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APOSTILA DE SOCIOLOGIA 2º SEMESTRE - 2018

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EDUCANDO PARA SEMPREAPOSTILA DE

SOCIOLOGIA

2º SEMESTRE - 2018

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2018 – APOSTILA DE SOCIOLOGIA

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Prof. Robson

CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO À SOCIOLOGIA E O CONTEXTO HISTÓRICO DAS CIÊNCIAS SOCIAIS

INTRODUÇÃO À SOCIOLOGIA

A Sociologia é a ciência que estuda a sociedade humana e a interação entre os homens. Interessa-se pelo modo como são criadas, mantidas e transformadas as organizações e as instituições que dão forma à estrutura social, pelo efeito que têm sobre o comportamento individual e social, e pelas transformações provocadas pela interação social. Seu terreno de investigação é bastante amplo, podendo abranger desde motivos pelos quais as pessoas selecionam seus pares até as relações de poder ou as razões das desigualdades sociais. É, portanto, o ramo do conhecimento que faz das relações humanas seu objeto, aplicando de modo sistemático a razão e a observação, e integrando explicações teóricas e métodos quantitativos e qualitativos de verificação empírica.

A SOCIOLOGIA É UMA CIÊNCIA? QUAL

É O SEU CAMPO DE ESTUDO? POR QUE EXISTE?

O homem só consegue sobreviver em sociedade. Isto implica numa série de inferências. Sem certas regras seria impossível viver em grupo, pois a todo momento aconteceriam choques de interesses. Viver em sociedade exige o estudo de fenômenos, chamados “sociais”, que vão aparecer por exigência deste fato. É para estudá-los que existe Sociologia. A Sociologia vai além do estudo dos fenômenos sociais e parte para o levantamento de soluções e estuda como interferir nestes fenômenos, tendo por fim o bem estar coletivo.

Podemos definir a sociologia como uma ciência que estuda os fenômenos sociais, refletindo sobre eles e

tentando explicá-los através de certos conceitos, técnicas e métodos. A sociologia não pode ter uma posição determinista em relação ao seu objeto de estudo, por se tratar de uma ciência humana e não exata, a possibilidade de quantificação das variáveis para seu estudo e sua transmissibilidade futura, assim como a generalização das relações entre as variáveis descobertas, é algo relativo e precário. Ela é ciência porque usa métodos e técnicas que lhe permitem estudar o social. Podemos afirmar que sem a estatística dificilmente a sociologia poderia ser considerada uma ciência. Seu campo de estudo é a organização da sociedade (a estática) e tudo o que acontece entre seus membros (dinâmica).

SOCIOLOGIA X SENSO COMUM Características do senso comum

O ser humano está a todo o momento buscando explicações sobre os fatos que observa em seu cotidiano. Essa forma de conhecimento da realidade pode ser chamada de senso comum. O senso comum é aquele pensamento mais imediato, superficial, cheio de sentimentos e muitas vezes carregado de preconceitos. O senso comum é um conjunto de saberes simples, pouco elaborados, e resultam da experiência de vida, e não de investigações científicas. A Sociologia e as características do conhecimento científico

O conhecimento científico é diferente do senso comum. A ciência através de seus métodos, teorias e conceitos é uma forma mais aprofundada de entendimento e explicação dos fenômenos que acontecem na realidade. O método científico procura evitar que julgamentos de valor, atrapalhem a análise dos fatos. A Sociologia é uma ciência preocupada com os problemas que o homem enfrenta na vida em sociedade. O objetivo dela é desenvolver um olhar sociológico que possibilite ao individuo compreender o contexto social do mundo contemporâneo.

A principal atitude a ser desenvolvida com o olhar sociológico é a desnaturalização e o estranhamento. Ou seja, observar a realidade com certo distanciamento e objetividade, buscando sempre construir uma atitude de afastamento em relação a aquilo que lhe é familiar. Desenvolver um ponto de vista questionador em busca da compreensão e a explicação das razões de determinados fenômenos sociais, procurando não deixar que os preconceitos, as pré-noções atrapalharem a análise e o entendimento das causas dos acontecimentos da vida em sociedade. O olhar sociológico procura questionar tudo aquilo que no comportamento humano parece como “natural” e imutável, negando aquela atitude “isso sempre foi assim, e vai continuar assim pra sempre”.

A observação e o estudo do mundo em que vivemos podem ser feitos de maneiras diversas. Há pessoas, por exemplo, que baseiam suas opiniões sobre a sociedade em dados cientificamente confirmados. No entanto, existem pessoas que optam por enxergar o mundo em que vivem através de seus próprios olhos, criando, assim, conceitos particulares e uma definição de mundo própria, sem quaisquer outras fontes de confirmação senão o próprio indivíduo. O que muitos chamam de "achismo" ou de "ciência particular" é formalmente chamado de Senso Comum. A sociologia, conhecimento e estudo científico da sociedade formulado através de pesquisas históricas e

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pesquisas de campo, é antagônica ao senso comum. Isto ocorre no momento em que as teorias sociológicas são baseadas em pesquisas científicas, ou seja, em que são confirmadas através de todo um processo de observação e resgate de informações históricas.

Tomemos como exemplo uma situação social: numa cena de assalto, em que o assaltante é negro encontram-se dois observadores. Um deles, baseando-se apenas no senso comum, afirma: "O negro é assaltante porque tem preguiça de trabalhar".

Contrapondo-se ao senso comum, ou seja, baseando sua afirmação em dados históricos e sociológicos, o segundo observador rebate: "Na verdade, o assaltante é negro devido às consequências de um processo de exploração chamado escravidão". Como se pôde observar, a necessidade de confirmação de hipóteses mostra-se essencialmente presente na sociologia ou em qualquer outro estudo científico. Eis aí o que difere a sociologia e a ciência em geral do senso comum: a necessidade de uma base sólida, obtida através de pesquisas, para comprovar teorias.

FATORES HISTÓRICOS DO

SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA A Sociologia surgiu na Idade Moderna, mais especificamente em 1830. Ela incorporou uma área do

conhecimento científico que ainda não havia sido estudada: O mundo social. A compreensão do surgimento da Sociologia é algo complexo, e para isso, será preciso considerar os

fatores ou transformações históricas que contribuíram para a consolidação do capitalismo e o surgimento da sociologia estão relacionados ao contexto geral da transição do feudalismo para o capitalismo, onde podemos destacar quatro grandes acontecimentos históricos, ocorridos a partir do século XV, que a influenciaram: O Renascimento, a Revolução Científica, a Revolução Industrial e a Revolução Francesa. Esse contexto histórico é necessário porque aqueles acontecimentos criaram situações radicalmente novas na sociedade e assim, surgiu à necessidade de compreensão dessa nova sociedade que se formava. As condições intelectuais do surgimento da sociologia podem ser encontradas desde a Grécia Antiga, com o racionalismo grego. Que infelizmente foi esquecido na Idade Média, onde o pensamento era essencialmente teocêntrico – pensamento centrado em Deus, onde todas as explicações eram religiosas - e quem não seguia as regras da Igreja Católica era torturado e condenado à morte. Dessa forma, muitos historiadores consideram a Idade Média como a “Idade das Trevas”, pois não se produzia conhecimento. . Todavia, no século XV, renasceriam aqueles antigos valores clássicos da Grécia Antiga, cujo conhecimento era muito valorizado. Nesse período conhecido por Renascimento houve muitos progressos para sociedade em termos de conhecimento. Pois, valorizava-se a razão, o individualismo e a natureza. Deixa-se de lado o misticismo ingênuo que predominava na Idade Média e é adotado o pensamento antropocêntrico, onde o homem está no centro de tudo. Sendo assim, pode-se observar que nesse período renascentista ocorre uma mudança no modo das pessoas verem o mundo e a sociedade. E esses pensamentos contribuíram para o surgimento de diversas ciências, inclusive a Sociologia. A Revolução Científica, que ocorreu no século XVI, aconteceu quando houve a separação da ciência com a filosofia. Agora a ciência se tornava um conhecimento mais estruturado e prático. Surge o método científico de Francis Bacon, baseado na observação direta dos fenômenos, na experimentação e demonstração. Decerto, a Revolução Científica possibilitou que as teorias fossem cada vez mais aperfeiçoadas, fornecendo às pessoas uma compreensão melhor sobre o mundo. Então, esse sucesso nas explicações científicas acabou fazendo alguns pensadores da época se questionarem: Se a Ciência obtinha sucesso na explicação da natureza, poderia também explicar a sociedade? Outra revolução importantíssima no surgimento da sociologia foi a Revolução Industrial. Pois foi através dela que o capitalismo se consolidou por toda a Europa, e foi por causa dos problemas sociais causados pelo capitalismo que os pensadores da época tiveram uma atenção especial para a sociedade. O capitalismo gerou uma desigualdade social enorme, pois enquanto os burgueses enriqueciam cada vez mais, o proletariado vivia com péssimas condições de higiene nas cidades (sem água potável e sem esgotos); ganhando salários miseráveis que mal dava para comprar alimentos; com jornadas de trabalho de 14, 16 ou 18 horas diárias. Como consequência da imundice em que moravam, surgem epidemias de doenças contagiosas, como a cólera. Então, todo esse caos social gerou a necessidade de alguma ciência que estudasse e apresentasse soluções para esses problemas. O ultimo acontecimento histórico que influenciou na criação da Sociologia foi a Revolução Francesa. Ela ocorreu no decorrer do século XVIII, por que o conjunto de princípios que organizavam a sociedade francesa (monarquia absoluta), não eram mais bem vistos pelo povo. Almejava-se uma sociedade mais fraterna, igualitária e liberal. Assim a Revolução Francesa dá origem à democracia, e as pessoas que antes eram servos passam a ser cidadãos. Deste modo, as profundas e rápidas mudanças que ocorreram antes, durante e depois da revolução Francesa, fez com que os pensadores e políticos de época refletissem sobre a sociedade em que viviam.

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No século XIX, estudando todos esses acontecimentos históricos, Comte pensou em uma ciência que analisasse a sociedade e chamou-a, a princípio, de “Física Social”. Comte queria uma ciência objetiva, que criasse teorias sociais com base empíricas. E que tivesse o mesmo método científico das Ciências Naturais. . Portanto, observa-se que diversos fatores influenciaram no surgimento da Sociologia. E que embora só tenha surgido como ciência no século XIX, as condições pra seu surgimento já haviam se formando desde o século XV. Logo, ela surgiu, por causa da necessidade de compreensão dessa sociedade Moderna que se formava.

O CENÁRIO DO SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA E A REVOLUÇÃO

INDUSTRIAL

A sociologia propriamente dita é fruto do Capitalismo e da Revolução Industrial, e nesse sentido é chamada de "ciência da crise" - crise que essa revolução gerou em toda a sociedade europeia.

A história da civilização ocidental talvez não tenha enfrentado período tão conturbado quanto aquele compreendido entre o fim do regime feudal europeu e o nascimento do capitalismo. Período este que se arrasta do século XVI ao XVIII. Conturbado não apenas no sentido de conflitos bélicos (Guerras dos Cem Anos e as Guerras napoleônicas). Mas, principalmente, em relação às mudanças radicais nos aspectos econômicos, políticos e sociais. Mudanças que ao interferir na forma como a sociedade produz e distribui suas riquezas e na forma como passam a ser geridos os governos – e que por isso vão interferir também na forma como homens e mulheres se relacionam em seu cotidiano – criam uma nova visão de mundo tanto em relação a expectativas individuais e coletivas quanto em relação à compreensão dessa nova sociedade. Mudam-se hábitos e pensamentos. Muda-se a forma de agir e de como ver e compreender o mundo.

A economia eminentemente agrária e de comércio dá lugar à produção industrial de larga escala. O poder político muda não apenas de mãos – da nobreza para a nova classe, a burguesia – como também de forma – do regime monárquico ou similar, baseado na hereditariedade, para um regime de representação, a democracia. No século XVI desenvolve-se o movimento que ficou conhecido por “Reforma Protestante”, propiciando tendência comportamental que contribuiu de modo significativo para a valorização do conhecimento racional. Com essa nova maneira de se relacionar com as coisas sagradas, a sociedade da época passou a analisar o universo de outra forma. Com isso a razão passa a ser soberana e é colocada como elemento essencial para se conhecer o mundo. A visão mítica e mágica do mundo foi substituída aos poucos pelo que foi chamado de razão – o homem assume seu papel como protagonista da história e o desenvolvimento tecnológico e científico torna-se meta da sociedade. A solidariedade comunitária dos servos camponeses do sistema feudal perde-se em meio às novas necessidades da massa das cidades, que apesar de ocupar um mesmo espaço geográfico se individualiza e se fragmenta – agora é cada um por si na batalha por uma vaga em uma indústria ou mineradora e na luta pela garantia da sobrevivência de seu núcleo familiar.

O avanço tecnológico e científico jamais experimentado pela humanidade num período tão curto, numa quantidade tão grande e variada e numa qualidade até então inimaginável foi outra característica importante desse período. Mas tão significante quanto o crescimento tecnológico e científico foram as condições a que a grande maioria da população das cidades industrializadas foi submetida. Uma enorme massa humana – incluindo-se aí idosos, crianças de até oito anos e mulheres grávidas – era colocada em situações completamente insalubres em fábricas ou minas de carvão. Jornadas que chegavam a catorze ou dezesseis horas de trabalho, salários reduzidos às necessidades mínimas de compra de alimentos, pagamentos de aluguéis (geralmente aos próprios empregadores) e aquisição de vestimentas básicas, mínima ou nenhuma segurança no local de trabalho (encurtando a vida ou a utilidade do operário).

Estas eram condições comuns da nova classe que se formava como peça fundamental da lógica capitalista: a classe dos trabalhadores assalariados. É neste período de nascimento e afirmação do capitalismo como relação social de produção hegemônica na Europa que surgem movimentos filosóficos, explodem acontecimentos políticos e históricos marcantes e se dão saltos tecnológicos e científicos que reconfiguram não somente as relações econômicas, políticas e sociais como também acabam interferindo em toda a história da humanidade. Em decorrência da complexidade da sociedade agora posta, surge a necessidade de uma ciência que possa compreender essa nova ordem. Uma ciência que possa entender a dinâmica das relações específicas e mais gerais que mulheres e homens mantêm entre si e com o mundo que os cerca. Nasce a sociologia em meio a um cenário enriquecido de variados e ainda incompreendidos elementos. E, por isso mesmo, extremamente desafiador para os que se dispunham a ordenar, transformar ou simplesmente decifrar as aparentemente caóticas relações sociais.

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O SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA COMO CIÊNCIA

A ciência sociológica surgiu no século XIX, pois ela é uma consequência dos fatos que se colocaram a partir do século XVIII. O fato principal é a consolidação do capitalismo, pois na medida em que temos transformações na estrutura social, também temos transformações nas concepções filosóficas de homem e de mundo. Naquele período, a relação entre indivíduo e sociedade ainda estava sendo questionada e refletida por vários filósofos.

Vivemos em um universo de redes intrincadas que determina as concepções de homem e de mundo, a percepção a respeito de nossa realidade individual, e determina o nosso fazer. Nesse sentido, não podemos pensar acerca da liberdade plena: temos autonomia dentro de limites estabelecidos socialmente, somos criadores e criaturas de nosso universo social. Compreender sociologicamente essa realidade é perceber nossas limitações. A significação da Sociologia é que ela nos põe face a face com os nossos limites, enquanto seres sociais. A Sociologia examina nossas limitações e por isso nos encontramos em um universo de amplos estudos, já que ela analisa nossos símbolos culturais, aos quais recorremos em nosso processo de interação, em nosso processo de compartilhar sentidos e significados: a Sociologia nos põe em contato com as estruturas que determinam nossa vida em sociedade, analisa e estuda os processos sociais – por exemplo, o desvio, o crime, os conflitos e os movimentos sociais que nascem da ordem estabelecida socialmente –, bem como busca compreender as transformações que se agregam à cultura e à estrutura social.

ARRASE NO ENEM

1. Segundo Zygmunt Bauman, a Sociologia é constituída por um conjunto considerável de conhecimentos acumulados ao longo da história. Pode-se dizer que a sua identidade forma-se na distinção com o chamado senso comum. Considerando que a Sociologia estabelece diferenças com o senso comum e estabelece uma fronteira entre o pensamento formal e o senso comum, é correto afirmar que

a) a Sociologia se distingue do senso comum por fazer afirmações corroboradas por evidências não verificáveis, baseadas em ideias não previstas e não testadas.

b) o pensar sociologicamente caracteriza-se pela descrença na ciência e pouca fidedignidade de seus argumentos. O senso comum, ao contrario, evita explicações imediatas ao conservar o rigor científico dos fenômenos sociais.

c) pensar sociologicamente é não ultrapassar o nível de nossas preocupações diárias e expressões cotidianas, enquanto o senso comum preocupa-se com a historicidade dos fenômenos sociais.

d) o pensamento sociológico se distingue do senso comum na explicação de alguns eventos e circunstâncias, ou seja, enquanto o senso comum se preocupa em analisar e cruzar diversos conhecimentos, a Sociologia se preocupa apenas com as visões particulares do mundo.

e) um dos papéis centrais desempenhados pela Sociologia é a desnaturalização das concepções ou explicações dos fenômenos sociais, conservando o rigor original exigido no campo cientifico.

2. Os discursos ou as teorias científicas são desenvolvidos através de um conjunto de técnicas e de experimentos no

intuito de compreender ou resolver um problema anteriormente apresentado. As Ciências Sociais, por exemplo, possuem entre as suas diferentes missões o objetivo de investigar os problemas sociais que vivenciamos durante o nosso cotidiano. Levando isso em consideração, qual das respostas abaixo é a correta?

a) O senso comum corresponde à popularização e à massificação das descobertas científicas após uma ampla divulgação.

b) O senso comum corresponde aos conhecimentos produzidos individualmente e que ainda não passaram por uma validação científica.

c) O senso comum pode ser considerado um sinônimo da ignorância da população e uma justificativa para o atraso econômico.

d) O senso comum corresponde a um conhecimento não científico utilizado como solução para os problemas cotidianos, geralmente ele é pouco elaborado e sem um conhecimento profundo.

e) O senso comum e o conhecimento científico correspondem a duas formas de entendimento excludentes e possuidoras de fronteiras intransponíveis.

3. A Sociologia, juntamente com as outras ciências humanas surgiu, na segunda metade do século XIX, num contexto histórico que foi marcado, exceto: a) pela Revolução Industrial e pela afirmação do modo de produção capitalista. b) pela consolidação da burguesia como classe social hegemônica na sociedade europeia. c) pelo êxodo rural e por um processo de urbanização acelerado nos países industrializados. d) pelo aparecimento de extensa legislação trabalhista e de mecanismos de proteção social. e) pela explosão demográfica e pelo movimento migratório das populações europeias. 3. O surgimento da Sociologia foi propiciado pela necessidade de: a) Manter a interpretação mágica da realidade como patrimônio de um restrito círculo sacerdotal. b) Manter uma estrutura de pensamento mítica para a explicação do mundo. c) Condicionar o indivíduo, através dos rituais, a agir e pensar conforme os ensinamentos transmitidos pelos deuses. d) Considerar os fenômenos sociais como propriedade exclusiva de forças transcendentais. e) Observar, medir e comprovar as regras que tornassem possível, através da razão, prever os fenômenos sociais.

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4. “No início, a ciência quis a morte do mito, como a razão quis a supressão do irracional, visto como obstáculo a uma verdadeira compreensão do mundo, dando início assim a uma guerra interminável contra o pensamento mítico. Valéry glorificou esta luta destruidora contra as ‘coisas vagas’: ‘Aquilo que deixa de ser, por ser pouco preciso, é um mito; basta o rigor do olhar e os golpes múltiplos e convergentes das questões e interrogações categóricas, armas do espírito ativo, para se ver os mitos morrerem’. O mito por sua vez trabalha duro para se manter e, por meio de suas metamorfoses, está presente em todos os espaços. Do mesmo modo, a ciência atual busca menos sua erradicação que seu confinamento. Quando a ciência traça seus próprios limites, ela reserva ao mito – e ao sonho – o lugar que lhe é próprio.”

(BALANDIER, Georges. A desordem: elogio do movimento. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1997.p.17.) Com base no texto, é correto afirmar:

a) Pelo fato de ser destituído de significado social, o mito está ausente dos espaços sociais contemporâneos b) A delimitação da área de atuação do saber científico implica na constituição de um lugar próprio para o mito. c) A morte e o extermínio do mito no ocidente decorrem da supervalorização e consequente predomínio da razão. d) Na modernidade, o pensamento mítico é crucial para a compreensão científica do mundo. e) O pensamento mítico se disseminou porque se pauta em conceitos e categorias.

5. A Revolução Industrial consolidou o modo de produção capitalista. Esse sistema econômico e social,

predominante no mundo contemporâneo, pressupõe certas condições que caracterizam sua estrutura e funcionamento. Analise as afirmações a seguir relacionadas com as características básicas do sistema capitalista.

I. O capitalismo é um modo de produção baseado numa economia de mercado e monetária, mas sem especialização.

II. No sistema capitalista predominam a livre iniciativa e relações de produção que exploram o trabalho assalariado.

III. A propriedade privada dos meios de produção separa o trabalhador dos instrumentos e meios necessários para produzir.

Estão corretas: a) Apenas I. b) Apenas I e II.

c) Apenas I e III. d) Apenas II e III.

e) I, II e III.

6. Leia o texto a seguir:

“(...) grandes mudanças que ocorreram na história da humanidade, aquelas que aconteceram no século XVIII — e que se estenderam no século XIX — só foram superadas pelas grandes transformações do final do século XX. As mudanças provocadas pela revolução científico-tecnológica, que denominamos Revolução Industrial, marcaram profundamente a organização social, alterando-a por completo, criando novas formas de organização e causando modificações culturais duradouras, que perduram até os dias atuais.”

(DIAS, Reinaldo. Introdução à sociologia.)

A Sociologia surgiu com o objetivo de compreender as complexas relações sociais, ocasionadas pelas transformações ocorridas ao longo da história do ocidente, para então explicar, as origens e as consequências desse novo modelo de organização social. Sobre o surgimento da Sociologia e as transformações citadas no texto, assinale a alternativa correta.

a) A mecanização das fábricas, nas cidades, possibilitou o desenvolvimento econômico da população rural, que recebeu investimentos pesados.

b) A divisão social do trabalho foi minimizada com a inserção de novas tecnologias proporcionadas pelas revoluções do século XIX.

c) A Sociologia pretendia ser uma resposta intelectual aos problemas sociais, que surgiram com a Revolução Industrial.

d) O controle teológico da sociedade foi possível com o emprego sistemático da razão e da ciência como solução para os fatores sociais.

e) As atividades rurais foram os principais objetos de estudo dos intelectuais que deram origem à Sociologia como ciência.

7. Com a afirmação do capitalismo estruturou-se, também uma nova sociedade, dividida em duas camadas: a) a burguesia e o proletariado. b) a aristocracia e o campesinato. c) os homens livres e os escravos.

d) os pequenos e os grandes proprietários. e) os operários e os agricultores.

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8. Considere as afirmações sobre o processo de transição do feudalismo para o modo de produção capitalista, que ocorreu na Europa ao longo da Idade Moderna.

I. As relações de produção baseadas na servidão foram sendo, gradativamente, substituídas pelo trabalho assalariado, tanto nas cidades como no campo.

II. A burguesia foi se apropriando dos meios de produção e os trabalhadores foram separados dos instrumentos e dos meios necessários para produzir.

III. Esse período foi marcado pela acumulação primitiva do capital e por uma enorme expansão dos mercados, que foram fundamentais para a consolidação do capitalismo.

Estão corretas: a) Somente a I. b) Somente I e II.

c) Somente I e III. d) Somente II e III.

e) I, II e III.

9. A Sociologia, como ciência da sociedade, tem raízes nas transformações que começaram a se desenvolver a

partir do século XV, com a decadência do mundo feudal e o surgimento de uma sociedade capitalista. A Idade Moderna, que se desenrola até o século XVIII, é uma fase de grandes transformações na forma como os homens se relacionam entre si, com a natureza e com as coisas ao seu redor. Entre os acontecimentos que se desenrolaram nesse período, podemos destacar, exceto:

a) As Grandes Navegações e o Descobrimento da América. b) O Renascimento Cultural e a Reforma Protestante. c) A fase de apogeu e crise do Estado Moderno Absolutista. d) As Revoluções Burguesas e o início da Revolução Industrial. e) As Cruzadas em direção ao Oriente e a Era do Imperialismo.

GABARITO

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 E D D E B D C A E A

CAPITULO 2 – SOCIOLOGIA CLÁSSICA FRANCESA: COMTE E DURKHEIM

AUGUSTO COMTE: “PAI DO POSITIVISMO”

AS PREOCUPAÇÕES INICIAIS DA SOCIOLOGIA

A Sociologia teve como preocupação inicial uma visão muito próxima das intenções do Iluminismo, ou seja, manter unida uma sociedade que crescia complexa e variada. A proposta era que as ideias e as crenças comuns deveriam ser desenvolvidas para criar uma força unificadora na sociedade.

Auguste Comte, no quinto volume do seu livro Curso de Filosofia Positiva (1830-1842), examina a necessidade de haver uma disciplina que se dedique ao estudo científico da sociedade. Primeiramente, Comte a chama de física social. Somente, em 1939, Comte nomeará a nova ciência como Sociologia. Entretanto, a maior contribuição de Comte à Sociologia não foram apenas suas ideias, mas a luta pela legitimação da disciplina.

Com relação a este primeiro nome da posterior Sociologia, podemos fazer uma reflexão sobre como trabalha a física, ou mesmo a estática e a dinâmica. Neste sentido, percebemos que Comte objetivava analisar os problemas sociais com elementos das ciências físicas e naturais, sendo que a estática social seria referente à ordem, e a dinâmica social seria referente ao progresso. Estamos diante de uma concepção positivista da relação entre indivíduo e sociedade.

A questão significativa da época de Comte diz respeito à ideia de como fazer a sociedade manter-se coesa, unida, justamente quanto ela se torna mais complexa. Comte, em seu tempo e por suas circunstâncias, parece não responder a essa questão. Sua maior preocupação era instituir a Sociologia como uma ciência, uma “área de estudo”, na qual se encontravam presentes específicos métodos de análise. Cabe salientar que antes as questões acerca da sociedade eram analisadas principalmente por filósofos; e é com Comte que temos uma ciência cujo específico ponto de saber é o estudo da sociedade. Neste contexto, Comte se considerava fundador da Sociologia por afirmar ter descoberto a 1ª lei sociológica: a lei dos três estados.

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A linha de pensamento de Comte é denominada positivismo. O positivismo se baseou no afastamento radical da teologia ou metafísica da existência humana, afirmando que toda a vida humana tinha passado pelas mesmas fases históricas distintas e que, se o indivíduo pudesse compreender este progresso, poderia resolver os problemas sociais. Nesse sentido criou três princípios básicos do positivismo. Prioridade do todo sobre as partes: Para entender um fenômeno social particular é necessário entender o

contexto (mais amplo) no qual o fenômeno está inserido. O Progresso dos Conhecimentos é característico da Sociedade Humana: A sucessão de gerações, com

seus conhecimentos. Favorece a acumulação de saberes que constituem um patrimônio espiritual que reflete a forma como se fá a organização social e a relação entre gerações através da produção de conhecimento.

O homem é o mesmo em toda parte e em todos os tempos: em virtude de possuir idêntica constituição biológica e sistema cerebral.

Com base nesses 3 princípios, esse pensador aproximou-se de uma ideia de que a evolução poderia

ocorrer com homens de todas as partes, já que as condições eram semelhantes e os conhecimentos acumulativos. Comte determinou conseguiu determinar qual seria o ponto de menor desenvolvimento e qual o ponto de maior desenvolvimento (negativo para o positivo): onde o ponto de menor desenvolvimento seria toda e qualquer sociedade que não apresentasse as mesmas características da sociedade industrial europeia, logo o ponto de maior desenvolvimento seria toda e qualquer sociedade que apresentasse características semelhantes com a sociedade industrial europeia.

Através do cientificismo, Comte analisa a transformação de um mudo medieval (visão teológica) para um mundo racional, um mundo científico, industrial. Por esse motivo, August Comte é considerado um Autor Eurocêntrico, onde a Europa seria o paradigma de desenvolvimento elevado. Seguindo essa linha de raciocínio, a Europa também abusou deste argumento no período de neocolonialismo, para justificar a entrada das potencias europeias em continentes como África e Ásia, não para explorar, e sim para levar o desenvolvimento, a ciência, aquelas regiões, o que obviamente era uma desculpa para ocultar o caráter exploratório.

Assim, Comte estabelece etapas de desenvolvimento da sociedade, no qual acreditava que todo conhecimento e cultura já passaram por esse momento: o estado teológico, o estado metafísico e o estado positivo ou científico. Ou seja, a Lei dos Três Estados.

COMTE E LEIS DOS TRÊS ESTADOS A doutrina de Comte, baseada na lei dos três estados ou etapas do desenvolvimento das concepções

intelectuais da humanidade, compreende que no primeiro estágio a humanidade é regida por ficções da teologia; no segundo estágio, o da metafísica, a humanidade já faz uso da ciência, mas não se libertou totalmente das abstrações personificadas encontradas no primeiro – portanto, o segundo estágio serve apenas de intermediário entre o primeiro e o último (exemplos de “abstrações personificadas”: a “natureza”, como algo dotado de consciência, vontade e sentimentos; o “capital”, na concepção marxista). Essas duas fases buscam o absoluto e as razões últimas das coisas. Finalmente, no terceiro estágio, o positivo, a ciência já está totalmente consciente de si e, baseada no relativismo intrínseco à ciência, não se pretende apenas achar as causas dos fenômenos, mas descobrir as leis que os regem.

Os três estados, por ordem da história humana, são: Teológico ou Fictício: é caracterizado em explicações pautadas em fatores associados ou personificados em

deuses ou figuras míticas. Esse estágio pode ser subdividido em três tipos: Fetichismo – em que o homem confere vida, ação e poderes sobrenaturais a seres inanimados e

a animais. Politeísmo – quando atribui a diversas potências sobrenaturais ou deuses certos traços da natureza

humana (motivações, vícios, virtudes etc...). Monoteísmo – quando se desenvolve a crença em um único deus.

Estado Metafísico ou Abstrato - as causas primeiras são substituídas por causas mais gerais, abstratas (ideias) explicações sobre a natureza das coisas e a causa dos acontecimentos.

Estado positivo ou cientifico – o homem tenta compreender as relações entre as coisas e os acontecimentos através da observação científica e do raciocínio, formulando leis.

DURKHEIM

Se Augusto Comte foi o primeiro a formular alguns princípios e o termo Sociologia, Émile Durkheim foi o primeiro a elaborar um método e um objeto próprio, por isso é considerado o pai da Sociologia Moderna. Para Durkheim os fenômenos sociais deveriam se entendidos e analisados de acordo com explicações pautadas em regularidades e exclusivamente em aspectos sociais, descartando assim modelos explicativos influenciados por outras ciências como, por exemplo, a física, química e/ou matemática.

Para Durkheim, é no social que está tudo aquilo que a gente sabe, que os antepassados descobriram e que as futuras gerações irão descobrir. O social é universal e, por isso, é objetivo e racional. Para ele, o que não advém do social não tem importância para a sociologia que ele pretende fazer. Isso porque a sociedade é a pré-condição de ser humano: é na sociedade que o

indivíduo. A vida social unifica, estrutura e gera significados para a existência humana.

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Émile Durkheim preocupava-se em criar regras para o método sociológico, garantindo-lhe um status de saber científico, assim como as demais áreas do conhecimento. As regras do Método Sociológico simboliza o ápice da contribuição desse teórico. Nela desenvolve um método independente da filosofia, exclusivamente sociológico e objetivo. Partindo da ideia de que os fenômenos sociais devem ser tratados como coisas, Durkheim possibilita um processo analítico através do qual é possível elaborar modelos e “manusear” o objeto de estudo. Mais que isso, nessa obra Émilie Durkheim defini o objeto da sociológica na noção de fato social, que segundo o autor é caracterizado pela:

Exterioridade - o fato social é exterior ao indivíduo, existe independentemente de sua vontade. Generalidade - o fato social é geral e comum a todos os membros do grupo Coercitividade - Através de penalidades, fato social pressiona os membros a seguir determinados

comportamentos e condutas.

Um exemplo simples nos ajuda a entender esse conceito de fato social formulado por Durkheim: Se um aluno chegasse à escola vestido com roupa de praia, certamente ficaria numa situação desconfortável:

os colegas ririam dele, o professor lhe daria uma bronca e provavelmente o diretor o mandaria de volta para casa para por uma roupa adequada. Existe um modo de se vestir que é comum, que todos seguem (nesse caso, todos os alunos da escola). Isso não é estabelecido pelo indivíduo. Quando ele entrou no grupo, já existia tal norma e, quando ele sair, a norma provavelmente permanecera. Quer a pessoa goste ou não, ver-se-á obrigada a seguir o costume geral. Se não o seguir, sofrerá uma punição (que pode ir, conforme o caso, da ridicularizarão e do isolamento até uma sanção penal). O modo de se vestir é um fato social. São fatos sociais também a língua, o sistema monetário, a religião, as leis e uma infinidade de outros fenômenos do mesmo tipo.

Para o estudo de quaisquer fenômenos sociais, ele também recomenda abandono das pré-noções. Na obra o Suicídio (1987) Émile Durkheim demonstra, com algumas exceções, que o suicídio varia inversamente ao grau de integração do grupo social do qual o individuo faz parte. Para tanto se apoia na observação de estudos estatísticos e nas observações das regularidades desse fenômeno.

REPRESENTAÇÕES COLETIVAS (A CONSCIÊNCIA COLETIVA E A CONSCIÊNCIA INDIVIDUAL) Na obra Divisão do Trabalho social, Durkheim desenvolve importantes noções para a compreensão de sua

teoria, entre elas as de Consciência coletiva, Solidariedade Mecânica e Orgânica. E no mesmo estudo afirma que de todos os Sociólogos existentes até então, Augusto Comte foi o único a percebe que a divisão do trabalho era mais que um fenômeno econômico e sim a condição essencial para a vida social.

O social cria representações coletivas, que são atitudes comuns de uma determinada coletividade em uma determinada época. Esta representação coletiva independe dos indivíduos, pois o indivíduo não tem poder criativo. Para Durkheim, o social que determina o indivíduo. É como se cada indivíduo trouxesse em si a marca do social, e esta marca determinasse suas ações.

Consciência coletiva - é um conjunto das crenças e dos sentimentos comuns à média dos membros de uma mesma sociedade, forma um sistema determinado que tem vida própria (um ato criminoso é aquele que ofende justamente essa consciência coletiva).

SOLIDARIEDADE A comunhão dessas representações coletivas é por ele chamado de solidariedade. Não se trata de um

sentimento de bondade, mas de uma comunhão de ideias. A solidariedade é o partilhar de um mesmo conjunto de regras.

Há dois tipos de solidariedades, a mecânica ou por similitudes e a orgânica ou devida à divisão do trabalho. A evolução de uma sociedade faz com que ela passe da solidariedade mecânica, em que o partilhar das regras é feita de maneira coerciva, para a solidariedade orgânica, em que o partilhar das regras sociais é feita a partir da diferenciação feita pela divisão do trabalho social. Mas até em sociedades mais complexas ainda há espaço para a solidariedade mecânica. É o caso do direito penal: o direito penal é um resíduo de solidariedade mecânica ainda existente nas sociedades complexas.

Solidariedade Mecânica – É um tipo de solidariedade baseada na similitude dos indivíduos.

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As sociedades primitivas são caracterizadas pela solidariedade mecânica que se origina das semelhanças entre os membros individuais. Para a manutenção dessa igualdade, necessária à sobrevivência do grupo, deve a coerção social, baseada na consciência coletiva, ser severa e repressiva. Essas sociedades não podem tolerar as disparidades, a originalidade, os particularismos, tanto nos indivíduos quanto nos grupos, pois isso significa um processo de desintegração. Solidariedade Orgânica – baseada na interdependência dos indivíduos

Tal solidariedade é característica das sociedades complexas (europeias) marcadas por grande especialização do trabalho. Dessa forma, valoriza a interdependência entre as partes. Tal forma de solidariedade possibilita maior autonomia para o indivíduo.

Observação: A solidariedade de Durkheim não se refere a valor moral e sim à divisão do trabalho e à importância dessa na organização social.

DIVISÃO DO TRABALHO E FUNCIONALISMO

A divisão do trabalho, para ele, pode ser: normal ou geral e anômica ou patológica. Normal é o que se repete de maneira igual, o que funciona espontaneamente, gerando a solidariedade necessária à evolução do social. O patológico é aquilo que difere do normal. Durkheim acha que as coisas tendem à normalidade: até o patológico caminha para a normalidade.

Durkheim compara a sociedade a um corpo humano, onde o Estado é o cérebro, elaborando representações coletivas que aperfeiçoem a solidariedade. Para ele, todas as partes do corpo tem uma função, não havendo hierarquias entre as diferentes partes. É uma sociedade harmônica.

Até o crime é considerado normal porque não há sociedade onde não haja crime e também tem uma função social, a função de manter e gerar uma coesão social. Quando acontece um crime, a consciência coletiva é atingida: o social é agredido pelo indivíduo. Um ato não ofende a consciência coletiva porque seja criminoso, mas é criminoso porque ofende a consciência coletiva. No entanto, o Estado pode fortalecer a consciência coletiva através da punição do criminoso. É através da punição do criminoso que a consciência coletiva mantém a sua vitalidade. A pena impede um crescimento exagerado do crime, não permitindo que ele se torne patológico.

Numa visão durkheimiana, a impunidade, não-punição do crime pelo Estado, enfraquece a consciência coletiva, os laços de solidariedade, gerando um estado de anomia. Quando o patológico prevalece sobre o normal, há uma desestruturação social. O estado de anomia é uma situação limite e sem função na sociedade.

ARRASE NO ENEM

1. “O nome “positivismo” tem sua origem no adjetivo “positivo”, que significa certo, seguro, definitivo. Como

escola filosófica, derivou do “cientificismo”, isto é, da crença no poder dominante e absoluto da razão humana em conhecer a realidade e traduzi-la sob a forma de leis que seriam a base da regulamentação da vida do homem, da natureza e do próprio universo. Com esse conhecimento pretendia-se substituir as explicações teológicas, filosóficas e de senso comum por meio das quais - até então - o homem explicaria a realidade e a sua participação nela”

(COSTA, Cristina. Sociologia: introdução à ciência da sociedade. São Paulo, 2005, p.72.).

Sobre o positivismo assinale a alternativa correta. a) O positivismo, teoria criada por Auguste Comte, pregava a cientifização do pensamento e do estudo humano,

visando à obtenção de resultados claros, objetivos e completamente correto. b) O positivismo não derivou de nenhum método de investigação das ciências da natureza e sim criou o seu

próprio método investigativo. c) O positivismo foi uma teoria criada por Émile Durkheim para explicar os fatos sociais. d) O positivismo baseava suas explicações nas explicações teológicas, filosóficas e de senso comum. e) O positivismo não busca a certeza de nada e se baseia em explicações abstratas.

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2. Augusto Comte fala da passagem da humanidade por estágios para atingir o estágio positivo, que seriam progressivamente:

a) estágio metafísico, estágio teológico, estágio positivo. b) estágio matemático, estágio físico, estágio positivo. c) estágio teológico, estágio metafísico, estágio positivo. d) estágio antropológico, estágio teocêntrico, estágio positivo. e) estágio teleológico, estágio científico, estágio positivo.

3. Quando desempenho meus deveres de irmão, de esposo ou de cidadão, quando me desincumbo

de encargos que contraí, pratico deveres que estão definidos fora de mim e de meus atos, no direito e no costume”. Ainda exemplificando o mesmo conceito, refere-se Durkheim ao “sistema de sinais de que me sirvo para exprimir pensamentos, o sistema de moedas que emprego para pagar dívidas, os instrumentos de crédito que uso nas relações comerciais, as práticas seguidas nas profissões (...)”.

DURKHEIM, Émile. As regras do método sociológico, 4ª ed. Trad. de Maria Isaura Pereira Queiroz, São Paulo, Editora Nacional, 1966, p. 96. Para Durkheim, quais elementos caracterizam um fato social?

a) Exterioridade, generalidade e organicidade social. b) Coercitivade, generalidade e interatividade social. c) Exterioridade, coercitividade e generalidade. d) iberdade, coercitividade e solidariedade. e) Coercitividade, dignidade humana e organicidade social.

4. Na concepção sociológica baseada no positivismo funcionalista, a divisão social do trabalho cria uma

interdependência entre os indivíduos que resulta a) na solidariedade orgânica que caracteriza a sociedade. b) no conflito permanente entre os indivíduos e as classes sociais. c) em desequilíbrios e tensões que dificultam a estabilização da sociedade. d) na luta de classes que transforma a sociedade ao longo da História. e) no aumento da prosperidade econômica e no afrouxamento dos costumes. 5. (Ufu 2015) A concepção da Sociologia de Durkheim se baseia em uma teoria do fato social. Seu objetivo é

demonstrar que pode e deve existir uma Sociologia objetiva e científica, conforme o modelo das outras ciências, tendo por objeto o fato social.

ARON, R. As etapas do pensamento sociológico. São Paulo: Martins Fontes, 1995. p. 336.

Em vista do exposto, assinale a alternativa correta. a) Durkheim demonstrou que o fato social está desconectado dos padrões de comportamento culturais do

indivíduo em sociedade e, portanto, deve ser usado para explicar apenas alguns tipos de sociedade. b) Segundo Durkheim, a primeira regra, e a mais fundamental, é considerar os fatos sociais como coisas para

serem analisadas. c) O estado normal da sociedade para Durkheim é o estado de anomia, quando todos os indivíduos exercem

bem os fatos sociais. d) A solidariedade orgânica, para Durkheim, possui pequena divisão do trabalho social, como pode ser

demonstrada pela análise dos fatos sociais da sociedade. e) era o mesmo que ação social, sinônimos. 6. (Uel 2014) A cidade desempenha papel fundamental no pensamento de Émile Durkheim, tanto por exprimir o

desenvolvimento das formas de integração quanto por intensificar a divisão do trabalho social a ela ligada. Com base nos conhecimentos acerca da divisão de trabalho social nesse autor, assinale a alternativa correta.

a) A crescente divisão do trabalho com o intercâmbio livre de funções no espaço urbano torna obsoleta a presença de instituições.

b) A solidariedade orgânica é compatível com a sociedade de classes, pois a vida social necessita de trabalhos diferenciados.

c) Ao criar seres indiferenciados socialmente, o “homem massa”, as cidades recriam a solidariedade mecânica em detrimento da solidariedade orgânica.

d) O efeito principal da divisão do trabalho é o aumento da desintegração social em razão de trabalhos parcelares e independentes.

e) O equilíbrio e a coesão social produzidos pela crescente divisão do trabalho decorrem das vontades e das consciências individuais.

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7. (Uel 2015) Leia o texto a seguir. Até o século XVIII, a maioria dos campos de conhecimento, hoje enquadrados sob o rótulo de ciências, era ainda, como na Antiguidade Clássica, parte integral dos grandes sistemas filosóficos. A constituição de saberes autônomos, organizados em disciplinas específicas, como a Biologia ou a própria Sociologia, envolverá, de uma forma ou de outra, a progressiva reflexão filosófica, como a liberdade e a razão.

Adaptado de: QUINTANEIRO, T.; BARBOSA, M. L. O.; OLIVEIRA, M. G. M. Um Toque de Clássicos: Marx, Durkheim e Weber. Belo Horizonte: UFMG, 2002. p.12.

Com base nos conhecimentos sobre o surgimento da Sociologia, assinale a alternativa que apresenta, corretamente, a relação entre conhecimento sociológico de Auguste Comte e as ideias iluministas.

a) A ideia de desenvolvimento pela revolução social foi defendida pelo Iluminismo, que influenciou o Positivismo. b) A crença na razão como promotora do progresso da sociedade foi compartilhada pelo Iluminismo e pelo Positivismo. c) O Iluminismo forneceu os princípios e as bases teóricas da luta de classes para a formulação do Positivismo. d) O reconhecimento da validade do conhecimento teológico para explicar a realidade social é um ponto comum

entre o Iluminismo e o Positivismo. e) Os limites e as contradições do progresso para a liberdade humana foram apontados pelo Iluminismo e

aceitos pelo Positivismo.

8. (Ufu 2013) Na parte mais tardia de sua carreira, Comte elaborou planos ambiciosos para a reconstrução da sociedade francesa em particular, e para as sociedades humanas em geral, baseado no seu ponto de vista sociológico. Ele propôs o estabelecimento de uma “religião da humanidade”, que abandonaria a fé e o dogma em favor de um fundamento científico. A Sociologia estaria no centro dessa nova religião

GIDDENS, Anthony. Sociologia. 4.ed. Porto Alegre: Artmed, 2005. p. 28.

Com base nessa assertiva, Comte aponta para o papel da Sociologia como ciência fundamental para a compreensão

a) da ideia da revolução, como solução para sanar as questões da desigualdade social. b) da crença na ação dos indivíduos, como fator de intervenção na realidade. c) do consenso moral, como solução para regular e manter unida a sociedade. d) dos elementos subjetivos da sociedade, tendo em vista a pluralidade social. e) da literatura.

GABARITO

1 2 3 4 5 6 7 8 A C C A B B B C

CAPITULO 3 – SOCIOLOGIA INGLESA: SPENCER E O DARWINISMO SOCIAL

Herbert Spencer (1820-1903) foi um filosofo e sociólogo inglês, responsável pela

teoria do darwinismo social, considerado um seguidor de Comte e representante do positivismo na Grã-Bretanha. Acreditava que a evolução seria um principio universal, sempre operante.

Muito conhecido na sua época, Spencer fez parte do circulo de amigos de Charles Darwin, autor de A origem das espécies, obra publicada em 1859. Este último foi responsável pelo conceito de seleção natural e pela teoria da evolução a partir da lei do mais forte.

Spencer seguiu esta linha de pensamento e tentou aplicar as ideias de Darwin ao

contexto da vida do homem em sociedade, originando o dito darwinismo social. O qual influenciou o pensamento sociológico, o planejamento organizacional e o sistema educacional. Spencer seguiu esta linha de pensamento e tentou aplicar as ideias de Darwin ao contexto da vida do homem em sociedade, originando o dito darwinismo social. O qual influenciou o pensamento sociológico, o planejamento organizacional e o sistema educacional.

As ideias de Spencer Spencer aplicou o darwinismo ao contexto social, partindo do pressuposto

que o universo evolui e que a evolução é progresso, considerando, a exemplo de Comte, a ordem necessária para o progresso.

Para ele, todas as transformações possuem um caráter comum, compondo uma lei que, uma vez desvendada, permite prever as futuras transformações, embora esta previsão seja apenas parcial.

Acontece que toda causa produziria mais de um efeito, portanto, mais de uma modificação, constituindo novas causas e novos efeitos, multiplicados indefinidamente.

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Dentro deste contexto, Spencer aplicou a lei do mais forte às estruturas sociais. Chegou à conclusão que a seleção natural se aplicaria a sociedade quando pensada em termos de cooperação entre indivíduos em prol da supremacia de um grupo. Assim, não se trata somente do indivíduo mais forte prosperar, mas do grupo mais coeso e forte tornar-se hegemônico, formando a elite dirigente de uma civilização.

O DARWINISMO SOCIAL Darwinismo social é a teoria da evolução da sociedade. Recebe esse nome uma vez que se baseia no Darwinismo, que é a teoria da evolução desenvolvida por Charles Darwin (1808-1882), no século XIX. Como mencionado anteriormente, este estudo social foi desenvolvido entre os séculos XIX e XX pelo filósofo inglês Herbert Spencer (1820-1903).

SIGNIFICADO O Darwinismo social é um nome moderno dado a várias teorias da sociedade, que ganhou grande destaque no Reino Unido, América do Norte e Europa Ocidental, na década de 1870. Trata-se de uma tentativa de se aplicar o darwinismo nas sociedades humanas. Descreve o uso dos conceitos de luta pela existência e sobrevivência dos mais aptos, para justificar políticas que não fazem distinção entre aqueles capazes de sustentar a si e aqueles incapazes, de se sustentar. Esse conceito motivou as ideias de eugenia, racismo, imperialismo, fascismo, nazismo e na luta entre grupos e etnias nacionais. Atualmente, por causa das conotações negativas da teoria do darwinismo social, especialmente após as atrocidades da Segunda Guerra Mundial, poucas pessoas se descrevem como social-darwinistas, e o termo é geralmente visto como pejorativo. O darwinismo social acredita na premissa da existência de sociedades superiores às outras e que, nessa condição, as que se sobressaem física e intelectualmente devem e acabam por se tornar as governantes, enquanto as outras - menos aptas - deixariam de existir porque não eram capazes de acompanhar a linha evolutiva da sociedade; entrariam em extinção acompanhando o princípio de seleção natural da Teoria da Evolução. Assim, povos ditos civilizados (os europeus) têm o dever de ocupar, dominar e explorar as culturas “mais atrasadas”, a fim de levar-lhes desenvolvimento, progresso, avanços tecnológicos e permitir-lhes que alcancem os estágios superiores de civilização.

CRITICA AO DARWINISMO SOCIAL: NEOCOLONIALISMO E IMPERIALISMO

O darwinismo social tem ainda lugar no neocolonialismo ou imperialismo (não nos modelos antigos, mas de um imperialismo contemporâneo). Trata-se da política de expansão e domínio político e econômico e é resultado da exploração dos países colonizados, em virtude da demanda industrial das potências emergentes. Assim, a propósito do darwinismo social era corroborado o processo de dominação política e econômica e legitimação das potências emergentes, o chamado neocolonialismo e, como consequência, decorria a conquista de povos, que transmitia a ideia de benefício para o povo conquistado, dado que passariam a ser dirigidos por pessoas capazes para transformar e progredir seu povo; o que conferia ao conquistador a sua superioridade, visto que as nações superiores tinham a missão de “civilizar” as inferiores.

ARRASE NO ENEM

1. A ideia de “evolução” marcou fortemente a análise social do fim do século XIX e teve como principais expoentes, pelo menos na Inglaterra, Herbert Spencer e Edward Taylor. É correto afirmar que o paradigma evolucionista daquela época:

a) não defendia a ideia de competição e de “sobrevivência dos mais aptos”. b) negava a inevitabilidade e a universalidade do progresso das sociedades. c) rejeitava qualquer analogia entre a sociedade e o organismo humano. d) considerava que as formas primitivas de sociedade correspondiam às mais heterogêneas, e as modernas às

mais homogêneas. e) tinha no método comparativo uma das suas principais características. 2. O pensamento de Comte ganhou adeptos, fazendo assim com que novas teorias surgissem e endossassem

ainda mais a expoente sociologia de cunho científico. Na segunda metade do século XIX aparecem então duas teorias muito relevantes na seara da sociologia comteana:

a). darwinismo social e tecnicismo. b). darwinismo social e darwinismo cultural. c). darwinismo social e evolucionismo. d). darwinismo social e empirismo. e). darwinismo social e darwinismo econômico.

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3. Assinale a única alternativa correta. A abordagem clássica da Sociologia se refere ao Darwinismo social. É uma das características do Darwinismo social:

a) a proposta de novos patamares industriais sem destruição das culturas primitivas. b) a criação de zonas de livre comércio entre os povos europeus e não europeus. c) a consideração de que cada parte da humanidade tem seu próprio modelo de cultura. d) a civilização como princípio de unificação cultural e da busca de consenso. e) a conquista e a dominação de povos não europeus mesmo contra sua vontade. 3. O termo “darwinismo social” foi cunhado em 1879, em um contexto em que filósofos e cientistas se

interrogavam a respeito do impacto político, social e ético da aplicação das teorias evolucionistas de Darwin sobre as sociedades humanas. As opções a seguir retratam corretamente princípios do darwinismo social, à exceção de uma. Assinale-a.

a) A dinâmica da “luta pela vida e pela morte” é aplicada às comunidades humanas para justificar o predomínio de um grupo de indivíduos sobre outros.

b) O conceito darwiniano de espécie é utilizado para o estudo de diferentes grupos humanos e etnias e embasa uma perspectiva evolucionista das sociedades.

c) A desigualdade social é analisada mediante o conceito de “evolução por seleção natural do mais apto”. d) Os mecanismos biológicos que regulam o curso da natureza são os mesmos que Charles Darwin atribuiu à

sociedade dos homens. e) A regra darwinista da competição e da sobrevivência do mais forte é aplicada às relações internacionais e

alimenta um conceito agressivo de "interesses nacionais".

GABARITO

1 2 3 4 E C E D

CAPITULO 4 – SOCIOLOGIA ALEMÃ: MARX E WEBER

MARX Karl Marx (1818-1883) talvez seja o mais conhecido cientista social e também o menos conhecido. Explico

melhor: é difícil encontrar alguém que nunca tenha ouvido falar de Marx, mas também é difícil encontrar pessoas que conheçam bem as ideias deste autor. Talvez porque o pensamento de Marx seja muito aberto, o que possibilita leituras diferenciadas. Mas o pensamento de Marx é mais bem aproveitado pelos economistas que pelos cientistas sociais. Isso porque para Marx, a mercadoria é a base de todas as relações sociais, e este é o ponto-chave para a compreensão de suas ideias. Para ele, há uma tendência histórica das relações sociais se mercantilizarem: tudo vira mercadoria. Provavelmente Marx tenha dado tanta importância à economia porque estivesse presenciando as mudanças sociais provocadas pela Revolução Industrial, principalmente nas relações de trabalho. A partir da centralidade da mercadoria no pensamento de Marx, podemos entender alguns de seus conceitos mais importantes. Comecemos pela divisão do trabalho.

DIVISÃO DO TRABALHO

Evolutivamente, a divisão do trabalho é a segunda maneira de construir relações sociais de produção, que são formas como as sociedades se organizam para suprir suas necessidades. A primeira é a cooperação. Falar em divisão do trabalho em Marx é falar em formas de propriedade. Isso porque a divisão do trabalho se dá entre quem concede e quem executa o trabalho, entre os donos dos meios de produção e os donos da força de trabalho. CLASSES SOCIAIS E LUTA DE CLASSES

Para Marx, o modo de produção capitalista se caracteriza pela divisão da sociedade em classes, na exploração do trabalhador e na alienação, gerando assim uma sociedade desigual, antagônica, injusta, irracional e anárquica que deve ser substituída pelo socialismo através da revolução proletária.

Segundo Marx, na sociedade capitalista as relações sociais de produção definem duas grandes classes: de um lado, os capitalistas, que são aquelas pessoas que possuem os meios de produção (máquinas, ferramentas, capital, etc.) necessários para transformar a natureza e produzir mercadorias; do outro lado, os trabalhadores, também chamados, no seu conjunto, de proletariados, aqueles que nada possuem, a não ser o seu corpo e sua disposição para trabalhar. Assim o conceito de classe em Marx estabelece um grupo de indivíduos que ocupam uma mesma posição no processo de produção e nas relações de produção, em determinada sociedade. A classe a que pertencemos é que condiciona de maneira decisiva nossa atuação social. Neste sentido, é principalmente a situação de classe que condiciona a existência do individuo e sua relação com o resto da sociedade: podemos compartilhar ideias, amizades e comportamentos de indivíduos de outras classes, mas no

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momento de conflito, como nas greves ou mesmo no mercado (consumo), as diferenças irão aparecer de acordo com a classe a que pertencemos. Nessa relação de classes surgem a “classe em si” e “classe para si”:

“Classe em si” – quando o individuo não tem consciência de classe, ele encontrasse em qualquer posição (status) na estrutura econômica;

“Classe para si” – quando a pessoa tem consciência de classe, ele assume uma posição político ideológica.

MODO DE PRODUÇÃO E RELAÇÕES DE PRODUÇÃO

O modo de produção é a maneira pela qual a sociedade produz seus bens e serviços, como os utiliza e como os distribui. Assim, numa determinada época histórica, uma sociedade tem certa maneira de se organizar para produzir e para distribuir sua produção. Nesta teoria as relações de produção são o centro organizador de todos os aspectos da sociedade.

Para Marx, as forças produtivas altera-se no percorrer da história, antes se produzia com instrumentos simples hoje se utiliza instrumentos complexos. Ao longo da história, os homens têm produzido aquilo de que necessitam de vários modos e se organizado também. Por isso, segundo a dialética marxista e seu materialismo histórico, pode-se afirmar que a história da humanidade é a história da transformação da sociedade humana pelos diversos modos de produção: modo de produção primitivo, modo de produção escravista, modo de produção asiático, modo de produção feudal, modo de produção capitalista e modo de produção socialista.

MAIS-VALIA A mais-valia é o excedente de trabalho não pago, não incluído no salário do trabalhador. É a mais-valia

que forma o lucro que será investido para aumentar o capital. Existem dois tipos básicos de mais-valia: Mais-valia absoluta – cresce simplesmente prolongando a jornada de trabalho; Mais-valia relativa – cresce em relação ao aumento do sobre-trabalho e à correspondente diminuição do tempo de trabalho necessário que ocorre através do uso de tecnologia.

ALIENAÇÃO A alienação faz com que o trabalhador não se reconheça no produto de seu trabalho, não percebendo a

sua condição de explorado. A solução para o problema da alienação passa por uma luta política do próprio proletariado e não pela educação.

FETICHISMO A separação da mercadoria produzida pelo trabalhador dele mesmo esconde o caráter social do trabalho.

O fetichismo se dá quando a relação entre os valores aparece como algo natural, independente dos homens que os criaram. A criatura se desgarra do criador. O fetichismo incapacita o homem de enxergar o que há por trás das relações sociais. E o maior exemplo de fetichismo da mercadoria é a mais-valia.

IDEOLOGIA Para Marx, a ideologia é “um sistema de crenças ilusórias relacionadas a uma classe social determinada”.

Por isso, ele diz: “as ideias dominantes de uma época representam as ideias da classe dominante”. Percebe-se nas teorias de Marx, que o tema ideologia veicula uma relação fundamental que é a oposição entre o falso (ideologia) e o verdadeiro (saber científico). O falso representa a ideologia e o verdadeiro é representado pela ciência, que libertará o proletariado da dominação burguesa. Segundo as teorias marxianas, a ideologia é um conjunto lógico, sistemático e coerente de representações (ideias e valores) e de normas ou regras (de conduta) que indicam e prescrevem aos membros da sociedade o que devem pensar e como devem pensar, o que devem valorizar e como devem valorizar, o que devem sentir e como devem sentir, o que devem fazer e como devem fazer. A ideologia é, portanto, tem as seguintes características: é um corpo explicativo (representações) e prático (normas, regras, preceitos) de caráter prescritivo, normativo, regulador. Em outras palavras, é uma construção ideológica que serve para garantir o poder da classe dominante, mantendo a classe trabalhadora alienada.

WEBER Max Weber (1864-1920) vive numa época em que as ideias de Freud

impactavam as ciências sociais e em que os valores do individualismo moderno começavam a se consolidar. A grande inovação que Weber trouxe para a sociologia foi o individualismo metodológico. Para ele, o indivíduo escolhe ser o que é, embora as escolhas sejam limitadas pelo grau de conhecimento do indivíduo e pelas oportunidades oferecidas pela sociedade. O indivíduo é levado a escolher em todo instante, o que faz da vida uma constante possibilidade de mudança. O indivíduo escolhe em meio aos embates da vida social. Essa ideia faz com que o sentido da vida, da história, seja dado pelo próprio indivíduo. Os processos não têm sentido neles mesmos, mas são os indivíduos que dão sentido aos processos.

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AÇÃO SOCIAL A sociedade em Weber é vista como um conjunto de esferas autônomas que dão sentido às ações

individuais. Mas só o indivíduo é capaz de realizar ações sociais. Nesse sentido, para Weber o objeto de estudo da sociologia se constituía na ação social. Segundo esse autor: A Sociologia significa: uma ciência que pretende compreender interpretativamente a ação social e assim explicá-las causalmente em seu curso e em seus efeitos. Por ação entende-se, neste caso, um comportamento humano sempre na medida em que o agente ou os agentes se relacionem com um sentido subjetivo. Ou seja, um conjunto de ações não é necessariamente ação social. Para que haja uma ação social, o sentido da ação deve ser orientada para o outro. Seja esta ação para o ‘bem’ ou o ‘mal’ do outro. A ação social não implica uma reciprocidade de sentidos: o outro pode até não saber da intenção do agente.

Para Weber há quatro tipos de ação social: ação social tradicional, ação social afetiva, ação social racional quanto aos valores, ação social racional quanto aos fins.

Ação social de modo tradicional é aquela que o indivíduo toma de maneira automática, sem pensar para realizá-la.

Ação social de modo afetivo emocional implica uma maior participação do agente, mas são respostas mais emocionais que racionais. Ex.: relações familiares. Segundo Weber, estas duas primeiras ações sociais não interessam à sociologia.

Ação racional com relação a valores é aquela em que o sociólogo consegue construir uma racionalidade a partir dos valores presentes na sociedade. Esta ação social requer uma ética da convicção, um senso de missão que o indivíduo precisa cumprir em função dos valores que ele preza.

Ação racional com relação aos fins é aquela em que o indivíduo escolhe levando em consideração os fins que ele pretende atingir e os meios disponíveis para isso. A pessoa avalia se a ação que ela quer realizar vale a pena, tendo em vista as dificuldades que ele precisará enfrentar em decorrência de sua ação. Requer uma ética de responsabilidade do indivíduo por seus atos.

Por conta dessa preocupação explicativa sobre a ação social, Marx Weber é considerado o criado de uma sociologia conhecida como sociologia compreensiva, ou seja, uma sociologia que busca compreender as motivações individuais que impulsionam determinadas ações sociais.

RELAÇÃO SOCIAL Até agora falamos de ação social em Weber, que em diferente de relação social. Enquanto o

conhecimento do outro das intenções do agente não importa para a caracterização da ação social, a relação social é o sentido compartilhado da ação. Relação social não é o encontro de pessoas, mas a consciência de ambas do sentido da ação. A relação social é sempre probabilística, porque ela se fundamenta na probabilidade de ocorrer determinado evento, o que inclui oportunidade e risco. A vida social é totalmente instável: a única coisa estável da vida social é a possibilidade (e necessidade) de escolha. Não há determinismos sobre o que será a sociedade. Por isso, as análises sociológicas são baseadas em probabilidades e não em verdades.

DOMINAÇÃO Como já dissemos a vida social para Weber é uma luta constante. Por conta disso, ele não vê

possibilidade de relação social sem dominação. Todas as esferas da ação humana estão marcadas por algum tipo de dominação. Não existe e nem vai existir sociedade sem dominação, porque a dominação é condição de ser da sociedade. A dominação faz com que o indivíduo obedeça a uma ordem acreditando que está realizando sua própria vontade. O indivíduo conforma-se a um padrão por sua própria escolha e acha que está tomando uma decisão própria.

Existem pelo menos três tipos de dominação legítima: legitimação tradicional, legitimação carismática e legitimação racional. Para Weber a burocracia é a mais bem acabada forma de dominação legítima e racional. A burocracia baseia-se na crença na legalidade ou racionalidade de uma ordem. A burocracia mais eficaz de exercer a dominação. E é uma consequência do processo de racionalização da vida social moderna, sendo responsável pelo gerenciamento concentrado dos meios de administração da sociedade. A burocracia é uma forma de organizar o trabalho, é um padrão de regras para organizar o trabalho em sociedades complexas. A modernização para ele é o processo de passagem de uma perspectiva mais tradicional do mundo (em que as coisas são dadas) para uma perspectiva mais organizada (onde as coisas são elaboradas, construídas). Mas para Weber, só o herói individual (o líder carismático) pode alterar o rumo da história. Mesmo que imediatamente, uma vez que para Weber toda legitimação carismática tende a tornar-se legitimação tradicional.

ESFERAS SOCIAIS (ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL) A dominação pode ser exercida em diferentes esferas da vida social. As “esferas” são mais analítico-

teóricas que reais, e são criadas pela divisão social do trabalho. Uma esfera não determina uma outra esfera, mas elas trocam influências entre si. As esferas são autônomas, mas não independentes. A esfera é o lugar de luta por um tipo de sentido para as relações sociais. Classes, estamentos e partidos são fenômenos da disputa de poder nas esferas econômica, social e política, respectivamente.

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CLASSE E ESTAMENTO Vamos falar um pouco mais de classe e estamento em Weber, até para diferenciá-lo de Marx. Classe para

Weber é o conjunto de pessoas que tem a mesma posição diante do mercado. Há dois tipos básicos de classe, as que têm algum tipo de bem e as que não tem algum tipo de bem. Mas as classes também se diferenciam pela qualidade dos bens possuídos. As classes, como já dissemos estão ligadas à esfera econômica da vida social. Para Weber, a esfera econômica não tem capacidade de produzir um sentimento de pertencimento que seja capaz de gerar uma comunidade.

Estamento está ligado à esfera social, que é capaz de gerar comunidade. Estamento é um grupo social cuja característica principal é a consciência do sentido de pertencimento ao grupo. A luta por uma identidade social é o que caracteriza um estamento. A luta na esfera social é para saber qual estamento vai dominar. As profissões podem ser analisadas como estamentos. A ÉTICA PROTESTANTE E O “ESPÍRITO”

DO CAPITALISMO - WEBER Em “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”, Weber discorre sobre a relevância da reforma

protestante para a formação do capitalismo moderno, de modo que relaciona as doutrinas religiosas de crença protestante, para demonstrar o surgimento de um “modus operandi de relações sociais, que favorece e caracteriza a produção de excedentes, gerando o acúmulo de capital.

Há de se dizer, então, que o mundo outrora dominado pela religião católica, era também concebido a partir da cultura por ela promulgada. Isso quer dizer que o modo de vida pregado no catolicismo, era propagado para além dos limites da Igreja, perpassando a vida dos sujeitos. Entretanto, o catolicismo condenava a usura, e pregava a salvação das almas através da confissão, das indulgências e da presença aos cultos. Desta forma, o católico enxergava o trabalho como modo de sustentar-se, mas não via prescrição em também divertir-se, buscando modos de lazer nos quais empenhava seu dinheiro, e produzindo apenas para seu usufruto. Menos temerário ao pecado que o protestante, e impregnado pela proibição da usura, o católico pensava que pedir perdão a seu Deus seria suficiente para elevar-se ao “reino dos céus”. Assim, seguindo esta cultura religiosa, a acumulação de bens não encontrou caminhos amplos, e permaneceu adormecida.

Contudo, com o advento do protestantismo, a doutrina – e portanto, a cultura – católica modificou-se, e a salvação passou a ser para alguns, não mais passível de ser conquistada, mas sim uma providência divina, onde o trabalho era o meio crucial para glorificar-se. Para o protestante, o trabalho enobrece o homem, o dignifica diante de Deus, pois é parte de uma rotina que dá às costas ao pecado. Durante o período em que trabalha, o indivíduo não encontra tempo de contrariar as regras divinas: não pratica excessos, não cede à luxúria, não se dá a preguiça: não há como fugir das finalidades celestiais. E, complementando toda a doutrina protestante, ainda é crucial pontuar que nesta religião não há espaço para sociabilidade mundana, pois todo o prazer que se põe a parte da subserviência a Deus, fora considerado errado e abominável. Assim, restava a quem acreditava nestas premissas, o trabalho e a acumulação, já que as horas estendidas na produção excediam as necessidades destes religiosos, gerando o lucro.

Portanto, quando se fala em uma concepção tradicional de trabalho, trata-se da concepção católica, que não acumulava e pensava o trabalho como meio de garantir subsistência. Já a concepção que vê o trabalho como fim absoluto, é a protestante, que enxerga no emprego de esforços produtivos a finalidade da própria existência humana, interligada com os propósitos providenciais de Deus. Esta mudança no comportamento social, além do choque de culturas exposto nos parágrafos acima, suscita uma abrupta mudança no cenário econômico. Isso decorre do seguinte ciclo: O católico trabalha para viver, o protestante vive para trabalhar. O protestante gera excedente, e o acumula, investindo-o em cadernetas de poupança, gerando lucro. A finalidade protestante é salvar-se, e se o trabalho é salvador, empregar outros auxilia na salvação alheia. Logo, o protestante é dono dos meios de produção, detém os funcionários e acumula cada dia mais excedentes, gerando mais capital. E assim, a gênese do capitalismo moderno é concebida.

De modo geral, esse aspecto do pensamento de Weber, trata-se do gradual processo que o pensador chamou de "desencantamento do mundo", a forma pela qual o pensamento científico (fortemente influenciado pelo capitalismo e pela Revolução Industrial) fez desaparecer as forças “sobrenaturais-mágico-sacramental” (religião, pensamento

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mágico e crenças diversas) do passado. As interpretações míticas da realidade foram gradualmente sendo substituídas por uma visão racional. Ele queria mostrar que o protestantismo também tinha contribuído para eliminar a magia como meio de salvação. Diferente do catolicismo e do luteranismo que valorizavam os sacramentos, o puritanismo da seitas valorizava apenas o trabalho ascético (consagração a exercícios espirituais de autodisciplina) e a disciplina moral como formas de assegurar a certeza interior da salvação. Dessa forma elas tinham esvaziado completamente o papel da magia sacramental. O que importava era comprovar, do ponto de vista prático, a fé religiosa. Isso levou a uma forma prática de conduta chamada de racionalismo da dominação do mundo. Com esta leitura Weber desenvolve uma ampla leitura do processo de racionalização ocidental e moderno, apontando, portanto, a geração de novos costumes, de um comportamento inusitado e moral, que passa a sustentar a essência do sistema capitalista.

ARRASE NO ENEM

1. Karl Marx definiu a sociedade moderna como “capitalista” e buscou explicar seus mecanismos de

funcionamento examinando a realidade em sua mudança constante. A esse respeito afirmou: “(...) provoca a cólera e o açoite da burguesia e de seus portavozes doutrinários, porque no entendimento e na explicação positiva daquilo que existe, abriga também o entendimento de sua negação, de sua morte inelutável”. Esse trecho se refere ao conceito marxiano de

a) dialética. b) revolução.

c) ideologia. d) trabalho.

e) mais-valia.

2. A corrente do pensamento sociológico fundada por Max Weber, denominado sociologia compreensiva,

procura entender as instituições sociais através a) da compreensão do significado das ações sociais dos indivíduos b) da evolução das crenças e doutrinas religiosas através dos tempos c) dos fatos sociais que determinam o comportamento dos indivíduos d) de métodos transportados das ciências naturais para o plano social e) do conflito entre as classes sociais pelo controle dos meios de produção 3.

Música “Cidadão”, escrita por Zé Geraldo em 1981

“Tá vendo aquele edifício, moço, ajudei a levantar. Foi um tempo de aflição, eram quatro condução, Duas pra ir, duas pra voltar. Hoje depois dele pronto, olho pra cima e fico tonto, Mas chega um cidadão e me diz desconfiado: Tu tá aí admirado, ou tá querendo roubar. Meu domingo tá perdido, vou pra casa entristecido, Dá vontade de beber E pra aumentar o meu tédio, eu nem posso olhar pro prédio, Que eu ajudei a fazer. Tá vendo aquele colégio, moço, eu também trabalhei lá. Lá eu quase me arrebento, pus massa, fiz cimento, Ajudei a rebocar. Minha filha, inocente, vem pra mim toda contente Pai quero estudar

Mas me diz um cidadão: Criança de pé no chão aqui não pode estudar. Esta dor doeu mais forte. Porque eu deixei o Norte, eu me pus a me dizer. Lá a seca castigava, mas o pouco que eu plantava, Tinha direito de comer. Tá vendo aquela Igreja, moço, onde o padre diz amém. Pus o sino e o badalo, enchi minha mão de calo, Lá eu trabalhei também. Lá sim, valeu a pena, tem quermesse, tem novena, E o padre me deixa entrar. Foi lá que Cristo me disse: Rapaz, deixe de tolice, não se deixe amedrontar. Fui eu que criei a terra, enchi os rios, fiz a serra, não deixei nada faltar. Hoje o homem criou asas, e na maioria das casas, Eu também não posso entrar”.

Sobre a Mais-Valia, conceito de Karl Marx, o que é correto afirmar?

a) Karl Marx não tematizou a mais-valia e, sim, afirmou que ela era própria do período medieval, quando as pessoas viviam nos feudos medievais.

b) A mais-valia é o lucro que o burguês tem no final do mês, diferença entre receitas e despesas. c) A mais-valia depende da capacidade administrativa de um proletário, que administra as rendas obtidas através

da exploração do seu empregado burguês. d) Karl Marx nunca falou em mais-valia e, sim, os marxistas que, equivocadamente, atribuem a Marx o termo. e) É a diferença entre o valor da força de trabalho e o valor do produto do trabalho, sem a qual não existiria

o capitalismo.

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4. Nas Ciências Sociais, particularmente na Ciência Política, definir o Estado sempre foi uma tarefa prioritária. As tentativas nesta direção fizeram com que vários intelectuais vissem o Estado de formas diferentes, com naturezas diferentes. Numa palestra intitulada Política como vocação, Max Weber nos adverte, por exemplo, que o Estado pode ser entendido como uma relação de homens dominando homens. No trecho da canção d´O Rappa, Tribunal de Rua, dominação é o que se percebe, também, na relação entre cidadãos e policiais (braço armado do Estado).

A viatura foi chegando devagar E de repente, de repente resolveu me parar Um dos caras saiu de lá de dentro Já dizendo, aí compadre, você perdeu Se eu tiver que procurar você tá fodido Acho melhor você ir deixando esse flagrante comigo [...].

O Rappa. Lado A Lado B. Warner, 1999.

A partir da perspectiva weberiana, relacionada ao trecho da canção acima, evidencia-se que a dominação do Estado

a) é exercida pela autoridade legal reconhecida, daí caracterizar-se fundamentalmente como dominação racional legal.

b) é estabelecida por meio da violência prioritariamente exercida contra grupos e classes excluídos social e economicamente.

c) ocorre a partir da imposição da razão de Estado, ainda que contra as vontades dos cidadãos que, normalmente, àquela resistem.

d) a exemplo da dominação de outras instituições, opera de forma genérica, exterior e coercitiva. 5. (Enem PPL 2015) O impulso para o ganho, a perseguição do lucro, do dinheiro, da maior quantidade possível

de dinheiro não tem, em si mesma, nada que ver com o capitalismo. Tal impulso existe e sempre existiu. Pode-se dizer que tem sido comum a toda sorte e condição humanas em todos os tempos e em todos os países, sempre que se tenha apresentada a possibilidade objetiva para tanto. O capitalismo, porém, identifica-se com a busca do lucro, do lucro sempre renovado por meio da empresa permanente, capitalista e racional. Pois assim deve ser: numa ordem completamente capitalista da sociedade, uma empresa individual que não tirasse vantagem das oportunidades de obter lucros estaria condenada à extinção.

WEBER, M. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Martin Claret, 2001 (adaptado).

O capitalismo moderno, segundo Max Weber, apresenta como característica fundamental a

a) competitividade decorrente da acumulação de capital. b) implementação da flexibilidade produtiva e comercial. c) ação calculada e planejada para obter rentabilidade. d) socialização das condições de produção. e) mercantilização da força de trabalho. 6. Tanto Augusto Comte quanto Karl Marx identificam imperfeições na sociedade industrial capitalista, embora

cheguem a conclusões bem diferentes: para o positivismo de Comte, os conflitos entre trabalhadores e empresários são fenômenos secundários, deficiências, cuja correção é relativamente fácil, enquanto, para Karl Marx, os conflitos entre proletários e burgueses são o fato mais importante das sociedades modernas. A respeito das concepções teóricas desses autores, é CORRETO afirmar:

a) Comte pensava que a organização científica da sociedade industrial levaria a atribuir a cada indivíduo um lugar proporcional à sua capacidade, realizando-se assim a justiça social.

b) Comte considera que a partir do momento em que os homens pensam cientificamente, a atividade principal das coletividades passa a ser a luta de classes que leva necessariamente à resolução de todos os conflitos.

c) Marx acredita que a história humana é feita de consensos e implica, por um lado, o antagonismo entre opressores e oprimidos; por outro lado, tende a uma polarização em dois blocos: burgueses e proletários.

d) Para Karl Marx, o caráter contraditório do capitalismo manifesta-se no fato de que o crescimento dos meios de produção se traduz na elevação do nível de vida da maioria dos trabalhadores embora não elimine as desigualdades sociais.

e) Tanto Augusto Comte quanto Karl Marx concordam que a sociedade capitalista industrial expressa a predominância de um tipo de solidariedade, que classificam como orgânica, cujas características se refletirão diretamente em suas instituições.

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7. “A ação social (incluindo tolerância ou omissão) orienta-se pela ação de outros, que podem ser passadas,

presentes ou esperadas como futuras (vingança por ataques anteriores, réplica a ataques presentes, medidas de defesa diante de ataques futuros). Os ´outros` podem ser individualizados e conhecidos ou um pluralidade de indivíduos indeterminados e completamente desconhecidos”

(Max Weber. Ação social e relação social. In M.M. Foracchi e J.S Martins. Sociologia e Sociedade. Rio de Janeiro, LTC, 1977, p.139).

Max Weber, um dos clássicos da sociologia, autor dessa definição de ação social, que para ele constitui o objeto de estudo da sociologia, apontou a existência de quatro tipos de ação social. Quais são elas?

a) Ação tradicional, ação afetiva, ação política com relação a valores, ação racional com relação a fins. b) Ação tradicional, ação afetiva, ação racional e ação carismática. c) Ação tradicional, ação afetiva, ação política com relação a valores, ação política com relação a fins. d) Ação tradicional, ação afetiva, ação racional com relação a fins, ação racional com relação a valores. e) Ação tradicional, ação emotiva, ação racional com relação a fins e ação política não esperada.

8. No final de 2000 o jornalista Scott Miller publicou um artigo no The Street reproduzida no Estado de S. Paulo

(13 dez. 2000), com o titulo "Regalia para empregados compromete os lucros da Volks na Alemanha". No artigo ele afirma: "A Volkswagen vende cinco vezes mais automóveis do que a BMW, mas vale menos no mercado do que a rival. Para saber por que, é preciso pegar um operário típico da montadora alemã. Klaus Seifert é um veterano da Case. Cabelo grisalho, Seifert é um planejador eletrônico de currículo impecável. Sua filha trabalha na montadora e. nas horas vagas, o pai dá aulas de segurança no trânsito em escolas vizinhas. Mas Seifert tem, ainda, uma bela estabilidade no emprego. Ganha mais de 100 mil marcos por ano (51.125 euros), embora trabalhe apenas 7 horas e meia por dia, quatro dias por semana. 'Sei que falam que somos caros e inflexíveis protesta o alemão durante o almoço no refeitório da sede da Volkswagen AG. 'Mas o que ninguém entende é que produzimos veículos muito bons?' A relação entre lucro capitalista e remuneração da força de trabalho pode ser abordada a partir do conceito de mais-valia, definido como aquele ' valor produzido pelo trabalhador [e] que é apropriado pelo capitalista sem que um equivalente seja dado em troca."

(BOTTOMORE, Tom. Dicionário do pensamento marxista. Rio de Janeiro. Jorge Zahar, 1998. p.227).

Com o intuito de ampliar a taxa de extração de mais valia absoluta, qual seria a medida imediata mais adequada a ser tomada por uma empresa de automóveis?

a) Aumentar o número de veículos vendidos. b) Transferir sua fábrica para regiões cuja força de trabalho seja altamente qualificada. c) Incrementar a produtividade por meio da automatização dos processos de produção. d) Ampliar os gastos com capital constante, ou seja, o valor dependido em meios de produção. e) Intensificar a produtividade da força de trabalho sem novos investimentos de capital. 9. A corrente do pensamento sociológico fundada por Max Weber, denominado sociologia compreensiva,

procura entender as instituições sociais através a) da compreensão do significado das ações sociais dos indivíduos b) da evolução das crenças e doutrinas religiosas através dos tempos c) dos fatos sociais que determinam o comportamento dos indivíduos d) de métodos transportados das ciências naturais para o plano social e) do conflito entre as classes sociais pelo controle dos meios de produção

10. O que os operários vendem ao capitalista em troca de dinheiro é a sua força de trabalho. O capitalista compra

essa força de trabalho por um dia, uma semana, um mês etc. E depois de a ter comprado, utiliza-a fazendo trabalhar os operários durante o tempo estipulado. Com essa mesma quantia com que o capitalista lhes comprou a força de trabalho, poderia ele ter comprado duas libras de açúcar. (MARX, K. Trabalho assalariado e capital. Lisboa: “Avante!”, 1982. p. 153) No texto, a análise marxista está baseada numa correlação entre:

a) capitalismo e racionalização produtiva. b) dominação e aumento progressivo da exploração. c) divisão do trabalho e intensificação da luta de classes. d) salário e preço do trabalho mercantilizado. e) ideologia e mascaramento da realidade.

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11. A crescente intelectualização e racionalização não indicam um conhecimento maior e geral das condições

sob as quais vivemos. Significa a crença em que, se quiséssemos, poderíamos ter esse conhecimento a qualquer momento. Não há forças misteriosas incalculáveis; podemos dominar todas as coisas pelo cálculo.

WEBER, M. A ciência como vocação. In: GERTH, H., MILLS, W. (Org.). Max Weber: ensaios de sociologia. Rio de Janeiro: Zahar, 1979 (adaptado).

Tal como apresentada no texto, a proposição de Max Weber a respeito do processo de desencantamento do mundo evidencia o(a)

a) progresso civilizatório como decorrência da expansão do industrialismo. b) extinção do pensamento mítico como um desdobramento do capitalismo. c) emancipação como consequência do processo de racionalização da vida. d) afastamento de crenças tradicionais como uma característica da modernidade. e) fim do monoteísmo como condição para a consolidação da ciência. 12.

No capitalismo, os trabalhadores produzem todos os objetos existentes no mercado, isto é, todas as mercadorias; após havê-las produzido, entregam-nas aos proprietários dos meios de produção, mediante um salário; os proprietários dos meios de produção vendem as mercadorias aos comerciantes, que as colocam no mercado de consumo; e os trabalhadores ou produtores dessas mercadorias, quando vão ao mercado de consumo, não conseguem comprá-las. [...] Embora os diferentes trabalhadores saibam que produziram as diferentes mercadorias, não percebem que, como classe social, produziram todas elas, isto é, que os produtores de tecidos, roupas, alimentos [...] são membros da mesma classe social. Os trabalhadores se vêem como indivíduos isolados [...], não se reconhecem como produtores da riqueza e das coisas.

(CHAUÍ, M. Convite à Filosofia. 13 ed. São Paulo: Ática, 2004. p. 387.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre alienação e ideologia, considere as afirmativas a seguir: a) A consciência de classe para os trabalhadores resulta da vontade de cada trabalhador em superar a situação

de exploração em que se encontra sob o capitalismo. b) É no mercado que a exploração do trabalhador torna-se explícita, favorecendo a formação da ideologia

de classe. c) A ideologia da produção capitalista constitui-se de imagens e ideias que levam os indivíduos a

compreenderem a essência das relações sociais de produção. d) As mercadorias apresentam-se de forma a explicitar as relações de classe e o vínculo entre o trabalhador e o

produto realizado. e) O processo de não identificação do trabalhador com o produto de seu trabalho é o que se chama alienação. A

ideologia liga-se a este processo, ocultando as relações sociais que estruturam a sociedade.

GABARITO

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 A A E A C A D E A D D E

CAPITULO 5 – STATUS SOCIAL, ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL E DIFERENCIAÇÃO SOCIAL

A SOCIEDADE E SEUS ELEMENTOS A sociedade é um amplo agrupamento de pessoas que pode abranger diversas comunidades. É composta

por um numeroso conjunto de indivíduos com cultura, hábitos e comportamentos mais ou menos comuns. A sociedade é formada por diferenças. Diferenças sociais, religiosas, políticas etc. A sociedade brasileira é

marcada pelo profundo abismo que separa os mais ricos dos mais pobres. Somos uma das sociedades mais desiguais do mundo. Mas, é claro que, podemos mudar essa realidade social, pois a sociedade é dinâmica, e como somos parte da sociedade, nossas atitudes podem começar a fazer a mudança acontecer.

Infelizmente, é possível que não haja nunca uma sociedade perfeita. Mas, no país democrático em que vivemos, a sociedade dispõe de mecanismos para tentar equilibrar as diferenças, como a possibilidade de mobilidade social.

STATUS SOCIAL E PAPEL SOCIAL Na sociedade, encontramos indivíduos das mais variadas posições sociais, como o médico, o professor, o

militar etc. Os indivíduos que compõem a sociedade não se relacionam nem se distribuem de um modo qualquer. A posição social que ocupam implica direitos e deveres conforme o valor social conferido à essa posição. A posição ocupada pelo indivíduo dentro do espaço social denomina-se status social.

Cada pessoa, em uma determinada sociedade, pode ocupar tantos status quanto são os grupos sociais às quais ela pertença.

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Um Sr. X, por exemplo, possui status de idade e sexo; em sua família, ocupa o status de pai; é cidadão, é advogado. Possui, portanto, vários status, alguns assumidos sucessivamente, como o de idade (de criança passou a jovem, depois adulto e por fim velho), e outros ocupados ao mesmo tempo. O Sr. X, enquanto é pai, em sua família possui direitos e deveres próprios de pai, é advogado no grupo ocupacional, num clube recreativo é um dos sócios; na política, pertence a um partido, podendo ou não fazer parte de um diretório. Entre vários status que o indivíduo ocupa, um é considerado principal ou básico, pela qual a pessoa é classificada e por cuja referência sua conduta é julgada. O status básico pode ser comparado a um centro ao redor no qual giram os demais status. Por exemplo, um presidente da república é considerado pelo status de chefe de uma nação, mais do que pelo seu status de pai, marido, eleitor, cidadão etc. Mas o status que dá privilégios, poder, ascendência e que vai influir nos demais é o de presidente da república.

PAPEL SOCIAL

A parte dinâmica do status é o papel social, que pode ser definido como a realização dos direitos e deveres referentes ao status social a que o indivíduo pertence. O papel social é o comportamento esperado do indivíduo que ocupa determinado status na sociedade.

O professor lecionando, o pai aconselhando os filhos, o médico receitando, o chefe distribuindo ordens e serviços; todas essas pessoas estão desempenhando parte de seus papéis sociais. Cada indivíduo desempenha o papel social de um modo considerado positivo ou negativo pela sociedade. Alguns, a sociedade julga ótimos, por desempenharem de maneira brilhante o seu papel, enquanto outros são julgados péssimos ou regulares, conforme desempenhem mal ou ruim seus papéis.

QUAL A IMPORTÂNCIA DOS STATUS?

Na sociedade, todas nossas relações, nossas interações com outros grupos ou pessoas são influenciados pelos status e papéis sociais. Os status determinam:

a) a conduta do indivíduo no grupo e na sociedade - cada indivíduo age de acordo com o que se espera da sua posição;

b) os status determinam relações sociais – as relações sociais entre pessoas estabelecem-se, portanto, tendo por base os status sociais. A sociedade valoriza diversamente os status, atribuindo mais valores a uns que a outros;

c) o status é um mecanismo de controle social – o status é uma poderosa arma de controle social usada nas relações humanas para regular o comportamento do indivíduo na sociedade. Há mesmo normas que regem a conduta do indivíduo conforme seu status social.

ESTRATIFICAÇÃO

A estratificação social indica a existência de diferenças, de desigualdades entre pessoas de uma determinada sociedade. Ela indica a existência de grupos de pessoas que ocupam posições diferentes. Como já foi mencionado no capitulo anterior, são três os principais tipo de estratificação social: Estratificação econômica; Estratificação política e Estratificação profissional.

A estratificação social é a separação da sociedade em grupos de indivíduos que apresentam

características parecidas, como por exemplo: negros, brancos, católicos, protestantes, homem, mulher, pobres, ricos, etc. A estratificação é fruto das desigualdades sociais, ou seja, existe estratificação porque existem desigualdades. Podemos perceber a desigualdade em diversas áreas: oportunidade de trabalho, cultura, lazer, acesso aos meios de informação, acesso à educação, gênero, raça, religião, economia. Por isso, é importante ressaltar que todos os aspectos de uma sociedade – economia, política, social, cultural, etc. – estão interligados. Assim, os vários tipos de estratificação não podem ser entendidos separadamente.

A estratificação social é um fenômeno histórico, pois esteve presente em todas as épocas: desde os primeiros grupos de indivíduos até nossos tempos. Ela apenas mudou de forma, de intensidade, de causas; ou seja, as diferenciações sociais e a formação de suas características ocorrem em função de processos históricos explicáveis dentro de suas próprias lógicas. Portanto, não são fenômenos "naturais", derivados de alguma lógica exterior ao próprio ser humano, são processos construídos por agentes humanos que se opõem, sob a forma de grupos, no campo do conflito.

A Revolução Industrial e a transformação dos sistemas econômicos contribuíram para que as questões sobre a desigualdade social fossem mais bem visualizadas, discutidas e percebidas, principalmente depois do advento do capitalismo, tornando-as mais evidentes. Umas das características fundamentais que distingue nossa sociedade das antigas é a possibilidade de mobilidade social. Diferentemente da sociedade medieval na qual quem nascesse servo, morreria servo, e na qual não era possível lutar por direitos e por uma oportunidade de mudar de classe. Na sociedade ocidental contemporânea, por exemplo, isto já é possível e a mobilidade social se dá especialmente como consequência dos investimentos em educação, dos investimentos de formação e capacitação para o trabalho, que podem vir tanto do Estado quanto da própria iniciativa social. Em muitas ocasiões, a mobilidade social pode ser reivindicada por meio de movimentos sociais que, em sua maioria, reivindicam legitimidade diante da posição marginal de poder em que se encontram na sociedade.

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FORMAS DE ESTRATIFICAÇÃO Há inúmeros modelos de estratificação no mundo, mas analisaremos três: castas (Exemplos: Índia; Egito

Antigo; Grécia Antiga), estamentos (Exemplo: Europa Ocidental durante o feudalismo) e classes sociais (Exemplo: sociedades capitalistas). Essa tríade apresenta nuances, subdivisões e, por vezes, “camadas” constitutivas que representam elementos políticos, econômicos e culturais determinantes para o curso da vida cotidiana.

CASTAS

Apesar de ser identificado em outras sociedades, aqui, destacaremos o sistema de castas da Índia. O sistema de castas (e de subcastas) da Índia é uma divisão social importante na sociedade Hindu, não

apenas na Índia, mas no Nepal e outros países e populações de religião Hindu. Embora geralmente identificado com o hinduísmo, o sistema de castas também foi observado entre seguidores de outras religiões no subcontinente indiano, incluindo alguns grupos de muçulmanos e cristãos. A Constituição Indiana de 1950 (devido à pressão de políticos ocidentalizados) rejeita a discriminação com base na casta, em consonância com os princípios democráticos e seculares que fundaram a nação. Barreiras de casta deixaram de existir nas grandes cidades, mas persistem principalmente na zona rural do país.

Em geral, as castas constituem comunidades fechadas e de compartilhamento de características sociais hereditárias e endogâmicas, apesar de não serem delimitadas territorialmente. A hereditariedade é a base para a divisão da sociedade, sem qualquer possibilidade de ascensão social: aqueles que pertencem às castas inferiores não podem manter contatos sociais com os grupos superiores. Normalmente, a estratificação é reconhecida pelo sobrenome, mas, em algumas regiões, pode-se perceber a casta de um indivíduo por meio do dialeto falado, ocupação profissional, pelos alimentos que consome ou por suas vestimentas.

Todo modelo de estratificação social apresenta características próprias de controle social. No sistema de castas indiano, o hinduísmo institui a regulação social pelo comportamento do individuo em uma vida anterior: se sua conduta foi considerada boa, será recompensado nascendo em uma casta mais elevada na próxima vida; se não, será punido nascendo em casta mais baixa.

Castas e divisões na Índia Define-se casta como grupo social

hereditário, no qual a condição do indivíduo passa de pai para filho. O grupo endógamo, isto é, cada integrante só pode casar-se com pessoas do seu próprio grupo.

Sendo que os grupos são: - A cabeça (Brâmanes) representa os

sacerdotes, filósofos e professores; - Os braços (Xátrias) são os militares e

os governantes; - As pernas (Vaixás) são os

comerciantes e os agricultores; - Os pés (Sudras) são os artesãos, os operários e os camponeses [ex-servos]. - A "poeira sob os pés" não foram originados do corpo de Brahma, por isso não pertencem às castas, mas

tem um nome: são os Dalit ou párias, chamados de intocáveis (a quem Mahatma Gandhi deu o nome de Harijan, "filhos de Deus"). Os Dalit são constituídos por aqueles (e seus descendentes) que violaram os códigos das castas a que inicialmente pertenciam. São considerados impuros e, por isso, ninguém ousa tocar-lhes. Fazem os trabalhos considerados mais desprezíveis: recolha de resíduos, coveiros, talhantes, etc. Na sequência das invasões mongóis da Índia (século XIII), milhões de párias converter-se-iam ao islamismo, uma religião que não os marginalizava. Com o passar do tempo, ocorreram centenas de subdivisões, que não param de se multiplicar. Atualmente, no hinduísmo, existem mais de 3.000 subcastasnão-oficiais.

A origem do sistema de castas é incerta. Segundo o hinduísmo, vem de Brahma a divindade criadora do universo, mas parece ser proveniente da divisão entre os migrantes arianos — subgrupo dos indo-europeus que povoou a Península da Índia por volta de 2000 a.C - 1600 a.C., vindo do norte, pelo Punjabe - e os nativos (dasya), que se tornaram escravos. As primeiras referências históricas sobre a existência de castas se encontram em um livro sagrado dos indianos, o Manu, possivelmente escrito entre 800 a.C. e 250 a.C..

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ESTAMENTOS A sociedade feudal da Europa na Idade Média foi um

exemplo típico de uma sociedade estratificada em estamentos. A sociedade estamental feudal pode ser explicada pela

estrutura de poder e apropriação em que a terra é o elemento central. Ela define o prestígio de cada um e todos os outros são subordinados a quem detém a terra.

O estamento mais importante corresponde à nobreza detentora da terra. O clero tem a supremacia ideológica devido à igreja e os servos trabalham na terra. Esses últimos são o estado subordinado aos outros dois.

Os estamentos são sustentados por um conjunto de

direitos, deveres e privilégios reconhecidos publicamente por todos e aceitos como naturais. Ninguém considera o sistema injusto, pois acreditam ser a predestinação de cada um. As pessoas não conseguem pensar o mundo sem esses estamentos, assim como não conseguimos hoje pensar o mundo sem o Estado de direito. Num período marcado pelo Teocentrismo, as pessoas aceitavam as condições em que viviam uma vez que, para eles, “Deus” havia escolhido aquele destino.

Como vimos, o estamento ou estado é uma camada social semelhante à casta, porém mais aberta. Na sociedade estamental, a mobilidade social ascendente é difícil, porém não impossível, como na sociedade de castas.

Na sociedade feudal, os indivíduos raramente conseguiam ascender socialmente. Essa ascensão só era possível em alguns casos: quando a Igreja recrutava, em certas ocasiões, seus membros entre os mais pobres, caso o rei conferisse um título de nobreza a um homem do povo, ou ainda se a filha de um rico comerciante casasse com um nobre, tornando-se, assim, membro da aristocracia. Essas situações eram difíceis de acontecer e normalmente as pessoas permaneciam no estamento em que haviam nascido.

CLASSES SOCIAIS

Classe social significa um grupo

de indivíduos com características em comum do ponto de vista econômico, comportamental e de representação ideológica do mundo que o rodeia. Ao longo da história das ciências sociais existiram diversas reflexões e definições sobre uma classe social e das implicâncias de pertencer a uma ou outra.

Encontrar uma definição de classe social não é tarefa nada fácil, ainda mais quando o tema não gera uma definição consensual entre estudiosos das mais diferentes tradições políticas e intelectuais. Porém, uma coisa é certa! Todos estão de acordo com o fato de as classes sociais serem grupos amplos, em que a exploração econômica, opressão política e dominação cultural resultam da desigualdade econômica, do privilégio político e da discriminação cultural, respectivamente. Assim, as divisões em classes se dão na forma que o indivíduo está situado economicamente e sociopoliticamente em sua sociedade.

Considerando que a estrutura social da sociedade capitalista está dividida em classes, a apropriação econômica é o principal definidor da estratificação social. As outras distinções oriundas de diferenciações (religião, hereditariedade, ocupação profissional/intelectual, entre outras) são secundárias se comparadas à distinção econômica. Portanto, a hierarquia na sociedade capitalista é determinada pela posição que o indivíduo ou grupo ocupa na produção e no mercado, ou ainda a capacidade individual de consumo de cada sujeito. Se um indivíduo ocupar posição importante no mercado, automaticamente ocupará posição importante na sociedade. Por isso, normalmente divide-se os indivíduos em classes de acordo com a capacidade de consumo: ex: classe alta, média e baixa; classe A, B, C, D e E.

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A sociedade capitalista é a mais desigual se comparada a outros tipos. Uma minoria de pessoas se apropria de quase toda a riqueza produzida, expressa na renda, nas propriedades e também nos bens simbólicos expressos no acesso à educação e aos bens culturais como museus, livros, teatro, etc. A desigualdade pode ser observada na miséria de uns e riqueza de outros.

Principais características do sistema de classes:

Classes não são estabelecidas por providências legais ou religiosas. Não se baseia em posição herdada (como nos estamentos ou castas). As pessoas podem ascender ao topo

da pirâmide social sem pertencer a uma família considerada tradicional. Não existe restrição formal quanto ao casamento interclasse. A mobilidade social é maior (mesmo com dificuldades, a classe pode ser conquistada). No sistema de classes os fatores econômicos preponderam sobre todos os outros. As desigualdades se expressam na diferença de trabalho e arrecadação de cada um.

TEORIAS SOBRE A ESTRATIFICAÇÃO DE CLASSES NAS SOCIEDADES MODERNAS As duas principais definições de classe dentro da sociologia correspondem a Marx e a Weber, definições

que muitas vezes se apresentaram como antagônicas.

PERSPECTIVA MARXISTA Os marxistas explicam a desigualdade social a partir do pensamento de Marx. A desigualdade advém da

divisão do trabalho. A teoria marxista das classes sociais diz que: a organização social depende da econômica; o grupo dominante socialmente é o que controla as forças de produção e detém o capital; o grupo dominado detém apenas força de trabalho; esta desigualdade gera descontentamento social e gera conflitos (estes conflitos, chamado de luta de classes por Marx, são o motor que faz mudar a sociedade); a posição de classe é independente da consciência de pertença a essa mesma classe; as principais classes sociais são os capitalistas e os proletários, mas um grande número de posições intermédias são responsáveis por um sistema complexo e de grande conflitualidade.

PERSPECTIVA WEBERIANA A teoria de Max Weber parte da de Marx, porém introduz alguma complexidade: as classes resultam da

distribuição desigual do poder; o poder é variável quer a nível econômico, quer a nível social e político; a posição de classe é determinada na esfera econômica (existe uma enorme variedade de posições de classe que refletem as diversas capacidades econômicas e de acesso a bens materiais); a localização dos indivíduos numa classe é determinada pela sua posição face ao mercado, a sua capacidade econômica para aceder a saberes, títulos, qualificações, prestígio, honra, bens, empregos e propriedades; a combinação destes critérios resulta numa grande variedade de estatutos sociais (status); exemplos de classes podem ser os proprietários, intelectuais, etc.; a posição de classe não é herdada e deriva dos recursos que o indivíduo desenvolve ao longo da sua vida, o processo é fluido e flexível; as classes não são permanentes, os indivíduos entram e saem delas; o conflito de classes surge do desejo de equidade social.

Atualmente, as diferenças de classes têm vindo a esbater-se, no entanto, a desigualdade social permanece. O gênero é uma das grandes dimensões da desigualdade. Não existem sociedades modernas em que as mulheres tenham mais riqueza e status que os homens.

ARRASE NO ENEM 1. Em termos sociológicos, assinale o que não for correto sobre o conceito de classes sociais. a) Sua utilização visa explicar as formas pelas quais as desigualdades se estruturam e se reproduzem nas

sociedades. b) De acordo com Karl Marx, as relações entre as classes sociais transformam-se ao longo da história conforme

a dinâmica dos modos de produção. c) As classes sociais, para Marx, definem-se, sobretudo, pelas relações de cooperação que se desenvolvem

entre os diversos grupos envolvidos no sistema produtivo. d) A formação de uma classe social, como os proletários, só se realiza na sua relação com a classe opositora, no

caso do exemplo, a burguesia. e) A afirmação: “a história da humanidade é a história das lutas de classes” expressa a ideia de que as

transformações sociais estão profundamente associadas às contradições existentes entre as classes.

2. Em relação ao sistema de castas de uma sociedade, assinale a alternativa correta. a) Existe mobilidade social dentro de uma sociedade de castas. b) A exogamia faz parte dos casamentos realizados em sociedades de castas. c) Não existe mobilidade social dentro de uma sociedade de casta. d) Dentro de um sistema de castas não é importante a hereditariedade. e) Em um sistema de casta não existe a divisão entre castas superiores e inferiores.

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3. Os sistemas de estratificação estão divididos em três tipos diferentes: a) a casta, o estamento e a classe. b) As castas, os estamentos, a democracia.

c) a monarquia, o estamento e a classe. d) a escravidão, a casta, o regimentalismo.

4. A expressão estratificação deriva de estrato, que quer dizer camada. Por estratificação social

entendemos, exceto: a) A distribuição de indivíduos em grupos e grupos em camadas hierarquicamente superpostas dentro de

uma sociedade. b) O processo de aquisição é assimilação dos valores, das normas, regras, leis, costumes e as tradições do

grupo humano do qual fazemos parte. c) Que essa distribuição dos indivíduos se dá pela posição social, a partir das atividades que eles exercem e dos

papéis que desempenham na estrutura social. d) Que em determinadas sociedades podemos dizer que as pessoas estão distribuídas pelas camadas alta

(classe A), média (classe B) ou inferior (classe C), que correspondem a graus diferentes de poder, riqueza e prestígio.

e) Por exemplo, que na sociedade capitalista contemporânea as posições sociais são determinadas basicamente pela situação dos indivíduos no desempenho de suas atividades produtivas

5. Acerca das ideias desenvolvidas por Karl Marx e Max Weber, que formam a base da maioria das análises

sociológicas de classe e estratificação, assinale a opção correta. a) Para Marx, uma classe é um grupo de pessoas que se encontra em uma relação comum com os meios de

produção, isto é, os meios pelos quais elas extraem seu sustento. b) Para Karl Marx, nas sociedades pré-industriais, as duas classes principais eram a burguesia e o proletariado. c) De acordo com Marx, existe, entre as classes sociais, uma relação de perfeita harmonia. d) Para Max Weber, a estratificação social é simplesmente uma questão de classe. e) Max Weber acreditava que a posição de mercado do indivíduo não tinha influência sobre suas opções de vida

6. Em relação ao sistema de castas de uma sociedade, assinale a alternativa correta. a) Existe mobilidade social dentro de uma sociedade de castas. b) A exogamia faz parte dos casamentos realizados em sociedades de castas. c) Não existe mobilidade social dentro de uma sociedade de casta. d) Dentro de um sistema de castas não é importante a hereditariedade. e) Em um sistema de casta não existe a divisão entre castas superiores e inferiores.

7. Podemos entender que estratificação social é: a) A economia dividida entre os operários. b) A igualdade entre todos os indivíduos na sociedade.

c) Divisão da sociedade em camada social. d) A riqueza que cada um possui.

8. No capitalismo moderno, a sociedade é dividida em: a) classe social b) mobilidade social c) estratificação social d) estamento social 9. Em 2009, uma emissora de tv brasileira exibiu, no horário nobre, uma telenovela chamada Caminho das

Índias, que mostrava um pouco dos costumes e hábitos dos indianos. A sociedade indiana está estratificada em:

a) classe social b) castas sociais c) estamentos sociais d) estados sociais 10. (ENEM 2010) O Império Inca, que corresponde principalmente aos territórios da Bolívia e do Peru, chegou a

englobar enorme contingente populacional. Cuzco, a cidade sagrada, era o centro administrativo, com uma sociedade fortemente estratificada e composta por imperadores, nobres, sacerdotes, funcionários do governo, artesãos, camponeses, escravos e soldados. A religião contava com vários deuses, e a base da economia era a agricultura, principalmente o cultivo da batata e do milho. A principal característica da sociedade inca era a

a) ditadura teocrática, que igualava a todos. b) existência da igualdade social e da coletivização da terra. c) estrutura social desigual compensada pela coletivização de todos os bens. d) existência de mobilidade social, o que levou à composição da elite pelo mérito. e) impossibilidade de se mudar de extrato social e a existência de uma aristocracia hereditária.

GABARITO

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 E C A B A C C A B E

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CAPITULO 6 - INDIVÍDUO, SOCIEDADE E SOCIALIZAÇÃO

INTERAÇÃO SOCIAL É a ação social, mutuamente orientada, de dois ou mais indivíduos em contato. Distingue-se da mera

interestimulação em virtude de envolver significados e expectativas em relação às ações de outras pessoas. Podemos dizer que a interação social é a relação de ações sociais. O aspecto mais importante da interação social é que ela modifica o comportamento dos indivíduos envolvidos, como resultado do contato e da comunicação que se estabelece entre eles. Desse modo, fica claro que o simples contato físico não é suficiente para que haja uma interação social. Os contatos sociais e a interação constituem, portanto, condições indispensáveis à associação humana. Os indivíduos se socializam por meios dos contatos e da interação social; e a interação social pode ocorrer entre uma pessoa e outra, entre uma pessoa e um grupo e outro.

ELEMENTOS PRINCIPAIS DA SOCIEDADE HUMANA

O homem sempre viveu em grupos e não podemos imaginar a sua existência fora deles. Sem contato com o grupo social, o homem dificilmente pode desenvolver as características que chamamos de humanas, como, por exemplo: organizar instituições, chorar e sentir pela morte de seus entes queridos, transmitir mensagens através de símbolos... O processo de hominização ocorre, justamente, na sociedade em que ele aprende a viver com outros homens e a se comportar como tal. Portanto, o ser humano é produto da interação social. É interagindo com os outros homens, ou seja, é influenciando e sendo influenciado que ele irá aprender a conviver.

Segundo Durkheim que o homem só é homem porque vive em sociedade. A criança não nasce sabendo se comportar em sociedade. É convivendo, primeiramente, com seus grupos mais íntimos (família e escola) e depois com outros grupos que irá se tornar um membro ativo da sociedade em que nasceu. A esse processo chamamos de socialização.

Consequentemente, podemos observar que a criança tem poucas possibilidades de seguir seus desejos e suas vontades, que normalmente são hedonistas e egoístas e que muitas vezes são opostas às vontades do grupo, o qual exige restrição, disciplina, ordem e abnegação. E nesta relação, a sociedade normalmente sai ganhando.

Embora o ambiente físico seja também importante, o ambiente social é o fator verdadeiramente determinante na socialização da criança. Mas este processo durará pela vida toda, pois ele é permanente e nós estamos sempre aprendendo coisas novas em nossa sociedade.

O ambiente social influencia até no tipo de personalidade dos indivíduos, assim observamos, ao longo da História, sociedades que geraram homens guerreiros, homens caçadores, homens viajantes, homens executivos com tino para negócios, etc. De um modo geral, pode-se dizer que cada cultura produzirá seu tipo especial ou tipos especiais de personalidades.

A SOCIALIZAÇÃO E OS AGENTES DE SOCIALIZAÇÃO

Existem varias definições da “socialização”. Porém, em geral, a socialização é um processo que continua toda a vida, onde o indivíduo integra elementos socio-culturais da sua cultura. É um processo que permite à sociedade integrar indivíduos como um ser social transmitindo valores.

Os comportamentos dos indivíduos não são naturais, são culturais. Na verdade, são o resultado da

integração dos valores, das normas sociais e dos papéis sociais. A socialização começa na infância, esta etapa se chama “socialização primária”, e continua por toda a vida. Durante a socialização primária, a família, a escola e os amigos têm um papel particularmente importante. O sociólogo e psicólogo George H. Mead explica que os meninos se identificam com as pessoas que estão ao seu redor: pais, amigos e também os personagens da televisão, etc. Segundo ele, os meninos vão reproduzir os comportamentos destas pessoas que são valorizadas por ele.

Além disso, se um menino não respeita as normas sociais, os pais ou o professor vão lhe dizer que não está bem comportar-se assim. Então, quando o menino não respeita a norma, uma sanção negativa vai aparecer. Assim, em geral, o menino, vai ter mais vontade de ficar dentro da norma social para não receber muitas sanções negativas. A socialização consolida a probabilidade de ter um comportamento considerado como normal. Porém, é verdade que, às vezes, a escola e a família não respeitam os mesmos valores. O indivíduo tem a sensação de ser livre do seu comportamento, porém, na verdade, é so o resultado da sua socialização. Cada cultura compartilha um patrimônio cultural que permite interações sociais. Por exemplo, na França, para nos cumprimentarmos, damos dois beijos nos amigos. Todos os franceses sabem disso graças à socialização.

A socialização secundária é posterior à socialização primária, existe quando você chega à idade adulta. Aqui, a socialização integra o indivíduo em novos contextos (no trabalho, por exemplo). O indivíduo vai aprender novos papéis.

Existem 3 tipos de mecanismos de socialização: A socialização por aprendizagem: O indivíduo se socializa quando ele aprende os valores, as normas

sociais. Por exemplo, o professor diz explicitamente o que ele tem de fazer e não fazer. A socialização por imitação: O indivíduo reproduz os comportamentos que ele pode ver. A socialização por identificação: O indivíduo vai se identificar com outras pessoas (pais, etc.)

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Agora, falamos dos agentes de socialização. A socialização permite a relação entre o indivíduo e um grupo social que mistura normas e valores. Estes grupos são os agentes de socialização. Há vários: podem ser a família, a escola, as associações, as empresas, etc.

Para a socialização primária, a família tem o papel mais importante. Os pais transmitem ao filho a língua, os valores gerais, as normas, a maneira de se comportar, os costumes, a cultura, etc. Depois, a escola permite transmitir a cultura do país. As associações permitem completar a socialização e o papel dos pais. Também, as mídias (televisão, rádio, internet) são um agente de socialização. Por exemplo, um adolescente pode se identificar com um personagem de uma telenovela. Além disso, os amigos têm um papel também importante. Os grupos de amigos compartilham valores e normais sociais, como a maneira de falar e as práticas culturais, por exemplo.

Para a socialização secundária, os indivíduos que trabalham com você são os seus agentes de socialização. Segundo Peter Berger e Thomas Luckman, a socialização secundária é a socialização que quer interiorizar os valores e as normas próprias a um grupo profissional. Aqui, o indivíduo vai aprender os valores da empresa. A família tem um novo papel na socialização. Por exemplo, o marido é um novo agente de socialização. Podemos citar as associações como, também, agentes de socialização.

ARRASE NO ENEM

1. Um volume imenso de pesquisas tem sido produzido para tentar avaliar os efeitos dos programas de televisão. A maioria desses estudos diz respeito às crianças - o que é bastante compreensível pela quantidade de tempo que elas passam em frente ao aparelho e pelas possíveis implicações desse comportamento para a socialização. Dois dos tópicos mais pesquisados são o impacto da televisão no âmbito do crime e da violência e a natureza das notícias exibidas na televisão.

GIDDENS, A. Sociologia. Porto Alegre: Artmed, 2005.

O texto indica que existe uma significativa produção científica sobre os impactos socioculturais da televisão na vida do ser humano. E as crianças, em particular, são as mais vulneráveis a essas influências, porque a) codificam informações transmitidas nos programas infantis por meio da observação. b) adquirem conhecimentos variados que incentivam o processo de interação social. c) interiorizam padrões de comportamento e papéis sociais com menor visão crítica. d) observam formas de convivência social baseadas na tolerância e no respeito. e) apreendem modelos de sociedade pautados na observância das leis. 2. Nas brincadeiras as crianças amadurecem algumas capacidades de socialização por meio da interação e da

utilização e experimentação de regras e papéis sociais, portanto, o brincar é: a) Uma das atividades fundamentais para o desenvolvimento da identidade e da autonomia b) Uma capacidade de vivenciar a realidade de maneira contraditória afetando o desenvolvimento c) Uma sensibilidade irreal do que já se conhece d) Uma experiência prévia além da sensibilidade e) Uma atividade que deve ser acompanhada pelo professor 3. Os territórios são espaços de relações sociais, de construção da sociabilidade, de convivência, de interação e

de pertencimento dos indivíduos, famílias e grupos sociais, de expectativas, sonhos e frustrações. Nesse sentido, os territórios são constituídos, exceto:

a) Homogeneidade b) Espaços geográficos.

c) Espaços políticos. d) Lugar de moradia.

e) Relações de Poder.

4. Vamos ler o seguinte trecho de texto:

É, assim, imprescindível debater com a sociedade um outro conceito de currículo e escola, com novos parâmetros de qualidade. Uma escola que seja um espaço e um tempo de aprendizados de socialização, de vivências culturais, de investimento na autonomia, de desafios, de prazer e de alegria, enfim, do desenvolvimento do ser humano em todas as suas dimensões. Essa escola deve ser construída a partir do conhecimento da realidade brasileira. Nesse processo, é preciso valorizar os avanços e superar as lacunas existentes no projeto político-pedagógico, ou seja, melhorar aquilo que pode ser melhorado.

Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Departamento de políticas de educação infantil e ensino fundamental. Coordenação geral do ensino fundamental. Orientações gerais. Brasília, 2004. p. 11.

Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Ensfund/noveanorienger.pdf>. Acessado em: 26/05/2012.

A partir do texto citado podemos estabelecer que: a) A escola é a única instituição para que as crianças aprendam e interiorizem as normas e regras que o

processo de socialização tem para nos transmitir. b) A escola não tem a obrigação de considerar dimensões ou problemáticas externas, já que é somente

responsável por aquilo que acontece nas salas de aula e por ensinar o conteúdo curricular estabelecido. c) A transmissão de conhecimentos sociais, de regras, comportamentos, respeito e atitudes corretas para as

crianças acontece no espaço da escola de maneira exclusiva e unilateral do professor para a criança, já que, quando entram na escola, elas desconhecem as maneiras apropriadas de se comportar.

d) A escola é uma das instituições que fazem parte do processo de socialização e, precisamente por isso, deve ser sensível às problemáticas externas, pois as crianças convivem com diversas realidades econômicas e culturais.

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5. Estabelecemos determinadas características sobre o processo de socialização, assim como as maneiras nas quais nós o experimentamos. Levando em conta as informações referidas e utilizando como inspiração a imagem aqui colocada, podemos compreender:

a) Para se converter num adulto responsável é preciso deixar para trás as ideias e pensamentos infantis, já que é necessário assumir outras responsabilidades.

b) O tipo de adulto que somos depende, em grande parte, do tipo de criação que tivemos quando criança, ou seja, os valores que aprendemos, as atividades que praticamos, as pessoas que conhecemos, etc.

c) Todos os adultos gostariam de se comportar como crianças, de maneira livre e sem respeitar as normas, mas não podem fazê-lo por coações externas que os obrigam a se comportar de outras maneiras.

d) Quando alcançamos a fase adulta, temos por finalizado o processo de socialização, tendo assim já assimilado e interiorizado todo o conhecimento social sobre as normas, valores, costumes, etc.

6. É o ponto de partida no processo de socialização que acontece em nossa vida desde que nascemos. Esse processo tem origem:

a) na escola b) na família

c) na igreja que frequentamos d) no bairro ou na comunidade em que vivemos

7. “Socialização significa o processo pelo qual um indivíduo se torna um membro ativo da sociedade em que

nasceu, isto é, comporta-se de acordo com seus folkways e mores [...]. Há pouca dúvida de que a sociedade, por suas exigências sobre os indivíduos determina, em grande parte, o tipo de personalidade que predominará. Naturalmente, numa sociedade complexa como a nossa, com extrema heterogeneidade de padrões, haverá consideráveis variações. Seria, portanto, exagerado dizer que a cultura produz uma personalidade totalmente estereotipada. A sociedade proporciona, antes, os limites dentro dos quais a personalidade se desenvolverá”.

Fonte: KOENIG, S. Elementos de Sociologia. Tradução de Vera Borda, Rio de Janeiro, Zahar Editores, 1967, p. 70-75.

Com base no texto e nos conhecimentos sobre o tema, é correto afirmar: a) Existe uma interação entre a cultura e a personalidade, o que faz com que as individualidades sejam

influenciadas de diferentes modos e graus pelo ambiente social. b) Apesar de os indivíduos se diferenciarem desde o nascimento por dotes físicos e mentais, desenvolvem

personalidades praticamente idênticas por conta da influência da sociedade em que vivem. c) A sociedade impõe, por suas exigências, aprovações e desaprovações, o tipo de personalidade que o

indivíduo terá. d) O indivíduo já nasce com uma personalidade que dificilmente mudará por influência da sociedade ou do

meio ambiente. e) São as tendências hereditárias e não a sociedade que determinam a personalidade do indivíduo. 8. Sobre o processo de Socialização marque a alternativa correta: a) Ocorre no momento em que são incorporadas as normas gerais de comportamento de um grupo. b) Não existem regras pré-estabelecidas para a socialização, pois esse processo é marcado pela sua

unilateralidade. c) Fatores como a linguagem e as formas de organização coletiva não interferem no processo de interiorização. d) Os métodos socioeducativos que permitem a recondução de ex-presidiários podem ser considerados como os

melhores exemplos de socialização primária. e) A família é o único e principal agente de socialização de todas as pessoas que se inserem em um

determinado grupo ou comunidade.

9. O grupo “Legião Urbana, na música “Pais e Filhos”, canta “Eu moro na rua, não tenho ninguém, eu moro em qualquer lugar, já morei em tanta casa que nem me lembro mais, eu moro com meus pais”. A partir dessa afirmativa e a respeito dos estudos sociológicos sobre família, é verdadeiro o que se afirma em

a) A monogamia é uma característica geral da instituição famíliar. b) A proteção, a autoridade e o afeto são características que ocorrem apenas nas sociedades capitalistas. c) A família exerce dois tipos de socialização — primária e secundária —, sendo a segunda a mais importante. d) A socialização é uma das mais importantes funções da família por preparar o ingresso da criança

na sociedade. e) A família conjugal é típica de sociedades tradicionais e consiste em um grande número de parentes que

habitam juntos e nutrem sentimento de lealdade.

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10. A percepção individual ou coletiva da IDENTIDADE, de caráter seja processual, seja relacional, é marcada pela diferença expressa em um comportamento que evidencia o pertencimento a um grupo social específico. Ao refletir sobre o texto, podemos concluir que

a) cada tipo de grupo possui seus anormais que dele não participam ou tentam escapar das influências coletivas que oprimem o indivíduo.

b) cada pessoa, no decorrer da socialização, desenvolve um sentido de identidade e a capacidade para o pensamento e para a ação independente.

c) uma variedade de disciplinas básicas produzem os traços de personalidade e moldam nossa própria identidade sem definir o que somos.

d) o conjunto de esquemas de conduta fixadas por efeito da repetição não se formaliza com a negociação constante do indivíduo com o mundo.

e) a formação dos primeiros vínculos sociais não influi no mecanismo de estruturação do Eu e da identidade própria configurada pelo grupo.

GABARITO

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 C A A D B B A A D B

CAPITULO 7 – A SOCIEDADE CAPITALISTA E OS AUTORES DO LIBERALISMO

LIBERALISMO: A CORRENTE

IDEOLÓGICA POLÍTICA E ECONÔMICA BURGUESA

Surgido em consequência da luta histórica da burguesia para superar os obstáculos que a ordem jurídica feudal opunha ao livre desenvolvimento da economia, o liberalismo tornou-se uma corrente doutrinária de importância capital na vida política, econômica e social dos estados modernos. Liberalismo é uma doutrina política e econômica que, em suas formulações originais, postulava a limitação do poder estatal em benefício da liberdade individual. Fundamentado nas teorias racionalistas e empiristas do Iluminismo e na expansão econômica gerada pela industrialização, o liberalismo converteu-se, desde o final do século XVIII, na ideologia da burguesia em sua luta contra as estruturas que se opunham ao livre jogo das forças econômicas e à participação da sociedade na direção do estado.

LIBERALISMO CLÁSSICO

O liberalismo clássico, também referido como liberalismo tradicional, liberalismo laissez-faire ou liberalismo de mercado, é uma filosofia política e uma doutrina econômica cuja principal característica é a defesa da liberdade individual, com limitação do poder do Estado pelo império da lei (ou pela rule of law anglo-saxã), a igualdade de todos perante a lei, o direito de propriedade, e, em política econômica, prega o laissez-faire . Como filosofia, emerge no século XIX, na Europa e nos Estados Unidos, no contexto da Revolução Industrial e do incremento da urbanização. Tem como fontes algumas ideias correntes no final do século XVIII – sobretudo de Adam Smith, John Locke, Jean-Baptiste Say, Thomas Malthus, David Ricardo, Voltaire e Montesquieu, destacando-se a crença no livre mercado, no jusnaturalismo, no utilitarismo, e no progresso. Assim sendo, é a fusão do liberalismo econômico com liberalismo político do final do século XVIII e início do século XIX. Conseguiria criar uma ordem espontânea, ou seja, apesar da inexistência de uma entidade coordenadora do interesse comum, a interação dos indivíduos obedeceria a uma determinada ordem, como se houvesse uma "mão invisível" - expressão introduzida por Adam Smith em "A Riqueza das Nações" -, orientando a economia e beneficiando a sociedade.

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PENSADORES DO LIBERALISMO O pensamento liberal é marcado por uma enorme diversidade de ideias, que foram evoluindo de acordo com a própria sociedade. John Lock conta-se entre os pioneiros do liberalismo, ao defender um conjunto de direito naturais inalienáveis do indivíduo anteriores à própria sociedade: a liberdade, a propriedade e a vida. Entre as grandes referências clássicas do pensamento liberal, conta-se, entre outros: John Locke (1632-1704): exalta os principais argumentos liberais: a primazia da liberdade individual, a propriedade privada, a ação da livre iniciativa no tecido social, etc. Adam Smith (1723-1790): O papel do Estado na económica devia de ser reduzido, sendo esta confiada à autorregulação do mercado. O Estado deve limitar-se a facilitar a produção privada, a manter a ordem pública, fazer respeitar a justiça e proteger a propriedade. Smith defende ainda a concorrência entre os privados, num mercado livre, acreditando que os seus interesses naturalmente se harmonizariam em proveito do coletivo. Jeremy Bentham (1748-1832): Defende uma concepção otimista da iniciativa privada, ao afirmar que quando um indivíduo trabalha para concretizar os seus objetivos econômicos, está igualmente a contribuir para o desenvolvimento da riqueza de todos. O Estado devia evitar interferir no desenvolvimento da sociedade, limitando-se a função judiciária e a garantir a segurança da riqueza adquirida pelos particulares. Edmund Burke (1729-1797): O Estado é o pior inimigo da sociedade e da riqueza coletiva. Condena qualquer tipo de intervenção do Estado na Economia. Thomas Malthus (1766-1834): Muito popular no início do século XIX afirma claramente que o Estado devia limitar-se a proteger os mais ricos, recusando quaisquer direitos aos pobres. O único conselho que lhes dá é que não se reproduzam. Wilhelm Von Humboldt (1767-1835): O crescimento do Estado é associado ao mal. O aumento da burocracia só pode gerar a ruina dos cidadãos. Humboldt defende um Estado mínimo. David Ricardo (1772-1823): A "lei de ferro dos salários", segundo a qual são inúteis todas as tentativas de aumentar o ganho real dos trabalhadores porque os salários permanecerão, forçosamente, próximos ao nível de subsistência, resume as doutrinas de livre mercado de David Ricardo, que formalizou a emergente ciência da economia no século XIX. John Suart Mill (1806-1873): A principal função do Estado é a de procurar promover as melhores oportunidades de desenvolvimento pessoal e social para todos os indivíduos, nomeadamente através da educação. Não devia ser aceite a intervenção do Estado em coisas que os indivíduos sejam capazes de resolver por si. O liberalismo tinha três grandes exemplos para mostrar a concretização destas ideias: a Revolução Inglesa, a Revolução Americana e a Revolução Francesa. Esta última estava longe de ser consensual, dado que terminara numa sucessão de ditaduras e numa enorme matança que destruiu muitos países europeus, como a Rússia e Portugal.

O LIBERALISMO NO SÉCULO XIX

O Liberalismo dominou a política Europeia e dos EUA no século XIX, mas nem sempre foi fiel a seu combate contra o intervencionismo estatal.

Na primeira metade do século, os liberais são acérrimos defensores da propriedade privada, da economia de mercado e da liberdade de comércio internacional. Pugnam pelo fim das corporações, a desregulamentação do trabalho, defendem as liberdades políticas, o governo representativo, etc. O Estado devia ser reduzido à sua expressão mínima, limitando-se a assegurar as condições para o pleno desenvolvimento da economia privada, promovendo a criação de infraestruturas (estradas, transportes, etc), áreas onde as possibilidades de obtenção de lucro eram mínimas.

Na segunda metade do século XIX, os liberais passam a exigir que o Estado garantisse a proteção do mercado interno face à concorrência internacional. No final do século reclamam a intervenção do Estado na conquista de novos mercados internacionais e o acesso a regiões com recursos naturais. O Liberalismo passa a andar associado ao Imperialismo. É nesta fase que o Liberalismo incorpora o "Darwinismo social", isto é, a concepção de que o Estado deve apenas centrar-se em criar as condições para que os mais aptos prevaleçam sobre os mais fracos. O Estado deve estar ao serviço dos ricos e poderosos (os mais aptos) e manter na ordem os mais fracos (os operários, camponeses, etc).

DO ILUMINISMO AO SOCIALISMO

Há uma via de mão dupla entre as ideias políticas e a realidade prática, de tal maneira que as ideias interferem no mundo real, transformando-o, assim como o mundo real, transformado, torna necessário que as ideias sejam permanentemente reelaboradas. Nesse sentido, as ideias liberais sofreram transformações com o passar do tempo, adaptando-se às novas realidades sociais.

O liberalismo surgiu com o desenvolvimento do mercantilismo e se aprofundou após o advento da Revolução Industrial, no século XVIII. Com a implantação do sistema fabril e o aumento da produção, as relações humanas se tornaram cada vez mais complexas. As cidades cresceram, desenvolveram-se as ferrovias e o navio a vapor. As máquinas intensificaram o otimismo baseado na crença do progresso e na onipotência da tecnologia.

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Os avanços tecnológicos, porém, não corresponderam a uma evolução nas relações sociais, tornando-as mais justas, ou diminuindo a distância entre o topo da pirâmide social e sua base. Na Europa do século XIX, o contraste entre riqueza e pobreza era cruel, como ocorre hoje em dia nos países em desenvolvimento. Em contrapartida, a classe operária começou a se unir para reivindicar os seus direitos num processo que culminará com o desenvolvimento do socialismo.

O socialismo considera que o individualismo liberal resulta na defesa de uma classe social em particular: a burguesia. De qualquer modo, para enfrentar os problemas trazidos pelos novos tempos, a teoria liberal se adaptou às novas exigências da realidade. O liberalismo tornava-se cada vez mais democrático, acentuando a necessidade de igualdade jurídica e política, bem como uma solução para as precárias condições de vida das massas oprimidas. Um dos representantes dessa tendência, o inglês John Stuart Mill, sugere coparticipação dos trabalhadores na gestão e nos resultados da indústria.

O LIBERALISMO NO SÉCULO XX – O ESTADO DO BEM-ESTAR SOCIAL

O liberalismo acabou por conduzir a sociedades europeias liberais para a guerra. As revoltas e revoluções sucedem-se. No plano internacional, a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), mergulha as sociedades no caos. A crise de 1929 abala ainda mais toda a confiança no mercado. Como reação aos excessos do liberalismo, nos anos 20 e 30 emergem regimes totalitários em nome defesa dos interesses coletivos. A preocupação com as políticas sociais e a regulamentação do mercado estava na ordem do dia. Os Estados crescem em número de funcionários e desdobram-se em múltiplas funções. O Estado-Providência consegue assegurar o Bem Estar à maioria da população em muitos países que o implantam.

Gradualmente, o liberalismo começou a admitir a tendência intervencionista do Estado, para solucionar os

problemas sociais do trabalhador, como férias, saúde, aposentadoria, desemprego, etc. Diante das crises - econômica, política, social - que atingiram o mundo da primeira metade do século XX, os Estados Unidos e a Inglaterra, - cujo sistema político-econômico se insere no modelo mais característico do liberalismo - promoveram ajustes rigorosos na economia, desenvolvendo o que se chamou de wellfare state ou estado do bem-estar social.

Nos Estados Unidos, por exemplo, para enfrentar a depressão econômica subsequente à quebra da bolsa de valores de Nova York (1929), o presidente Franklin D. Roosevelt implantou um programa conhecido como New Deal, que fez o Estado se tomar o principal agente do reativamento econômico do país. A construção de grandes obras públicas ajudou a aumentar a taxa de emprego e foram concedidos créditos para as empresas, além de serem adotadas inúmeras medidas assistenciais de atendimento aos trabalhadores.

Entretanto, a intervenção estatal não se perpetuou, nem o Estado pretendeu se sobrepor às empresas privadas, tornando-se o único agente econômico. De qualquer modo, no fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, os Estados Unidos tinham se tornado a nação mais rica do mundo, bem como a mais avançada em termos tecnológicos.

GLOBALIZAÇÃO E NEOLIBERALISMO

A partir da década de 1960, o estado do bem-estar social começou a dar sinais de desgaste, em especial porque as despesas governamentais acabaram por superar a arrecadação ou receita, provocando um aumento insustentável do déficit público, da inflação e da instabilidade social.

Em finais dos anos 70, o liberalismo volta a ressurgir. Em nome da globalização apela-se à liberdade de comércio internacional, ao fim do protecionismo. A fim de tornar mais atrativos os países para investidores nacionais e estrangeiros, apela-se à redução dos impostos, ao fim da intervenção dos Estados em muitos sectores agora potencialmente lucrativos (saúde, educação, transportes, energia, comunicações, água, etc). Ao Estado-Providência passa a opor o Estado-Mínimo. Após duas décadas de políticas liberais, constata-se que as desigualdades entre os países aumentaram (os ricos e os pobres estão agora mais distantes), as políticas sociais foram reduzidos à sua mínima expressão em muitos países.

Na década de 1980, os governos de Ronald Reagan, nos EUA, e de Margareth Thatcher, na Inglaterra, se caracterizaram por diminuir a intervenção do Estado na área social. A essa retomada das ideias liberais clássicas, de um estado mínimo e não intervencionista, chamou-se Neoliberalismo. Seu receituário não se restringiu aos países do hemisfério norte, numa época como a nossa, em que a economia é cada vez mais global. As ideias liberais, malgrado os ataques que continuam a ser alvo, continuam a ser largamente seguidas pelos povos mais diversos no mundo, nomeadamente devido à valorização que fazem do papel dos indivíduos na sociedade e à defesa da liberdade que proclamam.

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ARRASE NO ENEM 1. "Um comerciante está acostumado a empregar o seu dinheiro principalmente em projetos lucrativos, ao passo

que um simples cavalheiro rural costuma empregar o seu em despesas. Um frequentemente vê seu dinheiro afastar-se e voltar às suas mãos com lucro; o outro, quando se separa do dinheiro, raramente espera vê-lo de novo. Esses hábitos diferentes afetam naturalmente os seus temperamentos e disposições em toda espécie de atividade. O comerciante é, em geral, um empreendedor audacioso; o cavalheiro rural, um tímido em seus empreendimentos..."

(Adam Smith, A RIQUEZA DAS NAÇÕES, Livro III, capítulo 4)

Neste pequeno trecho, Adam Smith a) contrapõe lucro à renda, pois geram racionalidades e modos de vida distintos. b) mostra as vantagens do capitalismo comercial em face da estagnação medieval. c) defende a lucratividade do comércio contra os baixos rendimentos do campo. d) critica a preocupação dos comerciantes com seus lucros e dos cavalheiros com a ostentação de riquezas. e) expõe as causas da estagnação da agricultura no final do século XVIII. 2. Leia o texto a seguir: “Nos séculos XVIII e XIX, o termo liberalismo geralmente se referia a uma filosofia de vida pública que afirmava o seguinte princípio: sociedades e todas as suas partes não necessitam de um controle central administrador porque as sociedades normalmente se administram através da interação voluntária de seus membros para seus benefícios mútuos. Hoje não podemos chamar de liberalismo essa filosofia porque esse termo foi apropriado por democratas totalitários. Em uma tentativa de recuperar essa filosofia ainda em nosso tempo, damos a ela um novo nome: liberalismo clássico.”

(Rockwell, Lew. O que é o Liberalismo Clássico. IBM.) O autor do texto argumenta que o termo “liberalismo clássico” reabilita a tradição de ideias políticas e econômicas dos séculos XVIII e XIX. Entre os representantes dessa tradição, estão a) Lenin, Mikhail Bakunin e Voltaire b) Karl Marx, Vilfredo Pareto e John M. Keynes c) Adam Smith, David Ricardo e John Locke d) Rousseau, Louis Blanqui e Diderot e) Edmund Burke, Max Weber e Trotsky 3. (ENEM, 2000) O texto abaixo, de John Locke (1632-1704), revela algumas características de uma

determinada corrente de pensamento:

Se o homem no estado de natureza é tão livre, conforme dissemos, se é senhor absoluto da sua própria pessoa e posses, igual ao maior e a ninguém sujeito, por que abrirá ele mão dessa liberdade, por que abandonará o seu império e sujeitar-se-á ao domínio e controle de qualquer outro poder? Ao que é óbvio responder que, embora no estado de natureza tenha tal direito, a utilização do mesmo é muito incerta e está constantemente exposto à invasão de terceiros porque, sendo todos senhores tanto quanto ele, todo o homem igual a ele e, na maior parte, pouco observadores da equidade e da justiça, o proveito da propriedade que possui nesse estado é muito inseguro e muito arriscado. Estas circunstâncias obrigam-no a abandonar uma condição que, embora livre, está cheia de temores e perigos constantes; e não é sem razão que procura de boa vontade juntar-se em sociedade com outros que estão já unidos, ou pretendem unir-se para a mútua conservação da vida, da liberdade e dos bens a que chamo de propriedade.

(Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1991.)

Do ponto de vista político, podemos considerar o texto como uma tentativa de justificar a) a existência do governo como um poder oriundo da natureza. b) a origem do governo como uma propriedade do rei. c) o absolutismo monárquico como uma imposição da natureza humana. d) a origem do governo como uma proteção à vida, aos bens e aos direitos. e) o poder dos governantes, colocando a liberdade individual acima da propriedade. 4. Na perspectiva socialista, a luta de classes é o motor da história. Segundo essa perspectiva, na sociedade

moderna, a classe que se beneficia com o sistema capitalista e serve-se da ideologia liberal é a) os camponeses. b) a aristocracia.

c) o proletariado. d) a burguesia.

e) os artesãos.

5. Um dos argumentos liberais contra o socialismo defende que esse sistema sempre acabou demonstrando

ineficiência econômica e totalitarismo político. Esse argumento tem implícita a defesa do valor central do liberalismo, que é

a) a propriedade socializada (soviet). b) a liberdade individual. c) a justiça social.

d) a expropriação da propriedade privada e) o desarmamento da população civil.

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6. Como o Estado Liberal deve se relacionar com a economia? a) Ausentando-se de qualquer tipo de controle sobre as atividades econômicas. b) Controlando os preços dos alimentos para não haver inflação. c) Propondo a divisão igual da renda per capita. d) Defendendo o interesse das classes pobres. e) Combatendo o capitalismo e a livre concorrência. 7. Que acontecimentos históricos do século XX mostraram o desgaste do sistema liberal? a) O imperialismo europeu sobre a África e a Ásia e a Segunda Guerra. b) O imperialismo europeu sobre a África e a Primeira Guerra Mundial. c) A primeira e a segunda guerras mundiais. d) A Revolução Russa (1917) e a Primeira Guerra Mundial (194-1918). e) A crise gerada pela quebra da bolsa de valores de New York e a Primeira Guerra. 8. O Neoliberalismo é uma doutrina socioeconômica que retoma os antigos ideais do liberalismo clássico ao

propor a mínima intervenção do Estado na economia. Com relação ao exposto, assinale a alternativa CORRETA:

a) O Neoliberalismo propaga os ideais socialistas e critica toda política capitalista. b) O Brasil nunca adotou políticas neoliberais. c) Os Estados neoliberais estimulam a política do bem-estar social. d) Essa doutrina combate as privatizações de empresas dos Estados e defende a intervenção estatal na economia. e) O Neoliberalismo defende privatizações de empresas estatais e menor participação do Estado na economia. 9. O liberalismo, enquanto uma doutrina fundamentalmente racionalista, concorda com a) o domínio dos impulsos do instinto. b) o domínio do individualismo. c) o respeito cego pelo passado.

d) o império do preconceito. e) o jugo da autoridade.

10. A vigência do neoliberalismo traz vários rebatimentos para as políticas sociais, EXCETO: a) Políticas sociais cada vez mais focalizadas, seletivas, privatistas, clientelistas e insuficientes. b) Crescimento do discurso da solidariedade, que retorna à cena social com bastante força. c) Significativo crescimento da atuação do Estado através de suas ações no campo das políticas sociais. d) Crescente transferência de algumas responsabilidades do Estado para o setor privado e para a

sociedade civil. e) Alargamento do chamado terceiro setor, fenômeno denominado por Yazbek de refilantropização da

questão social.

GABARITO

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 A C D D B A B A B C

CAPÍTULO 8 - AS SOCIEDADES INDUSTRIAIS E O DESENVOLVIMENTO DO SOCIALISMO

SOCIEDADE INDUSTRIAL

Historicamente, um dos fatores responsáveis pelo desenvolvimento do mundo moderno foi a ascensão de uma economia industrial que tem seu período marcante entre 1760 e 1850. Ainda vivendo um modelo feudal de Idade Média, mas com um crescente movimento de urbanização, a Inglaterra inicia a moderna industrialização, e as fábricas se instalaram principalmente nos aglomerados urbanos. O trabalho artesanal, onde o homem era detentor de todo o processo, dá lugar a um processo industrial com profundas modificações sociais. Entre elas: êxodo rural, problemas de moradia, problemas de saneamento e saúde, novas relações e condições de trabalho, entre outros.

As cidades do século XIX, como Londres ou Paris, cresceram em torno das fábricas sem planejamento. Os trabalhadores moravam junto às fábricas, enquanto os patrões moravam nos subúrbios mais distantes e arborizados. As ruas eram estreitas e formavam labirintos; as casas dos operários eram pequenas e miseráveis, grudadas umas às outras. Os cômodos não tinham janelas. O ar sufocava com os gases das chaminés e não havia serviços públicos básicos, como água limpa ou rede de esgotos. Essas cidades industriais eram feias, sujas e “tristes”; seus rios, imundos. Essa situação favorecia a disseminação de epidemias e doenças; cólera, varíola, escarlatina e tifo eram frequentes entre os trabalhadores.

Outra situação provocada pela Revolução Industrial era a condição do trabalhador em ambientes fechados, às vezes confinados, a que se chamou de fábricas. A literatura dessa época fala de personagens pálidos, quase sem vida. As péssimas condições de trabalho (e do ambiente de trabalho) provocava adoecimento dos operários, que passaram a sofrer acidentes e desenvolver doenças nas áreas fabris, como por exemplo, o tifo europeu (na época chamado febre das fábricas); as jornadas nas fábricas consumia cerca de 15 horas por dia de homens,

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mulheres e crianças – algumas com apenas cinco anos; os salários eram muito baixos, e o trabalho de mulheres e crianças, em média, era a metade do que se pagava a um homem adulto; o trabalho infantil era útil, pois os dedos finos das crianças eram adequados para a manutenção das máquinas, assim como seu porte físico para o espaço apertado entre as instalações. Algumas crianças trabalhavam sobre pernas de pau, para alcançarem os teares. Se adormecessem, podiam ter seus dedos estraçalhados nas engrenagens.

A ORGANIZAÇÃO SINDICAL

Nos primeiros anos do século XIX, os trabalhadores começaram a se organizar em sindicatos, apesar de não serem admitidos pela legislação. Consequentemente, surgiram as relações sociais entre donos das fábricas (exploradores) e trabalhadores das fábricas (explorados) que permearam o dia a dia das indústrias.

Dessas relações nem um pouco amistosas entre capitalistas e trabalhadores surgiram na Inglaterra dois movimentos, os ludistas e os cartistas, que tinham um objetivo em comum: encontrar soluções para os problemas enfrentados pelos operários, principalmente o desemprego (decorrente da introdução nas fábricas de máquinas que substituíram diversas forças de trabalho humana). Tanto ludistas quanto cartistas reivindicavam, através de ações (como a quebra de maquinarias das indústrias), o retorno ao emprego dos trabalhadores desempregados.

Movimento operário no século XIX: à esquerda, o anarquista Bakunin; e à direita, o comunista Marx

Outra forma de reivindicação operária que não surtiu tanto efeito foi a tentativa de alcançar melhores condições de trabalho solicitando-as ao governo. Geralmente, o poder público não atendia a essas reivindicações, pois o próprio governo era dono de indústrias.

Com o decorrer das décadas, o capitalismo foi agregando novas feições, a sociedade passou por crescentes transformações e, assim, os operários necessitavam articular novas formas de lutar por suas causas. Dessa maneira, surgiram os movimentos socialistas, a partir da organização dos trabalhadores. Os principais movimentos socialistas que surgiram no século XIX foram o anarquismo e o comunismo. Embora antagônicos, tanto o anarquismo quanto o comunismo pautavam suas metas em transformações sociais profundas.

A luta trabalhadora havia apenas começado. O movimento sindical reunia grupos de diversas tendências, desde os que lutavam a favor das reivindicações da classe trabalhadora, até aqueles que usavam o movimento como uma atividade política, que poderia desencadear para uma revolução social. Muitos acreditavam que a luta dos trabalhadores estava inserida num contexto social e político mais amplo. Na segunda metade do século XIX, vários direitos trabalhistas já haviam sido conquistados graças à força dos movimentos sindicais e a adesão de alguns segmentos da sociedade.

A CRÍTICA DE KARL MARX À MAIS-VALIA

O conceito mais-valia foi desenvolvido pelo Alemão Karl Marx (1818-1883). Marx considerava que a mais-valia é o valor que o trabalhador assalariado cria acima do valor da sua força de trabalho. Esse valor, que se pode definir como sendo o trabalho não pago ao funcionário, é apropriado pelo capitalista. A mais-valia é portanto a base da acumulação capitalista.

Para entender a noção de mais-valia, há que compreender que cada mercadoria engloba um valor que corresponde ao tempo de trabalho socialmente necessário para a respectiva produção. A força de trabalho também é considerada pelo marxismo como uma mercadoria, cujo valor se relaciona com o necessário para que o trabalhador possa subsistir e reproduzir-se. Por exemplo: Se o trabalhador precisa trabalhar quatro horas por dia para satisfazer as necessidades básicas e as da sua família, e que o seu dia laboral é de nove horas diárias, então significa que o capitalista se está a apropriar da mais-valia gerada em cinco horas. Esse valor é um novo valor para além de ser adicional (é uma mais-valia), uma vez que não fazia parte de mais nenhum componente do processo produtivo.

Esta apropriação da mais-valia é a exploração do capitalismo. Para Marx, o capitalista pode aumentar o nível de exploração através da maximização da mais-valia absoluta (a partir do alargamento das horas de trabalho) ou da mais-valia relativa (cortando ao valor da força de trabalho).

SOCIALISMO CIENTÍFICO

Socialismo é uma doutrina política e econômica que surgiu no final do século XVIII e se caracteriza pela ideia de transformação da sociedade através da distribuição equilibrada de riquezas e propriedades, diminuindo a distância entre ricos e pobres. De acordo com o marxismo, uma sociedade baseada no capitalismo era dividida em duas classes sociais: os exploradores (donos dos meios de produção, das fábricas, das terras), pertencentes à burguesia, ou seja, os burgueses; e os explorados (aqueles que não tinham posses e tinha que se sujeitar aos outros), ou seja, os proletários. Esse duelo entre as classes, que Marx chamou de luta de classes, é aquilo que transforma e impulsiona a história.

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O socialismo científico, criado por Karl Marx e Friedrich Engels, era um sistema ou teoria que tinha como base a análise crítica e científica do capitalismo. A origem do socialismo tem raízes intelectuais e surgiu como resposta aos movimentos políticos da classe trabalhadora e às críticas aos efeitos da Revolução Industrial (capitalismo industrial). Na teoria marxista, o socialismo representava a fase intermediária entre o fim do capitalismo e a implantação do comunismo.

O socialismo científico, também conhecido como marxismo ou socialismo marxista, se opunha ao socialismo utópico, e ao capitalismo.

• O socialismo utópico tinha o propósito de entender o capitalismo e suas origens, o acumular prévio de capital, a consolidação da produção capitalista e as contradições existentes no capitalismo. Contudo, possuía uma visão pouco transformadora e muito pacífica, porque não tinha a intenção de criar uma sociedade ideal.

• O capitalismo é um sistema que se baseia na propriedade privada dos meios de produção e no mercado liberal, concentrando a riqueza em poucos.

• O socialismo científico defendido por Marx e Engels afirmava que o socialismo seria alcançado a partir de uma reforma social, com luta de classes e revolução do proletariado, pois no sistema socialista não deveria haver classes sociais nem propriedade privada. Todos os bens e propriedades particulares seriam de todas as pessoas e haveria repartição do trabalho comum e dos objetos de consumo, eliminando as diferenças econômicas entre os indivíduos.

Em suma, a intenção do socialismo marxista tinha como fundamento teórico a luta de classes, a revolução

proletária, o materialismo dialético e histórico, a teoria da evolução socialista e a doutrina da mais-valia. O socialismo científico previa melhores condições de trabalho e de vida para os trabalhadores através de uma revolução proletária e da luta armada.

SOCIALISMO REAL

Socialismo real é uma expressão que designa os países socialistas que preconizam a titularidade pública dos meios de produção.

No século XX, as ideias socialistas foram adotadas por alguns países, como por exemplo: União Soviética (atual Rússia), China, Cuba, Coréia do Norte e Alemanha Oriental. Porém, em alguns casos, revelou-se um sistema constituído por regimes autoritários e extremamente violentos. Esse socialismo é também conhecido como socialismo real - um socialismo colocado em prática, que causou uma deturpação semântica do "socialismo", levando assim a esses regimes que demonstraram desrespeito pela vida humana.

SOCIALISMO, COMUNISMO E ANARQUISMO

Socialismo Comunismo Anarquismo

O SOCIALISMO é um sistema de governo que serve como TRANSIÇÃO do capitalismo para o comunismo. No governo socialista, um LÍDER assume o comando para SOCIALIZAR OS MEIOS DE PRODUÇÃO - fábricas, fazendas... - que no capitalismo eram comandados pelos burgueses. Para implantação desse sistema tem de haver uma desapropriação dos meios de produção das mãos dos burgueses, via força se necessário Nesse sistema as pessoas começariam a aprender a SOCIALIZAR suas produções com toda comunidade, aonde todos tem as mesmas coisas, sendo TUDO GERIDO PELO ESTADO, que tem a tarefa de coordenar essa divisão.

Já o COMUNISMO é um sistema de governo que sucede o socialismo. Nele NÃO HÁ LÍDER para governar o Estado, pois todos já tem consciência de SOCIALIZAÇÃO dos meios de produção e da produção em si, assim como da DIVISÃO IGUALITÁRIA entre os membros da sociedade e de seus direitos e deveres sociais. Nele a pessoa trabalha para a sociedade por um período do dia, no outro período dedica seu tempo ao lazer, assim todos seriam felizes e teriam acesso a tudo que quisessem. Ou seja, é uma sociedade utópica - NUNCA EXISTIU - pois nunca houve uma sociedade sem representante de governo.

Para observar o resultado REAL do processo da implantação do sistema socialista na Rússia vejam o filme "A Revolução dos Bichos" que faz uma alusão cômica ao sistema.

O ANARQUISMO pressupõe a AUSÊNCIA DO ESTADO, da hierarquia e da força coercitiva. Teoricamente a liderança ocorre temporariamente dentro do grupo de operação, escolhida pelo grupo, ou seja, é contrário a qualquer tipo de governo ou autoridade, pois essa seria uma forma de dominação de um homem sobre os demais. para os anarquistas, uma sociedade sem classes e sem estado seria estabelecida por meio da “Ação direta”, em outras palavras, se ha um incêndio o grupo decide quem vai liderar a ação, sendo que essa liderança varia.

Isto é apenas um esboço de definição, apenas para mostrar que não se deve confundi-los ou mesmo julgá-los errado, como comumente o anarquismo é classificado como baderna/desordem.

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ARRASE NO ENEM

1. O estabelecimento do Socialismo correspondia, em Marx, a) uma etapa para a instalação do Comunismo; b) a superação do capitalismo pelo Socialismo Utópico; c) a transformação de um regime econômico por um regime social; d) uma forma de eliminar a luta de classes pela aceitação da exploração social; e) a imediata instalação do comunismo, sinônimo de Socialismo.

2. TEXTO I O aparecimento da máquina movida a vapor foi o nascimento do sistema fabril em grande escala, representando um aumento tremendo na produção, abrindo caminho na direção dos lucros, resultado do aumento da procura. Eram forças abrindo um novo mundo.

HUBERMAN, L. História da riqueza do homem. Rio de Janeiro: Zahar, 1974 (adaptado). TEXTO II Os edifícios das fábricas adaptavam–se mal à concentração de numerosa mão de obra, reunida para longos dias de trabalho, numa situação árdua e insalubre. O trabalho nas fábricas destruiu o sistema doméstico de produção. Homens, mulheres e crianças deixavam os lugares onde moravam para trabalhar em diferentes fábricas.

LEITE, M. M. Iniciação à história social contemporânea. São Paulo: Cultrix,1980 (adaptado). As estratégias empregadas pelos textos para abordar o impacto da Revolução Industrial sobre as sociedades que se industrializavam são, respectivamente, a) ressaltar a expansão tecnológica e deter–se no trabalho doméstico. b) acentuar as inovações tecnológicas e priorizar as mudanças no mundo do trabalho. c) debater as consequências sociais e valorizar a reorganização do trabalho. d) indicar os ganhos sociais e realçar as perdas culturais. e) minimizar as transformações sociais e criticar os avanços tecnológicos.

3. O desenvolvimento do capitalismo esteve associado, principalmente, com o surgimento: a) do islamismo; b) do protestantismo;

c) do catolicismo; d) do movimento ortodoxo.

4. Socialista surgiu como descrição filosófica em princípios do século XIX. Sua raiz linguística era o sentido desenvolvido de social. A distinção decisiva entre socialista e comunista, como em certo sentido esses termos são hoje comumente utilizados, veio com a mudança de nome, em 1918, do Partido Operário Socialdemocrata Russo para Partido Comunista Panrusso. Dessa época em diante, uma distinção entre socialista e comunista tornou-se amplamente vigente.

RAYMOND WILLIAMS Adaptado de “Socialista”. In: Palavras-chave: um vocabulário de cultura e sociedade. São Paulo: Boitempo, 2007 Na história europeia, durante o século XX, estabeleceu-se uma diferença entre socialismo e comunismo relacionada ao seguinte aspecto: a) crítica dos valores liberais b) controle da indústria pelo Estado

c) defesa da ditadura do proletariado d) importância do sentimento patriótico

5. (…) a luta contra o capitalismo e a burguesia é inseparável da luta contra o Estado. Acabar com a classe que

detém os meios de produção sem liquidar ao mesmo tempo com o Estado é deixar aberto o caminho para a reconstrução da sociedade de classes e para um novo tipo de exploração social.

(Angel J. Capelletti, apud Adhemar Marques et alli, História contemporânea através de textos)

O fragmento define parte do ideário a) liberal. b) anarquista.

c) corporativista. d) socialista cristão.

e) sindicalista

6. O “Socialismo Utópico” pode ser definido como um conjunto de ideias que se caracterizaram pela crítica ao

capitalismo, muitas vezes ingênua e inconsistente, buscando, ao mesmo tempo, a igualdade entre os indivíduos. Em linhas gerais, combate-se a propriedade privada dos meios de produção como única alternativa para se atingir tal fim. A ausência de fundamentação científica é o traço determinante dessas ideias. Pode-se dizer que seus autores, preocupados com os problemas de justiça social e igualdade, deixavam-se levar por ideais românticos. Assinale a alternativa que apresenta o único autor que NÃO pertenceu a este ramo do socialismo.

a) Robert Owen b) Karl Marx

c) Charles Fourier d) Prodhoun

e) Claude Saint-Simon

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7. No final do século XIX, nos países europeus mais industrializados, a crítica e a oposição operárias à sociedade burguesa poderiam ser detectadas na

a) quebra das máquinas e nos atentados contra os proprietários e principais acionistas dos grandes conglomerados fabris.

b) postura da 1.ª Internacional de trabalhadores, que se posicionou favoravelmente à guerra imperialista. c) ascensão do movimento sindical e na expansão das ideias socialistas entre os operários. d) propaganda anticolonialista feita pelos sindicatos católicos e marxistas. e) propaganda contrária à implantação dos comitês de fábricas e à participação nos lucros.

8. Leia o texto a seguir.

“Antigamente nem em sonho existia tantas pontes sobre os rios, nem asfalto nas estradas. Mas hoje em dia tudo é muito diferente com o progresso nossa gente nem sequer faz uma ideia.

Tenho saudade de rever nas currutelas as mocinhas nas janelas acenando uma flor. Por tudo isso eu lamento e confesso que a marcha do progresso é a minha grande dor. Cada jamanta que eu vejo carregada transportando uma boiada me aperta o coração. E quando olho minha traia pendurada de tristeza dou risada pra não chorar de paixão.”

(Adaptado de: Nonô Basílio e Índio Vago. Mágoa de Boiadeiro.)

O texto aproxima-se sociologicamente da leitura teórica de a) Comte, que defende a necessidade de formas tradicionais de vida em detrimento da desilusão do progresso. b) Durkheim, que analisa o progresso como elemento desagregador da vida social ao provocar o

enfraquecimento das instituições. c) Marx, que condena o desenvolvimento das forças produtivas por seus efeitos alienantes sobre o homem. d) Spencer, que tem uma leitura romântica da sociedade e vê o passado como mais rico culturalmente. e) Weber, para quem a modernização e a racionalização é acompanhada pelo desencantamento do mundo.

9. A Inglaterra pedia lucros e recebia lucros. Tudo se transformava em lucro. As cidades tinham sua sujeira

lucrativa, suas favelas lucrativas, sua fumaça lucrativa, sua desordem lucrativa, sua ignorância lucrativa, seu desespero lucrativo. As novas fábricas e os novos altos-fornos eram como as Pirâmides, mostrando mais a escravização do homem que seu poder.

DEANE, P. A Revolução Industrial. Rio de Janeiro: Zahar, 1979 (adaptado). Qual a relação é estabelecida no texto entre os avanços tecnológicos ocorridos no contexto da Revolução Industrial Inglesa e as características das cidades industriais do século XIX? a) A facilidade em se estabelecer relações lucrativas transformava as cidades em espaços privilegiados para a

livre iniciativa, característica da nova sociedade capitalista. b) O desenvolvimento de métodos de planejamento urbano aumentava a eficiência do trabalho industrial. c) A construção de núcleos urbanos integrados por meios de transporte facilitava o deslocamento dos

trabalhadores das periferias até as fábricas. d) A grandiosidade dos prédios onde se localizavam as fábricas revelava os avanços da engenharia e da

arquitetura do período, transformando as cidades em locais de experimentação estética e artística. e) O alto nível de exploração dos trabalhadores industriais ocasionava o surgimento de aglomerados urbanos

marcados por péssimas condições de moradia, saúde e higiene.

GABARITO

1 2 3 4 5 6 7 8 9 A B B C B B C E E

CAPÍTULO 9 - MOBILIDADE SOCIAL Mobilidade social é um termo da sociologia que descreve a transição e a possibilidade de transição de

indivíduos e grupos sociais de uma classe social para outra, como também descreve as transições sociais que acontecem dentro de uma mesma classe social. Serve para medir a igualdade de oportunidades em uma determinada sociedade. Portanto, é uma ferramenta que procura interpretar essa conjugação de mobilidade com desigualdade.

Mobilidade social se refere ao fato de que em uma sociedade os pobres ficam ou podem ficar mais pobres ou mais ricos, assim como os mais abastados podem empobrecer ou ficarem ainda mais ricos. Contudo, a mobilidade social não se refere somente à ascensão e declínio entre classes sociais, a mobilidade social pode se referir também a uma mudança de status ou prestígio social sem, contudo, significar uma mudança de classe.

E nesse sentido os sociólogos apontam dois tipos de mobilidade social: mobilidade social vertical e mobilidade social horizontal

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MOBILIDADE SOCIAL VERTICAL

Na mobilidade social vertical o indivíduo não só tem melhoras na suas condições de vida, prestígio e status social, como também o aumento da sua renda é tal que este passa a integrar outra classe social. Da mesma forma que o inverso acontece, a pessoa sofre um declínio e pode vir a integrar uma classe social inferior àquela que antes ocupava. Nesse sentido, dizemos que existe a mobilidade social ascendente e a mobilidade social descendente.

1. Mobilidade social vertical ascendente (ascensão social): o indivíduo passa a integrar um grupo economicamente superior ao seu grupo anterior. Ou seja, quando a pessoa melhora sua posição no sistema de estratificação social.

2. Mobilidade social vertical descendente (queda social): o indivíduo passa a integrar um grupo economicamente inferior ao seu grupo anterior. Ou seja, quando a pessoa piora de posição no sistema de estratificação social.

É o caso do indivíduo que abre um mercadinho na periferia, seu negócio prospera, se transforma em um mercado e ele passa a ter um padrão de vida de classe média; do rapaz que se forma na faculdade e passa a ganhar um salário quatro vezes maior do que ganhava; ou do rico empresário que num momento de crise faz más escolhas e leva o seu empreendimento à falência, descendendo, assim, socialmente e etc.

MOBILIDADE SOCIAL HORIZONTAL

A Mobilidade social horizontal é aquela em que um indivíduo ou grupo social tem uma alteração no seu nível social sem, contudo, migrar para outra classe social. Portanto, ocorre quando a mudança de posição a outra se opera dentro da mesma camada social.

Exemplos de mobilidade social horizontal podem ser: o caso de um trabalhador que foi promovido; do estudante que arrumou o seu primeiro emprego; da pessoa que passou no concurso e passará a receber um salário maior; do empresário que abriu uma nova filial para a sua empresa; um indivíduo que se muda do interior para a capital e muda suas ideias políticas, mas seu nível de

renda não se altera substancialmente; etc. Em todos esses exemplos vemos pessoas melhorando suas condições de vida, o prestígio e o status

social por assim dizer, sem significar uma mudança de classe social.

MOBILIDADE SOCIAL INTRAGERACIONAL E INTERGERACIONAL.

Agora que vimos os principais tipos de mobilidade, podemos ver como os sociólogos analisam estas dinâmicas. Como possibilidade de estudo, podemos fazer um estudo da mobilidade social de várias gerações diferentes ou a partir da mesma geração. Para isso, temos a abordagem intrageracional e a intergeracional. a) Mobilidade Intergeracional: comparação da posição social entre as gerações passadas e a geração atual.

Por exemplo, a condição de um filho em relação à condição de seu pai. b) Mobilidade Intrageracional: compara-se o desempenho social de uma determinada pessoa ou grupo de

pessoas com características comuns, durante um período de tempo. Ou seja, em relação às posições ocupacionais anteriores, desde a entrada no mercado de trabalho, até a posição ocupacional presente.

MOBILIDADE SOCIAL ESTRUTURAL E

CIRCULAR De acordo com José Pastore, em seu livro Mobilidade Social no Brasil, o Brasil, ao longo de várias

décadas, mostrou que a maioria dos brasileiros sobe pouco na escala social, e a minoria sobe muito. Daí a coexistência de mobilidade e desigualdade.

No passado, a maioria da mobilidade era do tipoestrutural– ou seja, as pessoas subiam na estrutura social porque se abriam novos postos de trabalho com melhores oportunidades para as pessoas que os preenchiam – estivessem elas preparadas ou não para as funções. Hoje, já desponta a mobilidade circular– aquela em que, para uma pessoa ocupar uma posição mais alta, outra tem de desocupá-la (por troca, aposentadoria ou morte). Em outras palavras, a mobilidade social começa a ser determinada por elementos de competição no mercado de trabalho, o que é comum nos países mais avançados, onde é grande o papel da educação.

A MOBILIDADE SOCIAL NAS

DEMOCRACIAS A mobilidade social ascendente é mais frequente numa sociedade democrática aberta, que estimula e

enaltece a escalada rumo ao topo de indivíduos de origem humilde, como nos Estados Unidos. Entretanto, vale esclarecer que, mesmo na sociedade capitalista mais aberta, a mobilidade social vertical não ocorre de maneira igual para todos os indivíduos. A ascensão social depende muito da origem étnica. No Brasil, as pessoas brancas pertencentes às camadas sociais mais elevadas têm mais oportunidades e condições de se manter nesse nível, ascender ainda mais se sair melhor do que as originárias das classes inferiores, sobretudo se são negras.

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IGUALDADE DE OPORTUNIDADES X DESIGUALDADE DE CONDIÇÕES

Hoje, apesar do contexto de consolidação da democracia, é possível constatar que a desigualdade socioeconômica está muito associada à desigualdade de oportunidades e de condições. Ou seja, existem diferenças nas circunstâncias que afetam o sucesso das pessoas e que não dependem de seus esforços ou decisões pessoais. Essas circunstâncias incluem o grau de escolaridade e ocupação dos pais; a qualidade da escola que o indivíduo frequenta; seus ambientes de socialização; além de outros elementos, como cor de pele, gênero e o tempo de escolaridade.

A situação de desigualdade tem sido, por muitas vezes, considerada natural, dada a sua longa existência na história. Um fator que deve ser destacado, porém, é o binômio igualdade de oportunidades/desigualdade de condições. Em boa parte das nações vigora o pressuposto de que a igualdade de oportunidade, ou seja, todos os cidadãos têm o direito idêntico pela lei. Entretanto, essa proposição de igualdade esbarra na imensa desigualdade de condições para manter os estudos (em razão da necessidade de dividir o tempo com o trabalho remunerado para complementar a renda da família) e garantir uma alimentação adequada, para citar apenas dois elementos de impacto de possibilidade de desenvolvimento pessoal e profissional reguladores e qualitativos.

Em linhas gerais, seria o aprimoramento das políticas e programas sociais que possam redistribuir rendas, fundados em regras de funcionamento claras e abrangentes, e que, sobretudo, sejam políticas de Estado, e não de governo, ou seja, que tenham continuidade, independentemente de quem ocupe o Poder Executivo.

ARRASE NO ENEM

1. Existem sociedades em que os indivíduos nascem numa camada social mais baixa e podem alcançar, com o decorrer do tempo, uma posição social mais elevada. Esse fenômeno é conhecido como:

a) estamentação b) mobilidade social c) estratificação social d) castação 2. Entre os fenômenos sociais estudados pela Sociologia, a mobilidade social é um indicador do nível de

desigualdade e de mudança social. Sabendo disso, ao falarmos em mobilidade social, estamos nos referindo: a) à frequência com a qual as famílias de uma sociedade deslocam-se ou mudam suas residências em um

determinado período de tempo. b) ao número de migrantes e imigrantes que passam pelo território de um país em determinado tempo. Assim,

quanto maior for o número de migrantes e imigrantes, mais “movimentada” uma sociedade será. c) ao índice de pessoas que conseguem ascender ou que caem na escala socioeconômica de uma sociedade,

observando os meios e os mecanismos que os indivíduos dispõem para tanto. d) ao desenvolvimento dos meios de transporte públicos responsáveis pela movimentação das pessoas em uma

sociedade justa e desenvolvida. e) à quantidade de carros ou veículos que circulam em uma cidade, tendo em mente que, quanto maior for a

quantidade de veículos em uma cidade, mais móvel ela se tornará.

3. Entre os fatores que influenciam a mobilidade social estão: a) A vontade de trabalhar, a preguiça e o nível educacional. b) O nível econômico familiar, o nível educacional familiar e as políticas que asseguram igual acesso aos meios

de formação educacional. c) A comodidade, o nível educacional e a vontade de trabalhar d) O nível econômico familiar, a comodidade e as políticas que asseguram igual acesso aos meios de

formação educacional. 4. A estratificação social é uma realidade em todas as sociedades do mundo. Dentro do conceito de

estratificação, a mobilidade social existe quando: a) o indivíduo muda-se de um bairro ou região. b) uma família ou indivíduo migra para outra região do país. c) um grupo ou um indivíduo ascende ou descende na escala social. d) um grupo social imigra para outro país. e) uma grande quantidade de famílias desloca-se do campo para o meio urbano. 5.

“A maioria dos que se encontram abaixo da linha de pobreza, nos países não-desenvolvidos, é constituída por famílias que subsistem em microunidades agrícolas, em atividades artesanais, no comércio ambulante, através de trabalho sazonal ou uma combinação de atividades desta natureza. Estas famílias não se beneficiam do salário-mínimo nem de outras medidas de proteção do trabalhador formal. Para ajudá-las, torna-se necessário capitalizá-las e dar aos seus membros treinamento básico em tecnologia produtiva e em procedimentos contábeis e financeiros”

Paul Singer. Perspectivas de Desenvolvimento da América Latina. In: Novos Estudos CEBRAP, n. 44, mar. 1996, p. 163.

Partindo da análise do texto transcrito acima, assinale a alternativa INCORRETA. a) As políticas de renda mínima buscam criar condições básicas de sobrevivência para uma parcela da

população que não possui acesso a nenhuma forma de proteção trabalhista.

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b) Os trabalhadores informais e aqueles inseridos na pequena agricultura familiar encontram-se entre a parcela da população economicamente mais vulnerável, necessitando de políticas públicas específicas.

c) A qualificação do trabalhador, que garante o domínio tecnológico e dos procedimentos contábeis necessários para o controle da renda familiar, são fundamentais no processo de melhoria das condições de vida dos trabalhadores que se encontram fora do mercado formal.

d) As rápidas transformações na economia e na organização do mundo do trabalho exigem da população economicamente ativa uma constante adaptação às novas configurações do mercado.

e) Os trabalhadores excluídos do mercado de trabalho formal e carentes de uma rede de proteção social são derivados da falta de educação pessoal e do excesso de comodismo, não possuindo nenhuma relação com as configurações adquiridas pelo mercado no seu processo de expansão.

6. Leia o trecho da reportagem retirada da revista Exame.

“As chances de um filho da elite permanecer em sua classe são 20 vezes maiores do que as de um filho de um trabalhador ultrapassar um degrau na escala social”, afirma o sociólogo Carlos Costa Ribeiro, do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ).”

Gustavo Poloni. Exame, 10/10/2007

A possibilidade de mudança de posição dentro da estrutura social é definida pela a) ascensão social. b) desigualdade social.

c) inclusão social. d) mobilidade social.

e) segregação.

7. Em 1840, o francês Aléxis de Tocqueville (1805-1859), autor de A democracia na América, impressionado

com o que viu em viagem aos Estados Unidos, escreveu que, nos EUA, “a qualquer momento, um serviçal pode se tornar um senhor”. Por sua vez, o escritor brasileiro Luiz Fernando Veríssimo, autor de O analista de Bagé, disse, em 1999, ao se referir à situação social no Brasil: “tem gente se agarrando a poste para não cair na escala social e sequestrando elevador para subir na vida”. As citações anteriores se referem diretamente a qual fenômeno social?

a) Ao da estratificação, que diz respeito a uma forma de organização que se estrutura por meio da divisão da sociedade em estratos ou camadas sociais distintas, conforme algum tipo de critério estabelecido.

b) Ao de status social, que diz respeito a um conjunto de direitos e deveres que marcam e diferenciam a posição de uma pessoa em suas relações com as outras.

c) Ao dos papéis sociais, que se refere ao conjunto de comportamentos que os grupos e a sociedade em geral esperam que os indivíduos cumpram de acordo com o status que possuem.

d) Ao da mobilidade social, que se refere ao movimento, à mudança de lugar de indivíduos ou grupos num determinado sistema de estratificação.

e) Ao da massificação, que remete à homogeneização das condutas, das reações, desejos e necessidades dos indivíduos, sujeitando-os às ideias e objetos veiculados pelos sistemas midiáticos.

8. Entre os fenômenos sociais estudados pela Sociologia, a mobilidade social é um indicador do nível de desigualdade e de mudança social. Sabendo disso, ao falarmos em mobilidade social, estamos nos referindo:

a) à frequência com a qual as famílias de uma sociedade deslocam-se ou mudam suas residências em um determinado período de tempo.

b) ao número de migrantes e imigrantes que passam pelo território de um país em determinado tempo. Assim, quanto maior for o número de migrantes e imigrantes, mais “movimentada” uma sociedade será.

c) ao índice de pessoas que conseguem ascender ou que caem na escala socioeconômica de uma sociedade, observando os meios e os mecanismos que os indivíduos dispõem para tanto.

d) ao desenvolvimento dos meios de transporte públicos responsáveis pela movimentação das pessoas em uma sociedade justa e desenvolvida.

e) à quantidade de carros ou veículos que circulam em uma cidade, tendo em mente que, quanto maior for a quantidade de veículos em uma cidade, mais móvel ela se tornará.

9. Entre os fatores que influenciam a mobilidade social estão: a) A vontade de trabalhar, a preguiça e o nível educacional. b) O nível econômico familiar, o nível educacional familiar e as políticas que asseguram igual acesso aos meios

de formação educacional. c) A comodidade, o nível educacional e a vontade de trabalhar. d) O nível econômico familiar, a comodidade e as políticas que asseguram igual acesso aos meios de

formação educacional.

GABARITO

1 2 3 4 5 6 7 8 9 A C B C E D D C B

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CAPITULO 10 – SOCIOLOGIA CONTEMPORÂNEA: VIOLÊNCIA E CRIMINALIDADE.

VIOLÊNCIA E CRIMINALIDADE A violência e a criminalidade são assuntos bastante atuais e vêm sendo objeto de estudo e investigações

de várias ciências humanas e sociais, entre elas a Sociologia. Tais fenômenos atingem toda a população do planeta, sem distinção entre ricos e pobres, causando

revolta e indignação. Geralmente, está ligada à falta de ordem ou regras estabelecidas, mas não respeitadas. A violência é apontada por alguns estudiosos como inerente à natureza humana. Outros não aceitam essa

visão, posto que o ser humano é o único animal que utiliza armas para atacar seu semelhante. No reino animal, quando um animal ataca o outro, normalmente é pelo instinto de sobrevivência, ou seja,

ataca para se alimentar, para demarcar território, para liderar, para acasalar. Porém o ataque nunca é sem motivo; diferentemente do ser humano, que, às vezes, desmotivadamente, ataca seu semelhante.

Os seres humanos inventaram a guerra que é uma forma de matança generalizada. A justificativa para a ocorrência de uma guerra – conflitos religiosos, anexação ou defesa de território, desenvolvimento de armas nucleares, etc. – quase sempre oculta o verdadeiro motivo de sua realização: o poder.

Até mesmo a Igreja, que deveria pregar a não violência, a bondade e o amor, outrora incentivou a guerra e matança. Por motivos religiosos, milhares de pessoas morreram durante as cruzadas, promovidas pela a Igreja católica. Várias outras foram torturadas e muitas morreram no período da inquisição católica.

Em nome da religião,

periodicamente, homens bombas se suicidam em atentados terroristas, levando dezenas e/ou centenas de outras pessoas à morte.

Os conflitos entre pessoas, grupos, povos, nações existem desde os primórdios da humanidade, sobretudo partir do nascimento das civilizações.

O Tibete e a China, por exemplo, vivem um longo período de conflito. Os tibetanos lutam pela autonomia em relação ao domínio chinês, pois sempre foram uma nação independente, com seus próprios costumes, modo de vida e cultura.

Também recentemente os Estados Unidos invadiram o Iraque, tomando o poder e causando a morte de um grande numero de civis.

A violência dissociada de guerras também cresce a cada dia. Diariamente, ocorrem uma infinidade de roubos, sequestros, homicídios, etc. A violência, sob qualquer forma, sempre denota uma relação de poder sobre o outro, quer seja o outro um país ou uma pessoa.

Estudos revelam que diversos fatores podem levar ao aumento da violência e da criminalidade, dentre eles: desigualdade econômica e social; desvalorização dos valores morais e espirituais; racismo; pobreza; muita exposição da violência na imprensa; despreparo da polícia; crime organizado; desemprego; excesso de população carcerária; etc.

É sabido que o ser humano não nasce criminoso, não nasce para o mal. Diversas causas o levam para isso. Normalmente, essas causas são sociais e econômicas. Contudo, nem sempre a pobreza é preponderante para a ocorrência de crime ou violência.

Recentemente, em São Paulo, dois casos de morte foram praticados por estudantes universitários que não eram oriundos de famílias pobres. Em um deles, uma estudante universitária de família rica planejou e participou do assassinato dos pais enquanto eles dormiam. Para isso, contou com um plano e a ajuda do namorado e do cunhado.

Há alguns anos, um estudante universitário, que cursava medicina, entrou em um cinema, atirando aleatoriamente nas pessoas que assistiam ao filme, matando várias delas.

Como explicar esses e tantos outros casos de violência aparentemente sem explicação? Desajuste emocional, trauma infantil, desejo de fama? Ainda que se encontre uma justificativa, a criminalidade e a violência são reais e efetivas e se constituem em um grave problema da sociedade.

O fato é que a criminalidade cresce a cada dia. Tornou-se um fato integrante do mundo moderno, tanto na região urbana quanto na rural.

Muitos afirmam que a criminalidade é um problema deve ser resolvido pelo estado, mas também cabe à população e toda a sociedade resolve-lo; é, na verdade, um problema de responsabilidade social de todos, visto que o que leva ao crime são diversos fatores, inclusive sociais.

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A simples inclusão de mais policiais nas ruas e a repressão ao crime não têm se revelado suficiente para solucionar essa problemática. Entende-se que é necessário um trabalho mais efetivo, não só envolvendo o poder público, como também todas as áreas da sociedade buscando prevenção e redução da criminalidade e da violência.

Algumas medidas são apontadas nesse sentido, tais como: melhoria da justiça quanto a leis, prazos, recursos e rapidez; formação, preparo e remuneração digna para policiais; investimentos em educação, lazer, cultura, saneamento básico, infraestrutura e manutenção dos conceitos morais.

Essa deve ser, inquestionavelmente, uma mobilização de toda a sociedade e não apenas dos governos.

O QUE É VIOLÊNCIA?

“Violência é um comportamento que causa intencionalmente dano ou intimidação moral a outra pessoa, ser vivo ou danos a quaisquer objetos. Tal comportamento pode invadir a autonomia, integridade física ou psicológica e mesmo a vida de outro. É o uso excessivo de força, além do necessário ou esperado”

UMA EXPLICAÇÃO CRIMINOLÓGICA Muitos cientistas do século XIX e início do século XX como Cesare Lombroso, acreditava que o homem podia

adquirir uma anomalia que o levaria ao delito, que seria a combinação de certas combinações fisiopsíquicas apropriadas à perpetuação do malefício com certas outras condições sociais que fecundam esse germe individual, podendo muitas vezes o fazer reproduzir-se, ou seja, pessoas teriam predisposições genéticas e, portanto, naturais a praticar o crime. Para combater o crime seria fundamental a EUGENIA.

Cesare Lombroso

EUGENIA – Prática científica que tinha o objetivo de classificar os indivíduos em normais e anormais e assim estimular o estudo e o uso de metodologias de eliminação ou de não proliferação.

UMA EXPLICAÇÃO SOCIOLÓGICA Já o Sociólogo Èmile Durkheim, em contraposição à visão da criminologia lombrosiana, acreditava que

nenhuma sociedade está livre do crime, nem o crime é um problema do delinquente. O crime é normal, é um padrão social, é um fato social ligado às condições fundamentais de qualquer vida em coletividade. O crime pode indicar a degeneração dos laços de solidariedade entre indivíduos e grupos. Contudo, Durkheim considerava que o crime poderia assumir um desequilíbrio da vida social, quando se configurava em uma situação de anomalia.

Émilie Durkheim

ANOMIA – Ausência de normas sociais que ameaçam a coesão social, ou seja, é quando as instituições da sociedade são fracas para socializar o indivíduo, isto é, trazer o indivíduo ao convívio da sociedade.

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VIOLÊNCIA E A FUNÇÃO DO ESTADO

As unidades federativas do Brasil, ou Estados, têm, em geral, a responsabilidade pela segurança pública e pela autodefesa. O artigo 144 da Constituição vigente, promulgada em 1988, trata dessa questão:

Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: I - polícia federal; II - polícia rodoviária federal; III - polícia ferroviária federal; IV - polícias civis; V - polícias militares e corpos de bombeiros militares.

Através da força policial, o Estado organiza a segurança pública e tem a função de zelar pela ordem e pela justiça. Assim, não cabe ao cidadão fazer a justiça com as próprias mãos, não cabe promover vingança. É o Estado que deve promover a justiça. Levando a ordem aos membros de uma sociedade. A Constituição legitima o poder do Estado como mediador dos conflitos. Desse modo, o Estado, através da força física, assegurada na Constituição, e pelas várias corporações policiais, combate a violência.

Por meio de leis próprias, estabelecidas no Código Penal, sabemos o que é uma prática criminosa ou não. Para quem infringir tal código, há variadas sanções penais. Enfim, o Estado tem a função de combater a violência e de promover a justiça. Contudo, a justiça no Brasil ainda é morosa e burocrática. Por outro lado, “brechas” existentes nas leis muitas vezes acabam favorecendo a impunidade de criminosos, sobretudo os de alto poder aquisitivo.

A VIOLÊNCIA E OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO

Os meios de comunicação exercem grande influência na vida humana. Diariamente, as pessoas assistem programas de TV, ouvem rádio, leem jornal, acessam á internet e rapidamente se informam sobre os mais variados assuntos, inclusive aqueles que envolvem conflitos, criminalidade, violência. A invenção da imprensa significou um grande avanço para toda a humanidade, pois possibilitou a todos o acesso à informação. Telefone, rádio, televisão e internet, entre outros, fizeram com que as informações circulassem, com grande velocidade em qualquer parte do munido. Nesse sentido, os meios de comunicação são excelentes formas de circulação de informações, conhecimento e cultura, desde que utilizados realmente para estes fins. A discussão sobre o fato de os meios de comunicação influenciarem ou não o aumento da violência é bastante antiga e divide opiniões e estudos. Parte dos pesquisadores creditam aos meios de comunicação uma certa responsabilidade pela incidência da violência quando exposta em excesso, e outros discordam dessa teoria. Como vivemos em uma democracia, a liberdade de imprensa é garantida por lei. No entanto, é dever de cada cidadão selecionar as informações que circulam nos meios de comunicação. O artigo 5º da Constituição Federal garante dois pontos: “[...] é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença”. Contudo, o Estado tem a obrigação de controlar a programação, estipulando horários e faixas etárias que sejam adequados ao expectador. Estes outros trechos da Constituição também tratam do tema meio de comunicação:

Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição. [...] § 2º - É vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística. § 3º - Compete à lei federal: I - regular as diversões e espetáculos públicos, cabendo ao poder público informar sobre a natureza deles, as faixas etárias a que não se recomendem, locais e horários em que sua apresentação se mostre inadequada; II - estabelecer os meios legais que garantam à pessoa e à família a possibilidade de se defenderem de programas ou programações de rádio e televisão que contrariem o disposto no art. 221, bem como da propaganda de produtos, práticas e serviços que possam ser nocivos à saúde e ao meio ambiente. Art. 221. A produção e a programação das emissoras de rádio e televisão atenderão aos seguintes princípios: I - preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas; II - promoção da cultura nacional e regional e estímulo à produção independente que objetive sua divulgação; III - regionalização da produção cultural, artística e jornalística, conforme percentuais estabelecidos em lei; IV - respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família.

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Pela leitura destes artigos, é possível perceber que apesar de não haver censura, o Estado tem uma parcela de responsabilidade na programação diária do rádio e da televisão; compete a ele o controle dessa programação. Grande parte dos meios de comunicação, com ênfase as emissoras de TV, extrapolam os limites éticos. Em diversos programas, filmes e novelas há exageros nas senas de sexo e de violência em horários inadequados contribuindo para que os valores morais se tornem banais e sem importância.

A concorrência entre as emissoras e a disputa pela audiência levam ao exagero e à irresponsabilidade, tornando a programação inadequada e de mau gosto.

Influenciando ou não para o aumento da violência, o fato é que os meios de comunicação, em especial o rádio e a tv, são poderosos veículos de informação e devem está a serviço da população, atendendo seus anseios de informação, entretenimento e cultura. Devem ainda despertar no indivíduo a valorização da vida, da paz entre todos e do respeito mutuo, possibilitando ao telespectador exercer e refletir sobre sua própria cidadania.

VIOLÊNCIA URBANA

Violência urbana é o conceito do fenômeno social de comportamento deliberadamente agressivo e

transgressor exercido por indivíduos ou coletividades nos limites do espaço urbano, sendo ela determinada localmente por valores sociais, culturais, econômicos, políticos e morais de uma sociedade, podendo variar no tempo e no espaço.

Existem diversos fatores para a existência de tanta violência urbana. Podemos começar citando a influência da globalização, que disseminou pelo mundo comportamentos violentos, como aqueles originários nos Estados Unidos e na Europa (gangues de rua, a pichação de prédios). O mau funcionamento dos mecanismos de controle jurídicos colaboram para a disseminação da violência de todas as espécies. A falha no exercício da coerção é um dos fatores mais apontados como causadores de condições para o exercício da violência.

Ao contrário do que comumente ouvimos em conversas informais, a violência não tem sua causa na pobreza. Se fosse correta essa afirmação, o continente africano seria o mais violento, assim como seria aqui as Regiões Nordestes e Norte, perspectivamente as mais violentas. O que constatamos é que a violência tem estado relacionada à desigualdade social (veja os níveis de violência na América Latina, assim como na Região Sudeste). A imposição do modelo de consumo capitalista não tem sido condizente com as condições para obtê-lo. Muitos por não conseguirem “ser alguém” (ler-se consumidor em potencial) por meios legais acabam buscando outras vias (é claro que não é apenas um fator isolado o motivador de tais práticas ilegais).

O Brasil possui características propiciadoras de violência urbana, como a existência de instituições frágeis (entre elas a família), profundas desigualdades sociais e uma tradição cultural violenta (embora camuflada pelo “tipo cordial”). Outra questão importante é a aceitação de condutas ilegais, que dependendo da gravidade é classificada pelos próprios indivíduos como “jeitinho brasileiro”. O brasileiro aceita facilmente o rompimento com as normas jurídicas, seja por parte do Estado (por exemplo, o uso de tortura ao pobre como meio de punição de criminosos ou de investigação), como por parte da sociedade civil (ocupação de espaços públicos por camelôs; infrações de trânsito; desrespeito ao consumidor; empregador que não paga os direitos dos empregados, etc.).

Somado a tais fatores soma-se a exclusão política e o baixo desempenho do sistema educacional de nosso país.

A solução para a questão da violência no Brasil envolve os mais diversos setores da sociedade, não só a segurança pública e um judiciário eficiente, mas também demanda com urgência, profundidade e extensão a melhoria do sistema educacional, saúde, habitacional, oportunidades de emprego, dentre outros fatores. Ou seja, requer principalmente uma grande mudança nas políticas públicas e uma participação maior da sociedade nas discussões e soluções desse problema de abrangência nacional.

FATORES GERADORES DA VIOLÊNCIA

Por: Renan Bardine

Os fatores que geram a violência no Brasil, e em várias nações mundiais, são dos mais diversos modelos. Havendo situações onde a violência é uma marca que vem sangrando há gerações, como o racismo, o conflito de religiões, diferentes culturas. E há casos onde ela é gerada de forma pessoal, onde a própria pessoa constrói fatores que acabam resultando em situações violentas como o desrespeito, o uso de drogas, a ambição e até mesmo resultado da educação familiar.

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Circunstâncias refletem a conjuntura de uma nação, como quando há falta de empregos, fazendo assim uma busca desesperada por melhores condições de vida; a falta de investimentos do Estado; e o principal motivo para gerar violência que vem abalando a história da humanidade é a desigualdade social.

Vivemos numa sociedade consumista, “imoral e avançada”, onde o virtú, como dizia Maquiavel sobre os valores, tem perdido na escala de prioridades para a fortuna (bens materiais). A sociedade está amparada pela mídia que veicula uma necessidade material, como recentemente o ator da emissora Rede Globo, Lima Duarte criticou: “Lá é tudo dirigido a partir do comércio. Nunca é a partir da criação”. Um dos atores mais consagrados da televisão brasileira viu a necessidade urgente da mudança na concepção de mídia. Este é um alarme para que a sociedade boicote essa glamourização da ignorância que reflete na realidade atual. Assim, notamos uma influência significativa da mídia na sociedade, onde se caracteriza o modelo de cidadão como aquele que tem roupas de boas marcas, carros novos e outros bens que estão longe da realidade econômica da maior parte dos brasileiros.

Uma das formas encontradas pelos jovens das classes pobres da sociedade, para atingir seus objetivos, baseados em estilos de vida e na vontade de possuir os bens de consumo mostrados pela mídia, é o crime, sendo esse mundo a única alternativa para se conseguir dinheiro. Há ainda a FACILIDADE DE ACESSO ÀS ARMAS E ÀS DROGAS, além da sensação de IMPUNIDADE que fortalece cada vez mais o mundo do crime.

A DESIGUALDADE SOCIAL é um câncer que está piorando há séculos, quanto mais se fala sobre esse problema, mais as autoridades fecham os olhos, ou as janelas nos sinais de trânsito. A desigualdade social, identificada por mim como o fator que mais gera violência, é resultado da AMBIÇÃO dessa sociedade burguesa. Sendo que a maior parte da população não tendo outro meio de obter sua subsistência entra na vida do crime e, consequentemente, na violência. Um Fator gerador da desigualdade social é o DESEMPREGO, como fora mostrado a preocupação, pelo menos aparente, de abranger este assunto nas últimas eleições presidenciais, pois não há meio de obter um padrão de vida aceitável sem um emprego, e tendo procura demasiada e ofertas escassas muitas vezes trazem abusos nos assalariados, parecendo voltar a épocas anteriores à Revolução Industrial. Esses abusos muitas vezes trazem consequências assustadoras, como a marginalização do assalariado, que por não aceitar situações deploráveis tenta uma ‘vida mais fácil’ no tráfico de DROGAS. Efeito posterior é seu vínculo ‘eterno’ com o morro e a dependência da droga, sendo um criminoso inconsequente, muitas vezes por não estar no seu estado normal.

Partindo para uma visão mais ampla da situação achamos causas mais subjetivas, como o RACISMO que é parte integrante da desigualdade social. Como mostra estatísticas recentes onde negros ganham significativamente menos que brancos, ou que negros são praticamente 50% da população brasileira, sendo que o número destes na universidade não chega a 5%.

A RELIGIÃO é motivo de conflitos no mundo inteiro, sendo que no Brasil este não é muito presente. Guerras seculares, e até milenares, vêm aniquilando seres humanos sem piedade, trazendo o nome de Deus como justificativo pra tal ato. Como ocorre no Iraque, onde Xiitas e Sunitas estão em guerra desde a morte de Maomé, por diferenças religiosas.

FALTA DE INVESTIMENTOS DO GOVERNO na sociedade para permitir o cidadão a recorrer a meios mais humanos para a sobrevivência é outro agente que gera violência, pois sem um investimento pesado na educação, na infraestrutura do país e radicais reformas tributárias e agrárias será muito difícil, quase impossível, diminuir a violência. Essa situação faz o cidadão NÃO TER PERSPECTIVA para um futuro promissor, aliado a uma perversa EDUCAÇÃO FAMILIAR que passa de geração para geração.

SUGESTÕES PARA A DIMINUIÇÃO

DA VIOLÊNCIA Como não dá para apagar com uma borracha toda a maldade do ser humano, tem-se que, num processo

gradual e objetivo, eliminar os fatores geradores da violência. Iniciando com os mais superficiais, mais fáceis de serem abatidos, sendo esses os de caráter material, como

o desemprego, a falta de investimentos por parte do governo. Medidas dadas como urgentes devem ser feitas nesse ritmo: urgente. Como estímulos no abate de impostos

para a criação de empregos; aumento no salário do cidadão, transformando isso numa cadeia onde o custo se torna em benefício, pois quanto mais recebem mais gastam; reforma agrária é de suma importância a sua realização, porque é difícil a construção de um cidadão numa esfera onde não se tem nem o controle da segurança, onde quem comanda a favela são milícias armadas, além de tudo se cria uma imagem negativa do cidadão dos morros, fixando a discriminação e, assim, a desigualdade social.

Outra medida é o investimento na educação, pois se percebe que grandes nações são resultados de grandes cidadãos. E com uma educação, desde o fundamental até o superior, de qualidade forma-se pessoas capazes e instruídas para reivindicarem seus direitos e assim cumprem com muito mais eficácia seus deveres, pois a ignorância é aliada da violência, sendo que os traficantes agem principalmente nas favelas, onde os moradores têm menos conhecimentos que pessoas instruídas.

Há também a violência histórica, aquela que mancha a sociedade há séculos. Na realidade brasileira, o seu pior sintoma é o racismo e para acabar com ele deve-se começar a criar um novo conceito de igualdade, pois vivemos rodeados por pensamentos conservadores, e estes são muito difíceis de mudarem. A igualdade racial tem que parar de ser idealizada e ser colocada na prática, pois essa herança do regime escravagista deve ser abolida do comportamento social. Isso reflete em várias situações, como na questão religiosa, onde mulçumanos com aspectos de pessoas do Oriente Médio são taxados de terroristas, um erro grave e preconceituoso, que como na questão do racismo negro deve ser abolida da ordem atual, com medidas duras tanto jurídicas como morais. Penas mais severas para racistas e exclusão social para estes.

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Analisando um outro aspecto, notamos que o desigualdade social é resultado de todas essas violências, que geram problemas muito graves. E o motivo da violência estar se alastrando como inço deve-se também pela impunidade e pela facilidade de se obter armas e drogas. Para o fim disso, precisa-se de medidas eficazes e não simplesmente arranjar culpados. É preciso tornar as leis e as penas mais duras e que haja uma capacidade de reabilitação para o infrator, e arrancar o mal pela raiz dando capacidade de convivência social na sociedade, lhes garantindo educação, emprego, saúde, segurança e dignidade para atingir seus objetivos.

De forma urgente, precisamos mudar o comportamento social para que a violência não se alastre e que todos tenham realmente direitos iguais. Que ninguém tenha que fazer manifestações exigindo que se cumpram seus direitos, pois se são direitos devem ser obrigatórios. Que todos tenham segurança para que ninguém precise comprar uma arma para se defender de delinquentes inconsequentes. E que ninguém precise virar um delinquente por falta de oportunidade, por fome ou para saciar a de seus filhos.

Medidas das autoridades contra a violência terão que ser mais objetivas e não simplesmente aumentar o número de policiais nas ruas e falar que ladrão não presta. Tem que investir na educação para que a próxima geração venha com pensamento na mudança e não a mudança no pensamento.

Temos que parar de arranjar culpados e ver soluções. http://www.coladaweb.com/sociologia/fatores-geradores-da-violencia

ARRASE NO ENEM

1.

1. TEXTO I O que vemos no país é uma espécie de espraiamento e a manifestação da agressividade através da violência. Isso se desdobra de maneira evidente na criminalidade, que está presente em todos os redutos — seja nas áreas abandonadas pelo poder público, seja na política ou no futebol. O brasileiro não é mais violento do que outros povos, mas a fragilidade do exercício e do reconhecimento da cidadania e a ausência do Estado em vários territórios do país se impõem como um caldo de cultura no qual a agressividade e a violência fincam suas raízes.

Entrevista com Joel Birman. A Corrupção é um crime sem rosto. IstoÉ. Edição 2099, 3 fev. 2010. TEXTO II Nenhuma sociedade pode sobreviver sem canalizar as pulsões e emoções do indivíduo, sem um controle muito específico de seu comportamento. Nenhum controle desse tipo é possível sem que as pessoas anteponham limitações umas às outras, e todas as limitações são convertidas, na pessoa a quem são impostas, em medo de um ou outro tipo.

ELIAS, N. O Processo Civilizador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1993. Considerando-se a dinâmica do processo civilizador, tal como descrito no Texto II, o argumento do Texto I acerca da violência e agressividade na sociedade brasileira expressa a a) incompatibilidade entre os modos democráticos de convívio social e a presença de aparatos de

controle policial. b) manutenção de práticas repressivas herdadas dos períodos ditatoriais sob a forma de leis e

atos administrativos. c) inabilidade das forças militares em conter a violência decorrente das ondas migratórias nas grandes

cidades brasileiras. d) dificuldade histórica da sociedade brasileira em institucionalizar formas de controle social compatíveis com

valores democráticos. e) incapacidade das instituições político-legislativas em formular mecanismos de controle social específicos à

realidade social brasileira. 2. Leia o texto a seguir:

“Como problema que inquieta e choca a sociedade, a pobreza aparece, no entanto no registro da patologia, seja nas evidências da destituição dos miseráveis que clamam pela filantropia pública ou privada, seja nas imagens da violência que apelam para a sua ação preventiva e, sobretudo, repressiva. Num registro ou no outro, a pobreza é encenada com algo externo ao mundo propriamente social.”

(Vera da Silva Telles. Pobreza e Cidadania. SP: Editora 34 , 2001, p. 31-32.)

Considerando que o texto está se referindo à sociedade brasileira, assinale o que for correto. a) a autora apresenta uma análise sociológica sobre a pobreza no Brasil, alerta para o fato de que esse

problema gera violência e defende que ações privadas filantrópicas poderiam preveni-lo. b) a autora afirma que, no Brasil, há uma naturalização da pobreza. Assim, nossa sociedade geralmente não

considera os condicionantes sociais e históricos do fenômeno em questão. c) a identificação do Estado como um pai, muito presente no imaginário social brasileiro, corresponde àquilo que,

no texto, a autora denomina “filantropia pública”. d) a autora apresenta uma análise sociológica sobre a forma como a sociedade brasileira concebe a pobreza.

Com isso, ela procura esclarecer alguns dos fatores que, historicamente, contribuem para sua reprodução.

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3. O termo violência doméstica inclui aquela praticada por um parceiro íntimo ou membro da família, em qualquer situação ou forma. O mais comum nesse contexto é a violência do homem contra a mulher.

Analise as seguintes afirmativas concernentes a esse fenômeno e sua abordagem atual. I. A hesitação da vítima de violência doméstica em recorrer à justiça retrata a debilidade do sistema penal de

nosso país no papel de proteção às mulheres vítimas de violência, já que o sistema atual não consegue prevenir a reiteração da conduta por parte do agressor e, assim, fecha-se as reais necessidades da vítima no sentido da resolução do conflito.

II. Esse tipo de violência ocorre num âmbito eminentemente privado, costuma aumentar de intensidade e é normalmente repetitiva, implicando muitas vezes risco de vida constante e crescente para a vítima.

III. Em caso de violência doméstica, o juiz do Juizado Especial Criminal poderá determinar, como medida de cautela, o afastamento do autor do fato do lar, domicílio ou local de convivência com a vítima.

A partir dessa análise, pode-se concluir que estão CORRETAS a) apenas as afirmativas I e II. b) apenas as afirmativas I e III.

c) apenas as afirmativas II e III. d) todas as afirmativas.

4. Leia o texto.

“A proteção e a promoção dos direitos humanos continuaram a se situar entre as principais carências a ser enfrentadas pela sociedade civil. […] A enumeração das principais áreas de intervenção das organizações da sociedade civil soa como demandas de séculos passados: a ausência do estado de direito e a inacessibilidade do sistema judiciário para as não elites; o racismo estrutural e a discriminação racial e a impunidade dos agentes do Estado envolvidos em graves violações aos direitos humanos. Como vimos, a nova democracia continuou a ser afetada por um ‘autoritarismo socialmente implantado’, uma combinação de elementos presentes na cultura política do Brasil, valores e ideologia, em parte engendrados pela ditadura militar, expressos na vida cotidiana. Muitos desses elementos estão configurados em instituições cujas raízes datam da década de 30.”

(Fonte: PINHEIRO, P. S. Transição Política e Não-Estado de Direito na República. In: WILHEIM, J. e PINHEIRO, P. S. (org.). Brasil – um século de transformações. São Paulo: Companhia das Letras, 2003, p. 296-297.)

Em relação à violência, analise o texto anterior e selecione a alternativa que corresponde à idéia desenvolvida pelo autor:

a) A democracia brasileira é fortemente responsável pelo surgimento de uma cultura da violência no Brasil. b) Muito mais do que os traços culturais, é o desenvolvimento econômico que acarreta o desrespeito aos direitos

humanos no Brasil. c) Com a democratização, as não-elites brasileiras finalmente tiveram pleno acesso ao sistema judiciário e aos

direitos próprios do Estado de Direito. d) Historicamente, o desrespeito aos direitos humanos afeta de modo igual a brancos e negros, ricos e pobres. e) A violência no Brasil se expressa na vida cotidiana e, para ser superada, depende de ações da sociedade civil.

5. “Nós pensamos que fosse um mendigo...” Essa frase foi atribuída aos adolescentes que, em Brasília, queimaram vivo o índio Galdino, que dormia em um ponto de ônibus. Esse fato, ocorrido em 1997, pode ser associado:

a) ao descaso e à violência com que as minorias e os pobres têm sido historicamente tratados no brasil. b) ao surgimento de grupos organizados de extrema direita que veem os índios e os pobres como responsáveis

pela crise do desemprego. c) à política de eliminação das diferenças e das desigualdades sociais, através dos extermínios dos pobres. d) ao conflito inter-étnico que tem caracterizado a luta pela posse e distribuição das terras das reservas indígenas.

6. Leia o texto a seguir e responda a questão abaixo.

O desenvolvimento da civilização e de seus modos de produção fez aumentar o poder bélico entre os homens, generalizando no planeta a atitude de permanente violência. No mundo contemporâneo, a formação dos Estados nacionais fez dos exércitos instituições de defesa de fronteiras e fator estratégico de permanente disputa entre nações. Nos armamentos militares se concentra o grande potencial de destruição da humanidade. Cada Estado, em nome da autodefesa e dos interesses do cidadão comum, desenvolve mecanismos de controle cada vez mais potentes e ostensivos. O uso da força pelo Estado transforma-se em recurso cotidianamente utilizado no combate à violência e à criminalidade.

Adaptado de: COSTA, C. Sociologia: introdução à ciência da sociedade. São Paulo: Moderna, 1997. p.283-285.

Sobre violência e criminalidade no Brasil, assinale a alternativa correta. a) As políticas repressivas contra o crime organizado são suficientes para erradicar a violência e a insegurança

nas cidades. b) As altas taxas de violência e de homicídios contra jovens em situação de pobreza têm sido revertidas com a

eficácia do sistema prisional. c) As desigualdades e assimetrias nas relações sociais, a discriminação e o racismo são fatores que acentuam a

violência no Brasil. d) A violência urbana contemporânea é resultado dos choques entre diferentes civilizações que se manifestam

nas metrópoles brasileiras. e) O rigor punitivo das agências oficiais no combate à criminalidade impede o surgimento de justiceiros

e milícias.

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7. Marque a alternativa que afirma corretamente sobre a Cultura de Violência que em muitos casos está bastante presente no cotidiano das pessoas:

a) Quando falamos de cultura de Violência, estamos nos referindo aos padrões tribais das antigas civilizações. b) Cultura de violência é algo que já foi, em muitos casos superados, pelos novos padrões civilizatórios da

pós modernidade. c) São padrões de comportamento que estão ligados a conflitos étnicos e religiosos. d) Definimos uma cultura de Violência como hábitos que a sociedade cultiva, baseados em comportamentos

agressivos e imposição de poder, de forma habitual. e) Seria um conjunto de conhecimentos preventivos em relação aos hábitos violentos da sociedade. 8.

“O interrogatório é muito fácil de fazer, Pega o favelado e dá porrada até doer. O interrogatório é muito fácil de acabar, Pega o bandido e dá porrada até matar".

(Refrão cantado por soldados do Batalhão de Operações Especiais – BOPE)

Com base no texto podemos analisar: a) O preparo humanitário da polícia do Rio de Janeiro. b) Como a violência policial se institucionalizou em alguns cantos do Brasil. c) Que a polícia deve sempre trabalhar com o uso de práticas violentas para colher bons frutos. d) A violência policial somente se manifesta na forma de canções. 9. Um cidadão armado tem 57% de chances de ser assassinado do que os que andam desarmados. As armas

de fogo provocam um custo ao SUS de mais de 200 milhões de reais. Fonte: UNESCO. Pois bem sobre o texto podemos afirmar que:

a) A violência é um elemento gerador de mais violência, podendo ser um elemento causador de aumento de impostos.

b) Não há relação entre política, economia e violência. c) A violência somente é provocada a pessoas portadoras de armas de fogo. d) O Índice de Violência reduziriam se o porte de arma fosse de fácil acesso a todos. 10. “Os atos de violência exercidos contra pessoas mais frágeis ou dependentes, como velhos, mulheres,

crianças, subordinados e pobres, são mais frequentes do que se imagina. Alguns teóricos consideram que as pessoas como pouco poder de decisão no trabalho e na política tendem a descontar em dependentes ou subordinados, exercendo o pequeno poder. Assim, o funcionário público insatisfeito e de baixo salário se atribui de poder extraordinário diante do usuário que chega ao guichê. O subordinado, com raiva de obedecer às ordens dos superiores, maltrata a mulher e os filhos. A mãe, dominada pelo marido, exerce seu poder contra os filhos”. (Heleieth Saffioli). De acordo com o texto podemos afirmar de forma correta:

a) que a história nos mostra como é fácil parar o processo de violência depois de ter sido desencadeado. b) que a violência é o uso da força para obrigar uma pessoa a agir de forma voluntária. c) que o processo da violência se dá de várias formas e em vários setores da sociedade. d) que a violência física é a única forma encontrada nas sociedades modernas.

GABARITO

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 D B A A A C D B A C

CAPITULO 11 - TRABALHO E SOCIEDADE

O trabalho é a atividade por meio da qual o ser humano produz

sua própria existência. Essa afirmação condiz com a definição dada por Karl Marx quanto ao que seria o trabalho. A ideia não é que o ser humano exista em função do trabalho, mas é por meio dele que produz os meios para manter-se vivo. Dito isso, o impacto do trabalho e do seu contexto exercem grande influência na construção do sujeito. Assim, existem áreas do conhecimento dedicadas apenas a estudar as diferentes formas em que se constituem as relações de trabalho e seus desdobramentos na vida de cada um de nós.

Não seria difícil, então, de se imaginar que, quando as relações de trabalho alteram-se no fluxo de nossa história, as nossas estruturas sociais também são alteradas, principalmente a forma como se estruturavam nossas relações, posições na hierarquia social, formas de segregação e, em grande parte, aspectos culturais erguidos em torno das relações de trabalho.

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O TRABALHO NAS DIFERENTES SOCIEDADES

Sociedade greco-romana: A escravidão era fundamental para manter os cidadãos comuns longe do trabalho braçal, discutindo os assuntos que proporcionariam o bem-estar de seus semelhantes; Sociedade feudal: Quem de fato trabalhava eram os servos, os aldeões e os camponeses livres. Os senhores feudais e o clero exploravam e viviam do trabalho destes primeiros. Sociedades tribais: Nas sociedades tribais, o trabalho é uma atividade vinculada às outras, bem diferente das outras sociedades. A produção (trabalho) está vinculada a mitos e ritos, ligada ao parentesco, às festas, às artes, enfim a toda a vida do grupo. Sociedade capitalista: O capitalismo se constituiu a partir da decadência do Feudalismo na Europa Ocidental. Com ele o trabalho se transforma em uma mercadoria que pode ser comprada e vendida – a força do trabalho.

O TRABALHO NO DECORRER DA

REVOLUÇÃO INDUSTRIAL Tomemos como exemplo o rápido processo de mudança que atingiu os países europeus no início do

século XVIII, o qual hoje chamamos de Primeira Revolução Industrial. As relações de trabalho, anteriormente, eram fortemente agrárias, constituídas dentro do âmbito familiar. O ofício dos pais era geralmente passado aos filhos, o que garantia a construção de uma forte identidade ligada ao labor a que o sujeito se dedicava. O indivíduo estava ligado à terra, de onde tirava seu sustento e o de sua família. A economia baseava-se na troca de serviços ou de produtos concretos, e não no valor fictício agregado a uma moeda. Da mesma forma, o trabalho também estava agregado à obtenção direta de bens de consumo, e não a um valor variável de um salário pago com uma moeda de valor igualmente variável. A estrutura social era rígida, com pouca ou nenhuma mobilidade para os sujeitos, ou seja, um camponês nascia e morria camponês da mesma forma que um nobre nascia e morria nobre.

As mudanças trazidas pelo surgimento da indústria alteraram profundamente o sentido estabelecido para o trabalho e para a relação do sujeito com ele. A impessoalidade nas linhas de montagem que a adoção do Fordismo trouxe, em que milhares de pessoas amontoavam-se diante de uma atividade repetitiva em uma linha de montagem, sem muitas vezes nem ver o resultado final de seu esforço, passou a ser a principal característica do trabalho industrial.

PENSAMENTO CLÁSSICO SOBRE O TRABALHO: Weber- Relacionou o Capitalismo ao Protestantismo. A Reforma Protestante deu ao trabalho a condição de se obter êxito material como expressão de bênção divina, ao contrário da igreja cristã do sistema feudal;

Marx - Quando os trabalhadores percebem que estão trabalhando demais e recebendo de menos, os conflitos começam a ocorrer. Procurou demonstrar os conflitos entre trabalhadores e capitalistas, cujo lucro se dava através da “mais-valia”, diferença entre o valor produzido pelo trabalho e o salário pago ao trabalhador. Seria a base da exploração no sistema capitalista;

Durkheim - A divisão do trabalho seria uma forma de solidariedade e não um fator de conflito. A solidariedade orgânica une os indivíduos em funções sociais nas quais cada pessoa depende da outra. Assim, a ebulição pela qual passava a sociedade era uma questão moral, pois faltavam normas e instituições para integrar a sociedade.

OUTROS OLHARES PARA O TRABALHO.

O TRABALHO PRESENTE E FUTURO As transformações de nossas relações de trabalho não pararam na Revolução Industrial, pois ainda hoje o

caráter de nossas atividades modifica-se. Contudo, as forças que motivam essas mudanças são outras. A globalização é um dos fenômenos mais significativos da história humana e, da mesma forma que modificou nossas relações sociais mais íntimas, modificou também nossas relações de trabalho. A possibilidade de estarmos interconectados a todo momento encurtou distâncias e alongou nosso período de trabalho. O trabalho formal remunerado, que antes estava recluso entre as paredes das fábricas e escritórios, hoje nos persegue até em casa e demanda parte de nosso tempo livre, haja vista a crescente competitividade inerente ao mercado de trabalho.

A grande flexibilidade e a exigência por uma mão de obra cada vez mais especializada fazem com que o trabalhador dedique cada vez mais tempo de sua vida para o aperfeiçoamento profissional. Essa é uma das origens das grandes desigualdades sociais da sociedade contemporânea, uma vez que apenas aqueles que dispõem de tempo e dinheiro para dedicar-se ao processo de formação profissional, caro e exigente, conseguem subir na hierarquia social e econômica.

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A introdução da automação na produção de bens de consumo tornou, em grande parte, a mão de obra humana obsoleta, aumentando o tamanho do exército de trabalhadores e diminuindo o valor da força de trabalho nos países que dispõem de grande população, mas com baixa especialização. Como resultado, a situação do trabalho só piora, pois se preocupar com o bem-estar do empregado é algo caro e, na concepção que prioriza o lucro monetário, não é um investimento que garanta renda imediata.

TRANSFORMAÇÕES NO MUNDO DO TRABALHO:

Fordismo - No início do século XX, a partir do desenvolvimento das fábricas, surgem as linhas de montagem, com a divisão do trabalho mais aperfeiçoada e detalhada.

Taylorismo - Propõem a organização do trabalho de forma científica, racionalizando a produção. Surge na indústria o planejamento ajustado para controlar a execução das tarefas e os especialistas em administração. Os trabalhadores eram recompensados ou punidos de acordo com a sua produtividade na indústria.

Pós-fordismo ou acumulação flexível - A partir dos anos de 1970. Flexibilização dos processos de produção (automação); flexibilização dos mercados de trabalho (subemprego); flexibilização dos produtos e dos padrões de consumo – a durabilidade dos produtos é pequena e a mídia estimula a troca.

O QUE É TRABALHO ESCRAVO?

De acordo com o artigo 149 do Código Penal brasileiro, são elementos que caracterizam o trabalho análogo ao de escravo: condições degradantes de trabalho (incompatíveis com a dignidade humana, caracterizadas pela violação de direitos fundamentais coloquem em risco a saúde e a vida do trabalhador), jornada exaustiva (em que o trabalhador é submetido a esforço excessivo ou sobrecarga de trabalho que acarreta a danos à sua saúde ou risco de vida), trabalho forçado (manter a pessoa no serviço através de fraudes, isolamento geográfico, ameaças e violências físicas e psicológicas) e servidão por dívida (fazer o trabalhador contrair ilegalmente um débito e prendê-lo a ele). Os elementos podem vir juntos ou isoladamente.

O termo “trabalho análogo ao de escravo” deriva do fato de que o trabalho escravo formal foi abolido pela Lei Áurea em 13 de maio de 1888. Até então, o Estado brasileiro tolerava a propriedade de uma pessoa por outra não mais reconhecida pela legislação, o que se tornou ilegal após essa data.

Não é apenas a ausência de liberdade que faz um trabalhador escravo, mas sim de dignidade. Todo ser humano nasce igual em direito à mesma dignidade. E, portanto, nascemos todos com os mesmos direitos fundamentais que, quando violados, nos arrancam dessa condição e nos transformam em coisas, instrumentos descartáveis de trabalho. Quando um trabalhador mantém sua liberdade, mas é excluído de condições mínimas de dignidade, temos também caracterizado trabalho escravo.

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) e a Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, através de sua relatora para formas contemporâneas de escravidão, apoiam o conceito utilizado no Brasil.

TRABALHO ESCRAVO NO BRASIL ATUAL

O trabalho escravo no Brasil ainda existe e atinge milhares de pessoas em todo o território nacional. O Brasil foi a última nação do mundo ocidental a abolir o trabalho escravo de forma oficial, o que ocorreu no

final do século XIX. No entanto, em termos práticos, esse problema continua a existir nos dias atuais. Informações recentes estimam a ocorrência de 200 mil trabalhadores no país vivendo em regime de escravidão, segundo dados do Índice de Escravidão Global, elaborado por Organizações Não Governamentais (ONGs) ligadas à Organização Internacional do Trabalho (OIT).

Primeiramente, é importante o estabelecimento da definição do que seja considerado, propriamente, o regime de escravidão. Segundo a OIT, é considerado escravo todo o regime de trabalho degradante que prive o trabalhador de sua liberdade. Isso ocorre no Brasil, em maior parte, em espaços rurais distantes de centros urbanizados e rotas de transporte para fuga, onde os trabalhadores são geralmente coagidos a continuarem laborando sob a alegação da existência de dívidas com fazendeiros.

Mas esse tipo de ocorrência nem sempre ocorre dessa forma e também não é algo exclusivo do meio agrário. Em setembro de 2013, por exemplo, o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) denunciou a existência de trabalhadores em regime de escravidão nas obras de ampliação do Aeroporto de Guarulhos, no estado de São Paulo.

Em termos práticos, é possível afirmar que o trabalho escravo nunca foi abolido totalmente no território nacional. No entanto, apenas em 1995 o governo reconheceu oficialmente perante a OIT a existência desse tipo de problema no país, embora este tenha sido um dos primeiros no mundo a realizar esse tipo de pronunciamento. Atualmente, apesar da grande quantidade de trabalhadores escravizados no país, o Brasil é considerado internacionalmente um dos países mais avançados em esforços governamentais e não governamentais para acabar com esse problema.

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Geograficamente, é possível visualizar a ocorrência de trabalho escravo no Brasil no mapa a seguir:

Mapa do número de trabalhadores escravizados resgatados no Brasil de 1995 a 2006 *

Não por coincidência, as manchas mais escuras no mapa indicam um maior número de trabalhadores escravizados resgatados nas zonas de expansão da fronteira agrícola do país, atingindo, em maior parte, trechos das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Nessas zonas, onde o processo de desmatamento ainda está em curso, não há a adoção de técnicas agrícolas mais avançadas, além de apresentarem condições geográficas que dificultam a fiscalização, como a floresta densa, isso sem falar nas relações políticas de poder local.

O Brasil, segundo um ranking elaborado pela Organização Não Governamental Walk Free Foundation, ocupa a 94ª posição no mundo entre os países que, proporcionalmente à sua população, mais possuem trabalhadores em regime de escravidão. Apesar de as ações brasileiras serem consideradas exemplares internacionalmente, o país ainda encontra dificuldades em avançar nessa questão, pois esbarra em vários interesses, principalmente de latifundiários.

Um exemplo é o caso da Proposta de Emenda Constitucional (PEC 57-A/1999) que pretende endurecer as leis sobre o tema, a chamada PEC do Trabalho Escravo. Essa proposta tramita desde 1999 no legislativo e encontra dificuldade em sua aprovação, com recusas pautadas em argumentos frágeis, como o de que o conceito de trabalho escravo no Brasil não é bom, o que não é verdade segundo a maioria das entidades e ONGs que atuam nesse assunto.

O problema, na verdade, é que essa PEC propõe questões que desagradam profundamente muitos entre os grandes proprietários de terras, como o confisco de propriedades onde o trabalho escravo foi flagrado e o seu destino para a Reforma Agrária, sem indenização ao proprietário.

Apesar de o Brasil registrar recentes avanços no combate à escravidão de forma definitiva, ainda há muitos problemas que ainda precisam ser diagnosticados e erradicados, haja vista o grande número de pessoas estimadas vivendo em condições sub-humanas de trabalho. O escravismo é considerado internacionalmente uma violação grave aos direitos humanos, no sentido de explorar e privar o ser humano do exercício de sua liberdade.

SETORES DOS EMPREGADORES NA

LISTA DO TRABALHO ESCRAVO

*A categoria outros considera os setores de joias, lazer, pesca, restaurantes, comércio,

energia elétrica e vestuário Fonte: Cadastro de empregadores do Ministério do Trabalho

https://apublica.org/2017/10/no-mapa-o-trabalho-escravo-no-brasil/

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LEIS TRABALHISTAS: O PAPEL DA CLT A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) é norma legislativa brasileira referente ao Direito do trabalho e

ao Direito processual do trabalho. A CLT, ou Consolidação das Leis do Trabalho, criada por meio do Decreto-Lei número 5452, sancionado pelo presidente Getúlio Vargas, em plena era de Estado Novo, a ditadura varguista. Se antes as questões sociais eram "caso de polícia", como havia afirmado o ex-presidente Washington Luís, agora pelo menos havia um código inteiro à disposição do trabalhador para que houvesse uma melhor organização das condições de trabalho. A CLT surgiu como uma necessidade constitucional após a criação da Justiça do Trabalho em 1939. O país passava por um momento de desenvolvimento, mudando a economia de agrária para industrial, as mudanças eram extremamente necessárias.

Outro avanço importante surge com as disposições contidas na Constituição de 1988 sobre a competência e organização da Justiça do Trabalho. Assim, de acordo com a Constituição Federal, a área trabalhista passa a ser organizada em: varas trabalhistas, Tribunal Regional do Trabalho, e a sua esfera máxima, Tribunal Superior do Trabalho.

ARRASE NO ENEM

1. (Unioeste 2012) Émile Durkheim é considerado um dos fundadores das Ciências Sociais e entre as suas diversas obras se destacam “As Regras do Método Sociológico”, “O Suicídio” e “Da Divisão do Trabalho Social”. Sobre este último estudo, é correto afirmar que

a) a divisão do trabalho possui um importante papel social. Muito além do aumento da produtividade econômica, a divisão garante a coesão social ao possibilitar o surgimento de um tipo específico de solidariedade.

b) a solidariedade mecânica é o resultado do desenvolvimento da industrialização, que garantiu uma robotização dos comportamentos humanos.

c) a solidariedade orgânica refere-se às relações sociais estabelecidas nas sociedades mais tradicionais. O nome remete ao entendimento da harmonia existentes nas comunidades de menor taxa demográfica.

d) indiferente dos tipos de solidariedade predominantes, o crime necessita ser punido por representar uma ofensa às liberdades e à consciência individual existente em cada ser humano.

e) a consciência coletiva está vinculada exclusivamente às ações sociais filantrópicas estabelecidas pelos indivíduos na contemporaneidade, não tendo nenhuma relação com tradições e valores morais comuns.

2. TEXTO I

Cidadão Tá vendo aquele edifício, moço? Ajudei a levantar Foi um tempo de aflição Eram quatro condução Duas pra ir, duas pra voltar Hoje depois dele pronto Olho pra cima e fico tonto Mas me vem um cidadão E me diz desconfiado

“Tu tá aí admirado Ou tá querendo roubar?" Meu domingo tá perdido Vou pra casa entristecido Dá vontade de beber E pra aumentar meu tédio Eu nem posso olhar pro prédio Que eu ajudei a fazer.

BARBOSA, L. In: ZÉ RAMALHO. 20 Super Sucessos. Rio de Janeiro: Sony Music, 1999 (fragmento).

TEXTO II

O mais trabalhador fica mais pobre á medida que produz mais riqueza e sua produção cresce em força e extensão. O trabalhador torna-se uma mercadoria ainda mais barata à medida que cria mais bens. Esse fato simplesmente subentende que o objeto produzido pelo trabalho, o seu produto, agora se lhe opõe como um ser estranho, como uma força independente do produtor.

MARX, K. Manuscritos econômicos (Primeiro manuscrito). São Paulo: Boitempo Editorial, 2004 (adaptado). Com base nos textos, a relação entre trabalho e modo de produção capitalista é a) baseada na desvalorização do trabalho especializado e no aumento da demanda social por novos postos

de emprego. b) fundada no crescimento proporcional entre o número de trabalhadores e o aumento da produção de bens

e serviços. c) estruturada na distribuição equânime de renda e no declínio do capitalismo industrial e tecnocrata. d) instaurada a partir do fortalecimento da luta de classes e da criação da economia solidária. e) derivada do aumento da riqueza e da ampliação da exploração do trabalhador.

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3.

A forma de organização interna da indústria citada gera a seguinte consequência para a mão de obra nela inserida: a) Ampliação da jornada diária. b) Melhoria da qualidade do trabalho. c) Instabilidade nos cargos ocupados. d) Eficiência na prevenção de acidentes. e) Desconhecimento das etapas produtivas. 4. (UEM – Inverno 2008) Sobre as relações produtivas desenvolvidas por diferentes grupos sociais ao longo da

história, assinale o que for correto. a) Nas sociedades tribais, o trabalho humano está relacionado apenas à satisfação das necessidades básicas do

homem, como, por exemplo, garantir a alimentação e o abrigo. Por isso, nesses casos, os processos de trabalho não geram relações propriamente sociais.

b) Segundo muitos autores, para alcançar a sua subsistência, nem todos os grupos humanos viveram de atividades produtivas, como ocorreu historicamente nas sociedades de pescadores, de coletores e de caçadores.

c) Alguns antropólogos afirmam que grupos indígenas, como os ianomâmis, podem ser considerados “sociedades de abundância”, pois dedicam poucas horas diárias às atividades produtivas, mas, apesar disso, têm suas necessidades materiais satisfeitas. Tais necessidades não são crescentes, como ocorre nas sociedades capitalistas.

d) Na sociedade feudal, a terra era o principal meio de produção, porém os direitos sobre ela pertenciam aos senhores. Os camponeses e os servos nunca podiam decidir o que produzir, para quem e quando trocar o fruto do seu trabalho.

e) O modo de produção escravista colonial que ocorreu no Brasil tinha as seguintes características principais: economia voltada para o mercado externo baseada no latifúndio, troca de matérias-primas por produtos manufaturados da metrópole e fraco controle da colônia sobre a comercialização.

5. (Ufpa 2012) Atualmente, experimentamos profundas transformações, em todas as dimensões da sociedade,

que levaram a uma reestruturação radical do setor produtivo. É uma das CONSEQUÊNCIAS desse processo: a) Promove-se a organização da classe trabalhadora e fortalecem-se os sindicatos, uma vez que agora estes

possuem um poder de pressão maior sobre os empresários. b) As empresas que passaram por um processo de reestruturação produtiva conseguiram obter vantagens

comerciais porque, ao fazerem um intenso investimento em tecnologia, reduziram consideravelmente o desemprego tecnológico, ao mesmo tempo em que criaram mais postos de trabalho.

c) A fragmentação do mundo do trabalho e a prática empresarial da terceirização tendem a criar uma rede complexa e diversificada na qual surgem novos estatutos precários de emprego e salário.

d) Conquistam-se novos benefícios sociais e garantem-se benefícios já conquistados, na medida em que as empresas contratantes, ao livrarem-se dos encargos sociais e legais impostos pelo Estado, acrescentam os valores correspondentes nos salários dos trabalhadores, a título de incentivo.

e) Existe uma espécie de degradação do trabalho na maioria dos setores da economia, que é determinada, em grande medida, pelo pouco interesse que os jovens possuem em relação à sua própria qualificação; o que nada tem a ver com os processos decorrentes da lógica do capitalismo.

6. (Unicentro 2012) De acordo com as análises de Karl Marx, a divisão social do trabalho revela duas classes

que se contrapõem. Na produção capitalista, as duas classes antagônicas são as indicadas em a) senhor e escravo. b) clero e burguesia.

c) servos e senhores. d) nobreza e burguesia.

e) burguesia e proletariado.

7. (Uema 2011) Uma das condições imprescindíveis, em Karl Marx, para que a mercadoria como força de

trabalho possa ser vendida e comprada no mercado é: a) A separação entre os meios de produção e o produtor direto. b) A unidade entre o meio de produção e o produtor direto. c) A relação entre a produção, consumo e distribuição. d) O intercâmbio entre homem e natureza. e) A separação entre campo e cidade.

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8. Um banco inglês decidiu cobrar de seus clientes cinco libras toda vez que recorressem aos funcionários de suas agências. E o motivo disso é que, na verdade, não querem clientes em suas agências; o que querem é reduzir o número de agências, fazendo com que os clientes usem as máquinas automáticas em todo o tipo de transações. Em suma, eles querem se livrar de seus funcionários.

HOBSBAWM, E. O novo seculo. São Paulo: Companhia das Letras, 2000 (adaptado). O exemplo mencionado permite identificar um aspecto da adoção de novas tecnologias na economia capitalista contemporânea. Um argumento utilizado pelas empresas e uma consequência social de tal aspecto estão em a) qualidade total e estabilidade no trabalho. b) pleno emprego e enfraquecimento dos sindicatos. c) diminuição dos custos e insegurança no emprego. d) responsabilidade social e redução do desemprego. e) maximização dos lucros e aparecimento de empregos. 9. Acerca da dinâmica do processo de produção, trabalho e consumo, asseguramos que: a) não se tem por meta a produção de bens e serviços. b) Baseia-se na negação da vida em sociedade. c) O trabalho é fundamental para que haja produção, os quais dependem das necessidades e da demanda

pelo consumo. d) os instrumentos de produção e a matéria-prima não são importantes nesse processo. e) existe a necessidade exclusiva de trabalho qualificado e técnico. 10. No Século XXI, o Trabalho Forçado, Trabalho análogo ao Escravo e o Trabalho Infantil ainda são uma

realidade no mundo e o Brasil não é uma exceção. Existem inúmeras razões para a persistência do Trabalho Forçado e Trabalho análogo ao Escravo no Brasil.

Não é uma das razões para persistência do Trabalho Forçado no Brasil. a) Sentimento de Impunidade para os promotores do Trabalho Forçado ou Trabalho análogo ao Escravo, na

maioria dos casos praticado em áreas distantes e/ ou desconhecidas dos trabalhadores recrutados. b) São raros os casos de condenação criminal por Trabalho Forçado no Brasil. A lei tem dificuldade em atingir o

promotor do trabalho escravo, devido a existência de intermediários (“os gatos”) encarregados da contratação. c) No Brasil, a lei penal é inadequada para a responsabilização dos infratores. Falta clareza ao qualificar como

crime de condição análoga à escravidão a submissão do empregado a uma jornada exaustiva ou em situação degradante.

d) A legislação penal brasileira está em descompasso com o conceito universal de trabalho escravo em razão da não adesão pelo Brasil as Convenções Internacionais que tratam do tema.

e) Dificuldade de fiscalizar um país com as dimensões territoriais do Brasil.

GABARITO

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 A E E E C E A C C D

CAPITULO 12 - MOVIMENTOS SOCIAIS

INTRODUÇÃO De uma forma geral, a ideia de movimentos sociais começou com o conceito de antropocentrismo,

concepção que tinha o homem como o centro das coisas, não mais a religião. Essa ideia é difundida pelos iluministas, e torna-se a principal base da Revolução Francesa, que foi o marco decisivo para o começo de uma difusão mundial de ideias. Assim o jeito iluminista de pensar ganhou o mundo, se espalhando e servindo de base e inspiração para outras revoluções e movimentos acontecerem. Movimentos sociais são ações coletivas que visam adequar situações atuais, que são vividas por uma parte de uma determinada população, ao sistema político vigente.

O sociólogo francês Alain Touraine considera que a semente dos movimentos sociais está no conflito entre classes e vontades políticas. Para ele, os conflitos sociais estão enraizados em nossa forma de governo e em nosso Estado moderno, permeado por vontades individuais e pelas desigualdades sociais. Essa desigualdade, que fere os princípios de igualdade de um Estado democrático, torna-se um agente de segregação social, cultural e econômica, fatalmente interferindo nas formas de atuação civil daqueles afligidos por tal mal.

Diante disso, os movimentos sociais tornam-se entidades de mediação, isto é, a ferramenta de maior efetividade que os grupos minoritários e desfavorecidos dispõem para buscar a garantia de seus direitos. Sua existência deve ser garantida dentro de um Estado democrático, que depende da legitimação dos cidadãos que o integram para que possa exercer sua função de governar em nome do bem-estar comum.

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MOVIMENTOS SOCIAIS A maioria dos teóricos sociais concorda em que neste modo de ação coletiva engloba um tipo especifico

de relação socialmente conflitiva. O tipo clássico é o movimento operário que marcou a sociedade industrial do século XIX ao inicio do século XX. Mais recentemente nos anos 60, a maioria dos países do ocidente vivenciou importantes movimentos sociais. Ex. movimento estudantil, movimentos pelos direitos civis e os movimentos pela paz.

Enquanto nos países de terceiro mundo surgiram movimentos de libertação nacional durante os anos 70 e inicio dos anos 80 um grande numero de movimentos sociais proliferou atreves da América do norte e da Europa – movimentos de mulheres, ecológicos, antinucleares e pela paz, bem como movimentos pela autonomia regional.

Em outras partes, surgiram movimentos fundamentalistas enfatizando a especificidade cultural. Muitos movimentos sociais desafiam estruturas institucionais, modos de vida e de pensar, normas e códigos morais. Na verdade os movimentos sociais estão intimamente ligados à mudança social, e vários aspectos da sociedade contemporânea são provavelmente consequências das ações dos movimentos sociais.

De um ponto de vista teórico, também os movimentos sociais se colocam no centro da discussão cientifica social. Afirmando que o comportamento coletivo e movimentos sociais são conceitos centrais da teoria sociológica e o fato de o uso da atual expressão ser bastante impreciso, mesmo na literatura profissional, pode dever-se em grande parte à excessiva variedade de fenômenos que baseiam na experiência e não no estudo aos quais essa noção potencialmente os aplica.

Tal como a maioria das noções das ciências sociais, a de movimentos social não descreve parte da realidade, mais é um elemento de um modo especifico de construir a realidade social.

Os paradigmas teóricos dos movimentos sociais podem ser considerados sob diferentes rubricas. Como já dizia o filósofo Karl Marx “Mudanças na sociedade ocorrem a partir da ebulição dos movimentos

sociais: contra o capital e o Estado.” Os Movimentos Sociais são de extrema importância, porque cobram mudanças, reivindicam transformações, mostram quando a povo não está satisfeito com as medidas adotadas por governantes, além de cobrar medidas quando necessário.

Porém, os Movimentos Sociais vem perdendo força com o passar do tempo. Os que ainda sobrevivem são poucos tais como o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra), UNE (União Nacional dos Estudantes) e a CUT (Central Única dos Trabalhadores) e mesmo assim não possuem mais o vigor e expressão que antes possuíam. O egoísmo, o consumismo desenfreado, a concorrência, a alienação imposta pelo mercado vem impedindo que as pessoas se unam para lutar e reivindicar o bem em comum, tais fatores somado ao desinteresse em relação à política contribuem para que “políticos” aprovem leis que prejudicam o povo, além de roubarem dinheiro público, enquanto cidadãos honestos e trabalhadores morrem na fila do hospital aguardando o atendimento que não tem, enquanto crianças ingressam precocemente no “mercado de trabalho”.

É impressionante como o Sistema Capitalista consegue se metamorfosear de maneira tão sórdida e mesquinha deixando seu rastro de sangue, afastando as pessoas, destruindo laços de solidariedade e fraternidade, e que a cada dia vem tirando das pessoas o sentido de viver em sociedade. Apesar de todos estes fatores, é necessário que o povo se mobilize e não mais aceite como normal o fato de deputados trabalharem menos e ganharem mais ou deixar acabar em pizza assuntos referentes à corrupção de “políticos”; é necessário também, cobrar as promessas feitas durante a campanha eleitoral.

MOVIMENTOS SOCIAIS EM AÇÃO

São agrupamentos de indivíduos envolvidos num empenho organizado para gerar ou combater a alterações na sociedade ou no grupo do qual fazem parte. Possuem três características: a) representam alguém, falam em nome de alguém, defendem os interesses de alguém; b) sempre lutam contra alguma coisa, buscam vencer uma oposição ou indiferença; c) mesmo representando um grupo específico fazem isto invocando os interesses de toda a coletividade.

SÃO EXEMPLOS: Movimento dos trabalhadores sem Terra (MST) - lutam por terra Movimento Feministas - Lutam por vários direitos entre eles a descriminalização do aborto Movimento Negro - Luta contra o racismo e preconceito Movimento estudantil - lutam por qualidades de ensino Movimento antimanicomial - lutam contra más qualidades de tratamento com os doentes mentais (contra

o manicômio)

OS MOVIMENTOS SOCIAIS PODEM SER CONSERVADORES, REFORMISTAS E REVOLUCIONÁRIOS: a) Conservadores: quando os movimentos lutam de forma organizada para manter a sociedade como está, ou ainda desejam que ela volte a ser de alguma maneira que consideram que tenha sido melhor no passado. Exemplos: UDR (União Democrática Ruralista) que luta contra a reforma agrária. b) Progressistas:Atuam em redes, segundo uma agenda emancipatória, realizam diagnósticos sobre a realidade social e constroem propostas. Articulam ações coletivas que agem como resistência à exclusão e lutam pela inclusão social.

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c) Reformistas: quando os movimentos organizadamente querem modificar pontos específicos da sociedade. Ainda que desejem reformas e não uma revolução, muitos deles podem usar de recursos pacíficos como um abaixo assinado, ou ainda pegar em armas, o que importa é o objetivo do movimento. Eles não deixarão de serem classificados como reformistas por causa do meio que utilizarem para reivindicar. Exemplos: MST (Movimentos Sem Terra) que luta a favor da reforma agrária. d) Revolucionários: quando desejam modificar radicalmente as estruturas da sociedade substituindo por outro. Exemplo: os bolcheviques que derrubaram o czarismo na Rússia e implantaram o que se convencionou chamar de mundo socialista. e) Expressivos: aqueles que querem ajudar as pessoas que estão passando por uma realidade difícil. Tem como objetivo mudar a pessoa e não a realidade. Ex.: O movimento dos Alcoólicos Anônimos. Movimentos religiosos e messiânicos Tipos de Movimentos Sociais também podem ser enquadrados.

OS MOVIMENTOS SOCIAIS – CONTEXTOS GERAIS

“Os movimentos sociais, na pratica, são a representação da sociedade como

organização, que os utiliza como instrumentos de ação num contexto histórico especifico. O conflito de classe e os acordos políticos são, consequentemente, canais dos movimentos para atingir seus fins.” “O movimento deixa de ser apenas a expressão de uma contradição socioeconômica, e acaba sendo responsável pela detonação e pelo desenvolvimento dos embates de grandes proporções.”

TEORICAMENTE PODEMOS CLASSIFICAR OS MOVIMENTOS SOCIAIS EM TRÊS CATEGORIAS: 1) movimentos reivindicatórios; são movimentos presos a reivindicações imediatas, esforçam-se em pressionar instituições para alterar dispositivos que teoricamente lhes favoreciam. Têm um horizonte sem dúvida limitado, considerando que seus fins são relativamente simples e não vão além de demandas pontuais especificas. Ex. movimento de greve dos professores de escolas públicas por melhorias salariais.

2) Movimentos políticos; tenta influenciar nos meio utilizados para se atingir os caminhos condutores a participação política direta. Também se esforçam, no decorrer do processo para mudar a correlação de forças, influindo nos grandes debates travados com outros grupos adversários. Ex. Movimento das Diretas Já! 1984.

3) Movimentos de classe; seu intuito seria o de subverter a ordem social de um período determinado e, consequentemente, transformar as relações entre os diferentes atores do contexto nacional, assim como os meios de produção, fazendo avançar as exigências da classe em ascensão, em superação histórica e na sua pressão para se posicionar como elemento hegemônico no processo econômico e político do país. Ex. MST (movimento dos trabalhadores rurais sem-terra)

ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DOS

MOVIMENTOS SOCIAIS Para conhecermos como é um movimento social, vamos nos apoiar no livro de Ilse Scherer-Warren,

Movimentos sociais, uma interpretação sociológica, destacando os elementos que compõem o campo de analise: o projeto, a ideologia e a organização.

O projeto: O projeto significa a proposta de um movimento, que pode ser, como vimos, de mudança ou de

conservação das relações sociais, assim, todo movimento social contém um projeto, e quando nos perguntamos qual o projeto de um movimento, estamos pensando em seus objetivos, em suas metas, enfim, no que o movimento pretende.

Para um movimento social atingir os objetivos a que se propõe, é necessária certa estratégia, procedimentos adequados que possibilitem o sucesso da ação coletiva. Ao mesmo tempo em que o projeto revela o desejo, a intenção de um movimento, ele nos mostra como os seus participantes se veem – o que demonstra a consciência de sua força, bem como a força de seu adversário, contra quem o movimento se dirige.

A complementação dessas ideias sobre o projeto, ou da apreensão de seu conteúdo, deve ser feita levando-se em consideração a analise dos outros elementos.

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A ideologia: A ideologia corresponde às ideias que os homens fazem da sociedade em que vivem. Quando elas

expressam “corretamente” as relações existentes, mostrando os interesses que animam as relações, podemos dizer que a ideologia se constitui num instrumento de luta dos grupos sociais. Se, ao contrario disso, as ideias não correspondem a realidade das relações de opressão existentes, poderemos dizer que se trata de um “falsa consciência”. Nesse sentido, a ideologia atuaria como uma forma de massacramento das reais condições de opressão, atendendo, por conseguinte, aos interesses dos grupos dominantes.

É a ideologia que fundamenta os projetos e as praticas dos movimentos e define o sentido de suas lutas. A própria forma de organização e direção de um movimento revela seu caráter ideológico.

A organização: Os movimentos sociais possuem uma organização hierárquica que pode ser descentralizada ou comum a

estrutura definida com lideres e demais participantes do movimento. A forma de organização de um movimento social tem consequências importantes com relação a sua

dinâmica interna e externa. Internamente, observa-se que uma organização sem a devida hierarquia entre liderança e base pode favorecer um certoespontaneismo das ações, o que levaria a falta de controle do movimento, resultando em seu próprio prejuízo. Por outro lado, uma organização fundada num corpo de lideres afastados da base pode ser conduzida a praticas autoritárias e elitistas, com os demais participantes desempenhado o papel de “massa de manobra”.

ARRASE NO ENEM

1. Os novos movimentos sociais são diferentes das ações coletivas de antes por eles politizarem a esfera privada e tornarem públicas as problemáticas das minorias sociais. Assim, dentre esses movimentos, destacam-se aqueles que:

a) envolvem negros, indígenas, sem-terra e sem-teto. b) determinam a opinião pública sobre as questões ecológicas. c) produzem discussões locais e regionais, não abarcando questões globais. d) desenvolvem-se a partir do controle do Estado e dos partidos políticos. e) realizam pressão política, apoiando contestação da política econômica, e lutam por melhores salários.

2. (ENEM 2016) A demanda da comunidade afro-brasileira por reconhecimento, valorização e afirmação de direitos, no que diz respeito à educação, passou a ser particularmente apoiada com a promulgação da Lei 10.639/2003, que alterou a Lei 9.394/1996, estabelecendo a obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileiras e africanas.

Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Etnicorraciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana. Brasília: Ministério da Educação, 2005.

A alteração legal no Brasil contemporâneo descrita no texto é resultado do processo de a) aumento da renda nacional. b) mobilização do movimento negro. c) melhoria da infraestrutura escolar.

d) ampliação das disciplinas obrigatórias. e) politização das universidades públicas.

3. (ENEM 2015) Não nos resta a menor dúvida de que a principal contribuição dos diferentes tipos de

movimentos sociais brasileiros nos últimos vinte anos foi no plano da reconstrução do processo de democratização do país. E não se trata apenas da reconstrução do regime político, da retomada da democracia e do fim do Regime Militar. Trata-se da reconstrução ou construção de novos rumos para a cultura do país, do preenchimento de vazios na condução da luta pela redemocratização, constituindo-se como agentes interlocutores que dialogam diretamente com a população e com o Estado.

GOHN, M. G. M. Os sem-terras, ONGs e cidadania. São Paulo: Cortez, 2003 (adaptado).

No processo da redemocratização brasileira, os novos movimentos sociais contribuíram para a) diminuir a legitimidade dos novos partidos políticos então criados. b) tornar a democracia um valor social que ultrapassa os momentos eleitorais. c) difundir a democracia representativa como objetivo fundamental da luta política. d) ampliar as disputas pela hegemonia das entidades de trabalhadores com os sindicatos. e) fragmentar as lutas políticas dos diversos atores sociais frente ao Estado. 4. (ENEM 2015) Ninguém nasce mulher: torna-se mulher. Nenhum destino biológico, psíquico, econômico define

a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da civilização que elabora esse produto intermediário entre o macho e o castrado que qualificam o feminino.

BEAUVOIR, S. O segundo sexo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980

Na década de 1960, a proposição de Simone de Beauvoir contribuiu para estruturar um movimento social que teve como marca o(a) a) ação do Poder Judiciário para criminalizar a violência sexual. b) pressão do Poder Legislativo para impedir a dupla jornada de trabalho. c) organização de protestos públicos para garantir a igualdade de gênero. d) oposição de grupos religiosos para impedir os casamentos homoafetivos. e) estabelecimento de políticas governamentais para promover ações afirmativas.

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5. Entre os problemas sociais que afetam um grupo minoritário, o que pode ser entendido como de maior gravidade, ao nos voltarmos para o foco institucional, é:

a) a precária representação política, o que ocasiona negligência de direitos básicos que deveriam ser assegurados para todos os indivíduos em um Estado democrático.

b) a falta de leis rigorosas e explicitamente voltadas para atender as necessidades específicas de uma minoria. c) a resistência em reconhecer a existência dos grupos minoritários por parte de nosso governo. d) a falta de ONGs que se voltem para a resolução dos problemas que os grupos minoritários possuem. 6. Ao tratarmos dos problemas que afligem as minorias, a desigualdade social acaba sendo o ponto-chave de

grande parte das reivindicações dos grupos minoritários. No entanto, não é correto afirmarmos que todo grupo minoritário se encontra em posição fragilizada no meio social. Por quê?

a) Porque o Estado se encarrega de suprir todas as necessidades das minorias. b) Porque a ideia de minorias prejudicadas é uma mentira. Todas elas possuem grandes vantagens cedidas

pelo governo. c) Porque existem minorias elitizadas, que possuem grande poder econômico e grande influência no

meio político. d) Porque, em um governo democrático, como no caso do Brasil, a representação política é garantida de forma

igual para todos os grupos sociais. 7. “Apesar do esforço governamental, ainda existem sérios problemas referentes ao atendimento das

necessidades básicas dos grupos minoritários”. Essa afirmação faz referência aos programas do governo brasileiro que tentam remediar os problemas de grupos minoritários. Entre esses grupos, podemos destacar como minorias em situação precária:

a) Os deficientes físicos, indígenas e políticos. b) O Movimento dos Sem-Teto, os empresários e os deficientes físicos. c) Os estudantes, indígenas e os quilombolas. d) Os deficientes físicos, os indígenas e os quilombolas. 8. (UFU- 2008) Considere a seguinte citação. Movimentos e ONGs cidadãs têm se revelado estruturas capazes

de desempenhar papéis que as estruturas formais, substantivas, não têm conseguido exercer enquanto estruturas estatais, oficiais, criadas com o objetivo e o fim de atender a área social. GOHN, Maria da Glória. Teorias dos movimentos sociais: paradigmas clássicos e contemporâneos. São Paulo: Loyola, 1997. p. 303. A respeito do papel político dos novos movimentos sociais e das organizações não-governamentais no contexto brasileiro, marque a alternativa correta.

a) Os novos movimentos sociais surgiram no Brasil em um contexto marcado pelo autoritarismo e pela exiguidade de espaços democráticos de participação política.

b) Em seus primórdios, na década de 1970, os novos movimentos sociais constituíram-se como uma extensão do aparato estatal na sociedade civil.

c) As bandeiras de luta defendidas pelos novos movimentos sociais, desde os anos 1970, limitam-se à problemática trabalhista e sindical.

d) Coube aos novos movimentos sociais, desde seu florescimento nos anos 1970, reforçar as práticas e estruturas de poder centralizadas em torno do Estado.

9. (UNIOESTE) No período de 1960 a 1980, identifica-se um movimento cultural que foi chamado de Contracultura. A este respeito podemos dizer que

a) foi um movimento cultural contrário às novas normas vigentes na sociedade, inserido dentro das transformações sociais acontecidas no período que se segue ao Pós-Guerra, contrários á segregação, ao armamentismo e ao estilo de vida consumista.

b) tinha como valores a elaboração de alternativas ao poder, novas formas de segregação, uma nova musicalidade.

c) buscava a retomada e disseminação dos valores permanentes da sociedade americana, anteriormente abandonados.

d) vivências de grupos urbanos e movimentos como hippies, punks, carismáticos, pagodeiros, skins, sertanejos, sociedades alternativas, etc. são exemplos de experiências vividas em adesão à contracultura e repúdio aos padrões sociais vigentes.

e) não podemos falar de um movimento contra-cultural, pois na realidade ele nunca existiu.

GABARITO

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CAPITULO 13 – CIDADANIA E DIREITOS HUMANOS

CIDADANIA Cidadania significa o conjunto de direitos e deveres pelo qual o cidadão, o indivíduo está sujeito no seu

relacionamento com a sociedade em que vive. O termo cidadania vem do latim, civitas que quer dizer “cidade”. Este conceito de cidadania está arraigado à noção de direito, no que se refere aos direitos políticos, sem

os quais o indivíduo não poderá intervir, nos negócios do Estado, onde permite, participar direta ou indiretamente do governo e na consequente administração, através do voto direto para eleger ou para concorrer, a um cargo público da maneira indireta. A cidadania pressupõe direitos e deveres e a serem cumpridos pelo cidadão que serão responsáveis pela sua vivência em sociedade.

A cidadania é um reconhecimento dos direitos das pessoas por parte do Estado, que assegura os direitos civis, como a saúde, a educação, a moradia, o trabalho e o salário digno, além dos direitos políticos, como votar e ser votado e participar da vida política.

O principal direito do cidadão é o direito à vida, previsto no art. 5º da Constituição Federal. A partir desse direito, decorrem outros para garanti-lo: o direito à liberdade, à igualdade, à dignidade, à segurança, à moradia, à alimentação, ao emprego, ao salário, à saúde, ao lazer, à educação, etc.

Vivemos em uma sociedade em que todos têm direitos e deveres. A cada direito corresponde uma obrigação social. Todos os homens e mulheres, independentemente de sua orientação sexual, têm direitos e deveres consigo próprios e com os outros. Todas as pessoas são iguais perante a lei, assim como homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, conforme o art. 5º da Constituição Federal. Isso quer dizer que não é o homem somente quem deve mandar na casa, mas o casal (homem e mulher), em igualdade de condições, pois ambos gozam dos mesmos direitos e obrigações.

O seu direito termina onde começa o de seu semelhante, transformando-se em dever. São os deveres sociais que contribuem para o progresso social e para a estabilidade dos direitos dos demais cidadãos. Se todos respeitassem seus direitos e deveres a vida seria bem melhor. Assim, para organizar, controlar e regular a vida em sociedade é que os governos foram criados, de modo eu são eleitos pelo povo para governar. Esse processo democrático impõem aos cidadãos o dever de respeitar a legitimidade dessas escolhas feitas pelo próprio povo.

Todo brasileiro deve ser um fiscal permanente das coisas da política, do estado e da sua sociedade. Os povos que alcançaram um bom padrão de vida devem isso à participação de seus cidadãos. Nada se consegue de graça. Para isso, uma dose de esforço nos é exigida, de modo que devemos sempre buscar nossos direitos. Com a soma desse conjunto de atos é que poderemos construir um país mais justo e melhor. Isso depende de cada um e de toda a sociedade.

De nada adianta ficar de braços cruzados esperando que o governo resolva milagrosamente levar a você os serviços de água, esgoto, segurança, escola, saúde e alimentação. Há pessoas que acham que está tudo errado e que não há solução para isso. Outros ficam com medo, calam-se e continuam sofrendo injustiças. Tais atitudes nada ajudam, pelo contrário, contribuem para manter as coisas como estão, sem que nada melhore. É preciso acreditar e colaborar com a justiça e a sociedade.

Comece por sua comunidade e você já estará dando uma grande contribuição; Você, por exemplo, tem o dever cívico não só de eleger seus governantes, como tem o direito de exigir um governo honesto, que faça obras e cuide dos serviços públicos, principalmente no município onde você reside.

É importante saber que não nos basta o direito escrito em lei: precisamos de um direito que funcione! Precisamos conhecer nossos direitos e exigir que sejam respeitados. Por isso temos de lutar, “correr atrás”, pois sabemos que aquele que não luta jamais vai conseguir o que precisa.

A cidadania é exercida pelo indivíduo, por grupos e até instituições que através do empoderamento, isto é, através do poder que tem para realizar tarefas sem necessitar de autorização ou permissão de alguém, realizam ações ocasionando mudanças que as levam a evoluir e se fortalecer, participando em comunidades, em políticas sociais, participando ativamente de ONGs através do voluntariado, onde acontecem ações de solidariedade, para o bem da população excluída das condições de cidadania. Estas organizações conseguem complementar o trabalho do Estado, realizando ações onde ele não consegue chegar.

DIREITOS E DEVERES Os direitos e deveres estão escritos em várias leis, principalmente na Constituição Federal (que vale para

todo o Brasil), na Constituição Estadual (cada estado possui a sua) e nas Leis Orgânicas de cada município. Desses textos decorrem outras leis federais, estaduais e municipais, que dão tratamento específico a cada assunto.

O documento legal mais importante do país é a Constituição Federal, pois ali estão inscritos os direitos e deveres de todo o povo brasileiro, além da organização do governo. Deste modo, nenhuma lei pode ir contra o que está na Constituição.

CIDADANIA E DIREITOS HUMANOS A ideia da cidadania é uma ideia eminentemente política que não está necessariamente ligada a valores

universais, mas a decisões políticas. Um determinado governo, por exemplo, pode modificar radicalmente as prioridades no que diz respeito aos deveres e aos direitos do cidadão; pode modificar, por exemplo, o código penal no sentido de alterar sanções; pode modificar o código civil no sentido de equiparar direitos entre homens e

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mulheres, pode modificar o código de família no que diz respeito aos direitos e deveres dos cônjuges, na sociedade conjugal, em relação aos filhos, em relação um ao outro. Pode estabelecer deveres por um determinado período, por exemplo, àqueles relativos à prestação do serviço militar. Tudo isso diz respeito à cidadania. Mas, o mais importante é o dado a que me referi inicialmente: direitos de cidadania não são direitos universais, são direitos específicos dos membros de um determinado Estado, de uma determinada ordem jurídico-política. No entanto, em muitos casos, os direitos do cidadão coincidem com os direitos humanos, que são os mais amplos e abrangentes. Em sociedades democráticas é, geralmente, o que ocorre e, em nenhuma hipótese, direitos ou deveres do cidadão podem ser invocados para justificar violação de direitos humanos fundamentais.

Os Direitos Humanos são universais e naturais. Os direitos do cidadão não são direitos naturais, são direitos criados e devem necessariamente estar especificados num determinado ordenamento jurídico. Já os Direitos Humanos são universais no sentido de que aquilo que é considerado um direito humano no Brasil, também deverá sê-lo com o mesmo nível de exigência, de respeitabilidade e de garantia em qualquer país do mundo, porque eles não se referem a um membro de uma sociedade política; a um membro de um Estado; eles se referem à pessoa humana na sua universalidade. Por isso são chamados de direitos naturais, porque dizem respeito à dignidade da natureza humana. São naturais, também, porque existem antes de qualquer lei, e não precisam estar especificados numa lei, para serem exigidos, reconhecidos, protegidos e promovidos.

Evidentemente, é ótimo que eles estejam reconhecidos na legislação, é um avanço, mas se não estiverem, deverão ser reconhecidos assim mesmo. Poder-se-ia perguntar: mas por quê? Por que são universais e devem ser reconhecidos, se não existe nenhuma legislação superior que assim o obrigue? Essa é a grande questão da Idade Moderna. Porque é uma grande conquista da humanidade ter chegado a algumas conclusões a respeito da dignidade e da universalidade da pessoa humana, e do conjunto de direitos associados à pessoa humana. É uma conquista universal que se exemplifica no fato de que hoje, pelo menos nos países filiados à tradição ocidental, não se aceita mais a prática da escravidão. A escravidão não apenas é proibida na legislação como ela repugna a consciência moral da humanidade. Não se aceita mais o trabalho infantil. Não se aceitam mais castigos cruéis e degradantes. Vejam bem como essa questão é complicada: há países no ocidente que aceitam a pena de morte, mas não aceitam o castigo cruel ou degradante; aceitam a pena de morte, mas não aceitam a tortura.

Assim, percebemos como direitos que são naturais e universais são diferentes de direitos que fazem parte de um conjunto de direitos e deveres ligados às ideias de cidadão e cidadania. Um pequeno exemplo esclarece, penso eu, essa questão:uma criança não é cidadã, no sentido de que ela não tem certos direitos do adulto, responsável pelos seus atos, nem tem deveres em relação ao Estado, nem em relação aos outros; no entanto, ela tem integralmente o conjunto dos Direitos Humanos. Um doente mental não é um cidadão pleno, no sentido de que ele não é responsável pelos seus atos, portanto ele não pode ter direitos, como, por ex., o direito ao voto, o direito plena à propriedade e muito menos os deveres, mas ele continua integralmente credor dos Direitos Humanos. Outros exemplos poderiam ser lembrados: os indígenas são tutelados, não são cidadãos à parte inteira, mas devem ter integralmente respeitados seus Direitos Humanos.

Cidadania Direitos Humanos Conjunto de direitos e deveres ligados à ideia de

cidadão. Ideia ligada a decisões políticas. Diz respeito aos direitos e deveres do cidadão, membro

de um determinado Estado. Direitos e deveres mais específicos. Direitos criados e especificados em um determinado

ordenamento jurídico.

Ideia ligada a valores universais. Diz respeito aos direitos universais de toda e qualquer pessoa.

Direitos mais abrangentes. São universais no sentido de que aquilo que é

considerado um direito humano deverá sê-lo com o mesmo nível de exigência, de respeitabilidade e de garantia em qualquer país do mundo.

São naturais porque dizem respeito à dignidade da natureza humana.

Existem antes de qualquer lei. O QUE SÃO DIREITOS CIVIS, POLÍTICOS

E SOCIAIS? A noção de Direitos do Homem e do Cidadão é relativamente nova. Os atenienses, que inventaram a

democracia, não a conheceram, pois sua concepção de cidadania excluía a participação política das mulheres e convivia com a existência de milhares de escravos.

Hoje, muitos desses direitos estão garantidos em Declarações, Tratados, Constituições e outras legislações, mas não são efetivamente respeitados no cotidiano da maioria da população mundial. No entanto, são eles a referência quando se quer transformar uma ordem injusta que desumaniza a existência das pessoas.

A expressão "Direitos do Homem" refere-se ao universal, ao que todo homem é e tem por direito, independentemente do país em que vive ou da forma de governo ali adotada. Já "Direitos do Cidadão" diz respeito à relação do indivíduo com a sua nação. Assim, um indivíduo, em situações específicas, pode ter alguns de seus direitos de cidadão suspensos temporariamente, mas nunca perde os direitos do homem.

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Os direitos do homem ou humanos são fundamentais, pois correspondem a necessidades essenciais da pessoa, como a vida, igualdade, liberdade, alimentação, saúde e educação. São também considerados universais por serem válidos para todas as pessoas, independentemente de nacionalidade, etnia, gênero, classe social, religião, escolaridade, orientação sexual, idade etc.

Não há como pensar em direitos sem pensar nas responsabilidades individuais e coletivas que o uso ou cumprimento do direito requer. Os direitos implicam deveres a cumprir e a observância deles é condição imprescindível para a convivência social.

Os direitos do homem e do cidadão dizem respeito à satisfação das necessidades pessoais. Ao longo da história, eles vêm sendo formulados para que todas as pessoas possam contribuir com suas melhores qualidades para a sociedade e, ao mesmo tempo, usufruir os bens e benefícios construídos pelo trabalho humano: saúde, conhecimento, cultura, lazer. Na prática, a garantia desses direitos é um grande desafio contemporâneo.

A constituição desses direitos nunca ocorreu de forma harmoniosa. Pelo contrário, foi marcada por diferentes posições ideológicas e conflitos sociais. As mulheres, por exemplo, foram excluídas do projeto de cidadania na Revolução Francesa. A revolucionária Olympe de Gouges escreveu sua "Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã", denunciando que a queda da Bastilha não rompeu os grilhões da opressão de gênero.

Mesmo hoje, com a maioria dos direitos incorporados às Constituições nacionais, convivemos, por exemplo, com a falta de atendimento à saúde, de educação de qualidade e de lazer, ou seja, com a exclusão social de milhares de pessoas. Desse modo, garantir os direitos para todos é uma luta cotidiana.

O QUE SÃO DIREITOS CIVIS? Os direitos civis referem-se às liberdades individuais, como o direito de ir e vir, de dispor do próprio corpo,

o direito à vida, à liberdade de expressão, à propriedade, à igualdade perante a lei, a não ser julgado fora de um processo regular, a não ter o lar violado. Os direitos e responsabilidades civis fortalecem a sociedade civil e os indivíduos na relação com os poderes do Estado. Junto com os direitos políticos, são considerados direitos de primeira geração, e tem como tônica a liberdade dos cidadãos.

Esse grupo de direitos tem por objetivo garantir que o relacionamento entre as pessoas seja baseado na liberdade de escolha dos rumos de sua própria vida – por exemplo, definir a profissão, o local de moradia, a religião, a escola dos filhos, as viagens – e de ser respeitado. É preciso ressaltar que liberdade de cada um não pode comprometer a liberdade do outro.

Ter os direitos civis garantidos, portanto, deveria significar que todos fossem tratados em igualdade de condições perante as leis, o Estado e em qualquer situação social, independentemente de raça, condição econômica, religião, filiação, origem cultural, sexo, ou de opiniões e escolhas relativas à vida privada.

Dessa forma, o exercício e a garantia dos direitos civis não existem sem o convívio e o respeito (ou ao menos a tolerância) com os diferentes modos de ser, sentir e agir. Se reivindicamos o direito às nossas liberdades individuais, assumimos ao mesmo tempo o compromisso e a responsabilidade de zelar para que essas liberdades existam para todos. Preocupar-se com a garantia dos direitos significa tanto exercitá-los em nossa vida quanto construir no cotidiano condições que permitam a sua ampla realização.

O documento-chave para a afirmação dos direitos humanos foi a "Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão", proclamada na França, em 1789, no contexto de uma revolução contra o poder absoluto do rei e pelo fim dos privilégios do clero e da aristocracia.

A condição fundamental para a garantia dos direitos civis é de natureza social. Logo, se em uma sociedade determinados grupos ficam excluídos desses direitos, essa desigualdade atinge não apenas as pessoas que sofrem as violações, mas a todos, inclusive aqueles que têm seus direitos garantidos. O nosso cotidiano está repleto de exemplos: cidadãos negros são quase sempre considerados mais "suspeitos" do que os brancos no caso de roubos.

Quando falamos do direito a liberdades individuais, uma pergunta está sempre presente: deve haver limites para o exercício dessas liberdades? Já existem formulações sobre essa discussão. Na "Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão", aprovada em 1789, após a Revolução Francesa, há um artigo a esse respeito:

Art. 4.º A liberdade consiste em poder fazer tudo que não prejudique o próximo: assim, o exercício dos direitos naturais de cada homem não tem por limites senão aqueles que asseguram aos outros membros da sociedade o gozo dos mesmos direitos. Esses limites apenas podem ser determinados pela lei.

Nesse artigo, o problema dos limites ao exercício das liberdades individuais foi resolvido pelo princípio da generalização, que pode ser explicado da seguinte forma: se a conduta de uma pessoa ou grupo for estendida a todas as pessoas ou grupos, todos terão os mesmos direitos. A

A Queda da Bastilha foi seguida pela Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão Imagem: Reprodução

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intolerância religiosa, por exemplo, é uma violação dos direitos civis, pois impede que o direito à escolha da religião seja universal. Como o exercício das liberdades individuais tem consequências na vida coletiva, têm de ser traduzido em leis.

Os direitos civis não podem existir nem ser compreendidos isoladamente, pois têm uma estreita relação com os direitos políticos, sociais e os chamados direitos de terceira geração.

O QUE SÃO DIREITOS POLÍTICOS? Os direitos políticos referem-se à participação do cidadão

no governo da sociedade, ou seja, à participação no poder. Entre eles estão a possibilidade de fazer manifestações políticas, organizar partidos, votar e ser votado. O exercício desse tipo de direito confere legitimidade à organização política da sociedade. Afinal, ele relaciona o compromisso de pessoas e grupos com o funcionamento e os destinos da vida coletiva.

Como dito anteriormente, junto com os direitos e responsabilidades civis, os direitos políticos são considerados direitos de primeira geração, e tem como tônica a liberdade dos cidadãos. Ambos fortalecem a sociedade civil e os indivíduos na relação com os poderes do Estado.

Pode-se fazer uma distinção básica entre direitos civis e políticos. Enquanto os direitos civis se referem a um espaço de liberdade dos indivíduos em relação ao Estado, os direitos políticos abrangem a atuação dos indivíduos no Estado e na vida social. Ao participar da vida política, os indivíduos interferem em odos os outros direitos, os definem formalmente e legislam a esse respeito. Quando participamos de uma manifestação pela preservação de uma área ambiental, por exemplo, estamos exercendo nosso direto político e, com isso, lutando pela garantia de um meio ambiente saudável para todos. Desse modo, o exercício das liberdades individuais só é possível com a participação nas questões públicas e nas instituições de organização política da sociedade.

Assim, só existe a plena participação na vida pública, dentro dos limites da democracia representativa, se houver: Igualdade de condições para a participação política, tanto dos eleitores quanto dos candidatos aos

cargos públicos; Transparência nas decisões dos representantes; Uso do cargo público para atender a necessidades realmente públicas e não ao privilégio de poucos; Mecanismos de consulta popular instaurados e efetivamente utilizados para a tomada de decisões.

Nesse sentido, a garantia dos direitos políticos, além do direito de votar e ser votado, pressupõe uma sociedade organizada e atuante que controla e orienta os poderes do Estado, além de participar deles. Isso implica garantia, por exemplo, da liberdade de expressão sem constrangimentos de qualquer ordem. Essa é uma condição básica para a vida política democrática. Assim, temos a responsabilidade de lutar tanto para que nossas opiniões existam e se façam valer, quanto para que todos possam ter esse mesmo direito garantido.

No Brasil, os direitos políticos nem sempre foram garantidos. Durante os períodos colonial e imperial, os negros eram proibidos de frequentar a escola, de aprender a ler e escrever. As mulheres só conquistaram efetivamente o direito de voto em 1934, já na república. Nessa época, a existência da imprensa também era proibida, impedindo a livre expressão de opinião. Esse direito foi violado também em outros períodos de nossa história, como na ditadura do Estado Novo, de 1937 a 1945, e no período do Regime Militar, de 1964 a 1985. Essa violação do direito de opinião não afetou apenas os grupos que desejavam ter suas ideias veiculadas e discutidas naquele momento. Mais que isso, significou a ausência de um espaço público de debates sobre a vida social, política e cultural brasileira, com repercussões negativas para toda a sociedade.

O QUE SÃO DIREITOS SOCIAIS? Os direitos sociais, assim como os demais, são constituídos historicamente e, portanto, produto das

relações e conflitos de grupos sociais em determinados momentos da história. Eles nasceram das lutas dos trabalhadores pelo direito ao trabalho e a um salário digno, pelo direito de usufruir da riqueza e dos recursos produzidos pelos seres humanos, como moradia, saúde, alimentação, educação, lazer. Esses são, por exemplo, os direitos ratificados na legislação trabalhista, como a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

Os direitos sociais são a chamada “segunda geração de direitos”. Se os direitos da primeira geração tinham por referência a liberdade, esses têm como tônica a igualdade. São também os direitos econômicos e culturais e incluem, entre outros, o direito a trabalho, organização sindical, greve, estabilidade no emprego, segurança no trabalho, previdência social, saúde, educação gratuita e acesso à cultura e moradia.

Para que os direitos sociais sejam estendidos a todas as pessoas, é preciso, em primeiro lugar, que todos já tenham o direito à vida assegurado. Todas as coisas que possuímos, como dinheiro, bens materiais, trabalho, poder e até mesmo nossos direitos, perdem valor quando a nossa vida está ameaçada. Nenhum bem humano é superior à vida, que é o bem maior de qualquer pessoa. Ao valorizar a minha vida e a do outro, estou valorizando a humanidade. Mas, além de garantir a vida, há ainda que se viver com dignidade, o que requer a satisfação das necessidades fundamentais.

Carlota Pereira foi a primeira mulher deputada, eleita para a Constituinte de 1934 por São Paulo

Foto: Reprodução

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O trabalho é um direito e um dever de todo cidadão. De certa forma, é pelo trabalho que construímos grande parte dos bens coletivos, sejam eles de origem manual ou intelectual. É um direito fundamental, pois é por meio dele que transformamos a natureza e melhoramos nossa qualidade de vida e a de todas as pessoas. É preciso ressaltar que a remuneração pelo trabalho deveria proporcionar aos trabalhadores e suas famílias a satisfação de suas necessidades fundamentais de alimentação, moradia, saúde, educação, cultura e lazer.

O direito à saúde é um dos direitos fundamentais dos seres humanos; sem ela ninguém consegue viver com "bem estar", nem realizar tudo o que for necessário para ser feliz. Por isso, ele deve ser garantido a todos, independentemente da condição financeira. Ou seja, esse direito não pode ser considerado como um produto comercializável, ao qual somente as pessoas de maior poder aquisitivo têm acesso. Além disso, boas condições de moradia, alimentação e trabalho devem ser consideradas como essenciais para a saúde das pessoas.

A Constituição Federal afirma que a educação é um direito de todos e um dever do Estado e da família, que visa ao pleno desenvolvimento da pessoa e seu preparo para o exercício da cidadania. No entanto, não basta dizer que todos têm o mesmo direito de ir à escola. É preciso que tenham efetivamente a mesma oportunidade, independente das condições econômicas de cada um. Crianças e adolescentes que têm de ser submetidas ao trabalho precoce para contribuir no orçamento familiar, veem as suas oportunidades de acesso à educaçãotolhidas por conta da situação sócio econômica de suas famílias.

Sobre o direito à educação, o "Estatuto da Criança e do Adolescente" (ECA) estabelece as seguintes responsabilidades do Estado: Oferta do Ensino Fundamental, obrigatório e gratuito, e progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade

para o Ensino Médio; Oferta de creche e pré-escola para as crianças de 0 a 6 anos; Oferta de ensino noturno regular para atender ao adolescente trabalhador; Atendimento especializado para portadores de necessidades especiais; Obrigatoriedade dos pais em matricular seus filhos na escola, definindo como direito dos responsáveis

participar da definição das propostas educacionais; Garantia de oferta de ensino de boa qualidade.

Os direitos sociais, apesar de expressos em quase todas as legislações nacionais, não estão totalmente assegurados a todos, além de ainda corrermos o risco de que sejam retirados das constituições. Exemplo disso no Brasil são os direitos trabalhistas, como a estabilidade no emprego, décimo terceiro salário, licença maternidade e férias, entre outros, que podem, de acordo com os interesses econômicos, deixar de ser direitos de uma hora para outra.

Ou seja, direitos não são "dados" historicamente e sim conquistas que resultam de muitas lutas. Ainda hoje, com Constituições modernas e democráticas, é preciso lutar para que sejam efetivamente garantidos na nossa vida cotidiana e, ainda, para que continuem inscritos nas legislações dos diferentes países.

O QUE SÃO OS DIREITOS DE TERCEIRA GERAÇÃO?

Como produto da ação de diversos movimentos sociais nas últimas décadas do século XX, surge um conjunto de direitos referentes à dignidade humana. A característica marcante desses direitos é que os seus titulares não são pessoas individualmente, mas grupos sociais, como negros, indígenas, mulheres, homossexuais, trabalhadores rurais, pessoas sem moradia, crianças, idosos, entre outros. Esses direitos buscam garantir condições para que esses grupos sociais possam existir e se desenvolver integralmente, sem serem subjugados ou discriminados. Por serem direitos atribuídos a grupos sociais, são chamados de “difusos".

Os direitos de terceira geração buscam também garantir a qualidade da vida humana, regularizando a intervenção na natureza e a utilização de patrimônios universais, como o fundo dos mares, o espaço cósmico e a Antártida. Eles definem, também, bens culturais e naturais como patrimônios da humanidade, incluindo obras de arte, construções e recursos naturais que tenham valor estético, histórico ou científico.

Embora os detentores dos direitos de terceira geração ou do direito de solidariedade sejam grupos sociais, sua violação compromete o conjunto da sociedade. Por exemplo, não se pode falar de uma sociedade livre, se as mulheres, as crianças, os negros ou os homossexuais são reprimidos dentro dela. Da mesma forma, a preservação das obras de arte de um museu europeu e de uma cidade histórica brasileira são importantes para a história não apenas de um grupo cultural, mas de toda a humanidade.

Outros direitos de terceira geração são o direito à paz e ao desarmamento. O combate às formas de violência e ao desarmamento das populações civis e dos Estados são condições para a melhoria da vida humana, para a coexistência da diversidade de vida dos grupos sociais e para a mediação pacífica dos conflitos.

A formulação dos direitos difusos e solidários reforça a ideia de universalidade e interdependência dos direitos. Em seu conjunto, eles buscam melhorar a vida humana nos seus aspectos econômicos, culturais, sociais e políticos, e esse é também o objetivo de todos os que lutam pela sua efetivação global.

Martin Luther King, líder da luta anti- racista nos EUA

Foto: Reprodução

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DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS

A humanidade tem trilhado uma longa marcha na luta pelos direitos humanos. A Declaração Universal dos Direitos Humanos, promulgada em 10 de dezembro de 1948, pela Organização das Nações Unidas, marcou a evolução definitiva do conjunto de ideais expressos nos chamados “direitos naturais”, para a afirmação de um estatuto de base política e legal, de caráter laico e universal, respaldando os direitos, garantias e liberdades fundamentais para a vida digna de homens e mulheres.

A declaração, lançada logo depois do final da “Segunda Guerra Mundial”, assinada por um conjunto de países, foi anunciada como um novo instrumento de relação entre as nações, as sociedades e os indivíduos, com a pretensão de superar e não permitir a repetição das atrocidades que assolaram a humanidade durante o período belicoso.

Depois de 65 anos da constituição da Declaração dos Direitos Humanos, o mundo continua a ser tão injusto como seis décadas antes, e as contradições sociais ainda são o motor da sonegação e da violação dos direitos sociais, culturais e econômicos das pessoas.

O regime jurídico contido na Declaração não tem sido capaz de conter a discriminação, as desigualdades e a exclusão, marcas mais evidentes da forma de organização social e econômica que reproduz uma ordem de hierarquia, onde poucos homens são dotados de grandes privilégios, e, no oposto, muitos outros sobrevivem com precariedade e a carência.

Em todas as nações, são os pobres que arcam com o grande fardo de não poder usufruir dignamente da imensidão de riquezas produzidas socialmente pela humanidade e nem dos recursos técnicos e científicos que lançam esperança de melhores dias para todos. As chamadas “minorias”, como indígenas, ciganos, homossexuais, independentemente do lugar onde estejam, são vítimas de violência, xenofobia e preconceito.

O imperialismo praticado por alguns países, ainda desfere os seus golpes contra os povos do mundo, causando insegurança entre o conjunto de nações e garantindo, à força, os interesses estratégicos mais emergentes, com ocupação militar e violação de direitos.

Nesta fase do desenvolvimento da humanidade, a perspectiva dos direitos é uma utopia fundamental. Mais que uma carta, os direitos humanos precisam garantir, em apenas um enunciado, a efetiva e plena realização humana da felicidade, com liberdade e o direito ao trabalho, à cultura, à educação, ao lazer, à saúde e à harmonia entre os homens.

GARANTIAS OU “REMÉDIOS” CONSTITUCIONAIS

São os meios colocados à disposição dos indivíduos pela Constituição para proteção de seus direitos fundamentais. Esses meios são utilizados quando o simples enunciado de direitos fundamentais não é suficiente para assegurar o respeito a eles.

Esses remédios são os instrumentos colocados, pelo ordenamento constitucional nacional, para a proteção dos direitos humanos. Nesse particular atende-se a um reclamo de ordem internacional.

REMÉDIOS CONSTITUCIONAIS: HABEAS CORPUS: ART. 5º LXVIII - MANDADO DE SEGURANÇAINDIVIDUAL: ART. 5º LXIX - MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO: ART. 5º LXX - HABEAS

DATA: ART. 5ºLXXII - AÇÃO POPULAR: ART. 5º LXXIII - MANDADO DE INJUNÇÃO: ART. 5º LXXI Direitos fundamentais: “são bens e vantagens prescritos na norma constitucional”, ou seja, são as

liberdades expostas na Constituição da República. Garantias fundamentais: as garantias são os meios ou instrumentos constitucionais de proteção dos bens e liberdades fundamentais. Devemos notar que, sob uma ótica específica, é possível argumentar que as garantias também são direitos fundamentais.

Os direitos fundamentais do homem, ao receber positivação, passam a desfrutar de uma posição de relevo, no que toca ao ordenamento jurídico interno.

Mas a mera declaração ou reconhecimento de um direito não é suficiente, não bastando para sua plena eficácia, porque se torna necessário tutelar esse direito nas situações em que seja violado.

Os direitos individuais tornar-se-iam letra morta se não fossem acompanhados de ações judiciais que pudessem conferir-lhe uma eficácia compatível com a própria relevância dos direitos assegurados.

A Constituição cidadã de 1988 priorizou o respeito à pessoa humana e ampliou as garantias civis com novos remédios processuais, como: o mandado de segurança coletivo, o mandado de injunção e o habeas data.

As declarações de direito anunciam as liberdades, são os grandes textos enunciativos da liberdade. As garantias Constitucionais são os remédios “assecuratórios das liberdades”. Direitos e garantias se complementam.

ARRASE NO ENEM

1. Assinale a alternativa que melhor expressa a ideia de cidadania: a) Exigir seus direitos; b) Respeitar o outro;

c) Omitir-se; d) Desanimar.

2. A respeito do direito de ter direitos, assinale a alternativa correta: a) Resultou de concessões de alguns governantes, ocorridas ao longo dos tempos; b) A humanidade ainda não alcançou este estágio c) Resultou da luta de muita gente, ao longo da história; d) Foi um processo natural ocorrido ao longo da história.

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3. Em relação especificamente aos direitos civis, assinale a alternativa correta: a) referem-se às liberdades individuais, o direito de ir e vir, liberdade de expressão, opinião, etc. b) referem-se aos direitos eleitorais, direitos de participar de partidos e sindicatos, etc. c) referem-se ao direito à o direito à vida, direito de não ser torturado, ter um julgamento justo, não ser

escravizado, etc.). d) todas as respostas estão corretas.

4. Em relação ao direitos humanos, assinale a alternativa correta: a) não são considerados como universais e naturais. b) é uma ideia política, pois não está ligada a valores universais, mas a decisões políticas. c) são considerados universais e naturais d) todas as respostas estão corretas. 5. (ENEM 2017) Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e

tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las proteger e fazer respeitar todos os seus bens.

BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <www.planalto.gov.br>. Acesso em: 27 abr. 2017. A persistência das reivindicações relativas à aplicação desse preceito normativo tem em vista a vinculação histórica fundamental entre a) etnia e miscigenação racial. b) sociedade e igualdade jurídica. c) espaço e sobrevivência cultural. d) progresso e educação ambiental. e) bem-estar e modernização econômica.

6. (ENEM 2017) A configuração do espaço urbano da região do Entorno do Distrito Federal assemelha-se às

demais aglomerações urbanas e regiões metropolitanas do país, onde é facilmente identificável a constituição de um centro dinâmico e desenvolvido, onde se concentram as oportunidades de trabalho e os principais serviços, e a constituição de uma região periférica concentradora de população de baixa renda, com acesso restrito às principais atividades com capacidade de acumulação e produtividade, e aos serviços sociais e infraestrutura básica.

CAIADO, M. C. A migração intrametropolitana e o processo de estruturação do espaço urbano da Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno. ln: HOGAN, D. J. et ai. (Org.). Migração e ambiente nas aglomerações urbanas.

Campinas: Nepo/Unicamp, 2002. A organização interna do aglomerado urbano descrito é resultado da ocorrência do processo de a) expansão vertical. b) polarização nacional. c) emancipação municipal. d) segregação socioespacial. e) desregulamentação comercial.

7. (INEP - 2017 – ENCCEJA)

No contexto do Brasil atual, dentre os desafios para a concretização dos direitos assegurados pela lei mencionada está a a) erradicação do trabalho infantil. b) valorização da diversidade religiosa. c) divulgação de campanhas de vacinação. d) implementação do estímulo da natalidade.

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8. Procuramos demonstrar que o desenvolvimento pode ser visto como um processo de expansão das liberdades reais que as pessoas desfrutam. O enfoque nas liberdades humanas contrasta com visões mais restritas de desenvolvimento, como as que identificam desenvolvimento com crescimento do Produto Nacional Bruto, ou industrialização. O crescimento do PNB pode ser muito importante como um meio de expandir as liberdades. Mas as liberdades dependem também de outros determinantes, como os serviços de educação e saúde e os direitos civis.

SEN, A. Desenvolvimento como liberdade. São Paulo: Cia. das Letras, 2010. A concepção de desenvolvimento proposta no texto fundamenta-se no vínculo entre a) incremento da indústria e atuação no mercado financeiro. b) criação de programas assistencialistas e controle de preços. c) elevação da renda média e arrecadação de impostos. d) garantia da cidadania e ascensão econômica. e) ajuste de políticas econômicas e incentivos fiscais. 9. (ENEM 2017) Os direitos civis, surgidos na luta contra o Absolutismo real, a ser inscreverem nas primeiras

constituições modernas, aparecem como se fossem conquistas definitivas de toda a humanidade. Por isso, ainda hoje invocamos esses velhos “direitos naturais” nas batalhas contra os regimes autoritários que subsistem.

QUIRINO, C. G.; MONTES, M.L. Constituições. São Paulo: Ática, 1992 (adaptado).

O conjunto de direitos ao qual o texto se refere inclui a) voto secreto e candidatura em eleições. b) moradia digna e vagas em universidade. c) previdência social e saúde de qualidade. d) igualdade jurídica e liberdade de expressão. e) filiação partidária e participação em sindicatos.

10. Sobre as concepções a respeito da cidadania é correto afirmar que: a) É um tema importantíssimo devido a necessidade de se formular reflexões sobre a vida em sociedade. b) A cidadania está ligada a vida dos homens nas grandes cidades. c) É um conceito ligado aos indivíduos capazes de viver em grandes centros urbanos. d) É o conjunto de normas, decretos e leis que delimitam a vida do homem na sociedade.

GABARITO

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CAPITULO 14 – RAÇA E ETNIA

Mesma espécie, raças diferentes? O conceito de raça é altamente complexo e objeto de grandes estudos sociológicos. O uso por parte do

senso comum dessa forma de categorização perpetuou a ideia de que os grupos humanos são divididos de acordo com características biológicas.

As teorias sobre as diferentes raças humanas surgiram inicialmente no final do século XVIII e início do século XIX, tendo como autor principal Joseph Arthur de Gobineau (1816-1882) – o “pai do racismo moderno” –, filósofo francês e principal defensor da ideia de superioridade da raça branca. Desde então, vários trabalhos derivados da ideia de raças diferentes entre a espécie humana foram concebidos, de modo que, enquanto alguns autores distinguiram quatro ou cinco raças, outros chegaram a especificar mais de 20.

As teorias raciais surgiram como forma de tentar justificar a ordem social que surgia à medida que países europeus tornavam-se nações imperialistas, submetendo outros territórios e suas populações ao seu domínio. O conceito foi amplamente adotado em todo o mundo até o período da Segunda Guerra Mundial, quando o surgimento da ameaça nazista elevou a proporções astronômicas o preconceito e o ódio em relação a grupos humanos específicos.

Os trabalhos científicos que abordaram as diferenciações entre grupos humanos mostraram que, apesar das diferenças fenotípicas (cor dos olhos, da pele, cabelos etc.), as diferenças genéticas que existiam entre grupos de características físicas semelhantes eram praticamente as mesmas quando comparadas com as diferenças genéticas entre grupos de características físicas diferentes. Portanto, em termos biológicos, não existem “raças” com contorno definido, apenas um grande número de variações físicas entre os seres humanos.

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Um dos exemplos de trabalhos sobre a contestação acerca do uso do termo “raça” para diferenciar grupos de indivíduos com base em características biológicas é o dos autores Sergio Danilo Junho Penha, professor do departamento de Bioquímica e Imunologia da Universidade Federal de Minas Gerais, e Telma de Souza Birchal, professora do Departamento de Filosofia da Universidade Federal de Minas Gerais. O trabalho que eles desenvolveram foi intitulado: A inexistência biológica versus a existência social de raças humanas: pode a ciência instruir o etos social? (Revista USP -2006).

Diante dos fatos, a comunidade científica praticamente abandonou o uso do termo “raça”. Da mesma maneira, muitos autores da Sociologia concordam que o conceito de raça é apenas uma noção socialmente construída e perpetuada pelo preconceito ou pelo valor conceitual que alguns teóricos acreditam existir nos trabalhos que tratam de problemas sociológicos ligados à diferença. Nesse sentido, o conceito de raça é utilizado para tratar de problemas ligados ao valor socialmente atribuído a certas características físicas, como casos de discriminação ou segregação racial que ainda hoje observamos.

Dentre desse contexto, Anthony Giddens descreve o conceito de raça como sendo um “conjunto de relações sociais que permite situar os indivíduos e os grupos e determinar vários atributos ou competências com base em aspectos biologicamente fundamentados”. Isso quer dizer que a ideia de distinção racial vai além de tentar categorizar indivíduos por suas características biológicas, pois está também relacionada com certas formas de desigualdade social e outros fenômenos sociais.

Etnicidade

Enquanto o conceito de raça está ligado à ideia errônea ligada a traços biológicos definitivos, o conceito de etnicidade é puramente social. Ao tratarmos de etnicidade, estamos fazendo referência a construções culturais de determinada comunidade de pessoas. Os membros dos grupos étnicos enxergam-se como culturalmente diferentes de outros grupos sociais e vice-versa. Portanto, características como religião, língua, história e símbolos, por exemplo, são pontos de diferenciação entre etnias.

A manutenção da identidade de um grupo está relacionada com o cultivo de aspectos culturais. As tradições culturais são o mais claro exemplo disso. Comemorações que evocam memórias passadas ou realimentam mitos que constituem o conjunto de ferramentas interpretativas do mundo de cada grupo permitem que a constituição étnica atravesse gerações e perpetue-se no mundo social. Isso, porém, não significa que a etnicidade esteja em estado inalterável, isto é, não significa que a etnicidade seja uma estrutura imutável. Apesar de ser mantida por meio da tradição, a etnicidade ainda está sujeita às circunstâncias imprevisíveis do mundo social que habita. Grupos étnicos que migram para regiões completamente diferentes das de origem geralmente passam por uma restruturação de sua organização ao longo do tempo. Temos como exemplo mais próximo os imigrantes que chegaram em nosso país principalmente entre as décadas de 1920 e 1940. Eles passaram pelo processo de mudança de certos traços culturais que compunham sua etnicidade, como a adoção de uma língua estranha.

A produção das diferenças

REFLEXÃO

Estamos habituados a ouvir relatos sobre a forma como, por exemplo, os europeus, quando chegaram às Américas, estranharam o modo de vida dos índios, suas feições, hábitos e vestimentas. De tanto ouvirmos e lermos as narrativas dos colonizadores, naturalizamos a ideia de que somente eles tiveram a sensação de estranhamento. Você já parou para pensar em como os índios, por exemplo, quando viram pela primeira vez os homens brancos, ficaram impactados com suas formas de se vestir, suas feições e comportamentos?

Ao longo da história da humanidade sempre existiram homens que observaram, interpretaram e produziram conhecimento sobre outros homens, estabelecendo semelhanças e diferenças, e construindo relações hierárquicas entre eles. Mas por que os indivíduos agem dessa forma?

Todas as culturas produzem realidades distintas, mas em todas elas existe um conjunto de práticas regulares, que se repetem ao longo do tempo. Na medida em que estas práticas se reproduzem, acabam criando o que chamamos de padrões culturais. Conforme estes padrões vão sendo passados de geração em geração, tendemos a naturalizar os tipos de comportamento, de vestimentas, de linguagem etc, que estão associados a eles. Sendo assim, quando nos deparamos com outros costumes, a tendência é pensar no que é diferente não a partir daquilo que o torna distinto, mas sim pelo que o distancia daquilo que nosso grupo social considera como normal, puro, certo etc.

Preconceito, discriminação e segregação Conviver em uma determinada cultura, pertencer a uma classe social, fazer parte de certos grupos, ter uma

visão de mundo específica, pertencer a uma etnia, ser homem ou mulher, fazer parte de uma determinada configuração familiar são algumas das condições que nos levam a refletir sobre a produção das diferenças entre os seres humanos. Como vimos em capítulos anteriores, os indivíduos tendem a observar aquilo que é diverso colocando a sua forma de ver o mundo no centro da análise, de modo etnocêntrico. Você já parou para pensar nas consequências e nos desdobramentos deste tipo de olhar?

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EXEMPLO Você já deve ter ouvido diversas vezes comentários do tipo: tinha que ser mulher; ele tem a maior cara de

pobre; esse povo é muito atrasado; olha lá, ele anda que nem um viadinho; Não sou racista, tenho até amigo preto, e outros que seguem a mesma linha de pensamento. Estes tipos de comentários são típicos de demonstrações de preconceitos, como por exemplo, de gênero, de classe, de cultura, de orientação sexual, de etnia e fornecem bases para distintas formas de discriminação e segregação.

Vale ressaltar, portanto, que preconceito, discriminação e segregação são conceitos distintos, que atuam

também como uma forma de manutenção das desigualdades sociais. Vamos conhecer os conceitos, para compreender melhor o que significa esse processo?

Preconceito: É um julgamento prévio negativo sobre uma pessoa, um grupo, uma cultura etc. Quem age

com preconceito costuma estar fundamentado em estereótipos negativos, indicando desconhecimento ou ausência de informações suficientes a respeito de quem está sendo julgado. O preconceito pode levar à discriminação.

Discriminação: A palavra vem do latim discriminis, que significa separar. É o nome que se dá ao ato de restringir a certos indivíduos oportunidades ou privilégios que estão disponíveis para outros indivíduos. Discriminar é, portanto, atuar de forma a fazer uma distinção de certas pessoas, podendo levá-las à exclusão ou à marginalização.

Segregação: É uma ação política, pautada em leis ou normas, que tem como objetivo manter à distância, em espaços próprios que lhes são reservados, determinados indivíduos ou grupos considerados indesejados ou inferiores. Para isso, são estabelecidas fronteiras espaciais ou sociais que aumentam as desvantagens entre grupos discriminados. Esta prática é baseada na ideia de superioridade étnica, de gênero, de nacionalidade etc. Podemos citar como exemplos de práticas segregacionistas o regime do Apartheid, na África do Sul; o regime de segregação racial nos Estados Unidos; e o Nazismo, na Alemanha.

Agora que já firmamos a base conceitual, fica mais evidente como o preconceito pode ser bastante perigoso

para os indivíduos e para a sociedade, não é mesmo? Ele é transmitido muitas vezes sem que percebamos e tende a misturar-se ao contexto cultural, de modo que fica mais difícil de superá-lo. Deste modo, o preconceito pode levar à discriminação e à segregação de outros indivíduos.

Ainda percebemos a persistência de preconceitos relacionados a diversos aspectos, como aqueles ligados à orientação sexual, à etnia, à classe, ao gênero etc. Vamos refletir um pouco mais sobre algumas formas de preconceito?

TIPOS DE PRECONCEITOS:

RACIAL, OU RACISMO: O racismo é a tendência do pensamento, ou do modo de pensar em que se dá grande importância à noção

da existência de raças humanas distintas e superiores umas às outras. Onde existe a convicção de que alguns indivíduos e sua relação entre características físicas hereditárias, e determinados traços de caráter e inteligência ou manifestações culturais, são superiores a outros. O racismo não é uma teoria científica, mas um conjunto de opiniões pré-concebidas onde a principal função é valorizar as diferenças biológicas entre os seres humanos, em que alguns acreditam ser superiores aos outros de acordo com sua matriz racial. A crença da existência de raças superiores e inferiores foi utilizada muitas vezes para justificar a escravidão, o domínio de determinados povos por outros, e os genocídios que ocorreram durante toda a história da humanidade.

SEXISMO: É a discriminação ou tratamento indigno a um determinado gênero, ou ainda a determinada identidade sexual.

Existem duas assunções diferentes sobre as quais se assenta o sexismo: Um sexo é superior ao outro. Mulher e homem são profundamente diferentes (mesmo além de diferenças biológicas), e essas diferenças devem se refletir em aspectos sociais como o direito e a linguagem. Em relação ao preconceito contra mulheres, diferencia-se do machismo por ser mais consciente e pretensamente racionalizado, ao passo que o machismo é um muitas vezes um comportamento de imitação social. Nesse caso o sexismo muitas vezes está ligado à misoginia (ódio às mulheres).

MACHISMO OU CHAUVINISMO MASCULINO: É a crença de que os homens são superiores às mulheres. A palavra “chauvinista” foi originalmente usada

para descrever alguém fanaticamente leal ao seu país, mas a partir do movimento de libertação da mulher, nos anos 60, passou a ser usada para descrever os homens que mantém a crença na inferioridade da mulher, especialmente nos países de língua inglesa. No espaço lusófono, a expressão “chauvinista masculino” (ou, simplesmente, “chauvinista”) também é utilizada, mas “machista” é muito mais comum.

PRECONCEITO LINGUÍSTICO: É uma forma de preconceito a determinadas variedades linguísticas. Para a linguística, os chamados erros

gramaticais não existem nas línguas naturais, salvo por patologias de ordem cognitiva. Ainda segundo esses linguistas, a noção de correto imposta pelo ensino tradicional da gramática normativa originam um preconceito contra as variedades não-padrão.

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HOMOFOBIA: É um termo criado para expressar o ódio, aversão ou a discriminação de uma pessoa contra homossexuais

ou homossexualidade. TRANSFOBIA: É a aversão a pessoas trans (transexuais, transgêneros, travestis) ou discriminação a estes. A transfobia

manifesta-se normalmente de forma mais reconhecida socialmente contra as pessoas trans adultas, quer sob a forma de opiniões negativas, quer sobre agressões físicas ou verbais. Manifesta-se também muitas vezes de forma indireta com a preocupação excessiva em garantir que as pessoas sigam os papéis sociais associados ao seu sexo biológico. Por exemplo, frases como “menino não usa saia” são, em sentido lato, uma forma de transfobia. A transfobia é também muitas vezes combinada com homofobia quando é feita a associação entre homens femininos e homossexualidade, partindo do princípio – equivocado – de que todos os homossexuais são necessariamente femininos e que ser homem efeminado é algo de negativo.

HETEROSSEXISMO: É um termo relativamente recente e que designa um pensamento segundo o qual todas as pessoas são

heterossexuais até prova em contrário. Um indivíduo ou grupo classificado por heterossexista não reconhece a possibilidade de existência da homossexualidade (ou mesmo da bissexualidade). Tais comportamentos são ignorados ou por se acreditar que são um “desvio” de algum padrão, ou pelo receio de gerar polêmicas ao abordar determinados assuntos em relação à sexualidade. Apesar de poder ser considerada como uma forma de preconceito, se diferencia da homofobia por ter como característica o ato de ignorar manifestações sexuais geralmente minoritárias (as situações homofóbicas não só não ignoram como apresentam aversão).

CHAUVINISMO:

O chauvismo resulta de uma argumentação falsa ou paralógica, uma falácia de tipo etnocêntrico ou de idolaforia. Em retórica, constitui alguns dos argumentos falsos chamados ad hominem que servem para persuadir com sentimentos em vez de razão quem se convence mais com aqueles que com estes. A prática nasceu fundamentalmente com a crença do romantismo nos “caráteres nacionais” (ou volkgeist em alemão). Milênios antes, no entanto, os antigos gregos já burlavam de quem se convencia de que a lua de Atenas era melhor que a de Éfeso.

PRECONCEITO SOCIAL: É uma forma de preconceito a determinadas classes sociais. É uma atitude ou ideia formada

antecipadamente e sem qualquer fundamento razoável; o preconceito é um juízo desfavorável em relação a vários objetos sociais, que podem ser pessoas, culturas. O preconceito social também existe quando julgamos as pessoas por atitudes e logo enfatizamos que a mesma só a teve a atitude por ser de certa classe social, ou seja se a pessoa tem uma boa condição financeira ela não vai sofrer nenhum tipo de preconceito social, seria mais fácil ela ter preconceito para com as outras pessoas.

ESTEREÓTIPO: É a imagem preconcebida de determinada pessoa, coisa ou situação. Estereótipos são fonte de inspiração de

muitas piadas, algumas de conteúdo racista, como as piadas de judeu, que é retratado como ávaro, português (no Brasil), como pouco inteligente, etc. O estereótipo pode estar relacionado ao preconceito.

ESTIGMA: É a predisposição para o preconceito, não está presente em todos os tipos de manifestações preconceituosas

e é fortemente relacionado ao ambiente em que o grupo estigmatizado está inserido. “O negro tem a marca da negritude na pele, é frequentemente estigmatizado; o homossexual, não necessariamente - muitos deles ninguém sabe se são”. Além disso, existem mulatos que são tidos como negros em São Paulo, mas como brancos na Bahia; o estigma não obedece a convenções sociais amplas.

ARRASE NO ENEM

a) O conceito de “raça” envolve características físicas e genéticas.

b) afinidades linguísticas e culturais. c) cor da pele, tipo de cabelo e gênero. d) a classificação de grupos sociais em superior e inferior. e) o desejo de um povo dominar outro povo.

2. O conceito de etnia a) é discriminatório. b) define diferenças culturais. c) envolve afinidades culturais e linguísticas.

d) classifica pessoas segundo traços genéticos. e) iguala os povos.

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3. Sobre os conceitos de RAÇA e ETNIA, pode-se concluir que a) serviram para justificar a dominação de uns povos por outros. b) defendem a harmonia entre os povos de diferentes culturas. c) o primeiro valoriza a cultura e o segundo discrimina. d) são diferentes e opostos em seus objetivos. e) são iguais.

4. O racismo (preconceito de cor) no Brasil a) tem relação direta com o preconceito contras os homossexuais. b) termina com a promulgação da constituição de 1988. c) tem origem com a escravidão do negro africano. d) surge no século XIX, com o apartheid. e) está crescendo cada dia mais. 5. (ENEM 2016)

No inicio dos anos 1950, a fundação do Renascença Clube, como espaço de convivência, demonstra o(a) a) inexperiência associativa que levou a elite negra a imitar os clubes dos brancos. b) isolamento da comunidade destacada que ignorava a democracia racial brasileira. c) interesse de um grupo de negros na afirmação social para se livrar do preconceito. d) existência de uma elite negra imune ao preconceito pela posição social que ocupava. e) criação de um racismo invertido que impedia a presença de pessoas brancas nesses clubes. 6. (ENEM 2017)

A fotografia, datada em 1860,é um indício da cultura escravista no Brasil, ao expressar a a) ambiguidade do trabalho doméstico exercido pela ama de leite,

desenvolvendo uma relação de proximidade e subordinação em relação aos senhores.

b) integração dos escravos aos valores das classes médias, cultivando a família como pilar da sociedade imperial.

c) melhoria das condições de vida dos escravos observada pela roupa luxuosa, associando o trabalho doméstico a privilégios para os cativos.

d) esfera da vida privada,centralizando a figura feminina para afirmar o trabalho da mulher na educação letrada dos infantes.

e) distinção étnica entre senhores e escravos, demarcando a convivência entre estratos sociais como meio para superar a mestiçagem.

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7. (UEM (2011) - Leia o texto a seguir e assinale o que for correto sobre o tema da diversidade étnica. [...] Na verdade, raça, no Brasil jamais foi um termo neutro; ao contrário, associou-se com frequência a uma

imagem particular do país. Muitas vezes, na vertente mais negativa de finais do século XIX, a mestiçagem existente no país parecia atestar a falência da nação [...]”

(SCHWARCZ, Lilia Moritz. Nem preto nem branco, muito pelo contrário: cor e raça na intimidade. In: NOVAIS, Fernando & SCHWARCZ, Lilia Moritz (orgs.) História da Vida Privada no Brasil. Contrastes da intimidade contemporânea,. São Paulo:

Companhia das Letras, 1998, p. 177).

a) Vigorou, no Brasil do século XIX, uma visão elitista que privilegiava a cor branca e via na mistura de raças a causa de seu atraso.

b) Os termos raça e etnia se equivalem. Ambos fazem referência à composição de grupos de pessoas com características fisiológicas e biológicas comuns.

c) Os estudos centrados na noção de raça classificam a humanidade por meio da seleção natural e da organização genética.

d) Por ser o Brasil o país com o maior número de negros e afrodescendentes depois do continente africano, não é pertinente discutir no Brasil o racismo.

8. (ENEM 2012) Nossa cultura lipofóbica muito contribui para a distorção da imagem corporal, gerando gordos que se veem magros e magros que se veem gordos, numa quase unanimidade de que todos se sentem ou se veem “distorcidos”.

Engordamos quando somos gulosos. É pecado da gula que controla a relação do homem com a balança. Todo obeso declarou, um dia, guerra à balança. Para emagrecer é preciso fazer as pazes com a dita cuja, visando adequar-se às necessidades para as quais ela aponta.

FREIRE, D. S. Obesidade não pode ser pré-requisito. Disponível em: http//gnt.globo.com. Acesso em: 3 abr. 2012 (adaptado).

O texto apresenta um discurso de disciplinarização dos corpos, que tem como consequência a) a ampliação dos tratamentos médicos alternativos, reduzindo os gastos com remédios. b) a democratização do padrão de beleza, tornando-o acessível pelo esforço individual. c) o controle do consumo, impulsionando uma crise econômica na indústria de alimentos. d) a culpabilização individual, associando obesidade à fraqueza de caráter. e) o aumento da longevidade, resultando no crescimento populacional. 9. (ENEM 2017) O racismo institucional é a negação coletiva de uma organização em prestar serviços

adequados para pessoas por causa de sua cor, cultura ou origem étnica. Pode estar associado a formas de preconceito inconsciente, desconsideração e reforço de estereótipos que colocam algumas pessoas em situações de desvantagem.

GIDDENS, A. Sociologia. Porto Alegre: Penso, 2012 (adaptado).

O argumento apresentado no texto permite o questionamento de pressupostos de universalidade e justifica a institucionalização de políticas antirracismo. No Brasil, um exemplo desse tipo de política é a a) reforma do Código Penal. b) elevação da renda mínima. c) adoção de ações afirmativas. d) revisão da legislação eleitoral. e) censura aos meios de comunicação.

GABARITO

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CAPITULO 15 - SEXO E GÊNERO NA SOCIOLOGIA Normalmente, existe uma grande confusão no entendimento do que seja sexo e gênero. O senso comum

acredita se tratarem do mesmo significado, mas os dois conceitos são usados para estabelecer visões de mundo diferentes.

O conceito de sexo é utilizado desde as sociedades mais primitivas e estabelece que homens e mulheres são diferentes, baseados na expressão anatômica de seus órgãos genitais. Estes conduzem hormônios e características que refletem a diferenciação entre masculino e feminino. Já o conceito de gênero, apesar de estar presente no discurso feminista do século XIX, é uma construção acadêmica dos anos 1990 - que foi tomada a partir de uma resolução do conselho da Organização das 'Nações Unidas (ONU) - e compreende que as diferenças biológicas entre homens e mulheres não definem a expressão sexual, mas é o próprio individuo que as define, utilizando-se do livre-arbítrio. Em outras palavras, para o conceito de sexo nascemos meninos ou meninas do ponto de vista sexual, com diferenças genéticas, hormonais e anatômicas. Já para o conceito de gênero é construída a noção de feminino e masculino pela cultura.

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Destaca-se que a ideologia de gênero não é uma unanimidade. Desse modo, é importante que tenhamos consciência dessas duas vertentes: enquanto alguns afirmam que há diferenças inatas entre os homens e as mulheres pela sua constituição biológica, outros defendem que elas não existem e foram determinadas pela cultura da sociedade, portanto, essas podem ser moldadas conforme a vontade de cada pessoa.

Os estudos das relações sociais de gênero foram bastante marcados pelo trabalho de investigação levado a cabo pela socióloga feminista norte-americana Jessie Bernard, que, em meados dos anos 40 do século XX, iniciou a abordagem da importância do "gênero" na organização da vida em sociedade. A obra mais conhecida desta autora, The Future of Marriage (1982), procura mostrar como é que o casamento constitui um contexto institucional de cristalização de normas, valores, papéis e padrões de interação entre o homem e a mulher, que são ideologicamente dominantes e que subjugam e oprimem a mulher. Esse estudo tornou-se já um clássico, num dos domínios de investigação sobre as relações sociais de gênero que mais se tem desenvolvido: a divisão tradicional dos papéis sexuais e as suas repercussões ao nível da família e do trabalho, ou em relação ao domínio privado e ao domínio público.

A investigação sociológica no domínio das relações sociais de gênero centra-se em dois pressupostos de

análise principais: 1) a posição ocupada na sociedade pelos homens e pelas mulheres não são apenas diferentes, mas

também desiguais; 2) a desigualdade social entre homens e mulheres resulta, principalmente, da organização da sociedade e não

de diferenças biológicas ou psicológicas significativas entre os mesmos.

Em relação ao princípio analítico de que não há apenas uma diferenciação socialmente construída entre homens e mulheres, mas também, e sobretudo, uma desigualdade social, isto significa que os estudos em função do gênero supõem que as mulheres têm menos recursos materiais, estatuto social, poder e oportunidades de autorrealização do que os homens com quem partilham a mesma posição social.

O gênero é, assim, considerado um elemento que condiciona a posição social dos indivíduos, tais como a classe, os rendimentos econômicos, a profissão, o nível de escolaridade, a idade, a raça, a etnia, a religião e a nacionalidade. Neste âmbito, têm-se desenvolvido estudos sociológicos centrados na discriminação e na diferenciação social, em função do gênero, em diversas áreas da vida em sociedade, tais como, por exemplo, as desigualdades no acesso ao poder e ao emprego e na atribuição de rendimentos salariais. No que respeita ao princípio de que as diferenças entre os dois sexos são, sobretudo socialmente instituídas e não predeterminadas, o conceito explicativo principal é o de "socialização".

Por outras palavras, uma parte significativa dos estudos no domínio das relações sociais de gênero supõe que a diferenciação de comportamentos e de traços de personalidade consoante o gênero resulta de expectativas socialmente incutidas nos indivíduos desde a infância, pelas quais as crianças são socializadas no sentido de desempenharem diferentes papéis, "masculinos" ou "femininos". Basicamente, trata-se de investigar como é que, ao nível das interações entre os indivíduos, são construídas e recriadas de um modo permanente as dicotomias entre o homem e a mulher. Neste domínio, são de salientar os trabalhos da socióloga feminista britânica Dorothy Smith (1987) e da teórica feminista francesa Luce Irgaray (1985), sobre o modo como as linguagens atuais estão dominantemente ancoradas em experiências e conceitos masculinos.

A sociologia contemporânea refere-se aos papéis de gênero masculino e feminino como masculinidades e feminilidades, respectivamente no plural ao invés do singular, enfatizando a diversidade tanto dentro das culturas como entre as mesmas.

A filósofa e feminista Simone de Beauvoir aplicou o existencialismo para a experiência de vida da mulher: “Ninguém nasce mulher: torna-se mulher”. No contexto é um testamento filosófico, entretanto é verdade biologicamente – uma garota precisa passar pela puberdade para se tornar uma mulher – verdade sociológica – a maturidade em relação ao contexto social é aprendida, não instintiva – e verdade nos estudos de gênero – a feminilidade como uma aprendizagem social e cultural.

Portanto, nos estudos de gênero, o termo gênero é usado para se referir às construções sociais e culturais de masculinidades e feminilidades. Neste contexto, gênero explicitamente exclui referências para as diferenças biológicas e foca nas diferenças culturais. Isto emergiu de diferentes áreas: da sociologia nos anos 50; das teorias do psicoanalista Jacques Lacan; e no trabalho de feministas como Judith Butler.

As diferenças entre homens e mulheres

Para o senso comum, homens e mulheres são diferentes devido aos sexos. Há uma diferença biológica, orgânica, entre esses dois grupos. No dia a dia, esperamos desses dois sexos comportamentos também diferentes, geralmente complementares. Ao homem, geralmente atribuímos a força física e a frieza. Por outro lado, à mulher, a fragilidade e o afeto. Não é raro, portanto, que, em uma família, os homens sejam mais distantes dos filhos e que se responsabilizem pela maior parte do orçamento doméstico. As mulheres, por sua vez, são mais próximas das crianças e, embora trabalhem fora, recebem salários menores e se responsabilizem pela maior parte dos afazeres de casa.

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Podemos resumir assim os diferentes papéis que atribuímos aos dois sexos:

Homem Mulher Força física Fragilidade

Frieza/Racionalidade Afeto/Carinho Trabalho (Rua) Lar (Casa)

Atualmente, essas associações são questionadas. Sem receio de errarmos, podemos dizer que estes papéis são muito mais “maleáveis”, admitindo combinações e rearranjos, do que há cinquenta anos. No entanto, eles ainda não foram descartados do nosso imaginário e há limites dentro dos quais os indivíduos podem transitar.

Como é vista uma mulher que desconsidera a maternidade, abrindo mão do casamento e cuidando integralmente de sua carreira profissional? E o homem que decide tomar conta do lar e dos filhos, sendo sustentado pelo trabalho de sua esposa?

Para a nossa visão mundo – o nosso senso comum -, esses papéis são naturais e os indivíduos não podem simplesmente negá-los, sob pena de serem estigmatizados e afastados do convívio social. Mas será mesmo que tais papéis são naturais? Vejamos o que dizem as ciências sociais:

A antropóloga estadunidense Margareth Mead (1901-1978) procurou investigar as relações entre cultura e personalidade.

Mead investigou como os indivíduos recebiam os elementos de sua cultura e a maneira como isso formava sua personalidade. Suas pesquisas tinham como objeto as condições de socialização da personalidade feminina e da masculina. Ao analisar os Arapesh, os Mundugumor e os Chumbuli, três povos da Nova Guiné, na Oceania, Mead percebeu diferenças significativas. Entre os Arapesh não havia diferenciação entre homens e mulheres, pois ambos eram educados para ser dóceis e sensíveis e para servir aos outros. Também entre os Mundugumor não havia diferenciação: indivíduos de ambos os sexos eram treinados para a agressividade, caracterizando-se por relações de rivalidade, e não de afeição. Entre os Chambuli, finalmente havia diferença entre homens e mulheres, mas de modo distinto do padrão que conhecemos: a mulher era educada para ser extrovertida, empreendedora, dinâmica e solidária com os membros de seu sexo. Já os homens eram educados para ser sensíveis, preocupados com a aparência e invejosos, o que os tornava inseguros. Isso resultava em uma sociedade em que as mulheres detinham o poder econômico e garantiam o necessário para a sustentação do grupo, ao passo que os homens se dedicavam às atividades cerimoniais e estéticas.

Baseada em seus achados, Mead afirmou que a diferença das personalidades não está vinculada a características biológicas, como o sexo, mas à maneira como em cada sociedade a cultura define a educação das crianças.

TOMAZI, N. Sociologia para o ensino médio. 2ª ed. São Paulo: Ed. Saraiva, 2010, pp. 172-173. Por que a antropóloga não reafirmou a visão de mundo do senso comum? Porque as suas constatações

foram extraídas de longos estudos, metódicos, os quais não permitiram generalizar aquilo que o senso comum afirma. O método utilizado por Mead foi a etnografia, a qual, ao fim do estudo, permitiu comparar as diferentes realidades e concluir que os comportamentos aceitáveis são definidos pela cultura em que vivemos, e não pela natureza dos nossos corpos.

ARRASE NO ENEM

1. (ENEM 2014)

TEXTO I Art. 233 — 0 marido é o chefe da sociedade conjugal, função que exerce com a colaboração da mulher, no interesse comum do casal e dos filhos.

Código Civil, 1916. Disponível em:www.dji.com.br. Acesso em: 02 out. 2011.

TEXTO II Art. 5° II — no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por lagosnaturais, por afinidade ou por vontade expressa; Parágrafo Onico. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação sexual.

Lei Maria da Penha. Lei n.11.340 de 07 de agosto de 2006. Disponível em: www.planalto.gov.br. Acesso em: 2 out. 2011 (adaptado).

As leis de um país expressam o processo de mudanças na sociedade. Nessa perspectiva, ao comparar o Código Civil de 1916 e a Lei Maria da Penha, as mudanças na definição jurídica do conceito de família no Brasil a) sinalizam a inclusão das união homoafetivas no conceito de família, criando um marco legal para os

movimentos que lutam pela diversidade sexual. b) restringem os questionamentos aos direitos relacionados a situação feminina, mantendo o papel do homem

como chefe da sociedade conjugal. c) remetem as origens primarias da família, confirmando a relação entre homem, mulher e seus filhos como a

base da instituição familiar. d) reforçam os papeis tradicionais atribuídos aos sexos, concebendo direitos e deveres em conformidade com o gênero e) reconhecem a necessidade de homens e mulheres em formar pequenos grupos, concedendo a família a

função de manter a estabilidade social.

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2. (PITÁGORAS) Assinale a alternativa que caracteriza uma situação de diferenciais de renda entre homens e mulheres em uma dada sociedade.

a) Desigualdade de gênero. b) Diferença de gênero. c) Preconceito masculino.

d) Diferenciais de desigualdade. e) Sexismo desigual.

3. (PITÁGORAS) Assinale a alternativa a seguir que melhor completa o texto que segue.

Um dos temas mais ricos da reflexão atual acerca das relações de gênero é a insuficiência do __________ homem/mulher. Segundo alguns autores e autoras, assistimos a um processo de______________ das identidades no mundo contemporâneo. Representativo disso é o fato de que___________ passaram a se preocupar mais com sua estética, assim como ___________ assumiram posições de poder e deixaram de se colocar como a parte frágil da sociedade. Além disso, alguns movimentos sociais têm recolocado demais identificações de gênero em um lugar de destaque nas reflexões contemporâneas. Os grupos GLBT (gays, lésbicas, bissexuais e transexuais), apesar das grandes barreiras ideológicas que enfrentam, tem conquistado um lugar de relevo na afirmação de suas identidades.

O tema citado que REFLETE a desconstrução das identidades na contemporaneidade é a) conceito – desconstrução – as mulheres – os homens b) ideal – reafirmação – os homens – as mulheres c) binarismo – desconstrução – os homens – as mulheres d) conceito – reafirmação – muitos v as pessoas e) binarismo – reforço – os homens – não. 4. (Interbits 2012) A construção do masculino e do feminino em uma sociedade, no entanto, varia de acordo não

somente com seu conjunto de normas instituídas, mas principalmente por tradições, valores e subjetividades, materializadas pela existência de indicadores que traduzem as desigualdades vivenciadas pela população, apesar dos pactos, tratados e resoluções construídas na direção da promoção de igualdade.

(BICALHO, P. P. G. et al. Os direitos sexuais e o enfrentamento da violência sexual. Psic. Clin., Rio de Janeiro, vol. 24, n.1, 2012, p. 36.)

A respeito das desigualdades de gênero, assinale a alternativa correta. a) As desigualdades de gênero, no Brasil, são maiores que nos outros países mais desenvolvidos. b) A igualdade entre homens e mulheres existe, uma vez que está presente na Constituição. c) Há diversas instituições, normas e condutas das pessoas que expressam as desigualdades de gênero. d) A população deve ser vista como uma totalidade não fragmentada para que as desigualdades deixem

de existir. e) Somente uma ética da tolerância é capaz de estimular condutas da desigualdade.

5. (ENEM 2010) A primeira instituição de ensino brasileira que inclui disciplinas voltadas ao público LGBT

(lésbicas, gays, bissexuais e transexuais) abriu inscrições na semana passada. A grade curricular é inspirada em similares dos Estados Unidos da América e da Europa. Ela atenderá jovens com aulas de expressão artística, dança e criação de fanzines. É aberta a todo o público estudantil e tem como principal objetivo impedir a evasão escolar de grupos socialmente discriminados.

Época, 11 jan. 2010 (adaptado).

O texto trata de uma política pública de ação afirmativa voltada ao público LGBT. Com a criação de uma instituição de ensino para atender esse público, pretende-se a) contribuir para a invisibilidade do preconceito ao grupo LGBT. b) copiar os modelos educacionais dos EUA e da Europa. c) permitir o acesso desse segmento ao ensino técnico. d) criar uma estratégia de proteção e isolamento desse grupo. e) promover o respeito à diversidade sexual no sistema de ensino.

6. (ENEM 2009)

A definição de eleitor foi tema de artigos nas Constituições brasileiras de 1891 e de 1934. Diz a Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil de 1891:

Art. 70. São eleitores os cidadãos maiores de 21 anos que se alistarem na forma da lei. A Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil de 1934, por sua vez, estabelece que: Art. 180. São eleitores os brasileiros de um e de outro sexo, maiores de 18 anos, que se alistarem na forma da lei. Ao se comparar os dois artigos, no que diz respeito ao gênero dos eleitores, depreende-se que a) a Constituição de 1934 avançou ao reduzir a idade mínima para votar. b) a Constituição de 1891, ao se referir a cidadãos, referia-se também às mulheres. c) os textos de ambas as Cartas permitiam que qualquer cidadão fosse eleitor. d) o texto da carta de 1891 já permitia o voto feminino. e) a Constituição de 1891 considerava eleitores apenas indivíduos do sexo masculino.

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7. Analise as informações abaixo

Rendimento médio mensal das pessoas ocupadas (em R$)

Ano Homens Mulheres Rendimento das mulheres em relação ao dos homens

2004 1.083 687 63,4% 2005 1.122 724 64,5% 2006 1.207 792 65,6% 2007 1.247 825 66,2% 2008 1.281 852 69,9% 2009 1.314 882 67,1% 2011 1.417 997 70,4%

Fonte: PNAD2009/2011. IBGE

Considerando a relação de gênero e trabalho no Brasil, é correto afirma a partir dos dados apresentados acima que a) o trabalho doméstico permanece uma atribuição majoritariamente feminina, configurando dupla jornada de trabalho. b) a participação masculina no trabalho doméstico já é expressiva, diminuindo as repercussões da dupla jornada

de trabalho feminino. c) de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística − IBGE em 2011, a média de salário do

brasileiro por sexo já é igualitária entre homens e mulheres. d) o trabalho dos homens e mulheres já tem características semelhantes, sendo assim as repercussões do

trabalho sobre a vida e saúde igualitárias. e) houve crescimento da participação da mulher como referência da família, tornando-se igualitário o rendimento

da mulher como pessoa de referência e seu cônjuge.

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8. (ENEM 2016)

TEXTO I TEXTO II

Metade da nova equipe da Nasa é composta por mulheres Até hoje, cerca de 350 astronautas americanos já estiveram no espaço, enquanto as mulheres não chegam a ser um terço desse número. Após o anúncio da turma composta 50% por mulheres, alguns internautas escreveram comentários machistas e desrespeitosos sobre a escolha nas redes sociais. Disponível em: https://catracalivre.com.br. Acesso em: 10 mar. 2016

A comparação entre o anúncio publicitário de 1968 e a repercussão da notícia de 2016 mostra a a) elitização da carreira científica. b) qualificação da atividade doméstica. c) ambição de indústrias patrocinadoras. d) manutenção de estereótipos de gênero. e) equiparação de papéis nas relações familiares. 4. (ENEM 2017) A participação da mulher no processo de decisão política ainda é extremamente limitada em

praticamente todos os países, independentemente do regime econômico e social e da estrutura institucional vigente em cada um deles. É fato público e notório, além de empiricamente comprovado, que as mulheres estão em geral sub-representadas nos órgãos do poder, pois a proporção não corresponde jamais ao peso relativo dessa parte da população.

TABAK, F. Mulheres públicas: participação política e poder. Rio de Janeiro: Leira Capital, 2002. No âmbito do Poder Legislativo brasileiro, a tentativa de reverter esse quadro de sub-representação tem envolvido a implementação, pelo Estado, de a) leis de combate à violência doméstica. b) cotas de gênero nas candidaturas partidárias. c) programas de mobilização política nas escolas.

d) propagandas de incentivo ao voto consciente. e) apoio financeiro às lideranças femininas.

GABARITO

1 2 3 4 5 6 7 8 9 A A C C E E A D B

CAPITULO 16 – CULTURA E SOCIEDADE

Hoje nosso objeto de estudo é o conceito de cultura, que é complexo e abrangente. Vamos ver que existem pensadores que entendem a cultura desde uma perspectiva muito específica, o que torna muito difícil estabelecer um diálogo com outros autores. Neste sentido também vamos ver que o conceito de cultura apresenta uma complexidade alta que obriga a atravessar as fronteiras das ciências, entendendo que as grandes definições usadas pela sociologia hoje foram formuladas pela antropologia. E isso acontece com outros temas, em que alguns conceitos são “emprestados” de uma área para outra. Mas vamos lá, começar a trabalhar para poder compreender melhor isto.

SOBRE A CULTURA E A HISTÓRIA DO CONCEITO

Vamos começar estabelecendo nosso ponto de partida: cultura é uma noção ampla, dificilmente consigamos definir de maneira acabada ou completa o que queremos dizer com cultura, ou seja, que construir um conceito fixo ou estrito está fora das nossas ambições. Neste sentido, a amplitude do termo faz com que continuamente apareçam autores que propõem definições diferentes às já estabelecidas, outros vão discutir com autores antigos, pelas perspectivas que eles usaram. Mas quase todos eles têm como obrigação definir, nos seus estudos, publicações ou livros, de maneira clara e concisa, o que eles querem dizer com cultura e como usarão o conceito.

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E isto é muito importante porque as posições ou perspectivas adotadas pelos pesquisadores, professores e intelectuais sobre a noção de cultura dependem em grande parte da corrente ou escola de pensamento. Por exemplo, dentro das ciências sociais, como sociologia, história, geografia, ou na área da filosofia, temos algumas escolas de pensamento que são muito distantes uma das outras. Neste sentido hoje vamos trabalhar usando uma dessas perspectivas, a posição marxista e pós-marxista, que vai nos ensinar um conceito bem interessante: a indústria cultural. E quando chegarmos nesse momento vai ser possível entender porque essas posições ou correntes de pensamento são tão diferentes.

O QUE É CULTURA? Temos ouvido essa palavra desde pequenos, temos visto também que as pessoas atribuem muitas coisas,

razões e tipos de ações ao grande conceito de cultura. Por momentos parece que todas as coisas podem ser entendidas como culturais, que qualquer diferença entre as pessoas pode ser entendida como diferença cultural. Mas quem compartilha a mesma cultura? Que tipo de coisas podem ser entendidas como diferenças culturais e que coisas não? Se se trata de duas pessoas ou dois grupos dentro da mesma sociedade e do mesmo país, por que eles têm diferenças culturais? Não deveriam pensar ou interpretar as coisas mais ou menos de forma igual? Qual é a diferença entre religião e cultura? Qual é a diferença entre moral e cultura?

Estas e muitas outras perguntas são interrogantes que vão nos orientar a uma possível resposta do conceito de cultura. Em um maravilhoso livro titulado “A cultura como práxis”, o sociólogo e filósofo Zigmunt Bauman se dedica à tarefa de identificar o que significa o conceito de cultura. Ou seja, que coisas podem ser definidas como cultura e que coisas não. Analisaremos em quatro importantes aspectos:

1. A primeira conclusão que ele tem para nos oferecer é que o conceito de cultura é principalmente histórico.

Em outras palavras aquilo que é e foi entendido como cultura tem variado no tempo, a cultura encontra-se definida pela sua natureza história, ela é um processo dinâmico, que vai mudando o tempo tudo, que incorpora coisas, experiências, linguagens, símbolos. Mas que dentro dela vão, também, se combinando, vão se convertendo em outras coisas diferentes. Então ali temos um aspecto central da noção de cultura, trata-se de um conceito necessariamente variável e polimorfo, não tem como fazer uma definição que consiga se manter no tempo, porque o seu mesmo conteúdo vai mudando.

2. Uma segunda característica da história do conceito que estamos trabalhando foi a conotação que ele teve ao longo do tempo. Os primeiros antropólogos procuravam conhecer diversas populações nos pontos distantes do mundo para tentar fundar a ciência da antropologia, como o estudo dos homens nas suas diversas maneiras de viver. Neste sentido, para grande parte da antropologia, para a história, literatura e filosofia, a cultura é o que nos diferencia dos animais e nos faz seres humanos. Para nós é comum ouvir a expressão de que uma pessoa culta é uma pessoa que conhece muito, que sabe muito. Mas também a cultura faz referência às maneiras de se comportar, uma pessoa deve agir de maneira “apropriada” aos critérios do que as outras pessoas têm. Progressivamente, ao longo da história e com o progresso das ciências como ciências, os cientistas começaram a perceber que existiam maneiras de pensar, falar, agir “certas e erradas” que variavam de uma sociedade para outra. Assim foi começando a surgir consciência de que existem diferentes culturas, com seus valores, critérios e conteúdos variáveis, não só no espaço geográfico, senão também no tempo. Às vezes alguns comportamentos que eram considerados errados ou respeitáveis, hoje são rejeitados pela sociedade.

3. Uma terceira característica muito importante que devemos levar em conta sobre este tema é que é bem

melhor falar sobre culturas, em plural, do que cultura no singular. Porque não só podemos apreciar diversas culturas em relação aos países, senão que dentro de um mesmo país, ou sociedade, é possível reconhecer diferentes culturas. Como já temos mencionado anteriormente, uma característica da nossa realidade atual é que as sociedades encontram-se formadas por grupos sociais diversos, por estrangeiros, comunidades descendentes de imigrantes que procuram manter sua identidade, e por outros grupos sociais que buscam estabelecer outra identidade diferente às “ordinárias”. Assim temos mencionado que não é possível estabelecer a cultura como um conceito fixo, não histórico, também não é uma boa ideia pretender critérios universais de cultura ou de pessoas que tenham mais ou menos cultura. Por isso, é melhor falar de culturas no plural, já que elas variam no espaço geográfico e no tempo.

4. Por último, embora os países tenham uma população que compartilhe uma identidade e história comum, é

possível encontrar grupos culturalmente diferentes dentro da mesma sociedade. Ainda mais, como já temos falado também, o Estado é o responsável por resolver possíveis conflitos gerados a partir de diferenças culturais dentro da sua população. Considerando as características explicadas, uma maneira interessante para abordar o conceito de cultura é

retomar o antropólogo Clifford Geertz e seu livro “A interpretação das culturas”. Após fazer muitas viagens e de conviver e interpretar diversos povos diferentes, Geertz tenta discutir com dogmas de pensamento estabelecidos pela antropologia e a sociologia. Ele faz uma colocação interessante, dizendo que a cultura são conjuntos de dimensões nos quais a vida do homem se divide.

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A cultura reúne maneiras de pensar, de sentir, de estabelecer um critério moral e formas de punição do certo e errado. São também maneiras de agir, formas de pensamento que procuram organizar o mundo, de gerar um conhecimento, de mantê-lo e de distribui-lo. Geertz nos ensina que não se trata de “matrimônio”, por exemplo, senão de como diversas sociedades compreendem as relações entre os homens e as mulheres, assim como formas de fazê-las públicas e reconhecidas. Da mesma maneira, existem culturas que acreditam que o trabalho é bom, que outorga honra às pessoas que exercitam o trabalho, mas outras culturas já consideram o trabalho uma atividade destinada a pessoas “inferiores”.

CULTURA E SOCIEDADE O processo por meio do qual vamos adotando, incorporando, assimilando a cultura da sociedade em que

vivemos é aquele processo de socialização que já estudamos previamente. Ele não só funciona como uma maneira de assimilar e incorporar conhecimentos, mas é a maneira pela qual um ser humano vai se convertendo em indivíduo, sem cultura seríamos humanos sem fala, sem critérios de bem ou mal, sem costumes, sem regras. Ou seja, a nossa cultura – que pode variar de outros grupos e sociedades – faz com que nós nos convertamos em indivíduos capazes de nos relacionar e nos entender, ainda sem falar entre nós. Pensemos em uma pessoa que espera para atravessar a rua, um carro para e faz um sinal para ela atravessar. É um exemplo de como vamos incorporando maneiras de interagir, de nos comunicar, sem nos conhecer. E vários outros exemplos podem ser mencionados em relação a isto.

CULTURA ERUDITA E CULTURA POPULAR

Ao analisar o “Renascimento”, movimento cultural surgido no norte da Itália, nos séculos XIV e XV, percebemos que ele estava ligado a uma determinada parcela da população da Europa: a burguesia. A burguesia era formada por comerciantes que tinham como objetivo principal o lucro, através do comércio de especiarias vindas do oriente. Esse segmento da sociedade conquistou não apenas novos espaços sociais e econômicos, mas também procurou resgatar ou fazer renascer antigos conhecimentos da cultura greco-romana. Daí o nome Renascimento.

A burguesia não só assimilou esses conhecimentos como, ainda, acrescentou outro, ampliando o seu universo cultural. Por exemplo, ao tentar reviver o teatro de Sófocles e Eurípedes (que viveram na Grécia antiga), os poetas italianos do século XVI substituíram a simples declaração pela recitação contada dos textos acompanhada por instrumentos musicais. Dessa forma, acabaram por criar um novo gênero a “ópera”. Desde a sua origem, a burguesia preocupou-se com a transmissão desse conhecimento a seus pares. A partir daí, então, foram surgindo instituições como as universidades, as academias e as ordens profissionais (advogados, médicos, engenheiros e outros). Com o passar dos séculos e com o processo de escolarização, a cultura dessa elite burguesa tomou corpo, desenvolveu-se com base em técnicas racionalistas e científicas. Surgiu assim a cultura erudita.

Essa cultura “erudita”, ou “superior”, também designada de “elite”, foi se distanciando da cultura, da maioria da população, pois era feita pela e para a burguesia. Por isso, ao pensarmos em cultura erudita, imediatamente concluímos que seus produtores fazem, parte de uma elite política, econômica e cultural que pode ter acesso ao saber associado à escrita, aos livros, ao estudo. A cultura popular, por sua vez, mais próxima do senso comum e mais identificada com ele, é produzida e consumida pela própria população, sem necessitar de técnicas racionalizadas e científicas. É uma cultura em geral transmitida oralmente, registrando as tradições e os costumes de um determinado grupo social. Da mesma forma que a cultura erudita, a cultura popular alcança formas artísticas expressivas e significativas. Vale ressaltar que, ao afirmar que os produtores da cultura erudita fazem parte de uma elite não significa dizer que essa cultura seja homogênea, é impossível definir cultura erudita, porque não podem ser homogeneizados os elementos culturais produzidos por intelectuais, fazendeiros, empresários, burocratas, etc. porém, é igualmente impossível definir cultura popular, dada as populações culturais diferenciadas de camponeses, operários, classe média baixa, etc.

De qualquer forma, não podemos perder de vista que o espaço reservado na sociedade para cada uma das duas culturas é bastante diferenciado, este é um dos aspectos que diferencia essas duas culturas: enquanto a cultura erudita é transmitida pela escola e confirmada pelas instituições (governo, religião, economia), a cultura popular não é oficial, é a do povo comum, ela expressa sua forma simples de conceber a realidade. Não devemos esquecer que a cultura é dinâmica, por isso, tanto a cultura popular quanto a cultura erudita estão sempre, com maior ou menor intensidade, incorporando e reconstruindo novos elementos culturais sem perder a sua essência expressiva.

CONCEITOS DE CULTURA

APROPRIAÇÃO CULTURAL Apropriação cultural é a adoção de alguns elementos específicos de uma cultura por um grupo cultural

diferente. Ela descreve aculturação ou assimilação, mas pode implicar uma visão negativa em relação à adoção de uma cultura dominante por uma cultura minoritária. Ela pode incluir a introdução de formas de vestir ou adorno pessoal, música e arte, religião, língua, ou comportamento social. Estes elementos, uma vez removidos de seus contextos culturais, podem assumir significados muito divergentes, ou apenas menos sutis do que aqueles originalmente realizados.

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A apropriação prática envolve a 'apropriação' de ideias, símbolos, artefatos, imagens, sons, objetos, formas ou estilos de outras culturas, da história da arte, da cultura popular ou outros aspectos do humano, tanto visuais como comportamentais ou não visuais. Os antropólogos têm estudado o processo de apropriação cultural, ou empréstimo cultural (que inclui arte e urbanismo), como parte da mudança cultural e o contato entre diferentes culturas.

VISÃO GERAL

O termo apropriação cultural pode ter uma conotação negativa. Os conservadores culturais aplicam-no quando o assunto é cultura, isto é, quando tratam de uma cultura minoritária ou de alguma forma subordinada ao domínio social, político, econômico ou militar, que se apropria destes bens simbólicos de uma comunidade ou grupo étnico, inclusive quando se está diante de conflitos étnicos ou raciais entre dois ou mais grupos. Teórico cultural e racial, George Lipsitz, usa o termo seminal "anti essencialismo estratégico". Anti-essencialismo estratégico é definido como o uso calculado de uma forma cultural, fora do seu próprio país, para definir-se ou a seu grupo. Anti-essencialismo estratégico pode ser visto tanto em culturas minoritárias e culturas da maioria, e não se limitam apenas à apropriação do outro. No entanto, como argumenta Lipsitz, quando a cultura da maioria tenta estrategicamente anti-essencializar-se apropriando-se de uma cultura minoritária, devem tomar muito cuidado para reconhecer as circunstâncias e importância dessas formas culturais sócio-históricas específicas, de modo a não perpetuar o já existente, a maioria contra minoria, as relações desiguais de poder. Apropriação cultural pode ser definida de forma diferente em diferentes culturas. Enquanto acadêmicos em um país como o Estados Unidos, onde a dinâmica racial tinha sido a causa da segmentação cultural, pode ver muitos exemplos de comunicação intercultural como apropriação cultural, outros países podem identificar essa comunicação como um efeito caldeirão. Apropriação cultural também tem sido vista como um local de resistência à sociedade dominante quando os membros de um grupo marginalizado tomam e alteram aspectos da cultura dominante para afirmar a sua agência e resistência. Isso é exemplificado na constituição histórica das religiões afro-brasileiras, quando se mostra a adaptação dos santos católicos como ressignificação simbólicas dos seus orixás. Visão Crítica Uma espécie comum de apropriação cultural é a adoção da iconografia de uma outra cultura. Os exemplos incluem as equipes de esportes usando nomes tribais nativos americanos, o uso de jóias com símbolos religiosos como a cruz, sem qualquer crença, apropriando-se a história de outra cultura, como tatuagens da iconografia tribal polinésia, caracteres chineses, ou bandas celtas usadas por pessoas que não têm interesse, ou a compreensão do seu significado cultural de origem. Quando esses artefatos são considerados como objeto que simplesmente é "visto como legal", ou quando eles são produzidos em massa, barato para o consumidor, as pessoas que veneram e desejam preservar suas tradições culturais talvez possam ser ofendidas. Na Austrália, artistas aborígenes têm discutido uma "marca de autenticidade" para garantir que os consumidores estejam cientes de obras de arte que afirmam falso significado aborígine. O movimento de tal medida ganhou força após a condenação em 1999, de John O'Loughlin por venda fraudulenta de obras descritas como aborígenes mas pintadas por artistas não-indígenas.

PLURALIDADE CULTURAL As culturas humanas criaram formas diversas para viver em coletividade e organizar a sociedade.

Percebemos, em nossos estudos, que existem variações na maneira com que os povos se relacionam com o meio ambiente, assim como formas diferentes de morarem e se vestirem ou, ainda, no relacionamento que mantêm com o sagrado, pois cultivam formas diferentes de adoração e valores morais distintos. Dessa forma, a pluralidade cultural é o resultado do acúmulo de experiências de diversos povos e se traduz em um patrimônio que enriquece as sociedades, pois abre espaço para aceitar as diferenças culturais.

Atualmente, algumas correntes sociológicas julgam como comportamento ideal diante da diversidade nas sociedades o multiculturalismo, também designado como pluralismo cultural: prática em que grupos étnicos minoritários preservam suas características culturais, ao mesmo tempo em que compartilham das tradições do grupo social em que estão inseridos. Em outras palavras, esse termo descreve a existência de várias culturas em uma mesma localidade sem, no entanto, que uma delas predomine sobre a outra.

Os benefícios do multiculturalismo são apontados em diversas áreas, como no comércio, nas artes, nos esportes e nas universidades. A Austrália possui uma política que tem o objetivo de equilibrar os direitos e as obrigações de seus cidadãos, assim como lhes confere o direito de expressarem e compartilharem suas crenças e heranças culturais.

A Suíça, que também é conhecida como um país pluralista, convive com três idiomas oficias (alemão, francês e italiano) e as religiões católica e protestante são professadas livremente, procurando manter hábitos e costumes de forma variada e sem preconceitos. A comunidade de estrangeiros que vive lá é significativa: são 1,5 milhão de pessoas, ou seja, aproximadamente 21% da população é originária de diversas partes do mundo, que vivem adaptados e integrados à cultura do país.

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MULTICULTURALISMO O Multiculturalismo (ou pluralismo cultural) é um termo que descreve a existência de muitas culturas numa

localidade, cidade ou país, sem que uma delas predomine, porém separadas geograficamente e até convivialmente no que se convencionou chamar de “mosaico cultural”. O multiculturalismo implica reivindicações e conquistas das chamadas minorias (negros, índios, mulheres, homossexuais, entre outras).

A doutrina multiculturalista dá ênfase à ideia de que as culturas minoritárias são discriminadas, sendo vistas como movimentos particulares, mas elas devem merecer reconhecimento público. Para se consolidarem, essas culturas singulares devem ser amparadas e protegidas pela lei. O multiculturalismo opõe-se ao que ele julga ser uma forma de etnocentrismo (visão de mundo da sociedade branca dominante que se toma por mais importante que as demais).

RELATIVISMO CULTURAL E ETNOCENTRISMO

O relativismo cultural é um movimento que considera as culturas de modo geral, diferente uma das outras em relação aos postulados básicos, embora tenham características comuns. Todos os povos formulam juízos em relação aos modos de vida diferentes dos seus. Por isso, o relativismo cultural não concorda com a ideia de normas e valores absolutos e defende o pressuposto de que as avaliações devem ser sempre relativas à própria cultura onde surgem.

Os padrões ou valores de certo ou errado, dos usos e costumes das sociedades em geral, estão relacionados com a cultura da qual fazem parte. Dessa maneira, um costume pode ser válido em relação a um ambiente cultural e não a outro.

O fato de que o homem vê o mundo através de sua cultura tem como consequência a propensão em considerar o seu modo de vida como o mais correto e natural. Tal tendência, denominada etnocentrismo, é responsável em seus casos extremos pela ocorrência de numerosos conflitos sociais. Estas tendências contém o germe do racismo, da intolerância, e frequentemente, são utilizados para justificar a violência contra outros. Entretanto o etnocentrismo apresenta um aspecto positivo, ao ser agente de valorização do próprio grupo. Cada povo tem uma cultura própria, cada sociedade elabora sua própria cultura e recebe influência de outras culturas; dessa forma, todas as sociedades, desde as simples até as mais complexas, possuem cultura. Não há sociedade sem cultura, assim como não existe ser humano destituído de cultura.

TRAÇO CULTURAL E COMPLEXO CULTURAL

Cultura, portanto, é um conjunto de elementos ligados estreitamente uns aos outro, decompostos em parte. As mais simples são os traços culturais, as unidades de uma cultura: uma ideia, uma crença, um lápis, uma pulseira e etc.; representam traços culturais. Claro que, os traços culturais, só têm significados quando considerado dentro de uma cultura especifica, por exemplo: um colar pode ser um simples adorno para determinado grupo é para outro ter um significado mágico ou religioso.

A combinação dos traços culturais forma um complexo cultural, como exemplo tem o carnaval no Brasil onde se encontra um grupo de traços culturais – relacionados uns com os outros: carro alegórico, música, dança, instrumentos musicais, fantasias e etc. o futebol também é um complexo cultural que está decomposto em vários traços culturais: o campo, a bola, o juiz, os jogadores, a torcida, as regras do jogo e etc. PADRÃO CULTURAL E ACULTURAÇÃO

Dentro de todas as sociedades existe um padrão cultural, que é uma norma estabelecida pela sociedade, os indivíduos normalmente agem de acordo com os padrões estabelecidos pela sociedade em que vivem. No Brasil, por exemplo, o casamento monogâmico é um padrão de nossa cultura. Se existem sociedades diferentes, é porque existem culturas diferentes, e na maioria das vezes contatos entre essas culturas. Exemplo disso é a formação sócio-cultural brasileira.

Durante a colonização no Brasil, ocorreram intensos contatos entre cultura do colonizador português e as culturas dos povos indígenas e dos africanos trazidos como escravos. Como consequências desse contato ocorreram modificações que deram origem a cultura brasileira; esse contato e mudanças culturais são conhecidos como aculturação.

CONTRA CULTURA E MARGINALIDADE CULTURAL

Nas sociedades contemporâneas encontramos pessoas que contestam certos valores vigentes, opondo-se radicalmente a eles. Como exemplos têm o trabalho, o patriotismo, a acumulação de riqueza e a ascensão social; são valores culturais importantes na nossa sociedade, infligir esses valores culturais significa o processo de contracultura. Exemplo: o movimento hiper da década de 60, ele se pôs radicalmente a esses valores.

O contato entre cultura pode provocar além da aculturação, uma série de conflitos mentais entre os indivíduos pertencentes a essas culturas. Esses conflitos têm origem na insegurança que as pessoas sentem diante de uma cultura diferente da sua: aqueles que não conseguem se integrar completamente em nenhuma das culturas que os rodeiam ficam a margem da sociedade. A esse fenômeno dar-se o nome de marginalidade cultural. Como exemplo temos, no interior de São Paulo caingangue descaracterizados culturalmente, eles não conhecem mais nada do seu passado, não se lembram de sua língua, de seus cantos, de sua dança e de suas antigas praticas de trabalho. Também não estão incorporados à cultura que os cerca. Eles são mansos e tristes.

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DINÂMICA CULTURAL / MUDANÇA CULTURAL

A cultura material e imaterial dos seres humanos se inova ou evolui ao longo dos tempos, isso acontece devido acumulação e a transmissão de conhecimentos, é o que denominamos genericamente de educação. A educação é feita no interior da família, no convívio social. Nós dependemos dos outros para que eles nos ensinem coisas que ajudem a viver melhor. Assim, dependemos da cultura acumulada pelas gerações passadas para viver no presente e ter esperança de viver melhor ainda no futuro.

O processo de aquisição cultural é acumulativo e seletivo e ocorre através da comunicação. Mais explicitamente, a linguagem humana é um produto da cultura, graças à linguagem e à comunicação ora que o homem preserva e desenvolver sua cultura.

A cultura não é estática, ela é dinâmica e, está sujeita a transformações; as culturas mudam continuamente, assimilam novos traços ou abandonam os antigos, através de diferentes formas: crescimento, transmissão, difusão, estagnação, declínio, fusão; são aspectos aos quais as culturas estão sujeitas. A mudança cultural, enquanto processo consciente ou inconsciente, pelas quais as coisas se realizam se comporta ou se organizam. Pode ocorrer com maior ou menor facilidade, dependendo do grau de resistência ou aceitação. O aumento ou diminuição das populações, as migrações os contatos com povos de culturas diferentes, as inovações científicas e tecnológicas, as catástrofes (perdas de safras, epidemias, guerras), as depressões econômicas, as descobertas (aquisição de um elemento novo, coisa já existente: lâmpada, máquinas, etc.), a mudança de governo. As mudanças também ocorrem de forma imaterial, como um novo costume, uma nova organização.

As alterações podem surgir em consequências de fatores internos (endógenos) ou externos (exógenos): novos elementos são agregados ou os velhos aperfeiçoados por meio de invenções; novos elementos são tomados de empréstimos de outras sociedades; elementos culturais, inadequados ao meio ambiente, são abandonados ou substituídos; alguns elementos, por falta de transmissão de geração, se perdem.

ARRASE NO ENEM

1. A palavra “etnia” é proveniente do substantivo grego ethnos, que significa gente ou nação estrangeira. Etnia diz respeito ao âmbito cultural: um grupo étnico é uma comunidade humana definida por afinidades linguísticas, culturais e semelhanças genéticas. Sendo assim, assinale a alternativa que melhor define o conceito de “etnocentrismo”:

Visão de mundo segundo a qual a sua própria cultura assume posição de destaque, enquanto todas as outras são assimiladas como categorias inferiores em relação a ela. a) Percepção das diferenças culturais e étnicas como o “motor da história”, sem as quais o substrato humano se

torna inerte perante o domínio da natureza. b) Compreensão dos valores artísticos e culturais como auge das capacidades humanas, acima da política e da

economia, por exemplo. c) Supervalorização das sociedades arcaicas e primitivas sem escrita, em detrimento da própria

civilização ocidental.

2. (VUNESP 2012)

Neonazistas atacam imigrantes estrangeiros em bairro da Grécia Após convencer mais de 400 mil gregos com seu discurso e conseguir uma histórica entrada no Parlamento de Atenas, o partido neonazista Aurora Dourada ampliou sua presença nas ruas, com ataques a estrangeiros e ameaças a comerciantes imigrantes.

(Terra. 7.07.12. Adaptado)

A partir da notícia, é possível estabelecer uma relação entre a crise econômica mundial e a) o acirramento das tensões políticas entre orientais e ocidentais. b) a ampliação da pobreza e a consequente luta revolu-cionária anticapitalista. c) o aumento da xenofobia e a ascensão de forças políticas extremistas. d) o reforço do poder de grupos que defendem a não violência na política. e) a diminuição do poder de influência da direita e a redução do nacionalismo

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3. No âmbito dos estudos acerca da cultura popular, as teses folcloristas são foco de críticas. O fundamento de uma dessas críticas pode ser sintetizado na seguinte afirmação:

“O povo é ‘resgatado’, mas não conhecido”. Nestor Garcia Canclini. Culturas híbridas. 4ª ed. São Paulo: Edusp, 2003 (com adaptações).

Considerando a concepção de folclore manifestada no fragmento de texto acima, assinale a opção correta. a) Os folcloristas apresentam visões historicamente delineadas que são testemunhos da memória do povo e

fortalecem a continuidade do passado. b) As táticas metodológicas dos folcloristas representam uma superação do resgate teórico da sobrevivência da

cultura popular. c) A compreensão dos folcloristas sobre a cultura popular, entendendo-a como restos de uma estrutura social

que se apaga, corresponde à justificação lógica de suas análises descontextualizadas. d) Ao relacionarem a especificidade da cultura popular ao passado rural, os folcloristas conseguem perceber a

origem do sentido do resgate do povo. e) As teses folcloristas, ao contrário do que supõem os críticos, remetem-se ao resgate da memória popular,

possibilitando o conhecimento e o reconhecimento do sentido de cultura do povo. 4. (ENEM 2003) Jean de Léry viveu na França na segunda metade do século XVI, época em que as chamadas

guerras de religião opuseram católicos e protestantes. No texto abaixo, ele relata o cerco da cidade de Sancerre por tropas católicas. (…) desde que os canhões começaram a atirar sobre nós com maior freqüência, tornou-se necessário que todos dormissem nas casernas. Eu logo providenciei para mim um leito feito de um lençol atado pelas suas duas pontas e assim fiquei suspenso no ar, à maneira dos selvagens americanos (entre os quais eu estive durante dez meses) o que foi imediatamente imitado por todos os nossos soldados, de tal maneira que a caserna logo ficou cheia deles. Aqueles que dormiram assim puderam confirmar o quanto esta maneira é apropriada tanto para evitar os vermes quanto para manter as roupas limpas (...).

Neste texto, Jean de Léry a) despreza a cultura e rejeita o patrimônio dos indígenas americanos. b) revela-se constrangido por ter de recorrer a um invento de “selvagens". c) reconhece a superioridade das sociedades indígenas americanas com relação aos europeus. d) valoriza o patrimônio cultural dos indígenas americanos, adaptando-o às suas necessidades. e) valoriza os costumes dos indígenas americanos porque eles também eram perseguidos pelos católicos. 5. Uma das superstições características da cultura popular é a relativa ao mês de agosto, considerado mês de

mau agouro, quando nenhuma decisão importante deve ser tomada: não se deve fechar negócios, nem marcar casamentos ou fazer mudanças de qualquer espécie. O Jornal Correio de Uberlândia, em agosto de 2008, publicou reportagem que atestava mudanças desse comportamento, durante o referido mês, tais como: realizações de casamentos, de mudanças de residências, ou de negócios em andamento ou, ainda, salões de beleza com movimento normal para “mudanças de visual”. Considerando o enunciado acima e o conceito antropológico de cultura, marque a alternativa correta.

a) Só há pureza e autenticidade nas manifestações provindas da zona rural, não contaminadas pelas vertiginosas transformações do mundo urbano.

b) As práticas culturais não são congeladas no tempo, são partes integrantes da história e estão em processo de transformação com a própria história.

c) As manifestações culturais populares passam por um processo de descaracterização, pois para permanecerem autênticas e tradicionais devem reproduzir integralmente o passado e evitar mudanças.

d) As verdadeiras práticas tradicionais não se alteram com o tempo e são reproduzidas da mesma forma como foram originadas.

6. (Enem 2ª aplicação 2010)

A hibridez descreve a cultura de pessoas que mantêm suas conexões com a terra de seus antepassados, relacionando-se com a cultura do local que habitam. Eles não anseiam retornar à sua “pátria” ou recuperar qualquer identidade étnica “pura” ou absoluta; ainda assim, preservam traços de outras culturas, tradições e histórias e resistem à assimilação.

CASHMORE, E. Dicionário de relações étnicas e raciais. São Paulo: Selo Negro, 2000 (adaptado).

Contrapondo o fenômeno da hibridez à ideia de “pureza” cultural, observa-se que ele se manifesta quando a) criações originais deixam de existir entre os grupos de artistas, que passam a copiar as essências das obras

uns dos outros. b) civilizações se fecham a ponto de retomarem os seus próprios modelos culturais do passado,

antes abandonados. c) populações demonstram menosprezo por seu patrimônio artístico, apropriando-se de produtos

culturais estrangeiros. d) elementos culturais autênticos são descaracterizados e reintroduzidos com valores mais altos em seus lugares

de origem. e) intercâmbios entre diferentes povos e campos de produção cultural passam a gerar novos produtos e manifestações.

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7. Do ponto de vista sociológico a expressão “diversidade cultural” sustenta: a) o processo por meio do qual as classes dominantes combatem as formas de expressão dos grupos populares. b) a pluralidade de manifestações e expressões como: rituais, práticas, comemorações, lamentações, produtos,

hábitos dos grupos que constituem uma sociedade. c) a ideologia subjacente ao exercício da cidadania das classes sociais hegemônicas. d) apenas defesa dos direitos de negros, mulheres e indígenas. e) apenas os direitos de membros das classes subalternos da sociedade.

8. Assim, minha descoberta da minha própria identidade não significa que eu a encontre sozinho, mas, sim, que

eu a negoceie, em parte, abertamente, em parte, interiormente, com os outros. É por isso que o desenvolvimento de um ideal de identidade gerada interiormente atribui uma nova importância ao reconhecimento. A minha própria identidade depende, decisivamente, das minhas reações dialógicas com os outros. Charles Taylor. A Política do Reconhecimento. In: Multiculturalismo. Lisboa: Instituto Piaget, 1998, p. 54 (com adaptações). Com base no texto acima, é correto afirmar que

a) a identidade é o que os outros reconhecem como a identidade do indivíduo. b) a identidade é construída no diálogo que o indivíduo estabelece com os outros. c) a identidade somente se realiza plenamente no momento em que é comunicada a outras pessoas. d) os fatores sociais e culturais não exercem influência na descoberta da identidade do indivíduo. e) os outros

estão obrigados a reconhecer a identidade que o indivíduo constrói para si mesmo. 9. Projeto no Iraque reduz a idade mínima de casamento para xiitas mulheres para 9 anos. Xiitas iraquianas,

caso o texto seja aprovado, só poderão sair de casa com autorização do marido e deverão estar sempre disponíveis para relações sexuais. Esse tipo de notícia coloca em xeque os ungidos multiculturalistas ocidentais. Como, segundo estes, não há culturas atrasadas mas apenas “diferentes”, e porque a democracia, entendida apenas como escolha da maioria, é um valor absoluto, por que condenar quando a maioria de um povo escolhe por voto a sharia*? Chegamos ao impasse dos multiculturalistas: aceitam que cada cultura seja “apenas diferente” e que, portanto, não há bárbaros, ou constatam o óbvio, ou seja, que certas sociedades ainda vivem presas a valores abjetos, que ignoram completamente as liberdades básicas dos indivíduos. Qual vai ser a opção? (Rodrigo Constantino. “Pedofilia? No Iraque islâmico é permitido por lei!”. www.veja.com.br, 02.05.2014. Adaptado.) *Sharia: lei islâmica.

Para o autor, o conflito suscitado opõe essencialmente

a) iluminismo e racionalismo. b) democracia e estados de exceção. c) cristianismo e islamismo.

d) relativismo e universalidade. e) multiculturalismo e antropologia.

10.

O etnocentrismo pode ser definido como uma “atitude emocionalmente condicionada que leva a considerar e julgar sociedades culturalmente diversas com critérios fornecidos pela própria cultura. Assim, compreende-se a tendência para menosprezar ou odiar culturas cujos padrões se afastam ou divergem dos da cultura do observador que exterioriza a atitude etnocêntrica. (...) Preconceito racial, nacionalismo, preconceito de classe ou de profissão, intolerância religiosa são algumas formas de etnocentrismo”.

(WILLEMS, E. Dicionário de Sociologia. Porto Alegre: Editora Globo, 1970. p. 125.) Com base no texto e nos conhecimentos de sociologia, assinale a alternativa cujo discurso revela uma atitude etnocêntrica: a) A existência de culturas subdesenvolvidas relaciona-se à presença, em sua formação, de etnias de

tipo incivilizado. b) Os povos indígenas possuem um acúmulo de saberes que podem influenciar as formas de

conhecimentos ocidentais. c) Os critérios de julgamento das culturas diferentes devem primar pela tolerância e pela compreensão dos

valores, da lógica e da dinâmica própria a cada uma delas. d) As culturas podem conviver de forma democrática, dada a inexistência de relações de superioridade e

inferioridade entre as mesmas. e) O encontro entre diferentes culturas propicia a humanização das relações sociais, a partir do aprendizado

sobre as diferentes visões de mundo.

GABARITO

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 A C C D B E B B D A

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CAPÍTULO 17 - CULTURA DE MASSA E INDÚSTRIA CULTURAL

FALANDO DESDE OUTRAS PERSPECTIVAS Como foi mencionado também é preciso considerar que, dentro das ciências sociais, as perspectivas para

analisar e definir temas de pesquisa variam segundo a corrente e as escolas. Cada uma delas difere nos supostos e pontos de partida, na maneira de conceber as coisas, na maneira pela qual vão justificar as suas concepções, e assim por diante. No caso da temática de cultura, temos uma perspectiva altamente crítica para analisar: o marxismo nas suas origens e o pós-marxismo ou Escola de Frankfurt. A segunda escola é herdeira da primeira e mantém a perspectiva crítica sobre a cultura, só que se aprofunda muito mais nas formulações teóricas sobre o seu funcionamento.

Uma vez explicado isto é possível ir para o pensamento frankfurtiano, em que dois autores, fundadores da escola, fizeram uma das contribuições mais importantes sobre cultura. Eles são da corrente marxista e, como várias outras correntes, eles têm tomado parte do pensamento de Marx e interpretado de uma maneira especial. Aquelas relações de determinação por parte da realidade econômica sobre as outras dimensões da vida fazem parte de um tema de intenso debate dos intelectuais chamados marxistas. Alguns aceitam essa relação de maneira estrita e outros têm aceitado um grau de maior liberdade entre essas dimensões, dando força à econômica. Os autores Adorno e Horkheimer escreveram um livro de grande importância neste tema titulado “Dialética do esclarecimento”, dentro do qual há um capítulo ao qual vamos nos remeter, chamado “A indústria cultural”.

O QUE QUER DIZER INDÚSTRIA CULTURAL?

Este conceito foi proposto pelos autores mencionados como uma ferramenta explicativa com a qual tentaram compreender como funciona a dimensão cultural das sociedades, em casos nos quais eles acreditavam que acabariam contribuindo para regimes de dominação. Vamos explicar um pouco melhor isto. Adorno e Horkheimer escreveram esse livro no ano 1944, sendo testemunhos do holocausto Nazi, de vários regimes autoritários da Itália, Iugoslávia, França, Alemanha, entre outros. Os níveis de terror que essas experiências históricas mostraram para estes intelectuais fizeram com que eles se perguntassem por que as pessoas de uma população ou de uma sociedade aceitavam esse tipo de coisas por parte dos governos. Assim eles começaram a pensar de maneira mais profunda as formas pelas quais a cultura entra nessa equação e funciona em favor desses regimes autoritários.

É importante lembrar que para estes autores não se trata somente de como a dimensão cultural foi utilizada para trabalhar em favor de ditaduras, mas também em países democráticos, contribuindo com formas de ordenamentos políticos diferentes. Eles são por excelência grandes críticos dos Estados Unidos, pois eles veem que as pessoas estão deixando de serem indivíduos – no sentido de pessoas livres para escolher, estudar, criticar, criar – para serem principalmente consumidores. Eles deixaram para trás maneiras de agir e de construir a sua identidade e passaram a definir a sua identidade simplesmente pelo consumo de bens e produtos culturais cada vez mais restritos.

Agora estamos mais perto da ideia de indústria cultural. Adorno e Horkeimer usaram esse termo para demonstrar como é possível que uma dimensão da vida humana, a cultura, tenha se convertido em uma indústria, produzindo aquilo que é necessário, determinado pelo produtor, na quantidade e do tipo necessário. Eles fazem uma analogia entre a dimensão cultural e a indústria para destacar o fato de que ela é gerenciada pelas necessidades daquele que a possui. E segundo eles, a indústria cultural se encontra a serviço dos interesses dominantes nos níveis econômicos e políticos. A cultura como conjunção de: símbolos, significados, maneiras de ser, de sentir, de compreender o mundo, de se expressar, a música, a arte, a filosofia, a estética, etc., encontra-se dominada pelos interesses mencionados. E ela funciona assim como um fator que produz legitimidade dos regimes políticos, sejam eles ditaduras ou democracias, porque tanto em um como em outro, a necessidade de legitimidade é igual.

Estes autores pensam que o momento da segunda guerra mundial e a pós-guerra se encontra dominado pela irracionalidade. Eles definem o nazismo, entre outros regimes, como irracional, já que se trata de uma maneira de pensar sobre as pessoas – no caso dos judeus, das pessoas de raça negra, dos ciganos – como inferiores ao resto das pessoas. Isto não tem fundamento nenhum, ou seja, é irracional. O caso dos Estados Unidos também se encontra dominado pela irracionalidade, já que as pessoas têm esquecido todas as outras manifestações culturais fora das promovidas pelo capitalismo. Convertidos em simples consumidores, os cidadãos se conformam com os filmes mais conhecidos do cinema e com os livros mais vendidos, todos procuram comprar os mesmos carros, as mesmas roupas e sapatos. Assim, para Adorno e Horkheimer, a indústria cultural também está funcionando nos Estados Unidos, já que está funcionando somente em beneficio dos grandes capitalistas, quando, antes, a cultura tinha funcionado para denunciar o mal-estar, as opressões dos seres humanos, diferentes maneiras de pensar. Agora tudo isso está sumindo, deixando a cultura como uma caixa de ferramentas para construir legitimidade e acalmar, por meio do consumo, as populações, para elas não se preocuparem com as questões políticas, sociais, etc.

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Embora complexo este pensamento tem muito a contribuir, já que ele abandona a ideia de que cultura deve ser respeitada sem ser questionada, ou seja, ela deve ser analisada e interrogada, para poder identificar diferentes interesses que estejam por trás. A grande contribuição do Marx e da Escola de Frankfurt é ter nos revelado que a cultura não é alheia aos interesses econômicos e políticos. Mas não podemos cair em uma posição reducionista e pensar que é completamente determinada por eles. Deve-se entender que grande parte da complexidade das sociedades humanas faz com que todas as dimensões da vida se permeiem. Assim, o ganho da atitude crítica do marxismo e da sociologia em geral é perder o olhar ingênuo sobre as coisas, permitindo um questionamento profundo que identifique relações de dominação que funcionem em todos os âmbitos e momentos. Não é justificado pensar que consumimos somente aquilo que é determinado pela indústria cultural, porque é verdade que temos a opção de comprar coisas diferentes, de ver filmes e ler livros alternativos. Mas que também é nossa escolha se queremos consumir aquilo que é o mais consumido e publicado. O importante é que seja produto de uma escolha crítica e pessoal e não determinada somente por outras pessoas ou pela influência de propagandas e publicidades.

Portanto, quando falamos em cultura e, principalmente em cultura de massa e indústria cultural a coisa não é diferente. O que sempre vai estar em jogo é a manipulação dos valores e padrões estéticos visando ao controle das massas. Contudo, as classes sociais podem ter suas percepções e visões de mundo e também propagá-las. Dessa forma, a Indústria cultural é o nome dado à empresas e instituições que trabalham com a produção de projetos, canais, jornais, rádios, revistas e outras formas de descontração, baseadas na cultura, visando o lucro. Sua origem se deu através da sociedade capitalista que transformou a cultura num produto comercializado.

CULTURA DE MASSA E NDÚSTRIA CULTURAL

A partir do final do século XX, a industrialização em larga escala atingiu, também, os elementos da cultura erudita (pertence a uma elite que pode ter acesso ao saber associado à escrita, aos livros, ao estudo) e da cultura popular (aquela de senso comum produzida e consumida pela própria população, sem necessita de técnicas racionalizadas e científicas, transmitida oralmente, registrando as tradições e os costumes de um determinado grupo social), dando inicio à “indústria cultural”.

O incessante desenvolvimento da tecnologia, tornando-a cada vez mais sofisticada, principalmente nos meios de comunicação (fotografia, disco, cinema, rádio, televisão, etc.), passou a atingir um grande número de pessoas, dando origem à “cultura de massa”.

Ao contrário das culturas erudita e popular, a cultura de massa não está ligada a nenhum grupo social especifico, pois é transmitida de maneira industrializada, para um público generalizado, de diferentes camadas socioeconômicas. O que temos, então, é a formação de um enorme mercado de consumidores em potencial, atraídos pelos produtos oferecidos pela indústria cultural. Esse mercado constitui, no que chamamos de “sociedade de consumo”.

Com a industrialização dos elementos da cultura erudita e da popular, o produto cultural irá se apresentar de uma forma esteticamente nova e diferente. Podemos tomar como exemplo a gravação de uma sinfonia de Beethoven executada com o auxilio de sintetizadores e outros aparelhos de alta tecnologia, cujo ritmo e som diferentes quase original uma nova obra.

A indústria cultural, utilizando-se dos meios de comunicação, primeiramente lança seu produto em grande quantidade (milhares, milhões de discos, por exemplo) e depois induz as pessoas a consumirem esse produto, apelando para outras razões além de seu valor artístico. A cultura de massa, ao divulgar através dos MDCM produtos culturais de diferentes origens (erudita ou popular), possibilita o seu conhecimento por diferentes camadas sociais, criando também um campo estético próprio e atraente voltado para o consumo generalizado da sociedade. M.D.C.M. – INSTRUMENTOS DE PODER

Vivemos nessa era interligada em que pessoas de todo o planeta participam de uma única ordem informacional uma situação que é, em grande parte, resultado do alcance internacional das comunicações modernas. As transformações na mídia ou nas comunicações de massa contribuem radicalmente na alteração da vida das pessoas e suas relações no meio sócio-cultural.

Quando se fala em mídia de massa ou comunicação de massa está se referindo a uma ampla variedade de formas de meios de comunicação que abrange um volume de audiência enorme e que envolve milhões de pessoas em toda uma sociedade moderna e globalizada como a nossa. São m.d.c.m.: a televisão, os jornais, o cinema, as revistas, o rádio, a publicidade, vídeos games, CDs, internet, celulares e etc.

A mídia de massa não pode mais ser vista como um simples meio de entretenimento, como se fosse algo que não interferisse na vida das pessoas; as comunicações de massa são instrumentos de informação que influência em nossa forma de pensar e agir, atingindo o comportamento individual, social, cultural e institucional; como o caso da alteração de valores sociais dos jovens, as banalidades de questões sociais (pobreza, desemprego, violência, corrupção) e a opinião pública (posicionamento reflexivo e prático das pessoas em determinadas situações especificas sobre questões socioeconômicas, política-jurídico e cultural-ideológica).

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Os donos dos M.D.C.M. são os novos donos de um poder moderno e tecnológico, pois eles têm em suas mãos instrumentos que podem influenciar, controlar, manipular ou interferir nas estruturas sociais, seja nas instituições sociais, econômicas ou políticas; a mídia de massa tem dono, são grupos de pessoas que vivem de lucro, logo suas empresas estão a serviço de seus interesses, que com certeza não é o da sociedade como um todo. Os mdcm são os parceiros número um do capitalismo. A mídia exerce seu poder de uma forma ideológica, camuflando suas intenções através de várias apresentações de marketing sistematicamente e intensivamente até “inculca” na cabeça das pessoas perspectivas alheias aos seus próprios interesses isso acontece dentro de comerciais, novelas, filmes, desenhos, programas, séries, telejornais ou jornais escritos, revistas, rádios e etc. Quase imperceptível, principalmente aos olhos e ouvidos de pessoas sem instrução intelectual.

M.D.C.M: “APOCALÍPTICOS” X “INTEGRADOS”

Os teóricos se divergem quando se fala da influência dos m.d.c.m na sociedade, existem os apocalípticos, que são autores que criticam os meios de comunicação de massa e, os “integrados” que elogiam os mdcm.

Entre os motivos para criticar os mdcm, segundo os “apocalípticos” estariam: *A veiculação que eles realizam de uma cultura homogênea (que não considera as diferenças culturais e

padroniza o público); *O seu desestimulo à sensibilidade; *O estimulo publicitário (criando, junto ao público, nova necessidade de consumo – consumismo); *A sua definição como simples lazer e entretenimento, desestimulando o público a pensar, tornando-o

passivo e conformista. Entre os motivos que estariam para elogiar os mdcm, apontados pelos “integrados”, estariam: *Serem os mdcm a única fonte informação possível a uma parcela da população que sempre esteve

distante das informações; *As informações veiculadas por eles podem contribuir para a própria formação intelectual do público; *A padronização de gosto gerada por eles funciona como um elemento unificador das sensibilidades dos

diferentes grupos. Os “apocalípticos” estariam equivocados por considerarem a cultura de massa ruim simplesmente por seu

caráter industrial, não se pode ignorar que a sociedade atual industrial e que as questões estruturais tem que ser pensadas a partir dessa constatação.

Os “integrados” estariam errados por esquecerem que normalmente a cultura de massa é produzida por grupos de poder econômico com fins lucrativos, o que significa a tentativa de manutenção dos interesses desses grupos através dos próprios mdcm. Além disso, não é pelo fato de veicular produtos culturais que a cultura de massa deva ser considerada naturalmente boa, como querem os “integrados”.

CULTURA, IDEOLOGIA, MDCM E ALIENAÇÃO

Tanto o conceito de cultura como o de ideologia tem como questão explicita ou implícita pensar a relação “ideias versus contexto”, isto é, como se relaciona o campo das ideias e das representações que os homens constroem sobre a sociedade (o chamado universo simbólico) e o campo da produção e reprodução material dessa sociedade.

Existe uma distinção e complexa relação entre a cultura e ideologia. De maneira geral, a critica que se faz ao conceito de cultura é a de que ele não trabalha satisfatoriamente com a questão da política, do poder. Com a relação ao conceito de ideologia, o que se contesta nele é a submissão que estabelece do simbólico ao econômico, como se o simbólico fosse uma mera reprodução jurídica, moral, ética, estética, dos preceitos econômicos de uma dada sociedade.

A cultura e a ideologia são dois elementos essenciais que estão relacionados à aspectos políticos e econômicos. Podemos encontrar em nossa sociedade modos de agir, pensar e sentir influenciados por determinações ideológicas, bem como, alterações ideológicas por influencias culturais.

Segundo o pensador marxista, Antonio Gramsci, em seu conceito de hegemonia, expressa a cultura como um processo social global, no qual os homens determinam suas vidas (sua forma de pensar, sentir, agir); e pensava na ideologia como um sistema de valores e significados que expressam ou projetariam os interesses de uma classe em particular.

Os meios de comunicação veiculam uma vida ideal – prazer, dinheiro, saúde, felicidade familiar, aventura, riqueza, juventude bonita e etc – a um público que, em sua grande maioria, não pode conquista-la. Por outro lado, as mensagens veiculadas parecem ter efeito de conformar a população a se satisfazer com imagens.

Os m.d.c.m., principalmente a televisão, vendendo imagens, ideias, valores e produtos, inacessíveis a maioria do povo, atuariam como um instrumento de alienação e conformidade das verdades e mentiras (que ser humano já não sabe distinguir). Esses instrumentos tentam manipular e controlar a opinião pública, reforçando a ideologia da classe dominante. Os programas jornalísticos passam informações fragmentadas sem a possibilidade de relaciona-los como se fossem coisas independentes: notícias de esporte, de política, economia, natureza, etc.

Como o consumo alienado não é um meio, mas um fim em si torna-se um poço sem fundo, desejo nunca satisfeito, um sempre querer mais. A ânsia do consumo perde toda relação com as necessidades reais do homem, o que faz com que as pessoas gastem sempre mais do que têm. Os m.d.c.m. contribuem para a estimulação artificial do consumo, que é a aquisição de objetos sem necessidades úteis: compra-se livro e você não lê, compra-se roupas que nem veste, etc.

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O próprio comércio facilita tudo isso com as prestações, cartões de crédito, liquidações e ofertas de ocasião, “dia das mães”, “dia dos pais”, “dia das crianças”, etc. O mercado usa a obsolescência programada para que o consumidor faça o rodízio de substituição de seus produtos, isto é, os produtos já tem um durabilidade programada e devem ser substituídos porque já quebrou ou porque seu design é antiquado.

A existência de grande parcela da população com baixo poder aquisitivo, reduzida apenas ao desejo de consumir, é conformada por um mecanismo da própria sociedade que impedem a tomada de consciência: as pessoas têm a ilusão de que vivem numa sociedade de mobilidade social e que, pelo empenho no trabalho, pelo estudo, há possibilidade de mudança, ou seja, “um dia eu chego lá...”, e se não chegam, “é por que não tiveram sorte ou competência”.

Por outro lado, uma série de escapismos na literatura e nas telenovelas fazem com que as pessoas realizem suas fantasias de forma imaginária, isto sem falar na esperança semanal da Loto, Sena, jogo do bicho, rifas, bingos e demais loterias. Além disso, há sempre o recurso ao ersatz, ou seja, a imitação barata da roupa, da jóia, etc.

ARASE NO ENEM

1. Leia a tirinha com atenção.

Disponível em: <http://sapatilhando.wordpress.com/page/5/>. Acessado em: 10/06/2012.

Se dividirmos a história em quadrinhos, veremos que no começo a Mafalda está brava porque a televisão só fala de “use”, “compre”, “coma”, etc. Ela se sente ofendida pela maneira que a televisão concebe as pessoas e por isso tenta influenciar nas suas escolhas. Mas, depois de desligar a televisão, ela fica se perguntando mesmo o que as pessoas efetivamente são. E aí liga novamente a televisão. Como é possível explicar o sentimento de Mafalda? Escolha a opção que seja mais acertada segundo o seu critério:

a) Mafalda acredita que somos nós que definimos o que a televisão vende, oferece e promove. Sendo assim ela fica triste porque nós deveríamos assistir mais a televisão para poder influenciá-la.

b) Mafalda se sente ofendida porque a televisão não pensa sobre nossa identidade e acaba oferecendo qualquer tipo de produto sem considerar as diferenças entre as pessoas.

c) A televisão não oferece quantidade suficiente de opções para escolher segundo nossa vontade. Sendo assim Mafalda fica brava pelo fato de não ter opções apropriadas para ela.

d) Mafalda se sente triste porque a contínua oferta de produtos de maneira indiferente pela televisão demonstra que as pessoas não têm uma definição própria de quem são e do que desejam da vida.

2. (ENEM 2017) Mas assim que penetramos no universo da web, descobrimos que ela constitui não apenas um

imenso "território" em expansão acelerada, mas que também oferece inúmeros "mapas", filtros, seleções para ajudar o navegante a orientar-se. O melhor guia para a web é a própria web. Ainda que seja preciso arriscar-se a ficar perdido, aceitar "a perda de tempo" para familiarizar-se com esta terra estranha. Talvez seja preciso ceder por um instante a seu aspecto lúdico para descobrir, no desvio de um link, os sites que mais se aproximam de nossos interesses profissionais ou de nossas paixões e que poderão, portanto, alimentar da melhor maneira possível nossa jornada pessoal.

LÉVY, P. Cibercultura. São Paulo. Editora 34, 1999. O usuário iniciante sente-se não raramente desorientado no oceano de informações e possibilidade disponíveis na rede mundial de computadores. Nesse sentido, Pierre Lévy destaca como um dos principais aspectos da internet o(a) a) espaço aberto para aprendizagem. b) grande número de ferramentas de pesquisa. c) ausência de mapas ou guias explicativos. d) infinito número de páginas virtuais. e) dificuldade de acesso ao site de pesquisa.

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3. “Tudo indica que o termo ‘indústria cultural’ foi empregado pela primeira vez no livro Dialética do

esclarecimento, que Horkheimer [1895-1973] e eu [Adorno, 1903-1969] publicamos em 1947, em Amsterdã. (...) Em todos os seus ramos fazem se, mais ou menos segundo um plano, produtos adaptados ao consumo das massas e que em grande medida determinam esse consumo”. (ADORNO, Theodor W. A indústria cultural. In:

COHN, Gabriel (Org.). Theodor W. Adorno. São Paulo: Ática, 1986. p. 92.) Com base no texto acima e na concepção de indústria cultural expressa por Adorno e Horkheimer, é correto afirmar: a) Os produtos da indústria cultural caracterizam-se por ser a expressão espontânea das massas. b) Os produtos da indústria cultural afastam o indivíduo da rotina do trabalho alienante realizado em

seu cotidiano. c) A quantidade, a diversidade e a facilidade de acesso aos produtos da indústria cultural contribuem para a

formação de indivíduos críticos, capazes de julgar com autonomia. d) A indústria cultural visa à promoção das mais diferentes manifestações culturais, preservando as

características originais de cada uma delas. e) A indústria cultural banaliza a arte ao transformar as obras artísticas em produtos voltados para o consumo

das massas. 4. Leia atentamente o poema, intitulado Eu, etiqueta, de autoria de Carlos Drummond de Andrade:

Meu blusão traz lembrete de bebida que jamais pus na boca, nesta vida. Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro, minha gravata e cinto e escova e pente, meu copo, minha xícara, minha toalha de banho e sabonete, meu isso, meu aquilo, desde a cabeça ao bico dos sapatos, são mensagens, letras falantes, gritos visuais, ordens de uso, abuso, reincidência, costume, hábito, premência, indispensabilidade, e fazem de mim homem-anúncio itinerante, escravo da matéria anunciada.

Não sou – vê lá – anúncio contratado. Eu é que mimosamente pago para anunciar, para vender em bares festas praias pérgulas piscinas, e bem à vista exibo esta etiqueta global no corpo que desiste de ser veste e sandália de uma essência tão viva independente, que moda ou suborno algum a compromete. Hoje sou costurado, sou tecido, sou gravado de forma universal, saio da estamparia, não de casa, da vitrina me tiram, recolocam, objeto pulsante mas objeto que se oferece como signo de outros objetos estáticos, tarifados. Por me ostentar assim, tão orgulhoso de ser não eu, mas artigo industrial.

Assinale a alternativa incorreta: a) O poema faz referência direta ao conceito de cultura de massa, que segundo Adorno é uma forma de controle

da consciência pelo emprego de meios como o cinema, o rádio ou a imprensa. b) De acordo com a Escola de Frankfurt o surgimento da cultura de massa, em meados do século passado,

deveu-se em grande parte ao desenvolvimento do projeto iluminista que desencadeou uma crise ética e epistemológica dando origem por fim a já referida cultura de massa.

c) A Revolução Industrial não foi apenas um conjunto de inovações técnicas, mas uma forma de dominação e controle do tempo do trabalhador, essa dominação se dá por meio da disciplina e da indústria cultural.

d) O produto da indústria cultural não pode ser considerado arte em sentido estrito, já que ela tende a padronização, a ausência de conteúdo, e o apelo ao mercado.

e) A cultura de massa tem o papel de difundir por meio do mercado as culturas regionais, contribuindo para a emancipação do homem.

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5. (ENEM 2017)

O consumidor do século XXI, chamado de novo consumidor social, tende a se comportar de modo diferente do consumidor tradicional. Pela associação das características apresentadas no diagrama, infere-se que esse novo consumidor sofre influência da a) cultura do comércio eletrônico. b) busca constante pelo menor preço. c) divulgação de informações pelas empresas.

d) necessidade recorrente de consumo. e) postura comum aos consumidores tradicionais.

6.

“O homem político poderia ser ele mesmo. Autenticamente. Ele prefere parecer. Ainda que lhe seja preciso simular ou dissimular. Compondo um personagem que atraia atenção e impressione a imaginação. Interpretando um papel que é por vezes um papel composto. De modo que, recorrendo a um vocabulário colhido no teatro, fala-se em ‘vedetes’, outrora em ‘tenores’, sempre em ‘representação política’”.

Fonte: SCHWARTZENBERG, R. O Estado Espetáculo. Tradução de Heloysa de Lima Dantas, Rio de Janeiro-São Paulo: Difel, 1978, p. 7. Com base no texto e nos conhecimentos sobre os temas Indústria Cultural e Política, é correto afirmar: a) Na atualidade, a arte de dissimular dos políticos está cada vez menos evidente e, com base nela, os eleitores

escolhem seus candidatos. b) Através da imagem construída pelo candidato se pode distinguir claramente sua ideologia. c) Na era das comunicações, o indivíduo torna-se cada vez mais informado, portanto, mais imune à propaganda,

inclusive à propaganda política. d) No Brasil, a indústria cultural torna manifestações como o teatro, a literatura, a música popular e as artes

plásticas, livres de qualquer traço de mediocridade por ter conotação ideológica. e) A indústria cultural repousa sobre a produção de desejos, imagens, valores e expectativas, por isso somos

cada vez mais suscetíveis à propaganda política. 7.

A influência cultural não se exerce apenas sobre as elites, mas sobre a massa. Chegou por meio do cinema, das histórias em quadrinhos, da música popular, do rádio e da TV, não pela literatura, pela filosofia ou pela ciência. Foram os meios de comunicação de massa, e os produtos do consumo, que deram o tom dessa influência.

COSTA, Cristina. Sociologia: introdução à ciência da sociedade. 2. ed. São Paulo: Moderna. 1997. Após a análise do texto acima, é correto afirmar: a) o processo de integração mundial, chamado globalização se dá através das relações econômicas entre os

países que se organizam em blocos, não tendo portanto uma dimensão política, social e cultural. b) a globalização lida com mentalidades, hábitos, estilos de comportamento, usos e costumes e com modos de

vida. Lida com a massificação e a homogeneização cultural. c) a solidariedade é uma característica fundamental do processo de globalização, em virtude da interação

cultural entre povos e nações e do encurtamento das distâncias. d) a influência cultural não ocorre na fase da infância, visto que a criança não tem habilidade de incorporar

valores a não ser os transmitidos pelo ambiente familiar.

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8. A frase "a indústria cultural vende mercadorias, vende imagens do mundo e faz propaganda deste mundo tal qual ele é e para que ele assim permaneça", faz uma critica relacionada à cultura

a) erudita. b) de jovem. c) popular. d) de massa.

9. (ENEM 2016) Não estou mais pensando como costumava pensar. Percebo isso de modo mais acentuado quando estou lendo. Mergulhar num livro, ou num longo artigo, costumava ser fácil. Isso raramente ocorre atualmente. Agora minha atenção começa a divagar depois de duas ou três páginas. Creio que sei o que está acontecendo. Por mais de uma década venho passando mais tempo on-line, procurando e surfando e algumas vezes acrescentando informação à grande biblioteca da internet. A internet tem sido uma dádiva para um escritor como eu. Pesquisas que antes exigiam dias de procura em jornais ou na biblioteca agora podem ser feitas em minutos. Como disse o teórico da comunicação Marshall McLuhan nos anos 60, a mídia não é apenas um canal passivo para o tráfego de informação. Ela fornece a matéria, mas também molda o processo de pensamento. E o que a net parece fazer é pulverizar minha capacidade de concentração e contemplação.

CARR, N. Is Google making us stupid? Disponível em: www.theatlantic.com. Acesso em: 17 fev. 2013 (adaptado). Em relação à internet, a perspectiva defendida pelo autor ressalta um paradoxo que se caracteriza por a) associar uma experiência superficial à abundância de informações. b) condicionar uma capacidade individual à desorganização da rede. c) agregar uma tendência contemporânea à aceleração do tempo. d) aproximar uma mídia inovadora à passividade da recepção. e) equiparar uma ferramenta digital à tecnologia analógica. 10. (ENEM 2016) Hoje, a indústria cultural assumiu a herança civilizatória da democracia de pioneiros e

empresários, que tampouco desenvolvera uma fineza de sentido para os desvios espirituais. Todos são livres para dançar e para se divertir, do mesmo modo que, desde a neutralização histórica da religião, são livres para entrar em qualquer uma das inúmeras seitas. Mas a liberdade de escolha da ideologia, que reflete sempre a coerção econômica, revela-se em todos os setores como a liberdade de escolher o que é sempre a mesma coisa.

ADORNO, T; HORKHEIMER, M. Dialética do esclarecimento: fragmentos filosóficos. Rio de Janeiro:Zahar, 1985

A liberdade de escolha na civilização ocidental, de acordo com a análise do texto, é um(a) a) legado social. b) patrimônio político. c) produto da moralidade.

d) conquista da humanidade. e) ilusão da contemporaneidade.

GABARITO

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 D A E E A E B D A E

CAPITULO 18 - SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO: RELIGIÃO E RELIGIOSIDADE

INTRODUÇÃO

A religião para os sociólogos é uma atividade muito desafiadora, pois necessita de uma analise pura e objetiva, das diversas crenças existentes. Para o estudo sociológico da religião, se faz necessário uma sensibilidade da qual possibilite uma visão equilibrada das convicções religiosas. A religião para muitos é dada como um sistema cultural que envolve crenças e rituais.

Segundo Anthony Giddens, a religião é uma forma de cultura. A cultura consiste em crenças, normas, ideias e valores compartilhados que criam uma ideia comum entre grupo de pessoas. Ela compartilha todas as características. Para ele, a religião envolve crenças que assumem a forma de praticas ritualizada. Todas as religiões, portanto, tem um aspecto comportamental - atividades especiais de que os fieis participam e que identificam como membros da comunidade religiosa.

A religião historicamente é objeto de estudo. Para a sociologia clássica e para seus três grandes teóricos, a religião é uma é uma instituição social que no decorrer dos tempos e com o advento dos tempos modernos, sua significância tradicional diminuiria.

Para Karl Marx; A religião consiste basicamente em concepções culturais produzidos pelo homem e que este mesmo sujeito, atribui a seres divinos. Para ele os seres humanos não conseguem se autocompreender, eles, então, recorrem a um ser superior que é o “todo poderoso” amoroso, perfeito, onipresente, onipotente. Enquanto o ser humano é falho, repleto de imperfeições.

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Marx nunca escreveu sobre o assunto, mas suas principais ideias são baseadas em Ludwing Feuerbach que é um grande autor teológico e filosófico do assunto. Feuerbach atribui à religião o conceito de “alienação” para classificar essa devoção a forças divinas, maiorais, transcendentais que segundo ele é criado pelo próprio ser humano, mas atribuído a seres divinos. Para Feuerbach a compreensão das religiões traria aos seres humanos uma esperança, esperança essa real, quando os seres humanos entenderem realmente que esses valores e essas divindades existentes são construções culturais, feita por eles próprios e que podem ser executadas por aqui mesmo (Terra), deixa de haver uma espera e passa a ter uma efetivação concreta; os seres humanos a partir daí podem se apropriar dos poderes do cristianismo e realizar aqui mesmo na terra, o que segundo o conceito de alienação seria postergado para outras vidas.

Marx declara ainda que a religião é o opoio do povo, segundo sua celebre declaração, Marx atribui a religião como um “freio social”, ou seja, com a exaltação de uma felicidade e gratificações para outra vida, e assim haverá uma resignação aqui na terra das desigualdades sociais, das injustiças. Com um forte teor ideológico a religião em meio a uma sociedade extremamente desigual é em grandes casos uma válvula de escape.

Emile Durkheim passa boa parte de sua vida intelectual estudando acerca do assunto, todavia em seus primeiros trabalhos disse que não apreciava sua significância social. Já Max Weber, voltou seus olhares para estudar as principais religiões mundiais. Em sua célebre obra “A ética protestante e o espírito do capitalismo”, Weber busca compreender o impacto do cristianismo no ocidente. Weber foca muito na questão da mudança social, para ele a religião tem um papel fundamental nessa mudança, religião segundo ele, está longe de ser uma fonte conservadora da sociedade, ao contrário de Marx ele acredita que a religião é um grande ponto de mudanças sociais, um forte exemplo, é no sec. XVI na Europa com as reformas religiosas que promoveram uma grande mudança significativa. No empreendedorismo, no capitalismo em si, os então “protestantes” especificamente os calvinistas, acreditavam que se fossem bem sucedidos nos seus investimentos era um sinal de “bençãos divinas”, ou seja, acreditavam numa espécie de favoritismo divino.

Todavia as religiões orientais podem ser obstáculos ao desenvolvimento econômico industrial, uma vez que estas pregavam por doutrinas que evidenciavam que seus fieis abdicassem de bens materiais, e volte para um plano superior de existência espiritual. Para Weber o cristianismo é a religião da salvação, que perpassa desde as mudanças de dogmas religiosos existentes, até o aspecto contestatório que veio com a “nova” religião. Dotada de formas revolucionarias, o cristianismo, trouxe o evangelho da salvação, que outrora nas outras religiões não estava presente, contribuindo assim para uma mudança na ordem existente.

RELIGIÃO Ao longo de milhares de anos, a religião tem evidenciado um importante papel na vivência dos seres

humanos. Apesar da universalidade que caracteriza o fenômeno religioso, de uma forma ou outra, a religião marca presença em todas as sociedades humanas, influenciando a forma como vemos e reagimos ao meio que nos rodeia.

Não existe uma definição de religião genericamente aceita, a sua concepção varia naturalmente de sociedade para sociedade, cultura para cultura.

Não obstante a isto, pode-se enumerar algumas das principais características "comuns" ou "partilhadas" entre todas as religiões:

Tradicionalmente, as diferentes religiões evidenciam um sistema de crenças no sobrenatural, envolvendo majoritariamente Deuses ou divindades.

Implicam igualmente um conjunto de símbolos; sentimentos e práticas religiosas. Paralelamente, a religião apresenta-se como um fenômeno social e não apenas individual. O referido

atributo de fenômeno social atribuído à religião perpetua-se através das cerimônias habituais, que decorrem predominantemente em locais de culto indicados para tal: igrejas, templos ou santuários.

Resumidamente, apresentam-se os principais indicadores comuns às várias religiões, que contribuem para uma melhor compreensão do fenômeno religioso: - A tendência para a sacralização de determinados locais; - A forte interação com o divino; - A exposição de grandes narrativas que explicam, legitimam e fundamentam o começo do mundo e sua existência.

A SECULARIZAÇÃO

Em épocas passadas, até mesmo pouco tempo atrás, era a influência da igreja um aspecto notável na sociedade, fosse ao âmbito social, político, a igreja essa senhora de tantas posses um sinônimo de prestígio e poder. Mas o que é a secularização? Para pensadores como Marx, Weber e Durkheim, o processo de secularização consiste em torno de um desaparecimento da religião tradicional, que não encontraria fretas para exercer influência numa sociedade tida como “Moderna”. Na medida em que as sociedades atuais buscassem respostas para suas interrogações mais rotineiras que fossem nas ciências e nas tecnologias, a religião sofreria assim certo processo de perda de influência social.

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Pesquisas apontam uma queda significativa na assiduidade de “Fieis” a igrejas ou outros órgãos religiosos. Todavia as pesquisas também mostram que a queda em práticas ritualizadas, caiu sim, porém a crença não, o que nos leva a crer, que há sim uma desmotivação, dos indivíduos em relação ao “participar”, mas uma aceitação do crer, o que colabora com a imagem de uma “crença sem pertencimento”. Religiosidade sem religião Existe também os oponentes da tese da secularização, que acreditam que a religião ainda é uma força significativa, embora de formas novas e desconhecidas, que engloba o caso da diversidade religiosa atualmente. Para os defensores da secularização, esses “Novos” movimentos religiosos, que nem são tão novos assim, possuem estruturas periféricas, na medida em que exercem suas influências, apenas no seu meio e não na sociedade como um todo. Outro aspecto utilizado pelos defensores na hora de elaborar seus argumentos é o da rotatividade, ou seja, as pessoas no momento em que se sentem atraídas para outro movimento, deixam de lado sua crença, digamos assim e passam a vivenciar outro movimento religioso, o que nas religiões tradicionais era mais sólido, deixa de ser nos “Novos Movimentos”.

O debate sociológico acerca do conceito de secularização é muito extenso e por vezes complexo, pelo fato do pouco consenso entorno da tese e de como deve ser abordada. Sabemos que atualmente a religião já não exerce tanta influência no meio social, mas o que explica isso? A explicação é complexa como falei anteriormente, e não se conhece o processo desde os primórdios. O que podemos afirmar neste pequeno artigo é o caso dos “Países” desenvolvidos, que pode ser explicado pelo avanço das ciências e o uso constante das tecnologias e até mesmo a menor importância em uma vida familiar e das tradições sociais e valores religiosos que outrora era passado de “Pai para filho”.

Avaliando a secularização Outra dúvida recorrente em torno da secularização é como deve ser avaliada. A secularização pode ser

avaliada de diversas maneiras, algumas de origem bem pragmática como é o caso do “Nível de participação” como a utilização de registros, que podem relatar qual o número de indivíduos inseridos na religião ou outro órgão religioso, o número de praticantes e não praticantes.

A segunda dimensão de análise aborda a observância de quanto às igrejas e outras organizações religiosas mantém influência social, riqueza e prestígio em comparação com épocas passadas, que sabemos quão grande era o poder exercido por instituições religiosas e saber até que ponto isso ainda ocorre? E como ocorre. Terceira e última dimensão envolve crenças, valores a religiosidade. Sabemos que existem pessoas com crenças fortes e sem pertencimento, também sabemos que existem pessoas que vão a instituições religiosas simplesmente porque alguém vai ou por força do hábito, mas sem crenças e valores fortes, nosso enfoque agora é a religiosidade, analisar com afinco as crenças, os rituais e os valores dos indivíduos é uma tarefa essencial.

O SIMBOLISMO RELIGIOSO

Independentemente do tipo de comunicação, os símbolos têm outras modalidades de influência sobre a vida social, principalmente porque servem para concretizar, tornar visuais e palpáveis realidades abstratas, mentais ou morais, da sociedade.

A finalidade do simbolismo religioso O simbolismo religioso tem como fim ligar o homem a uma ordem supranatural ou sobrenatural. Mas pode

sustentar-se que o simbolismo religioso não deixa de ser profundamente social. O simbolismo religioso alimenta-se do contexto social, que exprime realidades sociais, que tem alcance e consequências sociais. Assim, serve para distinguir os fieis dos não-fieis, o clero dos fieis, os lugares sagrados dos lugares profanos, os objetos puros dos impuros, etc. Configura desse modo a própria textura da sociedade, para construir hierarquias, seja pelo vestuário, por ritos, sacramentos, sinais invisíveis, a religião é rica em símbolos que dividem para melhor reunir.

Se a religião é dotada de símbolos diversos, é porque faz referência a um universo invisível, inacessível diretamente, devendo, portanto, seguir a vida simbólica para manter o homem em contato com esse universo.

A sociedade e a sua complexa organização não poderiam existir e perpetuar-se, tal como a religião, sem o contributo multiforme do simbolismo, tanto pela participação ou identificação que ele favorece como pela comunicação de que é instrumento.

Pode-se dizer, então, que os símbolos servem: Para ligar os atores sociais entre si, por intermédio dos diversos meios de comunicação que põem ao seu

serviço; Servem igualmente para ligar os modelos aos valores, de que são a expressão mais concreta e mais

diretamente observável; Por último, os símbolos recriam incessantemente a participação e a identificação das pessoas e dos

grupos às coletividades e estabelecem constantemente as solidariedades necessárias à vida social. Por intermédio dos símbolos, o universo ideal de valores passa para a realidade, torna-se,

simultaneamente, visibilidade e crença social.

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ARRASE NO ENEM

1. Dentre as alternativas a seguir, identifique aquela que apresenta uma situação que NÃO está de acordo com o princípio do Estado laico.

a) Crucifixo afixado em paredes de instituições públicas. b) O Estado adota um tratamento igual para com todas as denominações religiosas. c) Normas constitucionais e legais sem base em princípios religiosos. d) Poder político e poder religiosos são separados. e) A participação em programas sociais públicos independe da confissão religiosa. 2. Fragmento textual 1 “[...] Neste dia, nós viemos proclamar um fim aos conflitos mesquinhos e falsas promessas, às recriminações e dogmas desgastados que por muito tempo estrangularam nossa política. Ainda somos uma nação jovem, mas, nas palavras da Escritura, chegou a época de deixar de lado essas coisas infantis. Chegou a hora de reafirmar nosso espírito de resistência para escolher nossa melhor história; para levar adiante o dom preciso, a nobre ideia passada de geração em geração: a promessa divina de que todos são iguais, todos livres e todos merecem buscar o máximo de felicidade [...]”

Disponível em:<http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,veja-a-integra-do-discurso-de-posse deobama,310201,0.htm>. Acesso em: 15 jun. 2009.

Fragmento textual 2 “[...] parece-nos estar longe do horizonte que se associava ao modelo consolidado na modernidade, o horizonte do ‘fim da religião’. Se muito se pode discutir acerca do estatuto e do significado do ‘religioso’ atual, é difícil negar que a atualidade está repleta de ‘religião’”.

GIUMBELLI, Emersom. Religião, Estado, modernidade: notas a propósito de fatos prováveis. São Paulo: Estudos Avançados, 2004. p. 47.

Com base nesses fragmentos textuais, pode-se afirmar: a) A chamada “revanche do sagrado” demonstra que não mudou nada na religião no Ocidente. A religião

continua dominando o funcionamento da política e da cultura. b) A religião continuará existindo, porém, cada vez mais, como parte da esfera privada dos indivíduos. O

processo de secularização é único e inevitável, o que provocará o desaparecimento público da religião. c) A secularização não é um fenômeno universal e homogêneo. Longe de desaparecer, a religião tem

demonstrado sua capacidade de adaptação e mudança, o que justifica sua influência na cultura e na política. d) Na pós-modernidade, a religião é intrinsecamente individualista. A pluralidade das crenças, o trânsito dos fieis

e a individualização da fé são alguns dos elementos dessa fase. 3. “Os mitos, efetivamente, narram não apenas a origem do Mundo, dos animais, das plantas e do homem, mas

também de todos os acontecimentos primordiais em consequência dos quais o homem se converteu no que é hoje – um ser mortal, sexuado, organizado em sociedade, obrigado a trabalhar para viver, e trabalhando de acordo com determinadas regras. Se o mundo existe, se o homem existe, é porque os Entes sobrenaturais dissolveram uma atitude criadora no ‘principio”.

ELIADE, Mircea. Mito e realidade. São Paulo: perspectiva, 2004, p.6.

Sobre os mitos, é correto afirmar: a) São uma manifestação pré-científica e irracional da realidade. São fruto do estágio infantil da

história da humanidade. b) Têm como principal objetivo dar sentido à realidade e ao destino humano, ao narrarem c) acontecimentos num tempo primordial (in illo tempore) e originário. d) São úteis para as sociedades primitivas ou pré-científicas, mas completamente inúteis na atualidade. e) quando procuram descrever a realidade, têm a mesma estrutura explicativa das ciências.

4. Considere o fragmento textual abaixo:

“Todas as vezes que a significação de um ato reside mais em seu valor simbólico do que na sua finalidade mecânica, já estamos no caminho do procedimento ritual [...] Por outro lado, o rito integra-se em sistema dinâmico, o qual lhe confere eficácia simbólica [...]”

BAYARD, Jean- Pierre. O sentido oculto dos ritos mortuários. São Paulo: Paulus, 1993, p. 7-8. São exemplos de ritos a) de intensificação judaica a refeição do shabbat e o ritual fúnebre da taharu. b) de iniciação do candomblé a “feitura do santo” (borí) e o cumprimento das obrigações após sete anos (deka). c) de passagem cristãos o batismo e o matrimônio. d) de purificação islâmica as abluções antes da salat e a prática do zakat durante o ramadã.

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5. Leia o fragmento abaixo para responder à questão.

“Chamamos de autônoma a cultura secularizada que já perdeu a substância espiritual e seu significado central, e não mais possui referencial transcendente.”

Paul Tillich, A era protestante, 1992, p. 86.

A afirmação de Paul Tillich configura-se como um preciso diagnóstico acerca dos impactos do mundo moderno sobre a religião. Considerando o excerto acima, é correto afirmar que: a) com a chegada da modernidade, a perda da substância espiritual por parte da cultura aponta a permanência

da religião enquanto esfera cultural central da vida humana. b) cultura autônoma caracteriza-se pela manutenção de referenciais transcendentes para a vida humana. c) com a chegada do mundo moderno, o esfacelamento dos referenciais transcendentes indicaram a

centralidade da religião na cultura. d) cultura autônoma é aquela marcada pela dissolução dos referenciais religiosos construídos pela religião. e) a modernidade não foi capaz de promover nenhum efeito negativo sobre a religião.

6. “Chegamos, pois à seguinte definição: uma religião é um sistema solidário de crenças seguintes e de práticas

relativas a coisas sagradas, ou seja, proibidas; crenças e práticas que unem na mesma comunidade moral, chamada igreja, todos os que a ela aderem.”

Émile Durkheim, As formas elementares de vida religiosa, 2. ed, 1989, p.79. Considerando a perspectiva de Émile Durkheim acerca do conceito de religião, é correto afirmar que: a) o compartilhamento coletivo de práticas relativas a coisas sagradas por parte de adeptos a um sistema

solidário de crenças não definem suficientemente o conceito de religião. b) a religião pode ser percebida enquanto fenômeno de um único indivíduo. c) a religião torna-se uma “coisa eminentemente coletiva” por nela prevalecer o compartilhamento de práticas e

crenças por parte de seus adeptos. d) a religião pode ser definida somente por comportar em si as noções de sagrado e profano. e) práticas prescritivas e práticas relativas a coisas sagradas fora de um sistema coletivo de adeptos são

elementos definidores do fenômeno religião.

7. “A grande maioria da Assembleia Nacional da França votou hoje pela proibição de símbolos religiosos nas escolas públicas do país. Com 494 votos a favor e 36 contra, a assembleia votou pelo banimento do uso de véus muçulmanos, solidéus judaicos e crucifixos cristãos nas escolas. Além disso, os alunos que insistirem em usar tais peças poderão ser expulsos.”

http://noticias.terra.com.br/mundo/noticias/0,,OI267926- EI312,00-Franca+proibe+simbolos+religiosos+ em+escolas.html. Acesso em 17 de setembro de 2012.

Segundo o fragmento da notícia e considerando o posicionamento da Assembleia Nacional da França, em 2004, é correto afirmar que: a) o teor da proibição enseja o restabelecimento dos vínculos entre religião e estado. b) o teor da proibição revela a conformação do estado francês com a presença da religião e de suas expressões

no espaço público. c) o teor da proibição e a possibilidade da expulsão de alunos das escolas revelam a tolerância do estado para

com as expressões multiculturais religiosas do contexto geográfico francês. d) o teor da proibição reafirma a necessária laicidade não só do estado, mas também a laicidade do espaço

público como pressuposto de sobrevivência da democracia francesa. e) o teor da proibição realça despreocupação do estado com a regulamentação dos espaços públicos. 8. (ENEM 2009) Os faraós das primeiras dinastias construíam grandes pirâmides para proteger as suas câmaras

mortuárias. Conforme a crença egípcia antiga, a alma vagaria sem destino se o corpo, sua habitação, fosse destruído. No Egito contemporâneo, os muçulmanos são sepultados envoltos apenas em mortalhas, poucas horas após a morte, em túmulos simples e sem identificação individual.

A diferença entre as grandes pirâmides de outrora e os ritos e túmulos simples de hoje deve–se ao fato de a religião muçulmana a) ser descrente quanto à existência de vida após a morte. b) ter surgido, precisamente, como reação contra a religião dos faraós. c) entender como errado construir pirâmides só para os ricos, e não, para todos. d) querer evitar os assaltos aos monumentos funerários, que eram comuns no Egito antigo. e) ignorar o corpo como morada da alma e considerar os homens como iguais frente à morte.

GABARITO

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CAPITULO 19 - POLÍTICAS PÚBLICAS, POLÍTICA DE ESTADO E POLÍTICA DE GOVERNO CONCEITO DE POLÍTICAS PÚBLICAS E

ATORES SOCIAIS

Durante os séculos XVIII e XIX, as principais funções do Estado eram a segurança pública e a defesa em caso de embate externo. Contudo, com a expansão da democracia, houve muitas mudanças com relação às responsabilidades do Estado perante a sociedade. Atualmente, pode-se dizer que a sua principal função é proporcionar o bem-estar à mesma. O bem-estar da sociedade está relacionado a ações bem desenvolvidas e à sua execução em áreas como saúde, educação, meio ambiente, habitação, assistência social, lazer, transporte e segurança, ou seja, deve-se contemplar a qualidade de vida como um todo. E é a partir desse princípio que, para atingir resultados satisfatórios em diferentes áreas, os governos (federal, estaduais ou municipais) se utilizam das políticas públicas.

CONCEITO DE POLÍTICAS PÚBLICAS As políticas públicas afetam a todos os cidadãos, de todas as escolaridades, independente de sexo, raça, religião ou nível social. Com o aprofundamento e a expansão da democracia, as responsabilidades do representante popular se diversificaram. As Políticas Públicas são um conjunto de decisões, planos, metas e ações governamentais (seja a nível nacional, estadual ou municipal) voltados para a resolução de problemas de interesse público – que podem ser específicos, como a construção de uma ponte ou gerais, como melhores condições na saúde pública. O conceito de políticas públicas pode possuir dois sentidos diferentes. No sentido político, encara-se a política pública como um processo de decisão, em que há naturalmente conflitos de interesses. Por meio das políticas públicas, o governo decide o que fazer ou não fazer. O segundo sentido se dá do ponto de vista administrativo: as políticas públicas são um conjunto de projetos, programas e atividades realizadas pelo governo. Através de grupos organizados a sociedade faz seu apelo aos seus representantes - vereadores, deputados e senadores, membros do poder legislativo, e estes mobilizam os componentes do poder executivo - prefeitos, governadores e até mesmo o Presidente da República, para que atendam as solicitações da população. É importante ressaltar que a existência dos grupos organizados e suas reivindicações não são garantia de que suas expectativas serão atendidas, pois no processo das Políticas Públicas, é realizada uma seleção de prioridades que visa responder as demandas das áreas mais vulneráveis da sociedade, o que certamente não abrangerá todas as questões. É preciso que tais reivindicações ganhem força através de mobilizações sociais e chamem a atenção das autoridades.

POLÍTICAS PÚBLICAS E OS ATORES SOCIAIS

São chamados de atores políticos ou atores sociais os membros dos grupos que integram o sistema político. Em todo o procedimento das políticas públicas, desde o questionamento até a execução, há basicamente dois tipos de atores: os estatais ou públicos – provenientes do Governo ou do Estado, aqueles que exercem funções públicas e mobilizam os recursos associados a estas funções, ou seja, os políticos, eleitos pela população para um determinado período, e os servidores públicos, que atuam no segmento burocrático; e os privados – provenientes da sociedade civil, compostos por sindicatos dos trabalhadores, empresários, grupos de pressão, centros de pesquisa, imprensa, associações da Sociedade Civil Organizada (SCO), entre outras entidades.

Os políticos são escolhidos pela sociedade com base em suas concepções e propostas durante o período eleitoral e, quando eleitos, buscam executá-las. Os servidores públicos, componentes da burocracia, controlam recursos e informação e operam no processo de efetivação das políticas públicas definidas. A princípio, a burocracia é neutra, mas por muitas vezes este princípio é corrompido por interesses pessoais, o que implica na cooperação ou impedimento das ações governamentais. Além disso, os burocratas também possuem projetos políticos, sejam eles pessoais ou organizacionais; por isso é comum ver disputas não somente entre políticos e burocratas, mas também entre burocratas de diversos setores governamentais.

É IMPORTANTE SABER: O conceito de público, hoje em dia, não quer

dizer somente gestão governamental, mas, um interesse público que permeia o Estado e o Governo (primeiro setor), a iniciativa privada (segundo setor) e as diversas organizações da sociedade civil (terceiro setor).

Política de Estado x Política de governo Uma política de Estado é toda política que

independente do governo e do governante deve ser realizada porque é amparada pela constituição. Já uma política de governo pode depender da alternância de poder. Cada governo tem seus projetos, que por sua vez se transformam em políticas públicas.

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Já os atores privados são aqueles que não possuem vínculo direto com a administração do Estado. Dentre os principais grupos, tem-se: Trabalhadores: A força deste grupo resulta da ação organizada, pois atuam através de seus sindicatos, que geralmente são ligados a partidos, ONGs e, às vezes, até mesmo igrejas. Dependendo da importância do setor no qual atuam, podem ter um maior poder de pressão; Empresários: Este grupo exerce uma enorme capacidade de influir nas políticas públicas, visto que podem afetar a economia do país. Os empresários mobilizam seus lobbies (do termo lobby, que significa a atividade de pressão que tem como objetivo inferir diretamente nas decisões do poder público em favor de interesses privados) para encaminhar suas demandas aos atores públicos. Podem se manifestar como atores isolados ou coletivos; Grupos de interesse e grupos de pressão: Os grupos de interesse são formados por pessoas que compartilham o mesmo desejo e trabalham para conquistar seus objetivos. Já os grupos de pressão são formados por pessoas que possuem o objetivo de influenciar determinada decisão de caráter público. Muitas vezes, esse tipo de pressão acontece de forma direcionada ao Legislativo, porém, pode incidir também sobre os meios de comunicação, o Judiciário e o Executivo. Também é comum tais grupos apoiarem determinados partidos políticos e alguns possuem recursos financeiros e organizacionais; Organizações de Pesquisa: Podem ser formadas por universidades ou organizações especializadas em pesquisas relacionadas às políticas públicas. Com essas pesquisas, eles propõem soluções práticas para problemas sociais e assim, influenciam no processo de políticas públicas; Mídia: A mídia possui grande influência quando o assunto é a definição de empasses relacionados ao governo. São formadores de opinião que possuem credibilidade na sociedade e por isso são capazes de mobilizar um grande número de pessoas. Além disso, possuem certo domínio sobre as políticas públicas.

Portanto, as políticas públicas envolvem um processo complexo, constituído por um fluxo de decisões e ações praticadas por diversos indivíduos e órgãos, que acarretará diretamente no equilíbrio - ou desequilíbrio, social.

POLÍTICA E POLÍTICAS PÚBLICAS A política é exercida há muitos anos pelos homens e em poucos países no mundo existe uma desigualdade tão grande como a encontrada no Brasil. Onde as pessoas não conseguem exercer sua cidadania e são diariamente confrontadas com a falta de dinheiro, saúde, moradia e educação. A princípio grande parte do governo brasileiro surge com soluções gerais e emergenciais para sanar alguns desses problemas ao invés de implantar políticas públicas no intuito de reduzi-los. As políticas públicas atualmente não são feitas para cuidar dos problemas e necessidades mais urgentes da população. São usadas como ações imediatas para conquistar o eleitor que não consegue opinar na divisão orçamentária. Os políticos não pensam em ações que mudam uma sociedade para sempre e optam pelo caminho mais fácil ao prometer, ainda em campanha, milhares de resoluções que muitas vezes nem são capazes de cumprir. A forma despreocupada com que o país é administrado causa descrença na população, pois ela não vê o orçamento sendo investido no que realmente é necessário. Para a esfera pública, o que é realizado hoje para as áreas de saúde, educação e moradia é o necessário para o crescimento da população. Entretanto, muitos municípios sofrem diariamente com a falta de oferta das necessidades básicas garantidas pela Constituição Federal. A implantação de melhorias nas políticas públicas é essencial para aumentar a qualidade de vida dos brasileiros e índices como o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano).

POLÍTICAS PÚBLICAS NO BRASIL Ainda na década de 20 o Brasil tinha grande parte de sua população vivendo no campo com uma economia fortemente baseada na agricultura. Mas, em cerca de 70 anos, o país proporcionou um considerável desenvolvimento industrial e viu sua população migrar em massa para as cidades.

Nas últimas décadas, os governos deram mais ênfase ao setor econômico industrial e não acompanharam da mesma forma as transformações na sociedade brasileira. O estado não desempenhava um papel regulador e participativo, mas criava um governo autoritário que também refletia de maneira autoritária nas políticas públicas brasileiras.

De caráter conservador, a política brasileira possui uma maneira peculiar para tratar as políticas sociais. O atendimento é centralizado, ou seja, atendendo a interesses específicos. Mas o país possui necessidades diferentes em cada região e em alguns casos elas acabam não sendo resolvidas da forma correta. São todas tratadas da mesma maneira e de forma massiva.

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As políticas públicas deveriam ser criadas para distribuir de forma igualitária os recursos de caráter individual e social. Elas seriam a garantia da qualidade de vida, uma vida desenvolvida de maneira agradável e digna. Entretanto, para ter essa qualidade de vida é importante diversos fatores, como moradia, vestuário, educação, saúde, segurança e lazer.

A implementação de políticas públicas de qualidade no Brasil não costuma ser tão debatido pelos

parlamentares do país. Além disso, não é feito um estudo aprofundado do assunto e como esses processos podem ser implantados de maneira mais dinâmica e eficiente. Muitas vezes as políticas públicas são confundidas como prestação de serviço do Poder Público aos cidadãos. Elas afetam determinados grupos da sociedade fazendo com que o as atitudes governamentais realizadas ou não atinjam pessoas de diversos grupos.

A partir da década de 30 o país modernizou-se e cresceu o número de direitos sociais. Em 1930 foi criado

o Ministério do Trabalho e anos mais tarde a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho). Ainda nessa década surgiram programas voltados aos pagamentos de aposentadoria e pensões em diversas profissões.

Com a imposição da ditadura pelo governo militar, muitos direitos civis, sociais e políticos foram retirados

da população brasileira. Foram criados o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) e o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). Na década de 70 foi criado o Ministério da Previdência que atuava na área de saúde e na área social.

Apesar de muitas medidas criadas e programas sociais voltados a população, essas decisões eram

baseadas no assistencialismo, na corrupção e na ineficiência desses processos. Ou seja, havia muitos recursos para as políticas sociais, mas eles eram desviados e por isso passou-se a investir mais no sistema privado (educação e saúde privada, por exemplo).

A partir da Constituição de 1988 o Brasil passou a investir menos nas políticas públicas com o aumento da

dependência internacional, o crescimento da desigualdade social, da pobreza e exclusão. As atuais políticas públicas brasileiras não conseguem reverter a desigualdade e investem, em sua maioria, em pequenos grupos sociais. Para a população pobre são criadas políticas de compensação no intuito de “distrair” para os verdadeiros problemas.

Com a abertura democrática brasileira, a descentralização teve apoio no intuito de aumentar os direitos

sociais e a participação da sociedade no processo decisório. Nesse período a população necessitava de mais recursos e mostrava sinais de crescimento, mas era impedida pelos problemas econômicos em um país refém da inflação.

Apesar de ter sido implementada como uma forma de garantia dos direitos sociais dos brasileiros, a

Constituição Federal de 1988, tem sido pouco eficaz quando se trata do bem estar da população. Facilitou o acesso a diversos serviços essenciais, mas não se preocuparam com a questão financeira. O objetivo era reduzir a desigualdade do Brasil.

Essa constituição é considerada redistributiva e instiga o Governo Federal a tornar as necessidades

sociais e políticas públicas eficazes. No início da década de 90 o Governo Federal deixou de ser o principal provedor e passou a fiscalizar entidades que ofereciam determinados serviços para a sociedade. São diversos programas sociais de caráter municipal, estadual e federal e muitas vezes eles não são compatíveis entre si. Essa incompatibilidade acaba virando uma desvantagem para a população que necessita dessa ajuda.

Os gestores públicos ainda não conseguiram identificar as reais necessidades básicas dos cidadãos. Por

mais que se ouça dos políticos promessas relacionadas a erradicação de muitas mazelas, como a pobreza, os programas e atitudes relacionadas a isso ainda são muito ineficientes. Muitas vezes as soluções são distribuídas entre a população, mas de forma desordenada.

O grande mistério, quando se observa a desigualdade no Brasil, é que o país possui uma das maiores

economias do mundo. Tal situação pode ser explicada pelo atraso político da população brasileira que muitas vezes teve seu voto influenciado por militares, coronéis e políticos mal intencionados.

Nas últimas décadas o Brasil tem desempenhado novas atividades relacionadas ao caráter público. É

necessária uma articulação e engajamento da sociedade para debater as propostas de políticas públicas em todo o país. O Estado desempenha um papel importante para o desenvolvimento social e estrutural do Brasil e é para ele que devem ser direcionadas as cobranças dos setores sociais do país.

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CARACTERÍSTICAS DAS POLÍTICAS PÚBLICAS NO BRASIL

Uma das características relevantes nas políticas públicas brasileiras é a fragmentação. Muitas vezes essa fragmentação causa problemas pois há muitas divergências entre determinadas agências de controle quando o assunto é burocrático. Outra característica das políticas públicas brasileiras é a descontinuidade administrativa, em que as agências responsáveis pelas políticas públicas muitas vezes pensam nas políticas públicas de acordo com o interesse de seus gestores. Levando isso em consideração, a cada mudança de cargo, muda-se as políticas implantadas. Outra característica está ligada principalmente as políticas sociais e dão preferência para o que é ofertado sem considerar as necessidades dos beneficiados. Essa situação resulta em problema ligados a credibilidade governamental, frustração dos cidadãos, desperdícios, etc. Um outro ponto relevante é a separação de política econômica e política social. Nesse caso a política social assume um papel secundário. Um outro aspecto importante é a focalização e a seletividade, baseados nos direitos universais.

ARRASE NO ENEM

1. Políticas públicas são tomadas a partir de decisões. E sobre as decisões afirmamos, a partir de seu modelo racional, que:

a) os modelos de tomada de decisão em políticas públicas são indiferentes aos seus resultados b) o modelo de tomada de decisão em política pública é aquele que busca a melhor relação custo/benefício em

relação ao orçamento do Estado c) o processo decisório é resultado do modelo de tomada de decisão em políticas públicas d) a diferença entre os diversos modelos existentes de tomada de decisão é irrelevante para a boa

implementação de políticas públicas e) é o modelo que prescreve procedimentos para a tomada de decisão que conduzirão para a escolha do meio

mais eficiente de atingir os objetivos políticos 2. (ENEM 2017) Enquanto persistirem as grandes diferenças sociais e os níveis de exclusão que conhecemos

hoje no brasil, as políticas sociais compensatórias serão indispensáveis. SACHS, I. Inclusão social pelo trabalho decente. Revista de estudos avançados, n. 51, ago.2004.

As ações referidas são legitimadas por uma concepção de política pública a) facada no vínculo clientelista. b) pautada na liberdade de iniciativa. c) baseada em relações de parentesco. d) orientada por organizações religiosas. e) centrada na regulação de oportunidades. 3. (ENCCEJA 2017)

A política pública para minimizar o problema descrito no texto é a) universalizar o acesso das crianças à creche. b) promover os cuidados à saúde da gestante. c) favorecer a inserção no mercado de trabalho. d) ampliar as vagas nos cursos profissionalizantes. 4. Uma Política Pública que envolve diferentes níveis de governo federal, estadual, municipal ou diferentes

regiões de um país, ou, ainda, diferentes setores de atividade, a sua implementação pode se mostrar problemática, já que o controle do processo se torna mais complexo. Sobre o problema da conexão entre os diferentes níveis de governo podemos afirmar que:

a) Deve existir um modelo racional de controle para minimizar o desvio natural que envolve uma ação complexa. b) O grau necessário de cooperação entre as organizações para que esta cadeia funcione deve ser muito elevado. Se

isto não acontecer, pequenas deficiências acumuladas podem levar a um grande fracasso. c) Os mecanismos de controle Social, como Comitês Gestores, são sufi cientes para acolher a complexidade da ação. d) Uma ação baseada no modelo incrementalista onde o tomador de decisão não define previamente os objetivos,

mas vai fazendo a escolha dos objetivos no processo, adaptando-os aos meios disponíveis ou quase disponíveis é o melhor caminho.

e) A burocracia “no nível da rua”, os servidores administrativos que operam na ponta são o fator diferencial de sucesso da aplicação de um modelo de política pública complexa.

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5. (ENEM 2017) Fala-se muito nos dias de hoje em direitos do homem. Pois bem: foi no século XVIII - em 1789, precisamente - que uma Assembleia Constituinte produziu e proclamou em Paris a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Essa Declaração se impôs como necessária para um grupo de revolucionários, por ter sido preparada por uma mudança no plano das ideias e das mentalidades: o iluminismo.

FORTES, L. R. S. O iluminismo e os reis filósofos. São Paulo: Brasiliense, 1981. Adaptado. Correlacionando temporalidades históricas, o texto apresenta uma concepção de pensamento que tem como uma de suas bases a a) modernização da educação escolar. b) atualização da disciplina moral cristã. c) divulgação de costumes aristocráticos. d) socialização do conhecimento cientifico. e) universalização do princípio da igualdade civil. 6. (ENEM 2015) O cartum evidencia um desafio que o tema da inclusão social impõe às democracias contemporâneas. Esse desafio exige a combinação entre a) participação política e formação profissional diferenciada. b) exercício da cidadania e políticas de transferência de renda. c) modernização das leis e ampliação do mercado de trabalho. d) universalização de direitos e reconhecimento das diferenças. e) crescimento econômico e flexibilização dos processos seletivos. 7. ENEM 2017) A administração pública no Brasil possui raízes históricas marcadas pela a) valorização do mérito individual. b) punição dos desvios de conduta. c) distinção entre o público e o privado. d) prevalência das vontades particulares. e) obediência a um ordenamento impessoal.

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8. (ENEM 2014)

A discussão levantada na charge, publicada logo após a promulgação da Constituição de 1988, faz referência ao seguinte conjunto de direitos: a) Civis, como o direito à vida, à liberdade de expressão e à propriedade. b) Sociais, como direito à educação, ao trabalho e à proteção à maternidade e à infância. c) Difusos, como direito à paz, ao desenvolvimento sustentável e ao meio ambiente saudável. d) Coletivos, como direito à organização sindical, à participação partidária e à expressão religiosa. e) Políticos, como o direito de votar e ser votado, à soberania popular e à participação democrática. 9. (ENEM 2010)

A Convenção da ONU sobre Direitos das Pessoas com Deficiências, realizada, em 2006, em Nova York, teve como objetivo melhorar a vida da população de 650 milhões de pessoas com deficiência em todo o mundo. Dessa convenção foi elaborado e acordado, entre os países das Nações Unidas, um tratado internacional para garantir mais direitos a esse público. Entidades ligadas aos direitos das pessoas com deficiência acreditam que, para o Brasil, a ratificação do tratado pode significar avanços na implementação deleis no país.

Disponível em: http//www.bbc.co.uk. Acesso em: 18 mai. 2010 (adaptado). No Brasil, as políticas públicas de inclusão social apontam para o discurso, tanto da parte do governo quanto da iniciativa privada, sobre a efetivação da cidadania. Nesse sentido, a temática da inclusão social de pessoas com deficiência a) vem sendo combatida por diversos grupos sociais, em virtude dos elevados custos para a adaptação e

manutenção de prédios e equipamentos públicos. b) está assumindo o status de política pública bem como representa um diferencial positivo de

marketing institucional. c) reflete prática que viabiliza políticas compensatórias voltadas somente para as pessoas desse grupo que

estão socialmente organizadas. d) associa-se a uma estratégia de mercado que objetiva atrair consumidores com algum tipo de deficiência,

embora esteja descolada das metas da globalização. e) representa preocupação isolada, visto que o Estado ainda as discrimina e não lhes possibilita meios de

integração à sociedade sob a ótica econômica.

GABARITO

1 2 3 4 5 6 7 8 9 E E A B E D D B B

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