apostila prÁticas junguianas
DESCRIPTION
Apostila de aula em especialização de Psicologia Clínica com abordagem analítica / junguiana. A apostila aborda o atendimento de adultos na clínica sob o tema "Feminino e Masculino", sempre sob o viés da contemporaneidade. Aborda conceitos como anima, animus, sombra, sonhos, dentre outros. Traz também breve tipologia de masculino com base em arquétipos de deuses da mitologia greco-romana, sob o viés da psicologia analítica de Carl Gustav Jung.TRANSCRIPT
UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA – UVA PRÓ-‐REITORIA ACADÊMICA
COORDENAÇÃO DE PÓS-‐GRADUAÇÃO CURSO DE PÓS-‐GRADUAÇÃO LATO SENSU EM NÍVEL DE ESPECIALIZAÇÃO
1
APOSTILA DA AULA PRÁTICAS JUNGUIANAS
ADULTO – FEMININO E O MASCULINO - NA CLÍNICA – TIPOS DE MASCULINO.
Professora: Marianna Protázio Romão1
1 Psicóloga (UFPE); MA em “Mulheres, Gênero e Cidadania” (Universitat de Barcelona); doutoranda em “Construcció i Representació d’Identitats Culturals (Universitat de Barcelona); especialista em Teoria e Prática Junguiana (UVA-RJ), psicoterapeuta.
UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA – UVA PRÓ-‐REITORIA ACADÊMICA
COORDENAÇÃO DE PÓS-‐GRADUAÇÃO CURSO DE PÓS-‐GRADUAÇÃO LATO SENSU EM NÍVEL DE ESPECIALIZAÇÃO
2
Às figuras do nosso texto correspondem não somente os desuses, mas o animus e a anima. WILHELM traduz a palavra “hun” por “animus”. De fato, o conceito de animus é adequado a “hun”, cujo caráter é composto do sinal para “nuvens”, associado ao sinal para “demônio”. Hun significa portanto “demônio das nuvens”, alto sopro da alma que pertence ao princípio yang e que portanto é masculino. Após a morte, hun se eleva e se torna “schen”, “espírito ou deus que se expande e manifesta”. A anima, denominada “po”, se escreve com os caracteres
correspondentes a “branco” e “demônio”; é portanto o “fantasma branco”, pertence ao princípio yin, à alma corporal ctônica e inferior, que é feminina. Após a morte, ela desce, tornando-se “gui”, demônio, freqüentemente chamado “aquele que retorna” (à terra): o
fantasma ou espectro. O fato de que animus e anima se separem após a morte, seguindo cada qual o seu caminho próprio, mostra que para a consciência chinesa eles representam fatores psíquicos diversos um do outro; embora sejam originalmente “um só ser, único, verdadeiro, atuante”, são dois na “casa do criativo”. “O animus está no coração celeste; de dia, mora nos olhos (isto é, na consciência) e, de noite, sonha a partir do fígado”. Ele é o que “recebemos do grande vazio, idêntico pela forma ao começo primevo”. A anima, pelo contrario, é “a força do
pesado e turvo”, pesa ao coração corporal, carnal. Suas atuações (efeitos) são os “desejos carnais e os ímpetos de cólera”. “Quem, ao despertar, se sente sombrio e abatido, está
encadeado pela anima”.
Carl Gustav Jung, Estudos Alquímicos, 2002, p. 45.
UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA – UVA PRÓ-‐REITORIA ACADÊMICA
COORDENAÇÃO DE PÓS-‐GRADUAÇÃO CURSO DE PÓS-‐GRADUAÇÃO LATO SENSU EM NÍVEL DE ESPECIALIZAÇÃO
3
Feminino e Masculino
Como anda a distância entre o masculino e feminino na nossa sociedade? Os esforços das teorias de gênero e políticas públicas têm ajudado a diminuir essa distância? E em nossa psique, como anda essa interação? O tema é bastante atual e freqüente nos consultórios, mas para compreender melhor essa dinâmica, é importante a compreensão das dinâmicas inconscientes. Enquanto estivermos inconscientes dessas energias, projetamos no outro, perdendo em maturidade e liberdade e nossos relacionamentos tornam-‐se pouco genuínos.
Sanford (2002) diz que ao preparar-‐se para um relacionamento, a pessoa deve pôr em ordem as coisas dentro dela; o autor cita Jung: “A pessoa está sempre no escuro quando se trata de sua própria personalidade. Ela precisa do auxílio de outras pessoas para se conhecer a si própria”. Para Jung, dentro de cada mulher, existe um arquétipo correspondente do masculino, chamado animus e dentro de cada homem, existe o correspondente feminino chamado anima. Esses aspectos parte de nossa personalidade global, geralmente encontra-‐se sombrios, afastados da consciência.
Essa relação pode ser ainda esclarecida por Sanford (2002):
A palavra.chave para chegar a se entender com a anima e o animus é relacionamento. Anima e animus são figuras arquetípicas, o que significa que não podem simplesmente ir-‐se embora e desaparecer da vida de cada pessoa, mas agem como parceiros permanentes, com o quais precisamos encontrar alguma forma de relacionamento, por mais difícil que isso possa ser. (Sanford, 2002, p.85)
Marion Woodman em “O Noivo Devastado: a masculinidade nas mulheres” (2006) nos ajudará nessa busca de compreensão. A partir dos sonhos de diferentes pacientes, podemos compreender padrões e checar a situação de diversos temas coletivos. Woodman (2006) diz que “Enquanto todo sonho é único para o sonhador, padrões arquetípicos emergem revelando energias em expansão no inconsciente coletivo da cultura. Eles apontam a direção na qual a consciência provavelmente evoluirá” (p. 09). Assim, vamos nos fixar no tema da masculinidade e feminilidade, que ao desenvolverem-‐se na psique esforçam-‐se para atingir uma harmonia interna.
A temática de relacionamentos que fracassam está cada vez mais levando as pessoas a buscar explicações. Mas como essa, outras questões graves emergem: feminicídios -‐ como o que ocorreu na Universidade de Montreal em 1989, estupros coletivos, exploração do corpo feminino como objeto pela mídia, transtornos alimentares, transtornos dismórficos-‐corporais, tudo isso está na pauta do dia. O que não se pode deixar de considerar é que tais mentes concretizam o que está presente no inconsciente coletivo. Essas tragédias podem estar demonstrando algo
UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA – UVA PRÓ-‐REITORIA ACADÊMICA
COORDENAÇÃO DE PÓS-‐GRADUAÇÃO CURSO DE PÓS-‐GRADUAÇÃO LATO SENSU EM NÍVEL DE ESPECIALIZAÇÃO
4
endêmico em nossa sociedade e o “desencontro” no plano dos relacionamentos é outro desses sintomas. Sim, o direito das mulheres já está reconhecido em muitos lugares, mas a relação do masculino com o feminino de fato está mais harmônica?
Woodman reflete que :
O muro de Berlim caiu. O muro de espelhos através dos quais homens e mulheres fracassam ao tentarem se enxergar uns aos outros ainda está de pé. Ele se encontra invisível nas ruas, nas nossas instituições e nas relações pessoais. (...) Sutil, congelado pelas ilusões e projeções, ele seduz. Agora, ao tentarmos examinar suas profundezas ilusórias, nós, tanto homens quanto mulheres, estamos deparando com nossa feminilidade angustiada e seu parceiro masculino devastado, ambos vitimas de ideais obsoletos. Ele não será mais uma vítima silenciosa, nem ela permanecerá condenada ao ostracismo (Woodman, 2006, p.14).
Claro que a derrubado desse muro deve ser feita de dentro pra fora, exigindo que nos dediquemos a libertar o feminino de sua prisão tomando a responsabilidade pela vitima e pelo tirano internos. Ao despotencializar os antigos complexos, estaríamos livres para amar.
“Crescei e multiplicai-‐vos” não tem mais uma conotação biológica exclusiva, em um mundo que já está super-‐povoado, diz Woodman (2006): “Os frutos da união pertencem a toda esfera da criatividade humana”, em uma criação genuinamente nova, a alma. A consciência masculina em emergência, nessa nova era, nasce com medo do feminino opaco e escuro. A tarefa é levar o feminino a um novo nível de consciência, luminosa e forte para se relacionar de forma criativa e duradoura com a consciência masculina. Homens e mulheres maduros da nova era serão unidos menos pela atração dos opostos do que pela sua humanidade em comum.
O masculino preso a uma tradição patriarcal obsoleta, experimenta a emergência do feminino como uma ameaça. É preciso desarmar esse medo. Da mesma forma, a consciência da opressão do feminino dentro da tradição, torna o masculino patriarcal seu inimigo natural. É preciso desarmar o feminino desse medo. IMPORTANTE: masculino consciente e feminino consciente aplicam-‐se a ambos os sexos. As mulheres podem ser patriarcas piores do que os homens.
É aí que entra a pergunta clássica: mas então, a anima não pertenceria somente ao homem e o animus somente a mulher? Sanford (2002) nos dá uma resposta bastante completa acerca dessa questão. Certa vez, Jung escreveu “A anima, sendo do gênero feminino, é exclusivamente uma figura que compensa a consciência masculina” (Jung apud Sanford, 2002, p. 137). Assim, os junguianos tenderam a fazer a correspondência teórica a respeito do animus, como figura exclusiva da psicologia feminina.
Sanford (2002) continua a história, esclarecendo que em um momento posterior, James Hillman, pós-‐junguiano fundador da Psicologia Arquetípica, desafiou essa tese explorando o argumento de que a anima não pode limitar-‐se ao sexo masculino, e o argumento também serviria para o animus. Hillman observa que: “a
UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA – UVA PRÓ-‐REITORIA ACADÊMICA
COORDENAÇÃO DE PÓS-‐GRADUAÇÃO CURSO DE PÓS-‐GRADUAÇÃO LATO SENSU EM NÍVEL DE ESPECIALIZAÇÃO
5
anima é um arquétipo e um arquétipo como tal não pode ser atribuído a ou localizado na psique de um ou outro sexo” (Hillman apud Sandman, 2002, p.140), indicando portanto separar arquétipo da noção de contra-‐sexualidade.
Assim, as mulheres também precisariam descobrir a anima, a alma elementar feminina dentro de si mesmas e isso encontra eco nas queixas que aparecem nos consultórios de mulheres que se encontram vazias. Esse é um problema da contemporaneidade e que segue aparecendo nos consultórios, muitas mulheres na busca de orientação acadêmica e de carreira, enfrentam o mesmo problema dos homens: a perda da anima ou alma. Veja a matéria a seguir como um bom exemplo para essa discussão:
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/monicabergamo/2013/05/1272732-‐ana-‐paula-‐padrao-‐escreve-‐livro-‐fala-‐da-‐dor-‐de-‐perder-‐um-‐bebe-‐e-‐diz-‐que-‐e-‐quase-‐doce.shtml
Além disso, Sanford (2006) reflete sobre a importância dos psicoterapeutas terem “alma”, a fim de não se estagnarem em um estreito espaço racionalista e conseguirem ajudar seus clientes. Porém, o dado mais importante para corroborar essa vertente teórica junguiana, é uma carta datada de 1951 do próprio Carl G. Jung, que parecia já “pressentir” que a anima era uma qualidade pertencente às mulheres e aos homens. Segue um trecho da carta destinada ao frei Victor White:
“Vi a Sra. X e garanto-‐lhe que ela é fascinante e supera qualquer expectativa. Tivemos uma conversa interessante e devo admitir que ela chama bastante atenção. Se algum dia existiu uma anima, esta devia ser igual a ela; sobre isso não a menor dúvida” (Jung apud Sanford, 2002).
Em outro momento, Hillman (apud Sanford, 2002, 141) diz que “poderia ser considerado uma autêntica manifestação arquetípica da anima numa de suas formas clássicas: donzela, ninfa, cora” e cita Jung no volume IX de Obras Completas, parágrafo 311, onde este diz: “ela freqüentemente aparece na mulher”. Essa mesma lógica reflete-‐se na concepção chinesa da energia psíquica que flui entre dois pólos, expressa também no antigo livro de filosofia chinesa, I Ching, o Livro das Mutações.
Quando o masculino e o feminino do indivíduo não são desenvolvidos e trazidos a consciência, de alguma forma permanece para o indivíduo a relação de projeção das figuras parentais. Woodman (2006) reflete que na clínica, esse tema do relacionamento entre masculino e feminino aparece não apenas nos relatos de casal, mas também na relação do indivíduo com as instituições. Os pais viram Mãe Igreja, Mãe Bem-‐Estar Social, Mãe Universidade; Pai Hierarquia, Pai Lei, Pai Status Quo e muitas vezes estamos dependentes deles. Ditadores internos que escravizam de maneira mais cruel que os externos
UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA – UVA PRÓ-‐REITORIA ACADÊMICA
COORDENAÇÃO DE PÓS-‐GRADUAÇÃO CURSO DE PÓS-‐GRADUAÇÃO LATO SENSU EM NÍVEL DE ESPECIALIZAÇÃO
6
A seguir, um diagrama que reflete sobre cada uma das situações freqüentemente enfrentadas pelo indivíduo e levadas ao consultório:
Como o masculino pode perder o medo do feminino em vez de reprimi-‐lo? O resultado da maneira como nossa sociedade patriarcal vem lidando com o feminino a tantos séculos é o atual “espírito sem corpo e a matéria concretizada”: o intelecto dissociado do corpo e o corpo profanado pelos excessos: dependência da droga, álcool, indústria dos cosméticos, cirurgias plásticas, vigorexia, anorexia, compulsão alimentar, compulsão sexual, etc.
O herói épico, mito do patriarcado, precisa matar aquilo que acredita amar, como Orfeu que só depois de ter matado Ofélia percebeu que seu ato não foi um sacrifício, mas um assassinato: “com esse mesmo amor ascendendo e inflamando o terror em seu coração, no qual união se torna destruição” (Woodman, 2006). Esse herói está obsoleto, é uma armadilha no qual caiu nossa psique coletiva durante o patriarcado e que agora pede redenção.
Ao matar o dragão, passamos a correr o risco de matar a própria natureza, da qual dependemos para viver. Mais ainda, a visão tão limitada que se concentrou na conquista da mãe inconsciente ficou cega para a invasão da mãe pela porta dos fundos: o esforço de séculos para se matar o dragão acabou na adoração da mãe no materialismo concreto. Os filhos e filhas do patriarcado são, na verdade, ligados a mãe (WOODMAN, 2006, p. 24).
O que redime essa consciência é a responsabilidade de todo ser humano pelo crescimento e nutrição da própria alma. “Fazer alma” é o nascimento de si próprio, é a essência compreendida como a feminilidade consciente tanto no homem como na mulher. O processo de “fazer alma” vem a través da metáfora: união da palavra com o símbolo, através da poesia, da arte. A metáfora mantém matéria e espírito unidos pela transformação lingüística.
UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA – UVA PRÓ-‐REITORIA ACADÊMICA
COORDENAÇÃO DE PÓS-‐GRADUAÇÃO CURSO DE PÓS-‐GRADUAÇÃO LATO SENSU EM NÍVEL DE ESPECIALIZAÇÃO
7
O Ego que está se relacionando com a alma (pensamento com o lado direito do cérebro, se quiserem) é motivado a refletir as imagens oníricas na pintura, dança, canto, escultura, escrita, permitindo assim que o processo de cura transforme em energia de vida o que de outra forma seriam imagens mortas.
“Viajando entre a terra e o céu, unindo um ao outro, a alma compreende a linguagem da poesia, a linguagem da metáfora, que integra imagem e sentimento, mente e imaginação. A metáfora, ou símbolo, cura porque fala à pessoa total. Por essa razão, Jung acreditava que a contemplação das imagens de sonho era um caminho para a totalidade” (WOODMAN, 2006, p.35).
É com a arte, a metáfora, o símbolo, que se dá a transformação, pois sem ela a energia fica bloqueada: a Medusa transforma energia em pedra. Como disse Woodman (2006), para finalizar, “Na matriz criativa, o símbolo flui entre o espírito e a matéria, curando a ruptura”.
UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA – UVA PRÓ-‐REITORIA ACADÊMICA
COORDENAÇÃO DE PÓS-‐GRADUAÇÃO CURSO DE PÓS-‐GRADUAÇÃO LATO SENSU EM NÍVEL DE ESPECIALIZAÇÃO
8
Tipos de Masculino:
Os padrões inatos –ou arquetípicos-‐ que se encontram no mais profundo da psique podem ser descritos como “os deuses de cada homem”, formando o homem de dentro pra fora. Estes deuses são poderosas predisposições invisíveis que afetam a personalidade, o trabalho e as relações. “Fazer” ativa os deuses, “não fazer” os inibe. A seguir, conheceremos alguns desses modelos através da Psiquiatra e Analista Junguiana Jean Shinoda Bolen, em seu livro Os Deuses de Cada Homem (2009).
Como sabemos, Zeus, Poseidon e Hades foram a primeira geração de deuses masculinos olímpicos e representam TRÊS aspectos do arquétipo do pai. Dividiram o mundo entre eles e cada um governava em seu reino particular. Como arquétipo e metáfora devemos recordar que Zeus governava sobre todos, era o deus “chefe” e seus atributos pessoais são os mesmos dos poderosos pais da cultura patriarcal: reis, presidentes, chefes de exército, lideres. Já Poseidon e Hades são aspectos da sombra de Zeus, essas partes do arquétipo do pai que os homens de poder reprimem o descuidam.
É importante lembrar que cada ser humano, diferentemente dos desuses que são padrões arquetípicos fixos com seus reinos definidos, tem o potencial de aceder a todos estes reinos e pode mover-‐se conscientemente através deles e integrar seus aspectos em suas personalidade consciente.
Vamos agora às principais características de cada um desses padrões masculinos arquetípicos:
UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA – UVA PRÓ-‐REITORIA ACADÊMICA
COORDENAÇÃO DE PÓS-‐GRADUAÇÃO CURSO DE PÓS-‐GRADUAÇÃO LATO SENSU EM NÍVEL DE ESPECIALIZAÇÃO
9
Zeus, deus do céu: o reino da vontade e do poder.
Sentar-‐se no topo, com o poder, a autoridade e o domínio sobre um reino elegido, é a postura de Zeus. Os homens que jogam com “ser o rei da montanha” na vida real e o conseguem, são como Zeus. Conexões empresariais; criador de alianças: através dos matrimônios; o conquistador; o pai celestial autoritário.
Na sua expressão mais pura, Bolen (2009) reflete que este arquétipo predispõe ao homem querer casar-‐se e ter filhos para que estes sejam extensões de si mesmo. Espera que sua esposa administre bem o lar e que se ocupe da educação diária dos filhos, enquanto ele se implica o mínimo que puder.
UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA – UVA PRÓ-‐REITORIA ACADÊMICA
COORDENAÇÃO DE PÓS-‐GRADUAÇÃO CURSO DE PÓS-‐GRADUAÇÃO LATO SENSU EM NÍVEL DE ESPECIALIZAÇÃO
10
Poseidon, deus do mar: o reino das emoções e do instinto
Igual a Zeus e Hades, deuses pai, ele também busca o poder sobre um território, o respeito e o controle de ser um rei. No entanto carece da imparcialidade e estratégia. Imagine que vive num palácio sob o mar, um deus rancoroso, emotivo e furioso, que pode aparecer exaltado e arremeter contra o primeiro que encontre em seu caminho. Também é o aspecto do que nada em águas profundas, ou seja, tem acesso as profundidades e pode subir assim que quiser.
Traz a potencia sexual, é o inimigo implacável, o homem selvagem.
UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA – UVA PRÓ-‐REITORIA ACADÊMICA
COORDENAÇÃO DE PÓS-‐GRADUAÇÃO CURSO DE PÓS-‐GRADUAÇÃO LATO SENSU EM NÍVEL DE ESPECIALIZAÇÃO
11
Hades, deus do mundo subterrâneo: o reino dos espíritos e do inconsciente.
Hades levava uma capa da invisibilidade. Rara vez se aventurava a sair do mundo subterrâneo e não sabia o que se passava encima dele. É o arquétipo do solitário, que se retira do mundo, cumpre formalidades, mas é carente de vitalidade, ainda mais se estiver deprimido. Pode ser paranóico, isolado.
É um prisioneiro de seu próprio reino; suas riquezas são de seu mundo interior; sendo, porém, um bom conselheiro nas decisões de vida ou morte; é uma persona inadequada; arquétipo do seqüestrador – o amante imaginário.
UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA – UVA PRÓ-‐REITORIA ACADÊMICA
COORDENAÇÃO DE PÓS-‐GRADUAÇÃO CURSO DE PÓS-‐GRADUAÇÃO LATO SENSU EM NÍVEL DE ESPECIALIZAÇÃO
12
Chegamos agora a geração dos filhos. Ainda que não tenham tenham reinos para governar, se associam a locais concretos, situações. Os viajantes sentem a presença de Hermes nas fronteiras e vias; Ares nos campos de batalha; Dionísio no meio de uma festa nas montanhas; Apolo no meio acadêmico e artes clássicas.
Os filhos são definidos pelo que fizeram, que por sua vez tinha relação com seus atributos e seu caráter. De antemão, poderemos notar que Hermes e Apolo são os filhos preferidos. Arquétipos que ajudam a triunfar no mundo patriarcal. Os rejeitados por esses valores são Ares e Hefesto, havendo um posicionamento ambivalente em relação a Dionísio.
Vivemos em um patriarcado que tem seus favoritos e essa tendência também está incorporada em nossas psiques. Dessa forma, nossas atitudes de aceitação ou rejeição em relação a nossos próprios aspectos de personalidade, estão influenciadas pela cultura e pela família. O achado mais importante desse estudo será produzido quando descubramos algo sobre nossa verdadeira identidade ou possamos recordar e recompor uma peça importante de nós mesmos.
Em resumo, são os deuses olímpicos que “dispõe” sobre nossas vidas privadas e a história dos homens, ou seja, a vida na coletividade. Já sabemos que para a psicologia analítica os deuses são padrões arquetípicos e seus mitos contam e recontam as maneiras que encontramos para lidar com as situações de vida, amor e morte ao longo dos milênios. Assim sendo, a mitologia é uma sabedoria coletiva que nos rege, é uma fonte de riqueza e, ao mesmo tempo, de perdição, tal qual a relação que tenhamos com suas imagens. Contatar os deuses mais importantes para nossa personalidade, aqueles que se assemelham ou aqueles a quem temos aversão, nos ajudará a integrar diferentes aspectos de nós mesmos e produzir um "todo" mais rico.
UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA – UVA PRÓ-‐REITORIA ACADÊMICA
COORDENAÇÃO DE PÓS-‐GRADUAÇÃO CURSO DE PÓS-‐GRADUAÇÃO LATO SENSU EM NÍVEL DE ESPECIALIZAÇÃO
13
Apolo, deus do sol: arqueiro, justiceiro, filho predileto.
Atitude masculina que observa e atua a distância, o êxito do patriarcado. Brilha, se encontra cômodo no reino celeste do intelecto, da vontade e da mente. Valoriza a ordem, a harmonia, é belo e prefere contemplar a superfície do que a profundidade. Destaca-‐se por sua claridade e sua forma, mas acaba sendo emocionalmente distante.
Personifica o aspecto da personalidade que busca definições claras, que se sente atraído a dominar uma técnica, que valoriza a ordem, prefere o pensamento e a avaliação objetiva. Quem se pareça a ele terá atributos que lhe serão úteis na vida, podendo ter êxito na carreira e dominar uma forma de arte clássica com mais facilidade que a maioria das pessoas.
UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA – UVA PRÓ-‐REITORIA ACADÊMICA
COORDENAÇÃO DE PÓS-‐GRADUAÇÃO CURSO DE PÓS-‐GRADUAÇÃO LATO SENSU EM NÍVEL DE ESPECIALIZAÇÃO
14
Hermes, deus mensageiro e guia dos espíritos: comunicador, enganador, viajante.
Personifica a velocidade do movimento, a agilidade mental e a facilidade da palavra, deslocando-‐se com rapidez, cruza as fronteiras e muda de planos rapidamente. Pode usar os dons para conseguir algo ou para enganar alguém. O deus do imprevisto, da sorte, das coincidências, da sincronicidade. Sempre que as coisas pareçam fixas, rígidas, estancadas, Hermes aporta fluidez, movimento, novos começos e a confusão que quase inevitavelmente precede todo início.
UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA – UVA PRÓ-‐REITORIA ACADÊMICA
COORDENAÇÃO DE PÓS-‐GRADUAÇÃO CURSO DE PÓS-‐GRADUAÇÃO LATO SENSU EM NÍVEL DE ESPECIALIZAÇÃO
15
Ares, deus da guerra: guerreiro, bailarino, amante.
Imagem do poder físico masculino, da intensidade e da ação imediatas. Seu coração e seus instintos o impulsionam a atuar, sem pensar nas conseqüências. O patriarcado desvaloriza seus atributos. Ares como encarnação da agressividade foi uma das forças mais potentes atuantes ao longo da humanidade. Amante de Afrodite, é o “homem de ação” do Olimpo, que prospera no conflito e se regozija na batalha.
UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA – UVA PRÓ-‐REITORIA ACADÊMICA
COORDENAÇÃO DE PÓS-‐GRADUAÇÃO CURSO DE PÓS-‐GRADUAÇÃO LATO SENSU EM NÍVEL DE ESPECIALIZAÇÃO
16
Hefesto, deus da forja; artesão, inventor, solitário.
Hefesto como deus, arquétipo e homem, encarna uma necessidade humana profunda de fazer coisas, criar objetos funcionais e bonitos. Rejeitado e expulso do Olimpo, Hefesto não foi apreciado no arrogante reino de Zeus, onde o poder e a aparência eram o mais importante. Pelo contrario, trabalhou só em sua forja embaixo da terra. Os homens que se assemelham a esse tipo, não tem visão, é o marido de Afrodite, traído e conformado. No entanto, é o padrão que dá vida ao trabalho criativo no homem.
UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA – UVA PRÓ-‐REITORIA ACADÊMICA
COORDENAÇÃO DE PÓS-‐GRADUAÇÃO CURSO DE PÓS-‐GRADUAÇÃO LATO SENSU EM NÍVEL DE ESPECIALIZAÇÃO
17
Dionísio, deus do vinho e do êxtase: místico, amante, vagabundo.
Por natureza, mais próximo às mulheres, o reino místico e feminino lhe são familiares. É um elemento não desejado, perturbador, causa de conflito e, algumas vezes, loucura. Arquétipo dos que experimentam momentos de êxtase e impulsos intensamente contraditórios.
O arquétipo de Dionísio tem potenciais positivos e negativos muito poderosos, que despertam os sentimentos mais etéreos e básicos, e criam conflitos na psique e na sociedade. Tende a ser mais feminino, místico, “contra-‐culturista”, ameaçador ou atrativo e fascinante para aqueles que se sentem cômodos com ele. Dionísio transtorna a vida mundana, não somente incitando os demais a divertir-‐se, mas também fazendo com que a própria vida mundana seja difícil ou impossível para ele.
UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA – UVA PRÓ-‐REITORIA ACADÊMICA
COORDENAÇÃO DE PÓS-‐GRADUAÇÃO CURSO DE PÓS-‐GRADUAÇÃO LATO SENSU EM NÍVEL DE ESPECIALIZAÇÃO
18
Referências bibliográficas: BOLEN, Jean S. Los Dioses de cada hombre. Una nueva psicología masculina. Kairós: Barcelona, 2002. JUNG, Carl G. Estudos Alquímicos. Editora Vozes: Petrópolis, 2003. ROMÃO, Marianna P. Desasociando Mujer y Locura. Una crítica al discurso patriarcal sobre Medea. Universitat de Barcelona: Barcelona, 2010. SILVEIRA, N. Jung: Vida e Obra; Rio de Janeiro: ed. Paz e Terra, 1981. SANFORD, John A. Os Parceiros Invisíveis. O masculino e o feminino dentro de cada um de nós. Paulus: São Paulo, 2002. WOODMAN, Marion. O Noivo Devastado. A masculinidade nas mulheres. Paulus: São Paulo, 2006.