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Financiadores Gestão administrativa e financeira Implementação Contratada: Ecotoré Serviços Socioambientais Análise Técnico-econômica das cadeias de produtos florestais não madeireiros na região noroeste do Mato Grosso Produto 3 FÁBIO WESLEY DE MELO MÁRCIO HALLA Cuiabá/MT Junho/2016

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Page 1: Análise Técnico-econômica das cadeias de produtos …...Tais características históricas favoreceram a marginalização gradativa dos PFNM na economia do Mato Grosso, apesar de

Financiadores Gestão administrativa e financeira Implementação

Contratada: Ecotoré Serviços Socioambientais

Análise Técnico-econômica das cadeias de produtos florestais não madeireiros na região noroeste do Mato Grosso

Produto 3

FÁBIO WESLEY DE MELO

MÁRCIO HALLA

Cuiabá/MT

Junho/2016

Page 2: Análise Técnico-econômica das cadeias de produtos …...Tais características históricas favoreceram a marginalização gradativa dos PFNM na economia do Mato Grosso, apesar de

Resumo

Esta pesquisa é fruto do contrato estabelecido entre a Ecotoré Serviços Socioambientais, e a ONF

Brasil, no âmbito da Plataforma Experimental para gestão dos Territórios Rurais da Amazônia Legal

(PETRA), visando a realização de análise técnico-econômica das cadeias de Produtos Florestais Não

Madeireiros (PFNM), derivados de Castanha-do-brasil (Bertholletia excelsa), Seringueira (Hevea

brasiliensis) e Babaçu (Attalea spp.), na região Noroeste do Mato Grosso”. O trabalho foi

desenvolvido em três etapas: I - Pesquisa e síntese bibliográfica visando identificar cadeias

produtivas prioritárias e indicar organizações modelo para a realização de estudos de caso; II –

Levantamento e sistematização de dados primários, junto às organizações identificadas; III –

Formulação de análises, recomendações e apresentações para a ONF e demais atores envolvidos. A

cadeia produtiva da castanha-do-brasil apresentou o melhor desempenho, maior quantidade de

atores envolvidos e perspectiva de crescimento; a cadeia produtiva do látex nativo apresentou

retomada da produção na RESEX Guariba Roosevelt; e a cadeia produtiva do babaçu está iniciando a

produção com perspectivas de crescimento. Também foram registradas, em caráter complementar,

informações sobre a cadeia produtiva do óleo resina de copaíba.

Palavras-chave: Análise técnico-econômica. Produto Florestal Não Madeireiro. Região Noroeste do

Mato Grosso.

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Lista de abreviaturas e siglas

ABC Agricultura de Baixo Carbono

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas

AI Área Indígena

AMARR Associação dos Moradores Agroextrativistas da RESEX Guariba Roosevelt Rio

Roosevelt

AMCA Associação de Mulheres Cantinho da Amazônia

AMORARR Associação dos Moradores Agroextrativistas da Resex Guariba Rossevelt Rio

Guariba

ATER Assistência Técnica e Extensão Rural

BN Borracha Natural

CECAB Cooperativa de Extração de Castanha do Brasil

COMIGUA Cooperativa Mista de Guariba

CONAB Companhia Nacional de Abastecimento

COOPAVAM Cooperativa dos Agricultores do Vale do Amanhecer

COOPERCOTRI Cooperativa Agropecuária de Cotriguaçu

CPATU Centro de Pesquisa Agroflorestal do Trópico Úmido

DAP Declaração de Aptidão ao Pronaf

DNIT Departamento Nacional de Infraestrutura de Tráfego

EMBAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

FBN Fixação Biológica do Nitrogênio

FOFA Forças Oportunidades Fraquezas Ameaças

FUNAI Fundação Nacional do Índio

GMP Grupo Mulheres da Paz da Associação dos Pequenos Produtores Rurais da

Comunidade Santa Clara

GMU Grupo Mulheres Unidas da Associação Grupo de Reflorestamento Agroindústria da

Comunidade Ouro Verde

GTZ Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit

IAV Instituto Ação Verde

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

ICMS Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços

ICV Instituto Centro de Vida

ILPF Integração Lavoura-Pecuária-Floresta

ISA Instituto Socioambiental

ISPN Instituto Sociedade População e Natureza

ISSO International Organization for Standardization

MAPA Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento

MMA Ministério do Meio Ambiente

MT Mato Grosso

NBR Norma Brasileira

NO Noroeste

ONFB Office National des Forêts Brasil

ONFI Office National des Forêts International

PA Projeto de Assentamento

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PAA Programa de Aquisição de Alimentos

PETRA Plataforma Experimental para a Gestão dos Territórios Rurais da Amazônia Legal

PFNM Produto Florestal Não Madeireiro

PGPM Bio Política de Garantia de Preços Mínimos para Produtos da Sociobiodiversidade

PIC Projeto Integrado da Castanha

PLANAPO Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica

PNAE Política Nacional de Alimentação Escolar

PNATER Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural

PNPSB Plano Nacional de Promoção das Cadeias de Produtos da Sociobiodiversidade

PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

PRAD Projeto de Recuperação de Área Degradada

PRAD Projetos de Recuperação de Áreas Degradadas

PRONAF Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar

RESEX Reserva Extrativista

RO Rondônia

SAF Sistema Agroflorestal

SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

SEMA Secretaria de Estado do Meio Ambiente

SISCOS Sistema de Comercialização Solidária

SPD Sistema Plantio Direto

SUASA Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária

TDR Termo de Referência

TI Terra Indígena

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Sumário

1 Introdução e contextualização ....................................................................................................... 1

2 Metodologia ................................................................................................................................... 6

3 PFNM no Noroeste do Mato Grosso ............................................................................................ 11

3.1 Caso dos PFNM cultivados em lavouras permanentes ......................................................... 11

3.2 PFNM extrativista .................................................................................................................. 12

4 Análise das Cadeias de PFNM no Noroeste do Mato Grosso ....................................................... 17

4.1 Cadeia produtiva da Castanha-do-brasil (Bertholletia excelsa) ............................................ 17

4.2 Cadeia produtiva da borracha (Hevea brasiliensis) ............................................................... 32

4.3 Cadeia produtiva do babaçu (Attalea spp) ............................................................................ 41

4.4 Cadeia Produtiva do óleo resina de copaíba (Copaifera spp) ............................................... 52

5 Análise dos empreendimentos das cadeias de PFNM do Noroeste do Mato Grosso .................. 55

5.1 Empreendimentos da cadeia produtiva da castanha-do-brasil ............................................ 55

5.2 Empreendimentos da cadeia produtiva da borracha ........................................................... 55

5.3 Empreendimentos da cadeia produtiva do babaçu .............................................................. 56

6 Políticas Públicas para Cadeias de PFNM ..................................................................................... 57

7 Conclusões e recomendações ...................................................................................................... 61

8 Referências ................................................................................................................................... 68

Anexos ................................................................................................................................................... 72

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1 Introdução e contextualização

Este é o Produto 3 – Relatório Técnico Final da consultoria realizada pela Ecotoré para a Office

National des Forêts Brasil (ONFB), no âmbito do Projeto PETRA1, para a realização de “Análise

Técnico-econômica das cadeias de produtos florestais não madeireiros na região noroeste do Mato

Grosso”(ONFB, 2015).

Esta análise técnica contribui com a disseminação de informação atual sobre sistemas produtivos

sustentáveis, em atenção ao componente 1 do projeto PETRA (subcomponente 1.2) que prevê “a

promoção dos sistemas de produção econômica e ecologicamente eficientes(...)”, importantes para

que “os produtores rurais possam tomar boas decisões de desenvolvimento ou diversificação das suas

atividades (...) para sustentar as decisões de investimentos: preços e tendências do mercado,

rentabilidade, níveis de inversão requerida”.

O Produto 1 apresentou o Plano de trabalho detalhado, incluindo metodologia, escopo, abordagem,

premissas e cronograma de execução das atividades.

O Produto 2 apresentou a revisão e síntese bibliográfica, metodologia operativa, variáveis a serem

analisadas, formulários de levantamento de informações, planilhas de processamento de dados e

identificação de entidades junto às quais viriam a ser realizados estudos de caso.

O Produto 4, utilizado como referência para a apresentação realizada na reunião do Comitê Científico

e Técnico dos projetos Poço de Carbono Florestal Peugeot - ONF e PETRA, em 16 de março de 2016,

em Sinop/MT, foi compreendido como uma análise preliminar das cadeias produtivas de PFNM do

Noroeste do Mato Grosso, com foco em castanha-do-brasil (Bertholletia excelsa), borracha (Hevea

brasiliensis) e babaçu (Attalea spp.). Este produto 4 foi antecipado devido ao ajuste de cronograma,

em função da data do evento estar definida desde o início da realização desta consultoria. Deste

modo, a apresentação e o debate constituíram-se como uma oportunidade para o compartilhamento

da análise preliminar e a obtenção de novos subsídios dos participantes.

Neste Produto 3 foram incorporadas, de forma sintética, as informações de todo os produtos

anteriores, com a apresentação do relatório final da Análise Técnico-econômica das cadeias de

produtos florestais não madeireiros na região noroeste do Mato Grosso, que contém: descrição dos

sistemas produtivos, análise técnico-econômica das cadeias produtivas e análise comparativa entre

cadeias priorizadas.

Não foi objetivo desta pesquisa analisar o processo histórico de consolidação do estado do Mato

Grosso ou de suas consequências para o atual contexto socioambiental e econômico regional. No

entanto, é importante para a análise das cadeias produtivas de PFNM da região NO do MT,

compreender que, historicamente, as políticas públicas de colonização e de incentivos à produção

favoreceram, em grande parte, desde o século XVIII, a criação de grandes latifúndios e a

concentração de terras (Moreno, 2007). Tais políticas contribuíram para a implantação da

agropecuária extensiva e do extrativismo predatório.

Neste contexto, ocorreram deslocamentos massivos, a dispersão e até a extinção de povos indígenas

e comunidades tradicionais e suas culturas, com o avanço da ocupação dos territórios por colonos e

1Plataforma Experimental para a Gestão dos Territórios Rurais da Amazônia Legal – PETRA.

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a substituição dos ecossistemas originais, ricos em PFNM, por lavouras temporárias e pastos

cultivados, conforme os sistemas de produção incentivados no processo de colonização.

Tais características históricas favoreceram a marginalização gradativa dos PFNM na economia do

Mato Grosso, apesar de seu potencial socioeconômico e de sustentabilidade, especialmente no

âmbito local e regional para os pequenos produtores (indígenas, extrativistas e agricultores

familiares) e mercados locais.

Nos últimos anos, novas políticas públicas de incentivo às cadeias de produtos da

sociobiodiversidade2 têm favorecido o desenvolvimento de arranjos produtivos de PFNM,

especialmente em regiões onde há ampla cobertura florestal, como é o caso da Região Noroeste do

Mato Grosso, composta pelos municípios de Aripuanã, Castanheira, Cotriguaçu Juína, Juruena,

Rondolândia e Colniza (Mapa 1).

Na Região Noroeste do Mato Grosso e em municípios próximos há vários arranjos produtivos de

PFNM, com iniciativa privada, parcerias entre associações e cooperativas locais, e organizações de

apoio e fomento. Destacam-se: “Apoio à Produção e Comercialização dos Produtos dos Sistemas

Agroflorestais de Juína/MT”, centrado na produção de palmito; “Promoção do Extrativismo

Sustentável do Babaçu e do Desenvolvimento Comunitário”, no Projeto de Assentamento (PA) Nova

Cotriguaçu, Cotriguaçu/MT; “Conservação Ambiental com Inclusão Social”, em Juruena, centrado na

estruturação da cadeia produtiva da castanha-do-Brasil; “Comercialização dos Frutos Agroflorestais

em Juína”, centrado na produção e comercialização de palmito de pupunha (ISPN, 2016).

Merece destaque o potencial dos PFNM nas Terras Indígenas (TI) da região (Mapa 2). Em contraste às

áreas de assentamento rural, manejo madeireiro, fazendas de gado e de monocultura extensiva, as

TIs detêm grandes áreas de floresta em pé. Atualmente, boa parte da castanha-do-brasil

comercializada provém de TIs do MT e de RO.

Desde 2002, o Povo Indígena Rikbaktsa das TIs Erikpatsa (Brasnorte), Escondido (Cotriguaçu) e

Japuíra (Juara), recebe apoio da FUNAI e parceiros para promover a comercialização de castanha.

Associações e cooperativas de produtores compram castanha natural de TIs da região e entorno,

inclusive de RO (ISA, 2006).

2 “Conceito que expressa a inter-relação entre a diversidade biológica e a diversidade de sistemas

socioculturais” (Brasil, 2009).

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Mapa 1: Região Noroeste do Estado do Mato Grosso, editado de “Divisão político-administrativa Mato Grosso” (2011)

Região

Noroeste

Região

Noroeste

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Mapa 2: Terras indígenas na região Noroeste do Mato Grosso, editado de “Mapa Multimodal do Mato Grosso” (DNIT, 2013)

Vizinho da Região Noroeste, o Município de Itaúba é considerado a capital estadual das castanhas.

Lá, a Prefeitura, com apoio e parceria dos Ministérios do Meio Ambiente (MMA) e da Agricultura

Pecuária e Abastecimento (MAPA), Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

(SEBRAE) e Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), criou uma associação, uma

indústria de beneficiamento e uma cozinha industrial para incentivar a produção de castanha-do-

brasil (ICV, 2014).

Há importantes agentes comerciais na região, entre os quais podem ser citados:

Ouro Verde Agroindústria, em Alta Floresta, na compra de castanhas para a produção de

azeite, granulado, castanha torrada e creme de castanha (Sousa, 2006);

Rainha da Floresta Indústria de Produtos Alimentícios, de Juína/MT;

Cooperativa Agropecuária de Cotriguaçu (COOPERCOTRI) junto com os grupos de mulheres

do PA Nova Cotriguaçu, na produção de derivados de babaçu, em Cotriguaçu;

Cooperativa dos Agricultores do Vale do Amanhecer (COOPAVAM) junto com Associação de

Mulheres Cantinho da Amazônia (AMCA), na produção de derivados de castanha-do-brasil,

em Juruena;

Terras

indígenas Região NO

do MT

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Cooperativa de Extração de Castanha do Brasil (CECAB), em Alta Floresta;

Cooperativa Mista de Guariba (COMIGUA), junto com Associação dos Moradores

Agroextrativistas da Resex Guariba Roosevelt Rio Guariba (AMORARR) e Associação Dos

Moradores Agroextrativistas da Resex Guariba Roosevelt Rio Roosevelt (AMARR), na

produção de derivados de castanha-do-brasil, em Colniza.

Há estratégias de manejo e conservação de seringais nativos, com geração de renda, por exemplo,

por intermédio de projetos como “Promoção de conservação e uso sustentável da biodiversidade nas

florestas de fronteira do noroeste do Mato Grosso” e “Pacto das Águas”, junto aos indígenas

Rikbaktsa e Zoró, seringueiros da RESEX Guariba Roosevelt e agricultores familiares do Assentamento

Vale do Amanhecer (IAV, 2010).

O cenário conta ainda com o Sistema de Comercialização Solidária (SISCOS), operado pelo Instituto

Ouro Verde, em Alta Floresta, representando um importante canal de comercialização de PFNM na

região.

Por fim, a região NO está inserida no “arco do desmatamento da Amazônia Legal”, onde os

municípios de Colniza, Juína, Cotriguaçu e Aripuanã são prioritários para o controle e prevenção do

desmatamento na Amazônia (ICV, 2015). Restrições impostas (proibição de acesso à crédito e

comercialização da produção) a estes municípios representam oportunidade para o desenvolvimento

de cadeias produtivas de PFNM e sua integração com a agropecuária em sistemas agroflorestais e

agrossilvipastoris.

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2 Metodologia

O objetivo adotado como referência para a realização deste estudo foi “Trazer elementos chaves de

decisão sobre a sustentabilidade econômica, ambiental e social das cadeias de produtos florestais

não madeireiros identificadas na região” (ONFB, 2015).

A pesquisa foi desenvolvida em quatro etapas:

I. Planejamento e apresentação do Plano de Trabalho: detalhamento metodológico, escopo,

abordagens, premissas e cronograma de execução;

II. Revisão e síntese bibliográfica: cadeias produtivas prioritárias e organizações modelo para a

realização de estudos de caso;

III. Levantamento e sistematização de dados primários: junto às organizações identificadas;

IV. Formulação de análises, recomendações e apresentações: para a ONF e demais atores

envolvidos.

Tabela 1: Cronograma

Etapa Atividade Prazo

I

Elaboração de minuta do

Plano de Trabalho

20/01/2016

Realização de reunião técnica entre equipes da ECOTORÉ e ONF para apresentações,

alinhamento e ajustes metodológicos

21/01/2016

Entrega do Produto 1 – Plano de Trabalho 25/01/2016

II

Elaboração de revisão bibliográfica com metodologia operativa 12/02/2016

Entrega do Produto 2 – Revisão bibliográfica com metodologia operativa 15/02/2016

Validação do Produto 2 pela ONF (conteúdo, cadeias selecionadas, e estudos de caso) 22/02/2016

III Realização do trabalho de campo 04/03/2016

Sistematização e análise dos dados e informações preliminares 14/03/2016

IV Entrega do Produto 4 e Apresentação da análise preliminar na reunião do Comitê

Científico da ONF

16/03/2016

III Eventual segundo trabalho de campo para refinamento de dados 08/04/2016

IV

Consolidação da análise e elaboração do relatório final, após trocas com ONFB sobre

versões preliminares

30/05/2016

Entrega do Produto 3 - Relatório Técnico Final 13/06/2016

A estrutura do Termo de Referência foi seguida para a apresentação da proposta inicial e do Plano de

Trabalho (Produto 1), que foi aprimorado e adequado, conforme acordado em reuniões entre

Ecotoré e ONFI / ONFB.

Realizou-se revisão e síntese de dados secundários disponíveis (Produto 2), com indicação das

principais cadeias produtivas pela Ecotoré com validação pela ONFB, conforme os seguintes critérios:

1) Importância da cadeia produtiva no contexto socioeconômico local; 2) Grau de consolidação e

representatividade das cadeias produtivas (arranjos produtivos consolidados, em consolidação ou

potenciais); 3) Empreendimentos (entidades modelo) para os estudos de caso; 4) Interesse nos

PFNM para o Projeto PETRA.

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Foram definidas as variáveis a serem analisadas (gestão, participação social, recursos humanos,

manejo, cadeias produtivas, produção e mercados). Também foi elaborado o roteiro de entrevistas e

concebida a base para a sistematização e processamento dos dados (Produto 2).

Os empreendimentos foram listados e, em comum acordo entre a ONF e a Ecotoré, foi definida a

amostra a ser utilizada nos trabalhos de campo. O agendamento das visitas aos empreendimentos foi

feito a partir de contatos telefônicos e/ou e-mail diretamente com seus representantes (Tabela 2).

Tabela 2: Entidades entrevistadas no estudo de caso.

Data Organização Localização Telefone E-mail

03/03/2016 Grupo de Mulheres da Paz (GMP) Associação dos Pequenos Produtores Rurais da Comunidade Santa Clara

P. A. Nova Cotriguaçu, Cotriguaçu/MT

66 35551165 Recado

Não tem

03/03/2016 Grupo Mulheres Unidas (GMU) Grupo de Reflorestamento Agroindústria, da Comunidade Ouro Verde

P. A. Nova Cotriguaçu, Cotriguaçu/MT

66 35551165 Recado

Não tem

05/03/2016 Cooperativa Mista do Guariba (COMIGUA)

Distrito de Guariba, Colniza/MT

66 35991168 81242837

[email protected]

07/03/2016 Cooperativa agropecuária de Cotriguaçu (COOPERCOTRI)

Cotriguaçu/MT 66 84521318 35551294

[email protected]

08/03/2016 Associação de Mulheres Cantinho da Amazônia (AMCA)

P. A. Vale do Amanhecer, Juruena/MT

66 35531690 [email protected]

09/03/2016 Associação dos Moradores Agroextrativistas da Resex Guariba Roosevelt Rio Guariba (AMORARR)

Distrito de Guariba, Colniza/MT

Não informado [email protected] [email protected]

09/03/2016 Associação Dos Moradores Agroextrativistas da Resex Guariba Roosevelt Rio Roosevelt (AMARR)

Rio Roosevelt/Colniza/MT

Não informado [email protected] [email protected]

09 e 10/03/2016 Cooperativa dos Agricultores do Vale do amanhecer (COOPAVAM)

P. A. Vale do Amanhecer, Juruena/MT

66 35531690 84467874

[email protected] [email protected]

11/03/2016 Fundação Nacional do Índio (FUNAI)

Juína/MT 66 96325600

Não informado

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Foram percorridos aproximadamente 2.071 Km de carro. O único município não visitado foi

Rondolândia, que tem ligação terrestre apenas por Rondônia. Considerando que as condições de

logística são determinantes para a estruturação das cadeias, é oportuno que se apresente uma

avaliação das condições das estradas locais, entre os municípios do Noroeste do MT (Tabela 3).

Tabela 3: Trechos percorridos na realização dos estudos de caso

Data De Para Distância

3

(Km) Estradas

02/03/16 Alta Floresta Cotriguaçu 300 MT-208 (oeste) em obra; parte asfaltada intercalando trechos bons e ruins; terra há aproximadamente 70 km (trechos bons e ruins, piores no inverno amazônico) de terra antes da balsa no rio Juruena e depois até MT-170 até Cotriguaçu; MT-170 (noroeste), pequeno trecho até Cotriguaçu, em obra, maior parte asfaltada.

02/03/16 Cotriguaçu Santa Clara4 70 MT-170 (noroeste) e ramais passando por GMP Santa Clara e

GMU Ouro Verde até MT-418 (leste); até Colniza; terra todo o trecho (MT-418 boa).

03/03/16 Santa Clara Ouro Verde 11

03/03/16 Ouro Verde Colniza 35

04/03/16 Colniza Guariba 147 MT-206 (leste); excelente trecho de terra até os 25 Km finais ruins, antes de Guariba.

05/03/16 Guariba Colniza 147

06/03/16 Colniza Cotriguaçu 116 MT-418 (oeste), depois ramais passando por GMP Santa Clara e GMU Ouro Verde (sudeste), depois MT-170 (sudeste) até Cotriguaçu.

07/03/16 Cotriguaçu Juruena 59 MT-170 (sul), a partir de Cotriguaçu aproximadamente 30 km de asfalto bom até a Agrovila; depois terra direto até Juruena; vários trechos ruins.

08/03/16 Juruena Vale do Amanhecer

15 Por ramais de terra entre a cidade e o P.A. Vale do Amanhecer.

08/03/16 Vale do Amanhecer

Juruena 15

08/03/16 Juruena Aripuanã 116 MT-208 (oeste), terra todo trecho; estrada boa, com trechos ruins.

09/03/16 Aripuanã Juruena 116

10/03/16 Juruena COOPAVAM 15 Por ramais de terra entre a cidade e o P.A. Vale do Amanhecer.

10/03/16 COOPAVAM Juruena 15

10/03/16 Juruena Juína 153 MT-170 (sul), primeiros 40 Km de terra em péssimas condições; depois asfalto bom até Castanheira; depois cuidado com buracos até Juína.

11/03/16 Juína Juara 198 MT-170 (sudeste) e depois MT-220 (nordeste), estradas asfaltadas excelentes; Depois MT-325 (nordeste) até Juara, estrada asfaltada ruim.

11/03/16 Juara Alta Floresta 543 MT-325 (leste) depois MT-328 (sudeste); 100 Km de terra com trechos ruins até 30 km finais de asfalto excelente antes da BR 163 (norte) asfalto bom até MT-208 (noroeste) com trechos de asfalto ruim até Alta Floresta.

3 Distância aproximada registrada com aplicativo de celular ViewRanger Outdoors GPS Free (Augmentra, 2015).

4 No PA Nova Cotriguaçu, Cotriguaçu/PA.

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O levantamento de informações junto às entidades selecionadas foi feito em visitas, entrevistas e

reuniões com dirigentes, lideranças comunitárias, fornecedores, agentes públicos, etc. Na medida do

possível foram feitos os registros fotográficos das estruturas dos empreendimentos, devidamente

anexados aos relatórios das entrevistas.

Todos os dados específicos das entidades selecionadas foram fornecidos por seus representantes,

nas entrevistas, a partir de perguntas diretas com base no roteiro de entrevistas e registro das

informações apresentadas.

Os estudos de caso aconteceram entre 02 e 11/03/2016 em visitas às entidades modelo. Na ocasião

da apresentação da análise preliminar avaliou-se a real pertinência de uma segunda etapa de campo.

O fato da reunião do comitê, em Sinop, ter ocorrido imediatamente após o término do primeiro

trabalho de campo, não possibilitou uma análise mais aprofundada, baseada na sistematização dos

resultados obtidos.

Após esta sistematização, optou-se por não realizar o segundo trabalho de campo, considerando que

as informações coletadas se mostraram suficientes para o alcance do objeto desta análise e,

também, que não surgiram novas questões ou demandas por informações complementares.

A condição das estradas varia, porém predominam estradas de terra quanto mais ao norte e oeste.

Há trechos com excelente asfalto novo e outros com péssimo asfalto velho. Pontes de madeira e

áreas alagadas são um desafio a mais, especialmente no inverno amazônico (Mapa 3).

Mapa 3: Percurso e locais visitados nos estudos de caso – editado com Google Earth (Google, 2016)

Após o trabalho de campo, teve início o processamento das informações, análise e identificação dos

gargalos (técnicos, culturais, organizacionais...) das cadeias e formulação de conclusões e

recomendações preliminares.

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Conforme definido nas premissas do Plano de Trabalho desta pesquisa (Produto 1), a análise custo-

benefício e todos os estudos de caráter econômico e financeiro das entidades identificadas tomaram

como base as informações da síntese bibliográfica e as informações fornecidas pelas/os

representantes dos próprios empreendimentos, nas entrevistas dos estudos de caso. Foram alocados

todos os esforços, na medida do possível e da disponibilidade dessas informações. Com base nestes

elementos foi elaborada a apresentação de resultados preliminares desta análise técnico econômica,

realizada na reunião do Comité Científico e Técnico dos projetos Poço de Carbono Florestal Peugeot-

ONF e PETRA no dia 16/03/2016, caracterizando-se como o Produto 4.

A caracterização das cadeias produtivas foi feita com o uso da metodologia Value Links (GTZ, 2007),

com adaptações para a criação apenas dos mapas das cadeias produtivas. A partir das informações

prestadas pelas/os representantes dos empreendimentos, foram identificados os elos, etapas,

organizações de apoio, fomento e controle, para se obter uma visão geral de todas as cadeias.

O desempenho socioeconômico das cadeias produtivas e seus empreendimentos foi avaliado com

base no valor agregado ao longo dos estágios da cadeia, o custo de produção, a renda dos

operadores e o custo de transação (custo de se fazer negócios, coletar informações e fazer cumprir

os contratos), condicionado pelos dados fornecidos pelos representantes das entidades

entrevistadas que, em grande parte, não têm seus custos de produção definidos por etapa do

processo produtivo, o que prejudica análise.

Realizou-se a comparação dos dados entre as cadeias produtivas da castanha-do-brasil, látex, babaçu

e copaíba, a partir da tabulação dos dados em planilhas que foram desmembradas para compor este

relatório e, no cálculo de valor agregado por cadeia produtiva, o custo de materiais, componentes e

serviços contratados/comprados foi deduzido do valor das vendas.

A síntese conjuntural dos mercados, conforme definido nas premissas do Plano de Trabalho, foi

realizada exclusivamente com base nos dados secundários publicados, ou seja, não foram feitos

levantamentos de mercado.

Por fim, de forma geral, a abordagem das análises deste estudo, alinhada com a metodologia

adotada na discussão dos dados primários e secundários, foi desenvolvida por meio de análises FOFA

(Forças e Fraquezas do ambiente interno; Oportunidades e Ameaças do ambiente externo),

apresentadas e discutidas ao longo da caracterização das cadeias produtivas, e posteriormente para

cada empreendimento.

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3 PFNM no Noroeste do Mato Grosso

Na região noroeste do Mato Grosso há cadeias de PFNM de origem extrativista e cultivada (lavoura

permanente). Mais pesquisas são necessárias, a fim de caracterizar melhor as diferenças entre as

cadeias produtivas extrativistas e cultivadas e seu impacto socioeconômico na região.

3.1 Caso dos PFNM cultivados em lavouras permanentes

Apesar de não serem foco desta análise, os PFNM cultivados são importantes no manejo sustentável,

por exemplo, em sistemas agroflorestais e agrossilvipastoris, e Projetos de Recuperação de Áreas

Degradadas – PRAD, podendo contribuir na economia local, de forma sustentável, em áreas privadas,

assentamentos, TI’s, etc.

Os principais PFNM cultivados (lavoura permanente) na Região Noroeste em 2014 (IBGE, 2015)

foram: borracha (látex coagulado), amêndoa de cacau, semente de guaraná, palmito, pimenta-do-

reino, semente de urucum (Tabela 4), que juntos movimentaram aproximadamente R$ 6.683.000,00

(Tabela 5).

Tabela 4: Produção (toneladas) de PFNM cultivados (lavoura permanente) nos municípios da Região Noroeste do Mato Grosso, em 2014

Lavoura permanente

Aripuanã Castanheira Colniza Cotriguaçu Juína Juruena Rondolândia Total

Borracha (látex coagulado)

- - - - 4 - - 4

Cacau (em amêndoa)

20 - 113 96 - - 5 234

Guaraná (semente)

- - - - 8 - - 8

Palmito 250 10 275 525 600 250 - 1.910

Pimenta-do-reino - - 2 - 3 - - 5

Urucum (semente)

8 - 225 54 - 4 - 291

Total 278 10 615 675 615 254 5 2.452

Tabela 5: Valor da produção (Mil Reais) de PFNM cultivados (lavoura permanente) nos municípios da Região Noroeste do Mato Grosso, em 2014

Lavoura permanente

Aripuanã Castanheira Colniza Cotriguaçu Juína Juruena Rondolândia Total

Borracha (látex coagulado)

- - - - 7 - - 7

Cacau (em amêndoa)

80 - 452 384 - - 13 929

Guaraná (semente)

- - - - 120 - - 120

Palmito 813 25 602 1.198 1.100 675 - 4.413

Pimenta-do-reino - - 8 - 15 - - 23

Urucum (semente)

32 - 900 243 - 16 - 1.191

Total 925 25 1.962 1.825 1.242 691 13 6.683

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3.2 PFNM extrativista

Entre os PFNM oriundos do extrativismo vegetal, considerando-se a produção acumulada do período

entre 1990 e 2014 (IBGE, 2014) no estado do Mato Grosso, destacaram-se (Tabela 6):

1. Castanha-do-brasil in natura, com 60,6 % do mercado;

2. Palmito, com aproximadamente 30% do mercado;

3. Pequi (amêndoa), com 7,3 % do mercado;

Em menor volume, registrou-se também: Borracha (látex coagulado), óleo resina de Copaíba, raiz de

Poaia, Mangaba, semente de Urucum e amêndoa de Babaçu (Tabela 6).

Tabela 6: Produção acumulada (toneladas) de PFNM no Mato Grosso entre 1990 e 2014

Ano Castanha-do-brasil

Palmito Poaia Mangaba Urucum Látex coagulado

Babaçu Copaíba Pequi

1990 674 81 1 - - 56 - 1 66

1991 813 282 2 - - 45 - 1 63

1992 392 593 2 - - 46 - 1 55

1993 389 397 1 - - 51 - 15 72

1994 250 527 1 - - 59 - 15 70

1995 258 907 1 - - 22 - 12 72

1996 245 955 2 5 - 56 - 10 81

1997 230 854 1 5 - 6 - 7 80

1998 241 536 1 4 - 11 - 13 64

1999 267 354 1 1 - 8 - 5 80

2000 245 353 1 1 - - - 10 65

2001 277 317 1 1 - - - 2 75

2002 351 484 1 1 - - - 8 60

2003 331 388 - - - - - 5 69

2004 385 298 - - - 0 - 5 82

2005 373 100 - - - - - 4 89

2006 473 94 - - - - - 27 90

2007 476 90 - - - - - 23 101

2008 1.430 79 - - - - - 11 97

2009 1.527 52 - - - - - 1 82

2010 1.477 56 6 - 1 7 - 2 85

2011 2.234 626 2 - - 23 - 1 71

2012 1.538 58 3 - - 16 - 0 72

2013 1.596 74 3 - - 20 0 1 239

2014 1.524 296 1 - - 17 1 0 195

Acumulado 17.996 8.851 31 - 1 443 1 180 2.175

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As cadeias da castanha-do-brasil e palmito apresentam produção crescente; pequi apresenta

estabilidade; Poaia, Látex e Copaíba apresentam queda de produção (Gráfico 1). Não há registro de

produção para Mangaba e Urucum desde 2011; há a primeira comercialização de babaçu em 2014.

Gráfico 1: Produção extrativista (toneladas) no Mato Grosso entre 1990 e 2014

Os maiores valores de PFNM comercializados no Mato Grosso em 2014 (Tabela 7) foram: 1º

Castanha-do-brasil (R$ 4.107.000); 2º Palmito (R$ 521.000); 3º Amêndoa de Pequi (R$ 471.000).

Tabela 7: Valor da produção extrativista (mil Reais) no estado do Mato Grosso entre 1990 e 2014

Ano Castanha-do-brasil

Mangaba Palmito Poaia Urucum Látex coagulado

Babaçu Copaíba Pequi

1990 13.488 - 3.560 52 - 2.560 - 444 9.510

1991 173.690 - 128.524 7.968 - 11.332 - 2.422 25.700

1992 444.925 - 403.421 2.991 - 98.009 - 8.075 116.732

1993 8.833 - 8.579 679 - 3.500 - 3.619 8.337

1994 97 - 208 1 - 47 - 15 62

1995 258 - 1.756 1 - 15 - 36 56

1996 129 1 999 2 - 52 - 28 65

1997 127 1 783 1 - 5 - 21 73

1998 132 2 457 1 - 9 - 39 57

1999 202 0 260 1 - 6 - 27 69

2000 189 1 274 1 - - - 31 62

2001 185 1 286 1 - - - 6 88

2002 258 5 1.354 1 - - - 23 76

2003 375 - 441 - - - - 16 109

2004 533 - 335 - - 0 - 20 142

2005 636 - 190 - - - - 27 152

2006 734 - 197 - - - - 275 160

2007 925 - 210 - - - - 451 232

2008 2.796 - 184 - - - - 209 194

2009 2.843 - 135 - - - - 15 193

2010 1.775 - 148 385 1 13 - 39 270

2011 4.245 - 289 154 - 92 - 32 233

2012 3.493 - 137 238 - 64 - 7 277

2013 3.894 - 147 343 - 76 1 13 467

2014 4.107 - 521 84 - 83 1 11 471

Acumulado 668.869 11 553.395 12.904 1 115.863 2 15.901 163.316

0

500

1000

1500

2000

2500

19

90

19

91

19

92

19

93

19

94

19

95

19

96

19

97

19

98

19

99

20

00

20

01

20

02

20

03

20

04

20

05

20

06

20

07

20

08

20

09

20

10

20

11

20

12

20

13

20

14

Castanha-do-brasil

Palmito

Poaia (raiz)

Mangaba

Urucum (semente)

Hevea (látex coagulado)

Babaçu (amêndoa)

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Nem todos os PFNM oriundos de extrativismo vegetal no Mato Grosso (Tabela 7) são encontrados no

noroeste do estado, onde entre 2010 e 2014 (Tabela 8) registrou-se a comercialização apenas de

Castanha-do-brasil natural, Borracha (látex coagulado) e Amêndoa de babaçu (IBGE, 2014).

Tabela 8: Produção extrativista (toneladas) nos municípios do Noroeste do Mato Grosso, entre 2010 e 2014

Município Produto 2010 2011 2012 2013 2014

Aripuanã - MT Castanha-do-brasil 18 90 80 125 120

Mangaba (fruto) - - - - -

Palmito - - - - -

Poaia (raiz) - - - - -

Urucum (semente) - - - - -

Hevea (látex coagulado) - 12 7 14 12

Babaçu (amêndoa) - - - - -

Copaíba (óleo) - - - 0 0

Pequi (amêndoa) - - - - -

Castanheira - MT Castanha-do-brasil 3 4 10 10 25

Mangaba (fruto) - - - - -

Palmito - - - - -

Poaia (raiz) - - - - -

Urucum (semente) - - - - -

Hevea (látex coagulado) - - - - -

Babaçu (amêndoa) - - - - -

Copaíba (óleo) - - - - -

Pequi (amêndoa) - - - - -

Colniza - MT Castanha-do-brasil 13 120 50 100 256

Mangaba (fruto) - - - - -

Palmito - - - - -

Poaia (raiz) - - - - -

Urucum (semente) - - - - -

Hevea (látex coagulado) 2 - - - -

Babaçu (amêndoa) - - - - -

Copaíba (óleo) - - - - -

Pequi (amêndoa) - - - - -

Cotriguaçu - MT Castanha-do-brasil 17 25 30 30 70

Mangaba (fruto) - - - - -

Palmito - - - - -

Poaia (raiz) - - - - -

Urucum (semente) - - - - -

Hevea (látex coagulado) - - - - -

Babaçu (amêndoa) - - - 0 1

Copaíba (óleo) 0 0 - - -

Pequi (amêndoa) - - - - -

Juína - MT Castanha-do-brasil 44 45 30 50 60

Mangaba (fruto) - - - - -

Palmito - - - - -

Poaia (raiz) - - - - -

Urucum (semente) - - - - -

Hevea (látex coagulado) - - - - -

Babaçu (amêndoa) - - - - -

Copaíba (óleo) - - - - -

Pequi (amêndoa) - - - - -

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Juruena - MT Castanha-do-brasil 26 46 40 40 40

Mangaba (fruto) - - - - -

Palmito - - - - -

Poaia (raiz) - - - - -

Urucum (semente) - - - - -

Hevea (látex coagulado) - - - - -

Babaçu (amêndoa) - - - - -

Copaíba (óleo) - - - - -

Pequi (amêndoa) - - - - -

Rondolândia - MT Castanha-do-brasil 80 150 95 97 90

Mangaba (fruto) - - - - -

Palmito - - - - -

Poaia (raiz) - - - - -

Urucum (semente) - - - - -

Hevea (látex coagulado) - 8 4 1 -

Babaçu (amêndoa) - - - - -

Copaíba (óleo) 1 1 0 0 0

Pequi (amêndoa) - - - - -

O mercado de castanha-do-brasil natural no Mato Grosso, a partir de 2008, apresenta elevado

aumento na comercialização, saltando de 473 t em 2007, para 1.430 t em 2008. A região NO, desde

1990 apresenta tendência de produção crescente (Gráfico 2).

Atualmente, negociações em curso entre o Povo Cinta Larga e a COOPAVAM, visando a

comercialização de amêndoa de castanha-do-brasil da TI, sinalizam um arranjo produtivo próspero,

com possibilidade de agregação de valor à produção e acesso a novos mercados.

Entre os aspectos que contribuíram para praticamente triplicar o volume de produção de castanha-

do-brasil, a partir de 2008, destaca-se o Programa Integrado da Castanha (PIC), criado através do

Projeto de Conservação da Biodiversidade e Uso Sustentável das Florestas do Noroeste de Mato

Grosso, desenvolvido pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente de Mato Grosso (SEMA), com o

apoio técnico do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), visando a construção

de um novo modelo de uso da floresta na Amazônia mato-grossense.

Outro aspecto que também pode ter contribuído para o aumento da produção de castanha-do-brasil

e outros PFNM no noroeste do Mato Grosso, a partir de 2014, é a isenção tributária de que trata o

Decreto nº 2.212/2014, para operações internas com produtos nativos de origem vegetal (artigo

1235 - anexo).

Gráfico 2: Produção de castanha-do-brasil natural entre 1990 e 2014 no MT e NO do MT

5http://www.sefaz.mt.gov.br/legislacao/SubIndice.aspx?ID=163

674 813

389 250 241 351

473

1 430

2 234

1 524

63 59

88 72 167

254 480

661

0

500

1000

1500

2000

2500

1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014

ton

elad

as

MT

NO do MT

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No Mercado de látex coagulado do MT, após 09 anos (2000 a 2009) sem registro de comercialização,

a partir de 2010 registrou-se aumento constante, quase exclusivamente com a produção do NO

(Gráfico 3).

Gráfico 3: Produção de látex coagulado no MT e NO do MT

O mercado de amêndoa de babaçu é recente e teve a primeira comercialização registrada em 2014,

em Cotriguaçu (Tabela 8). Nesse contexto, foram identificadas várias entidades produtivas atuantes

nas cadeias de PFNM do NO do MT (Produto 2), das quais, 08 (oito) foram entrevistadas (Tabela 9).

Tabela 9: Entidades e cadeias produtivas, no Noroeste do MT

Entidade Município Associados Funcionários Cadeia produtiva

I. GMP Santa Clara

Cotriguaçu 25 0 Babaçu

II. GMU Ouro Verde

Cotriguaçu 20 0 Babaçu

III. COMIGUA Colniza 23 4 Castanha-do-brasil

IV. COOPERCOTRI

Cotriguaçu 27 3 Castanha-do-brasil

Babaçu

V. AMCA Juruena 95 20 Castanha-do-brasil

VI. AMORARR Colniza/Distrito Guariba

36 0 Castanha-do-brasil

Borracha

Copaíba

VII. AMARR Colniza/Distrito Guariba

27 0 Castanha-do-brasil

Borracha

Copaíba

VIII. COOPAVAM Juruena 71 0 Castanha-do-brasil

A maior parte das entidades produtivas trabalha com castanha-do-brasil, à exceção de GMU e GMP,

do PA Nova Cotriguaçu, que trabalham apenas com babaçu. Na cadeia do látex há apenas AMORARR

e AMARR, da RESEX Guariba Roosevelt, que trabalham com borracha natural e acessam a subvenção

extrativista do Governo Federal (PGPM-Bio).

56

45

46 59

22

56

6 7

23 16 20 17

56 46 46

57

21

6 2 20 11 15 12

-20

0

20

40

60

80

19

90

19

91

19

92

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19

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19

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19

99

20

00

20

01

20

02

20

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20

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20

06

20

07

20

08

20

09

20

10

20

11

20

12

20

13

20

14

Ton

elad

as

MT

NO do MT

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4 Análise das Cadeias de PFNM no Noroeste do Mato Grosso

Visando compreeder o contexto em que se inserem as cadeias de PFNM priorizadas neste estudo,

serão analisados os aspectos gerais da produção e comercialização nacional, bem como da região

noroeste do Mato Grosso, sendo que a análise do ambiente interno da cadeia produtiva do látex se

restringe ao contexto da RESEX Guariba Roosevelt e da cadeia produtiva do babaçu se restringe ao

contexto do PA Nova Cotriguaçu, por serem os únicos locais onde se registra a produção de látex e

babaçu na região. Além das 3 cadeias prioritárias (castanha-do-brasil, látex e babaçu), também foi

feita uma análise da cadeia produtiva do óleo resina de copaíba, considerando as informações

registradas nos estudos de caso.

4.1 Cadeia produtiva da Castanha-do-brasil (Bertholletia excelsa)

A castanha-do-brasil, (Bertholletia excelsa) também conhecida como castanha-do-pará ou castanha-

da-amazônia, pertence à família botânica Lecythidaceae. Ocorre na na região Amazônica, com

maiores concentrações na Amazônia Brasileira, nos estados do Pará, Amapá, Amazonas, Acre,

Rondônia, Roraima, e parte do Mato Grosso e Maranhão.

São encontradas em áreas de terra firme, com solos pobres, bem estruturados “bem drenados e até

cascalhentos” (Lorenzi, 2008), argilosos ou argiloso-arenosos, em regiões com temperatura anual

média entre 24° a 27° C e precipitações anuais entre 1.400 e 2.800mm. A densidade pode variar de 1

a 5 árvores/ha, embora haja registros de 10 a 25 árvores/ha (Watd et al., 2005).

Trata-se de uma árvore de grande porte (30-50 m), tronco retilíneo (100-180 cm de diâmetro),

madeira de excelente qualidade (densidade 0,75 g/cm³), e frutos lenhosos contendo 15-24 sementes

compostas por casca (48 a 57%) e amêndoa (43 a 52%) com aproximadamente 64% de óleo, 14% de

proteínas, 3,5% de fibras e 3,3% de cinzas (Coutinho, 2003).

Foto 1: Fruto da castanheira ou ouriço de castanha (Melo, 2010)

A partir das castanhas, pode-se produzir alimentos e cosméticos, tais como: castanha natural com

casca, amêndoa desidratada e descascada, óleos naturais, biscoitos, etc., conforme identificado nos

estudos de caso (Tabela 10).

Page 23: Análise Técnico-econômica das cadeias de produtos …...Tais características históricas favoreceram a marginalização gradativa dos PFNM na economia do Mato Grosso, apesar de

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Foto 2: Castanha-do-brasil

Foto 3: Castanha-do-brasil natural com casca (Melo, 2010)

. Foto 4: Amêndoa de castanha

desidratada sem casta

COMIGUA

Foto 5: Biscoito de castanha AMCA

Foto 6: Azeite de castanha COMIGUA

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Foto 7: Barrinha de cereal de castanha COMIGUA

Tabela 10: Derivados de castanha-do-brasil identificados nos estudos de caso

Produtos/derivados Descrição Usos

Castanha in natura Semente com beneficiamento mínimo, com casca, geralmente limpa e seca naturalmente.

Subsistência,alimentação, gastronomia e produtos derivados.

Castanha seca com casca Semente limpa e seca com auxílio de estufa ou autoclave, polida, classificada e comercializada conforme o tamanho.

Alimentação, gastronomia e produtos derivados.

Casca de castanha Subproduto da amêndoa beneficiada (descascada).

Compostagem e queima de biomassa em caldeiras e estufas.

Amêndoa seca sem casca Castanha beneficiada em agroindústrias, selecionada, classificada e comercializadas conforme o tamanho.

Alimentação, gastronomia e produtos derivados.

Azeite de castanha Extraído das amêndoas secas, descascadas e trituradas. Pode ser feito com amêndoas inteiras ou quebradas - que seriam rejeitadas pelo mercado.

Alimentação e gastronomia.

Óleo de castanha Extraído das amêndoas secas, descascadas e trituradas. Pode ser feito com amêndoas inteiras ou quebradas - que seriam rejeitadas pelo mercado.

Cosméticos, sabonetes e biodiesel.

Torta ou farinha Subproduto do azeite. Gastronomia e produtos alimentícios: preparo de biscoitos e barrinhas de cereal.

Macarrão com castanha Produzido com adição de farinha de castanha.

Alimentação e gastronomia.

Paçoca de castanha Produzida com adição de farinha de castanha.

Alimentação e gastronomia.

Biscoito de castanha Produzido com adição de farinha de castanha.

Alimentação e gastronomia.

Page 25: Análise Técnico-econômica das cadeias de produtos …...Tais características históricas favoreceram a marginalização gradativa dos PFNM na economia do Mato Grosso, apesar de

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A Bolivia é o maior produtor mundial de castanha-do-brasil, seguida por Brasil e Peru (Santos et al.,

2010). Do total produzido no Brasil, entre 70 e 75% destina-se ao consumo interno e de 25 a 30%

destina-se a exportações, sendo os principais destinos a Bolívia, Estados Unidos, Hong Kong, Europa

e Austrália (CONAB, 2012).

Provavelmente, boa parte das amêndoas de castanha-do-brasil exportadas pela Bolívia tem origem

no Brasil e pouco ou nenhum valor agregado. Os registros oficiais de exportação de castanha natural

para a bolívia podem representar apenas uma pequena parte do volume total comercializado entre

os países, principalmente considerando a fragilidade da fiscalização na fronteira.

Segundo Santos et al. (2010), “Verifica-se a queda gradual das exportações brasileiras desde os anos

1970, enquanto que as exportações bolivianas deram um acentuado avanço a partir de 1998” e

“chama a atenção uma importante mudança no comportamento de Bolívia e Peru, que tiveram uma

acentuada redução nas exportações de castanha com casca a partir de 1998, praticamente deixando

de realizar esse tipo de exportação”.

E conclui que “fica evidente que a Bolívia passou a importar castanha com casca, processar e

exportar o produto descascado” (...) “sugere-se uma forte evidência de que o Brasil passou a ser o

fornecedor do produto com casca para a Bolívia”, talvez em razão de mudanças na legislação

europeia que tornaram mais rigorosas as exigências para ocontrole da contaminação por aflatoxina,

ao que as indústrias boliviana e peruana adaptaram-se para atender esses mercados, também

agregando valor ao produto natural (Santos et al., 2010).

A produção brasileira de castanha-do-brasil natural é praticamente toda oriunda de castanhais

nativos. Em 2014, os principais estados produtores foram Acre, Amazonas, Pará, Rondônia e Mato

Grosso (Mapa 4) (IBGE, 2014).

Mapa 4: Estados produtores de amêndoa de castanha

em 2014 (IBGE, 2014)

Principais estados produtores de

amêndoa de castanha-do-brasil:

1. Acre – 13.684 t;

2. Amazonas - 12.901 t;

3. Pará – 6.903 t;

4. Rondônia – 1.854 t;

5. Mato Grosso – 1.524 t;

6. Amapá - 466 t;

7. Roraima - 166 t.

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Do ponto de vista produtivo, considerando-se apenas os PFNM de ocorrência na Amazônia, a

castanha-do-brasil foi o 4º principal PFNM em 2014 (Tabela 11).

Tabela 11: Produção acumulada de PFNM de ocorrência na Amazônia em 2014 (IBGE, 2014)

Protudo Produção (t) Valor da produção (R$)

Açaí (fruto) 198.149 422.064.000,00

Amêndoa de babaçu 83.917 123.153.000,00

Fibra de piaçaba 45.758 94.302.000,00

Amêndoa de castanha do brasil 37.499 79.565.000,00

Cabe ressaltar que, no período entre 2010 e 2014, enquanto a produção nacional de amêndoa de

castanha-do-brasil decresceu ano após ano, no Mato Grosso ela manteve uma média em torno de

1.600 t/ano e no noroeste do MT a produção aumentou, saltando de 201 t em 2010, para 661 t em

2014 (IBGE, 2014).

Segundo Pimentel et al. (2007), ao analisar a performance de clones de castanheira cultivada da

EMBRAPA/CPATU, estimou-se uma produtividade média de 1.250kg ha-1 aos 21 anos (idade adulta da

planta), considerando-se uma densidade de 100 plantas ha-1.

Em castanhais nativos, há diferentes densidades de castanheira por hectare, variando conforme as

condições naturais de cada região. Pode-se adotar uma densidade média de 1 castanheira por

hectare, sendo difícil, estimar a produção já que a quantidade de ouriços por árvore pode variar

muito entre os anos e as árvores (0 a 2.000 ouriços/árvore), assim como a quantidade de castanhas

por ouriço (CIFOR, 2010), fazendo-se necessário realizar estudos específicos por localidade onde se

pretende manejar castanhais nativos comercialmente.

No noroeste do Mato Grosso, entre os PFNM de origem extrativista, a cadeia produtiva da castanha-

do-brasil é a mais estruturada, apresentando as seguintes características e diferenciais:

Arranjos produtivos consolidados;

Volume, valor e constância de produção;

Disponibilidade de recurso natural em praticamente toda a região;

Vários atores envolvidos, acesso ao recurso natural para coletores (indígenas, extrativistas, agricultores familiares, etc.), inclusive em áreas privadas;

Boas práticas de manejo;

Castanhais ainda não explorados;

Certificação orgânica;

Produção diversificada e organizada em associações e cooperativas com transformação/agregação de valor em agroindústrias;

Empresas transformadoras/agroindústrias estabelecidas;

Isenção de ICMS no estado; Comércio frequente e mercado garantido em expansão.

O sistema produtivo deriva exclusivamente de extrativismo de castanhais nativos realizado:

Na única RESEX do estado (Guariba-Roosevelt);

Em áreas privadas de manejo florestal madeireiro e pecuária;

Projetos de Assentamento Rural;

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Terras Indígenas.

Há coletores frequentes, organizados (associações e cooperativas), capacitados em boas práticas de produção e manejo, bem como coletores esporádicos, individuais, desorganizados e não capacitados.

A castanha natural com casca é comercializada com atravessadores, fábricas de “fundo de quintal”, empresas e agroindústrias de dentro e fora do MT, e pode ser encontrada no varejo local e regional, em vendas de beira de estrada e comércio geral. O produto transformado (amêndoa, azeite, biscoito, etc.) é comercializado nos mercados local, estadual e nacional.

A produção requer práticas de manejo sustentáveis desde a coleta dos ouriços na floresta, quebra, lavagem, secagem e armazenamento, especialmente para evitar a contaminação por aflatoxina6, que geralmente ocorre quando as castanhas são armazenadas em condições inadequadas de umidade.

Alguns mercados são exigentes no controle da aflatoxina, condicionando entidades interessadas em acessá-los, a manter rastreabilidade de sua produção e realizar análises laboratoriais frequentes.

Não há laboratórios de análise de aflatoxina no Mato Grosso, os testes são geralmente feitos em laboratórios fora do estado, o que representa um custo de produção a mais.

Na etapa de Coleta, os ouriços de castanha-do-brasil são coletados no chão da floresta, em seguida são transportados e amontoados em uma pilha para serem quebrados. As castanhas são retiradas do ouriço, são descartadas castanhas estragadas e as castanhas boas são limpas, secas e armazenadas (Fluxograma 1).

Fluxograma 1: Coleta de castanha-do-brasil natural

6 Grupo de substâncias tóxicas para o ser humano e para os animais. São produzidas, principalmente, por dois

fungos (bolores) denominados Aspergillus flavus e Aspergillus parasiticus, que se desenvolvem sobre produtos agrícolas e alimentos quando as condições de umidade do produto, umidade relativado ar e temperatura ambiente são favoráveis.

COLETA DO

OURIÇO

CASTANHAS PODRES E

IMPUREZAS

LAVAGEM PRÉ SECAGEM

ARMAZENAMEN

TO

CASTANHAS SELECIONADAS

CASTANHAS NATURAL NÃO BENEFICIADA

QUEBRA DO OURIÇO

*

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No Pré-beneficiamento, a castanha-do-brasil natural com casca, é limpa, selecionada, classificada conforme o tamanho e embalada (Fluxograma 2).

Fluxograma 2: Pré-beneficiamento de castanha-do-brasil natural

No Beneficiamento, a castanha-do-brasil natural com casca é desidratada, descascada e selecionada, resultando em amêndoa de castanha-do-brasil inteira e quebrada. A amêndoa inteira é ainda classificada conforme o tamanho (Fluxograma 3).

Fluxograma 3: Beneficiamento de amêndoa de castanha-do-brasil

# DESIDRATAÇÃO

DESCASCAMENTO

SELEÇÃO AMÊNDOA DE

CASTANHA

QUEBRADA

AMÊNDOA DE CASTANHA

INTEIRA

EMBALAGEM

AMÊNDOA DE CASTANHA

INTEIRA EMBALADA A

VÁCUO

RECEPÇÃO

LIMPEZA

SELEÇÃO CASTANHA

INADEQUADA OU DETERIORADA

CASTANHA NATURAL LIMPA E

CLASSIFICADA

@

*

#

CLASSIFIC

AÇÃO

CLASSIFICAÇÃO

@

CLASSIFICAÇÃO

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No beneficiamento, a amêndoa de castanha-do-brasil (inteira ou quebrada) é prensada, resultando

em óleo7/azeite8 e torta/borra. O óleo é filtrado e envasado e pode ser utilizado na produção de

cosméticos e alimento. A borra pode ser utilizada na produção de alimento (Fluxograma 4).

Fluxograma 4: Beneficiamento de óleo e torta de castanha-do-brasil

A Cadeia produtiva apresenta uma base primária rica em recursos naturais, com grandes áreas

protegidas e pouco exploradas, principalmente em Terras Indígenas, mas não há referências sobre o

tamanho dessas áreas ou o potencial extrativista dentro dessas áreas.

Há duas etapas distintas de transformação, sendo a primeira em agroindústrias e pequenas fábricas

de “fundo de quintal” e a segunda em indústrias de fora da Região Noroeste, no Mato Grosso e em

outros estados. Não foi identificada exportação.

Há canais de comercialização informal, com pouco valor agregado, geralmente da castanha natural,

com venda direta dos produtores primários para atravessadores que intermediam a venda no varejo

e atacado (local, no MT e RO), para comércios, fábricas de “fundo de quintal” e compradores de fora

do estado.

Há também canais de comercialização formal, com contratos de compra e venda, produção variada

com maior valor agregado, vendas coletivas, acesso à mercados institucionais, apoio e fomento, e

vendas nos mercados local, regional, estadual e fora do estado.

Em 2014, o valor da produção de castanha in natura (natural com casca) da Região Noroeste somou

R$ 1.803.000,00 (Tabela 12). Colniza concentrou 35% deste mercado, Aripuanã 20%, Rondolândia

14%, Cotriguaçu 12%, Juína 8%, Juruena 7% e Castanheira 8% (Gráfico 4).

7 Caracteriza-se como óleo, segundo os estudos de caso, aquele extraído sem as mesmas exigências sanitárias

para alimentação humana. O óleo é usado na indústria de cosméticos. 8 Caracteriza-se como azeite, segundo os estudos de caso, o óleo extraído e manipulado conforme as exigências

sanitárias para alimentação humana. O azeite é usado na indústria alimentícia e consumo.

PRENSAGEM

ÓLEO/AZEITE

@

BORRA, TORTA, FARINHA DE CASTANHA FILTRAGEM

ENVASE PRODUÇÃO DE

BARRINHA DE CEREAL, BISCOITO, DOCE, ETC.

PRODUÇÃO DE COSMÉTICOS E ALIMENTÍCIOS

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Tabela 12: Valor da produção de castanha-do-brasil in natura na Região Noroeste do Mato Grosso (IBGE, 2014).

Município 2010 2011 2012 2013 2014

Aripuanã - MT R$ 27.000,00 R$ 180.000,00 R$ 240.000,00 R$ 375.000,00 R$ 360.000,00

Castanheira - MT R$ 5.000,00 R$ 8.000,00 R$ 30.000,00 R$ 30.000,00 R$ 75.000,00

Colniza - MT R$ 20.000,00 R$ 240.000,00 R$ 150.000,00 R$ 300.000,00 R$ 6.400.000,00

Cotriguaçu - MT R$ 26.000,00 R$ 50.000,00 R$ 90.000,00 R$ 90.000,00 R$ 210.000,00

Juína - MT R$ 66.000,00 R$ 90.000,00 R$ 90.000,00 R$ 150.000,00 R$ 150.000,00

Juruena - MT R$ 39.000,00 R$ 92.000,00 R$ 120.000,00 R$ 120.000,00 R$ 120.000,00

Rondolândia - MT R$ 120.000,00 R$ 420.000,00 R$ 238.000,00 R$ 263.000,00 R$ 2.480.000,00

Total R$ 303.000,00 R$ 1.080.000,00 R$ 958.000,00 R$ 1.328.000,00 R$ 1.803.000,00

Gráfico 4: Mercado de castanha-do-brasil natural na Região Noroeste do Mato Grosso, segundo dados de produção do IBGE (2014).

Atualmente, são muitos os compradores de castanha in natura no Mato Grosso. Há isenção de ICMS

para comercialização no estado e a tendência do mercado aponta a castanha como um produto

estável, com possibilidade de expansão baseada em nichos específicos para o produto orgânico,

comércio justo e alimento funcional, com alto valor agregado.

A castanha natural com casca é o produto que menos agrega valor. O preço é determinado pelo

mercado e tende a flutuar bastante e a qualidade do produto e a confiança no fornecedor são

essenciais para a tomada de decisão de compra. Há compradores formais e informais. Entre os

compradores informais, os atravessadores buscam sempre a castanha mais barata e não

demonstram fidelidade (contratos formais ou compras regulares) com fornecedores.

Para fins de classificação e padronização, a produção de castanha natural (com casca) e amêndoa de

castanha (sem casca), conforme o mercado, obedece a Portaria MAPA nº 846/1976 que define

especificações para a padronização, classificação e comercialização interna de Castanha-do-Brasil.

Para fins de controle sanitário, produtos alimentícios de forma geral, devem obedecer às normas de

vigilância sanitária e o Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária (SUASA/MAPA) em

suas unidades produtivas.

Aripuanã - MT; 20%; 20%

Castanheira - MT; 4%; 4%

Colniza - MT; 35%; 35%

Cotriguaçu - MT; 12%; 12%

Juína - MT; 8%; 8%

Juruena - MT; 7%; 7%

Rondolândia - MT; 14%; 14%

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Mapa 5: Cadeia Produtiva da Castanha-do-brasil no noroeste do Mato Grosso (Melo, 2016)

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Foram entrevistadas 7 (sete) entidades da cadeia produtiva da castanha-do-brasil e identificados 9

(nove) produtos diferenciados e seus insumos (Tabela 13).

Tabela 13: Insumos e produtos na cadeia produtiva da castanha do-brasil no Noroeste do Mato Grosso

Organização Cadeia produtiva Insumos Produto

Cooperativa Mista do Guariba - COMIGUA

Castanha-do-brasil Insumos para barrinha e biscoito, energia elétrica e embalagens.

Amêndoa de castanha seca descascada

Azeite comestível

Barrinha

Biscoito

Cooperativa agropecuária de Cotriguaçu - COOPERCOTRI

Castanha-do-brasil Castanha in natura

Associação de Mulheres Cantinho da Amazônia - AMCA

Castanha-do-brasil Gás, energia elétrica, trigo, ovo, açúcar, banha, leite, salomônico (fermento), água e castanhas

Amêndoa de castanha seca descascada inteira

Amêndoa de castanha seca descascada quebrada

Biscoito

Macarrão

Paçoca

Associação dos Moradores Agroextrativistas da Resex Guariba Roosevelt Rio Guariba - AMORARR

Castanha-do-brasil Sacaria, agulha, linha, tela secagem, mesa de secagem, EPI, facão, combustível, meio de transporte

Castanha in natura

Associação Dos Moradores Agroextrativistas da Resex Guariba Roosevelt Rio Roosevelt - AMARR

Castanha-do-brasil Sacaria, agulha, linha, tela secagem, mesa de secagem, EPI, facão, combustível, meio de transporte

Castanha in natura

Cooperativa dos Agricultores do Vale do amanhecer – COOPAVAM

Castanha-do-brasil Rótulo, embalagem, caixa papelão

Amêndoa de castanha

Castanha, embalagens Farinha

Castanha Óleo cosmético

Castanha, flocos arroz, milho, amendoim,

Barrinha de cereal

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Tabela 14: Preço, custo e faturamento com castanha natural - safra 2015

Organização Produto Unidade

Preço (R$) Custo (R$)

Última safra

Mínimo Máximo Quantidade Faturamento (R$)

COOPERCOTRI Castanha natural com casca

9

Kg 2,20 2,20 2,00 Não informado

2.000,00

AMORARR Castanha natural com casca

Kg 3,20 3,20 1,60 45.000 220.000,00

AMARR Castanha natural com casca

Kg 3,20 3,20 1,60 20.000 64.000,00

Tabela 15: Preço, custo e faturamento com amêndoa de castanha - safra 2015

Organização Produtos Unidade Preço (R$)

Custo Quantidade última safra

Faturamento última safra Mínimo Máximo

COMIGUA Amêndoa de castanha seca descascada inteira

Kg R$ 23,00

R$ 23,00

R$ 14,00 Não informado

Não informado

AMCA Amêndoa de castanha seca descascada inteira

Kg R$ 30,00

R$ 30,00

Não informado

10.000 Não informado

Amêndoa de castanha seca descascada quebrada

Kg R$ 20,00

R$ 20,00

Não informado

13.000 Não informado

COOPAVAM Amêndoa de castanha seca descascada inteira

Kg R$ 30,00

R$ 30,00

R$ 22,00 100.000 R$ 1.000.000,00

Tabela 16: Preço, custo e faturamento com óleo e azeite de castanha - safra 2015

Organização Produtos Unidade Preço (R$)

Custo Quantidade última safra

Faturamento última safra Mínimo Máximo

COMIGUA Azeite de castanha

Litro R$ 40,00

R$ 48,00

R$ 15,00

Não informado Não informado

COOPAVAM Óleo de castanha

Litro R$ 45,00

R$ 45,00

R$ 40,00

7.000 Não informado

9 Calculado com base no preço informado de R$ 30,00/lata 15 Kg.

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Tabela 17: Preço, custo e faturamento com barrinha de cereal com castanha - safra 2015

Organização Produtos Unidade Preço (R$)

Custo Quantidade última safra

Faturamento última safra Mínimo Máximo

COMIGUA Barrinha de cereal com castanha

25 g R$ 0,90 R$ 1,00 R$ 0,40

Não informado Não informado

COOPAVAM Barrinha de cereal com castanha

Kg R$ 26,00

R$ 26,00

R$ 20,00

Não informado Vide farinha de castanha

Tabela 18: Preço, custo e faturamento com biscoito de castanha - safra 2015

Organização Produtos Unidade Preço (R$)

Custo Quantidade última safra

Faturamento última safra Mínimo Máximo

COMIGUA Biscoito de castanha

Kg 12,80 12,80 8,50 Não informado Não informado

AMCA Biscoito de castanha

Kg 15,00 15,00 Não informado

3.000 Não informado

Tabela 19: Preço, custo e faturamento com farinha, macarrão e paçoca de castanha - safra 2015

Organização Produtos Unidade Preço (R$)

Custo Quantidade última safra

Faturamento última safra Mínimo Máximo

AMCA Macarrão de castanha

Kg 10,00 10,00 Não informado

Não informado

Não informado

Paçoca de castanha

Kg 20,00 20,00 Produto novo, não mensurado

Produto novo, não mensurado

Produto novo, não mensurado

COOPAVAM Farinha de castanha

Kg 10,00 10,00 5,00 17.000 300.000,0010

Na produção de castanha natural e amêndoa de castanha, COOPAVAM se destaca com a maior

capacidade instalada (25 t/mês), seguida de sua vizinha AMCA (16,2 t/mês), ambas próximas de 50%

de sua capacidade instalada. Ressalta-se que COOPAVAM está ampliando sua capacidade produtiva

com apoio de um projeto do Fundo Amazônia. AMCA está desenvolvendo um novo produto, a

paçoca de castanha (Tabela 20).

Importante ressaltar que COOPAVAM e AMCA são entidades irmãs. AMCA nasceu dentro da

COOPAVAM, por um grupo de mulheres interessadas em trabalhar com outros produtos

alimentícios, como o biscoito de castanha-do-brasil por exemplo, que hoje é consumido em escolas

da região.

COOPERCOTRI apenas intermedia as vendas de castanha natural, atuando como um atravessador

para seus cooperados e demais coletores. COMIGUA tem baixa capacidade utilizada (menos de 30%)

de sua agroindústria, em contraste com suas parceiras AMORARR e AMARR (entre 50 e 75 %).

10 Valor total do faturamento com farinha e barrinha de cereal.

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Tabela 20: Capacidade instalada, capacidade utilizada e processo produtivo

Organização Produtos Capacidade instalada/mês

Capacidade utilizada (%)

Processo produtivo (dias)

COMIGUA

Amêndoa de castanha seca descascada

3 t 30% 8

Azeite 3.000 l 20% 8

Barrinha 60.000 unidades de 25 g

5% 8

Biscoito 1,5 t 5% 8

COOPERCOTRI Castanha in natura Não mensurado Não mensurado Não mensurado

AMCA

Amêndoa de castanha seca descascada inteira

7 t 50% 8

Amêndoa de castanha seca descascada quebrada

9,2 t 50% 8

Biscoito 1.2 t 50% 4 a 5

Macarrão

50% 4 a 5

Paçoca Não mensurado Não mensurado Não mensurado

AMORARR Castanha in natura 12 t 75% 15

AMARR Castanha in natura 2 t 50 a 75% 15

COOPAVAM

Amêndoa de castanha

25 t 40 a 50%

5

Farinha 6

Óleo 6

Barra cereal 7

AMCA apresentou os maiores índices de defeito de produção, em torno de 30% para amêndoa, 10%

para macarrão e 5% para biscoito, atribuídos a erros no processo produtivo, como por exemplo uma

fornada de biscoitos queimada.

O produto que apresentou maior tempo de estocagem foi o azeite de castanha da COMIGUA (540

dias), porém identificou-se durante a entrevista que o azeite é embalado em garrafas de vidro

transparente, quando o recomendado é embalagens escuras.

O prazo de entrega varia muito conforme o cliente e é diretamente influenciado pelas condições de

deslocamento na região, especialmente no inverno amazônico, quando chove muito dificultando o

trânsito de mercadorias, pelas rodovias estaduais, federais e ramais locais, na maior parte de terra.

COOPAVAM tem prazos de entrega estabelecidos em contrato.

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De forma geral, é baixo o índice de devolução de produtos, sendo registrada apenas uma ocorrência

em um lote de castanha da COOPAVAM.

Tabela 21: Defeitos, prazos e devolução

Organização Produto Defeito produção (%)

Prazo médio estoque (dias)

Prazo médio entrega (dias)

Entrega no prazo (%)

Devolução (%)

COMIGUA Amêndoa de castanha seca descascada

120 8 100% 1%

Azeite 540 8 100% 0%

Barrinha 90 8 100% 0%

Biscoito 90 8 100% 0%

COOPERCOTRI Castanha in natura

Não informado

Não informado

Não informado Não informado

Não informado

AMCA Amêndoa de castanha seca descascada inteira

30% Não forma estoque

Não informado 80% 0%

Amêndoa de castanha seca descascada quebrada

30% Não forma estoque

Não informado 80% 0%

Biscoito 5% Não forma estoque

Não informado 80% 0%

Macarrão 10% Não forma estoque

Não informado 80% 0%

Paçoca Não informado

Não forma estoque

Não informado Não informado

0%

AMORARR Castanha in natura

1% 90 30 100% 0%

AMARR Castanha in natura

1% 90 30 100% 0%

COOPAVAM Amêndoa de castanha

> 1% 240 Varia conforme o cliente; Prazos estabelecidos em contratos

100% > 1%

Farinha

Óleo

Barra cereal

Entre os mercados, o institucional privado (empresas) foi indicado como o mais acessado, seguido do

varejo (feiras, mercados livres e outros), mercado institucional público (PAA e PNAE) e feiras

promocionais, e não foram indicadas exportações. AMCA e COOPAVAN distribuem sua produção por

toda a região noroeste, em escolas e hospitais, pelo mercado institucional público.

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Tabela 22: Análise FOFA para derivados de castanha-do-brasil no NO do MT

AMBIENTE INTERNO DA ORGANIZAÇÃO AMBIENTE EXTERNO DA ORGANIZAÇÃO

Força Oportunidade

Organizações fortalecidas com boa participação

Produção regional diversificada com qualidade com agregação de valor

Cadeia representa oportunidade de renda relevante para os extrativistas, mesmo sem valor agregado

Preço diferenciado e competitivo no mercado nacional

Mercados institucional público e regional não saturados

Produção de qualidade com adoção de boas práticas de manejo e produção

Experiências de certificação orgânica e potencial de ampliação

Potencial de ampliação das redes de parceria e apoio

Potencial de recursos naturais e humanos para ampliação da produção

Isenção tributária de ICMS para a produção extrativista em operações internas;

Potencial de novos mercados nacionais e de exportação

Políticas públicas de subvenção (PGPM) e apoio à comercialização (PAA e PNAE) dos produtos extrativistas

Fraqueza Ameaça

Operação dos empreendimentos comunitários depende de projetos com financiamento e/ou apoio a fundo perdido

Limitações de capital de giro;

Não há assistência técnica permanente

Castanhais não mapeados com potencial não dimensionado, principalmente nas Terras Indígenas

Gestão não profissionalizada dos empreendimentos

Não há representantes comerciais

Condições logísticas precárias de transporte rodoviário e fluvial e distância entre os polos de produção, beneficiamento e mercado

Atuação de agentes intermediários que interferem na cadeia regional sem agregação de valor

Alta carga tributária na comercialização interestadual

Regulamentação inadequada do manejo comunitário de produtos florestais não madeireiros

Limitações de regularização fundiária e ordenamento territorial

4.2 Cadeia produtiva da borracha (Hevea brasiliensis)

A seringueira é uma árvore lactescente pertencente à família Euphorbiaceae, que ocorre na região

amazônica, nas margens dos rios e áreas inundáveis. Trata-se de uma árvore de grande porte, que

pode atingir até 40 m de altura. Seu maior valor é o látex extraído do tronco para a produção de

borracha11, mas de suas sementes também pode-se extrair óleo secativo utilizado na indústria de

tintas e vernizes (Lorenzi, 2008).

No passado, o Brasil era o único país produtor de látex, mas sementes foram contrabandeadas para a

Ásia onde vários países começaram a também produzir e exportar látex, resultando na

desestruturação desta cadeia produtiva no Brasil.

11 Na Amazônia os indígenas chamavam de caucho, seringueira foi o nome dado pelos portugueses às árvores

que produzem o látex. “A goma chamada pelos indígenas de “CAUCHO” era denominada em português de BORRACHA (borrador), traduzido do inglês “Rubber” (to rub) ” (Putz, 2010).

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Em 2014, o principa estado produtor de borracha natural (látex coagulado) foi o Amazonas. O estado

do Mato Grosso foi o quinto, com 17 t (Mapa 6) (IBGE, 2014).

Mapa 6: Estados produtores de látex coagulado em

2014 (IBGE)

Principais estados produtores de borracha

natural (látex coagulado):

1. Amazonas – 1.049 t;

2. Rondônia – 153 t;

3. Acre – 117 t;

4. Pará – 110 t;

5. Mato Grosso – 17 t.

Do ponto de vista produtivo, considerando apenas PFNM de ocorrência na Amazônia, em 2014, o

Látex coagulado de origem extrativista foi o 6º principal PFNM (Tabela 23).

Tabela 23: Produção acumulada de PFNM de ocorrência na Amazônia em 2014 (IBGE, 2014)

Protudo Produção (t) Valor da produção (R$)

Açaí (fruto) 198.149 422.064.000,00

Amêndoa de babaçu 83.917 123.153.000,00

Fibra de piaçaba 45.758 94.302.000,00

Castanha do brasil 37.499 79.565000,00

Palmito12

4.729 12.716.000,00

Látex coagulado 1.446 t 5.052.000,00

Ressalta-se que, no período entre 2010 e 2014, a produção nacional de látex decresceu ano após

ano, reduzindo de 3.379 t em 2010, para 1.446 t em 2014.

Ao analizar um período maior da série histórica de produção de látex no Mato Grosso, entre 1990 e

2014, nota-se que a cadeia produtiva da borracha oriunda de extrativismo apresentou volumes de

produção cada vez menores, inclusive com um período de nove anos sem nenhum registro de

comercialização (IBGE, 2014).

Entretanto, a partir de 2010, talvez influenciada pelas políticas públicas de incentivo, tais como o

Plano Nacional das Cadeias de Produtos das Sociobiodiversidade (PNPSB) e a Política Garantia de

12 Ressalta-se que os dados do IBGE não discriminam de que tipo de palmeira foi extraído o palmito.

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Preços Mínimos ou subvenção extrativista (PGPM-Bio), a produção registrou aumento constante,

saltando de 7 t em 2010, para 17 t em 2014, muito influenciada pela produção da região noroeste do

estado, responsável por aproximadamente 70% do tota do estado (Gráfico 3).

Estima-se que em um seringal nativo, um seringueiro possa sangrar de 140 a 160 árvores/dia,

extraindo entre 15 a 20 litros de látex, sendo que uma árvore pode produzir em média 4,5 litros de

látex/ano, o que pode corresponder a 1,5 kg de borracha seca, entretanto há variações conforme as

condições naturais e a densidade de árvores em cada região (CIFOR, 2010), fazendo-se necessário

realizar estudos específicos por localidade onde se pretende manejar seringais nativos

comercialmente.

Nesse contexto, as características atuais da Cadeia Produtiva do látex extrativista na região noroeste

do Mato Grosso, são:

Poucos compradores;

Apenas um arranjo produtivo identificado;

Menor disponibilidade de recurso natural oriundo de extrativismno, sendo manejado apenas na única RESEX do Mato Grosso;

Acesso por parte dos coletores (indígenas, extrativistas, agricultores familiares, etc.);

Produção organizada (associações e cooperativas);

Apoio institucional de organizações não governamentais (Pacto das Águas) e órgãos de governo (Petrobrás Ambiental);

Poucas empresas transformadoras;

Comercialização identificada apenas em Juína (IBGE, 2014), porém com acesso à subvenção extrativista.

O beneficiamento de borracha natural (BN) “é uma das etapas, do setor da heveicultura” (Rodrigues

& Botter Jr, 2006). A borracha natural (BN) é obtida pela coagulação13, natural ou espontânea, do

látex coletado.

Látex e BN são produtos distintos. No látex as partículas de borracha estão suspensas em um meio

aquoso, enquanto que BN natural é um material sólido, obtido a partir da coagulação do látex e

secagem do coágulo (Galiani, 2010).

13 A coagulação do látex pode ser acelerada com a adição de alguma substância ácida, como por exemplo suco

de limão.

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Foto 8: Derivados de Látex (MMA, 2008)

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Tabela 24: Derivados de látex

Produtos/derivados Descrição Usos

Látex Borracha líquida Tradicional e industrial

Crepe Claro Brasileiro (CCB)

Látex líquido por força de anticoagulantes, beneficiado para produção de borracha clara de baixíssima sujidade e alto PRI

14,

seca em baixa temperatura, crepada e prensada em fardos (USH, 2016)

Peças técnicas de alta qualidade, revestimento de rolos, adesivos, bico de chupeta e mamadeira, cintas modeladoras, calçados, elásticos e borrachas escolares

Granulado Claro Brasileiro (GCB)

Látex líquido por força de anticoagulantes, beneficiado para produção de borracha clara e baixíssima sujidade e alto PRI, seca em baixa temperatura, granulada e prensada em fardos (USH, 2016)

Folha Fumada Brasileira (FFB)

Borracha de cor castanha escuro, defumada, baixíssima sujidade e alto PRI. Seca em baixa temperatura, calandrada e prensada em fardos (USH, 2016)

Autopeças técnicas de alta qualidade e como adesivo aglomerante de peças técnicas

Cernambi Virgem Prensado (CVP)

Látex coagulado e prensando em bloco (BN).

Industrial.

Granulado Escuro Brasileiro (GEB)

CVP beneficiado (USH, 2016) Industrial.

Folha de Defumação Líquida (FDL)

Látex coagulado, calandrado, seco e enfardado (WWF, 2015).

Industrial.

Folha Semi-Artefato (FSA)

Látex coagulado, colorido e calandrado em folhas/mantas (WWF, 2015)

Artesanal.

Couro Vegetal Tecido de algodão banhado em Látex defumado e vulcanizado em estufas (APAS, 2016)

Tradicional e artesanal.

Na Região Noroeste do Mato Grosso, o extrativismo deriva de manejo realizado na única Reserva

Extrativista Estadual do Mato Grosso (RESEX Guariba Roosevelt). Há coletores organizados nas

associações comunitárias AMORARR e AMARR e boas práticas de manejo tradicional.

A extração do látex é feita a partir da sangria da árvore e aparo da seiva que escorre, com um coité,

cuia ou bacia, para depois ser colocado em um tacho e aquecido no fogo ou na fumaça para ser

endurecido (coagulado) e transformado em bolas, chamadas pélas.

14 Índice de retenção de plasticidade

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Fluxograma 5: extração e processamento de borracha natural

A Cadeia produtiva apresenta uma base primária extrativista com recursos naturais restritos,

considerando que o extrativismo vem sendo feito exclusivamente na RESEX Guariba Roosevelt. Há

duas etapas distintas de Transformação, sendo a primeira nas colocações dos extrativistas e a

segunda em indústrias de fora da Região Noroeste, no Mato Grosso e em outros estados. Não foi

identificada exportação.

Há canais de comercialização formal da borracha natural, com subvenção extrativista do Governo

Federal (PGPM-Bio15). A produção é negociada entre os seringueiros e suas associações e dessas para

indústrias do estado. Em 2014, o valor da produção de látex coagulado da Região Noroeste somou R$

60.000,00 (IBGE, 2015). Aripuanã concentrou 100% do mercado (Tabela 25).

Tabela 25: Valor da produção de látex coagulado na Região Noroeste do Mato Grosso

Município 2010 2011 2012 2013 2014

Aripuanã - MT R$ 0,00 R$ 52.000,00 R$ 31.000,00 R$ 58.000,00 R$ 60.000,00

Castanheira - MT R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00

Colniza - MT R$ 3.000,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00

Cotriguaçu - MT R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00

Juína - MT R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00

Juruena - MT R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00

Rondolândia - MT R$ 0,00 R$ 28.000,00 R$ 13.000,00 R$ 3.000,00 R$ 0,00

Total R$ 3.000,00 R$ 80.000,00 R$ 44.000,00 R$ 61.000,00 R$ 60.000,00

A 15

Política de Garantia de Preços Mínimos para produtos da sociobiodiversidade (PGPM-Bio) permite a subvenção direta que prevê aos extrativistas e suas organizações o recebimento de bônus, caso efetue uma venda de produto inserido na PGPM-Bio por preço inferior ao preço mínimo fixado pelo Governo Federal.

EXTRAÇÃO DO LÁTEX

SANGRIA

LÁTEX LÍQUIDO

COAGULAÇÃO

SECAGEM

BORRACHA NATURAL

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Atualmente, são poucos os compradores de látex coagulado de origem extrativista no Noroeste do

Mato Grosso, apesar do estado ser o 3º maior produtor nacional de látex coagulado, com 27.857 t

(15% da produção nacional), atrás de São Paulo com 185.274 t e Bahia com 48.482 t (IBGE, 2014).

A produção de látex coagulado no Mato Grosso deriva principalmente de seringais cultivados e a

tendência do mercado mato-grossense de látex coagulado de origem extrativista, aponta um tímido

crescimento entre 2010 e 2014, segundo os dados do IBGE (2014) (Gráfico 5).

Gráfico 5: Produção de látex colagulado de origem extrativista no MT

Para fins de classificação e padronização, conforme o mercado, a produção de borracha natural

segue normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT):

ABNT NBR ISO 2027:2011 - fornece especificações para látex de borracha natural

concentrado que tenha sido concentrado por evaporação;

ABNT NBR ISO 126:2011 - especifica o método para a determinação do teor de borracha seca

de látex concentrado de borracha natural;

ABNT NBR ISO 2004:2011 - especificações para os tipos de látex concentrado de borracha

natural que são preservados completa ou parcialmente com amônia e que foram produzidos

por centrifugação ou cremagem.

ABNT NBR ISO 4660:2011 - especifica um método para a determinação da cor da borracha

natural crua de acordo com a escala padrão de cores;

ABNT NBR ISO 506:2012 - especifica um método para a determinação do número de ácidos

graxos voláteis de látex concentrado de borracha natural;

ABNT NBR ISO 125:2012 - especifica um método para a determinação da alcalinidade de

látex concentrado de borracha natural;

ABNT NBR 16120:2012 - fornece diretrizes para nomenclatura da borracha natural brasileira,

com base nos sistemas de classificação técnica e classificação visual;

ABNT NBR ISO 4074:2013 - especifica os requisitos mínimos e os métodos de ensaio a serem

utilizados para os preservativos feitos de látex de borracha natural, que são fornecidos aos

consumidores para fins contraceptivos e para ajudar na prevenção de infecções sexualmente

transmissíveis;

ABNT NBR 13585:2013 - estabelece os requisitos e métodos de ensaio a serem atendidos na

fabricação dos pneus novos de borracha para bicicletas, que possuam estrutura constituída à

base de fibras têxteis (filamento de poliamida –náilon, filamento de poliéster ou algodão) e

seus talões formados por fios de aço.

0

10

20

30

2010 2011 2012 2013 2014

Ton

elad

as

Produção (t) de látex coagulado no NO do MT entre 2010 e 2014

Series1

Expon. (Series1)

Produção

Tendência da produção

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Mapa 7: Cadeia Produtiva da Borracha Natural no noroeste do Mato Grosso (Melo, 2016)

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Foram entrevistadas 2 (duas) entidades da cadeia produtiva da borracha natural e identificado 1

(um) produto diferenciado (Tabela 26).

Tabela 26: Insumos e produtos na cadeia produtiva da borracha natural no Noroeste do Mato Grosso

Organização Cadeia produtiva

Insumos Produto

Associação dos Moradores Agroextrativistas da Resex Guariba Roosevelt Rio Guariba - AMORARR

Borracha Transporte, combustível, equipamentos e manutenção da infraestrutura.

Borracha natural (látex coagulado)

Associação Dos Moradores Agroextrativistas da Resex Guariba Roosevelt Rio Roosevelt - AMARR

Borracha Transporte, combustível, equipamentos e manutenção da infraestrutura.

Borracha natural (látex coagulado)

As entidades consideram o preço mínimo da subvenção extrativista como preço de custo para extração do látex, porém o preço praticado na última safra foi de R$ 2,20/kg de látex coagulado.

Por isso, o faturamento da safra foi calculado com base no preço mínimo da subvenção extrativista

que é R$ 4,90/kg, o que representa os R$ 2,20/kg pago pelo látex coagulado na região, mais o bônus

de R$ 2,70/kg pago pela CONAB para alcaçar o preço mínimo.

Tabela 27: Preço, custo e faturamento com borracha natural - safra 2015

Organização Produto Unidade

Preço (R$) Custo

16

(R$)

Última safra

Mínimo Máximo Quantidade (kg)

Faturamento

AMORARR Borracha natural

Kg R$ 2,20 R$ 2,20 R$ 4,90 4.000 R$ 19.600

AMARR Borracha natural

Kg R$ 2,20 R$ 2,20 R$ 4,90 13.000 R$ 63.700,00

Na produção de borracha natural (Látex coagulado), AMARR se destaca com capacidade instalada de

25 t/mês, seguida de AMORARR com 2,58 t/mês. AMARR utiliza entre 40 e 52% de sua capacidade

instalada, enquanto que AMORARR utiliza apenas 25%.

Tabela 28: Capacidade instalada, capacidade utilizada e processo produtivo da borracha natural

Organização Produtos Capacidade instalada/mês

Capacidade utilizada (%)

Processo produtivo (dias)

AMORARR Borracha natural

2.587 kg 25% 3

AMARR Borracha natural

25.000 kg 40 a 52% 3

Não foi registrado defeito de produção, o prazo médio de estoque varia entre 60 e 120 dias e o prazo

médio de entrega é de 90 dias, com todas as entregas feitas no prazo e nenhuma devolução.

16 Consideram o preço mínimo da subvenção extrativista como custo de produção.

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Tabela 29: Defeitos, prazos e devolução da borracha natural

Organização Produtos Defeito produção (%)

Prazo médio estoque (dias)

Prazo médio entrega (dias)

Entrega no prazo (%)

Devolução (%)

AMORARR Borracha natural

0% 60 90 100% 0%

AMARR Borracha natural

0% 120 90 100% 0%

Entre os mercados, o institucional público e o institucional privado foram indicados como os únicos

acessados, e não foram indicadas exportações.

Tabela 30: Análise FOFA da cadeia do látex no NO do MT

AMBIENTE INTERNO DA ORGANIZAÇÃO AMBIENTE EXTERNO DA ORGANIZAÇÃO

Força Oportunidade

Associações locais empoderadas com gestão institucional participativa e protagonismo na gestão territorial

Ambiente favorável de parcerias e assistência técnica

Projetos de apoio à produção aprovados e em execução

Experiências de certificação orgânica e potencial de ampliação

Produto de qualidade com adoção de boas práticas de manejo e produção

Apelo de marketing devido à exclusividade do território da RESEX e seu uso tradicional com o manejo dos PFNM

Políticas públicas de subvenção (PGPM)

Fraqueza Ameaça

Dificuldades e limitações de infraestrutura e comunicação

Altos custos de produção devido às distâncias para a extraçãoo

Limitações de capital de giro;

Riscos à garantia territorial e de governança da RESEX Guariba Roosevelt

Condições logísticas precárias de transporte rodoviário e fluvial e distância entre os polos de produção, beneficiamento e mercado

4.3 Cadeia produtiva do babaçu (Attalea spp)

Há muitos tipos de palmeira babaçu, cada qual com sua característica distinta. As variações

morfológicas entre os tipos de palmeira babaçu podem estar relacionadas ao tipo de solo, ao clima e

à idade das palmeiras. Tais diferenças podem influenciar na produtividade e características, por

exemplo, da altura dos troncos, da quantidade de frutos por cacho, das partes do fruto, com mais ou

menos mesocarpo e amêndoas ou da quantidade de óleo por amêndoa, etc.

Segundo Pesce (2009), cada cacho (Foto 9) de uma palmeira babaçu pode conter até 200 frutos,

podendo haver cachos com 500 frutos, com mais de de 100 kg. O fruto é composto de Epicarpo (11 a

14%), mesocarpo (14 a 25%), endocarpo (50 a 67 %) e amêndoas (6 a 10%); e cada fruto pode ter

entre 3 a 4 amêndoas com peso médio de 30 g. Entretanto, pode haver frutos com 5 ou 6 amêndoas

(grifo nosso). Segundo Teixeira (2002), os frutos da palmeira babaçu pesam entre 90 e 280 g.

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Foto 9: Cacho de palmeira babaçu

(Melo, 2010)

Foto 10: Coco babaçu (Melo, 2010)

Seguindo a tendência adotada por Lorenzi (2010), todas as variedades de palmeira babaçu

atualmente pertencem ao gênero Attalea, da subtribo Attaleinae que “parecem encontrar-se em

plena atividade evolutiva visto o grande número de hibridizações entre as espécies (...) bem como um

grande número de formas e características intermediárias”. Tais características variáveis, podem

dificultar a caracterização de estimativas de produção para uma determinada localidade, sem a

realização de estudos apropriados.

Em 2014, os principais estados produtores de amêndo de babaçu foram Maranhão e Piauí. O estado

do Mato Grosso foi o sétimo colcoado com uma tonelada ( Mapa 8) (IBGE, 2014).

Mapa 8: Estados produtores de amêndoa de

babaçu em 2014 (IBGE)

Principais estados produtores de amêndoa de

coco babaçu:

1. Maranhão 79.305 t;

2. Piauí 3.787 t;

3. Tocantins 271 t;

4. Bahia 268 t;

5. Ceará 254 t;

6. Pará 26 t;

7. Mato Grosso 1 t.

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Do ponto de vista produtivo, considerando apenas PFNM de ocorrência na Amazônia, em 2014, a

amêndoa de coco babaçu foi o 2º principal PFNM.

Tabela 31: Produção acumulada de PFNM de ocorrência na Amazônia em 2014 (IBGE, 2014)

Protudo Produção (t) Valor da produção (R$)

Açaí (fruto) 198.149 422.064.000,00

Amêndoa de babaçu 83.917 123.153.000,00

Cabe ressaltar que a cadeia produtiva do babaçu está começando a se estabelecer no Noroeste do

Mato Grosso, com arranjos produtivos potenciais. É pequeno o volume de produção, esporádica e

concentrada apenas em Cotriguaçu.

Porém, há disponibilidade do recurso natural em praticamente toda a região noroeste e acesso ao

recurso natural por parte dos coletores (indígenas, extrativistas, agricultores familiares, etc.). A

produção é individual e organizada em associações, que contam com apoio institucional de

organizações não governamentais e órgãos de governo. O comércio e mercado são esporádicos.

Não há registros consolidados de disponibilidade de babaçu da região noroeste. No P.A. Nova

Cotriguaçu, o ICV está realizando o mapeamento dos babaçuais. Tais iniciativas são essenciais em

uma estratégia de fortalecimento da cadeia produtiva e deve ser incentivada em todas as áreas de

uso.

Segundo dados coletados nos estudos de caso realizados no âmbito deta pesquisa, foram

encontrados os seguintes derivados de coco babaçu (Tabela 32).

Tabela 32: Derivados de babaçu no noroeste do Mato Grosso

Produtos/derivados Descrição Usos

Amêndoa de babaçu Extraída do coco babaçu. Tradicional principalmente para produção de óleo, e industrial com várias aplicações.

Óleo de amêndoa de babaçu Extraído das amêndoas de babaçu moídas, cozidas e prensadas

Tradicional, subsistência, indústrias cosmética e alimentícia.

Torta de amêndoa de babaçu Subproduto da produção de óleo Tradicional, subsistência, alimentação de animais.

Farinha de mesocarpo de babaçu para alimentação humana

Polpa seca extraída apenas de cocos maduros sem marcas ou sinais de predação por animais. Obedece a critérios rigorosos de sanidade do produto.

Tradicional, subsistência, indústrias alimentícias.

Farinha de mesocarpo de babaçu para nutrição animal

Polpa seca extraída apenas de cocos maduros sem marcas ou sinais de predação por animais. Obedece a critérios rigorosos de sanidade do produto.

Tradicional, alimentação animal, indústrias de nutrição animal.

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Foto 11: Amêndoa de babaçu (MMA, 2008)

Foto 12: Farinha de mesocarpo de babaçu Bio Nutri (ISPN, 2012)

Apesar da ocorrência abundante em toda a Região Noroeste, o sistema produtivo deriva exclusivamente do extrativismo realizado no PA Nova Cotriguaçu, majoritariamente por mulheres. Há poucas coletoras, porém organizadas em dois grupos de associações que produzem óleo de amêndoa de babaçu, comercializado no varejo local (feiras, lojas e mercados) por consumidores individuais, como alimento, remédio natural e repelente de insetos. Parte da produção esporadicamente também é comercializada na região e no estado, por encomenda.

O mesocarpo para alimentação humana e nutrição animal também é comercializado e consumido localmente entre os vizinhos. Ainda não há estudos conclusivos sobre o uso do mesocarpo na nutrição animal, em formulações de misturas e rações. A coleta é feita nas áreas privadas de cada família assentada, tanto dos grupos de mulheres como de outros assentados que permitem a entrada para a coleta sem cobrar nada por isso.

A Cadeia produtiva está em estágio inicial de organização com poucos operadores e apresenta uma

base primária rica em recursos naturais, porém não protegida e muito degradada, principalmente

pela substituição da vegetação nativa por pastos e pela ocorrência de queimadas. A transformação

dos produtos derivados é feita localmente pelos GMP e GMU e conta com apoio da COOPERCOTRI

apenas na mistura para formulação de ração animal.

O beneficiamento é complexo e trabalhoso, desde a quebra dos cocos ao produto final, mas os

grupos de mulheres recebem apoio do ICV e COOPERCOTRI, com recursos do PPP-Ecos/ISPN, em

capacitações e equipamentos para facilitar o processamento.

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Fluxograma 6: coleta e processamento de óleo e mesocarpo de coco babaçu

Há pouca ou nenhuma informação sistematizada sobre a produção de derivados de coco babaçu,

bem como não há um diagnóstico específico sobre a ocorrência, distribuição, abundância e

produtividade, o que dificulta uma análise apurada. Não há um plano de manejo dos babaçuais no

P.A. Nova Cotriguaçu à excessão dos cuidados com o manejo do fogo.

Os canais de comercialização são informais, mas há alto valor agregado à produção de óleo de

babaçu tradicional (R$ 100,00/litro). A comercialização é feita diretamente pelos grupos de

mulheres, sob encomenda, no varejo local (lojas, feiras, vizinhos, na rua, etc.) e outros mercados

(regional e estadual). O consumo local (no PA Nova Cotriguaçu), de mesocarpo de babaçu, também

movimenta importante comércio para os grupos de mulheres.

Em 2014 o IBGE registrou a primeira comercialização de amêndoa de babaçu do MT, em Cotriguaçu.

Foram apenas 1.000 kg a R$ 1.000,00, o que está bem abaixo do preço mínimo estabelecido pela

subvenção extrativista (R$ 2,49/kg). Há poucos compradores e um grande potencial de inserção do

mesocarpo de babaçu no mercado institucional público.

Para fins de padronização, classificação e comercialização do óleo, da torta e do farelo de babaçu,

deve-se observar a Portaria Ministerial nº 812, de 19 de novembro de 1975, Decreto-Lei nº 200, de

25 de fevereiro de 1967 e Decreto nº 69. 502, de 05 de novembro de 1971.

COLETA

SELEÇÃO

DESCASQUE FRUTO DESCASCADO CASCA

RETIRADA MESOCARPO

FLOCO DE MESOCARPO

BRUTO

ENDOCARPO COM AMÊNDOAS

SECAGEM

MOAGEM

PENEIRAMENTO

FARINHA DE MESOCARPO

QUEBRA ENDOCARPO LENHOSO

AMÊNDOAS

MOAGEM

COZIMENTO

PRENSAGEM

TORTA

ÓLEO

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Para fins de controle sanitário, produtos alimentícios de forma geral, os produtores devem obedecer

às normas de vigilância sanitária e o Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária

(SUASA/MAPA) em suas unidades produtivas.

Foram entrevistadas 3 (três) entidades da cadeia produtiva do babaçu e identificados 5 (cinco)

produtos diferenciados e seus insumos (Tabela 33).

Tabela 33: Insumos e produtos na cadeia produtiva do babaçu no Noroeste do Mato Grosso

Organização Cadeia produtiva

Insumos Produtos

Grupo de Mulheres da Paz (da Associação dos Pequenos Produtores Rurais da Comunidade Santa Clara)

Babaçu Sacaria, facão, foice, machado, porrete, panela, assadeira, triturador, filtro, embalagens, meio de transporte, carreta, fogão a lenha, luva, vara, combustível, lona plástica, farelo de soja, farelo de milho.

Óleo de amêndoa

Farinha de mesocarpo - alimentação humana

Farinha de mesocarpo - alimentação animal

Grupo Mulheres Unidas (Grupo de Reflorestamento Agroindústria, da Comunidade Ouro Verde)

Babaçu Sal para gado, maisena ou polvilho, manteiga, açúcar e sal.

Farinha de mesocarpo - alimentação humana

Farinha de mesocarpo - alimentação animal

Bolacha de farinha de mesocarpo

Babaçu Ração animal com mesocarpo de babaçu

COOPERCOTRI Babaçu Formulação para ração animal Ração animal com mesocarpo de babaçu

Tabela 34: Preço, custo e faturamento com óleo de amêndoa de babaçu (safra 2015)

Organização Produtos Unidade Preço (R$) Custo Quantidade última safra

Faturamento última safra Mínimo Máximo

Grupo de Mulheres da Paz

Óleo de amêndoa de babaçu

Litro R$ 100,00

R$ 100,00

Não mensurado

16 R$ 1.600,00

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Tabela 35: Preço, custo e faturamento com farinha de mesocarpo e bolacha com farinha de mesocarpo para alimentação humana (safra 2015)

Organização Produtos Unidade Preço (R$) Custo Quantidade última safra

Faturamento última safra Mínimo Máximo

Grupo de Mulheres da Paz

Farinha de mesocarpo de babaçu para alimentação humana

Kg R$ 10,00

R$ 20,00

Não mensurado

300 R$ 3.000,00 a R$ 6.000,00

Grupo Mulheres Unidas

Farinha de mesocarpo de babaçu para alimentação humana

Kg R$ 3,00 R$ 3,00 Não mensurado

100 R$ 300,00

Bolacha de farinha de mesocarpo

Kg R$ 15,00

R$ 15,00

Não mensurado

Esporádico, sem registro

Esporádico, sem registro

Tabela 36: Preço, custo e faturamento com farinha de mesocarpo e ração com farinha de mesocarpo para nutrição animal (safra 2015)

Organização Produtos Unidade Preço (R$) Custo Quantidade última safra

Faturamento última safra

Mínimo Máximo

GMP Farinha de mesocarpo de babaçu para nutrição animal

Kg R$ 5,00 R$ 5,00 Não mensurado

300 R$ 1.500,00

GMU Farinha de mesocarpo de babaçu para nutrição animal

Kg R$ 6,00 R$ 8,00 Não mensurado

1.000 R$ 3.000,00

17

COOPERCOTRI Ração animal com mesocarpo de babaçu

Kg Não informado

Não informado

R$ 5,00 Não informado

Não mensurado

GMP se destaca na produção de óleo de amêndoa, com capacidade instalada de 12 l/mês e

capacidade utilizada de apenas 10%. GMU se destaca na produção de farinha de mesocarpo e

derivados, com capacidade instalada de 300 kg/mês de farinha de mesocarpo para alimentação

humana e 1.000 kg/mês de farinha de mesocarpo para nutrição animal, ambas com 30% de uso da

capacidade produtiva.

17 Do total produzido de farinha de mesocarpo de babaçu para nitrução animal, por GMU, nem tudo foi

vendido. Boa parte da produção é absorvida pelos produtores. Por isso, o faturamento da última safra reflete apenas o resultado do que foi efetivamente vendido, sem contabilizar o que foi consumido.

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COOPERCOTRI já fez testes de misturas para formulação de ração animal, porém sem dados

conclusos sobre o potencial do produto, sendo necessário realizar mais estudos, como a pesquisa

que vem sendo realizada por um aluno de graduação da UNEMAT. Nesse sentido, a ração ou mistura

com farinha de mesocarpo ainda é um produto em desenvolvimento que, no PA Nova Cotriguaçu

tem apresentado resultados satisfatórios, segundo os produtores, no uso empírico da farinha como

ração animal.

Tabela 37: Capacidade instalada, capacidade utilizada e processo produtivo

Organização Produtos Capacidade instalada/mês

Capacidade utilizada (%)

Processo produtivo (dias)

GMP Santa Clara Óleo de amêndoa 12 l 10% 13 a 15

Farinha de mesocarpo - alimentação humana

50 kg 80% 8 a 10

Farinha de mesocarpo - alimentação animal

40 kg 30% 4 a 5

GMU Ouro Verde Farinha de mesocarpo - alimentação humana

300 kg 30% 7

Farinha de mesocarpo - alimentação animal

1.000 kg 30% 7

Bolacha de farinha de mesocarpo

100 kg 10% 7

Cooperativa agropecuária de Cotriguaçu - COOPERCOTRI

Castanha in natura Não informado Não informado Não informado

Ração animal com mesocarpo de babaçu

Não informado Não informado Não informado

O índice geral de defeitos é baixo, à exceção da farinha de mesocarpo para alimentação humana do GMP com 20% de defeito apurado e da bolacha de farinha de mesocarpo do GMU com 10% de defeito apurado. Não foi registrada a devolução de produtos.

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Tabela 38: Defeitos, prazos e devolução

Organização Produtos Defeito produção (%)

Prazo médio estoque (dias)

Prazo médio entrega (dias)

Entrega no prazo (%)

Devolução (%)

GMP Santa Clara

Óleo de amêndoa

0 Não tem estoque, produz conforme a demanda

20 dias 100% 0%

Farinha de mesocarpo - alimentação humana

20% 240 10 a 15 dias 100% 0%

Farinha de mesocarpo - alimentação animal

0 365 5 a 6 dias 100% 0%

GMU Ouro Verde

Farinha de mesocarpo - alimentação humana

0 180 7 dias 100% 0%

Farinha de mesocarpo - alimentação animal

0 180 7 dias 100% 0%

Bolacha de farinha de mesocarpo

10% Imediato 1 dia 100% 0%

COOPERCOTRI

Não informado

Não informado

Não informado

Não informado

Não informado

Não informado

Entre os mercados, o varejo foi indicado como o mais acessado, seguido do mercado institucional

privado. Os grupos de mulheres estão ampliando e modernizando sua capacidade produtiva para

atender os mercados institucionais privados. A produção é distribuída localmente.

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Tabela 39: Análise FOFA para derivados de coco babaçu no NO do MT

AMBIENTE INTERNO DA ORGANIZAÇÃO AMBIENTE EXTERNO DA ORGANIZAÇÃO

Força Oportunidade Produção de qualidade com adoção de boas

práticas de manejo e produção

Uso local e tradicional do produto na nutrição animal, com potencial de desenvolvimento de novos produtos

Produção de qualidade com adoção de boas práticas de manejo e produção

Potencial de ampliação das redes de parceria e apoio

Políticas públicas de subvenção (PGPM) e apoio à comercialização (PAA e PNAE) dos produtos extrativistas Não tem concorrência.

Mercados locais e estadual com potencial para alavancar os empreendimentos comunitários

Lei do Babaçu Livre com potencial de acesso a áreas privadas

Fraqueza Ameaça Desconhecimento e pouca experiência com o

manejo e o uso dos produtos

Poucos elementos para análise da cadeia devido estágio inicial da cadeia e o consequente número reduzido de iniciativas

Dificuldades de infraestrutura com limitações de obtenção de licenças sanitárias

Limitações de meios de comunicação

Questionamentos e dúvidas com relação ao potencial econômico da cadeia

Dificuldades de acesso ao crédito

Condições logísticas precárias de transporte e distância entre os polos de produção, beneficiamento e mercado

Mal uso do fogo com risco de queima dos babaçuais

Regulamentação inadequada do manejo comunitário de produtos florestais não madeireiros

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Mapa 9: Cadeia Produtiva do babaçu no noroeste do Mato Grosso (Melo, 2016)

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4.4 Cadeia Produtiva do óleo resina de copaíba (Copaifera spp)

Apesar de não ter sido uma das cadeias produtivas selecionadas para este estudo, a cadeia produtiva

do óleo resina de copaíba apareceu como importante fonte de renda advinda do extrativismo

praticado por AMARR e AMORARR.

A copaibeira é uma árvore com altura entre 10 e 15 m, com tronco entre 50 e 80 cm de diâmetro,

madeira moderadamente pesada (densidade de 0,70 g/cm³) e fornece bálsamo ou óleo que é a seiva

da árvore extraída ao perfurar o tronco até o cerne (Lorenzi, 2008).

Foto 13: Extração de óleo resina de copaíba (Melo, 2011)

A produção brasileira de óleo resina de copaíba é toda oriunda de árvores nativas. Em 2014, os

principais estados produtores foram Amazonas e Pará. Mato Grosso e Maranhão empataram em

quarto, com aproximadamente uma tonelada cada um (Mapa 10) (IBGE, 2014).

Mapa 10: Estados produtores de óleo resina de

copaíba em 2014 (IBGE)

Principais estados produtores de óleo resina de

copaíba:

1. Amazonas 124 t;

2. Pará 32 t;

3. Rondônia 7 t;

4. Maranhão e Mato Grosso com

aproximadamente 1 t cada.

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Do ponto de vista produtivo, considerando apenas PFNM de ocorrência na Amazônia, em 2014, o

óleo resina de copaíba foi o 8º principal PFNM, porém com resultado econômico acima do buriti

(Tabela 40).

Tabela 40: Produção acumulada de PFNM de ocorrência na Amazônia em 2014 (IBGE, 2014)

Protudo Produção (t) Valor da produção (R$)

Açaí (fruto) 198.149 422.064.000,00

Amêndoa de babaçu 83.917 123.153.000,00

Fibra de piaçaba 45.758 94.302.000,00

Castanha do brasil 37.499 79.565000,00

Palmito18

4.729 12.716.000,00

Látex coagulado 1.446 t 5.052.000,00

Buriti 466 2.253.0000,00

Copaíba 164 3.420.000,00

Ressalta-se que, no período entre 2010 e 2014, a produção nacional de óleo resina de copaíba

decresceu ano após ano, reduzindo de 580 t em 2010, para 164 t em 2014, porém com aumento

expressivo do valor da produção, saltando de 4.908.000,00 em 2010 (R$ 8.462,00/t) para

3.420.000,00 em 2014 (20.853,60/t).

Foto 14: Óleo resina de copaíba filtrado pela COPERIACO (Melo,

2011)

Foto 15: Amostras de óleo resina de copaíba COOPERIACO (Melo,

2011)

Existem vários tipos de copaibeira, podendo variar muito a produção de óleo, entre 100 ml a 60 litros

árvore/ano, sendo que algumas árvores não produzem óleo. A produção pode variar conforme o tipo

de solo e o crescimento da árvore ao longo do tempo. Sugere-se a estimativa de 1 litro/árvore a cada

3 anos (CIFOR, 2010).

No noroeste do Mato Grosso, a produção é esporádica. Porém, comparativamente a outros PFNM, o

óleo resina de copaíba apresenta bom valor agregado (R$ 25,00/kg).

18 Ressalta-se que os dados do IBGE não discriminam de que tipo de palmeira foi extraído o palmito.

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Tabela 41: Preço, custo e faturamento com óleo resina de copaíba - safra 2015

Organização Produtos Unidade Preço (R$)

Custo Quantidade última safra

Faturamento última safra (R$) Mínimo Máximo

AMORARR Óleo resina de copaíba

Kg 25,00 25,00 8,00 800 20.000,00

AMARR Óleo resina de copaíba

Kg 25,00 25,00 8,00 1.500 37.500,00

Trata-se de uma cadeia produtiva potencial, com as seguintes características:

Arranjos produtivos potenciais;

Produção esporádica;

Disponibilidade de recurso na RESEX Guariba Roosevelt;

Poucos atores envolvidos, acesso ao recurso natural por parte dos coletores (extrativistas);

Boas práticas de manejo.

O sistema produtivo deriva exclusivamente da RESEX Guariba Roosevelt, porém há potencial em

todas as áreas de floresta preservada, como por exemplo, nas TI. Há coletores capacitados,

experientes e organizados (associações), e o óleo resina de copaíba é comercializado no mercado

privado.

A produção requer boas práticas de manejo desde a extração do óleo resina na floresta, cuidados

com a árvore, transporte e estocagem. Os mercados (local, estadual, nacional e internacional)

exigem qualidade do produto, sendo comum também a exigência de rastreabilidade da produção

para evitar e/ou identificar alterações no produto.

Na etapa de coleta, as árvores são perfuradas com trado e o óleo é coletado e transportado para

local adequado onde é feito o pré-beneficiamento que consiste na filtração e separação por cor e

densidade, para posterior armazenamento em local protegido da luz direta do sol.

A cadeia produtiva apresenta uma base primária restrita em recursos naturais na RESEX, com

potencial em outras áreas de floresta preservada da região.

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5 Análise dos empreendimentos das cadeias de PFNM do Noroeste do Mato Grosso

Com base nas entrevistas realizadas durante os estudos de caso foram feitas análises utilizando a

metodologia FOFA, da seguinte forma:

Análise do ambiente interno e externo de cada Cadeia Produtiva como um todo;

Análise do ambiente interno e externo de cada empreendimento, sendo que um mesmo

empreendimento pode trabalhar com mais de uma Cadeia Produtiva.

As análises FOFA das Cadeias Produtivas, consideraram questões macro, comum a todos os

empreendimentos envolvidos, enquanto que as análises FOFA dos empreendimentos referem-se ao

funcionamento dos empreendimentos, considerando suas especificidades locais (Anexo 10).

5.1 Empreendimentos da cadeia produtiva da castanha-do-brasil

Ao analisar o ambiente interno das entidades produtoras, há vários pontos fortes, entretanto

destaca-se principalmente os recursos de projetos para fortalecimento da produção, à excessão de

COMIGUA, que atualmente não tem recursos de projetos.

Em contraponto, entre as dificuldades do ambiente interno das entidades, a falta de capital de giro

ou de recursos de projetos para qualquer tipo de insumo e/ou estruturação da produção, foi

apontada como um dos principais gargalos.

Já no ambiente externo, entre as oportunidades apontadas, destacam-se possíveis parcerias para

apoio técnico e/ou financeiro para estruturação da produção e, entre as ameaças, foi unânime a

fragilidade da logística de escoamento da produção, principalmente em razão das distâncias e

conservação das estradas.

5.2 Empreendimentos da cadeia produtiva da borracha

Entre os pontos fortes das entidades entrevistadas na cadeia produtiva da borracha, destaca-se o

empoderamento dos extrativistas, a boa gestão das entidades pelos próprios associados, a qualidade

do produto e a parceria com Pacto das Águas e apoio da Petrobrás Ambiental. Ressalta-se que o

apoio às entidades é essencial para o desenvolvimento dos seus processos produtivos.

Entre os pontos fracos, a falta de capital de giro e a fragilidade da demarcação do território de uso

dos extrativistas foram apontadas como as causas mais sensíveis. Além destes gargalos, a falta de

comunicação e de escritório próprio, e o gasto excessivo com a produção também foram apontados

como gargalos para o desenvolvimento da cadeia produtiva.

A grande oportunidade apontada pelas entidades é a PGPM-Bio que viabiliza a cadeia produtiva hoje.

Entre as ameaças para a continuidade da produção, destacou-se principalmente a logística

complicada de escoamento da produção devido às grandes distâncias e condição das estradas, a luta

para manter o território de uso dos extrativistas e a competição pela coleta da castanha, mesmo

dentro da área da RESEX.

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5.3 Empreendimentos da cadeia produtiva do babaçu

Entre os pontos fortes destaca-se o apoio de projetos e parcerias que têm contribuído para o

desenvolvimento da cadeia produtiva, por meio principalmente da aquisição de equipamentos para

diversificar e melhorar a produção, e também do mapeamento dos babaçuais no P.A. Nova

Cotriguaçu e todo o processo de participação das extrativistas nesta estratégia de desenvolvimento

local. Outro ponto forte tem relação com os resultados positivos do uso tradicional do mesocarpo na

alimentação dos animais (principalmente gado leiteiro).

Entre os pontos fracos, destacaram-se a falta de apoio e participação entre os próprios extrativistas,

a falta de meios de comunicação, transporte adequado e licenças, e a falta de conhecimento do uso

do babaçu na região.

Entre as oportunidades, destacaram-se o PNAE, especialmente com a inserção da farinha de

mesocarpo na merenda escolar, a inexistência de concorrência, e a parceria entre as organizações

governamentais e não governamentais da região.

Entre as ameaças, as principais apontadas foram a degradação dos babaçuais (derrubada e

queimada), o embargo imposto ao P.A. Nova Cotriguaçu para acesso à crédito, a distância e as

condições das estradas para escoamento da produção, as questões trabalhistas de coletores de coco

babaçu em área privada e a falta de apoio da Prefeitura de Cotriguaçu.

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6 Políticas Públicas para Cadeias de PFNM

Há várias políticas públicas possíveis, para o apoio às cadeias de PFNM do noroeste eo Mato Grosso,

no desenvolvimento de atividades produtivas sustentáveis, tais como programas governamentais,

editais, fundos, linhas de crédito, projetos de parceria e fomento entre cooperativas e associações

comunitárias com órgãos públicos e privados, etc.

Há recursos para fomentar a produção extrativista, cuja principal fonte é o Programa Nacional de

Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF). Há também outras fontes de recursos federais,

estaduais e municipais, com linhas de crédito rural, editais, subsídios, agências de fomento, etc.

Há também as políticas públicas de apoio à comercialização:

Programa de Aquisição de Alimentos (PAA),

Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE),

Política de Garantia de Preços Mínimos para Produtos da Sociobiodiversidade (PGPM-Bio);

Há ainda as políticas públicas que articulam programas e ações integradas entre as cadeias

produtivas:

Plano Nacional de Promoção das Cadeias de Produtos da Sociobiodiversidade (PNPSB);

Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (Planapo)

Ambos contém protocolos de intenções e metas para o fortalecimento de temas específicos, podem

ter recursos para fomento e crédito e, geralmente, estão ligados ao poder executivo, com

descentralização de ações em estruturas colegiadas.

O acesso a tais políticas públicas pode ser facilitado quando há boa articulação política com o

Governo Federal no âmbito das Câmaras Setoriais responsáveis por sua execução e com o Governo

Estadual com recursos do orçamento.

Plano Nacional de Promoção das Cadeias de Produtos da Sociobiodiversidade (PNPSB)

O PNPSB é responsável por articular o desenvolvimento de ações integradas para a promoção e

fortalecimento das cadeias de produtos da sociobiodiversidade, com agregação de valor e

consolidação de mercados sustentáveis, evitando a duplicação de ações, valorizando e reforçando o

que já existe, articulando e fortalecendo espaços de articulação, políticas e programas já existentes

para os produtos da sociobiodiversidade, gestão participativa, articulada e compartilhada,

dinamização de redes descentralizadas nos diferentes biomas e territórios, criação de espaços para a

formulação, monitoramento e avaliação continuada das cadeias de produtos da sociobiodiversidade.

Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (Planapo)

A PLANAPO, objetiva a articulação e implementação de programas e ações para a transição

agroecológica, produção orgânica e de base agroecológica e sustentável, para a melhoria de

qualidade de vida, com a oferta e consumo de alimentos saudáveis e sustentáveis, foco na segurança

alimentar e nutricional, uso sustentável dos recursos, apoio à conservação e recomposição de

ecossistemas, mercado solidário, valorização da agrobiodiversidade e produtos da

sociobiodiversidade, participação da juventude rural na produção e redução de desigualdades de

gênero.

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Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf)

O PRONAF financia projetos individuais e coletivos, para custeio e investimento, com foco social e de

apoio à produção de alimentos, que gerem renda aos agricultores familiares e assentados da reforma

agrária, com taxas de juros mais baixas.

Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (PNATER)

A PNATER foi elaborada a partir dos princípios do desenvolvimento sustentável, incluindo a

diversidade de categorias e atividades da agricultura familiar, e considerando elementos como

gênero, geração e etnia e o papel das organizações governamentais e não-governamentais.

Programa Nacional de Assistência Técnica e. Extensão Rural para a Agricultura Familiar e. Reforma

Agrária (Pronater)

O Pronater é o instrumento orientador do processo de implementação da PNATER e estabelece as

diretrizes e metas para os serviços públicos de ATER no País.

O Plano ABC (Agricultura de Baixo Carbono)

O Plano ABC (Agricultura de Baixo Carbono), visa a combinação de atividades agrícolas, florestais e

pecuárias, a partir de financiamento com linhas de crédito direcionadas para médios e grandes

produtores, nos seguintes programas:

Recuperação de Pastagens Degradadas;

Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) e Sistemas Agroflorestais (SAFs);

Sistema Plantio Direto (SPD);

Fixação Biológica do Nitrogênio (FBN); e

Florestas Plantadas.

Programa de Aquisição de Alimentos (PAA)

O PAA propicia aquisição de alimentos de agricultores familiares a preços compatíveis com os de

mercado. Financia a aquisição de alimentos provenientes de cultivo, manejo, coleta ou pesca, para

dois perfis de beneficiários: fornecedores e os consumidores de alimentos.

São considerados fornecedores, os agricultores familiares, assentados da reforma agrária,

silvicultores, aquicultores, extrativistas, pescadores artesanais, indígenas, integrantes de

comunidades remanescentes de quilombos rurais e demais povos e comunidades tradicionais, que

atendam aos requisitos previstos no art. 3º da Lei nº 11.326, de 24/07/2006.

São considerados consumidores, os pessoas em situação de insegurança alimentar e nutricional e

pessoas atendidas pela rede sócio assistencial e pelos equipamentos de alimentação e nutrição.

Fornecedores podem participar do PAA individual ou coletivamente (cooperativas ou outras

organizações formalmente constituídas como pessoa jurídica de direito privado), porém é possuir a

Declaração de Aptidão ao PRONAF (DAP) física para pessoa física e jurídica para pessoa jurídica, que

é o instrumento que qualifica a família ou a entidade para o acesso conforme seu perfil.

Modalidades do PAA:

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Compra com Doação Simultânea: tem como finalidade o atendimento de demandas locais de

suplementação alimentar, promovendo o Direito Humano à Alimentação Adequada. A

Modalidade incentiva que a produção local da agricultura familiar atenda às necessidades de

complementação alimentar das entidades da rede sócio assistencial, dos equipamentos

públicos de alimentação e nutrição (Restaurantes Populares, Cozinhas Comunitárias e Bancos

de Alimentos) e, em condições específicas definidas pelo Grupo Gestor do PAA, da rede

pública e filantrópica de ensino.

Compra Direta: tem como finalidade a sustentação de preços de uma pauta específica de

produtos definida pelo Grupo Gestor do PAA, a constituição de estoques públicos desses

produtos e o atendimento de demandas de programas de acesso à alimentação.

Apoio à Formação de Estoques: tem como finalidade apoiar financeiramente a constituição

de estoques de alimentos por organizações da agricultura familiar, visando agregação de

valor à produção e sustentação de preços. Posteriormente, esses alimentos são destinados

aos estoques públicos ou comercializados pela organização de agricultores para devolução

dos recursos financeiros ao Poder Público.

Compra Institucional: esta Modalidade foi uma inovação do Decreto nº 7.775/2012. Sua

finalidade é garantir que estados, Distrito Federal e municípios, além de órgãos federais

também possam comprar alimentos da agricultura familiar, com seus próprios recursos

financeiros, dispensando-se a licitação, para atendimento às demandas regulares de

consumo de alimentos. Poderão ser abastecidos hospitais, quartéis, presídios, restaurantes

universitários, refeitórios de creches e escolas filantrópicas, entre outros.

Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE)

O PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar), destina no mínimo 30% dos recursos

repassados pelo FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento Escolar) para alimentação escolar, na

compra de produtos da agricultura familiar para serem servidos nas escolas da rede pública de

ensino (Lei no. 11.947/2009).

A aquisição de gêneros alimentícios é realizada, sempre que possível, no mesmo município das

escolas, priorizando os assentamentos de reforma agrária, as comunidades tradicionais indígenas e

comunidades quilombolas. As escolas podem complementar a demanda entre agricultores do

território rural, estado e país, nesta ordem de prioridade. A aquisição dos produtos da agricultura

familiar pode ser realizada por meio da Chamada Pública, dispensando procedimento licitatório.

Política de Garantia de Preços Mínimos para Produtos da Sociobiodiversidade (PGPM-Bio)

A PGPM-Bio (Política de Garantia de Preços Mínimos para Produtos da Sociobiodiversidade) garante

um bônus, através de uma subvenção paga pela CONAB ao agricultor/extrativista individualmente

quando realiza uma venda no mercado a um preço inferior ao mínimo estabelecido.

Para acessar a PGPM-Bio, o agricultor familiar extrativista ou cooperativa/associação precisa

apresentar a Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP), segunda via da nota fiscal de venda (nota

avulsa) ou de compra, conta corrente/ordem bancária e cópia do CPF regular (no caso de agricultor

individual) na Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) e comunicar a comercialização. A

diferença entre o valor da venda e o preço mínimo é repassada via ordem de pagamento bancário.

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A PGPM-Bio atende 16 produtos: açaí, andiroba, babaçu, baru, borracha, cacau, castanha, carnaúba

(pó e cera), juçara, macaúba, mangaba, pequi, piaçava, pinhão e umbu. Foram registrados apenas 2

acessos à PGPM-Bio no Mato Grosso para a borracha natural em Aripuanã, na Resex Guariba-

Roosevelt.

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7 Conclusões e recomendações

Considerou-se para esta análise, no universo de cada cadeia produtiva, a soma dos indicadores

econômicos de todos os derivados produzidos, ou seja:

Na cadeia do babaçu: o óleo e o mesocarpo para alimentação humana e nutrição animal;

Na cadeia da castanha-do-brasil: a castanha natural, amêndoa, óleo cosmético e o azeite

comestível, macarrão, biscoito, paçoca e barrinha de cereal;

Na cadeia da copaíba: óleo resina de copaíba;

Na cadeia do látex: a borracha natural (látex coagulado).

O valor agregado total foi calculado com base no preço e custo (mínimo e máximo) informados pelos

representantes das entidades entrevistadas, por produto/cadeia nos empreendimentos, por

exemplo, para barrinha de cereal considerou-se entre R$ 36,00 e R$ 40,00/kg (R$ 0,90 e R$ 1,00/25

g) da COMIGUA e R$ 26,00/kg da COPAVAM.

Tabela 42: Quantidade de organizações envolvidas, derivados e faturamento por cadeia produtiva

Cadeia Produtiva Organizações Derivados Faturamento última safra (2015)

Babaçu 3 5 R$ 6.400,00

Castanha 6 9 R$ 1.624.000,00

Copaíba 2 1 R$ 57.500,00

Látex 2 1 R$ 83.300

A cadeia produtiva da castanha-do-brasil foi a que apresentou maior quantidade de organizações

envolvidas (6), produção mais diversificada (8 produtos) e maior faturamento na última safra (2015).

A cadeia produtiva da Borracha, apresentou bom faturamento na última safra (R$ 81.700,00), porém

graças à subvenção extrativista da PGPM-Bio.

A cadeia produtiva do babaçu, apesar de apresentar o menor faturamento, foi a segunda em

quantidade de organizações envolvidas e derivados produzidos.

Na cadeia do babaçu, ainda não foram identificados os custos de produção do óleo, mesocarpo e

bolacha, por parte das organizações produtivas. Segundo Dona Ângela do GMU da Comunidade Ouro

Verde, o custo de produção “é o nosso suor”. Também não foram informados os custos de produção

da AMCA, na cadeia produtiva da castanha-do-brasil.

A cadeia produtiva do óleo resina de copaíba, apesar da comercialização esporádica, apresentou

ótimos ganhos na última safra de AMORARR e AMARR, em torno de R$ 57.400,00.

Excetuando-se os produtos que não tiveram seus custos de produção declarados, o produto que

apresentou o maior valor agregado foi o azeite de castanha-do-brasil (entre R$ 25,00 e R$ 33,00),

seguido do óleo resina de copaíba (R$ 17,00) e a barrinha de cereal com castanha-do-brasil (entre R$

10,00 e R$ 16,00).

Foi declarado o custo de produção de R$ 4,90 para a borracha natural (látex coagulado), ou seja, a

entidade produtiva considera o preço mínimo estabelecido pela PGPM-Bio como seu custo de

produção, o que resultou em um valor agregado negativo (- R$ 2,70), visto que R$ 2,20 foi o valor de

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comercialização que acrescido de R$ 2,70 chega aos R$ 4,90 do preço mínimo considerado como

custo de produção.

Tabela 43: Preço, custo e valor agregado por cadeia produtiva/produto

Cadeias Produtivas

Produtos Derivados

Unid. Preço (R$) Custo (R$) Valor agregado (R$)

min. Máx. min. Máx. min. Máx.

Babaçu Óleo de amêndoa L 100,00 100,00 - - 100,00 100,00

Farinha de mesocarpo - alimentação humana

Kg 3,00 20,00 - - 3,00 20,00

Farinha de mesocarpo - alimentação animal

Kg 5,00 8,00 - - 5,00 8,00

Ração animal com mesocarpo de babaçu

Kg 0,00 0,00 5,00 5,00 -5,00 -5,00

Bolacha de farinha de mesocarpo

Kg - - - - - -

Castanha Castanha natural Kg 2,20 3,20 1,60 1,60 0,60 1,60

Amêndoa de castanha seca descascada inteira

Kg 23,00 30,00 22,00 22,00 1,00 8,00

Amêndoa de castanha seca descascada quebrada

Kg 20,00 20,00 22,00 22,00 - 2,00 - 2,00

Azeite comestível L 40,00 48,00 15,00 15,00 25,00 33,00

Óleo cosmético L 45,00 45,00 40,00 40,00 5,00 5,00

Farinha Kg 10,00 10,00 5,00 5,00 5,00 5,00

Barrinha Kg 26,00 36,00 16,00 20,00 10,00 16,00

Biscoito Kg 12,80 15,00 8,50 8,50 4,30 6,50

Macarrão Kg 10,00 10,00 - - 10,00 10,00

Paçoca Kg 20,00 20,00 - - 20,00 20,00

Copaíba Óleo resina de copaíba L 25,00 25,00 8,00 8,00 17,00 17,00

Látex Borracha natural Kg 2,20 2,20 4,90 4,90 -2,70 -2,70

Não foram identificados o custo real de produção e o valor agregado em cada etapa das cadeias

produtivas, o que demanda tempo para “rastrear” desde a base produtiva extrativista, todos os

insumos e produtos intermediários, o que demandaria uma oficina específica, com representantes de

toda a cadeia produtiva, imersos para destrinchar todo o processo produtivo, da floresta ao consumo

final.

Outro aspecto que influencia diretamente na formulação do custo de produção e do valor agregado

é a baixa capacidade de administração e gestão das entidades do estudo de caso, com relação ao

registro e/ou sigilo sobre as informações dos custos. Em alguns casos, o custo não foi informado ou

identificado, o que demanda um trabalho mais aprofundado e específico, com tempo e uma

mobilização maior com o máximo possível de elos das cadeias produtivas.

Por fim, segundo as informações fornecidas pelas entidades nas entrevistas dos estudos de caso, a

cadeia produtiva da castanha-do-brasil é a que envolve mais pessoas no processo produtivo (famílias

e associados das entidades) direta e indiretamente, e foi a única com funcionários pagos para o

serviço.

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Tabela 44: Pessoal envolvido por cadeia produtiva nos empreendimentos do estudo de caso

Cadeia produtiva Famílias envolvidas diretamente

Famílias envolvidas indiretamente

Associados Funcionários

Babaçu 56 120 45 0

Castanha 200 300 279 27

Copaíba 63 63 63 0

Látex 63 63 63 0

Importante destacar a contribuição dos PFNM cultivados na economia estadual, especialmente a

crescente produção de palmito, porém é preciso compreender melhor o cenário, com estudos

específicos na questão dos cultivados.

Voltando à produção extrativista, a cadeia produtiva da castanha-do-brasil é a mais estruturada e

com potencial de crescimento, com áreas a explorar, agroindústrias em expansão, surgimento de

vários pequenos negócios, isenção fiscal dentro do estado e potencial para ingressar no mercado

exportador.

As perspectivas são de melhoria, entretanto os empreendimentos ainda dependem de apoio externo

e o escoamento da produção é um gargalo quanto mais ao Noroeste do Mato Grosso.

Ainda há comercialização informal e competição pela coleta de castanha, por parte de coletores com

baixo ou nenhum grau de organização, o que pode representar uma oportunidade, por exemplo para

COMIGUA que tem interesse em promover processos de mobilização e organização desses coletores

individuais. Os melhores vínculos comerciais foram identificados em COOPAVAM e AMCA que sem

dúvida são a experiência modelo entre as entidades entrevistadas.

A região noroeste é um território estratégico para a produção de não madeireiros de forma geral,

mais especialmente para a produção de castanha-do-brasil, considerando que ainda há florestas em

pé e castanheiras remanescentes em pastos, o que pode representar uma oportunidade na

implantação de sistemas agrossilvipastoris.

Na cadeia produtiva do látex, apesar do período sem registro de produção, o recente e crescente

aumento na produção de borracha natural da RESEX Guariba Roosevelt é uma oportunidade que

deve ser incentivada, no sentido de retomar a atividade que é realizada há décadas pelas populações

extrativistas de lá, entretanto, o grau de beneficiamento e, consequentemente de agregação de valor

ainda é muito baixo.

A subvenção extrativista do governo federal da borracha natural é importantíssima e garante a

viabilidade do negócio na RESEX e seria ainda mais incentivada com a criação da subvenção estadual

e municipal, como acontece no Amazonas e no Acre.

A cadeia da borracha natural conta ainda com o apelo socioambiental por se tratar de extrativismo

feito por comunidade tradicional, na única RESEX do Mato Grosso, com boas práticas de manejo feito

há décadas, o que pode representar um diferencial importante dependendo do mercado que se

pretende acessar e/ou parcerias que podem ser criadas, como por exemplo, empresas

automobilísticas, lojas de artesanato, etc.

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Deve-se compreender o real potencial do extrativismo do látex nativo na RESEX Guariba Roosevelt,

por exemplo, ao comparar com o látex cultivado. Há desvantagem no mínimo no sentido de que as

distâncias percorridas pelo extrativista e a estrutura disponível para extrair o látex são mais

dispendiosas. Nesse sentido, há seringais para explorar em outras áreas? Quais os mercados

interessados na produção? É possível inovar com novos produtos para além da borracha natural?

Agregar valor à produção na própria RESEX pode representar o grande diferencial para o extrativismo

de borracha natural, por exemplo com capacitações e incentivo para a produção de FDL, FSA e Couro

ecológico, busca de novos mercados e parcerias, instalação de fábricas, etc.

Na cadeia produtiva do babaçu, a produção recente surpreende pelo potencial de desenvolvimento,

especialmente considerando a disponibilidade do recurso natural, a possibilidade de inserção nos

mercados institucionais do PAA e PNAE e de desenvolvimento de produtos voltados para a nutrição

animal. Há um baixo nível tecnológico de produção, porém sem concorrência e com potencial de

melhorar, considerando os projetos de apoio para produção de óleo de amêndoa e mesocarpo de

babaçu.

A subvenção extrativista também pode, de imediato, melhorar em muito o preço pago pelas

amêndoas usadas para a produção de óleo, por exemplo, conseguindo capital de giro para as

organizações comunitárias, estas podem pagar adiantado pelas amêndoas de seus associados, emitir

nota fiscal e com isso, acessar a subvenção da CONAB para a amêndoa. Nesse sentido, a produção de

óleo seria das associações e não das produtoras. Também pode representar um diferencial, a

articulação com o governo federal e estadual para criar a subvenção extrativista para o mesocarpo.

No que se refere especialmente à ração animal, seria importante apoiar as pesquisas para o

desenvolvimento desses novos produtos, por exemplo em parceria com a Universidade e as

organizações que já estão trabalhando empiricamente com este produto. Por exemplo, apoiando a

realização de pesquisas sobre o uso empírico do babaçu, praticado pelos agricultores familiares do

PA Nova Cotriguaçu, na alimentação da criação.

A maior surpresa desta pesquisa talvez seja a cadeia produtiva da copaíba, com produção de óleo

resina com alto valor agregado com beneficiamento mínimo. Entretanto, trata-se de um mercado

esporádico e sensível às condições naturais de disponibilidade do recurso.

De forma geral, havendo mercado, haverá produção para todas as cadeias produtivas. Mas é

importante ter clareza e se preparar para o tipo de mercado que se pretende acessar, bem como

suas exigências.

Entre os empreendimentos, o que mais chamou atenção foi a importância das mulheres na produção

e a necessidade de apoio externo (recursos de projetos a fundo perdido) para garantir a manutenção

e viabilidade. Por exemplo, projetos aprovados para apoio à produção, oportunidade de novos

editais de apoio a novos projetos e/ou continuação dos projetos existentes, acesso ao mercado

institucional e subvenção extrativista do governo federal.

A necessidade de recursos externos demonstra uma séria fragilidade, pois, a princípio, os

empreendimentos necessitam deste apoio para manter suas atividades e sem esse apoio não

poderiam garantir a sustentabilidade do próprio negócio.

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Entre os gargalos, talvez o mais sério seja a condição das estradas locais, o que influencia

diretamente no custo dos insumos e do escoamento da produção em todas as cadeias produtivas.

É preciso aprofundar os estudos com relação aos custos e valor agregado em cada etapa das cadeias

produtivas, a partir de metodologias específicas que condensem a representação de vários elos

dessas cadeias, de forma participativa. Sugere-se a metodologia Value Links completa, para o

mapeamento e análise das cadeias produtivas.

Tomando como exemplo a estratégia nacional de fortalecimento das cadeias de produtos da

sociobiodiversidade, pode ser um diferencial importante, incentivar a animação das cadeias

produtivas do noroeste, por exemplo com a organização de eventos e reuniões para colocar os

atores em contato e juntos articular estratégias para o desenvolvimento das cadeias produtivas

locais.

Nesse sentido há no Mato Grosso uma proposta de reativação de sua Câmara Técnica do Produtos

Extrativistas da Sociobiodiversidade, vinculada à Secretaria de Estado do Meio Ambiente (SEMA) e à

Secretaria de Estado da Agricultura Familiar e Regularização Fundiária (SEAF), criada em 2009

(Resolução do Conselho de Desenvolvimento Agrícola – CDA/MT nº 20/2009), mas parada desde

2012. Tal estratégia pode realmente fazer a diferença na reativação da agenda estadual da

sociobiodiversidade, mas isso depende de apoio político e recursos do orçamento do estado para sua

efetiva continuidade.

Segundo Rejane Gusmão (SEAF/MT) e Elton Silveira (SEMA/MT), “a expectativa é de retomar a

Câmara Técnica ainda em 2015, desvinculando-a, do CDA/MT para o Conselho Estadual de

Desenvolvimento Rural Sustentável – CEDRS/MT, com gestão compartilhada entre SEMA/MT e

SEAF/MT. Há também recursos nessas duas Secretarias de Estado para apoio a intercâmbios,

encontros, reuniões, etc., e expectativa de recursos no próximo PPA, para operacionalização e apoio

à Câmara Técnica” (ICV, 2015).

A ONF e os parceiros da região Noroeste podem incentivar esses encontros, por exemplo na própria

Fazenda São Nicolau, que pode ser um centro dispersor de tecnologias e articulações com

investidores e fomentadores, feiras, cursos de boas práticas de manejo e produção, produção com

enfoque de gênero, etc., sempre incentivando o entorno com negócios colaborativos específicos por

cadeia produtiva.

Por fim, deve-se compreender que há um senso de competição entre os empreendimentos e, por

isso, a importância de incentivar um ambiente colaborativo: cada empreendimento com sua

estratégia, porém todos juntos pela valorização dos PFNM do noroeste do Mato Grosso.

Síntese de recomendações para a Cadeia Produtiva da Castanha-do-brasil

Replicar as experiências de sucesso na agregação de valor aos derivados de castanha;

Identificar e fortalecer os Arranjos Produtivos Locais em toda a área de ocorrência de

negócios associados à castanha;

Mapear novas áreas produtivas;

Capital de giro próprio;

Organizar coletores em associações de produtores;

Dar visibilidade ao trabalho feito pelas mulheres;

Realizar estudos de custo de produção e valor agregado.

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Síntese de recomendações para a Cadeia Produtiva da Borracha natural (látex coagulado)

Mapear novas áreas produtivas;

Buscar novos mercados;

Realizar estudos de custo de produção e valor agregado

Capital de giro próprio;

Dar visibilidade à produção e cultura extrativista da RESEX Guariba Rosevelt;

Agregar valor à produção;

Realizar estudos de custo de produção e valor agregado.

Síntese de recomendações para a Cadeia Produtiva do Babaçu

Incentivar o uso integral do coco babaçu;

Agregar valor à produção;

Organizar os produtores para receber a subvenção extrativista (PGPM-Bio);

Organizar as organizações produtoras para acessar os mercados institucionais (PAA e PNAE);

Articular com a CONAB a criação da subvenção extrativista para a farinha de mesocarpo de

babaçu;

Realizar estudos de custo de produção e valor agregado;

Capital de giro próprio;

Incentivar pesquisas de novos produtos para nutrição animal derivados de babaçu;

Dar visibilidade ao trabalho feito pelas mulheres.

Síntese de recomendações para a Cadeia Produtiva do óleo resina de Copaíba

Mapeamento das áreas produtivas;

Estudos de capacidade de produção e sustentabilidade;

Buscar novos mercados;

Capital de giro próprio.

Recomendações para a ONF Brasil e outras entidades de apoio na região

Divulgar os resultados desta pesquisa junto às entidades modelo participantes;

Divulgar a experiência da Fazenda São Nicolau para dar visibilidade à importância dos PFNM

enquanto oportunidade para o desenvolvimento local na integração com lavouras e pecuária

com sistemas agroflorestais, agrosilvipastoris e manejo sustentável;

Articular com o Governo Estadual, para:

o Retomada definitiva da Câmara Técnica da Sociobiodiversidade;

o Criação de novos espaços de diálogo (feiras, rodadas de negócios, visitas técnicas aos

emprendimentos, intermâmbios, reuniões estratégicas, etc.) entre os elos das várias

cadeias produtivas e arranjos produtivos de PFNM;

o Criação de subvenção extrativista estadual para os PFNM;

o Recursos para apoio a projetos de desenvovimento socioprodutivo dos

empreendimentos de PFNM;

o Alternativas para simplificar o registro do manejo de PFNM;

o Alternativas para a legalização da coleta de PFNM e áreas privadas, sem prejuízo para os

proprietários no que se refere às questões trabalhistas;

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Apoiar a participação de empreendimentos modelo em feiras internacionais, como por exemplo

a Biofach;

Apoiar a realização de pesquisas para:

o Identificar o potencial do PFNM em áreas ainda não manejadas, com Inventários

florestais, estimativa de produção e modelagem de cenários para o manejo e o mercado;

o Compreender as diferenças entre os PFNM cultivado e extrativista;

o Identificar os canais de comercialização da castanha que entra e sai do MT;

o Detalhar os motivos e buscar alternativas viáveis para a baixa capacidade produtiva

utilizada, conforme os perfis de empreendimentos;

o Identificar os custos reais de produção e de valor agregado aos PFNM, por localidade e

empreendimento, por exemplo com a metodologia Value Links completa;

o Rastreabilidade da produção, do produto primário ao consumidor final;

o Identificação de novos mercados;

o Desenvolvimento de novos produtos derivados de PFNM;

Articular parcerias com empresas produtoras de derivados de látex, para possíveis parcerias que

incentivem e valorizem o extrativism da RESEX Guariba Roosevelt;

Promover capacitações para agregação de valor aos PFNM, por exemplo, produtos alimentícios

com castanha-do-brasil e mesocarpo de babaçu, couro ecológico, etc.;

Articular com as lideranças da RESEX Guariba Roosevelt, uma estratégia de valorização do seu

território;

Articular com o ICV para apoiar o APL de babaçu do PA Nova Cotriguaçu, com capacitações, apoio

técnico, divulgação, mapeamento dos babaçuais, inserção de derivados de babaçu nos mercados

institucionais públicos, etc.;

Articular apoio e apoiar projetos de fomento da produção de PFNM, gestão dos

empreendimentos, comunicação, Assessoria Técnica, incentivo à liderança das mulheres na

produção.

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Anexos

Anexo 1: Artigos 122, 123 e 124 do Decreto nº 2.212/2014 (regulamento do ICMS); Anexo 2: Extrevista com GMP Santa Clara; Anexo 3: Entrevista com GMU Ouro Verde; Anexo 4: Entrevista com COMIGUA; Anexo 5: Entrevista com COOPERCOTRI; Anexo 6: Entrevista com AMCA; Anexo 7: Entrevista com AMORARR; Anexo 8: Entrevista com AMARR; Anexo 9: Entrevista com COOPAVAM; Anex 10: FOFA