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Volume 4
APOIO IMPLEMENTAO DOPROGRAMA DE EDUCAO AMBIENTAL
E AGRICULTURA FAMILIAR NOS TERRITRIOS
Fundamentos e estratgias para a Educao Ambiental
na Agricultura Familiar
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APOIO IMPLEMENTAO DOPROGRAMA DE EDUCAO AMBIENTAL
E AGRICULTURA FAMILIAR NOS TERRITRIOS
Braslia - 2015
Ministrio do Meio AmbienteSecretaria de Articulao Institucional e Cidadania Ambiental
Departamento de Educao Ambiental
Fundamentos e estratgias para a Educao Ambiental
na Agricultura FamiliarAlex Barroso Bernal
(Organizador)
Volume 4
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Repblica Federativa do Brasil Presidenta: Dilma Rousseff
Vice-Presidente: Michel Temer
Ministrio do Meio Ambiente Ministra: Izabella Teixeira Secretrio Executivo: Francisco Gaetani
Secretaria de Articulao Institucional e Cidadania Ambiental Secretria: Regina Gualda
Chefe de Gabinete: lvaro Roberto Tavares
Departamento de Educao Ambiental Diretor: Nilo Srgio de Melo Diniz
Gerente de Projetos: Renata Maranho (Jos Luis Xavier substituto) Ministrio do Meio Ambiente Secretaria de Articulao Institucional e Cidadania Ambiental Departamento de Educao Ambiental Esplanada dos Ministrios Bloco B, sala 953 - 70068-900 Braslia DF
Tel: 55 61 2028.1207 Fax: 55 61 2028.1757
E-mail: [email protected]
Catalogao na Fonte
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis M59f Ministrio do Meio Ambiente
Apoio implementao do Programa de educao ambiental e agricultura familiar nos territrios: volume 4 Fundamentos e estratgias para a educao ambiental na agricultura familiar/Alex Barroso Bernal, Organizador. Braslia: MMA, 2015.
96 p. ISBN 978-85-7738-204-0 1. Educao ambiental. 2. Agricultura familiar. 3. Formao de Educadores. I. Bernal, Alex
Barroso. II. Ministrio do Meio Ambiente. III. Secretaria de Articulao Institucional e Cidadania Ambiental. IV. Departamento de Educao Ambiental. VI. Ttulo.
CDU(2.ed.)37:504
Referncia para citao:
BERNAL, A. B. (Org.). Apoio implementao do Programa de educao ambiental e agricultura familiar nos territrios: volume 4 Fundamentos e estratgias para a educao ambiental na agricultura familiar. Braslia: MMA, 2015. 96 p.
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Equipe Tcnica do Programa de Educao Ambiental e Agricultura Familiar (PEAAF) Alex Barroso Bernal Coordenador Ana Lusa Teixeira de Campos Nadja Janke Neusa Helena Barbosa Paula Geissica Ferreira da Silva (estagiria) Equipe Tcnica da Benner Tecnologia e Sistemas de Sade LTDA Elias Milar Junior - Coordenador Fabiana Peneireiro Fernanda de Oliveira Lima Frank Paris Helena Maria Maltez Jhonatan Edi Mervan Carneiro Jorge Ferreira Junior Ktia Roseane Cortez dos Santos Natalya Gonalves Kadri Organizao Alex Barroso Bernal Texto Alex Barroso Bernal Fabiana Peneireiro Helena Maria Maltez Nadja Janke Reviso Maria Jos Teixeira Normalizao bibliogrfica Helionidia Oliveira Pesquisa e tratamento de imagens Adriana de Magalhes Chaves Martins Fernanda de Oliveira Lima Frank Paris Jhonatan Edi Mervan Carneiro Johnny Santos Oliveira Jorge Ferreira Junior Ktia Roseane Cortez dos Santos Natalya Gonalves Kadri Ilustrao - Capa Frank Paris Este curso foi desenvolvido a partir de consultoria prestada pela Benner Tecnologia e Sistemas de Sade LTDA para o Ministrio do Meio Ambiente (MMA), por meio do PCT BRA/IICA/09/005 e disponibilizado no Ambiente Virtual de Aprendizagem do MMA em:
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APRESENTAO
Bem-vindo(a) ao curso Apoio implementao do Programa de Educao
Ambiental e Agricultura Familiar nos territrios. Este um curso concebido para apoiar
a construo de polticas pblicas, projetos e aes de educao junto agricultura
familiar.
O Programa de Educao Ambiental e Agricultura Familiar PEAAF
coordenado pelo Departamento de Educao Ambiental do Ministrio do Meio Ambiente
e institudo pela Portaria Ministerial N 169, de 23 de maio de 2012.
Ao buscar alternativas para o desenvolvimento rural, a ideia de territrio tem
ganhado cada vez mais relevncia, pois o padro de desenvolvimento do territrio
determina em que condies sociais e ambientais os grupos que vivem na terra e da
terra iro garantir sua existncia social. Em ltima instncia, o modelo de
desenvolvimento territorial define a possibilidade de produo e reproduo social,
econmica, cultural e simblica das populaes, em geral, e dos agricultores familiares,
em particular.
O PEAAF incorporou essa tendncia na sua construo metodolgica, adotando
o territrio como unidade de referncia para os processos de investigao,
aprendizagem e interveno pretendidos. O territrio entendido como espao
geogrfico transformado pelas relaes sociais e a ao humana sobre a natureza, que
compartilha caractersticas econmicas, polticas e ambientais comuns, cujo uso
definidor da histria de vida e criador da identidade cultural de uma sociedade e do
sujeito no mundo. Cada territrio apresenta caractersticas ambientais, econmicas,
sociais, culturais e polticas, que lhe do identidade e uso prprios. Essas caractersticas
so resultado da ao humana sobre a natureza e das relaes sociais estabelecidas.
Esse uso prprio e essa ao que definem o territrio. Este, por sua vez, condiciona a
vida das pessoas e a identidade cultural dos grupos e indivduos ali presentes. A noo
do territrio comporta, portanto, dimenses materiais e imateriais da realidade social e
seus limites no so determinados exclusivamente por aspectos poltico-
administrativos, mas tambm pelo sentimento de pertencimento por grupos e indivduos
com o lugar que habitam e/ou se reproduzem social, econmica e culturalmente. Nesse
sentido, o territrio no algo dado, mas uma produo social em permanente mudana.
A identificao de um territrio nem sempre tarefa fcil. Onde ele comea ou
termina? Quais as caractersticas principais que determinam a existncia desse ou
daquele territrio? Quais as atividades econmicas e as relaes sociais que do
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materialidade ao territrio? Quais os processos histricos que lhe conferem identidade
prpria? O que d o sentido de pertencimento dos grupos com esse espao? Quais as
prticas culturais e os valores simblicos transmitidos pelas geraes que se sucederam
e que vo gerar esse sentido de pertencimento? Como dizia o gegrafo Milton Santos
no texto O retorno do territrio, o territrio so formas, mas o territrio usado so objetos
e aes, sinnimo de espao humano, espao habitado. Como espao humano e
espao habitado, que uso feito desse territrio?
Essa e outras questes so discutidas no curso, que possui 5 volumes:
1. Educao ambiental e agricultura familiar no Brasil: aspectos introdutrios;
2. Cenrio socioambiental rural brasileiro;
3. Sustentabilidade e agroecologia: conceitos e fundamentos;
4. Fundamentos e estratgias para a educao ambiental na agricultura familiar;
5. Organizao da oficina territorial de educao ambiental e agricultura familiar.
A linguagem do curso procura ser acessvel, no entanto, alguns termos tcnicos
necessitam ser explicados. Tais definies esto no glossrio, presente no Volume 1,
assim como uma lista com as siglas utilizadas.
Muitas reflexes e exerccios prticos viro pela frente com o objetivo de exercitar
o seu olhar e a sua criatividade para a interveno coletiva, organizada e qualificada no
territrio. As atividades propostas possuem a funo de incentivar a investigao sobre
o territrio em que voc est, seus problemas socioambientais, os conflitos existentes e
as solues possveis diante de uma realidade que se mostra cada dia mais complexa
e cheia de desafios.
Esperamos que voc esteja motivado a realizar as aes propostas. O curso foi
construdo por muitas mos. Daqui em diante haver uma constante socializao e troca
de conhecimentos. Saiba que agora voc tambm faz parte desta construo.
Bom estudo!
Equipe do Programa de Educao Ambiental e Agricultura Familiar
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SUMRIO
1. Fundamentos e estratgias pedaggicas para a educao ambiental na agricultura familiar............................................................................................................. 9
1.1 Fundamentos para a prtica pedaggica .............................................................. 9 1.1.1 Prxis .................................................................................................................... 13
1.1.2 Trabalho, natureza e cultura ................................................................................. 13
1.1.3 Educao, identidade cultural e mstica ............................................................... 19
1.1.4 A realidade concreta como ponto de partida ........................................................ 22
1.1.5 Todos somos educadores e educandos, ao mesmo tempo ................................. 25
1.2 Estratgias pedaggicas para a educao ambiental na agricultura familiar .. 27 1.2.1 O diagnstico socioambiental do territrio ............................................................ 27
1.2.2 A pesquisa-ao participante................................................................................ 38
1.2.3 Investigao de temas geradores ......................................................................... 47
1.2.4 Educomunicao .................................................................................................. 63
1.3 Avaliao do processo educativo ........................................................................... 82
2. Referncias ................................................................................................................ 89
3. Avaliao ................................................................................................................... 93
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1. FUNDAMENTOS E ESTRATGIAS PEDAGGICAS PAR A A EDUCAO AMBIENTAL NA AGRICULTURA FAMILIAR
A educao ambiental crtica e emancipatria exige que os
conhecimentos sejam apropriados e construdos de forma dinmica,
coletiva, cooperativa, contnua, interdisciplinar, democrtica e
participativa, voltados para a construo de sociedades sustentveis
(Marlia Freitas de Campos Tozoni-Reis, 2006).
1.1 FUND AM ENTO S PAR A A PR TI C A PED AG GIC A
A educao ambiental desenvolvida pelo Programa de Educao Ambiental e
Agricultura Familiar (PEAAF) tem como principal referncia a Lei n 9.795/99 que
instituiu a Poltica Nacional de Educao Ambiental (PNEA).
A PNEA refora a necessidade de capacitao dos trabalhadores para atividades
de gesto ambiental, visando melhoria e ao controle efetivo sobre as repercusses do
processo produtivo no meio ambiente. Isso exige reflexo e discusso coletiva sobre as
diferenciadas formas de apropriao e uso do meio ambiente, pelos diversos sujeitos e
grupos sociais de um territrio. Espera-se que a qualificao desse debate nos territrios
contribua para o controle social das polticas pblicas e das decises que afetam a
coletividade, o que s pode acontecer com a participao ativa dos agentes sociais
interessados.
O art. 13 da PNEA trata da educao ambiental no formal, que engloba as aes
e prticas educativas voltadas sensibilizao da coletividade sobre as questes
ambientais e sua organizao e participao na defesa da qualidade do meio
ambiente. Nesse sentido, buscaremos caminhar por meio da realizao do diagnstico
socioambiental do territrio e do investimento em processos de ensino-aprendizagem
baseados na pesquisa-ao participante, na investigao de temas geradores e na
educomunicao. Esperamos assim, favorecer a ao coletiva, organizada e qualificada
dos grupos sociais, para a defesa da qualidade ambiental.
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A educao um processo contnuo e permanente. Aprendemos ao longo de toda
a nossa vida por meio das experincias que vivemos no nosso relacionamento com o
mundo. Paulo Freire (1987) dizia que o ser humano inacabado, incompleto e
inconcluso, portanto, precisa de outro. Nascemos como um ser de ligao, conectivo
com o mundo, e compartilhamos com o outro o mundo.
Ele props, ao longo de toda sua vida, uma educao libertadora, alternativa
poltica a uma educao que ele chamava de bancria. Nessa concepo bancria
da educao, o educador enche os educandos dos contedos de sua narrao.
Contedos que so retalhos da realidade, desconectados da totalidade em que se
engendram e em cuja viso ganhariam significao (FREIRE, 1987, p. 33).
Paulo Freire
Alm de notvel educador, Paulo Freire foi e continua sendo inspirador das lutas
populares no Brasil. Na educao ambiental, os pensamentos de Paulo Freire tambm
inspiraram muitos trabalhos, vindo a influenciar decisivamente as prticas educativas
ambientais. Segundo Loureiro (2010, p. 59), Paulo Freire fez uma sntese nica entre o
pensamento marxista, o existencialismo fenomenolgico francs, principalmente de
Martin Buber, elementos da esquerda catlica e do pensamento atualmente dito ps-
colonialista. Freire soube, como poucos, trazer a discusso para o campo pedaggico,
propondo que a educao deva ser uma prtica crtica e transformadora, apoiada em
reflexo terica acerca do que a sociedade capitalista. Pensou a dominao de uns
sobre outros de modo complexo (indissocivel entre o econmico, o poltico, o
institucional, o cultural, o tico, o comunicacional e o educacional) e trabalhou na
construo de uma pedagogia de superao das relaes sociais vigentes por um
processo de conscientizao, de construo coletiva e intersubjetiva do conhecimento,
de ao dialgica e politicamente comprometida com as classes populares.
Assista sua ltima entrevista em:
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Parte 1:
Parte 2:
Paulo Freire publicou muitos livros com suas ideias. Sugerimos especialmente a
leitura dos livros Pedagogia do Oprimido e Extenso ou Comunicao?, que inspiraram
a elaborao desta parte do curso.
Propomos, no mbito do PEAAF, uma educao ambiental crtica, transformadora
e emancipatria. Conforme Quintas (2007, p. 139-140),
Crtica na medida em que discute e explicita as contradies do atual
modelo de civilizao, da relao sociedade-natureza e das relaes
sociais que ele institui. Transformadora, porque ao pr em discusso
o carter do processo civilizatrio em curso, acredita na capacidade
de a humanidade construir outro futuro a partir da construo de
outro presente e, assim, instituindo novas relaes dos seres
humanos entre si e com a natureza. tambm emancipatria, por
tomar como valor fundamental da prtica educativa a produo da
autonomia dos grupos subalternos, oprimidos e excludos, a
superao das assimetrias e, consequentemente, a democratizao
da sociedade.
Para demarcar a concepo emancipatria da educao ambiental, Loureiro
(2006) elaborou um quadro no qual contrape essa perspectiva de educao ambiental
a outra que ele denomina conservadora ou comportamentalista.
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Antes de discutir as estratgias pedaggicas para a educao ambiental na
agricultura familiar, abordaremos alguns tpicos de natureza mais conceitual que visam
dar base terica e direo poltica para os processos educativos pretendidos.
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1.1.1 PRXIS
Segundo Leandro Konder (1992, citado por QUINTAS, 2009), a prxis a
atividade concreta pela qual os sujeitos humanos se afirmam no mundo, modificando a
realidade objetiva, podendo alter-la, transformando-se a si mesmos. a ao que,
para aprofundar-se de maneira mais consequente, precisa de reflexo, do
autoquestionamento, da teoria; a teoria que remete ao, que enfrenta o desafio de
verificar seus acertos e desacertos, cotejando-os com a prtica.
Prxis significa, portanto, intervir na realidade e fazer, em dilogo com a teoria, a
reflexo sobre a interveno.
Esse dilogo com a teoria acontece quando interpretamos e analisamos os
resultados da nossa ao prtica luz do que outros j estudaram e escreveram sobre
o assunto, o saber sistematizado, ou por meio do que aprendemos, mediados pelo
mundo, com outras pessoas.
Assim, a educao ambiental enquanto campo de conhecimento e fazer social que
coloca teoria e prtica em dilogo, em permanente alimentao e retroalimentao,
um exerccio da prxis, ou seja, um ato de construo coletiva do conhecimento sobre
a realidade, objetivando sua transformao num processo dialtico de ao e reflexo.
1.1.2 TRABALHO, NATUREZA E CULTURA
Outro conceito fundamental o de trabalho, que est intimamente ligado prxis
e educao.
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Para iniciar essa discusso, vamos ler um trecho do texto Sobre a natureza e
especificidade da educao, de Saviani (1984, p. 1-2):
Sabe-se que, diferentemente dos outros animais, que se adaptam
realidade natural tendo a sua existncia garantida naturalmente, o
homem necessita produzir continuamente sua prpria existncia.
Para tanto, em lugar de se adaptar natureza, ele tem que adaptar
a natureza a si, isto , transform-la. E isto feito pelo trabalho.
Portanto, o que diferencia o homem dos outros animais o trabalho.
E o trabalho se instaura a partir do momento em que seu agente
antecipa mentalmente a finalidade da ao. Consequentemente, o
trabalho no qualquer tipo de atividade, mas uma ao adequada
a finalidades. , pois, uma ao intencional.
Para sobreviver, o homem necessita extrair da natureza, ativa e
intencionalmente, os meios de sua existncia. Ao fazer isso ele inicia
o processo de transformao da natureza, criando um mundo
humano (o mundo da cultura).
Assim, o processo de produo da existncia humana implica,
primeiramente, a garantia da sua subsistncia material, com a
consequente produo em escalas cada vez mais amplas e
complexas, de bens materiais; tal processo ns podemos traduzir na
rubrica trabalho material. Entretanto, para traduzir materialmente,
o homem necessita antecipar em ideias os objetivos da ao, o que
significa que ele representa mentalmente os objetivos reais. Essa
representao inclui o aspecto de conhecimento das propriedades
do mundo real (cincia), de valorizao (tica) e de simbolizao
arte. Tais aspectos, na medida que so objetos de preocupao
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explcita e direta, abrem a perspectiva de outra categoria de
produo, que pode ser traduzida pela rubrica trabalho no
material". Trata-se aqui da produo de conhecimentos, ideias,
conceitos, valores, smbolos, atitudes, habilidades. Obviamente, a
educao se situa nessa categoria do trabalho no material.
Dizer, pois, que a educao um fenmeno prprio dos seres
humanos significa afirmar que ela , ao mesmo tempo, uma
exigncia de e para o processo de trabalho, bem como , ela prpria,
um processo de trabalho.
Dermeval Saviani
Filsofo e professor emrito da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp),
Dermeval Saviani o principal formulador da pedagogia histrico-crtica, que segundo
Saviani (2011), foi forjada no final dos anos de 1970 e incio dos anos de 1980 na luta
contra a orientao educativa do regime militar [e] continuou a se desenvolver de forma
orgnica e coerente, mantendo o carter de pedagogia contra-hegemnica e orientando,
nessa condio, a resistncia propositiva do trabalho educativo em redes pblicas de
educao bsica no mbito de alguns estados e municpios. Essa pedagogia se situa
no campo do materialismo histrico, apoiando-se diretamente nas elaboraes de Marx
e Gramsci. Seu mtodo pedaggico segue o mesmo movimento do processo de
conhecimento tal como descrito por Marx no texto sobre o ''mtodo da economia
poltica'', que implica a passagem do emprico ao concreto, pela mediao do abstrato.
Assim, o mtodo pedaggico histrico-crtico parte da prtica social imediata, na sua
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percepo emprica por parte dos alunos, buscando, pela mediao da problematizao,
instrumentalizao e catarse, elev-los a uma compreenso sinttica, isto , concreta
da prtica social, o que lhes permitir intervir nela ativa e criticamente.
Por sua obra terica e seu engajamento poltico na defesa sistemtica da escola
pblica, Saviani tornou-se referncia da educao brasileira e latino-americana e um
dos principais protagonistas da luta dos educadores no Pas.
PARA REFLETIR...
Leia as frases de Dermeval Saviani:
A escola diz respeito ao conhecimento elaborado e no ao conhecimento
espontneo; ao saber sistematizado e no ao saber fragmentado.
a exigncia de apropriao do conhecimento sistematizado por parte das novas
geraes, que torna necessria a existncia da escola.
Voc concorda com o que diz Saviani?
Segundo Philippe Layrargues (2006), importante para a educao ambiental dar
centralidade categoria trabalho. o trabalho, juntamente com a cultura, que compe
o dilogo entre o plano material e o plano simblico, quanto aos determinantes da crise
ambiental (LAYRARGUES, 2006, p. 79).
Tomar como base que a cultura e o trabalho so elementos mediadores da relao
humana com a natureza contribui para superar uma abordagem educativa que pretende
instaurar uma tica ecolgica, sem refletir sobre o agente causador da crise ambiental,
e evita forjar no campo da educao ambiental a imagem do ''homem genrico e
abstrato'', como uma entidade puramente biolgica, como sendo elemento responsvel
pela desordem na biosfera (LAYRARGUES, 2006, p. 80).
Para o autor, comum um discurso que se utiliza de expresses como o ''impacto
antrpico'', a ''agresso humana', a ''sociedade contra natureza', no qual se ocultam as
responsabilidades diferenciadas dos agentes sociais. Como ele conclui, a
considerao da categoria ''trabalho'' que fornece a concretude necessria para que seja
possvel visualizar que os ''humanos'' no so seres vivos genricos e abstratos para
serem qualificados linearmente numa relao ''humano-natureza'', como to frequente
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posta, mas, sim, preenchidos de valores, interesses, intencionalidades e intervenes
fsicas no mundo, bastante diferenciadas.
A possibilidade de se perceber a categoria trabalho como mediadora da relao do
ser humano com a natureza fornece meios para que o exame das relaes produtivas e
mercantis revele as singularidades dos atores sociais, permitindo uma distino mais
acurada do causador (e da vtima) da crise ambiental do que simplesmente
a ''humanidade'' (LAYRARGUES, 2006, p. 80).
Nessa linha, importante que o agente popular de educao ambiental estude e
analise a agricultura familiar sob a perspectiva do trabalho. Visto que o trabalho pode
tanto nos humanizar como desumanizar, o PEAAF d relevncia investigao do
trabalho na natureza e da natureza do trabalho na agricultura familiar.
O trabalho pode tanto humanizar como desumanizar. Mauro Iasi (2011) faz essa
reflexo inserindo a discusso sobre a alienao que um tipo de trabalho pode provocar.
Segundo o autor:
As relaes sociais determinantes, baseadas na propriedade privada
capitalista e no assalariamento da fora de trabalho, geram as condies
para que a atividade humana aliene em vez de humanizar. A vivncia
dessas relaes produzem uma alienao expressa em trs nveis.
1. Ao viver o trabalho alienado, o ser humano aliena-se da sua prpria
relao com a natureza, pois por meio do trabalho que o ser humano se
relaciona com a natureza e assim pode compreend-la. Vivendo relaes
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em que ele prprio se coisifica, com o produto de seu trabalho sendo algo
estranho e que no lhe pertence, a natureza distancia-se e fetichiza-se.
2. Num segundo aspecto, o ser humano aliena-se de sua prpria atividade.
O trabalho transforma-se, deixa de ser a ao prpria da vida para
converter-se em ''meio de vida''. Ele trabalha para o outro, contrafeito, sem
prazer. a atividade imposta que gera sofrimento e aflio. Alienando-se
da atividade que humaniza, o ser humano aliena-se de si prprio
(autoalienao).
3. Isso nos leva ao terceiro aspecto. Alienando-se de si prprio como ser humano, tornando-se coisas (o trabalho no me torna um ser humano,
mas algo que eu vendo para viver), o indivduo afasta-se do vnculo com
a humanidade, a produo social da vida, e metamorfoseia-se num meio
individual de garantir a prpria sobrevivncia particular (IASI, 2011, p. 21-
22).
A Poltica Nacional de Educao Ambiental, ao trazer em seu art. 3, inciso V, que
cabe s empresas, entidades de classe, instituies pblicas e privadas promover
programas destinados capacitao dos trabalhadores, visando melhoria e ao
controle efetivo sobre o ambiente de trabalho, bem como sobre as repercusses do
processo produtivo no meio ambiente, nos d o caminho para que o agente popular de
educao ambiental reflita sobre o mundo do trabalho e suas repercusses no meio
ambiente. Importa-nos entender quais as formas de trabalho da agricultura familiar e
para isso, preciso superar a dicotomia entre impactos positivos e negativos na
natureza.
PARA REFLETIR...
Em que condies e sob quais bases (sociais, econmicas...) a agricultura familiar
intervm na natureza? Agricultores familiares detm o controle do processo produtivo
no campo? Dominam os fundamentos do trabalho?
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1.1.3 EDUCAO, IDENTIDADE CULTURAL E MSTICA
Predomina em nossa sociedade a ideia de que a vida rural atrasada, inculta,
rstica, rude, sofrida. Desconhecendo a origem dos alimentos que comem, muitos que
vivem nas cidades olham para os agricultores com olhos de preconceito e desprezo.
Mas, a quem serve esse tipo de pensamento? Que tipo de sociedade criada com base
nesse preconceito?
EXERCCIO
Na sua opinio, acontece esse preconceito sobre as pessoas do campo?
Reflita e converse com os agricultores com as quais voc j se relaciona, sobre
as falas, comportamentos e atitudes que reforam uma viso distorcida de
pessoas que moram na cidade sobre a vida no campo. Com base nesse dilogo
e na sua experincia de vida, escreva um pequeno texto sobre essa relao entre
pessoas do campo e da cidade. Voc pode abordar quaisquer aspectos que
considere relevante para pensar essa relao.
O respeito identidade cultural das pessoas e do lugar onde se atua fundamental
para que a prtica pedaggica frutifique e gere resultados positivos.
Um exemplo de cultura imposta foi a incorporao do pacote da Revoluo Verde
na agricultura, que aprofundou o modo de produo industrial-capitalista no campo. As
comunidades foram invadidas pela lgica do agronegcio, que acentua a separao do
ser humano com a natureza, que passa a ser coisificada. Contra a vontade das
comunidades rurais, passou-se a estimular uma forma de lidar com a natureza que, em
geral, vem provocando a degradao dos recursos naturais e a perda de fertilidade do
solo.
PARA REFLETIR...
O sujeito uma conscincia articulada com o outro, que est presente nele, e, por
isso, sua constituio requer uma empreitada coletiva (CASTORIADIS, citado por
BRASIL/MDA, 2010). Na cartilha sobre Ater (BRASIL/MDA, 2010) so apresentados trs
fundamentos do processo de aprendizagem desenvolvidos por Vygotsky, um importante
estudioso da educao:
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Apoio implementao do Programa de Educao Ambiental e Agricultura Familiar nos territrios2020
As funes intelectuais, tipicamente humanas, sempre evoluem, se desenvolvem;
Todos os seres humanos so construtores de cultura que nunca est acabada,
pronta e por isso sempre possvel mudar os modos de viver, transformar o
mundo;
Cada ser humano, interagindo com o meio sociocultural, se apropria da cultura e
a recria, torna-se sujeito e passa a utiliz-la como conhecimento para sua ao
no mundo.
As ideias desses pensadores fazem sentido para voc? Por qu?
Um exemplo de prtica social que cumpre a funo de dar "unidade" cultural a um
movimento a mstica dentro do MST, uma manifestao esttica e tica utilizada pelo
movimento em sua prtica pedaggica quotidiana.
Conforme exposto na Cartilha O MST: a luta pela reforma agrria e por mudanas
sociais no Brasil, publicao do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (2005,
p. 4), a mstica trata de
como utilizar os smbolos, a cultura, a elegia, a cerimnia, para referenciar
nosso projeto. O projeto de mudanas sociais, de conquista da reforma
agrria um mistrio. No sabemos como vai ser. Ele um sonho. E a
cerimnia, o cultivo desse sonho, que chamamos de mstica. a forma
de alimentar espiritualmente e de forma coletiva, a construo do mistrio
de nosso projeto de libertao humanitria.
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Na representao da realidade pela mstica, os militantes se abastecem para o
enfrentamento das dificuldades, do medo, dos desafios dirios dos despejos e das
ocupaes.
pela mstica e pela sua vivncia que se fortalecem e alimentam as esperanas
na organizao e sobre novas conquistas, fundamental para cultivar valores e partilhar
a celebrao da socializao com a militncia e demais presentes (COMILO;
BRANDO, 2010).
SAIBA MAIS...
Sobre a mstica no MST, visite a Biblioteca Virtual de Educao do Campo:
. Voc tambm encontrar, entre outros artigos, o texto Educao do Campo:
a mstica como pedagogia dos gestos no MST, de Maria Edi da Silva Comilo e Elias
Canuto Brando, disponvel em:
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Apoio implementao do Programa de Educao Ambiental e Agricultura Familiar nos territrios2222
1.1.4 A REALIDADE CONCRETA COMO PONTO DE PARTIDA
Todo o aprendizado deve encontrar-se intimamente associado tomada
de conscincia da situao real vivida pelo educando (Paulo Freire, 1987).
A educao que se fundamenta numa concepo emancipatria visa uma
abordagem social e coletiva em detrimento do enfoque individual.
A educao que se fundamenta numa concepo emancipatria visa uma
abordagem social e coletiva em detrimento do enfoque individual. O individualismo
engendra relaes sociais, baseadas na competio, que podem ser geradoras de
opresso e alienao. Ao contrrio, a abordagem pedaggica proposta pelo PEAAF
busca situar todos os participantes (educandos e educadores) como sujeitos, agentes
do processo histrico.
H uma tendncia na sociedade contempornea de tudo se tornar mercadoria.
Tudo se coisifica at a vida, at o ser humano - a servio da acumulao privada de
riquezas. Isso provoca uma relao de dominao, de sujeito sobre o objeto. Em
contraposio, uma educao que adota que todos somos sujeitos da histria estimula
uma relao entre os sujeitos.
Isso facilita o envolvimento do educando e seu compromisso com a proposta
desenvolvida. Ao se sentir parte do processo, a pessoa se sente implicada na questo,
sujeito na histria.
No se pode pensar em uma prtica educativa descontextualizada. Da a
importncia de se conhecer e compreender a dinmica econmica, cultural e histrica
do territrio onde se pretende atuar: como se deu a ocupao da terra e quais os modos
de produo resultantes? Como so as correlaes de foras polticas e sociais no
lugar? Quem usa os recursos naturais do lugar? Como os usa? Como os benefcios so
repartidos? Como a realidade concreta da famlia agricultora: o que produz, quanto e
como produz, qual o seu modo de pensar, de ver e de relacionar com o mundo, qual a
sua cultura?
Por meio do dilogo e de atividades de diagnstico (que detalharemos adiante),
devem ser identificadas potencialidades, problemas e conflitos socioambientais que
envolvem a agricultura familiar, buscando superar a conscincia ingnua e promover a
conscincia crtica sobre o territrio em questo.
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Apoio implementao do Programa de Educao Ambiental e Agricultura Familiar nos territrios 23
Paulo Freire (1979) distingue as caractersticas da conscincia ingnua x
conscincia crtica, da seguinte forma:
Caractersticas da conscincia ingnua:
1) Revela certa simplicidade, tendente a um simplismo na interpretao dos
problemas, isto , encara um desafio de maneira simplista ou com simplicidade. No se
aprofunda na causalidade do prprio fato. Suas concluses so apressadas,
superficiais.
2) H tambm tendncia em considerar que o passado foi melhor. Por exemplo:
os pais que se queixam da conduta de seus filhos, comparando-os ao que faziam
quando eram jovens.
3) Tende a aceitar comportamentos de grupo ou massificados. Essa tendncia
pode levar a uma conscincia fantica.
4) Subestima o homem simples.
5) impermevel investigao. Satisfaz-se com as experincias. Toda
concepo cientfica passa a ser um jogo de palavras. Suas explicaes so mgicas.
6) frgil na discusso dos problemas. O ingnuo parte do princpio de que sabe
tudo. Pretende ganhar a discusso com argumentaes frgeis. polmica, no
pretende esclarecer. Sua discusso feita mais de emocionalidades que de criticidades;
no procura a verdade; trata de imp-las e procurar meios histricos para convencer
com suas ideias. curioso ver como os ouvintes deixam-se levar pela manh, pelos
gestos e pelo palavreado. Trata de brigar mais, para ganhar mais.
7) Tem forte contedo passional. Pode cair no fanatismo ou sectarismo.
8) Apresenta fortes compreenses mgicas.
9) Diz que a realidade esttica e no mutvel.
Caractersticas da conscincia crtica
1) Anseio de profundidade na anlise dos problemas. No se satisfaz com as
aparncias. Pode reconhecer-se desprovida de meios para a anlise de problemas.
2) Reconhece que a realidade mutvel.
3) Substitui situaes ou explicaes mgicas por princpios autnticos de
causalidade.
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Apoio implementao do Programa de Educao Ambiental e Agricultura Familiar nos territrios2424
4) Procura verificar ou testar as descobertas. Est sempre disposta a revises.
5) Ao se deparar com um fato, faz o possvel para livrar-se de preconceitos. No
somente na captao, mas tambm na anlise e na resposta.
6) Repele posies quietistas. intensamente inquieta. Torna-se mais crtica
quanto mais reconhece em sua quietude a inquietude e vice-versa. Sabe que na
medida que e no pelo que parece. O essencial para parecer algo ser algo. Essa
a base da autenticidade.
7) Repele toda transferncia de responsabilidade e de autoridade, assumindo-as.
8) indagadora, investiga, fora, choca.
9) Ama o dilogo, nutre-se dele.
10) Diante do novo, no repele o velho por ser velho, nem aceita o novo por ser
novo, mas aceita-os na medida que so vlidos.
na sua existncia concreta (pessoal e coletiva) que os indivduos se produzem
enquanto seres sociais e culturais. comum encontrarmos experincias e projetos de
desenvolvimento rural junto agricultura familiar, nos quais as tcnicas sugeridas no
so adotadas pelos agricultores. Isso no acontece porque os agricultores so
ignorantes, conservadores ou tradicionais, mas porque as propostas no correspondem
e no dialogam com a realidade e com a lgica do seu sistema de produo. Ou seja,
no fazem sentido para eles e/ou no respondem s suas demandas reais. De nada
adianta, portanto, importar tecnologias sociais, aparentemente fantsticas, mas que so
oferecidas como um pacote pronto. Um exemplo a distribuio de um kit de horta com
galinheiro para agricultores de todo o Pas. Se a implantao dessa tecnologia social
estiver dissociada da realidade e das necessidades reais dos agricultores e
desconsiderar a cultura local, resulta em fracasso.
Trabalhar em consonncia com a realidade concreta exige, por exemplo,
compreender os ritmos da natureza e trabalhar de acordo com a lgica do calendrio
agrcola. De que adianta organizar uma oficina para levantamento dos temas de
interesse da comunidade na poca em que todos esto concentrados e trabalhando na
colheita e processamento da produo?
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Apoio implementao do Programa de Educao Ambiental e Agricultura Familiar nos territrios 25
1.1.5 TODOS SOMOS EDUCADORES E EDUCANDOS, AO MESMO TEMPO
Pessoas inteligentes, que vivem pensando e tendo ideias diferentes, so
perigosas (Rubem Alves, 2012).
Aprender e ensinar so duas faces da mesma moeda. So, portanto,
indissociveis. Nas palavras de Pichon-Rivire (1991): "o ensinar e o aprender
constituem uma unidade, que devem acontecer como processo unitrio, como
experincia contnua e dialtica de aprendizagem.
Todo o mundo tem algo ou algum conhecimento a partilhar. Todos aprendemos e
acumulamos saberes a partir das experincias, ao longo da histria desde o dia em que
nascemos. Todos os agricultores conhecem prticas e formas de trabalhar que os
mantiveram at aqui. A agricultura familiar tem uma srie de conhecimentos acerca do
seu ambiente, das prticas agrcolas que realiza, de onde encontrar os recursos que
precisa, de como lidar com os animais, de como conservar os alimentos e assim por
diante, o que, tampouco, significa que os agricultores sabem tudo.
EXERCCIO
Leia a histria Nicolau tinha uma ideia, escrita por Ruth Rocha, autora de livros
infantis:
Era uma vez, um lugar onde cada pessoa s tinha uma ideia na cabea.
Joo tinha uma ideia assim: #######
Maria tinha uma ideia assim: *********
Pedro tinha uma ideia desse jeito: !!!!!!!!!!!
E Manuela tinha uma ideia desse jeitinho: +++++++++
Um dia apareceu um homem chamado Nicolau.
A ideia de Nicolau era assim: ????????
Logo que Nicolau chegou, foi procurar Joo.
E contou sua ideia a ele.
E Joo ficou com duas ideias na cabea: #?#?#?
Joo contou a ideia dele para Nicolau.
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E Nicolau ficou com duas ideias na cabea. ## ? ## ? ##
A, Nicolau foi contar sua ideia para Maria.
E Maria ficou com duas ideias na cabea. ****?*****?
E contou a Nicolau a ideia dela.
Nicolau ficou com trs ideias na cabea: ???****###???****###
Nicolau falou com Pedro, com Manuela,
E uma poro de gente mais.
Nicolau ficou cheio de ideias.
E as ideias de Nicolau comearam a se misturar umas com as outras e a formar
muitas outras ideias.
Ento, as pessoas comearam a achar que era muito divertido ter muitas ideias na
cabea.
Comearam a procurar Nicolau para ele contar as ideias que ele agora tinha.
E todo mundo foi ficando com uma poro de ideias na cabea.
A, cada um resolveu trazer os filhos para o Nicolau contar suas ideias.
Nicolau teve que arranjar um lugar grande, onde ele pudesse contar s crianas
as suas ideias.
E naquele lugar, agora, todo mundo tem uma poro de ideias."
Faa ilustraes para essa histria e reflita:
Quando Nicolau chegou naquele lugar sabia tudo o que sabia ao final da histria?
Qual foi o seu papel na histria enquanto educador?
No existe ensino sem pesquisa. E isso tem a ver com a curiosidade, com a
necessidade de fazer perguntas e as perguntas gerarem investigao. Uma boa
pergunta indicadora de que est havendo aprendizagem significativa. Para elaborar
uma boa pergunta necessrio estar interessado no assunto e ter compreendido os
conceitos que do base pergunta. A investigao pode ser feita por meio de
experimentos, de conversas com quem tem mais experincia no tema, de visitas a locais
com experincias parecidas, com a leitura de textos, assistindo filmes etc.
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1.2 ESTR ATG I AS PED AG GI CAS P AR A A EDUC A O AM BI ENTAL N A AG RI CULTUR A F AM I L I AR
A educao ambiental deve ser construda a partir de prticas educativas
que superem as formas fragmentadas do pensar e agir. Para isso, essas
prticas devem ser organizadas sob o paradigma da interdisciplinaridade,
radical e intencionalmente construdas em todos os espaos de educao
ambiental. A fragmentao das aes educativas pode ser superada pelo
paradigma da totalidade, da complexidade e da dialtica como forma de
pensar e agir, superando a primazia da lgica formal (TOZONI-REIS;
TOZONI-REIS, 2004).
1.2.1 O DIAGNSTICO SOCIOAMBIENTAL DO TERRITRIO
Ao longo do curso, voc foi adquirindo novos conhecimentos e questionando os
velhos. Ao pesquisar acontecimentos e colher informaes sobre o lugar onde vive e/ou
atua, voc iniciou, talvez sem saber, a construo de um diagnstico socioambiental do
territrio. Se voc chegou at aqui e fez os exerccios propostos, significa que voc j
sabe muito mais do que ao comear o curso e que o diagnstico que propomos agora
j foi iniciado. Voc j possui uma srie de informaes muito teis para os prximos
passos sugeridos.
Nada do que foi feito at aqui deve ser perdido. As entrevistas realizadas, as
observaes e registros feitos, os dados pesquisados, as fotos tiradas. Tudo isso
material de subsdio para o diagnstico socioambiental do territrio. O desafio agora
sistematizar, organizar, colocar em ordem aquilo que foi coletado e analisado, para que
possa ser integrado s novas informaes que sero levantadas e aos conhecimentos
que sero construdos a partir das estratgias pedaggicas propostas.
No diagnstico so identificadas e analisadas as questes socioambientais
concretas do territrio. A elaborao do diagnstico no tem o intuito de construir um
plano de ao para mudar o mundo e sim orientar as prticas pedaggicas voltadas ao
pblico envolvido com a agricultura familiar.
Se j houver um tema ou uma questo socioambiental crtica evidente no territrio, o
diagnstico pode focar mais especificamente nesse tema ou questo. Caso contrrio, o
diagnstico pode ser um meio para identificar uma questo a ser abordada numa
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Ministrio doMeio Ambiente
Apoio implementao do Programa de Educao Ambiental e Agricultura Familiar nos territrios2828
interveno socioambiental ou um tema gerador a ser trabalhado na prtica pedaggica
do grupo.
O diagnstico contribui no somente para a coleta de informaes, mas
principalmente para estimular a participao ativa e a conscientizao crtica das pessoas
envolvidas. Portanto, um processo de sensibilizao e mobilizao social.
Uma vez que o territrio unidade de referncia para os processos de investigao,
aprendizagem e interveno pretendidos, desde o primeiro captulo vimos estudando o
conceito de territrio. Retomamos de forma breve essa discusso.
Para o PEAAF, o territrio entendido como um espao geogrfico transformado
pelas relaes sociais e a ao humana sobre a natureza, que possui caractersticas
econmicas, polticas e ambientais prprias, cujo uso definidor da histria de vida e
criador da identidade cultural de uma sociedade e do sujeito no mundo.
A noo do territrio comporta, portanto, dimenses materiais e imateriais da
realidade social e seus limites no so determinados exclusivamente por aspectos
poltico-administrativos, mas principalmente pelo sentimento de pertencimento por grupos
e indivduos com o lugar que habitam e/ou se reproduzem social, econmica e
culturalmente.
Segundo Veiga (2002), o rural necessariamente territorial e no setorial como
costumam considerar muitos programas governamentais. Para esse autor, as relaes
existentes entre o urbano e o rural no mais corresponderiam antiquada dicotomia
entre cidade e campo, tendo esta sido substituda por um arranjo varivel no qual
passaram a ser cada vez mais cruciais as aglomeraes e as microrregies. Assim,
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Apoio implementao do Programa de Educao Ambiental e Agricultura Familiar nos territrios 29
preciso considerar a relao entre espaos mais urbanizados e espaos onde os
ecossistemas permanecem menos artificializados, ou seja, espaos rurais para a
definio de uma estratgia realista de desenvolvimento, baseada numa articulao
horizontal de intervenes.
Para Milton Santos (1998), o territrio entendido como o espao habitado no qual
se estabelecem relaes de poder horizontais e verticais. As horizontalidades so
entendidas como domnios de contiguidade, ou seja, representam lugares vizinhos
reunidos por uma continuidade territorial. As verticalidades configuram-se em pontos
distantes uns dos outros, que seriam ligados por formas e processos sociais de
globalizao. Evidentemente que essas formas de globalizao coabitam os espaos
fsicos. A diferena encontra-se nas funcionalizaes dos territrios, nos seus usos. Nessa
perspectiva, o autor destaca a possibilidade de conflitos entre o espao local e fsico e o
espao global, habitado por um contedo ideolgico de origem distante e que chegam a
cada lugar com os objetos e as normas estabelecidos para servi-los (verticalidades).
Numa viso crtica com relao globalizao, considerando que esta atende a
interesses de poucos atores que propagam seus interesses como estruturantes do
desenvolvimento, como pode ser visto em relao agricultura com o incentivo
monocultura, aos latifndios e adoo de produtos qumicos para aumento da
produtividade agrcola, Milton Santos confere grande expectativa mobilizao dos
indivduos de um dado territrio, para resistncia e busca de solues coletivas para os
problemas compartilhados pelas respectivas comunidades. Apesar da predominncia
atual de verticalizao dos territrios, o autor observa perspectivas de horizontalizao
das relaes sociais:
Um exemplo a maneira como produtores rurais se renem para
defender seus interesses, o que lhes permitiu passar de um
consumo puramente econmico, necessrio s respectivas
produes, a um consumo poltico localmente definido e que tambm
distingue as regies brasileiras umas das outras. Devemos ter isso
em mente, ao pensar na construo de novas horizontalidades
que permitiro, a partir da base da sociedade territorial, encontrar
um caminho que nos libere da maldio da globalizao perversa que
estamos vivendo e nos aproxime da possibilidade de construir
o utra globalizao, capaz de restaurar o homem na sua dignidade
(SANTOS, 1998, p. 20).
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Apoio implementao do Programa de Educao Ambiental e Agricultura Familiar nos territrios3030
Para no recairmos no erro de uma educao ambiental descontextualizada,
temos o diagnstico socioambiental como ponto de partida para o processo educativo.
No intuito de avanar no entendimento da realidade, com vistas interveno organizada,
coletiva e qualificada dos grupos sociais que habitam o territrio, utilizaremos quatro
conceitos de referncia, conforme sugerido por Loureiro e colaboradores (2007, p. 17).
So eles:
Vulnerabilidade socioambiental de grupos que esto:
a) em maior dependncia direta dos recursos naturais (industrializados ou no, bem
como de seus rejeitos) para trabalhar e melhorar suas condies de vida;
b) excludos do acesso aos bens pblicos;
c) ausentes de participao em processos decisrios de polticas pblicas que
interferem na qualidade do local em que vivem.
Potencialidade socioambiental conjunto de atributos de um ecossistema passveis de uso sustentvel por grupos sociais. So considerados tambm os
desdobramentos decorrentes de impactos positivos provocados pelos usos desses
recursos.
Problema socioambiental quando h risco e/ou dano socioambiental, com a possibilidade de haver diferentes tipos de reao a ele, visando a sua soluo por parte
das pessoas atingidas ou de outros agentes da sociedade civil e/ou do Estado.
Conflito socioambiental quando h confronto de interesses incompatveis (implcitos ou explcitos) entre agentes, no uso de recursos e na gesto (sustentvel ou
no) do ambiente. Podemos afirmar que, nesse sentido, um conflito evidencia uma
situao em que agentes sociais na natureza se opem em relao ao uso de recursos,
bem como s limitaes legais associadas.
O trabalho com esses quatro conceitos visa garantir a investigao das questes
socioambientais concretas do territrio, criando bases para intervenes cada vez mais
autnticas, desafiadoras e transformadoras. A identificao de grupos em situao de
vulnerabilidade socioambiental e das potencialidades, problemas e conflitos
socioambientais entre diferentes agentes que atuam no territrio, permite a anlise da
situao socioambiental vivida pela agricultura familiar, a partir do seu lugar de vida,
convivncia, trabalho e relaes sociais.
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Apoio implementao do Programa de Educao Ambiental e Agricultura Familiar nos territrios 31
O processo de diagnstico deve ser planejado passo a passo. Quem realiza? Quem
participa? Qual o papel de cada membro da equipe? Que informaes so necessrias
para a compreenso da realidade socioambiental do territrio? Que lugares e instituies
devem ser visitadas?
recomendvel fazer uma pesquisa de dados secundrios, ou seja, dados j
publicados em livros, artigos de revistas, jornais, mapas, imagens areas etc. Visitar o site
do IBGE (http://www.ibge.gov.br) e acessar suas publicaes uma boa dica para
conseguir informao de fontes seguras.
Para que o diagnstico seja efetuado, alm de todas as informaes e
conhecimentos j adquiridos e registrados, que precisam estar organizadas e
sistematizadas para um bom uso, sugerimos que sejam chamadas outras pessoas para
uma primeira reunio de planejamento do diagnstico.
Com os dados secundrios em mos (se houver), realizar reunies de diagnstico e
pesquisas de campo que possibilitem formas de anlise direta sobre a existncia de
grupos em situao de vulnerabilidade socioambiental, potencialidades, problemas e
conflitos socioambientais.
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Apoio implementao do Programa de Educao Ambiental e Agricultura Familiar nos territrios3232
Algumas questes para esses momentos, pensadas com base nos quatro conceitos
de referncia sugeridos para a elaborao do diagnstico:
Vulnerabilidade socioambiental
Existem grupos sociais do territrio que esto:
- em maior dependncia direta dos recursos naturais para trabalhar e melhorar suas
condies de vida?
- em reas de risco (mais suscetveis a acidentes ou desastres ambientais)?
- em contato regular com substncias txicas ou perigosas?
- excludos do acesso aos bens pblicos?
- ausentes de participao em processos decisrios de polticas pblicas que
interferem na qualidade do local em que vivem?
Potencialidade socioambiental
Quais os atributos dos ecossistemas locais passveis de uso sustentvel pelos
grupos sociais do territrio?
- Quais atividades econmicas, sociais e culturais podem ser desenvolvidas a partir
do uso sustentvel dos recursos ambientais do territrio?
- Existem impactos positivos provocados pelo uso desses recursos? Se sim, quais?
Problema socioambiental
- h riscos e/ou danos socioambientais no territrio que precisam ser enfrentados?
- que tipo de soluo por parte das pessoas atingidas ou de outros agentes da
sociedade civil e/ou do Estado pode ser efetivada?
Conflito socioambiental
h confronto de interesses incompatveis entre agentes sociais no uso de recursos
e na gesto do ambiente?
- h evidncia de situao em que agentes sociais se opem em relao ao uso de
recursos ambientais, bem como de limitaes legais associadas?
EXERCCIO
Responda essas questes sobre os quatro conceitos do diagnstico socioambiental
do territrio
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Apoio implementao do Programa de Educao Ambiental e Agricultura Familiar nos territrios 33
Essas questes propostas podem orientar a elaborao do diagnstico, servindo
para pesquisas de campo, reunies, oficinas etc. Numa reunio de diagnstico, podem
ser distribudas aos participantes tarjetas para responder essas e outras questes, e pedir
para cada pessoa anotar sua percepo sobre o tema analisado. Em seguida, as tarjetas
podem circular ou ser fixadas em local apropriado para que as demais pessoas possam
ler e discutir o que foi escrito. Se o grupo for grande, dividir em subgrupos uma boa
alternativa para um debate mais proveitoso.
Havendo tempo disponvel, o diagnstico pode durar um perodo longo. Caso
contrrio, a opo realizar um Diagnstico Rpido Participativo (DRP).
EXERCCIO
Para conhecer uma proposta de DRP, assistir ao vdeo Diagnstico rpido
participativo ambiental - DRPA, que se encontra no link:
.
Responda: Quais as principais etapas de realizao de um DRPA?
SAIBA MAIS...
Sobre metodologias participativas voltadas para o diagnstico, monitoramento,
avaliao e reprogramao de estratgias de desenvolvimento rural sustentvel, consulte
Diagnstico Rural Participativo - Um guia prtico, de Miguel Expsito Verdejo, publicado
pela Secretaria da Agricultura Familiar do Ministrio do Desenvolvimento Agrrio e
disponvel em: .
O diagnstico no um produto acabado. Est em permanente construo e
reviso. medida que a conscincia do grupo sobre a situao socioambiental vivida se
amplia, de se esperar que o diagnstico se modifique e incorpore novas questes e
diferentes olhares sobre o que foi analisado inicialmente. Alm disso, o mundo est em
constante transformao. O que era ontem pode no ser mais hoje e, provavelmente, no
ser amanh. Esse dinamismo social provoca o surgimento de novas determinaes na
constituio da realidade concreta condicionada.
Antes de passarmos s trs estratgias pedaggicas principais propostas no
mbito do PEAAF (pesquisa-ao participante, investigao de temas geradores e
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Apoio implementao do Programa de Educao Ambiental e Agricultura Familiar nos territrios3434
educomunicao), apresentaremos algumas ferramentas que podem ser teis no
contexto da educao ambiental e realizao do diagnstico. Essas ferramentas,
enquanto metodologias de anlise da realidade, so utilizadas, preferencialmente, em
trabalhos em grupo. Quando o grupo for selecionar a metodologia, deve-se perguntar:
- que tipo de informao relevante de ser buscada?
- a ferramenta selecionada possibilita o levantamento das informaes desejadas?
- h capacidade e tempo disponvel para analisar todas as informaes que sero
geradas por essa metodologia?
Vejamos algumas ferramentas de diagnstico:
PESQUISA DE CAMPO
Atividades de pesquisa de campo, adaptado de Verdejo (2010) e Habermeier (1995):
Observao direta: observar com olhos atentos a paisagem, as habitaes, as plantaes, a infraestrutura, os equipamentos pblicos (hospitais, escolas, praas etc.),
as pessoas e como elas se comportam. Ouvir as histrias das pessoas e sua percepo
sobre o lugar onde vivem, os sentimentos, os descontentamentos, as dvidas, os desejos
e os sonhos.
Observao participante: o objetivo compreender a percepo da realidade pela comunidade, entendendo por que agem dessa ou de outra maneira, antes de opinar
e de propor "uma soluo lgica". Muitas vezes, o comportamento dos agricultores muito
mais lgico do que parece inicialmente, s que no sabamos o "por qu". Esse por que,
frequentemente, descoberto quando participamos e convivemos nas tarefas cotidianas
de uma comunidade.
Questionrio: no o principal instrumento de um diagnstico socioambiental, mas pode ser importante para coletar de informaes. Nesse sentido, deve-se avaliar bem
o que se quer saber para no elaborar um questionrio muito grande, com perguntas que
no vo levar a lugar algum. Sugere-se que as questes sejam, em sua maioria,
fechadas, ou seja, o entrevistado responde de acordo com opes previamente
estabelecidas. Isso permite a produo de estatsticas, grficos e tabelas que facilitam a
anlise e a compreenso dos dados. Recomenda-se tambm que o questionrio seja
aplicado aps entrevistas com as lideranas, reunies com os agricultores e discusses
em grupo, para que se tenha maior certeza das questes a serem formuladas. Outra
sugesto aplicar, inicialmente, um questionrio-piloto para testar se as questes foram
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Apoio implementao do Programa de Educao Ambiental e Agricultura Familiar nos territrios 35
bem formuladas. mais proveitoso quando os questionrios so aplicados por equipe
formada por pessoas da prpria comunidade.
Entrevistas semiestruturadas: compreender as razes de determinado tema demanda um aprofundamento. Recomenda-se a realizao de entrevistas
semiestruturadas pois isso permite um foco no tema em questo, ao mesmo tempo que
d liberdade ao pesquisador para fazer novas perguntas, de acordo com as respostas
fornecidas. Porm, recomendvel que se estabelea, previamente, o tempo que o
entrevistado dispe, para que a entrevista no se prolongue.
Verdejo (2010) d algumas dicas para uma boa entrevista:
Explique suas intenes e procure a aprovao da pessoa entrevistada;
Leve em considerao os desejos da pessoa entrevistada, sem impor seus
critrios;
Respeite o conhecimento e opinio da pessoa entrevistada, mesmo sem
compartilh-la;
Evite perguntas sugestivas como, por exemplo, verdade que voc prefere a
agricultura orgnica?
LINHA DO TEMPO
Relembrar fatos e momentos da histria do lugar, do projeto, da comunidade e do
plantio, e construir uma forma de visualizao atrativa (desenho, esquema, maquete etc.).
Para a construo da linha do tempo, podem ser feitas entrevistas com os mais velhos,
procurar fotos e filmes que retratem a histria do lugar, jornais antigos etc.
MAPAS E MAQUETES
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Apoio implementao do Programa de Educao Ambiental e Agricultura Familiar nos territrios3636
Os mapas e as maquetes mostram, de maneira visualmente atraente e lgica, os
diferentes elementos do uso do espao, enfocando os temas de interesse (recursos
naturais, fluxo de produo, ameaas ao ambiente, oportunidades etc.). Podem ser
distinguidas as reas ocupadas pelos habitantes, recursos da flora e fauna, zonas de
cultivos, construo de infraestrutura social, reas problemticas e em conflito, limites etc.
Um mapa serve para anlise e discusso sobre a situao atual do territrio, por meio de
uma concepo compartilhada sobre a utilizao do espao e dos recursos. Serve
tambm de base para identificar espacialmente potencialidades e problemas
socioambientais.
Maquetes e mapas podem ser feitos utilizando papel, lpis, caneta, giz de cera ou
recursos como areia, pedras, folhas etc. O importante que o mapa seja construdo de
forma dialgica e reflexiva. No se trata de somente colocar, mecanicamente, os
elementos no mapa, mas de fazer uma anlise crtica da relao espacial entre eles, do
papel de cada um na paisagem, assim por diante.
PARA REFLETIR...
" interessante, que a gente se situa: onde eu estou. Eu estou no mundo. E a gente
se localizou nesse mundo. Aqui um pequeno espao do municpio. E eu fao parte da
histria do municpio. isso aqui que sou eu". Reflita sobre essa fala de uma participante
diante de um mapa construdo coletivamente em Cafarnaum (BA), num processo de
formao na Escola Umbuzeiro. Vdeo disponvel em:
http://www.youtube.com/watch?v=aj_GFfiF3z8.
Exemplo de mapa dos recursos naturais de uma comunidade (VERDEJO, 2010):
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EXERCCIO
Construa participativamente um mapa do territrio que contenha as informaes
consideradas relevantes para o grupo. Se o territrio for muito extenso, pode-se fazer um
mapa de apenas uma poro do territrio a ser focada, em razo de algum problema ou
conflito socioambiental, por exemplo. Esse mapa deve realar os recursos naturais, os
equipamentos pblicos, os grupos atuantes no territrio (indicando se algum grupo est
em situao de vulnerabilidade socioambiental), bem como potencialidades para uma
interveno socioambiental.
PARA REFLETIR...
A elaborao do diagnstico, por si s, j parte do processo de construo
coletiva do conhecimento, sendo, portanto, um processo educativo. As prticas
pedaggicas propostas, por sua vez, vo fornecer novos elementos para o diagnstico.
Assim, ao mesmo tempo que o diagnstico serve s prticas pedaggicas, as prticas
pedaggicas servem ao diagnstico.
Por exemplo, por meio do diagnstico, podemos chegar em temas geradores. E a
partir da investigao do tema gerador, podemos ter um novo diagnstico da situao.
Portanto, enquanto leitura sistematizada do mundo, o diagnstico no um documento
para ficar na gaveta e sim um processo dinmico que precisa ser continuamente
alimentado.
Feitos todos os levantamentos e a sistematizao dos dados, hora de analisar e
interpretar os resultados. importante que os resultados sejam partilhados e discutidos
com todos os participantes e autores do diagnstico: equipe que entrevistou os
agricultores nas comunidades, assim como as lideranas sindicais e comunitrias que
participaram em diversas etapas do trabalho. O ideal que essa etapa seja feita em grupo,
com todas as pessoas que puderem e quiserem participar.
Passemos agora s estratgias pedaggicas para a educao ambiental na
agricultura familiar.
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1.2.2 A PESQUISA-AO PARTICIPANTE
Uma pesquisa pode ser qualificada de pesquisa-ao quando houver
realmente uma ao por parte das pessoas ou grupos implicados no
problema sob observao. Alm disso, preciso que a ao seja uma
ao no trivial, o que quer dizer uma ao problemtica merecendo
investigao para ser elaborada e conduzida (THIOLLENT, 2000, p. 15).
A pesquisa-ao teve origem nos trabalhos do psiclogo social Kurt Lewin, em
1939, na rea de Psicossociologia. Segundo Tassara (2008), Lewin props a pesquisa-
ao como uma forma de ao investigativa sobre o campo social, comprometida com
a transformao social e a intensificao da democracia nas relaes sociais, no interior
dos grupos sob investigao, ou da vida social como um todo. Sua proposio inaugurou
uma forma de pesquisa social politicamente engajada, tendo como referncia a utopia
de uma sociedade emancipada, e envolvendo a interveno, concomitantemente com a
investigao, sobre o campo social em anlise.
Thiollent (2000) caracteriza a pesquisa-ao como um tipo de pesquisa social com
base emprica, que concebida e realizada em estreita associao com uma ao ou
com a resoluo de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes
representativos da situao ou do problema esto envolvidos de modo cooperativo ou
participativo.
Como nos diz Viezzer (2005, p. 283), a pesquisa participante no s porque a
pesquisadora ou pesquisador social saem do escritrio para trabalhar no campo, mas
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tambm porque os grupos envolvidos saem do silncio e do espao de opresso que a
sociedade lhes impe, para participarem de um processo onde aprendem a descobrir,
compreender e analisar a realidade e repassar adiante o conhecimento adquirido.
Loureiro (2007) assinala que trs elementos devem estar presentes nessa opo
metodolgica: resoluo de problemas, tomada de conscincia e produo de
conhecimento. Na pesquisa-ao participante h compromisso poltico com a
emancipao e com a ao reflexiva, articulando teoria e prtica para compreender as
mltiplas relaes que formam a realidade e transform-la no sentido de fazer com que
todos e todas exeram sua cidadania e aprendam no processo (LOUREIRO, 2007. p.
13).
Para avanar na construo de novos saberes, preciso escapar de um basismo,
no qual apenas o conhecimento popular vlido. O uso de tcnicas participativas no
garante, por si s, a superao do senso comum que pode existir acerca da problemtica
tratada. Para irmos alm do senso comum, no devemos, pois, desprezar o
conhecimento universal acumulado. Conforme expe Iasi (2011, p. 160), um dos
aspectos da prtica educativa consideramos mesmo um aspecto fundamental o
de socializar conceitos e categorias que so ferramentas essenciais para a
compreenso da realidade. Na pesquisa-ao participante o que se busca superar as
vises ou percepes individuais da realidade, por meio da reflexo sobre o contexto
que se encontra os educandos participantes dos processos de pesquisa e o
conhecimento anterior que lhes d base para avanar na produo de novos saberes.
O educador ambiental , por sua natureza, um pesquisador em potencial. Assim,
no contexto da educao ambiental na agricultura familiar, essa forma de pesquisa
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social deve auxiliar os trabalhadores rurais a desenvolverem uma conscincia crtica
sobre as problemticas socioambientais do territrio, de modo a orientar sua ao para
a transformao das relaes sociais e produtivas vigentes. Vamos supor que nas
primeiras conversas de diagnstico do territrio, a estrutura fundiria e a degradao
ambiental provocada por sistemas de monocultivo tenham sido destacadas como
questes a serem enfrentadas pelo grupo de participantes. Para atuar nesse sentido, foi
decidido pesquisar a relao entre a concentrao de terra e os problemas
socioambientais do territrio. Inicialmente, poderia ser investigado por quem a terra foi
ocupada ao longo da histria no territrio analisado. Pode-se incentivar o grupo a
pesquisar se existiram disputas relacionadas ocupao da terra e aos recursos
ambientais do territrio. Aprofundando a investigao, seria importante levantar quais
foram as prticas produtivas desenvolvidas pelas populaes que viveram l. A melhor
compreenso dos diferentes impactos ambientais decorrentes do desenvolvimento e
ocupao do territrio serviria de base para a pesquisa-ao participante seguir na
sequncia para o entendimento da situao atual. Nesse sentido, a busca por entender
o processo histrico de conformao do territrio contribui para que os trabalhadores
rurais, de forma coletiva, ampliem sua viso sobre os problemas e conflitos
socioambientais existentes no momento. Assim, preciso colocar em prtica estratgias
para uma ao poltica organizada e qualificada de enfrentamento da situao
analisada.
PARA REFLETIR...
A pesquisa em educao ambiental produz conhecimentos que tenham relevncia
cientfica e social ao mesmo tempo que modifica, e at transforma as condies
socioambientais das quais se ocupa (TOZONI-REIS; TOZONI-REIS, 2004, p. 13).
Da observao coletiva do mundo, surgem perguntas e tambm ideias de como
fazer diferente e melhor. medida que o grupo analisa e faz uma reflexo dialgica e
crtica da situao, constri novos conhecimentos que se materializam na prtica do
grupo, por meio da ao coletiva. A ao produz resultados e, no dilogo, tiram-se
concluses. Novas perguntas e novas ideias surgem, dando origem a novos ciclos de
pesquisa-ao. nessa ao coletiva de interveno e reflexo sobre o mundo que o
sujeito elabora seus conhecimentos e avana no entendimento da realidade
socioambiental.
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1.2.2.1 A PRODUO DE CONHECIMENTOS NA PESQUISA-AO PARTICIPANTE
Devemos ressaltar que, como qualquer modalidade de pesquisa, a pesquisa-ao
participante objetiva, em princpio, produzir conhecimento sobre o tema a ser estudado.
A inovao dessa metodologia reside nas diferenas processuais desse tipo de
pesquisa. A partir da participao efetiva dos sujeitos diretamente envolvidos no
contexto da pesquisa e de sua prpria observao sobre o ambiente e os problemas
que direta e indiretamente o afetam, que se criam os conceitos que culminam em ao.
Esse conhecimento produzido socialmente pelo grupo to importante para o
desenvolvimento desta metodologia quanto o conhecimento cientfico trazido pelo meio
acadmico.
A explicitao dos conhecimentos prvios, para o grupo que prope uma atividade
em pesquisa-ao participante, surge como um ponto de partida, um primeiro olhar
sobre a realidade a ser estudada e sobre os contextos que precisam ser observados.
Mas, como um primeiro olhar, ainda pobre de reflexo, no sentido de que muito mais
relacionado ao viver o cotidiano, experincia corrida do dia a dia, do que uma reflexo
construda sobre essa experincia, no que se refere ao conhecimento dos
condicionantes que interferem em tais situaes. assim que essa metodologia
contribui. O senso comum construdo a partir das experincias sobre a realidade, muitas
vezes pouco refletidas, deve ser superado por um novo conhecimento, resultado da
pesquisa reflexiva sobre essa realidade, de todas as determinaes que a constroem,
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do papel do indivduo neste processo, do entendimento da responsabilidade de cada
um. Do crescimento desse primeiro olhar unio com o saber sistematizado, cientfico
que fornece instrumentos elaborao sistemtica para o conhecimento dessa
realidade , surge um novo saber, o saber pensado, contextualizado tanto para o
pesquisador acadmico quanto para o pesquisador comunitrio, aquele que o resgatou
e compreendeu, dentro de suas circunstncias.
Esse saber que agora no s fruto do cotidiano, mas da articulao deste com
novos conhecimentos, da interao entre realidades diferentes, no apenas
instrumentaliza o sujeito para compreender os processos histricos, sociais e culturais
que o fazem oprimido como tambm imprimem no sujeito a autonomia necessria
possibilidade do fazer e do agir sobre essa realidade.
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1.2.2.2 A APRENDIZAGEM NO PROCESSO DA PESQUISA-AO PARTICIPANTE
Um aspecto fundamental do trabalho com essa metodologia o seu carter
educativo. Segundo Thiollent (2000), a pesquisa-ao no pode correr o risco de se
transformar em ativismo. Sua pretenso possibilitar o desenvolvimento do nvel de
conscincia e do conhecimento dos envolvidos. Portanto, os princpios terico-
metodolgicos da pesquisa-ao participante aproximam-se dos princpios terico-
metodolgicos da educao ambiental crtica.
O ambiente est em processo contnuo e dinmico de
transformao, resultante de fenmenos naturais e aes
antrpicas. Uma proposta pedaggica de educao ambiental tem
que contemplar essas alteraes, considerando que os grupos
sociais se apropriam de maneiras diferentes dos recursos naturais,
em funo de fatores histricos, econmicos e culturais. As leituras
e releituras que fazemos do ambiente se inserem nesse contexto de
formas diferenciadas, sendo balizadas pelo processo de produo e
pelo mundo do trabalho, do ldico, do imaginrio, das crenas e dos
rituais (MEYER, 1991, p. 42).
Thiollent (2000) afirma que, do ponto de vista cientfico, a metodologia da pesquisa-
ao possibilita a organizao da pesquisa social sem enfatizar os procedimentos
convencionais de produo de dados, permitindo maior flexibilidade tanto dos meios de
aplicao como da concepo. Esse tipo de pesquisa pode gerar informaes advindas
da prpria mobilizao social, isto , da ao intencional dos sujeitos diante de temas
problematizados. Alm disso, alia o saber sistematizado do pesquisador ao saber
espontneo, prtico, dos agentes sociais envolvidos, gerando diversas informaes
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significativas. O resultado dessas interaes o desenvolvimento pedaggico da
pesquisa no que se refere ao reconhecimento, pelos envolvidos, dos instrumentos
metodolgicos cientficos e da problematizao dos temas referentes ao entendimento
da realidade.
1.2.2.3 ETAPAS DA PESQUISA-AO PARTICIPANTE
De modo geral, a pesquisa-ao participante possui algumas caractersticas, como
enumerado em Gajardo (1999, p. 75):
1. Explicitao de uma intencionalidade poltica e uma opo de trabalho junto aos
grupos mais relegados da sociedade;
2. Integrao de investigao, educao e participao social como momentos de
um processo centrado na anlise das contradies que mostram com maior clareza os
determinantes estruturais da realidade vivida e enfrentada como objeto de estudo;
3. Incorporao dos setores populares como atores de um processo de
conhecimento, no qual os problemas definem-se em funo de uma realidade concreta
e compartilhada, cabendo aos grupos decidir a programao do estudo e as formas de
encar-la;
4. Sustentao das qualidades de investigao e ao educativa sobre uma base
(ou grupo) organizada, de maneira que essa atividade no culmine em uma resposta de
ordem terica, mas na gerao de propostas de ao expressadas em uma perspectiva
de mudana social.
Vasconcellos (1997, p. 126) aponta requisitos indispensveis metodologia da
pesquisa-ao, que so:
A existncia de uma pergunta que se deseja responder;
A elaborao (e sua descrio) de um conjunto de passos que permitam
obter a informao necessria para respond-la;
A indicao do grau de confiabilidade na resposta obtida.
A primeira etapa de elaborao do projeto de pesquisa-ao a formao do grupo
de trabalho, por meio de convite. Aps a formao do grupo, seguem os processos de
escolha do tema, do tipo de atuao necessria para agir sobre ele, e quais sero as
formas de observao dos resultados obtidos. Essas etapas, apresentadas por Angel
(2000, p. 50), so:
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Devemos ressaltar que todas as etapas devem ser produto de consensos gerados
por todo o grupo de pesquisadores. a partir de decises coletivas que se estruturam,
portanto, os temas e os procedimentos estipulados na primeira etapa. A segunda etapa,
que um processo cclico, consiste na ao propriamente dita, onde nota-se a
importncia da observao e da reflexo sobre as aes empreendidas tanto na
elaborao de novos planos como na produo de conhecimento, inerente reflexo e
pesquisa sobre os acertos e erros das aes anteriormente realizadas.
A etapa final, no menos importante, consiste na divulgao analtica, que deve
ser realizada como forma de socializar os resultados da pesquisa.
1.2.2.4 A FORMAO DO GRUPO DE PESQUISA-AO PARTICIPANTE
A formao do grupo de participantes na pesquisa-ao tarefa complexa que
exige investimento e dedicao dos pesquisadores envolvidos. Um grupo no a soma
de vrios indivduos, mas a interao entre eles, que reflete as formas como os
indivduos percebem e atuam sobre o mundo, a partir de suas realidades. Por meio dos
debates e reflexes que ocorrem, o grupo adquire um carter prprio e nico, que diz
respeito ao conjunto de pessoas diante de situaes que querem resolver. A primeira
etapa da pesquisa-ao, isto , a formao do grupo de pesquisa, depende em grande
parte das formas como o grupo compreende e atua em sua realidade concreta. Tambm
depende de como o grupo enfrenta as mudanas que ele sofre, ao longo de seu
processo de formao e do prprio processo de pesquisa, o que indica que o grupo
nunca vai estar livre de conflitos. Os conflitos, nesta perspectiva, no so
necessariamente situaes negativas ou antagnicas ao trabalho coletivo, mas estgios
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de mudana, nos quais o grupo, por meio de suas relaes internas e externas, emerge
em uma nova situao (PICHON-RIVIRE, 1991).
preciso considerar que esses grupos fazem parte de algo maior, de uma histria
que os movimenta. Para Del-Cueto e Fernndez (1985), todas as situaes que ocorrem
internamente e externamente ao grupo o influenciam.
Faz parte da operacionalizao do grupo dividir tarefas, o que facilita o andamento
dos trabalhos e possibilita maior voluntariedade no envolvimento com o trabalho
coletivo, como arremata Morin (2004, p.132):
No plano da cogesto, espera-se que todas as decises, para as
diferentes tarefas de pesquisa e de ao, sejam tomadas por todos os
atores. Isso o nvel mais difcil de ser alcanado porque considerado
como obrigao de deciso, s vezes, mesmo nos menores detalhes.
SAIBA MAIS...
Sobre pesquisa-ao participante, leia o texto Conhecer, transformar e educar:
fundamentos psicossociais para a pesquisa-ao participante em educao ambiental,
de Marlia Freitas de Campos Tozoni-Reis e Jos Roberto Tozoni-Reis, que se encontra
disponvel no link:
Como enfatizado, a pesquisa-ao participante requer a escolha de um tema a ser
estudado. Passaremos, a seguir, discusso sobre a investigao de temas geradores
que pode auxiliar o desenvolvimento da pesquisa-ao no sentido de definir as
temticas que o grupo social envolvido ir problematizar e tornar esse processo de
pesquisa participativa o mais pedaggico possvel.
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1.2.3 INVESTIGAO DE TEMAS GERADORES
A metodologia de investigao de temas geradores discutida por Paulo Freire em
sua famosa obra Pedagogia do Oprimido, referncia principal para esta estratgia
pedaggica.
Capa da 11 Edio da Obra
Segundo Freire, os temas so chamados de geradores porque qualquer que seja
a natureza de sua compreenso, como a ao por eles provocada, contm em si a
possibilidade de desdobrar-se em outros tantos temas que, por sua vez, provocam
novas tarefas histricas a serem cumpridas.
Nessa obra, o notvel educador discute a investigao temtica como estratgia
para que os homens no fiquem na periferia dos problemas, pelo contrrio, que tenham
uma compreenso crtica da totalidade em que esto imersos. Este o esforo da
investigao do tema gerador: propor aos indivduos dimenses significativas de sua
realidade, cuja anlise crtica lhes possibilite reconhecer a interao de suas partes
(FREIRE, 1987, p. 55).
A origem da ideia de tema gerador est nas aes de alfabetizao de adultos,
realizadas na dcada de 1960 por Paulo Freire. Primeiro, eram identificadas as palavras
geradoras, palavras significativas no contexto dos educandos. A partir da
problematizao e discusso crtica do significado das palavras geradoras que se fazia
sua decomposio e apresentavam as slabas e os fonemas que as constituam. Os
educandos aprendiam a ler e escrever a partir da contextualizao das palavras e frases
que eram significativas na sua realidade. Na ps-alfabetizao, a educao
problematizadora busca e investiga o tema gerador, o que possibilita debates mais
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aprofundados sobre as questes que as palavras geradoras apenas sugerem
(BRANDO, 1981).
Investigar o pensar dos homens referido realidade, investigar seu atuar sobre
a realidade, que sua prxis. Freire enfatiza que apenas os seres humanos, por sua
ao sobre o mundo que cria o domnio da cultura e da histria, so seres da prxis. E
quanto mais assumam os homens uma postura ativa na investigao de sua temtica,
tanto mais aprofundam a sua conscincia em torno da realidade e, explicitando sua
temtica significativa, se apropriam dela (FREIRE, 1987, p. 56).
O tema gerador precisa ter significado concreto para a vida dos educandos. S
assim, pode possibilitar um processo de conscientizao da realidade opressora vivida
nas sociedades desiguais. Sendo processo de busca, de conhecimento e de criao, a
investigao temtica possibilita que os sujeitos descubram, no encadeamento dos
temas significativos, a interpenetrao dos problemas.
Por isso, a investigao se far to mais pedaggica quanto mais crtica e
to mais crtica quanto, deixando de perder-se nos esquemas estreitos das
vises parciais da realidade, das vises "focalistas" da realidade, se fixe
na compreenso da totalidade (FREIRE, 1987, p. 57, grifo do autor).
Propagador de uma educao dialgica, Paulo Freire entende que o dilogo
comea na busca do contedo programtico. A organizao do contedo programtico
da educao deve partir da situao presente e da aspirao das massas populares
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para, em dilogo com elas, conhecer a objetividade em que esto e a conscincia dessa
objetividade. Da que a investigao de seus temas geradores requer a anlise do
contexto significativo em que o povo se encontra, sua linguagem e seu pensar.
A investigao dos temas geradores uma estratgia para a educao ambiental
por possibilitar que os educandos possam pensar o mundo e perceber, de forma crtica,
as questes socioambientais que fazem o mundo ser o que no momento presente.
Para tal, preciso organizar a prtica pedaggica para o trabalho coletivo de
investigao temtica, a partir do material de pesquisa produzido no processo de
reconhecimento da realidade socioambiental do territrio. Processo esse que deve
contar com a participao ativa daqueles que vivem no territrio. Todo o material de
pesquisa deve ser discutido com as pessoas do lugar.
A investigao temtica deve direcionar a prtica pedaggica para o estmulo e o
fortalecimento de uma conscincia crtica sobre a problemtica ambiental e social,
como estabelece a Poltica Nacional de Educao Ambiental, no seu art. 5o, inciso III.
Uma vez compreendido que as relaes entre sociedade e natureza tm historicidade,
precisamos evocar uma leitura problematizadora da realidade e do espao. Como
ressalta Freire (1987, p. 51), na existncia do homem o aqui no somente um espao
fsico, mas tambm um espao histrico.
Como realizar essa investigao no mbito da educao ambiental na agricultura
familiar? Como ponto de partida para a investigao social, devem ser observadas e
tomadas temticas socioambientais consideradas relevantes para os sujeitos sociais.
Os conceitos de vulnerabilidade socioambiental, potencialidades, problemas e conflitos
socioambientais trabalhados no diagnstico socioambiental colaboram com esse fim.
Objetiva-se, assim, o entendimento dos determinantes sociais e histricos dos
problemas e conflitos socioambientais do territrio. Isso favorece que as temticas
socioambientais estejam sempre contextualizadas, carregadas de contedo social,
cultural e histrico para o educando.
Tozoni-Reis (2006, p. 108) chama a ateno para o seguinte:
ao tomar os temas ambientais como temas g