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“O Filho Amado se fez maldito, para que os malditos fossem

feitos filhos amados, Ele se fez o que nós somos, para nos fazer o

que Ele é”.

Pr. Plínio Sousa.

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SUMÁRIO

CRISTO — O VERDADEIRO EVANGELHO ------------------------------------------------------------- 5

Os dois relatos que retratam a realidade do homem diante de Deus. ....................................................... 7 Justificação. ............................................................................................................................................ 8 Relação da fé com a justificação. ........................................................................................................... 13 Coração contrito e suplicante. .............................................................................................................. 15 Pensemos no que significa. ................................................................................................................... 17 Pecado original e o conhecimento de nós mesmos. ............................................................................... 19 O pecado original de Adão afeta toda sua posteridade. .......................................................................... 21 A definição de depravação total. ........................................................................................................... 23 O termo corrupção radical. .................................................................................................................. 23 A iniciativa divina. ............................................................................................................................... 25 A regeneração e o monergismo. ............................................................................................................ 25 A escravidão do arbítrio........................................................................................................................ 26 Santificação. ......................................................................................................................................... 28 Santificação e boas obras. ...................................................................................................................... 31 As boas obras no sentido especificamente teológico. .............................................................................. 32 As boas obras num sentido mais geral. .................................................................................................. 32 O caráter meritório das boas obras. ....................................................................................................... 33 Necessidade das boas obras. .................................................................................................................. 35 Os substantivos que denotam santificação e santidade. .......................................................................... 36

CRISTO O ÚNICO CAMINHO PARA O CÉU ------------------------------------------------------ 38

A única forma, fonte e meio de salvação. .............................................................................................. 39 Um homem que se deita na sepultura não se levantará outra vez – a morte e o triunfo de Cristo. ......... 41

O SANGUE DE CRISTO ---------------------------------------------------------------------------------------------------- 45

O ofício sacerdotal de Cristo — Expiação, reconciliação, intercessão. ..................................................... 49 A parábola sobre carros. ....................................................................................................................... 58 Somos protegidos pelo sangue? Sim! ..................................................................................................... 64 Causa motora da expiação. ................................................................................................................... 68 Provas da necessidade da expiação. ....................................................................................................... 69

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CRISTO — O VERDADEIRO EVANGELHO

“E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos [...]. Porque há um só Deus e um só Mediador entre Deus e o ser humano, Cristo Jesus, homem” (Atos 4:12; 1 Timóteo 2:15). O verdadeiro Evangelho é a boa notícia de que Deus salva pecadores. O homem é por natureza pecador e separado de Deus, sem qualquer esperança de reparar essa situação. Entretanto, Deus providenciou o meio da redenção do homem na morte, sepultamento e ressurreição do salvador, Jesus Cristo. A palavra “evangelho” (euangeliō – εὐαγγελίῳ) significa literalmente “boas novas”; as boas novas da salvação através de Cristo; a proclamação da graça de Deus manifesta e garantida em Cristo. Entretanto, para realmente compreender quão boas essas novas são, devemos primeiramente compreender a má notícia. Como resultado da queda do homem no Jardim do Éden (Gênesis 3:6), toda parte da mente do homem, sua vontade, emoções e carne, tem sido corrompido pelo pecado, o homem em sua extensão é totalmente depravado, nascendo inimigo de Deus, quebrando assim todas as suas leis, e por este motivo o homem nunca buscaria a Deus (Efésios 2:3; Romanos 3:23). Devido à queda, o homem é incapaz de, por si mesmo, crer de modo salvador no Evangelho. O pecador está morto, cego e surdo para as coisas de Deus. Seu coração é enganoso e desesperadamente corrupto. Sua vontade não é livre, pois está escravizada à sua natureza má, pecaminosa, por isso ele não irá – e não poderá jamais – escolher o bem e não o mal em assuntos espirituais. Por conseguinte, é preciso mais do que simples

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assistência do Espírito para se trazer um pecador a Cristo. É preciso a regeneração, pela qual o Espírito vivifica o pecador e lhe dá uma nova natureza. “A fé não é algo que o homem dá (contribui) para a salvação, mas é ela própria parte do dom divino da salvação. É o dom de Deus para o pecador e não o dom do pecador para Deus” (cf. Salmos 51:5; Jeremias 13:23; Romanos 3:10 – 12; 7:18; 1 Coríntios 2:14; Efésios 1:3 – 12; Colossenses 2:11 – 13). Nós não estamos prontos para ouvir o Evangelho até primeiro entender a acusação contra a humanidade, que vem até nós mesmos, culpando-nos diante de Deus. A visão da humanidade que vemos em Romanos 3:10 – 20 está em rota de colisão, com tudo a nossa cultura nos diz sobre a nossa condição natural, não real. As pessoas hoje discordam profundamente com a avaliação do apóstolo Paulo acerca de nossa condição, mas não devemos nos prender ao que nós como pessoas caídas pensamos de nós mesmos. O que importa é a avaliação de nossa condição em relação à santidade de Deus, pois os nossos corações são corruptos e enganosos. “Enganoso é o coração,

mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?” (Jeremias 17:9). Romanos 3:19 – 26: — Aqui nos deparamos outra vez com uma passagem não muito fácil de entender, mas muito rica em conteúdo quando se compreende seu verdadeiro significado. Vejamos se podemos chegar à verdade básica escondida nela. O supremo problema da vida é: — Como pode entrar o homem em uma relação correta com Deus? Como pode sentir-se em paz, tranquilo, à vontade com Deus? Como pode o homem escapar ao sentimento de alienação e medo na presença de Deus? A religião

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mais antiga, a religião do judaísmo, respondia: — “Um homem pode alcançar a relação justa com Deus seguindo ao pé da letra o que diz a Lei. Se cumprir todas as obras da Lei, chegará a estar bem com Deus”. Mas dizer isso é o mesmo que dizer que o homem não tem possibilidade de alcançar a relação justa com Deus, absolutamente, nenhuma relação. Ninguém poderá nunca guardar cada um dos mandamentos da Lei. Simplesmente porque o homem é uma criatura imperfeita não pode alcançar uma obediência perfeita, Ele é um inimigo de Deus – que é Santo – e, corrompe tudo aquilo que toca. Ninguém poderá jamais ser capaz de prestar um serviço perfeito à infinita perfeição de Deus.

Os dois relatos que retratam a realidade do homem diante de Deus.

Em um dos livros do H. G. Wells (Herbert George Wells – 1866 — 1946) encontra-se a história de um homem de negócios cuja mente estava tão tensa e, forçada que estava em sério perigo de uma crise nervosa e mental total. Seu médico lhe disse que a única coisa que poderia salvá-lo era achar a paz que a relação com Deus podia dar-lhe. “O que”, respondeu, “pensar que aquilo, lá encima, possa ter comunhão comigo? Seria mais fácil pensar em refrescar minha garganta com a via Láctea ou estreitar as estrelas com as mãos!”. Deus, para ele, era completamente inalcançável. Rosita Forbes (16 de Janeiro de 1890 – 30 de Junho 1967), a viajante, relata que uma noite buscou refúgio em um templo de uma aldeia chinesa, porque não havia onde dormir. Despertou durante a noite e a luz da Lua incidia (atenuava) obliquamente através das janelas sobre os rostos das imagens dos deuses, e em cada rosto se

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desenhava um grunhido e um gesto de desprezo, como se os homens se odiassem. Retomando, então do que serve a Lei? A Lei serve para que o homem se dê conta do pecado; a Lei é um espelho, que mostra onde estamos sujos (Tiago 1:22 – 25), mas ninguém lava o rosto no espelho. Deus não nos dá o seu Espírito por razão de obedecermos a Lei, mas porque confiamos em Cristo. Somente quando o homem sabe o que tem que fazer, pode dar-se conta de que não o está fazendo. Só quando o homem conhece a Lei e tenta cumpri-la se dá conta de que não a está cumprindo. A Lei tem a finalidade de demonstrar ao homem sua pecaminosidade e sua fraqueza. Está, então, o homem alienado de Deus? Longe disso. Porque o caminho a Deus não é o caminho da Lei, mas o caminho da graça. Não é o caminho das obras, mas o caminho da fé, e se existem as obras, é para evidenciar

a fé, mas é a fé que é o fundamento — Sola Fide. Para esclarecer o que quer dizer, Paulo utiliza três metáforas: Primeiro, usa a metáfora do “tribunal”, que é a metáfora que nós chamamos justificação. Lembremos novamente que o problema é como pode o homem entrar em uma relação justa com Deus? Esta metáfora entende que o homem está em juízo perante Deus.

Justificação.

A palavra grega que se traduz como justificar é “dikaioun – δικαιοῦν”. Todos os verbos gregos que terminam em (oun – οῦν) significam não fazer algo a alguém, mas, tentar julgar, ter em conta a alguém como algo. Se um homem se apresentar perante um juiz, e esse homem é inocente, então tratá-lo como inocente é absolvê-lo.

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Mas quanto a Deus e o homem, o fato é que quando o homem se apresenta perante Deus, é qualquer coisa menos inocente, é completamente culpado, e, no entanto, Deus com sua assombrosa misericórdia, trata-o, julga-o e o considera como se fosse inocente. Isto é o que significa a justificação. O verbo “diakaioo” significa, em geral, “declarar que uma pessoa é justa”. Ocasionalmente se refere a uma declaração pessoal de que o caráter moral da pessoa está em conformidade com a lei, Mateus 12:37; Lucas 7:29; Romanos 3:4. Nas epístolas de Paulo, é evidente que o significado soteriológico do termo ocupa o primeiro plano. É, “declarar em termos forenses que as exigências da lei, como condição de vida, estão plenamente satisfeitas com relação a uma pessoa”, Atos 13:39; Romanos 5:1, 9; 8:30 – 33; 1 Coríntios 6:11; Gálatas 2:16; 3:11. No caso desta palavra, exatamente como no “hitsdik”, o sentido forense do termo é comprovado pelos seguintes fatos: — [1] – em muitos casos ela não se presta para outro sentido, Romanos 3:20 – 28; 4:5 – 7; 5:1; Gálatas 2:16; 3:11; 5:4; [2] – é posta em relação antiética com o termo “condenação” em Romanos 8:33, 34; [3] – expressões equivalentes e intercambiáveis veiculam uma idéia judicial ou legal, João 3:18; 5:24; Romanos 4:6, 7; 2 Coríntios 5:19; e [4] – se não tivesse este sentido, não haveria distinção entre justificação e santificação.

“Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo [...]” (Romanos 5:1). “Justificados” — a construção grega desse verbo indica uma declaração legal feita uma vez com resultados permanentes. “Δικαιωθέντες – dikaioma/Dikaiōthentes” significa aquilo que

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foi julgado justo de tal forma a ter força de lei, por sentença de Deus, ou seja, sentença favorável pela qual Ele, Deus, absolve o homem e o declara aceitável, (v. 1) “temos” do grego (ἔχομεν – echomen) — possuímos no presente, “paz com Deus” (v. 1) — uma realidade externa e objetiva, não um sentimento interior e subjetivo de serenidade e calma. O termo “dikaioma” em Mateus 12:37: — “Porque por tuas palavras serás justificado (dikaioma), e por tuas palavras serás condenado”, refere-se ao dia do julgamento como o dia determinante de sua condenação ou justificação, baseado na resposta de nosso coração ao Espírito (cf. João 6:29; Isaías 32:17; João 16:33; Efésios 2:14; Colossenses 1:20). Quando Paulo diz “Deus justifica o ímpio”, quer dizer que Deus com sua incrível misericórdia trata o ímpio como se fosse um homem bom. Isto é o que alarmou os judeus no mais íntimo de seu ser. Para eles tratar a um homem mau como se fosse bom, apontava o juiz como corrupto. “O que justifica o ímpio e o que condena o justo abomináveis são para o SENHOR, tanto um como o outro” – Provérbios 17:15. “Porque não justificarei o ímpio” (Êxodo 23:7). Paulo diz que isto é precisamente o que Deus faz. Mas como posso eu saber como é Deus? Eu sei que Deus é assim porque Jesus o disse. Jesus veio para nos dizer que Deus nos ama apesar do ímpio que somos. Veio para nos dizer que pode ser que sejamos pecadores — e, somos pecadores — mas Deus apesar disso nos estima. Agora tenhamos em conta que quando o descobrimos,

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e cremos, isso muda toda nossa relação com Deus. Estamos conscientes de nosso pecado, mas não persiste o temor, já não estamos alienados; arrependidos e entristecidos nos aproximamos diante de Deus, como um menino arrependido volta para sua mãe, e sabemos que o Deus a quem nos aproximamos é Amor. Isto é o que significa a justificação pela fé em Jesus Cristo. Significa que estamos em uma justa relação com Deus, porque cremos de todo coração que o que Jesus Cristo disse a respeito de Deus é verdade. Já não somos mais estrangeiros temerosos de um Deus zangado. Somos filhos, filhos desencaminhados, que confiam no Amor de seu Pai para alcançar o perdão. E nunca teríamos sabido isto, se Jesus não tivesse vindo viver e morrer para nos dizer isso. Só sabemos quando temos absoluta confiança em que o que Jesus disse a respeito de Deus é verdade. “O Filho Amado se fez maldito, para que os malditos fossem feitos filhos amados, Ele se fez o que nós somos, para nos fazer o que Ele é”. Paulo usa o termo grego “prosagoge”, chave para o entendimento: — É um termo que implica duas grandes figuras. Por meio de Jesus Cristo — diz Paulo — “temos entrada à graça na qual permanecemos firmes”. “[...] por meio de quem obtivemos acesso pela fé a esta graça na qual agora estamos firmes” (Romanos 5:2 – NVI). [A] – É o termo comum para referir-se à introdução ou apresentação de alguém perante a presença da realeza; e é o termo comum para

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referir-se à aproximação do adorador a Deus. É como se Paulo dissesse: — “Jesus nos introduz à própria presença de Deus. Jesus nos abre as portas à presença do Rei dos reis; e quando essas portas se abrem o que achamos é graça; não condenação, nem juízo, nem vingança, mas a pura, imerecida, não motivada, incrível bondade de Deus”. [B] – Mas o termo “prosagoge” contém outra figura. No grego posterior é o termo usado para referir-se ao lugar onde atracam os barcos. É o termo para enseada ou porto. Se tomarmos neste sentido, significa que por mais que tentemos depender de nossos próprios esforços somos varridos pela tempestade, como marinheiros que enfrentam um mar que ameaça destruí-los totalmente, mas agora ouvimos a palavra de Cristo, alcançamos enfim o porto da graça, e conhecemos a calma de depender não do que podemos fazer por nós mesmos, mas sim do que Deus tem feito por nós. Porque por meio de Jesus entramos na presença do Rei dos reis; entramos no porto da graça de Deus. O termo hebraico para “justificar” é “hitsdik”, que, na grande maioria dos casos, significa “declarar judicialmente que o estado de uma pessoa está na harmonia com as exigências da lei”, Êxodo 23:7; Deuteronômio 25:1; Provérbios 17:5; Isaías 5:23. O “piel tsiddek” ocasionalmente tem o mesmo significado, Jeremias 3:11; Ezequiel 16:50, 51. O sentido destas palavras é, pois, estritamente forense ou legal. Desde que os católicos romanos, certos representantes da teoria da influência moral da expiação, como John Young, de Edimburgo, e Horace Buschnell, e também os unitários e os teólogos “liberais” modernos negam o significado legal do termo “justificar” e lhe atribuem o sentido moral de “tornar justo ou reto”, é

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importante observar cuidadosamente as considerações que podem ser induzidas a favor do significado legal. Que esta é a denotação certa vê: — [1] – pelos termos postos em contraste com ele, como, por exemplo, “condenação”, Deuteronômio 25:1; Provérbios 17:15; Isaías 5:23; [2] – pelos termos correlatos colocados em justaposição com ele e que muitas vezes implicam um processo de julgamento, Gênesis 18:25; Salmos 143:2; [3] – pelas expressões equivalentes às vezes empregadas, Gênesis 15:6; Salmos 32:1, 2; e [4] – pelo fato de que passagens como a de Provérbios 17:15 redundariam num sentido impossível, se a palavra significasse “tornar justo”. Sim, pois, nesta passagem, o sentido seria então: — Aquele que melhora moralmente a vida dos ímpios é abominação para o Senhor. Há porém, um par de passagens em que a palavra significa mais que simplesmente “declarar justo”, quais sejam, Isaías 53:11 e Daniel 12:3. Mas mesmo nestes casos, o sentido não é “tornar bom ou santo”, mas sim, “alterar a condição de modo que o homem possa ser considerado justo”.

Relação da fé com a justificação.

Diz a Escritura que somos justificados “dia pisteos, ek pisteos”, ou “pistei” (dativo), Romanos 3:25, 28, 30; Gálatas 2:16; Filipenses 3:9. A preposição “dia” salienta o fato de que a fé é o instrumento pelo qual nos apropriamos de Cristo e sua justiça. A preposição “ek” indica que a fé precede logicamente à nossa justificação pessoal, de sorte que, por assim dizer, esta tem sua origem na fé. O dativo é empregado no sentido instrumental. A Escritura nunca diz que justificados “dia tem pistin”, por causa da fé. Quer dizer que a fé nunca é apresentada como a base da nossa justificação. Se fosse, a fé teria que ser considerada como uma obra meritória do homem. E isto seria a introdução da doutrina da justificação pelas obras, à qual

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o apostolo coerente e consistentemente se opõe, Romanos 3:21, 27, 28; 4:3, 4; Gálatas 2:16, 21; 3:11. Na verdade, se nos diz que a fé que Abraão tinha lhe foi imputada para justiça, Romanos 4:3, 9, 22; Gálatas 3:6, mas, em vista da argumentação completa, isto certamente não pode significar que, no caso dele, a fé propriamente dita, como obra, tomou o lugar da justiça de Deus em Cristo. O apostolo não deixa lugar a dúvida quanto ao fato de que, estritamente falando, unicamente a justiça de Cristo, a nós imputada, é a base da nossa justificação. Mas a fé é tão absolutamente receptiva, na apropriação dos méritos de Cristo, que pode ser colocada figuradamente no lugar dos méritos de Cristo, que ela recebe. “A “fé”, então, fica equivalendo ao conteúdo da fé, isto é, aos méritos da justiça de Cristo”. Muitas vezes se diz, porém que os ensinamentos de Tiago conflitam com os de Paulo sobre este ponto, dando claro apoio à doutrina da justificação pelas obras em Tiago 2:14 – 26. Várias tentativas têm sido feitas para harmonizar os dois. Alguns partem do pressuposto de que tanto Paulo como Tiago falam da justificação do pecador, mas que Tiago acentua o fato de que a fé que não se manifesta em “boas obras” não é a fé verdadeira, e, portanto, não é a fé que justifica o pecador. Isto, sem dúvida, é certo. A diferença entre as exposições de Paulo e Tiago inquestionavelmente se deve, em parte, à natureza dos adversários que tiveram que defrontar. Paulo teve que combater os legalistas, que procuravam basear a sua justificação, ao menos em parte, nas obras da lei. Tiago, por outro lado, mediu forças com os antinomianos, que alegavam ter fé, mas cuja fé era um simples assentimento intelectual à verdade (2:19), e negavam a necessidade da prática de “boas obras”. Portanto, ele dá ênfase ao fato de que a fé sem obras é uma fé morta, e, consequentemente,

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não é, de modo algum, a fé que justifica. A fé que justifica é frutífera, produzindo “boas obras”. Mas, pode ser que se objete que isto não explica a dificuldade da toda, visto que Tiago diz explicitamente no versículo 24 que o homem é justificado pelas obras, e não somente pela fé, e o ilustra com o exemplo de Abraão, que “foi justificado, quando ofereceu sobre o altar o próprio filho Isaque” (versículo 21). “Vês”, diz Tiago no versículo 22, “como a fé opera juntamente com as suas obras; com efeito, foi pelas obras que a fé se consumou”. Contudo, é mais que evidente que, neste caso, o escritor não está falando da justificação do pecador, pois o pecador Abraão fora justificado muito antes de oferecer Isaque em sacrifício (cf. Gênesis 15), mas sim, de uma ulterior justificação do crente Abraão. A fé verdadeira se manifestará nas “boas obras”, e estas darão testemunho diante dos homens da justiça (isto é, da retidão no viver) daquele que possui tal fé. A justificação do justo pelas obras confirma a justificação pela fé. Se Tiago quisesse de fato dizer, neste trecho da carta, que Abraão e Raabe foram justificados com a “justificatio peccatoris” (justificação do pecador) com base em suas obras, não somente estaria em conflito com Paulo, mas também ele próprio seria contraditório, pois ele afirma explicitamente que Abraão foi justificado pela fé (versículo 23).

Coração contrito e suplicante.

Uma pausa, súplica: — Meu Deus, tão longe quanto o abismo do oceano, as profundezas do coração dos homens buscam tormentas e guerras, e o SENHOR parece está adormecido como no dia em que o Senhor estava com os apóstolos no lago de Tiberíades. Então, como eu, eles fizeram, eu devo implorar agora: — “Senhor, Senhor! Estamos prestes a morrer […] o Senhor não se importa? Acorde Senhor! Aplaque o vendaval como naquele dia, acalme o coração

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dos homens, e nos pergunte como fez naquele dia: — Porque estão com tanto medo? Acaso não tem fé?” (Mateus 8:23 – 27). Segundo, Paulo utiliza a metáfora do sacrifício. Diz de Jesus Cristo que Deus o apresentou como alguém que pode obter o perdão de nossos pecados. A palavra que Paulo usa para descrever a Jesus Cristo é a palavra grega “hilastērion – ἱλαστήριον”. A palavra provém do verbo grego que denota conciliar, literalmente significa uma conciliação ou expiação, é obter o aplacamento ou poder expiatório; em suma é a forma de conciliação ou expiação. É um verbo que tem que ver com o sacrifício. Sob o velho sistema, quando alguém quebrantava a Lei, levava a Deus um sacrifício. Sua finalidade era que o sacrifício fizesse Deus propício e afastasse assim a ira de Deus, que o sacrifício desviasse o castigo que devia cair sobre ele. Para expressá-lo de outra maneira: — um homem pecava, esse pecado o colocava em uma relação incorreta com Deus, e para poder chegar a uma nova relação justa com Deus oferecia seu sacrifício. Mas toda a experiência do homem ao sacrificar animais demonstrou sua inutilidade. “Pois não te comprazes em sacrifícios; do contrário, eu os daria; e não te agradas de holocaustos” (Salmos 51:16). “Com que me apresentarei ao SENHOR e me inclinarei ante o Deus excelso? Virei perante Ele com holocaustos, com bezerros de um ano? Agradar-se-á o SENHOR de milhares de carneiros, de dez mil ribeiros de azeite? Darei o meu primogênito pela minha transgressão, o fruto do meu corpo, pelo pecado da minha alma?” (Miquéias 6:6, 7). Instintivamente os homens sentiam que uma vez que tinham pecado, o aparato do sacrifício terrestre não podia corrigir o engano.

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De modo que Paulo diz: — “Jesus Cristo, por sua vida de obediência e sua morte de amor, fez o único sacrifício a Deus válido para apagar o pecado”. Paulo insiste em que o que aconteceu na cruz abre a porta de volta à justa relação com Deus, uma porta que nenhum outro sacrifício é capaz de realizar. Terceiro, Paulo utiliza a metáfora da escravidão. Fala da libertação operada através de Jesus Cristo. A palavra é “apolytrōseōs – ἀπολυτρώσεως”, que significa resgate, redenção, libertação. Isto quer dizer que o homem estava no poder, nas garras, sob o domínio do pecado, e do qual somente Jesus Cristo pode libertá-lo. Finalmente, Paulo diz que Deus fez tudo isto porque é justo, e aceita como justos a todos aqueles que crêem em Jesus. Em toda sua vida, Paulo nunca disse nada mais surpreendente que isto. Bengel o chamou “o paradoxo supremo do Evangelho”.

Pensemos no que significa.

Significa que Deus é justo e aceita o pecador como um homem justo. O natural, o inevitável, seria dizer: — “Deus é justo, e, portanto, condena o pecador como criminoso”. Mas aqui nos encontramos com o grande e precioso paradoxo — Deus é justo, mas de algum modo, com essa graça incrível e milagrosa que Jesus veio a nos trazer, Ele aceita o pecador, não como um criminoso, mas sim como um filho a quem ainda ama. Mas qual é a essência de tudo isto? Onde está a diferença entre tudo isto e a forma de proceder da Lei antiga? Basicamente a diferença consiste nisto: — “O caminho da

obediência à Lei tem que ver com o que o homem pode fazer por si mesmo, o caminho da graça tem que ver com o que Deus fez e pode fazer pelo homem”. Paulo está insistindo em que nada do que nós possamos fazer pode ganhar o perdão de Deus, somente o que

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Deus fez por nós pode obtê-lo, portanto, o caminho à relação justa com Deus reside não em uma frenética e desesperada inútil tentativa de obter a absolvição por nossas obras, reside na aceitação humilde e contrita do amor e da graça que Deus nos oferece em Jesus Cristo. E por causa da natureza pecaminosa do homem, ele não pode buscar a Deus e não o faz. Ele não tem nenhum desejo de vir a Deus e, de fato, sua mente é hostil para com Ele (Romanos 8:7). Deus declarou que o pecado do homem o condena a uma eternidade no inferno, separado de Deus. É no inferno que o homem paga a penalidade do pecado contra um Deus Santo e Justo. Isso realmente seria uma má notícia se não houvesse solução. Nesta passagem (Romanos 8:6, 7), Paulo traça um contraste entre dois tipos de vida. “A mentalidade da carne é morte, mas a mentalidade do Espírito é vida e paz; a mentalidade da carne é inimiga de Deus porque não se submete à lei de Deus, nem pode fazê-lo”. Existe a vida dominada pela natureza humana pecaminosa. A vida cujo foco e centro é o eu, a vida absorvida pelas coisas que fascinam a natureza humana pecaminosa, a vida cuja única lei são os seus próprios desejos, a vida que toma o que quer onde quer. Em diferentes pessoas esta vida será descrita de diferentes maneiras. Pode estar dominada pela paixão, ou pela luxúria, ou pelo orgulho, ou pela ambição; sua característica é sua absorção pelas coisas sobre as quais a natureza humana sem Deus põe o seu coração.

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Existe a vida dominada pelo Espírito de Deus. No coração do homem está o Espírito. Assim como vive no ar, vive em Cristo, nunca separado dEle. Como respira o ar, e o ar o enche, assim o cheia Cristo. Não tem uma mente própria. Cristo é sua mente. Não tem desejos próprios, a vontade de Cristo é sua única Lei. Está dominado pelo Espírito, dominado por Cristo, focalizado em Deus. Como podemos explicar a depravação total, e a culpabilidade do pecado original no ser humano, até que ponto o pecado adâmico nos alcançou? Ainda, para entender a má notícia, faz-se necessário compreender, o quão terrível é o pecado na vida humana.

Pecado original e o conhecimento de nós mesmos.

O pecado original não se refere ao primeiro pecado; ao invés disso, se refere às consequências do primeiro pecado na raça humana. Como resultado do primeiro pecado, toda a raça humana caiu, e por causa disso, a natureza humana por completo é influenciada pelo poder do pecado. O pecado original tem a ver com a natureza caída do homem. Por causa da queda, não somos pecadores porque pecamos, pecamos porque somos pecadores. Não foi sem causa que o provérbio antigo sempre e tanto recomendou ao homem o conhecimento de si mesmo. Ora, se por ser vergonhoso se há de ignorar quaisquer coisas que dizem respeito ao trato da vida humana, muito mais aviltante, na verdade, é a ignorância de nós mesmos, da qual resulta que, em tomando decisão acerca de qualquer coisa necessária, nos enganemos lamentavelmente e até cegos nos façamos.

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Quanto, porém, mais útil é o preceito, tanto mais diligentemente nos importa ver que não o usemos de forma oposta, o que vemos ter acontecido a certos filósofos. Pois esses, enquanto exortam o homem a que conheça a si mesmo, propõem-lhe, ao mesmo tempo, como fim que não ignore a dignidade e excelência pessoais, e querem que não contemple em si mais do que possa suscitar nele a vã confiança e enchê-lo de arrogância. Mas, o conhecimento de nós mesmos situa-se, em primeiro lugar, nisto: — que, atentando para o que nos foi outorgado na criação, e quão benignamente Deus continua sua graça para conosco, saibamos quão grande seria a excelência de nossa natureza, se porventura permanecera íntegra, contudo ao mesmo tempo reflitamos que em nós nada subsiste de próprio. Ao contrário, de pura graciosidade possuímos tudo quanto Deus nos tem conferido, de sorte que estejamos sempre a dEle depender. Em segundo lugar, que encaremos bem a miserável condição em que nos achamos após a queda de Adão, por cujo reconhecimento, posta por terra toda jactância e confiança própria, esmagados de vergonha, verdadeiramente nos humilhemos. Ora, assim como inicialmente Deus nos formou à sua imagem, para que a mente nos alçasse tanto ao zelo da virtude, quanto à meditação da vida eterna, assim também, para que não seja aniquilada por nossa obtusidade tão grande nobreza de nossa espécie, a qual nos distingue dos seres irracionais, é relevante reconhecermos que fomos dotados de razão e inteligência, para que, cultivando uma vida santa e reta, avancemos rumo ao alvo proposto de uma imortalidade bem-aventurada. Além disso, aquela dignidade original não pode vir à mente sem que logo se ofereça em contraposição que, na pessoa do primeiro homem, decaímos da condição original, sendo este um triste espetáculo de

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nossa sordidez e ignomínia. Do quê, não só procede desagrado e descontentamento de nós mesmos, e verdadeira humildade, mas ainda se acende um novo empenho de buscar a Deus, em quem cada um possa recobrar estes valores de que somos apanhados de todo faltos e carentes (CALVINO, João, Institutas, II, p. 12 – 13).

O pecado original de Adão afeta toda sua posteridade.

Calvino explica, a depravação adâmica propagada a todos os seus descendentes: — Como a vida espiritual de Adão era permanecer ele unido e ligado a seu Criador, assim também, ao alienar-se dEle veio-lhe a morte da alma. Portanto, não surpreende se, por sua defecção, afundou na ruína sua posteridade aquele que perverteu, no céu e na terra, toda a ordem da própria natureza. “Gemem todas as criaturas”, diz Paulo, “não por sua própria vontade, sujeitas à corrupção” (Romanos 8:20, 22). Caso se busque a causa disso, não há dúvida de que estão a sofrer parte daquele castigo que o homem mereceu, para cujo proveito elas foram criadas. Portanto, quando, de alto a baixo, por sua culpa atraiu a maldição que grassa por todos os recantos do mundo, nada há de ilógico se ela foi propagada a toda sua descendência. Logo, depois que a imagem celeste foi nele obliterada, não sofreu sozinho esta punição que, em lugar de sabedoria, poder, santidade, verdade, justiça, ornamentos de que fora ataviado, lhe sobreviessem as mais abomináveis pragas: —

“Cegueira, fraqueza, impureza, fatuidade, iniquidade, mas ainda nas mesmas misérias enredilhou e submergiu sua progênie” (Institutas, II, p. 17). Esta é a corrupção hereditária que os antigos designaram de “pecado original”, entendendo pelo termo pecado a depravação de uma natureza antes disso boa e pura, matéria a respeito da qual muita

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lhes foi a contenção, uma vez que nada seja mais remoto do consenso geral que pela culpa de um só todos se façam culpados e, assim, o pecado se torne comum a todos. Esta parece ter sido a razão por que os doutores mais antigos da Igreja abordaram este assunto de forma tão obscura, pelo menos por que o explanaram menos lucidamente do que se fazia necessário. Contudo, esta relutância não pôde impedir que Pelágio entrasse em cena, cuja profana invenção foi haver Adão pecado tão-somente para seu próprio dano, mas que aos descendentes nada afetou. Naturalmente, com esta artimanha de encobrir a enfermidade, Satanás tentou torná-la incurável. Como, porém, pelo claro testemunho da Escritura se mostrasse que o pecado foi transmitido do primeiro homem a toda a posteridade (Romanos 5:12), sofismavam haver-se transmitido por imitação, não por geração. Portanto, bons homens, e acima dos demais Agostinho, nisto laboraram afincadamente para mostrar que não somos corrompidos mediante impiedade adquirida; ao contrário, trazemos depravação ingênita desde o ventre materno. O não reconhecimento desse fato foi o supremo descaramento. Mas ninguém se surpreenderá da temeridade dos pelagianos e dos celestianos quem, pela leitura dos escritos daquele santo varão, Agostinho, tenha percebido que monstros de perversa catadura foram eles em todos os demais pontos. Por certo que não é ambíguo o que Davi confessa, a saber, ter sido gerado em iniquidades e de sua mãe concebido em pecado (Salmos 51:5). Não está ele aí a censurar as faltas do pai ou da mãe; antes, para que melhor enalteça a bondade de Deus para consigo, faz remontar a confissão de sua iniquidade à própria concepção. Uma vez ser evidente não ter sido

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isso peculiar a Davi, segue-se que sob seu exemplo se denota a sorte comum do gênero humano. “Portanto, todos que descendemos de uma semente impura, nascemos infeccionados pelo contágio do pecado”. Na verdade, antes que contemplemos esta luz da vida, à vista de Deus já estamos manchados e poluídos. Pois, “quem do imundo tirará o puro?”. Certamente, como está no livro de Jó (14:4), ninguém!

A definição de depravação total.

Depravação total não significa depravação absoluta; não significa que todo ser humano é tão mau quanto poderia ser. Depravação total significa que a queda é tão séria que afeta a pessoa por inteiro — Corpo, mente e vontade. A pessoa por inteiro foi infectada e corrompida pelo poder do pecado. A controvérsia se centraliza no grau de corrupção. “Por essa razão eu disse que, desde que Adão se apartou da fonte da justiça, todas as partes da alma vieram a ser possuídas pelo pecado. Pois não só o seduziu um desejo inferior; ao contrário, a nefanda impiedade ocupou a própria cidadela da mente, e o orgulho penetrou ao mais recôndito do coração, de sorte que é improcedente e estulto restringir a corrupção que daí emanou apenas ao que chamam impulsos sensuais, ou chamar “foco de fogo” que atrai, excita e arrasta o pecado somente a parte que compreende a sensualidade” (CALVINO, João, Institutas, II, p. 18).

O termo corrupção radical.

Um termo melhor do que depravação total é corrupção radical. A maioria das pessoas acredita que o homem é basicamente bom e que o pecado é periférico à sua natureza. A visão reformada é que a

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queda penetra no âmago do homem — seu coração. Portanto, o que é necessário para o homem ser conformado à imagem de Cristo não é simplesmente algum pequeno ajuste ou modificação de comportamento moral, mas nada menos que renovação a partir de dentro — regeneração pelo Espírito Santo. A única maneira de escapar dessa corrupção radical é se o Espírito Santo mudar o âmago do homem – o coração. Deve-se lembrar de que até mesmo a regeneração não vence o pecado instantaneamente. A erradicação total e final do pecado aguarda nossa glorificação no Céu. Entretanto, no Evangelho, Deus, em sua misericórdia, tem proporcionado essa solução, um substituto para nós, Jesus Cristo o qual veio para pagar a pena pelos nossos pecados através do seu sacrifício na Cruz. Sabendo de tudo que foi posto, entendemos, absolutamente as Boas-novas de Cristo, o homem é totalmente incapaz de conseguir salvação por seus esforços. Esta é a essência do Evangelho que Paulo pregou aos Coríntios. Em 1 Coríntios 15:2 – 4, ele explica os três elementos do Evangelho: — “a morte, sepultamento e ressurreição de Cristo em nosso favor”. A nossa velha natureza morreu com Cristo na Cruz e foi enterrada com Ele. Fomos então ressuscitados com Ele para novidade de vida (Romanos 6:4 – 8). Paulo nos diz para “nos apegar firmemente” a este verdadeiro Evangelho, o único que conduz a salvação. Acreditar em outro Evangelho é crer em vão. Em Romanos 1:16, 17, Paulo também declara que o verdadeiro Evangelho é o “poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê”, o que quer dizer que a salvação não é alcançada pelos esforços do homem, mas pela graça de Deus através do dom da fé (Efésios 2:8, 9).

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Por causa do Evangelho, através do poder de Deus, aqueles que creem em Cristo (Romanos 10:9) não são apenas salvos do inferno. De fato, recebemos uma natureza completamente nova (2 Coríntios 5:17) com um coração mudado e um novo desejo, vontade, atitude que se manifestam em “boas obras”. “Este é o fruto que o Espírito Santo produz em nós pelo seu poder”. As obras nunca são o meio de salvação, mas são a prova, são evidências de uma fé que procede e nasce do ventre da Escritura (Efésios 2:10). Aqueles que são salvos pelo poder de Deus sempre mostrarão a evidência da salvação através de uma vida transformada, e por sua vez, santificada do mundo. “Recuse-se a sucumbir, a quaisquer exigências da carne, pois, a inclinação para a carne é morte; ser santo, é ser separado para Deus e do mundo”.

A iniciativa divina.

E, como acontece esta atuação da graça de Deus, em nossa salvação? Antes que uma pessoa venha a Cristo, Deus trabalha unilateralmente, monergisticamente, independentemente e soberanamente, mudando a alma do pecador, que está por natureza morto em pecado e moralmente incapaz de ressuscitar a si mesmo (cf. Efésios 2:1). Deus tem que dar à pessoa nova vida espiritual antes que tal pessoa tenha o poder de vir a Cristo.

“Ninguém pode vir a mim a menos que o Pai, o qual me enviou, o atrair; e Eu o ressuscitarei no último dia” (João 6:44).

A regeneração e o monergismo.

Regeneração é uma obra que pertence apenas a Deus, “A salvação vem do Senhor” (Jonas 2:9). Tal obra repousa sobre a graça somente,

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e não há nada que um homem possa fazer para conquistá-la ou merecê-la. Jesus diz em João 6:63 – 69: — “Ninguém poderá vir a mim, se, pelo Pai, não lhe for concedido”. “Ninguém” é uma proposição negativa universal (oudeis – οὐδεὶς) — diz algo negativo sobre todos. “Poderá” significa habilidade ou capacidade — ninguém tem a habilidade ou a capacidade de realizar a tarefa em questão. “Vir a mim” significa abraçar a Cristo na fé — é isto que ninguém tem a habilidade ou a capacidade de fazer. “Se [...] não” aponta para uma condição necessária que deve ser atendida antes que uma situação desejada seja realizada. “Pelo Pai não lhe for concedido” é a condição necessária — Deus tem que capacitar uma pessoa a vir a Cristo. O homem perdeu a habilidade natural de vir a Cristo.

A escravidão do arbítrio.

O homem ainda faz escolhas, mas apenas de acordo com seus desejos. A própria essência da liberdade é a habilidade de escolher de acordo com nossos desejos. O problema é a escravidão moral. Somos escravos aos nossos próprios desejos. Por natureza não temos desejo por Cristo ou pelas coisas de Deus. Nós livremente rejeitamos a Deus, a menos que Deus mude os desejos de nossos corações. A conversão não é um produto conjunto de Deus e do homem. A todos estes testemunhos interpretam cavilosamente os mais sutis, insistindo em que nada impede que nós próprios apliquemos nossas forças e Deus traga ajuda a nossas fracas tentativas. Adicionam, ademais, passagens dos profetas em que a operação de nossa conversão parece ser dividida meio a meio entre Deus e nós: — “Convertei-vos a mim e eu me converterei a vós” (Zacarias 1:3). Que tipo de ajuda nos traga o Senhor foi demonstrado supra, tampouco aqui se faz necessário repeti-lo.

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“Desejo ao menos que isso me seja concedido: — em vão se procura em nós a capacidade de cumprir a Lei pelo fato de que o Senhor no-la ordena à obediência, quando é evidente que, para se cumprir todos os preceitos de Deus, a graça do Legislador não só é necessária, mas ainda nos é prometida, pelo que daí se evidencia que, no mínimo, se exige de nós mais do que sejamos capazes de executar. Na verdade, não se pode diluir de quaisquer cavilações essa afirmação de Jeremias: — que foi sem efeito o pacto de Deus firmado com o povo antigo, porque o era apenas da letra; nem ser além disso estabelecido de outra maneira, que é o Espírito quem plasma os corações à obediência (Jeremias 31:32)” (CALVINO, João, Institutas, II, p. 89). Também de nada lhes serve para firmar seu erro esta injunção: — “Convertei-vos a mim e eu me converterei a vós” (Zacarias 1:3). Pois aí por conversão de Deus se denota não aquela em virtude da qual o coração nos renova para o arrependimento, mas aquela mediante a qual se atesta benévolo e propício pela prosperidade das coisas, assim como pelas coisas adversas às vezes indica seu desagrado. Portanto, uma vez que o povo, atormentado de muitas formas, de misérias e calamidades, se queixava de que Deus se afastara dele, responde que não lhes haveria de faltar sua benignidade, se volvessem à retidão de vida e a Ele próprio, que é modelo de justiça. Esta passagem, pois, é indevidamente torcida quando é arrastada a este ponto: — que a obra da conversão parece estar repartida entre Deus e os homens.

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Santificação.

A palavra veterotestamentária para “santificar” é “qadash”, verbo empregado nas formas “niphal”, do “hiphil” e do “hithpa’el”. O substantivo correspondente é “qodesh”, enquanto que o adjetivo é “qadosh”. As formas verbais são derivadas das formas nominal e adjetiva. O significado original destas palavras é incerto. Alguns são de opinião que o vocábulo “qadash” é relacionado com “chadash”, significando “brilhar”. Isso estaria em harmonia com o aspecto qualitativo da idéia bíblica de santidade, a saber, a de pureza. Outros, com maior grau de probabilidade, derivam-no da raiz “qad”, significando “cortar”. Isto faria da idéia de separação a idéia original. A palavra indicaria, então, isolamento, separação ou majestade. Embora esta significação das palavras “santificação” e “santidade” possa parecer-nos inusitada, é, com toda a probabilidade, a idéia fundamental expressa por elas. Diz Girdelstone: — “Os termos ‘santificação’ e ‘santidade’ são atualmente empregados com tanta freqüência para descrever qualidades morais e espirituais, que mal comunicam ao leitor a idéia de posição ou de relação existente entre Deus e uma pessoa ou coisa a Ele consagrada; contudo, vê-se que este é o significado real da palavra”. Similarmente, Cremer-Koegel chama a atenção para o fato de que a idéia de separação é fundamental quanto à idéia de santidade. Ao mesmo tempo, admite-se que as duas idéias de santidade e de separação não se fundem, não são absorvidas uma pela outra, mas que, em certa medida, uma serve para qualificar a outra. O verbo “hagiazo” e seus vários sentidos no Novo Testamento. O verbo “hagiazo” é derivado de “hagios”, que, como a palavra hebraica

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“qadosh”, expressa primariamente a idéia de separação. Todavia, é empregado em vários sentidos diferentes no Novo Testamento. Podemos distinguir os seguintes: — [1] – É empregado num sentido mental, com referência a pessoas ou coisas, Mateus 6:9; Lucas 11:2; 1 Pedro 3:15. Em casos como esses, significa “considerar um objeto como santo”; “atribuir santidade a”, ou “reconhecer sua santidade por palavra ou ato”. [2] – Também é empregado, ocasionalmente, num sentido ritual, isto é, no sentido de “separar do ordinário para propósitos sagrados”, ou de “por de lado para certo ofício”, Mateus 23:17, 19; João 10:36; 2 Timóteo 2:21. [3] – É empregado ainda para denotar a operação de Deus pela qual Ele, especialmente por intermédio do seu Espírito, produz no homem a qualidade subjetiva da santidade, João 17:17; Atos 20:32; 26:18; 1 Coríntios 1:2; 1 Tessalonicenses 5:23. [4] – Finalmente, na Epístola aos Hebreus, é, ao que parece, empregado num sentido expiatório, e também no sentido correlato do “dikaioo” paulino, Hebreus 9:13; 10:10, 29; 13:12. “Jesus ofereceu como sacrifício seu próprio sangue. Se o sacrifício de animais podia alcançar a purificação cerimonial, quanto mais o sacrifício espiritual de Cristo purificará a alma” (Hebreus 9:12 – 14). “Nem ainda através do sangue de bodes e novilhos” (v. 12). O que quer dizer, Paulo? Todas essas coisas apontam para o fato de que aquelas qualidades que se encontram em Cristo são de tal excelência, que reduzem a nada todas as sombras da Lei. Qual seria o valor do sangue de Cristo se fosse ele avaliado pelo prisma do sangue de animais? Que gênero de expiação seria efetuado por meio de sua morte, caso as purificações sob o regime da Lei se conservassem em

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vigência? Tão logo Cristo se manifesta com a eficácia influência de sua morte, todas as observâncias típicas têm de necessariamente cessar (CALVINO, João, Comentário de Hebreus, p. 223). “Porque, se a aspersão do sangue de bodes e touros” (v. 13). E, ainda, qual a conclusão de Paulo? Esta passagem tem dado ocasião a muitas interpretações equivocadas, levando muitos intérpretes a ignorarem que aqui a preocupação do autor é com os sacramentos que tinham um significado espiritual. Eles explicam a purificação da carne como algo que só tem validade entre os homens, da mesma forma que os pagãos também têm seus atos de penitência, por meio dos quais eliminam o escândalo do crime. Tal explicação é completamente anticristã, porquanto lança injúria à promessa de Deus, caso restrinjamos sua força meramente às relações terrenas. Com frequência ocorre nos escritos de Moisés este gênero de sentença: — quando um sacrifício for devidamente executado, então a iniquidade é eliminada. Seguramente, esse é o ensino espiritual da fé. Além do mais, todos os sacrifícios eram destinados a este propósito: — levar os homens a Cristo. Como a salvação eterna da alma está em Cristo, assim os sacrifícios eram genuínas evidências desta salvação. Qual, pois, era a intenção do apóstolo ao falar da purificação da carne? Evidentemente ele a entende simbólica ou sacramentalmente, no seguinte sentido: — “Se o sangue de animais era um genuíno símbolo de purificação, no sentido em que ele agia de uma forma sacramental, quanto mais o sangue de Cristo, que é

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a própria verdade, não só dará testemunho da purificação por meio de um rito externo, mas também aquele que realmente penetrará as próprias consciências humanas!”. O argumento, pois, parte dos sinais para as coisas significadas, visto que o efeito, por um longo tempo, precedeu a realidade dos sinais. João Calvino, comenta acertadamente, finalmente, “Pelo Espírito eterno”. Paulo agora mostra claramente como a morte de Cristo deve ser avaliada — não pelo prisma de seu ato externo, mas do poder do Espírito. Cristo sofreu como homem, no entanto, a fim de que sua morte pudesse efetuar nossa salvação, sua eficácia fluiu do poder do Espírito. O sacrifício que produziu a expiação eterna foi muito mais que uma obra meramente humana. O autor diz que o Espírito é eterno, para que saibamos que a reconciliação que ele efetua é eterna. Ao dizer, imaculado, embora a alusão seja às vítimas sob o regime da lei, as quais não podiam ser mutiladas ou exibir qualquer defeito, não obstante, ele tem em vista que Cristo foi ao mesmo tempo a única vítima legal e capaz de satisfazer a Deus. Todas as demais [vítimas] eram sempre deficitárias, e por isso disse anteriormente que o pacto da lei não desfrutava de perfeição. Somente o último sacrifício é que desfruta de perfeição absoluta.

Santificação e boas obras.

A santificação e as boas obras são inter-relacionadas, muito intimamente. Precisamente como a velha vida se expressa nas obras do mal, assim a nova vida, que se origina na regeneração e é promovida e fortalecida na santificação, naturalmente se manifesta nas boas obras. Estas podem ser denominadas frutos da santificação e, como tais, entram em consideração aqui.

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As boas obras no sentido especificamente teológico. Quando falamos das boas obras em conexão com a santificação, não nos referimos a obras que são perfeitas, que correspondem perfeitamente às exigências da lei moral divina e que são de tanto valor inerente que dão à pessoa o direito à recompensa da vida eterna sob as condições da Aliança das Obras. Referimo-nos, porém, a obras que são essencialmente diversas, quanto à qualidade moral, das ações dos não regenerados, e que são expressões de uma nova e santa natureza, como o princípio do qual elas provêm. Estas são obras que Deus não somente aprova, mas, em certo sentido, também recompensa. Eis as características das obras espiritualmente boas: — [1] – São frutos de um coração regenerado, visto que, sem isso, ninguém pode ter a disposição [obedecer a Deus] e o motivo [glorificar a Deus] exigidos, Mateus 12:33; 7:17, 18. [2] – Não estão apenas em externa conformidade com a lei de Deus, mas também são feitas com consciente desobediência à vontade revelada de Deus, isto é, porque são exigidas por Deus. Elas brotam do princípio do amor a Deus e do desejo de fazer a sua vontade, Deuteronômio 6:2; 1 Samuel 15:22; Isaías 1:12; 29:13; Mateus 15:9. [3] – Seja qual for o seu objetivo, seu alvo final não é o bem-estar do homem, mas a glória de Deus [Soli Deo Gloria], que é o supremo alvo concebível da vida humana, 1 Coríntios 10:31; Romanos 12:1; Colossenses 3:17, 23. As boas obras num sentido mais geral. Conquanto a expressão “boas obras” seja geralmente empregada na Teologia no sentido estrito recém-indicado, permanece sendo verdade que os não regenerados também podem praticar obras que podem ser chamadas boas num sentido superficial da palavra. Eles muitas vezes praticam boas obras que estão em conformidade exterior com a Lei de Deus e que podem ser chamadas objetivamente

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boas, em distinção das flagrantes transgressões da lei. Tais obras atendem a um fim próximo que recebe a aprovação de Deus. Ademais, em virtude dos restos da imagem de Deus presentes no homem natural e da luz da natureza, o homem pode ser guiado em sua relação com outros homens por motivos louváveis e, dentro destes limites, levar o selo da aprovação de Deus. Contudo, essas boas obras não podem ser consideradas frutos do coração corrupto do homem. Só encontram sua explicação na graça comum de Deus. Acresce que devemos ter em mente que, embora estas obras possam ser chamadas boas em certo sentido, e assim sejam chamadas na Bíblia, Lucas 6:33, todavia, são essencialmente defeituosas. Os feitos dos não regenerados estão divorciados da raiz espiritual do amor a Deus. Não representam nenhuma obediência interior à Lei de Deus, e nenhuma sujeição à vontade do Soberano Governador de céus e Terra. Não têm objetivo espiritual, visto que não são feitas com o propósito de glorificar a Deus, mas somente atentam para as relações da vida natural. A verdadeira qualidade de um ato é, naturalmente, determinada pela qualidade do seu objetivo final. A capacidade dos não regenerados para a prática de boas obras, nalgum sentido da expressão, tem sido negada muitas vezes. Barth dá um passo mais, quando chega ao extremo de negar que os crentes possam fazer boas obras, e afirma que todas as obras dos crentes são pecados. O caráter meritório das boas obras.

Já nos primeiros tempos da Igreja cristã, havia a tendência de atribuir certo mérito às boas obras, mas a doutrina dos méritos realmente se desenvolveu na Idade Média. Ao tempo da Reforma, ela era muito proeminente na Teologia Católica Romana e foi impelida a ridículos extremos na vida prática. Os Reformadores logo mediram forças com a Igreja de Roma sobre este ponto. A posição de Roma sobre o ponto em questão: — A Igreja Católica Romana distingue entre o “meritum de condigno” (mérito por ser digno), que representa dignidade e valor inerentes, e o “meritum de côngruo” (mérito por ser apropriado, proporcional, conveniente), que é uma espécie de

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semi-mérito, uma coisa boa para ser recompensada. O primeiro liga-se unicamente a obras praticadas depois da regeneração, com o auxílio da graça divina, e é um mérito que intrinsecamente merece a recompensa e a recebe das mãos de Deus. O último liga-se àquelas disposições ou obras que o homem pode desenvolver ou praticar antes da regeneração, em virtude de uma simples graça preveniente, e é um mérito que torna côngruo ou próprio para Deus recompensar o praticante dessas obras infundindo graça em seu coração. Contudo, desde que as decisões do Concílio de Trento são dúbias sobre este ponto, há alguma incerteza quanto à posição exata da Igreja de Roma. Parece que a idéia geral é que a capacidade para praticar boas obras, no sentido estrito da palavra, provém da graça infundida no coração do pecador por amor a Cristo; e que, depois, estas boas obras merecem, isto é, dão ao homem o justo direito à salvação e à glória. A Igreja de Roma vai até mesmo além, e ensina que os fiéis podem praticar obras de supererrogação – podem fazer mais do que o necessário para a sua própria salvação e, assim, podem estabelecer um depósito de boas obras, que podem vir em benefício de outros. A posição escriturística sobre este ponto: — A Escritura ensina claramente que as boas obras dos crentes não são meritórias, no sentido próprio da palavra. Devemos ter em mente, porém, que a palavra “mérito” é empregada com duplo sentido, o estrito e próprio, e o outro livre. Estritamente falando, uma obra meritória é uma obra à qual, por causa do seu valor e da sua dignidade intrínsecas, a recompensa é devida justamente, em função da justiça comutativa. Falando de modo livre, porém, uma obra merecedora de aprovação e à qual está ligada uma recompensa (por promessa, acordo ou de outro modo), também às vezes é chamada meritória. Obras deste tipo são dignas de louvor e são recompensadas por Deus. Mas, por mais que seja assim, certamente elas não são meritórias no sentido estrito da palavra. Elas não fazem, por seu valor moral intrínseco, de Deus um devedor àquele que as pratica. Pela estrita justiça, as boas

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obras dos crentes não merecem nada. Eis algumas passagens mais conclusivas para provar o ponto em foco, Lucas 17:9, 10; Romanos 5:15 – 18; 6:23; Efésios 2:8 – 10; 2 Timóteo 1:9, Tito 3:5. Estas passagens mostram claramente que os crentes não recebem a herança da salvação por ser esta devida a eles em virtude das suas boas obras, mas unicamente como um dom gratuito de Deus. Também atende à razão que tais obras não podem ser meritórias, pois: — [1] – Os crentes devem toda a sua vida a Deus e, portanto, não podem ter merecimento de coisa alguma por darem a Deus simplesmente o que lhe é devido, Lucas 17:9, 10. [2] – Eles não podem praticar boas obras com suas próprias forças, mas somente com as forças que Deus lhes transmite dia após dia; e, em vista disto, eles não podem esperar crédito por essas obras, 1 Coríntios 15:10; Filipenses 2:13. [3] – Mesmo as melhores obras dos crentes continuam sendo imperfeitas nesta vida, e todas as obras juntas representam apenas uma obediência parcial, ao passo que a lei requer obediência perfeita, e nada menos que isso poderá satisfaze-la, Isaías 64:6; Tiago 3:2. [4] – Ademais, as boas obras dos crentes estão totalmente fora de proporção em relação à recompensa da glória eterna. “Uma obediência temporal e imperfeita nunca pode merecer uma recompensa eterna e perfeita”. Necessidade das boas obras. Não pode haver dúvida quanto à necessidade das boas obras, corretamente entendida. Não as podemos considerar como necessárias para merecimento da salvação, nem como meios pelos quais segurar a salvação, nem ainda como o único caminho pelo qual seguir rumo à glória eterna, pois “as crianças dão entrada à salvação sem terem praticado nenhuma boa obra”. A Bíblia não ensina que ninguém pode salvar-se sem boas obras. Ao mesmo tempo, as boas obras decorrem necessariamente da união dos crentes com Cristo. “Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto” (João 15:5). Elas são necessárias também porque exigidas por Deus, Romanos 7:4; 8:12, 13; Gálatas 6:2, como frutos da fé, Tiago 2:14,

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17, 20 – 22, como expressões de gratidão, 1 Coríntios 6:20, como conducentes à segurança da fé, 2 Pedro 1:5 – 10, e para a glória de Deus — Soli Deo Gloria, João 15:8; 1 Coríntios 10:31. Deve-se defender a necessidade das boas obras contra os antinomianos, que alegam que, desde que Cristo não somente levou sobre si a pena do pecado, mas também satisfez as exigências positivas da lei, o crente está livre da obrigação de observa-la, erro que ainda está conosco hoje em dia, nalgumas formas de Dispensacionalismo. “Esta é uma posição completamente falsa, pois somente como sistema de penalização e método de salvação é que a Lei é abolida na morte de Cristo”. Como padrão para a nossa vida moral, a lei é uma transcrição da santidade de Deus e, portanto, tem validade permanente para o crente também, apesar de que a sua atitude para com a lei passou por uma transformação radical. Ele recebeu o Espírito de Deus, que é o espírito de obediência, de sorte que, sem nenhum constrangimento, ele obedece voluntariamente à lei. Strong resume bem isso, quando diz: — Cristo nos livra: — [1] – “da lei como um sistema de maldição e penalidade; isto Ele faz levando sobre si a maldição e a penalidade [...]; [2] – da lei com as suas exigências como método de salvação; isto Ele faz tornando nossos a sua obediência e os seus méritos [...]; [3] – da lei como compulsão externa e alheia; isto Ele faz dando-nos o espírito de obediência e de filiação, pelo qual a lei é realizada progressivamente dentro em nós”.

Os substantivos que denotam santificação e santidade.

O vocábulo neotestamentário para santificação é “hagiasmos”. Ocorre dez vezes, a saber, em Romanos 6:19, 22; 1 Coríntios 1:30; 1 Tessalonicenses 4:3, 4, 7; 2 Tessalonicenses 2:13; 1 Timóteo 2:15; Hebreus 12:14; 1 Pedro 1:2. Embora denote purificação ética, inclui a idéia de separação, isto é, “a separação do espírito de tudo que é impuro e corruptor, e uma renúncia dos pecados para as quais os

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desejos da carne e da mente nos levam”. Enquanto “hagiasmos” denota a obra da santificação, há outras duas palavras que descrevem o resultado do processo, quais sejam, “hagiotes” e “hagiosyne”. Aquela se acha em 1 Coríntios 1:30 e Hebreus 12:10; e esta em Romanos 1:4; 2 Coríntios 7:1 e 1 Tessalonicenses 3:13. Estas passagens mostram a qualidade da santidade ou de estar livre da corrupção e da impureza é essencial para Deus, foi demonstrada por Jesus Cristo, e é dada ao cristão.

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CRISTO O ÚNICO CAMINHO PARA O CÉU

“Disse-lhe Jesus: — Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim” (João 14:6). “Sou basicamente uma boa pessoa, então vou para o Céu” “Ok? Então, eu faço algumas coisas ruins, mas faço mais coisas boas, então vou para o Céu”, “Deus não vai me enviar para o inferno só porque não vivo de acordo com a Bíblia. Os tempos mudaram!”, “Apenas pessoas realmente más como molestadores de crianças, Salteadores (Ladrões) e assassinos vão para o inferno”, “Acredito em Deus, apenas o sigo do meu próprio jeito. Todos os caminhos levam a Deus”. “Não! Nem todos os caminhos levam a Roma!”. Todas estas são conclusões comuns entre a maioria das pessoas, mas a verdade é que são todas mentiras. Satanás, o qual tem poder sobre o mundo, planta estes pensamentos nas mentes. Ele, e qualquer um que siga os seus próprios caminhos, são inimigos de Deus (1 Pedro 5:8). Satanás sempre se disfarça como bom (2 Coríntios 11:14), mas tem controle sobre todas as mentes que não pertencem a Deus, “[...] (Satanás), o deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus” (2 Coríntios 4:4). É uma mentira acreditar que Deus não se importa com pecados menores e que o inferno é destinado às “pessoas más”. Todo pecado nos separa de Deus, mesmo uma “pequena mentirinha”. Todos pecaram e ninguém é bom o suficiente para ir ao Céu por sua

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própria conta (Romanos 3:23; Efésios 2:1 – 3), como já relatei. Entrar no Céu não se baseia no nosso bem superar o nosso mal, todos perderíamos se este fosse o caso. “E, se é pela graça, já não é pelas obras; do contrário, a graça já não é graça” (Romanos 11:6). Não há nada bom que possamos fazer para ganhar a nossa entrada no Céu (Tito 3:5; Isaías 64:6, Romanos 3:9 – 31). “Entrai pela porta estreita: — Porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz para a perdição, e são muitos os que entram por ela” (Mateus 7:13). Mesmo que todo mundo esteja vivendo uma vida de pecado, e crer em Deus não seja popular, Deus não vai perdoar isto. “[...] nos quais andastes outrora, segundo o curso

deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar, o espírito que agora atua nos filhos da desobediência” (Efésios 2:2). Não se engane, pois, aquele que “não crer já está condenado [ao inferno]” (cf. Marcos 16:16; João 3:3, 18). Quando Deus criou o mundo, este era perfeito. Tudo era bom. Então ele fez Adão e Eva, e deu-lhes o seu próprio livre-arbítrio, de forma que teriam a escolha de seguir e obedecer a Deus ou não. No entanto, Adão e Eva, as primeiras pessoas que Deus fez, foram tentados por Satanás a desobedecer a Deus, e eles pecaram. Isto os impediu – e, a todos os que vieram depois deles, incluindo a nós – de ter uma relação íntima com Deus, como já mencionado. Ele é perfeito e não pode estar no meio do pecado. Como pecadores, nós não poderíamos chegar lá pela nossa própria vontade. Então, Deus criou uma forma pela qual poderíamos estar unidos com Ele no Céu.

A única forma, fonte e meio de salvação.

“Porque Deus amou ao mundo [homens que estão no mundo, não todos os homens] de tal maneira [apresenta a classe de Amor que

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é de Deus] que deu seu Filho unigênito [entregou-lhe à Cruz, já que isto, é o que se exige para redimir a Humanidade], para que todo que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna (João 3:16)”. Destarte, “Porque o salário do pecado é a morte [condição de todos que não estão em Cristo; morte espiritual, que é a separação de Deus], mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor (Romanos 6:23)”, grifo meu. Como se disse, tudo isto, sem exceção, vem-nos por meio do que Cristo fez na Cruz, que exige que a Cruz sempre seja objeto de nossa fé, dando assim ao Espírito Santo a liberdade de ação para operar dentro de nossas vidas e produzir seu Fruto, “Não extingais o Espírito que vivifica o Homem Interior”. Em 1 Tessalonicenses, capítulo 5, Paulo admoesta os cristãos a agirem de modo condizente com sua condição de santos justificados. Prossegue, citando uma lista de qualidades e condutas adequadas. No versículo 19, ele nos dá este conselho: — “Não extingais o Espírito”. Jesus nasceu para que pudesse nos ensinar o caminho e morreu por nossos pecados para que não o tivéssemos de fazer. Três dias após a sua morte, Ele ressuscitou do sepulcro, e todos os que creem são justificados diante de Deus em sua morte e ressurreição (Romanos 4:25), provando ser vitorioso sobre a morte. Ele completou o caminho entre Deus e o homem, para que este pudesse ter uma relação pessoal com Ele, precisando apenas acreditar de forma destemida. “E a vida eterna é esta: — que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste” (João 17:3).

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Um homem que se deita na sepultura não se levantará outra vez – a morte e o triunfo de Cristo.

Todas as noites, nós nos deitamos para dormir, e na manhã seguinte despertamos e nos levantamos outra vez, mas na morte, nós devemos nos deitar na sepultura, para não mais despertar ou levantar outra vez para este mundo [este estado em que estamos agora], para nunca despertar ou levantar, até que não haja mais céus, a fiel medida do tempo, e consequentemente o próprio tempo terá chegado ao fim, e terá sido engolido na eternidade, de modo que a vida do homem pode ser apropriadamente comparada com as águas de uma inundação, que se estendem e fazem uma grande exibição, mas são rasas, e logo secam. A nossa vida é como quando as águas de uma enchente ou transbordamento do mar ou rio se retiram – o local atingido logo fica seco, e o seu lugar não mais os conhece. As águas da vida logo evaporam e desaparecem. O corpo – como algumas daquelas águas – afunda na terra e ali é consumido, a alma, como outras águas, é levada para o alto, para se misturar às águas que estão acima do firmamento. O erudito Sir Richard Blackmore faz disto também uma comparação. Embora as águas se esgotem e sequem no verão, ainda assim retornarão no inverno, mas a vida do homem não é assim. Veja parte da sua paráfrase, nas suas próprias palavras: — “Um rio que corre, ou um lago estático, pode abandonar suas margens secas e suas bordas nuas, as suas águas podem evaporar e ir para o alto, deixando seu canal, para rolar nas nuvens acima, mas a água que retorna restaurará o que, no verão, tinham perdido antes: — mas se, ó homem! As tuas correntezas vitais abandonam os seus canais

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púrpuros e enganam o coração, eles nunca receberão novos recrutas, nem sentirão a saltitante maré de retorno da vida”. Que haverá um retorno do homem à vida, novamente, em outro mundo, no fim dos tempos, quando não houver mais céus — e, o caminho para o outro mundo, é Jesus Cristo, “Não há salvação em nenhum outro, pois, debaixo do céu não há nenhum outro nome dado aos homens pelo qual devamos ser salvos” (Atos 4:12). Não adianta diante de Deus, a credulidade de tradição, a intelectualidade internalizada e adquirida, a riqueza do suor, a mordomia de uma vida, as vãs filosofias, a moralidade exacerbada, a caridade culpada, a confissão fingida, e outros caminhos que os homens teimam em criar. O que importa é o que a Palavra de Deus diz: — Arrependimento e regeneração, “Necessário vos é nascer de novo” (Marcos 1:15; João 3:7); e isto, deriva de um encontro com a Verdade de Deus, o homem não pode encontrar-se com a Verdade, a Verdade é que encontra o homem, pois o mesmo está completamente perdido – a Verdade – trata-se de uma Pessoa, Jesus Cristo, o Santo Filho de Deus e Redentor de todo aquele que crer nEle para a salvação, pois, Ele disse ser: — “a Verdade” (João 14:6), e a Verdade liberta o homem da morte, “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (João 8:32). “O Filho amado se fez maldito, para que os malditos, fossem feitos filhos amados, Ele se fez o que somos, para nos tornar o que Ele é (Gálatas 3:13), amado de Deus Pai, justificados e santificados, para a glória da sua graça”. A sepultura não é somente um local de descanso, mas um esconderijo, para o povo de Deus. Deus tem a chave para a sepultura

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[Ele venceu a morte!], para deixar entrar agora, e deixar sair na ressurreição. Ele esconde os homens na sepultura, como nós escondemos nosso tesouro em um lugar seguro e secreto, e aquele que morre o encontrará, e nada será perdido [desde que, esteja nEle]. Tomara que me escondesses, não somente das tempestades e dificuldades da vida, mas para a bem-aventurança e a glória de uma vida melhor. A maioria das pessoas acreditam em Deus, todavia, até demônios crêem (Tiago 2:19). Entretanto, para receber a salvação, é preciso se voltar totalmente para Deus, formar uma relação pessoal com Ele, voltar-se contra os nossos pecados, tomar a nossa cruz e seguir a Ele. Devemos acreditar em Jesus com tudo o que temos, e, em tudo o que fazemos. “Justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo, para todos os que creem; porque não há distinção” (Romanos 3:22). A Bíblia nos ensina que não há outro caminho para salvação a não ser através de Cristo. Jesus diz, em João 14:6: — “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim”. “Deus não reconhece nenhuma fé, que não nasça no ventre da Escritura”. Jesus é o único caminho para a salvação porque Ele é o único que pôde pagar o preço pelos nossos pecados (Romanos 6:23). Nenhuma outra religião ensina a profundidade ou seriedade do pecado e das suas consequências. Nenhuma outra religião oferece o pagamento infinito que somente Jesus poderia dar pelo pecado. Nenhum outro “fundador religioso” foi Deus vindo como homem (João 1:1, 14), a única forma pela qual um débito infinito poderia ser pago. O Redentor tinha que ser Deus para que pudesse pagar nosso “débito

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eterno”. O Redentor tinha que ser homem para que pudesse morrer e ser obediente. A salvação está disponível apenas pela fé em Jesus Cristo! “E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos” (Atos 4:12), a salvação do início ao fim é uma obra sobrenatural de Deus (Efésios 2:8), e a fé salvífica vem da ortodoxia e ortopraxia (“reta prática, ou ação correta”) que através da graça de Deus, manifestada em Cristo, recebemos a salvação e a justificação gratuitamente (Romanos 3:24, 10:17; Tiago 1:22; 2:14 – 18). Confesse todos os seus pecados a Deus, arrependa-se de todos eles, ore e peça a Deus o perdão definitivo, e assim todos os seus pecados por mais terríveis, serão perdoados, por meio da redenção (resgate do gênero humano caído), e expiação (purificação dos crimes ou faltas cometidas) por Jesus Cristo (1 João 1:9). Ainda há tempo!

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O SANGUE DE CRISTO

“Pois a vida da carne está no sangue, porquanto é o sangue que fará expiação pela alma” (Levítico 17:11). O caminho para o santuário celestial é mediante a morte expiatória; este é o significado funcional de Mediador da Nova Aliança. Isto é verdade porque a morte interveio, a morte de Jesus Cristo sobre a Cruz. Uma transação foi efetuada ali a qual satisfaz inteiramente todas as exigências redentoras, e isto, resulta em perdão e eterna herança. Esta Nova Aliança pode ser considerada como um testamento selado com a morte daquele que o fez. Nos tempos do Antigo Testamento o sangue do sacrifício animal selava uma aliança entre os pactuantes. A morte de Cristo selou a nova aliança (“da Nova Aliança” – της καινης διαθηκης – “tês kainês diathêkês”). Acrescentou-se aqui um argumento para fortalecer o fato sob consideração. A ênfase foi posta sobre testamento (διαθηκη – diathêkê) selado pelo sangue e pelo derramamento de sangue. Este é o único caminho no qual uma aliança pode entrar em vigor. E, esta é uma aliança melhor. Aqui, veremos o ponto alto, que a morte de Cristo foi necessária. A morte continuamente se faz necessária, para que assim se tenha verdadeiramente vida, seja na Terra — “Eu Sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, mesmo que morra, viverá” (João 11:25; cf. João 5:1; Romanos 5:17 – 19), seja para o Céu — “Temos certeza de que aquele que ressuscitou o Senhor Jesus dentre os mortos, da mesma forma nos ressuscitará com Ele e nos apresentará convosco” (2 Coríntios 4:14; cf. Romanos 8:11; 1

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Coríntios 15:20 – 26, 43 – 57; Filipenses 3:10, 20, 21; 1 Tessalonicenses 4:14; Apocalipse 20:5; Apocalipse 21:4). Cristo nos ensinou – O grão de trigo, o mistério da vida por meio da morte. “Na verdade, na verdade vos digo que, se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer; dá muito fruto” (João 12:24). Você sabe o que significa o sangue de Cristo? A frase “sangue de Cristo” é usada várias vezes no Novo Testamento e é a expressão da morte sacrificial e expiatória de Jesus em nosso favor, de forma substitutiva e vicária. As referências ao sangue do Salvador incluem a realidade de que Ele literalmente sangrou na Cruz, mas mais significativamente que sangrou e morreu pelos pecadores. O sangue de Cristo tem o poder de expiar por um número infinito de pecados cometidos por um número infinito de pessoas ao longo dos tempos, e todos cuja fé repousa nesse sangue serão salvos. A realidade do sangue de Cristo como meio de expiação do pecado tem a sua origem na Lei Mosaica. Uma vez por ano, o sacerdote devia fazer uma oferenda de sangue de animais no altar do templo pelos pecados do povo. “De fato, segundo a Lei, quase todas as coisas são purificadas com sangue, e sem derramamento de sangue não há perdão” (Hebreus 9:22). Ao valer-se ao termo “quase” (v. 22), Paulo parece indicar que algumas coisas eram purificadas de outra forma. Indubitavelmente, frequentemente costumavam lavar-se, bem como outras coisas, como água, mas nem mesmo a água derivava dos sacrifícios seu poder de purificar, de modo que o Apóstolo está certo quando diz, afinal, que sem sangue não havia remissão. Atribuía-se impureza, até que a mesma fosse expiada por meio do sangue. Como

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não existe pureza nem salvação fora de Cristo, assim também sem sangue nada podia ser nem puro nem salvo, visto que Cristo nunca pode ser separado do sacrifício de sua morte. Tudo o que o Apóstolo pretendia dizer é que quase sempre se fazia uso desse símbolo. Mas se alguma vez a purificação não ocorresse, o problema não estava no sangue, visto que todos os ritos, de alguma forma, derivavam sua eficácia da expiação geral. O povo não era aspergido individualmente [como seria possível que uma pequena porção de sangue fosse suficiente para tão grande número?], não obstante a purificação se estendia a todos. O termo “quase” tem a função de expressar que frequentemente se praticava esta cerimônia, que raramente a omitiam nos casos de purificação. É estranho ao propósito do Apóstolo o conceito de Crisóstomo, de que se denota aqui, uma inadequação, visto que essas não passavam de meras figuras. Sem efusão de sangue não pode haver expiação do pecado, era de fato um princípio hebraico bem conhecido e estabelecido definitivamente. Assim, pois, o autor retrocede na inauguração da primeira Aliança sob Moisés [mosaica] na ocasião em que o povo tinha aceito a Lei como condição de sua especial relação com Deus. Ali nos diz como se fez o sacrifício e como Moisés “tomou metade do sangue e o pôs em bacias; e a outra metade aspergiu sobre o altar”. E, depois que leu o livro da Lei e o povo deu a entender sua aceitação “tomou Moisés aquele sangue, e o aspergiu sobre o povo, e disse: — Eis aqui o sangue da aliança que o SENHOR fez convosco a respeito de todas estas palavras” (Êxodo 24:1 – 8).

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É muito certo que a memória do autor não foi inteiramente fiel nesta evocação. Introduz bezerros, bodes, escarlate e hissopo, que provêm do ritual do dia da expiação porque este dia estava tão gravado em sua mente. Fala da aspersão de um tabernáculo que naquela época ainda não tinha sido construído; mas novamente é o tabernáculo aquele que está tão gravado em sua mente. A idéia básica sublinha que não pode ocorrer purificação alguma, que não se pode ratificar uma aliança sem aspersão de sangue. Por que deve ser assim, não sabe e não lhe é perguntado. “A Escritura diz que é assim e isto lhe basta para sua argumentação”. A razão provável é que na estimativa do hebreu o sangue é a vida, e esta, é a coisa mais preciosa do mundo. O homem deve oferecer a Deus a coisa mais preciosa da vida. A conclusão geral sobre este tema é que, de acordo com a lei, quase todas as coisas [...] se purificam com sangue. A palavra “quase” (schedon – σχεδὸν) qualifica a declaração inteira e tem o significado de “quase se pode dizer” como se fosse uma declaração geral que se aplicava na maioria dos casos. Alguns ritos judaicos de purificação eram feitos através da água ou através do fogo, mas os mais significantes eram através de sacrifícios que envolviam o derramamento do sangue de uma vítima. Vale notar que as palavras “com sangue” (tō haimati – τῷ αἵματι) podem ser traduzidas “em sangue”, como a esfera em que a purificação é feita. Todas as coisas (panta – πάντα), embora traduza uma palavra neutra, visa incluir as pessoas bem como os objetos, os sacerdotes e a congregação igualmente. A declaração final aqui — sem derramamento de sangue não há remissão – é baseada na declaração de Levítico 17:11; resume o propósito dos sacrifícios com sangue de acordo com a Lei. O

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derramamento de sangue indica a morte do animal e o derramamento cerimonial do seu sangue subentende mais do que a doação da vida, sua eficácia reside na aplicação do sangue. Desta maneira, o escritor está edificando uma explicação da necessidade da morte de Cristo. Deve ser notado que Levítico 5:1, faz uma exceção no caso de extrema pobreza, quando, então, uma décima parte de uma efa de farinha fina é aceita como oferta pelo pecado. Mas esta é uma concessão e não anula o princípio que ainda está ali na intenção. Podemos entender perfeitamente essa exceção como a misericórdia de Deus, hoje manifestada pelo sangue de Cristo que continuamente purifica-nos de toda a nossa pobreza moral, e alimenta-nos para vida, pela medida de farinha (“o trigo que foi moído”) o pão da vida que foi partido — o sacrifício de Cristo — por nós em oferta, pois, verdadeiramente Cristo é comida e bebida. “Eu sou o pão da vida [...]. Pois a minha carne é verdadeira comida, e meu sangue é verdadeira bebida” (João 6:48, 55). Entretanto, esta era uma oferta de sangue limitada em sua eficácia, por isso tinha que ser oferecida repetidamente. Este foi o prenúncio do sacrifício a ser oferecido de “uma vez por todas” por Jesus na Cruz (Hebreus 7:27). Uma vez que o sacrifício foi feito, não havia mais a necessidade do sangue de touros e cabras.

O ofício sacerdotal de Cristo — Expiação, reconciliação, intercessão.

Impõe-se agora, em relação ao sacerdócio de Cristo, assim considerar, sucintamente, qual seu fim e aplicação, ou seja, ser Ele um Mediador limpo de toda mancha, o qual, por sua santidade, concilia Deus conosco. Mas, visto que justa maldição nos barra o

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acesso, e em função de seu ofício de Juiz, Deus nos é contrário, para que o sacerdote nos alcance seu favor a fim de aplacar-se a ira do próprio Deus, faz-se necessário que intervenha uma expiação. Portanto, para que Cristo desempenhasse este ofício, Ele teve que apresentar-se com um sacrifício. Ora, também sob a lei, não era lícito ao sacerdote adentrar o santuário sem sangue (Hebreus 9:7), para que os fiéis soubessem que, embora o sacerdote houvesse se interposto como intercessor, entretanto, Deus não podia ser propiciado, a não ser que os pecados fossem expiados. Acerca desta matéria o Apóstolo discute extensamente na Epístola aos Hebreus, desde o sétimo capítulo até quase o fim do décimo. Contudo, a síntese de sua argumentação se reduz a isto: — “só a Cristo compete a dignidade do sacerdócio, porque, pelo sacrifício de sua morte, apagou nossa culpa e fez satisfação por nossos pecados”. De quão grande importância, porém, seja esta matéria, somos avisados daquele solene juramento de Deus que foi proferido sem arrependimento: — “Tu és sacerdote para sempre segundo a ordem de Melquisedeque” (Salmos 110:4; Hebreus 5:6). Pois, desta forma quis Deus sancionar, não dubiamente, esse princípio em que sabia revolver-se o principal gonzo de nossa salvação. Ora, como foi dito, nem a nós próprios ou a nossas preces se alcança acesso à presença de Deus, a não ser que, purgados nossos pecados, o Sacerdote nos santifique e nos alcance a graça que nos elimina a imundície de nossas transgressões e depravações (CALVINO, João, Institutas, II, p. 252 – 523). Vemos assim que, para que chegue até nós a eficácia e proveito de seu sacerdócio, tem-se de começar pela morte de Cristo. Segue-se daqui que Ele é o eterno Intercessor, por cujo auxílio conseguimos favor. Donde, por outro lado, nasce não somente confiança de orar,

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mas também tranquilidade nas consciências piedosas, enquanto, em segurança, se reclinam na paterna indulgência de Deus, e, com toda certeza, estão persuadidas de que lhe agrada tudo quanto é consagrado através do Mediador. Embora, na verdade, sob a Lei ordenara Deus que se lhe oferecessem sacrifícios de animais, diversa e nova foi a disposição em Cristo, de tal modo que, o mesmo que era o sacerdote, fosse também a vítima, porquanto nem se podia achar outra satisfação idônea pelos pecados, nem alguém digno de tão elevada honra que o Unigênito pudesse oferecer a Deus. Agora Cristo exerce a função de Sacerdote, não só para que, mercê da eterna Lei de reconciliação, nos torne o Pai favorável e propício, mas ainda para que nos admita à participação de tão grande honra (Apocalipse 1:6). “A grande e central parte da obra sacerdotal de Cristo jaz na expiação, mas esta, naturalmente, não é completa sem a intercessão; sua obra sacrificial na Terra requer o seu serviço no santuário celestial. Ambas são partes complementares da tarefa sacerdotal do Salvador. A doutrina da expiação, é às vezes chamada: — coração do Evangelho” (Louis Berkhof). Ora, que em nós mesmos somos depravados, todavia sacerdotes nEle, oferecemos a Deus a nós mesmos e a tudo que é nosso e entramos livremente no santuário celeste, para que sejam agradáveis e de bom odor à vista de Deus os sacrifícios de preces e de louvor que de nós procedem. E até este ponto se estende essa afirmação de Cristo: — “Por causa deles a mim mesmo me santifico” (João 17:19), porquanto, banhados de sua santidade e sangue, até onde consigo nos consagrou ao Pai, nós que, de outro modo, cheiramos

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mal diante dEle, lhe agradamos como se fôssemos puros e limpos, aliás, até mesmo santos. A isto se refere a unção do santuário de que se faz menção em Daniel (9:24). Pois é preciso notar a antítese entre esta unção e aquela, unção penumbrosa que estivera então em uso, como se estivesse o Anjo a dizer que, dissipadas as sombras, manifesto haveria de ser o sacerdócio na pessoa de Cristo. Quão mais detestável, portanto, é a invenção daqueles que, não contentes com o sacerdócio de Cristo, ousaram interpor-se a sacrificá-lo, o que se tenta diariamente no papismo, onde a missa é considerada uma imolação de Cristo, também em outras falsas religiões. Ainda, Paulo pensa na suprema eficácia do sacrifício de Jesus, e começa com um vôo de pensamento que até para um escritor tão aventureiro como ele é, surpreendente. Lembremos novamente seu pensamento básico. “O culto deste mundo é uma pálida cópia do culto real”. Neste mundo há um culto que pode brindar ao homem uma sombra da verdadeira comunhão com Deus; no mundo vindouro há um culto pelo qual o homem conhecerá realmente a Deus. Agora, o autor diz que neste mundo os sacrifícios levíticos estavam destinados a purificar os meios de culto. Por exemplo, os sacrifícios do Dia da Expiação purificavam o tabernáculo, o altar, o lugar santo; e agora ele continua dizendo que a obra de Cristo purifica não só a Terra, mas também o Céu. Tem a tremenda idéia de que a obra de Cristo tem efeito tanto no Céu como na Terra. Tem-se o quadro de uma espécie de redenção cósmica que purificou todo o universo visível e invisível.

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Continua sublinhando de novo o modo em que a obra e o sacrifício de Cristo são supremos. Jesus não entrou num lugar santo humano, feito pelo homem; entrou na presença de Deus no Céu. O que Jesus nos concede não é a entrada numa Igreja, mas sim a entrada à presença de Deus. Temos que pensar no Cristianismo não em termos de sermos membros da Igreja, mas em termos de uma íntima comunhão com Deus. Cristo entrou na presença de Deus não por si mesmo, mas por nós; sua entrada na presença de Deus não foi para sua glória e exaltação, senão para nos abrir o caminho; para estar na própria presença de Deus e defender nossa causa. Em Cristo existe o maior paradoxo do mundo: — “a da maior glória e a do maior serviço ao mesmo tempo; a de alguém por quem o mundo existe e que existe para o mundo; a do Rei eterno e do eterno Servo”. O sacrifício de Cristo se fez e não precisa ser realizado de novo. O ritual do Dia da Expiação devia repetir-se anualmente fazendo-se expiação pelo que bloqueava o caminho a Deus. Mas o sacrifício de Cristo jamais precisa ser repetido. O caminho a Deus fica aberto para sempre e jamais pode ser fechado de novo. Os homens são sempre pecadores e o serão, mas isto não significa que Cristo deva continuar oferecendo-se a si mesmo indefinidamente. O caminho está aberto de uma vez para sempre. Podemos sobre este ponto traçar uma pálida analogia. “Há coisas que só precisam ser feitas uma só vez, e um novo caminho que nunca tem que ser fechado, permanece aberto para sempre”. Tomemos o caso da técnica cirúrgica. Durante muito tempo muitas operações cirúrgicas foram impossíveis; certo dia algum cirurgião

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encontrou o modo de salvar as dificuldades. Desde esse momento o caminho está aberto a todos os cirurgiões; a mesma cura está ao alcance de todos os que padecem da enfermidade. De uma vez para sempre o caminho está aberto. Podemos também expressá-lo de outra maneira: — Ao que Cristo fez em favor dos homens pecadores para abrir e manter aberto o caminho ao Amor de Deus ninguém jamais precisará acrescentar nada.

“Se Deus amou ao mundo e entregou o seu Unigênito para morrer por todos aqueles que creriam nEle, Ele amará para sempre todo aquele escolhido, para ser objeto de seu Amor, pois, Deus não pode mudar, nem se arrepender, Ele é imutável e Amoroso”. Finalmente o autor [Paulo] traça um paralelo entre a vida do homem e a vida de Cristo. O homem morre e logo vem o juízo. Agora, para o grego isto constituía em si um sobressalto. Em geral o grego pensava que o homem morria e assim chegava a seu fim: — “Uma vez que a terra bebe o sangue do homem”, dizia Esquilo, “morre de uma vez para sempre e não há ressurreição”. Eurípides dizia: — “Não pode ser que o morto vá à luz. Porque a única perda é esta: — que nunca o mortal volta a provar de novo; jamais a vida do homem apesar da riqueza pode ser ganha de novo”. Como Homero fez Aquiles dizer quando chega ao mundo das sombras: — “Prefiro viver sobre a Terra como um assalariado, como um homem sem terra, de escassos meios de vida, que tendo domínio sobre todos os mortos que não existem mais”. Um singelo epitáfio grego diz: — “Adeus, tumba de Melite! Aqui jaz a melhor das mulheres, que amou a seu amante marido Onésimo;

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você foi a mais excelente, por isso ele sente saudades depois de sua morte; porque foi a melhor das esposas. Adeus também a você, mui querido esposo, somente ama a meus filhos”. Como G. Lowes Dickinson percebe, no grego, frente à morte a primeira e a última palavra deste epitáfio é “Adeus!”. A morte era o fim. Quando Tácito paga tributo com uma biografia ao grande Agrícola só pode terminar com um “se”. “Se houver uma morada

para os espíritos dos justos; se, como dizem os sábios, as almas não perecem com o corpo, que descanse em paz”. “Se” for à única palavra. Marco Aurélio pode dizer que quando um homem morre e sua centelha volta a perder-se em Deus tudo o que fica é “pó, cinzas, ossos e fedor”. O significativo desta passagem de Hebreus é a convicção básica de que o homem ressuscitará; esta é parte da certeza do credo cristão; e a advertência básica é que ressuscita para o juízo. Com Cristo é diferente — Cristo morre, ressuscita e volta; vem não para ser julgado, senão para julgar. A Igreja primitiva jamais esqueceu a esperança na segunda vinda. Vibrava através de sua fé. Mas devemos notar algo: — para o não crente tratava-se de um dia de espanto, como o expressa Enoque quando fala do Dia do Senhor escrevendo antes da vinda de Cristo: — “Para todos vós que sois

pecadores não há salvação, mas sim sobre todos vós sobrevirá, a destruição e a maldição”. De algum modo terá que vir a consumação. Se neste dia Cristo vier como amigo, então só pode

tratar-se de um Dia de Glória — Soli Deo Gloria; se vier como um estranho ou como alguém a quem consideramos inimigo, só poderá tratar-se de um Dia de Juízo.

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O homem pode olhar o fim das coisas com alvoroçada expectativa ou com um terror assustador. O que faz a diferença é a relação do coração com Cristo. O sangue de Cristo é à base da Nova Aliança. Na noite antes de ir para a Cruz, Jesus ofereceu o cálice de vinho aos discípulos e disse: — “Este cálice é a Nova Aliança no meu sangue, derramado em favor de vocês” (Lucas 22:20). Derramar o vinho na taça simbolizava o sangue de Cristo que seria derramado por todos os que chegariam a crer nEle. Quando derramou o seu sangue na Cruz, Jesus acabou com a exigência da Antiga Aliança para o contínuo sacrifício de animais. Isso se deu ao fato de que esse sangue não era suficiente para cobrir os pecados do povo, exceto em caráter temporário, transitório porque o pecado contra um Deus Santo e infinito requer um sacrifício Santo e infinito. “Contudo, esses sacrifícios são uma recordação anual dos pecados, pois é impossível que o sangue de touros e bodes tire pecados” (Hebreus 10:3, 4). Embora o sangue de touros e cabras tenha sido um lembrete do pecado, o precioso sangue de Cristo, um cordeiro sem mancha ou defeito (1 Pedro 1:19), pagou por completo a dívida que devíamos a Deus pelos nossos pecados, pela nossa rebelião e não precisamos de nenhum outro sacrifício pelo pecado. Jesus disse: — “Tudo está consumado”, quando estava morrendo e foi exatamente isso o que quis dizer, que todo o trabalho de resgate foi concluído para sempre, “Ele entrou no Santo dos Santos, uma vez por todas, e obteve eterna redenção”, por nós (Hebreus 9:12). Westcott estabelece quatro modos nos quais o sacrifício de Jesus difere dos sacrifícios de animais do Antigo Pacto.

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Primeiro, o sacrifício de Jesus é voluntário. Um animal morre porque tem que morrer; Jesus escolheu a morte. O animal lhe é tirado à vida; Jesus deu sua vida. O sacrifício de Jesus não foi uma exigência forçada, mas sim entregou voluntariamente a vida por seus amigos. Segundo, o sacrifício de Jesus foi espontâneo. O sacrifício de um animal fazia-se de acordo com as prescrições e ordenanças da Lei, era inteiramente produto da Lei; o sacrifício de Jesus é inteiramente produto do Amor e Graça. Pagamos a dívida a um comerciante porque devemos fazê-lo, mas damos um presente aos que amamos porque desejamos fazê-lo. Não é a Lei, mas sim o amor o que está por trás do sacrifício de Jesus. Terceiro, o sacrifício de Jesus foi racional. A vítima animal não sabia o que sucedia ou o que se fazia, não pensava nem raciocinava. Jesus sabia todo o tempo o que estava fazendo. Morreu não como vítima ignorante apanhada por circunstâncias que não controla nem entende, mas com os olhos abertos sabendo de onde vinha, aonde ia, e o que estava fazendo. Quarto, o sacrifício de Jesus foi moral. O sacrifício de animais era mecânico: — o ritual era levado a cabo de acordo com a norma estabelecida. As engrenagens das prescrições moíam sua rotina. O sacrifício de Jesus se fez como o expressa o autor, mediante o “Espírito eterno”. Não foi um mecanismo legal o que operou no sacrifício de Jesus, mas sim o Espírito de Deus. O que aconteceu no Calvário não foi o cumprimento automático de algum ritual, mas sim, porque a vontade de Jesus obedecia à vontade divina em favor

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dos homens, atrás dEle não estava o mecanismo da Lei, mas sim a decisão do Amor. “O sangue de Cristo não somente redime os crentes do pecado e do castigo eterno, mas purifica a consciência de atos que levam à morte, de modo que todos possam servir de forma temente ao Deus vivo” (Hebreus 9:14). Isto significa que não só estamos agora livres de oferecer sacrifícios que são “inúteis” para obter a salvação, mas somos livres de confiar em obras inúteis e improdutivas da carne para agradar a Deus (Isaías 64:6 – 9). Porque o sangue de Cristo nos redimiu, somos agora novas criaturas em Cristo (2 Coríntios 5:17); e pelo seu sangue somos libertos do pecado para servir ao Deus vivo, para glorificá-lo e desfrutá-lo para sempre. Em João 19:34, 35, um dos soldados perfurou seu lado com uma lança, e imediatamente saiu sangue e água. Isto foi evidenciado por aquele que viu o ocorrido, “[...] porque foste morto e com teu sangue compraste para Deus homens [...]” (Apocalipse 5:9).

A parábola sobre carros.

Qual é o seu preço? Pensemos por um momento; se eu colocar um carro a venda, achar que ele vale sete mil reais e receber ofertas de dois mil a nove mil reais, quanto vale meu carro? O preço da menor oferta de dois mil reais? Não. Num mercado livre, o carro vale não o valor que à pessoa oferece, mas o quanto que esta pessoa está disposta a pagar. Ou seja, o valor que a pessoa oferece ao carro, e o compra, é o valor do carro.

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As pessoas são “comercializadas” em um mercado espiritual e eterno. Nós não valemos o que achamos que valemos e também não temos o valor da menor oferta. Nós valemos o quanto à pessoa que oferece mais alto quer pagar. Deus é quem ofereceu o “preço” mais alto, e o “preço” da etiqueta é a Cruz. Deus olhou através das eras eternas e disse, “Eu quero aquele lá, mesmo que o preço seja exorbitante!”. Nosso valor é estabelecido de uma vez por todas e nunca mudará nem diminuirá, a salvação não pode ser perdida ou desvalorizada, como os arminiamos fazem, o preço foi alto. Deus apresentou a melhor oferta e pagou o “preço” mais alto. E o que deixa esse preço exorbitante em relação ao “produto”, é que os “produtos” (os homens eleitos) são todos defeituosos fadados à destruição, e sem nenhum valor. “É como se comprássemos uma dúzia de banana apodrecida no valor de um milhão de reais”. Mas esse foi o nosso preço! “A cruz não é um símbolo de quanto somos valiosos, mas, de quanto somos depravados, maus e carentes [da glória de Deus], pois custou a vida do Unigênito Filho de Deus, a saber, Jesus o Cristo”. “Não se vendem dois pardais por uma moedinha? Contudo, nenhum deles cai no chão sem o consentimento do Pai de vocês. Até os cabelos da cabeça de vocês estão todos contados. Então, não tenham medo; vocês valem mais do que muitos pardais!” (Mateus 10:29, 30). “Mas vocês tem que ver que vocês foram resgatados do jeito fútil do seu viver, passado através de suas tradições, não com pagamento em dinheiro desse mundo. Não, o preço na verdade foi o sangue de Cristo, o cordeiro sacrificial, sem defeito e sem

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mancha” (1 Pedro 1:18, 19). “Vocês foram redimidos por um preço tremendo” (1 Coríntios 7:23). Fomos vendidos! “Redenção” é uma palavra tomada do mercado de escravos, a idéia básica é a de se obter liberdade através do pagamento de um resgate. Isso é suficiente para você? “Quando, pois, Jesus tomou o vinagre, disse: — Está consumado! E, inclinando a cabeça, rendeu o espírito” (João 19:30). Nos comentários Bíblicos, “Tetelestai” é a palavra grega usada para a frase “consumado”. Recibos de impostos em papiro foram encontrados com a palavra grega “Tetelestai”, escrita neles, o que significa “liquidado”. “[...] e cancelou a escrita de dívida, que consistia em ordenanças, e que nos era contrária. Ele a removeu, pregando-a na cruz [...]” (Colossenses 2:14). Nós somos possessão de Deus, imagine-se vestindo uma camiseta na qual está escrito bem grande e em vermelho: — “Vendido. Desculpe-nos, não estamos aceitando mais ofertas!”. Vendido para aquele que pagou mais, assim somos nós, não podemos baratear nossa fé nem nossa vida cristã por esse mercado da fé que se encontra no seio da Igreja [nos dois extremos, Pentecostais e Reformados], fomos comprados por um preço exorbitante, extravagante e infinitamente superior a tudo, e todos do universo de nossa esfera, que nenhuma, de todas as ofertas desse mundo pode comprar-nos. “Aquele que nos ama, que nos libertou de nossos pecados pelo preço de seu sangue” (Apocalipse 1:5).

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Já que Jesus nos comprou com seu sangue, devemos perceber que na realidade não temos controle sobre a nossa vida. Fomos comprados, e estamos agora sob o senhorio de nosso novo Mestre, e Senhor. Você não pode servir a outros mestres somente aquele ao qual lhe comprou, entende? (1 Coríntios 7:23; Mateus 6:24; cf. Gálatas 1:10; 1 Timóteo 6:17; 1 João 2:15). “Vocês não são donos de seus próprios corpos” (1 Coríntios 6:19 – 20). E, em outras traduções, “Vocês não são de si mesmos; vocês foram comprados por alto preço. Vós não sois propriedades de si mesmos; fostes comprados e pagos”. E porque fomos comprados? “Fugi da fornicação. Qualquer outro

pecado que o homem comete é fora do corpo, mas o fornicador peca contra seu próprio corpo. Vocês não sabem que seu corpo é o templo do Espírito Santo, e que o Espírito é o dom de Deus para vocês? Vocês não pertencem a si mesmos; foram comprados por um preço. Portanto, honrem Deus em seu corpo” (1 Coríntios 6:18 – 20). [...] que se entregou por nós a fim de nos remir de toda maldade e purificar para si mesmo um povo particularmente seu, dedicado à prática de boas obras (Tito 2:14; cf. Efésios 1:4 – 6; 2 Timóteo 1:9, 10; Tiago 2:17, 20 – 23). “E eles cantavam um cântico novo: — Tu és digno de receber o rolo e de abrir os seus selos, pois foste morto, e com teu sangue compraste para Deus homens de toda tribo, língua, povo e nação. Tu os constituíste reino e sacerdotes para o nosso Deus, e eles reinarão sobre a terra” (Apocalipse 5:9 – 10). [...] nEle, quando vocês ouviram e creram na palavra da verdade, o Evangelho que os salvou, vocês foram selados com o Espírito Santo da promessa. Ele é a garantia da nossa herança até a redenção daqueles que pertencem a Deus, para o louvor da sua glória (Efésios 1:13, 14).

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Apocalipse 12:11, diz: — “Nossos irmãos ganharam vitória sobre Satanás por causa do sangue do Cordeiro, e pela verdade que proclamaram; e eles estavam dispostos a entregar suas vidas e morrer”. Romanos 14:8, diz: — “Porque, se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor morremos. Quer, pois, vivamos ou morramos, somos do Senhor”. Filipenses 1:29, diz: — “Porque a vós vos foi concedido, em relação a Cristo, não somente crer nEle, como também padecer por Ele”. Você entende porque foi comprado? Não é mais para viver seus desejos, mas para viver a boa, agradável e perfeita vontade de Deus (Romanos 12:1, 2). Já que Deus nos comprou pelo sangue precioso de Cristo, somos escravos de Deus? Uma frase responde essa pergunta: — “Eu pertenço a Jesus”. Ele tem que ter o direito [e o tem] de me usar sem me consultar. Se Cristo nos comprou [e Ele comprou], Ele tem o direito de nos usar da maneira que quiser, isso é muito difícil da mente entender e processar, pois, são muitos os “cristãos” que reclamam dos desígnios de Deus, mas pense um pouco! Se comprarmos algo, usaremos da maneira que queremos, para Deus não pode ser diferente.

“Porque, quando éreis escravos do pecado, estáveis isentos em relação à justiça. Naquele tempo que resultados colhestes? Somente as coisas de que agora vos envergonhais; porque o fim delas é morte. Agora, porém, libertados do pecado, transformados em servos de Deus, tendes o vosso fruto para a santificação, e por fim a vida eterna; porque o salário do pecado é a morte, mas o dom

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gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus nosso Senhor” (Romanos 6:20 – 22). Romanos 6:23, diz: — “O pecado paga seus servos: — o salário é a morte. Mas Deus dá àqueles que o servem, seu dom gratuito é a vida eterna através de Jesus Cristo nosso Senhor”. Nós somos escravos que receberemos uma grande recompensa de nosso Senhor, não é incrível o que Cristo fez por nós, pagou nossa dívida e ainda nos dará a maior das recompensas, a vida eterna! Lembre-se sempre do preço, nunca esqueça. [...] sendo justificados gratuitamente por sua graça, por meio da redenção que há em Cristo Jesus. Deus o apresentou como sacrifício para propiciação mediante a fé, pelo seu sangue [...] (Romanos 3:24, 25). Por isso não podemos fazer da fé algo de caráter comercial, ou imoral, como muitos fazem com, e pelo nome de Cristo. Não seja participante de movimentos que não proclamem o Cristo crucificado, sua morte, ressurreição e ascensão. Não podemos fazer parte de movimentos que não combatam o pecado, não bradem a justiça e o juízo de Deus. A Igreja de Cristo deve ser combatente e vigilante, em muitas das “Igrejas” que se dizem de Cristo, existe o “espírito idólatra de Judas Iscariotes”, que certamente é regido por Satanás [o espírito imundo do anticristo] (cf. 1 João 2:18 – 25; 1 João 4:1 – 6). Judas Iscariotes, foi o primeiro a ver Cristo como uma fonte de lucro. Hoje, temos muitos outros dispostos a fazer o mesmo (Lucas 22:3 – 6), e a justiça de Deus se manifestará, a santa ira de Deus será derramada, e administração do último julgamento será por Ele, Jesus redentor e juiz dos vivos e mortos (Atos 10:42, 43). Que Judas seja o nosso maior exemplo para não entrarmos neste evangelicalismo

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contemporâneo, e assim tremermos diante de Deus, nosso Pai e Senhor em obediência, e consequentemente em santificação, separados do mundo, e para Deus. Colossenses 1:14, diz: — “[...] foi Ele que comprou nossa liberdade com seu sangue e perdoou nossos pecados”. E, não “objetos sagrados”, dízimos, livros, títulos acadêmicos [a fé não é um simples assentimento intelectual à verdade, é entrega total], e outras coisas, Jesus Cristo é a fonte de todas as maravilhas e bênçãos que rebemos pelo Pai por meio de seus méritos infinitos. Somos salvos pela graça, e abençoados pela graça (Efésios 2:5, 8, 15 – 22; cf. Marcos 11:22 – 24). Atos 2:28, diz: — “E agora, cuidado! Alimentem e pastoreiem o rebanho de Deus, a Igreja, que foi comprada com seu sangue, pois, o Espírito Santo os considera responsáveis como pastores”. O Apóstolo Paulo escrevendo aos Efésios 1:7, diz: — “Nele temos a redenção por meio de seu sangue, o perdão dos pecados, de acordo com as riquezas da graça de Deus”. O autor aos Hebreus 10:29, também escreve: — “Então, o que acontecerá com os que desprezam o Filho de Deus, e consideram como coisa sem valor o sangue do acordo de Deus, que os purificou? E o que acontecerá com quem insulta o Espírito do Deus que o ama? Imaginem como será pior ainda o castigo que essa pessoa vai merecer!”.

Somos protegidos pelo sangue? Sim!

Êxodo 12:7, 12, 13, diz: — “Tomarão do sangue e o porão em ambos

os umbrais, e na verga da porta, nas casas em que o comerem [...]. Porque naquela noite passarei pela terra do Egito, e ferirei na terra do Egito todos os primogênitos, desde os homens até os animais; executarei juízo sobre todos os deuses do Egito: — Eu sou o SENHOR. O sangue vos será por sinal nas casas em que estiverdes:

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— vendo eu sangue, passarei por vós, e não haverá entre vós praga destruidora, quando eu ferir a terra do Egito”. O Apóstolo Paulo ratifica em Romanos 5:9, “Logo muito mais agora, sendo justificados pelo seu sangue, seremos por Ele salvos da ira”. Fomos comprados em termos de que Pacto? Um novo acordo ou pacto nos “redime” de nosso mestre anterior, de nosso contrato anterior “a Lei e o pecado”, somos livres desse contrato que foi ab-rogado por ser fraco antiquado, velho e inútil – caducado (Hebreus 7:18; 8:13; cf. 1 Coríntios 11:23 – 25). Êxodo 24:8, diz: — “Então tomou Moisés aquele sangue e o aspergiu sobre o povo, e disse: — Eis aqui o sangue da aliança que o Senhor fez convosco a respeito de todas estas palavras”. Jeremias 31:31, 34, diz: — “Eis aí vem dias, diz o Senhor, e firmarei Nova Aliança com a casa de Israel [...]. Pois perdoarei as suas iniquidades, e dos seus pecados jamais me lembrarei”. Isaías 53:5, diz: — “[...] Ele foi transpassado pelas nossas transgressões, e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre Ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados”. O Apóstolo Pedro, asseverou: — “Ele mesmo levou em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro, a fim de que morrêssemos para os pecados e vivêssemos para a justiça; por suas feridas vocês foram curados. Pois vocês eram como ovelhas desgarradas, mas agora se converteram ao Pastor e Bispo de suas almas” (1 Pedro 2:24, 25). “Chamando nova esta aliança, Ele tornou antiquada a primeira; e o que se torna antiquado e envelhecido, está a ponto de desaparecer” (Hebreus 8:13).

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O sangue purificador, Hebreus 9:15 – 22, diz: — “Cristo é, consequentemente, o administrador de um acordo totalmente novo, tendo o poder, pela virtude da sua morte, para redimir as transgressões cometidas sob o primeiro acordo [...]. Pois, assim como no caso de um testamento, o acordo é valido somente após a morte. Enquanto o testador [a pessoa a quem se refere o testamento] viver, o testamento não tem poder legal. E, na verdade, vemos que mesmo o primeiro acordo do testamento de Deus foi sancionado com o derramamento de sangue [...]. Este é o sangue do acordo que Deus fez com vocês. E vocês verão que na Lei quase todas as coisas são purificadas por meio de sangue, isto está implícito em vários lugares; sem derramamento de sangue não há remissão de pecado”. Temos vida no sangue de Cristo, Levíticos 17:11, diz: — “Pois a vida da carne está no sangue; porquanto é o sangue que fará expiação pela alma”. O que é mais real e permanente: — o mundo Terreno [que vemos] ou o mundo Espiritual [que não vemos]? Qual é o mistério do qual participamos? Que verdade está sendo revelada nos elementos da comunhão [ceia]? Devemos pensar nisto não uma vez no mês, como acontece atualmente, mas em cada segundo de nossas vidas; João 6:41 – 60 diz: — “Com isso, os judeus

começaram a murmurar contra Ele [...]. Não é este Jesus, o filho de José, cujos os pais conhecemos? Como Ele pode dizer, Eu desci do céu? Jesus respondeu e disse, Eu mesmo “Sou o pão da vida”. Seus pais comeram maná no deserto, E eles morreram! [...]. O pão que dou a vocês é o meu próprio corpo e eu o darei pela vida do mundo [homens de todos os lugares]”. Isto levou os judeus a

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discutir acirradamente e alguns deles disseram: — Como pode esse homem nos dar seu corpo para o comermos? Então Jesus lhes disse: — A não ser que vocês comam o corpo do Filho do Homem e bebam seu sangue, eu asseguro que vocês não têm vida. O homem que comer o meu corpo e beber meu sangue tem vida eterna e eu o ressuscitarei quando o último dia vier. “Pois, o meu corpo é verdadeira comida e meu sangue é verdadeira bebida”. Muitos de seus discípulos ouviram dizer estas coisas e comentaram, “Este ensinamento é muito duro; quem pode aceitá-lo?”. Bebam isso, todos vocês, pois é o meu sangue, o sangue do Novo Pacto [acordo] derramado para libertar muitos de seus pecados” (Mateus 26:27, 28). Nos evangelhos de Marcos e Lucas (sinóticos), respectivamente 14:24; 22:20: — “Jesus disse: — Este é meu sangue que é derramado para muitos, meu sangue que sela a aliança de Deus — Este cálice é a Nova Aliança ratificada pelo meu sangue, que está sendo derramado por vocês” (cf. 1 Coríntios 11:25; 1 Coríntios 10:16). O sangue nos leva para perto de Deus, Colossenses 1:19 – 23, diz: — “Pois foi do agrado de Deus que nEle habitasse toda a plenitude, e por meio dEle reconciliasse consigo todas as coisas, tanto as que estão na terra quanto as que estão no céu, estabelecendo a paz pelo seu sangue derramado na cruz”. Antes vocês estavam separados de Deus e, em suas mentes, eram inimigos por causa do mau procedimento de vocês. Mas agora Ele os reconciliou pelo corpo físico de Cristo, mediante a morte, para apresentá-los diante dEle santos, inculpáveis e livres de qualquer acusação, desde que continuem alicerçados e firmes na fé, sem se deixar afastar da esperança do Evangelho. Este é o evangelho que vocês ouviram e que

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tem sido proclamado a todos os que estão debaixo do Céu, do qual eu, Paulo, me tornei ministro.

Causa motora da expiação. No beneplácito de Deus — Às vezes ela é descrita como se a causa motora da expiação estivesse no Amor compassivo de Cristo pelos pecadores. Ele era tão bondoso e tão cheio de amor que a simples idéia de que os pecadores poderiam perder-se para sempre lhe causava aversão. Daí, Ele se ofereceu como vítima no lugar deles, cumpriu a pena dando a sua vida pelos transgressores e assim, pacificou um Deus irado. Nalguns casos, este conceito incita os homens a elogiarem Cristo por seu sacrifício supremo, mas, ao mesmo tempo, a censurar a Deus por exigir e aceitar tal preço. Noutros casos, simplesmente leva os homens a deixar Deus de lado e a entoar louvores a Cristo em termos imoderados. Certamente que tal descrição está completamente errada, e com frequência dá aos oponentes da doutrina da expiação pessoal e substitutiva ocasião para dizerem que esta doutrina pressupõe uma cisão na vida trinitária de Deus. Segundo este conceito, aparentemente Cristo recebe o que lhe é devido, mas Deus fica privado da honra que lhe cabe. De acordo com a Escritura, a causa motora da expiação se acha no beneplácito, desta boa vontade de Deus. Foi predito que Ele viria ao mundo para cumprir a vontade de Deus, “[...] e a vontade do Senhor prosperará nas suas mãos” (Isaías 53:10). Por ocasião do seu nascimento, os anjos cantaram: — “Glória a Deus nas maiores

alturas, e paz na terra entre os homens, a quem Ele quer bem” (Lucas 2:14). A gloriosa mensagem de João 3:16 é que: — “Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”. Diz

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Paulo que Cristo “se entregou a si mesmo pelos nossos pecados, para nos desarraigar deste mundo perverso, segundo a vontade de nosso Deus e Pai” (Gálatas 1:4). E ainda, “aprouve a Deus que nEle residisse toda a plenitude, e que, havendo feito a paz pelo seu sangue da sua Cruz, por meio dEle reconciliasse consigo mesmo todas as cousas, quer sobre a terra, quer nos céus” (Colossenses 1:19, 20). Não seria difícil acrescentar outras passagens similares.

Provas da necessidade da expiação. As provas da necessidade da expiação são mais de caráter inferencial, mas, não obstante, são de considerável importância. Primeiro, pelo que se vê, é claro ensino da Escritura que Deus, em virtude da sua retidão e santidade divina, não pode simplesmente passar por alto o desafio feito a sua majestade infinita, mas necessariamente deve visitar com punição o pecado. Diz-nos repetidamente a Bíblia que de modo algum Ele absorverá o culpado, Êxodo 34:7; Números 14:18; Naum 1:3. Ele odeia o pecado com ódio divino; todo o seu ser reage contra ele, Salmos 5:4 – 6; Naum 1:2; Romanos 1:18. Paulo argumenta, em Romanos 3:25, 26, que era necessário que Cristo fosse oferecido como sacrifício expiatório pelo pecado, a fim de que Deus pudesse ser justo ao justificar o pecador. O importante era que a justiça de Deus fosse mantida. Isto mostra claramente o fato de que a necessidade da expiação decorre da natureza divina. Segundo, isto leva diretamente ao segundo argumento. A majestade e a imutabilidade da lei divina inerente à própria natureza de Deus fez-lhe necessário exigir satisfação do pecador. A transgressão da lei

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traz inevitavelmente consigo a penalidade. Ela é inviolável precisamente porque está baseada na própria natureza de Deus e não é, como queria Socino, um produto da sua vontade livre, Mateus 5:18. O princípio geral da lei se expressa com estas palavras: — “maldito aquele que não confirmar as palavras desta lei, não as cumprindo” (Deuteronômio 27:26). E se Deus queria salvar o pecador, a despeito do fato de que este não podia satisfazer as exigências da lei, tinha que fazer provisão para uma satisfação vicária como base para a justificação do pecador. Terceiro, a necessidade da expiação também se infere da veracidade de Deus, que é o Deus da verdade e não pode mentir. “Deus não é o homem, para que minta: — nem filho do homem, para que se arrependa. Porventura, tendo ele prometido, não o fará? Ou tendo falado, não o cumprirá?” (Números 23:19). “Seja Deus verdadeiro”, afirma Paulo, “e mentiroso todo homem” (Romanos 3:4). Quando Deus entrou em aliança de obras com o homem, decretou que a morte seria a penalidade da desobediência. Esse princípio tem expressão em muitas outras palavras da Escritura, como Ezequiel 18:4; Romanos 6:23. A veracidade de Deus exigia que a penalidade fosse executada, e se é que os pecadores deviam ser salvos, a pena teria que ser executada na vida de substituto. Quarto, pode-se tirar a mesma conclusão da natureza do pecado como culpa. Se o pecado fosse apenas uma fraqueza moral, um resíduo de um estado pré-humano que gradativamente foi sujeitando a natureza superior do homem, não se requeria expiação. Mas, segundo a Escritura, o pecado é uma coisa muito mais odiosa que aquilo. Negativamente, é anomia, vidas em lei, e positivamente, transgressão da lei e, portanto, culpa, 1 João 3:4; Romanos 2:25, 27,

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e a culpa torna a pessoa devedora à lei e requer, ou uma expiação pessoal, ou uma expiação vicária. Quinto, a maravilhosa grandeza do sacrifício que Deus providenciou implica a necessidade da expiação. Deus deu o seu Unigênito Filho para que Este se sujeitasse a terríveis sofrimentos e a uma morte vergonhosa. Ora, não se concebe que Deus o fizesse desnecessariamente. Diz acertadamente o dr. A. A. Hodge: — “Este

sacrifício seria sumamente irrelevante se fosse algo menos que absolutamente necessário, em relação ao fim destinado a ser atingido – isto é, a menos que fosse realmente o único meio possível de salvação do pecador. Certamente Deus não teria feito do seu Filho um sacrifício de brinquedo, para satisfazer um capricho da vontade”. Também é digno de nota que Paulo argumenta em Gálatas 3:21 que Cristo não teria sido sacrificado, se a lei pudesse dar vida. A Escritura fala explicitamente que os sofrimentos de Cristo são necessários, em Lucas 24:26; Hebreus 2:10; 8:3; 9:22, 23. “A doutrina da expiação aqui apresentada é a doutrina da satisfação ou substituição penal, que é a doutrina claramente ensinada pela palavra de Deus”.

Glorificado seja a Deus por toda a eternidade, e que o seu nome seja santificado e honrado sobre a Terra como é honrado e santificado no Céu, por Ele ter dado, oferecido aos homens o seu Unigênito Filho, que é digno de toda a adoração, para assim, louvarmos ao Deus Trino por toda nossa vida durante a Terra e pela eternidade, por um amor imensurável, inefável e que em conjunto fez-se obra

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em nosso favor, e por isso somos vivos e agraciados sem merecermos tão grande favor, agora verdadeiramente temos vida, e gozaremos de uma vida abundante ligados a Deus [em íntima relação], e como amigos de Deus, como digo, que cada mexer de dedos, cada sorriso e cada lágrima, cada ação e reação de nossas vidas seja para glória de nosso Senhor Jesus Cristo. Porque dEle, e por Ele, e para Ele são todas as coisas – glória, glória, glória, pois, a Ele eternamente. Amém! “Obrigado Jesus Cristo, Soli Deo Gloria, por ter derramado o seu sangue real por mim, um mísero pecador [e, um desprezível homem], convertido por seu Poder [e lutando com o seu poder], orando e labutando pela conversão da minha “carne pagã”. Que Deus nos ajude pelo sangue de seu Filho Amado, a saber, o Cordeiro imolado e imaculado de Deus, que tirou o pecado do mundo [dos homens]. Amém!”.

Referências:

Teologia Sistemática por Louis Berkhof. Tratado da Religião Cristã por João Calvino.

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