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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA MARIANA PEREIRA DEMARCHI COSTA APLICAÇÃO DA METODOLOGIA TPM PARA A REDUÇÃO DA PERDA DE EXTRATO EM UMA ENCHEDORA DE LATAS Lorena - SP 2014

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA

MARIANA PEREIRA DEMARCHI COSTA

APLICAÇÃO DA METODOLOGIA TPM PARA A REDUÇÃO DA PERDA DE

EXTRATO EM UMA ENCHEDORA DE LATAS

Lorena - SP

2014

MARIANA PEREIRA DEMARCHI COSTA

APLICAÇÃO DA METODOLOGIA TPM PARA A REDUÇÃO DA PERDA DE

EXTRATO EM UMA ENCHEDORA DE LATAS

Monografia apresentada à Escola de Engenharia de Lorena – Universidade de São Paulo como requisito legal para obtenção de título de Engenheiro Químico, sob orientação do Prof. Dr. Marco Antônio Carvalho Pereira.

Lorena - SP

2014

AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIOCONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA AFONTE

Ficha catalográfica elaborada pelo Sistema Automatizadoda Escola de Engenharia de Lorena,

com os dados fornecidos pelo(a) autor(a)

Costa, Mariana Pereira Demarchi APLICAÇÃO DA METODOLOGIA TPM PARA A REDUÇÃO DAPERDA DE EXTRATO EM UMA ENCHEDORA DE LATAS /Mariana Pereira Demarchi Costa; orientador MarcoAntonio Carvalho Pereira. - Lorena, 2014. 50 p.

Monografia apresentada como requisito parcialpara a conclusão de Graduação do Curso de EngenhariaQuímica - Escola de Engenharia de Lorena daUniversidade de São Paulo. 2014Orientador: Marco Antonio Carvalho Pereira

1. Tpm. 2. Cerveja. 3. Qualidade. I. Título. II.Pereira, Marco Antonio Carvalho, orient.

DEDICATÓRIA

Aos meus pais, Selma e

Agostinho, por todo amor, força,

paciência e pelo constante zelo

por minha educação.

AGRADECIMENTOS

Primeiramente, à Deus pela oportunidade de viver a cada dia a experiência

incrível da sua obra. “Tudo posso Naquele que me fortalece” (Filipenses 4:13).

Aos meus pais, Selma e Agostinho, por estarem sempre ao meu lado, me

dando força nos momentos difíceis e comemorando comigo cada vitória. Por

terem me dado sempre muito amor, a melhor educação, o acesso à religião e

por serem meus exemplos.

Às minhas amigas de Rio Claro, que entenderam minha ausência, e mesmo de

longe continuaram me apoiando, sei que nossa amizade é para sempre.

Às minhas companheiras e amigas de república, Giovanna, Naiara e Natália,

pelos seis anos de convivência, por todo amor, amizade, muitas experiências,

muitas risadas, muito choro, muito estudo, muitas festas. Obrigada por terem

sido minha família em Lorena.

À todos os meus amigos de Lorena, que dividiram comigo as aulas mais

cansativas, as festas mais malucas, as tardes de estudo intenso, todos os

momentos que passamos nesses anos de Engenheira. Em especial à Julia

(Xú), por estar ao meu lado em muitos momentos e por me dar tantas caronas.

À Gabriela por ter sido minha amiga desde a primeira semana. E à Thaís por

tornar esse último ano muito mais prazeroso.

À todos os meus amigos da Cervejaria, que me ajudaram nesse início

profissional, que me ensinaram o que é a Engenharia na prática, todos os

desafios envolvidos dentro de uma indústria e o quanto esta profissão é

apaixonante.

À Escola de Engenharia de Lorena, em especial ao meu Prof. Orientador,

Marco Antônio, por toda ajuda, todos os conselhos, pela paciência e por me

ajudar a tornar essa monografia possível.

À todos os meus professores, que me ajudaram a descobrir minha vocação

para a Engenharia Química e me instruíram para que eu pudesse chegar até

aqui.

Enfim, a todos que de alguma forma estiveram presentes em minha vida e

contribuíram para a realização do meu sonho!

EPÍGRAFE

“O único lugar onde o sucesso

vem antes do trabalho é no

dicionário.”

Albert Einstein

RESUMO

COSTA, M. P. D. Aplicação da metodologia TPM para a redução da perda

de extrato em uma enchedora de latas. 2014. 61 f. Monografia (Trabalho de

Graduação) – Escola de Engenharia de Lorena - Universidade de São Paulo,

Lorena, 2014.

A cada ano aumenta no Brasil o consumo de bebidas como a cerveja. Esse

crescimento exige que as empresas brasileiras invistam fortemente em seus

parques produtivos. Porém, como esse processo produtivo é muito maduro,

com suas etapas bem definidas, esse crescimento deve-se principalmente ao

aumento da qualidade e na redução de perdas já existentes. Neste contexto, a

metodologia TPM (Total Productive Maintenance) ou manutenção produtiva

total, tem se mostrado muito eficaz, sendo utilizada nas maiores cervejarias

brasileiras, para o maior aproveitamento da eficiência do equipamento, focando

na redução de perdas, desperdícios, melhoria contínua e capacitação de

pessoas. O presente trabalho destinou-se a avaliar o desempenho da utilização

dessa metodologia para a redução da perda de extrato numa enchedora de

latas em uma cervejaria. Para atingir esse objetivo foi utilizada a metodologia

pesquisa - ação. Como principais resultados teve-se a redução de 33% da

perda de extrato no enlatamento, bem como criação e revisão de

procedimentos operacionais e da área de manutenção relacionados aos

parâmetros que influenciaram na redução dessa perda.

Palavras-chaves: TPM, Cerveja, Perda e Manutenção da Qualidade.

ABSTRACT

COSTA, M.P.D. Application of the TPM methodology for the reduction of

extract losses of cans filler. 2014. 61 f. Project of monograph

(Undergraduate) - School of Engineering of Lorena, University of São Paulo,

Lorena, 2014.

Each year in Brazil increases consumption of beverages like beer. This growth

demanded that Brazilian companies invest heavily in its parks productive.

However, as this production process is very mature, with its well-defined steps a

long time, this growth is mainly due to the increased quality and reduced losses.

In this context, the methodology TPM (Total Productive Maintenance) has

proved very effective and is used in the largest breweries in Brazil, aims for the

greater use of equipment efficiency, focusing on waste reduction, waste,

improving continuous and empowering people. This study intended to evaluate

the performance of using this methodology to reduce the extract losses in cans

filler in a brewery. To achieve this goal we used the action-research

methodology. The main results were reducing 33% of extract loss in canning, as

well as creation and revision of operational and maintenance procedures

related to the parameters that influenced the reduction of extract loss.

Key words: TPM, Beer, Loss, Quality Maintenance

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Relação de entrada/saída existente num sistema de produção usando

PQCDSM .................................................................................................................... 5

Figura 2- Estrutura para implementação do TPM ....................................................... 6

Figura 3- Os oito pilares do TPM ................................................................................ 7

Figura 4- Estágios de evolução do TPM segundo a JIPM ........................................ 11

Figura 5 - Estruturação para condução da pesquisa-ação ....................................... 17

Figura 6- Esquema de uma linha de envasamento de latas ..................................... 19

Figura 7- Fase 0 do enchimento ............................................................................... 21

Figura 8- Fase 1 do enchimento ............................................................................... 21

Figura 9 - Fase 2 do enchimento .............................................................................. 22

Figura 10- Fase 3 do enchimento ............................................................................. 22

Figura 11 - Fase 4 do enchimento ............................................................................ 23

Figura 12- Fase 5 do enchimento ............................................................................. 23

Figura 13 - Fase 6 do enchimento ............................................................................ 23

Figura 14 - Roteiro TPM para redução de perda de extrato ..................................... 25

Figura 15 - Diagrama de Ishikawa para as possíveis causas da variação do

enchimento por válvula ............................................................................................. 32

Figura 16 - Análise 5 porquês das possíveis causas da variação do nível de

enchimento por válvula ............................................................................................. 33

Figura 17 - Diagrama de Ishikawa das possíveis causas do elevado número de

borrachas danificadas ............................................................................................... 34

Figura 18 - Análise 5 porquês das possíveis causas do elevado número de

borrachas danificadas ............................................................................................... 35

Figura 19- Modelo de check list utilizado na resolução de defeitos .......................... 41

Figura 20- Histograma das amostras de cada válvula na enchedora holandesa ..... 43

Figura 21 - Novo histograma das amostras de cada válvula na enchedora holandesa

.................................................................................................................................. 45

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Volume de enchimento das Válvulas 82 e 94 .......................................... 31

Tabela 2 - Comparação entre os volumes de enchimento antes e depois da troca da

borracha da tulipa na válvula 97 ............................................................................... 36

Tabela 3 - Amostras de latas utilizadas para a elaboração da carta de controle ...... 39

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Um gráfico de controle típico .................................................................. 14

Gráfico 2- Perda de cerveja por grupo na linha de lata ............................................ 29

Gráfico 3 - Histograma inicial do volume de cada lata .............................................. 30

Gráfico 4 - Histograma intermediário do volume de cada lata .................................. 37

Gráfico 5 - Histograma final do volume de cada lata ................................................ 38

Gráfico 6 - Comparação da Dispersão do nível de enchimento ............................... 38

Gráfico 7 – Carta de Controle para o volume de enchimento ................................... 40

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 1

1.1 Contextualização ............................................................................................... 1

1.2 Objetivo ............................................................................................................. 2

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................... 4

2.1 TPM ................................................................................................................... 4

2.1.1. Pilares TPM ................................................................................................ 6

2.1.2 Evolução do TPM ...................................................................................... 10

2.2 Controle Estatístico de Processos ................................................................... 11

2.3 Fabricação e Envasamento de cerveja ........................................................... 14

2.2.1 Princípio de Enchimento ........................................................................... 16

3. METODOLOGIA ................................................................................................... 17

3.1 Método de pesquisa ........................................................................................ 17

3.2 A empresa ....................................................................................................... 18

3.3 Linha de envase da empresa .......................................................................... 18

3.4 Roteiro da Pesquisa Ação ............................................................................... 24

3.5 Benchmarking na Holanda .............................................................................. 26

4.RESULTADOS ...................................................................................................... 28

4.1 Compreender a atual situação e identificar as áreas críticas .......................... 28

4.2 Restabelecer as condições básicas na área crítica ......................................... 30

4.3 Determinar as causas raízes e contramedidas ............................................... 31

4.4 Monitorar, melhorar e estabilizar o nível da perda de extrato .......................... 38

4.5 Aperfeiçoar o sistema de gestão para manter os ganhos ............................... 41

4.6 Benchmarking na Cervejaria na Holanda ........................................................ 42

5. CONCLUSÃO ....................................................................................................... 46

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 47

ANEXOS ................................................................................................................... 49

1

1. INTRODUÇÃO

1.1 Contextualização

A cada ano o setor cervejeiro recolhe mais de R$ 19 bilhões em tributos,

aplicados no desenvolvimento do Brasil. Emprega 1,7 milhão de pessoas e responde

por 1,7% do PIB (CERVBRASIL, 2013). Quando se trata de somar a isso a

contribuição indireta, levando-se em conta todos os segmentos da cadeia produtiva,

vê se que a importância econômica e social da produção de cerveja é ainda maior.

Em 2008, o Brasil era o 5º maior produtor de cerveja do mundo (MORADO,

2008). Em 2012 ocupava a 3ª posição (SOBRAL, 2012). Esse crescimento exigiu

que as empresas brasileiras investissem fortemente em seus parques produtivos.

Porém, como esse processo produtivo é muito maduro, com suas etapas bem

definidas a muito tempo, esse crescimento deve-se primeiramente a implementação

de novas plantas, mas principalmente ao aumento da qualidade e na redução de

perdas nas cervejarias já existentes.

Para alcançar esse objetivo, a metodologia TPM (Total Productive

Maintenance) ou manutenção produtiva total, tem se mostrado muito eficaz, sendo

utilizada nas maiores cervejarias brasileiras.

O TPM é uma metodologia de origem japonesa que visa o maior

aproveitamento da eficiência do equipamento, focando na redução de perdas,

desperdícios, melhoria contínua e capacitação de pessoas.

Esta metodologia vem sendo muito utilizada desde seu lançamento em 1971,

na empresa Nippon Denso no Japão, a qual conseguiu resultados espetaculares e

recebeu o prêmio PM – Preventive Maintenance ou Prevenção da Manutenção de

Excelência Empresarial, concedido pela JIPM (Japan Institute of Plant Maintenance),

o órgão máximo de disseminação do TPM no mundo (PALMEIRA, 2002).

Nas décadas de 70 e 80 o progresso econômico japonês e a expansão da

participação de mercado das indústrias automobilísticas nipônicas motivaram um

interesse crescente pela utilização de técnicas de produtividade como o TPM na

América do Norte, Europa, Ásia e até mesmo na América do Sul, chegando ao Brasil

na década de 90.

2

Desde então as empresas brasileiras veem utilizando o TPM para maximizar

o rendimento operacional das máquinas e equipamentos, visando atingir o “zero

acidente, zero defeito e zero falha”, com a participação de todos, desde alta

administração se estendendo a todos os outros setores da empresa (NAKAJIMA,

1993).

Confirmando o crescente desenvolvimento do TPM no Brasil, o JIPM já

concedeu muitos prêmios de excelência em TPM para o nosso país. Foram cinco em

2010 e 2011, e três em 2012, segundo a TPM Excellence Awards Winners. (JIPM,

2013).

Neste contexto, o TPM torna-se a ferramenta ideal para uma empresa na qual

o produto tem baixo valor agregado e o sucesso está vinculado a volumosas

produções, o caso de cervejarias.

É preciso entender cada vez mais desta metodologia, utilizando seus roteiros

para aumentar a qualidade e gerenciar a produção sustentável. Conhecer o

processo de fabricação de um produto, identificando gargalos e pontos estratégicos

para iniciar projetos.

Uma vez conhecido esse processo de fabricação, deve- se garantir que as

máquinas deste estejam em suas condições básicas, a fim de aumentar a qualidade

do trabalho dos operadores, dando-os mais autonomia e permitindo que a

manutenção ocorra não mais de forma corretiva, mas num primeiro momento

planejada, chegando enfim a manutenção preventiva.

Quando estas condições básicas das máquinas estiverem garantidas e a

manutenção esteja atuando de forma preventiva, promover então a manutenção da

qualidade para reduzir a fabricação de produtos com defeito/refugo e reduzir o índice

de retrabalho. Sendo assim os produtos passarão a atender as expectativas do

cliente e diminuirão o uso de recursos produtivos como matéria-prima, energia e

principalmente o seu maior bem, o produto acabado.

1.2 Objetivo

Reduzir a perda de produto acabado na enchedora de uma linha de latas de

uma indústria cervejeira, identificando e eliminando suas principais perdas, com o

uso do TPM.

3

Como objetivos complementares, pretende-se:

- implementar medidas de controle desta perda,

- revisar procedimentos operacionais e

- estabelecer uma rotina de manutenção adequada.

4

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 TPM

Em 1971, a empresa Nippon Denso implementou o TPM pela primeira vez no

Japão, conseguindo resultados espetaculares e recebeu o prêmio PM de Excelência

Empresarial. Este foi o início do TPM no Japão segundo a JIPM (2000).

O TPM no Japão é uma evolução da manutenção preventiva - PM que nasceu

nos Estados Unidos. Os primeiros contatos entre esses dois países aconteceram na

década de 50, mas somente na década de 70 se cristalizou na forma japonesa, ou

seja, o TPM. (NAKAJIMA, 1989).

No Brasil, o TPM se difundiu a partir da primeira visita do Prof. Seiichi

Nakajima, em 1986, para a realização de palestras na cidade de São Paulo e pela

candidatura de algumas empresas brasileiras ao prêmio TPM Awards do JIPM ao

longo da década de 90. Desde então muitas empresas no Brasil vem utilizando a

metodologia, alcançando ótimos resultados, colaborando assim para a disseminação

do TPM. Pode se citar algumas empresas que tem o TPM implementado e através

da qual conseguiram excelentes resultados, são elas Good Year, Nestlé, Natura,

Alcoa, Unilever, dentre muitas outras.

Shirose (1996) estabelece que a maior característica do TPM seja a

participação de todos os membros da empresa, desde o chão de fábrica, até a alta

administração, em forma de pequenos grupos de trabalho que têm por objetivo

atingir metas como: quebra zero; acidente zero; defeito zero; aumento da eficiência

dos equipamentos e processos administrativos.

Essa definição fica ainda mais clara com a definição de TPM segundo

Nakajima (1989) que diz que o TPM busca a conquista da Quebra Zero/Falha Zero

das máquinas e equipamentos. Uma máquina em perfeitas condições e sempre

disponível propicia elevados rendimentos operacionais, diminuindo os custos de

fabricação e redução do nível de estoques.

Ainda para Takahashi e Osada (1993), o TPM nada mais é do que atividades

de manutenção produtiva com participação de todos os funcionários da empresa e

está entre os métodos mais eficientes para transformar uma fábrica em uma

5

operação de gerenciamento orientado para o equipamento, coerente com as

mudanças da sociedade contemporânea.

Todo sistema produtivo tem como meta a maximização da sua performance,

que é obtida com o mínimo de insumos (“input”) e com o máximo de resultados

(“output”). A relação da entrada e da saída de um processo produtivo pode ser

sintetizada matricialmente, conforme a Figura 1.

Figura 1 - Relação de entrada/saída existente num sistema de produção usando PQCDSM

Fonte: adaptado NAKAJIMA, 1993

O TPM visa maximizar o desempenho das máquinas, pode- se dizer então

que para alcançar essa meta o TPM deve maximizar cada uma das saídas, os

PQCDSM do sistema, como quantidade produzida, custo, prazo de entrega. Uma

máquina quebrada, uma redução de velocidade em uma linha de produção, um

produto vetado, tudo isso afeta os resultados, gerando uma condição de desvio que

caracteriza uma situação indesejável (NAKAJIMA, 1989).

Para que o sucesso seja viável, deve-se zerar as “Seis Grandes Perdas”, que

segundo a JIPM (2000) são:

Entrada

Saída Mão de obra Máquinas Matéria- prima Meio administrativo

Quantidade Controle

produzida da

(P) produção

Qualidade Controle

(Q) da qualidade

Custo Administração

( C ) do custo

Prazo Administração

de entrega dos

(D) estoques

Segurança/ Segurança e

Ambiente controle da

(S) poluição

Moral Relações

(M) trabalhistas

Objetivo da atividade

Meios fabril

Investimento

Administração

do inventário

Administração

do processo e

sua manutenção

Administração

do pessaol

(Saída/Entrada)

=produtividade

6

1- Perda por parada devido à quebra/falha;

2- Perda por mudança de linha e de regulagens;

3- Perda por operação em vazio e pequenas paradas;

4- Perda por redução de velocidade;

5- Perda por defeitos gerados no processo de produção;

6- Perda no início da produção.

Uma das estratégias do TPM é a formação de pequenos grupos, segundo a

Figura 2:

Figura 2- Estrutura para implementação do TPM

Fonte: JIPM, 2000.

Esses pequenos grupos devem ser formados de acordo com a estrutura de

cada empresa, o que deve ser respeitado é que em cada grupo tenha pelo menos

dois níveis hierárquicos e que o número maior de membros pertença a classe mais

inferior. Um exemplo segundo a Figura 2, um encarregado e cinco operadores.

Uma vez divididos os grupos, eles devem estar distribuídos dentro de 8

pilares, cada um com a sua função muito bem definida.

2.1.1. Pilares TPM

7

O desenvolvimento do TPM é feito através de frentes de gestão ou pilares,

elaborados pelo JIPM, que podem ser divididos segundo a Figura 3:

Figura 3- Os oito pilares do TPM

Fonte: Amaral, 2013.

Segue breve descrição sobre o objetivo principal e as atividades mais

relevantes de cada pilar. Será feita uma descrição mais elaborada para o pilar

Manutenção da Qualidade, pois o trabalho desenvolvido nesta monografia está

vinculado a esse pilar e segue a metodologia definida pelo mesmo.

1) Melhorias Específicas (ME) (Kobetsu-Kaizen, em japonês): Foca o conceito

de melhoria para mapear/atuar nas perdas crônicas relacionadas aos

equipamentos. Este pilar tem por objetivo reduzir o número de quebras e

aumentar a eficiência global do equipamento (REZENDE, et al., 2007), com

isso a empresa irá economizar: mão de obra, matéria-prima, energia, e outros

recursos.

2) Manutenção Autônoma (MA) (Jishu-Hozen, em japonês): Segundo Nakajima

(1989) as atividades da MA deverão ser iniciadas concomitantemente com a

partida do TPM. Diz ainda que a base inicial para a implementação desse

pilar é a metodologia 5S.

5S é também uma metodologia japonesa criada por Kaoru Ishikawa e pode-

se classificá-la como:

1ºS- Senso de Utilização (Seiri): separação daquilo que é útil do que é inútil.

2º S- Senso de Organização (Seiton) – cada coisa em seu devido lugar,

respeitando a lei do FIFO- “First in first out”, ou seja, o que entra primeiro sai

primeiro.

8

3º S- Senso de Limpeza (Seiso) - limpeza inicial, erradicação das fontes de

sujeira e eliminação dos locais de difícil acesso para a limpeza.

4ºS- Senso de Padronização (Seiketsu)- Criação de padrões para a

manutenção da ordem no local e gestão visual da área (demarcações,

etiquetagem, pintura...).

5ºS- Senso de Autodisciplina (Shitsuke) - Tornar o 5S uma rotina,

perseverando na metodologia que fora aplicada.

A proposta da manutenção autônoma é mudar o conceito dos colaboradores

(operadores) de linha de que “eu opero”, “você concerta”, para o conceito de

que “do meu equipamento cuido eu” (YAMAGUCHI, 2005).

Este pilar foca a melhoria da eficiência dos equipamentos, contando com a

participação direta dos operadores, desenvolvendo sua capacidade através

de treinamentos e percepção quanto a pequenos reparos, lubrificação e

inspeções, visando manter as condições básicas dos equipamentos de

acordo com os padrões estabelecidos, os operadores conseguem também se

anteciparem a possíveis defeitos ou falhas. Este é o pilar que oferece maior

visibilidade ao TPM, o qual gera resultados mais palpáveis, aquele onde o

impacto visual e as mudanças no ambiente de trabalho são percebidos com o

aumento do comprometimento dos operadores.

3) Manutenção Planejada (MP): Após a identificação das grandes perdas,

passamos a enxergá-las agora como oportunidades. Este pilar foca

inicialmente a elaboração e/ou alteração de planos de manutenção dos

equipamentos, detalhando o nível e os tipos de manutenção empregados

para cada equipamento. Yamaguchi (2005) define o planejamento da

manutenção como uma prática tradicional recomendada para a preservação

das máquinas, equipamentos e instrumentos, através da definição de

calendários de trabalho e a definição de norma e padrões para a sua

condução. A manutenção deixa de ser corretiva, para se tornar planejada e

preventiva.

4) Educação e Treinamento (ET): O objetivo desse pilar é o

desenvolvimento/capacitação de novas habilidades e conhecimentos tanto

9

para o pessoal da produção como da manutenção. Os treinamentos devem

ser realizados em centros de treinamentos, devidamente equipados e com

profissionais qualificados, deve-se aplicar provas e sempre que necessário

deve ocorrer a reciclagem dos treinamentos oferecidos. A empresa não deve

economizar nesse pilar, pois o retorno é garantido segundo Nakajima (1989).

5) Controle Inicial (CI): Este pilar está voltado para a elaboração de projetos de

novas linhas de produção, novas máquinas ou novos produtos, com o objetivo

de obter máquinas fáceis de operar, produtos fáceis de fabricar e linha de

produção fácil de controlar. Este pilar elabora um novo projeto pensando em

uma linha com as características da TPM, ou seja, zero defeito, zero acidente,

zero quebra, zero perdas. Quando se desenvolve um novo projeto, desde o

orçamento até o produto final é necessário desenvolver uma estratégia para

que processo e o produto sejam menos agressivos ao ambiente em que está

inserido (PIÃO, et al., 2012).

6) Manutenção da Qualidade (MQ) (Hinshitsu Hozen, em japonês): Este pilar

tem como objetivo atuar na eliminação das perdas relativas à qualidade do

equipamento, estabelecendo condições para que estes não produzam

defeitos no produto final.

Nesta etapa é necessário que o monitoramento ocorra regularmente, a fim de

realizar um comparativo com as condições de projeto, traçando assim um

quadro evolutivo das condições operacionais em que a intervenção aconteça

antes do alcance dos limites definidos pela equipe de manutenção,

antecipando-se a possíveis falhas.

Segundo Shirose (1996) é necessário esclarecer as relações de causa

e efeito entre a qualidade e a precisão de equipamentos, ou seja, é

necessário estabelecer uma ligação entre um defeito no produto e causa

desse defeito na máquina. Deve-se analisar essa causa e criar contramedidas

para que essa falha, por esse modo de defeito, não volte mais a acontecer.

Ainda segundo Shirose (1996), para promover a Manutenção da

Qualidade é necessário satisfazer 2 pré- condições: a situação é de tal

estabilidade que a deterioração forçada da máquina foi completamente

10

removida e só a degradação natural progride; e gerentes e operadores

tornam-se hábeis com os equipamentos, a estrutura e as funções destes são

muito bem entendidas por eles, e ainda apresentam habilidades suficientes

para inspecionar a máquina e os produtos.

Por fim, o MQ busca a padronização para itens de inspeção,

estabelecendo os melhores índices para cada fase de fabricação e gera uma

forma de controle e confirmação dos resultados.

7) TPM Office ou Administrativo: O pilar administrativo ou Office utiliza os

conceitos de organização e erradicação de desperdícios nas rotinas

administrativas e de escritórios, que de alguma forma impactam na eficiência

dos equipamentos, máquina e/ou processos (REZENDE et al., 2007). Este

pilar também deve reduzir os processos burocráticos tendo por objetivo

agilizar as atividades de reposição de peças, compra de novos materiais,

dentro outros.

8) Segurança, Saúde e Meio Ambiente (SSMA): Este pilar tem como objetivo

principal a busca de "zero acidente” através da segurança, máxima

preocupação com a saúde e bem estar do colaborador, sempre cumprindo as

leis trabalhistas, além da busca de processos produtivos que não afetam ou

que minimizam o impacto ambiental, respeitando e seguindo as normas de

gestão e a legislação ambiental. Esses também são pontos relevantes e que

devem ser considerados para melhorar os índices de qualidade referentes a

estes setores da empresa. Este é um pilar muito visado nas empresas que

implementaram o TPM, pois espera-se dele uma conduta exemplar e que

seus membros sejam pessoas muito esclarecidas e devidamente capacitadas,

pois precisam dar suporte a todos os outros pilares.

2.1.2 Evolução do TPM

Segundo a JIPM (2000), o TPM possui 3 níveis de implementação, fazendo

com que a letra M da sigla TPM mude de significado:

11

1)Total Productive Maintenance: Nível de implementação em que o foco é o

gerenciamento da manutenção de equipamentos. Pilares desenvolvidos nessa

geração MA, MP, ME, ET, e CI.

2) Total Productive Manufacturing: Nível em que o foco, além do

gerenciamento da manutenção do equipamento, objetiva todo o sistema produtivo.

São implementados nessa segunda fase os pilares MQ, Office e SSMA.

3) Total Productive Management: Neste último nível o objetivo é que, a partir

do gerenciamento da manutenção de equipamentos, se possa adotar um sistema de

gerenciamento em todos os setores de uma empresa, incluídos os corporativos,

administrativos, logística, enfim de uma forma sistêmica. Satisfação total: acionistas,

colaboradores, clientes e comunidade. A Figura 4 ilustra de forma mais lógica essa

evolução do TPM.

Figura 4- Estágios de evolução do TPM segundo a JIPM

Fonte: Adaptado JIPM 2000.

2.2 Controle Estatístico de Processos

Um dos objetivos do pilar Manutenção da Qualidade é eliminar as perdas

relativas à qualidade do equipamento, estabelecendo condições para que o produto

12

final não apresente defeito. Uma das formas de atingir esse objetivo é utilizando

ferramentas estatísticas de controle de produção.

Os métodos estatísticos e sua aplicação na melhoria da qualidade têm uma

longa história. Em 1924 nos Estados Unidos, Walter A. Shewhart, da Bell Telephone

Laboratories, desenvolveu o conceito estatístico de gráfico de controle, que é

considerado, em geral, como o começo formal do controle estatístico de qualidade.

Mesmo os meios estatísticos sendo conhecidos desde a Revolução Industrial, eles

não eram amplamente reconhecidos pela indústria. Durante a Segunda Guerra

Mundial, houve uma grande expansão do uso e aceitação dos conceitos de controle

estatístico da qualidade nas indústrias de manufatura, pois se notou que elas eram

necessárias para controlar e melhorar a qualidade do produto. Nos dias de hoje, a

teoria original do CEP, foi impulsionada pelos japoneses, seguindo os conceitos

introduzidos por Deming, através de seus seminários realizados nas indústrias

japonesas. Houve então a crescente contribuição dos japoneses, podendo citar dois

deles, Taguchi e Ishikawa (MONTGOMERY, 2012).

O controle estatístico de processo, CEP, é uma coleção de ferramentas de

resolução de problemas, que busca a estabilidade do processo e a melhoria na

capacidade através da redução da variabilidade. Segundo Samohyl (2009), hoje em

dia, não há fábrica no mundo que não aplica pelo menos algumas ferramentas

simples de CEP para a melhoria dos processos industriais.

Uma das ferramentas de CEP mais utilizadas é a carta ou gráfico de controle.

Para Samohyl (2009), o gráfico de controle é utilizado na detecção de alterações

inusitadas de uma ou mais características de um processo ou produto. Montgomery

(2012), completa dizendo que gráficos de controle permitem que a investigação e

ação corretiva aconteçam de forma mais rápida, evitando muitas perdas.

Os gráficos de controle podem ser classificados em dois tipos gerais. Se a

característica da qualidade pode ser expressa como um número em alguma escala

contínua de medida, ele é chamado variável. Dados variáveis são aquelas

informações resultantes das medidas, como por exemplo: comprimento, peso,

temperatura, pressão, resistência, densidade, volume, concentração. Para esse tipo

de dados temos gráficos de controle para variáveis (MONTGOMERY, 2012).

Muitas características de qualidade não são medidas em uma escala contínua

ou numa escala quantitativa. Nesse caso, podemos julgar cada unidade do produto

13

como conforme ou não conforme, se ela possui ou não certos atributos. Para essas

características temos gráficos de controle para atributos (MONTGOMERY, 2012).

Usualmente para variáveis é necessário tanto monitorar o valor médio, como

a variabilidade do processo. O controle da média é feito através do gráfico de

controle para médias, ou gráfico X. Já a variabilidade do processo pode ser tanto

através do gráfico de controle para desvio padrão, chamado gráfico S, tanto pelo

gráfico para amplitude, chamado gráfico R. Há ainda o gráfico de controle de

Shewhart, utilizado apenas onde o tamanho da amostra para monitoramento do

processo é igual a um (MONTGOMERY, 2012).

O gráfico R é o mais usado, segundo Montgomery (2012). O gráfico S é

utilizado quando o tamanho da amostra é moderadamente grande ou quando o

tamanho da amostra é variável.

Já para atributos, os gráficos de controle podem ser do tipo gráfico p que

relaciona a fração de unidades defeituosas em amostras de tamanho “n”, gráfico c,

que trabalha com o número de defeitos observados numa amostra de tamanho “n”, e

não com a fração como o gráfico p. Tem se também o gráfico u, que indica o número

de defeito que determinada unidade exibe.

Independente do gráfico de controle ser variável ou atributos, o gráfico de

controle consiste na plotagem de três linhas e dos pontos que representam as

médias de pequenas amostras (chamados subgrupos racionais), cada de tamanho n

(= 1, 4, 9, 16, 1000, por exemplo), de mensurações periódicas de alguma

característica importante de um processo, no caso de variáveis, ou o número ou

percentagem de peças defeituosas ou número de defeitos, no caso de atributos. As

três linhas representam dois limites de controle, um superior (LSC) e outro inferior

(LIC), e uma linha central (LC) a qual é a média da variável ou o alvo da

característica (SAMOHYL, 2009).

14

Gráfico 1 - Um gráfico de controle típico

Fonte: Adaptado MONTGOMERY, 2012.

O que varia de um gráfico para o outro é como o cálculo de cada limite é feito,

o que inclui equações com variáveis e constantes diferentes.

2.3 Fabricação e Envasamento de cerveja

A indústria cervejeira é um dos motores da economia em diversos municípios

do país. Tanto daqueles que possuem o cultivo da cevada como atividade principal,

quanto das cidades onde estão instaladas as fábricas, os centros de distribuição e

toda a rede que forma um importante segmento do mercado nacional (FGV, 2008).

Segundo Venturini (2010), o processo de fabricação da cerveja pode ser

divido em 12 etapas:

1) Moagem do malte

2) Mosturação

3) Filtração

4) Fervura

5) Tratamento do mosto

6) Fermentação

7) Maturação

8) Clarificação

9) Estabilização

10) Carbonatação

11) Envase

12) Pasteurização

15

Segundo Morado (2009), a fase de embalagem ou de envase da cerveja é um

momento crítico para o futuro do produto, porque ele deixa o recipiente, no ambiente

controlado em que foi gestado, e é exposto ao ambiente externo, que pode ser

agressivo a essa bebida.

Nesse processo deve-se ter grande cuidado com possíveis fontes de

contaminação, perda de CO2 e contato da cerveja com oxigênio. Tais ocorrências

podem comprometer a qualidade do produto (MELLO, 2012).

Em geral, o envase é a unidade com o maior número de funcionários,

equipamentos de maior complexidade mecânica e maior índice de manutenção,

onde podem ocorrer as maiores perdas por acidentes e má operação, como

regulagem inadequada de máquinas, amassamento de latas, quebra de garrafas,

etc. O envase é composto por diversas operações relacionadas ao enchimento dos

vasilhames (cujos mais comuns atualmente são as garrafas, latas de alumínio ou

aço inox e barris para chope) (SANTOS, et al. 2005).

As vantagens das latas, segundo Morado (2009), se comparadas às garrafas,

são o baixo custo, alta produtividade no envase e facilidade logística.

As latas chegam do fornecedor e passam por uma inspetora para evitar que

latas amassadas entrem na linha. As latas então são invertidas e lavadas com água

por um equipamento para remover a poeira proveniente do seu transporte

(VENTURI, 2010).

Seguindo o transporte, a lata entra na enchedora. Na operação de

enchimento, a cerveja filtrada proveniente dos tanques de pressão é primeiramente

transferida para outro tanque de recepção localizado dentro da enchedora. As

enchedoras de latas são máquinas baseadas no princípio de carrossel rotatório. A

operação das válvulas de enchimento é controlada por micro válvulas eletro

pneumáticas (KRONES,1998).

A enchedora é ajustada automaticamente de tal forma que o volume desejado

de cerveja seja introduzido em cada embalagem.

A lata cheia é liberada da cabeça de enchimento com o alívio da pressão

interna (VENTURI, 2010). Durante o transporte para a máquina que irá colocar a

tampa é necessário eliminar as bolhas de ar da espuma para evitar a subsequente

oxidação da cerveja.

16

Ao entrar no conjunto da colocadora de tampa, segundo Venturi (2010) é

necessário eliminar o ar do espaço vazio (Headspace) das latas para evitar

novamente a oxidação da cerveja, isso é feito pelo equipamento chamado estrela de

gás. Nesse ambiente a lata é recravada com a tampa e segue no transporte.

Cabe dizer que a bebida envasada em latas é enviada à pasteurização, sendo

então denominada cerveja. Aquela envasada em barris não passa por este

processo, e é denominada chope, um produto de menor vida de prateleira, devido à

ausência deste processo (MELLO, 2012).

Depois do processo de pasteurização as latas se encontram prontas para

serem embaladas e armazenadas.

2.2.1 Princípio de Enchimento

O princípio de enchimento de uma enchedora de garrafas Iso- Barométrica

segundo Mello (2012) pode ser dividida nas seguintes fases:

• (A) Pré-evacuação das garrafas

• (B) Enxague intermediário com CO2

• (C) 2ª evacuação

• (D) Pressurização com CO2

• (E) Envase das garrafas (Enchimento das garrafas com o líquido)

• (F) Encerramento do envase (A garrafa é arrolhada)

• (G) Alívio de pressão (snift)

O processo de enchimento de uma lata não é muito diferente do princípio das

garrafas. Segundo a Krones, uma fabricante de máquinas para linhas de

envasamento de latas, o processo de enchimento pode ser dividido em 6 etapas:

soprado, enxágue, pressurização, enchimento, estabilização, descarga e

abastecimento da câmara.

17

3. METODOLOGIA

3.1 Método de pesquisa

Para a realização desse projeto foi utilizado o método PESQUISA-AÇÃO.

Este é um tipo de pesquisa com base empírica focada na resolução de um problema

coletivo no qual os participantes estão envolvidos ativamente.

A sequência para a condução da pesquisa-ação acontece em cinco fases:

planejar, coletar dados, analisar esses dados, implementar ações para resolver o

problema em questão, avaliar os resultados e gerar um relatório afim de prover o

monitoramento e divulgação dos resultados obtidos (COUGHLAN e

COUGHLAN,2002). A Figura 5 apresenta a estruturação da condução da pesquisa-

ação.

Figura 5 - Estruturação para condução da pesquisa-ação

Fonte: Adaptada de Coughlan e Coughlan (2002).

Esta sequência muito se aproxima do roteiro utilizado pelos times de TPM

responsáveis por reduzir a perda de extrato na cervejaria. Então, para o

desenvolvimento desse trabalho as atividades foram realizadas usando a

metodologia TPM.

Planejar a pesquisa-

ação

Coletar dados

Analisar dados e

planejar ações

Implementar ações

Avaliar resultados e

gerar relatório

Monitoramento

18

3.2 A empresa

A cervejaria onde esse estudo foi realizado é uma grande multinacional que

está na lista das maiores do mundo e nos últimos anos tem aumentado, com

sucesso, sua presença em mercados de países emergentes. Tem seu sucesso

consolidado em toda a Europa e nos Estados Unidos, dado que a marca existe a

150 anos.

O nome da empresa, bem como sua localização, não será revelado, por

questão de acordo e confidencialidade entre a autora deste trabalho e a empresa em

questão. Doravante a empresa será chamada de empresa ALFA.

3.3 Linha de envase da empresa

Em um levantamento inicial realizado através de um software da empresa, foi

constatado que o maior percentual de perda de produto acabado no setor de

envasamento acontece em uma determinada linha de latas.

Essa linha está ilustrada na Figura 6:

19

Figura 6- Esquema de uma linha de envasamento de latas

Fonte: Autora.

Na Figura 6, as setas indicam o caminho seguido pela lata na linha de

envasamento.

Primeiramente elas são retiradas dos paletes dos fornecedores, isso acontece

na Despaletizadora.

Passam então por uma inspetora para evitar que latas amassadas entrem na

linha. Para lavagem das latas com água, estas passam por uma máquina chamada

Lavadora.

Checkmat

De

sp

ale

tiza

do

ra

Pasteurizador

Inspetora

Enchedora

CSW

Embaladoras 1 e 2

Pa

letiza

do

ras

Lav

ad

ora

Envolvedoras 1 e 2

Re

cra

vad

ora

Inspetora

Env

Tracking

20

Seguindo o transporte, a lata entra na enchedora pela rosca sem fim que

sincroniza as latas na estrela de entrada. Na estrela existe o sensor responsável por

confirmar a presença da lata.

A enchedora desta linha segue o princípio comum para enchedoras, conforme

descrito na revisão bibliográfica (item 2.2).

Nesse processo, o conjunto de enchimento é composto por 182 válvulas de

enchimento dispostas na cúpula de produto e por cilindros pneumáticos de elevação

situados sob ela. Ao redor da cúpula existem sensores que detectam a presença de

latas na entrada. A velocidade de enchimento desta enchedora é de 120.000 latas

por hora.

Sobre a cúpula estão localizados os blocos de comando das válvulas

(manifolds), o rack com as placas eletrônicas. Cada parte do bloco de comando

contém sete micros válvulas (V1, V2, V3, V4, V5, V6 e V7) que são identificadas por

sete mangueiras de ar.

V1: Libera o produto para lata;

V2: Pressurização da lata;

V3: Alivio;

V4: Alivio rápido;

V5: Produto para câmara de dosagem;

V6: Centrador de latas;

V7: enxágue.

Essas micro válvulas são responsáveis por enviar um sinal eletro pneumático

para as válvulas da enchedora. As válvulas então começam o processo de

enchimento da lata.

O processo de enchimento contém seis etapas: soprado, enxágue,

pressurização, enchimento, estabilização, descarga e abastecimento da câmara.

Cada etapa possuiu o acionamento de micro válvulas específica.

A seguir, cada etapa do processo de enchimento será detalhada. A faixa

vermelha de cada figura indica aonde a etapa acontece na enchedora, representada

pelo círculo. O tamanho da faixa vermelha é proporcional ao tempo que a etapa leva

para ser cumprida.

21

0) Soprado: É a liberação do jato de CO2 (micro válvula v2), que tem o

objetivo de limpar os canais internos da válvula de enchimento para minimizar o

aparecimento de espuma durante o enchimento (Figura 7).

Figura 7- Fase 0 do enchimento

Fonte: ALFA, 2013.

1) Enxágue: nesta fase o jato de CO2 é liberado (micro válvula v2) no centro

da lata, a boca ainda não esta vedada na borracha tulipa, isso possibilita maior

eficiência na retirada do ar, parte do ar sai pela boca da lata e parte sai na tubulação

de dreno da enchedora (Figura 8).

Fonte: ALFA, 2013.

2) Pressurização: o mesmo jato de CO2 do enxágue continua, porém agora

com a borracha da tulipa vedada e com a válvula de dreno fechada, ocorre portanto

pressurização da lata (Figura 9).

Figura 8- Fase 1 do enchimento

22

Fonte: ALFA, 2013.

3) Enchimento: A válvula de enchimento é acionada pela micro válvula V1. No

início o enchimento é rápido porque as válvulas de CO2 rápido e lento são abertos

simultaneamente, permitindo que o CO2 saia da lata e volte para a régua de CO2, já

no final do enchimento o CO2 rápido fecha e somente o CO2 lento se mantem

aberto, é mais fácil controlar o nível (Figura 10).

Fonte: ALFA, 2013.

4) Estabilização: nesta etapa todas as válvulas são fechadas para que a

cerveja estabilize na lata (Figura 11).

Figura 9 - Fase 2 do enchimento

Figura 10- Fase 3 do enchimento

23

Fonte: ALFA, 2013.

5) Descarga: nesta etapa as válvulas de alivio rápido e lento são acionadas

para que a lata seja liberada para o transporte (micro válvulas v2 e v4) (Figura 12).

Fonte: ALFA, 2013.

6) Abastecimento: Para que a máquina esteja pronta para o próximo

enchimento, ocorre o enchimento da câmara de dosagem (micro válvula v5) (Figura

13).

Fonte: ALFA, 2013.

Figura 11 - Fase 4 do enchimento

Figura 12- Fase 5 do enchimento

Figura 13 - Fase 6 do enchimento

24

A lata liberada na etapa 5 passa pelo bubble break1. Este equipamento expele

jatos de CO2 na boca da lata, eliminando as bolhas de ar. Necessita-se eliminar as

bolhas de ar da espuma para evitar a subsequente oxidação da cerveja.

A lata então recebe a tampa, em termos técnicos é recravada, na máquina

chamada Recravadora. Cabe dizer que a reposição das tampas é feita no

equipamento chamado CSW.

Segue para o Pasteurizador e depois para as embaladoras que vão formar os

pacotes de 12 latas. Nesta linha existem 2 embaladoras. O pacote de latas é

colocado em paletes, através da Paletizadora e esses paletes vão para as

envolvedoras, onde são envolvidos por um filme protetor e enfim são estocadas.

É importante dizer que essa linha de envasamento de latas contém 2

Checkmats. Este equipamento é um inspetor para controle do nível de enchimento,

e este indica o número da válvula com erro e mostra as estatísticas de produção. A

eliminação das latas defeituosas é feita através de um rejeitor (KRONES, 1998).

O sistema de inspeção de nível de enchimento pode utilizar vários tipos de

radiação, raio-X, raio gama, para a detecção de latas com nível inferior ou superior

ao desejado, porém a inspeção pode apresentar variações, pois existe uma grande

quantidade de espuma. Ao se utilizar este sistema é necessário atender às normas

de radioproteção (MELLO, 2012).

Estes inspetores, Checkmats, devem estar posicionados após a recravadora

e o outro após o pasteurizador, para garantir o atendimento aos padrões.

3.4 Roteiro da Pesquisa Ação

As informações contidas neste projeto foram levantadas por uma equipe

multifuncional da cervejaria, constituída por seis pessoas sendo um coordenador de

TPM, um trainee, um analista da qualidade, um operador- técnico, um analista

industrial e um estagiário, contando com o apoio de todos os setores envolvidos. As

responsabilidades da estagiária, que é a autora da presente monografia, estavam

ligadas a realização dos experimentos, análises dos dados, geração de ações em

relação aos resultados encontrados, bem como o apoio a todos os outros

integrantes do time.

Como o maior percentual de perda de produto acabado no setor de

envasamento acontece em uma determinada enchedora de uma determinada linha,

1 Equipamento responsável pela quebra das bolhas de ar presentes na espuma da cerveja.

25

decidiu-se que a equipe multidisciplinar, iria concentrar esforços nesta máquina

seguindo a metodologia do TPM.

Para estabelecer um cronograma foi utilizada a metodologia TPM para

determinar o fluxo das atividades, conforme a Figura 14.

Figura 14 - Roteiro TPM para redução de perda de extrato

1. Compreender a atual situação e identificar as áreas críticas

Nesta fase inicial, analisou-se os dados históricos da enchedora em estudo,

bem como verificou-se a consistência dos mesmos. Para entender melhor o

processo produtivo, foram identificadas todas as etapas. Ainda nesse tópico, todos

os possíveis pontos de perda foram identificados, sendo possível identificar e

quantificar a perda que seria atacada. Desta forma, ficou claro o link entre a perda e

a etapa do processo em que ela ocorre.

2. Restabelecer as condições básicas na área crítica

Uma vez definida a área de atuação ou área crítica, o foco passou a ser a

máquina envolvida. Para restabelecer as condições básicas da enchedora foram

etiquetados os principais problemas e listadas as anomalias físicas (relacionadas à

perda). Após a etiqueta ser resolvida, padrões foram criados e/ou revisados para

26

evitar a reincidência daquele defeito, e se necessário, os operadores foram treinados

nesses novos padrões.

3. Determinar as causas raízes e contramedidas

Nesse momento, foi necessário entender por que as falhas acontecem,

chegando até sua causa raiz, para que assim ela pudesse ser erradicada, ou ter

seus padrões alterados. Para compreender as causas raízes foram utilizados o

Diagrama de Ishikawa e a análise dos cinco porquês. Um plano de ação foi criado

para programar e executar as contramedidas oriundas das metodologias utilizadas,

com o objetivo de sanar os problemas.

4.Monitorar, melhorar e estabilizar o nível da perda de extrato

Nesta fase do projeto, criou-se um sistema de monitoramento e checagem

dos resultados obtidos. Este sistema foi padronizado para que os próprios

operadores alimentem os dados e tomem ações quando necessário. Todos eles

receberam treinamento adequado e padrões foram criados para esse novo sistema

de monitoramento.

5. Aperfeiçoar o sistema de gestão para manter os ganhos

Com o sistema de monitoramento estabelecido, foi necessário implementar

um sistema de gestão desses dados, e medidas para manutenção dos ganhos. Os

novos padrões foram integrados em rotinas da Manutenção Autônoma (Limpeza,

inspeção e lubrificação) e rotinas da Manutenção Planejada.

3.5 Benchmarking na Holanda

A autora desta monografia foi contemplada com a Bolsa Mérito Acadêmica,

na categoria Empreendedorismo da Agência USP de Inovação. Essa bolsa permitiu

a esta aluna realizar um estágio que contribuiu muito com esta monografia.

Esta autora, a fim de fazer um Benchmarking2, realizou um estágio em uma

Cervejaria na Holanda, durante dois meses, cujo objetivo principal foi de entender

como a cervejaria holandesa gerenciava sua perda de cerveja no enlatamento e

quais parâmetros eram essenciais para manter a perda sobre controle.

2 Benchmarking consiste no processo de busca das melhores práticas numa determinada indústria e que conduzem ao desempenho superior. É visto como um processo positivo e através do qual uma empresa examina como outra realiza uma função específica a fim de melhorar a forma como realiza a mesma ou uma função semelhante.

27

Na Holanda, esta autora desenvolveu um projeto similar ao que deu origem a

esta sua monografia, aqui no Brasil.

28

4.RESULTADOS

Neste capítulo estão apresentados os resultados obtidos pelo projeto, que

seguiu a sequência da metodologia TPM, descrita no capítulo anterior.

4.1 Compreender a atual situação e identificar as áreas críticas

A empresa possui um software que quantifica a perda de cerveja em cada

linha de enchimento. Este software indicou que uma das linhas de latas tinha a

maior perda de cerveja, 2,7%, que impacta em 15% na perda total da cervejaria.

Este software é monitorado e passa por auditorias internacionais frequentemente,

sendo confiáveis os dados gerados por ele.

Uma vez definida a linha, um estudo foi feito para entender em qual etapa do

processo a perda de cerveja era maior. Os dados são referentes a um mês de

produção.

A perda foi dividida em seis grupos:

-Volume. O volume nominal da lata é de 350 mL. Entende-se por perda por

volume o volume colocado a mais que 350 mL. Nesse caso, foi feita a média do

volume colocado a mais em cada lata e multiplicou-se pela quantidade produzida

daquele mês.

- Refugo. Essa linha possui dois inspetores de nível. Quando a lata apresenta

um volume inferior ao mínimo permitido, a lata é expulsa da linha, é refugada. Para

esse estudo essas latas refugadas foram separadas e pesadas, seus volumes foram

anotados e a sua soma gerou o volume total desta perda.

-Partida. Para partir a linha, primeiro é necessário resfriá-la, pois a cerveja

tem que ser envasada com temperatura máxima de 3°C. O resfriamento é feito

enviando água a 3°C para esfriar a tubulação. Em seguida a cerveja vem

empurrando essa água. Para evitar que as primeiras latas sejam envasadas com

uma cerveja diluída, é feito um dreno. Portanto há uma perda de cerveja na Partida

de linha. Esse dado é calculado por um medidor de vazão e anotado em planilha

pela operação.

- Set up. Quando há troca de produtos. Esse dado também é obtido por um

medidor de vazão e anotado em planilha pela operação.

29

- Ajuste. Decorre de pequenas falhas após ajustes feitos nas máquinas da

linha. Essas latas são separadas e seu volume anotado em planilha pela operação.

- Outros. Perdas que não foram mensuradas.

Os dados obtidos estão representados no Gráfico 2.

Gráfico 2- Perda de cerveja por grupo na linha de lata

Fonte: Autora.

As duas maiores perdas, volume e refugo, estão relacionados ao nível de

enchimento da lata, ou seja, com o volume colocado dentro dela. No caso do grupo

volume para mais e do grupo refugo para menos.

O grupo optou por atacar essas duas principais perdas. Para entender melhor

como estava o enchimento das latas, foram coletas duas amostras, ou seja, duas

latas, de cada válvula de enchimento. Como esta enchedora tem 182 válvulas, foram

coletas duas amostras da válvula 1, duas da válvula 2, até a válvula de número 182.

Vale ressaltar que era sabido exatamente de qual válvula provinha a lata,

associação perfeita entre válvula e seu volume de enchimento. Calculou-se a média

dos dois valores encontrados por válvula e o resultado está no Gráfico 3.

71,74%

9,50% 8,12% 2,90% 1,99%

7,75%

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

60,00%

70,00%

80,00%

volume refugo Partida Setup Ajuste Outros

Perda de cerveja por grupo na linha de latas

30

Gráfico 3 - Histograma inicial do volume de cada lata

O Gráfico 3 mostrou que havia muita variação nas 182 válvulas. Por exemplo:

64 válvulas com volume de 353 mL, 43 com volume de 352 mL e 11 com volume de

359 mL, gerando um desvio padrão de 5,6 e um volume médio muito alto: 353,14

mL. A faixa azul seria a faixa aceitável de variação do volume, tudo que está em

vermelho deveria ser ajustado. Essa coleta inicial também mostrou que realmente

havia latas com volume inferior a 348 mL, que é o limite mínimo de volume.

A enchedora é a máquina responsável pelo enchimento, como o foco do

projeto era o nível de enchimento, a enchedora passou a ser a área crítica do

projeto.

4.2 Restabelecer as condições básicas na área crítica

Uma vez definida a área crítica do projeto, a enchedora, foi necessário avaliar

as condições básicas da mesma. A enchedora desta linha tem um time de

Manutenção Autônoma. O objetivo deste time é a melhoria da eficiência do

equipamento, com participação direta dos operadores, sendo estes responsáveis por

pequenos reparos, lubrificação e inspeções, visando manter as condições básicas

dos equipamentos de acordo com os padrões estabelecidos. Os operadores dessa

máquina conseguem também se anteciparem a possíveis defeitos ou falhas.

Logo, o grupo do qual a autora fez parte, teve apenas que verificar se os

padrões de limpeza, inspeção e lubrificação estavam sendo cumpridos. Nenhuma

1 0 0 1 4

1

11

43

64

20

4 2 2

8 11

2 3 2 0 1 0 0

10

20

30

40

50

60

703

45

346

347

348

349

350

351

352

353

354

355

356

357

358

359

360

361

362

363

364

365

Histograma

31

avaria grave foi encontrada. O contato entre os dois grupos foi mantido durante todo

o projeto.

4.3 Determinar as causas raízes e contramedidas

Para avaliar continuamente o nível de enchimento, outras coletas foram feitas,

sempre com duas amostras de cada válvula de enchimento. Calculava-se a média e

um novo histograma era gerado. Porém, não havia uma constância nos resultados.

O que chamou mais a atenção na pesquisa foi que a mesma válvula variava

muito de volume entre um enchimento e outro, justificando a inconstância das

coletas de amostras. Um exemplo está na Tabela 1, referente às válvulas de número

82 e 94.

Tabela 1 - Volume de enchimento das Válvulas 82 e 94

Válvula 82 Válvula 94

Amostra Volume Amostra Volume

1 353,41 1 354,05

2 351,6 2 351,56

3 352,37 3 350,58

4 352,89 4 353,26

5 346,75 5 350,15

6 351,55 6 349,84

7 346,07 7 347,08

8 355,11 8 351,53

9 357,86 9 356,44

10 350,42 10 351,63

Desvio Padrão: 3,35 Desvio Padrão: 2,43

Pode-se notar na Tabela 1 que a válvula 82 apresentou em uma amostra o

volume de 346,07 mL e em outra amostra um volume de 357,86 mL. Bem como a

válvula 94 apresentou um volume em uma amostra de 347,08 mL e outra com

volume de 356,44 mL.

A causa raiz dessa variação não era conhecida pelo grupo. A metodologia

TPM diz que quando não se sabe a causa raiz de um problema deve-se fazer uma

Análise de Causa Raiz, que apresenta 3 etapas:

32

1) Diagrama de Ishikawa para fazer um brainstorming3 das possíveis causas.

Essas possíveis causas devem ser classificadas em método, máquina, mão de obra,

material, meio ambiente e medição, a conhecida classificação 6M.

2) Análise dos 5 porquês das causas levantadas na etapa anterior . As

possíveis causas devem ser avaliadas em campo para confirmar se a possível causa

é fato (F) ou boato (B), ou seja, se aquele fator causou ou não a falha em estudo.

3) Elaborar um plano de ação para eliminar as reais causas da falha.

Então, foi feita uma análise de causa raiz para a variação de volume de

enchimento na mesma válvula. A primeira etapa, o Diagrama de Ishikawa, encontra-

se na Figura 15.

Figura 15 - Diagrama de Ishikawa para as possíveis causas da variação do enchimento por válvula

Para cada possível causa foi feita a avaliação dos 5 porquês, analisando em

campo se esta era fato ou boato. Essa avaliação está representada na Figura 16.

4. Variação na altura do

carrossel

Falha (Efeito):

Grande variação do nível de

enchimento por válvula

5. Falha nas

microválvulas

1. Pressão de ar comprimido

baixa no carrossel

2. Pressão do quebra

bolhas oscilando

6. Contaminação no

canal de CO2

3. Checkmat fora de

sincronismo com a enchedora

Método Máquina

Mão-de-obra Material

Medição

Meio Ambiente

3 Brainstorming, termo em inglês que sugere uma chuva de ideias, todas as ideias devem ser

dadas, sem qualquer tipo de restrição ou crítica.

33

Figura 16 - Análise 5 porquês das possíveis causas da variação do nível de enchimento por válvula

O sistema desta enchedora é eletro pneumático, a pressão do ar comprimido

é de extrema importância, pois é ela que vai fazer com que todos os sinais do

processo de enchimento sejam mandados da maneira correta.

No item 1 da Figura 16, “Pressão de ar comprimido baixa no carrossel”,

observou-se que a pressão do ar comprimido estava abaixo da especificação que é

de 5 bar. Para este valor foram levantadas algumas possibilidades e foram

encontrados vazamentos de ar nas conexões pneumáticas. Ao verificar as

condições destas conexões, observou-se que elas estavam ressecadas e que nunca

houve um monitoramento dessas conexões. As que estavam danificadas foram

trocadas e foi acrescentada ao plano de inspeção da enchedora a verificação

dessas conexões.

A operação das válvulas de enchimento é controlada por micro válvulas eletro

pneumáticas. Estas micro válvulas estavam entupidas, comprometendo o comando

dado por elas, item 5 da Figura 16. Em campo foi observado que elas estavam

entupidas com óleo comestível, oriundo da manutenção realizada nos dias

anteriores.

Foi feita a limpeza e orientação aos mantenedores para que isso não voltasse

a acontecer.

F F

B B

F F

B B

F F

B B

F F

B B

F F

B B

F F

B B

F F

B B

F F

B B

B

FF

F

5. Falha nas microválvulasMicroválvulas contaminadas

com óleo

F

Ar comprido contaminado com

óleo

B

1º Por quê?

1.3.1 Pneudry com elemento filtante

saturado

B

5º Por quê?4º Por quê?

FF

F

FB

B

1.1.1.1 Algumas conexões há mais de 15 anos no

equipamento

1.1.1.1.1 Não há plano de inspeção e

reparoF

Vazamento de óleo dos rolamentos do distribuidor

de ar

2º Por quê?

FB

B

1.1.1 Ressecamento na vedação interna da

conexão

3º Por quê?

FB

Causa

1.1 Vazamento de ar nas conexões

pneumáticas

BB

1. Pressão de ar comprimido baixa no

carrosselB

F1.2 Baixa pressão de ar comprimido na entrada da linha

(<6bar)

F

B

BF

B

BF

F

B

2. Pressão do quebra bolhas oscilando

1.3 Obstrução da passagem de ar

FB

F

BF

3. Checkmat fora de sincronismo com a

enchedora

B

FB

6. Contaminação no canal de CO2

B

4. Variação na altura do carrossel

FB

Borracha da tulipa danificada

FB

FF

B

34

Outra etapa fundamental no enchimento da lata é a pressurização com CO2.

A lata precisa estar hermeticamente fechada quando for receber a cerveja, num

ambiente de CO2. Para que isso aconteça, a vedação entre a lata e a válvula de

enchimento tem que ser perfeita, e as borrachas de vedação têm que estar em

perfeitas condições. Para a verificação do item 6 da Figura 16, essas borrachas,

chamadas de borrachas da tulipa, foram vistoriadas.

Nesta vistoria foram encontradas muitas borrachas danificadas, rasgadas e

estufadas. Estas foram trocadas, porém era preciso entender a causa raiz de tantas

borrachas danificadas. Novamente foi feito uma análise de causa raiz. O Diagrama

de Ishikawa e a análise dos 5 porquês estão apresentados nas Figura 17 e 18

respectivamente.

Figura 17 - Diagrama de Ishikawa das possíveis causas do elevado número de borrachas danificadas

1. Altura do came baixa

Falha (Efeito):

Excesso de borrachas da

tulipa danificadas

6. Falta inspeção

2. Temperatura de Cip

3. Tampa falsa com borda

interior irregular

5. Baixa durabilidade da borracha

4. Lata com boca amassada

Método Máquina

Mão-de-obra Material

Medição

Meio Ambiente

35

Figura 18 - Análise 5 porquês das possíveis causas do elevado número de borrachas danificadas

Um item avaliado foi a durabilidade das borrachas na máquina. A enchedora

apresenta uma velocidade de enchimento muito alta, a máxima que esse modelo

suporta: 120.000 latas por hora. A frequência de troca não estava sendo eficiente e

em função disso, muitas borrachas estavam danificadas na máquina. O fornecedor

foi questionado sobre a qualidade do material e a durabilidade do mesmo nessas

condições. Uma nova borracha foi sugerida, com durabilidade de três meses.

Então, o grupo implementou uma rotina no plano de manutenção de troca

dessas borrachas de modo que a cada três meses todas fossem trocadas.

Outro ponto verificado foi que os operadores, ao detectarem uma borracha

danificada, deveriam trocá-la na primeira parada da enchedora. Ao analisar o

procedimento, verificou-se que nem todos os modos de falha estavam descritos,

apenas borracha rasgada ou danificada. O grupo verificou que se a borracha estiver

inchada, estufada, também não vai conseguir vedar da maneira correta. Este

procedimento foi revisado e todos os operadores foram treinados deste novo modo

de falha e encontra-se no Anexo A.

Após estas ações as válvulas não mais apresentavam uma grande variação

entre os enchimentos, como por exemplo, a válvula 97 na Tabela 2.

F F

B B

F F

B B

F F

B B

F F

B B

F F

B B

F F

B B

F F

B B

F F

B B

F F

B B

F

B B

FF

B

1º Por quê?

3. Tampa falsa com borda interior irregular

BF

F

Causa

Altura muito alta

F4º Por quê?

FB

B

FB

Frequencia da troca das borrachas não era

suficiente

BF

B3º Por quê? 5º Por quê?

1. Altura do came baixa

Temperatuda de CIP muito elevada

F

B

F

5.1 Aumento das horas de trabalho da máquina B

F

Latas entrando com a boca amassando

podendo danifcar as borrachas

BB

2. Temperatura de Cip

4. Lata com boca amassada

5.2 Qualidade baixa do material

FB

F

BF

B

5. Baixa durabilidade da borracha

B

FB

F

B

6.3 Não cumprimento da rotina de inspeção

F

FFF

B

B

B

6.2 Inspeção não contempla todos os possíveis defeitos

F

Não há indicação que borracha com

inchamento é anomalia

FB

6. Falta inspeção6.1 Não existe plano de

inspeção

FB

F

2º Por quê?F

BB

FB

36

Tabela 2 - Comparação entre os volumes de enchimento antes e depois da troca da borracha da tulipa na válvula 97

Antes da troca da borracha

Depois da troca da borracha

VOLUME (mL) VOLUME (mL)

350,30 354,50

351,40 353,50

347,50 354,60

348,90 354,20

352,80 354,10

350,90 354,30

349,80 354,50

327,90 354,20

348,10 354,90

352,30 353,90

350,80 354,50

344,80 354,50

Média: 347,95 Média: 354,27

Desvio padrão: 6,7 Desvio padrão: 0,4

A Tabela 2 mostra que o desvio padrão da válvula 97 diminuiu muito, porém

mostrou também que o volume continuava alto, 354,27 mL. Para uma nova

avaliação, uma nova coleta de amostras foi realizada, da mesma maneira: 2 latas de

todas as válvulas, calculada a média dos volumes e o resultado está descrito no

Gráfico 4.

37

Gráfico 4 - Histograma intermediário do volume de cada lata

Nota-se que o desvio padrão ainda é alto, 3,2, pois quanto menor for o seu

desvio padrão menos varável é o seu processo. O volume médio também continuou

alto, aproximadamente 353 mL. Isso era esperado, pois até aquele momento o foco

estava no desvio padrão de cada válvula e não no desvio padrão das 182 válvulas

como um conjunto, tão menos no valor de enchimento de cada lata.

Para acertar o valor do enchimento foi feita uma análise de cada parâmetro

de enchimento de cada válvula. Esta enchedora permite ajustes em cada válvula,

colocando mais ou menos volume em cada uma das 182 válvulas. Isso é feito

diretamente no painel de controle da enchedora.

Todas as válvulas foram ajustadas entre o intervalo de volume desejado:

entre 350 e 352 mL. As que apresentavam um baixo volume tiveram seus

parâmetros elevados, e as que estavam com seu volume alto tiveram seus

parâmetros diminuídos.

O resultado atingido após esse ajuste no volume de cada válvula, encontra-se

no Gráfico 5:

0 1 0 1

15 13

6

36

70

16

6 12

3 0 1 0 0 1 0 1 0

0

10

20

30

40

50

60

70

803

45

346

347

348

349

350

351

352

353

354

355

356

357

358

359

360

361

362

363

364

365

Histograma

38

Gráfico 5 - Histograma final do volume de cada lata

O volume médio passou a ser de aproximadamente 351 mL e o desvio padrão

de 2,7. O Gráfico 6 demostra com mais clareza a comparação entre a situação

inicial e final do enchimento na enchedora em estudo.

Gráfico 6 - Comparação da Dispersão do nível de enchimento

4.4 Monitorar, melhorar e estabilizar o nível da perda de extrato

Uma vez que o resultado foi obtido, viu-se a necessidade da criação de um

sistema de monitoramento do resultado, evitando que a média voltasse a subir e o

desvio padrão voltasse a variar.

0 0 0

6

46

34

58

15

1 2 0 4 6

3 1 3 3 0 0 0 0

0

10

20

30

40

50

60

703

45

346

347

348

349

350

351

352

353

354

355

356

357

358

359

360

361

362

363

364

365

Histograma

0

10

20

30

40

50

60

70

345 346 347 348 349 350 351 352 353 354 355 356

Dispersão do nível de enchimento

Inicial Final

39

A metodologia TPM sugere o uso de ferramentas avançadas, sendo uma

delas o CEP (controle estatístico de processo), mais especificamente cartas ou

gráficos de controle. A Cervejaria optou por essa ferramenta por questões

estratégicas.

Utilizou-se o gráfico média e amplitude (X- R), pois este é o gráfico mais

usado para acompanhar, controlar e analisar um processo com valores contínuos de

qualidade do produto, como o comprimento, o peso ou a concentração e neste caso,

volume.

Para este tipo de gráfico, foram coletas oito amostras, com tamanho de

amostra (n) igual a 15 latas.

Os dados estão na Tabela 3:

Tabela 3 - Amostras de latas utilizadas para a elaboração da carta de controle

Volume das 15 válvulas Média

Ampli

tude

1 353,8 353,4 351,7 352,4 349,7 348,7 349,3 350,7 352,8 349,3 349,3 352,2 352,9 352,8 353,4 351,5 5,1

2 351,2 352,3 353,0 350,0 350,1 351,0 352,7 350,1 348,5 351,5 352,8 352,3 351,0 352,7 353,6 351,5 5,2

3 348,9 352,0 350,3 349,9 349,4 351,4 352,0 350,8 349,2 351,2 352,2 353,4 352,1 352,3 354,4 351,3 5,5

4 353,1 349,0 350,1 346,2 349,6 349,6 350,5 351,9 350,1 348,9 351,7 351,7 349,3 351,6 352,1 350,4 6,8

5 351,4 354,0 350,5 350,3 352,7 351,3 351,4 349,5 349,5 354,2 352,6 349,9 353,3 350,1 352,8 350,4 6,9

6 349,0 353,1 350,1 348,9 351,7 350,1 346,2 350,5 351,9 349,3 349,6 349,6 351,6 351,7 353,1 351,6 4,7

7 350,7 352,8 351,2 352,3 350,7 350,3 352,5 354,1 349,5 354,0 349,9 352,7 351,3 351,4 350,1 351,6 4,6

8 349,8 351,4 351,6 351,4 353,0 351,6 349,2 352,9 352,0 351,6 350,2 350,3 351,7 353,8 350,1 351,4 4,6

Em posse desses resultados, foi calculada a média das médias, = 351,2 e a

média das amplitudes, = 5,4.

Para encontrar os valores de LSC, limite superior de controle, e LIC, limite

inferior de controle, utilizaram-se as equações correspondentes a esse tipo de carta.

Que estão representadas pelas Equações 1 e 2, sendo A2 uma constante, cujo os

valores estão no Anexo B, é a média das médias encontradas na Tabela 3, e é a

média das amplitudes também encontradas na Tabela 3.

(1)

(2)

40

Portanto, os valores de LIC e LSC são, respectivamente, 350,0 e 352,4 mL.

A cervejaria apresenta limites de especificação pré-definidos para o volume

da lata de 350 mL. O limite inferior de especificação (LIE) é de 348 mL e o limite

superior de especificação (LSE) é de 355 mL.

De posse desses valores, tem-se o Gráfico 7 que representa a carta de

controle para o volume de enchimento na enchedora em estudo.

Gráfico 7 – Carta de Controle para o volume de enchimento

Este gráfico foi colocado no quadro de gestão a vista da linha de produção em

que se encontra essa enchedora. O operador da enchedora recolhe amostras de

latas diariamente, entrega ao laboratório que pesa essas latas e converte esse valor

em volume de acordo com a densidade da cerveja produzida. O operador da

enchedora deve informar-se desses valores no laboratório e atualizar o gráfico

diariamente.

Todos os operadores foram treinados sobre carta de controle, para que

ficasse claro o que cada limite representa, de que forma eles foram calculados,

como eles deveriam atualizar a carta e quais ações deveriam tomar.

Em cada turno há uma reunião diária neste quadro de gestão a vista,

chamada de Daily Control System (DCS). Nesta reunião são discutidos os

indicadores de produção, e a partir deste trabalho, discute-se também a carta de

controle.

351,5 351,5 351,3 350,4 350,4

351,6 351,6 351,4

346347348349350351352353354355356

Amostra1

Amostra2

Amostra3

Amostra4

Amostra5

Amostra6

Amostra7

Amostra8

Gráfico de Controle

Resultado LIE LIC LSC LSE

41

Como se trata de um projeto piloto, se o resultado de dois dias consecutivos

estiver fora dos limites de controle, LSC e LIC, os operadores devem fazer uma

análise da causa raiz para identificar o problema. Uma vez identificada a causa

devem tomar ações para eliminá-la.

Sabe-se da complexidade estatística de uma carta de controle, porém o

objetivo desta carta nesta linha foi conscientizar os operadores da importância de se

acompanhar diariamente o volume de enchimento, para que a perda de cerveja no

enchimento da lata não voltasse a aumentar. E também, estimulá-los a tomar ações

corretivas em um curto espaço de tempo, para reverter a perda em poucos dias.

4.5 Aperfeiçoar o sistema de gestão para manter os ganhos

Como o grupo optou por atacar as principais perdas e estas estão

relacionadas ao volume de enchimento da lata, tanto para mais quanto para menos,

fez-se um check list operacional, direcionado ao operador da enchedora para que

ele, mediante um defeito de sobre nível ou de lata mal cheia, pudesse checar na

máquina parâmetros que pudessem ser alterados imediatamente para que o

problema fosse corrigido.

Esse check list relaciona o modo de defeito, neste caso sobre nível ou lata

mal cheia, com a característica do processo, o componente da máquina e o

parâmetro a ser ajustado na máquina. Observando-se a Figura 19, é possível

compreender a ligação entres esses pontos.

Figura 19- Modelo de check list utilizado na resolução de defeitos

3 C

om

po

nen

tes

da

máq

uin

a

1 M

od

os

de

def

eito

4 Parâmetros da máquina

2 Características do processo

42

Um exemplo seria a própria condição da borracha da tulipa. Por exemplo, o

modo de falha seria o sobre nível, a característica do processo seria pressurização

da lata com CO2, o componente seria a borracha da tulipa e o parâmetro seria que a

borracha da tulipa estivesse com deformação de acordo com o procedimento criado

neste projeto, disponível no Anexo A.

Todos os parâmetros citados nesse check list foram revisados nos

procedimentos operacionais e todos os operadores foram treinados caso alguma

mudança tenha sido feita nesses procedimentos operacionais.

A inspeção das borrachas da tulipa foi acrescentada no plano de inspeção da

enchedora, no plano da manutenção autônoma. Bem como a troca das borrachas

danificadas na próxima parada da linha para manutenção.

Como citado pelo fabricante da borracha da tulipa, a troca destas deve ser

feita a cada três meses. Foi acordado com a manutenção que essa troca seria

incluída na programação da manutenção, bem como a compra dessas borrachas

para que estas estejam sempre disponíveis para troca, em alguma emergência.

4.6 Benchmarking na Cervejaria na Holanda

A enchedora em estudo na cervejaria holandesa tem o mesmo modelo e

fabricante da enchedora no Brasil. Difere apenas na quantidade de válvulas, pois a

enchedora holandesa tem 100 válvulas e a brasileira 182 válvulas, e na velocidade

de enchimento, de 65.000 latas por hora na Holanda e de 120.000 latas por horas no

Brasil.

Para realizar esse projeto foi selecionado um time, composto pelo Líder da

linha, um Analista de Tecnologia de embalagem, dois Analistas da Qualidade e a

autora desta monografia.

A enchedora holandesa apresenta três volumes de enchimento: 330, 350 e

500 mL. Num estudo preliminar foi observado que em latas de 500 mL a perda de

cerveja por sobre nível era muito maior do que nos outros volumes de enchimento.

Mediante esse estudo, as análises foram feitas nas latas com volume de 500 mL.

Foi feita então a primeira coleta de dados para compreender a situação atual

do enchimento, foram coletadas três amostras de cada uma das 100 válvulas de

enchimento, calculada a média dos três volumes encontrados e o resultado foi

descrito em um histograma, presente na Figura 20.

43

Figura 20- Histograma das amostras de cada válvula na enchedora holandesa

Analisando os dados, observou-se:

- Volume médio muito alto: 503,50 mL.

- Desvio padrão geral de enchimento: 1,6.

- Algumas válvulas apresentaram desvio padrão alto.

- Válvula 57 com volume muito alto: 511 mL.

- Válvula 86 com volume baixo : 498 mL.

De acordo com os dados acima, decidiu-se que as causas especiais deveriam

ser eliminadas, que o desvio padrão de cada válvula deveria ser reduzido, bem

como o desvio padrão geral do enchimento também precisaria ser reduzido.

Foi feita uma correção dos parâmetros de enchimento das válvulas 57 e 86,

com a ajuda de um manutentor de controle de processos, devidamente autorizado a

fazer esse ajuste. Esses ajustes foram feitos diretamente no painel de controle da

enchedora, bem como no Brasil.

Neste ponto foi verificada a primeira diferença com o Brasil. Na Holanda

apenas um manutentor pode fazer alterações nos parâmetros da enchedora e tem

que estar devidamente autorizado. No Brasil, os operadores da enchedora tem total

liberdade para ajustar esses valores. Quando somente uma pessoa tem o poder de

44

alterar um parâmetro, este tende a ficar mais estável, pois há um controle dessas

alterações e estas sempre estão vinculadas à uma autorização prévia.

Essa observação ficou evidente quando se comparou o desvio padrão inicial

do enchimento das duas cervejarias. A cervejaria holandesa apresentava um desvio

padrão inicial de 1,6, enquanto a brasileira um desvio de 5,6.

A Cervejaria holandesa já tinha como padrão de manutenção a troca das

borrachas da tulipa da enchedora a cada três meses, pois já sabia que estando

estas borrachas danificadas, a mesma válvula pode apresentar uma variação de

volume durante seus enchimentos.

As válvulas que apresentaram desvio padrão superior a 1,5 estavam

realmente com suas borrachas danificadas, pois já estavam próximas do vencimento

e precisariam ser trocadas de qualquer forma.

Tendo sido trocadas todas as borrachas, esperava-se que não fossem

encontradas mais válvulas com desvio padrão maior que 1,5. Para confirmar essa

informação foram coletas mais duas amostras de cada válvula e o maior desvio

padrão encontrado foi de 1,25, confirmando o que se esperava.

Uma vez reduzido o desvio padrão de cada válvula, havia a necessidade de

reduzir a variabilidade do processo, ou seja, o desvio padrão geral de enchimento.

Para isso, todas as válvulas tiveram seu parâmetro de enchimento ajustado para o

mais próximo quanto possível da média encontrada na coleta de dados.

Mais uma diferença para o procedimento seguido no Brasil. No Brasil, cada

válvula foi ajustada para o volume desejado, que é entre 350 e 352 mL e não

ajustado para o mais próximo quanto possível da média.

Após esses ajustes, foram coletadas mais duas amostras de cada válvula e o

desvio padrão encontrado foi de 0,7.

Depois destes ajustes, o parâmetro de enchimento geral da enchedora foi

alterado, reduzindo o nível geral de enchimento em aproximadamente 2, 5 mL. Para

resumir os resultados encontrados foi feito um novo histograma, que é apresentado

na Figura 21.

45

Figura 21 - Novo histograma das amostras de cada válvula na enchedora holandesa

Pode-se notar que o procedimento usado na Holanda gerou resultados mais

favoráveis do que os do Brasil, pois o desvio padrão que antes era de 1,6, passou a

0,7 e a volume médio de enchimento passou de 503,5 para 501. Já no Brasil, o

desvio padrão inicial era maior, cerca de 5,6 e passou a 2,7, e o volume médio de

enchimento era 353 e passou para 351 mL.

46

5. CONCLUSÃO A utilização da metodologia TPM em uma enchedora de latas de uma cervejaria

brasileira permitiu reduzir 33% da perda de extrato (cerveja) no enlatamento.

Além disso, foi possível:

· Implementar uma carta de controle para o volume de enchimento.

· Incluir no plano de manutenção a troca das borrachas da tulipa que se

mostraram fundamentais para enchimento mais preciso.

· Criação e revisão de procedimentos operacionais relacionados aos

parâmetros que influenciam no enchimento.

Conclui-se também, através do benchmark feito pela autora desta monografia

numa cervejaria holandesa que:

· É fundamental que apenas uma pessoa tenha acesso ao ajuste dos

parâmetros de enchimento para evitar que o desvio padrão volte a aumentar.

· É clara a dependência de nível de enchimento estável ao procedimento de

manutenção da borracha da tulipa, bem como sua troca a cada três meses.

· O procedimento utilizado na Holanda se mostrou mais eficiente que o

utilizado no Brasil.

Por fim, conclui-se que, em ambos os países, os projetos desenvolvidos nesta

monografia trouxeram um ganho financeiro significativo para as cervejarias através

da redução de perda de cerveja, além de revisão de procedimentos e treinamentos

para os colaboradores, a fim de manter o resultado alcançado. A metodologia TPM

mostrou-se muito eficiente, pois evidenciou as principais falhas e indicou o caminho

a ser seguido para evitar que essas falhas voltassem a acontecer.

47

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VENTURI, W, G, F. Bebidas Alcoólica: Ciência e Tecnologia. São Paulo: Bucher,

2010.

YAMAGUCHI, C. T. TPM – manutenção produtiva total. São João Del Rei: ICAP,

2005.

49

ANEXOS

Anexo A – Procedimento operacional para inspeção nas borrachas da tulipa

TIPO: CASO DE MELHORIA CASO DE MELHORIA

TEMA:

DATA

DISSEMINADOR

TREINADO

TREINADO

CONHECIMENTO BÁSICO CASO DE PROBLEMA

INSPEÇÃO NAS BORRACHAS DE VEDAÇÃO DAS TULIPAS (ENCHEDORAS DE LATAS)

Deformação

As borrachas das tulipas centradoras devem ser

inspecionadas de acordo com o plano CILT...

...se durante a inspeção for identificado algum

tipo de anomalia, seguir as instruções da LPP

n° 4470,...com isso garantimos o melhor tamponamento

da lata evitando problemas com latas mal cheias,

ar alto, etc.

Training & Education

Deve ser inspecionada a integridade das borrachas.

Abaixo há exemplos de borrachas danificadas, sua substituição é necessária.

Cortada

50

Anexo B – Fatores para a construção de gráficos de Controle por Variáveis