"campanha de divulgação impressa de um filme - análise do cartaz"

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Curso de Comunicação e Expressão Visual Habilitação em Design Gráfico Campanha de divulgação impressa de um filme - Análise do Cartaz. Trabalho de Conclusão de Curso para obtenção do grau de Bacharel em Comunicação e Expressão Visual – Habilitação Design Gráfico Marcio Luz Scheibel Orientação: Prof. Luíz Fernando Gonçalves Figueiredo, Dr. Florianópolis, 02 de Abril de 2004.

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Monografia de Conclusão de Curso (TCC) para Graduação em Comunicação e Expressão Visual - Design Gráfico

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Page 1: "Campanha de divulgação impressa de um filme - Análise do Cartaz"

Curso de Comunicação e Expressão Visual

Habilitação em Design Gráfico

Campanha de divulgação impressa de um filme - Análise do Cartaz.

Trabalho de Conclusão de Curso para obtenção do grau de

Bacharel em Comunicação e Expressão Visual – Habilitação Design Gráfico

Marcio Luz Scheibel

Orientação: Prof. Luíz Fernando Gonçalves Figueiredo, Dr.

Florianópolis, 02 de Abril de 2004.

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Marcio Luz Scheibel

Campanha de divulgação impressa de um filme - Análise do Cartaz.

Trabalho de Conclusão de curso apresentado à disciplina EGR5010, como requisito

parcial à conclusão do curso de Comunicação e Expressão Visual - Bacharel em Design

Gráfico, Departamento de Expressão Gráfica, Centro de Comunicação e Expressão Visual,

Universidade Federal de Santa Catarina.

Orientador: Prof. Luíz Fernando Gonçalves Figueiredo, Dr.

Florianópolis

2004

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Dedico este trabalho à minha filha Bárbara.

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Agradeço à amiga e designer Camila Paz, pelo seu auxílio imprescindível, sem o qual

este trabalho não teria sido concluído.

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RESUMO

SCHEIBEL, Marcio L. Análise de Cartazes. 2004. Monografia (Graduação em

Comunicação e Expressão Visual) – Departamento de Expressão Gráfica, UFSC,

Florianópolis, SC. Esta monografia apresenta um estudo teórico e prático de cartazes,

realizando a leitura de cartazes de cinema através da semiótica greimasiana e teorias de

layout, design e percepção visual. Os cartazes estudados são cartazes recentes, de meados da

década de 90, e são dissecados e analisados revelando suas mensagens e significações, tão

importantes para atingir o público-alvo desejado, que é um dos principais objetivos ao se

criar uma peça de design.

Palavras-Chave: Cartaz de Cinema, Design Gráfico, Leitura de Imagens e Semiótica

Francesa.

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SUMÁRIO

TU1. IntroduçãoUT .................................................................................................................8

TU1.1 Uma breve história dos cartazes de cinemaUT................................................................... 8

TU2. Fundamentação TeóricaUT.........................................................................................18

TU2.1 SemióticaUT......................................................................................................................... 18

TU2.2 Percepção VisualUT............................................................................................................ 24

TU2.3 O papel do designerUT ....................................................................................................... 27

TU3. DesenvolvimentoUT .....................................................................................................28

TU3.1 Análise de cartazesUT......................................................................................................... 28

TU3.1.1 Os SuspeitosUT ........................................................................................................................... 30

TU3.1.2 Forrest GumpUT .......................................................................................................................... 36

TU3.1.3 Pulp FictionUT ............................................................................................................................ 41

TU4. ConclusãoUT ................................................................................................................44

TU4.1 Sugestão de trabalhos futuros.UT...................................................................................... 45

TU5. ReferênciasUT ..............................................................................................................47

TU5.1 Referências BibliográficasUT............................................................................................. 47

TU5.2 Referências na Internet:UT................................................................................................ 50

TU5.3 Referências somente de figuras:UT ................................................................................... 51

TU5.4 Referências multimídia:UT ................................................................................................ 51

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ÍNDICE DE FIGURAS

TUFigura 1 – Cartaz para o “Cinematographe Lumiere”UT ...............................................................9

TUFigura 2 – Cartazes do filme “O Garoto”, de Charles Chaplin.UT ..............................................10

TUFigura 3 – “Mertópolis”, “O Cantor de Jazz” e “King Kong”UT.................................................10

TUFigura 6 - “Um Corpo Que Cai”, “Dr. Strangelove” e “ Laranja Mecânica”UT..........................14

UTFigura 9 – Trilogias de sucesso dos anos 80: “Indiana Jones” e “De Volta Para o Futuro”s.T 16U

TUFigura 10 - “Matrix” dos Irmãos Wachowsky e “Clube da Luta”, de David Fincher.UT ............17

TUFigura 11 - Quadro de Pontos (Fonte: APARICI & GARCÍA-MATILA, p.18)UT.....................25

TUFigura 12 - Cartaz original do filme “Os Suspeitos”, de Bryan Singer. (1995)UT ......................30

TUFigura 13 - Decomposição de elemento básicos – Plano de Expressão.UT ................................31

TUFigura 14 - Eixo vertical principal, e eixos diagonais secundários.UT ........................................32

TUFigura 15 - Direção primária do olhar.UT ....................................................................................33

TUFigura 16 - Direção do olhar leva ao “suspeito”.UT.....................................................................34

TUFigura 17 - Cartaz original do filme “Forrest Gump – O Contador de Histórias”, de Robert

Zemeckis. (1994)UT ...............................................................................................................36

TUFigura 18 - Elementos do cartaz de Forrest Gump.UT .................................................................37

TUFigura 19 - Direção do Olhar.UT..................................................................................................39

TUFigura 20 - Cartaz Original do Filme “Pulp Fiction” de Quentin Tarantino. (1994)UT ..............41

TUFigura 21 - Elementos principais do cartazUT .............................................................................43

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1. Introdução

Esta monografia apresenta um estudo teórico e prático de cartazes, realizando a leitura

de cartazes de cinema através da semiótica greimasiana e teorias de layout, design e

percepção visual. Os cartazes estudados são cartazes recentes, originais em inglês, de filmes

americanos, de meados da década de 90, e são dissecados e analisados revelando suas

mensagens e significações, tão importantes para atingir o público-alvo desejado, que é um

dos principais objetivos ao se criar uma peça de design.

1.1 Uma breve história dos cartazes de cinema

Os primeiros cartazes de cinema feitos foram divulgações de sessões de cinema, e não

de um filme específico. O primeiro cartaz desse tipo teria sido produzido em 1890 por Jules

Cheret, e era um anúncio para uma série de filmes chamada “Projeções Artísticas”. Esses

cartazes não representavam um único filme, e sim, o cinema em si. O cartaz não tinha

relação com a história a ser exibida (POOLE). Na Figura 1 vemos um cartaz de 1895 para as

sessões de cinema do Cinematógrafo dos irmãos Lumiére.

O primeiro cartaz feito para um único filme foi produzido em 1896. O filme era

“L’Arroseu Arrose”, dos irmãos Lumiére.

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T

Figura 1 – Cartaz para o “Cinematographe Lumiere”

No início do século XX, os cartazes foram padronizados em tamanho e, de certa

forma, até em conteúdo, pois eram todos feitos pela mesma empresa, a A.B. See Litograph

Company (POOLE). O “padrão” incluía que todas as ilustrações teriam de ser

completamente inofensivas, e eram, em sua grande maioria, o ator principal acompanhado

da “mocinha” do filme. Nessa época, nenhum nome de ator era conhecido ainda.

Em 1910 começaram a aparecer outras companhias independentes de produção de

cartazes, que chamavam mais o público pois traziam cenas de romance ou ação, coincidindo

com o sucesso da atriz Florence Lawrence após a divulgação de seu nome, criando um

padrão de cartazes mais interessante, e onde o destaque nos letreiros era a estrela principal

do filme, e não a produtora ou o título do filme.

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Figura 2 – Cartazes do filme “O Garoto”, de Charles Chaplin.

Na década de 20, os cinemas ficaram bem maiores, e vários tipos de cartazes eram

produzidos para o mesmo filme, inclusive para completar os espaços de divulgação sem

tanta repetição. Os filmes de Charles Chaplin eram grandes sucessos. Na figura 2 vemos um

exemplo desses cartazes em “O Garoto”, primeiro longa-metragem de Charles Chaplin

(1921).

Figura 3 – “Mertópolis”, “O Cantor de Jazz” e “King Kong”

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Foi produzido o primeiro filme falado da história, “O Cantor de Jazz”, de 1927, cujo

cartaz está na figura 3, juntamente com os cartazes de “Metrópolis”, de Fritz Lang, e do

clássico “King Kong” (1933).

A década de 30 ficou conhecida como a “Era Dourada dos Filmes”, de onde emergiu

os musicais de Hollywood, os filmes de gângsteres, e os filmes de horror. Muitos clássicos

eternos foram produzidos nessa época, como “E O Vento Levou...” (Gone With The Wind),

“O Mágico de Oz” (Wizard of Oz), “Frankestein”, “Dracula”, “King Kong” (FIGURA 3) e

“A Múmia” (The Mummy).

Na década de 40, o mundo inteiro se via em perigo com a segunda guerra mundial, e

os cartazes de cinema precisavam atrair o público que por sua vez, queria uma fuga da

realidade dos tempos de guerra, uma fuga para mundos de glamour e luxúria. Com estrelas

do porte de Humphrey Bogart, Ingrid Berman e Rita Hayworth, dirigidos por mestres como

Alfred Hitchcock e Billy Wilder, clássicos inesquecíveis surgiram neste período conturbado,

como “Casablanca”, com cartaz criado por Bill Gold, e o italiano "The Lady From

Shanghai" com a deusa do cinema Rita Hayworth, com cartaz criado por Anselmo Ballester

(POOLE e SALISBURY). Alfred Hitchcock estava mostrando todo o seu talento com

sucessos como “Spellbound” e “Rope”.

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Figura 4 - Cartaz do Clássico “Cleópatra”

Com o fim da segunda guerra, nos anos 50, os estúdios começaram a produzir ficções

cientificas, comédias, e alguns filmes “B” para satisfazer a demanda do público por

“fantasias”. Foi também o tempo do ícone de toda uma geração, James Dean e a chegada e

sucesso do cantor Elvis Presley. Começaram a ser produzidos filmes em Technicolor,

Cinemascope e “3-D”, em resposta a ameaça emergente da televisão, pois estas

características só podiam ser apreciadas nas salas de cinema. Os cartazes começaram a ser

fotográficos e com letras grandes, muitos eram feitos em formato “paisagem”, numa alusão

ao Cinemascope e formatos largos, e para serem colocados em grandes outdoors para atingir

ao público que passava de carro. Um exemplo destes cartazes está na figura 4.

Provavelmente a imagem eterna dos cartazes dos anos 50 tenha sido a saia flutuante de

Marilyn Monroe em "O Pecado Mora ao Lado” (Seven Year Itch). Saul Bass faz o design do

cartaz de “O Homem do Braço de Ouro” (The Man With The Golden Arm), de 1955, sobre

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um viciado em drogas, e que assinala um desvio radical nos cartazes de filmes: em vez de

retratar o enredo, as imagens usam uma simbologia forte para expressar a essência do filme,

e não seus atores ou mesmo sua história (FIGURA 5). Seria a primeira grande interferência

do design nos cartazes dos filmes. Saul Bass depois criaria cartazes como o de “O Corpo

Que Cai” (“Vertigo”, Figura 6), de Hitchcock, que continua produzindo grandes sucessos

durante a década de 50.

Figura 5 - Cartaz de “O Homem do Braço de Ouro”

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Figura 4 - “Um Corpo Que Cai”, “Dr. Strangelove” e “ Laranja Mecânica”

A década de 60 trouxe James Bond (e várias seqüências), e o sucesso dos musicais de

Elvis Presley, que desencadeou interesse de adolescentes por cartazes de cinema com a face

do ídolo. Os filmes começaram a ficar mais orientados a adultos, tendo sexo, nudez, e

violência excessiva, e os cartazes começaram a refletir essa tendência também. Hitchcock

permanece um nome forte com sucessos como “Os Pássaros” e “Psicose”.

Antes dos anos 70, era comum cada país refazer os cartazes quando do lançamento de

filmes estrangeiros, para atender aos gostos locais, à censura e cultura próprias de cada país.

Nos anos 70, no entanto, começou a ser comum vários países usarem a mesma arte do país

de origem, como aconteceu no filme “Tubarão” (Jaws), de Steven Spielberg (FIGURA 8),

cuja arte permaneceu idêntica em quase toda a Europa, no Japão, e em vários países do

mundo (POOLE). Os cartazes começaram a competir com a divulgação em massa ocorrida

em televisão, rádio e o uso intenso dos trailers. Mesmo assim, muitos cartazes excelentes,

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de filmes igualmente memoráveis, foram criados nesta época, como os cartazes de “Alien –

O 8º. Passageiro”, “Superman – O Filme”, de Richard Donner (FIGURA 8) e “Guerra nas

Estrelas” (1977) de George Lucas.

Figura 7 - “Tubarão” de Steven Spielberg,.

Figura 8 - “Superman”, de Richard Donner.

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Figura 5 – Trilogias de sucesso dos anos 80: “Indiana Jones” e “De Volta Para o Futuro”s.

A década de 80 deixa claro na produção de cartazes sua marca registrada: o excesso,

inclusive nas roupas e na moda. Cores, tecnologia e uma enxurrada de filmes de ficção,

aventura e “terrir” (terror com comédia), muitos de qualidade duvidosa, foram sustentados

por grandes bilheterias e uma notável melhora nas finanças dos estúdios. Os efeitos

especiais começaram a ser tão importantes quanto o roteiro do filme, competindo inclusive

com os atores. Muitas técnicas foram criadas e aperfeiçoadas nessa época (IMDB, Oscar®),

e o computador começou sua forte contribuição nos efeitos visuais com a computação

gráfica em franca expansão. Novamente, alguns grandes filmes e cartazes viraram ícones

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dessa época, como “ET – O Extra-Terrestre”, “O Iluminado”, “O Exterminador do Futuro”,

“Caçadores da Arca Perdida” e “De Volta Para o Futuro”.

Figura 6 - “Matrix” dos Irmãos Wachowsky e “Clube da Luta”, de David Fincher.

Os anos 90 trouxeram uma tecnologia mais madura, refletida nos efeitos e cartazes, no

estilo “MTV”, e inclusive com um maior reconhecimento e presença do design tanto nos

filmes quanto na produção do material de divulgação (SALISBURY). Este foi um dos

motivos dos cartazes analisados serem desta década, pois se fez necessário restringir o

campo de análise para fins práticos, e um fator interessante para a comparação das análises.

A escolha de cartazes recentes e filmes conhecidos também visou atingir melhor o público

alvo que irá ler e consultar este trabalho, em sua grande maioria acadêmicos desta

Universidade, que já assistiram esses filmes recentemente e que têm apelo nesta faixa etária.

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2. Fundamentação Teórica

2.1 Semiótica

Por semiótica entende-se um sistema de signos ou de símbolos que permitem a

comunicação entre os homens. A semiótica pode ser usada como uma ferramenta capaz de

apontar no signo escolhido os elementos trabalhados na representação, sua relação com o

objeto e seus significados. Na teoria semiótica de Greimas (GREIMAS), enunciador é

aquele que cria e enunciatário é o destinatário da mensagem. Para ele, o enunciatário -

receptor de um enunciado - “não é apenas um destinatário da comunicação, mas também

sujeito produtor de discurso, por ser a leitura um ato de linguagem da mesma maneira que o

discurso propriamente dito.”

Para estudar os cartazes selecionados, propõem-se a decomposição destes em seus

sub-textos, de acordo com as proposições semióticas greimasianas, usando como modelo de

leitura, o desenvolvido por OLIVEIRA (1995), que faz um estudo de textos visuais a partir

de proposições semióticas, dividindo a mensagem principal em plano de expressão (os

elementos que estruturam a imagem) e plano de conteúdo (o significado conotativo da

imagem) permitindo analisar e compreender melhor os tipos de mensagens que os textos

visuais podem transmitir e servir como base para a construção de uma estrutura de análise da

mensagem no discurso do design gráfico.

Plano de Expressão: os elementos que estruturam a imagem, a sintaxe visual, ou seja,

todos os elementos constitutivos e seus procedimentos relacionais (ponto, linha, plano, cor,

textura).

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Plano de Conteúdo: O conteúdo simbólico dos elementos organizado pela sintaxe no

plano de expressão. Plano de expressão e plano de conteúdo são inseparáveis e

interdependentes: não existe plano de conteúdo sem plano de expressão e vice-versa.

Os elementos constitutivos que estruturam a imagem, definidos aqui como plano de

expressão, são as estruturas básicas de formação de uma imagem, que segundo DONDIS

(1991), seriam:

Ponto: unidade simples e irredutível, que encerra grande poder de atração cobre o

olho;

Linha: resultado de pontos em movimento, impossíveis de serem identificados

individualmente, os quais tem a capacidade de aumentar o sentido da direção;

Forma: tudo o que é descrito pela linha;

Direção: atributo das formas que pode se dar através de três possibilidades básicas,

que são o sentido horizontal e vertical, que diz respeito ao quadrado; o sentido em diagonal,

que diz respeito ao triângulo; e as curvas, que seguem a direção do círculo;

Tom: resultado de maior ou menor incidência de luz sobre um objeto;

Cor: seja resultante de luz ou pigmento, se apresenta em três dimensões, que são a

matriz ou croma, que é a cor em si; a saturação, ou matiz do cinza; e o brilho, relativo ao

tom por isso difere da saturação;

Textura: qualidade tátil das superfícies, visível em função de efeitos de luz e sombra,

cuja qualidade observável permite explorar na imagem um sentido não visual, que é o tato;

Escala: paradigma de mensuração utilizado para estabelecer o tamanho relativo das

imagens visuais, estabelecido através de relações de justaposição;

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Dimensão: tamanho das formas, que é sempre ilusória já que em representações

bidimensionais da realidade não existe uma dimensão real;

Movimento: dinâmica das formas no texto estético, elemento visual mais implícito do

que explícito, já que estamos nos referindo a imagens estáticas.

Segundo DONDIS, a técnica visual mais importante para o controle da mensagem é o

contraste, que evidencia oposições ou polaridades, e pode se dar nas formas, nas assimetrias,

no valor, na textura, nas linhas, no tamanho, na proporção, no tom, na cor e na escala,

intensificando o significado.

Já segundo AUMONT (1993), os elementos que constituem uma obra ou imagem

podem ser classificados em: superfície (organização, composição, bordas); valores

(luminosidade, contraste, preto e branco e diferentes matizes de cinza e branco); cores (cores

e contraste); elementos gráficos simples (presentes principalmente me imagens abstratas); e

matéria (pinceladas no código pictórico ou grãos de película fotográfica). AUMONT

definiria ainda um conceito de estrutura que pode ser usado para a leitura de imagens

estéticas, onde a imagem seria composta de elementos simples, combinados até compor

formas e elementos mais complexos.

SOUZA define os elementos morfológicos da obra como:

Linha: é a trajetória de um ponto, limite do plano, eixo da figura, contorno do objeto

tridimensional; as verticais e horizontais propiciam estabilidade, enquanto que as inclinadas

movimentam-se em direção de sua inclinação; as grupadas conferem tensão e as curvas

movem-se na direção do impulso maior, que pode ser determinado pela espessura; os

ângulos apontam em direção ao ápice e a perspectiva consiste em linhas implícitas criando a

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impressão de espaço.

Forma: é todo o plano com contornos definidos; a regular em si mesmo é estática, pois

o movimento depende da sua posição em relação aos outros elementos; formas irregulares

sugerem maior atividade; a posição das formas na superfície podem dar ilusão de espaço

enquanto que a profundidade, efeito sugerido a partir do jogo de claro e escuro, da

sobreposição de planos ou da perspectiva;

Volume: é tridimensionalidade ou simulação de tridimensionalidade, através de

valores, linhas ou cores; pode ser conseguido bidimensionalmente através de efeitos de luz e

sombra, por linhas que avançam sobre as outras, por linhas que apresentam vários lados do

objeto tridimensional ou pelas cores;

Valor: é luz e sombra nas obras bidimensionais; saliência e reentrância, oposição de

materiais e cores; os claros se expandem contra ambientes escuros; o contraste entre claro e

escuro cria a ilusão de espaço;

Textura: é a qualidade de uma superfície, que pode ser do próprio material ou

representada, como no caso da textura visual; pode ser utilizada para dar unidade ao trabalho

e também para dar ilusão de espaço ao se utilizar, nos primeiros planos, texturas mais

definidas e nos planos mais afastados, texturas mais suaves;

Cor: é o que confere ênfase, variedade, unidade e efeitos de volume e espaço à obra;

cores específicas, quanto mantendo proximidade, modificam-se umas às outras; cores

quentes têm a propriedade de tornar o objeto maior, conseqüentemente mais próximo.

ARNHEIM (1986), ao contrário das abordagens anteriores, não destaca os elementos

visuais mínimos para depois abordar suas relações; é na própria análise das articulações na

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composição que ele evidencia a presença destes elementos. Ele parte do equilíbrio para

discutir questões como peso, direção alto e baixo, direita e esquerda. E define como

“configuração” a interação entre o objeto físico, o meio de luz transmissor da informação e

as condições físicas e emocionais do observador. Simplicidade, nivelamento, aguçamento,

semelhança, diferença e “o todo e as partes” são configurações apresentadas por ARHEIM,

que também aborda quanto a forma, questões como orientação no espaço, projeções,

sobreposição, interação entre plano e profundidade. Sobre o espaço, apresenta suas relações

com linha e contorno, figura e fundo, níveis e profundidade, bordas e janelas, transparência

e centralidade. Da luz, ARHEIM aborda sobre claridade relativa, luz e espaço, e sombras; e

no campo semântico, ao simbolismo da luz. Ao discorrer sobre a cor, descreve a relação

entre configuração e cor, a busca da harmonia e a interação da cor. Quanto ao movimento,

fala da simultaneidade e seqüência, direção e velocidade. Da dinâmica, discute forças,

tensão, obliqüidade e deformação.

Um estudo mais semiótico da imagem é o que foi feito por OLIVEIRA, no qual a

imagem estética é vista de um modo orgânico, onde é proposto para analisá-la que se parta

de diferentes planos, elementos e dimensões, que podem ser desmembrados em esquemas e

roteiros visuais, sem perder a noção da natureza inter-relacional da imagem estética. A

análise tem firme base nas postulações greimasianas, e define os chamados “formandos

pictóricos”, que possuem três dimensões:

a) Eidética, relacionada à forma; reto e curvo, angular e arredondado, vertical e

horizontal, perpendicular e diagonal, diferentes tipos de simetria e perspectiva;

b) Cromática, relativa à cor; tons, saturação, variação e manutenção de cor e tom,

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luminosidade, textura; todos esses elementos incluindo ausência ou gradação;

c) Topológica, que seria a combinação e interação das duas anteriores em um

determinado espaço; posição (alto e baixo), orientação (direção, parte superior, inferior,

laterais), formato, dimensões e matéria do suporte.

OLIVEIRA define ainda como unidades mínimas da semiótica visual, figuras de

expressão e figuras do conteúdo, sendo que os formandos do plano de expressão podem se

relacionar com uma ou mais unidades do plano semântico, uma vez que se pode produzir a

partir deles um número infinito de ícones. Segundo OLIVEIRA, a dissecação do texto em

formandos e figuras e sua conseqüente remontagem é o que permite uma leitura minuciosa

do texto imagético. Os três formandos, componentes do texto imagético visual, nos

permitem estabelecer as articulações semânticas a partir do inventário de elementos

constitutivos da imagem, e a partir daí suas significações, na relação do plano de expressão

com o plano de conteúdo.

A regra básica de OLIVEIRA é de que as partes só existem articuladas com o todo. E

vice-versa. A dissecação é efetuada apenas para efeito de análise, e é o que confere precisão

a esta.

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2.2 Percepção Visual

Segundo DONDIS (1991), a área de maior peso em uma imagem, pelo menos nos

padrões do mundo ocidental, é o canto superior direito de uma imagem, fazendo com que o

primeiro movimento que nosso cérebro faz ao olhar qualquer imagem é a linha de leitura

básica que é uma diagonal que vai do canto superior direito até o inferior esquerdo. Essa é

uma das primeiras mensagens que o nosso cérebro capta.

Áreas entre o centro da imagem e seu canto superior direito seriam capazes de atrair o

olho do observador com grande intensidade, pelo seu grande peso.

O mesmo mundo ocidental, entretanto, convencionou nosso cérebro a ler da esquerda

para a direita, criando uma linha primária generalizada mais abrangente, em forma de “Z”,

que começa no extremo superior esquerdo até atingir o ponto de peso definido por DONDIS

no extremo superior direito, descendo em diagonal até o canto inferior esquerdo, onde

novamente varremos a imagem até o canto inferior direito.

Essa seria uma linha de leitura genérica básica, pois a imagem em si, seus pesos,

pontos de atração e formato podem variar e alterar esses pontos e direções de leitura.

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Figura 7 - Quadro de Pontos (Fonte: APARICI & GARCÍA-MATILA, p.18)

Segundo APARICI & GARCÍA-MATILA, se apresentarmos a um indivíduo um

quadro como vemos na figura 11 e perguntarmos quantos pontos ele vê, em uma só olhada,

com certeza ele não responderá ou dirá que são muitos. A resposta correta só virá se

apresentarmos um quadro com menos de nove pontos. Isso representa o número máximo de

pontos de atenção que uma pessoa normalmente consegue perceber instantaneamente,

assimilar, sendo que o número ideal fica entre cinco e sete elementos.

Existem teorias de um Sistema de Leitura Visual da Forma do Objeto, que é

fundamentado cientificamente com estudos e pesquisas realizadas pela Escola Gestalt, no

campo da Psicologia Perceptual da Forma.

Os teóricos da Gestalt afirmam que a percepção visual é regida por leis muito claras

que podem ser observadas e testadas. A Teoria da Gestalt enfatiza dois pontos essenciais na

compreensão da percepção visual: a.emergência da figura com relação ao fundo e o desejo

espontâneo para organizar em “configurações” o que é percebido (GOMES FILHO, 2000).

Para a Gestalt-terapia a “figura sempre corresponde àquilo que, em determinado

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momento, se reveste de maior significado ou importância” (Burow & Scherpp, 1985). Sendo

assim, a melhor forma para organizar a percepção é separar o campo perceptual em duas

partes: figura e fundo. O fundo é mais difuso, não tendo uma forma identificável; já a figura

é um elemento unificado, dominante, delimitado, porém ambos interagem de forma

dinâmica.

A teoria da composição “figura/fundo” é reforçada também por AUMONT, que diz

que a “figura” é a parte que se destaca, como se tivesse cor mais visível, fosse mais

facilmente localizada, identificada e nomeada (reconhecida); enquanto o fundo conteria

menos informação, apenas completando os espaços, como se estivesse realmente atrás da

figura. A figura seria o “ponto de atenção”.

A teoria figura fundo, na parte da figura, funciona em algumas situações como o

“ponto actante” da teoria Semiótica Greimasiana (GREIMÁS).

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2.3 O papel do designer

O designer é o responsável por transformar a mensagem a ser transmitida em uma

apresentação que seja compreendida pelas pessoas às quais se destina a mensagem, portanto,

pode ser definido como um intérprete, transformando idéias em formas que representem o

que elas querem dizer. Essas idéias são os códigos visuais, pois o design é composto por

formas e cores, além de outros elementos constitutivos e de seus procedimentos relacionais.

Estes elementos e procedimentos estruturam textos visuais, textos que expressam discursos,

os quais podem ser analisados a partir de proposições semióticas.

Fica evidente a importância de um estudo de análise das partes e do todo de uma

imagem, todas as mensagens que ela pode transmitir ao observador.

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3. Desenvolvimento

3.1 Análise de cartazes

A análise será realizada utilizando as teorias descritas na fundamentação teórica,

daGestalt, semiótica greimasiana, e os elementos doplano de expressão descritos pelos

autores.

Para análise foram escolhidos três cartazes de uma mesma época, meados dos anos 90,

a década em que o design começou a crescer e ser respeitado (e utilizado) em todas as áreas

e industrias, inclusive na de cinema, principalmente na divulgação impressa (SALISBURY,

1999), apesar do designer Saul Bass ter contribuído muito já nas décadas de 50 e 60, em

cartazes como “Um Corpo Que Cai” (Figura 6) e “O Homem do Braço de Ouro” (Figura 5).

O trabalho de Saul Bass inclusive se estendeu aos créditos dos filmes também.

Nos filmes escolhidos para análise do cartaz, dois dos filmes foram indicados ao Oscar

de melhor filme (inclusive concorrendo entre si) e todos os três foram aclamados por

público e crítica, cada um ao seu estilo – “Pulp Fiction” (Quentin Tarantino, 1994) com

violência, inovação e uma linguagem que inspirou toda uma série de filmes; “Forrest Gump”

(Robert Zemeckis, 1994) com seu tom de comédia e fábula, parodiando americanos e sua

história; e o baixo orçamento de “Os Suspeitos” (Bryan Singer, 1995), com seu suspense

policial e reviravoltas na história. Os três, como será visto na análise, apresentam

características distintas segundo a Gestalt do Objeto (GOMES), como simplicidade (“Forrest

Gump”), profusão (“Pulp Fiction”) e repetição (“Os Suspeitos”).

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As três imagens analisadas são textos estéticos bidimensionais representando imagens

tridimensionais. Vamos analisar cada um desses cartazes segundo as teorias formalizadas

por OLIVEIRA. Cabe ressaltar que será aqui analisado o cartaz original do filme, em inglês,

e em sua primeira versão. Existem várias releituras dos mesmos, principalmente após o

recebimento de prêmios, onde comentários de publicações ou os prêmios são “encaixados”

no cartaz, numa tentativa de chamar mais público.

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3.1.1 Os Suspeitos

O primeiro a ser analisado é “Os Suspeitos” (Figura 12).

Figura 8 - Cartaz original do filme “Os Suspeitos”, de Bryan Singer. (1995)

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Figura 9 - Decomposição de elemento básicos – Plano de Expressão.

O Plano de Expressão (Figura 13) é nitidamente separado em três blocos. As cores

reforçam a divisão dos blocos.

O bloco superior nos revela um retângulo no extremo superior do cartaz, ocupando

quase toda a área, deixando apenas uma pequena margem. O retângulo está em vermelho,

uma cor quente, e possui o título do filme dentro, em letras pretas, com tipos grossos de

hastes largas. Os tipos usados no título estão quase juntos, no entanto o espaçamento entre as

palavras “Usual” e “Suspect” é reforçado e ampliado. Logo abaixo, temos três conjuntos de

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palavras, com duas. Três e duas palavras cada um, respectivamente, concluindo o bloco

superior de informação. Pode-se observar que este é o bloco de maior peso dos três, apesar

de ocupar o menor espaço dentre eles. Isto ocorre pelo peso do tipo e pela cor vermelha

usada nele, e seu contraste com o fundo negro.

O bloco central de informação possui cinco figuras humanóides de pé, colocadas lado

a lado, de frente para o espectador, formando a figura principal, e tendo no fundo oito linhas

horizontais pretas paralelas sobre um fundo claro, predominantemente branco, mas com um

degradê na parte inferior, se tornando suavemente escura. A horizontalidade da imagem é

reforçada neste bloco.

Figura 10 - Eixo vertical principal, e eixos diagonais secundários.

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O bloco inferior é predominantemente formado por um retângulo preto, que contém os

pés dos personagens - como uma base para estes, sete nomes dos atores principais do filme –

incluindo os cinco personagens retratados no cartaz - e novamente o título, desta vez em

branco, cor inversa ao fundo, criando novamente grande contraste. Abaixo do título há uma

frase preenchendo quase totalmente a largura da figura, e abaixo, no extremo inferior do

retângulo, os créditos do filme, incluindo a equipe técnica principal, produtores e diretores.

Figura 11 - Direção primária do olhar.

Um eixo vertical forte se forma na palavra “The” acima do segundo “u” da palavra

“Usual”, e alinhado com o primeiro personagem do bloco abaixo. (Figura 14) Percebe-se o

espaço antes deste primeiro personagem, e que este eixo é onde está alinhado o bloco central

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dos personagens. A verticalidade se firma pelos outros personagens lado a lado. Percebe-se

também, que onde há o intervalo entre as palavras “Usual” e “Suspects”, há também um

certo intervalo entre os personagens, criado pelas pernas abertas do segundo suspeito.

Alguns eixos secundários de olhar, diagonais, se formam nas direções dos braços do

ator central e do último suspeito. A do ator central é muito sutil, inclusive por causa da cor

preta em fundo preto (a própria roupa).

Figura 12 - Direção do olhar leva ao “suspeito”.

Analisaremos agora os elementos do Plano de Conteúdo, o significado dos elementos

no plano de expressão. Ao visualizar o cartaz, o olho forma um “Z” na imagem (Figura 15),

passando pelo título do filme (que pode ser traduzido literalmente como “Os suspeitos de

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sempre”) em vermelho, cor que traz certa inquietude, nervosismo e força. O peso do

vermelho do título reforça este ponto inicial de leitura do cartaz. Após, o olhar desce em

diagonal passando pelos “suspeitos” em si, representados pelos atores, e sua grade

horizontal de fundo (usada para determinar a altura dos suspeitos, e como ponto de

referência para identificação), e retorna no título que se encontra impresso novamente na

parte inferior, e na frase “The Truth is Always in the last place you look.” (A verdade está

sempre no último local onde você olha), cuja frase está realmente no ultimo local “lido” e

também, a repetição de elementos humanóides (os cinco suspeitos) guia o olhar numa

segunda leitura (figura 16) onde o último elemento, é o que reserva “a verdade” no filme,

conforme dito pela frase, pois ele seria o verdadeiro “vilão” da história. Além disso tudo, o

ator é o único que tem seu nome retratado exatamente embaixo, e também em último na lista

de atores (Figura 16). Percebe-se também que o ator está com os braços cruzados, como que

se defendendo, pois ele é o único culpado dentre os suspeitos.

Observa-se que o penúltimo personagem também se destaca, pela cor amarela de sua

roupa, numa tentativa, repetida durante o transcorrer do filme, de fazer o espectador

acreditar que aquele seria o verdadeiro culpado.

Percebe-se que os “suspeitos” estão cercados pelo título do filme, que se encontra em

cima e em baixo dos atores, numa repetição incomum em cartazes do gênero, numa

linguagem quase cinematográfica, como em um trailer, que segue uma fórmula

título/trama/personagens/título. Os personagens parecem numa prisão, “presos” pelo peso do

título a sua volta. A idéia de prisão também é reforçada subliminarmente pela grade atrás

dos personagens.

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3.1.2 Forrest Gump

Figura 13 - Cartaz original do filme “Forrest Gump – O Contador de Histórias”, de Robert Zemeckis. (1994)

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Figura 14 - Elementos do cartaz de Forrest Gump.

Possui dois eixos fortes, um vertical na figura de Forrest Gump e outro horizontal,

representado pelo banco (Figura 18). O cartaz é descentralizado, formando quase um bloco

único na parte inferior direita do cartaz. Na parte superior desse bloco, vemos a frase “The

World will never be the same once you´ve seen it through the eyes of Forrest Gump.” (O

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mundo nunca mais será o mesmo depois de você ter visto ele através dos olhos de Forrest

Gump); seguido do nome do ator principal, “Tom Hanks”, em vermelho, e a palavra “is” (é);

e o título do filme e do personagem principal, “Forrest Gump”, em Azul. Todas as palavras e

até a frase estão quebradas e desalinhadas – uma alusão ao fato do personagem título ser

“deslocado” em relação aos outros e ao mundo - com exceção das palavras Forrest e Gump,

que estão alinhadas na extrema direita.

No cartaz de “Forrest Gump” (Figura 17), onde prima a simplicidade definida pela

Gestalt, temos um único ponto de atenção central, o ponto actante representado pela figura

do ator principal (o Forrest Gump do título) sentado em um banco, de costas, com um

espaço ao lado no banco, como que convidando o espectador a sentar-se ao seu lado e

acompanhá-lo em sua história. O espaço em branco acima da vaga do espectador aumenta o

vazio e a sensação de querer ser completado esse espaço, no caso, com o espectador,

reforçando o convite.

O azul e o vermelho do título e do nome do ator remetem à bandeira americana

(completando com o branco do fundo, as três cores da bandeira estariam representadas), e

está nas costas do personagem principal. No filme, Forrest Gump participa de todos os

eventos importantes da história americana, estando “por trás” de várias situações

importantes e inclusive tendo inspirado ícones como Elvis Presley e John Lennon. A

América “nas costas” de Forrest Gump. O desalinhamento das palavras mostra as inúmeras

situações e quebras da história (americana e do personagem), suas inúmeras facetas e

situações, todas elas convergindo para as palavras Forrest Gump, alinhadas a direita,

equilibradas, como sendo a base de todos os outros elementos, o elemento comum e estável.

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Figura 15 - Direção do Olhar.

Temos ainda a mala, solta ao lado do personagem, entre ele e o espaço vago, como

que realmente convidando para uma viagem (a mala é um dos ícones para viagem)

extraordinária, do qual o espectador não se arrependerá. Também representa as inúmeras

viagens feitas pelo personagem, não só pelo seu país, como por vários países, incluindo

Vietnã e China.

A sombra colocada embaixo do banco e de Forrest parece querer reforçar que a fábula

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contada pelo filme poderia ter sido real, que alguém como o personagem da história poderia

realmente ter existido, poderia ser parte do mundo real, de nosso mundo, e impede que o

personagem fique “solto” no cartaz, no mundo da fábula e da imaginação.

A simplicidade do cartaz e seus poucos elementos reforçam essa mensagem principal;

e o branco predominante do cartaz, além de pureza, paz e ingenuidade, características

marcantes do personagem-título, remetem também ao branco da pena que pontua o início e o

final da história, pena esta que no filme, segundo o próprio diretor, representa o lado

aleatório do destino na vida de uma pessoa, que flutua de acordo com o vento e de forma

sempre imprevisível (DONNER, “Forrest Gump”: DVD-Vídeo).

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3.1.3 Pulp Fiction

Figura 16 - Cartaz Original do Filme “Pulp Fiction” de Quentin Tarantino. (1994)

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O cartaz possui dois blocos principais. Um superior criado por um retângulo vermelho,

com o título do filme em tipia script e cor amarela, tendo acima os nomes dos atores em

branco, e abaixo o nome do diretor em preto. Também em preto está no topo do cartaz os

outros filmes dirigidos por Quentim Tarantino. É um bloco formado por cores quentes. O

vermelho deste bloco possui grande peso, e equilibra com o grande bloco seguinte, o bloco

de base, que apresenta uma grande profusão de elementos não alinhados, como a atriz de

bruços na cama, o abajur aceso, a janela com venezianas horizontais ao fundo, o cigarro na

mão da atriz, o livreto na outra mão, um revólver, isqueiro, cigarros e cinzeiro. Todos

elementos das Pulp Fictions, do gênero policial, do gênero “noir”, até mesmo o decote da

atriz é um elemento clássico do gênero.

Este primeiro cartaz de “Pulp Fiction” remete diretamente às “Pulp Fictions”, que

eram livretos contendo normalmente histórias policiais, e um deles pode ser visto nas mãos

da atriz, que parece estar protegendo-o, escondendo a história, incitando o espectador a

descobri-la (ela encara fixamente o espectador, com ar de mistério e sedução – mais duas

características do gênero “noir”).

Uma luz suave de tonalidade amarelada – mais cores quentes – ilumina o rosto e a

frente do corpo da atriz, a princípio vindo do abajur, apesar da ausência do pé do abajur

(talvez este seja fixado na parede?) dê a impressão de que este esteja situado atrás do rosto

da atriz.

Os pontos actantes da figura são a atriz e o título. Pontos de atenção secundários são

os objetos em torno dela, em especial o livreto, seguidos pelo cigarro e o revólver.

Observa-se que os pés da atriz estão na frente do retângulo vermelho que contém o

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título, dando uma profundidade e certa tridimensionalidade à cena, principalmente pela

projeção da sombra dos sapatos no retângulo.

Figura 17 - Elementos principais do cartaz

Ao lado dos sapatos, um círculo amarelo com o número dez une o retângulo vermelho

com o bloco profuso, numa alusão ao preço da “pulp fiction”.

Os objetos soltos na frente da atriz estão alinhados com o livreto, que representa a

história, a Pulp Fiction.

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4. Conclusão

Esta monografia apresenta um estudo teórico e prático de cartazes, realizando a leitura

de cartazes de cinema através da semiótica visual francesa e teorias de layout, design e

percepção visual, incluindo a Gestalt. Percebe-se que a linguagem utilizada para a análise

pode ser usada para análise de qualquer peça gráfica. O uso da dissecação de elementos,

suas relações e inter-relações revelando suas mensagens e significações, são de extrema

importância para atingir o público-alvo desejado, que é um dos principais objetivos ao se

criar uma peça de design.

Espera-se que esta conclusão não dê este trabalho por terminado, e que outros no

futuro continuem usando estes métodos de análise e dissecação. A seguir sugerem-se

algumas propostas relacionadas ao tema deste trabalho, cinema, lembrando que este tipo de

análise pode ser utilizada em um número infinito de situações, e que trabalhos futuros são

não só esperados como muito bem vindos.

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4.1 Sugestão de trabalhos futuros.

Análise da miríade de variações de cartazes de um mesmo filme, de acordo com as

mudanças da mídia como cinema ou locadora, e nesta, até o VHS para o DVD apresenta

diferenças em sua configuração, e não apenas pelo tamanho diferenciado dos objetos. Tudo

se relaciona ao público alvo genérico destinado a cada mídia, e um aprofundamento nestas

variações seria extremamente interessante. Percebe-se que o cartaz de cinema tem uma

linguagem mais poética (provavelmente decorrente do staatus de “arte” do cinema),

enquanto que nas locadoras, o destaque normalmente vai para os atores mais conhecidos que

participem da trama (numa provável tentativa de fazer o cliente locar o filme através de um

ator que goste), e frases apelativas ou de caráter duvidoso para a apreciação ou escolha do

filme. No filme “O Sexto Sentido” por exemplo, o cartaz do cinema foi redesenhado para as

locadoras, tumultuando-o com os inúmeros prêmios a que concorreu, além de uma frase

desnecessária que gera uma expectativa que diminui o impacto da surpresa final do filme:

“O final ninguém mata!”.

Uma análise de trailers através da mesma metodologia utilizada por OLIVEIRA

também seria extremamente interessante. Inclusive RAMALHO E OLIVEIRA analisou

imagens em movimento (no caso, um comercial de televisão) utilizando essas regras, em sua

tese de doutorado. Observa-se que o trailer tem também várias versões nos dias de hoje, e

também, atualmente, costuma ser melhor do que o filme (este fato ocorre mais nos filmes

“blockbusters”, geralmente com mais efeitos especiais do que roteiro), em parte por que

todas as melhores cenas são inseridas no trailer para “chamar” o espectador, não sobrando

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muita novidade para o filme em si, que podem causar decepção devido à expectativa gerada

pelo trailer, dependendo do espectador. No recente filme “Hulk”, por exemplo, percebe-se

um trailer sério, que não revela muitas das discrepâncias e absurdos em relação à história

original, adaptada dos quadrinhos homônimos. Percebe-se no histórico de sua bilheteria

(Box Office Mojo: Internet: http://www.boxofficemojo.com/movies/?id=hulk.htm) uma das

maiores quedas de bilheteria de todos os tempos (quase 70% do segundo para o primeiro

final de semana, continuando em queda acentuada em varias semanas seguintes), o que

comprova grande decepção por parte de quem assistiu, e conseqüente e impiedoso “boca-a-

boca” – divulgação negativa das pessoas que já haviam assistido ao filme.

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5. Referências

5.1 Referências Bibliográficas

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