apostila capítulo 33. parte 2. anestesia para videolaparoscopia

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Apostiela de Anestesia

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  • Quero Passar no TSA

    Acreditamos na dedicao, na essncia de cada

    indivduo realizando o seu mximo potencial com

    base na disciplina, organizao, estudo,

    comprometimento e amor no trabalho exercido e

    escolhido.

    Seu desenvolvimento o nosso objetivo

  • QUERO PASSAR NO TSA 2014 1

    SBA Todos os temas exigidos pela Sociedade Brasileira de Anestesiologia foram cuidadosamente abordados no Projeto Quero Passar no TSA, trazendo de uma forma clara, objetiva e simples, o estudo sequencial dos pontos solicitados para o TSA, para que todos os alunos possam obter o mximo aproveitamento do curso e se preparar durante todo o ano para o Ttulo Superior em Anestesiologia.

    Com um bom planejamento, o

    alcance para o seu sonho se torna apenas

    uma caminhada constante at a

    realizao do seu objetivo.

    Equipe Quero Passar no TSA

  • QUERO PASSAR NO TSA 2014 2

    Anestesia em Videolaparoscopia

    Introduo

    A videolaparoscopia cirrgica, aps a realizao da

    colecistectomia por P. Mouret, em Lyon, 1987, e a srie de

    Dubois, em Paris, 1988, proporcionou uma grande

    transformao nas abordagens teraputicas das doenas

    abdominais.

    Comparada com a cirurgia convencional, a

    videolaparoscopia apresenta algumas vantagens: menores

    incises, deambulao e alta hospitalar mais precoces

    antecipando retorno atividade habitual, menor

    comprometimento ps-operatrio da funo respiratria

    preservando a atividade diafragmtica, menor incidncia de

    leo ps-operatrio, menor formao de aderncias e dor

    quase sempre menos intensa.

    Atualmente a maior parte dos procedimentos

    cirrgicos so feitos por meio de cirurgia vdeo assistida. A

    colecistectomia realizada de rotina e sem dvida a

    cirurgia mais frequente no nosso meio.

    PROJETO QUERO PASSAR NO TSA

    A videolaparoscopia

    revolucionou a cirurgia e ainda

    promoveu avano em outras

    especialidades.

    Apesar de um avano cirrgico,

    esse tipo de procedimento

    envolve a introduo de gs

    dentro da cavidade, o que repercute em

    vrios rgos e sistemas.

    A anestesia visa proporcionar bom campo cirrgico e tratar as principais

    alteraes hemodinmicas e

    respiratrias.

  • QUERO PASSAR NO TSA 2014 3

    Pneumoperitnio

    Para a realizao dos procedimentos videolaparoscpicos, o

    pneumoperitnio faz-se necessrio, como tambm o posicionamento do

    paciente, proporcionando o deslocamento gravitacional das vsceras

    favorecendo uma melhor visibilidade das estruturas anatmicas e afastando-as

    da parede abdominal, criando um maior espao para a realizao da cirurgia.

    Essas situaes induzem alteraes fisiolgicas e efeitos deletrios aos rgos

    e sistemas no intraoperatrio que comprometem o bom manejo da anestesia. O

    tempo cirrgico aumentado, principalmente nas cirurgias e grande porte, leva

    ao aumento das alteraes respiratrias e cardiocirculatrias ocasionadas pelo

    pneumoperitnio. O risco de dano visceral, a dificuldade de avaliao da perda

    sangunea e hemorragia mais acentuada podem comprometer a tcnica e a

    segurana do paciente.

    Ar ambiente, oxignio, nitrognio, xido nitroso, argnio e hlio j foram

    indicados para a produo do pneumoperitnio, no entanto o gs ideal deveria

    ser inerte, incolor, no irritante para o peritnio, no explosivo frente

    coagulao eltrica ou a laser e tambm de fcil eliminao do organismo.

    Atualmente o gs que mais se aproxima destas caractersticas o CO2.

    Quando colocado na cavidade abdominal, o CO2 no se mantm esttico,

    difundindo-se atravs de todos os tecidos, entrando em equilbrio com todos os

    compartimentos corporais.

    Vale lembrar que normalmente, em repouso, a produo basal de CO2

    de aproximadamente 2,5 ml/kg/min. As concentraes teciduais e plasmticas

    de CO2 dependem do metabolismo celular, do fluxo sanguneo, da perfuso

    dos rgos e tecidos e da capacidade ventilatria. Com a somatria do CO2 do

    pneumoperitnio absorvido para a circulao, nem todo esse gs eliminado

    no decorrer do procedimento anestsico-cirrgico. Esse excesso fica estocado

    principalmente nos ossos, nosso maior reservatrio, onde cerca de 120L de

    CO2 podem ser estocados, e somente ser excretado na fase de recuperao

    da anestesia.

  • QUERO PASSAR NO TSA 2014 4

    Foi demonstrado que o CO2 apresenta uma absoro no linear quando

    se considera o aumento gradativo da presso intrabdominal. At uma

    determinada presso haveria um aumento da rea de exposio do CO2 no

    sangue, o que daria uma fase de grande absoro. Com a elevao da

    presso, os vasos capilares peritoneais se colabariam frente a uma presso

    extraluminal maior do que a presso hidrosttica em seus interiores. A partir

    deste momento haveria uma queda da velocidade de absoro. Assim,

    podemos entender a importncia de uma adequada ventilao e de um bom

    desempenho hemodinmico na videolaparoscopia com pneumoperitnio.

    Uma das complicaes no processo de instalao do pneumoperitnio

    a puno inadvertida de estruturas abdominais (estmago, intestino, fgado,

    bao, tero, bexiga e vasos) com agulha de Verres. Tais intercorrncias,

    embora raras, exigem ateno por parte do anestesiologista, j que o

    diagnstico precoce fundamental para minimizar o acidente e suas

    repercusses. A confirmao do posicionamento da agulha feita

    semelhana da identificao do espao peridural, com uma seringa e as

    devidas manobras.

    As perfuraes de vsceras ocas no so percebidas rapidamente, j

    que no h repercusses hemodinmicas imediatas. Excetua-se a leso de

    estmago que, com a insuflao do peritnio, pode ocorrer sada de ar pela

    boca ou sonda gstrica. H relato de diagnstico precoce de leso de bexiga

    pela sada de ar no coletor do cateter vesical. J as leses hepticas e

    esplnicas so inferidas em funo da instabilidade circulatria que pode estar

    presente desde o incio do quadro. As pequenas laceraes destes rgos no

    geram comprometimento hemodinmico imediato, e por isto o diagnstico s

    usualmente feito a partir de um sangramento inexplicvel observado aps a

    introduo da cmera. H ainda a possibilidade de esgaramento da cpsula

    esplnica pela presso intracavitria elevada, sendo uma causa rara de

    hipotenso ps-operatria.

    Entre as complicaes decorrentes da puno abdominal, as mais

    dramticas so as leses de vasos calibrosos (artria ilaca). Nestes casos, a

    vigilncia por parte do anestesiologista decisiva, j que o lapso de tempo

  • QUERO PASSAR NO TSA 2014 5

    entre a ocorrncia da leso e a introduo da cmera pode ser relativamente

    amplo e a instabilidade circulatria ser o sinal de alerta mais precoce. Toda

    hipotenso arterial que ocorre aps a puno abdominal deve ser valorizada.

    Aps a puno, a agulha conectada a um insuflador automtico de

    CO2 sendo iniciada a entrada de gs, de incio lento para evitar distenso

    brusca do peritnio (reflexos). Em procedimentos de abdmen superior as

    presses de 12 a 15 mmHg so suficientes, sendo evitadas presses acima de

    20 mmHg.

    Neste tempo cirrgico podem surgir alteraes decorrentes do

    estiramento peritoneal e estimulao vagal devido a esta manobra.

    Observam-se disritmias diversas, desde uma bradicardia sinusal at

    dissociao A-V com ritmo juncional. A tcnica anestsica tem enorme

    influncia neste reflexo, porm, a primeira medida a ser adotada caso ocorra

    uma disritmia importante ser, necessariamente, a interrupo do

    pneumoperitnio que poder ser reiniciado logo aps a estabilizao do

    paciente.

    Outra complicao desta fase a embolia gasosa (CO2 na maioria das

    vezes). Este evento decorrente da absoro macia do gs por uma veia que

    tenha sido eventualmente lesada. A embolia gasosa neste tempo cirrgico

    rara. Cogita-se que vnulas lesadas cirurgicamente, em meio a um tecido

    fibrticos ou inflamatrio, podem no colabar como seria prprio destes vasos

    e servir de entrada para o gs que estar sob presso no ambiente ao redor.

    Devido alta solubilidade do CO2, a embolia gasosa por este gs tende

    a apresentar um curso menos drstico, quando comparada embolia por ar

    atmosfrico. Sugere-se mesmo que muitas das instabilidades hemodinmicas

    transitrias diagnosticadas no decorrer destas intervenes sejam, na

    realidade, episdios fugazes e autolimitados de embolia gasosa.

    A embolia por CO2 pode, porm, ser fatal, como mostra a experincia

    acumulada com laparoscopias diagnsticas ginecolgicas.

  • QUERO PASSAR NO TSA 2014 6

    Caso ocorra suspeita, o tratamento consiste em:

    Interrupo imediata do pneumoperitnio

    Trendelemburg moderado (30o) + decbito lateral esquerdo

    FIO2 = 100%

    Inotrpicos e vasopressores

    Ventilao adequada

    importante lembrar que, devido obstruo mecnica ao fluxo

    pulmonar, ocorre inicialmente uma diminuio do CO2 expirado, sendo este

    dado capnomtrico o sinal mais precoce da complicao, j que no usado

    rotineiramente ECO transesofgico como monitorizao para esta cirurgia. Por

    causa da queda da PeTCO2, o capnmetro deixa de servir temporariamente

    como parmetro para o ajuste dos volumes ventilatrios.

    Alteraes hemodinmicas

    Uma vez estabelecido, o pneumoperitnio causa alteraes

    cardiovasculares significativas, que acarretaro maior ou menor repercusso

    para o paciente em funo da presso utilizada, durao do procedimento,

    estado funcional cardiocirculatrio do paciente antes da cirurgia,

    posicionamento do paciente e volume intravascular. A presso intra abdominal

    elevada exerce efeitos opostos no sistema cardiovascular. Ela fora o sangue

    para fora dos rgos abdominais e veia cava inferior e para o interior do

    reservatrio venoso central, enquanto, ao mesmo tempo, aumenta o acmulo

    de sangue perifrico, tendendo a diminuir o volume sanguneo central.

    A presso intra abdominal elevada acarreta compresso das artrias e

    veias abdominais. A compresso da aorta contribui para o aumento na

    resistncia vascular sistmica e na ps-carga o que pode culminar com

    reduo no dbito cardaco. A compresso venosa, por sua vez, determina

    alteraes transitrias no retorno venoso seguidas pelo declnio na pr-carga e

    no fluxo da veia cava inferior.

  • QUERO PASSAR NO TSA 2014 7

    At mesmo pequenos valores de presso intra abdominal elevada (10

    mmHg) originam diminuio no dbito cardaco, aumentos na presso arterial e

    na resistncia vascular sistmica. A frequncia cardaca pode permanecer

    inalterada ou aumentar discretamente. A diminuio no dbito cardaco

    proporcional ao aumento na presso intra abdominal, sendo que acima de 22

    mmHg a pr-carga encontra-se diminuda em mais de 80% dos pacientes

    normovolmicos.

    Durante o aumento da presso intra abdominal, h elevao na

    resistncia vascular sistmica mediada por fatores mecnicos (aumento na

    resistncia aos rgos intraabdominais) e por fatores humorais. So

    observados aumentos nas concentraes de catecolaminas, nos hormnios do

    sistema renina-angiotensina-aldosterona e principalmente na vasopressina o

    que contribui para aumentar a ps-carga. Os aumentos nas concentraes da

    vasopressina so os que melhor se correlacionam com a maior resistncia

    vascular sistmica.

    O resultado final das alteraes na pr- carga e ps-carga no dbito

    cardaco dever ser individualizado para cada paciente. O posicionamento

    tambm determina alteraes importantes (veja abaixo).

    Alteraes respiratrias

    A forma de instalao do pneumoperitnio deve ser lenta, com baixo

    fluxo inicial, aumentando progressivamente. A insuflao aumenta a presso

    intra abdominal, com valor mdio em torno de 15 mmHg. H reduo da

    complacncia pulmonar com elevao diafragmtica, limitando a expanso. A

    elevao diafragmtica tambm pode facilitar a intubao seletiva. H queda

    da capacidade vital (CV), da capacidade pulmonar total (VT) e da capacidade

    residual funcional (CRF). A reduo da capacidade residual funcional pode ser

    associada com o desenvolvimento de atelectasia e aumento do shunt

    pulmonar. A elevao da presso de pico respiratrio, alm das alteraes

    hemodinmicas, pode causar barotrauma com formao de pneumotrax,

    enfisema subcutneo e de pneumomediastino, tambm relacionado com a

  • QUERO PASSAR NO TSA 2014 8

    passagem do gs sob presso, dissecando atravs de tecidos traumatizados

    cirurgicamente, ou de defeitos anatmicos.

    Sob o ponto de vista da funo pulmonar ps-operatria, comparando

    com a laparotomia, a funo pulmonar fica mais preservada, no entanto foram

    observados acidose metablica e aumento no dbito do CO2 por tempo

    superior 1 hora no ps- operatrio.

    A hipoxemia que ocorre com queda da saturao de oxignio, pode

    estar relacionada com doena prvia, hipoventilao, obesidade, atelectasia

    perioperatria, reduo do dbito cardaco, elevao do shunt pulmonar alm

    de falha do equipamento de ventilao ou at mesmo intubao seletiva.

    O CO2 absorvido do pneumoperitnio estocado no organismo e

    eliminado pelos pulmes. A capnometria com avaliao da PeTCO2

    ligeiramente menor do que a PaCO2 no paciente sem doena pulmonar. Um

    aumento da diferena entre PaCO2 e PeTCO2 reflete aumento da ventilao de

    espao morto. Pacientes com doena pulmonar crnica beneficiam-se de

    ventilao mecnica prolongada no ps-operatrio porque, mesmo se houver

    de hiperventilao intraoperatria intensa, eles ainda apresentam risco de

    hipercarbia e acidose se forem extubados precocemente ou deixados em

    respirao espontnea. A interao de CO2 absorvido do pneumoperitnio com

    alguns anestsicos, sobretudo halotano, pode causar disritmias cardacas.

    Quando existe suspeita de hipercarbia, a realizao de gasometria

    arterial recomendada mesmo com a PeTCO2 normal. Alteraes respiratrias

    durante as videolaparoscopias podem contribuir para o aumento da PaCO2,

    que pode ser tolervel em pacientes saudveis, porm recomendado manter

    a PaCO2 dentro das variaes fisiolgicas pelo ajuste da ventilao controlada

    mecnica.

    Ocorre tambm diminuio de mais de 50% da complacncia pulmonar

    e elevao do pico e plateau de presso das vias areas durante aumento na

    presso e volume intra abdominais para a instalao do pneumoperitnio. As

    regies basais pulmonares do origem atelectasias, h queda na capacidade

  • QUERO PASSAR NO TSA 2014 9

    vital e na capacidade residual funcional levando ao aumento do espao morto e

    desequilbrio na relao ventilao/perfuso.

    No obeso mrbido a reduo da capacidade residual (CRF)

    diretamente proporcional ao ndice de massa corprea (IMC), e est ligada

    queda da complacncia pulmonar total, queda da complacncia da parede

    torcica, aumento do volume sanguneo pulmonar, aumento da resistncia das

    vias areas e insuficincia muscular respiratria. Durante o ato anestsico

    cirrgico a CRF pode ser aumentada com a ventilao mecnica e presso

    positiva no final da expirao (PEEP), aumentando o recrutamento alveolar e

    com isso melhora do contedo arterial de O2. Entretanto o uso do PEEP pode

    levar a um aumento da resistncia vascular pulmonar e diminuio do dbito

    cardaco em pacientes com baixa reserva ventricular, reduzindo assim a oferta

    de O2 ao organismo.

    No obeso e obeso mrbido verifica-se tambm elevao da capacidade

    de ocluso, queda no volume de reserva expiratrio e da capacidade pulmonar

    total que juntos tendem levar hipoxemia.

    A posio do paciente na mesa cirrgica tambm interfere na funo

    pulmonar. Na posio de cefalodeclive o peso das vsceras abdominais e da

    parede abdominal desloca o diafragma em sentido ceflico, comprimindo os

    pulmes e favorecendo a formao de atelectasia. Tambm promove queda na

    capacidade vital, na capacidade residual funcional, no volume pulmonar total e

    na complacncia pulmonar, sendo de fundamental importncia nos pacientes

    obesos e obesos mrbidos, idosos e debilitados. Para atenuar estas alteraes

    fisiolgicas, por exemplo, no caso das cirurgias baritricas por

    videolaparoscopia, o paciente deve ser colocado em posio de proclive,

    melhorando a complacncia pulmonar, promove recrutamento alveolar,

    elevao da CRF e melhora da PaCO2, e associar a inclinao lateral esquerda

    atenuando a presso das vsceras abdominais e parede abdominal sobre a

    veia cava inferior, melhorando o retorno venoso.

    Nas esofagectomias a posio cfaloaclive alm de proporcionar

    melhores condies cirrgicas, reduzindo o tempo anestsico-cirrgico, diminui

    as alteraes no intraoperatrio como hipxia e hipercarbia, e complicaes

  • QUERO PASSAR NO TSA 2014 10

    respiratrias ps operatrias como as atelectasias, injrias bronquiais e

    traqueais, pneumonia, entre outras.

    Alteraes renais

    A oligria comum durante as laparoscopias. Ocorre pela diminuio no

    fluxo sanguneo renal e na perfuso das regies medular e cortical dos rins,

    levando reduo no ritmo de filtrao glomerular, no dbito urinrio e na

    excreo de sdio. A causa das alteraes no fluxo sanguneo e na funo

    renal a compresso mecnica do parnquima, das artrias e das veias renais

    secundria ao aumento na presso intra abdominal. A diminuio do dbito

    urinrio tambm pode ocorrer pela compresso da veia cava ou

    secundariamente s concentraes elevadas de hormnio antidiurtico.

    Aps a desinflao do pneumoperitnio a diminuio do fluxo da veia

    renal poder permanecer por mais de duas horas. O sistema renina-

    angiotensina tambm acionado pela queda no fluxo sanguneo renal

    determinando vasoconstrio renal mediada pela angiotensina II, piorando a

    perfuso renal, levando a oligria no perioperatrio.

    Fluxo sanguneo esplncnico

    O fluxo sanguneo esplncnico esta diminudo durante todo o tempo de

    insuflao. Mudanas na microcirculao esplncnica durante o

    pneumoperitnio incluem diminuio na perfuso gstrica com queda no pH

    intramucoso gstrico. Com presses intra abdominais acima de 10 mmHg j se

    observam alteraes no fluxo sanguneo esplncnico e heptico.

    Presses em torno de 8 a 10 mmHg devem ser mantidas para manter o

    fluxo esplncnico e heptico. Acima disso encontramos leses endoteliais e

    nas clulas de kuppfler. Outro fator a posio de cefalodeclive que tambm

    contribui para queda do fluxo sanguneo heptico total, da artria heptica e

    veia porta.

  • QUERO PASSAR NO TSA 2014 11

    Sistema Nervoso Central

    Com relao ao sistema nervoso, a hemodinmica cerebral sofre

    influncias das alteraes da hemodinmica cardiovascular, das variaes na

    PaCO2, da posio do paciente no intraoperatrio e dos aumentos das

    presses intra- abdominal e intratorcica.

    Foi observado que a presso intracraniana (PIC) aumenta durante o

    pneumoperitnio, mesmo sem o concomitante aumento da PaCO2. O aumento

    da PIC proporcional ao aumento da presso intra abdominal. Presses intra

    abdominais elevadas comprimem a veia cava e aumentam a presso

    intratorcica em virtude do deslocamento do diafragma.

    O aumento na presso da veia cava inferior tambm determina

    aumentos na presso da regio lombar da coluna vertebral, diminuindo a

    drenagem do plexo lombar e reduzindo a reabsoro do lquor, o que contribui

    para a elevao da PIC.

    Alteraes em membros inferiores

    O pneumoperitnio acarreta diminuio do fluxo sanguneo venoso dos

    membros inferiores e este fato aumenta o risco de trombose venosa profunda.

    A posio de cfaloaclive tambm produz maior estase de membros inferiores

    e associado a diminuio do retorno venoso tambm potencializa o risco de

    TEV e TEP.

    Medidas profilticas relacionadas ao TEV e TEP incluem enfaixamento

    de membros inferiores, uso de meias elsticas, compressores plantares e uso

    de anticoagulantes, quando indicados.

  • QUERO PASSAR NO TSA 2014 12

    Posicionamento do paciente

    Conforme o posicionamento do paciente, haver alteraes importantes

    em diversos sistemas. A primeira puno com a agulha de Verres apontada

    para a pelve com paciente em cefalodeclive. Esta posio mantida, aps

    insuflao, para cirurgias plvicas. Para os procedimentos no andar superior do

    abdmen (colecistectomia, hernioplastia de hiato esofageano), o paciente

    colocado em cefaloaclive. Alm disto, os decbitos laterais acentuados so

    superpostos s posies acima descritas, havendo muitas vezes necessidade

    de fixar o paciente mesa. Devido ao grau de deslocamento ceflico e tempo

    cirrgico os membros inferiores devem ser posicionados em sentido contrrio

    ou enfaixados para evitar estase venosa e trombose.

    Segue abaixo, as alteraes relacionadas ao posicionamento do

    paciente.

    Alteraes do posicionamento em cefalodeclive

    Cefalizao diafragmtica Aumento pr-carga

    Aumento presso intratorcica Diminuio RVS

    Diminuio CRF Aumento DC

    Diminuio ventilao/perfuso Aumento PIC

    Aumento shunt Aumento presso intraocular

  • QUERO PASSAR NO TSA 2014 13

    Alteraes do posicionamento em cefaloaclive

    Elevao ventilao/perfuso Diminuio pr-carga

    Rebaixamento diafragma Aumento RVS

    Aumento CRF Diminuio DC

    Aumento espao morto Aumento PIC

    Anestesia

    A anestesia geral a tcnica de escolha para a cirurgia

    videolaparoscpica, pois permite um controle preciso dos parmetros

    respiratrio e cardiovascular, e um melhor conforto ao paciente frente s

    alteraes do pneumoperitnio e posio na mesa cirrgica.

    Nas cirurgias videolaparoscpica fundamental monitorizar a frequncia

    cardaca, presso arterial, ritmo cardaco, presso endotraqueal, amplitude dos

    movimentos respiratrios, ritmo e frequncia respiratria, tenso de CO2,

    saturao de O2, diurese, gasometria arterial seriada, temperatura, diurese e

    sangramento.

  • QUERO PASSAR NO TSA 2014 14

    Deve-se lembrar que o valor registrado na capnometria no se

    correlaciona bem com a PaCO2 devido ao gradiente alvolo- arterial fisiolgico

    existente de aproximadamente 4 mmHg e que, na vigncia de

    pneumoperitnio, tende a estar alterado. Entre os vrios fatores que alteram

    este gradiente, salientam-se as cardiopatias, as pneumopatias com seus

    efeitos sobre a relao ventilao/perfuso e a durao da insuflao. Quando

    se induz o pneumoperitnio, a tendncia de alterao do gradiente maior, da

    a necessidade de se avaliar a presso parcial do CO2 diretamente em uma

    amostra de sangue arterial.

    Dentre os equipamentos destacam-se cardioscpio, principalmente nas

    derivaes DII e V5, esfigmomanmetro, oximetria de pulso, capngrafo,

    analisador de gases, estimulador de nervo perifrico, gasometria seriada e

    sondagem vesical para avaliar diurese. A ecocardiografia transesofgica e

    acesso central devem ser utilizados na impossibilidade de acesso venoso

    perifrico e em pacientes de alto risco. A presso arterial invasiva reservada

    para pacientes com doena cardiopulmonar, em procedimentos de longa

    durao e nos pacientes com o formato excessiva- mente cnico dos braos,

    impedindo a adaptao do manguito do aparelho de presso de forma

    adequada. A presso de trio direito geralmente no utilizada, pois fica

    prejudicada pelo pneumoperitnio.

    Na cirurgia videolaparoscpica fundamental promover um timo

    relaxamento abdominal, principalmente nas cirurgias para correo de hrnia

    do hiato esofagiano, prevenindo enfisema subcutneo e pneumotrax.

    A anestesia geral elimina o desconforto causado pelo pneumoperitnio e

    pelas mudanas de posio do paciente na mesa cirrgica. A ventilao deve

    ser controlada porque vrios fatores contribuem para o aparecimento de

    hipercarbia, como depresso da respirao por drogas, absoro do CO2 pela

    cavidade abdominal, alteraes na mecnica ventilatria determinadas pelo

    aumento da presso intra abdominal e pela posio do paciente na mesa

    cirrgica. O tubo traqueal deve ser provido de balonete para prevenir que a

    regurgitao do contedo gstrico seja aspirada pelo pulmo. Aps a induo

    da anestesia deve ser introduzida sonda nasogstrica e cateter vesical para

  • QUERO PASSAR NO TSA 2014 15

    descomprimir o estmago e a bexiga e prevenir o trauma visceral durante a

    introduo do trocter.

    A escolha das drogas anestsicas deve ter por objetivo o despertar

    precoce, livre de aes residuais e com menor incidncia de efeitos colaterais,

    como nusea, vmitos, dor e depresso respiratria no ps-operatrio.

    Para a medicao pr-anestsica o midazolam constitui boa opo em

    virtude de sua rpida meia-vida de eliminao e por proporcionar amnsia. A

    seleo do opiide fica de acordo com a durao do procedimento e a

    intensidade da dor ps operatria. Eles podem ocasionar espasmo do esfncter

    de Oddi que revertido com naloxona, nalbufina ou glucagon.

    O propofol pode ser utilizado como agente indutor ou em infuso

    contnua porque proporciona amnsia e despertar precoce e possui efeito

    antiemtico. O etomidato uma droga de curta durao e tambm pode ser

    utilizado na induo da anestesia, porm determina elevada incidncia de

    nusea e vmito3.

    Entre os inalatrios, a preferncia recai sobre aqueles que no

    sensibilizam o miocrdio s catecolaminas e que determinam reduo na

    resistncia vascular sistmica, como o isoflurano e sevoflurano.

    Com relao ao xido nitroso, no h estudos que indiquem a

    superioridade do ato anestsico- cirrgico quando o agente no utilizado,

    portanto no h dados consistentes que contraindiquem sua utilizao.

    Com relao aos bloqueadores neuromusculares esto indicados os de

    curta e os de intermediria durao de ao, dependendo do tempo do

    procedimento cirrgico; mivacrio, rocurnio, atracrio, cisatracrio e o

    vecurnio constituem opes. importante que o relaxamento da musculatura

    abdominal seja intenso para minimizar as alteraes fisiolgicas decorrentes do

    aumento da presso intra abdominal.

    O adequado relaxamento muscular propicia melhor campo cirrgico,

    menos dor no ps-operatrio, menos nuseas e vmitos, mobilizao e alta

    precoces. Com o advento de adequada monitorizao da funo

  • QUERO PASSAR NO TSA 2014 16

    neuromuscular pelo TOF e a possibilidade de reverso especfica do rocurnio

    pelo sugammadex, esses objetivos podem ser alcanados com segurana.

    Com o aumento dos procedimentos em carter ambulatorial, onde se

    deseja uma rpida e melhor recuperao ps-anestsica, a melhor conduta o

    uso de anestesia venosa total (AVT), utilizando-se drogas em bombas de

    infuso contnua com sistemas informatizados de programao de dosagens.

    Em colecistectomia com AVT os padres hemodinmicos e principalmente os

    ventilatrios, retornam aos valores pr-operatrios mais rapidamente que em

    laparotomia com anestesia balanceada. Esta tcnica tambm vantajosa

    quando se atua sobre pacientes de alto risco e em procedimentos de maior

    dificuldade tcnica e durao.

    Em estudo comparando a anestesia venosa total e a inalatria para

    colecistectomia por vdeo, foi encontrada evidncia que favorece a tcnica de

    AVT com propofol na manuteno da autorregulao e da relao entre o fluxo

    sanguneo e o metabolismo cerebral, na melhora das trocas gasosas, e na

    reduo de nuseas e de dor no ps-operatrio. O despertar da anestesia foi

    mais rpido com a anestesia inalatria com desflurano. As alteraes

    hemodinmicas resultantes das diferentes tcnicas anestsicas apresentaram

    concluses conflitantes.

    Analgesia ps-operatria

    Com relao a analgesia ps-operatria, a agresso metablica e as

    respostas da fase aguda frente ao estresse cirrgico so significativamente

    menores nesta tcnica. No entanto dor no abdmen e ombro superior podem

    ser evidentes em 63% dos pacientes. A etiologia e a patognese da dor no

    ombro necessitam de maiores estudos para seu completo entendimento, sendo

    atualmente atribudas a dois fatores, a irritao do peritnio diafragmtico,

    causada pela prpria natureza qumica do CO2 e ao estiramento das fibras

    musculares diafragmticas pela presso do pneumoperitnio.

  • QUERO PASSAR NO TSA 2014 17

    Vrias tcnicas j foram publicadas e utilizadas para analgesia, desde a

    infiltrao com anestsico local nos pontos de puno at a disperso deles na

    cavidade peritoneal. A exigncia de analgsico no ps-operatrio menor

    quando o pneumoperitnio evacuado corretamente.

    A administrao de tenoxicam por via venosa antes do incio da

    colecistectomia videolaparoscpica melhora a qualidade da analgesia ps-

    operatria diminuindo significativamente a necessidade de analgsicos e

    permitindo alta mais rpida da sala de recuperao ps-anestsica.

    Em um trabalho utilizando o diclofenaco, previamente induo

    anestsica para laparoscopia ginecolgica, a solicitao de outras drogas para

    analgesia foi significativamente menor do que no grupo controle.

    Os antiinflamatrios no-esterdes (AINES) inibidores da

    ciclooxigenase-2 representaram importante avano farmacolgico no

    tratamento antiinflamatrio, no entanto, tais compostos apresentam efeitos

    colaterais indistinguveis dos AINES convencionais e so drogas de alto custo.

    Em um trabalho recente utilizando parecoxib (40mg) comparado com o

    cetorolaco (30mg) administrados na induo, mostrou que a segunda droga

    mais efetiva no controle da dor ps-operatria em laparoscopias ginecolgicas.

    Com relao a nuseas e vmitos, o ondansetron, a alizaprida e o

    propofol isoladamente ou associado a dexametasona foram eficazes na

    preveno de nusea e vmito no ps-operatrio de pacientes submetidas

    laparoscopia ginecolgica. Em relao a esse aspecto, os procedimentos

    videolaparoscpicos so de risco e deve ser instituda terapia profiltica

    antiemtica, com dois ou trs classes associadas, dependendo do paciente.

    Complicaes

    Alm das complicaes inerentes s drogas e tcnica anestsica, a

    cirurgia videolaparoscpica cursa com complicaes especiais, determinadas

  • QUERO PASSAR NO TSA 2014 18

    pela insero do trocter, pela instalao do pneumoperitnio e pelo

    posicionamento do paciente na mesa cirrgica.

    A sondagem gstrica deve ser realizada sempre aps a induo e antes

    da insuflao do peritnio, porque nas manobras de ventilao sobre mscara,

    para efeito de desnitrogenao, pode-se provocar uma distenso gasosa de

    estmago e no momento que o cirurgio fizer a primeira puno com agulha de

    Verres, que s cegas, pode haver leso.

    A posio de cefalodeclive, quando utilizada em procedimentos

    prolongados, responsvel por edema no segmento ceflico, enquanto a

    posio de cfaloaclive determina reduo no retorno venoso. Alm disto, os

    decbitos laterais acentuados so superpostos s posies acima descritas,

    havendo muitas vezes necessidade de fixar o paciente mesa. A posio de

    cefalodeclive est associada diminuio de fluxo sanguneo heptico total,

    fluxo da artria heptica e da veia porta.

    Quando o paciente colocado na posio de Lloyd-Davies, os membros

    inferiores tm de ser abduzidos e adequadamente apoiados em perneiras sem

    que venham prejudicar a circulao, tanto arterial quanto venosa, evitando

    assim tromboembolismo ou leses de nervos.

    Aps a puno, a agulha conectada a um insuflador automtico de

    CO2 sendo iniciada a entrada de gs, de incio lento para evitar distenso

    brusca do peritnio. Em procedimentos de abdmen superior as presses de

    12 a 15 mmHg so suficientes, sendo evitadas presses acima de 20 mmHg,

    pois podem levar a complicaes graves. So elas as arritmias cardacas,

    enfisema de mediastino, hipotenso, hipoxemia, pneumotrax, embolia por

    CO2 e colapso cardiovascular.

    As disritmias cardacas ocorrem principalmente durante a insuflao

    peritoneal em decorrncia do sbito estiramento do peritnio que determina

    aumento no tnus vagal. A anestesia superficial e o uso concomitante de

    drogas betabloqueadoras so fatores que contribuem para o seu aparecimento.

    O tratamento consiste em interromper a insuflao, administrar atropina e

    aprofundar a anestesia.

  • QUERO PASSAR NO TSA 2014 19

    O enfisema subcutneo no complicao grave, mas ele pode ser

    precursor de pneumotrax, podendo se desenvolver pela insuflao

    extraperitoneal acidental de CO2. O achado mais comum o aumento sbito e

    rpido da PETCO2, acompanhado de aumentos da PaCO2, que coincidem com

    o aparecimento de enfisema subcutneo na face, no pescoo e no trax.

    A presena concomitante de aumento na presso das vias areas e

    diminuio na complacncia pulmonar indica a ocorrncia de pneumotrax.

    Sempre que houver aumento sbito da PEtCO2 deve-se procurar o

    enfisema subcutneo e auscultar o trax para excluir pneumotrax associado.

    Deve-se aumentar o volume minuto, para manter valores aceitveis de PaCO2

    e PEtCO2, e avaliar as vias areas no final da cirurgia. O pneumotrax pode

    ocorrer em qualquer momento durante a cirurgia, sendo, muitas vezes,

    diagnosticado apenas no final da mesma.

    H vrias possveis vias para o gs atingir a cavidade torcica durante o

    pneumoperitnio, dentre elas os defeitos diafragmticos ou pontos de fraqueza

    no hiato esofgico e artico, atravs do hiato pleuroperitoneal (Forame de

    Bochdaleck) e atravs de defeitos congnitos (Forame de Morgagni). Outras

    causas de pneumotrax so leses teciduais ao redor da juno

    gastroesofgica, roturas de bolhas diafragmticas, leses do ligamento

    falciforme e via retroperitoneal. Os pneumotrax so mais comuns do lado

    direito, nas colecistectomias, e do lado esquerdo, nas cirurgias ao redor do

    esfago.

    Quando ocorre pneumotrax durante a laparoscopia, deve-se

    interromper a insuflao e liberar o pneumoperitnio, ajustar a ventilao para

    corrigir a hipoxemia, aplicar presso positiva expiratria final (5 cmH2O) e

    reservar a toracocentese, apenas para o caso de ser necessria, uma vez que

    o pneumotrax pode se resolver espontaneamente.

    Quanto embolia pulmonar gasosa, embora rara, a mais temida e

    perigosa complicao da laparoscopia e ocorre mais frequentemente quando

    esta tcnica associada com histeroscopia.

  • QUERO PASSAR NO TSA 2014 20

    A injeo intravascular de gs pode ocorrer quando a agulha ou o

    trocter colocado no interior de vaso sanguneo ou como conseqncia da

    insuflao de gs dentro de um rgo abdominal. Desenvolve-se

    principalmente durante a instalao do pneumoperitnio, particularmente em

    pacientes com cirurgias abdominais prvias, mas tambm pode ocorrer

    tardiamente, no transcorrer da cirurgia.

    A fisiopatologia da embolia gasosa determinada pelo tamanho das

    bolhas e pela velocidade de entrada do gs.

    Durante a laparoscopia, a insuflao rpida de gs sob alta presso

    causa aprisionamento de gs na veia cava e no trio direito, obstruindo o

    retorno venoso, com reduo do dbito cardaco, ou at mesmo colapso

    cardiocirculatrio. Uma hipertenso ventricular direita aguda pode abrir o

    forame oval, permitindo embolizao para os vasos cerebrais e coronarianos.

    Desenvolvem-se alteraes na relao ventilao perfuso com

    aumento do espao morto fisiolgico e hipoxemia.

    A embolia por CO2 no determina bronco- constrio ou mudanas na

    complacncia pulmonar. Importante lembrar que, devido obstruo mecnica

    ao fluxo pulmonar, ocorre uma resposta bifsica da PETCO2 (aumento rpido

    inicial, seguido de queda), sendo este dado capnomtrico o sinal mais precoce

    da complicao, j que no usado rotineiramente eco-doppler torcico como

    monitorizao para esta cirurgia. Por causa da queda da PETCO2, o

    capnmetro deixa de servir temporariamente como parmetro para o ajuste dos

    volumes ventilatrios. Alm da queda do CO2 expirado, ocorre reduo na

    PaCO2, hipotenso arterial, taquicardia, disritmia, aumento na presso venosa

    central, alterao nos sons cardacos, cianose e alteraes

    eletrocardiogrficas. Edema pulmonar tambm pode ser sinal precoce de

    embolia gasosa.

    O doppler precordial ou esofgico e o cateter de artria pulmonar so

    muito sensveis na deteco de pequenos volumes de gases, antes mesmo de

    ocorrncias de mudanas fisiolgicas.

  • QUERO PASSAR NO TSA 2014 21

    O tratamento consiste em cessar a insuflao e liberar o

    pneumoperitnio. Colocar o paciente em posio de Durant (cefalodeclive e

    decbito lateral esquerdo), porque a quantidade de gs que avanaria do

    corao direito para a circulao pulmonar seria menor e se deslocaria lateral e

    caudalmente da regio do fluxo ventricular direito, interromper a administrao

    de N2O e aumentar a FIO2 para 100%, instituindo hiperventilao para

    aumentar a eliminao de CO2. Se estas medidas no forem suficientes,

    aspirar o gs com auxlio de cateter venoso central ou cateter de artria

    pulmonar.

    O CO2 armazenado em cilindros sob alta presso e baixa temperatura.

    Os insufladores reduzem essa presso, mas ainda mantm a temperatura do

    gs muito abaixo da intra-abdominal. Na laparoscopia intervencionista, o tempo

    de manuteno deste gs dentro da cavidade pode ser to prolongado que o

    paciente pode desenvolver um quadro de hipotermia. Define-se como tal

    quando a temperatura central cai abaixo de 35oC. Clinicamente observa-se que

    a associao de pneumoperitnio, pneumomediastino e enfisema subcutneo

    facilita o aparecimento de hipotermia.

    No ps-operatrio dos obesos mrbidos pode ocorrer insuficincia

    respiratria. A hipoxemia pode acontecer mesmo nos pacientes sem doenas

    associadas. A oferta e suporte ventilatrio com administrao de O2 atravs do

    emprego de mscara facial, CPAP ou BPAP, fisioterapia respiratria e

    posicionamento do paciente na posio de cfaloaclive de 30O a 45O so

    importantes at a normalizao dos parmetros encontrados no pr-operatrio.

    Hrnia incisional, enfisema subcutneo, hidrocele aguda, equimose

    abdominal e escrotal, trombose venosa profunda, hipotermia, so outras

    complicaes que podemos observar em procedimentos videolaparoscpicos

    de grande porte e de longa durao.

  • QUERO PASSAR NO TSA 2014 22

    Contraindicaes

    Com o desenvolvimento de novas tcnicas e instrumental especfico, a

    cirurgia videolaparoscpica tem sido utilizada amplamente em cirurgia

    peditrica, baritrica e a relatos de procedimentos durante a gestao.

    Alguns fatores no podem deixar de serem considerados como

    limitantes ou questionveis tais como: estados de hipertenso intracraniana,

    sepsis e febre. Insuficincia cardaca ou respiratria descompensadas e a

    desidratao seriam fatores que impedem a boa conduo dos pacientes

    anestesiados com pneumoperitnio.

    A seguir abordaremos duas assuntos que so frequentes na prova e tem

    relao com cirurgias abdominais ou sistema digestrio.

  • QUERO PASSAR NO TSA 2014 23

    Esfncter esofagiano inferior

    Devido ao risco de aspirao decorrente do relaxamento do esfncter

    inferior, frequente o questionamento sobre quais drogas provocam seu

    relaxamento ou contrao.

    Sabe se hoje em dia que a manobra de Sellick vem sendo questionada

    sobre sua eficcia e real benefcio. Embora muito se questione, a maioria dos

    autores ainda recomendam sua realizao.

    Segue abaixo tabela referente ao esfncter esofagiano inferior.

    Aumentam Diminuem No alteram

    Anticolinestersicos

    Colinrgicos

    Acetilcolina

    Succinilcolina

    Alfa adrenrgicos

    Metoclopramida

    Gastrina

    Serotonina

    Histamina

    Polipeptdio pancretico

    Metoprolol

    Inalatrios

    Opiides

    Anticolinrgicos

    Tiopental

    Propofol

    Beta agonistas

    Bloqueadores ganglionares

    Antidepressivos

    Secretina

    Glucagon

    Presso cricide

    Obesidade

    Hrnia de hiato

    Gravidez

    Cimetidina

    Ranitidina

    BNM

    adespolarizantes

    Propranolol

  • QUERO PASSAR NO TSA 2014 24

    Tumor carcinoide

    So benignos na maioria das vezes, de crescimento lento mas capazes

    de metstase. Sua localizao mais frequente no apndice ou leo mas pode

    ocorrer em qualquer tecido de origem ectodrmica.

    Na maioria das vezes so assintomticos mas podem apresentar dor

    abdominal, diarreia, semi ocluso e enterrorragia. Os sintomas so causados

    por liberao de hormnios e substncias na circulao.

    Substncias produzidas

    Serotonina Histamina

    Substncia P Catecolaminas

    Bradicinina Motilina

    Corticotropina Prostaglandinas

    Calicrena

    Tumor carcinoide pode gerar metstases (hepticas ou pulmonares) que

    liberam substncias na circulao: sndrome carcinoide. Ocorre em 20% dos

    pacientes com tumor carcinoide. Rash cutneo, broncoconstrio, hipotenso,

    diarreia e doena cardaca carcinoide podem ser vistos. Eventualmente ocorre

    quadro de HAS associado, pela liberao de serotonina. No h relao entre

    nvel metablito e sintomatologia.

    Quase 60% dos pacientes com Sndrome Carcinoide podem apresentar

    acometimento cardaco. Alterao cardiolgica + diarria + rash = trade

    carcinoide. Acometimento frequente de valvas tricspide e pulmonar com

    depsito parecidos com aglomerado de plaquetas nas valvas e trio. Arritmias

    cardacas podem ocorrer e o diagnstico pode ser feito com Ecocardiograma.

  • QUERO PASSAR NO TSA 2014 25

    O tratamento mais eficaz a resseco cirrgica. A quimioterapia no

    eficaz e pode desencadear a crise tambm.

    A somastatina diminui a liberao e circulao de serotonina circulante.

    Um anlogo sinttico da somastatina, o octeotrdeo pode ser usado como

    profilaxia e tratamento das crises. O uso de bloqueadores de receptores de

    histamina 1 e 2, ansiolticos e corticoide so adjuntos no preparo e na

    anestesia desse paciente.

    A anestesia deve evitar todos os frmacos que liberam histamina:

    tiopental, morfina, atracrio, mivacrio, e succinilcolina. Os outros opiides,

    inalatrios e outros BNM esto liberados. O octeotrdeo pode ser usado

    durante a manipulao ou como tratamento da crise.

  • QUERO PASSAR NO TSA 2014 26

    I. Barash PG, Culler BF, Stoelting RK, Calahan MK, Stock MC

    Clinical Anesthesia, 6a Ed, Philadelphia, Lippincott Williams,

    2014.

    II. Stoelting RK, Hillier SC Pharmacology & Physiology in

    Anesthetic, 7th Ed, Philadelphia, 2006.

    III. Miller RD Eriksson LI, Fleisher LA, Wiener-Kronish JP, Young WL

    Millers Anesthesia 8th Ed, Philadelphia, 2015.

    IV. Cangiani LM, Slullitel A, Potrio GMB et al. Tratado de

    Anestesiologia SAESP. 7a Ed. So Paulo, Atheneu, 2011

    V. Carlos Rogrio Degrandi Oliveira - Anestesia para Cirurgia

    Videolaparoscpica - Rev bras videocir 2005;3(1):32-42.

    VI. Raimundo Rebuglio, Gustavo de Melo Rebuglio,Rodolfo de Melo Rebuglio - Anestesia para cirurgia videolaparoscpicas de grande porte Anestesia Perioperatria - SAERJ

    I. Estude a apostila vrias vezes. Esse captulo importante e

    sempre aparece na prova. O tumor carcinoide eventualmente

    aparece em provas, sempre relacionado ao que no se pode usar

    na anestesia para sua resseco.

    II. Responda todo o questionrio de cada tema exigido pelo Projeto

    Quero Passar no TSA; leia os comentrios das questes; essas

    questes foram retiradas das ltimas dez provas do TSA e existe

    uma chance que elas apaream novamente na prova.

    III. Participe ativamente dos simulados oferecidos pelo projeto.

    IV. Quanto mais voc estudar e rever a apostila e os testes, maior a

    possibilidade de fixar os conhecimentos. A repetio leva

    perfeio!

    V. Estude bastante pois esse o ano em que voc pode fazer a

    diferena na prova. Estamos junto com voc nesse objetivo!

    Bibliografia Recomendada

    Recomendaes