análise de sobrevivência

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Análise de sobrevivência

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAN

    GERALDO OLIVEIRA MARTINS

    SILVANA HEIDEMANN ROCHA

    EVASO E TEMPO DE PERMANNCIA NO CURSO DE ESTATSTICA

    DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAN: UM ESTUDO SOBRE OS

    ALUNOS QUE INGRESSARAM NO PERODO DE 1991 A 2011

    Curitiba

    2011

  • GERALDO OLIVEIRA MARTINS

    SILVANA HEIDEMANN ROCHA

    EVASO E TEMPO DE PERMANNCIA NO CURSO DE ESTATSTICA

    DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAN: UM ESTUDO SOBRE OS

    ALUNOS QUE INGRESSARAM NO PERODO DE 1991 A 2011

    Trabalho de Concluso de Curso apresentado disciplina Laboratrio de Estatstica, Curso de Estatstica, Setor de Cincias Exatas da Universidade Federal do Paran, como requisito parcial de obteno do ttulo de Estatstico.

    Orientadora: Prof Dr Suely Ruiz Giolo

    Curitiba

    2011

  • ii

    AGRADECIMENTOS

    Com muito carinho, agradecemos nossa professora Suely Ruiz Giolo pela

    dedicao, pacincia e orientao no somente neste trabalho, mas durante todo o

    Curso.

    Aos professores do Departamento de Estatstica da UFPR que auxiliaram nossa

    caminhada at essa etapa inicial de nossa vida profissional: a sonhada formatura.

    Aos Coordenadores do Curso de Estatstica da UFPR, professora Nvea da

    Silva Matuda e professor Cesar Augusto Taconeli, pela coragem de enfrentarem os

    desafios prprios de um curso de graduao de uma universidade pblica brasileira.

    professora Nelva Maria Zibetti Sganzerla, Chefe do Departamento de

    Estatstica da UFPR, por sua luta em favor da educao pblica.

    Aos nossos colegas da turma de 2008, pois sem o auxlio mtuo nos diversos

    trabalhos de disciplinas no teria sido possvel terminar esse Curso no tempo de

    integralizao curricular recomendado.

    Aos nossos familiares, pelos sacrficos das horas de convivncia em razo dos

    momentos de estudos solitrios, muitas vezes necessrios para obtermos essa

    conquista.

  • iii

    RESUMO

    Este trabalho apresenta um estudo sobre a evaso e o tempo de permanncia dos

    alunos do Curso de Estatstica da UFPR, que ingressaram no perodo de 1991 a 2011.

    Aqui discutido o Processo de Seleo Estendido (PSE), implantado no Curso de

    Estatstica da UFPR, em 2006, questionando-se sobre a necessidade de adot-lo ou

    no como instrumento de seleo dos melhores candidatos e daqueles que persistiro

    no Curso. Ainda, realizado um estudo sobre o perfil dos alunos (turmas 1991 a 2011)

    levando-se em conta as variveis sexo, idade ao ingressar, forma de ingresso no

    Curso e situao do aluno no Curso. Quanto ao tempo de permanncia, a anlise foi

    realizada separadamente para os alunos evadidos e os no evadidos do Curso

    (turmas 1991 a 2005). Em tal anlise, so utilizadas tcnicas de Anlise de

    Sobrevivncia, tais como o estimador de Kaplan-Meier, o teste logrank e modelos de

    regresso em um contexto de dados de sobrevivncia discretos ( modelo de Cox de

    riscos proporcionais e modelo de chances proporcionais ou modelo logstico). No caso

    do tempo de permanncia, foram consideradas as variveis: sexo, idade ao ingressar

    no Curso, forma de ingresso no Curso, ndice de Rendimento Acadmico (IRA),

    nmero de reprovaes na disciplina Clculo com Geometria Analtica I (CM007) e

    nmero de reprovaes na disciplina Clculo de Probabilidade I (CE204). Para os

    alunos evadidos, os resultados quanto ao tempo de permanncia so discutidos com

    base somente no estudo descritivo, uma vez os modelos de regresso avaliados no

    terem se ajustado satisfatoriamente aos dados. J para os alunos no evadidos do

    Curso, os resultados so apresentados com base no estudo descritivo, bem como no

    modelo de regresso discreto de chances proporcionais.

    Palavras chaves: Evaso, Processo de Seleo Estendido, Curso de Estatstica, Anlise de Sobrevivncia.

  • iv

    SUMRIO

    LISTA DE TABELAS E QUADROS ........................................................................... v

    LISTA DE FIGURAS ................................................................................................ vii

    LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ................................................................... ix

    1 INTRODUO ....................................................................................................... 1

    2 REVISO DE LITERATURA .................................................................................. 3

    2.1 O TRABALHO DA COMISSO ESPECIAL DE ESTUDOS SOBRE A EVASO

    NAS UNIVERSIDADES PBLICAS BRASILEIRAS ................................... 3

    2.2 POSSVEIS CAUSAS DA EVASO EM CURSOS SUPERIORES NO BRASIL 7

    3 MATERIAIS E MTODOS ................................................................................... 13

    3.1 MATERIAIS ..................................................................................................... 13

    3.2 MTODOS ........................................................................................................ 16

    3.2.1 Caracterizao da evaso e do perfil dos alunos do Curso de Estatstica da

    UFPR ..................................................................................................... 16

    3.2.2 Tempo de permanncia dos alunos no Curso de Estatstica da UFPR .. 17

    3.2.2.1 Mtodos descritivos .................................................................... 17

    3.2.2.2 Mtodos analticos ..................................................................... 22

    4 RESULTADOS E DISCUSSO ........................................................................... 28

    4.1 CARACTERISTICAS GERAIS DOS ALUNOS DO CURSO DE ESTATSTICA DA

    UFPR QUE INGRESSARAM NO PERODO DE 1991 A 2011 ......................... 28

    4.2 A EVASO NO CURSO DE ESTATSTICA DA UFPR E O PROCESSO DE

    SELEO ESTENDIDO (PSE) ......................................................................... 32

    4.2.1 A evaso e a forma de ingresso dos alunos no Curso de Estatstica da

    UFPR ..................................................................................................... 43

    4.3 TEMPO DE PERMANNCIA DOS ALUNOS NO CURSO DE ESTATSTICA DA

    UFPR ................................................................................................................ 44

    4.3.1 Alunos evadidos ....................................................................................... 44

    4.3.2 Alunos no evadidos ............................................................................... 49

    5 CONCLUSES E CONSIDERAES FINAIS .................................................... 61

    REFERNCIAS ................................................................................................. 65

    APNDICES ...................................................................................................... 68

  • v

    LISTA DE TABELAS E QUADROS

    Tabela 1 Percentual ano a ano de alunos evadidos do Curso de Estatstica

    da UFPR, que ingressaram de 1991 a 2011 Curitiba

    Dezembro/2011 39

    Tabela 2 Testes da razo de verossimilhanas (TRV) para o modelo de

    chances proporcionais (ou modelo logstico), para o tempo de

    permanncia dos alunos no evadidos do Curso de Estatstica da

    UFPR, que ingressaram de 1991 a 2005 Curitiba

    Dezembro/2011

    55

    Tabela 3 Valores estimados para os parmetros do modelo de regresso

    referente ao tempo de permanncia dos alunos no evadidos do

    Curso de Estatstica da UFPR, que ingressaram de 1991 a 2005

    Curitiba Dezembro/2011

    58

    Tabela A1 - Percentuais de diplomao, de reteno e de evaso no ensino

    superior pblico brasileiro, de acordo com a rea de

    conhecimento ( esquerda), e nas sub-reas das Cincias Exatas

    ( direita) - Brasil 1996

    68

    Tabela A2 - Percentuais de diplomao, de reteno e de evaso em

    Probabilidade e Estatstica ( esquerda) e em Matemtica (

    direita), sub-reas das Cincias Exatas Brasil 1996

    69

    Tabela A3 Percentuais de diplomao, de reteno e de evaso em Fsica

    ( esquerda) e em Qumica ( direita), sub-reas das Cincias

    Exatas Brasil 1996

    70

    Tabela B1 Distribuio de frequncias dos alunos do Curso de Estatstica da

    UFPR, que ingressaram no perodo de 1991 a 2011, de acordo

    com sua situao em relao ao Curso e ao sexo Curitiba -

    Dezembro/2011

    71

    Tabela B2 Distribuio de frequncias dos alunos evadidos do Curso de

    Estatstica da UFPR, que ingressaram no perodo de 1991 a

    2011, segundo a forma de ingresso - Curitiba - Dezembro/2011

    72

  • vi

    Tabela B3 Distribuio de frequncias dos alunos formados do Curso de

    Estatstica da UFPR, que ingressaram no perodo de 1991 a

    2011, segundo a forma de ingresso Curitiba - Dezembro/2011

    73

    Tabela B4 Distribuio de frequncias dos alunos cursando ou com

    trancamento de matrcula do Curso de Estatstica da UFPR, que

    ingressaram no perodo de 1991 a 2011, segundo a forma de

    ingresso Curitiba - Dezembro/2011

    74

    Tabela B5 Distribuio de frequncias dos alunos do Curso de Estatstica da

    UFPR, que ingressaram no perodo de 1991 a 2011, segundo a

    forma de ingresso e o sexo Curitiba Dezembro/2011

    75

    Tabela B6 Distribuio de frequncias dos alunos evadidos do Curso de

    Estatstica da UFPR, que ingressaram no perodo de 1991 a

    2011, segundo a forma de evaso e o sexo Curitiba

    Dezembro/2011

    76

    Tabela C1 Descrio dos tempos de permanncia, em semestres, dos

    alunos no evadidos do Curso de Estatstica da UFPR, que

    ingressaram no perodo de 1991 a 2005, desconsiderando-se as

    covariveis Curitiba - Dezembro/2011

    77

    Tabela C2 Descrio dos tempos de permanncia, em semestres, dos

    alunos evadidos do Curso de Estatstica da UFPR, que

    ingressaram no perodo de 1991 a 2005, desconsiderando-se as

    covariveis Curitiba - Dezembro/2011

    78

    Quadro 1 Variveis explicativas que permaneceram no modelo de regresso

    para o tempo de permanncia dos alunos no evadidos do Curso

    de Estatstica da UFPR, que ingressaram de 1991 a 2005

    Curitiba Dezembro/2011

    55

    Quadro 2 Razo de chances estimadas para o tempo de permanncia dos

    alunos no evadidos do Curso de Estatstica da UFPR, que

    ingressaram de 1991 a 2005 Curitiba Dezembro/2011

    60

    Quadro C1 Descrio das variveis utilizadas no estudo do perfil dos alunos

    do Curso de Estatstica da UFPR, que ingressaram no perodo de

    1991 a 2011 Curitiba Dezembro/2011

    79

  • vii

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 - Alunos do Curso de Estatstica da UFPR, que ingressaram de 1991

    a 2005 (grfico a) e de 2006 a 2011 (grfico b), segundo o sexo

    Curitiba - Dezembro/2011 29

    Figura 2 - Alunos formados do Curso de Estatstica da UFPR, que

    ingressaram de 1991 a 2005 (grfico a) e de 2006 a 2008 (grfico

    b), segundo o sexo Curitiba - Dezembro/2011

    29

    Figura 3 - Alunos do Curso de Estatstica da UFPR, que ingressaram de 1991

    a 2011, segundo a idade ao ingressar no Curso, em anos

    completos Curitiba - Dezembro/2011 31

    Figura 4 - Alunos do Curso de Estatstica da UFPR, que ingressaram de 1991

    a 2005, segundo a situao em relao ao Curso e o sexo Curitiba

    - Dezembro/2011

    33

    Figura 5 - Alunos do Curso de Estatstica da UFPR, que ingressaram de 2006

    a 2011, segundo a situao em relao ao Curso e o sexo Curitiba

    - Dezembro/2011

    34

    Figura 6 - Alunos do Curso de Estatstica da UFPR, que ingressaram de 1991

    a 2005, segundo a turma de ingresso e a situao em relao ao

    Curso, em valores absolutos e em percentuais Curitiba -

    Dezembro/2011

    36

    Figura 7 - Alunos do Curso de Estatstica da UFPR, que ingressaram de 2006

    a 2011, segundo a turma de ingresso e a situao em relao ao

    Curso, em valores absolutos e em percentuais Curitiba -

    Dezembro/2011

    37

    Figura 8 Percentual ano a ano de alunos evadidos do Curso de Estatstica

    da UFPR, que ingressaram de 1991 a 2005 Curitiba

    Dezembro/2011

    40

    Figura 9 Percentual ano a ano de alunos evadidos do Curso de Estatstica

    da UFPR, que ingressaram de 2006 a 2009 Curitiba -

    Dezembro/2011

    41

    Figura 10 - Alunos do Curso de Estatstica da UFPR, que ingressaram de

    1991 a 2005, segundo a forma de ingresso, o sexo e a situao no

    Curso Curitiba - Dezembro/2011

    43

  • viii

    Figura 11 - Alunos do Curso de Estatstica da UFPR, que ingressaram de

    2006 a 2011, segundo a forma de ingresso, o sexo e a situao no

    Curso Curitiba - Dezembro/2011 45

    Figura 12 - Alunos evadidos do Curso de Estatstica da UFPR, que

    ingressaram de 1991 a 2011, segundo a forma de evaso do Curso

    Curitiba - Dezembro/2011 46

    Figura 13 Curva de permanncia, em semestres, dos alunos evadidos do

    Curso de Estatstica da UFPR, que ingressaram de 1991 a 2005,

    segundo o sexo e a idade ao ingressar no Curso, em anos

    completos Curitiba Dezembro/2011

    48

    Figura 14 Curva de permanncia, em semestres, dos alunos evadidos do

    Curso de Estatstica da UFPR, que ingressaram de 1991 a 2005,

    segundo a forma de ingresso no Curso e o ndice de Rendimento

    Acadmico (IRA) Curitiba Dezembro/2011

    50

    Figura 15 Curva de permanncia, em semestres, dos alunos evadidos do

    Curso de Estatstica da UFPR, que ingressaram de 1991 a 2005,

    segundo o nmero de reprovaes na disciplina Clculo com

    Geometria Analtica I (CM007) e o nmero de reprovaes na

    disciplina Clculo de Probabilidades I (CE204) Curitiba

    Dezembro/2011

    51

    Figura 16 Curva de permanncia, em semestres, dos alunos no evadidos

    do Curso de Estatstica da UFPR, que ingressaram de 1991 a

    2005, segundo o sexo e a idade ao ingressar no Curso, em anos

    completos Curitiba Dezembro/2011

    53

    Figura 17 Curva de permanncia, em semestres, dos alunos no evadidos

    do Curso de Estatstica da UFPR, que ingressaram de 1991 a

    2005, segundo a forma de ingresso no Curso e o ndice de

    Rendimento Acadmico (IRA) Curitiba Dezembro/2011

    54

    Figura 18 Curva de permanncia, em semestres, dos alunos no evadidos

    do Curso de Estatstica da UFPR, que ingressaram de 1991 a

    2005, segundo o nmero de reprovaes na disciplina Clculo

    com Geometria Analtica I (CM007) e o nmero de reprovaes na

    disciplina Clculo de Probabilidades I (CE204) Curitiba

    Dezembro/2011

    56

    Figura 19 - Verificao da adequao do modelo logstico, no contexto de

    dados de sobrevivncia com censura intervalar, para o tempo de

    permanncia, em semestres, dos alunos no evadidos do Curso

    de Estatstica da UFPR, que ingressaram no perodo de 1991 a

    2005 Curitiba Dezembro/2011

    59

  • ix

    LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

    ABRUEM Associao Brasileira dos Reitores das Universidades Estaduais e

    Municipais

    ANDIFES Associao Nacional dos Dirigentes de Instituies Federais de

    Ensino Superior

    AS Anlise de Sobrevivncia

    CAPES Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior

    CE204 Disciplina de Clculo de Probabilidades I

    CM007 Disciplina de Clculo com Geometria Analtica I

    CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico

    IESP Instituies de Ensino Superior Pblicas

    IFES Instituies Federais de Ensino Superior

    IRA ndice de Rendimento Acadmico

    MEC Ministrio da Educao

    PSE Processo de Seleo Estendido

    REUNI Programa de Apoio ao Plano de Reestruturao e Expanso das

    Universidades Federais

    SESu Secretaria de Educao Superior

    SIE Sistema de Informaes para o Ensino

    UERJ Universidade do Estado do Rio de Janeiro

    UFMG Universidade Federal de Minas Gerais

    UFMT Universidade Federal do Mato Grosso

    UFPR Universidade Federal do Paran

    UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul

    UFRN Universidade Federal do Rio Grande do Norte

    UNESP Universidade Estadual Paulista

  • 1

    1 INTRODUO

    A evaso escolar, em qualquer nvel de ensino, geralmente transmite um

    sentimento de decepo e frustrao social por representar um grande desperdcio

    de tempo, de talentos e de recursos econmicos. Nas universidades pblicas

    brasileiras, a evaso leva ao desperdcio de recursos econmicos pblicos e

    familiares e ao desperdcio de tempo do indivduo, da famlia, dos trabalhadores da

    educao e do Estado (ADACHI, 2009). E quando os percentuais de evaso tornam-

    se gritantes, pesquisadores da Educao, governantes e administradores de

    instituies de ensino so levados a questionar sobre as causas de tal fenmeno e

    as medidas administrativas que poderiam ser tomadas a fim de reduzir ou minimiz-

    los. Nesse sentido, diversos trabalhos de pesquisa (monografias, dissertaes, teses

    e artigos) procuram contribuir com o debate social a respeito da questo da evaso

    escolar. Inclusive, uma Comisso do Ministrio da Educao (MEC) denominada

    Comisso Especial de Estudos sobre a Evaso nas Universidades Pblicas

    Brasileiras foi criada, em 1995, para estudar a evaso no ensino superior pblico

    brasileiro.1 Este trabalho justifica sua relevncia ao buscar contribuir com essa

    importante questo educacional e social.

    Quanto aos cursos de Estatstica nas universidades brasileiras, a evaso no

    uma questo nova. Em 2007, Bassette, jornalista do peridico eletrnico

    Globo.com, noticiou que os cursos de Estatstica no despertavam interesse das

    instituies particulares de ensino superior no Brasil devido aos altos percentuais de

    evaso que enfrentavam. No que se refere Universidade Federal do Paran

    (UFPR) cujo Curso de Estatstica entrou em funcionamento em 1974, passando a

    ser ofertado no perodo noturno desde 1982, com oferta anual de 66 vagas via

    vestibular desde 1991 (SGANZERLA, 2001), alguns estudos sobre a evaso e o

    tempo de permanncia foram realizados por Sganzerla (2001) e Sganzerla e Giolo

    (2010) e, at mesmo, algumas medidas administrativas foram tomadas no intuito de

    reduzir os percentuais de evaso. Por exemplo, no

    1 Ver BRASIL/MEC/SESu/ABRUEM/ANDIFES (1996), ADACHI (2009), SGANZERLA (2001),

    VELOSO & ALMEIDA (2001).

  • 2

    perodo de 1991 a 2011, avaliado neste trabalho, ocorreram mudanas curriculares

    importantes no Curso de Estatstica da UFPR, bem como no processo de seleo

    desses alunos. Para os alunos com ingresso no perodo de 1991 a 2005, por

    exemplo, o correspondente currculo era composto de 2700 horas e perodo de

    integralizao recomendado de 4 anos e meio. J para os ingressos de 2006 a

    2010, o currculo era de 2500 horas e perodo de integralizao recomendado de 4

    anos. Para os ingressantes a partir de 2011, o currculo passou a ser composto de

    3000 horas e perodo de integralizao recomendado de 4 anos e meio. No que se

    refere ao processo de seleo, desde o ano de 2006 o Curso de Estatstica da

    UFPR, bem como os cursos de Matemtica e Matemtica Industrial, passaram a

    adotar um processo de ingresso por vestibular composto de trs fases

    (anteriormente eram duas). Esse processo, denominado Processo de Seleo

    Estendido (PSE), tem como objetivo principal a reduo dos percentuais elevados

    de evaso desses cursos.

    Em Biurrum e Nunes (2010), evaso em um curso de ensino superior

    entendida como a diferena entre o nmero de ingressantes e o nmero de

    concluintes naquele curso. Para a Comisso Especial de Estudos sobre a Evaso

    nas Universidades Pblicas Brasileiras, evaso de curso foi definida como a sada

    definitiva do aluno de seu curso de origem, sem conclu-lo

    (BRASIL/MEC/SESu/ABRUEM/ANDIFES, 1996). Neste trabalho, a evaso e o

    tempo de permanncia dos alunos que ingressaram no perodo de 1991 a 2011 no

    Curso de Estatstica da UFPR sero avaliados por meio de tcnicas estatsticas

    descritivas e de modelos propostos em Anlise de Sobrevivncia (AS). Quanto

    evaso, essa ser considerada aqui por meio das vrias modalidades de sada dos

    alunos do referido Curso sem conclu-lo, dentre elas, abandono, cancelamento de

    matrcula, reopo por outro curso, transferncia para outra instituio de ensino e

    jubilamento por exceder o prazo mximo estabelecido para sua concluso. Quanto

    ao tempo de permanncia no Curso de Estatstica da UFPR, esse ser considerado

    pelo nmero de perodos letivos (em semestres) contados desde o ingresso do

    aluno no Curso at sua respectiva sada, seja esta caracterizada por formatura ou

    evaso.

  • 3

    2 REVISO DE LITERATURA

    Este captulo apresenta um panorama de como se encontrava a evaso no

    ensino superior pblico brasileiro, em especial nos cursos de Matemtica, Fsica,

    Qumica e Estatstica, tradicionais cursos de Cincias Exatas, quando da criao

    pelo MEC, em 1995, da Comisso Especial de Estudos sobre a Evaso nas

    Universidades Pblicas Brasileiras. Tambm se discorre aqui sobre possveis

    causas da evaso em cursos superiores no Brasil.

    2.1 O TRABALHO DA COMISSO ESPECIAL DE ESTUDOS SOBRE A EVASO

    NAS UNIVERSIDADES PBLICAS BRASILEIRAS

    A Comisso Especial de Estudos sobre a Evaso nas Universidades Pblicas

    Brasileiras foi criada por portaria do MEC em maro de 1995, por iniciativa da

    Secretaria de Educao Superior do Ministrio da Educao (SESu/MEC), e dela

    participaram a Associao Nacional dos Dirigentes de Instituies Federais de

    Ensino Superior (ANDIFES), o Frum Nacional de Pr-Reitores de Graduao e a

    Associao Brasileira dos Reitores das Universidades Estaduais e Municipais

    (ABRUEM). A criao da Comisso Especial foi impulsionada por um desejo das

    entidades que a constituram de se aclarar o real desempenho das Instituies de

    Ensino Superior Pblicas (IESP), federais e estaduais, por meio de metodologia

    adequada, uma vez que havia um movimento de denncia sobre altos percentuais

    de evaso e de reteno e, consequentemente, baixos percentuais de diplomao

    em muitos cursos de graduao brasileiros. Naquele momento, j estava em curso

    no pas, desde 1994, o Programa de Avaliao Institucional das Universidades

    Brasileiras (PAIUB) ao qual j haviam aderido diversas universidades pblicas e

    privadas. (BRASIL/MEC/SESu/ABRUEM/ANDIFES, 1996). Conforme Adachi(2009):

    [...] Embora sempre existisse, a evaso de estudantes se tornou alvo das polticas pblicas, quando passou a figurar entre os indicadores da planilha de alocao de recursos para as universidades do sistema federal, na segunda metade da dcada de

  • 4

    1990. Nesse contexto, o tema da evaso entrou para a agenda de conhecimentos e estudos a serem efetuados [...] (ADACHI, 2009, p.15).

    [...] Desde o ano de 1995, a evaso se tornou um objeto de polticas pblicas, transformando-se num indicador para a alocao de recursos nas instituies universitrias pblicas. Atualmente, de acordo com a mais recente proposta do governo federal, de expanso da educao superior o REUNI, a universidade dever atingir uma meta de 90% de diplomao em seus cursos de graduao a fim de obter recursos para se reestruturar dentro do sistema [...] (ADACHI, 2009, p. 33).

    [...] Em matria realizada pelo jornalista Antnio Gis, no Caderno Cotidiano, na pgina C1, na Folha de So Paulo, em 31/12/2006, embasada em dados de pesquisa efetuada pelo Instituto Lobo para o Desenvolvimento da Educao, divulga-se que o Brasil tem alta taxa de evaso universitria, sendo que metade dos estudantes universitrios, tanto do setor pblico quanto privado, no se forma. Os ndices estimados para a evaso nesse artigo, a partir dos dados do Inep, OCDE e Unesco, no perodo de 2002 a 2006, foram os seguintes: Japo 7%, Turquia 12%, Reino Unido 17%, Coria do Sul 22%, Cuba 25%, Alemanha 30%, Mxico 31%, EUA 34%, Frana 41%, Brasil 49%, Colmbia 51%, Sucia 52%, Venezuela 52%, Itlia 58%

    (ADACHI, 2009, p. 70).2

    Num esforo conjunto de diversas IESP e sem qualquer financiamento e

    apoio logstico do MEC ou outras agncias, a Comisso Especial viabilizou-se e

    realizou um trabalho, tido por ela como pioneiro, de proposio de uma metodologia

    capaz de permitir comparaes das IESP. Como resultado de seu trabalho,

    apresentou no relatrio final um estudo diagnstico quantitativo rigoroso sobre o

    desempenho das IESP e apontou, de forma preliminar, possveis causas da evaso

    no ensino superior pblico brasileiro. Apoiada no pressuposto de que qualquer

    instituio de ensino superior, em especial as pblicas, deve ter como uma de suas

    maiores preocupaes a de bem qualificar seus estudantes e a de garantir bons

    resultados em termos de nmero de diplomados que libera a cada ano para o

    exerccio profissional, a Comisso Especial procurou inicialmente traar seus

    objetivos especficos e uma metodologia que permitisse comparaes de diferentes

    IESP. Quanto metodologia, a Comisso Especial adotou os cursos de graduao

    das IESP como unidades de anlise, definindo evaso de curso como a sada

    definitiva do aluno de seu curso de origem, sem conclu-lo. Na sequncia, definiu

    tambm diplomao como a situao em que o aluno concluiu o curso de graduao

    dentro do prazo mximo de integralizao curricular contado a partir do ano ou

    semestre base de ingresso do aluno no curso e, ainda, reteno como a situao em

    que o aluno se mantm ou consta como matriculado na universidade apesar de no

    2 Sobre o problema da evaso internacional e no Brasil, ver tambm SGANZERLA (2001, p.155-164).

  • 5

    ter concludo o curso e j estar esgotado o prazo mximo de integralizao curricular

    (BRASIL/MEC/SESu/ABRUEM/ANDIFES, 1996).3

    O clculo do percentual de evaso, de diplomao e de reteno em cada

    curso de graduao avaliado seguiu uma metodologia baseada em geraes

    completas dos cursos estudados, cujos prazos mximos de integralizao curricular

    haviam expirado nos semestres 92/2, 93/1, 93/2, 94/1 e 94/2. Por gerao completa

    foi definida aquela em que o nmero de diplomados (Nd), mais o nmero de

    evadidos (Ne), mais o nmero de retidos (Nr) fosse igual ao nmero de ingressantes

    no ano ou semestre base (Ni), isto ,

    Ni = Nd + Ne + Nr. 4

    Como vrias IESP no dispunham de dados sistematizados e informatizados

    anteriores a 1986, a Comisso Especial limitou seu estudo em trs geraes

    completas de alunos para cursos de ingresso anual e a cinco geraes completas

    para cursos de ingresso semestral, sendo a contagem dessas geraes completas

    feita curso a curso de forma retrospectiva e tomando como partida o segundo

    semestre de 1994. A frmula utilizada para clculo do percentual de evaso em um

    determinado curso ficou expressa como a seguir, sendo que os percentuais de

    diplomao e de reteno no respectivo curso foram obtidos de modo anlogo:

    A Comisso Especial agrupou os cursos superiores segundo as reas de

    conhecimento estabelecidas pela CAPES/CNPq, e dividiu cada rea em sub-reas

    de modo que cada subrea representasse um agrupamento homogneo de cursos.5

    Calculados os percentuais de evaso, de diplomao e de reteno dos diferentes

    3 O prazo mximo de integralizao curricular de um curso foi considerado conforme o quadro de

    Integralizao de Curso, Tempos Mximos e Mnimos, que consta no Anexo I do relatrio final da Comisso Especial de Estudos sobre a Evaso nas Universidades Pblicas Brasileiras (BRASIL/MEC/SESu/ABRUEM/ANDIFES, 1996, p. 129-134).

    4 Em relao ao estudo sobre evaso ter sido fundamentado em geraes completas, a Comisso Especial alertou que esses estudos daro sempre um panorama de situaes passadas, sendo necessrias formulaes metodolgicas que permitam avaliar, por exemplo, ano a ano, os percentuais de evaso de cada turma de alunos.

    5 As reas consideradas foram oito: Cincias da Sade, Cincias Agrrias, Cincias Sociais

    Aplicadas, Engenharias, Cincias Humanas, Cincias Biolgicas, Cincias Exatas e da Terra, Lingustica-Letras-Artes. No caso especfico das Cincias Exatas e da Terra, as sub-reas foram as seguintes: Oceanografia, Cincia da Computao, Geocincias, Qumica, Probabilidade e Estatstica, Matemtica, Cincias, Astronomia e Fsica (BRASIL/MEC/SESu/ABRUEM/ANDIFES, 1996).

  • 6

    cursos das IESP participantes do estudo sobre evaso no ensino superior pblico

    brasileiro, a Comisso Especial estabeleceu como critrio para leitura dos dados

    apresentados nas tabelas por ela elaboradas, calcular a mdia dos percentuais de

    diplomao em cada tabela (observado que no se trata de diplomao mdia) e

    estabelecer um intervalo de mais ou menos um desvio-padro em torno dessa

    mdia. Em cada tabela, constou ento uma linha para mdia, uma linha para mdia

    - um desvio padro e uma linha para mdia + um desvio padro. Assim, as reas,

    sub-reas ou os cursos, conforme o caso, ficaram posicionados dentro de sua

    respectiva tabela conforme sua situao em relao ao intervalo [mdia - 1 desvio

    padro, mdia + 1 desvio padro] dos percentuais de diplomao

    (BRASIL/MEC/SESu/ABRUEM/ANDIFES, 1996).

    Aps o levantamento de dados referentes s IESP, a Comisso Especial

    considerou elevados os ndices de reteno maiores de 10%, bem como considerou

    preocupantes ndices de diplomao abaixo da mdia da respectiva sub-rea de um

    dado curso. Aos cursos que haviam ficado entre a mdia e o limite mdia+desvio

    padro, foi recomendado ter como meta a elevao de seus ndices, sendo

    considerados como referenciais de bom desempenho os cursos acima do limite

    mdia+desvio padro (BRASIL/MEC/SESu/ABRUEM/ANDIFES, 1996).6

    A fim de se ter uma noo de como se encontrava a evaso, a diplomao e

    a reteno na rea de Cincias Exatas e nas suas sub-reas, em especial aquelas

    relacionadas aos cursos de Estatstica, so apresentadas no Apndice A algumas

    tabelas elaboradas pela Comisso Especial de Estudos sobre a Evaso nas

    Universidades Pblicas Brasileiras. Dentro de cada tabela, as reas, as sub-reas

    ou os cursos, conforme o caso, so apresentados em ordem decrescente dos

    percentuais de diplomao (Tabelas A1, A2 e A3). A partir da Tabela A1, pode-se

    constatar que os percentuais de diplomao, de reteno e de evaso na rea de

    Cincias Exatas e da Terra so os piores das oito reas estudadas pela Comisso

    Especial. Conforme o documento da Comisso Especial:

    [...] Paredes (op.cit.) considera que o fenmeno da evaso muito maior do que a percepo geral que dele se tem o que indicaria a presena de uma disposio comum s instituies de ensino superior de consider-lo como "normal", como

    6 A Comisso Especial recomendou que os ndices de diplomao, de reteno e de evaso deviam

    conduzir a estudos qualitativos de identificao dos problemas e, consequentemente, adoo de medidas pedaggicas e institucionais capazes de solucion-los.

  • 7

    aspecto inerente aos cursos universitrios do mundo inteiro. Essa sub-avaliao e o consequente desinteresse pelo aprofundamento no problema produzem decises administrativas inadequadas e contrrias produtividade geral dos cursos [...] (BRASIL/MEC/SESu/ABRUEM/ANDIFES, 1996, p.115).

    Especificamente sobre a evaso nas Cincias Exatas da UFPR, Sganzerla

    (2001) apresenta estudos que apontam um percentual de aproximadamente 60 a

    85%, para o perodo de 1991 a 1994, nos cursos de Matemtica, Estatstica,

    Qumica e Fsica.

    2.2 POSSVEIS CAUSAS DA EVASO EM CURSOS SUPERIORES NO BRASIL

    A Comisso Especial de Estudos sobre a Evaso nas Universidades Pblicas

    Brasileiras (BRASIL/MEC/SESu/ABRUEM/ANDIFES, 1996), apresentou ao final do

    seu relatrio alguns possveis fatores relacionados a essa evaso, comentou cada

    um desses fatores, bem como apontou caminhos para a melhoria dos ndices de

    desempenho dos cursos de graduao. Disse que fez isso para contribuir para a

    necessria reflexo crtica sobre os desempenhos dos cursos de graduao das

    IESP do pas, e recomendou ao Ministrio da Educao a necessidade de estudos

    complementares, aprofundados e continuados sobre a questo. Os fatores

    apontados foram:

    a) Fatores referentes s caractersticas individuais do estudante:

    relativos s habilidades de estudo; relacionados personalidade; decorrentes da formao escolar anterior; vinculados escolha precoce da profisso; relacionados a dificuldades pessoais de adaptao vida universitria; decorrentes da incompatibilidade entre a vida acadmica e as exigncias do mundo do trabalho; decorrentes do desencanto ou da desmotivao dos alunos com cursos escolhidos em segunda ou terceira opo; decorrentes de dificuldades na relao ensino-aprendizagem, traduzidas em reprovaes constantes ou na baixa frequncia s aulas; decorrentes da desinformao a respeito da natureza dos cursos; decorrente da descoberta de novos interesses que levam realizao de novo vestibular.

    b) Fatores internos s instituies: peculiares a questes acadmicas: currculos desatualizados, alongados; rgida cadeia de pr-requisitos, alm da falta de clareza sobre o prprio projeto pedaggico do curso;

  • 8

    relacionados a questes didtico-pedaggicas: por exemplo, critrios imprprios de avaliao do desempenho discente; relacionados falta de formao pedaggica ou ao desinteresse do docente; vinculados ausncia ou ao pequeno nmero de programas institucionais para o estudante, como Iniciao Cientfica, Monitoria, programas PET (Programa Especial de Treinamento), etc; decorrentes da cultura institucional de desvalorizao da docncia na graduao; decorrentes de insuficiente estrutura de apoio ao ensino de graduao: laboratrios de ensino, equipamentos de informtica, etc; inexistncia de um sistema pblico nacional que viabilize a racionalizao da utilizao das vagas, afastando a possibilidade da matrcula em duas universidades.

    c) Fatores externos s instituies: relativos ao mercado de trabalho; relacionados ao reconhecimento social da carreira escolhida; relacionados qualidade da escola de primeiro e a de segundo grau; vinculados a conjunturas econmicas especficas; relacionados desvalorizao da profisso, por exemplo, o caso das Licenciaturas; vinculados a dificuldades financeiras do estudante; relacionados s dificuldades da universidade atualizar-se frente aos avanos tecnolgicos, econmicos e sociais da contemporaneidade; relacionados ausncia de polticas governamentais consistentes e continuadas, voltadas ao ensino de graduao (BRASIL/MEC/SESu/ABRUEM/ANDIFES, 1996, p. 117-124).

    A Comisso Especial ressaltou ser praticamente impossvel um nvel de

    evaso zero, por existirem razes externas s IESP que influenciam a evaso e que

    no podem ser solucionadas no mbito da poltica institucional ou acadmica.

    Entretanto, a Comisso Especial reconheceu haver aspectos negativos internos s

    IESP que podem ser solucionados ou minimizados no mbito institucional ou

    acadmico. Por exemplo, o desenvolvimento de uma cultura sistemtica de

    supervalorizao da pesquisa e da ps-graduao em detrimento da graduao, o

    no desenvolvimento de programas de ensino destinados a reciclar os estudantes

    que apresentem dificuldades de rendimento em algumas disciplinas fundamentais de

    seus cursos, o no estabelecimento de delimitao para que o fenmeno da

    mobilidade acadmica seja mantido dentro de limites aceitveis. Alm desses,

    apontou outros aspectos tidos por ela como negativos e internos s IESP:

    cursos em que se permite a concomitncia de mais de uma habilitao, retardando a diplomao; cursos com encadeamento rgido de pr-requisitos, nos quais a reprovao em apenas uma disciplina da cadeia dificulta o desenvolvimento do curso no tempo normal (tanto mais forte o fenmeno quanto se trata de cursos nos quais o acesso ao ciclo profissional supe a concluso do ciclo bsico); universidades que adotam o regime seriado, no qual a eventual ruptura do fluxo normal da grade curricular provoca retardo mnimo de um semestre letivo; exigncia de trabalho final (projeto ou monografia) sem a necessria preparao do estudante;

  • 9

    alta flexibilidade nas IESP no trato da questo da integralizao dos cursos; este dado significativo ao se considerar as disparidades de especificaes e cumprimento das normas de jubilamento ou de recusa de matrcula; cursos em que algumas disciplinas so responsveis por um alto ndice de reprovao, retendo o aluno por vrios perodos, como sistematicamente acontece nas disciplinas iniciais bsicas de Matemtica, Qumica ou Fsica,... (BRASIL/MEC/SESu/ABRUEM/ANDIFES, 1996, p. 124).

    A partir do trabalho preliminar da Comisso Especial, pesquisas qualitativas

    para investigar as causas da evaso no ensino superior pblico brasileiro foram

    realizadas. Exemplo disso a dissertao de mestrado de Adachi (2009) na qual

    foram investigadas causas de evaso em cinco cursos da UFMG (Engenharia

    Metalrgica, Engenharia de Minas, Histria, Matemtica e Qumica) focando-se o

    perodo de 2000 a 2007 e considerando a entrada dos alunos no ano de 2000. Em

    sua dissertao, Adachi (2009) defende como hiptese de pesquisa que a evaso se

    trata de um processo de excluso do aluno, uma vez que dadas as situaes de

    desigualdades existentes na sociedade brasileira e refletidas no sistema de ensino,

    a deciso de abandonar o curso, enquanto responsabilidade do estudante, s seria

    coerente se ele tivesse a possibilidade de escolher entre a transferncia para outro

    curso de seu interesse (na mesma instituio ou em outra) e o no interesse na

    posse do diploma do ensino superior.

    Adachi (2009), interpretando as falas dos alunos evadidos entrevistados sobre

    se sentirem perdidos e sem suporte financeiro, pedaggico e/ou psicolgico para

    permanecerem no curso universitrio de origem,7 aponta como causas de evaso:

    o processo abrupto que a passagem do ensino mdio para o ensino superior representa para

    muitos alunos,

    as dificuldades em disciplinas bsicas j nos primeiros perodos dos cursos que levam ao

    acmulo de reprovaes, e os estudantes, sentindo-se desamparados, impotentes e

    desanimados decidem abandonar seus cursos,

    a falta de equilbrio entre teoria e prtica (muita nfase acadmica e pouca no mercado de

    trabalho ou vice-versa),

    os aspectos pedaggicos (relao conturbada de alguns professores com alunos),

    a necessidade do aluno trabalhar concomitantemente realizao dos estudos de

    graduao, a fim de manuteno das despesas pessoais.8

    7 Contudo, para muitos alunos evadidos, o desligamento do curso universitrio de origem representou um alvio, frente ao sofrimento e a angstia que sentiam no momento em que realizavam o curso (ADACHI, 2009).

    8 Sobre a necessidade de trabalhar concomitantemente com os estudos, Adachi (2009) afirma que a

    finalidade do trabalho para a maioria dos estudantes por ela entrevistados no era necessariamente

  • 10

    Em relao aos alunos formados entrevistados, Adachi (2009) atribui a

    concluso do respectivo curso de graduao aos seguintes fatores:

    a certeza do estudante pelo curso escolhido,

    a ausncia de iluses com relao ao que esperar do curso,

    o planejamento material e psicolgico para a realizao do curso,

    o fato de terem cursado o ensino fundamental e mdio em boas escolas da localidade,

    a possibilidade do aluno dedicar-se integralmente ao curso.

    A evaso no ensino superior pblico brasileiro tambm j foi examinada

    qualitativamente sob a viso que se tem dela os coordenadores de cursos de

    graduao. Exemplo disso o estudo sobre evaso na Universidade Federal de

    Mato Grosso (UFMT), campus Cuiab, no qual Veloso e Almeida (2001) focaram o

    ponto de vista dos coordenadores a respeito da evaso em seus respectivos cursos.

    Na viso dos coordenadores entrevistados, segundo os autores, os fatores

    determinantes da evaso nos cursos de graduao do campus de Cuiab da UFMT

    seriam, principalmente:

    os aspectos individuais e scio econmico culturais do prprio aluno evadido, como

    imaturidade quanto escolha do curso,

    a precria estrutura fsica da universidade,

    a estrutura do curso de graduao, em relao a turno e horrios das disciplinas,

    o mercado de trabalho como motivador para a escolha do curso pelo aluno,

    a necessidade de discutir o papel do docente no contexto dos ingressantes na universidade,

    as dificuldades decorrentes da rotatividade de professores no ensino superior, algumas

    conturbaes nas relaes professores-alunos, 9

    para contribuir nas despesas da casa, mas para a manuteno de despesas pessoais do estudante,

    aliviando as tenses financeiras da famlia. A autora constatou tambm que para esses estudantes o

    trabalho tido como um valor familiar para garantir certa independncia financeira, para auxiliar a

    insero no mercado de trabalho e para dar autonomia individual.

    9 Os coordenadores de curso, principalmente dos cursos de bacharelado, revelam que ... nossos

    professores no foram preparados para serem professores e indicam a necessidade de treinamento do corpo docente, principalmente pelo fato das Instituies de Ensino Superior contarem no seu quadro com um grande nmero de professores substitutos, figuras de carter transitrio, utilizados pelas unidades acadmicas para ocuparem as vagas de professores aposentados, em razo da indisponibilidade de vagas pelo Governo Federal para comporem seus quadros por meio de Concursos Pblicos em carter permanente e que, considerando a transitoriedade do professor substituto, essas vagas so geralmente ocupadas por recm graduados, que no apresentam cursos de ps-graduao, experincia didtica e experincia profissional na maioria das vezes. [...] (VELOSO & ALMEIDA, 2001).

  • 11

    a pouca disponibilidade de tempo para os estudos extra-classes por parte dos alunos

    trabalhadores,

    as dificuldades de muitos alunos nas disciplinas bsicas, em especial naquelas envolvendo

    Fsica, Qumica e Matemtica,

    um provvel processo de auto-seleo no vestibular, em que alguns alunos, avaliando suas

    respectivas capacidades intelectuais ou scio econmicas, diante do grau de competitividade

    para as vagas de determinados cursos, acabariam por optar por cursos menos concorridos.

    Veloso e Almeida (2001) concluram que, apesar dos aspectos relativos aos

    alunos serem apontados pelos coordenadores de curso como primeiros causadores

    de evaso, os alunos ingressantes e os alunos evadidos no eram por eles

    conhecidos, tampouco os coordenadores de cursos se viam como articuladores de

    aes possveis para minimizar a evaso. Os resultados obtidos com seu estudo

    levaram Veloso e Almeida (2001) a defender a evaso como reflexo da ausncia de

    uma poltica de permanncia dos alunos no curso de sua opo.10 Tomando a

    evaso como um processo de excluso, esses autores corroboram da ideia de que a

    universidade, na condio de instituio social, no est preparada para receber e

    lidar com a diversidade dos alunos que chegam como ingressos, uma vez que

    desconsidera as informaes dadas pelos alunos quando se candidatam

    universidade. Os autores defendem que tais informaes deveriam servir como

    subsdios para a discusso do papel dessa instituio numa sociedade de grupos

    muito diversificados e citam, por exemplo, que o Sistema de Informao Acadmica

    no poderia limitar-se a ser um sistema de registro acadmico, mas deveria ser um

    sistema ttico de informao gerencial (VELOSO & ALMEIDA, 2001).

    Biurrum e Nunes (2010) tambm realizaram um estudo a respeito da evaso

    no curso de Estatstica da UFRGS tendo como investigao o perodo do primeiro

    semestre letivo do ano 2000 at o segundo semestre letivo de 2007. Focando os

    alunos evadidos, objeto de seus interesses, os autores realizaram uma amostragem

    de convenincia utilizando-se de correio eletrnico, telefone e stios eletrnicos de

    relacionamento (Orkut e MSN), e definiram seu objeto de pesquisa como o aluno

    10

    Veloso e Almeida (2001) recomendaram a divulgao por parte da universidade de seus cursos junto aos estudantes do ensino mdio, o desenvolvimento de programas de intercmbio junto s escolas, principalmente as pblicas, o oferecimento de esclarecimentos quanto a opo profissional de seus futuros alunos, o desenvolvimento de aes de acompanhamento e integrao dos alunos vida universitria, como por exemplo programas de pesquisa e extenso.

  • 12

    evadido do curso de Estatstica da UFRGS que se disps a participar do instrumento

    de pesquisa, um questionrio composto de 30 questes obtido a partir de duas

    pesquisas pilotos desenvolvidas em sequncia. Perguntados sobre os motivos que

    os levaram escolha do curso de Estatstica, os evadidos respondentes ao

    questionrio apontaram como principais motivos: o gosto pela Matemtica, a baixa

    concorrncia no vestibular e o gosto por Estatstica em estudos anteriores. Quanto

    aos motivos da desistncia, tais alunos apontaram: a coincidncia de horrios das

    disciplinas com os horrios de trabalho, as dificuldades em disciplinas, o turno do

    curso e no terem gostado do curso.

    Especificamente sobre a evaso no Curso de Estatstica da UFPR, estudos

    anteriores a este apontam a precria formao do aluno no ensino mdio e a falta de

    interesse do aluno pelo curso escolhido como fatores que influenciam essa evaso

    Apontam, ainda, que os alunos ingressantes por outros meios, que no o vestibular,

    levam mais tempo para se formar, bem como que o aumento do tempo de

    permanncia no Curso de Estatstica na UFPR est relacionado com as dificuldades

    enfrentadas por alguns alunos para aprovao em disciplinas do ncleo bsico do

    Curso, em particular Clculo com Geometria Analtica I e Clculo de Probabilidades I

    (SGANZERLA & GIOLO, 2010).

    Este trabalho procura contribuir para a descrio do perfil do aluno do Curso

    de Estatstica da UFPR, ingressante no perodo de 1991 a 2011, bem como para o

    estudo do tempo de permanncia desse aluno no Curso. Entretanto, variveis

    importantes como renda familiar e outros aspectos socioseconmicos e culturais no

    sero aqui considerados devido s limitaes das informaes que constam no

    banco de dados do Sistema de Informaes para o Ensino (SIE) da UFPR. No

    entanto, um estudo qualitativo com variveis scio econmicas dos alunos do Curso

    de Estatstica da UFPR que ingressaram de 1997 a 2000 pode ser encontrado em

    Sganzerla (2001).

  • 13

    3 MATERIAIS E MTODOS

    Neste captulo so apresentados os materiais e os mtodos utilizados neste

    trabalho para caracterizar os alunos do Curso de Estatstica da UFPR que

    ingressaram no perodo de 1991 a 2011, bem como o tempo de permanncia

    desses alunos no Curso. Na seo sobre os mtodos, so apresentados

    separadamente os mtodos descritivos e os mtodos analticos empregados para

    avaliar tanto os alunos evadidos como os no evadidos do Curso.

    3.1 MATERIAIS

    O banco de dados utilizado neste trabalho composto de informaes dos

    1651 alunos que ingressaram no Curso de Estatstica da UFPR no perodo de 1991

    a 2011. Tais informaes foram extradas em setembro de 2011 do Sistema de

    Informaes para o Ensino (SIE) da UFPR, tendo sido consideradas, contudo,

    atualizaes feitas at dezembro de 2011. As informaes aqui utilizadas foram

    aquelas relativas ao sexo, idade do aluno ao ingressar no Curso, verso do

    currculo (1991, 2006 ou 2011) sob a qual o aluno ingressou no Curso, forma de

    ingresso no Curso (se por vestibular, aproveitamento de curso superior, reopo,

    transferncia ou reintegrao), forma de sada do Curso (se por formatura ou por

    evaso, isto , abandono, cancelamento de matrcula, reopo, transferncia ou

    jubilamento), ao semestre e ao ano de ingresso no Curso, ao semestre e ao ano de

    sada do Curso, ao ndice de Rendimento Acadmico (IRA) e ao nmero de

    reprovaes em duas disciplinas do ncleo bsico do Curso: Clculo de

    Probabilidades I (CE204) e Clculo com Geometria Analtica I (CM007). A escolha

    dessas duas disciplinas e de suas categorias se deu em razo de terem sido

    consideradas por Sganzerla (2001) e Sganzerla e Giolo (2010), para que fosse

    possvel comparar os resultados deste trabalho com os desses dois.

    Dentre os 1651 alunos que compuseram o banco de dados mencionado,

    foram considerados para o estudo do tempo de permanncia no Curso, os 1292

  • 14

    alunos que ingressaram no perodo de 1991 a 2005. Essa restrio foi necessria

    por no ser ainda vivel estudar o tempo de permanncia dos alunos que

    ingressaram no Curso a partir de 2006 (ou seja, daqueles que ingressaram a partir

    da implantao do Processo de Seleo Estendido - PSE), devido ao nmero ainda

    reduzido de alunos formados, o que inviabiliza o uso das tcnicas de Anlise de

    Sobrevivncia. Assim, o estudo sobre o tempo de permanncia dos alunos do Curso

    de Estatstica da UFPR ficou restrito s turmas de 1991 a 2005.11 No entanto,

    estudos descritivos sobre o perfil geral dos alunos foram realizados para os

    ingressos do perodo de 1991 a 2011.

    Neste trabalho, um aluno considerado no evadido se ele formou-se ou

    continua matriculado at dezembro de 2011 em alguma disciplina do Curso de

    Estatstica da UFPR ou, ainda, se ele est com a matrcula trancada. Por sua vez,

    aluno evadido aquele que deixou o Curso de Estatstica da UFPR at dezembro de

    2011, por abandono, cancelamento de matrcula, reopo, transferncia ou por

    jubilamento.

    Das informaes contidas no banco de dados do SIE da UFPR, o semestre e

    o ano de ingresso, bem como o semestre e o ano de sada do Curso foram utilizados

    para se determinar o tempo de permanncia, em semestres, no Curso. Para os 342

    alunos formados referentes s turmas de 1991 a 2005, o tempo de permanncia foi

    calculado pelo nmero de semestres desde o ingresso do aluno no Curso at o

    semestre de sua sada, inclusive. Por exemplo, um aluno que ingressou no primeiro

    semestre de 2001 (1/2001) e se formou no primeiro semestre de 2005 (1/2005), teve

    tempo de permanncia de 9 semestres. J para os 937 alunos evadidos e para os

    13 alunos que continuam cursando ou esto com trancamento de matrcula, alunos

    esses referentes s turmas de 1991 a 2005, o tempo de permanncia foi calculado

    pelo nmero de semestres desde o ingresso do aluno no Curso at o semestre de

    sua sada, exclusive12. Por exemplo, um aluno que ingressou em 1/2001 e se evadiu

    em 2/2004, apresentou tempo de permanncia de 7 semestres.

    11

    Ver Tabelas B1 a B6 no Apndice B.

    12 Exclusive porque, no banco de dados do SIE da UFPR, a situao de tais alunos lanada no

    semestre posterior ocorrncia da situao (se evaso, trancamento de matrcula ou se continua cursando).

  • 15

    Quanto ao IRA, os intervalos aqui adotados foram os mesmos utilizados em

    Sganzerla e Giolo (2010). Esses intervalos (categorias) objetivam classificar o

    desempenho de um aluno no Curso, conforme descrito a seguir:

    Categoria 1 = desempenho baixo:

    Categoria 2 = desempenho regular:

    Categoria 3 = desempenho bom:

    Categoria 4 = desempenho timo: .

    J as variveis nmero de reprovaes na disciplina CM007 e nmero de

    reprovaes na disciplina CE204 foram classificadas em trs categorias:

    Categoria 1 = nenhuma reprovao

    Categoria 2 = de 1 a 3 reprovaes

    Categoria 3 = mais de 3 reprovaes.

    Quanto varivel sexo foi assumido o valor 0 para sexo feminino e 1 para

    masculino. Para a varivel verso do currculo sob a qual o aluno ingressou no

    Curso foram consideradas as verses:

    1991, para as turmas que ingressaram de 1991 a 2005

    2006, para as turmas que ingressaram de 2006 a 2010

    2011, para a turma que ingressou em 2011.

    A varivel idade, em anos completos, ao ingressar no Curso foi categorizada

    em 4 intervalos. Esses intervalos, descritos a seguir, foram definidos a partir dos

    quartis das idades dos 1651 alunos do banco de dados utilizado:

    Categoria 1 = 17 Idade 19 anos

    Categoria 2 = 19 < Idade 22 anos

    Categoria 3 = 22 < Idade 26 anos

    Categoria 4 = Idade > 26 anos.

    Para fins de modelagem estatstica do tempo de permanncia no Curso de

    Estatstica da UFPR dos alunos que ingressaram de 1991 a 2005, a varivel idade,

    em anos completos, ao ingressar no Curso foi considerada como categrica e

    tambm como contnua, tanto para os alunos evadidos como para os no evadidos

  • 16

    do Curso. Ainda, a varivel forma de ingresso do aluno no Curso foi categorizada

    em:

    Categoria 1 = Vestibular

    Categoria 2 = Outros = {

    .

    Para estudos descritivos, a varivel forma de sada do aluno do Curso foi

    classificada em:

    Formatura

    Evaso

    {

    {

    .

    Foi considerada, ainda, a varivel situao do aluno em relao ao Curso de

    Estatstica da UFPR, que assume os seguintes status:

    Formado

    Evadido

    Cursando

    Com trancamento de matrcula.

    O Quadro C1 do Apndice C apresenta de forma global as descries das

    variveis obtidas do SIE da UFPR que foram utilizadas neste trabalho.

    3.2 MTODOS

    3.2.1 Caracterizao da evaso e do perfil dos alunos do Curso de Estatstica da

    UFPR

  • 17

    Para caracterizar a evaso e o perfil geral dos alunos do Curso de Estatstica

    da UFPR que ingressaram no perodo de 1991 a 2011, foram utilizados neste

    trabalho mtodos descritivos tais como: grficos de setores circulares, grficos de

    colunas, grficos de linhas, diagramas box-plots e, em alguns casos, tabelas de

    distribuio de frequncias, levando-se em considerao as variveis sexo, idade,

    forma de ingresso no Curso, forma de sada do Curso e situao do aluno em

    relao ao Curso. Essas descries permitiram um estudo comparativo dos alunos

    tomando-se por base a verso curricular sob a qual os alunos ingressaram.

    3.2.2 Tempo de permanncia dos alunos no Curso de Estatstica da UFPR

    3.2.2.1 Mtodos descritivos

    Para o estudo descritivo do tempo de permanncia dos alunos (evadidos e

    no evadidos, separadamente) do Curso de Estatstica da UFPR, com ingresso no

    perodo de 1991 a 2005, foram utilizadas tcnicas de Anlise de Sobrevivncia,

    como o estimador no-paramtrico de Kaplan-Meier e o teste logrank, no intuito de

    identificar possveis variveis (dentre as disponveis) associadas a esse tempo de

    permanncia. As variveis assim investigadas foram: o sexo, a idade ao ingressar

    no Curso, a forma de ingresso no Curso, o IRA, o nmero de reprovaes na

    disciplina CM007 e o nmero de reprovaes na disciplina CE204.

    A Anlise de Sobrevivncia (AS) consiste de tcnicas estatsticas para

    analisar dados em que a varivel resposta o tempo at a ocorrncia de um evento

    de interesse. O evento de interesse denominado falha e a varivel resposta tempo

    de falha ou tempo de sobrevivncia ou, ainda, tempo de vida.13 Por exemplo, tempo

    13

    Essas denominaes dependem da rea do conhecimento humano em que as tcnicas de AS so

    utilizadas. Em Confiabilidade comum falar em tempo de falha de um equipamento dando-se,

    portanto, nfase ao tempo anterior falha. J em Medicina comum falar em tempo de sobrevivncia

    ou tempo de vida de um paciente dando-se, portanto, nfase ao tempo posterior falha. Neste

    trabalho, como a varivel resposta o tempo de permanncia de alunos no Curso de Estatstica da

    UFPR, optou-se por manter ambas as denominaes: tempo de falha ou tempo de sobrevivncia,

    uma vez que a falha ora evaso ora formatura.

  • 18

    at a falha de um equipamento, a morte de um paciente, a formatura de certo aluno

    ou a evaso de certo aluno. A principal caracterstica dos dados em AS.

    (denominados dados de falha ou dados de sobrevivncia) a presena de censuras,

    que so informaes incompletas ou parciais da varivel resposta. As censuras

    podem ser decorrentes, dentre outras causas, da no ocorrncia do evento de

    interesse at o trmino do estudo ou da perda de acompanhamento do indivduo no

    decorrer do estudo. Assim, em AS, para caracterizar a varivel resposta tempo de

    falha (ou de sobrevivncia) os seguintes elementos precisam ser claramente

    definidos: o evento de interesse (a falha), a escala de medida do tempo de falha e o

    tempo inicial do estudo (COLOSIMO & GIOLO, 2006).

    Quanto s censuras, essas podem ser de diversos tipos (COLOSIMO &

    GIOLO, 2006). Neste trabalho, para avaliar o tempo de permanncia dos alunos

    evadidos e dos no evadidos do Curso de Estatstica da UFPR que ingressaram de

    1991 a 2005, as censuras so do tipo intervalar, as quais so caracterizadas quando

    os indivduos so observados em visitas peridicas (nesse caso semestralmente) e

    o evento de interesse acontece entre duas visitas consecutivas, fazendo com que o

    tempo de falha no seja conhecido exatamente. No entanto, pode-se afirmar que

    esse tempo de falha pertence a um intervalo , sendo o limite inferior e o

    limite superior do tempo de falha (COLOSIMO & GIOLO, 2006). No caso dos alunos

    investigados, no se sabe ao certo o momento que ocorreu a falha, adiante definida,

    pois os dados referentes situao do aluno no Curso so registrados no SIE da

    UFPR, usualmente, com periodicidade semestral. Ainda, no conjunto de alunos no

    evadidos do Curso tambm ocorreram censuras direita, ou seja, aquelas censuras

    caracterizadas quando os indivduos no experimentam o evento de interesse at o

    final da investigao.

    O estudo do tempo de permanncia dos alunos do Curso de Estatstica da

    UFPR que ingressaram de 1991 a 2005, foi realizado separadamente para alunos

    evadidos e no evadidos.14 No caso dos evadidos, o evento de interesse (a falha) foi

    definido como a sada do aluno do Curso por evaso, o tempo de falha foi definido

    como o tempo de permanncia do aluno no Curso (em semestres) at a ocorrncia

    14

    A tcnica de AS denominada frao de cura permite que o estudo sobre tempo de permanncia num curso seja feito sem separar evadidos de no evadidos. No entanto, essa tcnica foge ao escopo deste trabalho. Interessados na tcnica, ver Fonseca (2009) no qual apresentada a tcnica de frao de cura num contexto de evaso estudantil num curso universitrio.

  • 19

    da evaso e o tempo inicial foi definido como o ano de ingresso do aluno no Curso.

    J no caso dos alunos no evadidos, o evento de interesse (a falha) foi definido

    como a sada do aluno do Curso por formatura e, o tempo de falha, como o tempo

    de permanncia do aluno no Curso (em semestres) at a ocorrncia da formatura. O

    tempo inicial foi definido como o ano de ingresso do aluno no Curso.

    Para os alunos evadidos, no conjunto dos tempos de falha no houve

    censuras direita, pois a amostra constituiu-se exclusivamente dos 937 alunos

    evadidos, referentes s turmas de 1991 a 2005. Assim, no respectivo conjunto dos

    tempos de falha dos alunos evadidos, no havia indivduos sujeitos ao evento de

    interesse (evaso) e que no experimentaram tal evento at o trmino do estudo. J

    em relao aos alunos no evadidos, a amostra de 355 alunos foi constituda de

    alunos formados (342) e de alunos cursando ou com trancamento de matrcula (13).

    Assim, no respectivo conjunto dos tempos de falha dos alunos no evadidos, houve

    censuras direita, uma vez que os alunos que continuam matriculados no Curso de

    Estatstica da UFPR, ou que esto com trancamento de matrcula, ficaram sujeitos

    ao evento de interesse (formatura) no decorrer do estudo.15 Aqui decidiu-se por

    alocar esses 13 alunos que ainda esto vinculados ao Curso (cursando disciplinas

    ou com trancamento de matrcula) no grupo dos alunos sujeitos formatura e no

    no grupo dos sujeitos evaso, pois acredita-se que a persistncia deles os levar

    muito mais provavelmente formatura do que evaso.

    A seguir, sero apresentados a forma de representao de dados de falha (ou

    dados de sobrevivncia), a representao da varivel resposta tempo de falha (ou

    de sobrevivncia), o estimador no-paramtrico de Kaplan-Meier, bem como ser

    comentado sobre o teste logrank.

    15

    Mesmo que as informaes sobre o tempo de falha, contidas em dados censurados, sejam incompletas, elas devem ser incorporadas na anlise estatstica, uma vez que a omisso das censuras no clculo das estatsticas de interesse pode ocasionar concluses viciadas. Na presena de dados censurados, as tradicionais tcnicas estatsticas como mdias, varincias, histogramas, anlise de regresso, por exemplo, no so vlidas. Isso porque um tempo de falha censurado significa que o tempo de falha real do respectivo indivduo maior que o tempo registrado at seu ltimo acompanhamento. Dessa forma, na presena de censuras, as tcnicas de AS so as que possibilitam incorporar na anlise estatstica a informao, ainda que parcial, contida nos dados censurados (COLOSIMO & GIOLO, 2006).

  • 20

    a) A representao de dados de falha (ou de sobrevivncia) e a

    representao da varivel resposta tempo de falha (ou de sobrevivncia)

    Em AS, os dados referentes a certo indivduo da amostra so caracterizados

    pelo tempo de falha e pela varivel indicadora de falha ou censura , que

    assume os valores:

    {

    .

    Dessa forma, tem-se: para = 1, 2, ..., , sendo o tamanho da

    amostra. Quando um conjunto de covariveis, denotado por ... ),

    tambm medido em cada indivduo , os dados passam a ser representados por:

    para = 1, 2, ..., ,

    em que, por exemplo, Alm disso, no caso de se tratar

    de censura intervalar a representao dos dados feita como:

    para = 1, 2, ..., ,

    em que e so, respectivamente, os limites inferior e superior do intervalo

    observado para o -simo indivduo, sendo comum denominar tais dados por dados

    de sobrevivncia intervalar (COLOSIMO & GIOLO, 2006).

    A varivel aleatria no negativa , usualmente contnua, que representa a

    varivel resposta tempo de falha (ou de sobrevivncia) geralmente especificada

    em AS pela sua funo de sobrevivncia , pela sua funo de taxa de falha ou,

    ainda, pela funo de taxa de falha acumulada , definidas respectivamente por:

    ,

    |

    ,

    ,

  • 21

    em que denota a probabilidade de sobrevivncia ao tempo , e

    16

    Similarmente anlise descritiva para dados no censurados, em que se

    obtm medidas resumo para o conjunto de dados, tais como a mdia, a mediana, a

    varincia e o desvio padro, em AS usual calcular o tempo mdio de vida, a vida

    mdia residual, o tempo mediano, alguns percentis ou certas fraes de falhas em

    tempos fixos de acompanhamento, dentre outras medidas resumo (COLOSIMO &

    GIOLO, 2006). No caso do tempo mdio, esse dado pela rea sob a funo de

    sobrevivncia, isto :

    .

    b) O estimador no-paramtrico de Kaplan-Meier e o teste logrank

    Para um conjunto de dados em que h censuras, a funo de sobrevivncia

    o principal componente da anlise descritiva. Um dos estimadores para a funo de

    sobrevivncia o estimador no paramtrico de Kaplan-Meier, tambm denominado

    estimador limite-produto, proposto em 1958 por Kaplan e Meier (COLOSIMO &

    GIOLO, 2006). O estimador de Kaplan-Meier considera tantos intervalos de tempo

    quantos forem o nmero de falhas distintas e os limites dos intervalos de tempo so

    os tempos de falha da amostra. O estimador de Kaplan-Meier definido por

    (

    ) = (

    )

    16

    A funo taxa de falha tambm denominada funo de risco. Em AS, a partir da probabilidade de ocorrer a falha, pode-se determinar a funo de sobrevivncia no instante , e obter sendo uma varivel aleatria contnua. Conhecendo ento pelo menos uma das seguintes funes de , funo densidade de probabilidade , funo de distribuio de probabilidade , funo de sobrevivncia , funo de taxa de falha funo de taxa de falha

    acumulada pode-se determinar as outras. No caso da variabilidade de poder ser explicada por um conjunto de variveis aleatrias s, isto , por um vetor aleatrio de covariveis, expresso por , ento as funes e ficam condicionadas a , denotando-se

    por exemplo a probabilidade de ocorrer a falha por | | (COLOSIMO & GIOLO, 2006).

  • 22

    em que , so os tempos distintos e ordenados de falha, com

    , o nmero de falhas em , com = 1, 2, ..., , e o nmero de

    indivduos sob risco em , isto , aqueles que no falharam e no foram censurados

    at o instante imediatamente anterior a .

    A partir das estimativas ( ) pode-se construir uma curva, denominada curva

    de sobrevivncia de Kaplan-Meier (ou simplesmente curva de Kaplan-Meier) em que

    se mantm constante o valor de entre os tempos de falha. Essa curva assume a

    forma de escada decrescente em que . A partir da curva de Kaplan-Meier

    possvel obter estimativas de percentis, do tempo mediano de vida e do tempo

    mdio de vida (COLOSIMO & GIOLO, 2006).17

    Para comparar curvas de Kaplan-Meier referentes s categorias de uma

    mesma varivel, pode-se utilizar o teste estatstico logrank, cuja estatstica de teste

    segue uma distribuio Qui-quadrado sob a hiptese nula de que as curvas no

    diferem entre si. Segundo Colosimo e Giolo (2006), o teste logrank (proposto por

    Mantel, em 1966) o mais utilizado em AS e particularmente apropriado quando a

    razo das funes de risco das categorias a serem comparadas for

    aproximadamente constante, o que indica que as populaes representadas pelas

    curvas de sobrevivncia tm a propriedade de riscos proporcionais.

    3.2.2.2 Mtodos analticos

    Embora sejam ferramentas teis de anlise, as curvas de Kaplan-Meier

    apresentam limitaes quando se deseja compar-las levando-se em considerao

    diversas covariveis simultaneamente. Desse modo, modelos de regresso discretos

    foram considerados neste trabalho para estudar o tempo de permanncia dos alunos

    17

    O estimador de Kaplan-Meier possui propriedades estatsticas satisfatrias, tais como: no viciado para a funo de sobrevivncia em grandes amostras, fracamente consistente, converge assintoticamente para um processo gaussiano, estimador de mxima verossimilhana da funo de sobrevivncia. Quando comparado a outros estimadores da funo de sobrevivncia, tais como o estimador de Nelson-Aalen e a Tabela de Vida ou Atuarial, o estimador de Kaplan-Meier o mais indicado (COLOSIMO & GIOLO, 2006). Por esse motivo, optou-se aqui pelo estimador Kaplan-Meier.

  • 23

    do Curso de Estatstica da UFPR que ingressaram de 1991 a 2005. Tais modelos

    so descritos brevemente a seguir.

    Tendo em vista a ocorrncia de excesso de empates nos tempos de

    permanncia, em semestres, dos alunos evadidos e dos no evadidos, como

    mostrado nas Tabelas C1 e C2 do Apndice C, os dados aqui analisados configuram

    dados de sobrevivncia discretos, um caso especial de dados de sobrevivncia

    intervalar.18 Sendo assim, os modelos considerados foram: i) o modelo de regresso

    de riscos proporcionais de Cox e ii) o modelo de regresso de chances

    proporcionais (ou modelo logstico), ambos no contexto de dados de sobrevivncia

    discretos (ou, dados de sobrevivncia intervalar com excesso de empates). As

    covariveis consideradas em ambos os modelos foram: o IRA, o sexo, a idade ao

    ingressar no Curso, o nmero de reprovaes na disciplina CM007, o nmero de

    reprovaes na disciplina CE204 e a forma de ingresso no Curso. Para seleo das

    covariveis significativas foi utilizado o procedimento de seleo backward (passo

    atrs).19 As variveis IRA e idade ao ingressar no Curso foram consideradas tanto

    na forma categorizada como na forma contnua.

    Na sequencia sero apresentados a funo de sobrevivncia no contexto de

    dados de sobrevivncia discretos e os modelos de regresso citados.

    a) A funo de sobrevivncia no contexto de dados de sobrevivncia discretos

    e os modelos de riscos proporcionais de Cox e de chances proporcionais

    Considere que os tempos de falha (ou de sobrevivncia) so grupados em

    intervalos denotados por:

    18

    Sobre a definio do que vem a ser excesso de empates, ver Colosimo e Giolo (2006), mas em suma quando a proporo de empates maior que 25%. A presena de empates em dados de sobrevivncia intervalar tida como o resultado de medidas imprecisas, uma vez que, na conduo do estudo de sobrevivncia intervalar, se os indivduos fossem observados em intervalos menores de tempo, o nmero de empates poderia ser mnimo ou at mesmo inexistente, e tcnicas estatsticas mais precisas e menos aproximadas poderiam ser ento utilizadas (COLOSIMO & GIOLO, 2006).

    19 Sobre procedimentos de insero de covariveis em modelos de regresso, ver Charnet et al.

    (2008).

  • 24

    [ ,

    em que . Assumindo que as censuras ocorrem no final do

    intervalo, a probabilidade ( ) do -simo indivduo falhar no intervalo

    [ , sabendo que ele estava sujeito falha no instante e conhecendo

    tambm os valores das covariveis , expressa por:

    ( ) [ | ,

    em que =( o vetor das covariveis observadas no -simo

    indivduo e ( ) ( ) a probabilidade do -simo indivduo sobreviver

    ao intervalo [ De outra forma:

    | ( ) ( ) [

    Assumindo a pressuposio de riscos proporcionais20, essa probabilidade

    de um indivduo sobreviver ao tempo t , com [ pode ser

    estimada por meio do modelo de regresso de Cox, no contexto de dados de

    sobrevivncia discretos, conforme a expresso (1) a seguir.

    | { |

    } [

    , (1),

    para [ sendo denominada funo de sobrevivncia de base

    no instante Ento, a partir de (1) e de | ( ), segue que:

    ( )

    , (2)

    em que ( )

    ( ), com [ e

    Linearizando (2) por meio da transformao complemento log-log, tem-se:

    20

    Essa pressuposio verificada por meio dos grficos das funes de taxa de falha acumuladas

    (ou funes de riscos acumulados) e, de forma mais simples, por meio do no cruzamento das curvas

    de Kaplan-Meier.

  • 25

    [ ( )]

    , (3)

    em que = [ ) o efeito do intervalo de tempo e o preditor

    linear, para e , sendo o tamanho da amostra.

    A partir de

    e de

    = [ segue que:

    .

    De onde vem:

    pois

    ,

    e } }.

    Por meio de um processo iterativo aplicado na funo de verossimilhana

    parcial associada ao modelo (3) pode-se estimar os parmetros , componentes

    do vetor (COLOSIMO & GIOLO, 2006). Substituindo-se tais estimativas na

    expresso (1), ento as estimativas para | podem ser obtidas por:

    | [ | ]

    , (4)

    para [ .

    Por outro lado, se for assumida a pressuposio de chances proporcionais,

    ento, sob o modelo de regresso de chances proporcionais para dados de

    sobrevivncia discretos (ou modelo logstico para esse tipo de dados), as

    probabilidades de falha e de sobrevivncia podem ser modeladas,

    respectivamente, de acordo com as expresses (5) e (6).

  • 26

    ( )

    , (5)

    | = ( ) ( )

    , [ (6)

    em que

    , para , ( ) | com

    [ e ( ) ( ) [ | = .

    Linearizando (5) por meio de uma transformao logito, tem-se:

    [

    ]

    , (7)

    sendo o efeito do intervalo de tempo . A razo

    usualmente

    denominada chance.

    Por meio de um processo iterativo aplicado na funo de verossimilhana

    associada ao modelo (7), pode-se estimar os parmetros , componentes do vetor

    . Substituindo-se tais estimativas na expresso (6), obtm-se ento as estimativas:

    | ( )

    , (8)

    com [ , ou, de forma equivalente,

    [

    ]

    , (9)

    em que ( ) .

  • 27

    b) Adequao dos modelos de regresso discretos

    Quanto verificao da adequao de ambos os modelos apresentados (o de

    Cox e o logstico, para dados de sobrevivncia discretos) no foram encontradas

    tcnicas estatsticas propostas na literatura para essa finalidade. Isso porque a

    definio usual de resduos no direta para esses modelos, pois a modelagem

    feita sobre uma funo da varivel resposta, tal como a funo de sobrevivncia ou

    a funo de risco.

    Embora estudos adicionais sejam necessrios nesse sentido, foi adotada,

    neste trabalho, uma forma exploratria de verificao da qualidade de ajuste dos

    modelos considerados, que consistiu em comparar as respectivas curvas de

    sobrevivncia obtidas pelo estimador de Kaplan-Meier e pelo correspondente

    modelo ajustado para alguns subconjuntos de alunos do respectivo universo sob

    estudo (evadidos ou no evadidos). Os subconjuntos considerados foram aqueles

    que, de acordo com as combinaes das categorias das covariveis que

    permaneceram no modelo, apresentaram tamanho amostral razovel para obteno

    das curvas mencionadas. Indicaes grficas de ajuste satisfatrio do modelo

    ajustado so encontradas quando, para cada subconjunto considerado, a curva

    obtida pelo modelo ajustado se apresente prxima daquela obtida pelo estimador de

    Kaplan-Meier.

  • 28

    4 RESULTADOS E DISCUSSO

    Neste captulo apresentado um estudo descritivo comparativo sobre as

    caractersticas gerais dos alunos do Curso de Estatstica da UFPR que ingressaram no

    perodo de 1991 a 2011, levando-se em conta o currculo, o sexo, a idade ao ingressar

    no Curso, a situao atual no Curso e a forma de ingresso no Curso. Tambm

    realizada uma discusso sobre a evaso no Curso e o Processo de Seleo

    Estendido (PSE), bem como apresentado um estudo descritivo e analtico sobre o

    tempo de permanncia dos alunos evadidos e dos no evadidos do Curso de

    Estatstica da UFPR que ingressaram no perodo de 1991 a 2005.

    4.1 CARACTERISTICAS GERAIS DOS ALUNOS DO CURSO DE ESTATSTICA DA

    UFPR QUE INGRESSARAM NO PERODO DE 1991 A 2011

    No perodo de 1991 a 2011, um total de 1651 alunos ingressaram no Curso de

    Estatstica da UFPR, sendo 1292 no perodo de 1991 a 2005 e 359 no perodo de

    2006 a 2011. Nesta seo, os alunos das turmas de 1991 a 2005 so caracterizados

    por Currculo 1991 e os das turmas de 2006 a 2011 so caracterizados por Currculo

    2006/2011. A turma de 2011 foi agrupada com as de 2006 a 2010, pois, ainda que a

    turma de 2011 tenha entrado sob uma verso curricular diferente daquela utilizada

    para as turmas de 2006 a 2010, acredita-se que at dezembro de 2011, perodo de

    finalizao deste trabalho, os 49 alunos da turma de 2011 no experimentaram ainda

    as consequncias da mudana curricular.21

    Quanto varivel sexo, a Figura 1 mostra que os percentuais de mulheres e de

    homens que ingressaram no Curso de Estatstica da UFPR se alteraram um pouco

    quando comparados os perodos 1991 a 2005 e 2006 a 2011, uma vez que houve um

    ligeiro aumento relativo de mulheres (de 36,1% para 39,6%) e, consequentemente, um

    ligeiro decrscimo relativo de homens (de 63,9% para 60,4%). No entanto, no

    momento do ingresso, o Curso continua tendo um perfil predominantemente

    21

    Ver Tabela B1 do Anexo B.

  • 29

    masculino, uma vez que a quantidade de homens quase o dobro da de mulheres.

    Mas, no momento da formatura, a proporo de homens e de mulheres tende a se

    equilibrar, como pode ser observado na Figura 2.

    (a) (b)

    Figura 1 - Alunos do Curso de Estatstica da UFPR, que ingressaram de 1991 a 2005

    (grfico a) e de 2006 a 2011 (grfico b), segundo o sexo Curitiba -

    Dezembro/2011 Fonte: Os autores, com base no Sistema de Informaes para o Ensino (SIE) da UFPR Nota: O total de alunos ingressos no perodo de 1991 a 2005 1292 e no perodo de 2006 a 2011

    359.

    (a) (b)

    Figura 2 - Alunos formados do Curso de Estatstica da UFPR, que ingressaram de

    1991 a 2005 (grfico a) e de 2006 a 2008 (grfico b), segundo o sexo

    Curitiba - Dezembro/2011 Fonte: Os autores, com base no Sistema de Informaes para o Ensino (SIE) da UFPR Nota: O total de alunos formados no perodo de 1991 a 2005 342, de um total de 1292 ingressos. J

    no perodo de 2006 a 2008, o total de formados 48 de um total de 179 ingressos. No h alunos

    formados referentes s turmas que ingressaram aps 2008 por no ter havido tempo suficiente

    para concluso do Curso.

    Feminino 36,1%

    Masculino 63,9%

    1991-2005

    Feminino 39,6%

    Masculino 60,4%

    2006-2011

    Feminino 44,2%

    Masculino 55,8%

    Feminino 47,9%

    Masculino 52,1%

    2006-2008 1991-2005

  • 30

    Quanto varivel idade, em anos completos, do aluno ao ingressar no Curso de

    Estatstica da UFPR, a Figura 3 mostra que de ano para ano h mudanas na

    variabilidade das idades, havendo um nmero considervel de pessoas com mais de

    30 anos ingressando no Curso. At 2006 aproximadamente a metade dos alunos

    ingressos no Curso tinham 20 anos ou mais, ou seja, a idade mediana foi maior do que

    20 anos na maioria das turmas de 1991 a 2005. No entanto, aps 2007, a tendncia

    da idade mediana (abaixo de 20 anos) indica que esto entrando alunos mais jovens

    no Curso, embora continue tendo um nmero considervel de ingressos com mais de

    30 anos, talvez porque o Curso seja oferecido no perodo noturno.

    Uma caracterstica diferente das turmas de 2006 a 2011 em relao s turmas

    de 1991 a 2005 que a maioria dos alunos das turmas de 2006 a 2011 submeteu-se

    ao PSE para ingressar no Curso de Estatstica da UFPR. O PSE, Processo de Seleo

    Estendido, um processo de ingresso de alunos por vestibular, composto de trs

    fases, que vem sendo adotado pelo Curso de Estatstica da UFPR desde o incio de

    2006. Antes de 2006, os alunos que ingressavam no Curso de Estatstica da UFPR por

    vestibular deveriam ser aprovados em duas fases: uma prova de conhecimentos

    gerais e uma prova de redao. Com a implantao do PSE, uma terceira fase foi

    adicionada ao vestibular do Curso de Estatstica da UFPR. Essa fase consiste na

    obrigatoriedade do aluno ser aprovado em duas disciplinas bsicas (Elementos

    Bsicos para Estatstica e Estatstica Descritiva e Exploratria) ministradas durante um

    semestre, sendo que so admitidos para essa terceira fase no mximo 165 alunos, o

    que corresponde a 2,5 vezes o nmero de vagas ofertadas, que de 66 atualmente.

    Desses 165 alunos, no mximo 66 ingressaro regularmente no Curso de Estatstica

    da UFPR. O PSE foi adotado pelo Curso de Estatstica da UFPR com o objetivo

    principal de reduzir os percentuais de evaso, sendo que juntamente com o PSE uma

    mudana curricular tambm foi implantada no Curso de Estatstica da UFPR no incio

    de 2006. Por esse motivo, optou-se, neste trabalho, por dois agrupamentos: os alunos

    das turmas de 1991 a 2005 (antes PSE) e alunos das turmas de 2006 a 2011 (ps

    PSE).

  • 31

    (a) (b)

    Figura 3 - Alunos do Curso de Estatstica da UFPR, que ingressaram de 1991 a 2011, segundo a idade ao ingressar no Curso, em

    anos completos Curitiba - Dezembro/2011

    Fonte: Os autores, com base no Sistema de Informaes para o Ensino (SIE) da UFPR.

  • 32

    4.2 A EVASO NO CURSO DE ESTATSTICA DA UFPR E O PROCESSO DE

    SELEO ESTENDIDO (PSE)

    A evaso no Curso de Estatstica da UFPR, dos alunos que ingressaram no

    perodo de 1991 a 2011, avaliada aqui por meio das Figuras 4 a 12 e da Tabela 1,

    apresentadas na sequncia. A Figura 4 mostra que dos 1292 alunos ingressantes no

    perodo de 1991 a 2005 apenas 342 (26,5%) conseguiram se formar, estando 937

    evadidos (72,5%) e 13 (1%) vinculados ao Curso, seja cursando disciplinas (0,85%)

    ou com trancamento de matrcula (0,15%). J em relao aos 359 ingressantes de

    2006 a 2011 (Figura 5), 13,4% formaram-se at dezembro de 2011, 29,0% esto

    evadidos e 57,7% deles continuam vinculados ao Curso de Estatstica da UFPR,

    sejam cursando disciplinas (55,5%) ou com trancamento de matrcula (2,2%). Dos

    359 ingressantes, 180 deles (turmas 2009 a 2011) no tiveram ainda tempo de

    integralizao curricular recomendado suficiente para se formar. No entanto, os 179

    restantes (turmas 2006 a 2008) j cumpriram o tempo recomendado de

    integralizao curricular, isto , houve tempo suficiente para se formar, sendo que 48

    deles formaram-se (26,8%), 79 j esto evadidos (44,1%) e 52 continuam vinculados

    ao Curso (29,0%), como pode ser visto na Figura 7.

    Em relao ao perodo de 1991 a 2005, os preocupantes ndices de evaso

    no sofreram modificaes substanciais em relao aos apurados pela Comisso

    Especial de Estudos sobre a Evaso nas Universidades Pblicas Brasileiras em

    1995, e que teve por base as turmas ingressantes de 1985 a 1987 (ver Tabela A2,

    Apndice A). Naquele contexto de meados da dcada de 1990, os percentuais de

    diplomao recomendados pela Comisso Especial como metas para os cursos de

    graduao da sub-rea de Probabilidade e Estatstica estavam na faixa de 33% a

    53%, tendo sido consideradas como referenciais de bom desempenho quanto

    evaso as universidades UERJ, UNESP e UFRN, que se encontravam no topo da

    Tabela A2 do Apndice A. J em relao ao perodo de 2006 a 2011, se tomar como

    referncia de anlise as turmas de 2006 a 2008, pois esses alunos tiveram

    condies recomendadas de tempo para se formar, os ndices de formatura

    parecem ter sofrido modificaes significativas, uma vez que muito provavelmente

    ultrapassaro os ndices de formados do perodo de 1991 a 2005 (26,5%). Essa

  • 33

    (a) (b)

    Figura 4 - Alunos do Curso de Estatstica da UFPR, que ingressaram de 1991 a 2005, segundo a situao em relao ao Curso e o sexo Curitiba - Dezembro/2011

    Fonte: Os autores, com base no Sistema de Informaes para o Ensino (SIE) da UFPR. Nota: Nesse perodo, h apenas 2 alunos com trancamento de matrcula e pertencem a turma ingressante em 2004. O total de ingressos de 1991 a 2005 foi

    de 1292 alunos.

    Evadidos 72,5%

    Formados 26,5%

    Cursando/

    trancamento 1,0%

    Total deingressos

    Evadidos FormadosCursando/tranca

    mento

    Feminino 467 310 151 6

    Masculino 825 627 191 7

    63,9%

    67,0%

    55,9%

    36,1%

    33,0%

    44,1%

    0

    200

    400

    600

    800

    1000

    1200

    1400

    N

    de

    alu

    no

    s

    342 (26,5%)

    937 (72,5%)

    13 (1,0%)

    1292 (100%)

  • 34

    (a) (b)

    Figura 5 - Alunos do Curso de Estatstica da UFPR, que ingressaram de 2006 a 2011, segundo a situao em relao ao Curso e

    o sexo Curitiba - Dezembro/2011

    Fonte: Os autores, com base no Sistema de Informaes para o Ensino (SIE) da UFPR.

    Nota: O total de alunos ingressantes no perodo foi de 359 alunos, sendo que h 8 alunos com trancamento de matrcula.

    Evadidos 29,0%

    Formados 13,4%

    Cursando/ trancamento

    57,7%

    Total deingressos

    Evadidos FormadosCursando/tran

    camento

    Feminino 142 37 23 82

    Masculino 217 67 25 125

    60,4%

    64,4% 52,1%

    60,4%

    39,6%

    35,6%

    47,9%

    39,6%

    0

    50

    100

    150

    200

    250

    300

    350

    400

    N

    de

    alu

    no

    s

    104 (29,0%)

    48 (13,4%)

    207 (57,7%)

    359 (100%)

  • 35

    suposio razovel porque, das turmas de 2006 a 2008, parte dos que cont