apostila monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

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Page 1: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

Autoinstrucional - 40h

Monitoramento da Qualidade da Águade Rios e Reservatórios

Capacitação para o Singreh

Page 2: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

Unidade 1Fundamentos legais sobre a Gestão da

Qualidade das Águas

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Page 3: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

SUMÁRIOLISTA DE FIGURAS.......................................................................................1 POLÍTICA NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS...................................1.1Fundamentos.............................................................................................1.2Diretrizes....................................................................................................1.3Objetivos....................................................................................................1.4 Instrumentos..............................................................................................1.4.1 Planos de Recursos Hídricos..............................................................1.4.1.1 Resolução 17/2001 do CNRH............................................................1.4.2 Enquadramento.....................................................................................1.4.2.1 Resolução 357/05 do CONAMA.........................................................1.4.2.2 Resolução 397/2008 do CONAMA.....................................................1.4.2.3 Resolução 91/2008 do CNRH............................................................1.4.2.4 Procedimentos para o enquadramento...............................................1.4.3 Outorga..................................................................................................1.4.3.1 Resolução 25/2012 da Agência Nacional de Águas...........................1.4.3.2 Resolução 06/2001 do Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH)............................................................................................................1.4.3.3 Resoluções de definição de parâmetros para outorga.......................1.4.4 Cobrança................................................................................................1.4.5 Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos................................2. OUTRAS NORMATIVAS E RESOLUÇÕES RELACIONADAS À QUALIDADE DE ÁGUA................................................................................2.1 Resoluções CONAMA: 274/2000, 357/05 e 430/11.................................2.2 Portaria 2.914, de 12 de dezembro de 2011............................................2.3 Resolução Conjunta 03/2010 ANA e ANEEL...........................................RESUMO UNIDADE 1...................................................................................REFERÊNCIAS...............................................................................................

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Page 4: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Estrutura de Programas do Plano Nacional de Recursos Hídricos.

Figura 2 - Relação do Plano de Recursos Hídricos com os demais instrumentos.

Figura 3 - Usos da água e os seus requisitos de qualidade.

Figura 4 - Classes de enquadramento e respectivos usos e qualidade da água

Figura 5 - Comitês de Bacias Hidrográficas e a cobrança em rios estaduais.

Figura 6 - Situação da Cobrança em CBHs Interestaduais e Estaduais até 2012.

Figura 7 - Limites de coliformes termotolerantes em águas costeiras.

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Page 5: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

1 POLÍTICA NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS

Os recursos hídricos são utilizados para distintas finalidades, entre as quais se

destacam o abastecimento humano e animal, a geração de energia, a irrigação, a

navegação, a aquicultura e a harmonia paisagística. Nas últimas décadas a

preocupação do ser humano com esse recurso cresceu muito, principalmente em

função das ações indevidas e do uso irracional da água, que resulta em uma série

de prejuízos à sociedade.

Assim, a Lei nº 9.433/97 instituiu, no Brasil, a Política Nacional de Recursos

Hídricos, criando o Sistema Nacional de Gerenciamento dos Recursos – SINGREH,

alavancando uma nova fase na administração das águas em nosso país.

Com a promulgação da chamada “Lei das Águas”, cravou-se um marco na mudança

do ambiente institucional regulador do uso da água, implementando-se a gestão

descentralizada e participativa deste bem social, com a atuação do Poder Público,

usuários e comunidade em geral, criando assim um arcabouço de instituições

atuantes neste processo, como os Conselhos Nacional e Estadual de Recursos

Hídricos, a Agência Nacional de Águas e os Comitês de Bacia. Nesse contexto,

optou-se pela Bacia Hidrográfica como unidade básica de planejamento e operação

do sistema e previu-se, ainda, instrumentos específicos, exclusivamente delineados

para o gerenciamento das águas. Nesse primeiro módulo do curso serão

apresentados, além dos fundamentos, as diretrizes, os objetivos e os instrumentos

da Política Nacional de Recursos Hídricos, de forma que todos os itens a serem

estudados são de grande importância e aplicação para o monitoramento das águas.

1.1 Fundamentos

O conjunto de diretrizes sobre as quais se apoia todo o desenvolvimento desta nova

visão da administração da água é prescrito pelo art. 1º da Lei 9433/97, que consagra

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Page 6: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

os seguintes preceitos como fundamentos da Política Nacional de Recursos

Hídricos:

• I - a água é um bem de domínio público. O u seja, não pertence ao Estado,

mas a toda a coletividade.

• II - a água é um recurso natural limitado , dotado de valor econômico. Em

outras palavras, ao se atribuir um valor econômico aos recursos hídricos,

procura-se estabelecer critérios para o seu uso, garantindo a perenidade em

seu acesso às presentes e futuras gerações.

• III - em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o

consumo humano e a dessedentação de animais. Esta é a necessidade

fundamental, tendo em vista o fato de a água constituir-se como elemento

essencial para a existência de todos os organismos vivos no planeta.

• IV - a gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo

das águas. O uso dos recursos hídricos pode ser classificado em uso

consuntivo, considerado como aquele em que se retira a água de sua fonte

natural, causando uma diminuição em sua disponibilidade espacial e temporal

(irrigação e uso industrial, por exemplo), e uso não consuntivo, quando a

utilização retorna praticamente a totalidade de água usada à sua fonte de

suprimento, como na navegação e na recreação.

• V - a bacia hidrográfica é a unidade territorial para implementação da Política

Nacional de Recursos Hídricos e atuação do Sistema Nacional de

Gerenciamento de Recursos Hídricos. O sistema de gerenciamento da água

não terá por base os limites administrativos e as fronteiras políticas que

delimitam as competências entre União e Estados, podendo ocorrer de uma

bacia hidrográfica ocupar o território de dois ou mais Estados.

• VI - a gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com a

participação do Poder Público, dos usuários e das comunidades. Em outras

palavras, esta gestão provoca a transferência dos poderes tradicionais da

União e Estados, privilegiando as decisões locais.

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Page 7: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

1.2 Diretrizes

As diretrizes são referências para alcançar os objetivos dentro das bases propostas

nos fundamentos da Lei 9433/97. São elas:

• I- a gestão sistemática dos recursos hídricos, sem dissociação dos aspectos

de quantidade e qualidade; ou seja, é muito importante a combinação de

informações sobre a quantidade e qualidade dos recursos, visto que não

adianta ter água em abundância e contaminada, pois a qualidade é tão

importante quanto a quantidade, principalmente quando se trata de atender a

necessidades básicas dos seres humanos e do meio ambiente.

• II - a adequação da gestão de recursos hídricos às diversidades físicas,

bióticas, demográficas, econômicas, sociais e culturais das diversas regiões

do País; ou seja, a gestão deve ser observada de acordo com as diferenças

de cada bacia hidrográfica, considerando principalmente as particularidades e

costumes das diferentes bacias.

• III - a integração da gestão de recursos hídricos com a gestão ambiental; ou

seja, os recursos hídricos não podem ser gerenciados de forma isolada.

Assim, sugere-se a integração com órgãos gestores que controlam a

qualidade do meio ambiente.

• IV - a articulação do planejamento de recursos hídricos com o dos setores

usuários e com os planejamentos regional, estadual e nacional, como

também a articulação da política hídrica com a política agrícola, industrial e de

turismo.

• V - a articulação da gestão de recursos hídricos com a do uso do solo; ou

seja, o uso inadequado do solo poderá prejudicar os recursos hídricos dos

municípios à jusante; assim, a articulação da gestão dos recursos hídricos

com a do uso do solo induz e valoriza a articulação entre os municípios.

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Page 8: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

1.3 Objetivos

Os objetivos referem-se ao que se almeja com a implantação da Política Nacional de

Recursos Hídricos. São eles:

• I- Garantir água em qualidade e quantidade adequada aos respectivos usos

para a atual e para as futuras gerações;

• II- Proporcionar e incentivar o uso racional e integrado dos recursos hídricos,

com vistas ao desenvolvimento sustentável;

• III- Promover a prevenção e a defesa contra eventos hidrológicos críticos de

origem natural ou decorrentes do uso inadequado dos recursos naturais.

1.4 Instrumentos

O Projeto Água: conhecimento para gestão, em parceria com a Agência Nacional de

Águas (ANA), oferece cursos de Educação à distância (EAD) específicos para cada

um dos instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos.

1.4.1 Planos de Recursos Hídricos

Os Planos de Recursos Hídricos, segundo a Lei 9433/97, são planos diretores que

visam fundamentar e orientar a implementação da Política Nacional de Recursos

Hídricos e o gerenciamento dos recursos hídricos em todas as bacias hidrográficas.

E quais são os objetivos específicos do Plano de Recursos Hídricos?

• A melhoria das disponibilidades hídricas, superficiais e subterrâneas, em

qualidade e quantidade;

• A redução dos conflitos reais e potenciais de uso da água, bem como dos

eventos hidrológicos críticos;

• A percepção da conservação da água como valor socioambiental relevante.

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Page 9: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

A estrutura programática do Plano Nacional de Recursos Hídricos é composta por 13

programas organizados em quatro componentes, divididos em subprogramas. Na

Figura 1 podemos observar essa divisão.

Figura 1 - Estrutura de Programas do Plano Nacional de Recursos Hídricos.

Fonte: Plano Nacional de Recursos Hídricos, revisão 2010 (Acesso em: 08 de jan. 2013).

Serão elaborados Planos de Recursos Hídricos por bacia hidrográfica, por Estado e

para o País, sendo que:

NACIONAL: Abrange todo o território nacional, estabelecendo metas, diretrizes e

programas que possibilitem alcançar um cenário pactuado entre governo, usuários e

sociedade;

ESTADUAL: Plano estratégico de abrangência estadual, com ênfase nos sistemas

estaduais de gerenciamento de recursos hídricos;

BACIA: Também denominado de plano diretor de recursos hídricos, é o documento

programático para a bacia, contendo as diretrizes de usos dos recursos hídricos e

medidas correlatas. Deve conter o diagnóstico da situação, a disponibilidade hídrica

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Page 10: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

e as linhas gerais de ação para ampliar ou melhorar a utilização dos recursos

hídricos.

Para um melhor entendimento, podemos observar na figura 2 a relação do Plano de

Recursos Hídricos com os demais instrumentos.

Figura 2 - Relação do Plano de Recursos Hídricos com os demais instrumentos.

Fonte:http://www.comitepcj.sp.gov.br/gapb/Apresentacao_GAPB_marcelo_costa_12-05-09.p

df (Acesso em: 07 de jan. 2013).

Os Planos de Recursos Hídricos são instrumentos de planejamento que servem

para orientar a atuação dos gestores no que diz respeito à outorga, ao

enquadramento, a cobrança e ao sistema de informações sobre recursos hídricos.

Vale ressaltar que os Planos de Recursos Hídricos devem ser formulados com uma

visão de longo prazo, embora eles sejam dinâmicos e revisados de tempos em

tempos. O Plano nacional, por exemplo, foi planejado até 2015 e os de bacias, em

geral, são revistos num período de 4 em 4 anos.

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Page 11: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

1.4.1.1 Resolução 17/2001 do CNRH

A Resolução 17/2001 do Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH)

determina que os Planos de Recursos Hídricos devem levar em consideração os

planos, programas, projetos e demais estudos relacionados aos recursos hídricos

existentes na área de abrangência das respectivas bacias, constituídos por

diagnósticos e prognósticos, alternativas de compatibilização, metas, estratégias,

programas e projetos.

1.4.2 Enquadramento

O enquadramento busca “assegurar às águas qualidade compatível com os usos

mais exigentes a que forem destinadas” e “diminuir os custos de combate à poluição

das águas, mediante ações preventivas permanentes” (art. 9º, Lei nº 9.433, de

1997). Segundo a Agência Nacional de Águas (2009) o enquadramento de rio ou de

qualquer outro corpo d’água deve considerar três aspectos principais:

• o rio que temos: condição atual;

• o rio que queremos: representa uma visão de futuro;

• o rio que podemos ter: uma visão realista que representa as limitações

técnicas/econômicas.

O enquadramento dos corpos d’água representa referência para o licenciamento

ambiental, a outorga e a cobrança, assim como base para a execução do plano de

recursos hídricos.

1.4.2.1 Resolução 357/05 do CONAMA

A Resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) nº 357/2005

“dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu

enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de

efluentes e dá outras providências”. As classes de corpos de água existentes no

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território brasileiro são classificadas em águas doces, salobras e salinas, segundo a

qualidade requerida para os seus usos preponderantes, em 13 classes de qualidade,

sendo cinco classes para água doce, quatro classes para água salobra e quatro

classes para águas salinas.

Os usos a serem analisados previstos nas classes de enquadramento são:

abastecimento para consumo humano; preservação do equilíbrio natural das

comunidades aquáticas; preservação dos ambientes aquáticos em Unidades de

Conservação (UCs) de proteção integral; proteção das comunidades aquáticas,

inclusive em terras indígenas; recreação de contato primário ou secundário;

irrigação: hortaliças, plantas frutíferas, culturas arbóreas, cerealíferas, forrageiras;

aquicultura e pesca; dessedentação de animais; navegação; harmonia paisagística e

outros como mineração, industrial e a produção de hidroeletricidade.

Na figura abaixo podemos ter uma ideia dos diversos usos e os requisitos de

qualidade da água.

Figura 3 - Usos da água e os seus requisitos de qualidade.

Fonte:http://www.comitepcj.sp.gov.br/gapb/Apresentacao_GAPB_marcelo_costa_12-05-09.p

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Page 13: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

df (Acesso em: 07 de jan. 2013).

A resolução estabelece padrões de enquadramento aos diversos usos, variando com

o nível de exigência da qualidade da água conforme a Figura 4.

Figura 4 - Classes de enquadramento e respectivos usos e qualidade da água

Fonte: Programa Nacional de Qualidade das Águas (2009) (Acesso em: 10 de jan. 2013).

1.4.2.2 Resolução 397/2008 do CONAMA

A Resolução CONAMA 397/2008 altera o art. 34 da Resolução nº 357/2005 em

questões sobre condições e padrões de lançamento de efluentes. E como será visto

mais adiante, a Resolução CONAMA nº 357/05 foi alterada e complementada pela

Resolução 430/2011.

1.4.2.3 Resolução 91/2008 do CNRH

A Resolução CNRH 91/2008 dispõe sobre procedimentos gerais para o

enquadramento dos corpos de água superficiais e subterrâneos e aborda a questão

da qualidade de água no contexto desse instrumento.

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Page 14: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

1.4.2.4 Procedimentos para o enquadramento

O processo de enquadramento deve contar com a participação da comunidade da

bacia, por meio da realização de consultas públicas, encontros técnicos ou oficinas

de trabalho. Ao longo do processo de elaboração do enquadramento, devem ocorrer

eventos com participação pública nas fases de diagnóstico e prognóstico e durante a

fase de elaboração da proposta.

O passo inicial para o enquadramento é a criação de um grupo técnico de

acompanhamento proposto pelo Comitê da Bacia, geralmente coordenado por

agência de bacia ou órgão gestor de recursos hídricos, integrado por representantes

do órgão gestor de meio ambiente, empresas de saneamento e outros

representantes (indústria, mineração, etc.) e a sociedade em geral.

O processo de enquadramento é dividido em quatro etapas principais: diagnóstico

da bacia; prognóstico da bacia; elaboração da proposta de enquadramento e análise

e deliberações do Comitê da Bacia e do Conselho de Recursos Hídricos.

1.4.3 Outorga

A outorga de direito de uso de recursos hídricos é um dos seis instrumentos da

Política Nacional de Recursos Hídricos. Esse instrumento tem como objetivo

assegurar o controle quantitativo e qualitativo dos usos da água e o efetivo exercício

dos direitos de acesso aos recursos hídricos.

A outorga assegura ao órgão gestor controle quantitativo e qualitativo dos usos da

água e ao interessado o direito de utilizar a água de uma determinada fonte hídrica,

com vazão, finalidade e períodos definidos. A ANA é a responsável pela emissão de

outorgas de direito de uso de recursos hídricos em corpos hídricos de domínio da

União, que são os rios, lagos e represas que dividem ou passam por dois ou mais

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Page 15: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

estados ou, ainda, aqueles que passam pela fronteira entre o Brasil e outros países.

Conforme disposto na Lei Federal 9433/1997, os usos que dependem de outorga

são:

• A derivação ou captação de parcela da água existente em um corpo d'água

para consumo final, inclusive abastecimento público, ou insumo de processo

produtivo;

• A extração de água de aquífero subterrâneo para consumo final ou insumo de

processo produtivo;

• Lançamento, em corpo de água, de esgotos e demais resíduos líquidos ou

gasosos, tratados ou não, com o fim de sua diluição, transporte ou disposição

final;

• Uso de recursos hídricos com fins de aproveitamento dos potenciais

hidrelétricos;

• Outros usos que alterem o regime, a quantidade ou a qualidade da água

existente em um corpo de água.

1.4.3.1 Resolução 25/2012 da Agência Nacional de Águas

A Resolução em questão estabelece diretrizes para análise dos aspectos de

qualidade da água dos pedidos de declaração de Reserva de Disponibilidade hídrica

e de outorga do direito de uso de recursos hídricos em reservatórios de domínio da

União.

1.4.3.2 Resolução 06/2001 do Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH)

A resolução 06/2001 institui o programa e os objetivos do Programa Despoluição das

Bacias Hidrográficas (PRODES). Os objetivos desse programa são:

• I – reduzir os níveis de poluição hídrica observados nas bacias hidrográficas

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Page 16: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

do país;

• II – induzir a implantação de sistemas de gerenciamento de recursos hídricos

nestas áreas, mediante a constituição de Comitês de Bacia Hidrográfica

(Comitê) e respectivas Agências e implementação de mecanismos para a

cobrança pelo direito de uso de recursos hídricos, conforme previsto pela Lei

9.433/1997.

Segundo o site da ANA, o PRODES “desde seu início, em 2001, contratou 55

empreendimentos que atenderam a cerca de 5,56 milhões de brasileiros e

desembolsou R$ 200,82 milhões pelo esgoto tratado. Esses recursos alavancaram

investimentos de aproximadamente 720 milhões de reais dos prestadores de

serviços de saneamento na implantação das estações de tratamento de esgotos”.

1.4.3.3 Resoluções de definição de parâmetros para outorga

A Lei 9.984/2000 determina que em corpos hídricos de domínio dos Estados e do

Distrito Federal a solicitação de outorga deve ser feita ao órgão gestor estadual de

recursos hídricos. Em cumprimento à referida lei, a ANA dá publicidade aos pedidos

de outorga de direito de uso de recursos hídricos e às respectivas autorizações,

mediante publicação sistemática das solicitações nos Diários Oficiais da União e do

respectivo Estado e da publicação dos extratos das Resoluções de Outorga

(autorizações) no Diário Oficial da União.

Já a Resolução 707/2004 da ANA “dispõe sobre procedimentos de natureza técnica

e administrativa a serem observados no exame de pedidos de outorga, e dá outras

providências”. De acordo com a lei, não são objetos de outorga de direito de uso de

recursos hídricos, mas obrigatoriamente de cadastro no Cadastro Nacional CNARH:

• I - serviços de limpeza e conservação de margens, incluindo dragagem,

desde que não alterem o regime, a quantidade ou qualidade da água

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Page 17: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

existente no corpo de água;

• II - obras de travessia de corpos de água que não interfiram na quantidade,

qualidade ou regime das águas, cujo cadastramento deve ser acompanhado

de atestado da Capitania dos Portos quanto aos aspectos de compatibilidade

com a navegação;

• III - usos com vazões de captação máximas instantâneas inferiores a 1,0 L/s,

quando não houver deliberação diferente do CNRH.

Ainda de acordo com esta resolução, a decisão sobre os pedidos de outorga,

condições de uso da água e prazos de validade das outorgas são definidos com

base em três fatores.

• a racionalidade no uso da água, avaliada de acordo com procedimentos e

critérios;

• a magnitude do conflito pelo uso da água na bacia, avaliada pela relação

entre as demandas totais existentes e as vazões de referência;

• a magnitude da participação individual do usuário no comprometimento dos

recursos hídricos, avaliada pela relação entre a demanda individual do

usuário e as vazões de referência.

1.4.4 Cobrança

O que é a cobrança pelo uso da água? É um dos instrumentos de gestão dos

recursos hídricos instituídos pela Lei 9433/97, que tem como objetivo estimular o uso

racional da água e gerar recursos financeiros para investimentos na recuperação e

preservação dos mananciais das bacias. A cobrança não é um imposto, mas um

preço condominial, fixado a partir de um pacto entre os usuários de água e o Comitê

de Bacia, com o apoio técnico da ANA.

Por que cobrar pelo uso da água? Em função de condições de escassez em

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Page 18: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

quantidade e/ou qualidade, a água deixou de ser um bem livre e passou a ter valor

econômico. Esse fato contribuiu para a adoção de um novo paradigma de gestão

desse recurso, que compreende a utilização de instrumentos regulatórios e

econômicos, como a cobrança pelo uso da água.

Quem Cobra? Compete à ANA operacionalizar a cobrança pelo uso dos recursos

hídricos de domínio da União, ou seja, daqueles rios ou demais cursos d'água que

atravessam mais de um Estado da federação. Nos rios de domínio estadual,

compete ao órgão de recursos hídricos ou ainda à Agência de Bacia, caso ela esteja

em funcionamento.

De acordo com as figuras abaixo, podemos ter uma ideia da situação em que os

Comitês de Bacias Hidrográficas encontram-se em relação à cobrança do uso da

água.

Figura 5 - Comitês de Bacias Hidrográficas e a cobrança em rios estaduais.

Fonte: ANA (2012) (Acesso em: 12 de jan. 2013).

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Page 19: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

Figura 6 - Situação da Cobrança em CBHs Interestaduais e Estaduais até 2012.

Fonte: ANA (2012) (Acesso em: 12 de jan. 2013).

Basicamente, espera-se com a cobrança o alcance das metas e projeções de

melhoria da qualidade da água. Por exemplo, se um trecho de um rio x for

enquadrado como rio de classe 2, porém, os parâmetros analisados na água estão

acima do permitido para esta classe, conforme preconiza a resolução 357/05 do

CONAMA, significa que o Plano de Recurso Hídrico daquela bacia deverá

estabelecer programas, projetos e metas de melhoria, e o recurso financeiro para tal

poderá advir da cobrança.

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Page 20: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

1.4.5 Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos

O Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos é um sistema de coleta,

tratamento, armazenamento e recuperação de informações sobre Recursos Hídricos

que atualiza permanentemente as informações sobre demanda e disponibilidade de

águas em todo território nacional e fornece subsídios para a elaboração dos Planos

de Recursos Hídricos, sobretudo na fase de diagnóstico. Sem a aplicação desse

instrumento é impossível estabelecer os outros instrumentos da PNRH.

O sistema de gestão das águas engloba organismos, agências e instituições

governamentais como o Conselho Nacional de Recursos Hídricos, a Agência

Nacional de Águas, os Conselhos de Recursos Hídricos dos Estados e do Distrito

Federal, os Comitês de Bacia Hidrográfica, as Agências de Águas e os órgãos dos

poderes públicos federal, estaduais, do Distrito Federal e municipais, cujas

competências se relacionem com a gestão de recursos hídricos. Esse item será

trabalhado com maior ênfase na Unidade 6.

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Page 21: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

2 OUTRAS NORMATIVAS E RESOLUÇÕES RELACIONADAS À QUALIDADE DE

ÁGUA

2.1 Resoluções CONAMA: 274/2000, 357/05 e 430/11

Seguem mais legislações que contribuem para o monitoramento da qualidade da

água:

Resolução 274/2000: “Define os critérios de balneabilidade em águas brasileiras”,

voltados principalmente para o monitoramento de coliformes termotolerantes em

análises consecutivas para a classificação de águas destinadas à recreação de

contato primário.

Como exemplo, o Estado de São Paulo atua com o Programa de Balneabilidade das

Praias realizado pela Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental do

Estado de São Paulo - CETESB que está estruturado para atender às

especificações da Resolução em questão e informar à população as condições das

praias do estado.

A CETESB realiza o monitoramento das áreas costeiras e classifica-as em quatro

categorias: Excelente, Muito Boa, Satisfatória e Imprópria, de acordo com as

densidades de coliformes termotolerantes ou E. coli resultantes de análises feitas

em cinco amostragens consecutivas para a emissão de um laudo com os resultados.

Essas categorias podem ser agrupadas em Própria e Imprópria. Na figura abaixo

podemos observar os limites de coliformes.

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Page 22: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

Figura 7 - Limites de coliformes termotolerantes em águas costeiras.

Fonte: CETESB (2010) (Acesso em: 10 de jan de 2013).

Resolução CONAMA nº 357/05: Conforme descrito anteriormente, essa resolução

dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu

enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de

efluentes, e dá outras providências. Vale ressaltar que alguns parâmetros de

condição e padrões de efluentes foram complementados e alterados pela Resolução

CONAMA 430/ 11.

Resolução CONAMA nº430/11: Esta Resolução complementa e altera alguns

padrões do CONAMA 357/05 e traz novidades, como a separação das Condições de

Padrões de Lançamento para efluentes e Condições e Padrões para Efluentes de

Sistemas de Tratamento de Esgotos Sanitários. Antes esta separação não existia,

fazendo com que todos os empreendimentos que descartavam seus resíduos

líquidos em corpos de água seguissem as mesmas regras.

2.2 Portaria 2.914, de 12 de dezembro de 2011

Esta Portaria foi estabelecida pelo Ministério da Saúde e dispõe sobre os

procedimentos de controle e de vigilância da qualidade da água para consumo

humano e seu padrão de potabilidade, ou seja, ela regulamenta os padrões de

potabilidade para consumo humano após tratamento nas estações de tratamento de

água (ETAs).

21

Page 23: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

2.3 Resolução Conjunta 03/2010 ANA e ANEEL

Esta Resolução “estabelece as condições a serem observadas pelos

concessionários e autorizadas de geração de energia hidrelétrica para a instalação,

operação e manutenção de estações hidrométricas visando ao monitoramento

pluviométrico, limnimétrico, fluviométrico, sedimentométrico e de qualidade da água

associado a aproveitamentos hidrelétricos”.

De acordo com a Resolução:

§ 1º O monitoramento pluviométrico é o conjunto de ações e equipamentos destinados ao levantamento de dados de precipitação.§ 2º O monitoramento limnimétrico, para os fins desta Resolução, é o conjunto de ações e equipamentos destinados ao levantamento de dados do nível d’água do reservatório do aproveitamento hidrelétrico.§ 3º O monitoramento fluviométrico é o conjunto de ações e equipamentos destinados ao levantamento de dados do nível d’água, bem como medições de descarga líquida que permitam a definição e atualização da curva de descarga.§ 4º O monitoramento sedimentométrico é o conjunto de ações e equipamentos destinados ao levantamento de dados de sedimentos em suspensão e de fundo, que permitam determinar a descarga sólida total.§ 5º O monitoramento de qualidade da água é o conjunto de ações e equipamentos destinados ao levantamento de parâmetros de qualidade da água.

A promulgação dessa resolução torna-se importante para inclusão de dados e

informações no Sistema Nacional de Informações sobre os Recursos Hídricos, pois

sabe-se que as empresas do setor hidroelétrico são detentoras de muitas

informações, as quais por sua vez podem e devem auxiliar a implementação dos

instrumentos da política nacional.

22

Page 24: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

RESUMO UNIDADE 1

Nesta unidade você aprendeu sobre os fundamentos legais da gestão da qualidade

das águas por meio da Política Nacional de Recursos Hídricos e de outras

normativas relacionadas à qualidade da água.

Conforme verificado na Unidade, a Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH)

incorpora princípios e normas para a gestão de recursos hídricos, onde os

fundamentos estabelecidos são: a água é um bem de domínio público; a água é um

recurso limitado dotado de valor econômico; em caso de danos ambientais, como

escassez, o uso prioritário é o consumo humano e a dessedentação de animais; a

gestão de recursos hídricos deve proporcionar o uso múltiplo das águas, entre

outros.

Conforme trabalhado, a Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH) possui

importantes objetivos, que incluem: assegurar à atual e às futuras gerações a

disponibilidade hídrica com padrões de qualidade adequados ao uso; assegurar a

utilização racional e integrada dos recursos hídricos; prevenção e defesa contra

eventos hidrológicos críticos de origem natural.

Já os instrumentos da PNRH são: os planos de recursos hídricos; o enquadramento

dos corpos d’água em classes; a outorga dos direitos de uso de recursos hídricos;

cobrança e sistema de informações sobre recursos hídricos. Cabe ressaltar que o

instrumento de enquadramento dos corpos d’água conta com o auxílio de

determinadas resoluções, como as do CONAMA (357/05 e 397/08) e a resolução

91/08 do CNRH.

Outras normativas que foram estudadas também estão relacionadas à qualidade da

água, como a Resolução 274/00 do CONAMA, que determina os parâmetros de

balneabilidade.

23

Page 25: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

Além dessas resoluções, a Unidade 1 apresentou a Portaria 2.914/11. Esta portaria

determina os parâmetros de qualidade da água para consumo humano. Para o

monitoramento das águas em reservatórios de hidrelétricas, nos baseamos na

Resolução Conjunta 03/10 ANA e ANEEL, que estabelece o monitoramento dos

reservatórios por meio do monitoramento fluviométrico, pluviométrico, limnimétrico e

sedimentométrico.

Para finalizar, esta unidade trabalhou a PNRH e outras normativas relacionadas à

qualidade da água, que podem contribuir para o monitoramento, proporcionando

melhorias à população, tanto em qualidade quanto em quantidade.

24

Page 26: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

REFERÊNCIAS

AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS – ANA. Panorama da qualidade das águas superficiais no Brasil. (Cadernos de Recursos Hídricos, 1). Brasília, 2005, 175 p. Disponível em: http://arquivos.ana.gov.br/planejamento/estudos/sprtew/1/1-ANA.swf. Acesso em: 09 jan. 2013.

AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS - ANA. Lei nº 9.433/97. Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, regulamenta o inciso XIX do art. 21 da Constituição Federal, e altera o art. 1º da Lei nº 8.001, de 13 de março de 1990, que modificou a Lei nº 7.990, de 28 de dezembro de 1989. Disponível em: http://www.ana.gov.br/Institucional/Legislacao/leis/lei9433.pdf. Acesso em: 05 de jan. 2013.

AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUA (ANA). Panorama Do Enquadramento Dos Corpos D’água Do Brasil, e, Panorama da qualidade das águas subterrâneas no Brasil. / coordenação geral, João Gilberto Lotufo Conejo; coordenação executiva, Marcelo Pires da Costa, José Luiz Gomes Zoby. Brasília: ANA, 2007.124 p.: il. (Caderno de Recursos Hídricos, 5). Disponível em: http://pnqa.ana.gov.br/Publicao/PANORAMA%20DO%20ENQUADRAMENTO.pdf. Acesso em 03 jan. 2013.

AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS (ANA). Sistema Nacional De Informações Sobre Recursos Hídricos – Snirh no Brasil: arquitetura computacional e sistêmica / Agência Nacional de Águas - Brasília: ANA, 2009.145 p.: il. – (Cadernos de recursos hídricos; 6). Disponível em: http://pnqa.ana.gov.br/Publicao/IMPLEMENTA%C3%87%C3%83O%20DO%20ENQUADRAMENTO.pdf. Acesso em: 04 jan. 2013.

AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS - ANA. Resolução nº 06/2001 do Conselho Nacional de Recursos Hídricos. Institui o Programa Nacional de despoluição das bacias hidrográficas (PROGRAMA). Disponível em: http://www.ana.gov.br/prodes/normativos.asp. Acesso em: 10 jan. 2013.

AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS (ANA). Resolução 25/2012. Estabelece diretrizes para análise dos aspectos de qualidade da água dos pedidos de declaração de Reserva de Disponibilidade hídrica e de outorga do direito de uso de recursos hídricos em reservatórios de domínio da União. Disponível em: http://arquivos.ana.gov.br/resolucoes/2012/25-2012.pdf. Acesso em: 12 jan. 2013.

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Page 27: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA (ANEEL); Agência Nacional de Águas (ANA). Resolução conjunta nº 003, de 10 de agosto de 2010. Estabelece as condições e os procedimentos a serem observados pelos concessionários e autorizados de geração de energia hidrelétrica para a instalação, operação e manutenção de estações hidrométricas visando ao monitoramento pluviométrico, limnimétrico, fluviométrico, sedimentométrico e de qualidade da água associado a aproveitamentos hidrelétricos, e dar outras providências. Disponível em: http://arquivos.ana.gov.br/infohidrologicas/cadastro/ResolucaoConjunta_n_003-2010.pdf. Acesso em: 09 jan. 2013.

ANA, Agência Nacional de Águas. Disponível em: http://www.ana.gov.br/prodes/prodes2012.asp 2013. Acesso em: 09 jan. 2013.

ANA, Agência Nacional de Águas. Disponível em: http://www.ana.gov.br/prodes/normativos.asp. Acesso em: 04 jan. 2013.

ANA, Agência Nacional de Águas. Disponível em: http://pnqa.ana.gov.br/Padres/enquadramento_introducao.aspx. Acesso em: 10 jan. 2013.

ANA, Agência Nacional de Águas. Disponível em: http://arquivos.ana.gov.br/institucional/sag/CobrancaUso/Cobranca/SituacaodaCobrancaemCBHsCompletoAte2012.pdf. Acesso em: 12 jan. 2013.

ANA, Agência Nacional de Águas. O enquadramento dos corpos d’água como instrumento de gestão dos recursos hídricos com ênfase no estabelecimento de metas progressivas e intermediárias. Disponível em: http://www.comitepcj.sp.gov.br/gapb/Apresentacao_GAPB_marcelo_costa_12-0509.pdf. Acesso em: 07 jan. 2013

CETESB. Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental. Disponível em: <http://www.cetesb.sp.gov.br/agua/praias/127-legislacao>. Acesso em: 05 jan. 2013.

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA). Resolução nº 357, de 17 de março de 2005. Dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes, e dá outras providências. Disponível em: http://www.mma.gov.br/port/CONAMA/res/res05/res35705.pdf. Acesso em: 15 jan. 2013.

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Page 28: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA). Resolução nº 397, de 17 de março de 2005. Altera o inciso II do § 4o e a Tabela X do § 5º, ambos do art. 34 da Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA no 357, de 2005, que dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes. Disponível em: http://www.mma.gov.br/port/CONAMA/legiabre.cfm?codlegi=563. Acesso em: 14 jan. 2013.

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Conselho Nacional de Recursos Hídricos. Resolução nº 91, de 05 de novembro de 2008. Dispõe sobre procedimentos gerais para o enquadramento dos corpos de água superficiais e subterrâneos. Disponível em: http://pnqa.ana.gov.br/Publicao/RESOLU%C3%87%C3%83O%20CNRH%20n%C2%BA%2091.pdf. Acesso em: 10 jan. 2013.

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Conselho Nacional de Recursos Hídricos. Resolução nº 17, de 29 de maio de 2009. Disponível em: http://www.riodoce.cbh.gov.br/_docs%5Cleis%5CCNRH_ConjuntodeNormasLegaisdeRecursosHidricos.pdf. Acesso em: 11 jan. 2013.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Portaria nº 2.914, de 12 de dezembro de 2011. Dispõe sobre os procedimentos de controle e de vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2011/prt2914_12_12_2011.html. Acesso em: 13 jan. 2013.

PLANO NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS. Diretrizes: Volume 3 / Ministério do Meio Ambiente, Secretaria de Recursos Hídricos. Brasília: MMA, 2006. Disponível em: http://www.mma.gov.br/estruturas/161/_publicacao/161_publicacao03032011025152.pdf. Acesso em: 08 jan.2013.

PLANO NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS. Disponível em: http://www.paranaiba.cbh.gov.br/Apresentacoes/05aRO/PNRH_2025_Revisao_2010.pdf. Acesso em: 08 de jan. 2013.

PLANO NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS. Programas nacionais e metas: Volume 4 / Ministério do Meio Ambiente, Secretaria de Recursos Hídricos. – Brasília: MMA, 2006. Disponível em:

27

Page 29: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

http://www.mma.gov.br/estruturas/161/_publicacao/161_publicacao03032011025031.pdf. Acesso em 03 jan. 2013.

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Page 30: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

UNIDADE 2

BASES CONCEITUAIS PARA

MONITORAMENTO DE ÁGUAS

CONTINENTAIS.

1

Page 31: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS............................................................................................

LISTA DE TABELAS...........................................................................................

1 CONCEITOS.....................................................................................................

1.1 Lagos e Reservatórios....................................................................................

1.1.1 Origem.......................................................................................................

1.1.2 Caracterização dos ecossistemas Lênticos.............................................

1.1.2.1 Morfométria de Ecossistemas Lênticos....................................................

1.1.2.2 Características Físicas de Ecossistemas Lênticos.................................

1.2 Rios................................................................................................................

1.2.1 Teorias Ecológicas de rios..........................................................................

1.2.2 Classificação de Rios..................................................................................

1.2.2.1 Tipos de Água.........................................................................................

1.2.2.2 Configuração Geral do Canal..................................................................

1.2.2.3 Tipos de Fluxo.........................................................................................

1.2.3 Classificação em Ordens............................................................................

1.2.4 Dimensões de Estudo................................................................................

2 INFLUÊNCIAS DE FATORES CLIMÁTICOS E METEOROLÓGICOS NA

QUALIDADE DA ÁGUA......................................................................................

3 INFLUÊNCIAS ANTRÓPICAS NA BACIA HIDROGRÁFICA E A

QUALIDADE DA ÁGUA.....................................................................................

RESUMO UNIDADE 2.........................................................................................

REFERÊNCIAS....................................................................................................

03

03

04

06

06

09

10

11

22

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28

29

29

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33

34

36

37

2

Page 32: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Ecossistema Lêntico

Figura 2 – Ecossistema Lótico

Figura 3 – Esquema Mostrando A Penetração De Radiação Solar E Os Limites Da

Zona Fótica

Figura 4 - Esquema Mostrando A Estratificação Térmica Em Ambientes Lacustres.

Figura 5 – Mapa Do Estado De São Paulo Com A Localização Dos Reservatórios Do

Sistema Tietê/Paranáfigura

6 – Divisão Didática Dos Ecossistemas Lênticos

Figura 7 – Teoria Do Rcc (Teoria Do Rio Contínuo) E A Distribuição Espacial Dos

Organismos

Figura 8 – Conceito De Ordens De Curso De Água Proposto Por Strahler, Utilizando

Um Esquema De Rede Fluvial Hipotética

Figura 9 – Dimensões De Estudo Em Rios.

LISTA DE TABELA

Tabela 1 – Tipos De Canais Em Relação Aos Parâmetros Morfométricos.

3

Page 33: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

1 CONCEITOS

Os ecossistemas aquáticos continentais abrigam uma grande diversidade de fauna e

flora. A rede hidrográfica brasileira apresenta um elevado grau de diversidade e alta

complexidade. É um grande conjunto de bacias e regiões hidrográficas com

características diferenciadas, o que torna favorável o desenvolvimento de uma biota

aquática altamente complexa. Estes ecossistemas aquáticos são responsáveis por

grande parte da biodiversidade brasileira.

Os ecossistemas límnicos ou limnociclo correspondem aos ecossistemas de água

doce, que são rios, riachos, lagos, lagoas, represas entre outros. O ramo da ciência

que estuda estes ecossistemas é conhecido como Limnologia, que também pode ser

definido como o estudo das relações funcionais e de produtividade das comunidades

de água doce e sua regulação pela dinâmica dos ambientes físico, químico e

biológico.

Os ecossistemas de água doce são divididos em ecossistemas lênticos e lóticos.

Para entendermos melhor estes ecossistemas, temos a seguir uma breve descrição.

Ecossistemas Lênticos: são ambientes aquáticos de água parada, como por

exemplo, lagoas, lagos, pântano, etc. É classificado como um importante distribuidor

de biodiversidade por apresentar ecótonos bem definidos (Figura 1).

Ecossistemas Lóticos: são ambientes aquáticos de água corrente, como por

exemplo rios, nascentes, ribeiras e riachos. Têm como principal característica o fluxo

hídrico, que influencia diretamente as variáveis físico-químicas da água e as

comunidades biológicas presentes (Figura 2).

As principais diferenças entre estes ecossistemas é que em rios e riachos a corrente

é um fator limitante e de controle muito mais importante do que em lagos. Outra

característica de ambientes lóticos é a intensa troca entre os ambientes terrestre e

aquático, gerando um ecossistema mais aberto com comunidades de metabolismo

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Page 34: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

heterotrófico e também a rara estratificação térmica e química em ambientes lóticos.

A tensão de oxigênio também tende a ser mais alta e mais uniforme em rios.

Figura 1 – Ecossistema Lêntico

Fonte: meioambiente.culturamix.com/natureza/ecosssistemas-lenticos (acesso em

10/01/2013)

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Page 35: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

Figura 2 – Ecossistema Lótico

Fonte: meioambiente.culturamix.com/natureza/ecosssistemas-loticos (acesso em

10/01/2013)

1.1 Lagos e Reservatórios

1.1.1 Origem

Lago é o nome comum dado a toda massa de água que se acumula de forma

natural em uma depressão topográfica totalmente cercada por terra. A origem dos

lagos é variável e depende da geomorfologia do terreno. Geologicamente, a maior

parte dos lagos da Terra é recente.

Alguns lagos possuem tamanhos impressionantes, porém são fenômenos de

pequena duração na escala do tempo geológico, por serem áreas onde domina o

processo de sedimentação que gradualmente os torna cada vez menores e mais

rasos.

6

Page 36: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

Em geral, os lagos são formados quando a água dos rios encontra algum obstáculo

para continuar seu percurso normal e áreas com relevo deprimido acumulam estas

águas, dando origem a um lago. Desta forma, os lagos são geralmente alimentados

por rios, porém podem receber águas de precipitações e de degelo.

As características físicas e químicas dos lagos são influenciadas pela sua

geomorfologia e clima associados. A maioria dos lagos é formada por eventos

catastróficos, porém outros tipos de lagos podem evoluir de uma forma mais

gradual. A seguir temos a classificação dos lagos de acordo com sua origem

(Esteves, 1998):

Lagos Glaciares:

A maioria destes lagos surgiram há aproximadamente 10.500 anos e são

encontrados em regiões de alta latitude, especialmente em regiões temperadas.

São formados pelas irregularidades em terrenos compostos pelos sedimentos

transportados pelas geleiras, originando os chamados “Lagos de Caldeirão”. Estes

podem ser originados de duas maneiras:

a. Depressões em locais de antigas geleiras continentais que foram preenchidas

por água;

b. Blocos de gelo que desprenderam de geleiras e foram transportados de forma

a servirem de ponto de apoio para o acúmulo de sedimentos, aterrando-os

em muitos casos, o que acabou protegendo os blocos de gelo da insolação e

levando assim centenas de séculos para descongelarem. Ao se

descongelarem formaram bacias hidrográficas circulares e relativamente

profundas.

Lagos Tectônicos:

As bacias tectônicas são depressões formadas por movimentos das zonas mais

profundas da crosta terrestre. Os vários tipos de atividades tectônicas originaram

lagos grandes e profundos, os movimentos epirogenéticos formam lagos em

decorrência dos movimentos de elevamento e abaixamento da crosta terrestre (Ex.:

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Page 37: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

Lago Vitória e Kioga na África); já as falhas tectônicas formam lagos em decorrência

de movimentos tectônicos que causam a descontinuidade da crosta terrestre. Esses

lagos originaram-se no Terciário há cerca de 12 milhões de anos, sendo

considerados os lagos mais antigos da Terra (Ex.: Lagos Baikal na Rússia,

Tanganica na África e Badajós na Amazônia).

Lagos Vulcânicos:

Eventos relacionados com a atividade vulcânica podem gerar bacias de lagos.

Este tipo de lago pode ser formado de quatro maneiras distintas:

a. Lagos de Cratera formados no cone de vulcões extintos: possuem pequena

extensão, são profundos e de forma circular (Ex.: pequenos lagos na região

de Poços de Caldas, já extintos);

b. Lagos tipo “Maar” surgem de explosões gasosas subterrâneas e do

afundamento da superfície da região atingida, porém não há derramamento

de lava;

c. Lagos de Caldeiras: formados a partir de fortes erupções vulcânicas

ocasionando a destruição do cone central do vulcão, ficando apenas a

depressão central chamada de caldeira (Ex.: Lagos Crater nos EUA, Bolsena

na Itália e Toyako no Japão);

d. Lagos de Barragem vulcânica: formados quando vales preexistentes são

bloqueados pela lava solidificada (Ex.: Lagos Kivu e Bunyoni na África

Central).

Lagos Fluviais: são formados pela atividade de rios e podem ser classificados em

três tipos:

a. Lagos de Barragem: formados a partir do depósito de sedimentos carreados

ao longo do leito do rio principal, gerando uma elevação do seu leito e

consequentemente represando seus afluentes que são transformados em

lagos (Ex.: médio rio Doce e lagos de terra firme da Amazônia);

b. Lagos de Ferradura ou Meandros: geralmente os rios maduros que percorrem

planícies e que já atingiram o seu nível de base apresentam um curso

sinuoso, formando meandros. É comum encontrarmos grande quantidade de

lagos ao longo de rios meândricos, sendo eles formados pelo isolamento de

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Page 38: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

meandros de erosão e sedimentação das margens. É o tipo de lago

encontrado mais frequentemente no território brasileiro;

c. Lagos de Inundação: também conhecidos como baías no Pantanal e de lagos

de Várzea na Amazônia, em sua maioria surgem de depressões no terreno

que são inundadas periodicamente.

Lagoas Costeiras: normalmente resultam da formação de uma zona de deposição

de sedimentos ao longo da foz de um estuário, porém o escoamento do rio e as

correntes de maré são suficientes para evitar a separação completa entre o lago e o

mar, sendo assim, pode ser constituída por água doce, salgada ou salobra de

acordo com as marés. Um exemplo dessa formação é a Lagoinha do Leste, na

cidade de Florianópolis, SC/Brasil.

1.1.2 Caracterização dos ecossistemas Lênticos

Os ecossistemas lênticos são definidos como águas estacionárias, mas que podem

variar em função, por exemplo, da sazonalidade.

Estes sistemas não fazem parte da paisagem permanente da Terra, pois em escala

geológica eles são eventos de curta durabilidade, ou seja, surgem e desaparecem

ao longo do tempo. A qualidade da água destes ecossistemas varia em função dos

fenômenos naturais e da ação antrópica. O uso e ocupação do solo na bacia

hidrográfica é um dos fatores mais importantes que influenciam a qualidade de um

determinado corpo d’água.

As principais características de ecossistemas lênticos são a alta capacidade de

solubilização de compostos orgânicos, gradientes verticais, baixo teor de sais

dissolvidos, alta densidade e viscosidade da água, capacidade de sedimentação,

seiches internos, temperatura e radiação subaquática.

Os ecossistemas, de uma forma geral, são descritos por duas variáveis principais,

bióticas e abióticas. Os parâmetros bióticos descrevem as condições e a natureza

9

Page 39: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

dos organismos, já os parâmetros abióticos incluem as características morfológicas,

físicas e químicas. Os parâmetros abióticos são sempre de grande importância na

formação das condições locais para a vida no ecossistema.

1.1.2.1 Morfometria de Ecossistemas Lênticos

A morfologia da bacia de um lago é em grande parte determinada pela sua origem.

O tempo de retenção hidráulica, definido como o tempo necessário para toda a água

do lago ser renovada, é uma medida importante na qualidade ecológica e na

detecção e efeitos de eventuais fontes poluidoras.

A morfometria dos corpos de água tem relação direta com o balanço de nutrientes, a

estabilidade térmica da coluna d’água, a produtividade biológica e os processos de

circulação e dispersão de organismos. A análise dos dados morfométricos também

possibilita a avaliação da qualidade de assimilação de impactos decorrentes da

entrada de efluentes, taxas de acumulação e padrões de dispersão de poluentes. As

características morfométricas e os valores derivados de seu estudo devem ser

utilizados como ferramentas para auxiliar a interpretação dos dados de

monitoramento dos corpos hídricos.

O conhecimento dos parâmetros morfométricos é de fundamental importância para

que se possa entender o funcionamento dos ecossistemas aquáticos, como por

exemplo, a área de superfície, que é um fator determinante para a profundidade da

termoclina; e o volume, que tem importância na estimativa da capacidade de suporte

da produção de peixes. Já a batimetria é a medição da profundidade e é expressa

cartograficamente por curvas batimétricas que unem pontos de mesma profundidade

com equidistâncias verticais, semelhante às curvas de nível topográficas. Neste

sentido, as cartas batimétricas são de grande relevância nos estudos sobre o

assoreamento. Sendo assim, podemos concluir que o estudo da morfometria de

ecossistemas lênticos é uma importante ferramenta para o manejo e monitoramento

destes ecossistemas.

10

Page 40: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

1.1.2.2 Características Físicas de Ecossistemas Lênticos

Profundidade:

A morfologia de lagos e represas têm grande influência na qualidade de suas águas;

desta forma, sabemos que lagos rasos são mais suscetíveis a sofrerem processos

de eutrofização, enquanto que os mais profundos podem apresentar dificuldades

para a circulação vertical das massas de água. A medida da profundidade permite

uma melhor avaliação da dinâmica de circulação das massas de água e assim

também a obtenção de informações sobre as condições de oxigenação nas diversas

camadas do corpo hídrico.

Os lagos e represas brasileiras, em sua maioria, possuem baixas profundidades

relativas (que é a relação entre a profundidade máxima do lago ou represa e o seu

diâmetro médio) o que indica um ótimo potencial para misturas completas da massa

de água. Este padrão de circulação tem um efeito positivo na oxigenação do corpo

hídrico; por outro lado, pode provocar a ressuspensão de compostos presentes no

fundo que podem causar prejuízos à biota aquática.

Radiação Solar e Incidência de Luz

Da radiação solar que atinge a superfície dos lagos e represas, parte é refletida,

voltando para a atmosfera, e parte é absorvida. A quantidade de radiação refletida é

influenciada pelas condições da superfície da água e pelo ângulo de incidência da

radiação na superfície. A radiação solar, ao penetrar na coluna d’água, sofre

profundas alterações, tanto na sua intensidade como na sua qualidade.

Estas alterações dependem de vários fatores como, por exemplo, a quantidade de

material dissolvido e particulado em suspensão. A mudança de direção é a primeira

alteração sofrida, devido a refração provocada pela redução de velocidade da

radiação ao penetrar no meio líquido. Em seguida, parte da radiação é absorvida e

transformada em outras formas de energia (Ex.: energia química pela fotossíntese e

calorífica pelo aquecimento da água). Outra parte da radiação solar sofre dispersão

devido ao “choque” com partículas suspensas ou dissolvidas na água. Desta forma,

11

Page 41: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

a absorção e a dispersão são os principais fatores de atenuação da radiação ao

longo da coluna d’água.

A parte de um corpo de água que recebe luz solar suficiente para que ocorra a

fotossíntese é chamada de zona eufótica (Figura 3). A profundidade da zona

eufótica é bastante variável e fortemente influenciada pela turbidez da água; começa

desde a interface água-atmosfera e vai até onde a intensidade da luz chega a 1% da

intensidade existente na superfície. A espessura da zona eufótica depende da

atenuação da intensidade luminosa na coluna d’água, podendo variar de poucos

centímetros em lagos eutrofizados a cerca de 200 metros em mar aberto.

Figura 3 – Esquema mostrando a penetração de radiação solar e os limites da zona fótica.

Fonte: www.dern.ufes.br/limnol/main.html (acesso: 12/01/2013)

Temperatura:

A temperatura é um fator abiótico crítico em lagos e reservatórios. Devido ao

elevado calor específico da água (1 cal/g/ºC), estes ecossistemas de águas

estacionárias apresentam resistência a mudanças bruscas da temperatura

atmosférica; desta forma a temperatura se torna um fator limitante para

determinadas espécies que não consigam manter seu ciclo de vida dentro das

condições de temperatura local.

12

Page 42: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

A estratificação térmica é um fenômeno comum nos corpos de água, que consiste na

formação de camadas horizontais de água. Em lagos de regiões tropicais é comum

ocorrer estratificações e desestratificações diárias ou ainda estratificações durante a

primavera, verão e outono, com desestratificação durante o inverno.

Os lagos tropicais geralmente têm profundidade reduzida e a variação sazonal da

temperatura é pouco acentuada em relação à variação diária; assim a estratificação

diária culmina no final da tarde e a desestratificação é noturna. O processo de

desestratificação é facilitado pela pouca diferença de temperatura entre o epilímnio e

o hipolímnio. Este modelo pode ser alterado em regiões tropicais com maior

intensidade de vento.

No verão, período de maior pluviosidade, observam-se estratificações duradouras,

podendo durar toda estação. No inverno, os lagos mais profundos apresentam

desestratificação devido ao resfriamento do epilímnio, posteriormente do metalímnio

e finalmente toda coluna d’água apresenta-se homotérmica e desestratificada.

Nos lagos e lagoas o fenômeno de estratificação é comum; com base nessa

estratificação as camadas formadas possuem a seguinte classificação (Figura 4):

a. Epilímnio (eplimnion): é a camada superficial do corpo de água, possui menor

densidade;

b. Metalímnio (metalimnion): também conhecida como termoclina, é a zona de

transição entre a camada superficial (epilímnio) e a camada profunda

(hipolímnio), caracteriza-se por ser uma camada fina e de rápida variação de

temperatura em seu perfil vertical;

c. Hipolímnio (hypolimnion): é a camada mais profunda, caracteriza-se por ter

uma maior densidade.

Já em relação ao período de duração da estratificação, podemos classificar estes

corpos hídricos em:

a. Meromítico: quando nunca se verifica uma circulação vertical completa,

13

Page 43: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

evidenciando camadas que permanecem isoladas durante o processo de

circulação;

b. Holomítico: quando na maior parte do tempo a massa de água não apresenta

estratificação térmica, ou seja, apresentam circulação completa (Tundisi,

Tundisi, 2008).

c. Monomítico: apresentam um período anual regular de circulação total que

ocorre em uma época do ano. Podem ser:

- Monomítico quente: lagos com circulação somente no inverno; neste lago a

temperatura nunca cai abaixo de 4°C e localizam-se em regiões subtropicais.

- Monomítico frio: lagos com circulação somente no verão, a temperatura da

água nunca ultrapassa a 4°C e estão localizados em regiões subpolares e em

altas montanhas de regiões temperadas.

d. Dimíticos: lagos com duas circulações por ano, uma no outono e outra na

primavera. Encontrados principalmente na Europa, América do Norte e parte

do Japão, de clima temperado.

e. Polimíticos: são lagos normalmente rasos e com grande extensão, em que

ocorrem circulações frequentes (diárias) devido ao resfriamento da camada

superficial da coluna d’água durante a noite e à pouca profundidade, que

facilita a sua homotermia.

Figura 4 - Esquema mostrando a estratificação térmica em ambientes lacustres.

Fonte: www.dern.ufes.br/limnol/main.html (acesso: 12/01/2013)

Operação do Reservatório

14

Page 44: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

As principais bacias hidrográficas do Brasil foram reguladas pela construção de

reservatórios, os quais isoladamente ou em cascata constituem um importante

impacto qualitativo e quantitativo nos principais ecossistemas de águas interiores.

Os reservatórios de grande porte ou pequeno porte são utilizados para inúmeras

finalidades: hidroeletricidade, reserva de água para irrigação, reserva de água

potável, produção de biomassa (cultivo de peixes e pesca intensiva), transporte

(hidrovias) recreação e turismo. Inicialmente, a construção de hidrelétricas e a

reserva de água para diversos fins foram os principais propósitos. Nos últimos vinte

anos, os usos múltiplos desses sistemas diversificaram-se, ampliando a importância

econômica e social desses ecossistemas artificiais e, ao mesmo tempo, produzindo

e introduzindo novas complexidades no seu funcionamento e impactos.

A matriz de geração do Sistema Elétrico Brasileiro (SEB) é quase integralmente

hidrelétrica, isto é, 98% da capacidade de geração vem de usinas hidrelétricas. O

modo como essa matriz vem sendo construída, ao longo de décadas, obedece a

lógica determinada pela oferta de recursos naturais e pelo custo de produção. Como

se sabe, o preço da energia elétrica gerada a partir de fonte hídrica foi e segue

sendo menor.

A construção e operação de reservatórios têm como princípio fundamental o

desenvolvimento de reservas nos períodos de excesso hídrico para uso posterior

durante os períodos de escassez, além da própria elevação do nível da coluna

d’água, diretamente relacionado à energia acumulada e que pode ser aproveitada

durante a passagem de água pelas turbinas.

Em regiões semi-áridas, como por exemplo, o nordeste do Brasil, a construção de

reservatórios traz muitos benefícios, sendo uma das melhores medidas para se

combater as consequências negativas da condição ambiental local. Os principais

objetivos da implantação de reservatórios são os usos múltiplos, sendo o uso

prioritário o abastecimento para o consumo humano contribuindo para o

15

Page 45: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

desenvolvimento de sua área de influência, garantindo a fixação do homem no

interior.

As regras para operação de reservatórios são diversas, porém todas indicam o

armazenamento ou descarga alvo que se pretende obter em determinados períodos

de tempo. As regras são tentativas de atender a requerimentos de vazão efluente e

demandas do sistema para aperfeiçoar determinados objetivos, sejam geração

hidrelétrica, conservação de água no reservatório ou manutenção da vazão à

jusante do mesmo.

Simplificando, operar um reservatório consiste em decidir a quantidade de água que

deve ser guardada e a quantidade que deve ser liberada. Em geral a operação dos

reservatórios baseia-se em serviços de meteorologia, monitoramento de

informações sobre os rios e o clima e conta com uma equipe técnica especializada.

Como método preventivo, antes do início do período chuvoso, o nível de água dos

reservatórios é reduzido, formando o volume de vazio ou volume de espera. Este

procedimento é realizado para que, caso as chuvas sejam muito intensas, o

reservatório possa armazenar grande parte desta água, sem aumento abrupto das

vazões de jusante, quando pertinente.

A decisão sobre a abertura das comportas só é tomada após uma criteriosa

avaliação das condições meteorológicas e do reservatório, e sempre baseada em

estudos e critérios estabelecidos pelo Operador Nacional do Sistema – ONS e pela

Agência Nacional de Águas – ANA. Para tomar esta decisão algumas questões

precisam ser levantadas pelos órgãos competentes como, por exemplo, os

responsáveis pela previsão de chuvas, a continuidade destas chuvas e o tempo de

duração, o volume de água que chega ao reservatório e o nível em que a água se

encontra neste; a previsão de água que ainda há para chegar, a capacidade de

armazenamento para recebê-la e guardá-la, se há população abaixo do reservatório

e/ou às margens destes. Aliado a este fato, pode-ser observar, sob esse ponto de

16

Page 46: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

vista, a importância da outorga, ou seja, garantir uma reserva de água a montante e

a jusante do empreendimento hidroelétrico.

Uma das principais regras de operação no caso de reservatórios de armazenamento

é a divisão do armazenamento total em áreas diferentes que possuem regras de

descargas específicas. O armazenamento nestas áreas pode ser constante ao longo

do ano ou variar sazonalmente. Seguindo esta regra o reservatório fica

compartimentalizado em camadas ou zonas, sendo elas a zona de descargas livres

(camada mais superficial); a zona de controle de cheias (camada intermediária);

zona de conservação (camada intermediária logo abaixo da zona de controle de

cheias); volume morto (camada mais inferior) e zona de reserva para sedimentos (no

fundo do reservatório).

Variação de Nível

Como vimos anteriormente, a geração de energia no Brasil é predominantemente

hidrelétrica. Portanto, a quantidade de água armazenada nos reservatórios

representa o estoque de energia disponível e, em função disso, o nível médio dos

reservatórios é um dos parâmetros mais importantes na geração de energia no

Brasil.

Os níveis de um reservatório variam conforme a operação do mesmo. Cada

reservatório tem um regime próprio de operação em função do volume de água

disponível no curso represado. A variação do nível e vazão com a época do ano

(sazonalidade), bem como a necessidade do ajuste de descarga em função dos

excedentes armazenados em épocas de cheias e de complementação de descargas

em situações de estiagem, impõem oscilações no nível do reservatório e no fluxo a

jusante.

A variação de nível é um fator importante para as áreas alagáveis, as quais são

ambientes submetidos a pulsos de inundação que afetam a produtividade, a

sobrevivência da biota e a riqueza de espécies. Devido à variação de nível em

17

Page 47: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

reservatórios e áreas alagáveis a maior parte da produtividade da biota advém direta

ou indiretamente das trocas laterais com a planície de inundação e não do

transporte rio abaixo de matéria orgânica. Esta variação também induz adaptações

da biota, que alternam entre a fase terrestre e a fase aquática. Geralmente uma

destas fases é catastrófica para os organismos, forçando-os, de maneira geral,

durante a fase favorável, recuperar as perdas que as populações sofreram durante a

fase desfavorável e garantir a sobrevivência de uma parte da população durante a

próxima fase desfavorável.

Tempo de Residência

O tempo de residência é definido como a relação entre o volume total dos

reservatórios e a vazão defluente, ou seja, é o tempo para que todo o volume de

água do reservatório seja substituído. Normalmente a vazão utilizada neste cálculo é

a vazão média de longo prazo, mas também pode ser utilizada a vazão média do

período de cheia ou do período de estiagem, em outras palavras, o tempo de

residência é o quociente entre o volume estocado no reservatório e sua taxa de

recarga.

De toda a água estocada nos continentes, cerca de ¾ formam as calotas polares e

as geleiras, porém essas reservas estão distantes das áreas de grande demanda e

o tempo de renovação é muito longo, cerca de 30 mil anos. Já as reservas

subterrâneas são mais acessíveis tanto tecnologicamente, quanto economicamente;

estas reservas fluem a velocidade da ordem de cm/dia, resultando em tempos de

residência que variam de alguns anos nos aquíferos rasos a várias dezenas e até

milhares de anos em aquíferos confinados e/ou muito profundos. O manancial

subterrâneo representa uma alternativa segura e barata de abastecimento, sendo

utilizada como uma forma complementar e estratégica.

O tempo de residência é uma variável importante para a compreensão da dinâmica

dos processos ocorridos em um sistema aquático, sendo uma ferramenta útil para o

estudo da qualidade da água. Esse parâmetro é conveniente para representar a

18

Page 48: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

escala de tempo de processos físicos, e frequentemente a escala de tempo de

processos biogeoquímicos. Esta escala de tempo tem implicações para o destino de

substâncias introduzidas no ecossistema e para a produção primária.

Reservatórios em Cascata

Devido as condições favoráveis de desnível dos terrenos, várias bacias hidrográficas

brasileiras foram aproveitadas para a construção de reservatórios em sequência. A

série de barragens construídas em uma mesma bacia hidrográfica forma o que se

conhece como cascata de reservatórios, condição que modificou a fisiografia em

muitas bacias hidrográficas do país. Os reservatórios em cascata também podem

ser formados por sistemas de túneis e canais interligados, com a finalidade de

aumentar a captação de água e a produção de energia a partir de hidrelétricas.

Reservatórios em cascata como os construídos nos rios Tietê, Grande,

Paranapanema e São Francisco produzem efeitos e impactos cumulativos,

transformando inteiramente as condições biogeofísicas e ecológicas de todo o rio, e

também a situação econômica e social em suas margens.

Neste tipo de reservatório ocorre a diminuição dos poluentes ao longo do sistema;

os reservatórios em cascata têm a capacidade de reter parte dos poluentes e

nutrientes indesejáveis, melhorando a qualidade da água e reduzindo as

concentrações de sedimento ao longo do sistema.

Quando os reservatórios operam no modo cascata, a capacidade de geração e a

contribuição das usinas para a regularização do rio são potencializadas, sendo os

primeiros reservatórios do conjunto mais importantes por conta da sua maior

capacidade de reserva.

Como exemplo, podemos citar o estado de São Paulo, que possui reservatórios em

sistema do tipo cascata, com várias represas subsequentes, formando um conjunto

que recebe e acumula materiais orgânicos e inorgânicos provenientes dos sistemas

19

Page 49: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

adjacentes. O sistema Tietê merece destaque e inclui os reservatórios de Barra

Bonita, Álvaro de Souza Lima (Bariri), Ibitinga, Mário Lopes Leão (Promissão), Nova

Avanhadava e Três irmãos que apresentam um importante papel social e econômico

devido a sua localização no centro de um grande sistema agrícola e industrial do

país.

Figura 5 – Mapa do Estado de São Paulo com a localização dos reservatórios do sistema

Tietê/Paraná

.

Fonte: http://www.ufscar.br/~probio/bioensaios.html (acesso em 11/02/2013).

Compartimentos

Como vimos anteriormente, os ecossistemas lênticos são corpos de água parada

que podem variar sazonalmente. Com o intuito de facilitar o entendimento e os

estudos neste ambiente, o mesmo foi dividido didaticamente em quatro regiões

20

Page 50: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

distintas (Figura 5), sendo elas:

a. Região Litorânea : é constituída pela parte do ecossistema aquático que está

em contato direto com o ecossistema terrestre adjacente, sofrendo influência

direta do mesmo. Nesta região encontramos todos os níveis tróficos de um

ecossistema, ou seja, produtores primários (Ex.: macrófitas aquáticas),

consumidores e decompositores. É considerada uma região autosuficiente

dentro do ecossistema aquático.

b. Região Limnética ou Pelágica : esta região pode ser observada na maioria dos

ecossistemas aquáticos, sendo os principais constituintes da sua biota o

plâncton (bactérias, fitoplâncton e zooplâncton) e nécton (peixes);

c. Região Profunda ou Bêntica : sua principal característica é a ausência de

organismos fotoautotróficos, como consequência da falta de luz e por ser uma

região dependente da produção de matéria orgânica das regiões litorâneas e

limnéticas. A comunidade bentônica desta região é formada principalmente

por invertebrados aquáticos (Ex.: oligoquetas, crustáceos, moluscos e larvas

de insetos).

d. Região de Interface Água-Ar : devido à tensão superficial da água, esta região

é habitada por duas comunidades, o nêuston (constituído por organismos

microscópicos como bactérias, fungos e algas) e o plêuston (formado por

macrófitas aquáticas e animais, ex.: o aguapé, alface d’água, e vários

pequenos animais).

21

Page 51: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

Figura 6 – Divisão didática dos ecossistemas lênticos.

Fonte: www.infoescola.com (acesso: 13/01/2013)

1.2 Rios

Já vimos que limnologia é o estudo das relações funcionais e da produtividade das

comunidades aquáticas e o efeitos dos fatores físicos, químicos e biológicos nesta

biota. Para tanto é necessário que se compreenda as respostas metabólicas dos

ecossistemas aquáticos a fim de compreender e gerenciar os efeitos das alterações

antrópicas e assim se obter uma melhor gestão destes recursos.

Nesse contexto, as relações entre os ecossistemas aquático e terrestre são de

notório conhecimento das comunidades científicas, portanto na ecologia de rios está

implícito o conceito de interdisciplinaridade, que é o encontro e a cooperação entre

duas ou mais disciplinas, cada uma trazendo seus conceitos, suas formas de definir

problemas e seus métodos de pesquisa.

22

Page 52: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

1.2.1 Teorias Ecológicas de rios

Diversas teorias ecológicas aplicadas ao entendimento da estrutura e funcionamento

dos sistemas lóticos vêm sendo utilizadas em pesquisas voltadas ao estudo da

qualidade de água em bacias hidrográficas, entre elas estão:

Teoria do rio contínuo ou contínuo fluvial (River Continuum Concept - RCC):

Esta teoria, desenvolvida por Vannote et. al. (1980) considera que os rios são

sistemas que apresentam uma série de gradientes físicos formando um contínuo ao

longo de seus cursos, aos quais a comunidade biótica está associada; ou seja,

possuem um gradiente contínuo das condições ambientais. Baseado nesta teoria, os

sistemas lóticos possuem um gradiente de variáveis ecológicas da nascente à foz,

ocorrendo mudanças ao longo do rio na sua largura, volume de água, profundidade,

temperatura, quantidade e tipo de material suspenso transportado.

A teoria do contínuo fluvial descreve o rio como um gradiente espacial fluvial

utilizando alguns conceitos da dinâmica do funcionamento dos componentes físicos

de sistemas fluviais. Tem como objetivo prever o funcionamento biológico destes

sistemas, sugerindo que as características estruturais e funcionais das comunidades

devem se ajustar ao gradiente fluvial, estando condicionadas aos padrões de

entrada, transporte, utilização e armazenamento da matéria orgânica.

O sistema lótico é comparado a um gradiente, que da cabeceira à foz apresenta um

aumento gradual de tamanho, possui características distintas e pode ser classificado

em três grupos: rios de cabeceira, rios pequenos ou médios e grandes rios também

chamados de baixo curso. Abaixo descrevemos algumas dessas diferenças:

Rios de Cabeceira (cursos de ordem 1 a 3): altamente dependentes das

contribuições terrestres de matéria orgânica como folhas, com pouca ou nenhuma

produção fotossintética, com P/R < 1 (Produção/Respiração), principalmente devido

ao sombreamento dos rios, causado pela presença das copas das árvores.

23

Page 53: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

Médio curso (ordem 4 a 6): região menos dependente da contribuição direta dos

ecossistemas terrestres e mais da produção por algas e plantas aquáticas, com

matéria orgânica oriunda das correntes à montante, sendo P>R.

Baixo curso (ordem maior que 6): grandes rios e estuários: tendem a ser turvos,

com grande carga de sedimento de todos os processos de montante e, apesar de

possuírem comunidades desenvolvidas de plâncton, a respiração excede a

produção, com razão P/R < 1.

De acordo com esta teoria a importância da matéria orgânica que entra na cabeceira

deve diminuir conforme o rio vai aumentando, sofrendo mudanças graduais e

passando de heterotrófico para autotrófico. Este modelo prevê que a matéria

orgânica que entra nos trechos de cabeceira e que não é processada no local deve

ser carreada rio abaixo e totalmente utilizada pelas comunidades ao longo do rio,

fazendo com que todo o sistema permaneça em equilíbrio. A figura 7 demonstra um

exemplo hipotético da aplicação da teoria do RCC e a distribuição espacial dos

organismos.

24

Page 54: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

Figura 7 – Teoria do RCC (Teoria do rio contínuo) e a distribuição espacial dos organismos.

Fonte:

http://science.kennesaw.edu/~jdirnber/limno/LecStream/LecStreamEcologyBioEco.html

(acesso em 29/01/2013).

Teoria da Descontinuidade Serial:

Esta teoria, descrita por Ward & Stanford em 1983 considera alterações no contínuo

fluvial (RCC) provocadas por fatores naturais ou antrópicos, alegando que

represamentos, alagamentos, charcos, queda d’água (cachoeira) ou fontes de

poluição, como entrada de esgoto, rompem o gradiente proposto pela teoria do

contínuo em relação às condições ambientais, produzindo mudanças longitudinais e

determinando novos comportamentos em trechos específicos dos rios, originando

novos gradientes.

A teoria da descontinuidade serial pode ser aplicada a bacias hidrográficas

impactadas e, de acordo com ela, uma interferência no ambiente produz alterações

25

Page 55: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

longitudinais nos processos bióticos e abióticos, considerando que a direção de

mudança (montante ou jusante) depende da posição do impacto. Outros fatores de

grande importância são a construção de barragens, desvios, canalizações, etc., que

interrompem o contínuo de um rio, alterando sua composição físico-química,

modificando sua estrutura e o funcionamento do sistema, resultando na perda de

heterogeneidade espacial e temporal do curso d’água.

Teoria do Pulso de Inundação:

Esta teoria proposta por Junk et al. (1989) propõe que interações laterais entre o

canal e as planícies de inundação condicionam a estrutura e o funcionamento

desses sistemas. Essa proposta é voltada especialmente para as regiões do baixo

curso de grandes rios ou em rios de planície, como ocorre, por exemplo, na região

do Pantanal. Assim, o funcionamento desse tipo de sistema depende de pulsos de

inundação e não de processos contínuos longitudinais, como descrito na teoria do

rio contínuo.

O pulso de inundação constitui a principal força responsável pela existência,

produtividade e interações da maior parte da biota em sistemas lóticos de planícies

de inundação. O conjunto de características geomorfológicas e hidrológicas da bacia

produz os pulsos de inundação. As trocas laterais entre a planície de inundação e o

canal do rio e a ciclagem de nutrientes que ocorre entre essas regiões têm um maior

impacto direto sobre a biota do que o ciclo interno de nutrientes, sendo que o

principal efeito do pulso de inundação sobre os organismos é hidrológico. Esta teoria

é particularmente útil em muitos ecossistemas tropicais.

Teoria do Domínio de Processos:

Esta teoria proposta por Montgomery (1999) é uma alternativa à teoria do contínuo

fluvial (RCC) uma vez que considera a influência dos processos geomorfológicos na

variação espacial e temporal que existe nos ecossistemas aquáticos. Baseia-se na

importância destas condições locais e nos distúrbios da paisagem, sendo aplicável

em bacias hidrográficas localizadas em regiões com relevo íngreme, clima variável e

26

Page 56: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

geologia complexa. O clima, a geologia e a topografia são fatores importantes que

determinam a formação dos sistemas, influenciando os processos que possam vir a

ocorrer.

Teoria da Imparidade com o Descontínuo Fluvial:

Segundo Poole (2002) esta teoria baseia-se no fato de que os rios são sistemas

ímpares, ou seja, únicos em estrutura e função na escala da bacia hidrográfica. Uma

bacia é formada por manchas que são características de cada segmento (como

vegetação, sedimentos, fluxo, solo, etc.), e a dinâmica dessas manchas ao longo do

sistema é que caracteriza o rio. Os tributários, além das barragens e outros

empreendimentos, são fatores de interferência no gradiente longitudinal do rio e,

dessa forma, cada bacia possui seu próprio mosaico de manchas denominadas de

meta estrutura. Assim, um rio nunca seria um contínuo fluvial, pois as manchas se

comportam de modo bastante desigual no contexto.

Os estudos em ecossistemas lóticos têm como objetivos entender os processos que

regem o movimento e as transformações de energia e materiais dentro dos

diferentes sistemas. As teorias ecológicas visam construir uma estrutura sintética

para descrever o ambiente lótico da nascente à foz, além de ajustar as variações

entre áreas com diferentes características. No entanto, retratar a realidade de um rio

é difícil, talvez uma generalização dessas teorias seja uma desvantagem quando

aplicada a situações específicas. Apesar disso, as teorias ecológicas devem ser

consideradas porque são conceitos estruturais úteis para descrever ecologicamente

como funcionam as variáveis ao longo do ecossistema lótico.

1.2.2 Classificação de Rios

Os rios são cursos naturais de água que se deslocam de um ponto mais alto

(nascente) até atingirem a foz que pode ser no mar, lago, pântano ou outro rio. Os

cursos de água podem ser classificados de acordo com a frequência com que a

água ocupa as drenagens, sendo eles:

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Page 57: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

Perenes: são rios que contêm água todo o tempo, ou seja, durante o ano inteiro,

sendo alimentados pelo escoamento superficial e subsuperficial. O escoamento

subsuperficial proporciona a alimentação contínua, fazendo com que o nível do

lençol subterrâneo nunca fique abaixo do nível do canal. A maioria dos rios do

mundo são classificados como perenes.

Intermitentes ou Temporários: são os rios formados pela água da estação chuvosa

. No período de estiagem estes rios desaparecem temporariamente, porque o lençol

freático se torna mais baixo que o nível do canal, cessando sua alimentação. Estes

rios são alimentados superficial e subsuperficialmente. Alguns rios da região do

nordeste brasileiro, por exemplo, são intermitentes.

Efêmeros: são rios que se formam apenas por ocasião das chuvas, sendo

alimentados exclusivamente pela água do escoamento superficial, pois estão acima

do lençol freático. Ocorrem geralmente em climas áridos como regiões de deserto.

1.2.2.1 Tipos de Água:

O pesquisador alemão Harold Sioli publicou em 1950 o histórico trabalho sobre os

diferentes tipos de águas da região amazônica, identificando a estreita relação entre

a química e a biologia das águas amazônicas com a geologia e a mineralogia da

região. Os três grupos de rios identificados por SIOLI (1950) foram:

1. Rios de Água Brancas (Barrentas) - transportam grandes quantidades de sólidos

suspensos, como magnésio e cálcio, dando-lhe uma aparência lamacenta, muito

turva e como baixa visibilidade. São rios que drenam regiões geológicas recentes

como os Andes, e podem fornecer grande quantidade de material através de

processos erosivos (ex.: Solimões, Madeira e Branco)

2. Rios de Águas Claras – possuem pequenas quantidades de material suspenso e,

em consequência, pobres em nutrientes e com aspecto cristalino. São rios que

têm suas origens em regiões geologicamente antigas (ex.: Tapajós, Xingu e na

bacia do rio Itanhaém o rio Mambu em seu alto curso, onde percorre terrenos

pré-cambrianos).

3. Rios de Águas Negras - rios que originam-se em regiões planas, antigas e com

28

Page 58: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

solos arenosos e vegetação do tipo campina. A cor negra que caracteriza as

águas se deve à ocorrência de um processo de decomposição incompleto que dá

origem a substâncias húmicas (ex.: Negro e Caruru na Amazônia e rios Preto e

Aguapeú na bacia do rio Itanhaém).

1.2.2.2 Configuração Geral do Canal

Do ponto de vista geológico, a morfologia dos canais é o principal atributo para

classificação de rios. A morfologia dos canais fluviais é controlada por uma série de

fatores com relações bastante complexas. Em relação aos parâmetros

morfométricos, os canais fluviais são classificados em retilíneo, meandrante,

entrelaçado e anastomosado (Tabela 1). Estes padrões podem ser caracterizados

em função de parâmetros morfométricos dos canais, como sinuosidade, grau de

entrelaçamento e relação entre largura e profundidade.

Tabela 1 – Tipos de Canais em relação aos parâmetros morfométricos.

Tipo MorfologiaRetilíneo Canais simples com barras longitudinaisEntrelaçado Dois ou mais canais com barras e pequenas ilhasMeandrante Canais simplesAnastomosado Dois ou mais canais com ilhas largas e estáveis.

1.2.2.3 Tipos de Fluxo

Os rios também podem ser classificados de acordo com o tipo de fluxo de água em

seus canais. Existem dois principais tipos de fluxo, são eles:

Fluxo Laminar: as camadas de água fluem retas ou levemente paralelas, sem

ocorrer difusão ou mistura;

Fluxo Turbulento: as camadas de água são mutáveis no sentido transversal e

longitudinal ocorrendo difusão e mistura constante das camadas.

Os fatores que determinam se o fluxo será laminar ou turbulento são a velocidade do

fluxo, a geometria do canal (especialmente a profundidade), a viscosidade

29

Page 59: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

(resistência de um fluído em escoar), a densidade do fluído e a rugosidade do leito

do canal. O fluxo laminar raramente ocorre em águas superficiais.

Ainda é possível classificar os rios com fluxo turbulento em:

Turbulento Corrente: é o tipo de fluxo mais comum nos canais fluviais;

Turbulento Encachoeirado: possui trechos de velocidades mais elevadas,

cachoeiras e corredeiras. Resulta do aumento acentuado da velocidade e redução

significativa da profundidade do canal.

1.2.3 Classificação em Ordens

Os sistemas fluviais, quando vistos de cima, revelam um padrão tipo árvore, com

vários pequenos cursos de água desaguando em rios mais largos e em menor

número e posteriormente em rios de maiores dimensões. Vários sistemas têm sido

desenvolvidos para classificar os diferentes níveis de cursos de água.

Na classificação proposta por Horton (1945) os canais de primeira ordem não

possuem tributários, os canais de segunda ordem têm afluentes de primeira ordem,

os canais de terceira ordem recebem afluentes de canais de segunda ordem e

podem receber diretamente canais de primeira ordem e assim por diante. Nesta

classificação a maior ordem é atribuída ao rio principal, valendo esta designação em

todo o seu comprimento.

Já na classificação de Horton modificada por Strahler em 1957, a cada nível de

curso de água é atribuído um número de ordem. Cursos de água de ordem 1 são os

menores e situados mais a montante. Dois cursos de água de ordem 1 combinam

para formação de um curso de água de ordem 2. O curso de água de ordem 3

resulta da confluência de dois cursos de água de ordem 2 (Figura 8). Cada curso de

água de ordem mais alta é formado pela confluência de dois cursos de água de

ordem inferior e as bacias hidrográficas de cursos de água de ordem mais baixa

estão incluídas nas bacias de cursos de água de ordem mais alta. Em geral, os

cursos de água ficam mais largos e mais longos quanto mais alto for o número de

ordem.

30

Page 60: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

Vale ressaltar que o conceito de ordens de rio foi utilizado por Vannote (1980)

para propor a teoria do rio contínuo (RCC).

Figura 8 – Conceito de ordens de curso de água proposto por Strahler, utilizando um

esquema de rede fluvial hipotética.

Fonte: State University of New York College of Environmental Science and Forestry, 2010.

1.2.4 Dimensões de Estudo

Os rios podem ser considerados sistemas abertos com uma estrutura tridimensional

(longitudinal, lateral e vertical), caracterizados pelos processos hidrológicos e

geomorfológicos altamente dinâmicos, frente às mudanças climáticas e temporais.

Além destas três dimensões, podemos acrescentar as dimensões temporal e

conceitual. A dimensão temporal é de suma importância, visto que a morfologia do

canal e as comunidades aquáticas podem alterar-se naturalmente ao longo do

tempo e também em decorrência de mudanças abruptas de origem antrópica como,

por exemplo, o represamento e o lançamento de efluentes urbanos. Já a dimensão

conceitual diz respeito a questões filosóficas, políticas e práticas, levando questões

31

Page 61: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

a respeito de como avaliar, o que conservar e quais as prioridades na conservação.

“Os rios são os sistemas mais característicos das águas epicontinentais e seus

organismos habitam o que é, essencialmente, um sistema de transporte” (Margalef,

1991). Para estudo e conhecimento do funcionamento desse tipo de sistema, alguns

autores, dentre eles Petts (1992) propuseram uma divisão em quatro dimensões nas

quais os sistemas fluviais estão submetidos e interagem (Figura 9). São eles:

a. Longitudinal: onde ocorrem interações entre a cabeceira do rio e seus

afluentes com o rio principal;

b. Transversa ou Lateral: entre o canal do rio e sua área de várzea;

c. Vertical: entre o canal do rio e o lençol freático;

d. Temporal: esta dimensão provém da escala de tempo, que depende do

organismo de interesse e também do fenômeno a ser investigado, que pode

variar desde o tempo necessário para provocar uma resposta comportamental

ao tempo necessário para uma possível evolução. Esta escala é importante

para compreendermos a estrutura e dinâmica das comunidades como

também os impactos dos possíveis distúrbios.

Figura 9 – Dimensões de estudo em rios.

Fonte: www.aquatic.uoguelph.ca/rivers/chintro.htm (acesso em 29/01/2013)

32

Page 62: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

2 INFLUÊNCIAS DE FATORES CLIMÁTICOS E METEOROLÓGICOS NA

QUALIDADE DA ÁGUA

O conhecimento dos fatores que influenciam a qualidade da água é de grande

importância para o gerenciamento e estudos de ambientes aquáticos. Os fatores

climatológicos afetam a produtividade primária dos ecossistemas aquáticos,

fundamental para a manutenção das cadeias alimentares, e têm grande influência

no ciclo hidrológico, principalmente os fenômenos de evaporação e precipitação, que

são os principais elementos responsáveis pela contínua circulação da água, sendo

que a radiação solar fornece a energia necessária para todo o ciclo hidrológico.

Dentre os diversos fatores climáticos, a radiação solar é o que apresenta maior

importância, sendo o responsável pela distribuição de calor na massa de água,

participando também dos processos de evaporação e nos processos de

estratificação e desestratificação térmica. A precipitação total tem forte influência

sobre a dinâmica destes ambientes, pois ocasiona um aporte de nutrientes e

material particulado, alterando as características físicas e químicas da água. A

pluviosidade pode provocar alterações sazonais na qualidade da água, por exemplo,

quanto mais intensa a chuva, mais material particulado e quantidade de nutrientes

serão carreados das áreas adjacentes para dentro dos rios; isto pode ocasionar uma

alteração em ambientes oligotróficos, aumentando a disponibilidade de nutrientes

para os organismos produtores primários.

33

Page 63: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

3 INFLUÊNCIAS ANTRÓPICAS NA BACIA HIDROGRÁFICA E A QUALIDADE DA

ÁGUA

A atividade antrópica vêm provocando alterações e impactos no ambiente há muito

tempo, existindo uma crescente necessidade de se apresentar soluções e

estratégias que minimizem e revertam os efeitos da degradação ambiental e do

esgotamento do recursos naturais que se observam cada vez com mais frequência.

A ocupação e o uso dos solos decorrentes de atividades humanas alteram

sensivelmente os processos biológicos, físicos e químicos dos sistemas naturais.

Essas alterações ocorridas em uma bacia hidrográfica podem ser avaliadas através

do monitoramento da qualidade das águas superficiais, uma vez que os rios

recebem efluentes domésticos, industriais e águas oriundas da drenagem de áreas

de agropecuária.

Nos centros urbanos, a falta de um sistema de esgotamento sanitário contribui para

que parte dos dejetos chegue aos rios e reservatórios. Já nas áreas agrícolas, o uso

indiscriminado de fertilizantes e pesticidas são os maiores causadores de problemas

com poluição dos corpos de água.

Os ecossistemas aquáticos vêm sofrendo alterações resultantes dos impactos

causados por mineradoras, lançamentos de efluentes domésticos e industriais não

tratados, exploração de recursos pesqueiros, introdução de espécies exóticas,

desmatamento, uso inadequado do solo, entre outros. Os rios recebem materiais,

sedimentos e poluentes de toda sua bacia de drenagem, refletindo o uso dos solos

nas áreas vizinhas.

Os processos de degradação resultantes das atividades humanas nas bacias

hidrográficas podem causar o assoreamento e a homogeneização do leito dos rios e

córregos, diminuindo a diversidade de habitats e microhabitats, além da eutrofização

artificial (que é o enriquecimento por aumento nas concentrações de fósforo e

34

Page 64: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

nitrogênio e consequente perda da qualidade ambiental).

As bacias hidrográficas são unidades fundamentais para o planejamento do uso e

conservação ambiental e mostram-se vulneráveis às atividades antrópicas que

podem originar impactos negativos ao meio ambiente. Não é por acaso que ela é

considerada a unidade de planejamento e atuação do sistema nacional de

gerenciamento dos recursos hídricos, conforme descrito nos fundamentos da lei

9433/97.

35

Page 65: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

RESUMO UNIDADE 2

Nesta unidade você estudou as bases conceituais para o monitoramento de águas

continentais e aprendemos a reconhecer e identificar as características limnológicas

principais de rios e reservatórios e as principais diferenças entre eles. Vimos que os

ambientes aquáticos continentais são de grande importância, pois abrigam uma

grande biodiversidade (flora e fauna), sendo as bacias hidrográficas as grandes

responsáveis por toda esta biodiversidade.

Identificamos os compartimentos presentes em lagos e reservatórios e descrevemos

as características dos ecossistemas lênticos e lóticos de acordo com suas

propriedades morfométricas, físicas e dinâmica da operação (no caso de

reservatórios).

Estudamos os lagos e reservatórios e suas diversas origens (glacial, tectônica,

vulcânica, fluvial, lagoas costeiras, entre outras), suas características físicas como

profundidade, radiação solar, temperatura, etc. Foi abordada a classificação didática

de compartimentos em lagos e reservatórios, sendo elas: a região litorânea, a

limnética, a profunda e a de interface água-ar.

Estudamos as teorias ecológicas dos rios e como estas podem auxiliar a

compreensão dos diversos tipos de estudos realizados em ambientes lóticos e suas

bacias hidrográficas. Agora somos capazes de identificar os tipos de rios de acordo

com o fornecimento e tipo de água, a sua configuração e tipos de fluxos, sendo

capazes de classificá-los em ordens e identificar a influência de fatores climáticos,

meteorológicos e antrópicos na qualidade de água.

36

Page 66: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

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39

Page 69: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

UNIDADE 3

VARIÁVEIS E PARÂMETROS DE

QUALIDADE DE ÁGUA EM RIOS E

RESERVATÓRIOS

1

Page 70: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

Sumário1. Variáveis Físico-Químicas...................................................................................................3

1.1 Oxigênio Dissolvido......................................................................................................41.2 Salinidade ....................................................................................................................51.3 Turbidez........................................................................................................................71.4 Condutividade elétrica..................................................................................................81.5 Demanda Bioquímica do Oxigênio (DBO)....................................................................81.6 Demanda Química do Oxigênio....................................................................................91.7 Temperatura..................................................................................................................91.8 Potencial Hidrogeniônico (pH)....................................................................................101.9 Sólidos (totais, dissolvidos e sólidos em suspensão)..................................................101.10 Série Nitrogenada ....................................................................................................111.11 Fósforo .....................................................................................................................121.12 Alcalinidade Total......................................................................................................131.13 Cloreto Total..............................................................................................................141.14 Transparência da água.............................................................................................141.15 Carbono Orgânico Total............................................................................................15

2. Variáveis Biológicas..........................................................................................................162.1 Clorofila a...................................................................................................................162.2 Coliformes Totais e Termotolerantes...........................................................................172.3 Fitoplâncton, Perifiton, Zooplâncton e Macroinvertebrados Bentônicos.....................182.4 Ictiofauna....................................................................................................................22

3. Poluentes Específicos.......................................................................................................233.1 Cianotoxinas...............................................................................................................233.2 Pesticidas, Herbicidas e demais Agrotóxicos..............................................................253.3 Metais Pesados..........................................................................................................263.4 Óleos e Graxas...........................................................................................................27

Referências ..........................................................................................................................28

2

Page 71: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Gráfico mostra a variação da solubilidade do oxigênio de acordo com a variação da temperatura.

Figura 2 – Fontes e processos de perda do oxigênio dissolvido na água.

Figura 3 – Disco de Secchi

Figura 4 – Representantes do fitoplâncton.

Figura 5 – Representantes da comunidade zooplanctônica.

Figura 6– Representantes dos macroinvertebrados bentônicos.

Figura 7 – Floração De Cianobactéria.

3

Page 72: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

1. VARIÁVEIS FÍSICO-QUÍMICAS

O monitoramento limnológico estuda a qualidade da água de ecossistemas

aquáticos continentais, incluindo rios e lagos. Os estudos de parâmetros

físico-químicos da água são de grande importância para o conhecimento do

ambiente e identificação dos padrões de variação das condições ambientais, tanto

dentro dos rios e reservatórios como em seu entorno, e têm implicações nas

características limnológicas como um todo.

Sabemos que a água é um recurso natural com características peculiares e

que possui diferentes atribuições, como o consumo direto, matéria-prima e

constituinte do ecossistema. Essas múltiplas funções dão à água um valor

econômico, exigindo assim, normatização e fiscalização do seu uso e qualidade. A

seguir estudaremos as principais variáveis físicas e químicas da água.

1.1 Oxigênio Dissolvido

O oxigênio (O2), dentre os gases dissolvidos na água, é um dos mais importantes na

dinâmica e na caracterização de ecossistemas aquáticos. É um componente

essencial para o metabolismo dos organismos aeróbios presentes nos corpos

hídricos, sendo indispensável para o equilíbrio das comunidades aquáticas.

A solubilidade do oxigênio na água depende de dois fatores principais: a

temperatura e a pressão. Exemplificando, quando ocorre elevação da temperatura e

diminuição da pressão, ocorre consequentemente a redução e a solubilidade do

oxigênio na água. Desta forma, para se obter a saturação do oxigênio (expressa em

porcentagem) deve-se sempre relacionar os teores absolutos de oxigênio com a

temperatura e a pressão atmosférica (Figura 1).

4

Page 73: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

As principais fontes de oxigênio para o corpo hídrico são a atmosfera, através

da interface atmosfera-água, e a fotossíntese, que é a produção e liberação do

oxigênio pelos organismos fitoplanctônicos e plantas aquáticas. O oxigênio

dissolvido pode sofrer perdas através de diversos processos como a elevação da

temperatura da água, consumo pela decomposição da matéria orgânica (oxidação),

perdas para a atmosfera, respiração de organismos aquáticos e a oxidação de íons

metálicos (Figura 2).

Figura 1 – Gráfico mostra a variação da solubilidade do oxigênio de acordo com a variação da temperatura.

Fonte: http://qnint.sbq.org.br (acesso em 17/01/2013)

Figura 2 – Fontes e processos de perda do oxigênio dissolvido na água.

Fonte: http://qnint.sbq.org.br (acesso em 17/01/2013)

5

Page 74: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

Para determinarmos a concentração de oxigênio dissolvido nos corpos hídricos

- em mg/L por exemplo - são utilizados métodos de medição como o volumétrico ou

o potenciométrico, e a escolha por um destes depende de fatores que interferem na

medição deste parâmetro na água e também da precisão desejada pelo

pesquisador. Também existem equipamentos que fazem a medição da concentração

de oxigênio dissolvido diretamente na água.

1.2 Salinidade

A salinidade é a medida de quantidade de sais existentes nas massas de água. O

conceito mais simples de salinidade é a razão entre a quantidade total de íons

dissolvidos e a massa de água que lhe serve de solvente. Este parâmetro é de

grande importância para a caracterização das massas de água, já que determina

diversas propriedades físico-químicas, entre elas a densidade da água, o tipo de

fauna e flora e os potenciais usos da água.

Os íons sódio, potássio, cálcio, magnésio, cloro, sulfato e bicarbonato são os

maiores contribuintes para a salinidade da água, exercendo um importante papel

nos movimentos e na mistura das massas de água, devido ao seu efeito na

densidade. Estes sais dissolvidos também condicionam a fisiologia dos organismos.

Os métodos de detecção da salinidade são o método salinômetro indutivo, eletrodos

e refratômetros.

Sódio (Na+)

As concentrações de sódio em corpos de água variam consideravelmente de

acordo com as condições geológicas locais e das descargas de efluentes. Uma das

suas principais funções é atuar na troca e no transporte de outros íons para os

meios intra e extracelular.

Potássio (K+)

O potássio é um elemento essencial tanto a nutrição da flora quanto a

nutrição humana. Ocorre em águas subterrâneas, sendo resultado da dissolução

6

Page 75: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

mineral de material vegetal em decomposição e do escoamento oriundo da

agricultura. Assim como o sódio, sua principal função é atuar no equilíbrio de outros

íons durante o metabolismo celular.

Cálcio (Ca+2)

Este íon encontra-se combinado em duas formas principais: o carbonato

(CaCO3) e o bicarbonato de cálcio (Ca(HCO3)2. A presença do cálcio nos corpos

hídricos resulta do seu contato com depósitos de calcita, dolomita e gipsita, sua

solubilidade é controlada pelo pH e gás carbônico (CO2) dissolvido. É essencial para

o crescimento de algas, macrófitas aquáticas e muitos animais, principalmente os

moluscos. Interfere em um dos principais fatores físico-químicos do meio aquático, o

potencial hidrogeniônico (pH).

Magnésio (MG+2)

O magnésio presente na massa de água é oriundo dos minerais magnetita e

dolomita. Sua maior importância é a participação na formação da molécula de

clorofila e, além disto, faz parte de diversos processos metabólicos celulares como,

por exemplo, o metabolismo do nitrogênio.

Sulfato (SO4-)

O enxofre pode ser encontrado nos ecossistemas aquáticos em diversas

formas, porém, dentre todas, a do íon sulfato e o gás sulfídrico são as mais

frequentes, sendo o íon sulfato o de maior importância na produtividade do

ecossistema por ser a principal fonte de enxofre para os produtores primários. Suas

principais fontes são decomposição de rochas, chuvas e agricultura (pela aplicação

de adubos contendo enxofre que posteriormente é carreado aos cursos de água).

Cloreto (Cl-)

O cloreto é um dos principais sais inorgânicos presentes na água e sua

concentração é maior em águas residuais do que em água bruta. Em águas

7

Page 76: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

superficiais a principal fonte de cloreto são as descargas de esgotos sanitários; por

isto, durante algum tempo, foi utilizado como indicador da contaminação,

associando-se a elevação das concentrações de cloreto de um rio com o

lançamento de esgotos sanitários.

1.3 Turbidez

A turbidez é uma característica física da água decorrente da presença de

substâncias em suspensão na coluna d’água, ou seja, é uma expressão da

propriedade óptica que faz com que a luz seja espalhada ou absorvida e não

transmitida em linha reta através da amostra. É a medida de redução da

transparência.

A turbidez na água é causada por materiais em suspensão, como por

exemplo, argila, silte, matéria orgânica e inorgânica finamente dividida, compostos

orgânicos solúveis coloridos, plâncton e outros organismos microscópicos. O

tamanho das partículas em suspensão varia dependendo do grau de turbulência do

ambiente. A presença destas partículas provoca a dispersão e absorção da luz,

deixando a água com aparência turva. A transparência de um corpo d’água natural é

um dos principais determinantes da sua condição e produtividade.

1.4 Condutividade elétrica

A condutividade elétrica refere-se à capacidade de uma solução aquosa para

conduzir uma corrente elétrica. Considerando-se que esta propriedade depende da

concentração de íons, quanto maior a concentração iônica, maior será a capacidade

da solução de conduzir a corrente elétrica e vice-versa.

A condutividade é medida por um equipamento chamado condutivímetro e é

expressa em µScm-1 ou mScm-1. Sua aplicação prática é a indicação do grau de

mineralização da água e indicação rápida de variações nas concentrações de

minerais dissolvidos.

1.5 Demanda Bioquímica do Oxigênio (DBO)

A demanda bioquímica do oxigênio é a quantidade de oxigênio necessária para

oxidar a matéria orgânica para uma forma inorgânica estável. É um parâmetro

8

Page 77: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

utilizado para identificar a presença de matéria orgânica na água, é expresso em

mg.L-1.

A DBO é um bioensaio que indica o consumo de oxigênio por organismos

vivos (principalmente micro-organismos) enquanto utilizam a matéria orgânica, em

condições similares às encontradas na natureza. É considerada como a quantidade

de oxigênio consumido durante um determinado período de tempo (padronizado em

5 dias) em uma temperatura de incubação específica (20°C).

Os maiores aumentos da DBO em corpos d’água frequentemente estão

associados a despejos de origem principalmente orgânica. O aumento do teor de

matéria orgânica num corpo hídrico pode levar ao completo esgotamento do

oxigênio na água, causando o desaparecimento de peixes e outras formas de vida.

1.6 Demanda Química do Oxigênio

A demanda química do oxigênio (DQO) é a quantidade de oxigênio consumido na

oxidação química da matéria orgânica existente na água, medida através de testes

específicos. Não apresenta necessariamente correlação com a DBO, porém assim

como ela é expressa em mg.L-1.

A DQO é uma medida indireta da matéria orgânica presente na amostra; para

se obter a DQO é medida a oxidação da matéria orgânica através de fortes

oxidantes como o dicromato de potássio (K2Cr2O7) em meio ácido (H2SO4). Este

teste mede a quantidade de dicromato (oxidante) consumido durante a degradação

da matéria orgânica; assim quanto maior o consumo do oxidante, maiores são os

níveis de matéria orgânica no ambiente. Os principais métodos para se medir a DQO

são os de refluxo aberto, refluxo fechado tintimétrico e refluxo fechado colorimétrico.

A medida de DQO geralmente é utilizada como indicador do grau de poluição

de um corpo de água por água residuária.

1.7 Temperatura

A temperatura da água é resultado da radiação solar incidente sobre a água. Exerce

grande influência nas atividades biológicas e no crescimento dos organismos;

também determina os tipos de organismos que habitam o local, uma vez que estes

têm uma faixa preferida de temperatura para se desenvolverem. Se este limite for

9

Page 78: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

ultrapassado, tanto para mais quanto para menos, os organismos são impactados e

espécies mais sensíveis podem até mesmo ser extintas do local.

A temperatura influencia a química da água; como vimos anteriormente,

corpos de água fria tem maior capacidade de reter o oxigênio dissolvido do que a

água quente. A temperatura também é a principal responsável por uma das

características físicas da água: a densidade. As diferenças de temperatura geram

camadas d’água com diferentes densidades, formando uma barreira física que

impede que se misturem, e quando a energia do vento não é suficiente para

misturá-las, o calor não se distribui uniformemente na coluna d’água, criando assim

a estratificação térmica.

1.8 Potencial Hidrogeniônico (pH)

O pH é uma medida que determina se a água é ácida ou alcalina, variando de 0 a

14, a partir dos seus valores indica quando uma solução aquosa é acida (pH<7),

neutra (pH=7) ou alcalina (pH>7). Trata-se de um dos parâmetros mais importantes

e frequentemente utilizados na análise da água e deve ser acompanhado para

melhorar os processos de tratamento e preservação das tubulações contra

corrosões ou entupimentos.

A influência direta do pH nos ecossistemas aquáticos é exercida por seus

efeitos sobre a fisiologia de diversas espécies. O pH influencia de maneira direta os

processos bioquímicos, especialmente as trocas iônicas com o meio extracelular;

desta forma, processos de absorção e excreção de substâncias orgânicas e iônicas

são diretamente afetados. Determinadas condições de pH têm efeito indireto e

podem contribuir para a precipitação de elementos químicos tóxicos.

Durante o tratamento da água e de efluentes, praticamente todas as fases,

como o processo de neutralização, precipitação, coagulação, desinfecção e controle

de corrosão dependem dos valores de pH. Os corpos d’água encontrados na

natureza em sua maioria possuem valores de pH na faixa de 4 a 9, sendo a maioria

ligeiramente básico. O método de determinação do pH mais utilizado é o

potenciométrico.

10

Page 79: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

1.9 Sólidos (totais, dissolvidos e sólidos em suspensão)

Os sólidos correspondem a toda matéria que permanece na água como resíduo

após a evaporação, secagem ou calcinação da amostra a uma temperatura

pré-estabelecida durante um período fixado, ou seja, sólidos totais são o resíduo que

resta na cápsula após a evaporação em banho-maria de uma porção de amostra e

sua posterior secagem em estufa a 103-105°C até alcançar um peso constante.

A medição dos sólidos totais é importante para definir as condições

ambientais, baseado na premissa de que estes sólidos podem causar danos à vida

aquática em geral, como por exemplo, a diminuição da incidência de luz, aumento

da sedimentação no leito dos rios destruindo organismos que fornecem alimentos,

ou também danificar os leitos de desova de peixes. Os sólidos podem reter bactérias

e resíduos orgânicos no fundo dos rios, promovendo decomposição anaeróbia.

Os sólidos totais dissolvidos (STD) são a soma de todos os constituintes

químicos dissolvidos na água. O STD é principalmente medido através da conversão

da medida da condutividade elétrica; para isto o valor da condutividade elétrica é

multiplicado por um fator de conversão que depende da composição química de

STD e pode variar entre 0,54 e 0,96. O resultado é expresso em mg.L -1 (EMBRAPA,

2011).

Já os sólidos em suspensão são a quantidade de sólidos determinada com a

secagem do material retirado por filtração da amostra, através de um filtro de

micromalha de 0,45 micrômetros, e é dado em mg/L.

A determinação dos níveis de concentração das diversas frações de sólidos é

utilizada nos estudos de controle de poluição das águas naturais, caracterização de

esgotos sanitários e de efluentes industriais e no controle de sistemas de tratamento

de esgotos, resultando em um quadro geral da distribuição das partículas com

relação ao tamanho (sólidos dissolvidos e em suspensão) e com relação à natureza

química (fixos ou minerais e voláteis ou orgânicos).

1.10 Série Nitrogenada

De acordo com Esteves (1998), o nitrogênio é um dos elementos mais importantes

no metabolismo de ecossistemas aquáticos. Isto se deve principalmente ao fato

11

Page 80: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

deste elemento participar da formação de proteínas, um dos componentes básicos

da biomassa. A presença deste elemento em baixas concentrações pode se tornar

um fator limitante para a produção primária em ecossistemas aquáticos.

As principais fontes naturais de nitrogênio são o material orgânico e

inorgânico de origem alóctone e a fixação de nitrogênio molecular dentro do próprio

ambiente. O nitrogênio está presente nos ambientes aquáticos sob várias formas,

sendo as principais o nitrato (NO3-), nitrito (NO2

-), amônia (NH3), íon amônio (NH4+)

entre outros. Dentre todas estas formas o nitrato, juntamente com o íon amônio,

assume grande importância nos ecossistemas aquáticos, por serem as principais

fontes de nitrogênio para os produtores primários.

O nitrato ocorre geralmente em quantidades muito pequenas no ambiente; o

nitrogênio sob a forma de amônia é transformado em nitrito e posteriormente em

nitrato pelo processo de nitrificação. A presença de nitrogênio na forma de nitrato em

um corpo d’água é indicador da poluição relacionada ao final do processo de

nitrificação e pode caracterizar a presença de efluentes de esgotos sanitários nos

corpos hídricos.

O nitrogênio amoniacal corresponde ao nitrogênio proveniente de um

composto derivado do amoníaco. A amônia é a mais reduzida forma de nitrogênio

orgânico na água; embora seja um pequeno componente no ciclo total do nitrogênio,

contribui para a fertilização da água tendo em vista que o nitrogênio é nutriente

essencial para a flora aquática e para a comunidade fitoplanctônica.

Já o nitrogênio total representa a soma das concentrações de nitrato, nitrito,

amônio e nitrogênio orgânico.

1.11 Fósforo

A importância do fósforo nos sistemas biológicos é notória, e deve-se à sua

participação em processos fundamentais do metabolismo dos seres vivos

(armazenamento de energia e estruturação da membrana celular). Na maioria dos

corpos d’água o fósforo pode ser fator limitador da produtividade e, portanto, é

apontado como o principal fator responsável pela eutrofização artificial dos

ambientes aquáticos. O fósforo encontra-se na água na forma de fosfato, assim

utiliza-se essa denominação para as diferentes formas de fósforo.

12

Page 81: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

O fosfato presente na água tem origem em fontes naturais (rochas das bacias

de drenagem, material particulado presente na atmosfera e decomposição da

matéria orgânica) e artificiais (esgotos domésticos e industriais e material particulado

de origem industrial contido na atmosfera).

A dinâmica do fósforo está intimamente ligada aos sedimentos aquáticos, a

retenção ou liberação a partir do sedimento estão altamente correlacionadas às

condições de oxirredução na interface água-sedimento. O uso agrícola dos solos em

pequenas bacias hidrográficas localizadas em regiões de encosta altera as

condições ecológicas naturais. A quantidade e as características dos sedimentos

carreados em suspensão pelo escoamento superficial são modificadas pela ação

antrópica. Uma vez atingindo um ambiente aquático lêntico, os sedimentos podem

atuar, tanto como dreno, quanto como fonte de fósforo para a água, diminuindo ou

potencializando os processos de eutrofização.

O fósforo pode ser encontrado na forma orgânica (matéria orgânica dissolvida

e particulada da biomassa) e inorgânica (fração solúvel representada pelos sais

dissolvidos de fósforo e fração insolúvel formada por minerais). O fosfato se

apresenta nos mananciais sob três formas: fosfato particulado, fosfato orgânico

dissolvido e fosfato total. Todas as formas ou frações de fosfato são importantes, no

entanto, o fosfato inorgânico dissolvido é o mais importante por ser a principal forma

de fósforo assimilada pelos vegetais aquáticos.

Os dados obtidos de fósforo em conjunto com os de clorofila a e

transparência da água são de grande importância para se determinar o estado

trófico dos corpos de água.

1.12 Alcalinidade Total

A alcalinidade da água é a sua capacidade quantitativa de neutralizar um ácido forte,

até um determinado pH, ou seja, é a quantidade de substâncias na água que atuam

como solução tampão. A alcalinidade é devida, principalmente, à presença de

bicarbonatos, carbonatos e hidróxidos.

Nos ambientes aquáticos, as medidas de pH e alcalinidade são de grande

importância para o estudo da produtividade biológica, condicionando os demais

13

Page 82: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

processos físico-químicos de uma massa d’água e afetando o metabolismo dos

seres aquáticos. A alcalinidade é determinada através do método da volumetria e

expressa em mg.L-1 de CaCO3. Estas medidas são utilizadas na interpretação e

controle de processos de tratamento de águas de abastecimento e residuárias.

1.13 Cloreto Total

O cloreto é um dos ânions mais comuns em águas naturais, nos esgotos domésticos

e em despejos. Em água potável, o sabor produzido pelo íon Cl varia em função da

sua concentração como também da composição química da água. Não são

prejudiciais à saúde do homem, porém conferem sabor salgado à água. Em altas

concentrações podem trazer restrições ao sabor da água, além de interferir

negativamente no equilíbrio hidroeletrolítico dos organismos aquáticos.

Dejetos humanos e de animais possuem teor elevado de cloreto, devido ao

cloreto de sódio ser um ingrediente comum nas dietas e passar inalterado pelo

sistema digestório. Nas estações de abastecimento de águas, a presença de

concentrações anormais de cloreto é um indício desse tipo de poluição.

1.14 Transparência da água

A transparência da coluna d’água pode variar desde alguns centímetros até

dezenas de metros. Essa região da coluna d’água é denominada zona eufótica e

sua extensão depende, principalmente, da capacidade do meio em atenuar a

radiação subaquática. O limite inferior da zona eufótica é geralmente assumido

como sendo aquela profundidade onde a intensidade da radiação corresponde a 1%

da que atinge a superfície. A extensão da zona eufótica pode ser calculada

multiplicando-se o valor da profundidade do disco de Secchi (transparência da água)

pelo fator de 2,7. No Brasil o fator 3,0 é o mais frequentemente utilizado por

limnólogos.

A transparência do corpo d’água é um dos parâmetros físicos observados na

análise de sua qualidade. Este parâmetro pode ser obtido através da leitura da

profundidade do disco de Secchi, ou seja, a partir da observação do

14

Page 83: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

desaparecimento de um disco, com quadrantes, branco e preto, mergulhado na

água (Figura 3). O valor do disco de Secchi tem uma relação direta com a

transparência da água e inversa à quantidade de compostos orgânicos e inorgânicos

no percurso da luz e também ao coeficiente de atenuação da irradiância.

A transparência da água é uma característica física de fácil obtenção em

campo. A utilização do disco de Secchi é às vezes criticada, porém sua simplicidade,

custo reduzido, facilidade de transporte e principalmente o número de informações

possíveis de serem extraídas a partir de sua leitura justificam sua utilização para

análises de ambientes aquáticos. Assume importância também em pesquisas

científicas, visto que por ser um parâmetro universal, permite comparações; além

disso, juntamente com os índices de fósforo e a clorofila a, é um excelente indicador

do estado trófico dos corpos hídricos.

Figura 3 – Disco de Secchi

Fonte: http://www.consulpesq.com.br/figuras/disco_secchi.html (acesso em 23/01/2013)

1.15 Carbono Orgânico Total

O carbono é um elemento químico que entra na constituição dos seres vivos e de

todos os compostos orgânicos. Como sua oxidação consome o oxigênio dissolvido

na água, a quantificação do carbono orgânico total é um bom indicador da qualidade

15

Page 84: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

da água e está intimamente relacionado com a matéria orgânica existente nos meios

hídricos. O ciclo biogeoquímico do carbono é um dos mais complexos e

abrangentes, englobando todos os aspectos da limnologia, desde a produção

primária, passando por cadeias alimentares até fenômenos de sucessão biológica.

Para maior conhecimento sobre o ciclo biogeoquímico do carbono recomendamos a

leitura de Esteves (1998).

Os diferentes tipos de carbono orgânico presentes nos ecossistemas

aquáticos podem ser agrupados em: carbono orgânico dissolvido (COD), carbono

orgânico não dissolvido (COND), carbono orgânico volátil (COV) e carbono orgânico

não volátil (CONV). O carbono orgânico total é obtido pela oxidação do carbono,

portanto, é uma medida direta da quantidade de compostos orgânicos em diferentes

estágios de oxidação na água, sendo desta forma, um excelente indicador da

qualidade da água.

2. VARIÁVEIS BIOLÓGICAS

2.1 Clorofila a

O termo clorofila se refere a um grupo de pigmentos produzidos nos cloroplastos das

folhas e em outros tecidos vegetais e microbianos fotossintéticos. Estes pigmentos,

responsáveis pela cor verde das plantas, funcionam como fotorreceptores da luz

visível utilizada no processo de fotossíntese. As diferenças aparentes nas cores dos

vegetais são devidas à presença de outros pigmentos associados, como

carotenóides, os quais sempre acompanham as clorofilas.

As concentrações de clorofila a são utilizadas para expressar a biomassa

fitoplanctônica. Desta forma o estudo do fitoplâncton e da biomassa fitoplanctônica

associada aos parâmetros físicos e químicos, são capazes de detectar possíveis

alterações na qualidade da água, bem como avaliar tendências sazonais, que se

refletem em modificações do habitat ou no comportamento de organismos aquáticos.

A concentração de clorofila a na água está diretamente associada à quantidade de

algas presentes.

O crescimento dos primários resulta do carbono que é fixado pelos mesmos.

16

Page 85: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

A quantidade de clorofila a é correspondente à resposta da biomassa (somatória da

massa orgânica viva existente num determinado espaço e tempo). A concentração

de clorofila a vem sendo utilizada há muitos anos como indicação direta do estado

trófico do sistema aquático sendo, inclusive, juntamente com os parâmetros fósforo

e transparência da água, variáveis utilizadas para determinação do índice de estado

trófico (IET).

2.2 Coliformes Totais e Termotolerantes

Os ambientes aquáticos são habitados por diversos tipos de bactérias heterotróficas

que são importantíssimas, pois oxidam de matérias orgânicas e consomem toda a

carga poluidora que é lançada nestes corpos de água (processo de decomposição),

sendo assim , as principais responsáveis pela autodepuração. Porém, quando

corpos hídricos recebem esgotos, passam a conter outros tipos de bactérias

relacionadas ao efluente considerado, e que podem ou não causar doenças aos

seres humanos. Um dos principais grupos bacterianos de interesse é o dos

coliformes (BRASIL, 2006).

As bactérias denominadas coliformes totais não são causadoras de doenças;

a razão da escolha desse grupo de bactérias como indicador de contaminação da

água deve-se aos seguintes aspectos: estão presentes nas fezes de animais de

sangue quente (inclusive seres humanos), sua presença possui relação direta com o

grau de contaminação fecal, são facilmente detectáveis e quantificáveis por técnicas

simples e economicamente viáveis em qualquer tipo de água, possuem maior tempo

de vida na água que as bactérias patogênicas intestinais, além de serem incapazes

de se reproduzir no ambiente aquático, sendo mais resistentes à ação de agentes

desinfetantes do que germes patogênicos.

Os coliformes fecais também são conhecidos como coliformes

termotolerantes, pois toleram temperaturas acima de 40ºC e reproduzem-se nesta

temperatura em menos de 24 horas. Pelo estudo da concentração dos coliformes

nas águas pode-se estabelecer um parâmetro indicador da possível existência de

micro-organismos patogênicos que são responsáveis por doenças de veiculação

hídrica, tais como a febre tifóide, febre paratifóide, disenteria bacilar e cólera.

17

Page 86: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

2.3 Fitoplâncton, Perifiton, Zooplâncton e Macroinvertebrados Bentônicos

Fitoplâncton

É o conjunto de organismos aquáticos microscópicos que possuem

capacidade fotossintética e que vivem dispersos flutuando na coluna d’água (Figura

20). Estes organismos sintetizam matéria orgânica utilizando a energia solar e os

nutrientes essenciais (fósforo, nitrogênio, sílica entre outros) requeridos para o seu

metabolismo e desenvolvimento, juntamente com o dióxido de carbono e água.

Devido à necessidade de permanecerem na zona fótica, apresentam grande

diversidade de formas que contribuem para sua flutuabilidade, uma vez que estes

organismos são em sua grande maioria mais densos do que a água. Possuem

importante papel como produtores primários nos ecossistemas aquáticos, uma vez

que constituem o início da teia trófica, deles dependendo diretamente os organismos

dos demais níveis. Além disso, calcula-se que cerca de 90% do oxigênio atmosférico

seja produzido por estas microalgas, importantes bioindicadores da qualidade da

água e de seu estado trófico (SOURNIA, 1969).

O fitoplâncton está constituído de diversos grupos de microalgas, podendo-se

distinguir seis grupos principais: Bacyllariophyta, Cholorophyta, Cyanophyta,

Euglenophyta, Pyrrophyta e Chrysophyta. O grupo Cyanophyta assume grande

importância sanitária e de saúde pública; as algas também chamadas cianofíceas ou

cianobactérias, são tratadas pela resolução 357/05 do CONAMA (Conselho Nacional

de Meio Ambiente) e pela portaria 2914/2011 do Ministério da Saúde, por serem

capazes de produzir toxinas, inclusive letais, que afetam outros organismos

aquáticos de todos os níveis tróficos e, uma vez que são termotolerantes e

permanecem na água após processos convencionais de tratamento para

abastecimento, constituem importante risco à saúde humana.

Figura 4 – Representantes do fitoplâncton.

18

Page 87: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

Fonte: http://www.ufrrj.br (acesso em 23/01/2013)

Perifíton

Podemos definir este grupo de organismos como uma comunidade complexa

de algas, bactérias, fungos, protozoários e animais, além de detritos, aderidos a

substratos submersos orgânicos ou inorgânicos vivos ou mortos. O estudo destas

comunidades pode fornecer importantes informações sobre a produtividade de um

ecossistema aquático para a aquicultura ou sobre eventuais poluentes que afetam

uma massa de água costeira ou lacustre (WATANABE, 1990).

A comunidade perifítica apresenta uma clara heterogeneidade espacial e

temporal, apresentando variações em sua composição, biomassa e produtividade. O

entendimento dessa heterogeneidade no perifíton é importante porque seus

componentes são a base da cadeia alimentar em muitos sistemas lóticos; atuam

como redutores e transformadores de nutrientes, além de promoverem habitat para

uma diversidade de organismos. Ainda, além da alta diversidade, os organismos

perifíticos possuem tempo de regeneração curto e ciclo de vida relativamente

simples, o que permite usá-los com bastante eficácia para desenvolver e testar

modelos ecológicos.

Zooplâncton

Zooplâncton (Figura 5) é um termo genérico para um grupo de animais de

19

Page 88: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

diferentes categorias sistemáticas, tendo como característica comum a incapacidade

de grandes deslocamentos autônomos e a coluna d’água como seu habitat principal.

É formado por protistas não fotossintéticos planctônicos e animais, variando desde

formas unicelulares até pequenos vertebrados como larvas de peixes, geralmente de

tamanho microscópico. Embora possuam movimentos natatórios, as correntes de

água, a turbulência e a grandeza da densidade determinam seus deslocamentos;

assim a capacidade de locomoção do zooplâncton se reduz a migrações verticais.

A maior parte dos organismos que compõem o zooplâncton alimenta-se de

microalgas, embora sejam observados, além dos organismos herbívoros, também

carnívoros, onívoros e detritívoros. Por outro lado, são alimento de muitas espécies

de peixes e outros animais. O zooplâncton é essencial para a manutenção do

ecossistema aquático, pois está na base da cadeia alimentar, transferindo energia

na forma de fitoplâncton-bacterioplâncton ou na de detrito orgânico particulado para

os demais elos da teia trófica. Tem grande importância também como indicador

biológico, à medida em que é bastante sensível à poluição presente na água.

Figura 5 – Representantes da comunidade zooplanctônica.

Fonte: http://www.regmurcia.com (acesso em 23/01/2013)

Macroinvertebrados Bentônicos

A comunidade de macroinvertebrados bentônicos de água doce é composta

20

Page 89: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

por organismos com tamanho superior a 0,5 mm, portanto, visíveis a olho nu (Figura

6). Os organismos bentônicos possuem grande diversidade de espécies, dentre os

quais destacamos os insetos aquáticos, que tem parte da sua vida neste ambiente;

apresentam diversas formas e modos de vida, podendo habitar fundos de

corredeiras, riachos, rios, lagos e represas. Em geral se situam numa posição

intermediária na cadeia alimentar, tendo como principal alimentação algas e

micro-organismos, sendo os peixes e outros vertebrados seus principais predadores

(METCALFE, 1989).

Os macroinvertebrados bentônicos desempenham importante papel na

dinâmica de nutrientes. Ocupam extensamente a zona litorânea de ambientes

lênticos e promovem o biorrevolvimento da superfície do sedimento e a

fragmentação do litter (folhedo, resíduos vegetais) proveniente da vegetação ripária,

liberando nutrientes para a água.

O biomonitoramento de corpos hídricos através do uso de

macroinvertebrados bentônicos é cada vez mais usado e aceito como uma

importante ferramenta na avaliação da qualidade da água. Algumas das vantagens

que destacam os invertebrados bentônicos como os mais utilizados nas avaliações

de efeitos de impactos antrópicos sobre os ecossistemas aquáticos são o fato de

constituírem um grupo bastante diverso e cosmopolita, sendo sensíveis a vários

tipos de poluentes e distúrbios físicos; sua coleta é de baixo custo e requer

aparelhagem relativamente simples e barata; por estarem associados ao sedimento

e serem relativamente sésseis, permitem registrar um tempo maior de impactos do

que a avaliação de parâmetros físicos, químicos e físico-químicos, servindo como

testemunhas tanto de impactos recentes como de médio prazo, permitindo associar

sua presença ou ausência às alterações das condições de seu hábitat. Finalmente, a

presença de espécies com ciclo de vida longo em relação a outros organismos

possibilita uma melhor integração temporal de efeitos de ações antrópicas sobre a

comunidade.

Figura 6– Representantes dos macroinvertebrados bentônicos.

21

Page 90: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

Fonte: http://ambientes.ambientebrasil.com.br (acesso em 23/01/2013)

2.4 Ictiofauna

Podemos denominar ictiofauna como sendo o conjunto de espécies de peixes que

existem numa determinada área de estudo, e apresenta as seguintes propriedades:

riqueza (número de espécies), diversidade (composição relativa de abundância de

espécies), atributos morfológicos e fisiológicos e estrutura trófica.

O monitoramento, com suficiente abrangência espacial e temporal, fornece

importantes informações sobre a estrutura das comunidades de peixes. O

conhecimento dos processos ecológicos que influenciam as relações das espécies

com o ambiente são fatores importantes para uma abordagem mais eficiente e para

o melhor entendimento da composição e estruturação das assembléias de peixes.

Peixes ocupam diferentes estratos na coluna d'água; são considerados

pelágicos, quando circulam em águas abertas, e demersais, quando vivem próximos

ao fundo. Formas jovens de algumas espécies (ovos e larvas) ocupam ainda o

estrato planctônico, enquanto outras podem apresentar ovos adesivos, construção

de ninhos e cuidado parental.

22

Page 91: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

Comunidades aquáticas tropicais íntegras apresentam frequentemente

elevada diversidade íctica com espécies ocupando diferentes níveis tróficos; podem

ser planctívoros, herbívoros, onívoros, carnívoros (muitas vezes piscívoros) ou

iliófagos (quando alimentam-se de substrato - lodo). É nesta comunidade que se

encontram os organismos considerados "topo de cadeia", cuja ocorrência e estrutura

populacional refletem o status de equilíbrio geral do ecossistema. Esta mesma

propriedade leva à exploração de espécies de peixes como eficientes bioindicadores

de distúrbios antrópicos, inclusive fatores específicos, como poluição por compostos

sujeitos à biomagnificação.

Seus ciclos de vida também estão intimamente relacionados aos ciclos

sazonais, especialmente o hidrológico; o recrutamento de muitas espécies depende

estritamente de pulsos de inundação e das alterações físico-químicas da água,

carreamento de nutrientes e isolamento de lagoas dependentes destes fenômenos

(TUNDISI, TUNDISI, 2008).

Alterações decorrentes do barramento de rios e constituição dos reservatórios

invariavelmente acarretam mudanças da estrutura da assembléia íctica, em resposta

às mudanças da diversidade e heterogeneidade de habitats, disposição de áreas

para desova, disponibilidade de recursos alimentares e demais alterações

limnológicas. Este é um dos aspectos da construção de reservatórios mais

perceptíveis para a sociedade, de acordo com a importância econômica e social

assumida pela pesca em cada circunstância individual (AGOSTINHO, JÚLIO Jr.,

BORGHETTI, 1992).

3. POLUENTES ESPECÍFICOS

3.1 Cianotoxinas

Temos por definição que as cianotoxinas são toxinas produzidas por algumas

espécies de cianobactérias e podem ser classificadas como:

• Hepatotoxinas (microcistina e nodularina): são capazes de provocar mal estar,

vômitos e cefaléia. Comprometem a circulação de sangue no fígado,

resultando em hemorragias, o que pode levar a uma hepatoenterite,

23

Page 92: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

gastroenterite e eventualmente câncer.

• Neurotoxinas (anatoxina-a, anatoxina-as, homoanatoxina-a e saxitoxina):

diferentes tipos de neurotoxinas são produzidas e afetam a neurotransmissão

inibindo a ação da acetilcolinesterase o que, consequentemente, impede a

degradação da acetilcolina ligada aos receptores neurais.

• Citotoxinas (cilindrospermopsina): este tipo de toxina é inibidora da síntese

protéica, afetando principalmente os rins e o fígado, em casos de intoxicação

grave pode levar a necrose celular generalizada.

• Dermatotoxinas (lingbiatoxina): esta toxina afeta principalmente a pele e pode

causar irritações cutâneas.

As altas concentrações de cianobactérias são causadas pela floração destes

organismos (Figura 7) devido a condições ambientais propícias ao seu crescimento.

Em altas concentrações as cianotoxinas afetam, primeiramente, as comunidades

aquáticas, provocando mortandade de peixes e outros animais.

Os métodos de análise para detecção, identificação e quantificação variam

muito de acordo com o tipo de informações que proporcionam. Para análises de

campo, testes rápidos e de baixo custo são os mais indicados para avaliar o grau de

risco de uma floração e direcionar as medidas corretas a serem tomadas. Para uma

análise mais detalhada, convém utilizar-se de técnicas analíticas e técnicas

moleculares com maior poder de descrição qualitativa e quantitativa das

cianotoxinas (CARNEIRO; LEITE, 2008).

De acordo com FUNASA (2003) a presença de algas e cianobactérias na

água bruta aduzida às estações de tratamento pode causar problemas operacionais

em várias etapas de tratamento, tais como: dificuldade de coagulação e floculação,

baixa eficiência do processo de sedimentação, colmatação dos filtros e aumento da

necessidade de produtos para a desinfecção. Como consequência desses

problemas operacionais, verifica-se, geralmente, a redução na eficiência dos

processos de tratamento e o surgimento de problemas na água tratada associados à

24

Page 93: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

presença de cianobactérias e seus subprodutos extracelulares (como consequência

podem dar sabor e odor a água e a presença de toxinas).

Figura 7 – Floração de cianobactéria.

Fonte: ASCOM/UFJF (2013)

3.2 Pesticidas, Herbicidas e demais Agrotóxicos

Os pesticidas estão presentes nas águas subterrâneas ou de superfície em

concentrações na ordem de microgramas. A presença destes compostos na água é

resultado da intensa atividade agrícola. Os pesticidas mais comuns encontrados na

água são o atrazina, DDT, lindano e carbofurano. Em sua maioria são hidrofóbicos e

facilmente removidos por adsorção de carbono ativado. Apesar da legislação

brasileira proibir o uso de alguns pesticidas, como por exemplo o DDT, sua utilização

ainda é feita em algumas lavouras.

Dentre os pesticidas empregados na agricultura destacam-se os herbicidas,

que correspondem à maior parte comercializada mundialmente. Os herbicidas são

agentes biológicos ou substâncias químicas que agem matando ou suprimindo o

desenvolvimento de espécies daninhas que comprometem a produtividade de

culturas de interesse comercial. O problema é que muitas destas substâncias têm

grande probabilidade de contaminar os recursos hídricos, graças a características

25

Page 94: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

como alto potencial de deslocamento no perfil do solo (lixiviação), elevada

persistência no solo, baixa a moderada solubilidade em água e adsorção moderada

à matéria orgânica presente no solo.

A contaminação da água por estas substâncias hoje é a segunda causa de

contaminação dos recursos hídricos, perdendo somente para a contaminação por

esgotos domésticos. Resulta da aplicação direta, de partículas trazidas pelas

enxurradas ou pela deriva dos produtos aplicados por meio de despejos industriais.

As águas superficiais contêm a maior fração de agrotóxicos, distribuídos em

diversos espaços geográficos onde a preservação do ambiente aquático depende de

práticas adequadas. Para a preservação das águas é necessário implementar

práticas agrícolas mais adequadas ao uso de agrotóxicos. O segundo desafio é

tornar estas práticas obrigatórias e garantir a difusão destas informações para a sua

efetiva realização.

3.3 Metais Pesados

Sabemos que uma das principais causas de poluição dos recursos hídricos é a

atividade humana. No caso dos metais pesados tal fato é ainda mais evidente, pois

a contaminação dos ecossistemas aquáticos naturais é proveniente de atividades

como a mineração, industriais e despejo de efluentes domésticos.

As principais fontes de contaminação das águas de rios são as indústrias de

tintas, de cloro, de plástico PVC e as metalúrgicas, que utilizam em seus processos

metais pesados como o mercúrio, entre outros. Esses metais, muitas vezes, são

descartados nos cursos de água após sua utilização nas linhas de produção. Porém

não só as indústrias produzem este tipo de poluição, os incineradores urbanos de

lixo produzem fumaça rica em metais como mercúrio, cádmio e chumbo, lançando

metal pesado a longas distâncias.

Para os humanos, os metais são úteis apenas em pequenas quantidades,

como o ferro, zinco, magnésio, cobalto. Enquanto o ferro constitui a hemoglobina,

alguns destes metais são cofatores enzimáticos importantes. Entretanto, se essas

quantidades forem ultrapassadas, os mesmos metais podem se tornar tóxicos.

A resolução 357/05 do CONAMA apresenta os limites máximos para as

26

Page 95: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

diferentes classes de rio e para os diferentes tipos de metais pesados. Um dos

riscos que as concentrações acima dos limites máximos permitidos trazem é a

bioacumulação nos organismos, isto ocorre independentemente do seu nível trófico.

A exposição de um ser vivo aquático a uma água contaminada por metais pesados

pode provocar absorção pelo organismo, entrando assim em seus tecidos, e

posteriormente, ao servir de alimento a seres de um nível trófico superior,

contaminará esse outro organismo, fazendo com que o contaminante suba na

cadeia alimentar.

3.4 Óleos e Graxas

Os óleos e graxas são substâncias orgânicas de origem mineral, vegetal ou animal.

São geralmente hidrocarbonetos, gorduras, ésteres, entre outros. Raramente

encontramos estes compostos em águas naturais, sendo normalmente provenientes

de despejos e resíduos industriais, esgotos domésticos, efluentes de oficinas

mecânicas, postos de gasolina, estradas e vias públicas.

Os despejos industriais são os que mais contribuem para o aumento de

matérias graxas nos corpos d'água. Dentre estes, pode-se citar os de refinarias,

frigoríficos, saboarias, etc. A baixa solubilidade dos óleos e graxas constitui um fator

negativo no que se refere à sua degradação em unidades de tratamento de despejos

por processos biológicos e, quando presentes em mananciais utilizados para

abastecimento público, causam problemas em seu tratamento. Além disso,

diminuem a área de contato entre a superfície da água e o ar atmosférico,

impedindo, dessa maneira, a transferência do oxigênio da atmosfera para a água.

Os óleos e graxas, em seu processo de decomposição, elevam a DBO e a DQO,

causando alteração no ecossistema aquático.

RESUMO UNIDADE 3

Nesta unidade aprendemos a identificar as diversas variáveis limnológicas que

servem como parâmetros de avaliação da qualidade da água e que algumas dessas

27

Page 96: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

variáveis são utilizadas em conjunto e são de grande valia para a determinação do

estado trófico dos corpos hídricos.

Aprendemos que a água contém diversos componentes, os quais são

originados no ambiente natural (autóctones) ou foram introduzidos a partir do

ambiente de entorno ou atividades antrópicas (alóctones), que interferem na

qualidade da água.

Durante o estudo desta unidade nos tornamos capazes de identificar e

caracterizar um corpo hídrico de acordo com os diversos parâmetros, os quais

representam as suas características físicas, químicas e biológicas. Estudamos que

estes parâmetros são utilizados como indicadores da qualidade da água e que

quando estão acima dos limites estabelecidos para determinado tipo de uso da

água, são considerados como “impurezas”, ou seja, indicam poluição do ambiente.

REFERÊNCIAS

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ALMEIDA, S. D. B.; COSTA, E.; GOMES, M. A. F.; LUCHINI, L.; SPADOTO, C.; MATALLO, M. B. Sorção de Triazinas em Solos Tropicais. I. Pré-seleção para recomendação de uso na região de Ubatuba, São Paulo, Brasil. In: IV Congreso Iberoamericano de Física Y Química Ambiental, 2006, Cáceres. MEDIOAMBIENTE EN IBEROAMERICA - Visión desde la Física y la Química en los albores del siglo XXI, v. 2. p. 17-24. 2006.

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30

Page 99: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

UNIDADE 4

REDES DE MONITORAMENTO

SUMÁRIO

1

Page 100: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

LISTA DE FIGURAS

Figura1 - Exemplo hipotético de variação nictemeral de pH, ao longo de 24 horas.

Figura 2 - Exemplo hipotético da variação da temperatura da água em duas

estações do ano (verão e inverno) em 09 estações de monitoramento.

Figura 3 - Exemplo hipotético da variação espacial da concentração de clorofila a,

2

Page 101: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

em um braço do Reservatório de Itaipu.

Figura 4 - Planejamento para a seleção de locais e posições de monitoramento.

Figura 5 - Redes de monitoramento da qualidade da água nas Unidades de Federação.

1. DEFINIÇÃO DOS OBJETIVOS PARA IMPLANTAÇÃO DE REDE

Tendo em vista a necessidade de estabelecer um equilíbrio sustentável entre

o necessário desenvolvimento econômico e demográfico e a disponibilidade hídrica

em quantidade e qualidade que contemplem os diversos usos da água, é

fundamental o estabelecimento de um programa de monitoramento hídrico

3

Page 102: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

quali-quantitativo que forneça subsídios para o diagnóstico e avaliação das

condições dos ecossistemas aquáticos e para a tomada de decisões associadas ao

gerenciamento dos recursos hídricos. Segundo a Agência Nacional de Águas, as

redes de monitoramento têm como objetivo desenvolver ações que permitam o

aprimoramento e a ampliação do monitoramento da qualidade das águas, permitindo

que suas informações estejam disponíveis para toda a população.

O monitoramento pode ser definido como um conjunto de informações físicas,

químicas e biológicas do ecossistema em estudo para atender a um ou mais

objetivos. Pode ser também considerado um sistema contínuo de observações,

medições e avaliações com múltipla finalidade. Dentre os seus principais objetivos,

estão: 1) Detectar a violação de padrões de qualidade, previstos na legislação; 2)

Analisar a tendência de uma variável; 3) Avaliar a eficácia de programas e ações

conservacionistas em áreas isoladas ou realizadas nas bacias hidrográficas; 4)

Documentar os impactos resultantes de uma ação proposta; 5) Alertar para impactos

adversos não previstos, ou mudanças nas tendências previamente observadas; 6)

Oferecer informações imediatas, quando um indicador de impactos se aproximar de

valores críticos; 7) Oferecer informações que permitam avaliar medidas corretivas

para modificar ou ajustar as técnicas utilizadas.

Deve ser notado que os objetivos de gerenciamento da rede estão

relacionados com o funcionamento do sistema ambiental que se está avaliando, pois

a rede deve subsidiar as decisões que serão tomadas com relação à gestão dos

recursos hídricos da bacia considerada, enquanto os objetivos do monitoramento

referem-se ao conhecimento do sistema.

2. DEFINIÇÃO DO ESCOPO TEMPORAL DO MONITORAMENTO

2.1 Variação temporal

Há quatro tipos principais de variação temporal relevantes: variação

nictemeral, variação diária, variação semanal e variação sazonal.

2.1.1 Nictemeral

4

Page 103: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

A variação nictemeral refere-se ao período de monitoramento que ocorre em

um espaço de tempo compreendido por 24 horas. Consiste em qualquer variação

associada ao poliperíodo, compreendendo tanto variações comportamentais de

organismos (ex: fitoplâncton, zooplâncton, etc), como variações de fatores físicos e

químicos da água. A análise da dinâmica diária de variáveis limnológicas pode ser

muito importante para a compreensão do funcionamento de ambientes aquáticos. A

coleta de dados, compreendendo um período diário, tem como objetivo observar as

oscilações limnológicas de um corpo de água, uma vez que tal comportamento

poderá relatar a dinâmica dos organismos diante das condições físico-químicas do

momento. Estudos realizados em lagos tropicais, por exemplo, observaram que a

amplitude de variação dos processos ecológicos pode ser maior em um período

diário em relação a períodos sazonais em um ano. Segue abaixo uma figura

hipotética que exemplifica uma variação nictemeral, no caso, do parâmetro pH

(Figura 1).

Figura1 - Exemplo hipotético de variação nictemeral de pH, ao longo de 24 horas.

0h 03h 06h 09h 12h 15h 18h 21h

Fonte: Bastos (2013).

5

Page 104: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

2.1.2 Diária

A variação diária refere-se ao monitoramento realizado em um determinado

período do dia, e que ocorre diariamente. Determinados parâmetros necessários em

programas de monitoramento devem ser mensurados todos os dias, pois podem

corresponder a indicadores importantes para se determinar a qualidade de um curso

d’água, por exemplo. É importante ressaltar, no entanto, que tudo depende dos

objetivos do monitoramento.

2.1.3 Semanal

A variação semanal representa o monitoramento que ocorre semanalmente,

ou seja, seleciona-se um determinado dia da semana como padrão para realização

das medições. De posse dos dados obtidos e, dependendo dos parâmetros

observados, é possível avaliar os resultados e visualizar padrões neste intervalo de

tempo.

2.1.4 Sazonal

A variação sazonal está relacionada ao monitoramento em determinados

períodos do ano, podendo, por exemplo, ser obtida com base nas estações do ano.

O regime de chuvas no Brasil apresenta sazonalidade marcante com estação seca e

chuvosa em diferentes épocas do ano de acordo com a localização geográfica, e as

pesquisas e monitoramentos geralmente são realizados com base neste regime. A

análise de variáveis, tanto físico-químicas quanto bióticas, pode indicar diferenças

importantes entre épocas/estações do ano, indicando padrões de variação sazonal.

Nesse contexto, a sazonalidade pode exercer influência direta e indireta sobre

diversos parâmetros. A temperatura, por exemplo, é um parâmetro cuja variação

está bastante relacionada à sazonalidade, geralmente sendo baixa no inverno e

elevada no verão. Este fator, por conseguinte, pode influenciar diversos outros,

como alteração nas taxas de oxigênio dissolvido e pH. Além disso, variações nos

6

Page 105: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

gradientes físicos e químicos da água ao longo de um gradiente temporal devem

exercer influência na dinâmica sazonal de organismos de ambientes lóticos. A vazão

é outro exemplo de parâmetro que sofre forte influência da sazonalidade, sendo

baixa em períodos secos e elevada em períodos chuvosos. Em regiões estuarinas,

por exemplo, a maior ou menor salinidade pode ser influenciada por diferenças de

vazão.

O monitoramento sazonal também é importante para verificar a carga de

poluentes na água. A qualidade de corpos hídricos pode sofrer forte influência da

sazonalidade devido às altas taxas de evaporação que ocorrem nos períodos secos,

concentrando substâncias de alto potencial poluidor, prejudicando assim o uso da

água em atividades humanas e o equilíbrio ecológico do ecossistema, alterando as

comunidades aquáticas e a composição físico-química do manancial como um todo.

No período chuvoso, apesar do grande aumento dos aportes por via direta ou pelo

escoamento superficial, o efeito da diluição é maior, melhorando as condições

ambientais, além de permitir a saída de parte destes nutrientes a partir de

vertedouros. A Figura 2 demonstra um exemplo hipotético da variação espacial (09

estações) da temperatura da água (na superfície) em diferentes épocas do ano

(verão e inverno). Observa-se a diferença existente entre os dados, e como

estudado na unidade anterior, a variação da temperatura da água tem influência no

comportamento de outras variáveis, como por exemplo, nas concentrações de

oxigênio dissolvido.

7

Page 106: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

Figura 2 - Exemplo hipotético da variação da temperatura da água em duas estações do ano

(verão e inverno) em 09 estações de monitoramento.

Fonte: Itaipu Binacional, 2012

2.2 Variação espacial

A qualidade das águas varia em função de uma enormidade de fatores, tais

como uso e ocupação do solo da bacia de drenagem e existência de indústrias com

lançamento de efluentes diversificados. Nesse sentido, verifica-se a importância da

análise do perfil espacial para identificarmos os trechos mais críticos, ou seja, é

necessário que se faça uma análise completa da bacia para verificação dos locais

necessários ao bom monitoramento da qualidade da água.

Quando, em um monitoramento, se verifica grandes variações espaciais em

variáveis analisadas, sejam estas físicas, químicas e/ou biológicas, isto pode ser um

indicativo de que o curso d’água em questão é sensível a modificações no ambiente

de entorno. Por exemplo, em um ponto de monitoramento que esteja próximo a

regiões que foram desmatadas para fins agropecuários, podem ser registradas

elevadas concentrações de material em suspensão, além de baixas concentrações

de oxigênio dissolvido, e até altas concentrações de metais pesados na água e/ou

8

Page 107: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

no sedimento. Outro parâmetro que pode ser avaliado espacialmente e pode ter sua

concentração relacionada a elevadas concentrações de matéria orgânica e níveis de

poluição é a clorofila a. É importante caracterizar a variabilidade da clorofila em

diferentes regiões não apenas como uma característica da variação natural, mas

como um passo essencial para detectar efeitos antrópicos sobre a dinâmica do

fitoplâncton. Além disso, o entendimento da dinâmica relação entre o suprimento de

nutrientes e a formação da biomassa fitoplanctônica é importante para predizer e

evitar eutrofizações, sejam elas marinhas, estuarinas ou continentais. Segue abaixo

exemplo hipotético da variação espacial de clorofila a (Figura 3).

Figura 3 - Exemplo hipotético da variação espacial da concentração de clorofila a, em um

braço do Reservatório de Itaipu.

Fonte: Itaipu Binacional (revisores, projeto Águas e Conhecimento, 2012).

2.2.1 Critérios para seleção de pontos de amostragem

9

Page 108: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

A escolha dos pontos de amostragem e dos parâmetros a serem analisados é

realizada em função do tipo de ecossistema aquático, dos objetivos previamente

definidos, do uso de suas águas, da localização de atividades que possam

influenciar na sua qualidade e da natureza das cargas poluidoras, tais como

despejos industriais, esgotos domésticos, águas de drenagem agrícola ou urbana.

Se o objetivo da análise é pericial e/ou investigativo, por exemplo, e visa

avaliar a contribuição de um certo tipo de efluente na qualidade de um corpo d’água,

a coleta deve ser realizada em pelo menos três pontos: um ponto à montante (ponto

controle, localizado antes do lançamento), um ponto na zona de mistura (confluência

do efluente com o corpo receptor) e um ponto à jusante (logo após o lançamento da

fonte poluidora). Caso seja possível, deve-se também selecionar outros pontos no

corpo d’água para avaliar a capacidade de diluição. Paralelamente, deve ser feita a

coleta de um ponto controle da origem, ou seja, a coleta do próprio efluente que está

sendo lançado, e/ou na origem do local suspeito para que seja possível a

caracterização e o confrontamento dos resultados.

Na escolha do local adequado para um programa de amostragem é

importante considerar que a qualidade de um corpo d’água varia conforme o local

(variação espacial) e o decorrer do tempo (variação temporal). Para garantir a

homogeneidade e representatividade dos pontos de amostragem, as ações a serem

tomadas devem ser cuidadosamente planejadas, conforme descreve a Figura 4.

10

Page 109: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

Figura 4 - Planejamento para a seleção de locais e posições de monitoramento.

Fonte: CETESB, 2011 (Acesso em 08/01/13).

Para a instalação de estações de monitoramento, devemos considerar dois

critérios muito importantes: a representatividade da estação quanto ao uso e

ocupação do solo e a acessibilidade, pois o acesso às estações deve ser possível

durante todo o ciclo hidrológico. Na escolha das estações de monitoramento,

11

Page 110: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

devemos evitar locais de difícil acesso, propriedades particulares ou locais sujeitos à

restrição de acesso por fenômenos sazonais, como enchentes. Vale ressaltar que o

plano de amostragem depende dos objetivos do projeto ou do programa de

monitoramento, pois cada caso requer uma metodologia específica, tanto de coleta,

quanto de ensaios e interpretação de dados.

2.2.2 Metodologia de Alocação de Pontos de Monitoramento de Qualidade de

Água, desenvolvida pela ANA para o Programa Nacional de Avaliação da

Qualidade das Águas (PNQA)

Segundo a Agência Nacional de Águas, a locação de pontos de

monitoramento de qualidade de água pode ser dividida em duas etapas

subsequentes: A macrolocação e a microlocação. A macrolocação envolve a

identificação das grandes regiões onde deverá ser implementada a rede de

monitoramento, e está diretamente relacionada aos objetivos da rede a ser

implantada. Já a microlocação envolve a definição precisa dos locais onde o

monitoramento deverá ser realizado.

A partir de uma visão estratégica da qualidade das águas no território

nacional e com vistas a promover a cooperação entre os operadores das redes de

monitoramento de todo o país, a Agência Nacional de Águas elaborou o projeto da

Rede Nacional de Monitoramento da Qualidade da Água (RNMQA). Para elaboração

desta rede integrada, foram estabelecidas metas regionalizadas que se referem à

densidade mínima de pontos por km2, à frequência mínima de amostragem dos

parâmetros por ponto de monitoramento, e aos parâmetros mínimos analisados por

ponto de monitoramento, em função das características hídricas e de qualidade da

água das diferentes regiões do País. No Brasil, em função das diferenças regionais,

a metodologia de monitoramento foi dividida em regiões, segundo os critérios

mínimos de densidade de pontos por km2 (Figura 5).

12

Page 111: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

Figura 5 - Regiões da Rede Nacional de Monitoramento da Qualidade da Água (RNMQA)

segundo as metas e a densidade do monitoramento nas regiões hidrográficas.

Fonte: Panorama da qualidade das águas superficiais do Brasil: 2012. (Acesso em:

10/01/13).

Com relação à frequência de monitoramento, a meta da RNMQA estabelece

que, no mínimo, sejam realizadas coletas semestrais na região 1 e trimestrais no

restante do País.

Além dos pontos de alocação definidos pela ANA, a fim de facilitar a avaliação

das redes de monitoramento de qualidade da água, conta-se com o apoio dos

seguintes elementos:

13

Page 112: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

• Pontos de coleta , denominados estações de monitoramento, definidos em

função dos objetivos da rede e identificados pelas coordenadas geográficas.• Conjunto de instrumentos utilizados na determinação de parâmetros em

campo e em laboratório.• Conjunto de equipamentos utilizados na coleta: baldes; amostradores em

profundidade (garrafa de Van Dorn); corda; frascos; caixa térmica; veículos; barcos;

motores de popa.• Protocolos para a determinação de parâmetros em campo; para a coleta e

preservação das amostras; para análise laboratorial dos parâmetros de qualidade;

para identificação das amostras.• Estrutura logística de envio das amostras: locais para o envio das amostras;

disponibilidade de transporte; logística de recebimento e encaminhamento das

amostras para laboratório.

14

Page 113: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

3. EXEMPLOS DE REDES EXISTENTES PARA OS DIFERENTES AMBIENTES

As redes de Monitoramento podem ser implantadas de diferentes formas e

em diferentes ecossistemas para atender aos mais diferentes objetivos podendo ser

redes de monitoramento em empresas de saneamento, hidroelétricas com redes

convencionais e/ou automáticas.

As redes de monitoramento que podemos considerar como exemplo é da

CETESB (SP) que iniciou-se em 1974 conhecida como a operação da Rede de

Monitoramento de Qualidade das Águas Interiores do Estado de São Paulo. As

informações obtidas por meio do monitoramento possibilita o conhecimento das

condições reinantes nos principais rios e reservatórios situados nas 22 Unidades de

Gerenciamento de Recursos Hídricos (UGRHIs), em que se divide o Estado de São

Paulo de acordo com a Lei Estadual n.º 9.034 de 27 de dezembro de 1994.

Já as redes de monitoramento relacionadas à qualidade de água em tempo

real (automáticas) são importantes para a tomada de decisões no que se refere aos

diferentes usos que fazemos das águas fluviais, uma vez que os sensores e

estações automáticas oferecem hoje uma enorme gama de opções de parâmetros

que podem ser investigados, tais como: os nitritos, fosfatos, cianetos, cloretos e

fluoretos; os hidrocarbonetos e a amônia; o carbono orgânico total (TOC); os

parâmetros químicos e físicos como: temperatura, condutividade, turbidez e pH

(Reis, 2005).

As redes de monitoramento são divididas para os diferentes ambientes, sendo

elas superficiais e subterrâneas. A seguir serão apresentados alguns exemplos no

Brasil de redes de águas subterrâneas e superficiais.

Rede de monitoramento de águas subterrâneas: O Brasil não possui uma rede de

monitoramento nacional de qualidade das águas subterrâneas. As águas

subterrâneas, de acordo com a Constituição Federal de 1988, são de domínio

estadual. Nesse sentido, alguns estados realizam o monitoramento da qualidade do

recurso hídrico subterrâneo, como é o caso do estado de São Paulo, onde são

monitoradas, com frequência semestral, as águas de mais de 170 poços e

15

Page 114: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

nascentes dos diversos aquíferos do Estado, distribuídos nas diversas

UGRHIs (Unidades de Gerenciamento de Recursos Hídricos). São

analisados 40 parâmetros físicos, químicos e biológicos dessas águas,

sendo que na Bacia do Alto Tietê - UGRHI 6 e no município de Paulínia

também é realizado monitoramento de substâncias tóxicas orgânicas

devido a acontecimentos anteriores de contaminação por despejo irregular

de efluentes.

Já outro exemplo que podemos citar é do Distrito Federal, em que foi

iniciado o monitoramento qualitativo em uma rede com 132 poços distribuídos pelos

condomínios horizontais e algumas cidades-satélites de Brasília.

Redes de monitoramento de águas superficiais

Segundo a Agência Nacional de Águas, as redes estaduais analisam um

média de 3000 pontos considerando parâmetros de qualidade da água e índice de

estado trófico, dependendo da Unidade da Federação conforme figura abaixo

(Figura 5).

16

Page 115: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

Figura 5 - Redes de monitoramento da qualidade da água nas Unidades de Federação.

Fonte: Panorama da qualidade das águas superficiais do Brasil 2012. (Acesso em 10/01/13)

No estado de São Paulo a CETESB lançou, no ano de 2006, os programas de

monitoramento de qualidade dos rios e reservatórios, que totalizaram 356 pontos de

amostragem, conforme apresentado a seguir:

• Rede Básica - 163 pontos de amostragem de água;

• Monitoramento Regional - 124 pontos de amostragem de água;

• Monitoramento Automático – 13 pontos de amostragem de água;

• Balneabilidade de Reservatórios e Rios – 33 praias e

• Rede de Sedimento – 23 pontos de amostragem.

17

Page 116: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

Como exemplo de rede de monitoramento no Estado de Minas Gerais, em

área que compreende as bacias dos rios Verde Grande, Riachão, Jequitaí e Pacuí,

foi instalada, em 2004, uma rede piloto de monitoramento da qualidade da água. A

coleta de amostras foi iniciada em 2005.

18

Page 117: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

4. INTERPRETAÇÃO DE RESULTADOS E LAUDOS

As caracterizações físico-químicas e biológicas da água têm como objetivo

identificar os elementos presentes e associar os efeitos de suas propriedades às

questões ambientais, auxiliando na compreensão dos processos naturais ou ainda

em possíveis alterações que possam estar ocorrendo no ambiente.

Quando se fala em interpretação de resultados, é importante ter ciência de

que os responsáveis pela programação, bem como os técnicos envolvidos na

execução dos trabalhos de coleta, devem estar totalmente familiarizados com os

objetivos, metodologias e limitações dos programas de amostragem, pois as

observações e dados gerados em campo ajudam a interpretar os resultados

analíticos, esclarecendo eventualmente dados não-conformes. Também é muito

importante que o pessoal envolvido observe e anote quaisquer fatos ou

anormalidades que possam interferir nas características das amostras (ex: cor, odor

ou aspecto estranho, presença de algas, óleos, corantes, material sobrenadante,

peixes e animais aquáticos mortos), nas determinações laboratoriais e na

interpretação dos dados.

Os laudos de análises têm como objetivo verificar o atendimento aos padrões

exigidos pelas legislações vigentes. As diversas legislações relacionadas à

qualidade da água exigem frequências mínimas de amostragem para algumas

finalidades, além de imporem limites máximos ou mínimos para os diversos

poluentes ou parâmetros físico-químicos e biológicos. No entanto, este

procedimento de comparação entre valores numéricos não é complicado. Para que

seja realizado de maneira adequada, deve-se ter o cuidado de verificar as unidades

em que foram medidos os diversos parâmetros. Além disso, recomenda-se sempre a

consulta à legislação vigente, como a Portaria 2914/2011 do Ministério da Saúde e a

Resolução 357 do CONAMA (Conselho Nacional de Meio Ambiente, 1986), além de

legislações a nível estadual e/ou municipal que estabeleçam, por exemplo, padrões

de lançamento de efluentes líquidos em corpos d’água e padrões de classificação

das águas naturais.

Como aprendemos nas unidades anteriores, há diversas formas de avaliação

da qualidade da água. Esta pode ser tanto por meio de análises de parâmetros

19

Page 118: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

físico-químicos, quanto por parâmetros biológicos. No caso de comunidades

biológicas, como o fitoplâncton, o zooplâncton e o zoobentos, tais comunidades

respondem rapidamente às alterações ambientais devido ao curto ciclo de vida de

seus organismos, tornando-os indicadores da qualidade da água. Assim, cabe ao

responsável interpretar os laudos e os resultados encontrados.

Apesar do elevado potencial bioindicador de algumas comunidades bióticas, a

natureza transitória e a distribuição frequentemente agrupada destes organismos

muitas vezes tornam necessária a interpretação de seus resultados conjuntamente

com outros dados biológicos, físicos e químicos, coletados simultaneamente. Dessa

forma, é importante que sempre haja uma boa integração entre quem são os

responsáveis pelas coletas e aqueles responsáveis pelas análises e interpretações

dos dados, de modo que os resultados sejam fidedignos ao que realmente pode

estar ocorrendo nos cursos d’água investigados.

No caso de análises físico-químicas da água, o aspecto mais importante é

assegurar que os dados e resultados obtidos tenham a melhor qualidade. Portanto,

significa que o responsável pelas análises deve saber diferenciar quando há defeito

no equipamento utilizado e quando há erro humano e, além disso, deve estar seguro

de que a leitura de amostras em um equipamento é a mais real possível. É

importante ressaltar, também, que todos os métodos possuem um limite de

detecção.

20

Page 119: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

5. CONCEITOS BÁSICOS DE ESTATÍSTICA APLICADA AO MONITORAMENTO

DE QUALIDADE DA ÁGUA

Estatística é a ciência que tem por objetivo orientar a coleta, organização,

descrição, análise e interpretação de dados, e utilização dos mesmos na tomada de

decisões. A estatística está dividida em dois segmentos: estatística descritiva e

estatística indutiva (ou inferencial).

A estatística descritiva corresponde aos procedimentos relacionados com a

coleta, elaboração, tabulação, análise, interpretação e apresentação dos dados. Em

outras palavras, inclui as técnicas que dizem respeito à síntese e à descrição de

dados numéricos. O objetivo da estatística descritiva é tornar as coisas mais fáceis

de entender, relatar e discutir. Já a estatística indutiva ou inferencial parte de um

conjunto ou subconjunto de informações (subconjuntos da população ou amostra) e

conclui sobre a população. Utiliza técnicas como a teoria das probabilidades,

amostragem, dentre outras.

A estatística é uma ótima ferramenta que pode ser utilizada para otimizar as

redes de monitoramento, para reduzir os parâmetros monitorados quando estes

apresentam correlação, ou ainda para verificar se os dados se assemelham ou

diferem-se estatisticamente ao longo do tempo ou espacialmente. Ela serve para

facilitar a interpretação dos dados, uma vez que pode apresentá-los de maneira

mais sintética, por meio de valores, gráficos e diagramas. Assim, a estatística

possibilita aos envolvidos de alguma maneira no processo de monitoramento uma

maior compreensão dos resultados e consequentemente sua melhor interpretação.

Os dados estatísticos podem ser apresentados de diversas maneiras. As mais

utilizadas são a apresentação na forma de gráficos, histogramas e diagramas. Todos

os envolvidos em sistemas de monitoramento de qualidade de água devem ter um

conhecimento básico sobre alguns termos estatísticos e suas aplicações. Nesse

sentido, seguem abaixo alguns conceitos básicos de estatística que podem ser

aplicados no dia a dia do monitoramento da qualidade da água:

- População Estatística ou Universo Estatístico: coleção de todos os elementos cujas

características (comuns) desejamos conhecer.

21

Page 120: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

- Amostra: subconjunto finito da população cujas características serão medidas. A

amostra será usada para descobrir características da população. Como toda a

análise estatística será inferida a partir das características obtidas da amostra, é

importante que a amostra seja representativa da população, isto é, que as

características de uma parte (amostra) sejam em geral as mesmas que do todo

(população).

- Classificação das variáveis:

Qualitativa: quando seus valores são expressos por atributos (características),

de forma não numérica. Exemplo: largura do curso d’ água (largo ou estreito), porção

do curso d’água (alto, médio ou baixo curso).

Quantitativa: quando seus valores são expressos por números. Exemplo:

oxigênio dissolvido, turbidez, temperatura da água, pH, abundância de zooplâncton,

riqueza de espécies de fitoplâncton, densidade de coliformes totais.

- Média: é considerada uma medida de tendência central e é muito utilizada no

cotidiano. Surge do resultado da divisão do somatório dos números dados pela

quantidade de números somados. Por exemplo, podemos tirar a média de um

conjunto de valores de oxigênio dissolvido, ao longo do dia, ou sua média mensal.

- Mediana: valor que ocupa a posição central da distribuição. Isto é, divide a amostra

em duas partes iguais. Por exemplo, em um conjunto de valores de turbidez da

água, medidos ao longo de um semestre, a mediana corresponderá àquele valor que

ocupa posição central na distribuição total do conjunto de dados.

- Moda: observação que ocorre com maior frequência em uma amostra. Por

exemplo, em um conjunto de dados de pH para determinado ponto amostrado, a

moda será aquele valor que apareceu com maior frequência durante as medições no

curso d’água.

- Desvio padrão: o desvio padrão é a medida mais comum da dispersão estatística.

O desvio-padrão define-se como a raiz quadrada da variância. É definido desta

forma de maneira a dar-nos uma medida da dispersão. O desvio padrão é uma

medida que está relacionada ao quanto determinado valor está mais ou menos

distante da média. Por exemplo, um ponto de um curso d’água é monitorado

regularmente, e tem-se conhecimento de que o desvio padrão dos dados é baixo, ou

22

Page 121: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

seja, a dispersão do conjunto de dados dos parâmetros avaliados é pequena, uma

vez que pelas análises estatísticas os dados sempre ficam concentrados em torno

da média. No entanto, a partir de análises estatísticas de rotina, foi verificado

durante o monitoramento que, em dois dias consecutivos, parâmetros como pH,

turbidez e oxigênio dissolvido apresentaram um grande desvio padrão, com dados

muito afastados da média. De posse destes resultados, pode-se tecer diversas

interpretações, como por exemplo, de que estas alterações podem estar

relacionadas ao lançamento inadequado de efluentes no corpo d’água, provocado

alterações bruscas nos parâmetros.

23

Page 122: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

RESUMO UNIDADE 4

Neste módulo você conheceu um pouco mais sobre as redes de

monitoramento de água existentes no Brasil. O monitoramento pode ser definido

como um conjunto de informações físicas, químicas e biológicas do ecossistema em

estudo para atender a um ou mais objetivos, podendo ser também considerado um

sistema contínuo de observações, medições e avaliações com múltipla finalidade.

As redes de monitoramento têm o objetivo de desenvolver ações que

permitam o aprimoramento e a ampliação do monitoramento da qualidade das

águas, permitindo que suas informações estejam disponíveis para toda a população,

de maneira integrada e com dados confiáveis. Em outras palavras, é fundamental o

estabelecimento de um programa de monitoramento hídrico quali-quantitativo que

forneça subsídios para a avaliação das condições dos mananciais e para a tomada

de decisões associada ao gerenciamento dos recursos hídricos.

Para entender melhor o funcionamento das redes de monitoramento,

precisamos recordar que, para sua implantação, é estabelecida a locação de pontos

de monitoramento de qualidade de água. Esta locação pode ser dividida em duas

etapas subsequentes: a macrolocação e a microlocação. A macrolocação envolve a

identificação das grandes regiões onde deverá ser implementada a rede de

monitoramento, e está diretamente relacionada aos objetivos da rede a ser

implantada; já a microlocação envolve a definição precisa do local onde o

monitoramento deverá ser realizado.

Na unidade 4 também foi comentada a metodologia de alocação dos pontos

de monitoramento

Além disso, vale ressaltar que não podemos falar em redes de monitoramento

sem recordar a unidade 1, que aborda diversas legislações relacionadas à qualidade

da água.

24

Page 123: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

REFERÊNCIAS

ANA – AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS. Panorama da qualidade das águas

superficiais do Brasil. Brasília: ANA, 2012. 264 p.

ANA -AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS. Panorama do enquadramento dos

corpos d’água do Brasil e Panorama da qualidade das águas subterrâneas no

Brasil. Caderno de Recursos Hídricos, 5. Brasília: ANA, 2007.124 p. Disponível em:

http://pnqa.ana.gov.br/Publicao/PANORAMA%20DO%20ENQUADRAMENTO.pdf.

Acesso em 03 jan. 2013.

ANA – AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS. Panorama da qualidade das águas

superficiais no Brasil. Cadernos de Recursos Hídricos 1. Brasília: ANA, SPR,

2005, 176 p.

CETESB - Companhia Ambiental do Estado de São Paulo. Guia nacional de

coleta e preservação de amostras: água, sedimento, comunidades aquáticas e

efluentes líquidos. BRANDÃO, C. J. et al. (Org.). São Paulo: CETESB; Brasília:

ANA, 2011. Disponível em:

http://www.cetesb.sp.gov.br/userfiles/file/laboratorios/publicacoes/guia-nacional-colet

a-2012.pdf. Acesso em: 08 jan. 2013.

ESTATÍSTICA BÁSICA. Disponível em:

<http://ich.ufpel.edu.br/economia/professores/aadenardin/E1.pdf>. Acesso em: dez.

2012.

ESTEVES, F. A.; THOMAZ, S. M.; ROLAND, F. Comparison of the metabolism of

two floodplain lakes of the trombetas river (Pará, Brazil) based on a study of

diel variation. Amazoniana, v.13, p.33-46, 1994.

ESTEVES, F. A. Fundamentos de limnologia. Rio de Janeiro: Interciências, 602p,

25

Page 124: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

1998.

FPTI - Fundação Parque Tecnológico Itaipu. Revisores Projeto Água –

Conhecimento para Gestão, 2012.

GREGO, C. K. S. A.; FEITOSA, F. N.; HONORATO DA SILVA, M.; FLORES

MONTES, M. J. Distribuição espacial e sazonal da clorofila a fitoplanctônica e

hidrologia do estuário do rio Timbó (Paulista – PE). Tropical Oceanography,

Recife, v. 32, n. 2, p. 181-199, 2004.

MATO GROSSO, Secretaria de Estado do Meio Ambiente – SEMA. Superintendência de Monitoramento de Indicadores Ambientais. Relatório de Monitoramento da Qualidade da Água da Região Hidrográfica Tocantins-Araguaia – 2007 a 2009. ARAÚJO, A. A.; FIGUEIREDO, S. B. (Org.). Cuiabá: SEMA/MT; SMIA, 2010. Disponível em: http://www.sema.mt.gov.br/index.php?option=com_docman&Itemid=82. Acesso em: 03 jan. 2013.

MPSC. Ministério Público de Santa Catarina. Manual Técnico para Coleta de

Amostras de Água. Florianópolis, 2009. Disponível em:

http://portal.mp.sc.gov.br/portal/conteudo/cao/cme/atividades/recursos_hidricos/man

ual_coleta_%C3%A1gua.pdf. Acesso em 04 jan. 2013.

OLIVEIRA, J. N. P.; LOPES, Í. F.; CARNEIRO, I. A.; GOMES, R. B. Efeito da

sazonalidade na qualidade da água de um ecossistema lacustre urbano de

Fortaleza-CE: Lagoa Maria Vieira. IV Congresso de Pesquisa e Inovação da Rede

Norte e Nordeste de Educação Tecnológica. Belém, PA, 2009.

PARRON, L. M.; Muniz, D. H. F. H; Pereira, C. M. Manual de procedimentos de

amostragem e análise físico-química de água. Documentos 232. 2011.

Disponível em: Colombo: Embrapa Florestas,

<http://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/921050/1/Doc232ultimaversao.

pdf>. Acesso em: 14 jan. 2013.

26

Page 125: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

27

Page 126: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

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Page 127: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

UNIDADE 5

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

PARA COLETA EM CAMPO

1

Page 128: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS..........................................................................................

LISTA DE TABELAS.........................................................................................

1 PADRONIZAÇÃO DE PROCEDIMENTO E METODOLOGIAS.....................

2 EQUIPAMENTOS DE AMOSTRAGEM..........................................................

2.1 Amostradores de Superfície.........................................................................

2.1.1 Balde de Inox.............................................................................................

2.1.2 Coletor com Braço Retrátil........................................................................

2.1.3 Batiscafo....................................................................................................

2.2 Amostradores de Profundidade (coluna d’água)..........................................

2.2.1 Garrafas van Dorn e de Niskin..................................................................

2.2.2 Armadilha de Schindler-Patalas (trampa).................................................

2.2.3 Bomba de Água........................................................................................

2.2.4Redes de Plâncton.....................................................................................

2.3 Amostradores de Fundo...............................................................................

2.4 Amostradores de Nécton..............................................................................

3. PROCEDIMENTOS GERAIS.........................................................................

4. PROTOCOLOS, FICHAS DE CAMPO E CHECK LIST................................

5 LOGÍSTICA.....................................................................................................

6 COLETA E PRESERVAÇÃO DE AMOSTRAS DE ÁGUA.............................

7. DESCARTE DE AMOSTRAS E REAGENTES.............................................

8. RECOMENDAÇÕES DE SEGURANÇA.......................................................

RESUMO UNIDADE 5.......................................................................................

REFERÊNCIAS..................................................................................................

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2

Page 129: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Balde de inox utilizado para coleta de amostras de superfície.

Figura 2 – Garrafas de van Dorn vertical (esquerda), van Dorn horizontal

(centro) e Niskin (direita).

Figura 3 – Armadilha de Schindler-Patalas.

Figura 4 – Rede de plâncton.

Figura 5 – Exemplo de uma ficha de campo.

Figura 6 – Alguns equipamentos de proteção individual (EPI).

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Exemplo de um checklist.

3

Page 130: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

1 PADRONIZAÇÃO DE PROCEDIMENTO E METODOLOGIAS

A obtenção de dados simplificados é necessária para a viabilização das tomadas de

decisão quanto ao gerenciamento dos recursos hídricos por parte dos órgãos

ambientais e todos os usuários. Tais informações podem ser obtidas a partir da

utilização de Índices de Qualidade de Água e Qualidade Ambiental, os quais são

compostos por diferentes parâmetros físico-químicos e biológicos. Sob este aspecto,

o tratamento e a análise dos dados para cada parâmetro são resultado de um árduo

e demorado trabalho de avaliação de um determinado corpo d’água, por isto, a

padronização dos procedimentos de coleta e das metodologias é de grande

importância, pois faz-se necessário que os dados obtidos durante estas avaliações

possam ser comparados.

Como vimos em unidades anteriores, o monitoramento da qualidade da água no

Brasil é realizado por diversos órgãos estaduais de meio ambiente e recursos

hídricos, companhias de saneamento, empresas do setor elétrico, entre outros.

Apesar da vasta gama de entidades públicas e privadas que fazem este tipo de

estudo, não existem procedimentos padronizados de coleta, frequência destas

coletas e análise das informações obtidas.

Para permitir comparações dos resultados obtidos, há necessidade de que os

procedimentos de coleta e análise dos dados sejam uniformes, portanto, é

imprescindível a padronização dos procedimentos e da metodologia aplicada ao

monitoramento da qualidade da água. Acerca da padronização das coletas e das

metodologias alguns procedimentos devem ser observados por serem de grande

importância, como por exemplo, a coleta de amostras em diferentes profundidades,

a utilização de métodos reconhecidos na literatura e que sejam passíveis de

reprodução, padronização dos horários de coleta, entre outros.

Com este objetivo o Programa Nacional de Avaliação da Qualidade da Água (PNQA)

4

Page 131: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

tem como um dos seus focos articular com as diversas entidades operadoras das

redes estaduais de monitoramento, padronizar os procedimentos de coleta e análise

das amostras de qualidade da água, com o principal intuito de tornar os resultados

confiáveis e sujeitos a comparação.

2 EQUIPAMENTOS DE AMOSTRAGEM

Já vimos que para se conhecer e monitorar a qualidade da água dos ecossistemas

aquáticos é necessário que se faça medições das variáveis ambientais, ou seja, dos

seus parâmetros físicos, químicos e biológicos.

Com este fim são utilizados diferentes tipos de equipamentos de medição, que serão

abordados durante esta unidade. Estes equipamentos podem ser manuais ou

automáticos. Alguns parâmetros como temperatura e pH são obtidos de forma

imediata, durante sua medição, porém outros parâmetros como a determinação de

fosfatos, nitratos e coliformes necessitam de processos e metodologias mais

específicas que só podem ser encontradas em laboratórios especializados. Os

equipamentos de medição e amostragem podem ser agrupados em diferentes tipos

que serão estudados a seguir.

2.1 Amostradores de Superfície

2.1.1 Balde de Inox

Este tipo de balde (Figura 1) é normalmente utilizado para a amostragem de

superfície e deve ser confeccionado em aço inox polido, isso evita a incrustação nas

costuras de solda. Em caso de coletas microbiológicas deve ser autoclavado, para

coletas que não necessitem esterilização o balde deve ser ambientado com água do

próprio local, ou seja, devemos “lavar” o balde com a água do próprio ambiente

antes da coleta propriamente dita.

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Page 132: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

Figura 1 – Balde de inox utilizado para coleta de amostras de superfície.

Fonte: http://www.westequipamentos.com.br (acesso em 26/01/2013)

2.1.2 Coletor com Braço Retrátil

O coletor com braço retrátil é utilizado em amostragens de águas superficiais de

difícil acesso por meio de outros equipamentos, como por exemplo, em saídas de

efluentes. A presença do braço retrátil permite que se alcance o local de coleta

desejado. Pode ser confeccionado com diferentes materiais, como plástico (plástico

inerte), acrílico ou aço inox, desde que sua superfície seja lisa ou polida para evitar

as incrustações.

2.1.3 Batiscafo

É utilizado para coletar amostras que não podem sofrer aeração, como as de

oxigênio dissolvido e sulfetos. Este tipo de amostrador permite coletar águas

superficiais e subsuperficiais até 30 cm da lâmina d’água.

É formado por um tubo cilíndrico confeccionado em aço inox polido, que no seu

interior contém um frasco de vidro de boca estreita e esmerilhada de volume 300mL

(frasco utilizado para medições de DBO).

6

Page 133: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

2.2 Amostradores de Profundidade (coluna d’água)

2.2.1 Garrafas van Dorn e de Niskin

Este tipo de equipamento permite a coleta de amostras na superfície e em diferentes

profundidades. As garrafas de van Dorn e Niskin (Figura 2) são as mais empregadas

para esses tipos de amostragens, porém não são indicadas para grandes volumes

de água ou para coleta de organismos com maior mobilidade.

As garrafas podem ser confeccionadas com tubo cilíndrico de PVC rígido, acrílico ou

de aço inox polido e podem ter capacidades variadas (2L, 6L e 10L, por exemplo).

Estes equipamentos são dotados de um mensageiro, que ao ser lançado fecha a

garrafa hermeticamente na profundidade desejada. Elas podem ser utilizadas tanto

para coletas de fluxo vertical como horizontal, dependendo do seu sistema de

desarme.

Figura 2 – Garrafas de van Dorn vertical (esquerda), van Dorn horizontal

(centro) e Niskin (direita).

Fonte: http://marcamedica.com.br (acesso em 26/01/2013)

7

Page 134: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

2.2.2 Armadilha de Schindler-Patalas (trampa)

É utilizada nos estudos quantitativos e qualitativos da comunidade planctônica. É

confeccionada em acrílico transparente e tem o formato de cubo, possui

capacidades variáveis (entre 5 e 30L). Possui em uma das suas laterais uma rede

de náilon como porosidade conhecida, por onde a água é filtrada deixando os

organismos planctônicos retidos em seu interior conforme figura 3.

Figura 3 – Armadilha de Schindler-Patalas.

Fonte:http://www.envcoglobal.com (acesso em 26/01/2013)

2.2.3 Bomba de Água

Tem como principal vantagem a obtenção de grandes volumes de água e em

diferentes profundidades, muito utilizada na coleta de organismos zooplanctônicos.

2.2.4 Redes de Plâncton

Existem diversos tipos de redes de plâncton. A rede tem formato cônico e suas

costuras devem ser realizadas com bastante cuidado para que estas não retenham

organismos em suas dobras (Figura 4). Na extremidade inferior é acoplado um copo,

que pode ser rosqueado e apresentar uma saída vedada por tela de náilon para a

saída da água e a retenção dos organismos no interior do copo, diminuindo o

volume de água retido.

8

Page 135: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

As características da rede, como comprimento, diâmetro da boca, modelo, diâmetro

do poro da malha, entre outros, são definidos de acordo com o objetivo do estudo e

com as características locais, em especial a abertura de malha que será escolhida

de acordo com o tipo de organismo a ser estudado. Para coleta de fitoplâncton são

utilizadas, em geral, redes com 20 a 64µm de abertura de malha, redes com malhas

maiores acima de 100 até 200µm são mais adequadas ao estudo do zooplâncton e

malhas maiores que estas (500µm) são utilizadas nas coletas de larvas de peixes

(macrozooplâncton), por exemplo.

Figura 4 – Rede de plâncton.

Fonte: http://360graus.terra.com.br (acesso em 26/01/2013)

2.3 Amostradores de Fundo

Os amostradores de fundo devem obter amostras representativas do sedimento.

Sua escolha depende das características do sedimento, volume e eficiência

necessários ao estudo que se pretende realizar. Para se ter uma amostragem eficaz

é de fundamental importância a operação do equipamento, levando-se em conta a

velocidade de descida e o conhecimento prévio do local.

Para as amostras de sedimento pode-se utilizar pegadores ou testemunhadores

(“core sampler” e “corer”). Em estudos de distribuição horizontal de variáveis, físicas,

químicas e biológicas, é mais comum o uso de pegadores, já para o estudo da

9

Page 136: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

variação vertical destes parâmetros são mais utilizados os amostradores do tipo

testemunhador. Para amostras da fauna bêntica são utilizados redes, delimitadores

e substratos artificiais. A seguir apresentamos uma breve descrição dos diferentes

tipos de amostradores de fundo, de acordo com o Guia Nacional de Coleta e

Preservação de Amostras (2011).

- Pegador de Ekman-Birge: utilizado em reservatórios devido à sua fácil

manipulação. É adequado para avaliação de contaminação de sedimentos finos de

ecossistemas aquáticos. Não é indicado para locais de correnteza moderada a forte

ou com substrato duro.

- Pegador Petersen e van Veen: utilizado para amostragem de fundos de areia,

cascalho e argila, podem escavar substratos grossos. Pode ser utilizado em locais

de forte correnteza quando adicionado pesos de metal para aumentar seu peso.

- Pegador Ponar: Considerado o melhor equipamento para coletas quantitativas e

qualitativas de bentos de substrato grosso. É o mais frequentemente usado, devido

à redução na formação das ondas de choque.

- Pegador Shipek: é um cilindro de aço e é montado em sistema de molas helicoidais

de alta pressão, quando as molas são acionadas, o cilindro gira rapidamente em

180°, para dentro do sedimento, recolhendo amostra superficial com pouco distúrbio.

A amostra coletada fica retida no interior do cilindro que a protege do efeito da

lavagem que poderia ocorrer com a subida do sistema.

- Amostrador em Tubo ou Testemunhador: é apropriado para coleta de sedimentos

finos nos diversos ecossistemas aquáticos. Podemos considerar que este tipo de

amostrador de fundo é um dos mais eficientes para o estudo da dinâmica e

distribuição vertical dos elementos químicos e biológicos. É mais eficiente em

substratos consolidados, com pouco teor de água, onde pode-se obter amostras

íntegras. Esse equipamento geralmente consiste de um tubo de aço inox polido, com

um tubo coletor no seu interior de plástico resistente e inerte; pode ter diâmetro e

comprimento variáveis, os tubos podem ser simples ou múltiplos e gravitacionais ou

manuais.

- Delimitadores: são utilizados em estudos qualitativos e semiquantitativos de locais

rasos em diversos ambientes. Para a utilização deste equipamento é necessário que

10

Page 137: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

haja uma boa experiência profissional para que se obtenha uma boa amostragem.

- Redes Manuais: este tipo de rede serve para a coleta qualitativa ou

semiquantitativa da macrofauna bêntica em ambientes rasos (lênticos ou lóticos).

- Substrato Artificial: em geral os tipos de substratos artificiais são desenvolvidos de

acordo com o ambiente e os objetivos da amostragem. De modo geral são utilizados

para estudos qualitativos e semiquantitativo da macrofauna bentônica e perifíton.

2.4 Amostradores de Nécton

Existe uma infinidade de amostradores de nécton e a sua escolha é definida por

diversos fatores como características do ambiente, objetivos do estudo, estrutura da

comunidade local e época do ano. A escolha do tipo de amostrador deve ser bem

pensada, pois este pode interferir nos resultados obtidos, como por exemplo, para a

ictiofauna, dependendo do tipo e malha de rede, esta pode se tornar seletiva. Os

amostradores podem ser passivos - fixos ou estacionários (rede de espera, espinhel

ou linhada, caniço ou vara de pesca, curral, cesto ou canastra e covo), ou ativos -

móveis (rede de lance, rede de arrasto, rede de saco, tarrafa, linha de arrasto, puçá

e pesca elétrica).

3. PROCEDIMENTOS GERAIS

Já aprendemos que para se desenvolver um estudo ambiental em ecossistemas

aquáticos o plano de trabalho deve ser muito bem elaborado e definido em função

das questões a serem abordadas. A coleta e a preservação das amostras ainda são

consideradas atividades simples e executadas muitas vezes sem o critério ou

conhecimento necessários. Este pensamento é bastante equivocado, pois as

amostras representam o ambiente estudado, exigindo assim, um acurado

conhecimento técnico e científico, recursos humanos qualificados para desenvolver

atividades de campo.

Sabemos que ao se realizar a amostragem o seu objetivo é coletar um volume

11

Page 138: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

pequeno o bastante para ser transportado e manuseado em laboratório, mas este

material deve representar o mais aproximadamente possível o ambiente a ser

avaliado.

Para se implementar um programa de monitoramento é necessário definir os

objetivos do mesmo para, a partir daí, fazer o levantamento dos dados existentes na

área de influência a ser estudada, sendo este um dos princípios fundamentais para

que haja um planejamento prévio afim de se estabelecer os pontos de

monitoramento. Com este levantamento teremos base para selecionar os locais de

amostragem levando em consideração a homogeneidade espacial e temporal,

verificando se o programa é economicamente viável, para a partir disto elaborar o

plano de amostragem de dar início ao programa e as análises do material obtido.

4. PROTOCOLOS, FICHAS DE CAMPO E CHECK LIST

Para se obter um plano de amostragem eficiente devemos ter protocolos de

metodologia que nada mais são do que orientações de execução de determinados

métodos de coleta e análise.

O protocolo constitui passo importante na realização de um estudo. É a transcrição

do método científico à pergunta formulada. Isto ocorre porque as questões

científicas são frequentemente imprecisas, os instrumentos de medidas das

variáveis são comumente não confiáveis ou não disponíveis, e as relações entre as

variáveis são muitas vezes enganosas. Além disso, pode constituir um momento

especial para se aprofundar as ideias básicas do projeto, considerando os aspectos

teóricos e práticos de sua operacionalidade.

O protocolo nada mais é que uma “receita”, desta forma há um protocolo para

realização de DBO, um protocolo para nitrogênio total, ou seja, um protocolo para

cada parâmetro físico-químico ou biológico a ser avaliado.

12

Page 139: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

As fichas de campo são instrumentos auxiliares nos estudos e devem conter todas

as informações relevantes observadas durante o momento de coleta, como data,

hora, local, temperatura, ponto de coleta, equipe, condições climáticas, hora de

início e término da coleta e também deve auxiliar nas identificações das amostras

coletadas, servindo como um guia para análise das mesmas em laboratório. Na ficha

de campo também deve constar os parâmetros que serão medidos in situ, como

profundidade local, temperatura, pH, condutividade elétrica entre outros, como

demonstrado na figura.

O Checklist se trata de uma listagem auxiliar onde devem constar todos os

equipamentos que serão utilizados durante as coletas e amostragens, e que deve

ser conferida antes da saída para o campo, a fim de se evitar esquecimentos de

algum tipo de equipamento ou material necessário para a realização das

amostragens (Tabela 1).

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Page 140: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

14

Page 141: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

Figura 5 – Exemplo de uma ficha de campo.

Fonte: Bastos (2013)

Tabela 1 – Exemplo de um checklist.

Lista de Equipamentos Check Lista de Equipamentos CheckDocumentação Acondicionamento e Transporte

Plano de monitoramento Gelo reciclável

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Page 142: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

Mapas da área Material de embalagem

Caderno de campo/ ficha de

coleta

Fita adesiva

Canetas/ Lápis/Relógio Equipamentos de segurança

Equipamentos de Coleta Kit primeiros socorros

Haste de coleta Óculos de proteção/sol

Coletor de profundidade Botas impermeáveis (cano alto)

Frasco coletor Capa de chuva

Medidores de campo Água potável

Caixas de luva Filtro solar/repelente

Frasco de coleta Colete salva-vidas

Etiquetas de identificação Outros

Descontaminação Maquina fotográfica digital e

filmadora/carregadorÁlcool 70% GPS e baterias

Esponja e escova Caixa de ferramentas

Papel absorvente Confirmação de acesso (chaves)

Solução detergente Outros materiais específicos

Fonte: Bastos (2013)

5 LOGÍSTICA

O trabalho de campo deve buscar envolver a seleção de itinerários racionais,

dando-se especial atenção aos acessos, tempo para coleta e preservação das

amostras; estudo prévio do local de coleta, a fim de que sejam providenciados em

tempo hábil equipamentos, despacho de amostras para laboratório ou cuidados

especiais de acordo com as características peculiares de cada local.

6 COLETA E PRESERVAÇÃO DE AMOSTRAS DE ÁGUA

Em 2011 foi lançado o Guia Nacional de Coleta e Preservação de Amostras de

Água, Sedimento, Comunidades Aquáticas e Efluentes Líquidos, uma iniciativa da

CETESB (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) que em parceria com a

ANA (Agência Nacional de Águas) publicou a obra.

O Guia traz em seu conteúdo procedimentos detalhados, baseados em

metodologias padronizadas e de referência nacional e internacional sobre a coleta e

a preservação de amostras tendo em vista diversos componentes físicos, químicos e

16

Page 143: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

biológicos presentes em águas superficiais, sedimentos e efluentes líquidos. Este

guia pode ser acessado on line no site da Agência Nacional de Águas

(www.ana.gov.br).

Neste item teremos algumas noções em relação à coleta e preservação das

amostras de água. Caso o aluno tenha interesse em aperfeiçoar seu conhecimento

sobre o tema, sugerimos a leitura do Guia descrito anteriormente.

Para estudarmos os procedimentos básicos de como coletar e preservar as

amostras, aprenderemos de forma resumida como efetuar a limpeza e preparação

do material de armazenamento das amostras, técnicas de preservação de alguns

parâmetros, tipos de recipientes, volume de amostra necessário, prazos para

ensaios físico-químicos, microbiológicos, biológicos e de toxicologia.

SAIBA MAIS!

O Projeto “Água: Conhecimento para Gestão”, celebrado através de um convênio

entre a Fundação Parque Tecnológico Itaipu (FPTI) e a Agência Nacional de Águas

disponibilizará um curso de ensino à distância (EAD) específico sobre o tema Coleta

e Preservação de Amostras de Água.

- Etapa de Coleta:

Durante esta etapa, um dos procedimentos fundamentais para garantir a

manutenção das características da amostra é o correto acondicionamento das

mesmas. Assim, os frascos de coleta devem ser resistentes, quimicamente inertes,

bem vedados e preferencialmente de fácil manuseio tanto para a coleta como para

sua limpeza. Os frascos mais utilizados são os de vidro borossilicato, vidro

borossilicato âmbar (utilizados para evitar a fotodegradação da amostra) e

polietileno. Os frascos devem estar rigorosamente limpos e sempre vedados; para a

17

Page 144: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

limpeza dos frascos deve-se usar detergentes específicos para a lavagem de

vidrarias de laboratório (Ex.: Extran®), deixar de molho por 24h em solução de ácido

nítrico a 10% (ou ácido clorídrico para análises de íons nitrogenados) e finalmente

enxaguar com água deionizada ou de osmose reversa (COMPANHIA AMBIENTAL

DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2011).

- Etapa de Preservação:

A utilização adequada de técnicas de preservação é uma forma de minimizar e/ou

retardar as alterações químicas e biológicas que ocorrem após a retirada da amostra

do ambiente, em todas as fases de amostragem (coleta, acondicionamento,

transporte, armazenamento e até o momento do ensaio), já que independentemente

do tipo de amostra, a estabilidade completa nunca é obtida.

Determinados parâmetros como temperatura, pH, condutividade, teor de sólidos

dissolvidos e oxigênio dissolvido, cujas c7. DESCARTE DE AMOSTRAS E

REAGENTESaracterísticas não são mantidas com a preservação, devem ser

medidos in situ. Os demais parâmetros devem ser analisados o mais rapidamente

possível em laboratório, com o intuito de se minimizar a volatilização ou

biodegradação entre a amostragem e a análise. Dentre as técnicas de preservação

conhecidas, existem três que são mais utilizadas:

1. Adição Química: é o método mais conveniente, através do qual é

adicionado um reagente que faz a estabilização dos constituintes

de interesse por um período de tempo maior;

2. Congelamento: é aceitável para alguns ensaios preservando as

condições naturais da amostra entre o período de coleta e de

análise;

3. Refrigeração: é uma das técnicas mais comuns no trabalho de

campo e pode ser utilizada mesmo após a adição química. Ideal

para ensaios microbiológicos, físico-químico orgânicos e

inorgânicos, biológicos e toxicológicos.

18

Page 145: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

7. DESCARTE DE AMOSTRAS E REAGENTES

Para que seja feito um descarte correto das amostras e dos resíduos gerados

durante as análises, independentemente da unidade que gerencie estes descartes, é

importante:

1. Verificar se a Unidade Laboratorial possui um Plano de Gerenciamento dos

Resíduos sólidos1 e líquidos. Caso afirmativo, verificar todo o procedimento

para a disposição final adequada.

2. Prevenção na geração de resíduos (perigosos ou não);

3. Minimizar a proporção de resíduos perigosos que são inevitavelmente

gerados;

4. Separar e concentrar os resíduos de modo a tornar viável e economicamente

possível a atividade gerenciadora dos resíduos;

5. Reuso interno e externo (reciclagem), caso seja possível;

6. Manter o resíduo na forma mais passível de tratamento;

7. Tratar e dispor o resíduo de maneira segura;

Um laboratório pode descartar vários tipos de resíduos diretamente na pia, desde

que este efluente atenda as legislações vigentes.

8. RECOMENDAÇÕES DE SEGURANÇA

A seguir teremos algumas noções sobre biossegurança e segurança durante as

coletas e análises de amostras. Para isto, apresentamos o principal fundamento da

biossegurança, que é o entendimento e tomada de medidas preventivas, priorizando

a saúde humana, animal e do meio ambiente, prevenindo os riscos gerados pelos

agentes químicos, físicos e biológicos envolvidos em diferentes processos.

1 Lembrando que o Brasil promulgou em 2010 a Política Nacional de Resíduos Sólidos lei nº 12305/2010. Em seu artigo

13 classifica: a) resíduos perigosos são aqueles que, em razão de suas características de inflamabilidade,

corrosividade, reatividade, toxicidade, patogenicidade, carcinogenicidade, teratogenicidade e mutagenicidade,

apresentam significativo risco à saúde pública ou à qualidade ambiental, de acordo com lei, regulamento ou norma

técnica;

19

Page 146: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

Devido às condições e locais muito variados dos trabalhos de campo estamos

sujeitos a riscos de acidentes. Para se minimizar estes riscos é necessário que se

tome ações preventivas, a principal delas é o alerta e treinamento dos técnicos

envolvidos, para isto deve-se providenciar equipamentos de segurança individuais

(aventais, botas, salva-vidas, luvas, etc. Figura 35) e coletivos, adequados à

necessidade do trabalho, além de ter sempre disponível um kit de primeiros

socorros.

Dentre os fatores que mais oferecem riscos ao trabalho de campo, temos o

transporte rodoviário de técnicos e equipamentos, o acesso aos pontos de

amostragem, embarcações, manipulação de reagentes e soluções e a amostragem

de efluentes e resíduos sólidos. Sobre estes teremos a seguir algumas

considerações importantes:

- O transporte rodoviário implica não só no risco inerente ao deslocamento, para isto

é imprescindível o uso de cinto de segurança, mesmo que em trajetos curtos, como

também nos riscos durante o transporte de equipamentos e material de coleta. Os

materiais de coleta como frascos de vidro (neste caso, deve estar bem

acondicionado para evitar a quebra) e reagentes para preservação de amostras (que

devem estar em frascos bem vedados para evitar vazamentos) nunca devem ser

transportados junto aos passageiros e sim no porta-malas ou na caçamba do

veículo, que deve ter respeitada sua capacidade máxima de peso e volume.

- O acesso aos pontos de amostragem muitas vezes passa por locais que

aumentam as probabilidades de acidentes, como locais próximos a estradas

movimentadas, pontes, áreas de tráfego intenso de máquinas, entre outros. Para se

trabalhar nestas áreas é necessário que haja a utilização de dispositivos de

sinalização adequados que proporcionem a visualização da equipe. Em regiões com

muita vegetação o risco de acidentes com animais é alto, portanto, deve-se ter

atenção redobrada e utilizar vestimentas adequadas, como calças compridas, botas,

perneiras, chapéu, etc.

- As embarcações para coleta em rios, represas, reservatórios, áreas estuarinas e

no mar são muito utilizadas, para isto deve-se verificar as condições gerais destas e

20

Page 147: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

de seus equipamentos para se evitar atrasos e acidentes durante os trabalhos de

campo. Existe uma série de equipamentos que são obrigatórios nas embarcações

como: motor, tanque, mangueira de combustível, bateria, tampões de casco, remos,

colete salva-vidas (em número suficiente para toda tripulação), âncora, extintor de

incêndio, cordas, luzes de sinalização noturna. Além destes equipamentos

obrigatórios também se recomenda o uso de bússolas, ecobatímetro, GPS, celular,

sistemas de radiocomunicação, sinalizadores de fumaça, além de peças de

manutenção mecânica básica do motor.

- A manipulação de reagentes e soluções tem sido uma constante fonte de

acidentes, devido ao uso de reagentes químicos para preservação das amostras.

Para se evitar estes acidentes deve-se evitar a manipulação inadequada e a

utilização de frascos plásticos tipo conta gotas ou pissetas dosadoras.

- Para se fazer amostragens em efluentes os riscos são inerentes a área onde se faz

a coleta, como indústrias, devendo-se receber treinamento adequado e

equipamentos de segurança para a permanência no local. Os efluentes líquidos

podem apresentar variados tipos de compostos de origem química e

infecto-contagiosos, sendo assim os técnicos devem ter treinamento para

manuseá-los de forma segura, evitando os acidentes e também para situações de

emergências que podem ocorrer nos locais de amostragem.

Figura 6 – Alguns equipamentos de proteção individual (EPI).

21

Page 148: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

Fonte: http://www.eurorubber.com.br (acesso em 26/01/2013)

RESUMO UNIDADE 5

Durante esta unidade foram abordados os procedimentos metodológicos para

coletas em campo, com este intuito estudamos como e porque efetuar a

padronização dos procedimentos e metodologias e que estas padronizações são a

base para que estes possam ser reproduzidos por diferentes grupos e os resultados

possam ser comparados.

Foram apresentados os principais equipamentos de amostragem em função da

finalidade do estudo, tipo e local de amostragem, sendo eles divididos em:

amostradores de superfície, amostradores de profundidade (coluna d’água),

amostradores de fundo e amostradores de nécton.

Tivemos noções sobre os procedimentos gerais que envolvem uma boa elaboração

e definição das questões a serem abordadas em um plano de monitoramento, além

de como estabelecer protocolos, elaborar fichas de campo levando em consideração

os principais dados que devem ser obtidos, assim como o checklist e a sua

relevância dentro do trabalho de campo. Também foram abordadas as

recomendações de segurança e a importância da prevenção de acidentes e

22

Page 149: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

minimização de riscos e os aspectos que envolvem a logística do trabalho de

campo.

Na parte de coleta e preservação de amostras foram apresentados os principais

procedimentos para limpeza e preparação do material de armazenamento, as

técnicas de preservação para cada variável, tipos de recipientes, volume de amostra

necessária, tipos de preservação e prazos para ensaios físicos, químicos,

microbiológicos, outros ensaios biológicos e de toxicologia, além de como proceder

o correto descarte de amostras e dos reagentes.

REFERÊNCIAS

BRAILE, P. M. Manual de tratamento de águas residuárias. São Paulo, CETESB,

1979.

COMPANHIA AMBIENTAL DO ESTADO DE SÃO PAULO. Guia Nacional de Coleta

e Preservação de Amostras: Água, Sedimento, Comunidades Aquáticas e

Efluentes Líquidos. Org. BRANDÃO, C. J.; BOTELHO, M. J. C.; SATO, M. I.;

LAMPARELLI, M. C. São Paulo. CETESB: Brasília. ANA. 2011. 326p.

JARDIM, W. F. Gerenciamento de resíduos químicos em laboratórios de ensino

e pesquisa. Química Nova, v.21, n.5, p.671-673, 1998.

LIMA, A. N. Limnologia e qualidade ambiental de um corpo lêntico receptor de

efluentes tratados da indústria do petróleo. 2004. 145f. Dissertação de Mestrado.

Programa de Pós-Graduação em Engenharia Química. Universidade Federal do Rio

Grande do Norte. UFRN. Natal, RN. 2004.

Parron, L. M.; Muniz, D. H. de F.; Pereira, C. M. Manual De Procedimentos De

Amostragem E Análise Físico-Química De Água. Documentos 232. 2011.

Disponível Em: Colombo: Embrapa Florestas,

23

Page 150: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

<http://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/921050/1/Doc232ultimaversao.

pdf>. Acesso em: 20 jan. 2013.

24

Page 151: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

UNIDADE 6

SISTEMAS DE INFORMAÇÃO PARA

MONITORAMENTO DA QUALIDADE DA

ÁGUA

1

Page 152: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

1. Controle de qualidade dos dados

Para que haja qualidade e confiabilidade nos dados de um sistema de

monitoramento de qualidade de água, existem alguns aspectos que devem ser

considerados. O sistema relacional é o mais utilizado, e refere-se à representação

de arquivos como tabelas, onde cada linha é um registro e cada coluna um campo.

Para ficar mais claro, o banco de dados corresponde a um conjunto de tabelas que

podem ser ordenadas por uma ou mais colunas.

É importante salientar que a correta organização do desenho de um banco de dados

é fundamental para seu bom desempenho. Assim, deve-se evitar incluir nas tabelas

colunas que sejam derivadas de outras colunas para evitar ocupação desnecessária

de espaço, e também deve-se evitar a ocorrência de itens repetitivos em uma tabela

para minimizar a ocorrência de espaços vazios no arquivo.

Entrada de Dados no Sistema de Informação

A validação de dados é de extrema importância para que os resultados obtidos

sejam mais próximos da realidade. Todo o processo de entrada de dados manual

em sistemas eletrônicos é passível de erros, os quais devem ser verificados para

validação dos dados antes de sua incorporação ao banco de dados. Por exemplo,

ao se digitar dados/entrar com dados em um sistema de informação, deve-se evitar

a multiplicação de etapas de transcrição de dados e, além disso, utilizar máscaras

de edição para evitar que dados com formato incorreto sejam digitados. Também

deve-se utilizar mecanismos de verificações internas na entrada de dados antes dos

mesmos serem incorporados ao banco, para evitar ocorrência de erros aleatórios.

Outro aspecto que deve ser observado é a utilização de consulta “on line” à tabela

para mostrar, no momento da entrada dos dados, a que valores correspondem

2

Page 153: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

certos códigos digitados. Por exemplo, durante a digitação de um parâmetro de

qualidade da água, poderiam ser mostrados os limites para uma determinada

classe, ou, ainda, no momento da digitação da vazão de um rio, poderia ser

mostrada a vazão máxima e mínima daquele dia.

As coletas de dados também podem ser feitas por meio da utilização de sondas

multiparamétricas. Os dados coletados em campo, por meio dessas sondas, são

transferidos automaticamente para os computadores, reduzindo assim a

possibilidade de erros em séries de dados, tal como ocorre com maior frequência

quando se realiza a entrada de dados manualmente em um sistema.

1.2. Integridade dos Dados

Para garantir a preservação da integridade de dados de monitoramento, os

programas devem ser testados para evitar erros de programação. Também devem

ser feitas cópias de segurança periódicas, além da instalação de programas e/ou

sistemas de proteção contra acessos não autorizados. Também deve-se estar

atento à manutenção dos componentes eletrônicos do computador, para evitar a

perda de dados.

2. Sistemas de informações

Um Sistema de Informação (SI) é um sistema cujo elemento principal é a

informação. Seu objetivo é armazenar, tratar e fornecer informações de modo a

apoiar as funções ou processos de uma organização.

Geralmente, um SI é composto de um subsistema social e um subsistema

automatizado. O primeiro refere-se às pessoas, processos, informações e

documentos. O segundo refere-se aos meios automatizados (máquinas,

computadores, redes de comunicação) que interligam os elementos do subsistema

social.

3

Page 154: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

Ao contrário do que muitos possam pensar, as pessoas - juntamente com os

processos que executam e com as informações e documentos que manipulam -

também fazem parte do SI. O Sistema de Informação é algo maior que um software,

pois, além de incluir o hardware (máquinas) e o software (programas), também inclui

os processos (e seus agentes e usuários) que são executados fora das máquinas.

Para trabalhar com sistemas de informações há necessidade de equipes

multidisciplinares e sempre interessadas na busca pelo conhecimento.

3. Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos (SNIRH)

Lançado em 2005, o SNIRH é um instrumento de gestão de recursos hídricos

previsto na Lei das Águas (9.433/97) cujos objetivos são coletar, tratar, armazenar e

recuperar informações sobre a água, além de reunir, dar consistência e divulgar

dados e informações quantitativas e qualitativas dos recursos hídricos pertencentes

ao território brasileiro. De maneira geral, este sistema garante à sociedade o acesso

rápido e preciso às informações atualizadas sobre recursos hídricos.

O Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos é necessário para

diversas finalidades, tais como facilitar a integração das ações relacionadas à

gestão de recursos hídricos nos níveis federal, estadual e municipal, suprir as

necessidades dos atores envolvidos na gestão da água. Tem por objetivo fornecer

subsídios para a elaboração dos Planos de Recursos Hídricos (Art 27, inciso III, Lei

9433/97); funcionar como ponto de referência central para o desenvolvimento dos

instrumentos de enquadramento, outorga e cobrança de recursos hídricos, previstos

no Art. 5°, incisos II, III e IV da Lei 9433/97, integrados por bacia hidrográfica,

conforme preceituado pelo inciso IV do Art. 1° da mesma lei, e da fiscalização dos

usos, nos mesmos moldes.

Além disso, outra função do SNIRH é sua utilização como ferramenta de apoio à

decisão para os participantes do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos

4

Page 155: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

Hídricos, que é composto pelo Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH),

pela ANA, por conselhos estaduais de recursos hídricos, comitês de bacia, agências

de água e órgãos cujas competências se relacionem à gestão destes recursos.

O SNIRH é um sistema computacional composto por cinco elementos: Recursos

humanos e organizacionais, Subsistema, Base Integrada de Dados, Plataforma de

Integração e Infraestrutura computacional. Estes elementos endereçam os objetivos

máximos estabelecidos para o Sistema de Informação sobre Recursos Hídricos,

levando em consideração o desenvolvimento tecnológico do SNIRH e sua melhoria

contínua. A área responsável pelo desenvolvimento, organização e implantação

desses elementos é a Superintendência de Gestão da Informação (SGI) da ANA, em

nível federal, porém os estados devem ter também seus sistemas de informações,

que por sua vez, deverão estar interligados ao sistema nacional.

Os comitês que estão avançados na implementação dos instrumentos da lei

9433/97, também podem ter seus sistemas próprios e interligados ao sistema

estadual ou federal, dependendo da dominialidade do rio.

3.1. Componentes do SNIRH

Recursos humanos e organizacionais

Os recursos humanos e organizacionais que compõem o Sistema Nacional de

Informações sobre Recursos Hídricos compreendem: - as pessoas; - as relações

sociais estabelecidas entre as pessoas encarregadas de executar as tarefas; e as

exigências organizacionais, tanto formais, quanto informais.

A base de dados

A base de dados organiza-os de forma consolidada, sendo, portanto, única e

integrada. Ela é constituída por diversos tipos de informação agrupados por

assuntos, os quais são facilmente identificáveis em função da sua natureza.

5

Page 156: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

Figura 1. Representação esquemática da base integrada de dados do SNIRH.

Fonte: CAMPOS NETO, 2010 (acesso em 14/01/2013).

3.2. Subsistemas do SNIRH

A estrutura proposta para o SNIRH é formada por seis subsistemas integrados e

interdependentes, com vistas a permitir o atendimento à sociedade em geral com

relação às demandas por informações sobre recursos hídricos. Seguem abaixo os

objetivos de cada um dos subsistemas.

Subsistema PLANEJAMENTO E GESTÃO: tem o objetivo de dar visibilidade aos

processos de planejamento e gestão dos recursos hídricos e permitir o

acompanhamento sistemático da situação dos recursos hídricos no país, com

relação à quantidade e qualidade de água, além do acompanhamento do grau de

implementação do Plano Nacional de Recursos Hídricos (PNRH).

Subsistema DADOS QUALI-QUANTITATIVOS: baseado em informações do

monitoramento hidrometeorológico do país, com o levantamento de dados

fluviométricos, pluviométricos e de qualidade de água, que possibilitam o

conhecimento das características quali-quantitativas de cursos d´água e dos índices

pluviométricos, com suas distribuições no espaço e no tempo.

Subsistema REGULAÇÃO DE USOS: reúne informações sobre usos de recursos

6

Page 157: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

hídricos no território nacional, com a finalidade de possibilitar a regulação dos usos

nas bacias hidrográficas com dominialidades partilhadas entre a União e as

Unidades da Federação.

Subsistema INTELIGÊNCIA HÍDRICA: incorpora todos os processos necessários

para a geração de informações hidrológicas com base nos dados brutos gerados por

monitoramento e em modelos hidrológicos para atender às necessidades sobre

informações de disponibilidade hídrica.

Subsistema INTELIGÊNCIA DOCUMENTAL: visa a elaboração de uma base de

dados de documentos relacionados à gestão descentralizada dos recursos hídricos

no Brasil, incluindo aqueles produzidos no âmbito de comitês de bacia e outros

órgãos gestores. O subsistema permite a recepção, o armazenamento e a captura

de informação documental, a indexação automática e a disponibilização de

informações na Internet.

Subsistema INTELIGÊNCIA GEOGRÁFICA: permite prover dados e informações

geoespaciais de suporte à gestão de recursos hídricos e possui uma função

integradora entre os diversos subsistemas do SNIRH.

Para ter acesso ao sistema nacional basta acessar o portal:

http://portalsnirh.ana.gov.br/ e navegar nos diferentes subsistemas. O portal é um

instrumento de comunicação e colaboração entre as pessoas envolvidas ou com

interesses em informações sobre Recursos Hídricos (águas superficiais e

subterrâneas). Os principais objetivos deste portal são: disseminar dados e

informações sobre Recursos Hídricos; - disseminar atividades desempenhadas

sobre o SNIRH e seus respectivos módulos; - integrar o acesso a diversas

ferramentas desenvolvidas no âmbito do SNIRH; - disseminar informações sobre as

redes de pesquisas; - apresentar a documentação do projeto SNIRH; disseminar,

consolidar e validar as metodologias utilizadas pela ANA para o desenvolvimento do

SNIRH.

7

Page 158: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

3.3. Redes de pesquisa SNIRH

O desenvolvimento do SNIRH está fundamentado em uma estratégia de construção

conjunta, participativa e descentralizada, envolvendo o governo nas esferas federal

e estadual e a sociedade, por meio de contribuições da comunidade científica e

usuários dos recursos hídricos.

Quatro redes de pesquisa foram constituídas, envolvendo universidades e centros

de pesquisa brasileiros para a proposição de normas e padrões para as atividades

de monitoramento de recursos hídricos e desenvolvimento de ferramentas

hidrológicas, que são integrados ao subsistema de inteligência hídrica. A Agência

Nacional de Águas possui participação efetiva nas redes de pesquisa no

acompanhamento de um grupo gestor, formado por cientistas brasileiros de diversas

áreas do conhecimento, com o objetivo de prestar assessoramento técnico-

científico, principalmente com relação à concepção das possíveis aplicações em

gestão de recursos hídricos e a implementação dos resultados no SNIRH.

4. Programa Nacional de Avaliação da Qualidade das Águas (PNQA)

O PNQA surgiu a partir de necessidades relacionadas ao monitoramento da

qualidade das águas no Brasil, fator determinante para a gestão dos recursos

hídricos, para a solução de conflitos entre os diversos usos da água. No Brasil, há

vários problemas relacionados à falta de padronização e de informações sobre a

realização de coletas e análises laboratoriais, conforme descrito na Unidade 05, o

que torna os resultados, muitas vezes, pouco confiáveis e de difícil comparação

entre regiões distintas. Essa situação, somada ao fato de a divulgação das

informações para a população e os tomadores de decisão ser insuficiente na maioria

das Unidades da Federação, gera dificuldades para a análise efetiva da evolução da

qualidade das águas e elaboração de um diagnóstico nacional.

No sentido de reverter esse quadro, a Agência Nacional de Águas lançou o PNQA,

8

Page 159: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

que tem por meta oferecer à sociedade conhecimento adequado sobre a qualidade

das águas superficiais brasileiras, de forma a subsidiar os tomadores de decisão

(agências governamentais, ministérios, órgãos gestores de recursos hídricos e de

meio ambiente) na definição de políticas públicas para a recuperação da qualidade

das águas, contribuindo assim com a gestão sustentável dos recursos hídricos.

4.1. Objetivos do PNQA

Eliminar as lacunas geográficas e temporais no monitoramento de qualidade

de água

A Agência Nacional de Águas opera uma rede básica de qualidade de água que

possui 1.340 pontos em todo o país, onde são feitas análises de quatro parâmetros

básicos (pH, oxigênio dissolvido, condutividade e temperatura) durante as

campanhas de medição de vazão. Esses parâmetros têm seus resultados obtidos

automaticamente por meio de sondas multiparamétricas que são postas em

contato com os corpos d’água, não havendo necessidade de coleta, transporte e

análise de amostras em laboratórios.

No entanto, a análise desses quatro parâmetros não possibilita uma avaliação

adequada da evolução da qualidade das águas brasileiras, sendo necessários

outros parâmetros que requerem coletas de amostras e análises laboratoriais.

Apesar de o custo dessas análises nos laboratórios não ser elevado, os custos de

logística (coleta, armazenamento e transporte de amostras) muitas vezes são,

devido à grande distância entre os pontos de coleta e os laboratórios. Para a

redução desses custos é necessário que se agregue os Estados ao Programa, para

que eles auxiliem no monitoramento e utilizem seus resultados.

Nem todos os Estados brasileiros possuem condições de monitorar a qualidade de

suas águas, tanto pelos elevados custos da logística envolvida, quanto pela

ausência de pessoal capacitado para a tarefa, o que resulta em vazios no

monitoramento (Figura 2). Em algumas situações, também devido à escassez de

9

Page 160: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

recursos financeiros, as campanhas de monitoramento são interrompidas,

retornando somente após longo período, deixando uma lacuna no monitoramento

que não se consegue reverter. Assim, para ampliar o conhecimento da qualidade

das águas no Brasil é fundamental eliminar as lacunas geográficas e temporais no

seu monitoramento.

Figura 2: Densidades das redes estaduais de monitoramento de qualidade das

águas.

Fonte: Agência Nacional de Águas/ Portal da qualidade das águas (acesso em

08/01/2013).

10

Page 161: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

Tornar as informações de qualidade de água comparáveis em âmbito nacional

Não há procedimentos padronizados no Brasil para coleta e preservação de

amostras de qualidade de água. Assim, duas amostras retiradas num mesmo trecho

de rio, por exemplo, podem apresentar resultados distintos, se realizadas por

diferentes instituições. No entanto, no sentido de se buscar uma maior padronização

de dados e de análises, o país criou algumas legislações específicas, como a

portaria 2914/2011 do Ministério da Saúde, que determina os protocolos de análises

que devem ser seguidos.

Conforme exemplifica a Figura 3, cada Unidade da Federação apresenta suas

próprias frequências de campanhas de monitoramento e de parâmetros

monitorados. Dessa forma, para um rio que banha dois ou mais estados, geralmente

não é possível acompanhar a evolução da qualidade de suas águas ao longo de sua

calha, pois as amostras são colhidas em diferentes épocas do ano e os parâmetros

monitorados não são necessariamente os mesmos. Por isso um dos objetivos do

PNQA é o estabelecimento de frequências e parâmetros mínimos de

monitoramento, em acordo com as Unidades da Federação.

11

Page 162: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

Figura 3: Frequências de coleta de amostras das Unidades da Federação.

Fonte: Agência Nacional de Águas/ Portal da qualidade das águas (acesso em

08/01/2013).

Aumentar a confiabilidade das informações de qualidade de água

Muitos laboratórios de análise de qualidade de água não possuem certificações em

programas de acreditação ou não realizam a chamada intercalibração

laboratorial. Essas atividades, quando realizadas, ampliam a confiança nos

resultados das análises. Além disso, há laboratórios instalados com equipamentos

modernos que, no entanto, não dispõem de pessoal capacitado para operá-los.

Assim, a capacitação das equipes de laboratório e de campo é fundamental para o

aumento da confiabilidade dos resultados das análises de qualidade de água.

12

Page 163: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

Avaliar, divulgar e disponibilizar à sociedade as informações de qualidade de

água.

Todos os dados sobre recursos hídricos, sejam quali ou quantitativos, devem ser

públicos. Entretanto, é necessário disponibilizar não apenas os dados, como

também as avaliações relativas aos dados, de forma a transformá-los em

informação, que pode ser utilizada pela sociedade, para que esta tenha condições

de exigir dos agentes públicos a gestão adequada dos recursos hídricos.

Nesse contexto, por meio do Portal do PNQA (http://pnqa.ana.gov.br), foi criado um

canal de divulgação das informações sobre qualidade de água no país, em que

também são divulgados relatórios periódicos consolidando as avaliações de

qualidade de água em âmbito nacional e estadual.

4.2. Integrantes do PNQA

Participam do PNQA a Agência Nacional de Águas, como instituição coordenadora e

executora das atividades de âmbito nacional; os órgãos estaduais de meio ambiente

e de gestão de recursos hídricos que aderirem ao Programa, como executores das

atividades regionais; universidades e instituições de pesquisa; e demais entidades

interessadas.

4.3. Funcionamento do PNQA

O programa está estruturado em quatro componentes, organizados para atender

aos objetivos. A seguir, as principais ações estratégicas de cada componente:

• Componente A: Rede Nacional de Monitoramento

• Implementar, ampliar e otimizar a distribuição geográfica da rede de

monitoramento da qualidade de água;

• Tornar adequadas as frequências de monitoramento;

• Garantir a sustentabilidade financeira do sistema de monitoramento.

13

Page 164: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

• Componente B: Padronização

• Acordar parâmetros mínimos de qualidade de água a serem monitorados por

todas as Unidades da Federação;

• Padronizar, entre as Unidades da Federação, os procedimentos de coleta,

preservação e análise das amostras de qualidade de água.

• Componente C: Laboratórios e Capacitação

• Ampliar o controle de qualidade dos laboratórios envolvidos em análises de

qualidade de água;

• Capacitar pessoas envolvidas com o monitoramento e análise de qualidade

de águas.

• Componente D: Avaliação da Qualidade da Água

• Criar e manter um banco de dados nacional e um portal na internet para

divulgação das informações de qualidade de água;

• Avaliar sistematicamente a qualidade das águas superficiais brasileiras.

4.4. Indicadores de Qualidade

O uso de índices de qualidade da água vem da necessidade de sintetizar a

informação sobre vários parâmetros físico-químicos, visando informar a população e

orientar ações de planejamento e gestão da qualidade da água. Visto que permitem

sintetizar várias informações em um único valor, facilitam a comunicação com o

público leigo. Por outro lado, neste processo de síntese pode haver perda de

informação sobre o comportamento dos parâmetros analisados. Portanto, qualquer

análise mais detalhada deve considerar os parâmetros individuais que determinam a

qualidade das águas.

Os principais índices de qualidade da água utilizados pelas Unidades da Federação

são: - Índice de Qualidade das Águas (IQA); - Índice de Qualidade da Água Bruta

para fins de Abastecimento Público (IAP); - Índice de Estado Trófico (IET); - Índice

de Contaminação por Tóxicos; - Índice de Balneabilidade (IB); - Índice de Qualidade

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Page 165: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

de Água para a Proteção da Vida Aquática (IVA). Cada um deles possui uma

aplicabilidade específica, com vantagens e desvantagens.

No portal do Programa de Monitoramento coordenado pela ANA

(http://pnqa.ana.gov.br), descrito anteriormente, você poderá encontrar informações

detalhadas sobre a metodologia de composição de cada índice e suas formas de

aplicação.

5. Importância dos programas de monitoramento de longo período

As fases do ciclo hidrológico, suas variabilidades e suas inter-relações requerem a

coleta de dados básicos que se desenvolvem ao longo do tempo ou do espaço. As

respostas aos diversos problemas de hidrologia aplicada serão tão mais corretas

quanto mais longos e precisos forem os registros de dados hidrológicos e

limnológicos. Esses registros podem compreender dados climatológicos,

pluviométricos, fluviométricos, evaporimétricos, sedimentométricos e de parâmetros

de qualidade da água, obtidos em instalações próprias, localizadas em pontos

específicos de determinada região, em intervalos de tempo estabelecidos e com

sistemática de coleta padronizada. O conjunto dessas instalações, denominadas

postos ou estações, constituem as redes cuja manutenção e densidade são

essenciais para a qualidade dos estudos que envolvem a água.

Como exemplo de estudos de longa duração, existem programas como o PELD

(Programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração). No Brasil, assim como em

outros países, programas deste tipo têm como objetivo geral o desenvolvimento de

estudos ecológicos de longa duração voltados ao inventário e propostas de

conservação da biodiversidade de grupos de organismos aquáticos e terrestres,

considerando-se ainda os processos ecológicos responsáveis pela manutenção

desta biodiversidade. Neste programa, são medidas diversas variáveis (químicas,

biológicas, limnológicas, dentre outras), que são interpretadas e discutidas.

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Page 166: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

Como exemplo deste tipo de programa, pode-se citar o PELD-Sítio 5, que com mais

de dez anos de constantes estudos confirmou a maior parte das predições

levantadas em sua proposta inicial. Dentre os vários resultados obtidos neste

programa, verificou-se, por exemplo, que alterações na pluviosidade e eventos de

intrusão de água marinha nos ecossistemas costeiros regulam a ciclagem dos

nutrientes, a vida de organismos aquáticos e a biodiversidade regional. Confirmou-

se ainda que, para as lagoas estudadas, a salinidade da água e os nutrientes atuam

como os principais reguladores da distribuição de diversos organismos tais como

bactérias, plantas, microcrustáceos e peixes. Com este exemplo, podemos concluir

que programas de longa duração são extremamente importantes para se conhecer o

funcionamento de sistemas e assim reforçar a necessidade de sua conservação.

Além disso, a realização de programas desta natureza proporciona um maior

aperfeiçoamento de técnicas e correção de imperfeições, aumentando assim a

eficiência e a confiabilidade de dados, avaliações e estudos.

No Brasil, as principais entidades produtoras de dados hidrológicos e

hidrometeorológicas são a Agência Nacional de Águas (ANA), cuja parte da rede é

operada pela CPRM - Serviço Geológico do Brasil, e o Instituto Nacional de

Meteorologia (INMET). Outras redes acessórias são mantidas por companhias

energéticas ou de serviços de saneamento básico, por exemplo.

RESUMO UNIDADE 6

Nesta unidade você conheceu um pouco mais sobre o funcionamento do sistema de

informação para o monitoramento da qualidade da água. Este capítulo foi dividido

em Controle de qualidade dos dados; Sistemas de Informações; Sistema Nacional

de Informações sobre Recursos Hídricos; Programa Nacional de Avaliação da

Qualidade das Águas e a importância dos Programas de monitoramento de longo

período.

Na parte de controle de qualidade dos dados, foi explicado que a correta

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Page 167: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

organização do desenho de um banco de dados é fundamental para seu bom

desempenho. Assim, deve-se tomar alguns cuidados essenciais ao inserir dados em

um sistema, como incluir nas tabelas colunas que sejam derivadas de outras

colunas para evitar ocupação desnecessária de espaço e evitar a ocorrência de

itens repetitivos em uma tabela para minimizar a ocorrência de espaços vazios no

arquivo.

Já o Sistema de Informação (SI) é um sistema cujo elemento principal é a

informação. Seu objetivo é armazenar, tratar e fornecer informações de tal modo a

apoiar as funções ou processos de uma organização.

O sistema de informação sobre recursos hídricos (SNIRH) foi concebido como um

sistema computacional composto de cinco elementos como “Recursos humanos e

organizacionais”; “Subsistema”; “Base Integrada de Dados”; “Plataforma de

Integração” e “Infraestrutura computacional”. Tais elementos endereçam os objetivos

máximos estabelecidos para o Sistema de Informação sobre Recursos Hídricos,

levando em consideração o Desenvolvimento tecnológico do SNIRH e sua melhoria

contínua e todas as considerações para concretização da modelagem conceitual do

SNIRH.

Para auxiliar no funcionamento do sistema de informação conta-se com o Programa

Nacional de Avaliação da Qualidade das Águas (PNQA) que surgiu pela

necessidade do monitoramento da qualidade das águas no Brasil, influenciando

diretamente na gestão dos recursos hídricos e na solução de conflitos entre os

diversos usos da água. Observa-se, por exemplo, a existência de lacunas

geográficas e temporais no monitoramento de qualidade da água no Brasil em

razão, principalmente, de limitações de recursos.

Vale relembrar que os principais índices de qualidade de água utilizados pelas

Unidades da Federação são: Índice de Qualidade das Águas (IQA); Índice de

Qualidade da Água Bruta para fins de Abastecimento Público (IAP); Índice de

Estado Trófico (IET); Índice de Contaminação por Tóxicos; Índice de Balneabilidade

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Page 168: Apostila Monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios

(IB) e Índice de Qualidade de Água para a Proteção da Vida Aquática (IVA).

Também nesta unidade foi abordada a necessidade de se ter programas de

monitoramento de cursos de água e reservatórios. Assim, vale relembrar a unidade

1, que tratou da necessidade do monitoramento de tais recursos hídricos baseado

na resolução ANEEL e ANA 03/2010. Os programas de monitoramento

compreendem dados climatológicos, pluviométricos, fluviométricos, evaporimétricos,

sedimentométricos e de parâmetros de qualidade da água, obtidos em instalações

próprias, localizadas em pontos específicos de uma região, em intervalos de tempo

pré-estabelecidos e com sistemática de coleta definida por padrões conhecidos. O

conjunto dessas instalações, denominadas postos ou estações, constitui as redes

hidrométricas e/ou hidrometeorológicas, cuja manutenção e densidade são

essenciais para a qualidade dos estudos hidrológicos.

Contudo, para um melhor aprendizado vale ressaltar a necessidade de sempre

acompanhar a legislação ambiental, ou seja, é sempre bom recordar a unidade 1

para melhor entendimento das demais.

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