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ANÁLISE ERGONÔMICA DA BIBLIOTECA DA FACULDADE DE CIÊNCIAS INTEGRADAS DO PONTAL Hilano Jose Rocha de Carvalho (UFU ) [email protected] Gessica Mina Kim Jesus (UFU ) [email protected] Luciana Correa Santos (UFU ) [email protected] Raina Marielle do Nascimento Alves (UFU ) [email protected] Bruna Graziela Araujo Oliveira (UFU ) [email protected] Este trabalho apresenta uma aplicação dos conceitos teóricos de Ergonomia na biblioteca da Faculdade de Ciências Integradas do Pontal. A proposta inicial foi identificar os problemas críticos presentes e buscar alternativas para solucioná-llos. Para isso, inicialmente, foram aplicadas ferramentas da ergonomia cognitiva para obter informações preliminares da situação de trabalho, culminando num enfoque em ergonomia física. Os principais problemas encontrados foram alta temperatura, falta de ventilação do ambiente, acúmulo de poeira nas prateleiras e livros, inadequação do conjunto mesa-cadeira, falta de um banheiro interno para as funcionárias, desorganização dos objetos dispostos na zona preferencial e movimentação incorreta do corpo na atividade de guardar livros. Através da pesquisa realizada, concluiu-se que a maioria deles pode ser facilmente solucionada, realizando pausas e alongamentos durante o trabalho, utilizando roupas adequadas e instalando equipamentos de climatização, assim já seria possível um aumento considerável do bem-estar dos colaboradores. Já os problemas mais complexos, como aqueles relacionados à infraestrutura, requerem tempo maior, por envolverem aprovação e mediação da universidade e, se solucionados, tornariam as condições de trabalho adequadas. Palavras-chaves: Ergonomia, Biblioteca, Projeto XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.

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ANÁLISE ERGONÔMICA DA

BIBLIOTECA DA FACULDADE DE

CIÊNCIAS INTEGRADAS DO PONTAL

Hilano Jose Rocha de Carvalho (UFU )

[email protected]

Gessica Mina Kim Jesus (UFU )

[email protected]

Luciana Correa Santos (UFU )

[email protected]

Raina Marielle do Nascimento Alves (UFU )

[email protected]

Bruna Graziela Araujo Oliveira (UFU )

[email protected]

Este trabalho apresenta uma aplicação dos conceitos teóricos de

Ergonomia na biblioteca da Faculdade de Ciências Integradas do

Pontal. A proposta inicial foi identificar os problemas críticos

presentes e buscar alternativas para solucioná-llos. Para isso,

inicialmente, foram aplicadas ferramentas da ergonomia cognitiva

para obter informações preliminares da situação de trabalho,

culminando num enfoque em ergonomia física. Os principais

problemas encontrados foram alta temperatura, falta de ventilação do

ambiente, acúmulo de poeira nas prateleiras e livros, inadequação do

conjunto mesa-cadeira, falta de um banheiro interno para as

funcionárias, desorganização dos objetos dispostos na zona

preferencial e movimentação incorreta do corpo na atividade de

guardar livros. Através da pesquisa realizada, concluiu-se que a

maioria deles pode ser facilmente solucionada, realizando pausas e

alongamentos durante o trabalho, utilizando roupas adequadas e

instalando equipamentos de climatização, assim já seria possível um

aumento considerável do bem-estar dos colaboradores. Já os

problemas mais complexos, como aqueles relacionados à

infraestrutura, requerem tempo maior, por envolverem aprovação e

mediação da universidade e, se solucionados, tornariam as condições

de trabalho adequadas.

Palavras-chaves: Ergonomia, Biblioteca, Projeto

XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos

Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.

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1. Introdução

Contemporaneamente, observa-se que investimentos crescentes em Ergonomia têm gerado

impactos positivos na saúde dos trabalhadores, na medida em que se busca promover o bem-

estar dos mesmos no ambiente de trabalho. Por conseguinte, maiores níveis de produtividade

e de qualidade das tarefas realizadas vêm sendo atingidos.

No presente trabalho, a biblioteca atual da Faculdade de Ciências Integradas do Pontal

(FACIP), campus Pontal, da Universidade Federal de Uberlândia foi analisada. Seu corpo

técnico-admistrativo é composto por 8 assistentes-administrativos e 1 bibliotecária-chefe, com

idades entre 22 e 48 anos e do sexo feminino.

Objetivou-se identificar e analisar os problemas ergonômicos de natureza física e propor

soluções (recomendações) para promover o bem-estar das assistentes-administrativos lotadas

na biblioteca.

O artigo está dividido a seguir da seguinte maneira: Seção 2, aspectos téorico-conceituais e

práticos da Ergonomia Física e das ferramentas mais comumente utilizadas na atualidade;

Seção 3, materiais e os métodos dessa pesquisa ergonômica; Seção 4, resultados da aplicação

das técnicas de Ergonomia Física e as recomendações ergonômicas; Seção 5, conclusão.

2. Referencial Teórico

2.1. Adequação mesa-cadeira

Segundo Iida (2005), em geral, recomenda-se que esta altura da mesa esteja entre 3 a 4 cm

acima do nível do cotovelo, na posição sentada. Caso a mesa seja ajustável, é necessário

primeiro ajustar a cadeira e depois a mesa. Se a mesa tiver uma altura fixa, a cadeira deve ter

altura regulável. Objetos como estrados também são recomendados para acomodar as pessoas

de estaturas menores. A Figura 1 mostra as recomendações de medidas sugeridas por Iida

(2005) para o arranjo ideal de mesas e cadeiras.

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Figura 1 – Dimensões recomendadas para o arranjo ideal de mesas e cadeiras.

Fonte: Iida (2005)

As complicações provocadas por uma mesa muito alta causam abdução e elevação dos

ombros, além de uma postura forçada do pescoço, provocando fadiga dos músculos dos

ombros e do pescoço (CHAFFIN, 2001 apud IIDA 2005). Por outro lado, uma mesa muito

baixa causa inclinação do tronco e cifose lombar, aumentando a carga sobre o dorso e o

pescoço, provocando dores (IIDA, 2005).

2.2. Transporte de cargas

De acordo com Iida (2005), as recomendações para transporte de cargas são:

a) Com os dois braços, deve-se manter a carga próxima do corpo, na altura da cintura;

b) Adotar valor adequado para as cargas unitárias;

c) Deve-se manter simetria de cargas;

d) Pegas adequadas;

e) Trabalho em equipe quando a carga for excessiva para somente uma pessoa;

f) O caminho deve ser predefinido e não haver nenhum obstáculo;

g) Eliminar desníveis no piso e entre postos de trabalho;

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h) Usar carrinhos com rodas e transportadores mecânicos.

2.3. Arranjo físico (layout) e prateleiras

Como mostradas na Figura 2, a área de alcance ótimo sobre a mesa é delimitada por um arco

de raio de 35 cm a 45 cm e a área de alcance máximo deve ser definida por um arco de 55 cm

a 65 cm de raio. As tarefas que exigem acompanhamento visual constante e precisão devem

estar entre 20 cm a 40 cm de distância focal, como mostra a Figura 3 (IIDA, 2005).

Figura 2 – Exemplos de zonas de alcances máximos; posição sentada (Esquerda) e em pé

(Direita).

Fonte: Iida (2005)

Figura 3 – Áreas de alcance ótimo e máximo na mesa; trabalhador sentado.

Fonte: Iida (2005)

Na Figura 3, têm-se a zona preferencial e os alcances máximos (trabalhador sentado).

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2.4. Fatores ambientais

Segundo Iida (2005), para os organismos adaptados ao calor a zona de conforto térmico é

delimitada entre as temperaturas de 20ºC a 24°C, a umidade relativa de 40% a 80% e a

velocidade do ar de 0,2 m/s.

2.5. Ferramentas de ergonomia física

A equação de NIOSH (do inglês, National Institute for Occupational Safety and Health) é

composta por seis variáveis, como mostra a Eq. (1) (IIDA, 2005).

(1)

Na Eq. (1), têm-se:

A - ângulo de assimetria;

C - qualidade da pega;

D - deslocamento vertical (cm);

F - frequência média de levantamentos (levantamentos/min);

H - distância horizontal (cm);

V - distância vertical (cm);

PLR - Peso Limite Recomendável.

As medidas referentes ao levantamento de peso, bem como as tabelas com os multiplicadores

C e F, utilizados para o cálculo da equação, basearam-se em Iida (2005).

O método OCRA (do inglês, Occupational Repetitive Actions) permite o cálculo de um índice

quantitativo (IE) que representa os riscos existentes relacionados à repetição dos movimentos

dos membros superiores na execução de uma tarefa (MÁSCULO; VIDAL, 2011). Se o

resultado obtido para IE for até 2.2, nenhuma ação corretiva é necessária; caso o resultado

esteja entre 2.3 e 3.5, é necessário verificar a situação e implementar melhorias. Em uma

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situação mais grave, o IE encontrado será maior que 3.5 (risco presente) e será necessário

redesenhar o posto e avaliar a saúde dos trabalhadores.

De acordo com Másculo e Vidal (2011), o método OWAS tem como objetivo analisar uma

tarefa, identificando posturas inadequadas que, juntamente com outros fatores, podem

ocasionar problemas músculos-esqueléticos, incapacidade para o trabalho, absenteísmo e até

mesmo custos adicionais ao processo produtivo (CARDOSO JUNIOR 2006, apud KASPER;

LOCH, 2012). O método OWAS é composto por três tabelas que permitem classificar as

posturas relativas do corpo de maneira isolada, combinada ou ainda levando em consideração

a duração da tarefa sendo executada. A Figura 4 ilustra uma dessas tabelas.

Figura 4 - Sistema para registro de posturas (método OWAS)

Fonte: Iida (2005)

Com base em Tabelas, como a da Figura 4, podem-se classificar as posturas de acordo com

as quatro classes descritas abaixo:

a) Classe 1 - postura normal, que dispensa cuidados, a não ser em casos excepcionais;

b) Classe 2 - postura que deve ser verificada durante a próxima revisão rotineira dos

métodos de trabalho;

c) Classe 3 - postura que deve merecer atenção a curto prazo;

d) Classe 4 - postura que deve merecer atenção imediata.

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Por fim, o método RULA foi desenvolvido com o objetivo de avaliar os riscos sob os quais o

trabalhador está exposto quando há posturas e atividades musculares inadequadas com a

possibilidade de desenvolvimento de doenças ocupacionais (DORT/LER) (MÁSCULO;

VIDAL, 2011).

Após a obtenção de pontuações específicas, obtém-se uma pontuação global final, que indica

em que nível a atividade se classifica e qual sua gravidade. As recomendações apresentadas

na Figura 5 referem-se ao que deve ser feito em cada nível de risco para a tarefa realizada.

Figura 5 - Tabela de recomendações do método RULA

Fonte: MÁSCULO; VIDAL (2011)

2.6. Princípios ergonômicos

Reunindo informações apresentadas por Iida (2005) e Másculo e Vidal (2011), estabeleceu-se

a seguinte lista de princípios ergonômicos considerados importantes nesta pesquisa:

Princípios gerais do assento: as dimensões do assento devem ser adequadas às

dimensões antropométricas do usuário; o assento deve permitir variações de postura;

Princípios de economia de movimentos: as duas mãos devem iniciar e terminar os

movimentos no mesmo instante e não devem ficar inativas ao mesmo tempo; os braços

devem mover-se em direções opostas e simétricas; devem ser usados movimentos

manuais simples;

Princípios relativos ao arranjo do posto de trabalho: as ferramentas e materiais devem

ficar em locais fixos, perto dos seus locais de uso, de acordo com uma sequência de

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uso; cada trabalhador deve dispor de uma cadeira que possibilite uma postura

adequada;

Princípios de levantamento de carga: manter a coluna reta e usar a musculatura das

pernas; levantar carga próxima do corpo; manter cargas simétricas e usar as duas mãos

ao mesmo tempo.

3. Metodologia

Houve reuniões para definir o local para a realização da pesquisa ergonômica e, devido ao

tipo de atividades realizadas e a maneira pela qual são executadas pelas assistentes-

administrativos, chegou-se a conclusão para a realização desse trabalho de que a biblioteca

necessita de atenção mais urgente nos fatores físicos. A partir disso, os seguintes métodos e

ferramentas foram utilizados:

a) Entrevista semiestruturada: segundo Oliveira (2002), as perguntas devem ser claras, o

entrevistado não deve ser influenciado pelos entrevistadores e as respostas devem ser

transcritas exatamente como foram ditas. As entrevistas realizadas com 100% das

funcionárias foram gravadas com gravador de voz, transcritas e, em seguida,

analisadas;

b) Medições: Houve diversas medições relacionadas à antropometria e à biomecânica,

utilizando uma trena. Na coleta de dados do ambiente, realizaram-se as medições da

temperatura e da umidade relativa do ar no interior da biblioteca. As medições dos

fatores ambientais foram realizadas nos dias 19 e 22 de Outubro de 2012, durante os

períodos da manhã, tarde e noite, utilizando um Hygro – Thermometer Clock,

Instrutherm HT-210;

c) Observações diretas: antes de iniciar uma observação, é necessário determinar quais

situações de trabalho devem receber atenção (BELLO, 2007). Para isso, houve

reuniões e as situações a serem observadas foram estabelecidas.

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Por último, foram aplicadas as ferramentas de ergonomia física presentes em Másculo e Vidal

(2011):

Equação de NIOSH - aplicada no levantamento de livros, no transportar livros do

carrinho para a prateleira, transportar livros da mesa em grupo para o carrinho e

transportar livros da mesa individual para o carrinho;

Método OCRA - utilizado para calcular o risco para o braço direito das funcionárias ao

guardar os livros nas prateleiras, considerando uma tarefa que consiste em conduzir o

carrinho já cheio desde o balcão de atendimento até guardar todos os livros;

Método OWAS - aplicado na análise da postura de empurrar o carrinho de livros e da

postura de levantamento de livros;

Método RULA - aplicado na análise da tarefa de guardar os livros nas duas prateleiras

inferiores, os livros na prateleira do meio e os livros nas duas prateleiras superiores.

4. Resultados e análise

4.1 Adequação mesa-cadeira

90% das assistentes-administrativos da biblioteca indicaram alto índice de desconforto com o

conjunto mesa-cadeira, uma vez que passam a maior parte do tempo em posições estáticas em

frente ao computador. Observou-se que a mesa de atendimento da biblioteca possui altura fixa

de 81.5 cm com cadeiras reguláveis, variando entre 42 a 56 cm de altura. No entanto, o

conjunto mesa-cadeira dos postos de trabalho da biblioteca não oferece conforto e bem-estar

às assistentes-administrativos, pois não estão regulados ergonomicamente. Isso se dá, pois

tem-se uma altura de 81.5 cm das mesas, que não se enquadra no valor recomendado. Apesar

das cadeiras oferecerem a possibilidade de ajuste de altura, isso ocorre insuficientemente, pois

a altura máxima que ela permite é de 56 cm, sendo que essa medida corresponde a uma altura

de 74 cm para a mesa. A recomendação para esse caso seria colocar a altura da cadeira no

máximo, 56 cm, e introduzir o estrado para dar sustentação aos membros inferiores, uma vez

que as assistentes-administrativos da biblioteca possuem estatura mediana (entre 155 e 172

cm). No entanto, existe apenas um estrado para atender 3 pessoas e o mesmo se encontra

quebrado no estado atual. Diante disso, pode-se concluir que as mesas e cadeiras do

atendimento da biblioteca não foram projetadas ergonomicamente.

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4.2 Transporte de cargas

Há o uso de carrinhos com rodas para transportar livros acumulados no balcão de devolução.

Sobre isso, houve um relato uníssono das assistentes-administrativos: o barulho muito alto

que o carrinho emite quando está quase vazio ou vazio. Por se tratar de uma biblioteca, na

maioria das vezes, as funcionárias sentem-se constrangidas por provocar este barulho e

atrapalhar os alunos e, sempre que possível, preferem não utilizá-lo. O carrinho utilizado tem

3 andares de prateleiras, sendo que a mais alta possui 78,5 cm medidos a partir do chão.

4.3 Arranjo físico (Layout) e prateleiras

As zonas de alcances máximo e preferenciais para posição sentada, para o layout da

biblioteca, nas mesas de atendimento, ocupam o plano transversal, que pode ser analisado

quando se utiliza o mouse, no empréstimo e devolução de livros ao se passar no

desmagnetizador e o plano sagital ao pegar e devolver os livros. Os alcances máximos sobre a

mesa são: máquina de registrar empréstimos: 47 cm na diagonal direita; espeto de notas de

devolução: 107 cm na diagonal esquerda; carimbo e tinta: 100 cm na diagonal direita;

monitor: 31 cm à frente, teclado: 11 cm à frente; mouse: 20 cm na diagonal direita; sensor de

código de barras (carteirinha da biblioteca): 39 cm na diagonal direita; sensor de tarja

magnética: 34 cm na diagonal direita; desmagnetizador: 118 cm na diagonal direita. Os

seguintes equipamentos costumam ser trocados de lugar de acordo com a assistente-

administrativo que está usando: espeto de notas de devolução, carimbo e tinta e

desmagnetizador.

Para o arranjo físico da biblioteca, a máquina de registrar empréstimos está quase em seu

alcance máximo, sendo necessário aproximá-la da assistente-administrativo ou colocar uma

mesa de auxílio ao lado. O espeto de notas de devolução, sensor de código de barras

desmagnetizador estão no alcance máximo e devem ser aproximados imediatamente.

Carimbos e tintas dependem da preferência da assistente-administrativo, ajustando-os ao

alcance ótimo. No entanto, suas distâncias não requerem mudanças. Para o teclado e mouse, é

recomendável o uso do suporte de apoio para mãos e pulsos, de modo a evitar dores.

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No estudo dos movimentos realizados em relação às prateleiras, a mais alta que é de 178 cm é

inadequada para os funcionários, pois exige maior esforço, gerando dores e desconfortos.

Uma possível solução nesse caso seria uma escada adequada e segura. Porém, a escada

disponível para uso na biblioteca não transmite segurança e, por isso, é comumente evitada. A

prateleira mais baixa que possui altura de 19 cm, medidos a partir do chão, também é

inadequada, gerando desconforto e dores lombares. Uma possível solução seria a instrução e o

treinamento de como realizar corretamente esses movimentos. As prateleiras do meio que

medem 57, 97.5 e 138.5 cm não geram desconfortos e dores, pois não exigem movimentos

inadequados.

4.4 Fatores ambientais

Após realizar as medições de temperatura e umidade relativa do ar durante dois dias no

período de funcionamento da biblioteca, foram realizadas as médias dos resultados obtidos,

que são apresentados na Tabela 1.

Tabela 1 - Temperatura em °C e umidade relativa do ar em % médias da biblioteca.

Período Temperatura (ºC) Umidade Relativa do Ar

Manhã 28.4 56.5

Tarde 32.2 37.4

Noite 29.8 54

Fonte: AUTOR

Como se pode observar na Tabela 1, as temperaturas encontradas na biblioteca estão acima

das recomendadas para zona de conforto térmico, o que representa um fator ambiental

inadequado para o trabalho. Durante a manhã, a temperatura encontrada estava 4.4°C acima

da máxima para zona de conforto térmico e a noite 5.8°C. Porém, é durante a tarde que a

temperatura se encontra mais elevada, na média de 32.2°C, podendo interferir diretamente nas

funções fisiológicas dos colaboradores (aumento da transpiração, aumento do trabalho do

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coração pela maior exigência de irrigação dos músculos e pela vasodilatação periférica), no

aumento da freqüência de acidentes de trabalho e na diminuição da eficiência do trabalho, ou

seja, queda do bem-estar, da produtividade dos colaboradores e da qualidade do trabalho

realizado.

Com base nos resultados obtidos da umidade relativa do ar apresentados na Tabela 1, é

possível afirmar que este fator apresenta-se dentro da faixa de zona de conforto térmico

recomendada, que é de 40% e 80%, durante a manhã e a tarde, com os respectivos resultados

56.5% e 54%. Porém, durante a tarde a umidade relativa do ar média encontrada está abaixo

da recomendada, 37.4%.

Com base na análise visual do ambiente, é possível afirmar a ausência de roupas adequadas ao

trabalho, ventiladores, ar condicionados ou qualquer aparelho de climatização na biblioteca.

Há janelas laterais na construção, que ficam abertas devido às altas temperaturas, facilitando a

entrada de poeira. Quando a umidade relativa do ar está muito abaixo do recomendado e há

mais incidência de vento, as janelas são fechadas, impossibilitando a ventilação no ambiente.

De acordo com os dados recolhidos nas entrevistas realizadas, 60% das assistentes-

administrativos têm problemas respiratórios como renite alérgica, que se agrava com a

presença da poeira.

4.5 Resultados da Aplicação das Ferramentas de Ergonomia Física

Ao utilizar o método NIOSH, chegou-se aos resultados do peso limite recomendável para a

primeira situação de transporte de livros do carrinho para as prateleiras, como apresentados na

Tabela 2.

Tabela 2 - Valores de PLR para o transporte de livros do carrinho para as prateleiras.

Nível das Prateleiras

(cm)

PLR (kg)

59,5 5,2

57,0 5,9

97,5 6,1

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138,5 5,2

178,5 5,0

Fonte: AUTOR

Na Tabela 2, a altura do carrinho (origem) se manteve constante, enquanto que a altura das

prateleiras (destino) foi variável, logo, foi calculado um valor de PLR para cada altura de

prateleira.

Na segunda situação, na qual a funcionária faz o transporte de livros da mesa em grupo para o

carrinho, tanto a altura da mesa (origem) quanto a altura do carrinho (destino) permaneceram

constantes, como se pode ver na Tabela 3.

Tabela 3 - Valores de PLR para o transporte de livros da mesa de grupo para o carrinho.

Frequência de levantamentos

(levantamentos/min)

PLR (kg)

1 7,2

2 6,9

3 6,7

4 6,4

5 6,1

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Fonte: AUTOR

De acordo com a Tabela 3, a variação do PLR foi em função da frequência com que os livros

eram transportados. A frequência relaciona-se diretamente com a quantidade de livros

disponíveis sobre a mesa. Por exemplo, se houver apenas um livro sobre a mesa, a freqüência

será 1 levantamento/ minuto, se houver dois livros, então será 2 levantamentos/minuto, e

assim por diante.

O cálculo do PLR para a situação três de transporte de livros da mesa individual para o

carrinho foi similar à lógica adotada para a situação dois, na qual o PLR variava em função da

frequência de levantamento. Os resultados desta etapa estão apresentados na Tabela 4.

Tabela 4 - Valores de PLR para o transporte de livros da mesa individual para o carrinho.

Frequência de levantamentos

(levantamentos/min)

PLR (kg)

1 6,9

2 6,7

3 6,4

4 6,1

5 5,8

Fonte: AUTOR

Pelo método OCRA, calculou-se o ATR e o ATO. A Tabela 5 apresenta os

multiplicadores que compõem o ATR.

Tabela 5 - Identificação dos multiplicadores para calcular ATR.

Fator Descrição Multiplicador

MF- Força Realizou-se média entre as respostas de cada

funcionária para a escala de Borg (valor: 8)

0,01

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MP- Postura Ombro com flexão + 80º

Cotovelo com flexo-extensão +60º

Pulso com supinação e pronação (sem

flexão, extensão ou desvio)

Pega de pinça palmar

(4+2+0+4=10)

0,60

ME- Estereotipia Aproximadamente 60% do ciclo 0,85

MC- Complementares Não há forças fatores complementares 1

MR- Recuperação Sempre há recuperação adequada 1

MJ- Duração ≤ 120 minutos gastos no turno com todas as

tarefas repetitivas

2

Fonte: AUTOR

Cálculo do ATR: ATR= 30 X MF X MP X ME X MC X MR X MJ X 20= 6,12

Em seguida, calculou-se o ATO, como apresentado na Tabela 6.

Tabela 6 - Dados para cálculo do ATO.

Parte Ações por ciclo

A

Duração do ciclo

B (min)

Frequência

C= A/B

Duração da tarefa

D (min)

ATO

C x D

Braço 1 0,1 10 20 200

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direito

Braço

esquerdo

0 0 0 0 0

Fonte: AUTOR

Por último, foi possível calcular o índice: IE= ATO/ATR= 200/6,12=32,68

Ou seja: o IE é maior que 3,5. Assim, o risco é presente.

Com relação à aplicação do método OWAS, os resultados encontram-se nas Tabelas 7 e 8.

Tabela 7 - Atividade de empurrar o carrinho

Tarefa 1- Empurrar o carrinho

Dorso – postura 1 – nota 1

Braços – postura 1 – nota 1

Pernas – postura 6 – nota 1

10 % do tempo

Fonte: AUTOR

Tabela 8 - Atividade de guardar livros na prateleira mais alta e para a mais baixa.

Tarefa 2-OWAS para atividade de guardar

livros na prateleira mais alta

Tarefa 2-OWAS para atividade de

guardar livros na prateleira mais

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baixa

Dorso – postura 1

Braços – postura 3

Pernas – postura 1

Carga (até 10 kg) – índice 1

Dorso – postura 2

Braços – postura 1

Pernas – postura 3

Carga (até 10 kg) – índice 1

Fonte: AUTOR

Na Tabela 7, obteve-se o resultado de classificação 1, o que indica que a postura é normal e

dispensa cuidados. O mesmo resultado foi obtido para a tarefa da Tabela 8 de guardar livros

em prateleiras mais altas. Porém, nesse caso, deve-se considerar a carga levantada. Para a

tarefa de guardar livros em prateleiras mais baixas, na Tabela 8, obteve-se o resultado de

classificação 2, indicando que a postura deve ser verificada durante a próxima revisão

rotineira dos métodos de trabalho.

Os resultados do método RULA são apresentados nas Figuras 6, 7 e 8.

Figura 6 - Método RULA para guardar livros nas duas prateleiras inferiores

Fonte: AUTOR

Figura 7 - Método RULA para guardar livros na prateleira do meio

XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos

Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.

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Figura 8 - Método RULA para guardar livros nas duas prateleiras superiores

Fonte: AUTOR

Na Figura 6, a atividade de guardar livros nas prateleiras inferiores obteve pontuação final 6,

o que a enquadra no nível 3, sendo, portanto, recomendável investigar a atividade e realizar

mudanças rapidamente na mesma. Na Figura 7, a tarefa de guardar os livros na prateleira do

meio obteve pontuação final 4, o que significa que ela está no nível 2 e que deve ser

investigada com a finalidade de sofrer possíveis mudanças. Na Figura 8, já a tarefa de guardar

livros nas prateleiras superiores apresenta pontuação final 6, sendo classificada também no

nível 3, o que é recomendável que a atividade seja investigada e alterada rapidamente.

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4.6. Recomendações ergonômicas

- Inserção de novos estrados de modo a confortar os membros inferiores e reduzir o esforço

na região do ombro e pescoço;

- Limpeza periódica de livros e estantes;

- Adequação de roupas utilizadas pelos colaboradores;

- Aumento da ingestão de água;

- Instalação de equipamentos de climatização no ambiente (ar condicionado, ventilador e

umidificador);

- Instrução para realizar movimentos corretos e treinamento para utilizar de forma segura os

equipamentos disponíveis, tais como as escadas;

- Instrução para transporte e levantamento de cargas corretos especialmente até as prateleiras

mais altas;

- Necessidade de revisar os métodos de trabalho utilizados segundo os princípios ergonômicos

da economia de movimentos, tendo como foco problemas posturais;

- Adequação do conjunto mesa-cadeira levando em consideração realmente aspectos

antropométricos e biomecânicos das assistentes-admistrativos.

5. Conclusão

Para que as atividades laborais sejam executadas sem afetar negativamente a saúde dos

trabalhadores, é necessário adequar os elementos do trabalho a esses últimos, de sorte que o

bem-estar seja promovido, o que cria as condições de possibilidade para a elevação da

produtividade e melhoria da qualidade na execução das tarefas. No caso de uma biblioteca

universitária, na medida em que se tem um espaço de trabalho composto por pessoas em

atividade, os princípios anteriores também são concretamente válidos.

Sendo fruto regional do processo de expansão universitário recente ocorrido em várias

Universidades Federais, na biblioteca do campus Pontal da Universidade Federal de

Uberlândia, como compilados na Seção 4, os principais problemas encontrados foram:

inadequação de mesa e cadeira das assistentes-administrativos; alta temperatura devido à falta

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de ventilação do ambiente; acúmulo de poeira nas prateleiras e livros provocando renites

alérgicas; desorganização dos objetos dispostos na zona preferencial; movimentação incorreta

do corpo na atividade de guardar livros. Tais constatações da realidade concreta corroboram o

grande número de reclamações recorrentes sobre as condições de trabalho vigentes por parte

das trabalhadoras da biblioteca.

As soluções propostas na Seção 4.6 para os problemas ergonômicos encontrados são simples

e de fácil implementação. Parte delas já vem sendo implementadas, enquanto outras

encontram-se sob análise por parte da Administração Superior da Universidade. Assim,

juntamente com a análise ergonômica empreendida, o objetivo desse trabalho foi atingido.

REFERÊNCIAS

BELLO, J. L. de P. Metodologia Científica: Manual para elaboração de textos

acadêmicos, monografias, dissertações e teses. Rio de Janeiro: Universidade Veiga de

Almeida, 2007.

GARCIA, P.C.F. Ergonomia em Bibliotecas Universitárias. Santa Catarina: Universidade

Regional de Blumenau, 2009.

IIDA, Itiro. Ergonomia: projeto e produção. 2. ed. São Paulo: Edgard Blücher, 2005.

KASPER, A.A.; LOCH, M.V.P. Análise Ergonômica do trabalho em um posto de

trabalho com ênfase na aplicação do Método OWAS. ANAIS DO CONGRESSO

BRASILEIRO DE ENEGENHARIA DE PRODUÇÃO, Ponta Grossa, 2012.

MÁSCULO, F.S.; VIDAL, C.V. Ergonomia: Trabalho adequado e eficiente. Rio de

Janeiro: Elsevier/ABEPRO, 2011.

OLIVEIRA, S. L. de. Tratado de Metodologia Científica: Projetos de Pesquisas, TGI,

TCC, Monografias, Dissertações e Teses. São Paulo: Ed Pioneira Thomson Learning, 2002.