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Texto de Sonia Meyer Análise FuncionalTRANSCRIPT
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ANÁLISE FUNCIONAL DO COMPORTAMENTO
Sonia Meyer1
Departamento de Psicologia Clínica IP-USP
Capítulo submetido à publicação em março de 2003 no livro “Primeiros Passos” organizado pela ABPMC.
Resumo
A análise funcional é a identificação das relações entre os eventos ambientais e as ações do organismo.
Para estabelecer estas relações devemos especificar a ocasião em que a resposta ocorre, a própria resposta e
as conseqüências reforçadoras. Quando as relações são de dependência entre eventos, estas são denominadas
“contingências de reforço”. O primeiro passo da análise funcional é a identificação do comportamento de
interesse, que deve ser enunciado tanto em termos de ação ou omissão de ação, como em termos de classe de
ações, ou seja, comportamentos individuais podem ser membros de classes funcionais mais amplas. Para
identificar relações entre variáveis ambientais e o comportamento de interesse, inicia-se com a descrição da
situação antecedente e da subseqüente, para em seguida verificar quais destes eventos de fato exercem controle
sobre a resposta analisada. Comportamentos operantes podem estar sendo mantidos por reforçamento positivo
ou negativo. Para analisar a ocasião em que a resposta ocorre (seus antecedentes), devemos verificar se existem
para essa resposta: 1) estímulos eliciadores; 2) estímulos discriminativos; 3) operações estabelecedoras; 4)
regras e auto-regras (que são estímulos discriminativos ou operações estabelecedoras); 5) eventos encobertos
geralmente não podem ser considerados antecedentes por não participarem da determinação da resposta; 6) a
história de vida não é uma ocasião em que a resposta ocorre. Relações entre respostas também fazem parte da
identificação de relações entre eventos ambientais e ações do organismo. A análise funcional está intimamente
relacionada à intervenção, e permanece sendo um desafio o desenvolvimento de uma análise completa,
especialmente quando ela não é desenvolvida com controles experimentais. Neste caso pode ser denominada
avaliação funcional.
Palavras-chave: análise funcional; avaliação funcional; análise de contingências.
A análise do comportamento está interessada nas relações entre os eventos ambientais (os estímulos)
e as ações do organismo (as respostas). A identificação destas relações é a análise funcional. “Fazer uma
análise funcional é identificar o valor de sobrevivência de determinado comportamento” (Matos, 1999b, p.
11).
Uma formulação da interação entre um organismo e seu ambiente deve sempre especificar a ocasião
em que a resposta ocorre, a própria resposta e as conseqüências reforçadoras. As inter-relações entre elas são
as contingências de reforço (Skinner, 1974).
Contingências se referem a relações de dependência entre eventos: entre a resposta e a conseqüência
reforçadora no caso do comportamento operante; entre antecedente, resposta e conseqüente, no operante
discriminado; entre uma condição e um antecedente e a resposta e a conseqüência, em uma discriminação
condicional. Operantes complexos envolvem múltiplas contingências operando em diferentes combinações,
simultânea e/ou sucessivamente.
O primeiro passo para a realização de uma análise funcional é a identificação do comportamento de
interesse. Isto requer do analista do comportamento a observação do comportamento e/ou a obtenção de relatos
de outras pessoas.
1 Os tr abalhos finais apresen tados à discipl ina min istr ada pela autora no Programa de Pós -graduação em
Psicol ogia Cl ín ica da USP “Aval iação e terapia comp or tamen tal : fundamentos concei tuais e teór icos” de
Adr iana Regina Rubi o, Noel José Dias da Costa e Fabí ola Alvares Garcia -Serpa foram adaptados para est e
capí tulo.
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Sturmey (1996) enumerou diversos critérios para seleção de comportamentos alvo, sugeridos por
vários autores: - selecionar o problema mais aversivo para o cliente, pais ou cuidadores; - selecionar como
comportamento alvo aquele que apresente perigo físico ao cliente e/ou a outros; - selecionar comportamentos
alvo, sem o tratamento dos quais o cliente teria um prognóstico pobre; - selecionar o comportamento que é
fácil de mudar para assegurar cooperação do cliente ou do cuidador; - selecionar um comportamento chave,
aquele que produz maior mudança entre diversos comportamentos alvo; - ensinar comportamentos
incompatíveis funcionalmente relacionados que aumentem a adaptação ao ambiente; ou que sejam importantes
para o desenvolvimento de outros comportamentos; ou que sejam relevantes para um desempenho bem
sucedido; ou que sejam valorizados socialmente; - selecionar como comportamento alvo aquele que é provável
de se manter; - selecionar comportamentos para mudar que são consistentes com as normas locais e/ou de
desenvolvimento; - selecionar comportamento alvo que permitam uma melhor habilidade de discriminação
entre desempenhos bem e mal sucedidos.
O comportamento de interesse deve ser enunciado em termos de ações do participante. Por exemplo,
a jovem faz chá para o pai, cozinha para o namorado, leva de carro membros da sua família aos lugares que
eles pedem. Deve, também, ser enunciado em termos de classe ou classes de ações. No exemplo dado, uma
classe de ações poderia ser a de agradar os outros. Além disso, para que uma definição seja completa é
aconselhável identificar exemplos e não-exemplos (Matos, 1999b). No caso citado um não-exemplo era
procurar emprego.
Comportamentos individuais são freqüentemente considerados como membros de classes funcionais
mais amplas. Estas são agrupamentos de comportamentos que compartilham a mesma função, mesmo que
com topografias diferentes. A identificação destes agrupamentos ou classes requer repetidas observações de
diversos comportamentos e se dá pela constatação de regularidade de funções de diferentes formas de
comportamentos abertos ou encobertos. Sturmey (1996) sugeriu ainda que comportamentos múltiplos possam
ser organizados em termos de encadeamento ou de hierarquias de respostas.
Também pode ser foco de interesse a omissão ou não ocorrência de um dado comportamento (Matos,
1999b), como por exemplo, a falta de habilidades sociais. Analistas do comportamento se preocupam em
fortalecer comportamentos adaptados que sejam funcionalmente equivalentes àqueles que estão causando
problemas e para isso às vezes é necessário desenvolver novos repertórios de comportamentos que possam
substituir os problemáticos, outras vezes o repertório já existe, mas não está sendo devidamente reforçado
(Sturmey, 1996).
O segundo passo para a realização de uma análise funcional é, de acordo com Matos (1999b),
identificar e descrever o efeito comportamental: a freqüência com que ocorre, duração ou intensidade.
O terceiro passo é o da identificação de relações ordenadas entre variáveis ambientais e o
comportamento de interesse assim como a identificação de relações entre o comportamento de interesse e
outros comportamentos existentes (Matos, 1999b). Para realizar esta tarefa iniciamos com a descrição da
situação antecedente e da situação subsequente ao comportamento de interesse. Após essa descrição, passamos
a identificar quais eventos são condições antecedentes e quais são conseqüências.
Para analisar as conseqüências, as seguintes perguntas sugeridas por Matos (1999b) podem ser
formuladas: a) é uma condição reforçadora ou uma condição aversiva? b) sua ação se faz por apresentação,
remoção ou impedimento? c) o produto é grande, provável, imediato? d) existem produtos a longo prazo?
Quais? e) os produtos são conseqüências naturais ou sociais? São conseqüências mediadas por agentes sociais?
Quem são os agentes?
As respostas a estas perguntas nos ajudam a entender características essenciais dos comportamentos
operantes. As respostas que são controladas pelos estímulos conseqüentes são chamadas de operantes, os
operantes são então, caracterizados pela relação RESPOSTA-CONSEQÜÊNCIA (R-C). Os operantes podem
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ocorrer em baixa freqüência ou alta freqüência a depender do estímulo conseqüente. Quando se observa o
aumento na freqüência de respostas, diz-se que as respostas foram reforçadas e quando se observa baixa
freqüência de respostas, dizemos que as respostas foram punidas ou extintas. Dois tipos de conseqüências são
chamados de reforços, aquelas em que uma resposta produz a apresentação de um estímulo (reforço positivo)
e aquelas em que uma resposta produz a remoção (reforço negativo ou fuga) ou o adiamento de um estímulo
(reforço negativo – esquiva). Ambos os tipos de conseqüências produzem o aumento na freqüência da resposta
(Sidman, 1995). Assim como nas contingências de reforçamento, dois tipos de contingências de punição
podem ser observados: o primeiro tipo ocorre quando uma resposta produz a apresentação de um estímulo
aversivo (punição positiva) e o segundo, quando uma resposta produz a remoção de um estímulo reforçador
positivo (punição negativa) (Sidman, 1995). A freqüência de respostas também diminui quando um reforçador
usual deixa de ser apresentado, e esse processo é chamado de extinção.
Ao realizarmos análises funcionais de comportamentos considerados problemáticos podemos
direcionar nossa pesquisa sobre os conseqüentes para as seguintes questões: há falta de conseqüências
apropriadas? Isto porque algumas vezes pessoas desenvolvem comportamentos problemáticos simplesmente
porque o ambiente não reforça respostas mais úteis. Há conseqüências competitivas entre si? Vários
comportamentos se desenvolvem sob um conjunto de condições, mas mais tarde passam a ser influenciados
por outras condições, e pode ser difícil identificar quais delas estão operando num determinado momento.
Conseqüências a curto prazo muitas vezes competem com as de longo prazo, como no caso de fazer dieta em
que a conseqüência a longo prazo mantém o comportamento, mas o reforço imediato obtido pelo comer
claramente interfere. Há controle conseqüente inadequado, ou seja, existem reforços que não deveriam
reforçar, como é o caso da pedofilia? Nestes casos pode ser necessário dificultar o acesso a estes reforçadores
(Follette, Naugle & Linnerooth, 2000).
Para analisar a ocasião em que a resposta ocorre, ou seja, os antecedentes da resposta, devemos
verificar se existem para essa resposta 1) estímulos eliciadores; 2) estímulos discriminativos; 3) operações
estabelecedoras. Podemos ainda tentar identificar a existência de um tipo importante de estímulo
discriminativo ou operação estabelecedora: 4) regras e auto-regras. Se identificarmos a ocorrência de
pensamentos ou sentimentos antes da ocorrência da resposta, teremos que olhar com muito cuidado se estes
5) eventos encobertos podem ser considerados antecedentes, se realmente participam da determinação da
resposta. Ao analisarmos a 6) história de vida, devemos evitar confundi-la com a ocasião em que a resposta
ocorre.
1. Estímulos eliciadores
Respostas reflexas ou respondentes são eliciadas ou provocadas por um estímulo. Por exemplo, o
estímulo “ruído alto” elicia a resposta de susto.
2. Estímulos discriminativos
Em uma contingência de três termos, os estímulos discriminativos (SDs) sinalizam as condições sob as
quais uma resposta tem conseqüências diferenciais.
Os operantes (relações R-C) não ocorrem indiscriminadamente, eles podem ocorrer em algumas
situações e em outras não, na presença de algum estímulo e não ocorrer na sua ausência ou ainda, uma resposta
poderia ocorrer na presença de um estímulo e não ocorrer na presença de um outro estímulo. Os estímulos que
antecedem os operantes são freqüentemente chamados de estímulos discriminativos e a relação de
dependência entre um estímulo discriminativo (SD), uma resposta (R) e uma conseqüência (C) é chamada de
tríplice contingência (SD-R-C) (Catania, 1999; Matos,1981, 1999a). Em uma tríplice contingência ou
contingência de três termos, os SDs sinalizam as condições sob as quais uma resposta tem conseqüências
diferenciais. Por exemplo, um adolescente pode aprender que na presença dos pais (SD1) falar “palavrões” (R)
é seguido por desaprovação (C1). Enquanto que, na presença dos amigos (SD2) falar “palavrões” (R) é seguido
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por aprovação (C2). Um adolescente submetido a esta situação, apresentará um operante discriminado se falar
palavrões apenas na presença dos amigos e não falar palavrões na presença dos pais. O operante é considerado
discriminado quando a resposta emitida pelo organismo ocorrer com alta freqüência na presença de um SD e
não ocorrer ou ocorrer em baixa freqüência na sua ausência ou presença de um outro SD (Matos, 1981).
A função do estímulo antecedente (estímulo discriminativo) no operante deve ser diferenciada da
função do estímulo antecedente (estímulo eliciador) no respondente. O estímulo antecedente no operante tem
a função apenas de estabelecer a ocasião em que uma resposta será seguida por determinadas conseqüências,
ele não elicia, não provoca a resposta. A relação entre o estímulo discriminativo e a resposta no operante deve
ser entendida, segundo Matos (1981) em termos probabilísticos, ou seja, a resposta tem a sua probabilidade
de ocorrência aumentada em função da apresentação do estímulo discriminativo, entretanto, ela poderá ou não
ocorrer, não se tratando, portanto, de uma relação causal. No caso do estímulo eliciador no respondente, a
relação entre o estímulo e a resposta é causal e não probabilística, ou seja, a resposta é eliciada, provocada
pelo estímulo antecedente e sempre ocorrerá se o estímulo eliciador estiver presente.
Ao analisarmos funcionalmente comportamentos considerados problemáticos podemos direcionar
nossa pesquisa sobre os antecedentes para as seguintes questões: Faltam antecedentes apropriados, ou seja, o
problema ocorre não por falta de repertório do indivíduo mas por falta de oportunidade de ocorrência de uma
resposta apropriada? Uma criança que é filha única e que não freqüente escola pode não ter tido oportunidade
de desenvolver cooperação. Falta controle discriminativo? Há ocasiões em que um padrão comportamental é
apropriado em alguns contextos, mas não em outros, entretanto estes diferentes contextos não controlam
diferencialmente as respostas. Há controle discriminativo inadequado? Este parece ser o caso de
comportamentos autolesivos que são reforçados diferencialmente, mas onde seria mais desejável que o mesmo
contexto controlasse respostas funcionalmente equivalentes, mas menos destrutivas (Follette, Naugle &
Linnerooth, 2000).
3. Operações Estabelecedoras – OEs
Além dos estímulos discriminativos, outras condições ambientais antecedentes podem alterar
diferentemente a probabilidade de ocorrência dos operantes. Operações como a privação e saciação podem
aumentar ou diminuir a probabilidade de ocorrência de uma resposta. A estas operações Michael (1982, 1993)
chamou de operações estabelecedoras (OEs). Catania (1999) define as OEs como qualquer operação que mude
a condição de um estímulo como um reforçador ou punidor, como por exemplo, a privação, a saciação, os
procedimentos que estabelecem estímulos formalmente neutros como reforçadores condicionados ou como
aversivos condicionados e as apresentações de estímulos que mudam a condição reforçadora ou punitiva de
outros estímulos (p.412). Por exemplo, se uma criança pede ou não um copo de água pode depender, em
grande parte, de quanto tempo se passou desde a última vez que ela bebeu água e não da presença ou ausência
do filtro de água. Essas operações têm a função de evocar a resposta e alterar a efetividade de eventos
reforçadores ou punitivos.
As operações estabelecedoras produzem dois diferentes efeitos sobre o comportamento de um
organismo: 1- alterar (aumentando ou diminuindo) a efetividade de algum objeto ou evento como reforçador
ou punidor e 2- evocar o comportamento que, no passado, foi seguido por esta conseqüência. As operações
estabelecedoras são operações ambientais antecedentes que devem ter suas funções diferenciadas da função
das operações ambientais antecedentes definidas como estímulos discriminativos. As operações
estabelecedoras estabelecem a efetividade de conseqüências, enquanto os SDs apenas sinalizam a
ocorrência das conseqüências, caso a resposta seja emitida.
As operações estabelecedoras de privação, saciação e estimulação aversiva possuem, segundo Michael
(1993), quatro efeitos comuns:
1- Efeito estabelecedor de reforçamento ou punição: uma operação estabelecedora altera
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momentaneamente a efetividade reforçadora ou punidora de um estímulo;
2- Efeito evocativo ou supressivo: evoca ou suprime respostas que no passado produziram
conseqüências cuja efetividade tenha sido alterada;
3- Efeito evocativo ou supressivo do SD: aumenta a efetividade evocativa ou supressiva de todos os SDs
que tenham sido correlacionados com o reforçador ou punidor estabelecido pelas operações
estabelecedoras;
4- Efeito sobre o reforçamento ou punição condicionada: aumenta/diminui a efetividade reforçadora ou
punidora de qualquer estímulo que tenha sido pareado com o reforçador ou punidor estabelecido pelas
operações estabelecedoras.
As operações estabelecedoras podem ser condicionadas ou incondicionadas. As operações
estabelecedoras condicionadas são aquelas correlacionadas com estímulos reforçadores, punidores ou
eliciadores condicionados, ou seja, que passaram por um processo de aprendizagem. As operações
estabelecedoras incondicionadas são aquelas correlacionadas com estímulos incondicionados, não
estabelecidos por qualquer processo de aprendizagem. A distinção entre as operações estabelecedoras
condicionadas e incondicionadas depende unicamente do processo de estabelecimento – inato ou aprendido –
e não do efeito evocativo.
O estudo das operações estabelecedoras pode contribuir para uma análise mais minuciosa das variáveis
das quais o comportamento é função. Para Schlinger e Blakely (1994) a análise do comportamento operante
não deve se restringir apenas à análise da contingência de dois termos (relação R-S), mas deveria contemplar
também a análise das OEs e dos SDs que antecedem a contingência de dois termos. O seguinte paradigma é
sugerido por Schlinger e Blakely (1994):
OE
: R Conseqüência
SD
Um exemplo da utilidade da análise de operações estabelecedoras foi dado por Dougher e Hackbert
(2000) em estudos relacionados à depressão. Para os autores os comportamentos depressivos são, geralmente,
antecedidos por três condições: 1- níveis insuficientes de reforçamento; 2- a perda de uma gama de
reforçadores; 3- persistente punição ou altos níveis de estimulação aversiva. A terceira condição funcionaria
como operação estabelecedora para os comportamentos depressivos uma vez que evocaria os seguintes
comportamentos: chorar excessivamente, autodepreciação, formulação de regras falsas sobre si mesmo,
esquiva social, abuso de álcool e drogas, pensamentos pessimistas sobre o futuro, sono entre outros.
Estabeleceria, ainda, as expressões de simpatia, a comiseração e a oferta de assistência, como reforçadores
efetivos. Além disso, estas condições antecedentes poderiam potencializar os efeitos reforçadores do comer,
dormir, do isolamento, das drogas e do álcool.
Segundo Sturmey (1996) os estados emocionais também poderiam funcionar como operações
estabelecedoras. O estado de ansiedade, por exemplo, poderia funcionar como uma OE por: 1- aumentar o
valor reforçador da remoção deste estímulo e 2- aumentar a freqüência dos comportamentos que removem
este estímulo. Para o autor, o conhecimento das operações estabelecedoras pelo analista do comportamento,
poderia proporcionar formulações mais complexas e sutis acerca de suas formulações. Além disso, as
operações estabelecedoras poderiam ser utilizadas para descrever como as relações antecedente-resposta-
conseqüência são alteradas em ambientes diferentes.
Miguel (2000) aponta quatro razões para que o conceito de OE seja levado em conta numa análise
funcional: 1- porque tal conceito pressupõe relações ambientais que poderiam alterar o valor de reforçadores
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condicionados, independente do valor de reforçadores primários com os quais foram pareados; 2- porque
permite a manipulação de comportamentos através da manipulação de eventos ambientais antecedentes,
mantendo a relação resposta-conseqüência constante; 3- porque provoca uma nova discussão conceitual a
respeito do uso do termo SD; 4- porque chama a atenção dos analistas do comportamento para um dos mais
importantes e tradicionais fenômenos psicológicos: a motivação. Segundo Catania (1999) quando estudamos
a motivação, estamos interessados no que torna as conseqüências mais ou menos efetivas como reforçadoras
ou punitivas.
1. Regra e auto-regra
Regra é um estímulo discriminativo verbal que descreve contingências (Skinner, 1982), mas há
situações em que ela pode funcionar ainda como operação estabelecedora, ou seja, pode exercer múltiplas
funções (Albuquerque, 2001). A regra pode ser uma instrução, um conselho, uma ordem, uma exigência, uma
proposta de benefício mútuo.
Regras são antecedentes de comportamentos de seguir regras, e esses comportamentos são
denominados de comportamentos governados por regras em contraposição aos comportamentos modelados
por contingências. A rigor, apenas a primeira emissão de um novo comportamento após uma regra ter sido
formulada é um comportamento governado por regras. Porque o comportamento de seguir regras também é
um operante mantido por contingências. As conseqüências que mantêm o comportamento governado por
regras são de dois tipos: a obediência à regra é mantida por contingências sociais; a execução do
comportamento especificado pela regra é, em geral, um desempenho motor modelado por contingências
naturais (Matos, 2001).
Essa mesma questão pode ser mais bem explicada: O comportamento de seguir regras sempre envolve
duas contingências, uma a longo prazo, a contingência última e outra a curto prazo, a contingência próxima
ou reforço por seguir a regra (Baum, 1999). Quando o ouvinte acata uma ordem, pedido ou instrução, o falante
fornece aprovação ou reforçadores simbólicos ou retira uma condição aversiva. Esta conseqüência tem papel
fundamental quando se quer instalar um comportamento, ou quando se está em início de treino. A contingência
última justifica a existência da contingência próxima pois embora atue a longo prazo, “incorpora uma relação
entre comportamento e conseqüência que é realmente importante, independente de quão trivial ou arbitrária a
contingência próxima possa parecer. A relação é importante porque se refere à saúde, sobrevivência e bem
estar a longo prazo dos descendentes e da família” (Baum, 1999, p. 162). Por exemplo, sujeira e pedregulhos
no chão constituem o contexto para usar sapatos porque isso impede ferimentos e doenças que poderiam ser
adquiridas ao andar descalço. Assim, a redução da probabilidade de ferimentos e doenças e o aumento da
probabilidade de sobreviver e reproduzir constituem o reforço último por usar sapatos. A regra e a
contingência próxima são temporárias. Se a resposta neste contexto for fortalecida, entrará em contato com a
contingência última e será mantida por ela. Esta seria a situação ideal, embora não ocorra em todos os casos
(Baum, 1999).
Regras facilitam a aquisição de novos comportamentos, principalmente quando as contingências são
complexas, imprecisas ou aversivas. Entretanto, o seguimento de regras pode produzir redução na
sensibilidade comportamental às contingências naturais, ou seja, quando as contingências naturais mudam e
o comportamento não se altera, diz-se que o comportamento é insensível às contingências naturais.
Provavelmente, nestes casos, o comportamento está apenas sob controle das contingências sociais, não
fazendo contato com as contingências naturais que produziriam comportamento incompatível.
Seres humanos não apenas seguem regras apresentadas por outros como também formulam e seguem
suas próprias regras. Quando estas são formuladas ou reformuladas pelo indivíduo cujo comportamento
passam a controlar, dizemos que são auto-regras. Neste caso, uma parte do repertório do indivíduo afeta outra
parte deste repertório. As auto-regras podem ser explicitadas publicamente ou podem ocorrer de forma
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encoberta quando o indivíduo pensa (Jonas, 1997).
É importante considerar que quando há correspondência entre auto-relato e desempenho não verbal é
difícil afirmar se o desempenho não verbal foi controlado pelo relato ou se as mesmas contingências controlam
tanto ação quanto descrição da ação, sem que o relato participe da determinação da ação.
A formulação de novas regras é um mecanismo de mudança na clínica, é uma forma de facilitar o
aparecimento de novos comportamentos que se espera que passem a ser controlados por suas conseqüências
naturais. Entretanto, ao se conduzir uma análise funcional de um caso clínico, é difícil que regras sejam
antecedentes críticos. Geralmente os comportamentos alvo de nossas análises e intervenções estão bem
estabelecidos, e mesmo que tenham sido adquiridos por regras, são mantidos por algum tipo de reforço, caso
contrário não se manteriam. Se o cliente está seguindo uma regra que está em desacordo com as conseqüências
naturais de suas ações, ele deve estar sendo reforçado por isso e é essa a dimensão que deve ser analisada com
ele. Podemos considerar a possibilidade de que ele seja excessivamente controlado por aprovação social.
Outro cuidado deve ser tomado ao se empregar o conceito de governo por regras para explicar
fenômenos que ocorrem na clínica. Não se devem confundir crenças, conceito usado pelos terapeutas
comportamentais cognitivos, com regras, apesar de existirem algumas semelhanças. Afirmar que um cliente
possui uma crença, muitas vezes irracional, e que ela é responsável por comportamentos que causam
problemas, é usualmente uma afirmação sobre a probabilidade de comportamento e está baseada na
observação de instâncias ou relatos passados do comportamento (Costa, 2002). O termo “regra” é por vezes
usado de maneira similar como nos alertou Baum (1999), ao afirmar que não se diz que uma pessoa está
seguindo uma regra quando percebemos alguma regularidade em seu comportamento. Por exemplo, uma
avaliação funcional identificou o comportamento inadequado de um homem em aproximar-se de mulheres.
Identificou ainda uma história de punição para essa classe de ações. Mas concluiu que esta história levou-o ao
desenvolvimento da regra “se eu for falar com alguma moça, vai dar tudo errado”, que teria passado a controlar
seu comportamento de esquiva social. Mas será que há necessidade de supor que uma regra esteja controlando
o comportamento? Não basta a história de vida para entender a função deste comportamento?
Ao analisarmos comportamentos considerados problemáticos podemos direcionar nossa pesquisa
sobre o controle por regras para as seguintes questões: O cliente formula regras que não correspondem à
contingência natural? Ele tem dificuldades em seguir regras e auto-regras? A dificuldade em seguir regras se
restringe àquelas que descrevem conseqüências diretas do comportamento (em contraposição a aprovação
social)? Ou ele apresenta seguimento excessivo de regras, mantidas por conseqüências sociais? (Follette,
Naugle & Linnerooth, 2000).
2. Eventos encobertos podem ser antecedentes?
Baseando-se em Skinner (1982), alguns terapeutas comportamentais e pesquisadores brasileiros têm
utilizado eventos encobertos em suas análises (Banaco, 1999). Tal uso suscita questões e divergências.
Algumas delas seriam: o uso de eventos internos na análise funcional é legítimo? Não seria uma tentativa de
explicar as causas do comportamento humano a partir do interior das pessoas, como nas teorias mentalistas?
Se for importante utilizar os eventos encobertos na análise funcional, qual seria o papel dos mesmos, e sua
importância?
Inicialmente, é necessário definir o que são eventos encobertos. Segundo Skinner (1982), o
comportamento encoberto é aquele que só pode ser observado pela própria pessoa que se comporta (por
exemplo, sentir) ou, pode ser executado em uma escala tão pequena que não seja visível aos outros (por
exemplo, pensar), ou o comportamento encoberto é fazer aquilo que se faria quando o estímulo estivesse
presente (como ver algo na ausência da coisa vista, “fantasiar”, por exemplo). Por isso, o acesso da
comunidade verbal a estes comportamentos é restrito, e depende da descrição verbal feita pelo indivíduo de
seus próprios comportamentos encobertos. Até o momento, o relato verbal é a fonte mais importante de dados
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sobre os eventos internos (de Rose, 1997).
Poderia se definir eventos internos a partir de outra perspectiva. Banaco (1999), sugere que seria
melhor definir essa classe de eventos não como comportamentos encobertos, mas sim como respostas
encobertas, já que sabemos que o comportamento é mais do que uma resposta.
O uso dos eventos encobertos no processo terapêutico tem importância, no contexto behaviorista? Na
busca dessa resposta, terapeutas brasileiros têm se referido com freqüência à seguinte citação de Skinner
(1982):
Uma análise behaviorista não discute a utilidade prática dos relatos acerca do mundo interior, o qual é
sentido e observado introspectivamente. Eles são pistas (1) para o comportamento passado e as condições que
o afetaram; (2) para o comportamento atual e as condições que o afetam; e (3) para as condições relacionadas
com o comportamento futuro.
Parece estar, então, justificada a prática de se investigar o mundo interior dos clientes. Mas outra
questão é levantada: o que fazer com as informações coletadas? Elas são o quê, e servem a quê?
De Rose (1997) menciona que há circunstâncias nas quais o pesquisador não pode obter dados de
observação sobre alguma contingência que opera ou operou sobre as respostas que está estudando. Nesses
casos, utiliza-se de relatos verbais dos sujeitos que descrevam as contingências que necessita para poder
analisar. Assim, perguntar aos clientes o que pensaram, ou o que sentiram no momento pode ser uma forma
de se poder chegar aos dados que levam à análise funcional.
Skinner (1974) justifica esta prática da seguinte forma:
Tentamos descobrir como outra pessoa se sente por varias razões. Boa parte de nosso comportamento é
reforçada por seus efeitos sobre os outros, e será presumivelmente mais reforçador se o efeito for claro.
Assim, agimos para reforçar aqueles de quem gostamos ou a quem amamos ou para evitar feri-los, em
parte, por causa do que farão por sua vez. (A tendência poderia ser inata, de vez que há um valor de
sobrevivência, por exemplo, no comportamento de uma mãe que alimenta seu filho, cuida dele e os
protege dos perigos e que, assim fazendo, propicia condições que classificamos como reforçadores
positivos e negativos; todavia, as contingências sociais de reforço geram um comportamento comparável).
É importante que o receptor revele que fomos bem sucedidos e ele o pode fazer informando seus
sentimentos. Uma pessoa que está sendo massageada diz que a sensação é boa; alguém para quem se está
tocando determinada peça musical diz que gosta dela. Quando tais ‘sinais de sentimentos’ estão ausentes,
podemos perguntar ou investigar de outro modo como uma pessoa se sente (Skinner, 1974, p.193).
O que fazer com as informações obtidas sobre os eventos encobertos? Esta é uma questão primordial
ao se tratar do tema análise funcional. Tais informações devem ser consideradas não como explicação da
conduta do indivíduo, mas como um meio de se saber mais a respeito das contingências nas quais ele está
inserido. A isto, Skinner (1974) se refere assim:
A comunidade verbal pergunta ‘como você se sente’, em vez de ‘por que você se sente assim?’
por que terá maior probabilidade de obter uma resposta. Tira vantagem da informação disponível, mas
deve culpar só a si própria se não houver outros tipos de informação ao dispor (p.187-188).
(...) Pode parecer que há uma razão mais forte para investigar os sentimentos alheios. Se “não
é o comportamento que importa, mas como a pessoa se sente quanto a seu comportamento”, a descoberta
dos sentimentos deveria constituir o primeiro passo. Mas a maneira como uma pessoa se sente acerca de
seu comportamento depende do comportamento e das condições de que é função, e podemos lidar com
estas sem examinar sentimentos. Quando estamos ajudando pessoas a agir de forma mais eficaz, nossa
primeira tarefa será aparentemente modificar-lhe a maneira de sentir e assim a maneira de agir, mas um
programa mais efetivo será mudar-lhes a maneira de agir e assim, incidentalmente, a de sentir.
Numa análise behaviorista, conhecer outra pessoa é simplesmente conhecer o que ela faz, fez
ou fará, bem como a dotação genética e os ambientes passados e presentes que explicam por que ela o
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faz. Não se trata de uma tarefa fácil porque muitos fatores relevantes estão fora do alcance e cada pessoa
é indubitavelmente única. Mas nosso conhecimento de outrem é limitado pela acessibilidade, não pela
natureza dos fatos (p.194).
Embora não haja nada, em uma concepção externalista do comportamento, que justifique a recusa em
analisar o comportamento verbal supostamente descritivo de eventos internos, há que se cuidar em entendê-
los como indicativos das contingências ambientais envolvidas na conduta do indivíduo (Tourinho, 1997). Essa
classe de eventos tem sua importância em oferecer pistas para que sejam identificados os determinantes, sendo
vistos, portanto, como adjuntos a eles, um subproduto destes determinantes que facilitam sua identificação.
A consideração dos eventos encobertos na análise funcional é devida ao fato de se constituírem em
facilitadores do processo de identificação e compreensão dos eventos em análise. Através deles torna-se
possível perceber a intensidade em que certos eventos impactam o indivíduo.
Concluindo, a identificação de contingências é fundamental para a compreensão do comportamento e
a decorrente mudança do mesmo. Essa tarefa será bem sucedida se o terapeuta, ou analista do comportamento,
investigar com propriedade todos os aspectos possíveis relacionados a ela. Nesse sentido, o estudo dos eventos
encobertos se reveste de importância, dadas as suas possibilidades em favorecer tal tarefa.
Embora tenham importância em sinalizar eventos e permitir uma compreensão mais ampla dos
determinantes, aos eventos encobertos não se deve atribuir função causal. Contudo, deve-se buscar no
ambiente os eventos diretamente associados a eles que tenham tal relação com o comportamento em análise.
Finalizando, pensamentos, regras, auto-regras e sentimentos não são os antecedentes priorizados. Eles
podem ser antecedentes quando há alguma evidência de que participaram da contingência. Por exemplo,
quando o pensamento ou processo de tomada de decisão de uma pessoa tiver influenciado diretamente a ação
subseqüente. Neste caso há uma relação resposta-resposta. Dores podem ser consideradas antecedentes
quando eliciarem respondentes. Medo, por sua vez, não seria considerado um antecedente, e sim como um
indicador da existência de um estímulo aversivo.
3. História de vida não é antecedente.
Devemos evitar confundir história de vida e antecedentes. Antecedente tem sido entendido como a
ocasião em que a resposta ocorre e não como “atos e fatos anteriores de uma pessoa que permitem julgar sua
conduta presente” (Dicionário Michaelis eletrônico). Isto não quer dizer que a pesquisa da história de vida não
seja relevante, apenas que os dados obtidos não são aqueles que correspondem ao primeiro termo da
contingência de três termos. Variáveis históricas podem ser importantes se elas levam à identificação de
variáveis contemporâneas que afetam o comportamento e são controláveis. O conhecimento da história nos
dá informações sobre a maneira pela qual o indivíduo tende a se comportar em função da aprendizagem e dos
esquemas de reforçamento a que foi submetido.
Relações comportamento-comportamento:
A análise dos antecedentes e conseqüentes é, em grande parte, análise de relações ordenadas entre
variáveis ambientais e o comportamento de interesse. Entretanto, já foi levantada a possibilidade de haver
relações entre o comportamento de interesse e outros comportamentos existentes no caso das auto-regras e
dos comportamentos encobertos. Para identificar relações comportamento-comportamento, algumas
perguntas podem ser úteis: “Existem outros comportamentos que ocorrem antes do comportamento de
interesse? Sua relação com o comportamento de interesse é de necessidade (pré-requisitos), de facilitação, ou
são ocorrências acidentais?” (Matos, 1999b, p. 16).
Como último aspecto a ser considerado é importante ressaltar que a análise funcional está intimamente
relacionada à intervenção, dado que ela fornece condições para seu planejamento. Inclusive, o sucesso de uma
intervenção que foi baseada em predições possibilitadas pela análise funcional tem sido considerada um teste
desta. Analistas do comportamento preconizam que a seleção do tratamento seja feita com base na análise da
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função, ou da provável função do comportamento. Neste sentido é que a aplicação de técnicas dissociadas de
uma análise funcional não é vista com bons olhos pelos analistas do comportamento. Sem entrar em detalhes
sobre como se pode derivar um tratamento a partir da análise funcional, podemos dizer que a intervenção pode
se dar ao se propor novas contingências ou ao se ensinar o cliente a conduzir análises funcionais.
Finalizando, a análise funcional ou a avaliação funcional (termo preferido no caso em que não é feita
uma análise experimental) é o instrumento básico de trabalho de qualquer analista de comportamento. É sua
tarefa identificar contingências que estão operando e inferir quais as que possivelmente operaram no passado,
ao ouvir a respeito ou observar diretamente comportamentos. Ele pode também propor, criar ou estabelecer
relações de contingência para desenvolver ou instalar comportamentos, alterar padrões, assim como reduzir,
enfraquecer ou eliminar comportamentos dos repertórios dos indivíduos. Mudanças no comportamento só se
dão quando ocorrem mudanças nas contingências. Por isso, a análise funcional é fundamental sempre que o
objetivo seja o de predição ou controle do comportamento. Entretanto esta não tem sido uma tarefa fácil,
especialmente quando ela não é desenvolvida com os controles experimentais possíveis no laboratório (Meyer,
1997, 1998). Mas, de acordo com Skinner (1974), a objeção feita a uma análise funcional completa, a de que
ela não pode ser levada a efeito, é que ela ainda não foi levada a efeito. Ele disse que o comportamento humano
é talvez o mais difícil de ser estudado pelos métodos científicos, mas que a complexidade não nos deveria
desanimar.
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