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Ano III – número 28 – março e abril 2010 1 http://sisejufe.org.br

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Ano III – número 28 – março e abril 2010 3http://sisejufe.org.br

Í N D I C E

Cartas dos Leitores

Vitória do Sisejufe contra cobrança doimposto sindical; decepção com o PCS; vi-olência contra a mulher; e uma enormeerrata da edição passada.

Congelamento

Servidores protestam de diversas cate-gorias do funcionalismo público se mo-bilizam e protestam contra o projeto delei que congela os salários.

Revisão Salarial

PL 6613 está na pauta da CTPAS no fimde abril. Categoria no Rio indicou grevepara 6 de maio.

Núcleos do Sisejufe

As últimas informações pertinentes aosdiversos núcleos temáticos do sindicato.

Páginas 22 e 23

Humor

Nosso colaborador, Fulgêncio, satirizaalguns acontecimentos do Congresso daFenajufe.

7º Congrejufe

O Sisejufe compartilha com a categoriano Rio, os manifestos políticos de sua cha-pa nacional durante o Congresso da Fe-najufe em Fortaleza.

Congrejufe

Sindicato se fortalece na coordenaçãoda Fenajufe.

Entrevista

Um rápido bate-papo com Valter Noguei-ra Alves, do Sisejufe, e Iracema Pompermayer,do Sinpofusfes (ES), eleitos coordenadoresexecutivos da Fenajufe.

Oficina Literária

A técnica judiciária Mariana Mello deMedeiros reflete sobre a ditadura da ba-lança.Cultura

O cantor e compositor Lucio Sanfilippofala da comunidade da Serrinha.

Página 13

Mulheres

Rosane Silva, secretária nacional da Mu-lher Trababalhadora da CUT Nacional, acom-panhou a 3ª Ação Internacional da MarchaMundial das Mulheres, em São Paulo.

Páginas 14 e 15

Celibato e Pedofilia

O teólogo Leonardo Boff comenta a situa-ção da Igreja Católica com os escândalos depedofilia.

Formação Política

Ideias em Revista reproduz trechos daaula inaugural de Emir Sader no cursode Formação Política da CUT Rio, que teveo apoio do Sisejufe.

Página Central

Royalties

Nosso repórter Max Leone investiga asdiferenças fundamentais de abordagemsobre a questão dos royalties do pretró-leo que não aparecem no debate político.

Páginas 26 e 27

Caos Urbano

Reportagem de nossa colaboradoraTatiana Lima estabelece nexos entre a tra-gédia das chuvas e a falta de planejamen-to urbano no Rio de Janeiro.

Latuff

O olhar de nosso cartunista sobre a si-tuação do Rio de Janeiro depois do caosdo mês de abril.

Página 38

Futebol Social

Max Leone antecipa: Rio sediará cam-peonato mundial de excluídos, em setem-bro.

Páginas 30 e 31

Páginas 34 a 37

Movimento Sindical

CUT amplia lidença sobre as demais cen-trais sindicais brasileiras, mostra estudo.

Página 16

Página 5

Página 4

Página 6

Página 7

Páginas 8 e 9

Convenção 151 da OIT

Congresso aprova regulamentação dasrelações de trabalho no serviço público.

Página 17

Página 12

Página 11

Página 10

Páginas 18 e 19

Nacional

O jornalista Vinicius Souza, nosso cola-borador de São Paulo, mostra a que agrande mídia cada vez mais se afirmacomo a principal oposição ao governofederal.

Páginas 24 e 25

Oficiais de Justiça

Num texto de Roberto Ponciano, apósconversas diretores que são oficiais dejustiça, uma relação da situação atual dosegmento com a mitologia grega. Os He-catonquiros tinham cem braços, 50 olhose podiam mover montanhas.

Páginas 28 e 29

Justiça Federal

CJF aprova, enfim, a criação das 230novas varas federais

Página 32

Meio Ambiente

SJRJ lança campanha contra o uso dedescartáveis

Página 33

4 Ano III – número 28 – março e abril 2010http://sisejufe.org.br

Cartas dos leitoresVitória contraa cobrança do

imposto sindical

Fiquei muito decepcionadacom este novo PCS. Mais uma vezo sindicato trabalhou apenaspara os oficiais e analistas. Agrande massa, a dos técnicosjudiciários, que fazem o mesmotrabalho dos analistas ficaram delado. Francamente me recuso afazer mobilização por uma pro-posta que desqualifica um nú-mero imenso de servidores dojudiciários. A diferença salarialentre os dois cargos é um ocea-no. Com as emendas estão cri-ando privilégios apenas para osanalistas e oficiais. Enquantoisto, o técnico rala e assume ta-refas complexas.

Mônica Araújo – TRE

Resposta

Mônica, há um equívoco. Primeiro,

nem o Sisejufe nem a Fenajufe fizeram

quaisquer emendas e somos contra as

emendas. Segundo, o PCS prevê um au-

mento isonômico de 54,6% para todos os

cargos.

Um abraço,

Roberto Ponciano

Técnico Judiciário

Diretor do Sisejufe

O estado do Rio de Janeiro,ainda esá longe de se recuperardas mortes e perdas decorren-tes das chuvas, engrossa maisuma triste estatística: a da vio-lência contra a mulher. Só no dia16 de abril, por exemplo, foramnoticiados três casos de violên-cia contra a mulher ocorridosrecentemente: Orestina Soares,de 53 anos, foi morta a pedra-das por seu namorado, em Du-que de Caxias; em Santa Cruz,foi preso o ex-marido de Antô-nia Eliane Farias, que em novem-bro do ano passado a torturoucom mais de 30 facadas pelocorpo, principalmente nas per-nas, ainda hoje em consequên-cia dessa violência Antônia usapróteses e só anda com a ajudade muletas; Dayana Alves da Sil-va, 24 anos, que teve 50% de seucorpo queimado após ser incen-diada por seu ex-marido en-

Nosso sindicato demonstramais uma vez que se fortalece amedida de sua atuação inteli-gente e de seriedade; sinto-mefeliz e orgulhosa por todas asconquistas do meu sindicato. Atodos que lutam por ideal maiore que estão na vanguarda destaentidade, os meus bons votos de“uma sucessão sucessiva de su-cessos”. Mui grata,

Heroisa Ferreira Góes

Analista Aposentada – JF

Gostaria de parabenizar o Sise-jufe e Departamento Jurídico peloexcelente desempenho na açãoreferente ao desconto sindical dosfiliados. Cordiais saudações,

Isaac Leonardo Carriço

Técnico Judiciário – TRF2

Decepção com PCS

Embora eu não receba umcentavo do sindicato, no máxi-mo um convite para beber atécair no Botequim do Sisejufe,sinto-me parte do corpo edi-torial de Ideias. É com este es-pírito de porco, digo, de cor-po, que trago as necessáriaserratas da entrevista com ocantor e compositor LúcioSanfilippo, publicada na ediçãopassada – já que acompanheipessoalmente a reportagem. Ojongo, ritmo, dança e músicade onde surge o samba vemdas fazendas de café e não dafarinha de café – como publi-cado. O cantor, na entrevista,afirmou que “as pessoas” daSerrinha sabem suas músicasde cor e não a “Tia Maria”, oc-togenária do jongo – comopublicado. Não foi o Nestor, fi-gura mitológica do samba deNoel, que teve a ideia de fazero “Coisa da Antiga”, mas sim oLefê, figurinha carimbada dasrodas de samba da Lapa. Namatéria, trocaram também o

nome da Iá Nitinha por “Aniniti-nha” – aliteração que só podeter surgido da gagueira de al-guém daí da redação. A naçãonegra que veio da África é Ioru-bá (ou Yorubá), jamais Orubá.Caro diretor de imprensa, edi-tor e repórter, o nome do discodo Lúcio Sanfilippo, que com-prei e adoro, é “Canção de amorao Léo”, filho dele, tricolor, queconheço e é gente muito boa.Não “Canção de amor ao léu” (!).E tem mais, infelizmente. A floré a parte reprodutora da planta,não a parte condutora. E paraconcluir, corrijo – com a ajudade e-mail do próprio Lúcio – osnomes das amigas Vanda Frei-tas e Rita País; e dos cantoresMoyséis Marques, Makley Matose Nuno Neto. Escrevo esta Cartado Leitor para que possamos nosdesculpar com os leitores e como Lúcio e rir um pouco das fa-lhas (surreais) que cometemosno corre-corre dos fechamen-tos de edição. Afinal, herrar éumano.

Fulgêncio Pedra Branca

Colaborador de Ideias

Nota da Redação

Agradecemos as erratas.Reafirmamos a disposiçãode sempre buscar e publi-car a informação correta.Devemos registrar tambémque após a última edição,em que Fulgêncio colabo-rou com um artigo satíricoe comemorativo do título deCampeão Brasileiro, con-quistado pelo Flamengo, re-cebemos e-mails dos servi-dores Andréia de Souza,Manuel Henrique e FabianeSilva – todos com críticasseveras quanto ao uso do es-paço para tratar de taltema. Acolhemos humilde-mente as críticas, mas pon-deramos que os artigos da“entidade” Fulgêncio sãohumorísticos e servem derespiradouro à importantepauta sindical. Fica o convi-te para que as sugestões,opiniões e críticas não ces-sem. Nossa imprensa é feitapara e pelos leitores do Ju-diciário Federal no Rio deJaneiro. Participem!

Herrar é Umano

[email protected]

Violência contra a mulher: mais do que uma triste estatísticaquanto trabalhava numa pada-ria no Engenho de Dentro, mor-reu depois de ficar dois mesesinternada. Isto ocorreu mesmoapós a jovem já ter registradotrês ocorrências contra o ex-marido na DEAM, inclusive nodia anterior ao crime, sem quenenhuma providência fosse to-mada. No Brasil, as agressõescontra as mulheres ocorrem acada 15 segundos e os compa-nheiros são responsáveis porquase 70% dos assassinatos demulheres.

Apesar dos avanços obtidoscom a aprovação da Lei Mariada Penha que torna crime a vio-lência contra a mulher, não es-taremos seguras enquanto tiver-mos uma cultura que legitima aposse e o domínio do homemsobre a mulher, relações hierar-quizadas, onde os homens

subjugam as mulheres a todasas suas vontades, usando mui-tas vezes a violência como for-ma de demonstrar seu poder.Também não estaremos segurasenquanto a Lei Maria da Penhanão for aplicada sem exceções;enquanto não tiverem delegaci-as de mulheres e casas-abrigosuficientes para atender as mu-lheres vítimas de violência; en-quanto não tivermos profissio-nais capacitadas(os) para aten-der as mulheres vítimas de vio-lência, enquanto o Estado nãofor capaz de garantir a seguran-ça das mulheres que tentamromper o ciclo de violência.

Casa da Mulher Trabalhadora

Rua da Lapa, 180 sala 806

Centro – Rio

(21) 2544 0808

camtra.org.br

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SEDE: Avenida Presidente Vargas 509, 11º andar – Centro – Rio de Janeiro-RJ – CEP 20071-003TEL./FAX: (21) 2215-2443 – PORTAL: http://sisejufe.org.brENDEREÇO ELETRÔNICO: [email protected]

Impresso em

Papel Reciclato

Filiado à Fenajufe e à CUT

DIRETORIA: Angelo Canzi Neto, Dulavim de Oliveira Lima Júnior, João Ronaldo Mac-Cormick da Costa, João Souza da Cunha, José Fonseca dos Santos, LeonardoMendes Peres, Lucilene Lima Araújo de Jesus, Marcelo Costa Neres, Marcio Loureiro Cotta, Marcos André Leite Pereira, Maria Cristina de Paiva Ribeiro, Mariana Ornelasde Araújo Goes Liria, Moisés Santos Leite, Nilton Alves Pinheiro, Og Carramilo Barbosa, Otton Cid da Conceição, Renato Gonçalves da Silva, Ricardo de AzevedoSoares, Roberto Ponciano Gomes de Souza Júnior, Valter Nogueira Alves, Vera Lúcia Pinheiro dos Santos e Willians Faustino de Alvarenga.ASSESSORIA POLÍTICA: Márcia Bauer.

IDEIAS EM REVISTA – REDAÇÃO: Henri Figueiredo (MTb 3953/RS) – Max Leone (MTb RJ 19002/JP) – EDIÇÃO: Henri Figueiredo – ESTAGIÁRIA: Tatiana LimaDIAGRAMAÇÃO: Deisedóris de Carvalho – ILUSTRAÇÃO: Latuff – FOTO DA CAPA: arte de Deisedóris de Carvalho sobre fotografia de Thiago Carminati/Favela em FocoCONSELHO EDITORIAL: Roberto Ponciano, Henri Figueiredo, Max Leone, Márcia Bauer, Valter Nogueira Alves, Nilton PinheiroIMPRESSÃO: Gráfica e Editora Minister (8,6 mil exemplares)

As matérias assinadas são de responsabilidade exclusiva dos autores. As cartas de leitor estão sujeitas a edição por questões de espaço.Demais colaborações devem ser enviadas em até 2 mil caracteres e a publicação está sujeita a aprovação do Conselho Editorial. Todos ostextos podem ser reproduzidos desde que citada a fonte.

Congrejufe Chapa integrada pelo Sisejufe elege coordenador-geral e dois executivos

Sindicato se fortalece na coordenação da FenajufeFoto: Henri Figueiredo

A chapa “A Fenajufe Pode Mais” –formada pelo Sisejufe e pelos Cole-tivos Viva Voz do Rio Grande do Sul eda Bahia, além de militantes da CUTSocialista e Democrática (CSD) eoutros militantes, como os do Espí-rito Santo – obteve 96 votos e levouum membro para a coordenação-ge-ral da Fenajufe além de dois outrosintegrantes para a coordenação exe-cutiva. A chapa A Fenajufe Pode Mais

também elegeu um suplente na co-ordenação executiva e uma suplen-te no Conselho Fiscal. A chapa indi-cou para coordenador-geral José (Zé)Carlos Oliveira (RS). Como coordena-dores executivos foram indicadosValter Nogueira Alves, diretor doSisejufe, e Iracema Pompermayer(ES). Na suplência da coordenaçãoexecutiva está Cláudio Azevedo(RS). A coordenadora do Departa-mento Jurídico do Sisejufe, Vera Lú-cia Pinheiro dos Santos, é a terceirasuplente do Conselho Fiscal. Para oConselho Fiscal, concorreram 19delegados presentes no 7° Congre-jufe, sendo eleitos três titulares etrês suplentes. O diretor do SisejufeJoão Mac-Cormick foi o representan-te da chapa na Comissão Eleitoral.

Os novos integrantes da Executi-va e do Conselho Fiscal da Fenajufetomaram posse na noite de 31 demarço, encerrando os trabalhos noquinto dia do 7º Congrejufe, em For-taleza. Foram registrados, em urnaseletrônicas, 476 votos válidos dividi-dos entre as quatro chapas concor-rentes. Pelo fato de a composição dadiretoria da Fenajufe ser pelo crité-rio da proporcionalidade qualificada,todas as chapas estão representadasna federação. Além do gaúcho Zé

Carlos Oliveira (RS), integram a co-ordenação-geral Roberto Policarpo(DF) e Saulo Arcangeli (MA). A coor-denação de Administração e Finan-ças é de Ramiro López (RS) e GérnerGomes (RO).

A chapa “Unidade para vencer”teve 186 votos e emplacou sete co-ordenadores titulares e dois suplen-tes. A “Luta Fenajufe”, com 124 vo-tos, tem direito a quatro coordena-dores titulares e três suplentes. Achapa “Renovação”, com 69 votos,está representada por três titularese um suplente. Entre os titulares da“Renovação” está o oficial de justiçado TRT da 1ª Região Denis Lopez deSouza.

Nos discursos de posse, os novoscoordenadores da Fenajufe destaca-ram que naquele momento se des-montavam os palanques e o trabalhopassava a ser conjunto, em unidade,e na defesa de todos os segmentosprofissionais do Judiciário Federal eMinistério Público da União. Para odiretor do Sintrajufe (RS) e coorde-

nador da Fenajufe pelo segundo man-dato, Zé Oliveira, da chapa A Fenaju-fe Pode Mais, o debate realizadodurante o Congresso dará condiçõesde avançar na gestão da entidade. “Épreciso barrar o PLP 549/09, mobili-zar na luta pela aprovação do PCS eelaborar o Plano de Carreira. A cate-goria espera que se intensifique aluta”, avalia Zé, agora assumindo oposto de coordenador-geral.

Fenajufe fica na CUT, dizem 68%

Na noite da terça-feira, 30 de mar-ço, com um plenário lotado no PraiaCentro Hotel, em Fortaleza, os con-gressistas decidiram que a Fenajufedeve se manter filiada à Central Úni-ca dos Trabalhadores – como é des-de a sua fundação, em 1992. Foram274 votos a favor da permanência daFederação junto à CUT contra 130 degrupos que defendiam a desfiliação(ou 32% dos votos válidos). Houve 4abstenções. O número total de dele-gados (credenciados a votar) foi de489 congressistas.

Aliança sobre propostas: Zé Oliveira, Iracema Pompermayer, Ana Naiara(no alto), Claudio Azevedo e Valter Nogueira Alves (Sisejufe)

6 Ano III – número 28 – março e abril 2010http://sisejufe.org.br

Fotos: Henri Figueiredo

Congelamento

Servidores de várias categori-

as do funcionalismo público fe-

deral se reuniram no início da

tarde de do dia 15 de abril em

ato público no auditório Nereu

Ramos, da Câmara dos Deputa-

dos, para protestar contra o Pro-

jeto de Lei Complementar 549/

2009, que limita os salários e os

gastos com pessoal até 2019.

Antes disso, mais de 2 mil servi-

dores de vários estados do país

realizaram manifestação, que

teve início às 9 horas na Cate-

dral Metropolitana de Brasília.

De lá, os manifestantes saíram

em passeata e passaram em fren-

te ao Ministério do Planejamen-

to, onde realizaram um ato pú-

blico com intervenções de diri-

gentes da CUT nacional, da Con-

lutas (Coordenação Nacional de

Lutas) da CTB (Central dos Tra-

balhadores do Brasil) e de várias

entidades nacionais dos servido-

res, entre as quais a Fenajufe,

representada pelo coordenador

geral Saulo Arcangeli.

Além dele, outros coordena-

dores da Federação, represen-

tantes de alguns sindicatos de

base e dirigentes das entidades

que compõem a Frente Nacio-

nal contra o PLP 549 participa-

ram da manifestação na Espla-

nada dos Ministérios e também

do ato na Câmara dos Deputa-

dos. Também estiveram presen-

tes, declarando apoio à luta dos

servidores, os deputados fede-

rais Luiz Carlos Busato (PTB-AM),

relator do projeto na Comissão

do Trabalho e Serviço Público;

Paulo Rubem (PDT-PE); e Mauro

Nazif (PSB-RO).

As atividades marcaram o Dia

Nacional de Luta contra o PLP

549. Na ocasião, os servidores

deixaram claro que estão dispos-

tos a intensificar a luta contra

esse projeto e qualquer outro

que retira direito dos trabalha-

dores. Em alguns estados, os

sindicatos filiados à Fenajufe se

juntaram a ouSem título 1tras

categorias e participaram dos

protestos contra o congelamen-

to salarial. Na Bahia e no Rio

Servidores fazem protesto contra PLP 549

Ato em Brasília reúne várias categorias dos servidores públicos

Zé Oliveira: coordenador-geralda Fenajufe tem se reunido como relator do projeto

Grande do Sul, por exemplo, tra-

balhadores dos três ramos do

Judiciário Federal paralisaram as

atividades por 24 horas como

parte do Dia Nacional de Luta

contra o PLP.

A diretora da CUT nacional,

Lúcia Reis, informou, durante

sua intervenção de abertura do

ato no Nereu Ramos, que a Cen-

tral tem se posicionado frontal-

mente contra o PLP 549 que re-

presenta uma derrota para o

funcionalismo público e para o

país, uma vez que impedirá o

investimento em novos serviços

para a população. “A oposição a

esse projeto constitui um con-

junto de ações da CUT nacional.

Vamos trabalhar para que esse

projeto seja arquivado logo na

Comissão de Trabalho, mas se

ele for pra frente, teremos que

atuar para que seja derrotado”,

ressaltou Lúcia Reis, argumen-

tando a necessidade de todos os

sindicatos aprofundarem o de-

bate com os servidores e com a

sociedade em geral.

Como representante da Con-

lutas, Paulo Barela considerou

ser fundamental que todos os

setores do funcionalismo públi-

co se unifiquem para barrar o

congelamento salarial e todos

os projetos do governo federal

que ataquem conquistas histó-

ricas dos trabalhadores. Fazen-

do coro com ele, o representan-

te da CTB, João Paulo Ribeiro,

também falou da importância de

manter a unidade e de fortale-

cer a luta nas três esferas do se-

tor público [municipal, estadual

e federal].

Relator assumecompromisso com servidoresAntes da fala do coordenador

Pedro Aparecido Souza, que es-

teve no ato da Câmara em nome

da Fenajufe, o relator do proje-

to, deputado Luiz Carlos Busa-

to, fez uma rápida intervenção

em que afirmou “estar sensível à

reivindicação dos servidores em

relação ao PLP 549”. Ele infor-

mou, ainda, que deverá apresen-

tar seu parecer no dia 5 de maio

e que o presidente da Comissão

de Trabalho, deputado Alex Can-

ziani [PTB-PR], caso concorde

com o teor, deverá pautar o pro-

jeto na sessão do dia 12 de maio.

“Estou sensível à reivindicação

de vocês. Por isso, vou atender a

solicitação contrária ao projeto.

Esse é o compromisso que faço

agora. Esse projeto não tem o

menor cabimento”, disse Busato,

que também afirmou já ter ex-

pressado o seu posicionamento

ao Ministério do Planejamento.

O relator, que também é vice-

líder do governo na Câmara,

garantiu, ainda, que vários de-

putados da Comissão de Traba-

lho já manifestaram ser contra

o projeto, de autoria do senador

Romero Jucá (PMDB-SP) e apro-

vado no Senado Federal por una-

nimidade. “Tenho certeza que

não teremos problema na Comis-

são de Trabalho”, finalizou.

“Esse projeto precisair para o caixão”

Ao comentar a presença de

mais de 2 mil servidores na Es-

planada dos Ministérios e o peso

da manifestação no Nereu Ra-

mos, Pedro Aparecido, coorde-

nador da Fenajufe, admitiu es-

tar contente com a união de vá-

rias centrais sindicais e das enti-

dades dos servidores federais

para barrar o projeto que, se-

gundo ele, “não pode ser modi-

ficado e tem que ir para o cai-

xão”. Para ele, somente a união

das categorias será capaz de

impedir que o Projeto de Lei

Complementar seja aprovado no

Congresso Nacional. “Só saire-

mos vitoriosos se estivermos jun-

tos. Senão, seremos derrotados

pelo PLP 529 e por outros, do

governo Lula, que tenham o ob-

jetivo de atacar os nossos direi-

tos”, ressaltou.

Pedro Aparecido, que também

é presidente do Sindijufe-MT,

informou aos servidores presen-

tes o calendário de lutas apro-

vado pela categoria no 7º Con-

grejufe, que inclui o fortaleci-

mento da campanha contra o PLP

549. “Hoje, em vários estados a

categoria está com suas ativida-

des paralisadas e aprovamos o

dia 5 de maio como indicativo

de greve. Vamos lutar contra o

congelamento salarial. Se quise-

rem congelar, que congelam os

recursos repassados aos ban-

queiros”, finalizou.

Jean Loiola, também coordena-

dor da Fenajufe, avalia que as ati-

vidades de hoje representam um

passo importante do funcionalis-

mo federal na campanha contra

o PLP 549/09. De acordo com ele,

a participação de representantes

de várias categorias comprova o

grau de insatisfação dos servido-

res com essa proposta. “Esse

projeto representa um ataque

direto aos interesses do funcio-

nalismo e do serviço público.

Além de congelar o nosso salá-

rio, também impedirá o investi-

mento em novos serviços à po-

pulação, em profissionalização e

contratação de novos servidores.

Será o engessamento total da

máquina pública. Se quisermos a

aprovação de nossa revisão sala-

rial, teremos que barrar esse pro-

jeto”, ressaltou Jean, se referin-

do à luta pela aprovação dos PLs

6.613/09 e 6.697/09. [Fonte: Leo-

nor Costa da Imprensa Fenajufe]

Ano III – número 28 – março e abril 2010 7http://sisejufe.org.br

PL 6613/09 está na pauta da sessão do dia 28 de abril

Projeto será apreciado na Comissão de Trabalho após audiência públicaRevisão Salarial

O SINDICATO DOS SERVIDO-RES DAS JUSTIÇAS FEDERAIS NOESTADO DO RIO DE JANEIRO – SI-SEJUFE, através do diretor abaixo-assinado, pelo presente Editalconvoca todos os servidores dasjustiças: Federal, TRF, Eleitoral,Militar e do Trabalho a comparece-rem a ASSEMBLÉIA GERAL EXTRA-ORDINÁRIA, a realizar-se no dia28 de abril de 2010, às 12 horas em1ª chamada e às 12 horas e 30 mi-nutos em 2ª e última chamada, naAvenida Rio Branco, 243 – Centro– Rio de Janeiro - RJ, tendo como

EDITAL DE CONVOCAÇÃO

ASSEMBLEIA GERAL EXTRAORDINÁRIApauta de discussão o seguinte:

1) PL 6613/09 – revisão salarialdos servidores do judiciário fede-ral e

2) Greve dia 6/5, com indicati-

vo de greve por tempo indeter-

minado.

Rio de Janeiro, 22 de abril de 2010.

Roberto PoncianoGomes de Souza Junior

Diretor Presidente

Edital publicado no jornal O Dia de quinta-feira, 22 de abril de 2010

Numa assembleia participati-va, com a presença registradade 99 servidores, a categoria doJudiciário Federal no Rio apro-vou o calendário de lutas para aaprovação do PL 6613, com in-dicativo de greve para o dia 6 demaio – em votação unânime. Há,todavia, uma ressalva: a de queo Rio de Janeiro obedecerá oindicativo de paralisação que fordecidido na Reunião Ampliadada Fenajufe, que foi adiada dodia 24 de abril para o dia 2 demaio. Na assembleia, foram elei-tos os delegados do Rio de Ja-neiro para esta Ampliada, emBrasília.

Durante mais de uma hora,oradores ser revezaram na de-fesa de que o Sisejufe amplie eradicalize a luta pela aprovaçãodo PCS. Vários servidores foramindicados pela assembleia parairem para Brasília pressionarpara que seja votado o projetona CTASP, nos dias 27 e 28 deabril. Foram eleitos também osnove delegados e mais cinco su-plentes para a Reunião Amplia-da da Fenajufe, em 2 de maio –desde o último Congresso daFederação, no final em março emFortaleza, a Ampliada tornou-seuma instância deliberativa.

Na última semana de abril, ha-

BRASÍLIA – O Projeto de Lei nº6613/09, que revisa o Plano deCargos e Salários dos servidoresdo Judiciário Federal, já está napauta da sessão da próximaquarta-feira [28] da Comissão deTrabalho, de Administração e deServiço Público da Câmara dosDeputados. A pauta pode serconferida na página da Câmara.

O PL 6613 é o sexto item dapauta do dia 28. Ele será apreci-ado após debate da audiênciapublica marcada para o dia 27de abril, especialmente para dis-

cutir a revisão salarial dos servi-dores do Judiciário Federal.

Na terça-feira, 20 de abril, odeputado Sabino Castelo Bran-co [PTB-AM], já havia apresenta-do o seu parecer à Comissão. Emseu voto, o relator ressalta: “Portodo o exposto, voto, no mérito,pela aprovação do Projeto de Leinº 6.613, de 2009, e das Emen-das de nºs 03, 06, 08, 15, 18,27, 29, 31, 33, 45, 46, 49 e 53,bem como pela rejeição das de-mais”. Entre as emendas acolhi-das pelo relator estão as que

determinam que a nomenclatu-ra do cargo de Oficial de Justiçaseja “Oficial de Justiça AvaliadorFederal, que evidencia-se maisapropriada do que Oficial deJustiça Avaliador da União, justi-ficando o acolhimento dasEmendas de nºs 03 e 53”.

O dia 27 de abril, devido à re-alização da audiência pública, foiaprovado pela Fenajufe comoDia Nacional de Luta em defesada aprovação dos planos de car-gos e salários. Neste dia, os sin-dicatos deverão realizar ativida-

des de mobilização com toda acategoria e discutir a deflagra-ção da greve por tempo inde-terminado a partir do início demaio. No dia 28, quando a ses-são da Comissão de Trabalhoapreciará o PL 6613/09, os co-ordenadores da Fenajufe inten-sificarão os trabalhos de pres-são junto aos parlamentarespara garantir que o projeto re-almente seja aprovado.

Da Fenajufe – Leonor Costa

Assembleia Geral indica greve para 6 de maio, no Rioverá assembleias em vários fó-runs no Rio, para que o movi-mento ganhe força e se preparepara a greve da semana seguin-te. Dia 28, o TRT da Lavradio faráuma greve de mobilização das11h às 12h. Ao meio-dia, é vezda JF Rio Branco que congrega-rá também os servidores do TRE.No dia 29, será a vez da JF Vene-zuela. No TRF, que já tinha deci-dido ir para a greve (apenas dei-xando o dia para ser decididopela assembleia geral e Amplia-

da) haverá panfletagem.

PRÓXIMAS ASSEMBLEIASPOR LOCAL DE TRABALHO

Quarta – 28 de abril – 11h –TRT Lavradio

Quarta – 28 de abril – 12h –SJRJ e TRE (assembleia conjuntana Rio Branco)

Quinta – 29 de abril – 12h – JFda avenida Venezuela

Conheça a Representaçãodo Rio de Janeiro que vai à

Câmara pressionarpelo PL 6613

Vera Lúcia Pinheiro dos SantosLucile Lima Araújo de Jesus

João CunhaOg Carramilo BarbosaNilton PinheiroValter Nogueira Alves (como coor-denador executivo da Fenajufe)

Conheça a delegação do Riode Janeiro para Ampliada da

Fenajufe em 2 de maio

TITULARES

Maria Cristina de Paiva RibeiroMarcelo Costa NeresAdemir Gregolin

Vera Lúcia Pinheiro dos Santos

Roberto Ponciano

Dulavim de Oliveira Lima Junior

Ronaldo de Assis

João Mac-Cormick

Paulo Cesar Nascimento de Lira

SUPLENTES

Flavio Pains

Joel Lima de Farias Rodrigo

Luiz Marques da Silva

João Souza Cunha

Mariana Liria

8 Ano III – número 28 – março e abril 2010http://sisejufe.org.br

Democratizaçãoé a palavra de ordem

7 º C O N G R E J U F E

Mobilização dacategoria conquistaavanços, mas AFenajufe Pode Mais!

O último período (2007-2010)foi marcado por avanços con-quistados a partir da mobiliza-ção da categoria. Prova maiordessa afirmativa é o envio dosprojetos de lei 6613 e 6697 aoCongresso Nacional, no final de2009, após uma greve realizadapelo conjunto dos servidores doJudiciário e do MPU. Outros fa-tos positivos foram a criação doColetivo Nacional dos Aposenta-dos (Conap) a partir da deman-da de vários estados e da reali-zação do encontro de aposen-tados; o Encontro Nacional daJustiça Eleitoral; além dos en-contros de saúde e do encontroem defesa da jornada de 30 ho-ras. Também foi bastante rele-vante a participação da nossafederação e de sindicatos debase na construção da Confe-rência Nacional de Comunica-ção, que passou por etapas es-taduais e foi realizada ao finaldo ano passado.No entanto, aFenajufe, criada em 1992 paraunificar os servidores do Judiciá-rio e do MPU, tem falhas na de-mocracia interna e na relaçãocom os seus sindicatos de base.A atual gestão foi eleita no Con-grejufe de 2007, em Gramado(RS), num processo conturbadoe marcado por irregularidadesquanto ao cumprimento de re-gras básicas e essenciais à de-

mocracia como a mudança doregimento eleitoral após o anún-cio do resultado da eleição (!) –o que excluiu da direção execu-tiva um dirigente de cada chapade oposição em favor do campomajoritário. Ou seja, mudaramas regras do jogo após o apitofinal.

Nos últimos três anos, viven-ciamos a falta de uma relaçãodemocrática e respeitosa do se-tor majoritário (Articulação, CTBe O Trabalho) com as minorias,com os sindicatos de base e como conjunto da categoria. Conse-quentemente, houve problemascomo a não distribuição de li-cenças sindicais de direção deforma compatível com a propor-cionalidade democrática eleitaem Gramado. Também houvedificuldades e fragilidades nasocialização das informaçõesdentro da direção e desta comos sindicatos de base – e estafalta de transparência reflete aausência de democracia.

Subversão de instânciasEm muitos momentos, no últi-

mo período, a Fena-jufe foi à re-

boque de políticas de instânciasde base que se sobrepuseram àsdecisões da federação – o quefragiliza imensamente o conjun-to da categoria e a atuação uni-ficada deliberada pela base. Du-rante o processo de discussão enegociação do Plano de Carrei-ra, por exemplo, a proposta daFenajufe concorreu diretamen-te com a proposta de uma enti-dade de base que não se sujei-tou a decisões democráticas damaioria. Outro exemplo reinci-dente é a divulgação preliminarde processos de negociação porentidades de base antes que aprópria federação o fizesse. Des-sa forma não é possível afirmare garantir a força da Fenajufejunto à Administração Pública.Esta prática facilita os ataquesdas associações que querem di-vidir a categoria.

Também cabe a crítica quan-to ao método de atuação daConlutas que faz o debate nomesmo patamar de “disputa peladisputa” seja em reuniões da di-retoria, seja em plenárias, con-gressos ou ampliadas – o que

desconfigura as instâncias dafederação e torna a relação po-lítica dentro da Fenajufe umaininterrupta disputa. Entende-mos que a federação deve sepautar pelo respeito às diferen-ças e que reuniões de diretoriasão um espaço para aprofundaras políticas voltadas ao interes-se de toda a categoria, com in-dependência e autonomia departidos e governos. Defende-mos outro método de se fazerpolítica expresso no respeito àsdiversas posições e que abre es-paço para participação qualifi-cada dos sindicatos através dasampliadas deliberativas, que sãoinstâncias intermediárias entreplenárias e congressos.

A discussão sobre carreira ilus-tra bem a forma como se dá odebate com as entidades debase, em que pese a realizaçãodos seminários nacionais sobrecarreira. Esse espaço de debateficou reduzido na Fenajufe nomomento em que se afunilou anegociação. Também não hou-ve preocupação da federaçãocom a formação da categoria emtermos de princípios que ante-cedem um debate aprofundado.Não houve socialização dosconceitos estruturantes, taiscomo o modelo de Estado e oselementos de gestão necessári-os para um Plano de Carreira.Na ausência disso, sem o neces-sário nivelamento do conheci-mento entre todos, não houvediscernimento das consequên-cias das escolhas entre os mo-delos existentes.

Além disso, como já registra-do na Plenária de Manaus, a pos-tura do representante da Fena-jufe na Comissão Interdisciplinardo STF (representante este do

Conheça aqui osmanifestos políticossubmetidos pelachapa A FenajufePode Mais aoscongressistasdo 7º Congrejufe

Ano III – número 28 – março e abril 2010 9http://sisejufe.org.br

Coordenação-geralRoberto Policarpo – DF

Saulo Arcangeli – MAZé Oliveira – RS

Coordenação de Administração e FinançasRamiro López – RS

Gérner Márcio Gomes – RO

Coordenação ExecutivaFátima Araújo – DF

Joaquim Castrillon – SP (15ª Região)Ana Luiza Figueiredo – SP

Antônio dos Anjos Melquiades (Melqui) – SPValter Nogueira Alves – RJ

Iracema Pompermayer – ESDenis Lopez de Souza – RJ

Evilásio Dantas – PBHebe-Del Kaden Bicalho – MG

Jean Paulo Loiola Lima – DFPedro Aparecido – MT

Jacqueline Albuquerque – PE

SuplentesCledo Viana – DF

Alexandre Brandi - MGPaulo Falcão – AL

Cláudio Azevedo – RSMarcos Santos – PB

Luiz Cláudio dos Santos – AM

Conselho Fiscal

Titulares

Paulo Roberto Rios – MAEtur Zehuri – MG

Lourival Matos – BA

SuplentesWilson Barbosa Lopes – RN

Edilson Ricardo da Silva – DFVera Lúcia Pinheiro dos Santos - RJ

Coordenação da Fenajufe – Triênio 2010-2013

campo majoritário) foi dura-mente criticada, tanto pela faltade socialização das informaçõesquanto pela dificuldade de apre-sentar e defender efetivamente nacomissão as propostas aprovadaspelas instâncias da categoria.

Carreira e revisão salarialO coletivo Fenajufe Pode Mais

é formado por servidores quecumpriram papel fundamentalno debate e continuarão lutan-do para tornar realidade um Pla-no de Carreira, mas entenderamser necessário priorizar, nessemomento, a revisão salarial. Essadecisão levou em conta a reali-dade das negociações, o aindabaixo acúmulo da categoria so-bre o tema e a necessidade dedebates aprofundados sobrequestões que estão longe deconsensos – o que nos fragiliza-ria no embate com os Tribunais.

No último período, se agravouo quadro que já vinha sendo cri-ticado desde a Plenária de Ma-naus: a falta de democracia narelação da federação com seussindicatos. A crise aberta com anão convocação de reuniõesampliadas, que não têm regra-mento no estatuto da Fenajufe e,muitas vezes, foram convocadas“só para constar”, sem caráterdeliberativo, levaram a situaçõesem que questões cruciais foramdecididas no voto na direção daFenajufe, prejudicando o amadu-recimento das posições junto aossindicatos de base.

Nesse sentido, para garantir umainstância dinâmica abaixo da es-trutura das plenárias e congressos,é necessário formalizar no estatu-to a figura das reuniões ampliadasdeliberativas (ou uma espécie deConselho Geral, como existe em al-gumas entidades). Defendemostambém que a Fenajufe ocupe seuespaço nos fóruns de discussão deinteresse da categoria e dos de-mais servidores federais. É preci-so divulgar o acompanhamentoque é feito junto à Bancada Sindi-cal, integrada por entidades nacio-nais dos servidores públicos e res-ponsável por reuniões de negoci-ações com o governo federal, so-bre temas como organização e di-reitos sindicais, negociação cole-tiva e direito de greve.

Além disso, a Fenajufe tem quese qualificar na atuação em de-fesa da saúde do trabalhador.Mesmo com a realização de umprimeiro encontro sobre saúdedo trabalhador, proposta apre-sentada pelos integrantes docoletivo A Fenajufe Pode Mais eaprovada pelo conjunto dos de-legados em Plenária, é necessá-rio ter continuidade, acompa-nhamento e implementação dodebate sobre as propostas quetêm surgido de parte do gover-no antes que essas nos atrope-lem. Também é preciso, inter-venção junto ao CNJ sobre a im-plementação do processo ele-trônico e planejamento estraté-gico dos órgãos que estão ocor-rendo à revelia dos servidores.

Greve com coordenaçãoNão podemos esquecer o pro-

blema da falta de coordenaçãoefetiva de nossa federação naúltima greve, apesar da vitóriagaaantida pela mobilização dacategoria em todo o país. Difi-culdades na unificação do calen-dário e de constituição de umcomando nacional são exem-plos dessa situação, além dasdificuldades de obtenção de in-formações para alimentar os es-tados e facilitar a mobilização.

Por fim, em que pese a neces-sidade de uma participação maisexpressiva dos sindicatos no diaa dia da federação, a mudançaque propomos não passa só poressa participação, passa tambémpor uma postura democráticaefetiva da direção da federaçãona sua relação interna e com asentidades filiadas.

A FENAJUFE PODE MAISA Fenajufe Pode Mais tem com-

promisso com a participação ea construção de uma gestãomais democrática e respeitosacom os sindicatos de base.

Nos empenhamos na busca desaídas para as dificuldades e agi-mos com responsabilidade comos interesses maiores da catego-ria, travando um diálogo francoe respeitoso com todas as for-ças e todos os sindicatos da nos-sa federação.

Defendemos um método dife-

rente de fazer política dentro dafederação, com respeito a todasas posições e na defesa intransi-gente da revisão salarial e dacontinuidade do debate sobrecarreira.

Consideramos central a in-serção da federação nas ques-tões de saúde do servidor, di-reitos sindicais, democratiza-ção do judiciário, modelos degestão e orçamento dos ór-

gãos. Defendemos a intensifi-cação da relação com o con-junto dos movimentos sociaise discussão e formulação depolíticas relacionadas com omeio ambiente, gênero, raça,orientação sexual e tantos ou-tros temas que, de alguma for-ma, permeiam o dia a dia dacategoria e devem ser pautapermanente. Por tudo isso, afir-mamos que A Fenajufe PodeMais!

10 Ano III – número 28 – março e abril 2010http://sisejufe.org.br

Entrevista

Fenajufe agora será mais transparente

Valter Nogueira AlvesCoordenador-executivoda FenajufeDiretor financeirodo SisejufeAgente de Segurança– CCJF

– Qual é a diferen-

ça da chapa Fenajufe Pode

Mais na coordenação e o

que vai diferenciar no tra-

balho em prol da catego-

ria?

Iracema – O trabalho e o

debate serão mais demo-

cráticos e transparentes.

Vamos implantar na Fena-

jufe a construção de deba-

tes, de ideias que hoje a

gente verifica que não são

feitas nas deliberações, e

– Qual a importân-

cia do Rio de Janeiro estar

novamente representado

coordenação da Federação?

Valter – A primeira abor-

dagem é a que eleição de um

coordenador-geral e dois

executivos, além de um co-

ordenador suplente e uma

suplente no conselho fiscal,

demonstra e fortalece a atu-

ação coletiva do Sisejufe

com os sindicatos do Rio

Grande do Sul, do Espírito

Santo e militantes da Bahia,

por exemplo – que consti-

tuíram a chapa “A Fenajufe

Pode Mais”. Neste contexto,

Iracema PompermayerCoordenadora-executivada FenajufeVice-presidente doSinpojusfesVice-presidente daFenassojafOficial de Justiça –

Espírito Santo

o sindicato do Rio passa a

ter uma participação mais

efetiva nas deliberações da

categoria em âmbito nacio-

nal. Esse crescimento se

deu, principalmente, pela

postura independente da

nossa gestão, que não se

veiculou diretamente à mai-

oria que controlava a fede-

ração; e muito menos à opo-

sição da Fenajufe PSTU/Con-

lutas. Na verdade, este gru-

po conduziu uma política

um tanto equivocada em re-

lação as questões da catego-

ria. A partir de agora, vamos

trabalhar para que a federa-

ção tenha uma pauta volta-

da para a discussão do Pla-

no de Carreira. E que ques-

tões gerais que afetam a ca-

tegoria de um modo geral,

sejam tratadas, conduzidas

pela federação e indicada

para que os sindicatos con-

duzam na base.

que não são discutidas com

a base. As decisões aconte-

ciam de cima para baixo. A

gente também pode enri-

quecer a difusão de ideais

diferenciadas das atuais

correntes políticas que atu-

am hoje na federação,

olhando para os movimen-

tos sociais e das pautas es-

pecificas da categoria, nos

mais diversos segmentos

que não tem sido levado

em consideração atualmen-

te. O Estado tem grandes li-

deranças sindicais, muita

representatividade na cate-

goria e muita experiência

em politicas vitoriosas na

categoria e que, precisam

ser levadas para o Brasil.

Além disso, temos um gran-

de número de sindicaliza-

dos e é um dos estados que

mais cresce no Brasil.

Posse da nova coordenação: Iracema é a terceira, da esquerda para a direita; Valter é o quarto

Fotos: Henri Figueiredo

Um rápido bate papo com dois dos novos coordenadores executivos da Fenajufe

Ano III – número 28 – março e abril 2010 11http://sisejufe.org.br

Fulgêncio

Guevara morreu na Bahia

*Fulgêncio é alcoólatra, hipo-condríaco e escreve de graçapara esta página por falta de

coisa mais útil que fazer.

Aqui estou, de volta. Não fuiconvidado para ir ao 7º Con-gresso da Fenajufe, em Fortale-za, talvez por não terem gosta-do da cobertura que eu fiz docongresso anterior, em Grama-do. Como diletante colaboradorde Ideias passo a relatar os fatospitorescos ocorridos na capitalcearense. O Sisejufe cortou averba para eu ir nesta coberturae tive de financiar a perder devista a minha própria passagempara assistir ao incrível encon-tro político da categoria do Ju-diciário Federal.

Disfarçado para não ser reco-nhecido, já que algumas das pes-soas citadas na matéria anteriorainda queriam me matar, fui ano-tando os fatos. Riam, se foremcapazes. Começo pelo fim: navotação do Plano de Lutas, commetade das pessoas dormindo ea outra conversando, foi aprova-da, por unanimidade, a seguintepérola – “O capitalismo está emcrise terminal e comete auto suicí-

dio financeiro”. Tal análise entra-rá, sem vaselina, para os anais doCongrejufe e já se desdobrou emdiversas teses sobre o seu verda-deiro significado. Uma delas dáconta de que auto suicídio é umsuicídio cometido com automó-vel – como um magnata jogandosua Ferrari contra o prédio daBolsa de Valores. Se for alto, com“l”, o bacana de Wall Street esta-ria se jogando da antena do Em-pire States.

Mas não parou por aí. Em tesesobre o Movimento Negro havia aseguinte frase: “A Fenajufe deveinvestir no fortalecimento dosnegros e negras”. Bem, resta sa-ber se a Fenajufe vai comprar Sus-tagem ou vai entrar em convêniocom alguma academia para quenossos negros e negras tenhambarriga de tanquinho. Sugeri-ram, em seguida, que a Federa-ção deve lutar pela aposentado-

ria por “invalidez integral”. Nãobasta estar todo ferrado, temque estar integralmente ferra-do... Talvez tenham tentado di-zer “aposentadoria integral porinvalidez”.

Teve um companheiro que de-fendeu que os sindicatos limitemao máximo seus aparatos e in-vistam nas ações clandestinas...Por via das dúvidas eu já enco-mendei na Amazon.ponto.commeu manual da guerrilha e a AK-47... O que serão ações clandes-tinas? Será que a gente vai mon-tar bomba ou vai fazer assem-bleia secreta? E se é secreta,como vai ser assembleia? Aindabem que esta não passou.

Para quem pensa que só relesmortais cometem ratas, saiba

esta do grande intelectual doPSTU Valério Arcary. Na mesa deabertura, além de perder as es-tribeiras e mandar aos gritos umcongressista calar a boca, fez agenial comparação: “A diferençados governos Fegacê e Lula évocê pular do 34º andar ou do23° andar. Do 34° você morre,do 23° só quebra a perna”. Comoassim? Ou o Valério tá lendomuito Marvel e acredita no Ho-mem-Aranha ou o sujeito do 23°andar vai pular de parapente!

Avançamos também na ques-tão da luta LGBT – afinal, numatese, se pregava a liberdadepara os gays e para a homofo-bia (!). Oxe, isso é que tese de-mocrática... Libera os gays e oshomofóbicos também! Acaboupor ser mudada para liberdade

para os gays e luta contra ahomofobia.

Para terminar, a cereja do bolo:Guevara morreu na Bahia! Numgrupo de discussão, um compa-nheiro, com a estampa de CheGuevara na camiseta, pedia quese aprovasse uma moção de re-púdio contra o assassinato de ummilitante do MST, no interior daBahia. A menina da mesa olhoupara a foto clássica da camiseta elascou: “Tudo bem, tudo bem, agente aprova, mas me diz uma coi-sa... o rapaz que foi morto é esse aída foto na tua camisa?!”.

“O capitalismo está em crise terminal e comete auto suicídio financeiro.”

12 Ano III – número 28 – março e abril 2010http://sisejufe.org.br

Oficina Literária

As gordinhas arrebentam na cama

Aconteceu uma coisa faz pou-co tempo que me pôs a refletir.Estava na academia quandoduas mulheres mostraram-meuma reportagem cujo título era:“As gordinhas arrebentam nacama”. As mulheres que trouxe-ram o recorte nas mãos certa-mente não eram gordas, eramaté fininhas, mais do que é con-siderado normal pelo padrãomédico.

A partir daquela cena, elabo-rei alguns pensamentos: numahipótese remota, se elas se con-siderassem magras, estariamimediatamente espalhando quenão eram boas de cama, o querepresentaria uma forma sutil derepelir os assédios masculinosque são frequentes em acade-mias e mais frequentes aindapara elas, visto que, além demagras, eram bonitas, e repeliralguns homens da academia nãolhes frustraria os passeios à noi-te, já que candidatos não deve-riam faltar.

Outra hipótese seria se elas seconsiderassem gordas. A partirdaí poderia ser concluído queas mesmas possuem algum dis-túrbio alimentar e/ou psicológi-co, como anorexia, visto quequalquer pessoa mentalmentesadia e sem problemas de acui-dade visual observaria que asmulheres possuem peso normal,talvez até abaixo. Se, por outrolado, elas estivessem alheias aconceitos de beleza, mostrar areportagem e se consideraremfalsamente (seriam adicionalmen-te mentirosas) “gordas” para se-rem colocadas na categoria“boas de cama”, indicaria que asmulheres teriam o objetivo dereceber convites para jantar, oupara ir ao cinema, ou qualquercoisa do tipo, por exemplo, dosrapazes da academia.

Mariana Mello de Medeiros* Se nada disso puder seraplicado, elas possuemcertamente traços de sa-dismo, já que ao torna-rem visível a publica-ção, fizeram-no inclu-sive às meninas ex-tremamente ma-gras, que a partirdo anúncio, ousentiram o nível deautoestima desa-bar, ou um desgos-to gigantesco porainda estarem ten-tando malharpara ficaremmenos ma-gras – já

que nuncaseriam gordi-nhas, visto que essetipo de magreza pare-ce irreversível – ou sim-plesmente sentiram suaira aumentar em índices ex-ponenciais.

Em última análise, se aquelasmulheres não são loucas, ao me-nos não sabem se portar comresponsabilidade e educação emambientes sociais. É o que mepermite pensar a lógica.

por procedimentos que envolvemriscos só para usarem sutiãs

tamanho 46 e futuramentecolherem as dores ocasi-

onadas pelo volume des-proporcional? Não temcomo não se pensarem baixa autoestima,pois o desejo de se afir-

mar como a fêmea do-minante é uma necessi-

dade histérica de chamara atenção. E com que vee-

mência! É praticamente umestupro visual! E qual o objeti-

vo de tudo? Atrair mais machos?E se for, por que razão? E o pior éestabelecer essa loucura como pa-drão!

Guiar a autoestima pela quan-tidade de elogios recebidos ouprocuras sexuais me parece pe-rigoso, pois é atribuir felicidadeao vai e vem de coisas flutuan-tes. Além disso, procurar serdesejada por qualquer pessoa éesvaziar o sentido de dignidadehumana. Não seríamos seres es-peciais desde o início? E se so-mos especiais e únicos, já temosnaturalmente um imenso valor.Ou não?

Amara si próprio,

com todas as limi-tações e “imper-

feições”, semque seja esque-cida a possibili-

dade de mudan-ças profundas, e não aparentes,é imprescindível para uma vidasatisfeita e de paz.

*Escritora. Técnica Judiciária– Justiça Federal.

É estranho, mas fenômeno se-melhante acontece com a plás-tica. Sei que é um tema já discu-tido exaustivamente, mas aindasim me é curioso. Qual a neces-sidade, por exemplo, que levamilhares de mulheres a passarem

Guiar a autoestima pela quantidade de elogios recebidos me parece perigoso

Ano III – número 28 – março e abril 2010 13http://sisejufe.org.br

Cultura

Serrinha: a comunidade resiste!Fotos: Henri Figueiredo

Quem olha pros rostos en-xerga o sorriso. Quem olha procorpo percebe a imponência.Quem olha pro bailado sente aginga, a malemolência que dri-bla, que se esquiva, resiste e ven-ce. Quem olha pra comunidade,vê o orgulho do trabalho, a au-toestima fortalecida, a memóriapreservada, os caminhos aber-tos para a cidadania.

Das fazendas de café do Valedo Paraíba até o título de pri-meiro Bem Imaterial do Estadodo Rio de Janeiro, a trilha foi ár-dua. Primeiro Vovó Maria Joana,Mestre Darcy e Eva Emely reuni-ram os jongueiros e levaram ojongo pro palcos – o que rendereflexões preconceituosas e umtanto ignorantes por parte dequem não compreende o cará-ter dinâmico que, graças a ZAM-BI, a cultura possui. As crianças,antes impedidas de participar,conquistaram a devida autoriza-ção espiritual. Tia Maria do Jon-go, Dely, Lazir, Luiza, Anderson,Tiago e Cia. continuam o traba-lho até hoje. As comunidades doRio, do Sudeste inteiro, espelhan-do-se na Serrinha, resgataramsuas origens, sua história. O Jon-go se difunde e, por causa dis-so, se preserva. Porque quemnão se conhece não se valoriza -porque não compreende. Por-que quem conhece se apaixona- porque quem dança o jongo,dança também a história do nos-so povo, sua própria produção.

A trajetória do negro no Bra-

“Quero ver quem dançajongo/quero ver entrarna roda/ quero verquem dança jongo/quero ver quem vaiumbigar!” [Lazir]

Lucio Sanfilippo*

sil, desde os navios até os diasde hoje, reflete a capacidade deadaptação, de superação e dereinvenção de si mesmo, sem,entretanto, perder as fronteirascom as boas tradições. Os quesobreviveram ao banzo e aosembates dos quilombos, redi-mensionaram sua religiosidadee criaram (e recriam até hoje) acara do nosso país, dando a eleuma identidade cultural tão ricae colorida. O jongo, legado deimportância incomensurável dosnegros trazidos da região Ango-la/Congo/Moçambique, cumpre,neste sentido, seu papel de re-sistência e assistência ao desen-volvimento do ser humano maiscrítico e autônomo, porque re-cupera nos gestos, pontos, to-ques e sutis nuances, o imaginá-rio, a aura da população do su-deste e, principalmente, do Riode Janeiro.

A formação na Serrinha édiferente por causa do jongo. Acomunidade se reconhece, se

estuda, interage com seus ante-passados e suas vidas, envoltanum ambiente acolhedor que éa dança e seu aspecto lúdico. Afelicidade comanda a festa dosjongueiros que, desde cedo, gi-ram, cantam, tocam e tomamciência de como viveram seusascendentes, para, mais tarde,munidos de informação, decidiro que farão com suas própriasvidas, evitando repetir as triste-zas e criando com sabedoria for-mas de compartilhar o amor eas alegrias diárias.

O que fez, o que faz e o quecontinuará a fazer por nós a Ser-rinha, está muito bem sintetiza-do na obra-prima de Nei Lopese Wilson Moreira – um paraleloentre a cultura do jongo e a docafé: “Mesmo usados, moídos,pilados, vendidos, trocados, es-tamos de pé/Olha nós aí, meu ir-mão café”.

Axé!

*Cantor e compositor.

A formação na Serrinha é diferente por causa do jongo

14 Ano III – número 28 – março e abril 2010http://sisejufe.org.br

M U L H E R E S

Seguiremos em marchaaté que todas sejamos livres!

Durante os dias 8 a 18 de mar-ço deste ano cerca de três milmulheres de todos os estadosbrasileiros mostraram sua for-ça, organização e ousadia. Sobo lema “Seguiremos em marchaaté que todas sejamos livres”, asmulheres colocaram-se na estra-da, em marcha, de Campinas aSão Paulo, concretizando noBrasil a 3ª Ação Internacional daMarcha Mundial de Mulheres(MMM).

A CUT atua na MMM desde seuinício, há mais de dez anos, por-que compreende que para alte-rar a vida das mulheres traba-lhadoras e fazer a disputa de ummodelo de sociedade baseadona igualdade entre homens emulheres, a aliança com os mo-vimentos feministas é funda-mental.

Desde o princípio desta 3ªAção, construímos nacionalmen-te uma agenda conjunta com aMMM, participando da totalida-de da construção desta marcha,desde sua formulação políticaaté sua visibilidade. Nesta Ação,várias trabalhadoras CUTistasestiveram presentes, vindo re-presentar seus sindicatos, Con-federações, Federações e CUT´sEstaduais. A vitoriosa participa-ção destas verdadeiras guerrei-ras foi uma demonstração danossa capacidade de mobiliza-ção e compreensão de que so-mente com muita luta que con-seguiremos alterar a vida dasmulheres trabalhadoras.

A ação teve sua plataforma

Rosane Silva* política construída baseada emquatro eixos. Um deles refere-se ao direito das mulheres aotrabalho e à autonomia econô-mica, e está fundamentando apartir das pautas das lutas quenós travamos cotidianamenteem nossas entidades CUTistas.

Ao mesmo tempo em que con-sideramos uma conquista a cres-cente entrada das mulheres nomercado de trabalho formal, de-

nunciamos a persistência da di-visão sexual do trabalho quecontinua responsabilizando so-mente as mulheres pelo traba-lho de cuidados com a família edoméstico, e a imensa desigual-dade de oportunidades entrehomens e mulheres no mundodo trabalho.

Levamos para as ruas nossasreivindicações por igualdadesalarial entre homens e mulhe-

res, pela ampliação da licençamaternidade e paternidade, pelaratificação da Convenção 156sobre responsabilidades com-partilhadas, pela garantia de cre-ches públicas, pela redução dajornada de trabalho sem reduçãode salários, pela valorização dosalário mínimo e pela extensãode todos os direitos trabalhistasàs trabalhadoras domésticas.

Um ponto que merece grandedestaque desta Ação foi o fatode que mais do que demonstrarque as mulheres têm capacida-de de se auto-organizar e cons-truir um movimento que ao mes-mo tempo em que denuncia omachismo e o capitalismo, cons-trói cotidianamente novos valo-res na sociedade, foi a convic-ção de que a auto-organizaçãodas mulheres é condição funda-mental para a construção do fe-minismo, de que somos nós mu-lheres os sujeitos ativos na trans-formação de nossas vidas e dasociedade.

O feminismo que reivindica-mos é aquele em que as mulhe-res trabalhadoras, do campo eda cidade, as indígenas, as qui-lombolas, as lésbicas, as estu-dantes, as negras, as jovens, adul-tas e idosas, todas nós mulheressejamos parte. Parte significativado que nos faz afirmar que estaAção foi vitoriosa é que duranteestes dez dias, mesmo passandopor situações difíceis e precári-as, comprovamos que é possívelconstruirmos unidade e solida-riedade entre nós, respeitandotoda essa nossa diversidade.

Ao mesmo tempo em que

Nas fotos de João Zinclar, o andamento da marcha. Acima, as ma-nifestantes em Campinas. Na página ao lado, no alto, a marcha emValinhos. Ao lado, embaixo, atravessando um túnel, em Campinas.

Ano III – número 28 – março e abril 2010 15http://sisejufe.org.br

trouxemos nossas contribuiçõespara o conjunto da Marcha, es-pecialmente com nossa formu-lação sobre as mulheres e omundo do trabalho, a progra-mação da Ação possibilitouaprofundar nossa formação so-bre temas caros ao movimentofeminista.

O debate sobre a legalizaçãodo aborto, marcado por depoi-mentos emocionantes, mostrouo quanto este é um tema queprecisa ser amplamente discuti-do com muita atenção e sempreconceitos. Não aceitamos

A CUT atua na MMM desde seu início, há mais

de dez anos, porque compreende que para

alterar a vida das mulheres trabalhadoras e

fazer a disputa de um modelo de sociedade

baseado na igualdade entre homens e

mulheres, a aliança com os movimentos

feministas é fundamental.

*Secretária Nacional daMulher Trabalhadora – CUT

Aleida Guevara, filha do revolu-cionário Che Guevara, em nossaAção reforçou o caráter inter-nacional da nossa luta e da nos-sa afirmação que não há socia-lismo sem feminismo, nem femi-nismo sem socialismo.

A construção de uma platafor-ma feminista no interior do mo-vimento sindical, assim como apresença permanente das pau-tas do mundo do trabalho nomovimento feminista, é tarefa detodos e todas que desejam umasociedade livre do machismo edo capitalismo. A disputa deconcepção de sociedade que aCUT faz deve se pautar na certe-za da necessidade de mudançasprofundas na estruturação da

que nenhuma mulher seja cri-minalizada ou morra por pre-cisar interromper uma gravideznão desejada. Reafirmamosnossa posição de que o direitodas mulheres de decidirem so-bre seu corpo e seu destinoprecisa ser garantido.

Em 2010, completamos umséculo desde que as mulheressocialistas reunidas aprovarama proposta do Dia Internacio-nal das Mulheres. A memóriadesse dia de luta esteve presen-te nas mobilizações desse ano.A presença da médica cubana

sociedade para garantir a igual-dade para as mulheres.

Neste sentido, dando conse-quência às nossas lutas, convo-camos todas as trabalhadorasCUTistas a novamente estarempresentes de forma atuante emduas próximas atividades: a Ple-nária Nacional da Coordenaçãodos Movimentos Sociais (CMS),em 31 de maio, e a AssembleiaNacional da Classe Trabalhado-ra em 1º de junho. É com garrae unidade dos homens e mulhe-res da classe trabalhadora queconstruiremos um mundo ondetodas nós sejamos de fato livres!

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M O V I M E N T O S I N D I C A L

CUT amplia liderança no BrasilCentral Única dosTrabalhadores é amaior em númerode brasileirossindicalizados:38,23%.As outras cinco,somadas,têm 40%

A Central Única dos Trabalha-dores (CUT) mantém liderançadisparada no índice de repre-sentatividade das centrais sindi-cais. De todos os trabalhadorese trabalhadoras filiados a algumsindicato no Brasil, 38,23% sãofiliados a entidades CUTistas. Asegunda colocada, a Força Sin-dical, é quase três vezes menor,tendo 13,71% dos sindicaliza-dos. Os dados fazem parte de

relatório divulgado recentemen-te pelo Ministério do Trabalho.

Continuar sendo a maior já éuma notícia e tanto, mas as boasnovas vão além. A CUT foi a cen-tral que mais cresceu no anopassado. Comparada a 2009, aCUT aumentou seu índice de re-presentatividade em 1,44 pontopercentual (veja quadro abaixo).Sozinha, a CUT representa qua-se a soma de todos os sindicali-

zados filiados às outras centraisque, juntas, detêm 40,18%.

“Isso comprova o acerto denossa estratégia: autonomia, in-dependência, mobilização e,também, a coragem de não seromissa, de ter lado, de se posi-cionar nas grandes disputas”,avalia o presidente da Central,Artur Henrique. “O resultadotambém cala aqueles que dizi-am que a CUT ia diminuir em fun-

ção de seu posicionamento fren-te ao governo Lula”, completa.

A representatividade tambémreflete um critério mais amplode aferição. Em lugar do núme-ro de sindicatos - índice em quea CUT também é líder, com 33%- o percentual de representativi-dade oficial é baseado no núme-ro de brasileiros sindicalizados.Assim, o que vale realmente nãoé quantos sindicatos cada cen-tral tem, mas sim quantos brasi-leiros estão na base.

“O crescimento do índice ofi-cial de representatividade da CUTé fruto da ação de nossos sindi-catos de base, que realizam cam-panhas salariais aguerridas, quetrazem conquistas para os tra-balhadores e trabalhadoras, eque vão além das questões eco-nomicistas, fazendo uma dispu-ta de um novo projeto de socie-dade e de um outro modelo dedesenvolvimento”, destaca Deni-se Motta Dau, secretária nacio-nal de Relações do Trabalho.

Diferentemente do que se podesupor, o número de trabalhadoresfiliados a sindicatos aumenta no Bra-sil. Reflexo da retomada do empre-go e das conquistas salariais de dife-rentes categorias no segundo se-mestre de 2009, os sindicatos ampli-aram sua base de filiados e, conse-quentemente, fortaleceram as cen-trais sindicais.

De acordo com dados do Ministé-rio do Trabalho publicados no DiárioOficial da União, as seis centrais(CUT, Força Sindical, UGT, CTB, NCSTe CGTB) reconhecidas pelo governoaumentaram ou mantiveram sua re-presentatividade entre 2008 e 2009,tendo a Central Única dos Trabalha-dores (CUT) registrado a maior alta,de 1,44%.

“O que nos chama a atenção”, dizArtur Henrique, presidente da CUT,“é que havia uma ideia pré-concebi-da de que não só o movimento sindi-cal estava se esvaziando, mas que

CUT tem praticamente o mesmo número de associados que as outras cinco juntasprincipalmente a CUT perdia espaçoentre as centrais”.

Segundo Henrique, em entrevis-ta ao Valor concedida hoje à tarde, osdados do Ministério são “oportunos”por demonstrarem “o que realmen-te importa”, isto é, “não se trata derepartição de dinheiro ou poder, mastamanho da base sindical que cadacentral têm”.

A CUT, com 3.423 sindicatos e qua-se 7 milhões de filiados, lidera a listado Ministério, com 38,23% de repre-sentatividade – pouco menos que os40,18% computados na soma das ou-tras cinco centrais.

A Central dos Trabalhadores e Tra-balhadoras do Brasil (CTB), que au-mentou sua representatividade em1,43% no ano passado, ultrapassou aUnião Geral dos Trabalhadores (UGT)nos dados globais, consolidando aterceira colocação, atrás de CUT eForça Sindical (13,7%). Com 7,55% e

7,19%, CTB e UGT, respectivamente,ocupam posições bem distintas nomomento de repartição do dinheiroarrecadado com a contribuição sindi-cal - enquanto a UGT embolsou R$ 13milhões no ano passado, a CTB, maisrepresentativa, recebeu R$ 4 mi-lhões do governo.

Disparidade semelhante ocorreentre CUT e Força. Ainda que commenos da metade da representativi-dade, a Força Sindical recebeu ape-nas R$ 3 milhões menos que a CUTem 2009. Os repasses do impostosindical às duas, por outro lado, é omaior: a CUT recebeu R$ 26 milhõese a Força Sindical pouco mais de R$23 milhões, no ano passado.

A diferença entre representativi-dade e pedaço do bolo financeiro re-cebido do governo se dá na formaçãodo imposto sindical. “Somos umacentral forte em sindicatos de funcio-nários públicos e trabalhadores ru-rais, categorias que não contribuem

com imposto sindical”, explica Hen-rique.

Assim, outras centrais, como aForça, formadas em sua maior partepor sindicatos de empresas privadase em centros urbanos, contam comparcelas maiores do imposto sindi-cal. “Por isso temos uma liderançamais folgada quando o assunto é nú-mero de trabalhadores sindicaliza-dos, mas é mais apertada quandoolhamos o montante que chega doimposto sindical”, diz.

Fontes do movimento sindical afir-mam que o maior repasse à Força -que saltou de R$ 17 milhões, em2008, para R$ 23 milhões, em 2009 -se dá graças a ação da entidade emcategorias com expressivo númerode trabalhadores, como metalúrgi-cos. Para Henrique, “o imposto sin-dical, quando acabar, vai levar consi-go centrais que filiam sindicatos fan-tasma ou de gaveta”. [Fonte: ValorEconômico]

Foto: Henri Figueiredo

Manifestação em frente à Vale: até a Conlutas aderiu ao ato da CUT

Ano III – número 28 – março e abril 2010 17http://sisejufe.org.br

Foto: Henri Figueiredo

Enviados pelo Executivo em2008, os textos da Convençãonº 151 e da Recomendação nº159, ambas da Organização In-ternacional do Trabalho, foramaprovados em caráter termina-tivo pelo Senado Federal na últi-ma quinta-feira, com ressalvas.Agora os textos seguem para apromulgação do Presidente doCongresso Nacional e publica-ção no Diário Oficial da União.

Quando isso ocorrer, o Paísterá regulamentado o processode negociação coletiva nas trêsesferas de poder – federal, esta-dual e municipal. Isso significaque as relações trabalhistas en-tre os sindicatos que represen-tam os servidores públicos e asentidades governamentais pas-sarão a ser regidas por um tra-tado jurídico internacional, ra-tificado pelo Legislativo brasilei-ro, em que são estabelecidasbases claras para a negociação.

A Convenção 151 foi assinadaem 1978 por vários países, en-tre eles o Brasil, mas até hoje nãotem valor, por faltar a regula-mentação por um projeto de lei

CONGRESSO APROVA REGULAMENTAÇÃO DASRELAÇÕES DE TRABALHO NO SERVIÇO PÚBLICO

específico, enviado pelo Executi-vo, em cumprimento ao que de-termina a Constituição Federal.

Depois de um processo inicia-do no primeiro governo Lula,quando a Secretaria de Recur-sos Humanos do Ministério doPlanejamento criou a Mesa Na-cional de Negociação Permanen-

te – um canal de discussões comos representantes dos servido-res federais, formalmente insti-tuído – chegou-se a uma pro-posta de consenso que possibi-litou ao Governo Federal enviar,em 14 de fevereiro de 2008, aproposta de regulamentaçãoagora aprovada.

No texto final do projeto, fi-cou definido que “são sujeitosà aprovação do Congresso Na-cional quaisquer atos que pos-sam resultar em revisão das re-feridas Convenção e Recomen-dação”.

[Fonte: Site Servidor]

Maioria cutista: votação que manteve a Fenajufe filiada à CUT por 68% dos votos, em Fortaleza

Pelo fim das práticasantissindicais e as

mortes no campo

O Comando de Combate àsPráticas Antissindicais forma-do pela CUT, UGT, Força Sin-dical, CTB, CGTB e NCST, des-de 2008 vêm lutando de for-ma unitária para levar a dis-cussão do combate às práti-cas antissindicais nos diversosníveis da sociedade, envolven-do também os órgãos de go-verno como Ministério do Tra-balho e Emprego, MinistérioPúblico do Trabalho, Procura-doria Geral do Trabalho, Se-

Nota de repúdio ao assassinato de Pedro Alcântara

cretaria Especial de Direitos Hu-manos e outras entidades comoDIEESE e ACTRAV/OIT.

Não foi por acaso que em de-zembro do ano passado, reali-zamos um Seminário em Belémdo Pará com a presença de diri-gentes das centrais nacionais eregionais, Superintendência Re-gional do Trabalho, Procurado-ria Geral do Trabalho, Secreta-ria Especial de Direito Humanos,DIEESE e ACTRAV/OIT, pois asdenúncias de abusos contra di-rigentes sindicais, inclusive comameaças de morte é grande na-quele estado.

Infelizmente o dirigente da

Fetraf-PA, Pedro Alcântara foiassassinado a tiros por dois ho-mens em uma motocicleta, en-quanto caminhava com a espo-sa na última quarta-feira, 31 demarço.

Isto só reforça a necessidadeda união do movimento sindicalpara que juntos possamos pro-mover ações de combate às prá-ticas antissindicais no Brasil,principalmente às que atentamcontra a integridade física e àvida de dirigentes e ativistas sin-dicais. Cobraremos da Justiça,do Ministério Público do Traba-lho e das autoridades compe-tentes que este crime e outros

que já ocorreram não fiquemimpunes.

É inadmissível que em umasociedade democrática, asrelações de trabalho, autono-mia e liberdade sindical pre-vistas em nossa Constituiçãosejam barbaramente descum-pridas.

Nossas condolências aos fa-miliares de Pedro Alcântara.

São Paulo, 1º de abrilde 2010

Comando de Combate asPráticas Antissindicais

18 Ano III – número 28 – março e abril 2010http://sisejufe.org.br

Lição por linhas tortas

Leonardo Boff*

O levantamento dos padrespedófilos em quase todos ospaíses da cristandade católicaestá ainda em curso, revelandoa extensão desse crime que tan-tos prejuízos tem provocado emsuas vítimas. É pouco dizer quea pedofilia envergonha a Igreja.É pior. Ela representa uma dívi-da impagável com aqueles me-nores que foram abusados soba capa da credibilidade e daconfiança que a função de pa-dre encarna. A tese central dopapa Ratzinger que cansei deouvir em suas conferências eaulas vai por água abaixo. Paraele, o importante não é que aIgreja seja numerosa. Basta queseja um “pequeno rebanho”,constituído de pessoas altamen-te espiritualizadas. Ela é um pe-queno “mundo reconciliado”que representa os outros e todaa humanidade. Ocorre que den-tro desse pequeno rebanho hápecadores criminosos e é tudomenos um “mundo reconcilia-do”. Ela tem que humildementeacolher o que dizia a tradição: aIgreja é santa e pecadora e éuma “casta meretriz”. Não é su-ficiente ser Igreja. Ela tem quetrilhar, como todos, pelo cami-nho do bem e integrar as pul-sões da sexualidade que já pos-sui 1 bilhão de anos de memóriabiológica para que seja expres-são de enternecimento e deamor e não de obsessão e de vio-lência contra menores.

A tese central do papa Ratzinger quecansei de ouvir em suas conferênciase aulas vai por água abaixo

O escândalo da pedofilia seconstitui num sinal dos temposatuais. Do Vaticano II (1962-1965) aprendemos que cumpreidentificar nos sinais uma inter-pelação que Deus nos quertransmitir. Vejo que a interpela-ção vai nesta linha: está na horade a Igreja romano-católica fa-zer o que todas as demais Igre-jas fizeram: abolir o celibato im-posto por lei eclesiástica e libe-rá-lo para aqueles que veem sen-tido nele e conseguem vivê-locom jovialidade e leveza de espí-rito. Mas essa lição não está sen-do tirada pelas autoridades ro-manas. Ao contrário, apesar dosescândalos, reafirmam o celiba-to com mais vigor.

Sabemos como é insuficientea educação para a integração dasexualidade no processo de for-mação dos padres. Ela é feitalonge do contato normal com

as mulheres, o que produz cer-ta atrofia na construção da iden-tidade. As ciências da psique nosdeixaram claro: o homem sóamadurece sob o olhar da mu-lher e a mulher sob o olhar dohomem. Homem e mulher sãorecíprocos e complementares. Osexo genético-celular mostrouque a diferença entre homem emulher, em termos de cromos-somos, se reduz a apenas umcromossomo. A mulher possuidois cromossomos XX e o ho-mem, um cromossomo X e ou-tro Y. Donde se depreende queo sexo-base é o feminino (XX),sendo o masculino (XY) uma di-ferenciação dele. Não há, pois,um sexo absoluto, mas apenasum dominante. Em cada ser hu-mano, homem e mulher, existe“um segundo sexo”. Na integra-ção do animus e da anima, valedizer, das dimensões de femini-no e de masculino presentes emcada um, se gesta a maturidadesexual.

Essa integração vem sendo di-ficultada pela ausência de uma

das partes, a mulher, que é subs-tituída pela imaginação e pelosfantasmas que, se não foremsubmetidos à disciplina, podemgerar distorções. O que se ensi-nava nos seminários não é semsabedoria: quem controla a ima-ginação, controla a sexualidade.Em grande parte, assim é. Mas asexualidade possui um vigor vul-cânico. Paul Ricoeur, que muitorefletiu filosoficamente sobre ateoria psicanalítica de Freud,reconhece que a sexualidadeescapa ao controle da razão, dasnormas morais e das leis. Elavive entre a lei do dia, em quevalem as regras e os compor-tamentos estatuídos, e a lei danoite, em que funciona a pul-são, a força da vitalidade es-pontânea. Só um projeto éticoe humanístico de vida (o quequeremos ser) pode dar dire-ção a essa dialética e transfor-má-la em força de humaniza-ção e de relações fecundas.

Nesse processo o celibato nãoé excluído. Ele é uma das opçõespossíveis que eu defendo. Mas ocelibato não pode nascer de uma

Está na hora de a

Igreja romano-católica

fazer o que todas as

demais Igrejas

fizeram: abolir o

celibato imposto por lei

eclesiástica e liberá-lo

para aqueles que

veem sentido nele e

conseguem vivê-lo com

jovialidade e leveza

de espírito

Foto: Oliviero Toscani

Nos anos 90, a marca italiana Benetton polemizou com o

Vaticano ao questionar o celibato

C E L I B A T O E P E D O F I L I A

Ano III – número 28 – março e abril 2010 19http://sisejufe.org.br

*Teólogo, escritor e professoremérito de Ética da UERJ.

carência de amor, ao contrário:deve resultar de uma supera-bundância de amor a Deus quetransborda para os que estão asua volta.

Por que a Igreja romano-ca-tólica não dá um passo e abole alei do celibato? Porque é con-traditório com a sua estrutura.Ela é uma instituição total, auto-ritária, patriarcal e altamentehierarquizada. Ela abarca a pes-soa do nascimento à morte. Opoder conferido ao papa, parauma consciência cidadã mínima,é simplesmente tirânico. O câ-non 331 é claro. Trata-se de umpoder “ordinário, supremo, ple-no, imediato e universal”. Se ris-carmos a palavra papa e colo-carmos Deus, funciona perfeita-mente. Por isso se dizia: “O papaé o deus menor na terra”. Uma

O celibato não pode nascer de uma carênciade amor, ao contrário: deve resultar de umasuperabundância de amor a Deus quetransborda para os que estão a sua volta

Igreja que coloca o poder emseu centro fecha as portas e asjanelas para o amor, a ternura eo sentido da compaixão. O celi-batário é funcional para essetipo de Igreja.

O celibato implica cooptar osacerdote totalmente a serviço,não da humanidade, mas dessetipo de Igreja. Ele só deverá amara Igreja. Enquanto essa lógicaperdurar, não esperemos que alei do celibato seja abolida. Ele émuito cômoda para ela.

Mas como fica o sonho de Je-sus de uma comunidade frater-na e igualitária? Bem, isso é umoutro problema, talvez o prin-cipal.

Manual paraescrever simples

“Dicionário de Politiquês”,de Vito Gianotti e Sérgio Do-mingues, é o novo lançamen-to da Editora NPC. São cercade 3,5 mil verbetes traduzi-dos para a linguagem damaioria, aquela que passouno máximo oito anos na es-cola e é o público alvo dosmilitantes de esquerda.

O objetivoda obra é sim-plificar a lin-guagem paraa compreen-são da mensa-gem, essa sim,o prato prin-cipal da co-municação.“Qualquer di-cionário éusado paraaprender ausar tal termo,tal palavra. Pois este dicioná-rio deve ser usado exatamen-te para o contrário. Paraaprender a como não usar talpalavra e substituir por ou-tra”, diz Gianotti.

Assim, nas 285 páginas deconsulta do livro, HEGEMÔ-NICO é exemplificado em

uma situação, “nosso parti-do tem uma situação HEGE-MÔNICA”, e traduzido, “nos-so partido é o MAIS FORTE”.CONSECUTIVO, apresentado

na frase “foi uma decisãoCONSECUTIVA ao encerra-mento da greve”, vira “foiuma decisão QUE VEIOLOGO EM SEGUIDA ao encer-

Rodrigo Otávio* ramento da greve”. Em “exis-te um HIATO entre o querere o poder”, o vocábulo é subs-tituído e lê-se “existe umaGRANDE DIFERENÇA entre oquerer e o poder”.

O lançamento de “Dicioná-rio de Politiquês” no Rio, seráno dia 28 de abril, às 19h, noSindicato dos Metroviáriosdo Rio de Janeiro (Av. RioBranco, 277/401 – Centro).Durante o lançamento have-

rá debatesobre o te-ma com osautores, oe d u c a d o rGaudêncioFrigotto, osMC’s Gas-PAe Leonardo,e a jornalis-ta GizeleM a r t i n s .Após o Rio,haverá lan-

çamentos em Viçosa (MG),Natal (RN), Recife (PE) e Brasí-lia em maio; Belo Horizonte(MG), Florianópolis (SC) e Lon-drina (PR) em junho, e SãoPaulo (SP) em julho.

O livro é vendido unitaria-mente ou em pacotes paraentidades. O preço do exem-plar é R$ 30. No pacote dedez exemplares, sai por R$28. No de 20, R$ 25. No de50, R$ 23, e no pacote com100 unidades cada uma saipor R$ 20. Encomendas napágina http://piratininga.org.br/.

*Rede Nacional de

Jornalistas Populares (Renajor).

20 Ano III – número 28 – março e abril 2010http://sisejufe.org.brAno III – número 28 – abril e maio 2010

F O R M A Ç Ã O P O L Í T I C A

Emir Sader apresenta Karl MarxNa noite de 12 de abril, a CUT Rio, em parceria com oSisejufe, deu início ao curso de Formação Política“Marximo(s)”. A aula inaugural foi ministrada porEmir Sader, sociólogo, pesquisador e professor daUerj. O tema da conferência foi “A atualidade de Marxe do Marxismo: história, teoria e política”. Saderacaba de lançar, pela editora Boitempo, a coletâneade artigos “Brasil – Entre o passado e o futro”, co-organizada por Marco Aurélio Garcia. O sociólogo, umdos nomes mais respeitados na esquerda da AméricaLatina, prendeu a atenção da plateia de sindicalistaspor aproximadamente 40 minutos numa apresentaçãodidática e bem-humorada que passeou por tópicos daobra do filósofo Karl Marx dentro de umacontextualização bastante contemporânea. Ideias emRevista traz para você breves trechos da conferência. Aíntegra está disponível no portal de internet doSisejufe. [Henri Figueiredo]

Fotos: Henri Figueiredo

Hoje a própria direita reconhe-ce, com a crise econômica, quea capacidade de análise de Marxcom relação ao capitalismo con-tinua sendo insuperável; a pró-pria ideia de crise capitalista éum conceito diretamente ligadoa forma de Marx entender o ca-pitalismo. O método de Marx éinsuperável. Pode-se tirar con-clusões diferentes sobre o tipode socialismo, sobre a forma deluta, tipo de partido e tipo desociedade que a gente quer. Mascomo instrumento de análise,Marx é insuperável – produziuuma teoria que ajuda a enten-der a realidade, mas não é defácil compreensão.

Foi uma tragédia para a es-querda mundial e brasileira aseparação entre elaboração teó-rica e a prática política. Com aelaboração teórica, o foco é auniversidade; e com a práticapolítica, o Parlamento. Uma for-ça política, como um partido,tem que articular as duas ver-tentes. Não dá para transformaro mundo sem compreender oque é esse mundo, sem debater,

sem elaborar. Não há razão sempaixão, não há reflexão conse-quente sem ação, não há pensa-mento que capte a realidade semcapacidade de transformação. Ogrande julgamento sobre se opensamento é correto ou nãopara entender a realidade é noque ele desemboca, qual é aproposta? Qual é o projeto?Onde é que nós vamos acumu-lar forças? Como é que nós va-mos sair da realidade atual? Amaneira de fazer denúncia temque ser um instrumento para agente chegar a uma platafor-ma de luta: com quem a genteconta? Para que a gente luta?Em que etapa da luta estamos?

O marxismo representou umarevolução no plano teórico eapontou para uma revolução noplano prático. Marx disse na dé-cima primeira tese sobre Feuer-bach: os filósofos até aqui inter-pretaram o mundo de diferen-tes maneiras, mas do que se tra-ta é de transformá-lo. As teoriassão quadros, como se fossemuma fotografia. Já o marxismo

não quer ser uma pintura a maisda realidade, quer ser uma teo-ria que capte a realidade de suasentranhas e que, por isso, sejaum instrumento de transforma-ção da realidade. Não por aca-so, os primeiro teóricos – o pró-prio Marx, Engels, Lenin,Trotsky, Rosa Luxemburgo –eram dirigentes revolucionários,porque marxismo quer ser isso,quer ser instrumento de análisee de transformação do mundo.

Hegel e Marx vão resgatar aideia de contradição para opensamento como inerente àprópria realidade. Quando euentendo a realidade é que eucompreendo a contradição,

que organiza a realidade. En-tender o capitalismo, é enten-der a contradição entre bur-guesia e proletariado. São con-traditórios já que têm interes-ses totalmente opostos entre sie só existem um na luta contrao outro. Eu compreendo umasociedade quando eu entendoas contradições que a move. Asociedade é organizada emtorno de contradições e a his-tória do Brasil é a história dascontradições sociais, entre osinteresses opostos. A contra-dição, a dialética, serve paraentender justamente o movi-mento das coisas, a história eo homem.

Aula inaugural: plateia de sindicalistas no curso de formação

Ano III – número 28 – março e abril 2010 21http://sisejufe.org.br 21http://sisejufe.org.br

Trabalhador cria,

capitalista se

apropria

Quem cria riqueza é o traba-lhador, quem se apropria da ri-queza é o capitalista. É por issoque a gente sabe, na prática, quede tudo que um trabalhadorproduzir, o que ele receber bas-tará apenas para ele se manter.Enquanto um capitalista acumu-la capital. Assim o capitalista ten-de a ter mais riqueza. O traba-lhador apenas o suficiente parasobreviver e se reproduzir, paraele ter a sua força de trabalho econdições trabalhar no dia se-guinte. A maioria esmagadora dahumanidade vive para trabalhar.Essa história do fim do trabalhoé bobagem, o que houve foi umadesregulamentação do trabalho.A maioria esmagadora da huma-nidade vive para o trabalho e vivedo trabalho. O que ganha: ga-nha a remuneração do trabalho.No entanto, o trabalhador nãotem consciência disso, não temescolha de onde trabalhar.

A coisa mais importante numhomem é a capacidade de tra-balho, mas trata-se de um tra-balho alienado: é algo que o ho-mem faz não porque quer fazer.Mas porque é preciso e acaba setornando algo indesejável. DizMarx que se perguntar para umtrabalhador o que ele quer, elevai dizer exatamente aquilo maisespecíficamente biológico: euquero dormir, eu quero comer,

quero ter relações sexuais, que-ro não fazer nada, que é tudoque a gente tem em comum como animal. O animal também éassim. Porque o que é especifi-camente nosso, que é o traba-lho, está descaracterizado e setorna indesejável, como umaforça exterior coativa contra ohomem.

O capitalismo é

feito de crisesO capitalismo é feito de crises,

mas não é que todo tempo eleestá em crise. O período atual éde estagnação. Alguns falam decrise de superprodução ou desubconsumo. O que interessa éque, na crise, o que acontece?As prateleiras ficam cheias, o tra-balhador não tem dinheiro eainda é mandado embora. En-tão, aumenta mais ainda o dese-quilíbrio entre a produção e oconsumo. O neoliberalismo con-sidera que, quanto menos re-gras, normas, leis, regulamentosmais a economia vai crescer. Essaera a mentira que se contava:quanto melhor for para o rico,melhor é para o pobre. Se dei-xou o capitalista investir aondeele bem entendeu, o que acon-teceu? O dinheiro não foi para aprodução, foi para a especula-ção financeira.

O capital não é feito para pro-duzir, ele é feito para ganhar,para acumular riqueza. Aondeele ganha mais? Claro, é na bol-sa de valores. Então, não é quetemos o capitalista produtivo

que é o bonzinho e o capitalistaruim que é o especulativo, não.Toda a grande empresa, como aVotorantim do Antônio Ermíriode Moares, tem um banco. Elaganha mais dinheiro com o ban-co do que com o cimento, por-que está incentivando a especu-lação com uma taxa de jurosalta. O neoliberalismo represen-ta isso: a hegemonia saiu do se-tor produtivo e passou para osetor financeiro.

Por que saímos

da crise?A gente saiu da crise justamen-

te porque andou na contramãodo neoliberalismo, porque o go-verno Lula manteve as políticassociais, recuperou o nível de em-prego, investiu mais fortemen-te, tirou imposto para poder in-tensificar o consumo. Nós, hoje,temos uma política internacio-nal de diversificar os investimen-tos. Pela primeira vez, o centrodo capitalismo continua em cri-se e o Sul do mundo saiu da cri-

se. É uma novidade com as de-mandas da China, com o inter-câmbio que a gente faz – issonão existia. Se os Estados Uni-dos entrassem em crise, todomundo chorava. As demandasdeles eram fundamentais. Ago-ra, o principal parceiro interna-cional do Brasil é a China e nãoos Estados Unidos. Pela primei-ra vez, o povo não pagou o pre-ço mais caro da crise como sepagava antes.

Por isso, a América Latina estána vanguarda em relação aomundo. Os cinco presidentesque foram no Fórum SocialMundial de Belém, no começodo ano passado, eram latino-americanos e todos marginais dapolítica tradicional. Um arcebis-po paraguaio ligado ao movi-mento de camponeses; um mu-lato venezuelano, que roubou daelite branca a empresa de petró-leo; um líder indígena boliviano;um intelectual crítico equatori-ano; e um líder sindical brasilei-ro. Todos tentando construiralternativas.

Organizado pela Secretaria de Formação daCUT Rio, o curso Marxismo(s) acontece entreos dias 12 de abril e 26 de julho de 2010(sempre às segundas-feiras), com móduloúnico, aulas semanais, das 19h às 22h, comtotal de 45 horas aulas. A participação éaberta mas as vagas são limitadas. Inscriçõespelo e-mail [email protected]

Lúcia Reis (CUT Nacional), Sader, Ponciano (secretário de Formação da CUT) e Igayara, presidente da Central

22 Ano III – número 28 – março e abril 2010http://sisejufe.org.br

N Ú C L E O S D O S I S E J U F E

ria com base no tempo de con-tribuição. No caso da aposenta-doria por idade, cai de 65 para60 entre os homens e de 60 para55 entre as mulheres a idadepara a aposentadoria desde queseja cumprido um tempo míni-mo de 15 anos de contribuição.Será necessário também compro-var que a deficiência existe há 15anos para se conseguir a aposen-tadoria especial por idade.

Autor da proposta, o ex-depu-tado Leonardo de Mattos disseque aprovação do projeto é umaquestão de justiça para as pes-soas com deficiência. “É um pro-jeto fundamental para pelo me-nos 100 mil pessoas com defici-ência que estão aguardando, emuitas vezes trabalhando semcondições, ameaçados de seaposentar por invalidez”. O be-nefício, na opinião de Mattos,será uma compensação pelodesgaste físico e psicológico daspessoas com deficiência que es-tão no mercado de trabalho.[Fonte: ICEP Brasil]

Em reunião com os diretoressindicais Dulavim de OliveiraLima Júnior, Mariana Liria, Val-ter Nogueira Alves e Ricardo deAzevedo Soares, e também o re-presentante de base Ronaldodas Virgens, na quinta, 25 demarço, o presidente do TRF2Paulo do Espírito Santo, ouviua reivindicação dos deficientesvisuais por um sistema proces-sual mais acessível. Ele colocoucomo prioritária a questão daacessibilidade – e o fez em liga-ção telefônica com o diretor deinformática do Tribunal. “O de-sembargador reconheceu que

a situação é inadmissível e disseque os deficientes visuais terãoseu pleito atendido”, disse Ri-cardo de Azevedo Soares, dire-tor responsável pelo Núcleo dePessoas com Deficiência do sin-dicato. “Tivemos uma boa im-pressão do presidente e, porenquanto, estamos satisfeitoscom suas palavras”, comentouDulavim, diretor que integra oDepartamento Jurídico do Sise-jufe. Desde dezembro de 2009,os deficientes visuais estão semacesso aos processos em trami-tação na Justiça Federal de 1ªInstância por conta de uma al-teração introduzida no sistemaprocessual daquele órgão. Delá para cá, o Sisejufe se fez pre-sente na luta dos deficientes poruma acessibilidade plena. [DaRedação.]

Mais uma decisão de Tribu-nal favorável aos agentes de se-gurança, dando um duro gol-pe na prática do desvio de fun-ção. Desta vez foi o TRT14, dejurisdição nos estados de Ron-dônia e Acre. Esperamos queeste novo exemplo sirva de“norte” no entendimento dasadministrações dos demais Tri-bunais contra o nefasto e per-verso desvio de função.

O Tribunal Pleno do TribunalRegional do Trabalho da 14ªRegião, no julgamento do pro-cesso: 00483.2009.000.14.00-2, em 15 de dezembro de 2009,decidiu pelo provimento de re-curso administrativo contra odesvio de função de agentes desegurança daquele regional.

Enviado ao Ministério Públi-co, este se pronunciou no sen-tido de “Encaminhado o pro-cesso à Procuradoria-Geral daUnião em Rondônia, esta nãocontrapôs os argumentos dosinteressados, manifestando-seno sentido de que o Ato Admi-nistrativo que altera função deservidor público é ilegal e in-constitucional, e, ainda, que odesvio de função viola princípi-os constitucionais, conformedisposto no art. 37 da Consti-tuição Federal, além de violar oprincípio do concurso público,previsto no inciso II do mesmoartigo. Por outro norte, afirmaque a Administração poderáutilizar-se da norma Constitu-cional prevista no art. 41, § 3º(fls. 88/91)”. E “O MinistérioPúblico, opina pelo conheci-mento e provimento dos recur-sos, ao fundamento de que aAdministração não pode des-cumprir a Constituição a pre-

Núcleo de Portadores de Deficiência

A Câmara dos Deputados apro-vou o projeto que trata da apo-sentadoria especial para pessoascom deficiência, em 14 de abril.Pelo texto, o prazo de contribui-ção para que deficientes possamse aposentar pode ser reduzidoem até dez anos, dependendo dograu de deficiência. O prazo decontribuição por idade tambémserá reduzido. A proposta agoraserá encaminhada ao Senadopara análise. A matéria agora vaipassar pelo Senado.

Pelo texto, quem tem deficiên-cia considerada leve terá umaredução de cinco anos nesteprazo, quem apresenta deficiên-cia moderada contribuirá oitoanos a menos e quem tem defi-ciência grave terá prazo dezanos menor para a aposentado-

Câmara aprovaaposentadoriaespecial para pessoas

com deficiência

Presidente do TRF se comprometecom a luta dosdeficientes visuais

NAS

Agentes de Segurança:fim do desvio defunção no TRT14

texto de cumprir norma infra-constitucional.”

O voto foi baseado no art. 37,II, da Constituição de 1988, inverbis “II -A investidura em car-go ou emprego público depen-de de aprovação prévia em con-curso público de provas ou deprovas e títulos, de acordo coma natureza e a complexidade docargo ou emprego, na formaprevista em lei, ressalvadas asnomeações para cargo em co-missão declarado em lei de li-vre nomeação e exoneração.”

Também fundamentou a de-cisão o que preconiza A Lei n.8.112/1990 também proíbe odesvio de função, conformeabaixo descrito abaixo: “ Art.117. Ao servidor é proibido:

I ao XVII … (omissis);XVIII – exercer quaisquer ati-

vidades que sejam incompatíveiscom o exercício do cargo oufunção e com o horário de tra-balho.”

Acrescentando ainda que“Nesse diapasão, não pode umservidor público exercer as ati-vidades inerentes a um cargodiferente do seu ou ocupar ou-tro cargo que não seja pela par-ticipação de concursos de pro-vas ou provas e títulos, por en-contrar óbices intransponíveisno ordenamento jurídico.

Quanto à conclusão, aqueleTribunal escreveu “Dessa forma,dou provimento no sentido dosrecorrentes exercerem o cargopara o qual prestaram concur-so público, ou seja, Técnico Ju-diciário, Área: Administrativa –Especialidade: Segurança, coma concessão da Gratificação deAtividade de Segurança – GASno índice de 35%, conforme es-tabelecido no § 1º do Art. 17 daLei n. 11.416/2006, ficando acritério da Administração o lo-cal da necessidade de lotação.[Enviada pelo diretor sindicalNilton Pinheiro]

Ano III – número 28 – março e abril 2010 23http://sisejufe.org.br

Nos dias 27 e 28 de abril, nasede da CUT Rio (Presidente Var-gas, 502 15º andar) o ColetivoEstadual da CUT de IgualdadeRacial e combate ao Racismorealiza encontro com a partici-pação do dos Conselhos de Di-reitos do Negro e dos órrgãosPIR-, Ceppir/MRJ; Cedine; Com-

O Núcleo de Oficiais de JustiçaAvaliadores Federais (Nojaf) rea-lizou na sede do sindicato, em 16

de março, reunião com a presen-ça de 22 servidores para discutira atuação da Direção do Foro

(Dirfo) e o desdobramento daReforma do Código de ProcessoCivil (CPC).

O principal ponto de discussãofoi a atual ação da Dirfo da SeçãoJudiciária do Rio de Janeiro (SJRJ),

que segundo relatos, tem promo-vido o desvio de função dos ser-vidores. Em ofício protocolado

em janeiro, o sindicato cobrouinformações a respeito de desviode função que oficiais de justiça

estariam sendo vítimas. Até o fe-chamento desta publicação, nãohouve uma resposta. Por isso, os

servidores decidiram durante areunião que irão encaminhar oquestionamento ao Conselho Na-

cional de Justiça (CNJ).

Os oficiais também avaliaram so-bre o projeto de reforma do CPC.

Uma das propostas do projeto épermite aos advogados intimardiretamente a parte contrária

para depor, sem que a comunica-ção seja feita obrigatoriamentepor um oficial de justiça. A medi-

da traz reflexo direto para as ati-

Núcleo de Gênero e Raça

Coletivo Estadual daCUT de IgualdadeRacial e combateRacismo realiza encontro

dedine e Comdedinepir (Duquede Caxias, Nova Iguaçu e ou-tros municípios ). O encontroterá debates políticos sobre aplataforma da classe trabalha-dora na perspectiva da popu-lação negra; elaboração de es-tratégias e plano para inserçãodas demandas do movimentonegro CUTtista; e, também,sessão de vídeos sobre a reser-va de vagas para negros (co-tas) no ensino superior e polí-ticas afirmativas para negro(a)s– com comentários e debate.[CUT Rio]

NOJAF

Oficiais de Justiçadiscutem Dirfo,CPC e PLP 554

vidades dos oficiais. Os servidores

decidiram apresentar sugestõesao projeto para a direção do Sise-jufe levar à comissão do CPC, du-

rante as audiências públicas.

Também ficou definido, duran-

te a reunião, que a portaria que

regulamenta da Central de Man-

dados será avaliada pelos advo-

gados do Departamento Jurídi-

co do sindicato. O objetivo é emi-

tir parecer referente a qualquer

ilegalidade que possa existir na

portaria.

Em Brasília, a Comissão de Di-

reitos Humanos e Legislação Par-

ticipativa do Senado Federal rea-

lizou uma audiência pública para

tratar de temas peculiares aos

oficiais de justiça. Rudi Cassel,

assessor jurídico do Sisejufe para

o Distrito Federal, participou da

audiência e deixou farto material

sobre o tema com os senadores,

alertando para o PLP 554/2010 –

que atualmente tramita na Câma-

ra dos Deputados em tempo re-corde e afasta garantias funda-mentais como paridade e inte-

gralidade dos proventos, além depromover a revisão de aposenta-dorias de policiais que adquiri-

ram o direito na vigência da LeiComplementar 51/85. Se aprova-do, e inseridas as demais ativida-

des de risco (oficiais e agentes,por exemplo), o projeto repre-senta a inviabiliza a aposentado-

ria especial. [Tatiana Lima, daRedação]

Jurídicas

Sisejufe barra impostosindical na Justiça

O juiz federal Fabrício Fernan-

des de Castro, da 26ª Vara Federal

da Seção Judiciária do Rio de Janei-

ro, suspendeu a cobrança do im-

posto sindical aos filiados do Sise-

jufe. A decisão, tomada em 29 de

março, suspende a determinação

do Conselho da Justiça Federal

(CJF) de cobrar o imposto e impe-

de a União de exigi-la dos sindica-

lizados do Sisejufe. O magistrado

amparou a decisão no Art. 580 da

CLT (Consolidação das Leis Traba-

lhistas) que não inclui os servido-

res dentre aqueles que devem re-

colher a imposto. O sindicato ha-

via ajuizado ação contra a cobran-

ça do tributo para que o Tribunal

Regional Federal não efetuasse o

desconto.

No processo ajuizado pelo Sise-

jufe, o juiz federal suspende os

efeitos de decisão do CJF e deter-

mina que o imposto sindical não

seja descontado dos servidores do

TRF da 2ª Região filiados ao sindi-

cato. O Sisejufe, discordando da

cobrança, ajuizou ação no dia 24 de

março contra a determinação do

CJF que autorizou esse recolhi-

mento compulsório na folha de pa-

gamento.

Além da ação, o sindicato inter-

pôs requerimento administrativo

solicitando que o presidente do

TRF 2 não autorize o débito. O sin-

dicato já tinha ingressado com ação

judicial na Seção Judiciária do Dis-

trito Federal, requerendo o impe-

dimento dos descontos, a devolu-

ção dos valores eventualmente

descontados e a nulidade da Instru-

ção Normativa 1/2008 do Ministé-

rio do Trabalho.

Contrariando a decisão de todo o

Judiciário Federal, o Conselho da

Justiça acatou o pedido da Confe-

deração dos Servidores Públicos e

determinou o recolhimento do im-

posto dos servidores da Justiça

Federal de 1ª e 2ª Instâncias.

Essa vitória reflete um pensa-

mento jurídico que já conduziu o

STF, STM, TSE, TST e TCU a se ma-

nifestarem administrativamente

contrários à cobrança. O imposto

sindical é modalidade de contribui-

ção compulsória, criada para o finan-

ciamento do sistema sindical con-

federativo e iniciado no governo de

Getúlio Vargas, com o objetivo de

submeter a organização sindical ao

Estado. [Da Redação – Notícia ori-

ginalmente divulgada na portal do

Sisejufe e no boletim Fique por

Dentro nº 107, de 6 de abril de

2010.]

Em requerimento protoco-lado nesta sexta-feira, 26/03/2010, o Sisejufe pediu a alte-ração do regulamento doConselho da Justiça Federal(Resolução 02/2008), que dis-ciplina o auxílio-saúde dosservidores da Justiça Federalde 1º e 2º graus.

Na medida, o sindicato re-quereu a inclusão – comodependentes para a percep-ção do benefício – dos ge-nitores, madrastas, padras-tos e adotantes, conformeocorre com os regulamen-tos do Supremo Tribunal

Sisejufe pede ao CJF a inclusão degenitores e adotantes para auxílio-saúde

Federal e do Conselho Na-cional de Justiça.

A distinção prejudica os ser-vidores da Justiça Federal enão encontra amparo na Lei8.112/90, tampouco no prin-cípio da isonomia. A medidaadotada pela entidade sindi-cal se ampara em vários fun-damentos jurídicos e deveproduzir a alteração necessá-ria para que genitores, ma-drastas, padrastos e adotan-tes possam ser beneficiáriosdo auxílio saúde. [Com infor-mações de Cassel e CarneiroAdvogados Associados.]

24 Ano III – número 28 – março e abril 2010http://sisejufe.org.br

SÃO PAULO – A campanha pre-sidencial está nas ruas. Bem, nãoexatamente nas ruas, já que alegislação define 1º de junhopara o início da propaganda elei-toral. Mas, com a oficializaçãodas pré-candidaturas de DilmaRousseff pelo PT e José Serrapelo PSDB, os principais concor-rentes estão postos. O campo dedisputa, contudo, que nessemomento deveria ser as conver-sas privadas, reuniões políticase convenções dos partidos, estáestranhamente desviado para amídia e para os tribunais. Pelomenos é isso se sobressai, já quea imprensa detém o poder dedivulgação e repercussão de fa-tos e factóides. E também por-que jornais e tribunais são dospoucos campos de disputa querestaram, ou para os quais foiarrastada a oposição partidária– que não consegue contraporum projeto de governo vitorio-so e que tem melhorado de fatoa vida de dezenas de milhões de

Assim na mídiacomo na corte

Vinicius Souza* brasileiros em todas as faixassociais. Um projeto de governoque é, afinal, respeitado dentroe fora do Brasil.

Desde o episódio da ficha fal-sa de Dilma na Falha de S.Paulo,há pouco mais de um ano, esta-va claro o jogo sujo que se po-deria esperar de parte da im-prensa. Mas a partir do lança-mento do III Plano Nacional deDireitos Humanos (PNDH) e darealização da I Conferência Na-cional de Comunicação (Confe-com), ambas propondo uma re-gulamentação mais transparen-te e democrática dos meios decomunicação, em especial nasconcessões públicas de rádio deTV, a mídia hegemônica tem sereunido constantemente de for-ma aberta e declarada para uni-ficar a ação e fazer campanhaeleitoral de fato contra a candi-data do governo e a favor dacandidatura Serra. Não é à toaque o ex-governador finalmen-te “assumiu” publicamente queseria candidato em uma longa

entrevista ao âncora da Bandei-rantes, José Luiz Datena, trans-mitida ao vivo de um parque comdireito a beijos em crianças.

A estratégia da mídia hegemô-nica ficou claríssima no “I Fó-rum Democracia (sic) & Liberda-de (sic) de Expressão”, quandoos patrões da Abril, Globo, Fo-lha e Estadão, sentados na pri-meira fila ao lado de próceresdo Opus Dei, ouviam algunsempregados seus, ideólogos ali-nhados e executivos de empre-sas de comunicação que tenta-ram derrubar os governos deseus países, desfilarem barbari-dades como “democracia nãosão eleições”, “se a oposiçãoganhar, não vejo mais essasameaças à liberdade de expres-são e de imprensa”, “o PT pro-cura subverter a democraciausando para isso meios demo-cráticos”, “o Lula, apesar detudo, manteve os jacobinos e osbolcheviques fora do poder”,“são fascistas disfarçados de es-querdistas”, “se o Serra ganhas-

Da esquerda paraa direita, figuradae literalmente,Arnaldo Jabor (praquem o Plano Realé a pedra filosofalda vida políticabrasileira); LuísErlanger, da Globo;Sidnei Basile, daAbril; e CarlosAlberto di Franco,que é um dos maisinfluentesnumerários daorganizaçãocatólica deultradireita OpusDei: democracianão são eleições!

Nacional

Ano III – número 28 – março e abril 2010 25http://sisejufe.org.br

*Jornalista.

Oposição sem rumo, sem discurso e sempropostas aposta nas grandes empresas decomunicação – que hegemonizam, e muitasvezes monopolizam, a produção e atransmissão de informação no Brasil.Em paralelo, vão se ensaiando nostribunais os passos de um eventual“golpe constitucional”

se, faríamos uma festa em ter-mos das liberdades”, “o governoé dominado pelas ONGs, caminhapara a paramilitância com 90% daspessoas autoritárias unindo-se apartidos totalitários”.

E por aí vai... Seria possível pre-encher páginas e páginas comfrases demonstrando o desespe-ro e partidarismo da oposiçãomidiática no encontro. Mas bas-ta apresentar algumas pérolasdo pensamento de Arnaldo Ja-bor durante o evento para en-tender o tom geral do “debate”:“Democracia é um conceito dealto nível, muito complexo paraesse povo de baixa educação.Não quero ser partidário, masse a Dilma ganhar vai ser umainvasão das formigas de um pen-samento controlador de umavelha esquerda superada. Comoa gente impede politicamenteque isso aconteça? Então o pe-rigo maior que ronda é ficarabstratos enquanto os outrossão objetivos e obstinados, furan-do nossa resistência. A classe, ogrupo e as pessoas ligadas à im-prensa têm que ter uma atitudeofensiva e não defensiva. Tem quehaver um trabalho a priori contraisso, uma atitude de precaução.Senão isso se esvai. Nossa atitudetem que ser agressiva”.

Não demorou muito e a revis-ta Veja, sempre ela, trouxe no-vos factóides em suas capas acu-sando pessoas ligadas a DilmaRousseff de corrupção e desviode dinheiro, acusações pronta-mente desmentidas pela própriaJustiça, mas que seguem nas sa-

las de espera de consultórios eempresas por todo Brasil. Glo-bo, Folha e Estadão, claro, re-percutindo. Mas a admissão daestratégia não podia ficar maisclara do que saindo da boca daprópria presidente da Associa-ção Nacional dos Jornais (ANJ) eexecutiva da Folha de S.Paulo,Maria Judith Brito em entrevistaao jornal O Globo, no início deabril: “Obviamente, esses meiosde comunicação estão fazendode fato a posição oposicionista

deste país, já que a oposição estáprofundamente fragilizada”.

Um dos pontos a ser atingidocom essa ação unificada é exa-tamente ofuscar fatos como aprisão de José Roberto Arruda(único governador eleito peloantigo PFL e até então o “me-lhor” quadro do partido paracandidato a vice na chapa deSerra), as enchentes em São Pau-lo (que escancararam as falhasadministrativas do “gestor com-petente”), a cassação do prefei-to Gilberto Kassab (por financia-mento ilegal de campanha poruma entidade fictícia interessa-da na privatização do centro dacapital paulista), e até o assassi-nato do secretário de Saúde dePorto Alegre e ex-vice prefeitoda capital dos gaúchos, EliseuSantos, (“coincidentemente”pouco depois de seu depoimen-to à Polícia Federal numa inves-tigação de corrupção envolven-do uma empresa paulistana).

E se os tucanos e demos estãoenfrentando os tribunais ou“ameaçados” pela Justiça, elesnão deixam barato e atacam osadversários também via Judiciá-rio, ainda que para isso tenhamde inverter a própria lógica fac-tual. É o caso, por exemplo, doprocesso em que o PSDB acusaa Apeoesp (Sindicato dos Profes-sores do Estado de São Paulo)por estar supostamente utili-zando uma greve por melhorianos salários que perderam 35%de seu poder de compra como“contrapropaganda eleitoral”,além, é claro, de infiltrar polici-

ais à paisana nas manifestaçõese mandar a PM reprimir os pro-testos com gás, cassetetes, bom-bas e balas de borracha.

A última e mais surpreenden-te das iniciativas foi a requisiçãojudicial para acesso a todos osdados, formulários e métodos daúltima pesquisa eleitoral da Sen-sus, que como todas as outrasmostra a consistente ascensãode Dilma e a estagnação de Ser-ra, com a “conveniente” exce-ção da pesquisa Datafraude,digo, Datafalha, digo, Datafolha,que mostrou exatamente o opos-to, “coincidentemente” na vés-pera do lançamento oficial dacandidatura demotucana. Issoaté poderia ser apenas “uma for-cinha” para a militância do can-didato em um momento crítico,mas se somada a todas as repre-sentações por campanha ante-cipada contra o presidente Lulae Dilma, pode representar umsinal de alarme e um risco realpara o futuro governo. Afinal, ogolpe em Honduras é aberta-mente classificado por essa gen-te como “democrático” e “cons-titucional”. E não podemos nosesquecer que o governador elei-to do Maranhão foi “legalmen-te” destituído por abuso de po-der econômico numa campanhacontra a “paupérrima” famíliaSarney. E que, ao invés de sermarcada uma nova eleição, ogoverno foi entregue a quemperdeu nas urnas: “por acaso”Roseana Sarney!

Figurinhacarimbada nosveículos dasOrganizaçõesGlobo, o sociólogoDemétrio Magnoli(acima) é exemplode voz conservadoraa serviçoda oposição

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O patrão João Roberto Marinho entre Jabor e William Waack

26 Ano III – número 28 – março e abril 2010http://sisejufe.org.br

R O Y A L T I E S

A discussão sobre os royaltiesdo petróleo da camada do pré-sal e a perda de milhões de reaisem receitas por parte de esta-dos e municípios produtoresnão deveria ficar restrita ao con-texto puro e simples da EmendaIbsen Pinheiro – proposta queentre outras demandas faria sóo Estado do Rio de Janeiro per-der R$ 7,3 bilhões em receitas.A questão central para mobili-zar prefeitos, parlamentares e apopulação em todo o país, se-gundo entidades como a Cen-tral Única dos Trabalhadores(CUT), a Federação Única dosPetroleiros (FUP) e o Sindicatodos Petroleiros do Norte Flumi-nense, precisa ser a que trata dapropriedade e da destinaçãodesse estratégico recurso ener-gético. A proposta que elas de-fendem está em tramitação noSenado (PLS 531/2009) e asse-gura o total controle do Estadosobre o petróleo e o gás produ-zidos, assim como a sua desti-nação social. O projeto prevêainda a criação de um fundosocial soberano para garantirque todo o excedente geradopelo petróleo seja aplicado pararesolver os principais problemassociais do Brasil.

“Defendemos a destinação dosrecursos para um fundo socialsoberano com o controle da so-ciedade para onde esse dinhei-ro é destinado”, reforça VítorCarvalho, secretário de Comuni-cação da CUT-RJ e diretor do Sin-dicato dos Petroleiros do Norte-Fluminense.

Na avaliação do dirigente sin-

A discussão está fora de focoDebate deveria ser travado em tornoda propriedade e destinação do petróleo

dical, não adianta deixar o de-bate restrito às perdas, comotem acontecido. Capitaneadopelo governador do Rio, SérgioCabral, o movimento em defesado estado chegou a reunir 150mil pessoas em ato no centro dacidade, em 17 de março, todoscom o discurso imediatista deque o Rio perde recursos, deque haverá complicações queameaçariam, entre outras coisas,até a realização da Copa doMundo de 2014 e as Olimpíadasde 2016. Sem contar que o go-verno alega que terá sérias difi-culdades de pagar as aposenta-dorias dos servidores inativos.Vitor Carvalho lembra que os re-cursos, por lei, deveriam ter apli-cação específica em áreas comoinfraestrutura, saúde e sanea-mento básico. O que na maioriados casos não acontece.

“Temos que deixar a paixão delado. A proposta é dividir comtodo o país. Muitos municípiosprodutores se agarram a essesrecursos e destinam muito pou-co para melhoria da condiçãode vida da população. Por isso, épreciso ter uma rígida fiscaliza-ção, prestação de contas do quefoi feito com os milhões recebi-dos”, explica o secretário deComunicação da CUT-RJ.

Para Adeílson Telles, da dire-ção Executiva Nacional da CUT,o debate sobre os royalties, quecoloca as unidades federativasda União umas contra as outras,é extemporâneo e vem sendoconduzido de forma atribulada.Ele afirma que não é possívelresolver de afogadilho umaquestão de natureza tão com-plexa e estratégica. “O ideal se-ria, portanto, que ele (o debate)estivesse fora da agenda do mo-mento. Em seu lugar, no topodas prioridades nacionais, deve-ria estar a luta pela garantia le-gal de que toda a riqueza extra-ída do pré-sal tenha controlenacional”, defende.

Soberania é fundamentalNa avaliação de João Antônio

de Moraes, coordenador geralda Federação Única dos Petro-leiros (FUP), o foco precisa serdesviado. Para ele, ao invés deestados e municípios do Rio deJaneiro, do Espírito Santo e deSão Paulo ficarem brigando paranão perder receitas geradas pe-los royalties, o povo brasileirodeveria encarrar essa luta, que émuito mais ampla. Seria paragarantir a efetiva soberania na-cional sobre todo o petróleo egás produzido pelo país.

“Uma distribuição justa dosroyalties é apenas parte do de-bate. A questão central que de-veria mobilizar prefeitos e par-lamentares em todo o país é apropriedade e a destinação dorecurso energético. O petróleoé do povo brasileiro e não dasmultinacionais que o extraíremdo território nacional, comoprevê o atual modelo de conces-são (Lei 9478/97), herança mal-dita do tucano FHC”, critica.

Vitor Carvalho concorda como colega da FUP. Ele afirma que

o sistema de concessão é dano-so ao povo brasileiro. A opçãopela proposta de partilha garan-tiria uma receita maior para opaís. Segundo Adeílson Telles, aCUT não abre mão também dacriação de mecanismos eficazesde transparência e controle so-cial na aplicação dos recursosdos royalties. “É inadmissível quemunicípios como Campos e Ma-caé, por exemplo, no Norte Flu-minense, embolsem uma fortu-na a título de royalties e conti-nuem convivendo com baixosíndices de desenvolvimento hu-mano, exibindo mazelas sociaisincompatíveis com orçamentos‘turbinados’ pelos royalties, nósdefendemos que haja compen-sação aos municípios produto-res por conta dos impactos so-ciais e ambientais”, diz.

De acordo com João Moraes,vários estudos e pesquisas com-provam que os royalties, além demal administrados e emprega-dos, têm contribuído para au-mentar a concentração de ren-da nas classes sociais mais privi-legiadas dos municípios benefi-ciários. “Isto porque os estadose municípios produtores de pe-tróleo têm sido negligentes naadministração destes recursosbilionários, que deveriam seraplicados em benefício da po-pulação, por meio de investimen-tos em áreas estruturais como

Max Leone*

Adeílson Telles: CUT Nacional

Vitor Carvalho: petroleiro

Ano III – número 28 – março e abril 2010 27http://sisejufe.org.br

saúde, educação, habitação, sa-neamento básico, meio ambien-te, entre outras”, explica.

O coordenador da FUP diz queo petróleo é um recurso finito eque não está sendo revertido emprol das necessidades do povobrasileiro. “É lamentável que ospolíticos transformem a polêmi-ca dos royalties em palanque elei-toral, reduzindo o debate poruma nova lei do petróleo a quemfica com mais ou menos receita.Enquanto parlamentares, prefei-tos e governadores disputam 15%dos recursos gerados pelo petró-leo, quem fica com os outros 85%desta riqueza?

CUT, FUP e o Sindicato dosPetroleiros do Norte Fluminen-se defendem que para garantirque o petróleo seja de todo opovo brasileiro e não das multi-nacionais é preciso mudar a atu-al legislação e restabelecer omonopólio integral da União,por meio da Petrobras 100% es-tatal e pública. “Essa é a princi-pal disputa que deve mobilizaros estados e municípios do país.Não precisamos de uma novaestatal, por isso somos contra acriação da Petro-Sal. A Petrobrastem tecnologia e é capaz de ex-plorar a bacia do pré-sal”, finali-za Vitor Carvalho.

Passeatapara o Centro do Rio

No dia 17 de março, uma pas-seata levou cerca de 150 mil pes-soas às ruas do Centro do Riocontra a Emenda Ibsen Pinhei-ro, que questiona as mudançasna distribuição dos royalties dopetróleo. Uma multidão quechegava de outras cidades sejuntou aos manifestantes quepartiram da Candelária em dire-ção à Cinelândia, onde o desfe-cho do ato contou com a reali-zação de um showmício. Os ôni-bus que traziam simpatizantesdo Norte Fluminense congesti-onaram a Ponte Rio-Niterói, nosentido Rio.

Nem mesmo a chuva demoveuos manifestantes do protesto,que teve oito trios elétricos eparticipação de celebridades,

Estudoscomprovam que osroyalties, além demal administradose empregados,têm contribuídopara aumentar aconcentração derenda nas classessociais maisprivilegiadas dosmunicípiosbeneficiários.

*Da Redação.

Telles: “É inadmissível quemunicípios como Campos eMacaé embolsem umafortuna e continuemconvivendo com baixosíndices de desenvolvimentohumano, exibindo mazelassociais incompatíveis comorçamentos ‘turbinados’pelos royalties”.

atletas, artistas, políticos, empre-sários, estudantes e trabalhado-res. A expectativa geral era deque a demonstração do Rio eco-asse no Distrito Federal pressio-nasse os parlamentares e o pre-sidente Lula a barrar a emendaaprovada na Câmara dia 10 demarço. O texto, que redistribuios valores pagos por quem ex-plora o petróleo entre todos osmunicípios e estados do País,sem atenção especial a quemproduz, ainda será votado noSenado.

A ex-governadora e atual pre-feita de Campos, Rosinha Garo-tinho, trouxe 10 mil pessoaspara a manifestação. Muitos pre-feitos fluminenses estiveram noato público. De Rio das Ostras, oprefeito Carlos Augusto Baltha-zar considerou uma irresponsa-

bilidade do deputado Ibsen di-zer que as áreas produtoras têmapenas vista para o mar: “Se hou-ver um vazamento, é lá que vaihaver prejuízo”, disse.

João Moraes: Federação Únicados Petroleiros

28 Ano III – número 28 – março e abril 2010http://sisejufe.org.br

O F I C I A I S D E J U S T I Ç A

Em nome de uma suposta efi-ciência, a direção do Foro vemdestruindo a Central de Manda-dos, que configura uma centra-lização do trabalho necessáriapara otimizar o deslocamento eagilizar o cumprimento dosmandados – ideia que é difundi-da por todo o Brasil, não só Rio,e também na Justiça Estadual.Recentemente o STF criou a suaCentral de Mandados, consa-grando a eficiência desse siste-ma de trabalho.

Está havendo um esvaziamen-to da Central de Mandados emnome de uma suposta melhorprestação – mas o que ocorrede fato é que os oficiais passa-ram a ficar mais tempo dentroda Central de Mandados que narua. O Sisejufe e os oficiais nãosão contra a virtualização dosprocessos, mas a certificaçãoeletrônica já foi implementadano sistema Apolo sem consultara forma de trabalhar dos servi-dores. Com isso, a mera impres-são de uma certidão foi substi-tuída por dez ou mais coman-dos, aumentando consideravel-mente o comprometimento dooficial com tal tarefa.

Com a centralização, a parteburocrática – como baixar osautos virtuais que veem da vara,

Os novos HecatônquirosQuando Zeus desafiou Cronos na disputa do Olimpo, aTitanomaquia só foi decidida quando ele libertou osHecatônquiros. Talvez inspirada na mitologia grega, aDireção do Foro da Justiça Federal no Rio de Janeirodecidiu agora que oficiais de justiça devem ser comoaqueles titãs libertados por Zeus, com cem braços,cinquenta cabeças e cem olhos. Eles conseguiam, por contadisto, mover montanhas inteiras. Os oficiais de justiça,neo-hecatônquiros, só não podem abrir a boca.

Roberto Ponciano* receber os que veem de papelseparadamente, classificar, dis-tribuir pelas áreas e de acordocom a urgência – era feita portécnicos judiciários concursa-dos, dentro da atribuição quelhes cabe. Em nome de uma re-organização do trabalho e su-posta modernização, a direçãodo Foro conseguiu desagradara gregos e troianos: os técnicosjudiciários, que há anos traba-lham no setor e que se especia-lizaram neste tipo de função,estão com os dias contados ali eirão para outros setores. Anun-cia-se que o conjunto do traba-lho será feito pelos oficiais. Ouseja, cada oficial, por si, fará todoo serviço burocrático – e issonão dinamiza a atividade e nemeconomiza tempo.

Esta proposta de descentrali-zação, na verdade, desorganizao trabalho. E dentro desta polí-

tica de desmonte do setor, o queocorre é que, extraoficialmen-te, através de e-mails, oficiais dejustiça vem sendo convidadospara, ilegalmente, se submete-rem a desvio de função e fica-rem no lugar dos técnicos. Des-de já, tal sistema se revela inefi-ciente, oneroso, demorado einadequado. Trata-se de umaimoralidade mascarada sob onome de Grupo de Complemen-tação de Diligências.

O novo regulamento já é umagrande demonstração do auto-ritarismo da atual Administra-ção, que acredita ter o mono-pólio do saber. O único oficialde justiça envolvido na elabora-ção do regulamento foi o coor-denador da NCOM, cuja visão detrabalho é altamente influencia-da pela sua relação de amizadecom o diretor do Foro, além doque ele, o coordenador, nuncateve representatividade entreseus pares. Dessa forma, joga-se no lixo um profundo traba-lho, de meses, desenvolvido poroficiais experientes, diretores decartório e de subsecretarias ejuízes, que originou o regula-mento anterior e que funcionoupor duas gestões anteriores dediretores do Foro. Será que es-tavam tão errados assim?

A intenção ocultaPor trás deste processo de

desmonte da Central de Manda-dos há uma intenção oculta: sa-tisfazer o desejo de alguns ma-gistrados de que os oficiais dejustiça voltem a ser servidores decartório. É o tipo de retrocessoque seria um desastre para to-dos: população, magistrados,servidores. A divisão por áreas,cada vez menores, tornou a fun-ção de oficial de justiça mais cé-lere e eficaz. O retorno, por puravaidade política, dos oficiais aoscartórios levará ao descontroledo serviço, à ineficácia e à mo-rosidade, já que cada oficial te-ria de entregar mandados emtoda a cidade, além de cumprirplantão e comparecer às audi-ências! O que hoje é feito, demodo eficaz, pela Central deMandados, seria feito de manei-ra atropelada e sob o controle,quiçá o assédio, do juiz de cadacartório. Em resumo, seria asubstituição do interesse públi-co pelo interesse do administra-dor. A ideia final é tornar a Cen-tral de Mandados inviável parajustificar o retorno ao passado– e este retrocesso puro e sim-ples tem a feroz oposição de ofi-ciais de justiça e do sindicato.

O caso chegou ao ponto datotal perseguição ao cargo deoficial de justiça. Vejam, porexemplo, se não é perseguiçãoa redução do prazo para cum-primento de mandados de 60dias, no máximo, para 30 dias –ainda que a média de cumpri-mento seja menor e as Cemansdo Rio sejam extremamente efi-cientes, segundo relatório daCorregedoria do TRF, de abril de2008. A única coisa que essamedida vai fazer é aumentar onúmero de mandados negativos,

Em nome de uma reorganização do trabalhoe suposta modernização, a direção do Foroconseguiu desagradar a gregos e troianos:os técnicos judiciários, que há anos trabalhamno setor e que se especializaram neste tipo defunção, estão com os dias contados ali e irãopara outros setores. Anuncia-se que o conjuntodo trabalho será feito pelos oficiais. Ou seja,cada oficial, por si, fará todo o serviçoburocrático – e isso não dinamiza a atividadee nem economiza tempo.

Ano III – número 28 – março e abril 2010 29http://sisejufe.org.br 29http://sisejufe.org.br

*Com Márcio Cotta e MarcosAndré Leite Pereira – Diretores

do Sisejufe.

já que o oficial de justiça ao nãoencontrar a parte devolverá ime-diatamente o mandado, semretê-lo para retornos posterio-res, já que sobre ele paira a ame-ça do processo administrativo.

O assédio não acaba por aí.Nas diligências de busca e apre-ensão, em consequência do fimdo setor de baixa, os oficiais se-rão obrigados a entregar os au-tos nos cartórios. Os oficiais te-rão de carregar os autos do se-tor de distribuição, ou de umcartório, para uma Vara de plan-tão e vice versa! E há coisa pior:até a fé pública do oficial caiuem descrédito. O oficial que ralana rua, com chuva e com sol, sobpressão, exposto à violência (etemos tristes casos de oficiaisassassinados em serviço), nãopoderá mais se recusar a cum-prir diligência em área de risco.Isto é o cúmulo do absurdo: aperda da garantia da integrida-de física. Com o novo regula-mento, o magistrado do cartó-

rio, de dentro de seu gabinete emesmo afastado da situação fá-tica, vai dizer se o oficial devecumprir a diligência ou não. Issovai forçar o oficial, nos casos emque ele considera que há a ne-cessidade, a requerer força po-licial que o acompanhe ao local.

O Sisejufe sugere que, em ca-sos em que o diretor do Foroconsidera que não há exposiçãoda vida dos oficiais de justiça,que se obrigue também o com-parecimento dos magistradosnas diligências – para verifica-rem in loco o risco ou não de sesubir o Morro do Alemão, en-trar na favela da Maré, na favelada Chatuba, em Vigário Geral ouParada de Lucas – locais em queos oficiais deixam de cumprir di-ligências para não expor a vida.Se não há risco de vida para ofi-ciais também não o há para ma-gistrados. E seria reconfor-tante ver os magistrados queordenarão tais diligências co-nhecendo um pouco do traba-

lho dos oficiais, que agora so-frem perseguição.

Ou seja, para ser oficial de jus-tiça hoje, só sendo Hecatônqui-ro. Baixar mandado virtual, jun-tar as folhas e grampear, verifi-car as ruas, entrar nas favelas,de acordo com a vontade domagistrado e mesmo que sejamintransitáveis, penhorar bens,consultar pela Internet o valordos bens, fazer citação, penho-ra, fazer busca e apreensão eentregar em mãos no cartórioque for, em suma, bater escan-teio e ir para a área cabeçear, sómesmo o Hecatônquiro queZeus libertou para vencer a guer-ra com Cronos. Cronos que deveser inimigo da direção do Foroporque, em lugar de lutar poreficiência e rapidez, ela querpunir os oficiais de justiça.

Para ser oficial dejustiça hoje, só sendoHecatônquiro. Baixarmandado virtual, juntaras folhas e grampear,verificar as ruas, entrarnas favelas, de acordocom a vontade domagistrado e mesmoque sejamintransitáveis, penhorarbens, consultar pelaInternet o valor dosbens, fazer citação,penhora, fazer busca eapreensão e entregarem mãos no cartórioque for, em suma, baterescanteio e ir para aárea cabecear.

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F U T E B O L S O C I A L

Nos próximos anos, o Rio deJaneiro será o centro das aten-ções de todo o mundo com a re-alização de eventos esportivosinternacionais. A cidade será umadas sedes da Copa do Mundo de2014, com o Estádio do Maraca-nã palco da grande final, alémde receber os Jogos Olímpicosde 2016, os primeiros realizadosem um país da América do Sul.Mas antes dessas duas competi-ções que despertam tanto inte-resse da mídia mundial, a CidadeMaravilhosa será a anfitriã da 8ªHomeless World Cup 2010 (HWC2010), também conhecida coma Copa do Mundo de FutebolSocial, que acontecerá entre 19e 26 de setembro deste ano, nasareias da Praia de Copacabana.O torneio reúne pessoas em si-tuação de risco e de exclusãosocial, favelados, albergados, re-fugiados de guerra, moradoresde rua de diversos países, todosatraídos pela linguagem univer-sal do futebol para disputar umtorneio, na perspectiva de discu-tir e superar as situações adver-sas que enfrentam no seu dia adia. De acordo com os organi-zadores, são aguardadas delega-ções de 64 países, envolvendo

Rio sediará campeonato

mundial de excluídosCompetição reunirápessoas em situaçãode risco social de 64países entre 19 e 26de setembro

mais de duas mil pessoas na re-alização da copa.

A Copa do Mundo de FutebolSocial conta com apoio da Uni-on of European Football Asso-ciations - Uefa (União das Asso-ciações Européias de Futebol),da International Network ofStreet Papers - INSP (Rede Inter-nacional de Publicações de Rua).O objetivo dos organizadores éreunir as pessoas para promo-ver discussões sobre exclusãosocial e formas de se combater asituação de pobreza, divulgar aspublicações de rua e disseminara paz em todo o mundo.

“Sempre que se discute a po-breza, os maiores interessados,que são os menos favorecidos,ficam de fora da discussão. Issosempre acontece. Com a lingua-gem universal do futebol temosa oportunidade de incluir essaspessoas nos debates. Aprovei-tamos para aglutinar esses gru-pos”, avalia Guilherme Araújo,secretário administrativo daOrganização Civil de Ação Soci-al (Ocas), uma Organização Não-Governamental (ONG) que atuacom população de rua propor-cionando a possibilidade de ge-ração de renda aos excluídoscom a venda de revistas nasruas.

A Ocas, ligada a uma rede in-ternacional de distribuição depublicações de rua – atualmen-te já são mais de 100 publica-ções -, organiza a participaçãodo Brasil na Homeless WordCup desde 2003, ano que que o

primeiro torneio foi disputadoem Graz, na Áustria. Segundoorganizadores, a HWC, como éconhecida, já promoveu e apoioa criação de programas socio-esportivos em mais de 70 paí-ses, beneficiando 100 mil joga-dores. Mais de 70% dos partici-pantes passaram por transfor-mações na vida, conseguindo selivrar das drogas, do álcool, ar-rumando emprego, casa, voltan-do a estudar. Boa parte passoua exercer função de empreen-dedores sociais. As outras edi-ções ocorreram em Gotembur-go, Suécia (2004); Edimburgo,Escócia (2005); Cidade do Cabo,África do Sul (2006); Copenha-gue, Dinamarca (2007); Mel-bourne, Austrália (2008); e Mi-lão, Itália (2009).

“Nosso foco principal é des-cobrir valores para dar continui-dade ao nosso trabalho de res-gate. Para participar do time épreciso ter um perfil de lideran-ça. Não visamos o trabalho dedescobrir grandes craques dofutebol. Já deixamos muitos ‘pe-lézinho’ de fora”, explica Gui-lherme Araújo, ressaltando quese caso surjam algum craque,melhor para o trabalho e paraas pessoas.

Os nomes que representarãoo Brasil na Copa do Mundo deFutebol Social, no Rio, sairão detorneios seletivos que acontece-rão em todo o país. Uma redenacional buscará em favelas,entres comunidades quilombo-las, populações ribeirinhas, en-

tre outras comunidades, joga-dores que tenham o perfil dese-jado. Segundo Guilherme Araú-jo, a Ocas vem mapeando ONGscom trabalho nesse campo deexcluídos para organizar tornei-os regionais para a seleção. NoRio, estão envolvidas entidadescomo a Fundação São Martinho,a Cruz Vermelha e o Instituto Bolapra Frente, dos tetra campeõesmundiais Jorginho e Bebeto.

“Buscamos trabalhos tambémnas escolas de samba, como aMangueira e o Salgueiro, queatuam com público em situaçãode risco social. Queremos enti-dades parceiras com trabalhosocioesportivo. Mas onde nãohá, podemos plantar uma se-mente”, afirma o diretor daOcas, responsável pela candida-tura brasileira à sede da Copado Mundo de Futebol Social.

A escolha da equipe de defen-derá as cores verde e amarelado Brasil movimentará, segun-do os organizadores, pelo me-nos 200 municípios do país. Ha-verá torneiros regionais em 16estados. São Paulo organizarátrês seletivas: na Capital, no In-terior e no Litoral. No final, se-rão 18 times disputando umaespécie de campeonato nacio-nal durante o mês de julho, jun-tamente com a Copa do Mundoda África do Sul. A estimativa éde que participem de três a qua-tro mil jovens em situação de ris-co. Em seguida, os selecionadospassarão por entrevistas paraconfirmar a real situação em

Max Leone*

Ano III – número 28 – março e abril 2010 31http://sisejufe.org.br

que vivem. Serão escolhidos de18 a 20 atletas que treinarãocerca de um mês nas instalaçõesdo Parque São Jorge, do Corin-thians, em São Paulo. O time quedisputará o torneio mundialcontará com apenas oito parti-cipantes.

“De 2004 a 2007, nossa parti-cipação teve um foco semprevoltado para a questão social.Mas a partir de 2008 unimostambém a competitividade. Tive-mos destaques individuais e em2009, chegamos às semifinais,quando fomos eliminados porPortugal, por 4 a 2. Disputamoso terceiro lugar e ganhamos daNigéria por 3 a 2. Tivemos aindao melhor jogador do campeo-nato, que foi o Rafinha”, lembraFlávio Fernandes, o Pupo, técni-co do Brasil desde 2004.

Como funciona o jogoAs partidas da Copa do Mun-

do de Futebol Social têm doistempos de sete minutos cada. Aquadra tem 22 metros compri-mento por de 16 metros de lar-gura e piso de grama sintéticapintada de preto, para que lem-bre asfalto de rua. O gol temquatro metros de largura e 1,3metro de altura. São quatro jo-

gadores em cada time em cam-po (três na linha e um no gol).Os reservas podem entrar a qual-quer momento. Para tornar ojogo mais dinâmico, as equipesprecisam sempre manter um jo-gador no campo de ataque. As-sim, são sempre três atacantescontra apenas dois defensores.

Destaques do Brasilna Homeless World Cup

Por três vezes, a seleção brasi-leira teve um de seus jogadoresescolhidos como o melhor dacompetição. Em 2007, MicheleSilva levou a taça como desta-que (até então os times erammistos, tinham homens e mulhe-res atuando juntos). Em 2008,foi a vez de Carlinhos ser eleitoo melhor. E no ano passado,Rafinha despontou como o cra-que do certame. Michele, umajovem da Cidade de Deus, no Rio,passou a ser convocada para aseleção sub-20 de futebol decampo e chegou a jogar por umclube da Alemanha e no Flamen-go. Carlinhos jogou profissio-nalmente na Segunda Divisão deSão Paulo pela equipe de Assis.

O torneio reúnepessoas em situaçãode risco e de exclusãosocial, favelados,albergados,refugiados de guerra,moradores de rua dediversos países, todosatraídos pelalinguagem universaldo futebol paradisputar um torneio,na perspectiva dediscutir e superar assituações adversasque enfrentamno seu dia a dia.

Brasil 8 x 1 França

Brasil 4 x 3 Dinamarca

Brasil 6 x 2 Estados Unidos

Brasil 7 x 2 Quirguistão

Brasil 5 x 1 Hong Kong

Brasil 5 x 3 Rússia

Brasil 9 x 3 Polônia

Brasil 6 x 2 Escócia

Brasil 6 x 4 Áustria

Brasil 7 x 4 Malaui

Brasil 7 x 4 México

Brasil 2 x 4 Portugal

Brasil 3 x 2 Nigéria

Campeã – Ucrânia

Vice – Portugal

3º lugar – Brasil

4º lugar – Nigéria*Da Redação.

Campanha do Brasil em 2009, na Austrália:

32 Ano III – número 28 – março e abril 2010http://sisejufe.org.br

CJF aprova criação de 230 novas varas federais

Justiça Federal Quatro varas serão especializadas em questões ambientais

Os médicos do Poder Judiciário, queocupam função de confiança ou cargoem comissão, devem cumprir a jorna-da de trabalho de oito horas diárias e40 quarenta horas semanais, de acor-do com a Lei 8.112/90, que dispõesobre o Regime Jurídico dos Servido-res Públicos. Este é o entendimentodo Conselho Nacional de Justiça(CNJ) que por unanimidade, na ses-são de 6 de abril, julgou improceden-te o pedido feito pelo médico Rena-to de Castro Reis, que em função deconfiança, é coordenador de assis-tência médica, do Tribunal RegionalEleitoral de Tocantins (TRE/TO).

A decisão, no entanto, não atingeos médicos servidores do Poder Ju-diciário aprovados em concurso quedeverão trabalhar quatro horas diári-as, conforme estabelece a Lei Fede-ral nº 9436/97, que dispõe sobre ajornada de trabalho de médico da Ad-ministração Pública Federal direta,das autarquias e das fundações. Emseu voto, o ministro Ives Gandra, re-lator do Pedido de Providências (PP0007542-84.2009.2.00.0000) argu-mentou que “o médico investido nocargo comissionado de coordenadorde assistência médica e social de-

O Conselho da Justiça Federalaprovou na quarta-feira, 14 deabril, a criação de 230 novas va-ras federais no país. Das 46 va-ras que serão instaladas aindaeste ano, quatro serão especia-lizadas em questões ambientaise terão sede nas principais capi-tais da região amazônica: Ma-naus, Belém, Porto Velho e SãoLuís. Segundo o presidente doCJF, ministro Cesar Asfor Rocha,a determinação veio em respos-ta a uma reivindicação recorren-te de ambientalistas e organiza-ções não governamentais volta-das à defesa do ambiente.

“As novas varas contribuirãopara dar mais agilidade ao jul-gamento dos processos ambien-

tais, muitos dos quais tramitamem varas de temas diversifica-dos”, afirmou Cesar Rocha. Asnovas varas ambientais fazemparte da lista de 230 varas fede-rais que serão criadas até 2014,conforme a Lei 126/2009, deiniciativa do STJ e aprovada peloCongresso Nacional. A lei prevêa implantação de 46 varas a cadaano, de 2010 a 2014, com oobjetivo de proporcionar maisrapidez no julgamento do cres-cente número de processos.

A localização dessas varas se-guiu os critérios essencialmen-te técnicos estabelecidos na leique as criou, tais como deman-da processual, densidade popu-lacional, índice de crescimento

demográfico, Produto InternoBruto (PIB) das localidades viá-veis, distância entre varas fede-rais existentes, além de áreasestratégicas de fronteira e as queconcentram maior demanda porquestões ambientais. Atualmen-te há 743 varas federais instala-das no país.

O presidente nacional da Or-dem dos Advogados do Brasil,Ophir Cavalcante, apoiou a ado-ção do critério da interiorizaçãoda Justiça, adotado pelo Conse-lho da Justiça Federal. “Optou-se por uma forma de provimen-to privilegiando a interiorização,a solução dos conflitos ambien-tais e agrários, levando tambémem consideração questões como

densidade populacional e pro-jetos de desenvolvimento paracada região”, afirmou.

Segundo Cavalcante, seria ne-cessário, no mínimo, o dobro devaras para atender suficiente-mente a carência do país de va-ras federais, mas a medida solu-ciona o que é possível ser feitono momento. “Não é o ideal paraacabar de vez com a lentidão natramitação do processo e demo-ra na resposta da Justiça, masfoi o possível dentro do critérioda racionalidade e razoabilida-de”, afirmou.

Fonte: Conjur com informa-ções da Assessoria de Imprensada OAB.

CNJ aprova criação do Centrode Formação e Aperfeiçoamento

de Servidores do JudiciárioO plenário do Conselho Nacional

de Justiça (CNJ) aprovou na terça 6de abril, a criação do Centro de For-mação e Aperfeiçoamento de Servi-dores do Poder Judiciário (CEAjud).O centro será coordenado pelo CNJe vai promover, em conjunto com ostribunais, a educação corporativados servidores do Judiciário. A me-dida coloca em prática uma dasações estratégicas de 2010, aprova-das em fevereiro deste ano, duran-te o 3º Encontro Nacional do PoderJudiciário.

Durante o encontro, os presiden-tes dos tribunais acharam relevan-te instituir uma política permanen-te de educação corporativa dos ser-vidores, visando a melhoria na pres-tação dos serviços judiciais. O CEA-Jud promoverá treinamentos, cur-sos, seminários e outras ações rela-cionadas ao aperfeiçoamento dosservidores. O centro dará preferên-cia à realização das atividades pormeio do ensino à distância. Para au-xiliar o trabalho do CEAJud, os tri-bunais deverão possuir unidade vol-tada para a educação corporativa epoderão instituir parcerias com ins-tituições de ensino e universida-

des. Segundo a resolução, os tribu-nais que ainda não possuírem essaunidade de ensino deverão instituí-las dentro de 60 dias.

Além de criar o CEAJud, a resolu-ção instituiu o Programa Integrarcomo uma das ferramentas de atua-ção do centro. O programa foi desen-volvido pelo conselho para auxiliarna modernização e organizaçãodos tribunais. É formado por umaequipe multidisciplinar, compostapor magistrados e servidores, comexperiência nas áreas de infraes-trutura e tecnologia da informação,gestão de pessoas, processos detrabalho e gestão da informação ecomunicação. Atualmente o Progra-ma Integrar é coordenado pela juí-za auxiliar do CNJ, Maria da Concei-ção da Silva Santos.

As atividades do CEAJud serão co-ordenadas pela Comissão Perma-nente de Eficiência Operacional eGestão de Pessoas, que é presididapelo ministro Ives Gandra e compos-ta pelos conselheiros José AdonisCallou de Araújo Sá e Jefferson Kra-vchychyn. [Fonte: CNJ]

Médicos do Judiciário,que ocupam CCs,

terão jornada de 8 horassempenha função típica de gestãoadministrativa, seja gerenciando aequipe que integra a coordenadoria,seja supervisionando-a, controlan-do-a, fiscalizando-a ou auditando asatividades desenvolvidas pelos ser-vidores da unidade, o que exige de-dicação integral ao serviço, razãopela qual estão sujeitos à jornada detrabalho de oito horas diárias”.

Esta não é a primeira vez que o CNJmanifesta-se sobre o assunto. Emoutubro do ano passado o plenáriodo CNJ, em resposta à consulta feitapelo Conselho Superior da Justiça doTrabalho (CSJT) sobre a duração dajornada de trabalho dos analistas ju-diciários com especialidade em me-dicina reconheceu que a jornada detrabalho dos médicos, fixada pela Leinº 9.437/1997, é de quatro horas diá-rias, e de que os Tribunais, de formaalguma, poderão vetar a possibilida-de de acumulação de dois cargosmédicos prevista na ConstituiçãoFederal. O ministro Ives Gandra lem-brou em seu voto, que tanto o Supe-rior Tribunal de Justiça (STJ) quanto oTribunal Superior do Trabalho (TST)tem a questão regulamentada emfavor das quatro horas. [Fonte: CNJ]

Ano III – número 28 – março e abril 2010 33http://sisejufe.org.br

SJRJ lança campanha contra uso de descartáveis

Meio Ambiente Pioneiro, Sisejufe utiliza papel reciclado em publicações desde 2006

A Seção Judiciária do Rio deJaneiro (SJRJ) entrou na onda dosreciclados. O setor lançará cam-panha até o fim de abril paradesestimular o uso de materialdescartável pelos servidores nasrepartições. O primeiro passodo projeto “Descartável é o des-perdício” será substituir os co-pos de plásticos que são joga-dos fora após serem utilizadospor copos de vidro, não descar-táveis. De acordo com a chefeda equipe do Setor de Recicla-gem de Materiais da Subsecre-taria de Logística da Justiça Fe-deral, Zoraya Cesar, só no anopassado foram consumidos2.169.200 copos de plásticopela SJRJ. A direção do Sisejufeapoia a iniciativa da Seção Judi-ciária.

“Cada copinho desses levamais de 50 anos para se decom-por no meio ambiente, com osagravantes de que enquanto nãose decompõe, vira lixo tóxico,contamina águas e solos e aindavira ambiente propício à proli-feração de fauna nociva ao ho-

Max Leone* mem, como ratos, baratas, mos-cas e mosquitos, todos vetoresde doenças”, explica Zoraya,ressaltando que cartazes dacampanha serão espalhados portoda SJRJ.

Além de apoiar a iniciativa daSeção Judiciária do Rio de Janei-ro (SJRJ) de deixar de usar mate-rial descartável, o Sisejufe dáexemplo de preocupação como meio ambiente há bastantetempo. Em uma iniciativa pionei-ra, desde o primeiro mandato daatual direção da entidade, inicia-do em 2005, todas as publica-ções feitas pelo Departamentode Imprensa do sindicato (o jor-nal Contraponto, a revista Idei-as em Revista, as edições especi-ais dos boletins Fique Por Den-tro), como todos os documen-tos internos dos diversos seto-res do Sisejufe são produzidosem papel reciclado. Apenas asações e os processos que o De-partamento Jurídico dão entra-da não são feitos com esse ma-terial, mas por uma questão daprópria Justiça que exige quesejam em papel branco.

SJRJ vaidistribuir copos de vidro

A chefe da equipe do Setor deReciclagem da SJRJ Zoraya Ce-sar informa que os copos de vi-dros serão distribuídos gratui-tamente aos servidores. Ela dizque os funcionários não pode-rão levá-los para casa: vão serguardados na repartição. “Emprincípio, vamos distribuir milcopos de vidro. Cada servidorterá o seu, para evitar que usemos descartáveis”, afirma.

Segundo Zoraya, atualmenteos copos de plástico são reco-lhidos pela coleta seletiva e en-tregues a uma cooperativa decatadores de lixo, para seremreciclados. “É o melhor que po-demos fazer, o ideal é não con-sumirmos. Quanto menos lixoproduzirmos, melhor”, avalia.

Os objetivos da campanha sãoeconomizar nos custos, preser-var o meio ambiente, investir naqualidade de vida dos servido-res da SJRJ, além de estimular aconscientização das pessoas.“Mas, o que deve ser ressaltado,é que esses objetivos ocupam o Da Redação*

mesmo lugar de importância.Economizar não é mais impor-tante que preservar, que não émais importante que investir.Todos são importantes, todossão necessários”, explica.

A chefe da equipe do Setor deReciclagem de Materiais da Sub-secretaria de Logística da Justi-ça Federal espera contar comapoio de outras entidade paraampliar ainda mais a campanha.A ideia é , em um segundo mo-mento, distribuir também por-ta-copos, feito de tecido de PETreciclado, resinado, atóxico,com base interna feita de caixade leite higienizada, que teráimpresso o slogan “Descartávelé desperdício” com tinta à basede água. “Também estamos pen-sando em substituir os copinhosde café por xícaras. Temos umconvênio com a Ampla (conces-sionária de energia) para a des-contaminação das lâmpadas flu-orescentes. Eles utilizam e rea-proveitam o mercúrio usado naspeças, que é extremamente tó-xico”, diz.

1ª Marcha Nacional contra a Homofobia, 19 de maio em BrasíliaA CUT vai apoiar a 1ª Mar-

cha Nacional Contra a Homo-

fobia – 1º Grito Nacional pela

Cidadania LGBT e Contra a

Homofobia, que será realiza-

da no dia 19 de maio, em Bra-

sília com concentração às 9h

no gramado da Esplanada dos

Ministérios, em frente à Ca-

tedral Metropolitana. Para os

sindicatos CUTistas o debate

sobre a orientação sexual

deve ser tratado de forma in-

tegrada às demais políticas de-

senvolvidas, como ação per-

manente, interagindo com

atividades e o desenvolvimen-

to de programas para a capa-

citação, articulado à geração

de trabalho e renda.

No site da ABGLT (Associa-

ção Brasileira de Gays, Lésbi-

cas, Travestis e Transexuais) –

abglt.org.br – encontram-se

mais informações sobre os

comitês estaduais de organi-

zação da Marcha. Vamos nos

organizar, preparar a militân-

cia, levar faixas e bandeiras, para

dar um bom visual a participa-

ção da CUT na Marcha! Parada LGTB, em novembro de 2008, na Praia de Copacabana

34 Ano III – número 28 – março e abril 2010http://sisejufe.org.br

C A O S U R B A N O

Chuvas “atípicas”revelam problemas crônicos

Tatiana Lima*

Foto: Leo Lima/Favela em Foco

A chuva que atingiu o Rio deJaneiro, a partir do dia 5 de abril,somada à falta de infraestrutu-ra, parou o trânsito da cidade,transformou ruas em rios, cau-sou deslizamentos de encostase até o fechamento desta edição,deixou mais de 259 mortos sen-do 168 na cidade de Niterói. Atéagora, foram registrados 161feridos. O número de desabri-gados é de quase 12 mil.

Em 6 de abril, o prefeito Eduar-do Paes se apressava em dar de-clarações: “Essa foi a maior chuvadas grandes tragédias da históriado Rio de Janeiro. As encostas es-tão perigosas. Vamos remover egarantir a vida das pessoas”. Eleainda se recusou a comentar seos problemas enfrentados pelacidade são fruto de um desprepa-ro da prefeitura. “É uma discus-são inoportuna”, disse Paes.

Do hotel Copacabana Palace,o governador do Sérgio Cabralcompletava. “A culpa das mor-tes é da irresponsável ocupaçãodesordenada de áreas irregula-res, das encostas. Veja aonde es-tão as mortes. São os mais pobresque morrem, por isso, temos queser cada vez mais duros na disci-plina da ocupação do solo urba-no, com aparato da polícia. Já fa-lei com os prefeitos: contem como Governo do Estado!”.

Já Jorge Roberto Silveira, pre-feito de Niterói, uma das cida-des mais atingidas, declaravaque “Niterói nunca registrouuma chuva como essa. Estamospreparando uma força tarefapara retirar os moradores dasáreas de risco da cidade. Nessemomento de emergência, temosque abrigar as vítimas de manei-ra digna”.

Quando parecia que o sustotinha terminado e os culpados

encontrados, lixo e chorumeemergiram da terra, na quarta-feira, 7 de abril, para mostraruma das faces escondida de Ni-terói. Um morro inteiro, veioabaixo, arrastando vidas, casase abrindo uma clareira no meiodo que antes era a favela doMorro do Bumba, em Jardim Vi-çosa.

A estimativa inicial era de maisde 200 soterrados. Porém, onúmero de mortos é desconhe-cido pela dificuldade de saberquantas pessoas estavam emcada uma das casas soterradas,que sumiram do mapa em se-gundos. Depois de tantas mor-tes e uma legião de desabriga-

dos não era mais possível o po-der público usar as forças danatureza ou a teimosia da po-pulação pobre como desculpapara o colapso urbano.

A verdadeira situação dasgrandes cidades do Rio de Ja-neiro ficou evidente: faltampolíticas públicas de habita-ção, urbanização, saneamentobásico, planejamento e preven-ção de acidentes, de meio am-biente, de trânsito, de tudo. Oresultado de uma cidade en-tregue à sorte é óbvio e temnome: tragédia social.

Depois de tantas mortes e uma legiãode desabrigados não foi mais possível o poderpúblico usar as forças da natureza ou a teimosiada população pobre como desculpapara o colapso urbano.

*Da Redação.

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Foto: Fabio Caffé/Favela em Foco

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em

Foco

O colapso aconteceu exatos

dez dias após o Rio de Janei-

ro abrigar o 5º Fórum Urba-

no Mundial (FUM), realizado

pelo programa das Nações

Unidas para Assentamentos

Humanos (ONU-Habitat) e do

1º Fórum Social Urbano

(FSU), construído por movi-

mentos populares e entida-

des ligadas à sociedade civil,

com o tema em torno do “Di-

reito à Cidade”.

Ao todo, os dois eventos,

realizados na Zona Portuária

do Rio, reuniram 20 mil pes-

soas de diversos países, etni-

as, religiões e línguas – além

de autoridades. O objetivo era

debater os problemas e en-

contrar soluções para os con-

flitos urbanos.

Durante o Fórum da ONU,

o governador Sérgio Cabral

propagandeou que nunca se

trabalhou tanto na urbaniza-

ção de favelas e nem se cons-

truiu tanta casa. “Vão ver que

é possível combinar cresci-

mento econômico com distri-

buição de renda, e melhoria

na qualidade de vida das pes-

soas”, disse Cabral.

Texto do secretário-geral

das Nações Unidas, Ban Ki-

Moon, lido na cerimônia, res-

saltou: “Embora 227 milhões

de pessoas tenham deixado de

viver em condições de vida

semelhantes às das favelas, a

população total que passou a

viver sem acesso à água potá-

vel, moradia e segurança pú-

blica, por exemplo, passou de

776 milhões, em 2000, para

827 milhões, em 2010. Viver

nessas condições é uma vio-

lação aos direitos humanos”.

Na “Mesa dos Prefeitos”,

um dos mais importantes en-

contros agendados para o 5º

Fórum, Eduardo Paes enfati-

zou que “levando em conside-

ração algumas das realidades

5º Fórum Urbano Mundialnão foi divisor de águas

que enfrentamos, o Rio de Ja-

neiro atinge bem a média de

suas potencialidades”. E com-

pletou: “Não há dúvida de que

falta muito para o Rio. A infra-

estrutura, por exemplo, ain-

da é um grande problema, que

gera conflitos graves para o

convívio da cidade; e a inclu-

são social, é sempre um gran-

de objetivo nosso, para fazer

com que as pessoas tenham

um pouco mais de igualdade”.

Na mesa sobre “Melhorias

nas Favelas Brasileiras”, o

vice-governador do Estado,

Luiz Fernando Pezão, apresen-

tando o histórico das políti-

cas habitacionais no Rio de

Janeiro, se referiu às remo-

ções realizadas na década de

60 “como um grande erro, que

não deve se repetir”. Já o se-

cretário de Habitação da capi-

tal, Jorge Bittar, classificou as

remoções como experiências

traumáticas que o governo

atual não quer e não vai reali-

zar mais. “Hoje a política pú-

blica de habitação trabalha

com o regime de PNHIS – Pro-

grama Nacional de Habitação

de Interesse Social. Compra-

mos imóveis e reformamos

para transformar em habita-

ção popular.”

Contudo, em meio à tragé-

dia das chuvas, a primeira

medida dos governos munici-

pal, estadual e federal foi de-

fender a remoção de morado-

res de todas as favelas que

estão situadas nas encostas.

No total, já foram anunciadas

mais de quatro mil remoções:

Morro do Urubu (entre Tomás

Coelho e Pilares); na comuni-

dade dos Prazeres, no Morro

do Fogueteiro, na comunida-

de São João Batista, no Canti-

nho do Céu e no Pantanal (to-

dos em Santa Teresa); na co-

munidade Laboriaux, na Roci-

nha; e no Parque Columbia.

[Tatiana Lima – Da Redação.]

Foto: Fabio Caffé/Favela em Foco

Foto: Fabio Caffé/Favela em Foco

Registros de atopúblico emsolidariedade àsvítimas de Niterói,realizado em 15de abril. Abaixo,a destruição noMorro do Bumba,fotografada porjovens do coletivoFavela em Focoe da Escola deFotógrafosPopulares, daFavela da Maré.

favelaemfoco.wordpress.com

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C A O S U R B A N O

Remoção: raízes arrancadasOrlando Junior, sociólogo e

responsável pela relatoria daPlataforma Brasileira de DireitosHumanos Econômicos, Sociais,Culturais e Ambientais (Platafor-ma DhESCA Brasil), ligada a ONU,considera um retrocesso o de-creto assinado pelo prefeitoEduardo Paes, publicado emDiário Oficial, que autoriza des-pejos. Para José Antonio Godói,geólogo e professor da Univer-sidade Federal do Mato Groso, atragédia é a consequência deuma escolha de gestão. “O go-verno incentivou a ocupação,inclusive à procura de votos.Esse decreto é uma prática docooperativismo político. Afi-nal, que historia é essa de di-zer que a tragédia é resultadode ações de outros governos,que nada fizeram?”, questio-na o professor.

De acordo com informaçõesdo Ministério das Cidades, o de-ficit de habitação no Brasil che-ga a 8 milhões em todo o Brasil.Somente o Rio, tem hoje, umdéficit de cerca de 800 mil imó-veis, concentrado na populaçãode baixa renda. Segundo um es-tudo da Fundação Getúlio Var-gas mostra que o déficit habita-cional do país, deverá chegar a28 milhões em 2020.

Durante o 1º Fórum Social

Urbano (FSU), uma espécie decontraponto ao Fórum Urbanoda ONU, a socióloga da Univer-sidade de Chicago, Saskia Sas-sen expôs o conceito de cidadeglobal: cidades conectadas emcircuitos globalizados, princi-palmente em relação ao capitalfinanceiro internacional – o ur-banismo de mercado é um efei-to que predomina em todo omundo. “Estão nos unindo pormeio das cidades transformadasem mercadoria”, afirmou ela,

citando Marcuse. Nesse mode-lo, as cidades devem ser vistascomo empresas que competementre si, ao invés de se ajudarem.E, para Guilherme Marques, his-toriador IPPUR/UFRJ, quem pagaa conta deste modelo é o povo,que morre em tragédias como aque vivemos durante toda a se-gunda semana de abril.

Mobilidade urbana:o Rio não tem

Quem conseguiu chegar emcasa na noite de 5 de abril noRio deu sorte. Transitar de car-ro era impossível e até os ôni-bus desistiram diante de cor-rentezas, rios e cachoeiras quecaíam das fendas nos viadutosda cidade. O trem também pa-rou. O metrô funcionou, mascom os trens andando devagare as plataformas com pico depassageiros. Guardas fechavamas escadas para conter o exces-so de pessoas.

Uma semana antes do caos, aJornada de Desenvolvimento daCUT Rio debateu o tema da si-

Foto: Thiago Carminati/Favela em Foco

Foto: Leo Lima/Favela em Foco

ONU: “Embora 227milhões de pessoastenham deixado deviver em condiçõesde vidasemelhantes às dasfavelas, apopulação totalque passou a viversem acesso à águapotável, moradia esegurança pública,por exemplo,passou de 776milhões, em 2000,para 827 milhões,em 2010. Vivernessas condições éuma violação aosdireitos humanos”.

Ano III – número 28 – março e abril 2010 37http://sisejufe.org.br

tuação caótica de transportesna cidade – uma ação da Plata-forma da Classe Trabalhadora– no auditório do Sindicato dosEngenheiros. Os deputados es-taduais Gilberto Palmares eAlessandro Molon (ambos doPT) e o engenheiro FernandoMac Dowell, professor da UFRJ,fizeram críticas à política detransportes do governo do es-tado, especialmente em relaçãoà falta de fiscalização e investi-mento adequado, mas enfati-zando a omissão da agênciareguladora.

“Eu vi situação do maquinistaparar a composição para entre-gar e carimbar papel a outrofuncionário, que autorizava otrem a seguir viagem. Uma prá-tica que remonta a época emque o transporte público do Rioera feito de bonde. A popula-ção dentro do metrô nem ima-gina isso”, revelou Molon. Fer-nando Mac Dowell, consultorna área de Logística, Transpor-te de Carga e Terminais Portuá-rios e doutor em Engenharia,disse que o projeto de expan-são do metrô tem uma concep-ção equivocada e que os pro-blemas não serão resolvidosnem mesmo com a chegada denovos trens, prevista para o se-gundo semestre de 2011. “Nãoadianta chegar mais trem se aestrutura não comporta. A li-nha de trem não é rua. Não dapara criar uma solução com alógica de ônibus, não tem es-paço para o outro trem passar”,ressaltou Mac Dowell.

O deputado Gilberto Palma-res ressaltou as dificuldadesda CPI das Barcas, presididapor ele na Alerj. “O resultadoda CPI foi ignorado pelo po-der público. O Estado se omiteno planejamento e na fiscali-zação”. De acordo com ele,acontecem falhas, irregulari-dades e descumprimentos dedispositivos do contrato deconcessão por parte da BarcasS/A. Ele também destacou opoder das operadoras detransporte do Estado do Rio deJaneiro.

Transportes públicos:onde está a solução?

A única mesa tratando do temade transportes no 5º Fórum Ur-bano Mundial, “Divisão do Trans-porte Urbano”, lotou o auditó-rio e formou até fila na porta,teve a participação de especia-listas da África do Sul e Norte,Estados Unidos, Indonésia e Bra-sil, mas não apontou qualquerproposta de perspectiva nostransportes públicos. Nenhumdos especialistas chegaram a umconsenso sobre como garantiro direito à cidade para as popu-lações pobres em todo mundo.

A situação caótica dos trans-portes públicos do Rio de Janei-ro sequer entrou na pauta. Ape-sar dos constantes problemas detransportes públicos – trem,metrô e barcas – não houve umaexposição da situação de mobi-lidade urbana da cidade, quesediou o 5º fórum.

Se levarmos em conta que oFórum Urbano Mundial, organi-zado pela ONU, é considerado aconferência mais importante domundo sobre as cidades, e tan-tos temas fundamentais não fo-ram sequer pautados, não ficadifícil imaginar porque tragédi-as como as de abril, no Rio deJaneiro, continuam acontecen-do por todo o mundo. [TatianaLima – Da Redação e da AgênciaPulsar Brasil.]

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Foto: Luiza Cilente/Agência Pulsar Brasil

Foto: Camila Marins/Agência Pulsar Brasil

Fórum Urbano Mundial não ofereceu saídas. Em 25de março, o vice-governador do Rio, Luiz FernandoPezão (no centro), afirmava: “As remoçõesrealizadas na década de 60 foram um grandeerro, que não deve se repetir”. Em debate sobre ocaos nos transportes, em 30 de março, o professorMac Dowell e o deputado Molon (acima)criticaram a falta de planejamento:as cidades chegaram ao limite.

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