apostila para o professor erisvaldo

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ATUALIDADES ERISVALDO ALVES

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ATUALIDADESPROFESSOR ERISVALDO ALVES Aluno(a):

ATUALIDADES ERISVALDO ALVES A comunicao de Dilma na ONUFalar na ONU , provavelmente, o momento mais estimulante e ao mesmo tempo difcil e delicado na vida de um orador. A presidente Dilma Rousseff disse um dia antes da sua apresentao que estava com frio na barriga s de pensar em discursar nesse evento. S para dar ideia de como Dilma aprimorou sua comunicao ao longo do tempo, nas primeiras avaliaes tcnicas que fiz sobre suas apresentaes, com muito boa vontade de zero a dez mereceu dois e meio. No final da campanha j havia evoludo para um sete e meio. Em certos momentos chegou a superar o Serra, mesmo seu adversrio tendo a experincia que tem. "Mundo em que armas nucleares so aceitas inseguro" S para justificar o fato de eu dar nota, esse talvez seja um vcio muito arraigado. Avalio com notas cerca de 200 apresentaes por semana. Ou seja, 800 por ms. Quase dez mil por ano. Se multiplicarmos pelos 35 anos em que fao esse trabalho dar notas para apresentaes quase automtico. O treino da campanha e os meses em que est frente do governo deram presidente um bom traquejo de tribuna. Convenhamos, entretanto, que falar num evento da magnitude da Assembleia Geral da ONU um desafio que ela ainda no havia experimentado. Por isso, fiquei de olho no apenas no que ela disse, mas tambm em como se expressou. J vou adiantar minha nota e depois explicar as razes. Para o contedo dei nove. Foi um discurso quase perfeito na estrutura organizacional e nos pontos abordados na mensagem. Para o seu desempenho dei sete. No conjunto, portanto, o Brasil sai desse evento com oito. Ou seja, muito bem aprovado. Dilma chegou tribuna visivelmente tensa --o que era de se esperar. Contornou bem o nervosismo inicial na forma como fez o vocativo. Cumprimentou sem pressa as autoridades. E como devia ter treinado bem esse momento, pronunciou com firmeza o nome de todos e teve tempo para respirar. Poucos oradores tm a felicidade de fazer uma introduo to apropriada quanto a feita pela presidente. Logo nas primeiras frases conseguiu arrancar aplausos entusiasmados da plateia. Ela se aproveitou do fato de ser a primeira mulher a falar na inaugurao do evento e louvou as mulheres: Pela primeira vez na histria das Naes Unidas uma voz feminina inaugura o debate geral. Os aplausos foram to intensos que at ela pareceu se surpreender com a reao do pblico. E o melhor da histria foi que em vrios momentos do discurso ela voltou a falar da mulher. No foi, portanto, apenas um comentrio vazio, a introduo guardou perfeita interdependncia com o contedo apresentado. E como veremos mais a frente,

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fechou a apresentao de maneira magistral, falando mais uma vez da mulher. Dessa vez defendendo com veemncia e autoridade as mulheres mais oprimidas.

Foto 9 de 21 - 21.set.2011 Presidente brasileira Dilma Rousseff abre a 66 Assembleia Geral da ONU. Em seu discurso, Dilma defendeu a entrada da Palestina como membro efetivo da ONU Mais Shannon Stapleton/ Reuters Durante as gravaes dos programas polticos na campanha eleitoral Dilma deu um show de comunicao fazendo uso perfeito do teleprompter. O semblante arejado, o contato visual eficiente, as pausas devidamente aproveitadas. Entre outros motivos esse seu desempenho deve ter ajudado muito a conquistar a vitria. Nesse discurso na ONU no foi to feliz. Demonstrou de maneira clara que estava se valendo do aparelho para fazer a leitura. No incio tentou disfarar alternando a leitura do texto impresso no papel e no texto projetado no teleprompter. Depois das primeiras tentativas, como no se sentiu vontade, desistiu e s olhou para o teleprompter, perdendo totalmente o contato visual com o pblico. Como ficou preocupada em no perder a linha da leitura manteve o semblante carregado praticamente o tempo todo. Apenas trs vezes conseguiu olhar rapidamente para o pblico. Dei sete no desempenho porque comparei a presidente com ela mesma. Ela pode produzir muito mais do que produziu. Sem dvida. J demonstrou essa competncia em outras oportunidades. Se, entretanto, fosse compar-la com Barak Obama, um dos mais competentes oradores da histria, poderia melhorar bem a nota da presidente. O presidente americano tambm se valeu do teleprompter. Embora tenha disfarado um pouco melhor alternando o uso do aparelho com a leitura do texto no papel, seu desempenho tambm no foi dos melhores. Ele conseguiu resultado infinitamente mais eficiente quando esteve discursando no Brasil.

ATUALIDADES ERISVALDO ALVESOra, se ele que to craque para falar em pblico no foi to bem, at que a nota de Dilma poderia ser mais alta. Bem, a a mdia geral do contedo e do desempenho da nossa presidente melhoraria muito. Como nota tambm questo de critrio pessoal, cada um pode fazer sua prpria avaliao, e, provavelmente, discordar dessa que estou fazendo. A concluso do discurso foi o momento mais elevado da apresentao da presidente. Fechou com chave-deouro. Tenho certeza de que o final do seu discurso ser reproduzido em todos os cantos do mundo. Uma obra prima. Mais uma vez falando da mulher, Dilma se valeu de uma figura de linguagem muito apropriada, a anfora. Fez uma sequncia de frases iniciando sempre com a mesma palavra (aquela). E a cada repetio elevando o volume da voz. O resultado no poderia ser outro que no o aplauso caloroso e prolongado do pblico. Ela se incluiu na mensagem, dando mais respaldo e autoridade s suas palavras: Alm do meu querido Brasil, sinto-me, aqui, representando todas as mulheres do mundo. As mulheres annimas, aquelas que passam fome e no podem dar de comer aos seus filhos; aquelas que padecem de doenas e no podem se tratar; aquelas que sofrem violncia e so discriminadas no emprego, na sociedade e na vida familiar; aquelas cujo trabalho no lar cria as geraes futuras. Junto minha voz s vozes das mulheres que ousaram lutar, que ousaram participar da vida poltica e da vida profissional, e conquistaram o espao de poder que me permite estar aqui hoje. Como mulher que sofreu tortura no crcere, sei como so importantes os valores da democracia, da justia, dos direitos humanos e da liberdade

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O antigo comissrio europeu Mario Monti foi mandatado para formar governo pelo Presidente da Repblica de Itlia. Giorgio Napolitano pede unio em torno de uma soluo para a crise financeira e a recuperao da confiana dos investidores. Ao incio da noite, o primeiro-ministro demissionrio prometia continuar envolvido na vida poltica italiana, ocupando o seu lugar no Parlamento. O primeiro-ministro indigitado considera que a Itlia pode superar a crise atravs de um esforo coletivo. A Itlia pode vencer a crise econmica graas a um esforo coletivo, declarava o sucessor de Silvio Berlusconi, logo aps a indigitao pelo Presidente da Repblica. Mario Monti, de 68 anos, assumiu como objetivo o saneamento da situao financeira, retomar o caminho do crescimento e da equidade social. Unio Europeia aplaude nomeao

A nomeao do antigo comissrio foi aplaudida pela Unio Europeia. Um comunicado conjunto de Duro Barroso e Van Rompuy refere que a designao envia uma mensagem encorajadora da determinao das autoridades italianas em superar a crise. A Comisso continuar a supervisionar a implementao das medidas adotadas pela Itlia para conduzir polticas que favoream o crescimento e o emprego, escreveram. O economista e antigo comissrio europeu, entre 1994 e 2004, considera que a Itlia deve ser um elemento de fora, no de fraqueza, no projeto europeu. Acadmico conceituado, antigo professor das universidades de Bocconi e Yale, e avesso poltica partidria, Mario Monti foi escolhido para acalmar os mercados antes da abertura das negociaes na segunda-feira. Monti dever apresentar os seus ministros nas prximas 48 horas. Prometeu que as consultas para a formao do Governo sero conduzidas rapidamente mas com ateno e que voltar ao Palcio Quirinalle, residncia do Presidente da Repblica, quando no tiver reservas. Maratona no Quirinalle O Presidente da Repblica espera que o Governo esteja formado at ao final da semana. No final da consulta aos presidentes dos 15 partidos com assento parlamentar, Giorgio Napolitano pediu unio em torno de uma soluo para a crise financeira e a recuperao da confiana dos investidores. A nomeao de Mario Monti deve ser aprovada no prazo de 10 dias pelas duas cmaras do parlamento, de acordo com a Constituio italiana. Giorgio Napolitano escutou, ao longo de todo o dia, a opinio dos representantes de todos os partidos com assento parlamentar, para garantir consenso e uma maioria parlamentar a um governo liderado por Monti.

Sucessor de Berlusconi Monti mandatado para formar novo governo de Itlia

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sada do encontro, o lder da Liga Norte, Umberto Bossi, aliado de longa data do ex-primeiro-ministro Berlusconi, anunciava que no iria passar um cheque em branco a Monti, garantindo que o seu partido est vigilante. Tambm Roberto Maroni, que era ministro do Interior no Governo de Berlusconi, entrevistado na televiso, declarou que o novo Governo vai ter problemas para aprovar reformas no Parlamento. Maroni, da Liga Norte, disse que no apoia um Governo de tecnocratas liderado por Mario Monti. Berlusconi apoia governo tcnico J o partido de Berlusconi, Povo da Liberdade, deu o aval formao de um novo governo liderado por Monti e composto por tcnicos. Quanto Monti estava reunido com Napolitano, Berlusconi declarava em direto nas televises que aprovava os esforos do Presidente para dar imediatamente ao pas um governo de perfil tcnico. No entanto, esta sada de Berlusconi no significa que abandona a poltica ativa. Il Cavalieri, com 17 anos de poder, renovou o seu compromisso no Parlamento e nas instituies para renovar a Itlia Numa declarao televisiva anterior, Berlusconi contou que se demitiu "por sentido de responsabilidade e de Estado, para evitar um novo ataque dos especuladores [contra Itlia] e sem que o parlamento tenha retirado a confiana". O primeiro-ministro demissionrio manifestou tristeza pelos ataques e insultos que marcaram as manifestaes de milhares de italianos, sbado noite, aps o anncio da sua demisso. Numa carta enviada ao lder do partido La Destra, que hoje estava reunido em congresso em Turim, Berlusconi dizia estar orgulhoso da sua governao durante a crise econmica. "Estou orgulhoso do que conseguimos fazer nestes trs anos e meio, marcados por uma crise internacional sem precedentes na histria", escreveu. "Partilho das vossas convices e espero que possamos retomar juntos o caminho do Governo", dizia Berlusconi, expressando deste modo o desejo de que o centrodireita recupere o poder.

O trio de mulheres Ellen Johnson Sirleaf e Leymah Gbowee, ambas liberianas, e Tawakkul Karman, do Imen, venceu o Prmio Nobel da Paz de 2011, conforme anunciou nesta sexta-feira o comit Instituto Noruegus do Nobel, que entrega o prmio, em Oslo, na Noruega. O prmio foi concedido a elas por sua luta no violenta pela segurana e pelos direitos das mulheres na participao do processo da construo da paz. Diferentemente dos anos posteriores, o anncio de quem havia sido escolhido foi lido apenas em ingls e, segundo o comit informou antes do evento comear, o texto possua 21 linhas, um total relativamente alto para o padro visto nas justificativas passadas.

Presidente liberiana, Ellen Johnson Sirleaf No podemos alcanar a democracia e paz duradoura no mundo ao menos que as mulheres obtenham as mesmas oportunidades que os homens para influenciar o desenvolvimento em todos os nveis da sociedade, disse o comit. JUSTIFICATIVA O anncio lembrou que em 2000, o Conselho de Segurana da ONU adotou uma resoluo que tornava, pela primeira vez, a violncia contra mulheres em conflitos armados um assunto de segurana internacional. Isso destacava a necessidade de as mulheres se tornarem participantes em p de igualdade com os homens nos processos de paz. Ellen Johnson Sirleaf foi a primeira mulher a ser eleita democraticamente em uma nao africana, a Libria. Desde que tomou posse, em 2006, ela vem contribuindo para assegurar a paz no pas, segundo o anncio, para promover o desenvolvimento social e econmico e fortalecer o status da mulher na sociedade. Leymah Gbowee mobilizou e organizou as mulheres independentemente de diferenas tnicas e religiosas na Libria para colocar um fim na guerra no pas e assegurar a participao feminina nas eleies. Ela vem promovendo a influncia da mulher no oeste africano.

Prmio Nobel da Paz em 2011 fica com trio de mulheres

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Na tera-feira, foram conhecidos os vencedores da categoria Fsica. Ganharam os americanos Saul Perlmutter e Brian Schmidt e o tambm americano Adam Riess, que possui a cidadania australiana, pela descoberta da expanso acelerada do Universo por meio de observaes de supernovas distantes. Na quarta, o pesquisador israelense Daniel Shechtman venceu o Nobel de Qumica de 2011 por suas descobertas relativas a materiais cristalinos com estrutura atmica no peridica, encerrando o ciclo de laureados cientficos. Ontem, o Prmio Nobel de Literatura foi para Tomas Transtrmer. A Academia premiou Transtrmer porque, atravs de suas imagens translcidas, ele nos d um acesso novo realidade. Na prxima segunda-feira, ser anunciado o vencedor do Nobel de Economia. LAUREADOS DA PAZ O Prmio Nobel entregue desde 1901 a personalidades de destaque nas reas de cincias, literatura e paz, conforme estipulado no testamento do empresrio Alfred Nobel, inventor da dinamite. No ano passado, o dissidente chins Liu Xiaobo foi o vencedor do prmio Nobel da Paz. Liu foi condenado a 11 anos de priso, em dezembro de 2009, por escrever um manifesto com outros ativistas chineses pela liberdade de expresso e eleies multipartidrias no pas.

Ativista da Libria Leymah Gbowee Tawakkul Karman, mesmo nas situaes mais difceis antes e durante a Primavera rabe, teve um papel de liderana na luta pelos direitos das mulheres e pela busca da democracia e da paz no Imen. O comit espera que Sirleaf, Gbowee e Karman ajudem a colocar um fim na opresso das mulheres que ainda ocorre em muitos pases e a deixar claro o grande potencial que as mulheres representam para a democracia e para a paz. O comit do prmio Nobel havia anunciado em maro que foram indicados 241 candidatos categoria, um nmero recorde. O prmio, que inclui 10 milhes de coroas suecas (US$ 1,5 milhes), ser entregue em dezembro. VENCEDORES 2011 Este o penltimo anncio do Prmio Nobel em 2011. Na segunda-feira, o americano Bruce Beutler, o bilogo francs Jules Hoffman e Ralph Steinman, canadense radicado nos EUA, trs cientistas que desvendaram segredos do sistema imunolgico, abrindo caminho para novas vacinas e tratamentos contra o cncer, foram anunciados como vencedores do Nobel de Medicina ou Fisiologia.

Novo pas Sudaneses fazem referendo para decidir separao

Tawakkul Karman, ativista do Imen

Uma nova nao deve surgir na frica nos prximos meses. A populao do Sudo iniciou no ltimo dia 9 de janeiro um referendo que deve aprovar a separao entre as regies Sul e Norte do pas. Divises tnicas, tribais e religiosas causam conflitos que duram dcadas

ATUALIDADES ERISVALDO ALVESno territrio. Agora, a disputa por reservas de petrleo ameaa dar incio a outra guerra. Direto ao ponto: Ficha-resumo A votao vai at o dia 15 e o resultado ser anunciado em 22 de janeiro. preciso um comparecimento de 60% dos eleitores. Se for aprovado nas urnas h estimativa de 90% a favor , ser criado em julho o 193 pas do mundo. O novo pas pode se chamar Sudo do Sul, Novo Sudo ou Kush, nome de uma das primeiras civilizaes que habitavam a regio. A cidade de Juba ser a capital. O Sudo o maior pas do continente africano. A regio Norte de maioria rabe e mulumana, enquanto no Sul h predomnio da populao negra e crist. Houve duas guerras pela independncia do Sul. A primeira comeou em 1955 e terminou em 1972, aps um acordo de paz. Os conflitos recomearam em 1983 e s foram interrompidos com um cessar-fogo em 2005, entre o Exrcito e os rebeldes sulistas do SPLA (Exrcito Popular de Libertao do Sudo). Estima-se que a guerra civil tenha deixado 2,5 milhes de mortos e 5 milhes de refugiados. Um acordo estabelecido com o ltimo cessar-fogo conferiu ao Sul autonomia do governo central de Cartum. Caso se torne um pas, o Sudo do Sul ser um dos mais pobres do mundo. A regio pouco maior que o Estado de Minas Gerais e possui 8,5 milhes de habitantes. Segundo dados da ONU, 90% da populao vive abaixo da linha da pobreza. At 85% da populao adulta analfabeta, metade no tem acesso gua potvel e quase no h estradas ligando o territrio. Petrleo O Sudo, contudo, rico em petrleo, o que pode vir a ser a fonte de novos conflitos. As reservas so conhecidas h trs dcadas. Recentemente, descobriuse que so muito maiores, de at 6,7 bilhes de barris (em comparao, calcula-se que o pr-sal de Tupi, no Brasil, tenha entre 5 e 8 bilhes de barris). Os termos do acordo de paz, firmado h seis anos, incluam a diviso igualitria dos rendimentos com a exportao do minrio entre as regies Norte e Sul, at 2011. A renegociao do acordo aps o referendo um dos pontos mais delicados no processo de separao. Apesar de o Sul concentrar 80% das reservas, a exportao do produto depende do acesso ao Mar Vermelho, que feito pelo Norte do pas. Alm disso, o distrito de Abyei, localizada na fronteira, rico em petrleo. A populao local far um referendo para saber se junta-se ao Norte ou ao Sul.

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H ainda outro componente delicado na transio: os caprichos de um ditador. O Sudo governado por Omar Bashir, acusado de genocdio em Darfur, regio oeste do pas. Os conflitos tnicos em Darfur comearam em 2003 e deixaram 50 mil mortos. H uma ordem de priso do Tribunal Penal Internacional contra Bashir por crimes de guerra. O ditador deu indcios de que aceitar o resultado das urnas, mas disse tambm que o Sul no est preparado para constituir um Estado independente. Pelo menos 30 pessoas morreram em ataques nos primeiros dias de votao. Analistas temem que o plebiscito prejudique o cessar-fogo. O pas vizinho, Qunia, se prepara para uma eventual onda de refugiados. Kosovo Outras regies do mundo, caracterizadas por diferenas tnicas, religiosas e lingusticas, lutam pela independncia. Entre as mais conhecidas esto o Pas Basco, localizado entre a Frana e a Espanha; a Chechnia, que tenta se desligar da Rssia; e o Tibete, que luta contra o domnio chins. Em 2008, o Kosovo, na pennsula balcnica, declarou independncia da Srvia. Ele foi reconhecido pelos Estados Unidos e alguns pases da Unio Europeia. Direto ao ponto

O Sudo iniciou no ltimo dia 9 de janeiro um referendo que deve aprovar a separao entre as regies Sul e Norte. Divises tnicas, tribais e religiosas causam conflitos que duram dcadas no pas. A votao vai at o dia 15 e o resultado ser anunciado em 22 de janeiro. preciso um comparecimento de 60% dos eleitores. H estimativa de 90% a favor. Ser for aprovado, ser criado em julho o 193 pas do mundo. O nome ainda no foi decidido. O Sudo o maior pas do continente africano. A regio Norte de maioria rabe e mulumana, enquanto no Sul h predomnio da populao negra e crist. Houve duas guerras pela independncia do Sul: uma entre 1955 e 1972, e outra entre 1983 e 2005. Cerca de 2,5 milhes de pessoas foram mortas. Um acordo estabelecido com o ltimo cessar-fogo conferiu ao Sul autonomia do governo central de Cartum. Caso se torne um pas, o Sudo do Sul ser um dos mais pobres do mundo. O Sudo, contudo, rico em petrleo. Apesar de o Sul concentrar 80% das reservas, a exportao do produto depende do acesso ao Mar Vermelho, que feito pelo Norte do pas.

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7Crise do Euro

Ameaa nuclear Gr-Bretanha considera ao militar contra o Ir no futuro No h plano imediato, mas 'todas as opes deve estar na mesa', diz ministro

Finanas derrubam premis na EuropaNem denncias de corrupo e nem escndalos sexuais. O que determinou a renncia do primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi, foi uma crise de legitimidade poltica provocada pela recesso que atinge pases europeus. Direto ao ponto: Ficha-resumo A sada de Berlusconi coincide com a queda do premi grego George Papandreou, por motivos semelhantes. Ambos os polticos so peas de um efeito domin que j destituiu sete governos em trs anos, liquidados pela pior crise financeira na Europa desde a Segunda Guerra Mundial. No continente em que o Estado era um modelo de avanos sociais e econmicos, os pacotes de austeridade aplicados para conter os efeitos da recesso abalaram a popularidade dos lderes, sejam eles de esquerda ou de direita. Isso porque as medidas incluem cortes de benefcios e aumento de impostos. Os gastos pblicos nesses pases, que j eram elevados antes da crise de 2008, tornaram-se crticos quando os governos tiveram que injetar trilhes de dlares no mercado para impedir a falncia de bancos. Em pases como Grcia, Portugal, Espanha, Itlia e Irlanda o endividamento atingiu patamares intolerveis na zona do euro. Na Grcia e na Itlia, as contas para pagar superam o total de riquezas produzidas pelo pas, medida pelo PIB (Produto Interno Bruto). No plano internacional, tal quadro aumenta o risco de calote dos credores e afasta investimentos, prejudicando ainda mais a economia. Berlusconi resistiu a denncias de abuso de poder e escndalos sexuais envolvendo menores de idade. Mas cedeu presso para deixar o cargo aps a votao da Lei de Estabilidade, uma srie de medidas adotadas para tentar reduzir o dficit pblico italiano. O projeto foi aprovado no Parlamento, mas o premi perdeu a maioria legislativa e, assim, a sustentao de seu governo. Sob forte desconfiana de que poderia reverter a situao econmica na Itlia, o lder centrodireitista anunciou que deixaria o cargo. A Itlia j enfrentava problemas no equilbrio das contas pblicas desde o comeo dos anos 1990. A crise econmica, contudo, elevou o endividamento, que representa hoje 121% do PIB, e o risco do pas no ter mais como pagar suas dvidas, alm de tornar o custo de emprstimos impraticvel. O pas a terceira maior economia da zona do euro, a oitava do mundo e a quarta maior tomadora de emprstimos no planeta. Em caso de calote, dificilmente a Itlia poderia ser salva pela Unio Europeia (UE),

William Hague, o ministro das Relaes Exteriores britnico (Suzanne Plunkett/Reuters) O ministro das Relaes Exteriores britnico, William Hague, afirmou que seu pas no est preparando nenhum tipo de ao militar imediata contra o Ir, mas no desconsidera uma reao futura em retaliao ao programa nuclear do pas. "No estamos considerando isso por enquanto, tampouco pedimos ou defendemos. Ao mesmo tempo, todas as opes devem estar na mesa", declarou, na chegada reunio de ministros das Relaes Exteriores da Unio Europeia em Bruxelas. O representante britnico defendeu que a comunidade internacional considere o "aumento da presso pacfica" sobre Teer e que continue abertura para negociar com as autoridades do pas sobre seu programa nuclear. Aps a publicao do ltimo relatrio da Agncia Internacional de Energia Atmica (AIEA) que acusa o Ir de preparar armas nucleares, a imprensa britnica afirmou que Londres, ao lado de Washington, estaria acelerando o planejamento face a uma possvel ao militar. O polmico programa atmico iraniano ser discutido nesta segunda pelos ministros das Relaes Exteriores dos 27, que estudaro a possibilidade de seguir endurecendo as sanes contra o Ir. A chefe da diplomacia comunitria, Catherine Ashton, revelou nesta segunda sua grande preocupao pelo recente relatrio da AIEA e garantiu que os ministros europeus estudaro o que fazer para deixar claro ao Ir que sua pretenso " totalmente inaceitvel".O ministro francs, Alain Jupp, considerou que momento de tomar "uma posio com grande firmeza" e de preparar um reforo das sanes, enquanto seu colega holands, Uri Rosenthal, defendeu por no excluir "nenhuma opo". (Com agncia EFE)

ATUALIDADES ERISVALDO ALVEScomo acontece no caso da Grcia. Para se ter uma ideia da gravidade da crise, as dvidas italianas somam 1,9 trilho de euros, o que corresponde a 2,8 vezes as dvidas somadas de Portugal, Irlanda e Grcia. Grcia Na Grcia, a permanncia de Papandreou no poder se tornou insustentvel depois que ele anunciou, em 1 de novembro, que faria um referendo sobre o novo pacote de ajuda da UE, consultando a populao sobre a aceitao ou no do plano. A ajuda ao governo grego era condicionada pela aceitao de novos pacotes de austeridade. O objetivo do premi, com o referendo, era conseguir respaldo dos eleitores para aplicar medidas impopulares, mas pesquisas indicavam que o pacote seria recusado por pelo menos 60% dos gregos. O anncio da consulta tambm levou pnico aos mercados financeiros. Enfraquecido no governo, o primeiro-ministro desistiu da proposta e teve tambm que anunciar sua renncia. A dvida pblica grega de 350 bilhes de euros, o equivalente a 165% do PIB. a maior relao dficit/PIB entre os pases europeus, sendo que o limite de endividamento estabelecido na zona do euro de 60%. Durante dcadas, o pas gastou mais do que podia, contraindo emprstimos altssimos ao passo que a arrecadao de impostos diminua. No ano passado, o primeiro plano de ajuda ao pas veio acompanhado de reduo de salrios de funcionrios pblicos e aumento de impostos, o que provocou manifestao dos sindicatos. Papandreou foi substitudo pelo ex-vice-presidente do Banco Central Europeu (BCE) Lucas Papademos, empossado no dia 11. Na Itlia, o substituto de Berlusconi deve ser anunciado em breve. Efeito domin Desde 2008, sete governos sofreram baixas devido aos dbitos na zona do euro. Primeiro, o ex-primeiroministro da Islndia, Geir Haarde, aps o pas ter praticamente ido falncia em 2008. No Reino Unido, Gordon Brown, que substituiu Tony Blair, foi derrotado nas eleies, encerrando uma dcada de predomnio dos trabalhistas no poder. O mesmo aconteceu com o governo da Irlanda, de Brian Cowen, e Jos Scrates, em Portugal, que caram diante da presso poltica. Em outubro, foi a vez do governo de Iveta Radicova, na Eslovquia, cair por conta da aprovao de pacotes da UE. Tudo indica que Papandreou e Berlusconi no sero os ltimos da lista. O prximo pas a enfrentar os efeitos

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polticos da crise a Espanha, que realiza no prximo dia 20 eleies antecipadas para o Legislativo. Dessa vez, o socialista Jos Luis Rodrigues Zapatero deve sofrer uma dura derrota diante da oposio.

Direto ao ponto

Os premis italiano Silvio Berlusconi e grego George Papandreou renunciaram ao cargo devido a uma crise poltica provocada pela recesso que atinge os pases europeus, a pior desde a Segunda Guerra Mundial. Sete outros governos foram desestabilizados desde 2008. Em pases como Grcia, Portugal, Espanha, Itlia e Irlanda o endividamento atingiu patamares intolerveis na zona do euro. Na Grcia e na Itlia, as contas para pagar superam o total de riquezas produzidas pelo pas, medida pelo PIB (Produto Interno Bruto). Para combater a crise dos dbitos, os governos adotaram pacotes de austeridade que incluem cortes de benefcios e aumentos de impostos, o que gera descontentamento entre a populao. Berlusconi e Papandreou caram aps a adoo de um desses pacotes.

Demografia Os desafios de um planeta com 7 bilhes de pessoas

A populao mundial atingiu os 7 bilhes de habitantes no dia 31 de outubro, segundo estimativas da ONU (Organizao das Naes Unidas). O ritmo acelerado de crescimento populacional impe desafios para garantir uma convivncia mais equilibrada nos centros urbanos, nas prximas dcadas. Direto ao ponto: Ficha-resumo Durante sculos, o nmero de pessoas na Terra aumentou muito pouco. A marca de 1 bilho de habitantes foi alcanada em 1800. A partir dos anos

ATUALIDADES ERISVALDO ALVES1950, porm, melhorias nas condies de vida em regies mais pobres provocaram uma rpida expanso. Em apenas meio sculo, a populao mais do que dobrou de tamanho, chegando a 6 bilhes em 2000. As projees indicam que, em 2050, sero 9,3 bilhes de habitantes no planeta, ndice que atingir os 10 bilhes at o final do sculo, antes de estabilizar. O aumento ocorrer principalmente em pases africanos que registram altas taxas de fertilidade. A China hoje o pas mais populoso do mundo, 1,35 bilho de pessoas, seguida da ndia, com bilho. Mas, segundo a ONU, em 2025 a ndia ter bilho de habitantes, ultrapassando os estimados bilho de chineses nesta data. com 1,24 1,46 1,39

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dcada de 1950, caiu para 46 mortes em cada 1 mil, no perodo entre 2005-2010. Jovens com menos de 25 anos compem 43% da populao mundial. Eles representam uma importante mo de obra para estimular economias, sobretudo aquelas em crise; mas, para isso, precisam ter educao, sade e emprego. Brasil No Brasil, h uma tendncia para o envelhecimento da populao, que hoje de 192 milhes de habitantes. Em 1960, cada mulher tinha uma mdia de 6 filhos, taxa reduzida para 2,4 no comeo deste sculo. Na ltima dcada, projees apontam uma tendncia de queda para ndices entre 1,8 e 1,9, abaixo da taxa de reposio de 2,1 filhos. So taxas de fecundidade prxima a pases como Alemanha, Espanha, Itlia, Japo e Rssia. O aspecto positivo que isso contribui para a diminuio da pobreza, pois o Estado tem menos crianas para assistir e h mais mulheres no mercado de trabalho. Contudo, nesse ritmo, o pas ter que lidar em breve com gastos causados pelo envelhecimento populacional. Estima-se que, em 2100, os idosos com mais de 80 anos sero 13,3% da populao brasileira, superando a parcela de pessoas economicamente ativas. Enquanto isso, o pas aproveita uma caracterstica demogrfica que favorece o crescimento econmico: h um nmero maior de adultos, ou seja, de pessoas em idade produtiva que no dependem do Estado. o chamado bnus demogrfico, que dura um tempo determinado e deve ser aproveitado. Por esta razo, especialistas afirmam que agora o momento de pensar polticas pblicas para lidar com o envelhecimento dos brasileiros. Outro ponto importante o planejamento urbano. O Brasil, com 85% pessoas vivendo nas cidades, um dos pases mais urbanizados do mundo, e, com mais gente vivendo nas cidades, h mais demanda por habitao, saneamento e transporte pblico, postos de trabalho, sade e educao.

O problema no acomodar tanta gente: h espao de sobra. As questes envolvem o balano entre populao idosa e jovem, uso de recursos naturais, fluxo migratrio e desenvolvimento sustentvel em zonas urbanas, que concentraro 70% da populao mundial. Em 2008, pela primeira vez na historia, havia mais gente morando em cidades que no campo. Em 1975, havia trs megacidades (aglomerados urbanos com mais de 10 milhes de pessoas) no mundo: Nova York, Tquio e Cidade do Mxico. Hoje, so 21, entre elas So Paulo e Rio de Janeiro. Essas cidades demandam solues para problemas como trnsito, violncia, saneamento bsico e desemprego. O aumento populacional cria tambm disparidades sociais. Nos pases mais pobres, como no continente africano, as altas taxas de fecundidade e o crescimento da populao mais jovem dificultam o desenvolvimento. No h emprego para todos e nem acesso educao de qualidade. J em naes ricas, como o Japo e pases europeus, o problema o envelhecimento do povo. O maior nmero de pessoas idosas reduz a fora de trabalho e sobrecarrega os sistemas previdencirios, onerando o Estado. Por isso, governos usam estratgias opostas: campanhas de controle da natalidade no primeiro caso, como preveno de gravidez na adolescncia, e estmulo econmico s mulheres para que tenham mais filhos, no segundo. Em geral, as taxas de fecundidade (nmero mdio de filhos por mulher) caram de 6 filhos para cada mulher para 2,5, desde os anos 1970. As causas foram os avanos sociais e econmicos, que permitiram s mulheres acesso educao, trabalho e mtodos contraceptivos. Mas, ao mesmo tempo, a expectativa de vida passou de 48 anos, no incio da dcada de 1950, para 68 anos na primeira dcada do sculo. E a mortalidade infantil, que era de 133 mortes para cada 1 mil nascimentos, na

Direto ao ponto

A populao mundial atingiu os 7 bilhes de habitantes no dia 31 de outubro, segundo estimativas da ONU (Organizao das Naes Unidas). A China hoje o pas mais populoso do mundo, com 1,35 bilho de pessoas, seguida da ndia, com 1,24 bilho. As projees indicam que, em 2050, sero 9,3 bilhes de habitantes no planeta, ndice que atingir os 10 bilhes at o final do sculo, antes de estabilizar. O aumento ocorrer principalmente em pases africanos que registram altas taxas de fertilidade.

ATUALIDADES ERISVALDO ALVES

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O ritmo acelerado de crescimento populacional impe desafios para garantir uma convivncia mais equilibrada nos centros urbanos, nas prximas dcadas. O problema no acomodar tanta gente: h espao de sobra. As questes envolvem o balano entre populao idosa e jovem, uso de recursos naturais, fluxo migratrio e desenvolvimento sustentvel em zonas urbanas, que concentraro 70% da populao mundial. No Brasil, com 192 milhes de habitantes, h uma tendncia para o envelhecimento da populao. Na ltima dcada, projees apontam uma tendncia de queda para ndices de fecundidade prximos aos registrados em pases europeus. Outro desafio a vida em centros urbanos: o Brasil, com 85% da populao vivendo nas cidades, um dos pases mais urbanizados do mundo.

msica iPod, que mudou a maneira de se consumir msica e, juntamente com a loja virtual iTunes, apontou caminhos para a indstria fonogrfica, debilitada por conta da pirataria. Com o iPhone, que substituiu os teclados pela tela sensvel ao toque, a empresa popularizou os telefones com acesso internet, os chamados smartphones. Por fim, o iPad revolucionou os tablets e inaugurou uma era ps-PC. No ramo dos negcios, Jobs desenvolveu um padro de sucesso. No perodo em que ficou afastado da firma, entre 1985 e 1996, a Apple quase foi falncia diante de seu maior concorrente: a Microsoft, de Bill Gates. Com o retorno de Jobs, o valor das aes cresceu de US$ 5 para mais de US$ 370. Sob seu comando, a Apple se tornou uma das corporaes com maior valor de mercado do mundo. Em tratamento mdico desde 2004, ele somente deixou a presidncia em agosto deste ano, para ficar ao lado da mulher e dos quatro filhos. Computadores Steven Paul Jobs nasceu em 24 de fevereiro de 1955 em So Francisco, Califrnia, filho de dois estudantes universitrios que o colocaram para adoo. Em meio ao ambiente hippie dos anos 1960, experimentou drogas psicodlicas e abandonou a faculdade aos 17 anos para fazer um curso de caligrafia e uma viagem ndia. Quando retornou aos Estados Unidos, criou, junto com o amigo Steve Wozniak, o primeiro computador pessoal do mundo, o Apple 2. Nascia ali, na garagem dos pais, em 1976, a empresa que faria do computador um produto de massa, um eletrodomstico to comum quanto TV e geladeira. Na rea da computao, a maior contribuio de Jobs foi o Macintosh, desenvolvido em 1984. O Macintosh virou referncia em computadores pessoais. Diferente dos demais poca, o aparelho tinha uma interface grfica mais intuitiva, com cones que facilitavam o acesso aos arquivos. Antes, era preciso digitar comandos para interagir com a mquina. No ano seguinte, aos 30 anos de idade, Jobs foi afastado de sua prpria companhia, numa disputa de poder com um executivo que ele mesmo contratara. Ao sair, fundou outra firma de computao, a NeXT, e comprou de George Lucas, por US$ 10 milhes, a produtora de animaes Pixar. Duas dcadas mais tarde, a Pixar, que tinha em seu cartel sucessos como Toy Story e Procurando Nemo, foi vendida por US$ 7,4 bilhes. Em 1997, Jobs retornou Apple para salvar a empresa da falncia. Lanou, nos anos seguintes, o iPod (2001), o iPhone (2007) e o iPad (2010), fazendo da Apple uma das empresas mais lucrativas do planeta.

Steve Jobs (1955-2011) O gnio que "humanizou" a tecnologia

Nas ltimas trs dcadas, o computador pessoal permitiu acesso a servios em rede que mudaram os hbitos de pessoas em todo o mundo, tornando-se um utenslio indispensvel nos lares. Mais recentemente, dispositivos mveis como smartphones e tablets conferiram mobilidade aos recursos oferecidos na internet, unindo-os telefonia e editorao. Direto ao ponto: Ficha-resumo Por trs dessas inovaes estava o talento de Steve Jobs. Morto no ltimo 5 de outubro aos 56 anos, vtima de uma forma rara de cncer no pncreas, o fundador da Apple transformou as indstrias de computao, msica, telefonia, publicao e animao digitais. A originalidade do executivo consistia em melhorar os produtos eletrnicos, de modo a proporcionar funcionalidade, viabilidade comercial e popularidade aos aparelhos. frente da empresa que criou e presidia desde 1997, desenvolveu uma linha de produtos com o prefixo i que viraram sinnimos de tecnologia e design. No comeo do sculo, a Apple lanou o tocador de

ATUALIDADES ERISVALDO ALVESDesign Steve Jobs no era um engenheiro e no aperfeioou hardware ou software. Sua genialidade consistia em combinar um apurado senso esttico com uma viso de mercado muito frente de seus concorrentes. Apesar de ter registrado 313 patentes, ele no inventou os maiores sucessos da Apple, mas os aprimorou e soube vend-los aos consumidores. O design da tecnologia est ligado funcionalidade dos aparelhos e interface entre o homem e a mquina. Neste campo, Jobs se tornou uma referncia, com solues simples e esteticamente perfeitas. Sem ele, os computadores ainda seriam uma tela com comandos. J como chefe, era conhecido por ser perfeccionista, rgido e at cruel com os funcionrios. Ele no hesitava em demitir um empregado que no atendesse aos seus exigentes padres de excelncia. Porm, foi assim que definiu um modelo de gesto que, hoje, permite Apple formar lideranas entre seu quadro de empregados, garantindo, assim, a sobrevivncia da corporao morte de seu maior smbolo.

11Lixo espacial

Detritos em rbita oferecem risco explorao do espao

O lixo resultante da ao humana no polui somente terra, ar e oceanos. Desde que o primeiro satlite artificial entrou em rbita, h mais de meio sculo, os detritos espaciais acumulados em rbita do planeta se tornaram um problema para a vida na Terra. Direto ao ponto: Ficha-resumo Estima-se que mais de 19 mil objetos maiores de dez centmetros, alm de outros 500 mil menores, compem uma nuvem de lixo espacial ao redor da Terra. Eles provm de foguetes e satlites desativados, fragmentos de naves e at ferramentas usadas por astronautas. Os riscos de um destes objetos cair na Terra e atingir uma pessoa so remotos. Porm, os detritos podem colidir com satlites em operao e misses tripuladas, prejudicando a explorao do espao. Segundo a Nasa (agncia espacial dos Estados Unidos), cerca de 200 entram na atmosfera terrestre todos os anos e se desintegram aps entrar em combusto. Alguns, no entanto, podem atingir o planeta. Foi o que aconteceu no dia 24 de setembro, quando restos de um satlite desativado caram no Oceano Pacfico. O UARS (Satlite de Pesquisa de Alta Atmosfera, na sigla em ingls) foi lanado em 1991, pelo nibus espacial Discovery, com a misso de estudar a camada de oznio. Ele foi aposentado em 2005, aps ficar sem combustvel. O satlite tinha o tamanho de um nibus e pesava seis toneladas, sendo o maior a retornar Terra em trs dcadas. Na reentrada da atmosfera, o UARS se esfacelou. Mesmo assim, cerca de 500 kg de peas chegaram at o oceano. Os cientistas haviam avisado que as chances de fragmentos atingirem reas povoadas eram remotas. A razo disso que 70% do planeta coberto de gua, sem contar as regies desrticas.

Direto ao ponto

Steve Jobs morreu no ltimo 5 de outubro, aos 56 anos, vtima de uma forma rara de cncer no pncreas. Fundador da Apple, ele foi responsvel por popularizar o computador pessoal e por inovaes nas reas de telefonia, publicao digital e filmes de animao.

Entre as principais criaes de Jobs esto o computador Macintosh (1984), o tocador de msica iPod (2001), o smartphone iPhone (2007) e o iPad (2010). A genialidade do executivo consistia em melhorar os produtos eletrnicos, de modo a conferir funcionalidade, viabilidade comercial e popularidade aos aparelhos. Sem ele, o computador seria uma tela de comandos que dificilmente sairia do mbito restrito de especialistas. O talento para os negcios tornou a Apple uma das corporaes com maior valor de mercado do mundo. Jobs era conhecido tambm por ser um patro rgido e cruel com seus funcionrios. Ele deixou a empresa em agosto deste ano por conta da doena, da qual se tratava desde 2004. Era casado e tinha quatro filhos.

ATUALIDADES ERISVALDO ALVESDe acordo com a Nasa, no h registros de ferimentos causados pela queda de detritos vindos do espao. O nico caso conhecido de uma pessoa atingida por entulho espacial aconteceu em 1997. A americana Lottie Williams foi alvejada no ombro por um pedao de foguete, sem sofrer ferimentos. O lixo espacial produto do avano tecnolgico. Satlites de telecomunicaes, mapeamento por GPS e previso meteorolgica possuem um tempo de vida til que pode ser de at uma dcada. Aps serem desligados, so deixados em rbita, devido ao alto custo de resgat-los para governos e empresas. Tornam-se ferro-velho no espao. No comeo do ms, um relatrio do Conselho Nacional de Pesquisa alertou para os perigos do aumento de detritos, o que poderia danificar espaonaves e satlites em funcionamento. Acidentes Apesar de nenhuma tragdia ter acontecido, incidentes ocorrem com certa regularidade. Em 1996, o satlite militar francs Cerise foi praticamente destrudo por um pedao de metal proveniente de um foguete lanado dez anos antes. nibus espaciais e at o telescpio Hubble j sofreram reparos por conta do problema. Em 2009, o satlite russo Cosmos-2251, lanado em 1993 e, na poca, desativado, colidiu com o satlite de comunicaes americano Iridium 33. Foi a primeira maior coliso de satlites artificiais na rbita terrestre. Vrios detritos foram gerados pelo choque, que destruiu o satlite russo. No caso mais recente, em junho deste ano, seis astronautas foram obrigados a abandonar a Estao Espacial Internacional (ISS, na sigla em ingls) em razo de um alerta de coliso com entulhos. O pior cenrio a chamada Sndrome de Kessler. Segundo o consultor da Nasa, Donald J. Kessler, a coliso de detritos poderia causar uma reao em cadeia uma pea fragmentando a outra em pedaos menores , formando um cinturo de lixo que inviabilizaria a explorao espacial. Hoje no existe nenhuma tecnologia que permita a limpeza do espao. Os custos de uma operao de remoo dos materiais so muito altos. Alm disso, h questes polticas, envolvendo propriedade e a responsabilidade de governos e empresas que colocam os aparelhos em rbita. Em 2007, os chineses desenvolveram um satlite que destruiria outros, desativados, mas a experincia foi um fracasso: um deles se desintegrou em dois mil pedaos, agravando o problema. Recentemente, cientistas propuseram o lanamento de um satlite que acoplaria motores propulsores aos resduos para que eles fossem levados at a atmosfera, onde se desintegrariam.

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Outras propostas incluem redes metlicas gigantes, canhes lasers e fios condutores de cobre inseridos em satlites para que pudessem ser atrados pelo campo magntico da Terra. Mas talvez a maneira mais simples seja a programao para que os dispositivos, uma vez obsoletos, sigam as chamadas rbitas-cemitrios, permanecendo deriva num espao seguro, longe do planeta. O Brasil, que possui satlites de comunicaes e cientficos em rbita, tambm tem sua parcela de responsabilidade pelo lixo espacial.

Direto ao ponto

Em 24 de setembro, restos do UARS (Satlite de Pesquisa de Alta Atmosfera, na sigla em ingls) caram sobre o Oceano Pacfico. O satlite foi lanado em 1991 e aposentado em 2005, aps ficar sem combustvel. Ele tinha o tamanho de um nibus e pesava seis toneladas, sendo o maior a retornar Terra em trs dcadas. Desde que o primeiro satlite espacial entrou em rbita, h mais de meio sculo, os detritos espaciais acumulados em rbita do planeta se tornaram um problema para a vida na Terra. Apesar dos riscos de atingirem pessoas serem remotos, as colises com outros satlites e naves espaciais so cada vez mais comuns. Estima-se que mais de 19 mil objetos maiores de dez centmetros, alm de outros 500 mil menores, compem uma nuvem de lixo espacial ao redor da Terra. Eles provm de foguetes e satlites desativados, fragmentos de naves, combustvel e at ferramentas usadas por astronautas. Hoje no existe nenhuma tecnologia que permita a limpeza do espao. Os custos de uma operao de remoo do lixo so muito altos. Alm disso, h questes polticas, envolvendo propriedade e a responsabilidade de governos e empresas que colocam os aparelhos em rbita.

Tragdia no Rio O maior desastre natural do pas

Chuvas intensas que caram na regio serrana do Rio de Janeiro provocaram o pior deslizamento da histria do

ATUALIDADES ERISVALDO ALVESBrasil. At o ltimo dia 18 de janeiro, o nmero de mortos chegava a 710 em quatro cidades. Outras 7.780 pessoas esto desalojadas morando em casa de vizinhos ou familiares e 6.050 desabrigadas. Um total de 207 esto desaparecidas. Direto ao ponto: Ficha-resumo A tragdia foi causada por um fenmeno raro que combina fortes chuvas com condies geolgicas especficas da regio. Porm, ela foi agravada pela ocupao irregular do solo e a falta de infraestrutura adequada para enfrentar o problema, que se repete todos os anos no pas. O nmero de vtimas superou o registrado em Caraguatatuba, em 1967. Na poca, tempestades e deslizamento de terra mataram 436 pessoas na cidade do litoral norte de So Paulo. Nesse mesmo ano, uma enchente deixou 785 mortos no Rio. Na madrugada do ltimo dia 12 de janeiro, uma enxurrada de toneladas de lama, pedras, rvores e detritos desceu a montanha arrastando tudo pelo caminho. Os rios se encheram rapidamente, inundando as cidades. A destruio foi maior nas cidades Nova Friburgo e Terespolis, que contabilizam o maior nmero de mortos. Essas cidades tursticas recebem visitantes na temporada, que aproveitam o clima ameno da serra. Ruas foram cobertas por um mar de lama, com corpos espalhados, casas destrudas e carros empilhados. A queda de pontes em rodovias deixou cidades isoladas, e os moradores ficaram sem luz, gua e telefone. Em Nova Friburgo, o rio subiu mais de cinco metros de altura e a enchente derrubou casas. Em Terespolis, o cenrio era devastador. Condomnios, chcaras, pousadas e hotis de luxo foram arrasados pelas avalanches de terra. A estrutura de atendimento s vtimas entrou em colapso. O IML (Instituto Mdico Legal) e os cemitrios ficaram lotados. Parentes das vtimas tiveram que fazer enterros s pressas em covas rasas. Uma das imagens mais impressionantes foi a de uma mulher sendo salva da inundao. Ela foi iada por uma corda do alto de um prdio, enquanto o cachorro que trazia nos braos era arrastado pela enxurrada. Causas O ar quente e mido vindo da Amaznia gerou nuvens carregadas no Sudeste. Na regio serrana do Rio, as montanhas formaram uma espcie de barreira que impediu a passagem de nuvens e concentrou a chuva numa nica rea. Direto ao ponto

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Somente em Nova Friburgo, onde a chuva foi mais intensa, em 12 dias o volume foi 84% a mais do que o previsto para todo ms de janeiro. A gua da chuva foi responsvel por dois fenmenos distintos. Primeiro, a cheias nas nascentes dos rios, no alto das montanhas, que causou as enchentes. O sistema de drenagem dos municpios era obsoleto e no conseguiu escoar as guas. E, mais grave, os deslizamentos. O solo das encostas constitudo por uma camada fina de terra e vegetao sobe a rocha. Quando fica encharcado, se descola da montanha, descendo feito uma avalanche. A grande inclinao das montanhas fez com que o deslizamento atingisse at 150 quilmetros por hora, aumentando a potncia de destruio. Boa parte das mortes, contudo, poderia ter sido evitada com polticas pblicas. Durante dcadas, os governos foram omissos quando no estimularam os loteamentos em reas de risco permanente. Na rota da lama que desceu das encostas havia dezenas de imveis, desde favelas at hotis e casas de alto padro. Aquecimento global O aquecimento global est por trs das mudanas climticas que explicam os contrastes de seca e enchentes em vrias partes do mundo. No Brasil, os prejuzos financeiros e as mortes se acumulam a cada vero. No ano passado, 283 pessoas morreram no Estado do Rio entre os meses de janeiro e abril. As catstrofes aconteceram em Angra dos Reis, Niteri (Morro do Bumba), na capital e em outras cidades. Em So Paulo, a chuva destruiu a cidade histrica de So Luiz do Paraitinga. Em 2008, houve 135 mortes em Santa Catarina. Compete aos governos municipais regulamentar e fiscalizar o uso do solo. O objetivo impedir a construo de moradias nas encostas e zonas de risco. J os governos estadual e federal precisam investir em programas preventivos e encontrar solues menos burocrticas para garantir que os recursos cheguem at as cidades. Um exemplo foi a liberao imediata de R$ 780 milhes da Unio para ajudar na reconstruo dos municpios afetados pelas chuvas deste ms. A verba foi liberada por meio de uma medida provisria assinada pela presidente Dilma Rousseff. O valor gasto com a recuperao, todavia, superior ao que seria gasto com preveno. Sem falar nas vidas perdidas.

O pior deslizamento da histria do pas deixou 710 mortos em quatro cidades da regio serrana do Rio de Janeiro. Um total de 13,8 mil pessoas esto desalojadas ou desabrigadas. O nmero de vtimas maior que o

ATUALIDADES ERISVALDO ALVESregistrado em Caraguatatuba, em 1967 (436 mortos). A tragdia foi causada por um fenmeno raro que combina fortes chuvas com condies geolgicas especficas da regio. Porm, ela foi agravada pela ocupao irregular do solo e a falta de infraestrutura nas cidades atingidas. Os deslizamentos ocorreram na madrugada do dia 12 de janeiro. Toneladas de lama desceram as montanhas e destruram favelas e imveis de alto padro. Os rios encheram e inundaram as cidades. Os estragos foram maiores em Nova Friburgo e Terespolis, cidades tursticas. Os efeitos do aquecimento global tornam as chuvas mais intensas a cada ano. Para evitar tragdias, os governos precisam impedir a ocupao das encostas e investir em programas de preveno.

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Na Tunsia, os protestos comearam depois da morte de um desempregado em 17 de dezembro do ano passado. Mohamed Bouazizi, 26 anos, ateou fogo ao prprio corpo na cidade de Sidi Bouzid. Ele se autoimolou depois que a polcia o impediu de vender frutas e vegetais em uma barraca de rua. O incidente motivou passeatas na regio, uma das mais pobres da Tunsia, contra a inflao e o desemprego. A partir da, o movimento se espalhou pelo pas e passou a reivindicar tambm mudanas polticas. O governo foi pego de surpresa e reagiu com violncia. Estima-se que mais de 120 pessoas morreram em confrontos com a polcia. Na capital Tunis foi decretado estado de emergncia e toque de recolher. Mesmo assim, milhares de manifestantes tomaram as ruas. Ben Ali foi o segundo presidente da Tunsia desde que o pas se tornou independente da Frana, em 1956. Ele ocupava o cargo desde 1987, quando chegou presidncia por meio de um golpe de Estado. Em 2009, foi reeleito com quase 90% dos votos vlidos para um mandato de mais cinco anos. Depois de dissolver o Parlamento e o governo, Bem Ali deixou o pas junto com a famlia, rumo Arbia Saudita. No seu lugar, assumiu o primeiro-ministro Mohammed Ghannouchi, um aliado poltico. Por isso, na prtica, o regime foi mantido, e os manifestantes continuam em frente ao Palcio do Governo. Eles exigem a sada de todos os ministros ligados ao expresidente, que ainda ocupam cargos-chave no governo de transio. Egito Sob certos aspectos, a Tunsia o pas mais europeu do continente africano, com classe mdia e liberal, alta renda per capta e belas praias mediterrneas. Mas tambm possui um dos governos mais corruptos e repressivos de toda a regio. A histria do pas parecida com as demais naes rabes: foi domnio otomano, colnia europeia e, depois, ditadura. A falta de liberdades civis em pases como a Tunsia sempre foi compensada por progresso econmico. Crises recentes como a do Ir, desencadeadas por jovens descontentes com os rumos econmicos e polticos do pas, mostram que a populao chegou ao seu limite. H o risco da revolta se espalhar por pases vizinhos como Egito, Lbia, Sria, Imen, Om, Jordnia, Arbia Saudita e Emirados rabes Unidos. Na Lbia e em Om, por exemplo, o ditador Muammar Gaddafi e o sulto Qaboos bin Said, respectivamente, esto no poder h mais de 40 anos. Os primeiros protestos inspirados pela Tunsia aconteceram no Egito. Em 25 de janeiro, policiais e manifestantes entraram em choque nas ruas da capital Cairo. Eles pediam a sada do presidente Hosni Mubarak, h 30 anos no comando. Pelo menos quatro pessoas morreram.

Crise na Tunsia Levantes ameaam regimes rabes

Pela primeira vez na histria, um lder rabe foi deposto por fora de movimentos populares. Isso aconteceu na Tunsia, pas mulumano localizado ao norte da frica. O presidente Zine Al-Abdine Bem Ali renunciou em 14 de janeiro aps um ms de violentos protestos contra o governo. Ele estava h 23 anos no poder. Direto ao ponto: Ficha-resumo H dcadas que governos rabes resistem a reformas democrticas. Agora, analistas acreditam que a revolta na Tunsia pode se espalhar por pases do Oriente Mdio e ao norte da frica. O Egito foi o primeiro a enfrentar manifestaes inspiradas pela revoluo do jasmim (flor nacional da Tunsia). O novo ativismo no mundo rabe explicado pela instabilidade econmica e pelo surgimento de uma juventude bem educada e insatisfeita com as restries liberdade.

ATUALIDADES ERISVALDO ALVESO movimento, chamado "dia da revolta" foi inspirado pela "revoluo do jasmim" e organizado por meio do Twitter e do Facebook, a exemplo dos protestos iranianos, ocorridos em 2009. No se sabe, por enquanto, quais as consequncias destes distrbios em pases como o Egito. O impasse tambm persiste na Tunsia, onde, at agora, o regime persiste, mesmo com a sada do presidente. A ausncia de lideranas polticas deixa o pas sem alternativas para compor um novo governo. Mas pelo menos um tabu foi quebrado, numa regio em que ditadores s eram depostos mediante golpes de Estado ou invases estrangeiras. Direto ao ponto

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Egito. Manifestantes ocupam as ruas do Cairo h uma semana para pedir a renncia do presidente Hosni Mubarak, h trs dcadas no poder. Direto ao ponto: Ficha-resumo A maior mobilizao ocorreu no dia (1 de fevereiro). Quase um milho de pessoas lotaram a Praa Tahrir, no centro da capital. Diferente dos primeiros dias, no houve confrontos com a polcia. Nem mesmo o bloqueio da internet e o toque de recolher impediram os egpcios de promoverem o ato. Antes disso, Mubarak tentou, sem sucesso, contornar a situao. Ele destituiu todo o alto escalo e nomeou um vice-presidente, fatos inditos em seu governo. Aps o megaprotesto, Mubarak anunciou na TV estatal que no concorreria s eleies presidenciais de setembro, mas que permaneceria no cargo at o fim do mandato. Ele tinha planos de passar o poder ao filho, numa sucesso dinstica comum em pases rabes. O recuo do presidente teve o peso da influncia dos Estados Unidos, que sinalizaram para uma retirada do apoio ao regime. A oposio, porm, pretende continuar a presso at a renncia do ditador egpcio. O Egito o pas rabe mais populoso, com 80 milhes de habitantes. O territrio abriga uma antiga civilizao que legou monumentos famosos como as pirmides de Giz e a Grande Esfinge. O pas tambm um importante aliado do Ocidente no Oriente Mdio, uma das regies mais conflituosas do planeta e rica em petrleo. Os recentes protestos comearam com a "revoluo do jasmim", que derrubou o presidente Zine El Abidine Ben Ali, na Tunsia, em 14 de janeiro deste ano. Ben Ali estava h 23 anos na Presidncia. Foi a primeira vez na histria que um lder rabe foi deposto por um movimento popular. Na sequncia, as disseminaram por Arglia e o Imen. expresso quanto a manifestaes pr-democracia se outros pases da regio, como a Nenhum delas, contudo, teve tanta que acontece atualmente no Egito.

O presidente da Tunsia, Zine Al-Abdine Bem Ali renunciou em 14 de janeiro aps um ms de violentos protestos contra o governo. Ele estava h 23 anos no poder. Foi a primeira vez que um lder rabe foi deposto por fora de movimentos populares. Analistas acreditam que a revolta na Tunsia pode se espalhar por pases do Oriente Mdio e ao norte da frica. O Egito foi palco de manifestaes inspiradas pelas da Tunsia, no dia 25 de janeiro. O novo ativismo no mundo rabe explicado pela instabilidade econmica e pelo surgimento de uma juventude bem educada e insatisfeita com as restries liberdade Na Tunsia, os protestos comearam depois que Mohamed Bouazizi, 26 anos, ateou fogo ao prprio corpo na cidade de Sidi Bouzid, em 17 de dezembro do ano passado. Ele fez isso depois que a polcia o impediu de vender frutas e vegetais em uma barraca de rua. O governo tunisiano foi pego de surpresa e reagiu com violncia. Estima-se que mais de 120 pessoas morreram em confrontos com a polcia. O primeiro-ministro Mohammed Ghannouchi, aliado poltico de Bem Ali, assumiu o cargo no governo provisrio. Por isso, na prtica, o regime foi mantido, e os protestos continuam.

Tenso no Egito Milhares vo s ruas contra ditadura

As revoltas nos pases rabes lembram os levantes que provocaram a queda dos regimes comunistas na Europa, entre o final dos anos 1980 e o comeo dos anos 1990. Entretanto, em pases como o Egito, a ausncia de tradio democrtica torna a situao mais perigosa. Radicais islmicos Sociedades rabes conhecem apenas duas formas de governo: monarquias absolutistas ou ditaduras, sejam elas militares ou religiosas. Assim, nessas naes no existem partidos que possam disputar eleies aps a queda de um tirano.

A onda de protestos pela democracia que se espalhou pelo mundo rabe assumiu propores dramticas no

ATUALIDADES ERISVALDO ALVESO mais comum, nestes casos, que o Estado secular seja substitudo por um sistema fundamentalista. Foi o que aconteceu em 2007 na faixa de Gaza. Na ocasio, o Hamas, grupo fundamentalista islmico palestino, conquistou o poder com a derrota do Fatah. Desde ento, vive em conflito com Israel. No Egito, a crise beneficia a Irmandade Mulumana, que tem expresso entre as camadas mais populares da populao. Acontece que o pas e uma pea-chave no equilbrio de foras no Oriente Mdio. Ele aliado tanto dos Estados Unidos quanto de Israel contra governos como o do iraniano Mahmoud Ahmadinejad. Egito e Israel j travaram guerras. Os dois pases assinaram um acordo de paz em 1979. J o governo norte-americano fornece quase US$ 2 bilhes por ano de ajuda econmica e militar ao Cairo. Somente o Estado de Israel recebe maior incentivo da Casa Branca. Internamente, Mubarak usou a justificativa de combater os radicais islmicos para se manter no poder e restringir liberdades. Ele era vice-presente em 1981 quando o presidente Anwar Sadat foi morto por fundamentalistas durante uma parada militar na capital. Outro fator que garantiu a permanncia de ditaduras por dcadas na regio foi a estabilidade econmica. Isso mudou com a crise financeira mundial de 2008 e a recente alta dos preos dos alimentos. A taxa de desemprego no Egito de 9% (no Brasil de 6,7%) e um egpcio em cada dois vive com apenas dois dlares por dia. Alm disso, a populao mais jovem - um em cada trs egpcios tem menos de 15 anos - e mais bem educada no tolera mais a represso dos governos e nem teme a tomada de poder por grupos religiosos. So eles que esto dando novos rumos ao mundo rabe. Direto ao ponto

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manter na Presidncia e endurecer o regime. Nos ltimos anos porm, a crise econmica e o surgimento de uma populao mais jovem e bem educado mudaram o panorama poltico no pas, culminando no recente ativismo.

Novo Congresso Oposio ao governo "encolhe" no LegislativoParlamentares eleitos em outubro do ano passado tomaram posse no ltimo dia 1 de fevereiro em Braslia, dando inicio 54 legislatura. Entre novos polticos e velhos conhecidos dos brasileiros, o destaque da atual composio do Senado e da Cmara dos Deputados a reduo do bloco de oposio ao governo. Direto ao ponto: Ficha-resumo O nmero de congressistas que pertencem aos partidos que formam a base aliada do governo de Dilma Rousseff (PT) maior do que nos dois governos de Lus Incio Lula da Silva (2003-2011). Dos 513 deputados federais e 81 senadores que compem as Casas legislativas, 461 (ou 77,6%) so filiados a partidos da situao. Nas legislaturas de 2003 e de 2007, o nmero de aliados era, respectivamente, de 285 e 401. No primeiro dia de trabalho, foram eleitos os presidentes da Cmara e do Senado. Eles iro comandar o Congresso Nacional pelos prximos dois anos. Para o Senado, Jos Sarney (PMDB-AP) foi eleito para seu quarto e, segundo ele, ltimo mandato como presidente. Na Cmara, o cargo ficou com o deputado Marco Maia (PT-RS). O PMDB e o PT possuem hoje as maiores bancadas no Poder Legislativo. Os parlamentares fazem leis e fiscalizam o Poder Executivo. Nenhuma lei entra em vigor no Brasil sem antes ser aprovada pela Cmara e pelo Senado. O salrio de um parlamentar de R$ 26,7 mil, fora os benefcios. Em tese, o maior nmero de cadeiras no Congresso Nacional garantiria a aprovao de projetos do governo. Mas, na prtica, nem sempre funciona assim. A razo que os polticos levam mais em conta interesses particulares, como por exemplo, emendas que destinem verbas para seus Estados. Tiririca Na Cmara so 513 deputados federais que cumprem mandato de quatro anos (a atual legislatura vai at 31 de janeiro de 2015). Eles so eleitos pelo nmero de votos proporcional populao de cada Estado.

A onda de protestos pela democracia no mundo rabe chegou ao Egito. H uma semana, manifestantes pressionam o presidente Hosni Mubarak para que deixe o cargo que ocupa h trs dcadas. Depois de um megaprotesto que reuniu quase um milho de pessoas no Cairo, capital egpcia, Mubarak garantiu que no vai concorrer s eleies marcadas para setembro. Mesmo assim, as manifestaes continuam a pedir sua renncia. O Egito o pas rabe mais populoso, com 80 milhes de habitantes, e um importante aliado dos Estados Unidos e de Israel na regio. Governos ocidentais temem que o poder seja assumido por grupos fundamentalistas islmicos. O mesmo receio serviu de justificativa para Mubarak se

ATUALIDADES ERISVALDO ALVESA taxa de renovao da Cmara em Braslia foi de 44,8% nas ltimas eleies, contra 47,6 em 2007. Entre os novos deputados esto o humorista Francisco Everardo Oliveira, o Tiririca (PR-SP), que obteve o maior nmero de votos no pas, o ex-jogador Romrio (PSBRJ) e o delegado Protgenes Queiroz (PCdoB-SP). O PT tem a maior bancada, com 88 deputados. Em segundo lugar est o PMDB, com 78, seguido pelo PSDB, com 53. O PT foi o partido que mais cresceu, passando de 83 para 88 deputados, passando a frente do PMDB, que tinha 89 parlamentares na Casa em 2007. Os partidos que compem a base aliada do atual governo PT, PMDB, PP, PDT, PSC e PMN contam com 257 deputados. O DEM e o PSDB, que formam a oposio, tm 96 cadeiras. Entretanto, somando os demais partidos que deram apoio ao governo Lula (PP, PTB e PV), so 402 aliados contra 111 deputados na oposio. Senado O Senado Federal composto por 81 parlamentares com mandato de oito anos. Cada Estado e o Distrito Federal tm direito a trs representantes. Um tero das cadeiras renovado numa eleio e os outros dois teros, quatro anos depois. Em 2006 foram escolhidos 27 senadores e, em 2010, 54 - dois para cada Estado e mais Distrito Federal. Eles foram escolhidos pelo sistema majoritrio, em que vencem os candidatos que obtiverem maior nmero de votos (o mesmo sistema vlido para presidente e governadores). O PMDB manteve sua hegemonia na Casa elegendo 20 senadores, mesmo nmero de quatro anos atrs, enquanto o PT passou de 11 para 15. O PSDB vem em terceiro lugar, com 10 senadores, seguido pelo DEM, com 5. A base governista possui 59 senadores (10 a mais do que em 2007) contra 17 na oposio. Salrio mnimo Votao de projetos de lei do Executivo, como o novo salrio mnimo, e temas mais polmicos, como a reforma poltica, esto na pauta de atividades do Congresso para este semestre. A votao do reajuste do salrio mnimo j deve acontecer na prxima semana. O governo quer um aumento de R$ 545 e acredita que tem votos suficientes para aprovar a proposta. J os sindicalistas querem um mnimo de R$ 580, enquanto h emendas de parlamentares com valores entre R$ 560 at R$ 600. Mais difcil ser a discusso em torno da reforma poltica. Ela consiste num conjunto de emendas constitucionais e alteraes na lei eleitoral que visam melhorar o sistema poltico no pas. A dificuldade est

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no fato das mudanas dependerem de polticos que se beneficiam com os problemas do sistema vigente. Um exemplo a questo do financiamento de campanhas, que hoje fonte de corrupo na poltica brasileira. Outros pontos polmicos envolvem a fidelidade partidria (o poltico que se elege por um partido no pode trocar no meio do mandato) e a farra dos suplentes, que assumem a vaga do parlamentar indicado para cargos no governo. O Congresso deve ainda debater projetos que envolvem a criminalizao da homofobia e a legalizao do aborto. No ltimo dia 8 de fevereiro, o Senado desarquivou a proposta que torna crime a discriminao de homossexuais, com penas previstas de at cinco anos de priso. Ambos os temas encontram resistncia das bancadas religiosas. Direto ao ponto

Parlamentares eleitos em outubro do ano passado tomaram posse no ltimo dia 1 de fevereiro em Braslia. O destaque do novo Congresso a ampliao da base aliada do governo na Cmara dos Deputados e no Senado. Dos 513 deputados federais e 81 senadores que compem as Casas legislativas, 461 (ou 77,6%) so filiados a partidos da situao. Nas legislaturas de 2003 e de 2007, o nmero de aliados era, respectivamente, de 285 e 401. Jos Sarney (PMDB-AP) e Marco Maia (PT-RS) iro presidir, respectivamente, o Senado e a Cmara pelos prximos dois anos. Eles pertencem a partidos com o maior nmero de cadeiras no Poder Legislativo. Os parlamentares fazem leis e fiscalizam o Poder Executivo. Nenhuma lei entra em vigor no Brasil sem antes ser aprovada pela Cmara e pelo Senado. Em tese, o maior nmero de aliados no Congresso Nacional garantiria a aprovao de projetos do governo. Mas, na prtica, nem sempre funciona assim. A razo que alguns polticos levam mais em conta, na hora de votar os projetos, seus prprios interesses. Entre as atividades em pauta para o primeiro semestre est a votao do projeto de reajuste do salrio mnimo e a reforma poltica. Outros temas polmicos, como a criminalizao da homofobia e a legalizao do aborto, devem ser discutidos. Cmara dos Deputados aprova projeto de mudana do Cdigo Florestal Aps quase um ms de adiamentos e um dia inteiro de negociaes e discursos inflamados, a Cmara dos Deputados aprovou por 410 votos a favor, 63 contra e uma absteno o polmico projeto que altera o Cdigo

ATUALIDADES ERISVALDO ALVESFlorestal, proposto pelo relator e deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP). A base aliada e representantes dos ambientalistas recuaram em diversos pontos do texto defendidos pela bancada ruralista, transferindo para o Senado ou para o veto da presidente Dilma Rousseff a expectativa de alterar tens do projeto. A sesso foi iniciada aps todos os partidos exceto PSOL e PV fecharem acordo para votar a nova proposta e uma emenda que regulariza reas protegidas j desmatadas. A emenda 164, votada em seguida ao projeto de lei, d aos estados o poder de determinar quais dessas reas de Proteo Permanente (APPs) sero legalizadas e quais atividades podero ser realizadas nesses terrenos papel que hoje exclusivo da Unio. Em uma derrota para o governo federal, a emenda foi aprovada com 273 votos a favor, 182 contra e duas abstenes. O texto libera plantaes e pastos feitos em reas de APPs at julho de 2008. Para o lder governista, Cndido Vaccarezza (PT-SP), a emenda abre brecha para consolidar todas as reas desmatadas irregularmente, o que significa anistia para os desmatadores. Mesmo antes da votao, o governo havia avisado que agora trabalhar para mudar o projeto de lei no Senado, onde o relator ser o senador Luiz Henrique da Silveira (PMDB-SC). Segundo Vaccarezza, Dilma no aceitar a concesso de anistia aos que desmataram APPs at julho de 2008, como prev o texto de Rebelo, e tampouco concorda em abrir mo do poder de centralizar a regularizao de milhes de pequenos agricultores que ocupam APPs nas beiras de rios. Aps passar pelo Senado, o texto segue para sano ou veto total ou parcialmente da presidente. Festa e lamentos As reaes aprovao do projeto de Rebelo iam das celebraes s crticas e previses pessimistas para o pas, dependendo do setor observado. Foi uma vitria para os produtores, porque no podamos abrir mo de ainda mais reas de produo do que j cedemos, disse BBC Brasil a senadora Katia Abreu (DEM), que presidente da Confederao da Agricultura e Pecuria do Brasil (CNA). A senadora afirmou ainda que o pas no poderia aceitar essa situao diante de seu papel crucial de combater a fome mundial e ressaltou que a populao j cedeu o bastante, visto que o Brasil o nico pas do mundo que j abriu mo de reas frteis para preservar o meio ambiente.

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Por outro lado, ambientalistas lamentaram a aprovao e o fato de o governo ter cedido em muitos dos pontos em debate. O que se faz com esse cdigo contabilizar o prejuzo, em vez de pensar em um plano nacional para as florestas, afirmou Paulo Adrio, coordenador da campanha da Amaznia do Greenpeace. Esse projeto nasceu da inspirao de ruralistas. No estou julgando se esse segmento bom ou ruim, mas e o projeto de apenas um segmento da sociedade. Cincia ignorada J representantes da academia lamentaram a aprovao de um cdigo que, segudo o pesquisador Antonio Donato Nobre, foi feito pela primeira vez sem a participao da cincia. Nobre, agrnomo e pesquisador do Instituto de Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e do Instituto nacional de Pesquisas da Amaznia (Inpa), foi o relator de um estudo feito por diversos especialistas da Sociedade Brasileira para o Progresso da Cincia (SBPC) que, segundo ele, foi basicamente ignorado pelos envolvidos na discusso sobre o cdigo. Foi apenas uma disputa de lobby. O prprio Aldo admitiu que no tem experincia nessa rea, disse Nobre. um retrocesso muito grante para muitos setores, especialmente para a agricultura. O ponto que desobriga produtores de at quatro mdulos a reflorestar um dos que mais trar prejuzos, na opinio do pesquisador. Segundo ele, o mdulo fiscal no tem fundao cientfica e vai criar confuso na hora de interpretar e empregar a lei. Perigo O ambientalista do Greenpeace Paulo Adrio tambm criticou a questo polmica. Essa anistia de quatro mdulos permite um desmatamento brutal, disse. E em um pas onde o processo democrtico recente, perigoso criar na sociedade a sensao de que pode anistiar qualquer crime. como se a Receita Federal dissesse que algum no precisa pagar IR aquele ano. Segundo o ambientalista, s a existncia do projeto de Rebelo j aumentou o desmatamento em regies como o sul da Amaznia e Roraima, por causa da perspectiva de impunidade. Ele acredita que perdeu-se a oportunidade de desenvolver um cdigo altura do potencial de biodiversidade do Brasil, que tem a maior floresta tropical do mundo. J Ktia Abreu, do CNA, disse que se a questo dos quatro mdulos e outros pontos do projeto de Rebelo

ATUALIDADES ERISVALDO ALVESno fossem aprovados se esboaria um cenrio complicado para o pas, com o aumento exacerbado dos preos dos alimentos. Ela afirma que uma rea um pouco maior usada hoje para se produzir gros e um pouco de cana-de-acar teria de ser transformada em regies preservadas. No faria sentido ceder essas terras para depois termos de comprar comida de pases onde no h nem Cdigo Florestal. Trem-bala expe dilemas da unidade tucana A oposio na Cmara dos Deputados no conseguiu unificar um discurso contrrio ao projeto que cria o trem-bala, cujo texto-base foi aprovado anteontem. O sinal mais vistoso disso ocorreu no PSDB, que refletiu no plenrio da Casa as divergncias partidrias internas entre alckmistas, serristas e aecistas. O governo derrubou quase todos os destaques da oposio. S passou o que o obriga o Ministrio da Fazenda a enviar uma espcie de prestao de contas semestral do TAV para o Congresso analisar. Oriundos do Estado mais beneficiado com o trem-bala haver estaes nas duas principais cidades, So Paulo e Campinas os tucanos paulistas defenderam o projeto em plenrio, embora com ressalvas. Mesma posio adotada pelo governador de So Paulo, Geraldo Alckmin, que j sugeriu algumas alteraes presidente Dilma Rousseff. Nesse sentido, fizeram suas intervenes na discusso preocupados tanto em levar adiante a obstruo na sesso quanto em se defender das crticas dos governistas de que no queriam que o trem-bala fosse tirado do papel. Queremos deixar muito claro que somos favorveis ao projeto. Entendemos que uma tecnologia que o Brasil precisa, pode e deve ser absorvida, mas no na forma como se apresenta no projeto nem no formato como o atual governo pretende usar o investimento, disse o lder do partido, Duarte Nogueira (SP). Sua preocupao era quanto engenharia financeira do projeto. No texto aprovado, o BNDES financia at R$ 20 bilhes ao consrcio vencedor e a Unio garante mais R$ 5 bilhes de subsdios para o caso de a receita bruta do trem-bala for inferior presente na proposta do vencedor da licitao ou projetada pela Agncia Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Entretanto, tambm demonstrava preocupao com as acusaes de que a oposio no queria sua implementao. A base governista quer passar a mensagem de que somos contrrios ao trem-bala. No somos contrrios. Defendemos o projeto, defendemos a absoro da tecnologia que importante para o transporte de massa do nosso pas. No entanto, estamos apresentado questionamentos sobre a forma como o governo quer fazer.

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O deputado Vanderlei Macris (PSDB-SP) tambm seguiu nessa linha: J tenho posio favorvel a essa proposta h muito tempo. Nunca houve dificuldade de parte de So Paulo em facilitar as atividades do governo para que essa obra pudesse ser realizada. Mas a forma como est sendo conduzida no justa. Suas principais crticas, contudo, apontavam para o fato de, a despeito do adiamento do leilo do trem-bala anunciado pelo governo, o texto do relator da medida provisria prever a criao da Empresa de Transporte Ferrovirio de Alta Velocidade (Etav). No entanto, os deputados tucanos de Minas Gerais por onde no esto previstos os trilhos do trem-bala posicionaram-se com mais fora contra o projeto. O receio, j manifestado internamente pelo senador Acio Neves (PSDB-MG), de que haja um desequilbrio nos investimentos federais em transportes em favor de So Paulo. No temos as condies necessrias para discutir a construo de um trem de alta velocidade, como se o Brasil estivesse beira de ingressar no rol das grandes potncias mundiais. No temos infraestrutura aeroporturia, rodoviria, porturia ou ferroviria que permita que os brasileiros possam se locomover com dignidade por entre os muitos caminhos do nosso pas, disse o lder da minoria, Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG). Para o presidente do PSDB-MG, deputado Marcus Pestana, a discusso verdadeira que est posta a questo de prioridades oramentrias. H uma distoro, uma vez que se tergiversa sobre uma vertente fundamental da discusso oramentria, que manifesta a escolha de prioridades. De acordo com ele, a questo essencial que h recursos pblicos, em regime de escassez, no momento de estrangulamento fiscal, que envolvem o subsdio potencial de at R$ 28 bilhes. Um dos mais deputados mais fiis ao candidato a presidente pelo PSDB em 2010, Jos Serra, o deputado Antonio Imbassahy (PSDB-BA) posicionou-se maneira do tucano na campanha eleitoral: radicalmente contrrio. Acho que o governo brasileiro tem que rever sua deciso, porque esse projeto um desservio, um acinte inteligncia do brasileiro, disse. E completou: Vocs que esto nesse trnsito insuportvel em So Paulo, Salvador, Belo Horizonte, Fortaleza, Recife admitem colocar R$ 34,6 bilhes do seu bolso, de tributos suados do povo brasileiro, num projeto absolutamente inconsistente do ponto de vista da sua economia, da gerao do custo e benefcio? Prato cheio para um novo governo O incio oficial das relaes da presidente Dilma com o Congresso mostra que a maioria conquistada nas urnas pode permitir ao executivo a aprovao de projetos polmicos e importantes para o pas sem precisar entrar em disputas sangrentas

ATUALIDADES ERISVALDO ALVESEDUCAO O ex-ministro da Fazenda tambm mudou o trecho o que se referia aos recursos destinados educao. A proposta que saiu do Senado previa que 50% da arrecadao pela Unio que seria colocada no caixa do Fundo Social fosse reservada rea. A mudana prev que 50% dos rendimentos do fundo iro para a educao e, dentro desse montante, 80% devem ser investidos em educao bsica e infantil. Outras reas, como cincia e tecnologia, esportes, ambiente e erradicao da pobreza, continuam a integrar a destinao da produo petrolfera, ainda sem definio de porcentagem de quanto cada setor dever receber. Palocci acredita que preciso construir um novo modelo de diviso dos recursos oriundos da explorao do prsal. Mas ele disse que isso poder ser feito em 2011, com novos governadores e presidente da Repblica. No Senado, Pedro Simon (PMDB-RS) incluiu no projeto a redistribuio entre todos os Estados e municpios, de acordo com critrios dos fundos de participao, dos royalties e participaes especiais de toda a explorao do petrleo no mar, inclusive fora da camada pr-sal. A emenda previa ainda que a Unio teria de compensar Estados produtores como Rio de Janeiro e Esprito Santo, que perderiam recursos. Os interesses nacionais e a crise cambial A questo cambial mundial, agravada pela deciso dos Estados Unidos de injetar 600 bilhes de dlares no mercado, um dos principais desafios dos prximos meses. A presente crise provocada por um intenso processo de disputa no mbito das economias dos EUA e da China, que tm interesses complementares e ao mesmo tempo conflitantes, com consequncias para o conjunto do comrcio mundial. O problema pode resvalar nas economias dos pases emergentes, da a necessidade de traarmos uma estratgia que possa blindar o Brasil contra eventuais consequncias desagradveis. Precisamos avanar na discusso da nossa poltica de juros, de reservas cambiais, do carregamento de uma dvida pesada que nos impe uma despesa no Oramento federal de cerca de R$ 150 bilhes. Por isso, oportuna a discusso do tema na comisso geral que ser realizada em 1 de dezembro, na Cmara dos Deputados, proposta pela bancada do PT. Essa uma questo importantssima para o desenvolvimento brasileiro. Resultado tanto de uma poltica interna como de uma situao internacional adversa, que tem levado valorizao de diferentes moedas em relao ao dlar norte-americano, o cmbio tem gerado preocupao em diferentes segmentos da economia brasileira. Nossa indstria e agricultura passam por uma situao bastante difcil. J estamos enfrentando problemas para exportar.

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Exportaes necessrio que haja um grande incentivo para aumentar nossas exportaes. necessrio que tenhamos controle oramentrio sobre a dvida externa e, principalmente, a interna, para que o Brasil no cesse o desenvolvimento que vem tendo e no perca a possibilidade de dar um grande salto frente. Esse um dos desafios que teremos de enfrentar em 2011, no primeiro ano do mandato da presidente Dilma Rousseff, cuja equipe econmica j anunciada detm todos os conhecimentos para realizarmos essa dura travessia. O cenrio externo nebuloso. Vamos enfrentar uma situao internacional muito mais difcil e complicada com a poltica norte-americana de injetar dlares, cada vez mais, para tentar recuperar seus mercados. Trata-se de uma medida egosta, de um pas que no se preocupa com a comunidade internacional. Os EUA querem resolver o sua crise interna provocada pela inpcia de seus dirigentes, que no perceberam a farsa alimentada pelos sistema financeiro e que gerou a crise mundial de 2008 s custas dos pases emergentes. Os Estados Unidos vm fazendo uma ofensiva protecionista, por meio da derrama de dlares no mercado mundial. Reao Ns, no Brasil, tambm no podemos perder nossos mercados e saberemos reagir altura. Por isso, todo o nosso apoio s posies expressadas tanto pelo presidente Lula como pela presidente eleita, Dilma Rousseff, durante a reunio do G-20 o grupo das vinte maiores economias mundiais em Seul, Coreia. A conduta dos EUA deve ser repelida, em todos os foros internacionais. No possvel que a maior economia do mundo, com o poder que tem e com a posse da moeda de converso internacional, continue agindo dessa maneira. Devemos adotar medidas que nos protejam deste embate cambial que coloca a China tambm no cenrio. necessria a aplicao de medidas internas de defesa no s da nossa indstria como da nossa agricultura, medidas que garantam o emprego, a produo e as condies para que o Pas continue se desenvolvendo. A comisso geral do dia 1 de dezembro refora o papel do Congresso, a quem cabe, pela Constituio, discutir e definir a poltica monetria e cambial. Mas ns, efetivamente, at agora no assumimos esse papel. O Congresso Nacional instrumento essencial para que o Pas possa encontrar uma sada para enfrentar essa ofensiva dos EUA, que, em vez de incentivar o desenvolvimento e a produo, faz uma grande derrama de dlares, o que prejudicar os pases em desenvolvimento.

Buy Brazil: MP privilegia produto nacional em licitaoCom tramitao relmpago no Senado, de cerca de 24 horas, os senadores aprovaram ontem o projeto de converso Medida Provisria 495, que favorece empresas nacionais nas licitaes pblicas.

ATUALIDADES ERISVALDO ALVESO projeto encaminhado sano presidencial estabelece uma margem de preferncia para produtos manufaturados e servios nacionais, mesmo que custem at 25% a mais do que seus concorrentes estrangeiros. O relator do projeto, senador Aloizio Mercadante (PTSP), afirma que a mudana na Lei de Licitaes foi inspirada na legislao adotada pelos Estados Unidos nos anos 30. A diferena, segundo ele, que o governo brasileiro no ser obrigado a comprar o produto nacional, mas poder optar pela compra, desde que o produto no ultrapasse em 25% o custo do mesmo produto estrangeiro. O projeto exige que a preferncia seja justificada em anlises que levem em considerao a gerao de emprego e renda, a arrecadao de tributos e o desenvolvimento e a inovao tecnologia realizada no Brasil. Pressa. Em uma das sesses o lder do DEM, senador Jos Agripino (RN), lembrou ao lder do governo, Romero Juc (PMDB-AP), que praxe dar pelos menos duas sesses para os senadores conhecerem os projetos chegados da Cmara. Ele concordou, mas no esperou o prazo porque o prazo de validade da medida provisria j caducou. Um dos alvos da proposta, de acordo com Mercadante, beneficiar os setores frmacos, txtil e de tecnologia de Informao (TI), trs reas sensveis concorrncia externa. O projeto determina que a definio da margem de preferncia ser fixada por rgos ou universidade federal e apresentados em audincia pblica anual. Para tanto, sero levados em considerao, entre outros fatores, a comprovao, por parte da empresa, de que dispe de capacidade de produo suficiente para ser aplicada a preferncia. J o governo, poder barrar a participao de concorrentes estrangeiros em licitaes para compra de bens e servios que forem usados na implantao, manuteno e aperfeioamento de sistemas de tecnologia de informao e comunicao, se esses forem considerados estratgicos pelo Executivo. O projeto encaminhado sano permite que o governo celebre contratos de aquisio de bens e servios pelo prazo de 10 anos com um fornecedor, em caso de compras que possam comprometer a segurana nacional. Em caso de alianas estratgicas com empresas privadas ou entidades sem fins lucrativos, ser permitida a dispensa da licitao para compras voltadas ao desenvolvimento de novas tecnologias e aumento da produtividade das empresas nacionais. Buy Brazil. Apelidada no exterior de Buy Brazil (Compre Brasil), em referncia poltica Buy America adotada pelo governo Barack Obama na tentativa de superar a crise financeira internacional, o mecanismo de

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favorecimento a empresas nacionais em licitaes pblicas gerou reclamaes mais acintosas na Unio Europeia, que em mais de uma ocasio nos ltimos meses criticou o mecanismo brasileiro. Para o bloco europeu, o Brasil tem adotado medidas protecionistas desde o auge da crise.

Da fragmentao bipolarizaoUm cientista poltico americano me confessou sua surpresa quando soube que 22 partidos elegeram deputados federais nas eleies brasileiras de 2010. A surpresa foi ainda maior quando soube que o PT, partido com mais cadeiras, elegeu apenas 88 deputados (17 %). Existem pases com alta disperso partidria, como Blgica e Israel. Mas a Cmara dos Deputados brasileira , atualmente, a mais fragmentada do mundo democrtico. Meu interlocutor no revelou, mas um fato torna ainda mais difcil de entender o sistema partidrio no Pas: por que, com 27 partidos registrados h cinco eleies presidenciais, apenas 2 deles, o PT e o PSDB, disputam efetivamente a Presidncia? Ou dito de outra maneira: por que temos o Legislativo mais disperso do planeta, e uma disputa presidencial to concentrada? As eleies de 2010 acentuaram uma tendncia, que comeou em meados da dcada de 1990, de bipolarizao do sistema partidrio brasileiro. Em um dos polos esto o PT e seus partidos satlites (PCdoB, PSB e PDT); de outro, o PSDB e os seus satlites (DEM e PPS). Esses dois polos organizam a vida administrativa e programtica do Pas. Lembre-se que a regra de verticalizao deixou de vigorar neste ano. Apesar disso, nos principais Estados a bipolarizao nacional se reproduziu como nunca. E os outros partidos? PMDB, PTB, PR e PP fazem parte do que chamarei, na falta de nome melhor, de centropragmtico. So partidos com baixa intensidade ideolgica, que participaram dos governos dos dois polos. Alm disso, so partidos que se orientam fortemente para a vida poltica estadual. Para muitos analistas, o PMDB saiu como o principal partido desta eleio, pois obteve a maior bancada no Senado, a segunda na Cmara dos Deputados e ainda elegeu, pela primeira vez pelo voto direto (Sarney tambm pertence ao partido), o vice-presidente. inegvel a fora do PMDB, mas existem alguns sinais de que o partido vem perdendo vitalidade no sistema partidrio brasileiro. O PMDB elegeu apenas cinco governadores, um nico em um dos grandes Estados da Federao (Rio de Janeiro). Em So Paulo, domiclio eleitoral do vice-presidente, o partido elegeu apenas um deputado federal. Diversas lideranas histricas do partido ou foram derrotadas ou esto saindo da vida poltica: Jos Fogaa (RS), Iris Resende (GO), Geddel Vieira Lima (BA), Hlio

ATUALIDADES ERISVALDO ALVESCosta (MG) e Orestes Qurcia (SP). O partido vive uma clara dificuldade de renovao. Quem so suas lideranas emergentes? Consigo pensar em apenas um nome: o do governador do Rio de Janeiro, Srgio Cabral. PSB. A composio da bancada dos partidos no Congresso apresentou algumas pequenas alteraes em 2010. Gostaria de destacar trs delas. A primeira o crescimento do PSB. O partido a nica legenda que vem crescendo sistematicamente no Pas, notadamente no Nordeste, onde elegeu cinco dos nove governadores. O PSB deslocou o PMDB como principal fora do campo progressista na regio. A segunda alterao digna de nota o desempenho dos Democratas. O antigo PFL disputou a primeira eleio nacional (j havia disputado as municipais de 2008) com o novo nome, mas no conseguiu deter seu declnio eleitoral, que vem acontecendo desde 2002. O partido tem encolhido paulatinamente, particularmente no Nordeste e nos Estados do Sudeste. Por fim, vale destacar o PV. O partido no conseguiu traduzir em representao no Legislativo o bom desempenho de sua candidata presidencial. A novidade, aqui, refere-se menos ao desempenho eleitoral e mais ao potencial de crescimento. O PV sempre foi nacionalmente um partido pragmtico. A candidata Marina j deu sinais de que pretende dar um carter mais programtico ao PV, que o aproximaria da agenda ambientalista europeia. Para analisar a configurao do sistema partidrio brasileiro fundamental entender que a fragmentao numrica no se traduz em fragmentao doutrinria. A polarizao entre o PT e o PSDB, entre o governo e a oposio no plano federal o que tem organizado a poltica brasileira. So dois grandes guarda-chuvas, com espao para abrigar aqueles que, circunstancialmente, querem ser acolhidos. Pensando nas transformaes recentes do sistema partidrio brasileiro lembrei-me do sistema de partidos da Itlia desta dcada: alta fragmentao, mas com um alinhamento em dois grandes polos (esquerda e direita). Eleies presidenciais americanas, com uma bipolarizao congressual italiana: uma combinao interessante.

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ficam dispensadas de manter reserva legal em pelo menos 20% do terreno. Mas as que ainda tiverem vegetao nativa no podero cort-la, pelo menos por um perodo de cinco anos, prazo de uma moratria para o desmatamento. O porcentual das pequenas propriedades ? 90% ? equivale ao contingente de produtores rurais que descumprem o Cdigo Florestal em vigor. Calcula-se que 870 mil quilmetros quadrados, extenso equivalente a trs vezes e meia o Estado de So Paulo, tenham sido desmatados de forma irregular. Nem tudo ter de ser recuperado, a valerem as novas regras. O texto aprovado ontem por 13 votos a 5 e reformado na vspera pelo relator Aldo Rebelo (PCdoB-SP) seguir para o plenrio da Cmara. No h data para a nova votao, mas ela s dever acontecer aps as eleies, prev o deputado. Com ar cansado, aps quase seis horas de discusses, Rebelo evitou fazer um prognstico sobre o futuro da reforma do Cdigo Florestal. Carreguei a responsabilidade at aqui, a sensao de tarefa cumprida, afirmou. Se nem todos ficaram satisfeitos, consegui resolver parte importante do problema