casta racismo e estratificação

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  • 5/24/2018 Casta Racismo e Estratifica o

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    TEXTOS B SICOS DE CIWCI S SOCI ISDiretor

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    C S T ~ C I S M O E ESTRATIFICAO ~ e f l e x e s de um antroplogo sodal

    Para E. E. Evans-Pritchard

    L oU S UMONT

    4

    Traduo de ROSA MARIA RIBEIRO SILVA

    > Reproduo autorizada pelo autor e edi to r do artigo. pub li cao fr ancesa o rigina l, mencionada aba ixo, ad icionou-se o t t uloutilizado posterionnente pelo autor em apndice do l ivro: omo i e ~rarchicus, Gallimard, Par is , 1966, pp. 305-323. (Publicado em francs nos Cahiers interno Sociologie, XXIX,1960, pp. 91-112; em ingls: Con tr ib . to Ind ian Soc ial. , V, 1961,pp. 20-43; cL crtica de Berreman,. ibid., VI, pp. 122-5.) Estas reflexes nasceram:principalmente da preparao de um verbete castapara um Vocabulr io das Cincias Sociais UNESCO). Deixa.se del ado a quest o d;a extenso imediata da palavra casta por exemplo,no Sudoeste da i{\sia) para considerar apenas uma extenso l o n g n ~qua , q ue p r e c e ~ exigir uma confrontao, seja ela pr ecoce e prov isr ia dos pontos :de vista sociolgico e antropolgico. Raymondi Aron, Science et conscience de la societ , rchiviseuropennes ociologie, I, i 1960), p. 29.

    U ARTlGb RECENTE Raymond Aron escreve, a propsitoda Sociologia, ,que a teoria critica, comparativa, pluralista ainda incipiente . Tal a sensao que se tem quando, tendoestudado o sis1ema de castas na nd ia , aborda-se a questo dacomparao ent re esse sistema social e out ros, quando, particularmente, pr()cura-se o lugar que lhe foi dado nas idias americanas de estratificao social . problema se coloca, paracomear, sob iuma forma muito simples: pode-se, ou no,falar de castas fora da ndia? Particularizando, pode-se aplicar o termo 9iviso entre brancos e negros no Sul dos EstadosUnidos? A esta questo, alguns socilogos americanos responderam afirmati amente, seguindo nisso alis o sentido comum

    HIERARQUIAS EM CLASSES43.) Como se constroem fora das relaes de parentescoreI es sociais de tipos novos? Citemos, por exemplo, ascl ses de idade, as associaes voluntrias, religiosas, econmica ,polit icas. Essas relaes novas podem-se combinar harmoni samente com as organizaes de parentesco ou se opor aeI s. Elas podem tambm se encontrar no seio de sociedadesde tro do Estado.4.) Como, se ligando desigualdade de redistribuioproduto social, aparece uma desigualdade no controle dosres de produo?Esses problemas j receberam mltiplas respostas parciaisqu no iremos analisar aqui. Observemos no entanto que elasco firmam freqentemente a tese central de Marx, isto qu a desigualdade social protege os interesses coletivos dasco unidades primitivas e um fator essencial de seu progresso.T dos os nossos exemplos convidavam de certa forma a reto ar teses fundamentais de Marx e particularmente aquelas

    so te o tlmodo de produo asitico .A essncia mesma do modo de produo asitico aex stncia combinada de comunidades primitivas onde reina apo se comum do solo, organizadas, parcialmente, ainda, sobrea ase de relaes de parentesco, e de um poder de Estadoq e exprime a unidade real ou imaginria dessas comunidades,co trola o 11S0 dos recursos econmcos essenciais e se apropriadi elamente de uma parte do trabalho e da produo das co-m nidades que domina.Por tanto, na sua essncia, o modo de produo asitico ma das iormas de transio das sociedades sem classes paraas sodedades de classes. Enquanto tal, sua est rutura combina e unifica relaes de produo e de organizao social, prpr as das sociedades sem classes, e relaes de produo e ded inao novas que fazem uma sociedade de classes. modode produo asitico exprime pois, sob uma forma especfica,a contradio da passagem das sociedades sem classes paraas sociedades de classes e essa especificidade consiste no fatod que a explorao de classes se realiza atravs das formasco unitrias de propriedade e de posse da terra.

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    9 HIERARQUIAS EM CLASSES 1 CASTA, RACISMO E ESTRATIFICAO 97d termo,2 enquanto que os antroplogos com experincia dai dia responderiam, sem dvida, na maioria negativamente. 3I ealmente, a questo terminolgica poderia parecer uma simp es questo de escolha: ou se seguiria uns e se adotaria umad finio muito ampla, e se seria levado ento a fazer dis tin es como alguns autores que opuseram a casta racial (EUA)e a casta cultura l' (fndia); ou ento, ao contrrio, se recusari toda extenso do termo alm do tipo indiano definido top ecisamente quanto possvel, e seriam necessrios ento outrost rmos para designar os outros casos. Mas de fato o uso dot rmo este e talvez somente peIa cr tica de suas implicaesj manifestas seja possvel preparar os caminhos de uma comp rao mais ju sta . T ratar-se- pois de criticar o uso americ no dominante para fazer ver como a Antropologia Social podeaj dar a Sociologia nessa matria. Dois aspectos particularesr tero nossa ateno: a idia que fazem do sistema indiano osa tores em questo, e a situao para eles do conceito de cast em relao aos conceitos vizinhos como o de classe e

    2 A tendncia, que s eu ni co o po si to r sistemtico, O. C. Cox,d amou de th e caste School o f Race Rel at io ns p a re ce ser dona dote rena. Encont ra-s e tambm uma tendncia mais m o d e r a d a ~ quea lica a pa lav ra cas ta nos EUA de maneira monogrfica sem preju gar a comparao (Myrdal etc., ver mais adiante). - Os dicionri s do, ao l ado do sentido prpr io do termo, o sentido extenso, porc Littr, s./v.: 2.0 } pejorativo, classe na sociedade, considerada entoc mo exc lusiva e fechada .3 No entan to , ent re os autores recen tes famil ia rizados com osi tema indiano, um socilogo que trab alha no Ceilo insiste na dife ena fundamenta entre ndia e EUA: Brice Ryan, Gaste i n o ~d G e y l o n ~ New B r u n s w i c k ~ N. ~ 1953, p. 18 n .; enquanto F. G.B iley afimla a prior i que a comparao deve se r feita a p ar ti r d a

    p lavra c asta (Gont ri bu ti on to Indian S o c i o l o g y ~ P a r i s ~ H a i a ,n. 3, 1959, p. 90). Morris Carstai r s menos categrico, mas aceita,c a definio de Kroeber (abaixo), a utilizao americana do termo,ex 1 funo de suas vantagens em relao a raa The T w i c e B o r n ~L ndres, 1 9 5 7 ~ p. 23). Bem a n t e r i o n n e n t e ~ um indiano, K e t k a r ~in ist ia na diviso hierrquica da sociedade americana a partir dar a e da ocupao, ele enumerava uma hierarquia de 10 grupos (n av rdade grupos de provenincia). Sem empregar a pa lav ra cas ta ,in istia, no sem sat isfao, n os t ra o s qu e l he l embr av am -a ndia( hridar V. K e t k a r ~ The History of Gaste in lndia, vaI. I, I t h a c a ~N Y., 19 9 p. 100 n., 102 n., 115 n.). Recentemente a questo gera l discutida em : E. R. Leach, org., Aspects of Gaste i n South l n d i a ~G ylon and N ~ W P a k i s t a n ~ Cambridge, 1960 (Cambridge Papers inS eial Anthropology, n.o 2) , principalmente p. 5.

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    7il,

    idia geral de estrat ificao social , sob a qual eles agrupamfreqentemente os fatos desse gnero. Tentaremos em seguida esboar as: condies de uma comparao verdadeira.A) A casta como l imite de classe: Kroeher. - Kroeberdeu uma defiqio da casta que considerada, de direi to, comoclssica, porque, como veremos, toda a corrente sociolgicaconhecida se liga a ela, No se artigo cas ta da Encyclopaediaof Social S e i ~ n c e s (vaI. III, 1930, 254b-257a), ele enumeraos caracteres da casta (endogamia, carter hereritr io , nvelrelativo) e acrescenta:Castes, liherefore, are a speeial form of soeial classes,which in tendency at least are present in every society. CastesdiHer Eram social classes, however, in that they have emergediuto social conscousness to the point that custam and lawattempt their ~ i g i d and permanent separation Eram one another.Social classes. are the generic sai from which caste systemshave at various times and places independently grown up., .(gri fo do autor). 4Por sistemas de castas , ele tem em vista, no que sesegue, alm d ~ ndia, a Europa e o Japo medievais. No entanto, reconhe;ce implici tamente que os dois ltimos casos noso perfeitos, ,seja porque a organizao de casta est l imitadaem uma p a r t ~ somente da sociedade, seja porque se tr at a deum quasi-caste system (Japo), onde a diviso do trabalhoe a integrad religio permanece.m vagas.O essencial, aqui, para ns, que a casta um caso limite da c l a s s ~ Por qu? Em primeiro lugar, sem dvidapelo fato da :universalidade da Antropologia, como diz L10ydWarner, a c e i t ~ n d o a definio de Kroeber. 5 Em segundo lu-

    4 Castas,: portanto, so uma fonua especial de classes s o c i a i s ~que pelo m e n o s ~ ; tendem a estar presentes em toda sociedde. No- en.:tanto castas d i ferem de classe social, porque emergiram na conscinciasocial at o ponto em que a lei e o costume atingerp. sua rgida,-e p e r ~manente separao uma da outra. Classes sociais so o solo genricodo qual os s i s t ~ m a s de casta cresceram independentemente em vriost empos e lugar es . (Traduo inserida pela o ~ ~ n i z a d C ? r a , _ :5 W. LIoyd Warner (D ir . ), Deep South. AiSocial Anthroplogical S tudy f Cfs te and Class, Chicago (c. 1941), ed.1946;p. ~B. S. Ghurye tcm uma posio prxim d d e K ro eb er : g ru po s d estatus bem marcados so comups nas culturas indo-europias;' porcomparao o sis tema ' das castas indiano representa sdmente limaforma extrema (IntocabiIidade etc.) (Gaste nd' j:iac in l n d i a ~ N ~ Y . ~1932, pp . 140-(42). .

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    98 HIERARQUIAS EM CLASSES CASTA, RACISMO E nSTRATIFICAO 99gar, porque a c ~ s t a ao mesmo tempo rgida, e relativamenterara enquanto a classe mais f lexve l, mais vaga e relativamente muito difundida. Mas o problema assim apenas afastado, porque seria necessrio definir a classe e esta uma operao muito mais difcil do que definir a casta. No impor ta,a classe nos familiar, enquanto a casta nos estranha. Eis-nosj no corao do scio-centrismo, onde toda a nossa escola

    v i ~ s e desenvolver. Se estivssemos prontos a negociar afreqncia relativa da classe hipottica, e no tivssemosem vista se.c.o a clareza conceituaI, poderamos muito beminverter os termos e partir do sistema indiano de castas, queapresenta sob uma forma Itida e cristal ina aquilo que se diluiem outro lugar de maneira mltipla . A definio ci tada parecemostrar que, quando reduzimos a um epifenmeno - por maisimportante que se queira reconhec-lo - a conscincia que asociedade tem dela mesma they have emerged into socialconsciousness ), ficamos condenados obscuridade.B) Distino entre classe, estado e c st - Mas a unidade do gnero humano no ex ige que se reduza arbitrariamente a diversidade unidade, pede somente que se possapassar de uma particularidade a outra, que se consagrem tantos esfcros quanto necessrios a elaborar uma linguagem co

    muro onde todas possam ser descritas. Para isso, precsocomear reconhecendo as diferenas.Antes de Kroeber, Max Weber t inha dist inguido radicalmente classe e Stand grupo de statusJJ ou estado nosentido da Frana do Antigo Regime, como economia de umlado e honra e relaes da sociedade do outro. 7 Criticou-se sua definio da classe como grupo econmico. O seu mrito foi o de ter dado uma que no fosse muito vaga. Admitamos que as classes sociais de que se fala comumente emnossas sociedades apresentam os dois aspectos; a distino ana-ltica no menos indispensvel de um ponto de vista comparativo, como se ver a seguir. Alis, em Weber como em Elas emergiram na conscincia social . (Traduo inseridapela organizadora.)7 Max Weber, Wirtschaft und e s e l l s c h f t ~ I I, 635 -7. Di scut idopor Cox, Gaste Class and R a c e ~ p. 287, e: Max Weber on SocialStratification , Am Soe. Rev II 1950 , pp. 223-7; cf. tambmHans Gerth, Max Weber vs. Oliver C. Cox , Am Soe. R e u ~ ibid.pp. 557-8 (sobre os judeus e castas).

    Kroeber, a casta representa no limite uma passagem:,para ele, o grupo ide status que se transforma em casta,. 'quando aseparao i garantida no mais somente por convenes eleis, mas ritualmente (impureza por cantata). Essa passagemi g rupo de status para a casta concebida geneticamenteou s logicamente? Weber, plo menos na passagem deWirtschaft und Gessellschaft que tenho em vista aqui, almde pensar que as castas individuais desenvolvem numa certamedida cultos e deuses distiutos ( er ro do senso comum ocidental que imagina que o que se di stingue deve ser d iferen te ),faz intervir outro componente na gnese da casta, isto umadiferena considerada tnica. As castas seriam ento comunidades Gemeinschaften) fechadas em relao ao exter io r, endogmcas, hcreditando num parentesco' de sangue entre seusmembros, que se colocariam em sociedade vergesellschaftet)umas com as outras. Em suma, a casta resultaria de uma conjuno entre grupos de status e ((comunidade tnica . Parece que nesse ponto h uma dificuldade. Na verdade, Webermantm a diferena entr e a Vergesellschaftung de um grupoconsiderado:tnico, de um povo pria , tolerado s em ra-zo das at ividades econmicas indispensveis que ele exerce,como os judeus na Europa medieval, e a Gemeinschaft, formadapor grupos: de status ou, no limite, por castas. Se no meengano, a dificuldade aparece, na frmula fiual que deve reconciliar as, duas, sob a forma de uma transio arti fic i l deGeseIlschaft, a Gemeiuschaft o grifo meu): E ine umgreifende Vergesellschaftung die ethIsch geschiedenen Gemeinschaften zu einemspezifischen, politischen Gemeinschaftshandelnzusammenschliesst , ou seja, mais ou menos: H colocaoem sociedade de comunidades etIcamente distiutas limita-asa ponto de r e u n i ~ 1 a s no plano da ao poltica, numa omun -dade de um gnero novo . O grupo particular admite entouma hierarquia de honra o mesmo tempo que sua diferenatnica se torna uma diferena de funo (guerreiros, sacerdotesetc.). Por mais notvel que seja a conjugao da hierarquia dadiferena t Ica e da diviso do trabalho, pode-se pergnntarse Weber ~ q u i no sucumbe, por ter querido unir a uma viso hierrquica consideraes nicas , englobando ao mesmotempo idias muito difundidas sobre a origem racial do sistema de castas indiano, e a situao excepcional de algumascomunidades minori trias (judeus , c iganos) nas sociedadesocidentais.

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    100 HIERARQUIAS EM CLASSES CASTA, RACISMO E ESTRATIFICAOo que permanece a dis tino, analt ica tanto quanto sedeseje, entre grupamento econmico e grupo de status. No inter ior deste lt imo, pode-se em seguida di st ingu ir mais nitidamente, com Sorokin,8 ordem ou e st ado e casta porexemplo, o clero na Frana do Antigo Regime no se reproduz

    por si mesmo, um estado aberto).C) A casta nos Estados Unidos. - A primeira vista,um paradoxo aparece nos dois autores mais marcantes ent reos que aplicaram o termo cas ta separao entre brancose negros nos Estados Unidos. Enquanto seu propsito opor a { color f ine} distines de classe, todos dois aceitama idia de que a casta uma forma particular, uma forma ex-t rema da classe, e no um fenmeno diferente . J vimos comoLloyd Warner aceita a continuidade de Kroeber; no entanto, eleinsiste imediatamente, desde seu artigo de 1936, no fato deque, enquanto brancos e negros formam duas castasH os doisgrupos se estratificam em classes segundo um princpio comum,de forma que os negros da classe superior so superores, doponto de vista da classe, aos pequenos brancos , mesmo sendo inferiores a eles do ponto de vista da casta . 9 GunnarMyrdal tambm coloca que 10 caste may thus in a sense be

    8 Pitirim A. Soroki n, Soc ie ty , Cul tu re and Persona liy, TheirStructure and Dynamics, N. Y (c. 1947), p. 259 a ordem ou oestado como uma c as ta diluida , eL o que d iz amos sobre cl as se ecasta). Max Weber distingue entre grupo de status aberto e fe ch ado(Ces Aufs. z. Religion-soziologie, II 1 cd. 1923, pp . 41-2). notvelque uma obr a recente reconhea dois t ip os f un dament ai s d e e st ra tificao social , o tipo d e c asta , qu e comp re ende as ordens ouestados , e o tipo de c lasse aberta, ligados respectivamente aos plosda alternativa particularismo/universalismo de Talcott Par sons (Be rnard Barber, Social Stratif ication, A Comparative Analysis of Structureand Process, N. Y., 1957). W. Lloyd Warne r, American Caste and Class , m Journ.of Social., 42 1936), pp. 234-7.10 Gunnar Myrdal, n American Dilemmo, The Negro Prob lem and A-fodern Democracy with th e assistance of Richard Sternerand Arnold Rose), Nova York e Londres (c. 1944) , p . 675 ; t ambmp. 668, T hc scientifically important difference b etween t he termscaste and c la3s as we a re using them is f rom t hi s point of view,a rela tivel) l arge d il fe rence i n f reedom o f movement between groups(grifos G. M.) . [A diferena cientificamente importante entre os termoscasta e c la sse, t ai s como os estamos usando, , desse pon to d e vista,uma diferena relativamente ampla na l ib er dade d e mov imen to ent regrupos]. Mesma jus ti fi cao do emprego do termo (razes prticas,no indicam identidade com os fatos indianos), em Westie, mJoum 01 Soc., 63 1957-8), p. 192, n. 5.

    viewed as the extreme case of absolutely rigid elass , nestesentido a casta constitui a harsh. deviaton from the ordinary Ameriqn Social structure and the American Creed . A expresso harsh deviation)} aqui necessria para corrigita continuidade colocada na frase precedente. Finalmente, aidentidade de essncia postulada entre classe e casta pareceter sua raiz no fato de que, uma vez a igualdade reconhecidacomo a norma, todas as formas de desigualdade tendem aaparecer como sendo uma s coisa em razo de sua comumoposio norma. E veremos logo que isso perfeitamentejust ificado, de modo consciente, em MyrdaI. Mas, se do pontode vista de uma Sociologia comparativa, prope-se a descriodessas formas de desigualdades em si mesmas, se alm dissose constata em numerosas sociedades a presena de uma normade desigualdade, a unidade suposta ent re a classe de um ladoe a forma imericana de discriminao de outro perde todo osentido, seglj ndo o prprio tes temunho de nossos autores .Alis, esses dois autores just ificam de maneira muito di-ferente o emprego do termo c ast a no que se refere aos fe-nmenos americanos. Para Myrdal, a escolha de um termo assunto puramente prtico. preciso usar uma palavra corrente e no procurar escapar ao julgamento do valor implcito numa ial escolha). Entre os trs termos disponveis,classe nO convm, raa dar ia um aspecto objet ivo a r ~concetos e: justificaes subjetivas, resta casta , que j foiempregado flesse sentido, e que pode s-lo monograficamentesem que seja necessrio se preocupar em saber at que pontose trata dai mesma coisa na ndia e nos Estados Unidos. 12

    11 cas ta pode ser vista num sent ido como um caso extremode classe absolutamente rgida ... um desvio acentuado da estrutura social americana comum e do c re do ame ric ano . T ra du esi nser idas pelq organizadora.)

    12 Op. :cit pp . 667-8. Numa nota, Myrda l coloca uma objeoapresentada especialmente po r Charles S. Johnson: a palavra castasugere um sistema estvel, i n v r i ~ v e l e onde no se encontram aindaas t enses e f ri ce s que caracter izam as r el ae s en tr e b rancos enegros nos EUA: e le r esponde que no acr ed it a que um sistema decastas, tendo essas carac te r st icas, exis ta n. 2, pp . 1374-5) e p.668) que a ~ o c i e d d e indiana no apresenta atualmente o equilbrioestvel que i socilogos americanos, por causa da distncia, freqentemente se inclinam a atribuir-lhe. V-se aparecer aqui o credo igualitrio. O autor tendo, depois, conhecido a ndia, pergunta-se se elemanteria isso h oje, se manteria mesmo o uso da palavra casta paraa Am ri ca .

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    102 HIERARQUIAS EM CLASSES CASTA, RACISMO E ESTRATIFICAO 103Na verdade, a colorao pejorativa do termo no desgosta oautor. Enquanto a palavra r a a encerra uma falsa j u s t i f i ~cao 7 a palavra cas ta traz condenao. Isso result a da relao com os valores estabelecida nas pginas seguintes. A ideologia americana igualitarista ao mximo. O Credo americanoexige a livre concorrncia, que, do ponto de vista da estratificao social, representa uma combinao de duas normas debase: igualdade e liberdade, mas aceita a desigualdade comoresultado da concorrncia. 13 Deduz-se da a significao dasdiferenas de si us social nesse pas, concebem-se as classescomo os resultados da restrio da livre concorrncia , e n ~quanto que a ( 'cas ta , com suas restr ies draconianas livreconcorrncia, contradiz diretamente o Credo americano, criauma contradio em cada conscincia de branco, no se mantm seno graas a todo um sistema de preconceitos e deveem SUma desaparecer.

    Tudo isso muito bonito e no se poderia sem dvidafundamentar mais solidamente a atitude militante em que'Gunnar Myrdal v a nica possibi lidade de objet ividade verdadeira. Especialmente, ele tem o mrito. de nos fazer verue numa relao com os valores (no expressada em Kroeber\ a rner ) que se compreende melhor a continuidade supostaa classe casta. Mas ser verdadeiramente necessrio emudo isso empregar a palavra Hcasta sem garantias cientf ias? 14 A tese teria perdido em eficcia por no fazer uso senoe expresses como discriminao , segregao etc.? Mesa na afirmativa, seria necessrio arriscar obscurecer a comarao para favorecer a ao? Gunnar Myrdal no se preo-

    bid pp. 670-1. H aqu i um jul gament o interessante sobree scol a de ~ ~ a r n e r segundo Myrdal, preciso colocar o extremoJlgualitarismo da teoria popular nacional para compreender ao mesmo.irmpo a tendncia desse s autor es a exagerar o rigor das distines de' Jasse e de casta na Am ri ca , c o i nt ere ss e s us ci ta do pelos t ra ba lh os ,{ue foi maior do que comportava sua novidade propriamente cientfica.14 Ficamos um p ou co surpresos em ver p rximo das id ia s quesumimos uma noo bas tante est re it a do lugar do conce ito na , Cia: Concepts are oul' created instruments and have no othel'

    f l'm of l'eality than in ou r own usage. Theil ' purpose is to helpllake our t hink ing c lear and our observations a ccur at e ( p. 667) .(Conceitos so instrumentos criados po r ns que no tm outra forma(e . r ea li da de s en o em nosso uso. Sua finalidade ajudar a tornarr o sso pen samento c la ro , c nossas observaes acuradas.)

    cupa com comparao. Alm disso, ele no d as costas teoria comp*rativa na medida em que no realiza sua objetidade seno no caso de poder aderir pessoalmente aos valoresda sociedade que estuda? .Ao contrrio de Myrdal , L yd Warner pensa que existe

    cas ta no Sul dos Estdos Unidos, rio sentido do termo nandia. Isso resulta de um estudo considerado comparativode Warne r e Allison Davis, 15 onde os resultados da pesquisaamericana s ~ o resumidos, a casta def inida, e onde duas outrt s pginas' so dedicadas aos fatos indianos. O resumo indiano, embo'ra fundamentado em bons autores, pouco convincente. Insiste-se na variabilidade do sistema no tempoe no espao; at afirmar: It is not correct to speak ofanIndian caste 'system since there is a variety of systems there .'6Em ger.al, a casta concebida como 'uma .variedade daclasse, que difere dela pelo fato de pro ib ir a mobilidade tan topara cima quanto para baixo. O argumento central o se-

    guinte: nos estados do Sul, alm das incapacidades impostas aosnegros e a impossibilidade, para eles, de ascender , no hent re brancqs e negros nem casamento nem comensalidade;acontece o mesmo na ndia entre castas diferentes . Trata-seda mesma espcie de fenmenos sociais: Therefore, fo r thecomparative odologist and social anthropologist they are formsof behavior hich must have the sarne term applied to them(p.233). '7 .Essa frmula tem o mr ito de colocar nitidamente o problema, de maneira que se nos recusamos, a seguir Warner p0 -demos f a c i l ~ e n t e dizer por qu... Uma primeira razo, queparece podej ser amplamente admitida, que sob rtulode formas pe comportamento ou ((fenmenos sociais ,War-ner confunde duas coisas diferentes , ou seja, uma soma de tra-

    15 W. Lloyd Warner Allison Davis, Comparative Study oAmeri can Cas te ) em Eduard T. Thompson, org.) Race Relat ions andthe R ac e Problem Durham, Carolina do Norte, 1939, pp. 219-45,o que concenle 1ndia, pp. 229-32.

    16 No correto falar em um s is tema de cas ta s indiano desdeque l existe :uma var iedade de sistemas . (Traduo inserida pelaorganizadora. )7 P o r t ~ n t o para o soci logo e o ant rop logo soc ia l, que tmuma perspcctiya comparada, elas s o fonnas de comportamento quedevem ser corpp reendida s sob o mesmo te nno . ( Tr adu o inseridapela organizadora.)

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    04 HIERARQUIAS EM CLASSES CASTA , RACISMO E EsTRATIFICAO 105ps particulares (endogamia, proibio de comensalidade e deobilidade e tc .) e um sistema social to ta l, ((casta no casoi diano significando evidentemente sistema de ca stas . Nof i colocada a questo de saber se a soma dos traos consider dos suficiente - com a excluso de todos os traos n o ~- onsiderados - para definir o sistema social: no se trata de to do sistema, mas somente de um certo nmero de traoso sistema indiano de castas que, na viso do autor , seria sufk ient e para definir esse sistema. Na verdade, .temos aquilima escolba que no b nenhuma necessidade de seguir. 18

    Ten temos agora mos tr ar as razes que a tuam con tr a a esolha proposta. Admite-se geralmente, em Antropologia 50-ial pelo menos, que os traos part iculares devem ser vistosas suas relaes com os outros traos particulares. Resul taa, a seu ver , uma conseqncia radical; um trao partcular,e ele tomado no em si mesmo, mas na sua situao conre ta num sistema (o que se chama s vezes sua funo )ode ter uma significao totalmente diferente conforme a si-uao que ocupa, o que vem a dizer que ele na realidadeiferente do ponto de vista sociolgico. Da mesma forma, andogamia de um grupo: no basta dizer que o grupo seecha , porque esse fechamento talvez no seja sociological1ente a mesma coisa aqui e ali: em si ele a mesma coisa,ltnas no s implesmente um fato sociolgico, porque no m primeiro lugar, um fa to consciente. Chega-se necessaria-ente ideologia, que a Socologia behaviorista de Warner eutros escamoteia, colocando em suma que, entre os traosarticulares a observar nas relaes, os traos ideolgicos nom o mesmo estatuto que os outros. O esforo de Durkheimc de Max \'Veber tambm) tinha no entanto, em grande meida, levado necessidade de lhes reconhecer a mesma e x i s ~ncia objetiva que aos out ros aspectos da vida social. No serata naturalmente de pretender que a ideologia seja necessaria-ente a real idade lt ima do fato social e fornea sua expliao , mas somente que ela a condio de sua existncia.

    18 Na verdade, a escolha efetuada clara no seu pnncipIO:aracter izou-se o sistema das castas indiano por somen te aquel es seusraos que se pensa encontrar na Amrica, onde alis e les no consituem um sistema inteiro, mas s uma parte do que se des ig na comoistcma de c.iassC e de casta ( class and caste system ).

    Pode-se ent ra r em contato com a deformao a que foramsubmetidos aqui os fatos sociais tomando o exemplo da endogamia. Warnet e Anison a apresentam como um fenmenode comportamento, e no como um fenmeno de valores.Assim, ela seria a mesma coisa que a endogamia de fato deuma t ribo q u ~ no tivesse nenhum preconeito con tra o n-tercasamentocom uma outra tribo, mas que circunstncias dadas impediriam de pratic-lo. Se, ao contrrio, a endogamia um fenmenQ de valores, injust if icvel cort-Ia na anlisedos outros fef\menos de valores, e em particular (mas nosomente) das Justificaes que se d a ela. Ora, somenteassim que se pode confundir discriminao racista e sistemade castas. Mas, diremos, no possvel que a anlise reveleum estreito parentesco entre fatos sociais exteriormente semelhantes e i d e o ~ o g i m e n t e diferentes? Conviremos, sem dificuldade, que coisa possvel, marcaremos somente vigorosamente que no chegamos a, nem de longe, e que a tarefa nomomento t9mar os fatos sociais tal como se apresentam,sem lhes apl iar uma discriminao to injust if icada cient ificamente quanto o na sociedade americana a discriminaoa que nossos :autores se dedicam. O ponto capital que arecusa em d a ~ o legtimo lugar aos fenmenos de conscinciatorna a verdadeira comparao sociolgica impossvel, porqueela acarreta uma ati tude scio-cntrica. Na verdade, para sairde sua prpria sociedade, precso tomar conscnca de seusvalores e de suas implicaes, o que sempre difcil e se to rnaimpossvel se: os valores so negligenciados. Tem-se a confirmao disso, aqui mesmo, no fato de que, no sistema conceituaI de War tj er , a continuidade en tre classe e casta procede,como vimos, ide uma relao insuspeitada com a norma igualitria, enquapto ela se apresenta como um objeto de comportamento.A crtica: da Cas te School of Race Relations foi notavelmente conduzida por Oliver C. COX. 9 A partir das mes-mas fontes qtJe Warner, Cox, de quem preciso admirar a intuio, destacou uma imagem do sistema que infinitamentemais verdadei,ta do que aquela com que Warner se contentou.

    19 Oliver: C. Cox, Race and Caste , a Distinction , Am. Journ.o f S oe . 50, 1944-45, pp. 306-8, e sobretudo Caste Class nd Rocea tudy in Social Dynamics Nova York, 9 8 ~ do qua l so t ir adas n o s ~s

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    106 HIERARQUIAS EM CLASSES Ct,STA, RACISMO E ESTRATIFICAO 107Sem dvida no se pode estar em tudo de acordo com Cox,mas preciso no esquecer que ele trabalhava com fontes se-'cundrias (a partir de Bougl, por exemplo). Alm disso, osimites da compreenso de Cox nos ensinam precisamente sobres nossos preconcei tos ocidentais mais enraizados. Ele 50 -retudo insuficiente no que concerne s ligaes religiosas doistema (o puro e o impuro), porque para o ocidental a so-iedade dada independentemente da religio, e ele tem aaior dificuldade em imaginar que possa se r de out ra forma.o contrrio, Cex v bem que preciso no falar da casta,as do sistema (pp. 3-4), que no se trata de uma ideologiaacial: . .. although the individual is bom heir to his caste, hisdentification with it is assumed to be based upon some sort ofsychological and moral heritage which does not go back tomy fundamental somatic determinant (p. 5 .20Ele escreve ainda (p. 14): Social inequality is the keyate of the system... lhere is a fundamental creed ar preumption (of inequality). antithesis of the Stoic doctrine ofuman equality 21 V-se que Cox coloca em evidnciaontos importantes, e incontestveis, todas as vezes que eleuer destacar a diferena entre a ndia e a Amrica. No mestenderei sobre sua cri tica de Warner e de sua escola, mas o vimos tocar no essencial: o sistema indiano um sistemaocial coerente fundado sohre o princpio da desigualdade, enuan ta o color bar americano contradiz o sistema igualitrioo inte rio r do qual ele se encontra e constitui de alguma formalm a doena sua. 22

    O emprego da palavra cas ta para designar a segregaoacista americana conduziu alguns autores, preocupados em reonhecer apesar de tudo a diferena ideolgica, a fazer uma20 embora o indivduo ao n as ce r s ej a herdeiro da suapsta. sua i de nt if ic a o c om e la pressupe-se que seja baseada em;;lJguma esptcie de her ana moral e psicolgica que no se reportanenhum determinante somtico fundamental . (Traduo inserida

    I[ela orgaradora.)21 A desigualdade social a chave do sistema... h um credof IOdamental ou pressuposto (de desigualdade) anttese da doutrinac lica da igualdade humana . (Tr aduo inserida pela organizadora.)22 A tese de Cox par ece t er t ido r el at iv amen te lJouco eco. So' -f ki n no entanto remete a seu artigo e toma posio semelhante: arJao entre brancos e negros tem alguns elementos da relao

    { ~ l l r e < astas; ma s difere fundamentalmente clela op. cir., p. 258 J i 2) .

    distino secunria. John Dollard escrevia em 1937; 23 American caste is pinned not to cul tura l but to biological factors.Em 1941, num artigo int itulado Intermarriage in Caste So-ciety onde el e considerava, alm da ndia, os Natchez e asociedade do ~ u l dos Estados Unidos, Kinsley Davis se colocava a p e r g u n t ~ Como casamento entre unidades diferentes possvel nessas sociedades, enquanto a -estratificao em castas depende eSlritamente da endogamia de casta? Ele respondia, em substncia, que era necessrio distinguir entre umracial caste system , onde os hbridos colocam um problemaagudo, e um j

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    108 HiERARQUIAS EM CLASSES CASTA, RACISMO E ESTRATIFICAO 109os Unidos de estudos publicados sob este ttulo e das disusses tericas a que ele deu origem, no essencial ele nontroduz nada de novo do ponto de vista que nos ocupa,remos encontrar aqui o estado de espri to que j encontramos,

    Os ele vai-se chocar com certas dificuldades. Como Pfautzeconhece quando apresenta uma bibl iogragia cr tica dos tra-alhos publicados em 1945 a 1952, trata-se essencialmente daclasse ,26 No entanto, a distino de Weber triunfou: podemse distinguir tipos de estratificao social conforme a base daesigualdade seja o poder, o prest gio ou uma combinao dosais; as classes so concebidas em geral como implicando umaierarquia de poder (pol tico tanto quanto econmico), asastas e os estados uma hierarquia de prestgio (pp. 392-393),No entanto, os estudos de comunidade de Warner e outros COllluem que a hierarquia de status problema de prest gio-eI,o de poder. Observemos o uso da palavra hierarquia quearece introduzir-se para permitir distinguir espcies diferenes no interior do gnero estratificao . Ora, so doisonceitos muito diferentes: a impassibilidade quase geolgicaeveria dar lugar considerao dos v a l o r e ~

    A controvrsia terica, que se deu nas colunas da Americanocological Review, muito interessante pelo fato de quesclarece as preocupaes e os postulados implcitos de algunscilogos. 27 O ponto de partida um artigo de Kingsleyavis e Wilbert Moore, publicado em 1945. O mesmo Da-26 Harold W. Pfautz, Th e Current Literature on Social Strat fication, Critique an d Bibliography , Am. Journ . o f Soe., 58 (1953),I . 391-118. A teoria da estratificao abo rdada no mais a partird classe, mas de um p on to d e vista absolutamente geral, por Ta lcot tI arsons em: A Revised Theore t ica l Approach to th e Theory ofS cial Stratification (R . Bendi.\ : e S. M. Lipset, orgs., Class, Statusa Id POlUa a Reader in Social Stratification, Glencoe, l l linois, 1953),tnc . franco em Elements pour une sociolog ie de fac tion , Paris, 1955,P) 256-325. Embora c ons er ve a etiqueta, a obra se situa fora dac r rc nt e q ue se critica; a concepo gera l in fine) faz o prpriot rmo perder suas implicaes habituais. Parte-se de -.:alores e dah erarquia que da resulta necessariamente. O quadro conceituaI o da teo ria geral .27 KingsIey Davis, A Conceptual, Analysis of Stra t if ica t ion , r Soe. Rev., 7 (1942), pp 309 -321; K . Dav is e W ilb er t E. Moo re, ome PrincipIes of Stratification , A S. R 10 (1945), pp. 242-9;

    \ . Buckley , Social Stratif ication and Social Differentiation , A. ~ R.,2 (1958), pp. 369-75; K Davis, A Rep1y to Buck1ey , A, S, R.,

    vis tinha, trs: anos antes, colocado definies de base parao es tudo da estra ti ficao status, s/ratum etc.). Aqui osautores se colocavam a questo da funo da estratificao.Seria necessrio vo ltar a isso: como acontece que desigualdades palpveis, tais como as que se tem em vista quandose fala de claSses sociais, se verifiquem numa sociedade queno reconhece omo norma sen.o a igualdade? Davis e Mooreemitem a hiptese de que se trata d ~ um mecanismo o m p ~rvel ao do mercado: a desigualdade dos recompensas rewards ) neessria numa sociedade diferenciada para queas ocupaes mais dificeis ou mais importantes, as que pedemuma longa formao de aptides particulares , ou comportampesadas responsabilidades, sejam efetivamente preenchidas.Buckley objetou que Davis e Moore t inham confundido estratificao verdadeira e diferenciao pura e simples: o problema da estratifiCao no , ou no somente, saber como in-dividuos poteI1cialmente iguais no inicio chegam a situaesdesiguais oi achieved inequality ), mas saber como a desigualdade se mantm, os termos stratum ou estratificaosendo geralmente tomados como implicando uma permanncia,uma herana de desigualdade ( ascribed inequality ). Res-pondendo por, sua vez a Buckley, Davis reconheceu a diferena dos pontos de vista e acrescentou que no fundo a animosidade do crtico lhe parecia dirigida contra a tentativa deexplicar funcionalmente a desigualdade. A nosso ver, Davisteve razo em, colocar a questo da desigualdade, ele e rrou ,como Buckley:, parece implic-lo, ao coloc-Ia no ponto emque a desigualdade est no mnimo, em lugar de afront-lasob suas form,as mais fortes e mais articuladas; mas , assimfazendo, ele permanecia na tradio que percebemos aqui, umatradio que e refere sempre igualdade como norma, assimcomo a controvrsia e o emprego mesmo do termo desigualdade o mostram.Num artigo recente, Dennis H. Wrong resume o debate.Ele marca os limites da teoria de Davis e Moore e cita, deum trabalho cjo primeiro, uma passagem que marca semprea procura da necessidade funcional da estratificao, a qualseria ilustrada pelo fato de que os varredores tendem a ter24 (1959), p. 8,2; Dennis H Wrong, A. S. R. p, 24, pp 772-82,Encontrar-scwo nos artigos de Buckl cy e de Wro ng as referncias aoutros artigos no-utilizados aqui.

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    um status infer ior em todas as sociedades (ele pensa na ndia). 28 Terminando, Wrong solicita estudos sobre certas re-laes entre o ideal igualitrio e outros aspectos da sociedade,como os efeitos indesejveis de nma igualdade ou de uma mobilidade extremas ( p. 780 ). A igualdade e a desigualdade sopois tomadas aqui como duas tendncias opostas que se es-tudam no plano funcional. A propsito dos utopistas , Wronglembra a dificuldade que h em fazer o salto da histria paraa liberdade (p. 775).Ocorreu pois alguma coisa nesse ramo da Sociologia ame-ricana. A multiplicao dos estudos sobre as classes levou afazer intervir os valores e a palavra, carregada de valores,hierarquia , a procurar as funes (e disfunes) tanto daquilo que nossas sociedades valorizam quanto daquilo que elasno valorizam (a desigualdade) e que por alguma razo sedesignou com uma palavra neutra ou mesmo pejorativa: a estratificao . Na realidade, o que se ope norma igua

    litria no essa espcie de resduo, de precipitado ou de legado geolgico, so foras, fatores { funes, que a normagualtria nega, mas que nem por isso deixam de existir;para traduzi-las, a palavra estratificao inadequada. Nelson N Foote escrevia, em 1953, como prefcio a uma srie deestudos: 29 The dialectical theme of American History... hasbeen a counterpoint of the principIes o f hierarchy and equaUty 30O que constitui para nossos socilogos o problema dasclasses sociais , ou da estratificao social , a contradioentre o ideal igualitrio aceito por todos esses estudiosos comopela sociedade da qual eles fazem parte, e um conjunto de

    fatos qae mostram que a diferena, a diferenciao, tendemmesmo a tomar entre ns um aspecto hierrquico e a se tornar desigualdade, ou discrimina, permanentes e hereditrias.28 Infel izmente, no pude consultar durante a preparao desteartigo o livro de Kingsley Davis, Human Society Nova York, 1949,citado por Wrong e que teria sido de particular interesse visto queo autor se preocupava com a ndi a nesse perodo (cL The o p u l ~tion a i Ind ia and Pakistan Princeton, 1951).29 Ne1sor:. N. Foote, Destratification and Restratification, Editorial Foreword , m ]ourn ai Social 58 1953 , pp. 3 5 ~ 630 O tema dialtico da histria americana tem sido um cantraponto dos princpios de hierarquia c igualdade . (Traduo in-serida pela organizadora.)

    Como diz RaYfI lond Aron: No centro da problemtica dasclasses, perceb a antinomia entre o fato da diferenciao e oideal de igualdade . Essas realidades se nos tornaram opacas (e mais ainda, sem dvida , para os americanos) pelo fatode que nossos valores, nossas formas de conscincia, recusam-nas ou ignoram-nas. Para melhor compreend-las, h interesse em voltar : para sociedades que, ao contrrio, as aprovame destacam. Passaremos assim da estratificao hierarquia.E) A j n ~ i a e a hierarquia - impossvel aqui descrever com detalhes o sistema das castas. necessrio antes,depois de ter lembrado seus principais traos, rapidamente iso-

    lar mais ou rr:tenos arbi tradamente o aspecto que rios interessaaqui. Pode s e par tir da definio de Bougl: a sociedade dividida num grande nmero de grupos permanentes que soao mesmo tempo especializados, hierarquizados e separdos (emmatria de ca.samento, alimento, contato) uns em relao aosoutros. Basta acrescentar que o fundamento comum dessestrs caracteres a oposio do puro e do impuro, oposiohierrquica ppr na tureza e que implica separao e, no planoprofissional, especializao para as ocupaes que so pertinentes quant}> oposio; que essa oposio fundamental sesegmenta, ind efinidamente; e, se se quer, que a realidade con-ceituaI do sistema es t na oposio e no nos grupos que elaope (o q u ~ explica o carter est ru tura l destes, casta e subcasta sendo mesma coisa vista de pontos diferentes) .Reconheceu-se 33 que a hierarquia tinha-se tornando assimperfeitamente unvoca quanto a seu princpio. Infelizmente,tendeu-se por vezes a obscurecer esse ponto quando se falou,ao lado de um status religioso (ou ritual ) de um statussecular (ou social ) fundado no poder, na riqueza etc., eque os indianos levariam tambm em considerao. Naturalmente os indianos no confundem um homem rico e umhomem pobte, mas, como os e s p e c ~ a l i s t a s parecem dar-se conta31 O dit32 Clestin Bougl, Essais SUT le rg ime des castes Paris, 1908,p. 4. n c o r H r a r ~ s e o uma traduo inglesa das teses de Bougl eum comentr(o de seu livro e do de Hocart, que coloca a questodo poder, em Contributions to Indian Sociology Paris-Haia, Mouton,n. 2 1958.33 l c c ~ t t Parsons, lo o to ( trad. franc., pp. 284-5).

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    112 HIERARQUIAS EM CLASSES CASTA, RACISMO E ESTRATIFICAO 113cada vez mais, preciso distinguir duas coisas bem diferentes:de um lado, a escala de status (ditos religiosos ) que chamohierarquia, e que no tem nada a ver com o fato do poder;do out ro , a distribuio do poder , econmico e politico, que muito importan te de fato, mas distinta de, e subordinada hierarquia. Perguntar-se- ento como se articulam um sobreo outro hierarquia e poder? 34 Precisamente a sociedade indiana responde de maneira muito explcita a essa questo.A hierarquia culmina no brmane, ou sacerdote, o brmaneque consagra o poder do rei, que, no mais, repousa apenasna fora (eis a um resultado da dico tomia) . Desde uma pocamuito antiga, as relaes do brmane e do rei, ou xtria,esto fixadas: enquanto o brmane espiritualmente ou absolutamente supremo, materialmente dependente; enquanto orei materialmente o senhor, espiritualmente subordinado.Uma relao semelhante distingue os dois fins humanos su-periores, o d hrm (ao conforme a) ordem universal, oartha (ao conforme o) interesse egosta, que so por suavez hierarquizados, de tal maneira que o segundo no legtimo seno entre os limites prescritos pelo primeiro. Assimtambm ainda, a teoria do dom aos brmanes, ao meritriapor excelncia, pode ser olhada como estabelecendo um meiode transformao dos bens materiais em valores d a hipergamia, pp. 152-3: tira-se o prestgio do dom de uma filha asuperiores).

    ESS2 separao do poder e do status ilustra perfeitamentea distino analtica de Weber, e seu interesse pela comparaovem de que ela apresenta uma forma pura, um tipo idealrealizado. Percebem-se dois traos notveis: na ndia de -cio, toda. totalidade se e x p r i ~ e sob a forma de uma enumerao hierrquica dos componentes do Estado ou reino, porexemplo) a hierarquia marca a integrao conceitual de umconjunto,. eIa de alguma forma seu alicerce intelectual. Emseguida, se se quer generalizar, p o d e ~ s e supor que a hierarquia,no sentido em que tomamos a palavra aqui, de acordo com suaetimologia, no se liga nunca ao poder como tal, mas sempres funes religiosas, porque a religio a forma que toma ouniversal nessas sociedades. Por exemplo, quando o rei tem

    4 O que se segue resumido segundo: La concept ion de royaut dans Inde ancienne (Ap. 3). Homo Hierarchicus , op. ito

    o lugar supremo, como o caso geral, no verdadeiramenteem razo de seu poder, mas em razo da natureza religiosade sua funo. Do ponto de vista da hierarquia, em todo caso, o inverso do que se supe na maior parte do tempo, isto ,que o poder o essencial e atrai para ele s digndades religiosas ou a encontra um apoio e uma justificao. permitido ver no princpio hierrquico, tal como andia o mostra, no estado puro, um trao fundamental dassociedades coIhplexas que no a nossa, e um princpio de sua

    unidade no material, mas conceitual e simblica: ai est a \funo essencial da hierarquia: ela expressa a un idade detal sociedade o mesmo tempo ligando-a o que lhe aparece -como universal a saber, uma concepo da ordem csmica, comMporte ela ou no um deus, ou um rei como mediador. Caso sequeira, a hierarquia ntegra a sociedade com referncia aosvalores. Alm de se estar geralmente pouco disposto a pro-curar s funes sociais a esse nvel, objetar-se- que h sociedadessem hierarquias, ou ainda sociedades onde a hierarquia nocumpre o papel indicado. verdade que, por exemplo, di-versas tribos, se no ignoram toda desigualdade, podem noter nem reis flem sociedades secretas em graus sucessivos. Mastrata-se de s o ~ i e d a d e s relativamente simples, pouco numerosas,com d i v i s ~ o de trabalho pouco desenvolvida.

    F r ~ v o l u o moderna - Restam s sociedades detipo ocidental moderno, que chegam a inscrever a igualdadede princpio, em suas constituies. verdade que existeentre uma e outras um corte profundo, desde que se consideremos valores e ho somente o comportamento. O que ocorreu?Pode-se ter aqui um ponto de vista simples? As sociedadesdo passado, maior parte das sociedades, acreditavam fundamentar-se na ordem das coisas (naturais tanto quanto sociais),pensavam copiar ou delinear suas convenes a partir dosprincpios da vid e do mundo. A sociedade moderna pretendeser r a c i o n a l ~ , es tendendo que se destaca da natureza parainstaurar uma ordem humana autnoma. Trata-se de tomar s medidas reais do homem e deduzir delas a ordem humana.Nenhuma d i ~ t n i entre o ideal e o real: tal como numprojeto de engenharia a representao criar o real. Nessejogo, a sociedade, velho mediador entre o homem particular ea natureza, desaparece. H apenas indivduos humanos que preciso acomodar en tr e si. O homem tirar dele mesmo umaordem, que o satisfar certamente. No princpio dessa racios

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    HIERARQUIAS EM CLASSES CASTA, RACISMO E ESTRATIFICAO 5nalidade, Hobbes coloca no o ideal, sempre discutvel, masa paixo mais geral, o motor comum das aes humanas, isto, a realidade humana mais segura. O indivduo se torna amedida de todas as coisas, a fonte de toda racionalidade , eo princpio igualitrio o fruto dessa a titude, porque conforme com a razo, sendo a viso mais simples da matria, ese ope plenamente s velhas hierarquias. 35Dessa forma se ope s sociedades que se acreditavamnaturais aquela que se pretende racional. Da mesma formaque a socedade natural se hierarquizava, encontrando suaracionalidade ao se colocar como totalidade numa totalidademais ampla, e ignorava o indivduo , assim tambm a s o c i e ~dade (racionar , no conhecendo seno o indivduo, isto no vendo o universal seno em cada homem particular, sesitua , b o signo da igualdade e se ignora enquanto totalidadehierarquizada. Num sentido, o sal to da histria para a liberdade j foi realizado: vivemos numa utopia realizada.Entre esses dois tipos, que cmodo opor diretamente, sesitua sem dvida um tipo intermedirio, onde natureza econveno so distinguidas, onde as convenes sociais sopassveis de ser julgadas em relao a um modelo ideal aces-svel somente razo. M as quaisquer que sejam as transiesque expliquem a gnese do segundo tipo a par tir do primeiro, na revoluo moderna, que separa esses dois tipos, essasduas faces da mesma moeda, que se encontra sem dvida oproblema central da Sociologia comparativa: como descrever,na mesma linguagem, duas escolhas to completamente opostas, como explicar tanto a revoluo nos valores que transformou as sociedades modernas como a unidade da Antropologia ? No recusando reconhecer a mudana e reduzindotudo ao comportamento, ou estendendo a obscuridade de umlado ao outro, como quando se fala da estratificao sociaIem geral , mas percebendo que, nas partes onde uma das faces obscura e confusa a outra distinta e clara, utilizando oque consciente em um dos dois tipos de sociedade para de-cifrar o que no consciente no outro.

    35 Sobre Hobbes e sobre a sociedade ~ t i f i c i l racional enquanto calcu lada a partir da realidade do homem individual e noinspirada numa ordem ideal , cL Leo Strauss , Droit naturel t histoire( trad. fr. ), Paris, 1954, pp 188 e seg.; Elie Halevy, La formati on duRadicalisme philosophique 3 vols.) Paris, 1901- 1904, vaI. I, pp. 3,41, 53, 90; III pp. 347-48; etc.

    G D4 hi r rqui discrimin o - Pode-se tentar,em grandes'linhas, aplicar essa perspectiva comparativa ao fe-nmeno racista americano. evidente por um lado que asociedade no deixou de ser sociedade, enquanto total idadehierarquizad , no dia em que ela quis ser uma simples coleode indivduos. Principalmente, tendeu-se a continuar fazendodistines hierrquicas. Por outro lado, o racismo ,- tal c o m o ~se o reconhece, mas geralmente um fenmeno moderno.

    P r o c u r o u ~ s e s vezes sua emergncia nas causas econmicas, sem se perceber as ligaes ideolgicas muito mais prximase provveis.) A hiptese mais simples consiste em suporque o racisJiIlo responde, sob uma forma nova, a uma funoantiga_ Tudo se passa como se ele representasse, na sociedadeigualitria, l lm ressurgimento- daquilo que se expressava diferentemente, 'mas diretamente e naturalment, na sodedade hierrquica. Tornar a distino ilegtima ter a discriminao.Suprimir os lmodos antigos de distino ter a ideologia racista.Pode-se] precisar e confirmar essa viso? As sociedadesdo passado 'conheceram uma hierarquia de st tus levando consigo privilgios e incapacidades, entre outras a incapacidadejurdica total , a escravido. Ora, precisamente a histr ia dosEstados Un1dos nos diz que a discriminao racial sucedeu aescravido dos negros, uma vez abolida esta. (Ficamos tentados a nos surpreender de que essa transio capital no tenhasido mais s,istematicamente estudada, de um ponto de vistasociolgico, :do que parece ter sido, mas talvez nossa ignorncia seja a nica em causa. 36 distino entre senhor eescravo s u c ~ d e u a discriminao dos brancos em relao aos36 cr. Ounnar Myrdal, ibid pp. 518 e seg., os Jim CrowLaws , etc. A reao supresso da escravido no imediata,mas se elabor a lentamente. A discr iminao apresentada como umas imples separao sob o slogan s eparate but equal . Para o perodoanterior Guerra Civil , igualmente, Myrdal d uma histria sucinta,mas a anlise pennanece, parece, por. fazer. Ela promete ser f r u t ~fera, testemun;ham por exemplo as declaraes de Jefferson e de i n ~coIn cf Times Literary S u p p l e m e n t ~ _ 22 de julho de 1960, pp. 457-8,segundo W. Schulte-Nordholt, h People that Walk in DatknessLondres, Burke, 1960 . _ P. S. Artigos recentes de P ~ L van derBerghe do parte sat isfao ao meu desejo. Cf . em l timo lugar:Apartheid, une interpretation sociologique de Ia sgrgation raCiaIe ,Cahiers interno Sociol XXVIII (n.s., 7.9 . ano, 1970 pp. 7 ~ 5 6Segundo esse autor, a segregao substituiu a etiqueta como modode distncia social. Essa mudana corresponde passagem da escravido ao racismo.

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    116 HIERARQUIAS EM CLASSES Cj\STA, RACISMO E ESTRATIFICAo 7negros. Por que essa forma racista? Colocat a questo j por um lado resolv-la: a essncia da distino era jurdica;suprimindo-a, favoreceu-se a transformao de seu atributo racial em substncia racista. Para que fosse diferente teria sidonecessrio vencer a prpria distino.

    O racismo, em geral, tem certamente ligaes mais complexas. Alm da diferena interna de st tus as sociedadestradicionais conhecem uma diferena exte rna , ela tambmnuanada de hierarquia, entre o ns e os ((outros . Era n o r ~malmente social e cul tural . Para os gregos como para outros,os estrafigeros eram brbaros, pessoas estranhas civilizaoe sociedade do ns , e que, por esse motivo, se tornavamfacilmente escravos. No Ocidente moderno, no somente oscidados so livres e iguais em direitos, mas a noo de igualdade de princpio ent re todos os homens traz, ao nvel damental idade popular pelo menos, a da identidade profunda detodos os homens, porque eles no so mais tomados comouma amostra de uma cultura, de uma sociedade, de um gruposodal , mas como indivduos existindo em si e por si 7 Emoutras palavras, o reconhecimento de uma diferena culturalno pode mais justificar etnocentricamente uma desigualdade.Observa-se que, em certas circunstncias que seria necessrioprecisar, uma diferena hierrquica continua a ser colocada,mas que ela se liga dessa vez aos caracteres somticos, fisionomia, cor da pele, ao sangue . Sem dvida foram essesem todos os tempos sinais da distino, mas tornaram-se suaessncia. Como explicar isso? Pode-se, aqui, lembrar quesomos os herdeiros de uma religio e de uma filosofia dualistas:a distino do esprito e da matria, da alma e do corpo, impregna toda nossa cul tura, e a mentalidade popular em particular. Tudo ocorre como se a mentalidade igualitrio-identitria se situasse no interior desse dualismo, cama se a igualdadee a identidade, atuando sobre almas individuais, fizessem quea distino no se pudesse ligar seno aos corpos. Observemosainda que 2 discriminao coletiva: tudo ocorre como se sos caracteres fsicos fossem essencialmente coletivos ali onde

    37 Porque a t rans i o da igualdade identidade se operasobretudo na mentalidade popular torna-se roa is dif c il apreend-lado que se el a fosse cr ia o dos g ra ndes au tor es. No en tan to me proponho estudar mais de perto a complementaridade part icular ent rei g u l i t r i ~ m o e rac ismo.

    tudo O que nntal tende a ser antes individual . Assim diferenas mentais' sero atribudas aostipos fsicos. Ser procurarmuito longe? somente insistir na ascendncia crist do individualismo do igualitarismo modernos: o indivduo notem seno prximos (mesmo seus rivais so tomados comosujei tos) e acredita na igualdade fundamental de todos oshomens tomados em particular; ao mesmo tempo, pa ra ele,a inferioridade coletiva de uma categoria de homens, quandoele est interessado em afirm-la, se exprime e se justifica peloque os diferencia fisicamente dele mesmo e de seu grupo. Emsuma, a proclamao da igualdade fez explodir um modo dedistino centtado no social, mas que misturava indistintamente \ aspectos s o i ~ i s culturais e fsicos. O dualismo subjacente I conduzia, p r ~ reafirmar a desigualdade, a colocar na frenteos aspectos fsicos. Enquanto na nd ia a hereditariedade um atr ibuto do st tus o racista atr ibui um Ustatus/J raa . \Tudo isso pode parecer uma viso do esprito. No entanto, a hiptese se confirma ao menos em parte na leiturado livro de ( tunnar Myrdal, que colocou em evidncia, a par ti rdos fenmenos americanos, a ligao estre ita entre igualitarismo e racismo. Para comear, ele destaca a tendncia dafilosofia das luzes para minimizar as diferenas inatas; em gerale particularm'ente na Amrica, a doutrina, essencialmente mo-ral, dos d irei tos naturai s do homem, se apia num iguali':tarismo bioI6gico: todos os homens so criados iguais . Operiodo 183Q-1860 v O desenvolvimento de uma ideologiapara a defesa da escravatura: a escravido sendo condenadaem nome da igualdade natural, seus .defensores opem aesta a doutriha da desigualdade das raas; mais tarde, o argumento servir para defender a discriminao, que se estabeleceu a partir do momento em que, por volta de 1877, o Norterenuncia a ~ p r a assimilao. Pesaremos as concluses: 38

    38 Gunn r Myrdal, ibid pp. 83 e segs., as citaes so da p.89 . Myrda l col oca i gualment e o desenvo lv imento da viso biolgicado homem: o: o o s piens como uma espc ie do mundo animal;cL tambm p ; 591: The persistent- preoccupation with sex and marriage in the r ~ t i o n l i z t i o n Is, to this extent, an irrational escapeon the p ar t o ( the \vhites from voicing an open demand for differencein social statu ... For i ts owri sake. ( A racionalizao, atravs deuma prcocupa:o persi s- tentc com sexo e qsamnto... de c e r t ~forma uma manei ra irracional da par te dos brancos de fugir expresso aberta: de Um desejo por 'diferenas> de Siatus soei alo . Pelasprprias difen:inas. )

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    118 HIERARQUIAS EM CLASSES CASTA, RACISMO E ESTRATIFICAOThe dogma of racial inequality may, in a sense, be regarded

    as a strange fruit of the Enlightenment. The race dogmais nearly the only way out for a people so moralistically equalitarian, in ir is not prepa red to live up to irs faith. A nationless fervently commitled to democracy could probably livehappily in a caste system race prejudice is, in asense, a fu nctio n. .. a perversion) of equalitarianism .3Se assim, permi tido duvidar de que, na luta contra oracismo em geral, o simples apelo, por mais solene que seja,ao ideal igualitrio, mesmo acompanhado de uma crtica cientfica dos preconceitos racistas, seja suficientemente eficaz. Seriat il impedir o deslocamento do princpio moral da igualdadedos homens para a noo da identidade dos homens. A igualdade pode certamente, nos nossos dias, aliar se ao reconhecimento de diferenas, com a condio de que essas diferenassejam moralmente neutras. preciso dar s pessoas meiosde pensar a diferena. A difuso das noes pluralistas decultura, de sociedade etc., vindo contrariar e limitar o individualismo, bem indicada. Finalmente, se a tendncia ahierarquizar est sempre presente, se a proclamao do idealmoderno no basta para faz Ia d e s p r e e r ~ mas ao contrrio,por um mecanismo complicado, pode torn-Ia mais feroz emrbida, preciso no perder de vista os antagonismos e osinteresses que a exploram, mas isso ultrapassa nosso quadro.

    Detendo aqui a tentativa de definio do racismo, gostaramos ainda de lembrar, mesmo que sumariamente, uma re-lao estrutural que comanda os desenvolvimentos possveisda comparao. A igualdade e a hierarquia no se opemde fato de maneira mecnica que somente a considerao dosvalores poderia levar a conceber: o plo no-valorizado daoposio no est menos presente, cada um supe o out ro e seapia no outro. Talcott Parsons chama a ateno, desde o39 dogma de des igua ldade rac ia l pode num sen tido , ser v is to ,Orno um estranho fruto do iluminismo O dogma racial proximadamente a ni ca sada para um povo moralisticamente iguaitrio se ele no est preparado para viver de acordo com sua f.

    ma nao menos fervorosamente compromet ida com a democraci aade ri a prov av elment e v ive r feliz num sist ema de castas orcconceito racial, num sentido, fun o perverso) do igualita-ismo . Traduo inserida pela organizadora.) Claude Lvi-Strauss, Race et Hi st oi re UNESCO c. 1952),

    50.

    comeo de seh estudo, para o fato de que a distino destatus traz e i supe a igualdade nO interior de cada statusop. cit. n 1 Inversamente, a igualdade se afirma, no interior de um grupo que se hierarquiza em relao a outros,assim nas cidades gregas, e, no mundo moderno, democraciae imperialismoi britnicos,41 este ltimo se tingindo de hierarquia (racismo: incipiente na ndia na segunda metade do s-culo XIX). essa relao estrutural que o ideal igual itriotende a destruir, e o resultado de sua ao O que se estudana maioria das vezes sob o nome de estratificao social .Em primeiro lugar, a relao se inverte: a igualdade vai conter desigualdades ao invs de ser contida na hierarquia. Emsegundo lugar, se opera toda uma srie de transformaes quese pode, talvez, resumir dizendo que a hierarquia recalcada,tornada no-consciente: ela substituda por uma rede mltipla de desigualdades, casos de fato e no de direito, quantitativas e gradljais e no qualitativas e descontnuas. Dai porum lado a dificuldade bem conhecida da definio das classessociais.H) Concluso. - Para concluir em geral, a comparaopede o n i t o ~ que levem em conta valores que sociedadesdiferentes de , alguma forma escolheram. Essa escolha dosvalores tem como conseqncia que certos aspectos da rea-lidade social ~ o claramente e conscientemente elaborados, enquanto outros so deixados na sombra. Par a expressar o quea sociedade considerada no expressa, o socilogo no podeinventar conceitos, porque, quando ele tenta, no consegue,como no caso: da C estratificao social , seno traduzir de ma-neira ao s ~ o tempo pretensiosa e obscura os preconceitosde sua prpri a sociedade. preciso pois ter recorrido a sociedades que ~ x p r e s s r m esses mesmos aspectos. Uma teoriageral da desigualdade, se for preciso uma, deve ser centradanas sociedades que lhe do um sentido, e no naquelas que,mesmo apresentando algumas de suas formas, escolheram negIa Deve ser uma teoria da hierarquia sob suas formas va-lorizadas ou : simples e direta,) e no-valorizadas ou desvalo-

    41 Maquiavel obsen,a que uma repblica que quer estenderseu imprio, e po ficar pequena e estagnada, deve como Roma o n ~fiar a guarda da liberdade ao povo e no, como Esparta e Veneza,aos grandes. Discurso sob re a P rimeir a cada de ito Lfvio Icars. V-VI.)

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    2 HIERARQUIAS EM CLASSESrizadas ou complexas, hbridas e vergonhosas). (Ainda preciso observar, depois de Talcot t Parsons, que no setrata aqui seno de uma maneira particular de considerar atotalidade do sistema social.) Procedendo assim, no se impor,bem entendido, a uma sociedade os valores de uma outra,haver apenas um esforo para colocar uma perspectiva 4 re-cproca dos diversos tipos de sociedade. Tenderemos a vercada sociedade luz no s dela mesma, mas das ou tras. Doponto de vista da Antropologia Social, isso aparece no somentecomo a frmula de uma comparao objetiva, mas mesmo comoa condio da compreenso de cada sociedade particular .

    42 cr nota 17. Nota 26 nesta traduo,4 E E. Evans Pritchard, Social nthropology Londres, 1951,p. 129.

    5

    FONT VARIAO DAS IMAGENS QU A CLASSETRAMUIADORA TEM SOCIEDADE

    D VID LOCKWOODTraduo de MARIZA PEIRANO

    EM SUA MI\roRIA,as pessoas visualizam a estrutura de clas-se da sua soiedade do ponto de vista das vantagens do seuprprio HmeQH e suas percepes da sociedade mais amplavariato de acordo com a experincia que tm da desigualda-de social nas, pequenas sociedades em que transcorrem suasvidas q u o t i d i ~ n a s Essa suposio de que a conscincia socialdo indivduo em grande escala, influenciada pelo seu con-texto social imediato j provou sua u ti lidade no estudo das imagens da wciedade e foi colocada de forma mais clarapor Bott, que escreve: As pessoas experimentam diretamenteas distines de poder e prestgio em seus locais de trabalho,entre seus c o ~ e g a s em escolas e em seus relacionamentos. comamigos, vizinhos e parentes. Noutras palavras, os ingredientes,a matria prima da ideologia de classe esto localizados maisnas vrias experincias sociais primrias do indivduo do quena sua p o s i ~ o numa categoria scio-econmica. A hiptesedesenvolvida aqui a de que, quando um indivduo fala sobreclasse, est tentando dizer alguma coisa, de uma forma simblica, sobre suas experincias de poder e prestgio nos gruposa que pertence e . sobre seus relacionamentos sociais tanto nopassado como no presente.

    Reprodu7;ido m a permisso do autor e do editor da Socio-logical eview Volume 14, nove;nbro de 1966. Originalmente apresentado como uma conferncia da Universidade de Gottingen, feve-re iro d e 1966. . Elizabeth Bott: Family an d Social N et wo rk Londres, 1957,p. 163.