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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA ESCOLA AGROTÉCNICA DA UFRR CURSO TÉCNICO EM AGROPECUÁRIA PROF: Jandiê Araújo da Silva OLERICULTURA GERAL

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apostila de olericultura

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA

ESCOLA AGROTCNICA DA UFRRCURSO TCNICO EM AGROPECURIAPROF: Jandi Arajo da SilvaOLERICULTURA GERAL

BOA VISTA-RR

20101. INTRODUO OLERICULTURA1.1. O CAMPO DA OLERICULTURAA Olericultura um termo tcnico-cientfico, muito preciso, utililizado no meio agronmico. Derivado do latim (oleris, hortalia, + colere, cultivar), refere-se cincia aplicada, bem como ao estudo da agrotecnologia de produo das culturas olerceas.

A palavra hortalia refere-se ao grupo de plantas que apresentam, em sua maioria, as seguintes caractersticas:

consistncia tenra, no lenhosa;

ciclo biolgico curto;

exigncia de tratos culturais intensivos;

cultivo em reas menores, em relao s grandes culturas; e

utilizao na alimentao humana, sem exigir prvio preparo industrial.

Popularmente, as hortalias ou a sua parte utilizvel so chamadas, impropriamente, de verduras e legumes. Desse modo, em vez de uma nica palavra correta, as pessoas utilizam duas, ambas imprecisas e incorretas. Observe-se que, alm das plantas vulgarmente conhecidas como legumes e verduras, do ponto de vista agronmico tambm so includos na olericultura: batata-doce, melancia, melo, milho-verde e morango.

A olericultura, conforme o interesse a quem a ela se dedica, pode ser vista como atividade agroeconmica, cincia aplicada, recreao educativa, ou como fonte de alimento relevante para a nutrio humana. Aos olericultores empresariais, extensionistas rurais, agentes da assistncia tcnica e estudantes de cincias agrrias interessaria mais de perto o primeiro enfoque; j o pesquisador agrcola optaria pelo segundo; a professora de ensino fundamental consideraria o terceiro; e o nutricionista, ou mesmo a dona-de-casa esclarecida, consideraria o ltimo aspecto.

importante notar que os termos tcnicos olericultura e horticultura no so sinnimos, tendo um segundo um significado muito mais abrangente, no devendo substituir o primeiro, como ocorre na fala popular. Assim, em pases europeus, de antiqssima tradio agrcola, bem como nos Estados Unidos, o termo horticultura engloba a produo de plantas muito diversificadas.

O tipo de produo intensiva de plantas praticado no hortus medieval local murado e prximo residncia foi denominado horticultura. Em contraposio havia a agricultura (de agris, campo), referindo-se produo extensiva de trigo e outros cereais. Portanto, inclui-se na horticultura a produo de plantas utilizadas na alimentao humana, bem como aquelas empregadas com finalidade esttica, para aprimoramento do sabor dos alimentos ou para fins medicinais.

O termo tcnico fitotecnia (de fiton, planta) ainda mais abrangente, referindo-se agrotecnologia praticada na produo de plantas muito diversificadas teis ao bem-estar humano. Tais plantas podem ser agrupadas em 4 grandes ramos, por sua vez subdivididos em outros mais particularizados, obtendo-se o seguinte esquema didtico:

Grandes culturas: produtoras de gros, fibras e estimulantes

Horticultura FITOTECNIA

Silvicultura: espcies florestais

Forragicultura: pastagem e forrageiras

Conforme ficou evidenciado, a olericultura o ramo da horticultura que abrange o estudo da produo das culturas olerceas. Note-se que tal abrangncia no pequena, visto que tais culturas englobam quase uma centena de plantas alimentcias no mundo ocidental.

1.2. CARACTERSTICAS DO AGRONEGCIO

a) Atividade altamente intensiva

A caracterstica mais geral e marcante do agronegcio da produo de hortalias o fato de ser uma atividade agroeconmica altamente intensiva, em seus mais variados aspectos, em contraste com outras atividades, extensivas, como a produo de gros. Desse modo, h o emprego contnuo do solo de uma gleba, com vrios ciclos culturais, que se desenvolvem em seqncia.

As atividades de campo so realizadas nas 4 estaes do ano. Em olericultura, o chamado ano agrcola termo utilizado por produtores de gros se confunde com o ano civil. Costuma-se dizer que o olericultor um agricultor que no tem sossego, em tempo algum, nem direito a feriado e frias.

b) Alto investimento

A olericultura exige alto investimento por hectare explorado, ou seja, alto input, em termos fsicos e econmicos. Em contrapartida, possibilita a obteno de elevada produo fsica e alta renda (bruta e lquida), por hectare cultivado e por hectare/ano, ou seja, alto output. notria a obteno de substancial volume fsico de produo, concentrado em pequena rea, inclusive a alta eficincia na utilizao do espao fsico bi ou at tridimensional (no caso de culturas tutoradas). Quanto produtividade, por hectare ou hectare/ano, a olericultura destaca-se em relao s demais opes agroeconmicas.

c) Ciclo curto

O ciclo das culturas olerceas geralmente curto. A maioria das espcies de ciclo anual; algumas so bienais exigem um perodo de frio entre as etapas vegetativa e reprodutiva; e muitas poucas so perenes. Por exemplo, uma mesma gleba, ao longo de um ano civil, pode ser utilizada com 3 tomatais transplantados, ou 6 culturas de alface propagadas por mudas, ou ainda 12 semeaduras diretas de rabanete. Compare-se isso com as culturas produtoras de gros, que utilizam o terreno uma s vez, normalmente, ou duas, no mximo. A obteno de mais de uma safra, anualmente e na mesma gleba, eleva o rendimento fsico e econmico da olericultura.

d) Tamanho reduzido da rea fsica

O agronegcio da produo de hortalias tambm se identifica pelo tamanho mais reduzido da rea fsica ocupada, porm intensivamente utilizada, tanto no espao como no tempo. O menor tamanho das culturas facilita o aprimoramento nos tratos culturais, que so intensivos e sofisticados. Esse aprimoramento se observa mesmo em plantios mais extensos, como ocorre em culturas com finalidade agroindustrial.

e) Apurada agrotecnologia

A olericultura requer apurada agrotecnologia, sempre em constante evoluo. Viabiliza e exige artifcios tecnolgicos refinados, que seriam antieconmicos em outros tipos de agronegcio. o caso de produo de mudas em bandejas, polinizao manual de flores, raleamento de frutinhos, desbaste de plantas em excesso, irrigao por gotejamento, fertirrigao (aplicao de nutrientes dissolvidos na gua), cultura em casa de vegetao e o mximo de sofisticao: hidroponia, que a cultura sem utilizao de solo. So numerosos os tratos culturais (irrigao, tutoramento, desbaste, poda, capina etc.). Tambm intensiva a utilizao de insumos agrcolas modernos (sementes, defensivos, fertilizantes, agrofilmes etc). Alm disso, torna-se necessrio o uso de instalaes, equipamentos e implementos especializados, como galpes para beneficiamento, cmaras frigorficas, casas de vegetao, tratores semeadeiras, adubadeiras, transplantadeiras etc.

f) Utilizao intensiva de mo-de-obra

notria a utilizao intensiva de mo-de-obra rural em olericultura, certamente acarretando significativos benefcios do ponto de vista social, contribuindo para diminuir o desemprego uma das pragas da economia globalizada desse incio de sculo. Desse modo, utiliza-se um nmero elevado de servios por hectare trabalhado e por propriedade. Um servio corresponde ao trabalho desenvolvido por um operrio adulto durante sua jornada normal de trabalho, apenas utilizando as mos e ferramentas manuais.

g) Aproveitamento de terras problemticas

A olericultura viabiliza o aproveitamento agrcola de glebas consideradas problemticas. A utilizao de tais glebas seria impraticvel em outros tipos de atividade agrcola, do ponto de vista agronmico e, ou, econmico. O fato fica bem evidenciado quando o terreno se localiza prximo a cidades ou margem de rodovias. Assim, torna-se perfeitamente vivel o cultivo de hortalias em terrenos de baixa fertilidade, muito pobres em nutrientes, desde que criteriosamente corrigidos e adubados. Glebas com solo pedregoso tambm podem ser exploradas, com certas espcies. So viveis, inclusive, baixadas alagadas, aps a necessria drenagem.

h) Atividade agrcola de risco

Finalmente, h de se considerar o fato de o agronegcio da produo de hortalias ser uma atividade agrcola de maior risco para o empresrio rural, em relao a outras opes. Isso ocorre em virtude da maior incidncia de problemas fitossanitrios, maior sensibilidade s condies climticas, notria ocorrncia de anomalias de origem fisiolgica nas plantas, entre outros problemas.

i) Requer maior capacidade tcnico-administrativa

Devido s caractersticas peculiares, o agronegcio da olericultura requer maior capacidade tcnico-administrativa do empresrio rural no manejo dos fatores agronmicos e econmicos e, tambm, a assistncia por parte de tcnicos especializados, mais intensivamente em relao a outros agricultores. Obviamente, o olericultor torna-se mais exigente em relao qualidade da assistncia tcnica.

1.3. TIPOS DE EXPLORAO EM OLERICULTURA

Conforme a finalidade a que se prope, o nmero de espcies, a localizao da base fsica e a agrotecnologia utilizada, h alguns tipos caractersticos de explorao em olericultura.

a) Explorao diversificada

Esta explorao tpica dos chamados cintures verdes, culturas localizadas na periferia das cidades e prximas aos pontos de comercializao. O olericultor vende seus produtos aos varejistas, tais como os donos de bancas em feiras, mercearias, mercadinhos; ou se transforma, ele prprio, em varejista, atingindo diretamente o consumidor. So olericultores profissionais explorando reas pequenas com espcies diversificadas. Esse tipo de explorao tende a sofrer deslocamentos, motivados pela valorizao dos terrenos, em reas urbanas ou suburbanas sujeitas especulao imobiliria.

A interiorizao da explorao diversificada, desde que se disponha de estradas e o transporte no seja por demais oneroso, pode ser uma tendncia auspiciosa. Desse modo, o custo de utilizao da gleba, da gua necessria e da energia eltrica torna-se menor; a mo-de-obra rural mais abundante, mais barata e melhor qualificada; h maior possibilidade de mecanizao, inclusive com mquinas e implementos simples; e tudo contribui para reduo no custo de produo, por hectare explorado e por tonelada produzida. Alm disso, diminui-se a possibilidade de gua contaminada por agentes causadores de doenas tanto em plantas como em pessoas. Todavia, perde-se a oportunidade de atingir o varejista e, mais ainda, o consumidor diretamente, em razo da maior distncia at os locais de comercializao.

b) Explorao especializada

Parece ser o tipo de explorao para o qual tende a olericultura nas regies mais desenvolvidas, mesmo dentro do Brasil, e nas regies do 1o Mundo. Quanto rea cultivada, a explorao especializada j predomina no centro-sul brasileiro, onde h menor nmero de espcies olerceas, e comum haver apenas uma ou duas sendo produzidas por vez. A agrotecnologia de produo torna-se mais sofisticada, inclusive com maior utilizao de mquinas e implementos. Tambm intensiva a aplicao de insumos agrcolas modernos. A propriedade rural, geralmente, localiza-se longe dos centros urbanos, porm a produo escoada por estradas vicinais ou rodovias.

O olericultor especializado s vezes ocupa grandes reas com uma s cultura, inclusive utilizando grau de mecanizao comparvel ao dos produtores de gros. H produtores que cultivam centenas de hectares com batata, cebola, cenoura, melo e outras hortalias. Eles concentram-se nas complexidades da produo, no campo, no se dedicando comercializao. Geralmente entregam seu produto a atacadistas, freqentemente sediados longe do local da produo. Raramente vendem a varejistas e, muito menos, procuram atingir o consumidor diretamente. Esse tipo de produtor aquele que adota, mais prontamente, as inovaes tecnolgicas, tambm valorizando a assistncia agronmica. Graas a sua viso empresarial, ao esprito de iniciativa e disponibilidade de recursos, torna-se capaz de causar grande impacto socioeconmico na regio onde atua.

c) Explorao com finalidade agroindustrial

A industrializao de hortalias uma atividade que vem crescendo no Brasil para abastecer os mercados interno e externo. Para fornecimento da matria-prima necessria agroindstria, surgiu um tipo peculiar de explorao especializada. So extensas culturas cujo grau de mecanizao elevado, sendo as hortalias cultivadas de maneira extensiva tambm aqui cabendo analogia com a produo de gros. Objetiva-se obter considervel volume de produo, a um custo unitrio o mais reduzido possvel.

Em algumas regies brasileiras, esse tipo de explorao vem se expandindo, para acompanhar a crescente demanda por alimentos industrializados ou semipreparados, motivada pelo fato de a dona-de-casa tambm trabalhar fora do lar freqentemente e no mais dispor de muito tempo para os trabalhos culinrios. Exemplos tpicos so as culturas rasteiras de tomate para obteno de massa; de ervilha para produo de gro seco posteriormente reidratado; de pimento para obteno do codimento pprica; de alho-porr para sopas desidratadas; e de aspargo para enlatamento dos turies.

d) Horta domstica, recreativa ou educativa

precisamente nesse tipo de cultura que h certo retorno s origens da olericultura, pois lembra o hortus latino e medieval. Aqui no se trata de uma explorao agroeconmica, j que o objetivo primordial aprimorar a alimentao da famlia ou da comunidade. Dessa forma, propicia-se a obteno de hortalias de alta qualidade, produzidas com requinte artesanal e em pequena escala.

Tal atividade tem sido desenvolvida nos meios urbano, suburbano e rural e at em apartamentos, utilizando-se, neste caso, caixas com solo ou mesmo cultura hidropnica. O mais comum so as hortas tipicamente diversificadas, localizadas em pequenas reas, prximas a residncias, clubes, escolas, hospitais e dentro de quartis e de penitencirias. Os trabalhos so executados manualmente, com ajuda de ferramentas simples, por pessoas que se dedicam a outras atividades profissionais.

No ensino fundamental, a horta educativa pode se tornar um meio excelente de a professora ilustrar, na prtica e de maneira fascinante, os variados aspectos da Biologia, tornando o ensino mais atraente, motivando as crianas. Bons resultados tambm foram obtidos com jovens do meio rural organizados em clubes orientados por extensionistas um trabalho educativo infelizmente relegado na poca atual. Em instituies dedicadas recuperao de pessoas com dependncia qumica viciadas em lcool ou em drogas tambm o cultivo de hortalias pode contribuir como um tipo de terapia.

e) Viveiricultura

A produo de mudas de certas espcies olerceas, destacando-se tomate, alface e pimento, tornou-se um tipo particular de explorao olercea a partir de meados da dcada de 1980. H agrnomos e agrotcnicos que se dedicam a essa atividade e fornecem, ao olericultor, mudas com garantia de qualidade, inclusive fitossanidade.

Para o olericultor que pretende implantar uma cultura pelo plantio de mudas, h vantagens ponderveis em deixar essa fase altamente delicada sob os cuidados de um especialista, como ocorreu h muitas dcadas em outros pases, como Holanda e Estados Unidos. No Brasil, a tendncia de que a viveiricultura, alm da tradicional produo de mudas ctricas e de plantas ornamentais, tambm produza mudas de hortalias, pois uma atividade altamente lucrativa e mais uma opo para tcnicos agrcolas.

f) Produo de sementes e estruturas vegetativas

A produo de material propagativo, como a semente, um tipo de explorao que exige muito mais conhecimento do produtor, em relao obteno de hortalias para mercado. Grandes empresas produtoras de sementes contratam e orientam culturas especializadas, inclusive fornecendo a semente bsica necessria, bem como a orientao tcnica.

As espcies olerceas de propagao assexuada, a exemplo de batata, batata-doce, morango e alho, exigem o plantio de certas estruturas vegetativas. Estas devem ser produzidas em culturas especialmente orientadas, obedecendo-se a rigorosas normas de fitossanidade, pois tais estruturas so eficientes veiculadoras de fitopatgenos. Bons exemplos, no Brasil, so a produo de batata-semente certificada e de mudas vegetativas de morangueiro, isentas ou com baixo teor de vrus.

g) Cultivo protegido

Certamente a produo de hortalias em cultivo protegido, dentro de casas de vegetao ou de tneis cobertos com agrofilmes, uma explorao diferenciada das demais, especialmente em razo da possibilidade de controle de alguns fatores agroclimticos. Entretanto, considerando-se as vantagens de ordem agronmica e econmica, so poucas as espcies olerceas que se adaptam ao cultivo protegido, sendo alface, tomate, pimento, pepino, melo e berinjela aquelas mais comumentes produzidas.

1.4. RUMOS DA OLERICULTURA BRASILEIRA

A evoluo da olericultura acompanha o desenvolvimento geral de uma nao, sendo mais diretamente influenciada por ele que outras atividades agrcolas. Assim, sensvel s mudanas sociais, econmicas e culturais, decorrentes da elevao do nvel de prosperidade geral, da urbanizao e da industrializao. O grande olericultor especializado surge como resposta ao desenvolvimento econmico, que acarreta incremento na demanda e maior exigncia na qualidade dos produtos, quanto ao aspecto principalmente, mas tambm ao sabor e riqueza em vitaminas e nutrientes minerais.

Quanto mais evoludo um povo, maior e mais diversificado o consumo de hortalias, tanto ao natural como em forma industrializada, fato este claramente observado nos pases desenvolvidos. O nvel de consumo relaciona-se no s com a renda pessoal, que, por sua vez, depende do progresso geral de um pas, como tambm com o grau de escolaridade e de cultura geral de sua populao. Alm disso, a evoluo do trabalho braal para um tipo de trabalho mais leve reduz a necessidade de alimentos energticos e pode aumentar a demanda de hortalias. Certamente, a evoluo da agrotecnologia de produo, resultando no aumento da oferta e na reduo do preo para o consumidor, tambm tende a elevar a demanda interna.

A olericultura evoluiu mais acentuadamente no Brasil a partir do incio da dec. de 1940, durante a II Guerra Mundial. Naquela poca existiam somente pequenas exploraes diversificadas, localizadas nos denominados cintures verdes, nos arredores das cidades. A partir de ento houve um deslocamento em direo ao meio rural, estabelecendo-se exploraes especializadas em reas maiores, com certas culturas. A interiorizao certamente deveu-se ao fato de alguns olericultores buscarem melhores condies agroecolgicas ou de ordem econmica, fazendo com que a olericultura brasileira evolusse da pequena horta para uma explorao comercial com caractersticas bem definidas.

A passagem da horta para a olericultura empresarial foi promovida pelos prprios produtores, sem contarem, de incio, com o apoio das entidades oficiais de pesquisa e de assistncia tcnica tradicionalmente voltadas para as grandes culturas. Aqui cabe o reconhecimento dos mritos da dinmica comunidade nipo-brasileira e aos imigrantes europeus responsveis pela expanso e interiorizao da olericultura como agronegcio.

A ampliao e o aprimoramento da rede assistencial oficial aos produtores rurais, inclusive olericultores, ocorreram aps o trmino da II Guerra Mundial. Desde o incio, os extensionistas tm contribudo efetivamente para a evoluo da olericultura brasileira.

Especialmente a partir da dec. de 1950, tambm instituies oficiais de pesquisa e ensino passaram a apoiar a olericultura, surgindo uma retaguarda tcnico-cientfica composta por professores e pesquisadores, alm de extensionistas. Esse movimento consolidou-se com a fundao da Sociedade de Olericultura do Brasil, em 1961. Essa entidade, muito dinmica, congrega profissionais ligados aos variados aspectos da produo e da comercializao de hortalias.

O empenho do governo federal na implantao e no efetivo funcionamento das Centrais de Abastecimento (CEASAs), ao longo da dec. de 1970, tambm foi decisivo. A racionalizao na comercializao beneficiou, como era esperado, a produo. A dec. de 1980 foi considerada a dcada perdida quanto ao desenvolvimento geral e econmico do Pas -, no porm, para a olericultura, especialmente graas s atividades da pesquisa oficial. Vale assinalar que a Embrapa Hortalias foi criada em 1981, no Distrito Federal, e vem contribuindo, desde ento, para o aprimoramento da olericultura em mbito nacional. Na dcada de 1990 a chamada era da incerteza continuou a expanso da olericultura, inclusive com a definitiva implantao da cultura protegida, bem como o desenvolvimento da hidroponia e da fertirrigao. Neste incio de sculo ocorre a introduo do gotejamento, bem como do plantio na palha, em certas culturas olerceas. Atualmente, o agronegcio da olericultura reconhecido como altamente relevante no cmputo da agricultura brasileira

Explorando sua diversidade agroecolgica, o Pas tem ampla possibilidade de exportar, em escala muito maior que a atual, produtos olerceos, ao natural ou industrializados, especialmente para mercados europeus, em particular durante o inverno rigoroso desses pases, bem como para a China e outros pases asiticos.

O olericultor um produtor rural capaz de responder, pronta e produtivamente, a estmulos econmicos e inovaes agrotecnolgicas, bem como a medidas governamentais dignas de aplauso, como a implantao das CEASAs. um agricultor bem sintonizado com a realidade do Pas, sensvel s mudanas que ocorrem na agricultura ou fora dela. Dessa forma, durante o marasmo da dcada de 1980, foi iniciada a produo em casa de vegetao uma vitoriosa iniciativa de olericultores inovadores e de empresrios ligados produo de agrofilmes.

2. O UNIVERSO DA OLERICULTURA

Dezenas de culturas olerceas so produzidas no Brasil, sendo a vastido e a complexidade do universo da olericultura devido multiplicidade e s peculiaridades de cada espcie cultivada como hortalia. Assim, para um estudo sistematizado da olericultura como cincia aplicada, torna-se necessria uma metodologia capaz de evidenciar as similaridades e as dessemelhanas entre as diferentes plantas. Nesse sentido, algumas classificaes tm procurado agrupar as hortalias com base em suas caractersticas comuns.

2.1. CLASSIFICAO POPULAR E TCNICA

A dona-de-casa brasileira tpica no se impressiona com a grande complexidade do universo abrangido pelas culturas olerceas. Para ela, as hortalias podem ser reunidas em 3 grupos, simplesmente. Desse modo, nessa classificao popular, os legumes constituem as hortalias que exigem preparao culinria mais elaborada, como cozimento, assamento ou fritura; as verduras, alm de apresentarem a tpica colorao verde, so consumidas ao natural; e os temperos so aquelas utilizadas para dar sabor especial aos pratos.

Uma classificao tcnica das hortalias foi adaptada pelas Centrais de Abastecimento e vem sendo aplicada. De acordo com essa classificao, as hortalias podem ser reunidas, segundo suas partes utilizveis e comerciveis, em 3 grupos:

( Hortalias-fruto utilizam-se os frutos ou partes deles, como as sementes: tomate, melancia, quiabo, morango, feijo-vagem, etc.

( Hortalias herbceas aquelas cujas partes comerciveis e utilizveis localizam-se acima do solo, sendo tenras e suculentas: folhas (alface, repolho, taioba); talos e hastes (aspargo, aipo, funcho); flores ou inflorescncias (couve-flor, brcolos, alcachofra).

( Hortalias tuberosas as partes utilizveis desenvolvem-se dentro do solo, sendo ricas em carboidratos: razes (cenoura, beterraba, batata-doce, rabanete e mandioquinha-salsa); tubrculos (batata, car); rizomas (inhame); bulbos (alho e cebola).

Nas diversas CEASAs, tem-se cometido o engano do ponto de vista agronmico de considerar melancia, melo e morango como frutas e no como hortalias-fruto.

Por implicaes de ordem agronmica na conduo das culturas (controle fitossanitrio integrado, manejo de solo, aplicao de adubao), e tambm por razes mercadolgicas, inclusive por diminuir o risco de insucesso econmico para o olericultor, desejvel que coexistam hortalias-fruto, hortalias herbceas e hortalias tuberosas numa mesma explorao.

2.2. CLASSIFICAO BOTNICA

a) Caractersticas e vantagens dessa classificao

A maior vantagem da classificao botnica basear-se em caractersticas muito estveis, enquanto a agrotecnologia pode variar ao longo do tempo e conforme as tradies regionais. As caractersticas botnicas definem melhor a localizao de cada espcie olercea, dentro da imensa comunidade vegetal, da qual depende a alimentao e a vida humana.

A classificao botnica das espcies vegetais baseia-se no parentesco, nas similaridades e nas dessemelhanas entre elas, mormente no que se refere aos rgos vegetativos e reprodutivos. No caso particular das plantas olerceas, todavia, ainda no existe um consenso universal entre botnicos, havendo desacordo quanto ao nome correto de algumas famlias, gneros e espcies. Uma compilao apresentada na Tabela 1.

Tabela 1 Relao taxonmica de 60 hortalias cultivadas no Brasil, com seus nomes populares, cientficos e famlia botnicaNome popularNome cientfico (latim)Famlia

Abbora-rasteiraCucurbita moschataCucurbitcea

Abobrinha-italianaCucurbita pepoCucurbitcea

Acelga-verdadeiraBeta vulgaris var. ciclaQuenopodicea

Agrio-aquticoRorippa nasturtium-aquaticumBrassiccea

Aipo (salso)Apium graveolens var. dulceApicea

AlcachofraCynara scolymusAstercea

AlfaceLactuca sativaAstercea

AlhoAllium sativumAlicea

Alho-porrAllium porrumAlicea

AlmeiroCichorium intybusAstercea

AspargoAsparagus officinalisLilicea

Batata-doceIpomoea batatasConvolvulcea

Batata (batatinha)Solanum tuberosum ssp. TuberosumSolancea

BerinjelaSolanum melogenaSolancea

BeterrabaBeta vulgarisQuenopodicea

CarDioscorea alataDioscorecea

CebolaAllium cepaAlicea

CebolinhaAllium schoenoprasumAlicea

CenouraDaucus carotaApicea

ChicriaCichorium endiviaAstercea

ChuchuSechium eduleCucurbitcea

CoentroCoriandrum sativumApicea

Couve-brcolosBrassica oleracea var. itlicaBrassiccea

Couve-chinesaBrassica pekinensisBrassiccea

Couve-de-bruxelasBrassica oleracea var. GemmiferaBrassiccea

Couve-florBrassica oleracea var. botrytisBrassiccea

Couve-folhaBrassica oleracea var. acephalaBrassiccea

Couve-rbanoBrassica oleracea var. gongylodesBrassiccea

Couve-tronchudaBrassica oleracea var. tronchudaBrassiccea

ErvilhaPisum sativumFabcea

EspinafreSpinacea oleraceaQuenopodicea

Espinafre neozelandsTetragonia expansaAizocea

Fava-italianaVicia fabaFabcea

Feijo-de-corda (caupi)Vigna unguiculataFabcea

Feijo-de-lima (fava)Phaseolus lunatusFabcea

Feijo-vagem (vagem)Phaseolus vulgarisFabcea

Funcho (erva-doce)Foeniculum vulgare var. dulceApicea

InhameColocasia esculentaArcea

JilSolanum giloSolancea

Mandioquinha(batata-baroa)Arracacia xanthorrhizaApicea

MaxixeCucumis anguriaCucurbitcea

MelanciaCitrullus lanatusCucurbitcea

MeloCucumis meloCucurbitcea

Milho-doceZea maysPocea

Milho-verdeZea maysPocea

MorangaCucurbita mximaCucurbitcea

Morango (moranguinho)Fragaria x ananassaRoscea

Mostarda-de-folhaBrassica junceaBrassiccea

NaboBrassica rapa var. rapaBrassiccea

PepinoCucumis sativusCucurbitcea

PimentaCapsicum frutescensSolancea

PimentoCapsicum annuumSolancea

QuiaboAbelmoschus esculentusMalvcea

RabaneteRaphanus sativusBrassiccea

Rbano daikonRaphanus sativus var. acenthiformisBrassiccea

RepolhoBrassica oleracea var. capitataBrassiccea

Continuao

Nome popularNome cientfico (latim)Famlia

RculaEruca sativaBrassiccea

Salsa (salsinha)Petroselinum crispumApicea

TaiobaXanthosoma sagittifoliumArcea

TomateLycopersicon esculentumSolancea

b) Unidades taxonmicas

Os botnicos agruparam as plantas, segundo suas similaridades, em: divises, classes, ordens, famlias, gneros, espcies, variedades botnicas, formas e indivduos do geral para o particular. Considerando os aspectos agronmicos das culturas, apenas 4 unidades taxonmicas podem interessar mais de perto:

- famlia: reunio de gneros semelhantes;

- gnero: agrupamento de espcies afins;

- espcie: unidade taxonmica englobando indivduos muito similares; e

- variedade botnica: populao com caractersticas peculiares, dentro de certas espcies olerceas.

Desde os trabalhos pioneiros do naturalista sueco Lineu (1707-1778) adotou-se um sistema binrio de nomenclatura botnica, em latim, universalmente aceito. Assim, utiliza-se o nome do gnero e o da espcie propriamente dita para designar uma determinada espcie botnica. Os nomes cientficos das hortalias facilitam o intercmbio entre os estudiosos, evitando-se as dificuldades criadas pelos nomes populares nos diversos idiomas.

As plantas olerceas pertencem diviso Espermatfita plantas que produzem sementes, utilizveis ou no na propagao. A subdiviso Magnoliofitina plantas com vulos encerrados em um ovrio (angiosperma), que originaro sementes. A grande maioria das plantas olerceas includa na classe Magnoliata vegetais cujas sementes apresentam dois cotildones (dicotiledneas) -; e a minoria, na classe Liliata plantas com um s cotildone (monocotiledneas). Atualmente, essa ltima classe engloba as famlias: alicea (alho), arcea (inhame), dioscorecea (car), lilicea (aspargo) e pocea (milho-doce).

A relao taxonmica das hortalias mais cultivadas no Brasil, com os nomes cientficos atualizados das espcies, inclusive das famlias botnicas, apresentada na Tabela 1.

c) Variedade Botnica e Cultivar

A espcie tem sido considerada a unidade bsica de trabalho dos botnicos, sendo a categoria na qual Lineu baseou seu genial sistema de nomenclatura. Entretanto, em casos particulares, as espcies so subdivididas em variedades botnicas (utilizando-se a abreviatura var.). Isso se torna necessrio quando certa populao de plantas, dentro de determinada espcie, apresenta caractersticas notveis, inclusive de importncia agronmica e comercial. Um exemplo a espcie Brassica oleracea, que abrange algumas variedades botnicas, que constituem hortalias de importncia mundial, como B. oleracea var. acephala (couve), B. oleracea var. capitata (repolho), B. oleracea var. Botrytis (couve-flor) e B. oleracea var. italica (couve-brcolos).

O termo variedade utilizado no sentido agronmico tem sido substitudo pelo termo tcnico cultivar, universal, derivado das palavras inglesas cultivated variety (usa-se a abreviatura cv.). Trata-se de um grupo de plantas cultivadas semelhantes entre si, que se distingue de outros grupos por caractersticas de relevncia agronmica e comercial. Tais caractersticas peculiares devem ser mantidas inalterveis, nos ciclos de propagao da cultivar, ao longo dos anos. Um bom exemplo da adoo oficial desse termo tcnico, no Brasil, a Lei de Proteo de Cultivares, instituda em abril de 1997.

As cultivares so obtidas por meio de tcnicas de melhoramento gentico, utilizadas por melhoristas de plantas. Uma cultivar, em se tratando de olericultura, pode ser constituda por plantas pertencentes a um dos quatro seguintes tipos de agrupamento:

Clone: conjunto de plantas geneticamente idnticas e originrias de uma nica planta-matriz propagada assexuadamente, ou seja, sem utilizao de sementes botnicas. Exemplos: cultivares propagadas vegetativamente de alho, batata, couve-manteiga, morango e mandioquinha-salsa.

Linhagem: grupo de plantas, com aparncia muito uniforme, propagadas por via sexual, cujas caractersticas so mantidas por seleo, tendo um padro, tendo um padrele propagadas por via sexual, cujas caracter, couve-manteiga, o em vista. Originariamente, esse tipo de cultivar obtido por autofecundao induzida. Exemplos: cultivares de algumas hortalias propagadas por sementes.

Cultivar no-hbrida: grupo de plantas que apresenta pequenas diferenas genticas (gentipo distinto), porm mantendo caractersticas agronmicas comuns (fentipo semelhante), pelas quais o grupo possa ser identificado. o caso do pepino tipo Caipira, selecionado por olericultores a partir de populaes heterogneas tradicionalmente cultivadas nas propriedades rurais.

Hbrido, ou cultivar hbrida: conjunto de plantas altamente uniforme, de modo geral obtido pelo cruzamento controlado entre duas linhagens compatveis escolhidas, mantidas por autofecundao induzida. Atualmente h tendncia para o lanamento de hbridos de 1a gerao (sementes de 1a gerao, aps o cruzamento) em brssicas, particularmente em repolho, couve-flor e brcolos. Tambm se nota essa tendncia no caso de tomate, pepino e pimento.

Na situao atual, observa-se que as cultivares de hortalias esto em constante mudana, inclusive pela introduo de novos hbridos. Ento, torna-se relevante o conceito de tipo ou grupo de cultivares, dentro de uma mesma cultura, englobando aquelas cultivares com caractersticas agronmicas e comerciais comuns.

H, portanto, maneiras variadas de se obter uma nova cultivar. Entretanto, historicamente, a tcnica que originou maior nmero de cultivares de hortalias ao longo do tempo tem sido a seleo de plantas, no campo, a partir de um conjunto desuniforme a chamada populao. Tal trabalho, no passado, foi efetuado por olericultores com notvel capacidade de observao e esprito de pesquisador. Os fitomelhoristas profissionais, todavia, utilizam tcnicas bem mais sofisticadas, como a autofecundao controlada de uma planta especialmente escolhida ou o cruzamento entre linhagens autofecundadas com caractersticas complementares. Tambm valem-se de modernas tcnicas de laboratrio, como o cultivo de embrio, a cultura de tecidos, a induo de mutaes, a criao de plantas transgnicas esse um assunto ainda polmico -, dentre outras.

O nome original de uma cultivar preferencialmente no idioma de origem ou em forma aportuguesada deve ser mantido e utilizado pelos olericultores e por agentes de comercializao de hortalias. As embalagens de sementes, mesmo quando importadas, devem conter o nome original, inclusive para evitar duplicidade e facilitar o intercmbio entre pesquisadores. Um problema sentido a multiplicidade de nomes regionais de uma mesma cultivar, fato corriqueiro no caso de culturas de propagao vegetativa, como alho, car e batata-doce.

Para bem caracterizar uma cultura olercea, deve-se agregar ao nome da espcie o nome da variedade botnica, se houver, bem como o nome original da cultivar. Por exemplo, o nome completo e correto da couve-flor brasileira, pioneira no plantio de vero, Brassica oleracea var. Botrytis cv. Piracicaba Precoce.

Uma classificao taxonmica integra e sumariza tudo o que se sabe sobre as plantas olerceas, incluindo aspectos morfolgicos, genticos, ecolgicos ou fisiolgicos. Tal conhecimento possibilita antecipar as exigncias de determinada cultura, auxiliando na escolha e na utilizao da agrotecnologia mais adequada.

3. OS FATORES AGROCLIMTICOS

As condies ambientais interferem, decisivamente, no desenvolvimento das plantas e na produo das culturas olerceas. A compreenso dos fatores envolvidos, especialmente aqueles de natureza agroclimtica, imprescindvel para quem pretenda se dedicar ao estudo aprofundado ou mesmo prtica da olericultura comercial, em bases tcnico-cientfica.

AMBIENTE, GENTIPO E FENTIPO

Existem alguns conceitos que devem ser bem compreendidos. Ambiente, ou meio ambiente expresso redundante muito utilizada pela imprensa -, o conjunto de fatores agroecolgicos e agrotecnolgicos, externos planta, mas que muito influenciam o desenvolvimento e a produo. o caso do clima e do solo, como tambm da adubao, irrigao, pulverizao e outras prticas agrcolas todos includos nesse conceito por demais abrangente denominado ambiente.

O gentipo a composio gentica da planta outro conceito fundamental. O resultado perceptvel, e de implicaes prticas, da ao do gentipo interagindo com o ambiente constitui o fentipo algo que interessa mais de perto ao olericultor. O fentipo expresso nas caractersticas da planta cultivada, produtividade da cultura e qualidade do produto obtido, sendo, portanto, a expresso visvel do gentipo.

Dentro desse contexto, h duas vias para o possvel aprimoramento da olericultura. A primeira via a busca da melhoria da prpria planta, procurando-se adequar o seu gentipo a um determinado ambiente. E isso se obtm por meio do melhoramento gentico, resultando na obteno de novas cultivares melhoradas, como o caso de cultivares adaptadas a condies climticas distintas daquelas para as quais a planta foi inicialmente selecionada. Bons exemplos so as cultivares de alface, brssicas e cenoura ditas de vero -, j que, originalmente, todas as cultivares dessas espcies eram consideradas de inverno e apenas produziam bem se plantadas no outono-inverno. As novas cultivares foram criadas objetivando-se a adaptao s condies de clima clido.

A segunda via a modificao e adequao do ambiente a um gentipo previamente escolhido, utilizando-se a moderna agrotecnologia. Em relao a clima, serve de exemplo o plantio de pepino uma planta intolerante ao frio em pleno inverno, sob casa de vegetao, sendo beneficiada pelo efeito estufa. Outros exemplos so a utilizao de adubao, irrigao e defensivos, que tornam o ambiente propcio ao cultivo de certas hortalias. Um caso notrio o da adubao de solos de baixa fertilidade natural, que passam a produzir hortalias exigentes em nutrientes.

3.2. INFLUNCIA DA TEMPERATURA

As culturas olerceas apresentam com freqncia ampla adaptao climtica, provavelmente por serem cultivadas h muito tempo e nas mais diversas condies. As espcies de ciclo curto principalmente que so a maioria sempre encontram alguns meses com condies propcias, mesmo quando cultivadas em regies de clima distinto daquele de onde tiveram sua origem. Ento, ao olericultor cabe conhecer as exigncias climticas das plantas que pretende cultivar, bem como as peculiaridades climticas de sua regio ao longo do ano, procurando harmonizar ambas. Note-se que so os fatores climticos que mais poderosamente influenciam algumas caractersticas relevantes de uma cultura, como durao do ciclo, precocidade na colheita, fitossanidade, produtividade, qualidade do produto e, inclusive, preo de mercado.

Indubitavelmente, a temperatura o fator climtico que maior influncia exerce sobre a olericultura, sendo, freqentemente, tambm o principal fator limitante a essa atividade. A influncia verificada em todas as etapas do desenvolvimento da planta. Desse modo, cada espcie botnica cultivada como hortalia, cada variedade botnica e cada cultivar comercial apresentam uma faixa termoclimtica mais propcia em cada etapa de seu ciclo. Temperaturas abaixo do nvel timo podem prolongar o ciclo, ou provocar o florescimento prematuro de certas hortalias, prejudicando o desenvolvimento da parte comercivel; acima do nvel timo, podem ocasionar perda em qualidade do produto.

As variaes termoclimticas ao longo do dia, do ms e do ano afetam o desempenho profundamente ou mesmo determinam a poca adequada para o plantio de certas espcies ou cultivares. O ideal seria que cada propriedade dispusesse de um posto agrometeorolgico provido de equipamentos, que medissem e registrassem a variao trmica.

As mdias das temperaturas mximas e mnimas mensais caracterizam bem, ms a ms, a variao trmica ao longo do ano. Os dados primrios devem ser obtidos diariamente, ressaltando-se que as temperaturas mximas costumam ocorrer durante o dia e, as mnimas, noite. No cultivo de algumas solanceas, principalmente, a variao termoclimtica entre o dia e a noite exerce influncia preponderante no desenvolvimento da planta e na produo.

Dentre os fatores que afetam o desempenho das sementes de hortalias a temperatura tem sido o mais estudado. Sabe-se ento que a germinao, a emergncia e o desenvolvimento inicial das plntulas so diretamente condicionados pela temperatura do leito no qual se efetua a semeadura. As condies timas so aquelas que possibilitam acelerar a germinao, porm sem diminuio da percentagem de sementes germinadas. Assim, cada espcie olercea apresenta suas exigncias trmicas.

Sem dvida, a temperatura do solo est diretamente relacionada com a temperatura do ar, com a durao do perodo luminoso a que foi exposto tal solo e com algumas caractersticas inerentes ao prprio solo. Um exemplo prtico o efeito da colorao: solos escuros aquecem-se muito mais rapidamente que aqueles de colorao clara.

3.3. ADAPTAO TERMOCLIMTICA DAS CULTURAS

possvel enquadrar as numerosas espcies botnicas cultivadas como hortalias em 3 grandes grupos, inclusive considerando-se as particularidades das modernas cultivares. Para isso, levam-se em considerao as peculiares exigncias termoclimticas de cada cultura durante a maior parte do ciclo cultural. Com base nesse critrio, tem-se a seguinte classificao:

- Hortalias de Clima Quente: aquelas tipicamente intolerantes ao frio, que prejudica ou mesmo inibe a produo, exigindo temperaturas elevadas, diurnas e noturnas; so todas intolerantes s geadas, porm algumas toleram temperaturas amenas. Exemplos: a maioria das cucurbitceas, batata-doce e quiabo.

Hortalias de Clima Ameno: produzem melhor sob temperaturas amenas, que tambm so aquelas mais favorveis ao bem estar humano; toleram temperaturas mais baixas, prximas e acima de 0 oC; e podem, inclusive, tolerar geadas leves. Exemplos: tomate, batata, alface e moranga hbrida.

Hortalias de Clima Frio: exigem ou produzem melhor sob baixas temperaturas, tolerando aquelas situadas ligeiramente abaixo de 0 oC; suportam geadas mais pesadas. Exemplos: alho, alcachofra e os vrios tipos de couve.

Com base nesse critrio, as culturas olerceas so enquadradas em 3 grupos (Tabela 2). A classificao das hortalias segundo a exigncia termoclimtica apresentada certamente imperfeita e sujeita a alteraes. Assim, os fitomelhoristas tm ampliado a faixa trmica favorvel ao cultivo de certas espcies, pela criao de cultivares ditas de vero apropriadas para cultivo sob temperatura mais elevada. Esse termo deve ser compreendido no sentido de que dentro de uma espcie tpica de clima frio ou ameno foram criadas novas cultivares adaptadas a clima clido. Bons exemplos ocorrem nas culturas de alface, cenoura e couve-flor, entre outros.

Tabela 2 Classificao das culturas olerceas pela exigncia termoclimtica

Clima frioClima amenoClima quente

Acelga verdadeiraAbobrinha italianaAbbora rasteira

Aipo (salso)Agrio daguaBatata-doce

AlcachofraAlface*Berinjela

AlhoAlmeiroCar

Alho-porrBatataChuchu

AspargoCenoura*Coentro

BeterrabaChicriaEspinafre-neozelands

CebolaMoranga hbridaFeijo-de-corda (caupi)

CebolinhaRculaFeijo-de-lima (fava)

Couve-brcolos*SalsaFeijo-vagem

Couve-chinesa*TomateInhame

Couve-de-bruxelasJil

Couve-flor*Maxixe

Couve-folhaMelancia

Couve-rbanoMelo

Couve-tronchudaMilho-doce

ErvilhaMilho-verde

Espinafre-verdadeiroMoranga

Fava italianaPepino

FunchoPimenta

Mandioquinha-salsaPimento

MorangoQuiabo

Mostarda-de-folhaTaioba

Nabo

Rabanete

Rbano daikon

Repolho*

Observao: (*) Espcies que apresentam cultivares ditas de vero, ou seja, adaptadas a temperaturas clidas.

3.4. TERMOPERIODICIDADE ESTACIONAL

As culturas olerceas esto submetidas variao estacional da temperatura, ao longo do seu ciclo, sendo essa variao indispensvel para que ocorram processos biolgicos importantes.

O efeito da termoperiodicidade estacional torna-se mais bem evidenciado nas espcies olerceas ditas bienais, como em brssicas (repolho, couve-flor, couve-brcolos), cebola, beterraba e rabanete. Tais plantas exigem frio para passarem da etapa vegetativa do seu ciclo para a reprodutiva, com a emisso do pendo floral, e posterior desenvolvimento das sementes. No se entenda que so exigidos dois anos como o nome sugere -, mas dois perodos de tempo separados por um intervalo com temperaturas favoravelmente baixas. A exigncia de frio para o pendoamento certamente depende da espcie, da variedade botnica e da cultivar, havendo aquelas mais exigentes e outras, menos. Note-se que a passagem para a etapa reprodutiva apenas interessa ao produtor de sementes, sendo desastrosa para o olericultor comum.

As espcies ditas anuais independem de um intervalo de frio para que a planta passe da etapa vegetativa para a reprodutiva. Um exemplo tpico a alface, que exige fotoperodo longo e temperatura elevada para ocorrer o florescimento e a formao de sementes.

Finalmente, h as espcies perenes, de ciclo muito dilatado, que podem ocupar o terreno por um ou mais anos. Essas plantas enfrentam as condies termoclimticas decorrentes da passagem das 4 estaes. Um bom exemplo o aspargueiro, que pode permanecer produtivo durante uma dcada, no campo. Outro exemplo, de perenidade menos evidente, o do tomateiro, que se comporta como uma cultura anual, pelo fato de ser afetado por agentes etiolgicos de natureza variada, fungos, bactrias e vrus, alm de insetos-praga, que abreviam o ciclo da cultura.

3.5. TERMOPERIODICIDADE DIRIA

A temperatura oscila ao longo de um dia de 24 horas, sendo as noites mais frias, geralmente. Em algumas espcies olerceas, as plantas se desenvolvem e produzem melhor quando a temperatura noturna inferior diurna uma diferena de 5-10 oC. Quando mantidas sob temperatura constante, noite e dia, essas plantas so prejudicadas.

O efeito decisivo da termoperiodicidade diria tem sido mais bem estudado em tomaticultura, em pesquisas conduzidas na Europa e nos Estados Unidos, as quais demonstram que a temperatura noturna exerce maior efeito no desenvolvimento da planta e na produo. Em altas temperaturas noturnas, o crescimento vegetativo acelerado, porm so prejudicadas ou at inibidas a florao e a frutificao. Tem sido demonstrado que temperaturas noturnas de 13 a 18 oC e diurnas de 20 a 25 oC so aquelas mais favorveis produo.

Como comprovao prtica da exigncia termoperidica do tomateiro, conhecido o caso de antigos produtores holandeses, por demais cuidadosos, que se levantavam em meio noite invernal para aquecerem suas estufas. Entretanto, verificavam que seus tomateiros apresentavam menor desenvolvimento e produo, em relao s plantas de vizinhos, mais comodistas, que deixavam cair a temperatura noturna. Assim agindo, eles propiciavam a termoperiodicidade diria adequada cultura.

A exigncia de termoperiodicidade tambm pode explicar a inadequao da tomaticultura a regies que apresentam temperaturas diurnas e noturnas igualmente elevadas, como ocorre na Amaznia.

Outros estudos demonstram que as temperaturas diurnas de 20 a 25 oC e noturnas de 10 a 16 oC so as mais favorveis bataticultura, nas condies europias e norte-americanas. Isso explica o mau desempenho dessa cultura em localidades brasileiras de baixa altitude, apresentando temperaturas constantemente elevadas, de dia e de noite. Inversamente, tem sido demonstrado o sucesso da cultura em altitudes acima de 800 m, sob temperaturas diurnas amenas e noturnas favoravelmente menores, como ocorre em planaltos e regies serranas do centro-sul.

Outras culturas, menos estudadas, tambm apresentam exigncia de termoperiodicidade diria, devendo a temperatura noturna ser sempre mais baixa que a diurna, a exemplo do pimento, da beterraba, da ervilha e do morango.

3.6. INFLUNCIA DA LUZ: INTENSIDADE

A luz solar um fator climtico relevante para o desenvolvimento vegetal, pois promove o processo da fotossntese sem o qual a vida humana e animal seria impossvel sobre o planeta. Quando se estuda a influncia da luz na olericultura h de se considerar a intensidade luminosa e a variao fotoperidica, separadamente.

Experimentalmente se comprova que a um aumento na intensidade luminosa corresponde uma elevao na atividade fotossinttica, dentro de certos limites, resultando em maior produo de matria seca nas plantas. Contrariamente, a deficincia luminosa provoca maior alongamento celular, resultando em estiolamento, isto , aumento na altura e extenso da parte area, porm sem correspondente elevao do teor de matria seca. Dessa forma, em localidades em que prevalece alta intensidade luminosa estimulada a produtividade, nas culturas olerceas. Sob baixa luminosidade, ao contrrio, h formao de mudas estioladas e de plantas adultas frgeis, de menor produtividade.

A baixa intensidade luminosa tem sido fator limitante olericultura no norte da Europa. J em pases tropicais, como o Brasil, a alta luminosidade favorece a produtividade. Vale enfatizar serem as hortalias plantas altamente exigentes, ao contrrio do que ocorre com plantas ornamentais de interior, que requerem baixa luminosidade.

3.7. INFLUNCIA DA LUZ: FOTOPERODO

A durao do perodo luminoso o chamado fotoperodo -, dentro de um dia de 24 horas, influencia numerosos processos fisiolgicos nas plantas. o caso do crescimento vegetativo, da florao e frutificao, da produo de sementes e da obteno de produtos para a alimentao humana.

O nmero de horas dirias de luz solar varia conforme a latitude da localidade e a estao do ano. Belm do Par cidade situada pouco abaixo da linha do Equador terrestre (latitude de 0o C) -, por exemplo, apresenta 12 horas dirias de luz, portanto a durao do dia igual da noite ao longo das 4 estaes. medida que se afasta do equador em direo ao extremo sul, constata-se que os dias vo se tornando, progressivamente, maiores durante o vero e menores no inverno.

Essa variao no perodo luminoso denomina-se fotoperiodismo, ao qual algumas hortalias, especialmente aliceas, so muito sensveis. Em cebola e alho, somente ocorre a formao de bulbos quando os dias apresentam durao acima de um nmero mnimo de horas de luz fotoperodo crtico, caracterstico de cada cultivar. De acordo com a exigncia fotoperidica, h cultivares precoces e tardias, conforme necessidade de dias menores e maiores, respectivamente, para a bulbificao. Essa a principal razo pela qual certas cultivares sulinas de cebola e de alho no produzem bulbos se plantadas durante o outono poca normal de plantio de tais culturas no centro-sul. Sendo cultivares tardias, a exigncia fotoperidica no satisfeita, motivo pelo qual as plantas se mantm vegetativas.

A formao de flores tambm depende do fotoperodo, estritamente, em certas espcies. Por isso, cultivares europias e norte-americanas de alface pendoam, precocemente, quando cultivadas nos dias longos do vero brasileiro. Contrariamente, as cucurbitceas produzem maior nmero de flores femininas, com conseqente aumento na produtividade, nos dias curtos do inverno. J o morangueiro somente floresce e frutifica em dias curtos, tornando-se vegetativo durante os dias longos do vero.

Do ponto de vista prtico, o fotoperodo torna-se fator limitante somente na produo de poucas espcies olerceas, destacando-se o caso peculiar da cebola e do alho. Em outras espcies, o fotoperiodismo afeta menos o desenvolvimento da planta, bem como a produo.

3.8. IMPORTNCIA DA UMIDADE

A gua imprescindvel vida vegetal e constitui mais de 90% do peso da parte utilizvel da maioria das hortalias, sendo fcil, portanto, aquilatar sua importncia na olericultura. O teor de umidade no solo condiciona a absoro de gua e dos nutrientes minerais, essenciais ao desenvolvimento das plantas; a umidade do ar influencia a transpirao (perda de gua pelas folhas) e outros processos que afetam a cultura.

Dentre os fatores climticos, o teor de umidade no solo aquele que pode mais facilmente ser controlado pelo olericultor, por meio da irrigao. Contrariamente, o controle da umidade do ar bem mais difcil, a no ser pela escolha criteriosa da poca de plantio, considerando-se que o ar mais seco no outono-inverno. Note-se que um elevado teor de umidade no ar afeta o estado fitossanitrio da cultura, especialmente no que concerne ao ataque de fungos e bactrias fitopatognicos. Contrariamente, baixo teor favorece a manifestao de caros e alguns insetos.

O regime pluviomtrico da localidade afeta, substancialmente, a produo das culturas em geral. Entretanto, no caso particular da produo de espcies altamente exigentes de gua, como o so a maioria das hortalias, o fornecimento desta no se pode basear apenas nas chuvas. Por isso, a prtica da irrigao racional indispensvel, devendo estar sempre presente nas cogitaes do olericultor. Durante o perodo chuvoso, todavia, possvel a cultura no irrigada de certas espcies menos exigentes ou dispondo de razes mais profundas -, por exemplo aboboreira, chuchuzeiro, aspargueiro, quiabeiro, dentre outras.

Alm do efeito benfico de elevar o teor de gua disponvel no solo, as chuvas tambm acarretam alguns efeitos negativos s culturas, elevando a umidade do ar e removendo a camada protetora, obtida pela pulverizao com fungicidas, o que favorece o ataque de certos fitopatgenos. Esses problemas fitossanitrios so menos freqentes durante o inverno, certamente devido baixa umidade relativa do ar; durante o vero chuvoso podem tornar-se fator limitante, no caso de culturas suscetveis.

3.9. AGROTECNOLOGIA NO CONTROLE CLIMTICO

O olericultor dispe, atualmente, de alguns artifcios que possibilitam certo controle sobre as condies climticas, na conduo de uma cultura de hortalias.

Quando se pretende diminuir a temperatura do solo ou do leito de semeadura na formao de mudas, podem-se aplicar alguns tipos de cobertura palhosa, como: capim seco, palha da haste do arroz, palha de trigo, maravalha de madeira, bagacilho de cana, casca de arroz etc. O material deve ser abundante na regio ou na propriedade e de baixo custo, devendo sua aplicao ser manual ou, se possvel, mecnica. O principal efeito almejado baixar a temperatura do solo e mant-la favoravelmente estvel, alguns graus abaixo da temperatura normal do solo descoberto, mesmo nas horas de maior insolao. Temperaturas amenas no solo favorecem muito o desenvolvimento das plantas e a produo de algumas espcies olerceas, como alho e morango, nas quais comum o uso dessa prtica cultural.

A cobertura palhosa oferece ainda outros benefcios para as culturas olerceas. Um deles manter adequado teor de umidade no solo por mais tempo, aps a irrigao ou uma chuva, permitindo dilatar o turno de rega, em relao ao solo descoberto. Assim, constata-se real economia de gua e energia, reduzindo-se o custo de produo.

Outra vantagem desse tipo de cobertura o controle das plantas invasoras. A incidncia de ervas daninhas reduzida, dependendo da espcie, podendo-se efetuar o controle integrado com a utilizao de herbicidas, pulverizados sobre o leito em pr-emergncia antes de se aplicar a cobertura. Essas prticas so muito utilizadas em alho, por exemplo.

No caso de sementeiras, ou mesmo na semeadura direta, tambm h benefcios na aplicao da cobertura palhosa, desde que no prejudique a emergncia das plntulas. Dessa forma, pode-se cobrir com casca de arroz uma sementeira para produo de mudas de cebola ou um canteiro para semeadura direta de cenoura, no sendo necessria a remoo do mateiral. No entanto, quando se aplica palha de cereais ou capim, remove-se o material to logo se constate o incio da emergncia das plntulas.

A irrigao constitui um tipo muito utilizado de controle climtico, j que complemente ou substitui as chuvas, elevando o teor de gua til no solo, alm de influenciar o microclima formado ao redor da planta irrigada.

Um controle mais efetivo do clima obtido certamente, pela chamada plasticultura ou cultivo protegido moderna agrotecnologia baseada na aplicao de agrofilmes.

4. SOLO, NUTRIO E ADUBAO

As culturas olerceas so altamente exigentes em nutrientes, razo pela qual os produtores s vezes, erram ao adubarem em excesso; outras vezes, a adubao desequilibrada e, freqentemente, sem orientao agronmica.

4.1. SOLO E FORNECIMENTO DE NUTRIENTES

O solo o substrato natural para a produo agrcola, servindo como meio para o desenvolvimento das razes. Em que pese sua relevncia, entretanto, o solo pode ser profundamente modificado ou at mesmo dispensado, em olericultura, como ocorre no cultivo hidropnico. Todavia, o que acontece freqentemente no a substituio, mas a modificao do solo promovida pelo olericultor. Observa-se que as propriedades fsicas de um solo so mais relevantes que o teor de nutrientes, j que este pode ser profundamente modificado.

O solo agrcola uma importante fonte de nutrientes minerais para as razes. No entanto, no caso particular da olericultura, freqentemente o solo se comporta como fonte insuficiente de nutrientes, dada a elevada exigncia das culturas. Essa limitao da fertilidade natural bem conhecida, podendo ser corrigida pela agrotecnologia. Evidentemente, devem-se minimizar possveis danos ecolgicos, como a contaminao da gua subterrnea por nitratos ou de lagoas por fosfatos.

As culturas precisam encontrar no solo, sob forma e quantidade adequadas, 14 nutrientes reconhecidos como essenciais aos vegetais. A ausncia de qualquer um deles na soluo do solo torna-se fator limitante ao desenvolvimento e produo das plantas. So eles:

Principais

Macronutrientes

Secundrios

Micronutrientes: boro (B), zinco (Zn), molibdnio (Mo), cobre (Cu), mangans (Mn), ferro (Fe), cloro (Cl) e nquel (Ni).

H ainda mais 3 nutrientes silcio (Si), sdio (Na) e cobalto (Co) que no so reconhecidos como essenciais para todas as plantas, mas que beneficiam algumas.

Os 14 nutrientes inicialmente citados so reconhecidos como essenciais ou imprescindveis s plantas superiores as hortalias, por exemplo. Os macronutrientes so extrados em quantidades mais substanciais pelo sistema radicular (kg/ha), em relao aos micronutrientes (g/ha). No obstante, a falta de alguns gramas de um micronutriente pode resultar no insucesso de uma cultura, como se observa no campo. Quanto distino entre principais e secundrios, trata-se de questo puramente legislativa concernente comercializao de fertilizantes, sem qualquer relevncia agronmica.

4.2. EXTRAO E EXPORTAO DE NUTRIENTES

As espcies olerceas extraem do solo e exportam, em suas partes comerciveis, maiores quantidades de nutrientes, por hectare, em relao a outras culturas. Isso ocorre em razo de suas exigncias peculiares e, principalmente, da sua maior capacidade de produo.

A fertilidade natural dos solos no satisfaz, freqentemente, as elevadas exigncias nutricionais das culturas olerceas algo que tem sido demonstrado por pesquisadores e comprovado, na prtica, por olericultores. Entretanto, h toda uma agrotecnologia tcnico-cientfica utilizada para melhorar um solo.

Em certas situaes, o solo naturalmente rico em alguns nutrientes, como K e N, sendo capaz de suprir parcela substancial da exigncia das culturas. Contrariamente, incomum um solo brasileiro apresentando teor to elevado de P em forma utilizvel pela planta que possa dispensar a adubao fosfatada.

4.3. A APLICAO DE NUTRIENTES

As culturas olerceas so mais produtivas e exigentes, razo pela qual extraem e exportam do solo maior quantidade de nutrientes, em relao s culturas de gros, por exemplo, exigindo adubaes mais fartas. A olericultura tambm a atividade agrcola que oferece respostas mais substanciais adubao, sob o duplo aspecto: agronmico e econmico. Adequadamente conduzida, a adubao resulta em maior produo, obtida por unidade de tempo e de rea, alm de produtos com maior valor nutricional, aspecto mais atrativo, melhor sabor e aroma, bem como valor de venda maior. Certamente contribui para isso o elevado potencial gentico das atuais cultivares melhoradas, inclusive mais exigentes em nutrientes, e toda a moderna agrotecnologia. A irrigao, por exemplo, favorece a utilizao dos nutrientes pelas razes; e o controle fitossanitrio mantm a superfcie fotossintetizante ativa por mais tempo, contribuindo para elevar a produo.

Numa sucesso de culturas sobre uma gleba, fundamental considerar o pondervel efeito residual das adubaes anteriormente aplicadas, j que impraticvel fornecer os nutrientes na medida exata para atender, to somente, demanda da cultura visada. Assim, o efeito residual contribui para reduzir o custo da adubao da nova cultura. Por exemplo, o milho-doce pode suceder uma cultura rasteira de tomate, exigindo pouca ou nenhuma adubao. Normalmente, o efeito residual benfico, inclusive contribuindo para melhorar a fertilidade do solo. Entretanto, tambm pode ser prejudicial, no caso de adubaes excessivas. Isso pode ser exemplificado com a aplicao de fontes de boro, sendo a cultura sucedida por outras, sensveis a nveis elevados de B. Vale ressaltar que a anlise do solo de cada gleba de uma propriedade efetuada anualmente e complementada por anlise foliar das culturas pode evitar essas situaes.

A adubao fator que onera o custo de produo de uma cultura, porm no exageradamente. Todavia, como a maximizao do lucro lquido por hectare geralmente coincide com a maximizao da produtividade e da qualidade do produto obtido, para o olericultor empresrio compensador investir em adubao. Alis, tem sido constatado por economistas rurais que, no caso particular da olericultura, o timo em termos agronmicos coincide com o timo em termos econmicos, normalmente. Sem dvida, essa uma prtica que proporciona respostas favorveis, razo pela qual um elevado investimento em adubao costuma ser vantajoso, em termos agronmicos e econmicos.

Em muitas situaes, constata-se que o olericultor aplica excesso de certos nutrientes, ou utiliza adubao desequilibrada, o que, inclusive, pode ocasionar problemas ambientais, como a contaminao da gua subterrnea por nitratos. Tambm se deve considerar que h um limite gentico para a planta responder aplicao de nutrientes mesmo nas atuais cultivares hbridas de alta produo. Ao que parece, tal limite vem sendo ultrapassado em certas culturas, como batata, tomate e morango, com conseqncias agronmicas, econmicas e ambientais negativas.

4.4. A FILOSOFIA DE CONSTRUIR O SOLO

Salvo raras excees, o olericultor brasileiro preocupa-se em adubar a prxima cultura a ser implantada um imediatismo at justificvel, dentro do contexto socioeconmico em que ele vive e labuta. at compreensvel que um arrendatrio no cogite em elevar o nvel de fertilidade da gleba por ele trabalhada, mas sim de satisfazer as exigncias da cultura. Entretanto, essa atitude irracional e injustificvel no caso de um proprietrio que pretenda manter uma agricultura sustentvel e produtiva, ao longo do tempo.

A filosofia de se preocupar, apenas, em adubar cada cultura inadequada. Entretanto, a preocupao exclusiva em melhorar o solo pode conduzir o olericultor a desastres financeiros. Por conseguinte, mister implantar a filosofia de construir o solo, a mdio prazo, paralelamente adubao das culturas imediatismo necessrio sobrevivncia do produtor, especialmente daqueles que dispem de rea limitada. A construo do solo tem sido defendida por estudiosos da agricultura, em solos tropicais de baixa fertilidade. Entretanto, necessrio conciliar aquilo que agronomicamente desejvel com o economicamente vivel ou financeiramente possvel.

a) Calagem

A calagem uma das primeiras prticas ao se cogitar em iniciar um programa de construo ou aprimoramento de um solo agrcola.

A quantidade de calcrio a aplicar pode ser calculada pelo mtodo de saturao por bases muito utilizado no Estado de So Paulo. Nesse mtodo, objetiva-se elevar a atual percentagem de saturao por bases fornecida pela anlise (V%) para o nvel desejvel, de 60 a 80%, dependendo da cultura. Tambm se procura elevar os teores de Ca e de Mg trocveis, aplicando um corretivo rico em ambos os nutrientes, ou apenas em Ca, conforme a situao.

A aplicao de calcrio deve ser efetuada a lano sobre o solo, com antecedncia mnima de 60 a 90 dias do plantio, devendo a gleba ser molhada nesse perodo pela chuva ou pela irrigao. Observe-se que a cal agrcola um corretivo de mais rpida solubilizao, que pode ser aplicado com antecedncia menor, de at 30 dias. A faixa de acidez do solo a ser atingida deve ser de pH 6,0 a 6,5 a mais favorvel para a maioria das culturas, inclusive por possibilitar a absoro da maioria dos nutrientes.

b) Adubao corretiva

A adubao corretiva tem por objetivo elevar a disponibilidade de certos nutrientes, como o P e o K, num solo de baixa fertilidade natural, ou empobrecido por anos de manejo inadequado. Visa, tambm, reduzir as perdas no solo de nutrientes aplicados em formas prontamente solveis. Proporciona melhor disponibilidade de certos nutrientes ao sistema radicular, o que ocorre num maior volume de solo a ser explorado pelas razes. Evita-se, assim, que as razes se concentrem em pequeno volume de solo como ocorre quando a adubao localizada em covas.

c) Adubao verde

A incorporao de restos culturais ao solo um meio eficiente e econmico que o agricultor dispe para elevar o teor de matria orgnica, alm do enriquecimento em nutrientes. A chamada adubao verde um caso particular da incorporao de plantas herbceas ao solo, favorecendo as condies fsicas, qumicas e biolgicas. Consiste em incorporar a massa vegetal produzida no prprio terreno, utilizando-se, para isso, plantas da famlia das fabceas (antigamente, leguminosas), especialmente cultivadas para essa finalidade. Destacam-se, dentre elas, as crotalrias e as mucunas, pela produo de massa verde e riqueza em N. Quando em florao, com as plantas ainda tenras e facilmente decomponveis, promove-se a incorporao pela arao ou gradagem.

Os benefcios dessa prtica agrcola ancestral so numerosos e notveis. O mais relevante a fixao do N atmosfrico pelas razes, em simbiose com certas bactrias fixadoras. Alm deste, podem ser citados: a descompactao do solo, provocada pela passagem de mquinas; a melhoria na utilizao dos nutrientes pelas culturas; o aumento na capacidade de armazenamento de gua; a reduo na populao de nematides daninhos; a reduo na infestao de plantas invasoras; e certa proteo do solo contra a eroso provocada pelas chuvas.

A nica desvantagem deixar a gleba ocupada, durante alguns meses, com uma cultura que no produzir renda imediata. Talvez isso no explique a falta de tradio no uso dessa utilssima prtica agrcola, mas sim o total desconhecimento por parte dos olericultores. Certamente, essa prtica pode ser economicamente desvantajosa para um arrendatrio, mas no para um proprietrio rural.

4.5. ADUBAO MINERAL NO PLANTIO

O plantio ocasio propcia para o fornecimento de nutrientes s plantas via sistema radicular. O N constitui exceo, podendo ou no integrar a adubao de plantio, j que a maior parcela da dose programada dever ser aplicada ps-plantio. A aplicao de K tambm pode ser parcelada, se bem que, em muitas situaes, a dosagem total possa ser aplicada por ocasio do plantio.

No tarefa fcil conciliar os aspectos agronmicos e econmicos e a praticidade na aplicao da adubao mineral. Assim, usualmente, aplicam-se formulaes NPK, obtidas a partir da mistura de adubos simples, utilizados como fontes de nutrientes. Os 3 nmeros, visveis nas embalagens, referem-se s percentagens de N, P2O5 e K2O. Observe-se que esses dois xidos so uma forma arcaica (porm universal) de expressar os teores de P e K disponveis.

Em olericultura, constata-se que os corretivos de acidez no constituem fontes totalmente confiveis de Ca e Mg. H outro engano generalizado: S no veiculado pelas chuvas em quantidades adequadas s necessidades de certas culturas, a no ser em regies industrializadas, em razo dos compostos sulfurosos emitidos pelas chamins nocivos aos moradores e natureza. No campo, constata-se que notria a deficincia de Ca e Mg, mais raramente em S, dependendo da cultura e do solo. Conclui-se que a formulao NPK deva fornecer tambm os macronutrientes ditos secundrios. Obviamente, os resultados das anlises do solo e foliar devem ser considerados.

Uma formulao NPK adequada ao plantio de hortalias deve ser substancialmente mais rica em fsforo expresso em percentagem de P2O5 -, em relao aos demais nutrientes. O P deve apresentar-se em forma utilizvel pelas razes. Na maioria das situaes, o fornecimento de P no deve ser parcelado, como se faz com N e K. Alm disso, o fornecimento de P e Ca por ocasio do plantio favorece a formao de amplo e ativo sistema radicular. Tambm tem sido demonstrado que a localizao de P-solvel diretamente abaixo das razes, ou muito prximo, mais eficiente. Desse modo, a formulao deve apresentar baixa percentagem de N, elevada de P2O5 e mdia de K2O.

4.6. ADUBAES EM COBERTURA

Por ocasio do plantio deve-se, na maioria das situaes, aplicar a dosagem total necessria de P, porm apenas uma parcela mnima da dosagem total de N, e a metade, ou menos, da dosagem total de K. Aplicar as doses adequadas de N uma arte, que depende da experincia pessoal com a cultura e o solo trabalhado. Em alguns casos, a dose total de K tambm deve ser parcelada, para aumentar a eficincia de sua utilizao pela planta.

A condio para que um nutriente possa ser utilizado pelas razes, quando aplicado em cobertura, que possua boa mobilidade vertical no solo. Nesse aspecto, destaca-se N, seguido por K, enquanto P apresenta pequena mobilidade vertical. Por conseguinte, a aplicao de P em cobertura ineficiente e antieconmica, na maioria das situaes. Uma exceo o caso do tomateiro tutorado, que responde bem aplicao de P na primeira cobertura, desde que haja incorporao pela amontoa. Em outras situaes, ao se aplicar P em cobertura, parte substancial fixada pelo solo e o restante no se move com velocidade suficiente para atingir as razes ativas na absoro. Inversamente, por sua elevada mobilidade, a maior parcela da dose total planejada de N deve ser aplicada em cobertura. Assim, o N estar disponvel para as razes, no tempo e no local mais favorveis. Pela mesma razo, a adubao de plantio deve ser pobre em N, evitando-se perdas por lixiviao, para fora do alcance das razes, e prevenindo danos s plantas jovens. Atualmente, considera-se que tambm o K, em algumas culturas, deve ter aplicao parcelada, mormente em solos arenosos.

Adubaes em cobertura so, portanto, indispensveis, geralmente.

4.7. ADUBAO VIA FOLIAR

Em olericultura, a adubao foliar justifica-se e recomendada quando vista como uma complementao s aplicaes efetuadas no solo e, ainda, quando se pretende uma resposta rpida da cultura, em caso de carncia de nutrientes, declarada ou iminente.

a) Macronutrientes

Os olericultores vm utilizando a adubao foliar. Trata-se de complementar a adubao via solo, fornecendo pequena parcela da quantidade necessria dos macronutrientes, ou mesmo parcela substancial, no caso dos micronutrientes. Experimentalmente, tem sido demonstrada a capacidade de as culturas utilizarem nutrientes aplicados em pulverizao. A eficincia varia conforme o nutriente, a espcie botnica e as condies agroecolgicas.

H situaes em que a adubao foliar o nico meio de corrigir sintomas de deficincia mineral, com a presteza necessria para que a planta retome o desenvolvimento e produza normalmente. A absoro de nutrientes via foliar mais rpida que pela via normal, radicular, porm esta ltima absorve quantidades mais elevadas. Em compensao, aplicados sobre as folhas, os nutrientes sofrem perdas substancialmente menores. Servem de exemplos a lixiviao do N e a fixao do P, quando aplicados ao solo. Todavia, as aplicaes foliares no podem substituir, no caso dos macronutrientes, mas apenas complementar a adubao foliar.

b) Micronutrientes

No caso dos micronutrientes, a aplicao foliar pode suprir, total ou substancialmente, as exigncias das culturas, e ter custo muito inferior ao da aplicao via solo. Alm disso, evita as perdas elevadas, comuns nas aplicaes ao solo, j que a eficiente utilizao pelas razes depende do grau de acidez e de outros fatores edficos.

4.8. FERTIRRIGAO ADUBAO NA GUA

Uma alternativa para a adubao em cobertura a fertirrigao dissoluo de certos fertilizantes na gua de irrigao -, sendo a aplicao efetuada por asperso ou gotejamento. Entre os fertilizantes solveis mais utilizados esto: uria, nitrato de amnio, nitrato de clcio, nitrato de magnsio, fosfato de amnio e sulfato de potssio. Tambm esto disponveis formulaes especficas, de alta solubilidade, contendo a maioria dos macronutrientes. Todos os nutrientes podem ser aplicados, embora seja mais comum a aplicao de N e de K em substituio s adubaes em cobertura. Com a generalizao do uso da irrigao por piv central e a introduo da rega por gotejamento, a fertirrigao vem ganhando adeptos.

Em termos experimentais, pouco se sabe sobre essa agrotecnologia nas condies brasileiras. H questes que devem ser consideradas e pesquisadas, como nutrientes a aplicar, suas melhores fontes, dosagens adequadas e intervalos entre as aplicaes. Indubitavelmente a fertirrigao, em comparao com os demais mtodos de aplicao de fertilizantes, permite grande economia em adubos; alta preciso na dosagem e na aplicao; economia de mo-de-obra; maior eficincia da adubao; e perdas mnimas por percolao, lixiviao, escorrimento e fixao.

4.9. HIDROPONIA CULTIVO NA GUA

A hidroponia denominado cultivo sem solo vem sendo praticada desde a dec. de 1930, nos Estados Unidos e em outros pases; no Brasil, somente a partir de fins da dec. de 1980. O solo substitudo por outro meio slido (cascalho, areia, vermiculita, plstico, l de rocha) e banhado por soluo contendo todos os nutrientes necessrios; ou as razes desenvolvem-se imersas, sem qualquer substrato slido. Normalmente, aplica-se essa agrotecnologia juntamente com o cultivo em estufa.

Essa tcnica apresenta vrias vantagens em relao ao cultivo no solo: exige menos trabalho humano; elimina vrias operaes agrcolas tradicionais; as plantas no competem por nutrientes ou gua; a produtividade pode triplicar, no mnimo; a utilizao da gua e dos nutrientes maximizada; h maior precocidade na colheita; a incidncia de problemas fitossanitrios menor; h menor exigncia de aplicao de defensivos; geralmente a qualidade dos produtos melhor; e o produto se apresenta limpo. Entretanto, tambm h desvantagens, como custo inicial elevado da estrutura e dos equipamentos; risco de perda total, por falta de energia eltrica; exigncia de conhecimentos sobre qumica e nutrio de plantas; e danos severos s plantas ocasionados pelo balano inico e pela condutividade eltrica da soluo inadequados.

A viabilidade econmica da hidroponia depende de vrios fatores, sendo essencial a proximidade de um centro consumidor. Essa tcnica permite, inclusive, que se desenvolva a olericultura em situaes em que a utilizao do solo invivel: em desertos, ridos ou gelados, e em estaes orbitais, por exemplo, ou ento quando se dispe de uma rea diminuta, como no caso de um lote urbano. As culturas produzidas tm sido alface, morango, agrio e tomate, principalmente. Em termos agronmicos e econmicos, muitas espcies no se adaptam hidroponia. Portanto, trata-se de uma opo que no deve ser usada indiscriminadamente. Na maioria das situaes, o solo continua sendo o substrato mais favorvel olericultura.

4.10. ADUBAO ORGNCIA

desejvel que o olericultor procure aprimorar as condies fsicas e biolgicas do solo, pela incorporao de materiais orgnicos, desde que esteja ciente de que eles so bons condicionadores de solo, porm fontes pouco eficientes de nutrientes. Alis, a adubao orgnica vem sendo utilizada h sculos em olericultura.

Os benefcios da adubao orgnica tm sido reconhecidos, ressaltando-se que a incorporao de materiais orgnicos, como o esterco animal, torna o solo um substrato mais propcio agricultura. Ela possui algumas caractersticas que favorecem a agricultura, notadamente: aumenta a capacidade de penetrao e reteno de gua; melhora a estrutura, o arejamento e a porosidade; aumenta a vida microbiana til, inclusive com eliminao de fitopatgenos; favorece a disponibilidade e a absoro de nutrientes; e os solos argilosos, pesados e compactos, tornam-se mais favorveis, assim como os arenosos, leves e sem boa estrutura.

Vale enfatizar que a adubao orgnica provoca antagonismos entre microorganismos do solo, podendo resultar no controle biolgico de nematides, bactrias e fungos, prejudiciais ao sistema radicular das culturas. Em se tratando de gleba pequena, intensivamente cultivada, vivel procurar manter a sanidade do solo, por meio de aplicaes pesadas de materiais orgnicos. o que ocorre em estufas, por exemplo, j que inconveniente mudar a estrutura do lugar.

5. PROPAGAO E IMPLANTAO DA CULTURA

As culturas olerceas so propagadas por sementes botnicas em sua maioria, ou pelo plantio de partes vegetativas. nessa etapa delicada da cultura que so cometidos pequenos e grandes enganos, muitos dos quais no podem ser corrigidos posteriormente. A bem do sucesso de seu agronegcio, em um mundo mais competitivo, distinto e distante daquele das dcadas passadas, o olericultor empresrio atual dedica mais ateno etapa crucial da implantao das culturas.

5.1. PROPAGAO POR SEMENTES

A maioria das hortalias propagada utilizando-se semente botnica. Todavia, tal insumo agrcola, de importncia fundamental numa cultura, nem sempre recebe a ateno devida por parte do olericultor.

a) Qualidade da semente

Tradicionalmente, o olericultor brasileiro d maior importncia aos fertilizantes e defensivos que qualidade da semente. Agravando essa situao, em muitas localidades interioranas no h disponibilidade de boas sementes. A relao custo/benefcio deveria ser mais bem avaliada pelo olericultor, que se mostra muito sensvel ao custo elevado de sementes de qualidade. Alm disso, a semente botnica o item que menos onera o custo de produo de uma cultura.

A semente de alta qualidade deve conter carga gentica (gentipo) favorvel, originando plantas responsivas agrotecnologia e produtos com as caractersticas exigidas pelo consumidor. O ndice percentual de germinao deve ser elevado, acima do padro nacional mnimo exigido para aquela espcie, constando na embalagem, juntamente com outras informaes de interesse. O nome original da cultivar deve ser mantido; empresas idneas imprimem na embalagem esse nome, bem como o nome comum da espcie (em portugus, ingls e espanhol).

A semente inferior, alm de no ser geneticamente melhorada, pode disseminar fitopatgenos responsveis por focos iniciais de doenas dentro da cultura. A esse respeito vale ressaltar que as empresas produtoras idneas, quando necessrio, efetuam tratamentos de natureza fsica (gua quente) ou qumica (fungicidas e antibiticos) para assegurar a sanidade da semente.

Por ser a umidade capaz de diminuir a longevidade das sementes, estas devem ter o teor de umidade reduzido, previamente embalagem em recipientes hermticos, no caso da maioria das espcies. A embalagem adequada deve assegurar a manuteno do baixo teor inicial de umidade, no permitindo trocas com o ambiente externo. As embalagens atuais so de vrios tipos (latas, baldes plsticos, envelopes e saquinhos). Os Envelopes e saquinhos tm paredes constitudas por camadas de alumnio, polietileno e outros materiais, sendo mais eficientes na conservao das sementes. Isso ocorre mesmo em umidade e temperatura elevadas condies comuns em climas tropicais e altamente deletrias s sementes.

Atualmente, observa-se sensvel evoluo na produo e comercializao de sementes de hortalias no Brasil. Nota-se, inclusive, o empenho de algumas empresas em produzir sementes de cultivares adaptadas s condies brasileiras, as cultivares nacionais includas. Algumas poucas espcies, todavia, no encontram boas condies agroclimticas para a produo de sementes, razo pela qual a semente importada, como no caso da beterraba.

b) Escolha da cultivar

Atualmente, h grande disponibilidade de cultivares melhoradas, como se verifica nos catlogos das firmas produtoras de sementes de hortalias. Novas cultivares vm sendo freqentemente introduzidas, a tal ponto que a nica maneira de algum se manter atualizado consultar esses catlogos, ou manter contato com os agrnomos dessas empresas.

Uma evoluo que est em pleno andamento a introduo de sementes de novos hbridos. Embora as sementes hbridas sejam de custo muito mais elevado, em relao s no hbridas, h algumas vantagens em sua utilizao. Assim, apresentam o vigor de hbrido (heterose), que se manifesta pela obteno de plantas mais vigorosas desde a germinao da semente e, em algumas espcies, pelo aumento na produtividade. A uniformidade outra vantagem, constatada durante o desenvolvimento da planta at colheita, inclusive com relao ao produto colhido. A precocidade observada em todas as etapas do desenvolvimento da planta, com encurtamento do ciclo cultural. Finalmente, os fitomelhoristas incorporam, com maior facilidade no caso dos hbridos, genes de resistncia a doenas.

A ltima inovao na escolha de cultivares o uso de plantas transgnicas aquelas com gentipo modificado, contendo genes de outra espcie transplantados. A polmica sobre a utilizao de tais plantas, bem como o efeito sobre o homem e a natureza, levou criao da Comisso Tcnica Nacional de Biossegurana, em 1996, responsvel pelas normas relativas ao uso dessas plantas. H notcias sobre cultivares transgnicas de hortalias, obtidas no exterior, no introduzidas no Brasil. Observe-se, inclusive, que a melancia sem sementes e o tomate longa vida foram obtidos por tcnicas de melhoramento gentico clssicas. At o momento, pelo que se sabe, cultivares transgnicas de hortalias no esto sendo plantadas nem comercializadas no Brasil.

c) Aquisio de sementes

Atualmente, no mais se justifica o olericultor adquirir sementes retiradas de embalagens abertas, nem mesmo para pequenos plantios. que houve uma sensvel evoluo, e hoje h embalagens de vrias capacidades nos mostrurios das firmas fornecedoras de insumos agrcolas. Igualmente, a no ser que o olericultor pretenda atuar como fitomelhorista o que pode ser interessante -, no mais se justifica produzir sementes na propriedade rural. H de se considerar esse um ramo complexo, cada vez mais especializado. Exemplificando, tcnicas de biotecnologia e os procedimentos para a obteno de hbridos esto fora do alcance do produtor.

No demais, portanto, enfatizar que o olericultor deve adquirir sementes de alta qualidade em embalagem com capacidade capaz de atender ao tamanho da cultura programada. bom ressaltar que se vive, hoje, em um mundo competitivo, no qual so exigidas mais competncia na produo e melhor qualidade no produto. Logicamente, a aquisio de sementes de qualidade um dos primeiros passos para se iniciar uma bem sucedida cultura de hortalias.

d) Produo de mudas em sementeiras

INCLUDEPICTURE "../../Dados%20de%20aplicativos/Microsoft/CONCURSO%20ESAM/Trabalhos%20do%20Maluf%20e%20outros/Horta%20caseira_arquivos/Image6.gif" \* MERGEFORMAT

INCLUDEPICTURE "../../Dados%20de%20aplicativos/Microsoft/CONCURSO%20ESAM/Trabalhos%20do%20Maluf%20e%20outros/Horta%20caseira_arquivos/Image5.gif" \* MERGEFORMAT Produo de mudas em sementeiras (Fotos: Arquivos UFLA).

Numerosas culturas olerceas so tradicionalmente propagadas pela semeadura em canteiros especialmente preparados as sementeiras. Essas so espcies que resistem bem ou so at beneficiadas pelo transplante para o local definitivo, efetuado posteriormente.

Uma sementeira pode ser um canteiro rstico, temporrio, ou mais sofisticado, com proteo de alvenaria. O importante que deve satisfazer s exigncias iniciais peculiares a cada espcie, em relao aos fatores que afetam a germinao da semente e o desenvolvimento da plntula, como temperatura do leito, teor de umidade, arejamento do meio e fornecimento de luminosidade (em poucos casos). Dessa forma, importante planejar bem a localizao, devendo o local escolhido receber luz solar ao longo do dia e ter disponibilidade de gua. A proximidade do terreno de implantao definitiva da cultura tambm desejvel, pois facilita o manuseio e o transporte das mudas, diminuindo os riscos por ocasio da mudana de local.

O leito de uma sementeira merece ateno especial. Deve ser constitudo de solo de textura mdia, mais arenoso que argiloso e que no seja pesado; adequadamente frtil, mas no exageradamente provido de N; rico em matria orgnica decomposta; e com timas propriedades fsicas (porosidade, arejamento, reteno de umidade e drenagem). O preparo do solo deve ser cuidadoso, pois necessrio evitar que torres, restos culturais e outros obstculos impeam o contato ntimo entre a semente e as partculas do solo. A constituio ideal do solo de um leito aquela na qual um pouco dele, quando umedecido e apertado na palma da mo, forma um torro, que se esboroa quando esfregado entre os dedos.

Quando o solo do local escolhido j apresenta a maioria das caractersticas desejveis, a obteno de um bom leito favorecida. Na prtica, todavia, geralmente necessria a adio de outros materiais. O terrio de mata, aquela camada escura que cobre o solo por entre as rvores, timo material. Tambm o esterco de curral, curtido e peneirado, til condicionador de solo. Se o solo do local excessivamente argiloso, pode-se lhe adicionar areia.

As dimenses de uma sementeira devem facilitar a semeadura e a execuo dos tratos culturais. Uma largura til de 1 m evita o pisoteio, quando h movimentao de pessoas, e facilita os clculos referentes s quantidades de sementes e de adubos. J o comprimento pode ser muito varivel, porm no deve ultrapassar 5 m, evitando-se perdas de tempo na movimentao dos operrios. As sementeiras devem ser separadas por caminhos com 30 cm de largura, para movimentao de pessoas, e por outros, mais largos, para passagem de mquinas.

A espessura total do leito deve ser de 15-20 cm, sendo 10 cm localizados acima do nvel normal do terreno, no mximo. Em solos com boa drenagem, somente h desvantagem na construo de sementeiras muito elevadas, pois o leito torna-se mais rapidamente ressecado. Depois que o solo revolvido, incorporam-se condicionadores de solo (esterco, areia ou vermiculita) e procura-se obter a altura desejada, acertando a superfcie com um ancinho.

Quanto nutrio mineral, a prtica tem consagrado a aplicao de 100-150 g de superfosfato simples, juntamente com 30-40 g de cloreto de potssio, por metro quadrado, em solos pobres. O N contido na adubao orgnica costuma ser suficiente na fase inicial do desenvolvimento da plntula, porm um excesso origina hastes finas e folhas muito tenras. Esterco de curral, bem curtido e peneirado, pode ser aplicado a lano e incorporado 10-15 dias antes da semeadura, juntamente com os adubos minerais. No acabamento final, a superfcie do leito deve ser bem nivelada.

A semeadura bem rala feita em sulcos transversais distanciados 10-15 cm e na profundidade de 1 cm no caso de sementes diminutas. Quando as sementes so maiores, a profundidade deve ser aumentada, havendo uma regra que estabelece ser ela o dobro do maior dimetro. Na maioria das espcies, a densidade de semeadura deve ser de 3-4 gramas por metro quadrado de leito.

Aps a semeadura, os sulcos devem ser cobertos com material do prprio leito, vermiculita, areia fina ou casca de arroz, no devendo tais coberturas ser removidas. Materiais como palha, capim seco ou estopa, podem ser aplicados, porm devero ser retirados logo no incio da emergncia, prevenindo-se o estiolamento das plntulas.

e) Produo de mudas em copinhos

A produo de mudas em copinhos confeccionados com papel de jornal uma inveno brasileira da dec. de 1970 mais vantajosa para certas espcies em relao ao uso de sementeiras. o caso das solanceas-fruto (tomate, pimento, pimenta, berinjela e jil) e das cucurbitceas (pepino, abbora, moranga, melo e melancia), que podem ser beneficiadas.

Uma das vantagens no uso de copinhos a diminuio do manuseio das mudas, prevenindo-se a disseminao de fitopatgenos por mos contaminadas. Danos ao sistema radicular so evitados, o que dificulta a penetrao de fitopatgenos de solo. H reduo do tempo necessrio formao da muda, que permanece no copinho por 25-30 dias, no mximo, aps a semeadura. O ciclo da cultura tambm diminudo, devido ausncia de danos s razes, aumentando-se a precocidade da colheita. Quando so utilizados hbridos, cujas sementes so de custo mais elevado, h melhor aproveitamento. Finalmente, o pegamento da muda, aps o plantio no local definitivo, favorecido.

Um dos inconvenientes da formao de mudas em copinhos a utilizao intensiva de mo-de-obra. Outra desvantagem que os copinhos perdem gua muito rapidamente, exigindo irrigaes abundantes e freqentes durante o dia.

Para o substrato, um bom material o terrio de mata ou qualquer outro solo contendo teor elevado de matria orgnica j decomposta. No caso de se utilizar solo pobre, este poder ser misturado com esterco de curral bem curtido e peneirado, na proporo volumtrica de 2:1. O superfosfato simples pode ser aplicado na dose de 20-40 g por litro da mistura, conforme a espcie.

Os copinhos podem ser arranjados, encostados um ao outro, formando-se lotes com 1 m de largura e at 5 m de comprimento. Distribuem-se duas a trs sementes no centro de cada copinho, as quais devem ser cobertas com o substrato, de modo a ficarem localizadas na profundidade de cerca de 10-20 mm, dependendo do tamanho das sementes. Podem-se cobrir os copinhos com casca de arroz, que no exig