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Rafael Becker Meier ANÁLISE DO EFEITO DE ESTRATIFICAÇÃO NA AUTOIGNIÇÃO CONTROLADA UTILIZANDO MODELO MULTIZONAS EM MOTORES DE COMBUSTÃO INTERNA Dissertação submetida ao Programa de Pós Graduação em Engenharia Mecânica da Universidade Federal de Santa Catarina para a obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Mecânica. Orientador:Prof. Amir Antônio Martins de Oliveira Júnior, Ph.D. Florianópolis 2016

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Page 1: ANÁLISE DO EFEITO DE ESTRATIFICAÇÃO NA … · MULTIZONAS EM MOTORES DE COMBUSTÃO INTERNA Dissertação submetida ao Programa de ... Comparação entre os dois exemplos de técnicas

Rafael Becker Meier

ANÁLISE DO EFEITO DE ESTRATIFICAÇÃO NA

AUTOIGNIÇÃO CONTROLADA UTILIZANDO MODELO

MULTIZONAS EM MOTORES DE COMBUSTÃO INTERNA

Dissertação submetida ao Programa de

Pós Graduação em Engenharia Mecânica

da Universidade Federal de Santa

Catarina para a obtenção do Grau de

Mestre em Engenharia Mecânica.

Orientador:Prof. Amir Antônio Martins

de Oliveira Júnior, Ph.D.

Florianópolis

2016

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Ficha de identificação da obra elaborada pelo autor através do Programa

de Geração Automática da Biblioteca Universitária da UFSC.

Becker Meier, Rafael

ANÁLISE DO EFEITO DE ESTRATIFICAÇÃO NA AUTOIGNIÇÃO

CONTROLADA UTILIZANDO MODELO MULTIZONAS EM MOTORES DE

COMBUSTÃO INTERNA / Rafael Becker Meier; orientador, Amir Antônio Martins de Oliveira Júnior - Florianópolis, SC, 2016. 111 p.

Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro Tecnológico. Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica.

Inclui referências

1. Engenharia Mecânica. 2. Estratificação térmica, modelo multizonas, Homogeneus

Charge Compression Ignition (HCCI). I. Antônio Martins de Oliveira Júnior, Amir. II. Universidade Federal de Santa Catarina.

Programa de Pós Graduação em Engenharia Mecânica. III. Título.

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Rafael Becker Meier

ANÁLISE DO EFEITO DE ESTRATIFICAÇÃO NA

AUTOIGNIÇÃO CONTROLADA UTILIZANDO MODELO

MULTIZONAS EM MOTORES DE COMBUSTÃO INTERNA

Esta Dissertação foi julgada adequada para obtenção do Título de Mestre

em Engenharia Mecânica, e aprovada em sua forma final pelo Programa

de Pós Graduação em Engenharia Mecânica da Universidade Federal de

Santa Catarina.

Florianópolis, SC, 18 de abril de 2016.

________________________

Prof. Armando Albertazzi Gonçalves Jr, Dr.

Universidade Federal de Santa Catarina

Coordenador do Curso

Banca Examinadora:

________________________

Prof. Amir Antônio Martins de Oliveira Júnior, Ph.D.

Universidade Federal de Santa Catarina

Orientador

________________________

Prof. Leonardo Paes Rangel, Ph.D.

Engineering Simulation and Scientific Software - ESSS

________________________

Prof. Mario Eduardo Santos Martins, Ph.D.

Universidade Federal de Santa Maria

________________________

Prof. Rafael de Camargo Catapan, Dr. Eng.

Universidade Federal de Santa Catarina

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Dedico esse trabalho as pessoas que possibilitaram

todo meu crescimento como ser humano, Cláudio Eduardo Meier e Lenise Becker Meier

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AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus pais, Cláudio Eduardo Meier e Lenise Becker

Meier por me darem todas as oportunidades de escolhas que eu gostaria

de tomar na minha vida, além de me darem toda a estrutura ética que um

ser humano deve ter. Também quero agradecer a eles pelo estímulo que

deram desde pequeno à educação e a sua priorização durante a vida.

Espero que eu tenha capacidade de fazer o que eles já fizeram.

Agradeço a minha namorada, Amanda Dal Piva Gresele por todo

seu jeito de ser, companheirismo e atenção amorosa. Além disso, ressalvo

sua paciência com minhas discussões infundadas com ela sobre evolução

de taxas de reações em motores de combustão interna.

Agradeço ao Professor Amir pelas matérias lecionadas e

orientação. Pessoalmente enfatizo que é excelente pessoa o que torna o

trabalho realmente agradável e estimulante. Como professor, pela

facilidade com que transmite as doutrinas físicas e por último, e com

grande grau de marcação, por trazer a tona e clarear a base dos

fundamentos físicos dando limite a qualquer divagação minha sobre

hipóteses do trabalho.

E por fim, agradeço aos professores da pós-graduação em

ciências térmicas da UFSC pois trouxeram uma quantidade de

conhecimento inestimável mudando completamente a minha forma de

pensar e como enxergar o mundo.

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“Everythng should be made as simple as possible, but not

simpler.”

ALBERT EINSTEIN

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RESUMO

Esse trabalho tem por objetivo analisar, via simulação numérica, o efeito

de variações na temperatura da mistura no desenvolvimento da pressão

na câmara de combustão e na tendência para detonação em motores

operando em modo HCCI (Homogeneus Charge Compression Ignition).

Em motores a combustão interna em geral, a carga ar-combustível após

compressão no cilindro é afetada pela existência de camadas limites

próximas às paredes da câmara de combustão, originando gradientes de

temperatura na direção normal às paredes, os quais afetam a ignição e

propagação da combustão. Nesse trabalho, para simular a estratificação

térmica observada em motores, gradientes de temperatura foram impostos

às zonas de reação do modelo multizonas e utilizados como variável

independente. Contrário aos trabalhos publicados na literatura, a energia

total contida na mistura ar-combustível foi mantida constante, de forma a

isolar o efeito da estratificação térmica daqueles oriundos do aquecimento

adicional da mistura ar-combustível, uma estratégia comumente utilizada

para o controle de combustão em misturas pobres e condições de carga

elevada. Para isso, a massa distribuída às diferentes zonas é determinada

de forma a manter a energia térmica da mistura constante em todas as

simulações. Simulou-se condições de operação com mistura pobre, iso-

octano foi utilizado para representar o combustível, utilizou-se um

mecanismo reduzido de cinética química e aplicou-se o método

multizonas conforme disponível no pacote computacional ChemKin®.

Os resultados obtidos foram comparados com aqueles reportados na

literatura. Verificou-se que o controle energético dentro do sistema tem o

efeito sobre os momentos de ignições térmicas, e dessa forma consegue-

se diminuir as taxa com que a pressão aumenta. Porém, ficou evidente

que em termos práticos, onde há o aumento da rotação existe o aumento

da sensibilidade do motor à alteração da carga térmica, a característica do

motor nos processos de expansão e compressão, além de cinética química

devem se adaptar, ou mais precisamente, se sincronizar com a alteração

da rotação para que não haja uma alta taxa líquida de calor liberado. Além

disso, foi testado o uso de EGR como um recurso para controle da

combustão. Dessa forma, foi mostrado que com a sua utilização foi

possível elevar o potencial térmico do motor.

Palavras-chave: Homogeneus Charge Compression Ignition.

Estratificação Energética. Espessura Térmica.

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ABSTRACT

The work aims to analyze through numerical simulations on idealized

conditions the operating capacity of the HCCI engine combustion process

(Homogeneus Charge Compression Ignition), under high equivalence

ratios with use a reduced kinetic mechanism of iso-octane as fuel. The

result aims to achieve the conditions for the existence of the stable

operation of the combustion at high loads with the engine always

operating on the same thermodynamic potential. With this, all the work is

based on the maintenance of the initial energy provided for in the first

case validated by the literature. The control of the pressure increase rate

is the parameter of most interest to be analyzed, but the changes made for

this purpose modify the behavior of combustion. The main issue

addressed is the inhomogeneity of the temperature within the system. This

property inherent to the engine enables control over the thermal ignitions

and as a consequence temperature width is created that serves as the main

responsible for the delay of the ignition between adjacent volumes and

deflagration speed of ignitions. With use of simulation module of

software ChemKin® HCCI combustion processes multi zone,

temperatures gradients were imposed as an independent variable to the

reaction system of the engine and thereby determine mass distributions as

a dependent variable in order to maintain a constant energy. Thus was set

the parameter space of energy stratification for the reactive system. The

results obtained through the established methodology were compared

with the literature. It was found that the energy control in the system has

the effect on ignition delay time and thus achieves decreasing the rate at

which the pressure increases. However it was evident that in practice

terms, where with an increase of engine speed the sensitivity at relation

at thermal charge change is incresed and then, the characteristics of the

engines in the expansion and compression processes as well as chemical

kinetics must adapt, or more precisely, to synchronize with changing the

rotation speed so that no there is a high net rate of heat released.

Furthermore, the use of EGR is shown very efficient in the control of

reaction rates increasing the thermal potential of engine.

Keywords: Homogeneus Charge Compression Ignition. Energy

Stratification. Temperature Width.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1.1 - Comparação entre os processos de combustão. ................. 30 Figura 2.1 - Diagrama mostrando as regiões onde ocorrem os tipos de

combustão SI, CI, LTC e HCCI. ........................................................... 34 Figura 2.2 - Resultados experimentais da pressão medida no cilindro

comparados com simulações realizadas no software Chemkin. (a) Curvas

de pressão transientes medidas no experimento e previstas no ChemKin

.(b) Valores máximos de PRR obtidos nos experimentos e das simulações

com ChemKin. Motor operando em 1200 rpm, CA50=TDC e utilizando

iso-octano. ............................................................................................. 36 Figura 2.3 - Imagens de quimiluminescência da ignição em um motor

HCCI operando com grande quantidade de gases residuais. (a) Imagem

tomada do topo da câmara. (b) Imagem tomada na lateral da câmara.

Combustível: iso-octano, 1200 rpm, 38,0 , CA50=368°. Os números

ao lado direito inferior das figuras representam a intensidade luminosa

para captura da imagem pela câmera usada no trabalho. ...................... 38 Figura 2.4 - Relações entre espessura térmica e temperatura média. .... 40 Figura 2.5 - Atraso da combustão. Modelo numérico comparado com

modelo experimental. Iso-octano, 1200 rpm, 38,0 , TW=20K. ....... 41

Figura 2.6 - Comparação entre os dois exemplos de técnicas de

implementação de EGR interno. As siglas representam: EVO (Exhaust

Valve Opened), EVC (Exhaust Valve Closed), IVO (Intake Valve

Opened), IVC (Intake Valve Closed) e CAD (Crank Angle Degree). ...................................................................................... 43 Figura 2.7 - Espectro de frequência para amplitude da pressão. ........... 45 Figura 2.8 - Espectro de frequência para amplitude de vibração do bloco

do motor. Lado esquerdo, espectro de frequência para detonação em SI.

Lado direito, espectro de frequência para HCCI. .................................. 46 Figura 2.9 - Taxa de compressão crítica para a auto ignição de

hidrocarbonetos. .................................................................................... 48 Figura 2.10 - Medição de pressão durante a ignição em máquina de

compressão rápida de uma mistura de iso-octano/ar, com razão de

equivalência combustível/ar de 0,4, pressão de 4,16 MPa e temperatura

de 827 K, realizado em uma máquina de compressão rápida. ............... 50 Figura 2.11 - Curva de atraso de ignição versus inverso da temperatura

medida (pontos) e prevista (linhas) para a oxidação de (a) iso-octano com

ar em tubo de choque (medições de Fieweger, Blumenthal e Adomeit,

1994, 1997), na composição estequiométrica, para diferentes pressões

(CURRAN et al., 2002) e (b) n-heptano com ar medido em tubo de

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choque (altas pressões) (CIEZKI e ADOMEIT, 1993) e máquina de

compressão rápida (baixas pressões) (MINETTI et al., 1995) na

composição estequiométrica, para diferentes pressões (LIU et al., 2004).

.............................................................................................................. 52 Figura 2.12 - Medição de pressão durante a ignição em máquina de

compressão rápida de uma mistura de n-heptano/ar, com razão de

equivalência combustível/ar de 1, pressão de 10,4 bar e temperatura de

689 K, realizado em uma máquina de compressão rápida. ................... 53 Figura 2.13 - Calor liberado da combustão de um motor HCCI operando

com n-heptano. ...................................................................................... 54 Figura 2.14 - Curvas de pressão e calor liberado para combustíveis com

diferentes RON’s para mesma razão de equivalência. ......................... 55 Figura 2.15 - Duração da combustão do segundo estágio de ignição (

) em relação ao graus do virabrequim (CA) vs. razão de

equivalência. ......................................................................................... 56 Figura 2.16 - (a) HRR, (b) Temperatura, (c) Pressão e (d) PRR. Linha

vermelha indica correlação randômica de distribuição da mistura

ar/combustível. Linha azul representa correlação negativa entre

estratificação da mistura ar/combustível com a estratificação térmica.

Linha preta mostra mistura homogênea em toda a região. Linha tracejada

mostra o motor operando como compressor. ........................................ 62 Figura 3.1 - Estratificação térmica e mássica. ....................................... 65 Figura 3.2 - Exemplos de distribuição de massa e temperatura para

GPEM. .................................................................................................. 67 Figura 3.3 - Exemplos de distribuição de massa e temperatura para

GNEM. .................................................................................................. 68 Figura 3.4 - Variação da espessura térmica TW com a rotação do motor.

.............................................................................................................. 70 Figura 3.5 - Taxa de liberação de calor contínua vs. ângulo do

virabrequim. Comportamento do HRR com a configuração do sistema.

.............................................................................................................. 72 Figura 3.6 - Taxa de liberação de calor do modelo multi zonas. Revela a

discretização e sequência da combustão nas zonas para um resultado

ilustrativo. ............................................................................................. 73 Figura 3.7 - Variação da pressão e os pontos onde são definidos os

máximos PRR. É mostrado na Figura a identificação dos números das

zonas. .................................................................................................... 74 Figura 4.1 - Modelo de curva de pressão para (a) trabalho com mecanismo

cinético detalhado e (b) para mecanismo reduzido para iso-octano. (a)

Compara o resultado experimental do motor com razão de compressão de

endBD2

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17,6 e 38,0 , com modelo numérico adiabático de razão de

compressão de 15,9 e 367,0 . (b) Emula o resultado numérico para

mecanismo de cinética química reduzida. Temperatura central de 398 K,

espessura térmica de 20 K à 1200 rpm com , CA50=368°. A

temperatura termodinâmica do sistema em BDC, é 376,43 K. ............. 78 Figura 4.2 -Gradiente de temperatura no BDC para o caso validado em

Sjöberg, Dec e Cernansky (2005). O número de cada zona é identificado

na Figura................................................................................................ 79 Figura 4.3 - Resultado do histórico de temperatura para curva de pressão

validada. Evolução da temperatura do modelo multizona para cada zona.

............................................................................................................... 80 Figura 4.4 - Comparação entre curvas de pressão. Ambas as curvas com

TW=20K e 1200 rpm, variando com 244,0 e CA50=TDC e

367.0 CA50=368°. ......................................................................... 81

Figura 4.5 - Distribuição da Energia vs. Massa Acumulada. Uso do

GPEM mínimo como possibilidade de usar o maior potencial de

homogeneidade do sistema. ................................................................... 82

Figura 4.6 - PDF da energia parcial à partir das variações da mT . ...... 83

Figura 4.7 - Variação da pressão sobre diferentes temperaturas da região

central, TW=20K. .................................................................................. 84 Figura 4.8 - Início da combustão vs. Duração da Combustão, TW=20K.

............................................................................................................... 85 Figura 4.9 - Pressão vs. CA. Efeito do aumento de espessura térmica

relatado em Sjöberg, Dec e Cernansky (2005). .................................... 86 Figura 4.10 - Efeito da espessura térmica sobre a pressão com GPEM. 87 Figura 4.11 - Comparação entre os modelos de estratificação térmica e

mássica e comparação ente estratificações positivas e negativas. ......... 88 Figura 4.12 - Desvio padrão para gradiente negativo de estratificação

mássica com TW=20K .......................................................................... 89 Figura 4.13 - Início da combustão vs. Duração da Combustão com

TW=20K. .............................................................................................. 90 Figura 4.14 – Curvas de pressão para comparação entre desvio padrão

máximo e mínimo para gradiente negativo de estratificação mássica. .. 91 Figura 4.15 - Variação do PRR máximo vs. Temperatura inicial com TW

constante. Resulta em alteração do ................................................. 92

Figura 4.16 - Variação do PRR máximo vs. TW com a temperatura

inicial constante. Resulta em alteração do Tm ....................................... 93

367,0

mT

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Figura 4.17 - Desvio padrão vs. temperatura média. Mostra a relação

fundamental entre o DP e o PPR e comportamento inverso das curvas de

GP e GN. ............................................................................................... 94 Figura 4.18 - Efeito da espessura térmica e temperatura média sobre o

PRR em GNEM. ................................................................................... 95 Figura 4.19 - Efeito da espessura térmica e temperatura média sobre a

duração da combustão em GNEM. ....................................................... 96 Figura 4.20 - Efeito da espessura térmica e temperatura média sobre o

desvio padrão em GNEM ...................................................................... 97

Figura 4.21 - PRR para manter RI em 5 com variação de

rotação. Condições de 367,0 e CA50=368°. Figura adaptada do

mecanismo do iso-octano de LLNL para o mecanismo reduzido de Xin,

Law e Lu (2009). ................................................................................... 99

Figura 4.22 - Espessura térmica requerida para manter RI em 5

com variação de rotação. Condições de 367,0 e CA50=368°. Figura

adaptada do mecanismo do iso-octano de LLNL para o mecanismo

reduzido de Xin, Law e Lu (2009). ....................................................... 99 Figura 4.23 - Energia necessária para manter o sistema operando abaixo

do RI limite em condições de 367,0 e CA50=368°. .................... 100

Figura 4.24 - Mudança na estratificação mássica para gradiente negativo

considerando todas as outras propriedades constantes. ....................... 101 Figura 4.25 - Mudança na estratificação mássica para gradiente positivo

considerando todas as outras propriedades constantes. ....................... 102 Figura 4.26 - Temperaturas Máximas Limites vs. rotação para .......... 103 Figura 4.27 - CA50 vs. rotação. Deslocamento do CA50 com aumento da

temperatura média do sistema e rotação. ............................................ 104 Figura 4.28 - Estratificação mássica vs. temperaturas médias limites.

Ponto acima do eixo zero horizontal representa GP e abaixo GN. ..... 104 Figura 4.29 - Pressão vs. ângulo do virabrequim. Comparação entre o

deslocamento da curva de pressão devido a velocidade das reações. . 106 Figura 4.30 - HRR vs. ângulo do virabrequim. Utilização de GNEM com

Tm=371,27K TW=20K e rotação de 1200 rpm para 42,0 ............ 107

Figura 4.31 - HRR vs. ângulo do virabrequim. Utilização de GNEM com

Tm=397,19 K, TW=16 K e rotação de 3600 rpm para 42,0 . ........ 107

Figura 4.32 - Pressão vs. ângulo do virabrequim para 3600 rpm.

Comparação entre uma diferença 1,5 K na temperatura sob altas rotações.

............................................................................................................ 108 Figura 4.33 - Efeito da adição de EGR sobre a pressão. Condições de

GPEM com temperatura central de 408 K, TW=50 K e

367,0 .... 109

2/ mMW

2/ mMW

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Figura 4.34 - Temperatura máxima vs. EGR. Motor operando com

aumento progressivo da fração de EGR à 1200 rpm com TW=20 K e

temperatura da zona central de 403,5 K. ............................................. 110 Figura 4.35 - RI e CA50 vs. EGR. Motor operando com aumento

progressivo da fração de EGR à 1200 rpm com TW=20 K e temperatura

da zona central de 403,5 K. ................................................................. 110 Figura 4.36 - Temperaturas Máximas Limites vs. rotação para .......... 111

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LISTA DE TABELAS

Tabela 4.1 - Especificações do motor ................................................... 77

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LISTA DE ABREVIAÇÕES

CA Crank Angle

CAD Crank Angle Degree

CA50 Ângulo do virabrequim onde 50% do calor é liberado

CFD Computational Fluid Dynamics

BD Burn Duration

BDC Bottom Dead Center

CI Compression Ignition

DNS Direct Numerical Simulation

DP Desvio Padrão da Distribuição de Energia

EGR Exhaust Gas Recirculation

EM Estratificação Mássica

EVO Exhaust Valve Opened

GN Gradiente Negativo

GNEM Gradiente Negativo de Estratificação Mássica

GP Gradiente Positivo

GPEM Gradiente Positivo de Estratificação Mássica

HCCI Homogeneous Charge Compression Ignition

HRR Heat Rate Release

HTHR High Temperature Heat Release

IDT Ignition Delay Time

IVC Intake Valve Closed IVO Intake Valve Opened

LTC Low Temperature Combustion

LTHR Low Temperature Heat Release

NTC Negative Temperature Coefficient

NVO Negative Valve Overlap PDF Probability Density Function

PRR Pressure Rise Rate

RCM Rapid Compression Machine

RI Ringing Intensity

RPM Rotações Por Minuto

RON Research Octane Number

SACI Spark-Assited HCCI

SI Spark Ignition ST Shock Tube

TDC Top Dead Center

TW Temperature Width

UHC Unburned HydroCarbon

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LISTA DE SÍMBOLOS

Símbolos Romanos

iA Área de troca de calor da zona i

B Diâmetro do pistão

c Velocidade do som

pc Calor específico à pressão constante

ch Coeficiente de troca de calor de Woschini

i

wh Coeficiente de troca de calor por convecção da zona i

i Número da zona

k Número da espécie química

im Massa contida na zona

P Pressão do sistema

R Constante universal dos gases ideais

t Tempo iT Temperatura da zona

mT Temperatura média das zonas

T Temperatura termodinâmica

i

kY Fração mássica da espécie k na zona i

iV Volume da zona

kW Massa molar da espécie k

W Velocidade média do pistão

Símbolos Gregos

Fator de escala referente ao tipo de motor

Razão entre calores específicos

P Amplitude da variação da pressão de uma onda sonora

Ângulo do Virabrequim i Densidade da zona

i

i

i

i

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Razão de equivalência

Fração molar

i

k Produção molar da espécie k e zona i

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................... 29

1.1 OBJETIVOS ............................................................................ 31

1.2 ORGANIZAÇÃO DO TEXTO ............................................... 32

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................. 33

2.1 COMBUSTÃO EM HCCI ....................................................... 33

2.1.1 Taxa de aumento da pressão (PRR) ..................................... 35

2.1.2 Estratificação térmica ............................................................ 38

2.1.3 Atraso da Combustão ............................................................ 40

2.1.4 Recirculação de gases de exaustão (EGR) ........................... 42

2.1.5 Ondas de Pressão ................................................................... 44

2.2 COMPORTAMENTO DOS COMBUSTÍVEIS EM

AUTOIGNIÇÃO ................................................................................... 47

2.3 MÉTODOS COMPUTACIONAIS ......................................... 56

2.3.1 Formulação para o modelo multizonas ................................ 57

2.3.2 Modelos de CFD ..................................................................... 60

3 MATERIAIS E MÉTODOS ................................................. 63

3.1 MODELAGEM DO MOTOR ................................................. 63

3.1.1 Condições iniciais ................................................................... 63

3.1.2 Estratificação térmica e mássica ........................................... 65

3.1.3 Fração de EGR ....................................................................... 68

3.1.4 Variação da espessura térmica ............................................. 69

3.2 PARÂMETROS DE ANÁLISE .............................................. 71

3.2.1 Referência de Combustão - CA50 ........................................ 71

3.2.2 Taxa de aumento de pressão ................................................. 73

3.2.3 Critério para surgimento de ondas de pressão .................... 74

3.3 PROCEDIMENTO DE CÁLCULO E ANÁLISE ................... 75

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES ......................................... 76

4.1 DEFINIÇÃO DAS CONDIÇÕES INICIAIS .......................... 77

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4.2 EFEITO DA ESTRATIFICAÇÃO DE MASSA ...................... 81

4.2.1 Efeito do Gradiente positivo de massa (GPEM) .................. 81

4.2.2 Efeito da espessura térmica ................................................... 85

4.2.3 Efeito do gradiente negativo de massa (GNEM) .................. 87

4.3 ANÁLISE DA TAXA DE AUMENTO DE PRESSÃO .......... 91

4.4 VARIAÇÕES DE CONDIÇÃO DE OPERAÇÃO .................. 97

4.5 ADIÇÃO DE GASES DE RECIRCULAÇÃO ...................... 108

5 CONCLUSÕES FINAIS E PROPOSTAS DE TRABALHOS

FUTUROS .......................................................................................... 112

5.1 CONCLUSÕES FINAIS ........................................................ 112

5.2 PROPOSTAS PARA TRABALHOS FUTUROS .................. 113

REFERÊNCIAS ................................................................................. 115

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29

1 INTRODUÇÃO

Os motores a combustão interna estão entre as máquinas que

mais exercem influência sobre as características sociais, tecnológicas,

econômicas e ambientais do nosso planeta. Do ponto de vista tecnológico

e ambiental, existem estudos sobre a implementação de métodos de

combustão potencialmente vantajosos. Porém, visto que ainda não estão

suficientemente amadurecidos, esses novos métodos de combustão ainda

não foram colocados em uso em larga escala comercial.

Um exemplo desses novos métodos potencialmente vantajosos é

a combustão em modo HCCI (Homogeneus Charge Compression

Ignition), o qual reúne as principais qualidades dos modos SI (Spark

Ignition) e CI (Compression Ignition). Tradicionalmente, o modo SI é

caracterizado pela formação de uma mistura ar-combustível homogênea

que é comprimida e uma centelha dá início a reação química que se

propaga através de uma chama de deflagração. A razão de equivalência é

mantida próxima a 1, resultando em motores com baixa emissão de gases

poluentes e fuligem quando comparados aos motores CI. As principais

desvantagens são a alimentação de combustível na fase de admissão, o

modo de controle de carga, ou seja, o controle da potência produzida pelo

motor, e a possibilidade de detonação da carga ar-combustível na

operação em alta potência. A alimentação do combustível na admissão

dilui a carga de ar, reduzindo a eficiência volumétrica do motor. O

controle de carga é feito com o uso de uma válvula borboleta para regular

a vazão mássica de ar aspirada pelo motor, o que gera uma perda de

potência por bombeamento, resultando em uma baixa eficiência

volumétrica. Devido à possibilidade de detonação durante a combustão, a

pressão interna dentro do cilindro deve ser limitada, através, por exemplo,

da regulagem do ponto de ignição e de estratégias de resfriamento da

carga, resultando em redução da eficiência térmica. Por outro lado, o

modo CI tradicional é caracterizado pela aspiração e posterior

compressão de apenas ar. No momento ideal, o combustível é injetado na

forma de um spray. Este encontra ar em temperatura suficientemente

elevada, mistura-se molecularmente e sofre ignição térmica. A combustão

se desenvolve através de uma chama que inclui características de chama

pré-misturada e não pré-misturada. Entre a injeção de combustível e o

início da combustão, o combustível líquido passa por mudanças físicas,

como a atomização, coalescência e quebra de gotas, evaporação e

formação de mistura. Uma parcela do combustível na extremidade do

spray mistura-se com o ar e entra em ignição imediatamente após injeção.

O restante do spray, afetado pelo aumento de temperatura causado pelo

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aumento de pressão, mistura-se com o ar e entra em combustão em um

modo típico de chama não pré-misturada. Como resultado, nas regiões

internas do spray, onde há grande concentração de combustível, ocorre a

formação de fuligem, enquanto que, em regiões periféricas do spray,

pobres em combustível, ocorre a formação de NO2 (óxidos de nitrogênio).

O processo de combustão HCCI une duas características dos

modos SI e CI. A pré- mistura de combustível e ar é feita durante a

admissão e compressão como no modo SI, enquanto que a ignição ocorre

pela compressão da mistura, tal qual no modo CI. A Figura 1.1 ilustra a

comparação entre os três processos. No modo HCCI, idealmente, ocorre

uma combustão rápida com menor troca de calor com as paredes da

câmara de combustão, resultando em um processo eficiente de conversão

da energia do combustível. Além disso, como a combustão acontece

idealmente ao mesmo tempo em todos os pontos da câmara de combustão

e a mistura admitida é usualmente pobre em combustível, não ocorre a

formação de pontos quentes que resultariam na emissão de NO2 .

Figura 1.1 - Comparação entre os processos de combustão.

Fonte: Wijngaarden (2008, p. 14)

Entretanto, a ocorrência de combustão homogênea não é

garantida, visto que a mistura ar-combustível apresenta naturalmente

flutuações em composição e temperatura oriundas dos processos, que

ocorrem em regime turbulento, de admissão, mistura e transferência de

calor com as paredes da câmara de combustão, como sugerido

visualmente no esquema da Figura 1.1. As variações espaciais e temporais

de temperatura implicam em variações locais do atraso de ignição

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químico, ou seja, do tempo necessário para desenvolver as etapas de

iniciação e propagação das reações químicas que levam a mistura

reagente a atingir a ignição térmica. A relação entre o atraso de ignição e

o campo de temperatura é ainda complicada pela existência de ignição em

dois estágios e região de coeficiente negativo de temperatura,

carcaterísticas típicas dos combustíveis automotivos que serão

examinadas nas seções posteriores.

Os efeitos combinados de interação entre cinética química e

campo térmico na câmara de combustão influenciam a taxa de aumento

de pressão e, portanto, o controle da operação em toda a faixa de rotação.

A taxa de aumento de pressão ou PRR (Pressure Rise Rate) é o principal

fator limitante da combustão em modo HCCI. As condições na câmara de

combustão devem ser tais que a combustão se desenvolva de forma suave,

tal qual uma chama de deflagração, para que o PRR mantenha-se em

valores aceitáveis. Caso contrário o resultado é um processo

extremamente rápido que resulta em ondas de pressão dentro do cilindro

causando danos ao motor (SJÖBERG; DEC, 2005).

Além dessas dificulades, outro desafio na utilização de HCCI é o

controle das emissões de monóxido de carbono e hidrocarbonetos não

queimados. Comparativamente, as emissões em HCCI são maiores que

nos modos SI e CI, devido às menores temperatura e tempo de residência

durante combustão. Alguns autores referem-se ao modo HCCI como um

processo para ser utilizado somente em baixas cargas, pois essas seriam

as condições ideais para a combustão de mistura diluída (ACEVES et al., 2001). Outros autores enfocam em estender a operação em HCCI para

cargas altas com intuito de atingir maiores eficiências térmicas. Nesses

casos, os autores consideram que as emissões podem ser abatidas usando

métodos catalíticos pós-combustão (SJÖBERG; DEC; CERNANSKY,

2005).

1.1 OBJETIVOS

Esse trabalho tem por objetivo analisar, via simulação numérica,

o efeito das variações espaciais na temperatura da mistura no

desenvolvimento da pressão na câmara de combustão e na tendência para

detonação em motores operando em modo HCCI (Homogeneous Charge

Compression Ignition). Os resultados obtidos visam contribuir para a

especificação de condições que permitam estender a operação estável da

combustão para cargas altas.

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Para atingir esse objetivo, são metas desse trabalho:

1. Desenvolver um modelo de estratificação térmica na câmara de

combustão que mantenha constante a energia total contida na

mistura ar-combustível, de forma a evidenciar o efeito de

gradientes de temperatura na carga independentemente dos

efeitos de pré-aquecimento da carga;

2. Obter da literatura as condições prevalentes na operação típica

em modo HCCI, incluindo as condições típicas de estratificação

térmica observadas em aplicações em baixa, média e alta carga;

3. Simular numericamente as diferentes condições na câmara de

combustão em mistura pobre empregando iso-octano como

modelo de combustível e um mecanismo de cinética química

detalhada no método multizonas;

4. Estabelecer um parâmetro global indicativo da tendência à

detonação que possa ser calculado a partir do desenvolvimento

transiente da pressão no interior da câmara de combustão;

5. Analisar comparativamente os valores de taxa de crescimento da

combustão e tendência à detonação para as várias condições

simuladas;

6. Estabelecer conclusões gerais sobre os efeitos da estratificação

térmica e o seu uso como estratégia de controle em altas cargas.

1.2 ORGANIZAÇÃO DO TEXTO

O capítulo 2, se apresenta a revisão bibliográfica das principais

características da operação em modo HCCI, bem como os parâmetros

para análise de desempenho e os principais desafios nesse

desenvolvimento. No capítulo 3 são identificados formalmente os

parâmetros de análise e os métodos computacionais que serão utilizados.

No capítulo 4 apresenta-se e discute-se os resultados obtidos. Finalmente,

no capítulo 5 se apresentam as conclusões e recomendações para

trabalhos futuros.

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33

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A combustão em modo HCCI tem sido analisada

experimentalmente e por simulação numérica visando examinar

especialmente estratégias de controle de carga e formação de emissões.

Existem várias estratégias de controle, tais como, tempo de abertura e

fechamento de válvula, uso de EGR (Exhaust Gas Recirculation),

controle da reatividade da mistura através do uso de misturas de

combustíveis, estratificação de temperatura e múltiplas injeções. A

seguir, esses aspectos são revisadas através da análise da literatura (NG

KIAT; CHARALAMBIDES, cap. 4, 2013), (KOMNINOS, 2015).

2.1 COMBUSTÃO EM HCCI

Apesar dos motores HCCI serem definidos como motores de

combustão homogênea, a homogeneidade da combustão não é atingida

devido às variações espaciais no estado termodinâmico da mistura

reagente. A formação de camadas limites e as limitações na mistura

turbulenta resulta em gradientes de temperatura que produzem uma

estratificação térmica na mistura reagente. A ignição térmica inicia-se nos

locais com temperaturas mais elevadas. Uma vez que a combustão inicia-

se em um volume de fluido, o aumento de pressão resultante apressa a

ignição das regiões com temperatura ligeiramente menores, causando

uma propagação da combustão de forma desordenada, das zonas de maior

temperatura em direção às de menor. A propagação pode acontecer em

velocidades da ordem da velocidade do som, conduzindo à formação de

ondas de pressão, ou em velocidades baixas (porém, mais altas que as

chamas de deflagração) desenvolvendo uma sequência de ignição mais

suave que pode ser definida como uma velocidade de deflagração da

autoignição (BRADLEY; et al., 2002).

Com o aumento da rotação, a manutenção da velocidade de

propagação da ignição em níveis que não causem danos às partes

mecânicas do motor requer que a mistura ar combustível seja altamente

diluída, ou seja, trabalhando com razões de equivalência da ordem de

0,45, ou através do uso de altas razões de EGR. Por causa da alta diluição,

em condições ideais, o resultado da combustão seriam produtos com

baixa emissão de NO2 devido à baixa temperatura e, como existiria uma

pré-mistura do combustível, não haveria a formação de fuligem. O

diagrama na Figura 2.1 ilustra as regiões no diagrama razão de

equivalência versus temperatura onde existe a formação de fuligem e a

formação de NO2. No mesmo diagrama são mostradas as condições que

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prevalecem na combustão em motores de ignição por centelha, diesel

convencionais e de combustão em baixa temperatura (LTC - Low

Temperature Combustion) e HCCI. A trajetória executada pela mistura

ar-combustível no modo HCCI fica fora das regiões de formação de NO2

e fuligem. Em contrapartida, nota-se a estreita área que ele ocupa no

diagrama, o que causa a grande dificuldade em implementar esse tipo de

combustão para aplicações práticas, as quais exigem alta robustez de

controle da combustão em uma ampla faixa de condições de operação

(DEC, 2009).

Figura 2.1 - Diagrama mostrando as regiões onde ocorrem os tipos

de combustão SI, CI, LTC e HCCI.

Fonte: Dec (2009)

A restrita faixa em que opera o HCCI leva à necessidade de um

controle apurado das variáveis envolvidas na combustão. Assim, segundo

Dec (2009), existem quatro principais desafios técnicos que devem ser

resolvidos antes que o HCCI possa ser aplicado em motores para

transporte:

1. Melhorar a eficiência da combustão em baixa carga;

2. Estender a operação para altas cargas;

3. Entender os efeitos da composição do combustível nas condições

de operação;

4. Controlar o CA50, ou seja, o ângulo do virabrequim onde 50%

da energia do combustível foi liberada ou combustion-phasing,

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sobre uma ampla faixa de carga e rotações e nas condições

transientes que os motores são submetidos.

A seguir, essas condições são discutidas.

2.1.1 Taxa de aumento da pressão (PRR)

A utilização do processo de combustão HCCI para altas cargas

é limitada pela taxa de aumento de pressão. Taxas de aumento de pressão

elevadas podem resultar na formação de ondas de pressão dentro da

câmara de combustão, as quais, quando severas, podem resultar em danos

na estrutura do motor. Esse fenômeno é ilustrado na Figura 2.2. A Figura

2.2(a) mostra a comparação entre várias curvas de pressão medidas na

câmara de combustão de motor operando em HCCI e prevista pelo

software ChemKin®, considerando uma câmara de combustão em

condições homogêneas, em diferentes relações de equivalência, com a

manutenção do CA50 no TDC (Top Dead Center). Na Figura 2.2(b)

mostra-se os valores máximos de taxa de aumento de pressão (PRR)

medidos no motor e previstos pelas simulações no ChemKin®, em função

da razão de equivalência. Os valores correspondem a um motor operando

em 1200 rpm e utilizando iso-octano como combustível.

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Figura 2.2 - Resultados experimentais da pressão medida no

cilindro comparados com simulações realizadas no software

Chemkin. (a) Curvas de pressão transientes medidas no

experimento e previstas no ChemKin .(b) Valores máximos de PRR

obtidos nos experimentos e das simulações com ChemKin . Motor

operando em 1200 rpm, CA50=TDC e util izando iso-octano.

Fonte: Dec (2009)

Observa-se na Figura 2.2(b) que a partir de um valor de razão de

equivalência igual 0,27, o PRR medido atinge o valor 9 bar/°CA. Na

Figura 2.2(a) observa-se que a curva de pressão nessa condição passa a

exibir oscilações que são típicas da reverberação de ondas de pressão no

interior da câmara de combustão. Assim, nesses experimentos, o valor 9

bar/°CA é tido como um valor limite separando a operação normal

daquela na qual pode levar a ocorrência de oscilações da pressão. A

simulação no ChemKin® considerando que a combustão ocorre em

condições homogêneas prevê valores maiores de PRR do que os valores

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medidos, evidenciando que a hipótese de carga térmica completamente

homogênea não modela corretamente o estado físico da câmara de

combustão. Os autores associam a maior variação do PRR com a razão de

equivalência obtida das medições com a estratificação térmica que

acontece dentro do cilindro. A estratificação térmica em motores com

baixa recirculação de gases da combustão, como no caso da Figura 2.2, é

principalmente causada pela transferência de calor para a parede e pela

turbulência no fluido durante a compressão. Nesses motores, forma-se um

gradiente contínuo das paredes para o interior da carga.

A literatura reconhece um segundo tipo de estratificação. Para

motores operando com valores elevados de recirculação de gases

residuais, pode ocorrer uma mistura incompleta entre a nova mistura

admitida no motor e os gases queimados, contribuindo para uma

estratificação térmica fragmentada na câmara de combustão. Como

resultado da estratificação térmica, a combustão não ocorre

simultaneamente em todas as partes da câmara de combustão como é

evidenciado nas imagens de quimiluminescência da Figura 2.3. A Figura

2.3(a) apresenta a imagem tomada do topo da câmara, enquanto que a

Figura 2.3(b) mostra a imagem tomada na lateral da câmara. O

combustível utilizado foi o iso-octano, com o motor operando a 1200 rpm,

razão de equivalência 0,38 e CA50 = 368°. Os pontos luminosos mostram

as regiões onde a combustão é mais intensa. A combustão começa nas

zonas mais quentes, seguindo para as regiões com temperaturas próximas

e assim subsequentemente. Como a variação de temperatura para motores

com alta quantidade de gases residuais não é contínua, a combustão se dá

de forma mais dispersa, resultando no aspecto granuloso observado nas

imagens.

Desses dois casos analisados verifica-se o forte efeito da

estratificação térmica em amortecer a velocidade com que as ignições

térmicas ocorrem na câmera de combustão e a dificuldade de modelar

esses efeitos em simulações simplificadas.

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Figura 2.3 - Imagens de quimiluminescência da ignição em um

motor HCCI operando com grande quantidade de gases residuais .

(a) Imagem tomada do topo da câmara. (b) Imagem tomada na

lateral da câmara. Combustível: iso-octano, 1200 rpm, 38,0 ,

CA50=368°. Os números ao lado direito inferior das figuras

representam a intensidade luminosa para captura da imagem pela

câmera usada no trabalho.

Fonte: Dec (2009)

2.1.2 Estratificação térmica

Nas primeiras pesquisas realizadas em HCCI, no final da década de 90 e início dos anos 2000, pensava-se que a camada limite térmica

formada pelo conjunto pistão, anéis, cabeçote, válvulas e parede

desempenhava um papel fundamental na estratificação térmica. Porém os

últimos estudos, realizados por pesquisadores a partir de 2004,

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identificaram a maior dependência em relação a estratificação não tão

intensa presente no núcleo do cilindro. Isto pode ser visto na imagem da

Figura 2.3(a) e mais evidente na imagem lateral da Figura 2.3(b). É

aparente que em 364°CA (Crank Angle) a ignição começa na região

central mais quente, e rapidamente se estende às outras regiões quando é

atingido 368°CA. Verifica-se que nesse momento a combustão ainda não

atingiu a região próxima à parede. O autor evidencia que a combustão

atinge a camada limite somente em 370°CA. Em 372°CA a

quimiluminescência indica que a combustão na região central terminou e

se propagou para a camada limite. Assim, desde que a maior parte da

combustão ocorreu na parte central do cilindro e o máximo PRR foi

atingido em 367,75°CA, concluiu-se que a estratificação térmica no

interior do cilindro desempenha a principal função no controle do máximo

PRR e consequentemente no controle da detonação.

Desde que o máximo PRR é controlado pela intensidade de

estratificação térmica, muitos pesquisadores tem explorado vários

métodos para aumentá-la com o objetivo de estender os limites do HCCI.

Sjöberg, Dec e Babajimpoulos (2004) tentaram influenciar a

temperatura interna por meio do resfriamento intenso das paredes do

cilindro. Inicialmente, o motor de teste foi estabilizado na operação com

a água de resfriamento a 373 K. Então, essa teve a sua temperatura

reduzida bruscamente em 50 K e os efeitos foram observados. O resultado

mostrou que a variação de temperatura foi sentida apenas na camada

limite e que a profundidade de penetração do efeito térmico, ou seja, a

espessura térmica, aumentou muito pouco, não afetando a região de

interesse para controle da combustão.

Com isso, os pesquisadores passaram a usar técnicas com o

objetivo de influenciar a temperatura interna do gás, como, por exemplo,

através do controle da temperatura do ar na admissão. Alternativamente,

tem sido aplicadas estratégias de mistura incompleta do ar de admissão

com os gases residuais, com intuito de aumentar a estratificação térmica.

Essas tem se mostrados as técnicas mais efetivas até o momento.

Conforme citado nos parágrafos acima, o mecanismo de

combustão em HCCI ocorre como uma sequência de reações que

acontecem localmente na câmara de combustão. Esse controle pode ser

atingido através da configuração da distribuição de temperatura e massa.

Komninos (2015) analisou algumas dessas condições, conforme ilustrado

na Figura 2.4.

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Figura 2.4 - Relações entre espessura térmica e temperatur a média.

Fonte: Komninos (2015)

Uma taxa de combustão baixa pode ser atingida diminuindo as

temperaturas locais na câmara, aumentado assim a variância da

distribuição massa-temperatura. Nesse primeiro caso o objetivo é reduzir

a temperatura média do gás Tm, mantendo a espessura térmica T . Isso

corresponde ao processo 0-a na Figura 2.4, que conduz à reações mais

lentas, retardando as ignições e resultando em uma combustão mais lenta.

Por outro lado, se a temperatura média do gás é mantida, e a espessura

térmica é aumentada, como no processo 0-b, a ignição vai ser avançada

desde que a distribuição se estenda para altas temperaturas. O controle da

ignição não é um efeito dominante, pois a taxa de queima esperada é baixa

devido à variabilidade da temperatura, conduzindo a um processo

assíncrono dentro da câmara de combustão. Finalmente, se a temperatura

média é diminuída e a variância da temperatura é aumentada, processo 0-

c, a ignição térmica começará atrasada e a taxa de combustão diminuirá.

Estas relações são de importância fundamental para o desenvolvimento

do trabalho nas seções seguintes.

2.1.3 Atraso da Combustão

Os estudos realizados sobre a estratificação térmica provaram a

grande dependência dos tempos característicos da combustão com o

gradiente espacial de temperatura, evidenciados pelo atraso de ignição e

PRR. Assim, pesquisadores buscaram controlar o momento onde ocorre

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o CA50 através do controle da temperatura de entrada da mistura ar-

combustível (SJÖBERG, DEC E CERNANSKY, 2005), (SJÖBERG;

DEC, 2005). Com o controle do atraso de combustão foi possível estender

a operação do motor da Figura 2.3(a) para cargas relativamente altas, com

razão de equivalência acima de 0,3. A Figura 2.5 mostra a intensidade do

efeito do controle de temperatura sobre a velocidade de combustão dentro

do cilindro. As linhas contínuas representam as medições experimentais

de pressão na câmara de combustão e as linhas que apresentam oscilações

são os resultados obtidos de simulações empregando ChemKin®. O

combustível utilizado foi o iso-octano, com o motor operando a 1200 rpm.

Nas simulações, a espessura do gradiente térmico (TW - Temperature

Width ) foi fixada em 20 K. Tbdc (BDC - Bottom Dead Center) mostrado,

é a temperatura na câmara de combustão medida na zona central em um

modelo multizona no ponto morto inferior (SJÖBERG, DEC E

CERNANSKY, 2005).

Figura 2.5 - Atraso da combustão . Modelo numérico comparado

com modelo experimental. Iso -octano, 1200 rpm, 38,0 ,

TW=20K.

Fonte: Sjöberg, Dec e Cernansky (2005 )

Com o aumento da temperatura de admissão, evidenciada pelo

aumento no Tbdc, o atraso de ignição é reduzido significativamente.

Quando a temperatura no ponto morto inferior é 402 K, o CA50 situa-se

em 365°. Com a redução da temperatura para 394 K, o CA50 passa para

371°. Como consequência, o PRR pode ser diminuído de 14 bar/°CA para

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4,7 bar/°CA. Observa-se que quando se assume o controle da temperatura

da mistura, atrasa-se o momento da ignição. Com a consequente expansão

dos gases em combustão que ocorre após o TDC, a mistura é esfriada,

causando uma redução na velocidade das reações e suavizando o

acréscimo da pressão. Essas conclusões estimularam a possibilidade de

usar razões de equivalência mais altas em HCCI sem resultar em

oscilações na pressão.

Embora seja comprovada a eficácia no controle do momento da

combustão pela temperatura, ela é limitada pela dificuldade de se manter

estável ciclo à ciclo o momento exato em que se deseja a combustão e

também pela ocorrência de falha de ignição. A operação em carga alta

leva à necessidade de um atraso excessivo da ignição. Com isso, a

combustão ocorre tardiamente, o movimento do pistão resfria a mistura,

causando a redução da velocidade das reações e ocorrência de extinção

(SJÖBERG; DEC; CERNANSKY, 2005), (SJÖBERG; DEC, 2005).

2.1.4 Recirculação de gases de exaustão (EGR)

A recirculação de gases queimados é usada como uma forma

eficiente de reduzir a formação de óxidos nítricos em grande parte da frota

de motores diesel, pois a diluição com os produtos saturados de

combustão, CO2 e H2O, aumenta o calor específico médio da mistura

resultando em diminuição na temperatura da chama.

O EGR também é usado como método de controle da ignição e

da taxa de queima em HCCI. Um primeiro efeito é o pré aquecimento da

mistura, o que facilita a ignição. Um segundo efeito é a redução na

concentração de oxigênio, um efeito que dificulta a ignição. O terceiro

efeito, é o aumento do calor específico médio, reduzindo a elevação da

temperatura da mistura (ZHENG; READER; HAWLEY, 2004) (LÜ;

CHEN; HUANG, 2005).

A intensidade dos efeitos citados acima dependerá do processo

utilizado para inserir o EGR. Existem dois processos tipicamente usados

em motores. O primeiro é conhecido como EGR interno, o qual mantêm-

se uma parcela dos gases remanescentes da combustão dentro do cilindro

durante a transição do tempo de exaustão e admissão através do overlap

da válvula. O segundo processo é denominado como EGR externo, em

que os gases resultantes da combustão são retirados do conduto de

exaustão, resfriados e inseridos novamente como parte da mistura ar-

combustível.

O EGR interno pode ser controlado de duas formas, conforme o

esquema da Figura 2.6. A primeira forma, ilustrada na Figura 2.6 (a),

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consiste em utilizar um overlap, ou seja, manter as válvulas de admissão

e de exaustão simultaneamente abertas, com o intuito de aproveitar a

inércia dos gases ao final da exaustão para enviar uma parcela dos gases

queimados na direção do conduto de admissão, sendo útil especialmente

em motores aspirados naturalmente. A segunda forma, ilustrada na Figura

2.6 (b), é chamada de overlap negativo (NVO - Negative Valve Overlap),

também conhecido como método de re-compressão de gases de exaustão.

Observa-se na figura que a válvula de exaustão volta à sua sede antes que

o pistão chegue ao TDC e a válvula de admissão só abrirá alguns graus

depois do TDC. Dessa forma, os gases de exaustão, ainda em relativa alta

pressão, ficam aprisionados até a abertura da válvula de admissão. Então,

eles sofrem expansão na direção do conduto de admissão e são novamente

admitidos junto com a mistura reagente. Essas configurações ainda

podem apresentar geometrias simétricas e assimétricas (SCHRAMM,

2014).

Figura 2.6 - Comparação entre os dois exemplos de técnicas de

implementação de EGR interno. As siglas representam: EVO

(Exhaust Valve Opened ), EVC (Exhaust Valve Closed ), IVO

(Intake Valve Opened ), IVC (Intake Valve Closed ) e

CAD (Crank Angle Degree ).

Fonte: Schrann (2014)

Zheng, Reader e Hawley (2004) compararam os dois processos

de EGR, ainda, variando o espaçamento angular entre os cames do

comando de válvula configurado como NVO. Os resultados mostraram

que o EGR interno forma uma mistura quente e, como consequência,

ocorreram ignições com relativo avanço, o que não é benéfico para o

aumento da faixa de trabalho dos HCCI. Ao contrário, o método com

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EGR externo mostrou-se mais eficaz, já que trabalhando com uma

mistura mais fria, pode-se atrasar a ignição e diminuir a velocidade de

aumento da pressão. Além disso, esse método mostrou

experimentalmente uma redução nos níveis de emissão NOx e uma

diminuição drástica nos níveis de emissão de fuligem, já que a mistura

tende a ser homogênea, não formando regiões com concentração rica em

combustível. Além disso, o aumento do uso de EGR externo fez crescer

os níveis de CO devido ao fato de que a combustão tornou-se

progressivamente incompleta, um resultado da temperatura mais baixa na

câmara de combustão.

2.1.5 Ondas de Pressão

As ondas de pressão que podem ocorrer dentro de motores

operando em HCCI possuem características específicas que as diferem do

Knock que ocorre em motores SI, porém, da mesma forma, quando

severas, são fontes causadoras de danos à estrutura física da máquina. Os

danos são originados da absorção da energia da onda pela estrutura.

Quando uma onda de pressão atinge a parede do cilindro, uma parte é

refletida retornado ao sistema, e a outra é absorvida pela estrutura do

motor. A energia absorvida pode resultar em vibrações, que pode ser

dissipada na forma de calor caso haja amortecimento. As vibrações que

não forem absorvidas pelo material, atravessam a estrutura e são

transmitidas como ondas sonoras. Além disso, para que o pulso da onda

incidente se transforme em vibração interna, algumas frequências do

espectro da onda devem estar perto da frequência natural da estrutura.

Eng (2002) estudou a ocorrência de ondas de pressão dentro da câmara

de combustão comparando a combustão em SI e HCCI para alta carga.

Como era já conhecido de trabalhos anteriores, a amplitude dos pulsos de

pressão em HCCI eram muito maiores quando comparadas as amplitudes

no motor SI quando tomado como parâmetro o nível de ruído que emergia

da estrutura do motor.

Com essas diferenças identificadas, foram analisados

quantitativamente as diferenças entre os espectros de pressão no HCCI e

no SI. A principal característica observada no espectro de frequência do

HCCI é que uma fração muito maior de energia está contida em baixas

frequências (de 4 à 8 kHz) que corresponde ao primeiro modo de

vibração. Além disso, foi mostrado que a maior parte da energia na

detonação em SI está contida em modos de frequência mais elevada

quando comparados ao HCCI, conforme mostrado na Figura 2.7.

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45

Figura 2.7 - Espectro de frequência para amplitude da pressão .

Lado esquerdo, espectro de frequência para detonação em SI.

Lado direito, espectro de frequência para HCCI.

Fonte: Eng (2002)

Os resultados acima foram complementados com o espectro de

frequência para o bloco do motor medido com uso de acelerômetro,

conforme mostrado na Figura 2.8.

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46

Figura 2.8 - Espectro de frequência para amplitude de vibraç ão do

bloco do motor. Lado esquerdo, espectro de frequência para

detonação em SI. Lado direito, espectro de frequência para HCCI .

Fonte: Eng (2002)

Na condição de operação em SI a energia contida no espectro de

vibração entre 15 e 20 kHz é 1,5 vezes maior que a contida de 4 à 8 kHz.

Para a operação em HCCI, apesar do maior pico de amplitude acontecer

no primeiro modo de vibração, a maior parte da energia está contida em

modos maiores acima de 8 kHz. Portanto, o bloco do motor atenua a

energia contida no primeiro modo de vibração.

Através desses resultados concluiu-se que a taxa de crescimento

de pressão em HCCI é mais elevada do que em SI e as frequências dos ruídos transmitidos é diferente. Assim, é necessário determinar um novo

parâmetro para detectar os limites de amplitude de pressão que podem

levar danos ao motor. O parâmetro RI, ou Ringing Intensity, será usado

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47

como critério para a avaliação da tendência à isso, conforme será

detalhado na seção 3.2.2.

2.2 COMPORTAMENTO DOS COMBUSTÍVEIS EM

AUTOIGNIÇÃO

A autoignição é definida como um fenômeno em que a oxidação

do combustível se dá sem a necessidade de um mecanismo externo para

inserir energia no sistema e proporcionar a energia de ativação necessária.

As propriedades de autoignição dos hidrocarbonetos dependem

fortemente da estrutura da molécula de combustível. A Figura 2.9

reproduz um resultado clássico (Heywood, 1988) que mostra a taxa de

compressão mínima necessária em um motor a combustão interna para

que ocorra a autoignição de uma mistura estequiométrica de ar e

combustível alimentada nas condições padrões de 101 kPa e 298 K em

função do número de átomos de carbono na molécula de combustível.

Essa taxa de compressão mínima é denominada de taxa de compressão

crítica. Em geral, a taxa de compressão crítica não depende apenas do

número de átomos de carbono. Hidrocarbonetos lineares entram em

ignição em taxas de compressão menores que hidrocarbonetos

ramificados, cíclicos e aromáticos, mesmo possuindo o mesmo número

de átomos de carbono.

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48

Figura 2.9 - Taxa de compressão crítica para a auto ignição de

hidrocarbonetos.

Fonte: Heywood (1988, p. 472)

Adaptado: Wijngaarden (2008, p. 36)

Alcanos normais, como o n-heptano, entram em ignição em

menores temperaturas do que os demais alcanos com o mesmo número de

carbonos. Essa propriedade é resultado de sua estrutura aberta contendo

apenas ligações saturadas, resultando em um fator de forma de colisão

(stearic factor) próximo a 1, o que implica que não existem direções

preferenciais de colisão para a degradação da molécula de combustível.

Dessa forma, n-alcanos possuem um tempo de atraso de ignição

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49

relativamente reduzido em toda a faixa de temperatura. Por outro lado, os

alcanos ramificados, como o iso-octano (ou 2,2,4 trimetilpentano),

apresentam direções preferenciais de colisão, ou seja, fator de forma de

colisão relativamente muito menor que os alcanos normais, e portanto,

maior atraso de ignição (WIJNGAARDEN, 2008, p. 32-36).

A forma atual de entendimento da autoignição é baseada na

discussão dos caminhos de reação principais relacionados com o atraso

de ignição (IDT - Ignition Delay Time) medido em tubo de choque (ST)

ou em máquina de compressão rápida (RCM). A Figura 2.10 apresenta

um resultado típico da autoignição de uma mistura de iso-octano/ar, com

razão de equivalência combustível/ar de 0,4, pressão de 4,16 MPa e

temperatura de 827 K, realizado em uma máquina de compressão rápida

(TANAKA et al., 2003). Nesse experimento, utilizando um pistão que se

move em alta velocidade e atinge um batente de fim de curso, a mistura

ar-combustível é comprimida em uma situação de volume constante. A

temperatura e pressão iniciais eram de 318 K e 0,1 MPa, respectivamente.

Ao final da compressão, a pressão da mistura atinge o valor de 4,16 MPa.

Cálculos de compressão isentrópica indicam que nesse momento a

temperatura da mistura é 827 K, como mostra a escala mais à esquerda.

Então, após um tempo de indução (IDT) de aproximadamente 11 ms a

pressão torna a subir abruptamente. Essa elevação de pressão é resultado

da ignição térmica da mistura. Portanto, o atraso de ignição para essas

condições é de 11 ms.

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50

Figura 2.10 - Medição de pressão durante a ignição em máquina

de compressão rápida de uma mistura de iso-octano/ar, com

razão de equivalência combustível/ar de 0,4 , pressão de 4,16

MPa e temperatura de 827 K, realizado em uma máquina de

compressão rápida.

Fonte: Tanaka et al. (2003).

A utilização de RCM e ST permite uma relação mais direta e

precisa entre temperatura, pressão e estequiometria de uma carga

homogênea e o tempo requerido para a explosão térmica. A análise dos

mecanismos químicos associados permite elucidar as reações e

intermediários mais importantes na iniciação, propagação e ramificação

da reação em cadeia, fornecendo uma descrição detalhada do

comportamento dos vários hidrocarbonetos. Esse assunto tem sido

discutido detalhadamente, como, por exemplo, nos trabalhos de Curran

(2002), Tanaka (2003), Gauthier, Davidson e Hanson (2004), Davidson,

Gauthier e Hanson (2005), He et al. (2005), Walton et al. (2007), Cancino

et al. (2009), Cancino et al. (2011), Mehl et al. (2011) e Vandersickel et

al. (2012).

Uma característica química importante dos combustíveis usados

em HCCI é a dependência não monotônica do atraso de ignição (IDT -

Ignition Delay Time) em relação à temperatura, denominada de região de

coeficiente negativo da temperatura (NTC - Negative Temperature

Coefficient). Com exceção dos hidrocarbonetos de C1 (metano) a C3

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51

(propano), a partir de C4 (butano) os hidrocarbonetos apresentam uma

inflexão na curva de IDT versus 1/T, como na curva mostrada na Figura

2.11 para o iso-octano. A Figura 2.11(a) mostra que em pressões acima

de 30 atm o iso-octano apresenta uma leve região de NTC. Na região de

NTC, o acréscimo da temperatura é acompanhado por um crescimento do

atraso de ignição, como para o n-heptano mostrado na Figura 2.11(b), ou,

pelo menos, como no caso do iso-octano, nessa região o atraso de ignição

é pouco sensível à temperatura. No caso do iso-octano, esse efeito não

existe em baixa pressão. A existência do NTC leva à ignição em baixa

temperatura em sistemas de combustão, dando origem ao que se

denomina de chama fria.

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52

(a)

(b)

Figura 2.11 - Curva de atraso de ignição versus inverso da

temperatura medida (pontos) e prevista (linhas) para a oxidação

de (a) iso-octano com ar em tubo de choque (medições de

Fieweger, Blumenthal e Adomeit, 1994, 1997) , na composição

estequiométrica, para diferentes pressões (CURRAN et al . ,

2002) e (b) n-heptano com ar medido em tubo de choque (altas

pressões) (CIEZKI e ADOMEIT, 1993) e máquina de

compressão rápida (baixas pressões) (MINETTI et al . , 1995) na

composição estequiométrica, para diferentes pressões (LIU et

al . , 2004).

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53

Outra característica observada em estudos de atraso de ignição é

a ocorrência de dois estágios de ignição, chamados de LTHR (Low Temperature Heat Release) e HTHR (High Temperature Heat Release)

na literatura de HCCI. Esse fenômeno não é observado para iso-octano,

mas ocorre para n-heptano, como observado na Figura 2.12. Na medição

mostrada, em Davies (2015), ocorre a ignição de primeiro estágio em

aproximadamente 10 ms e a ignição de segundo estágio em

aproximadamente 27 ms. A curva em vermelho representa a medição

observada quando o teste é realizado com uma mistura inerte. A queda de

pressão observada é típica dos experimentos com RCM e decorre de

transferência de calor para as paredes da máquina.

Figura 2.12 - Medição de pressão durante a ignição em máquina

de compressão rápida de uma mistura de n -heptano/ar, com

razão de equivalência combustível/ar de 1, pressão de 10,4 bar e

temperatura de 689 K, realizado em uma máquina de compressão

rápida.

Fonte: Davies (2015).

A Figura 2.13 mostra o mesmo comportamento no contexto da

combustão em motores que operam com HCCI. Os alcanos que possuem

esta propriedade começam a reagir até atingirem uma temperatura

característica, abaixo dos 900 K, em que a taxa de reação cresce,

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chegando ao pico no primeiro estágio de ignição, e então decai, em

decorrência da região de NTC. Com o aumento da temperatura, o segundo

estágio de ignição ocorre liberando uma grande quantidade de calor

concluindo a ignição térmica da mistura.

Figura 2.13 - Calor liberado da combustão de um motor HCCI

operando com n-heptano.

Fonte: Yao, Zheng e Liu (2009)

Lü, Chen e Huang (2005) realizaram um estudo experimental

sobre o comportamento da reação aumentando progressivamente o

número de octanos do combustível através das misturas de n-heptano e

iso-octano. Assim, o experimento foi realizado com n-heptano

inicialmente puro, seguido de 25, 50, 75 e 90%, correspondente à RON00,

RON25, RON50, RON75 e RON90 respectivamente (RON - Research

Octane Number). Os resultados são mostrados na Figura 2.14.

Inicialmente, observa-se o grande impacto que a alteração da composição

do combustível exerce sobre os parâmetros da combustão. Os efeitos de

dois estágios de ignição e NTC são percebidos para o combustível com

baixo número de octanos, o que influi diretamente nas características do

momento em que a ignição ocorre, a duração do processo de combustão e a máxima pressão atingida.

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55

Figura 2.14 - Curvas de pressão e calor liberado para combustíveis

com diferentes RON’s para mesma razão de equivalência.

Fonte: Lü, Chen e Huang (2005).

Uma das consequências que mais influenciam a combustão é a

presença de forma mais intensa da chama fria em combustíveis com

número de octanos reduzido. Primeiramente, a chama fria inicia o

processo de reação consumindo o combustível e a reação entra em um

estágio de cinética lenta. Apesar disso, a medida que as reações de

isomerização desse estágio continuam, temperatura e pressão também

aumentam progressivamente na câmara de combustão. Ocorre um

acúmulo de H2O2 até que em aproximadamente 1.000 K, ocorre a

explosão na formação de radicais OH e o segundo estágio de ignição

ocorre. O início prematuro da combustão para casos com RON abaixo de

90 leva ao aumento prematuro da pressão e temperatura antes mesmo do

tempo de compressão terminar, ocasionando picos e taxas de pressão

extremamente elevados.

A Figura 2.15 identifica o tempo de duração da combustão em

relação à razão de equivalência. Nota-se que para uma mesma razão de equivalência a duração da combustão utilizando combustíveis com maior

número de octanos é maior, um resultado da menor importância do

primeiro estágio de ignição.

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56

Figura 2.15 - Duração da combustão do segundo estágio de ignição

( ) em relação ao graus do virabrequim (CA) vs. razão de

equivalência.

Fonte: Lü, Chen e Huang (2005).

Apesar da taxa de reação ser muito mais elevada, experimentos

com misturas com pequenas frações de n-heptano resultaram em bom

desempenho para os motores, já que a energia necessária para a ativação

das reações foi diminuída e variações randômicas ciclo à ciclo também

diminuídas com essa configuração (DEC, 2009) (LÜ; CHEN; HUANG,

2005) (YAO; ZHENG; LIU, 2009).

2.3 MÉTODOS COMPUTACIONAIS

Os primeiros métodos computacionais para estudo da combustão

em HCCI, classificados como zero dimensionais, basearam-se em

modelos com cinética química detalhada de um volume (single zone) que

se tratava de um reator perfeitamente misturado com volume variável. O

modelo assumia distribuição homogênea de temperatura e concentração

de combustível. Essa ideia partia dos pressupostos que a turbulência era

suficientemente alta para promover mistura e que a cinética química

possuía o papel exclusivo no controle da combustão. Com isso, foi

possível alcançar melhor compreensão dos efeitos dos mecanismos

químicos detalhados e melhor interpretar as medições no

desenvolvimento de HCCI. Desde a concepção do HCCI, os modelos de

endBD2

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57

mecanismos cinéticos evoluíram de forma significativa. Inicialmente,

poucos mecanismo detalhados eram conhecidos, apenas para pequenos

hidrocarbonetos, porém, com a intensa pesquisa foi possível desenvolver

mecanismos para grandes hidrocarbonetos tais como n-heptano e iso-

octano. O uso do método de uma zona com cinética química detalhada

revela muito bem o atraso de ignição para os combustíveis em HCCI

porém, ele demonstrou grandes dificuldades em prever a taxa de liberação

de calor, a duração da combustão e o nível de emissões, principalmente,

devido a consideração de homogeneidade na câmara de combustão. Como

foi descrito anteriormente, as pesquisas revelaram uma grande não

homogeneidade do sistema mostrando que existe uma distribuição de

temperatura no núcleo do cilindro que é a principal responsável por

determinar a taxa de liberação de calor e aumento de pressão. Assim,

apenas criando modelos completos de cinética química não capacita os

modelos numéricos à preverem com maior acurácia a combustão em

HCCI (SJÖBERG; DEC; CERNANSKY, 2005).

Com intuito de solucionar as limitações do modelo de uma zona,

foi criado o modelo multizonas, no qual a câmara de combustão é dividida

em vários volumes, cada um representando um reator perfeitamente

misturado. Cada zona possui uma temperatura e outros parâmetros são

também definidos, tais como transferência de massa e calor. Essa nova

concepção proporcionou um maior detalhamento da câmara de

combustão, como a possibilidade de incluir os efeitos de parede do

cilindro (regiões de baixas temperaturas), tais como camada limite e

folgas as quais resultam na formação de hidrocarbonetos não queimados.

Existem vários modelos multizonas publicados na literatura sendo estes

categorizados pelo número de zonas, pelo tipo de zonas (núcleo

adiabático, camada limite, folgas e zonas com transferência de massa), e

tipo de interação entre zonas, (trabalho pressão-volume, transferência de

calor e de massa).

2.3.1 Formulação para o modelo multizonas

Nos modelos multizonas, as características geométricas do motor

e a função que determina a variação do volume da câmara de combustão

com o tempo são prescritos. A simulação inicia-se no momento de

fechamento da válvula de admissão e prossegue até o final da combustão.

O software ChemKin® usa o modelo multizonas como método

para simular a combustão em motores HCCI. Nesse modelo, cada zona é

um volume variável modelada como um reator perfeitamente misturado

que não troca massa nem calor com os outros reatores. As única trocas

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que existem são de trabalho entre zonas e de calor com as paredes da

câmara de combustão. Além disso, a pressão de todas as zonas é

uniforme, isto é, não existe gradiente de pressão entre zonas. A

modelagem do sistema de equações é descrita a seguir, conforme

CHEMKIN-PRO (2008).

A equação de conservação da massa da espécie química k

aplicada para cada zona i é escrita como

k

i

k

i

ki Wdt

dY para zoneNi ,...1 (2.1)

onde i é a densidade da mistura que ocupa a zona i e kY , kW e k

são respectivamente, a fração mássica, a massa molar e a taxa de produção

molar da k-ésima espécie.

A temperatura da mistura durante a ignição é modelada pela

solução da equação da conservação da energia. Porém, inicialmente,

precisa-se determinar o campo de temperatura antes do começo da ignição

térmica. Defini-se um ângulo de transição t que marca o momento em

que o processo de ignição térmica inicia. Essa definição é bastante

arbitrária e geralmente baseada em comparação com medições. Para

determinar o campo de temperatura nos instantes que antecedem o ângulo

crítico, duas estratégias são utilizadas.

A primeira estratégia consiste em aproximar o campo de

temperatura como resultado de um processo de compressão isentrópica.

O volume instantâneo da câmara de combustão é conhecido, porém os

volumes individuais de cada zona não são. A mistura é modelada como

um gás ideal e assim satisfaz a equação de estado

k

k k

i

kiiii

W

YRTmVP

1

(2.2)

Agora, introduz-se um nova variável,

iN

i

ii VPG

1

(2.3)

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59

Lembrando que a pressão é a mesma para todas as zonas ( PPi ), os

volumes são então determinados por

P

GGV

iii

1 (2.4)

satisfazendo a restrição

N

i

i

cilindro VV1

(2.5)

A partir de um processo iterativo, o volume e temperatura de cada

zona é determinado ao longo da compressão até atingir o ângulo de

transição t , portanto, definindo a condição inicial para o cálculo da

ignição térmica.

Alternativamente, a segunda estratégia consiste no acoplamento

entre uma solução de CFD e o cálculo de ignição multizonas. Quando a

solução de CFD do escoamento turbulento com transferência de calor na

câmara de combustão é disponível, as temperaturas das zonas são obtidas

fazendo-se

)(tTT i

profile

i , tt )( (2.6)

onde )(t é o ângulo do virabrequim no tempo t e )(tT i

profile é a

temperatura média da região na solução de CFD contida na zona em

função do tempo. A partir do ângulo crítico t , o problema passa a ser

assumido pelo método multizonas que fornecerá a condição do campo de

temperatura e pressão que será novamente reassumido pela solução de

CFD posteriormente. Essa estratégia consome maior tempo

computacional e depende de estratégias de integração e interpolação entre

a solução de CFD e o método multizonas.

Finalmente, para valores do ângulo do virabrequim maiores que

t , a temperatura das zonas é obtida da solução da equação da

conservação da energia para a mistura contida na zona, a qual é escrita na

forma

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60

V

ATTh

dt

dV

VP

uWdt

dTc i

i

w

i

w

ii

w

i

i

i

i

k

i

k

k

k

i

k

i

i

v

i )(

1

(2.7)

onde P i, T i e V i são a pressão, temperatura e volume, vc i é o calor

específico a volume constante, ku i é a energia interna e wh i é o

coeficiente de convecção superficial na área wA i de contato com a

parede da câmara de combustão, para a zona i.

2.3.2 Modelos de CFD

CFD (Computational Fluid Dynamics) também tem sido

utilizado na análise da combustão em HCCI. Os modelos utilizados, ou

investem na análise detalhada dos processos físicos de transferência de

calor, massa e quantidade de movimento utilizando cinética química

global, ou utilizam cinética química detalhada e simplificam a análise do

escoamento. Um exemplo dessa seguinte possibilidade é o trabalho de

Aceves et al. (2000). Eles realizaram uma análise numérica retirando da

equação da energia o termo de transferência de calor por convecção no

momento em que se inicia a combustão, resolvendo apenas a energia

química e o termo de trabalho de expansão e compressão. O resultado

mostrou um valor muito próximo do obtido com a modelagem completa,

comprovando que o termo de transferência de calor por convecção é

muito pequeno, comparado com o valor do calor produzido pela

combustão. Como consequência, os modelos em CFD tem sido utilizados

para descrever a distribuição de temperatura e massa no momento que

antecede a combustão, gerando condições iniciais para a aplicação de

modelos multizona. Isto acontece devido ao custo numérico e

consequentemente temporal que uma simulação completa em CFD

demandaria para realizar o processo em HCCI (YAO; ZHENG; LIU,

2009) (ACEVES; et. al., 2001).

Trabalhos publicados nos últimos anos, tem intensificado a

utilização da ferramenta de CFD para análise em HCCI e SACI ( Spark-

Assited HCCI) usando DNS (Direct Numerical Simulation). Alguns foram realizados para identificar a capacidade que flutuações da

temperatura que ocorrem na estratificação térmica tem em alterar os

tempos característicos da combustão. Além disso, a implementação do

HCCI através do SACI vem sendo estudada intensivamente em DNS

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61

como uma saída para tornar mais brandas as variações das propriedade

físicas. Discussões mais aprofundadas sobre esse tema são vistas nos

trabalhos de Truffin e Colin (2011) e Yoo et al. (2013).

Recentemente, Bhagatwala, Chen e Lu (2014) realizaram

diversas simulações em DNS utilizando etanol em um motor operando

em modo HCCI e SACI em que os tempos de compressão e expansão

eram emulados por trocas térmicas. Um dos vários objetivos do trabalho

era criar correlações que ligassem os efeitos de saída da simulação como

o IDT, e consequentemente, variações da taxa de aumento da pressão,

evolução da temperatura, pressão e HRR com condições de entrada. Os

resultados são apresentados na Figura 2.16. A linha em azul corresponde

a uma situação em que a estratificação de combustível é correlacionada

negativamente com a estratificação térmica, isto é, eram inversamente

proporcionais. A linha em preto representa uma mistura homogênea entre

ar e combustível em todas as regiões. A linha em vermelho representa um

resultado randômico e finalmente a linha tracejada mostrava o motor

operando como compressor. Observa-se que para os três casos

temperatura e pressão inicial eram idênticas. A Figura 2.16 evidencia que

a linha vermelha revelou um IDT extremamente baixo e

consequentemente temperatura, PRR e pressão foram bastante grandes.

Os autores atribuem além da concentração, a alta sensibilidade do etanol

a temperatura. Na outra extremidade está a correlação negativa, em que a

alta concentração de combustível em regiões frias fez com que o IDT

atrase pelo menos 5°CA.

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62

Figura 2.16 - (a) HRR, (b) Temperatura, (c) Pressão e (d) PRR.

Linha vermelha indica correlação randômica de distribuição da

mistura ar/combustível. Linha azul representa correlação negativa

entre estratificação da mistura ar/combustível com a estratificação

térmica. Linha preta mostra mistura homogênea em toda a região.

Linha tracejada mostra o motor operando como compressor.

Fonte: Bhagatwala, Chen e Lu (2014)

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63

3 MATERIAIS E MÉTODOS

O presente trabalho foi baseado em Sjöberg, Dec e Cernansky

(2005) e Sjöberg e Dec (2005). Genericamente, fundamenta-se na análise

do efeito da variação da temperatura e massa das zonas no modelo

multizonas, porém, sempre mantendo a energia total disponível na câmara

de combustão, química mais térmica, igual ao valor previsto no primeiro

caso validado de Sjöberg, Dec e Cernansky (2005). Utilizou-se o modelo

multizonas disponível no software ChemKin®. A fim de reduzir o custo

computacional, utilizou-se um mecanismo cinético reduzido para o iso-

octano.

A seguir, descreve-se os modelos utilizados, como as variação de

temperatura são impostas e quais são os parâmetros de desempenho

observados.

3.1 MODELAGEM DO MOTOR

3.1.1 Condições iniciais

Esse trabalho visa estudar as condições que levam ao

funcionamento estável de um processo de combustão HCCI. Conforme

discutido acima, essas condições são definidas pela energia contida na

câmara de combustão e pela variação espacial dessa energia. Portanto, as

condições iniciais de temperatura e massa impostas em cada zona se

tornam os parâmetros independentes nas simulações. Os parâmetros de

referência são os mesmos usados por Sjöberg, Dec e Cernansky (2005) e

Sjöberg e Dec (2005). Assim, as condições iniciais das simulações são os

valores de massa, composição, temperatura e pressão da mistura contida

na câmara de combustão existentes no ponto morto inferior nos trabalhos

de Sjöberg, Dec e Cernansky (2005) e Sjöberg e Dec (2005) e são,

portanto, conhecidos. Porém, a distribuição espacial da massa e da

energia no interior da câmara de combustão resultam de detalhes do

projeto do motor e do escoamento durante a admissão e são

desconhecidos para os motores usados por Sjöberg, Dec e Cernansky

(2005) e Sjöberg e Dec (2005). Esses valores poderiam ser obtidos a partir

de uma solução de CFD, como descrito acima, mas essa solução se

tornaria específica do motor e condições de operação em estudo, sendo

influenciada, por exemplo, pelo desenho da câmara de combustão, sede

de válvulas e condutos de admissão, e não exibiria uma generalidade que

permitisse extrapolar a análise para outras condições.

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64

O método utilizado nesse trabalho consiste em analisar o cenário

de uma forma paramétrica, através da definição da distribuição de energia

e massa e da definição de métricas que caracterizem essa distribuição. A

distribuição de energia e massa utilizada deve, em primeira análise,

reproduzir adequadamente os resultados de Sjöberg, Dec e Cernansky

(2005) e Sjöberg e Dec (2005). Então, outros valores de distribuição

podem ser estipulados e os seus efeitos no comportamento do motor

podem ser verificados. Dessa forma, é possível cobrir uma larga faixa de

variações encontradas em aplicações e discutir quais condições tornariam

a operação em HCCI estável e controlável.

Uma vez que a quantidade de combustível na mistura é fixada

previamente, a distribuição de energia enfoca apenas na energia sensível.

A energia sensível total disponível na câmara pode ser determinada por

N

i

ipip TcmTmc1

(3.1)

Assumindo que o calor específico em cada zona seja

aproximadamente igual ao calor específico médio, a temperatura média

(mássica) na câmara de combustão torna-se,

N

i

iiTYT1

(3.2)

ou,

N

i

ii

T

TY

1

1 (3.3)

A energia interna total, ou, alternativamente, a temperatura

média do sistema T especificada nas condições iniciais, é mantida a

mesma para todas as situações analisadas. Cada termo i do lado esquerdo

da Eq. (3.3) é referenciado, ao longo do texto, como a fração energética

contida na zona i.

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65

Define-se a média das temperaturas das zonas como

N

T

T

N

i

i

m

1 (3.4)

Finalmente, a estratificação da temperatura TW é definida como

a diferença entre a maior e a menor temperatura, sendo,

TW = Tmax - Tmin (3.5)

3.1.2 Estratificação térmica e mássica

De acordo com Sjöberg, Dec e Cernansky (2005), a condição de

estratificação térmica e mássica a ser implementada como condição

inicial em TDC é mostrada na Figura 3.1. Na Figura 3.1 são identificadas

um total de 5 zonas. A primeira zona (à esquerda na Figura 3.1) é

considerada inativa. Com temperatura de 290 K e compreende 14 % da

massa total de mistura. Essa zona corresponde à parcela de mistura que

não entra em ignição nas regiões periféricas da câmara de combustão. O

restante da massa de mistura é distribuída igualmente entre as 4 zonas

restantes, cada qual recebendo 21,5 % da massa total. Cada zona

representa uma faixa de 2,5 K em torno da temperatura especificada.

Assim, define-se que estas zonas ativas representam uma espessura

térmica (TWbdc) de 20 K, como ilustrado.

Figura 3.1 - Estratificação térmica e mássica .

Fonte: Sjöberg, Dec e Cernansky (2005)

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66

Usando a equação da conservação da energia para as zonas, um

algoritmo foi escrito com intuito de estabelecer uma série de casos com

configurações de distribuição de temperatura e massa dentro do cilindro.

Assim, para cada caso abordado se define uma condição de estratificação

térmica e TW, e em função desta, se especifica a distribuição de massa

com a restrição de conservação da energia. Além disso, foram

determinadas duas configurações possíveis de gradientes mássicos (EM -

Estratificação Mássica), podendo ser, GPEM (Gradiente Positivo de

Estratificação Mássica), ou GNEM (Gradiente Negativo de Estratificação

Mássica), tomando a parede do cilindro como ponto de referência

espacial, sendo a direção crescente aquela para o centro do cilindro.

As Figura 3.2 e 3.3 serão usadas para ilustrar como as condições

discutidas acima serão atribuídas e usadas para análise. Nelas, cada

retângulo representa um caso estudado. No eixo da temperatura,

identifica-se a temperatura termodinâmica da mistura T , a mesma para

todos os casos, e para cada caso, a média das temperaturas Tm, que varia

como resultado da atribuição de temperatura para cada zona. Para cada

caso, usa-se uma flecha cuja direção indica a direção na qual a massa é

estratificada e cuja espessura indica a intensidade na qual a massa é

deslocada para manter a temperatura média da mistura constante. Os

casos são escolhidos de forma a representar diferentes estratificações de

massa e energia para a mesma energia e massa totais, dessa forma

permitindo analisar o efeito dessas configurações na estabilidade da

combustão.

A Figura 3.2 apresenta as condições de gradiente de massa

positivo (GPEM), ou seja, a distribuição de massa está mais deslocada

para o lado das temperaturas maiores, que é a região mais interna do

cilindro. O primeiro retângulo identifica a condição inicial vista na Figura

3.1. Todos os casos apresentam a média da temperatura Tm menor que a

média da temperatura do caso inicial Tm, i, indicando que a massa deve ser

deslocada para o lado quente para que a energia total, representada por

T , se mantenha constante. Quanto maior o deslocamento de Tm em

relação a Tm, i, maior a intensidade da estratificação da massa. O caso 1

representa uma grande estratificação de temperatura, ou seja, um alto TW,

mas observa-se que Tm é próximo a Tm, i, o que implica em uma baixa

estratificação de massa. O caso 2 possui uma temperatura máxima muito

próxima à condição inicial, porém a temperatura mínima é bem menor.

Assim, tem-se alto TW e uma alta estratificação de massa. Nos casos 3 e

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67

4, manteve-se a mesma espessura térmica TW e apenas deslocou-se as

temperaturas máxima e mínima para valores progressivamente menores.

O caso 3 apresenta um Tm muito próximo de Tm, i, resultando em baixa

estratificação da massa. Já no caso 4, o valor de Tm é significativamente

menor que Tm, i, resultando em uma maior estratificação da massa.

Figura 3.2 - Exemplos de distribuição de massa e temperatura para

GPEM.

A Figura 3.3 apresenta condições de estratificação da massa

negativa (GNEM), ou seja, a massa da mistura está mais deslocada para

as regiões frias as quais estão mais próximas da parede do cilindro. Todos

os casos apresentam a média da temperatura Tm maior que a média da

temperatura do caso inicial Tm, i, indicando que a massa deve ser

deslocada para o lado frio para que a energia total, representada por

T , se mantenha constante. Os casos 1 e 2 possuem o mesmo valor de

TW, porém valores progressivamente menores de temperaturas máxima

e mínima. O caso 2 exige um deslocamento maior de massa para o lado

frio para manter a temperatura média constante do que o caso 1. Para o

3º, este necessitará um deslocamento ainda maior. Em comparação os

casos 4 e 5 em relação ao à condição inicial, nota-se uma espessura

térmica maior, mas pouca diferença de estratificação entre a condição

inicial e 4. O caso 5 pode-se apresentar com condições de estratificação

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68

quase que iguais ao padrão pois houve um alargamento tanto da parte

superior quanto inferior da temperatura. Isso em resumo, diminui as

"tensões" térmicas do sistema.

Figura 3.3 - Exemplos de distribuição de massa e temperatura para

GNEM.

Todos os resultados gerados para condições de estratificação

térmica produzem um número muito grande de casos possíveis de

combinações de estratificação mássica. Sendo assim, foram simulados os

casos que apresentassem menor gradiente para o caso de GPEM e o maior

gradiente para GNEM. Isso se deve ao fato de que estamos procurando os

casos que impoem limites ao funcionamento do HCCI. Isso será abordado

de forma mais clara na seção 4.

3.1.3 Fração de EGR

Esse trabalho tem por objetivo avaliar apenas o comportamento de um sistema termodinâmico em certas condições de estado impostas.

Dessa maneira, entende-se a presença de EGR como se fosse um EGR

externo resfriado. Além disso, não é objetivo convergir a massa de EGR

interna ao longo de muitos ciclos, mas apenas avaliar o efeito de uma

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69

determinada concentração de EGR, mantendo fixa a energia total na

câmara de combustão.

A razão de EGR é definida, por exemplo, em Zheng, Reader e

Hawley (2004), como

exaustãoCO

admissãoCOEGR

2

2

(3.5)

onde 2CO é a fração molar de CO2 na mistura após o fechamento da

válvula de admissão.

O aumento do EGR diminui a concentração de ar. Assim, as

frações molares de oxigênio e nitrogênio da presença de EGR tornam-se

)1(21.022 COO (3.6)

)1(79.022 CON (3.7)

Esse modelo é usado para determinar a composição de entrada

na simulação numérica.

3.1.4 Variação da espessura térmica

Variações na rotação alteram o tempo disponível para a troca de

calor ( ht ) entre as paredes do cilindro e o gás. Com isso, a mistura ar-

combustível tem a tendência de apresentar maior uniformidade na

temperatura para altas rotações. O tempo de residência é proporcional ao

inverso da rotação, 1~ RPMth , enquanto que a velocidade média do

pistão é proporcional à rotação, RPMw ~ . Assim, a velocidade média

do pistão é geralmente utilizada como a escala de velocidade do gás

apropriada para a transferência de calor por convecção superficial entre a

mistura e as paredes da câmara de combustão, entrando, portanto, na

definição do número de Reynolds característico. Considerando que o

escoamento na câmara de combustão seja turbulento, as correlações mais

simples estabelecem uma dependência entre o número de Nusselt e o

número de Reynolds, baseados no diâmetro do cilindro B, na forma

constNu 8.0Re/ . Portanto, 8,0~ wNu . Um exemplo de correlação desse

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70

tipo é dada em Heywood (1988, p. 678 - 680), inicialmente proposta por

Woschni (1967),

8,055,08,02,02 )/()()()(26,3)/( smwKTkPaPmBKmWhc

(3.8)

Para o escoamento em camada limite, /~ khc, onde é a

espessura da camada limite térmica. Assim, conclui-se que 8,08,02,0 ~~ RPMwB . Sjöberg e Dec (2005) concluem que a variação

da temperatura através da camada limite na parede é da ordem de 2.0RPM

. Com isso, Sjöberg e Dec (2005) sugerem que,

2.0

120020

RPMTW (3.9)

O comportamento de TW em função da rotação é representado

na Figura 3.4, e será o modelo utilizado nesse trabalho.

Figura 3.4 - Variação da espessura térmica TW com a rotação do

motor.

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71

3.2 PARÂMETROS DE ANÁLISE

Aqui são apresentados os parâmetros numéricos usados pela

literatura para análise do processo de combustão em HCCI. Os

parâmetros usados na análise de motores são muitas vezes simplificados

em relação a todas as variáveis envolvidas no processo físico, porém, são

muito efetivos na determinação do comportamento da combustão.

3.2.1 Referência de Combustão - CA50

Um importante fator em motores HCCI é a determinação de um

parâmetro que representa um instante de referência para combustão,

conhecido como combustion phasing ou ainda CA50. Esse parâmetro só

começou a ser bem definido nas pesquisas numéricas após o

entendimento de que o sistema termodinâmico da câmara de combustão

não é homogêneo resultando em um gradiente térmico. Assim, os

resultados passaram não mais só a definirem o atraso da ignição, mas

passaram a representar com acurácia o valor do CA50 que possui grande

influência no controle do PRR. Esse parâmetro é definido como o

instante quando 50% da energia da reação foi liberada pela combustão.

Assim, apenas como ilustração é mostrado na Figura 3.5 a taxa de

liberação de calor (HHR) de uma reação em processo contínuo em um

motor HCCI, que representa dois exemplos de sistemas com energia

térmica distintas, e compara como estes se comportam. O CA50 é

controlado pela quantidade de energia inserida no sistema. Com isso,

observa-se que o sistema em vermelho se apresenta com uma energia

maior que o azul. Além disso, nota-se que a combustão inicia muito antes

no vermelho e a taxa de liberação de calor do azul se evidencia menor.

Na próxima seção é mostrado que outros resultados finais podem ser

atingidos através de análise mais aprofundada das configurações

possíveis.

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72

Figura 3.5 - Taxa de liberação de calor contínua vs. ângulo do

virabrequim. Comportamento do HRR com a configuração do

sistema.

O modelo multizona apresenta um comportamento discretizado

da combustão nos permitindo analisar os efeitos da espessura térmica

sobre a evolução da combustão. Assim, na Figura 3.6 observa-se a ignição

de cada zona ocorrendo no momento em que a taxa de liberação de calor

atinge seu maior valor e além disso, o calor líquido acumulado durante os

momentos cruciais para motores HCCI, o final da compressão e o

processo de expansão.

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73

Figura 3.6 - Taxa de liberação de calor do modelo multi zona s.

Revela a discretização e sequência da combustão nas zonas para

um resultado ilustrativo .

3.2.2 Taxa de aumento de pressão

A simulação no modelo multizonas pode resultar em uma curva

de pressão que apresenta flutuações, decorrentes da superposição dos

picos de pressão sucessivos das várias zonas, especialmente, em altas

razões de equivalência. Essas oscilações podem resultar em uma má

interpretação do valor local onde ocorre a taxa máxima de aumento de

pressão. Sjöberg e Dec (2005) definem um método para obter o PRR

máximo que ocorreria se a combustão fosse contínua, ou seja, se houvesse

um número infinito de zonas. Inicialmente, obtém-se os valores de taxa

de aumento médio da pressão calculado para cada par de zona adjacente.

Então, para cada zona, o valor o PRR máximo é aquele correspondente

ao tempo no qual ocorre 50% da queima de combustível na respectiva

zona. A Figura 3.7 apresenta o resultado para uma determinada condição.

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74

Figura 3.7 - Variação da pressão e os pontos onde são definidos os

máximos PRR. É mostrado na Figura a ident ificação dos números

das zonas.

A curva em azul corresponde à curva de acréscimo de pressão

para a mistura utilizando um modelo de 5 zonas, sendo que a zona 1 não

entra em combustão (conforme o esquema da Figura 3.1). Os pontos em

verde identificam os locais onde ocorrem os valores máximos de PRR

para cada uma das 4 zonas.

3.2.3 Critério para surgimento de ondas de pressão

Complementarmente, Eng (2002) definiu uma equação para

quantificar uma intensidade de variação de amplitude de pressão que

poderia resultar em danos à estrutura do motor, discutida inicialmente na

seção 2.1.5. A energia por unidade de área contida em uma onda sônica

pode ser expressa como

cP

PI

2

2

1

(3.10)

onde é a razão entre os calores específicos, P é a amplitude da

variação de pressão através da onda, P é a pressão média do fluido e

5

4

3

2

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75

RTc é a velocidade do som. Durante o processo de combustão em

HCCI, ele denominou de RI (Ringing Intensity) a energia contida em uma

onda sônica dentro da câmara de combustão, modelada pela equação

máx

máx

máxRT

P

dt

dP

RI

2

2

1

(3.11)

onde o termo de variação de pressão é dado em kPa/ms e a pressão

máxima em kPa. Então, a unidade que resulta para o RI é 2/ mMW .

O fator de escala é medido a partir da amplitude de oscilação

da pressão relativo máximo PRR. Esse fator depende das características

do motor sendo analisado. Nota-se que o valor usado por Sjöberg e Dec

(2005) foi o mesmo usado por Eng (2002).

Para o motor testado, Eng (2002) verificou que o valor máximo

admitido de RI antes que ocorrece detonação era 5 MW/m2. Esse valor

será tomado como referência neste trabalho.

3.3 PROCEDIMENTO DE CÁLCULO E ANÁLISE

A partir do estabelecimento do método de modelagem do motor

(realizado através do software Chemkin®) que irá executar as simulações

e dos parâmetros; de entrada sendo as condições iniciais, e de saída

apresentado pelo CA50, HRR, PRR e RI o procedimento de cálculo e

análise segue as seguintes etapas:

1. Determinação de TW e do nível de Tm, a partir da temperatura

da zona 5;

2. Determinação de que configuração de massa é desejada

GP/GN;

3. Obtenção a distribuição de frações mássicas nas zonas.

4. São dados os valores de entrada no ChemKin®; frações

mássicas das zonas, temperaturas de cada zona e rotação do

motor;

5. São retirados para pós processamento valores de variação da

temperatura de cada zona, variação da pressão e HRR;

6. Quando necessário analisa-se se houve a ocorrência de Knock

através do RI.

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76

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

A análise verificou o comportamento da combustão HCCI quanto

à variações na distribuição espacial da massa, temperatura e,

consequentemente, da energia. Os parâmetros analisados são a taxa de

aumento de pressão e o limite do PRR . Todas as análises foram feitas

mantendo-se fixa a energia disponível no motor estudado por Sjöberg,

Dec e Cernansky (2005) e Sjöberg e Dec (2005). O mecanismo reduzido

de cinética química de combustão contendo 112 espécies químicas e 467

reações químicas para a oxidação de iso-octano de Xin, Law e Lu (2009)

foi utilizado. Esse mecanismo foi obtido a partir da redução do

mecanismo detalhado contendo 857 espécies químicas e 3606 reações

químicas desenvolvido no LLNL (Lawrence Livermore National Laboratory) inicialmente por Curran (2002).

Conforme apresentado no capítulo de revisão bibliográfica,

Sjöberg, Dec e Cernansky (2005) realizaram simulações em CFD e em

multizonas com o intuito de reproduzir e analisar as medições realizadas

no motor que eles estudaram. Naquele trabalho, os objetivos principais

daquelas simulações eram validar alguns casos experimentais com a

simulação em modelagem multizonas (mesma da seção 2.3.1). Além

disso, foi caracterizado a importância da espessura térmica no controle da

combustão e as consequências do controle da distribuição de temperatura

inicial do sistema sobre o controle da combustão. Assim, cada simulação

daqueles autores é realizada com uma energia total diferente, o que

certamente implica em comportamentos que não decorrem apenas da

estratificação, mas do fato de ter-se energias diferentes. Aqui, ao invés da

estratégia de Sjöberg, Dec e Cernansky (2005), realiza-se todas as

simulações mantendo constante a energia total da mistura na câmara de

combustão e isso se torna a principal contribuição desse trabalho, como

será mostrado a seguir.

Esse capítulo inicia, na seção 4.1, apresentando a solução do

modelo de base de forma a reproduzir os resultados de Sjöberg e Dec

(2005), com o objetivo de definir as condições de operação do motor,

testar os modelos e o algoritmo numérico e de estabelecer as condições

iniciais para as demais simulações. A seguir, na seção 4.2, discute-se os

resultados da combustão em HCCI quando são usados os modos GPEM

e GNEM de estratificação de massa, em relação ao estado de referência.

Para isso, inicialmente, mantém-se constantes 367,0 e velocidade

de rotação do motor 1200 rpm para todos os casos analisados. Em

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77

seguida, na seção 4.3, as condições discutidas anteriormente sob o aspecto

do controle espacial da energia do sistema são testadas nas diversas

rotações que o motor pode adquirir. E por fim, na seção 4.4, analisa-se o

uso de EGR que é um recurso bastante eficiente e usado em HCCI.

4.1 DEFINIÇÃO DAS CONDIÇÕES INICIAIS

A Tabela 4.1 apresenta as especificações geométricas do motor

de Sjöberg, Dec e Cernansky (2005) e Sjöberg e Dec (2005) que será

usado em todo o trabalho. Como ponto de referência o TDC é sempre

definido em 360°.

Tabela 4.1 - Especificações do motor

Deslocamento volumétrico ( um cilindro) 0,981 litros

Diâmetro do Pistão 102 mm

Curso 120 mm

Comprimento da Biela 192 mm

Razão de compressão medida 17,6

Número de válvulas 4

Fonte: Sjöberg, Dec e Cernansky (2005)

A maior dificuldade de gerar a condição experimental medida

por Sjöberg, Dec e Cernansky (2005) decorre de que algumas

características da mistura e da câmara de combustão não foram mapeadas

pelos autores, levando à necessidade de decisões nos valores reais dos

parâmetros utilizados a fim de reproduzir as medições, conforme

explicado a seguir. A Figura 4.1 apresenta a curva de pressão

calculada para as condições de Sjöberg, Dec e Cernansky (2005). Esse

resultado representa o motor operando com baixa quantidade de gases

residuais, à 1200 rpm, em mistura pobre com 367,0 , com atraso do

CA50 em 368°. Para as condições iniciais de temperatura em BDC de 398

K e espessura térmica de 20 K, a mistura é caracterizada pela temperatura

termodinâmica, em BDC de 43,376T K. Foram usadas 5 zonas,

sendo que a zona 1 não sofre ignição, pois é considerada pelos autores a zona inativa, referente a camada limite.

A Figura 4.1 mostra em (a) o resultado do trabalho base em que

é mostrado a comparação do resultado computacional com mecanismo

cinético detalhado de LLNL com o experimental e do presente trabalho

em (b), o qual foi usado o mecanismo reduzido para iso-octano.

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78

(a)

(b)

Figura 4.1 - Modelo de curva de pressão para (a) trabalho com

mecanismo cinético detalhado e (b) para mecanismo reduzido para

iso-octano. (a) Compara o resultado experimental do moto r com

razão de compressão de 17,6 e 38,0 , com modelo numérico

adiabático de razão de compressão de 15,9 e 367,0 . (b)

Emula o resultado numérico para mecanismo de cinética química

reduzida. Temperatura central de 398 K, espessura térmica de 20 K

à 1200 rpm com , CA50=368°. A temperatura

termodinâmica do sistema em BDC, é 376,43 K.

Nota-se que o modelo numérico foi ajustado para representar de

forma fiel a curva de pressão medida experimentalmente. Assim,

enquanto no experimento a razão de equivalência era igual 0,38, nas

simulações ela foi ajustada para 0,367 por causa da possível presença no

367,0

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79

experimento de algum gás residual ao final da exaustão e início da

admissão, o qual é responsável pela diluição da nova mistura e não foi

quantificado pelos autores. A pressão no BDC foi modificada para 99

kPa. Segundo os autores, essa pressão no BDC foi usada com intuito de

corrigir o que ocorre no motor real, já que a válvula de admissão

permanece aberta até os 25° depois do BDC e com isso, só a partir desse

ponto irá começar à compressão. A razão de compressão do motor real é

de 17,6, sendo que o modelo de simulação foi ajustado para 15,9. Esse

valor é usado devido a uma série de simplificações do modelo numérico,

porém, que representa bem a curva de pressão até o TDC. Com isso, o

modelo pode ser considerado adiabático, sem a necessidade da

modelagem de troca de calor que levaria a um problema numericamente

muito mais complexo. Os efeitos de blow-by também foram

negligenciados.

Além dessas características gerais, outras condições foram

usadas para gerar as condições inciais de Sjöberg, Dec e Cernansky

(2005). A Figura 4.2 mostra como foi definido o gradiente de temperatura

das 5 zonas no BDC. Nela é vista a zona inativa bem como as 4 zonas

ativas que representam o núcleo da câmara de combustão. Em seu

trabalho, Sjöberg, Dec e Cernansky (2005) usaram este resultado como

uma aproximação do resultado obtido de simulações detalhadas de CFD.

Figura 4.2 -Gradiente de temperatura no BDC para o caso validado

em Sjöberg, Dec e Cernansky (2005). O número de cada zona é

identificado na Figura.

5 4

3 2

1

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80

Com base nessa distribuição de temperatura, depositou-se 14%

da fração mássica da mistura ar-combustível na região fria, a qual não

entra em ignição, como pode ser visto no histórico de temperaturas de

cada zona mostrado na Figura 4.3. Essa zona fria representa os pontos no

motor com ausência de combustão, como a região das folgas laterais entre

pistão e parede, a camada limite e o efeito de blow-by. Para completar as

informações sobre o modelo validado, as outras regiões foram definidas

com frações mássicas constantes o que é descrito de forma mais detalhada

nas seções seguintes.

Figura 4.3 - Resultado do histórico de temperatura para curva de

pressão validada. Evolução da temperatura do modelo multizona

para cada zona.

Adicionalmente, mostra-se a curva de pressão abaixo para outro

caso também analisado por Sjöberg e Dec (2005), para 1200 rpm com

TW=20K, 244,0 para a simulação e 26,0 para o experimento.

Nesta comparação nota-se primeiramente que a energia necessária para atingir uma mesma pressão para o caso mais pobre é maior. Além disso,

o resultado para 367,0 revela a presença de flutuações (degraus) na

curva de pressão. Isto decorre da maior agressividade da combustão para

altas razões de equivalência em HCCI, o que evidencia a pouca

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81

discretização utilizada no modelo numérico. Porém, os autores mostraram

que o aumento da discretização das zonas não altera significantemente o

resultado. Para finalizar, é estabelecido que a análise desse texto é voltada

para discussão de altas razões de equivalência para HCCI.

Figura 4.4 - Comparação entre curvas de pressão. Ambas as curvas

com TW=20K e 1200 rpm, variando com 244,0 e

CA50=TDC e 367.0 CA50=368°.

4.2 EFEITO DA ESTRATIFICAÇÃO DE MASSA

4.2.1 Efeito do Gradiente positivo de massa (GPEM)

Para analisar esse parâmetro, aplicou-se variações da temperatura

de T = 5 K, mantendo a espessura térmica constante em TW = 20 K,

porém mudam o nível energético das zonas, ou seja, mT se alterou. Como

foi argumentado anteriormente, a energia do sistema global é mantida a

mesma em todas as avaliações, porém cada zona fica submetida a níveis

energéticos diferentes. As distribuições de massa resultantes são

mostradas na Figura 4.5. Cada distribuição é identificada pelo valor da

temperatura na zona central do motor no instante de BDC. O caso

validado com o experimento em Sjöberg, Dec e Cernansky (2005), Figura

4.5, corresponde à temperatura da zona central de 398 K. Os outros casos

aumentam progressivamente a estratificação de massa sempre no modo

GPEM. Introduz-se uma propriedade ligada ao nível em que os gradientes

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de fração mássico estão configurados. Quando uma distribuição de

temperatura é definida, existe uma infinidade de possibilidades de

distribuição de massa para manter a energia constante. Defini-se como

GPEM mínimo aquele em que o desvio padrão da distribuição de massa

ou, os gradientes de forma global do sistema, apresenta menor valor.

Posteriormente durante o texto, é identificado qual sua influência dessa

intensidade dos gradientes sobre os parâmetros de análise.

Figura 4.5 - Distribuição da Energia vs. Massa Acumulada. Uso do

GPEM mínimo como possibilidade de usar o maior potencial de

homogeneidade do sistema.

O sistema na condição validada mostra que a massa está

distribuída na forma como fora atribuída, sendo 21,5% para cada região

ativa e 14% para região não ativa. A condição de energia total constante

faz com que a alteração de mT (nesse caso, progressiva diminuição) force

as frações mássicas a se deslocarem para as regiões mais quentes

(mostrado no diagrama da Figura 3.2). Pode-se utilizar uma medida de

desvio padrão da distribuição de energia (DP) como uma métrica para a

variação espacial da energia na câmara de combustão. Caso a mistura

tivesse energia homogênea, cada zona teria 20% da energia total. A

distribuição de energia mostrada na Figura 4.5 pode ser convertida em

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83

uma função de distribuição de probabilidade conforme mostrado na

Figura 4.6.

Figura 4.6 - PDF da energia parcial à partir das variações da mT .

Quanto maior for o desvio de mT em relação a condição padrão,

maior o desvio padrão. Isso acontece porque quando a temperatura média

do caso sendo estudado é inferior ao Tm, i do caso de base, a massa deve

se concentrar em regiões com mais energia para satisfazer a condição de

energia constante. Essa diferença na atribuição das condições iniciais

diferenciam as conclusões obtidas aqui em relação àquelas obtidas por

Sjöberg, Dec e Cernansky (2005) e é a principal contribuição desse

trabalho.

A Figura 4.7 exibe a comparação entre as curvas de pressões para

os casos simulados. Os casos identificados como [1] reproduzem as

simulações de Sjöberg, Dec e Cernansky (2005). Os casos identificados

como GPEM são os resultados obtidos com a metodologia adotada nesse

trabalho. Em primeiro lugar, nota-se que nos dois modelos,

semelhantemente, a combustão é sempre atrasada para os valores de mT

menores. Observa-se que em 396 K praticamente não há diferença na

forma como a energia é distribuída pois ambos os modelos fornece a

mesma curva de pressão. Porém, em 394 K a diferença torna-se bastante

acentuada.

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84

Figura 4.7 - Variação da pressão sobre diferentes temperaturas da

região central, TW=20K.

A Figura 4.8 evidencia com mais detalhes a diferença entre os

dois modelos para as simulações com temperatura inicial da zona central

de 397 K à 394 K. Nos dois primeiros casos testados, 397 K e 396 K, a

diferença de fração mássica permanece muito parecida à original devido

à pouca diferença entre as respectivas temperaturas médias (Figura 4.6).

Já o contrário é visto nos dois últimos casos, nos quais a diferença de

temperatura média em relação à original força as frações mássicas a

compensar a diferença de temperatura, resultando em uma quantidade

muito maior de massa nas regiões quentes. Assim, a combustão passa a

iniciar muito mais cedo e, aliado a isso, como grande parte do combustível

foi queimado nas primeiras zonas, a duração da combustão é bastante

reduzida em relação ao modelo proposto de Sjöberg, Dec e Cernansky

(2005).

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85

Figura 4.8 - Início da combustão vs. Duração da Combustão,

TW=20K.

Assim, mostra-se que através do controle dos gradientes de

frações mássicas, os parâmetros de atraso de ignição e duração da

combustão podem ser modificados. Este efeito é mais explorado nas

próximas seções.

4.2.2 Efeito da espessura térmica

Sjöberg, Dec e Cernansky (2005) e Sjöberg e Dec (2005)

concluíram que a espessura térmica é a propriedade com maior influência

sobre o controle da combustão em HCCI, pois executa a função de atraso

de ignição entre zonas sob altas cargas. Os autores mostram que uma

estratificação térmica com a temperatura da região central superior a um

caso em que esta mesma está em menor temperatura, porém com

espessura térmica maior, pode amortecer a velocidade com que a pressão

cresce no cilindro, como é evidenciado na Figura 4.9. Quando a espessura

térmica foi aumentada, o sistema passou de uma energia de

43,376T K em que a temperatura central era de 398 K e espessura

térmica de 20 K, para temperatura central de 402 K e espessura térmica

de 40 K, tornando 42,373T K, o que resulta em uma cinética

química mais lenta. Nota-se que a combustão foi adiantada devido as

T=397K

T=396K

T=395K

T=394K

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primeiras duas zonas terem adquirido maior energia com a mudança,

resultando em um adiantamento do CA50.

Figura 4.9 - Pressão vs. CA. Efeito do aumento de espessura

térmica relatado em Sjöberg, Dec e Cernansky (2005) .

Sob este ponto de vista, a Figura 4.10 apresenta a análise de como

as mudanças na temperatura média e TW alteram a estratificação mássica

e consequentemente as características de ignição. Primeiramente, para

temperatura central de 398 K a temperatura média resultante é 370,4 K.

Já para o segundo caso, 402 K, a média torna-se 367,6 K. Na seção

anterior, mostrou-se que ao manter-se a energia total constante através do

deslocamento da massa, a variação da temperatura origina efeitos

diferentes no motor. Na Figura 4.10 mostra-se que a variação da energia

total, mesmo que pequena, também tem um forte efeito na combustão, um

aspecto não observado em Sjöberg, Dec e Cernansky (2005). Nota-se que

a taxa máxima de variação de pressão passou de 7,8 bar/°CA para 4,5

bar/°CA, atingindo um objetivo de controle do motor.

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87

Figura 4.10 - Efeito da espessura térmica sobre a pressão com

GPEM.

4.2.3 Efeito do gradiente negativo de massa (GNEM)

Até esta seção do trabalho foram realizadas análises com

gradientes positivos de estratificação mássica. Além disso, foi utilizado

como critério para todos os casos, o uso do menor desvio padrão na

estratificação da massa, ou seja, uma análise sobre a condição que

resultaria em menores PRR para esta condição. Isto revelou uma

influência das temperaturas médias, implicando em estratificação de

massa para manter a energia total constante, em atrasar a combustão.

Agora, é analisado o efeito de gradientes negativos de estratificação

mássico sobre o atraso de ignição e consequentemente sobre o PRR.

A Figura 4.11 revela como é o comportamento da curva de

pressão quando são comparados três casos aparentemente semelhantes,

mas com estratificação de massa em direção diferente. Esses casos se

referem a um resultado com temperatura média 369,2 K (muito próximo

ao validado), mas com alta espessura térmica (40 K) resultando em

grandes diferenças de temperatura entre zonas. Nesse caso em que Tm é

próximo do caso validado o DP torna-se baixo para os dois casos, mas

verifica-se a grande influência da forma de estratificação da massa.

Verifica-se que uma pequena quantidade de concentração de massa em

regiões mais quentes gera uma combustão mais rápida. Já o gradiente

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negativo, onde se deslocou a energia através da concentração da massa

para regiões mais frias do cilindro, resultou em um efeito semelhante ao

aumento de espessura térmica nas simulações de Sjöberg, Dec e

Cernansky (2005).

Figura 4.11 - Comparação entre os modelos de estratificação

térmica e mássica e comparação ente estratificações positivas e

negativas.

A Figura 4.12 mostra o comportamento da distribuição normal

da energia para a configuração de GNEM. O desvio padrão da energia é

crescente com o aumento da temperatura em relação as condições

validadas de 398 K. A variação observada nas curvas é causada pela

intensidade com que os níveis de temperatura podem ser configurados.

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89

Figura 4.12 - Desvio padrão para gradiente negativo de

estratificação mássica com TW=20K

A Figura 4.13 compara os efeitos dos gradientes positivos e

negativos. O desvio padrão para o gradiente positivo foi mantido o

mínimo, e para negativo fora mantido o máximo. O aumento da

temperatura central para as mesmas condições de gradiente causam

antecipação da combustão. A Figura 4.13 indica resultados muito

semelhantes entre Sjöberg, Dec e Cernansky (2005) e GPEM, mesmo

para condições acima de 398 K. Porém, o que mais se destaca, é a

elevação do nível de atraso e da duração da combustão com GNEM.

Como foi comentado nas seções anteriores, a medida que Tm cresce acima

da condição validada, a possibilidade de estratificação aumenta o que

torna DP maior, resultando nas maiores diferenças entre as curvas.

Quando o sistema começa a diminuir sua temperatura média, a tendência

é que a estratificação torne-se "mais homogênea" chegando a DP

menores, o que leva a intervalo de ignições reduzidos e como se observa

no gráfico, a duração da combustão é reduzida. Além disso, o ponto de

temperatura de 396 K é o ponto onde o desvio padrão da energia entre os

sistemas é muito próximo, o que leva às características de combustão

observadas.

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Figura 4.13 - Início da combustão vs. Duração da Combustão com

TW=20K.

Além da mudança nítida vista no comportamento da curva de

pressão, outra consideração é realizada. As análises nas seções 4.2.1 e

4.2.2 foram todas feitas usando dados resultantes da escolha do menor

desvio padrão. Isto é justificado pelo efeito físico que buscado, já que um

aumento na estratificação energética resultaria nos casos anteriores em

resultados ainda mais indesejados para o PRR para GPEM. A Figura 4.14

revela a comparação entre curvas de pressão para gradientes negativos

com desvio padrão máximo e mínimo à título de ilustração. Todos os

casos testados para desvio padrão entre os valores máximo e mínimo

encontram-se no intervalo entre estas duas curvas. O resultado final é um

PRR de 7,36 bar/ºCA para DP mínimo, contra 6,69 bar/ºCA para o DP

máximo.

T=402K

T=400K

T=398K

T=397K

T=396K

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91

Figura 4.14 – Curvas de pressão para comparação entre desvio

padrão máximo e mínimo para gradiente negativo de estratificação

mássica.

4.3 ANÁLISE DA TAXA DE AUMENTO DE PRESSÃO

A seguir, analisa-se o comportamento do PRR com a variação da

espessura térmica e a temperatura média das zonas.

A Figura 4.15 apresenta três curvas com espessura térmica

constante e diferentes valores das temperaturas iniciais das zonas centrais.

O eixo x da Figura 4.15 corresponde ao valor da temperatura da zona

central. O crescimento de Tm implica em crescimento da energia total.

Logo, independente da estratificação da massa, um aumento de PRR

ocorre com o aumento de Tm. A curva de GPEM mostra que para o

aumento da temperatura média, há um aumento do PRR. Porém, observa-

se que na menor temperatura exposta a curva não segue esse padrão. Esse

fato pode ser explicado voltando à Figura 4.7, onde o excesso de

estratificação mássico provoca uma reação mais agressiva na primeira

zona. A maior espessura de temperatura entre zonas leva a uma diluição

da carga térmica (menor Tm), assim, na configuração de estratificação

negativa a curva de TW = 24 K apresenta valores menores que TW = 20

K, ainda que estes cresçam praticamente na mesma taxa.

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Figura 4.15 - Variação do PRR máximo vs. Temperatura inicial

com TW constante. Resulta em alteração do

A da Figura 4.16 mostra a variação da taxa de crescimento de

pressão máxima em função da espessura de temperatura TW, em escala

de Arrhenius. Esse resultado poderia ser deduzido em consequência do

que foi observado na Figura 4.15. Todas as três linhas exibem o mesmo

comportamento, mas com evoluções implícitas completamente opostas.

Para o GPEM o aumento da espessura térmica conduz a um deslocamento

de massa cada vez maior para o centro, com intuito de satisfazer a

constância da energia total. Assim, para o ponto TW=20 K e temperatura

central de 398 K, a distribuição da massa é homogênea resultando na

maior velocidade média de reação. Com o aumento da espessura, os

gradientes crescem, resultando em maior tempo para que as temperaturas

das zonas atinjam sua condição de ignição. Porém, com o contínuo

aumento da espessura térmica, a temperatura média Tm decai, exercendo

grande influência sobre a estratificação. Para os dois casos de GNEM

mostrados na Figura 4.16, a evolução da estratificação é indiferente.

Nesta configuração, primeiramente, pequenos valores de TW, significam

alta carga e alta Tm. Mesmo que a massa migre para regiões mais frias,

estas ainda assim são muito quentes, pois Tm é maior que T , resultando

uma rápida queima. A queda do PRR torna-se intensa com a diminuição

mT

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93

da temperatura média do sistema, vindo ao encontro do que é visto na

Figura 4.17.

Figura 4.16 - Variação do PRR máximo vs. TW com a

temperatura inicial constante. Resulta em alteração do Tm

A Figura 4.17 mostra como o desvio padrão se altera para as

diferentes características de estratificação em função das temperaturas

médias. Este gráfico indica que as menores temperaturas médias foram as

que resultaram em menor desvio padrão e menor PRR para GNEM, sendo

o contrário observado para GPEM.

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94

Figura 4.17 - Desvio padrão vs. temperatura média. Mostra a

relação fundamental entre o DP e o PPR e comportamento inverso

das curvas de GP e GN.

As discussões acima mostram o comportamento geral da

influência da espessura térmica sobre a estratificação mássica e

consequentemente o PRR. Entretanto, de modo a avaliar as propriedades

de TW sobre HCCI valores muito grosseiros de espessura térmica foram

usados como uma lente de aumento para capturar seus efeitos, o que não

reflete as variações reais que a espessura térmica apresenta. Dessa forma,

mostra-se abaixo alguns resultados que além de se restringir às variações

de TW, isolam o efeito da temperatura média sobre a combustão e os

gradientes mássicos. A analise é feita sobre uma pequena variação 1,5 K

do nível das temperaturas médias. A Figura 4.18 mostra que sempre o

GNEM máximo, Figura 4.20, vai resultar em menores PRR, onde a Figura

4.19 revela que a duração da combustão será sempre maior, considerando

o mesmo nível de temperatura média.

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95

Figura 4.18 - Efeito da espessura térmica e temperatura média

sobre o PRR em GNEM.

Em todos os casos, o aumento da espessura térmica, como é

mostrado por Sjöberg, Dec e Cernansky (2005), aumentará o tempo de

combustão. Porém, nota-se oscilações no PRR na curvas de Tm constante.

Esse fato decorre do aumento das temperaturas das regiões centrais e

diminuição da temperatura das regiões mais externas. Isso leva a primeira

ignição a ocorrer mais cedo, ou seja, em um ângulo do virabrequim mais

perto do TDC, numa posição na qual a pressão pode ser elevada mais

rapidamente.

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96

Figura 4.19 - Efeito da espessura térmica e temperatura média

sobre a duração da combustão em GNEM.

A Figura 4.20 mostra o efeito da espessura térmica e temperatura

média sobre o desvio padrão em GNEM. Verifica-se que pequenas

variações na estratificação térmica dentro da faixa real de espessura

térmica disponível nos motores resultam em imperceptíveis reduções nos

gradientes de estratificação mássico, sendo este só intensificado com

aumento da temperatura média.

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Figura 4.20 - Efeito da espessura térmica e temperatura média

sobre o desvio padrão em GNEM

Conclui-se da análise acima que, apesar de toda a tentativa em

aliar estratificação mássica e térmica com o intuito de atrasar a

combustão, esta se apresenta com muito mais dependente do nível

térmico médio em que se encontra o sistema do que das modificações para

torná-lo não homogêneo. A diferença entre PRR, tanto para gradientes

máximos quanto para mínimos, aumenta de forma acentuada quando a

temperatura média é aumentada, e depende pouco dos outros fatores. Esse

aspecto tem efeito predominante na combustão HCCI e exerce grande

limitação na capacidade de controle para altas cargas.

4.4 VARIAÇÕES DE CONDIÇÃO DE OPERAÇÃO

Nesta seção o uso das condições práticas determinadas em

Sjöberg e Dec (2005) são usadas para identificar o potencial da

estratificação mássica em aumentar a faixa de operação em HCCI.

Primeiramente alguns parâmetros são identificados como

resultado da mudança de velocidade pistão. Assim, volta-se a analisar

propriedades abordadas por Sjöberg e Dec (2005) para comparar e poder

expandir a discussão. Em suas análises foi determinado como a

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estratificação térmica no BDC precisa ser alterada em função da rotação,

para uma alta razão de equivalência, 367,0 , e combustion-phasing

constante, CA50=368°, para produzir um RI de 5 2/ mMW . A Figura

4.21 e Figura 4.22 mostram os valores de PRR em função da rotação e a

forma da curva de TW exigida para evitar a detonação. Observa-se que a

espessura térmica necessita ser aumentada rapidamente quando a rotação

cresce de 600 para 1800 rpm. Esse aumento é exigido pois deve-se

diminuir a taxa de elevação de pressão medida em bar/°CA e manter

relativamente constante a taxa de elevação de pressão medida em bar/ms.

Segundo os autores, a razão pela qual o PRR absoluto decai levemente

para RI constante é primeiramente pelo baixo pico de pressão que ocorre

em altas rotações. Outra questão é observada. A partir de 1800 rpm, a taxa

com que se exige o aumento de TW diminui. Como fora discutido nas

seções anteriores, em altas rotações deve-se diminuir o TW pois o tempo

para ocorrer a combustão diminui. Porém a velocidade do pistão aumenta,

aumentando a variação no tempo do volume, o que acarreta uma

diminuição na taxa líquida de produção de calor na combustão. Assim,

como consequência o máximo PRR medido em bar/°CA cai

intensamente. Em compensação, em baixas rotações, o PRR máximo (em

bar/°CA) é bastante alto. Esse fato ocorre devido a combinação de baixa

rotação e alta razão de equivalência. Esses fatores juntos resultam no

desenvolvimento de chama fria onde a pressão dentro da câmara começa

a sentir os efeitos da combustão antes mesmo do TDC.

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Figura 4.21 - PRR para manter RI em 5 com variação de

rotação. Condições de 367,0 e CA50=368°. Figura adaptada do

mecanismo do iso-octano de LLNL para o mecanismo reduzido de

Xin, Law e Lu (2009).

Figura 4.22 - Espessura térmica requerida para manter RI em 5

com variação de rotação. Condições de 367,0 e

CA50=368°. Figura adaptada do mecanismo do iso -octano de

LLNL para o mecanismo reduzido de Xin, Law e Lu (2009).

2/ mMW

2/ mMW

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A Figura 4.23 revela como a energia total deve comportar-se para

manter o sistema operando nas condições das Figura 4.21 e Figura 4.22.

Observa-se que a variação de energia requerida decai progressivamente

com aumento da rotação. Isso ocorre porque a pressão máxima e o HHR

diminuem com o aumento da rotação.

Figura 4.23 - Energia necessária para manter o sistema operando

abaixo do RI l imite em condições de 367,0 e CA50=368°.

Como foi citado pela revisão bibliográfica no item 2.1.3,

resultados suficientemente bons foram adquiridos quando diminui-se a

energia do sistema de forma global para cada rotação (a partir do caso

anterior) com propósito de deslocar o CA50 para 372° o que resultou em

menor exigência no controle de TW. Apesar dos resultados serem

bastante bons, o controle da energia para cada rotação do motor em

processos altamente transientes com os quais a maioria dos motores são

exigidos tornam-se impraticáveis.

A seguir analisa-se o comportamento das temperaturas médias

máximas que o sistema pode aceitar usando a conservação da energia

interna e estratificação da massa com intuito de evitar a detonação

operando dentro do regime de troca de calor do motor, isto é, os valores

de TW não são variáveis, mas sim constantes retiradas da equação (3.9).

Um tópico relevante em se lembrar é que o potencial da estratificação

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101

mássica é função da temperatura média do sistema, com isto, quanto mais

afastado a temperatura média do sistema estiver da condição energética

inicial, maior será o desvio da massa para zonas extremas do cilindro.

A Figura 4.24 ilustra como a estratificação da massa pode afetar

o CA50 e consequentemente a evolução da pressão dentro do cilindro.

Como já analisado algumas vezes durante o texto a estratificação mássica

tanto positiva quanto negativa alterou as formas das curvas de pressão.

Mas, as Figura 4.24 e Figura 4.25 revelam de forma conclusiva o efeito.

Sobre GNEM a condição base validada, com temperatura da região

central de 398K e TW igual à 20K, que estava muito perto do limite de

detonação, pode ser diminuída com certa intensidade devido ao

deslocamento do CA50 em torno dos 370° . Já os efeitos vistos para

GPEM são contrários o que resulta no caminho oposto.

Figura 4.24 - Mudança na estratificação mássica para gradiente

negativo considerando todas as outras propriedades constantes .

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102

Figura 4.25 - Mudança na estratificação mássica para gradiente

positivo considerando todas as outras propriedades constantes .

A discussão abaixo revela os resultados encontrados sobre o

efeito da estratificação mássica em aumentar a faixa de operação dos

motores HCCI. Naturalmente, segundo Heywood (1988, p. 702-703) é

inerente ao aumento de rotação, a diminuição da capacidade de troca de

calor do motor. Desta forma, com o aumento da rotação, a temperatura

média de um motor tende a se elevar. Partindo deste argumento, as

temperaturas médias do cilindro foram conduzidas a um aumento que

representa o potencial ou o limite superior de temperatura média que os

sistema pode suportar antes da detonação para determinada rotação. Para

conduzir até o limite das temperaturas suportáveis o GNEM deve ser

usado pois ele representa a maior possibilidade de atraso do CA50. Além

disso, foi determinado nessa análise que a espessura térmica respeitasse a

condição da equação (3.9). Além do fato da temperatura sofrer um

aumento responsável pelas condições de troca térmica, a temperatura

média do sistema deve ser aumentada com o aumento da rotação pois as

reações devem também ser aceleradas afim de se evitar a falha de ignição.

O resultado desta análise é mostrado na Figura 4.26 para 367,0 e

42,0 .

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103

Figura 4.26 - Temperaturas Máximas Limites vs. rotação para

367,0 e 42,0 .

Observando o gráfico nota-se então um amortecimento na taxa

com que a temperatura média é suportada antes da detonação para

aumento da rotação. Esse resultado mostra o quão impactante TW é sobre

a combustão em HCCI. A medida que a velocidade do motor aumenta,

TW diminui, tornando o sistema "mais homogêneo". Essa diminuição de

TW influencia diretamente o potencial de Tm , pois mesmo que o sistema

possa ainda aumentar sua estratificação mássica através do aumento de

Tm , seu potencial em suportar um crescente aumento da temperatura

média passa a ser cada vez mais contido pela influencia da espessura

térmica. O gráfico mostra também o comportamento do aumento da razão

de equivalência. Nela é vista que se sobressai a diferença em baixas

rotações, porém com o aumento a diminuição torna-se cada vez menor.

A Figura 4.27 e 4.28 complementam a discussão mostrando o processo

de limitação da estratificação em função das temperaturas médias limites vista na Figura 4.26. Para operar no limite suportável e retirar a maior

carga possível do motor a temperatura média precisa ser aumentada.

Porém, ela entra no antagonismo de não poder ser alta o suficiente pois é

obrigada a atrasar o ponto do CA50 para cada avanço de rotação, sendo

além disso, restringida pela contínua diminuição da espessura térmica.

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104

Ainda, o deslocamento de Tm faz com que a capacidade de estratificação

seja diminuída causando a atenuação. Assim, conclui-se que TW ainda é

o principal degrau que impede uma liberdade de operação para motores

HCCI.

Figura 4.27 - CA50 vs. rotação. Deslocamento do CA50 com

aumento da temperatura média do sistema e rotação .

Figura 4.28 - Estratificação mássica vs . temperaturas médias

limites. Ponto acima do eixo zero horizontal represe nta GP e

abaixo GN.

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105

A discussão acima foi realizada para o aumento de rotação a

partir da demarcação de 1200 rpm corresponde a temperatura média de

371,27K. Além do efeito do aumento de rotação o efeito da redução da

rotação cria algumas outras questões que são mencionadas através da

Figura 4.26. Quando a velocidade do motor é diminuída abaixo dos 1150

rpm não é mais possível usar o GNEM pois Tm torna-se muito baixo não

resultando mais na conservação da energia. Assim, utilizou-se o GPEM

mínimo para determinar a maior temperatura média possível antes da

detonação. Nessa outra fase do gráfico nota-se um aumento na

intensidade de queda de Tm com a diminuição da rotação, indicando que

o sistema necessita segurar com veemência a velocidade das reações.

Essa queda é bastante acentuada e é explicada pela característica de

funcionamento em baixas rotações. A reação em baixa rotações sofre

grande influência da cinética química de baixa temperatura pois existe

tempo suficiente para elas acontecerem em baixas velocidades. Dessa

forma, há a formação de radicais livres precocemente antes do TDC

levando a auto ignição mais cedo do combustível, mesmo tendo TW

aumentado pela condição de rotação. Isto ainda é responsável pela

diferença de temperaturas entre 367,0 e 42,0 para baixas

rotações. É notado porém, que com aumento da rotação essa diferença cai

de forma intensa. Além desses fatores que caminham contra, a

necessidade de redução da temperatura faz com que o Tm exigido caia e a

partir disso o GPEM começa a sofrer a inversão devida a alta

estratificação mássica que as baixas temperaturas resultam como fora

visto na seção 4.3. Dessa forma, em 1100 rpm foi determinada como a

mínima rotação possível para essa condição de energia para 367,0 e

1200 rpm para 42,0 .

A Figura 4.29 exibe o resultado da discussão do parágrafo

anterior. A temperatura limite para 1200 rpm é inferior a temperatura

suportada por 3600 rpm. Porém, nota-se a grande diferença entre as

curvas de pressão. Sendo que para o primeiro caso um maior pico de

pressão é atingido devido a alta taxa de liberação de calor permitida pela

baixa rotação.

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106

Figura 4.29 - Pressão vs. ângulo do virabrequim. Comparação entre

o deslocamento da curva de pressão devido a velocidade das

reações.

A conclusão acima é retirada com base nas duas Figuras, Figura

4.30 e Figura 4.31, que mostram o HRR líquido da combustão. Operando

em baixa velocidade de rotação, mesmo com uma espessura térmica

relativamente grande, tem-se a taxa de calor liberado bastante íngreme,

resultando em um CA50 mais próximo ao TDC. Além disso, nota-se

como a combustão sucessiva das zonas tem o efeito de comprimir as

outras, aumentando ainda mais a taxa de reação das zonas adjacentes. O

contrário é visto para alta rotação, visto que, a alta expansão dos volumes

torna o espaçamento entre combustões maior e reduz o aumento líquido

de calor no sistema, resultando principalmente no CA50 mais distante do

TDC.

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Figura 4.30 - HRR vs. ângulo do virabrequim. Utilização de GNEM

com Tm=371,27K TW=20K e rotação de 1200 rpm para 42,0 .

Figura 4.31 - HRR vs. ângulo do virabrequim. Utilização de

GNEM com Tm=397,19 K, TW=16 K e rotação de 3600 rpm para

42,0 .

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108

A capacidade de admitir altas temperaturas é reduzida com o

aumento da rotação devido a necessidade de deslocamento do CA50. Essa

tendência expõe um outro resultado que leva ainda a elevar a dificuldade

de controle da combustão. Como um alto CA50 está sendo usado para

diminuir o risco de detonação um leve atraso na ignição das zonas do

sistema pode conduzir a um ângulo do virabrequim onde o HRR não

resulte em aumento líquido de calor no sistema. Este fato pode ser

observado na Figura 4.32 onde a alteração de 1,5 K não resultou em falha

de ignição, porém deslocou a combustão à um ponto onde não exerceu

influência sobre a pressão do sistema.

Figura 4.32 - Pressão vs. ângulo do virabrequim para 3600 rpm.

Comparação entre uma diferença 1,5 K na temperatura sob altas

rotações.

4.5 ADIÇÃO DE GASES DE RECIRCULAÇÃO

Na seção 2 foram determinadas algumas características e

processos utilizados para o uso de EGR presente na mistura ar

combustível com intuito de se controlar o momento do início da

combustão e sua evolução durante o processo. É interesse deste trabalho

caracterizar o modelo numérico como se fosse de EGR externo, ou frio,

sendo que este foi o que apresentou melhores resultados segundo Shi

(2009). Assim, o EGR encontra-se na temperatura de admissão dos gases

que irão reagir na câmara.

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O efeito do EGR sobre HCCI vem sendo estudado desde as

primeiras análises deste processo de combustão. De forma quase idêntica

ao que foi proposto nas seções anteriores, em que a estratificação térmica

possui duas direções livres para controle da combustão, podendo atuar na

determinação do início da combustão e na sua duração total, o EGR

também age nas duas direções, porém não se pode isolá-las. Sua principal

propriedade é de atrasar ignição devido ao alto calor específico dos gases

que o compõe. A Figura 4.33 revela isto, onde de forma sistemática as

ignições das zonas vão sendo atrasadas para EGR=0 até EGR=0,3 onde

já se nota um limite para seu uso (as condições para ilustração usadas são

de GPEM com temperatura central de 408 K e TW de 50 K). A grande

vantagem do uso de EGR é que este possui um comportamento bastante

seguro quanto a garantia de seu efeito.

Figura 4.33 - Efeito da adição de EGR sobre a pressão. Condições

de GPEM com temperatura central de 408 K, TW=50 K e

367,0

A seguir é feita uma pequena análise complementar ao uso do

EGR com estratificação energética. Em um suposto caso do motor

operando à 1200 rpm com TW igual à 20 K em que a temperatura da

região central se encontra 403,5 K, a adição progressiva de gases de

recirculação possui o efeito global sobre a combustão de diminuir a

temperatura do sistema exibida na Figura 4.34 onde se observa a

consequencia dessa inferência. O RI que inicialmente estava 17 MW/m2

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decai até o limite máximo determinado a este motor. E como principal

fundamento disto, o resfriamento progressivo foi o que conduziu ao CA50

ser deslocado para pontos da expansão do motor onde o calor líquido

liberado pela combustão sofre uma diminuição.

Figura 4.34 - Temperatura máxima vs. EGR. Motor operando com

aumento progressivo da fração de EGR à 1200 rpm com TW=20 K

e temperatura da zona central de 403,5 K.

Figura 4.35 - RI e CA50 vs. EGR. Motor operando com aumento

progressivo da fração de EGR à 1200 rpm com TW=20 K e

temperatura da zona central de 403,5 K.

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111

A Figura 4.36 serve como comparação com os resultados obtidos

na Figura 4.26. Utilizando uma fração de 0,2 de EGR o efeito deste se

torna bastante nítido. A capacidade do sistema em admitir o aumento de

temperatura torna -se mais elevado, além do fato de possibilitar um

aumento na faixa de rotação para alta razão de equivalência em rotações

mais baixas.

Figura 4.36 - Temperaturas Máximas Limites vs. rotação para

367,0 , 42,0 e fração de EGR igual à 0,2.

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5 CONCLUSÕES FINAIS E PROPOSTAS DE TRABALHOS

FUTUROS

O trabalho teve como principal objetivo avaliar os efeitos sobre

a combustão em HCCI com uso de iso-octano sob altas cargas através do

controle espacial da distribuição de energia. Para isso, foi imposto

gradientes de temperaturas como variável independente para o sistema

reativo do motor e assim determinar distribuições de massa como variável

dependente com o intuito de se manter a energia constante do sistema. A

partir dos resultados apresentados ao longo do texto as conclusões seguem

abaixo.

5.1 CONCLUSÕES FINAIS

Os resultados observados através da metodologia criada foram

comparados com os da literatura quando possível. A principal diferença

metodológica foi o aspecto de variação da energia do sistema. As análises

feitas por este texto tinham como aspecto principal a discussão da

possibilidade da operação de um motor de forma independente a controles

externos, o que os próprios autores dos artigos base, Sjöberg, Dec e

Cernansky (2005) e Sjöberg e Dec (2005), citam como uma

impossibilidade de seus modelos. Dessa forma, os principais resultados

encontrados foram,

1. O controle da localização espacial da massa do sistema possui o

efeito do controle das fases da combustão, tanto quanto da

ignição térmica quanto o CA50, porém, não tendo o mesmo

desempenho que um controle sobre a temperatura de admissão

do gás no sistema;

2. A configuração espacial de GNEM é a configuração que

proporciona a redução efetiva do PRR;

3. Através de um domínio total sobre as espessuras térmicas da

câmara de combustão existiria a possibilidade de controlar

facilmente a combustão em HCCI. Porém, isto não é possível

devido a dinâmica de troca de calor do motor que restringe a

variação da espessura térmica a uma faixa bastante estreita de

temperatura em relação a mudança de rotação. Essa

característica parece ser bastante limitadora em relação ao

aumento das faixas de operação dos HCCI, já que a cinética

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química do combustível exige uma variação térmica maior para

o PRR não ultrapassar seu limite.

4. A pequena variação da espessura térmica com a rotação resulta

que o desvio padrão para estratificação enérgica não resulta em

resultados que modifiquem de forma intensa o controle da taxa

com que a pressão aumenta;

5. O sistema, em resumo, fica dependente da condição de

temperatura média das zonas para que a cinética química ocorra

de forma sincronizada com a rotação desejada, tanto para

diminuir a taxa de reação para rotações baixas, quanto para

aumentar as taxas de reação para altas rotações;

6. Mesmo que a combustão dependa da espessura térmica a

temperatura média das zonas exerce grande influencia, pois as

variações volumétricas das zonas não são independentes.

7. A evolução do perfil de temperatura do sistema para o

progressivo aumento da rotação dentro do limite de RI

apresenta a necessidade que este se configure de forma

amortecida , o que não é uma característica para aumento de

carga em motores;

8. A operação de um motor HCCI sugere que se altas cargas forem

desejadas, o motor deve manter mT próximo a temperatura da

energia T a fim de manter certa intensidade e liberdade para

variações de carga sobre altas carga. Caso contrário, o sistema

quando opera com mT muito distante de T mostra que

pequenas variações na configuração do sistema podem levar a

falha de operação, tanto no aumento do PRR quanto manutenção

da cinética química para rotação elevada;

9. A utilização de gases de recirculação apresenta um aumento da

eficiência do sistema no controle do PRR, pois é capaz de fazer

o sistema operar em níveis de temperaturas superiores, além de

permitir que se aumente a faixa de operação para baixas,

rotações onde é necessário a retirada de energia.

5.2 PROPOSTAS PARA TRABALHOS FUTUROS

Além dessas conclusões surgem algumas dúvidas que podem ser

investigadas de forma a completar esse estudo. Assim é sugerido estudos

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bastante direcionados de acordo com dúvidas que surgiram com a

realização do trabalho no controle do PRR.

1. Determinação de tempos característicos para um determinado

tipo de motor e tempo característico da cinética química. O

tempo da cinética química é bastante pesquisado pela literatura.

Porém, a determinação do tempo característico das expansões

volumétricas do motor com intuito de se construir um modelo

numérico para sincronização desses tempos (para uma

determinada cinética e determinado tipo de motor) e que o

resultado fosse o controle da taxa de liberação de calor líquida;

2. Determinação de um combustível virtual que se adaptasse a

necessidade de liberação de calor líquida do motor em HCCI. A

cinética química deste poderia servir como base para adaptar

misturas entre combustíveis reais afim de variar o RON para cada

rotação.

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