apostila direito eleitoral

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DIREITO ELEITORAL 5º PERÍODO ÂNGELA ISSA HAONAT PALMAS – TO 2010

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dIREITO ELEITORAL

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DIREITO ELEITORAL

5º PERÍODO

ÂNGELA ISSA HAONAT

PALMAS – TO

2010

UNIVERSIDADE DO TOCANTINS Reitoria

Osmar Nina Garcia Neto

Vice-Reitoria Lívio William Reis de Carvalho

Pró-Reitoria de Graduação

George França dos Santos

Diretoria de EaD e Tecnologias Educacionais Igor Yepes

Diretoria de Ensino

Patrícia Martins Buhler Tozzi

Coordenadoria de Planejamento Pedagógico e Midiático Rodrigo Barbosa e Silva

Coordenador do Curso

Kasuo Otsuka

MATERIAL DIDÁTICO Organização de Conteúdos Acadêmicos

Angela Issa Haonat

Coordenação Editorial Maria Lourdes F. G. Aires

Responsável Técnico de Área

Naíma Worn

Revisão Linguístico-Textual Ivan Cupertino

Revisão Didático-Editorial

Silvéria Aparecida Basnik Schier

Gerente de Divisão de Material Impresso Katia Gomes da Silva

Revisão Digital

Rogério Adriano Ferreira da Silva

Projeto Gráfico Albânia Celi Morais de Brito Lira

Katia Gomes da Silva Márcio da Silva Araújo

Rogério Adriano Ferreira da Silva Vladimir Alencastro Feitosa

Ilustração

Geuvar Silva de Oliveira

Capa Rogério Adriano Ferreira da Silva

APRESENTAÇÃO Prezado estudante,

O Direito Eleitoral representa a garantia e a instrumentalização de

um dos direitos mais caros – que é o direito à democracia, pilar de sustentação

do Estado Democrático de Direito. Apresentaremos a disciplina de forma a

familiarizá-lo com o direito reputado como o mais paritário de todos, que é o

direito ao voto. Distribuímos o conteúdo da disciplina em sete capítulos de

forma a apresentá-la de forma sucinta, mas, ao mesmo tempo proporcionando-

lhe uma visão panorâmica sobre esse ramo do Direito. Mesmo guiando o seu

estudo por este caderno, não deixe de buscar outras fontes atualizadas, como

a Constituição, compêndios, jurisprudências, leis e artigos que versem sobre o

assunto em temáticas mais pontuais.

O primeiro capítulo traz uma introdução ao Direito Eleitoral, o qual

aborda conceitos, fontes e princípios do Direito Eleitoral.

O viés constitucional dado ao tema será abordado no segundo

capítulo, no qual estudaremos os direitos políticos previstos na Constituição

Federal de 1988, além de analisarmos a aquisição e a perda desses direitos.

A Justiça Eleitoral, que possui as suas peculiaridades, e o Ministério

Público Eleitoral serão estudados no terceiro capítulo, dando-nos suporte para

enfrentar o tema dos partidos políticos e o registro de candidatos no quarto

capítulo, já adentrando em aspectos mais específicos da matéria.

O quinto capítulo aborda os atos preparatórios, a votação e a

apuração das eleições, sendo-lhe apresentado cada um desses procedimentos

com pormenores.

A propaganda eleitoral e a prestação de contas serão estudadas no

sexto capítulo, a partir do qual você poderá compreender como a lei evoluiu no

sentido de coibir distinções prejudiciais aos candidatos, visto que criminalizou

uma série de condutas que antes eram permitidas.

Fechando o nosso conteúdo, será apresentado, no capítulo sétimo,

a matéria processual do Direito Eleitoral, em que você estudará o Direito

Processual Eleitoral, os recursos cabíveis e os crimes eleitorais.

Desejo-lhe um semestre bastante proveitoso.

Profª Ângela Issa Haonat

PLANO DE ENSINO

Curso: Fundamentos Jurídicos

Disciplina: Direito Eleitoral

Período: 5º

Ementa

Conceito e objeto. Fontes. Relações com outras disciplinas jurídicas. História e

evolução. Direito Eleitoral no Brasil. Organização eleitoral. Justiça Eleitoral.

Sistema eleitoral. Capacidade eleitoral. Elegibilidade. Inelegibilidade. Ministério

Público Eleitoral. Processo eleitoral. Garantias eleitorais. Invalidade dos atos

eleitorais. Recursos eleitorais. Crimes eleitorais. A propaganda eleitoral dos

partidos políticos.

Objetivo

Reconhecer os conceitos e as fontes do Direito Eleitoral a partir da análise da

regulamentação eleitoral brasileira, a fim de desenvolver uma visão crítica

sobre o processo eleitoral, do alistamento até a fase de diplomação inclusive os

crimes e direito processual eleitoral.

Conteúdo programático

• Conceito, fontes e princípios do Direito Eleitoral

• Aquisição e perda dos direitos políticos. Sufrágio, sistema de voto e

escrutínio. Alistamento eleitoral

• Órgãos da justiça eleitoral. Magistratura eleitoral. Ministério Público

Eleitoral

• Conceito e natureza jurídica dos partidos políticos. Convenções

partidárias para escolha dos candidatos. Coligações

• Organização das zonas e seções eleitorais. Mesa receptora. Juntas

eleitorais. Fiscalização. Escrutinadores e auxiliares. Votação eletrônica.

Apuração. Diplomação dos eleitos

• Princípios da propaganda política. Espécies. Da arrecadação e da

aplicação dos recursos na campanha eleitoral

• Processo eleitoral. Ações. Espécies de recursos. Crimes eleitorais e

políticos

Bibliografia básica

CÂNDIDO, Joel José. Direito Eleitoral Brasileiro. 13. ed. Bauru: Edipro, 2008.

COSTA, Tito. Recursos em matéria eleitoral. 8. ed. São Paulo: RT, 2004.

VELLOSO, Carlos Mário da Silva. Direito Eleitoral. Belo Horizonte: Del Rey,

1987.

Bibliografia complementar

BULOS, Uadi Lamego. Curso de Direito Constitucional. 2. ed. São Paulo:

Saraiva, 2008.

CHIMENTI, Ricardo Cunha. Direito Eleitoral. São Paulo: Paloma, 2001.

COELHO, Marcus Vinícius Furtado. Direito Eleitoral e Processo Eleitoral:

Direito Penal Eleitoral e Direito Político. Rio de Janeiro: Renovar, 2008.

COSTA, Adriano Soares da. Instituições de Direito Eleitoral. Belo Horizonte:

Del Rey, 2006.

FUHRER, Maximiliano Roberto Ernesto; FUHRER, Maximiliano Cláudio

Américo. Dicionário Jurídico: matéria por matéria. 2 ed. São Paulo: Malheiros,

2009.

MICHELS, Vera Maria Nunes. Direito Eleitoral. 5. ed. Porto Alegre: Livraria do

Advogado, 2006.

NUNES JÚNIOR, Vidal Serrano; ARAÚJO, Luiz Alberto David de. Curso de

Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva, 2006.

QUEIROZ, Ari Ferreira de. Direito Eleitoral. 10. ed. Goiânia: IEPC, 2006.

RAMAYANA, Marcos. Direito Eleitoral. 3. ed. Niterói: Impetus, 2009.

SPITZCOVSKY, Celso; MORAES, Fábio Nilson Soares de. Direito Eleitoral.

São Paulo: Saraiva, 2009. v. 27.

Sumário Capítulo 1 – Introdução ao Direito Eleitoral Capítulo 2 – Direitos políticos Capítulo 3 – Justiça Eleitoral e Ministério Público Eleitoral Capítulo 4 – Dos partidos políticos e do registro de candidatos Capítulo 5 – Dos atos preparatórios, da votação e da apuração das eleições Capítulo 6 – Da propaganda política e da prestação de contas Capítulo 7 – Do processo, dos crimes e dos recursos eleitorais

Capítulo 1 – Introdução ao Direito Eleitoral

Introdução

Você estudou na disciplina Introdução ao Estudo do Direito que o

Direito, para fins didáticos, é classificado em ramos. São estes ramos: público,

privado e difuso. Como você estudou, o Direito Eleitoral pertence ao ramo do

Direito Público.

Normalmente o Direito Eleitoral é estudado como matéria optativa na

maioria das universidades. Constitui assim um privilégio o estudo desta

disciplina em nosso Curso, porque o seu conhecimento contribuirá na

construção da democracia.

O Direito Eleitoral é o responsável pela sistematização do sufrágio

(ativo e passivo), na busca de estabelecer harmonia entre a vontade do povo e

a atividade daqueles escolhidos para exercitar essa vontade, por meio da

representatividade.

Para reconhecer a importância do Direito Eleitoral, além de distinguir

as suas peculiaridades em relação aos demais ramos do Direito e identificar as

fontes do Direito Eleitoral, é importante que você conheça um pouco de nossa

história enquanto modelo de Estado. Para esse fim, elegemos um artigo de

autoria de Jaime Barreiros Neto, contido no sítio

<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=12872>. Você perceberá por

quantas mudanças passamos até chegarmos ao modelo democrático

atualmente vigente em nosso sistema eleitoral.

Neste capítulo inicial, estudaremos os aspectos mais introdutórios da

disciplina, como o seu conceito, fonte e princípios.

1.1 Considerações iniciais acerca do Direito Eleitoral

De acordo com Marcos Ramayana (2009, p. 5) o Direito Eleitoral

pode ser conceituado como

[...] um conjunto de normas jurídicas que regulam as capacidades de votar e ser votado, o processo de alistamento, no registro de candidaturas, a propaganda política eleitoral, votação, apuração, proclamação dos eleitos, prestação de contas de campanhas eleitorais e diplomação, bem como as formas de acesso aos mandatos eletivos através dos sistemas eleitorais.

Como percebemos, o Direito Eleitoral regula todos os procedimentos

atinentes à ocorrência das eleições, ou seja, tanto a capacidade ativa (direito

de votar), como a capacidade passiva (direito de ser votado), passando por

todos os trâmites garantidores dessa capacidade passiva.

Outros autores também conceituam o Direito Eleitoral. Vamos

conhecer outros conceitos. Para Joel J. Cândido (2007, p. 25), o Direito

Eleitoral é

[...] é o ramo do Direito Público que trata de institutos relacionados com os direitos políticos e das eleições, em todas as suas fases, como forma de escolha dos titulares dos mandatos eletivos e das instituições do Estado.

Ainda sobre o tema, Marcus Vinícius Furtado Coelho (2008, p. 67),

leciona que constitui objetivo do Direito Eleitoral

[...] assegurar e implementar um processo que respeite as normas, destinado a garantir a soberana e livre manifestação da vontade popular na escolha dos representantes que irão, em nome do povo, exercer o poder político nas esferas legislativas e executivas. Em outras palavras, visa [a] ordenar um devido processo legal capaz de legitimar, através de eleições livres, a escolha das pessoas a quem o povo outorga mandatos, cumprindo o art. 1º da Constituição Federal que estabelece a democracia representativa no estado de direito como o regime político da nação.

O Direito Eleitoral viabiliza a concretização do processo democrático

conforme estabelece a Constituição da República Federativa do Brasil. Na

sequência, veremos quais são as fontes do Direito Eleitoral.

1.2 Fontes do Direito Eleitoral

O significado de fonte em sentido lato pode ser compreendido como

nascente, fonte de água, ou ainda como o local de onde provém algo.

Aplicando essa metáfora ao Direito, teremos o significado de fonte como o

lugar de onde Direito se origina, ou ainda, de onde ele nasce.

O Direito Eleitoral, tal qual os demais ramos do Direito, para fins

didáticos, tem fontes específicas. Essas fontes podem ser classificadas, de

acordo com Queiroz (2006, p. 35-38), em fontes principais, próprias e

subsidiárias. Passemos, pois, ao seu estudo conforme o quadro 1.

Quadro 1 - Fontes do Direito Eleitoral

FONTE

a) Constituição Federal: Lei Fundamental. A Constituição estabelece as diretrizes gerais do Direito Eleitoral (direitos políticos e organização da Justiça Eleitoral).

PRINCIPAL b) Leis Complementares: regulamentam as normas constitucionais que demandam essa regulamentação; (necessidade deve vir expressa na norma constitucional). Ex. 1 - LC 64/90 (disciplina a questão da inelegibilidade em sentido material e processual). Ex. 2 - O Código Eleitoral (Lei 4.737/65) que é uma lei híbrida (as disposições sobre a organização e competência da Justiça Eleitoral possuem status de lei complementar, e as demais normas têm status de lei ordinária).

FONTES PRÓPRIAS

a) Código Eleitoral: como visto, o Código Eleitoral tem status de Lei Complementar apenas quanto às normas de organização e competência da Justiça Eleitoral. Os demais assuntos têm status de Lei Ordinária (capacidade ativa e passiva, do alistamento eleitoral, votação, apuração, entre outros). b) Lei dos Partidos Políticos: regula o funcionamento dos partidos políticos (art. 17 da CF/88), estabelecendo normas de criação, fusão, extinção e regras para filiação e desfiliação dos partidos. c) Leis Eleitorais transitórias: elaboradas para disciplinar uma eleição em particular. Ex.: Lei 8.214/91 - regulamentou as eleições de 1992; a Lei 8.713/93 - regulamentou as eleições de 1994; a Lei 9.100/95 – regulamentou as eleições de 1996; e a atual Lei Eleitoral, Lei n° 9.504/97, que foi editada para regulamentar as eleições de 1998, mas acabou regulamentando, também, uma vez que continua em vigor, as eleições seguintes, ressalvando-se que revogou o Código Eleitoral, apenas naquilo em que forem conflitantes.

FONTES SUBSIDIÁRI

AS

a) Leis em geral: funcionam como fontes subsidiárias, complementando as fontes primárias. Ex. o Código Penal (conceitos como imputabilidade e punibilidade) e o Código Civil (conceito de capacidade, maioridade e responsabilidade). São ainda considerados, como fonte subsidiária, o Código de Processo Penal e o Código de Processo Civil. b) Resoluções dos Tribunais Eleitorais: importante fonte do Direito Eleitoral, pois em sua maioria são emanadas do TSE, especialmente para regulamentar eleições e disciplinar temas específicos do pleito. c) Estatutos dos partidos: regem os seus respectivos partidos, especialmente nas questões relativas à composição de seus órgãos, os critérios de escolha dos candidatos aos cargos eletivos, a filiação partidária, entre outros.

Fonte: Queiroz (2006, p. 35-38)

Como você pode perceber, as fontes do Direito Eleitoral têm suas

características específicas, com o que se destaca o estabelecimento das

normas gerais na Constituição Federal, a necessidade de Lei Complementar

nos casos expressos na Constituição e o caso específico do Código Eleitoral

que tem natureza híbrida. Fontes próprias são caracterizadas por leis de

caráter transitório (regulam especificamente uma eleição), além de lei de

partidos políticos e do próprio Código, naquilo que se tratar de lei ordinária.

Além dessas, destacam-se as Resoluções editadas pelo TSE, as leis em geral

e os estatutos dos partidos, constituindo o que a doutrina nominou de fonte

subsidiária. Depois de analisarmos as fontes do Direito Eleitoral, examinaremos

seus princípios.

1.3 Princípios do Direito Eleitoral

Você estudou acerca dos princípios no ordenamento jurídico

brasileiro e, portanto, sabe serem os mesmos uma das fontes do Direito que

mais suscitam discussões. Há autores que nem mesmo os consideram como

tal. Inegável porém que a doutrina mais moderna empresta-lhes um status de

norma jurídica com características próprias, distinta da das regras. Celso

Antonio Bandeira de Mello citado por Coelho (2008, p. 83), assim, leciona

sobre os princípios

Mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele, disposição fundamental que se irradia sobre diferentes normas compondo-lhes o espírito e servindo de critério para a sua exata compreensão e inteligência, exatamente por definir a lógica e a racionalidade do sistema normativo, no que lhe confere a tônica e lhe dá sentido harmônico.

Os princípios específicos do Direito Eleitoral, como os demais

princípios jurídicos, além de nortearem a disciplina, emprestam-lhe força

normativa. E, de acordo com Coelho (2008, p. 83), os princípios eleitorais

encontram-se dispostos “na Constituição Federal, Código Eleitoral, Leis

Eleitorais e Resoluções do TSE”, entre os quais podemos destacar

[...] o princípio do aproveitamento do voto, da celeridade, isonomia, da devolutividade dos recursos, preclusão instantânea, anualidade, responsabilidade solidária entre os candidatos e partidos políticos, irrecorribilidade das decisões do Tribunal Superior Eleitoral.

Lembrando que o autor aponta alguns dos princípios reconhecidos

pela doutrina e que você poderá encontrar diversa nomenclatura e rol para

designar esses e outros princípios que deixamos de mencionar neste capítulo,

pois serão tratados em capítulo específico. Nos próximos, analisaremos os

princípios do Direito Eleitoral.

1.3.1 Princípio da celeridade

Conforme Coelho (2008, p. 84), no Direito Eleitoral, a celeridade é a

tônica, visto que tanto o processo eleitoral, como o pleito eleitoral propriamente

dito, têm períodos limitados. Assim, a Justiça Eleitoral carece de maior

celeridade. Leciona ainda que

A celeridade é característica intrínseca ao processo eleitoral. O início e o término pré-estabelecidos do processo impõem que as decisões eleitorais sejam imediatas, evitando-se que se estendam para após

as diplomações, que constituem a sua última fase. (COELHO, 2008, p. 84)

Inúmeros fatores demonstram a especificidade da Justiça Eleitoral

quanto ao princípio da celeridade. É o que apresentamos no quadro 2.

Quadro 2 - Princípio da celeridade

Três dias para interposição de recursos ([Art. 258, CE]; e alguns em 24 horas [Art. 58, § 5º da Lei 9504/97]. 24 horas para a Justiça Eleitoral proferir decisões nos processos e direito de resposta [Art. 58, § 6º da Lei n. 9504/97]. Execução imediata das decisões, que poderá ser feita por ofício, telegrama ou cópia de acórdão [Art. 257, parágrafo único, do CE]. Prioridade para os feitos eleitorais, no período do registro das candidaturas até cinco dias após as eleições, ressalvados apenas os habeas corpus e mandado de segurança [Art. 94 da Lei n. 9504/97]. Prazo de 48 horas para apresentação de defesa [representação do Art. 96 da Lei n. 9504/97]. Continuidade dos prazos relacionados à impugnação do registro de candidatura que não se suspendem aos sábados, domingos e feriados [Art. 16 da LC 64/90]. Fonte: Coelho (2008, p. 84)

Como demonstrado no quadro 2, a celeridade é fundamental para

uma prestação jurisdicional adequada. Os prazos para defesa, recurso e

impugnações são diferenciados tanto no quantitativo dos dias, como na forma

de contagem do prazo.

1.3.2 Princípio da Isonomia ou princípio da lisura das eleições

A isonomia é direito fundamental assegurado na Constituição

Federal de 1988. Reforçando essa ideia, Coelho (2008, p. 84-85) assim dispõe

sobre esse princípio:

O regime democrático permite que quaisquer cidadãos no gozo de seus direitos políticos, que preencham as condições de elegibilidade e que não estejam limitados por alguma causa de inelegibilidade, disputem, em igualdade de condições, os cargos eletivos que os conduzirão ao mandato parlamentar ou executivo. Essa disputa, porém, deve ser pautada pela igualdade de oportunidades e pela lisura dos meios empregados nas campanhas sem privilégios em favor de determinada candidatura.

O princípio da isonomia, como qualquer outro direito fundamental,

não é absoluto, encontra limites impostos pela própria Constituição que

estabelece regras, por exemplo, quanto à idade mínima para candidatar-se a

determinados cargos ou ainda ao estabelecer que alguns cargos só podem ser

ocupados por brasileiros natos.

O que se quer resguardar com esse princípio é a lisura dos

processos, bem como a igualdade nas oportunidades, evitando que haja

distinções em prejuízo de um ou de outro candidato nas campanhas eleitorais.

Conforme Coelho (2008, p. 85), esse princípio aplica-se a todos os envolvidos

no processo eleitoral, como “Ministério Público, partidos, meios de

comunicação, candidatos e eleitores, a fim de que as regras sejam iguais para

todos”.

O exemplo de como o legislador preocupou-se com a concretização do

princípio da igualdade está nos dispositivos a seguir mencionados.

Artigo 14, § 9º da CF/88

Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para o exercício do mandato, considerada a vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta.

Art. 23 da LC 64/90

O Tribunal formará sua convicção pela livre apreciação dos fatos públicos e notórios, dos indícios e presunções e prova produzida, atentando para circunstâncias ou fatos, ainda que não indicados ou alegados pelas partes, mas que preservem o interesse público de lisura eleitoral.

Essa preocupação do legislador constitucional e infraconstitucional

encontra-se em consonância com a proteção que se quis reservar a esse

princípio.

1.3.3 Princípio da devolutividade dos recursos

Como regra, e em respeito ao princípio da celeridade, os recursos

no Direito Eleitoral têm apenas efeito devolutivo. De acordo com Coelho (2008,

p. 86), “a ausência de efeito suspensivo ao recurso faz com que a decisão do

juiz automaticamente seja cumprida, independente se a parte recorre ou não,

para que, assim, a celeridade ocorra”. A exceção a essa regra está contida na

própria lei. Como exemplo da mitigação dessa regra, o autor destaca a Ação de

Impugnação de Registro de Candidatura e de Recurso Contra a Expedição do

Diploma (CE Art. 216) e Art. 15 da LC 64/90, segundo a qual, “transitada em

julgado à decisão que declarar a ilegalidade do candidato, ser-lhe-á negado

registro, ou cancelado, se já tiver sido feito, ou declarado nulo o diploma, se já

expedido”.

1.3.4 Princípio da preclusão

Sobre esse princípio, Coelho (2008, p. 86) leciona que

O processo eleitoral é constituído por uma sucessão de fases bem definidas e sucessivas, tendo seu início com as convenções partidárias para a escolha dos candidatos e sua última etapa a diplomação dos candidatos eleitos. Assim sendo, o princípio da preclusão determina que, encerrada uma fase, não mais poderão ser impugnados atos relativos às fases anteriores. As impugnações e nulidades devem ser alegadas imediatamente, sob pena de preclusão — perda da faculdade de agir.

Você já estudou acerca da preclusão, mas a título de relembrar o

que você estudou, temos que preclusão, de acordo com Fuher e Fuher (2009,

p. 82), é a “proibição de retorno a fases já superadas no processo (Art. 473 do

CPC. Corresponde à perda do direito de praticar determinado ato”.

Como exemplo de preclusão no âmbito do Direito Eleitoral, Coelho

(2008, p. 86-87) ressalta que,

No momento da efetivação do voto do eleitor, ocorre a preclusão instantânea temporal quanto a qualquer impugnação, como expresso no Art. 147, § 1º do CE, pelo qual “a impugnação à identidade do eleitor, formulada pelos membros da mesa, fiscais delegados, candidato ou qualquer eleitor, será apresentada verbalmente ou por escrito, antes de ser o mesmo admitido a votar”. [...] Art. 149 do CE: “Não será admitido recurso contra a votação, se não tiver havido impugnação perante a Mesa Receptora, no ato da votação, contra as nulidades arguidas”.

O princípio estudado visa a resguardar o direito do cidadão que

tenha realizado o voto, descabendo, a partir desse ato, qualquer alegação

sobre a impugnação dele, que deveria ser oposta em momento oportuno como

facultado pela lei. Ressalta ainda Coelho (2008, p. 87) que a “preclusão não

incide em relação a matérias constitucionais e a erros na intimidade da justiça”.

1.3.5 Princípio da Anualidade ou Princípio da Anterioridade da Lei Eleitoral

Para Coelho (2008, p. 87), esse princípio consagra-se na máxima de

que “não se pode mudar as regras do jogo no meio do campeonato, que

traduzindo para seara jurídica eleitoral significa que, não se devem fazer leis

casuísticas para preservar o poder político, econômico ou autoridade”.

O Art. 16 da CF/88 dispõe que “a lei que alterar o processo eleitoral

entrará em vigor na data de sua publicação, não se aplicando à eleição que

ocorra até um ano da data de sua vigência”., com a redação dada pela EC

04/1993.

Como vemos o princípio da anualidade integra os direitos e as

garantias fundamentais assegurados na Constituição Federal de 1988.

Cerqueira citado por Coelho (2008, p. 86) ressalta a distinção entre

eficácia e vigência, que você também já estudou em Introdução do Estudo do

Direito. Segundo ele não se deve

[...] confundir vigência [aplicação imediata — não incidência da vactio legis] com eficácia [aplicação um ano após a sua promulgação]. Portanto, toda lei que alterar o processo eleitoral, tem vigência imediata à data de sua publicação. Porém terá apenas eficácia imediata [efeitos já aplicados], se publicada um ano antes da eleição em trâmite e eficácia contida [para próximas eleições]. Trata-se de eficácia condicionada ao intervalo de um ano, preservando o princípio da rule of game, para impedir leis casuísticas, eletistas e frutos de poder econômico ou político.

Como vemos, esse princípio está atrelado ao princípio da rule of

game, em que se impede a mudança das regras durante o jogo, isto é, proíbe-

se a edição de leis casuísticas. Essa proibição não se estende, porém, às leis

de cunho meramente instrumental e que não interfiram nas regras do processo

eleitoral, como as que digam, por exemplo, a respeito do preenchimento de

formulários entre outros.

1.3.6 Princípio da responsabilidade solidária entre candidatos e partidos políticos

Ao falar da responsabilidade solidária existente entre os candidatos e

os partidos políticos, Coelho (2008, p. 89-90) explica que

Tanto o candidato (pessoa física) quanto os partidos políticos (pessoas jurídicas) possuem solidariedade em relação à responsabilidade cível, administrativa e penal pelos abusos e excessos cometidos por eles durante o processo eleitoral, isso caracteriza o princípio da responsabilidade solidária entre candidatos e partidos políticos.

Essa responsabilidade decorre de previsão expressa da Lei e da

jurisprudência como se apresenta no quadro 3.

Quadro 3 - Das responsabilidades do candidato e do partido político

Art. 241 do CE Toda propaganda eleitoral será realizada sob a responsabilidade dos partidos ou dos seus candidatos, por eles paga, imputando-se-lhes solidariedade nos excessos praticados pelos candidatos e adeptos.

Art. 17 da Lei n. 9.504/97

As despesas da campanha eleitoral serão realizadas sob a responsabilidade dos partidos políticos, ou de seus candidatos, e financiadas na forma dessa Lei.

Art. 38 da Lei n. 9.504/97

Independe da obtenção de licença municipal e de autorização da Justiça Eleitoral aveiculação de propaganda eleitoral pela distribuição de folhetos, volantes e outros impressos, os quais devem ser editados sob a responsabilidade do partido, coligação ou candidato.

Jurisprudência

TSE

“II - Há solidariedade entre partidos políticos e seus candidatos no tocante à realização da propaganda eleitoral destes”. (TSE, Acórdão RESPE 21418, DJ 21/6/2004, p. 89).

Fonte: Coelho (2008, p. 90)

Vale ainda ressaltar que também a doutrina aponta na mesma direção

sinalizada pela lei e pela jurisprudência. A única ressalva a se fazer é quanto à

responsabilidade penal que, de acordo com Coelho (2008, p. 90), a própria

Constituição Federal assegura ser pessoal e intransferível. De forma que, ao

prever, a Constituição veda a imposição de “sanção sobre quem não possui

comprovadamente participação, ainda que omissiva, na concretização”.

1.3.7 Princípio da irrecorribilidade das decisões do Tribunal Superior Eleitoral

A irrecorribilidade das decisões do TSE está prevista no Art. 281 do

CE, com a seguinte disposição:

São irrecorríveis as decisões do Tribunal Superior, salvo as que declararem a invalidade de lei ou ato contrário à Constituição Federal e as denegatórias de habeas corpus ou mandato de segurança, das quais caberá recurso ordinário para o Supremo Tribunal Federal, interposto no prazo de 3 (três) dias.

De acordo com Coelho (2008, p. 91), esse princípio está previsto na

CF/88, com certas ressalvas, que são justamente em relação às decisões que

contrariarem a Constituição e as denegatórias de habeas corpus e mandato de

segurança. De modo que, segundo o autor, o STF só é chamado a intervir nessas

hipóteses, o que faz do TSE o órgão de última instância em matéria eleitoral.

Como exemplo de cases em que o STF foi chamado a intervir o autor aponta: a

verticalização das eleições, a perda de mandato por infidelidade partidária e a

inelegibilidade decorrente da vida pregressa, todos esses motivos são de

conotação constitucional.

Estudamos, no primeiro capítulo, as bases que nos servirão para

aprofundamento de nossos estudos no decorrer dos demais capítulos. Perceba

que iniciamos pelo conceito e pelo objeto do Direito Eleitoral, passando pelo

estudo de suas fontes e, por fim, destacamos os princípios que, além das fontes

normativas, orientam e norteiam a disciplina.

No próximo capítulo, você estudará os direitos políticos e como eles

se encontram protegidos na Constituição Federal com status de direito

fundamental. Além do estudo dos direitos políticos propriamente ditos, você

analisará as hipóteses de aquisição e perda desses direitos.

Atividades

1. O artigo 281 do Código Eleitoral dispõe que

São irrecorríveis as decisões do Tribunal Superior, salvo as que declararem a invalidade de lei ou ato contrário à Constituição Federal e as denegatórias de habeas corpus ou mandato de segurança, das quais caberá recurso ordinário para o Supremo Tribunal Federal, interposto no prazo de 3 (três) dias.

A partir da interpretação do artigo mencionado é possível afirmar que

será irrecorrível a decisão do TSE, salvo aquela que:

I – contrariar a Constituição Federal;

II – denegar mandado de injunção;

III – decretar a inelegibilidade de candidato à Presidência da República;

IV – denegar habeas corpus;

Pode-se afirmar que estão corretas

a) I e IV apenas.

b) I, II e III apenas.

c) I, II e IV apenas.

d) II e III apenas.

2. O princípio da devolutividade dos recursos não possui efeitos suspensivos.

Contudo, pela análise do Art. 216 do CE “enquanto o Tribunal Superior não decidir

o recurso interposto contra a expedição do diploma, poderá o diplomado exercer o

mandato em toda a sua plenitude” e, pelo Art. 15 da LC 64/90 “transitada em

julgado a decisão que declarar a inelegibilidade do candidato, ser-lhe-á negado

registro, ou cancelado, se já tiver sido feito, ou declarado nulo o diploma, se já

expedido”, podemos afirmar que

a) a ação de impugnação de registro de candidatura e o recurso contra a

expedição do diploma mitigam a regra do Direito Eleitoral quanto ao efeito dos

recursos.

b) entre as ações manejadas no processo eleitoral apenas o recurso contra a

expedição do diploma tem efeito suspensivo.

c) os recursos interpostos em sede de decisão de mandado de segurança e

habeas corpus no âmbito do processo eleitoral têm ambos os efeitos devolutivo

e suspensivo.

d) o recurso interposto em sede de habeas data e de mandado de injunção em

sede de processo eleitoral têm efeitos devolutivo e suspensivo.

3. Quanto aos efeitos da lei que venha a alterar o processo eleitoral e, com base no

Art. 16 da CF/88 que assim dispõe: “a lei que alterar o processo eleitoral entrará

em vigor na data de sua publicação, não se aplicando à eleição que ocorra até um

ano da data de sua vigência”, podemos afirmar que:

I. o princípio da anterioridade refere-se apenas ao período de vacatio legis da

lei;

II. a lei não poderá entrar em vigor enquanto não tiver eficácia plena;

III. a lei poderá entrar em vigor desde a sua publicação ressalvando-se quanto a

sua eficácia o período mínimo de um ano;

IV. o princípio da anterioridade fere direito consagrado na Constituição Federal.

Estão corretas as assertivas

a) I, II e III apenas.

b) I e II apenas.

c) III, e IV apenas.

d) III apenas.

4. Todos os ramos de Direito, ao atestar sua autonomia, indicam fontes e

principiologia próprios. Em relação ao Direito Eleitoral,

a) quais são as fontes específicas do Direito Eleitoral; e qual a especificidade

que se pode destacar quanto ao Código Eleitoral?

b) quanto ao status dos princípios que norteiam a disciplina, você os

classificaria como fonte do direito? Justifique utilizando argumentos

constitucionais, distinguindo os princípios das regras.

Comentário das atividades

Na atividade 1, você acertou se apontou a letra (a), pois a

alternativa lista duas das três possibilidades que você estudou como passíveis

de mitigar o princípio da irrecorribilidade às decisões que contrariarem a

Constituição, as denegatórias de habeas corpus e mandato de segurança. A

(II) está incorreta, pois trata do mandado de injunção que, apesar de remédio

constitucional como o HC e o MS não se aplicam por falta de previsão na lei. A

(III) está incorreta, porque não se aplica à espécie.

Na atividade 2, assinalou a letra (a), pois apenas a ação de

impregnação de registro de candidatura e o recurso contra expedição do diploma

se aplicam os efeitos suspensivos dos recursos. Nos demais casos esse efeito, que

é a exceção e não a regra, não se aplica. A alternativa (b) está incorreta, pois

menciona a hipótese como a única alternativa, quando a possibilidade se aplica

também à ação de impugnação de registro de candidatura. A alternativa (c) está

incorreta por mencionar como ensejadores da exceção à regra os recursos

interpostos em sede de HC e MS. A letra (d) está incorreta por mencionar que em

sede de habeas data e mandado de injunção em sede de processo eleitoral têm

efeitos devolutivo e suspensivo.

Na atividade 3, você deve ter optado pela letra (d) que prevê que

apenas a assertiva (III) está correta. A assertiva (I) está incorreta, pois o princípio

da anterioridade diz respeito tanto a vacatio legis quanto à eficácia da lei (que não

poderá ser aplicada se o prazo da sua entrada em vigor até a sua aplicação no

caso concreto for menor de que um ano). A assertiva (III) está incorreta, a lei

vigorará, não podendo, contudo, ser aplicada por falta de eficácia. A assertiva (IV)

está incorreta por afirmar que o princípio da anterioridade fere direito consagrado

na Constituição Federal, quando é justamente o contrário, ele assegura direitos

fundamentais.

Na atividade 4, para responder de forma correta você deve pesquisar

acerca da classificação das fontes específicas do Direito Eleitoral. Atente-se

para o fato de o Código Eleitoral ser considerado como uma espécie de lei

híbrida e qual são os efeitos dessa especificidade. Analise na doutrina sobre

princípios e regras, quais são as especificidades de cada um. Para saber mais

sobre princípios e regras, pesquise no sítio

<http://www.direitodoestado.com/revista/REDE-2-ABRIL-2005-

SERGIO%20GUERRA.pdf>.

Referências

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado, 1988. ______. Código Eleitoral. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L4737.htm>. Acesso em: 12 nov. 2009. CÂNDIDO, Joel José. Direito Eleitoral Brasileiro. 13. ed. Bauru: Edipro, 2007. COELHO, Marcus Vinícius Furtado. Direito Eleitoral e Processo Eleitoral: Direito Penal Eleitoral e Direito Político. Rio de Janeiro: Renovar, 2008. FUHRER, Maximiliano Roberto Ernesto; FUHRER, Maximiliano Cláudio Américo. Dicionário Jurídico: matéria por matéria. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 2009. QUEIROZ, Ari Ferreira de. Direito Eleitoral. 10. ed. Goiânia: IEPC, 2006. RAMAYANA, Marcos. Direito Eleitoral. 3. ed. Niterói: Impetus, 2009.

Capítulo 2 - Direitos políticos

Introdução

Os diretos políticos formam a base de nosso sistema eleitoral. Com

fins puramente didáticos inicialmente, apresentar-lhe-emos os conceitos de

soberania, federação, cidadania, sufrágio, escrutínio e voto, para então

apresentar como estão dispostos na Constituição Federal e ainda quais as

formas de aquisição e da perda dos direitos políticos.

Ainda ressaltaremos a condição especial de algumas pessoas que,

em razão das funções exercidas, como os magistrados, membros do ministério

público e os militares, têm uma condição especial para o gozo e o exercício

desses direitos.

Você estudou os aspectos mais conceituais da disciplina no capítulo

1. Todos os conceitos estudados serão importantes para a compreensão dos

direitos políticos expressos na Constituição Federal e o reconhecimento da

distinção entre a suspensão e a perda dos direitos políticos. Recomendamos

assim a leitura dos artigos 14 a 16 da Constituição Federal, que você poderá

acessar pelo sítio <www.planalto.gov.br> (clicando no item legislação e depois

elegendo no menu o item Constituição).

Os direitos políticos passaram por relevantes modificações desde

que foram instituídos. Acompanhe essa evolução lendo o artigo A evolução

político – eleitoral do Brasil, da autoria de José Valente Neto, disponível no sítio

<http://www.unifor.br/notitia/file/1680.pdf>. Você perceberá que a luta pela

conquista dos direitos políticos se deu de forma lenta, por exemplo, o direito de

voto só foi concedido à mulher na década de 1930. Pesquise mais sobre o

assunto do voto feminino em notícia disponibilizada no sítio

<http://www.jusbrasil.com.br/noticias/129517/direito-ao-voto-feminino-

comemora-75-anos>.

2.1 Considerações iniciais acerca dos direitos políticos

Os direitos políticos perfazem o rol de espécies que compõem os

direitos e as garantias fundamentais previstos na Constituição Federal de 1988.

O professor André Ramos Tavares (2006, p. 696), os conceitua como “o

conjunto de regras destinadas a regulamentar o exercício da soberania

popular”. Para o autor, a expressão direitos políticos em sentido amplo significa

a) O direito de todos participarem e tomarem conhecimento das decisões e atividades desenvolvidas pelo governo.

b) O Direito Eleitoral. c) A regulamentação dos partidos políticos.

Em suma, para Tavares (2006, p. 696), os direitos políticos

constituem-se como “o conjunto de normas que disciplinam a intervenção,

direta ou indireta, no poder”.

Para Celso Spitzcovsky e Fábio Nilson Soares de Moraes (2009, p.

1), os direitos políticos “são aqueles voltados à regulação do exercício da

soberania dentro de determinado Estado”. Os autores fazem menção aos Arts.

1º parágrafo único e 14 da Constituição a seguir reproduzidos.

Art. 1° Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição. Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante: I - plebiscito; II - referendo; III - iniciativa popular.

De acordo com o lecionado, pode-se concluir que os direitos políticos

podem ser compreendidos como o direito de participação do cidadão na

formação do governo e sua atividade, abrangendo o direito de votar e ser

votado nas eleições, o direito de voto nos plebiscitos e referendos e direito de

manifestação por meio de iniciativa popular (Art. 14, incisos I, II e III da CF).

Antes de adentrar ao tema propriamente dito vamos ao estudo de

alguns conceitos importantes.

2.2 Conceitos correlatos aos direitos políticos

O conhecimento de alguns conceitos correlatos aos direitos políticos

é essencial para adentrarmos em nosso estudo. Apresentamo-los no quadro 2.

Quadro 2 - Conceitos aplicáveis aos direitos políticos

Cidadania 1. A cidadania no direito positivo brasileiro está ligada ao atributo eleitoral e político. Ser cidadão significa ser o titular do direito de votar (cidadania ativa) e de ser votado (cidadania passiva) (RAMAYANA, 2009, p. 41).

Voto 1. O voto é o instrumento, a ferramenta do direito de sufrágio. Ex.: o eleitor considerado facultativo, se não votar, não precisa justificar a ausência

ou pagar multa, pois seu voto é considerado um direito, se encontrado em dia com suas obrigações eleitorais. O voto é igual para todos. É um direito público subjetivo que expressa uma função social da soberania popular. (RAMAYANA, 2009, p. 42). 2. O voto é personalíssimo (não pode ser exercido por procuração), pode ser direto (como determina a atual CF) ou indireto. É direto quando os eleitores escolhem seus representantes e governantes sem intermediários. É indireto quando os eleitores (denominados de 1.º grau) escolhem seus representantes ou governantes por intermédio de delegados (eleitores de 2.º grau), que participarão de um Colégio Eleitoral ou órgão semelhante. 3. O voto é secreto para garantir a lisura das votações, inibindo a intimidação e o suborno. O voto com valor igual para todos é a aplicação do direito político da garantia de que todos são iguais perante a lei.

Sufrágio 1. O sufrágio é um direito abstratamente assegurado. Ex.: o maior de 70 anos tem direito ao sufrágio assegurado pela Constituição Federal. A universalidade do sufrágio por si só afasta eventual interpretação restritiva e que possa limitar grupos de eleitores. Classifica-se o sufrágio em: a) sentido irrestrito: é o mesmo que sufrágio universal (não aceita as restrições atinentes às condições de fortuna ou capacidade intelectual), encontra limites, por exemplo, em relação aos conscritos, os menores de 16 anos e os estrangeiros. b) sentido restrito: compreende limitações a determinado tipo de situações. Mestre José Afonso da Silva citado por Ramayana (2009, p. 41) expõe que a) sufrágio capacitário: reserva o direito de voto para pessoas que tenham um determinado grau de instrução; b) sufrágio censitário: restringe o voto a determinadas pessoas com certas condições de fortuna. Os sufrágios capacitário e censitário não são mais utilizados no Brasil. Os exemplos se referem ao período da Constituição Imperial de 1824. Atualmente ainda encontramos fragmentos do sufrágio restrito em relação aos estrangeiros, conscritos e absolutamente incapazes (RAMAYANA, 2009, p. 41- 42).

Representa o direito de votar e ser votado e é considerado universal quando se outorga o direito de votar a todos que preencham requisitos básicos previstos na Constituição, sem restrições derivadas de condição de raça, de fortuna, de instrução, de sexo ou de convicção religiosa.

Identifica um sistema no qual o voto é um dos instrumentos de deliberação.

Os conceitos apresentados serão exaustivamente cobrados em todos

os capítulos daqui por diante. Procure fixá-los para melhor aproveitamento de

nosso conteúdo.

Vamos conhecer um pouco sobre o plebiscito, o referendo e a iniciativa

popular.

2.3 Do plebiscito, do referendo e da iniciativa popular

Ao lado dos conceitos estudados, temos ainda dois institutos de

exercício do poder, na verdade três, já que o Art. 14 da Constituição Federal

menciona o plebiscito, o referendo e a iniciativa popular, mas aqui daremos

ênfase apenas aos dois primeiros.

Spitzcovsky e Moraes (2009, p. 10) consideram que os dois

instrumentos – plebiscito e referendo – “têm em comum o fato de surgirem como

meios de consulta direta à população”. Distintos, porém, uma vez que “o plebiscito

surge como instrumento de consulta direta à população, em caráter originário,

enquanto o referendo, em caráter derivado ou secundário”.

Esses instrumentos estão regrados pela Lei n. 9.709/98, que

regulamenta o Art. 14 da Constituição e dispõe em seu Art. 3° que,

Nas questões de relevância nacional, de competência do Poder Legislativo ou do Poder Executivo, e no caso do § 3o do art. 18 da Constituição Federal, o plebiscito e o referendo são convocados mediante decreto legislativo, por proposta de um terço, no mínimo, dos membros que compõem qualquer das Casas do Congresso Nacional, de conformidade com esta Lei.

Se caso for aprovado, o ato convocatório, as providências para dar

seguimento ao procedimento estão contidas no Art. da mencionada lei.

Vejamos quais são essas providências.

Art. 8o Aprovado o ato convocatório, o Presidente do Congresso Nacional dará ciência à Justiça Eleitoral, a quem incumbirá, nos limites de sua circunscrição: I – fixar a data da consulta popular; II – tornar pública a cédula respectiva; III – expedir instruções para a realização do plebiscito ou referendo; IV – assegurar a gratuidade nos meios de comunicação de massa concessionários de serviço público, aos partidos políticos e às frentes suprapartidárias organizadas pela sociedade civil em torno da matéria em questão, para a divulgação de seus postulados referentes ao tema sob consulta.

Como exemplo desses instrumentos, mencionamos duas ocorrências

recentes no Brasil. Veja no quadro 3.

Quadro 3 - Distinção entre plebiscito e referendo

PLEBISCITO REFERENDO O plebiscito realizado em nosso país para que a população pudesse decidir acerca da forma e do sistema de governo, por força expressa determinação estabelecida no Art. 2º do ato das disposições constitucionais transitórias disposto a seguir. Art. 2º ADCT Art. 2º. No dia 7 de setembro de 1993, o eleitorado definirá, por meio de plebiscito, a forma (república ou monarquia constitucional) e o sistema de governo (parlamentarismo ou presidencialismo) que devem vigorar no país.

O referendo realizado no Brasil, em outubro de 2005, a fim de que a população opinasse confirmando ou não as regras já estabelecidas pelo Art. 35 do Estatuto do desarmamento [Lei n.10.826/2003]. Art. 35. É proibida a comercialização de arma de fogo e munição em todo o território nacional, salvo para as entidades previstas no art. 6º desta Lei. § 1º Este dispositivo, para entrar em vigor, dependerá de aprovação mediante referendo popular, a ser realizado em outubro de 2005. § 2º Em caso de aprovação do referendo popular, o disposto neste artigo entrará em vigor na data de publicação de seu resultado pelo Tribunal Superior Eleitoral.

Fonte: Spitzcovsky e Moraes (2009, p. 11)

A iniciativa popular, assegurada no inciso III do Art. 14 também é

regulamentada pela Lei 9.709/98. Ressalta-se, contudo, que o Art. 13 da referida

lei apenas repete as regras do Art. 61 § 2° da Constituição, como podemos ver no

quadro 4.

Quadro 4 - Iniciativa popular

CONSTITUIÇÃO FEDERAL LEI 9.709/98 Art. 61 § 2º - A iniciativa popular pode ser exercida pela apresentação à Câmara dos Deputados de projeto de lei subscrito por, no mínimo, um por cento do eleitorado nacional, distribuído pelo menos por cinco Estados, com não menos de três décimos por cento dos eleitores de cada um deles.

Art. 13. A iniciativa popular consiste na apresentação de projeto de lei à Câmara dos Deputados, subscrito por, no mínimo, um por cento do eleitorado nacional, distribuído pelo menos por cinco Estados, com não menos de três décimos por cento dos eleitores de cada um deles. § 1o O projeto de lei de iniciativa popular deverá circunscrever-se a um só assunto. § 2o O projeto de lei de iniciativa popular não poderá ser rejeitado por vício de forma, cabendo à Câmara dos Deputados, por seu órgão competente, providenciar a correção de eventuais impropriedades de técnica legislativa ou de redação.

Fonte: Brasil (1988), Brasil (1998)

Pelo quadro apresentado percebemos que a Lei apenas

regulamenta, nos parágrafos 1° e 2°, a recepção do projeto de lei, sem

contrariar ao disposto na Constituição. Ademais, como afirmam Spitzcovsky e

Moraes (2009, p. 11), pela redação do texto constitucional “cumpre notar que a

observância dos requisitos ali estabelecidos não assegura a aprovação do

projeto encaminhado, mas, tão somente, o seu recebimento pela câmara dos

Deputados”.

Uma matéria importante em nosso contexto é a aquisição dos direitos

políticos. Passemos à sua análise.

2.4 Aquisição dos direitos políticos

De acordo com Tavares (2006, p. 699), os direitos políticos e a

cidadania são adquiridos “por meio do alistamento eleitoral, a ser realizado na

forma da lei”. Como explica o autor

O alistamento eleitoral é a efetiva apresentação do indivíduo perante a Justiça Eleitoral, solicitando o seu enquadramento como eleitor. O alistamento eleitoral é obrigatório para os brasileiros maiores de dezoito anos de idade. É, ao contrário, facultativo para os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos de idade (Art. 14, § 1°, I e II da CF)

Antes de analisar os requisitos do alistamento eleitoral, investigaremos

o que é e como se dá o alistamento eleitoral.

2.4.1 Do alistamento eleitoral

Para Ramayana (2009, p. 44-45), o alistamento eleitoral pode ser

considerado como o “instrumento que ordena a manifestação individual do

eleitor”. Como ensina o autor, o alistamento é a fase inicial do processo

eleitoral e “decorre de um procedimento administrativo cartorário que se perfez

pelo preenchimento do requerimento de alistamento eleitoral (RAE), na forma

da Resolução (TSE n. 21.538\ 2003)”.

É também de Ramayana (2009, p. 45) a afirmativa de que é, por

meio do alistamento eleitoral, “que a pessoa qualifica-se e inscreve-se como

eleitor, passando a ter o atributo jurígeno constitucional da cidadania, podendo

votar e, portanto, exteriorizar sua capacidade eleitoral ativa”.

Saiba Mais

Para conhecer as etapas do procedimento do alistamento eleitoral,

que tem início com o preenchimento do RAE pelo servidor da Justiça Eleitoral,

dê uma olhada na Resolução do TSE n. 21.538/2003, no sítio

<www.tse.jus.br>.

Caso o eleitor devidamente alistado necessite transferir o seu título? A

matéria também encontra respaldo na Resolução n. 521.538/2003,

especialmente no Art. 18 que dispõe acerca dos pressupostos para a

transferência do eleitor. Ressalte-se que as exigências requeridas são

justificáveis sob o ponto de vista da tentativa de evitar burla à legislação

eleitoral. Vejamos essas exigências no Art. 18 da Resolução n. 521.538.

Art. 18. A transferência do eleitor só será admitida se satisfeitas as seguintes exigências: I - recebimento do pedido no cartório eleitoral do novo domicílio no prazo estabelecido pela legislação vigente; II - transcurso de, pelo menos, um ano do alistamento ou da última transferência;

III - residência mínima de três meses no novo domicílio, declarada, sob as penas da lei, pelo próprio eleitor (Lei n. 6.996/1982, art. 8º); IV - prova de quitação com a Justiça Eleitoral.

Se preenchidos os requisitos esposados na Lei, não há como negar

o direito ao cidadão que pleiteia a transferência do seu título de eleitor.

Como esse é um assunto muito discutido judicialmente à época das

eleições, a própria Resolução prevê as medidas cabíveis tanto para as

decisões que negarem o alistamento como a transferência, observados os

prazos distintos estabelecidos quanto ao deferimento e ao indeferimento do

alistamento e da transferência. Ramayana (2009, p. 48) nos ensina

O despacho do juiz eleitoral que deferir o alistamento do eleitor poderá ser alvo de recurso, interposto pelos partidos políticos e, embora a lei não faça expressa menção, pelo promotor eleitoral, no prazo de dez dias. O prazo é contado da colocação da listagem dos eleitores à disposição dos partidos. Sobre o assunto, ver a Lei n. 6.996\82, Art. 7º, e a Resolução n. 21.538\03, o TSE, Art. 16,§ 1º. Ao contrário, do despacho que indeferir o pedido de alistamento, o eleitor (e entendemos que os partidos políticos e o promotor eleitoral) poderá recorrer, no prazo de cinco dias. Os partidos políticos e o Ministro Público possuem legitimidade para todos os recursos eleitorais, considerando a amplitude de suas fiscalizações e a salvaguarda da lisura do regime democrático. Sobre a transferência, a regra é idêntica (Arts. 8º da Lei n. 6.996\82 e 18, § 5º, da Resolução nº 21.538\03).

Como você perceberá, quando estudar os recursos eleitorais no

capítulo 7, os prazos de recursos em matéria eleitoral são bem mais exíguos

do que nos demais ramos do Direito.

Vamos conhecer os requisitos do ato do comparecimento ao turno

eleitoral.

2.4.2 Comparecimento ao turno eleitoral

O voto é obrigatório para os maiores de 18 e facultativo para os

analfabetos, os maiores de 70 anos e os maiores de 16 e menores de 18 anos

(Art. 14, § 1°, I e II) da Constituição Federal, ressalvados os casos especiais

em que a própria lei impõe limites (ex. conscrito e os estrangeiros). Assim o

não comparecimento às urnas para quem se enquadra na hipótese de voto

obrigatório – maiores de 18 anos – acarretará consequências.

Para Ramayana (2009, p. 48), o não comparecimento do eleitor, seja

no primeiro ou no segundo turno das eleições “enseja a aplicação de multa e,

deixando o eleitor de votar em três eleições consecutivas (Art. 71, V, do Código

Eleitoral), terá sua inscrição cancelada”.

A legislação eleitoral prevê justificativas distintas a quem não pode

comparecer às urnas. Se estiver fora de seu domicílio, é permito ao eleitor

justificar o seu voto em qualquer seção eleitoral. Aqueles que se encontrem

doentes, e/ou fora do país, também têm regras próprias. Vejamos o que diz

Ramayana (2009, p. 49)

O prazo de justificação (que não é para quem está fora do domicílio, mas para quem não votou por doença, acidente etc.) é de 60 dias (Lei n. 6.091/74, Arts. 7º e 16 da Resolução TSE 21.538/03, Art. 80). O prazo de 30 dias é para quem retorna do exterior. O Código Eleitoral está revogado tacitamente no Art. 7º, quanto ao prazo de 30 dias. É de 60 dias.

Chamamos sua atenção para o fato de que muitos artigos do Código

Eleitoral encontram-se revogados, tanto de forma tácita, como expressamente.

Algumas situações específicas suscitam dúvidas quanto à

possibilidade do exercício de voto. Esquematizamos no quadro 5 algumas

dessas situações. Analise-as com atenção!

Quadro 5 - Direito e dever de voto no Brasil

PRESOS

Se o preso que está cumprindo decisão definitiva com trânsito em julgado (Art.15, III, da Carta Magna) se encontra numa hipótese de suspensão dos direitos políticos, não poderá votar nem tampouco ser votado. A questão reside quanto às prisões cautelares ou que aguardam decisão definitiva. O preso temporariamente, em flagrante delito, em decorrência de prisão preventiva, pronúncia ou condenatória recorrível pode votar, porque não está com os direitos políticos suspenso. Impedimento legal não existe nenhum. Existe um impedimento de fato, ou seja, a impossibilidade de o preso comparecer à seção eleitoral para votar. A solução seria a criação de uma mesa receptora de votos de natureza especial para esses casos. Sustentamos que cabe à Justiça Eleitoral disciplinar essa matéria por resolução possibilitando o exercício do direito de voto aos presos não-condenados por sentença penal transitada em julgado.

ÍNDIOS

O índio pode votar? Sim, desde que tenha possibilidade de exprimir-se na língua nacional e seja habilitado pela FUNAI. Sobre o assunto, consultar o Estatuto do Índio, que faz menção ao Índio integrado, semi-integrado e não-integrado. O Estatuto do Índio (Lei n. 6.091, de 19 de dezembro de 1973) dispõe, no Art. 4º, o seguinte: Art. 4º O índio é considerado brasileiro nato (Art. 5º do Estatuto do Índio) e, no gozo de seus direitos políticos, pode ocupar os cargos privativos listados no Art. 12, § 3º da Carta Magna. No Brasil, tivemos o famoso índio Juruna que foi Deputado Federal, mas não chegou a ocupar efetivamente cargo privativo de brasileiro nato. Sobre os índios, ver ainda os Arts. 231 e 232 da CRFB. Por fim, os direitos civis e políticos dos índios ficam na dependência da verificação das condições especiais estabelecidas na legislação especial do indigenato.

SURDOS-

MUDOS

Os surdos-mudos só serão considerados absolutamente incapazes e sujeitos à suspensão dos direitos políticos (Art. 15, II da CRFB) quando não tiverem a educação adequada para exprimirem suas vontades. Os surdos-mudos devem exercer o direito de voto como qualquer pessoa apta

E

DEFICIENTES

FÍSICOS

e capaz, desde que tenham conquistando a capacidade especial de exteriorizar o voto. Não se pode excluir o surdo, os surdos-mudos e os deficientes se estiverem aptos à expressão e manifestação de vontade. A Resolução (TSE) 21.991\05 prevê no Art. 1º, § 2º, que não serão canceladas as inscrições eleitorais (títulos eleitorais) de eleitores portadores de deficiências físicas que estejam impossibilitados de votar, ou cujo cumprimento das obrigações eleitorais seja extremamente oneroso.

ESTRANGEIRO

Quanto ao estrangeiro, pouco importa se sabe a língua nacional; simplesmente não pode alistar-se. Na verdade, a restrição ao voto do estrangeiro é a consagração do sufrágio do tipo restrito, de modo que o estrangeiro não poderá votar. Diferente do brasileiro naturalizado, que poderá votar e ser votado, excetuando-se alguns cargos específicos de brasileiros natos.

Fonte: Ramayana (2009, p. 50-52)

Quando pairar dúvidas acerca do exercício do direito de voto,

relacione sempre esse direito com os conceitos de cidadania e de capacidade

de fato.

Passemos ao estudo da capacidade eleitoral ativa e passiva.

2.5 Capacidade eleitoral ativa e passiva

Você estudou o significado de direito de sufrágio no item 2.1. e, de

acordo com Bulos (2008, p. 675), esse direito “reúne, a um só tempo, as

capacidades eleitorais ativa (direito de votar = alistabilidade) e passiva (direito

de ser votado = elegibilidade)”.

De acordo com o afirmado pelo autor, a capacidade ativa, (direito de

votar) concretiza-se formalmente com o alistamento, ressaltando, contudo, que

o voto será facultativo para os maiores de 16 e menores de 18 anos, para os

analfabetos e para os maiores de 70 anos.

Já o direito de ser votado (legitimidade passiva), diferentemente do

direito de votar (legitimidade ativa) exige a observância de outros pressupostos,

que estão previstos no Art. 14, § 3° da CF. Vamos conhecê-los:

§ 3º do Art. 14 CF/88: São condições de elegibilidade, na forma da lei: I - a nacionalidade brasileira; II - o pleno exercício dos direitos políticos; III - o alistamento eleitoral; IV - o domicílio eleitoral na circunscrição; V - a filiação partidária; VI - a idade mínima de: a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente da República e Senador; b) trinta anos para Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal; c) vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado Estadual ou Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito e juiz de paz;

d) dezoito anos para Vereador.

Ao lado desses requisitos, o § 4° do Art. 14 prevê que “São

inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos.” Bulos (2008, p. 675), ao tratar dos

direitos políticos passivos – capacidade passiva – leciona que “traduzem o

direito de ser votado, ou seja, a capacidade eleitoral passiva dos cidadãos.

Seus titulares são aqueles que preenchem as condições legais e

constitucionais para serem elegíveis ou eleitos”. Essas condições são as

dispostas nos §§ 3° e 4° do Art. 14 da CF/88.

Agora estudaremos a elegibilidade e a inelegibilidade.

2.5.1 Elegibilidade

Bulos (2008, p. 675) explica que a elegibilidade pode ser

compreendida como a “possibilidade de o cidadão ser votado em pleitos

eleitorais, observado as condições exigidas para o gozo da capacidade eleitoral

passiva”. Esses requisitos você já estudou no § 3° do Art. 14 da CF/88.

2.5.2 Da inelegibilidade

O estudo das inelegibilidades é mais complexo do que a

elegibilidade, porque a doutrina apresenta uma série de classificações.

Para Ramayana (2009, p. 73), quanto à análise das elegibilidades,

deve-se levar em conta que

Os direitos políticos possibilitam ao cidadão participar na vida política com o exercício do direito de votar e ser votado. Assim, é indubitável que as inelegibilidades surgem como exceções constitucionais e infraconstitucionais, dentro do contexto normativo vigente. A exceção merece tratamento exegético restritivo. Na interpretação das inelegibilidades devem ser considerados certos fatores de razoabilidade e ponderação dos interesses entre a preservação do sistema República, as cláusulas pétreas e a capacidade eleitoral passiva. O inelegível vota, mas não é votado.

Ante as considerações do autor, o conceito de inelegibilidade pode

ser traduzido segundo ele como “restrições temporárias à capacidade eleitoral

passiva, ou seja, ao direito de ser votado. Dessa forma, o inelegível pode votar

validamente. É o caso do analfabeto.”

Ramayana (2009, p. 73) ressalta que as inelegibilidades devem

estar previstas na Constituição e em Lei Complementar. Assim argumenta

acerca de sua conclusão

Todas as inelegibilidades só podem estar previstas na Constituição Federal, por exemplo, Art. 14, §§ 4º e 7º, ou na Lei Complementar 64, de 18 de maio de 1990 (Lei de natureza Complementar). Assim, Lei Ordinária não pode tratar de hipótese de inelegibilidade, sob pena de inconstitucionalidade formal, segundo preceitua o Art. 14, § 9º da Constituição Federal, que exige lei de espécie normativa complementar para disciplinar as hipóteses de inelegibilidades.

Você que já estudou sobre as espécies normativas lembrará a regra

básica acerca de necessidade expressa na norma de que a matéria seja

disciplinada por lei complementar.

Veja no quadro 6 as espécies de inelegibilidades na Constituição e

em Lei Complementar.

Quadro 6 - Espécies de inelegibilidades

INELEGIBILIDADES

ABSOLUTAS

I. Inalistáveis

(CF/88, Art. 14, § 4°)

a) Estrangeiros (CF/88, Art. 14, § 2°) b) Conscritos (CF/88, Art. 14, § 2°) c) Menores de 16 anos (CF/88, Art. 14, § 1°, II, c) d) Menores de 18 anos não alistados (CF/88, Art. 14, § 1°, II, c)

II. Analfabetos (CF/88, Art. 14, § 4°)

RELATIVAS

I. Funcional: a) por motivo de reeleição (Art. 14, § 5°); b) por motivo de desincompatibilização (Art. 6°)

II. Reflexiva: a) cônjuge (Art. 14, § 7°); b) parentes consanguíneos ou afins (Art. 14, § 7°).

III. Militares: a) Com menos de 10 anos de serviço (CF, Art. 14, § 8°, I); b) Com mais de 10 anos de serviço (CF, Art. 14, § 8°, II);

IV. Legais:

Previstas na LC n. 64/90, alterada pela LC n. 81/94

Fonte: Bulos (2008, p. 685)

Vista as espécies de inelegibilidades, resta conhecer a distinção entre

as espécies de inelegibilidade, que são, respectivamente, as absolutas e as

relativas.

É também Bulos (2008, p. 685-686) quem nos apresenta essa

distinção. Segundo o autor, a inelegibilidade absoluta “são impedimentos totais

para pleitear qualquer cargo eletivo” e caracterizada como medida de exceção,

“que só o constituinte, e não o legislador comum pode estabelecê-la”. Já a

inelegibilidade relativa é descrita pelo autor como “restrições específicas a certos

tipos de cargos ou funções eletivas”.

Pelo quadro 6 você pôde perceber onde cada qual dessas espécies

está prevista em nosso sistema jurídico, ressaltando que as absolutas só podem

ser previstas na Constituição.

Agora veremos um pouco sobre o tema da privação dos direitos

políticos no ordenamento jurídico brasileiro.

2.6 Da privação dos direitos políticos

Conforme Bulos (2008, p. 701), de forma excepcional, os sistemas

constitucionais aceitam que os cidadãos sejam despojados de seus direitos

políticos, mas apenas em caráter excepcional e em hipóteses previamente

previstas na Constituição.

Bulos (2008, p. 701) ressalta que, embora as hipóteses de perda e

suspensão estejam previstas na Constituição Federal, ela não estabeleceu de

forma expressa o que ensejaria uma ou outra. Essa tarefa é da doutrina. Vejamos

as hipóteses contidas no Art. 15, I a V, da Constituição.

Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de: I - cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado; II - incapacidade civil absoluta; III - condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos; IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do Art. 5º, VIII; V - improbidade administrativa, nos termos do Art. 37, § 4º.

Como a distinção não está expressa na Constituição, essa tarefa

permaneceu com a doutrina.

Manoel Gonçalves Ferreira Filho citado por Ramayana (2009, p. 87)

leciona que

As pessoas privadas dos direitos políticos podem recuperá-los. Se essa privação for a dita definitiva, ou perda, dependerá do cumprimento de exigências legais. Se for a privação dita temporária ou “suspensão”, a recuperação se fará, automaticamente, pelo desaparecimento de seu fundamento ou pelo decurso do prazo.

Ramayana (2009, p. 87) destaca que

Há de considerar-se, ainda, o aspecto relativo a ponto de diferença fundamental entre a perda e suspensão dos direitos políticos, pois, na perda, o cidadão ficará afastado de suas capacidades ativas e passivas (direito de votar e ser votado) por absoluta impossibilidade de reversibilidade (reaquisição) destes direitos e deveres ou, ainda, por ato de omissão voluntária. Não haverá estipulação de prazo final do cerceamento das capacidades eleitorais. Na suspensão dos direitos políticos, o cidadão sofre a restrição por prazo fixado na lei ou aguarda a aquisição do direito pelo transcurso do prazo legal como no caso, V,G., do menor de 16 anos de idade.

Para Queiroz (2006, p. 90), a suspensão dos direitos políticos diz

respeito a uma limitação temporária ao exercício dos direitos políticos (incisos

III e V do Art. 15 da CF/88) constituindo-se essas hipóteses como causas de

suspensão (caráter punitivo) e a perda de direitos (que não está relacionada a

esse caráter punitivo), ocorre nas hipóteses dos Incisos I, II e IV do Art. 15 da

CF/88. Observe o quadro 7:

Quadro 7 - Distinção entre perda e suspensão dos direitos políticos.

Suspensão dos direitos políticos Perda dos direitos políticos Configura-se como uma limitação ao exercício dos direitos políticos posterior à sua aquisição. Tem caráter punitivo e tem por pressuposto a violação de alguma regra de convivência. É temporária visto que visa à correção e à integração social do indivíduo.

Configura-se como uma limitação ao exercício dos direitos políticos por determinada causa que, se fosse anterior à aquisição, impediria a própria aquisição desses direitos. Não tem caráter punitivo, não tem como pressuposto a violação de regras de convivência, bastando que se perca o pressuposto necessário à sua aquisição.

Fonte: Queiroz (2006, p. 90)

Como você estudou, os direitos políticos poderão excepcionalmente

ser suspensos ou perdidos, conforme as hipóteses taxativamente expressas

nos incisos I a V do Art. 15 da Constituição. Já a distinção entre as hipóteses

de perda ou suspensão é tratada apenas pela doutrina.

Saiba mais

Para saber mais acerca da perda e da suspensão dos direitos

políticos na Constituição Federal de 1988, veja o artigo do Ministro do Superior

Tribunal de Justiça - STJ - Teori Albino Zavascki, no sítio

<http://bdjur.stj.jus.br/jspui/bitstream/2011/1974/1/Direitos_Politicos_Perda_Sus

pens%C3%A3o.pdf>.

Estudamos os direitos políticos na Constituição Federal de 1988 e a

forma como esse assunto está regulamentado por Lei Complementar.

Ressaltamos que os direitos políticos perfazem o rol das espécies de direitos e

garantias fundamentais contidos na Constituição.

No próximo capítulo, você estudará a Justiça Eleitoral e reconhecerá

as suas características peculiares. Ainda apresentaremos como se dá a

atuação do Ministério Público Federal e Estadual.

Atividades

1. Paulo Armando foi condenado por crime de tráfico de entorpecentes e a

sentença que o condenou já transitou em julgado. Quais são as

consequências que recaem sobre Paulo Armando?

a) Terá suspenso os seus direitos políticos, podendo ser candidato tão logo

cumpra a pena.

b) Terá cassado os seus direitos políticos, tornando-se inelegível para

sempre.

c) Terá suspenso seus direitos políticos, sendo inelegível para qualquer

cargo pelo período de três anos, após o cumprimento da pena.

d) Terá perdido os seus direitos políticos, sendo inelegível para qualquer

cargo pelo período de três anos, após o cumprimento da pena.

2. O alistamento eleitoral e o voto, em nosso sistema eleitoral, são

considerados, ao mesmo tempo um direito e um dever. A Constituição Federal

assegura que será obrigatório

a) para o maior de 16 anos e menor de dezoito anos.

b) para o maior de 18 anos.

c) para o maior de 21 e menor que setenta anos.

d) para as mulheres de 65 e os homens de 70 anos.

3. A norma infraconstitucional que estabelece hipóteses de inelegibilidade tem

caráter de

a) Medida Provisória.

b) Lei Ordinária.

c) Emenda à Constituição.

d) Lei Complementar.

4. Os direitos políticos poderão ser perdidos e/ou suspensos. De acordo com o

que você estudou a esse respeito, responda:

a) quais são as hipóteses de perda dos direitos políticos?

b) quais são as hipóteses de suspensão dos direitos políticos?

Comentário das atividades

Na atividade 1, você acertou se apontou a letra (c), pois é uma

causa de suspensão que decorre de previsão legal contida na Lei

Complementar 64/90 em seu Art. 1° - Vejamos: “Art. 1º São inelegíveis: I - para

qualquer cargo: [...] e) os que forem condenados criminalmente, com sentença

transitada em julgado, pela prática de crime contra a economia popular, a fé

pública, a administração pública, o patrimônio público, o mercado financeiro,

pelo tráfico de entorpecentes e por crimes eleitorais, pelo prazo de 3 (três)

anos, após o cumprimento da pena”. As demais alternativas estão incorretas,

pois a letra (a) fala em suspensão, mas não considera o lapso de três anos. A

letra (b) fala em cassação, instituto diferente da suspensão e da perda. A letra

(d) fala em perda e não em suspensão.

Na atividade 2, você assinalou a letra (b), que considera o alistamento e

o voto obrigatório para os maiores de 18 anos. As demais alternativas estão

incorretas, pois a idade estabelecida na letra (a) é a de faculdade e não de dever.

Na letra (c), temos o critério de maioridade do código civil já revogado (21 anos).

Na letra (d), temos uma distinção vedada na Constituição em relação ao direito de

sufrágio – homens e mulheres são iguais.

Na atividade 3, você apontou a letra (d), que menciona Lei

Complementar que é a espécie normativa para regular a matéria visto que a

Constituição expressamente dispõe essa necessidade. As demais (a), (b) e (c)

estão incorretas por tratarem de outras espécies normativas, diversamente ao que

estabelece a Constituição.

Na atividade 4, você pesquisou acerca da distinção entre perda e

suspensão dos direitos políticos. Lembrou-se de que a suspensão dos direitos

políticos é uma limitação ao exercício dos direitos políticos posterior à sua

aquisição com caráter punitivo e tem por pressuposto a violação de alguma regra

de convivência. A perda dos direitos políticos, por sua vez, é uma limitação ao

exercício dos direitos políticos por determinada causa que se fosse anterior à

aquisição, impediria a própria aquisição desses direitos e, diferente da suspensão,

não tem caráter punitivo.

Referências

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado, 1988. ______. Código Eleitoral. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L4737.htm>. Acesso em: 12 nov. 2009. ______. Lei n. 9.709/98. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9709.htm>. Acesso em: 12 nov. 2009. ______. Resolução n. 21.538/2003. Disponível em: <http://www.tse.jus.br/servicos_online/catalogo_publicacoes/codigo_eleitoral/Volume2/resolucoes/res_21538.htm>. Acesso em: 12 nov. 2009. BULOS, Uadi Lamego. Curso de Direito Constitucional. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. QUEIROZ, Ari Ferreira de. Direito Eleitoral. 10. ed. Goiânia: IEPC, 2006. RAMAYANA, Marcos. Direito Eleitoral. 3. ed. Niterói: Impetus, 2009. SPITZCOVSKY, Celso; MORAES, Fábio Nilson Soares de. Direito Eleitoral. São Paulo: Saraiva, 2009. v. 27.b TAVARES, André Ramos. Curso de Direito Constitucional. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2006.

Capítulo 3 - Justiça Eleitoral e Ministério Público Eleitoral

Introdução

O primeiro capítulo trabalhou aspectos mais gerais da disciplina e o

segundo, a aquisição, a suspensão e a perda dos direitos políticos. Para

acompanhar o terceiro capítulo, é conveniente que você, além dos capítulos

estudados, releia o caderno de Teoria Geral do Processo e dali recolha alguns

conceitos como jurisdição, competência, sujeitos do processo etc.

Recomendamos a leitura do glossário com os principais conceitos de

Direito Eleitoral disponível no sítio do TRE - RN, que poderá ser acessado em

<http://www.trern.gov.br/nova/inicial/links_especiais/centro_de_memoria/artigos

/glossario_direitoeleitoral.htm>.

Para compreensão da composição da Justiça Eleitoral recomendamos, a

leitura do artigo A Justiça Eleitoral e sua Reforma Constitucional, da autoria de

Jeferson Schneider, disponível no sítio

<http://www.mt.trf1.gov.br/judice/jud8/just_ref.htm>.

Quanto às funções do Ministério Público, lembramos que essa é

instituição permanente e essencial à função jurisdicional do Estado (Art. 127 da

CF). As funções institucionais do Ministério Público estão fixadas no Art. 129 da

Constituição Federal, bem como a sua composição no Art. 128. Assim

recomendamos a leitura desses artigos de forma reflexiva, a fim de

compreender a extensão da sua legitimidade e competência.

Neste capítulo, trataremos tanto da composição e da competência da

Justiça Eleitoral, como do Ministério Público Eleitoral. Por fins puramente

didáticos, optamos por tratar na primeira parte da Justiça Eleitoral. Como você

perceberá, ela tem características sui generis, tal como não ter um quadro de

carreira próprio. Você compreenderá que a Justiça Eleitoral é formada por um

Tribunal Superior Eleitoral (TSE), pelos Tribunais Regionais Eleitorais (TRE),

pelos Juízes Eleitorais e pelas Juntas Eleitorais. Ainda analisaremos a

competência da Justiça Eleitoral em cada uma das suas esferas de atuação.

No que toca ao Ministério Público, você compreenderá a função

desempenhada tanto pelo Ministério Público Federal como pelo Estadual,

percebendo que o Ministério Público inaugura o Capítulo IV do Titulo IV da

Constituição Federal que trata “Das Funções Essenciais da Justiça”, assim,

pode-se dizer que, ainda conforme a Constituição, que o Ministério Público é

uma instituição permanente, fundamental à função jurisdicional do Estado,

cabendo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos

interesses sociais e individuais indisponíveis. Neste capítulo, daremos enfoque

à atuação do Ministério Público diante da jurisdição eleitoral.

3.1 Considerações iniciais acerca da Justiça Eleitoral

Como leciona Ramayana (2009, p. 27), à Justiça Eleitoral cabe “a

nobre missão de resguardar o Estado Democrático, segundo balizadores do

Art. 1º e respectivos incisos da Constituição Federal, tutelando a soberania

popular, a cidadania e o pluralismo político”. Por essa razão, foram esses

conceitos trabalhados no capítulo primeiro.

Em termos de Direito, a Justiça Eleitoral é relativamente recente no

Brasil, foi criada pelo Código Eleitoral de 1932 e apenas alçou status

constitucional com a Constituição de 1934. Tem, uma particularidade, pois

funciona com juízes de outros órgãos desde o primeiro até os graus superiores

(QUEIROZ, 2004). A composição da Justiça Eleitoral está prevista tanto na

Constituição como no Código Eleitoral como apresentamos no quadro 1.

Quadro 1 - Composição da Justiça Eleitoral

Constituição Federal Código Eleitoral

Art. 118. São órgãos da Justiça Eleitoral: I - o Tribunal Superior Eleitoral; II - os Tribunais Regionais Eleitorais; III - os Juízes Eleitorais; IV - as Juntas Eleitorais.

Art. 12. São órgãos da Justiça Eleitoral: I – O Tribunal Superior Eleitoral, com sede na Capital da República e jurisdição em todo o País; II – um Tribunal Regional, na Capital de cada Estado, no Distrito Federal e, mediante proposta do Tribunal Superior, na Capital de Território; III – juntas eleitorais; IV – juízes eleitorais.

Fonte: Constituição Federal (1998), Código Eleitoral (1965).

Passemos, pois, ao estudo e à análise de cada órgão da Justiça

Eleitoral, começando pelo Superior Tribunal Eleitoral.

3.1.1 Tribunal Superior Eleitoral

O Tribunal Superior Eleitoral, que daí por diante passamos a

denominar apenas de TSE, é o órgão de cúpula da Justiça Eleitoral. O TSE

tem sede na Capital Federal e sua jurisdição estende-se por todo o território

nacional. Suas decisões são irrecorríveis, exceto, se forem contrárias à

Constituição ou ainda, as denegatórias de mandado de segurança e/ou de

habeas corpus (SPITZCOVSKY; MORAES, 2009).

Comentamos anteriormente que a Justiça Eleitoral é bastante

peculiar especialmente quanto à sua formação. Vamos primeiro conhecer a

composição do seu órgão máximo que é o TSE, que encontra previsão no Art.

119 da Constituição Federal.

Quadro 2 - Composição do TSE

Art. 119 da Constituição Federal O Tribunal Superior Eleitoral compor-se-á, no mínimo, de sete membros, escolhidos: I - mediante eleição, pelo voto secreto: a) três juízes entre os Ministros do Supremo Tribunal Federal; b) dois juízes entre os Ministros do Superior Tribunal de Justiça; II - por nomeação do Presidente da República, dois juízes entre seis advogados de notável saber jurídico e idoneidade moral, indicados pelo Supremo Tribunal Federal. Parágrafo único. O Tribunal Superior Eleitoral elegerá seu Presidente e o Vice-Presidente entre os Ministros do Supremo Tribunal Federal, e o Corregedor Eleitoral entre os Ministros do Superior Tribunal de Justiça. Fonte: Brasil (1998, s/p)

Observada a composição do TSE, a questão que se põe é saber

qual a sua competência, que se encontra disciplinada no Código Eleitoral (Arts.

22 e 23), que recomendamos que você leia. Acesse-o pelo sítio

<www.planalto.gov.br>.

3.1.2 Tribunal Regional Eleitoral

As regras quanto à composição dos TRE estão dispostas nos Arts.

118, II e 120 da Constituição Federal. Conforme Ramayana (2009, p. 27-28), os

Tribunais Regionais Eleitorais são compostos por

02 Desembargadores dos Tribunais de Justiça (Presidente - Vice-Presidente) 02 Juízes Estaduais escolhidos pelos Tribunais de Justiça (a escolha segue o regimento interno e a Resolução- TSE nº 20.958\2001). 01 Juiz Federal escolhido pelo Tribunal Regional Federal (a escolha segue o regimento interno do TRF e a Resolução do TSE 20.958\2001). 02 Advogados (classe dos juristas). A indicação deveria ser feita pela OAB, Conselho Regional ou Seccional. No entanto, os Tribunais de Justiça elaboram uma lista tríplice (Res.TSE 20.958/2001 Art. 12) que é encaminhada ao Tribunal Superior Eleitoral, através dos Tribunais Regionais Eleitorais, e após análise pelo TSE é submetida ao Presidente da República para nomeação de um entre os três nomes indicados pelo Tribunal de Justiça.

Como temos 27 Tribunais Regionais Eleitorais, corresponde a um

Tribunal por Estado. De acordo com Ramayana (2009, p. 28), a sua

competência compreende questões desde “as fases do alistamento,

convenções, registro de candidaturas, propaganda política eleitoral e partidária,

votação, apuração e diplomação dos candidatos, além de fiscalizar a prestação

de contas anuais dos Partidos Políticos”, como se percebe, abrange toda

matéria eleitoral que possa ser discutida em âmbito de processo.

Um dos aspectos peculiares da Justiça Eleitoral é a não existência

de carreira própria, temos, segundo Ramayana (2009, p. 28), no “Art. 1º da

Res. TSE 20.958\2001 os juízes dos tribunais eleitorais, efetivos ou

substituídos, servirão obrigatoriamente por dois anos e, facultativamente, por

mais um biênio”.

3.1.3 Juízes Eleitorais

Conforme Queiroz (2004), esclarece-se que não há um cargo, mas

apenas uma função exercida por um ou mais Juízes da Comarca, de acordo

com o número de Zonas Eleitorais existentes. Caberá ao Presidente do TRE

designar os Juízes, para exercerem cumulativamente a sua função, a função

de Juiz Eleitoral.

O § 2° do Art. 120 da Constituição assegura que

Os juízes dos tribunais eleitorais, salvo motivo justificado, servirão por dois anos, no mínimo, e nunca por mais de dois biênios consecutivos, sendo os substitutos escolhidos na mesma ocasião e pelo mesmo processo, em número igual para cada categoria.

Esse artigo, de certa forma, regulamenta o período em que o

magistrado poderá funcionar como juiz eleitoral, acumulando, assim, as duas

funções jurisdicionais.

3.1.4 Juntas Eleitorais

As Juntas Eleitorais, como os demais órgãos, compõem a Justiça

Eleitoral e estão previstas na Constituição (Art. 118, IV da CF/88) e nos Arts. 36 a

41 do Código Eleitoral. Você já parou para pensar na distinção entre Junta e Juiz

Eleitoral? Vamos primeiro estabelecer essa distinção.

Quadro 3 - Distinção entre Junta Eleitoral e Juiz Eleitoral

Junta Eleitoral Juiz Eleitoral Órgão colegiado de natureza transitória, que tem competência exclusiva e limitada para a

apuração das eleições.

Função exercida por um ou mais Juízes da Comarca, conforme o número de Zonas

Eleitorais da localidade. Fonte: Queiroz (2004, p. 44-45)

Conforme Ramayana (2009), as Juntas Eleitorais são compostas por

um Juiz de Direito, que será o Presidente da Junta Eleitoral, que pode ou não

ser titular da zona eleitoral, e de dois a quatro cidadãos de comprovada

idoneidade. Todos devem ser nomeados pelo Presidente do Tribunal Eleitoral e

indicados pelo Juiz Eleitoral.

Uma ressalva na lei impõe limites a quem pode fazer parte da Junta

Eleitoral (Art. 36, § 3° do Código Eleitoral), ou seja, não podem ser nomeados

membros das Juntas, escrutinadores ou auxiliares, os candidatos e seus

parentes, ainda que por afinidade, até o segundo grau, inclusive, bem como o

cônjuge, membros de diretorias de partidos políticos devidamente registrados e

nomes tenham sido oficialmente publicados, as autoridades e agentes policiais,

assim como os funcionários no desempenho de cargos de confiança do

Executivo e os que pertencerem ao serviço eleitoral.

3.1.5 Competência da Justiça Eleitoral

Conforme Ramayana (2009, p. 30), a competência da Justiça

Eleitoral é exercida “entre o alistamento e a diplomação dos eleitos.” Para o

autor,

Nos anos não eleitorais, a Justiça Eleitoral atua na questão sobre alistamento, transferência de títulos, revisão do eleitorado e outras matérias especialmente disciplinadas na Resolução TSE 21.538\03. Com a diplomação dos candidatos nos anos eleitorais, a Justiça Eleitoral encerra sua competência, mas lhe cumpre ainda processar e julgar as ações decorrentes da propaganda política eleitoral, tais como: a representação por abuso do poder econômico (Art. 22. Da Lei Complementar 64, de 18 de maio de 1990) e a ação de captação ilícita de sufrágio (Art. 41-A da Lei nº 9.504\97). Outrossim, prorroga-se a competência da Justiça Eleitoral para julgar as ações de impugnação ao mandato eletivo (Art., 14,§§ 10 e 11 da Constituição Federal), e os recursos contra a expedição dos diplomas (Art. 262 do Código Eleitoral), respectivamente ajuizados no prazo de 15 e 3 dias, cujo marco inicial é a diplomação. (RAMAYAMA, 2009, p. 30)

Como se vê, a competência da Justiça Eleitoral é ampla e observa

prazos distintos do direito processual comum. Você estudará com mais detalhes o

seu procedimento no capítulo 7.

3.2 Do Ministério Público

Nesta segunda parte deste capítulo, enfocaremos a atuação do

Ministério Público junto à jurisdição eleitoral. Mas, antes de adentrar no

assunto, vamos lembrar a natureza dessa instituição, conforme prevista na

Constituição Federal

Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.

Vemos que o Ministério Público é uma instituição permanente, além

de fundamental à função jurisdicional do Estado, cabendo-lhe a defesa da

ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais

indisponíveis.

A título de esclarecimento didático, apresentamos o quadro 4, que

demonstra a divisão de planos do Ministério Público em horizontal e vertical,

quanto à sua atuação.

Quadro 4 - Do Ministério Público Eleitoral

Plano Horizontal Art. 128, I e II

Plano Vertical Art. 128, I

A divisão decorre da organização federativa, com a repartição da capacidade de auto-organização e de autogoverno entre a União, os Estados-Membros e o Distrito Federal. Essa descentralização de índole política repercute na área funcional do Ministério Público, tanto quanto na atividade jurisdicional, abrangendo o mesmo conjunto de instituições fundamentais, por meio das ações articuladas que exercem, inerentes às suas correspondentes funções. A exceção se dá por conta do Município não ter organização judicial própria, e como tal, também não ter Ministério Público próprio.

No plano vertical ou funcional somente contemplam áreas comuns especializadas na esfera da União Federal:

• o Ministério Público Federal; • o Ministério Público do Trabalho; • o Ministério Público Militar; • o Ministério Público do Distrito Federal

e Territorial.

Fonte: Michels (2006, p. 61)

Chama a atenção o fato de que a Constituição que menciona

expressamente as áreas comuns especializadas na esfera da União Federal

(Art. 128, I) silenciar-se a respeito do Ministério Público Eleitoral. Essa omissão

encontra justificativa plausível de acordo com Fávila Ribeiro citada por Michels

(2006, p. 62), sob o seguinte argumento:

A omissão, absolutamente, não coloca em dúvida a existência do Ministério Público Eleitoral, nem é de molde a suscitar questionamento sobre o seu caráter federal, por quanto a total responsabilidade pelas atividades eleitorais vem encaixada na exclusiva esfera da União Federal - a entidade política e não um processo articulado na organização do Ministério Público -, compreendendo a plenitude legiferativa, jurisdicional e executiva.

Dessa forma, a omissão da Constituição Federal, quanto à previsão

expressa do Ministério Público Eleitoral não pode ser interpretada como a

dispensa da participação dessa Instituição para atuar na Justiça Eleitoral.

A adequada interpretação do Art. 127 da Constituição reforça essa

ideia e impõe ao Ministério Público o dever de zelar pela defesa da ordem

jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais

indisponíveis, no que se subtende incluso a Justiça Eleitoral.

Ademais, além da Constituição Federal, duas outras leis disciplinam

a atuação do Ministério Público. São elas: a Lei 8.625/93 de caráter nacional e

a Lei Complementar 75/93, de caráter federal.

3.2.1 Princípios norteadores do Ministério Público

Alguns princípios orientam a atuação do Ministério Público. Entre

eles, destacaremos o princípio da unidade, da independência ou da autonomia

funcional, da indivisibilidade e do promotor natural. Vamos conhecer um pouco

de cada um deles no quadro 5.

Quadro 5 - Princípios aplicáveis ao Ministério Público Eleitoral

Princípio da Unidade

Os membros do Ministério Público integram um só órgão, sob direção única. Essa unidade se verifica tão somente dentro de cada órgão do Ministério Público de modo que as diretrizes estabelecidas na órbita federal não vinculam a esfera estadual, que continua mantendo sua autonomia.

Princípio da independência ou autonomia

funcional

É o Ministério Público órgão independente no exercício de suas funções, ou seja, mesmo internamente, só se concebe hierarquia no sentido administrativo pela chefia do Procurador-Geral da República, a nível federal, e Procurador-Geral de Justiça, a nível estadual.

Princípio da indivisibilidade

O Ministério Público é uno, uma vez que seus membros não se vinculam aos processos nos quais atuam, podendo ser substituídos uns pelos outros, de acordo com as normas legais.

Princípio do promotor natural

Esse princípio impede as designações arbitrárias de promotores para cargo ou funções de outro promotor que seria afastado compulsoriamente de suas atribuições e prerrogativas legais. Com isso, objetiva-se garantir a

imparcialidade da instituição, tanto em sua defesa quanto da sociedade que representa.

Fonte: Spitzcovsky e Moraes (2009, p. 98-99)

Reconhecidos os princípios que orientam a atuação do Ministério

Público, vamos falaremos especificamente do Ministério Público Eleitoral.

3.3 Do Ministério Público Eleitoral

Como dissemos, ao apresentar os planos horizontais e verticais, de

atuação do Ministério Público, a Constituição Federal não fez qualquer menção

expressa quanto ao Ministério Público Eleitoral ao contrário da lei, que, como

dissemos, há a Lei n. 8.625/93 de caráter nacional e a Lei Complementar

75/93, de caráter federal que disciplinam essa atuação.

Na Lei Complementar n. 75/93, encontramos alguns fundamentos

quanto à sua atribuição que valem a pena ser destacados, a exemplo do Art.

72, que estabelece que “Compete ao Ministério Público Federal exercer, no

que couber, junto à Justiça Eleitoral, as funções do Ministério Público, atuando

em todas as fases e instâncias do processo eleitoral”.

Spitzcovsky e Moraes (2009, p. 101) expõem que

A leitura do dispositivo legal reproduzido, ao estabelecer que o Ministério Público Federal exerce junto à Justiça Eleitoral todas as funções do Ministério Público, acaba por nos conduzir à diretriz estabelecida no Art. 127 da Constituição Federal, que atribuiu a ele a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis, como visto anteriormente.

Para os autores mencionados, a amplitude que se conferiu às

atribuições do Ministério Público no campo eleitoral, de forma a preservar a

normalidade das eleições, está expressa de forma clara no parágrafo único do

Art. 72 da LC n. 75/93, o qual reproduzimos a seguir.

Parágrafo único. O Ministério Público Federal tem legitimação para propor, perante o juízo competente, as ações para declarar ou decretar a nulidade de negócios jurídicos ou atos da administração pública, infringentes de vedações legais destinadas a proteger a normalidade e a legitimidade das eleições, contra a influência do poder econômico ou o abuso do poder político ou administrativo (grifo nosso).

Spitzcovsky e Moraes (2009, p. 101) complementam que “o objetivo

delineado aqui pelo legislador é exatamente o mesmo previsto pela

Constituição ao expressar sua preocupação com a normalidade das eleições, a

teor do disposto no seu Art. 14, § 9º”, cujo conteúdo, não obstante você ter

estudado na disciplina de Direito Constitucional II, aqui repetimos:

§ 9º Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para exercício de mandato considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta.

Se o Art. 127 da CF/88 incumbe ao Ministério Público a defesa da

ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais

indisponíveis, o dever de zelar pela lisura do processo eleitoral, sem dúvida,

insere-se no rol de suas funções.

A Lei 75/93 cuida ainda da estrutura do Ministério Público Eleitoral.

Vamos conhecer um pouco dessa estrutura de acordo com as disposições

dessa lei.

Se o Art. 72 cuida da competência do Ministério Público Eleitoral, o

Art. 73 atribui ao Procurador Geral da República a função de Procurador Geral-

Eleitoral, ao que chamamos a sua atenção para a divisão de plano horizontal

(veja o quadro 4 no tópico 3.2 deste capítulo). O Art. 75 dispõe, além de outras

atribuições, sobre a designação do Procurador Regional-Eleitoral.

O Art. 76 prevê a designação do Procurador Regional Eleitoral e o

Art. 77 a sua respectiva competência, que poderá ser ampliada, conforme as

necessidades locais. Esse artigo dispõe que:

Art. 77. Compete ao Procurador Regional Eleitoral exercer as funções do Ministério Público nas causas de competência do Tribunal Regional Eleitoral respectivo, além de dirigir, no Estado, as atividades do setor. Parágrafo único. O Procurador-Geral Eleitoral poderá designar, por necessidade de serviço, outros membros do Ministério Público Federal para oficiar, sob a coordenação do Procurador Regional, perante os Tribunais Regionais Eleitorais.

Quanto à recondução à função, os Procuradores Regionais

Eleitorais poderão ser reconduzidos apenas uma vez. Nesse quesito, os

Procuradores Regionais Eleitorais guardam certa semelhança com os

Magistrados que também atuam como Juízes Eleitorais. Ou seja, a regra do

Art. 121 § 2º da CF, quanto ao período de dois anos e a vedação de dois

períodos consecutivos, vale para ambos. (MICHELS, 2006).

Saiba mais

Para conhecer mais sobre o Ministério Público Eleitoral, pesquise no

sítio <http://www.angelfire.com/ut/jurisnet/art19.html>, que traz de forma

detalhada todas funções atinentes ao Ministério Público Eleitoral.

Vale ainda mencionar a limitação imposta ao Ministério Público

Eleitoral de forma a garantir a sua independência no campo eleitoral, na forma

do Art. 80 da LC n. 75/93, que prevê que a “filiação a partido político impede o

exercício de funções eleitorais por membro do Ministério Público até dois anos

do seu cancelamento”.

Com relação à Lei n. 8.625/93 – Lei Orgânica Nacional do Ministério

Público, que é de caráter nacional e dispõe acerca do Ministério Público

Estadual, destacamos dois artigos de suma importância, o Art. 10 e o Art. 32.

Vamos conhecer o teor de cada um deles.

Art. 10. Compete ao Procurador-Geral de Justiça: [...] IX - designar membros do Ministério Público para: [...] h) oficiar perante a Justiça Eleitoral de primeira instância, ou junto ao Procurador-Regional Eleitoral, quando por este solicitado; Art. 32. Além de outras funções cometidas nas Constituições Federal e Estadual, na Lei Orgânica e demais leis, compete aos Promotores de Justiça, dentro de suas esferas de atribuições: [...] III - oficiar perante a Justiça Eleitoral de primeira instância, com as atribuições do Ministério Público Eleitoral previstas na Lei Orgânica do Ministério Público da União que forem pertinentes, além de outras estabelecidas na legislação eleitoral e partidária.

Em conclusão, as regras relativas ao Ministério público Eleitoral

permitem que possa atuar tanto como parte ou ainda como custus legis, de

forma a preservar os interesses da sociedade, desenvolvendo suas atividades

tanto no campo processual penal eleitoral quanto nos procedimentos civis e

administrativos. Ressaltamos ainda que outras previsões legais relacionadas

ao campo de atuação do Ministério Público Eleitoral encontram-se na

legislação esparsa, como, por exemplo, o Código Eleitoral, a Lei das

Inelegibilidades e, ainda, da Lei Orgânica dos Partidos Políticos.

(SPITZCOVSKY; MORAES, 2009).

Estudamos a composição da Justiça Eleitoral e o Ministério Público

Eleitoral. Chamamos a atenção para o fato de a Justiça Eleitoral não ter um

quadro próprio e, quanto ao Ministério Público Eleitoral, a falta de previsão

expressa na Constituição Federal.

Neste capítulo, você estudou como é composta a Justiça Eleitoral –

TSE, TRE, Juízes e Juntas Eleitorais, reconheceu a competência de cada um

deles. Ao lado dos órgãos que compõem a Justiça Eleitoral, você estudou o

Ministério Público Eleitoral, a despeito de não conter previsão expressa na

Constituição Federal, cuja interpretação do Art. 127 se mostra clara quanto ao

seu papel de zelar pela lisura das eleições.

No próximo capítulo, você estudará os partidos políticos e o registro

de candidatos. Verá que é também uma matéria de cunho constitucional, que o

direito dos partidos políticos integram os direitos fundamentais.

Atividades

1. Os Tribunais Regionais Eleitorais como órgãos da Justiça Eleitoral têm

suas peculiaridades. Entre as alternativas, qual é a que apresenta

características corretas dos Tribunais Regionais Eleitorais?

a) Não têm caráter permanente e são constituídos a cada eleição de forma

provisória.

b) Sua composição é de juízes escolhidos pelo Presidente da República

entre os Desembargadores dos Tribunais de Justiça.

c) Têm a atribuição de diplomar os Prefeitos e os Vereadores eleitos em

seu respectivo Estado.

d) Têm a atribuição de eleger seu Presidente e Vice entre os

Desembargadores que compõem o quadro.

2. As Juntas Eleitorais são consideradas como órgãos colegiados da

Justiça Eleitoral e de caráter transitório e, para a sua composição, a lei impõe

algumas condições. Considerando que (i) Lídia é parente consanguínea, em 2º

grau, de candidato; (ii) Victor é parente por afinidade, em 4º grau, de candidato;

(iii) Alberto é esposo de candidata; (iv) Antônia pertence ao serviço eleitoral; e

(v) Felipe é médico. A nomeação para compor a Junta poderá recair sobre

a) Felipe e Antônia.

b) Felipe e Victor.

c) Felipe e Alberto.

d) Lídia e Victor.

3. Entre as funções do Ministério público Eleitoral, nos termos da Lei, pode-

se considerar de forma correta que lhe incumbe:

I – propor ação penal pública incondicionada nas hipóteses de prática de

crimes eleitorais;

II- fiscalizar as eleições em conjunto com os candidatos, os Partidos Políticos e

as Coligações;

III- oficiar nas causas de competência da Justiça Eleitoral e representar sobre a

fiel observância da legislação eleitoral e partidária;

IV- promover debates entre candidatos e Partidos Políticos, visando a

esclarecer o eleitorado sobre importância do voto consciente no processo

democrático.

Estão corretas as assertivas

a) I, II, III e IV.

b) I, II e III apenas.

c) II, III e IV apenas.

d) I, II e IV apenas.

4. A Constituição Federal não fez menção expressa ao Ministério Público

Eleitoral como nos demais casos – Ministério Público Federal, Ministério

Público do Trabalho, Ministério Público Militar e Ministério Público do Distrito

Federal e Territorial.

a) Como justificar, com base na Constituição, a atuação do Ministério

Público Eleitoral?

b) Que leis infraconstitucionais regulam a atuação do Ministério Público

Eleitoral?

Comentário das atividades

Na atividade 1, você assinalou a letra (d), pois Tribunais Regionais

Eleitorais são compostos por dois Desembargadores dos Tribunais de Justiça

(Presidente, Vice-Presidente). As demais alternativas estão incorretas, pois a

letra (a) menciona não serem permanentes, o que não procede. A letra (b) fala

em juízes escolhidos apenas entre os membros dos TJ, o que não é verdade,

pois sua composição será de dois Desembargadores dos Tribunais de Justiça,

dois Juízes Estaduais escolhidos pelos Tribunais de Justiça, um Juiz Federal

escolhido pelo Tribunal Regional Federal e dois Advogados. A letra (c) fala em

competência para diplomar prefeitos e vereadores enquanto o Art. 215 do

Código Eleitoral fala que “Art. 215. Os candidatos eleitos, assim como os

suplentes, receberão diploma assinado pelo Presidente do Tribunal Regional

ou da Junta Eleitoral, conforme o caso”.

Na atividade 2, você assinalou a letra (b), que considera como aptos a

compor a Junta Eleitoral – Felipe e Victor – por não estarem impedidos nos

termos da Lei que é clara ao dispor que: Art. 36 [...] § 3º Não podem ser

nomeados membros das Juntas, escrutinadores ou auxiliares: I - os candidatos

e seus parentes, ainda que por afinidade, até o segundo grau, inclusive, e bem

assim o cônjuge; II - os membros de diretorias de partidos políticos

devidamente registrados e cujos nomes tenham sido oficialmente publicados;

III - as autoridades e agentes policiais, bem como os funcionários no

desempenho de cargos de confiança do Executivo; e IV - os que pertencerem

ao serviço eleitoral, o que caracteriza as demais alternativas (a), (c) e (d),

como incorretas por contrariarem o disposto na Lei.

Na atividade 3, você apontou a letra (b), pois as assertivas (I), (II) e (III)

constituem atribuição do Ministério Público Eleitoral e cuidam de questões de

direito indisponível. A assertiva (IV) está incorreta, pois trata de uma liberalidade e

não de função institucional obrigatória como as demais.

Na atividade 4, você pesquisou na Constituição Federal as funções

essenciais da Justiça – no que tange ao Ministério Público, e percebeu que,

embora a Constituição não tenha feito menção expressa ao Ministério Público

Eleitoral, essa instituição está implicitamente inserida nas funções institucionais

do Ministério Público. Quanto à legislação que se aplica ao Ministério Público,

você poderá acessar no sítio <www.planalto.gov.br> tanto a Constituição

Federal como as leis infraconstitucionais que disciplinam o assunto, como a LC

75/93 e a Lei 8.625/93.

Referências

BRASIL. Constituição Federal (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado, 1988. ______. Código Eleitoral. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L4737.htm>. Acesso em: 12 nov. 2009. ______. Lei complementar n. 75, de 20 de maio de 1993. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/LCP/Lcp75.htm>. Acesso em: 12 nov. 2009. ______. Lei n. 8.625, de 12 de fevereiro de 1993. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8625.htm>. Acesso em: 12 nov. 2009. MICHELS, Vera Maria Nunes. Direito Eleitoral. 5. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006. QUEIROZ, Ari Ferreira de. Direito Eleitoral. 10. ed. Goiânia: IEPC, 2006. RAMAYANA, Marcos. Direito Eleitoral. 3. ed. Niterói: Impetus, 2009. SPITZCOVSKY, Celso; MORAES, Fábio Nilson Soares de. Direito Eleitoral. São Paulo: Saraiva, 2009. v. 27.

Capítulo 4 – Dos partidos políticos e do registro dos candidatos

Introdução

Também trataremos de dois tópicos importantes no quarto capítulo,

que são respectivamente os partidos políticos e o registro das candidaturas e

suas peculiaridades. Comecemos, pois, pelos partidos políticos que compõem

os direitos fundamentais do cidadão.

Em um único artigo (Art. 17), a CF/88 dispõe sobre os partidos

políticos acerca de sua liberdade de criação, fusão, incorporação e extinção,

desde que resguardada a soberania nacional, o regime democrático, o

pluripartidarismo e os direitos fundamentais da pessoa humana. Além disso,

estabelece alguns princípios nos quatro incisos que o compõem. Estudaremos

ainda algumas leis ordinárias e resoluções do TSE, que também regulam os

partidos políticos.

Com relação ao registro das candidaturas, veremos que o registro

dos candidatos não é um ato isolado, mas que observa todo um processo que

não pode contrariar a Constituição. Por essa razão, a opção de estudar os dois

tópicos em um mesmo capítulo.

Para estudar os partidos políticos e o processo de registro das

candidaturas, é necessário que você releia o que estudou acerca dos direitos

políticos no segundo capítulo. Essa releitura proporcionará as bases

necessárias para compreender como a garantia dos direitos políticos é

importante para constituir as bases de um Estado Democrático de Direito.

Sugerimos a leitura do Art. 17 da Constituição e da Lei n. 9.096/95,

que dispõe sobre os partidos políticos. Ela poderá ser acessada no sítio

<www.planalto.gov.br>.

4.1 Considerações iniciais acerca dos partidos políticos

De acordo com Spitzcovsky e Moraes (2009), os partidos políticos

estão disciplinados no Capítulo V do título II da Constituição Federal de 1988,

ou seja, dentro do tópico dos “Direitos e Garantias Fundamentais”. Para os

autores isso significa que

[...] as normas que regulam toda atividade partidária só poderão ser compreendidas, em sua essência, a partir do entendimento do papel

exercido por essas agremiações em um Estado Democrático de Direito [...] Com efeito, o cerne do conceito de democracia está, indubitavelmente, na noção de Governo do povo, revelado pela própria etimologia do termo. A busca pelo alcance desse ideal foi uma constante na história do Homem, registrando-se três momentos em particular: a revolução Inglesa de 1689; a Declaração de Independência das treze Colônias Americanas de 1776; e a Revolução Francesa de 1789.

Os partidos políticos são conceituados tanto na doutrina como na Lei

n. 9.096/95. Comecemos, pois, pelo conceito legal contido no Art. 1° da referida

Lei

Art. 1º O partido político, pessoa jurídica de direito privado, destina-se a assegurar, no interesse do regime democrático, a autenticidade do sistema representativo e a defender os direitos fundamentais definidos na Constituição Federal.

Também a doutrina é farta em conceitos. Vejamos.

Grupos sociais, geralmente regulados pelo direito público, vinculando pessoas que, tendo a mesma concepção sobre a forma desejável da sociedade do Estado, se congregam para a conquista do poder político, para realizar um determinado programa (PINTO FERREIRA citado por MICHELS, 2006, p. 155).

(i) Uma forma de agremiação de um grupo social que se propõe organizar, coordenar e instrumentalizar a vontade popular com o fim de assumir o poder para realizar seu programa de governo (JOSÉ AFONSO DA SILVA citado por SANTANA; GUIMARÃES, 2006, p. 81).

Os partidos políticos, conforme se extrai de sua definição legal, têm

natureza de pessoa jurídica de direito privado. Mas, por determinação do § 2°

do Art. 17 da CF/88, têm uma peculiaridade própria, pois, após adquirirem

personalidade jurídica na forma da lei civil, deverão registrar os seus estatutos

no Tribunal Superior Eleitoral. Para Queiroz (2006, p. 267), essa regra “[...]

impõe uma duplicidade de registros do partido: uma, para ter existência legal,

no cartório de registro das pessoas jurídicas; outra, depois daquela, para fins

políticos, no Superior Tribunal Eleitoral”.

4.1.1 Partidos políticos na Constituição Federal

O Art. 17 da Constituição Federal assegura que

Art. 17. É livre a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos, resguardados a soberania nacional, o regime democrático, o pluripartidarismo, os direitos fundamentais da pessoa humana e observados os seguintes preceitos:

I - caráter nacional; II - proibição de recebimento de recursos financeiros de entidade ou governo estrangeiros ou de subordinação a estes; III - prestação de contas à Justiça Eleitoral; IV - funcionamento parlamentar de acordo com a lei.

Comentando o artigo supra mencionado, Spitzcovsky e Moraes

(2009, p. 38), lecionam que não há dúvida quanto a “plena autonomia atribuída

aos partidos políticos, oferecendo-lhes a Constituição amplas possibilidades de

organização, respeitados, por óbvio, os parâmetros por elas estabelecidos”.

Spitzcovsky e Moraes (2009, p. 38), desta mesma leitura extraem

duas espécies de liberdade, uma “liberdade externa, consistente na criação,

fusão, incorporação e extinção dos partidos, e uma interna, referente às

atividades por eles exercidas, seu programa político e o perfil ideológico que os

identifica”.

4.1.2 Partidos políticos na Lei n. 9.096/95

A Lei n. 9.096/95 - Lei Orgânica dos Partidos Políticos – foi editada

para regulamentar o Art. 17 da Constituição Federal. Como ressaltam

Spitzcovsky e Moraes (2009, p. 40), essa lei “em alguns pontos, repete o que já

estava consignado na Constituição; em outros, acaba inovando [...]”.

O Art. 1° da referida lei reitera a diretriz constitucional quanto à

natureza jurídica dos partidos políticos como pessoas jurídicas de direito

privado. A eles é assegurada, nos termos do Art. 3º, plena autonomia para

definirem sua estrutura interna, organização e funcionamento.

4.1.3 Da criação e da extinção dos partidos políticos

O Art. 17 da Constituição Federal estabelece como os partidos

políticos podem ser criados e extintos. Queiroz (2006, p. 267) aponta duas

formas de criação em sentido macro. Para ele, pode-se falar em:

a) Criação originária: o partido político nasce de posições ideológicas, sem a sombra ou idealismo de outro partido; b) Criação derivada: o partido político advém de outro e ganha nova forma a partir de atos de fusão e ou de incorporação; na criação derivada o partido poderá conservar o nome do partido antecessor e/ou adotar novo nome.

Ressalta-se que quanto à criação dos partidos políticos também se

observam as cláusulas limitativas impostas nos quatro incisos do Art. 17 da

CF/88.

A extinção dos partidos políticos está disciplinada nos Arts. 27 e 28

da Lei 9.096/95. Vamos conhecê-los.

Art. 27. Fica cancelado, junto ao Ofício Civil e ao Tribunal Superior Eleitoral, o registro do partido que, na forma de seu estatuto, se dissolva, se incorpore ou venha a se fundir a outro. Art. 28. O Tribunal Superior Eleitoral, após trânsito em julgado de decisão, determina o cancelamento do registro civil e do estatuto do partido contra o qual fique provado: I - ter recebido ou estar recebendo recursos financeiros de procedência estrangeira; II - estar subordinado a entidade ou governo estrangeiros; III - não ter prestado, nos termos desta Lei, as devidas contas à Justiça Eleitoral; IV - que mantém organização paramilitar.

A hipótese do Art. 27 ensejará o cancelamento do registro, tanto no

Ofício Civil como no TSE, dos partidos que se dissolvam se incorporem e/ou se

fundam a outro. Diversa, porém, é a hipótese do Art. 28 que provém de fato

contrário à Constituição. Nesse caso, conforme leciona Michels (2006, p. 163),

o cancelamento deverá ser precedido de

[...] apuração em procedimento judicial regular, que assegure a ampla defesa, sendo que o processo pode ser iniciado pelo TSE, à vista de denúncia de qualquer eleitor, representante do partido, ou de representação do Procurador Geral Eleitoral.

A ampla defesa deverá ser assegurada, seja o procedimento iniciado

pelo eleitor, pelo representante do partido e/ou pelo Procurador Geral Eleitoral,

para que se observe, quanto ao partido em questão, o devido processo legal.

4.2 Considerações sobre o registro das candidaturas

Segundo Queiroz (2006), nas eleições há sempre um número maior

de candidatos em relação às vagas existentes, o que torna necessário um

processo prévio de escolha para a disputa das vagas existentes.

Essa ideia é reforçada, como ressalta o autor, pelo fato de que

nosso sistema eleitoral não admite candidaturas avulsas. Daí a necessidade

das convenções para decidir quem irá concorrer às vagas determinadas, pois a

candidatura pertence ao partido e não ao candidato. Feita essa pequena

introdução, passamos ao tema específico das convenções, o segundo tema

deste capítulo.

Para compreender de forma clara os procedimentos do registro das

candidaturas, apresentaremos no quadro 1 os passos e os requisitos do

procedimento eleitoral para que você visualize todas as etapas e perceba onde

se insere o registro da candidatura que sempre será precedido da convenção

partidária.

Quadro 1 - Etapas da aplicação do Processo Eleitoral • Alistamento eleitoral • Convenções nacionais, estaduais ou municipais para a escolha de pré-candidatos (Art. 8º da Lei n. 9.504\97) • Pedidos de registro de candidaturas (Art. 11 da Lei n. 9.504\97) • Propaganda política eleitoral (Art. 36 da Lei n. 9.504\97) • Votação • Apuração • Proclamação dos eleitos • Prestação de contas da campanha eleitoral • Diplomação

Fonte: Ramayana (2009, p. 30)

Você estudou o alistamento eleitoral no segundo capítulo. Neste,

enfocaremos as convenções e o registro das candidaturas. As demais etapas

serão estudadas nos capítulos seguintes.

4.2.1 Das regras que antecedem a escolha dos candidatos

Para Sptizcovsky e Moraes (2009, p. 28), a filiação partidária,

estabelecida como uma das condições de elegibilidade, remete a outra questão.

Como escolher os candidatos? Os autores respondem que,

Nesse particular, o primeiro aspecto a ser registrado é aquele que estabelece que as respectivas normas devam estar fixadas no estatuto de cada partido, de forma a assegurar a sua autonomia estabelecida no Art.17, § 1°, da CF, consoante a redação estabelecida no Art. 7° da Lei n. 9.504/97.

O § 1° do Art. 17 assim dispõe

É assegurada aos partidos políticos autonomia para definir sua estrutura interna, organização e funcionamento e para adotar os critérios de escolha e o regime de suas coligações eleitorais, sem obrigatoriedade de vinculação entre as candidaturas em âmbito nacional, estadual, distrital ou municipal, devendo seus estatutos estabelecer normas de disciplina e fidelidade partidária.

De sua leitura, retira-se que lhes é assegurado plena autonomia e

independência. Não obstante a disposição constitucional, o Art. 7° da Lei 9.504/97

assim estabelece “as normas para a escolha e substituição dos candidatos e para

a formação de coligações serão estabelecidas no estatuto do partido, observadas

as disposições desta Lei”.

Ambos, Constituição e Lei 9.504/97, fazem menção à observância dos

estatutos dos partidos. A Lei 9.504/97 estabelece outras regras que

obrigatoriamente devem ser seguidas pelos partidos. Entre elas, está o Art. 8° que

dispõe que “a escolha dos candidatos pelos partidos e a deliberação sobre

coligações deverão ser feitas no período de 10 a 30 de junho do ano em que se

realizarem as eleições, lavrando-se a respectiva ata em livro aberto e rubricado

pela Justiça Eleitoral”.

4.2.2 Das convenções partidárias

A convenção partidária é considerada como o processo de escolha

dos candidatos que participarão das coligações e concorrerão ao pleito.

Encontram-se as convenções partidárias disciplinadas na Lei 9.504/97.

Como dissemos no item anterior, as normas regulamentadoras

desse processo são, sobretudo, os Estatutos Internos dos respectivos partidos

que devem observar os ditames constitucionais e os limites estabelecidos na

Lei 9.504/97 (Art. 7°).

As convenções, de acordo com Michels (2006), classificam-se em

três espécies, as quais foram reproduzidas no quadro 2.

Quadro 2 - Das convenções partidárias

Convenções municipais

São compostas pelos eleitores do município, filiados ao partido, com a antecedência que for fixada em Lei ou Resolução do TSE. Participação: dirigentes partidários locais, vereadores do partido no município e os parlamentares como senadores, deputados estaduais e federais.

Convenções regionais

São compostas pelos dirigentes dos partidos em nível regional; os delegados dos partidos municipais e, eventualmente representantes de comissões diretoras municipais provisórias e os parlamentares: senadores, deputados federais e estaduais filiados ao partido.

Convenções

nacionais

Compostas pelos dirigentes dos partidos em nível nacional, os delegados dos diretórios regionais ou representantes dos órgãos regionais provisórios e os parlamentares: senadores e deputados federais.

Fonte: Michels (2006, p. 110-111)

A data da convenção partidária está estabelecida no Art. 8° da Lei

9.504/97, ou seja, como você viu, entre os dias 10 a 30 de junho do ano em

que se realizam as eleições. Como requisito de validade, a ata deverá ser

lavrada em livro aberto e rubricado pela Justiça Eleitoral. Só então cada um

dos partidos marcará a data de sua convenção conforme sua conveniência.

O § 2° do Art. 8º da Lei 9.504/97 previu que para “a realização das

convenções de escolha de candidatos, os partidos políticos poderão usar

gratuitamente prédios públicos, responsabilizando-se por danos causados com

a realização do evento”, tudo com o intuito de resguardar os princípios da

isonomia e da democracia.

4.2.3 Das coligações partidárias

Conforme Queiroz (2006, p. 111), coligação é “a reunião de dois ou

mais partidos para lançar candidatos comuns às eleições, atendendo a razões

de conveniência partidária com o escopo de alcançar o poder”. Também

prevista no Art. 6° da Lei 9.504/97.

Art. 6º É facultado aos partidos políticos, dentro da mesma circunscrição, celebrar coligações para eleição majoritária, proporcional, ou para ambas, podendo, neste último caso, formar-se mais de uma coligação para a eleição proporcional entre os partidos que integram a coligação para o pleito majoritário.

Conforme o disposto no § 1° do Art. 6°, a coligação adquirirá

nomenclatura própria e a ela serão atribuídas as prerrogativas e obrigações de

partido político no que se refere ao processo eleitoral. O Art. 6°, § 3° da Lei

9.504/97 estabelece normas que deverão ser observada pelas coligações.

Essas normas estão reproduzidas no quadro 3.

Quadro 3 - Normas aplicadas às coligações

I - Na chapa da coligação, podem inscrever-se candidatos filiados a qualquer partido político dela integrante. II - O pedido de registro dos candidatos deve ser subscrito pelos presidentes dos partidos coligados, por seus delegados, pela maioria dos membros dos respectivos órgãos executivos de direção ou por representante da coligação, na forma do inciso III. III - Os partidos integrantes da coligação devem designar um representante, que terão atribuições equivalentes às de presidente de partido político, no trato dos interesses e na representação da coligação, no que se refere ao processo eleitoral. IV - A coligação será representada perante a Justiça Eleitoral pela pessoa designada na forma do inciso III ou por delegados indicados pelos partidos que a compõem, podendo nomear até: a) três delegados perante o Juízo Eleitoral; b) quatro delegados perante o Tribunal Regional Eleitoral; c) cinco delegados perante o Tribunal Superior Eleitoral. Fonte: Brasil (1997).

Todas essas regras reforçam o entendimento de que a candidatura é

do partido e não do candidato. E a elas todos os candidatos se submetem.

Outra questão importante diz respeito à escolha dos números e dos nomes dos

candidatos. É o que passamos a analisar.

4.2.4 Nomes e números dos candidatos

O Art. 12 e seus parágrafos da Lei 9.504/97 disciplinam a questão

da nomenclatura e do número dos candidatos. O candidato deverá indicar no

pedido de registro, o seu nome completo e as variações nominais com as quais

deseja ser registrado.

Além de apresentar os nomes, o candidato também precisa de um

número que o vincule ao partido em que se encontra ligado. Como ensina

Queiroz (2006, p. 119), “cada partido é identificado por um número com duas

casas, de 10 (dez) a 99 (noventa e nove)”. A forma de atribuição dos números

obedecerá a critérios específicos para cargos majoritários e proporcionais,

conforme quadro 4.

Quadro 4 - nome e número dos candidatos

Candidatos a Presidente da República, Governador e

Prefeito

Serão identificados pelo número do partido a que estão filiados.

Eleição da renovação de 1/3 do Senado (cada partido apenas 1

candidato)

O número será o mesmo do partido.

Eleição da renovação de 2/3 do Senado (cada partido até 2

candidatos)

Cada um será identificado com o número identificador do partido mais um algarismo à direita. Ex. PMDB (15) será 151 e 152.

Candidatos a Deputado Federal

Serão identificados com o número do partido mais dois algarismos à direita. Ex. PMDB (15) será 1511, 1512 e assim por diante.

Os candidatos a Deputado

Estadual

Serão identificados com o número do partido mais três algarismos à direita. Ex. PMDB (15) será 15111, 15112 e assim por diante.

Fonte: Queiroz (2006, p. 120)

Saiba mais

Recomendamos que você leia o Art. 15 da Lei 9.504/97, o qual

dispõe acerca dos números dos candidatos.

4.2.5 Do registro dos candidatos

Os Arts. 10 a 16 da Lei 9.504/97 disciplinam o registro das

candidaturas. O pedido de registro (Art. 11 da Lei 9.504/97) será realizado por

partidos políticos e coligações junto à Justiça Eleitoral até as 19 horas do dia 5

de julho do ano das eleições. Sptizcovsky e Moraes (2009, p. 30) lembram que

O registro das candidaturas demanda a realização anterior de convenções partidárias, as quais deliberarão sobre a lista de candidatos, bem como acerca da aprovação, ou não, da formação de coligações, devendo-se realizar no período de 10 a 30 de junho do ano das eleições.

O Art. 10 dispõe que os partidos políticos poderão registrar seus

candidatos para a Câmara dos Deputados, Câmara Legislativa, Assembleias

Legislativas e Câmaras Municipais, até 150% do número de lugares a

preencher. E ainda, no § 1°, que em caso de eleições proporcionais, coligações

poderão registrar até o dobro do número de vagas a preencher. Os requisitos

para o registro formal propriamente dito são os listados no Art. 11, que impõe

ser o registro efetuado até as 19 horas do dia 5 de julho do ano que se

realizarem as eleições. Também os documentos que deverão instruir o pedido

de registro estão previstos no § 1° do Art. 11 da Lei 9.504/97. Confira os §§ 1°

e 2° do Art. 11 da Lei 9.504/97.

Art. 11. Os partidos e coligações solicitarão à Justiça Eleitoral o registro de seus candidatos até as dezenove horas do dia 5 de julho do ano em que se realizarem as eleições. § 1º O pedido de registro deve ser instruído com os seguintes documentos: I - cópia da ata a que se refere o Art. 8º; II - autorização do candidato, por escrito; III - prova de filiação partidária; IV - declaração de bens, assinada pelo candidato; V - cópia do título eleitoral ou certidão, fornecida pelo cartório eleitoral, de que o candidato é eleitor na circunscrição ou requereu sua inscrição ou transferência de domicílio no prazo previsto no Art. 9º; VI - certidão de quitação eleitoral; VII - certidões criminais fornecidas pelos órgãos de distribuição da Justiça Eleitoral, Federal e Estadual; VIII - fotografia do candidato, nas dimensões estabelecidas em instrução da Justiça Eleitoral, para efeito do disposto no § 1º do Art. 59. § 2º A idade mínima constitucionalmente estabelecida como condição de elegibilidade é verificada tendo por referência a data da posse.

Segundo Sptizcovsky e Moraes (2009, p. 30), o rol descrito no § 1°

do Art. 11 amplia as condições de elegibilidade previstas pelo Art. 14, § 3°, da

Constituição Federal, que estabelece apenas as condições mínimas para fins

de registro. Veja quais são essas condições no quadro 5.

Quadro 5 - Condições de elegibilidade

§ 3º - São condições de elegibilidade, na forma da lei:

I - a nacionalidade brasileira; II - o pleno exercício dos direitos políticos; III - o alistamento eleitoral; IV - o domicílio eleitoral na circunscrição; V - a filiação partidária; VI - a idade mínima de: a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente da República e Senador; b) trinta anos para Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal; c) vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado Estadual ou Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito e juiz de paz; d) dezoito anos para Vereador. Fonte: Brasil (1988)

Sptizcovsky e Moraes (2009, p. 30) lecionam que

[...] as idades mínimas exigidas pela Constituição, como condição de elegibilidade [Art. 14, § 3°, VI], devem estar caracterizadas nos atos da posse, e não no momento do registro da candidatura, como, já se viu ocasião em que será necessária apenas a prova do cumprimento desse requisito, a teor do disposto no Art. 11, § 2°, da Lei 9.504/97. Esse aspecto assume a importância na medida em que se revela de forma acertada, que o requisito exigido pela Constituição justifica-se para o exercício do mandato, e não para o simples registro da candidatura. Se o candidato a cargo eletivo não contar, no momento do registro de sua candidatura, a idade mínima exigida pela constituição, mas vier a completá-la até o momento da posse, então seu pleito deverá ser deferido pela Justiça Eleitoral. No entanto, cumpre observar que o conteúdo do § 2° deve ser entendido de forma restritiva, não se aplicando para as demais exigências estabelecidas no § 1°, que deverão estar cumpridas no momento do registro. Assim, se porventura algum candidato, no momento do registro de sua candidatura, não estiver na plenitude dos seus direitos políticos, será considerado inelegível.

Os requisitos do § 1° do Art. 11 deverão ser preenchidos já no

momento do registro da candidatura, sob pena de tornar o candidato inelegível

por não preencher, na forma da Lei, os pressupostos, diferentemente da

exigência de idade mínima, que poderá ser preenchido até a posse do

candidato.

Estudamos os partidos políticos e o registro das candidaturas dos

candidatos a cargos eletivos. Vimos que os partidos políticos são uma espécie de

pessoa jurídica de direito privado, mas com uma peculiaridade que é o duplo

registro. Analisamos também o processo de registro das candidaturas, que é

precedido de algumas etapas, como, por exemplo, as convenções partidárias.

No próximo capítulo, você estudará os atos preparatórios, a votação e a

apuração das eleições. Perceberá como são minuciosos esses atos e como

são resguardados os atos que cercam a votação e a sua apuração

propriamente dita.

Atividades

1. O Art. 17 da Constituição Federal dispõe acerca dos partidos políticos e

a Lei 9.096/05 os regulamenta. Com base nesses dois Diplomas, podemos

afirmar que:

I. o partido político, pessoa jurídica de direito público, destina-se a

assegurar, no interesse do regime democrático, a autenticidade do sistema

representativo e a defender os direitos fundamentais definidos na Constituição

Federal;

II. o partido político, pessoa jurídica de direito privado, necessita de registro

tanto junto ao Ofício Civil como no Tribunal Superior Eleitoral;

III. é livre a criação, a fusão e a incorporação dos partidos políticos, desde

que se respeite a soberania nacional;

IV. aos partidos políticos é licito receber recursos financeiros de entidade ou

de governos estrangeiros ou de subordinação a eles.

Está(ão) correta(s) a(s) afirmativa(s)

a) I apenas.

b) II apenas.

c) I e III apenas.

d) III apenas.

2. A utilização de um prédio público para a realização de uma convenção

partidária é

a) vedada.

b) permitida desde que haja prévia autorização do Tribunal Regional

Eleitoral e mediante pagamento de aluguel.

c) permitida de forma gratuita.

d) permitida desde que haja prévia autorização do Tribunal Superior

Eleitoral e mediante pagamento de aluguel.

3. Os partidos políticos deverão solicitar à Justiça Eleitoral o registro de

seus candidatos até o prazo máximo de

a) 19 horas do dia 5 de julho do ano em que se realizarem as eleições.

b) 18 horas do dia 5 de julho do ano em que se realizarem as eleições.

c) 19 horas do dia 30 de julho do ano em que se realizarem as eleições.

d) 18 horas do dia 10 de julho do ano em que se realizarem as eleições.

4. As coligações adquiriram nomenclatura própria e lhe serão atribuídas as

prerrogativas e obrigações de partido político. Para fins de representação

junto a Justiça Eleitoral, quantos delegados poderão ser nomeados perante

a) o TSE?

b) os TRE?

c) o juízo eleitoral?

Comentário das atividades

Na atividade 1, você assinalou a letra (b), pois leva em

consideração a natureza jurídica dos partidos políticos, que é de pessoa

jurídica de direito privado que se submete a duplo registro. As demais estão

incorretas. A alternativa (a) menciona pessoa jurídica de direito público, o que

não corresponde à natureza dos partidos políticos que são equiparados a

pessoas jurídicas de direito privado, porém com suas peculiaridades. A

alternativa (c) faz menção a apenas um dos limites impostos pela Constituição,

enquanto que esses limites são respectivamente: o resguardado a soberania

nacional, ao regime democrático, ao pluripartidarismo e aos direitos

fundamentais da pessoa humana, além dos pressupostos contidos nos incisos I

a IV. A alternativa (d) menciona ser lícito receber recursos estrangeiros, mas a

Constituição veda essa prática de forma expressa.

Na atividade 2, você apontou a letra (c), visto que considera permitido o

uso gratuito dos prédios públicos para fins de convenção partidária. Aliás, essa

é uma determinação contida no § 2° do Art. 6° da Lei 9504/97. As demais

alternativas estão incorretas por proibirem este uso e/ou por o permitirem, mas

mediante pagamento e/ou autorizações prévia do TSE.

Na atividade 3, você acertou se respondeu a letra (a), visto que é o

prazo disposto na Lei de Eleições (Lei 9504/97), Art. 11, que prevê exatamente

até as 19 horas do dia 5 de julho do ano em que se realizarem as eleições. As

demais alternativas estão incorretas por considerarem lapso temporal diverso

do expresso na Lei.

Na atividade 4, você pesquisou na Lei das Eleições acerca da

representatividade das Coligações e dos Partidos Políticos junto à Justiça

Eleitoral. Verificou que, no § 3°, IV da Lei das Eleições há uma disposição

acerca do número de Delegados em cada instância da Justiça Eleitoral.

Poderão ser nomeados: três Delegados perante o Juízo Eleitoral, quatro

Delegados perante o Tribunal Regional Eleitoral e cinco Delegados perante o

Tribunal Superior Eleitoral.

Referências

BRASIL. Constituição Federal (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado, 1988. ______. Lei n. 9.096, de 19 de setembro de 1995. Dispõe sobre partidos políticos, regulamenta os Arts. 17 e 14, § 3º, inciso V, da Constituição Federal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9096.htm>. Acesso em: 12 nov. 2009. ______. Lei n. 9.504, de 30 de setembro de 1997. Estabelece normas para as eleições. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9504.htm>. Acesso em: 12 nov. 2009. MICHELS, Vera Maria Nunes. Direito Eleitoral. 5. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006. QUEIROZ, Ari Ferreira de. Direito Eleitoral. 10. ed. Goiânia: IEPC, 2006. RAMAYANA, Marcos. Direito Eleitoral. 3. ed. Niterói: Impetus, 2009. SPITZCOVSKY, Celso; MORAES, Fábio Nilson Soares de. Direito Eleitoral. São Paulo: Saraiva, 2009. v. 27. SANTANA, Jair Eduardo; GUIMARÃES, Luís Fábio. Direito Eleitoral: para compreender a dinâmica do poder político. 2. ed. Belo Horizonte: Fórum, 2006.

Capítulo 5 – Dos atos preparatórios, da votação e da apuração das

eleições

Introdução

Neste capítulo, você estudará sobre os procedimentos preparatórios,

o próprio exercício do voto e a apuração das eleições. Verá que cada qual, em

seu contexto, é cercado da segurança necessária para a lisura das eleições.

Para estudar os atos preparatórios, o processo de votação e a

apuração dos votos, você precisa da leitura prévia da Lei n. 9.504/97 que rege

esse processo. Essa lei pode ser acessada no sítio <www.planalto.gov.br>.

Certamente você é eleitor ou ainda pode ser que seja ou venha a ser

um candidato. Tanto em uma hipótese como em outra, você seguramente já

compareceu às urnas para depositar o seu voto e pôde perceber que é um

procedimento bastante solene. Por essa razão vamos estudá-lo e você

perceberá que a lei cerca de segurança esse procedimento a fim de assegurar

o direito à democracia.

5.1 Das eleições

Você já deve ter se perguntado alguma vez, o motivo pelo qual um

determinado candidato recebeu mais votos que outro e o menos votado foi

eleito e aquele outro não. Tratamos no capítulo 4, entre outros assuntos, das

coligações. São essas, além dos sistemas que aqui apresentaremos –

proporcional e majoritário – que são responsáveis por essa peculiaridade em

nosso sistema eleitoral.

Para Ramayana (2009, p. 67), os sistemas eleitorais podem ser

conceituados como o “conjunto de técnicas legais, políticas e matemáticas, que

objetivam organizar a representação popular, com base nas circunscrições

eleitorais (divisões territoriais entre Estados, municipais, distritos, bairros etc.)”.

Vamos conhecer um pouco mais sobre os sistemas eleitorais, a

partir da exposição do quadro 1.

Quadro 1 - Sistemas eleitorais SISTEMA PROPORCIONAL SISTEMA MAJORITÁRIO

A exigência é de apenas um número mínimo de votos, podendo considerar-se como eleitos aqueles que alcançarem esse quociente mínimo.

A vitória é do candidato que tiver mais votos, considerando a maioria absoluta ou relativa. Exemplo: eleições para prefeito em municípios com menos de 200 mil eleitores e

O sistema proporcional assegura aos diferentes partidos políticos no Parlamento uma representação correspondente à força numérica de cada um. Ela objetiva fazer do Parlamento um espelho tão fiel quanto possível do colorido partidário nacional.

para as eleições de senador é adotada a maioria relativa. Em eleições para prefeitos em municípios com mais de 200 mil eleitores (Art. 29.II, da CF), governadores de Estado, distrital e presidente da República, adota-se a maioria absoluta. A maioria absoluta dá-se em dois turnos: no primeiro, é eleito o candidato que tiver mais votos que os votos de todos os concorrentes somados. Não ocorrendo essa hipótese, é realizado o segundo turno, com os dois mais votados. Em resumo, nesse sistema, os eleitores votam na pessoa, sendo o eleito aquele que obtiver mais votos. Nesse modelo, vencerá aquele que receber maior número de votos (maioria absoluta e relativa).

Fonte: Ramayana (2009, p. 67)

O nosso sistema de representatividade deixa a desejar, pois tanto

um como outro oferecem vantagens e desvantagens. Mas isso é assunto para

ser discutido em uma pauta de reforma política.

Saiba mais

Para saber mais sobre os sistemas eleitorais brasileiros, visite o blog

do professor Matheus que pode acessar no sítio

<http://profmatheus.blogspot.com/2008/04/sistemas-majoritrios-e-

proporcionais.html>. Nesse sítio, o professor trata dos sistemas eleitorais com

linguagem clara e de forma bastante acessível. Aproveite!

Alguns conceitos são fundamentais para entendermos os resultados

das eleições. Entre eles, destacaremos alguns no quadro 2.

Quadro 2 - Conceitos aplicados às regras do sistema eleitoral Votos válidos

Os votos válidos são votos da legenda partidária e de todos os candidatos; os votos nulos e em branco não entram na contagem. O Art. 106 do Código Eleitoral determina a contagem dos votos em branco, mas o dispositivo legal não foi recepcionado pelo Art. 77, § 2º, da Carta Magna.

Quociente eleitoral

O quociente eleitoral (Art. 106 do CE) é um mecanismo de cálculo determinado pela divisão do número total de votos válidos pelo número de lugares na Câmara dos Deputados, Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais. Por exemplo: na Câmara Municipal de Sumidouro, existem nove lugares para vereadores. O número 9 servirá para o critério de divisão dos votos válidos. 90.000 divididos por 9 = 10.000 votos válidos.

É o percentual (Art. 107 do CE) obtido por partido ou coligação da divisão do número de votos alcançados pela legenda pelo quociente eleitoral. Atenção: os votos de um determinado candidato contam para legenda. No exemplo anterior, o quociente partidário ocorrerá da seguinte forma: se, na cidade de Sumidouro, existirem em disputa três partidos políticos e o partido A teve 60.000 votos, o B, 20.000, e o C, 10.000, o quociente partidário (quantidade de lugares ou vagas que determinado partido obterá na eleição) dar-se-á pela divisão com o numero do quociente eleitoral. Hipótese, o partido A - 60.000 divididos por 10.000 = 6 lugares; B - 20.000 divididos por 10.000 = 2 lugares;

Quociente partidário

C- 10.000 divididos por 10.000 = 1 lugar. Para o cálculo do sistema proporcional, somam-se os votos válidos, que são os votos atribuídos aos candidatos e aos partidos políticos ou legenda. Em seguida, dividem-se os votos válidos, excluindo-se os nulos e os em branco, pelo número de vagas ou cadeiras que serão preenchidas naquela eleição específica. Sobre o assunto, consultar em relação às eleições de vereadores as Resoluções n. 21.702/04 e 21.803/04 do Egrégio Tribunal Superior Eleitoral que disciplinam o número de vagas nas Câmaras Municipais. Feita essa primeira divisão, obtém-se o quociente eleitoral. Obtido o quociente eleitoral, procura-se saber quantos votos foram conquistados por partido ou coligação e, em seguida, dividem-se os votos pelo quociente eleitoral. Feita essa divisão, chega-se ao número de cadeiras que cada partido ou coligação preencherá, o que se denomina de quociente partidário.

Fonte: Ramayana (2009, p. 68-69)

5.2 Dos pleitos eleitorais

Como leciona Spitzcovsky e Moraes (2009, p. 75), os pleitos

eleitorais ocorrerão

[...] em todo o País, no primeiro domingo de outubro do ano respectivo. Dentro desse contexto, cumpre observar que, na eleição para prefeito de municípios com mais de 200 mil eleitores e não habitantes (Art. 3º, § 2º, da Lei n. 9.504/97), se nenhum candidato alcançar maioria absoluta na primeira votação, far-se-á nova eleição no último domingo de outubro, concorrendo os dois candidatos mais votados, e considerando-se eleito o que obtiver a maioria dos votos válidos.

O Título II da IV Parte do Código Eleitoral traz as regras básicas

sobre os pleitos eleitorais, disciplinando nos Arts. 114 a 116 os atos

preparatórios à votação.

5.3 Dos atos preparatórios

Spitzcovsky e Moraes (2009, p. 75), ao comentar o Art. 114 do

Código Eleitoral, entendem que a fixação do prazo de 60 dias anteriores à data

marcada para a realização das eleições como data limite para a qualificação de

todos os eleitores e a entrega dos respectivos títulos, competindo aos juízes

eleitorais essa comunicação aos Tribunais Regionais quanto ao número de

eleitores alistados 30 dias antes, é relevante tanto para que a Justiça Eleitoral

tenha uma ideia do volume de eleitores, como para a resolução de eventuais

pendências relacionadas às listas anteriormente publicadas. O fim almejado é

sempre a realização de um pleito eleitoral transparente e que possa contribuir

com o fim almejado da realização da democracia. Assim tudo que se relaciona

com essa fase do pleito está expresso nos Arts. 114 a 116 do Código Eleitoral.

5.4 Das seções eleitorais

As disposições acerca das seções eleitorais estão arroladas nos

Arts. 117 e 118 do Código Eleitoral. Segundo o Art. 117, a organização dessas

seções se dará “à medida em que forem sendo deferidos os pedidos de

inscrição”, desde que não tenham mais de quatrocentos eleitores nas capitais

e, nem mais de trezentos e, nem menos de cinquenta eleitores, nas demais

localidades. De acordo com o § 1°, apenas nas hipóteses justificáveis, os TRE

poderão autorizar os números ultrapassados. E, com o fito de facilitar o

processo de votação, os juízes eleitorais deverão organizar uma relação

contendo os eleitores de cada seção, devendo ser remetida aos presidentes

das mesas receptoras.

5.5 Das mesas receptoras

Estão disciplinadas nos Arts. 119 a 130 do Código Eleitoral. De

acordo com o Art. 119, “a cada seção eleitoral corresponde uma mesa

receptora de votos”. A composição dessa mesa, deverá observar na forma do

Art. 120 do Código Eleitoral, “um presidente, um primeiro e um segundo

mesários, dois secretários e um suplente, nomeados pelo juiz eleitoral sessenta

dias antes da eleição, em audiência pública, anunciado pelo menos com cinco

dias de antecedência”.

A questão maior que se coloca é determinar quem pode e quem não

pode ser presidente e mesário. O § 1° do Art. 120 do CE arrola os impedidos

de comporem as mesas receptoras. Vamos identificá-los no quadro 3.

Quadro 3 - Impedimentos relativos aos membros das mesas receptoras § 1º Não podem ser nomeados presidentes e mesários: I - os candidatos e seus parentes ainda que por afinidade, até o segundo grau, inclusive, e bem assim o cônjuge; II - os membros de diretórios de partidos desde que exerça função executiva; III - as autoridades e agentes policiais, bem como os funcionários no desempenho de cargos de confiança do Executivo; IV - os que pertencerem ao serviço eleitoral. Fonte: Código Eleitoral (1965)

O § 2° do mesmo artigo contribui no sentido de apontar, ao contrário,

quem preferencialmente deve ser nomeado. Entre os nomeáveis, encontram-se

“os eleitores da própria seção, e, entre estes, os diplomados em escola

superior, os professores e os serventuários da Justiça”.

Spitzcovsky e Moraes (2009, p. 75) realçam que “da nomeação dos

integrantes das Mesas Receptoras pelo Juízo Eleitoral, os partidos poderão

recorrer ao Tribunal Regional Eleitoral, assegurado o contraditório e a ampla

defesa”, conforme determinação do Art. 121 do CE. Segundo eles, “resolvida a

questão relacionada à composição das Mesas Receptoras, os que foram

nomeados para integrá-las terão um prazo de cinco dias para apresentar

motivos para a sua recusa, bem como para declarar a existência de qualquer

impedimento” (SPITZCOVSKY; MORAES, 2009, p.75).

A competência das mesas receptoras está disposta nos Arts. 127 e

128 do Código Eleitoral, aos quais recomendamos que você os leia.

Spitzcovsky e Moraes (2009, p. 76), inferem que

[...] os trabalho dos integrantes das Mesas Receptoras serão objeto de fiscalização, não só pelo Juízo Eleitoral, mas também por cada um dos partidos políticos participantes do pleito eleitoral, que terão direito de nomear dois fiscais, com credenciais devidamente visadas, expedidas por essas agremiações ou coligações, matéria esta disciplinada não só pelo Código Eleitoral (Art. 131), mas também pela Lei n. 9.504/97, a partir do seu Art. 65.

Ressaltam os autores que a fiscalização pelos partidos políticos se

dará também de forma ampliada, objetivando alcançar “a todas as fases do

processo de votação e apuração, bem como da totalização dos resultantes, a

teor do disposto no Art. 66 da Lei n. 9.504/97”. Outras garantias estão

dispostas nos §§ 1° a 5° do Art. 66 da Lei 9.504/97. De acordo com o § 7° do

Art. 66, os partidos políticos têm ainda um sistema de fiscalização, apuração e

totalização dos resultados.

5.6 Da votação

Ramayana (2009, p. 53) compilou as regras dos manuais do TSE,

que são didaticamente apresentados nas épocas de eleição aos mesários,

juízes e membros do Ministro Público. Colacionamos algumas a fim de

apresentá-las de forma didática para facilitar o seu estudo. Ou ainda, você

poderá acessar na íntegra esse manual no sítio do TSE <www.tse.jus.br>, no

setor de publicações.

5.6.1 Das providências iniciais

A seguir, são apresentadas as etapas que compõem o processo de

votação.

a) Da instalação da mesa receptora de votos

Resumimos, no quadro 4, as principais providências dos mesários.

Quadro 4 - Responsabilidade dos mesários

Conferir todo o material de votação, verificar se ele pertence à seção. Conectar o cabo da urna na tomada de energia elétrica. Ligar a urna, girando a chave e retirando-a em seguida. (Manter a chave presa ao cabo do microterminal.) Verificar, na tela da urna, se estão corretos os dados referentes a município, zona, seção, data e hora e se a urna está operando com energia elétrica. Colocar o microterminal sobre a mesa do presidente, seguindo o layout sugerido. (Fixar os cabos da urna no chão, com fita adesiva, para evitar que o eleitor tropece neles.) Instalar a cabina de votação ao redor da urna. Afixar, em local visível na seção, a lista de candidatos Fonte: Instruções do TSE (2008, p. 6).

b) Emissão da zerésima

Essa providência deverá ser tomada às 7 horas. Seguem os passos

de forma minuciosa e didática.

Quadro 5 - Emissão da zerésima

Apertar a tecla CONFIRMA na urna, para emitir a zerésima. Havendo algum fiscal presente, convidá-lo para acompanhar o procedimento. A zerésima deve ser assinada pelo presidente e pelos mesários e fiscais presentes. Guardar a zerésima para envio à junta eleitoral, após o término da votação. Fonte: Instruções do TSE (2008, p. 6)

c) Orientações preliminares

São orientações de cunho prático e que devem ocorrer na forma

prevista em lei. Vejamos:

• Preferência para votar: alguns eleitores, ao comparecerem à

seção eleitoral, têm preferência para votar. São eles: os candidatos, os juízes e

seus auxiliares, os servidores da Justiça Eleitoral, os promotores eleitorais, os

policiais militares em serviço, os eleitores maiores de 60 anos, enfermos,

portadores de necessidades especiais, grávidas e lactantes. (INSTRUÇÕES

DO TSE, 2008, p. 6).

• Identificação do eleitor: os mesários deverão prestar real

atenção a esse quesito. Havendo qualquer dúvida sobre a identidade, o Art.

147 do CE dispõe sobre as providências a serem tomadas. A regra da

identificação também está didaticamente inserida nas Instruções do TSE (2008,

p. 6-7). Vamos a ela.

Quadro 6 - Identificação do eleitor

O eleitor é identificado com a apresentação do título eleitoral. Na falta do título, o eleitor só pode votar apresentando documento oficial de identificação com fotografia: carteira de identidade, carteira de trabalho, certificado de reservista, carteira de motorista ou identidade funcional (OAB, CRM etc.). O eleitor deve ASSINAR, no caderno de votação, ANTES DE VOTAR. Ao colher a assinatura, certifique-se de que o eleitor assinou no espaço correto, pois existem muitos nomes parecidos. O eleitor só pode votar se o seu nome constar no caderno de votação e na urna. Na hipótese de o nome não constar no caderno de votação, por falha da impressão, o eleitor pode votar, desde que os seus dados estejam no cadastro da urna. Se o título apresentado for daquela zona e seção, e o eleitor não constar no cadastro da urna, deve-se reter o título e orientar o eleitor a procurar o cartório eleitoral. No final do caderno de votação, há uma lista dos eleitores da seção impedidos de votar. Fonte: Instruções do TSE (2008, p. 6-7)

O Art. 147 em seu § 1º determina que “a impugnação à identidade

do eleitor, formulada pelos membros da mesa, fiscais, delegados, candidatos

ou qualquer eleitor, será apresentada verbalmente ou por escrito, antes de ser

o mesmo admitido a votar.” O § 2º dispõe acerca da persistência dessa dúvida

determinando as providências ao presidente da mesa expostas no quadro 7.

Quadro 7 - Dúvidas na identificação e impugnação do eleitor

I - Escrever numa sobrecarta branca o seguinte: "Impugnado por "F". II - Entregar ao eleitor a sobrecarta branca, para que ele, na presença da mesa e dos fiscais, nela coloque a cédula oficial que assinalou, assim como o seu título, a folha de impugnação e qualquer outro documento oferecido pelo impugnante. III - Determinar ao eleitor que feche a sobrecarta branca e a deposite na urna. IV - Anotar a impugnação na ata. § 3º O voto em separado, por qualquer motivo, será sempre tomado na forma prevista no parágrafo anterior. Fonte: Código Eleitoral (1965)

• Fiscalização e propaganda: são regras básicas estabelecidas

para a fiscalização e propaganda as expostas no quadro 8.

Quadro 8 - Regras aplicáveis à fiscalização e à propaganda

FISCALIZAÇÃO

Aos candidatos registrados, seus advogados, delegados e fiscais competirá: fiscalizar a votação, formular protestos e fazer impugnações. Cada partido ou coligação pode nomear, para cada mesa receptora de votos, dois fiscais, que devem atuar um de cada vez. Os fiscais podem atuar em mais de uma seção.

PROPAGANDA

Aos mesários é proibido o uso de vestuário ou objeto que contenha qualquer propaganda de partido, coligação ou candidatos. Aos fiscais só são permitidos, nas vestes ou nos crachás utilizados, o nome e a sigla do partido ou da coligação a que sirvam, vedada qualquer inscrição que caracterize pedido de voto. Aos eleitores somente é permitida a manifestação individual e silenciosa da preferência por partido, coligação ou candidato, revelada no uso de camisas, bonés, broches ou dísticos.

Fonte: Instruções do TSE (2008, p. 7)

d) Início e término da votação

O início da votação será impreterivelmente às 8 horas e o término às

17 horas. Caso haja pessoas na fila aguardando para votar, serão distribuídas

senhas, resguardando-lhes o direito de votar.

Conforme Spitzcovsky e Moraes (2009, p. 77), nas providências de

encerramento da votação o Art. 154 do Código Eleitoral estabelece uma série

de providências a serem tomadas pelo Presidente da Mesa Apuradora, entre

as quais destacamos

[...] o fechamento da urna e sua entrega para a autoridade competente, bem com a lavratura da ata da eleição, com o relato de todos os acontecimentos verificados no período de votação, tudo sob a fiscalização dos fiscais e delegados partidários.

Essas providências são essenciais ao desenvolvimento das etapas

seguintes, entre as quais a apuração das eleições, situação que passamos a

examinar.

5.7 Da apuração das eleições

As disposições acerca da competência da apuração das eleições

estão previstas no Art. 158 do Código Eleitoral, vamos identificá-las

Art. 158. A apuração compete: I - às Juntas Eleitorais quanto às eleições realizadas na zona sob sua jurisdição; II - aos Tribunais Regionais a referente às eleições para governador, vice-governador, senador, deputado federal e estadual, de acordo com os resultados parciais enviados pelas Juntas Eleitorais; III - ao Tribunal Superior Eleitoral nas eleições para presidente e vice-presidente da República, pelos resultados parciais remetidos pelos Tribunais Regionais.

Cumpre observar que o Código Eleitoral foi editado na década de

1960 e, portanto, anterior ao sistema eletrônico de apuração das eleições. não

obstante, o § 1° do Art. 174, incluído pela Lei 6.978/82, prevê que “na

apuração, poderá ser utilizado sistema eletrônico, a critério do Tribunal

Superior Eleitoral e na forma por ele estabelecida”.

Atualmente a apuração tem início tão logo encerre a votação em

todas as seções e é totalizada em pouco tempo, produzindo o resultado,

dependendo do local, em poucas horas. Com o resultado da apuração, os

candidatos eleitos serão diplomados.

5.8 Da diplomação dos candidatos

Para Spitzcovsky e Moraes (2009, p. 78), após o encerramento da

apuração de votos,

Os candidatos, antes da posse, passam pelo ato da diplomação, em sessão presidida pelo mandatário maior do Tribunal Superior Eleitoral, do Tribunal Regional Eleitoral ou da Junta Eleitoral, conforme natureza do pleito, sendo ainda possível opor recursos contra ela.

Como explicam os autores, “trata-se de um ato meramente

declaratório, uma vez que tem por objetivo apenas confirmar ou não o

resultado do pleito eleitoral”. Podendo, no prazo de 15 dias, a partir da

diplomação, ser proposta a impugnação do mandato eletivo (Art. 14, § 10, da

CF), cujo teor é o seguinte “o mandato eletivo poderá ser impugnado ante a

Justiça Eleitoral no prazo de quinze dias contados da diplomação, instruída a

ação com provas de abuso do poder econômico, corrupção ou fraude”. A

Constituição (§ 11) determina que essa ação tramitará “em segredo de justiça,

respondendo o autor, na forma da lei, se temerária ou de manifesta má-fé”.

Estudamos os atos preparatórios, a votação, a apuração e a

diplomação dos candidatos. Tudo isso precedido de noções básicas acerca de

nosso sistema eleitoral – majoritário e proporcional. Essa distinção se fez

necessária para você compreender por que, às vezes, um determinado

candidato que obtém mais votos deixa de ser eleito e outro, com menos votos,

é eleito.

Você também estudou tópicos importantes acerca dos atos

preparatórios para a votação, ou seja, aqueles que antecedem a chegada do

eleitor às urnas, em que os mesários têm de preparar o ambiente, como ligar

ligando as urnas, tirar a zerésima. Viu ainda que existe, na lei, previsão de

preferência para que determinadas pessoas realizem o exercício do voto, bem

como as peculiaridades no encerramento da votação. Falamos, por fim, sobre a

apuração, cuja totalização se dá quase imediatamente após o transcurso da

votação e da diplomação do candidato, caracterizada como um ato

declaratório.

No próximo capítulo, você estudará a propaganda política e a

prestação de contas, que são dois temas que causam grandes discussões.

Sobre a propaganda, você terá oportunidade de verificar que uma lei

específica, em 2006, modificou quase totalmente o sistema vigente buscando

maior igualdade entre os candidatos. Quanto à prestação de contas, você

perceberá que precisamos urgentemente de uma reforma política que abranja

esse aspecto, que é um tanto deficiente em nosso sistema.

Atividades

1. No dia da eleição, o horário da votação terá início impreterivelmente às 8

horas da manhã e o termino se dará às 17 horas. Após o horário determinado

em lei, poderão votar as pessoas que

a) tiverem recebido senha e entregaram seus títulos aos mesários.

b) tiverem chegado ao local de votação no prazo de tolerância de trinta

minutos, ainda que não tenham recebido senha.

c) apresentarem justificativas plausíveis e forem aceitas pelo Presidente da

Mesa.

d) comprovem morar em bairros distantes e/ou tenham qualquer dificuldade

em relação aos transportes públicos.

2. De acordo com as determinações da Lei das Eleições – Lei 9504/97, as

eleições para presidente e vice-presidente da República, governador e vice-

governador de Estado, prefeito e vice-prefeito, senador, deputado federal,

deputado estadual e vereador, ocorrerão, em todo o país, no primeiro domingo

de outubro do respectivo ano. De acordo com os comandos contidos na Lei

9.504/97 acerca das eleições, não podemos afirmar que

a) o partido eleitoral que, até um ano antes do pleito eleitoral, não tenha

registrado o seu estatuto junto ao Tribunal Superior Eleitoral, ou ainda, não

tenha constituído órgão de direção na circunscrição até a data da convenção

partidária, não poderá participar das eleições.

b) nas eleições para prefeito e vice-prefeito de municípios com mais de 200

mil habitantes, caso nenhum dos candidatos alcance a maioria absoluta na

primeira votação, ocorrerá nova eleição no último domingo do mês de outubro,

devendo a ela concorrer os candidatos que tiverem sido mais votados no

primeiro turno.

c) as eleições para presidente e vice-presidente, governador e vice-

governador de Estado, senador, deputado federal, deputado estadual, serão

sempre realizadas de forma simultânea.

d) as eleições municipais, ou seja, para prefeito e vice-prefeito e

vereadores, ocorreram impreterivelmente de forma simultânea.

3. O Código Eleitoral dispõe acerca de quem pode e quem não pode ser

mesário. Analisando a norma em questão, pode-se considerar que podem ser

nomeados como mesários

a) os funcionários que desempenhem cargos de confiança junto ao Poder

Executivo.

b) os parentes por afinidade de candidatos até o segundo grau.

c) as autoridades e os agentes policiais civis e militares.

d) os advogados e os jornalistas pertencentes à própria seção eleitoral.

4. Os componentes da mesa receptora são nomeados pelo Juiz Eleitoral.

a) Dessa nomeação caberá recurso pelos partidos políticos? Qual e em

qual prazo?

b) Dessa nomeação caberá pedido de escusa? Qual o prazo?

Comentário das atividades

Na atividade 1, você assinalou a letra (a), visto que esta alternativa

é a única que está de acordo com a lei. Vejamos o artigo que estabelece essa

regra: “Art. 153. Às 17 horas, o presidente fará entregar as senhas a todos os

eleitores presentes e, em seguida, os convidará, em voz alta, a entregar à

mesa seus títulos, para que sejam admitidos a votar”. Assim, A lei não prevê

nenhuma forma de justificativa para o voto extemporâneo, ainda que na própria

seção eleitoral, razão pela qual as demais alternativas (b), (c) e (d), estão

incorretas, pois se firmam em alguma forma de justificativa que não existe na

lei.

Na atividade 2, você marcou a letra (b), pois está incorreta devido o Art.

3°, § 2° determina de forma expressa que “§ 2º Nos Municípios com mais de

duzentos mil eleitores, aplicar-se-ão as regras estabelecidas nos §§ 1º a 3º do

artigo anterior.” Ou seja, a lei faz menção a 200 eleitores e não a 200 mil

habitantes. As demais alternativas propostas estão corretas e também com

base na determinação legal. Vejamos: Letra (a) está correta, pois é uma

exigência disposta na Lei 9.096/95, Art. 7°, § 2°: “Art. 7º O partido político, após

adquirir personalidade jurídica na forma da lei civil, registra seu estatuto no

Tribunal Superior Eleitoral. [...] § 2º Só o partido que tenha registrado seu

estatuto no Tribunal Superior Eleitoral pode participar do processo eleitoral,

receber recursos do Fundo Partidário e ter acesso gratuito ao rádio e à

televisão, nos termos fixados nesta Lei”. A letra (c) está correta com base no

artigo 1°, parágrafo único, inciso I: “Art 1º [...] Parágrafo único. Serão realizadas

simultaneamente as eleições: I - para Presidente e Vice-Presidente da

República, Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal,

Senador, Deputado Federal, Deputado Estadual e Deputado Distrital”. Letra (d)

está correta com base no artigo 1°, parágrafo único, inciso II: “[...] Parágrafo

único. Serão realizadas simultaneamente as eleições: II - para Prefeito, Vice-

Prefeito e Vereador”.

Na atividade 3, você acertou se respondeu a letra (d), visto que o Código

Eleitoral dispõe que preferencialmente deverão ser nomeados os mesários entre os

eleitores da própria seção, e, entre estes, os diplomados em escola superior, os

professores e os serventuários da Justiça”. (Art. 120, § 2º do Código Eleitoral).

Na atividade 4, você pesquisou nos Arts. 120, § 4° e 121 caput e § 1°

do Código Eleitoral que dispõem acerca do recurso dos partidos políticos e do

pedido de escusas do mesário. Tanto uma como outra (a escusa e o pedido

dos partidos políticos são no intuito de fazer valer o contraditório e a ampla

defesa). Vejamos os artigos indicados e a chave da resposta de nossa

questão:

Art. 120. Constituem a mesa receptora um presidente, um primeiro e um segundo mesários, dois secretários e um suplente, nomeados pelo juiz eleitoral sessenta dias antes da eleição, em audiência pública, anunciado pelo menos com cinco dias de antecedência. § 4° Os motivos justos que tiverem os nomeados para recusar a nomeação, e que ficarão a livre apreciação do juiz eleitoral, somente poderão ser alegados até 5 (cinco) dias a contar da nomeação, salvo se sobrevindos depois desse prazo. Art. 121 Da nomeação da mesa receptora qualquer partido poderá reclamar ao juiz eleitoral, no prazo de 2 (dois) dias, a contar da audiência, devendo a decisão ser proferida em igual prazo. § 1º Da decisão do juiz eleitoral caberá recurso para o Tribunal Regional, interposto dentro de 3 (três) dias, devendo, dentro de igual prazo, ser resolvido.

A resposta, como você pode perceber, está contida na própria

legislação.

Referências

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado, 1988. ______. Eleições 2008: instruções do TSE. 2. ed. Disponível em: <http://www.tse.gov.br/servicos_online/catalogo_publicacoes/45_instrucoes_eleicoes_2008.htm>. Acesso em: 20 set. 2009. ______. Lei 6.978, de 19 de janeiro de 1992. Estabelece normas para a realização de eleições em 1982, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L6978.htm>. Acesso em: 12 nov. 2009. ______. Código Eleitoral. Disponível em: <

http://www.tse.jus.br/servicos_online/catalogo_publicacoes/pdf/codigo_eleitoral/codigo_eleitoral2006_vol1.pdf>. Acesso em: 12 nov. 2009. RAMAYANA, Marcos. Direito Eleitoral. 3. ed. Niterói: Impetus, 2009. SPITZCOVSKY, Celso; MORAES, Fábio Nilson Soares de. Direito Eleitoral. São Paulo: Saraiva, 2009. v. 27.

Capítulo 6 – Da propaganda e das prestações de contas

Introdução

A propaganda, de maneira geral, traduz uma ideologia e nisso reside

a sua distinção em relação à publicidade. Assim a propaganda política em si

mesma é um instituto lícito. No entanto os candidatos e os partidos políticos

fazem uso dela de forma desvirtuada, que poderá ser por ofensa aos seus

princípios regentes, ou ainda, por serem consideradas criminosas, isto é,

contrárias às disposições legais. Estudaremos os elementos necessários à

licitude da propaganda política e o que pode ser considerado como prática

ilícita.

Outro ponto que abordaremos são as prestações de contas e os

financiamentos das campanhas políticas, que são questões muito discutidas

em matéria de Direito Eleitoral pela necessidade de regras mais efetivas no

sentido de cobrar transparência e responsabilidade dos candidatos.

O estudo da propaganda política e das prestações de contas requer

que você conheça as mudanças que ocorreram a partir da vigência da Lei n.

11.300/06, pois trouxe maior paridade para os que concorrem ao pleito

eleitoral. Contudo alguns artigos da Lei 9.504/97 em relação ao tema

continuam em vigor. Daí a necessidade de pesquisar também essa lei. Ambas

poderão ser acessadas no sítio <www.planalto.gov.br>.

6.1 Considerações iniciais acerca da propaganda

Para Ramayana (2009, p. 153), a propaganda, de modo geral, pode

ser conceituada como “uma forma de difundir, multiplicar e alargar a atividade

política desenvolvida nas campanhas”. De acordo com a história, a propaganda

dos tiranos era formada por três elementos: “a) um discurso demagógico; b) o

embelezamento das cidades, despertando o sentimento de orgulho do povo da

região; e c) atitudes de impacto”. (RAMAYANA (2009, p.153)

Ramayana (2009, p. 153) traça ainda um panorama histórico de

períodos e locais em relação à propaganda. Resumimos suas ideias no quadro

1.

Quadro 1 - Evolução histórica da propaganda

Roma A propaganda passou a ser exercida de forma mais institucional, originando-se uma formação de partidos políticos com estatutos e ideologias. As conquistas territoriais eram divulgadas como propagandas políticas.

Período da Inquisição

A propaganda é tratada como uma verdade religiosa, dando-se publicidade aos castigos.

Grécia Na democracia grega, a propaganda estava baseada nas condições pessoais do orador e nas retóricas.

Fonte: Ramayana (2009, p. 153)

Como se vê, a propaganda é utilizada desde os tempos mais

remotos como forma de promoção e tentativa de cooptar pessoas simpáticas a

determinada ideologia.

6.2 Da propaganda política eleitoral e partidária

Vimos no tópico anterior que propaganda é “uma forma de difundir,

multiplicar e alargar a atividade política desenvolvida nas campanhas”, nas

palavras de Ramayana (2009, p. 153).

Segundo Michels (2006, p. 73), a “propaganda eleitoral é toda ação

destinada ao convencimento do eleitor para angariar votos”. A autora lembra

que o aumento considerável da população urbana e rural, aliado à evolução

tecnológica dos meios de comunicação, e com que a propaganda adquirisse

grande importância, pois atinge de forma maciça a população.

De acordo com Joel Candido (2008), a propaganda política é um

gênero da qual decorrem três espécies: propaganda política eleitoral,

propaganda política intrapartidária e propaganda política partidária.

Conheceremos, no quadro 2, as distinções existente entre cada uma

delas.

Quadro 2 - Das espécies de propaganda

Propaganda política eleitoral

a) Conceito: propaganda que tem a finalidade de divulgar ideias e programas dos candidatos. b) Base legal: Arts. 36 a 41-A da Lei 9.504/97 e no Código Eleitoral (Arts. 240 a 256) c) Início: somente no dia 6 de julho do ano da eleição, quando é possível legalmente serem veiculados panfletos, faixas e cartazes pelos candidatos. (Art. 36 da Lei 9.504/97, o Art. 240 do CE está tacitamente revogado) d) Gratuidade: o Art. 99 da Lei n. 9504/97 prevê a compensação fiscal pela cedência do horário gratuito no rádio e na televisão. e) Forma de captação de votos usada pelos partidos políticos, coligações ou candidatos em época determinada por lei, por meio de divulgação de suas propostas, visando à eleição a cargos eletivos.

Propaganda política

intrapartidária

É a realizada pelo filiado de um partido político, no período, para isso, indicado pela lei, visando a convencer os correligionários do partido, participantes da Convenção para a escolha dos candidatos, a escolher seu nome para concorrer a um cargo eletivo. Deve

ocorrer nos 15 dias que antecedem a convenção do partido. O interessado não poderá usar a mídia para difundi-la, devendo optar por mala direta e visitas eleitorais, remessas de mensagens etc.

Propaganda política partidária

a) Conceito: a finalidade é divulgar os programas dos partidos, transmitir mensagens aos filiados sobre certos programas de atividade congressual e divulgar a posição do partido quanto aos temas de interesse nacional, como: educação, saúde, cultura, segurança pública etc. b) Base legal: Arts. 45 a 49 da Lei 9.096/95 (Lei dos Partidos Políticos). c) Vedações: não é permitida a participação de pessoas não filiadas, nem tampouco a divulgação de propaganda de candidatos, que, nesse caso, em episódios não raros, usurpam o horário para divulgar de forma antecipada suas propagandas pessoais. d) Gratuidade: são aplicáveis as mesmas regras já referidas para a propaganda política eleitoral.

Fonte: Ramayana (2009); Candido (2008)

A Lei 9.504/97 trata de todas essas espécies de propaganda,

conforme Candido (2008, p. 152), em seu Art. 36, sendo “a eleitoral, no caput;

a intrapartidária no § 1°; e, por fim, a partidária no § 2°”. Fizemos essa distinção

para você perceber que, nem sempre, as disposições de lei são respeitadas

como deveriam.

Estudaremos os princípios que regem a propaganda eleitoral como

gênero.

6.3 Princípios orientadores da propaganda eleitoral

A propaganda, especialmente por estar ligada às questões de

liberdade, deve pautar-se por alguns princípios. Candido (2008) apresenta-nos

seis princípios que regem a propaganda política como gênero. Resumimo-los

no quadro 3.

Quadro 3 - Dos princípios que regem a propaganda Princípio da legalidade

A ele se vinculam os demais princípios. Consiste na afirmação de que a lei federal que regula a propaganda é norma de ordem pública, composta por regras cogentes, indisponíveis e de incidência erga omnes.

Princípio da liberdade

Todos têm o livre direito à propaganda na forma que a lei assim o dispuser.

Princípio da responsabilidade

Toda a propaganda é de responsabilidade dos partidos políticos e coligações, solidários com os candidatos e adeptos, bem como com os órgãos de imprensa, pelos abusos e pelos excessos cometidos.

Princípio igualitário

Todos, com igualdade de oportunidades, têm direito à propaganda, paga ou gratuita.

Decorre do princípio da igualdade e significa que os partidos políticos, coligações, candidatos e adeptos

Fonte: Candido (2008, p. 154-155)

Como se vê, dos princípios apresentados, a propaganda vincula a

todos, seja partidos políticos, candidatos e meios de difusão em razão da

responsabilidade solidária que se estabelece entre eles. Ademais, todos os

aspectos da propaganda eleitoral submetem-se às regras da administração

pública.

Esse raciocínio pode ser confirmado por Spitzcovsky e Moraes

(2009, p. 55), para quem o legislador constituinte preocupou-se em “proteger a

realização do pleito contra abusos do poder político e econômico, consoante

previsão estabelecida no Art. 14, § 9º, do Texto Constitucional”. Essa regra,

segundo eles, vale também para “assegurar a normalidade e a legitimidade das

eleições, bem como a isonomia entre todos os participantes do pleito eleitoral”,

o que se aplica de forma clara à regulação da propaganda política.

Spitzcovsky e Moraes (2009, p. 55) mencionam ainda que

Reservou-se na Lei n. 9.504/97 um capítulo somente para esse tema, assim subdividido: propaganda em geral e, posteriormente, em itens específicos, relacionados aos meios de comunicação, nos quais são abordadas questões relacionadas a outdoors, imprensa, rádio e televisão. Oportuno registrar que a complexidade do tema ora em análise, em decorrência das inúmeras variantes que pode assumir, acabou por gerar a edição da Resolução n. 21.610, do TSE, exclusivamente para discipliná-lo. Nesse sentido, os comentários a serem desenvolvidos sobre esse tormentoso tema serão mesclados pela transcrição de dispositivos tanto da Lei n. 9.504/97 quanto da Resolução n. 21.610.

A Lei 11.300/06 modificou a Lei 9.504/97, chegando mesmo a

revogar alguns artigos dessa última. É na perspectiva dessa nova lei que

passamos a analisar a propaganda política.

6.4 Da época da propaganda de acordo com a Lei 9.504/97

O Art. 36 da Lei 9.504/97 dispõe que “a propaganda eleitoral

somente é permitida após o dia 5 de julho do ano da eleição.” Spitzcovsky e

Moraes (2009, p. 55) comentam esse artigo aduzindo que a propaganda

veiculada anteriormente ao período estabelecido em lei “revela-se intempestiva

Princípio da disponibilidade podem dispor da propaganda lícita, garantida e estimulada pelo Estado, já que a lei pune com sanções penais a propaganda criminosa e pune a propaganda irregular com sanções administrativas eleitorais.

Princípio do controle judicial

Incumbe a Justiça Eleitoral da aplicação das regras jurídicas sobre a propaganda e, inclusive, o exercício do seu Poder de Polícia.

e, por via de consequência inconstitucional, sujeitando o infrator às penalidades

estabelecidas no § 3º do Art. 36, desde que comprovada o seu prévio

conhecimento”. Os autores apontam uma exceção contida na própria lei (§1°

do Art. 36) que dispõe que “ao postulante a candidatura a cargo eletivo é

permitida a realização, na quinzena anterior à escolha pelo partido, de

propaganda intrapartidária com vista à indicação de seu nome, vedado o uso

de rádio, televisão e outdoor”. O que pretendeu o legislador com essa

mitigação da regra foi proporcionar ao candidato a possibilidade de divulgar

seu nome entre os membros dos partidos políticos a fim de ser escolhido na

convenção partidária de escolha dos candidatos realizada entre os dias 10 e 30

de junho do ano em que forem realizadas as eleições.

Quando ocorre o encerramento da propaganda? Segundo Candido

(2008, p. 156), “a lei não delimitou o fim do período de propaganda eleitoral, e

nem precisava fazê-lo. Naturalmente, com o fechar das urnas, na segunda fase

do processo eleitoral – a votação – encerra-se o período da propaganda lícita”.

Ressalta, ainda, que o Art. 240 do Código Eleitoral necessita de ser bem

interpretado, pois ele não proíbe, mas apenas restringe algumas formas de

propaganda no período compreendido entre 48 horas antes e 24 horas depois

das eleições, como está esquematizado na figura a seguir.

0

1 0

2 0

3 0

4 0

5 0

6 0

7 0

8 0

9 0

1 °

Trim

2 °

Trim

3 °

T rim

T rim

Les te

Oeste

Norte

ELEIÇÃO

24 H DEPOIS

Convenção 48 H ANTES para escolha candidatos

período de período de propaganda restrita propaganda ampla

Figura - Períodos de propaganda

Fonte: Candido (2008, p. 156)

Outra vedação expressa de propaganda que merece menção é a

vedação que recai sobre os bens públicos, contida no Art. 37 da Lei 9.504/97

com redação dada pela Lei 11.300/06, vejamos

Art. 37. Nos bens cujo uso dependa de cessão ou permissão do Poder Público, ou que a ele pertençam, e nos de uso comum, inclusive postes de iluminação pública e sinalização de tráfego, viadutos, passarelas, pontes, paradas de ônibus e outros equipamentos urbanos, é vedada a veiculação de propaganda de qualquer natureza, inclusive pichação, inscrição a tinta, fixação de placas, estandartes, faixas e assemelhados. (BRASIL, 2006).

Spitzcovsky e Moraes (2009, p. 57) comentam o artigo e trazem a

seguinte contribuição:

Como bem se observa o legislador, de forma correta, proibiu como regra geral, a veiculação de propaganda eleitoral em bens públicos, bem como naqueles dependentes de cessão ou permissão e, também, nos de uso comum em respeito aos princípios constitucionais que presidem a atividade administrativa, em particular, os da impessoalidade, isonomia e moralidade. Com efeito, não faria o menor sentido o Poder Público permitir a utilização de bens pertencentes à coletividade para beneficiar os interesses de determinado candidato ou específica agremiação partidária.

A Lei 11.300/06 trouxe maior rigor à disciplina da propaganda

política em nosso ordenamento jurídico, zelando pelos princípios que devem

pautar-se na administração pública.

6.5 Da classificação da propaganda política

As classificações em matéria de direito não são unívocas. Por essa

razão, traremos duas classificações de autores renomados para que você possa

adotar uma delas.

Como primeira classificação, traremos a que nos apresenta

Cerqueira (2007). Para ele, a propaganda política pode ser classificada quanto

à sua licitude, à sua regulamentação e à sua amplitude.

Quadro 4 - Classificação I da propaganda

Quanto à licitude a) Lícita: permitida nos termos da legislação e resoluções do TSE. b) Ilícita criminal: Arts. 323 a 335 e Art. 40 da Lei 9.504/97. c) Ilícita cível: Art. 243 do CE e Arts. 24, VI e 37 da Lei 9.507.

a) Propaganda eleitoral permitida em Lei: propaganda

Quanto à regulamentação legal

gratuita no rádio e na TV. b) Propaganda eleitoral proibida por Lei: Ex. propagandas em árvores e outras localidades públicas.

Quanto à amplitude

a) Lato sensu: engloba todas as espécies vistas nas classificações acima; b) Strito sensu: subdivide-se em: b.1) partidária; b.2) intrapartidária; e b.3) eleitoral propriamente dita (geral, rádio e TV gratuitos)

Fonte: Cerqueira (2007, p. 33-34)

Outra classificação que apresentamos é a de Candido (2008), que

também resumimos no quadro 5.

Quadro 5 - Classificação II da propaganda

Propaganda lícita

Tem por pressuposto o princípio da liberdade da propaganda política. Será lícita toda propaganda que não for proibida por lei (civil ou criminal). Meios: a) Divulgação escrita ou falada, de modo direto: Código Eleitoral, Art. 244, I e II – Restrições: Art. 39, § 5°, I, da Lei 9.504/97 com as modificações da Lei 11.300/06; Art. 244, parágrafo único do CE b) Divulgação pela imprensa

• Rádio e televisão • Jornal e revistas

Restrições: princípio igualitário da propaganda c) Divulgação por meios tradicionais: comícios, passeatas, carreatas, reuniões, confraternizações e participações em solenidades partidárias e sociais, distribuição de santinhos, folhetos, plataformas eleitorais etc. Restrições: Lei 9.504/97 Art. 39, § 5°, III d) Divulgação em lugares cedidos ou autorizados • Em locais públicos: colocação de faixas, cartazes, bandeiras, estandartes e outras formas de chamamentos, colocados em quadros e/ou painéis, previamente indicados por autoridades administrativas, sob o controle da Justiça eleitoral e com participação do Ministério Público (CE Art. 256) • Em prédios particulares: é livre a propaganda lícita. Restrição: legislação comum e código de posturas. Segundo o autor há: • garantia da propaganda eleitoral lícita (Art. 240, Caput, 245 e 256 do CE); • estímulo à propaganda eleitoral lícita (Arts. 248, 331 e 332 do CE)

Propaganda Irregular

Na propaganda irregular, não há proibição ou vedação, características da propaganda criminosa, mas uma restrição ao princípio da liberdade da propaganda política, em qualquer de suas modalidades. Ambas, propaganda irregular e criminosa, ensejam sanções eleitorais stricto sensu. A propaganda criminosa acarreta ao infrator, além das civis, as sanções penais, o que distingue uma da outra. São consideradas propagandas irregulares as extemporâneas (Art. 36, caput da Lei 9.504/97); as realizadas a menos de 500 metros dos prédios dos Poderes Executivo, Legislativo, Judiciário e dos hospitais, escolas, bibliotecas públicas, igrejas e teatros quando em funcionamento e ainda outros. Consequências • Cassação do registro do candidato (Art. 334 do CE). • Ineficácia contratual de candidatos e partidos com empresas que

possam burlar ou tornar inexequíveis quaisquer dispositivos do CE ou instruções do TSE;

• Cassação do direito de transmissão da propaganda partidária gratuita pelo rádio e pela televisão (Art. 45, § 2° Lei 9096/95;

• Anulabilidade da votação (Art. 222 do CE). • Solidariedade dos partidos na responsabilidade imputada aos

candidatos (Art. 241 e 243, § 1° do CE). • Inelegibilidade para as eleições a se realizarem nos três anos

subsequentes à eleição em que se verificou o ato, além da cassação do registro do candidato (LC 64/90, Art. 22, XIV).

Propaganda criminosa

Vimos a distinção entre a propaganda irregular e a criminosa no item anterior. Aqui apresentaremos apenas os tipos penais relativos a esta espécie. Código Eleitoral: Art. 323 - divulgação de fatos inverídicos; Art. 324 - calúnia, 325 - difamação e 326 - injúria; Art. 331 - inutilizar, alterar, ou perturbar meio de propaganda; Art. 332 - impedimento da propaganda eleitoral legítima; Art. 334 - utilizar atividade comercial para fins de propaganda; Art. 335 - fazer propaganda em língua estrangeira e Art. 337 - propaganda que utiliza a participação de estrangeiros desprovidos de direitos políticos. Lei 9.504/97 Art. 39, §5º, I e II - uso de alto-falantes e amplificadores de som, promoção de comício ou carreata e distribuição de material de propaganda; Art. 40 - utilização na propaganda de símbolos, frases ou imagens, associadas ou semelhantes às empregadas por órgão governamental ou entidade da Administração Indireta.

Fonte: Candido (2008, p. 157-164)

Apresentada a classificação das espécies de propagandas políticas,

apontamos a você as principais modificações advindas da Lei 11.300/06, que,

como leciona Michels (2006, p. 91), se deram quanto às vedações de algumas

espécies de propaganda e, no acréscimo do § 8° no Art. 39 da Lei 9.504/97,

que tem a seguinte redação: “É vedada a propaganda eleitoral mediante

outdoors, sujeitando-se a empresa responsável, os partidos, coligações e

candidatos à imediata retirada da propaganda irregular e ao pagamento de

multa no valor de 5.000 (cinco mil) a 15.000 (quinze mil) UFIRs”. A autora

aponta ainda outra modificação que é a do § 7°, pois sua finalidade é

justamente evitar que o candidato de maior poderio econômico possa usufruir

dessa condição e oferecer showsmícios. É o que se depreende de sua leitura:

“É proibida a realização de showmício e de evento assemelhado para

promoção de candidatos, bem como a apresentação, remunerada ou não, de

artistas com a finalidade de animar comício e reunião eleitoral”.

6.5 Da arrecadação de recursos e da prestação de contas

Como lecionam Spitzcovsky e Moraes (2009, p. 83), a arrecadação

de recursos está regrada nos Arts. 17 a 27 da Lei 9.504/97, com as

modificações advindas da Lei 11.300/06. Segundo eles, essa matéria tem por

objetivo “estabelecer limites e transparência durante as eleições, de forma a

proteger o pleito contra a influência do poder econômico ou o abuso no

exercício de função, cargo ou emprego na Administração direta e indireta”.

É certo que, com a nova lei, as exigências tornaram-se mais rígidas,

mas, ao mesmo tempo, mais fácil de controlar os gastos, razão pela qual a

legislação eleitoral exige que os partidos e coligações comuniquem à Justiça

Eleitoral o limite por candidatura, o que deverá ser providenciado juntamente

com o seu registro, sujeitando o responsável pelos excessos praticados,

conforme disposição do Art. 18 da Lei 9.504/97. No mesmo sentido, as

despesas realizadas durante a campanha eleitoral são de responsabilidade dos

partidos, sejam eles isolados ou sob coligação, ou de seus candidatos, nos

moldes do Art. 17, também da Lei 9.504/97.

Outros aspectos que merecem realce quanto à arrecadação e

prestação de contas, citamos o Art. 17-A, da Lei 9.504/97, que determina que a

cada eleição caberá à lei, observadas as peculiaridades locais, fixar até o dia

10 de junho de cada ano eleitoral o limite dos gastos de campanha para os

cargos em disputa.

O § 3o do Art. 22 da Lei 9.504/97, com a redação da Lei 11.300/06,

prevê que o uso dos recursos financeiros destinados a pagamentos dos gastos

eleitorais que não sejam provenientes de conta específica, conforme

determinação do Art. 22 caput, implicará a desaprovação da prestação de

contas do partido ou candidato.

Caso esteja comprovado abuso do poder econômico, o candidato

terá cancelado o registro da sua candidatura, ou caso já ter sido diplomado,

será cassado. E o § 4o prevê que, caso haja rejeição das contas, a Justiça

Eleitoral remeterá cópia de todo o processo ao Ministério Público Eleitoral.

A prestação de contas está disciplinada nos Arts. 28 a 32 da Lei

9.504/97. Spitzcovsky e Moraes (2009, p. 86), expõem que “o Art. 28 da Lei n.

9.504/97 estabelece uma clara distinção na prestação de contas dos

candidatos a cargos majoritários e daqueles que concorrem às eleições

proporcionais.” Explicam que

[...] enquanto para os candidatos às eleições proporcionais abriu-se a possibilidade de a prestação de contas ser realizada pelo comitê financeiro, ou pelo próprio candidato, para as majoritárias deverá ser apresentada, tão somente, pelo comitê financeiro, devendo ser instruída com as exigências fixadas no § 1º, que a seguir se reproduz: Art. 28 [...] § 1º § 1º As prestações de contas dos candidatos às eleições majoritárias serão feitas por intermédio do comitê financeiro, devendo ser acompanhadas dos extratos das contas bancárias referentes à movimentação dos recursos financeiros usados na campanha e da relação dos cheques recebidos, com a indicação dos respectivos números, valores e emitentes.

Independentemente da modalidade escolhida, frisam Spitzcovsky e

Moraes (2009, p. 86) que “a prestação de contas deverá ser encaminhada à

Justiça Eleitoral até o trigésimo dia posterior à realização das eleições e,

havendo segundo turno, no mesmo prazo”. Outra inovação da Lei 11.300/2006

foi a inclusão do § 4° do Art. 28 da Lei 9.504/97, que estipulou a

obrigatoriedade de divulgação, pela internet, nos dias 6 de agosto e 6 de

setembro, de relatórios discriminando o uso de recursos financeiros pelos

partidos, coligações e candidatos.

Portanto estudamos a propaganda política como gênero e suas

espécies e também a arrecadação de recursos e a prestação de contas. Ambos

os assuntos receberam modificações recentes com a edição da Lei 11.300/06,

que mudou a Lei das Eleições.

Você estudou a propaganda eleitoral, o seu conceito, os seus

princípios norteadores e sua classificação em lícita, irregular e criminosa,

tratando especificamente da distinção entre a propaganda irregular e a

criminosa. Nesta última, o indivíduo também sofrerá a sanção penal.

Estudamos ainda o quanto a lei das eleições foi modificada em relação à

propaganda eleitoral, a arrecadação de recursos e a prestação de contas, que

foram os últimos tópicos estudados.

No próximo capítulo, você estudará o direito processual eleitoral, os

crimes eleitorais e os recursos eleitorais. Como os seis capítulos anteriores

trataram do Direito Eleitoral em seu aspecto material, estudaremos um pouco

do Direito Processual e do Direito Penal Eleitoral.

Atividades

1. As prestações de contas dos candidatos às eleições proporcionais serão

feitas

a) pelo comitê financeiro ou pelo próprio candidato.

b) pelo partido, pelo comitê financeiro e/ou pelo próprio candidato, à

escolha deste.

c) somente pelo partido.

d) somente pelo próprio candidato.

2. A propaganda eleitoral só será permitida a partir do dia

a) 4 de julho em diante do ano respectivo das eleições.

b) 6 de julho em diante do ano respectivo das eleições.

c) 5 de julho em diante do ano respectivo das eleições.

d) 10 de julho em diante do ano respectivo das eleições.

3. A utilização, na propaganda eleitoral, de símbolos, frases ou imagens,

associadas ou semelhantes às empregadas por órgão de governo, empresa

pública ou sociedade de economia mista constitui, de acordo com a Lei das

Eleições,

a) contravenção penal.

b) infração administrativa.

c) crime.

d) ilícito civil.

4. A que se pode atribuir o rigor quanto à apresentação escorreita da

prestação de contas eleitoral?

Comentário das atividades

Na atividade 1, você assinalou a letra (a), pois a Lei das Eleições

estabelece como deve se dar a prestação de contas (Art. 28). Só para você

recordar: Art. 28. A prestação de contas será feita: I - no caso dos candidatos

às eleições majoritárias, na forma disciplinada pela Justiça Eleitoral; e II - no

caso dos candidatos às eleições proporcionais, de acordo com os modelos

constantes do Anexo desta Lei; § 1° As prestações de contas dos candidatos

às eleições majoritárias serão feitas por intermédio do comitê financeiro,

devendo ser acompanhadas dos extratos das contas bancárias referentes à

movimentação dos recursos financeiros usados na campanha e da relação dos

cheques recebidos, com a indicação dos respectivos números, valores e

emitentes. Ou seja, a lei só impõe restrição para o sistema majoritário – que

deverá ser prestada por intermédio do comitê financeiro – já para o

proporcional, tanto poderá ser pelo candidato como pelo comitê. O que torna as

demais alternativas incorretas, pois são contrárias ao disposto na lei.

Na atividade 2, você marcou a letra (b). Pois o Art. 36 da Lei das

Eleições, que determina que a propaganda, só será permitida após o dia 5 de

julho do ano em que ocorrerão as eleições. O dia imediato após o dia 5 de julho

será o dia 6 de julho, considerando-se que a propaganda que observar essa

data será considerada lícita, do contrário será considerada extemporânea e,

por sua vez, irregular, o que pode trazer consequências graves ao candidato,

ao partido e ao meio de comunicação responsável por sua veiculação. As

alternativas (a), (c) e (d) estão incorretas por listarem datas diversas da

previsão legal.

Na atividade 3, você apontou a letra (c), pois será considerado crime por

determinação expressa no Art. 40 da Lei 9.504/97, que tem a seguinte redação: o

uso, na propaganda eleitoral, de símbolos, frases ou imagens, associadas ou

semelhantes às empregadas por órgão de governo, empresa pública ou sociedade

de economia mista constitui crime, punível com detenção, de seis meses a um ano,

com a alternativa de prestação de serviços à comunidade pelo mesmo período, e

multa no valor de 10 mil a 20 mil UFIR. O que torna incorreta a alternativa (a), por

mencionar que se trata de contravenção penal, a alternativa (b), por considerar que

se trata de infração administrativa, e a alternativa (d), que considerou ser um ilícito

civil.

Na atividade 4, você pesquisou sobre as formas de prestação de contas e

os seus respectivos prazos, realçou que a preocupação do legislador é evitar o

financiamento de candidatos com recursos ilícitos e/ou advindos do erário público.

Veja a Lei das Eleições (Lei 9.504/97), com as alterações da Lei 11.300/2006.

Referências

BRASIL. Lei 9.504, de 30 de setembro de 1997. Estabelece normas para as eleições. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9504.htm>. Acesso em: 12 nov. 2009. ______. Lei 11. 300, de 10 de maio de 2006. Dispõe sobre propaganda, financiamento e prestação de contas das despesas com campanhas eleitorais,

alterando a Lei n. 9.504, de 30 de setembro de 1997. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11300.htm>. Acesso em: 12 nov. 2009. CÂNDIDO, Joel José. Direito Eleitoral Brasileiro. 13. ed. Bauru: Edipro, 2008. CERQUEIRA, Thales Tácito Pontes Luz de Pádua. Preleções de Direito Eleitoral. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2007. MICHELS, Vera Maria Nunes. Direito Eleitoral. 5. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006. RAMAYANA, Marcos. Direito Eleitoral. 3. ed. Niterói: Impetus, 2009. SPITZCOVSKY, Celso; MORAES, Fábio Nilson Soares de. Direito Eleitoral. São Paulo: Saraiva, 2009. v. 27.

Capítulo 7 – Do processo, dos crimes e dos recursos eleitorais

Introdução

Este capítulo encerra a nossa disciplina. Discutiremos a questão

processual (ações e recursos) e penal no âmbito do Direito Eleitoral. Na questão

processual, compreenderemos quais são as espécies de ações específicas do

Direito Eleitoral e qual o momento adequado para a sua propositura. Em matéria

de recursos apresentaremos a você qual é o recurso adequado em cada caso e

demonstraremos como os prazos são distintos (mais exíguos) do que no processo

civil comum. Em matéria de Direito Penal Eleitoral, conheceremos quais as

espécies de crimes são tipificados nesse ramo do Direito.

Este é o tema que mais vai exigir conhecimentos prévios.

Estudamos nos capítulos anteriores os aspectos relativos ao Direito Eleitoral

em seu aspecto material, com exceção do Direito Penal Eleitoral, que aqui lhe

apresentaremos. Para tanto, sugerimos que você dê uma olhada nos crimes

eleitorais previstos no Código Eleitoral e na Lei 9.504/97. A mesma sugestão

vale para a matéria das ações e dos recursos. Você poderá acessá-los no sítio

<www.planalto.gov.br>.

7.1 Considerações iniciais sobre os crimes eleitorais

Como lecionam Spitzcovsky e Moraes (2009, p. 126), os crimes

eleitorais estão disciplinados nos Arts. 289 e 354 do Código Eleitoral, no Capítulo

II do Título IV, denominado “Das Disposições penais”. Já no Capítulo I, nas

disposições preliminares (Arts. 283 a 288), trata de conceitos aplicáveis aos tipos

penais, como o conceito de funcionário público e de regras específicas como a

questão da quantificação de pena e, por último (Art. 288), a fixação da

competência do Código Eleitoral nos crimes eleitorais cometidos por meio da

imprensa, do rádio ou da televisão.

Spitzcovsky e Moraes (2009) comentam que, não obstante, a

terminologia utilizada no Código Eleitoral – funcionário público -, esta deve ser

interpretada nos moldes da Constituição Federal – agentes públicos -, vez que o

legislador especificou de forma detalhada nos parágrafos do Art. 283, quem são

os assim considerados.

7.2 Da classificação dos crimes eleitorais

Classificar não é uma tarefa fácil. Em relação aos crimes eleitorais,

várias são as classificações encontradas na doutrina. Elegemos duas: a de Joel

Cândido (2008) e a de Sptizcovsky e Moraes (2009), por considerá-las as mais

didáticas de todas. Vamos conhecê-las.

Quadro 1 - Classificação dos crimes eleitorais CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMES ELEITORAIS

Número de Tipos Penais

1. Crimes contra a organização administrativa da Justiça Eleitoral – CE, Arts. 305, 306, 310, 311, 318, 340.

6

2. Crimes contra os serviços da Justiça Eleitoral – CE, Arts. 289; 290; 291; 292; 293; 296; 303; 304; 341; 342; 343; 344; 345; 346; 347. Lei n. 6.091/1974 – Art. 11, I, II, III, IV, V. Lei Eleitoral – Art. 72, III

21

3. Crimes contra a fé pública eleitoral CE – Arts. 313; 314; 315; 316; 348; 349; 350; 352; 353; 354. Lei Eleitoral – Arts. 68, § 2°, 72, I; 72, II; 87 Caput e 87, § 2°.

15

4. Crimes contra a propaganda eleitoral CE Arts. 323; 324, Caput; 324, § 1°; 325, 326, Caput; 337, parágrafo único. Lei Eleitoral – Arts. 33, § 4°; 40

14

5. Crimes contra o sigilo ou o exercício do voto CE, Arts. 295; 297; 298; 299; 300; 301; 302; 307; 308; 309; 312; 317; 339. Lei 7.021/1982 – Art. 5° Lei das Eleições – 39, § 5°, I; 39, § 5°, II; 39, § 5°, III; Art. 91, parágrafo único

18

6. Crimes contra os Partidos Políticos CE, Arts. 319; 320; 321; 338. LC 64/90, Art. 25 Lei das Eleições – Art. 34, § 2°, Art. 34, § 3°

07

TOTAL DE CRIMES ELEITORAIS 81 Fonte: Candido (2008, p. 282-283)

Quadro 2 - Classificação dos crimes eleitorais Crimes eleitorais concernentes à formação do corpo eleitoral Crimes eleitorais relativos à formação e funcionamento dos partidos políticos Crimes eleitorais em matéria de inelegibilidades Crimes eleitorais concernentes à propaganda eleitoral Crimes eleitorais relativos à votação Crimes eleitorais pertinentes à garantia do resultado legítimo das eleições Crimes eleitorais concernentes à organização e funcionamento dos serviços eleitorais Crimes eleitorais contra a fé pública eleitoral Fonte: Sptizcovsky e Moraes (2009)

A partir desses autores, conheceremos um pouco dos crimes de

cada categoria.

7.2.1 Crimes eleitorais concernentes à formação do corpo eleitoral

Suzana de Camargo Gomes citada por Spitzcovsky e Moraes (2009,

p. 127) considera que, nessa categoria de crimes, se incluem “todas as

condutas delitivas previstas na legislação eleitoral que atentem contra a lisura

do alistamento eleitoral, ou seja, que afetem a inscrição e ulterior inclusão dos

eleitores no registro próprio”.

A autora expõe

[...] são crimes que podem se revelar através de condutas denotadoras de fraude e perturbação no alistamento eleitoral, ou então, pode consistir em violência, instigação e coação levadas a efeito com um fim de conspurcar o cadastro eleitoral. (GOMES citada por SPITZCOVSKY; MORAES, 2009, p. 127)

Podem ser assim considerados os seguintes tipos penais: inscrição

fraudulenta do eleitor (Art. 289); induzimento à inscrição do eleitor em infração

às normas legais (Art. 290); inscrição fraudulenta efetivada pelo juiz (Art. 291);

negativa ou retardamento de inscrição eleitoral sem fundamento legal (Art.

292); perturbação ou impedimento do alistamento (Art. 293); retenção de título

eleitoral ou do comprovante de alistamento eleitoral (Art. 295) (SPITZCOVSKY;

MORAES, 2009).

7.2.2 Crimes eleitorais relativos à formação e ao funcionamento dos

partidos políticos

Para Spitzcovsky e Moraes (2009, p. 127), o legislador buscou

“estabelecer os tipos penais com o objetivo claro de resguardar não só a

legitimidade de formação dos partidos políticos como também o correto

desenvolvimento das atribuições a eles conferidas pela Constituição”. Segundo

eles, “os partidos políticos surgem como importantes figuras voltadas à

concretização da chamada democracia representativa, a teor do disposto Art.

1º do parágrafo único, da Lei Maior”.

São considerados como tipos penais que se amoldam a essa

categoria os seguintes:

Subscrição de mais de uma ficha de filiação partidária (Art. 319); inscrição simultânea em dois ou mais partidos (Art. 320); coleta de assinatura em mais de uma ficha de registro de partido (Art. 321); não concessão de prioridade postal (Art. 239); utilização de prédios ou serviços de repartições públicas para beneficiar partido ou organização de caráter político (Art. 346) (SPITZCOVSKY e MORAES, 2009, p. 128).

7.2.3 Crimes eleitorais em matéria de inelegibilidades

Suzana de Camargo Gomes citada por Spitzcovsky e Moraes (2009,

p. 128) ressalta o seguinte tipo penal: “arguição de inelegibilidade temerária ou

de má-fé”, conforme disposição do Art. 25 da LC n. 64/90. Lecionam

Spitzcovsky e Moraes (2009, p. 128) que, embora tenha andado bem, o

legislador ao criminalizar a conduta tipificada, o problema em relação a esse

crime está na dificuldade de sua caracterização, já que “somente indícios não

se revelam suficientes para o atingimento desse contexto”.

7.2.4 Crimes eleitorais concernentes à propaganda eleitoral

Spitzcovsky e Moraes (2009, p. 128) aduzem que “o objetivo do

legislador ao prescrever essa modalidade de crime foi impedir a realização de

propaganda eleitoral que possa comprometer o equilíbrio das eleições”. Essa é,

aliás, uma das matérias mais tratadas na Lei das Eleições - Lei n. 9.504/97.

Essa modalidade está disciplinada nos Arts. 36 a 57 da Lei das

Eleições e classifica-se propaganda eleitoral, em geral, propaganda mediante

outdoors, propaganda na imprensa e no rádio e televisão. Alguns atos foram

descriminalizados pela Lei n. 9.504/97 passaram a ser considerados apenas

como infração administrativa. Entre eles, destacam-se as condutas dos Arts.

322, 328, 329 e 333. A esse respeito veja o Art. 107 da Lei n. 9.504/97

(SPITZCOVSKY; MORAES, 2009).

De outro lado, outras condutas continuaram a ser criminalizadas no

Código Eleitoral, como

[...] divulgação de fatos inverídicos na propaganda eleitoral (Art. 323); calúnia na propaganda eleitoral (Art. 324); difamação na propaganda eleitoral (Art. 325); injúria na propaganda eleitoral (Art. 326); causas de aumento de pena para os crimes de calúnia, difamação e injúria (Art. 327); inutilização, alteração ou perturbação de propaganda (Art. 331); impedimento do exercício da propaganda (Art. 332); realização de propaganda eleitoral no dia da eleição (Art. 39, § 5º, I e II, da lei n. 9.504/97); utilização de organização comercial para propaganda ou aliciamento de eleitores (Art. 334); realização de propaganda eleitoral em língua estrangeira (Art. 335); participação de pessoa não detentora de direitos políticos em atividades partidárias e de propaganda eleitoral (Art. 337); responsabilidade penal dos diretórios locais de partidos políticos pela propaganda delituosa (Art. 336); pesquisa fraudulenta (Art. 33, §, 4º, da Lei n. 9.504/97); não acesso dos partidos aos dados relativos às pesquisas eleitorais (Art. 34, § 2º, da Lei n. 9.504/97); e irregularidades nos dados publicados em pesquisas eleitorais (Art. 34, § 3º c/c o Art. 35 da Lei n. 9.504/97) (SPITZCOVSKY; MORAES, 2009, p. 128) (grifos dos autores).

Como se vê, essa modalidade é uma das que mais têm tipos penais,

totalizando 15 tipos penais. Chamamos a sua atenção para o fato de que, na

classificação de Candido, (2008) no item anterior, essa categoria teria apenas

14 tipos penais, visto que ele não incluiu, em sua classificação, a conduta

descrita no Art. 327 do Código Eleitoral.

7.2.5 Crimes eleitorais relativos à votação

Para Spitzcovsky e Moraes (2009, p. 129), a intenção do legislador

ao criar os tipos penais foi de “preservar a possibilidade de o povo exercer o

poder de escolha dos seus representantes de forma livre, sem qualquer tipo de

pressão”. São tipificadas nessa modalidade as seguintes condutas:

[...] impedimento ou embaraço ao exercício do sufrágio (Art. 297); prisão ou detenção do eleitor, membro de mesa receptora, fiscal, delegado de partido ou candidato, fora das hipóteses legais permitidas (Art. 298); corrupção eleitoral (Art. 299); coação visando à obtenção de voto ou sua abstenção (Art. 300); violência ou grave ameaça visando à obtenção de voto ou sua abstenção (Art. 301); concentração de eleitores para embaraçar ou fraudar o exercício do voto (Art. 302); majoração de preços de utilidade e serviços necessários à realização das eleições (Art. 303); ocultação, sonegação ou recusa de fornecimento de utilidades, alimentos e transporte no dia da eleição (Art. 304); intervenção indevida de autoridade junto à mesa receptora (Art. 305); não observância da ordem de chamamento dos eleitores para votar (Art. 306); fornecimento ao eleitor de cédula oficial já assinalada ou marcada (Art. 307); fornecimento de cédula oficial rubricada a destempo (Art. 308); votação múltipla ou realizada em lugar de outrem (Art. 309); práticas irregulares que determinam a anulação da votação (Art. 310); votação de eleitor em seção eleitoral na qual não está inscrito ou autorizado a votar (Art. 311); violação do sigilo do voto (Art. 312); omissão no recebimento e registro de protestos, bem como sua remessa à instância superior (Art. 316) (SPITZCOVSKY; MORAES, 2009, p. 129).

Ou seja, buscou-se ao máximo a garantia do exercício do direito ao

voto de forma plena, visto que é um dos instrumentos mais paritários que se

pode apontar em um Estado Democrático de Direito.

7.2.6 Crimes eleitorais pertinentes à garantia do resultado legítimo das

eleições

A tipificação das condutas enquadradas nesta modalidade justificam-

se, de acordo com Spitzcovsky e Moraes (2009, p. 129),

[...] na medida em que de nada adiantaria uma campanha eleitoral isenta de irregularidades, um pleito realizado sem qualquer mácula, se no momento da apuração dos resultados não tivéssemos nenhum tipo de regulamentação, abrindo ensejo a prática de irregularidades que pudessem comprometer o resultado final das urnas.

Segundo os autores, foram tipificadas as condutas de

[...] omissão na expedição do boletim de apuração (Art. 313); omissão de entrega do boletim de urna (Art. 68 da Lei n. 9.504/97); omissão do recolhimento das cédulas apuradas, no fechamento e lacração da urna (Art. 314); crimes atingido o sistema de tratamento automático de dados (Art. 72 da Lei n. 9.504/97); violação do sigilo da urna ou dos invólucros (Art. 317); contagem de votos dos eleitores em relação aos quais houve impugnação (Art. 318); recebimento e registro de protestos, bem como de sua remessa à instância superior (Art. 316) (SPITZCOVSKY; MORAES, 2009, p. 129).

Essas tipificações buscam meios de garantir um resultado legítimo

na totalização das urnas.

7.2.7 Crimes eleitorais concernentes à organização e ao funcionamento dos

serviços eleitorais

Spitzcovsky e Moraes (2009, p. 129) asseguram que a

criminalização dessas condutas busca “atingir todas aquelas irregularidades

que venham a comprometer as atividades desenvolvidas pelos órgãos da

Justiça Eleitoral”. Essas condutas são assim descritas

[...] promoção de desordem nos trabalhos eleitorais (Art. 296); destruição ou ocultação de urna contendo votos ou documentos eleitorais (Art. 339); fabricação, aquisição, fornecimento, subtração ou guarda de materiais de uso exclusivo da Justiça Eleitoral (Art. 340); retardamento ou não publicação de decisões, citações ou intimações da Justiça Eleitoral (Art. 341); não apresentação de denúncia ou não execução de sentença penal ordenatória no prazo legal (Art. 342); não cumprimento, pela autoridade judiciária, do dever de representar contra órgão do Ministério Público que não oferece denúncia no prazo legal (Art. 343); recusa ou abandono do serviço eleitoral (Art. 344); não cumprimento dos deveres impostos pelo Código Eleitoral à autoridade judiciária e aos funcionários da Justiça Eleitoral (Art. 345); desobediência a ordens ou instruções da justiça Eleitoral (Art. 347) (SPITZCOVSKY; MORAES, 2009, p. 129).

A última modalidade a ser estudada na categoria de crimes eleitorais

são os crimes contra a fé pública eleitoral. É o que apresentaremos na próxima

seção.

7.2.8 Crimes eleitorais contra a fé pública eleitoral

Spitzcovsky e Moraes (2009, p. 130) esclarecem que

[...] os crimes relacionados aos documentos veiculados durante o processo eleitoral ganham enorme importância em razão da presunção de legitimidade de que gozam, por força da regra estabelecida no Art. 19, II, da Constituição Federal, que veda às quatro pessoas integrantes da Federação negar fé a eles. Em outras palavras, a previsão dessas modalidades criminosas tem por objetivo evitar a manipulação de documentos públicos, de forma a comprometer o resultado final das eleições.

São condutas que se enquadram nessa modalidade: falsificação de

documento público para afins eleitorais (Art. 348); falsificação de documento

particular para fins eleitorais (Art. 349); falsificação ideológica (Art. 350);

alteração do resultado da votação nos mapas ou boletins de apuração (Art.

315); reconhecimento indevido de firma ou letra para fins eleitorais (Art. 352);

uso de documento falso para fins eleitorais (Art. 353); obtenção de documento

falso para fins eleitorais (Art. 354) (SPITZCOVSKY; MORAES, 2009, p. 130).

Apresentamos, mesmo que forma breve, os crimes eleitorais

encerrando a parte material do Direito Eleitoral. Iniciamos a partir daí o estudo

do Direito Processual Eleitoral.

7.3 Direito Processual Eleitoral

Spitzcovsky e Moraes (2009, p. 103) mencionam que,

[...] embora o legislador eleitoral tenha preconizado procedimentos diferenciados para cada um dos instrumentos ali previstos, sobreleva notar a necessidade não só de aplicação de dispositivos estabelecidos na Constituição Federal, em particular o que prevê a necessidade de contraditório e ampla defesa (Art. 5º, LV), como também de aplicação subsidiária das regras do Código de Processo Civil. Feitas essas observações de caráter preliminar, passaremos agora a comentar cada um dos instrumentos estabelecidos pelo legislador eleitoral, a começar pelas representações e reclamações.

O processo eleitoral é cheio de nuances próprias desse ramo de

direito, ou seja, ações e recursos específicos que passamos a apresentar.

7.3.1 Das reclamações e das representações por descumprimento da Lei das

Eleições

De acordo com Alexandre Issa Kamura (2006, p. 172), “o

descumprimento das prescrições contidas na Lei das Eleições deflagra a

possibilidade de ajuizamento de reclamação ou representação perante a Justiça

Eleitoral”. Para maior esclarecimento acerca dessas ações, o autor faz menção ao

Art. 96 da Lei 9.504/97

Art. 96. Salvo disposições específicas em contrário desta Lei, as reclamações ou representações relativas ao seu descumprimento podem ser feitas por qualquer partido político, coligação ou candidato, e devem dirigir-se: I - aos Juízes Eleitorais, nas eleições municipais; II - aos Tribunais Regionais Eleitorais, nas eleições federais, estaduais e distritais; III - ao Tribunal Superior Eleitoral, na eleição presidencial.

A exceção à regra, nesse caso, é a hipótese do Art. 41-A, da mesma

Lei, cujo procedimento a ser adotado é o Art. 22 da Lei das Inelegibilidades. Os

legitimados para a sua propositura são os arrolados no quadro 3.

Quadro 3 - Dos legitimados para a propositura das reclamações e representações por descumprimento da Lei das Eleições

Legitimados ativos Legitimados passivos

• Candidato • Partido político (desde que não integre coligação • Coligação criada a partir das agremiações partidárias em suas respectivas convenções • Ministério Público Eleitoral

• Reclamado ou Notificado

• Municipalidade

Fonte: Kamura (2006, p. 174)

O procedimento deverá observar o disposto no Art. 96, §§ 1° a 10, da

Lei das Eleições, que recomendamos que você leia.

7.3.2 Ação de impugnação de Mandato Eletivo

Para Kamura (2006, p. 178), essa é uma ação de cunho eleitoral,

prevista nos §§ 10 e 11 do Art. 14 da CF/88, “cujo objeto é desconstituir o

mandato eletivo em função da prática de abuso de poder econômico, corrupção

ou fraude”. Fazemos no quadro 4 um resumo com suas principais características.

Quadro 4 - Principais características da ação de impugnação de mandato eletivo Prazo 15 dias a contar da diplomação. Trata-se de prazo decadencial. Legitimidade Qualquer partido político, coligação, candidato ou Ministério Público Eleitoral. Competência A Justiça Eleitoral (por seus órgãos, conforme se trate de mandato eletivo

municipal, estadual ou federal). Provas A petição deverá conter os elementos de convicção que permita revelar, de

imediato, que a pretensão deduzida está apoiada em situação fática que será apurada no curso do procedimento.

Procedimento Previsto na LC 64/90, para o registro de candidaturas e tramitará em segredo de justiça, respondendo ao autor, na forma da lei, se temerária ou de má-fé. O seu julgamento será, porém, público.

Fonte: Kamura (2006, p. 178-182)

7.3.3 Ação rescisória eleitoral

Kamura (2006, p. 186) leciona que a ação rescisória eleitoral

“circunscreve-se às questões de inelegibilidade”. Veja, no quadro 5, as suas

principais características.

Quadro 5 - Principais características da ação rescisória eleitoral Competência Art., 22, I, “j” do CE “Compete ao TSE: j) a ação rescisória, nos casos de

inelegibilidade, desde que intentada dentro de cento e vinte dias de decisão irrecorrível, possibilitando-se o exercício do mandato eletivo até o seu trânsito em julgado”.

Legitimidade Partidos políticos, candidatos, coligações e o Ministério Público.

Procedimento Por inexistência de lei específica, segue o procedimento do CPC.

Fonte: Kamura (2006, p. 186-187)

7.3.4 Investigação judicial eleitoral por abuso de poder econômico e/ou

político

Essa ação, de acordo com Kamura (2006, p. 166), objetiva

“preservar o equilíbrio entre os candidatos a cargo eletivo contra eventual

violação por abuso de poder econômico e/ou político”. O Art. 22 da Lei das

Inelegibilidades (LC 64/90) assim dispõe

Art. 22. Qualquer partido político, coligação, candidato ou Ministério Público Eleitoral poderá representar a Justiça Eleitoral, diretamente ao Corregedor-Geral ou Regional, relatando fatos e indicando provas, indícios e circunstâncias e pedir abertura de investigação judicial para apurar uso indevido, desvio ou abuso do poder econômico ou do poder de autoridade, ou utilização indevida de veículos ou meios de comunicação social, em benefício de candidato ou de partido político [...]

O próprio artigo já nos traz informações sobre legitimidade e

procedimento. Quanto a essa ação, resta-nos ressaltar os seus efeitos, o que

demonstramos no quadro 6.

Quadro 6 - Principais efeitos da investigação judicial eleitoral por abuso de poder econômico e/ou político DECISÃO PROFERIDA EFEITOS ANTES DA ELEIÇÃO Declaração de inelegibilidade por três anos e

cassação do registro APÓS A ELEIÇÃO Declaração de inelegibilidade por três anos e

remessa de cópia dos autos ao MPE, para os fins previstos no Art. 14, §§ 10 e 11 da CF/88 e 262, IV do CE

Fonte: Kamura (2006, p. 172) 7.3.5 Ação de impugnação ao pedido de registro de candidatura

Essa ação, para Kamura (2006, p. 161), visa a “indeferir pedido de

registro de candidato pela ausência de condições de elegibilidade ou pela

incidência de causa de inelegibilidade”. Veja suas principais características no

quadro 7.

Quadro 7 - Principais características da ação de impugnação ao pedido de registro de candidatura

Fundamento legal Arts. 3º e 17 da LC 64/90 Prazo Cinco dias contados da publicação do edital (prazos peremptórios e

contínuos e correm em secretaria ou cartório e não se suspendem aos sábados, domingos e feriados.

Legitimidade ativa Qualquer candidato, partido político, coligação, ministério público Fonte: Kamura (2006, p. 161-162)

7.3.6 Direito de resposta

Para Spitzcovsky e Moraes (2009, p. 105), essa ação “tem por

objetivo combater inverdades ou incorreções praticadas no momento da

manifestação do pensamento”, devendo a resposta “ser proporcional ao agravo

cometido”, o que gera algumas obrigações. Veja como os autores resumem

essas obrigações no quadro 8.

Quadro 8 - Direito de resposta

IGUAL ESPAÇO

Cabe aos donos dos veículos de comunicação a obrigação de oferecer ao ofendido o mesmo espaço concedido ao ofensor. Se o pensamento foi exteriorizado pela imprensa escrita, a resposta deverá ser oferecida com o mesmo número de toques, na linguagem jornalística. Na hipótese de o pensamento ter sido exteriorizado no rádio ou na televisão, a resposta deverá ser oferecida com a mesma duração de tempo concedido ao ofensor.

IGUAL DESTAQUE

Por essa característica, o ofendido teria direito a produzir sua resposta na mesma página (no caso da imprensa escrita) ou mesmo horário, ou, ainda, no mesmo programa (no caso de rádio e televisão).

DE FORMA NEUTRA

Essa característica impede que, a título de utilização do direito de resposta, o ofendido cometa abusos. Em outras palavras, o agravado deve ater-se única e exclusivamente à resposta à ofensa sofrida.

Fonte: Spitzcovsky e Moraes (2009, p. 105)

Apresentadas as principais ações eleitorais, passemos à análise dos

recursos específicos.

7.4 Recursos eleitorais

Conforme Kamura (2006, p. 189), “os recursos em matéria eleitoral

são cabíveis perante as juntas e os juízos eleitorais, perante os tribunais

regionais e perante o Tribunal Superior Eleitoral”. A primeira regra geral que o

autor aponta é que, de acordo com o Art. 121, § 3° da CF/88, as decisões do

TSE são irrecorríveis. Essa regra comporta mitigação quanto às decisões que

contrariarem a Constituição e as denegatórias de habeas corpus ou mandado

de segurança.

Kamura (2006, p. 169) faz a distinção ainda entre impugnação e

recurso. Segundo ele, “impugnação é oposição ou contradição, oral ou escrita,

podendo ser manifestada antes ou depois da decisão ou da prática do ato”.

Exemplifica, com uma correção na contagem de votos, um erro na identificação

do eleitor. É uma medida preparatória para uma ação posterior da qual a

impugnação funciona como um pré-requisito. Já o recurso, segundo ele, “é

manifestação de inconformismo da parte sucumbente no pleito judicial e, por

meio dele, almeja o reexame da matéria” (KAMURA, 2006, p. 196).

Via de regra, os recursos não têm efeito suspensivo (para garantia

da celeridade exigida no processo eleitoral), como também essa regra

comporta algumas exceções.

Kamura (2006) traça uma classificação didática dos recursos que

poderão ser interpostos em cada esfera da Justiça Eleitoral, que aqui trazemos

de forma resumida no quadro 9.

Quadro 9 - Recursos eleitorais Recursos interpostos contra decisões dos juízes eleitorais

a) Recurso inominado

Recursos interpostos contra decisões das juntas eleitorais

a) Recurso parcial b) Recurso inominado c) Recurso contra diplomação

Recursos interpostos contra decisões dos tribunais regionais eleitorais

a) Recurso parcial b) Recurso inominado c) Recurso contra a diplomação d) Recurso especial e) Recurso ordinário f) Agravo

Recursos interpostos contra decisões do Tribunal Superior Eleitoral

a) Recurso inominado b) Recurso extraordinário c) Recurso ordinário d) Agravo

Fonte: Kamura (2006, p. 196-205)

Saiba mais

Estudamos os crimes, as ações e os recursos eleitorais. Muito

assunto para pouco espaço, o que demanda que você pesquise muito além do

que foi indicado. Sugerimos que você pesquise no sítio do TSE, no link

<http://www.tse.gov.br/servicos_online/catalogo_publicacoes/indexr.htm>, a

obra Reforma eleitoral: delitos eleitorais, prestação de contas, partidos e

candidatos, que em muito contribuirá no sentido de conhecer as deficiências de

nosso sistema eleitoral e saber o que é preciso mudar.

Atividades

1. Tem legitimidade ativa para a impugnação do pedido de registro da

candidatura

a) a coligação.

b) o eleitor.

c) entidades de classe de âmbito nacional.

d) o Procurador Geral de Justiça.

2. A contar do pedido do registro de candidatura, a impugnação deverá ser

ajuizada no prazo de

a) sete dias.

b) seis dias.

c) cinco dias.

d) quatro dias.

3. O Art. 121, § 3° da Constituição determina que as decisões do TSE serão

irrecorríveis, salvo se contrariarem

a) Lei Complementar e decisão denegatória de habeas corpus.

b) Constituição e decisão denegatória de mandado de segurança e de

habeas corpus.

c) Constituição e as Resoluções do TSE.

d) Constituição e a Lei de Eleições.

4. Via de regra, os recursos eleitorais não têm efeitos suspensivo.

a) Essa regra têm exceção?

b) Em caso positivo, quais os recursos que têm esse efeito?

Comentário das atividades

Na atividade 1, você acertou se respondeu a letra (a), que traz como

alternativa a coligação. As demais alternativas estão incorretas, pois é uma

determinação que decorre da Lei 64/90, que lista como legitimado qualquer

candidato, partido político, coligação, Ministério Público. De forma que as

figuras previstas nas alternativas (b), (c) e (d) são estranhas à lide e não detém

qualquer legitimidade.

Na atividade 2, você marcou a letra (c), que menciona o prazo correto

de cinco dias para a impugnação do registro da candidatura. Esse prazo será

peremptório (ver Art. 16 da Lei Complementar 64/90). O que torna as demais

alternativas incorretas por exporem prazos distintos do exigido na lei.

Na atividade 3, você assinalou a letra (b), que menciona a

contrariedade à Constituição e as decisões denegatórias de mandado de

segurança e de habeas corpus. As demais alternativas estão incorretas, pois

contrariam o texto Constitucional no Art. 121, § 3°.

Na atividade 4, você pesquisou o Art. 257 do CE e soube que existem

exceções tanto no CE como em outros Diplomas. Assim, no CE (Art. 216),

como também o Art. 15 da LC 64/90 e, em alguns casos, a aplicação supletiva

do Código de Processo Penal (Art. 597 e Art. 581 a 592).

Referências

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado, 1988. ______. Lei n. 9.504, de 30 de setembro de 1997. Estabelece normas para as eleições. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9504.htm>. Acesso em: 12 nov. 2009. ______. Lei complementar n. 64, de 18 de maio de 1990. Estabelece, de acordo com o Art. 14, § 9º da Constituição Federal, casos de inelegibilidade, prazos de cessação, e determina outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/LCP/Lcp64.htm>. Acesso em: 12 nov. 2009. CÂNDIDO, Joel José. Direito Eleitoral Brasileiro. 13. ed. Bauru: Edipro, 2008. KAMURA, Alexandre Issa. Manual de Direito Eleitoral. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2006. MICHELS, Vera Maria Nunes. Direito Eleitoral. 5. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006. SPITZCOVSKY, Celso; MORAES, Fábio Nilson Soares de. Direito Eleitoral. São Paulo: Saraiva, 2009. v. 27.