apostila de etica

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1 1. ÉTICA - CIDADANIA E EDUCAÇÃO Ética: significa o que é bom para o indivíduo e para a sociedade, o seu estudo contribui para estabelecer a natureza de deveres no relacionamento indivíduo - sociedade. O termo ético deriva do grego ethos (caráter, modo de ser de uma pessoa). Ética é um conjunto de valores morais e princípios que norteiam a conduta humana na sociedade. A ética serve para que haja um equilíbrio e bom funcionamento social, possibilitando que ninguém saia prejudicado. Neste sentido, a ética, embora não possa ser confundida com as leis, está relacionada com o sentimento de justiça social. A ética é construída por uma sociedade com base nos valores históricos e culturais. Do ponto de vista da Filosofia, a Ética é uma ciência que estuda os valores e princípios morais de uma sociedade e seus grupos. Códigos de ética Cada sociedade e cada grupo possuem seus próprios códigos de ética. Num país, por exemplo, sacrificar animais para pesquisa científica pode ser ético. Em outro país, esta atitude pode desrespeitar os princípios éticos estabelecidos. Aproveitando o exemplo, a ética na área de pesquisas biológicas é denominada bioética. A ética em ambientes específicos Além dos princípios gerais que norteiam o bom funcionamento social, existe também a ética de determinados grupos ou locais

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Apostila de Etica da pos graduação

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Page 1: Apostila de Etica

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1. ÉTICA - CIDADANIA E EDUCAÇÃO

Ética: significa o que é bom para o indivíduo e para a sociedade, o seu estudo contribui

para estabelecer a natureza de deveres no relacionamento indivíduo - sociedade.

O termo ético deriva do grego ethos (caráter, modo de ser de uma pessoa). Ética é um

conjunto de valores morais e princípios que norteiam a conduta humana na sociedade. A ética serve

para que haja um equilíbrio e bom funcionamento social, possibilitando que ninguém saia

prejudicado. Neste sentido, a ética, embora não possa ser confundida com as leis, está relacionada

com o sentimento de justiça social.

A ética é construída por uma sociedade com base nos valores históricos e culturais. Do

ponto de vista da Filosofia, a Ética é uma ciência que estuda os valores e princípios morais de uma

sociedade e seus grupos. 

Códigos de ética 

Cada sociedade e cada grupo possuem seus próprios códigos de ética. Num país, por

exemplo, sacrificar animais para pesquisa científica pode ser ético. Em outro país, esta atitude pode

desrespeitar os princípios éticos estabelecidos. Aproveitando o exemplo, a ética na área de

pesquisas biológicas é denominada bioética.

A ética em ambientes específicos

Além dos princípios gerais que norteiam o bom funcionamento social, existe também a

ética de determinados grupos ou locais específicos. Neste sentido, podemos citar: ética médica,

ética profissional (trabalho), ética empresarial, ética educacional, ética nos esportes, ética

jornalística, ética na política, etc.

Antiética 

Uma pessoa que não segue a ética da sociedade a qual pertence é chamado de antiético,

assim como o ato praticado.

Define-se Moral: como um conjunto de normas, princípios, preceitos, costumes,

valores que norteiam o comportamento do indivíduo no seu grupo social. Moral e ética não devem

ser confundidos: enquanto a moral é normativa, a ética é teórica, e pretende explicar e justificar os

costumes de uma sociedade.

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Cidadão: é aquele que convive numa sociedade respeitando o próximo, cumprindo com

as suas obrigações e gozando os seus direitos

Cidadania: A origem da palavra cidadania vem do latim “civitas”, que quer dizer

cidade. A palavra cidadania foi usada na Roma antiga para indicar a situação política de uma pessoa

e os direitos que essa pessoa tinha ou podia exercer, desse modo é o conjunto de direitos, e deveres

ao qual um indivíduo está sujeito em relação à sociedade em que vive.

No Brasil, estamos gestando a nossa cidadania. Damos passos importantes com o processo

de redemocratização e a Constituição de 1988. Mas, muito temos que andar. Ainda predomina uma

visão reducionista da cidadania (votar, e de forma obrigatória, pagar os impostos... ou seja, fazer

coisas que nos são impostas) e encontramos muitas barreiras culturais e históricas para a vivência

da cidadania. Somos filhos e filhas de uma nação nascida sob o signo da cruz e da espada,

acostumados a apanhar calados, a dizer sempre “sim senhor?, a «engolir sapos”, a achar “normal”

as injustiças, a termos um “jeitinho’ para tudo, a não levar a sério a coisa pública, a pensar que

direitos são privilégios e exigi-los é ser boçal e metido, a pensar que Deus é brasileiro e se as coisas

estão como estão é por vontade Dele.

Os direitos que temos não nos foram conferidos, mas conquistados. Muitas vezes

compreendemos os direitos como uma concessão, um favor de quem está em cima para os que estão

em baixo. Contudo, a cidadania não nos é dada, ela é construída e conquistada a partir da nossa

capacidade de organização, participação e intervenção social.

A cidadania não surge do nada como um toque de mágica, nem tão pouco a simples

conquista legal de alguns direitos significa a realização destes direitos. É necessário que o cidadão

participe, seja ativo, faça valer os seus direitos. Simplesmente porque existe o Código do

Consumidor, automaticamente deixarão de existir os desrespeitos aos direitos do consumidor ou

então estes direitos se tornarão efetivos? Não! Se o cidadão não se apropriar desses direitos

fazendo-os valer, esses serão letra morta, ficarão só no papel.

Construir cidadania é também construir novas relações e consciências. A cidadania é algo

que não se aprende com os livros, mas com a convivência, na vida social e pública. É no convívio

do dia-a-dia que exercitamos a nossa cidadania, através das relações que estabelecemos com os

outros, com a coisa pública e o próprio meio ambiente. A cidadania deve ser perpassada por

temáticas como a solidariedade, a democracia, os direitos humanos, a ecologia, a ética.

A cidadania é tarefa que não termina. A cidadania não é como um dever de casa, onde faço

a minha parte, apresento e pronto, acabou. Enquanto seres inacabados que somos, sempre estaremos

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buscando, descobrindo, criando e tomando consciência mais ampla dos direitos. Nunca poderemos

chegar e entregar a tarefa pronta, pois novos desafios na vida social surgirão, demandando novas

conquistas e, portanto, mais cidadania.

Ética e Cidadania pretende levar a comunidade a atuar com respeito, solidariedade,

responsabilidade, justiça, não-violência e a dialogar nas mais diferentes situações.

O líder de um grupo deve ser íntegro, imparcial, fiel à sua palavra e valores. Não deve

fazer promessas que não possa cumprir. Deve ser bom comunicador, flexível, organizado, ser

consciente, elogiar os outros, dar um bom exemplo e sempre que lhe seja possível delegar.

Não deve fazer comentários que possam humilhar ou envergonhar os outros, se precisar de

chamar a atenção a alguém, fá-lo a sós. Não deve levar a sério alguém que é muito resmungão

(pode ser feitio), falar nas costas dos outros, ser paciente. Sempre que algum for incorreto com

outro, sugerir-lhe que peça desculpa. Não deve gritar ou mostrar ressentimentos para com alguém

que tenha feito algo errado. Em conclusão gerir recursos humanos é das tarefas mais difíceis que se

impõem a um líder.

Não se deve utilizar os serviços de saúde indiscriminadamente, nomeadamente as

urgências hospitalares. Quando os utilizamos devemos ser pacientes, respeitar o pessoal médico e

hospitalar, assim como as prioridades que eles impõem.

Devemos sempre dar muita atenção à educação escolar dos nossos filhos, colaborarmos

com os Professores e Pessoal Auxiliar, ser participativos, estar presentes em reuniões, darmos

opiniões, reclamarmos se for necessário.

Devemos dar exemplos de como se poupa energia reciclando, adquirindo embora mais

caras lâmpadas economizadoras. Além das economizadoras também podemos usar fluorescentes,

contribuindo para a prestação do meio ambiente. Não deixar lâmpadas acesas se não for necessário

e ligados desnecessariamente rádios, computadores, aparelhagens, ou deixar televisões em stand by.

Na água que deitamos pelos esgotos não devemos adicionar óleos de frituras, o seu

tratamento além de mais difícil é mais dispendioso. Devemos colocar o óleo em garrafas e

colocarmo-lo no lixo comum. Devemos ter sempre atenção ao rótulo dos detergentes, não devemos

utilizar detergentes para lavar as mãos, de preferência um sabão azul ou neutro. Aos supermercados

devemos sempre que possível levar os mesmos sacos, e preferirmos sacos bio-degradáveis.

Na rua devemos colocar os papéis em contentores próprios, não sujarmos jardins, passeios,

etc. Se levarmos os cães a passear devemos recolher os seus dejetos, evitando a poluição e a

contribuição para doenças muito graves. Se temos tinteiros, radiografias ou toners vazios, podemos

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levá-los aos correios, escuteiros ou Ong´s, (Organizações não governamentais) preferirmos vidro

em vez de metal, comprarmos produtos a granel em vez de embalados.

Os medicamentos fora de prazo, entregá-los nas farmácias evitando poluir os recursos

naturais ou talvez sirvam para ainda serem reciclados. Pilhas, uso as recarregáveis e quando acabam

coloco-as no pilhão.

Só mudar a bateria do carro, óleo e pneus em locais autorizados. Com estes atos podemos

estar a contribuir para que o país importe menos petróleo, contribua para o arrefecimento global,

melhorando o nosso estado de vida ecológico e económico.

No nosso dia a dia devemos procurar sempre novas formações aprender a utilizar as novas

tecnologias, sermos autodidatas, pensarmos sempre em inovar, fazer mais em menos tempo e com

menor esforço, comunicando aos nossos amigos o êxito obtido, para os cativar a fazer o mesmo.

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2. ÉTICA E MORAL, O QUE FAZER?

Queremos começar este texto com a seguinte citação de Mahatma Ghandi:

"Vigie seus pensamentos; porque eles se tornarão palavras; vigie suas palavras, porque elas

se tornarão atos; vigie seus atos; porque eles se tornarão seus hábitos; vigie seus hábitos, porque

eles se tornarão seu caráter; vigie seu caráter - porque ele será o seu destino".

Estudar o que é certo e o que é errado, numa sociedade em que os valores morais

estabelecidos estão invertidos, não é tarefa fácil. Do ponto de vista social podemos citar o lar como

o indicador que orienta e desenvolve o sistema educacional, moral e ético que conduz os indivíduos

a um comportamento diferenciado. Se quisermos fazer alusão à religião prática podemos dizer ainda

que o Livro Sagrado, a Bíblia é um balizador da ação moral e ética da humanidade.

Ele é lâmpada que guia nossas ações na sociedade, no lar, e na comunidade religiosa.

Molda nosso caráter interior e exterior. Permita-me fazer outra citação que considero relevante

neste momento: "Nos Estados Unidos, a discussão pedagógica mais importante hoje é justamente

sobre criar uma criança com valores éticos, com "inteligência moral", na definição do psiquiatra

Robert Coles, da Universidade de Harvard.

No Brasil, o discurso é muito parecido. Os pedagogos, mesmo os mais liberais, defendem

que é necessário impor limites. Não se deve esquecer da tarefa moral da inteligência, pois sem ela,

formar-se-á uma geração eticamente incapaz de valorizar o próximo."

Notamos ainda que a década de 1960 desabou sobre a sociedade uma revolução moral que

fermentará durante anos. Em parte, ela era aceitável, especialmente por repudiar abusos do poder

político, econômico e militar.

Entretanto, ao rejeitar as vias tradicionais, ela também mudou a moral sexual existente, e

levou o indivíduo à extremos narcisistas, pois colocou em risco os ideais até então existentes de

casamento e família, trabalho e governo. Por sua vez, isso provocou reações conservadoras, o que

polarizou, moral e politicamente, as questões de direitos humanos, repressão à criminalidade,

legislação sobre moral bem como de sexo e guerra.

Nesse ambiente confuso o indivíduo deve escolher um caminho. É o livre arbítrio. A

escolha do bom caminho ou do mal caminho. Se de fato quisermos encontrar esse caminho e

desempenhar um papel no diálogo da moral e da ética, precisamos buscar na educação do lar, que é

o agente balizador das nossas ações morais, fundamentos, que só ele tem, que venham desenvolver

nos filhos uma ética aplicável às inquietações do nosso tempo.

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Nossa tarefa, no entanto, é alcançar esse objetivo, isto é, tentar responder os incômodos

éticos atuais. A ética trata do bem, ou seja, dos valores e virtudes que devemos cultivar, e do direito

dos quais devem ser as nossas obrigações morais. Ela avalia pontos de vista alternativos que é o

bem e o direito; explora caminhos para alcançarmos o conhecimento moral que necessitamos;

indaga porque devemos agir com correção e, a partir daí, conduz a problemas morais práticos, que

estimulam assim pensarmos prioritariamente.

A ética não está interessada no que pensa a Antropologia e a Sociologia como Ciências

Sociais do comportamento. A ética, como tal, está interessada menos no que de fato as pessoas

fazem e mais no que elas devem fazer, menos no que são os seus valores atuais, e mais no que estes

valores devem ser. Em muitos aspectos, a ética está muito ligada à religião do que a ciência social.

Podemos dizer ainda, que a tradição judaico-cristã é uma das principais fontes históricas do

Ocidente.

A Necessidade Ética do Professor

Ética significa o que é bom para o indivíduo e para a sociedade, e seu estudo contribui para

estabelecer a natureza de deveres no relacionamento indivíduo - sociedade. A ética é um tema

recorrente, e a cada dia é mais esquecida. Está sendo guardado nas gavetas de nossa memória, ao

passo que ser antiético torna-se um fato banal, um cotidiano.

Nos diversos campos da sociedade a ética é esquecida, ou muitas vezes ignorada,

prevalecendo assim à vontade que visa a um mundo íntimo, ao invés da prevalência do senso

comum e da verdade, seja qual for. No campo da educação não é diferente. Pasmem os que

acreditam que a ética e o senso comum é preservado nessa esfera.

A sonhada ética, que deveria dirigir os trabalhos educacionais por muitas vezes é ignorada,

entretanto deve-se ressaltar que o fato em hipótese alguma deve ser generalizado. A visão do bem

comum possibilita por meio da integração da unidade com o mundo externo, uma abertura para a

entrada de novos conhecimentos ou em discussão, a transmissão e aprimoramento dos

conhecimentos existentes, independente da forma ou área trabalhada, por motivos os quais não

'sabemos' pode ser negada, ou seja, nesse caso o senso do bem, que possibilite um processo de

ensino e aprendizagem mais significativo é menos comum.

É no ambiente escolar que se constroem as novas mentes que governarão o planeta, pois

são através de exemplos do cotidiano que os educandos espelham-se e constroem o conhecimento e

a personalidade. Agora me pergunto aonde se encontram os exemplos que estamos mostrando aos

nossos educandos? O que os professores transmitem como valores éticos e morais? Os mesmos são

Page 7: Apostila de Etica

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constituídos de saberes essenciais as práticas educativas, mas também constituídos de valores

éticos, morais e sociais, independente de orientação, seja ela política ou religiosa, por exemplo?

Se for realizada uma breve leitura, de trechos de juramentos realizados na cerimônia de

colação, nos deparamos com vários valores que devem ou pelo menos deveriam ser seguidos pelos

profissionais. O futuro professor promete que ao exercer a sua atividade de ensinar, irá mostrar-se

fiel aos preceitos de honestidade, de caridade, de justiça e verdade, seguindo os princípios da ética

profissional, e caso cumpra o juramento com fidelidade, goze dos merecimentos distintos, e em

caso de infringi-lo, ou dele se afastar, que se suceda o contrário.

Entretanto, alguns profissionais podem se esquecer de que o mais importante no âmbito

educacional são os educandos e tudo o que envolve o processo de ensino e aprendizagem, devendo

sempre ser visada a formação por excelência, que esteja de acordo com a realidade e as

necessidades dos educandos para que de posse dos conhecimentos adquiridos possam de forma

consciente interagir da forma como convir, desde que respeitosamente.

Um educador de verdade além dos saberes profissionais é aquele que administra e realiza

suas atividades visando incondicionalmente o bem intelectual dos que fazem parte de sua vivência

cotidiana, estendendo-se desde os educandos, aos demais professores e ao mais simples funcionário

coorporativo.

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3. EDUCAÇÃO: ISTO E AQUILO, E O CONTRÁRIO DE TUDO

Consultando-se os dois dicionários mais conhecidos, encontramos as seguintes definições

acerca da temática educação:

“Ação e efeito de educar, de desenvolver as faculdades físicas, intelectuais e morais da

criança e, em geral, do ser humano; disciplinamento, instrução, ensino (Dicionário Contemporâneo

da Língua Portuguesa, Caldas Aulete)”. Ação exercida pelas gerações adultas sobre as gerações

jovens para adaptá-las à vida social; trabalho sistematizado, seletivo, orientador, pelo qual nos

ajustamos à vida, de acordo com as necessidades ideais e propósitos dominantes; ato ou efeito de

educar; aperfeiçoamento integral de todas as faculdades humanas, polidez, cortesia (Pequeno

Dicionário Brasileiro de Língua Portuguesa, Aurélio Buarque de Holanda)”.

A letra da lei não muda muito ao definir o que é educação e a que serve. De acordo com o

“Art. 1º

– A educação nacional, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade

humana, tem por fim:

a) a compreensão dos direitos e deveres da pessoa humana, do cidadão, do Estado, da família e dos demais grupos que compõem a comunidade;

b) o respeito à dignidade e as liberdades fundamentais do homem;

c) o fortalecimento da unidade nacional e da solidariedade internacional;

d) o desenvolvimento integral da personalidade humana e a sua participação na obra do bem comum;

e) o preparo do indivíduo e da sociedade para o domínio dos recursos científicos e tecnológicos que permitam utilizar as possibilidades e vencer as dificuldades do meio;

f) a preservação do patrimônio cultural;

g) a condenação a qualquer tratamento desigual por motivo de convicção filosófica, política ou religiosa, bem como a quaisquer preconceitos de classe ou de raça (Lei 4024, de 20 de dezembro de 1961)”.

Em contrapartida, intelectuais, educadores e estudantes fazem todos os dias a crítica da

prática de educação no Brasil, argumentando que a educação nega no cotidiano o que afirma a lei e

afirmam:

“Não há liberdade no país e a educação não tem tido papel algum nos últimos anos para a

sua conquista; não há igualdade entre os brasileiros e a educação consolida a estrutura classista que

pesa sobre nós; não há nela nem a consciência nem o fortalecimento dos nossos verdadeiros valores

culturais” .(p. 57).

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“Do ponto de vista de quem a controla, muitas vezes definir a educação e legislar sobre ela

implica justamente ocultar a parcialidade destes interesses, ou seja, a realidade de que eles servem a

grupos, a classes sociais determinadas, e não tanto ‘a todos’, ‘à Nação’, ‘aos brasileiros’. Do ponto

de vista de quem responde por fazer a educação funcionar, parte pelo trabalho de pensá-la implica

justamente em desvendar o que faz com que a educação, na realidade, negue e renegue o quem

oficialmente se afirma dela na lei e na teoria” (p. 60).

Na verdade, quem descobriu que na prática, “o fim da educação são os interesses da

sociedade, ou de grupos sociais determinados, através do saber que forma a consciência que pensa o

mundo e qualifica o trabalho do homem educado, não foram os filósofos do passado ou os cientistas

de hoje. Esta é a maneira natural dos povos primitivos, com quem estivemos até há pouco, tratarem

a educação de suas crianças, mesmo quando eles não sabem explicar isto com teorias complicadas ”

(p. 67).

“A educação é a ação exercida pelas gerações adultas que não se encontram ainda

preparadas para a vida social; tem por objeto suscitar e desenvolver na criança um certo número de

estados físicos, intelectuais e morais reclamados pela sociedade política no seu conjunto e pelo

meio especial a que a criança, particularmente, se destina” – Durkhein (p.71).

Brandão cita Maritain em sua percepção de que o objeto da educação é “guiar o homem no

desenvolvimento dinâmico, no curso do qual se constituirá como pessoa humana – dotada das

armas do conhecimento, do poder de julgar e das virtudes morais – transmitindo-lhe ao mesmo

tempo o patrimônio espiritual da nação e da civilização às quais pertence e conservando a herança

secular das gerações”. Também estabelece um paralelo com o conceito formulado por William

James, no qual lê-se: “A educação é a organização dos recursos biológicos individuais, e das

capacidades de comportamento que tornam o indivíduo adaptável ao seu meio físico ou social”

(p.65).

Completando as diversas definições de educação expostas, o autor apresenta as seguintes:

“A Educação não é mais do que o desenvolvimento consciente e livre das faculdades inatas do

homem” (Sciacca);

A Educação é o processo externo de adaptação do ser humano, física e mentalmente

desenvolvido, livre e consciente, a Deus, tal como se manifesta no meio intelectual, emocional e

volitivo do homem (Herman Horse); O fim da educação é desenvolver em cada indivíduo toda a

perfeição de que ele seja capaz (Kant); é toda a espécie de formação que surge da influência

espiritual” (Krieck) – p. 62-63.

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A esperança na educação

“A Educação Permanente é uma concepção dialética da educação, como um duplo

processo de aprofundamento, tanto da experiência pessoal, quanto da vida social, que se traduz pela

participação efetiva, ativa e responsável de cada sujeito envolvido, qualquer que seja a etapa de

existência que esteja vivendo... O primeiro imperativo que deve preencher a Educação Permanente

é a necessidade que todos nós temos de sempre aperfeiçoar a nossa formação profissional. Num

mundo como o nosso, em que progridem ciência e suas aplicações tecnológicas cada dia mais, não

se pode admitir que o homem se satisfaça durante uns poucos anos, numa época em que estava

profundamente imaturo. Deve informar-se, documentar-se, aperfeiçoar a sua destreza, de maneira a

se tornar mestre de sua práxis.

O domínio de uma profissão não exclui o seu aperfeiçoamento. Ao contrário, será mestre

quem continuar aprendendo” – Pierre Furter (p. 82).

“Se educação é transformação de uma realidade, de acordo com uma idéia melhor que

possuímos, e se a educação só pode ser de caráter social, resultará que pedagogia é a ciência de

transformar a sociedade”. – Ortega y Gasset (p. 82-83).

Desse modo “Pessoas educadas (qualificadas como ‘mão-de-obra’ e motivadas enquanto

‘sujeitos do processo’) são agentes de mudança, promotores do desenvolvimento, e é para torná-los,

mais do que cultos, agentes, que a educação deve ser pensada e programada...” (p. 83-84).

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4. A ÉTICA NO AMBIENTE ESCOLAR: EDUCANDO PARA O DIÁLOGO

Edson Carpes Camargo1

Jorge Alberto Lago Fonseca2

A moral na escola se apresenta através de regras, normas a serem cumpridas, expressas nos

seus regimentos, planos de estudos e projetos políticos pedagógicos.

A escola ainda é o principal caminho para se discutir questões éticas uma vez que o âmbito

escolar está repleto de possibilidades que evidenciam a ética como necessária e capaz de permitir

um relacionamento mais amistoso entre os atores educacionais.

No entanto, a escola não necessariamente conseguirá responder a todas as questões

levantadas quando se trata de ética, nem deverá se considerar fracassada por não conseguir atingir

tal objetivo. Pode então, insistir na sua função fomentadora de conhecimento.

A ética na educação: a visão dos educadores

Como a ética permeia as relações sócio-educativas entre os atores desta instituição

denominada escola? Qual a função da ética no cotidiano escolar? Que pressupostos estão

vinculados à idéia de ética? Essas foram as questões norteadoras das discussões que se estenderam

às escolas e permitiram então, a possibilidade de articular temas e propostas colocadas nos projetos

políticos pedagógicos com a ética na educação.

Presença constante nas falas dos educadores, ser ético pressupõe uma carga de

obrigatoriedade e compromisso para com o outro. Com a ética, instala-se no espaço escolar a

necessidade de reconhecimento dos sujeitos enquanto atuantes no seu micro universo, responsáveis

pela problematização das ações e dos saberes instituídos.

Para os educadores, a ética é vinculada como norteadora do comportamento dos atores, das

ações e atitudes que estes praticam no ambiente escolar permitindo assim, o diálogo constante na

intencionalidade de melhor resolver os problemas educativos.

Nesse sentido, ser ético para a maioria dos educadores é estar aberto ao diálogo, uma vez

que acreditam que ele é uma poderosa ferramenta para a formação de cidadãos conscientes, críticos

e responsáveis. Esse estado de ser ético, também possibilita ao educador atuar de forma digna na

execução de sua profissão construindo saberes no seu cotidiano.

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A ética é a responsável pela possibilidade atribuída à escola de conduzir o ser à condição

de crítico e responsável pelos seus atos, no entanto, ela entrelaça a estas condições a capacidade de

definir o que seja justo e injusto, moral e imoral, uma vez que atribui valores às atitudes dos

educandos e os vigia, como se a qualquer momento pudessem fazer, falar ou sentir algo que não é

permitido eticamente.

Respeitar a liberdade do outro é conhecer os direitos e deveres de cada um dos atores do

ambiente escolar. Para Kant, na escola ninguém tem privilégios, mas apenas direitos. Ela

corporifica assim, o local privilegiado que permite ao ser reconhecer a sua função social no mundo,

compreendendo sua posição, se de explorado ou de explorador, mediatizado ou mediatizador.

Nas interlocuções, os educadores ressaltaram a formação moral como componente

imprescindível na formação do ser enquanto crítico e pró-ativo. No entanto, proporcionar ao

educando tornar-se um cidadão crítico, autônomo, capaz de interferir e dialogar com o meio em que

vive parece não ser tarefa fácil. Uma das alternativas para a escola é criar condições para que isso

possa ocorrer, proporcionando espaços para discussão, não ficando presa apenas a questões

individualistas e autoritárias.

A escola pode se tornar o ponto de partida para uma melhor intervenção do homem no seu

meio social e servir como suporte para então ampliar o leque de discussão, da escola, para o bairro,

para as associações de moradores, para os órgãos públicos e assim por diante até abranger a

sociedade globalmente.

Participar e comprometer-se com a prática de valores que estimulem os princípios

educativos no âmbito escolar exige muito mais do que uma compreensão da realidade. Exige

transparência e consciência da verdadeira função que cada ator tem em estruturar as suas ações e

seus diálogos vislumbrando uma convivência harmoniosa e ponderada.

Os educadores participantes das discussões evidenciaram ainda a ética como construtora da

felicidade humana baseada na liberdade e no respeito às diferenças individuais.

Pressupostos vinculados à ética

Todos têm direitos e deveres no meio em que vivem. Cabe a escola questionar como eles

se apresentam. Até que ponto a comunidade onde se está inserido não está abnegando estes direitos,

cada um cumpre com os seus deveres para cobrar os seus direitos? Questões que podem ser

levantadas constantemente pela escola.

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Alguns pressupostos estão vinculados à ética como a justiça, a solidariedade, o respeito

mútuo e o diálogo. Temas importantes para serem inseridos nas aulas de diferentes disciplinas de

maneira transversal, permitindo desmitificar a questão ética como sendo restrita à área da Filosofia.

A justiça já era uma preocupação dos filósofos gregos, pois Platão em sua República já

pensava como deveria ser tratado um ato justo, qual a relação entre justiça e injustiça. No entanto,

há de ser questionado como despertar no educando a noção de justiça.

A escola pode propiciar situações onde seja exercitada a criticidade do educando

oportunizando-lhe a distinção entre um ato justo e um injusto. Fazer essa distinção na escola faz

com que o educando reflita sobre a diferença e possa a partir de suas vivências criar relações que

exemplifiquem tais questões.

A escola pública possui uma diversidade cultural, étnica, religiosa, sexual e social muito

grande. Nesse contexto, a solidariedade assume um lugar de comprometimento com o aprendizado.

Ser solidário no ambiente escolar é respeitar as diferenças que constituem os atores educacionais,

não ocultando a sua existência, mas trabalhando estas diferenças no coletivo. Solidariedade.

A partir dela, os educadores sentiram-se mais confiantes no que realmente podem ser

enquanto profissionais da educação comprometidos com a vida de cada um de seus educandos. Faz-

se necessário superar as barreiras do Capitalismo, do corre-corre diário, de competição desenfreada,

onde a vantagem está em primeiro lugar, para triunfar a solidariedade, a compreensão e o respeito.

Respeito mútuo. Sem ser unilateral. Respeitar com reciprocidade.

E ainda, dialogar. Manter o diálogo em sala de aula é uma atividade muito importante para

criar condições de discussão, sobre temas relacionados a questões sociais, políticas e econômicas.

Essas discussões criam conceitos ou os reformulam, ou até mesmo constroem outros a partir da

vivência de cada um.

De acordo com os PCN’s a distinção que se faz contemporaneamente entre ética e moral

tem a intenção de salientar o caráter crítico da reflexão, que permite um distanciamento da ação,

para analisá-la constantemente e reformulá-la, sempre que necessário. Por ser reflexiva, a ética tem,

sem dúvida, um caráter teórico. Isso não significa, entretanto, que seja abstrata, ou metafísica,

descolada das ações concretas. Não se realiza o gesto da reflexão por mera vontade de fazer um

“exercício de crítica”.

A crítica é provocada, estimulada, por problemas, questões-limites que se enfrentam no

cotidiano das práticas. A reflexão ética só tem possibilidade de se realizar exatamente porque se

encontra estreitamente articulada a essas ações, nos diversos contextos sociais. É nessa medida que

Page 14: Apostila de Etica

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se pode afirmar que a prática cotidiana transita continuamente no terreno da moral, tendo seu

caminho iluminado pelo recurso à ética.

No contexto escolar, âmbito de diversos atores, a ética faz-se presente em momentos

imensuráveis, uma vez que está vinculada às relações que se processam entre esses atores.

Assim, os professores da rede pública estadual compreendem por ética as relações

estabelecidas entre os seres humanos e a valorização das relações interpessoais. A partir daí busca-

se o respeito mútuo criando um espaço de discussão, aberto ao diálogo possibilitando aos

envolvidos no processo de ensinar e aprender a compreensão da ética como eixo condutor das

atitudes morais.

Por fim, foi salientada a valorização do diálogo enquanto uma prática possível e viável

para a solução dos problemas escolares vislumbrando a pretensão de que a escola possa um dia

aprender a trabalhar com as diferenças onde todos sejam possuidores de direitos e deveres,

sentenciando o fim das desigualdades.

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5. ÉTICA PROFISSIONAL

Muitos autores definem a ética profissional como sendo um conjunto de normas de

conduta que deverão ser postas em prática no exercício de qualquer profissão. Seria a ação

"reguladora" da ética agindo no desempenho das profissões, fazendo com que o profissional

respeite seu semelhante quando no exercício da sua profissão.

A ética profissional estuda e regula o relacionamento do profissional com sua clientela,

visando a dignidade humana e a construção do bem-estar no contexto sócio-cultural onde exerce sua

profissão.

Ela atinge todas as profissões e quando falamos de ética profissional estamos nos referindo

ao caráter normativo e até jurídico que regulamenta determinada profissão a partir de estatutos e

códigos específicos. Assim temos a ética médica, do engenheiro, do advogado, do biólogo, etc.

Acontece que, em geral, as profissões apresentam a ética firmada em questões muito

relevantes que ultrapassam o campo profissional em si. Questões como o aborto, pena de morte,

seqüestros, eutanásia, AIDS, por exemplo, são questões morais que se apresentam como problemas

éticos - porque pedem uma reflexão profunda - e, um profissional, ao se debruçar sobre elas, não o

faz apenas como tal, mas como um pensador, um "filósofo da ciência", ou seja, da profissão que

exerce. Desta forma, a reflexão ética entra na moralidade de qualquer atividade profissional

humana.

Sendo a ética inerente à vida humana, sua importância é bastante evidenciada na vida

profissional, porque cada profissional tem responsabilidades individuais e responsabilidades sociais,

pois envolvem pessoas que dela se beneficiam.

A ética é ainda indispensável ao profissional, porque na ação humana "o fazer" e "o agir"

estão interligados. O fazer diz respeito à competência, à eficiência que todo profissional deve

possuir para exercer bem a sua profissão. O agir se refere à conduta do profissional, ao conjunto de

atitudes que deve assumir no desempenho de sua profissão.

A Ética baseia-se em uma filosofia de valores compatíveis com a natureza e o fim de todo

ser humano, por isso, "o agir" da pessoa humana está condicionado a duas premissas consideradas

básicas pela Ética: "o que é" o homem e "para que vive", logo toda capacitação científica ou técnica

precisa estar em conexão com os princípios essenciais da Ética.

Constata-se então o forte conteúdo ético presente no exercício profissional e sua

importância na formação de recursos humanos.

Page 16: Apostila de Etica

16

 INDIVIDUALISMO E ÉTICA PROFISSIONAL

Parece ser uma tendência do ser humano, como tem sido objeto de referências de muitos

estudiosos, a de defender, em primeiro lugar, seus interesses próprios e, quando esses interesses são

de natureza pouco recomendável, ocorrem sérios problemas.

O valor ético do esforço humano é variável em função de seu alcance em face da

comunidade. Se o trabalho executado é só para auferir renda, em geral, tem seu valor restrito. Por

outro lado, nos serviços realizados com amor, visando ao benefício de terceiros, dentro de vasto raio

de ação, com consciência do bem comum, passa a existir a expressão social do mesmo.

Aquele que só se preocupa com os lucros, geralmente, tende a ter menor consciência de grupo.

Fascinado pela preocupação monetária, a ele pouco importa o que ocorre com a sua comunidade e

muito menos com a sociedade.

Para ilustrar essa questão, citaremos um caso, muito conhecido, porém de autor anônimo. 

Dizem que um sábio procurava encontrar um ser integral, em relação a seu trabalho.

Entrou, então, em uma obra e começou a indagar. Ao primeiro operário perguntou o que fazia e este

respondeu que procurava ganhar seu salário; ao segundo repetiu a pergunta e obteve a resposta de

que ele preenchia seu tempo; finalmente, sempre repetindo a pergunta, encontrou um que lhe disse:

"Estou construindo uma catedral para a minha cidade".

A este último, o sábio teria atribuído a qualidade de ser integral em face do trabalho, como

instrumento do bem comum.

Como o número dos que trabalham, todavia, visando primordialmente ao rendimento, é

grande, as classes procuram defender-se contra a dilapidação de seus conceitos, tutelando o trabalho

e zelando para que uma luta encarniçada não ocorra na disputa dos serviços. Isto porque ficam

vulneráveis ao individualismo. A consciência de grupo tem surgido, então, quase sempre, mais por

interesse de defesa do que por altruísmo. Isto porque, garantida a liberdade de trabalho, se não se

regular e tutelar a conduta, o individualismo pode transformar a vida dos profissionais em

reciprocidade de agressão. Tal luta quase sempre se processa através de aviltamento de preços,

propaganda enganosa, calúnias, difamações, tramas, tudo na ânsia de ganhar mercado e subtrair

clientela e oportunidades do colega, reduzindo a concorrência. Igualmente, para maiores lucros,

pode estar o indivíduo tentado a práticas viciosas, mas rentáveis. Em nome dessas ambições, podem

ser praticadas quebras de sigilo, ameaças de revelação de segredos dos negócios, simulação de

pagamentos de impostos não recolhidos, etc.

Page 17: Apostila de Etica

17

Para dar espaço a ambições de poder, podem ser armadas tramas contra instituições de

classe, com denúncias falsas pela imprensa para ganhar eleições, ataque a nomes de líderes

impolutos para ganhar prestígio, etc. Os traidores e ambiciosos, quando deixados livres

completamente livres, podem cometer muitos desatinos, pois muitas são as variáveis que existem no

caminho do prejuízo a terceiros.

A tutela do trabalho, pois, processa-se pelo caminho da exigência de uma ética, imposta

através dos conselhos profissionais e de agremiações classistas. As normas devem ser condizentes

com as diversas formas de prestar o serviço de organizar o profissional para esse fim. Dentro de

uma mesma classe, os indivíduos podem exercer suas atividades como empresários, autônomos e

associados. Podem também dedicar-se a partes menos ou mais refinadas do conhecimento.

A conduta profissional, muitas vezes, pode tornar-se agressiva e inconveniente e esta é

uma das fortes razões pelas quais os códigos de ética quase sempre buscam maior abrangência. Tão

poderosos podem ser os escritório, hospitais, firmas de engenharia, etc, que a ganância dos mesmos

pode chegar ao domínio das entidades de classe e até ao Congresso e ao Executivo das nações. A

força do favoritismo, acionada nos instrumentos do poder através de agentes intermediários, de

corrupção, de artimanhas políticas, pode assumir proporções asfixiantes para os profissionais

menores, que são a maioria. Tais grupos podem, como vimos, inclusive, ser profissionais, pois,

nestes encontramos também o poder econômico acumulado, tão como conluios com outras

poderosas organizações empresariais.

Portanto, quando nos referimos à classe, ao social, não nos reportamos apenas a situações

isoladas, a modelos particulares, mas a situações gerais. O egoísmo desenfreado de poucos pode

atingir um número expressivo de pessoas e até, através delas, influenciar o destino de nações,

partindo da ausência de conduta virtuosa de minorias poderosas, preocupadas apenas com seus

lucros. Sabemos que a conduta do ser humano pode tender ao egoísmo, mas, para os interesses de

uma classe, de toda uma sociedade, é preciso que se acomode às normas, porque estas devem estar

apoiadas em princípios de virtude. Como as atitudes virtuosas podem garantir o bem comum, a

Ética tem sido o caminho justo, adequado, para o benefício geral.

VOCAÇÃO PARA O COLETIVO

Egresso de uma vida inculta, desorganizada, baseada apenas em instintos, o homem, sobre

a terra, foi-se organizando, na busca de maior estabilidade vital. Foi cedendo parcelas do referido

individualismo para se beneficiar da união, da divisão do trabalho, da proteção da vida em comum.

Page 18: Apostila de Etica

18

A organização social foi um progresso, como continua a ser a evolução da mesma, na

definição, cada vez maior, das funções dos cidadãos e tal definição acentua, gradativamente, o

limite de ação das classes.

Sabemos que entre a sociedade de hoje e aquela primitiva não existem mais níveis de

comparação, quanto à complexidade; devemos reconhecer, porém, que, nos núcleos menores, o

sentido de solidariedade era bem mais acentuado, assim como os rigores éticos e poucas cidades de

maior dimensão possuem, na atualidade, o espírito comunitário; também, com dificuldades,

enfrentam as questões classistas. A vocação para o coletivo já não se encontra, nos dias atuais, com

a mesma pujança nos grandes centros.

Parece-nos pouco entendido, por um número expressivo de pessoas, que existe um bem

comum a defender e do qual elas dependem para o bem-estar próprio e o de seus semelhantes,

havendo uma inequívoca interação que nem sempre é compreendida pelos que possuem espírito

egoísta.

O egoísmo parece ainda vigorar e sua reversão não nos parece fácil, diante da massificação

que se tem promovido, propositadamente, para a conservação dos grupos dominantes no poder.

Como o progresso do individualismo gera sempre o risco da transgressão ética, imperativa se faz a

necessidade de uma tutela sobre o trabalho, através de normas éticas.

É sabido que uma disciplina de conduta protege todos, evitando o caos que pode imperar

quando se outorga ao indivíduo o direito de tudo fazer, ainda que prejudicando terceiros. É preciso

que cada um ceda alguma coisa para receber muitas outras e esse é um princípio que sustenta e

justifica a prática virtuosa perante a comunidade. O homem não deve construir seu bem a custa de

destruir o de outros, nem admitir que só existe a sua vida em todo o universo.

Em geral, o egoísta é um ser de curta visão, pragmático quase sempre, isolado em sua

perseguição de um bem que imagina ser só seu.

CLASSES PROFISSIONAIS

Uma classe profissional caracteriza-se pela homogeneidade do trabalho executado, pela

natureza do conhecimento exigido preferencialmente para tal execução e pela identidade de

habilitação para o exercício da mesma. A classe profissional é, pois, um grupo dentro da sociedade,

específico, definido por sua especialidade de desempenho de tarefa. A questão, pois, dos

grupamentos específicos, sem dúvida, decorre de uma especialização, motivada por seleção natural

ou habilidade própria, e hoje constitui-se em inequívoca força dentro das sociedades. A formação

das classes profissionais decorreu de forma natural, há milênios, e se dividiram cada vez mais.

Page 19: Apostila de Etica

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Historicamente, atribui-se à Idade Média a organização das classes trabalhadoras, notadamente as

de artesãos, que se reuniram em corporações. A divisão do trabalho é antiga, ligada que está à

vocação e cada um para determinadas tarefas e às circunstâncias que obrigam, às vezes, a assumir

esse ou aquele trabalho; ficou prático para o homem, em comunidade, transferir tarefas e executar a

sua. A união dos que realizam o mesmo trabalho foi uma evolução natural e hoje se acha não só

regulada por lei, mas consolidada em instituições fortíssimas de classe.

VIRTUDES PROFISSIONAIS

Não obstante os deveres de um profissional, os quais são obrigatórios, devem ser levadas

em conta as qualidades pessoais que também concorrem para o enriquecimento de sua atuação

profissional, algumas delas facilitando o exercício da profissão.

Muitas destas qualidades poderão ser adquiridas com esforço e boa vontade, aumentando

neste caso o mérito do profissional que, no decorrer de sua atividade profissional, consegue

incorporá-las à sua personalidade, procurando vivenciá-las ao lado dos deveres profissionais.

O consultor dinamarquês Clauss MOLLER faz uma associação entre as virtudes lealdade,

responsabilidade e iniciativa como fundamentais para a formação de recursos humanos. Segundo

Clauss Moller o futuro de uma carreira depende dessas virtudes. Vejamos:

O senso de responsabilidade é o elemento fundamental da empregabilidade. Sem

responsabilidade a pessoa não pode demonstrar lealdade, nem espírito de iniciativa [...]. Uma

pessoa que se sinta responsável pelos resultados da equipe terá maior probabilidade de agir de

maneira mais favorável aos interesses da equipe e de seus clientes, dentro e fora da organização

[...]. A consciência de que se possui uma influência real constitui uma experiência pessoal muito

importante.

É algo que fortalece a auto-estima de cada pessoa. Só pessoas que tenham auto-estima e

um sentimento de poder próprio são capazes de assumir responsabilidade. Elas sentem um sentido

na vida, alcançando metas sobre as quais concordam previamente e pelas quais assumiram

responsabilidade real, de maneira consciente.

As pessoas que optam por não assumir responsabilidades podem ter dificuldades em

encontrar significado em suas vidas. Seu comportamento é regido pelas recompensas e sanções de

outras pessoas - chefes e pares [...]. Pessoas desse tipo jamais serão boas integrantes de equipes.

Prossegue citando a virtude da lealdade:

A lealdade é o segundo dos três principais elementos que compõe a empregabilidade.

Page 20: Apostila de Etica

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Um funcionário leal se alegra quando a organização ou seu departamento é bem sucedido,

defende a organização, tomando medidas concretas quando ela é ameaçada, tem orgulho de fazer

parte da organização, fala positivamente sobre ela e a defende contra críticas.

Lealdade não quer dizer necessariamente fazer o que a pessoa ou organização à qual você

quer ser fiel quer que você faça. Lealdade não é sinônimo de obediência cega. Lealdade significa

fazer críticas construtivas, mas as manter dentro do âmbito da organização. Significa agir com a

convicção de que seu comportamento vai promover os legítimos interesses da organização. Assim,

ser leal às vezes pode significar a recusa em fazer algo que você acha que poderá prejudicar a

organização, a equipe de funcionários.

No Reino Unido, por exemplo, essa idéia é expressa pelo termo "Oposição Leal a Sua

Majestade". Em outras palavras, é perfeitamente possível ser leal a Sua Majestade - e, mesmo

assim, fazer parte da oposição. Do mesmo modo, é possível ser leal a uma organização ou a uma

equipe mesmo que você discorde dos métodos usados para se alcançar determinados objetivos. Na

verdade, seria desleal deixar de expressar o sentimento de que algo está errado, se é isso que você

sente.

As virtudes da responsabilidade e da lealdade são completadas por uma terceira, a

iniciativa, capaz de colocá-las em movimento.

Tomar a iniciativa de fazer algo no interesse da organização significa ao mesmo tempo,

demonstrar lealdade pela organização.

Em um contexto de empregabilidade, tomar iniciativas não quer dizer apenas iniciar um

projeto no interesse da organização ou da equipe, mas também assumir responsabilidade por sua

complementação e implementação.

Gostaríamos ainda, de acrescentar outras qualidades que consideramos importantes no

exercício de uma profissão. São elas:

HONESTIDADE:

A honestidade está relacionada com a confiança que nos é depositada, com a

responsabilidade perante o bem de terceiros e a manutenção de seus direitos.

É muito fácil encontrar a falta de honestidade quanto existe a fascinação pelos lucros,

privilégios e benefícios fáceis, pelo enriquecimento ilícito em cargos que outorgam autoridade e que

têm a confiança coletiva de uma coletividade. Já ARISTÓTELES em sua "Ética a Nicômanos"

analisava a questão da honestidade.

Page 21: Apostila de Etica

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Outras pessoas se excedem no sentido de obter qualquer coisa e de qualquer fonte - por

exemplo os que fazem negócios sórdidos, os proxenetas e demais pessoas desse tipo, bem como os

usurários, que emprestam pequenas importâncias a juros altos. Todas as pessoas deste tipo obtêm

mais do que merecem e de fontes erradas. O que há de comum entre elas é obviamente uma

ganância sórdida, e todas carregam um aviltante por causa do ganho - de um pequeno ganho, aliás.

Com efeito, aquelas pessoas que ganham muito em fontes erradas, e cujos ganhos não são justos -

por exemplo, os tiranos quando saqueiam cidades e roubam templos, não são chamados de

avarentos, mas de maus, ímpios e injustos.

São inúmeros os exemplos de falta de honestidade no exercício de uma profissão. Um

psicanalista, abusando de sua profissão ao induzir um paciente a cometer adultério, está sendo

desonesto. Um contabilista que, para conseguir aumentos de honorários, retém os livros de um

comerciante, está sendo desonesto.

A honestidade é a primeira virtude no campo profissional. É um princípio que não admite

relatividade, tolerância ou interpretações circunstanciais.

SIGILO:

O respeito aos segredos das pessoas, dos negócios, das empresas, deve ser desenvolvido na

formação de futuros profissionais, pois trata-se de algo muito importante. Uma informação sigilosa

é algo que nos é confiado e cuja preservação de silêncio é obrigatória.

Revelar detalhes ou mesmo frívolas ocorrências dos locais de trabalho, em geral, nada

interessa a terceiros e ainda existe o agravante de que planos e projetos de uma empresa ainda não

colocados em prática possam ser copiados e colocados no mercado pela concorrência antes que a

empresa que os concebeu tenha tido oportunidade de lançá-los.

Documentos, registros contábeis, planos de marketing, pesquisas científicas, hábitos

pessoais, dentre outros, devem ser mantidos em sigilo e sua revelação pode representar sérios

problemas para a empresa ou para os clientes do profissional.

COMPETÊNCIA:

Competência, sob o ponto de vista funcional, é o exercício do conhecimento de forma

adequada e persistente a um trabalho ou profissão. Devemos buscá-la sempre. "A função de um

citarista é tocar cítara, e a de um bom citarista é tocá-la bem.".

Page 22: Apostila de Etica

22

É de extrema importância a busca da competência profissional em qualquer área de

atuação. Recursos humanos devem ser incentivados a buscar sua competência e maestria através do

aprimoramento contínuo de suas habilidades e conhecimentos.

O conhecimento da ciência, da tecnologia, das técnicas e práticas profissionais é pré-

requisito para a prestação de serviços de boa qualidade.

Nem sempre é possível acumular todo conhecimento exigido por determinada tarefa, mas é

necessário que se tenha a postura ética de recusar serviços quando não se tem a devida capacitação

para executá-lo.

Pacientes que morrem ou ficam aleijados por incompetência médica, causas que são

perdidas pela incompetência de advogados, prédios que desabam por erros de cálculo em

engenharia, são apenas alguns exemplos de quanto se deve investir na busca da competência.

PRUDÊNCIA: Todo trabalho, para ser executado, exige muita segurança. A prudência,

fazendo com que o profissional analise situações complexas e difíceis com mais facilidade e de

forma mais profunda e minuciosa, contribui para a maior segurança, principalmente das decisões a

serem tomadas a prudência é indispensável nos casos de decisões sérias e graves, pois evita os

julgamentos apressados e as lutas ou discussões inúteis.

CORAGEM: Todo profissional precisa ter coragem, pois "o homem que evita e teme a

tudo, não enfrenta coisa alguma, torna-se um covarde" (ARISTÓTELES, p.37). A coragem nos

ajuda a reagir às críticas, quando injustas, e a nos defender dignamente quando estamos cônscios de

nosso dever, isso nos ajuda a não ter medo de defender a verdade e a justiça, principalmente quando

estas forem de real interesse para outrem ou para o bem comum. Temos que ter coragem para tomar

decisões, indispensáveis e importantes, para a eficiência do trabalho, sem levar em conta possíveis

atitudes ou atos de desagrado dos chefes ou colegas.

PERSEVERANÇA: Qualidade difícil de ser encontrada, mas necessária, pois todo

trabalho está sujeito a incompreensões, insucessos e fracassos que precisam ser superados,

prosseguindo o profissional em seu trabalho, sem entregar-se a decepções ou mágoas. É louvável a

perseverança dos profissionais que precisam enfrentar os problemas do subdesenvolvimento.

COMPREENSÃO: Qualidade que ajuda muito um profissional, porque é bem aceito

pelos que dele dependem, em termos de trabalho, facilitando a aproximação e o diálogo, tão

importante no relacionamento profissional. É bom, porém, não confundir compreensão com

fraqueza, para que o profissional não se deixe levar por opiniões ou atitudes, nem sempre, válidas

para eficiência do seu trabalho, para que não se percam os verdadeiros objetivos a serem alcançados

Page 23: Apostila de Etica

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pela profissão. Vê-se que a compreensão precisa ser condicionada, muitas vezes, pela prudência. A

compreensão que se traduz, principalmente em calor humano pode realizar muito em benefício de

uma atividade profissional, dependendo de ser convenientemente dosada.

HUMILDADE: O profissional precisa ter humildade suficiente para admitir que não é o

dono da verdade e que o bom senso e a inteligência são propriedade de um grande número de

pessoas. Representa a auto-análise que todo profissional deve praticar em função de sua atividade

profissional, a fim de reconhecer melhor suas limitações, buscando a colaboração de outros

profissionais mais capazes, se tiver esta necessidade, dispor-se a aprender coisas novas, numa busca

constante de aperfeiçoamento. Humildade é qualidade que carece de melhor interpretação, dada a

sua importância, pois muitos a confundem com subserviência, dependência? Quase sempre lhe é

atribuído um sentido depreciativo. Como exemplo, ouve-se freqüentemente, a respeito determinadas

pessoas, frases com estas: Fulano é muito humilde, coitado! Muito simples! Humildade está

significando nestas frases pessoa carente que aceita qualquer coisa, dependente e até infeliz.

Conceito errôneo que precisa ser superado, para que a Humildade adquira definitivamente a sua

autenticidade.

IMPARCIALIDADE: É uma qualidade tão importante que assume as características do

dever, pois se destina a se contrapor aos preconceitos, a reagir contra os mitos (em nossa época

dinheiro, técnica, sexo...), a defender os verdadeiros valores sociais e éticos, assumindo

principalmente uma posição justa nas situações que terá que enfrentar. Para ser justo é preciso ser

imparcial, logo a justiça depende muito da imparcialidade.

OTIMISMO: Em face das perspectivas das sociedades modernas, o profissional precisa e

deve ser otimista, para acreditar na capacidade de realização da pessoa humana, no poder do

desenvolvimento, enfrentando o futuro com energia e bom humor.

CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL

Cabe sempre, quando se fala em virtudes profissionais, mencionarmos a existência dos

códigos de ética profissional. As relações de valor que existem entre o ideal moral traçado e os

diversos campos da conduta humana podem ser reunidos em um instrumento regulador. É uma

espécie de contrato de classe e os órgãos de fiscalização do exercício da profissão passam a

controlar a execução de tal peça magna. Tudo deriva, pois, de critérios de condutas de um indivíduo

perante seu grupo e o todo social. Tem como base as virtudes que devem ser exigíveis e respeitadas

no exercício da profissão, abrangendo o relacionamento com usuários, colegas de profissão, classe e

sociedade.

Page 24: Apostila de Etica

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6. ÉTICA NA ESCOLA PARA FORMAR CIDADÃOS

“Aprender a ser cidadão é, entre outras coisas, aprender a agir com respeito, solidariedade,

responsabilidade, justiça, não violência; aprender a usar o diálogo nas mais diferentes situações e

comprometer-se com o que acontece na vida coletiva da comunidade e do país. Esses valores e

essas atitudes precisam ser aprendidos e desenvolvidos pelos alunos e, portanto, podem e devem ser

ensinados na escola.” *

Em geral, o cotidiano das escolas, principalmente nos grandes centros urbanos é bastante

agitado e às vezes até tumultuado. São muitos alunos, muitos conteúdos, muita gente para lá e para

cá. Nesse contexto, nem sempre é fácil ter clareza do porquê de todo esse trabalho, ou em outras

palavras, nem sempre se tem clareza de qual é o papel da escola na sociedade em que vivemos hoje.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais sinalizam que “...a educação escolar deve

possibilitar que os alunos sejam capazes de:

compreender a cidadania como participação social e política, assim como exercício

de direitos e deveres políticos, civis e sociais, adotando, no dia-a-dia, atitudes de

solidariedade, cooperação e repúdio às injustiças, respeitando o outro e exigindo para

si o mesmo respeito;

posicionar-se de maneira crítica, responsável e construtiva nas diferentes situações

sociais, utilizando o diálogo como forma de mediar conflitos e de tomar decisões

coletivas.”

Certamente, não são objetivos fáceis de serem transformados em ações no cotidiano da

escola porque demandam um grande esforço da equipe escolar. Nesse caso, o melhor seria que os

educadores, coordenadores, funcionários, diretores, alunos e comunidade decidissem juntos (no

Conselho de Escola, por exemplo) que conteúdos adotar, que procedimentos escolher, que atitudes

privilegiar a partir de um diagnóstico da situação da escola:

Os alunos têm canais de participação nas decisões da escola? Quais são eles? É possível

ampliá-los? 

A solidariedade está presente nas relações sociais? (entre alunos, entre professores e

alunos, entre funcionários, entre a escola e a comunidade); ela é intencionalmente um valor

desejado e trabalhado na escola? · Existe clima de respeito? 

Page 25: Apostila de Etica

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Os alunos aprenderam a argumentar na defesa de suas idéias apoiados em fatos, conceitos

e valores? 

Os direitos são respeitados? Os deveres são valorizados? 

Como são resolvidas as situações de conflito? Como são negociados os impasses?

O diagnóstico pode ser um bom começo.

Existem muitas maneiras de investigar os valores que estão orientando as ações e as

relações com o outro na escola. Pode-se propor, por exemplo, que alunos, funcionários, professores

façam uma semana de observação, a partir de alguns critérios, sobre a vida nos espaços coletivos: os

intervalos, a hora do lanche, ou a secretaria, por exemplo; os alunos de uma classe observam suas

próprias atitudes no dia-a-dia, fazendo uma espécie de relatório por uma semana. A partir das

observações, é importante discutir criticamente e definir o que o grupo considera que está bom e o

que necessita mudar e melhorar.

Se esse trabalho faz parte do projeto da escola (como deveria fazer), é preciso também que

todos – alunos, funcionários, professores, pais - saibam que princípios regem as ações da escola e

que ações estarão sendo realizadas durante o ano para que a escola desenvolva a consciência ética.

Caso ainda não seja ainda possível pensar essas questões na totalidade da escola, sempre é

viável fazer alguma coisa em pequenas equipes ou duplas de educadores, e, aos poucos, ir buscando

apoio dos demais.

:: O CIDADÃO – CONTEÚDOS DISCIPLINARES E ÉTICA

A formação integral do cidadão não diz respeito apenas a atitudes e valores, mas também a

conteúdos, considerados na sua totalidade. Na verdade, fatos, conceitos, procedimentos de todas as

áreas de ensino estão intimamente ligados aos valores e atitudes humanas. Desse modo, a vida da

escola, seja ela na sala de aula, nas reuniões de professores, nos encontros com os pais, seja nos

trabalhos feitos pelos alunos respira ética, mesmo se a escola tem atitudes pouco éticas, ou até

quando o grupo não têm consciência desse fato.

:: TRABALHANDO A ÉTICA

Uma questão importante é compreender que não se trata apenas de montar um curso para

se falar de ética com os alunos, mas de viver as situações, os problemas presentes na escola e na

comunidade, as aulas de todas as disciplinas a partir de princípios éticos da vida em sociedade. Não

adianta fazer discurso sobre as regras gerais de convivência na escola quando a norma é o

tratamento desrespeitoso entre as pessoas, assim como não adianta saber como funciona a cadeia

Page 26: Apostila de Etica

26

produtiva do papel se existe uma prática generalizada de desperdício nas salas de aula. É preciso

buscar uma certa coerência entre a teoria, os princípios que se prega e a prática diária.

Além disso, o cotidiano escolar é repleto de situações que podem servir de ‘matéria prima’

para a discussão de questões éticas. É importante que os professores e toda a equipe escolar estejam

atentos a essas situações e possam aproveitá-las da melhor maneira possível para provocar reflexões

sobre elas, destacando-se os diversos pontos de vista existentes, os conflitos e quais as alternativas

para resolvê-los.

Mais que isso, não se trata de ensinar aos alunos uma lista de preceitos morais, como

devem responder a essa ou aquela situação. No campo do ensino de questões éticas, não cabe a

pregação de uma tábua de bons valores. Se o que se propõem como objetivo é o desenvolvimento

de cidadãos livre-pensantes, a simples pregação de tábuas de valores torna-se uma contradição. De

acordo com esse objetivo, o desafio é possibilitar aos alunos recursos internos e condições objetivas

para avaliar as situações em que vivem e fazer boas escolhas tendo em vista uma vida mais justa e

solidária entre humanos.

Não se pode esquecer também que a construção de uma vida democrática, pautada por

princípios éticos, é dinâmica. Evidentemente surgem fatos novos, as pessoas (alunos, professores,

pais, funcionários) mudam, existem conflitos diferentes (porque eles nunca deixam de existir) que

necessitam ser resolvidos a partir das discussões, do diálogo, criando-se uma tradição no grupo de

como fazer isso.

A vida democrática não é construída em um dia nem por uma pessoa, ela é feita a cada dia

e pelo esforço de cada um para que seja possível um mundo mais justo.

:: SUGESTÕES DE TRABALHO

Assim, podemos afirmar que existem muitos modos de se valorizar e ter clareza dos

princípios que pautam o cotidiano escolar. Algumas possibilidades:

acolhimento dos alunos pela escola – em todas as situações, com momentos especiais

no início do ano letivo, nas mudanças de período ou turmas, nas transferências

crianças e jovens de outras escolas; 

criar espaços para que os pais entrem na escola e participem dela; 

resolver os conflitos por meio do diálogo; 

criar código de ética da classe ou da escola; estabelecer conjuntamente normas de

condutas periodicamente revistas – por exemplo, ouvir e respeitar a opinião dos

colegas, não interromper a fala do outro; respeitar as diferenças; 

Page 27: Apostila de Etica

27

organizar a participação efetiva dos membros do Conselho de Escola; 

estimular a criação do Grêmio; instituir as representações de classes; 

eleger este ou aquele tema para os projetos de classe/série/turmas com pesquisas e

estudos sérios, sem perder o objetivo final de toda ação educativa; 

trabalhar os fatos e conceitos científicos sempre relacionados com sua presença na

organização da vida humana e ao mundo dos valores. 

*(BR Ministério da Educação - Secretaria de Educação Fundamental. Ética e Cidadania no

convívio escolar. Brasília, 2001,pg 13)

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7 . PEDAGOGIA LASSALISTA

A proposta educativa lassalista define o nosso modo de ser presença na sociedade. Por

meio de nossa ação educativa participamos da construção de uma sociedade mais justa e fraterna,

que é sinal do Reino de Deus inaugurado por Jesus Cristo.

São João Batista de La Salle, com os primeiros Irmãos, construiu um projeto educativo que

se distinguia claramente das escolas existentes pela organização, pelos conteúdos, pelos métodos,

pelas exigências e pelas relações humanas (LAURAIRE, 2006, p. 249). A formação humana e a

cristã estavam intimamente interligadas. Havia o anúncio dos valores evangélicos, vinculados com a

preocupação em melhorar a situação material, social e espiritual das crianças, jovens e adultos,

especialmente dos pobres. Uma proposta educativa, segundo La Salle, que não oferece perspectivas

de futuro melhor, carece de sentido e não é evangélica. Anunciar a salvação implica em promover a

dignidade da pessoa humana (LAURAIRE, 2006, p. 137). Segundo Yves Poutet e Jean Pungier

(2001, p. 125), a pedagogia lassalista procura formar o ser humano de acordo com o Plano de Deus.

O lado profano, mesmo profundamente integrado com o religioso, mantém a sua autonomia. O

objetivo é formar bons cidadãos e bons cristãos.

O que costumamos chamar “pedagogia lassaliana” historicamente foi construída no

período de surgimento da modernidade. Em decorrência, ela foi concebida a partir da visão de um

mundo de ordem, de disciplina, de obediência a Deus e seus representantes. Um período em que, na

França, Igreja e Estado estavam unidos no combate a todo pensamento e comportamento que não

coincidisse com o que era propugnado pela moral cristã.

Assim, tanto na prática educativa implantada nas escolas lassalistas quanto em seus

escritos, é marcante a ocorrência de palavras como ordem (ordre), desordem (désordre), silêncio

(silence), vigilância (vigilance), etc.

Várias frases nas cartas demonstram essa preocupação de La Salle no acompanhamento de

seus Irmãos. Ele chama à atenção para comportamentos que são sinais de desordem e que devem,

portanto ser coibidos com firmeza: a falta de assiduidade e os atrasos dos alunos, a gravidade do

professor, sua postura de paciência, a vigilância contínua a exercer sobre os alunos, o silêncio, a

fidelidade rigorosa às práticas escolares.

La Salle definiu, também, as doze virtudes de um bom mestre: a gravidade, o silêncio, a

humildade, a prudência, a sabedoria, a paciência, a discrição, a doçura, o zelo, a vigilância, a

piedade, a generosidade. A mesma preocupação com ordem aparece no tocante à vida dos Irmãos

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em comunidade, seja no sentido de atender às ordens de Deus através dos superiores, seja no

cuidado em não ferir as regras adotadas.

A escola lassalista nas origens soube atender, e com eficácia, às necessidades da Igreja e

do Estado. Escreveu La Salle, na meditação para a festa de São Luís, Rei da França:

Vós deveis unir, em vosso emprego, o zelo pelo bem da Igreja com o zelo pelo bem do

Estado, dos quais vossos discípulos começam a ser e deverão um dia ser membros, com perfeição.

Atendereis ao bem da Igreja fazendo deles verdadeiros cristãos, e tornando-os dóceis às verdades da

fé e às máximas do Evangelho.

Atendereis ao bem do Estado ensinando-os a ler e a escrever e tudo o que corresponde ao

vosso ministério a respeito disso.

Todavia a pedagogia lassalista refere-se às idéias de São João Batista de La Salle (1651-

1719) sobre educação. O seu pensamento pedagógico, em resumo, diz:

a educação deve ser fundamentada no conhecimento do aprendiz; o professor deve ser um bom exemplo; todos os alunos devem participar das atividades escolares; o educador deve amar profundamente a todos os seus alunos e, em especial, os mais

necessitados; o ensino deve basear-se na firmeza e na ternura; o educador deve respeitar o ritmo de aprendizado de cada aluno; as correções aplicadas por indisciplina devem fundamentar-se na caridade e não no

castigo corporal; o professor deve considerar-se representante de Jesus frente aos alunos, proferindo

palavras como espírito e vida. (ver método simultâneo)

A MISSÃO LASSALISTA NUMA SOCIEDADE EM TRANSFORMAÇÃO

O educador lassalista é chamado a exercer sua missão numa sociedade transformada e em

constante transformação. Compreender esta realidade com os seus avanços e as suas rupturas é uma

das primeiras condições para ser uma presença evangelicamente eficaz.

A comunidade cristã, como ministra do Evangelho, precisa constantemente escutar e

discernir os sinais dos tempos (FRANCO, 1994, p. 09). Como parcela do Povo de Deus, a

comunidade lassalista também necessita perscrutar os fenômenos que revelam abertura aos valores

evangélicos e que possibilitam novas alternativas de inculturação do Evangelho.

Uma reflexão ética pode ser significativa no contexto atual na medida em que parte da vida

(FRANCO, 1994, p. 67), considera atentamente o mistério da existência humana, a complexidade

Page 30: Apostila de Etica

30

da realidade em termos locais e globais, e é capaz de propor horizontes de esperança para uma

humanidade ferida e em constante busca de sentido.

Como educadores lassalistas, somos chamados a pautar nosso agir educativo segundo uma

ética da solidariedade (SUNG, 2003, p. 50). Ser solidário significa considerar não somente os

valores e os princípios que estão em jogo, mas também a realidade, o contexto e as conseqüências

da ação humana. Quer dizer também ter compaixão com as mais diversas realidades humanas e

cuidado com o meio ambiente, que vamos deixar como legado para as futuras gerações.

São João Batista de La Salle insiste, nas Meditações para o Tempo do Retiro, em que o

educador será instrumento de salvação na medida em que souber expressar-se com simplicidade e

clareza a fim de a mensagem chegar ao coração do educando. Num período de deterioração

semântica, precisamos encontrar uma linguagem adequada para estabelecer um autêntico diálogo

com a sociedade atual, especialmente com os jovens, para poder chegar a compromissos éticos

vinculantes.

Portanto os desafios éticos estão presentes no dia-a-dia da vida do educador. E não são

apenas questões de ética pessoal ou comunitária, pois o que está em jogo é, também, o próprio

futuro da humanidade. Nenhum segmento social pode se eximir desta responsabilidade. A educação

no seu conjunto tem, portanto, significativa contribuição a dar. A ética pode ser um dos eixos

transversais do processo educativo. Como educadores seguidores lassalistas, somos desafiados a

participar ativamente na estruturação e realização do agir ético, considerando a riqueza da

pedagogia lassalista.

MENEZES, Ebenezer Takuno de; SANTOS, Thais Helena dos."Pedagogia lassalista" (verbete). Dicionário Interativo da Educação Brasileira - EducaBrasil. São Paulo: Midiamix Editora, 2002, http://www.educabrasil.com.br/eb/dic/dicionario.asp?id=278, visitado em 21/1/2015.

Page 31: Apostila de Etica

31

8. ÉTICA NAS ELEIÇÕES DE DIRETORES, EXEMPLO DE CIDADANIA.

Em época de eleição, é comum que políticos prometam favores em troca de votos, façam

acusações contra os adversários e garantam que vão cumprir o que não podem. Nós, eleitores, já

conhecemos essa realidade.

Mas e quando os candidatos são educadores, e parte dos eleitores, um público que está em

formação? Desvios de conduta em eleições para diretores de escolas públicas são mais comuns do

que se imagina. Além do péssimo exemplo para os alunos, o fato de reproduzir práticas antiéticas

pode provocar um grande mal-estar entre colegas de trabalho. E diferentemente do que acontece na

política, na escola os vitoriosos e os derrotados se encontram diariamente e devem constituir uma

equipe de trabalho cooperativa.

Segundo a pesquisa Práticas de Seleção e Capacitação de Diretores Escolares,

encomendada pela Fundação Victor Civita (FVC) e coordenada por Heloísa Lück, do Centro de

Desenvolvimento Humano Aplicado (Cedhap), em Curitiba, a eleição é a forma mais usada pelas

Secretarias de Educação para preencher as vagas de diretores. Das 24 redes estaduais pesquisadas,

16 adotam essa modalidade, sendo que dez delas o fazem de forma combinada com prova,

certificação ou entrevista.

Entre as capitais, nove das 11 que participaram do estudo usam as eleições, e em quatro

cidades há outras formas de seleção agregadas. Os diretores que responderam à pesquisa

quantitativa acreditam que a eleição legitima a escolha da comunidade e contribui para construir um

ambiente mais participativo na escola.

Na fase qualitativa, no entanto a pesquisa deu sinais de que o processo eleitoral requer

ainda grandes aperfeiçoamentos. Os entrevistados contaram casos de clientelismo, corporativismo,

partidarização e fragmentação de grupos - práticas antidemocráticas que põem em risco os

benefícios da eleição e comprometem a imagem do processo. Às vezes, a disputa entre os

candidatos é tão desleal que um deles se vê obrigado a pedir transferência porque a convivência se

torna impossível", conta Heloísa Lück.

O respeito mútuo entre os candidatos, no entanto, não é suficiente para que as eleições na

escola sejam consideradas perfeitas. Fazer promessas de brindes e viagens para os alunos, negociar

folgas e horas de trabalho com os professores e funcionários, trocar favores com lideranças da

comunidade e abusar de propaganda eleitoral são atitudes que aproximam a eleição escolar das que

ocorrem no plano políticopartidário, o que não é bom.

Page 32: Apostila de Etica

32

No Brasil, não existem regras válidas em todo o território nacional que regulamentem o

processo eleitoral. Segundo resolução de 2009 do Conselho Nacional de Educação (CNE) que fixa

diretrizes nacionais para os planos de carreira e remuneração dos profissionais do magistério da

Educação Básica pública, a normatização da gestão democrática do sistema de ensino está a cargo

da União e de cada rede estadual ou municipal.

Certas práticas, no entanto, devem ser evitadas, mesmo que não sejam proibidas:

"Distribuir camisetas e usar um carro de som para fazer propaganda são estratégias normais em

eleição para prefeito, mas desproporcionais para um universo tão pequeno como o de uma escola",

Por ser um espaço de aprendizado, a instituição deve justamente buscar um novo modelo

de eleição. "Senão, em vez de contribuir para a formação, vamos só reforçar, entre as crianças, o

pensamento de que não é possível resolver os problemas com o diálogo, em equipe", avalia Heloísa

Lück. A tendência, no entanto, é que a ética no processo eleitoral nas escolas amadureça com a

prática.

Existem registros de eleições para diretores no Brasil desde 1985. Contudo, foi só em

2008, com a inclusão do inciso V no artigo 14 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

(LDB), que surgiu a recomendação para que as vagas de diretores, nas instituições de Educação

Básica da rede pública, sejam preenchidas preferencialmente por meio de eleições diretas.

Comparado com a indicação política, o concurso público e as provas de conhecimento, a

votação por professores, funcionários, pais e alunos geralmente é associada à modalidade mais

coerente com a proposta de gestão participativa. Afinal, essa é uma oportunidade em que a

comunidade pode ter voz nas decisões que afetam a escola. Sozinha, porém, ela não garante a

construção da democracia.

Em muitas redes, o gestor é conduzido ao cargo sem que passe por um processo adequado

de formação. Diante de questões pedagógicas e administrativas com as quais não está acostumado a

lidar, o diretor pouco preparado acaba agindo por impulso e tomando decisões sozinho. É

fundamental dar abertura para que todos possam opinar sobre os mais diversos assuntos - desde a

condução de problemas acadêmicos até as prioridades de investimentos dos recursos financeiros.

Alguns autores enfatizam que é na formação, que o gestor fortalece o espírito de liderança

e aprende a delegar funções e consultar a equipe. "Quando bem preparado, ele sabe colocar o

assunto na pauta do conselho escolar, conduzir a discussão e tomar uma decisão de fato

democrática".

Page 33: Apostila de Etica

33

9. Educação em Direitos Humanos: de que se trata?

 Maria Victoria Benevides

 

A Educação em Direitos Humanos parte de três pontos essenciais: primeiro, é uma

educação de natureza permanente, continuada e global. Segundo, é uma educação necessariamente

voltada para a mudança, e terceiro, é uma inculcação de valores, para atingir corações e mentes e

não apenas instrução, meramente transmissora de conhecimentos. Acrescente-se, ainda, e não

menos importante, que ou esta educação é compartilhada por aqueles que estão envolvidos no

processo educacional – os educadores e os educandos - ou ela não será educação e muito menos

educação em direitos humanos. Tais pontos são premissas: a educação continuada, a educação para

a mudança e a educação compreensiva, no sentido de ser compartilhada e de atingir tanto a razão

quanto a emoção.

O que significa dizer que queremos trabalhar com Educação em Direitos Humanos? A

Educação em Direitos Humanos é essencialmente a formação de uma cultura de respeito à

dignidade humana através da promoção e da vivência dos valores da liberdade, da justiça, da

igualdade, da solidariedade, da cooperação, da tolerância e da paz. Portanto, a formação desta

cultura significa criar, influenciar, compartilhar e consolidar mentalidades, costumes, atitudes,

hábitos e comportamentos que decorrem, todos, daqueles valores essenciais citados – os quais

devem se transformar em práticas.

Quando falamos em cultura, é importante deixar claro que não estamos nos limitando a

uma visão tradicional de cultura como conservação: dos costumes, das tradições, das crenças e dos

valores. Pelo contrário, quando falamos em formação de uma cultura de respeito aos direitos

humanos, à dignidade humana, estamos enfatizando, sobretudo no caso brasileiro, uma necessidade

radical de mudança. Assim, falamos em cultura nos termos da mudança cultural, uma mudança que

possa realmente mexer com o que está mais enraizado nas mentalidades, muitas vezes marcadas por

preconceitos, por discriminação, pela não aceitação dos direitos de todos, pela não aceitação da

diferença.

A mudança cultural necessária deve levar ao enfrentamento de tal herança e ainda ser

instrumento de reação a duas grandes deturpações que fermentam em nosso meio social - como

parte de uma certa “cultura política”- em relação ao entendimento do que sejam direitos humanos.

Page 34: Apostila de Etica

34

A primeira delas, muito comentada atualmente e bastante difundida na sociedade, inclusive

entre as classes populares, refere-se à identificação entre direitos humanos e direitos da

marginalidade, ou seja, são vistos como “direitos dos bandidos contra os direitos das pessoas de

bem”. Essa deturpação decorre certamente da ignorância e da desinformação mas também de uma

perversa e eficiente manipulação, sobretudo nos meios de comunicação de massa, como ocorre com

certos programas de rádio e televisão, voltados para a exploração sensacionalista da violência e da

miséria humana.

A segunda deturpação, evidente nos meios de maior nível de instrução (meio acadêmico,

mas também de políticos e empresários), refere-se à crença de que direitos humanos se reduzem

essencialmente às liberdades individuais do liberalismo clássico e, portanto, não se consideram

como direitos fundamentais os direitos sociais, os direitos de solidariedade universal. Nesse sentido,

os liberais adeptos dessa crença aceitam a defesa dos direitos humanos como direitos civis e

políticos, direitos individuais à segurança e à propriedade; mas não aceitam a legitimidade da

reivindicação, em nome dos direitos humanos, dos direitos econômicos e sociais, a serem

usufruídos individual ou coletivamente, ou seja, aqueles vinculados ao mundo do trabalho, à

educação, à saúde, à previdência e seguridade social etc.

Esse quadro bastante negativo sobre a realidade histórica e contemporânea do Brasil não

deve ser um empecilho para o nosso trabalho; pelo contrário, deve ser incentivo para procurar

mudar. Podemos ser razoavelmente otimistas, pois já existem várias iniciativas de grupos de defesa

de direitos humanos, no sistema de ensino público e privado, nos movimentos sociais e nas ONGs

em geral – inclusive a Rede Brasileira de Educação em Direitos Humanos que patrocina este

encontro – além dos órgãos oficiais, como no caso da Secretaria de Justiça e Defesa da Cidadania

no Estado de São Paulo.

Portanto, ser a favor de uma educação que significa a formação de uma cultura de respeito

à dignidade da pessoa humana, significa querer uma mudança cultural, que se dará através de um

processo educativo. Significa essencialmente que queremos outra sociedade, que não estamos

satisfeitos com os valores que embasam esta sociedade e queremos outros.

Direitos humanos são fundamentais porque são indispensáveis para a vida com dignidade.

Quando insistimos nessa questão da dignidade, muitas vezes esbarramos numa certa

incompreensão, como se o termo fosse indefinível e tratasse de algo extremamente abstrato em

relação à concretude do ser humano. Portanto, é importante tentar esclarecer o que entendemos por

dignidade da pessoa humana. Sabemos, sem dúvida, identificar um comportamento indigno; por

exemplo, omissão de socorro nos hospitais, abandono dos idosos na fila do INPS, desprezo pelos

Page 35: Apostila de Etica

35

direitos dos mendigos, das crianças de rua, dos desempregados, dos excluídos de toda sorte, são

indignidades.

Mas de onde vem esta idéia de dignidade? Porque ela é central no nosso processo

educativo?

Durante muito tempo o fundamento da concepção de dignidade podia ser buscado na

esfera sobrenatural da revelação religiosa, da criação divina – o ser humano criado à imagem e

semelhança do Criador. Ou, então, numa abstração metafísica sobre aquilo que seria próprio da

natureza humana, o que sempre levou a discussões filosóficas sobre a essência da natureza humana.

Independentemente dessas polêmicas, aqueles que são religiosos ou espiritualistas têm um motivo a

mais para se preocupar com a dignidade da pessoa humana, se acreditam na criação divina, na

afirmação de que todos somos irmãos, nessa fraternidade que vem da religião, como no caso, dentre

outros, do cristianismo.

Hoje, numa visão mais contemporânea, percebemos como todos os textos nacionais e

internacionais de defesa dos direitos humanos explicam a dignidade pela própria transcendência do

ser humano, ou seja, foi o homem que criou ele mesmo o Direito. Ele mesmo criou as formas da

idéia de dignidade em grandes textos normativos que podem ser sintetizados no artigo 1º da

Declaração Internacional de Direitos Humanos de 1948: “todos os seres humanos nascem livres e

iguais em dignidade e em direitos”. Esta formulação decorre da própria reflexão do ser humano que

à ela chegou de uma maneira que é historicamente dada.

Foi uma grande revolução no pensamento e na história da humanidade chegar à reflexão

conclusiva de que todos os seres humanos detêm a mesma dignidade. É evidente que nos regimes

que praticam a escravidão, ou qualquer tipo de discriminação por motivos sociais, políticos,

religiosos e étnicos não vigora tal compreensão da dignidade universal, pois neles a dignidade é

entendida como um atributo de apenas alguns, aqueles que pertençam a um determinado grupo.

Page 36: Apostila de Etica

36

9-A. Educação em Direitos Humanos: de que se trata?

A dignidade do ser humano não repousa apenas na racionalidade; no processo educativo

procuramos atingir a razão, mas também a emoção, isto é, corações e mentes – pois o homem não é

apenas um ser que pensa e raciocina, mas que chora e que ri, que é capaz de amar e de odiar, que é

capaz de sentir indignação e enternecimento, que é capaz da criação estética. Unamuno dizia que o

que mais nos diferencia dos outros animais é o sentimento, e não a racionalidade. O homem é um

ser essencialmente moral, ou seja, o seu comportamento racional estará sempre sujeito a juízos

sobre o bem e o mal.

Nenhum outro ser no mundo pode ser assim apreciado em termos de dever ser, da sua

bondade ou da sua maldade. Portanto, o ser humano tem a sua dignidade explicitada através de

características que são únicas e exclusivas da pessoa humana; além da liberdade como fonte da vida

ética, só o ser humano é dotado de vontade, de preferências valorativas, de autonomia, de auto-

consciência como o oposto da alienação. Só o ser humano tem a memória e a consciência de sua

própria subjetividade, de sua própria história no tempo e no espaço e se enxerga como um sujeito no

mundo, vivente e mortal.

Só o ser humano tem sociabilidade, somente ele pode desenvolver suas virtualidades no

sentido da cultura e do auto-aperfeiçoamento vivendo em sociedade e expressando-se através

daquelas qualidades eminentes do ser humano como o amor, a razão e a criação estética, que são

essencialmente comunicativas. É o único ser histórico, pois é o único que vive em perpétua

transformação pela memória do passado e pelo projeto do futuro. Sua unidade existencial significa

que o ser humano é único e insubstituível. Como dizia Kant, é o único ser cuja existência é um

valor absoluto, é um fim em si e não um meio para outras coisas.

Os direitos humanos são naturais e universais, pois estão profundamente ligados à essência

do ser humano, independentemente de qualquer ato normativo, e valem para todos; são

interdependentes e indivisíveis, pois não podemos separá-los, aceitando apenas os direitos

individuais, ou só os sociais, ou só os de defesa ambiental.

Direitos humanos são históricos, pois foram sendo reconhecidos e consagrados em

determinados momentos históricos, e é possível pensarmos que novos direitos ainda podem ser

identificados e consolidados.

Page 37: Apostila de Etica

37

A história da humanidade comprova a evolução da consciência dos direitos; na Bíblia, por

exemplo, lemos casos de aceitação de sacrifícios humanos e de escravidão. Os liberais da América,

do Norte e dos Sul, conviviam com a posse de escravos, embora defendessem a liberdade e a

igualdade de todos diante da lei.

Direitos humanos são históricos na medida em que vão crescendo em abrangência e em

profundidade, até que se consolidem na consciência universal. Hoje, por exemplo, reconhecemos

que existe consciência universal de que a escravidão, seja por que motivo for, é uma violação

radical dos direitos humanos, assim como a exploração do trabalho infantil, a dominação sobre as

mulheres, as formas variadas de racismo e de discriminação por motivos religiosos, políticos,

étnicos, sexuais etc. Os casos ainda existentes de escravidão, racismo e discriminação são

veementemente condenados pelas entidades mundiais de defesa dos direitos humanos.

Quando falamos em educação em direitos humanos falamos também em educação para a

cidadania. É preciso entender aqui que as duas propostas andam muito juntas, mas não são

sinônimos. Basta lembrar, por exemplo, que todos os projetos oficiais, do Ministério da Educação

às Secretarias Municipais e Estaduais afirmam que seu objetivo principal é a educação para a

cidadania. No entanto, a concepção e as experiências são tão diferentes, em função de prefeituras e

de governos, que o conceito de cidadania foi se esgarçando, não se tem certeza de que se fala sobre

o mesmo tema.

É bastante comum a idéia de educação para cidadania ser entendida como se fosse

meramente uma educação moral e cívica. Ou seja, como se fosse necessário e suficiente pregar o

culto à pátria, seus símbolos, heróis e datas históricas, assim como fomentar um nacionalismo ora

ingênuo ora agressivo, sem a percepção de que a nação não é um todo homogêneo, mas um todo

heterogêneo, com conflitos, classes sociais, grupos e interesses diferenciados.

Portanto, a idéia de educação para a cidadania não pode partir de uma visão da sociedade

homogênea, como uma grande comunidade, nem permanecer no nível do civismo nacionalista.

Torna-se necessário entender educação para a cidadania como formação do cidadão participativo e

solidário, consciente de seus deveres e direitos – e, então, associá-la à educação em direitos

humanos.

Em relação especificamente à educação em direitos humanos, o que desejamos? Que

efeitos queremos com esse processo educativo? Queremos uma formação que leve em conta

algumas premissas. Em primeiro lugar, o aprendizado deve estar ligado à vivência do valor da

igualdade em dignidade e direitos para todos e deve propiciar o desenvolvimento de sentimentos e

atitudes de cooperação e solidariedade. Ao mesmo tempo, a educação para a tolerância se impõe

Page 38: Apostila de Etica

38

como um valor ativo vinculado à solidariedade e não apenas como tolerância passiva da mera

aceitação do outro, com o qual pode-se não estar solidário. Em seguida, o aprendizado deve levar ao

desenvolvimento da capacidade de se perceber as conseqüências pessoais e sociais de cada escolha.

Ou seja, deve levar ao senso de responsabilidade. Esse processo educativo deve, ainda,

visar à formação do cidadão participante, crítico, responsável e comprometido com a mudança

daquelas práticas e condições da sociedade que violam ou negam os direitos humanos. Mais ainda,

deve visar à formação de personalidades autônomas, intelectual e afetivamente, sujeitos de deveres

e de direitos, capazes de julgar, escolher, tomar decisões, serem responsáveis e prontos para exigir

que não apenas seus direitos, mas também os direitos dos outros sejam respeitados e cumpridos.

Uma questão que surge com muita freqüência quando debatemos o tema da educação em

direitos humanos é: será realisticamente possível educar em direitos humanos? A questão tem

pertinência, pois se trata, sem dúvida, de um processo extremamente complexo, difícil e em longo

prazo.

O educador em direitos humanos na escola, por exemplo, sabe que não terá resultados no

final do ano, como ao ensinar uma matéria que será completada a medida que o conjunto daquele

programa for bem entendido e avaliado pelos alunos. Trata-se de uma educação permanente e

global, complexa e difícil, mas não impossível. É certamente uma utopia, mas que se realiza na

própria tentativa de realizá-la, como afirma o educador Perez Aguirre, enfatizando que os direitos

humanos terão sempre, nas sociedades contemporâneas, a dupla função de ser, ao mesmo tempo,

crítica e utopia frente à realidade social.

O que será indispensável para este processo educativo, partindo-se da constatação de que,

apesar das dificuldades, é possível desenvolver um processo educativo em direitos humanos?

Em primeiro lugar, o conhecimento dos direitos humanos, das suas garantias, das suas

instituições de defesa e promoção, das declarações oficiais, de âmbito nacional e internacional, com

a consciência de que os direitos humanos não são neutros, não são meramente declamações

retóricas. Eles exigem certas atitudes e repelem outras. Portanto, exigem também uma vivência

compartilhada. A palavra deverá sempre estar ligada a práticas, embasadas nos valores dos direitos

humanos e na realidade social. Na escola, por exemplo, deverá estar vinculada à realidade concreta

dos alunos, dos professores, dos diretores, dos funcionários, da comunidade que a cerca.

Onde podemos educar em direitos humanos? Temos várias opções, com diferentes veículos

e estruturas educacionais. Podemos fazer uma escolha, dependendo dos recursos e das condições

objetivas, sociais, locais e institucionais, de cada grupo, de cada entidade. Há que distinguir entre as

possibilidades da educação formal e da educação informal. Na educação formal, a formação em

Page 39: Apostila de Etica

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direitos humanos será feita no sistema de ensino, desde a escola primária até a universidade. Na

educação informal, será feita através dos movimentos sociais e populares, das diversas organizações

não-governamentais – ONGs – , dos sindicatos, dos partidos, das associações, das igrejas, dos

meios artísticos, e, muito especialmente, através dos meios de comunicação de massa, sobretudo a

televisão.

Cumpre lembrar que esta educação formal na escola, desde a primária até a universidade e

principalmente no sistema público do ensino, resultará mais viável se contar com o apoio dos

órgãos oficiais, tanto ligados diretamente à educação como ligados à cultura, à justiça e defesa da

cidadania. É por isso que valorizamos os planos oficiais, de educação em direitos humanos na

escola, tanto no nível federal como nos níveis estadual e municipal – embora nem sempre vejamos

seus resultados ou mesmo sua aplicação no quotidiano escolar. Se escolhermos a educação formal,

constatamos como a escola pública é um locus privilegiado, pois, por sua própria natureza, tende a

promover um espírito mais igualitário, na medida em que os alunos, normalmente separados por

barreiras de origem social, aí convivem.

Na escola pública o diferente tende a ser mais visível e a vivência da igualdade, da

tolerância e da solidariedade impõe-se com maior vigor. O objetivo maior desta educação na escola

é fundamentar o espaço escolar como uma verdadeira esfera pública democrática.

Finalmente, quais seriam os pontos principais do conteúdo da educação em direitos

humanos? Há um conteúdo óbvio, que decorre da própria definição de direitos humanos e do

conhecimento sobre as gerações ou dimensões históricas, sobre as possibilidades de reivindicação e

de garantias etc. Este conteúdo deve estar efetivamente vinculado a uma noção de direitos mas

também de deveres, estes decorrentes das obrigações do cidadão e de seu compromisso com a

solidariedade. É importante, ainda, que sejam mostradas as razões e as conseqüências da obediência

a normas e regras de convivência. Em seguida, este conteúdo deve conter a discussão – para a

vivência – dos grandes valores da ética republicana e da ética democrática.

É nesse sentido que um programa de direitos humanos introduzido na escola serve,

também, para questionar e enfrentar as suas próprias contradições e os conflitos no seu cotidiano.

Parte da Palestra de abertura do Seminário de Educação em Direitos Humanos, São Paulo, 18/02/2000. Professora de Sociologia da Faculdade de Educação da USP e vice-coordenadora da Rede Brasileira de Educação em Direitos Humanos.

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10. INTERFACES DA ÉTICA CRISTÃ COM QUESTÕES SOCIAIS- POLITICAS E ANBIENTAIS QUE SE MANIFESTAM NO COTIDIANO DA

ESCOLA E DE SUA COMUNIDADE

Todos nós tomamos diariamente dezenas de decisões. Fazemos escolhas, optamos,

resolvemos e determinamos aquilo que tem a ver com nossa vida individual; a vida da empresa, da

igreja, a vida da nossa família… Enfim, a vida de nossos semelhantes.

Ninguém faz isso no vácuo. Antigamente pensava-se que era possível pronunciar-se sobre

um determinado assunto de forma inteiramente objetiva, isto é, isenta de quaisquer pré-concepções

ou pré-convicções. Hoje, sabe-se que nem mesmo na área das chamadas “ciências exatas” é

possível fazer pesquisa sem sermos influenciados pelo que somos, cremos, desejamos, objetivamos

e vivemos.

As decisões que tomamos são invariavelmente influenciadas pelo horizonte do nosso

próprio mundo individual e social.

Ao elegermos uma determinada solução em detrimento de outra, o fazemos baseados num

padrão, num conjunto de valores do que acreditamos ser certo ou errado. É isso que chamamos de

ética.

Alternativas Éticas 

Cada um de nós tem uma ética. Cada um de nós, por mais influenciado que seja pelo

relativismo e pelo pluralismo de nossos dias, tem um sistema de valores interno que consulta (nem

sempre, a julgar pela incoerência de nossas decisões…!) no processo de fazer escolhas.

Nem sempre estamos conscientes dos valores que compõem esse sistema, mas eles estão

lá, influenciando decisivamente nossas opções.

Os estudiosos do assunto geralmente agrupam as alternativas éticas de acordo com o seu

princípio orientador fundamental. As principais são: humanística, natural e religiosa.

Éticas Humanísticas 

As chamadas éticas humanísticas são aquelas que tomam o ser humano como a medida de

todas as coisas, seguindo o conhecido axioma do antigo pensador sofista Protágoras (485-410 AC).

Ou seja, são aquelas éticas que favorecem escolhas e decisões voltadas para o homem como seu

valor maior.

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Ética Natural 

Esse sistema ensina que o certo é aquilo que é agradável. Como movimento filosófico, teve

sua origem nos ensinos de Epicuro e de seus discípulos, cuja máxima famosa era “comamos e

bebamos porque amanhã morreremos”. O epicurismo era um sistema de ética que ensinava, em

linhas gerais, que para ter uma vida cheia de sentido e significado, cada indivíduo deveria buscar

acima de tudo aquilo que lhe desse prazer ou felicidade. Os hedonistas mais radicais chegavam a

ponto de dizer que era inútil tentar adivinhar o que dá prazer ao próximo.

Como conseqüência de sua ética, os hedonistas se abstinham da vida política e pública,

preferiam ficar solteiros, censurando o casamento e a família como obstáculos ao bem maior, que é

o prazer individual. Alguns chegavam a defender o suicídio, visto que a morte natural era dolorosa.

Como movimento filosófico, o hedonismo passou, mas certamente a sua doutrina central

permanece em nossos dias. Somos todos hedonistas por natureza. Freqüentemente somos motivados

em nossas decisões pela busca secreta do prazer. A ética natural do homem é o hedonismo.

Instintivamente, ele toma decisões e faz escolhas tendo como princípio controlador buscar aquilo

que lhe dará maior prazer e felicidade. .

O que pensamos acerca de Deus irá certamente influenciar nosso sistema interno de

valores bem como o processo decisório que enfrentamos todos os dias. Isso vale também para ateus

e agnósticos. O seu sistema de valores já parte do pressuposto de que Deus não existe. E esse

pressuposto inevitavelmente irá influenciar suas decisões e seu sistema de valores.

É muito comum na sociedade moderna o conceito de que Deus (ou deuses?) seja uma

espécie de divindade benevolente que contempla com paciência e tolerância os afazeres humanos

sem muita interferência, a não ser para ajudar os necessitados, especialmente seus protegidos e

devotos. Essa concepção de Deus não exige mais do que simplesmente um vago código de ética,

geralmente baseado no que cada um acha que é certo ou errado diante desse Deus.

Nós educadores nos preocupamos com as crianças e sua formação. Crianças que

aprenderam que lixo não se joga no chão; que ao atravessarmos a rua devemos fazê-lo na faixa de

pedestre e quando o “menininho” está verde; que os carros param quando o farol está vermelho;

Aprendemos que devemos ser educados e respeitar pai, mãe e as pessoas mais velhas; E quanto as

palavrinhas mágicas: Por Favor, Desculpe e Obrigado; Aprendemos que nos rios têm vida e os

peixes precisam de água limpa para sobreviver; nos ensinaram a não mentir, não brigar com o

colega, não falar palavras “feia” (palavrão). E tantos outros ensinamentos. O que vemos hoje é o

contrário de tudo que foi aprendido no jardim da infância, crianças que presenciam adultos jogando

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lixo nos rios, ou qualquer coisa que julgam não precisar mais; motoristas que não respeitam nenhum

tipo de sinalização; pessoas brigando por motivos banais, muitas vezes causando a morte de um dos

envolvidos;

Questionamos se a educação como instituição de ensino, tem contribuído para que esses

maus hábitos se propaguem? Como os profissionais dessas instituições vêem trabalhando os

princípios morais e éticos com os seus educandos? Segundo Ellen G. White (2010, p.225) “o mundo

não necessita tanto de homens de grande intelecto, como de nobre caráter (...) a formação do caráter

é a obra mais importante que já foi confiada a seres humanos”. Ela não se refere somente a

professores, mas a todos os indivíduos que convivem em comunidades/sociedade e passam

conceitos e dão exemplos de seus atos a todo o momento.

Pensamos que o educador, mesmo sem perceber, deixa que seus princípios morais aflorem,

isso faz com que acabem interferindo na formação da ética pessoal desses alunos. Percebemos a

nossa educação bastante falha. Hoje vemos que a lei que prevalece é a do “dente por dente”. Não

existe mais o respeito entre os colegas, presenciamos alunos agredindo alunos, alegando estarem se

defendendo de algum tipo de insulto, alunos discutindo exaltadamente com professores e que às

vezes terminam em agressões, professores estressados e sem paciência com as mau criações dos

discentes.

Analisamos ser muito difícil que, diante dos casos citados haja concordância entre o

discurso e a prática desse profissional. Fica claro à necessidade de uma reflexão: o que estamos

fazendo na educação?

O que queremos manifestar nos indivíduos em formação? E principalmente se ainda

queremos fazer alguma coisa para transformar princípios?

Entretanto a ética cristã, é o conjunto de valores morais total e unicamente baseado nas

Escrituras Sagradas, pelo qual o homem deve regular sua conduta neste mundo, diante de Deus, do

próximo e de si mesmo.

Page 43: Apostila de Etica

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11. "BRINCAR : VALORES, ÉTICA E CIDADANIA PARA TODA A VIDA"

Um dos desafios da escola é dar resposta à questão: "Que cidadão queremos ajudar a

formar?". Os projetos pedagógicos das escolas sinalizam todos no mesmo sentido afirmando:

"Queremos formar cidadãos autônomos, críticos, criativos, éticos, independentes, etc."

Nem sempre essas palavras traduzem em ações. Ficam nas boas intensões!

A formação para a cidadania tem como pilares os conceitos de ética e de moral. Eles

devem constituir o pano de fundo do desenvolvimento cognitivo e social das crianças no contexto

escolar.

Neste, conceituaremos moral como o conjunto de regras que restringem a liberdade

individual em benefício da harmonia do convívio social. Sendo regra, haverá sempre uma punição

para quem a descumpre.

Por outro lado, conceituaremos ética como o conjunto de princípios e valores que

conduzem a vida dos membros de um grupo social e determinam as regras da moral. Em suas

etimologias, moral e ética estão ligadas aos costumes dos diferentes grupos sociais, ou seja, há

diferentes éticas e morais, que devem por isso ser respeitadas não como certas ou erradas, mas

como diferentes. Assim, por exemplo, há o princípio do respeito à vida e à saúde das pessoas (ética)

que leva à regra moral que impõe  o limite de velocidade no trânsito, como punição para quem a

descumpre. Por isso dizemos que a moral responde à pergunta "o que devo fazer?" e a ética "como

devo viver?". Ou seja, a ética busca a qualidade de vida entre as pessoas, visando à vivência plena

da cidadania.

O lúdico - brincadeiras e jogos - pode contribuir na formação para a cidadania na medida

em que a criança e o adolescente desenvolvam princípios éticos que os levem a entender as regras

da moralidade na convivência social. Por exemplo: quero jogar futebol, mas para isso preciso

respeitar as regras, caso contrário estarei fora do jogo; quero jogar videogame, mas se não respeitar

as regras do jogo e descobrir estratégias específicas não conseguirei passar de determinada fase.

A compreensão dos princípios e valores éticos que levam ao desenvolvimento do

raciocínio e julgamento moral é diferente nas várias fases do desenvolvimento do sujeito. Isso nos

leva a três conceitos importantes: anomia, heteronomia e autonomia.

As crianças no início do seu desenvolvimento começam a perceber que existem figuras de

autoridade a quem devem atender; mas ainda não conseguem compreender os julgamentos sobre

Page 44: Apostila de Etica

44

seus próprios comportamentos para, a partir daí, se regularem. Tudo para elas é brincadeira. Há uma

espécie de ausência de regras. Estas existem para o outro e ainda não fazem sentido para a criança.

É o período da predominância do egocentrismo. É a fase da anomia.

Com o tempo, e a partir da interação mediada, passam a compreender a necessidade das

regras de convivência. Os adultos lhes mostram os limites no comportamento. É o período da

imposição da autoridade, do castigo e do prêmio. É a fase da heteronomia. Se o desenvolvimento

for feito de forma que a todo limite colocado for explicitado o princípio ético que o justifique,

haverá grande possibilidade de que o sujeito alcance a autonomia. Podemos dizer, então, que haverá

a fase da moral (heteronomia) e a fase da ética (autonomia).

Na autonomia observa-se a apropriação dos parâmetros necessários para avaliação de

situações sociais e do seu próprio comportamento, fazendo com que a pessoas seja capaz de

apresentar julgamento ético sobre si e sobre os outros. Desenvolvida a autonomia o sujeito adquire a

consciência moral, cumprindo os deveres não por medo de punições, mas com a consciência de sua

necessidade e significação. Na ausência da autoridade, o sujeito cumpre as normas, pois é

autodisciplinado e justo, É a força da responsabilidade que rege as suas ações.

A brincadeira e o jogo podem favorecer o desenvolvimento ético e moral do educando. O

brincar é inerente à fase inicial de desenvolvimento e expressa o prazer da fantasia, da interação

social, do coleguismo e da cooperação. Para uma criança que brinca, um cabo de vassoura vira um

cavalo, uma boneca uma "filha" que escuta, recebe bronca, come uma comidinha virtual,, etc. É

uma fase do "faz de conta".

Por outro lado, o chamado "jogo de regras" favorece na criança o desenvolvimento da

moral e da ética, na medida em que oportuniza a ela diversas circunstâncias que promovem suas

possibilidades de atribuir significados a regras na interação social. A criança pode então perceber o

valor do jogo e da interação e assim tem a necessidade de regular seu comportamento para estar em

sociedade, ou seja, pode ter a necessidade de rever e adaptar as vantagens pessoais em beneficio do

grupo.

Quando o "dono da bola" se vê ameaçado e diz "agora ninguém mais joga" fere o princípio

da cooperação. Ocorre muitas vezes que crianças, ao verem que estão perdendo na competição,

simplesmente querem "mudar as regras de jogo" em benefício próprio. Esse é um importante

momento para educar para os princípios éticos de respeito às regras estabelecidas.

Na escola, brincar e jogar devem estar associados ao prazer. O estudar é naturalmente

associado, pelas crianças e jovens, ao sacrifício e à obrigação. Assim, as brincadeiras, os jogos de

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regras e os jogos de cooperação são excelentes oportunidades para o desenvolvimento dos valores

éticos e das regras da moralidade, com vistas à vivência plena da cidadania.

Segundo Piaget (1978), através de jogos com regras,  atividades lúdicas as crianças

atingem um caráter educativo, tanto na formação psicomotora, como também na formação da

personalidade das crianças. Assim, valores morais como honestidade, fidelidade, perseverança,

hombridade, respeito ao social e aos outros são adquiridos.

    Os jogos com regras são considerados por Piaget (1978) como uma ferramenta

indispensável para este processo. Através do contato com o outro a criança vai internalizar

conceitos básicos de convivência. A brincadeira e os jogos permitem uma flexibilidade de conduta e

conduz a um comportamento exploratório até a consecução do modelo ideal de se portar com o

próximo, resultado de experiências, conflitos e resoluções destes (Bruner, 1968).

    Para Vygotsky (1991), há dois elementos importantes na atividade lúdica das crianças

no que se refere aos jogos com regras: o jogo com regra explícita e o jogo com regras implícitas. O

primeiro destes fatores são as regras pré-estabelecidas pelas crianças e que a sua não realização é

considerada uma falta grave, por exemplo, em um jogo de pega pega quem for tocado pelo pegador

passa a ser o perseguidor, isto direciona a criança a seguir regras sociais já estabelecidas pelo

mundo dos adultos. O outro segmento são regras que não estão propriamente ditadas, mas entende-

se que são necessárias para o seguimento do jogo, no exemplo citado acima, não se coloca que as

crianças não podem sair do local da brincadeira (como exemplo, uma quadra), portanto as regras

implícitas oferecem a criança uma noção de entendimento às regras ocultas, mas necessárias.

Referências:

BRUNER, J. O processo de educação. São Paulo: Cia Ed. Nacional, 1968. PIAGET, J. A formação do símbolo na criança. Rio de Janeiro: Zahar, 1978. BRASIL. PCNs: Temas Transversais. Brasília: MEC/SEF, 1997.FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário Brasileiro da LínguaPortuguesa. São Paulo: Melhoramentos, 1973.FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: nascimento da prisão. ed. Petrópolis: Vozes, 2006.___. A Ordem do Discurso. 13. ed. São Paulo: Loyola, 2006.MARQUES, Mário Osório. A aprendizagem na mediação do aprendido e da docência. 3.ed. Ijuí: Unijuí, 2006.PLATÃO. A República. São Paulo: Martin Claret, 2004.SÁ, Antônio Lopes de. Ética profissional. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2001.VYGOTSKY, L.S. A formação social da mente. São Paulo, Martins Fontes, 1991.

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10 princípios para ensinar ética na escola

A ética é um conjunto de habilidades baseadas em conhecimento. Não é regrada por opiniões pessoais

1. A atmosfera importa

A ética deve ser ensinada numa atmosfera de confiança entre, apoio e aspiração. A relação

professor-aluno deve ser composta por esses princípios, não por medo, ações judiciais ou denúncias,

queixas.

2. A ética é uma base de habilidades

A ética é um conjunto de habilidades baseadas em conhecimento. Não é regrada por

opiniões pessoais.

3. Reflexão

4. Conhecimento e habilidades

Conhecimento é fácil de obter, habilidades não. Elas precisam de prática para serem

atingidas.

5. Trabalhar o conhecimento

A única forma de aprende é trabalhar o conhecimento. Como fazer isso?

a) não se preocupe demais em ser perfeito ou correto (especialmente no começo) b) traga emoções positivas ao processo c) tente maneiras diferentes de abordar o problema d) gaste suas forças de uma forma positiva e) tenha uma mente mais aberta  

6. Informações de livros

Informação proveniente de livros não é simples nem evidente por si mesma. Aprender e

dar sentido ao que absorvemos vem da processamento de informações. Portanto, é necessário

construir conhecimento e sentido, não podemos simplesmente absorvê-lo.

7. Leitura diferenciada

Ler com o intuito de aprender ou escrever é diferente e mais produtivo do que ler só para

terminar o texto.

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8. Escrever é essencial

Escrever é uma forma de pensar e construir conhecimento.

9. Comunicação também é essencial

Ter pensamentos vanguardistas e inteligentes não serve para nada se você não consegue

comunicá-los efetivamente.

10. O aprendizado é diferente na faculdade

Na universidade, aprendizados significantes se passam fora da sala de aula. As classes

podem ser usadas para praticar habilidades e testar o que aprendemos.

 

Referencias Bibliograficas

Mitchell M. Handelsman, PhD em psicologia

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Como conscientizar alunos com atividades sobre cidadania

Saber administrar a diversidade para que, além de respeitada, ela também seja valorizada fará toda a diferença na formação dos alunos

Uma sala de aula é composta por um grupo de pessoas muito diferentes umas das outras.

Elas vêm de bairros, famílias, religiões, classes sociais, visões políticas e até mesmo nacionalidades

diferentes. Saber administrar a diversidade para que, além de respeitada, ela também seja

valorizada fará toda a diferença na formação dos alunos.

Algumas dinâmicas simples podem despertar e ensinar princípios morais para que, além de

bons profissionais, os estudantes sejam bons cidadãos”

1) Narrativa

Peça aos alunos que escrevam uma narrativa sobre alguma vez que tenham presenciado

casos de bullying ou maus tratos de outras naturezas, e como fizeram a escolha de serem apenas

testemunhas ou interferirem na situação. Peça aos estudantes que dividam suas histórias com

pequenos grupos e depois as reescrevam, com propostas de mudanças e formas de como poderiam

ter agido diferente.

2) Brainstorming

Organize um brainstorm com os alunos sobre todas as coisas que estão acontecendo na

comunidade (estado, cidade, país ou escola) que eles consideram errado, injusto, ruim, etc. Decida

com a classe se eles desejam se tornam ativistas numa dessas causas e como poderiam fazer isso.

3) Campanha

Escolha um dos itens discutidos no brainstorm e faça uma campanha com os alunos para

que escrevam cartas para as autoridades locais e políticos envolvidos nas causas.

4) Charges

Colete charges famosas que exemplifiquem momentos históricos onde a participação

popular ganhou destaque ou foi decisiva. Debata os motivos que levaram as mudanças, o contexto

que envolvia os fatos, o que aconteceu depois e o papel geral da sociedade no acontecimento. Outra

possibilidade é selecionar chargens e cartoons que “vilanizaram” grupos específicos de pessoas.

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Peça aos alunos que analisem porque esses indivíduos foram descriminados e porque essa

descriminação é errada.

BRAINSTORMING: (literalmente: "tempestade cerebral" em inglês) ou tempestade de ideias, mais que uma técnica de dinâmica de grupo, é uma atividade desenvolvida para explorar a potencialidade criativa de um indivíduo ou de um grupo - criatividade em equipe - colocando-a a serviço de objetivos pré-determinados.

 

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ENTENDA O QUE É CIDADANIA E SAIBA POR QUE É TÃO IMPORTANTE PRATICÁ-LA

A prática da cidadania começa dentro de casa

Logo ao nascer, você ganhou um nome, uma família e muitos presentes! E, sem perceber,

ganhou também algo especial: sua cidadania. Ou seja, você passou a ser um cidadão e a fazer parte

de um grupo de pessoas que têm direitos e deveres. A cidadania é importante porque vivemos

cercados de gente. Você, seus pais, familiares, amigos, vizinhos e professores se relacionam com

outras pessoas todos os dias.

Para que indivíduos tão diferentes convivam bem, é preciso que todos sigam regras. Muitas

delas nós aprendemos em casa. Algumas na escola e com os amigos. E há outras que são

estabelecidas pelas leis. No Brasil, a principal lei é a Constituição, que define direitos e deveres de

todos os brasileiros.

O Estatuto da Criança e do Adolescente, por exemplo, é uma lei feita para garantir os

direitos dos mais jovens e determina que toda criança tem direito à vida, à saúde, à educação, à

alimentação e à família para crescer saudável. Não importa a idade, a religião ou o grupo social,

todos têm seus direitos. Mas um bom cidadão se preocupa também com seus deveres e com o bem-

estar dos outros e sabe que, para ser respeitado, é preciso respeitar o outro. Se cada um faz sua

parte, garante o melhor para todos.

Você faz isso quando segue as regras de trânsito, quando ajuda quem está em dificuldades

e não joga lixo na rua, por exemplo. É com respeito e solidariedade que se pratica a cidadania. 

DICAS DE CIDADANIA 

Em casa:

-Organize suas coisas

-Separe o lixo reciclável

-Respeite as pessoas mais velhas e valorize as experiências delas

-Objetos que você não usa podem servir para outras pessoas. Faça doações

-Ao levantar da cama, arrume-a

-Quando terminar as refeições leve seu prato até a cozinha

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Ética e Mochila Escolar

Autor: Içami Tiba, Psiquiatra, Psicodramatista, Especialista em Adolescentes, Orientador Educacional. do Livro: Amor, Felicidade e Companhia, Coletânea de Textos, Editôra Gente, 1998.

É quando o discípulo está pronto que o mestre aparece. É um velho ditado hindu. Muitas

vezes o mestre não é uma pessoa, mas um episódio do cotidiano.

A Psicologia Educacional está presente nos pequenos atos, que podem passar

despercebidos.

Venha comigo observar, à porta de uma escola qualquer, a hora da chegada das crianças

com as respectivas mães. Observe: quem carrega a mochila escolar? Na maioria das vezes é a mãe.

Essa mãe, por hipersolicitude e num gesto de amor, carrega a mochila do filho para poupá-lo desse

esforço.

Há mãe exagerada: leva três mochilas nas costas, segura ou carrega o filho menor,

enquanto vai cuidando para que os outros filhos não fiquem se matando pelo caminho. E, quando

chegam ao portão da escola, o que acontece?

O filho foge para dentro da escola, e a mãe tem de correr atrás dele para entregar-lhe a

mochila e, já com os lábios estendidos, dar-lhe um beijinho de despedida... Por que um filho, nessa

despedida, não beija sua mãe? Qualquer ser humano, ao se separar de alguém, pelo menos por

educação se despede dele.

Os enamorados beijam-se tão demoradamente que é impossível saber se estão se

despedindo, ou "ficando", ou até mesmo se chegando... Somente quando não usufruímos a

companhia é que "saímos de fininho", isto é, sem nos despedir dela. Portanto, se um filho não beija

sua mãe é porque não usufruiu prazerosamente sua companhia. Significa também que o filho não

reconheceu a ajuda que a mãe lhe deu.

Ajudar é muito nobre e um gesto de amor, ao qual mãe nenhuma se furta. Mas, se não ficar

claro que a mãe o está ajudando, o filho pode entender que é responsabilidade dela carregar sua

mochila. Assim se perpetua que quem vai à escola é ele, mas quem deve carregar a mochila é a

mãe.

Para que carregar sua mochila se, até então, isso é obrigação da mãe? Essa é uma das

melhores maneiras de um filho não adquirir responsabilidade pela própria vida. Mas o pior é

quando o filho acredita que é obrigação dos pais carregar as "mochilas da vida" e que a ele só cabe

viver o prazer.

Page 52: Apostila de Etica

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O filho se deforma transformando-se em "folgado", enquanto os pais se "sufocam". Assim

vai se organizando uma falta de ética em que o respeito a quem o ajuda passa a não existir e a

responsabilidade pelos próprios compromissos a se diluir. Quem não respeita a própria mãe não tem

por que respeitar outras pessoas: pai, professores, autoridades sociais ou qualquer ser vivente, seja

mendigo, seja índio...

Quem não se responsabiliza pelos próprios atos não tem por que se preocupar com o que

faz ou deixa de fazer... Tudo isso pode ocorrer se carregar a mochila do filho for extensão social do

que a mãe faz dentro de casa, isto é, se ela carrega também a casa toda...

Carregar a mochila do filho é um erro de amor. Cometido por amor, pode ser até aceitável,

mas não se justifica. O maior amor é criá-lo e educá-lo para a vida. E a vida exige qualidade, ética,

liberdade e responsabilidade. Ainda bem que nossa psique é plástica e os comportamentos podem

ser mudados a qualquer momento, desde que estejamos realmente mobilizados para isso.

Na primeira oportunidade esta mãe deveria fazer o esforço sobrematerno, que é maior que

o sobre-humano, para não carregar a mochila do filho. Vai ser uma briga interna muito grande

contra a sensação de estar sendo má, incompetente e omissa... Mas a mãe tem de saber que o que

sempre fez, pensando estar ajudando, na realidade prejudicou o filho e acreditar que pode mudar.

Portanto, essa mudança de atitude tem a finalidade de educar saudavelmente o filho,

porque só o amor não é suficiente para uma boa educação. O filho tem de sentir todo o peso de sua

mochila. Cabe à mãe oferecer ajuda. Se ele, por birra, já que nunca carregou peso algum, recusar a

ajuda, ótimo! A mãe não deve sentir-se inútil. Pelo contrário, deve usufruir o filho, que está

começando a assumir a própria responsabilidade, e curtir essa felicidade.

A mãe não deve incomodar-se com os olhares indignados de outras mães, querendo dizer:

"que mãe desnaturada, que deixa o filho soterrado sob a mochila". A mãe precisa devolver os

olhares dizendo "quão cegas e submissas elas estão sendo aos próprios filhos, que logo irão chamá-

las de "escravas", e perceber nelas já uma pontinha de inveja por alguém estar conseguindo o que

elas sempre desejaram... É bem provável que já no dia seguinte essa mãe encontre algumas

parceiras para sua felicidade.

Chegará uma hora em que o próprio filho, não agüentando mais carregar a mochila, dirá,

com aquele ar de súplica que desmonta qualquer coluna vertebral materna: "Manhêêê, me ajuda?"

Esta é a hora sagrada que Deus arrumou para a mãe tentar reparar as falhas educativas anteriores.

Portanto, não a deve perder de forma alguma.

Carregar todo o peso da mochila outra vez, jamais! Mesmo que tenha de lutar com todas as

forças contra o "determinismo do instinto materno". É chegada a hora de efetivamente ajudar o filho

no que ele precisa.

Page 53: Apostila de Etica

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Portanto, nesse exato momento cabe à mãe abrir a mochila, que ele mesmo deve, ou

deveria, ter arrumado, e deixá-lo pegar o que consegue carregar. Se ele quiser levar a mochila com

menos cadernos, ótimo! Se quiser carregar alguns cadernos, ótimo também! Mesmo que seja pouco,

se o filho começar a carregar alguma coisa, já é ótimo.

Até agora o que ele aprendeu é que levar a mochila é obrigação da mãe. Portanto, vamos

devagar, até ele reaprender que essa obrigação é dele, e a sua mãe só o está ajudando. Se de

pequenino o filho carrega alguns cadernos, à medida que vai crescendo pode levar mais cadernos,

até chegar o dia em que conseguirá carregar toda a mochila. Educar é preparar o filho para a alegria

da liberdade sem depender de ninguém para "carregar suas mochilas".

Nesse novo processo, o mais importante é que o filho, ao chegar ao portão da escola, sente

na própria pele a ajuda de sua mãe, medida e quantificada pelo peso da mochila que deixou de

carregar. Nessa hora, seu coraçãozinho se enche de gratidão, e vem espontaneamente o tão desejado

beijo do qual ela tanto correu atrás.

É um sentimento de reconhecimento do esforço que sua mãe sempre fez e ao qual ele

nunca deu valor. Esse reconhecimento dá ao filho o sinal da existência da mãe. Se existe a mãe deve

ser respeitada.

Assim, o filho, carregando a própria mochila, sendo auxiliado pela mãe nessa pesada

tarefa, cria dentro de si respeito pela pessoa que o ajuda. Essa gratidão entra em seu quadro de

valores e penetra fundo em seu modo de ser. Quem tem respeito à própria mãe também respeita

seus semelhantes. É dessa maneira que um filho pequeno adquire a ética que vai torná-lo um

cidadão na sociedade.

 

Reflexões:

1.Quem não se responsabiliza pelos próprios atos não tem por que se preocupar com o que faz ou deixa de fazer...

2.A vida exige qualidade, ética, liberdade e responsabilidade. Ainda bem que nossa psique é plástica e os comportamentos podem ser mudados a qualquer momento, desde que estejamos realmente mobilizados para isso.

3.Só o amor não é suficiente para uma boa educação.

4.Quem tem respeito à própria mãe também respeita seus semelhantes. É dessa maneira que um filho pequeno adquire a ética que vai torná-lo um cidadão na sociedade.

Page 54: Apostila de Etica

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FAZENDO A DIFERENÇA

 

“A garotinha estava preocupada. Ligava a televisão e... violência, até mesmo em

programas infantis; nos noticiários, então, além da violência, muita corrupção. Gente que tem o

dever de cuidar do Brasil, cuidando acima de tudo dos próprios interesses, enriquecendo com o

dinheiro do povo.

– Como será o meu futuro? – Perguntava a si mesma. – E o futuro da minha família, do

meu país?...

Com tantos pensamentos machucando-lhe a alma, foi procurar um sábio e lhe falou das

suas preocupações.

O sábio, feliz por encontrar uma criança tão lúcida, tão consciente, respondeu:

– São as crianças de hoje que farão o futuro do nosso país.

Olhou bem fundo nos olhos da menina e, quando percebeu que ela entendera, sorriu.

Naquele momento, aquela garotinha estava começando a fazer a diferença.

No dia seguinte foi falar com a diretora da escola. As duas conversaram bastante e...

Alguns dias mais tarde todas as professoras daquela escola passaram a ensinar aos alunos valores

como honestidade, não violência, afetividade, ética, respeito por si mesmos, pelos outros, pela vida,

por tudo.

As professoras explicavam o quanto é importante as crianças aprenderem a vivenciar esses

valores e darem bons exemplos aos adultos. Diziam que, além de tudo, ao crescerem, elas poderão

ajudar a mudar o nosso país, para melhor.

No mês seguinte, os alunos daquela escola, muito entusiasmados, realizaram no bairro a

primeira campanha pela paz e pela honestidade. Procuraram alguns empresários e conseguiram

doações para fazer as faixas, os cartazes e os folhetos da campanha.

Foi um sucesso! E você? Se você tem 8 anos de idade... ou 10 ou 20. Se você tem 40 ou 70

anos... Pense em que a única solução para acabar com a violência, a corrupção, as desigualdades e a

injustiça em nosso país, está na mudança de mentalidade.

É aí que você entra, e começa também a fazer a diferença para que a educação ande junto a

cidadania.”

Autor Desconhecido.

Page 55: Apostila de Etica

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MARCAS DE BATOM NO BANHEIRO

“Em educação não há receitas e na lida com problemas de comportamento seja sempre inusitado fazendo o inesperado”.

“Contam que numa escola pública estava ocorrendo uma situação muito desagradável: meninas de 12 anos que usavam batom, todos os dias beijavam o espelho para remover o excesso de batom.

O diretor andava bastante aborrecido, porque o zelador tinha um trabalho enorme para limpar o espelho ao final do dia. Mas, como sempre, na tarde seguinte, lá estavam as mesmas marcas de batom…

Um dia o diretor juntou o bando de meninas no banheiro e explicou pacientemente que era muito complicado limpar o espelho com todas aquelas marcas que elas faziam. Fez uma palestra de uma hora.

No dia seguinte as marcas de batom no banheiro reapareceram…

No outro dia, o diretor juntou o bando de meninas e o zelador no banheiro, e pediu ao zelador para demonstrar a dificuldade do trabalho.

O zelador imediatamente pegou um pano, molhou no vaso sanitário e passou no espelho.

Nunca mais apareceram marcas no espelho!

Moral da história: Há professores e há educadores…

Comunicar é sempre um desafio!

Às vezes, precisamos usar métodos diferentes para alcançar certos resultados”.

Page 56: Apostila de Etica

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OLHA PRA MIM PROFESSOR (A)!

Antonieta Pepe Nakamura

"Sabe...eu sou aquela criança que senta num cantinho qualquer da aula, de roupinhas

velhas, rostinho feio, cabelos sem brilho e quase não fala.

Sabe...eu sou aquela criança que nunca traz uma merenda gostosa pra poder lhe dar um

pedacinho, aquela criança que não lhe dá os desenhos bonitos porque só tem lápis preto para colorir.

Sabe..eu sou aquela criança que nunca ganhou um colinho do papai, que nunca ganhou

ovinhos de Páscoa, a não ser os que a senhora me dá.

Sabe...eu sou aquela criança que muitas vezes traz o tema mal feito, porque a mesa lá de

casa é um caixote de madeira, que sacoleja todo quando a gente escreve, aquela criança que a

senhora nem nota, que nunca chega perto porque não tem cheirinho de perfume.

Sou aquela criança que a senhora reclama sempre que não é como as outras, aquela que lhe

traz com carinho uma florzinha murcha, que a senhora finge gostar, mas que acaba esquecendo

sobre a mesa.

Sou, enfim, professora, aquela criança que gostaria de ser como as outras, mas não é, que

gostaria de receber um sorriso, mas não recebe, que gostaria de receber um "parabéns", que gostaria

de lhe dar flores bem lindas para que a senhora se orgulhasse de mim.

Mas, assim mesmo eu lhe peço, aceite-me como sou, gosta de mim como a senhora gosta

dos outros, preste atenção em mim, não me vire as costas, acredite em mim.

Porque eu queria ser importante para a senhora.

Porque eu sou aquela criança feinha e sem graça, que senta num cantinho qualquer da sala

e que, se a senhora tiver um tempinho para prestar atenção em mim, verá em meus olhos sem brilho

um brilho de esperança, na espera de uma chance para poder lhe dizer:

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"OLHE PRA MIM, PROFESSORA, PRECISO DE VOCÊ!"