apontamentos sobre os quatro evangelhos de j-b roustaing

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APONTAMENTOS SOBRE OS 4 EVANGELHOS DE JEAN BAPTIST ROUSTAING Essa obra compreende a explicação e a interpre- tação dos Evangelhos, artigo por artigo, com a ajuda de comunicações ditadas pelos Espíritos. É um traba- lho considerável e que tem, para os Espíritas, o mérito de não estar, em nenhum ponto, em contradição com a doutrina ensinada pelo Livro dos Espíritos e o dos Médiuns. As partes correspondentes às que tratamos no Evangelho Segundo o Espiritismo o são em sentido análogo. Aliás, como nos limitamos às máximas mo- rais que, com raras exceções, são claras, estas não poderiam ser interpretadas de diversas maneiras; assim, jamais foram assunto para controvérsias religi- osas. Por esta razão é que por aí começamos, a fim de ser aceito sem contestação, esperando, quanto ao

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Page 1: Apontamentos Sobre Os Quatro Evangelhos de J-B Roustaing

APONTAMENTOS SOBRE OS 4 EVANGELHOS DE

JEAN BAPTIST ROUSTAING

Essa obra compreende a explicação e a interpre-tação dos Evangelhos, artigo por artigo, com a ajuda de comunicações ditadas pelos Espíritos. É um traba-lho considerável e que tem, para os Espíritas, o mérito de não estar, em nenhum ponto, em contradição com a doutrina ensinada pelo Livro dos Espíritos e o dos Médiuns. As partes correspondentes às que tratamos no Evangelho Segundo o Espiritismo o são em sentido análogo. Aliás, como nos limitamos às máximas mo-rais que, com raras exceções, são claras, estas não poderiam ser interpretadas de diversas maneiras; assim, jamais foram assunto para controvérsias religi-osas. Por esta razão é que por aí começamos, a fim de ser aceito sem contestação, esperando, quanto ao

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resto, que a opinião geral estivesse mais familiarizada com a Idéia espírita.

O autor desta nova obra julgou dever seguir um

outro caminho. Em vez de proceder por gradação, quis atingir o fim de um salto. Assim, tratou certas questões que não tínhamos julgado oportuno abordar ainda e das quais, por conseqüência, lhe deixamos a responsabilidade, como aos Espíritos que as comenta-ram. Conseqüente com o nosso princípio, que consiste em regular a nossa marcha pelo desenvolvimento da opinião, até nova ordem não daremos às suas teorias nem aprovação nem desaprovação, deixando ao tem-po o trabalho de as sancionar ou as contraditar. Con-vém, pois, considerar essas explicações como opiniões pessoais dos Espíritos que as formularam, opiniões que podem ser justas ou falsas e que, em todo o ca-so, necessitam da sanção do controle universal, e, até mais ampla confirmação, não poderiam ser considera-das como partes integrantes da doutrina espírita.

Quando tratarmos destas questões fa-lo-emos de-

cididamente. Mas é que então teremos recolhido do-cumentos bastante numerosos nos ensinos dados de todos os lados pelos Espíritos, a fim de poder falar afirmativamente e ter a certeza de estar de acordo com a maioria. É assim que temos feito, todas as vezes que se trata de formular um princípio capital.

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Dissemo-lo cem vezes, para nós a opinião de um Espí-rito, seja qual for o nome que traga, tem apenas o valor de uma opinião individual. Nosso critério está na concordância universal, corroborada por uma rigorosa lógica, para as coisas que não podemos controlar com os próprios olhos. De que nos serviria dar prematu-ramente uma doutrina como uma verdade absoluta se, mais tarde, devesse ser combatida pela generali-dade dos Espiritas?

Dissemos que o livro do Sr. Roustaing não se a-

fasta dos princípios do Livro dos Espíritos e do dos médiuns. Nossas observações são feitas sobre a apli-cação desses mesmos princípios à interpretação de certos fatos. É assim, por exemplo, que dá ao Cristo, em vez de um corpo carnal, um corpo fluídico concre-tizado, com todas as aparências da materialidade e de fato um agênere. Aos olhos dos homens que não tivessem então podido compreender sua natureza espiritual, deve ter passado em aparência, expressão incessantemente repetida no curso de toda a obra, para todas as vicissitudes da humanidade. Assim seria explicado o mistério de seu nascimento. Maria teria tido apenas as aparências da gravidez. Posto como premissa e pedra angular, este ponto é a base em que se apoia para a explicação de todos os fatos ex-traordinários ou miraculosos da vida de Jesus.

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Nisso nada há de materialmente impossível para quem quer que conheça as propriedades do envoltório perispirital. Sem nos pronunciarmos pró ou contra essa teoria, diremos que ela é, pelo menos, hipotéti-ca, e que se um dia fosse reconhecida errada, em falta de base todo o edifício desabaria. Esperamos, pois, os numerosos comentários que ela não deixará de provocar da parte dos Espíritos, e que contribuirão para elucidar a questão. Sem a prejulgar, diremos que já foram feitas objeções sérias a essa teoria e que, em nossa opinião, os fatos podem perfeitamente ser explicados sem sair das condições da humanidade corporal.

Essas observações, subordinadas à sanção do fu-

turo, em nada diminuem a importância da obra que, ao lado de coisas duvidosas, em nosso ponto de vista, encerra outras incontestavelmente boas e verdadei-ras, e será consultada com fruto pelos Espíritas sérios.

Se o fundo de um livro é o principal, a forma não

é para desdenhar e contribui com algo para o suces-so. Achamos que certas partes são desenvolvidas muito extensamente, sem proveito para a clareza. A nosso ver, se, limitando-se ao estritamente necessário a obra poderia ter sido reduzida a dois, ou mesmo a um só volume e teria ganho em popularidade.

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(Allan Kardec, "Revista Espírita", ed. Julho de 1866 - Ed. Edicel)

EM "MECANISMOS DA MEDIUNIDADE" REVELA-

ÇÕES SOBRE O CARÁTER SUPRANORMAL DO CORPO DE JESUS "Procuravam, então prendê-lo; mas ninguém pôs

as mãos nele, porque ainda não era chegada a sua hora."( João, 7:31)

Comentando o episódio da tentativa de prisão do

Cristo, no Templo, em Jerusalém, registrada no Evan-gelho de João, conforme acima, André Luiz, através da pena segura de Chico Xavier, faz revelações impor-tantes sobre o corpo do Cristo, confirmando as infor-mações publicadas na obra "Os Quatro Evangelhos", de Roustaing, sobre as sucessivas materializações e desmaterializações por que passou o corpo de Jesus quando de sua presença entre nós.

"Mecanismos da Mediunidade"foi publicado em

1959. Confira, abaixo: "Em Jerusalém, no tempo, desaparece de chofre,

desmaterializando-se, ante a espectação geral... Em cada acontecimento, sentimo-lo a governar a matéria,

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dissociando-lhe os agentes e reintegrando-os à von-tade, com a colaboração de servidores espirituais que lhe assessoram o ministério da luz."(pág. 185)

OBRA DE DIVALDO PEREIRA FRANCO REFORÇA A

TEORIA DO CORPO FLUÍDICO Em nossa edição de agosto do ano passado cita-

mos um trecho da obra "Mecanismos da Mediunida-de", falando de sucessivas materializações e desmate-rializações do corpo de Jesus, quando de sua passa-gem pela Terra.

Encontramos algo extremamente semelhante na

obra "A Luz do Espiritismo", de Vianna de Carvalho, psicografia de Divaldo Pereira Franco, que merece também destaque.

Confira: "Em Nazaré, ante a turba enfurecida, Jesus utili-

zou a faculdade da desmaterialização." (pág.87) Começa assim o fenômeno que o Codificador de-

nominou "Concordância Universal", no capítulo I de 'O Evangelho Segundo o Espiritismo": dois médiuns sé-rios, respeitados, confiáveis, recebendo de Espíritos

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diversos uma mesma informação, em lugares e épo-cas distintas.

"OS QUATRO EVANGELHOS", DE ROUSTAING,

CONFIRMAM "O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRI-TISMO", DE KARDEC

"Já se vos há falado de mundos onde a alma re-

cém-nascida é colocada, quando ainda ignorante do bem e do mal, mas com a possibilidade de caminhar para Deus, senhora de si mesma, na posse do livre-arbítrio. Já também se vos revelou de que amplas faculdades é dotada a alma para praticar o bem. Mas, ah! há as que sucumbem, e Deus, que não as quer aniquiladas, lhes permite irem para esses mundos onde, de encarnação em encarnação, elas se depu-ram, regeneram e voltam dignas da glória que lhes fora destinada."

Esse trecho é de Kardec ou Roustaing? Kardec. Evangelho Segundo o Espiritismo, capítu-

lo III - "Há muitas moradas na casa do Pai"" - item Mundos Regeneradores. Mensagem de Santo Agosti-nho, recebida em Paris, 1862, tratando exatamente da queda espiritual - um dos pilares fundamentais da obra de Roustaing.

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Aliás, no tomo I desta obra, encontramos o se-

guinte: "A muitos Espíritos acontece falir (...) porque qua-

se todos fazem mau uso do livre-arbítrio. Alguns, porém, dóceis aos incumbidos de os guiar e desenvol-ver, seguem simples e gradualmente pelo caminho que lhes é indicado para progredirem.

Os primeiros sofrem uma punição, um castigo que

teriam podido evitar. É para experimentarem as con-seqüências da falta cometida, que, como já explica-mos, uma vez preparados a ser humanizados, eles caem na encarnação humana, conforme o grau de culpabilidade e nas condições apropriadas às exigên-cias da expiação e do progresso" (item 59).

Ambas as obras apontam, claramente, a encarna-

ção humana como NECESSIDADE apenas para os que faliram, malbaratando o uso de seu livre-arbítrio. Está aí, claramente, a idéia da chamada QUEDA DO HO-MEM, tão bem figurada na Gênese de Moisés.

Em mundos ad-hoc recebemos o precioso dom do

livre-arbítrio, apresentando-nos, então, em completo estado de simplicidade e ignorância. Para os que se-guem os conselhos de seus orientadores espirituais, o

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processo evolutivo pode ser todo feito em mundos fluídicos. Apenas os que se transviam, nesse caminho, encarnam em mundos grosseiros, como o nosso, para se depurar e voltar ao estado de equilíbrio espiritual.

Como podemos ver, Kardec e Roustaing, juntos,

complementam-se e confirmam-se mutuamente, tra-zendo luz nova e base sólida para todos os aprendizes de boa-vontade.

Paz em Jesus! Mensagem de Ismael, Protetor do Espiritismo no

Brasil, sobre a Concepção da Virgem e a Natureza do Corpo de Jesus

Aproveitando a homenagem que estamos fazendo

ao querido Antônio Luís Saião, autor de uma das mais importantes obras brasileiras sobre os Evangelhos - "Elucidações Evangélicas", resumo comentado da obra "Os Quatro Evangelhos", de Roustaing, transcrevemos abaixo uma mensagem de Ismael sobre o corpo de Jesus, recebida por Frederico Pereira da Silva Junior. Na edição que temos, dessa obra, de 1933, as men-sagens recebidas pelo grupo eram publicadas ao final do volume. As edições atuais não têm, infelizmente, esse importante complemento.

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Mais um acréscimo valioso, portanto, para o nos-

so "Museu Roustaing": "Meus filhos, bem pouco me cabe dizer sobre o

vosso estudo de hoje. Soubestes guardar convosco a paz que os vossos guias vos trouxeram e, recebendo facilmente as suas inspirações, pudestes, com o vosso próprio espírito, tocar a verdade. É assim que firmas-tes opinião definitiva sobre a concepção da sempre Virgem e sobre o corpo aparentemente carnal de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Se a opinião isolada do vosso bom Mestre Allan

Kardec pôde, de alguma sorte, influir no entendimen-to de alguns, fazendo-lhes crer que o Redentor do mundo viera revestir-se da matéria grosseira dos cor-pos comuns, para dar o exemplo das maiores virtu-des, encaminhando a humanidade inteira para a terra da promissão, hoje, que todos os Espíritos bem ilumi-nados afirmam que o nascimento de Jesus foi todo aparente, que o seu corpo apenas se constituíra de fluidos concentrados no seio da sempre Virgem Maria, não há razão de ser para duas opiniões a tal respeito.

Maria foi sempre mãe de Jesus, como todas as

mães são mães dos homens. Se o que se gera no ventre da mulher não é o Espírito, mas sim a massa

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que vai vestir o mesmo Espírito, incontestavelmente Maria foi mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo. E, assim, bem o vêdes, realizaram-se todas as profecias; e, assim, veio ao mundo Aquele a quem devemos a Sea-ra da abundância, os frutos da verdade. Insistamos: a opinião do homem, falível quase sempre, pôde como que inocular, no espírito de seus irmãos, a idéia de que Jesus, se não revestisse um corpo carnal, igual ao de todas as criaturas humanas, seus sofrimentos seri-am nulos. Entretanto, como bem disseram entre vós, qual o maior sofrimento, o físico ou o sofrimento mo-ral?

Mas, mesmo com esse corpo de natureza celeste,

com essa reunião de moléculas fluídicas, que ainda desconheceis, não seria possível o próprio sofrimento físico do Redentor? Quem sofre, é o Espírito ou a carne? Não é a lesão, o golpe sobre a matéria que, por intermédio do perispírito, faz chegar ao Espírito as sensações e a dor? Vêdes, portanto, que não pode prevalecer de modo algum a opinião isolada do vosso bom Mestre Allan Kardec.

Meus filhos, continuemos a estudar os Evangelhos

do Senhor em todos os seus mais pequeninos deta-lhes. Procurai conhecer o espírito de toda a letra, com humildade, porque a verdade há de fazer-se aos vos-sos olhos, como um testemunho do agrado do Se-

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nhor, que vos vê esquecidos das paixões do mundo, concentrados, estudando a vida do seu amado Filho.

O único requisito que se vos pede é a humildade. Ismael O Evangelho de Maria Há quem estranhe os primeiros capítulos do E-

vangelho de Lucas, exatamente os que se referem às condições especiais (não "milagrosas") do "nascimen-to" de Jesus. Os estudos exegéticos, tanto católicos como protestantes, confirmam perfeitamente a auten-ticidade desses textos.

Entretanto, mais recentemente, através da psico-

grafia segura de Chico Xavier, Emmanuel, na magis-tral obra "Paulo e Estevão", traz mais subsídios para uma avaliação mais criteriosa e mais justa sobre esses capítulos, salientando o valor do trabalho de pesquisa feito por Lucas antes da redação de suas anotações evangélicas:

"Com delicadeza extrema, Paulo visitou a Mãe de

Jesus na sua casinha singela, que dava para o mar. Impressionou-se fortemente com a humildade daque-

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la criatura simples e amorosa, que mais se asseme-lhava a um anjo vestido de mulher. Paulo de Tarso interessou-se pelas suas notícias cariciosas, a respeito da noite do nascimento do Mestre, gravou no íntimo suas divinas impressões e prometeu voltar na primeira oportunidade, a fim de recolher os dados indispensá-veis ao Evangelho que pretendia escrever para os cristãos do futuro. Maria colocou-se à sua disposição, com grande alegria.

O projeto deste Evangelho continou a ser alimen-

tado, mas dificultado pelas viagens constantes do apóstolo.

Estando preso na Cesaréia, Paulo resolveu encar-

regar Lucas da redação. A esse tempo, o ex-doutor de Jerusalém chamou

a atenção de Lucas para o velho projeto de escrever uma biografia de Jesus, valendo-se das informações de Maria; lamentou não poder ir a Éfeso, incumbindo-o desse trabalho que reputava de capital importância para os adeptos do cristianismo. O médigo amigo satisfez-lhe integralmente o desejo, legando à poste-ridade o precioso relato da vida do Mestre, rico de luzes e esperanças divinas.

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Por isso o Evangelho de Lucas é também conside-rado como o EVANGELHO DE MARIA."

(Emmanuel - "Paulo e Estevão") A Opinião de Chico Xavier sobre a obra de Jean-

Baptiste Roustaing Há quem desconheça a opinião do missionário de

Pedro Leopoldo sobre a obra "Os Quatro Evangelhos" e seu organizador, Roustaing. Em sua obra "Testemu-nhos de Chico Xavier" (Ed. FEB) , Suely Caldas Schu-bert comenta alguns episódios da vida e obra do que-rido médium relacionadas ao assunto, que refletem bem seu pensamento sobre o tema. Reunimos algu-mas:

"Aguardo, com justificado interesse, o teu traba-

lho sobre Kardec-Roustaing. Deve ter sido um esforço exaustivo, mas muito lindo, o de procurar notícias das relações de ambos, nas publicações do "Espiritismo jovem". Creio que esse trabalho, do qual te ocupas agora, é de profunda significação para o nosso movi-mento. Esperarei o "Reformador", de outubro próxi-mo, ansiosamente."

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(Carta de Chico Xavier ao então presidente da FEB, Wantuil de Freitas, a 15 de setembro de 1946, a propósito de um estudo de autoria de Wantuil, publi-cado na edição de outubro do mesmo ano em "O Reformador")

"Sinto inveja da leitura que vens fazendo com o

Ismael da "Revue Spirite". Deve ser um encanto en-trar em contato com essas coleções antigas. Creio que estás fazendo esse trabalho com a inspiração de nos-sos Maiores. Creio, não - tenho a certeza disso. Que possamos recolher muitos frutos dessa tarefa abenço-ada é o meu desejo muito sincero.

Aguardo tuas notícias novas sobre a revisão do

"Roustaing". Não te excedas nesse serviço. Das 7 às 23 horas é demais. Resguarda teus órgãos visuais. Lembra-te de que a tua família espiritual hoje é e-norme. "

(Idem, com data de 25 de setembro de 1946, a-

inda sobre o mesmo assunto) Chico comenta, ainda uma vez, em correspondên-

cia com data de 29 do mesmo mês, a nova edição da obra de Roustaing:

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"(...) Aguardo com muito interesse a nova edição do "Roustaing". Constituirá um grande serviço à Cau-sa da Verdade e do Bem, nos moldes de que me tens dado notícias."

Sobre o trecho de Roustaing em "Brasil, Coração

do Mundo, Pátria do Evangelho" "Não te incomodes com a declaração havida de

que o trecho alusivo a Roustaing, em "Brasil", foi co-locado pela Federação. Quando descobrirem que a Casa de Ismael seria incapaz disso, dirão que fui eu. De qualquer modo, eles falarão. O adversário tem sempre um bom trabalho - o de estimular e melhorar tudo, quando estamos voltados para o bem. "

( Carta de Chico para Wantuil, de 25 de março de

1947. O presidente da FEB da-lhe algumas informa-ções sobre o caso, também por correspondência. Chico agradece, em nova missiva, esta última de 15 de abril do mesmo ano:

"Agradeço as notícias que me deste, relativamen-

te ao caso da acusação havida quanto ao livro "Bra-sil". Deus te proteja em teu ministério de supervisão espiritual."

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Meses mais tarde, ambos retornam ao assunto, dessa vez falando sobre uma nova edição desta obra. Wantuil enviara a Chico um exemplar com pequenos ajustes de redação, mas estava especialmente preo-cupado com a polêmica surgida sobre o trecho refe-rente a Roustaing, e avaliava a possibilidade de adiar-se um pouco a nova tiragem, ou mesmo de submeter o trecho à revisão do autor espiritual. Chico discorda, e apresenta sua ponderação com um misto de genti-leza e energia, em correspondência de 24 de agosto de 1947:

"Nosso gesto poderia traduzir, para muitos, temor ou excessiva consideração para com o bloco que nos acusa de interpolar os textos mediúnicos, porque não tendo havido uma providência desta, em qualquer edição dos livros recebidos em Pedro Leopoldo, desde a publicação do "Parnaso", há quinze anos, a mudan-ça seria extremamente chocante."

... mas, humilde, deixa a decisão final para o en-

tão presidente da Casa de Ismael, assinalando: "De uma coisa poderemos estar certos - é de que

nunca estaremos livres da perseguição e da levianda-de dos nossos adversários gratuitos. Mais vale recebê-los com paternal vigilância que dispensar-lhes exces-siva consideração.(...)"

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Sobre a revisão geral do texto, de natureza lin-

guística, Chico agradece a dedicação de Wantuil em nova carta, enviada apenas seis dias depois:

"Restituí-te o livro ontem com todas as corrigen-

das que fizeste e podes crer que esses reajustamen-tos e todos os outros que puderes fazer, no "Brasil, Coração do Mundo"e em todos os outros livros, repre-sentam motivo de imenso prazer e de indefinível con-forto para mim.Deus te recompense."

Em outubro de 1947, Wantuil publica em "O Re-

formador" um esclarecer artigo sobre a questão do corpo fluídico de Jesus, um dos pontos mais impor-tantes da obra "Os Quatro Evangelhos". Chico elogia o trabalho feito em missiva de 13 de novembro...

"Considero muito valiosa a página "Corpo Fluídi-

co?", do Reformador de outubro próximo passado. É de autoria de quem? Trata-se de um trabalho condensado de grande expressão educativa."

... e ainda reforça o elogio em outra, de 22 do

mesmo mês: "Minhas felicitações pela encantadora e substan-

ciosa página "Corpo Fluídico?". Creio que deves conti-

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nuar a produzir trabalhos semelhantes para a nossa edificação geral."

1951... 15 de março. Os filhos de Wantuil seguem

para a Europa em tarefa espírita. Vão a Bordéus (ci-dade de Roustaing) e Paris, em missão de pesquisa. Chico alegra-se com a notícia:

"Estou muito contente com a partida dos teus ra-

pazes para a Europa. Será um grande serviço à nossa Causa a visita a Bordéus e Paris. Observador quanto é, Zêus pode trazer muito material informativo edifi-cante para nós no Brasil, mormente no que se refere à obra de Roustaing. Também lastimo que o tempo dos dois estimados viajantes seja tão curto lá."

1952, 23 de outubro "Minhas felicitações pelo teu belo trabalho com a

obra de Roustaing. Está realizando um serviço de grande importância para o nosso ideal."

Em março de 53, Chico demonstra curiosidade

sobre as vendas das obras de Kardec, Roustaing e dos grandes pioneiros de nossa doutrina - Léon Denis, Flammarion e Dellane - ressaltando seu valou doutri-nário:

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"Tendo em alta conta e profunda estima a obra de Kardec e de Roustaing e dos grandes pioneiros que foram Léon Denis, Flammarion e Delanne, ficaria mui-to contente e agradecido se me desses a conhecera estatística sobre a penetração dos livros que nos lega-ram, em nossa Pátria, caso tenhas essa estatística com facilidade. Considero essa penetração muito im-portante para o traalho de nossa Consoladora Doutri-na, no Brasil."

Wantui envia-lhe os dados requeridos. Chico a-

gradece, a 27 de junho do mesmo ano: "Grato pelas notícias dos grandes pioneiros Rous-

taing, Denis, Flammarion e Dellane. Se a "Revue Spiri-te" algo publicar, esperarei tuas notícias."

***** É o que conseguimos reunir. Acreditamos que os

depoimentos falam por si retratando, com clareza, o carinho do amado Chico em relação a Roustaing e à sua obra - "Os Quatro Evangelhos".

Muita paz a todos!

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A Opinião de Dr. Bezerra de Menezes, quando en-carnado, sobre a obra "Os Quatro Evangelhos"

"O Espiritismo não é, com julgam os padres ser a

revelação messiânica, a última palavra sobre as ver-dades que Deus, em seu amor pela humanidade, faz baixar do céu à Terra.

Enquanto o homem não chegar ao último grau da

perfeição intelectual, o de penetrar todas as leis da criação, a revelação não chegará a seu termo, pois que ela é progressivamente mais ampla, na medida do desenvolvimento da faculdade compreensiva do homem.

O Espiritismo, pois, tendo dado mais do que as

anteriores revelações, muito terá ainda que dar, por-que muito terá ainda que progredir a humanidade terrestre.

Allan Kardec, Espírito preposto por Jesus para re-

unir em um corpo de doutrina ensinos confiados, pelo mesmo Jesus, ao Espírito da Verdade, constituído por uma legião de Altíssimos Espíritos, só apanhou o que estes deram - e estes só deram o que era compatível com a compreensão atual do homem terreal.

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Mas o homem, como já foi dito, não cessa de de-senvolver a sua faculdade compreensiva e, pois, os principais fundamentos da revelação espírita, compre-endidos nas obras fundamentais de Allan Kardec, tendem constantemente a se alargar em extensão e compreensão, como ele mesmo veio alargar os princí-pios fundamentais do ensino ou revelação messiânica - e como esta veio alargar os da revelação mosaica.

A Allan Kardec sobrevivem outros missionários da

verdade eterna que, sem destruir a obra feita, porque esta é firmada na lei e a lei é imutável, darão mais luz, para mais largo conhecimento das faces mais obscuras daquela verdade.

Eis aí que já apareceu Roustaing, o mais moderno

missionário da lei, que em muitos pontos vai além de Allan Kardec, porque é inspirado como este, mas teve por missão dizer o que este não podia, em razão do atraso da humanidade.

Não divergem no que é essencial, mas sim nos

modos de compreender a verdade, porque esta, sen-do absoluta, nos aparece sob mil fases relativas - relativas ao nosso grau de adiantamento intelectual e moral, que um não pode dispensar o outro, como as asas de um pássaro não se podem dispensar, para o fim de ele se elevar às alturas.

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Roustaing confirma o que ensina Allan Kardec,

porém adianta mais que este, pela razão que já foi exposta acima.

É, pois, um livro precioso e sagrado o de Rousta-

ing..." (Bezerra de Menezes - em "A Gazeta de Notícias,

de 22/04/1897, respondendo a um leitor acerca da obra "Elucidações Evangélicas", de Antônio Luiz Sa-yão, que resume num único volume o conteúdo da obra de Roustaing)

A Opinião de Dr. Bezerra de Menezes, depois de

desencarnado, sobre a obra "Os Quatro Evangelhos" Houve uma época em que levantou-se dúvida so-

bre se Doutor Bezerra de Menezes teria mantido sua opinião favorável à obra "Os Quatro Evangelhos", de João Baptista Roustaing, depois de desencarnado.

Em sua obra "Ponte Evangélica", de 1984, nosso

amigo Jorge Damas publicou um caso que trouxe luz definitiva sobre o tema (pág.36-46). Confira:

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"No dia 18 de fevereiro de 1891 fundou Dr. Bezer-ra de Menezes o Grupo Espírita Regeneração, com o objetivo da "prática da caridade cristã e a propaganda da Doutrina Espírita, dentro dos moldes da legítima fraternidade e da máxima tolerância...". Sua idéia inicial era de que este Grupo se corporificasse dentro da Federação Espírita Brasileira, onde fora fundado, para que, mais tarde, se constituísse estatutariamente e marchasse independentemente.

Desde suas primeiras reuniões, o Dr. Bezerra de

Menezes instituiu o estudo baseado nos "ensinamen-tos do Evangelho, de Nosso Senhor Jesus Cristo, nas instruções da codificação de Allan Kardec, na Revela-ção da Revelação de J.-B. Roustaing.

Após a desencarnação do Dr. Bezerra de Mene-

zes, em 11 de abril de 1900, o Regeneração continu-ou o trabalho, implantado por seu fundador. Enquanto isto, alguns adversários de Roustaing divulgavam, entusiasticamente, que o "Kardec Brasileiro" havia reconhecido o seu "engano"em adotar o estudo sis-temático, Kardec-Roustaing, encontrando a "verdade definitiva"somente em Kardec.

Em 1952, o Dr. Alcides de Castro, grande conti-

nuador de Bezerra de Menezes, no Regeneração, sentiu a necessidade de organizar um estatuto. Recor-

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Apontamentos sobre os 4 Evangelhos de Roustaing 25

reu a Chico Xavier, a fim de obter uma orientação espiritual, que viesse ao encontro do seu objetivo. Bezerra de Menezes, então, se manifestou afirmando que ditaria todo o estatuto, através da mediunidade segura do então presidente do Grupo, Dr. Alcides.

Preparou-se, assim, o nosso Alcides para a tarefa

de tão grande responsabilidade. Quando terminou, levou o trabalho a Chico Xavier, através de quem obteve reconhecimento da espiritualidade, quando à autenticidade do estatuto, ditado por Bezerra de Me-nezes. Para sua surpresa, o próprio Bezerra de Mene-zes, através do lápis missionário de Chico Xavier, subscreveu o estatuto, sendo acompanhado por ou-tras entidades, amigas do Grupo, que da mesma for-ma se manifestaram participando da festa espritual da independência do "Regeneração".

(...) logo na primeira página do estatuto, Bezerra

de Menezes (desencarnado) recomenda o estudo obrigatório, interno e publicamente, da obra "Revela-ção da Revelação", de J.-B. Roustaing, com o leitor poderá observar nas cópias anexas."

Pelo fruto se conhece a árvore. Veja, abaixo,

quem foi a médium da obra "Os Quatro Evangelhos", Émilie Collignon:

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Nasceu na Bélgica, em 1820. Conhecida apenas

por Madame E. Collignon, Émilie figura em comunica-dos de Kardec na Revue Spirite, em 1864 e 1865, e em notas, na mesma revista, no período de 1870 a 1876, mas só agora começa a ter seus dados biográfi-cos levantados.

Sabe-se hoje que se nome completo era Émilie

Aimée Charlotte Bréard Collignon. Casou-se com o Sr. Charles Paul Collignon e teve um filho, aos 36 anos, batizado como Henri Paul François Marie Collignon, considerado, à época, um dos mais simpáticos prefei-tos da França.

Émilie Collignon começou a psicografar mecani-

camente "Os Quatro Evangelhos" em 1861, aos 41 anos de idade, ano em que conheceu o Sr. Roustaing.

Além da obra "Os Quatro Evangelhos", recebida

entre 1861 e 1865, ela publicou mais quatro brochu-ras, quase todas voltadas à educação, no seu sentido mais profundo. Contribuiu com várias comunicações mediúnicas para a codificação da Doutrina Espírita.

Kardec, como educador emérito, comenta sua o-

bra "Conselhos às mães de Família", na Revue Spirite de 1864, afirmando, entre outros comentários, ter a

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"satisfação de aprovar este trabalho sem reservas", por tratar-se de "linguagem de um espírito elevado" e que "a educação, nesta brochura, é encarada sob seu verdadeiro ponto de vista em relação ao desenvolvi-mento físico, moral e intelectual da criança, conside-rada desde o berço até sua situação no mundo", constituindo assim, "uma obra digna de toda aten-ção".

Madame Collignon também dedicou-se com ardor

às obras assistenciais. O caso da escola que tentou abrir para recolher meninas das ruas de Bordeaux é, certamente, um bom exemplo de seus esforços nesse sentido e da generosidade de seu coração.

Seus apelos aos espíritas, em busca de recursos,

através da Revue Spirite, não obtiveram os resultados necessários. A França vivia então dias difíceis, com a economia abalada pelos efeitos da guerra franco-prussiana.

Émilie, no entanto, não se deu por vencida. Sua

grandeza de espírito e retidão de caráter podem ser avaliadas pela sua determinação em servir ao próxi-mo, mesmo na adversidade. Malogrado seu projeto, doou o dinheiro arrecadado para uma obra similar e para uma creche, fundadas por maçons, passando a colaborar na sua direção.

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É o que se poderia esperar, realmente, de um es-

pírito tão sensível e tão comprometido com a causa do bem e a vivência dos princípios evangélico-doutrinários...

Émilie Collignon desencarnou em 1902, aos 82

anos. Discurso pronunciado pelo Sr. Battar, bastonário

da Ordem dos Advogados de Bordeaux, França, por ocasião das exéquias de Jean-Baptiste de St-Omer Roustaing (04/01/1879):

"Senhores e caros confrades, Mal acabamos de entrar no ano novo, somos

chamados diante deste túmulo, no umbral da eterni-dade, para dar nosso derradeiro adeus a um confrade que nos deixa, e que leva, com todas as nossas sau-dades, muitas lembranças do passado.

Após longo tempo afastado do Palácio, em virtude

da deterioração de sua saúde, pertencendo a uma geração cujas classes se misturam a cada dia, ele era pouco conhecido da maioria de vós, ainda que jamais tivesse vontade de abandonar a advocacia. Contudo é

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bom que sua memória vos seja lembrada, pois ela oferece um exemplo notável do que pode o amor ao trabalho, aliado a uma firme vontade, jamais desmen-tida, para vencer os obstáculos acumulados ao longo de sua vida.

Nascido em Bordeaux, em 1805, de uma família

de poucos recursos, Jean-Baptiste Roustaing foi ma-triculado no Liceu da cidade, onde recebeu uma edu-cação boa e sólida. Mas, ao sair do colégio, era preci-so escolher uma carreira, e os sacrifícios, que seu pai se havia imposto para lhe ajudar, haviam chegado ao fim.

Nessa ocasião, ao lado de nomes que lembram

um passado glorioso, e que se tornariam célebres, o quadro da Ordem continha outros, cheios de promes-sas brilhantes para o futuro.

O jovem Roustaing foi inflamado de nobre emula-

ção e, a exemplo de um pintor ilustre, ele disse sobre si próprio: "E eu também terei um lugar neste qua-dro". Resoluto, ele partiu para Toulouse, não contan-do com ninguém, a não ser ele próprio, para continu-ar seus estudos. Tornou-se professor para poder se transformar em estudante. De um lado, ele ensinava matemáticas especiais, obtendo, assim, os recursos necessários para fazer face às despesas com taxas de

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inscrições e às necessidades de sua vida; de outro, seguia assiduamente os cursos da Escola de Direito.

Conhecendo qual o preço do tempo, ele se em-

pregava inteiramente, e logo obteve todos os seus diplomas. Pôde, então, voltar a Bordeaux e ao seio de sua família.

Tinha, finalmente, alcançado o objetivo de todos

os seus desejos: tinha estudado, no intervalo, proce-dimentos legais em um dos melhores centros de estu-do de Paris; tinha-se munido de todas as peças e se lança com ardor nas lutas do palácio e consegue logo seu lugar.

Trabalhador infatigável, secundado por uma viva

inteligência e excelente memória, ele analisava as causas até as últimas etapas de profundidade do di-reito. Seu caráter laborioso e perseverante se revela-vam em toda parte, nas suas audiências e nos seus escritos.

Muito honesto para procurar desnaturar fatos, a

fim de acomodá-los às necessidades de sua defesa, ele os aceitava em sua realidade, tal como se ofereci-am a ele, e procurava com cuidado quais eram os princípios de direito aplicáveis às suas causas. O ter-reno do direito era o campo de batalha a que se afei-

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çoara, e sobre o qual tinha prazer de chamar seus adversários. Era aí que desenvolvia todos os recursos de uma ciência completa, e que dava provas de pro-digiosa fecundidade.

Quando acreditava ter obtido uma visão definitiva,

ele a seguia até o fim, sem jamais desencorajar, e não parava a não ser diante de uma impossibilidade absoluta.

Para atingir seu objetivo, nada o continha; as

mais prolongadas e penosas pesquisas eram para ele, poder-se-ia dizer, um prazer. Quantas noites passou mergulhado em suas meditações, pesquisando auto-res e compilações diversas para extrair o que poderia servir às suas defesas. E quando, no dia seguinte, chegava à tribuna, surpreendia seus adversários com a variedade de seus recursos. Quantas vezes ele, assim, com uma inspiração feliz pela descoberta im-prevista, recuperara causas aparentemente desespe-radas; quantas vezes fez triunfar métodos que, à primeira vista, poderia parecer fortemente duvidosos, mas que ele fundamentava no direito e nas autorida-des mais importantes.

Foi assim que ele conquistou na advocacia uma

das situações mais prestigiadas e, ao mesmo tempo, uma modesta fortuna, mas suficiente para seus ges-

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tos simples e seu coração desprovido de ambição. Ele reservava mesmo grande parte para empregar em abundantes esmolas.

Não vos surpreenderíeis, senhores, se eu acres-

centasse que foi também, por ter ganho a afeição e estima de seus confrades que, em 1848, nomearam-no bastonário da Ordem e lhe conferiram, por sufrá-gio, a mais alta distinção àquele que jamais a aspira-ra.

Depois, chegou o dia em que esse ardente orga-

nismo achou-se quebrado pelo excesso de trabalho, onde a atividade do espírito foi vencida pelo esgota-mento do corpo. Em torno de 1860, sua saúde, pro-fundamente alterada, obrigou-o a se afastar da vida militante da advocacia, e a se recolher a seu interior, onde sua inteligência ainda se fazia sentir sobre maté-rias de direito e sobre outros assuntos. Mas desejava sempre continuar advogado, e conservava com amor sua beca que, nesses momentos de ilusão, habitual entre doentes, jactava-se, algumas vezes, de poder retomar suas antigas atividades. A partir desse mo-mento, ele se liberou, com mais desprendimento que antes, de suas atividades de beneficência e caridade, tanto na cidade como no distrito de Targon, onde possuía uma propriedade. Assim, durante três anos, com a colaboração de um de seus vizinhos de campo,

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ele sustentou e manteve, até seus últimos momentos, um pobre morador que ficou enfermo em conseqüên-cia de grave acidente. Em Bordeaux, prestava socorro a infelizes, e sua morte, para eles, seria grande per-da; pode-se dizer que ele será pranteado pelos po-bres.

Há dois meses apenas, conduzimos ao lugar de

repouso os despojos mortais da companheira de sua vida e de suas boas obras; ele sobreviveu pouco tem-po; parece que a morte se apressava em reuní-los. Devemos esperar que esteja em um mundo melhor, e que existência tão bem vivida, tão honesta e tão ge-nerosa receberá sua recompensa.

Segundo bela expressão de um de nossos ilustres

antecessores, o homem que deixa este mundo só leva consigo o que ele deu; as lágrimas dos infelizes que nosso confrade secou com seu consolo e suas bene-merências, as que o reconhecimento fez derramar em seu túmulo, serão acompanhadas até diante do Juiz Supremo."

Jornal de Bordeaux, 06 de janeiro de 1879

Fonte: http://www.casarecupbenbm.org.br/museu/museu.html