apostila texto e gramática

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Apostila Texto e Gramtica 4. Contedo Programtico 4.1 Conceitos tericos bsicos VARIAES LINGUSTICAS 4.1.1 O modo de falar do brasileiro Alfredina Nery* Especial para a Pgina 3 Pedagogia & Comunicao Toda lngua possui variaes lingusticas. Elas podem ser entendidas por meio de sua histria no tempo (variao histrica) e no espao (variao regional). As variaes lingusticas podem ser compreendidas a partir de trs diferentes fenmenos: 1) Em sociedades complexas convivem variedades lingusticas diferentes, usadas por diferentes grupos sociais, com diferentes acessos educao formal; note que as diferenas tendem a ser maiores na lngua falada que na lngua escrita; 2) Pessoas de mesmo grupo social expressam-se com falas diferentes de acordo com as diferentes situaes de uso, sejam situaes formais, informais ou de outro tipo; 3) H falares especficos para grupos especficos, como profissionais de uma mesma rea (mdicos, policiais, profissionais de informtica, metalrgicos, alfaiates, por exemplo), jovens, grupos marginalizados e outros. So as grias e jarges. Assim, alm do portugus padro, h outras variedades de usos da lngua cujos traos mais comuns podem ser evidenciados abaixo. Uso de r pelo l em final de slaba e nos grupos consonantais: pranta/planta; broco/bloco. Alternncia de lh e i: mui/mulher; vio/velho. Tendncia a tornar paroxtonas as palavras proparoxtonas: arve/rvore; figo/fgado. Reduo dos ditongos: caxa/caixa; pexe/peixe. Simplificao da concordncia: as menina/as meninas. Ausncia de concordncia verbal quando o sujeito vem depois do verbo: Chegou duas moas. Uso do pronome pessoal tnico em funo de objeto (e no s de sujeito): Ns pegamos ele na hora. Assimilao do ndo em no( falano/falando) ou do mb em m (tamm/tambm). Desnasalizao das vogais postnicas: home/homem. Reduo do e ou o tonos: ovu/ovo; bebi/bebe. Reduo do r do infinitivo ou de substantivos em or: am/amar; am/amor. Simplificao da conjugao verbal: eu amo, voc ama, ns ama, eles ama. Variaes regionais: os sotaques Se voc fizer um levantamento dos nomes que as pessoas usam para a palavra "diabo", talvez se surpreenda. Muita gente no gosta de falar tal palavra, pois acreditam que h o perigo de evoc-lo, isto , de que o demnio aparea. Alguns desses nomes aparecem em o "Grande Serto: Veredas", Guimares Rosa, que traz uma linguagem muito caracterstica do serto centro-oeste do Brasil: Demo, Demnio, Que-Diga, Capiroto, Satanazim, Diabo, Cujo, Tinhoso, Maligno, Tal, Arrenegado, Co, Cramunho, O Indivduo, O Galhardo, O p-de-pato, O Sujo, O Homem, O Tisnado, O Coxo, O Temba, O Azarape, O Coisa-ruim, O Mafarro, O P-preto, O Canho, O Duba-dub, O Rapaz, O Tristonho, O No-sei-que-diga, O Que-nunca-se-ri, O sem gracejos, Pai do Mal, Terdeiro, Quem que no existe, O Solto-Ele, O Ele, Carfano, Rabudo. Drummond de Andrade, grande escritor brasileiro, que elabora seu texto a partir de uma variao lingustica relacionada ao vocabulrio usado em uma determinada poca no Brasil. Antigamente "Antigamente, as moas chamavam-se mademoiselles e eram todas mimosas e muito

prendadas. No faziam anos: completavam primaveras, em geral dezoito. Os janotas, mesmo sendo rapages, faziam-lhes p-de-alferes, arrastando a asa, mas ficavam longos meses debaixo do balaio." Como escreveramos o texto acima em um portugus de hoje, do sculo 21? Toda lngua muda com o tempo. Basta lembrarmos que do latim, j transformado, veio o portugus, que, por sua vez, hoje muito diferente daquele que era usado na poca medieval. Lngua e status Nem todas as variaes lingusticas tm o mesmo prestgio social no Brasil. Basta lembrar de algumas variaes usadas por pessoas de determinadas classes sociais ou regies, para percebers que h preconceito em relao a elas. Veja este texto de Patativa do Assar, um grande poeta popular nordestino, que fala do assunto: O Poeta da Roa Sou fio das mata, canto da mo grossa, Trabio na roa, de inverno e de estio. A minha chupana tapada de barro, S fumo cigarro de paia de mo. Sou poeta das brenha, no fao o pap De argun menestr, ou errante cant Que veve vagando, com sua viola, Cantando, pachola, percura de am. No tenho sabena, pois nunca estudei, Apenas eu sei o meu nome assin. Meu pai, coitadinho! Vivia sem cobre, E o fio do pobre no pode estud. Meu verso rastero, singelo e sem graa, No entra na praa, no rico salo, Meu verso s entra no campo e na roa Nas pobre paioa, da serra ao serto. (...) Voc acredita que a forma de falar e de escrever comprometeu a emoo transmitida por essa poesia? Patativa do Assar era analfabeto (sua filha quem escrevia o que ele ditava), mas sua obra atravessou o oceano e se tornou conhecida mesmo na Europa. Leia agora, um poema de um intelectual e poeta brasileiro, Oswald de Andrade, que, j em 1922, enfatizou a busca por uma "lngua brasileira". Vcio na fala Para dizerem milho dizem mio Para melhor dizem mi Para pior pi Para telha dizem teia Para telhado dizem teiado E vo fazendo telhados. Uma certa tradio cultural nega a existncia de determinadas variedades lingusticas dentro do pas, o que acaba por rejeitar algumas manifestaes lingusticas por consider-las deficincias do usurio. Nesse sentido, vrios mitos so construdos, a partir do preconceito lingustico. *Alfredina Nery Professora universitria, consultora pedaggica e docente de cursos de formao continuada para professores na rea de lngua/linguagem/leitura. Fonte: http://educacao.uol.com.br/portugues/ult1693u60.jhtm Variaes Lingusticas A linguagem a caracterstica que nos difere dos demais seres, permitindo-nos a oportunidade de expressar sentimentos, revelar conhecimentos, expor nossa opinio frente

aos assuntos relacionados ao nosso cotidiano, e, sobretudo, promovendo nossa insero ao convvio social. E dentre os fatores que a ela se relacionam destacam-se os nveis da fala, que so basicamente dois: O nvel de formalidade e o de informalidade. O padro formal est diretamente ligado linguagem escrita, restringindo-se s normas gramaticais de um modo geral. Razo pela qual nunca escrevemos da mesma maneira que falamos. Este fator foi determinante para a que a mesma pudesse exercer total soberania sobre as demais. Quanto ao nvel informal, este por sua vez representa o estilo considerado de menor prestgio, e isto tem gerado controvrsias entre os estudos da lngua, uma vez que para a sociedade, aquela pessoa que fala ou escreve de maneira errnea considerada inculta, tornando-se desta forma um estigma. Compondo o quadro do padro informal da linguagem, esto as chamadas variedades lingusticas, as quais representam as variaes de acordo com as condies sociais, culturais, regionais e histricas em que utilizada. Dentre elas destacam-se: Variaes histricas: Dado o dinamismo que a lngua apresenta, a mesma sofre transformaes ao longo do tempo. Um exemplo bastante representativo a questo da ortografia, se levarmos em considerao a palavra farmcia, uma vez que a mesma era grafada com ph, contrapondose linguagem dos internautas, a qual fundamenta-se pela supresso do vocbulo. Analisemos, pois, o fragmento exposto: Antigamente Antigamente, as moas chamavam-se mademoiselles e eram todas mimosas e muito prendadas. No faziam anos: completavam primaveras, em geral dezoito. Os janotas, mesmo sendo rapages, faziam-lhes p-de-alferes, arrastando a asa, mas ficavam longos meses debaixo do balaio." Carlos Drummond de Andrade Comparando-o modernidade, percebemos um vocabulrio antiquado. Variaes regionais: So os chamados dialetos, que so as marcas determinantes referentes a diferentes regies. Como exemplo, citamos a palavra mandioca que, em certos lugares, recebe outras nomenclaturas, tais como: macaxeira e aipim. Figurando tambm esta modalidade esto os sotaques, ligados s caractersticas orais da linguagem. Variaes sociais ou culturais: Esto diretamente ligadas aos grupos sociais de uma maneira geral e tambm ao grau de instruo de uma determinada pessoa. Como exemplo, citamos as grias, os jarges e o linguajar caipira. As grias pertencem ao vocabulrio especfico de certos grupos, como os surfistas, cantores de happy, tatuadores, entre outros. Os jarges esto relacionados ao profissionalismo, caracterizando um linguajar tcnico. Representando a classe, podemos citar os mdicos, advogados, profissionais da rea de informtica, dentre outros. Vejamos um poema e o trecho de uma msica para entendermos melhor sobre o assunto: Vcio na fala Para dizerem milho dizem mio Para melhor dizem mi Para pior pi

Para telha dizem teia Para telhado dizem teiado E vo fazendo telhados. Oswald de Andrade CHOPIS CENTIS Eu di um beijo nela E chamei pra passear. A gente fomos no shopping Pra mode a gente lanchar. Comi uns bicho estranho, com um tal de gergelim. At que tava gostoso, mas eu prefiro aipim. Quanta gente, Quanta alegria, A minha felicidade um credirio nas Casas Bahia. Esse tal Chopis Centis muito legalzinho. Pra levar a namorada e dar uns rolezinho, Quando eu estou no trabalho, No vejo a hora de descer dos andaime. Pra pegar um cinema, ver Schwarzneger E tambm o Van Damme. (Dinho e Jlio Rasec, encarte CD Mamonas Assassinas, 1995.) Por Vnia Duarte Graduada em Letras Equipe Brasil Escola Fonte: http://www.brasilescola.com/gramatica/variacoes-linguisticas.htm

VARIANTES LINGUSTICAS Variantes Uma lngua nunca falada de maneira uniforme pelos seus usurios: ela est sujeita a muitas variaes. O modo de falar uma lngua varia: - de poca para poca: o portugus de nossos antepassados diferente do que falamos hoje; - de regio para regio: o carioca, o baiano, o paulista e o gacho falam de maneiras nitidamente distintas;

- de grupo social para grupo social: pessoas que moram em bairros chamados nobres falam diferente dos que moram na periferia. Costuma-se distinguir o portugus das pessoas mais prestigiadas socialmente (impropriamente chamada de fala culta ou norma culta) e o das pessoas de grupos sociais menos prestigiados (a fala popular ou norma popular); - de situao para situao: cada uma das variantes pode ser falada com mais cuidado e vigilncia (a fala formal) e de modo mais espontneo e menos controlado (a fala informal). Um professor universitrio ou um juiz falam de um modo na faculdade ou no tribunal e de outro numa reunio de amigos, em casa e em outras situaes informais. Alm dessas, h outras variaes, como, por exemplo, o modo de falar de grupos profissionais, a gria prpria de faixas etrias diferentes, a lngua escrita e oral. Diante de tantas variantes lingsticas, inevitvel perguntar qual delas a correta. Resposta: no existe a mais correta em termos absolutos, mas sim, a mais adequada a cada contexto. Dessa maneira, fala bem aquele que se mostra capaz de escolher a variante adequada a cada situao e consegue o mximo de eficincia dentro da variante escolhida. Usar o portugus rgido, prprio da lngua escrita formal, numa situao descontrada da comunicao oral falar de modo inadequado. Soa como pretensioso, pedante, artificial. Por outro lado, inadequado em situao formal usar grias, termos chulos, desrespeitosos, fugir afinal das normas tpicas dessa situao. Quando se fala das variantes, preciso no perder de vista que a lngua um cdigo de comunicao e tambm um fato com repercusses sociais. H muitas formas de dizer que no perturbam em nada a comunicao, mas afetam a imagem social do falante. Uma frase como o povo exageram tem o mesmo sentido que o povo exagera. Como se sabe, o coletivo, sob o ponto de vista do contedo, sempre plural. Nada impede que, mesmo na forma singular, mande o verbo para o plural. Houve mesmo poca em que o chique era a concordncia com o contedo. Hoje, a concordncia com a forma. Nesse particular, h uma aproximao mxima entre lngua e etiqueta social. No portugus atual, uma frase como o povo exageram, embora no contenha nenhum absurdo, deprecia a imagem do falante. Os vestibulares inovadores exploram as variantes lingsticas de uma maneira bem mais apropriada, reconhecendo a sua utilidade para criar variados efeitos de sentido: caracterizar personagens no interior de um texto narrativo; estabelecer relaes de intimidade entre os falantes; ridicularizar pessoas que as utilizam inadequadamente, etc. Os vestibulares tradicionais, quando tratam das variantes, quase s se preocupam com o que chamam de correo gramatical, postulando como falar correto apenas aquele que corresponde s normas da linguagem culta e formal. Para resolver essas chamadas questes de correo de frases, aconselhvel adotar os seguintes cuidados: - checar problemas ligados acentuao, crase e grafia de palavras problemticas (especialmente aquelas que tm grafias semelhantes); - observar o verbo em trs nveis: - a conjugao; - a concordncia; - a regncia; - observar os pronomes em dois nveis: - a colocao; - o uso da forma adequada sua funo sinttica;

- observar se as palavras esto empregadas na sua forma e no seu sentido correto. A questo que segue um bom exemplo de proposta de correo lingstica no estilo tradicional. (U. F. PERNAMBUCO) Observe os inconvenientes lingusticos e reescreva a frase de forma que atenda norma-padro: Convidamos aos professores para que d incio as discurses dos assuntos em palta. R.: Convidamos os professores para que dem incio s discusses dos assuntos em pauta. Os vestibulares modernos exploram as variantes de maneira diferente, solicitando, por exemplo, comentrios sobre o uso de certas variantes e propondo comparaes entre elas, como na questo que segue. (U. F. VIOSA) Suponha um aluno se dirigindo a um colega de classe nestes termos: Venho respeitosamente solicitar-lhe se digne emprestar-me o livro. A atitude desse aluno se assemelha atitude do indivduo que: a) comparece ao baile de gala trajando smoking. b) vai audincia com uma autoridade de short e camiseta. c) vai praia de terno e gravata. d) pe terno e gravata para ir falar na Cmara dos Deputados. e) vai ao Maracan de chinelo e bermuda. Por: Curso Anglo Fonte: http://www.mundovestibular.com.br/articles/413/1/VARIANTESLINGUISTICAS/Paacutegina1.html

4.1.2 Correo e adequao lingusticaA lngua , de fato, um instrumento de poder. Outro dia assisti a duas palestras sobre design. Na primeira, um renomado cengrafo, um verdadeiro artista da tcnica de criar cenrios famosos. Digo artista porque se cobriu de uma aura artstica, j ultrapassada desde o Modernismo. Na segunda, um scio de uma empresa de Web Design, um artista da tcnica de criar arte para a web. Digo arte, porque ele no se denominou como tal. O que me marcou nas palestras foram as marcas pessoais no contraste lingstico dos palestrantes. O primeiro, de mais idade, pele alva, tintura alourada no cabelo, formado em Praga entre as dcadas de 50 e 60, vivenciou crises histricas. Sua formao incluiu os grandes artistas da histria, o seu portugus foi aprendido nas melhores escolas. Enquanto os slides eram exibidos, o silncio denotava o respeito ao seu trabalho e sua qualificao. Pairava no ar seriedade e admirao. Na hora das perguntas (suposta interao com os participantes), seu portugus demarcou o tom. Retrico, suas respostas evasivas eram tomadas com admirao. Certamente, seu portugus impecvel contribuiu para que se tornasse um renomado cengrafo que j trabalhou com msicos importantssimos, com bals de Mozart, com peas de Chekov e Beckett. Seu espao foi delimitado pelo seu discurso. As perguntas eram feitas com esmero entre gaguejos e cuidados, porque os perguntadores estavam inibidos. No final da palestra, fiquei extasiado com o cengrafo; afinal, ele era uma pessoa importante, elegante, seus trabalhos eram famosos. Embora tenha fugido da

proposta do ciclo de palestras (apresentar os recursos, materiais e modos de se construir design) e ter feito apenas sua autopromoo, foi aplaudido de p. O segundo, muito mais jovem, brasileiro que mais parecia inca, pele bem morena, cabelo liso e bem preto, ganhou prmios de design para a web. Seu portugus era pssimo e provocou risos escusos. Em meio a sua apresentao carregada de tu vai, tu fica, baita criente, criente potencial, foi deixando o seu recado. A falta de silncio denotava o pouco caso sua qualificao. No estudou na Europa e sua formao na ESPM no mereceu muita dedicao lngua portuguesa. J trabalhava com design antes de entrar para o mercado da internet. No final, quando as perguntas comearam, houve uma avalanche. Todas as dvidas foram dirimidas com preciso, todas as curiosidades foram satisfeitas sem rodeios. Fiquei extasiado com o web designer, mas por motivo diverso do do cengrafo: por sua capacidade de clareza e transmisso do contedo de forma eficiente. No foi aplaudido de p. No fossem as premiaes, jamais teria sido chamado a palestrar. Essa histria que trago aqui meramente ilustrativa. Serve apenas para destacar uma questo bsica: o preconceito lingstico. Mas no pretendo aqui defender um ou outro, uma vez que, em minha opinio, ambos se apresentaram inadequadamente. Mais de 15 anos de escolaridade, para um, serviu para demarcar o lugar de uma soberba, empolada e arrogante, que mantm os participantes distantes para que o centro das atenes seja ocupado somente por ele (um verdadeiro aprendizado do poder pela linguagem). Mais de 15 anos de escolaridade, para o outro, no serviram sequer para o aprimoramento do seu repertrio verbal. Enquanto a platia ria do segundo para sair de sua mediocridade e se aproximar do status do primeiro (pensavam que, assim, seriam classificados como este). Mais de 15 anos de escolaridade, para a platia, no serviram nem como contribuio para uma leitura crtica dos discursos subjacentes, ora mobilizados no ato das apresentaes. Fonte: http://simplificandoalingua.blogs.sapo.pt/arquivo/1054713.html

4.1.3 Norma padro e norma culta (outros registros)Da Gramtica, da Norma Culta ou Padro

A fala e a escrita, como formas de linguagem, esto sujeitas ao erro. Sendo erro a falha da linguagem, quando essa no cumpre sua funo, funo de comunicar o que se quer comunicar. Porm, em ambas, nesse ponto, um erro gramatical no consistiria erro e isso seria ilgico. Se a gramtica no existe para exibir a forma correta de se escrever ou falar, para que existe? No mbito da linguagem, a gramtica equiparada ao cdigo. Usando a lngua portuguesa como exemplo, qual possui ramos em diversas localidades no mundo e mesmo em diversas localidades no Brasil. Cada ramo desses possui sua prpria gramtica, ainda que no oficiais, porm, apesar dessas outras gramticas, h uma em que todos esses ramos se baseiam a que todos se referem formalmente como Norma Culta ou Padro. Todos no Brasil ou fora estudam ou deveriam estudar essa Norma em sua forma mais unificada possvel e,

por todos o fazerem, essa Norma tem um valor de unificar a lngua, para que qualquer texto destinado a essa universalidade de portugueses, de gramticas, recebam a mensagem. Tudo se resume mensagem e ao destinatrio. E para isso se deve usar o cdigo mais apropriado. O cdigo qual o destinatrio tenha maior facilidade de compreenso. Mas quando o destinatrio for um pblico diverso demais, deve-se procurar usar a forma gramatical mais correta da Norma Culta para que a mensagem seja recebida por todos sem qualquer falha na comunicao. Outro ponto sobre a importncia da Norma Culta ou Padro o status que ela garante ao remetente. Us-la corretamente indica certo grau de estudo dele e, para o bem da mensagem, a sua imagem muito importante. Portanto aconselhvel seguir a Norma, porm, tendo sempre em mente o bem da mensagem e a compreenso mais correta dela pelo destinatrio, o remetente pode alter-la ou modific-la. esse poder nessas condies que se configura a liberdade potica. Fonte: http://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/980084

Existe diferena, entre Norma Culta e Padro Coloquial? 3 de maio de 2011 Norma culta uma modalidade lingustica escolhida pelos falantes escolarizados de uma sociedade como modelo de comunicao verbal. a lngua das pessoas elitizadas. Ela comporta dois padres: o formal e o coloquial: Padro formal o modelo culto utilizado na escrita, que segue rigidamente as regras gramaticais. Essa linguagem mais elaborada, tanto porque o falante tem mais tempo para se pronunciar de forma refletida como porque a escrita supervalorizada na nossa cultura. a histria do vale o que est escrito. Padro coloquial a verso oral da lngua culta e, por ser mais livre e espontnea, tem um pouco mais de liberdade e est menos presa rigidez das regras gramaticais. Entretanto, a margem de afastamento dessas regras estreita e, embora exista, a permissividade com relao s transgresses pequena. Assim, na linguagem coloquial, admitem-se, sem grandes traumas, construes como Ainda no vi ele, Me passe o arroz e No te falei que voc iria conseguir?, inadmissveis na lngua escrita. O falante culto, de modo geral, tem conscincia dessa distino e ao mesmo tempo em que usa naturalmente as construes acima na comunicao oral, evita-as na escrita. Contudo, como se disse, no so muitos os desvios admitidos, e muitas formas peculiares da norma popular so condenadas mesmo na linguagem oral. Construes como Nis foi na fazenda (o na ainda seria tolerado) e Ele pagou dois milho pelos boi so impensveis na boca de um falante culto em ambiente culto, pois passam a quem ouve a impresso de total falta de escolaridade de parte de seu autor. J em ambiente inculto seriam apropriadas: a histria de Em Roma, como (fazem) os romanos. Por outro lado, usos prprios do padro formal empregados na lngua oral costumam parecer forados ou artificiais no falar despreocupado do dia-a-dia e configuram o que se chama de preciosismo. o caso de, num bate-papo, ouvir-se certos empregos do pronome oblquo Ainda no o vimos por aqui -, flexes do mais-que-perfeito do indicativo Eu ainda no entrara no Banco quando aquilo aconteceu e, o que pior, o uso da mesclise*, como em Voc verse-ia em maus lenis se continuasse a insistir naquilo. Moral da histria: assim como se usa traje apropriado para cada situao social, tambm se use o padro lingustico adequado para as diferentes situaes de comunicao social. *Mesclise: a colocao do pronome quando o verbo se encontra no futuro simples do presente ou no futuro simples do pretrito do indicativo, desde que no haja palavras que exeram atrao sobre ele, ou seja, a prclise. Mas isso assunto para outro texto. Fonte: coloquial/ http://www.agitapirenopolis.com.br/existe-diferenca-entre-norma-culta-e-padrao-

4.1.4 Confrontao entre normas e usosMUARELA OU MUSSARELA? ___________________________________________ Vcios de Linguagem

Recentemente, em um concurso pblico, uma das questes de lngua portuguesa pedia aos candidatos que assinalassem a frase correta, cujo termo em questo era: mussarela ou muarela. No gabarito do concurso, constava que a frase correta era: O atacante Ronaldo, [...] incapaz de resistir a uma pizza de muarela. Muarela com []? Tal fato causou indignao em muitos candidatos e criou grande polmica gramatical na cidade. No foram poucos os candidatos que entraram com recurso na prefeitura para reclamar dessa questo da prova. Veja voc, como no demais insistir nos textos e lies sobre as dvidas de nossa Lngua, mesmo que nos paream corriqueiros e batidos. Naquele concurso, bom nmero de candidatos errou a questo por seguirem o uso popular de uma palavra, e isso, em um concurso, ou vestibular, no se admite. O que vale a norma culta, os cnones gramaticais. Esse confronto entre o uso popular e a norma culta, atinge at mestres graduados, como o caso do professor de lngua portuguesa da USP, Ataliba Castilho, Autor do livro "Gramtica do Portugus Culto Falado no Brasil, que estranhou a grafia da palavra com "". Dizia-se surpreso, achava que fosse com [ss], pois sempre escreveu e leu desse jeito. Mas, vamos aos fatos: Em nosso idioma, o Vocabulrio Ortogrfico da Lngua Portuguesa (VOLP) - uma espcie de dicionrio que lista as palavras reconhecidas oficialmente como pertencentes lngua portuguesa a autoridade oficial para nos dizer como tal palavra dever ser escrita e falada. O VOLP editado periodicamente pela Academia Brasileira de Letras (ABL). Se voc consultar o VOLP, vai encontrar como formas corretas: mozarela, muarela e muzarela. Sendo muarela o termo abrasileirado. Portanto, as formas: moarela, morzarela, mossarela, mozzarela, murzarela, mussarela, muzzarela, no pertencem, oficialmente, ao nosso idioma. Essa a determinao, e ponto final. Qualquer discusso sobre essa questo deve ser feita em outro plano. Porm, se voc quiser grafar o termo fora dessas orientaes, nada o impede, mas diante da norma gramatical, voc estar cometendo um erro. E por que o uso popular tradicionalizou o termo mussarela? Acredita-se que seja por estar mais prximo do termo de origem mozzarella. A comear pelos estabelecimentos comerciais que trabalham com a pizza. Voc, provavelmente estranharia se lesse nos cardpios pizza muarela, ou mozarela, ou ainda muzarela. Mussarela, com certeza, continuar prevalecendo nos cardpios e no uso popular, mas no esquea que em um concurso ou vestibular quem prevalece a muarela com [].Srgio. ____________________ Para copiar este texto: selecione-o e tecle Ctrl + C. Agradeo a leitura e, antecipadamente, qualquer comentrio. Se voc encontrar erros (inclusive de portugus), relate-me. Ricardo Srgio Fonte: http://www.recantodasletras.com.br/gramatica/1812926

Entrega em domiclio ou a domiclio? As expresses entrega em domiclio e entrega a domiclio so muito recorrentes em restaurantes, na propaganda televisa, no outdoor, no folder, no panfleto, no catlogo, na fala. H, neste caso, uma confrontao entre a norma culta e o uso popular. Ouve-se e lse, com muita frequncia, a locuo entrega a domiclio em substituio a entrega em domiclio, conforme recomenda a gramtica. Uso verificado at mesmo em pessoas de escolaridade completa. Convivem juntas sem problemas maiores porque so entendidas da mesma forma, com um mesmo sentido. No entanto, quando falamos de gramtica normativa, temos que ter cuidado, pois a domiclio no aceita. Por qu? A regra estabelece que esta ltima locuo adverbial deva ser usada nos casos de verbos que indicam movimento, como: levar, enviar, trazer, ir, conduzir, dirigir-se. Portanto, A loja entregou meu sof a casa no est correto. J a locuo adverbial em domiclio usada com os verbos sem noo de movimento: entregar, dar, cortar, fazer. A dvida surge com o verbo entregar: no indicaria movimento? De acordo com a gramtica purista no, uma vez que quem entrega, entrega algo em algum lugar. Porm, h aqueles que afirmam que este verbo indica sim movimento, pois quem entrega se desloca de um lugar para outro. Contudo, obedecendo s normas gramaticais, devemos usar entrega em domiclio, nos atentando ao fato de que a finalidade que vale: a entrega ser feita no (em+o) domiclio de uma pessoa. Veja alguns exemplos com a domiclio (= a casa) a)No precisamos nos preocupar, eles trazem a pizza a domiclio. b)Esta entrega dever ser conduzida a domiclio. c) Dirigiu-se a domiclio para cumprir sua obrigao. Agora observe exemplos com em domiclio a)Escova-se unhas em domiclio. b)Entregas so feitas em domiclio. c)Corta-se cabelo em domiclio. d) Do-se aulas de violo em domiclio. Fontes: Mundo Educao Recanto das Letras

Leia mais: http://www.sandralamego.com/dicas/entrega-em-domicilio-ou-adomicilio/#ixzz1TyGHOTJm

4.1.5 Modalidade oral e escritaLNGUA ESCRITA E ORAL No se fala como se escreve Alfredina Nery* Especial para a Pgina 3 Pedagogia e Comunicao "Portugus fcil de aprender porque uma lngua que se escreve exatamente como se fala." Pois . U purtuguis muinto fciu di aprender, purqui uma lngua qui a genti iscrevi ixatamenti cumu si fala. Num cumu inglis qui d at vontadi di ri quandu a genti discobri cumu qui si iscrevi algumas palavras. Im purtuguis no. s prestteno. U alemo pur exemplu. Qu coisa mais doida? Num bate nada cum nada. At nu espanhol qui parecidu, si iscrevi muinto diferenti. Qui bom qui a minha lngua u purtuguis. Quem soub fal sabi iscrev. O comentrio do humorista J Soares, para a revista Veja. Ele brinca com a diferena entre o portugus falado e escrito. Na verdade, em todas as lnguas, as pessoas falam de um jeito e escrevem de outro. A fala e a escrita so duas modalidades diferentes da lngua e com esse fato que o J brincou. Na lngua escrita h mais exigncias, em relao s regras da gramtica normativa. Isso acontece porque, ao falar, as pessoas podem ainda recorrer a outros recursos para que a comunicao ocorra - pode-se pedir que se repita o que foi dito, h os gestos, etc. J na linguagem escrita, a interao mais complicada, o que torna necessrio assegurar que o texto escrito d conta da comunicao. A escrita no reflete a fala individual de ningum e de nenhum grupo social. Por essa razo, a fala e a escrita exigem conhecimentos diferentes. A maioria de ns, brasileiros, falamos, por exemplo, "Eli me ensin". O portugus na variante padro exige, no entanto, que se escreva assim: "Ele me ensinou". Essas diferenas geram muitos conflitos. A leitura de um trecho do poema de Antonino Sales, "Malinculia", mostra as interferncias da fala na escrita e como elas no anulam a expressividade potica de suas imagens. Malinculia, Patro, um suspiro maguado Qui nace no corao! o grito safucado Duma sodade iscundida Qui nos fala do passado Sem se torn cunhicida! aquilo qui se sente Sem se pud ispric! Qui fala dentro da gente Mas qui no diz onde ist! (...) (BAGNO, Marcos. "A Lngua de Eullia: Uma Novela Sociolingustica) A lngua muda, ainda, conforme o grupo social, a regio, e o contexto histrico. So as chamadas variaes lingusticas. A gria e o jargo so algumas dessas variaes. *Alfredina Nery Professora universitria, consultora pedaggica e docente de cursos de formao continuada para professores na rea de lngua/linguagem/leitura. Fonte: http://educacao.uol.com.br/portugues/ult1706u79.jhtm

As Modalidades Orais e Escritas YAMARA MAMED RESUMO As modalidades orais e escritas no so s um instrumento utilizado para a comunicao ou veiculao de informaes, mas principalmente como uma forma de mostrar socialmente aquilo que gostaramos que os outros enxergassem uns aos outros, e ao mesmo tempo como vemos o outro de acordo com a nossa perspectiva de mundo, aquela que introjetamos ao longo da vida, onde a relao pensamento e linguagem so muitas prximas, ou seja, esto entrelaadas ambas caminham juntas apesar de apresentarem diferenas na produo e representao, a fala e a escrita so antes de tudo, sistemas comunicativos que expressam a lngua nas praticas sociais.

INTRODUO Atualmente j se houve falar com frequncia que a linguagem escrita e a linguagem oral so duas modalidades de expresso verbal. Refletir sobre as relaes e especificidades da fala e da escrita nos permite entender um pouco tambm sobre a gramtica. A fala procede escrita, no entanto, numa sociedade letrada, as duas modalidades convivem e se entrelaam, h tambm sociedades que no utilizam registro escrito, mas a fala comum a todos os povos. A fala a modalidade mais utilizada em situaes cotidianas e informais e a escrita o registro permanente das idias sociais. A fala e a escrita se apiam em sons e letras articulados em sistemas de representao simblica, isto o homem construiu ferramenta para estabelecer relaes sociais, principalmente as comunicativas e as transformou em prticas sociais. Essas prticas fazem parte da cultura, do modo de pensar, sentir, agir, julgar, ver e lgico falar e escrever. De acordo com alguns autores renomados como Fvero, Akinnaso, Chafe, Rojo e Halliday, as modalidades escritas e orais, vo de um nvel mais informal aos mais formais, passando por graus intermedirios demonstradas com a produo de textos, onde tais condies esto em estreita relao com o contexto, com as condies de interao, com os interlocutores e com o tipo de processamento da informao. Akinnaso (1982) afirma que fala e escrita apresentam formas superficiais diferentes e igual estrutura semntica subjacentes: utilizam o mesmo sistema lxico-semntico e variam, em particular, na escolha e distribuio de padres sintticos e de vocabulrio, de acordo com a produo do texto, admitindo que os textos possam apresentar-se de varias formas, ou seja, ora se aproxima da fala como, por exemplo: os bilhetes domsticos, os bilhetes dos casais, cartas familiares e textos de humor, ora se aproximando do plo da escrita, por exemplo: os discursos de posse de cargo, as conferncias, as entrevistas especializadas e propostas de produtos de alta tecnologia por vendedores especialmente treinados. Conforme observa-se a oralidade e a escrita constituem duas possibilidades de uso da lngua que utilizam o mesmo sistema lingstico e que apesar de possurem caractersticas prprias, no devem ser vistas de forma dicotmica, ou seja, escrita tem sido vista como de estrutura complexa, formal e abstrata, enquanto a fala, de estrutura simples ou desestruturada, informal, concreta e dependente do contexto. Esta viso dicotmica entre oralidade e escrita, em que a primeira ocupava um lugar de supremacia sobre a segunda, permaneceu por muito tempo no meio lingstico, sendo mudada a partir dos anos 80, quando os estudiosos comearam a v-las como prticas sociais diferentes. A este respeito, Marcuschi (2000:17) ressalta que: Hoje predomina a posio de que se pode conceber oralidade e letramento como atividades interativas e complementares no contexto das prticas sociais e culturais. Uma vez adotada a posio de que lidamos com prticas de letramento e oralidade, ser fundamental considerar que as lnguas se fundam em usos e no o contrrio. Chafe melhor estabeleceu as diferenas entre a linguagem oral e a linguagem escrita, apresentando uma proposta de analise, sendo capaz de estabelecer uma comparao. Ainda afirma Chafe que as pessoas no escrevem do mesmo modo que falam, corroborando a teoria de Goody e Watt (1968) acerca da diferena entre a oralidade e a escrita, contradizendo Bloomfield, em cuja concepo a linguagem escrita no passa de uma reproduo da linguagem oral, procurando identificar as diferenas para explicar as causas fundamentais de tais diferenas. Alguns fatores so responsveis pelas diferenas entre linguagem oral e linguagem escrita: o contexto, a inteno do falante ou do escritor e o tpico do que se diz ou escreve. Focalizando o modo de os falantes e escritores selecionarem as palavras ou estruturas para expressarem suas idias, observou que a escolha dos falantes rpida, enquanto a dos escritores lenta, por terem mais tempo para reproduzi-la e revis-la. Com isso, a linguagem escrita tende a ter um vocabulrio mais variado e de convenincia do usurio. A escolha lexical tambm proporciona ao usurio a exibio de um estilo prprio e o controle do grau de formalismo e coloquialismo de suas produes discursivas. Do vocabulrio, um conferencista seleciona palavras e expresses que possam conferir ao seu texto um carter mais ou menos formal, como o faz um escritor de uma carta, para dar ao seu texto um carter mais ou menos coloquial. A esse respeito, a distino entre fala e escrita no se faz com preciso, uma vez que as restries operativas no se associam propriamente ao fator velocidade do processo. O grau de coloquialismo ou formalismo envolve decises estilsticas e de domnio do lxico que podem transferir-se de um modo de produo para o outro com muita facilidade e propriedade. Falar e escrever so formas diferentes de dizer e expressar significados construdos na linguagem e pela linguagem, dentro de uma situao interativa social. Nesse sentido, Halliday (1989) prope que falar e escrever, enquanto formas diferentes de dizer e modos diferentes de se expressar em significados lingsticos, apresentam uma interface: a analogia

entre fala e escrita sustentada por trs princpios. Um deles que a escrita no incorpora todos os potenciais de significao da fala, pois deixa de lado as participaes paralingsticas e prosdicas e, a fala no apresenta os limites da sentena e do pargrafo; estas diferenas, porm, so de sinais e no de contedo. O outro que no h necessidade de duas linguagens para a mesma funo, pois uma seria a duplicao da outra. Logo, cada modalidade serviria para uma finalidade mais especfica, sem perder sua caracterstica fundamental de ser linguagem. Por ltimo, fala e escrita planteiam diferentes aportes para a experincia: a escrita cria o mundo da coisas/objetos e a fala, o dos acontecimentos. Para esse autor, tais aportes seriam formas possveis de se olhar para o mesmo objeto de conhecimento, ou seja, a experincia humana. O ser humano aprende ouvindo e falando, lendo e escrevendo, ou seja constri significados mediante um sistema e uma estrutura samantica. Na medida em que as crianas pertencentes a culturas letradas vo-se desenvolvendo, suas interaes passam a ser transpassadas pelo discurso escrito e as significaes tm uma nova possibilidade de anlise de construo alm da oferecida pelo discurso oral, a saber, a do mbito do discurso escrito. Dentro do espao discursivo da interao, o discurso escrito sofre interpenetraes sociais e culturais, pois, em sua essncia, est permeado pelos sentidos e valores da ideologia do grupo social. Essas interpenetraes se refletem nas formas de interao da criana com a escrita - objeto de conhecimento - dentro de um contexto scio-histrico mais amplo, que revela os ideais e as concepes de um grupo social numa determinada poca (Savioli e Fiorin, 1996:17). Segundo Rojo vm focalizando sua ateno para questes da aquisio da escrita: At recentemente a linguagem escrita no foi vista como processo de desenvolvimento ou construo. Assim, durante dcadas, o desenvolvimento da escrita foi encarado como um treinamento de habilidades viso-motor e de transcrio de cdigo sonoro em formas grficas. Isto acarretou uma grande centrao dos estudos no momento da alfabetizao e na questo da correspondncia grafema-fonema e dos aparatos orgnicos envolvidos na transcrio desta correspondncia. na escrita que a criana vai se explicitando segundo suas falas e lugares sociais, ampliando assim o processo de desenvolvimento, o leitor/escritor vai incorporando, gradualmente, a modalidade discursiva da escrita e as caractersticas dos papis do leitor/escritor. CONSIDERAOES FINAIS Considerando as diferenas (formais, funcionais e da natureza de estmulo) entre a linguagem oral e a linguagem escrita, concluem-se serem distintas tais modalidades. Porm, embora no seja a linguagem escrita transcrio da linguagem oral, no se pode negar a semelhana de seus produtos, que podem expressar as mesmas intenes, j que a seleo de elementos lingsticos de ambos se d a partir de um mesmo sistema gramatical. O que no se pode negar que a linguagem escrita e a linguagem oral no constituem modalidades estanques; apresentam diferenas devido condio de produo, mas o processo se d a partir da lngua, que um conjunto de possibilidades lingsticas, cujos usos se fazem de acordo com normas especficas a cada uma das modalidades. A linguagem oral se caracteriza essencialmente por ser falada natureza do estmulo, mas o fato de a linguagem oral ser produzida pela boca e recebida pelos ouvidos no e nem pode ser o elemento fundamental para se determin-la distinta da linguagem escrita no mbito cientifico. REFERENCIAIS MAC-KAY, A.P.M.G. Atividade verbal: processo de diferena e integrao entre fala e escrita. So Paulo, Plexus, 2000, p.13-19. BECHARA, Evanildo. A correo idiomtica e o conceito de exemplaridade. In: Azeredo, Jose c, Lngua em debate: conhecimento e ensino. Petrpolis: Vozes, 2000, p.11-8. FVERO, Leonor Lopes et alli. Oralidade e escrita: perspectiva para o ensino da lngua materna. 2 Ed. So Paulo: Cortez, 2000. CASTILHO, Ataliba. T.de. A lngua falada no Ensino de Portugus. So Paulo: Contexto, 2001.158p.

Fonte: http://www.webartigos.com/articles/39830/1/As-Modalidades-Orais-eEscritas/pagina1.html A NATUREZA DAS MODALIDADES ORAL E ESCRITA Jos Mario Botelho (UERJ e FEUDUC) INTRODUO

Que a linguagem escrita e a linguagem oral no constituem modalidades estanques, apesar de apresentarem diferenas devido condio de produo, um fato incontestvel. Contudo, h particularidades de outras ordens que as tornam modalidades especficas da lngua. Tais particularidades so, de fato, elementos exclusivos de cada uma delas, como a gesticulao, por exemplo, na linguagem oral, e a reedio de texto, com apagamento do texto anterior, na linguagem escrita. Certamente, as pessoas no escrevem exatamente do mesmo modo que falam, uma vez que se tratam de processos diferentes. Essas diferentes condies de produo para usos de diferentes intenes propiciam a criao de diferentes tipos de linguagem, que se agrupam nas duas modalidades da lngua. Fatores como: o contexto, a inteno do usurio e a temtica, so responsveis pelas diferenas entre a linguagem oral e a linguagem escrita, que, nem por isso, so estanques. A LINGUAGEM ORAL E A LINGUAGEM ESCRITA, SEGUNDO CHAFE Sem desprezar as diversas teorias acerca das modalidades de uma dada lngua, este trabalho se deter nos estudos de Chafe (1987), que melhor estabeleceu as diferenas entre a linguagem oral e a linguagem escrita, apresentando uma proposta de anlise, a partir da qual foi possvel se estabelecer uma comparao. Chafe afirma que as pessoas no escrevem do mesmo modo que falam, corroborando a teoria de Goody e Watt (1968) acerca da diferena entre a oralidade e a escrita, contradizendo Bloomfield, em cuja concepo a linguagem escrita no passa de uma reproduo da linguagem oral. Writing is not language, but merely a way of recording language by means of visible marks. (Bloomfield, 1933: 21) Em trabalhos anteriores (Chafe, 1982, 1985 e 1986), o autor j demonstrava o seu interesse pelo assunto. Neles, procurou identificar mais precisamente as diferenas a serem encontradas nos dois tipos de linguagem usados por falantes e escritores, para em seguida tentar explicar as causas fundamentais de tais diferenas. Nesses trabalhos, as observaes feitas pelo autor se restringem a uma comparao entre os dois extremos da fala e da escrita: de um lado, a conversao, e do outro oposto, a escrita acadmica. Mais tarde, em parceria com Tannen (1987), o autor levanta a hiptese de que diferentes condies de produo, assim como usos de diferentes intenes, propiciam criao de diferentes tipos de linguagem (cf. Chafe & Tannen, 1987: 390). No mesmo pargrafo, os autores demonstram acreditar que a conversao comum a forma prototpica de linguagem, a partir da qual se deveriam comparar todos os outros gneros quer sejam falados, quer sejam escritos. Alguns fatores so responsveis pelas diferenas entre linguagem oral e linguagem escrita: o contexto, a inteno do falante ou do escritor e o tpico do que se diz ou escreve. Na caracterizao dessas diferenas, Chafe (1987) analisou quatro tipos de produes discursivas coletados para um projeto de estudos: conversao e conferncia (produes discursivas da oralidade), e carta e artigo acadmico (produes discursivas da escrita). Focalizando o modo de os falantes e escritores selecionarem as palavras ou estruturas para expressarem suas idias, observou que a escolha dos falantes rpida, enquanto a dos escritores lenta, por terem mais tempo para reproduzi-la e revis-la. Com isso, a linguagem escrita tende a ter um vocabulrio mais variado e de convenincia do usurio. A escolha lexical tambm proporciona ao usurio a exibio de um estilo prprio e o controle do grau de formalismo e coloquialismo de suas produes discursivas. Do vocabulrio, um conferencista seleciona palavras e expresses que possam conferir ao seu texto um carter

mais ou menos formal, como o faz um escritor de uma carta, para dar ao seu texto um carter mais ou menos coloquial. A esse respeito, a distino entre fala e escrita no se faz com preciso, uma vez que as restries operativas no se associam propriamente ao fator velocidade do processo. O grau de coloquialismo ou formalismo envolve decises estilsticas e de domnio do lxico que podem transferir-se de um modo de produo para o outro com muita facilidade e propriedade. Chafe ressalta, ainda, que a unidade relevante da fala parece ser a entidade basicamente prosdica, que chama de unidade de entonao, a qual descreve em trabalho anterior (Chafe, 1985), corroborando a hiptese de uma orao de cada vez, de Pawley & Syder (1976). Na escrita, as unidades de entonao so mais longas (em torno de nove palavras) do que na fala (em torno de seis palavras), que se limita em tamanho pela memria de curto prazo ou capacidade de conscincia focal do falante e, provavelmente, pela conscincia que esse tem das limitaes de capacidade do ouvinte. A inteno dele demonstrar as propriedades da linguagem falada e da linguagem escrita. Para isso, lana mo dos seguintes parmetros: variedade de vocabulrio, nvel de vocabulrio, construo de oraes, construes de frases e envolvimento e distanciamento. Variedade de vocabulrio De certo, falantes e escritores fazem a seleo de palavras e expresses para exprimirem os seus pensamentos. Como no h uma relao perfeita entre o que a pessoa pensa e a linguagem que usa para a sua expresso, pois nem sempre se traduz automaticamente, com palavras apropriadas, o que se pensa, o usurio precisa ter um bom conhecimento da linguagem. Esse conhecimento inclui o conhecimento de um repertrio de opes lexicais necessrias, que ser ativado sempre que o usurio tiver que se expressar lingisticamente. Nvel de vocabulrio Quanto ao nvel de vocabulrio, o autor assume que falantes e escritores no fazem a seleo de itens lexicais de um mesmo estoque. Ele considera haver palavras e expresses exclusivas de cada repertrio e um sem-nmero de itens neutros, que ocorrem normalmente em ambos os repertrios. Os nveis se verificam nos distintos registros lingsticos, considerando a adequao dos itens escolhidos e do repertrio em si. O autor observa que o vocabulrio da fala inovador e flutuante, enquanto o vocabulrio da escrita , em geral, conservador. A linguagem escrita se enriquece com a ampliao do seu repertrio, ao passo que a riqueza do repertrio da linguagem falada constitui nas constantes transformaes de sentido dos itens de seu repertrio limitado. Tal fato confirma que, apesar de os vocabulrios de cada modalidade serem caractersticos, itens lexicais mais ou menos formais ou coloquiais podem ser utilizados pelo falante e pelo escritor quando lhes forem convenientes. Construo de orao A linguagem mais do que um conjunto de palavras e expresses combinadas; como se d essa combinao o que mais importa para Chafe. Para a discusso desse tpico, o autor se baseia na orao gramatical, mas considera mais realista proceder em termos de unidade de entonao, que inicialmente (Chafe, 1980) denominava unidade de idias. Chafe especula que tal unidade de entonao expressa o que est na memria de curto prazo do falante ou focos de conscincia no momento de produo. Por ser limitada a capacidade do falante em manter a ateno em expresses extensas, a unidade de entonao da fala constitui-se de mais ou menos 6 (seis) palavras.

Construo de frase Na fala, comum o uso da conjuno e para ligar oraes. Isto , h uma forte tendncia por parte dos falantes em produzir seqncias simples de oraes coordenadas, evitando as relaes interoracionais mais elaboradas, encontradas na escrita. A sintaxe elaborada requer maior esforo de produo do que os falantes possam normalmente aplicar, por isso a linguagem falada de qualquer tipo tende a coordenar oraes mais freqentemente que qualquer tipo de linguagem escrita. A funo da frase na linguagem oral problemtica, mas os falantes parecem produzir uma entonao final de frase quando julgam que chegaram ao fim de uma seqncia coerente. O que produz essa coerncia pode variar de um momento para o outro. Chafe reafirma que as frases da escrita so mais bem planejadas que as da oralidade, dando evidncia do tempo e do esforo de sua construo. Envolvimento e Distanciamento Das propriedades da fala e da escrita que so atribudas s diferenas entre os dois processos, a rapidez e a facilidade de esvaescimento da fala, quando opostos cautela e a editabilidade da escrita, so as principais. Outra importante diferena entre a fala e a escrita o relacionamento entre o emissor e o receptor. A audincia da fala na maioria das vezes no s est presente como tambm pode participar fsica e efetivamente do processo, ao contrrio do que ocorre na escrita cuja audincia normalmente ausente e freqentemente desconhecida. Segundo Chafe, na linguagem falada h um envolvimento do falante com sua audincia, consigo mesmo e com a realidade concreta do que est sendo falado. A linguagem escrita carece de qualquer desses aspectos e pode mostrar indicaes de distanciamento do escritor com sua audincia, consigo mesmo e com a realidade. A NATUREZA DA LINGUAGEM ORAL Considerando as diferenas (formais, funcionais e da natureza de estmulo) entre a linguagem oral e a linguagem escrita, conclui-se serem distintas tais modalidades. Porm, embora no seja a linguagem escrita a transcrio da linguagem oral, no se pode negar a semelhana de seus produtos, que podem expressar as mesmas intenes, j que a seleo de elementos lingsticos de ambos se d a partir de um mesmo sistema gramatical. Chafe (1987), ao contrrio, procura estabelecer diferenas entre elas. Diferenas que se verificam nas estruturas sintticas e na formao dos perodos e, principalmente, no vocabulrio, crendo, inclusive, que o repertrio de uma diferente do da outra. O que no se pode negar que a linguagem escrita e a linguagem oral no constituem modalidades estanques; apresentam diferenas devido condio de produo, mas o processo se d a partir da lngua, que um conjunto de possibilidades lingsticas, cujos usos se fazem de acordo com normas especficas a cada uma das modalidades. A linguagem oral se caracteriza essencialmente por ser falada natureza do estmulo , mas o fato de a linguagem oral ser produzida pela boca e recebida pelos ouvidos no e nem pode ser o elemento fundamental para se determin-la distinta da linguagem escrita. H gneros intermedirios que so produzidos de forma sonora e concebidos de forma grfica e outros que so produzidos graficamente e concebidos sonoramente. Ainda h aqueles que, apesar de serem produzidos e concebidos exclusivamente de forma sonora ou exclusivamente de forma grfica, so bastante semelhantes a gneros da outra modalidade. Assim, a natureza falada da linguagem oral no basta para distingui-la e isol-la da linguagem escrita; elas no so estanques e isto fica patente na anlise sob o ponto de vista de um contnuo tipolgico. Entretanto, h particularidades de outras ordens que tornam a linguagem oral uma modalidade especfica da lngua.

Tais particularidades so, de fato, elementos exclusivos da linguagem oral: a gesticulao um deles. A fluidez das idias expostas tambm outra particularidade da oralidade. A velocidade da produo oral se d em virtude de ser simultnea ao processo de produo em si. Outra particularidade da linguagem oral, que proporcionado pelo fato de o falante ter o controle da comunicao no momento de sua efetivao, a eficcia na correo da informao em caso de incompreenso por parte do interlocutor. Como o falante ouve junto com o seu interlocutor as suas palavras proferidas e pode controlar os seus efeitos a partir das reaes do outro, pode ele corrigir com eficcia, por ser momentnea, as eventuais falhas de comunicao quando a informao desejada no se efetiva. Essa caracterstica, que uma vantagem da linguagem oral, determina outra particularidade da fala: a cooperao dos participantes da comunicao. Normalmente, o conhecimento do que se diz compartilhado pelo emissor e pelo receptor, que, normalmente coniventes na comunicao, facilitam o processo de produo daquele que por seu turno tem a responsabilidade da produo discursiva. O conhecimento compartilhado dos participantes da interlocuo oral tambm gera outra particularidade: a simplicidade sinttica, qual se relacionam vrias outras caractersticas. A sintaxe da linguagem oral tipicamente menos bem elaborada que a linguagem escrita, por conter muitas frases incompletas, apresentar-se freqentemente com simples seqncias de frases e poucas estruturas subordinadas. Portanto, a simplicidade sinttica deve ser entendida como estrutura de perodos curtos, em que as oraes normalmente so ligadas ou pelas conjunes simples e, mas e porm, ou por marcadores discursivos do tipo a, ou por oraes absolutas, ou por frases nominais na maioria dos casos reduzidas a uma nica palavra. Assim, a fragmentao, que causada pela falta de termos subentendidos e pelo uso de marcadores discursivos, uma outra caracterstica particular da linguagem oral. A fragmentao no deve ser confundida com uma m formao da estrutura, como entenderam certos tericos. A fala no existe para ser escrita, e da mesma forma, muitos textos escritos no so apreciveis na fala; quando se tenta reproduzir um texto escrito como se fosse conversao, esse texto pode parecer estar mal formado. Quanto ao nvel de vocabulrio, Chafe chega a declarar que o vocabulrio da fala diferente do da escrita. Prefiro acreditar que os repertrios so os mesmos; o que muda o grau de formalismo ou coloquialismo, de que o prprio Chafe fala. Por essa razo, encontram-se, em ambos os gneros de ambas as modalidades, um nmero muito maior de itens comuns, que Chafe denominou neutros e reconheceu ser a maioria. caracterstico na linguagem oral o uso preferencial de declaraes ativas como observaram Chafe e outros estudiosos, cada qual em suas obras acerca do assunto. A utilizao de estruturas de voz passiva muito pouco freqente na linguagem oral. Quando ocorre, do tipo analtico com o uso de auxiliar do tipo ser e normalmente a servio da topicalizao, que, inclusive, outra caracterstica da linguagem oral. A freqncia de termos topicalizados flagrante. Tambm constitui uma particularidade da linguagem oral a representao, por meio de uma pr-forma, do sujeito, que poderia ser elptico em virtude de a flexo verbal j declarar a pessoa do discurso. Ocorre principalmente a representao do sujeito de 1 pessoa por meio de um pronome pessoal. A reiterao desse tipo de sujeito simplesmente efetiva em textos da linguagem oral. Por ltimo, outra caracterstica da linguagem oral a repetio de termos. Certamente esta prtica tem a ver com a limitao do vocabulrio e a convenincia da unidade de entonao, que se submete elocuo, que o trao predominante da fala.

Quanto questo do envolvimento e distanciamento, como j demonstrou Chafe, na linguagem oral se observa o carter de envolvimento e de distanciamento que determinado pelo contexto. Por poderem ser anulados pelo contedo apropriado, tais traos no caracterizam necessariamente a fala ou a escrita. mais provvel, porm, que o trao envolvimento, que pode ser do falante com a sua audincia (muito comum) ou consigo mesmo (no menos comum) ou com o que se est falando (tambm comum), se manifeste com mais freqncia na fala. A NATUREZA DA LINGUAGEM ESCRITA Assim como a caracterstica fundamental da linguagem oral o fato de ela ser produzida pela boca e recebida pelos ouvidos, a linguagem escrita se caracteriza fundamentalmente por ser escrita, ou seja, pelo fato de ser ela produzida pela mo e recebida pelos olhos. Contudo, como j foi dito, no so esses os elementos fundamentais para distingui-las. Os motivos so os mesmos apontados no item anterior. Tambm a escrita apresenta as suas particularidades de outras ordens que a tornam uma outra modalidade da lngua. A particularidade de maior importncia da escrita a correo gramatical, sob a qual esto a objetividade, a clareza e a conciso. Por ser eminentemente uma forma de comunicao em que emissor e receptor esto distantes e, em muitos casos, desconhecidos um do outro, a objetividade, a clareza e a conciso so essenciais. Na falta de compreenso da informao transmitida, normalmente no tem o emissor outra forma de retificar a mensagem se no esperar pela resposta, que pode demorar muito tempo, para tentar numa trplica, que pode no mais surtir efeito. Por isso, a correo gramatical ser to importante. Um texto em que o assunto apresentado de forma objetiva, cujas idias concisas (sem rodeios e bem organizadas) tornam o texto claro, tem tudo para ser compreendido pelo receptor e nele provocar o efeito desejado. Da, ser o texto escrito essencialmente normativo, referencial. Em nome da correo, a linguagem escrita apresenta um processo de produo muito lento. No goza o escritor do direito de se valer de artifcios paralingusticos com a gesticulao e expresso facial. No tem o escritor o controle do sistema de recepo em si; ele espera t-lo, caso tenha a conscincia de ter atendido s exigncias da norma-padro. O escritor no sofre tanta presso no momento de produo do seu texto, porque no tem as mesmas exigncias do processo de produo da fala, em que se monitoram ao mesmo tempo o planejamento e a produto. , contudo, a meu ver, exatamente o contrrio o que ocorre. A responsabilidade do escritor muito maior. Ele no conta com a conivncia do interlocutor que lhe compartilhe um conhecimento do que se expe. Como disse anteriormente, h casos que o interlocutor desconhecido. Escrever um ato solitrio e sofre a imposio da correo; para no se correr o risco de ter o seu texto inutilizado por no se tornar um discurso (texto lido e compreendido), sofre o escritor a inexorvel presso da correo gramatical. Por isso mesmo, o escritor examina o que escreve e usa um tempo considervel na escolha de suas palavras, consultando-as no dicionrio quando necessrio. Eis uma outra particularidade da modalidade escrita: o escritor determina o tempo de produo de seu texto. Nisso, pode comparar a sua produo com o que tinha em mente; mudar suas idias; reorganizar o texto; acrescentar ou eliminar itens, at que o produto final surja. O fato de ter o escritor a obrigao de redigir um texto de acordo com as normas de uso padro nos faz enumerar outras particularidades da linguagem escrita. A produo do texto escrito se d de forma coordenada, pois requer planejamento: etapas so traadas pelo escritor, que a todo o momento as checa, fazendo as mudanas

necessrias, para atender s exigncias diversas (de ordem gramatical e / ou de outras ordens). Sob este ponto de vista, pode-se dizer que o planejamento antecede a produo; e, mesmo que haja um replanejamento, durante a produo, ainda estar antecedendo-a, j que o produto constitui o elemento cabal. No exatamente esta a condio de produo do texto oral, cujos planejamentos e execuo ocorrem simultaneamente, o que dificulta um replanejamento, que, quando ocorre, torna complexa a estrutura frasal, que s no ter abalada a sua compreenso, se certos elementos estiverem presentes: o conhecimento compartilhado; cooperativismo entre falante e ouvinte; o princpio da realidade; e recursos lingsticos diversos. A estrutura sinttica da linguagem escrita tende a ser elegante, j sendo bem formada. Nela se percebem sujeito e predicado, normalmente nesta ordem. Embora seja comum a ocorrncia da orao bimembre em ordem direta, tambm muito comum encontrarmos o que Givn (1979b) chama de estrutura de tpico-comentrio. Ou seja, comum encontrarmos termos deslocados para a posio de tpico a posio inicial da orao, que normalmente ocupada pelo sujeito. Termos da orao (normalmente bimembre) so geralmente substitudos por oraes subordinadas, constituindo perodos compostos. No encaixe dessas oraes, o uso de conjunes e locues conjuntivas uma normalidade. Os perodos complexos normalmente so de bom tamanho na modalidade escrita, sendo os longos bem estruturados. Complexidade da sintaxe , portanto, mais uma caracterstica da linguagem escrita. Essa complexidade se refere a perodos compostos por subordinao, e no falta de compreenso do enunciado. No h, portanto, fragmentao semelhana do que se d na linguagem oral. Na linguagem escrita, as estruturas tendem a ser completas, j que a frase o seu trao caracterstico. Nos perodos em que h coordenao, figuram conjunes diferentes de e, mas e porm, alm delas. Quando no ocorrem tais conectivos, ocorre a pontuao conveniente; marcadores discursivos tpicos da escrita (os homgrafos: e, mas, porm e ento, os principais) podem ocorrer, mas no com muita freqncia. O vocabulrio da modalidade escrita muito variado e essencialmente conservador e dependente do grau do nvel de formalismo, o que constitui mais uma de suas caractersticas particulares. Como j observei anteriormente, no concordo com Chafe quando defende a hiptese de ser o vocabulrio da escrita particular, composto de itens que no ocorrem na modalidade falada. No se podem determinar quantos e quais os itens que no ocorrem numa dada modalidade, j que as duas se valem do mesmo sistema lingustico. Podem-se, decerto, relacionar itens, que dependendo do grau do nvel de formalismo ou coloquialismo (definido pelo objetivo do usurio e do contexto em si) tenham a propenso de ocorrer ou no num dos gneros de uma das modalidades. Na verdade, nada impede que o modalizador a, por exemplo, tpico da modalidade oral, seja usado num texto escrito. Logo, conveniente dizer que um vocabulrio de nvel mais formal que coloquial caracteriza a linguagem escrita, mas no conveniente distinguir trs tipos de vocabulrio, como o fez Chafe: um que ocorre essencialmente na linguagem escrita; outro, essencialmente na linguagem oral; e outro que ocorre igualmente nas duas modalidades. Ainda em relao ao vocabulrio, uma particularidade da escrita a ocorrncia de nominalizaes. O escritor procura no repetir estruturas sintticas ou palavras, por isso comum na escrita um grande nmero de sintagmas nominais modificados, isto , transformaes de verbos ou predicados em nomes. Outra caracterstica da escrita a ocorrncia de declaraes passivas. Isto tambm marca a caracterstica de procurar no repetir estruturas sintticas e de formar estruturas de tpico. Na escrita, ocorrem os dois tipos de estruturas passivas: a analtica (com o auxlio de ser ou similar) e a pronominal (com o uso de pronome apassivador).

Ao contrrio do que ocorre na fala, a eliso de termos freqente e, principalmente, a do sujeito. A representao fsica do sujeito de 1 pessoa s ocorre quando se deseja um efeito estilstico. Outra e ltima particularidade a preocupao com a coeso referencial. A sinonmia, a elipse, a parfrase e a substituio por pr-formas so artifcios comuns de serem observados nos textos escritos. No que se refere questo do envolvimento e distanciamento, como j foi visto anteriormente, ao contrrio da modalidade oral em que predomina o trao de envolvimento, na escrita predomina o trao de distanciamento. Porm, como ambos os traos so determinados pelo contexto e, por conseguinte, podem ser anulados pelo contedo, no constitui o trao de distanciamento em si uma particularidade da linguagem escrita. Admite-se, certamente, que o trao de distanciamento se manifeste com maior freqncia nos gneros da modalidade escrita da lngua, que se caracteriza por ser uma prtica eminentemente solitria do escritor. Assim, so a fala e a escrita dois modos bem diferentes de o usurio representar as suas experincias. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS BECHARA, Evanildo. A correo idiomtica e o conceito de exemplaridade. In: Azeredo, Jos C. (org.), Lngua em debate: conhecimento e ensino. Petrpolis: Vozes, 2000, p. 11-8. BOTELHO, Jos Mrio. A influncia da oralidade sobre a escrita. (Monografia indita). Rio de Janeiro: Pontifcia Universidade Catlica do Rio de Janeiro, 1997. BROWN, Gillian. Teaching the spoken language. In: Association Internationale de Linguistic Aplique. Brussel, Proceedings II: Lecture, 1981, p. 166-82. CHAFE, Wallace; DANIELEWICZ, Jane. Properties of speaking and written language. In: HOROWITZ, Rosalind; SAMUELS, S. Jay (eds.). Comprehending oral and written language. New York: Academic Press, 1987, p. 83-113. FVERO, Leonor Lopes et alii. Oralidade e escrita: perspectivas para o ensino de lngua materna. 2 ed. So Paulo: Cortez, 2000. MARCUSCHI, Luiz Antnio. Da fala para a escrita: atividades de retextualizao. So Paulo: Cortez, 2001. TANNEN, Deborah. The oral / literate continuum in discourse. In: (ed.). Spoken and written language: Exploring coherence in spoken and written discourse. Norwood, NJ: Ablex, 1984. Fonte: http://www.filologia.org.br/ixcnlf/3/03.htm

4.2 Aspectos Textuais 4.2.1 Tipologia e gneros textuaisGnero Textual e Tipologia Textual A diferena entre Gnero Textual e Tipologia Textual , no meu entender, importante para direcionar o trabalho do professor de lngua na leitura, compreenso e produo de textos1. O que pretendemos neste pequeno ensaio apresentar algumas consideraes sobre Gnero Textual e Tipologia Textual, usando, para isso, as consideraes feitas por Marcuschi (2002) e Travaglia (2002), que faz apontamentos questionveis para o termo Tipologia Textual. No final, apresento minhas consideraes a respeito de minha escolha pelo gnero ou pela tipologia.

Convm afirmar que acredito que o trabalho com a leitura, compreenso e a produo escrita em Lngua Materna deve ter como meta primordial o desenvolvimento no aluno de habilidades que faam com que ele tenha capacidade de usar um nmero sempre maior de recursos da lngua para produzir efeitos de sentido de forma adequada a cada situao especfica de interao humana. Luiz Antnio Marcuschi (UFPE) defende o trabalho com textos na escola a partir da abordagem do Gnero Textual2. Marcuschi no demonstra favorabilidade ao trabalho com a Tipologia Textual, uma vez que, para ele, o trabalho fica limitado, trazendo para o ensino alguns problemas, uma vez que no possvel, por exemplo, ensinar narrativa em geral, porque, embora possamos classificar vrios textos como sendo narrativos, eles se concretizam em formas diferentes gneros que possuem diferenas especficas. Por outro lado, autores como Luiz Carlos Travaglia (UFUberlndia/MG) defendem o trabalho com a Tipologia Textual. Para o autor, sendo os textos de diferentes tipos, eles se instauram devido existncia de diferentes modos de interao ou interlocuo. O trabalho com o texto e com os diferentes tipos de texto fundamental para o desenvolvimento da competncia comunicativa. De acordo com as idias do autor, cada tipo de texto apropriado para um tipo de interao especfica. Deixar o aluno restrito a apenas alguns tipos de texto fazer com que ele s tenha recursos para atuar comunicativamente em alguns casos, tornando-se incapaz, ou pouco capaz, em outros. Certamente, o professor teria que fazer uma espcie de levantamento de quais tipos seriam mais necessrios para os alunos, para, a partir da, iniciar o trabalho com esses tipos mais necessrios. Marcuschi afirma que os livros didticos trazem, de maneira equivocada, o termo tipo de texto. Na verdade, para ele, no se trata de tipo de texto, mas de gnero de texto. O autor diz que no correto afirmar que a carta pessoal, por exemplo, um tipo de texto como fazem os livros. Ele atesta que a carta pessoal um Gnero Textual. O autor diz que em todos os gneros os tipos se realizam, ocorrendo, muitas das vezes, o mesmo gnero sendo realizado em dois ou mais tipos. Ele apresenta uma carta pessoal3 como exemplo, e comenta que ela pode apresentar as tipologias descrio, injuno, exposio, narrao e argumentao. Ele chama essa miscelnea de tipos presentes em um gnero de heterogeneidade tipolgica. Travaglia (2002) fala em conjugao tipolgica. Para ele, dificilmente so encontrados tipos puros. Realmente raro um tipo puro. Num texto como a bula de remdio, por exemplo, que para Fvero & Koch (1987) um texto injuntivo, tem-se a presena de vrias tipologias, como a descrio, a injuno e a predio4. Travaglia afirma que um texto se define como de um tipo por uma questo de dominncia, em funo do tipo de interlocuo que se pretende estabelecer e que se estabelece, e no em funo do espao ocupado por um tipo na constituio desse texto. Quando acontece o fenmeno de um texto ter aspecto de um gnero mas ter sido construdo em outro, Marcuschi d o nome de intertextualidade intergneros. Ele explica dizendo que isso acontece porque ocorreu no texto a configurao de uma estrutura intergneros de natureza altamente hbrida, sendo que um gnero assume a funo de outro. Travaglia no fala de intertextualidade intergneros, mas fala de um intercmbio de tipos. Explicando, ele afirma que um tipo pode ser usado no lugar de outro tipo, criando

determinados efeitos de sentido impossveis, na opinio do autor, com outro dado tipo. Para exemplificar, ele fala de descries e comentrios dissertativos feitos por meio da narrao. Resumindo esse ponto, Marcuschi traz a seguinte configurao terica:

a) intertextualidade intergneros = um gnero com a funo de outro b) heterogeneidade tipolgica = um gnero com a presena de vrios tiposTravaglia mostra o seguinte:

a) conjugao tipolgica = um texto apresenta vrios tipos b) intercmbio de tipos = um tipo usado no lugar de outroAspecto interessante a se observar que Marcuschi afirma que os gneros no so entidades naturais, mas artefatos culturais construdos historicamente pelo ser humano. Um gnero, para ele, pode no ter uma determinada propriedade e ainda continuar sendo aquele gnero. Para exemplificar, o autor fala, mais uma vez, da carta pessoal. Mesmo que o autor da carta no tenha assinado o nome no final, ela continuar sendo carta, graas as suas propriedades necessrias e suficientes5.Ele diz, ainda, que uma publicidade pode ter o formato de um poema ou de uma lista de produtos em oferta. O que importa que esteja fazendo divulgao de produtos, estimulando a compra por parte de clientes ou usurios daquele produto. Para Marcuschi, Tipologia Textual um termo que deve ser usado para designar uma espcie de seqncia teoricamente definida pela natureza lingstica de sua composio. Em geral, os tipos textuais abrangem as categorias narrao, argumentao, exposio, descrio e injuno (Swales, 1990; Adam, 1990; Bronckart, 1999). Segundo ele, o termo Tipologia Textual usado para designar uma espcie de seqncia teoricamente definida pela natureza lingstica de sua composio (aspectos lexicais, sintticos, tempos verbais, relaes lgicas) (p. 22). Gnero Textual definido pelo autor como uma noo vaga para os textos materializados encontrados no dia-a-dia e que apresentam caractersticas scio-comunicativas definidas pelos contedos, propriedades funcionais, estilo e composio caracterstica. Travaglia define Tipologia Textual como aquilo que pode instaurar um modo de interao, uma maneira de interlocuo, segundo perspectivas que podem variar. Essas perspectivas podem, segundo o autor, estar ligadas ao produtor do texto em relao ao objeto do dizer quanto ao fazer/acontecer, ou conhecer/saber, e quanto insero destes no tempo e/ou no espao. Pode ser possvel a perspectiva do produtor do texto dada pela imagem que o mesmo faz do receptor como algum que concorda ou no com o que ele diz. Surge, assim, o discurso da transformao, quando o produtor v o receptor como algum que no concorda com ele. Se o produtor vir o receptor como algum que concorda com ele, surge o discurso da cumplicidade. Tem-se ainda, na opinio de Travaglia, uma perspectiva em que o produtor do texto faz uma antecipao no dizer. Da mesma forma, possvel encontrar a perspectiva dada pela atitude comunicativa de comprometimento ou no. Resumindo, cada uma das perspectivas apresentadas pelo autor gerar um tipo de texto. Assim, a primeira perspectiva faz surgir os tipos descrio, dissertao, injuno e narrao. A segunda perspectiva faz com que surja o tipo argumentativo stricto sensu6 e no argumentativo stricto

sensu. A perspectiva da antecipao faz surgir o tipo preditivo. A do comprometimento d origem a textos do mundo comentado (comprometimento) e do mundo narrado (no comprometimento) (Weirinch, 1968). Os textos do mundo narrado seriam enquadrados, de maneira geral, no tipo narrao. J os do mundo comentado ficariam no tipo dissertao. Travaglia diz que o Gnero Textual se caracteriza por exercer uma funo social especfica. Para ele, estas funes sociais so pressentidas e vivenciadas pelos usurios. Isso equivale dizer que, intuitivamente, sabemos que gnero usar em momentos especficos de interao, de acordo com a funo social dele. Quando vamos escrever um e-mail, sabemos que ele pode apresentar caractersticas que faro com que ele funcione de maneira diferente. Assim, escrever um e-mail para um amigo no o mesmo que escrever um e-mail para uma universidade, pedindo informaes sobre um concurso pblico, por exemplo. Observamos que Travaglia d ao gnero uma funo social. Parece que ele diferencia Tipologia Textual de Gnero Textual a partir dessa qualidade que o gnero possui. Mas todo texto, independente de seu gnero ou tipo, no exerce uma funo social qualquer? Marcuschi apresenta alguns exemplos de gneros, mas no ressalta sua funo social. Os exemplos que ele traz so telefonema, sermo, romance, bilhete, aula expositiva, reunio de condomnio, etc. J Travaglia, no s traz alguns exemplos de gneros como mostra o que, em sua opinio, seria a funo social bsica comum a cada um: aviso, comunicado, edital, informao, informe, citao (todos com a funo social de dar conhecimento de algo a algum). Certamente a carta e o e-mail entrariam nessa lista, levando em considerao que o aviso pode ser dado sob a forma de uma carta, e-mail ou ofcio. Ele continua exemplificando apresentando a petio, o memorial, o requerimento, o abaixo assinado (com a funo social de pedir, solicitar). Continuo colocando a carta, o e-mail e o ofcio aqui. Nota promissria, termo de compromisso e voto so exemplos com a funo de prometer. Para mim o voto no teria essa funo de prometer. Mas a funo de confirmar a promessa de dar o voto a algum. Quando algum vota, no promete nada, confirma a promessa de votar que pode ter sido feita a um candidato. Ele apresenta outros exemplos, mas por questo de espao no colocarei todos. bom notar que os exemplos dados por ele, mesmo os que no foram mostrados aqui, apresentam funo social formal, rgida. Ele no apresenta exemplos de gneros que tenham uma funo social menos rgida, como o bilhete. Uma discusso vista em Travaglia e no encontrada em Marcuschi7 a de Espcie. Para ele, Espcie se define e se caracteriza por aspectos formais de estrutura e de superfcie lingstica e/ou aspectos de contedo. Ele exemplifica Espcie dizendo que existem duas pertencentes ao tipo narrativo: a histria e a no-histria. Ainda do tipo narrativo, ele apresenta as Espcies narrativa em prosa e narrativa em verso. No tipo descritivo ele mostra as Espcies distintas objetiva x subjetiva, esttica x dinmica e comentadora x narradora. Mudando para gnero, ele apresenta a correspondncia com as Espcies carta, telegrama, bilhete, ofcio, etc. No gnero romance, ele mostra as Espcies romance histrico, regionalista, fantstico, de fico cientfica, policial, ertico, etc. No sei at que ponto a Espcie daria conta de todos os Gneros Textuais existentes. Ser que possvel especificar todas elas? Talvez seja difcil at mesmo porque no fcil dizer quantos e quais so os gneros textuais existentes.

Se em Travaglia nota-se uma discusso terica no percebida em Marcuschi, o oposto tambm acontece. Este autor discute o conceito de Domnio Discursivo. Ele diz que os domnios discursivos so as grandes esferas da atividade humana em que os textos circulam (p. 24). Segundo informa, esses domnios no seriam nem textos nem discursos, mas dariam origem a discursos muito especficos. Constituiriam prticas discursivas dentro das quais seria possvel a identificao de um conjunto de gneros que s vezes lhes so prprios como prticas ou rotinas comunicativas institucionalizadas. Como exemplo, ele fala do discurso jornalstico, discurso jurdico e discurso religioso. Cada uma dessas atividades, jornalstica, jurdica e religiosa, no abrange gneros em particular, mas origina vrios deles. Travaglia at fala do discurso jurdico e religioso, mas no como Marcuschi. Ele cita esses discursos quando discute o que para ele tipologia de discurso. Assim, ele fala dos discursos citados mostrando que as tipologias de discurso usaro critrios ligados s condies de produo dos discursos e s diversas formaes discursivas em que podem estar inseridos (Koch & Fvero, 1987, p. 3). Citando Koch & Fvero, o autor fala que uma tipologia de discurso usaria critrios ligados referncia (institucional (discurso poltico, religioso, jurdico), ideolgica (discurso petista, de direita, de esquerda, cristo, etc), a domnios de saber (discurso mdico, lingstico, filosfico, etc), inter-relao entre elementos da exterioridade (discurso autoritrio, polmico, ldico)). Marcuschi no faz aluso a uma tipologia do discurso. Semelhante opinio entre os dois autores citados notada quando falam que texto e discurso no devem ser encarados como iguais. Marcuschi considera o texto como uma entidade concreta realizada materialmente e corporificada em algum Gnero Textual [grifo meu] (p. 24). Discurso para ele aquilo que um texto produz ao se manifestar em alguma instncia discursiva. O discurso se realiza nos textos (p. 24). Travaglia considera o discurso como a prpria atividade comunicativa, a prpria atividade produtora de sentidos para a interao comunicativa, regulada por uma exterioridade scio-histrica-ideolgica (p. 03). Texto o resultado dessa atividade comunicativa. O texto, para ele, visto como uma unidade lingstica concreta que tomada pelos usurios da lngua em uma situao de interao comunicativa especfica, como uma unidade de sentido e como preenchendo uma funo comunicativa reconhecvel e reconhecida, independentemente de sua extenso (p. 03). Travaglia afirma que distingue texto de discurso levando em conta que sua preocupao com a tipologia de textos, e no de discursos. Marcuschi afirma que a definio que traz de texto e discurso muito mais operacional do que formal. Travaglia faz uma tipologizao dos termos Gnero Textual, Tipologia Textual e Espcie. Ele chama esses elementos de Tipelementos. Justifica a escolha pelo termo por considerar que os elementos tipolgicos (Gnero Textual, Tipologia Textual e Espcie) so bsicos na construo das tipologias e talvez dos textos, numa espcie de analogia com os elementos qumicos que compem as substncias encontradas na natureza. Para concluir, acredito que vale a pena considerar que as discusses feitas por Marcuschi, em defesa da abordagem textual a partir dos Gneros Textuais, esto diretamente ligadas ao ensino. Ele afirma que o trabalho com o gnero uma grande oportunidade de se lidar com a lngua em seus mais diversos usos autnticos no dia-a-dia. Cita o PCN, dizendo que ele apresenta a idia bsica de que um maior conhecimento do funcionamento dos Gneros

Textuais importante para a produo e para a compreenso de textos. Travaglia no faz abordagens especficas ligadas questo do ensino no seu tratamento Tipologia Textual. O que Travaglia mostra uma extrema preferncia pelo uso da Tipologia Textual, independente de estar ligada ao ensino. Sua abordagem parece ser mais taxionmica. Ele chega a afirmar que so os tipos que entram na composio da grande maioria dos textos. Para ele, a questo dos elementos tipolgicos e suas implicaes com o ensino/aprendizagem merece maiores discusses. Marcuschi diz que no acredita na existncia de Gneros Textuais ideais para o ensino de lngua. Ele afirma que possvel a identificao de gneros com dificuldades progressivas, do nvel menos formal ao mais formal, do mais privado ao mais pblico e assim por diante. Os gneros devem passar por um processo de progresso, conforme sugerem Schneuwly & Dolz (2004). Travaglia, como afirmei, no faz consideraes sobre o trabalho com a Tipologia Textual e o ensino. Acredito que um trabalho com a tipologia teria que, no mnimo, levar em conta a questo de com quais tipos de texto deve-se trabalhar na escola, a quais ser dada maior ateno e com quais ser feito um trabalho mais detido. Acho que a escolha pelo tipo, caso seja considerada a idia de Travaglia, deve levar em conta uma srie de fatores, porm dois so mais pertinentes: a) O trabalho com os tipos deveria preparar o aluno para a composio de quaisquer outros textos (no sei ao certo se isso possvel. Pode ser que o trabalho apenas com o tipo narrativo no d ao aluno o preparo ideal para lidar com o tipo dissertativo, e vice-versa. Um aluno que pra de estudar na 5 srie e no volta mais escola teria convivido muito mais com o tipo narrativo, sendo esse o mais trabalhado nessa srie. Ser que ele estaria preparado para produzir, quando necessrio, outros tipos textuais? Ao lidar somente com o tipo narrativo, por exemplo, o aluno, de certa forma, no deixa de trabalhar com os outros tipos?); b) A utilizao prtica que o aluno far de cada tipo em sua vida. Acho que vale a pena dizer que sou favorvel ao trabalho com o Gnero Textual na escola, embora saiba que todo gnero realiza necessariamente uma ou mais seqncias tipolgicas e que todos os tipos inserem-se em algum gnero textual. At recentemente, o ensino de produo de textos (ou de redao) era feito como um procedimento nico e global, como se todos os tipos de texto fossem iguais e no apresentassem determinadas dificuldades e, por isso, no exigissem aprendizagens especficas. A frmula de ensino de redao, ainda hoje muito praticada nas escolas brasileiras que consiste fundamentalmente na trilogia narrao, descrio e dissertao tem por base uma concepo voltada essencialmente para duas finalidades: a formao de escritores literrios (caso o aluno se aprimore nas duas primeiras modalidades textuais) ou a formao de cientistas (caso da terceira modalidade) (Antunes, 2004). Alm disso, essa concepo guarda em si uma viso equivocada de que narrar e descrever seriam aes mais fceis do que dissertar, ou mais adequadas faixa etria, razo pela qual esta ltima tenha sido reservada s sries terminais - tanto no ensino fundamental quanto no ensino mdio.

O ensino-aprendizagem de leitura, compreenso e produo de texto pela perspectiva dos gneros reposiciona o verdadeiro papel do professor de Lngua Materna hoje, no mais visto aqui como um especialista em textos literrios ou cientficos, distantes da realidade e da prtica textual do aluno, mas como um especialista nas diferentes modalidades textuais, orais e escritas, de uso social. Assim, o espao da sala de aula transformado numa verdadeira oficina de textos de ao social, o que viabilizado e concretizado pela adoo de algumas estratgias, como enviar uma carta para um aluno de outra classe, fazer um carto e ofertar a algum, enviar uma carta de solicitao a um secretrio da prefeitura, realizar uma entrevista, etc. Essas atividades, alm de diversificar e concretizar os leitores das produes (que agora deixam de ser apenas leitores visuais) permite tambm a participao direta de todos os alunos e eventualmente de pessoas que fazem parte de suas relaes familiares e sociais. A avaliao dessas produes abandona os critrios quase que exclusivamente literrios ou gramaticais e desloca seu foco para outro ponto: o bom texto no aquele que apresenta, ou s apresenta caractersticas literrias, mas aquele que adequado situao comunicacional para a qual foi produzido, ou seja, se a escolha do gnero, se a estrutura, o contedo, o estilo e o nvel de lngua esto adequados ao interlocutor e podem cumprir a finalidade do texto. Acredito que abordando os gneros a escola estaria dando ao aluno a oportunidade de se apropriar devidamente de diferentes Gneros Textuais socialmente utilizados, sabendo movimentar-se no dia-a-dia da interao humana, percebendo que o exerccio da linguagem ser o lugar da sua constituio como sujeito. A atividade com a lngua, assim, favoreceria o exerccio da interao humana, da participao social dentro de uma sociedade letrada. 1 - Penso que quando o professor no opta pelo trabalho com o gnero ou com o tipo ele acaba no tendo uma maneira muito clara para selecionar os textos com os quais trabalhar. 2 - Outra discusso poderia ser feita se se optasse por tratar um pouco a diferena entre Gnero Textual e Gnero Discursivo. 3 -Travaglia (2002) diz que uma carta pode ser exclusivamente descritiva, ou dissertativa, ou injuntiva, ou narrativa, ou argumentativa. Acho meio difcil algum conseguir escrever um texto, caracterizado como carta, apenas com descries, ou apenas com injunes. Por outro lado, meio que contrariando o que acabara de afirmar, ele diz desconhecer um gnero necessariamente descritivo. 4 - Termo usado pelas autoras citadas para os textos que fazem previso, como o boletim meteorolgico e o horscopo. 5 - Necessrias para a carta, e suficientes para que o texto seja uma carta. 6 - Segundo Travaglia (1991), texto argumentativo stricto sensu o que faz argumentao explcita. 7 - Pelo menos nos textos aos quais tive acesso.

Referncias ADAM, J. M. (1990). lements de linguistique textuelle. Theorie et pratique de lanalyse. Lige, Mardaga. ANTUNES, I. (2004). Aula de portugus: encontros e interao. So Paulo: Parbola. BRONCKART, J.-P. (1999). Atividades de linguagem, textos e discursos. Por um interacionismo scio-discursivo. So Paulo: Editora da PUC/SP. FVERO, L. L. & KOCH, I. V. (1987). Contribuio a uma tipologia textual. In Letras & Letras. Vol. 03, n 01. Uberlndia: Editora da Universidade Federal de Uberlndia. pp. 3-10.

MARCUSCHI, L. A. (2002). Gneros textuais: definio e funcionalidade In DIONSIO, . et al. Gneros textuais e ensino. Rio de Janeiro: Lucerna. SCHNEUWLY, B. & DOLZ, J. (2004). Gneros orais e escritos na escola. Campinas: Mercado de Letras SWALES, J. M. (1990). Genre analysis. English in academic and research settings. Cambridge: Cambridge University Press. TRAVAGLIA, L. C. (1991). Um estudo textual-discursivo do verbo no portugus. Campinas, Tese de Doutorado / IEL / UNICAMP, 1991. 330 + 124 pp. ___ (2002). Tipelementos e a construo de uma teoria tipolgica geral de textos. Mimeo. WEIRINCH, H. (1968). Estrutura e funcin de los tiempos em el lenguaje. Madrid: Gredos. Fonte: http://www.algosobre.com.br/gramatica/genero-textual-e-tipologia-textual.html

4.2.2 Coeso e Coerncia TextualPor: Cludia Kozlowski

Na construo de um texto, assim como na fala, usamos mecanismos para garantir ao interlocutor a compreenso do que se l / diz. Esses mecanismos lingsticos que estabelecem a conectividade e a retomada do que foi escrito / dito so os referentes textuais e buscam garantir a coeso textual para que haja coerncia, no s entre os elementos que compem a orao, como tambm entre a seqncia de oraes dentro do texto. Essa coeso tambm pode muitas vezes se dar de modo implcito, baseado em conhecimentos anteriores que os participantes do processo tm com o tema. Por exemplo, o uso de uma determinada sigla, que para o pblico a quem se dirige deveria ser de conhecimento geral, evita que se lance mo de repeties inteis. Numa linguagem figurada, a coeso uma linha imaginria - composta de termos e expresses - que une os diversos elementos do texto e busca estabelecer relaes de sentido entre eles. Dessa forma, com o emprego de diferentes procedimentos, sejam lexicais (repetio, substituio, associao), sejam gramaticais (emprego de pronomes, conjunes, numerais, elipses), constroem-se frases, oraes, perodos, que iro apresentar o contexto decorre da a coerncia textual. Um texto incoerente o que carece de sentido ou o apresenta de forma contraditria. Muitas vezes essa incoerncia resultado do mau uso daqueles elementos de coeso textual. Na organizao de perodos e de pargrafos, um erro no emprego dos mecanismos gramaticais e lexicais prejudica o entendimento do texto. Construdo com os elementos corretos, confere-se a ele uma unidade formal. Nas palavras do mestre Evanildo Bechara (1), o enunciado no se constri com um amontoado de palavras e oraes. Elas se organizam segundo princpios gerais de dependncia e independncia sinttica e semntica, recobertos por unidades meldicas e rtmicas que sedimentam estes princpios. Desta lio, extrai-se que no se deve escrever frases ou textos desconexos imprescindvel que haja uma unidade, ou seja, que essas frases estejam coesas e coerentes formando o texto. Alm disso, relembre-se que, por coeso, entende-se ligao, relao, nexo entre os elementos que compem a estrutura textual. H diversas formas de se garantir a coeso entre os elementos de uma frase ou de um texto: 1. Substituio de palavras com o emprego de sinnimos ou de palavras ou expresses de mesmo campo associativo. 2. Nominalizao emprego alternativo entre um verbo, o substantivo ou o adjetivo correspondente

(desgastar / desgaste / desgastante). 3. Repetio na ligao semntica dos termos, empregada como recurso estilstico de inteno articulatria, e no uma redundncia - resultado da pobreza de vocabulrio. Por exemplo, Grande no pensamento, grande na ao, grande na glria, grande no infortnio, ele morreu desconhecido e s. (Rocha Lima) 4. Uso de hipnimos relao que se estabelece com base na maior especificidade do significado de um deles. Por exemplo, mesa (mais especfico) e mvel (mais genrico). 5. Emprego de hipernimos - relaes de um termo de sentido mais amplo com outros de sentido mais especfico. Por exemplo, felino est numa relao de hiperonmia com gato. 6. Substitutos universais, como os verbos vicrios (ex.: Necessito viajar, porm s o farei no ano vindouro) A coeso apoiada na gramtica d-se no uso de conectivos, como certos pronomes, certos advrbios e expresses adverbiais, conjunes, elipses, entre outros. A elipse se justifica quando, ao remeter a um enunciado anterior, a palavra elidida facilmente identificvel (Ex.: O jovem recolheu-se cedo. ... Sabia que ia necessitar de todas as suas foras. O termo o jovem deixa de ser repetido e, assim, estabelece a relao entre as duas oraes.). Diticos so elementos lingsticos que tm a propriedade de fazer referncia ao contexto situacional ou ao prprio discurso. Exerce, por excelncia, essa funo de progresso textual, dada sua caracterstica: so elementos que no significam, apenas indicam, remetem aos componentes da situao comunicativa.

J os componentes concentram em si a significao. Elisa Guimares (2) nos ensina a esse respeito: Os pronomes pessoais e as desinncias verbais indicam os participantes do ato do discurso. Os pronomes demonstrativos, certas locues prepositivas e adverbiais, bem como os advrbios de tempo, referenciam o momento da enunciao, podendo indicar simultaneidade, anterioridade ou posterioridade. Assim: este, agora, hoje,