análise ergonômica da operação de injetora rotativa em uma fábrica

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ANÁLISE ERGONÔMICA DA OPERAÇÃO DE INJETORA ROTATIVA EM UMA FÁBRICA DE CALÇADOS EM JUAZEIRO DO NORTE - CE Valeria dos Santos Turbano (URCA ) [email protected] TEREZA VALERIA PEREIRA LIMA (URCA ) [email protected] Maria Jessica Guedes Duarte (URCA ) [email protected] Jose Goncalves de Araujo Filho (URCA ) [email protected] O efeito das mudanças no setor produtivo mostra-se cada vez mais preocupante porque as condições de trabalho impostas impactam diretamente na saúde dos trabalhadores. Esse estudo foi realizado com o objetivo de avaliar a exposição aos riscoos ergonômicos de um operador de injetora rotativa de uma fabrica de calçados do Cariri. Visto que a função do operador o leva a executar movimentos repetitivos ao longo de sua jornada de trabalho com maquinário inadequado, em posições que ao longo do tempo podem ser prejudiciais a sua saúde e com níveis de ruído, iluminação e temperatura acima do permitido. A abordagem metodológica utilizada foi o método indutivo, descritivo, contemplando investigação bibliográfica e pesquisa de campo, visando mostrar se existe a possibilidade de se produzir resultados benéficos para as empresas e para os empregados, visto que o trabalho é feito em ciclos curtos, com muita repetitividade, em pé e condições ambientais fora do padrão buscamos propor uma conciliação entre as interações humanas e os elementos do sistema de produção a fim de aperfeiçoar o bem-estar humano e o desempenho global do sistema. Assim, é necessário fazer ajustes para que o operador se sinta mais confortável e assim possa realizar seus serviços melhor, podendo até aumentar a produtividade da empresa. Palavras-chave: Ergonomia, Produtividade, Conforto, Injetora. XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil João Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016.

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ANÁLISE ERGONÔMICA DA

OPERAÇÃO DE INJETORA ROTATIVA

EM UMA FÁBRICA DE CALÇADOS EM

JUAZEIRO DO NORTE - CE

Valeria dos Santos Turbano (URCA )

[email protected]

TEREZA VALERIA PEREIRA LIMA (URCA )

[email protected]

Maria Jessica Guedes Duarte (URCA )

[email protected]

Jose Goncalves de Araujo Filho (URCA )

[email protected]

O efeito das mudanças no setor produtivo mostra-se cada vez mais

preocupante porque as condições de trabalho impostas impactam

diretamente na saúde dos trabalhadores. Esse estudo foi realizado com

o objetivo de avaliar a exposição aos riscoos ergonômicos de um

operador de injetora rotativa de uma fabrica de calçados do Cariri.

Visto que a função do operador o leva a executar movimentos

repetitivos ao longo de sua jornada de trabalho com maquinário

inadequado, em posições que ao longo do tempo podem ser

prejudiciais a sua saúde e com níveis de ruído, iluminação e

temperatura acima do permitido. A abordagem metodológica utilizada

foi o método indutivo, descritivo, contemplando investigação

bibliográfica e pesquisa de campo, visando mostrar se existe a

possibilidade de se produzir resultados benéficos para as empresas e

para os empregados, visto que o trabalho é feito em ciclos curtos, com

muita repetitividade, em pé e condições ambientais fora do padrão

buscamos propor uma conciliação entre as interações humanas e os

elementos do sistema de produção a fim de aperfeiçoar o bem-estar

humano e o desempenho global do sistema. Assim, é necessário fazer

ajustes para que o operador se sinta mais confortável e assim possa

realizar seus serviços melhor, podendo até aumentar a produtividade

da empresa.

Palavras-chave: Ergonomia, Produtividade, Conforto, Injetora.

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1. Introdução

Na indústria calçadista é comum para enfrentar a concorrência e aumentar à lucratividade as

fábricas investirem cada vez mais na modernização de seu parque de máquinas (capital

constante) o que acarreta uma redução cada vez maior do número relativo de trabalhadores

empregados (capital variável). Na região do cariri cearense até o início da crise econômica

brasileira em 2013, o segmento de calçados sintéticos experimentou uma série de anos de

crescimento com a incorporação de tecnologias aplicadas à automação dos processos de

fabricação de componentes tais como solado (parte inferior) e cabedal (parte superior)

fabricados principalmente a base de SBR (borracha de butadieno estireno), PVC (policloreto

de vinila) e EVA (etileno e acetato de vinila) ou uma mistura (blenda) destes. Segundo o

BNDES:

A indústria de transformados plásticos é caracterizada como de média-baixa

intensidade tecnológica, e a tecnologia está basicamente incorporada nos

bens de capital empregados. Os processos de produção dos transformados

plásticos estão incorporados nas máquinas (extrusoras, injetoras, sopradoras,

etc.), que, junto com equipamentos (alimentadoras, moinhos, unidades de

refrigeração etc.), periféricos (robôs, sistemas de controle operacionais, etc.)

e moldes, são fundamentais na fabricação dos artefatos plásticos.

Parte substancial deste desenvolvimento ocorreu no campo de moldagem por injeção. De fato,

foi só a partir da criação de elastômeros e com a possibilidade dos mesmos serem aplicados a

indústria calçadista ainda na década de 1980 que se fomentou a construção de máquinas para

conformação, vulcanização e injeção desses compostos. A utilização de polímeros como

matéria prima, tornou se uma das mais importantes resinas termoplásticas da atualidade (LEIVA;

RODRIGUES, 2010).

A introdução das injetoras rotativas nas fábricas de chinelos do Cariri cearense trouxe

impactos relevantes na escala de produção já que o maquinário tem a capacidade de repetir

um mesmo ciclo diversas vezes. Conforme dados da Associação Brasileira das Indústrias de

Calçados (Abicalçados) mesmo com o momento econômico, o Ceará continua sendo o maior

exportador de calçados, em volume, do Brasil, apesar da queda neste ano. Porém, sabemos

que para o trabalhador esse elevado grau de repetitividade das operações, fruto de uma

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produção acelerada, significa desconforto e constrangimentos capazes de causar doenças

psicofisiológica.

De fato, os seres humanos possuem reconhecidamente limites físicos e psíquicos e esforços

além dos limites dos trabalhadores tem se mostrado um fator associado ao crescimento do

número de casos de distúrbios osteomusculares.

É nesse contexto que o presente trabalho desenvolve uma análise ergonômica no posto de

trabalho de um operador de injetora rotativa de uma empresa de componentes de calçados em

Juazeiro do Norte – Ceará.

2. Referencial Teórico

Nas últimas décadas é possível observar profundas transformações no mundo do trabalho nos

países capitalistas. Este quadro tem sido analisado criticamente por importantes autores, cujas

obras trazem reflexões, sobre o capitalismo e o mundo do trabalho, fundamentais para

compreensão sobre a organização do trabalho na atualidade.

É inegável a contradição existente entre aumentar a produtividade e preservar os limites do

esforço humano. Para Vasopollo (2005):

A nova determinação da organização capitalista do trabalho se configura

num processo que se caracteriza cada vez mais pela explosão, pela

precariedade, pela flexibilidade, pela desregulamentação, pela super-

exploração, sob formas sem precedentes para os assalariados em atividade. É

o mal-estar do trabalho, junto ao medo de perder o emprego, de não ter uma

vida social, é mais de empregá-la ao e pelo trabalho, com a angústia ligada

ao conhecimento de uma evolução tecnológica que não resolve as

necessidades sociais.

Para se pensar o sentido dessa contradição, basta considerar um simples raciocínio: enquanto

os assalariados visam melhorias na remuneração e condições de trabalho, os patrões visam

aumento do lucro e expansão de seus negócios. Considerando ainda que essa exigência por

maior produtividade por parte do capital tem levado os empresários a colocar em risco a saúde

e segurança dos operários, muitas vezes, com efeitos negativos evidentes. Ou faltaria clareza

sobre a verdadeira face do capitalismo contemporâneo e os seus reflexos sobre a situação do

trabalho e da saúde de quem precisa labutar para conseguir sobreviver?

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Para Antunes (2006, 2013, 2014) “O mundo produtivo, no capitalismo, destrói o corpo

produtivo”, ao fazer a relação entre a exploração por cada vez mais produção e menos direitos

nas empresas, com o crescente número de trabalhadores acidentados, lesionados e mortos no

exercício de suas atividades. O interior das empresas, o chamado “chão de fábrica”, segundo o

professor Antunes, é dominado totalmente pelo autoritarismo. “Ao trabalhador, só resta

obedecer e adoecer”, afirmou Antunes, exemplificando um dos principais pontos causadores

de doenças entre a classe trabalhadora.

Já em artigo publicado na RBSO com os resultados de uma pesquisa sobre acidentes de

trabalho e humilhação na indústria calçadista do Ceará revela que:

A organização do trabalho nessas fábricas é marcadamente taylorista-

fordista. Assim, a produção de um modelo de calçado pode ser fragmentada

em até 150-200 operações de conteúdo simples e pobre, sendo cada uma

delas executada repetidamente por um mesmo trabalhador, ao longo de toda

a jornada. A esteira possibilita um ganho de velocidade pela movimentação

mecânica dos produtos numa linha de produção, além de facilitar o controle

do ritmo de trabalho pela empresa. (RIGOTTO, 2010, p. 217-228).

O estudo de Rigotto baseia-se em entrevistas realizadas no decorrer de 2007, com 20

trabalhadores de três fábricas de calçados localizadas no Ceará.

Entre os entrevistados, são numerosos os relatos de conflitos e de situações

de constrangimento envolvendo trabalhadores e suas chefias. Os motivos são

vários, mas o centro do problema parece ser a insistente busca do

cumprimento das metas de produção estabelecidas pelas empresas.

Nas fábricas, essas metas de produtividade são definidas pela gerência, e

cabe aos supervisores da produção cobrar dos trabalhadores sob seu

comando que elas sejam cumpridas. Assim, o que ocorre é uma verdadeira

“cascata de pressões”. A gerência cobra dos supervisores, que cobram de

seus auxiliares, que, por sua vez, cobram dos trabalhadores da produção, a

quem são impostos o tempo de execução das tarefas, o ritmo dos gestos e,

também, a dinâmica das necessidades fisiológicas. Assim, há um tempo

extenso para o trabalho intenso e um tempo exíguo para aprender uma nova

tarefa ou para realizar outra já conhecida ou, ainda, para as pausas destinadas

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à alimentação, à ingestão de água, ao uso de sanitários e ao descanso durante

a jornada.

Ora, se a pesquisa revela que na indústria calçadista cearense “a mudança do „chicote‟ para a

„conversa‟ é apenas um subterfúgio para se obter maior controle sobre os trabalhadores e que

“em grande parte das vezes, o que parece prevalecer ainda é o „chicote‟”, como tais questões

seriam mediadas pela ergonomia?

A Pesquisa Nacional de Saúde 2013, realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística), aponta que 2,4% dos entrevistados referiram diagnóstico médico de LER/Dort.

Considerando o universo de 146,3 milhões de pessoas com mais de 18 anos representado pela

pesquisa, estima-se que cerca de 3,5 milhões de pessoas têm ou já tiveram essa doença

diagnosticada. Para Fundacentro (2014) “as LER/DORT decorrem da intensificação do

trabalho e representam um desgaste do sistema musculoesquelético de trabalhadores, cujas

atividades de trabalho exigem a execução de movimentos repetitivos, associados muitas vezes

a esforços físicos e manutenção de determinada postura por tempo prolongado”.

Na realidade, são as condições do posto de trabalho que determinam, em grande medida, esse

tipo de adoecimento que motivou a revisão da NR 17 em 1990. Conforme Grandjean (1998) a

ergonomia é definida como a ciência da configuração de trabalho adaptada ao homem,

destacando que ela vai além de simples melhorias significa mudar a organização do trabalho,

aliviando a pressão por metas de produção que levam a intensificação do trabalho e que

acarretam sobrecarga muscular.

Para Guérin et al (2001), a ação ergonômica é mais que aplicar métodos, realizar medidas,

fazer observações, e conduzir entrevistas com os trabalhadores, devendo sobretudo explorar

possibilidades de transformações do trabalho. A tarefa não é o trabalho, mas o que é prescrito

pela empresa ao operador. Essa prescrição é imposta ao operador. O operador desenvolve sua

atividade em tempo real em função desse quadro: a atividade de trabalho é uma estratégia de

adaptação à situação real de trabalho, objeto da prescrição. A distância entre o prescrito e o

real é a manifestação concreta da contradição sempre presente no ato do trabalho, entre “o que

é pedido” e “o que a coisa pede”.

Visto trata-se de interesses opostos entre classes sociais antagônicas, ou seja, um conflito

inerente entre capital e trabalho é que surgiu o questionamento quanto a real possibilidade de

conceber um posto de trabalho mais confortável ao trabalhador e ao mesmo tempo capaz de se

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obter ganhos de produtividade.

3. Método

À medida que foi definido a empresa e o posto a ser analisado, iniciou-se uma pesquisa

bibliográfica para obtenção de um embasamento teórico que ajudasse no desenvolvimento da

análise realizada por meio da internet, livros especializados, artigos, NRs e NBRs.

Para auxiliar essa análise, adotou-se como base a NR-17, que estabelece os “parâmetros que

permitam a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos

trabalhadores, de modo a proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho

eficiente”. Foram aplicados questionários com o operador e o supervisor do setor de injeção,

registros fotográficos e vídeos da operação, além de medição de temperatura, ruído e

iluminação.

O trabalho está estruturado em itens na sequência expressa na NR-17, que são: Levantamento,

transporte e descarga individual de materiais (esforços do operador em relação a

deslocamento de pesos); Mobiliário dos postos de trabalho (se o maquinário se adequa ao

operador, se a atividade pode ser realizada em pé ou sentada); Equipamentos dos portos de

trabalho (se os equipamentos utilizados se adequam às características psicofisiológicas do

trabalhador); Condições ambientais de trabalho (observação dos níveis de ruído, índice de

temperatura, velocidade do ar, umidade relativa do ar e níveis de iluminação); E a

organização do trabalho (que analisa os ciclos de produção, o ritmo de trabalho, modo de

operação, entre outros).

4. Resultados e Discursões

A análise foi realizada em uma Indústria de comércio de artefatos de borracha e plástico, que

fica localizada na cidade de Juazeiro do Norte – CE. A empresa produz artigos de borracha

em geral, incluindo calçados e componentes para calçados em EVA e PVC. A empresa não

dispõe de enfermaria e nem de plano de saúde. Possui refeitório no local, mas é optativo

almoçar em casa. A empresa disponibiliza fardamento.

O PVC (polímero termoplástico) é posto no funil alimentador da injetora que passa pelo

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cilindro aquecido da máquina, neste há uma rosca sem fim com profundidade de canal

decrescente da parte traseira para a dianteira. No cilindro, o material é aquecido cerca de 150

a 180ºC, após é injetado na matriz, passando pelo bico injetor, auxiliado por uma pressão de

injeção adequada que deverá atuar até o enchimento total do molde; o material é resfriado por

ventilação ou água.

Concluído esse ciclo, a rosca sem fim retorna carregando uma nova carga de material. O

operador retira as peças que são separadas do canal de injeção e retira as rebarbas. Enquanto a

bancada gira até chegar ao operador o próximo molde, todos os outros moldes estão sendo

resfriados. Nesse processo ocorre uma sobra de PVC que podem ser reutilizados. A injetora

(Figura 1) onde foi realizada a análise possui 15 estações, a marca é King Steel, e a altura da

bancada é de 1,25 m.

Figura 1 – Injetora rotativa da marca King Steel, 18 estações.

Fonte: Fotografia tratada pelos próprios autores, 2015.

4.1. Análise da Tarefa

A tarefa do operador de injetora consiste em retirar os solados das matrizes e colocá-los em

caixotes localizado ao lado da injetora e atrás do operador. Depois ele tira as rebarbas com

auxílio de uma chave de fenda, e as depositam em saco de nylon. No abastecimento da

injetora foi observado que é o próprio operador que faz esse serviço. O processo pode ser

visto na sequência de imagens logo a seguir.

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Figura 2 – Operador realizando o processo.

Fonte: Fotografia tratada pelos próprios autores, 2015.

O operador usa luva de algodão em apenas uma das mãos, não usava outro EPI afirmando que

os equipamentos de proteção disponibilizados eram desconfortáveis. Suas vestimentas não

estavam apropriadas.

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Figura 3 – Detalhe da vestimenta do operador.

Fonte: Fotografia tratada pelos próprios autores, 2015.

A biomecânica ocupacional é a parte da ergonomia que trata da análise postural e suas

consequências. Na realidade, o trabalhador adota durante sua jornada de trabalho centenas de

diferentes tipos de posturas, podendo em um mesmo processo operadores realizarem posturas

diferentes para um mesmo tipo de trabalho ou processo.

As ações de colocar e retirar o molde da máquina solicitam ambos os membros superiores

com adução estática de ombro, flexão estática de cotovelo, antebraço em neutro passando para

prono, extensão dinâmica de punho, com alteração do grau, flexão estática dos metacarpos,

falanges médias e distais. Oposição de polegar e extensão de sua falange distal para apreender

a ferramenta utilizada.

O trabalho é trata-se da execução de ciclos similares de trabalho que ocorrem mais de uma

vez durante a realização de uma tarefa, com duração inferior a 30 segundos. Mas, apesar de

curto é heterogêneo, ou seja, possui componentes variáveis dependendo da presença de

fatores externos.

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Figura 4 - Posturas do operador.

Fonte: Fotografia tratada pelos próprios autores, 2015.

Nota-se a exigência de responsabilidade e atenção o que conduz a um aumento da contração

muscular estática, que pode contribuir para a sobrecarga muscular global.

As tarefas são realizadas sob pressão temporal em um contexto onde o erro não é permitido.

A pressão temporal e o medo de errar podem aumentar a atividade muscular.

Em atenção ao cumprimento da NR-17, serão abordados os aspectos relacionados ao

levantamento, transporte e descarga individual de materiais, ao mobiliário, aos equipamentos,

às condições ambientais do posto de trabalho, a área de trabalho, e a própria organização do

trabalho.

4.2. Levantamento, transporte e descarga de materiais

A NR- 17 define o transporte manual de cargas como “todo transporte no qual o peso da carga

é suportado inteiramente por um só trabalhador, compreendendo o levantamento e a

deposição da carga”. O item 17.2.7 estabelece que “o trabalho de levantamento de material

feito com equipamento mecânico de ação manual deverá ser executado de forma que o

esforço físico realizado pelo trabalhador seja compatível com sua capacidade de força e não

comprometa a sua saúde ou a sua segurança”. A matriz pode medir entre 10 a 20 kg, é

necessário aplicar certo esforço para manuseá-la, principalmente para abri-la, como mostra a

figura.

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Figura 5 – Esforço do operador ao abrir a matriz.

Fonte: Fotografia tratada pelos próprios autores, 2015.

Como é o operador quem abastece a injetora, ele pega o peso e ainda o levanta até a altura da

cabeça, despejando a resina do PVC na máquina para ser aquecido.

Figura 6 – Operador alimentando a injetora.

Fonte: Fotografia tratada pelos próprios autores, 2015.

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Figura 7 – Operador subindo para a plataforma.

Fonte: Fotografia tratada pelos próprios autores, 2015.

4.3. Mobiliário

Segundo o item 17.3.2 da NR-17 “Para trabalho manual sentado ou que tenha de ser feito em

pé, as bancadas, mesas, escrivaninhas e os painéis devem proporcionar ao trabalhador

condições de boa postura, visualização e operação”. A bancada é ergonomicamente

inadequada, pois não possui regulagem de altura e mede 1,25 cm de altura e 10 cm da matriz.

Figura 8 – Postura do operador ao retirar solado.

Fonte: Fotografia tratada pelos próprios autores, 2015.

É necessário que o operador trabalhe em uma pequena plataforma de 51cm de altura, 50cm de

largura e 3m de comprimento restringindo o espaço de trabalho e aumentando riscos de

acidentes.

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A falta de regulagem da bancada pode causar posturas inadequadas, nesse caso é o

trabalhador que se adequa a máquina e não o inverso. Além disso, o operador realiza o

trabalho em pé. Segundo o item 17.3.5 da NR-17 “para as atividades em que os trabalhos

devam ser realizados de pé, devem ser colocados assentos para descanso em locais em que

possam ser utilizados por todos os trabalhadores durante as pausas”. Das quais a empresa não

disponibiliza.

4.4. Equipamentos

Na NR-17, item 17.4.1 afirma que “Todos os equipamentos que compõem um posto de

trabalho devem estar adequados às características psicofisiológicas dos trabalhadores e à

natureza do trabalho a ser executado”. O único equipamento utilizado pelo operador é uma

chave de fenda, utilizada como auxilio da retirada dos solados do molde e das rebarbas.

Figura 9 – Chave de fenda usada pelo operador.

Fonte: Fotografia tratada pelos próprios autores, 2015.

4.5. Condições Ambientais

Item 17.5.1 da NR-17 sobre as condições ambientais: “As condições ambientais de trabalho

devem estar adequadas às características psicofisiológicas dos trabalhadores e à natureza do

trabalho a ser executado”. Os colaboradores estão expostos a diversos riscos, decorrentes do

contato com ferramentas, máquinas de grande porte, ruídos, exposição ao calor, entre outros.

O piso não possui demarcação de faixas de delimitação dessas áreas. A sinalização de

segurança é inexistente, embora a empresa afirme fazer palestras para conscientização do

trabalhador a respeito de sua segurança.

No local possui iluminação natural e artificial. O galpão tem aproximadamente um pé direito

de 5m, a ventilação é feita por combogós, ventiladores e um exaustor no local quee não estava

em funcionamento.

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Figura 10 – Posto de trabalho de operador de injetora rotativa.

Fonte: Fotografia tratada pelos próprios autores, 2015.

A medição dos níveis de iluminamento do posto de trabalho está abaixo do previsto como

conforto lumínico na NBR 5413 da ABNT. Os níveis de ruídos medidos mostraram que os

valores estão acima do limite de 85 dB(A) recomendado pela NR 15 para jornadas de 8 horas

por dia. A temperatura do local medida registrou 34°C indicando uma possível sobrecarga

térmica. Outro perigo observado foi à existência de fumos de PVC derivado da queima.

4.6. Organização Do Trabalho

Segundo o item 17.6 da NR-17 “A organização do trabalho deve ser adequada às

características psicofisiológicas dos trabalhadores e à natureza do trabalho a ser executado.

Para efeito desta NR, ela deve levar em consideração, no mínimo as normas de produção, o

modo operatório, a exigência de tempo, a determinação do conteúdo de tempo, o ritmo de

trabalho e o conteúdo da tarefa”.

O operador trabalha 8 h diárias e faz hora extra quando necessário. A atividade não dispõe de

revezamento. O operador somente pode se ausentar quando houver alguém disponível para

substituí-lo. Tem um bebedouro no local, mas como fica longe do operador ele usa uma

garrafa de água próxima a injetora.

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Figura 15 – Garrafa de água usada pelo operador.

Fonte: Fotografia tratada pelos próprios autores, 2015.

A injetora gira a cada 26 s, o operador demora aproximadamente 14 s para completar a tarefa,

os 12 s restantes o operador fica ocioso esperando a próxima matriz. A atividade é

considerada repetitiva, já que está abaixo de 30 s. O operador leva 0,43 min para processar

cada par, sabendo que numa jornada de 8 h tem 480 minutos, podemos concluir que em um

dia de trabalho o operador produz 1116 pares de solados, ou seja, ele realiza 1116 ciclos por

dia. E tem um tempo efetivo de trabalho de 4,33 h, dentro da norma, já que não pode

ultrapassar as 5 h. A cada ciclo, o operador realiza seis micros movimentos com a mão direita

e sete com a mão esquerda. No final de um dia, ele realizou 6696 micros movimentos com a

mão direita e 7812 movimentos com a mão esquerda para realizar atividades básicas da

injeção.

A atividade pode se tornar monótona, já que possui pouco tempo de duração do ciclo da

operação, curtos períodos de aprendizado e pequena possibilidade de movimentos corporais.

Além disso, ambientes quentes e com certo isolamento social são outras condições que

contribuem para o surgimento da monotonia.

5. Considerações Finais

O trabalho teve como objetivo estabelecer recomendações ergonômicas a partir da aplicação

da Análise Ergonômica do Trabalho – AET evidenciando os pontos a serem corrigidos pela

empresa na célula de produção, a fim de adequar o trabalho real às aptidões e limitações do

ser humano. Isso significa sugerir intervenções e reorientações das operações, adequação dos

procedimentos e maquinaria e implementação de equipamentos de proteção coletiva de forma

a eliminar ou reduzir a concentração ou intensidade do agente e, consequentemente, a

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exposição do trabalhador.

Analisando as atividades desenvolvidas na injetora evidencia-se uma falta de relação entre o

trabalho prescrito e a atividade desenvolvida. Durante a realização da tarefa, o operador adota

diversas posturas que estão em desarmonia com as prescrições ergonômicas do trabalho e com

as limitações do ser humano. Sobre as exigências de movimentos realizados por vários

segmentos corpóreos e forças que agem sobre estas partes do corpo durante atividades

normais diárias da operação, a melhor solução seria a flexibilidade no posto de trabalho,

alternativa esta, de custo elevado.

Após a realização do estudo, algumas recomendações ergonômicas ficaram evidentes, para a

adequação ergonômica do posto em questão.

Em relação aos problemas encontrados no item, levantamento, transporte e descargas de

materiais, uma possível solução seria o revezamento entre funcionários que exercem funções

com esforços musculares distintos, assim, seria possível o descanso da região muscular que se

encontra em esforço constante durante a tarefa, evitando ou diminuindo as chances de

ocorrências de LER/DORT que podem surgir devido à repetitividade da operação.

Na questão do mobiliário, como o trabalho exige que o operador o realize em pé, a postura

dele em relação à altura da bancada se mostra incompatível, o que leva o trabalhador a se

posicionar de forma prejudicial. Uma solução seria a adequação da altura. Mas se torna

impossível, pois a injetora não possui bancada regulável, dificultando à adaptação da máquina

as limitações do trabalhador.

Como a atividade é realizada em pé, para diminuir o esforço físico durante a jornada de

trabalho, a possível solução são bancos, que proporcionaria um momento de descanso. Porém,

esse só seria possível se a empresa se disponibiliza intervalos para descanso, o que não é

viável, pois impacta diretamente na produtividade da empresa.

Sobre as condições ambientais, podemos primeiramente pensar em soluções como a utilização

de EPIs, dos quais não são utilizados.

A utilização de uma tela na parte inferior e superior da injetora no caso do trabalhador

escorregar não correr o risco de se ferir gravemente.

Em relação a redução da sensação térmica, uma possibilidade seria adoção de cores claras no

fardamento, como também o uso de mais ventiladores e outras formas de ventilação como a

Page 17: análise ergonômica da operação de injetora rotativa em uma fábrica

XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil

João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. .

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instalação de mais combogós e lanternim. O exaustor também seria uma solução. Isso

proporcionaria uma melhora razoável na condição de trabalho do operador.

Algumas das soluções sugeridas nos mostra o contraste da realidade com o que a ergonomia

propõe, pois, todas as soluções influenciam de forma direta ou indireta na produtividade da

empresa, sendo que as melhores soluções são de custo elevado, se tornando inviável, pois o

aumento da produtividade está diretamente ligado com as condições de trabalho, essas que

impactam na saúde do trabalhador. Essas melhorias resultam em custos dos quais não serão

revertidos em lucros, ficando fora dos projetos das empresas.

REFERÊNCIAS

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