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PLANO DE AULA APOSTILADO Escola Superior de Teologia do Espírito Santo Pedagogia Pedagogia Pedagogia Pedagogia Estudando a aprendizagem e o ensino eficaz Escola Superior de Teologia do ES

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PLANO DE AULA APOSTILADO Escola Superior de Teologia do Espírito Santo

PedagogiaPedagogiaPedagogiaPedagogia Estudando a aprendizagem e o ensino eficaz

Escola Superior de Teologia do ES

ESUTES – Escola Superior de Teologia do ES

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A Escola Superior de Teologia do Espírito Santo – ESUTES, é amparada pelo disposto no parecer 241/99

da CES (Câmara de Ensino Superior) – MEC O ensino superior à distância é amparado pela lei 9.394/96 – Artº 80 e é considerado um dos mais

avançados sistemas de ensino da atualidade. Sistema de ensino: Open University – Universidade aberta em Teologia

O presente material apostilado é baseado nos principais tópicos e pontos salientes da matéria em questão.

A abordagem aqui contida trata-se da “espinha dorsal” da matéria. Anexo, no final da apostila, segue a indicação de sites sérios e bem fundamentados sobre a matéria que o módulo aborda, bem como

bibliografia para maior aprofundamento dos assuntos e temas estudados.

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__________

SSSSSSSSuuuuuuuummmmmmmmáááááááárrrrrrrriiiiiiiioooooooo

_______ _______ _______ _______

O Que é Aprendizagem? .............................................................................................................................. 4

Planejamento ................................................................................................................................................ 9

O Ensino...................................................................................................................................................... 13

Como o Ensino Chega à Mente? ................................................................................................................ 18

A Idoneidade de Jesus para Ensinar .......................................................................................................... 20

Características dos Discípulos de Jesus..................................................................................................... 25

O Objetivo do Ensino de Jesus................................................................................................................... 29

Princípios Subjacentes à Obra de Jesus .................................................................................................... 32

Como Jesus Usava Seu Material De Ensino .............................................................................................. 35

Sua Maneira de dar Lições ......................................................................................................................... 40

Alguns Métodos Usados Por Jesus ............................................................................................................ 43

Resultados do seu Labor ............................................................................................................................ 45

Criados Para Reproduzir............................................................................................................................. 47

A Lei do Ensino ........................................................................................................................................... 50

A Lei da Atividade ....................................................................................................................................... 52

A Lei da Comunicação ................................................................................................................................ 53

A Lei do Professor....................................................................................................................................... 55

A Lei do Coração......................................................................................................................................... 56

A Lei da Motivação...................................................................................................................................... 59

Bibliografia .................................................................................................................................................. 63

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OO QQuuee éé AApprreennddiizzaaggeemm?? O ensino visa a aprendizagem. Mas o que é a aprendizagem? A aprendizagem é um

fenômeno, um processo bastante complexo. Hoje existem muitas teorias sobre a aprendizagem. Elas são estudadas pela Psicologia Educacional.

Inicialmente convém salientar que aprendizagem não é apenas um processo de aquisição de conhecimentos, conteúdos ou informações. As informações são importantes, mas precisam passar por um processamento muito complexo, a fim de se tornarem significativas para a vida das pessoas. Todas as informações, todos os dados da experiência devem ser trabalhados, de maneira consciente e crítica, por quem os recebe.

Só se aprende para a vida quando não somente se pode fazer a coisa de outro modo, mas também se quer fazer a coisa desse outro modo. Só essa aprendizagem interessa à vida e, portanto, à escola. Tal aprendizagem é, inevitavelmente, mais complexa do que a simples aprendizagem informativa.

Alguns preferem definir aprendizagem como sendo a aquisição de novos comportamentos. O problema é que o termo comportamento geralmente é reduzido a algo exterior e observável. E, se limitarmos a aprendizagem ao observável, exclui-se dela o que tem de mais essencial: a consciência, a formação de novos valores, disposições e formas interiores de pensar, ser e sentir que se exteriorizam apenas em algumas atitudes e ações, mas nem sempre são imediatamente observáveis.

TIPOS DE APRENDIZAGEM

Aprendizagem motora ou motriz — Consiste na aprendizagem de hábitos que incluem desde simples habilidades motoras — aprender a andar e aprender a dirigir um automóvel, por exemplo —, ate habilidades verbais e gráficas — aprender a falar e a escrever.

Aprendizagem cognitiva — Abrange a aquisição de informações e conhecimentos. Pode ser uma simples informação sobre os fatos ou suas interpretações, com base em conceitos, princípios e teorias. A aprendizagem das regras gramaticais, por exemplo, é uma aprendizagem cognitiva. Aprender os princípios e teorias educacionais também é aprendizagem cognitiva.

Aprendizagem afetiva ou emocional — Diz respeito aos sentimentos e emoções. Aprender a apreciar o belo através das obras de arte é uma aprendizagem afetiva.

A aprendizagem afetiva tem uma série de implicações pedagógicas. Ela é decorrência do "clima" da sala de aula, da maneira de tratar o aluno, do respeito e da valorização da pessoa do aluno e assim por diante. Todos esses aspectos serão abordados com maior profundidade no capítulo sobre motivação e no capítulo sobre disciplina.

E importante observar, com relação aos tipos de aprendizagem, que não se aprende uma só coisa de cada vez, mas varias. Quando uma criança aprende a escrever, por exemplo, aprende também o significado das palavras e desenvolve o gosto pela apresentação estética da escrita.

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APRENDIZAGEM E MOTIVAÇÃO

Para que alguém aprenda é necessário que ele queira aprender. Ninguém consegue ensinar nada a uma pessoa que não quer aprender. Por isso é muito importante que o professor saiba motivar os seus alunos.

Através de uma variedade de recursos, métodos e procedimentos, o professor pode criar uma situação favorável à aprendizagem.

Para criar essa situação o professor deve: • Conhecer os interesses acuais dos alunos para mante-los ou orientá-los. • Buscar uma motivação suficientemente vital, forte e duradoura para conseguir do

aluno uma atividade interessante e alcançar o objetivo da aprendizagem.

Entre motivação e aprendizagem existe uma mútua relação. Ambas se reforçam. A motivação da aprendizagem se traduz nas seguintes leis: a) Sem motivação não há aprendizagem. b) Os motivos geram novos motivos. c) O êxito na aprendizagem reforça a motivação. d) A motivação é condição necessária, porém, não suficiente.

O problema da motivação da aprendizagem é um assunto bastante complexo. Hoje, cada teoria da aprendizagem apresenta um fator de motivação como sendo o mais importante. A teoria de Piaget, por exemplo, apresenta como favor preponderante de motivação "o problema", a situação-problema. APRENDIZAGEM E MATURAÇÃO

Além da motivação, outra condição da aprendizagem é a maturação. A maturação consiste em mudanças de estrutura, devidas em grande pane à herança e ao desenvolvimento fisiológico e anatômico do sistema nervoso. Segundo Piaget, a maturação cerebral fornece certo número de potencialidades (possibilidades) que se realizam, mais cedo ou mais tarde (ou nunca), em função das experiências e do meio social. O processo de maturação apresenta certo paralelismo com a idade. Esta, porém, por si só não fixa os limites da maturação. A maturação, portanto, resulta de diversos fatores: desenvolvimento biopsíquico, interesses, evolução social, educação, etc.

Só quando o indivíduo estiver maduro para uma determinada tarefa, podemos dizer que está apto para realizá-la. Só poderá aprender algo quando estiver maduro para essa aprendizagem.

Embora a aprendizagem requeira um determinado grau de maturidade, a própria aprendizagem — quando certas condições didáticas são observadas — contribui para a maturação da pessoa.

FASES DA APRENDIZAGEM

A aprendizagem parte sempre de uma situação concreta. Por isso, inicialmente a visão do problema ou da situação é sincrética, ou seja, é geral, difusa, indefinida. Em seguida, através da analise, das considerações dos diversos elementos integrantes, chega-se a uma visão total do problema ou da situação. O terceiro passo é a síntese. Através da síntese integram-se os elementos mais significativos e essenciais.

E através da diversificação, da análise que se chega à síntese ou à integração. Essas fases devem ser levadas em consideração no momento de se criar uma situação

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de aprendizagem. O ponto de partida deve ser sempre a observação da realidade para se ter uma visão global, ou síncrese, do assunto a ser ensinado. A essa visão global segue-se uma discussão sobre os diversos aspectos observados — análise — e, finalmente, procura-se integrar os aspectos conclusivos — síntese. RELAÇÃO ENTRE ENSINO E APRENDIZAGEM

Santo Tomás de Aquino disseque o professor está na mesma situação de um médico de um lavrador. O medico e o lavrador funcionam como agentes externos, pois a cura do doente ou o sucesso da plantação dependem da natureza do doente ou da qualidade do solo. Da mesma forma, o professor também c um agente externo. Ele colabora na aprendizagem do aluno, mas esta depende do próprio aluno.

Há uma relação intrínseca entre o ensino e a aprendizagem. Não há ensino se não há aprendizagem. E necessário conhecer o fenômeno sobre o qual o ensino atua, que é a aprendizagem.

Para haver ensino e aprendizagem é preciso:

a) Uma comunhão de propósitos e identificação de objetivos entre o professor e o aluno.

b) Um constante equilíbrio entre o aluno, a matéria, os objetivos do ensino e as técnicas de ensino.

c) O ensino existe para motivar a aprendizagem, orientá-la, dirigi-la; existe sempre para a eficiência da aprendizagem. O ensino seria, então, fator de estimulação intelectual.

O ENSINO E A APRENDIZAGEM NA VIDA HUMANA

O ensino e a aprendizagem são tão antigos quanto a própria humanidade. Nas tribos primitivas os filhos aprendiam com os pais a atender suas necessidades, a superar as dificuldades do clima e a desenvolver-se na arte da caça. No decorrer da história da humanidade, o ensino e a aprendizagem foram adquirindo cada vez maior importância. Por isso, com o passar do tempo, muitas pessoas começaram a se dedicar exclusivamente a tarefas relacionadas com o ensino. Também surgiram as escolas que são instituições voltadas para essas tarefas.

A primeira indagação que devemos estar fazendo é a seguinte: Afinal, o que é ensino e o que é aprendizagem? Para responder a essa pergunta, podemos partir da seguinte constatação: Não é só

na sala de aula que se aprende ou que se ensina. Em casa, na rua, no trabalho, no lazer, em contato com os produtos da tecnologia ou em contato com a natureza, enfim, em todos os ambientes e situações podemos aprender e ensinar. É isso mesmo.

Cada situação pode ser uma situação de ensino-aprendizagem. Só os que não têm uma atitude de constante abertura é que não aprendem ou não ensinam em todas as situações. Mas em que consiste essa atitude?

Consiste em ser capaz de indagar, pesquisar, procurar alternativas, experimentar, analisar, dialogar, compreender, enfim, ter uma atitude científica perante a realidade.

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Os grandes cientistas foram pessoas que procuraram aprender e ensinar em todas as situações.

Vejamos, através de um texto de Monteiro Lobato, como o progresso científico e tecnológico resultou dessa atitude:

"Um dos primeiros mágicos que revolucionaram o mundo com suas invenções foi o escocês Jaime Watt. Um dia, em que estava observando uma chaleira d'água ao fogo, impressionou-se com a dança da tampa levantada pelo vapor. 'Se esse vapor ergue uma tampa de chaleira, pode erguer tudo mais', pensou Watt. E dessa idéia saiu a máquina a vapor, na qual o vapor d'água move um pistão, que por sua vez move uma roda. A máquina a vapor causou verdadeira revolução industrial no mundo.

'Se a máquina a vapor move uma roda', pensou outro inglês de nome Stephenson — "por que não há de mover-se a si própria?' — e dessa idéia nasceu a locomotiva, que é uma máquina a vapor que se move a si própria.

'Se a máquina a vapor se move na terra' — pensou um americano de nome Fulton — 'por que não há de mover-se também no mar?' — e dessa idéia nasceu o navio a vapor que iria mudar todo o sistema de navegação.

O povo riu-se da primeira máquina de Watt, da primeira locomotiva de Stephenson e do primeiro navio a vapor de Fulton. Eram na realidade grotescos e de muito pequeno rendimento. Mas aperfeiçoaram-se com rapidez, e hoje constituem verdadeiras maravi-lhas da mecânica". (LOBATO, M. História do mundo para crianças. São Paulo. Brasília». 1972. p. 208.)

Se em nossos dias, apesar do progresso tecnológico, as pessoas não melhoraram muito, talvez isso se deva, em parte, à falta de questionamento no campo da educação, principalmente no que se refere aos valores. "A questão dos valores talvez seja a que mais coloca em causa a educação de nossos dias”.

EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE ENSINO

O conceito de ensino, assim como o conceito de educação, evoluiu graças aos questionamentos e pesquisas realizadas por diversos pensadores, educadores, psicólogos, sociólogos, etc. Segundo o conceito etimológico, ensinar (do latim signare) é "colocar dentro,

gravar no espírito". De acordo com esse conceito, ensinar e gravar idéias na cabeça do aluno. Nesse caso, o método de ensino é o de marcar e tomar a lição.

Do conceito etimológico surgiu o conceito tradicional de ensino: "Ensinar é transmitir conhecimentos". Seguindo esse conceito, o método utilizado

baseia-se em aulas expositivas e explicativas. O professor fala aquilo que sabe sobre determinado assunto e espera que o aluno saiba reproduzir o que ele lhe disse. Toma corpo, assim, um novo conceito de ensino e de educação que passou a se denominar Escola-novismo ou Escola Nova.

Com a Escola Nova o eixo da questão pedagógica passa do intelecto (ensino

tradicional) para o sentimento; do aspecto lógico para o psicológico; dos conteúdos cognitivos para os métodos ou processos pedagógicos; do professor para o aluno; do esforço para o interesse; da disciplina para a espontaneidade; do diretivismo para o não-diretivismo; da quantidade para a qualidade; de uma pedagogia de inspiração filosófica centrada na ciência da lógica para uma pedagogia de inspiração experimental

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baseada principalmente nas contribuições da Biologia e da Psicologia. Em suma, trata-se de uma teoria pedagógica que considera que o importante não é aprender, mas aprender a aprender.

Para funcionar de acordo com os princípios da Escola Nova, o ensino teria que passar

por uma sensível reformulação. "O professor agiria como um estimulador e orientador da aprendizagem cuja iniciativa principal caberia aos próprios alunos. Tal aprendizagem seria uma decorrência espontânea do ambiente estimulante e da relação viva que se estabeleceria entre os alunos e entre estes e o professor. Para tanto, cada professor teria de trabalhar com pequenos grupos de alunos, sem o que a relação interpessoal, essência da atividade educativa, ficaria dificultada; e num ambiente estimulante, portanto, dotado de materiais didáticos ricos, biblioteca de classe, etc. Em suma, a feição das escolas mudaria seu aspecto sombrio, disciplinado, silencioso e de paredes opacas, assumindo um ar alegre, movimentado,

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Em que Consiste Planejar é pensar no que se espera fazer: é a previsão de uma ação futura. É

antecipar mentalmente os passos que se pretende dar. É prever, ou ver com antecedência, o que se pretende alcançar e os meios necessários para isso.

Planejar é escolher as melhores formas de se fazer alguma coisa ou de se alcançar um resultado, um objetivo. Planejamento em ensino é a previsão dos resultados ou objetivos educacionais, gerais, ou específicos que se pretende alcançar, seguidos da previsão do conteúdo, dos procedimentos de ensino e dos meios auxiliares necessários para alcançá-los. No planejamento, deve ser considerado, também para quem se vai planejar, o tempo necessário para se alcançar os objetivos.

Convém lembrar que planejamento e plano são duas coisas distintas. O primeiro é dinâmico, o seguido é estático.

Planejamento é o processo de se fazer o plano. O planejamento é pensamento, é ação. Plano é o planejamento pronto, passado no papel. O plano contém os objetivos e o

que precisa ser feito para alcançá-los. Tipos de Planejamento

No campo da educação, podem existir vários tipos de planejamento. Os principais são:

a. Planejamento Educacional: é assim chamado o planejamento feito em nível nacional ou estadual. Nele são previstos os objetivos mais amplos da educação, tipos de profissionais que se espera formar, nível de educação desejado para a população do país ou Estado. Para isso é definida uma política em que se prevêem recursos, estrutura da educação para o sistema, currículos mínimos, meios e estratégias para se alcançar os objetivos.

b. Planejamento Curricular: existem também várias formas de planejamento curricular. Vamos limitar-nos a planejamento curricular de um determinado curso ou grau. Se formos planejar o currículo para o 1° grau, da 1ª à 4ª série, de uma determinada escola, temos que conhecer a realidade da comunidade, definir os objetivos que pretendemos e prever os meios que vamos precisar. Os objetivos a serem previstos são para os quatro anos, ou seja, atividades, habilidades, hábitos e conceitos que os alunos devem desenvolver até o final da 4a série.

Definidos os objetivos. Procure - se adequar o conteúdo para alcançá-los. O conteúdo pode compreender experiências, valores, informações, atividades, áreas e disciplinas.

c. Planejamento de disciplina ou de curso: é o planejamento que se faz para um ano ou para um semestre se a disciplina for semestral. O planejamento da área de estudos, ou disciplina é para o ano todo.

d. Planejamento de unidade: é o planejamento que se faz de um item do programa,

de um tópico. A sua duração pode ser de 4, 7, 10 ou 15 horas. É um planejamento de conjunto, para a unidade como um todo. Depois de pronto o plano de unidade é que

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se vai pensar sobre os objetivos e atividades a serem desenvolvidos no primeiro dia. A partir dos resultados alcançados neste dia é que se parte para planejar o que vai ser feito no 2° dia. E assim por diante.

e. Planejamento de aula: planejamento de aula, separadamente, não é muito recomendado. Mas, o planejamento de aula em que uma é a seqüência da outra, sim, é necessário. Seria o planejamento da aula de um dia após o outro, começando onde se parou na aula anterior. É a "amarração" das atividades de um dia para o outro.

Importância do Planejamento

O planejamento evita improvisação, serviço malfeito, perda de tempo e de dinheiro. Com planejamento, fica bem claro o que se pretende e o que deve ser feito para se

chegar aonde se quer. Um bom planejamento dá segurança ao professor. Evita que ele se atrapalhe e fique

nervoso. Planejando tem-se seqüência nas atividades e na aprendizagem. Prevê-se aquilo que

precisa ser conhecido para ser possível uma nova aprendizagem. O tempo também precisa ser previsto; do contrário, pode-se utilizar muito tempo em

alguns objetivos e esquecer-se de outros, também importantes. Escolhem-se as melhores técnicas e atividades e não aquelas com as quais se está

acostumado ou as mais fáceis. Deve-se planejar sempre para sair da rotina, da monotonia.

Da imensidade de conteúdos existentes escolhe-se o essencial, aquele que atende às necessidades e aspirações dos alunos e que seja mais significativo e útil para eles e para a sociedade. Um professor habilidoso saberá conciliar interesses dos alunos em aprender determinadas coisas e o planejamento feito. Mesmo que tenhamos que fugir do planejado, é importante ter feito o planejamento. O que importa é tomar a aprendizagem eficiente, sem perda de tempo para os alunos. Se estes se inclinarem para outro rumo, e o professor julgar isso de utilidade, dêem-se asas aos alunos.

O planejamento é necessário para se ter um rumo. Mas se vierem propostas melhores que o próprio plano, por que não segui-las?

O planejamento visa à obtenção de resultados de forma mais eficiente, intensa, rápida e segura.

Conhecimento da realidade

Antes de se fazer qualquer plano, é preciso saber para quem" se vai fazê-lo, quais são as possibilidades de dar certo e as condições que se tem para executá-lo. Não adianta fazer planejamento bonito, bem feito, mas que não pode ser executado ou que não traz resultados proveitosos. É preciso conhecer a realidade.

O médico, antes de receitar um remédio, faz uma série de perguntas a seu cliente: sobre o que sente e mesmo sobre o seu passado; vê sua pressão, examina-o de alto a baixo e manda fazer exames de laboratório. Conforme a situação, pergunta até se ele tem dinheiro para comprar remédios mais caros. Caso contrário, tenta com remédios mais baratos mesmo.

O engenheiro, ao planejar uma obra, examina a consistência do solo, o tipo de

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material disponível, os recursos de quem vai construir, a pressa do proprietário, o seu tempo para supervisionar a obra, e a sua própria competência. Além disso, tem que considerar a disponibilidade de construtores, pedreiros e carpinteiros.

Em educação, precisamos conhecer a realidade do aluno, da comunidade, da escola e do próprio professor.

Com relação ao aluno, precisamos conhecer seu estado de saúde, de nutrição, seus interesses, necessidades, aspirações, possibilidades e vontade. É preciso verificar seu grau de maturidade, seu nível cultural, suas características, suas experiências, enfim, seu grau de prontidão.

Com estes dados, levanta-se o que os alunos já sabem, o que falta saber e o que são capazes de aprender.

Sobre a comunidade, precisamos levantar seus problemas, suas necessidades e tendências. De nada adianta querermos planejar um ensino livresco, desligado da realidade e que não venha solucionar os problemas sociais.

De posse desses dados, faz-se a análise do que precisa ser feito e do que pode ser feito para ajudar o aluno a crescer, em termos de aprendizagem e educação; e do que precisa ser feito para melhorar a sua vida e a sociedade.

Só depois desse conhecimento e dessa análise é que se pode passar para a etapa seguinte do planejamento, que é a elaboração do plano.

Elaboração do plano

Plano, como vimos acima, é o planejamento colocado no papel. Elaborar o plano é pensar o que vai ser posto no papel.

O plano é constituído, basicamente, de cinco componentes ou elementos: objetivos, conteúdo, procedimentos de ensino, recursos auxiliares e avaliação. Os cinco devem estar interligados entre si para formarem um todo bem estruturado e harmônico, para se tomar eficiente na busca dos objetivos.

Cada um dos componentes deve ser considerado em função da realidade com a qual se vai trabalhar. Quando se trata de plano de ensino, cada professor tem que fazer o seu, pois o plano é feito para cada turma em função das suas características próprias. Ele deve ser feito para ser trabalhado por aquele professor, dentro daquelas condições e para aquele ano. Por isso, não pode ser copiado de outros colegas, ou de anos anteriores.

Execução do plano O plano sempre deve estar presente no pensamento dos seus executores, para

orientar e direcionar suas atividades. Temos em mente a construção do homem. Mas este não pode ser construído tão

rapidamente como uma casa. Ele é formado em várias etapas. O professor verificou, através do estudo da realidade, em que etapa cada aluno está, e

tem pronto o plano para a etapa seguinte ou de pane dela (que é o plano da sua disciplina).

Chegou o momento de o professor juntar tudo para alcançar os objetivos previstos no plano, para construir mais uma etapa do homem planejado.

O aluno toma o conteúdo, a matéria, que são as informações, as idéias, os conhecimentos, as experiências, e amarra tudo através dos meios auxiliares, das técnicas

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e das atividades. Forma-se uma nova estrutura na mente do aluno. As idéias, as informações e as experiências, que são a matéria, não são mais as mesmas. Foram transformadas em atitudes, em novos conceitos, em novos comportamentos.

Observe-se que, em educação, é o próprio aluno o seu construtor. O professor é mero ajudante no processo - facilitador.

Avaliação do plano

Avaliar um plano é verificar se alcançou ou não os objetivos; é verificar o que deu certo e o que deu errado; é descobrir quais são suas falhas, o que faltou e em que poderia ser melhorado.

Se o plano estiver alcançando os objetivos, sem muita perca de tempo, ele é bom. Do contrário, precisa ser revisado. Num e noutro caso precisa ser avaliado.

No ensino, o melhor termômetro para se avaliar um plano é a aprendizagem dos próprios alunos. Se a aprendizagem for de boa qualidade e quantidade. conclui-se que o plano seja bom.

Se a aprendizagem não estiver sendo boa, ou se os alunos estiverem indo mal nas avaliações, é preciso reavaliar o plano. Reavaliar o plano é analisar cada um de seus componentes: objetivos, conteúdo, procedimentos de ensino, meios auxiliares e avaliação. O próprio professor precisa se analisar.

É por isso que o plano tem que ser flexível: para poder haver replanejamento, sempre que necessário.

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Pedagogia é a arte e ciência de ensinar e educar. São processos e técnicas de ensinar a infância, explorando as leis psicológicas que regem o crescimento e comportamento do ser humano.

Essas técnicas que comunicam a mensagem, modernizam-se constantemente para atingirem maior número de alunos em menos tempo e do melhor modo possível pedagogicamente. Enquanto isso, a mensagem da Palavra de Deus não deve jamais mudar. Para citar um exemplo, há 50 anos, por não existir o microfone e o amplificador de som, as técnicas de comunicação de massa eram bem rudimentares. Hoje, o mais modesto auditório não dispensa o dito recurso.

Essas técnicas podem ser eficazmente educacionais, sem em nada afetar a vida espiritual, usadas com sabedoria em seu devido lugar.

I. O QUE É ENSINO

No conceito moderno, ensinar não é apenas transmitir conhecimentos, mas também promover aprendizagem por parte do aluno. Essa aprendizagem não pode ser forçada nem introduzida no educando como o ato de vestir uma peça de roupa. Portanto, ensinar não é apenas ler ou falar diante de uma classe, mas primeiro despertar, motivar, e interessar a mente do aluno e em seguida dirigi-la no processo do aprendizado. Não pode haver real ensino sem aprendizagem por parte do aluno. A palavra "educar" é derivada de uma outra que literalmente significa "conduzir para fora". Daí se deduz que é privilégio do professor conduzir o aluno ao encontro das experiências da vida, de tal forma que ele possa viver vitoriosa e sabiamente, diante de Deus e de seus semelhantes.

Se o ensino público é o meio de que o Governo dispõe para eliminar o analfabetismo, a Escola Dominical deve ser o desafio da Igreja contra o nanismo espiritual em seu meio, bem como à incredulidade à sua volta.

II. O ENSINO DEVE TER OBJETIVOS DEFINIDOS

Se o caçador atirar a esmo, sem pontaria, nunca abaterá a caça. De igual modo, se na guerra, o soldado disparar sem direção, estará atraindo o inimigo a si. O objetivo do ensino gira em torno do aluno. Abaixo damos 7 pontos que o ensino bíblico deve visar de modo definido.

A. O aluno e suas relações com Deus (Is 64.8). Deus é nosso Pai celestial (com Quem devemos ter comunhão ininterrupta). É Criador e Preservador (digno de toda adoração). É Sustentador (digno da nossa fé). É Rei e Senhor (digno do nosso melhor serviço).

B. O aluno e suas relações com o Salvador Jesus (Jo 14.6). Jesus é o caminho para Deus, o Pai. É também o nosso Salvador pessoal, e Senhor, e Centro da nossa vida em geral.

C. O aluno e suas relações com o Espírito Santo. (Ef 5.18). O Espírito Santo convence (Jo 16.8); regenera (Tt 3.5); santifica (Rm 8.2; ensina (Jo 14.26); e capacita para vencer (At 1.8); guia (Jo 16.13; Rm 8.14).

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D. O aluno e suas relações com a Bíblia (SI 119.105). Aceitar a Bíblia como a Palavra divinamente inspirada (2 Tm 3.16). É preciso conhecê-la, e isso não vem por acaso (Jr 15.16). É preciso amá-la e tê-la como guia prático da vida diária.

E. O aluno e suas relações com a Igreja (At 2.44; Ef 4.16). Conhecer o propósito e missão da igreja local. Nossas responsabilidades e deveres para com a obra do Senhor. Trabalhar de coração, em suas atividades. Fomos salvos para servir (l Pe 2.9). Devemos dar, e não apenas esperar receber da Igreja. Compreensão da importância de ser membro da Igreja.

F. O aluno e suas relações consigo mesmo (Fp. 1.21; 3.13,14). O crente deve avançar para a maturidade espiritual. Compreender que somente estando em Cristo, podemos vencer nossa natureza pecaminosa, e viver a vida vitoriosa. Usar os talentos e habilidades a serviço do Mestre.

G. O aluno e suas relações com os demais alunos e demais pessoas. (Mc 12.31). Apreciar a contribuição dos outros e respeitar seus direitos. Cuidar da salvação dos perdidos por todos os meios possíveis. Familiarização e participação na obra missionária nacional e estrangeira. Ser bom e justo. Bom, não significa apenas ter coração mole e concordar com tudo (SI 25.8). Nossas responsabilidades como cidadãos.

III. LEIS DO ENSINO E DA APRENDIZAGEM

A. Definições e conceitos educacionais 1. Definição de "Leis". Leis são princípios imanentes e imutáveis que regem os atos e comportamento de todas as coisas inclusive o ser humano. Incluídos aqui, estão o ensino e o aprendizado. 2. Leis do ensino. São leis da teoria e da prática educacional, utilizadas pelo professor, para criar no aluno condições ideais para que o mesmo aprenda o que se ensina.

3. Leis da aprendizagem. São os princípios da assimilação e retenção do ensino por parte do aluno. Essas leis funcionam através dos sentidos físicos do ser humano, culminado na mente.

4. O processo da aprendizagem a. Nos sentidos psicofísicos. Seqüência do processo da aprendizagem nos sentidos psicofísicos:

• O órgão de determinado sentido é o receptor dos estímulos vindos de fora. • O nervo desse sentido é o transmissor dos estímulos recebidos. • O cérebro é o receptor e intérprete dos estímulos.

b. Na mente. Seqüência do processo da aprendizagem na mente. • Percepção é a identificação de percepções semelhantes, resultando no que se chama idéia

geral. • Juízo no Conceito é uma comparação de idéias. • Raciocínio é uma comparação de juízos, geralmente chamada conclusão.

5. O conhecimento das leis do ensino e aprendizagem. Permite ao professor sua utilização a fim de conduzir o aluno através do desconhecido...

6. Que é ensinar. Não é simplesmente transmitir conhecimentos. É despertar e orientar a mente do aluno, promovendo a aprendizagem por parte do mesmo. Jesus fez assim ao tratar com Nicodemos e a Samaritana. O professor trabalha com a mente do aluno, dirigindo-a no processo da aprendizagem. Que privilégio e que responsabilidade.

7. Que é aprender. É o aluno pensar e agir por si próprio, sob orientação inicial.

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(Espiritualmente, há outros meios de aprendizagem.)

8. Os dois conceitos básicos da educação secular e religiosa.

a. Toda criança normal é: 1) Fisicamente imatura - precisa crescer; 2) Mentalmente ignorante - precisa aprender. Aplicação espiritual: Todo cristão novamente nascido é: (1) Espiritualmente imaturo - precisa crescer (II Pe 3.18). (2) Espiritualmente ignorante - precisa aprender (Mt 11.29).

b. Leis do ensino e da aprendizagem. O aluno normal:

1- Aprende quando motivado, estimulado psicologicamente. Exemplos: a. Despertando para a realidade, aspirações. b. Consciência do despreparo, considerando o contexto comunitário. c. Retrogradação de grupo. Consumação e consciência disso.

2- Aprende quando gosta a- Gosta por escolha experimental (objetivamente). b. Gosta por efeito (subjetivamente),

(Ver Marcos 12.37; Jo 6.67-69).

3- Aprende quando necessita

a- Funcionalmente. b- Futuramente.

4- Aprende quando vê fazer. É o ensino pela demonstração, pelo exemplo (At 1.1). Aí o aluno aprende:

a. Observando b. Motivando sua potencialidade e capacidade adormecidas ou latentes. (Isto é, se outros podem fazer ele pode também).

5- Aprende quando faz. É a aplicação prática, experimental.

a. Fazendo - aprende-se. b. Repetindo - aprimaiora-se (A ferramenta sem uso normal enferruja).

6- Aprende quando há métodos certos de ensino. Subentendidos também: • Idade e conhecimentos do aluno. O professor deve ministrar o ensino partindo do nível de conhecimentos do aIuno e não do seu próprio • Instalações escolares • Meios auxiliares de ensino • Material didático • Objetivos definidos da lição, do curso, do estudo

7- Aprende quando investiga, pesquisa independentemente. Sendo previamente orientado, dirigido.

8- Aprende quando está interessado.

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• Atenção tem a ver com a pessoa do professor, interesse tem a ver com a matéria que o professor ensina. • Interesse conduz à participação a qual pode ser espontânea e provocada

9- Aprende quando crê, confia

a. Confia em si mesmo b. Confia na escola (sua idoneidade, competência, probidade, etc.). Confia no professor preparado, idealista, idôneo, alinhado.

10- Aprende quando ora. Através da oração Deus pode abençoar o corpo, e a mente e todo o nosso ser. Note o sentido literal de Mateus 8.17. O professor deve orar muito por seus alunos; estes, por sua vez, devem orar muito por seus professores.

11- Aprende quando recebe atenção pessoal Leis da aprendizagem são os princípios de assimilação e retenção do ensino por parte do aluno, os quais funcionam através dos sentidos físicos. São leis imanentes no próprio aluno. Elas mostram como o aluno aprende. O ensino chega à mente por meio destes sentidos, que são seis a saber:

a. Visão - os olhos

b. Audição - os ouvidos. O ouvido compreende dois órgãos sensoriais: a audição e o equilíbrio.

c. Olfato - o nariz. Nele estão os terminais do nervo olfativo.

d. Paladar - a língua. Nela estão as papilas gustativas.

e. Tato - está em todo o corpo. São as terminações periféricas dos nervos sensitivos. Essas terminações são responsáveis pelas sensações tácteis, térmicas e álgicas.

f. Cenestésia - sentido muscular. Por esse sentido sabemos se um objeto é pesado ou leve. Esse sentido é tão experimental como os demais.

Esses sentidos são as portas da alma para seu contato com o mundo exterior. É por meio deles que recebemos os estímulos vindos de fora, os quais, após várias fases evolutivas, resultam na aquisição do conhecimento.

Cada sentido dispõe de um órgão do corpo, receptor de estímulos. O órgão receptor dispõe de um nervo que transmite ao cérebro o estímulo recebido. Resumo: o órgão recebe, o nervo transmite e o cérebro interpreta o estímulo.

Todo estímulo assim recebido, provoca na alma uma reação ou reflexo, resultando daí o nosso comportamento diário. Exemplos de reações e estímulos, recebidos pelo cérebro: movimentos, pensamentos, impulsos, atitudes, emoções, etc. O ensino chega à mente • Pelos sentidos físicos. • Pela inspiração divina. • Pela revelação divina. Não confundir os dois últimos com intuição, a qual é a percepção direta e imediata do conhecimento, independente de observação, prévia experiência e processos do raciocínio.

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Para termos uma idéia do papel e do valor dos sentidos no ensino, saiba-se que:

Aprende-se 20% de que se ouve. A voz do professor tem grande influência aqui. Deve ter a intensidade ideal e ser agradável.

Aprende-se 30% do que se vê. Aqui tem grande importância a iluminação. A arrumação da sala também influi muito (recursos visuais).

Aprende-se 70% do que se examina. Aprende-se 90% do que se faz ou participa em grupo. Exemplo: cânticos com gestos,

marchas, provas, testes, procura e leitura de versículos, trabalhos manuais, desenhos, pesquisas, redações, mapas, etc. A criança, por exemplo, aprende de fato quando "faz" a lição.

Aprende-se 90% do que se fala. Exemplo: leitura, recitativo de memória, perguntas, reconstituição da lição, temas desenvolvidos, discussão orientada, mesa redonda, exposição ou preleção.

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CCoommoo oo EEnnssiinnoo CChheeggaa àà MMeennttee??????

Veremos agora o processamento do ensino desde os sentidos até à mente do aluno. 1. Percepção. É a identificação de uma sensação ou estímulo recebido. Exemplo: Ouço um som, o qual a mente identifica como sendo de violino. Tenho então a percepção de um violino. Se eu usar outros sentidos como vista e tato, a percepção do violino será muito mais real. Tem grande influência aqui, a fala, a voz, tom, palavras, e gestos do professor. Tudo isso afeia o ouvido e a compreensão do aluno. A percepção é um fenômeno complexo da alma em que se reúne num só ato várias operações psicológicas, como estímulo, memória, associação e atenção.

Jesus quando quis explicar a palavra "próximo" para um inquiridor, contou primeiro uma história que esclarecia a idéia, passando em seguida a defini-la (Lc 10.29-37).

2. Idéia. É uma combinação de percepções semelhantes. Exemplo: Se por meio de estímulos recebidos eu percebo a um só tempo sons de plano, violino e flauta, tal combinação de percepções dá-me a idéia ou conceito de musica. Conceito, pois, é uma idéia geral.

3. Juízo. É uma comparação de idéias ou conceitos. Exemplo: escuto várias músicas e faço um juízo de que são boas ou más, agradáveis ou desagradáveis para deleite da alma ou não.

4. Raciocínio. É uma comparação de juízos. Noutras palavras, é uma conclusão. Exemplo: Se Jesus deu vista a cegos, curou paralíticos e leprosos e ressuscitou o filho da viúva de Naim, chego a conclusão que Jesus socorre o homem na tristeza, no abandono e no sofrimento. (Ver os sentidos espirituais da alma, Hb 5.14). Principais fatores que afetam o processo da aprendizagem: a potencialidade inata do educando para aprender; o ambiente onde se processa a aprendizagem; e o propósito da aprendizagem. As três leis básicas da aprendizagem:

1. A lei da disposição mental. É o interesse e a atenção do aluno para receber ou executar o ensino. Para se aprender ou fazer algo é preciso disposição, desejo sincero e interesse por parte do aluno. Uns têm maior ou menor interesse. É preciso interesse total. O aluno só presta atenção ao professor quando o assunto lhe interessa. Sem atenção concentrada não pode haver aprendizagem. Que fazer para por esta lei em ação "Despertar ou motivar o, aluno,) usando as fontes de motivação apropriadas para o momento lembremo-nos que a alegria e a satisfação do aluno motivado, facilitam cem por cento a aprendizagem.

2. A lei do efeito. O aluno aprende mais facilmente o que lhe causa prazer e satisfação. Um aluno insatisfeito agirá contrariado. O aluno não somente aprende, mas repete aquilo que lhe causa prazer. Quando o efeito de uma coisa é agradável, a pessoa quer repetir a experiência, mas quando é ao contrário, ninguém quer repeti-la. Portanto, aprende-se mais facilmente o que é agradável, e dificilmente o que é desagradável.

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3. A lei do exercício ou da repetição. Esta lei prova que a repetição ajuda a gravar. É a repetição de um ato que forma o hábito. Uma ferramenta em uso torna-se enferrujada. Um músculo ou membro do corpo imobilizado, torna-se atrofiado e enfraquecido, mas em uso normal, torna-se forte. A prática faz a perfeição. Uma verdade bíblica aprendida deve ser praticada, aproveitada ou aplicada, senão será esquecida (Mt 7.24). Essa repetição deve ser freqüente. Aí está o campo das perguntas, lições repetidas, questionários, sumários, etc.

O ensino de adultos. É um erro pensar-se que os adultos não podem ser transformados quanto a orientação religiosa dantes recebida. O adulto não é um eterno escravo da educação recebida na infância e adolescência, porém sua real educação religiosa é das mais difíceis, porque não se trata de educação simplesmente, mas reeducação.

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AA IIddoonneeiiddaaddee ddee JJeessuuss ppaarraa EEnnssiinnaarr

Ninguém esteve melhor preparado, e ninguém se mostrou mais idôneo para ensinar do que Jesus. No que toca às qualificações, bem como noutros mais respeitos, Jesus foi o mestre ideal. Isto é verdade tanto visto do ângulo divino como do humano. No sentido mais profundo, Jesus foi "um mestre vindo da parte de Deus". Muitos elementos contribuíram para prepará-lo eficientemente para o magistério. Alguns elementos eram meramente humanos; outros, divinos; alguns lhe eram inerentes) e outros, ele os desenvolveu. Quando os consideramos, nos sentimos estimulados e inspirados para cumprir nossa tarefa de professor.

1. A Encarnação da Verdade

O elemento mais importante na qualificação de qualquer professor é justamente aquilo que ele e em si. Todos reconhecemos que um só exemplo vale por cem ou mil conselhos. "Aquilo que você é troveja tão alto que não posso ouvir o que você diz."

"A verdade encarnada é a única verdade espiritual que consegue apelar de modo efetivo. Por isso, cada professor deve sentir bem fundo em seu coração que sua pessoa é a lição que mais apela ao coração do aluno." Isto de fato é assim, porque a verdade mais se apanha do que se ensina. A influência inconsciente é mais poderosa do que a consciente. "As palavras do professor só chegam até onde as projeta a força propulsora duma vida piedosa." É o peso do machado que o faz penetrar mais fundo na árvore que se quer derrubar. Por isso o professor de Escola Bíblica Dominical deve ser alguma coisa para poder eficientemente dizer alguma coisa. "A vida do professor é a vida do seu ensino."

Jesus foi a encarnação viva da verdade.. Ele disse: "Eu sou... a verdade" (João 14:6). Ele foi cem porcento aquilo que ensinou. Fosse qual fosse o assunto, ele o encarnava e ensinava com trasbordamento de toda a sua vida. S. D. Gordon disse: "Jesus tinha já feito antes de fazer, viveu aquilo que depois ensinou, viveu tudo antes de ensinar, e viveu tudo bem mais do que pôde ensinar." C. S. Beardslee assim se expressou sobre Jesus: "Sua grande alma deu lugar bem grande para que o Espírito Santo o ungisse inteira e completamente. . . Olhando para os olhos dele, você vê a luz. em sua inteireza... Ele tinha ilimitadas reservas de verdade, de majestade, de beneficência, de entusiasmo, de paciência, de persistência, de longanimidade... Ele mostrou aos que dependiam de outros como deviam confiar; aos servos, como servir; aos governadores, como dirigir; aos vizinhos, como serem amigos; ao necessitado, como orar; ao sofredor, como suportar; e a todos os homens, como maiorrer. . . Ele é o ensino modelar para todas as épocas."

Esta encarnação da verdade proveio de duas coisas. Do fato de ele ser Deus e possuir as perfeitas qualidades de Deus. Foi ele o único ser perfeito. Ele difere de nós em qualidade e também em grau. Por isso jamais poderemos nos aproximar de sua perfeição. Também a sua encarnação da verdade proveio do fato de ele ter estudado e experimentado a verdade, e feito dela parte de si mesmo. "Jesus crescia em sabedoria" (Luc. 2:52). Jesus aprendeu como filho e como irmão dentro de seu lar, pelo estudo e freqüência à sinagoga, e também com as experiências naturais da vida humana. Experimentou tentações que diziam respeito à conservação de sua própria vida, à consi-

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deração social e à ambição do poder. A encarnação da verdade pelo mestre afetava o seu ensino pelo menos de duas

maneiras. Em primeiro lugar, dava-lhe um tom de autoridade, que se não via nos escribas e rabinos do seu tempo — os professores oficiais dos dias de Jesus. A sabedoria destes era mais aquela vinda de fora, era matéria de /[cativa, ensinavam mais citando autoridades e a tradição. A sabedoria de Jesus vinha de dentro e não precisava de escoras ou de confirmação. "Este mestre era diferente. Não citava ninguém, e apresentava sua própria palavra como suficiente." Portanto, ensinava com clareza meridiana, com convicção e poder. O povo "se admirava do seu ensino, porque ele os ensinava como quem tinha autoridade, e não como os escribas" (Mar. 1:22). O fato de viver aquilo que ensinava também inspirava confiança naquilo que dizia. O povo viu corporificado no que ele praticava aquilo que ele queria que ,eles fizessem. Anotavam como ele se comportava diante da tristeza, da critica, do desapontamento, da perseguição. O seu modo de viver reforçava e dava peso àquilo que dizia. "A maior coisa que seus discípulos aprenderam de seus ensinos não foi a doutrina, e, sim, sua influência. Até a última hora de suas vidas, a maior coisa foi o terem eles estado com Jesus."' Por isso, "designou doze para estarem com ele" (Mar. 3:14).

2. O Desejo de Servir

Um dos elementos essenciais para a qualificação de um professor é o interesse que deve ter pelo povo e o desejo de servi-lo bem, de ajudá-lo. Sem esta qualidade, o mestre será "como o metal que soa, ou como o címbalo que retine", muito embora conheça bem a Bíblia, o discípulo e os métodos de ensino. Saber enfrentar uma grande classe, possuir boas estatísticas, ou conhecer de sobejo os melhores métodos de ensino não constituem substituto apropriado para aquele profundo interesse que devemos ter pelo próximo.

Por outro lado, amando e desejando servir bem a nossos alunos, teremos suprido em boa parte as deficiências de conhecimentos e de técnica. Algumas personalidades pouco prometedoras que conhecemos se tornaram ótimos professores de adolescentes (a idade mais crítica); e isto se explica pelo fato de terem amado verdadeiramente os alunos daquela idade. Mais cedo ou mais tarde, os discípulos compreendem esse amaior e interesse do professor, e a eles respondem. Todo o mundo ama aquele que ama.

Brilhou sempre no caráter de Jesus esse interesse profundo pelo bem-estar de todos. Jesus se interessava mais por pessoas do que por credos, cerimônias, organizações ou equipamento. Via o povo "como ovelhas sem pastor" (Mar. 6:34). Quando os fariseus criticaram os discípulos de Jesus por haverem colhido espigas no dia de sábado, ele os defendeu, dizendo: "O sábado foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do sábado" (Mar. 2:27). Quando aquele jovem avarento e egocentralizado fez Jesus parar na estrada para lhe perguntar qual o caminho que conduz à vida, diz o evangelista que "Jesus, contemplando-o, o amou" (Mar. 10:21). Na ocasião em que certo homem atacado de lepra suplicou a Jesus que o curasse, ele se sentiu todo tomado de profunda simpatia por aquele sofredor, e "estendendo a mão, tocou-o" (Mar. 1:41). Seu coração encheu-se de afeição pelos escribas que viviam a criticá-lo, pelos ciumentos fariseus, pelos desprezados e odiados publicanos, pelos pecadores malquistes, pelo cego, pelo surdo, pelo coxo.

Ele sempre amou a todos e se interessava vivamente por seus problemas. "Ele encarnou e revelou todo o amaior de Deus, e se compadeceu dos homens por todos os

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seus males e padecimentos." O Mestre não só se interessou pelos problemas humanos, mas sempre buscou fazer alguma coisa para solucioná-los. Revelou sempre genuíno espírito missionário, e afirmava repetidamente que viera para servir, e não para ser servido (Mat. 20:29). Não se julgou tão cansado que não pudesse conversar sobre a Água da Vida com uma decaída junto ao poço de Sicar. Não achou que lhe seria desdouro?, visitar em sua própria casa um malquisto coletor de impostos. Não deu ouvidos à critica dos líderes religiosos e se associou com pecadores, para tirá-los do seu pecado. Nas parábolas da ovelha e da dracma perdidas e do filho pródigo, Jesus mostrou que realmente estava interessado em tudo. Seu coração se derretia de simpatia por um mundo necessitado, e suas mãos secundavam e espalhavam essa simpatia por meio de serviço e ajuda.

3. A Crença no Ensino Jesus viu no ensino a gloriosa oportunidade de formar os ideais, as atitudes e a conduta do povo em geral. Ele não se distinguiu primeiramente como orador, como reformador, nem como chefe, e, sim, como mestre. Vemos perfeitamente que ele não pertenceu à classe dos escribas e rabinos que interpretavam minuciosamente a Lei. Não. Ele ensinou. De forma alguma se distinguiu ele como "agitador da massa popular". Não comprometeu sua Causa com apelos em reuniões populares, com práticas ritualistas, ou com manobras políticas, não. Ele confiou sua Causa aos prolongados e pacientes processos de ensino e de treinamento.

A ênfase que Jesus deu ao ensino ressalta do fato de em geral ser ele reconhecido como Mestre. "À luz dos Evangelhos, vemos que seus discípulos e contemporâneos o tomavam como mestre." Ele foi mesmo chamado Mestre, Professor ou Rabi; e tudo isto traz em seu bojo a mesma idéia geral expressa por Nicodemos quando disse:: "Rabi, sabemos que és mestre vindo da parte de Deus" (João 3:2). Nos Evangelhos, Jesus é cha-mado mestre nada menos de quarenta e cinco vezes, e nunca se fala nele como pregador. Somando-se todos os termos equivalentes a mestre, temos o total de sessenta e um. Norman Richardson anota que o vocábulo Mestre é usado sessenta e seis vezes na Versão King James; cinqüenta e quatro vezes é derivado da palavra grega que significa professor ou mestre. Fala-se em Jesus ensinando, quarenta e cinco vezes; e onze apenas pregando e ensinando, como vemos em Mateus 4:23.

Outrossim, Jesus a si mesmo se chamava Mestre, dizendo: "Vós me chamais Mestre e Senhor; e dizeis bem, porque eu o sou" (João 13:13). Também dizia ser "a luz", vocábulo que traz a idéia de instrução. Nesta linha de pensamento, interessante é notar que João Batista sempre foi mais chamado pregador que mestre.

Também se revela bem a ênfase do Mestre em ensinar no modo entusiasta e até agressivo pelo qual externou sua atividade educadora. Ele ensinava em qualquer lugar e a toda hora — no Templo, nas sinagogas, no monte, nas praias, na estrada, junto ao poço, nas casas, em reuniões sociais, em público e em particular. "Relutava mesmo em curar, preferindo aproveitar a oportunidade para apresentar sua mensagem." Toda a obra de Jesus estava envolta em atmosfera didática, e não tanto num ar de preleções ardentes, pois observamos que os ouvintes se sentiam à vontade para lhe fazer perguntas, e ele, por sua vez, lhes propunha questões e problemas.

Ele preparou um grupo de mestres para que levassem avante sua obra. "No decorrer dos últimos dias de sua trabalhosa vida, ele se dedicou ao ensino e preparo do

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pequeno grupo de discípulos que a ele se agregara." E ele os enviou aos confins da terra para que fizessem discípulos (para que matriculassem na escola de Cristo), a batizá-los (uma ordenança educadora) e a instruí-los na observância de todas as coisas que lhes tinha mandado (Mat. 28:19,20). Jesus cria muito no ensino, requisito este indispensável a qualquer professor. Ele se dedicou ao ensino e sempre dignificou tal vocação.

4. O Conhecimento das Escrituras

Outra coisa essencial num professor é o conhecimento das Escrituras, porque este é o primeiro material que vai usar. Jesus se mostrou perfeitamente qualificado neste particular. Prova-o o episódio de sua tentação, quando enfrentou os esforços do diabo, que pretendia confundi-lo com citações das Escrituras (Mat. 4:1-11). Prova-o a conversa na estrada de Emaús, quando Jesus explicou os ensinos das Escrituras relativos à sua Pessoa (Luc. 24:27). No decorrer do seu ministério, Jesus citou passagens de pelo menos vinte livros do A.T. e mostrou estar perfeitamente familiarizado com o conteúdo dele. De fato, ele o conhecia tão bem que chegou mesmo a contrastar sua precariedade com a inteireza daquilo que cie ensinava (Mat. 5:17-48). Jesus não só conhecia as Escrituras, como também as assimilou de tal modo que as podia aplicar livre e perfeitamente às necessidades e ocorrências do dia.

Sua maestria não provinha só de sua divindade, mas também de seus estudos. Iniciara-os na infância, dentro do lar judeu, onde se respirava atmosfera profundamente religiosa e educativa. B. A. Hinsdale diz: "Até mesmo os deveres domésticos, cumpridos pela mãe de família, moldavam o caráter dos filhos segundo a disciplina nacional."

Jesus também aprendeu na sinagoga, pois, nos dias dele, estava ela espalhada por todos os lugares, e a freqüência a ela era hábito arraigado, quando não coisa obrigatória. Lucas diz: "No sábado Jesus entrou na sinagoga, como era seu costume" (Luc. 4:16). Wilson acha que Jesus ia à sinagoga pelo menos uma vez em cada sábado, e isso por vinte anos ou mais. Assim foi que Jesus aprendeu a Lei e os profetas, habilitando-se para refutar os rabinos e perguntar-lhes: "Não lestes?"

Ligada à sinagoga havia uma escola elementar para meninos, que funcionava nos dias da semana. Criava-se onde existissem vinte e cinco alunos, e era obrigatória a freqüência. Na verdade não se admitia que um judeu ortodoxo vivesse em lugares sem escola; caso vivessem em lugares separados por um rio, ambas as localidades deviam ter sua escola, a não ser que se vencesse o rio por uma ponte. O menino judeu começava a freqüentar a escola aos seis anos, e estudava as Escrituras até os dez, começando pelo Levítico. Estudava a Lei, a história, os profetas e a poesia, recebendo, assim, educação religiosa e maioral, e enfronhando-se dos ritos e cerimônias de sua gente. Dos dez aos quinze anos, estudava as interpretações orais da Lei, e aos treze tomava-se "filho da Lei" e membro responsável da congregação da sinagoga. "Percebe-se que Jesus conhecia de cor quase todas as Sagradas Escrituras não só pelas citações diretas que delas fazia, mas também pelas numerosas alusões que fez à Lei.

5. Compreensão da Natureza Humana Ao lado do conhecimento das Escrituras, é coisa igualmente importante a

compreensão da natureza humana. Na verdade, é esta uma qualificação muitíssimo necessária ao professor, porque não se pode aplicar a Bíblia à vida a não ser que se compreenda bem o aluno e suas necessidades. Todo aquele que lida com a natureza

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humana deve conhecer alguma coisa a esse respeito. Assim como o médico precisa diagnosticar antes de receitar qualquer remédio também o professor precisa compreender a vida humana e seus problemas, para depois aplicar o remédio escriturístico. Em última análise, estamos ensinando pessoas, e não a Bíblia. As próprias Escrituras foram dadas para ensinar, corrigir e disciplinar "para que o homem de Deus seja completo" (II Tim. 3:17). Importa, pois, e muito, que o mestre de religião compreenda as pessoas com quem vai lidar.

Jesus não só compreendeu a mente judia em geral, quanto as suas facções e seitas, mas foi também um mestre na penetração do coração e na compreensão daquilo que se passava no íntimo de cada indivíduo. A Bíblia diz que "ele bem sabia o que havia no homem" (João 2:25). Tendo tal conhecimento, pôde descobrir as habilidades de seus aprendizes, bem como suas necessidades, atitudes e motivos, e ensiná-los à luz do que deles conhecia. Pelo menos meia dúzia de exemplos evidenciam que Jesus tinha acurada visão do íntimo da natureza humana e do pensamento do povo.

6. Domínio da Arte Não afirmamos aqui que Jesus consciente e propositadamente estudasse os métodos

e processos de ensino, e deliberadamente buscasse segui-los. É possível que sim, mas provavelmente assim não fez. Admitimos que ele tinha uma soma de conhecimentos que perfeitamente o habilitava para a tarefa de mestre. Intuitivamente, ou por assimilação, foi um mestre, um técnico, em métodos de ensino. Ele não anunciou propriamente nenhum princípio psicológico especial, nenhuma teoria de educação, nenhuma prática pedagógica; não obstante, ele mostrou conhecer perfeitamente todos os seus elementos principais e os usou de maneira mais que eficiente. Empregou métodos com perfeita liberdade e eficiência. Parece até que os descobria e aplicava de modo natural. Com a inteireza de suas fontes e recursos, aproveitou bem todas as oportunidades de ensinar, e empregou sempre, e para cada caso, o método justo e adequado.

Concluímos que Jesus foi consumado mestre na arte de ensinar, quando vemos que ele praticamente empregou aqui e ali, pelo menos em embrião, os métodos usados hoje em dia — perguntas, preleções, histórias, conversas, discussões, dramatizações, lições objetivas, planejamentos e demonstrações. Vemos ainda que Jesus conhecia perfeitamente a arte de ensinar pelos processos de que lançou mão, pois, quando analisamos suas partes componentes, descobrimos que suas lições tinham exórdio, desenvolvimento e conclusão sempre muito apropriados. Ele tratava diretamente dos assuntos, com ilustrações mui adequadas, aplicando sempre muito bem seu ensino a situação e ao momento. Na arte de ensinar, foi mestre de mão cheia.

Buscando dominar bem esta difícil e gloriosa arte, bem andaremos se seguirmos o exemplo que Jesus nos deixou. A dedicação, o entusiasmo e a fidelidade ao ensino não ressarcirão a falta de conhecimento dos métodos de ensino, nem desculparão um ensino fraco e precário. Em regra, ninguém nasce mestre. Os mestres se fazem.

Quando olhamos para Jesus, e o vemos à luz de sua perfeita personalidade, do seu espírito de servir, de sua confiança no ensino, do seu conhecimento das Escrituras e da humanidade, do seu domínio dos métodos e processos de ensino, concluímos que ele foi o mestre melhor qualificado que o mundo já conheceu.

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CCaarraacctteerrííssttiiccaass ddooss DDiissccííppuullooss ddee JJeessuuss Ilude-se quem pensa terem sido ideais e modelares as pessoas que Jesus ensinou,

mesmo incluindo-se os doze apóstolos. Humanos como nós, tinham as mesmas imperfeições e fraquezas naturais à criatura humana, pois que esta é sempre a mesma em todas as épocas. Embora mudem as condições ambientais, a natureza humana em sua essência é sempre a mesma.

1. O Grupo de Imaturos

Este grupo de pessoas com que Jesus lidou estava mui longe da perfeição, quando Jesus iniciou sua obra Junto deles.

Mesmo ao contemplar sua obra, ainda eram imperfeitos. Eram "caracteres Ideais apenas em embrião. Eram "santos apenas em estágio de fabricação. Assim tinham eles que caminhar muito e muito, com muita paciência, para se tornarem cristãos crescidos e maduros. Na longa estrada do aprendizado, experimentariam muitas decepções e desânimos. Somente alguém que tivesse uma alentadora visão do futuro, movido do infinito amaior e paciência, e de persistente energia e perseverança, se aventuraria a tomar como alunos este grupo de pessoas e fazer deles o que o Mestre Jesus fez.

Não é preciso vasculhar muito o Novo Testamento para se ver quão imaturos e imperfeitos eram aqueles que Jesus tomou como discípulos. João, que depois se tornou o discípulo amado, não sabia controlar seu gênio, e falhou muito quando se encolerizou contra os descaridosos samaritanos, aos quais Jesus queria revelar seu amaior e o amaior de seus discípulos. Simão, a quem se daria o nome de Pedro (pedra), não demonstrou possuir aquela solidez e firmeza que tal nome sugeria, pois prometera a Jesus que estaria firme a seu lado ainda que os mais desertassem, e dentro de poucas horas negou a Jesus, jurando por três vezes que nem o conhecia.

Tomé mostrou-se tão duro e obstinado em não acreditar na ressurreição de Jesus que tal atitude exigiu esforços especiais do Mestre no sentido de lhe provar satisfatoriamente esse glorioso acontecimento. Judas, após vários anos de companheirismo e aprendizado com o Mestre, não progrediu tanto a ponto de sentir-se preparado para resistir à tentação de traí-lo por trinta moedas de prata! Os discípulos de Jesus sofriam a enfermidade de desenvolvimento retardado, quando não de perversidade progressiva.

Apanhar este pequeno grupo de indivíduos sem preparo e que quase nada prometiam, e formá-los em pessoas bem desenvolvidas e preparadas, que constituíam gloriosa inspiração para o mundo, foi um verdadeiro milagre da arte de ensinar e exercitar. Jesus jamais foi suplantado por qualquer outro mestre; foi e é suprema inspiração e encorajamento para os mestres cristãos de todas as épocas.

2. Impulsivos ou Impetuosos

Os discípulos de Jesus não eram apenas imaturos. Pior que isso: haviam tido na vida um desenvolvimento errado e falho. Alguns deles eram mesmo gente governada só por impulsos. Pedro era assim, e foi o campeão dos impetuosos. "Era homem impulsivo e precipitado, qual regato que desce célere e desabaladamente montanha abaixo, atirando-se de vida.

3. Pecadores

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O Mestre não só teve que lidar com pessoas de caráter subdesenvolvido e de fortes impulsos, mas também de acentuadas tendências para o pecado. Conquanto alguns deles se tornassem depois cristãos de elevado caráter, nem sempre foram tão angélicos como os pinta a nossa imaginação ou alguns artistas da tela. Havia neles altos e baixos, instintos e impulsos que, não controlados pelos ideais cristãos, inevitavelmente os teriam arrastado a grandes e irremediáveis males. Assim aconteceu em parte, e vemos que eles fizeram coisas que mais tarde provavelmente desejariam ver retiradas dos registros.

Na verdade, alguns dos quais Jesus ensinou e cujas vidas foram transformadas por ele, tinham vivido em graves pecados. Basta lembrar que um deles, conquanto viesse a gozar por alguns anos da companhia de Jesus, tornando-se mesmo o tesoureiro do colégio apostólico, por fim chegou a vender o Mestre por trinta moedas de prata.

Mas Judas não foi o único, mesmo do círculo íntimo de Jesus, a ser arrastado por tendências pecaminosas, ao menos temporariamente. Pedro mentiu e jurou para ocultar sua identidade e se escapar de situação embaraçosa. João não só deu asas a seu temperamento e preconceitos, mas também ao orgulho, e chegou a pleitear o privilégio de assentar-se à destra de Jesus. E Tiago se associou a ele, igualmente desejoso de posição social e política. "Houve atritos entre eles, pois eram homens de não pequenas ambições. Mesmo na ocasião da Ultima Ceia, os corações deles giravam ao redor de tronos" (Mar. 9:33;10:37; Luc. 22:24). De fato, o grupo todo de discípulos pensava mais em grandezas materiais.

Afora o circulo dos doze, vemos Zaqueu, o coletor de impostos, homem que tinha grande amaior pelo dinheiro e que cobrava mais do que era devido, roubando assim ao povo necessitado. E também Maria Madalena, com sete demônios a seu crédito. E ainda a mulher pecadora que lhe lavou os pés com suas lágrimas e os enxugou com seus cabelos. E ainda a mulher de vida livre a quem ensinou à beira do poço, a qual tivera um rosário de cinco maridos. E ainda aqueles acusadores da mulher adúltera, os quais desapareceram quando Jesus lhes disse que quem estivesse sem pecado fosse o primeiro a começar a apedrejá-la, conforme ordenava a lei. Não; aqui vemos perfeitamente que a classe de alunos ensinada por Jesus em nada apresentava aquelas condições ideais para um mestre ideal. Ao contrário, eram tais alunos gente das mesmas paixões nossas, e de paixões que não poucas vezes os dominavam por completo. Orgulho, ambição e luxúria argamassavam a vida deles, e tudo aquilo desafiava os preceitos e a influência de Jesus.

O que foi verdade então, o é ainda hoje. Nunca se sabe o que serão os nossos alunos de hoje. Sabemos, no entanto, que instintos não controlados inevitavelmente arrastam à ruína. Num rapaz de belo físico podem estar aninhadas fortes tendências para o crime, forças que, não controladas, certamente o levarão para a penitenciária. E isso tem sucedido inúmeras vezes. Essa jovem culta e de modos gentis, que parece trazer no rosto a marca legítima da inocência, pode muito bem estar abrigando dentro de si certos ideais e paixões que, desenvolvidas, a arrastarão a uma vida vergonhosa. Isso temos visto de contínuo na sociedade de que fazemos parte. Nenhum professor pode ler todos os maus pensamentos e propósitos ocultos no coração de seus alunos.

5. Ignorantes

Seus discípulos provinham em maior parte das baixas camadas sociais e não da classe alta, e por isso não tinham aquele fundo cultural que soem ter os de classe mais elevada. Eram, assim, gente mui imperfeita. Não estavam preparados para compreender muitas coisas, dado que a mente deles não estava habilitada a apanhar toda a verdade.

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Mas não era esta a única dificuldade. Uma concepção materialista da vida e a idéia ritualista da religião muito os prejudicavam, visto que as verdades espirituais se discernem espiritualmente. Tanto a ignorância, como errados pontos de vista, embaraçavam bastante o trabalho do Mestre. "Ele escolheu um grupo pequeno, visando prepará-lo para a liderança, embora não pudessem eles entender, e muito menos explicar a outros, os princípios que eram a pedra angular da fé que deviam propagar... Nos três anos que Jesus gastou a ensiná-los, tais discípulos foram para ele constante decepção."

Forte exemplo dessa incompreensão vemos no que respeita ao que Cristo lhes ensinou sobre a natureza do Reino. Apesar de tudo quanto lhes ensinara sobre a natureza pessoal, íntima e subjetiva do Reino, os discípulos continuaram a esperar um reino temporal que se baseasse no poder material, como os demais reinos da terra. E isso era verdade mesmo em se tratando dos discípulos mais íntimos de Jesus, como Tiago e João, que chegaram a pleitear um lugar à direita e outro à esquerda — primeiro-ministro e secretário de estado.

Vê-se claro igualmente que Jesus não foi compreendido quanto ao que lhes ensinou acerca da ressurreição, tanto sua como nossa. Conquanto lhes houvesse dito que ressuscitaria ao terceiro dia, ninguém esperou tal acontecimento. Pelo contrário, ficaram surpresos com a ressurreição de Jesus. Como vemos nos Evangelhos, um dos discípulos de Jesus, Tomé, exigiu provas cabais para se convencer. Até mesmo o propósito de sua maiorte não lhes ficara bem claro, pois que Paulo nos fala da cruz como pedra de tropeço para os judeus. Mesmo as exigências importantes e aparentemente simples para o discipulado parece não terem ficado bem claras na mente do próprio Nicodemos, um dos homens mais preparados do seu tempo!

6. Cheios de Preconceitos

Eram seus discípulos imaturos, pecadores, intempestivos, de mente tardia e apoucada. Mas não podemos parar aqui, visto que o quadro ainda não está completo. As atitudes mentais deles em nada favoreciam a recepção das verdades apresentadas por Jesus.

João abrigava dentro de si tais preconceitos que não admitia que pessoa fora do seu grupo expulsasse demônios e fizesse o bem (Mc. 9:38).

Na verdade, o preconceito subjazia à raiz de muitos dos problemas já mencionados. O professor de Escola Bíblica Dominical tem também que enfrentar situações idênticas. Assim, trate-se de ensinar a conversão, o dízimo, a temperança ou qualquer outro assunto, o professor encontrará nos seus alunos práticas e preconceitos tais que fortemente os impedirão de encarar com coração aberto tais assuntos. Dificilmente encontrará o professor um aluno completamente despido de preconceitos. A intolerância é pior do que a ignorância.

Jesus teve que lidar igualmente com alunos cheios de preconceitos. Queriam muitos deles ter cheio seu estômago e ver curadas suas doenças, mas sem qualquer interferência em seus interesses e sem qualquer mudança em seus hábitos. E o mundo age assim ainda hoje. Todos querem ser curados e libertos do castigo eterno. Mas, quando se lhes fala em arrependimento, em servir a Cristo, em sacrifício e na cruz, perdem todo o interesse e se

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vão. É coisa muito difícil convencer um homem e levá-lo a negar-se a si mesmo. Os maiores obstáculos encontrados por professores e mestres são essas mentes fechadas e cheias de preconceitos.

7. Instáveis Em certa época do seu ministério, a debandada de discípulos foi tal que Jesus

pateticamente se voltou para os poucos que lhe ficaram fiéis, e perguntou: "Não quereis vós também vos retirar?" (João 6:67). Mesmo depois de sua crucificação, vemos que seus amigos mais leais voltaram ao seu primitivo ofício, tendo dado a causa como completamente perdida. Aqueles onze homens corriam de cá para lá, como ovelhas assustadas, emboscando-se nas trevas, para fugir ao dedo indicador dos inimigos de Cristo em Jerusalém."

Se todas essas coisas se deram com Jesus, que esteve sempre muito além daquilo que podemos ser, e, se sua obra no tempo foi tida como decepção e derrota, em nada nos de-vemos surpreender quando vemos que nossos esforços parecem não render coisa alguma. Quando se faz muito mais fácil tomar uma classe do que conservá-la, e quando não poucos alunos e alunas deixam as classes da Escola Bíblica Dominical, mal chegam à juventude, urge lembrar do Grande Mestre, e tomarmos alento. Lembre-se de que, apesar de todas aquelas dificuldades, e obstáculos, Jesus avançou pacientemente e conseguiu fazer daquele grupo o mais eficiente corpo de discípulos e mestres que o cristianismo já teve em toda a sua história.

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OO OObbjjeettiivvoo ddoo EEnnssiinnoo ddee JJeessuuss

Uma das coisas que mais ajudam no ensino é o ter objetivos claros e específicos. Muitos professores trabalham meses e meses sem objetivo definido, a não ser o de apresentar o material que se lhes forneceu. Sem um alvo certo e preciso, definha-se o ensino por falta de perspectiva, de propósito e de objetividade. E também não se poderá avaliar os resultados do ensino, pois que não visa a coisa definida; e, assim, não sabemos para onde ele se dirige e nem onde chegará.

Com Jesus, as coisas caminhavam de modo mui diferente. Ele nunca ensinava somente pelo fato de ser chamado a ensinar. Ele sempre tinha um propósito e fins definidos a atingir. Sabia muito bem o que queria, e caminhava nesse sentido. Sabia para onde ia e de maneira firme caminhava para a consecução do seu objetivo sem olhar para oposições ou derrotas. "Vim para que tenham vida" (João 10:10). Buscou, assim, "transformar as vidas de seus discípulos, e, por meio deles, transformar outras vidas e regenerar a sociedade humana''. Muitas coisas estão incluídas neste seu objetivo geral.

1. Formar Ideais Justos

Os ideais são no mundo as forças impessoais mais poderosas para a construção do caráter. Eles são como a carta, omapa, o guia para o curso áa vida. Em grande parte controlam nossa conduta. Assim é que surtos instintivos são largamente dominados por eles. Um jovem pode recusar tomar um gole de pinga, ou deixar de dar uma tragada, ou de dançar, unicamente por causa dum ideal que abraçou.

Por isso, Jesus buscou formar ideais retos e justos. "Sede perfeitos como é perfeito o vosso Pai celestial" (Mat. 5:48). Ele procurou de modo especial dar a todos uma compreensão mais clara da natureza de Deus e de sua atitude para com a humanidade.

Nestes dias em que tanto se enfatiza no ensino a solução de problemas e o tratamento das situações da vida, não esqueçamos a necessidade de plantar verdades divinas na mente de nossos alunos e de construir sólidos ideais de vida. Ideais e sentimentos mais elevados são necessários para dar unidade à vida, afirmam os psicólogos. "Assim como pensa em seu coração, assim é o homem" (Prov. 23:7).

2. Firmar Convicções Fortes

Jesus não ficou apenas a transmitir conhecimentos sobre assuntos maiorais e espirituais. Foi mais adiante. Ele bem sabia que só o conhecimento ou a informação não venceria os desejos instintivos e o mau ambiente. Pode-se conhecer bem os males acarretados pela perversão sexual, o perigo das bebidas alcoólicas e da jogatina, e não obstante viver-se escravizado a um ou a todos esses vícios.

O Mestre nunca se iludiu pensando que basta o conhecimento para curar o homem de seus males. Quando ele disse: "A verdade vos libertará" (João 8:32), disse isso aos judeus que criam nele, e condicionou essa afirmativa à permanência deles em

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sua palavra. Assim, pois, o Mestre tanto buscou aprofundar as convicções como implantar a verdade.

O ensino deve fortalecer, e não enfraquecer as convicções. A juventude deve ser fortalecida no seu íntimo, e assim estar preparada para viver bem num ambiente depravado.

3. Converter a Deus A principal tarefa do professor é propriamente relacionar seu discípulo com

Deus. Assim como a agulha magnética oscila e não se firma enquanto não aponta para o norte, igualmente o indivíduo vagueia enquanto não se relaciona com Cristo.

Todas as atividades da vida devem ser dirigidas deste centro. É o maior ajustamento da vida. "A alma de toda cultura é a cultura da alma."

4. Relacionar com os Outros

Viver cristão envolve relações retas para com o homem, assim como para com Deus. Na verdade, ambas estas coisas" acham-se envolvidas na mesma experiência. Quando Jesus resumiu o primeiro mandamento, acrescentou isto à nossa relação para com Deus — "amarás o teu próximo como a ti mesmo" (Mar. 12:31). Ao enfatizar a doutrina das recompensas na eternidade, Jesus disse que tais recompensas se baseiam no ter dado comida ao faminto, água ao sedento, roupas ao nu, no tratar bem o estrangeiro, o enfermo e os presos (Mat. 25:35,36). João foi mais longe, dizendo: "Se alguém diz: Eu amo a Deus, e odeia a seu irmão, é mentiroso" (I João 4:20).

5. Resolver os Problemas da Vida

Em todos os seus ensinos Jesus nunca se esqueceu dos problemas íntimos de seus ouvintes, e sempre buscou resolvê-los, para fazer deles discípulos felizes e unificados. "Seu ensino é essencial e inteiramente ocasional... tirado de emergências do dia e da hora, do contato com o povo, de conversas e incidentes." A ênfase dada por Cristo era sobre a própria vida e não sobre coisas materiais. Sem contar o Ensino do atonte, a maior parte dos seus ensinos registrados era para ajudar indivíduos a resolverem problemas específicos que os desafiavam. Ele não empregou termos gerais, como religioso, espiritual, ético e consciente, mas acoroçoou virtudes particulares. "Jesus sempre visava a própria vida, mais do que o intelecto."

6. Formar Caracteres Maduros

Jesus desejava não apenas obter uma resposta definida para seus ensinos, e nem só resolver por meio deles problemas específicos da vida. Ele olhava ainda mais para diante, e desejava assim, desenvolver em seus seguidores aquelas graças que lhes possibilitariam conjurar suas fraquezas e vidos e fazer deles caracteres fortes, íntegros e verdadeiramente cristãos. Carlos F. Kent assim se expressa a respeito dos objetivos de Jesus: "Livrar os homens de cederem às tentações que sorrateiramente assaltam cada homem e cada mulher; ajudá-los a vencer as paixões que se precipitam sobre eles; libertar o altivo coletor de sua ganância; a mulher da rua, daquelas influências que quase irresistivelmente a prendem e arrastam." Jesus buscou criar e desenvolver virtudes positivas, tais como a honestidade, a humildade, a pureza, o altruísmo, a bondade, o sacrifício, que enobrecem o caráter, firmam a conduta e alegram o viver.

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Muitos fatos da vida de Jesus provam cabalmente este seu glorioso objetivo. Ele denunciou corajosamente os fariseus que viviam a religião de modo exterior e que intimamente não passavam de consumados hipócritas.

7. Preparar para o Serviço Cristão

A tarefa final do Mestre dos mestres foi preparar e treinar seus discípulos para que espalhassem por todo o mundo os seus ensinamentos. Grande parte do fim de seu ministério ele dedicou a essa tarefa. Ficaram tão bem preparados que eles e seus sucessores conseguiram arrebanhar maior número de seguidores que qualquer outro grupo de mestres religiosos. Foram eficientíssimos, conquanto não pertencessem ao grupo de mestres e técnicos dos escribas e rabinos. Não tiveram treinamento profissional específico, mas, após aquele breve período de preparação com Jesus, tomaram-se os mestres mais consumados deste mundo. Os onze, os setenta, e outros mais iniciaram o ensino da mensagem em sua marcha para conquistar o mundo, e até hoje essa gloriosa cruzada ainda não cessou. O ensino deles percorreu todo o globo terrestre e modificou a marcha da história.

O primeiro, e provavelmente o mais importante aspecto do treinamento deles foi a associação pessoal com Jesus, aprendendo eles mediante o exemplo e a imitação.

Assim aprenderam eles com o exemplo de Jesus, com suas instruções e com suas atividades práticas. Nenhum grupo de mestres teve melhor treinamento que eles. Quando, por fim, estavam preparados, Jesus os enviou, dizendo-lhes: "Fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado" (Mat. 28:19-20). Jamais se fez depender tanto de tão poucos, eles fielmente deram contas daquilo que se lhes confiou.

Como mestres, devemos reconhecer que o treinamento de outros é uma tarefa a nós confiada. De nossas classes de hoje podem sair os líderes voluntários de nossas futuras Escolas Bíblicas Dominicais, de nossas Uniões de Treinamento, de nossas Sociedades Femininas, de Jovens e de Homens. Também desses nossos alunos poderão sair pastores, técnicos de educação religiosa, pregadores leigos, missionários a terras estranhas e outros mais líderes da Igreja de Cristo.

À vista de todos estes fatos, é maravilhoso anotarmos quão largos e vastos eram os objetivos de Jesus. Abrangiam a todos e a cada um dos aspectos da natureza humana — os pensamentos, os sentimentos e a vontade. Incluíam todas as nossas relações — para com o nosso corpo, para com os outros e para com Deus. Cobrem cada fase de nossa atividade — pessoal, doméstica, eclesiástica e profissional. Em resumo, Jesus buscou criar "o homem perfeito para uma sociedade perfeita". E a realização desses objetivos significa a vinda do Reino de Deus.

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PPrriinnccííppiiooss SSuubbjjaacceenntteess áá OObbrraa ddee JJeessuuss

À primeira vista parece que o ministério instrutor de Jesus não se arraigava em nenhum princípio particular. Parecia mais uma espécie de atividade espontânea, sem qualquer subjacente filosofia definida. Contudo, não é este o caso. Estava muito longe de ser um processo acidental ou a esmo. Quanto mais estudamos a obra de Jesus, mais vemos que ela se baseava em princípios substanciais:

1. Jesus Olhava para Longe

É evidente que Jesus olhou para longe ao escolher seus auxiliares. Olhando lá da altitude divina, pôde ver neles aquilo que eles e seus companheiros não podiam enxergar. Olhava suas possibilidades futuras, e não meramente suas presentes qualificações. Por exemplo, viu naquele Simão impulsivo, radicalista e vacilante um caráter forte, corajoso e vigoroso, e por isso lhe deu o nome de Pedro (pedra). Semelhantemente, viu naquele João muito jovem e descaridoso ("filho do trovão") um caráter bem mais amaioroso e compreensivo, e mesmo "o discípulo amado". Jesus podia descobrir num fariseu cheio de orgulho ou numa mulher de má vida possibilidades que ninguém enxergava.

2. Jesus Deu Valor ao Contato Pessoal

A tendência hodierna é buscar colher resultados por meio de atividades levadas a cabo em grandes reuniões de gente. Vivemos obsecados pelos números, pela quantidade. O sucesso dum evangelista, dum pastor ou dum professor de educação re-ligiosa é medido hoje pelo número de conversos, de membros de igreja, ou pelo tamanho da escola. Campanhas desta ou daquela espécie são hoje a ordem do dia.

Jesus enfatizava outra coisa: o contato pessoal. "Em grande parte, Jesus empregou seu tempo a conversar com indivíduos, ou com aquele seu grupo de discípulos ou alunos. É verdade também que lidou com multidões. Tanto que verdadeiras multidões o seguiam de Cafarnaum, de Jerusalém, de Decápolis e doutros mais lugares. Chegavam, às vezes, a quatro ou cinco mil. Jesus simpatizava com as multidões, diri-gia-lhes a palavra, alimentava-as e as curava. Certas vezes sua atividade chegou mesmo a tomar o aspecto dum grande movimento popular, notadamente após certos períodos de curas e por ocasião de sua entrada triunfal em Jerusalém.

Mas Jesus não estimulou o movimento das massas populares. Ao contrário, parece até que tais movimentos o perturbavam, pois ele, nessas ocasiões, desaparecia e fugia da multidão e buscava provocar a reação de pequenos grupos. Quando grandes multidões o seguiam, Jesus lhes dizia que deviam amar a ele mais que a qualquer parente mais próximo, para que se tomassem seus leais seguidores (Luc. 14:25-27). "O Mestre interessava-se mais por que poucos o entendessem bem e se enchessem de seu Espírito do que por grandes multidões que o seguissem de modo superficial."

Em todo o seu ministério público, de pouco mais de três anos, Jesus empregou a maior parte de seu tempo na lida com indivíduos. Os fatos mais brilhantes do seu ministério se deram através dessas atividades junto a indivíduos.

3. Jesus Começava Onde Estava o Povo

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Jesus não pregou sermões antecedentemente preparados para certas ocasiões. Estivesse em casa, na sinagoga, na montanha ou à beira-mar, ensinava sempre mui naturalmente e de modo informal, partindo do interesse do aluno e de suas necessidades. "Ele começava não com crenças estereotipadas com assuntos previamente estipulados, com tradições ou mesmo com a Bíblia, mas com pessoas vivas que com ele conviviam e que faziam parte de sua experiência diária." "Ele não tomava uma passagem da lei ou dos profetas, para dela tirar princípios gerais, e imediatamente aplicá-los a qualquer necessidade que viesse a descobrir. Ao contrário, ele tratava de situações humanas que tinha diante de seus olhos."

4. Jesus Detinha-se em Assuntos Vitais

Em todos os ensinos de Jesus não encontramos indicação alguma de que ele se demaiorasse no tratamento de assuntos secundários ou incidentais. Ele não ensinava os rudimentos do aprendizado, nem história, nem geografia, nem os costumes da Palestina. Não dava tanta ênfase à organização, ao equipamento, nem aos materiais que empregava no seu ensino. Também não enunciou elaborados sistemas de doutrina a serem ministrados pelas gerações futuras. A coisa que mais se aproxima disto é o Ensino do Monte, que pode ser lido em meia hora. Também não ordenou que decorassem as Escrituras, comentários delas, ou assuntos de discussão teológica como faziam os escribas em suas classes nas sinagogas. Em vez disso o Mestre tratou de problemas vitais.

5. Jesus Trabalhava a Consciência dos Indivíduos

Os escribas e os fariseus, os mentores profissionais da religião dos dias de Jesus, intentavam desenvolver o caráter por meio de regulamentos e preceitos assaz minuciosos. "Cristo apareceu no meio dum povo para quem a religião consistia na aceitação dum elaborado código de regras, de épocas fixas e de maneiras de cultuar." Tais regras ocupavam minuciosamente quase todos os setores da vida e sobrecarregavam por demais o povo. Havia, por exemplo, quarenta e duas regras sobre o insignificante assunto, como era permitido dar um nó no dia de sábado! A vida maioral e religiosa era quase intolerável sob tal sistema. Jesus bem conhecia a futilidade daquelas práticas exteriores e por isso buscou libertar o povo duma virtual escravidão a elas.

6. Jesus Olhava Sempre para o Que Havia de Bom no Indivíduo

Há pessoas que só olham para aquilo que de mau existe em seus semelhantes. Assim, tomam uma atitude e tratam de coisas desagradáveis que só podem colher respostas desfavoráveis. Levantam, desse modo, forte barreira e resistência entre eles e a pessoa com quem estão lidando. Assim agem não poucas vezes pessoas bem intencionadas que sinceramente buscam acertar e ajudar; mas é claro que lhes falta discernimento e também tato. Esta tendência de olhar só para os defeitos de nossos semelhantes pode bem prejudicar a matrícula da classe que ensinamos, pode dificultar nosso ensino e mesmo inutilizar qualquer esforço que fazemos para levar nossos alunos a servir a Cristo, embaraçando bastante o ganharmos nossos semelhantes para Jesus. Pode surgir ela do fato de não termos compreendido bem este ou aquele aluno,

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como pode ser o resultado duma atitude fria e antipática, e mesmo de falta de tato e simpatia de nossa parte. Pode igualmente ser o resultado do cáustico espírito de crítica. Essa tendência afasta ainda mais de nós o aluno.

Com Jesus tudo era diferente. De qualquer modo ele sempre enxergava algo de bom e apreciável nos homens Mesmo lidando com um fariseu empavonado e cheio de justiça própria, com um coletor ladino e sem escrúpulos, ou com uma decaída, Jesus sempre apelava para aquilo que de bom ainda houvesse no íntimo deles, e trazia à tona alguma de suas boas qualidades. E assim tratava Jesus não só aqueles que viviam chafurdados no pecado, mas também os que apenas se mostravam imaturos e inexperientes. Parece-nos mesmo que o Mestre se especializou em apanhar aqui e ali pessoas indesejáveis e desprezíveis para fazer delas caracteres esplêndidos e extraordi-nários, como fez com os onze.

E isso tudo Jesus conseguiu salientando as futuras possibilidades deles, interessando-se por eles e inspirando-os a prosseguir no bem. "Ele cria que o meio de se criar nos homens fé e confiança é mostrar que temos fé neles; e Jesus nunca se afastou deste grande princípio de tratamento eficiente." Quando mostrou o que pode conseguir a fé do tamanho duma semente de mostarda; quando disse à adúltera que também não a condenaria, e que fosse, e não mais pecasse; e quando disse a seus discípulos que eles eram o sal da terra, o Mestre Jesus estava implantando neles a confiança e a esperança que os arrastariam a desdobrar seus esforços no sentido de não falharem à confiança que Jesus neles depositava.

Uma das coisas mais importantes que podemos fazer como professores de Escola Bíblica Dominical é procurar obter o máximo de nossos alunos. Não existe aluno algum que praticamente seja um caso perdido, sem esperança, pois sempre podemos descobrir nele brilhantes possibilidades. Não há nenhum tão medíocre que não tenha em si alguma qualidade para a qual possamos apelar.

7. Jesus Assegurava a Liberdade de Ação do Aluno

Provoque e dirija as atividades próprias do aprendiz, e não lhe ensine aquilo que ele pode aprender por si. Esta lei se baseia no fato de que o aprendizado não se efetua sem atividade mental. Não é aquilo que você diz ou conta ao aluno, e, sim, aquilo que ele pensa depois de ouvir suas palavras; não é aquilo que você faz por ele, e, sim, aquilo que ele faz com suas próprias mãos; não é a impressão, e, sim, a reação dele que determina o seu desenvolvimento. Você não pode enfiar idéias na cabeça do aluno. O aluno deve interpretar tais símbolos e daí com isso construir suas próprias idéias. O ensino só obtém êxito quando leva o aluno a agir.

O aluno não deve simplesmente assentar-se calado enquanto o professor fala e ensina. A mente dele deve estar em atividade. Faz-se necessário um movimento de três ciclos — conhecimento intelectual, estímulo emotivo e resposta volitiva. Mas, só fazendo é que aprendemos a fazer.

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CCoommoo JJeessuuss uussaavvaa sseeuu mmaatteerriiaall ddee EEnnssiinnoo 1. As Fontes

Várias eram as fontes gerais das quais o Mestre retirava seu ensino. Podemos separá-las em outras tantas divisões. Provinham, é certo, de seu preparo e experiência, e eram empregadas conforme as necessidades.

2. As Escrituras Sagradas

Está bem claro que Jesus usou livremente as Escrituras do Antigo Testamento. D. R. Piper nos conta que Jesus fez do Antigo Testamento trinta e oito citações diretas, quatro vezes aludiu a acontecimentos nele registrados e cinqüenta vezes empregou linguagem paralela a certas palavras do Velho Testamento. Ele se referiu a vinte e um livros do A.T.. Parece que usou mais os Salmos e o Deuteronômio. Os pensamentos do Mestre mostravam-se saturados das idéias do A.T. e eram expressos na linguagem do mesmo.

A Bíblia é a Palavra de Deus; o povo crê nela e gosta de ouvi-la; e não há outro material de maior peso e valor. Urge que o professor da Escola Bíblica Dominical conheça bem a Bíblia toda e saiba usá-la para o bem de seus alunos. Um dos pontos fracos de nosso professorado eclesiástico é justamente este: o estudo só de certos trechos da Bíblia, em vez de ensinar a Bíblia toda.

3) O mundo natural

Vê-se claro de seus ensinos que Jesus era um atento observador das forças da natureza e fez constantes referências a elas, usando isso como material de ensino. "Vemos os vinhedos florescentes; o vale, todo garrido, pletórico de roses e lírios, e de pomares cheios de romãzeiras; os rebanhos alimentando-se nas pastagens; as pombas fazendo ninhos nas brechas das rochas; as raposas causando estragos nas vinhas. . . Aspiramos o perfume do espicanardo, do líbano e dos cedros do líbano. Ouvimos o zumbido de abelhas, o balido de ovelhas e bodes, o arrulho do pombo torcaz." Parece que lhe era familiar cada um e todos os aspectos da natureza. Nos seus ensinos este conhecimento da natureza lhe estava sempre à mão, como diz Wilson: "Sua tala comum e habitual era de vivo colorido, pintalgada e saturada dessa beleza da terra que nos rodeia e que se revela no firmamento por sobre nós." Jesus viveu junto à natureza e absorveu muito dela, trazendo-a sempre nos seus ensinos dos últimos anos.

Nos elevados céus, observou ele os ventos "soprando onde querem", o sol brilhando sobre bons e maus, as chuvas descendo para justos e injustos, e a tempestade combatendo casas. No reino vegetal percebeu a relação vital da videira e suas varas, o horror da figueira sem frutos, o crescimento da semente desde a erva até o grão grado na espiga, a presença do joio no meio do trigo. No mundo dos pássaros, acompanhou com olhos inteligentes, tanto a inofensiva pomba como o corvo em busca de alimento, tanto o pardal que cai ao chão como a águia em seus círculos, espreitando sua presa. Na vida dos animais, observou a maiortífera serpente, o boi na vala, a raposa espreitando a caça, o cão lambendo feridas. Tudo isso o impressionava, e fazia parte dele, e ele usava isso tudo para ilustrar e colorir seus ensinos. Em suas parábolas, temos quatro delas que nos falam de animais — bodes, ovelhas, cães e águias; sete que nos falam de plantas, inclusive o fermento, o joio, a figueira, a semente de mostarda; e

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dezesseis que nos falam de coisas como a luz, o solo, redes, e tesouro escondido. Muitas outras referências e ilustrações provêm dessas fontes, e animaram muito suas lições. Qualquer ensino se terna mais eficiente por meio de ilustrações tiradas da natureza que nos rodeia, particularmente se forem de coisas que são familiares aos ouvintes e sabiamente escolhidas. É difícil pensar o que Jesus teria feito sem esse material, ou o que conseguiremos sem ele, especialmente quando queremos ensinar crianças e outras pessoas que vivem em contato direto com a natureza.

4) Afazeres comuns e correntes

O Mestre dos mestres estava igualmente sempre de olhos abertos para as situações que surgiam na vida daqueles com quem convivia. Ele conhecia bem as medidas do alqueire, das talhas de água, dos odres de vinho; o lidar com lâmpadas de óleo, o remendar vestidos, a lide nos moinhos de trigo; conhecia o valor duma dracma para uma viúva, os atritos de irmãos, os brinquedos e passatempos das crianças. Embora Je-sus não fizesse citações diretas da história secular, da filosofia ou dos poetas do tempo, usou consideravelmente os acontecimentos correntes. Noutras palavras, Jesus nunca deixou passar uma oportunidade sem que a usasse para ensinar algo a seus ouvintes. "Ele encontrou, nos fatos comuns da vida de cada dia, inspiração para os temas mais profundos e inspiradores que já empolgaram o coração humano."

Ele tirou lições da galinha a defender debaixo de suas asas os seus pintainhos, da mulher preparando a massa de pão, do lavrador a semear, do viticultor a podar suas videiras, do pescador a tirar peixes da água, do construtor a edificar, do alfaiate a remendar roupas velhas, do rei preparando-se para ir à guerra. Parece que nada escapava a seus olhos inteligentes e vigilantes. E dessas experiências tirava ensinamentos e avisos para seus ouvintes. "Falou sempre com autoridade — a autoridade da experiência própria e real e não como os escribas, que se estribavam em livros e regulamentos."

5) As Formas

As formas literárias de que Jesus revestiu seu ensino interessam quase tanto quanto o próprio ensino. Na verdade a eficácia daquilo que ele disse foi grandemente influenciada pelo modo por que o disse: Suas comparações e metáforas davam sabor ao seu pensamento. São verdadeiramente espantosas a variedade e a beleza dessas figuras de linguagem. Jesus se revelou Mestre consumado por tomar sempre a verdade bem clara e imperativa, falando sempre de modo direto, sem rodeios.

5.1) Afirmativas concretas

O ensino de Jesus sempre foi concreto, mesmo quando anunciava ideais e princípios. Ele não filosofava, não teorizava, nem se ocupava com coisas abstratas. O estilo dele não é lógico, ou analítico propriamente, e, sim, relacionado com assuntos correntes e descritivos, e, justamente por isso, muito impressionante. Anunciando uma nova verdade, começava com coisas que estavam à mão, e, por meio destas, ia à conclusão. É verdade que ele apresentou princípios e conceitos de caráter geral. Mas,

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em regra, partia sempre de exemplos e coisas conhecidas, empregando o princípio da a percepção. Noutras palavras: ia do conhecido para o desconhecido, do concreto para o abstraio, das coisas que apelam aos sentidos para aquelas que pertencem puramente à esfera mental. As parábolas de Jesus são ótimas ilustrações do emprego deste princípio. Isto significa que seu ensino era mais indutivo que dedutivo. Começava de onde estavam os alunos e os levava para onde queria que estivessem; isto é processo assaz eficiente no se ensinar qualquer coisa, quando se deseja levar um grupo de alu-nos a alguma verdade.

No Ensino do Monte, Jesus se referiu à luz e ao sal, ao argueiro e à trave, ao olho e ao braço, ao caminho e à porta, a uvas e figos, à rocha e à areia, e a outras mais coisas visíveis. Lançou mão de pássaros, para incutir nos outros a confiança; duma criancinha, para ensinar a humildade; duma moeda, para mostrar nossa responsabilidade como cidadão; falou do boi no valo, para enfatizar a necessidade; da figueira estéril, para salientar a inutilidade; do copo de água fria, para ilustrar o serviço. Haveria modo mais eficaz do que falar em serviço pessoal como "pescar homens", falar em falsos profetas como "lobos vestidos de ovelhas", falar aos cristãos como "sal da terra" e "luz do mundo"?

5.2) Expressões incisivas O discurso formal e didático de Jesus, tal como o Ensino do Monte, é peça notável por ter ele usado expressões proverbiais, curtas e incisivas, que atraem a atenção, incutem a verdade e se fixam na memória. São "condensações da experiência dos séculos e da sabedoria comum".

São características desta espécie de afirmativas curtas, incisivas e epigramáticas, muitas que encontramos no ensino de Jesus, tal como: "A medida de que usais, dessa usarão convosco" (Mar. 4:24). Também estas sentenças proverbiais: "Um semeia, outro colhe" (João 4:37). "Onde está o teu tesouro, aí está também o teu coração" (Mat. 6:21). Semelhantemente, encontramos também expressões consideradas parábolas em embrião, como esta: "Onde estiver o cadáver, aí se ajuntarão os corvos" (Mat. 24:28). Outro dito axiomático é: "Quem não é comigo é contra mim" (Mat. 12:30).

5.3) Figuras de linguagem

Jesus fez mais que empregar materiais concretos e sentenças lapidares. Para tornar a verdade mais impressionante, empregou constantemente inúmeras figuras de linguagem. Empregando-se metáforas, corre-se o risco de ser mal interpretado; mas vale a pena porque elas movimentam e dão colorido ao ensino. O mestre comum talvez não esteja preparado para usar muitas delas, mas, podendo fazê-lo, certamente tornará mais eficaz o seu ensino, pois que as figuras de linguagem são como "maçãs de ouro em salvas de prata" (Prov. 25:11). Elas sempre impressionam favoravelmente.

Por isso as parábolas são as principais figuras de linguagem "empregadas por Jesus. Não obstante, o Mestre usou bom número de outras figuras, como comparações e analogias. Disse ele; "Quantas vezes quis eu ajuntar teus filhos, como uma galinha ajunta os seus pintos debaixo das suas asas, e não o quiseste!" (Mt. 23:37). A alegoria ou comparação sistemática é em parte usada quando ele diz: "Eu sou a videira, vós sois as varas" (João 15:1-JO). A beatitude ou bem-aventurança, espécie de exclamação, é empregada quando diz: "Oh! bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus" Empregou também a hipérbole, quando falou no camelo a passar pelo fundo

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duma agulha (Mat. 19:24). O domínio e o uso das várias figuras de linguagem serão valioso auxílio para qualquer professor.

6) Os Propósitos

Como usou Jesus as várias espécies de material de que vimos falando? Eram material de conteúdo, ou simples ajuda para o seu ensino? Estes problemas são vitais hoje no ensino moderno, e o exemplo de Jesus nos pode trazer alguma luz sobre o assunto. "Jesus iniciou sua obra de mestre não como quem tem certo arsenal de material e precisa transmiti-lo a seus discípulos numa ordem própria, lógica e predeterminada, mas como quem sente claramente que os discípulos eram pessoas vivas, ativas e necessitadas que esperavam sua ajuda para poderem enfrentar sábia e vitoriosamente as circunstâncias e situações em que se achavam."

6.1) Iniciar

Algumas vezes ele começava com uma afirmação das Escrituras e a elaborava, como vemos no Ensino do Monte quando mencionou o que Moisés havia dito a respeito do assassínio, do adultério, dos votos, da vingança, do ódio e doutros mais assuntos, e daí passou a alargar tais ensinos e a "completá-los" (Mat. 5:21-48). Por exemplo, Jesus mostrou que o assassínio está na atitude do coração e não meramente no ato de matar. Semelhantemente, revelou que o adultério está no olhar cúpido e sensual tanto quanto no ato manifesto abertamente em si. Assim, mostrando respeito aos ensinos da lei e dos "profetas, foi muito além, e lhes deu um significado mais ín-timo e mais profundo.

À vista da reverência que nossos alunos têm para com a Bíblia, podemos perfeitamente começar nosso ensino com referências ao que ela diz, para atrair a atenção e despertar o interesse deles. Daí podemos avançar, para aplicar suas verdades aos problemas da vida deles. Será ótimo e eficiente tanto quanto o outro processo que consiste em começar com o problema e terminar com as Escrituras. Jesus não só usou as Escrituras para começar seu ensino, mas também usou as experiências dos presentes como ponto de partida.

O verdadeiro mestre usa seu material como meio para ensinar e não como fim. Também eles nos ensinam que é melhor apegarmo-nos ao aluno do que à lição impressa, porque, em última análise, estamos ensinando gente e não propriamente lições. Não existe nenhuma regra invariável no que respeita ao modo de se iniciar uma lição.

6.2) Aclarar

Jesus continuamente usava material escriturístico e outros mais cem o fito de lançar luz sobre algumas afirmativas já feitas, e, assim, aclará-las. Este, na verdade, é o significado do verbo "ilustrar", que literalmente quer dizer "iluminar" ou "fazer luz sobre alguma coisa". Ele fez com que a luz da revelação e dos incidentes do dia incidisse sobre verdades que não estavam bem claras, para que seus discípulos pudessem apanhá-las. Isto explica o glorioso fato de seus ensinos terem permanecido tão claros através dos séculos. É que seus ensinos foram em maior parte transmitidos por meio de parábolas, em que se toma na natureza ou da experiência de cada dia um incidente real ou imaginário para aclarar alguma verdade maioral ou espiritual.

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6.3) Fortalecer

Jesus empregava as Escrituras para iniciar uma lição para aclarar seu ensino e também ainda para enfatizar aquilo que dissera. Nesses casos, ele as usava mais como referência do que como manual. Naturalmente o testemunho de outros dá peso às afirmativas deste ou daquele indivíduo, maiormente quando as pessoas citadas gozam de autoridade comprovada e reconhecida.

Algumas vezes, em casos que requeriam maior ênfase, Jesus ia além e apelava para as Escrituras como autoridade final, ou como para uma corte suprema. Assim, ele a usava, ou dela lançava mão, como o advogado faz com a decisão dum tribunal ou com a lei constitucional. Lançava mão dela não como de algo arbitrário, e, sim, como fundada na verdade, e, portanto, como sendo quem devia dizer a última palavra. Bom exemplo temos quando Jesus silenciou aqueles que o criticavam, apenas fazendo referência e apelando às Escrituras, àquilo que Davi testemunhara a respeito de Jesus, chamando-o de Senhor; assim Jesus reduziu a nada a oposição que os fariseus lhe faziam quando negavam ser ele filho de Davi (Mat. 22:41 -45).

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SSuuaa MMaanneeiirraa ddee ddaarr LLiiççõõeess

Jesus não tinha maneira fixa de dar lições. Ele não se amarrava a rotinas, nem se escravizou a nenhum sistema. Ao contrário, era senhor de sistemas e rotinas, variando seu processo de ensino conforme a situação que se lhe apresentava, segundo o objetivo que tinha em mente, e conforme o método que então lhe parecesse melhor. Agia e ensinava da maneira que melhor lhe parecesse no momento. O exemplo que neste sentido logo vem à tona de nossa memória é o da conversa com a mulher samaritana junto ao poço de Jacó. É caso referido mui freqüentemente e conhecido quase que de todos.

1. O Começo da Lição

É claro que toda lição deve ter início dum certo modo. Precisamos começar por algum lado e com alguma coisa. Em certos respeitos, o início é a parte mais importante da maneira de ensinar, pois que o êxito ou o insucesso pode depender muito da primeira sentença, ou pelo menos das primeiras. Se não prendermos a atenção e o interesse de nossos alunos logo no início, é quase certo que não mais conseguiremos isso no decorrer da lição. Por isso o professor precisa estudar com muito cuidado e esmero o início da lição. De fato, muitos professores gastam mais tempo preparando esta parte da lição do que qualquer outra.

1.1) O que significa o começo da lição

A introdução ou o começo da lição é o atrair a atenção e dirigi-la para o assunto do dia. Enquanto não se fizer isto não poderá ensinar coisa alguma. Não podemos ensinar sem a atenção do aluno, nem contra a atenção dele.

Para prender a atenção é preciso estabelecer alguma espécie de contato com a mente do aluno. É preciso o professor penetrar na área em que o aluno se acha. Noutras palavras, o mestre precisa ligar-se de qualquer maneira ao pensamento do aluno. Eduardo Leigh Pell diz bem: "A diferença entre o professor experimentado e o mestre novato aparece logo nos cinco primeiros minutos duma meia hora de lição. O novato olha primeiro para a lição, ao passo que o mestre de mão cheia olha primeiramente para os alunos."

Noutras palavras, o professor perito procura ver primeiro o que é que os alunos estão pensando, para daí iniciar com isso. "A mente é um castelo que não pode ser tomado nem furtivamente, nem de assalto.

O melhor ponto de contato, ou cabeça de ponte, para prender a atenção é o interesse natural do aluno, ou algo interessante na própria lição para onde podemos dirigir a mente do aluno. A curiosidade, ou o desejo de conhecer, é fundamental. Quando se desperta isso, teremos iniciado o aluno naquilo que importa. Para nos relacionarmos eficazmente com os desejos instintivos precisamos conhecer tanto quanto possível a vida de nossos alunos — seus interesses, experiências, passa-tempos favoritos e problemas.

1.2) Um exemplo de Jesus

O mestre sabia muito bem estabelecer um ponto de contato. Lidando com amigos

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ou com inimigos, logo se punha em contato com suas mentes. Cremos que o exemplo mais frisante disto é a conversa com a mulher samaritana junto ao poço de Jacó (João 4:1-7). A ocasião de ensinar não era propícia. Quase todos os obstáculos concebíveis estavam no caminho de Jesus. Havia ainda a desvantagem de serem pessoas estranhas. Quanto à virtude, eram polos visceralmente opostos: Jesus, sem pecado; e a mulher, uma decaída. Ele, homem; ela, mulher — terrível barreira nas terras orientais. Ele judeu; ela, samaritana — dois povos eivados de preconceitos mútuos.

Assim, vemos que tudo conspirava contra um favorável ponto de contato. Não obstante, Jesus derribou todas aquelas barreiras com uma introdução mui simples, humana, natural, inteiramente despida de qualquer antagonismo — pedindo um pouco de água. Um estranho apressado, cheio de preconceitos e pecador, ainda que doutro sexo, não se sentiria ofendido com tal pedido. Após haver estabelecido contato e chamado a atenção, era fácil fazer a transição da água natural para "a água viva", e daí Jesus saiu para o largo e caminhou direto para o alvo que tinha em vista

Por todo o seu ministério encontramos exemplos semelhantes de introduções bem conduzidas. Praticamente em cada caso Jesus apelava para aquilo que mais estava empolgando a mente, como ocupações, problemas, necessidades.

Fosse qual fosse o método empregado, o primeiro cuidado de Jesus era estabelecer um ponto de contato — despertar o interesse e atrair a atenção. Podia ser por meio dum pedido, dum objeto, duma pergunta, duma sentença ou duma história. Fosse qual fosse a maneira necessária para isso, ele assim agia. De fato, conhecendo aquilo que estava na mente do homem, Jesus podia realizar isso muito mais eficazmente do que esperávamos. Em qualquer caso, conosco, como para com ele, o primeiro cuidado deve ser estabelecer contato com o aluno antes de lhe transmitir a lição.

2. O Desenvolvimento da Lição

Havendo conseguido chamar a atenção do aluno para a lição do dia, importa agora avançar. Isto é tão importante como prender o interesse e a atenção, e como a apresentação da verdade. Deve-se, então, avançar, apresentando, aclarando e apegando-se à lição. Deve-se extrair a verdade, meditar nela, senti-la bem na alma, apanhando-se bem os princípios e implicações que lhe subjazem. A mente dos alunos deve estar presa ao assunto até o fim da aula.

Antes de se dar uma lição, deve ser cuidadosamente planejada. Isto é tão importante quanto procurar achar o significado material escriturístico então usado. Ao se fazer o plano da lição, a primeira coisa é selecionar a verdade principal a ser ensinada. Isto quer dizer que, tendo-se já estudado a composição, os fatos e as verdades, como no caso da lição ao moço rico, mas há verdades que queremos que a classe aprenda. O ensino na Escola Bíblica Dominical é bem mais do que ajudar o aluno a adquirir conhecimentos. A lição verdadeira envolve o desenvolvimento de atitudes e leva o aluno a controlar sua conduta.

É de suma importância que o professor se apegue ao assunto principal e não se deixe levar ou desviar por pensamentos irrelevantes. Isto não é coisa fácil, mas é muito importante. Não significa isso que o professor ignore assuntos relevantes que não estão no plano, porque estes podem ser mais importantes que o próprio material, mas quer dizer que o professor não permitirá que os alunos consciente ou inconscientemente o desviem do ponto central e principal. O professor se apegará ao aluno e ao tema

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central, se não aos próprios materiais que usa.

3. A Conclusão

A parte final duma lição é aquela que desemboca na conclusão ou aplicação de tudo quanto se disse. Para alguns, é esta a parte mais difícil da tarefa. Isto parece ser verdade, tanto com mestres como com pregadores. Constantemente se dá mui pouca atenção à conclusão, esperando-se que tudo termine bem. Mas a conclusão e parte de muita importância para ser assim descuidada, pois sabemos que aquilo que se diz por último é que causa maior impressão e fica mais tempo na memória.

A natureza da lição e as necessidades da classe determinarão a espécie de conclusão a ser feita. O método empregado também em maior parte determinará a fórmula especial de conclusão.

Também se deve aplicar o princípio básico da lição à vida de cada dia. Na conclusão, boas ilustrações são de grande valor e eficácia, tanto para dar vida à verdade discutida como para aprofundar as convicções e impressões da mesma. Nada nos inspira tanto como ver a verdade encarnada.

Um exemplo de Jesus

Quando os discípulos voltaram, justamente quando o Mestre estava dizendo à mulher samaritana que ele era o Messias esperado, parece que não foi feita nenhuma conclusão formal ou aplicação. Não obstante, Jesus havia atingido o clímax de sua lição. E, com êxito, houve um bom remate, pois vemos que a mulher deixou ali junto ao poço seu cântaro, esquecendo-se de tirar a água (para o que viera), e voltou à cidade dando testemunho de Jesus. Está claro que o Mestre levou a samaritana a tirar por si mesma a conclusão; e isso ela o fez não apenas intelectualmente, mas com todo o peso de sua atitude e em resposta à lição que recebera do Mestre, coisas que constituem o teste final duma boa conclusão. Uma conclusão formal nem sempre é coisa necessária ou imprescindível.

No caso do doutor da lei que ele fez perguntas, Jesus apresentou uma conclusão definida e muito prática. Tendo enfatizado a necessidade de se amar o próximo como a si mesmo, e havendo contado a história do Bom Samaritano, para ilustrar quem é o nosso próximo, o Mestre perguntou ao inquiridor qual dos três que passaram pela estrada provou ser bom vizinho e amigo do pobre assaltado e atirado à beira da es-trada. E, quando o doutor da lei respondeu que fora aquele que mostrara misericórdia e socorrera a vítima do assalto e roubo, Jesus lhe disse: "Vai, e f aze tu o mesmo" (Lc. 10:37). O Mestre não só revelou a verdade central da lição, como também a aplicou diretamente ao doutor da lei, de modo específico e pessoal. Jesus, quando ensinava a alguém, nunca o deixava no ar ou a meio caminho.

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AAllgguunnss mmééttooddooss uussaaddooss ppoorr JJeessuuss

Não se pode afirmar que Jesus tivesse consciência do estudo de certos métodos ou do seu emprego nas lições que dava. Tudo parece indicar que não, notadamente no sentido em que o fazemos hoje em dia. Contudo, da maneira habilidosa por que os empregou, depreendemos que ele foi verdadeiro mestre no uso de métodos. Certamente aqueles métodos lhe eram coisa natural, e não fruto de deliberados estudos e planificações, e brotavam da ocasião e da necessidade.

1. Uso de Objetos ou Coisas

Ainda que nem sempre, é fato que Jesus ensinou por meio de lições objetivas. Ele buscou fazer da verdade uma coisa concreta e viva, e este método naturalmente deu resultado. Ele se utilizou do seu princípio geral, duma forma ou doutra, mais que de sua prática específica. Temos, porém, vários casos bem definidos e interessantes do emprego que Jesus fez de objetos. 1.1 A natureza e o valor dos objetos

Ordinariamente, quando se fala em lições objetivas, pensamos logo no uso de coisas que simbolizam ou sugerem a verdade a ser ensinada. Isso inclui modelos, quadros, desenhos, mapas e outros materiais semelhantes. Um modelo da arca de Noé, ou do tabernáculo, ou do conjunto duma missão estrangeira é valiosa ajuda para aclarar e avivar a cena a ser discutida. O planetário numa escola pública, mostrando a posição relativa do sol e da terra, torna muito mais clara a razão da mudança das estações do que uma definição abstrata ou uma explicação.

O valor dos objetos está no apelo à vista, aos olhos, e no modo definido e prático pelo qual representa aquilo que se descreve. Por meio de coisas que os alunos podem ver, conseguimos de modo eficaz, prender o pensamento, a atenção e o interesse deles, bem mais do que por palavras que lhes dirigimos; tanto que alguns afirmam que 80% de nossos conhecimentos nos vêm pelos olhos. Quase que invariavelmente lembramos bem mais aquilo que vemos do que aquilo que ouvimos. Os professores farão muito bem em buscar usar desembaraçadamente o quadro-negro.

Eduardo Leigh Pell diz: “Falamos de princípios gerais, quando devíamos mostrar coisas concretas. Não poucos mestres gastam meia hora, tentando explicar uma coisa com palavras de sua boca, quando um lápis, um pedaço de papel e duas ou três linhas retas ou curvas tornariam em dois minutos aquilo tão claro como a luz meridiana."

1.2 O uso que Jesus fez de objetos

Um dos exemplos mais fortes do uso de lições objetivas pelo Mestre é aquele que nos fala de quando ele tomou um menino e o pôs no meio dos discípulos, para ensinar qual a atitude que devemos tomar para com o Reino de Deus (Mat. 18:1-4).

Temos também exemplo de Jesus lavando os pés a seus discípulos (João 13:1-15). Os povos orientais usavam sandálias. Caminhando por estradas poeirentas, os pés sujavam-se muito. Entrando numa casa, para uma visita ou uma festa, era costume o criado da casa tomar uma bacia de água e uma toalha para lavar e enxugar os pés dos visitantes. Parece que na hora não estava nenhum dos da casa, e Jesus foi fazer o papel de criado. Assim lavou e enxugou os pés dos discípulos. Fez aquilo de modo mui

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natural e normal, para atender a uma necessidade. Assim agindo, o Mestre mostrou a dignidade e grandeza do serviço humilde. Era uma demonstração do que qualquer pessoa deve fazer em semelhantes circunstâncias. Era também outra lição sobre a humildade e uma das mais expressivas lições que Jesus deu em sua vida. Terminou aquilo, dizendo: "Se eu, pois, sendo Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros. Porque vos dei exemplo, a fim de que, como eu fiz, assim façais vós também" (vv. 14 e 15).

Noutra ocasião vieram tentá-lo representantes dos fariseus e dos herodianos, e lhe perguntaram se era lícito ou não pagar tributo a César. Sem argumentar, Jesus lhes pediu que mostrassem uma moeda de tributo, e lhe trouxeram um denário. Jesus fez pelo menos duas coisas, ao usar aquele objeto. Por um lado chamou a atenção, pois que não se falha nunca ao empregar este método. Doutro lado, usou-o como instrumento para ensinar o dever de se pagar tributos, mesmo que fosse a César, e também nosso dever de dar ao Senhor, visto que aquilo que possuímos pertence a ele.

Também o caso do paralítico trazido por quatro amigos proporcionou ao Mestre uma demonstração objetiva do seu poder de perdoar os pecados dos homens, quando os escribas o acusaram de blasfêmia, dizendo que só Deus podia perdoar pecados (Mat. 2:6-12). Se ele podia curar a paralisia, também podia perdoar pecados, pois que isto não era mais difícil que aquilo. Igualmente o Mestre provou sua divindade, dando vista ao cego, fazendo andar o coxo, dando ouvidos ao surdo, quando João Batista, assaltado pela dúvida, enviou os mensageiros para lhe perguntar se ele era mesmo o Cristo (Mat. 11:2-6).

Assim, temos abundantes provas de que Jesus usou lições objetivas para tornar seu ensino mais atrativo, mais claro e mais impressionante. Alguns dos seus ensinamentos mais lembrados foram assim apresentados.

2. A Dramatização Cristo lançou mão também do método de dramatização ao ensinar o povo, e o

empregou tanto de modo formal como informal.

3. Histórias ou Parábolas Sem dúvida, o método mais usado pelo Mestre foi o de histórias ou parábolas. É o

método que toma o primeiro lugar em seus ensinos. Jesus o usou tanto que julgamos ser isso o que mais o caracterizou como Mestre; e as histórias que ele contou são sempre mais lembradas que outros ensinos dele.

3.1) A importância de histórias e seu uso

O termo parábola significa literalmente projetado ao lado de alguma coisa. É uma história ou ilustração tirada de algum caso conhecido ou comum da vida, para lançar luz sobre outro caso não muito conhecido. É uma apresentação viva e colorida da verdade. H. H. Home acrescenta: "Parábola é uma comparação de fatos familiares com verdades espirituais." Como método de ensino é praticamente idêntico à história, conquanto seja bem mais curta, para ter mais a natureza da comparação que da história. As comparações têm sido caracterizadas como parábolas em embrião.

Há três coisas que podemos alcançar por meio de histórias no ensino. A primeira delas é em prender a atenção do aluno. A outra coisa é usar histórias para lançar luz sobre algum princípio ou verdade abstraía já enunciada. A terceira coisa é usá-las para a apresentação da lição toda.

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RReessuullttaaddooss ddoo sseeuu LLaabboorr

Os resultados da obra de Cristo não só mostram sua superioridade como professor, como também justificam a ênfase que ele deu ao ensino. Foi ele, na verdade, o Mestre incomparável, e, como tal, o único de sua classe. Isto é verdade, seja qual for o aspecto pelo qual estudemos sua obra didática.

1. A Valorização e Elevação da Pessoa Humana

Antes de Jesus vir, certos grupos humanos nada valiam, nada representavam. Não passavam de meras peças de máquina, escravos dos outros, meios para certos fins. Não eram considerados como pessoas, cujos direitos deviam ser respeitados. Este era, e ainda é, um dos magnos problemas da civilização.

Nos dias de Jesus, os escribas, os fariseus e os saduceus tratavam com desprezo os publicanos e os pecadores, e se consideravam tão bons e justos que não podiam suportar a presença deles, chegando mesmo a censurar a Jesus por andar na companhia deles. Os gentios eram tidos pelos judeus como estranhos e pagãos, indignos das bênçãos divinas e fora do alcance das atividades missionárias.

Jonas não foi o único a repudiar a idéia da conversão e salvação doutros povos, não. Os judeus não queriam nem conversa com os samaritanos! As mulheres virtualmente eram escravas dos homens, e de contínuo tinham que andar de rosto coberto e guardar silêncio em público, e costumava-se em certas nações dar filhas em casamento sem o consentimento delas. Os filhos quase não tinham direitos nenhuns, e as crianças fracas no físico, notadamente do sexo feminino, em certas regiões eram abandonadas no campo ou em desertos, para serem devoradas por feras. Certos grupos sociais eram tidos como gente inferior, e o negro então, como ainda em muitos lugares hoje, era considerado bem apenas "para derrubar árvores e baldear água".

Os ensinos do Mestre, porém, contribuíram imenso para modificar esse estado de coisas e essas atitudes erradas. "Jesus reconheceu e enfatizou o valor do homem, como nenhum outro mestre havia feito."

O ensino de Jesus levou o mundo a ver que Deus não faz acepção de pessoas, que "vermelhos e amarelos, pretos e brancos, todos são muito preciosos a seus olhos", e que a ninguém assiste o direito de possuir ou escravizar a outrem. Os ensinos de Jesus nos induzem a reverenciar a pessoa humana, virtude que é basilar em todas as relações justas e retas de homem para homem. Em primeiro lugar estão pessoas, e não coisas.

2. Transformação de Vidas

Jesus disse que viera para pôr em liberdade aqueles que estavam presos. A regeneração era o próprio cerne de sua tarefa. As gargalheiras do pecado seriam quebradas e a alma humana estaria livre. A libertação e a transformação de almas eram pontos capitais de sua obra. Pedro foi transformado, e seu caráter, dantes impulsivo e instável, foi modificado radicalmente, tomando-se pessoa firme, corajosa e confiante no Mestre. João, jovem de cabeça quente que era, tomou-se um ancião amado e cheio

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de amaior. Tiago adquiriu no contato com o Mestre aquela fibra e estofa de que se fazem os mártires. O caráter de Mateus foi reformado. Saulo, o perseguidor, tornou-se Paulo o perseguido apóstolo aos gentios. Zaqueu, o ganancioso cobrador de taxas, tomou-se "o primeiro filantropo cristão, dando metade de seus bens aos pobres e devolvendo quadruplicadamente o que houvera cobrado ilegalmente". Uma decaída, transformada, tornou-se missionária do seu povo. Estes, e muitos outros mais, foram transformados e depois enviados a anunciar as Boas-novas. "Onze homens, feitos de novo, incessantemente marcharam com o seu espírito, para incontáveis milhões de batalhas em favor da Verdade Divina. . . onze dos maiores benfeitores da raça humana."

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CCrriiaaddooss PPaarraa RReepprroodduuzziirr

Uma vez maiorto para si, você é discípulo. E os discípulos foram criados para reproduzir. Jesus não deixou dúvidas: "Quem permanece em mim, e eu nele, esse dá muito fruto...” (João 15:5). Não há chamado mais alto, comissão mais clara no Novo Testamento, do que a ordem de reproduzir em outros o caráter que o Espírito de Deus criou em você. Cristo espera que cada cristão produza fruto espiritual.

Paulo sabia que o simples conduzir uma pessoa a Cristo não bastava. Ele considerava vão o seu trabalho se seus filhos espirituais não se tornassem discípulos maduros. E discípulos maduros reproduzem suas vidas em outros - produzindo frutos duradouros. Cristo mesmo disse aos discípulos: "Eu vos escolhi a vós outros, e vos designei para que vades e deis frutos, e o vosso fruto permaneça" (João 15:16). Talvez você assista fielmente a uma igreja, cante no coro, seja diácono, apoie um grupo de mocidade, ou sirva como presbítero ou até mesmo pastor. Talvez você testemunhe todos os dias ou ensine em grupos de estudo bíblico. São atividades recomendáveis mas não chegam a cumprir o seu alto chamado de fazer discípulos.

A atividade não substitui a obediência; o viver ocupado não pode tomar o lugar da reprodução. Um discípulo que funciona é mais valioso para a edificação da Igreja do que uma multidão de crentes carnais. Resista à tentação de se envolver tanto nas atividades do "trabalho cristão" que negligencie as coisas do reino. Reavalie as suas prioridades à luz da comissão de Cristo de fazer discípulos.

O discipulado requer um compromisso constante para com a maiorte do eu. Paulo diz: "Porque nós que vivemos, somos sempre entregues à maiorte por causa de Jesus, para que também a vida de Jesus se manifeste em nossa carne maiortal" (2 Coríntios 4:11). João declara ainda "... e devemos dar nossa vida pelos irmãos" (l João 3:16).

O discipulado é trabalho árduo. Paulo se afadigava (Cl. 1:28, 29) para apresentar todo homem perfeito em Cristo. A pessoa que faz discípulos tem o compromisso de investir a vida no seu aluno:". estávamos prontos a oferecer-vos, não somente evangelho de Deus, mas, igualmente, a nossa própria vida..." (l Tes. 2:8). Gerar filhos espirituais exige muitas horas por semana por muitos anos, Exige o desgaste de energia emocional. Paulo pergunta: "Quem enfraquece, que também eu não enfraqueça? Quem se escandaliza, que eu não me inflame?" (II Cor. 11:29). O derramar da vida por outra pessoa é um investimento que nos esgota.

O discipulado é um encontro de uma vida com outra. Não é apenas uma série de reuniões sobre um dado curso de estudo. É essencialmente relacional—um investimento de tudo que você é numa pessoa. O seu sucesso em reproduzir a plenitude de vida que tem em Cristo no seu discípulo aumentará ou diminuirá segundo a força do seu relacionamento.

Oito qualidades que o auxiliarão a desenvolver um relacionamento saudável com seu discípulo:

Calor humano O calor humano é uma atitude de amaior e bondade demonstrada por meio de um

conjunto de comunicações verbais e não-verbais. O seu amaior um ao outro é o indicador mais significativo de seu amaior a Cristo.

Primeira de Pedro 1:22 encoraja os crentes, dizendo: "Amai-vos de coração uns aos

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outros ardentemente." O altruísmo, serviço e compromisso constituem o amaior e distinguem seu relacionamento de submissão e autoridade das associações que existem no mundo. O amaior a seu discípulo é baseado no seu compromisso para com ele. Transcende sentimentos emocionais. Muitos dos discípulos de Cristo o abandonaram enquanto ele maiorria por eles. Mas o compromisso de Cristo para com eles foi inabalável: "... amou-os até o fim" (João 13:1). O amaior de Paulo fez com que ele se dispusesse a ser anátema se isso pudesse salvar a seu povo (Romanos 9:3). O amaior motiva-nos a andara segunda milha com nosso discípulo, a estender-nos a fim de animá-lo e edificá-lo. Transforma o espírito julgador, abrupto ou exigente em perdão, paciência e compreensão.

Nunca se envergonhe de dizer ao seu discípulo que você o ama. Explique, porém, que o amaior exige que seu relacionamento não seja exclusivista. A maiorte para si mesmo inclui colocar limites em amizades preciosas por amaior do reino de Deus. Ambos precisam relacionar-se com outros e dar-se livremente a eles. Sua relação tem de centrar-se em Cristo, e não no eu.

Ternura é algo que intensifica sua liderança. Se você fala do amaior incondicional de Cristo e mostra desprezo quando o seu discípulo admite algum pecado, os seus atos negam as suas palavras. Sua vida deve comunicar: "Eu amo a você. Estou do seu lado."

Ternura exige tato, uma percepção aguçada da coisa certa para se dizer ou fazer sem ofender o outro. Isto permite que você permaneça verdadeiro para com seus princípios sem fazer disparar os mecanismos de defesa do discípulo. Provérbios 15:23 observa: "A palavra a seu tempo, quão boa é!"

Lealdade A lealdade é um compromisso consistente para com outra pessoa. Significa ficar a seu

lado nos problemas como também nas alegrias. Poucas coisas solidificam mais um relacionamento do que agüentar juntos uma crise. "Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta" (l Coríntios 13:7). O discípulo nunca deve questionar sua lealdade. Se ele falhar, nunca expresse falta de

fé nele ou deixe subentendido que você deseja abandonar o relacionamento. Fale de seu desapontamento somente com os líderes que poderão ajudá-lo a edificar o seu discípulo. Efésios 4:29 nos instrui: "Não saia de vossa boca nenhuma palavra torpe, e, sim, unicamente a que for boa para edificação, conforme a necessidade, e assim transmita graça aos que ouvem."

Equanimidade A equanimidade exige que sejamos imparciais. "Porque para com Deus não há

acepção de pessoas" (Romanos 2:11), e não deve haver essa acepção entre lhe pedir e dar perdão. Juntos, reafirmem o compromisso de unidade para a glória de Deus. Se o discípulo souber que esta é a sua maneira de tratar, ele obedecerá Zacarias 8:16: "Falai verdade cada um com o seu próximo, executai juízo nas vossas portas segundo a verdade, em favor da paz."

Maturidade A maturidade é um andar firme e fiel com Deus. Jesus disse: "Eu faço sempre o que

lhe agrada" (João 8:29). Paulo disse: "Vós e Deus sois testemunhas do modo por que piedosa, justa e irrepreensivelmente procedemos em relação a vós outros que credes"

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(l Tessalonicenses 2:10). Como você procura produzir integridade em cada área da vida do seu discípulo, você

tem de ser constantemente maduro. Ele aprenderá a servir, a ser sensível e a ter a atitude correta quanto à responsabilidade através de seu exemplo. Ele copiará a sua conduta e respeitará a sua maturidade.

A recíproca também é verdadeira. O seu discípulo verificará se você vive aquilo que ensina ou não. Ele o observará mesmo quando você não estiver percebendo. Um comentário sarcástico, uma piada duvidosa, uma falta de confiança nos seus líderes ou uma atitude ciumenta serão observados e imitados.

Disponibilidade O seu discípulo é prioridade máxima no Corpo, a não ser que você seja casado. Se você for casado, o discípulo vem logo após sua família. Mesmo que Paulo tenha encontrado uma porta aberta para pregar o Evangelho em Trôade, ele saiu a fim de encontrar-se com Tito (II Cor. 2:12, 13). Tito era mais importante para Paulo do que toda a cidade de Trôade. Você tem de ter uma resolução segura de manter o seu discípulo como prioridade. Você e seu discípulo precisam ter acesso máximo um ao outro a fim de ter um relacionamento de qualidade. Esteja disposto a investir em seu discípulo e desafiá-lo mesmo que ele tenha muitas dúvidas e que um forte desejo de aprender exijam grande período de tempo. Não lhe abafe o fervor. Seja especialmente sensível em tempos de ajustamento ou crise. Se ele estiver lutando com vícios tais como pensamentos impuros ou "fazer" em vez de "ser", ajude-o dia e noite.

Paciência Paciência significa ser tardio para irar-se. É a fé em ação, e não passividade. A paciência compele-nos a estender a graça ao nosso discípulo sem comprometer o padrão de Deus. E prevenção contra amargura. Paciência é marca registrada de quem faz discípulos.

Jesus começou com homens não qualificados que precisavam ser instigados e animados a cada passo. Levou tempo para os seus discípulos desenvolverem o caráter piedoso, mas o Senhor continuou trabalhando com os seus homens até que eles se tornassem como ele. Ele nunca desistiu; agüentou a ousadia de Tiago e João, a instabilidade de Pedro e a dúvida de Tomé. Isto é paciência. fazem discípulos devem esperar pelo tempo e pela direção de Deus. Leva tempo para fazer discípulos. O professor eficiente é aquele que baseia seu ensino em uma rica experiência de vida.

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AA LLeeii ddoo EEnnssiinnoo

Para ser um professor eficiente, não basta dominarmos o conteúdo a ser

ministrado; precisamos conhecer também aqueles a quem ensinamos. Nosso interesse principal não deve ser só passar-lhes princípios; mas influenciá-los. Por conseguinte, a maneira como os alunos aprendem deve determinar a forma como ensinamos. É a lei do ensino.

Podemos enunciar essa lei do seguinte modo: o professor deve estimular e dirigir os atos de aprendizagem, e, de modo geral, não deve dizer nem fazer para o aluno nada que ele possa fazer por si mesmo. Portanto, o importante não é o que nós, professores," fazemos, mas o que o aluno faz depois de receber nosso ensino.

Essa definição demarca muito bem o papel do professor e do aluno. O mestre é antes de tudo um estimulador e motivador; não é o jogador, mas o treinador que estimula e dirige os jogadores em ação. O aprendiz é um investigador, aquele que descobre as novidades; é o que age.

Assim sendo, a melhor avaliação do ensino não é o que fazemos, nem se o fazemos bem, mas o que o aprendiz faz e como o faz. Não se avalia a eficiência de um professor pelo que ele faz, mas com base no que seus alunos fazem.

Os professores estão mais interessados é em ver que volume de conteúdo o aluno pode armazenar na mente para depois "vomitá-lo" no papel.

Sugerimos três metas para o ensino:

A Primeira meta: ensinar os outros a pensar. Quando desejamos que um aluno adquira novas atitudes, isto é, que o conteúdo

aprendido permaneça, temos que modificar sua maneira de pensar. Se conseguirmos modificar apenas sua conduta, ele não entenderá por que se modificou. A mudança ocorrida é superficial; não permanece. Nossa tarefa como mestres é distender a mente do aluno, que, por sinal, é como uma tira de borracha: depois que é esticada uma vez nunca mais volta exatamente à forma original que tinha antes. Essa é a parte mais fascinante de todo o processo de ensino.

Seja o que for que ensinarmos, estejamos sempre preparados para aproveitar

bem os momentos em que o aluno se encontra predisposto a aprender, para levá-lo a pensar. Mas atenção: ensinar outrem a pensar pressupõe que o professor sabe pensar.

O cristianismo, e principalmente o cristianismo evangélico, tem sido acusado de pobreza intelectual. Muitas pessoas o vêem como um substituto para gente que não deseja pensar por si, mas isso não é verdade. Acham que para nos tornarmos cristãos temos que cometer suicídio intelectual. A segunda meta: ensinar os outros a aprender.

Isso significa formar aprendizes que reproduzirão o processo de aprendizagem pelo resto da vida. Pensemos um pouco no que significa aprender. Trata-se de um processo contínuo, sempre em andamento. Estamos constantemente aprendendo em todos os momentos de nossa vida. Enquanto estivermos aprendendo estamos vivos. Se paramos de aprender hoje, de certa forma paramos de viver amanhã.

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Então, para levarmos alguém a entrar no processo de aprendizagem, temos que fornecer-lhe primeiro o quadro geral. Infelizmente nós nos preocupamos mais com a segunda etapa, a divisão em partes.

Terceira meta: ensinar os outros a trabalhar.

Aqui caímos no princípio pedagógico de não fazer para o aluno aquilo que ele pode fazer por si mesmo. Se o fizermos corremos o risco de formar "paraplégicos" e "deficientes" intelectuais.

No Parque Nacional de Yellowstone nos Estados Unidos as pessoas recebem, na entrada, uma folha de instruções com os dizeres: "Não dê comida aos ursos." Mas assim que chegamos encontramos pessoas dando comida para os ursos. No outono e inverno eles encontram muitos desses animais maiortos, por não saberem mais caçar o alimento por si mesmos. É o que está acontecendo conosco.

Lembremo-nos sempre de que nossa tarefa é levar as pessoas a pensar por si mesmas, a ser disciplinadas e a agir por uma deliberação própria. Nossa função não é fornecer respostas rápidas e prontas, nem soluções tipo "alívio imediato", que na prática não resolvem nada. É bom que os alunos saiam da classe cheios de questões sobre as quais tenham de pensar e conversar durante a semana. Só assim podemos ter certeza de que a aprendizagem está-se processando.

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AA LLeeii ddaa AAttiivviiddaaddee

Nossa tarefa como comunicadores não é tentar deixar os outros deslumbrados conosco, mas causar um impacto. Também não é apenas convencê-los, é transformá-los. A prática da educação cristã hoje em dia tem sido por demais passiva. E isso é uma incongruência, pois o cristianismo é a mais revolucionária força do planeta; ele transforma vidas. E no entanto, ao trabalhar com essa força revolucionária, nós a colocamos numa fôrma, em concreto. A atitude da média dos crentes é muito bem expressa no hino que diz: "Como era no princípio, assim é hoje, e sempre será." As próprias igrejas muitas vezes opõem certa resistência às mudanças que elas mesmas deveriam promover.

Envolvimento Máximo — Máxima Aprendizagem Se ensinar fosse simplesmente dizer coisas para o aprendiz, todos filhos saberiam

tudo, pois Já lhes dissemos tudo que eles precisam saber. A lei da atividade é a seguinte: Quanto maior o nível de envolvimento no processo de

aprendizagem, maior o volume do conteúdo apreendido. Isso é verdade, mas com uma condição: a atividade em que o aprendiz está envolvido deve fazer sentido para ele. Disso se deduz um importante princípio do ensino: a atividade desenvolvida na aprendizagem nunca é um fim em si mesma, mas sempre um meio para se atingir um fim. Uma professora pode dizer toda orgulhosa:

— Finalmente, conseguimos que todos os alunos estejam ativos. — Fazendo o quê? indaga um observador. — Nada de importante; mas eles estão gostando muito. Nunca percamos de vista nosso objetivo. É ele que irá determinar o produto final.

Nós só obtemos aquilo que estabelecemos como meta.

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AA LLeeii ddaa CCoommuunniiccaaççããoo

Comunicar não é nada fácil. E quem aprender a encarar com seriedade o fato de que esse processo é realmente difícil irá orar com mais intensidade, estudará e se esforçará mais, e aprenderá a depender muito mais de Deus.

Certa empresa de Chicago faturou num ano dois milhões de dólares, mas no ano seguinte foi à falência. Isso se deu porque sua diretoria não havia enxergado com clareza qual era mesmo seu ramo de negócio. Achavam que seu objetivo seria vender grampos para cabelo, quando na verdade deveria ser artigos para cabelo. O que aconteceu foi que as mulheres pararam de usar grampos, e a empresa faliu.

Então, lembremo-nos sempre disso: nosso negócio é comunicar. A razão de sermos professores é exatamente esta: comunicação.

Estabelecer Pontes de Ligação O termo comunicação vem do latim communis, que significa "comum". Para que

possamos comunicar algo a alguém precisamos antes estabelecer pontos em comum com ele. E quanto maior for o número de pontos comuns, maior também será a probabilidade de uma boa comunicação.

A clássica ilustração bíblica para esse processo é o texto de João 4, o diálogo de Jesus com a mulher samaritana. O ponto que ambos possuem em comum é: estão com sede.

- Quer me dar um pouco de água? ele indaga. A mulher fica muito espantada.

- Como é que você, um judeu, pede água a mim, uma mulher samaritana? Jesus toma a iniciativa, e procura não fazer nenhum julgamento prévio. Pelo

contrário, derruba todas as barreiras existentes — racial, religiosa, sexual, social e maioral — com a finalidade de criar uma base para comunicar-se com ela. E essa é também a nossa tarefa. É isso que temos de fazer. É o processo de estabelecer pontes de ligação entre nós e outros.

A lei da comunicação aponta para esse processo: para que haja comunicação é necessário que se estabeleçam pontes de ligação entre o comunicador e o receptor.

Pensamento, Sentimento, Ação Agora quero tentar explicar esse complexo processo de comunicação numa

forma mais compreensível. Mas cada leitor deve entender que terá que estudar bem isso para poder dominá-lo, para manuseá-lo bem. Será preciso lê-lo várias vezes.

Toda comunicação possui três componentes básicos: intelecto, emoção e vontade; em outras palavras, pensamento, sentimento e ação. Então tudo que eu quiser comunicar a outrem gira em torno de:

* algo que conheço * algo que sinto * algo que pratico. Se conheço muito bem determinada coisa, se a sinto profundamente e ajo em

consonância com ela, tenho grandes possibilidades de ser um excelente comunicador

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dela. Aliás, quanto melhor eu a conhecer, quanto mais intensamente a sentir e a praticar, maior será minha probabilidade de comunicá-la bem.

Mas é preciso que os três componentes estejam presentes. É como se eu fosse um vendedor; a diferença é que estou vendendo idéias, conceitos, e não mercadorias, objetos. Então, para conseguir vendê-las, preciso conhecê-las muito bem, tenho que estar profundamente convencido de que são boas, tenho que praticá-las; é preciso que elas estejam dando certo para mim. Esse é o ponto de partida para a comunicação.

Nós os crentes, que cremos na autoridade e na inspiração das Escrituras, temos em mãos um conjunto de verdades que nos foi entregue por revelação, e que temos de comunicar ao mundo. Portanto a mensagem já está pronta, não precisamos fabricá-la. Cabe-nos apenas divulgá-la. Essa é a nossa maior vantagem, mas pode ser também um grande problema de comunicação dentro da comunidade evangélica. Por quê? Porque a maioria dos crentes se limita a transmitir a mensagem apenas intelectualmente. Da-mos ênfase excessiva às palavras. Parece que estamos convencidos de que se dissermos ao mundo tudo que precisa ser dito, isso automaticamente vai solucionar todos os problemas. Damos pouco peso aos aspectos emocional e volitivo) da comunicação — o sentimento e a ação — porque de certa forma isso constitui uma ameaça para nós.

A comunicação eficiente sempre deve ter um ingrediente emocional - o fator sentimento, o entusiasmo. Se afirmo que estou comprometido com a verdade eterna revelada na Palavra de Deus, isso deve refletir em meus valores.

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AA LLeeii ddoo PPrrooffeessssoorr

O professor eficiente é aquele que baseia seu ensino em uma rica experiência de vida. Resumindo a lei do professor, poderíamos dizer que quem pára de "crescer" hoje, pára de ensinar amanhã.

Esse princípio é fundamental e não há nada que o substitua, nem mesmo uma personalidade cativante ou método excepcional. Ninguém consegue ser um bom comunicador a partir de um arquivo intelectual vazio. Não podemos passar a outros aquilo que não possuímos. Se não conhecemos determinado conteúdo, isto é, se não o dominamos de fato, não podemos transmiti-lo a ninguém.

A idéia implícita nessa lei é a de que, antes de ser professor, sou um aprendiz, um "estudante" ensinando estudantes. Estou dando continuidade ao processo "de aprendizagem. Ainda estou a caminho de minha meta. E, vendo-me como estudante ao desempenhar meu papel de mestre, vou encarar o processo didático por um ângulo totalmente novo e pessoal.

Temos que estar sempre crescendo, sempre em transformação. É claro que a Palavra de Deus não muda, mas nossa compreensão dela, sim, porque estamos em constante crescimento. É por isso que o apóstolo Pedro, ao final de sua segunda carta, diz o seguinte: "Antes crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo." Para termos essa mentalidade precisamos adotar a atitude de que ainda não chegamos lá. Quem aplica esse princípio didático na prática está sempre se perguntando: "Como posso melhorar meu ensino?"

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AA LLeeii ddoo CCoorraaççããoo

O ensino que realmente causa impacto em quem o recebe não é o que passa de uma mente para outra, mas de um coração para outro.

Essa é a lei do coração, que só pode ser verdadeira se compreendermos o sentido bíblico da palavra coração.

Esse termo é um daqueles que tomam sentidos diversos, e um deles acentuadamente sentimental. Hoje nós o empregamos incorretamente, mas os escritores do A.T. o usavam com o sentido certo.

Um texto que revela o significado escriturístico do vocábulo é Deuteronômio 6.4-6: "Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois, o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de toda a tua força. Estas palavras que hoje te ordeno, estarão no teu coração." Para os hebreus, essa palavra englobava a totalidade do ser: intelecto, emoção e vontade.

O processo de ensinar nada mais é que a transformação total de uma personalidade, operada pela graça de Deus, e que depois, pela mesma graça, alcança outros para transformá-los também. Transferir conhecimento de intelecto para intelecto é a coisa mais simples do mundo. Mas fazer esse trajeto pela via do coração é bem mais difícil, mas também muito mais compensador. Aliás, opera transformação de vida. Sócrates resume a essência da comunicação em três conceitos fascinantes que ele denominou ethos, pathos e logos. O primeiro, ethos, diz respeito ao caráter. Pathos compreende a parte da afetividade, e logos, o do conteúdo.

Ethos, segundo explicava Sócrates, diz respeito à credibilidade do professor, sua credencial. Ele afirmava que o nosso jeito de ser é mais importante do que o que dizemos ou fazemos já que determina o que dizemos ou fazemos. Aquilo que somos como pessoa é o fator que mais pesa em nossa atuação como orador; comunicador e conselheiro. Temos que ter atrativos para aqueles a quem lecionamos. É preciso que confiem em nós, e quanto mais confiarem, melhor conseguiremos comunicar-lhes o que desejamos dizer-lhes.

O outro aspecto, pathos, diz respeito ao modo como o professor desperta as emoções e sentimentos de seus alunos. O filósofo sabia que são as emoções que afinal determinam o rumo de nossos atos. E isso é a chave para a motivação, já que Deus nos criou com emoções, sentimentos.

Sócrates estava convencido também de que os professores e oradores precisam do conteúdo programático, e denominou-o logos. Curiosamente este é o mesmo termo grego que aparece em João 1 para designar Jesus: "No princípio era o logos, o Verbo. E o logos se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai; Desejando comunicar-se conosco. Deus personificou sua mensagem. É exatamente isso que temos de fazer.

É claro que qualquer professor pode lecionar sem atentar para o caráter, afetividade e conteúdo. Mas acompanhe meu raciocínio e veja o que acontece com o aluno. O caráter do professor gera confiança no coração do aluno. Quando este percebe a qualidade de vida do professor, reconhece que ele tem algo a oferecer-lhe; sente que pode confiar nele. Percebe que o mestre não mentiria para ele.

Essa credibilidade é o maior atributo que o professor possui para sua comunicação. Tenhamos o máximo cuidado para não perdê-la, pois uma vez perdida é

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dificílimo reconquistá-la. Precisamos convencer-nos de que a base de uma comunicação eficiente é aquilo

que somos, vem de dentro de nós. Vez por outra devemos dirigir a nós mesmos a pergunta: "Que tipo de pessoa sou eu?"

Em segundo lugar, é nossa afetividade que vai gerar no aluno a motivação para aprender. Quando o aluno sente que o professor o ama, dispõe-se a fazer tudo que ele quiser que faça.

Por que os discípulos de Jesus o seguiam? É muito simples: ele os amava. Os evangelhos afirmam isso: "Ao desembarcar, viu Jesus uma grande multidão e compadeceu-se dela. Todas as pessoas, homens, mulheres, jovens e crianças, sentem-se atraídas para uma pessoa que as ama.

Que tipo de reação você tem para com os outros? Eles o incomodam? Inspiram-no a agir? Gosta deles ou sente-se ameaçado por eles?

Terceiro, é o conteúdo que gera no aluno a percepção. O mestre tem primeiro a percepção de um fato, que depois o aluno também vê, compreende, descobre, e apossa-se dele. Afinal ele passa a integrar sua rede de conhecimentos.

Os maiores comunicadores, os melhores mestres, não são necessariamente os que se acham à frente de tudo, que possuem grande inteligência. São aqueles que possuem um grande coração. Ao comunicar, fazem-no com todo o seu ser, e atingem todo o ser daqueles que o ouvem.

O Processo Ensino-Aprendizagem: Pensemos por uns instantes nessa dinâmica de ensinar-aprender. Ensinar é levar alguém a aprender. Essa é a mais simples definição. Existe uma

relação básica entre ensinar e aprender. É o processo ensino-aprendizagem; algo conjugado, ligado por hífen. Os dois termos são inseparáveis. Se o aluno não aprende, isso significa que nós não ensinamos.

Observemos agora o seguinte. Ensinar é algo que diz respeito ao professor. E aprender, ao aluno. Existe uma clara distinção entre os dois conceitos em nossa língua. Nunca dizemos: "Eu lhe aprendi", pois é impossível. É o aluno quem aprende; ao professor cabe ensinar.

O ponto central do ensino localiza-se primeiramente naquilo que o professor faz, e o da aprendizagem no que o aluno faz. Mas a eficiência de nosso ensino não se avalia com base naquilo que o professor faz, mas no que o aluno faz, em decorrência de nossa prática didática.

Portanto, a mais simples definição de aprendizagem é: aprender é modificar-se. Basicamente, aprender opera mudanças em nossa forma de pensar, sentir e agir. A aprendizagem significa que houve mudança na mente, nas emoções e na vontade. É interessante notar como pessoas que se dizem crentes absorveram toda a filosofia do mundo. Esse contato constante com a mentalidade mundana acaba por nos comprimir dentro dos moldes dela. Mas, se nos afastarmos dela, e nos expusermos mais à verdade divina, deixando que ela penetre nossa mente, emoção e conduta, abrimos as portas de nossa vida para mudanças profundas.

Contudo, raramente vemos o conhecimento ser associado à responsabilidade.

Onde Começa a Aprendizagem

Toda aprendizagem começa ao nível da emoção, As pessoas absorvem aquilo que se sentem interessadas em absorver, e rejeitam o que querem rejeitar.

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Se têm uma atitude positiva em relação a determinada coisa que ouvem, tendem a acatá-la; mas se têm para com ela uma atitude negativa, a tendência é fugir dela. Se temos sentimentos negativos para com alguém, rejeitamos tudo que ele diz, pois rejeitamos a pessoa dele.

Mas quando gostamos de alguém e sabemos que ele tem interesse por nós, estamos dispostos a atender seus pedidos por mais incomuns que sejam. E podemos também vir a amar o Deus que ele prega, já que ele fez dele um ser que admiramos.

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AA LLeeii ddaa MMoottiivvaaççããoo

Veja esta ilustração:

Dentro da caixa desenhada ao pé desta página estão os segredos da motivação. Acredita? Bom, infelizmente, a caixa está trancada e a chave está comigo. Então vamos ver o que há dentro dela.

A primeira coisa que retiro dela é um saco de papel cheio de pedrinhas de formato interessante. Quem as apanhou foi um garoto de sete anos. Ele passou quase a manhã toda de um sábado — cerca de três horas — catando essas pedras. Por que será que fez isso? Ninguém mandou que o fizesse; não era tarefa da escola. Mas por alguma razão ele resolveu catá-las. Por quê?

A segunda coisa é um livro de puericultura, muito manuseado, bem manchado pelo uso, e com algumas páginas soltas. Eu e minha esposa o consultamos vezes sem conta quando nossos filhos eram pequenos. A obra não era leitura obrigatória para nenhum curso que ela pudesse estar fazendo, e no entanto estava sempre consultando-o. Por que será?

Em seguida, tiro um maço de cartões com versículos bíblicos para memorizar.

Você já iniciou esse tipo de projeto de memorização da Bíblia? Por que o fez? Interrompeu-o? Por quê?

O objeto que tiro a seguir é um certo manual de instruções para preenchimento do formulário do imposto de renda, que me enviou a secretaria da receita, Você já leu atentamente um desses manuais?

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Acho que já lemos tudo que se escreveu e publicou sobre motivação. Mas todos os bons métodos que conhecemos estão representados pelos objetos dessa caixa, que sugerem conceitos relacionados com curiosidade, senso de propriedade, de utilidade, de atender a necessidades, desafios, reconhecimento Social e aceitação por parte de outros.

O QM O maior problema que ocorre hoje em educação é a falta de motivação para os

alunos, de algo que os desperte e os estimule à ação. Quanto mais tempo lecionamos, mais nos convencemos de que o QM de um

aluno — seu Quociente de Motivação — é bem mais importante que seu QI. Já vimos alunos que, ao se formarem, não se achavam aptos para nada; eram totalmente inúteis. E o problema não é que fossem incapazes. Se tinham podido matricular-se na faculdade, deviam ter alguma capacidade. O problema deles era falta de aplicação. Não encontraram nada que os atraísse, nada em que quisessem aplicar suas energias e habilidades. Não se sentiram motivados a se dedicar a coisa alguma.

A lei da motivação é a seguinte: o ensino será mais eficiente quando o aluno se encontrar adequadamente motivado. Vamos destacar aí a palavra adequadamente, pois indica que pode haver, sim, uma motivação inadequada, ilegítima, capaz de trazer conseqüências desastrosas. Um exemplo de motivação inadequada: "Menino, se você se comportar bem na igreja hoje, ganha um picolé." "Se vocês decorarem duzentos versículos, ganham uma estadia no acampamento."

À primeira vista, isso pode parecer muito bom, e de fato leva os alunos a fazerem o que desejamos. Mas é possível que as tarefas executadas não dêem os resultados objetivados.

Outra motivação inadequada é o uso da mentira, intencional ou não. Se eu

dissesse que descobri a fórmula do sucesso, e procurasse convencê-los de que se a pusessem em prática imediatamente sua vida seria revolucionada, é bem provável que o fizessem logo, mas só uma vez. E era bom que desse certo da primeira vez, pois, se não desse, nunca mais aceitariam nada que eu dissesse.

Então, vamos parar de ficar prometendo aquilo que o cristianismo não promete, que a Bíblia não promete. Não podemos dizer: "Se você receber a Cristo, todos os seus problemas serão solucionados." É assim que as pessoas se decepcionam com o evangelho. É verdade que Cristo de fato atende a todas as necessidades daqueles que se achegam a ele, mas não da maneira como dizemos, nem na hora que nós queremos, do modo como o expressamos.

Portanto, precisamos ser muito cautelosos com o que dizemos aos alunos com o intuito de motivá-los.

Ter Consciência das Próprias Deficiências

A motivação se dá em dois níveis. O primeiro é o externo, é a motivação extrínseca. O outro é mais importante, a motivação interior, a intrínseca.

Nosso objetivo de aplicar a motivação extrínseca é ativar a intrínseca. Seria bom se pudéssemos penetrar no interior do aluno para descobrir o que é que desperta o interesse dele, e em seguida utilizá-lo. Mas não podemos. Então temos que atuar

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exteriormente objetivando atingir seu interior. Estamos fortemente convencidos de que uma das razões por que não

conseguimos melhores resultados no trabalho de discipulado é que de início falamos aos novos convertidos das coisas que têm de fazer para Deus. Mas Deus mesmo só pede que façamos alguma coisa para ele depois que nos informa de tudo que já fez por nós. E afinal, quando compreendemos plenamente tudo que ele já realizou em nosso favor, nossa reação mais lógica, mais sensata, inteligente e natural é consagrar-lhe tudo que temos: nosso intelecto, emoções e vontade, submetendo-os ao senhorio dele. Nessa condição nos achamos realmente motivados, prontos para iniciar o processo de crescimento espiritual.

Muitos pais e professores pensam que sua meta primordial é formar bem a criança, tornando-a bem educada. Mas na verdade sua missão é formar um bom homem ou mulher, isto é, fazer do seu filho ou aluno, um adulto automotivado, interiormente capacitado para a vida. Encontramos muitas pessoas de mais de quarenta anos que ainda não passam de crianças bem educadas.

Como professores, como motivadores, precisamos levar os alunos a se tornarem automotivados, isto é, a fazerem o que têm de fazer não porque recebem ordem para isso, ou porque alguém os obriga, mas porque querem.

Um dos melhores modos de despertar isso no aluno é torná-lo ciente de suas dificuldades e lacunas. Suponhamos que eu me ofereça para dar aulas sobre falar em público para alguém, e ele responda:

— Bom, acho que não preciso. É que não tenho muita dificuldade nessa questão. — Ótimo, replico. Então gostaria que você desse um testemunho em nossa

reunião de oração para executivos na quinta-feira. Vão estar presentes uns trezentos ou quatrocentos homens, a maioria deles não é crente, e eu queria que você desse seu teste-munho, que falasse uns três minutos. Agora não dá mais para ele se esquivar.

— Ah, claro. Três minutos? — É. Isso significa três vezes sessenta segundos. — Lógico, claro; eu dou. Chega o dia. Aquele homem se levanta para falar, vê aquela gente toda e fica

petrificado. Segura as suas anotações com tanta força que até parece que elas vão voar. Começa contando uma piada, e acaba perdendo o fio da meada. Passa a narrar o testemunho principiando pelo fim. O resto é uma confusão só. Ele só olha para o auditório até à terceira fileira; não faz contato visual com o fundo do salão. Sua explanação é um fracasso. Por fim senta-se.

— Acho que passei um pouco do tempo, cochicha ele. — Só nove minutos, respondo. E a propósito, gostaria que eu lhe desse um curso

sobre como falar em público? — Podemos começar amanhã? Agora ele está consciente de suas deficiências. É

por isso que uma das principais preocupações que devemos ter no ensino é expor os alunos a situações práticas da vida.

A Boa Aprendizagem Uma forma de motivar os alunos é estruturar corretamente a experiência de

aprendizagem.

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A aprendizagem se dá em quatro etapas. A primeira é a da exposição, e geralmente todos nós fazemos isso muito bem. Sempre recomendo que o conteúdo dado nesse estágio seja anotado, ou gravado em fita. Os alunos não podem ter apenas uma forma de contato com o conteúdo. É preciso haver um modo de eles o repassarem diversas vezes. Só assim têm de fato condição de compreendê-lo bem. E, a propósito, em uma pesquisa, descobrimos que o aprendizado se solidifica melhor, nas mulheres, pela leitura, e nos homens, ouvindo-se fitas. A etapa seguinte é a da demonstração. Nela apresentamos exemplos práticos. Como? Demonstrando-o nós mesmos. Os alunos precisam ver-nos em campo, batalhando, aplicando essas verdades em nossa vida. Esse é um ponto em que muitas vezes falhamos.

As etapas três e quatro consistem de atividades prática, mas em condições diferentes. Na primeira, o aluno vai praticar numa situação controlada; depois terá de fazê-lo sem supervisão, em situações reais.

O Interesse Pessoal Você já assistiu à leitura de um testamento? O encarregado da leitura vai

resmungando todo aquele jargão jurídico, e todos os presentes chegam quase a cochilar — isto é, todos menos o beneficiário do testamento.

Aplicação: quando o aluno consegue enxergar-se dentro daquilo que ensinamos, quando ele sente que é beneficiário do testamento bíblico, que tudo diz respeito a ele, seu nível de motivação será bem mais elevado.

Estamos convencidos de que qualquer pessoa, sem exceção, pode sentir-se motivada para aprender. Mas não todas ao mesmo tempo, nem da mesma forma, nem com o mesmo professor.

O momento certo é de importância crucial. Ensinar, na verdade, é montar em sala de aula uma bomba-relógio, que deverá explodir algum tempo depois, em outro local. É por isso que temos de viver pela fé, e precisamos de muita paciência, se quisermos ser um bom professor.

Precisamos compreender também que nem todo mundo irá aprender conosco. Aliás é esse o sentido do corpo de Cristo. Você que lê pode falar ao coração de uma pessoa a quem outra não conseguiria falar por mais que se esforçasse.

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BBiibblliiooggrraaffiiaa • PRINCE, J.M. – A Pedagogia de Jesus; O Mestre por excelência – 9ª ed. Rio de Janeiro, JUERP,1995. • HENDRICKS, Howard – Ensinando para transformar vidas – Minas Gerais, Betânia, 1991. • PHILLIPS, Keith – A formação de um discípulo – 13ª ed. São Paulo, Vida,2001.

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AVALIAÇÃO DO MÓDULO PEDAGOGIA 1. O que significa “ensino” segundo o conceito etimológico e moderno na forma

tradicional de ensino? 2. O que é maturação? 3. Como funciona o processo Ensino-aprendizagem? Ele se desenvolve somente

quando estamos numa escola? O que é necessário para haver uma boa aprendizagem?

4. Levando em conta que somos sensoriais, ou seja, aprendemos com todos os nossos sentidos, fale sobre o papel e o valor dos sentidos na aprendizagem:

5. O que podemos aprender sobre a maneira de Jesus ensinar? Como Ele dava suas lições?

6. Qual foi o método mais usado por Jesus em seus ensinos? 7. O que significa o termo “parábola” literalmente falando? Para que serve a

ilustração de uma parábola? 8. O que é necessário se fazer para se Ter uma boa comunicação, já que este

processo é difícil de ser alcançado? OBS: Não se esqueça de colocar nome em sua avaliação

a) O aluno deverá enviar a avaliação para o e-mail: [email protected]@[email protected]@esutes.com.br b) O tempo para envio da avaliação corrigida para o aluno é de até 15 dias após o recebimento da avaliação

Enquanto a prova é corrigida o aluno já pode solicitar NOVO MÓDULONOVO MÓDULONOVO MÓDULONOVO MÓDULO c) Alunos que recebem o MÓDULO IMPRESSOMÓDULO IMPRESSOMÓDULO IMPRESSOMÓDULO IMPRESSO podem enviar sua avaliação também para e-mail:

[email protected]@[email protected]@esutes.com.br Caso opte por mandar sua avaliação pelo correio envie para o endereço abaixo:

Rua Bariri, 716 – Glória - Vila Velha ES - CEP: 29.122-230 ESCOLA SUPERIOR DE TEOLOGIA DO ESESCOLA SUPERIOR DE TEOLOGIA DO ESESCOLA SUPERIOR DE TEOLOGIA DO ESESCOLA SUPERIOR DE TEOLOGIA DO ES

Após a correção da prova recebida por correio, enviaremos sua NOTANOTANOTANOTA por EEEE----MAILMAILMAILMAIL e a avaliação corrigida seguirá com o próximo módulo solicitado

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DICAS DE ESTUDO ON-LINE

1- Procure utilizar em seu computador um protetor de tela para minimizar a claridade do monitor. Temos que cuidar de nossa visão

2- Se for estudar a noite, duas dicas:

a) Não deixe para estudar muito tarde, pois o sono pode atrapalhá-lo em sua concentração;

b) Não deixe a luz do ambiente em que estiver, apagada, pois a claridade da tela do computador torna-se ainda maior, provocando dor de cabeça e irritabilidade.

3- Pense na possibilidade de imprimir sua apostila, pois pode ser que isso dê a opção, por exemplo, de carregá-la para onde quiser e de grifar com caneta, partes que ache importante.