anima mystica revista digital vol 3 no 1

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Anima Mystica Revista Digital, é uma publicação trimestral dirigida à divul-gação e discussão de as-suntos relacionados com o misticismo e o mundo esotérico (dentro e fora de Portugal), sob uma perspectiva que se esten-de desde as nossas raí-zes ancestrais até aos eventos de expressão pagã dos nossos dias.

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Page 2: Anima Mystica Revista Digital Vol 3 No 1

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Page 3: Anima Mystica Revista Digital Vol 3 No 1

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Foto de: Damaris de la Cueva

Título: “Creación”

© 2014 Todos os direitos reservados Damaris de la Cueva &

Anima Mystica Revista Digital

Page 4: Anima Mystica Revista Digital Vol 3 No 1

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Page 5: Anima Mystica Revista Digital Vol 3 No 1

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Índice dos Artigos 8 Hermes: O Deus de duas caras

Valentina Ramos

12 A geografia cósmica da Árvore

na mitologia escandinava

Valquíria Valhalladur

21 Portugal desterra Samhain

do Calendário Fernando González

24 A luz do divino

Entrevista realizada a Jean-Louis de Biasi,

Grande Mestre da Aurum Solis

Eduardo Puente e Valentina Ramos

Também, neste número:

Uma invocação a Hermes,

como Deus da mente boa

Estado de Consciência

Por Lurdes Neves

Hino aos Deuses

Page 6: Anima Mystica Revista Digital Vol 3 No 1

6

Editores:

Luís Miranda

Eduardo Puente

Valentina Ramos

Neste número colabo-

raram:

Capítulo Rosacruz do

Porto

Fellowship of Isis-

Portugal

Silver Circle

Lurdes Neves

Céu Almeida

Maria Antónia

Confesión Religiosa

Wicca, Tradición Cel-

tíbera

Damaris de la Cueva

Orden Aurum Solis

Anima Mystica Revista

Digital, é uma publicação

trimestral dirigida à divul-

gação e discussão de as-

suntos relacionados com

o misticismo e o mundo

esotérico (dentro e fora

de Portugal), sob uma

perspectiva que se esten-

de desde as nossas raí-

zes ancestrais até aos

eventos de expressão

pagã dos nossos dias.

Anima Mystica

Revista Digital

ISSN: 2182-7176

Editorial

Olá a todos aqueles que nos seguem por todo o

mundo! Um dos principais objetivos da Anima

Mystica Revista Digital tem sido o de levar artigos

sobre misticismo e esoterismo a toda a comunidade de

língua Português de forma online e gratuita. É o que

nos tem distinguido das outras publicações do género.

Ao mesmo tempo , temos tido uma grande variedade

de colaboradores e expandido através das redes

sociais. Este número conta novamente com o apoio de

todas as pessoas que nos leem e caracteriza-se por ser

maioritariamente constituído por artigos escritos

originalmente em outras línguas, pelo que neste

número, mais do que qualquer outro, conta com as

traduções feitas por nossos parceiros que tem

contribuído com o seu tempo para o sucesso da revista.

A Anima Mystica Revista Digital continua a

crescer. Nós, como editores, estamos entusiasmados

com boa receção da parte de todos. Sabemos que novos

temas começam a surgir com novas colaborações e

Page 7: Anima Mystica Revista Digital Vol 3 No 1

7

A Anima Mystica Revista Digital respeita a livre expressão, opinião e crença de cada autor.

A Anima Mystica Revista Digital não poderá ser considerada responsável pelo conteúdo dos

artigos publicados (seja texto ou imagem) sendo essa da inteira responsabilidade dos respecti-

vos autores.

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suas publicações sendo também os responsáveis legais por todas as questões que estes le-

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rivada de infrações associadas aos artigos publicados.

A Anima Mystica Revista Digital compromete-se a não divulgar os nomes dos seus colabora-

dores salvo autorização dos mesmos ou, quando ocorra uma violação à Lei e nesse caso só às

autoridades competentes.

Declaração de responsabilidade legal

amizades que foram moldadas ao longo deste tempo. A Revista Digital Anima

Mystica vive os ciclos da natureza e sabe que todos os processos têm seus altos e

baixos. Mas o nosso empenho e dedicação serão sempre orientados em para os

nossos leitores, em ouvir as opiniões e experiências de quem vive e deseja

compartilhar a magia da vida.

Este número chega com a Primavera e pretende alimentar-se dos raios do

sol que vai ganhando força e, assim, alimentar os nossos leitores com a luz do

conhecimento e experiência. Juntos somos muito mais do que a soma dos

indivíduos. Esperamos que esta comunidade cresça e se fortaleça unida, para

que os mistérios se revelem e a vida se multiplique!

Os editores

Contactos Anima Mystica Revista Digital

Facebook: https://www.facebook.com/groups/am.revistadigital/

E-mail: [email protected]

Download gratuito dos números: http://issuu.com/am.revistadigital

Page 8: Anima Mystica Revista Digital Vol 3 No 1

8

Hermes : O Deus de duas caras *

* Traduzido por Maria Antónia. Revisto por Luís Miranda

** Sobre a autora: Valentina Ramos é Licenciada em Psicologia, Mestre em Comunicação e Doutora em Psicologia.

É iniciada em varias escolas esotéricas e é membro da Fellowship of Isis, com sede em Portugal. A autora pode ser

contactada através de seu email: [email protected]

Valentina Ramos **

Hermes, Hermetismo, Hermético… Como evoluiu este Deus desde o seu mito até ao Misticismo? Confesso que não foi fácil quando me depa-rei com a tarefa de escrever sobre Hermes. Hermes que é a figura divina que todos co-nhecem e que, ao mesmo tempo, é um dos principais desconhecidos dentro do mundo esotérico. Em seguida, vieram ideias não só de falar sobre as Leis Herméticas mas tam-bém acerca de do deus Mercúrio, do Deus alado que guia os viajantes. Veio-me à mente falar de Thot, o sábio e de Hermes, o ladrão. À minha mente vieram palavras como comu-nicação e aprendizagem, e palavras como engano e roubo. Falar de Hermes foi, então, complicado, porque Hermes não é simples: Hermes é dual.

"Hermes… profeta do discurso… De vários discursos, de quem a ajuda pode encontrar para o trabalho, e na necessidade para os

mortais. Arma de língua terrível, reverenciada por homens, assiste e escuta esta súplica

Hermes; observa o meu trabalho, conclui a minha vida em paz, provê discurso gracioso

e acrescenta às memórias”

Hino Órfico 28 a Hermes

Contudo, não existe um consenso sobre se Hermes, três vezes grande, é uma derivação do deus grego, ou se ambos são entidades separadas. Existe, além disso, outros autores que falam de três entidades chamadas de Hermes: o Hermes “Tradicional”, o Hermes Egípcio na sua forma de Thot e que, mais

tarde, passou a ser chamado “Hermes Trime-gistus”, e Hermes, o humano. Este último, também conhecido como pseudo-Hermes Trimegistus, foi o nome que foi dado tanto a um filósofo/religioso, como a um astrólogo/alquimista/mágico [1]. No entanto, ainda que todas as forma de Hermes pareçam adotar uma identidade específica, continuam a ser formas que podemos relacionar com o Deus do Caduceu, com o mensageiro dos Deuses.

Se pensarmos em Hermes, o Deus, temos de fazer referência ao seu nascimento como o filho de Zeus e de Maia, de acordo com os relatos de Homero. Hermes cresceu, milagro-samente rápido, aprendeu a caçar, e faz uma lira a partir da carapaça de uma tartaruga. A esta lira faltavam-lhe as cordas e para isso utilizou as entranhas de umas vacas que rou-bou ao Deus Apolo [2]. Com a chegada dos gregos ao Egipto, Her-mes fundiu-se com Thot, aumentou a sua po-pularidade e apareceu nos papiros mágicos [3]. Os gregos pouco a pouco adotaram o

“Ainda que todas as forma de

Hermes pareçam adotar uma

identidade específica, continuam a

ser formas que podemos relacionar

com o Deus do Caduceu, com o

mensageiro dos Deuses.”

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costume egípcio de celebrar Thot, até ao ponto de fazer coincidir com as festas a Her-mes, as Hermaea, com as festas ao Deus Egípcio.

Por sua vez, Hermes Trimegistus relacionou-se com a linguagem, a escritura, a religião, a música, a astronomia e foi visto como o pai da sabedoria, da filosofia e da teologia. Este Hermes Trimegistus tinha forma humana e era o professor dos sacerdotes. A pesar de ser um único Hermes Trimegistus, ou um conjunto de sábios com este nome, os seus relatos escritos deram origem à Tradição Hermética que chega até aos nossos dias [4]. “Rogamos a dádiva da tua graça, a instrução,

o dom de Hermes.”

Calímaco, Fragmentos Iambi 21

A figura arquetípica de Hermes mostra-o co-mo um Deus jovem, apesar deste Deus ter aparecido de forma tardia no panteão grego. No entanto, outras imagens de Hermes apre-sentam-no como um Deus barbudo e velho. Apresentava-se, habitualmente, envergando umas sandálias aladas e por segurar nas su-as mãos uma varinha heráldica, conhecido como kerykeion pelos povos gregos e cadu-ceu pelos povos romanos. Nos nossos dias, o símbolo do caduceu, ain-da é reconhecido como o símbolo da medici-na. No entanto, as suas origens não são muito claras. Por um lado, o caduceu estava relacionado mais intimamente com a sabedo-ria do que com o ato de curar. Por outro lado, fala-se da estreita relação entre a alquimia e

a medicina, onde um dos três elementos es-senciais para o processo alquímico é o mer-cúrio, representado como o espírito. Era mui-to comum, então, encontrar o símbolo do pla-neta mercúrio, assim como o nome do Deus Hermes, como símbolo deste elementos nos relatos escritos dos alquimistas. Porém, não existe uma relação direta entre o caduceu, a medicina e Hermes [1]. O caduceu de Hermes, cuja tradução se rela-ciona com a palavra “heráldico”, é composto por duas serpentes entrelaçadas numa vara alada, como representação da harmonia da relação dos contrários. Conta a lenda, que Hermes viu duas serpentes a lutar entre si e, por isso, colocou a varinha que trazia sempre consigo no meio das duas serpentes que, as-sim se enroscaram em redor desta e, para-ram de lutar [5]. Foi desta maneira, que o ca-duceu passou a ser o símbolo da Harmonia que se estabelecia a partir da existência de duas formas contrárias e uma terceira forma que atua como mediador entre ambas: ener-gias passivas, ativas e neutras. Outro mito narra o intercâmbio que se produ-ziu entre Hermes e Apolo, onde Hermes ce-deu a sua lira a Apolo e este, em troca, ofere-ce-lhe o seu caduceu. Isto é, de acordo com esta história, Apolo foi o primeiro dono do ca-duceu e o processo de intercâmbio entre am-bos os Deuses, outorgou ao caduceu (e ao seu dono) o seu significado mercantil [6]. Ao mesmo tempo, as duas serpentes do cadu-ceu aparecem olhando-se frente a frente, co-mo no reflexo de um espelho, o que reforça a história de ser Apolo o primeiro dono do ca-duceu. Este olhar para um reflexo poderia ser a interpretação gráfica do “conhece-te a ti mesmo, do oráculo de Apolo.

“Desta maneira, o caduceu passou a

ser o símbolo da Harmonia que se

estabelecia a partir da existência de

duas formas contrárias e uma

terceira forma que atua como

mediador entre ambas: energias

passivas, ativas e neutras.”

“A pesar de ser um único Hermes

Trimegistus, ou um conjunto de

sábios com este nome, os seus relatos

escritos deram origem à Tradição

Hermética que chega até aos nossos

dias .”

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Hermes foi conhecido em Roma como Mer-cúrio, derivado do latim “merx”, que foi a raiz de palavras como mercador, mercado e co-mércio e de palavras como mercê e miseri-córdia. Neste sentido, Hermes-Mercúrio era visto como o Deus do comércio e como o Deus da comunicação. Os mercadores eram, não só aqueles que traziam os produtos, mas também aqueles que traziam notícias e infor-mação. Eram os mensageiros, papel que é atribuído a Hermes, por excelência. Já que Hermes era o responsável por levar os ho-mens de um estado ao outro: do dia à noite, da vida à morte.

“Hermes, eu chamo-te, tu a quem o destino decreta viver perto de Kokytos, o renomado

rio do Hades, e no temido caminho da neces-sidade, cuja fronteira a ninguém permite o

regresso quando é alcançada.”

Hino Órfico 57 a Hermes Ctoniano

Esta característica era partilhada por Thot que também era o responsável por levar as almas ao Inframundo, no entanto, Hermes não levava apenas as almas até Hades, mas era igualmente responsável por trazer as al-mas de volta à vida. Por esta razão, foi deno-minado “psicopompos”: o guia das almas; e era o único deus (para além de Hades e Per-séfone) que podia entrar e sair do Inframun-do [7]. Hermes-Thot era o deus das fronteiras. Atra-vessava as fronteiras visíveis e as fronteiras invisíveis.

Um dos elementos que se colocavam nas fronteiras físicas foram as hermas ou está-tuas de Mercúrio, consagradas a Hermes. As

hermas eram pilares de pedra, geralmente, ornamentadas com cabeças humanas e sím-bolos fálicos que se colocavam para demar-car os lugares. Esta relação entre Hermes e os símbolos fálicos, fizeram deste Hermes um Deus da fertilidade. No entanto, alguns autores argumentam que os falos associados a Hermes, mais do que fertilidade, eram amuletos mágicos que podiam trazer bendi-ções ou maldições, dependendo do seu uso [8]. Muitos pensavam que as estatuas eram homens que haviam sido amaldiçoados a permanecer imóveis, a olhar os que passa-vam de um lado para o outro, incapazes de poder prevenir, alertar ou guiar alguém.

“Arauto supremo dos domínios acima e dos domínios em baixo, Ó Hermes Khthonios,

vêm em meu auxílio, convoca a mim os espí-ritos sob a terra para que ouçam as minhas preces, espíritos que vigiam a casa de meu

pai, e a própria Gaia, que dá à luz a todas as coisas, e que tendo o seu cuidado amoroso

sobre elas recebe o seu incremento de volta. E, enquanto, se derramam estas ofertas puri-ficadas para os mortos, eu invoco meu pai…

E, pronuncio estas preces em nosso nome, mas peço que o teu vingador apareça aos

nossos adversários, pai, e que os teus assas-sinos possam ser mortos em justa retribui-

ção.” [7].

Ésquilo, A Libação dos Portadores A sua capacidade de cruzar as fronteiras en-tre os mundos humanos e divinos também o tornaram capaz de conjurar e usar a magia, e em muitas ocasiões, invocava-se o nome de Hermes para lançar maldições. De facto, existiam umas “tábuas de maldições”, onde se escrevia e enterrava o pedido de maldição aos Deuses, para que a pessoa amaldiçoada levasse consigo a maldição até o outro mun-do [7]. Hermes também era invocado nos oráculos. Teve uma grande descendência e um dos seus filhos foi com Afrodite: Hermafrodito. Conta a lenda que Hermafrodito era realmen-te belo e que o seu amor pela ninfa Salmacis fez com que pedisse aos Deuses que nunca mais os separasse. Deste modo, ambos os

“Hermes não levava apenas as almas

até Hades, mas era igualmente

responsável por trazer as almas de

volta à vida.”

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corpos se fundiram num só, ao mesmo tem-po homem e mulher [7]. Daqui se deriva a palavra hermafrodita.

Hermes vêm recordar-nos que não somos um só, mas que somos duais: somos homem e mulher, somos bons e maus, somos mani-puladores e misericordiosos. Hermes fala-nos da magia e a magia não é boa nem má: tudo depende do uso que fazemos dela. Por isso, de todos os deuses do Olimpo, Hermes era o mais humano. O jovem e o velho. A inocência e a sabedoria entrelaçadas, trazen-do harmonia às nossas vidas e à nossa obra.

Referências bibliográficas: [1] Friedlander, Walter J. (1992).The Golden Wand of Medicine: A History of the Caduceus Symbol in Medici-ne [2] Kathleen N. Daly; Marian Rengel (2009) Greek and Roman Mythology, A to Z [3] Alexandra Lembert (2004).The Heritage of Hermes: Alchemy in Contemporary British Literature [4] Florian Ebeling (2005). The Secret History of Her-mes Trismegistus: Hermeticism from Ancient to Mo-dern Times [5] Katherine Parker (2013). Resonance Alchemy: Awakening the Tree of Life [6] Frederick Turner (2006). Natural Religion [7] C. Scott Littleton (2005) Gods, goddesses, and mythology, Volume 10 [8] S. Montgomery Ewegen (2014) Plato's Cratylus: The Comedy of Language

“Hermes vêm recordar-nos que não

somos um só, mas que somos duais.”

Encontro de Pagãos

Este encontro é para todos os interessados na Espiri-

tualidade Pagã, Wicca, Druidismo, Bruxaria, Magia

Celta e todos os "caminhos" que

celebram o Paganismo.

Todos são bem vindos e convidados a

participar com opiniões e experiências e

para um copo com pessoas que

partilham interesses semelhantes.

Neste momento encontramo-nos na 3ª

Sexta-Feira de cada mês, por volta das 21.30,

Mais informações em: [email protected]

ou através da página de Porto Pagans

no Facebook o Google +

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A geografia cósmica da Árvore

na mitologia escandinava

* Sobre a autora: Valquíria Valhalladur é pseudónimo de Maria Cristina Ferreira Aguiar, nascida do Porto, e com o

qual assina o seu primeiro livro “As Moradas Secretas de Odin”, publicado pela Madras Editora, em 2007, e desta

forma deu conhecer os seus estudos em Mitologia Nórdica. A partir deste intróito, desenvolveu os conhecimentos

em Posturas Rúnicas (Stadhagaldr) em workshops, e acrescentou mais uma criação, desta feita, “As Máscaras da

Grande Deusa”, com a chancela da Zéfiro Editora, em 2011, mas já assinado com o nome de jornalista Cristina

Aguiar. A autora pode ser contactada através de seu email: [email protected]

Valquíria Valhalladur *

Carvalhos, sorveiras, faias, tílias, freixos, bé-tulas ou aveleiras compõem um complexo de árvores sagradas que assinalam uma crato-fania e delimitam santuários abertos, protegi-dos naturalmente da manipulação profana onde o ser humano se entrega em comunhão com as divindades. Os povos escandinavos e germânicos, assim como os celtas, usavam representações anicónicas para honrarem os seus deuses, elegendo a árvore como figura-ção simbólica destes, de resto, os verdadei-ros alvos de culto, ou então, plantavam pos-tes-ídolos no centro dos templos criados no interior das habitações, como réplicas da Ár-vore Cósmica. A árvore era o melhor modelo do Cosmo vivo e um belo símbolo de vida em constante evolução, crescendo em direção ao céu, aludindo ao simbolismo do eixo, de verticalidade, servindo de elo de comunica-ção entre o firmamento (copa), a terra (tronco) e o submundo (raízes). A árvore co-mo arquétipo de colunas sagradas ou eixo não é exclusivo às tradições germânicas e célticas.

As Árvores nas Runas No FUTHARK encontramos três runas asso-ciadas, claramente, a árvores e cada uma delas encerra um patamar de vivência e de expansão consciencial diferentes. Em Ansuz, a quarta runa do primeiro Aett, reconhece-se a presença da divindade no domínio material, ao mesmo tempo estabelece uma relação entre a terra e o céu. Relacionada ao freixo,

por ser o veículo extático de Odin, no seu au-tossacrifício iniciático na ciência das runas, Ansuz é a coluna teofânica, a boca que mani-festa os desígnios celestes, sustenta e dá vida a todo o edifício no qual prospera a co-munidade, e centro eucarístico de agradeci-mento ou apelo pelas bênçãos dos deuses, potenciando, assim, o poder protetor do lu-gar. A etimologia de Ansuz vem do gótico an-ses, termo usado para pilar, viga ou coluna sagrada como personificações de uma força sobrenatural. Quer isto dizer que Ansuz agre-ga a simbologia de todos os simulacros dos deuses, seja ele Odin ou Thor. Esta runa en-carna, simultaneamente, Yggdrassil, a árvore mítica da Sabedoria consagrada a Odin, ou o Irminsul, o grande pilar cósmico saxão que mantinha o centro da hierarquia cósmica, sendo representado por um tronco de árvore, em especial, de carvalho (sagrado a Thor), ou é ainda o pilar de madeira que os primei-ros colonos da Islândia atiravam ao mar, já perto da costa, como bússola na procura do melhor pedaço de solo para aí se fixarem - o local onde o poste-ídolo aparecesse seria a escolha ideal da deidade. Os deuses comuni-

“A árvore era o melhor modelo do

Cosmo vivo e um belo símbolo de

vida em constante evolução,

crescendo em direção ao céu”

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cavam a sua Vontade através destes eixos simbólicos, daí que Ansuz signifique comuni-cação, linguagem e intelecto - expressões elevadas da consciência. Ansuz é a runa-deus, o sopro divino que potencializa a exis-tência e está, assim, permanentemente pre-sente na esfera terrestre. O poder celeste que simboliza é o mais próximo do homem do que da esfera cósmica. Ansuz é, sobretudo, símbolo da génese da ciência. O freixo foi consagrado como Árvore do Conhecimento, pois foi "cavalgando" nele durante nove dias e nove noites que Odin desvelou o alfabeto rúnico e alcançou um alto nível de perceção da inteligência ao serviço da transformação e da elevação. Yggdrasil é o Portador do Deus, a montada selvagem nas noites de resgate dos espíritos e da via-gem iniciática em busca do conhecimento mântico. Odin tornou-se mestre da sabedoria, da magia e da poesia, faculdades intelectuais que estão interligadas nas tradições indo-europeias. Os três níveis universais (mundos superior, médio e inferior) que caracterizam Yggdrasil formam o caminho percorrido por espíritos, deuses, xamãs e buscadores da sapiência. É a porta da transformação ontoló-gica. Odin superou-se a si mesmo, conheceu-se a si mesmo e extraiu de si mesmo a lin-guagem sagrada. A função de Yggdrasil é idêntica à da Árvore do Conhecimento do Rig Veda, cuja seiva gera inspiração poética e religiosa, pelo que, ao ficar próximo da sua folhagem, o individuo experimenta a anamne-se das suas existências anteriores, como que recuperando muito do conhecimento que ficou sedimentado nas suas memórias atávi-cas. Do seu topo ressoa a voz celestial e a vontade dos deuses, sendo, o divino mensa-geiro, como o murmúrio da folhagem do car-valho de Dodona a entoar a voz profética do Senhor do Trovão. Em Eihwaz, 13ª runa do FUTHARK e a quinta do segundo Aett, Yggdrasil torna-se no ponto de fusão dos pares-opostos complementa-res: sintetiza a dualidade vida/morte, noite/

luz. Esta runa pertence ao conjunto de runas sob a égide de Hagalaz, a Mãe Cósmica, fu-so universal que faz girar o destino humano e dos deuses, e está entregue ao teixo, árvore do fogo que liberta um tóxico com proprieda-des alucinatórias que conduzem a um estado catatónico, de morte aparente, e simboliza a ressurreição e a perenidade. No autossacrifí-cio na demandada pela revelação dos misté-rios da linguagem na natureza e pela ilumina-ção espiritual, Odin feriu-se com a sua lança (outro símbolo axial), de modo a recriar um estado de sofrimento que o conduzisse à morte iniciática para poder tornar-se em não-morto, renascendo para a eternidade, ao fim de nove noites - número simbólico de culmi-nar, de fim e de passagem para nova etapa evolutiva. A morte em Eihwaz é o desafio da superação dos limites inerciais dos sentidos físicos, e a oportunidade do mergulho profun-do no subconsciente, o nosso submundo in-terno e a prova de que é possível quebrar as barreiras do imponderável, através da trans-gressão e experiência dos limites, para re-gressar do Mundo dos Mortos revificado por um Conhecimento Superior. A luz do espíri-to manifesta-se pela vivência na escuridão da morte ilusória. A runa Eihwaz transforma-se no eixo central, a Árvore do Mundo, no qual a pessoa entra em contacto com as forças bi-polares da Yggdrasil representadas pela a águia, luminosidade, na copa, e pelo dragão Nidhoggr, as trevas, no submundo. A águia e o dragão vivem num eterno confronto, numa disputa necessária no ciclo contínuo da cria-ção e regeneração do cosmo, e exemplifica o exercício que o Adepto deverá seguir no seu processo de transfiguração. O objetivo é con-seguir o equilíbrio e a síntese destas forças

“A luz do espírito manifesta-se pela

vivência na escuridão da morte

ilusória”

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aparentemente antagónicas na nossa compo-sição espiritual (parte superior e parte inferi-or) de modo a avançar para um novo ciclo. Neste eixo iniciamos a síntese dos opostos num processo dinâmico e ininterrupto e sor-vemos os fluídos dos três planos da existên-cia: Asgard, mundo celeste e habitat da Águia (ser espiritual), em Midgard, o nosso corpo, e em Helheim, onde se esconde o tal Nidhoggr. Aqui pretende-se a união/fusão destes reinos. É o teste à natureza dual do Homem. Eihwaz é, neste sentido, a Árvore da Imortalidade, veículo iniciático onde Odin lo-gra a omnisciência e omnipotência.

Berkana é a terceira runa-árvore do FUTHARK. É a bétula, a teofania da Deusa-Mãe, o útero universal que acolhe os mortos para lhes restaurar a vida, figurando por isso o nascimento, a renovação periódica da ve-getação e humana. É a primavera, a repre-sentação dos mistérios femininos da regene-ração da Natureza e da mulher, e da noção de conceção de vida, da fecundidade e da renovação universal - qualidades que reve-mos em Istar, Astarte ou Tanit. Podemos comparar Berkana ao poste-ídolo consagrado à deus mãe cananita Aserá, essência do amor e da fertilidade. O brilho do seu tronco e o facto de ser a primeira árvore a florir após o degelo, torna-se no símbolo supremo de vida. As bétulas eram usadas como postes de maio, na celebração do apogeu da luz profí-cua, e podemos encontrar o seu exemplar cósmico da Grande Bétula dos Céus da visão do mundo proto-uruliano, que cresce junto à casa da Avó da Vida, Senhora do Sul, que ordena, desde o Mundo Superior, o regresso da fertilidade e da vitalidade à terra, mãe dos

deuses, e aponta o caminho de volta aos cis-nes e aos gansos (aves solares) e envia os espíritos prestes a renascerem. É a Árvore da Vida.

Yggdrasil: Árvore Soberana Yggdrasil é o símbolo máximo da Árvore Cósmica da mitologia escandinava. Um im-ponente freixo que se eleva no centro do mundo, cujo tronco é o pivô da revolução da morada dos astros e as suas raízes penetram no abismo, local das forças da morte e da transformação. Tudo o que possui vida e é consciente tem morada nesta Árvore Mítica, que cresce no Centro da Terra, lugar do seu “umbigo” e sobrevive às grandes mudanças cósmicas, servindo de refúgio e berço às no-vas formas de vida que repovoarão Midgard, após o Ragnarök. É equivalente à Árvore do Céu dos Gregos, o carvalho onde Zeus colo-cou o velo de ouro, símbolo de prosperidade, de glória e do qual se originou o mito do sig-no de carneiro, associado à primavera, ao início, à nova vida. O Grande Freixo é o Eixo do Mundo à volta do qual gira o mundo terreno, telúrico e este-lar, como símbolo da universalidade. Uma das suas três raízes nutre-se da nascente de Urd, Senhora do destino, e daqui une-se a Asgard, reino dos deuses, a outra raiz ali-menta-se do líquido do poço da cabeça de Mimir, Senhor das Memórias e da Sabedoria arcaicas, e cresce em direção a Jotunheim, Mundo dos Gigantes, dos seres primevos, e a terceira raiz bebe das águas do depósito do Mundo, Hvergelmir, em Niflheim, o região do gelo e das brumas.

O Grimnismál fala-nos de outra árvore: Laer-ads, localizada próxima do Valhalla. A origem etimológica desta árvore referida num dos

“É a primavera, a representação dos

mistérios femininos da regeneração

da Natureza e da mulher, e da noção

de conceção de vida, da fecundidade

e da renovação universal ”

“A águia e o dragão vivem num

eterno confronto, numa disputa

necessária no ciclo contínuo da

criação e regeneração do cosmo, e

exemplifica o exercício que o Adepto

deverá seguir no seu processo de

transfiguração”

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principais poemas da Edda Poética tem dei-xado os mitólogos pouco firmes em relação ao seu significado, sobressaindo as propos-tas de "doadora de proteção" ou "doadora de humidade", atendendo, principalmente, à fun-ção de Eikthrynir, um veado de cujos cornos escorrem gotas de água que enchem Hver-gelmir, “caldeirão borbulhante”, a principal fonte de todos os recursos hídricos do mun-do. Eikthrynir (traduzido literalmente: espinho do carvalho) apresenta similitudes com Thor, o deus fazedor de chuva e regulador das condições atmosféricas, nesta qualidade é o fecundador da terra. As funções deste veado mágico recorda-nos a Árvore Meteorológica dos Vedas, por vezes descrita como a Árvore do Céu Estrelado e noutras como Árvore do Céu Nublado, cujas folhas destilam o elixir da vida, o soma celestial, as águas vivificantes produzidas por Mitra e Varuna. Heidrun, a cabra distribuidora de hidromel aos guerreiros einherjar, é a companheira de Eikthrynir na copa de Laerads. Estes animais que a povoam são descritos por George Du-mézil como possíveis constelações, por se encontrarem dentro do mundo superior, junto aos domínios de Odin. Segundo Uno Holm-berg, citado por George Dumézil, Eikthrynir representa a Ursa Maior, a constelação vizi-nha à Polaris, personificada pela águia situa-da no cume das Árvores Sagradas das cultu-ras árticas. Os lapões/sami chamam à Ursa Maior de «Rena» ou «Alce», designação co-mum a muitos povos siberianos. No entender de Uno Holmberg, a cabra e o veado são bra-ços do mesmo tronco estelar, figurando am-bos duas constelações pouco móveis. A criação poética de Laerads decorre da já existente Árvore Soberana, Yggdrasil, tam-bém ela rodeada por animais agentes clima-téricos: a águia, situada no topo da árvore, é uma ave de elevação que vê tudo como o sol, simbolizando a dimensão superior e lumi-nosa. Nas tradições árticas, a águia é a Es-trela Polar, o Ser Supremo de características solares. Entre os seus olhos vivia o falcão Vedhrfolnir, que lhe fornecia toda a informa-ção do mundo terrestre e assumia o papel de vigilante, Vedhrfolnir quer dizer “aquele que empalidece pelo efeito da tempestade”, o que nos esclarece o por quê da função sentinela, que será mais um heliógrafo, oferecendo à águia o controle da sua própria luz ante as ameaças das nuvens negras provenientes do

dragão subterrâneo. O esquilo Ratatosk, "o que viaja", percorre o tronco acicatando a águia, em cima, e o dra-gão em baixo, mostrando que a polaridade oscila na perpétua tensão criativa da Luz e com a tensão destrutiva das Trevas, neste caso simbolizando as flutuações atmosféri-cas entre o céu irradiante e a nebulosidade. Os veados Daain, Dvalin, Duneyr e Durathror comem as folhagens e musgos que crescem no tronco num processo de regeneração constante da Árvore e da Natureza. Podem também simbolizar os quatro ventos ou os quatro pontos cardeais, embora Uno Holm-berg os veja como significadores de constela-ções. Os dois cisnes que nadam no lago em torno de Yggdrasil simbolizam a entrada no Outro Mundo, uma espécie de mediadores entre o mundo terrestre e o mundo subterrâneo. O cisne é uma ave associada à primavera, aos nascimentos, por isso é uma ave solar e sím-bolo de vida garantida.

Jormundgandr, a serpente gigante que vive nas águas profundas, por estar em volta de Midgard (Terra), como Ouroboros, simboliza o ciclo interminável da vida, e nesta posição é o elemento estruturante que mantém o equilíbrio terrestre. Jormundgandr desempe-nha o drama da destruição nos finais dos tempos e encarna um curioso confronto at-mosférico com Thor, deus dos fenómenos meteorológicos. Na luta desesperada para aniquilar a serpente gigante, com golpes do martelo Mjolnir, Thor produz os temporais marítimos. A serpente é apontada como pro-sopopeia do relâmpago e dos raios (e até dos rios), pelo que podemos olhar para Jor-mundgandr como duplo do próprio Thor, o propiciador da chuva, mas num estado mais tumultuoso.

“O cisne é uma ave associada à

primavera, aos nascimentos, por isso

é uma ave solar e símbolo de vida

garantida”

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O dragão Nidhoggr, “devorador de cadáve-res”, é o guardião da nascente de Hvergelmir, no submundo, depósito colossal das águas doadas por Eikthrynir, estando, por isso asso-ciado à pluviosidade que ele mesmo provoca no seu conflito com a águia, cumprindo as-sim ao sua parte no processo dinâmico de fecundação dos solos. As ser-pentes Graback, Grafvolluth, Goin, Moin corroem as raízes de Yggdrasil, como que a tes-tar a sua resistência e capaci-dade regenerativa.

O suporte da Polaris

Embora não esteja associada a uma árvore específica, Tiwaz representa um importante pilar ao qual o guerreiro recorre pa-ra amplificar a sua força e co-ragem. É equipolente à coluna na tradição céltica que povoa as metáforas que comparam um herói ou um guerreiro a pilares de comba-te. A conotação com a força, resistência leva-nos à etimologia do de carvalho no protoindo-europeu *dorw usado como adjetivos para dureza e firmeza. Tiwaz suporta o firmamen-to, mantém a ordem cósmica e liga o centro da Terra ao centro do Céu, a estrela polar. Os Uralianos tinham também cultuavam um axis mundi que suportava o céu. A Árvore da Vida destes povos era o pivô da rotação dos corpos celeste a partir de um centro, a Pola-ris, o eixo dos polos, estando representada no topo da coluna sagrada como garante de que o universo estaria a salvo de desabar e que todas as estrelas não cairiam sobre o globo terrestre. A runa Tiwaz indica-nos a morada do deus absoluto, e representação pictórica de Irminsul, o Pilar do Mundo, su-porte simbólico no plano terrestre do centro do céu.

Modelos terrestres da Árvore do Mundo Yggdrasil tem o seu equivalente no plano mundano: Vardtrad é uma árvore enorme e frondosa que cresce no centro dos quintais e a sua copa desenvolve-se de maneira a que abrace as casas em volta. Podem ser freixos e ulmeiros, e são os guardiões do local famili-

ar e o seu carácter providencial realça-se por absorver o impacto dos relâmpagos das tro-vadas e deixar a salvo qualquer outro edifício da destruição. Acredita-se que por debaixo dela vivem pequenos seres também eles agentes de boa-venturança nos solos da lo-calidade. Vardtrad é uma Árvore-santuário.

O papel sagrado da árvore in-vadiu o imaginário mitológico também como alicerce na fun-dação de dinastias reais. Um desses exemplos, o grande carvalho, Barnstokkr. Árvore de verde e frondosa copa plan-tada pelo rei Volsung no seu salão real, apelidando-a de ár-vore de Odin, em cujo tronco o deus supremo espetou uma espada destinada a apenas aquele que a conseguisse reti-rar. Sigmund, pai de Sigurd, foi o herói que honrou a profecia, tal como Artur se tornou digno da espada "Excalibur" ofereci-da pela Dama do Lago. Com

esta espada mágica, símbolo de bravura e poder, nada poderia ferir Sigmund até ao dia, já muito velho, em que Odin, disfarçado com o seu manto azul (céu), apontou-lhe a sua lança e logo a espada se partiu em dois pon-do, assim, termo ao seu reinado. Pelo eixo, personificado pelo carvalho Barnstokkr, Sigmund conquistou o acesso à espada, pelo eixo, no caso simbolizado pela lança, a per-deu e os seus poderes reais desvaneceram-se pelo fim da proteção cósmica. Bibliografia : DUMÉZIL, George, Mythes et Dieux de la Scandi-navie Ancienne. Éditions Gallimard. GOBLET, count D' Alviela, Migration of Symbols. Kessinger Publishing. STURLOSON, Snorri, The Prose Edda: Norse Mythology. Peguin Books. THORPE, Benjamin tradutor da Poetic Edda.The Northvegr Foudation Press, Michigan.

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Sobre o curso: A meditação através do uso de posturas psicodinâmicas corporais abre um novo ho-rizonte no contato com as entidades numinosas que se “escondem” num simples sím-bolo rúnico, cujo significado se manifesta e se expande no subconsciente. O corpo transforma-se no melhor instrumento de captação de energias etéricas com as quais poderemos trabalhar num contexto divinatório e, ao mesmo tempo, ativarmos o pro-cesso de autodesenvolvimento. A proposta aqui apresentada visa criar um veículo de revelação dos Mistérios da Natureza a partir de dentro de cada indivíduo, usando pa-ra tal os 24 sigilos mágicos do FUTHARK – o sistema de ideogramas utilizado pelos povos antigos de expressão germânica como suporte adivinhatório e de comunica-ção. Através das experiências individuais, nestes exercícios, vai-se elaborando e enri-quecendo um sistema complexo de caracteres de uma linguagem mágica, que se vai incorporando no quotidiano individual. As Runas vão revelando os seus segredos de acordo com as emoções e os sentidos de cada participante.

Próximos eventos no Porto, Espaço DanSer

29 de março, Posturas Rúnicas

Por: Valquíria Valhalladur

Mais informações: aqui

E-mail: [email protected]

FELLOWSHIP OF ISIS PORTUGAL

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“Vinde a mim , ó tu, dos quatro ventos , todo-poderoso , que sopraste o espírito para os ho-mens e deste-lhes a vida; Cujo está escondido , e além da fala dos homens, nenhum profeta pode pronunciá-lo , sim, até mes-mo daimons , quando ouvem teu nome, tremem com medo ! Ó tu , cujos incansáveis olhos são o sol e a lua, que brilham nas pupilas dos olhos dos homens! O tu , que tens o céu como cabeça, æ por corpo , a terra como pés e a água ao redor de ti profunda como o oceano! Tuas as artes de Bom Daimon , que são senhoras de todas as coisas boas, e cuidam do mundo inteiro .

O local da tua eterna relevação é lá em cima. Tuas são as boas emanações das estrelas, - cu-jos daimons, fortunas, e destinos de todos a quem é concedida riqueza, boa interligação [com a natureza] e um bom enterro. Pois és o senhor de toda a vida,— Tu, que és senhor dos céus e da terra e de todos os que nela habitam; Cuja justiça nunca foi repudiada, e cujas Musas cantam o teu glorioso nome, a quem os oito guardiões guardam,- Tu o possuidor da Verdade, livre de tuda a mentira! O teu Nome e Espirito assentam em tudo o que é bom. O tu podes entrar na minha mente e coração to-dos os dias da minha vida, e trazer-lhes a realiza-ção de todas as coisas que minha alma deseja! Pois és eu e eu sou tu. Que o que eu digo seja para sempre, pois tenho o teu Nome a guardar-me no meu coração. E cada serpente despertado não terá algum po-der sobre mim, nem serei confrontado por algum espírito ou poder daimonial ou qualquer praga, ou qualquer um dos males do Mundo Invisível, por-que que eu tenho o teu Nome dentro da minha alma. Eu te invoco, vinde a mim, Bom, completamente bom, [vem] para o bem,-tu, a quem nenhuma ma-gia pode encantar, nenhuma magia pode contro-lar, que me dás boa saúde, segurança, boa loja, boa fama, vitória, força e semblante alegre! Carrega o semblante a todos que estão contra mim, e concede-me graça em todos os meus atos!”

Traduzido ao português por Luís Miranda

Uma invocação a Hermes,

como Deus da mente boa

[Texto revisto, R. 15-18; Leemans (C.), Papyri Græc. Mus. Ant. Pub. Lug. Bat. (Leyden, 1885), II. 141, 14 ff., e V. 27, 27 ff.; Dieterich (A.),

Abraxas (Leipzig, 1891), 195, 4 ff.; e Jahrbücher f. class. Phil., Suppl. XVI. 808 ff. (Papyrus Mag. Mus. Lug. Bat.).]

Hermes Farnésio,

Romano, S.I, D.C,

British Museum

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Estado de Consciência

Artigo de Reflexão

* Sobre a autora: Lurdes Neves tem experiência em algumas terapias complementares que poderão complementar

as terapias tradicionais no desenvolvimento individual.

Por: Lurdes Neves *

Diariamente é-nos oferecida a oportunidade de entrar em contacto com a Sabedoria Anti-ga e da nossa missão na Terra enquanto par-te do Universo. Na nossa atual fase de de-senvolvimento evolutivo, compete-nos cada vez mais sermos capazes de mais autocon-trolo e autodomínio e a ajuda cada mais e melhor dos outros. O atraso do nosso desen-volvimento é ainda provocado pela influência maciça de forças involutivas e que existem duas forças opostas que agem no nosso mundo: uma força positiva que visa desen-volver o sentido da Compaixão e do Bem Co-mum e outra força destinada a criar e instigar a separatividade, o individualismo, o egoísmo e o impulso e a reatividade.

E se observarmos uma inflação incontrolável de conflitos ou uma tendência para compor-tamentos licenciosos, devemos perceber que qualquer tipo de atenção dirigida para esses processos, tanto positiva como negativa, ali-mentá-los-á energeticamente. A ilusão da violência, da agressividade, da instrumentalidade leva-nos a estados inferio-

res de consciência, que nos conduzem, inevi-tavelmente, a intensificar a ilusão (desejos, vícios, conflitos…) produzida por essas emo-ções

O nosso mundo é assim mundo refletido, um mundo ilusório e tudo no nosso mundo é construído de acordo com as vibrações mé-dias da humanidade. Assim quando estamos constantemente imersos nesses estados inferiores de consci-ência estaremos ligados às ilusões exteriores por eles geradas. Tudo o que está presente na consciência ma-nifesta-se e reflete-se automaticamente no nosso ambiente exterior. Assim, se estiver-mos sempre profundamente mergulhados no mundo das notícias, onde há violência, agressão, revoluções e distúrbios de massa, a consequência será a manifestação na vos-sa vida exterior. Por este motivo, e mais do que nunca, deve-mos disseminar a não-violência, não deve-mos alimentar a negatividade não obstante a necessidade de compreensão de que cada um se encontra no seu próprio estádio de de-senvolvimento evolutivo.

“Na nossa atual fase de

desenvolvimento evolutivo,

compete-nos cada vez mais sermos

capazes de mais autocontrolo e

autodomínio e a ajuda cada mais e

melhor dos outros”

“Tudo o que está presente na

consciência manifesta-se e reflete-se

automaticamente no nosso ambiente

exterior”

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Portugal desterra Samhain

do Calendário *

* Artigo original publicado no Blog oficial da “Confesión Religiosa Wicca, Tradición Celtíbera”, datado de

23/10/2013. Traduzido para Anima Mystica Revista Digital por Céu Almeida. Revisto por Luís Miranda

** Sobre o autor: Fernando González é Sumo Sacerdote (terceiro grau) e fundador da Confesión Religiosa Wicca,

Tradición Celtíbera.

No inicio dos anos 80 do século passado foi iniciado num coven de Bruxaria Tradicional Ibérica e na segunda meta-

de dessa mesma década fundou a “Tradición Wicca Celtíbera”. Desde então dedica-se à divulgação da Bruxaria e

da Wicca enquanto Culto religioso pagão de origem indoeuropeia, seja escrevendo artigos ou colaborando na reda-

ção de revistas como Año 0 ou Karma-7, programas de radio e televisão.

Em 1992 um Ayuntamiento de um povoado da região de Madrid (Pinto) pediu à Wicca Celtíbera para celebrar publi-

camente o Solstício de Verão, coisa que têm feito desde então, sendo a primeira festa municipal pagã (Wicca) com

o estatuto de tradicional.

Em 2011 o Estado Espanhol reconhece e inscreve como religião a Wicca na sua Tradição Celtíbera e em 2012 es-

ta religião é também inscrita no Estado Português.

Em 2012 participou na fundação da “Plataforma en favor de la Libertad Religiosa del Paganismo” (cofundador) on-

de é porta-voz da mesma e que é hoje composta por quatro Confissões religiosas pagãs reconhecidas pelo Estado

Espanhol.

Fernando González **

A Igreja Católica com a intervenção direta Do Vaticano e através da Conferência Episcopal Portuguesa, pactuou em 2012 a modificação do Calendário Laboral com o Governo de Portugal para a redução de Feriados como consequência da crise. Chama-me fortemente a atenção que nesta negociação se acorda a supressão do 1º de

Novembro (Samhain), para eles o Dia de To-dos os Santos, como uma das festas prejudi-cadas, especialmente tendo em conta que não previram sequer mudar a data do mes-mo para nenhuma outra, como por exemplo fizeram com a festa do Corpo de Deus, mas diretamente o tenham eliminado. Neste con-texto, diz o diário DN Portugal do Acordo que “Segundo o texto, o feriado do Corpo de Deus, assinalado numa quinta-feira 60 dias depois da Páscoa, vai ser “transferido para o domingo seguinte” e o de Todos os Santos ‘manter-se-á no dia 1 de Novembro mas sem o carácter de dia feriado civil’“. Isto leva-me a refletir sobre um facto inédito, mesmo fora do debate, que desde logo há que ter, quanto a quem tem o poder de deci-dir os feriados religiosos dos portugueses, e perfeitamente poderíamos entender que fos-se negociado para além do Estado e dos in-terlocutores sociais, de fazê-lo algum repre-

“Por um lado parece-me estranho que

a Igreja Católica tenha decidido

eliminar das festividades

portuguesas uma das celebrações

religiosas, mais antigas, populares e

multitudinárias.”

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sentante religioso, algo deveriam opinar, até mesmo ouvi-los, quanto menos os represen-tantes de outras religiões, maioritárias ou não, porque acreditamos que é a imanência do direito e não o número de beneficiários, o que deve ter-se em conta no que diz respeito ao reconhecimento do mesmo. Mas por mais importantes que sejam não queria perder-me nas diversas ramas e cen-trar-me no que transparece deste acordo. Por um lado parece-me estranho que a Igreja Ca-tólica tenha decidido eliminar das festividades portuguesas uma das cele-brações religiosas, não o esqueçamos - mais antigas, populares e multi-tudinárias. E por outro lado, creio chegar a entender o que fói que motivou esta decisão? … nunca foi o 1º de No-vembro tão santo para eles como sagrado tem sido sempre para nós Não é de admirar que a Igreja Católica tenha cla-mado primeiro contra o paganismo das nossas festas, em seguida contra a banalização das já cristiani-zadas e finalmente contra ambos os pressupostos. Um argumento meio enga-nador e meio absurdo já que todas as efemérides remarcadas, e uma boa parte das menores do seu calendário religio-so, são um plágio descarado do calendário festivo pagão. Podemos recordar as palavras do bispo cató-lico de Sigüenza-Guadalajara, D. José Sán-chez, tenor da voz de alarme que deu a Conferência Episcopal Espanhola em 2009 porque “Halloween não é uma festa inocen-te“, que veio a dizer que ”a impulsos do co-mércio, do consumo e da moda, costumes como estes, pagãos, importados, prevaleçam e até desloquem costumes cristãos como a devoção aos santos e a oração pelos defun-tos“. Nem sequer me interessa hoje refutar pela enésima vez tais falácias, mas sim afirmar

que para esta Confissão religiosa a nos-sa festividade sagrada supõem um grave pro-blema que procuram resolver de qualquer maneira, e não quero que nos desviem de que esta é uma estratégia que a Igreja Católi-ca está a pôr em prática para tratar de abor-tar a restituição pagã desta celebração. De facto e vendo que nem tratando de reedu-car, com planos especiais os seus batizados, para que se afastassem destas práticas pa-gãs, conseguiram travar o seu impulso natu-ral, como as que promove o lobby fundamen-talista católico ACIPRENSA através das suas páginas, o próximo passo para a frente na liderança da Conferência Episcopal Portu-

guesa, nesse país é clara-mente significativo. Perdendo a consideração de feriado no calendário laboral, a Igreja Católi-ca reconhece estar a ceder abertamente a autoridade de uma festividade religio-sa que nunca lhe perten-ceu, aos seus verdadeiros depositários, os pagãos, embora como nos tem acostumados jogue sujo mais uma vez, ao despro-teger e conseguir que se trabalhe nesse día, dificulta que se mantenha um se-guimento igual ou maior e inclusivamente que muitos a entendam como o que é, religiosa e sagrada, e que seja mais difícil celebrá-la.

Não é uma má estratégia mas temo muito relutantemente que esteja condenada ao fra-casso, como foi inventar um homônimo para o 13 de Maio, como foi apropriar-se da data em sí sobrepondo os seus credos, como tem sido impedindo ou demonizando o seu aspe-to mundano, como será retirá-lo do calendá-rio. É de agradecer em todo o caso que cor-roborem o que de alguma forma todos sabía-mos, que nunca fói o 1º de Novembro tão santo para eles como sagrado o tem sido sempre para nós. Sinceramente acredito que não importa o que façam, não importam as suas artimanhas nem os impedimentos que ponham no nosso caminho, porque a recuperação da nos-

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sa Festividade, do Samhain, a honra, lem-brança e desfrute dos nossos Antepassados, nosso Culto aos Ancestrais, nosso Ano Novo e devoção aos nossos Deuses e Deusas que celebramos estes dias, não tem volta atrás nem Deus -o seu- que nos impeça. Os cornos fazem rugir o bosque nesta Noite e voltamos a prender as luminárias, a reunir-mo-nos ao redor das nossas fogueiras, ao calor da irmandade, restituindo os velhos Pactos favorecidos por uns Deuses que nos reconhecem e respondem à nossa Chamada e já sejamos anfitriões ou convidados de hon-ra na cena comunal, seja a Santa Deusa quem o decida, voltaremos a perpetuar com os nossos o Ciclo da Vida.

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A luz do divino

Entrevista realizada a Jean-Louis de Biasi,

Grande Mestre da Aurum Solis*

* Traduzido por Luís Miranda

por Eduardo Puente e Valentina Ramos

Anima Mystica Revista Digital: Quais são as bases da Aurum Solis e a quem se dirige? Jean-Louis de Biasi: A tradição da Aurum Solis é definida pelo que chamamos a “Corrente Dourada” (dos mestres). Esta linhagem tem suas raízes no hermetis-mo que, uma tradição associando práticas Teúrgicos com uma abordagem racional para os mistérios internos da vida. A tradição des-creve primeiro as altas origens da alma hu-mana e como ela desceu para a forma física e o que isso significa, e segundo revela o ca-minho pelo qual a alma pode novamente vol-tar ao Eterno e Supremo e o que isso envol-ve.

Esta tradição pré-cristã nascida em Alexan-dria (Egipto), nos últimos séculos antes da era atual, tem dado à humanidade alguns dos seus maiores cientistas e filósofos huma-nistas. Politeísmo, a principal expressão reli-giosa deste tempo, a tradição de tolerância para qualquer prática e experiência espiritual. Muitos são os caminhos! Mas a organização, autodisciplina e prática conduzem-nos ao Próximo Passo! Estas manifestações progressivas de ciência não-teológica e espiritualidade humanista fo-ram severamente atacadas durante a ascen-são das religiões monoteístas institucionali-zadas na Europa e no Oriente Médio, levan-do diretamente para a Idade das Trevas. No entanto, no século XV, a tradição Teúrgica

Sobre Jean-Louis de Biasi: É um autor, orador e filósofo. Estudou muitos aspetos da tra-dição ocidental desde os anos 1970. Nasceu no sudoeste da França e tem uma ligação ancestral com a Itália, através de sua família paterna, levando a sua paixão pelas tradições iniciáticas e religiosas ocidentais e mediterrânicas e, quase inevitavelmente, a um interesse em aprofundar as várias correntes espirituais que foram passa-das para nós da antiguidade.

JL de Biasi tem o compromisso de conciliar as exigências da razão crítica com os ensinamentos tradicionais e históricos, e o trabalho prático que os envolvem. A sua análise didática torna pos-sível que qualquer um entenda facilmente o funcionamento de cada um desses campos. O au-tor coordena vários ensinamentos e workshops internacionais.

Mais informações sobre a Ordem Aurum Solis aqui

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Neoplatónica Ogdoádica reapareceu em Flo-rença, Itália. O Renascimento foi realmente o renascimento universal da consciência huma-na acendendo o início da civilização moder-na: quebrando o domínio religioso e monar-quista do pensamento humano, a ciência e a filosofia e levando à idade industrial, tecnoló-gica e da informação, à democracia e os di-reitos humanos e à abolição da escravatura, tolerância religiosa, educação universal e tra-dições metafísicas, etc. Deste este momento a Tradição Teúrgica / Hermética foi secretamente continuada na Europa até o seu renascimento em 1897. A Aurum Solis é exemplo único de uma organi-zação iniciática e espiritual que permaneceu enraizada nos valores espirituais humanistas originais desenvolvidos pelos fundadores. Desde o início, a Aurum Solis opta por man-ter uma linhagem única e clara, trabalhando para melhorar a visibilidade da Tradição Oci-dental original, destacando as caraterísticas únicas deste caminho espiritual, a Aurum So-lis mostra a urgência de encarar a vida de forma diferente. Os dogmas são perigosos; o caos é arriscado, enquanto redescobrir um caminho tolerante e tradicional com o divino é primordial. Esta é a Renascença Moderna! Como você pode ver esta tradição tem uma história clara e reconhecível. A sua filosofia pode ser facilmente entendida. A teurgia é uma parte específica da tradição ocidental, que tem uma forte identidade e especificida-de. Ao ler sobre esta tradição, quem sentir um forte apelo pode requerer a entrada no período preparatório chamado "Pronaos." Po-de encontrar mais detalhes sobre isto no nos-so site. AMRD: Que benefícios pode encontrar uma pessoa juntando-se à Ordem Aurum Solis? JLDB: Existem dois níveis para a sua per-gunta. Há benefícios visíveis que são a con-sequência da adesão. Outros têm que ser considerados a um nível espiritual. Assim, em relação à sua primeira etapa en-quanto membro Pronaos, ser-lhe-á possível experimentar vários elementos da tradição teúrgica com um sistema muito completo e gradual de práticas rituais. Irá ler ensinamen-

tos sobre a Tradição Hermética / Ogdoádica, os estudos filosóficos, e Fundamentos da Teurgia. Além disso o site irá permitir que compartilhe os seus pensamentos e experi-ências com os outros membros, diretores e Grandes Oficiais da Ordem. Ao nível espiritual, será colocado numa Or-dem ansiosa para lhe dar a melhor formação possível na tradição ocidental Teúrgica. Te-mos dois objetivos muito simples: tornarmo-nos conscientes de quem realmente somos, e quando for a altura, ser capazes de cruzar o limiar da nossa morte com plena consciên-cia! Isso não é algo que a religião pode ofere-cer. Para as religiões, tem apenas que acre-ditar. Ao contrário da tradição teúrgica que acredita que se podem aprender as técnicas e que podem ser ensinadas. O que precisa é de uma escola iniciática real e séria. E isso é algo raro.

AMRD: O que diferencia a ordem Aurum So-lis das outras ordens místicas e esotéricas existentes? JLDB: Claro que a resposta poderia ser lon-ga, mas posso dizer que uma ordem tradicio-nal e teúrgica iniciática como a Ordo Aurum Solis é definida por três princípios: 1 - Uma linhagem ininterrupta que constitui uma ligação direta entre cada Grão-Mestre e todos os grandes mestres que o precederam. É por esta ligação que cada novo Grão-Mestre da tradição é empossado. 2 - O poder de transmitir e se relacionar com a egrégore da Ordem. A capacidade de exe-cutar rituais iniciáticos que envolvem os dois planos (visíveis e invisíveis) torna-se capaz de realmente provocar um despertar da cons-ciência do Iniciado. Em seguida, a conexão com o egrégore assegura o treino individual.

“A teurgia é uma parte específica da

tradição ocidental, que tem uma

forte identidade e especificidade”

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3 - A tradição de transmissão dos "objetos sagrados", ou mais exatamente a transmis-são de "objetos consagrados," tradição se-gundo os ensinamentos claramente mencio-nados nos escritos de Jâmblico, Proclo, Apu-leus e Marsilio Ficino.

Todos estes aspetos são cuidadosamente mantidos na Aurum Solis. AMRD: Quais são as semelhanças entre os princípios da Aurum Solis e os do Paganis-mo? JLDB: A Ordo Aurum Solis é Pagã! Como disse na minha primeira resposta, a nossa tradição nasceu em Alexandria (Egipto) nos últimos séculos antes da nossa era. Nesta altura a tradição proveniente do colégio de sacerdotes de Hermópolis era associada ao nascimento do Hermetismo. Nessa altura existia uma total tolerância entre as religiões existentes. Os emigrantes gregos residiam em Alexandria, em egípcio. Era permitido a todos louvar aos Deuses ou Deusas que qui-sessem. Esta ainda é a definição perfeita do que a Aurum Solis é. No entanto o monoteís-mo chegou e começou a perseguir os pagão, teurgistas, hermetistas, e todos aqueles leais às Divindades Imortais. Para descobrir al-guns dos principais princípios da Aurum Solis e entender como eles estão perto do Paga-nismo sugiro que leia uma oração maravilho-sa chamada o Hino aos deuses por Proclo. Pode encontrar o texto em anexo a esta en-trevista. No meu próximo livro (Rediscover the Magick of the Gods and Goddesses, Llewellyn Publi-cations), falo detalhadamente sobre o paga-nismo e a teurgia. Deve ter em mente que a que um teurgo é necessariamente um pagão. A sua tradição é pagã e um grande número de mestres desta tradição foram perseguidos

pelos monoteístas. No entanto, você pode ser pagão, um crente de divindades, e não um teurgo. A teurgia é uma expressão espe-cífica do paganismo. AMRD: Existem atividades da Ordem Aurum Solis para não-membros? JLDB: A Ordo Aurum Solis celebra o nasci-mento de Platão com um banquete ritual. Há um ritual específico e qualquer um pode ser convidado. A Eclésia Ogdoádica, que é a ex-pressão religiosa da Aurum Solis, realiza vá-rios rituais, todos bastante públicos. Outros rituais exteriores serão tornados públi-cos. No entanto, e como eu disse, a Aurum Solis é uma tradição iniciática e um lugar de formação psíquica através de rituais. Por is-so, é lógico que muitas coisas não podem ser tornadas públicas. AMRD: Pode dizer-nos, em poucas palavras, o que as Tradições Hermética e Ogdoádica significam para si? JLDB: Duas coisas são importantes: primeiro cumprir o nosso propósito nesta vida e se-gundo encontrar a melhor forma de viver no nosso mundo moderno. A Tradição Hermética / Ogdoádica está a dar respostas a ambos. Esta Tradição dá-lhe as chaves práticas para dominar a sua própria vida e pós morte. Mas agora dá-lhe um ideal de tolerância em relação a outras crenças e uma forma de equilibrar a sua vida. O que me impressionou mais foi verificar que esta tradição muito antiga é capaz de nos dar importantes chaves que são hoje tão relevan-tes como eram à dois ou três mil anos antes. Esta é uma tradição em que se pode conti-nuar a sentir a luz do divino e da presença viva dos mestres fundadores. A única coisa a fazer se estiver interessado é, como eu, dizer: vamos experimentar!

“Você pode ser pagão, um crente de

divindades, e não um teurgo.

A teurgia é uma expressão específica

do paganismo.”

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Enviado por Jean-Louis de Biasi

Traduzido ao português por Luís Miranda

Hino aos Deuses

"Ouvi-me, ó Deuses, vós que segurais o leme da sabedoria sagrada.

Guiai-nos, mortais, de volta para entre os imortais acendendo nas

nossas almas a chama do regresso. Que as iniciações inefáveis de

vossos hinos nos deem o poder para escapar da caverna escura das

nossas vidas e nos purifiquem.

Ouvi, poderosos libertadores!

Dissipai a escuridão circundante, e concedei-me o poder de

compreender os livros sagrados; de substituir a escuridão por uma luz

pura e santa. Assim posso conhecer verdadeiramente o Deus

incorruptível que eu sou.

Que um espírito perverso nunca me possa manter, oprimido por males,

submersos nas águas do esquecimento e longe dos Deuses e Deusas.

Que a minha alma não possa ser agrilhoado nas prisões da vida onde

sou deixado a sofrer uma expiação aterrorizante nos ciclos glaciais da

geração. Eu não quero veranear mais.

Ó, Deuses soberanos de sabedoria radiante, oiçam-me! Revelai a quem

se apressa no Caminho de Retorno os êxtases sagrados e as iniciações

guardadas no profundo de tuas palavras sagradas!”

Proclo

Page 28: Anima Mystica Revista Digital Vol 3 No 1

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Anima Mystica recomenda:

“As vozes do Outro Lado de Midgard”

O ponto de confluência entre Mitologia Nórdica e vida mundana

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“Entre la psicología, el misticismo y la brujería”

Psicologia e misticismo têm andado de mãos dadas desde que os grandes pensadores come-

çaram a questionar o mundo ao seu redor e procurar uma explicação para suas ideias e as

sinais da natureza e os deuses.

Acesso ao Blog

Page 29: Anima Mystica Revista Digital Vol 3 No 1

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Hermes :

el Dios de las dos caras

Autor: Valentina Ramos

Língua do texto original: ESPAÑOL

Anima Mystica Revista Digital Vol. 3 No 1 pp 8-11

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Portugal destierra Samhain

del calendario

Autor: Fernando González

Língua do texto original: ESPAÑOL

Anima Mystica Revista Digital Vol. 3 No 1 pp 21-23

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The light of the divine

Interview to Jean-Louis de Biasi, Grand Master

of the Aurum Solis

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Anima Mystica Revista Digital Vol. 3 No 1 pp 24-26

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