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REPÓRTER DA T ERRA |SETEMBRO DE 2005 1 Para geógrafo, MP 2.183 é golpe mortal no movimento dos trabalhadores sem-terra Como vivem hoje, no Rio Grande do Sul, os sem-terra que acamparam na década de 70 Feira em Maceió encanta com preço e qualidade dos produtos da reforma agrária ANO I | N° 3 | SETEMBRO DE 2005 No Maranhão, a arte e a cultura ocupam espaço no Asentamento Diamante Negro. Feira de produtos ecológicos no Rio Grande do Norte repórter da terra 3.pmd 21/9/2005, 16:49 1

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1Para geógrafo,MP 2.183 é golpemortal no movimentodos trabalhadoressem-terra

Como vivem hoje,no Rio Grande doSul, os sem-terraque acamparamna década de 70

Feira em Maceióencanta com preçoe qualidade dosprodutos dareforma agrária

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No Maranhão,a arte e a culturaocupam espaçono AsentamentoDiamante Negro.

Feira de produtos ecológicos no Rio Grande do Norte

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2REPÓRTER DA TERRA - Rua Júlio Otoni, 571, Santa Teresa (RJ), CEP. 20.250-040 - http://www.ceris.org.br / [email protected]ção Editoral: Núcleo Piratininga de Comunicação | Edição: Claudia Santiago (Mtb.14.915-RJ) / Isaías B. de Araújo (Mtb. 25.546-RJ) | Projeto Gráfico:Núcleo Piratininga de Comunicação e Estúdio Metara | Programação Visual e Produção Gráfica: Estúdio Metara (22427609) | Revisão: Rosângela Gil | Reportagens:Antônio Ezequiel (AL), Carla Lisboa (DF), Carla Ferreira (RS), Cida Ramos (RN), Ed Wilson Araújo (MA) e Taís Peyneau (RJ) | Entrevista: Liana Melo |Impressão e fotolitos: Folha Dirigida

ALAGOAS

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ENTREVISTA COM O GEÓGRAFO PAULO ALENTEJANO

POR LIANA MELO

Ogeógrafo Paulo Alenteanonasceu e foi criado na cida-de do Rio de Janeiro, mas

sua grande paixão é mesmo o cam-po. Aos 37 anos, ele dedicou os úl-timos 16 anos da sua vida estudan-do a questão agrária.

Só que o campo não é apenas umobjeto de estudo, ele já faz parte davida desse carioca, pai de uma me-nina de quatro anos.

Ele costuma envolver-se diretamen-te com o MST, prestando consultoriasnas áreas de educação, formação eprodução agrícola.

Tamanha proximidade com oMST tem levado Alentejano a de-fender uma posição crítica em rela-ção ao governo Lula por não terainda revogado a Medida Provisó-ria criada pelo de Fernan-do Henrique Cardosoque impede vistoria emterras ocupadas.“Essa MPfoi golpe mortal no mo-vimento”, afirma.

Jornal da Terra – O quehá de novo no meio rural brasileiro?Alentejano – Até pouco tempoatrás, não existia diferenciação en-tre assentamento e acampamento.Foi depois da aprovação da MedidaProvisória nº 2.183, que impede avistoria em terras ocupadas, que secomeçou a fazer uma certa distin-ção entre assentamento e acampa-mento. Isso foi no governo Fernan-do Henrique Cardoso. A aprovaçãodessa MP foi um golpe mortal nomovimento porque ela tirou dasmãos dos trabalhadores rurais umadas principais armas do movimentosocial. A alternativa criada foi acam-par na beira das estradas e não maisdentro das fazendas.

Jornal da Terra – Como anda ainfra-estrutura dos assentamentos?A – É bastante precária no Rio. Aexceção fica por conta da energiaelétrica, já que o estado é conside-

Assentamentos precisamde crédito e assistência técnica

rado um exemplo de eficência naimplantação do programa federal“Luz no Campo”. Outro grave pro-blema encontrado no Rio é o fatode muitos trabalhadores rurais játerem tentado a vida nas cidades.Não podemos esquecer que o Rio éo estado mais urbanizado da fede-ração: 96% da sua população vi-vem na cidade, das quais 75% dessapopulação moram na região metro-politana. Em compensação, a ex-periência acumulada na cidade,muitas vezes associada a um maiornível de escolaridade, aumenta acapacidade dessas pessoas de lidarcom o comércio.

Jornal da Terra – É difícil segurar ojovem no campo?A – Se esse jovem não tiver opçãode cultura e de lazer no campo, ele

vai querer migrar. Ha-vendo essas opções, ojovem nem sempre esco-lhe trocar o campo pelacidade. Até porque jásão bem conhecidas asdificuldades encontra-das pelos jovens na hora

de procurar emprego nas grandescidades. Não dá para ser taxativo eafirmar: o jovem quer sair ou o jo-vem quer ficar no campo. Tudo de-pende das condições criadas.

Jornal da Terra – O envelhecimentodo campo é então um problemanacional?A – Com certeza. O trabalho agrí-cola é associado a um tipo de tarefamais rude, daí porque favorece apresença dos homens em relação àsmulheres. Só que é bom ressaltarque os assentamentos aqui do Riotêm uma forte presença de jovens.Dependendo das condições criadas,é possível, sim, fixar o jovem nocampo. É difícil generalizar, porqueos modelos ajudam a falsear a reali-dade. Cito o assentamento São Ro-que, em Parati. A associação de pro-dutores rurais de lá é composta ba-sicamente por mulheres e elas es-

tão testando umas experiências in-teressantes de agrofloresta. É a pro-dução combinada de árvores nati-vas com produtos agrícolas, tipobatata, frutas, café e mandioca. Aessa prática dá-se o nome de con-sorciamento.No acampamento Terra Livre, emResende existe um bom trabalhojunto à juventude. Eles consegui-ram montar um pólo de informáti-ca e os jovens estão trabalhandotambém num viveiro comunitário.

Jornal da Terra –Esses assentamentossão auto-sustentáveis?A – O Terra Livre, que é um antigoacampamento, nunca recebeu umúnico tostão de crédito do gover-no. Apesar disso, tem conseguidoviabilizar uma produção e vendera produção na cidade de Itatiaia.Eles atravessam de barco o rio Pa-raíba do Sul e comercializam dire-tamente a produção. Mesmo nãotendo acesso a crédito, eles estãoconseguindo sobreviver. Já o assen-tamento de São Roque está maisavançado, porque lá eles tiveramacesso a crédito. Está começandotambém, porém ainda de forma in-cipiente, uma feira de produtosagroecológicos em Campos. Quemparticipa são as famílias de anti-gos assentamentos da região. Éuma alternativa para escoar a pro-dução.

Jornal da Terra – São testados nessesacampamentos técnicas maismodernas de agricultura?A – Não muito, porque existe umapressão grande por resultados rápi-dos. Os pequenos agricultores aca-bam sendo obrigados a entrar nes-se pacote da modernização. Existehoje um grande movimento pararediscutir a assistência técnica, bus-cando trabalhar com outro modelode desenvolvimento.

Jornal da Terra – O governo Lulavem registrando algum tipo deavanço ao lidar com as questões docampo?A – Eu sou muito crítico em rela-ção à reforma agrária defendida pelogoverno atual. Na minha avaliação,os avanços são muito menos signi-ficativos do que se esperava. Possocitar alguns avanços, como a aber-tura do processo de negociação queé diferente da atitude repressiva quepredominou principalmente no se-gundo mandato do governo FHC.Apesar de o governo Lula não terpartido para a repressão, tão poucoele revogou a medida provisória doantigo governo que criminaliza asocupações de terra. Isso significa queas ocupações continuam impedidaspor lei e consideradas criminosas. Doponto de vista do número de famíli-as assentadas, posso afirmar que hou-ve uma enorme paralisia no primei-ro ano do governo Lula e o ritmocontinua bastante lento.

No dia 7 de setembro, começouem Maceió/AL, a 6ª Feira da

Reforma Agrária. Na abertura es-tavam a Central de Movimentos Po-pulares (CMP), a Comissão Pastoralda Terra (CPT), a CUT, vários sindi-catos e representantes do governodo estado, como do Instituto de Ter-ras e a Secretaria de Agricultura.

Em mais de 200 barracas, assen-tados e acampados de todo o esta-do vendem a sua produção: inha-me, macaxeira, feijão, batata doce,galinha, bode, farinha, laranja,coco, mamão a preços até 50%mais baratos do que no mercado.

São produtos livres dos agrotó-xicos e quaisquer tipos de produtoquímico, uma produção 100% or-gânica. Em menos de dois dias fo-ram comercializadas mais de 200toneladas de produtos. A popula-ção quer que a feira seja realiza-da mensalmente. E tudo issoacontece num estado onde sem-pre estouram conflitos entre mi-lhares de Sem-Terra e os latifun-diários continuadores dos senho-res de engenho.

Você sabia disso tudo?Em qual jornal, programa de rá-

dio e TV você encontra notíciasboas sobre os trabalhadores ruraise seus movimentos de luta? Ondevocê pode se informar sobre osbenefícios e os bons resultados daagricultura familiar?

Essas notícias não chegam avocê, caro leitor. Não chegam por-que se elas chegassem você enten-deria a necessidade da reformaagrária. E isso mudaria a cara doBrasil. Mudaria uma triste realida-de de um país que tem a pior distri-buição de renda do mundo. Menosde 1% da população ficam com maisde 50% da renda nacional. A refor-ma agrária ajudaria a mudar tam-bém estatísticas que revelam que noBrasil, 75% da população não con-segue ler e escrever plenamente.

Porque queremos um outro Bra-sil com distribuição de renda e semdesigualdades sociais, fazemos oRepórter da Terra. Um veículo decomunicação que tem como obje-tivo trazer para o leitor a vida dotrabalhador rural brasileiro comsuas histórias, suas alegrias, suastristezas, seus sonhos, suas luta,suas dificuldades e conquistas.

Acompanhe o que andam fa-zendo os ex-sem-terra no RioGrande do Sul, Rio de Janeiro,Distrito Federal, Alagoas, RioGrande do Norte e Maranhão.

Boa leitura!

Um casoexemplarFeira da Reforma Agrária:mais de 200 toneladas deprodutos comercializadas

Paulo numa aula em um assentamento em Campos/RJ

Jovens assentadosquerem lazer evida cultural

CLÁUDIA SANTIAGO

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ulCharquedas já abriga a

terceira geração dos queacamparam na década de 70

Luara nasceu no verão gaú- cho de 2005 protegida por seus pais, Nina e Loan, em

uma simpática casa de alvenariacom um belo jardim de girassóise palmeiras reais bem em frenteà ampla varanda com churras-queira. Tudo isso fica no Assen-tamento 30 de Maio, em Char-queadas, a cerca de 50 km dacapital, Porto Alegre. A meni-na ainda não sabe que traz con-sigo a herança de duas geraçõesde agricultores gaúchos que lu-tam pela reforma agrária.

Seus avós, Élia e Augusto, naépoca com seis filhos, foi a séti-ma família a chegar, em novem-bro de 1979, ao histórico acam-pamento de Encruzilhada Na-

talino, no planalto norte do RioGrande do Sul. Este acampamen-to serviu de marco para constru-ção do MST em nível nacional.

Já começaram a nascer os netos dos que acamparam em Encruzilhada Natalino, no final da década de70. Uma dessas crianças se chama Luara. Ela é Neta de Élia e Augusto. Nesta reportagem vamos mostrarcomo vivem os moradores do Assentamento 30 de maio, onde nasceu Luara, no final do ano passado.

TEXTO E FOTOS:CARLA FERREIRA

Estufas, escolas e hortasdesenvolvem o município

O mercado da COPAC é oprincipal canal de comu-

nicação do assentamento coma cidade. É através dele quechegam à comunidade os fru-tos da reforma agrária. Omaior empresário local, EdsonBerbiger, proprietário de umcentro comercial e de umaloja de material de constru-ção, nos conta que ficou apre-ensivo com a chegada dosSem-Terra.

“Éramos uma cidade de 20mil habitantes que só tínha-mos informações dos Sem-Ter-ra pela imprensa”, lembra.Depois destes anos de conví-vio, afirma que o movimentoé legítimo, porque a necessi-dade o faz legítimo.

E manda um recado para ogoverno: “que envie mais qua-tro ou cinco grupos de Sem-Terra para cá, porque eles sótrouxeram desenvolvimentopara a região”.

“Mande ossem-terrapara cá”, dizempresário

A julgar peloque se as-siste hoje ao

chegar ao Assenta-mento 30 de Maio,Luara não vai cres-cer sob a lona plás-tica e com incerte-zas sobre o alimen-to do dia de ama-nhã. Sua mesa éfarta, com produtosorgânicos produzi-dos ali mesmo, nos497 hectares quesua família, junta-mente com outras26 famílias assentadas, organiza-das na Cooperativa dos Produto-res de Charqueadas (COPAC),plantam e criam animais para oabastecimento próprio e da ci-dade.

Hoje, o trabalho cooperativoproduz algumas toneladas de hor-taliças e frutas, cerca de 96 tone-ladas de suínos, 50 de laranja, 8de arroz ecológico, 4 de peixes e3 de mel por ano. E ainda temuma padaria e um mercado pró-prio, este situado no centro de

A mãe, Nina, participou deseu primeiro acampamento em1989. Nele permaneceu doisanos e três meses. Foi assen-

tada em 1992. Sempre gostoude estudar, apesar de só havercursado até a quarta série pri-mária. Leu Gilberto Freire, Sér-gio Buarque de Holanda e di-versas feministas, como Ale-xandra Kollontai e a bolivianaDomitila Barrios de Chungara,a biografia de Olga, por Fernan-do Moraes, entre outros. Mas,confessa que foi a prática omelhor instrumento para com-preender os clássicos do pensa-mento brasileiro.

Tanta luta desta e de outrasmilhares de famílias de colonosnão foi em vão. Nina, em suasreflexões, dá uma pista das razõesque os fazem resistir: “a genteprecisa decidir do que a genteaceita morrer. Aceita morrer defome? Esta decisão impõe tomaruma atitude”.

Charqueadas, que comercializaem torno de R$ 3 milhões anuais.

Da varanda da casa de Luara,por entre os girassóis, bem nocentro da Agrovila onde moramas famílias, se vê o campo de fu-tebol e um bosque de árvores na-tivas, com pomar. Olhando docampo, se vê as três construçõesde madeira com jardins, onde fun-ciona a secretaria da coorperati-va. Há também a Escola EstadualSão Francisco de Assis, que ensi-na da 1ª à 4ª séries do primeiro

Nina e Loan com Luara no colo, recém-nascida, em dez. 2004

grau. Da escola, se-guindo por uma viainterna, chega-se àsobras do novo e pri-meiro frigorífico daregião, construídocom recursos do go-verno federal. Atrásdeste prédio, as estufassementeiras e a plan-tação de pepinos eduas grandes hortasecológicas, maneja-das exclusivamentecom a sabedoria cam-ponesa do uso de plan-tas para controlar inse-

tos, pulgões e lagartas. Do alto dahorta vê-se a plantação de arroz.Na horta, as verduras e legumessão testemunhas da resistência dossem terra à política de monocultu-ra de exportação e ao uso de se-mentes geneticamente modifica-das hoje dominantes no país.

No galpão ficam os tratores e ocaminhão de transporte dos pro-dutos. O aviário abriga mais de milaves de postura e abate. Em gal-pões são tratadas e mantidas cer-ca de 200 vacas leiteiras.

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TEXTO E FOTOS:TAÍS PEYNEAU

Itatiaia (RJ) – Narrar a che-gada ao acampamento Terra Li-vre, organizado pelo Movimentodos Trabalhadores Rurais SemTerra (MST) na região serrana doRio de Janeiro, pode parecer aoleitor uma daquelas viagens deaventura rumo a uma espécie deEldorado ao qual se chega depoisde muitos percalços.

A viagem adianta ao visitan-te a imagem da vida desta co-munidade de 33 famílias. Desde1999, nos 427 hectares da Fa-zenda da Ponte, ou Fazenda doSobrado, aguarda seu assenta-mento definitivo por parte dospoderes públicos. Só que “aguar-dar”, neste caso, não tem ne-nhuma relação com esperar debraços cruzados.

Por meio de sua organizaçãoe resistência a todo tipo de ad-versidade – da fome dos primei-ros tempos à impossibilidade decontar com créditos e outros re-cursos oficiais até hoje – o acam-pamento foi conquistando res-peito e reconhecimento da co-munidade de Resende e Itatiaia,cidades próximas, das autorida-

Seu Osvaldoe de DonaNeuza Aran-tes vieramda BaixadaFluminen-

se (região pe-riférica da capital do estado).

Foi o desemprego que levou seuOsvaldo a participar da ocupaçãoque resultou no Terra Livre, ondevive com mais quatro filhos e aesposa. “Sinto-me um privilegia-do quando meus meninos dizemque só voltam na Baixada a pas-seio, eles que foram criados lá.Aqui somos pobres, mas em qua-lidade de vida nem se compara”,orgulha-se seu Osvaldo, cujos doisfilhos mais velhos fazem cursostécnicos na área agrícola.

Acampamento Terra Livre revelapotencial de desenvolvimentoda Reforma Agrária

Dona Neuza e dona Penhase orgulham da comunidade

“Quando vou chegando na Bai-xada, já começo a ter inchaços eproblemas de saúde que me dei-xaram depois que vim pra cá”, dizdona Neuza. No acampamento, afamília produz, tem criação e fa-brica queijos que vende na comu-nidade e nas cidades próximas.

Um movimento sinceroOrgulho da história da comu-

nidade e vontade de ficar tambémé o que sente Maria Penha Espí-nola, a Dona Penha. Viúva, sem-pre morou em áreas rurais. Hojevive sozinha em sua modestacasa. Três vezes por semana a fi-lha Rose vem de Resende, ondemora, para atravessar o Rio Pa-raíba do Sul numa pequena ca-noa, com a mãe e o carrinho de

des e de diversas entidades in-ternacionais.

“A gente começou a ser legiti-mado com o reconhecimento daescola, nossa primeira conquista

coletiva, fruto de discussões in-ternas e pressão junto às autori-dades”, ressalta Eliana Silva, mo-radora do acampamento. “A che-gada da luz elétrica de rede ofi-

cial, receber muitas visitas de es-trangeiros, tudo isso vai nos legi-timando, fazendo a existência dacomunidade uma realidade cadavez mais irreversível”, alegra-se.

Uma visita à “Comunidade Ter-ra Livre” – como a chamam osmoradores – faz pensar, diante detanta força de vontade, sobre opotencial de desenvolvimentoque teria todo o país com um pro-grama de reforma agrária quefosse cumprido.

Que venha o Assentamento“Se fôssemos assentados, as

nossas condições seriam muitomelhores aqui. O que faríamosem um ano com créditos oficiaislevamos dois, três anos para fa-zer, procurando parceiros, escre-vendo projetos”, explica GaubaRibeiro, presidente da Associaçãode Produtores da ComunidadeTerra Livre (Apratel).

Todas as pessoas com as quaisse conversa mostram certo estra-nhamento, como se fosse um ‘cer-to exagero’ a merecida admira-ção que o visitante tem ao vertantas conquistas apesar de tan-tas adversidades. Mas ainda as-sim ninguém quer ir embora nemse mostra disposto em contentar-se com o já conquistado.

Travessia do Rio Paraíba do Sul: em pequenas canoas, as famílias chegame saem do acampamento e por meio delas transportam a produção.

“Quando vou chegando na Baixada, já começo a ter inchaços e problemas de saúdeque me deixaram depois que vim pra cá”, diz dona Neuza.

mão cheio de verduras, e vendê-las em Itatiaia. Dona Penha temorigem rural, mas já trabalhou nacidade também, como muitos ou-tros moradores. “Aqui como me-lhor, nada tem veneno. Edou a oportunidade aosoutros de comerem tam-bém”.

Dona Penha e outrosprodutores mostram queo exemplo é a melhordas l ições. Acompa-nhando-a numa manhãpelas ruas de Itatiaia econversando com seus“fregueses-amigos”,todos mostram admi-ração pela vendedorae pelo MST. Muitos,como dona Dagmar

Carvalho, freguesa antiga, atéfreqüentam as festas do Terra Li-vre. “É um movimento sincero,honesto e bom, sem baguncei-ros”, explica a dona de casa.

Escola municipal, luz, produção, associação de moradores, parcerias locais e internacionais.É fácil entender como a área se tornou uma referência para o próprio MST no Rio.

D. Penha vende seus produtos

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O assentamento Terra Livrefoi fazenda escravista notempo do café. Um típi-

co latifúndio improdutivo, que játinha sido vistoriado pelo Incraquando as famílias ocuparam aterra. “A fazenda foi indicadapelo Sindicato dos TrabalhadoresRurais, que acompanha os pro-cessos dos ex-trabalhadores es-cravos. A desapropriação da Fa-zenda vai pagar seus direitos tra-balhistas”, explica a moradora Eli-ana Souza. “O pro-prietário já pediureintegração, mascomo até trabalhoescravo tinha aqui,a justiça negou”,diz o presidente daAssociação de Pro-dutores da Comu-nidade Terra Livre(Apratel), GaubaRibeiro.

Mas foi a neces-sidade real da ter-ra para viver quefez o Terra Livre,superar os desafiosda fome. “A produ-ção está direta-mente ligada à re-sistência. Era preciso sobreviver.A partir daí tínhamos que nos or-ganizar coletivamente, lutar porapoio, precisávamos de um lugarpara as crianças ficarem en-quanto trabalhávamos”, explicaEleidimar Santos.

Escola é prioridadeComeçaram as peregrinações a

institutos públicos de apoio à pro-dução, à prefeitura, secretarias degoverno etc. Além das muitas dis-cussões coletivas, que até hojesão intensas. Foi assim que se de-cidiu, por exemplo,que a comunidadeprecisava de uma es-cola lá dentro, ou queas casas que já existi-am na propriedade –pertencentes a anti-gos colonos – deveri-am ser destinadas pri-oritariamente às famílias maisnumerosas.

Assim também decidiu-se apro-veitar um dos galpões para fazero centro comunitário, onde acon-tecem festas. Há uma cozinhacoletiva, uma sala com computa-dores recebidos de doação e quetoda a comunidade tem acesso.Agora, em parceria com uma or-ganização francesa, jovens da-quele país os moradores partici-pam de intercâmbio na comuni-dade e estão construindo ali umacozinha coletiva maior que pode-rá propiciar capacitação em be-neficiamento da produção.

Construindo participação Também é lá, no galpão que já

foi curral de gado, que acontecem

quinzenalmente assembléias dadireção da Apratel com os mora-dores. “A direção da Associaçãoé uma instância executiva, nãodecidimos nada”, explica GaubaRibeiro.

Hoje, a Associação tem umadiretoria composta por membrosindicados pelos três núcleos emque se organizam as famílias doTerra Livre. Sabedores do muitotrabalho que há pela frente, in-clusive na luta pela regulariza-

ção do assenta-mento, pretendemcontinuar tendo aauto-suficiência eo investimento naprodução comoeixo principal.

“Depois de umtempo, discutimose decidimos pedira suspensão dadistribuição dascestas básicas quehavíamos conse-guido. Já produ-zíamos e a cestaacabava atrapa-lhando a auto-su-ficiência, criandoum certo comodis-

mo. Não eram esses os valores quequeríamos incentivar aqui”, afir-ma Eleidimar Santos.

Eleidimar, explica ainda que arealidade do Rio de Janeiro –onde cerca de 96% dos morado-res vivem em cidades e mesmo ocampo tem uma vida muito rela-cionada aos centros urbanos, re-sulta em características e saídasmuito específicas, o que precisaser respeitado.

“Ainda não temos aqui uma co-operativa única, como acontecemuito no sul do país e em São

Paulo. Isso é um so-nho nosso, mas pro-curamos incentivartodo tipo de produ-ção cooperativada”,reitera. Há famíliasque dividem animaise maquinário para

aragem, aquelas que trocam tra-balhos e até produtos entre si. “Senão apoiarmos as iniciativas quesurgem, vamos impedir que sur-jam soluções criativas para estarealidade específica que temosaqui”, completa Gauba.

Diante dessa forte relaçãocom as cidades, uma conquistarelatada por todos os moradorescom que se conversa: no come-ço, praticamente todos tinhamtrabalho, ainda que esporádicos,fora da comunidade. Hoje amaioria se sustenta de seu pró-prio trabalho de produção. Sóquando aperta muito procurama cidade.

TAÍS PEYNEAU É JORNALISTA

DO MST NO RIO DE JANEIRO.

Da escravidão à terra livreNo começo praticamente todos os moradores tinhamtrabalho, ainda que esporádicos, fora da comunidade. Hoje amaioria se sustenta de seu próprio trabalho de produção. Viveiro coletivo

ajuda naauto-sustentação

Outro exemplo de genteque vive cada vez mais li-

gada à terra no Terra Livre éSeverino Albuquerque. Per-nambucano, veio jovem proRio de Janeiro tentar a sorte.Fez todo tipo de trabalho, mo-rou na capital. E por muito tem-po manteve a rotina de morare produzir no acampamento esair em busca de pequenos tra-balhos pra completar a renda.

“No começo era difícil, masjá está com um ano e quatromeses que eu só trabalho aqui.Não dá pra morar no campo eter a base do meu sustento láfora, se não eu acabo abando-nando aqui”, ensina com pro-priedade.

E Seu Severino tem um mo-tivo a mais pra ficar. Além decuidar da casa e da produçãofamiliar com a filha, é ele o res-ponsável pelo Viveiro de Mu-das coletivo. Construído comoextensão do galpão comunitá-rio também por parcerias queresultaram da iniciativa da co-munidade, aí germinam a mai-or parte das mudas que a co-munidade cultiva. Parte delascomeçou a ser vendidas prafora também e a idéia é inten-sificar isso.

Produção diversificadaO Viveiro funciona como es-

pécie de “centro irradiador”de boa parte das atividadesde auto-sustentação que aApratel empreende. Alémdas mudas de hortaliças, aprodução está se diversifi-cando com árvores frutífe-ras e plantas ornamen-tais. Aí produz-se tam-bém o Agrobio, fertili-zante orgânico abase de esterco e re-pelente de insetosque ajuda os produ-tores a manter o or-gulho de “não usar ve-neno”.

A diversificação vemacontecendo de umjeito muito especial.

Desde março, um grupo de 15jovens recebe uma pequenaajuda de custo para se dedicarao Viveiro, aprendendo técni-cas que ajudam sua família esua fixação na terra. E é seuSeverino, quem ajuda na liçãode fazer brotar plantas e desejode não “abandonar” a terra.

“Eles estudam num turno epassam duas horas do turnocontrário aqui, em dias alterna-dos com aqueles em que aju-dam suas próprias famílias”,explica.

Artesanato ajudaAlém dos jovens, as mulhe-

res estão aprendendo a fazerartesanato a partir das quatrodiferentes fibras retiradas dabananeira. Em breve, a comer-cialização de bolsas, chapéus evários outros produtos de fibratambém vai ajudar na auto-sus-tentação das famílias do acam-pamento.

“Nosso maior objetivo é seauto-sustentar e profissio-nali-zar a produção, ajudar a orga-nizá-la o ano todo, respeitandoos ciclos naturais e variando osprodutos”, explica o presidenteda Associação, Gauba Ribeiro.Ele conta que a comunidadeacaba de conseguir também

maquinário e insumos,como ferramentas

e sementes, paramelhorar e au-mentar a produçãoe que, futuramen-te, há planos de se

fazer uma feira co-letiva com os

produtos.

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“Há um ano e quatro meses eu só trabalho aqui”

SeverinoAlbuquerque

Não precisamosmais das cestas

básicas quehavíamos conseguido

Tecnologia no acampamento

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TEXTO E FOTO

CIDA RAMOS

T udo começou com a idéiade criar um ambiente ondeos produtores e produtoras

pudessem comercializar seus pro-dutos sem o intermédio de atra-vessadores. Assim surgiu o Espa-

Comércio Solidário promovea agricultura familiarNa região Oeste do Estado, um conjunto de entidades e grupos produtivos está mostrando que uma outra economia é possível.Sem intermediários, os produtores e produtoras conseguem comercializar sua produção através da Rede Xique-Xiquede Economia Solidária, gerando renda e fixando mulheres e homens no campo.

A s entidades estão colocando em prática um Processode Certificação Participativa. Neste, a origem e con-trole de qualidade dos produtos e serviços comerci-

alizados são acompanhados e validados por uma equipe mul-ti-setorial. “Isso faz com que os consumidores tenham a cer-teza de que nossos produtos são produzidos sem a utilizaçãode agrotóxicos, respeitando os princípios da agroecologia”,diz Emerson Cenzi, da Associação de Apoio às Comunida-des do Campo – AACC, entidade que presta assessoria téc-nica a vários grupos produtivos da região.

Ele explica que essa concepção faz parte da Carta de Prin-cípios da Rede Xique-Xique. De acordo com o documento, aprodução agropecuária deve ser realizada com o manejosustentável do solo e água, a valorização e resgate de cultu-ras e sementes tradicionais, o controle natural de pragas edoenças das plantas e animais, conservação e manejo dosecossistemas aquáticos e integração das criações de animaisno sistema de produção familiar diversificado.

Para participar da Rede, os grupos produtivos devem es-tar cientes dos princípios básicos que foram definidos emvárias reuniões.

ço de Comerciali-zação Solidária Xi-que-Xique. Criadoem dezembro de2003, em Mossoró,o Espaço está mu-dando a realidadede muitos produto-res e produtorasrurais que antes ti-nham poucas op-ções para comerci-alizar seus produ-tos, servindo comolocal de venda paramais de 50 gruposprodutivos do inte-rior do Rio Grandedo Norte.

Um deles é ogrupo de mulheresde Mulunguzinho,que trabalha com osistema agroeco-lógico, integrandoo plantio de horta-liças, a apicultura ea criação de gali-nhas e cabras lei-

teiras. “A gente quer garantir asustentabilidade da horta, nãopensamos tanto no lucro. Luta-mos dentro do assentamento ehoje somos reconhecidas pelonosso projeto e nossa organiza-ção”, explica Francisca Eliane, aNeneide.

Todo o sábado é a mesma roti-

na. Logo cedo, Neneide, MariaJosé e Geruza saem do Assenta-mento Mulunguzinho com desti-no ao centro de Mossoró, onde seencontram com outros produto-res e produtoras rurais da regiãoOeste do Estado. Além de sonhos,elas levam na bagagem hortali-ças, como alface, tomate, coen-tro e berinjela, além de maracu-já, banana e outras frutas paraserem comercializadas no Espa-ço Xique-Xique.

Mulheres de MulunguzinhoAs mulheres de Mulunguzinho

são as responsáveis pelas cestasde hortaliças do Xique-Xique. Elasproduzem, cuidam da horta, tra-balham respeitando a agroe-co-logia, sem utilizar nenhum tipo deagrotóxico. Por outro lado, deacordo com Neneide, os consumi-dores têm a plena confiança notrabalho. Eles sabem que estãoadquirindo uma alimentação dequalidade, produzida com respon-sabilidade, seriedade e sem agre-dir o meio ambiente.

Por semana, elas preparam cer-ca de 35 cestas de hortaliças paraserem comercializadas no Espa-ço Xique-Xique. “Os consumido-res de hortaliças divulgam as ces-tas para outros novos consumi-dores e passam a comprar outrosprodutos”, explica a produtora.

O agricultor Irapuã Ângelo

Certificaçãode qualidadesem agrotóxico

Gurgel Gomes também acredi-ta no comércio solidário e levaseus produtos para o Espaço Xi-que-Xique aos sábados. Elemora há cinco anos no Assen-tamento Moacir Lucena e par-ticipa da Cooperativa da Agri-cultura Familiar de Apodi –COOAFAP. “A maior vantagemé que estamos trazendo o pro-duto direto para o consumidor efazendo uma outra forma decomércio”, diz Irapuã, que todasemana vende cerca de 10 qui-los de queijo de cabra e 25 qui-los de carne de caprino e ovino.

Outro produtor que não voltacom nenhum produto para casaé Francisco Edjarles Fernandes,que participa desde o início doEspaço Xique-Xique. “Sempresonhei com um centro de comer-cialização, que pudesse estabe-lecer uma relação de confiançaentre produtor e consumidor”,diz. Casado e com um filho, eleenfatiza a agricultura familiar,onde todos têm um papel impor-tante na comunidade e devemreceber a mesma atenção e res-peito, seja homem, mulher, jo-vem ou criança. Produtor de hor-taliças orgânicas, Edjarles fazparte da Associação dos SítiosReunidos, que congrega cerca de60 famílias da Comunidade ÁguaFria, em Apodi, onde nasceu emora até hoje.

Neneide no Espaço Xique-Xique

Vilcemar e seus produtos

Senhor Valcimar e sua produção

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A tualmente, a Rede abrangegrupos produtivos agroe-cológicos nos municípios

de Mossoró, Serra do Mel, Baraú-na, Apodi, Touros, Pedro Velho eSão Miguel do Gostoso, no RioGrande do Norte, e Beberibe, noCeará.

Seu principal objetivo é ser umespaço de discussão e construçãode novas formas de comercializa-ção que vão das lojas, como o Es-paço Xique-Xique, a feiras, ven-da direta de produtos através decestas, chegando a consumidoresde outras regiões e até mesmo deoutros países.

A Rede é formada por um Con-selho Diretor, composto por setepessoas, e um Conselho Gestor,que tem uma representação decada grupo participante. Um dosseus princípios é a autogestão, esuas instâncias são formadas ex-clusivamente por produtores eprodutoras.

Cadeias produtivasAlém de comercializar produ-

tos e serviços, a Rede desenvolveatividades de formação, atravésde capacitação, intercâmbios etroca de experiências. A idéia écapacitar os pequenos produtorespara investir em qualidade e co-mercializar a produção sem pre-cisar recorrer a atravessadores eintermediários, conseguindo as-sim um preço mais justo.

Entre os produtos comerciali-zados pela Rede Xique-Xique,pode-se encontrar artesanatos(decoração, utilitários, brindes,

bordados, papelaria,brinquedos, etc.), con-fecções (camisetas eacessórios de moda) eprodutos agropecuários(castanha, mel, legu-mes, frutas, etc.) agroe-cológicos.

Dividida por cadeiasprodutivas, como Artesa-nato, Apicultura, Frutase verduras e Caprinovi-nocultura, a Rede Xique-Xique está organizandoos produtores rurais e ge-rando renda para toda fa-mília. Maria Lúcia Ferrei-ra e mais seis mulheresfazem parte do Grupo Re-nascer, do AssentamentoCabelo de Negro, em Mos-soró. O grupo é um dosque fazem parte da cadeiaprodutiva da Apicultura.Em dezembro do ano pas-sado, elas iniciaram umtrabalho com a produçãode cremes de barbear, es-foliantes, sais de banho,sabonetes em barra e sa-

Seu nome tem origem nocacto xique-xique (Pilo-so-

cereus gounellel), bastante co-mum no semi-árido nordesti-no, da família das Nopáleas. Naépoca de grandes estiagens, opovo nordestino costuma quei-má-lo para servir como ali-mento aos animais de criação(gado, caprinos e ovinos). Nanatureza serve de alimentopara o mocó e seus frutos sãoapreciados por aves de diver-sos tipos.

Planta suculenta e extrema-

Rede se organiza nosmunicípios e chega ao CearáApós a criação do Espaço Xique-Xique, o desejo dos produtores era de que essa idéia fosse além de uma lojaem Mossoró, e decidiram então se organizar por núcleos em vários municípios e regiões do Estado.Assim surgiu a Rede de Economia Solidária Xique-Xique.

Por querede Xique-Xique?

mente rica em água, da qualaté o fruto é comestível. O xi-que-xique é largamente utili-zado para a produção de raçãoanimal, mas geralmente reser-va a quem a colhe ou consomegrande quantidade de espinhos.Rico em proteínas (5,1%), saisminerais, carboidratos, e teorde fibra bruta, deve-se ao xi-que-xique a sobrevivência demuitos rebanhos do Nordestebrasileiro durante grandes se-cas, como as dos anos de 1993e 1998.

Produtos artesanaise agroecológicos

bonetes líquidos a base de mel.“Temos conseguido vender nos-sos produtos até para fora do Es-tado”, diz.

Diversificando a produçãoPara a apicultora Josefa Lima

da Silva Neta, do AssentamentoTiradentes, município de Baraú-nas/RN, ter um espaço como oXique-Xique para comercializar aprodução é muito importante. Elafaz parte de um grupo de oitomulheres que há três anos ini-ciou um projeto de apicultura noassentamento que, só no anopassado, produziu mais de 1.500litros de mel. “No início tivemosmedo de ser picadas pelas abe-lhas, mas nos capacitamos, fomospara o mato, achamos o enxamee aprendemos toda a técnica”,lembra. Hámais de 10anos, a mãe deJosefa, DonaJudite Limada Silva, foiuma das pre-cursoras dotrabalho commulheres noassentamen-to.

O agricultorLuis Vileimarde Carvalho éum dos integrantes da cadeiaprodutiva de caprinovinocultu-ra. Ele mora no assentamentoLaje do Meio e participa da Coo-perativa da Agricultura Famili-ar de Apodi – COOAFAP. Há doismeses está trazendo os produ-tos para serem comercializadosno Espaço Xique-Xique. “Toda anossa produção é orgânica, oqueijo, a carne de cabra. No co-meço eram uma ou duas pessoasenvolvidas com o Xique-xique,agora estamos querendo nos or-ganizar para participar e nos li-vrarmos dos atravessadores”, en-fatiza.

Segundo ele, as mulheres doassentamento já estão come-çando a se organizar para tra-balhar com apicultura, só estãoaguardando um projeto deapoio.

Das experiências que já teveoportunidade de acompanharatravés da Rede Xique-Xique Vilei-mar destacou o intercâmbio rea-lizado para Lages. Onde rebanhosde caprinos são criados e produ-zem mais de sete litros de leite aodia. As técnicas e os investimen-tos nos caprinos feitos são as pró-ximas conquistas a serem plane-jadas para o grupo que trabalhacom a caprinocultura no assen-tamento.

Mel (líquido e em favo)

Artesanato em palha (Abajur, jogo nordestino,cestas, cestos para pães, frutas, baú, bolsas, cha-péus (feminino e masculino), vassouras da costa

Sisal- Bolsas

Toalhas de banho com macramé,

Bolsa de tecidos

Renda: panos de bandeja feito de Bilrra

Labirinto: técnica de artesanato manual feita com bramante (cami-nho de mesa, toalha de mesa, bolsas, calças, camisas, short, blusas,saia, panos de bandeja, etc)

Bordados

Bijuterias

Velas decorativas

Redes

Topiaria e quadros decorativos (artesanatos com sementes)

Bonecas de panos (grande e mini bonecas)

Gel para barbear, sais de banho, óleo de gengibre, sabonetesde ervas, sabonete de mel

Doces

Castanhas de caju (torrada e cozida)

Queijo de cabra (sabores: puro, orégano, alho)

Leite de cabra

Melancias orgânicas

Arroz orgânico

Mariscos (taioba)

Hortaliças (aos sábados)

Mamão

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al Mãe das Conquistas é

modelo de assentamentoreconhecido pela ONU

TEXTO E FOTOS: CARLA LISBOA

A atuação do MST na regiãocomeçou em 1995, quan-do 700 famílias ocuparam

a fazenda Barriguda, nas proximi-dades da cidade mineira de Buritis,considerada parte do Entorno doDF. Trata-se de uma área de 4.680hectares que foi palco de disputasacirradas. Barriguda virou símbo-lo da resistência dos trabalhado-res rurais e sua ocupação abriu ca-minho para uma série de outrasvitórias do movimento no DF.

O técnico agrícola e sem-terraFlávio de Souza Mello lembra que,

Produção ecológicaprojetou assentamento

Anualmente as Nações Uni-das abrem concorrênc i a ,por meio de edital, para ins-

tituições e comunidades organiza-das apresentarem projeto técnicopara produção agrícola baseadana defesa do meio ambiente. Aproposta dos assentados de Barri-guda foi aprovada e colocado emprática o projeto Centro de Vivên-cia Ambiental.

Com o Centro de Vivência Am-biental, o MST determinou trêsmetas a serem al-cançadas pelos as-sentados. A primeirafoi a auto-sustenta-ção das famílias. Comisso, o movimentoestimulou o modelo de produçãocoletiva para produzir o alimentonecessário à sobrevivência.

A segunda foi o fortalecimentoda organização das famílias, poishavia um número grande de pes-soas e a única forma de fazer oassentamento prosperar era or-ganizando-as de forma que con-tinuassem unidas, não se disper-sassem e evitassem problemascom a organização dentro da fa-zenda. Para isso, não contaramcom a ajuda de professores e téc-nicos para formar e capacitar cada

membro do assentamento.A terceira meta, considerada a

mais importante, foi a implemen-tação da mudança da matriz tec-nológica da agricultura. O mode-lo tradicional – baseado no uso deagrotóxicos, tratores, desmata-mento e na produção de carvão –foi substituído pelo modelo alter-nativo fundamentado nos costu-mes e na cultura dos sem-terra,que é voltada para a produção desubsistência e obtenção de renda.

Estabeleceram umarelação saudável como meio ambiente.Sem veneno, a produ-ção é conhecida comoagroecológica.

“Com essa proposta, a genterespeita aquilo que culturalmen-te está na cabeça e nos costumesdo trabalhador rural, mas ao mes-mo trabalha a idéia do meio am-biente, aproveitamento sustentá-vel, por exemplo, no cerrado. Nãoprecisamos transformar ele emcarvão para se ter rendimentoeconômico. Podemos coletar osfrutos, que há muito no cerrado,e transformar em doce, rapadu-ra, e isso vira produto econômico”,diz Flávio, mostrando como se podeagregar valor à produção de for-ma ecologicamente correta.

Há exatos 11 anos o MST fincou pela primeira vez sua conhecida bandeira na capital do país. E de lá para cátem deixado no Distrito Federal uma marca de atuação coletiva, baseada na organização e na solidariedade,oferecendo à sociedade e ao Estado provas de que a justiça social começa pela distribuição da terra.Nesse período, foram implantados nos arredores de Brasília 27 assentamentos. Hoje o Movimento reúne 24mil pessoas distribuídas em toda a região do Distrito Federal e Entorno que lutam pela reforma agrária,vivem em coletividade e praticam a agroecologia.

“das lutas pela conquista da terrano DF, a batalha travada na fa-zenda Barriguda foi a mais difícile longa”. Os trabalhadores ruraisenfrentaram seis anos de confli-tos com a polícia e uma desgas-tante briga judicial, resistindo atodo tipo de ameaça e pressão.

Por causa disso, além da con-quista da posse da terra em 2003,quando ganharam a concessãodo governo federal, os sem-terra,ao final da luta, saíram fortaleci-dos. Segundo Flávio de SouzaMello, eles comprovaram que avitória só ocorreu porque resisti-ram unidos aos embates que ti-

veram não só com o latifundiário,mas com o governo, a polícia e aJustiça locais, as quais, nas mãosdo fazendeiro, fizeram o possívelpara tirar os sem-terra da região.

O saldo da resistência foi alémda conquista do assentamento.Por terem sido obrigados a lutarconstantemente por aquele peda-ço de chão, os sem-terra apren-deram a se organizar, a trabalharem coletividade, a produzir e di-vidir a produção. E a cooperaçãorendeu frutos. Hoje a fazendaBarriguda é um assentamentomodelo, reconhecido como talpela ONU.

Das 700 famílias que ocu-param o terreno, apenas81 ficaram no local. As

demais foram distribuídas em ou-tros 26 assentamentos e 23 acam-pamentos na região, formandouma população de 24 mil pessoas.Hoje, Mãe das Conquistas ofereceuma organização e uma produçãoagrícola modelo para os demais, queainda enfrentam o dilema da sobre-posição de interesses individuais aoscoletivos.

No assentamento Mãe das Con-quistas toda a produção de ali-mentos, criação e preservaçãoambiental são feitas coletivamen-te pelos trabalhadores. O resulta-do é a distribuição igualitária dosfrutos do trabalho, a organizaçãoda comunidade e uma produçãoagrícola considerável, que envol-ve feijão, arroz, milho, hortaliças,criação de rebanho e frutas.

Outro ganho que o assenta-mento trouxe foi o fortalecimen-to da proposta de produção agro-ecológica adotada para reparar adestruição ambiental promovidapelo ex-proprietário da área. An-tes da ocupação, a fazenda serviaapenas para plantio de braquia-

Produção coletiva,a receita do sucesso

ra, um capim específico para ali-mentação de gado. O ex-proprie-tário, conhecido na região de Bu-ritis como Quincão, desmatou todaa extensão da terra, transformouo cerrado em carvão e a terra empastagem até dentro do rio, o quefez com que o solo empobreces-se, surgissem grandes erosões eameaçasse a vida do rio Urucuia,que atravessa a região.

Em apenas cinco anos, por meiodo Plano de Desenvolvimento doAssentamento (PDA) e do mode-lo agroecológico de produção, ostrabalhadores assentados recupe-raram a terra, reconstituíram par-te do cerrado, impediram o avan-ço da erosão, resgataram a vár-zea do rio e movimentaram aeconomia de Buritis, proporcio-nando qualidade de vida melhorpara mais de 300 pessoas só nafazenda.

Hoje a área está quase total-mente recuperada e com grandeprodução de feijão, arroz, horta-liças, frutas, laticínios e carnes.Com o alimento garantido, a sub-sistência deixou de ser a principalbatalha e deu lugar a novas lutaspela conquista da cidadania.

Depois da regularização, em 1993, Barriguda mudou deDepois da regularização, em 1993, Barriguda mudou deDepois da regularização, em 1993, Barriguda mudou deDepois da regularização, em 1993, Barriguda mudou deDepois da regularização, em 1993, Barriguda mudou denomenomenomenomenome. Hoje é assentamento Mãe das Conquistas. Hoje é assentamento Mãe das Conquistas. Hoje é assentamento Mãe das Conquistas. Hoje é assentamento Mãe das Conquistas. Hoje é assentamento Mãe das Conquistas, em, em, em, em, emhomenagem homenagem homenagem homenagem homenagem à à à à à resistência das famílias que ocuparam aquelaresistência das famílias que ocuparam aquelaresistência das famílias que ocuparam aquelaresistência das famílias que ocuparam aquelaresistência das famílias que ocuparam aquelaárea de 4.680 hectares em 1995. Considerada pelos sem-terraárea de 4.680 hectares em 1995. Considerada pelos sem-terraárea de 4.680 hectares em 1995. Considerada pelos sem-terraárea de 4.680 hectares em 1995. Considerada pelos sem-terraárea de 4.680 hectares em 1995. Considerada pelos sem-terraa primeira primeira primeira primeira primeira vitória do movimento no Distrito Fa vitória do movimento no Distrito Fa vitória do movimento no Distrito Fa vitória do movimento no Distrito Fa vitória do movimento no Distrito Federederederederederal, Mãeal, Mãeal, Mãeal, Mãeal, Mãedas Conquistas deu origem a quase todos os assentamentos edas Conquistas deu origem a quase todos os assentamentos edas Conquistas deu origem a quase todos os assentamentos edas Conquistas deu origem a quase todos os assentamentos edas Conquistas deu origem a quase todos os assentamentos eacampamentos existentes no DF e região do Entorno.acampamentos existentes no DF e região do Entorno.acampamentos existentes no DF e região do Entorno.acampamentos existentes no DF e região do Entorno.acampamentos existentes no DF e região do Entorno.

O reconhecimento da ONU

Flávio de Souza Mello

Mudança na matriztecnológica:

meta alcançada

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A fama do assentamentoMãe das Conquistas cor-reu por todo Distrito Fe-

deral e Entorno. Espelhadas nessaexperiência, 52 famílias acampa-ram e conquistaram a fazenda Cu-nha, localizada a 14 km do JardimABC, nas proximidades da CidadeOcidental, na divisa do DF com Goiás.

Cunha, como é chamado o as-sentamento de 1.031 hectares,abriga 208 famílias, das quaisapenas 10 trabalham no sistemade coletividade. As demais, queoptaram pela ação individual,vêm enfrentando o endivida-

A ssim como a fazenda Mãedas Conquistas, Cunhateve seu solo destruído

pelo desmatamento desordenado.Ilha cercada pelos rios São Bar-tolomeu e Santana e várias nas-centes, Cunha chegou a ter os cór-regos que cortam a região com-pletamente secos por causa daação devastadora da plantação desoja que havia no local. “Os cór-regos secaram e a água do rio SãoBarto-lomeu, mesmo em época decheia, não chegava mais no leitoque se estendia dentro da fazen-da”, conta Barfknecht.

Hoje a área está quase total-mente recuperada e já se podemver na margem do rio e nas pro-ximidades das nascentes o renas-cimento do cerrado, o verde davegetação e a água que havia se-cado. A plantação baseada nomodelo agroecológico tornou Cu-nha um assentamento modelo noDF. Barfknecht conta que os pri-meiros três anos depois de assen-tados foram de pesquisas. Orien-

Sem-terra recuperam solodevastado e trazem a água de voltaRecuperação do solo, sementes adaptadas para a região, sementes de frutos típicos são a cesta básica da agroecologia

Cunha: filho do Mãe dasConquistas enfrentou dívidase desistências da terraAssentados que optaram pela ação individual enfrentam dívidas e ameaça de desistir da terra.Grupo Coletivo colhe fruto de parcerias com Embrapa e PNUD

mento e até adesistência daterra. Alguns,segundo Ivo Ri-cardo Barfkne-cht, um dos diri-rigentes estadu-ais do MST e umdos assentadosde Cunha, já vêmtentando vendera parcela quelhes pertence.

No entanto,apesar da desis-tência de partedos assentados

de participar até mesmo do MST,as 10 famílias reunidas no GrupoColetivo Carajás tocam a produ-ção nos cerca de 60 hectares quelhes couberam e já apresentamos frutos dessa união. Firmaramparcerias com a Embrapa e como Fundo para o Meio AmbienteMundial, por meio do Programadas Nações Unidas para o Desen-volvimento (PNUD), para inte-grarem o Programa de PequenosProjetos – o PPP. Com essa parce-ria, o Coletivo Carajás preparousementes de milho, feijão e ou-tros cereais para cultivo e iniciou

a preservação de espécies típicasdo cerrado, como cagaita, baru,articum, jatobá, pequi, marmelo,dentre outras.

Construindo parceriasEntre as parcerias firmadas

pelo Coletivo está a agroindústriade beneficiamento de alimentos,em fase final de construção, comparceria com a Associação deApoio à Verticalização da Peque-na Produção Familiar (Aprove). Ameta é beneficiar hortaliças queserão produzidas numa área deoito mil metros quadrados e apoupa de frutos do cerrado, mui-tos já plantados.

O investimento foi de R$ 50 milpara a construção do galpão, em-balagens e os meios necessáriospara a produção. O projeto estásendo avaliado pela VigilânciaSanitária e órgãos federais paraque os produtos saiam do as-sentamento com certificadode origem, uma exigênciado governo que dá garan-tias ao consumidor sobrea procedência e qualida-de dos alimentos.

A busca pelos recursosfinanceiros levou o grupo

ano passado, como capim, pés demandioca e um emaranhado cin-za que cobre todo o solo da fazen-da. O objetivo é deixar que a pró-pria terra processe aquela vege-tação morta e se recupere natu-ralmente.

Em Cunha, além do trabalhode recuperação das sementes cul-turalmente produzidas, os assen-tados do Coletivo Carajás conse-

a fazer o convênio Brasil–Itália,por meio do qual recebeu 50 mileuros (R$ 175 mil), oque lhe dará a pos-sibilidade de plan-tar, investir em ir-rigação, construiro galpão paraarmazenar osgrãos e adqui-rir o maquinário.O objetivo, segundoIvo Ricardo Barfkne-cht, um dos integran-tes do coletivo, é pro-duzir 70 mil mudas/ano de frutas e deespécies para reflo-restamento.

Vista do assentamento

Ivo

Bar

fkne

ch

tados por técnicos da Embrapa,conseguiram encontrar a semen-te que fosse adaptada para o cli-ma e solo da região.

Reciclagem naturalNesta época em que o Centro-

Oeste é tomado pela seca, os as-sentados de Cunha deixam a ter-ra descansar. Sobre ela, vêem-seresquícios secos da plantação do

guiram resgatar sementes de fru-tos típicos do cerrado que há maisde 40 anos estavam desapareci-dos na região. Dentre as semen-tes recuperadas destacam-se algu-mas espécies de milho, arroz e atémesmo o tipo de adubação verde.

“Para isso entraram outros ato-res, como a Embrapa, Anca, ISPN,Concrabe. O ISPN entrou apoian-do o projeto de agroindústria queestá no processo final de imple-mentação, na Cunha, e nós trans-formamos esses assentamentosem locais de experiências concre-tas e um local de disseminaçãodaquilo que a gente faz”, explicaFlávio Mello.

Ao mesmo tempo em que sediscute política, nas reuniõestambém têm lugar o debate dasquestões técnicas. Fala-se doagronegócio, dos transgênicos, enessas discussões os dirigentesdo MST aproveitam para compa-rar os modelos de produção eapontar as alternativas aos as-sentados.

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A roça e o rufar dostambores no Diamante Negro

Maranhão: assentamentos num mar de latifúndios

TEXTO E FOTOS

ED WILSON ARAÚJO

Amúsica que toca em qua-se todas as casas é veicu-lada na Rádio Comunitá-

ria Diamante FM (92,5 Mhz), oprincipal meio de comunicaçãodo assentamento Diamante Ne-gro/Jutai. Com 8.885 hectaresalém da Vila Diamante, abrangemais nove comunidades: Vila Di-amante, Água Branca, Cordeiros,Serdote, Nova Morada, MoradaNova, São Raimundo, Baixa do Ar-roz e Anananzal. Fica à margemda BR – 222, a 210 Km de SãoLuís, entre os municípios de Iga-rapé do Meio e Monção, no Valedo Pindaré. O assentamento é fru-to de uma ocupação iniciada em1989 e concretizada após um ás-pero enfrentamento contra a Po-lícia Militar e jagunços. É do as-sentamento o vice-prefeito domunicípio, Lourenço Chagas(PDT), no segundo mandato, e oex-vereador Antonio Rafael Mar-tins, já falecido.

No Diamante Negro vivem 338

famílias. A maior parte está con-centrada na Vila Diamante, a sede.

Aposta na rádio comunitáriaA rádio está localizada no Cen-

tro de Formação Pe. Josimo, com-plexo que abriga ainda o Telecen-tro com dez computadores conec-tados à internet, a secretaria, alo-jamentos, lavanderia, cozinha, re-feitório, banheiros e o auditórioonde são ministrados os cursos deformação. É neste local onde acon-tecem as principais atividades pe-dagógicas dos assentados.

Entre as conquistas decorren-tes da luta pela terra, a Diaman-te FM representa a concretizaçãode um projeto de cidadania nocontexto da reforma agrária. Aemissora é coordenada por Cos-me de Jesus Sousa Araújo, 33anos, que vivenciou toda a fasede ocupação da fazenda, em1989, quando presenciou as per-seguições e os tiroteios. Antes deter a rádio FM, os assentados ti-nham um sistema de som alto fa-lante. “Daí a comunidade come-çou a despertar a curiosidade pela

questão da comu-nicação”, relataCosme Araújo, atéque em 1999 en-trou no ar a RádioComunitária Dia-mante FM. Co-lhendo vitórias eenfrentando difi-culdades, a emisso-ra chegou a atingirsete municípios noVale do Pindaré.

Um episódio que marcou a his-tória da rádio foi a investida frus-trada da Polícia Federal. A emis-sora estava com 15 dias de funci-onamento quando os agentes che-garam para tentar apreender osequipamentos, mas a reação dacomunidade foi imediata e inteli-gente, trancando os agentes noprédio e convocando os assenta-dos para defender a DiamanteFM. “Foi questão de minutos parao centro estar cercado de crian-

ças, jovens, pessoas de todas asidades do assentamento. A políciaficou presa aqui dentro da rádio eo prédio cercado pelos populares.A PF não resistiu à pressão e foiembora. Mais duas vezes tentouvoltar, ficou próximo ao assenta-mento, mas não entrou”, lembraCosme Araújo, afirmando que agrande conquista da emissora édebater a realidade dos assenta-dos, esclarecer e promover a par-ticipação das comunidades na ges-tão e na programação.

“É preciso amar as pessoas como se não houvesseamanhã...” Os versos de Renato Russo, ex-vocalistada Legião Urbana, embalam a manhã ensolaradade agosto nas casas da entrada da Vila Diamante.Um dos primeiros e mais expressivos assentamentos dereforma agrária sob a coordenação do Movimento dosTrabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no Maranhão.

Estuda-se muito no Centrode Formação Pe. JosimoAtualmente, o MST executa projetos pedagógicos em parceria com a Universidade Federal do Maranhão(Ufma), Escola Agrotécnica Federal e com o Incra, respectivamente, nas áreas de Magistério,Saúde Comunitária em Áreas de Reforma Agrária, Agropecuária e Agroecologia.Além do centro de formação, a Vila é composta por duas escolas de ensino fundamental.

Éno ambiente da Pedagogiaque estão envolvidas as jo-vens Vitória Nilde Maciel Amo-

rim, 21 anos, e Ana Paula PinheiroPaiva, 20 anos, alunas do curso Ma-gistério.

Vitória Amorim era criança quandofoi para a ocupação, junto com mili-tantes da Igreja Católica e do MST. Naépoca morava em Juçaralzinho, povo-ado de Vitória do Mearim, “Os meuspais e mais outras famílias vieram eeu vim junto. A minha vontade sem-pre foi ser militante. O MST politiza,principalmente na adolescência, orga-niza para combater a opressão. A mi-

nha principal conquista é ter uma con-cepção de mundo diferente da socie-dade, das pessoas”, revela.

A educação muda a vidaAna Paula Paiva nasceu no povoado

Bomba, em Bacabal, e foi para o assen-tamento “Margarida Alves” levada pelopai. As dificuldades financeiras e a dis-tância da família estão sendo supera-das com a conclusão do Magistério. “Onovo pra mim dá medo”, sentencia,lembrando as opções que teve de fazerpara superar os obstáculos. Sair deBomba e chegar à reta final do Magis-tério é uma experiência de vida que a

jovem conta com detalhes e emoção,enfatizando o impacto diante dos no-vos desafios. A vivência no assenta-mento e o curso do Magistério sãoexemplos. “Você tem que aceitar aspessoas como elas são. Não é fácilvocê viver em coletivo, em comuni-dade, compreender o outro, compar-tilhar o que você tem com o outro.Com o passar do tempo eu fui com-preendendo a luta de classe, comofunciona. Parece que as portas seabrem, você tem novos horizontes.Hoje eu digo assim que eu dei umsalto muito grande na minha vida”,comemora.

Em 2005, a rádio entrou emuma nova etapa unindo co-

municação e cultura. Em 28 deagosto a emissora foi oficial-mente inaugurada e começoua funcionar na Vila Diamante o“Cinema na Terra” projeto doMST em parceria com o Minis-tério da Cultura em 16 estadosbrasileiros. Consiste na apre-

sentação de filmes nos assen-tamentos, acampamentos, es-colas, entidades e outras insti-tuições afinadas com a reformaagrária. Na mesma data foiinaugurado ainda o Ponto deCultura, outra iniciativa do MSTjunto ao Ministério da Culturapara adquirir instrumentosmusicais.

Cinema na Terra

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A s lições de amizade, solidariedade, crítica e autocríticada prática pedagógica vão

compondo os sonhos e tecendo osprojetos dos jovens que participa-vam do I Encontro de Jovens Lide-ranças da Baixada. No auditório deparedes cobertas com grandes pa-inéis de Che Guevara, Mao TseTung e outras simbologias do soci-alismo, a celebração com cantoriae mística dá o tom da cerimônia definalização do curso, em que coor-denador aponta os desafios da ju-ventude do MST.

A estrada é a espinha dorsal doDiamante Negro/Jutai, interli-gando todas as comunidades.Como passa a maior parte do anoinviável para o tráfego de carrose caminhões, não pode haver es-tímulo para plantar se não temcomo escoar. O contraste entre arealidade do assentado e as ex-

pectativas de uma reforma agrá-ria produtiva explica a ociosida-de da maior edificação da VilaDiamante, chamado elefantebranco, uma espécie de armazémconstruído pelo Incra e que nun-ca teve utilidade.

Destaque para a produçãoNo assentamento existem três

organizações voltadas à produ-ção: Grupo Coletivo “Unidos Ven-ceremos”, Associação dos Peque-nos Produtores da Vila Diamantee Cooperativa Agropecuária dosProdutores da Vila Diamante (Co-opervid). O desgaste da terra, se-gundo Fernandes, também con-tribuiu para o desinteresse pelotrabalho coletivo. As roças sãoindividuais e a agricultura é desubsistência à base de arroz, mi-lho, melancia, mandioca e feijão.

Os relatos dos agricultores con-trastam com o grande potencial

agrícola da região, loca-lizado na Baixa do Arroz,uma extensa área alaga-da cujas condições natu-rais, se potencializadas,poderiam otimizar aagricultura e a pesca.“Diamante Negro/Jutaifoi o primeiro assenta-mento no Maranhãoque teve cooperativa epuxou a luta pelo crédi-to agrícola”, explica aassistente social ZairaSabry Azar, militante doMST e mestranda em PolíticasPúblicas na Universidade Federaldo Maranhão (Ufma). Zaira Azarafirma que o construir coletivoainda é o grande desafio, um pro-cesso lento. “O assentamento nãoé um gueto, tem contradições,disputas internas, muitas vezesoriundas da tradição camponesa

e do conflito de propósitos na re-lação entre as famílias e as políti-cas do Estado, que quer resulta-do econômico, rentabilidade”,detalha, referindo-se ao elefantebranco. “Os projetos tem de serconstruídos dentro da comunida-de. Não adianta projeto pronto”,enfatiza Azar.

Énesse ambiente inspira-dor que a reportagemencontra as outras di-

mensões da vida dos assenta-dos – a celebração do canto,da dança e da percussão, aexemplo do bumba-boi “Jóiade São João”, da MoradaNova, organizado por Rai-mundo Rodrigues Martins, oBarroso, 52 anos. A brincadei-ra foi iniciada em 1982, “deuma promessa feita por ‘An-tonio do Acoque’ para SãoJosé de Ribamar. Nunca maisde lá pra cá parou. Todo anolevanto ela”, conta Barroso.

O boi Jóia de São João di-ferencia da tradição juninamaranhense. Não existem aspersonagens Pai Francisco eMãe Catirina, alegorias pre-dominantes no auto do bum-ba-meu-boi. O forte da brin-

cadeira é a percussão, propor-cionada por grandes tambores(as caixas), as zabumbas epandeiros, feitos dos couros decobra sucuruju, veado matei-ro e gado.

Seu Barroso no comandoCom uma média de 100

participantes, o comando dabrincadeira é de Barroso, queassume o papel de fazendei-ro, e de Antonio Rodrigues, opatrão, acompanhados doamo, contra-amo, primeirovaqueiro, segundo vaqueiro,cazumbas, Dona Maria, astapuias e o chefe do batuque.

Há poucos evangélicos noassentamento. Esta é uma dassingularidades que pode expli-car a força da tradição católi-ca nas manifestações cultu-rais, pois as festas mais expres-sivas têm ligação forte com o

Assentados valorizame preservam a cultura regional

catolicismo. É o caso de outraforte influência percussiva, decantoria e dança na região - otambor de crioula - em home-nagem a São Benedito. Na co-munidade São Raimundo, olavrador Manoel Luiz da Sil-va, 60 anos, toca tambor des-de os 15 anos. O casal Rai-munda Cutrim Sousa, a Qui-nha, e Valdinor Sousa, é de-voto de São Benedito. Desdeadolescente Valdinor come-çou a cantar tambor de cri-oula e depois organizava fes-ta para São Benedito. “Issojá vem de muito tempo. Émuito importante. As mu-lheres dançam, fazem aque-la vestimenta grande e co-meçam a dançar na frentedo tambor e eles fazem ocordão e vão botando versosuns para os outros e vão boi-ando. Aqui dos mais velhosaté os novos tudo cantam.Na família tem o gen-

ro, o compadre, ofilho. É aquela

alegria e vai

passando de geração a gera-ção”, conta Quinha com umsorriso orgulhoso.

As festas de junhoNo período junino, as co-

munidades entram em festa epassam dias fazendo apresen-tações. Tudo converge para odia 30 de junho, quando écelebrado o aniversário daocupação. É uma festa que jáentrou para o calendário dosmunicípios circunvizinhos. Oaniversário da Vila Diaman-te, para uns, é apenas maisuma festa; para tantos outros,representa a conquista daterra e da liberdade. É um diade celebrar a vida, os proje-tos conquistados e de reacen-der a chama dos sonhos demuita gente.

Jovens em curso de formação

A tradição católicaé forte nasmanifestaçõesculturais

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TEXTO E FOTOS:ANTONIO EZEQUIEL

Maceió. “Em tempo de co-lher, levar às feiras li-vres produtos que flo-

rescem sem agrotóxicos, a preçosatrativos para a população, o ho-mem que lavra a terra e plantasente o verdor da liberdade”. Afrase é de Débora Nunes, da co-ordenação do MST, em Alagoas.Quando diz isto, está se referindoà Feira da Reforma Agrária, que,uma vez por ano, no mês de se-tembro, leva aos moradores dacapital, produtos dos assentamen-tos no Estado. A Praça da Faculda-de, em Maceió, já ficou até conhe-

Feira da Reforma Agráriaé subsistência e diálogocom a população

cida como Praça dos Sem-Terra.“O objetivo da feira, já no sex-

to ano, além de oferecer alimen-tos pelos melhores preços à po-pulação, é o diálogo com a socie-dade sobre a importância da re-forma agrária. A fixação do ho-mem do campo com trabalho, saú-de, educação e moradia garantedignidade às pessoas”, afirma.

Para Débora, a feira é umexemplo de resistência. Mostra doque são capazes os trabalhadoresmesmo que não recebam a devi-da assistência técnica e a infra-estrutura necessárias para a con-cretização dos sonhos. Em 2003,em apenas três dias, foram ven-didas 280 toneladas de alimentos.Em 2004, esse número foi aindamaior.

Para 2005 as perspectivas sãoboas, segundo a sem-terra. O in-verno deste ano garantiu boassafras nos assentamentos do es-tado. Toneladas de alimentos se-rão vendidas à população direta-mente, sem atravessadores. Mi-lho, feijão, macaxeira (mandiocaou aipim), batata doce, abóbora,cana caiana, mamão, coco, gali-nha de capoeira e carne de bodeestão entre os produtos que se-rão levados para a feira, em se-tembro. Para Débora, o ProgramaNacional de Agricultura Familiar(Pronaf) é muito importante.“Mais de 60% dos produtos agrí-colas consumidos provêm da agri-cultura familiar”, diz orgulhosa.E completa: em Alagoas esse nú-mero pode chegar a 80%.

No assentamento Dom HelderCâmara, no município deGirau do Ponciano, na região

agreste de Alagoas, a 161 quilôme-tros de Maceió, vivem 287 famílias,distribuídas pelas nove agrovilas noscerca de 4 mil hectares. É o maior

Ovinocultura não deu certo no Dom Helderdos 47 existentes no Estado.

O agricultor José Antonio dosSantos (Zé Borges) lembra da expe-riência de ovinocultura (criação deovelhas), quando foi feito o assen-tamento das famílias, há seis anos.Cada família teve direito ao finan-ciamento de R$ 9.500,00, peloBanco do Nordeste (BN). Com essedinheiro compraram ferramentas,arame, estacas, fomento, construí-ram moradias e pagaram as ove-lhas: 15 matrizes, cada uma avali-ada em R$ 100, e um reprodutor,em R$ 150. Foram entregues emcada lote sem que seus ocupantesfossem ouvidos.

A experiência não deu certo. Atu-almente, não há sequer uma ove-lha no assentamento. Zé Borgesexplica: as ovelhas não se adapta-ram à região, sem pastagem devidoà estiagem. Os animais que nãomorreram foram vendidos. Atual-mente, os moradores do Dom Hel-der Câmara estão com dívidas jun-

to ao Banco do Nordeste.José Roberto, outro assentado,

explica que a inadimplência agra-vou-se pelo fato de a liberação dosrecursos ter sido antecipada, aindano período de pré-topografia.Quando os lotes foram demarcados,famílias tiveram que se mudar paraos que lhe foram destinados nasagrovilas do assentamento. Tiveramque deixar para trás o trabalho quejá haviam iniciado, removendomaterial e recomeçando tudo semrecursos.

Hoje, as famílias resistem plantan-do milho, feijão, mandioca, palmapara ração de animais (chamam deouro verde) e, em alguns lotes, ofumo.

Não às favelas ruraisFalta, segundo os agricultores,

uma melhor distribuição de semen-tes. A Secretaria Estadual de Agri-cultura fornece quatro quilos deespécie para cada lote. “São forne-cidas fora do período adequado ao

plantio, nos meses de abril e maio”,fala Marcone Alves.

Para Marcone problemas destetipo acontecem porque “os assen-tamentos foram pensados para nãodar certo. Deixaram de criar favelasnas cidades para criar favelas rurais.Sem infra-estrutura, assistência téc-nica famílias de agricultores se ins-talam em lotes de 30 tarefas, emmédia e, muitos casos, plantam pal-ma para pastagem ou respeitam áre-as de preservação ambiental, o quereduz áreas de plantação. O queainda produzimos significa a resis-tência, a coragem para o trabalho”.

Um exemplo de como desejamreverter a atual situação é a criaçãode um banco de sementes, no siste-ma de cooperativas, que lhes possi-bilitará o resgate de variedades an-tigas e de qualidade para boa pro-dução, com capacitação dos própri-os técnicos, sem necessidade futurade submissão a sementes transgêni-cas de grandes indústrias.

Começar de novo até dar certo para nãovoltar à favela da periferia de Maceió

Maceió: Setembro de 2005

Experiência com criação deovelhas não foi para frente edeixou moradores endividados

F lávia Oliveira Alves é a co-ordenadora estadual do Se-

tor de Educação do MST. Ela nosconta que a Escola de Ensino fun-damental Sete Casas em brevedeverá se chamar Dom HelderCâmara. Ela foi construída pelogoverno estadual. Hoje, benefi-cia 563 alunos da em suas qua-tro salas de aula, biblioteca, salade informática e alojamentos.

Flávia fala com alegria da es-cola de ensino fundamental,mas não se esquece da impor-tância de trabalhadores ruraise seus filhos, que vivem em as-sentamentos de reforma agrá-ria, estarem cursando universi-dades, graças a convênios fir-mados com o MEC por intermé-dio do Incra. Os alunos estãoespalhados pelos cursos deAgronomia, Filosofia, Psicolo-gia, Pedagogia. Há os que estãoem Cuba fazendo Medicina eDança e os que fazem cursos de

Técnicas Agrícolas em Bana-neiras, na Paraíba.

Casas em mutirão“A gente trabalha, sim, com

a esperança de não ver agricul-tor mendigando nas cidades,mas vivendo com dignidade”,orgulha-se José Bezerra da Sil-va, do assentamento RoselyNunes. “Tive o prazer de en-trar numa casa que eu mesmoplanejei”. É assim que se sen-tem os agricultores dos assen-tamentos Rosely Nunes e NovaPaz, em Girau do Ponciano. DosR$ 18 mil destinados a cada fa-mília dessas áreas, R$ 5 milpuderam ser usados na cons-trução de moradias. Não hou-ve contratação de empreitei-ras. Com a ajuda de profissio-nais de construção casas bemplanejadas foram construídascom material de qualidade eespaço para futuros armazéns.

Educação e moradia sãoconquistas dos assentados

Feira faz sucesso e encanta a população com preço e qualidade dos produtos de Reforma AgráriaC

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