análise do filme contato

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  • 7/26/2019 anlise do filme Contato

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    Contato: uma reflexo guiada por prticas discursivas

    Contact: thoughts guided by discursive practices

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    As produes artsticas oferecem solo frtil para quem se dispe a investigar a

    humanidade e sua histria! "#o ob$etos de estudo ainda mais convenientes dentro da

    %sicologia "ocial& uma ve' que elas materiali'am costumes& noes comuns ( poca& h)bitos e

    ideias em voga! *las tambm podem traar um panorama interessante de tenses do momento

    em que s#o produ'idas& como& por e+emplo& entre aquilo que dado como hegem,nico e o

    que se mostra marginali'ado e entre o que emerge como novo e o que se sustenta como

    tradi#o!

    -o campo das pr)ticas discursivas a arte pode ser pensada como um meio potente para

    circula#o de repertrios lingusticos e produes de sentidos! %or pr)ticas discursivas&

    compreende.se a abordagem terica e metodolgica de investiga#o da linguagem em uso!

    /rientada pela vertente epistemolgica conhecida como construcionismo social 0"pin1 2

    3re''a& 45556& essa investiga#o pensa a linguagem em uso como pr)tica social e trabalha&

    segundo "pin1 078896& a interface entre os aspectos perform)ticos da linguagem& ou se$a& de

    que modo& com qual inten#o& quando& sob quais circunstncias ela se d)& e as condies que

    fomentam sua produ#o& entendidas tanto em seu conte+to social e interacional quanto no

    sentido foucautiano de construes histricas!

    ;) os repertrios lingusticos& dentro dessa abordagem& s#o entendidos como o

    con$unto de termos& conceitos& lugares comuns e figuras de linguagem nos quais nos

    apoiamos para construir sentido sobre aes& eventos e demais fen,menos a nossa volta!

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    >essa forma& segundo "pin1 078896& trabalhar com pr)ticas discursivas tem como foco

    investigar as maneiras pelas quais as pessoas produ'em sentidos e posicionam.se em

    relaes sociais cotidianas 0p! 7?6! %ara isso feita uma an)lise tanto daquilo que se

    materiali'a no falar& como das relaes que transversali'am a produ#o desse sentido& ou se$a&

    uma an)lise que acaba se revelando tambm cultural e social!

    /s repertrios circulam pela sociedade de formas variadas! *les n#o s#o aprendidos

    formalmente& mas no prprio processo de aprendi'agem da linguagem& em conversas

    corriqueiras& propagandas veiculadas na televis#o& notcias de $ornais& filmes assistidos& livros

    que lemos e assim em diante 0"pin1& 78896! @ma obra de fic#o cientfica& por e+emplo&

    oferta repertrios sobre 0mas n#o e+clusivamente6 a e+plora#o espacial& o espao sideral e

    vida em outros planetas!

    @sei esse e+emplo porque proponho& a partir de uma obra desse g=nero& o filme

    Contato& de obert Bemec1is& uma refle+#o acerca dos repertrios lingusticos para

    constru#o de sentido que circulam entre personagens do filme e como essa constru#o

    legitimada! %orm& antes de avanar nesse ponto& farei uma breve digress#o acerca do g=nero

    fic#o cientfica!

    A verdade est l fora

    >ifundido em diversas mdias& como literatura& cinema& teatro& televis#o e r)dio& o

    g=nero fic#o cientfica possui uma caracterstica peculiar: uso da hiprbole! -#o se trata do

    e+agero puro e simples& mas de destacar uma caracterstica ainda emergente do presente e

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    ma+imi').la& iniciando& a partir desse movimento& a narrativa ficcional! "endo assim& a fic#o

    cientfica fa' uma discuss#o do tempo presente a partir de um futuro que fantasiado!

    Contato uma obra consagrada no g=nero n#o apenas por seus mritos artsticos& mastambm por ser um romance escrito por Carl "agan& renomado astr,nomo& colaborador da

    -ational Aeronautics and "pace Administration 0-A"A6 e intenso entusiasta da divulga#o

    cientfica! "agan foi o respons)vel& entre outras atribuies not)veis& por desenvolver e

    preparar o >isco de /uro da espaonave

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    Repertrios lingusticos e legitimao

    Contatofa' uma feli' discuss#o acerca de como as pessoas tentam dar sentido ao fato

    de e+istir vida fora da erra! / filme investe boa parte do seu segundo ato nas especulaes

    acerca desse tema& e+ibindo tanto personagens importantes ( trama quanto reaes de

    populares! @m recurso bastante utili'ado mostrar inseres de programas de televis#o

    fictcios que debatem o novo achado para& assim& e+plicitar reaes diversas diante do choque!

    Como apontam "pin1 e Kedrado 045556& a mdia tem papel fundamental na produ#o de

    sentido: ela um meio poderoso de cria#o e circula#o de conteLdos simblicos& pelo seu

    car)ter pervasivo no mundo contemporneo e porque confere visibilidade aos acontecimentos&

    tanto aquilo que se repete e se apresenta como hegem,nico quanto o que incipiente e as

    descobertas!

    A revela#o abordada no filme coloca em +eque as convices que temos& fa'endo

    com que a humanidade lide mais uma ve' com uma ferida narcsica! /u& em outras palavras& a

    necessidade de repensar os paradigmas que sustentam nossos sistemas de sentido! "e n#o

    estamos ss no universo& como manter nossa $) indefens)vel rela#o antropoc=ntrica diante da

    nature'aH "e h) vida inteligente fora da erra& como ficam nossos sistemas de f que colocam

    os humanos como protagonistasH "e h) comunica#o vinda de uma civili'a#o de outro

    planeta& como pensar cultura como sin,nimo de produ#o intelectual humana e aquilo que nos

    diferencia dos outros animaisH /nde se amparar para produ'ir sentido diante do

    desconhecidoH

    %ode parecer curioso e parado+al& mas o amparo vem $ustamente daquilo que parecia

    ter se desmanchado quando confrontado pelo novo! /s militares entendem o contato como

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    uma ameaa ( nossa civili'a#o& como se estivssemos su$eitos ( aniquila#o& em um claro

    movimento antropoc=ntrico de pensar o humano no topo da nature'a! /s religiosos entendem

    o fen,meno como se fosse um sinal divino!

    ;) os cientistas constroem variados sentidos para essa quest#o& o que esperado uma

    ve' que os personagens s#o em imensa maioria pesquisadores e& portanto& possuem maior

    tempo de tela e maior protagonismo na trama! @m desses sentidos o de enigma& como se o

    contato fosse um mistrio a ser desvendado! /utro& bastante similar& o de pesquisa cientfica&

    em que uma metodologia criteriosa precisa ser aplicada visando elucidar a problem)tica! /

    que se destaca que em ambos os casos os cientistas fa'em uso de parmetros conhecidos&

    que e+plicam o que at ent#o conhecemos como realidade& para tentar elucidar o

    desconhecido que quebra paradigmas!

    *ssa apar=ncia de parado+o se prova& quando analisada atentamente& falsa! M sabido

    que os repertrios lingusticos s#o construdos historicamente! ais repertrios& vale lembrar&

    s#o interpretativos& o que implica em di'er que h) uma historicidade na produ#o de sentido!

    >essa forma& mesmo diante de uma eventual novidade& o sentido construdo& por ser histrico&

    carrega substrato de significaes do passado! /s sentidos que atribumos (s coisas s#o

    legitimados na histria& portanto esse processo contnuo& est) su$eito a alteraes e nem

    sempre se d) sem enfrentar resist=ncias!

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    n#o! Como aponta ose 07844b6& se atentar (s contingencias considerar as questes do

    tempo que fi'eram surgir crenas e pr)ticas!

    Crenas e pr)ticas que& baseado em ose 07844a6& n#o s produ'em sentidos&parmetros e conhecimentos& mas tambm possuem implicaes de governamentalidade e

    constroem setores da realidade& tornando pratic)veis aspectos da e+ist=ncia at ent#o

    desconsiderados! "endo assim& esses parmetros n#o s fa'em a leitura do que o mundo

    como conhecemos& mas tambm demarcam seu limite e seu regime de verdade!

    *m Contatoa apro+ima#o dos pesquisadores ao desconhecido se d) gradualmente eancorada em parmetros familiares! entam desvendar a comunica#o fa'endo uso da

    matem)tica e da fsica que conhecemos& o que leva os personagens a emperrar em seus

    avanos e n#o conseguirem compreender completamente as novidades que surgem! *m

    determinada cena um deles tem um momento de clare'a e afirma que preciso pensar como

    um vegano!

    -osso modelo cientfico pautado em evid=ncias e representa o mundo que

    conhecemos e a forma como o en+ergamos! *ssa a t,nica do pensamento: descartamos o

    que n#o pode ser provado ou comprovado! *sse descartar n#o uma simples desconsidera#o&

    mas a atribui#o de sentido de que aquilo n#o tem tanta importncia ou n#o corresponde (

    verdade e & portanto& algo menor! /u tambm que se trata de uma fic#o ou especula#o!

    >essa forma& o momento do inqurito& ou do $ulgamento& de ArroGay n#o revela

    apenas uma infeli' viol=ncia de g=nero contra a cientista& como tambm um confronto entre

    nossos parmetros de conhecimento e verdade e aquilo que aconteceu e est) fora de nossos

    domnios! *st) armado um impasse: se os veganos s#o mais avanados tecnologicamente que

    ns& como usar nossos parmetros para argumentar que nada aconteceuH entar&

    forosamente& articular nossos recursos para interpretar o ocorrido lidar com o que temos (

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    disposi#o no momento& mas isso n#o implica& pegando emprestado um termo de Nould

    045586& utili'ar uma caladeiraH

    M possvel fa'er um paralelo entre essa sequ=ncia de Contatocom os esforosnecess)rios para a desfamiliari'a#o de conceitos! %or desfamiliari'a#o entende.se& como

    apontam "pin1 e 3re''a 045556& o trabalho de refle+#o que possibilita problemati'ar conceitos

    que se sedimentaram& abrindo espao para novas construes de sentidos! D) na

    desfamiliari'a#o uma coe+ist=ncia de novas construes com anteriores& impregnadas nos

    costumes e pr)ticas& que oferecem resist=ncia ao novo enquanto ainda alimentam o acervo de

    repertrios para dar sentido ao mundo! rata.se& ent#o& de um movimento que e+ige empenho

    para evitar que o antigo e tradicional silencie o emergente& assim como os ouvintes de

    ArroGay precisariam e+ercer ao ouvir seu relato!

    %or fim& Contatooferta possibilidades para pensar tanto a discuss#o do que ou n#o

    cientfico nos parmetros do sculo II e IIE como nossas produes de sentido& acad=micas

    ou n#o& evidenciando a polissemia e+istente nesse movimento! "e atentar a essa articula#o

    dos sentidos& que n#o s#o imut)veis e est#o em constante constru#o& e como eles s#o

    sustentados um dos desafios da investiga#o orientada pelos pressupostos das pr)ticas

    discursivas!

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    Referncias!

    JoGie& >! 045?76! "tarman! En The Rise and Fall of Ziy Stard!st and the Spiders

    from "arsOC>P! -ova Qor1& -Q: CA ecords!

    Nould& "!;! 045586! A vis#o de Ralcott e a nature'a da histria! En "!;! Nould& #ida

    mara$ilhosa0pp! 7?S.T986! "#o %aulo& "%: Companhia das Uetras!

    ose& -! 07844a6! A psicologia como uma tecnologia individuali'ante! En -! ose&

    In$entando nossos selfs% &sicoloia' poder e s!()eti$idade0pp! 49T.4S76! %etrpolis& ;:

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    "pin1& K!;! 2 3re''a& !K! 045556! %r)ticas >iscursivas e %rodu#o de "entido! En

    K!;! "pin1 0/rg!6&r3ticas disc!rsi$as e prod!01o de sentidos no cotidiano% aproxima04es

    te,ricas e metodol,icas0pp! 4.746! "#o %aulo& "%: Corte'!

    "pin1& K!;! 2 Kedrado& J! 045556! %rodu#o de "entido no Cotidiano! En K!;! "pin1

    0/rg!6 %r)ticas discursivas e produ#o de sentidos no cotidiano: apro+imaes tericas e

    metodolgicas 0pp! 77.946! "#o %aulo& "%: Corte'!

    "tengers& E! 078876! A ci=ncia sob o signo do acontecimento! En E! "tengers&* in$en01o

    das ci5ncias modernas0pp! W5.48?6! "#o %aulo& "%: *ditora T9!

    Bemec1is& !U! 0>iretor6! 0455?6! ContatoO>P! Jurban1& CA: Rarner Jros!