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Universidade Federal Fluminense Polo Universitário de Volta Redonda Instituto de Ciências Humanas e Sociais de Volta Redonda UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS CURSO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS JOÃO GABRIEL BOMFIM MALHEIROS ANÁLISE DOS IMPACTOS DA CONVERGÊNCIA DAS NORMAS INTERNACIONAIS DE CONTABILIDADE NA SUAVIZAÇÃO DE RESULTADOS DAS EMPRESAS BRASILEIRAS DO SETOR DE SIDERURGIA Volta Redonda/RJ 2018

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Universidade Federal Fluminense Polo Universitário de Volta Redonda

Instituto de Ciências Humanas e Sociais de Volta Redonda

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

CURSO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS

JOÃO GABRIEL BOMFIM MALHEIROS

ANÁLISE DOS IMPACTOS DA CONVERGÊNCIA DAS NORMAS

INTERNACIONAIS DE CONTABILIDADE NA SUAVIZAÇÃO DE

RESULTADOS DAS EMPRESAS BRASILEIRAS DO SETOR DE

SIDERURGIA

Volta Redonda/RJ

2018

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JOÃO GABRIEL BOMFIM MALHEIROS

ANÁLISE DOS IMPACTOS DA CONVERGÊNCIA DAS NORMAS

INTERNACIONAIS DE CONTABILIDADE NA SUAVIZAÇÃO DE

RESUTLADOS DAS EMPRESAS BRASILEIRAS DO SETOR DE

SIDERURGIA

Trabalho de Conclusão do Curso

apresentada ao Curso de Graduação em

Ciências Contábeis do Instituto de Ciências

Humanas e Sociais da Universidade

Federal Fluminense, como requisito parcial

para obtenção do grau de Bacharel em

Ciências Contábeis.

Orientador: Profª. Mariana Bonfim

Volta Redonda/RJ

2018

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AGRADECIMENTOS

A trilha foi grande até ter a oportunidade e o privilégio de chegar aqui. Por mais que

possam dizer que foi, eu discordo: não foi fácil. Optar por fazer um Ensino Superior, ainda mais

uma ciência tão ampla como essa, é sempre uma decisão difícil e até certo ponto arriscada, mas

também regada de alegria, empenho, realização e evolução.

No caminho até a Universidade, tive ao meu lado pessoas pelas quais tenho enorme

carinho e, como retribuição, nada mais justo que agradecê-las nesse trabalho. Primeiramente,

quero agradecer a Deus pelas oportunidades que me proporcionou, pela mão amiga que esteve

sempre nos momentos mais obscuros e, principalmente, pela luz que iluminou meus passos.

Não menos importante, quero agradecer a minha família por todo o apoio, amor, respeito e

compreensão que tenho recebido sempre: Ao meu pai, que me orientou a seguir a profissão que

exercerei pelo resto da vida; à minha mãe, que com tanto amor, compreensão e dedicação não

me deixou faltar nada; e a minha irmã, que além de espelho, foi, e sempre será, minha melhor

amiga.

Não menos importante, quero agradecer aos mentores: mestres, doutores, tutores e

orientadores – mais conhecidos como professores – que me nortearam rumo ao conhecimento,

ensinaram, pacientemente, o caminho das pedras e compartilharam todo o conhecimento que

detinham a quem somente tinha um caderno e curiosidade. Espero poder retribuir tudo isso,

tendo a oportunidade, algum dia, de lecionar na mesma Universidade que me ensinou. Também

quero agradecer as amizades, as quais já agreguei à minha vida, que fiz durante a minha estadia

em Volta Redonda. Aos meus amigos de curso e, agora, de profissão, que tenho total apreço,

respeito e carinho pela pessoa que são e pelo profissional que vão se tornar, enchendo de

orgulho a classe contábil e, também, a mim. Não posso, aliás, deixar de fora os amigos do curso

de Administração que, apesar da grade curricular ter nos separado, ainda encontro nas salas,

nos estudos, corredores, projetos e festas.

Ainda nas amizades, considerada por mim, entretanto, uma segunda família, estão

aqueles que me acolheram em Volta Redonda desde o primeiro dia. Meus primeiros amigos na

nova terra, irmãos de coração e guias da vida independente: a República IBIZA. Não obstante,

devo agradecer a uma outra família, essa responsável pelo meu primeiro contato com uma

empresa, pelo meu desenvolvimento pessoal e de momentos marcantes, que além de tudo

possibilitou que eu aplicasse meus conhecimentos e minha criatividade, errando e aprendendo:

a Pulso Consultoria.

A todos vocês, igualmente responsáveis por essa conquista, dedico o fruto do meu

trabalho e dedicação.

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RESUMO

Com a convergência às normas internacionais de contabilidade (IFRS), a ciência contábil

começa a tomar novos contornos e desenhar novos caminhos, afetando o ensino, a ciência, a

pesquisa e, também, as empresas. A adoção de princípios como base para as práticas contábeis,

diferentemente da baseada em regras, utilizada antigamente, traz uma nova forma de se fazer a

contabilidade das empresas, mudando a mensuração de riqueza e trazendo informações

financeiras com maior qualidade e confiabilidade. Sendo assim, o objetivo da pesquisa foi o de

analisar o impacto que a convergência às IFRS trouxe para o gerenciamento de resultados, uma

prática oportunista dos gestores de manipular o lucro das empresas, mais em específico, a

modalidade suavização de resultados. A pesquisa teve como amostra as empresas brasileiras do

setor de siderurgia listadas na B3, nos anos de 2004 a 2017, resultando em 44 observações. Para

se alcançar os resultados, foi utilizado o modelo presente nos trabalhos de Barth, Landsman e

Lang (2008), Silva et al. (2017) e Bonfim et al. (2016), no qual ficou evidenciado que as

empresas do setor de siderurgia tiveram uma diminuição dos níveis de suavização dos

resultados após a convergência às normas internacionais de contabilidade.

Palavras-chave: IFRS; Convergência; Siderurgia; Gerenciamento de Resultados; Suavização

de Resultados.

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1. INTRODUÇÃO

Sendo a Contabilidade, objetivamente, um sistema de informação e avaliação destinada

a prover aos seus usuários demonstrações e análises de natureza econômica e financeira, física

e de produtividade, com relação à entidade objeto de contabilização (ERNST & YOUNG,

2010), é inquestionável a sua relevância em processos decisórios nas empresas, seja envolvendo

onde investir, quanto produzir ou quando começar um projeto. Existe uma demanda global

dessas informações, porém cada país vive uma realidade econômica, jurídica e política diferente

dos outros e isso pode prejudicar a qualidade da informação contábil que chega até aos usuários.

Então, para preservar a qualidade dessas informações, há uma tentativa por parte do

International Accounting Standards Board (IASB) em realizar a convergência das normas

contábeis de diferentes países para as normas internacionais, de forma que se preserve a

qualidade das informações contábeis das empresas, criando, assim, as Normas Internacionais

de Contabilidade (IAS ou IFRS).

O processo de convergência das demonstrações contábeis começa a tomar os seus

contornos antes mesmo da aprovação da Lei nº 11.638/07. Antes denominada de Lei nº

3.741/00, a lei que altera, cria e revoga alguns artigos da Lei das Sociedades por Ações somente

foi aprovada 7 anos depois de entregue à Câmara dos Deputados (ERNST & YOUNG, 2010).

Entre esse tempo, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) editou, por meio de resoluções,

pronunciamentos contábeis substancialmente alinhados com as normas internacionais de

Contabilidade, como a Deliberação 488/05 e 489/05 (ERNST & YOUNG, 2010). Além disso,

um marco muito importante foi a criação do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC).

O CPC é um órgão independente criado a partir da Resolução do CFC nº1.055/05 que

tem como objetivo (CFC, 2005, p.70): o estudo, o preparo e a emissão de Pronunciamentos Técnicos sobre procedimentos

de Contabilidade e a divulgação de informações dessa natureza, para permitir a

emissão de normas pela entidade reguladora brasileira, visando à centralização e

uniformização do seu processo de produção, levando sempre em conta a convergência

da Contabilidade Brasileira aos padrões internacionais.

Em associação com outras instituições, entre elas a ABRASCA, B3 (antiga

BM&BOVESPA, a bolsa de valores do Brasil, onde são feitas compras e vendas de ações no

mercado) e o FIPECAFI, o CPC tem atribuição para “estudar, pesquisar, discutir, elaborar e

deliberar sobre o conteúdo e a redação de Pronunciamentos Técnicos, podendo também emitir

Orientações e Interpretações” (CFC, 2005, p.70).

A necessidade de criar o CPC se dá devido a um contexto de importantes mudanças em

todo o mundo com relação a Ciência Contábil. A facilidade com que as informações percorrem

afetou, por consequência, o mundo dos negócios e, devido a isso, trouxe uma integração maior

entre os mercados espalhados pelos países. Todos esses acontecimentos aumentaram a demanda

por informações confiáveis e, assim como diz a Resolução do CFC 1.055/05, “a confiabilidade

nas Demonstrações Contábeis por toda a sociedade interessada torna-se maior quando uma

entidade for responsável pelo preparo e pela emissão e divulgação das regras que as regem”.

Dessa forma, foi instituído o CPC no Brasil, seguindo também a tendência de muitos países

desenvolvidos e em desenvolvimento pela convergência. (CFC, 2005, p.70).

A aplicação às Normas Internacionais de Contabilidade não se dá somente pelas

mudanças ocorridas no mundo dos negócios, mas também por questões obrigatórias por lei.

Devido a mudança da Lei nº 6.404/76, as empresas de sociedade anônima atuantes no Brasil se

depararam com a obrigação de seguir novas práticas contábeis, como por exemplo, a obrigação

de empresas de capital aberto a elaborarem a Demonstração de Valor Adicionado (DVA) e a

substituição da Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos (DOAR) pela

Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC). Porém, segundo a Resolução nº1.055/05, do CFC,

a convergência internacional às IFRS traz como consequência: a redução de riscos nos

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investimentos internacionais, a maior facilidade de comunicação internacional no mundo dos

negócios com o uso de uma linguagem contábil bem mais homogênea e a redução do custo do

capital que deriva dessa convergência.

Portanto, pode-se perceber que a criação do CPC foi importante devido a necessidade,

dentre tantas outras, de alinhar as Normas Brasileiras de Contabilidade com as Normas

Internacionais, definindo um padrão a ser seguido por todas as sociedades interessadas, não só

em reduzir seus custos ou executar suas atividades de forma transparente, mas também de

conseguir investimentos e capital internacionais.

Com o advento de uma nova realidade introduzida pela convergência às IFRS, as

empresas brasileiras se depararam com uma nova forma de fazer a contabilidade. O que antes

era feito por procedimentos rígidos, passou a ser regido por princípios gerais (BRUNI et al,

2014) que, segundo Barth, Landsman e Lang (2008), proporcionaria a redução da prática de

gerenciamento de resultados – sendo este o conjunto que engloba, entre outras práticas, a

suavização de resultados – por diminuir a assimetria das informações e o conflito de interesses

entre os agentes que produzem as informações e os que a utilizam. Assim sendo, a utilização

das normas do IASB possuem certo grau de subjetividade (IUDÍCIBUS; LISBOA, 2007) e,

portanto, confere aos administradores um poder discricionário com relação às informações.

Esse poder pode permitir que o gestor de uma empresa possa atuar conforme os interesses da

empresa e, até mesmo, o seu próprio, podendo manipular os resultados e o valor da empresa,

mesmo que temporariamente (BONFIM et al, 2016).

Diante dessa temática, surge o seguinte problema de pesquisa: Qual foi o impacto na

prática de suavização de resultados, das empresas brasileiras de capital aberto de

Siderurgia, proveniente da convergência às normas internacionais de contabilidade? O

objetivo desta pesquisa é analisar o impacto que a convergência às normas internacionais de

contabilidade – IFRS – causou na prática de suavização de resultados das empresas brasileiras

de capital aberto, que atuam no setor de Siderurgia.

O setor de Siderurgia foi escolhido para essa pesquisa devido não só a sua contribuição

histórica, mas também a sua atual importância na economia do Brasil. Conforme dados da

empresa de consultoria PwC (2013), o Brasil ocupa a posição de maior produtor de aço na

América Latina e o seu parque produtor se encontra instalado em dez estados, entre eles os da

região Sudeste, que produz 94% do aço utilizado no país. Segundo dados do Instituto Aço Brasil

(2015), o país ocupava a posição de 8º produtor mundial de aço em 2015 e, no mesmo ano,

pagou de impostos cerca de R$13,3 bilhões.

Essa pesquisa está dividida nas seguintes seções: inicialmente a introdução na qual está

descrito o objetivo da pesquisa e sua justificativa; em seguida o referencial com toda a base

teórica sobre a convergência às IFRS e a suavização de resultados. Na terceira seção são

apresentados os métodos que foram utilizados para a confecção da pesquisa; posteriormente

são apresentadas as análises dos dados e, por fim, as considerações finais.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

Nessa seção serão abordados os temas sobre a convergência às normas internacionais

de contabilidade no Brasil e a respeito da Teoria da Agência e Gerenciamento de Resultados.

2.1 Convergência à IFRS

O início do processo de convergência foi em 1973, com a fundação do IASC

(International Accounting Standards Committee), órgão que, anos mais tarde, se transformou

no IASB. O IASB tem o compromisso de “desenvolver, no interesse público, um conjunto único

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de normas contábeis globais de alta qualidade, que exige informações transparentes e

comparativas nas demonstrações financeiras de uso comum” (ERNST & YOUNG, 2010). Em

2001, foi decidido na Comissão Europeia que seriam adotadas as normas internacionais de

contabilidade nessa região.

Com a adoção das IFRS em vários países, houve esforços da sociedade brasileira em

atualizar a Lei das Sociedades por Ações com o intuito de torná-la mais próxima possível da

realidade brasileira e global, aproximando-a com a IFRS. Assim, em 2007, foi aprovada a Lei

nº 11.638, sendo aplicada aos exercícios que se iniciaram em 1º de janeiro de 2008.

As demonstrações contábeis são preparadas e apresentadas para usuários externos por

diversas entidades ao redor do mundo (ERNST & YOUNG, 2010). Sendo assim, nota-se a

importância de se estabelecer um padrão na elaboração das demonstrações e buscar uma

harmonia para que a informação seja cada vez mais fiel e precisa.

A convergência às normas internacionais traz muitos desafios. Por exemplo, as

empresas brasileiras que captam capital externo ou operam no exterior e que devem fazer várias

demonstrações financeiras para obedecer aos princípios contábeis locais, o que pode ser difícil

e oneroso, quando se tem padrões contábeis diferentes em cada país (DELLOITE, 2008). A

convergência diminui a complexidade de se elaborar essas demonstrações, além de dar mais

transparência as informações, já que onde quer que a empresa esteja, a forma com que as

informações forem processadas, será da mesma forma. Estando cientes desse e outros

benefícios, as empresas em todo o mudo vêm adotando a utilização das IFRS em suas

demonstrações financeiras.

O que também pode ser evidenciado e, também, reforçando a necessidade da

convergência às normas internacionais, é a forma como a economia mundial está cada vez mais

interdependente. A crise econômica mundial de 2009 tornou isso evidente, mostrando a

necessidade de uma linguagem contábil única e que permita a comparação das demonstrações

financeiras em diferentes mercados (ERNST & YOUNG, 2010). Porém, seus desafios

continuarão acompanhando as mudanças do mundo. Por ser fundamentado em princípios e não

em regras, o IFRS apresenta desafios significativos ao promover uma mudança conceitual na

forma de aplicar e interpretar conceitos e transações, o que exigirá dos investidores, acionistas,

bancos, auditores, acadêmicos e demais usuários das demonstrações contábeis um esforço

adicional na compreensão das normas (ERNST & YOUNG, 2010).

2.2 Gerenciamento de Resultado

O Gerenciamento de Resultado tem forte ligação com a chamada Teoria da Agência. A

primeira menção a teoria, presente na pesquisa de Klann e Beuren (2011), foi proposta por

Spence e Zeckhauser (1971) e Ross (1973), onde foram analisados a remuneração dos gestores

e o alinhamento de seus interesses com os dos acionistas e proprietários das empresas. Foi

proposto no trabalho de Jensen e Meckling (1976) uma relação de conflito entre o agente,

representada pelos gestores, e o principal, representada pelos acionistas, causadas por decisões

que podem maximizar a riqueza de um lado ou então aperfeiçoá-la de outro. Porém, a

informação não é igualmente distribuída entre os agentes, o que faz com que aquele que detém

a maior parte delas pode tomar decisões que vão de encontro aos seus interesses, e não aos da

empresa, o que ocasiona em um problema de agência (JOIA; NAKAO, 2014). Ainda segundo

Joia e Nakao (2014), quanto menor a assimetria das informações, menores são os custos da

empresa, pois caso haja atitudes que possibilitem ações que maximizem o valor do agente, são

necessárias ações que monitorem as atividades do mesmo.

Uma das formas pelo qual o agente pode agir em benefício próprio é utilizando o

gerenciamento de resultados (BRUNI et al., 2014). Também chamada de earnings

management, o gerenciamento de resultados é definido por Schipper (1989) como uma

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intervenção proposital no processo de evidenciação externa, com intenções particulares de

promover ganhos ou vantagens para si. Isso ocorre devido ao incentivo que os gestores possuem

para cumprir metas, e assim, ganhar bonificações, utilizando-se de escolhas contábeis para

alcançar seus objetivos particulares (HEALY, 1985). Uma das causas, apontadas por Joia e

Nakao (2014) é a tentativa de evitar a divulgação de perdas ou então minimizar a volatilidade

dos resultados. Empresas menos voláteis proporcionam maior segurança aos investidores,

facilitando a projeção dos lucros e melhorando a relação risco-retorno, o que valoriza a empresa

diante do mercado (JOIA; NAKAO, 2014).

Klann e Beuren (2011) ressaltam a importância de se distinguir o significado de escolhas

fraudulentas das agressivas, descritas por Dechow e Skinner (2000), os quais defendem que o

resultado contábil deve ser resultante de uma operação neutra do processo, sem intervenções

externas advindas de desejo dos gestores. Ainda segundo Klann e Beurn (2011), o

gerenciamento de resultado não deve ser visto como um problema de agência, mas sim como a

consequência de problemas como a assimetria de informações, risco moral e seleção adversa.

Ainda sobre o Gerenciamento de Resultados, Paulo (2007) cita como exemplo de

gerenciamento de resultado, a suavização de resultados (income smoothing), contabilização

conservadora para redução de lucros e maquiagem para mascarar demonstrações contábeis.

2.3 Pesquisas anteriores sobre o tema

Muitas pesquisas demonstraram posicionamentos diversos com relação ao impacto da

convergência às Normas Internacionais de Contabilidade no gerenciamento de resultado das

empresas. No trabalho de Silva et al. (2017), que teve como objetivo verificar a influência do

procedimento de convergências às IFRS no nível de gerenciamento de resultado das empresas

brasileiras do subsetor de energia elétrica, listadas na B3. Foi constatado que houve uma

redução na prática de gerenciamento de resultado das empresas após a adoção das normas do

IASB, o que contribui para uma melhor qualidade das informações contábeis.

No estudo elaborado por Bruni, Lima e Filho (2014), o objetivo foi verificar em que

medida a adoção às IFRS afetou o gerenciamento de resultado por meio de decisões

operacionais das empresas do setor de materiais básicos. O resultado encontrado foi que a

convergência não impactou de maneira significativa o gerenciamento e também não foi

verificado uma melhoria na qualidade da informação contábil ou econômica devido ao uso das

normas internacionais do IASB. A pesquisa elaborada por Bonfim et al. (2016) teve como

objetivo verificar se, com a evolução da adoção das normas internacionais, no período pós-

IFRS, provocou uma redução no nível de suavização de resultados – uma modalidade do

gerenciamento de resultados – nas seguradoras brasileiras. O resultado encontrado foi que a

adoção às IFRS causou uma diminuição no nível de suavização de resultados, indo de encontro

com os achados da pesquisa de Barth, Landsman e Lang (2008).

Porém, outras pesquisas apontam para outro sentido: no trabalho de Klann e Beuren

(2011), o objetivo foi verificar a influência do processo de convergência às normas do IASB no

gerenciamento de resultado das empresas brasileiras e inglesas. Como resultado, foi constatado

uma redução nos níveis de gerenciamento de resultado das empresas inglesas, ao contrário das

brasileiras, que apresentaram um aumento. O estudo de Elbannan (2011) indicou que houve um

aumento no gerenciamento de resultados provenientes da subjetividade proporcionada pela

adoção às IFRS.

Os motivos para resultados discrepantes entre as pesquisas são vários: Klann e Beuren

(2011) ressaltam que diversas características dentro do país podem afetar a forma como as

normas internacionais de Contabilidade impactam o gerenciamento de resultados, como por

exemplo: mecanismos de proteção ao investidor (RENDERS; GAEREMYNCK, 2007), sistema

legal baseado no regime de code-law ou common-law (LEUZ; NANDA; WYSOCKI, 2003),

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normas contábeis locais (VAN TENDELOO; VANSTRALEN, 2005), condições de acesso ao

mercado de capitais (JEANJEAN; STOLOWY, 2008), sistema de obrigatoriedade efetivo para

a adoção às IFRS e maior regulamentação da gestão corporativa (CHEN et al., 2010).

No trabalho realizado por JeanJean e Stolowy (2008), foi verificado que as empresas

utilizadas como amostra e localizadas na Austrália e Reino Unido, ambas adeptas a um modelo

de common-law – sistema legal baseada em usos e costumes, onde a jurisprudência prevalece

acima da letra de lei- apresentaram uma diminuição no gerenciamento de resultados, porém,

neste mesmo trabalho, foi constatado que as empresas localizadas na França – país code-law,

sendo este um sistema legal de visão legalista, ou seja, onde tudo deve estar previsto em lei – e

utilizadas como amostra para a pesquisa, mostraram um aumento no gerenciamento de

resultados. Portanto, devido as características do Brasil, um país de regime code-law e com

características culturais distintas dos países observados na pesquisa anterior, é esperado que a

adoção as normas internacionais de Contabilidade apontem para uma diminuição no

gerenciamento de resultados das empresas, indo de encontro aos achados, nas pesquisas de

Bonfim, et al. (2016) e de Silva et al. (2017).

Diversos resultados foram encontrados nas pesquisas anteriormente citadas, assim como

apontadas diversas causas das suas divergências. Nos trabalhos de Silva et al. (2017), foram

analisadas as empresas, listadas na B3, que forneciam serviços de energia elétrica; no trabalho

de Klann e Beuren (2011), as amostras envolveram empresas localizadas no Brasil e Reino

Unido; na pesquisa de Bonfim et al. (2016), as seguradoras brasileiras compuseram a amostra

do trabalho; por fim, no artigo de Bruni et al. (2014), o alvo a ser analisado foram as empresas

do setor de materiais básicos. Seguindo o sugerido para pesquisas futuras presentes nesses

trabalhos ora mencionados, essa pesquisa visa verificar se houve aumento ou diminuição no

nível de gerenciamento de resultados – mais especificamente na suavização de resultados – das

empresas atuantes exclusivamente no setor de siderurgia. Além disso, a pesquisa trabalhará com

análises em intervalos de tempo maiores, indo de 2004 até 2017, excluindo os anos de 2008 e

2009.

3. METODOLOGIA

Nessa seção, será abordada a metodologia com que este trabalho foi realizado. Segundo

Gil (2002), as pesquisas podem ser classificadas em 3 grandes grupos: descritivas, exploratórias

e explicativas. A pesquisa descritiva tem como objetivo a descrição primordial de

características de determinada população ou fenômeno, bem como o estabelecimento de

relações entre variáveis e fatos (GIL, 2002). Sendo assim, esta pesquisa pode ser classificada

como descritiva, pois busca-se com ela analisar qual é o impacto da convergência às normas

internacionais de contabilidade nas empresas do setor de siderurgia.

Neste trabalho, foi feita uma pesquisa documental das empresas escolhidas como

amostra, obtendo acesso ao balanço patrimonial e outros demonstrativos financeiros. A

pesquisa documental recorre a fontes mais diversificadas e dispersas, sem tratamento analítico,

tais como: tabelas estatísticas, jornais, revistas, relatórios, documentos oficiais, cartas, filmes,

fotografias, pinturas, tapeçarias, relatórios de empresas, vídeos de programas de televisão, etc.

(FONSECA, 2002).

Quanto à abordagem da pesquisa, pode-se dizer que ela é quantitativa, pois utiliza-se de

cálculos matemáticos para se obter dados quantificados e objetivos que demonstrem qual é a

realidade financeira da empresa. A pesquisa quantitativa se centra na objetividade, considera

que a realidade só pode ser compreendida com base na análise de dados brutos e recorre a

linguagem matemática para descrever as causas de um fenômeno e as relações entre variáveis

(FONSECA, 2002).

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3.1 Amostra da pesquisa

Para compor a amostra da pesquisa, foram selecionadas diversas empresas de capital

aberto que negociam as suas ações na Bolsa de Mercadorias e Futuros de São Paulo – B3 – e

que possuem como atividade o setor de siderurgia. Selecionadas as empresas, foram obtidas as

demonstrações contábeis dos anos de 2004 a 2017; foram excluídos os anos de 2008 e 2009

devido a proximidade com a convergência no Brasil, sendo alcançada a sua totalidade somente

em 2010. Logo, as empresas selecionadas para a pesquisa estão listadas no quadro abaixo:

Tabela 1 – Empresas selecionadas para análise

Empresa Denominação adotada no estudo

Companhia Siderúrgica Nacional - CSN S/A CSN

USIMINAS S/A USIMINAS

Gerdau S/A GERDAU

FERBASA S/A FERBASA

Fonte: elaborada pelos autores.

3.2 Modelo de pesquisa

Para a análise dos resultados da pesquisa, foram utilizadas as pesquisas de Barth,

Landsman e Lang (2008), Chen et al. (2010) e Bonfim et al. (2016), as quais tiveram como

resultado uma maior qualidade na informação com a convergência às IFRS, reduzindo o

gerenciamento de resultado. Sendo assim, a hipótese a ser verificada é a seguinte:

H1: A convergência às normas internacionais de contabilidade trouxe uma diminuição na

prática de suavização de resultados nas empresas do setor de siderurgia.

Portanto, espera-se que a suavização de resultados tenha diminuído após a convergência

às normas do IASB, com a análise das demonstrações financeiras das empresas nos períodos

pré e pós a convergência, de 2004 a 2017, desconsiderando os anos de 2008 e 2009, devido ao

fato de ser um período onde as empresas ainda estavam se adaptando as novas normas

internacionais.

Para testar essa hipótese H1, foi utilizado o modelo presente nos trabalhos de Barth,

Landsman e Lang (2008), Chen et al. (2010) Klann e Beuren (2011), Silva et al. (2017) e

Bonfim et al. (2016). A variação dos lucros é essencial para verificar se a prática da suavização

de resultados sofreu queda ou aumento, o que justifica a escolha dessa fórmula, assim como foi

utilizada pelos trabalhos de Bonfim et al. (2016) e Silva et al. (2017). A variabilidade da

mudança dos lucros líquidos (NI) é dada por:

∆𝑁𝐼 =(𝐿𝐿𝑡 − 𝐿𝐿𝑡−1)

𝐴𝑇𝑡−1

Em que:

LLt = Lucro Líquido do período t

LLt-1 = Lucro Líquido do período t-1

ATt-1 = Ativo Total do período t-1

Tabela 2 – Definição das variáveis utilizadas e resultados esperados

Índice Cálculo Resultado esperado Interpretação

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Convergência

(CONVERG)

Variável dummy, sendo 0

para o período pré-

convergência e 1 para o

período pós-convergência.

Positivo

A adoção das IFRS, com normas

mais flexíveis baseadas em

princípios, diminui a suavização dos

resultados das empresas (CHEN et

al., 2010; IATRIDIS, 2010; SILVA

et al., 2017).

Tamanho

(SIZE)

Logaritmo natural do Total

dos Ativos Positivo

A hipótese custo político defende

que as grandes empresas são mais

propensas a preferir baixos ganhos

na gestão, por causa das

possibilidades de aumentar o

controle do governo quando as

empresas são maiores e mais

rentáveis (WATTS;

ZIMMERMAN, 1990).

Crescimento

(GROWTH)

Percentual da mudança nas

vendas, dada por 𝑅𝑒𝑐.𝐿𝑖𝑞𝑡0−𝑅𝑒𝑐.𝐿𝑖𝑞𝑡−1

𝑅𝑒𝑐.𝐿𝑖𝑞.𝑡−1

Negativo

Companhias com maior

crescimento estão, em princípio,

mais propensas à suavização dos

resultados (WATTS;

ZIMMERMAN, 1990).

Alavancagem

(ALAV)

𝑇𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑑𝑜 𝑃𝑎𝑠𝑠𝑖𝑣𝑜

𝑇𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑑𝑜 𝑃𝑎𝑡𝑟. 𝐿í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑜 Negativo

A hipótese da dívida prevê que

empresas altamente alavancadas são

mais propensas a se envolver em

gerenciamento de resultados, para

evitar a violação de cláusulas de

contrato (DEFOND; JIAMBALVO,

1994; WATTS; ZIMMERMAN,

1990).

DISSUE

𝑃𝑎𝑠𝑠𝑖𝑣𝑜𝑡0 − 𝑃𝑎𝑠𝑠𝑖𝑣𝑜𝑡−1𝑃𝑎𝑠𝑠𝑖𝑣𝑜𝑡−1

100

Negativo

A variação da estrutura de

financiamento de demais passivos

pode ser utilizada com finalidades

oportunistas (SILVA et al., 2017;

BONFIM et al., 2016)

TURN 𝑅𝑒𝑐. 𝐿í𝑞.

𝐴𝑡𝑖𝑣𝑜 𝑇𝑜𝑡𝑎𝑙 Negativo

A razão entre um nível elevado de

vendas e total do ativo poderia abrir

espaço para práticas de

gerenciamento de resultado

oportunistas (BORGES et al., 2014;

BONFIM et al., 2016)

AUDIT

Variável dummy, sendo 1

para empresas auditadas

pelas empresas PwC, D&T,

KPMG ou E&Y, e 0 para

outras empresas.

Negativo

Empresas expostas à auditoria das

Big Four obteriam maior qualidade

nas e informações, e, por

consequência, redução em níveis de

gerenciamento (KARMON;

LUBWANA, 1997).

CF 𝐹𝑙𝑢𝑥𝑜 𝑑𝑒 𝑐𝑎𝑖𝑥𝑎 𝑜𝑝𝑒𝑟𝑎𝑐𝑖𝑜𝑛𝑎𝑙

𝐴𝑡𝑖𝑣𝑜 𝑇𝑜𝑡𝑎𝑙 Positivo

Empresas com menor fluxo de

caixa, apresentam maior utilização

de accruals, logo, maior

gerenciamento de resultados

(KLANN; BEUREN, 2011).

Fonte: Adaptado de Bonfim et al. (2016)

Assim sendo, com base nessas variáveis, tem-se a seguinte equação de regressão:

∆𝑁𝐼𝑖𝑡 = 𝛽0 + 𝛽1𝐶𝑂𝑁𝑉𝐸𝑅𝐺𝑖𝑡 + 𝛽2𝑆𝐼𝑍𝐸𝑖𝑡 + 𝛽3𝐺𝑅𝑂𝑊𝑇𝐻𝑖𝑡 + 𝛽4𝐴𝐿𝐴𝑉𝑖𝑡 + 𝛽5𝐷𝐼𝑆𝑆𝑈𝐸𝑖𝑡 +𝛽6𝑇𝑈𝑅𝑁𝑖𝑡 + 𝛽8𝐶𝐹𝑖𝑡 + 𝜀𝑡

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Em que NI é a respectiva variância dos resíduos da equação 1. Quanto menor a

variabilidade, maior é a evidência de gerenciamento de resultado; quanto maior a variação em

NI, menor a suavização de resultados (IATRIDIS, 2010). Apesar de mencionado no trabalho, a

variável AUDIT foi descartada da fórmula original, utilizada nos trabalhos de Silva, et al.

(2017) e Bonfim, et al. (2016), pois na análise das demonstrações financeiras foi constatado

que todas as empresas da amostra foram auditadas por uma das BigFour (grupo das quatro

maiores empresas contábeis de Auditoria e Consultoria do mundo, estando nesse grupo as

empresas Ernst & Young, Deloitte, PwC e KPMG) durante o período estudado.

3.3 Limitações da pesquisa

Como limitações da pesquisa, é importante evidenciar, assim como foi em outras

pesquisas citadas, que ela não possui o objetivo de avaliar o comportamento dos gestores em

sua atuação discricionária, e sim verificar o resultado de suas ações nas escolhas contábeis

refletidas nas empresas. Além disso, algumas empresas no setor de siderurgia no Brasil foram

retiradas da amostra, pois, ao considerar somente empresas brasileiras listadas na B3, ficaram

de fora as sociedades anônimas de capital fechado – como a Votorantim – e as internacionais

não listadas na B3 – como a ArcellorMittal, devido a impossibilidade de trabalhar com seus

dados pela não disponibilização de seus relatórios contábeis.

Outra limitação que deve ser citada é que este trabalho analisa somente as empresas

brasileiras de siderurgia, e não as atuantes em demais setores ou ramos, sendo necessário

analisar trabalhos anteriores que já tenham utilizado essa temática em outros setores ou então,

sendo objeto de pesquisas futuras.

4. ANÁLISE DE RESULTADOS

Para mensurar os níveis de gerenciamento de resultado das companhias do setor de

siderurgia listadas na B3, foram utilizados os modelos dos trabalhos de Klann e Beuren (2011),

Barth, Langsman e Lang (2008), Silva et al. (2017) e Bonfim et al. (2016).

A estatística descritiva foi feita com 44 observações de 4 empresas, durante os anos de

2004 até 2017. Os resultados podem ser vistos na tabela 3.

Tabela 3 – Estatística descritiva

Variáveis

Pré-Convergência (2004-2007) Pós-Convergência (2010-2017)

Média Mediana Desvio

Padrão

Média Mediana Desvio Padrão

Variável Dependente

NI 0,0218983 0,0370717 0,0600670 -0,0013246 0,0000960 0,0539125

Variáveis de Controle

SIZE 0,3911562 0,3432372 0,1401256 0,2935440 0,3121065 0,0557480

GROWTH 0,0026865 0,0030260 0,0037644 0,0005795 0,0005868 0,0016987

ALAV 1,3610026 1,2644353 1,0291491 1,7904617 0,8308432 2,1477435

DISSUE -0,0000065 -0,0000099 0,0000590 -0,0000052 -0,0000033 0,0000240

TURN 0,6879198 0,7057300 0,1479490 0,4947029 0,4572754 0,1479490

CF 0,1542247 0,1437929 0,0530439 0,0578515 0,0636683 0,0422839

Fonte: elaborada pelos autores.

Conforme visto também no trabalho de Silva et al. (2017), é possível identificar um

desvio padrão maior da variável NI no período pré-convergência, o que indica uma maior

variabilidade do lucro líquido e, consequentemente, uma maior predisposição à prática de

gerenciamento de resultados neste período. Também é possível identificar uma maior média da

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variável GROWTH no período pré-convergência, indicando que havia um crescimento maior

neste período, podendo levar a um nível maior de gerenciamento de resultados.

O teste de correlação das variáveis é apresentado abaixo, na tabela 4.

Tabela 4 – Matriz de correlação das variáveis

NI CONVERG SIZE GROWTH ALAV DISSUE TURN CF

NI 1

CONVERG -0,1994 1

SIZE -0,1414 -0,4517 1

GROWTH 0,5490 -0,3670 -0,0342 1

ALAV -0,0199 0,1149 0,0440 -0,0352 1

DISSUE -0,2211 0,0162 -0,0945 -0,4903 -0,0052 1

TURN 0,2095 -0,4866 0,0639 0,3425 -0,4903 -0,0921 1

CF 0,2898 -0,7149 0,1515 0,3391 -0,1551 -0,0476 0,6270 1

Fonte: elaborada pelos autores.

O resultado da matriz de correlação indicou que não há alta correlação entre as variáveis

utilizadas no trabalho. Sendo assim, não se fez necessário fazer o ajuste das variáveis. As

maiores correlações foram entre as variáveis NI e GROWTH e NI e TURN, no valor de 0,5490

e 0,6270, respectivamente, não sendo necessário, portanto, ajustar as variáveis.

Tabela 5 – Resultado da estimação da regressão em painel pooled

Variável Dependente: NI

Variável Coeficiente Erro Padrão P-valor

Interseção 0,003552464 0,062203468 0,954773081

CONVERG 0,00743771 0,028123684 0,792930449

SIZE -0,064359147 0,09115802 0,484721549

GROWTH 10,84139104 3,743434111 0,006387497

ALAV -0,000110243 0,005027366 0,982626073

DISSUE 46,50512785 235,7022722 0,844699025

TURN -0,020433583 0,060849904 0,738968696

CF 0,187413758 0,195698405 0,344618696

R múltiplo 0,582023731

R² 34%

R² ajustado 21%

Erro Padrão 0,050362848

Observações 44

Fonte: elaborada pelos autores.

Ao se analisar a significância das variáveis, verificou-se que apenas a variável

GROWTH, apresentou coeficiente significante a 1%. Contudo, ao se analisar o coeficiente das

variáveis, os resultados do teste de regressão mostraram que a variável CONVERG apresentou

um coeficiente positivo para com a variável dependente NI, o que evidencia que, com a adoção

das normas internacionais, as empresas siderúrgicas brasileiras apresentam menor suavização

de resultados, indo de encontro com a hipótese da pesquisa. Esse mesmo resultado é encontrado

nas pesquisas de Silva et al (2017) e Bonfim et al. (2016).

A variável SIZE foi considerada na pesquisa levando em consideração que quanto maior

fosse a empresa, menor seria a sua preferência por maiores lucros, a fim de evitar a regulações

governamentais. Porém, o coeficiente negativo da variável denota que ocorreu o oposto: quanto

maior a empresa, maior é a suavização dos resultados. Esse resultado pode ser explicado pelo

fato de que as empresas do setor de siderurgia não enfrentam uma forte regulamentação do

Governo (não são reguladas por nenhuma agência), como nas empresas utilizadas no trabalho

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de Bonfim et al. (2016), o que possibilita um maior nível de práticas oportunistas, visando

apresentar altos lucros aos investidores.

A variável GROWTH apresentou um coeficiente significativo, com p-valor < 0,01 e

sinal positivo, o que contraria o resultado esperado. Assim sendo, é possível afirmar que, quanto

maior o crescimento da empresa, menor é o nível de gerenciamento de resultado.

A variável DISSUE apresentou um coeficiente positivo, sendo o oposto do resultado

esperado. Isso significa que as empresas siderúrgicas tendem a contrair menos financiamentos

para a prática de suavização de resultados. O resultado pode ser explicado pela recessão que

atingiu o Brasil em 2014 e está presente até hoje. Em uma economia fragilizada, as empresas

tendem a contrair menos passivos, evitando o endividamento.

Tabela 6 – Comparação no nível de gerenciamento de resultados

Métricas de Gerenciamento de

Resultado Previsão

Pré-Convergência

(2004-2007)

Pós-Convergência

(2010 - 2017)

NI p2 > p1 0,001356536 0,002995192 Fonte: elaborada pelos autores.

O quadro 5 apresenta a variância dos resíduos dos testes de regressão realizados nos

períodos de pré e pós-convergência às IFRS. Ao analisar o quadro, é possível identificar que

houve um aumento, indo de 0,001356436 no período pré-convergência, para 0,002995192 no

período pós-convergência. O resultado indica, portanto, que houve uma redução do nível de

suavização dos resultados após a adoção às normas internacionais de contabilidade, assim como

foi previsto nos resultados da estatística descritiva, presentes no quadro 3 (desvio padrão).

O resultado vai de encontro aos achados nas pesquisas de Bonfim et al. (2016), Silva et

al. (2017) e Barth, Landsman e Lang (2008), ao afirmar que o nível de gerenciamento de

resultados diminui após a adoção às IFRS. Porém, contraria os resultados achados nas pesquisas

de Klann e Beuren (2011) e Van Tendeloo e Vanstraelen (2005), que afirmam que o

gerenciamento de resultados aumenta após a adoção às IFRS.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Essa pesquisa teve como objetivo identificar qual foi o impacto que a convergência às

IFRS teve no nível da prática de suavização de resultados – uma modalidade de gerenciamentos

de resultados – das empresas de capital aberto do setor de siderurgia listadas na B3. O resultado

encontrado foi de que a adoção às normas internacionais de contabilidade, baseada em

princípios ao invés de regras, causou a diminuição do nível de suavização de resultados, o que

vai de encontro aos achados em diversas outras pesquisas sobre o tema, como as de Bonfim et

al. (2016), Silva et al. (2017) e Barth, Landsman e Lang (2008).

O maior período de análise pós-convergência foi importante para corroborar com a

hipótese da pesquisa, reforçando o impacto causado por uma norma mais flexível do que a

utilizada antes da Lei nº 11.638/07. Além disso, é interessante notar como uma crise financeira

pode impactar a tomada de decisão dos gestores e, consequentemente, o resultado do coeficiente

das variáveis, como pode ser visto, por exemplo, na variável DISSUE.

Ao realizar a pesquisa, é possível afirmar que uma contabilidade regida por regras mais

flexíveis e baseada em princípios, como as IFRS, trazem uma maior qualidade da informação

contábil, diminuindo a assimetria informacional e, também, o nível de gerenciamento de

resultados dentro das companhias (BONFIM et al., 2016). Assim sendo, é imprescindível que

o profissional contábil esteja preparado para se adaptar às mudanças que ocorrem, e sempre

ocorrerão, na ciência contábil, e tomar um papel mais ativo nas tomadas de decisões, seja em

empresas ou governos.

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Como sugestão para as pesquisas futuras, aconselha-se essa abordagem a outras

empresas listadas na B3, a fim de montar um cenário amplo sobre os efeitos da convergência

às IFRS no Brasil e, também, no mundo. É interessante, também, realizar outros testes de

gerenciamento de resultado. Além disso, uma pesquisa com um maior intervalo de tempo e

maiores amostras também é indicado para montar uma análise abrangente do tema.

Concluindo, a hipótese da pesquisa (H1), a qual afirma que a convergência às normas

internacionais de contabilidade trouxe uma diminuição na prática de suavização de resultados

nas empresas do setor de siderurgia, não pode ser rejeitada, uma vez que os resultados indicam

que isso ocorreu. Assim sendo, as IFRS diminuíram o nível de gerenciamento de resultado das

empresas siderúrgicas brasileiras listadas na B3.

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