou ―Purgatório‖.

Terceira Idade, ou Permanente: Documentos que perderam a sua natureza

administrativa, mas que se conservam pelo seu valor histórico ou documental, a

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P á g i n a | 62

fim de se conhecer o passado e sua evolução. Esses são os arquivos propriamente

ditos, pois ali serão arquivados de forma definitiva.

São classificados como permanentes os documentos:

a) que revelam a origem e constituição da organização;

b) que mostram como a organização funcionou ao longo do tempo;

c) considerados como normas e regulamentos;

d) demais documentos históricos.

EQUIPE DE TRABALHO

A gestão de documentos deve ser realizada não apenas por um grupo de

trabalho, mas por uma equipe integrada nos seus objetivos com cada componente

compreendendo claramente o seu papel e a contribuição profissional que os

outros esperam dele. Ou seja, uma equipe em que o todo é maior que a soma das

partes. Se não partirmos deste pressuposto qualquer resultado em gestão de

documentos estará, com certeza, aquém do desejável.

É importante observar que embora em cada momento prevaleçam aspectos

técnicos relativos a uma ou outra área do conhecimento, todos os profissionais

envolvidos devem participar das discussões e definições para todas as fases de

vida do documento. Por exemplo, quando se trata da produção, tramitação e uso

corrente dos documentos, podemos supor que é maior a influência do

administrador, que identifica competências, subordinações e os fluxos de

trabalho; e do técnico de informática, que propõe alternativas eletrônicas para a

produção de formulários e fluxogramas.

Mas, neste momento, é importante também a presença do documentalista, o

qual detendo noções de diplomática pode sugerir a forma e a estrutura dos

documentos. Um advogado oferece significativa contribuição para que as

normativas legais e processuais sejam atendidas. O historiador, que também

integra a equipe de gestão de documentos, participa destas definições, pois

orienta quanto ao valor histórico das informações registradas, valor este

nem sempre considerado na análise de profissionais de outras áreas.

O conservador, cuja formação está voltada para a preservação física dos

suportes da informação, propõe os cuidados necessários desde o momento da

produção do documento, tendo em vista a necessidade da sua preservação ao

longo do tempo. E o arquivista já pode elaborar métodos de arquivamento que

facilitem a recuperação das informações contidas nos documentos sobre as quais

se define a produção, o trâmite e o uso.

A avaliação constitui uma etapa essencial da gestão de documentos. É a fase

em que se define a eliminação ou a guarda, temporária ou permanente, de um

documento. É o momento em que também, mais do que em qualquer outro, deve

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P á g i n a | 63

ser levada em conta a formação multidisciplinar da equipe. Toda e qualquer

observação de um componente da equipe merece respeito e atenção dos demais.

Uma avaliação documental inadequada, por menor que seja, pode causar prejuízos

administrativos, financeiros e histórico-culturais e, sob determinadas

circunstâncias, irreparáveis. Desta forma, a equipe de gestão de documentos

pode e deve contar, na fase da avaliação documental, com outros profissionais

especializados nos assuntos pertinentes.

Outro aspecto fundamental para o adequado desenvolvimento da gestão de

documentos é a noção, por parte de todos os profissionais envolvidos na gestão,

do ciclo vital dos documentos, ainda que cada um deles atue somente numa fase

do ciclo vital.

O arquivo intermediário da empresa, que guarda os documentos que já não

são de uso corrente nos setores, mas que por motivos de ordem legal ou

administrativa ainda são preservados, recebe a documentação conforme as

normas estabelecidas pela gestão, dentro dos prazos previstos na tabela de

temporalidade de documentos e de acordo com os procedimentos de

transferência: cronograma, acondicionamento, descrição e relação dos

documentos a serem transferidos.

Este conjunto de orientações só pode ser definido por uma consonância entre

os setores produtores/acumuladores e a administração do arquivo intermediário.

A construção deste elo, na verdade um feixe de relações que primordialmente

devem ser institucionais e administrativas, mas que não perdem a sua dimensão

humana e pessoal, se faz por meio da equipe de gestão.

O acervo de valor histórico, a ser guardado no arquivo permanente, também é

fruto das elaborações técnicas da gestão de documentos. Como vimos acima, o

historiador deve fazer parte de uma equipe de gestão, sobretudo nas

instituições públicas. Sua função é garantir que documentos de valor histórico,

alguns imbuídos deste valor já na sua produção, outros que o adquirem ao longo

de sua existência, após cumprirem os prazos de guarda no arquivo corrente elou

intermediário, sejam recolhidos ao arquivo permanente, permitindo ao arquivo o

cumprimento de sua função de preservação da memória documental da instituição

à qual pertence.

Nesta tarefa o relacionamento com o responsável pelo arquivo permanente

que, no Brasil, em geral é um historiador deve ser constante, pois este

supostamente tem a experiência das demandas atuais no campo da pesquisa

histórico-social e, especificamente, dos documentos ou assuntos pesquisados no

acervo sob seus cuidados. Faz-se necessário também uma constante atualização

destes profissionais para que o avanço dos métodos e o surgimento de novos

objetos do conhecimento histórico sejam incorporados nos pressupostos de seu

trabalho.

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P á g i n a | 64

A gestão de documentos ainda se relaciona internamente com a área de

conservação, pois muitas das definições da gestão são o ponto de partida para o

desenvolvimento do trabalho de conservação, que irá hierarquizar suas

prioridades de acordo com o suporte da informação, o seu volume físico e o

tempo de guarda dos documentos. Portanto, as estratégias da conservação se dão

a partir e em conjunto com o trabalho da gestão.

Além das unidades internas ao arquivo com as quais se relaciona, uma equipe

de gestão de documentos interage constantemente com os diversos setores

produtores/acumuladores de documentos. A qualidade desta relação com a

estrutura da empresa é essencial para o bom desempenho da gestão. Ela inicia-se

com a sensibilização dos dirigentes para os benefícios da gestão: agilidade na

recuperação das informações; racionalização da massa documental; economia de

espaços físicos destinados à guarda de documentos e redução dos custos

operacionais demonstrando os ganhos financeiros, funcionais, ambientais e na

melhoria da imagem institucional.

Uma vez implementada a gestão de documentos, a estratégia a ser seguida é

a disseminação dos seus objetivos para os diferentes níveis hierárquicos e das

vantagens para todos da aplicação dos princípios arquivísticos no trato das

informações registradas.

A maior dificuldade no decorrer do processo de implantação da gestão de

documentos se encontra na resistência às mudanças, nos hábitos arraigados, cuja

justificativa se perdeu no tempo.

Considere-se ainda que, no campo específico da gestão, freqüentemente o

domínio físico de um conjunto de documentos ou o domínio de informações que

permitam a sua localização no caos dos "arquivos", geram ou são usados nas

disputas de poder interno na empresa. Neste momento, outras qualidades, além

da formação técnica dos profissionais da equipe de gestão, devem se fazer

presente: a paciência e a percepção das relações interpessoais e da assimilação

ou não das políticas administrativas pelo conjunto dos funcionários.

A GESTÃO DE DOCUMENTOS SEGUNDO A

LEGISLAÇÃO BRASILEIRA

A Lei Federal 8.159, de 8 de Janeiro de 1991 conceitua ―gestão de

documentos‖:

Art. 3º Considera-se gestão de documentos o conjunto de procedimentos

e operações técnicas referentes à sua produção, tramitação, uso,

avaliação e arquivamento em fase corrente e intermediária, visando a

sua eliminação ou recolhimento para guarda permanente.

Devem ser criados apenas documentos essenciais à administração da

instituição e evitadas duplicações e emissão de vias desnecessárias.

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A tramitação e utilização de documentos consistem nas atividades de

protocolo (recebimento, classificação, registro, distribuição, tramitação);

expedição; organização e arquivamento de documentos em fase corrente e

intermediária; elaboração de normas de acesso à documentação (empréstimos e

consultas).

A avaliação (com vistas à destinação) se desenvolve mediante análise dos

documentos acumulados nos arquivos com a finalidade de estabelecer seus prazos

de guarda, determinando quais serão objeto de arquivamento permanente e quais

deverão ser eliminados por terem perdido seu valor de prova e de informação

para a instituição e para terceiros.

ETAPAS DE ARQUIVAMENTO

São as seguintes as fases de arquivamento: inspeção, estudo, classificação,

codificação, ordenação e guarda dos documentos.

Inspeção

Consiste no exame, por intermédio da leitura, do documento para verificar se

o mesmo se destina ao arquivamento.

Estudo

Consiste na leitura cuidadosa de cada documento para verificar a entrada que

lhe deverá ser atribuída, a existência de antecedentes, bem como a necessidade

de serem feitas referências cruzadas.

Classificação

Consiste na determinação da entrada e das referências cruzadas que lhe

serão atribuídas através de um processo interpretativo.

Codificação

Consiste na aposição dos símbolos correspondentes ao método de

arquivamento adotado.

Ordenação

É o agrupamento dos documentos de acordo com a classificação e codificação

adotadas. Sua finalidade é agilizar o arquivamento e racionalizar o trabalho.

Guarda dos documentos

É o arquivamento propriamente dito.

EMPRÉSTIMO E CONSULTA

Documentos de arquivo só podem ser consultados ou cedidos, por

empréstimo, aos órgãos que os receberam ou produziram, aos órgãos

encarregados das atividades a que se referem os documentos e às autoridades

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P á g i n a | 66

superiores, na mesma linha hierárquica.

Quanto aos prazos para empréstimo de dossiês, sugere-se que devam estar

compreendidos numa faixa de dez dias, podendo ser renovados mediante sua

apresentação no Arquivo. Deverá ser utilizada a guia-fora, que ficará no lugar da

pasta juntamente com o Recibo de Dossiê. Este deve conter os seguintes dados:

data da retirada, nome de quem retirou e sua unidade administrativa, índice

da pasta, assinatura de quem retirou e do arquivista responsável pelo

empréstimo.

Para facilitar sua cobrança, deve ser instituído o fichário de lembretes ou vigilância contínua ou follow-up para controle de prazos, que poderá ser

organizado em diversas modalidades.

Para informações adicionais, consultar Resolução nº 14 do CONARQ.

ANÁLISE, AVALIAÇÃO, SELEÇÃO E ELIMINAÇÃO

O governo não pode conservar todos os documentos produzidos em

conseqüência de suas múltiplas atividades. Torna-se impossível prover espaço

para armazená-los, bem como pessoal para cuidar dos mesmos. O custo da

manutenção de tais papéis vai além das posses da mais rica nação. Além disso, os

documentos devem ser reduzidos em quantidade para que sejam úteis à pesquisa

erudita.

O destino de um documento pode ser a transferência para um depósito de

armazenamento temporário (record center) ou para um arquivo de preservação

em caráter permanente, redução de seu volume por meio de microfotografia ou

simplesmente a destruição imediata.

A eficiência de um programa de destinação de documentos deve ser julgada

tão-somente pela exatidão de suas determinações. A transferência para um

depósito temporário presume valor para um futuro uso administrativo, legal ou

fiscal; o recolhimento para um arquivo de custódia permanente, o valor para

pesquisa ou valor permanente para outros fins. A microfilmagem, dado o seu alto

custo, só é proposta quando os documentos têm valor primário ou secundário que

justifique a despesa. E, é lógico, faz-se mister um julgamento de valor sempre

que se pretender destruir documentos. Para maiores informações vide art. 1º, §

2º e art 2º da Lei 5.433/68.

Um instrumento de destinação pode servir a vários fins. Podem visar tão-

somente à identificação de corpos de documentos acumulados num órgão do

governo e que precisam ser descartados imediatamente ou dentro de

determinado prazo. Um documento preparado com esse objetivo chama-se “lista

de descarte” ou “lista de eliminação”. Essas tabelas normalmente são aplicadas

a documentos de tipo rotineiro e devem descrever os documentos de forma a

facilitar a eliminação dos mesmos. O teste de eficiência de uma tabela decorre

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P á g i n a | 67

da possibilidade de os documentos nela incluídos serem removidos e eliminados no

fim dos períodos de retenção recomendados. A remoção ordenada e o descarte

de grande quantidade de papéis inúteis dos arquivos correntes baseiam-se em

tabelas de descarte. São, pois, um importante instrumento de administração.

Um instrumento de destinação pode também ter o complexo objetivo de

identificar tipos rotineiros de documentos cujo descarte futuro possa ser

realizado a intervalos determinados. Um documento feito com esse objetivo

chama-se “tabela de descarte”.

Podem ainda ter o complexo objetivo de identificar todos os corpos de

documentos de um órgão e indicar o destino que se deva dar a cada um deles,

seja a eliminação, seja a transferência para um arquivo de custódia permanente.

Um documento que englobe todos os documentos dessa forma chama-se “plano

de destinação” ou “tabela de temporalidade”. Todos esses instrumentos de

destinação são atos normativos.

Uma vez determinada a eliminação de documentos, devem ser preparados os

termos de eliminação correspondentes, os quais devem conter, de forma sucinta,

a identificação dos conjuntos documentais, datas abrangentes, natureza dos

documentos e quantidade, bem como a indicação do instrumento de destinação

que autoriza a destruição.

Os documentos devem ser classificados corretamente para uso corrente,

como uma preliminar para a sua exata identificação nos instrumentos de

destinação. Devem ser classificados e arquivados de tal modo que possam ser

prontamente removidos para serem destruídos depois de terem servido ao uso

corrente. A triagem ou escolha das pastas, quer sejam arranjadas segundo um

sistema de registro ou por um sistema de arquivamento americano, é um processo

de alto custo. De fato, a triagem dificilmente se justifica do ponto de vista

econômico, a menos que uma boa parte dos documentos que estão sendo

examinados possa ser separada para descarte. A classificação, portanto, tem

estreita ligação com as práticas de destinação.

Os documentos devem ser classificados visando, em primeiro lugar, a

facilitar o seu uso em atividades correntes, e somente como finalidade

secundária a facilitar a sua remoção e descarte. Contudo, se os documentos

forem devidamente classificados em relação à função, podem, em geral, ser

eliminados segunda esta, pois muito do valor daqueles deriva de sua relação com a

própria função. As decisões para se destruir documentos devem ser finais e

irrevogáveis.

Salvo em circunstâncias excepcionais, os documentos não devem ser

conservados temporariamente ou microfilmados a fim de adiar a necessidade de

julgar sobre sua inutilidade ou de fundamentar uma opinião mediante verificação

de falta de uso dos mesmos. Os documentos selecionados para eliminação

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P á g i n a | 68

normalmente são vendidos como papel velho, podendo, porém, ser eliminados por

qualquer outro meio: fragmentação, maceração etc. A incineração – processo

condenado –, quer pelo aumento do índice de poluição que provoca, quer pela

impossibilidade de reciclagem do papel, não deve ser adotada. Quando se faz um

contrato para venda desses papeis, deve-se incluir uma cláusula proibindo a sua

revenda como documento. A maceração ou qualquer outro tratamento é sempre

aconselhável quando se tratar de documentos confidenciais.

VALOR DOS DOCUMENTOS

Em relação ao seu valor, os documentos podem ser:

Permanentes vitais -> aqueles que devem ser conservados indefinidamente

por serem de importância vital para a organização.

Permanentes -> são os que, pela informação que contêm, devem ser

conservados indefinidamente.

Temporários –> quando se pode determinar um prazo ou determinada data em

que cessa o valor do documento.

DISTINÇÃO ENTRE VALORES PRIMÁRIOS E SECUNDÁRIOS

Os valores inerentes aos documentos públicos são de duas categorias: valores

primários, para a própria entidade onde se originaram os documentos, e valores

secundários, para outras entidades e utilizadores privados.

DISTINÇÃO ENTRE VALORES PROBATÓRIOS E INFORMATIVOS

Pode-se determinar mais facilmente os valores secundários de documentos

oficiais se os analisarmos em relação a dois aspectos: a) a prova que contêm da

organização e do funcionamento do órgão governamental que os produziu, ou seja,

todos os documentos essenciais relativos à origem, ao desenvolvimento e ao

funcionamento de um órgão – documentos probatórios ou demonstrativos, que

contêm o testemunho da existência e das atividades do órgão; e b) a

informação que contêm sobre pessoas, entidades, coisas, problemas, condições

etc. com que o órgão governamental haja tratado.

Os valores inerentes aos documentos decorrentes da prova que contêm da

organização e funções serão chamados de valores probatórios. Os valores

inerentes aos documentos devido à informação que contêm serão chamados de

valores “informativos”. A informação pode relacionar-se, de modo geral, a

pessoas (físicas e jurídicas), coisas ou fenômenos, sabendo-se que os dois tipos

de valores não se excluem mutuamente.

Valores probatórios

Um governo responsável deve preservar um mínimo de provas de como era a

sua organização e de como funcionava, em todos os seus numerosos e complexos

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P á g i n a | 69

setores. Todos os arquivistas admitem que o mínimo a ser guardado são os

documentos sobre a organização e o funcionamento. Mediante uma seleção

criteriosa de vários grupos e séries, um arquivista pode reunir, em um corpo de

documentos relativamente pequeno, todos os fatos de importância sobre a

existência de um órgão. Para efeito probatório deve-se procurar responder as

seguintes perguntas: ―o que era o negócio?‖, ―como era conduzido, por quem e

com que resultados?‖.

As estimativas de valores probatórios devem ser feitas com base no

conhecimento completo da documentação do órgão; não devem ser feitas

tomando-se por base parte da documentação e não importa quão bem concebido e

bem executado seja um programa histórico; jamais poderá produzir trabalhos

que sirvam como substitutivos dos documentos originais.

Outro ponto importante a ser considerado é o de que se os documentos visam

a servir como prova da organização e função, há que ser mantido o arranjo que

lhes foi dado pelas unidades administrativas que os criaram; não se deve

reorganizá-los pelos assuntos ou por outro princípio qualquer.

Valores Informativos

Os valores informativos derivam da informação contida nos documentos

oficiais relativa aos assuntos de que tratam as repartições públicas e não da

informação ali existente sobre as próprias repartições. A maioria dos

documentos oficiais modernos preservados em arquivos de custódia é valiosa,

menos pela prova que oferecem da ação do governo, do que pela informação que

apresentam sobre pessoas determinadas, situações, eventos, condições,

problemas, coisas e propriedades que deram origem a competente ação.

Na apreciação do valor informativo existente nos documentos oficiais o

arquivista não leva em consideração a origem dos documentos – que órgão os

produziu, ou de que atividades resultaram. O interesse aqui reside na informação

que contêm. Há alguns testes pelos quais se pode julgar dos valores informativos

dos documentos oficiais. São eles: a) unicidade; b) forma; e c) importância.

Unicidade

Ao aplicar o teste o arquivista deve levar em conta tanto a unicidade da

informação, quanto a unicidade dos documentos que contêm a informação. O

termo ―unicidade‖, aplicado à informação, significa que a informação contida em

determinados documentos oficiais não será encontrada em outras fontes

documentárias de forma tão completa e utilizável. A informação é obviamente

única se não pode ser encontrada em outro lugar. Para determinar se um

corpo de documentos é a única boa fonte de informação sobre um dado

assunto, é preciso ser um verdadeiro perito no mesmo.

O arquivista alemão Meissner formulou a máxima ―a idade avançada deve

ser respeitada‖ nos documentos. Os arquivistas de diversos países

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P á g i n a | 70

estabeleceram datas-limite antes das quais propõem que todos os documentos

sejam conservados. Na Alemanha é o ano de 1700; na Inglaterra, 1750; na

França, 1830; e na Itália, 1861. A data italiana corresponde aproximadamente,

por coincidência histórica, à adotada pelo Arquivo Nacional dos Estados Unidos,

onde se preservam quase todos os documentos ainda existentes criados antes da

Guerra Civil, iniciada em 1861.

Forma

Ao aplicar o teste forma, o arquivista deve novamente levar em conta: a) a

forma da informação nos documentos, e b) a forma dos documentos.

A informação pode ser concentrada em documentos no sentido de que: a) uns

poucos fatos são apresentados em dado documento sobre muitas pessoas,

coisas ou fenômenos (informação extensa); b) muitos fatos são apresentados

sobre algumas pessoas, coisas ou fenômenos (informação intensa); ou c) muitos

fatos são apresentados sobre matérias diversas – pessoas coisas e fenômenos

(informação diversa). Em geral, os documentos que representam concentração de

informação são os que mais se prestam à preservação arquivística, pois os

arquivos quase sempre têm problemas de espaço para a guarda de documentos.

O termo forma aplicado aos documentos e não à informação neles contida

refere-se à condição física dos documentos oficiais. A condição física é

importante, pois, se os documentos vão ser preservados num arquivo, devem

apresentar-se de forma que possibilitem a outros, que não os próprios criadores,

usá-los sem dificuldade e sem recorrer a dispendiosos equipamentos mecânicos

ou eletrônicos.

Importância

O arquivista presume que sua primeira obrigação é a de conservar a

documentação que contenha informação que satisfará às necessidades do próprio

governo, e depois disso, por mais indefinidas que sejam, as dos pesquisadores e

do público em geral. Antes de aplicar o teste da importância, o arquivista deve

estar certo de que os documentos satisfazem os testes de unicidade e forma. O

teste de importância relaciona-se a fatores imponderáveis – a matérias que não

podem ser avaliadas com real certeza. Os testes de unicidade e forma, ao

contrário, referem-se a fatores ponderáveis – a assuntos que são passíveis de

ser avaliados na base de fatos que não deixam dúvidas.

DOCUMENTOS RELATIVOS A PESSOAS - SELEÇÃO

ESPECIAL E AMOSTRA ESTATÍSTICA

Na seleção de documentos, tendo em vista a informação que contêm sobre

pessoas, dois critérios são possíveis. O primeiro é selecionar aqueles que

representam concentrações de informações, tais como formulários de

recenseamentos cujos documentos de per si fornecem informação extensa,

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P á g i n a | 71

intensa ou diversa, em forma concentrada. O segundo é selecionar um certo

número de documentos ou pastas que sejam representativos ou ilustrativos do

todo, ou que sejam suficientes para esclarecer os fenômenos investigados.

Na última alternativa, isto é, naquela de selecionar, para retenção, um número

limitado de processos sobre indivíduos, dois princípios podem ser adotados: a) o

de seleção especial; e b) o de amostra estatística.

DOCUMENTOS RELATIVOS A COISAS

No estudo dos documentos sobre coisas, os valores a serem considerados são

os que derivam da informação que contêm ore as próprias coisas e não da

informação sobre o que acontece às coisas. Entre as coisas, o ser humano se

preocupa, fundamentalmente, com a terra na qual vive.

DOCUMENTOS RELATIVOS A FENÔMENOS

O termo fenômeno refere-se aqui ao que ocorre com pessoas ou coisas. Se os

fenômenos são antigos, interessam principalmente aos historiadores; se novos,

aos sociólogos, economistas ou estudiosos de administração. Um arquivista, não

importa qual seja sua experiência, ordinariamente apreciará os documentos

principalmente por seu valor ou interesse histórico. A maioria dos arquivistas

tende a preservar todos os documentos que se referem de maneira significativa

a pessoas, episódios ou acontecimentos importantes.

Quanto a documentos mais recentes sobre assuntos sociais e econômicos,

deve-se aplicar o princípio da seleção especial. Esse princípio significa,

simplesmente, que alguns documentos são selecionados para preservação, porque

contêm dados que são representativos ou ilustrativos do todo, porque tratam de

um acontecimento ou ação importante ou significativa, ou porque contêm dados

considerados próprios para um estudo de condições sociais e econômicas

específicas. É bom distinguir-se imediatamente esse princípio do princípio de

amostragem estatística. Este último, adotado no início do século XX, requer um

conhecimento do método que o arquivista, em geral, não possui. As técnicas de

coleta, classificação e análise estatística, de correlação de dados, cômputo de

médias e probabilidades, previsões, curvas e compilação de números-índices são

técnicas altamente especializadas, parte de uma disciplina distinta.

CONCLUSÕES

A avaliação de documentos não deve se basear em intuição ou em suposições

arbitrárias de valor. Deve ser, ao contrário, baseada na análise total da

documentação relativa ao assunto a que se referem os documentos em questão. A

análise é a essência da avaliação arquivística. Ao mesmo tempo em que aquilata os

valores probatórios dos documentos, o arquivista deve levar em conta o conjunto

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P á g i n a | 72

da documentação do órgão que os produziu. Igualmente, ao apreciar os valores

informativos dos documentos, o arquivista deve levar em consideração a

documentação total em conexão com o assunto a que se refere a informação.

Deve determinar se aquele grupo de documentos em questão contém informação

única e se apresenta uma forma que o torne útil como uma fonte de informação, e

só depois de feito isto deverá entrar no reino do imponderável.

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6| Gestão de Documentos: operações pela preservação da informação

MICROFILMAGEM

Os objetivos da microfilmagem de documentos são, em geral, dois:

a) reduzir o seu volume;

b) garantir a sua durabilidade.

Qualquer determinação para microfilmar documentos deve ser baseada nos

seguintes princípios: os documentos devem apresentar valor que justifique o

custo dessa operação; o processo de microfilmagem é de alto custo, devendo-se,

por isso, sopesar esse custo contra o da preservação dos documentos na forma

original; e os documentos a serem microfilmados devem ter características

físicas que se prestem à filmagem. No Brasil, a Lei 5.433/68 regula a matéria.

O estudo da microfilmagem iniciou-se em 1835 com a reprodução de

diminutas imagens fotográficas. Entretanto a sua utilização como vemos hoje se

deu em 1906 quando livros e documentos foram reduzidos a pequenas dimensões

visando sua utilização em pesquisas.

Entende-se por microfilmagem de substituição a que incide sobre

documentos de guarda temporária, com vistas ao aproveitamento de espaço.

As microformas podem apresentar-se em três modos: filme, jaqueta ou

microficha.

FILME (ROLO)

É a forma de saída natural do processo de microfilmagem dos documentos.

São gerados um filme original (sais de prata) para acondicionamento no arquivo

de segurança e uma cópia (diazo) para consulta. Um filme tem a capacidade de

armazenar mais ou menos 2.400 documentos de formato A4. No filme esses

documentos são chamados de fotogramas.

JAQUETA

A sua impressão segue os mesmos procedimentos da forma anterior. Também

são gerados dois filmes: um para guarda no arquivo de segurança e outro para

consulta. Entretanto, esse segundo formato passa por novos procedimentos: seus

fotogramas são recortados e inseridos em jaquetas. Utiliza-se o arquivamento

em jaquetas nos documentos que formam dossiês e que necessitam ser

constantemente atualizados e consultados, exigindo, assim, a proximidade das

informações. Como esse processo é mais trabalhoso, somente uma pequena parte

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P á g i n a | 74

da documentação de uma empresa encontra-se nesse suporte.

MICROFICHAS

Podem ser emitidas pelo sistema comum de microfilmagem ou através do

sistema COM – Computer Output Microfilm, ou seja, saída direta do computador

para a microficha, através da fita spool, sem passar pelo papel. Não é mais

necessária a impressão de quilômetros de formulários contínuos. Sua capacidade

de armazenamento é de até 420 fotogramas. As microfichas são usadas em

arquivos que sejam bastante utilizados devido à facilidade de seu manuseio. Os

equipamentos para a leitura das microformas podem ser simples – unicamente

para a leitura – ou conjugados (leitoras/ copiadoras) – para a leitura e cópia em

papel.

TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO

Os avanços tecnológicos, ao lado das vantagens que oferecem, apresentam

alguns problemas que merecem reflexão e exigem soluções dentro de curto

espaço de tempo: falta de respaldo legal, no Brasil, que assegure o valor

probatório dos registros contidos em suportes informáticos; baixa durabilidade

dos materiais empregados, tornando necessária a transferência periódica das

informações para outros suportes; obsolescência, em prazos de quatro a cinco

anos, dos equipamentos necessários à leitura das informações armazenadas; falta

de padronização na fabricação de equipamentos e suportes.

TRANSFERÊNCIA E RECOLHIMENTO

Transferência e recolhimento são definidos respectivamente no art. 1º, § 1º

e art 1º, § 2º da Resolução nº 2 do CONARQ. Transferência e recolhimento são

feitos em razão da freqüência de uso e não do valor do documento. A

transferência dos documentos do arquivo corrente para o intermediário e o

recolhimento para o permanente objetivam racionalizar os trabalhos – facilita o

arquivamento e a localização de documentos, pois libera espaço e economiza

recursos materiais, lembrando que o arquivo intermediário deverá ser

subordinado técnica e administrativamente ao arquivo permanente.

As transferências para centros de depósito de armazenamento temporário.

atendem, no mínimo, a três necessidades bem definidas: a) servem para

acomodar certos tipos de documentos que se acumulam regularmente nas

repartições do governo e que devem ser conservados durante longos períodos de

tempo; b) servem para acomodar acumulações especiais de documentos de órgãos

extintos ou de determinadas atividades; e c) servem como um lugar onde se

concentram todos os acúmulos de documentos – regulares ou especiais, de valor e

sem valor – ao se iniciar um programa de administração de documentos ou

arquivístico. Essas transferências também ocorrem para áreas de custo

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P á g i n a | 75

reduzido, contribuindo para a economia do sistema, que é sua finalidade

primordial. A maior desvantagem de um plano de depósito tipo ―limbo‖, reside no

incentivo que dá às instituições para protelar o exame de seus documentos. Esses

centros não devem ser normalmente usados para armazenar documentos cujo

destino os funcionários não possam decidir de imediato.

Sempre que se transferem documentos do tipo não-rotineiro para centros

intermediários, faz-se mister obter informações precisas e completas sobre as

origens administrativas e o significado funcional dos mesmos, a fim de facilitar

sua avaliação. Conquanto tais informações sejam muito úteis na avaliação, as

descrições, por escrito, de documentos, raramente são um bom substituto para a

informação que pode ser prestada oralmente por aqueles que os criaram. É

importante lembrar que os documentos transferidos a um depósito intermediário

conservam a classificação que lhes foi dada nos arquivos correntes.

Quanto aos arquivos de custódia, deve-se observar alguns preceitos básicos:

primeiro, que um arquivo permanente não deve aceitar documentos que possam

demandar empréstimos freqüentes à repartição de origem, embora um centro

intermediário possa tomar tais encargos.; segundo devem ser documentos com

valor secundário evidente que justifique sua retenção permanente; terceiro, os

corpos dos documentos transferidos para um arquivo devem ser unidades

completas e lógicas, acompanhadas dos índices que lhe sejam pertinentes, devem

estar em boa ordem e, tanto quanto possível, destituídos de peças sem valor

que com eles possam ter sido arquivados. E por último, um arquivo de custódia

não deve recolher documentos a cujo uso se imponham restrições consideradas

descabidas e contrárias ao interesse público.

TIPOS DE TRANSFERÊNCIA

Até a primeira metade do século XX a tradição arquivística clássica

considerava apenas duas idades dos arquivos: a administrativa e a histórica. Os

documentos passavam diretamente de um a outro estágio, não sendo prevista

nenhuma fase de transição. Com o aumento da massa documental, surgiu a

teoria da “idade intermediária” e com ela a noção de depósitos intermediários,

cujo acervo é constituído de papéis que não estão mais em uso corrente. Os

arquivos intermediários tornaram-se uma necessidade reconhecida por

administradores e arquivistas. Sua função principal consiste em proceder a um

arquivamento transitório, isto é, em assegurar a preservação de documentos que

não são mais movimentados, utilizados pela administração e que devem ser

guardados temporariamente, aguardando pelo cumprimento dos prazos

estabelecidos elas comissões de análise ou, em alguns casos, por um processo de

triagem que decidirá pela eliminação ou arquivamento definitivo, para fins de

prova ou de pesquisa.

Há dois tipos básicos de transferência: permanente e periódica.

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permanente é a que se processa em intervalos irregulares e exige, quase sempre,

que se indique em cada documento a data em que deverá ser transferido. Só é

aplicada em casos especiais. Periódica é a remoção de documentos, em

intervalos determinados. Ela pode ser efetuada em uma etapa, em duas etapas,

e ainda dentro de um período determinado, sendo esta última conhecida como

periódica de mínimo e máximo.

Na transferência periódica em uma etapa, os documentos julgados de valor

são recolhidos diretamente do arquivo corrente para o arquivo permanente.

Neste caso, não há arquivo intermediário e a transferência recebe o nome de

recolhimento. Na transferência periódica em duas etapas – também conhecida

por dupla capacidade, transferência múltipla ou método do ciclo – os

documentos são transferidos para o arquivo intermediário, onde permanecem

durante determinado período e, posteriormente, se julgados de valor, são

recolhidos em caráter definitivo para o arquivo permanente.

É normalmente nessa fase (transferência) que se promove a desinfestação e

a restauração dos documentos.

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7| Temporalidade e Destinação de Documentos de Arquivo Relativos às Atividades-Meio da Administração Pública

INTRODUÇÃO

A avaliação constitui-se em atividade essencial do ciclo de vida documental

arquivístico, na medida em que define quais documentos serão preservados para

fins administrativos ou de pesquisa e em que momento poderão ser eliminados ou

destinados aos arquivos intermediário e permanente, segundo o valor e o

potencial de uso que apresentam para a administração que os gerou e para a

sociedade.

Os primeiros atos legais destinados a disciplinar a avaliação de documentos

no serviço público datam do final do século passado, em países da Europa, nos

Estados Unidos e no Canadá. No Brasil, a preocupação com a avaliação de

documentos públicos não é recente, mas o primeiro passo para sua

regulamentação ocorreu efetivamente com a Lei Federal nº 8.159, de 8 de

janeiro de 1991, que em seu artigo 9º dispõe que ―a eliminação de documentos

produzidos por instituições públicas e de caráter público será realizada mediante

autorização de instituição arquivística pública, na sua específica esfera de

competência‖.

Estudos vêm sendo realizados, no setor público e privado, com o objetivo de

estabelecer critérios e parâmetros para a avaliação documental, já desde a

década de 1970. O Arquivo Nacional publicou em 1985 manual técnico sob o título

Orientação para avaliação e arquivamento intermediário em arquivos públicos, do

qual constam diretrizes gerais para a realização da avaliação e para a elaboração

de tabelas de temporalidade. Em 1986, iniciaram-se as primeiras atividades de

avaliação dos acervos de caráter intermediário sob a guarda da então Divisão de

Pré-Arquivo do Arquivo Nacional, desta vez com a preocupação de estabelecer

prazos de guarda com vista à eliminação e, conseqüentemente, à redução do

volume documental e racionalização do espaço físico.

A metodologia adotada à época envolveu pesquisas na legislação que regula a

prescrição de documentos administrativos, e entrevistas com historiadores e

servidores responsáveis pela execução das atividades nos órgãos públicos, que

forneceram as informações relativas aos valores primário e secundário dos

documentos, isto é, ao seu potencial de uso para fins administrativos e de

pesquisa, respectivamente. Concluídos os trabalhos, ainda que restrito à

documentação já depositada no arquivo intermediário do Arquivo Nacional, foi

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P á g i n a | 78

constituída, em 1993, uma Comissão Interna de Avaliação que referendou os

prazos de guarda e destinação propostos.

Com o objetivo de elaborar uma Tabela de Temporalidade Documental – TTD,

da então Secretaria de Planejamento, Orçamento e Coordenação (SEPLAN), foi

criado, em 1993, um grupo de trabalho composto por técnicos do Arquivo

Nacional e daquela secretaria, cujos resultados, relativos às atividades-meio,

serviriam de subsídio ao estabelecimento de prazos de guarda e destinação para

os documentos da administração pública federal. A tabela, elaborada com base

nas experiências já desenvolvidas pelos dois órgãos, foi encaminhada, em 1994, à

Direção Geral do Arquivo Nacional para aprovação.

Com a instalação do Conselho Nacional de Arquivos (Conarq), em novembro de

1994, foi criada, dentre outras, a Câmara Técnica de Avaliação de Documentos

(Ctad) para dar suporte às atividades do conselho. Sua primeira tarefa foi

analisar e discutir a TTD elaborada pelo grupo de trabalho Arquivo

Nacional/SEPLAN, com o objetivo de torná-la aplicável também aos documentos

produzidos pelos órgãos públicos nas esferas estadual e municipal, servindo como

orientação a todos os órgãos participantes do Sistema Nacional de Arquivos

(Sinar).

O modelo ora apresentado constitui-se em instrumento básico para

elaboração de tabelas referentes às atividades-meio do serviço público, podendo

ser adaptado de acordo com os conjuntos documentais produzidos e recebidos.

Vale ressaltar que a aplicação da tabela deverá estar condicionada à aprovação

por instituição arquivística pública na sua específica esfera de competência.

A tabela de temporalidade documental deverá contemplar as atividades-meio

e atividades-fim de cada órgão público. Desta forma, caberá aos mesmos definir

a temporalidade e destinação dos documentos relativos às suas atividades

específicas, complementando a tabela básica aqui apresentada. Posteriormente,

esta deverá ser encaminhada à instituição arquivística pública para aprovação e

divulgação, por meio de ato legal que lhe confira legitimidade.

CONFIGURAÇÃO DA TABELA DE TEMPORALIDADE

DOCUMENTAL - TTD

A Tabela de Temporalidade Documental é um instrumento arquivístico

resultante de avaliação, que tem por objetivos definir prazos de guarda e

destinação de documentos, com vista a garantir o acesso à informação a quantos

dela necessitem. Sua estrutura básica deve necessariamente contemplar os

conjuntos documentais produzidos e recebidos por uma instituição no exercício

de suas atividades, os prazos de guarda nas fases corrente e intermediária, a

destinação final – eliminação ou guarda permanente – além de um campo para

observações necessárias à sua compreensão e aplicação.

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P á g i n a | 79

Apresentam-se a seguir diretrizes para a correta utilização do instrumento:

1. Assunto

Neste campo são apresentados os conjuntos documentais produzidos e

recebidos, hierarquicamente distribuídos de acordo com as funções e atividades

desempenhadas pela instituição. Para possibilitar melhor identificação do

conteúdo da informação, foram empregadas funções, atividades, espécies e tipos

documentais, genericamente denominados assuntos, agrupados segundo um código

de classificação, cujos conjuntos constituem o referencial para o arquivamento

dos documentos.

Como instrumento auxiliar, pode ser utilizado o índice, que contém os

conjuntos documentais ordenados alfabeticamente para agilizar a sua localização

na tabela.

2. Prazos de guarda

Referem-se ao tempo necessário para arquivamento dos documentos nas

fases corrente e intermediária, visando atender exclusivamente às necessidades

da administração que os gerou, mencionado, preferencialmente, em anos.

Excepcionalmente, pode ser expresso a partir de uma ação concreta que deverá

necessariamente ocorrer em relação a um determinado conjunto documental.

Entretanto, deve ser objetivo e direto na definição da ação – exemplos: até

aprovação das contas; até homologação da aposentadoria; e até quitação da

dívida.

O prazo estabelecido para a fase corrente relaciona-se ao período em que o

documento é freqüentemente consultado, exigindo sua permanência junto às

unidades organizacionais. A fase intermediária relaciona-se ao período em que o

documento ainda é necessário à administração, porém com menor freqüência de

uso, podendo ser transferido para depósito em outro local, embora à disposição

desta.

A realidade arquivística no Brasil aponta para variadas formas de

concentração dos arquivos, seja ao nível da administração (fases corrente e

intermediária), seja no âmbito dos arquivos públicos (permanentes ou históricos).

Assim, a distribuição dos prazos de guarda nas fases corrente e intermediária

foi definida a partir das seguintes variáveis:

I – Órgãos que possuem arquivo central e contam com serviços de

arquivamento intermediário: Para os órgãos federais, estaduais e municipais que

se enquadram nesta variável, há necessidade de redistribuição dos prazos,

considerando-se as características de cada fase, desde que o prazo total de

guarda não seja alterado, de forma a contemplar os seguintes setores

arquivísticos:

- arquivo setorial (fase corrente, que corresponde ao arquivo da unidade

Page 81: Apostilado de Arquivologia_novo 2012

P á g i n a | 80

organizacional);

- arquivo central (fase intermediária I, que corresponde ao setor de

arquivo geral/central da instituição);

- arquivo intermediário (fase intermediária II, que corresponde ao

depósito de arquivamento intermediário, geralmente subordinado à instituição

arquivística pública nas esferas federal, estadual e municipal).

II – Órgãos que possuem arquivo central e não contam com serviços de

arquivamento intermediário: Nos órgãos situados nesta variável, as unidades

organizacionais são responsáveis pelo arquivamento corrente e o arquivo central

funciona como arquivo intermediário, obedecendo aos prazos previstos para esta

fase e efetuando o recolhimento ao arquivo permanente.

III – Órgãos que não possuem arquivo central e contam com serviços de

arquivamento intermediário: Nesta variável, as unidades organizacionais também

funcionam como arquivo corrente, transferindo os documentos – após cessado o

prazo previsto para esta fase – para o arquivo intermediário, que promoverá o

recolhimento ao arquivo permanente.

IV – Órgãos que não possuem arquivo central nem contam com serviços de

arquivamento intermediário: Quanto aos órgãos situados nesta variável, as

unidades organizacionais são igualmente responsáveis pelo arquivamento

corrente, ficando a guarda intermediária a cargo das mesmas ou do arquivo

público, o qual deverá assumir tais funções.

3. Destinação final

Neste campo é registrada a destinação estabelecida que pode ser a

eliminação, quando o documento não apresenta valor secundário (probatório ou

informativo) ou a guarda permanente, quando as informações contidas no

documento são consideradas importantes para fins de prova, informação e

pesquisa.

A guarda permanente será sempre nas instituições arquivísticas públicas

(Arquivo Nacional e arquivos públicos estaduais, do Distrito Federal e

municipais), responsáveis pela preservação dos documentos e pelo acesso às

informações neles contidas. Outras instituições poderão manter seus arquivos

permanentes, seguindo orientação técnica dos arquivos públicos, garantindo o

intercâmbio de informações sobre os respectivos acervos.

4. Observações

Neste campo são registradas informações complementares e justificativas,

necessárias à correta aplicação da tabela. Incluem-se, ainda, orientações quanto

à alteração do suporte da informação e aspectos elucidativos quanto à destinação

dos documentos, segundo a particularidade dos conjuntos documentais avaliados.

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P á g i n a | 81

METODOLOGIA PARA ELABORAÇÃO DA TTD

Para a elaboração da tabela de temporalidade documental há que se observar

os princípios da teoria das três idades, que define parâmetros gerais para

arquivamento e destinação dos documentos de arquivo.

O processo de avaliação deve considerar a função pela qual foi criado o

documento, identificando os valores a ele atribuídos (primário ou secundário),

segundo o seu potencial de uso.

O valor primário refere-se ao uso administrativo para o órgão, razão primeira

da criação do documento, o que pressupõe o estabelecimento de prazos de

guarda ou retenção anteriores à eliminação ou ao recolhimento para guarda

permanente. Relaciona-se, portanto, ao período de utilidade do documento para o

cumprimento dos fins administrativos, legais ou fiscais.

O valor secundário refere-se ao uso para outros fins que não aqueles para os

quais os documentos foram criados, podendo ser:

a) Probatório – quando comprova a existência, o funcionamento e as ações da

instituição;

b) Informativo – quando contém informações essenciais sobre matérias com

que a organização lida, para fins de estudo ou pesquisa (Schellenberg, 1994, p.

152-154).

A metodologia de elaboração da tabela de temporalidade documental

fundamenta-se nas funções e atividades desempenhadas pelos órgãos públicos,

tomando-se por base o conteúdo da informação contida nos documentos, pois

somente desta maneira é possível realizar a análise e seleção documental com

racionalidade e segurança.

Os órgãos, ao adotar a tabela, devem designar uma Comissão Permanente de

Avaliação que terá a responsabilidade de proceder às adaptações, orientar sua

aplicação, dirimir possíveis dúvidas, orientar o processo de seleção dos

documentos e proceder à revisão periódica no que se refere aos documentos

relativos às atividades-meio. Deverá, ainda, promover a avaliação dos documentos

relativos às atividades-fim, complementando a tabela básica e submetendo-a à

aprovação da instituição arquivística pública.

A Comissão Permanente de Avaliação compor-se-á de:

• arquivista ou responsável pela guarda da documentação;

• servidores das unidades organizacionais às quais se referem os documentos

a serem destinados, com profundo conhecimento das atividades desempenhadas;

• historiador ligado à área de pesquisa de que trata o acervo;

• profissional da área jurídica, responsável pela análise do valor legal dos

documentos;

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P á g i n a | 82

• profissionais ligados ao campo de conhecimento de que trata o acervo

objeto da avaliação (economista, sociólogo, engenheiro, médico e outros);

• outros profissionais que possam colaborar com as atividades da comissão.

Competirá à comissão designar grupo de trabalho responsável pela execução

dos procedimentos metodológicos descritos a seguir:

1. levantamento de dados relativos às funções e atividades desenvolvidas na

área de administração geral, bem como naquelas específicas do órgão

(atividades-fim);

2. definição dos conjuntos documentais;

3. entrevistas com servidores responsáveis pelo planejamento e execução das

atividades às quais se referem os conjuntos documentais definidos, obtendo

informações referentes à vigência, à legislação que regula as atividades e os

prazos de prescrição, à existência de outras fontes recapitulativas, à freqüência

de uso dos documentos, e aos prazos de precaução, cuja necessidade é ditada

pelas práticas administrativas;

4. levantamento de informações sobre linhas de pesquisa;

5. processamento das informações e preenchimento dos campos da tabela;

6. encaminhamento da proposta à Comissão Permanente de Avaliação para

apreciação dos prazos de guarda e destinação.

Cessados os trabalhos, a Comissão Permanente de Avaliação deverá:

1. analisar a proposta, procedendo alterações ou aprovando-a na íntegra;

2. encaminhar a tabela à instituição arquivística pública na sua respectiva

esfera de competência para aprovação;

3. providenciar a divulgação da tabela aprovada, por intermédio de ato legal a

ser publicado na imprensa oficial ou, na inexistência desta, em outro veículo de

divulgação local.

Para que a TTD seja aplicada com êxito, será necessário promover o

treinamento dos responsáveis pela execução das atividades arquivísticas do

órgão. Além da aplicação da tabela, estes serão encarregados de analisar e

propor as atualizações necessárias ao aprimoramento das atividades de avaliação.

No intuito de fornecer orientação para a definição de valores, apresentam-

se, a seguir, alguns critérios gerais adotados quando da elaboração da tabela

básica de temporalidade relativa às atividades-meio da administração pública.

Dos documentos relativos à administração geral, foram considerados

permanentes aqueles que dizem respeito a políticas, planos, projetos, programas

de modernização e reforma administrativa; relatórios de atividades; ajustes,

acordos e convênios; ações judiciais, bem como normas, regulamentações e

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P á g i n a | 83

diretrizes.

No que se refere aos documentos relativos à organização e funcionamento,

foram considerados permanentes os regimentos, regulamentos, estatutos,

organogramas e estruturas, além dos documentos relacionados às campanhas

institucionais e divulgação das atividades do órgão.

No que se refere aos documentos relativos a pessoal, adotou-se o prazo de

52 (cinqüenta e dois) anos para os que contêm informações passíveis de consulta

no momento da homologação da aposentadoria, sendo:

- 35 anos - período correspondente ao tempo de contribuição do servidor;

- 17 anos - período necessário para o servidor atingir a idade máxima para a

aposentadoria compulsória 70 (setenta) anos, conforme a Constituição Federal

em vigor.

Para assentamentos individuais, aposentadoria e pensões definiu-se prazo

de guarda de 100 (cem) anos, com o objetivo de atender aos direitos de

pensionistas e prováveis descendentes.

Quanto ao valor secundário dos documentos relativos a pessoal, foram

considerados permanentes os seguintes conjuntos documentais:

• quadros, tabelas e política de pessoal, por refletirem diretrizes adotadas

pelo serviço público na composição de seus quadros;

• documentos que refletem as diretrizes, normas e procedimentos relativos a

exames de seleção, cursos e estágios;

• apuração de responsabilidade e ação disciplinar, pelo caráter punitivo que

reflete hábitos e costumes do período;

• prêmios, por refletirem uma possível política de valorização dos servidores;

• reclamações/ações trabalhistas, acordos e dissídios, que refletem o

relacionamento empregadores/empregados no serviço público;

• documentos referentes a movimentos reivindicatórios de servidores.

Por impossibilidade de definição de prazos em anos, já que dependem do

julgamento dos tribunais de contas, definiu-se que os documentos financeiros

permaneçam na fase corrente até a aprovação das contas e por mais 5 (cinco)

anos na fase intermediária previamente à destinação, conforme a legislação em

vigor. Estabeleceu-se valor permanente para os conjuntos documentais relativos

à execução financeira (prestação de contas, tomada de contas, balanços,

balancetes, estímulos creditícios), os quais comprovam a receita e despesa do

órgão.

No que tange aos documentos orçamentários, atribuiu-se valor permanente

para os conjuntos documentais que refletem:

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P á g i n a | 84

a) a proposta orçamentária, relativa às prioridades pontuais definidas pelos

órgãos e setores específicos da administração pública;

b) o orçamento aprovado pelo governo, mediante lei orçamentária, que

redefine as prioridades estabelecidas nas propostas;

c) a execução orçamentária, que demonstra a efetiva alocação de recursos,

redirecionando o orçamento aprovado e criando, muitas vezes, novas prioridades.

Quanto aos documentos relativos a material e patrimônio, foram

considerados de valor permanente os seguintes conjuntos documentais, que

resguardam direitos patrimoniais:

• inventários de material permanente;

• inventários de bens imóveis, veículos e semoventes;

• escrituras de bens imóveis;

• desapropriação, tombamento, reintegração de posse, reivindicações de

domínio;

• projetos, plantas e obras de bens imóveis.

Os conjuntos documentais relativos à documentação e informação,

considerados permanentes, refletem a política de tratamento, controle e acesso

à informação do órgão. São eles:

• inventários de documentação bibliográfica;

• normas, projetos, manuais e instrumentos;

• política interna de acesso aos documentos de arquivo;

• análise, avaliação, seleção e tabela de temporalidade;

• termos de eliminação e guias de recolhimento;

• programas, sistemas e manuais de informática.

Quanto aos assuntos diversos, foram considerados de valor permanente os

documentos relativos aos eventos promovidos pelo órgão, no que tange ao seu

planejamento e programação, bem como os discursos, palestras e trabalhos

apresentados por seus técnicos em eventos promovidos por outras instituições.

No caso de inexistência, no órgão, do original dos documentos permanentes, a

cópia será recolhida na condição de fonte única de informação.

APLICAÇÃO DA TABELA DE TEMPORALIDADE DOCUMENTAL

A aplicação da TTD refere-se aos procedimentos adotados para seleção e

destinação dos documentos, uma vez cumpridos os prazos de guarda

estabelecidos. Para isso, devem ser observadas as rotinas a seguir:

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P á g i n a | 85

ROTINAS PARA DESTINAÇÃO DOS DOCUMENTOS NA

FASE CORRENTE

1. Ler atentamente as explicações contidas neste instrumento;

2. Verificar se os documentos a serem destinados estão organizados de

acordo com os conjuntos documentais definidos na tabela, procedendo à

organização, se for o caso;

3. Observar se o documento se refere a dois ou mais assuntos pois, neste

caso, ele deverá ser arquivado no conjunto documental que possui maior prazo de

guarda ou que tenha sido destinado à guarda permanente, registrando-se a

alteração nos instrumentos de controle;

4. Separar os documentos a serem destinados, verificando se cumpriram o

prazo de guarda estabelecido para esta fase;

5. Eliminar as cópias e vias cujo original ou um exemplar encontrem-se no

mesmo conjunto ou dossiê;

6. Proceder ao registro dos documentos a serem eliminados;

7. Proceder à eliminação;

8. Elaborar termo de eliminação;

9. Elaborar listagem dos documentos destinados à transferência para a fase

intermediária (guias/listagens de transferência);

10. Operacionalizar a transferência, seguindo orientações do setor

responsável pelo arquivamento intermediário.

ROTINAS PARA DESTINAÇÃO DOS DOCUMENTOS NA

FASE INTERMEDIÁRIA

1. Ler atentamente as explicações contidas neste instrumento;

2. Verificar se os documentos a serem destinados estão organizados de

acordo com os conjuntos documentais definidos na tabela, procedendo à

organização, se for o caso;

3. Separar os documentos a serem destinados, verificando se cumpriram o

prazo de guarda estabelecido para esta fase;

4. Proceder à triagem dos documentos selecionados para a guarda

permanente, separando aqueles que, em relação ao conjunto documental ao qual

pertencem, não constituem elemento de prova e/ou informação que justifique sua

guarda (ver item 4.4 – TRIAGEM DE DOCUMENTOS EM FASE

INTERMEDIÁRIA);

5. Proceder à alteração de suporte, se for o caso – ALTERAÇÃO DO

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P á g i n a | 86

SUPORTE DA INFORMAÇÃO);

6. Proceder ao registro dos documentos eliminados;

7. Proceder à eliminação;

8. Elaborar termo de eliminação;

9. Elaborar listagem dos documentos destinados ao recolhimento

(guia/relação/listagem de recolhimento);

10. Operacionalizar o recolhimento, segundo orientações da instituição

arquivística responsável pela guarda permanente.

ALTERAÇÃO DO SUPORTE DA INFORMAÇÃO

A adoção de recursos tecnológicos para alteração do suporte da informação

requer a observância de determinados critérios que levem em consideração os

preceitos técnicos da arquivologia, a legislação em vigor e a relação

custo/benefício de sua implantação. Conquanto tais recursos permitam a redução

das necessidades de armazenamento da informação, podem, por outro lado,

acarretar elevada despesa para o órgão, sem que se obtenha resultados positivos.

Dentre as vantagens da alteração do suporte, destacam-se:

- agilizar a recuperação das informações, bem como o seu intercâmbio;

- garantir a preservação de documentos originais passíveis de destruição pelo

manuseio, bem como a segurança do acervo contra furto, incêndios, inundações

etc;

- preencher lacunas nos acervos arquivísticos;

- substituir, em situações específicas, grandes volumes de documentos

destinados à eliminação, mas de prazos de guarda muito extensos,

proporcionando melhor aproveitamento do espaço, reduzindo o custo de

manutenção, concentrando as informações e facilitando o seu manuseio.

No entanto, qualquer decisão quanto à alteração do suporte da informação

deve estar fundamentada nos seguintes critérios:

1. avaliar as questões legais concernentes à alteração do suporte,

observando-se as garantias jurídicas, a normalização dos procedimentos, as

especificações e os padrões de qualidade estabelecidos pela legislação brasileira

e por organismos internacionais. Cada órgão necessita encontrar a solução que

melhor atenda às suas peculiaridades, examinando as vantagens e desvantagens

que envolvem a adoção desses recursos, bem como o custo global e os benefícios

a serem obtidos. Do ponto de vista legal, observa-se que:

a) a atual legislação de microfilmagem não permite a eliminação de

documentos públicos ou oficiais destinados à guarda permanente, mesmo após

microfilmados;

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P á g i n a | 87

b) o microfilme tem validade em juízo desde que obedecidos os critérios e

padrões estabelecidos em lei;

c) a atual legislação brasileira que garante a autenticidade, a integridade e a

validade jurídica de documentos em forma eletrônica encontra-se em processo

de regulamentação, sendo aconselhável a observância da legislação em vigor no

momento da adoção deste suporte.

2. os documentos devem apresentar uma organização que possibilite a

recuperação das informações neles contidas antes e depois de processar a

alteração do suporte;

3. os documentos devem ser previamente avaliados, identificando-lhes

valor que justifique o custo da operação;

4. os documentos devem ter características físicas que se prestem ao

uso do recurso, dando preferência às grandes séries e não a peças isoladas,

observado o estado de conservação, para que a reprodução ocorra dentro de

parâmetros técnicos adequados;

5. o recurso utilizado deve ser adotado dentro da melhor técnica, de

forma a assegurar a qualidade da reprodução, a durabilidade do novo suporte e o

acesso à informação;

6. o órgão que adotar tais recursos deve contar com depósitos e

equipamentos de segurança que venham a garantir a preservação do novo suporte.

Organizados e avaliados os documentos, deve-se proceder ao estudo da

viabilidade econômica, de acordo com a disponibilidade de pessoal, espaço e

recursos financeiros do órgão, além do cálculo dos equipamentos, materiais e

acessórios necessários. Deve-se, ainda, verificar as instalações dos arquivos de

segurança, bem como as condições de tratamento técnico, armazenamento e

acesso às informações.

TRIAGEM DE DOCUMENTOS EM FASE INTERMEDIÁRIA

O conceito de triagem se confunde com o de avaliação, na medida em que

ambos os processos se relacionam à depuração da massa documental arquivística,

eliminando-se documentos sem valor e preservando-se aqueles que o tenham, seja

para fins administrativos ou de pesquisa histórico-científica. A tabela de

temporalidade pode prever a triagem em seu próprio conteúdo quando assinala

que serão preservados apenas exemplares únicos de documentos repetitivos, ou

quando destina conjuntos documentais à eliminação, uma vez que outros,

recapitulativos ou de mesmo teor, já se encontram preservados.

No entanto, outros critérios de triagem podem ser estabelecidos para

documentos que, embora corretamente classificados, não possuam o mesmo valor

dos demais pertencentes ao conjunto documental, no que concerne ao conteúdo

das informações. Nestes casos, os responsáveis pela destinação dos documentos

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P á g i n a | 88

em fase intermediária devem realizar a triagem previamente ao recolhimento,

garantindo que o arquivo permanente receba apenas as peças cujo conteúdo

justifique sua guarda do ponto de vista probatório e/ou informativo.

É igualmente recomendável a seleção por amostragem, processo que permite

a preservação de parcela de documentos do conjunto documental destinado à

eliminação, com o objetivo de resgatar procedimentos administrativos vigentes

em determinada época ou lugar. Para isso, alguns critérios deverão ser

observados, conforme a especificidade dos documentos avaliados, seguindo

orientações da instituição arquivística pública na respectiva esfera de

competência.

Outros procedimentos e critérios podem surgir no processo de seleção para o

recolhimento, porém, em todos os casos, o arquivo intermediário deverá elaborar

listagem dos documentos a serem eliminados, submetendo-a à aprovação da

instituição arquivística pública na sua esfera de competência, em conformidade

com o art. 9º da lei nº 8.159, de 8 de janeiro de 1991.

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P á g i n a | 89

8| Arquivo Permanente - o verdadeiro ARQUIVO HISTÓRICO: rotinas básicas operacionais

Os arquivos permanentes constituem-se de materiais selecionados, que são

escolhidos de uma grande massa de documentos produzidos e recebidos por um

governo, devido ao seu valor comprobatório e informativo. São escolhidos

tomando-se por base não a apreciação de certos documentos em particular, mas

devido ao seu significado no conjunto da documentação de um determinado

assunto ou atividade, ou, em termos mais amplos, na documentação de um órgão,

de um governo, ou mesmo da sociedade em certo estágio de desenvolvimento. O

trabalho de recolhimento de documentos a arquivos permanentes tem um duplo

objetivo: preservá-los e torná-los disponíveis para serem usados.

Os documentos públicos devem ser reconhecidos por lei como propriedade

pública. O direito a tais documentos será exclusivamente do governo que os criou

e serão conservados para a perpetuidade. Qualquer lei que diga respeito à

administração de documentos públicos deve incluir no seu texto normas para a

sua reobtenção no caso de terem sido indevidamente alienados ou retirados da

repartição. O princípio básico é nullum tempus occurrit regi (art. 17, § 4º,

Decreto 4.073/2002), que foi traduzido como ―contra o rei não há prescrição‖

(vide art. 15 e seguintes do Decreto 4.073/2002).

A legislação sobre os documentos públicos, além disso, deve definir

claramente as responsabilidades de custódia do arquivista. O conceito de

custódia pode ser explicado em relação ao conceito de propriedade pública. Os

documentos públicos poderão ser conservados sob a custódia de qualquer órgão

da administração, sem, contudo, ser de sua propriedade. Quando os documentos

públicos são transferidos da custódia de um órgão para a de outro não há

transferência de propriedade, pois os documentos eram e continuam a ser

propriedade do Estado.

Legalmente, então, o arquivista deve ter a custódia dos documentos que

estão sob a sua guarda física, no que diz respeito ao seguinte:

Primeiro, deve o arquivista ter sobre os documentos os mesmos direitos e

privilégios que tinha a entidade que os criou, relativamente à reprodução e à

autenticação de cópias.

Segundo, deve ter, em relação aos documentos, certos direitos e privilégios

adicionais que não são comumente exercidos pelas entidades criadoras. Referem-

se estes ao arranjo, à descrição e à publicação para fins que não aqueles para os

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P á g i n a | 90

quais foram originariamente criados – para servir a usos secundários de outras

repartições e de particulares. Esses direitos e privilégios são necessários ao

arquivista para o bom cumprimento de seus deveres.

Deve haver disposições legais regulamentando o problema da destruição de

documentos públicos. Essa regulamentação há que proibir a destruição de

qualquer documento público por qualquer funcionário sem a devida aprovação da

autoridade responsável pelos arquivos (vide art. 18, Decreto 4.073/2002).

Mesmo os documentos históricos de hoje podem tornar-se novamente

administrativos amanhã, por diversas circunstâncias, devido à sua utilização.

Os princípios que se aplicam ao arranjo de documentos públicos num arquivo

de custódia devem ser distintos dos princípios expostos até agora, que se

aplicam ao arranjo dos mesmos nas próprias repartições de origem. A

administração de arquivos permanentes é bem mais complexa que a dos arquivos

corrente e intermediário.

Classificam-se em quatro grupos distintos as atividades do arquivo

permanente:

arranjo -> reunião e ordenação adequada dos documentos;

descrição e publicação -> acesso aos documentos para consulta e

divulgação;

conservação -> medidas de proteção aos documentos e, conseqüentemente

do local de sua guarda, visando a impedir sua destruição;

referência -> política de acesso e uso dos documentos.

ATIVIDADES DE ARRANJO

Em arquivologia entende-se por arranjo a ordenação dos documentos em

fundos, a ordenação das séries dentro dos fundos e, se necessário, dos itens

documentais dentro das séries. O arranjo é uma das funções mais importantes

em um arquivo,e, por isso, deve ser feito por pessoa qualificada e especializada.

As atividades desenvolvidas no arranjo são de dois tipos: intelectuais e físicas.

As intelectuais consistem na análise dos documentos quanto a sua forma, origem

funcional e conteúdo. As atividades físicas se referem à colocação dos papéis nas

galerias, estantes ou caixas, seu empacotamento, fixação de etiquetas etc.

Há considerável diferença entre o arranjo do arquivo corrente e o do

arquivo permanente. Quanto aos arquivos intermediários, não existem métodos

ou princípios específicos de arranjo no sentido técnico da palavra aqui

empregado. Nesses arquivos, de guarda transitória, aplicam-se apenas critérios

racionais de disposição dos documentos em estantes e armários.

PRINCÍPIOS DE ARRANJO DE ARQUIVOS

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O conservador de arquivos não se ocupa apenas com o arranjo dos

documentos de uma única repartição, como é o caso do arquivista encarregado

dos documentos de uso corrente. Ocupa-se do arranjo de todos os documentos

sob sua custódia, os quais emanam de diversos órgãos, de muitas subdivisões

administrativas e de numerosos funcionários individuais. Arranja seus

documentos para uso não-corrente, em contraposição ao uso corrente, e arranja-

os de acordo com certos princípios básicos da arquivística e não segundo qualquer

classificação predeterminada ou esquema de arquivamento.

EVOLUÇÃO DOS PRINCÍPIOS DE ARRANJO

O primeiro grande passo teórico, que diferia do velho método de arranjo de

arquivos de acordo com esquemas de classificação predeterminados, ocorreu

quando Guizot (1787-1874), ministro da Instrução Pública de 1832 a 1839 e

primeiro-ministro de 1840 a 1848, baixou regulamentos relativos ao arranjo de

documentos dos départments que haviam sido colocados sob a jurisdição dos

Archives Nationales, pela lei de 26 de outubro de 1796. O primeiro desses

regulamentos foi publicado em 8 de agosto de 1839 e completado por circular

emitida pelo ministro do Interior, conde Duchatel (1803-67), em 24 de abril de

1841. Essa circular, intitulada Instructions pour la mise em ordre et lê classement des archives départmentales et communales, estabeleceu um

esquema lógico para o agrupamento de documentos dos départments que, embora

modificado por dois suplementos posteriores, ainda está em vigor. Os princípios

gerais estabelecidos para a execução desse esquema foram os seguintes:

a) os documentos deviam ser agrupados por fundos (fonds), isto é, todos os

documentos originários de uma determinada instituição, tal como uma

entidade administrativa, uma corporação ou uma família, seriam agrupados

e considerados como o fonds daquela determinada instituição;

b) os documentos de um fonds deviam ser arranjados por grupos de

assuntos, e a cada grupo seria atribuído um lugar definitivo em relação aos

outros grupos;

c) as unidades, nos grupos de assuntos, seriam arranjadas conforme as

circunstâncias, em ordem cronológica, geográfica ou alfabética.

A circular de 24 de abril de 1841 formulou o princípio básico de respect des fonds, pelo qual todos os documentos originários de uma ―autoridade

administrativa, corporação ou família‖ devem ser agrupados, constituindo fundos.

Dentro desses os documentos devem ser arranjados por assuntos, e após, em

ordem cronológica, geográfica ou alfabética. As relações entre os grupos de

assuntos, dentro de um fundo, devem ser determinadas pelo conteúdo dos

mesmos.

Quando se tratar, por exemplo, de uma coleção de decretos ou leis, ou de

decisões judiciais, as peças devem ser arranjadas em ordem cronológica, visto

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P á g i n a | 92

que um pesquisador, geralmente, indica a data de tais documentos. Se, por outro

lado, se tratar de assuntos de municipalidades, é preferível o arranjo

geográfico, visto que os pesquisadores habitualmente indicam o nome da

municipalidade. Se se tratar de documentos relativos a pessoas, é claro que o

arranjo alfabético pelos nomes dos indivíduos facilita as buscas.

O eminente paleógrafo Natalis de Wailly (1805-86) justificou o princípio

respect des fonds nos seguintes termos:

Uma classificação geral de documentos por fundos e (nos fundos) por

assunto, é a única maneira adequada de se assegurar a realização

imediata de uma ordem regular e uniforme. Tal classificação apresenta

várias vantagens. Em primeiro lugar, é mais simples de se por em prática

do que qualquer outro sistema, pois consiste tão-somente em reunir

peças das quais apenas é necessário determinar a origem. Num grande

número de casos, essa classificação é feita com mais facilidade,

porquanto consta simplesmente da reprodução da ordem atribuída por

seus donos anteriores; essa ordem pode, talvez, ser conseguida por meio

de inventários existentes, sendo, neste caso, suficiente confrontar os

documentos inventariados e dar-lhes outra vez ordem original. Se, ao

invés de seguir esse método, se propõe uma ordem teórica, baseada na

natureza das coisas, todas essas vantagens se perdem.

O antigo sistema de arranjar os documentos de acordo com algum

sistema arbitrário de classificação de assuntos foi abandonado, ao menos

teoricamente, e substituído por um sistema baseado em princípio aplicável de

maneira geral. Esse princípio é o de agrupar os documentos oficiais de acordo

com a natureza das instituições públicas que os acumulam.

O princípio do respect des fonds evoluiu e foi ampliado na Prússia, onde se

decidiu, primeiro, que os documentos públicos devem ser agrupados de acordo

com as unidades administrativas que os criaram (e não de acordo com a

natureza das instituições que os criaram, como na França) e, em segundo

lugar, que o arranjo dado aos documentos pelos próprios órgãos criadores

deve ser preservado no arquivo de custódia permanente. O princípio de

agrupar os documentos oficiais de acordo com a origem nos organismos públicos

administrativos é chamado princípio da proveniência.

O reagrupamento dos documentos de diferentes órgãos, por assuntos, foi

então reconhecido como um método impraticável, especialmente depois do grande

aumento que sofreu o volume dos documentos transferidos. Criou-se ainda um

novo princípio chamado Registraturprinzip. Este estabelecia que os documentos

de cada órgão devem ser mantidos, no arquivo de custódia, na ordem dada pelo

serviço de registro do órgão, e não reorganizados por grupos de assuntos.

Os arquivistas holandeses também concluíram não ser possível, tampouco

desejável, que se destrua a ordem original do registro para substituí-la por outra

baseada no que possa parecer um esquema mais lógico de cabeçalhos de assuntos.

―A ordem original do registro‖, explicaram, ―não foi criada arbitrariamente, não

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P á g i n a | 93

resulta do acaso, mas, ao contrário, é conseqüência lógica da organização do

corpo administrativo de cujo funcionamento o registro é produto‖.

A evolução desses princípios na Inglaterra e EUA seguiram a mesma linha,

consagrando-se mundialmente o princípio da proveniência por várias razões:

a) o princípio protege a integridade dos documentos no sentido de que as

suas origens e os processos pelos quais foram criados refletem-se no seu

arranjo. A maioria dos documentos do governo se acumula em conexão com

atos oficiais e, como os atos do governo se relacionam entre si, através da

função e da organização administrativa, assim os documentos são mais

inteligíveis quando conservados juntos, sob a identidade do órgão ou da

subdivisão do órgão, pelo qual foram acumulados e na ordem geral que lhes

foi dada por aquele órgão;

b) o princípio ajuda a revelar o significado dos documentos, pois os assuntos

de documentos individuais somente podem ser completamente

compreendidos, no contexto, com documentos correlatos. Se os

documentos são arbitrariamente tirados do seu contexto e reunidos de

acordo com um sistema subjetivo ou arbitrário qualquer, o real significado

dos mesmos, como prova documentária, pode-se tornar obscuro ou até se

perder;

c) o princípio dá ao arquivista um guia exeqüível e econômico para o arranjo,

descrição e utilização dos documentos sob sua custódia. Quebrar as

unidades existentes e substituí-las arbitrariamente por novas consumiria,

inutilmente, grande parte do tempo do arquivista, e a complexidade e

diversidade de assuntos que os documentos cobrem tornariam irrealizáveis

o acabamento de qualquer tarefa desse gênero.

CONCLUSÕES FINAIS SOBRE OS PRINCÍPIOS DE ARRANJO DE DOCUMENTOS

Na aplicação do princípio da proveniência, a entidade administrativa que os

produziu não precisa ter sido completa e independente, como na Inglaterra, mas

deve, no entanto, ter sido de tal ordem que os seus documentos possam ser

prontamente distinguidos de outros grupos de documentos, considerando-se a

relação desses para com a função ou campo de assunto.

Além disso, os documentos preservados pelo testemunho que contêm da

organização e da função devem ser mantidos na ordem que lhes foi atribuída

pelos órgãos que os criaram, mantiveram ou acumularam. Conquanto essa ordem

não reúna os documentos por assuntos que atenderiam a todas as necessidades

dos pesquisadores, é a única maneira viável de colocarem-se os documentos em

ordem, conservando-se, ao mesmo tempo, os valores de prova quanto ao

funcionamento do governo. Dar novo arranjo, de acordo com algum plano

arbitrário, a documentos que já estejam em ordem ou parcialmente ordenados,

seria um extravagante desperdício de tempo, e impor um plano de arranjo

Page 95: Apostilado de Arquivologia_novo 2012

P á g i n a | 94

arbitrário aos poucos documentos que estejam inteiramente desordenados não

atenderia a qualquer objetivo concebível.

Deve fazer-se uma exceção à regra de preservar os documentos na ordem

original, quando estes receberam novo arranjo nos órgãos governamentais, depois

de servirem a seus objetivos primários. O arranjo original deve ser preservado

se reflete o uso feito dos documentos quando correntes, mas novos arranjos

artificiais que visaram servir a outros fins que não os correntes só devem ser

preservados no arquivo de custódia permanente se atenderem às necessidades

arquivísticas.

Por fim, os documentos modernos que são conservados pelo seu conteúdo

informativo – sem referência ao seu valor como testemunho da organização e

função – devem ser mantidos na ordem que melhor sirvam às necessidades dos

pesquisadores e dos funcionários. Uma boa proporção de documentos modernos é

preservada unicamente pela informação que contêm sobre pessoas, lugares ou

sobre matéria social, econômica, científica etc. Tais documentos devem ser

arranjados, unicamente, tendo-se em vista facilitar a sua utilização pelos

estudiosos, cientistas e outros, sem observar como estavam arranjados na

repartição.

A escolha dos fundos deverá ser estabelecida de acordo com as

circunstâncias e conveniências, obedecendo a dois critérios:

a) Estrutural, constituído dos documentos provenientes de uma mesma fonte

geradora de arquivos;

b) Funcional, constituído dos documentos provenientes de mais de uma fonte

geradora de arquivo, reunidos pela semelhança de suas atividades, mantido,

porém, o princípio da proveniência.

ATIVIDADES DE DESCRIÇÃO E PUBLICAÇÃO

O trabalho de um arquivo só se completa com a elaboração de instrumentos

de pesquisa, que consistem na descrição e na localização dos documentos no

acervo, e se destinam a orientar os usuários nas diversas modalidades de

abordagem a um acervo documental.

Além de tornar o acervo acessível, os instrumentos de pesquisa objetivam

divulgar o conteúdo e as características dos documentos.

Os documentos, quanto à substância, são descritos fazendo-se referência ao

órgão administrativo que os criou, às funções, ou às atividades. Os documentos

são descritos estruturalmente, dando-se informação sobre a natureza física dos

mesmos e sobre os sistemas segundo os quais são arquivados ou classificados.

O primeiro elemento na descrição de documentos é a autoria, que é indicada

mencionando-se o nome da unidade administrativa, dentro do órgão

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P á g i n a | 95

governamental, que os criou; o segundo elemento é o tipo físico a que pertencem

os documentos – correspondência, relatórios, ordens, tabelas e outros; o terceiro

elemento é o título da unidade que está sendo descrita; o quarto é a estrutura

física da unidade – partes de um grupo classificado de documentos, volumes

encadernados, maços de documentos ou caixas.

TIPOS BÁSICOS DE INSTRUMENTOS DE PESQUISA

Em 1973, a AAB formou um grupo de trabalho, sob a direção de seu

presidente, com a finalidade de definir os instrumentos de pesquisa básicos.

Considerando que a maioria dos arquivos brasileiros não dispõem de instrumentos

de pesquisa e nem mesmo de um mínimo de orientação, o grupo selecionou e

definiu os quatro seguintes tipos: guia, inventário, catálogo e repertório.

Guia

Obra destinada à orientação dos usuários no conhecimento e na utilização

dos fundos que integram o acervo de um arquivos permanente. É o instrumento

de pesquisa mais genérico, pois se propõe a informar sobre a totalidade dos

fundos existentes no arquivo. Sua finalidade é informar sobre o histórico, a

natureza, a estrutura, o período de tempo, a quantidade de cada fundo

integrante do acervo total do arquivo.

Inventário sumário

Instrumento no qual as unidades de arquivamento de um fundo ou de uma

de suas divisões são identificadas e descritas sucintamente. Trata-se de

instrumento do tipo arrolamento, cuja organização deve refletir o arranjo

adotado para a disposição do fundo, ou parte dele, como uma série, por exemplo.

Sua finalidade é descrever a composição do fundo – ou parte dele, pela

enumeração de suas unidades de arquivamento, sumariamente descritas – e ao

mesmo tempo prover o arquivo de um instrumento preliminar de busca para cada

fundo.

O inventário deve ser precedido de uma introdução contendo informações

sobre os seguintes elementos: modalidade de incorporação do fundo no acervo

do arquivo; breve notícia histórica sobre a instituição, a pessoa ou a família

da qual o fundo é proveniente; explicação sobre o modo de consulta do

inventário.

O inventário sumário é fundamental e deve ser o primeiro instrumento de

pesquisa a ser elaborado tanto para os fundos de arquivos públicos –

constituídos de documentos de caráter oficial – quanto para os de arquivos

privados.

Inventário analítico

Instrumento de pesquisa no qual as unidades de arquivamento de um fundo ou

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P á g i n a | 96

de uma de suas divisões são identificadas e descritas pormenorizadamente. Sua

finalidade é propiciar ao usuário um conhecimento individualizado das unidades

de arquivamento, através da descrição minuciosa de seu conteúdo.

Catálogo

Instrumento de pesquisa elaborado segundo um critério temático,

cronológico, onomástico ou geográfico, incluindo todos os documentos

pertencentes a um ou mais fundos, descritos de forma sumária ou

pormenorizada.

Sua finalidade é agrupar os documentos que versem sobre um mesmo

assunto, ou que tenham sido produzidos num dado período de tempo, ou que

digam respeito a determinada pessoa, ou a lugares específicos existentes num ou

mais fundos.

Repertório

É o instrumento de pesquisa que descreve pormenorizadamente documentos

previamente selecionados, pertencentes a um ou mais fundos, segundo um

critério temático, cronológico, onomástico ou geográfico. Nesse tipo de

instrumento está presente um juízo de valor que estabelece ou não a inclusão de

determinado documento. Sua elaboração só se justifica em casos específicos,

quando há intenção de ressaltar documentos individuais relevantes. A disposição

das entradas e demais informações se assemelha à do catálogo, sendo os itens

descritos minuciosamente, cabendo mesmo a transcrição de documentos na

íntegra.

Índice – instrumento de pesquisa auxiliar É uma lista sistemática e pormenorizada dos elementos do conteúdo de um

documento ou grupo de documentos, disposta em determinada ordem para indicar

sua localização no texto.

Tabela de equivalência ou concordância

É um instrumento de pesquisa auxiliar que dá a equivalência de antigas

notações para as novas que tenham sido adotadas, em decorrência de alteração

no sistema de arranjo.

ISAD (G) – NORMA GERAL INTERNACIONAL DE DESCRIÇÃO ARQUIVÍSTICA

Esta norma estabelece diretrizes gerais para a preparação de descrições

arquivísticas. Deve ser usada em conjunção com as normas nacionais existentes

ou como base para a sua criação.

O objetivo da descrição arquivística é identificar e explicar o contexto e o

conteúdo de documentos de arquivo a fim de promover o acesso aos mesmos.

Processos relacionados à descrição podem começar na ou antes da produção dos

documentos e continuam durante sua vida.

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As regras contidas nesta norma não dão orientação para a descrição de

documentos especiais, tais como selos, registros sonoros ou mapas. Manuais

expondo regras de descrição para tais documentos já existem. Normas de

descrição arquivística são baseadas em princípios teóricos aceitos. Por exemplo,

o princípio de que a descrição arquivística procede do geral para o particular é

uma conseqüência prática do princípio do respeito aos fundos.

Um fundo pode ser descrito como um todo numa única descrição ou

representado como um todo e em suas partes em vários níveis de descrição. O

fundo constitui o nível mais geral de descrição; as partes constituem níveis

subseqüentes, cuja descrição, com freqüência, só é plenamente significativa

quando vista no contexto da totalidade do fundo. Assim, pode existir uma

descrição no nível do fundo, no nível da série, no nível do dossiê / processo e / ou

uma descrição no nível do item. Níveis intermediários, tais como seções ou

subséries, podem ocorrer. Cada um desses níveis pode ser novamente

subdividido, de acordo com a complexidade da estrutura administrativa e / ou

funções da entidade que gerou os documentos e a sua organização.

No glossário do ISAD (G) encontramos uma definição de seção:

Subdivisão de um fundo compreendendo um conjunto de documentos

relacionados que corresponde a subdivisões administrativas da agência ou

instituição produtora ou, quando tal não é possível, correspondendo a uma

divisão geográfica, cronológica, funcional ou agrupamentos de

documentos similares. Quando o organismo produtor tem uma estrutura

hierárquica complexa, cada seção tem tantas subdivisões subordinadas

quantas forem necessárias, de modo a refletir os níveis da estrutura

hierárquica da unidade administrativa subordinada primária.

Descrição Multinível

Se o fundo como um todo estiver sendo descrito, ele deverá ser

representado numa só descrição, utilizando-se os elementos descritivos

apropriados. Se é necessária a descrição das suas partes, estas podem ser

descritas em separado, usando-se igualmente os elementos apropriados. A soma

total de todas as descrições assim obtidas, ligadas numa hierarquia, representa o

fundo e as partes para as quais foram elaboradas as descrições. Para as

finalidades destas regras, tal técnica de descrição é denominada descrição

multinível.

Regras para descrição multinível

Descrição do Geral para o Particular

Objetivo: Representar o contexto e a estrutura hierárquica do fundo e

suas partes componentes.

Regra: No nível do fundo, dê informação sobre ele como um todo. Nos

níveis seguintes e subseqüentes, dê informação sobre as partes que estão sendo

descritas. Apresente as descrições resultantes numa relação hierárquica entre a

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P á g i n a | 98

parte e o todo, procedendo do nível mais geral (fundo) para o mais particular.

Informação Relevante para o Nível de Descrição

Objetivo: Representar com rigor o contexto e o conteúdo da unidade de

descrição.

Regra: Forneça apenas a informação apropriada para o nível que está

sendo descrito. Por exemplo, não forneça informações detalhadas sobre dossiês

/ processos se a unidade de descrição for um fundo; não forneça a história

administrativa de um departamento inteiro se o produtor da unidade de

descrição for uma divisão ou uma seção.

Relação entre Descrições

Objetivo: Tornar explícita a posição da unidade de descrição na

hierarquia.

Regra: Relacione, se aplicável, cada descrição à sua mais próxima e

superior unidade de descrição, e identifique o nível de descrição.

Não Repetição de Informação

Objetivo: Evitar redundância de informação em descrições

hierarquicamente relacionadas.

Regra: No mais alto nível apropriado, dê a informação que é comum às

partes componentes. Não repita em um nível inferior informação que já tenha

sido dada num nível superior.

Elementos de Descrição

Esses elementos são divididos em sete áreas: área de identificação, área de

contextualização, área de conteúdo e estrutura, área de condições de acesso e

uso, área de fontes relacionadas, área de notas e área de controle da descrição.

ISAAR (CPF) – NORMA INTERNACIONAL DE REGISTRO DE AUTORIDADE

ARQUIVÍSTICA PARA ENTIDADES COLETIVAS, PESSOAS E FAMÍLIAS

Esse segundo trabalho tem um aspecto complementar em relação ao

ISAD(G). A criação de registros de autoridade arquivística possibilita o controle

das entradas de entidades coletivas, pessoas e famílias, permitindo tanto a

identificação de fundos fracionados entre diversas instituições, como também o

próprio rastreamento de temas ligados a essas entidades coletivas, pessoas e

famílias em fundos diversos de variados arquivos.

Glossário de termos associados ao ISAAR (CPF)

Catálogo de autoridade (authority file) -conjunto organizado de registros de

autoridade.

Controle de autoridade (authority control) - controle de termos

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normalizados, incluindo nomes próprios (de pessoas físicas ou jurídicas e

geográficos), utilizados como pontos de acesso.

Dados de autoridade (authority data) - informação em um registro de

autoridade ou em um arquivo de autoridade.

Entrada de autoridade (authority entry) - ponto de acesso normalizado

estabelecido pela instituição arquivística responsável.

Ponto de acesso (access point) - nome, palavra-chave, entrada de índice, pelo

qual uma descrição possa ser pesquisada, identificada ou recuperada.

Registro de autoridade (authority record) - uma entrada de autoridade

combinada com outros elementos de informação que descreve a entidade

(entidade coletiva, pessoa ou família) e que pode remeter a outras entradas de

autoridade.

ATIVIDADES DE REFERÊNCIA

Essas atividades se constituem fundamentalmente em estabelecer as

políticas de acesso e de uso dos documentos. Por política de acesso devemos

entender os procedimentos a serem adotados em relação ao que deve ou pode

ser consultado. Compete ao arquivo determinar a liberação ou restrição de

acesso, após analisar os aspectos políticos e legais que envolvem as informações,

bem como os direitos de terceiros, ou determinação de autoridade superior.

Quanto à política de uso, o arquivo estabelece quem e como devem ser

consultados os documentos, indicando as categorias de usuários que terão acesso

ao acervo, bem como elaborando o regulamento da sala de consulta.

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9| Atividades de Conservação

Dentro de uma biblioteca, arquivo, museu ou centro de documentação duas

seções devem ser enfocadas: a de conservação e a de restauração.

CONSERVAÇÃO

É um conceito amplo e pode ser pensado como termo que abrange pelo menos

três (3) idéias: preservação, proteção e manutenção.

Conservar bens culturais (livros, documentos, objetos de arte, etc) é

defendê-lo da ação dos agentes físicos, químicos e biológicos que os atacam.

O principal objetivo, portanto da conservação é o de estender a vida útil dos

materiais, dando aos mesmos o tratamento correto. Para isso é necessário

permanente fiscalização das condições ambientais, manuseio e armazenamento.

A preservação ocupa-se diretamente com o patrimônio cultural consistindo na

conservação desses patrimônios em seus estados atuais. Por isso, devem ser

impedidos quaisquer danos e destruição causadas pela umidade, por agentes

químicos e por todos os tipos de pragas e de microorganismo. A manutenção, a

limpeza periódica é a base da prevenção.

CONSERVAÇÃO PREVENTIVA (RESTAURAÇÃO):

Tem por objetivo revitalizar a concepção original, ou seja, a legibilidade do

objeto. A restauração é uma atividade que exige dos profissionais grande

habilidade, paciência, amor à arte, pois nesta seção se praticam verdadeiras

intervenções cirúrgicas com os bens culturais, "a restauração é quase uma

neurose da perfeição, em que o mais ou menos não existe" como disse certa vez a

restauradora Marilka Mendes.

Em uma restauração nenhum fator pode ser negligenciado, é preciso levantar

a história, revelar a tecnologia empregada na fabricação ou a técnica de

impressão utilizada e traçar um plano de acondicionamento do objeto restaurado

de modo que não volte a sofrer efeitos de deterioração do futuro.

Como sabemos são poucos os técnicos ligados a esta área e leva anos para

formar um bom restaurador, por estes fatores podemos dizer que é melhor:

Conservar e preservar para não restaurar.

A conservação compreende os cuidados prestados aos documentos e,

conseqüentemente, ao local de sua guarda.

Há dois fatores – apontados pela Repartição de Normas Técnicas (Bureau of

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Standards) – que afetam a preservação do material sob a custódia de um arquivo:

agentes externos e internos de deterioração. Os agentes externos decorrem

das condições de armazenagem e de uso; os internos são inerentes à própria

natureza material dos documentos. Cabe ao arquivista precaver-se contra esses

agentes destrutivos, provendo-se de instalações que anulem ou reduzam os

efeitos maléficos dos agentes externos e empregando métodos que preservem os

materiais perecíveis, seja na forma original, seja em qualquer outra forma.

A luz, a temperatura, a umidade, a poluição ácida do ar e as impurezas no

papel são os principais agentes de deterioração. Os agentes externos mais

responsáveis pela deterioração são os gases ácidos da atmosfera e

particularmente o dióxido sulfúrico (H2SO5). A poluição ácida do ar, bem como

outros fatores externos de deterioração, temperatura e umidade desfavoráveis,

somente podem ser tratados pelo uso de aparelhos de ar-condicionado. Nas áreas

onde se observa elevada poluição atmosférica, os prédios destinados a arquivos

devem ser equipados com aparelhos de ar-condicionado. O controle de

temperatura, de umidade relativa e de poluentes, por meio de instrumentos,

com o objetivo de criar uma atmosfera favorável à conservação dos documentos

denomina-se climatização.

As atividades relacionadas com o arranjo, descrição e consulta ficam em

plano secundário, em face do importante problema da preservação dos

documentos.

A luz, o ar seco, a umidade, o movo, a temperatura inadequada, a poeira,

gases e inúmeras pragas, a médio e longo prazos, são altamente prejudiciais à

conservação do acervo documental.

A luz do dia deve ser abolida na área de amazenamento, porque não só

acelera o desaparecimento das tintas, como enfraquece o papel. A própria luz

artificial deve ser usada com parcimônia.

O ar seco é outro fator de enfraquecimento do papel.

A umidade, além de exercer o mesmo efeito do ar seco, propicia o

desenvolvimento de mofo. O índice de umidade ideal situa-se entre 45 e 48%.

A temperatura não deve sofrer oscilações, mantendo-se entre 20 e 22º. O

calor constante destrói as fibras do papel. O ideal é a utilização ininterrupta

de aparelhos de ar condicionado e desumidificadores, a fim de climatizar as

áreas de armazenamento e filtrar as impurezas do ar. Não sendo viável tal

prática, deve-se empregar sílica-gel, acondicionada em recipientes plásticos, no

fundo das gavetas ou estantes para combater a umidade.

A poeira e os gases contribuem para o envelhecimento prematuro dos

papéis. As emanações deletérias dos gases também destroem as fibras do papel.

Determinados insetos são atraídos pela celulose do papel, cola, goma ou

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caseína, mas a umidade é a principal causadora de seu aparecimento, pois neste

ambiente encontram condições ideais para se desenvolverem.

São as seguintes as principais operações de conservação: a) desinfestação; b)

limpeza; c) alisamento; d) restauração ou reparo.

DESINFESTAÇÃO

O método mais eficiente de combater os insetos é a fumigação. A substância

química a ser empregada nesse processo deve passar por testes de garantia da

integridade do papel e da tinta sob sua ação. Com a fumigação os insetos, em

qualquer fase de desenvolvimento, são completamente destruídos.

Contudo, de acordo com uma publicação oficial do Arquivo Nacional cujo

texto original é de Indgrid Beck, a fumigação de documentos não é mais

recomendada em virtude dos gases tóxicos e compostos oxidantes danosos.

LIMPEZA

É a fase posterior à fumigação. Na falta de instalações especiais para essa

operação, utiliza-se um pano macio, uma escova ou um aspirador de pó.

ALISAMENTO

Consiste em colocar os documentos em bandejas de aço inoxidável, expondo-

os à ação do ar com forte percentagem de umidade, 90 a 95%, durante uma hora,

em uma câmara de umidificação. Em seguida, são passados a ferro, folha por

folha, em máquinas elétricas. Caso existam documentos em estado de fragilidade,

recomenda-se o emprego de prensa manual sob pressão moderada. Na falta de

equipamento adequado, aconselha-se usar ferro de engomar caseiro.

RESTAURAÇÃO

Os documentos devem ser tratados em relação à acidez, antes de se tentar a

restauração por qualquer método.

A restauração exige um conhecimento profundo dos papéis e tintas

empregados. Vários são os métodos existentes. O método ideal é aquele que

aumenta a resistência do papel ao envelhecimento natural e às agressões

externas do meio ambiente, sem que advenha prejuízo quanto à legibilidade e

flexibilidade, e sem que aumente o volume e o peso.

BANHO DE GELATINA

Consiste em mergulhar o documento em banho de gelatina ou cola, o que

aumenta a sua resistência, não prejudica a visibilidade e a flexibilidade e

proporciona a passagem dos raios ultravioletas e infravermelhos. Os

documentos, porém, tratados por este processo, que é natural, tornam-se

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P á g i n a | 103

suscetíveis ao ataque dos insetos e dos fungos, além de exigir habilidade do

executor.

TECIDO

Processo de reparação em que são usadas folhas de tecido muito fino,

aplicadas com pasta de amido. A durabilidade do papel é aumentada

consideravelmente, mas o emprego do amido propicia o ataque de insetos e

fungos, impede o exame pelos raios ultravioletas e infravermelhos, além de

reduzir a legibilidade e a flexibilidade.

SILKING

Este método utiliza tecido – crepeline ou musseline de seda – de grande

durabilidade, mas, devido ao uso de adesivo à base de amido, afeta suas

qualidades permanentes. Tanto a legibilidade quanto a flexibilidade, a

reprodução e o exame pelos raios ultravioletas e infravermelhos são pouco

prejudicados. É, no entanto, um processo de difícil execução, cuja matéria

prima é de alto custo.

LAMINAÇÃO

Processo em que se envolve o documento, nas duas faces, com uma folha

de papel de seda e outra de acetato de celulose, colocando-o numa prensa

hidráulica. O acetato de celulose, por ser termoplástico, adere ao documento,

juntamente com o papel de seda, e dispensa adesivo. A durabilidade e as

qualidades permanentes do papel são asseguradas sem perda da legibilidade e da

flexibilidade, tornando-o imune à ação de fungos e pragas. Qualquer mancha

resultante do uso pode ser removida com água e sabão.

O volume do documento é reduzido, mas o peso duplica. A aplicação, por ser

mecanizada, é rápida e a matéria-prima, de fácil obtenção. O material empregado

na restauração não impede a passagem dos raios ultravioletas e

infravermelhos. Assim, as características da laminação são as que mais se

aproximam do método ideal.

Laminação manual

Este processo, desenvolvido na Índia, utiliza a matéria-prima básica da

laminação mecanizada, embora não empregue calor nem pressão, que são

substituídos pela acetona. A laminação manual, também chamada laminação com

solvente, oferece grande vantagem àqueles que não dispõem de recursos para

instalar equipamentos mecanizados.

ENCAPSULAÇÃO

Utiliza basicamente películas de poliéster e fita adesiva de duplo

revestimento. O documento é colocado entre duas lâminas de poliéster fixadas

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nas margens externas por fita adesiva nas duas faces; entre o documento e a

fita deve haver um espaço de 3mm, deixando o documento solto dentro das

duas lâminas.

A encapsulação é considerada um dos mais modernos processos de

restauração de documentos.

Page 106: Apostilado de Arquivologia_novo 2012

P á g i n a | 105

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