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Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas Teoria da Imagem Henrique Saldanha Santos -2º. Ano CC / 2009-05-03 A presente análise fílmica diz respeito ao filme Tropa de Elite, da autoria de José Padilha e concernente ao ano de 2007. Em jeito de contextualização, é relevante referir que se trata de um filme brasileiro, sendo actualmente difícil um filme proveniente destas origens obter sucesso a nível mundial, num mercado dominado e monopolizado pelas películas norte-americanas, oriundas de Hollywood. Tido como excepção à regra, Tropa de Elite teve bastante sucesso, devido em parte, ao tema retratado. Tema este bastante sensível e que mexe com as pessoas, choca, sensibiliza, desperta, consciencializa. De modo a dar a entender o excerto a ser analisado e a compreendê-lo melhor, penso ser importante elaborar uma sinopse do todo da película, de modo a disponibilizar alguma informação necessária para a percepção e enquadramento do excerto em questão. Assim, o Capitão Nascimento é o comandante de um esquadrão do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE), a tropa de elite da polícia do Rio de Janeiro. Ele quer deixar o posto, pois está prestes a ser pai e tem frequentes ataques devidos ao stress e à dificuldade de realizar o seu trabalho na corporação, mas primeiramente, necessita de encontrar um substituto à altura. Aos poucos, começam a despertar a sua atenção como candidatos, os aspirantes Neto e Matias, amigos de infância que dividem a mesma indignação com toda a corrupção que vêem na polícia convencional, ou seja da 1

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A presente análise fílmica diz respeito ao filme Tropa de Elite, da autoria de José Padilha e concernente ao ano de 2007

Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas

Teoria da Imagem

Henrique Saldanha Santos -2º. Ano CC / 2009-05-03

A presente análise fílmica diz respeito ao filme Tropa de Elite, da autoria de José Padilha e concernente ao ano de 2007. Em jeito de contextualização, é relevante referir que se trata de um filme brasileiro, sendo actualmente difícil um filme proveniente destas origens obter sucesso a nível mundial, num mercado dominado e monopolizado pelas películas norte-americanas, oriundas de Hollywood. Tido como excepção à regra, Tropa de Elite teve bastante sucesso, devido em parte, ao tema retratado. Tema este bastante sensível e que mexe com as pessoas, choca, sensibiliza, desperta, consciencializa.

De modo a dar a entender o excerto a ser analisado e a compreendê-lo melhor, penso ser importante elaborar uma sinopse do todo da película, de modo a disponibilizar alguma informação necessária para a percepção e enquadramento do excerto em questão. Assim, o Capitão Nascimento é o comandante de um esquadrão do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE), a tropa de elite da polícia do Rio de Janeiro. Ele quer deixar o posto, pois está prestes a ser pai e tem frequentes ataques devidos ao stress e à dificuldade de realizar o seu trabalho na corporação, mas primeiramente, necessita de encontrar um substituto à altura. Aos poucos, começam a despertar a sua atenção como candidatos, os aspirantes Neto e Matias, amigos de infância que dividem a mesma indignação com toda a corrupção que vêem na polícia convencional, ou seja da Polícia Militar. A partir daqui, seguem inúmeros acontecimentos, carregados de acção, violência, stress, emoção e o despertar o mundo para os problemas de corrupção no Brasil.

Devido ao facto de ser um filme que foge aos convencionais padrões adoptados na sétima arte, Tropa de Elite apresenta-se, deste modo, como uma fusão de diferentes géneros, não me sendo possível definir nenhum em concreto. No entanto apresenta um fusão de géneros como a acção, na medida em que se foca muito a força e a posição de um bem contra um mal, documentário, pois explora e retrata a realidade vivida nas favelas do Rio de Janeiro, e tragédia/drama, devido à carga emotiva que transparece não só através da alusão à corrupção, como também ao sofrimento individual e à carga dramática da situação que se vive e onde ocorrem um sem número de mortes e torturas.

Personagem principal: Capitão Nascimento, sobre o qual se foca o excerto, sendo o mesmo a narrar parte o enredo.

Ambiente Físico: Favela do Rio de Janeiro/ Sala de aula/ Oficina da Polícia.

Ambiente Social: Corrupção, insegurança, violência e pobreza.

Ambiente Psicológico: Medo, revolta, ganância, sofrimento e camaradagem.

Análise das Cenas

No início do excerto deparamo-nos com o Capitão Nascimento e a sua unidade a recorrer à violência de modo a obter informações sobre um traficante de droga procurado pela polícia. Nesta cena em concreto, como aliás na quase totalidade do excerto é utilizado o recurso ao zoom – in ou o dolly in ou travelling, de modo a enfatizar a expressão de dor e sofrimento, transparecendo para o espectador essa mesma carga dramática, como se este estivesse efectivamente a presenciar o acto.

Momentos depois, e após o recurso à câmara objectiva, bem como ao close-up , permitem uma focalização intensa da expressão de cansaço e ao mesmo tempo de não satisfação e ingratidão por parte do Capitão. Assim o é, pois apesar de querer combater o crime e a corrupção a todo o custo, não se sente totalmente a vontade com o recurso à violência gratuita e à tortura, contudo o fim procurado por ele é o que mais lhe importa.

Ao ocorrer a mudança de cena, surge o quadro escolar de um fade-in, depois câmara parte de um zoom-in, vagueando em ambos os eixos, como se o espectador estivesse efectivamente em cena. Close-up no rosto da rapariga, que juntamente com outros colegas dissertam sobre a violência e corrupção policial, tese a ser debatida na aula que decorre.

Esta frame do excerto é elucidativa na questão de ao longo do filme se utilizar bastante o recurso a este tipo de ângulo, bem como à deambulação e à câmara descritiva, com o intuito de transmitir ao espectador a sensação de integrar o elenco e integrar a acção do mesmo, olhando e explorando à sua volta. No debate em questão, apesar de algumas ligeiras divergências, todos os alunos partilham da mesma opinião, concernente aos polícias serem, de um modo geral, corruptos. É importante percepcionar que também a classe média/alta brasileira tem consciência da corrupção e agressividade excessiva da polícia.

A cena seguinte, retratada nestas duas imagens, comprova exactamente a tese debatida na aula da cena anterior, em que uma mãe vem pedir ao Capitão Nascimento para enterrar o filho que havia morrido num confronto no morro, em que apesar de no ter sido morto pela polícia especial, foi morto pelo traficante que tinha denunciado. Estamos aqui perante um plano americano de diálogo, e um movimento dramático da objectiva, num cenário com tons pesados, tristes e sombrios, acentuando o drama.

Nascimento fica com remorsos, sentimento que naquela profissão se revela perigoso, pelo qual pretende arranjar um substituto. É aqui que surge a apresentação de Neto, primeiramente em plano de fundo, posteriormente dá-se o travelling para a frente terminando num close-up, de modo a dar a conhecer o Tenente Neto. O resto da cena ocorre um travelling novamente em todos os eixos, como que se a câmara seguisse Neto, mostrando o seu dia-a-dia, apresentando-se, assim.

A sequência de frames, adjacente ao desenrolar da cena demonstra o carácter honesto de Neto e a razão para ser uma das escolhas de Nascimento.

Nesta parte da cena em concreto a câmara assume várias perspectivas, como o plano oblíquo e os vários tipos de travelling, transmitindo a sensação de movimento e irrequietação do carro em movimento, como do tom agressivo da conversa.

Plano panorâmico ou plano geral de uma rua do Rio de Janeiro, o pano de fundo de toda a acção, transparecendo, deste modo, o ambiente e a descrição do local.

Esta cena retrata perfeitamente um dos muitos actos de corrupção policial, o Nascimento relatando em voz de fundo refere que “quando o cidadão quer uma viatura na frente da sua padaria, da sua loja, tem que pagar à polícia”. Aqui, o polícia da esquerda afirma em tom intimidativa que o proprietário já fechou a caixa, mas tem de levar a merenda para a família. No entanto, é Neto quem decide pagar a despesa, mesmo depois do colega se ter ausentado. Aqui está reflectido a sua bondade e carácter honesto.

O excerto do filme analisado termina com uma discussão entre os dois polícias que acabam de sair do café (Neto e o colega) com outro polícia, afecto ao trânsito, que se encontra a rebocar os carros a porta do estabelecimento. Discutem pois, o suborno a que se propuseram implica que o proprietária possa ali estacionar, e aqui é que surge a desorganização, imprudência e conflito quer pelas próprias regras vigentes, quer por interesses pessoais. Ocorre o plano americano, tratando-se de um diálogo/discussão, com o recurso ao travelling para frente e para trás, consoante a intensidade e o tom da discussão, bem como alguns close-ups, demonstrando as feições de insatisfação dos intervenientes, razão pela qual discutem

Após a análise das variadas componentes fílmicas do excerto do filme Tropa de Elite e após a contextualização do mesmo, é perceptível que se trata de um filme que rompe com a monotonia e traz uma nova abordagem, inovadora e capaz reter a atenção de qualquer um, apenas podendo ser comparado com outro filme também de autoria brasileira, A Cidade de Deus, retratando também os problemas de pobreza e os conflitos nas favelas do Brasil. Dotada de características singulares, no que diz respeito aos planos e aos tipos de foco e de câmara, em que esta nunca parece estar estável, dando a sensação de movimento constante e de um olhar como se estivéssemos presentes, criando sempre um certo suspense e ansiedade pelo que irá acontecer. O facto de ser em língua portuguesa (do Brasil) dá um enriquecimento expressivo às cenas, onde a linguagem pesada, rude e ofensiva se alia às cores escuras, e aos tons sombrios de todo o excerto, evocando assim, talvez um clima de negatividade, associado à criminalidade e corrupção num dos países mais perigosos do mundo.

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