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ANÁLISE ERGONÔMICA DO POSTO DE TRABALHO DE UM TRATORISTA ATRAVÉS DA APLICAÇÃO DO MÉTODO RULA CARLA BEATRIZ DA LUZ PERALTA (UNIPAMPA ) [email protected] FRANCINE MOREIRA FERREIRA (UNIPAMPA ) [email protected] Gustavo Deamici Chaves (UNIPAMPA ) [email protected] Tagiane Machado Nunes (UNIPAMPA ) [email protected] Jessica Rehbein Butzke (UNIPAMPA ) [email protected] A diversificada economia do Rio Grande do Sul destaca-se no cenário nacional. Ao mesmo tempo em que a atividade rural evidencia tamanha representatividade, compreendendo, sobretudo a pecuária, a agricultura e a indústria. Portanto, a aplicaação progressiva de máquinas e equipamentos direcionada à otimização desta operação reflete na expressiva demanda de mão-de-obra alocada. Não obstante, à proporção que a modernização incorpora-se aos processos, somam- se também os riscos inerentes a esta. Em vista disso, o presente trabalho possui o objetivo de idealizar melhoramentos voltados ao posto de trabalho de um tratorista, que contribuam para que os riscos ergonômicos oriundos desta atividade sejam atenuados ou eliminados. Para isso foi realizada a análise ergonômica através da aplicação do Método RULA, onde foram avaliados distintos ciclos de trabalho. Nestes, foi possível estabelecer a postura mais significativa e aplicar os critérios de escores característicos do método ao analisar especificamente dois grupos de membros, grupo A relativo aos braços, antebraços e punhos e grupo B referente ao tronco, pernas e pescoço. Deste modo enquadrou-se a postura em ângulos e, finalmente, foram pontuados e estabelecidos os níveis de ação necessários, possibilitando elencar melhorias as quais foram sugeridas ao operador para que sua atividade não se torne extremamente prejudicial à sua saúde. Palavras-chave: Ergonomia, Atividade Rural, Método RULA XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil João Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016.

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ANÁLISE ERGONÔMICA DO POSTO DE

TRABALHO DE UM TRATORISTA

ATRAVÉS DA APLICAÇÃO DO

MÉTODO RULA

CARLA BEATRIZ DA LUZ PERALTA (UNIPAMPA )

[email protected]

FRANCINE MOREIRA FERREIRA (UNIPAMPA )

[email protected]

Gustavo Deamici Chaves (UNIPAMPA )

[email protected]

Tagiane Machado Nunes (UNIPAMPA )

[email protected]

Jessica Rehbein Butzke (UNIPAMPA )

[email protected]

A diversificada economia do Rio Grande do Sul destaca-se no cenário

nacional. Ao mesmo tempo em que a atividade rural evidencia tamanha

representatividade, compreendendo, sobretudo a pecuária, a

agricultura e a indústria. Portanto, a aplicaação progressiva de

máquinas e equipamentos direcionada à otimização desta operação

reflete na expressiva demanda de mão-de-obra alocada. Não obstante,

à proporção que a modernização incorpora-se aos processos, somam-

se também os riscos inerentes a esta. Em vista disso, o presente

trabalho possui o objetivo de idealizar melhoramentos voltados ao

posto de trabalho de um tratorista, que contribuam para que os riscos

ergonômicos oriundos desta atividade sejam atenuados ou eliminados.

Para isso foi realizada a análise ergonômica através da aplicação do

Método RULA, onde foram avaliados distintos ciclos de trabalho.

Nestes, foi possível estabelecer a postura mais significativa e aplicar

os critérios de escores característicos do método ao analisar

especificamente dois grupos de membros, grupo A relativo aos braços,

antebraços e punhos e grupo B referente ao tronco, pernas e pescoço.

Deste modo enquadrou-se a postura em ângulos e, finalmente, foram

pontuados e estabelecidos os níveis de ação necessários, possibilitando

elencar melhorias as quais foram sugeridas ao operador para que sua

atividade não se torne extremamente prejudicial à sua saúde.

Palavras-chave: Ergonomia, Atividade Rural, Método RULA

XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil

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1 Introdução

A relevância da agricultura familiar ocupa hoje uma posição de destaque perante os governos

populares, onde as políticas públicas implementadas evidenciam a perspectiva de melhoria da

qualidade de vida direcionada a este público. Estas centram-se fundamentalmente no

reconhecimento da agricultura familiar e na promoção de dinâmicas que favoreçam o

desenvolvimento local, respeitando os princípios da agricultura orientada aos múltiplos

sistemas produtivos e ao meio ambiente (FRITSCH, 2012). Nesta, inevitavelmente, inserem-

se as máquinas e equipamentos agrícolas como instrumentos necessários à geração de

eficiência.

O trator, desse modo, trata-se de um tipo de máquina que exerce processo de tração e

desempenha tarefas produtivas, multiplicando a força humana. Logo, adicionado a diferentes

implementos, possibilita uma vasta gama de aplicações, com economia de tempo e

equipamentos, sendo normalmente projetado para arrastar vários tipos de alfaias ou

implementos de uso específico.

Os tratores agrícolas, mais especificamente, são máquinas autopropelidas projetadas

principalmente a fim de fornecer potência para tracionar, empurrar, acionar e transportar

máquinas e implementos agrícolas de arrasto ou montados. À vista disso, a palavra "trator"

tem sido atribuída a várias fontes, mas segundo o dicionário Oxford foi empregada pela

primeira vez na Grã-Bretanha, em 1856, como sinônimo de motor de tração (BIANCHINI,

2002).

Segundo Júnior (2011), inúmeros critérios podem ser levados em consideração na

classificação de tratores, como tipo de rodado, conformação do chassi, potência do motor,

função de trabalho, dentre outras. De forma didática, pode-se separar essa classificação em

três partes, sendo elas quanto à aplicação, ao sistema de rodado e à potência. Assim, o

presente trabalho tem seu enfoque centralizado no estudo ergonômico de um operador de

trator agrícola destinado ao manejo e cultivo de pastagens e também ao controle de vegetação.

Destacando-se que quando a operação de tratores agrícolas não se constitui em um sistema

homem-máquina eficiente, o operador é exposto a uma elevada carga física e mental. O que

resulta em uma redução da eficiência do mesmo (produtividade e qualidade do trabalho),

aumentando a ocorrência de erros, acidentes e o desenvolvimento de doenças ocupacionais

(WITNEY, 1988; MÁRQUEZ, 1990; LILJEDAHL et al., 1996; YADAV & TEWARI, 1998).

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Portanto, visando avaliar o sistema homem-máquina como um todo e torná-lo mais adequado

quanto aos aspectos ergonômicos e consequentemente originar uma maior eficiência, aplicou-

se o método RULA (Rapid Upper Limb Assessment). Por meio do emprego deste viabilizou-

se a análise ergonômica com enfoque no efeito da atividade sobre os membros superiores,

pescoço e tronco do operador, funcionando como uma ferramenta de avaliação rápida

relacionada ao risco de lesões musculoesqueléticas, vinculadas tanto a posturas extremas

quanto a força excessiva e atividades musculares (esforços repetitivos).

2 Referencial teórico

2.1 O uso de tratores

O trator agrícola, conjugado a distintos equipamentos na execução de tarefas desde o preparo

o solo, até a semeadura e o transporte em si, torna-se a fonte central de eficácia na agricultura.

Este é uma máquina autopropelida, que se suprida de ferramentas obtêm sobre uma superfície

horizontal e impenetrável apoio estável, e, com isso, habilita-o a tracionar, transportar e

fornecer potência mecânica, a fim de movimentar os órgãos ativos e máquinas e implementos

agrícolas (MIALHE, 1980).

Conforme Júnior (2011), um trator é composto basicamente pelo motor, um sistema de

transmissão e elementos de direção e locomoção, podendo ser definido, portanto, como uma

unidade móvel de potência, englobando em geral o sistema de tração, o sistema hidráulico de

levantamento por três pontos e as tomadas de potência (tomada de força).

Com o passar do tempo, os tratores foram sendo aperfeiçoados visando atender às diversas

demandas que vão surgindo com a evolução tecnológica. Assim, foram sendo feitas

adaptações como a aplicação em forma de cultivador motorizado, após o que, surgiu o trator

de uso agrícola geral, para executar as principais tarefas agrícolas (OLIVEIRA; VOLPATO;

ALENCAR, 2013).

A eficiência com que o sistema homem–máquina executa suas funções depende de diversos

fatores. A ergonomia age sobre estes fatores, buscando otimizá-los para aumentar a eficiência

do sistema de forma a beneficiar o homem. Para Murrel (1965) alguns fatores destacam-se no

âmbito da operação de tratores agrícolas, dentre eles as condições ambientais do posto de

operação (temperatura, luz, umidade do ar), ruídos, vibrações, comandos e assento do

operador. Para isto, faz-se necessário expandir a análise para a aplicação propriamente dita,

abordada no tópico a seguir, a qual direcionará a disfunções características.

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2.1.1 Aplicação de tratores

Para Araújo (2012), o aporte para que as organizações rurais se tornem competentes e aptas à

renovação contínua, automática, espontânea e reflexa é o grande desafio da administração

rural, isto é, possibilitar que as organizações sejam tão ágeis quanto a própria mudança.

Hamel (2007), corrobora ao relatar que as organizações investem demais no que já é, e não no

que pode ser, razão fundamental pela qual estas fracassam. Dessa forma, a aplicação de

tratores e respectivos implementos colaboram com a atualização na execução dos processos

agrícolas.

À vista disso, os tratores podem ser classificados conforme a fonte de trabalho nas operações

motomecanizadas, em função do tipo de exploração a que serão utilizados, como trator

agrícola, florestal e/ou industrial.

Os tratores agrícolas são aqueles destinados à realização de operações motomecanizadas para

a implantação, manejo e cultivo de culturas agrícolas anuais e permanentes, pastagens e

trabalhos de (pré) processamento, colheita, controle e vegetação, condicionamento de solo,

tratos culturais e transporte de implementos e produtos (JÚNIOR, 2011).

Já os tratores florestais consistem basicamente em um exemplar com o propósito de remover a

madeira derrubada e/ou processada de florestas para uma área em que caminhões possam ter

acesso (BRESSAN, 2011). E os tratores industriais são aqueles destinados especialmente ao

transporte e manuseio de ferramentas em parques industriais, podendo ser de rodas, esteiras e

de chassi articulado (FILHO; SANTOS, 2001).

Quanto ao sistema de locomoção e direção, os tratores podem ser classificados em trator de

esteira, trator de semi-esteira e trator de rodas. Especificamente os tratores de esteira são

sistemas conhecidos como lagartas, as quais podem ser de borracha ou metálicas

autolimpantes para uso em regiões pantanosas, e sapatas planas. Já os tratores de semi-esteira

são aqueles que utilizam dos dois sistemas de rodado, as esteiras e os pneus. E finalmente os

tratores de rodas, utilizados predominantemente na mecanização agrícola, são encontrados em

grandes quantidades e de vários modelos, com características divididas a parte, podendo ser

equipados com rodas metálicas ou pneumáticas (JÚNIOR, 2011).

Assim, o presente trabalho tem seu enfoque centralizado no estudo de um operador de trator

agrícola, de rodas, destinado ao manejo e cultivo de pastagens e também ao controle de

vegetação. Neste panorama, a operação de tratores agrícolas engloba basicamente dois

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fatores: o homem (operador) e a máquina (trator), onde interagem entre si, formando o

sistema homem–máquina (MURREL, 1965; IIDA, 2005; KROEMER & GRANDJEAN,

2005), os quais foram avaliados ergonomicamente com auxílio da aplicação do método

RULA, explicitado no tópico subsequente.

2.2 Método RULA

Concebido em 1993 por Lynn McAtamney e Nigel Corlett, na Universidade de Nottingham

(Reino Unido), o método RULA surgiu com o desígnio de ser aplicado em investigações

ergonômicas de postos de trabalho onde existe a possibilidade de desenvolvimento de doenças

osteomusculares em membros superiores (MCATAMNEY; CORLETT, 1993).

Figura 1 – Esquema de Aplicação Método RULA (Rapid Upper Limb Assessment)

Fonte: Hembecker; Rebeschini (2006)

Este consiste na utilização de diagramas de postura do corpo, utilizados em conjunto a três

tabelas, as quais possibilitam a avaliação do nível de exposição a fatores de risco. Tais fatores

incluem o número de movimentos, a postura estática, a força, a postura de trabalho

determinada por equipamentos e mobiliários e os tempos de trabalho e pausa respectivamente

(HEMBECKER; REBESCHINI, 2006). Desta forma, este método poderá ser esquematizado

em três etapas demonstradas na Figura 1.

Quadro 1 – Escores para classificação do Método RULA (Rapid Upper Limb Assessment)

ESCORE NÍVEL DE AÇÃO DESCRIÇÃO DO NÍVEL DE AÇÃO

1 1

Indica que a postura é aceitável se ela não for mantida ou repetida por

longos períodos de tempo. 2

3 2 Indica que investigações são necessárias e alterações devem ser feitas.

4

5 3

Indica que investigações são necessárias e que alterações devem ser feitas

em breve. 6

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7 4 Indica que investigações são necessárias e que alterações devem ser feitas

imediatamente.

Fonte: elaborado pelos autores (2015)

A sequência de avaliação do método RULA compreende a análise referente à posição dos

braços, antebraços, punhos e giro dos punhos, pescoço (em duas etapas de avaliação),

membros inferiores (em duas etapas de avaliação), tempo na postura e carga de trabalho, na

sequência supracitada.

De forma semelhante aos procedimentos adotados no método OWAS (Ovako Working

Analysis System), com base no uso de tabelas padronizadas, os escores obtidos na análise

fornecem o nível de ação a ser seguido para situação estudada de acordo com o Quadro 1.

Assim, ao empregar o método RULA, as posturas devem ser enquadradas conforme os

desvios dos membros, pescoço e tronco relativamente a suas posições neutras. Além disso,

serão observados fatores como o peso das cargas erguidas, o tipo de esforço muscular

(dinâmico ou estático) e a maneira como os membros inferiores estão dispostos. Alguns dos

fatores a serem analisados são apontados na Figura 2.

Figura 2 – Fatores de Risco investigados pelo Protocolo RULA (Rapid Upper Limb Assessment)

Fonte: Mcatamney; Corlett (1993)

Este é o método mais apropriado quando a finalidade consiste em analisar a sobrecarga

centralizada no pescoço e membros superiores. Pois, com o objetivo de promover a

RULA

N° DE

MOVIMENTOS

TRABALHO

MUSCULAR

ESTÁTICO

FORÇA

POSTURAS DE

TRABALHO

TEMPO

TRABALHADO

SEM PAUSA

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identificação das amplitudes de movimentos nas articulações de interesse, utiliza-se de

diagramas que possibilitam uma análise mais exata dos trabalhos sujeitos à predominância de

contração muscular estática (IIDA, 2005).

Portanto, aplicou-se o método RULA com o objetivo de analisar ergonomicamente o efeito da

atividade sobre os membros superiores, pescoço e tronco do operador, onde este funciona

como uma ferramenta de avaliação rápida relacionada ao risco de lesões musculoesqueléticas,

vinculadas tanto a posturas extremas quanto a força excessiva e atividades musculares

(esforços repetitivos).

Aliado a este método, o software Ergolândia, assunto posterior, atuou como um dinamizador,

tornando-se um eficiente processador das informações obtidas ao fornecer um parecer sucinto

que possibilitou o tratamento adequado dos dados na sequência.

2.3 Software ergolândia

Destinado à Ergonomistas, Fisioterapeutas e empresas, o Software Ergolândia auxilia na

avaliação ergonômica dos funcionários e respectivos postos de trabalho, possibilitando

sugestões de melhorias. Somando-se aos profissionais supracitados, o software destina-se

também a classe de profissionais da área de saúde ocupacional e também a professores e

alunos que buscam estudar e fazer uso das ferramentas ergonômicas.

A FBF Sistemas, fundada em 2008 pelos Engenheiros Felipe Loque e Flavio Bissoli, na

cidade de Belo Horizonte/MG, é a detentora dos direitos autorais do Software Ergolândia, o

qual é disponibilizado gratuitamente durante trinta dias em versão DEMO para testes e logo

após a expiração deste período o Software passa a ter o custo de posse da licença de uso que

possibilita a utilização das ferramentas citadas a seguir.

Com isso, este possibilitará a diminuição dos riscos ocupacionais e consequentemente um

considerável aumento na produtividade por meio da aplicação de até vinte ferramentas

ergonômicas disponíveis no software. Porém, conforme estabelecido anteriormente, o foco do

presente estudo prepondera na aplicação do método RULA.

2.4 Cenário confrontativo

Com o passar dos anos, aperfeiçoamentos e automatizações estão surgindo e melhorando a

cada dia mais e, assim como em outras áreas, com as máquinas agrícolas não foi diferente.

Inicialmente criadas para substituir a tração animal, hoje são projetadas para múltiplos usos:

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tração, acionamento de outras máquinas, transporte, irrigação, etc. Este desenvolvimento em

seu projeto visou a melhor adaptação ao trabalho, sempre focando a relação trabalho-máquina

omitindo um componente de proporcional relevância: o homem.

A partir do surgimento da ergonomia foi possível relacionar o homem ao trator e, com isso, os

projetos passaram a contar com dois novos fatores de preocupação para os projetistas: a

segurança e o bem-estar do operador. Com a evolução da relação homem-máquina muitos

trabalhos antropométricos foram realizados com o intuito de se determinar medidas padrões

para o homem e, de posse desses dados, os tratores passaram a ser projetados de forma a se

adaptarem ao homem e não ao contrário, conforme vinha acontecendo. Assim, estudos a

respeito da fisiologia do homem e dos seus sentidos tornaram-se também necessários e muitos

foram realizados a fim de se obter uma melhor relação e, consequentemente, melhorar a

produção da máquina no desempenho de suas funções.

Atualmente, as demandas em conforto e segurança para os operadores têm se tornado cada

vez mais crescente. Segundo Dhingra et al. (2003) a definição científica para a palavra

conforto pode ser "uma harmonia agradável entre fatores fisiológicos, psicológicos e físicos,

entre um ser humano e o ambiente" ou, ainda, referir-se como "ausência de desconforto". Um

local de trabalho deve ser sadio e agradável, proporcionar o máximo de proteção, sendo o

resultado de fatores materiais ou subjetivos, prevenir acidentes, doenças ocupacionais, além

de proporcionar melhor relacionamento entre a empresa e o empregado (FIEDLER et al.,

2006).

Com relação à determinação de controles, para Grandjean (1998), sua escolha se dá pela sua

funcionalidade e necessidade de precisão. Com o objetivo de evitar acidentes, de acordo com

o autor, ao avaliar controles manuais deve-se levar em consideração a análise antropométrica

da atividade, já que devem ser consideradas as variáveis que envolvem o distanciamento entre

cotovelo e ombros.

A partir do trabalho realizado por Rossi, Santos e Silva (2011), pode-se evidenciar que os

equipamentos e implementos agrícolas não se adaptam aos parâmetros antropométricos

brasileiros tendo-se em vista a miscigenação étnica do país. Para tal adequação há a

necessidade do desenvolvimento de um estudo o qual permita a coleta de dados com o

objetivo de traçar o perfil do usuário brasileiro possibilitando uma maior adaptação da

ferramenta de trabalho ao homem.

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Considerando-se o assento do trator, pode-se dizer que este é um dos fatores mais importantes

a ser considerado com relação ao posto de trabalho em questão. Tendo–se em vista o tempo a

qual o operador fica exposto ao posto de trabalho bem como às variáveis atreladas a esta

atividade, é de fundamental importância que sejam desenvolvidos estudos com o objetivo de

minimizar cada vez mais os impactos ergonômicos causados na saúde do operador.

Nos estudos de Deganutti, Palhaci e Hellmeister (2011), foi possível evidenciar a importância

da realização de adequações em assentos de tratores. Estes, após análise antropométrica,

projetaram um assento ergonômico com auxílio da computação gráfica com a finalidade de

melhor adaptação da atividade às necessidades posturais do operador. Desta forma, a partir do

projeto foi possível desenvolver um assento que possibilitaria um maior relaxamento, já que o

encosto proporcionaria variações de postura aliviando pressões sobre a coluna e tensões dos

músculos. Apesar de tal estudo apresentar uma preocupação com a postura do operador,

sugere-se que o assento projetado, ao invés de ser fixo, permita a rotação do mesmo, evitando

que o operador realize a rotação do tronco, fato este que ao longo do tempo pode levar a

problemas de origem ergonômica já que pode ocasionar danos à coluna vertebral.

A vista dos tópicos apresentados anteriormente realizou-se a respectiva análise ergonômica

por meio da observação da atividade, assim como o posto de trabalho em si, contrastando aos

cenários evidenciados e culminando na aplicação do método RULA e respectivo diagnóstico

gerado por intermédio do Software Ergolândia, procedimento discriminado no tópico a seguir.

3 Procedimentos metodológicos

O procedimento de análise, demonstrado na Figura 3, compreendeu a observação da atividade

do operador durante ciclos de trabalho, onde foi selecionada a postura mais significante,

ilustrada na Figura 4.

Figura 3 – Metodologia de realização da análise ergonômica

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Fonte: elaborada pelos autores (2015)

Posteriormente, por esta percepção, foram aplicados os critérios de escore característicos

desta ferramenta por meio do Software Ergolândia, os quais foram utilizados para classificar o

grau de risco das respectivas posturas avaliadas, variando entre a faixa de valores de 1 a 7.

Desta forma, quanto maior a pontuação, mais elevado será o nível de risco ao qual o operador

é submetido. Ao mesmo tempo, escores inferiores não asseguram que o posto de trabalho

esteja isento de carga de trabalho e elevados escores não garantem que problemas críticos

existam (LUEDER, 1996).

Figura 4 – Postura mais significante na atividade do tratorista

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Fonte: registrado pelos autores (2015)

Figura 5 – Análise Grupo A

Fonte: Ergolândia (2015)

Conforme estabelece o método RULA, foram analisados separadamente dois grupos. O grupo

A, constituído pelos membros superiores (braços, antebraços e punhos), demonstrado na

Figura 5. E o grupo B, composto pelo tronco, pernas e pescoço, representado na Figura 6.

Referente à análise de cada grupo, enquadrou-se a postura mais significante em ângulos,

preestabelecidos no método e atribuiu-se a pontuação específica, fornecendo um valor parcial

para cada posição avaliada.

Figura 6 – Análise Grupo B e Atividade

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Fonte: Ergolândia (2015)

A seguir, as pontuações parciais de cada grupo (A e B) foram modificadas de acordo com o

tipo de atividade muscular desenvolvida e também relativamente à força muscular empregada

na prática da atividade. Ao possuir os valores parciais dos grupos, estes foram cruzados pelo

próprio Software Ergolândia, obtendo-se finalmente o valor total, o qual possibilitou o

enquadramento relativamente ao nível de necessidade da postura que demanda maior atenção

devido ao risco de lesões, o qual está especificado nos resultados, conteúdo do capítulo

seguinte.

4 Resultados

Com a aplicação do método RULA, primeiramente direcionado à observação dos ciclos de

trabalho e preenchimento da planilha específica contida no Anexo A e posteriormente à

transferência dos dados verificados – supracitados – ao Software Ergolândia, pode-se realizar

a análise ergonômica do posto de trabalho de um tratorista, destacada na Figura 7.

Figura 7 – Banco de Dados do operador gerado pelo Software Ergolândia

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Fonte: Ergolândia (2015)

Ao interligar os valores referentes aos grupos A, B e à atividade em si, obteve-se a pontuação

6 e o decorrente nível de ação 3. Sabendo-se que a pontuação máxima possível é 7, percebe-

se a severidade da postura evidenciada na atividade do operador observado nesta análise.

Figura 8 – Resultado gerado pelo Software Ergolândia

Fonte: Ergolândia (2015)

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Logo, o Software Ergolândia gerou também, por meio da pontuação e respectivo nível de

ação, as orientações quanto a intervenções necessárias no posto de trabalho, enfatizadas na

Figura 8, e adequadamente tratadas no capítulo subsequente.

5 Conclusão

A presente análise possibilitou a percepção do quanto a atividade de tratorista demanda

atenção e respectivo tratamento, uma vez que a pontuação resultante desta análise em diversos

postos de trabalhos semelhantes não deve dispersar muito do evidenciado, pois a postura não

sofre grandes alterações. Somando-se a isso, esta não se trata de uma atividade rara em nosso

estado, comprovando tamanha relevância deste estudo.

Desta forma, conforme proposto nos resultados obtidos pelo Software Ergolândia,

recomenda-se uma investigação mais aprofundada. Uma das propostas sugeridas abrange a

análise referente ao arranjo físico e layout do posto de trabalho, a qual pode servir como

ferramenta fundamental à adequação deste.

Além disso, pode-se perceber que devido ao fato de possuir outra atividade lucrativa durante

os dias úteis, o operador acaba sobrecarregando-se nos finais de semana para suprir a

demanda da atividade rural. Dessa forma, torna-se pertinente uma avaliação quanto aos turnos

de serviço, fator este que deve possuir parcela na postura adotada e também quanto aos

fatores humanos resultantes como estresse e fadiga que podem advir da execução desta

atividade por períodos prolongados de tempo. Esta avaliação deve possibilitar o

estabelecimento da proporcionalidade entre tempos de trabalho e pausas para descanso, o que

deve agir no sentido de minimizar os efeitos oriundos da atividade.

Porém, visando atenuar temporariamente estes efeitos, antes da realização das análises

sugeridas, indica-se a adaptação do posto de trabalho relativa ao assento do trator, a qual

poderá ser proporcionada por meio da elaboração de um projeto que inclua apoio para os

braços, estofamento apropriado, cinto de segurança e trilho que possibilite a rotação do

mesmo, proporcionando conforto e segurança ao operador, diminuindo com isso os impactos

ergonômicos a que o tratorista é submetido no decorrer da operação. Além disso, recomenda-

se o ajuste dos controles manuais de acordo com os aspectos antropométricos do trabalhador.

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REFERÊNCIAS

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<http://itarget.com.br/newclients/sober.org.br/congresso2012/extra/pdf/LUIS.pdf>. Acesso em: 12 set. 2015.

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BRESSAN, Raquel Torres C. O que são tratores florestais? Entenda para que serve este tipo de trator.

Disponível em: http://www.afe.com.br/noticia/2925/o-que-sao-tratores-florestais?. Acesso em: 05 nov. 2015.

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ANEXOS

ANEXO A – Planilha de Aplicação do Método RULA (Rapid Upper Limb Assessment)

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