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DO EXCESSO eBook ESSENCIAL AO Os 4 elementos da aprendizagem para resultados sustentáveis. TIAGO CARDOSO PETRECA

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DO EXCESSOeBook

ESSENCIALAO

Os 4 elementos da aprendizagempara resultados sustentáveis.

T I A G O C A R D O S O P E T R E C A

PREFÁCIOA nossa existência é cíclica e em seu contexto macro, absolutamente previsível. Tudo que é vivo um dia morre. Porém, graças a Deus essa é uma certeza que temos e ainda assim não sabemos o dia, pois a certeza do fim com data marcada nos mata antes da hora. Mas, ainda assim a vida é cíclica, as estações do ano, as fases da lua, o nascer, crescer e morrer.

Como um ciclo é o pulsar, uma hora expande e outra contrai. Neste momento vivemos um paradoxo, ao mesmo tempo que o mundo se expande, principalmente devido nossa hiper-conectividade, precisamos fazer um movimento de contração, no sentido de enxugar, de escolher, de selecionar. Quanto mais excessivo tudo fica, mais essencial temos que ser. Assim como na economia, temos que saber administrar a escassez em meio a abundância crescente. Não é à toa que o tema do propósito ganhou atenção de muitos. O propósito dá sentido. Em meio a abundância, assim como no mar ou no deserto, onde qualquer caminho parece possível, mapas e trilhos não funcionam, é necessário uma bússola, que aponte para o norte. Porém o norte de cada pessoa é individual, assim há que se ter uma bússola personalizada e o nome dela é propósito.

Mas, até esse tema pode ser tratado de forma excessiva. Achar o propósito é destilar, filtrar é aparar é por fim tirar os excessos, tal qual esculpir. Também não a toa o tema do mindfulness, da meditação tem ganhado força, como maneiras de se conquistar um senso de direção.

Precisamos nos tornar cuidadores de nossa própria vida, isso é temos que nos tornar curadores de nossa própria história, para que possamos experimentar o que há de essencial enquanto o nosso último dia neste planeta não chega.

A proposta aqui é trazer esse contexto para o cenário do treinamento e do desenvolvimento humano. Para nos ajudar a estruturar nosso raciocínio trago os 4 elementos da aprendizagem. A curadoria é a linha guia que permeia estes elementos, o que significa que ao considerarmos tais elementos estaremos aplicando a curadoria.

O intuito é trazer um modelo mental que permita utilizar as ferramentas disponíveis. Não é salutar focar nas ferramentas, nas tecnologias em si, pois este livro não visa fazer um tratado técnico e muito provavelmente, quando ele estiver pronto, outras tecnologias terão surgido e quando você estiver lendo, outras mais terão nascido. Aqui, trarei referências, inspirações, exemplos, mas não caminhos fixos e únicos, pois em um mundo veloz não há mais apenas um caminho e sim vários que se abrem e fecham a cada momento. A mente alerta sobrevive a este tumulto, a este mundo VUCA, que posso chamar de “MU-VUCA” (Muito Vuca). Os 4 elementos sugerem caminhos, mas acima de tudo sugerem que foquemos nossos esforços no que é essencial. A Curadoria foca isso, na essência, no que é o mais relevante para o objetivo, para o tema tratado.

O EXCESSO E (ALGUMAS DE) SUAS IMPLICAÇÕES.UMA RAZÃO PARA BUSCARMOS O ESSENCIAL, NA EMPRESA E NA VIDA.

Há alguns anos os militares americanos e mais tarde autores do tema da gestão corporativa notaram alguns aspectos inerentes ao ambiente, tanto de guerra como de mercado. Não que ambos sejam iguais, mas muitas vezes podemos até mesmo enxergar como tal. Basta ouvir a linguagem utilizada nos meios empresariais: “O Mercado é uma batalha” “Vencerá o melhor” “Vamos melhorar nossa estratégia para abater nossa competição” e assim por diante, mesmo sem querer vamos unindo o mundo das guerras com o mundo dos negócios, tanto que Sun Tzu, um mestre da arte da Guerra tornou-se, mesmo sem saber, um mestre ou guru da arte dos negócios, já que seus ensinamentos valem tanto para o campo de batalha, onde balas e bombas voam como no campo do mercado, onde produtos, preços, praças e promoções habitam as estratégias corporativas, cada vez mais sofisticadas, aumentando as letrinhas na sopa. Isso sem dizer que a guerra em si é um negócio, muitas vezes.

Este ambiente, para não fugir ao costume da sopa de letrinhas, também ganhou seu acrônimo que atende pelo nome de VUCA. Estas quatro letrinhas dizem muito. Falam da Volatilidade, da Incerteza, da Complexidade e da Ambiguidade, 4 grandes palavras que refletem um cenário caótico. Contudo, a primeira vez em que surgiu esta visão, na qual as 4 palavras foram casadas, foi na década de 90 no meio militar.

Nós somos seres que por natureza buscamos o padrão. Nosso cérebro precisa fazer sentido das coisas para conseguir operar, caso contrário entramos em parafuso, passamos a ter muita dificuldade para tomar decisões e agir. Caímos na paralisia da análise, em que não conseguimos concluir nada. Por isso, ter uma referência, ou o que passamos a chamar de modelo mental, é de extrema importância para nos ajudar a tomar decisões e agir com assertividade. Desta maneira, o VUCA nos ajuda a encarar de frente o mundo atual.

O autor Bob Johansen sugere um VUCA, que ele chama de positivo, o que nos leva a crer que o outro VUCA é negativo. O VUCA positivo de Bob traz outras 4 grandes palavras: Visão, Entendimento, Clareza e Agilidade. Agora pare um momento e pense: O que de fato significam para você estas 8 palavras? Isso mesmo, as 8, tanto do VUCA negativo quanto do VUCA positivo.

Perceba que interessante, mesmo havendo uma palavra especifica, podemos ainda cair na diferenciação de seu significado, o que dá margem para fazemos um monte de bobagens. Por isso, é fundamental que tenhamos o interesse pelo significado daquilo que temos a nossa frente. Este interesse, e até mesmo podemos dizer uma habilidade, é essencial para o tema central que trataremos aqui, a Curadoria.

Uma maneira, de forma mais ampla, de entender o mundo VUCA (ainda na sua versão negativa) é olharmos pela ótica do excesso. Tudo está muito rápido, principalmente por que temos demais daquilo que precisaríamos apenas de menos, e aqui poderíamos até ser ousados em dizer que nosso espectro abrange desde a alimentação à escassez, da riqueza a pobreza, da informação e da conexão. Há mais ricos hoje do que tínhamos antigamente. Não somente pelo maior volume de pessoas no mundo, mas pelo volume de dinheiro nas mãos de uma mesma pessoa. Isso é um excesso, sem dúvida. Na outra ponta a quantidade de miseráveis também é gigantesca. A distância entre a riqueza e a pobreza é em sua natureza um excesso.

A informação está disponível a todos nós de maneira excessiva, temos certamente muito mais do que precisamos para nossa própria evolução, para nosso desenvolvimento pessoal e até mesmo espiritual, para aqueles que consideram este um tema importante (eu considero).

Em muitos centros, onde as maiores empresas estão localizadas e assim a concentração de riqueza, temos outros inúmeros excessos. Excesso de gente pegando o transporte na mesma hora. Excesso de carros na mesma rua. Excesso de anúncios tentando vender alguma coisa que será excesso em sua casa. Excesso de smartphones (que paradoxalmente podem nos deixar mais ignorantes, mas também mais inteligentes se soubermos usar). Excesso de gente pedindo para sobreviver e excesso de gente esbanjando seus próprios excessos.

Então, diante deste contexto, começamos a ouvir sobre a necessidade de mudarmos. Sem dúvida, pois estamos nos afogando naquilo que é excedente, mas mudança é uma certeza que temos, só não sabemos exatamente para onde e às vezes o porquê, mas que a mudança vem ela vem, sem dúvida alguma. Assim, alguns movimentos surgem, como a Sexta-feira casual, o Home Office, os horários flexíveis e assim por diante e quem sabe também isso já está mudando. Tudo na tentativa de amenizar aquilo que está extrapolando o que de fato precisamos. É um movimento em direção ao essencial. Isso é muito importante e na verdade sempre foi, tanto que os textos mais antigos, geralmente os textos religiosos, tratam profundamente deste tema do essencial, o caminho do meio, por exemplo.

Hoje temos mais gente conectada do que antes. Mais pessoas que de alguma forma ou outra se falam, se vêem, mesmo que exclusivamente online. Contudo, um paradoxo: mais conexões virtuais e menos conexões pessoais. Contudo, esta é apenas a primeira constatação. Se olharmos mais de perto, podemos notar que menos contato pessoal, intimo, amigável, abre espaço para contatos virtuais fúteis, superficiais e perigosos. Pessoas que jamais fariam parte de sua rede física acabam entrando na sua rede digital. Se olharmos no contexto dos jovens isso se torna ainda mais explosivo, pois chamemos eles de Milenialls, geração Y, geração Z eles são jovens e como todos os jovens de sempre, eles são do contra, querem mudar o mundo e carregam uma certa agressividade de seus ideais. Porém tudo isso ficou turbinado com a tecnologia e com ela tudo está muito mais rápido, o mundo ficou ainda mais Volátil, Incerto, Complexo e Ambíguo.

Uma vez com este contexto em mente, vamos olhar para o contexto das organizações. Lucro é um motivador central. Sim, pode parecer um tanto quanto fria ou até mesmo bruta esta afirmação, mas este tem sido sempre o motivo que dirige as empresas. Afinal, sem lucros, de forma simples, não há bons negócios. Até mesmo movimentos que levam diferentes denominações, como sustentáveis, sociais, politicamente corretos começam nas empresas desde que façam sentido para o negócio. Isso é relativamente fácil de se notar. Se ao falarmos que nossa marca é “Green” dará mais lucro, mais market share ou que melhora nosso “Branding” então opta-se por se fazer. Contudo, o motivo não necessariamente leva à ação correta. Isso é, muitos podem se dizer sustentáveis, mas de fato não são. Podem ser sustentáveis em suas práticas logísticas, mas não o são em suas práticas humanas. Sem querer fazer disso um debate de visões, quero deixar claro que o motivo central real ainda é o lucro. Porém, podemos dar um salto quase que quântico ao trazermos para a cena o propósito. Este em si, claro que funciona como um motivo, mas ele vai além. O propósito tem uma função transcendente e por isso quero dizer que se trata de um objetivo que vai além do lucro, um motivo que transcende o ganho pelo ganho.

Se voltarmos para o tema do excesso, o lucro pode fazer uma empresa atuar em excessos constantes. Horas de trabalho que vão além do ideal. Margens de lucro que vão acima do necessário dentro da ótica social. Chefes que usam do poder de maneira exacerbada para conseguirem o que desejam, ou o que as empresas fazem com que desejam. Metas que atingem quase que a insanidade. Veja, de maneira alguma o objetivo aqui é termos um ideal de se ganhar menos, produzir menos ou proporcionar menos conforto, ideias, serviços. Mas, sim termos a noção de que os excessos podem ser prejudiciais em longo prazo e no nível individual. Sabe-se que, mesmo em países tidos como desenvolvidos como os USA, a grande maioria das pessoas, se pudessem, trocariam de emprego. Os sonhos de criança foram soterrados pelas exigências de sobrevivência e pelo gosto pelo consumo. Basta notar outros movimentos que buscam o essencial, tais como alimentos orgânicos, empresas que preferem uma atuação local para ter condições de oferecer uma experiência aos seus clientes, que os façam se sentir melhores e importantes. Claro que isso dá mais lucro, mas diferentemente do lucro per se, penso que o propósito as move de forma mais consistente.

Podemos considerar que um mundo VUCA se assemelha ao deserto ou ao mar, onde quase que qualquer direção é possível. Em um contexto destes não nos é útil o mapa. Para conseguirmos caminhar por estes terrenos, temos que ter em mãos uma bússola. A esta dou o nome de Propósito.

A TRANSFORMAÇÃO DAS ERAS, UM NANO HISTÓRICO.

Estamos em meio a uma transformação, cujo nome tem reverberado, principalmente no mundo da inovação: Uma transformação Disruptiva. Trata-se de se quebrar paradigmas e construir novos. Como dito, precisamos, como seres humanos dualistas, de padrões para conseguirmos viver, decidir e agir.

O Autor Christopher Surdak, depois de uma longa pesquisa identificou algumas características importantes desta transformação. Das 4 eras que ele trata em seu livro, cujo nome original em inglês é JERK, olharemos para duas delas, a trindade analógica e a trindade digital.

Essencialmente, a trindade analógica opera com seu centro de poder no capital. Seus três pilares são: Processo (Aplicação), Burocracia (Distribuição) e Regras (Controle).

Já a trindade digital, cujo centro de poder é a informação, tem os seguintes pilares: Rede Social (Aplicação), Mobilidade (Distribuição) e Analytics (Controle).

Note que os pilares da era digital são mais “humanos” que os pilares da era analógica. Mais um paradoxo para entendermos. Com exceção ao Analytics, que é fundamentalmente tecnológico, a rede social e a mobilidade são intrínsecos ao ser humano. Como disse uma vez o Dr. Drauzio Varela em um congresso que participei em 2015, “O Ser Humano é uma máquina de movimento e por isso, estagnar-se é motivo de doença.”

Tudo nos indica que devemos caminhar cada vez mais para o básico, ou seja, para um olhar que considera o humano em sua essência, repleto de tecnologia sim, mas com raízes no essencial.

Foi diante deste contexto e de experiências práticas que surgiu a visão dos 4 elementos da aprendizagem corporativa, pelo menos na minha forma de entender como a educação corporativa deve se comportar.

UM MUNDO DE DISPERSÃO.

Mundo VUCA, Trindade Digital, Disrupção. Juntar tudo isso nos dá uma boa percepção do mundo que habitamos e nele há um perigo que corremos o tempo todo. Trata-se do efeito Camara de Eco, em que um grupo de pessoas reverbera suas próprias verdades e impede, como se houvesse criado uma bolha de proteção ou isolamento, de verem o que existe “do lado de fora”. Mesmo em meio a uma avalanche

gigantesca de informações, somos sujeitos a viver e selecionar somente aquilo que queremos ver, mesmo que isso reforce visões e hábitos nocivos.

Ao longo da história este efeito aconteceu várias vezes com empresas como Kodak, BlockBuster dentre tantas outras que perderam a “mão do mercado,” pois estavam tão intrincadas em suas bolhas, que não viram o que estava acontecendo no mundo.

Contudo, essa situação hoje é ainda mais alarmante devido à velocidade dos acontecimentos e da evolução da tecnologia e da informação. Os Taxistas que o digam. Não sabemos ao certo se empresas como o UBER, Lifty, AirBnB têm de fato um modelo de negocio sustentável no longo prazo, ou talvez somente o sejam em longo prazo. O fato é que eles puderam, devido a conectividade e tecnologia, enxergar aquilo que os taxistas e os hoteleiros já deveriam ter visto, mas como dito, quem está no meio da situação tem menor probabilidade de ver o que de fato está acontecendo. Por isso a capacidade de reflexão é fundamental.

Vivemos em um mundo onde temos consciência de que muita coisa acontece ao mesmo tempo. Antes da tecnologia e deste mundo VUCA muitas coisas também aconteciam ao mesmo tempo, mas não tínhamos consciência disso. Poderíamos saber que na Asia as pessoas estão indo dormir quando estamos indo trabalhar. Sabíamos que um governo estava radicalizando as coisas, muito tempo depois de já ter radicalizado tudo. A informação era mais lenta e assim não sabíamos em tempo real, não víamos o que estava acontecendo. Contudo, hoje, nossa hiperconectividade nos coloca a par de quase tudo. Acompanhamos um furacão destruindo cidades inteiras na segurança de nossa casa. Acompanhamos pessoas importantes sendo presas antes mesmo da mídia oficial chegar até lá. Estamos conectados como nunca antes. Mas, esse excesso de informação circulante nos causa uma sensação de stress, ansiedade muito grandes. Podemos pensar que temos que dar conta de tudo, mais do que de fato deveríamos. Acabamos nos preocupando com coisas que não dizem respeito a nossa vida. Assim, reagimos de forma maluca, acreditando que somos seres capazes de “multitarefar.” Nossos smartphones às vezes parecem mais “smart” do que nós. Clientes, amigos, filhos nos encontram o tempo todo a qualquer hora. Nosso foco foi para o lixo. Por isso o tema do foco é novamente tão forte.

Em um mundo de excessos nos dispersamos demais. Queremos saber de tudo, desde o que nosso cliente, chefe, amigo está fazendo agora, como aquelas pessoas que não nos dizem respeito algum, se conseguiram vencer aquela batalha pela vida, se conseguiram o novo emprego, se ganharam na loteria. É muita informação irrelevante.

Para o contexto das empresas, a dispersão é ainda mais perigosa. Muitas empresas, famílias e clientes dependem de boas decisões tomadas pelos profissionais que estão nas organizações. Sabemos que para tomar decisão em um mundo absolutamente rápido é necessário estar aprendendo o tempo todo, mas aprendendo o que importa de fato. Mais do que isso, os profissionais precisam de um tempo para refletir. Mas, como falar de tempo para refletir quando tanta coisa está acontecendo ao mesmo tempo e sabemos disso, olhamos para isso, ouvimos sobre isso o tempo todo?

No meio desta avalanche de informações acabamos por negligenciar as informações realmente importantes. Um simples email que recebemos, se estiver um pouco longo, já não lemos por inteiro, ou quando o fazemos é de forma distraída, já que estamos ao mesmo tempo pensando em outra tarefa que requer nossa atenção no próximo minuto, seja uma reunião, uma mensagem que acabou de pular na tela do celular ou outro email que acabou de chegar de alguém mais interessante. Resultado disso, as pessoas tomam decisões que não deveriam e já saberiam que não poderiam tomar aquela decisão se tivessem lido o email inteiro. Desde agendamento de reuniões em datas que a outra pessoa já disse que não poderia, até decisões sobre viagens e programas porque a informação, que estava a um clique de distância não foi vista, pois havia milhares de outras coisas na cabeça daquela pessoa.

Devemos agir sobre o momento presente, por isso temos que entender que momento é este e de que forma o essencial se encaixa. Mais do que isso, na verdade, como o essencial nos permite navegar neste mundo de hoje ao invés deste nos levar ao naufrágio. Não se trata de uma visão apocalíptica, e sim de uma constatação. Diante do excesso, o naufrágio é garantido para aqueles que se deixam levar pelo mar de dados a que estamos expostos. Isso ainda mais no contexto da educação corporativa, onde meta e resultados aumentam a pressão. Se antes estávamos sujeitos aos currículos determinados pelas instituições, hoje estamos sujeitos ao seu extremo oposto, a um volume absurdo de informações desestruturadas e aleatórias.

Um dos efeitos desta avalanche é a sensação de atraso constante. O “Tudo sei que nada sei” nunca fez tanto sentido. Porém, este não é o problema, a encrenca está em aceitar que não se sabe e assim ficar, como que um barco a deriva em alto mar. Ou pior, achar que já se sabe tudo e não se permitir aprender. Talvez esta até seja uma reação inconsciente para não ter que lidar com este mar de dados.

Um mundo volátil, incerto, complexo e ambíguo mexe com qualquer ser humano, mesmo com aqueles que ainda não se deram conta. Em essência estamos mergulhados nos excessos. Não precisamos ir longe para ver isso, seja no campo da riqueza ou da pobreza, seja no campo das ofertas de fórmulas mirabolantes para se ter sucesso, seja no volume absurdo de informações. Este balaio causa os 4 pilares VUCA, pois tudo está muito rápido, informações que não se tinha há poucos minutos surgem mudando nosso dia. Isso acontecia em tempos remotos, mas demorava meses ou até anos. Como há muita coisa acontecendo ao mesmo tempo e temos acesso a tudo isso (ou uma pequena parte, mas que já é enorme), o que era importante ontem não é mais hoje, ou daqui alguns minutos. Quem sabe o que escrevo agora já tenha ficado velho. Este excesso faz tudo mais complexo. Não que a informação não seja boa, mas não temos a capacidade de processar tudo, então a sensação de complexidade perante a realidade se instaura. Decidir ficou mais difícil, o que pode soar paradoxal, mas se temos muitas opções acabamos por não conseguir delimitar um campo de definição saudável.

É neste contexto que entra a curadoria. Perceba que curioso, curadoria remete a cuidar. Isso é o que temos que fazer, cuidar de nós mesmos e daqueles que estão sob nossa tutela. Somos Michelangelos da educação, temos que esculpir aquilo que será entregue aos nossos “aprendedores”. Por essência, esculpir é tirar o excesso e para isso, deve-se ver a obra pronta antes mesmo de se começar. Uma vez visto, mãos a obra, tire o excedente da frente.

Um dos aspectos que dificulta nossa navegação pelo mundo dos excessos é a necessidade que temos, como seres humanos, de encontrar padrões. Diante de um volume enorme de informações e opções temos muita dificuldade de achar tal padrão e quando o fazemos, acabamos por generalizar as coisas. Tudo fica cor pastel ou no máximo alcança cinqüenta tons de cinza e sem nenhuma sensualidade ou sex appeal. Tudo fica pálido.

A palidez na educação é sombrio. Quando isso é notado, começa uma busca pelo diferente, mas como tenho ouvido em diversas reuniões, não se sabe exatamente o que é o diferente que se busca. Talvez, o diferente seja justamente encontrar o essencial. É transformar o B2B clássico do Business to Business no Back to Basics, De Volta ao Básico. Isso não significa abrir mão da tecnologia, de forma alguma, mas saber usá-la.

Respeitando nossa necessidade por padrões, minha sugestão é termos em mente um modelo de ação que seja amplo o suficiente para contemplarmos todos os aspectos da educação, e simples o suficiente para lembrarmos de todos os pilares essenciais.

Os 4 elementos da educação corporativa para resultados sustentáveis prima pelo essencial. Começa pela sua origem, na natureza: Ar, Terra, Água e Fogo.

Estes quatro elementos trazem, no meu entender, os pilares que nos ajudarão a compor uma experiência de aprendizagem memorável. O uso de memorável aqui é cirúrgico, pois a memória é um aspecto fundamental para a aprendizagem, bem como a experiência. Em meio aos excessos, nossa memória fica mais fraca e muito dela transferimos para os aparelhos eletrônicos. Boa parte pode mesmo ser transferido, afinal informação ocupa espaço, porém o conhecimento não, sendo assim, incorporar aquilo que é essencial é, na falta de uma melhor palavra, essencial.

A FUNÇÃO DOS 4 ELEMENTOS NA CONSTRUÇÃO DA EXPERIÊNCIA DE APRENDIZAGEM.

• Ar: Este elemento representa o conteúdo, o conhecimento, a informação, a inspiração. Embora a curadoria seja a espinha dorsal deste modelo, em especial para o Ar ela é fundamental, ou melhor, essencial.

• Terra: Este elemento representa a solidez. Em termos práticos, são as metodologias ou modelos que decidimos usar para a experiência de aprendizagem que queremos promover.

• Água: Este elemento representa a fluidez da experiência de aprendizagem. É o que leva os profissionais da educação corporativa ou do desenvolvimento humano a considerarem toda a jornada do “aprendedor”.

• Fogo: Este elemento foi deixado por último, pois no meu entender é o mais importante, ou poderia dizer, o mais quente. Perceba que se trata do único elemento 100% humano. Os outros tratam de técnicas, tecnologia, logística, conteúdo, estrutura. O Fogo trata da motivação, do porque aprender, essencialmente é aqui que reside o propósito, o elemento mais negligenciado na construção de experiências de aprendizagem. Isso não é culpa dos profissionais da área, pois, novamente, imersos no excesso e nas tendências não curadas, tendemos a olhar muito mais para os elementos terra e ar e acabamos deixando de lado a água e o fogo, por serem, inclusive, os mais difíceis de se trabalhar.

Por fim, a construção da experiência deve necessariamente ter um inicio claro e este é o “porque”, a visão do escultor sobre a obra que se deseja criar.

A IGNORANCIA É UMA BENÇÃO.

Saber pode pesar e muito. Ignorar, principalmente para os covardes é um alivio. Ao saber não conseguimos mais não saber. Podemos esquecer fórmulas, equações, datas de invasões e gritos de independência, mas sobre o fato, uma vez sabido, não se deixa de saber.

Acessar o conhecimento é uma escolha importante, saber é um processo relevante para nossa própria evolução. Talvez você pense que quando tínhamos pouco acesso à informação éramos mais felizes. Ou ainda você pense que sou contra a vasta disponibilidade de informações. Nem um nem outro, sou a favor de um consumo consciente de informação. Consumo consciente é tema importante para nossos dias atuais. Contudo, o foco é no consumo de produtos, de coisas, mas não do saber. As redes sociais fazem com que a informação viaje a uma velocidade incrível e chegue até nós, mesmo que não queiramos. Somos alvos de processos de curadorias tortos, egoístas e até mesmo intencionalmente perigosos.

A cada dia produzimos mais informação, que em boa parte é inútil. Contudo, nenhuma informação é inútil, desde que esteja contextualizado. Se eu lhe falar que existem Quatis na região de Foz do Iguaçu e que você deve evitar alimentá-los ou até mesmo que você deve ficar atento para que aqueles pequenos ladrões da natureza não o ataquem, se você não for para Foz, não for visitar as cataratas e não tiver nenhum interesse pelo comportamento de certos animais na natureza, esta é uma informação inútil. Mas, se você for até lá, melhor lembrar-se desta informação ela pode salvar o seu almoço e quem sabe salvar seu dedo.

A informação precisa de contexto para que consigamos fazer sentido com ela. O problema é que não estamos atentos ao nosso contexto consciente e desejado. Não estamos atentos a um contexto individual de evolução e crescimento intelectual, espiritual e social. Estamos sim, a mercê do contexto criado pelos outros.

As redes sociais nos deram mais liberdade. Sim, mais liberdade de acessar mais coisas, mas não necessariamente mais liberdade de pensar. Deixamos de estar nas mãos de uma única mídia forte ou apenas um formador de opinião, e passamos a estar nas mãos de várias fontes e vários formadores de opinião. Nossos amigos online são curadores de nosso conteúdo. Os “likes” que damos ajudam o sistema a curar aquilo que talvez não precisamos ler, ver ou ouvir. O excesso nos deixa adormecidos para a reflexão, para o pensar de forma critica.

Contudo, a partir do momento em que passamos a saber sobre alguma coisa, temos esta informação e ela nos afeta de alguma forma, embora não diga respeito ao nosso propósito de vida ela ocupa espaço em nossa mente e em muitos casos em nossos corações. O nível de ansiedade nitidamente está mais alto. Quando passo a saber de algo novo passo a carregar aquele fardo. A tia avó, da prima de segundo grau do meu amigo, que mora em Londres está doente. Então começa uma rede de preocupações. Claro que se esta pessoa estiver precisando de algo a rede poderá ajudar de forma imensa, sem dúvida. Mas todos aqueles que estiverem nesta rede passam a viver este contexto por mais que ele não faça o menor sentido para sua vida. Talvez você tenha uma tia, irmã de seu pai ou mãe que mora na mesma cidade que você, porém como ela não está no facebook, no instagram ou até mesmo no Google e WhatsApp, você simplesmente a ignora. Talvez até saiba que ela precisa de ajuda, mas como você sabe que ela é bem chata, mau humorada, você então decide não fazer nada. Talvez aquela tia distante do amigo online seja muito mais chata que a sua, mas como você não conhece ela, chega a gastar seu tempo dando likes, partilhando a mensagem e até mesmo se esforçando para encontrar uma oração ou mandinga na internet que possa trazer algum tipo de esperança ou conforto para aquela tia muito mais chata que a sua.

A ignorância é uma benção, mas somente para aqueles que não sabem lidar com o saber. Por isso, aprender a ser curador de sua própria vida e claro, para aqueles que são educadores profissionais, é uma habilidade vital, que nos permite transitar em meio aos excessos e nos dedicarmos àquilo que realmente importa.

Mas, afinal, o que realmente importa? Talvez para alguns seja justamente e paradoxalmente, viver nas redes sociais, dando bom dia para Deus e o mundo, e assim tal pessoa se sente

realizada. Nada de errado com isso, se este for mesmo seu propósito de vida. Aqui está a palavra mágica, Propósito.

O mundo de excessos nos distrai de nosso propósito. Quando percebemos o tempo se foi carregado por inúmeros momentos inúteis, de preguiça e falta de coragem para seguir um caminho de crescimento mais profundo. Se a religião já foi considerada o Ópio do povo, talvez o excesso seja o novo Ópio do povo. Ele nos adormece, nos deixa anestesiados e quando vemos, estamos dormindo. Inclusive, dormindo muito mal, pois com o excesso de estímulos a que estamos sujeitos, dormir virou uma tarefa difícil. Recarregar as baterias do celular se tornou mais importante do que recarregar as próprias baterias, quiça as baterias da alma.

Embora possa parecer uma visão apocalíptica e contra a tecnologia, não é. A tecnologia nos faz mais humanos, por mais incrível que isso pareça. Com o desenvolvimento da tecnologia, somos obrigados, no que tange nossos afazeres profissionais e em alguns casos, pessoais, a buscar habilidades muito mais humanas do que temos buscado. A tecnologia está substituindo inclusive atividades que requerem um certo nível de pensamento e análise, como a Inteligência Artificial que faz um diagnóstico médico ser mais acurado que o de um médico mesmo. Porém a habilidade de se relacionar com o outro a máquina ainda está longe, na minha opinião, de conseguir fazer. Tenho um primo que é médico e um dia conversando com ele, me contou que seus pacientes em grande maioria chegam no consultório com uma lista toda pesquisada na internet com dicas de remédios, diagnósticos possíveis e até mesmo tratamentos variados. Mas ainda assim vão ao médico para que ele decida o que daquela lista deve ser feito. O médico se torna um curador, literalmente. Contudo, este meu primo pede para que seu paciente coloque de lado toda aquela pesquisa e conte um pouco de sua vida, como convive consigo mesmo, com os outros e como se sente. Relata ele que muitas pessoas evitam até falar nisso, mas acabam relatando sua história. Claro que em alguns casos a lista tem parte do diagnóstico dado pelo médico, afinal quase que imprimiram todas as páginas que encontraram sobre o assunto. Mas, o olho no olho para poder cuidar do outro só pode ser feito por um humano.

A tecnologia substitui atendimentos telefônicos, pedidos de comida para delivery e até mesmo pessoas no campo durante o plantio e a colheita. Contudo, estas atividades são atividades ainda, mesmo que com certo grau de complexidade, mecânicas. Por isso a tecnologia nos obriga a ser mais humanos, a buscar o mais profundo, habilidades que envolvem sentimentos, sensações, intuição, raciocínio, ética e tudo ao mesmo tempo.

Trata-se de uma revolução mesmo, para o crescimento do Homem. E isso não se pode ignorar, há que se carregar este fardo e fazer dele nossa escada evolutiva.

POR QUE OS 4 ELEMENTOS?

Possível que você concorde comigo que a educação é essencial. Essencial para que? Bom, o que ouvimos é que pela educação que resolveremos os problemas das nossas empresas, do nosso país, do mundo. Contudo, educação é meio e não fim. Talvez o termo educação neste contexto também signifique o valor “respeito” o que geralmente atribuímos a alguém polido e sobre ele ou ela dizemos “que pessoa educada.”

A educação em si, ou seja a captação e introspeção de dados, informações e sua eventual transformação em entendimento e aplicação prática, não traz a resolução dos problemas. Na verdade, muitos dos nossos problemas são causados pelas pessoas que mais tiveram acesso à educação, não precisamos ir longe, basta olhar os noticiários, as redes sociais.

Como meio, a educação é uma ferramenta para se alcançar objetivos, desejos, metas e claro, propósito. Mas, sabemos, ao olharmos para a história do mundo, que mesmo pessoas que tiveram pouca educação formal, escolas, faculdades, livros e tantas outras formas, realizaram e muito. Contudo, acredito que não podemos negar que estas pessoas aprenderam em sua jornada pessoal e foram capazes de transformar suas vivências em meios para realizar suas visões.

Os 4 elementos aqui sugeridos, em meio a todo contexto acima descrito é em si um meio para se alcançar um objetivo, principalmente no que tange os objetivos relacionados à educação corporativa e quem sabe a educação que ainda chamamos de formal.

A METODOLOGIA DOS 4 ELEMENTOS.

Reforço que esta metodologia tem por objetivo ajudar a criar experiências de aprendizagem eficazes do ponto de vista dos resultados desejados dentro das organizações. Para tanto, sua proposta é ajudar a manter o foco em todos os aspectos essenciais, criando um conjunto de perguntas e pontos de atenção que poderão garantir uma experiência de aprendizagem mais completa, mais eficaz.

Ao longo dos últimos 5 anos, principalmente, o que tenho notado é a educação tendo uma função, dentro das empresas, bastante eventual, isso é atividades educacionais com começo, meio e fim em um prazo de tempo super curto, literalmente algumas horas. Palestras, Workshops, Imersões, Convenções e outras iniciativas de treinamento. Há algum problema com isso? Não e Sim. Não estou sobre o muro aqui, apenas trazendo uma sugestão de visão mais ampla. Não há problemas nos treinamentos se eles atendem aquilo que se é esperado. Contudo é neste ponto que pode haver problema. O que muitas vezes é esperado é a conclusão de métricas que não necessariamente mostram o resultado educacional ou até mesmo de negócio, mas atendem apenas aos KPIs (do inglês Indicadores Chave de Performance) determinados com um olhar financeiro. Se X horas foram entregues ao público Y então a meta foi cumprida.

Embora seja realmente difícil medir a educação, a aprendizagem, já existe a consciência, em muitas organizações, da importância de se aprender continuamente. Algumas razões para isso: a velocidade das mudanças exige um processo de atualização constante. Pagar pelos treinamentos é caro, principalmente por aqueles de qualidade. Ainda, o percentual de desperdício dos esforços educacionais é muito grande (Vide Curva de Ebbinghaus). Por isso motivar o protagonismo na aprendizagem corporativa, aquele em que o colaborador entende e busca sua própria evolução sem depender da empresa exigir, é um movimento que cresce bastante. Outro entendimento importante é o da sustentação. Com iniciativas pontuais de educação, como palestras, treinamentos em sala de aula, imersões e muito mais, atrelados ao novo contexto dos funcionários mais jovens, impacientes e totalmente tecnológicos há um esforço por criar um contexto em que se aprende o tempo todo, em pequenas porções o que também ajuda a manter a informação fresca, atualizada e com melhor entendimento sobre sua aplicação.

A utilização dos 4 elementos passa por alguns passos, sendo que o primeiro é o da definição do objetivo. O principio da construção da experiência de aprendizagem é muito importante, pois determinará o norte que ajudará na decisões estratégicas no momento de se construir a experiência de aprendizagem.

Aqui cabe uma ressalva. Quando falo experiência de aprendizagem não se trata de algo necessariamente complexo, cheio de etapas infinitas e sim um olhar cuidadoso para a palavra experiência, isso é a vivência, aquilo que poderá marcar aquele que aprende.

O próximo item diz respeito ao entendimento do público-alvo que receberá o programa, uma vez que este determina muito sobre como o programa será construído. Ter consciência do budget disponível é certamente importante, pois é possível que se chegue a acreditar que um objetivo pode ser atingido sem os recursos necessários. Muitas vezes é exatamente isso o que acontece, destina-se um valor ínfimo para o desenvolvimento humano e se pede uma verdadeira transformação organizacional e quando tal objetivo não é alcançado ainda se coloca a culpa no treinamento ou no RH dizendo que não são estratégicos, ou pior, alguns ainda podem usar esta situação para “provar” que treinar não dá resultado, o ROI (Retorno sobre Investimento) não é bom ou se quer conseguem definir tal ROI.

AS ETAPAS DOS 4 ELE-MENTOS:

Surdak tem uma frase que acho no mínimo hilária: “Os funcionários estão agindo de forma louca, ou por que são loucos ou por que são pagos para serem loucos.”

Christopher Surdak consegue unir inteligência e humor, e esta frase é uma de suas sacadas. Essencialmente o convite aqui é para que olhemos se a cultura da empresa, se suas regras, explicitas e implícitas, dão suporte para o objetivo desejado para o programa de treinamento. Isso por uma razão óbvia, aqueles que participam de uma boa experiência de aprendizagem mudarão de alguma forma e esta mudança tem que ser aceita pela empresa. Uma empresa que quer lideres mais humanos, mas que continua a medi-los pelo resultado custe o que custar, inclusive o emprego do líder, não traz o suporte para que tais lideres conseguiam encontrar ressonância para aplicar seu aprendizado, e tudo aquilo que ele planejou fazer será engolido pela cultura da empresa. Este é um outro ponto no que tange a ineficiência de muitos treinamentos, a falta de suporte dentro da própria organização. O mais curioso é que esta mesma empresa que não dá o suporte necessário é quem mandou seus funcionários para o treinamento. Por que? Talvez por uma certa loucura, como disse Surdak, afinal a maneira como somos medidos determina muito de nossos comportamentos.

SEU CONTEXTO SUPORTA SEU OBJETIVO?

Como dito, a função dos 4 elementos é criar um caminho pelo qual se desenha uma experiência de aprendizagem mais completa, mais eficaz do ponto de vista humano mesmo.

Claro que dentro desta metodologia que proponho aqui existem alguns passos, que intencionalmente pretendem não criar um trilho fixo e imutável, mas uma trilha adaptável, flexível ao mundo mutante que nos cerca.

POR DENTRO DOS 4 ELE-MENTOS.

Existem aqueles que gostam de fazer viagens errantes, que chegam no aeroporto e lá decidem para onde vão, sem planejamento anterior. Tenho um amigo que faz isso e se diverte muito. Contudo, mesmo aqui existe um objetivo, ou pelo menos uma vontade que é a de fazer uma viagem errante.

Contudo, esta realidade sem destino certo não deve ser um caminho para a educação ou para as empresas, que têm em seu âmago a busca insana, muitas vezes, por resultados. Penso que isso é importante sim, na verdade essencial.

Para o desenho dos 4 elementos, contudo, estipular o objetivo da experiência de aprendizagem é fundamental. Não basta dizer: “Quero vender mais” ou “Preciso de Lideres mais autênticos” Isso tem que estar claro no nível do significado. Ou seja, qual o sentido que isso tem para a organização. Como consultor, receber uma demanda como essa, redigida igualmente por duas diferentes empresas pode gerar dois desenhos de aprendizagem completamente diferentes. A Cultura da empresa, sua estratégia dizem muito do que deverá ser feito. Vender mais para uma empresa, pode sim significar coisas diferentes em termos de aprendizagem se comparado a outra empresa. Uma talvez precise melhorar seu nível de negociação e a outra seu nível de turnover, já que muitos vendedores podem estar deixando aquela empresa, que embora tenha um bom produto, tem uma péssima gestão.

Com isso em mente, a definição do objetivo é fundamental. Podemos perguntar o seguinte: “O que se deseja ver depois que o programa terminar ou depois de certos momentos chave dentro do programa?” De que forma está alinhada à estratégia da empresa? E o mais importante, como dito antes, o contexto da companhia suporta o objetivo desejado? Suas métricas, sua cultura, seus valores darão suporte para o que se deseja ver depois que o programa acabar?

Para ilustrar isso, pense no desenvolvimento da liderança. Podemos supor que uma empresa decidiu enviar alguns lideres para fazer um curso, ou passar por um processo educacional no qual o seu objetivo é sensibilizar e atribuir habilidades de liderança mais humanas, no sentido profundo da palavra, em que valores como respeito, olho no olho, paciência, resiliência são ensinados. Agora imagine que este grupo ao retornar para a empresa, não encontra esses mesmos valores no seu contexto de trabalho, principalmente de seus superiores? De que forma estes lideres recém treinados conseguirão colocar em prática o que viram e aprenderam? Se o contexto não der o suporte necessário, não haverá aplicação suficiente. É como tentar pintar um quadro em que a tinta não se fixa na tela, sempre que se tenta pintar a tinta escorre e a tela volta a ser como antes. O problema em um contexto como esse é que o colaborador e o treinamento se tornam os culpados e não a cultura da empresa, a culpa fica na tinta e não na tela.

Por isso bato nesta tecla intensamente: Sua cultura, seus critérios, suas regras dão suporte para o objetivo do programa de aprendizagem encomendado?

O OBJETIVO, PAR-TE FUNDAMENTAL DA JORNADA.

Outro ponto crucial. Uma vez definido o objetivo a pergunta é “Pra quem desenvolveremos a experiência de aprendizagem ou o processo de mudança?”

Dado o objetivo traçado, há que se saber se aquele público é quem terá condições de alcançar. Este ponto geralmente não é um problema, as empresas têm feito um lindo trabalho nesta determinação. A segurança que se busca no correto entendimento do público reside no desenho da experiência de aprendizagem, pois o mesmo tema, por exemplo, pode ser entregue com conteúdos diferentes dado o perfil do público: idade, sexo, posição na empresa, gostos pessoais, habilidades pré-existentes dentre outros.

Saber para quem se fala, determina a rota da experiência.

Dentro desta metodologia que sugerimos, cada elemento tem sua função em nos ajudar a construir as perguntas certas. Vamos agora olhar cada elemento em seu detalhe, para compreendermos como elaborar tais perguntas e nos atermos aos pontos chave da construção de uma boa experiência de aprendizagem.

Em nivel individual, pessoal.

Este elemento representa o abstrato, aquilo que inspiramos, o conteúdo. Em nível pessoal, aqueles que se identificam com este elemento naturalmente são as pessoas voltadas aospensamentos, aos estudos, sem que ninguém as leve ou motive a fazer isso. São naturalmente motivadas pelo saber.

O PÚBLICO: PRA QUEM?

OS 4 ELEMENTOS.

AR

Este elemento representa a solidez, a base, a construção. Aqueles que naturalmente se identificam com este elemento são pessoas que pensam nas estruturas, na realização, nos processos necessários para se realizar as coisas. Estas pessoas geralmente sabem controlar bem suas finanças, são pé no chão, literalmente.

Este elemento representa a fluidez. Aqueles que naturalmente se identificam com este elemento são pessoas que sentem o mundo. Sua forma de pensar é pelo coração. Geralmente são pessoas que têm uma habilidade de coexistir e fazer coexistir naturalmente as coisas ao seu redor, quando esta pessoa não se afoga em suas próprias emoções, tende a criar um ambiente de harmonia.

Este elemento representa a motivação, a razão para. Aqueles que naturalmente se identificam com este elemento são pessoas que querem ver as coisas feitas, têm um ânimo muitas vezes invejável, literalmente esquentam o ambiente onde estão.

Esta é apenas uma sucinta visão dos elementos no nível pessoal. Poderíamos ir muito além, trazendo a visão dos mais diferentes processos de assessment disponíveis, tais como DISC, Eneagrama, MBTI dentre outros.

Contudo, nosso objetivo aqui é trazermos estes elementos para o nível amplo da construção da experiências de aprendizagem. Vamos lá!

TERRA

ÁGUA

FOGO

Na hora de pensarmos a construção de uma experiência de aprendizagem, inevitavelmente estamos pensando no que as pessoas irão aprender. Isso é natural e quase que automático.

O Ar representa isso, o conteúdo, o abstrato aquilo que será realmente consumido pelo intelecto. Este é um ponto importante, trata-se do que será consumido pela razão, contudo sabemos que a experiência deve ir muito além da razão, devemos primar por uma vivência mais ampla, em que as outras inteligências são consideradas: Emoção e Instinto.

Pense da seguinte forma:• Qual o conteúdo que levará o público-alvo atingir o objetivo traçado?• Dado o perfil deste público, qual a linguagem que este conteúdo deve ter?• Qual o nivel de complexidade que este conteúdo deve ter?• Quais tipos de reflexões desejo que este público tenha e que o conteúdo pode provocar?

Em nivel corporativo, coletivo.

AR

Se o AR representa o conteúdo, a Terra representa a forma. Nesta fase do processo que levaremos em conta as metodologias cabíveis. O Objetivo e o perfil do público também determinam e muito na metodologia que será escolhida.

Aqui cabe uma ressalva importante. A definição da metodologia deve se dar primeiro pelo objetivo e pelo público. Reforço isso, pois não é incomum termos um processo invertido, ou seja a metodologia ser determinada pelo budget da empresa e pelos seus KPIs prévios, históricos.

Vamos cavar um pouco mais este elemento. Imagine que você chegou a conclusão que a melhor metodologia para este fim é uma imersão seguida de um jogo corporativo e um processo de sustentação lançando mão da micro-aprendizagem. Contudo, sua verba não comporta a realização destas três fases, então você decide eliminar alguma delas. Ao compor esta experiência você já pensou no que seria realmente essencial, mas mesmo assim não tem recurso para isso. Claro que algumas soluções surgem, afinal temos pessoas no RH / T&D / DHO que são batalhadoras e criativas e dão seus pulos para encontrar formas de entregar aquilo que acham ser importante. Isso é de fato louvável, mas cria continuamente a sensação, junto ao CFO e CEO de que esta turma do RH sempre dá um jeito e que se pode orientar a verba para outros destinos como vendas, marketing, inovação etc, esquecendo que são pessoas que aplicarão este dinheiro e se elas não estiverem preparadas, atualizadas, unidas, também será um dinheiro jogado fora.

A análise da metodologia mais adequada é crucial e deve ser defendida pelos profissionais de RH como um todo. Dá trabalho! Não se trata de fazer um “puxadinho” para aproveitar a ferramenta ou plataforma que foi contratada de forma errada e agora precisa dar resultado. Há que se fazer uma boa revisão do que a empresa realmente deseja, para quem ela deseja e então definir seus caminhos.

TERRA

De forma sucinta, podemos perguntar:

• Qual a rotina do meu público?• Quais seus gostos pessoais, hobbies, família, esporte, jogos, filmes, lazer, viagem, interesses de estudo e seus motivadores?• Quais suas expectativas?• Quais as expectativas da empresa?

Estas, dentre outras perguntas, nos ajudam a definir o meio pelo qual entregaremos a experiência de aprendizagem. O ideal é que tal experiência aconteça em um contexto fluido, tema do elemento água. Por isso, a definição do “Como” será feita a entrega faz toda diferença e conhecer bem o público é de fato crucial, entender sua rotina, seu dia a dia nos permite pensar de forma a integrar a experiência e não somente criar um “espaço” de aprendizagem e sim um contexto de aprendizagem.

Apenas como exemplo, existem muitas formas de entregar o conteúdo e criar a experiência. Em 2013 e 2104 tivemos a oportunidade de desenvolver um projeto que chamamos de INCEPTION. O nome não vem do filme com o grande ator Leonardo DiCaprio, mas sim do significado da palavra em inglês, que sugere o começo o “plantar” algo em nossas mentes. No caso, este programa trata-se de uma experiência audaciosa. Durante 60 dias úteis colocamos o público-alvo sob um contexto de aprendizado diário. Todos os dias, de segunda a sexta-feira enviávamos uma peça de conhecimento, como chamamos o conteúdo. Estas peças não tinham mais do que 15 minutos de duração, fosse uma leitura, um áudio ou um video. Assim, fizemos:

• Determinamos o desafio que tínhamos que enfrentar. Exemplo: Melhorar a performance de vendas.

• Entendemos o que significa este desafio. Melhorar a performance de vendas, no caso deste projeto de 2013 era aumentar a capacidade de faturamento per capita, de cada uma das gerentes distritais que estavam participando do projeto.

• Analisamos os temas que tinham o potencial de ajudar este grupo a resolver o desafio. Como exemplo, gestão do tempo, planejamento, empatia e negociação.

• Uma vez entendido os termos acima, desenvolvemos a visão do projeto, redigindo uma estória que contasse a jornada desejada.

• Com isso em mãos, começamos o trabalho de curadoria especifico, isso é a definição dos conteúdos que deveriam ser entregues para o grupo.

• Na seqüência definimos a ordem desta entrega. Aqui tem um ponto interessante e importante. Embora soubéssemos ou tínhamos definido qual a seqüência de entrega, nossa equipe nunca tinha mais do que 3 dias de curadoria antecipado. Isso por conta da dinâmica do processo. Algum tema poderia apresentar maior dificuldade de entendimento, o que nos obrigaria a apresentar mais daquele tema mudando um pouco a rota adotada. Houve então casos de aumentarmos a quantidade de peças de conhecimento para determinado tema e para outro pudemos diminuir a quantidade, pois seu entendimento havia ficado claro. Talvez você se pergunte, como sabíamos e calibrávamos tal entendimento?

• Do acompanhamento: A calibragem do entendimento de um tema dava-se com a interação destas pessoas com nossa equipe. Informações objetivas como “Não entendi” ou “Estou com dificuldades de colocar isso em prática.” Esta troca diária nos dava um balizador sobre como deveriam ser as próximas etapas. Como eram conteúdos muito curtos, esta dinâmica funcionava muito bem. Ainda nos encontrávamos a cada 21 dias para fazer uma revisão geral. Mas não paramos por ai. Havia uma outra atividade que ajudava na calibragem, veja a seguir:

• Uma das atividades mais interessantes durante este programa, foram as “Missões.” Estas eram atividades práticas que inseríamos ao longo dos dias. Por exemplo, depois de 4 dias de estudos enviávamos uma atividade prática com a qual cada gerente buscaria aplicar os conhecimentos que haviam recebido ao longo dos dias anteriores a missão. Parte do processo era o relato da experiência com a atividade. Isso nos dava um sinal claro do entendimento.

• Um outro ponto muito bacana, e nesse caso foi super orgânico e natural, isso é não havíamos colocado no programa. Como estas gerentes partilhavam do mesmo espaço fisico dentro da empresa, elas criaram o “Café da manhã Inception” em que discutiam durante 40 minutos o conteúdo daquele dia. Foi incrível o que aconteceu. Pudemos ver na prática o 70:20:10 acontecendo fortemente e naturalmente.

Abaixo segue o testemunho do presidente da empresa depois do programa:

Querido Petreca, o Inception aqui da empresa foi um divisor de águas. É nítida a diferença que o programa fez com a equipe comercial, principalmente no quesito performance. Antes, os dias iam passando e elas tentando atingir as metas e resolvendo os problemas de forma empírica sem visão de longo prazo ou mesmo sistemática.Agora, no momento que sentam em suas mesas já tem em mente a proporção de cada ação diária dentro de um panorama semanal, mensal e anual. As metas tiveram que ser revisadas pois começaram a ser atingidas em apenas 2/3 do mês... Acho importante mencionar o quanto cada uma amadureceu pessoalmente e profissionalmente. Se tornaram mais firmes em propostas delicadas e na relação com a gerência. Na verdade agora existem várias gerentes pois depois do Inception refizemos o organograma do departamento, deixando-o ainda mais horizontal onde cada uma tem grande autonomia podendo inclusive trocar representantes, administrando sua própria verba de viagens e promovendo treinamentos à distribuidores.Grande abraço, obrigado meu amigo.

Milton Marchesoni.

Sem dúvida alguma receber um relato como esse nos enche a alma de alegria e nos anima a manter nossa rota em direção ao desenvolvimento humano.

Ambos os elementos anteriores, AR e TERRA, são bem tratados em muitas empresas. A turbulência começa a ficar mais visível quando olhamos para o elemento água. Este representa a fluidez em dois aspectos. A fluidez da experiência do contato com o conteúdo em si e a experiência do contato através das metodologias elencadas. Explico.

Fluidez do Desafio e da Habilidade.

Ao pensarmos em educação corporativa estamos pensando em mudança de comportamento ou no mínimo em sua evolução. Mesmo que existam Universidades Corporativas, o objetivo não é gerar certificados e sim resultados para o negócio..

Desta forma, temos que pensar no nível das Habilidades das pessoas para que estas se desdobrem nos comportamentos desejados. Certamente há muitos casos em que se deve trabalhar o nível de crenças e de valores dentro da empresa, para somente depois trabalhar o nível das habilidades. Se este é o caso, esta metodologia também vai ajudar certamente. Mas para o momento, vamos nos ater ao nível das habilidades.

Conforme a teoria do aclamado Psicólogo Mihaly Csikszentmihalyi, em suma devemos buscar um equilíbrio entre Desafio e Habilidades, encontrando assim o que ele chama de canal de flow ou fluidez.

Veja este video do TED.com: https://www.ted.com/talks/mihaly_csikszentmihalyi_on_flow? language=pt-br

Se um desafio é muito grande para as habilidades pré-existentes haverá, por exemplo, frustração. Importante lembrar que ao querermos desenvolver uma habilidade, outra anterior deve existir, pois de fato aprendemos com base naquilo que já sabemos. Não somos um poço totalmente inerte e vazio. Se caso uma nova habilidade é desejada e não existe nenhuma referência anterior para que nosso cérebro possa fazer um paralelo, a aplicação prática com erros e correções entra em cena de forma fundamental. Imagine a criança aprendendo a andar. Como ela nunca fez isso na vida, primeiro vai engatinhar, vai dar os sinais necessários ao seu cérebro avisando que uma mudança está a caminho. Quem tem filhos sabe que esta é uma fase linda e muitas vezes perigosa, principalmente na cozinha, onde facas e garfos podem estar dando sopa. Mas esta fase na vida dos pequeninos é tão bacana porque é um marco, algo absolutamente visível. E quanto aos adultos? Algumas transformações não são tão visíveis assim. Outro fato importante, demora um tempo para aprender, trata-se de um processo e não de um evento. Contudo, podemos aprender de forma mais rápida se vincularmos o aprendizado, mesmo que transformador, a algo que já está registrado em nosso cérebro.

Desta forma, ao pensar na fluidez de uma experiência, precisamos equilibrar o Desafio e a Habilidade, que no caso oposto ao citado acima, se o desafio for baixo se comparado a habilidade pré-existente haverá por exemplo apatia, desinteresse. É como os jovens jogando um video game que eles dizem ser fácil demais. Deixam de lado rapidinho, fica chato. Mas, se o jogo for muito difícil para as habilidades que detém, podem desistir por não conseguirem, neste caso, para os amigos, o jovem dirá que deu problema no jogo.

A busca é pelo canal de flow. Por isso, compreender o perfil de quem irá passar pela experiência que estamos desenhando é importante. A fase do elemento terra em que estudamos tal perfil é base que deve ser sólida, quando de fato se deseja construir um programa eficaz e responsável.

ÁGUA

Fluidez do Desafio e da Habilidade na metodologia.

Há ainda o olhar necessário sobre a parte estrutural, ou seja, o meio pelo qual o conteúdo e a experiência são entregues. Aqui estamos falando do local de um treinamento, do ambiente, do consultor, da internet, do material didático, do LMS escolhido, da rede social, das regras para se participar do programa, da comunicação, enfim todos os fatores que estão envolvidos na montagem da experiência.

A Mistura da Terra com a Água gera o barro e deste o tijolo com o qual se construirá os alicerces da aprendizagem. Pecar em um destes elementos danificará em grande monta a construção da experiência.

Podemos ter o melhor conteúdo, a plataforma mais bonita e amigável, mas se sua internet for ruim, o sistema não funciona, de nada adiantará. Contudo, não se trata de motivo para não fazer, pois ao pensar na experiência estes fatores reais que se enfrenta na empresa devem ser levados em consideração. O importante é encontrar a fluidez, pois ela é tão importante quanto o conteúdo em si, já que sua ausência ou precária estruturação podem destruir o conteúdo.

Um exemplo que talvez lhe soe curioso. Eu adoro ler, sim, sou devorador de livros (impressos). Contudo, temos uma geração que quer ler em aparelhos eletrônicos. Tais aparelhos têm uma característica singular, eles emitem luz. Isso cansa a vista e nos obriga a ler menos do que poderíamos de fato, no sentido de tempo dedicado a leitura. Claro que com estes aparelhos pode ser que os jovens pelo menos estejam lendo, o que já é uma grande vantagem, mas lêem menos tempos seguido do que deveriam para se criar uma linha de raciocínio mais profunda e causar reflexões importantes. Assim, estes aparelhos alteram o habito das pessoas e entender isso é importante na hora de decidir como fazer uma experiência ser fluida.

Pense, por exemplo, na Disneylandia. Quem já teve o privilégio de visitar seus parques, notou que mesmo lá existem filas imensas. Contudo, encarar tais filas é muito menos penoso do que encarar outras filas, mesmo que de outros parques no Brasil, por exemplo. Fila de hospital nem se fala.

Mas, por falar de hospital, lembro-me de um caso incrível no qual crianças tinham que passar por Ressonância Magnética. Imagine o sofrimento, ficar parado um tempão naquela sala fria, sozinha e na tenra idade, onde a segurança está em seus pais e não em si mesmo. Ainda por cima, dentro de um aparelho barulhento no qual não se pode mexer, nem no aparelho nem em si mesmo.

Trata-se de uma experiência a ser criada sem dúvida. O que fazer? Vamos criar um mundo fluido para estas crianças. Que tal antes de entrar na sala você ouvir uma estória de piratas. Aventura correndo solta até que chega um momento crucial desta estória. O Pirata está chegando e ele é malvado, mas existe uma forma de as crianças se protegerem, de forma que o pirata não terá como chegar nelas. Sabe como? entre no aparelho e enquanto ele estiver funcionando e a criança ficar paradinha, o pirata não poderá tocá-la.

Esta foto acima foi fruto da interação de Doug Dietz, designer de produtos da General Electric, que intrigado com o fato de 80% das crianças terem que ser sedadas para passar pela ressonância procurou educadores para criar uma experiência nova. E assim foi feito, a taxa de sedação caiu para 10%, com crianças querendo voltar no outro dia.

Aqui ficam claros os seguintes pontos:

• Objetivo claro: Sedar o mínino de crianças possível.• Público: Crianças.• AR - Conteúdo: Uma estória fantástica que povoa a imaginação.• TERRA - Metodologia: Contar a estória de forma a integrar o aparelho no enredo.• ÁGUA - Fluidez: O ambiente foi transformado para que a estória pudesse ser sentida.• FOGO: Este elemento vamos ver a seguir, mas em suma lida com a motivação da criança, no caso, viver a aventura e ainda fugir do pirata.

Um exemplo bacana de tecnologia que une metodologia com fluidez é a Degreed, plataforma que consegue organizar em um único espaço virtual diferentes experiências pontuais de contato com o conhecimento, além de seu sistema inteligente aprender com o comportamento do usuário as melhores maneiras de lhe entregar o que precisa aprender.

Costumo dizer que o fogo é o elemento mais quente de todos. Todos os elementos anteriores, Ar, Terra e Água, são de certa forma estruturais, estratégicos, conteúdo, frios, embora sejam responsáveis também pelo calor da aprendizagem.

O fogo é o único elemento 100% humano, pois trata da motivação, do porque aprender, do porque fazer. Aqui o entendimento do contexto da empresa, cultura, regras, dogmas em alguns casos, é fundamental, pois a dissonância entre a mensagem e o objetivo proposto com a realidade de fato experimentada é matadora, no mal sentido. Trata-se do walk the talk, tão difundido, mas pouco aplicado na realidade, mas por uma razão simples, não há uma real revisão dos valores da empresa e do colaborador. Mas estamos caminhando a passos largos nesta direção. Vemos movimentos que pelo menos trazem a intenção de trabalhar os valores reais, ou seja aquilo que de fato é importante para a empresa. Se lucro é o que importa, então que seja claro, o que não vale é a hipocrisia, esta sim traz prejuízos no longo prazo.

Por isso, entender o público, usando o levantamento na fase da “terra” é crucial para o sucesso do processo. Cada um se move por seus interesses e isso é genuíno, assim compreender o interesse de seus colaboradores, pelo menos aqueles que fazem parte do grupo alvo da experiência é transformador. Talvez você possa pensar que isso é muito complicado de se fazer com grandes grupos ou que apenas um assessment será suficiente. Para pequenos grupos, como sugerido na fase “terra,” descubra coisas inerentes a rotina da empresa e da vida daquela pessoa. Faça parte da vida dela. No caso de grandes grupos, a tecnologia deve ser usada, tanto na metodologia de entrega como na coleta de dados. É fato que temos muitos dados disponíveis, basta saber usá-los e deles tirar as conclusões relevantes. A nova matéria do HR Analytics fará milagres com isso.

Há um nivel de suporte para o elemento fogo, que denomino Tríade do Fogo.Acredito que aquele que passa por um processo de aprendizagem com o qual Descobre alguma coisa, torna-se dono daquela descoberta, torna-se consciente da descoberta e não fica inerte a ela. O simples fato de entregar um conteúdo não revela nada, sem um contexto adequado. Como traz o Titulo de um livro publicado pela ATD Association for Talent Development (antiga ASTD) e no Brasil pela Qualitymark: “Informar não é treinamento.”

A triade do fogo dá conta de três fatores:

1) A Descoberta2) A busca3) A Curiosidade

Para descobrir é importante buscar, vasculhar, querer descobrir. Contudo, os dois primeiros fatores estão nas mãos de quem passa pela experiência. Está nas mãos de quem idealiza a experiência o fator Curiosidade.

FOGO

A curiosidade é fantástica. As crianças nascem com isso e depois que se tornam jovens e adultos perdem esta capacidade que um dia foi natural. A Curiosidade é bela em diversos fatores. É ela que nos permite olhar o mundo de formas diferentes. Ela nos instiga a perguntar, a questionar. A Curiosidade é humilde, pois se for arrogante e pensar que sabe tudo, não terá o menor interesse em explorar aquilo que é diferente do que pensa. A Curiosidade nos dá indicações de nossos interesses pessoas e nos leva a olhar onde antes não olharíamos. As suspeitas são grandes criadoras de curiosidade, basta ver o interesse de casais em olhar o facebook e whatsapp de seus parceiros. Há ainda um ponto crucial, a curiosidade (sei que repeti essa palavra já muitas vezes, mas é intencional) nos ajuda a aprender de uma forma maravilhosa, pois abre caminho para desaprendermos e reconsiderarmos muitas outras alternativas..

A razão central para eu apostar profundamente na curiosidade não reside nestas características inerentes a ela, mas sim nas características inerentes ao nosso mundo como um todo. Nosso mundo VUCA. Como vimos anteriormente, Bob Johansen sugere um VUCA positivo: Visão, Entendimento, Clareza e Agilidade. Como pano de fundo deste movimento existe uma habilidade fundamental para aqueles que querem não somente sobreviver ao mercado, mas prosperar. A habilidade de aprender continuamente. Em meio a um mundo onde o futuro se torna imprevisível, mutável velozmente, profundamente conectado e ambíguo no sentido de que os fatos ficam mais difíceis de serem interpretados com precisão, aprender e desaprender é uma habilidade do presente para se vencer no futuro. Meu racional aqui então é o seguinte: Se esta habilidade é motivada pela curiosidade, vamos fomentar isso.

Fomentando a Curiosidade.

A comunicação é a espinha dorsal das relações humanas e da educação. Contudo, este é um tema muitas vezes negligenciado nos desenhos de aprendizagem. Não quero ser injusto e sei que muitas empresas se dedicam a comunicação, tem departamento para isso, planejam a comunicação, mas no fim das contas acabam fazendo como dizem “o que dá”. Contudo, a comunicação é tão importante quanto todos os outros elementos e tão importante quanto a própria educação. Considere o seguinte: Quando você aprende sobre feedback, ou como ser um Lider Coach ou ainda sobre negociação e vendas. O que de fato estamos aprendendo? Sim, a nos comunicar com base em certas regras, técnicas, formas. Pois se todas as metodologias que aprendemos nos cursos não forem traduzidas em uma forma de comunicação eficaz, seus resultados não serão eficazes. Não precisamos ir muito longe, a inabilidade de um líder ao se comunicar com sua equipe traz uma série de desdobramentos negativos: suspeitas, falta de confiança, falta de engajamento. A Comunicação no final das contas é tudo. Mas, ainda assim, negligenciada.

Para que possamos construir uma experiência louvável de aprendizado, a comunicação tem que ser prioridade e para isso gostaria de sugerir quatro pontos focais que devemos nos lembrar sempre:

• A responsabilidade pela comunicação é de quem emite a mensagem.Sim, quem fala, escreve, se comunica é responsável pelo conteúdo emitido. Claro que existe a prerrogativa de quem recebe a informação e esta pessoa traduzirá aquela mensagem pelos seus próprios olhos, dará o significado que melhor lhe convier, por isso, aquele que se comunica, tem que saber para quem se comunica e em qual contexto. Isso nos leva ao segundo ponto focal:

• Haverá ruído.Pode ser que seu interlocutor não entenda exatamente do que se trata de fato sua mensagem. A linguagem escolhida, as metáforas, o momento escolhido para dar a mensagem exigem do comunicador perspicácia, entendimento do contexto, para que exista compreensão. Tem que se tirar a casca do abacaxi para poder saborear o fruto. Isso nos leva ao terceiro ponto focal:

• Frequência.Uma mensagem, principalmente se ela for importante deverá ser repetida algumas vezes e de formas diferentes. Por mais que você entenda seu interlocutor pode ser que a mensagem não chegue de forma clara. Talvez naquele dia havia muitos e-mails e o seu estava no meio de tudo aquilo. A pessoa estava irritada e sem paciência para ler sua longa mensagem.

Quando se trata de uma comunicação relacionada a um programa de desenvolvimento humano, por exemplo, este ponto focal torna-se ainda mais importante, pois será com a comunicação que todo o contexto, o sentido será criado. Trata-se de uma gama possivelmente vasta de variáveis a serem consideradas. Desde o gestor da área ser corretamente instruído sobre como levar a mensagem, como os e-mails, murais, grupos de whatsapp e por ai vai. Tudo deve estar no plano de comunicação para que a mensagem seja entendida e gere o efeito engajador necessário.

• Por fim, o ultimo ponto focal é o marketing.Neste processo todo aqui relatado, o marketing tem um função incrível: despertar a curiosidade das pessoas. É criar uma campanha encantadora, é vender o peixe mesmo. Isso torna-se ainda mais especial em empresas que advogam o protagonismo de seus colaboradores, através do qual estes por vontade e entendimento próprios correm atrás de seu desenvolvimento.

É um forte exercício de interesse genuíno pelo outro e ao se interessar, compreender e desta compreensão levar ao público aquilo que de fato os motiva.

Em resumo.

Uma grande experiência de aprendizagem irá acontecer quando de fato a organização valorizar o indivíduo, mesmo que no coletivo. Partindo deste valor, a utilização da metodologia dos 4 elementos será um possível caminho para se criar o contexto adequado de aprendizagem e até mesmo de gestão de pessoas. Afinal, aprender, educar, liderar são atividades absolutamente humanas e se este não estiver no centro de tudo, será apenas mais um número nos KPIs.

Sucesso!

OBRIGADO!

DESIGN, ILUSTRAÇÃO,DIAGRAMAÇÃOBY