anÁlise do ensino da expressÃo grÁfica no currÍculo do curso de ... · curso de licenciatura em...
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ANÁLISE DO ENSINO DA EXPRESSÃO GRÁFICA NO
CURRÍCULO DO CURSO DE MATEMÁTICA DA UFPR
Thassiane Maria Poi Programa “LICENCIAR”
UFPR – Departamento de Expressão Gráfica [email protected]
Adriana Augusta Benigno dos Santos Luz UFPR – Departamento de Expressão Gráfica e
Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciência e em Matemática [email protected]
Anderson Roges Teixeira Góes UFPR – Departamento de Expressão Gráfica; e
Secretaria de Educação do Município de Araucária/Pr [email protected]
Resumo
Nesta pesquisa abordamos o contexto histórico da geometria através da Expressão Gráfica bem como a evolução do processo de formação do professor de Matemática da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Para tal pesquisa buscamos informações principalmente em documentos oficiais da UFPR e análise dos currículos do curso de 1974 a 2006 no que se refere às disciplinas relacionadas da Expressão Gráfica. Por fim, verificamos que o ensino da Geometria no currículo do Curso de Matemática UFPR foi subtraído de forma que conhecimentos de geometria/representação espacial, não são objetos de estudo em tal currículo, mostrando a falha na formação do futuro professor que deverá desenvolver tais temas com seus futuros alunos. Palavras-chave: expressão gráfica, geometria, formação de professores.
Resumen
En este trabajo abordamos el contexto histórico de la geometría con la Expresión Gráfica, así como el progreso de la formación de los profesores de matemáticas en la Universidad Federal de Paraná (UFPR). Para este estudio buscamos información sobre todo en los documentos oficiales de la UFPR y el análisis del plan de estudios del curso de 1974 a 2006 con respecto a la disciplina relacionada de Expresión Gráfica. Por último, observamos que la enseñanza de la Geometría en la UFPR currículum de matemáticas del curso se resta para que el conocimiento de la geometría/representación espacial no son objetos de estudio en este plan
de estudios, que muestran el fracaso en la formación de los futuros profesores que desarrollarán estos temas con sus futuros estudiantes. Palabras claves: expresión gráfica, geometría, formación de los profesores.
1 Introdução
O presente trabalho visa abordar o contexto histórico da geometria através da
Expressão Gráfica bem como a evolução do processo de formação do professor de
Matemática da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Dentro do mencionado assunto, verificamos ser nítido o fenômeno do relativo
esquecimento do ensino de Geometria nas salas de aula. No entanto, com foco no
Curso de Licenciatura em Matemática da Universidade Federal do Paraná, serão
mostradas as possíveis causas que estão levando à ocorrência do mencionado
fenômeno dentro da comunidade escolar na qual estamos inseridas: Curitiba e Região
Metropolitana.
A importância do assunto reside no fato de que atualmente a Geometria vem
sendo abandonada não somente em nível de discentes, mas também pelos docentes
e instituições de Ensino Básico e Superior.
Para tal pesquisa buscamos informações principalmente em documentos cedidos
pela Coordenação do Curso de Matemática e pela Pró-Reitoria de Graduação
(PROGRAD) da Universidade Federal do Paraná. Com a finalidade de explanar a
problemática posta serão tratados assuntos como histórico e currículo do Curso de
Licenciatura em Matemática da UFPR e a análise dos currículos do curso de 1974 a
2006 no que se refere às disciplinas relacionadas à Expressão Gráfica.
2 Histórico do Curso Matemática da Universidade Federal do Paraná
Até o ano de 1912 a juventude paranaense só possuía contato com a Matemática
através das Escolas de Ensino Regular. Foi então, que a partir de 1913 começou a ser
ofertado o curso de Engenharia Civil pela Faculdade de Engenharia da Universidade
do Paraná, nessa época o único curso do Paraná que possuía disciplinas de
Matemática em seu currículo (SILVA, 2008).
Nesse período, Silva (2008) afirma que a Faculdade de Engenharia possuía como
objetivo a formação de engenheiros civis e não matemáticos, o curso de Engenharia
Civil seria o único ambiente onde alunos que possuíssem talentos em Matemática
poderiam iniciar seus estudos em Matemática Superior. Porém como afirma Silva
(2008, p.22), em relação à Matemática, “[...] seus gestores, por algum motivo, não
estimularam a criação de um bom ambiente propício para os estudos daquela ciência.”
Com o advento da “Faculdade de Ciências”, na década de 30, abriu-se caminho
para que a Matemática entrasse no Ensino Universitário do Brasil, sem depender da
Engenharia. Esse fato se baseia nos Decretos 19.851 e 19.852 de 11 de abril de 1931,
no qual estabelecem a Faculdade de Educação, Ciências e Letras, que tempo depois
é titulada de Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (UFPR, 2006).
A Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do Paraná foi instituída em 26 de
fevereiro de 1938, sendo uma instituição livre e a União Brasileira de Educação e
Ensino era a sua mantenedora. Essa instituição tinha como propósito a formação de
professores para o ensino secundário e superior, bem como contribuir para a
divulgação da educação nacional e disseminação do ensino superior do Brasil (UFPR,
2006).
A Faculdade era dividida em quatro ramos fundamentais: Filosofia, Ciências,
Letras, Pedagogia e uma em específico, a Didática. O curso de Matemática estava
ligado ao ramo de Ciências e oferecia o seguinte currículo seriado (SILVA, 2008):
1º ano: Análise Matemática; Geometria Analítica e Geometria Projetiva; Física Geral e Física Experimental.
2º ano: Análise Matemática; Geometria Descritiva e Complementos de Geometria; Mecânica Racional; Física Geral e Física Experimental.
3º ano: Análise Superior; Geometria Superior; Física Matemática; Mecânica Celeste. (SILVA, 2008, p.26).
Os estudantes que terminassem o curso receberiam o grau de Bacharel e se
cursassem as disciplinas de Didática era conferido aos acadêmicos o diploma de
Licenciado (SILVA, 2008).
De acordo com Miyaòka (1992), em 30 de outubro de 1940, com o Decreto de n.
6.411, o Curso de Matemática foi autorizado a funcionar, porém seu reconhecimento
foi confirmado pelo Decreto n. 10.908, em 24 de novembro de 1942. A primeira turma
de Licenciados do Curso de Matemática colou grau em 1943, depois de cursar, no
quarto ano do curso, as disciplinas de Didática (UFPR, 2006).
Os professores, que instalaram a Faculdade e organizaram o Curso de
Matemática, eram Engenheiros Civis e formados pela Faculdade de Engenharia do
Paraná. Conforme Miyaòka (1992), quando o Curso de Matemática começou a
funcionar, o professor Algacyr Munhoz Mäder que participou do grupo de professores
que organizaram o curso, foi considerado o catedrático fundador da cátedra de
Geometria na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do Paraná.
Miyaòka (1992) afirma que em 1946 a Universidade do Paraná (UPR) foi
restaurada, unindo-se a várias Faculdades. Depois do Decreto n. 9323 de 6 de junho
de 1946, que dispõe sobre a equiparação da UPR e aprova os respectivos Estatutos,
de acordo com Silva (2008) temos que,
A Universidade do Paraná foi constituída com as seguintes unidades: Faculdade de Direito, com as escolas anexas: Ciências Econômicas e Escola Técnica de Comércio (atual Escola Técnica da UFPR); Faculdade de Engenharia; Faculdade de Medicina, com as escolas anexas: Farmácia e Odontologia; Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras [...] (SILVA, 2008, p.35).
Após esse fato houve a reestruturação do currículo do Curso de Matemática,
passando a ter a seguinte estrutura (SILVA, 2008):
1º ano: Introdução Especial à Filosofia, Física Geral e Experimental, Análise Matemática, Geometria Analítica e Projetiva.
2º ano: Análise Matemática, Geometria Descritiva, Mecânica Racional, Física Geral e Experimental.
3º ano: Análise Superior; Geometria Superior; Física Matemática; Mecânica Celeste. (SILVA, 2008, p. 35).
No dia 20 de dezembro de 1961, o Congresso Nacional aprovou a Lei n. 4.024, de
Diretrizes e Bases da Educação (LDB), que causou alterações na constituição da
Faculdade. Essas alterações se concretizaram no dia 21 de fevereiro de 1963, nas
quais correspondiam no surgimento da UFPR, na departamentalização da instituição e
uma nova reforma dos currículos dos cursos (UFPR, 2006).
Nos anos 60 o currículo mínimo para o Curso de Licenciatura em Matemática da
Universidade Federal do Paraná, que possuía duração de quatro anos, era composto,
de acordo com o Conselho Federal de Educação, da seguinte forma:
Desenho Geométrico e Geometria Descritiva; Fundamentos da Matemática Elementar; Física Geral; Cálculo Diferencial e Integral; Geometria Analítica; Álgebra, Cálculo Numérico e matérias pedagógicas, de acordo com o parecer n. 295, de 14 de fevereiro de 1962. (UFPR, 2006, p.13).
O Departamento de Matemática passa a existir em 1963, com sua reunião
inaugural datada em 25 de junho. O professor Algacyr Munhoz Mäder foi nomeado
pelo Diretor da Faculdade para gerir temporariamente o novo departamento (PRADO,
2005).
De acordo com Projeto Político Pedagógico do Curso de Matemática da
Universidade Federal do Paraná (UFPR, 2006) e Miyaòka (1992), foi por meio do
Decreto-Lei Federal n. 9.323 de junho de 1946, com a união de muitas faculdades,
que em 1964 a instituição de Ensino Superior alcançou o patamar de Universidade
Federal do Paraná.
Miyaòka (1992) aponta que entre os anos de 1943 e 1970, apenas 209 estudantes
receberam o diploma de Bacharel e/ou Licenciado em Matemática; desses dados
podemos considerar, fazendo uma média, que foram sete diplomados por ano, um
número de pequena afluência de pessoas graduadas pelo Curso de Matemática.
No dia 28 de novembro de 1968 foi implantada a lei das novas diretrizes para a
Educação Superior Brasileira, Lei n. 5540, que fixava normas de organização e
funcionamento de Ensino Superior e sua articulação com a escola média e dava
outras providenciais. Segundo Silva (2008), foi a partir dessa lei que se realizou a
reforma da Universidade Brasileira, em particular na Universidade Federal do Paraná.
A reforma universitária, a qual foi iniciada pelos militares no final dos anos 60 e
ocorrida em 1973 na Universidade Federal do Paraná, “trouxe, além dos prejuízos ao
movimento docente e estudantil, mudanças de ordem ideológica e estrutural aos
diversos cursos ofertados.” (LUZ, 2004, p. 14).
Com a reforma do Ensino Superior, o Curso de Licenciatura em Matemática da
Universidade Federal do Paraná, como outros cursos, também sofreu mudanças,
havendo a inclusão de algumas disciplinas para se adequar a essas transformações
(UFPR, 2006). Depois disso, em 1974, surge uma nova resolução, na qual se estipula
uma parte comum para os currículos do Curso de Licenciatura e Bacharelado que
inclui disciplinas básicas como: Desenho Geométrico e Geometria Descritiva, Cálculo
Diferencial e Integral, Geometria Analítica, Fundamentos de Matemática Elementar,
Física Geral, Álgebra, Cálculo Numérico (UFPR, 1974). A parte diferenciada, na
Licenciatura consistia em:
Matérias do currículo mínimo: Psicologia da Educação, Estrutura e Funcionamento do Ensino de 2º grau, Didática, Prática de Ensino;
Matérias complementares obrigatórias: Computação Eletrônica, Probabilidades, Estatística, Análise Matemática, História da Matemática;
Matérias eletivas: Currículos e Programas, Tecnologia da Educação, Prática de Ensino. (UFPR, 2006, p.14).
O objetivo dessas mudanças curriculares era rever o perfil do profissional
licenciado em Matemática, procurando aplicar os princípios e técnicas matemáticas
em vários campos, tal como o da investigação científica e também para se tornar
professor ministrante de aulas de Matemática, física e desenho para o ensino de 1º e
2º graus (UFPR, 2006).
Como reflexo da reforma universitária no Brasil, em 1971, surge o Departamento
de Desenho e Geometria Descritiva. Em 1973, dois anos após o surgimento do
departamento, afirma Silva (2008), cria-se o Setor de Ciências Exatas, pelo Decreto n.
72.7132, de 12/09/1973. O Departamento de Matemática passa a ser dividido em dois:
Departamento de Matemática Aplicada e Desenho, e Departamento de Matemática.
A criação e a aprovação do Departamento de Desenho, pelo Conselho Setorial do
Setor de Ciências Exatas, aconteceram em 1974, com uma nova estrutura
departamental para o Setor, por consequência de uma decisão do Conselho Federal
de Educação. Este departamento oferecia disciplinas para vários cursos, dentre eles o
Curso de Licenciatura Matemática. Estas disciplinas eram por exemplo: Desenho
Geométrico, Geometria Descritiva e Geometria Euclidiana que depois passou a ser
Elementos de Geometria (DEGRAF, 2010).
A primeira reunião realizada pelo Departamento de Matemática do Setor de
Ciências Exatas da Universidade Federal do Paraná aconteceu no Centro Politécnico,
no dia quatorze de novembro de 1973 (PRADO, 2005).
Desde a reforma curricular de 1974 até a década de 90, o currículo do curso
passou por pequenas reformulações, para se adequar às mudanças exigidas pela lei e
do perfil da sociedade (UFPR, 2006).
De acordo com Miyaòka (2000, p.03), que foi uma das professoras do
Departamento de Matemática entre os anos 70 e 90, “Nos anos 90, pela coincidência
de um grande número de aposentadorias e consequente contratação de novos
professores, houve uma renovação do corpo docente do Departamento de
Matemática.”
No ano de 1992, segundo o Projeto Pedagógico dos Cursos de Licenciatura e
Bacharel em Matemática da Universidade Federal do Paraná (2006), o currículo do
curso passou por uma grande reforma, a qual foi caracterizada por dois focos
fundamentais (UFPR, 2006). O primeiro estabelecia: “A correção e a modernização
dos conteúdos das disciplinas de formação básica e específica;” (UFPR, 2006, p.14) e
o segundo foco abrangia:
A criação de um elenco de disciplinas optativas, para dar ao aluno a oportunidade de direcionar sua formação a vários campos de atuação, tais como: Pesquisa Operacional; Análise; Lógica e Fundamentos da Matemática; Estatística; Computação e Educação Matemática. (UFPR, 2006, p.14).
A partir de 1992, a estrutura curricular do Curso de Licenciatura em Matemática
passou a ter disciplinas anuais e se estruturou da seguinte maneira:
Formação Geral: Problemas Brasileiros e Educação Física. Formação Básica Comum: Cálculo Diferencial e Integral, Geometria Analítica, Álgebra, Fundamentos de Matemática Elementar, Física Geral e Cálculo Numérico. Formação Profissional Específica: Desenho Geométrico e Geometria Descritiva, Fundamentos de Matemática Elementar, Geometria, Psicologia da Educação, Didática, Estrutura e
Funcionamento do Ensino e Prática de Ensino (Estágio Curricular). Formação Profissional Complementar: Métodos e Técnicas Educacionais, Planejamento Educacional e Fundamentos da Educação. (UFPR, 1992).
Em 1996, no governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso, foi aprovada a
nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), Lei n. 9394, que era baseada no
Projeto do ex-Senador Darcy Ribeiro (LUZ,1998).
A LDB 9394/96 previa em seu Art. 65 que os currículos dos cursos de Licenciatura
deveriam ter no mínimo 300 horas de estágio supervisionado e prática de ensino.
Para atender à nova LDB, em 1998 houve uma remodelação do Curso de Licenciatura
em Matemática e também foram incluídas novas disciplinas optativas (UFPR, 2006).
A partir de 1998, o Departamento de Desenho criou algumas disciplinas, outras
foram reestruturadas, pois possuíam a necessidade da utilização de computadores
para o uso de softwares de Geometria Dinâmica. Um ano depois foi criado o
Laboratório de Matemática e Desenho (LAMADE), uma parceria entre o Departamento
de Desenho e o Departamento de Matemática. Em novembro de 2008 o Departamento
de Desenho (DDES) passou a ser chamado de Departamento de Expressão Gráfica
(DEGRAF), o motivo era a modernização e também para se readequar às normas
legais que a ele eram pertinentes (DEGRAF, 2010).
3 Análise dos currículos do Curso de Matemática da UFPR - 1974 a 2006
A Matemática pode ser dividida em três principais áreas: a Aritmética, a Álgebra e a
Geometria. Não podemos ensinar cada parte dela de forma independente, tal que, ao
ensinar matemática através da Geometria, haverá uma facilidade de compreensão por
parte do aluno em diversos conceitos abstratos, conforme apontam as diretrizes
estaduais: “Na Educação Básica, a Educação Matemática valoriza os conhecimentos
geométricos, que não devem ser rigidamente separados da Aritmética e da Álgebra.”
(PARANÁ, 2008, p.57).
Segundo Usiskin (1996), a Geometria foi a primeira área da Matemática a se
organizar logicamente, consequentemente dentro de todas as áreas da Matemática a
Geometria é a única que tem como objetivos principais justificar, discutir lógica e
dedução e escrever demonstrações. Até hoje a Geometria enfrenta problemas de
desempenho e de currículo, ela é relativamente ignorada, isso resulta no fato de que
os alunos entram no ensino médio sem saberem o mínimo necessário sobre
Geometria, bem como na maioria das vezes o conhecimento por parte do professor
também é insuficiente.
Segundo Luz (2004), mesmo depois de muitos anos transcorridos desde a reforma
universitária,
[...] observa-se que para a maior parte dos cursos ofertados pela Universidade a estrutura administrativa e curricular continua a mesma. Diversos problemas foram detectados durante esse período, sendo que um dos principais é a fragmentação curricular a qual começa com a distribuição das disciplinas formativas pelos diversos setores acadêmicos que formam a instituição. Cada um desses setores tem lógicas diferentes de formação. Este fato prejudica sobremaneira os estudantes, distanciando-os de sua realidade profissional. (LUZ, 2004, p.14).
Ainda dentro desse contexto, é possível afirmar que as instituições universitárias
são afetadas diretamente por transformações e inovações. “Como tudo no mundo
atual, a necessidade de mudar leva à uma necessidade maior, que é a de se organizar
e planejar.” (LUZ, 1998, p.13).
O professor Dr. José Carlos Cifuentes Vasquez começou a ministrar aulas na
UFPR em 1994, portanto não participou da reforma curricular ocorrida em 1992, porém
ele afirma que esse currículo, “tinha um componente importante de lógica”, pois na
época da reforma havia um grupo de professores formados pela USP na área de
lógica e filosofia da ciência, que influenciaram na reformulação curricular (VASQUEZ,
2010).
Já da reformulação curricular realizada em 2006, Vasquez (2010) achou muito
importante participar, pois como ele afirma “considero que é importante uma boa
formação tanto de um matemático profissional quanto de um professor de
Matemática.”
Para o atual currículo, de acordo com Vasquez (2010), houve muitas tentativas de
reformas anteriores, mas essa reforma
demorou vários anos, entre discussões primárias que consolidavam algumas idéias, mas não se chegava muito longe, até realmente formar um grupo [de professores] que se dedicasse exclusivamente a essa reformulação e a discussões já programadas e frequentes. (VASQUEZ, 2010).
Durante as reuniões para reformular o currículo em 2006, segundo Vasquez
(2010),
Havia muitas incógnitas, muitas perguntas, muitos questionamentos. Um dos quais, por exemplo, era a necessidade de rever a integração entre Bacharelado e Licenciatura até que ponto os dois deveriam ir juntos ou até que ponto os dois deveriam se separar. (VASQUEZ, 2010).
Ainda segundo o autor referido anteriormente,
Dentro desse aspecto da Álgebra, que se implementaram várias disciplinas e algumas novas, também acho que houve, assim como no caso do currículo anterior [de 1992] a respeito da lógica, houve uma certa influência de um pessoal professores daqui, que são da
área de Álgebra. E eles incentivaram, propiciaram, insistiram na inclusão dessas disciplinas de Álgebra incluindo aquela de Geometria não-euclidianas. (VASQUEZ, 2010).
Nesse momento é conveniente ressaltar que o currículo de 1974 do Curso de
Bacharelado em Matemática da Universidade Federal do Paraná possuía duas
disciplinas obrigatórias de Geometria relacionadas com a Expressão Gráfica: Desenho
Geométrico I e Geometria Descritiva I (UFPR, 1974).
O quadro a seguir é o resumo e também a comparação dos currículos outrora
citados, extraindo-se destes as disciplinas obrigatórias de Geometria relacionadas com
a Expressão Gráfica no curso de Licenciatura.
Quadro 1: Disciplinas obrigatórias de Geometria relacionadas com a Expressão Gráfica nas grades curriculares de 1974, 1993 e 2006
CURRÍCULO DE 1974 CURRÍCULO DE 1993 CURRÍCULO DE 2006
Desenho Geométrico I (45h)
Desenho Geométrico A (120h)
Desenho Geométrico I (60h)
Desenho Geométrico II (45h)
X
X
Geometria Descritiva I (75h)
Geometria Descritiva A (120h)
X
X
Projetos Integrados em Geometria**
(60h)
Geometria no Ensino (60h)
Geometria Euclidiana* (45h)
Elementos de Geometria (60h) X
X
X
Geometria Dinâmica (60h)
NOTA: * Disciplina inserida no currículo em 1985 (UFPR, 1985). ** Disciplina inserida no currículo em 2001 (PLANO, 2010).
Podemos assim finalizar, indicando que a carga horária das disciplinas
relacionadas com a Expressão Gráfica diminuiu consideravelmente no atual currículo
do Curso de Licenciatura em Matemática da UFPR se comparada com o currículo de
1993.
4 A Expressão Gráfica das grades curriculares de 1974, 1993 e 2006
De uma forma geral, as ementas das disciplinas de Geometria Descritiva I e
Geometria Descritiva “A” são semelhantes. A partir de 2006, a disciplina de Geometria
Descritiva “A” tornou-se matéria optativa no currículo do Curso de Licenciatura em
Matemática. Neste ponto temos que destacar que os alunos não possuem mais
disciplinas obrigatórias que levem a uma visão geométrica espacial.
Com relação às disciplinas de Desenho Geométrico I e II de 1974, Desenho
Geométrico “A” e Desenho Geométrico I de 2006, as ementas possuem algumas
coisas em comum, dentre elas: lugares geométricos, equivalência de área e
concordância.
Um tópico importante que há em comum nas ementas das disciplinas de Desenho
Geométrico I de 1974 e Desenho Geométrico “A”, não constatado na disciplina de
Desenho Geométrico I de 2006, são as cônicas. Seria interessante que esse tópico
ainda fizesse parte da ementa atual, pois temos que levar em consideração que a
disciplina de Geometria Descritiva já não faz mais parte do currículo obrigatório do
curso.
Um grande diferencial da ementa da disciplina de Desenho Geométrico I de 2006
é a parte em que se fala das aplicações computacionais de conceitos geométricos
através da Geometria Dinâmica.
As ementas das disciplinas de Projetos Integrados em Geometria e Geometria no
Ensino são praticamente idênticas.
Fazendo uma comparação entre as ementas das disciplinas de Geometria
Euclidiana e Elementos de Geometria, podemos ver que existem muitas diferenças
entre elas, porém as duas disciplinas abordam conteúdos de Geometria plana e
espacial.
Com a mudança do currículo ocorrida em 2006, a disciplina de Elementos de
Geometria, que antes era ministrada por professores do Departamento de Expressão
Gráfica (DEGRAF) com um enfoque geométrico, passou a ser ministrada por
professores do Departamento de Matemática (DMAT), sendo que o aspecto da
disciplina passou a ser algébrico.
A disciplina de Elementos de Geometria, que antes possuía a ementa já citada,
hoje possui outro nome, sendo denominada de Fundamentos de Geometria, e é
ofertada pelo DMAT (UFPR, 2007).
Destacamos neste ponto que a ementa de Elementos de Geometria do currículo
de 1992 se diferencia da ementa atual da disciplina de Fundamentos de Geometria,
levando em consideração que hoje a disciplina é puramente algébrica, não se fazendo
mais o uso da Geometria na forma de Expressão Gráfica.
Atualmente o curso possui três disciplinas optativas de geometria relacionadas
com a Expressão Gráfica: Desenho Geométrico II (60h), Geometria Descritiva I (60h) e
Geometria Descritiva II (60h) (UFPR, 2007).
Na troca de currículo do Curso de Licenciatura em Matemática da Universidade
Federal do Paraná realizada em 2006, foi implantada a disciplina de Geometria
Dinâmica, a qual apresenta o movimento dos objetos geométricos através de
softwares, sendo uma disciplina muito importante, pois com o advento de novas
tecnologias, ela proporciona ao aluno uma visão mais ampla da Geometria plana e
espacial.
5 Considerações Finais
Através do presente trabalho, verificamos que o Curso de Licenciatura em Matemática
da Universidade Federal do Paraná passou por uma série de mudanças, fruto da
evolução que se operou ao longo dos anos.
Se por um lado houve avanços, como a implantação da disciplina de Geometria
Dinâmica, onde é conjugado o ensino da Geometria com a utilização de softwares, por
outro vislumbramos alterações que culminaram na redução de carga horária das
disciplinas relacionadas com a Expressão Gráfica, trazendo consequências que se
refletem no esquecimento desta importante área, por parte dos alunos e de
professores de Matemática.
Com isso verificamos que o problema não reside apenas no Ensino Superior, pois
os graduandos não possuem a base da Geometria que é dada ainda no Ensino
Fundamental e Médio. No entanto, o MEC, por meio da edição dos Parâmetros
Curriculares Nacionais, prevê a aplicação dos conteúdos de desenho geométrico na
educação básica, mas no âmbito do Estado do Paraná, a Secretaria de Estado da
Educação do Paraná, por intermédio da edição das Diretrizes Curriculares Estaduais,
não prevê a implantação do mencionado conteúdo nas escolas da rede pública de
ensino. Isto nos revela o desprezo ao ensino de desenho geométrico.
Apesar de tudo, o Ensino Superior no Brasil rege-se por princípios estabelecidos
na Constituição Federal de 1988, onde se destaca a valorização dos profissionais da
educação escolar e a garantia de padrão de qualidade no ensino. O texto
constitucional informa ainda que as universidades gozam de autonomia didático-
científica, o que significa que as instituições de Ensino Superior podem, dentro do que
estabelecem as diretrizes para os cursos de graduação, ministrar os assuntos que
entendem como os mais importantes.
Por fim, é claro que o ensino da Geometria no currículo do Curso de Matemática
UFPR foi subtraído de forma que conhecimentos de geometria/representação espacial
não são objetos de estudo em tal currículo, mostrando a falha na formação do futuro
professor que deverá desenvolver tais temas com seus futuros alunos.
Referências
DEGRAF. História. Disponível em: <http://www.degraf.ufpr.br/historico.htm>. Acesso em: 26/03/2010.
LUZ, A. A. B. S. A (re) significação da geometria descritiva na formação profissional do engenheiro agrônomo. Tese (Doutorado em Agronomia) – Setor de Ciências Agrárias, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2004.
LUZ, A. A. B. S. O processo de planejamento na Universidade Pública. Possibilidades e limites: o caso da Universidade Federal do Paraná. Dissertação (Mestrado em Educação). Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba, 1998.
MIYAÒKA, F. K. As Origens do atual Departamento de Matemática da UFPR. 1992.
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PRADO, A. L. História do Departamento de Matemática. 2005. Disponível em: <http://www.mat.ufpr.br>. Acesso em: 26/03/2010.
SILVA, C. P. Aspectos históricos do ensino da Matemática na UFPR. Curitiba: Unificado, 2008.
UFPR. Conselho de Ensino e Pesquisa (CEP). Resolução n. 40, de 04 de julho de 1974. Fixa o currículo pleno do Curso de Matemática do Setor de Ciências Exatas. Reitor Theodócio Jorge Atherino: Curitiba, jul. 1974.
UFPR. Conselho de Ensino e Pesquisa (CEP). Resolução n. 33 de 01 de novembro de 1985. Fixa o currículo pleno do Curso de Matemática do Setor de Ciências Exatas. Reitor Roberto Linhares da Costa: Curitiba, nov.1985.
UFPR. Conselho de Ensino e Pesquisa (CEP). Resolução n. 92, de 27 de novembro de 1992. Fixa o currículo pleno do Curso de Matemática do Setor de Ciências Exatas. Reitor Carlos Alberto Faraco: Curitiba, nov. 1992.
UFPR. Projeto Pedagógico dos Cursos de Licenciatura e Bacharelado em Matemática. Curitiba, 2006.
UFPR. Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE). Resolução n. 16, de 20 de junho de 2007. Fixa o currículo pleno do Curso de Matemática do setor de ciências exatas. Reitor Carlos Augusto Moreira Junior: Curitiba, jun. 2007.
USISKIN, Z. Resolvendo os dilemas permanentes da geometria escolar. In: LINDQUIST, Mary Montgomery; Shulte, Albert P. (Org.). Aprendendo e ensinando geometria. São Paulo: Atual, 1996. P. 21-39.
VASQUEZ, J. C. C. Entrevista concedida a Thassiane Maria Poi. Curitiba, 18 de junho de 2010.