anibal beça

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 Biografias Aníbal Beça Anibal Beça, poeta amazonense, nasceu a 13 de setembro de 1946. Era poeta, compositor e jornalista. Desde muito cedo colaborava em suplementos literários e em publicações similares nacionais e internacionais. Dividiu seus primeiros estudos entre colégios de Manaus (Aparecida, Dom Bosco e Brasileiro) e em Novo Hamburgo, Rio Grande do Sul (Colégio São Jacó). Durante sua permanência no Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, travou amizade com o poeta Mario Quintana, quem lhe deu os primeiros ensinamentos e o estímulo para a poesia. Especialista em Tecnologia Educacional na área de Comunicação Social (UFRJ), teve passagens, como repórter, redator, colunista, copy-desk e editor, em todas as redações dos  jornais de Manaus, do início da década de 60 até final da década de 80. Também foi diretor de produção da Televisão Educativa do Amazonas - TVE. O p oeta exerceu a função de consultor da Secretaria de Cultura e Turismo do Amazonas, onde foi Idealizador e Editor-geral do suplemento literário "O Muhra", de circulação bimestral, editado pela referida secretaria. Envolvido com teatro, artes plásticas, deixou na música popular a sua contribuição mais efetiva como compositor, letrista e produtor de espetáculos e de discos. Desde 1968, quando venceu o I Festival da Canção do Amazonas, Anibal foi colecionando prêmios com mais de 18 primeiros lugares em festivais em sua terra, no Brasil e no exterior. Representou o Brasil no VIII Festival de Joropo de Villa Vicencio, Colômbia (1969); Foi o único artista amazonense a se classificar e se apresentar no Festival Internacional da Canção FIC, em 1970, com a música "Lundu do Terreiro de Fogo", defendida pela cantora Ângela Maria. Tem músicas gravadas por vários artistas brasileiros como: Ângela Maria, As Gatas, Coral JOAB, Felicidade Suzy, Nilson Chaves, Eudes Fraga, Lucinha Cabral, Dominguinhos do Estácio; Bira Hawaí, Aroldo Melodia, Jander, Raízes Caboclas, Mureru, Roberto Dibo, Célio Cruz, Arlindo Junior, Paulo Onça, Paulo André Barata, Almino Henrique, Pedrinho Cavalero, Pedro Callado, Delço Taynara, Grupo Tymbre e outros. Anibal Beça, além da sua condição artística, era produtor e animador cultural nato. Sua participação ampla, por diversos setores artísticos, que se estende até à manifestação da arte mais popular brasileira, o carnaval, fez com que fosse lembrado, e merecidamente homenageado, este ano de 99, como tema de enredo "Anibal Bom à Beça" da Escola de Samba Sem Compromisso. Fez parte da Ala dos Compositores das Escolas de Samba Reino Unido da Liberdade e Sem Compromisso, dando a esta última, seu único título pela autoria do enredo e do samba de enredo "Joana Galante - Axé dos Orixás", e classificou a referida escola entre as três primeiras colocações com os samba de enredo: "Hotel Cassina - Apoteose Boêmia", "Hoje tem Guarany", "Vento e sol, passa cerol - A Arte de empinar papagaios" ; "Sol de Feira - O pregão da Alegria". Seu primeiro livro Convite Frugal, data de 1966 .A propósito de sua poesia, o poeta Carlos Drummond de Andrade, teceu, em 31 de julho de 1987 - pouco antes de morrer

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Biografias

Aníbal BeçaAnibal Beça, poeta amazonense, nasceu a

13 de setembro de 1946. Era poeta,compositor e jornalista. Desde muito cedocolaborava em suplementos literários e empublicações similares nacionais einternacionais. Dividiu seus primeiros estudosentre colégios de Manaus (Aparecida, DomBosco e Brasileiro) e em Novo Hamburgo, RioGrande do Sul (Colégio São Jacó).Durante sua permanência no Rio Grande doSul, em Porto Alegre, travou amizade com opoeta Mario Quintana, quem lhe deu osprimeiros ensinamentos e o estímulo para apoesia.Especialista em Tecnologia Educacional naárea de Comunicação Social (UFRJ), tevepassagens, como repórter, redator, colunista,copy-desk e editor, em todas as redações dos

 jornais de Manaus, do início da década de 60 até final da década de 80. Tambémfoi diretor de produção da Televisão Educativa do Amazonas - TVE.O poeta exerceu a função de consultor da Secretaria de Cultura e Turismo doAmazonas, onde foi Idealizador e Editor-geral do suplemento literário "O Muhra", decirculação bimestral, editado pela referida secretaria.Envolvido com teatro, artes plásticas, deixou na música popular a sua contribuição

mais efetiva como compositor, letrista e produtor de espetáculos e de discos.Desde 1968, quando venceu o I Festival da Canção do Amazonas, Anibal foicolecionando prêmios com mais de 18 primeiros lugares em festivais em sua terra, noBrasil e no exterior. Representou o Brasil no VIII Festival de Joropo de Villa Vicencio,Colômbia (1969); Foi o único artista amazonense a se classificar e se apresentar noFestival Internacional da Canção FIC, em 1970, com a música "Lundu do Terreiro deFogo", defendida pela cantora Ângela Maria.Tem músicas gravadas por vários artistas brasileiros como: Ângela Maria, As Gatas,Coral JOAB, Felicidade Suzy, Nilson Chaves, Eudes Fraga, Lucinha Cabral,Dominguinhos do Estácio; Bira Hawaí, Aroldo Melodia, Jander, Raízes Caboclas,Mureru, Roberto Dibo, Célio Cruz, Arlindo Junior, Paulo Onça, Paulo André Barata,Almino Henrique, Pedrinho Cavalero, Pedro Callado, Delço Taynara, Grupo Tymbre e

outros.Anibal Beça, além da sua condição artística, era produtor e animador cultural nato.Sua participação ampla, por diversos setores artísticos, que se estende até àmanifestação da arte mais popular brasileira, o carnaval, fez com que fosse lembrado,e merecidamente homenageado, este ano de 99, como tema de enredo "Anibal Bom àBeça" da Escola de Samba Sem Compromisso.Fez parte da Ala dos Compositores das Escolas de Samba Reino Unido da Liberdadee Sem Compromisso, dando a esta última, seu único título pela autoria do enredo e dosamba de enredo "Joana Galante - Axé dos Orixás", e classificou a referida escolaentre as três primeiras colocações com os samba de enredo: "Hotel Cassina -Apoteose Boêmia", "Hoje tem Guarany", "Vento e sol, passa cerol - A Arte de empinarpapagaios" ; "Sol de Feira - O pregão da Alegria".

Seu primeiro livro Convite Frugal, data de 1966 .A propósito de sua poesia, o poetaCarlos Drummond de Andrade, teceu, em 31 de julho de 1987 - pouco antes de morrer

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- o comentário: "Li Filhos da Várzea, os poemas-pôster e os haicais afetuosamente amim dedicados. Obrigado por tudo, meu caro poeta. É de coração aberto que lhedesejo a maior receptividade pública e compreensão para a bela poesia que estáelaborando e que, espero, marcará seu nome como um dos que engrandeceram ocultivo artístico do verso."Em 1994, com o livro Suíte para os Habitantes da Noite, sagrou-se vencedor, dentre7.038 livros de todo o país, do 6º Prêmio Nestlé de Literatura Brasileira - categoriapoesia.O livro, lançado sob o selo da editora Paz e Terra, saiu em 1995.Outros livros: Filhos da Várzea, ed. Madrugada, 1984, abrigando o livro Hora Nua;Marupiara - Antologia de Novos Poetas do Amazonas, (organizador) Ed. Governo doEstado do Amazonas, 1985; Quem foi ao vento, perdeu o assento (Teatro) Ed.SEMEC, 1986; Itinerário Poético da Noite Desmedida à Mínima Fratura, Ed.Madrugada, 1987; Banda da Asa - poesia reunida, Ed. Sette Letras, 1998; contendo olivro inédito Ter/na colheita.Em junho de 99, representou o Brasil no VIII Festival Internacional de Poesia deMedellín, e em agosto/99 no Encontro Internacional de Escritores da Associação

Americana para o desenvolvimento cultural, em Bogotá.Aníbal Beça morreu em Manaus, no dia 25 de agosto de 2009.

Livros publicados  Convite Frugal, Edições Governo do Amazonas (1966),  Filhos da Várzea, Editora Madrugada (1984),  Hora Nua, Editora Madrugada (1984),  Noite Desmedida, Editora Madrugada (1987),  Mínima Fratura, Editora Madrugada (1987),  Quem foi ao vento, perdeu o assento, Edições Muraquitã (teatro, 1988),  Marupiara  – Antologia de novos poetas do Amazonas, Edições Governo do

Amazonas (organizador, 1989),  Suíte para os habitantes da noite, Paz e Terra (1995),  Ter/na Colheita, Sette Letras (1999),  Banda da Asa  – poemas reunidos, Sette Letras, (1999),  Ter/na Colheita, Editora Valer (2006, segunda edição),  Noite Desmedida, Editora Valer (2006, segunda edição),  Folhas da Selva, Editora Valer (2006).  Chá das quatro, Editora Valer (2006)  Águas de Belém, Editora Muhraida( 2006);  Águas de Manaus, Editora Muhraida( 2006).  Palavra Parelha reunindo os livros Cinza dos Minutos, Chuva de Fogo, Lâmina

aguda, Cantata de cabeceira e Palavra parelha no prelo Editora Topbooks2007.

Música  Marapatá - 1984 (em parceria com Armando de Paula).  O Poeta solta a voz - 2001.  Duas águas - 2006.

Poemas

MOTIVOS / Aníbal Beça © Por que a poeira da estrada já se faz pálida

Há um rumor clamando urgências.

Por que os olhos da noite já se tornaram glaucos

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Há uma esteira iluminando ontens.

Por que as nuvens galopam desenhos do instintoHá uma foice ceifando minutos.

Por que o presto está prestes a partir na aventuraHá grãos debulhando agoras.

Por que o desejo alimenta a lentidãoHá um pandeiro no ritmo de frevo.

Por que a fala já é rouca no eco das sílabasHá um discurso rotulando verbos.

Por que a carícia se assola no solo da peleHá uma partitura sem sons no silêncio da gruta.

Motivos existem circundando mandalasMandá-las soar as sete notas sem as pausasAlimentar os ventos aventureirosCantar a canção de embalo da sestaPreservar a sedução no horário do corpoSoprar nuvens no céu dos neurôniosBem assim o pedido para alongar a música.

CONSTATAÇÃO / Aníbal Beça © 

Chega um tempo em que as nuvens não te reconhecem.Não digas nada.Longe não deslindas um som que te freqüentava.Não aguces os ouvidos.Na gruta passam por ti como se te não vissemNão esfregues os olhos.Caminhas pela campina e teus pés nada sentem.Não troques de passo.A palavra não é mais dita, apenas lida por outrem.Não fales nada.

No universo transverso desse tempo

Na contramão de versos claudicantesAinda restam as mãos para o incêndio das horas.

NÓ / Aníbal Beça © Há sempre um nó encordoadoà espera de que alguém o dedilhe.

Para cada marinheiro um acorderetesado pelos ventos da distância.

Há um sol encurvado nas águas

afogando horizontes longínquosO viajante sabe quando o cais

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sola a melodia do impulso.

A rota não é de fuga, mas de fogo.aventura de busca sem bússolas.

Nesta noite em que navego lençóis

recostado a um tombadilho de plumasFalta-me um par de remos, mastro e velas soltas.

Embora a voz remota insista por meu nome.

TODA PALAVRA / Aníbal Beça © 

“Toda palavra guarda uma cilada”  TORQUATO NETO 

Toda palavra voa nebulosaaté chegar latente ao nosso chão.Pousa sem pressa ou prece em mansa prosacaída chuva breve de verão.

Toda palavra se abre generosapara abrigar segredos num porãolá onde sobram sombras sinuosaslevantando a poeira no perdão.

Toda palavra veste-se vistosapara fazer afagos na paixãouma pantera em paz porém tinhosa.

Toda palavra enfim é explosãoque o mundo só é mundo por osmosepois há um outro ser no coração

QUANTUM / Aníbal Beça ©Teu corpo é a minha naturezaonde celebro as horasem silênciotateando o rumor de arrepios.

Minhas mãos galhos ritmadosventos da venturaem tua peleembalando folhasna ponta dos dedos

Da umidade dos porospequenas vertentes afloramlagos lacrimados de salque a minha língua morde.

Sob a fronde do arbustoa sombra do desejo se abrigafruta rubra oferecida

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paisagemcolhida e recolhidaestremeço por inteiroe o céu me interroga:

“Quantos grãos da clepsidra? “ 

A DONZELA DE ZEUS / Aníbal Beça © Caço um rugido de solOdisseu sedento e lassoalço-me a um mar de ninfasescarpadonos ventos de cílioscéleres

Das ondas vejo-a nascida

do botão do olho mais dócilonde um vitral fundeadorecolhe as velas da nave.

Tomo-lhe a mãode cambraia

a vestidura deincógnitas

Desçosuavemente ao dorsocom as mãos cheias de lavasdevolvidas ao vulcãonum jogo de fogo e espelho

Só na brasa dos mamilosencontro a concha das mãossuor serenoarrepioum mar salgado na boca

Ó Ítaca distante!

A língua se evola lânguida

estilingue em espiralpedra elástica na praiatomando de assalto o lago

Por um momento sei-me pranchae ela um trampolim de pétalas

Na fúria de Poseidonpousa Penélope