aplicaÇÃo do roteiro crÍtico de projetos em cursos de graduaÇÃo

9

Click here to load reader

Upload: flavio-barros

Post on 02-Oct-2015

215 views

Category:

Documents


1 download

DESCRIPTION

Atualmente o MEC tem direcionado recomendações, por intermédio de suas comissões de especialistas,para que haja uma maior flexibilização e regionalização da instituição de ensino superior(IES). As diretrizes curriculares devem ser mais flexíveis, possibilitando maior liberdade na elaboraçãodos currículos das faculdades. De acordo com essas novas propostas, as disciplinas que fazem partede um mesmo semestre devem estar em harmonia, possibilitando ao aluno uma disciplina que englobee utilize as outras. Este trabalho apresenta os resultados da aplicação de um roteiro crítico de projetoe suas respectivas ferramentas no desenvolvimento de produtos em projetos de graduação de algunscursos, como: Engenharia de controle e automação, Engenharia mecânica e Design de produto. Estescursos foram ministrados em IES diferentes com matrizes curriculares distintas e consequentementecom perfis de alunos também diferentes. Os alunos, de acordo com os planos de ensino das disciplinas,teriam que elaborar um determinado projeto. Dentro deste contexto, decidiu-se levá-los a utilizar umroteiro de projetos como ferramenta metodológica desde a elaboração até a conclusão do projeto. Asdisciplinas foram oferecidas por um semestre e foram apresentados o roteiro crítico de projetos e asferramentas metodológicas (métodos intuitivos e métodos discursivos). O artigo pretende mostrar quea aplicação de um roteiro de projetos traz resultados positivos para os alunos de graduação nos maisdiferentes perfis, tanto IES como alunos, chegando-se à produção dos produtos propostos.

TRANSCRIPT

  • APLICAO DO ROTEIRO CRTICO DE PROJETOS EM CURSOS DE GRADUAO 35

    Revista de Ensino de Engenharia, v. 29, n. 2, p. 35-43, 2010 ISSN 0101-5001

    APLICAO DO ROTEIRO CRTICO DE PROJETOS EM CURSOS DE GRADUAO1

    Geraldo Gonalves Delgado Netoaa, Ludmila Corra de Alkmin e Silvabb,

    Vivianne Cabral Vieiracc, Franco Giuseppe Dedinidd

    RESUMOAtualmente o MEC tem direcionado recomendaes, por intermdio de suas comisses de espe-

    cialistas, para que haja uma maior flexibilizao e regionalizao da instituio de ensino superior (IES). As diretrizes curriculares devem ser mais flexveis, possibilitando maior liberdade na elabora-o dos currculos das faculdades. De acordo com essas novas propostas, as disciplinas que fazem parte de um mesmo semestre devem estar em harmonia, possibilitando ao aluno uma disciplina que englobe e utilize as outras. Este trabalho apresenta os resultados da aplicao de um roteiro crtico de projeto e suas respectivas ferramentas no desenvolvimento de produtos em projetos de graduao de alguns cursos, como: Engenharia de controle e automao, Engenharia mecnica e Design de produto. Estes cursos foram ministrados em IES diferentes com matrizes curriculares distintas e consequentemente com perfis de alunos tambm diferentes. Os alunos, de acordo com os planos de ensino das disciplinas, teriam que elaborar um determinado projeto. Dentro deste contexto, decidiu-se lev-los a utilizar um roteiro de projetos como ferramenta metodolgica desde a elaborao at a concluso do projeto. As disciplinas foram oferecidas por um semestre e foram apresentados o roteiro crtico de projetos e as ferramentas metodolgicas (mtodos intuitivos e mtodos discursivos). O artigo pretende mostrar que a aplicao de um roteiro de projetos traz resultados positivos para os alunos de graduao nos mais diferentes perfis, tanto IES como alunos, chegando-se produo dos produtos propostos.

    Palavras-chave: Desenvolvimento de produto. Ensino de engenharia. Metodologia de projeto.

    ABSTRACT Nowadays, the MEC aims to achieve greater flexibility and regionalization of the institution of

    higher education (IES), through its commission of experts. The guidelines curriculum should be more flexible, allowing greater freedom in the preparation of curriculum of the faculties. Under these new proposals, the disciplines that are part of the same semester must be in harmony, allowing the student to do a discipline that embraces and use the others. The proposal is to present the results of the imple-mentation a critical project routine and their tools in the development of products in the discipline of projects for graduation of some courses, such as: Control and automation engineering, Mechanical en-gineering and Product design, in different IES. So the matrices curriculum and profiles of the students are also different for each courses. The students would develop a specific project. Within this context it was decided to bring them to be used as a projects routine with methodological tool since the conception until the complete project. The subjects were offered for a semester and were presented the critical projects routine and methodological tools (intuitive methods and discourse methods). This paper aims to show the implementation of the projects routine brings positive results for students of graduation in many different profiles, both IES as students, getting to the creation of the products presented.

    Keywords: Design methodology. Enginner eduction. Product design.

    1 Artigo originalmente apresentado no V Congresso Nacional de Engenharia Mecnica/2008.a Doutorando e Mestre em Engenharia Mecnica, Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP - Faculdade de Engenharia Mecni-

    ca, Rua Mendeleiev, s/n - Cidade Universitria "Zeferino Vaz" Baro Geraldo - Campinas - SP- Caixa Postal 6122 CEP: 13.083-970, (19) 3521-3188, [email protected]

    b Doutoranda e Mestre em Engenharia Mecnica, Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP - Faculdade de Engenharia Mecni-ca, Rua Mendeleiev, s/n - Cidade Universitria "Zeferino Vaz" Baro Geraldo - Campinas - SP- Caixa Postal 6122 CEP: 13.083-970, (19) 3521-3188, [email protected]

    c Mestranda em Engenharia Mecnica, Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP - Faculdade de Engenharia Mecnica, Rua Mendeleiev, s/n - Cidade Universitria "Zeferino Vaz" Baro Geraldo - Campinas - SP- Caixa Postal 6122 CEP: 13.083-970, (19) 3521-3188, [email protected]

    d Professor Associado MS-5 da Unicamp, PhD em Mecnica Aplicada pelo Politcnico de Milo, Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP - Faculdade de Engenharia Mecnica, Rua Mendeleiev, s/n - Cidade Universitria "Zeferino Vaz" Baro Geraldo - Campinas - SP- Caixa Postal 6122 CEP: 13.083-970, (19) 3521-3188, [email protected]

  • APLICAO DO ROTEIRO CRTICO DE PROJETOS EM CURSOS DE GRADUAO36

    Revista de Ensino de Engenharia, v. 29, n. 2, p. 35-43, 2010 ISSN 0101-5001

    INTRODUO

    O ensino superior no Brasil vive hoje um momento bastante peculiar. H aproximada-mente 10 anos o ingresso no nvel superior era modesto para os padres continentais do pas e o que se viu desde ento foi o aumento significati-vo do nmero de instituies de ensino superior (IES), aumento no nmero de cursos e aumento no nmero de matriculados, apresentando um crescimento notvel no ensino superior.

    consenso que, hoje, o ensino deve ser vol-tado para a formao de cidados preparados para atuar de forma crtica na sociedade. Com isso deve-se focar a educao na capacidade de resolver problemas, enfrentar desafios atravs do raciocnio crtico e da autonomia. Tambm papel fundamental dar oportunidade aos alunos de colocar em prtica os conhecimentos adquiri-dos.

    A gerao atual vive a era da informao e isso gera muitas mudanas no mercado de traba-lho, o que estabelece mudanas tambm na edu-cao. Hoje, o que se v nas empresas a neces-sidade de pessoas capazes de gerenciar tarefas, avaliar resultados e trabalhar de forma colabo-rativa. As empresas cada vez mais necessitam de profissionais generalistas que se sintam vontade em serem desafiados e a usarem a cria-tividade. E dentro deste contexto profissional que o mundo acadmico deve passar a agir.

    O presente artigo prope-se a apresentar a aplicao do roteiro crtico de projetos em cursos de graduao, mais especificamente nos cursos de Engenharia mecnica (em uma IES pblica), Engenharia de controle e automao (em uma IES privada) e Design de produtos (em uma IES privada).

    O perfil dos alunos dos referidos cursos so diferentes em vrios aspectos: regio, curso, instituio, recursos financeiros etc. O que gera uma linha comum entre eles que a qualquer momento durante sua vida acadmica ser soli-citado o desenvolvimento de um projeto de pro-duto que supra uma necessidade em particular. Assim cabe ao educador fornecer subsdios em forma de modelos e mtodos de forma a susten-tar os alunos para responder a esta solicitao acadmica, assim como a uma provvel deman-da real do mercado e indstrias.

    Existem inmeras definies para a pala-vra e o conceito projeto, que coincidem ou diver-gem em reas de aplicao diversas, mostrando como ampla a conceituao do ato de projetar.

    Cada autor ou pensador tem sua definio ti-ma a respeito. Como descrito por Ertas e Jones (1993), design de engenharia o processo de de-senvolver um sistema componente ou processo, de forma a atender determinadas necessidades.

    um processo de deciso, muitas vezes in-terativo, no qual as cincias bsicas matemti-ca e cincias da engenharia so aplicadas para converter recursos otimizados para o atendimen-to de um objetivo primrio.

    Na viso de Back (1983), o projeto de enge-nharia uma atividade orientada para o aten-dimento das necessidades humanas, principal-mente daquelas que podem ser satisfeitas por fatores tecnolgicos de nossa cultura.

    Para Pahl et al.(2005), o projeto metdico possibilita uma racionalizao eficaz do processo de projeto e produo.

    Metodologia o estudo dos mtodos aplica-dos a solues de problemas tericos e prticos. O conceito mtodo deriva etimologicamente do grego-latino e significa caminho para alguma coisa, caminho para se chegar a um fim ou andar ao longo de um caminho.

    Nesse sentido, as metodologias so aplica-das no desenvolvimento de produtos. Assim, se-gundo Uriich e Eppinger (2004), existem quatro tipos de produtos a serem desenvolvidos: novas plataformas de produtos; plataformas derivadas de produtos existentes, melhoramentos em pro-dutos existentes e finalmente, produtos funda-mentalmente novos.

    Em todos os tipos, para se obter bons re-sultados, independentemente de acasos, neces-sria a adoo de metodologias no processo de criao. A metodologia nada mais do que um modelo de trabalho com formas de execuo, me-lhoramento e avaliao de tarefas, e, portanto, deve-se ficar atento crena que, de sua aplica-o, resultaria automaticamente um bom proje-to.

    METODOLOGIA DE PROJETO DESENVOLVIDA

    O primeiro autor que abordou de uma for-ma mais orientada as atividades desenvolvidas ao longo do processo de projeto de engenharia, foi Asimow, M., em 1962, com a obra Introduction to design: fundamentals of engineering design.

    Em 1972 1974, Pahl, G. e Beitz, W., pu-blicaram uma srie de artigos em revistas, des-crevendo a prtica de projeto, como resultado

  • APLICAO DO ROTEIRO CRTICO DE PROJETOS EM CURSOS DE GRADUAO 37

    Revista de Ensino de Engenharia, v. 29, n. 2, p. 35-43, 2010 ISSN 0101-5001

    de pesquisas de diversos centros acadmicos na Alemanha. Surge, assim, a sistematizao do processo de desenvolvimento de produtos. Pahl, G. e Beitz, W. sempre apresentam toda a siste-matizao de projeto de forma grfica, com fluxo-gramas e diagramas de bloco, buscando facilitar a visualizao e apresentao da metodologia de projeto de forma didtica.

    Em 1985, surge a metodologia baseada na norma alem VDI 2222, derivada da VDI 2221 de 1977. A VDI 2222 procura determinar de forma geral o que deve ser o ato de projetar, e busca delimitar o campo de projeto, apresentando um fluxo comum a todas as metodologias propostas para a atividade de projeto.

    A partir desses autores e desta norma, de-senvolveu-se uma morfologia do roteiro crtico de projeto que auxilia o aluno nas etapas necess-rias para a criao de um novo projeto e pro-move a melhoria contnua no desenvolvimento de novos produtos com maior qualidade.

    O roteiro crtico de projeto todo desenvol-vido em etapas, com informaes e explicaes, que auxiliam o aluno. Aps as etapas concludas, o aluno obtm um relatrio com os conceitos fun-damentais para o desenvolvimento do projeto. Na figura 1 apresentada a morfologia do rotei-ro crtico com os resultados de cada uma de suas fases.

    Figura 1 - Processo de desenvolvimento do produto, adap-tado Dedini (2002)

    Na figura 2 so mostradas as etapas das trs fases de atuao: estudo de viabilidade, pro-jeto preliminar e projeto detalhado. Pode-se ver, tambm, na figura, as atividades envolvidas em cada fase.

    Figura 2 - Etapas que compem a morfologia do roteiro crtico de projeto

    O desenvolvimento do produto envolve as seguintes fases de projeto: estudo de viabilidade, projeto preliminar e projeto detalhado. Um as-pecto fundamental dessas fases a sua relativa independncia de forma que ao final das ativi-dades de uma das fases ela no ser mais reto-mada. Isso permite um gerenciamento eficiente de prazos e metas, assim como de parmetros de projeto. Outra vantagem deste procedimento a obrigatoriedade de varredura de todas as possi-bilidades, permitindo atingir resultados novos ou promissores em pouco tempo, apesar da longa fase inicial, fundamentalmente criativa. Assim, de todas as fases no ensino, destaca-se a fase de estudo de viabilidade, uma vez que nela so de-finidas as caractersticas do produto que deter-mina o seu desempenho ao longo do ciclo de vida (DEDINI, 2002).

    ETAPAS QUE COMPEM A MORFOLOGIA DO ROTEIRO

    CRTICO DE PROJETO ESTUDO DE VIABILIDADE

    Fundamentalmente esta uma etapa de elaborao de solues alternativas usando a criatividade e a coleta de informaes como cha-ve. No desenvolvimento desta etapa so previs-tos testes experimentais com prottipos funcio-nais a fim de testar um ou outro princpio de funcionamento. Tambm nesta fase um primeiro esboo de valor e custo deve ser elaborado atra-vs da engenharia do valor. uma fase onde o aluno se sente tentado a burlar o processo, pois

  • APLICAO DO ROTEIRO CRTICO DE PROJETOS EM CURSOS DE GRADUAO38

    Revista de Ensino de Engenharia, v. 29, n. 2, p. 35-43, 2010 ISSN 0101-5001

    foi treinado pela sociedade e pela formao aca-dmica tradicional a rejeitar as novidades e dife-renas. No entanto, seguidos os procedimentos e ferramentas indicados, o aluno em geral, ganha motivao e confiana, pois encontra apoio em seus questionamentos e intuies.

    ESTUDO DE VIABILIDADE - ANLISE DE NECESSIDADES

    O primeiro passo para o estudo de viabili-dade de um projeto a anlise das necessidades que o mercado apresenta, e que o esforo de en-genharia tem condies de suprir. A necessidade pode estar oculta ou ainda nem existir, sendo in-duzida ou evocada quando houver disponibilida-de de meios econmicos para sua satisfao. Ela tambm pode ser sugerida por uma realizao tcnica que torne possvel os meios para a sua satisfao, como no caso de novos desenvolvi-mentos tecnolgicos, a exemplo das telas de LCD orgnico, que permitem a miniaturizao de te-las com alta definio em celulares e relgios.

    A correta identificao da necessidade fundamental para justificar o investimento do tempo no desenvolvimento do projeto e sua rea-lizao.

    Existem dificuldades para se atingir a cor-reta identificao das necessidades de mercado. Assim, deve-se evitar o risco de se impor con-cepes ao mercado consumidor. Muitas ideias geniais no encontraram respaldo no mercado, seja por momentos inadequados, custo ou sim-plesmente fatores de moda e convenes sociais.

    As ferramentas mais utilizadas neste caso so a pesquisa de mercado e o QFD , desdobra-mento da funo qualidade, basicamente na for-ma da primeira casa da qualidade, como descri-to por Machado (2000), e Cheng e Melo Filho (2007).

    ESTUDO DE VIABILIDADE - EXPLORAR SISTEMAS

    ENVOLVIDOS

    Para execuo desta etapa fundamental se estudar e conhecer o problema do projeto, ou a necessidade. Aps ter esta identificao clara-mente definida, surgir algum esboo de ideias para o projeto, que devero combinar princpios, materiais e componentes. Para a realizao do projeto, possvel combinar tcnicas novas com j conhecidas.

    Nesta etapa, a criatividade para se criar novos produtos fundamental. Caso as solues para o projeto no sejam satisfatrias, pode-se passar para a etapa seguinte a qual apresenta algumas metodologias de criatividade.

    Tal fase composta pela utilizao do dia-grama funcional, como indicado por Pahl et al. (2005), ou o desenvolvimento do quadro funcio-nal ou morfolgico, que fornece aos alunos uma viso sistemtica das funes e dos componen-tes necessrios ao funcionamento do sistema e permite uma explorao sistemtica de todas as possveis variantes para um dado sistema, con-forme indicado por Ulrich e Eppinger (2004).

    ESTUDO DE VIABILIDADE - SOLUES ALTERNATIVAS

    Nesta etapa, atravs de algumas ferramen-tas auxiliares na criao de novas ideias, criam-se solues alternativas mais viveis, e, a partir dessas, elaboram-se desenhos, maquetes e dia-gramas, dentre outros, bem como comparam-se com as alternativas e solues j existentes para o projeto. Criatividade a capacidade de formar mentalmente ideias, imagens e situaes abstra-tas, ou ainda a capacidade de dar existncia a algo novo, nico e original, porm com objetivi-dade.

    No projeto pode-se usar a criatividade como uma forma eficiente de desenvolver novas ideias. Basicamente o projeto , em todas as suas fases, um ato criativo, no qual a intuio e a metodo-logia tm funo complementar (BACK, 1983).

    ESTUDO DE VIABILIDADE - VIABILIDADE FSICA

    Na fase anterior foi gerado um conjunto de possveis solues, que foi planejado mental-mente e a partir do qual foram gerados alguns esboos. Levando em conta alguns dos fatores ou elementos principais, dos quais depende o pro-jeto, faz-se possvel a construo de prottipos e testes dos referidos princpios, o que aumenta a segurana para o incio da realizao fsica do projeto.

    Esta fase leva em conta a possibilidade de construo das concepes realizadas nas fases anteriores, tendo por base fatores como custo, materiais, tecnologia envolvida, horas de traba-lho, tempo de desenvolvimento etc. E com o re-sultado disso, tem-se uma maior confiabilidade

  • APLICAO DO ROTEIRO CRTICO DE PROJETOS EM CURSOS DE GRADUAO 39

    Revista de Ensino de Engenharia, v. 29, n. 2, p. 35-43, 2010 ISSN 0101-5001

    e segurana para continuar o desenvolvimento. O desenvolvimento de projetos com maior apelo social ou humanitrio abordado nesta fase com maior rigor (ALVARENGA, 2006).

    ESTUDO DE VIABILIDADE - VIABILIDADE ECONMICA

    Nenhum projeto ser um bom projeto se o seu valor no compensar o esforo investido.

    Para que o termo valor no seja subjetivo, e para que se possa determinar o valor final, ob-jetivamente, deve-se calcular o valor de um pro-duto por meio da soma dos custos da matria-prima, mo de obra, energia e capital. O valor econmico pode ser estabelecido pela prpria vontade do consumidor de continuar a comprar e de pagar os preos propostos, como indicado por Mario Csilag (1995) em suas publicaes sobre anlise do valor.

    O projetista tambm deve predizer a inten-sidade do valor do produto para o consumidor, de modo que possa estimar o potencial do merca-do, pois a sua escolha de uma concepo para o projeto deve ser condicionada ao valor econmico de cada um dos principais protagonistas do ciclo produo, at o consumidor. por esta razo que o projetista deve estar preparado e capacitado a colocar-se mentalmente nos estados econmicos e psicolgicos de cada um dos seguimentos: pro-dutor, distribuidor e consumidor, como explana-do por Viviani (1998). Ao aluno de graduao de-vem ser estimulados estes conceitos, ainda que de modo abstrato, pois deles depender o sucesso ou no do produto, quando lanado no mercado real.

    ESTUDO DE VIABILIDADE - VIABILIDADE FINANCEIRA

    A existncia da possibilidade de lucro ou balano monetrio financeiro positivo no deve ser o nico parmetro envolvendo fatores econ-micos, pois um produto pode ter lucro durante um perodo de tempo to pequeno que no jus-tifica o esforo financeiro para sua produo da-quela forma ou naquele momento. importante ao aluno entender que o total de ativos e passi-vos utilizados no projeto desenvolvimento e pro-duo de um bem de consumo ou produto em particular deve ser de tal ordem a permitir seu ressarcimento e posterior ganho financeiro. Des-sa forma, no basta pensar um produto que seja

    to especial que tenha tudo, mas que no ge-rar ganhos suficientes para cobrir as despesas para seu desenvolvimento e produo. Algum tem que pagar pelo produto e algum tem que pagar pela produo.

    Um projeto de engenharia quase sempre exige uma sntese dos fatores tcnicos, humanos e econmicos. Assim, torna-se necessrio consi-derar os fatores sociais, polticos e muitos outros, toda vez que qualquer um destes se mostre rele-vante, conforme aponta Viviani (1998).

    ESTUDO DE VIABILIDADE DOCUMENTAO GERADA NO

    ESTUDO DE VIABILIDADE

    Como resultado desta fase do projeto, a se-guinte documentao gerada para a fase pos-terior:

    - Descrio dos consumidores do produto;- Descrio dos requisitos/necessidades

    dos consumidores;- Descrio da competitividade do produto

    em relao aos consumidores;- Descrio dos requisitos de engenharia;- Descrio da competitividade do produ-

    to em relao aos requisitos de engenha-ria;

    - Descrio dos objetivos de engenharia;- Descrio dos ttulos e objetivos de cada

    tarefa;- Esboos e maquetes das variantes de-

    senvolvidas;- Esboos e diagramas mostrando como

    funciona cada parte do produto;- Esquema global do produto mostrando

    as funes das partes ou subsistemas;- Literatura consultada na pesquisa sobre

    o produto;- Resultado de pesquisa sobre patentes

    requeridas em relao ao produto;- Relatrio de aplicao de processos QFD

    na definio do produto;- Relatrio de aplicao de processos cria-

    tivos na definio do produto;- Relatrio de aplicao de engenharia do

    valorEsta documentao contm toda informa-

    o gerada na fase inicial do projeto e deve ser agora utilizada para uma apresentao ao res-ponsvel pelo gerenciamento do projeto e desta forma, decidir se o projeto dever continuar ou no.

  • APLICAO DO ROTEIRO CRTICO DE PROJETOS EM CURSOS DE GRADUAO40

    Revista de Ensino de Engenharia, v. 29, n. 2, p. 35-43, 2010 ISSN 0101-5001

    ETAPAS QUE COMPEM A MORFOLOGIA DO ROTEIRO

    CRTICO DE PROJETO PROJETO PRELIMINAR

    A etapa do projeto preliminar inicia-se com um conjunto de solues teis desenvolvidas no estudo de viabilidade. O objetivo de um projeto preliminar estabelecer qual das alternativas propostas apresenta a melhor concepo para o projeto. Cada uma das solues alternativas fica sujeita anlise detalhada at que fique clara uma classificao da melhor e pior. Com os es-tudos de sntese, so estabelecidos os limites de controle para cada parmetro do projeto, assim como os limites de tolerncia nas caractersticas dos elementos constituintes do projeto.

    Nesta etapa, a avaliao dos materiais, processos construtivos, assim como o arranjo dos componentes e suas formas geomtricas, per-mitem caracterizar os parmetros importantes para o projeto. Atravs de recursos matemticos possvel fazer um modelo matemtico para o projeto e prever o seu possvel desempenho. estabelecida uma otimizao de carter geral (tcnico construtivo/ econmico/ desempenho) e um ou mais projetos so liberados para detalha-mento. Na parte experimental so elaborados prottipos funcionais para testar caractersticas inovativas e de desempenho, e prottipos em es-cala (ou maquetes) para verificar problemas de montagem e acesso, bem como de aceitao (va-lores estticos). Confiabilidade, otimizao tcni-ca / funcional, e valorao so pontos fundamen-tais desta fase.

    ETAPAS QUE COMPEM A MORFOLOGIA DO ROTEIRO

    CRTICO DE PROJETO PROJETO DETALHADO

    Nesta etapa do projeto a melhor soluo construtiva detalhada em todos os seus porme-nores, isto , cada componente calculado, de-senhado, e otimizado a fim de se chegar a um produto fabricvel. Esta a fase do projeto das tolerncias.

    Nesta etapa possvel construir os prot-tipos de pr-srie, de forma a verificar possveis problemas de montagem ou de adequao. Nessa fase so efetivadas as seguintes aes:

    - Verificao das tolerncias, formas cons-trutivas e possveis variantes do siste-ma;

    - Desenhos de componentes (dimensio-namento, tolerncias, materiais, acaba-mento superficial, tratamento trmico ou qumico etc.);

    - Composio dos componentes em sub-grupos e grupos construtivos.

    - Confeco dos desenhos de conjunto e de montagem;

    - Elaborao de uma lista final de peas;- Fabricao de prottipos e modelos ex-

    perimentais de pr-sries;- Controle final e confeco de memoriais

    de clculo e descritivos;- Elaborao de manuais de montagem,

    instalao, operao e manuteno.

    IMPORTNCIA DA DOCUMENTAO GERADA NO

    PROCESSO DE PROJETO

    Durante o processo de projeto so produzi-dos documentos que registram todas as suas fa-ses. Os tipos de documentos produzidos durante esse processo podem ser divididos em trs cate-gorias: registros de desenvolvimento do produto, relatrios para gerncia, e documentos finais do produto (fabricao, assistncia tcnica, fim de produo etc).

    As empresas normalmente mantm os re-gistros das fases de nascimento e desenvolvi-mento dos produtos para uma referncia de fu-turos desenvolvimentos ou pedidos de patentes. Um livro de projeto, sequencialmente numera-do e indexado, geralmente serve como uma boa documentao sobre o surgimento de um novo produto. Esses registros podem ser atualizados diariamente e devem conter todos os esboos, anotaes e clculos relativos ao projeto.

    A documentao mais evidente de um processo de projeto o material que descreve o produto final. Esse material composto por de-senhos de conjunto, desenhos detalhados, dese-nhos de montagem, documentos escritos para instalao, montagem, inspeo, manuteno e controle de qualidade.

    Cada tcnica discutida anteriormente pro-duz documentos que faro parte do futuro produ-to. A documentao produzida em cada uma das trs fases do projeto descrita a seguir, no de-senvolvimento de projeto atravs do programa.

  • APLICAO DO ROTEIRO CRTICO DE PROJETOS EM CURSOS DE GRADUAO 41

    Revista de Ensino de Engenharia, v. 29, n. 2, p. 35-43, 2010 ISSN 0101-5001

    Nas Figuras 3, 4, 5, 6 e 7 so apresentados exemplos de trabalhos desenvolvidos por alunos que aplicaram a metodologia de projeto.

    Figura 3 - Mecanismo articulado com servo motores (Dino) desenvolvido por alunos de primeiro semestre, utilizando metodologia de projeto. Projeto reali-zado em quatro meses

    Figura 4 - Pr-projeto de carrinho de controle remoto e projeto concludo

    Figura 5 - Ilustrao de projeto na fase de estudo de via-bilide parte da documentao entregue pelos alunos

    Figura 6 - Luminria Airequec projeto desenvolvido por alunos que foi escolhido para participar de uma mostra de escolas de design

    Figura 7 - Projetos de veculos especiais para uso em areia solta desenvolvido por alunos

  • APLICAO DO ROTEIRO CRTICO DE PROJETOS EM CURSOS DE GRADUAO42

    Revista de Ensino de Engenharia, v. 29, n. 2, p. 35-43, 2010 ISSN 0101-5001

    CONCLUSO

    Existe uma corrente de pensamento no formal dentro do desenvolvimento de produtos que prega que qualquer forma de sistematiza-o poder cedo ou tarde agir como inibidor do processo criativo. Mesmo entre os alunos de um curso tcnico existe uma concepo de que o pro-duto nasce de uma mente privilegiada, que, via de regra, tambm a personalidade mais forte dentro de um grupo de trabalho. Esses mitos di-ficultam o aprendizado e geram uma resistncia histrica dentro das disciplinas de projeto inte-grado. Ficou claro atravs de nossa experincia que existe uma possibilidade real de se vencer essas barreiras atravs da persistncia e da apli-cao sistemtica dessas metodologias ao longo de perodos de tempo relativamente curtos.

    Durante o desenvolvimento de projeto, quando se est nas etapas de desenvolvimento/ viabilidade nas quais os alunos constroem um esboo ou mesmo um pr-projeto (usando mate-riais simples como papelo, espuma de poliure-tana para esculpir e apresentar em 3D o seus es-boos), muitas vezes no fica claro para o aluno que por meio do uso de um roteiro de projeto a construo completa do produto acontecer.

    Com o tempo, os alunos passam a perceber que, se pularem alguma etapa, negligenciam al-guma documentao, o projeto fica mais sujeito ao erro e ao re-projeto.

    A aceitao deste roteiro crtico de projeto por parte dos alunos no foi unnime. Os resul-tados apresentados, comparando-se aqueles que utilizaram amplamente o conceito de metodolo-gia de projeto com os que no a utilizaram, evi-denciam a importncia destas ferramentas.

    A metodologia de projeto ou roteiro crtico de projeto tem-se apresentado como uma ferra-menta eficiente para ser aplicada na educao. Os resultados dessa aplicao so bastante fa-vorveis, uma vez que, focando-se a educao na capacidade de solucionar problemas, d-se aos alunos a oportunidade de colocar em prtica os conhecimentos adquiridos. Aos resultados prti-cos destes processos de desenvolvimento deve-se dar menor destaque que aos processos de desen-volvimento em si. Ou seja, deve-se estimular nos alunos a formalizao dos mtodos, mais do que os resultados. Esta afirmao permite focar a avaliao de forma objetiva deixando claro aos alunos os parmetros positivos do projeto de-senvolvido e sedimentando fundamentos que

    serviram de base a desenvolvimentos futuros. Espera-se que com o tempo e persistncia estes procedimentos possam reverter os mitos citados no incio desta concluso.

    AGRADECIMENTOS

    Os autores gostariam de agradecer CA-PES (Fundao Coordenao de Aperfeioamen-to de Pessoal de Nvel Superior), FAPESP ( Fundao de Amparo Pesquisa no Estado de So Paulo) e ao CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico) pelo apoio e incentivo ao longo dos ltimos anos.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    ALVARENGA, Flvia B., 2006, Proposta de uma abor-dagem metodolgica e sistematizao das fases ini-ciais do projeto para o desenvolvimento de produtos inclusivos, Tese (Doutorado em Engenharia Mecni-ca) - Universidade Estadual de Campinas, Coordena-o de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior.

    BACK, Nelson, 1983 Metodologia de projeto de pro-dutos industriais, Rio de Janeiro: Guanabara Dois, 389p.

    CSILAG, Joo Mario, 1995, Anlise do Valor, Metodo-logia do Valor, Editora Atlas, SP, 370p.

    DEDINI, F.G., 2002, Sistemas e mtodos de Proje-to, Apostila ps-graduao, Faculdade de Engenha-ria Mecnica, Universidade Estadual de Campinas, Campinas.

    DELGADO NETO, G. G., 2005, Uma Contribuio Metodologia de Projeto para o Desenvolvimento de Jo-gos e Brinquedos Infantis, Universidade Estadual de Campinas, Dissertao (Mestrado), Campinas.

    ERTAS, Atila, JESSE C. Jones, 1993, The engineering design process, 2ed., New York; Willy, 525 p.

    KING, Bob, 1999, Criatividade uma vantage competi-tive, Qualitymark, 330p.

    MACHADO, Cristiano dos Santos, Contribuio ao Estudo da Metodologia e Morfologia do Processo de Projeto Mecnico. 1997. Dissertao (Mestrado em Engenharia Mecnica) - Universidade Estadual de Campinas, Fundao de Amparo Pesquisa do Esta-do de So Paulo.

    MARTINS, Rosane Fonseca de Freitas, 2004, A gesto de design como estratgia organizacional: um modelo de integrao do design em organizaes, Universida-de Federal de Santa Catarina, Tese (Doutorado), Flo-rianpolis.

  • APLICAO DO ROTEIRO CRTICO DE PROJETOS EM CURSOS DE GRADUAO 43

    Revista de Ensino de Engenharia, v. 29, n. 2, p. 35-43, 2010 ISSN 0101-5001

    PAHL, G., BEITZ, W., FELDHUSEN, J., Grote, HEINRICH, K. , 2005, Projeto de Engenharia: funda-mentos do desenvolvimento eficaz de produtos, mto-dos e aplicaes, So Paulo: Edgard Blcher.

    ULRICH, Karl T., EPPINGER, Steven D., 2004 , Pro-duct Design and Development, McGraw Hill Irwin.

    VIVIANI, V., 1998. Influncia do Fator Econmico nas Metodologias de Projeto e Fabricao de Produtos Me-cnicos. Dissertao (Mestrado em Engenharia Mec-nica) - Universidade Estadual de Campinas.

    DADOS BIOGRFICOS DOS AUTORES

    Geraldo Gonalves Delgado Neto

    Possui graduao em Desenho industrial projeto do produto pela Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Fi-lho (2001), mestrado em Enge-nharia mecnica pela Univer-sidade Estadual de Campinas (2005) e doutorando em En-

    genharia mecnica pela Universidade Estadual de Campinas. Atualmente faz parte da equipe de desenvolvimento de projeto de produto no LabSIn (Laboratrio de Sistemas Integrados) do Departamento de projeto mecnico UNICAMP, que participa do projeto PROBRAL, Brasil & Ale-manha. Atua em outras parcerias importantes como Universidade/Empresa VANZETTI, CTI Centro da Tecnologia da Informao e Univer-sidade Tcnica de Darmstadt (Alemanha). Tem experincia na rea de engenharia mecnica, com nfase em metodologia de projeto, atuando principalmente nos seguintes temas: metodolo-gia, brinquedos, software, acessibilidade e am-bientes inclusivos.

    Ludmila Corra de Alkmin e Silva

    Possui graduao em Enge-nharia mecnica nfase em mecatrnica pela Pontifcia Universidade Catlica de Mi-nas Gerais (2004) e mestra-do em Engenharia Mecnica pela Universidade Estadual de Campinas (2007). mem-

    bro da equipe de desenvolvimento de projeto de produto no LabSIn (Laboratrio de Sistemas In-tegrados) do Departamento de projeto mecnico UNICAMP. Participou em 2008 de intercmbio

    com a Universidade Tcnica de Darmstadt (Ale-manha). Tem experincia na rea de engenharia mecnica, com nfase em projetos de mquinas. Atua principalmente nos seguintes temas: cadei-ra de rodas, dinmica veicular e controle.

    Vivianne Cabral Vieira

    Possui graduao em Comuni-cao social relaes pblicas pela Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Fi-lho (UNESP). mestranda em Engenharia mecnica na Uni-versidade Estadual de Campi-nas (UNICAMP) e cursa espe-

    cializao em Gesto de Projetos. Faz parte da equipe de desenvolvimento de projeto de produto no LabSIn (Laboratrio de Sistemas Integrados) do Departamento de projeto mecnico UNI-CAMP. Suas reas de interesse so a gesto de projetos, a metodologia de projeto, o pensamento enxuto e o desenvolvimento de produtos.

    Franco Giuseppe Dedini

    Possui graduao em Enge-nharia mecnica pela Univer-sidade Estadual de Campinas (1980), mestrado em Enge-nharia mecnica pela Univer-sidade Estadual de Campinas (1985) e PhD em Mecnica aplicada pelo Politcnico de

    Milo (1993). Atualmente professor associado - MS5 da Universidade Estadual de Campinas, Revisor das revistas Product (1676-4056), Inter-national journal of quality and reliability mana-gement, SAE Technical Papers, Revista Brasilei-ra de Cincias Mecnicas e Cincia & Engenha-ria. Responsvel pela equipe de desenvolvimento de projeto de produto do LabSIn (Laboratrio de Sistemas Integrados) do Departamento de Pro-jeto Mecnico UNICAMP. Tem experincia na rea de engenharia mecnica, com nfase em projeto mecnico, atuando principalmente nos seguintes temas: desenvolvimento de produtos, dinmica veicular, projeto de mquinas, meto-dologia de projeto e gerenciamento de projeto. Bolsista de produtividade em pesquisa do CNPq - Nvel 2.