apostila - aula 7 - cultura educacao e a globalizacao
TRANSCRIPT
Aula 6 - CULTURA, EDUCAÇÃO E A GLOBALIZAÇÃO
(Profª Msc. Denise Loureiro)
Introdução
Selecionamos para essa aula a temática “Cultura, Educação e a
Globalização”, pois percebemos que a mesma vem complementar as reflexões
feitas no decorrer desse processo de construção de conhecimentos, onde as
questões sociais estão presentes no contexto educacional, bem como a
relevância e a influência que as bagagens culturais proporcionam na
aprendizagem.
Entre os mais variados cenários de ordem social, presentes na
contemporaneidade, identificamos no decorrer do nosso estudo, a influência do
multiculturalismo, das manifestações culturais de grupos distintos, a violência, a
exclusão, os movimentos culturais e religiosos, ente outros, todos sinalizando
uma realidade que não pode ser ignorada no cotidiano escolar.
Diante deste cenário de diferentes realidades relacionadas ao contexto
escolar, queremos destacar nesta aula a cultura e a educação sob as
influências da globalização e a influência dessa globalização nos moldes
culturais e seu reflexo na construção da aprendizagem.
Esperamos que tenham momentos de muita dedicação na construção da
aprendizagem e que os estudos aqui realizados possam contribuir na sua
formação como um pedagogo voltado a uma atuação de qualidade,
preocupado com o crescimento do aluno e seu desenvolvimento como cidadão
crítico, capaz de compreender as diversificações de caminhos que envolvem a
educação.
7.1 A educação nas teias da globalização
Cultura e educação são conceitos que vem nos acompanhando nas
aulas anteriores os quais estão intimamente relacionados com a escola e a
aprendizagem. A globalização surge como um importante aspecto a ser
inserido nesse contexto, e trás como áreas do conhecimento a economia, a
política, a antropologia, a sociologia, a linguística e a educação. Surge daí a
necessidade de conhecê-la e entendê-la para então estabelecer relações com
a cultura e o processo ensino aprendizagem, visando compreender como pode
se das a aproximação do global com o local no processo de aprendizagem.
Mas o que é Globalização?
Diferentes autores defendem seus pontos de vista em relação à
conceituação de globalização, mas acabam não divergindo muito de sua visão.
Considera-se que se trata de um fenômeno ligado ao setor econômico, de um
mundo capitalista, muitas vezes abordado no contexto escolar apenas nas
aulas de geografia como um acontecimento fora do alcance da realidade dos
alunos. Esse fenômeno considera importante e necessária à interligação
planetária no âmbito econômico, político, social e cultural, o que nem sempre
ocorre de forma uniforme em todos os cantos do planeta, uma vez que quanto
mais rica a nação mais benefícios percebe com o processo de globalização.
Porém seus reflexos podem atingir até os pequenos vilarejos de forma quase
despercebida, considerando que a matéria prima pra produção em grande
escala, que vai rodar o mundo, sai muitas vezes de acanhados projetos
localizados em pequenas e distantes propriedades.
No Dicionário Aurélio, (virtual) o termo Globalização é definido como:
1. Ato ou efeito de globalizar.
2. Processo típico da segunda metade do séc. XX que conduz a
crescente integração das economias e das sociedades dos vários
países, esp. no que toca à produção de mercadorias e serviços, aos
mercados financeiros, e à difusão de informações.
Vejamos as considerações que alguns autores fazem a respeito do termo
globalização:
Green e Eckel (2002) citado por Morosini (2006, p.116)
“conceituam a Globalização como um termo ambíguo: livre corrente de ideias, capitais, pessoas e bens em volta do mundo, e que implica na hegemonia do sistema capitalista, na dominação de nações e corporações ricas e na perda de identidade e cultura nacional”.
Teichler (2004), também citado por Morosini (2006, p.116) considera a
globalização, “uma série de atividades ambíguas, além-fronteiras, que é
empregada com frequência para caracterizar as tendências mundiais e a
crescente competição global”.
Muitos autores vêm à globalização de forma radical e afirmam que suas
consequências podem ser evidenciadas em qualquer parte do mundo, outros a
consideram uma ideologia do mercado livre, visando a redução de despesas
dentro do próprio estado. Na educação se aborda a questão da globalização,
na grande maioria das vezes, como algo distinto e distante, daí a necessidade
de revermos nosso posicionamento, principalmente com relação à nossa
localização de atuação dentro do contexto escolar.
Na visão de Santos (2007, p.50) “a globalização resulta, de fato, de um
conjunto de decisões políticas identificadas no tempo e na autoria.” O autor
define globalização como “processo pelo qual determinada condição ou
entidade local estende a sua influência a todo o globo e, ao fazê-lo, desenvolve
a capacidade de designar como local outra condição social (p.50).”
Segundo Candau (2008) muitos autores, defensores da globalização, a
consideram no nível econômico um processo capaz de romper fronteiras,
pensando no mundo como um todo único, capaz de se comunicar por meio de
normas e métodos comuns, que devem ser utilizadas por todos indistintamente,
associando à globalização vantagens como: a presença de um mercado sem
limites entre as nações, um ideal de liberdade alto, auto regulável, acendendo
probabilidades para os países de todos os “mundos”. Dessa forma a política
econômica passa a ditar orientações comuns aos países que se assemelham
proporcionando o fim do protecionismo aos produtos nacionais, à agilização de
programas de privatização, ações voltadas para a gestão da qualidade total, a
procura por novas tecnologias, buscando novas possibilidades, abrindo novas
portas de consumo, tentando caminhar conforme a nova ordem mundial.
Candau (2008) considera que o processo de globalização não é tão fácil
como parece, pois vem recebendo muitas críticas a partir das recentes crises
no mercado financeiro internacional e do aumento visível dos níveis de pobreza
e exclusão em todos os países.
A ideia de que esse processo, ao reorganizar os países dentro de um
conjunto de normas, poderia transformar os cidadãos locais em cidadãos
planetários, proporcionando a substituição de expressões locais por linguagens
mundiais, homogeneizando assim grupos e até mesmo indivíduos, não está
sendo comprovada pelos estudos empíricos referentes às mais diversas
práticas sociais. Percebe-se na verdade que a indústria cultural não padronizou
o planeta, formando consumidores com gostos similares que apresentassem
um padrão de comportamento comum. Sem dúvida mudanças ocorreram em
todo o mundo, mas a uniformidade dos cidadãos não ocorreu, pois as
identidades culturais permanecem enraizadas e presentes na maioria dos
grupos sociais.
Oliveira e Libâneo (1998) afirmam que:
As transformações gerais da sociedade atual apontam a inevitabilidade de compreender o país no contexto da globalização, da revolução tecnológica e da ideologia do livre mercado (neoliberalismo). A globalização é uma tendência internacional do capitalismo que, juntamente com o projeto neoliberal, impõe aos países periféricos a economia de mercado global sem restrições, a competição ilimitada e a minimização do Estado na área econômica e social. (p. 606)
.
Em decorrência dos reflexos da globalização, onde o global e o local, o
moderno e o tradicional coexistem num mesmo espaço social, é possível
identificar prejuízos sociais decorrentes desse processo como: a exclusão
social, o desemprego e o próprio aumento da miséria, enfim um desmonte
social. Assim, podemos considerar que cada país, seja ele central ou periférico,
viverá um tipo de globalização, e essa deverá estar presente no contexto
educacional local, o que implica dizer que os grupos sociais que estão
inseridos nos mais diferentes países também viverão de maneira distinta a
globalização, ou seja, grupos sociais de uma mesma nação terão formas de
agir e lógica de capitalismo diferenciadas.
Segundo Hall (1997) existem três razões principais para rejeitar a
possibilidade de que a globalização vá uniformizar as identidades nacionais:
“1) ao lado do global, há um grande interesse pelo local, dentro da própria lógica da globalização, que explora a diferenciação; 2) a globalização é um processo muito desigual e tem sua geometria de poder; 3) apesar de a globalização ser um fenômeno ocidental, as influências culturais recebidas dos países periféricos também contribuem para pluralizar as identificações.” (p.83-90).
Fica evidente que as relações entre cultura, identidade, educação e
globalização geram contradições, por evidenciarem diferentes perspectivas e
possibilidades, daí a necessidade de aprofundarmos nossa abordagem
buscando compreender os efeitos desse processo de globalização diante da
educação e da escola.
7.2 EFEITOS DA GLOBALIZAÇÃO SOBRE A EDUCAÇÃO
A trama tecida pelo processo de globalização evidencia a cada dia a
necessidade de reavaliar as questões educacionais, uma vez que estas não se
apresentam desvinculadas desse processo, pois a globalização não se refere
somente a questões econômicas ou comércio internacional, mas suas ações
geram reflexos tanto na cultura quanto na educação.
As influências da globalização sobre o ambiente escolar podem ser
observadas na reflexão de Oliveira e Libâneo (1998) onde destacam aspectos
que demonstram a transformação da escola em um negócio regido pela lógica
de mercado que destaca:
� “adoção de mecanismos de flexibilização e diversificação dos sistemas
de ensino nas escolas;
� atenção à eficiência, à qualidade, ao desempenho e às necessidades
básicas de aprendizagem;
� avaliação constante dos resultados/desempenho obtidos pelos alunos
que comprovam a atuação eficaz e de qualidade do trabalho
desenvolvida na escola;
� o estabelecimento de rankings dos sistemas de ensino e das escolas
públicas ou privadas que são classificadas ou desclassificadas;
� criação de condições para que se possa aumentar a competição entre
as escolas e encorajar os pais a participarem da vida escolar e fazer
escolha entre escolas;
� ênfase na gestão e na organização escolar mediante a adoção de
programas gerenciais de qualidade total;
� valorização de algumas disciplinas: matemática e ciências naturais,
devido à competitividade tecnológica mundial que tende a privilegiar tais
disciplinas;
� descentralização administrativa e do financiamento, bem como do
repasse de recursos em conformidade com a avaliação do
desempenho;
� valorização da iniciativa privada e do estabelecimento de parcerias com
o empresariado;
� repasse de funções do Estado para a comunidade (pais) e para as
empresas (p.604).”
Fica evidente que se busca manter uma educação de qualidade, capaz
de transitar pelos temas da atualidade, porém se depara também com um
embate de que nem todos têm possibilidades de adquirir o “produto” que esta
sendo ofertado, podendo dessa forma gerar uma exclusão de alguns menos
favorecidos, riscos presentes no processo.
Oliveira e Libâneo (1998) ainda consideram que:
“Essa centralidade se dá porque educação e conhecimento passam a ser do ponto de vista do capitalismo globalizado, força motriz e eixos da transformação produtiva e do desenvolvimento econômico. São, portanto, bens econômicos necessários à transformação da produção, ao aumento do potencial científico e tecnológico e ao aumento do lucro e do poder de competição num mercado concorrencial que se quer livre e globalizado pelos defensores do neoliberalismo. Torna-se clara, portanto, a conexão estabelecida entre educação/conhecimento e desenvolvimento/desempenho econômico. A educação é, portanto, um problema econômico na visão neoliberal, já que é o elemento central desse novo padrão de desenvolvimento.” (p. 602).
O mercado mundial no Brasil é o responsável pelo esboço das políticas
públicas, no que se refere às políticas sociais, econômicas e educacionais.
Evidencia-se assim uma necessidade de adaptação de suas ações a fim de
que de continuidade ao seu processo de desenvolvimento em consonância
com os demais países, proporcionando para isso maior modernização na
educação, uma lógica de mercado ampliada, diversificação de atividades
produtivas, bem como demonstração de eficácia e eficiência em seus
resultados, o que exigiria um novo perfil de mão de obra qualificada para
enfrentar as novas necessidades exigidas pelo formato capitalista (CANDAU
2008).
Frigotto (1996, p.36) citado por Candau (2008, p.24) considera que:
“A proposta de um ensino de qualidade em um mundo irreversivelmente globalizado e altamente “tecnologizado” não pressupõe necessariamente o abandono de uma perspectiva emancipatória para a educação. Nesse sentido a questão não é de se negar o progresso técnico, o avanço do conhecimento, os processos educativos de qualificação ou simplesmente fixar-se no plano das perspectivas da resistência nem de se identificar nas novas demandas dos homens de negócio uma postura dominantemente maquiavélica ou, então, efetivamente uma preocupação humanitária, mas de disputar concretamente o controle hegemônico do progresso técnico, do avanço do conhecimento e da qualificação, arrancá-los da esfera privada e da lógica da exclusão e submetê-los ao controle democrático da esfera pública para potenciar a satisfação das necessidades humanas.”
O autor defende em sua visão uma escola pública de qualidade,
disponível para todas as classes sociais, onde juntos seria possível mostrar o
poder transformador e revolucionário da escola, tida muitas vezes como um
espaço de discussões e enfrentamento das forças políticas, sociais e culturais,
presentes na sociedade na qual esta inserida.
Candau (2008) sugere que para se atingir a qualidade de ensino em um
mundo globalizado, deve-se fazer uso das novas tecnologias da educação ou
ainda da relação que pode ou deve ser estabelecida entre escola e os diversos
meios de comunicação e informação que caracterizam as sociedades
contemporâneas. Assim é atribuído ao professor auxiliar na produção de novos
conhecimentos que levem em consideração a cultura do aluno e da escola, já
que integra um mundo globalizado onde os papeis de instância formadora no
processo de transformação lhe são sumariamente atribuídos.
Assim Candau (2008, p.25) considera que:
“Para pensar a educação escolarizada a partir da perspectiva ou dimensão cultural implica, por sua vez, fazer face a um dos seus maiores desafios da atualidade que consiste em buscar modalidades de práticas pedagógicas que possibilitem a convergência de dois movimentos em curso e à primeira vista bastante contraditórios,(...): de um lado a afirmação de um processo de globalização, de mundialização tanto em termos econômicos como culturais de maneira cada vez mais irreversível; de outro, as explosões, no plano mundial, de movimentos identitários sejam eles de cunho nacionalistas e/ou étncio-culturais.”
Percebe-se que a escola é um setor fundamental nesse processo de
construção de aprendizagem e o conhecimento e preparo do professor que
estará lidando com as questões de construção da aprendizagem deve
perpassar por questões voltadas a realidade do aluno não excluindo as
mudanças presenciadas no mundo globalizado. O professor dentro desse
contexto deverá ser capaz de trabalhar as diferenças culturais cuja visibilidade
tem aumentado cada vez mais com mais intensidade, principalmente nas
últimas décadas e refletem diretamente na capacidade da escola absorver e
reunir cultura, educação e globalização em sua realidade.
Acreditamos que foi possível, no estudo dessa aula, evidenciar a
importância da globalização na vida e no fazer pedagógico, bem como
identificar o tripé que a sustenta, voltando suas reflexões pra a economia,
sociedade (escola) e cultura.
Podemos concluir por meio das questões aqui levantadas, a
complexidade que abrange a temática da globalização, quando pensada na
sua relação com a escola e a cultura, sendo cada uma delas um convite à
novas reflexões, que proporcionem à compreensão das teias por elas
construídas numa amplitude política e socioculturais.
Nesse sentido o professor continua ilustrando seu importante papel de
agente transformador do contexto social, por meio da construção da
aprendizagem significativa, colaborando assim com a mudança do atual
sistema, buscando tornar o resultado de seu trabalho ainda mais significativo.
Sugerimos como reflexão final dessa aula e do bloco de estudos, diante
do contexto abordado, a leitura do artigo: “educação, globalização e
neoliberalismo: o debate precisa continuar!” por Robinson dos Santos y Antônio
Inácio Andrioli, disponível em:
http://www.rieoei.org/deloslectores/905Santos.pdf.
O artigo sugerido propõe uma reflexão sobre a sociedade, a educação e
o processo de globalização, o qual sugere atingir metas como, de uma paz
mundial, de uma economia política mundial igualitária, de um processo de
unificação das sociedade e de modificação dos processos de aprendizagem,
bem como o nivelamento de padrões de consumo e uma crescente e inevitável
massificação cultural. Os autores lançam uma reflexão acerca dos efeitos da
globalização sobre a educação, que muito contribuirá para a formação do
professor/pedagogo.
Abraços e bons estudos!!
Referências
CANDAU, Vera Maria. (Org.) Sociedade, Educação e Cultura(s): Questões e propostas. 2ª Edição – Petrópolis, RJ: Vozes, 2008. Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. Disponível em www.dicionarioaurelio.com. Acesso em 20/01/2010. FRIGOTTO, Gaudêncio. Educação e formação humana: ajuste neoconservador e alternativa democrática. In: GENTILI, Pablo; A.A.; SILVA, T.T. da (orgs.), Neoliberalismo, qualidade total e educação, visões críticas. Petrópolis: Vozes, 1996. In: CANDAU, Vera Maria. (Org.) Sociedade, Educação e Cultura(s): Questões e propostas. 2ª Edição – Petrópolis, RJ: Vozes, 2008. GREEN, M.; ECKEL, P.; BARBLAN, A. The Brave New (and Smaller) World of Higher Education: A Transatlantic View. International Higher Education, US, v.29, September 2002. In: MOROSINI, M.C.; Estado do conhecimento sobre internacionalização da educação superior – Conceitos e práticas. Educar, Curitiba, Editora UFPR, n. 28, p. 107-124, 2006. HALL, Stuart. Identidades culturais na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP & A, 1997.
OLIVEIRA, J.F., LIBÂNEO, J.C. A Educação Escolar: sociedade contemporânea. In: Revista Fragmentos de Cultura, v. 8, n.3, p.597-612, Goiânia: IFITEG, 1998. SANTOS, Boaventura de Souza. A Globalização e as ciências sociais. São Paulo: Cortez, 2007. SANTOS, S. Boaventura. Para uma concepção Multicultural dos Direitos Humanos in Contexto Educacional. Rio de Janeiro, vol. 23, n. 1, jan/jun 2001, p. 7-34. TEICHLER, U. The changing debate on internationalisation of higher education. Higher Education, Kluwer Academic Publishers, v. 48, 2004. p. 5-26. In: MOROSINI, M.C.; Estado do conhecimento sobre internacionalização da educação superior – Conceitos e práticas. Educar, Curitiba, Editora UFPR, n. 28, p. 107-124, 2006.