análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

98
UNIVERSIDAD DE LEÓN FUNDAÇÃO UNIVERSITÁRIA IBEROAMERICANA MESTRADO EM GESTÃO E AUDITORIA AMBIENTAL ANÁLISE DE INFORMAÇÕES ESTRATÉGICAS EM SISTEMAS DE LIMPEZA URBANA: Um estudo de caso sobre a coleta domiciliar no Conjunto Habitacional Benedito Bentes, Maceió/AL Glauber Nóbrega da Silva Florianópolis, Brasil 2009

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Metodologia para análise de informações de sistemas de limpeza urbana

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Page 1: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

UNIVERSIDAD DE LEÓN

FUNDAÇÃO UNIVERSITÁRIA IBEROAMERICANA

MESTRADO EM GESTÃO E AUDITORIA AMBIENTAL

ANÁLISE DE INFORMAÇÕES ESTRATÉGICAS EM SISTEMAS DE

LIMPEZA URBANA: Um estudo de caso sobre a coleta domiciliar no

Conjunto Habitacional Benedito Bentes, Maceió/AL

Glauber Nóbrega da Silva

Florianópolis, Brasil

2009

Page 2: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

II

UNIVERSIDAD DE LEÓN

FUNDAÇÃO UNIVERSITÁRIA IBEROAMERICANA

MESTRADO EM GESTÃO E AUDITORIA AMBIENTAL

Glauber Nóbrega da Silva

ANÁLISE DE INFORMAÇÕES ESTRATÉGICAS EM SISTEMAS DE

LIMPEZA URBANA: Um estudo de caso sobre a coleta domiciliar no

Conjunto Habitacional Benedito Bentes, Maceió/AL

Dissertação apresentada como requisito parcial

para obtenção do título de Mestre em Gestão e

Auditoria Ambiental do curso de pós-graduação

da Universidade de Leon.

Área de Concentração: Resíduos Sólidos

Orientador: Dra. Margarita González Benítez.

Co-orientador: Msc. Cleciane Dias Mendonça

Florianópolis, Brasil

2009

Page 3: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

III

Alguns homens vêem as coisas e perguntam: Por quê?

Eu vejo as coisas que nunca foram e pergunto: Por que não?

Robert Kennedy

Page 4: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

IV

AGRADECIMENTOS

Não poderia iniciar esse texto sem agradecer a meus pais pelo caráter e valores

transmitidos durante toda a minha vida e a meus irmãos pelas incontáveis aventuras vividas e

que ainda estão por vir. A minha esposa que, pacientemente, ouve minhas idéias, mesmo

quando não possuem aplicação prática imediata. Ao pessoal da Fundação Ibero-Americana,

especialmente a Ane, que sempre apoiou este projeto mesmo quando muitos não o faziam. A

equipe de profissionais da Limpel Limpeza Urbana Ltda., sem os quais este trabalho não seria

escrito e aos muitos técnicos, professores e mestres com quem convivi.

Page 5: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

V

RESUMO

O conhecimento é essencial para o desenvolvimento de estratégias de ação e ao

processo de decisão. Adotar um método que integre várias informações torna-se essencial

para qualquer atividade econômica, ainda mais se a mesma for essencial como é o caso dos

serviços de limpeza urbana. Para adquirir dados, gerar informações e finalmente, o

conhecimento adotou-se uma metodologia de pesquisa qualitativa baseada em lógica

dedutiva, estatística correlacional e análise de informações. O resultado foi uma tabela de

índices de coeficientes que, em conjunto com demais informações, indica o funcionamento

dos serviços de coleta, destacando seus pontos forte, fracos e os resultados das decisões e

processos implantados na operação da empresa ao longo do período de um ano.

Palavras-Chaves: Sistema de limpeza urbana, coleta de resíduos sólidos, inteligência

estratégica.

Page 6: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

VI

ABSTRACT

Knowledge is essential for the development of strategies and decision-making.

Adopting a method that integrates various information is essential to any economic activity,

even if it is essential as is the case of urban sanitation services. To acquire data, generate

information and finally, the knowledge we adopted a qualitative research methodology based

on deductive logic, statistical correlation and analysis of information. The result was an index

table of coefficients that, together with other information, indicates the operation of data

collection, emphasizing its strong points, weak, and the results of decisions and processes in

place to operate the enterprise during the period of one year.

Keywords: System of urban cleaning, collection of solid waste, strategic intelligence.

Page 7: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

VII

LISTA DE TABELAS

01 - Técnicas aplicadas a pesquisa 10

02 - Setores de coleta presentes no Conjunto Benedito Bentes 39

03 - Grupo de variáveis e sua classificação 40

04 - Fatores que influenciam na limpeza urbana 46

05 - Exemplo de elementos utilizados para desenvolver EIAs por diferentes

profissionais 52

06 – Quantidade de funcionários diretos 57

07 – Quantidade de funcionários indiretos 57

08 – Imposto sobriáveis 61

09 – Funcionários com atuação direta 59

10 – Funcionários com atuação indireta. 59

11 – Custos relativos a manutenção dos veículos 60

12 – Custos variáveis 61

13 – Resumo dos custos diretos 61

14 – Resumo dos custos indiretos 61

15 – Síntese dos fatores adequado ao planejamento das atividades de limpeza urbana 75

Page 8: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

VIII

LISTA DE QUADROS

1 - Coeficientes de Pearson das variáveis 65

2 - Qualificação dos coeficientes de Pearson 66

3 – Detalhe do quadro 1 66

4 – Coeficientes de Pearson das variáveis após a aplicação da escala de cores 67

Page 9: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

IX

LISTA DE FIGURAS

01 - Linha do tempo dos principais fatos ocorridos no Estado de Alagoas 14

02 - Mapa urbano do município de Maceió com destaque as áreas de atuação da Limpel

17

03 - Legislação básica aplicada a sistemas de limpeza urbana 21

04 - Exemplo de componentes dum sistema com características auto-reguladoras 23

05 – Exemplo de colônias de células formadas a partir da aplicação do da Vida de

Conway 24

06 – Fontes usuais de informações 26

07 - Tela do simulador evolutivo Gene Poll 31

08 - Resultados obtidos em atratores de Lorenz a partir de mudanças de dados 32

09 - Tela principal do SiSCOE em da sua 2ª versão 35

10 - Componentes básicos do SiSCOE 37

11 - Histograma com distribuição de amostras 42

12 - Sino de Gauss sobre histograma 43

13 - Exemplo de eliminação de dados espúrios de amostra 44

14 - Fatores a serem considerados para gestão de sistemas de limpeza urbana 45

15 - Coleta de resíduos em tambores de polietileno e borracha vulcanizada no

Município de Paulo Afonso/BA 48

16 - Componentes da definição conservadora dos SIGs 50

17 - Componentes holísticos de um SIG 51

18 - Exemplo de componentes a serem avaliados durante o planejamento do SIG 53

19 - Vista do SIG da Limpel com dados relativos ao ano de 2006 54

20 – Vista do GPS Trackmaker com dados coletados no setor C-19 55

21 –Fórmula para obtenção do coeficiente de Pearson 64

22 – Conhecimento necessário a análise de sistema de limpeza urbana 68

23 – Comportamento das principais variáveis do sistema 74

26 – Conhecimentos necessários a análise de sistema de limpeza urbana 60

27 - Comportamento das principais variáveis do sistema 67

Page 10: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

X

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABES: Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental

ABNT: Associação Brasileira de Normas Técnicas

ABRAIC: Associação Brasileira de Analistas de Inteligência Competitiva

ABRELPE: Associação Brasileira da Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais

CDC: Controle Diário de Coleta

CIA: Central Intelligence Agency

COFINS: Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social

CONAMA: Conselho Nacional de Meio Ambiente

EIA: Estudo de Impacto Ambiental

EUA: Estados Unidos da América

GPS: Global Position System

IC: Inteligência Competitiva

IPVA: Imposto sobre Veículos Automotores

INSS: Instituto Nacional de Seguridade Nacional

IRRF: Imposto de Renda Retido na Fonte

KGB: Komitet Gosudarstvenno Bezopasnosti

PIS: Plano de Integração Social

NBR: Norma Técnica Brasileira

SIG: Sistema de Informações Geográficas

SiSCOE: Sistema de Controle Estratégico

SUDENE: Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste

SNI: Sistema Nacional de Inteligência

URSS: União das Repúblicas Socialistas Soviéticas

Page 11: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

XI

SUMÁRIO

RESUMO

ABSTRACT

LISTA DE QUADROS

LISTA DE FIGURAS

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

I.INTRODUÇÃO 01

1.1 Estrutura da Pesquisa 04

II. REFERENCIAL METODOLÓGICO 06

2.1 Tipo de pesquisa 06

2.2 Origem dos dados 08

2.3 Procedimentos, técnicas, instrumentos e equipamentos de pesquisa 09

2.4 Sujeitos da pesquisa 10

2.5 Critérios de Eticidade 11

III. UNIVERSO DE ESTUDO 12

3.1 O Estado de Alagoas 12

3.2 O município de Maceió 15

3.3 Área de atuação da Limpel Limpeza Urbana 17

IV. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 19

4.1 Serviços de limpeza urbana no contexto brasileiro 19

4.2 Gerenciamento dos serviços de limpeza pública 21

4.3 Sistemas auto-reguladores 22

4.4 Sociedade da informação 25

4.5 Inteligência competitiva 26

4.6 Espaço geográfico 28

Page 12: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

XII

4.7 Psicologia social 29

4.8 Teoria dos jogos 30

4.9 Caos e complexidade 32

V. SISCOE: METODOLOGIA PRÁTICA PARA COLETA E TRATAMENTO

DE DADOS 34

5.1 Desenvolvimento do banco de dados 34

5.2 Aplicações 35

5.3 Estrutura básica 36

5.4 Limitações do SiSCOE 37

5.5 Tratamento de informações do SiSCOE 38

5.7 Considerações sobre a preparação de dados 39

5.6.1 Delimitação dos setores pesquisados 39

5.6.2 Tipo de dados 40

5.6.3 Eliminação de dados espúrios 41

VI. A DINÂMICA DE COLETA DE RESÍDUOS 45

6.1 Planejamento das atividades 46

6.2 Operação e ciclo de coleta 46

6.2.1 Coleta manual e mecanizada 47

6.2.2 Forma de disposição dos resíduos pela população 47

6.2.3 Tipos de resíduos coletados e freqüência de coleta 49

6.2.4 Transporte e disposição dos resíduos coletados 49

VII. ELEMENTOS FUNDAMENTAIS À GESTAO DE SERVICOS DE LIMPEZA 50

7.1 Sistema de informações geográficas 50

7.1.1 Planejamento e aquisição dos dados 53

7.1.2 Dados existentes no SIG da LIMPEL 54

7.1.3 Itinerários de coleta 55

7.2 Custos do sistema de coleta 56

7.2.1 Pessoal 57

7.2.2 Custos 57

7.2.3 Impostos 58

Page 13: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

XIII

7.2.4 Veículos 58

7.2.5 Mão de obra 59

7.2.6 Ferramentas, combustíveis e mão de obra terceirizada 60

7.2.7 Pneus e demais insumos 60

7.2.8 Custos gerais dos veículos 61

7.2.9 Análise de balanços 62

VIII. ANÁLISE E DISCUSSÕES 63

8.1 Preparação do banco de dados para análise 63

8.2 Correlação linear entre variáveis 64

8.3 Como ler a tabela de correlação 66

8.4 Associação da leitura com outros dados 68

IX. RESULTADOS 69

9.1 Avaliação correlacional 69

9.2 Avaliação complementar 74

9.3 Síntese dos fatores adequados ao planejamento de atividades de limpeza

urbana 75

X. CONSIDERAÇÕES FINAIS 76

10.1 Recomendações para trabalhos futuros 77

XI. REFERÊNCIAS 78

11.1 Bibliográficas 78

11.2 Softwares 82

APÊNDICE – Perguntas padrões realizadas aos sujeitos da pesquisa 83

ANEXO I – Formulário de controle empregado para coleta de informações dos

serviços de coleta na empresa pesquisada 84

Page 14: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

1

I. INTRODUÇÃO

A limpeza urbana, tal como a conhecemos, possui mais de 300 anos e não evoluiu

como outras áreas de engenharia como a mecânica, química etc. Isso porque, a inovação que

esse ramo da atividade obteve ao longo desses três séculos limitou-se basicamente à aquisição

de novos equipamentos (principalmente veículos), materiais e alguns insumos. Ao mesmo

tempo, o mundo passou por profundas transformações advindas de revoluções, guerras e

poucos momentos de paz. Contudo, a humanidade nunca deixou de gerar e descartar resíduos,

as mudanças permaneceram restritas a quantidade ou a qualidade do material descartado.

Talvez este seja o principal paradigma da limpeza pública, um padrão somente ameaçado pela

crise energética que se configura para um horizonte próximo, o que pressionará a

racionalização do consumo de materiais e insumos.

A limpeza urbana é considerada como uma ocupação da saúde preventiva, pois esta é

destinada a eliminar focos de vetores dos núcleos urbanos. A problemática é bastante antiga,

com citações das conseqüências do acúmulo de sujeira e imundícies em burgos1 e demais

grupamentos humanos com mais de 400 anos. Outro modo de identificar a importância da

limpeza urbana refere-se à existência de serviços relativos a sistemas de compostagem na

China Antiga (Philippi Júnior, 1992) e interpretações sugestivas em que o Vale de Hinon2, a

visão cristã do inferno, com sua fumaça e fogo eternos, era na verdade a conseqüência da

decomposição de matéria orgânica num antigo depósito de lixo de Jerusalém.

Mas, os primeiros registros oficiais acerca da eliminação de resíduos remetem ao

século XVII e são compostos por leis inglesas que determinam como proceder a queima dos

resíduos em incineradores rudimentares construídos pelo governo daquele país. É sabido, que

nesse período a comida era escassa e seu desperdício era mínimo, o que sugere que pouco

restava para ser incinerado ou enterrado pela população. No mesmo período, deu-se início ao

processo que viria a ser conhecido como Revolução Industrial, e a conseqüente concentração

populacional nas cidades durante o êxodo rural que resultaram numa lógica mudança de

padrões de consumo e de geração de resíduos.

1 Na Idade Média, castelo, ou casa nobre, ou mosteiro rodeados por muralha de defesa, muitos dos quais vieram

a transformar-se em cidades. 2 Cr 28:3; 33:6

Page 15: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

2

No entanto, pesquisadores como Monteiro et al (2001) defendem que a limpeza urbana

foi iniciada durante o século XIX a partir do desenvolvimento da medicina e da engenharia

sanitária. Naquela época fora constatado que os resíduos eram potenciais fontes de doenças e

geradores de epidemias, a exemplo da Peste Negra, que assolou toda a Europa no século XIV.

Mas uma análise mais minuciosa das informações apontam para o período revolucionário, no

final do século XVIII, quando Napoleão Bonaparte assumiu o governo francês. E desde então

a limpeza urbana passou a ser definida como a conhecemos. O modelo adotado consistiu em

empregar funcionários remunerados pelo governo e carroças com tração animal para coletar

resíduos e entulhos existentes nas ruas e becos de Paris. Tudo indica que o serviço foi

implantado como resposta ao caos existente na cidade. Balzac, escritor da época, descrevia

que a maior parte das ruas não tinha pavimentação, o sistema de esgoto era precário, havia

lixo por toda a parte e, nos tempos chuvosos, a lama apoderava-se de tudo.

É provável que o serviço tenha sido induzido por ideais iluministas ou necessidades

militares, já que neste último caso, havia a necessidade de liberar os acessos e passagens dos

exércitos para defesa da cidade ou para levar a cabo alguma das constantes rebeliões

populares contra o governo. Independente disso, o fato é que a limpeza se tornou assunto de

saúde pública, tamanho o impacto dessa atividade sobre a redução da taxa de óbitos da

população. Daí em diante o serviço foi incorporado às funções governamentais.

No Brasil, a contratação do francês Aleixo Gary no ano de 1880 para remoção dos

resíduos do Rio de Janeiro, então capital do Império, pode ser atribuído como o marco da

implantação de sistemas de limpeza em nosso país. A prestação do serviço adotou os mesmos

equipamentos e métodos da Era Napoleônica até quase a metade do século XX.

Mudanças significativas nesse método só vieram a ocorrer após a inclusão de veículos

motorizados nos anos 40 do último século com o conseqüente incremento da autonomia para

coleta e transporte dos resíduos. A tendência de modernização continuou com declínio e

estabilização ao final de 1980. Desde então, o setor passa por uma profunda crise como afirma

Monteiro et al ( 2001, p.1):

Hoje, a situação da gestão dos resíduos sólidos se apresenta em cada cidade

brasileira de forma diversa, prevalecendo, entretanto, uma situação nada

alentadora. Considerada um dos setores do saneamento básico, a gestão dos

resíduos sólidos não tem merecido a atenção necessária por parte do poder

público.

Page 16: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

3

Mesmo diante deste cenário é factível afirmar que alguns avanços ocorreram, tais

como a inserção dos serviços de limpeza aos direitos fundamentais do cidadão a partir da

promulgação da Constituição Federal de 1988. A legitimação atribuiu maior responsabilidade

aos governos por causa da possível calamidade proveniente da inexecução do serviço. Tais

conseqüências foram descritas por Umbelino e Macedo (2006, p.6):

A disposição inadequada dos resíduos sólidos urbanos constitui-se em um dos

maiores problemas ambientais do Brasil. No caso da inexistência de coleta de

lixo, fungos e bactérias causadores de doenças como botulismo e tétano

desenvolvem-se em solos contaminados por estes microorganismos.

A medida provocou um aumento da demanda por sistemas mais eficientes, exigindo

grandes investimentos em maquinários e pessoal, estando grande parte dos departamentos de

limpeza municipais aquém das exigências impostas pela carta magna. A solução encontrada

foi a terceirização dos serviços com a regulamentação da Lei 8.666/93, mais conhecida como

lei das licitações. A lei gerou um mercado atrativo às empresas, principalmente as de

construção civil que no momento passavam por mais uma crise de mercado.

A partir deste contexto surgiu um forte questionamento: Como desenvolver algo novo

em um sistema aparentemente estagnado? Veículos, máquinas e equipamentos são

desenvolvidos de forma padronizada, restando às empresas avaliar sobre sua aquisição. De

outro lado, encontramos a cidade a ser atendida pelos serviços, que obviamente, não está

sobre qualquer forma de controle formal. Resta-nos então investir na gestão de processos, na

eliminação de práticas infrutuosas e no reforço das mais rentáveis ou econômicas. Mas para

isso, é necessário que o gestor conheça o seu ambiente de trabalho. Nesse ponto, acredita-se

que seja na aquisição tratamento e na interpretação de informações que reside às principais

necessidades administrativas. Na era da informação, o investimento em conhecimento3 é tão

importante quanto o realizado na aquisição de tecnologia, em especial num cenário onde o

capital é volátil e de difícil obtenção.

Adquirir informações confiáveis em curto espaço de tempo pode representar, além de

vantagem competitiva, um diferencial para empresários e profissionais que buscam

metodologia racional para apoiar suas decisões.

3 A definição clássica de conhecimento, originada em Platão, diz que ele consiste de crença verdadeira e

justificada. Nesse trabalho o conhecimento será considerado como informação oportuna e eficaz, ou seja que proporcione a afirmação ou a mudança de processos e ações.

Page 17: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

4

Para atuar nessa questão, propôs-se como objetivo geral desse estudo como

“Organizar e aplicar práticas de análise de informações para extrair conhecimento útil a

gestores de sistemas de limpeza urbana”. E como objetivos específicos buscaram-se,

portanto:

Delimitar uma metodologia prática para coleta e tratamento de dados;

Sistematizar informações para analisar a dinâmica da coleta de resíduos;

Identificar os elementos mais importantes à gestão de serviços;

Indicar os fatores adequados ao planejamento de atividades de limpeza urbana.

Para aplicação desta pesquisa, adotou-se o método do estudo de caso, mediante

abordagem qualitativa a da atuação da empresa privada Limpel Limpeza Urbana Ltda.,

situada em Maceió/Alagoas. A empresa surgiu a partir de uma construtora no final dos anos

90 para executar serviços relacionados a limpeza. Os seus trabalhos iniciais foram voltados a

coleta de resíduos de grande geradores como supermercados, fábricas etc., mas em pouco

tempo, a empresa sagrou-se vencedora duma concorrência pública no município de

Maceió/AL e posteriormente de São Luis/MA. A empresa seguiu o “boom” das terceirizações

nos serviços de limpeza pública e atualmente atua em quatro Estados do nordeste brasileiro.

Neste contexto elegeu-se uma pergunta - norteadora para retratar todo o estudo, a

saber:

Como organizar e aplicar práticas de análise de informações para extrair

conhecimento útil a gestores de sistemas de limpeza urbana?

1.1 Estrutura da Pesquisa

Esta dissertação foi estruturada em 10 (dez) capítulos objetivando apresentar a origem

de todas as informações e como estas conduziram o autor a suas conclusões. O capítulo 1

apresentou as motivações e o contexto ao qual esta pesquisa se encontra. No capítulo 2 é

apresentado todo o referencial metodológico para que o leitor saiba como os dados foram

obtidos e adquira alguns conceitos chaves de para a interpretação dos resultados. No capítulo

3 é apresentada as características do universo do estudo, situando o leitor quanto o local e o

período que a pesquisa foi realizada. A partir com capítulo 4 os fundamentos da pesquisa são

expostos. É neste capítulo que a pesquisa começa a ser alicerçada, tornando-o um dos mais

importantes para a compreensão do trabalho. No capítulo 5 é descrito um modelo de sistema

Page 18: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

5

de armazenamento de dados, essencial para a posterior análise. Indica-se qual o contexto da

sua concepção, seus fundamentos, como este é empregado na empresa pesquisada e como

seus dados são preliminarmente tratados. No capítulo 6 é descrito como o sistema de coleta de

resíduos é usualmente planejado e como deve ser executado de acordo com os conceitos da

engenharia sanitária. No capítulo 7 são descritos alguns elementos considerados como

fundamentais para a gestão dos serviços de limpeza, dentre os quais os sistemas de

informações geográficas bem como a análise do processo de formação de custos e a

contribuição de cada elemento para o valor final dos serviços. No capítulo 8 a metodologia é

propriamente aplicada. Analisa-se como tratar os dados de forma a se obter a matriz de

coeficientes e como lê-la de forma eficiente. A interpretação dos resultados da leitura da

matriz é apresentada no capítulo 9 bem como a origem de cada um de seus atributos e como

estes devem ser utilizados para gerar conhecimento ao gestor. No capítulo 10 são

apresentadas as considerações finais e recomendações para futuros trabalho. Nele também é

descrita como está se associando inteligência artificial parar criar relatórios automáticos para

o gestor de coleta e uma possível nova geração de softwares para a limpeza pública.

Page 19: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

6

II. REFERENCIAL METODOLÓGICO

O estudo proposto consiste na análise de dados de quatro setores de coleta regular de

resíduos sólidos com a identificação de parâmetros e posterior cruzamento de informações

para gerar conhecimento e validar as proposições indicadas no objeto desta dissertação. A

metodologia a ser empregada considera a análise das características internas, intermediárias e

externas (contexto) da atividade de coleta, informações necessárias para a correta

interpretação do sistema. Para definir a metodologia partiu-se da definição proposta por

Barreto e Honorato (1998, p.3):

...o conjunto detalhado e seqüencial de métodos e técnicas científicas a serem

executados ao longo da pesquisa, de tal modo que se consiga atingir os objetivos

inicialmente propostos e, ao mesmo tempo, atender aos critérios de menor custo,

maior rapidez, maior eficácia e mais confiabilidade de informação.

Além disso, buscou-se concretizar que a aquisição do conhecimento deve ser racional,

confiável e clara o suficiente para permitir que os resultados sejam alcançados por outros

pesquisadores e, assim, alicerçar novos estudos. No pro lógica cesso serão aplicados tantos

conhecimentos científicos quanto empíricos para auxiliar na compreensão do objeto de estudo

(Putnan, 1996), analisando-o como resultado da interação entre variáveis psicossociais, o

meio ambiente e a empresa.

2.1 Tipo de Pesquisa

A pesquisa seguiu uma abordagem quantiqualitativa e baseou-se em métodos lógicos

indutivos4 e dedutivos

5. Também pode ser considerada como do tipo exploratória, pois terá

início com a exploração do problema a ser investigado sem dados prévios.

A pesquisa qualitativa está buscando seu espaço nas ciências sociais a partir do

interesse em complementar os resultados obtidos através de métodos quantitativos e até

mesmo, qualitativos. Neste trabalho, o interesse por ambas as abordagens visa preencher as

lacunas verificadas nas pesquisas quantitativas e validar as impressões que se pode obter

4 Indução em filosofia é considerado o método de pensamento ou raciocínio em que se extrai de certos fatos

conhecidos, mediante observação, alguma conclusão geral que não se acha rigorosamente relacionada com eles. 5 Dedução é toda inferência que parte do universal para o particular (aspecto convergente). Utiliza-se da

confrontação de duas proposições (uma generalizadora e outra particularizadora) para extrair uma conclusão.

Page 20: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

7

através das pesquisas qualitativas, seguindo exatamente o pensamento de Demo (1995, p.

231) quando diz que:

Embora metodologias alternativas facilmente se unilateralizem na qualidade

política, destruindo-a em conseqüência, é importante lembrar que uma não é

maior, nem melhor que a outra. Ambas são da mesma importância metodológica.

Outro discurso recente defendendo a importância dos dois enfoques é o de May (2004,

p. 146):

[...] ao avaliar esses diferentes métodos, deveríamos prestar atenção, [...], não

tanto aos métodos relativos a uma divisão quantitativa-qualitativa da pesquisa

social – como se uma destas produzisse automaticamente uma verdade melhor

do que a outra -, mas aos seus pontos fortes e fragilidades na produção do

conhecimento social. Para tanto é necessário um entendimento de seus objetivos

e da prática.

A etapa quantitativa da pesquisa foi realizada por amostragem na qual foi possível

determinar a forma de observação dos efeitos produzidos pelas variáveis no objeto de estudo.

Para melhor compreender o universo foram adotados conjuntos significativos de casos

(amostras) para compor os resultados. Neste método foram escolhidas diversas variáveis em

diferentes níveis para auxiliar na avaliação do sistema. Também será utilizada a pesquisa ex-

post-facto, considerada por Rythowem et al (2006) como uma pesquisa experimental. Mas

neste caso a observação é realizada após a sua ocorrência por meio de registros bem

delimitados. De acordo com Severino (2004, p.14):

A pesquisa experimental caracteriza-se por manipular diretamente as variáveis

relacionadas com os objetos de estudo. A manipulação das variáveis proporciona

o estudo da relação entre causas e efeitos de um determinado fenômeno.

Interfere-se diretamente na realidade, manipulando-se a variável independente, a

fim de observar o que acontece com a dependente. Este tipo de pesquisa inicia-se

com algum tipo de problema ou indagação e pretende dizer de que modo ou por

que causas o fenômeno é produzido.

A maior parte das informações necessárias ao desenvolvimento da pesquisa originou-

se de banco de dados aplicado ao universo de estudo durante o ano de 2006. Deste modo,

estes foram empregados para gerar as informações necessárias a compreensão do fenômeno

Page 21: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

8

em estudo. As informações foram tratadas por métodos comparativos e estatísticos para

subsidiar a conclusão do estudo.

A etapa qualitativa consistiu na realização de questionários junto a especialistas,

funcionários e demais agentes envolvidos com o sistema de limpeza urbana em estudo. Para

Neves (1996, p.1) a pesquisa qualitativa é:

“[...] um conjunto de diferentes técnicas interpretativas que visam descrever e

decodificar os componentes de um sistema complexo de significados. Tendo por

objetivo traduzir e expressar o sentido dos fenômenos do mundo social [...]”.

Como se pode inferir por essa definição, na pesquisa qualitativa não há preocupação

em produzir dados numéricos manipuláveis em fórmulas matemáticas e destinados à

construção de gráficos e tabelas que retratam de forma reducionista os achados de pesquisa.

Mas, por ocasião do presente estudo, entende-se que a consulta acerca da opinião, experiência

e vivência destes gestores, seria crucial para se validar, ou mesmo, chegar até as variáveis de

investigação.

2.2 Origem dos dados

As informações básicas referentes à coleta de resíduos sólidos da área de atuação da

Limpel Limpeza Urbana Ltda foram inseridas em banco de dados desenvolvido pelo autor no

ano de 2005 e complementadas por dados adicionais obtidos a partir de entrevistas e fichas de

controle entregues aos motoristas dos veículos no início de cada jornada de trabalho. O banco

contém mais de 30 classes distintas de dados, entre as quais: peso coletado por viagem,

velocidade média de coleta, quebras etc. Com isso elabora-se um universo amostral de

tamanho significativo. Essa conjunto, segundo Rythowen et al (2006), configura-se como uma

fonte confiável de informações para a pesquisa devido a possibilidade de observação dos fatos

ocorridos.

Para a Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental - ABES (2001) os

formulários são necessários para que se mantenha o padrão do serviço dentro do que foi

planejado. Servem também para indicar a necessidade de alguma alteração no sistema

implantado, indicando as transformações contínuas que ocorrem na cidade. Os formulários

Page 22: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

9

devem conter informações referentes a: Execução do serviço; Controle da carga; Controle dos

tempos e etc onde serão anotados dados diversos como: saída da garagem; início da coleta;

término da primeira viagem; chegada ao local de destino; saída do local de destino; início da

segunda viagem e assim por diante até a volta à garagem (conclusão do serviço).

Para a pesquisa foram resgatados os registros referentes ao ano de 2006, do dia 1 de

janeiro ao 31 de dezembro. A escolha deste período deve-se a alguns motivos, a saber:

O banco de dados estava em plena execução, não havendo alterações em sua estrutura,

adição ou subtração de classes de informações;

Ausência de mudanças significativas nos setores de coleta;

Houveram poucas obras de infra-estrutura na malha viária do município de Maceió, o

que evita mascaramento dos dados por motivos espúrios;

Não houve mudança dos gestores da coleta e;

Fim do antigo contrato da empresa com a prefeitura municipal, não havendo

problemas na liberação de parte destes dados para a pesquisa.

2.3 Procedimentos, técnicas, instrumentos e equipamentos de pesquisa

Orientado pela abordagem de natureza quantiqualitativa, uma parte dos dados foram

trabalhados estatisticamente e a partir de técnicas baseadas na metodologia Delphi, definida

por Wright e Giovinazo (2000) como uma técnica para a busca de um consenso a respeito de

eventos cujo objetivo é avaliar a tendência de eventos presentes e futuros baseados em

probabilidade.

Para Samson (1988) existem duas grandes interpretações da probabilidade:

A interpretação objetiva que diz respeito ao processo de cálculo usando dados

de freqüência relativa ou técnicas estatísticas e;

A subjetiva que representa o grau de crença do tomador de decisão.

Apenas na primeira fase do estudo aplicou-se a abordagem qualitativa, mediante a

elaboração de uma série de questionários aplicados com especialistas, motoristas e demais

agentes, visando extrair dali dados de aplicação estatística. As respostas foram tabuladas e

uma nova rodada de perguntas foi realizada e, assim sucessivamente até sanar todas as

Page 23: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

10

dúvidas surgidas. Vale salientar que no processo não houve nenhum tipo de interação entre os

especialistas sujeitos da pesquisa, a fim de evitar indução tendenciosidades nos resultados. As

respostas foram analisadas e utilizadas como subsídios para o desenvolvimento de novos

questionários, desta vez aplicada com gerentes, fiscais e coordenadores de áreas de limpeza

urbana, seguindo então o método padrão. A síntese das atividades é apresentada na tabela a

seguir:

Tabela 1 - Técnicas aplicadas a pesquisa.

Objetivo Técnica Instrumento Equipamento

Identificar as referências teóricas

publicadas sobre a o assunto Pesquisa bibliográfica - -

Observar, registrar, analisar e

correlacionar fatos ou fenômenos Pesquisa descritiva

Banco de dados,

Estatística, Análise

espacial

Computador,

câmera, GPS,

Softwares

Aplicar questionários a especialistas Entrevista semi-

estruturada Questionário

Caderno de campo

do pesquisador

Manipular variáveis relacionadas ao

objeto de estudo

Pesquisa experimental

DELPHI

Banco de dados

Estatística Câmera, GPS

Fonte: próprio autor

As técnicas e ferramentas a serem utilizadas para análise das informações são baseadas

nas descritas por Heuar (1999) consistindo na coleta de informações e aplicação de

procedimentos estatísticos sobre os dados advindos dos controles diários de coleta.

Complementa-se estas com análises geográficas a partir de Sistema de Informações

Geográficas da área em estudo. Após estas fases foi iniciada a análise final dos resultados.

2.4 Sujeitos da pesquisa

O interesse em estudar visões adequadas à avaliação levou a escolha de profissionais

que atuam de forma direta ou indireta nos serviços de coleta de resíduos do universo da

pesquisa. O grupo pesquisado foi formado por dois fiscais, 22 (vinte e dois) agentes de coleta,

quatro motoristas e um encarregado do setor de manutenção. Foi utilizado um questionário

com perguntas norteadoras que descrevessem as visões destes profissionais quanto a

elementos chaves da pesquisa de modo a apoiar a interpretação dos resultados. Estes

Page 24: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

11

elementos foram agrupados em três tipos de respostas: Ambiente interno; Ambiente Externo

e; Intermediário.

No apêndice é possível verificar as perguntas norteadoras entregues aos profissionais.

2.5 Critérios de Eticidade

A definição dos critérios éticos para pesquisa constituiu-se numa tarefa delicada, pois

é de grande responsabilidade disponibilizar dados internos de uma empresa ou demais

informações sobre seus funcionários que poderá ser utilizada por concorrentes. Foi por este

motivo que as informações referem-se apenas a parte da área de atuação e do capital humano

da empresa estando relativamente desatualizadas, com dois anos desde sua obtenção. Isso

exigiu flexibilidade e um acordo prévio realizada entre o pesquisador, os sujeitos da pesquisa

e Limpel Limpeza Urbana Ltda para assegurar a todos quais seriam os objetivos da pesquisa e

o zelo pelos envolvidos.

Page 25: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

12

III. UNIVERSO DE ESTUDO

Para contextualizar o universo de estudo e sua relação com o tema desse trabalho foi

fundamental identificar suas variáveis psicossociais. Para isso avaliou-se a formação histórica,

social e econômica da região com foco no Conjunto Habitacional Benedito Bentes. A partir

deste arcabouço teórico foi possível identificar os fatos mais marcantes e suas conseqüências

na consolidação do município.

Outro princípio obedecido foi o tempo, ou a sucessão de acontecimentos. Considerou-

se que a sociedade vive em constante desequilíbrio e que as populações tentam compensá-lo

para atingir o bem estar (Capra, 2001). Estas tentativas são subjetivas e podem ser

diversificadas como, por exemplo, a remoção de lixo para áreas mais distantes das

residências; realização de manobras para maximizar lucros etc. Cada ação implica em novas

situações de desequilíbrio e novas tentativas de harmonização do meio (efeito-causa). Estes

desequilíbrios podem ser de minúsculos ou enormes com conseqüências em diferentes graus.

Por este motivo a análises históricas e geográficas são consideradas como fatores

essenciais no desenvolvimento de qualquer estudo ou tese, sem as quais, qualquer análise se

torna carente de identificação e passível de interpretações falhas. Nesta contextura será

apresentado o universo geral, ou macro-universo, com posterior foco no universo de estudo.

3.1 O Estado de Alagoas

Alagoas, antiga província de Pernambuco, seguiu o modelo do tipo plantantations6

inseridos no nordeste brasileiro e esta localizada entre os maiores centros açucareiros da

região, os Estados de Pernambuco e Bahia. Relatos antigos citam os índios caetés como

habitantes primordiais. Contudo, esta população foi forçada a fugir para o interior, se

instalando nas regiões próximas as atuais cidades de Palmeira dos Índios e Água Branca,

cidades com forte influência indígena até os dias atuais.

Seguindo a tendência da então colônia portuguesa, a região desenvolveu e consolidou

sua economia na cana-de-açúcar no litoral e na criação de gado no agreste e sertão com

atividades mineradoras insipientes. O escravo era a força motriz desta economia com

6 Monocultura voltada a exportação.

Page 26: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

13

população formada predominantemente por negros e alguns mestiços. A região costeira

chegou a ser invadida por franceses no século XVI, mas o donatário da capitania de

Pernambuco conseguiu retomar o controle da área e incentivou a construção de engenhos e

plantio de cana numa clara tentativa de povoar o local para criar uma identidade com a Coroa

Portuguesa. Porém, os atrativos provocados pela economia açucareira e a necessidade de

expansão das atividades econômicas de países mercantilistas provocaram, em menos de um

século, uma nova invasão. Dessa vez os holandeses ocuparam os atuais Estados de

Pernambuco e de Alagoas até o ano de 1645, quando foram expulsos. O período, conhecido

como Nassalino7, possuiu forte impacto na economia e na arquitetura, principalmente na atual

cidade de Recife, na região conhecida como Recife Antiga.

A desorganização política existente durante a retomada do poder criou condições para

a fuga em massa de vários escravos em direção as regiões ainda ocupadas por indígenas,

culminado na formação de vários quilombos, entre os quais o dos Palmares, destruído por

incursões governamentais antes do final do século XVII. Para evitar revoltas e garantir o

domínio sobre a terra os colonizadores e governo dizimaram os nativos e tribo hostis, entre as

quais a dos caetés, expulsa do litoral dois séculos antes. Durante a maior parte do período

todas as terras existentes ao norte do rio São Francisco, entre o litoral e a cachoeira de Paulo

Afonso, pertenceram a Pernambuco.

Alagoas só fora transformada em capitania no início do século XIX. A autonomia foi

dada a região como meio de enfraquecer a Revolta Pernambucana, movimento separatista

ocorrido naquele período. Em conseqüência, a capitania passou a ser vista como desleal pelos

revolucionários e como submissa as elites dirigentes da colônia como afirma Melo (1975,

p.60)

O desligamento da província das Alagoas, de Pernambuco, foi, pois, o resultado

de um fator econômico que se impunha à Coroa, e não obra de agraciamento à

Comarca.

A partir da independência, a capitania foi convertida a província e sua capital deixa de

ser a cidade de Alagoas (atual Marechal Deodoro) e passa a ser Maceió. Mesmo após o

Império, e durante todo o período republicano, o Estado manteve suas características

econômicas baseadas no binômio cana-de-açúcar e gado com implementação de plantações de

algodão e insignificante industrialização. As estruturas de poder da colônia foram mantidas

7 Referente a Maurício de Nassau.

Page 27: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

14

com o clientelismo dos coronéis e latifundiários mesmo após a proclamação de República

quando Alagoas passara a ser Estado.

Figura 1 - Linha do tempo dos principais fatos ocorrido no Estado de Alagoas. Fonte: Desenvolvido pelo autor.

Nos anos 60 (sessenta) do século XX foi instituída a Superintendência de

Desenvolvimento do Nordeste – SUDENE, órgão criado pelos governos militares para tentar

dinamizar a estagnada economia da região. Alagoas foi beneficiada com o programa de

exploração do sal-gema com a criação do Pólo Clóro-Químico e de uma empresa de capital

misto, a Braskem, a maior do Estado até os dias de hoje. Também houve investimentos da

Petrobrás para a prospecção de petróleo, onde os maiores beneficiados foram os municípios

de Pilar e de Maceió.

3.2 O Município de Maceió

O povoado que deu origem a cidade Maceió surgiu a partir do engenho de Massayó8.

Junto ao empreendimento fora erguido, a pedido de Portugal, um forte no porto de Jaraguá

8 Do tupi: Aterro sobre alagadiço.

Page 28: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

15

para tentar evitar o comércio ilegal de pau-brasil, principalmente entre os indígenas e os

corsários franceses que sempre aportavam no local que ainda hoje possui a denominação de

Porto dos Franceses. O seu desenvolvimento se deu em virtude deste forte, com

desmembramento da Vila de Alagoas no início do século XIX. A transferência do governo

para atual capital foi tumultuado e encontrou forte resistência das elites oligárquicas (Melo,

1975).

A cidade surgiu no atual bairro do Centro e teve o seu traçado definido pelos franceses

ainda no século XIX, mantendo-o até os dias de hoje. A partir de 1960 iniciou-se a construção

de edifícios, transformando o bairro numa área predominantemente comercial. Os

investimentos continuaram até a década de 80 e o bairro chegou a possuir os hotéis mais

importantes da cidade mas, desde então, o afluxo de investimento cessaram e o bairro

começou a ser tomado pelo comércio popular.

Em pouco tempo foi criado o distrito de Bebedouro, mais antigo bairro da capital. O

bairro chegou a ser ocupado predominantemente pela elite estadual com casarões existentes

ao longo de sua rua principal e pequenas casas e ruas estreitas ao longo das encostas locais.

No início da década de 30 do Século XX já surgem os bairros de Fernão Velho e

Jaraguá. A primeira fábrica têxtil do Estado foi criada no Fernão Velho, funcionando por mais

de um século com cerca de 4.000 (quatro mil) funcionários em seu ápice produtivo. As

políticas empresariais de época ofereciam casas padronizadas aos funcionários com energia

elétrica, água e rede de esgoto. Com a crise da indústria têxtil houve desemprego em massa e

o bairro passou da condição de produtivo a de dormitório, com grande parte de seus

moradores trabalhando no Centro e suas imediações.

O bairro do Jaraguá surgiu a partir do porto existente no local, o que transformou a

região numa zona comercial, um dos poucos centros políticos e econômicos da época. Até a

primeira metade do século XX, o comércio era atacadista e varejista. Jaraguá disputava com o

Centro a preferência dos consumidores e detinha grandes lojas de tecidos, chapéus, sapatarias,

farmácias e outros estabelecimentos comerciais.

Nas divisões territoriais de 1937 surgem os bairros do Farol, Pajussara e Poço. O Farol

recebeu este nome por causa do farol implantado pela Marinha no planalto da Jacuntiga, nome

original do local. A região foi a preferida pela elite pela proximidade ao Centro e clima mais

ameno. Atualmente o bairro é caracterizado pelo comércio, possuindo clínicas, consultórios,

Page 29: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

16

agências bancárias e supermercados restando ainda alguns casarões e suas ruas secundárias e

edifícios residências de alto padrão e classe média. A Pajussara surgiu como um balneário das

famílias que viviam no bairro do Bebedouro, Farol e Centro. No início prevaleciam as casas

de pescadores e algumas casas de veraneio. O bairro foi urbanizado na década de 70 com o

objetivo de promover o turismo na capital alagoana e desde então surgiram bares,

restaurantes, supermercados etc. O Poço começou como um sítio e hoje é um bairro

comercial, um dos principais de Maceió, sediando algumas indústrias, escolas e postos de

saúde.

Na década de 50 surgia o bairro do Jacintinho. Neste local a ocupação foi realizada por

forasteiros que vinham à capital alagoana em busca de melhores condições de vida. A extensa

mata que existia no local foi derrubada para a construção de casas e um comércio surgiu para

atender a recente demanda, expandindo-se deste então. O crescimento do bairro foi

desordenado com suas ruas estreitas e irregulares que fazem parte de sua arquitetura até os

dias de hoje. Atualmente este é o bairro mais populoso da capital.

O bairro do Feitosa surgiu entre os bairros do Farol e de Jacintinho a partir de um sítio

que acompanhou o crescimento dos bairros vizinhos. O local começou a receber

investimentos em infra-estrutura a partir da década de 60 com a chegada de água encanada as

residências. A partir dos anos 80 fora instalado o Terminal Rodoviário Estadual e atividades

comerciais surgiram em seu entorno.

Em 1986 foi construído o Conjunto Habitacional Benedito Bentes. Longe do núcleo

original de povoamento, esse possuía acesso ineficiente e era habitado por pessoas que não

possuíam condições de arcar com os valores dos alugues praticados no antigo núcleo de

expansão da cidade. O isolamento propiciou o surgimento de um comércio local e deu

autonomia ao bairro que chega a possuir subprefeitura. O bairro é o segundo mais populoso

da capital e funciona como um município autônomo.

Atualmente, o município de Maceió possui quase 1.000.000 (um milhão) de

habitantes. Cerca de 15% (quinze per cento) desses encontram-se no Benedito Bentes o que o

define como uma ótima amostra para o estudo proposto.

Page 30: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

17

3.3 Área de atuação da Limpel Limpeza Urbana

Cerca de 40% (quarenta por cento) da população do município é atendida pelos

serviços de remoção de resíduos e limpeza urbana oferecidos pela Limpel Limpeza Urbana

Ltda. A área reúne características bastante heterogêneas, existindo desde moradias

suburbanas, em bairros dormitórios, a mansões nas proximidades de centros comerciais. A

estratificação social é visível e muito conhecida dos habitantes do município, existindo termos

populares como a cidade “baixa” e “alta”, referindo-se a região costeira e a de tabuleiros

respectivamente.

Figura 2 - Mapa urbano do município de Maceió com destaque as áreas de atuação da Limpel. Fonte: Adaptado

do banco de dados da empresa pesquisada.

A cidade baixa é a região mais antiga do município. Possui os principais bairros

nobres, malha viária praticamente toda pavimentada, equipamentos turísticos, grande parte da

infra-estrutura bancária e centros comerciais. Na cidade alta encontramos bairros dormitórios,

vias estreitas, muitas sem pavimentação, a maioria das favelas e moradias suburbanas.

Page 31: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

18

Na área de atuação da Limpel a coleta de resíduos ocorre três vezes por semana em

todos os bairros, a exceção do bairro do Centro onde esta passa a ser diária por causa do

expressivo comércio e conseqüente incremento de descartados. Para atender toda a sua região

a empresa disponibiliza 12 (doze) veículos coletores do tipo compactador além de outros do

tipo caçamba basculante, minivans etc. No Conjunto Benedito Bentes é utilizado apenas um

veículo coletor com apoio esporádico de outros equipamentos.

Page 32: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

19

IV. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Este capítulo apresenta os principais conceitos teóricos necessários ao

desenvolvimento desse trabalho. Inicia-se com a definição dos sistemas de limpeza urbana e

segue de forma sucinta com os demais temas.

4.1 Serviços de limpeza urbana no contexto brasileiro

Apenas a partir da promulgação da Constituição Federal foi possível regimentar as

atividades ligadas ao manejo dos resíduos sólidos em todo o país. Os instrumentos jurídicos

podem ser empregados para elucidar os marcos mais recentes aplicados gestão dos sistemas

de limpeza urbana. Para início, cita-se o 255º artigo da Constituição:

Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso

comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder

Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e

futuras gerações.

O artigo rege todo o direito ambiental brasileiro e originou as demais leis que

regulamentam as atividades ligadas ao manejo de resíduos sólidos, com destaque para a lei de

nº 6.938/81 sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins, mecanismos de

formulação e aplicação. A lei possui vários aspectos que podem ser usados quando da

formulação de uma política voltada ao manejo dos resíduos, como as atividades de

planejamento e fiscalização do uso dos recursos ambientais e da educação ambiental em todos

os níveis do ensino, inclusive a educação ambiental informal inserida e aplicada a

comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente.

Além deste instrumento basilar da magistratura podemos citar, como marco regulatório, a Lei

de Crimes Ambientais de 1998, o Estatuto das Cidades de 2001 e a Lei do Saneamento (lei nº

11.445, de 5 de janeiro de 2007). Essa última define a limpeza pública, em seu 3º artigo,

como:

Conjunto de atividades, infra-estruturas e instalações operacionais de coleta,

transporte, transbordo, tratamento e destino final do lixo doméstico e do lixo

originário da varrição e limpeza de logradouros e vias públicas.

Page 33: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

20

Outra lei associada aos sistemas de coleta de resíduos sólidos é a nº 8.666/93. O

instrumento regulamenta o artigo 37º, inciso XXI, da Constituição e institui normas para

licitações e contratos administrativos. A importância desta lei deve-se a prática de

terceirização dos serviços públicos incrementada após o desmantelamento do Estado

Desenvolvimentista existente entre o período Getulino e a abertura neo-liberal promovida

pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso. Para se ter uma idéia da importância da

terceirização para o segmento de limpeza é prudente citar os dados da pesquisa da ABRELPE

(2005, p. 86), Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais,

em 111 (cento e onze) municípios brasileiros com mais de 50.000 (cinqüenta mil) habitantes:

...o item modalidade de execução dos serviços... revelou que 69,3% da

população total dos municípios é atendida integralmente pela iniciativa privada e

que outros 26,3% dessa população diz respeito a modalidades com participação

predominante da iniciativa privada. A somatória desses percentuais corresponde

a uma população de aproximadamente 55 milhões de habitantes.

É essencial destacar as resoluções do CONAMA, Conselho Nacional de Meio

Ambiente, de nos

5 de 15/06/88 e de 05/08/93. A primeira sujeita ao licenciamento, no órgão

ambiental competente, as obras de sistema de limpeza urbana. A última dispõe sobre a

destinação final de resíduos sólidos e define normas mínimas para o seu tratamento. O artigo

1º desta resolução define lixo conforme a NBR, Norma Técnica Brasileira, no 10.004, da

ABNT, Associação Brasileira de Normas Técnicas.

A noção de hierarquia de leis está ligada à Supremacia da Constituição. Assim, a

Constituição da República Federativa do Brasil é a lei maior do país. De acordo com o

Dicionário Aurélio (2001), a Constituição é a:

Lei fundamental e suprema dum Estado, que contém normas respeitantes à

formação dos poderes públicos, forma de governo, distribuição de competências,

direitos e deveres dos cidadãos, etc.; carta constitucional, carta magna.

Naturalmente, a carta magna regulamenta a forma geral das leis, sendo necessário

detalhar alguns de seus pontos, por isso, é presumido que existam instrumentos regulatórios

em escala inferior, dentre os quais podemos citar leis complementares, decretos, resoluções

etc. No artigo 59º da Constituição é possível identificar a hierarquia legislativa como: I -

Page 34: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

21

emendas à Constituição; II - leis complementares; III - leis ordinárias; IV - leis delegadas; V -

medidas provisórias; VI - decretos legislativos e; VII - resoluções.

Figura 3 - Legislação básica aplicada a sistemas de limpeza urbana. Fonte: Desenvolvido pelo autor.

Para elucidar os temas a serem tratados nesta pesquisa tomam-se emprestados alguns

conceitos das ciências adjuntas, procurando esclarecer seus principais componentes,

princípios e limitações.

4.2 Gerenciamento dos serviços de limpeza pública

A resistência a holística ainda provoca algumas divergências entre o que deve ser

averiguado e o que deve ser descrito. A tendência de simplificar os fatos e não aprofundar

suas origens ou conseqüências pode ser atribuído, em parte, à supressão e banalização das

disciplinas e dos cursos de filosofia após as reformas do ensino médio promulgadas durante o

Regime Militar com o objetivo de desmantelar os movimentos estudantis (Coggiola, 2001).

Page 35: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

22

Militares reservistas e aposentados, atuantes a época, apontam para preocupação do governo

com a estabilização do sistema político social após o período Costa e Silva e a ameaça de uma

guerra civil. Podemos definir esta ação como uma regulação estatal sobre a sociedade civil de

forma a mantê-la coesa e organizada mas com alguns reflexos negativos ainda presentes na

educação. A supressão de algumas matérias necessárias a análise crítica foi marginalizada

para toda uma geração nascida entre os anos de 1960 e 1980 e este pode ser um dos motivos

para a relativa falta de inovação e a tendência de simplificação ligada as atividade nos últimos

40 (quarenta) anos.

Em licitações, por exemplo, averigua-se que os projetos desenvolvidos por empresas

concorrentes possuem as mesmas características, senão o mesmo texto, o que evidencia a falta

de pesquisa e adaptação dos planos aos atributos locais. Em decorrência, nas fases de

execução e gerenciamento dos projetos são realizadas várias adaptações de modo a torná-los

mais condizente com a realidade, o que resulta em custos adicionais e possivelmente

evitáveis. No contexto, Lima (2001, p. 22) afirma que:

...o gerenciamento de resíduos exigem o emprego das melhores técnicas na busca

do enfrentamento da questão. A solução do problema dos resíduos pode envolver

uma complexa relação interdisciplinar, abrangendo os aspectos políticos e

geográficos, planejamento local e regional, elemento de sociologia e demografia,

entre outros.

No entanto, a constante tentativa de organizar o exercício da limpeza, de regulá-lo

conforme as necessidades momentâneas e a falta de ferramentas adequadas ao planejamento

de longo prazo comprovam que gerenciamento ainda possui grande falhas. Observa-se que

esta dificuldade também pode ter causa no padrão caótico de geração dos resíduos, o que

caracterizaria a limpeza urbana como um sistema dinâmico e auto-regulador.

4.3 Sistemas auto-reguladores

As noções de sistema auto-regulador surgiram no final da década de 40 nos Estados

Unidos com o advento da cibernética em conjunto com a Teoria dos Sistemas. A teoria

preconiza a organização abstrata de fenômenos independente de sua formação e configuração

presente e afirma que estes são abertos e sofrem interações com o ambiente onde estão

Page 36: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

23

inseridos. As respectivas interações geram realimentações que podem ser positivas ou

negativas. A partir de uma interação gera-se uma nova, criando assim uma auto-regulação

regenerativa, que por sua vez cria propriedades que podem ser benéficas ou maléficas para o

todo. Por exemplo, num fluxo de informação apresentado na figura abaixo, a decisão sobre

qualquer etapa do processo afeta os demais.

Figura 4 – Exemplo de componentes dum sistema com características auto-regulador (desenvolvido pelo autor).

Assim, a análise de um resultado afeta o planejamento que, por sua vez, reflete sobre a

execução e, conseqüentemente, nos resultados que demandarão uma nova avaliação. O ciclo é

contínuo e recebe influência no ambiente externo com tendência sempre ao equilíbrio. A está

rede de interação dá-se o nome de sistema. O conjunto dessas interatuações pode ser

explicada pela Teoria dos Sistemas.

O conceito de Teoria dos Sistemas é amplamente aplicado nos estudos sobre auto-

regulação que nada mais é do que a capacidade que todo organismo tem de se reequilibrar

para adaptar-se às diferentes condições do meio. É esta capacidade que garante a satisfação

das necessidades vitais dos seres vivos. Conforme aborda Milaré (2001, p.2) o equilíbrio é:

Page 37: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

24

...um requisito para manutenção da qualidade e das características essenciais do

ecossistema ou de determinado meio... o equilíbrio ecológico supõe mecanismos

de auto-regulação ou retroalimentação nos ecossistemas.

Outro conceito inserido na década de 70 para o estudo de sistemas auto-reguladores

foi o de autômato celular criado pelo matemático britânico John Horton Conway. O seu

trabalho, conhecido como Jogo da Vida, foi apresentado ao público através da edição de

Outubro de 1970 da Scientific American, na coluna de jogos matemáticos de Martin Gardner,

abrindo o campo da pesquisas para software que recriavam processos do mundo real, mais

conhecidos atualmente como simulações. O jogo segue as regras de um conjunto de

algoritmos pré-definidos com resultados tornam-se previsíveis, mas também aleatórios.

Figura 5 - Exemplo de colônias de células formadas a partir da aplicação do Jogo da Vida de Conway. Adaptado

de WILBERGER, 1996

No mesmo período foi criado um novo ramo investigativo conhecido por Autopoiese.

O termo foi cunhado pelos chilenos Maturana e Varela (1997) para nomear a

complementaridade fundamental entre um sistema vivo e a sua estrutura. As pesquisas destes

biólogos apontaram uma definição de vida como sendo a autonomia e constância de uma

determinada organização das relações e os elementos constitutivos desse mesmo sistema. A

Page 38: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

25

organização autopoiética é auto-referencial no sentido de que a sua ordem interna é gerada a

partir da interação dos seus próprios elementos e auto-reprodutiva no sentido de que tais

elementos são produzidos a partir dessa mesma rede de interação circular e recursiva.

A proposta da teoria parte da observação de determinado objeto pela interação de seus

elementos, possibilitando, assim, a construção de um arcabouço científico embasado nas

relações entre estes e as funções exercidas no todo comunicativo do sistema. Essa construção

conceitual foi rapidamente difundida e começou a ser empregada em outras áreas do

conhecimento até ser introduzida nas ciências sociais.

Os conceitos explicitados sugiram do emprego de ferramentas mais confiáveis para

medição e reprodução dos eventos analisados, do acesso à informação facilitado pela

publicação de periódicos e do surgimento da Internet, criando a base para a Sociedade da

Informação.

4.4 Sociedade da informação

A sociedade de informação é a conseqüência da explosão informacional provocada,

sobre tudo, pela disseminação da informação e do conhecimento, resultado da 3a revolução

industrial, ou revolução da informática, ocorrida ainda na década de 60 do último século. A

revolução só foi possível graças ao momento extremamente favorável a economia capitalista

mundial (Farah Júnior, 2000) e caracterizou-se pelo emprego do binômio

informática/robótica, implicando na difusão da automação dos processos produtivos dos

países centrais da economia capitalista.

Neste contexto, a sociedade caracteriza-se pelo elevado número de atividades

produtivas que dependem da gestão de fluxos informacionais aliado ao uso das novas

tecnologias de informação e comunicação, tendo como conseqüência o surgimento de

comportamentos sociais padronizados ou, ao menos, muito semelhantes. O fenômeno é

atribuído ao crescimento da mídia e a disponibilidade de informação a qualquer um e a

qualquer momento. A partir de então, o homem passou a ter mais autonomia como

conseqüência desta commodity (Friedman 2005).

Page 39: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

26

Figura 6 - Fontes usuais de informações (desenvolvido pelo autor).

Assim, é possível cada um encontrar exatamente o que quer, o que deve contribuir

para a redução de diferenças entre comunidades e o abandono de conceitos locais,

considerados ultrapassados pela cultura dominante. É a chamada revolução do conhecimento

também defendida por autores como Anderson (2006). O fenômeno sistêmico e pode ser

descrito como auto-regulador já que é do tipo efeito-causa. O impacto desta revolução se faz

visível nas preferências e anseios dos jovens nascidos depois do colapso dos regimes

socialistas e comunistas mundiais e gerou ramos privados de pesquisa que trabalham

exclusivamente com coleta, tratamento e análise de informação.

4.5 Inteligência competitiva

A palavra inteligência causa uma série de equívocos. A inteligência, longe de sua

definição formal, é a capacidade de um ou de um conjunto de indivíduos de processar

informação e transformá-la em conhecimento. A Informação e conhecimento, apesar de serem

muito utilizadas como sinônimos possuem definições bem diferentes.

Page 40: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

27

A Informação é uma mensagem que indica o estado ou situação de um sistema

qualquer. O conteúdo da informação pode ser bem específico ou disperso e, se isolado, não

oferece nenhuma vantagem para quem a detenha. Por outro lado, o conhecimento é um

conjunto de informações que habilita o seu detentor executar ações coordenadas e com

resultados previsíveis.

A inteligência surge da habilidade de gerar conhecimento. A atividade tem origem

militar e já era mencionada nos manuscritos do general Tzu (2007) na china antiga. A

inteligência permaneceu como atividade exclusivamente governamental até o início da

revolução industrial, quando alguns peritos começaram a copiar projetos de máquinas a vapor,

dando origem ao termo espionagem industrial, tão corrente nos dias de hoje.

Em sua concepção, as atividades de inteligência serviam para manter os Estados

informados sobre possíveis ameaças a sua segurança. As ações se mantiveram presentes e

tiveram grande importância no decorrer de guerras (Ambrose, 2002) e demais conflitos

chegando o seu ápice no período de 1947 a 1989 no transcorrer da Guerra Fria. Com o fim da

União Soviética também houve o enfraquecimento das Agências de Inteligência

Governamentais como a KGB - Komitet Gosudarstvenno Bezopasnosti na URSS, a CIA -

Central Intelligence Agency nos EUA e do SNI – Sistema Nacional de Inteligência no Brasil.

Platt (1967) considera que as atividades de inteligência sempre foram instrumento de

poder e dominação ao longo da história, daí a sua íntima ligação com poderes governamentais

e seu incremento nos períodos ditatoriais ou de conflitos nacionais e sua recente adoção em

ramos privados.

Historicamente, a inteligência sempre esteve associada a termos como espionagem e

meios ilícitos, provavelmente por isso, há um estigma de rejeição e até de fantasia em relação

ao tema. Contudo, com a explosão da sociedade informatizada e o livre acesso a informação

houve a necessidade de se repensar esse conceito. Hoje existe tanta informação veiculada

pelas mídias e internet que é difícil selecionar e transformar esse conjunto de dados algo

realmente útil (Kurz, 2002). A imensa quantidade de informação a e necessidade de filtrá-la

proporcionaram o surgimento de novos nichos de mercado como a versão privada da

inteligência, conhecida como a Inteligência Competitiva ou IC. Teóricos como Tarapanoff

(2001) defendem-na como uma nova metodologia para o planejamento e administração

estratégica das organizações e para sua tomada de decisão.

Page 41: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

28

Ainda que desperte desconfiança na sociedade e organizações, a IC encontra-se em

plena expansão no cenário mundial, com processos bem avançados na região sudeste e sul do

nosso país onde, recentemente, foi criada a Associação Brasileira de Analistas de Inteligência

Competitiva – ABRAIC , na cidade de São Paulo/SP.

4.6 Espaço Geográfico

A Geografia é uma ciência que tem por objeto de estudo o espaço produzido através

das relações entre o homem e o meio, envolvendo aspectos dialéticos e fenomenológicos. É a

ciência que estuda a distribuição e a ordenação dos elementos na superfície terrestre. Para La

Blache9, a geografia era a ciência dos lugares, já para Hartshorne

10 era a ciência da

diferenciação de áreas. A partir destas afirmações pode-se perceber que esta possui vários

conceitos e especialidades mas nada causa tamanho descontentamento entre seus teóricos do

que a segregação da ciência em Física e Humana.

A geografia física se dedica a geomorfologia. Utiliza a geologia para estudar a forma e

a estrutura da superfície terrestre; climatologia, em que se encontra a meteorologia;

biogeografia, que utiliza a biologia e estuda a distribuição da vida animal e vegetal; geografia

dos solos, que estuda sua distribuição; hidrografia, que se ocupa da distribuição dos mares,

lagos, rios e arroios em relação à sua utilização; oceanografia, que estuda as ondas, as marés,

as correntes dos oceanos e os fundos marinhos, e a cartografia.

A geografia humana abrange todas as fases da vida social em relação ao meio físico: a

geografia econômica, a geografia política, que é uma aplicação da ciência política, visto que

estuda as atividades sociais dos seres humanos que estão diretamente relacionadas às

localizações e aos limites das cidades, Estados e grupos de Estados. Existem muitos outros

campos na geografia humana como a etnografia, a histórica, a urbana, a demografia e a

lingüística.

Mas Lacoste (1988) afirma que a geografia não deve ser compreendida como uma

ciência isolada ou um conjunto de especialidades desconexas e sim como uma amálgama de

conhecimento a ser utilizado para auxiliar o homem a compreender o espaço em que vive,

auxiliando na eficiência e racionalidade de suas ações. A geografia pode ser considerada uma

9 Fundador da moderna Geografia Francesa e da Escola Francesa de Geopolítica.

10 Geógrafo Estado-Unidense de grande influência na ciência espacial do Século XX.

Page 42: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

29

ferramenta de inteligência, própria para análise espacial dos acontecimentos presentes nas

atividades humanas e demais processos psicossociais.

4.7 Psicologia Social

A psicologia é definida como a ciência do comportamento. Seu principal objetivo é

estudar a mente do ser humano sob a ótica das emoções. Esse ramo de pesquisa surgiu a partir

do desmembramento da filosofia e suas raízes podem ser localizadas na Grécia dos filósofos

Sócrates, Platão e Aristóteles, os primeiros a levantar questionamentos e reflexões

fundamentais sobre o funcionamento da mente. Porém, enquanto ciência, a psicologia só

surgiu no ano 1734, quando Christian Wolff empregou este termo para significar uma

disciplina, então parte do curso de filosofia. Sua disciplina “Psichologia Rationalis” era a

parte da filosofia que estudava a natureza e as faculdades da alma (Heidbreder, 1981). Desde

então vários ramos de estudo surgiram, se destacando dentre estes a psicologia Gestalt.

Os psicólogos da Gestalt acreditamm que as experiências trazem consigo uma

característica de totalidade ou de estrutura, o que nos remete a teoria sistêmica. A Gestalt

surgiu como forma de protesto contra o estruturalismo, visto como fraco por reduzir

experiências complexas da natureza humana a elementos simples em sua obsessão pela

precisão e pelo comportamento observável, os behavioristas também foram culpados e

criticados por essa prática segundo Davidoff (1983).

Já a Sociologia se firma como ciência do comportamento humano em função do meio,

mas analisa os processos que interligavam o indivíduo em associações, grupos e instituições.

Enquanto o indivíduo na sua singularidade é estudado pela Psicologia, a Sociologia estuda os

fenômenos que ocorrem quando vários indivíduos se encontram em grupos de tamanhos

diversos e interagem no interior desses grupos.

Os dois processos de investigação firmaram-se como técnicas autônomas, com objetos

e métodos específicos, apresentando posições opostas na dimensão indíviduo-sociedade,

cabendo à psicologia o estudo de disposições e à sociologia o estudo das representações

sociais.

A psicologia social surgiu como uma tentativa de explicar e compreender o modo

como o pensamento, o sentimento e o comportamento dos indivíduos são influenciados pela

Page 43: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

30

presença real, imaginada ou implícita em virtude de sua posição numa estrutura social

complexa e de sua presença neste mesmo grupo (Allport, 1954), ou seja, analisa a interação

entre indivíduo e sociedade e procura articular a regularidade com a ação, percebendo como a

estrutura a condiciona e esta produz a estrutura.

4.8 Teoria dos Jogos

A teoria dos jogos provém da matemática e remontam as pesquisas descritas no século

XVIII. A teoria escreve qualquer ação como uma concorrência onde indivíduos ou conjunto

destes que buscam ganhos, ou seja, considera a tentativa de compensar o desequilíbrio de

algum sistema como motivação das partes envolvidas e fornece uma solução para se atingir

equilíbrio (Santini et al, 2004). Até pouco tempo o equilíbrio dado pelos modelos eram

restritos a situações onde os jogadores cooperavam entre si, ajudando-se mutuamente. Porém,

o grande salto dado pela teoria ocorreu a partir da teoria dos jogos não-cooperativos elaborada

na década de 50 por John Forbes Nash Junior. Nela, um jogo é descrito como a competição

entre um número finito de jogadores com um objetivo comum. Lage e Lima (2005) definem a

vida em sociedade como um grande jogo, ou ainda, como uma série simultânea deles.

A teoria foi muito bem aplicada para descrever o equilíbrio de forças entre a URSS e

ao EUA durante o período pós-guerra e aplica-se a economia, planejamento e outros

segmentos da sociedade.

Para desenvolver modelos adequados a teoria dos jogos torna-se necessário enumerar

todos os itens presentes, desde jogadores a fatores sócio-ambientais. A necessidade de obter

todos os dados, senão os principais, o que torna a teoria restrita a poucos acadêmicos.

Hammerstein (1998) defende que são necessárias três informações para elaboração de um

cenário de competição:

Quem está envolvido no jogo;

Quais são as ações possíveis e;

Como o sucesso de cada indivíduo depende do comportamento dos outros.

Na biologia, por exemplo, a teoria dos jogos é aplicada com o conceito de evolução.

Nesta ótica os indivíduos (primeira informação) possuem uma série de estratégias possíveis

para aumentar sua chance de reprodução (segunda informação). Com o passar do tempo só

Page 44: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

31

sobreviverão os organismos mais adaptados ao meio, restando apenas e eliminação dos

demais (terceira informação).

Figura 7 - Tela do simulador evolutivo Gene Pool, versão 5.0 onde a teoria é aplicada a sistemas biológicos.

Simulação realizada pelo autor.

A teoria dos jogos na biologia é uma importante ferramenta de estudos sobre a

evolução dos comportamentos de animais e do próprio ser humano. O sistema se realimenta

constantemente formando ciclos evolutivos com resultados imprevisíveis, caóticos e

complexos.

Page 45: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

32

4.9 Caos e complexidade

Até a década de 50 muitos fenômenos não podiam ser previstos por leis matemáticas e

eram conhecidos até então como fenômenos caóticos11

. Estavam presentes neste grupo as

medições climáticas estudadas por Lorenz ao assumir a cadeira catedrática do Departamento

de Meteorologia do Boston Tech. Naquela época a meteorologia empregava processos

estatísticos mais baseados em dados históricos do que em princípios físicos (Oliveira e

Mendes, 2006). A previsão era linear e seus valores eram tidos como uma constante. Lorenz

propôs previsões a partir de equações não-lineares, o que significava que as equações

deveriam apresentar soluções não-periódicas, ou seja, que cada variável assumiria os valores

apresentados como resultado de um ciclo anterior.

O atrator de Lorenz para valores diferentes de ρ

ρ=14, σ=10, β=8/3 ρ=13, σ=10, β=8/3

ρ=15, σ=10, β=8/3 ρ=28, σ=10, β=8/3

Figura 8 – Resultados obtidos em atratores de Lorenz a partir de mudanças de dados. Fonte: Wikipédia,

http://pt.wikipedia.org/wiki/Atractor_de_Lorenz, acessado no dia 07/07/2008

11 Neste caso ainda se associava o termo a fenômenos sem explicação, de desordem total ou parcial.

Page 46: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

33

Numa equação caótica, uma pequena mudança nos dados iniciais poderá resultar em

diferentes resultados em estados posteriores. Esta característica fora descoberta

acidentalmente pelo próprio Lorenz anos mais tarde ao arredondar as casas decimais das

variáveis utilizadas em seu estudo original.

Por causa de sua sensibilidade a interferências externas e sua capacidade de auto-

alimentação a teoria vem sendo aplicada com o objetivo de compreender as flutuações

irregulares encontradas em sistemas naturais. Sua regra básica afirma que a evolução de um

sistema dinâmico depende crucialmente de suas condições iniciais. Uma mesma simulação

poderá assumir resultados totalmente diferentes de um anterior.

Page 47: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

34

V. SISCOE: METODOLOGIA PRÁTICA PARA COLETA E TRATAMENTO DE

DADOS

No ano de 2002 a Limpel começou a investir em softwares para auxiliar a gestão de

dados em seus empreendimentos. Nesta época a operação do sistema de coleta de resíduos do

recém adquirido contrato de Manaus/AM necessitava de readequações. O Departamento

Técnico solicitou a superintendência uma cópia do banco de dados da filial para análise dos

registros para identificar os parâmetros de produtividade. A superintendência enviou os dados

relativos a três meses de operação, período decorrido desde a implantação até a data da

solicitação. Contudo, a avaliação estatística preliminar apontou para a inconsistência dos

dados. Os erros mais comuns correspondiam a troca de unidades e preenchimento incorreto

dos registros no software empregado para este fim na época. Na verdade, esse era uma

adaptação de um sistema utilizado para gerenciar frotas de ônibus.

5.1 Desenvolvimento do banco de dados

Diante da ausência de um banco de dados adequado foi elaborada uma proposta para o

desenvolvimento de outro, nas instalações da empresa. Os tipos de registros, advindos da

CDC12

, e a relativa simplicidade do banco a ser desenvolvido fez com que o Departamento

Técnico lançasse uma proposta de desenvolvimento a diretoria. Com sua aprovação fora

adotado o Microsoft Access, versão 2000 e, após três meses, uma primeira versão fora

implantada no município de Maceió.

A denominação inicial do banco de dados foi de Sistema de Controle, ou Siscoe como

veio a ser mais conhecido. O algoritmo13

e as restrições aplicadas inicialmente ao Siscoe

apresentaram-se de forma satisfatória, mas com o tempo, a facilidade em gerar relatórios

gerenciais contendo médias, produções e pesos totais aumentaram a exigência da gerência

operacional ao banco de dados. Já não era desejável, por exemplo, que um relatório sobre

produtividade de veículos fosse impresso, obrigatoriamente com todos os veículos da filial ou

determinado grupo de indivíduos. Desse modo, fora desenvolvida uma nova versão.

12

Referente a Controle Diário de Coleta, ficha entregue aos motoristas de veículos no início de cada jornada de

trabalho. 13

Conjunto de processos (e símbolos que os representam) para efetuar um cálculo. Basicamente, um algoritmo é

um conjunto de passos a serem seguidos para a resolução de um problema.

Page 48: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

35

Figura 9 - Tela principal do SiSCOE, em sua 2ª versão. Fonte: Limpel Limpeza Urbana Ltda.

A diferença entre a antiga e a nova versão estava na manipulação dos relatórios. Cada

veículo podia ter histórico individual, o mesmo para setores de coleta, agentes de limpeza e

etc. O cadastro de empresas subcontratadas, serviços equipamentos também foi reformulado,

o que aumentou a eficiência do banco de dados, agora chamado de Sistema de Controle

Estratégico.

Atualmente há uma nova versão em desenvolvimento numa linguagem de

programação mais confiável.

5.2 Aplicações

Através do sistema é possível gerar diversos relatórios, importantes para as atividades

de fiscalização, planejamento e gerenciamento voltado á otimização e a redução dos custos.

As informações geradas podem ser aplicadas imediatamente ao:

Page 49: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

36

Controle da execução do serviço: Indica se os serviços ou as rotas foram realizados

em relação a programação;

Controle de tempo de percurso: Analisa e quantifica o tempo diário ou médio para

determinado período gasto para a coleta de resíduos num determinado setor;

Controle de velocidade: Apresenta a velocidade média de coleta e de transporte dos

resíduos aos pontos de destinação final;

Identificação de padrões de comportamento: Realizada a partir da análise conjunta

de dois de seus relatórios, onde é possível descobrir como cada variável atua no

conjunto;

Análise de Fraudes: Realizada a partir de análise conjunta de três relatórios para

identificar desvios intencionais de rotas, geração de horas extras intencionais,

consumo anormal de combustíveis etc.

Demais relatórios podem ser obtidos por meio do cruzamento dos dados presentes no

sistema, aumentando a possibilidade de modificar ou incrementar sua aplicação.

5.3 Estrutura básica

O banco de dados esta dividido em quatro módulos: Cadastro; Operação; Relatórios e

Projeção. Cada módulo possui uma função específica. O cadastro, por exemplo, fornece dados

básicos para a operação que, por sua vez, fornece os dados para os relatórios e a projeção.

O cadastro possui todos os dados referentes a funcionários, com nome, matrícula e

função. Na primeira versão havia mais campos como RG, idade etc, mas logo se percebeu que

não possuíam aplicação prática para a operação, sendo eliminados. O mesmo procedimento

foi tomado a todos os demais campos que não utilizados nos cálculos de rendimento de

setores de coleta, o que reduziu consideravelmente o tamanho do algoritmo empregado.

A Operação consiste em tela com uma CDC em formato eletrônico. O operador do

sistema deve lançar os dados no formulário. Esse é um dos módulos mais importantes, pois a

partir dele são gerados os relatórios gerenciais.

O módulo de relatórios busca as informações inseridas no banco de dados e os

compilam de modo a identificar as produtividades por setores, veículos, turnos ou outros

dados como horas trabalhadas, horas extras. Alguns índices, obtidos a partir de cálculos

Page 50: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

37

simples de divisão como, por exemplo, tonelada de resíduos coletado por hora, foram

adicionados para auxiliar o gestor do serviço a tomada de decisão.

Figura 10 - Componentes básicos do Siscoe. Fonte: Desenvolvido pelo autor.

O último módulo é o de projeção. Os dados básicos da CDC são novamente utilizados

para gerar projeções de serviços, principalmente com relação à tonelada a ser coletada para os

próximos dias, semanas, meses etc. A projeção baseia-se em cálculos lineares e no histórico

dos formulários, cabendo ao gestor escolher qual período a ser utilizado para o banco de

dados baseando sua projeção.

5.4 Limitações da versão 2 do SiSCOE

O sistema, em sua atual versão, possui algumas limitações quanto ao tratamento dos

dados. A começar pela capacidade de armazenamento do Access. Existe uma infinidade de

softwares destinados a resolver este problema. Porém, a facilidade de seu uso o transformou

numa ferramenta adequada as necessidades da época de sua concepção.

Page 51: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

38

Os cálculos executados pelo Access seguem uma lógica booleana 14

e permitem o

emprego de equações matemáticas básicas, mas isso impede que outros procedimentos mais

complexos sejam executados. Contudo, a opção de exportar os dados para formato Excel,

Dbase ou texto separado por tabulações permite que sejam aplicados vários procedimentos

mais adequados. As informações, quando devidamente tratadas podem ser empregadas para o

desenvolvimento de análises com o objetivo de gerar conhecimento estratégico, pois,

conforme Pineda (2004, p.6):

A informação e um insumo básico para a geração de pensamento estratégico.

Esta informação é proveniente tanto do contexto interno quanto do entorno –

ambiente externo.

Desse modo, associar as informações do SiSCOE a outras fontes de informações pode

gerar um novo tipo de conhecimento adequado as necessidades presentes e futuras, não

apenas da Limpel, mas de qualquer empresa ou gestor do ramo da limpeza pública.

5.5 Tratamento de Informações do SISCOE

A fonte primária de dados para a pesquisa é composta pelo banco de dados dos setores

de coleta. Nesta etapa, considerada como a primeira fase explorativa do trabalho, foi avaliado

o histórico da cada dia de trabalho e como os diversos atributos inseridos no SiSCOE se

interligam, ou seja, pretendeu hierarquizar e organizar dados para se estabelecer uma rede

estruturada de interligações. Para tal fim aplicaram-se ferramentas estatísticas.

A estatística é um método utilizado para observação de fenômenos similares com

identificação de características comuns, seja por forma direta com a comparação de dados,

seja indireta, através da influência sobre outros. Esta ciência estuda a probabilidade de

ocorrência de um fenômeno e o seu comportamento ao longo do tempo. As observações

podem ser executadas de forma descritiva, quando os conjuntos de dados oferecem as suas

próprias conclusões, ou indutiva, quando a pesquisa ultrapassa os limites de dados fornecidos.

14

O matemático inglês George Boole (1815-1864) publicou em 1854 os princípios da lógica booleana, onde as

variáveis assumem apenas valores 0 e 1 (verdadeiro e falso). A lógica booleana foi usada na implementação de

circuitos elétricos internos a partir do século XX.

Page 52: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

39

5.6 Considerações sobre a preparação dos dados

Não se deve empregar apenas a estatística para investigar os dados fornecidos pelo

Siscoe. Apesar de ser a ferramenta mais utilizada nesta fase do trabalho e a base para toda a

análise deve-se frisar que esta não dá nenhuma certeza, apenas probabilidades. Os resultados

apenas devem sugerir como é o comportamento e a associação entre as variáveis, mas não as

suas causas. Neste caso aplica-se a estatística indutiva. Outro fator é sobre a veracidade dos

dados. Os cálculos estatísticos só apresentarão resultados corretos se os dados assim o forem.

Além dos passos citados, é necessário que o enquadramento teórico do estudo esteja

bem delimitado, pois uma análise indevida provocará conclusões erradas. Deste modo, para

iniciar um bom trabalho investigativo é fundamental desenvolver um bom guia para pesquisa.

Para isso é necessário seguir uma seqüência de passos que poupará tempo e esforço.

5.6.1 Delimitação dos setores pesquisados

Por motivos éticos já explicitados anteriormente, só serão utilizados os dados

referentes a Conjunto Habitacional Benedito Bentes, equivalentes aos setores C-11, C-12, C-

19 e C-20 de acordo com a nomenclatura fornecida pela Limpel. Estes setores possuem

freqüência alternada em turnos diurnos e noturnos como apresentado na tabela a seguir:

Tabela 2 – Setores de coleta presentes no Conjunto Benedito Bentes

Setor Freqüência/Turno Dias da semana

C-11 Alternada – Diurna Terça-feira, quinta-feira e sábado

C-12 Alternada – Diurna Segunda-feira, quarta-feira e sexta-feira

C-19 Alternada – Noturna Terça-feira, quinta-feira e sábado

C-20 Alternada – Noturna Segunda-feira, quarta-feira e sexta-feira

Fonte: Limpel Limpeza Urbana Ltda

O conjunto é, na maioria das vezes, atendido pelo mesmo veículo, o que reduz a

quantidade de variáveis a serem exploradas com relação a este item.

Page 53: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

40

5.6.2 Tipo de dados

A seleção dos dados no MS Excel ocorreu a partir da aplicação de filtros, eliminando

todos os registros referentes a outros setores de coleta. Depois deste procedimento restaram

apenas 698 (seiscentos e noventa e oito) registros, equivalente a 2 registros diários durante

todo o período. A planilha possui 105 (cento e cinco) tipos diferentes de variáveis agrupadas

numa matriz de 698 x 105, ou seja, possui 73.290 (setenta e três mil, duzentos e noventa)

registros organizados em Sistema Interno, Ambiente Externo e Sistema Externo.

Para reduzir a quantidade de variáveis optou-se por retirar os dados referentes a

quebras de veículos e demais dados a partir da 3ª (terceira) viagem. Esta ação também foi

reforçada pela necessidade de preservar algumas informações da empresa.

Os dados foram distribuídos nos três grupos de variáveis de acordo com a sua natureza

como apresentado na tabela abaixo:

Tabela 3 – Grupo de variáveis e sua classificação.

Sistema Interno Ambiente externo Sistema Intermediário

Veículo Data Setor

Turno de coleta Peso Coletado Horários

Equipe Distâncias Avarias

Fonte: próprio autor

O Sistema Interno corresponde aos fatores de gestão e capacidade técnico-financeira

da empresa. São as variáveis independentes dos ambientes e sistemas externos. Os veículos,

formado por caminhões compactadores, possuem características individuais como capacidade

de carga, consumo de combustíveis, tamanho etc. Os turnos de coleta, diurno ou noturno, são

escolhidos de acordo com análise técnica local.

Turnos diurnos são indicados para locais de difícil acesso, zonas residenciais e com

pouca infra-estrutura. Neste caso a luz do dia auxilia a coleta assim como protege o agente de

limpeza de possíveis acidentes por baixa visibilidade. Turnos noturnos são indicados para

locais de boa acessibilidade, iluminação e para trechos comerciais. Para a ABES/SC (p.31,

2000) “a regra fundamental para definição do horário de coleta consiste em evitar ao máximo

perturbar a população”. A equipe de coleta é outro fator seletivo. Aparentemente existem duas

Page 54: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

41

tendências: De se aplicar pessoal mais produtivo em setores com mais resíduos e; De formar

equipes mistas juntando pessoas mais produtivas com menos produtivas na tentativa de se

equacionar as produtividades.

O Ambiente Externo é formado por variáveis naturais, ou seja, não podem ser

controladas pelo gestor dos serviços. Franco (2007) entende que o equilíbrio não é estático

mas se altera constantemente para se adaptar as mudanças do ambiente social e econômico

além de outros. A data é invariável mas está inserida nesta classificação por corresponder ao

tempo onde o equilíbrio ocorre e também está sujeita a épocas do ano, estações etc. As

distâncias percorridas estão relacionadas a malha viária, trânsito e a acessibilidade local

(necessidade ou não de desviar rotas etc).

O Sistema Intermediário surge da interação entre os sistema e ambiente internos

possuindo características dependentes de uma ou mais variáveis. Os setores de coleta podem

possuir seus limites dimensionados pelos técnicos da empresa mas a produção de resíduos

estará ligada a características populacionais. Os horários, incluindo o de coleta e término de

viagens, são relacionados às características dos veículos, das equipes e do meio ambiente. As

avarias ou quebras surgem da interação do veículo com o setor de coleta.

Após a definição dos grupos de variáveis é necessário testá-las para averiguar quais

devem ser incluídas e quais devem ser aplicadas para uma análise dos serviços de coleta. Para

isso cabe, inicialmente, a eliminação de dados espúrios da amostra.

5.6.3 Eliminação de dados espúrios

De acordo com o Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, espúrio possui

como sinônimos os termos “falsificado, adulterado ou modificado”. Dados espúrios são

informações que estão distorcidas ou fora da realidade. Numa amostra estatística é necessário

identificar os dados espúrios para que estes não falseiem os resultados. Para este fim aplica-se

um histograma para identificação da moda da amostra. É importante ressaltar que dados

espúrios pode ser indícios de fraudes ou outro tipo de situação anormal, contudo, esse foco

não será dado ao presente estudo por motivos já descritos.

Page 55: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

42

A moda indica qual a freqüência que determinado dado ocorre numa amostra.

Segundo Ribeiro (1998), a moda é o valor que ocorre com maior freqüência e utiliza a

distribuição de freqüências de King, Czuber e Pearson. No gráfico abaixo, por exemplo, a

moda encontra-se entre os valores do horímetro dos veículos do setor C-11 encontram-se

entre 8 (oito) e 10 (dez) horas por dia.

Histogram (c-11 56v*184c)

-2 0 2 4 6 8 10 12 14 16

HORIMETR

0

10

20

30

40

50

60

70

No

of

obs

Figura 11 – Histograma com distribuição de amostras

Além de indicar onde os dados se concentram, a moda possui boa aplicação para

sugerir quais as flutuações de valores e não se deixa influenciar por valores extremos como no

caso de algum dado que esteja fora dos padrões.

A Mediana também auxilia na interpretação do gráfico e indica o ponto central da

série. Num Sino de Gauss, a Mediana corresponde ao ápice da curva, ou seja, corresponde a

média dos valores. A mediana e a moda são muito semelhantes mas Ribeiro (1998) defende

que a moda é menos empregada, sendo adequada para caracterizar situações onde estejam em

causa os valores mais freqüentes.

Page 56: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

43

Histogram (c-11 56v*184c)

HORIMETR = 173*2*normal(x; 8,7902; 2,9636)

-2 0 2 4 6 8 10 12 14 16

HORIMETR

0

10

20

30

40

50

60

70

No

of

obs

Figura 12 – Sino de Gauss sobre histograma

Além de indicar a mediana, o sino de Gauss também indica a variância da amostra.

Esta é uma medida de dispersão de valores em torno de uma média e destina-se a verificar a

exatidão dos dados verificados. O cálculo do desvio padrão é aplicado quando procuramos um

parâmetro estável que reflita a consistência dos dados. O desvio padrão 1 pode, por exemplo,

indicar onde está a variação mais provável das amostras. Alvarenga e Novaes (1994, p.21)

explicam o uso prático da média e do desvio padrão. Para estes autores:

O desvio padrão é muito útil para se estimar faixas de variação prováveis da

variável, no caso de distribuições normais ou aproximadamente normais.

Se considerarmos a área abaixo da curva normal (sino de Gauss), e limitada por

um desvio padrão de cada lado do valor médio, teremos uma cobertura de 68,3%

da área total.

Page 57: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

44

Com estas ferramentas é possível remover todos, ou senão grande parte, dos dados

espúrios da amostra, reduzindo a chance de gerar resultados errôneos sobre as medidas. Como

exemplo pode-se analisar os gráficos representados na figura abaixo. O histograma B

apresenta uma sensível diferença em sua média após a eliminação dos dados espúrios

presentes entre os valores -2 e 0 do histograma A.

Histogram (benetito be ntes 55v*698 c)

-2 0 2 4 6 8 10 12 14 1 6 18 20 22 24

PESO_LQ1

0

20

40

60

80

1 00

1 20

1 40

1 60

1 80

No

ofo

bs

Histogram (benetito bentes 55v*698c)

-4 -2 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24

PESO_LQ1

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

No

of

ob

s

A B

Figura 13 – Exemplo de eliminação de dados espúrio de amostra

O processo foi realizado sobre as variáveis presentes no banco de dados. A partir dele

foram identificadas as médias e desvios padrões.

Page 58: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

45

VI. A DINÂMICA DE COLETA DE RESÍDUOS

A coleta de resíduos sólidos domiciliares e comerciais é uma das atividades mais

importantes de um programa de limpeza urbana e também o de custos mais expressivos pois é

o que utiliza os equipamentos mais complexos de todo o sistema de coleta . Para Monteiro et

al (2001, p.61):

Coletar o lixo significa recolher o lixo acondicionado por quem o produz para

encaminhá-lo, mediante transporte adequado, a uma possível estação de

transferência, a um eventual tratamento e à disposição final... A coleta do lixo

domiciliar deve ser efetuada em cada imóvel, sempre nos mesmos dias e

horários, regularmente. Somente assim os cidadãos habituar-se-ão e serão

condicionados a colocar os recipientes ou embalagens do lixo nas calçadas, em

frente aos imóveis, sempre nos dias e horários em que o veículo coletor irá

passar.

A metodologia operacional deve ser constantemente atualizada. Grande parte dos

manuais e artigos técnicos sempre enfatiza o peso coletado por um veículo e desconsidera

outros fatores como índices pluviométricos, época do ano etc. Na prática, isso não ocorre e a

avaliação deve levar em consideração outros fatores que podem ser agrupados em sociais,

econômicos e geográficos.

Figura 14 - Fatores a serem considerados para a gestão de sistemas de limpeza urbana. Fonte: Desenvolvido pelo

Autor

Page 59: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

46

Estes fatores devem ser analisados e pertencem a um sistema aberto, ou seja, de

inúmeras variáveis. Os melhores manuais são categóricos e dividem todos os pontos a serem

averiguados do desenvolvimento de projetos voltados a limpeza urbana em quatro vaiáveis

fundamentais descritas na tabela a seguir:

Tabela 4 - Fatores que influem na limpeza urbana

Fator Exemplo

1. Climáticos Chuvas, Outono e Verão

2. Épocas especiais Carnaval, Natal, Ano Novo, Páscoa, Dia dos Pais, das Mães, Festas

Juninas, Eleições e Férias

3. Demográficos População urbana

4. Socioeconômicos Nível cultural, Nível educacional, Poder aquisitivo, Desenvolvimento

tecnológico, lançamento de novos produtos, Promoções de lojas

comerciais e Campanhas ambientais

Fonte: Adaptado de Monteiro, p 38 e 39

6.1 Planejamento das atividades

A coleta e transporte de resíduos sólidos, dentre as demais atividades de limpeza

pública, também é a que gera maiores reclamações quando da sua não realização. Caso estes

serviços não estejam dimensionados corretamente ocasionarão gastos excessivos através das

falhas na produção, excesso de equipamentos ou de mão-de-obra. Além disso, quando os

resíduos sólidos não são coletados ou transportados adequadamente aos sistemas de

disposição final podem trazer graves conseqüências à saúde pública. Portanto é vital para o

poder público e a iniciativa privada que estes trabalhos sejam executados com economia,

eficiência e higiene. Para este fim, o planejamento deve ser realizado de forma contínua, antes

e durante as atividades de operação15

. Envolvendo treinamentos e gestão contínua de mão-de-

obra.

6.2 Operação e ciclo de coleta

A operação pode ser definida como a execução pós-planejamento. É realizada com

funcionários, máquinas e veículos. As atividades desenvolvidas nesta fase são a coleta,

15

Jargão utilizado por profissionais da área de limpeza urbana, inclui o planejamento e a execução dos serviços

Page 60: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

47

transporte e disposição de resíduos sólidos. Ao conjunto formado por estas três atividades dar-

se o nome de ciclo de coleta. Numa mesma jornada de trabalho pode haver mais de um ciclo,

tomando-se como padrão a ocorrência de dois a três ciclos por veículo/dia.

6.2.1 Coleta manual e mecanizada

A coleta manual é realizada de forma direta, ou seja, pelos agentes de coleta. Este

também é o método mais conhecido dos habitantes das cidades brasileiras. De acordo com a

análise da produtividade dos veículos, conclui-se este método corresponde a 90% (noventa

por cento) de todos os resíduos recolhidos no universo de estudo.

A remoção manual ocorre com o veículo em movimento em marcha lenta (até 15

km/h). Os agentes de coleta, ou garis como são mais conhecido, se dirigem as calçadas e

demais logradouros públicos onde haja resíduos dispostos em sacos de lixos, bombonas ou

outros recipientes e os depositam na praça de carga do veículo. Já a mecanizada utiliza

equipamentos como o lifting para bascular caixas estacionárias ou contêineres. É indicada

para locais onde existam grandes concentrações de resíduos como em conjuntos de

apartamentos ou áreas de pouca acessibilidade como favelas. Também é comum realizar esse

tipo de coleta em locais onde há um grande acúmulo de resíduos como o que ocorrem durante

a realização de feiras-livres e mercados públicos.

Durante a realização da coleta mecanizada o veículo é estacionado e as caixas

estacionárias ou contêineres são encaixados no compactador. O objeto é içado, elevando-a a

uma declinação de 120o com depósito dos resíduos na praça de carga. O recipiente é então

colocado na sua posição inicial. Neste método, a força é mínima, empregada apenas para

recolher resíduos que eventualmente caiam do recipiente durante a operação.

6.2.2 Forma de disposição dos resíduos pela população

A forma de acondicionamento dos resíduos sólidos, isto é, as condições em que os

resíduos sólidos devem ser apresentados, na fonte de produção, constituem um dos primeiros

itens a serem avaliado pelo gestor da limpeza pública. No início do século XX, tornaram-se

corriqueiros a publicação de regulamentos, atos, decretos e outros dispositivos legais

Page 61: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

48

estabelecendo recipientes metálicos, estanques e cobertos, com capacidade variando de 20

(vinte) a 100 (cem) litros para guarda dos resíduos em residências.

Figura 15 - Coleta de resíduos em tambores de polietileno e borracha vulcanizada no município de Paulo

Afonso/BA. Foto: Augusto Tavares

Após esta fase, as autoridades passaram a se preocupar com a poluição sonora causada

pelo manejo inadequado dos recipientes. A questão da insonoridade foi solucionada com o

uso de vasilhame de polietileno, polipropileno, fibra de vidro e até borracha vulcanizada,

todos apresentando ainda outra vantagem sobre o metálico, a redução de peso.

No Brasil esses recipientes já são padronizados pela ABNT com norma exclusiva com

indicações de volume, peso, material, formato etc. e outra referente ao método de ensaio.

Qualquer administração municipal pode exigir da população o cumprimento dessas normas,

mas é evidente que é necessário haver tolerância na aplicação da legislação quando se tratar

de bairro de baixa renda pois não há realmente sentido em fazer esse tipo de cobrança em

áreas desprovidas, por exemplo, de serviço de água e esgoto.

Page 62: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

49

6.2.3 Tipos de resíduos coletados e freqüência de coleta

Os resíduos a serem coletados serão os classificados como de classe II e III conforme

definição da NBR 10.004. Os setores do bairro do Benedito Bentes são atendidos

regularmente com intervalo de tempo máximo de 48 (quarenta e oito) horas entre uma coleta e

outra.

6.2.4 Transporte e disposição dos resíduos coletados

O transporte ocorre tanto durante a realização da coleta manual quanto no trajeto entre

o fim dessa e a disposição dos resíduos em aterro ou lixão. O transporte é realizado ao se

atingir a capacidade de carga do veículo ou ao se completar o roteiro do dia. Um agente de

coleta adentra na boleia do veículo e dirige-se a área de disposição para auxiliar o motorista

na remoção da carga. Ao chegar, o agente deixa a boleia e auxilia o motorista na execução das

manobras necessárias. Após o correto posicionamento é iniciada a descarga dos resíduos via

sistema hidráulico.

Page 63: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

50

VII. ELEMENTOS FUNDAMENTAIS À GESTAO DE SERVICOS DE LIMPEZA

Nesta seção são apresentados as ferramenta e demais elementos necessários a gestão

de sistemas de limpeza urbana além de algumas práticas essenciais para controle da atividade.

7.1. Sistema de Informações Geográficas

Um sistema de informações geográficas é basicamente um banco de dados onde cada

registro está associado a uma entidade ou objeto geográfico. Desta forma é possível gerar

informações dotadas de localização espacial sob o formato de mapas temáticos. A adição

deste componente transforma o SIG numas das ferramentas mais versáteis para a análise e

planejamento de atividades em diversas áreas de estudo como geografia, geologia, engenharia

de transporte etc. Nascimento et al (2007, p.3) definem os SIGs como:

...programas computacionais utilizados para processar dados de forma

georreferenciada e, com isso, melhorar o entendimento de diversos fatos e

fenômenos que ocorrem no espaço geográfico.

Como grande parte das invenções, o SIG surgiu da necessidade de analisar o meio

ambiente para estudos estratégicos. Sun Tzu (2007) já afirmava que uma das grandes

necessidades de qualquer comandante era de conhecer os diferentes tipos de terreno para

utilizar suas características a favor da vitória.

Figura 16 - Componentes da definição conservadora dos SIGs. Fonte: Desenvolvido pelo autor.

Algumas definições em discussão desde sua concepção original, na década de 1950,

abordam que um SIG não pode ser considerado apenas como um software mas, numa visão

Page 64: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

51

holística, como um conjunto de hardware, software e peopleware, sem os quais um sistema

deste tipo não é executado adequadamente.

Figura 17 - Componentes holísticos de um SIG. Fonte: Desenvolvido pelo autor.

O hardware consiste numa plataforma de processamento com sistema operacional

Windows, Linux ou outro qualquer. O computador pode ser utilizado individualmente ou em

conjunto com unidades periféricas de vários tipos como impressoras ou plotters para

impressão de mapas, mesa digitalizadora e scanners para obtenção de imagens etc. Além

destes equipamentos da informática, podem ser adotados outros como GPS e câmeras

fotográficas para auxiliar na coleta de dados. O hardware a ser escolhido depende muito do

tipo de dado a ser coleta, tratado ou analisado.

O software é formado por programas desenvolvidos para operarem no computador.

Atualmente existem infinidades de sistemas com aplicações e métodos de entrada e análise de

informações para atividades distintas como análise de correntes marítimas, modelagem de

terrenos, simulações etc. Outra informação importante é que os SIGs não possuem um padrão

definido de operação. Um exemplo prático é encontrado em dois sistemas de informações

bastante utilizados: O Arcview prioriza a manipulação de dados vetoriais enquanto o Spring16

16

Sistema de informações desenvolvido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE

Page 65: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

52

baseia seus dados em matrizes e em funções de sensoriamento remoto. As diferentes

arquiteturas e métodos de armazenamento e processamento de dados não impedem que os

softwares troquem informações entre si ou com outro tipo de banco de dados.

O peopleware é o componente mais importante do SIG. Pode ser definido como o

recurso humano responsável pela manipulação do hardware e software. São os técnicos que

operam o sistema. Esse também é o componente mais subjetivo. De nada adianta o

investimento em computadores potentes, impressoras de última geração ou softwares

avançados se não existir uma pessoa capacitada para planejar, modelar e executar o

processamento das informações. Para se ter uma idéia, basta comparar qual a diversidade de

parâmetros empregados por um profissional para desenvolver um estudo de impactos

ambientais – EIA.

Tabela 5 – Exemplo de elementos utilizados para desenvolver EIAs por diferentes profissionais.

Formação básica Elementos importantes

Geografia Pressão sobre determinadas parcelas do território.

Geologia Depósitos minerais.

Economia Renda per capta da população.

Biologia Tipo de biomas

Fonte: próprio autor

Um sistema de informações geográficas, assim como um banco de dados numérico,

pode ser aplicado em qualquer área de planejamento ou de gestão de serviços. Câmara et al

(1996, p.65) ressalta que:

Na visão de aplicações cartográficas, o SIG deve prover serviços de

processamento e apresentação de mapas; na visão de aplicações cadastrais, o SIG

deve prover serviços próximos dos tradicionais de banco de dados; na área de

administração de recursos naturais, o sig deve prover serviços sofisticados de

análise espacial .

A tecnologia vem se aperfeiçoando e torna-se cada vez mais presente no dia-a-dia, seja

para aplicações comerciais, industriais ou na consultoria e serviços.

Page 66: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

53

7.1.1 Planejamento e fontes de aquisição de dados

A fase mais importante do sistema de informações é o planejamento que deve ser

realizado em função dos objetivos a serem atingidos. Se o objetivo for a análise da localização

de pontos de confinamento de resíduos será dada prioridade a um tipo de dado, se for a

acessibilidade de veículos será outro e assim por diante. Em síntese, busca-se selecionar quais

os dados mais importantes para o sistema. Os objetivos desta dissertação demandam uma

quantidade considerável de dados classificados em Sistemas Externos e Ambientes Externos.

Figura 18 - Exemplo de componentes a serem avaliados durante o planejamento do SIG. Fonte: Adaptado de

Franco (2007).

Depois da fase anterior deve ser iniciada a modelagem da informação. Nesta etapa

determinam-se como as informações poderão ser tratadas e inseridas no banco de dados. Para

Moraes (1985), os modelos apóiam-se na idéia de que os fenômenos funcionam como

sistemas, ou seja, com relações entre componentes articulado por fluxos de informação. Após

o modelagem é possível identificar quais os dados do SIG necessários para alcançar os

objetivos propostos. A aquisição pode ser realizada de formas distintas. Conforme Câmara et

al (1996, p. 22 e 23), existem:

Page 67: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

54

...quatro formas principais de entrada de dados em sigs: a entrada de dados via

caderneta de campo, a digitalização em mesa, a digitalização ótica e a leitura de

dados na forma digital, incluindo a importação de dados em outros formatos.

Historicamente, muitos levantamentos utilizam cadernetas de campo para

armazenar os resultados, que naturalmente devem ser inseridos no sistema após

um controle de qualidade. Com o advento do GPS... Tornou-se possível realizar

trabalhos de campo com alto grau de precisão e com registro digital direto.

Mas antes de adquirir todos os dados torna-se necessário identificar quais serão

essenciais para a pesquisa, evitando o desperdício de tempo em análises de variáveis que não

tragam contribuições importantes ao tema.

7. 1.2 Dados existentes no SIG da LIMPEL

Existe um banco de dados geográficos com informações fundamentais da área de

atuação da Limpel contendo informações sobre os setores de coleta, entre os quais

pertencentes aos compactadores.

Figura 19 - Vista do SIG da Limpel com dados relativos ao ano de 2006. Fonte: Arquivo da Limpel

Page 68: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

55

O banco foi desenvolvido em Arcview, versão 3.2, no ano de 2006 para um projeto

destinado a licitação ocorrida à época. Nele estão contidas informações sobre relevo, vias de

acesso (com tipo de pavimento), tipos de caixas estacionárias, áreas de difícil acesso,

drenagens, delimitação de bairros e início e fim de cada itinerário.

Os dados qualitativos foram inseridos e aplicados em fórmulas diversificadas

conforme uma metodologia padrão (Monteiro et al, 2001 e Lima, 2001) para desenvolver os

setores de coleta presentes no plano de trabalho entregue e a proposta da empresa para a

Prefeitura Municipal de Maceió.

7.1.3 Itinerários de coleta

No mesmo ano também foram realizados testes com GPS, modelo Etrex fabricado

pela Garmin. O aparelho possui um erro de localização de aproximadamente 8 (oito) metros,

mas adequado a escala de trabalho normalmente utilizada nos mapas de limpeza urbana, entre

1:8.000 e 1:10.000. Isso significa que o erro de aquisição de pontos será de apenas 1 mm (um

milímetro) quando o mapa for impresso.

Figura 20 - Visto o GPS Trackmaker com os dados coletados do setor C-19

Page 69: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

56

O GPS possui uma função chamada Tracklog, ou na sua tradução, registro de traçado.

A função é automática e inicia-se assim que o aparelho entra em funcionamento.

Aproveitando desta característica, o GPS foi colocado na cabine de alguns veículos e o

resultado foi um conjunto de linhas representando os itinerários de coleta. Para baixar os

dados foi utilizado o software GPS TrackMaker, versão livre. Os tracklogs, além de indicar o

trajeto do veículo, possuíam dados como velocidade, relevo, direção, horários e nível de sinal

do GPS.

O conjunto Benedito Bentes foi pesquisado em três oportunidades e seus dados foram

armazenados desde então.

7.2 Custos do Sistema de Coleta

O sistema de coleta é que possui mais capital imobilizado por causa dos investimentos

em veículos, tecnologia e métodos de controle. Por serem regulares, também apresentam

maiores custos com gestão e planejamento, pois a mínima alteração em seus padrões promove

um desequilíbrio e a exigência de esforço adicional para readequar o sistema. Convém

esclarecer que qualquer esforço gera demanda de trabalho especializado ou substituição de

máquinas e equipamento.

Os componentes responsáveis pela formação dos custos formam um sistema composto

por vários itens agrupados em ambiente externo, gestão dos serviços e máquinas e

equipamentos. Na composição de custos o ambiente é formado pelas distâncias a serem

percorridas, produção de resíduos e freqüência de coleta.

Os itens citados se inter-relacionam de forma mais ou menos dependente mas, de um

modo geral, podem ser bem explicitados e analisados de forma individual sem grandes erros

para a composição final de custos. Para a amostra foram avaliados 9 (nove) veículos de coleta

do tipo compactador empregados no sistema de coleta da empresa em estudo.

Sempre que possível dar-se-á preferência a análise individual de cada veículo, com

análise de grande parte dos seus custos de forma direta. Porém, há algumas informações

obtidas apenas para o grupo, como leasing. Neste caso fora adotada uma média sobre todos os

veículos.

Page 70: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

57

7.2.1 Pessoal

O pessoal pode ser dividido em grupos de atuação direta (motoristas, garis) e atuação

indireta (superintendência, fiscalização, manutenção). Ainda há os de apoio como o

administrativo. Os grupos operacionais e a quantidade dos funcionários que os integram

podem ser apreciados a seguir:

Tabela 6 – Quantidade de funcionários diretos

Função Quantidade

Por veículo Total

Motoristas 01 09

Agentes 03 27

Fonte: Departamento de Recursos Humanos da Limpel

Tabela 7 – Quantidade de funcionários indiretos.

Função Quantidade

Por veículo Total

Superintendente - 01

Coordenador de Coleta - 01

Fiscais - 02

Coordenador de manutenção - 01

Mecânicos - 08

Eletricistas - 02

Borracheiros - 02

Checklisters - 04

Soldadores - 03

Fonte: Departamento de Recursos Humanos da Limpel

7.2.2 Custos

Os custos são medidas monetárias dos sacrifícios financeiros com os quais uma

organização, uma pessoa ou um governo tem que arcar a fim de atingir seus objetivos. Os

custos podem ser divididos em:

Diretos - Gastos com mão-de-obra;

Page 71: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

58

Indiretos - Gastos indiretos passíveis de rateio (mão-de-obra da administração,

depreciação, aluguel da fábrica, etc.);

Dentro do conceito econômico (Teoria da Empresa, Teoria da Firma ou

Microeconomia) os custos podem ainda ser classificados em:

Custos Fixos - De valor invariável dentro de um ciclo econômico. Exemplo:

Alugueis, Salários de funcionários, Depreciação Linear e;

Custos Variáveis - De valor variável dentro de um ciclo econômico, Exemplo:

Custo de insumos, materiais, mão de obra terceirizada.

7.2.3 Impostos

Os Impostos Federais e Municipais devem ser considerados na análise de custos. Há

impostos referentes à: mão de obra (INSS e IRRF), veículos (IPVA, licenciamentos) e sobre

faturamento (PIS, COFINS etc). Todos devem ser avaliados.

7.2.4 Veículos

Os veículos são a peça central da coleta e possuem três itens avaliados: IPVA,

Licenciamento e Leasing. O valor médio do Imposto sobre veículos automotores foi adotado

dividindo-se o valor da parcela única pela quantidade de 12 (doze) meses. A mesma

metodologia foi utilizada para o licenciamento. O leasing computado foi equivalente a média

dos encontrados em todos os veículos. O financiamento é de cerca de 36 (trinta e seis meses)

para cada veículo e mais da metade já se encontrava quitado.

Tabela 8 – Impostos sobre os veículos.

Itens Quantidade

Valor médio Valor total

IPVA R$ 75,00 R$ 825,00

Licenciamento R$ 17,43 R$ 191,72

Leasing R$ 1.990,00 R$ 21.890,00

Fonte: Limpel Limpeza Urbana Ltda

Page 72: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

59

7.2.5 Mão de Obra

A mão de obra foi avaliada de duas formas. A primeira consistiu em avaliar o salário

individual de cada trabalhador, multiplicá-los pela quantidade de empregados e adicionar os

encargos sociais previstos em lei. Os encargos sociais ou impostos sobre o trabalhador somam

113,41% (cento e treze percento e quarenta e um por milhar).

Tabela 9 – Funcionários com atuação direta.

Função Quantidade

Salários + impostos Dedicação Total

Motorista R$ 18.136,63 100% R$ 18.136,63

Agentes R$ 24.582,23 100% R$ 24.582,23

Fonte: Limpel Limpeza Urbana Ltda

A segunda consistiu na dedicação de tempo e esforços de cada funcionário indireto ao

sistema de coleta analisado. A dedicação pode variar de 0% (zero percento, para nenhuma

dedicação) a 100% (cem percento, para dedicação total) de acordo com a função. Toda mão

de obra direta recebeu dedicação total ao serviço, a indireta foi variável de acordo com a

função.

Tabela 10 – Funcionários com atuação direta. Fonte: Desenvolvido pelo Autor.

Função Quantidade

Salários + impostos Dedicação Total

Superintendente R$ 10.209,24 55% R$ 5.615,08

Coordenador de Coleta R$ 7.761,32 100% R$ 7.761,32

Fiscais R$ 4.695,02 100% R$ 4.695,02

Coordenador de manutenção R$ 3.187,88 80% R$ 2.550,31

Mecânicos R$ 14.425,60 80% R$ 11.540,48

Eletricistas R$ 2.749,83 80% R$ 2.199,86

Borracheiros R$ 2.304,83 75% R$ 1.728,62

CheckListers R$ 3.226,76 75% R$ 2.420,07

Soldadores R$ 3.111,52 30% R$ 933,46

Fonte: Limpel Limpeza Urbana Ltda

Page 73: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

60

7.2.6 Ferramentas, combustíveis e mão de obra terceirizada.

A partir deste momento são avaliados os custos variáveis da realização dos serviços de

coleta. Estes itens foram avaliados por veículo a partir dos relatórios do setor de manutenção.

Os combustíveis correspondem ao diesel proveniente da bomba da filial. Seu consumo

depende das distâncias percorridas pelos veículos e da regulagem dos motores que o

consomem. As peças representadas são adquiridas pelo setor de Almoxarife. A mão de obra

corresponde aos reparos realizados fora das dependências da empresa ou por profissionais

especializados (terceirizada). Os resultados são apresentados no quadro abaixo:

Tabela 11 – Custos relativos a manutenção de veículos.

nº Combustíveis Peças Mão de obra Total

34 - R$ 4.437,31 R$ 1.757,59 R$ 6.194,90

51 R$ 2.545,43 R$ 2.119,92 R$ 2.413,11 R$ 7.078,46

56 R$ 2.185,11 R$ 789,82 R$ 140,00 R$ 3.114,93

70 R$ 3.646,83 R$ 1.517,75 R$ 1.450,00 R$ 6.614,58

72 - R$ 1.152,57 R$ 360,00 R$ 1.512,57

73 R$ 2.970,47 R$ 903,57 R$ 1.641,86 R$ 5.515,90

80 R$ 3.234,96 R$ 2.760,31 R$ 3.220,00 R$ 9.215,27

84 - R$ 2.740,92 R$ 1.196,57 R$ 3.937,49

88 R$ 3.268,83 - R$ 3.597,61 R$ 6.866,44

Fonte: Limpel Limpeza Urbana Ltda

Estes itens estão apresentados numa mesma tabela por fazerem parte de único

relatório. Com exceção das peças, observa-se que todos os custos são bem semelhantes. Como

era de se esperar, os carros mais antigos, como o de número 34 (trinta e quatro), por exemplo,

apresentam maior custo de compra de peças, mas também são os que menos utilizam mão-de-

obra especializada. O inverso ocorre com os veículos mais novos.

7.2.7 Pneus e demais insumos

Esse é um dos itens que não puderam ser avaliados individualmente. Estão inclusos os

custos com pequenos reparos (solda, lichamento, pequenos reparos etc.); Pneus e câmaras que

foram adquiridos, não considerados aqui os re-faturados; Depreciação linear dos veículos,

Page 74: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

61

considerada a vida útil de 60 (sessenta) meses e 80% (oitenta percento) de depreciação;

lubrificantes, graxas etc.

Tabela 12 – Custos variáveis.

ítens Quantidade

Valor médio Valor total

Conservação/Reparos R$ 76,64 R$ 843,00

Pneus e Câmaras R$ 625,24 R$ 6.877,60

Depreciação** R$ 2.800,00 R$ 30.800,00

Lubrificantes R$ 93,40 R$ 1.027,41

Fonte: Limpel Limpeza Urbana Ltda

7.2.8 Custos gerais dos veículos

Após avaliação verifica-se que o grande custo dos veículos é do tipo fixo (mão-de-

obra, taxas e impostos). Os custos do tipo variável são equivalentes mas bem mais

diversificados. Os resultados são apresentados a seguir:

Tabela 13 – Resumo dos custos diretos

Item Descrição Valor total %

1 Impostos e taxas sobre os veículos R$ 22.906,72 21,8%

2 Mão de obra direta R$ 42.718,85 40,7%

3 Mão de obra indireta R$ 39.444,21 37,5%

Total R$ 105.069,78 100,0%

Fonte: Limpel Limpeza Urbana Ltda

Tabela 14 – Resumo dos custos indiretos

Item Descrição Valor total %

1 Combustíveis R$ 23.763,29 23,71%

2 Peças R$ 17.661,11 17,62%

3 Mão de obra terceirizada R$ 19.266,74 19,22%

4 Conservação/reparos R$ 843,00 0,84%

5 Pneus/Câmaras R$ 6.877,60 6,86%

6 Depreciação R$ 30.800,00 30,73%

7 Lubrificantes R$ 1.027,41 1,02%

Total R$ 100.239,15 100,0%

Fonte: Limpel Limpeza Urbana Ltda

Page 75: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

62

7.2.9 Análise de balanços

A análise de balanços deve ser entendida dentro de suas possibilidades e limitações.

De um lado, mais aponta problemas a serem investigados do que indica soluções; de outro,

desde que convenientemente utilizada, pode transformar-se num poderoso painel de controle

da administração pois indica qual a participação de cada item na composição de custos de

forma direta.

É importante ressaltar que a análise dos balanços em conjuntos com outros dados pode

indicar perdas secundárias. Cita-se, por exemplo, a perda de produção ocasionada caso não

existam pneus disponíveis para troca no caso de furos. O investimento para manter o estoque

mínimo é relativamente baixo mas sem este o veículo fica impossibilitado de coletar resíduos,

ou seja, há um prejuízo secundário porque deixa-se de coletar (fonte de renda) mas continua-

se pagando funcionários, depreciação e outros custo invariáveis.

O gestor deve então associar este conhecimento com os demais já apresentados nesse

estudo para balizar suas interpretações.

Page 76: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

63

VIII. ANÁLISE E DISCUSSOES

Nesta seção é apresentado o tratamento e os tipos de análises empregados para se

responder a pergunta norteadora do trabalho.

8.1 Preparação do banco de dados para análise

Antes de preparar o banco de dados foi necessário perguntar quais as variáveis a serem

analisadas. Cabe lembrar que cada uma destas representa um atributo ou uma seqüência

destes, podendo ser resultado de alguma ação específica ou até mesmo de um conjunto de

ações de forma direta ou indireta. Num estudo analítico as variáveis estão enunciadas em

hipóteses (lógicas) e tentar-se-á verificar a associação com o objeto em estudo.

Quanto menor a quantidade de variáveis maior será a probabilidade de se atingir os

objetivos porque a grande quantidade de dados pode confundir o pesquisador. No contexto,

dividiu-se as variáveis do SiSCOE em qualitativas e quantitativas.

As variáveis qualitativas não possuem valores mas possuem relação de ordem como

tempo de trabalho e produtividades. As variáveis quantitativas são medidas em escala, como o

caso do peso e da distância. Assim, foi fundamental identificar o tipo de variáveis para saber

de antemão quais as provas estatísticas seriam obtidas. É evidente que as variáveis

quantitativas são melhores que as meramente ordinais e estas são melhores que as nominais

porque incluem mais informação.

Para preparar os dados para análise foi necessário exportá-los do SiSCOE para uma

planilha. Para isso a tabela com os registros das CDCs foi exportada para um arquivo padrão

XLS. A planilha gerada possuía todos os dados relativos a todos os setores de coleta,

totalizado 23.502 (vinte e três mil, quinhentos e dois) registros distintos. A quantidade de

registro equivale a apenas duas CDCs por dia no período de um ano.

Page 77: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

64

8.2 Correlação linear entre variáveis

A análise entre variáveis é um método correlacional que indica se um dado qualquer

possui dependência ou não com outros. Para isso, recorre-se ao uso de variáveis (x)17

e

população (y)18

para se analisar o grau de relacionamento entre estas. O método pode ainda

conduzir a estimativa de uma variável a partir de outra. O coeficiente de correlação (r),

também conhecido como o coeficiente de Pearson, é dado pela seguinte equação:

Figura 21 – Equação para obtenção do coeficiente de Pearson

O coeficiente de correlação linear estará sempre entre os valores -1 e 1. Quantos mais

próximos de 0, menor serão sua correlação. Para Triches e Furnaleto (2004, p.20), se:

...a amostra de variáveis variam no mesmo sentido verifica-se uma forte

correlação positiva e o valor será próximo a unidade. Se o aumento de uma

variável implica na redução da outra haverá uma forte correlação negativa e o

valor se aproximará de –1. Por último, se as variáveis forem independentes, o

seu coeficiente de correlação será próximo ou a igual zero.

Os coeficientes de Pearson devem ser aplicados a todas as variáveis para de identificar

quais as correlações existentes entre elas e quais as principais. Para isso optou-se pelo

emprego de um software estatístico, o Statística, versão 5.5. Após a aplicação da função

específica chegou-se aos coeficientes desejados.

17

Atributos mensuráveis como horas trabalhadas, quilômetros percorridos. 18

Amostras, neste caso o conjuntos dos registros formam a população.

Page 78: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

65

Quadro 1 – Coeficientes de Pearson das variáveis. Fonte: Desenvolvido pelo autor.

Fonte: Desenvolvido pelo autor

Para auxiliar na avaliação preliminar das relações a serem estudadas optou-se por

estabelecer uma escala de cores a cada um quarto de inteiro. Desse modo, dividiram-se os

coeficientes em 7 (sete) classes distintas, cada qual com sua classificação qualitativa dos

dados conforme o quadro a seguir.

Page 79: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

66

Quadro 02 – Qualificação dos coeficientes de Pearson.

Correlações negativa Neutras Correlações positiva

-1 -0,75 -0,5 -0,25 0,00 0,25 0,5 0,75 1

Muito

forte ou

perfeita

Forte Média Fraca Nenhuma Fraca Média Forte

Muito

forte ou

perfeita

Fonte: Desenvolvido pelo autor

Cada classe indicar a relação entre um ou mais dados e apresenta ao gestor quais os

principais. Neste caso, o correto seria avaliar todas as relações, inclusive as de valor zero.

Apesar de ser considerada uma classe neutra, o zero também é uma informação importante

pois elimina grande parte de suposições.

8.3 Como ler a tabela de correlação

Ao ler a tabela com coeficientes pode ser observado que existe uma relação entre cada

variável consigo mesma de valor 1. O valor deve ser ignorado pois nada representa para a

avaliação. Cada correlação é apresentada sob a forma de par como demonstrado no quadro

abaixo:

Quadro 03 – Detalhe do quadro 01.

Variáveis CDC VEÍCULO TARA DATA

CDC 1,0 0,5 0,2 0,6

VEÍCULO 0,5 1,0 (0,1) 0,3

TARA 0,2 (0,1) 1,0 0,1

DATA 0,6 0,3 0,1 1,0

Fonte: Desenvolvido pelo autor

Para não confundir o analista, cada variável só deve ser lida uma ez. Deve-se dar

preferência a leitura nos sentidos da esquerda para a direita e de cima para baixo. Por

exemplo, a leitura da tabela acima deve ser realizada na seguinte seqüência:

Para a 1ª linha: CDC-VEÍCULO; CDC-TARA; CDC-DATA;

Para a 2ª linha: VEÍCULO-TARA; VEÍCULO-DATA

Para a 3ª linha: TARA-DATA

Para a 4ª linha: Não há dados

Page 80: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

67

Neste método de leitura avaliam-se todas as correlações a partir do maior número de

variáveis para o menor. Além de ser mais prático a forma também induz o analista a

aprofundar sua interpretação a medida que este avança na leitura da execução do serviço. Isso

é muito importante, pois como será avaliado na próxima unidade, o analista tende a acumular

mais informação ao longo do trabalho até chegar à última variável, o peso, fonte de receita

para a empresa.

Quadro 04 – Coeficientes de Pearson das variáveis após a aplicação da escala de cores.

Fonte: Desenvolvido pelo autor

Page 81: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

68

8.4 Associação da leitura com outros dados

Deve ser destacada a importância do observador na atividade de análise das

informações, pois só um profissional ou uma equipe (princípio do brainstorm19

) que possuam

compreensão do funcionamento do sistema poderão interpretar os dados de forma adequada.

Para sintetizar as informações podemos dividir o conhecimento em 4 (quarto) classes, cada

qual contendo grupos ou subgrupos distintos de informação.

Figura 22 – Conhecimentos necessários a análise de sistema de limpeza urbana. Fonte: Desenvolvido pelo autor.

A principal ferramenta para leitura e interpretação dos dados é formada pelo capital

humano. O ideal é que o(s) profissional(ais) seja(m) preparado(s) a partir da vivência da

operação. Somente assim será possível interpretar os resultados corretamente.

19

Técnica desenvolvida por administradores. O termo é traduzido, literalmente, como tempestade de cérebros e

nada mais é do que a reunião de vários especialistas para a discussão dos resultados na tentativa de chegar a um

consenso.

Page 82: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

69

IX. RESULTADOS

A partir da interpretação da matriz de correlação é possível identificar qual a relação

entre as variáveis e, deste modo, identificar o funcionamento do sistema. A análise também

será balizada pelas opiniões de fiscais, motoristas e agentes de coleta. Toda a análise é

desenvolvida a parti do uso de operadores lógicos, baseados na lógica aristotélica.

9.1 Avaliação correlacional

A CDC é uma chave primária20

, o que a difere da data que pode aparecer com o

mesmo valor em mais de um registro. A sua numeração é seqüencial e por isso acompanha o

tempo mas difere da data porque só é gerada de acordo com a demanda, ou seja, é

proporcional a quantidade de veículos utilizados em determinado período de tempo. De

acordo com a leitura desta variável é possível identificar que a medida que o tempo

transpassou foram adotados veículos mais novos. Isso porque a relação positiva é

proporcional ao sistema de numeração empregado pela Limpel. Veículo mais novo possui

numeração maior. No contexto, o veículo de nº 34 é mais antigo que o de nº 42.

A relação entre a CDC e o tempo apresenta-se ligeiramente mais positiva que a

anterior, indicando que a demanda por veículo foi aumentando ao longo do tempo, afirmando

que:

Houve maior quantidade de quebras dos veículos com necessidade de sua

substituição e;

Houve acréscimo na quantidade de lixo coletada.

As matrículas dos agentes de coleta também seguem um padrão seqüencial. Matrículas

mais novas possuem numeração maior. A informação indica que um dos agentes, o de nº 3,

foi constantemente substituído ao longo do período, confirmando que os novos agentes são

treinados com equipes mais experientes antes de seguir para um novo circuito de coleta e os

setores do Benedito Bentes são utilizados para este fim.

20

Possui numeração única, não sendo repetida.

Page 83: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

70

A quilometragem percorrida possui o mesmo índice tanto para a saída quanto para a

chegada na garagem. Quando relacionados à numeração do veículo é possível identificar que

os mais novos cumprem itinerários menores, o que pode indicar que:

Os roteiros de coleta foram aperfeiçoados ao longo do período e;

A quantidade de viagens ao aterro para disposição dos resíduos foi reduzida.

A tara indica o peso do veículo e, de forma indireta, sua capacidade de carga, pois

quanto maior o peso, maior o equipamento e maior o seu espaço interno. No aterro são

realizadas duas pesagens, uma na entrada e outra na saída, a diferença de pesos equivale ao

peso coletado. Verifica-se que o peso bruto da 1ª viagem é proporcional a tara, já em relação a

segundo o valor é desprezível. Ao analisar as duas informações em conjunto é possível

afirmar que:

Na 1ª viagem o veículo esta em sua capacidade máxima e;

Na 2ª viagem não existe padrão, podendo a carga tanto ser máxima quanto

mínima dependendo do período.

Ou seja, existe uma variação quantitativa considerável de resíduos coletados no

período causado provavelmente pela flutuação populacional ou demais fatores do ambiente

externo. Não deve ser desconsiderada a influência do consumo de combustível ao longo do

dia e sua provável interferência no peso. Outra variável que reforça os argumentos são os

pesos líquidos, estáveis nas duas viagens de disposição.

A data não possui relacionamento com as demais variáveis. Mas esta ausência induz

que os dados são inconstantes quanto relacionados a uma escala graduada de tempo, neste

caso de dias. Este é um forte indicador que todas as variáveis são mutáveis e variam

irregularmente confirmando a tese do desequilíbrio caótico.

A data não se relaciona com nenhuma outra variável além das já descritas nos itens

anteriores. A ausência de relação também pode ser interpretada como uma inconstância dos

dados. Pode-se inferir, por exemplo, que o peso coletado varia irregularmente e que os setores

de coleta não foram alterados ao longo do tempo.

Na amostra, os setores com numeração mais baixa (C-11 e C-12) são atendidos no

período diurno e estão localizados nas áreas de expansão do Benedito Bentes. Já os de

Page 84: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

71

numeração mais alta (C-19 e C-20) são noturnos e estão em áreas comerciais ou residenciais

consolidadas. Desta característica surge a relação do tipo forte averiguada na matriz.

Outra característica é de se empregar agentes mais antigos, e provavelmente mais

velhos, para setores noturnos. Isso ocorre porque o trabalho noturno é mais ameno por causa

da temperatura reduzida e menor trânsito nas vias e logradouros locais.

Em relação ao horário de saída da garagem é possível afirmar que:

As equipes responsáveis pelos setores diurnos seguem os horários pré-

determinados e;

As equipes responsáveis pelos setores noturnos saem atrasadas da empresa.

Esta característica pode não esta ligada aos agentes mais ao horário de chegada da

equipe diurna a garagem, tendo a noturna que esperar a chegada e a revisão do veículo para,

só então, seguir para o setor de coleta. O índice para o horário de chegada na empresa, ao final

da jornada de trabalho, confirma que setores noturnos são concluídos mais rapidamente que

os diurnos.

As relações encontradas entre o turno e demais classes de informações indicam o

quanto a coleta diurna difere da noturna. As mudanças podem ser as condições causadas por

método operacionais, comportamento do veículo e sua equipe em função da temperatura,

trânsito etc. Um dos primeiros pontos a serem avaliados é a relação entre os agentes de coleta.

Quando analisados individualmente é verificado que os agentes foram substituídos aos pares.

Para cada agente mais novo colocava-se um mais velho. A afirmação não contrapõe a outra já

descrita nesta unidade, mas apenas que, quando analisados de forma individual, as respostas

tendem a ser mais específicas. A troca em par configura-se como uma tentativa de balancear o

rendimento da equipe.

A distância percorrida pelos veículos e suas equipes no período noturno tendem a ser

menores quando comparadas aos diurnos. Isto porque a densidade e a infra-estrutura de

acesso dos primeiros, como áreas consolidadas, tendem ser maiores que as dos últimos com

várias vias ainda não pavimentadas, grotas e densidade mais espaça.

Os horários de início da 1ª coleta tendem a ser mais regulares que os demais. Isso

ocorre porque o espaço de tempo e trajetos da saída da garagem até o início do itinerário de

coleta é relativamente curto e com poucas interferências do meio externo ou da própria gestão

Page 85: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

72

dos serviços. Verifica-se que à medida que a jornada de trabalho avança as interferências

acumulam-se, ou seja, uma pequena alteração no início da jornada de trabalho poderá

modificar o seu resultado.

O peso médio coletado tende a ser menor no período noturno. A diminuição do peso

específico ocorre por causa do poder econômico e do tipo de local atendido pelos veículos. Os

setores noturnos, economicamente mais ativos, apresentam maior quantidade de materiais

leves como embalagens e papeis. Neste caso a capacidade volumétrica do veículo não reflete

diretamente sobre o peso coletado.

O motorista não interfere nas demais variáveis do sistema de coleta. Os dados indicam

que o ritmo de trabalho é dado pelo equipamento em conjunto com os agentes de coleta, o

meio ambiente e a gestão do serviço. O mesmo ocorre para o gari 1, agente menos substituído

no período. Os dados indicam que agentes mais novos influenciam positivamente na

velocidade de transporte dos resíduos na primeira viagem, mas também negativamente na

segunda. Desta forma, o melhor rendimento conseguido na primeira viagem de disposição é

anulado na segunda. A conclusão deste fato é que:

Os agentes buscam compensar o seu rendimento, mantendo os horários de

chegada mais ou menos estáveis (controlam as horas extras)

Os horários de chegada ou de saída possuem relação muito forte e negativa. Uma

análise mais cuidadosa dos índices mostra que estes são influenciados pelo tipo de dado

referente à hora, principalmente nos setores noturnos quando o valor é reiniciado após a meia

noite. Por este motivo a relação não deve ser considerada para esta análise. Contudo, é

factível que os setores sejam divididos em turnos para uma avaliação individual.

As relações entre hodômetro de saída e chegada dos veículos apenas confirmam que

veículos mais novos e, portanto, com distâncias percorridas menores, são mais empregados no

turno noturno. A provável causa é a maior disponibilidade destes veículos no pátio de

garagem no período já que a noite existe menos setores de coleta.

Os horários de início dos itinerários de coleta estão intimamente ligados aos de saída

do veículo da garagem. Mas à medida que o tempo avança as relações começam a variar

irregularmente e adquirem características caóticas e reforçam que:

Page 86: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

73

Quanto maior o tempo, maior também será a quantidade de interferências

negativas sobre o rendimento da equipe, pois estas são cumulativas.

A hora de chegada dos veículos a garagem quando comparada aos hodômetros

confirmam que veículos mais novos desenvolvem os itinerários de forma mais rápida. Esta

característica também pode esta associada ao índice de quebras, menos em equipamentos com

menor tempo de uso.

O tempo de trabalho também possui alguma relação com o peso, mas não de acordo

com o esperado. Vale salientar que as empresas de coleta de resíduos faturam de acordo com

os resíduos coletados. As informações indicam que:

Apenas 60% (sessenta por cento) da jornada de trabalho pode ser refletida

sobre os lucros brutos. O restante foi utilizado para reparos, descanso dos

agentes, para percorres trechos improdutivos e etc.

Contudo, esta perda de esforço não possui causa aparente e deve esta ligada a um

amplo conjunto de fatores. Os dados indicam, por exemplo, que o tempo de chegada à balança

durante o segundo itinerário tende a ser maior quando os veículos são mais antigos. Outro

dado importante é que a distância percorrida entre o itinerário e o aterro não possui qualquer

relação ao tempo trabalhado.

A distância percorrida para chegar a balança na 1ª viagem influencia positivamente no

peso líquido de resíduos. A explicação é que:

Os setores mais distantes do aterro são também os mais densos ou;

Existe uma tendência da equipe de coleta iniciar o itinerário na região mais

próxima ao aterro e concluí-lo nas mais distantes.

Já na viagem para a 2ª disposição encontramos valores positivos muito fortes o que

indica que está termina exatamente a mesma distância que é iniciada. O peso coletado nesta

viagem também possui maior influência sobre o peso total.

9.2 Avaliação complementar

É prudente realizar uma avaliação complementar sobre a matriz correlacionado

algumas variáveis a data. Desta forma é possível identificar como o sistema se comportou

Page 87: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

74

durante o período em estudo. Para isso é necessário eleger quais destas devem ser utilizadas.

Depois da análise da matriz e dos fatores formadores do custo e do lucro chegou-se a

quantidade mínima de 3 (três) variáveis que se somadas ao tempo geram algumas informações

vitais e de fácil compreensão. São elas:

Km de coleta: Destinado a identificar alterações sensíveis no setor de coleta e

os custos indiretos relativos ao equipamento;

Peso Coletado: Para indicar a lucratividade bruta do serviço e;

Horas trabalhadas: Fator importante sobre a composição dos custos variáveis.

As três variáveis devem ser distribuídas no gráfico de linhas onde a abscissa (x)

corresponda a data e as coordenadas (y) as variáveis. O exemplo deste gráfico, com os

dados referentes ao período de estudo é apresentado a seguir:

Scatterplot (benetito bentes.STA 56v*698c)

KM_COLET = Lowess

htotal = Lowess

PESO_TOT = Lowess

KM_COLET

htotal

PESO_TOT

02

/01

/06

27

/01

/06

21

/02

/06

18

/03

/06

12

/04

/06

07

/05

/06

01

/06

/06

26

/06

/06

21

/07

/06

15

/08

/06

09

/09

/06

04

/10

/06

30

/10

/06

24

/11

/06

19

/12

/06

DATA

8

10

12

14

16

18

20

22

24

26

28

Figura 23 - Comportamento das principais variáveis do sistema. Fonte: Desenvolvido pelo autor.

A leitura do gráfico indica a relação visual entre as variáveis e pode ainda indicar

quais os períodos de maior ou menor lucro aparente. A exemplo, verifica-se que no mês de

abril houve alguma mudança no trajeto dos itinerários, pois estes apresentaram uma ruptura

de padrão em relação ao mês anterior, contudo o mesmo não ocorreu com o peso que já

apresentava uma tendência de redução. Em contra partida, o horário de trabalho permaneceu

estável. Já em dezembro todos os fatores aumentaram em função da época do ano (natal e ano

Page 88: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

75

novo) e, provavelmente, pela maior circulação de dinheiro com o pagamento do 13º salário e

a compra de mais produtos que eventualmente transforma-se em resíduos.

9.3 Sínteses dos fatores adequados ao planejamento de atividades de limpeza urbana

Para se planejar adequadamente é necessário ter conhecimento. Como demonstrado, o

conhecimento só é adquirido após a coleta, tratamento e análise das informações referentes ao

objeto de estudo. Na limpeza pública, em especial a coleta regular de resíduos, é necessário

avaliar os seguintes fatores:

Tabela 15 – Síntese dos fatores adequados ao planejamento de atividades de limpeza urbana

Ambiente Fator

Gestão interna Motivação dos funcionários;

Geração de horas extras;

Manutenção dos equipamentos;

Fiscalização de campo

Meio ambiente Produção de resíduos;

Índice de quebras;

Características dos locais de atendimento

Fonte: Desenvolvido pelo autor

A avaliação conjunta dos fatores e do comportamento ao longo do tempo, além de

indicar indiretamente como todos os outros estão se comportando, fará com que a empresa

avalie seus procedimentos e dará suporte ao desenvolvimento de sistemas próprios para

gestão, necessários a um ambiente competitivo e de margens de lucros reduzidas.

Page 89: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

76

X. CONSIDERACOES FINAIS

A partir dos resultados observa-se como um sistema de limpeza urbana pode ser

influenciando tanto pela gestão interna quanto por fatores externos a empresa. Constata-se que

o sistema é sensível a qualquer variação e que ao mesmo tempo é robusto suficiente para

poder assimilar possíveis conseqüências de processo decisório equivocados. O sistema é do

tipo aberto, influenciado por inúmeros fatores que fogem a alçada de seus gestores mas o

conhecimento prévio e a análise de tendência desses geram foco de atuação, o que evita o

desperdício de esforços que podem não atingir a fonte de determinado problema mas apenas

parte de suas conseqüências.

As variáveis quando analisadas individualmente podem gerar informação como, por

exemplo, a produção média de determinado veículo ou equipe mas não apresentam seu custo

pois limita-se a um atributo isolado, e portanto fraco. Assim uma variável nunca deve ser

analisada individualmente pois esta análise se torna falha e carente de argumentos que a

sustente. Contudo, quando devidamente comparada a outras uma estrutura se forma e torna-se

possível averiguar se determinadas hipóteses são verdadeiros ao não, ou seja, tem a certeza de

que determinadas observações refletem a gestão de forma real ao se não passa apenas de

especulação.

Todas as informações são importantes, mas deve-se identificar quais mais se adéquam

ao propósito da pesquisa para evitar excesso de variáveis. A preferência é que se utilize

variáveis globais para uma análise preliminar do sistema sob a forma de gráficos do tipo

scatterploter parar comparar seus comportamentos e como estes evoluem ao longo de

determinado período que pode ser medido em dias, semana ou anos dependendo de grau de

detalhamento que se deseja atingir. Para isso devem-se adotar aos parâmetros km de coleta,

peso e horas trabalhadas e reuni-los num mesmo gráfico. Estes três fatores são interligados,

indicam como o sistema está se comportando, seus custos, lucratividade e ainda se há ou não

desvios de condutas. A análise preliminar indica quais as informações que devem ser

avaliadas para se atingir o objetivo.

De todo o conhecimento extraído o mais importante é quanto a dinâmica do serviço,

quais as forças e fraquezas da gestão bem como quais são as ameaças e oportunidades que

esta possui, ou seja, apresenta qual o foco que deve ser dado a essa. Assim, os resultados

Page 90: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

77

fazem parte de um processo de auto-avaliação. A metodologia proposta deve ser utilizada

com um meio e não como fim, ou seja, é uma ferramenta de apoio a decisão.

Para maximizar os esforços do analista e de seus resultados é necessário estabelecer o

objetivo da pesquisa. A análise individual de um setor trará resultados diferentes de outro ou

um conjunto destes. Será necessário avaliar todo o sistema ou apenas o comportamento de

determinado turno de coleta? Ou ainda, determinado fiscal está ou não influenciando nos

resultados de determinado grupo de funcionários? Ou seja, o importante é partir de uma boa

hipótese, pois só assim uma resposta adequada será encontrada.

Com os investimentos em inteligência estratégica também é possível executar uma

pré-avaliação para determinado município ou região com base numa análise de conjuntura de

forma a auxiliar autarquias e secretarias no planejamento de suas atividades, apoiar o

desenvolvimento de planos de trabalho e orçamentações para licitações públicas, ou ainda,

para a gestão de empresas já instaladas em território nacional com reflexo na eficiência e

economia dos serviços.

10.1 Recomendações para trabalhos futuros

É preponderante evoluir o SiSCOE para que esse execute as operações necessárias ao

tratamento das informações, reduzindo ao máximo o tempo entre a coleta e a sua

disponibilidade para análise. Para isto deve ser desenvolvida uma análise matricial dos

coeficientes de Pearson baseado nas qualificações apresentadas neste trabalho. Resultados

positivos já foram alcançados com até três variáveis, que geram respectivamente 63 (sessenta

e três) resultados diferentes. Os resultados foram pré-programados o que não é o ideal pois

sua complexidade cresce de forma exponencial, se todos as variáveis fossem computadas seria

possível atingir mais de 20.000 (vinte mil) resultados distintos, por este motivo estão sendo

desenvolvidos estudos baseados em operadores lógicos e Inteligência artificial para que o

software realize uma interpretação semi-autônoma de toda a matriz, cabendo o gestor apenas

confirmar algumas lacunas contextuais que venham a surgir durante o processamento das

informações.

Page 91: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

78

XI. REFERÊNCIAS

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TRICHES, Divanildo; FURLANETO, Aline Vanessa da Rosa. Análise comparativa dos

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TZU, Sun; A Arte da Guerra – Os treze capítulos. 2007. São PauloP: Editora DPL.

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UMBELINO, Glauco José de Matos; MACEDO, Diego Rodrigues. Condições

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WILBERGER, A. Martim. Introduction to Cellular Automata for Modeling and

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GeoStudio, GPSTracmaker, Versão livre 12.0. 2006. Minas Gerais, Brasil. Disponível no

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VENTRELLA, Jeffrey. Gene Pool, versão 5.0. 2006. Estados Unidos da América.

Disponível do site: www.ventrella.com.

Page 97: Análise estratégica de sistemas de limpeza urbana

84

APÊNDICE - Perguntas padrões realizadas aos sujeitos da pesquisa

Questionário – Limpeza Urbana

1. Quais é o procedimento para a liberação dos veículos no início da jornada de trabalho?

_____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

2. Como são escolhidos os agentes de coleta para cada trecho?

_____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

3. Como são planejados os itinerários dos veículos?

_____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

4. Quais os maiores problemas encontrados na execução da coleta?

_____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

5. Como é o atendimento do setor de manutenção?

_____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

6. Quais os procedimentos realizados no fim da cada jornada?

_____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

7. Como se sente em relação ao seu trabalho? Cite motivos ou causas.

_____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

8. Como a motivação pode influenciar você ou sua equipe de trabalho?

_____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

9. A que fato você atribui a geração de horas extras?

_____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

10. Que sugestão você poderia dar ao planejamento dos serviços de coleta?

_____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

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ANEXO I - FORMULÁRIO DE CONTROLE EMPREGADO PARA COLETA DE

INFORMAÇÕES DOS SERVIÇOS DE COLETA NA EMPRESA PESQUISADA.

Fonte: Setor de Controle da Limpel Limpeza Urbana Ltda.