anÁlise do comportamento de um aterro municipal de

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ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DE UM ATERRO MUNICIPAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS INSTRUMENTADO Alexandre Roberto Schuler Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil, COPPE, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Engenharia Civil. Orientador: Cláudio Fernando Mahler Rio de Janeiro Setembro de 2010 COPPE/UFRJ COPPE/UFRJ

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ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DE UM ATERRO MUNICIPAL DE

RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS INSTRUMENTADO

Alexandre Roberto Schuler

Dissertação de Mestrado apresentada ao

Programa de Pós-graduação em Engenharia

Civil, COPPE, da Universidade Federal do Rio

de Janeiro, como parte dos requisitos necessários

à obtenção do título de Mestre em Engenharia

Civil.

Orientador: Cláudio Fernando Mahler

Rio de Janeiro

Setembro de 2010

COPPE/UFRJCOPPE/UFRJ

ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DE UM ATERRO MUNICIPAL DE

RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS INSTRUMENTADO

Alexandre Roberto Schuler

DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DO INSTITUTO ALBERTO

LUIZ COIMBRA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA DE ENGENHARIA

(COPPE) DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE

DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE

EM CIÊNCIAS EM ENGENHARIA CIVIL.

Examinada por:

________________________________________________

Prof. Cláudio Fernando Mahler, DSc.

________________________________________________

Prof. Cezar Augusto Burkert Bastos, Dr. Eng.

________________________________________________

Prof. Marcos Barreto de Mendonça, DSc.

________________________________________________

Prof. Maurício Ehrlich, DSc.

RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL

SETEMBRO DE 2010

Schuler, Alexandre Roberto

Análise do Comportamento de um Aterro Municipal

de Resíduos Sólidos Urbanos Instrumentado/ Alexandre

Roberto Schuler. – Rio de Janeiro: UFRJ/COPPE, 2010.

XX, 152 p.: il.; 29,7 cm.

Orientador: Cláudio Fernando Mahler

Dissertação (mestrado) – UFRJ/ COPPE/ Programa

de Engenharia Civil, 2010.

Referências Bibliográficas: p. 148-152.

1. Aterro de resíduos sólidos urbanos. 2.

Estabilidade. 3. Instrumentação geotécnica. 4. Método dos

Elementos Finitos. I. Mahler, Cláudio Fernando. II.

Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPE,

Programa de Engenharia Civil. III. Título (série).

iv

“A independência é o privilégio dos

fortes, da reduzida minoria que tem o

calor de auto-afirmar-se. E aquele que

trata de ser independente, sem estar

obrigado a isso, mostra que não apenas

é forte, mas também possuidor de uma

audácia imensa. Aventura-se num

labirinto, multiplica os mil perigos que

implica a vida; se isola e se deixa

arrastar por algum minotauro oculto na

caverna de sua consciência. Se tal

homem se extinguisse estaria tão longe

da compreensão dos homens que estes

nem o sentiriam nem se comoveriam em

absoluto. Seu caminho está traçado, não

pode voltar atrás, nem sequer lograr a

compaixão dos seres humanos.”

Friedrich Nietzsche

v

AGRADECIMENTOS

A realização deste trabalho só foi possível graças à participação direta e indireta

de muitas pessoas. Manifesto a minha gratidão a todas de forma particular:

- A Deus que me ajudou a ter força e saúde o suficiente para terminar este

trabalho;

- Professor Dr. Cláudio Fernando Mahler pela amizade, “puxões de orelha” e

orientação sobre os rumos deste trabalho;

- Dr. J.A.R. Ortigão, Diretor da empresa Terratek Tecnologia Ltda, pela

amizade, apoio técnico e profissional no desenvolvimento deste trabalho;

- Professor Dr. Cezar Augusto Burkert Bastos, meu grande orientador de

graduação, amigo e excepcional profissional, ao qual agradeço por todo apoio em

realizar pesquisas e o mestrado na área de geotecnia;

- Demais membros da banca, Professor Maurício Ehrlich – Coppe/UFRJ e

Professor Marcos Barreto de Mendonça Poli/UFRJ;

- Aos responsáveis pelo aterro de resíduos sólidos urbanos estudado, que

liberaram a publicação dos dados, com a condição de não divulgar o local onde fica o

aterro por questões de sigilosidade;

- Em especial, a minha namorada, companheira e amiga, também engenheira

geotécnica, Lydice Salome Estrada Polanco, muito obrigado pela força em continuar

lutando.

- A minha família que sempre me apoiou em tudo que fiz. Mesmo distantes uns

dos outros, estamos sempre juntos;

- Aos meus amigos, que compartilharam muitos chimarrões durante as aulas do

mestrado, em especial: Diego de Freitas Fagundes, Evandro Santiago, Louis-Martin

Losier, José Simão e Silvana Vasconcelos;

- Ao corpo técnico da empresa Terratek, em especial aos técnicos em

instrumentação Valnei Vasconcelos e Luiz Carlos Silva. Muito obrigado;

- Aos meus sócios: Cleberson Dors, Etienne Desgagné, Louis-Martin Losier,

Marcel Tardin Portela e Paulo Garchet. Obrigado pela força nos momentos em que

estive ausente;

Demais amigos, colegas de mestrado e de trabalho, muito obrigado por

acreditarem em mim e sempre me incentivarem.

- Ao CNPq pela bolsa concedida;

vi

Resumo da Dissertação apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Mestre em Ciências (M.Sc.)

ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DE UM ATERRO MUNICIPAL DE

RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS INSTRUMENTADO

Alexandre Roberto Schuler

Setembro/2010

Orientador: Claúdio Fernando Mahler

Programa: Engenharia Civil

O presente trabalho tem como objetivo estudar o comportamento geomecânico de um

aterro de resíduos sólidos localizado no estado do Rio de Janeiro. Durante o período de

dez meses, um aterro municipal de resíduos sólidos foi monitorado durante três fases

diferentes: operação em condições normais de funcionamento, instabilização após

chuvas torrenciais e interdição e encerramento do aterro por parte do Governo do

Estado. O monitoramento geomecânico do aterro foi realizado através do uso de

instrumentação geotécnica, incluindo 5 piezômetros do tipo sifão, 4 inclinômetros, 5

marcos superficiais e 2 pluviômetros. Ainda foram realizadas diversas análises de

estabilidade durante as etapas de alteamento, sendo 3 casos de retroanálise de rupturas

locais chegando a parâmetros bastante coerentes com os apresentados pela bibliografia

sobre o assunto e compatíveis com as leituras de instrumentação. Inúmeras vistorias em

campo constataram diversos fatores instabilizadores, dentre eles a surgência de chorume

nos taludes, pressões de gases, deslocamentos, recalques, rupturas locais, problemas na

drenagem, entre outros. Por fim, é realizada a simulação dos deslocamentos verticais

(recalques) e horizontais utilizando Método dos Elementos Finitos (MEF) com o

software Plaxis 9.0®. O estudo permitiu observar que os valores encontrados nas retro-

análises são muito semelhantes aos encontrados na literatura, além de que os valores de

E e ν nas análises por MEF são muito próximos aos encontrados para solos turfosos.

vii

Abstract of Dissertation presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the

requirements for the degree of Master of Science (M.Sc.)

ANALYSIS OF THE BEHAVIOR OF A LANDFILL OF MUNICIPAL SOLID

WASTE INSTRUMENTED

Alexandre Roberto Schuler

September/2010

Advisor: Cláudio Fernando Mahler

Department: Civil Engineering

The objective of this work was to study the geomechanical behavior of a solid waste

landfill located in the Rio de Janeiro State. During ten months, a municipal solid waste

landfill was monitored at three different phases: operation in normal conditions,

instability after torrential rains and closure of the landfill by the State

Government. Geomechanical monitoring of the landfill was accomplished through the

use of geotechnical instrumentation, including five piezometers type siphon, four

inclinometers, five benchmarks and two pluviometers. Still, several analyses of stability

were accomplished during the raising stages, 3 cases of back-analysis of local ruptures

arriving to quite coherent parameters like shown in the bibliography on the subject and

compatible with the instrumentation readings. Numerous field inspections found several

destabilizing factors, among them the presence of leacheate on the slopes, gas pressures,

displacements, settlements, local drainage problems, among others. Finally, the

simulation is performed for vertical displacements (settlements) and horizontal using

the finite element method in software Plaxis 9.0®. This study showed that the values

encountered in the back-analysis are very similar to those found in the literature, and

that the values of E and ν in the analysis by FEM are very close to those found for peaty

soils.

viii

ÍNDICE

AGRADECIMENTOS ............................................................................................................ v

ÍNDICE ............................................................................................................................... viii

LISTA DE FIGURAS ...........................................................................................................xii

LISTA DE TABELAS........................................................................................................... xx

CAPÍTULO 1 .......................................................................................................................... 1

1.1. INTRODUÇÃO ......................................................................................... 1

1.2. OBJETIVO ................................................................................................ 2

1.3. METODOLOGIA ADOTADA E ORGANIZAÇÃO .................................. 2

1.3.1. METODOLOGIA ............................................................................... 3

1.3.2. ORGANIZAÇÃO DA DISSERTAÇÃO ............................................. 4

CAPÍTULO 2 .......................................................................................................................... 5

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA..................................................................... 5

2.1. RESÍDUOS SÓLIDOS............................................................................... 5

2.2. CARACTERÍSTICAS DOS RSU E DE ATERROS DE RSU .................... 5

2.2.1. GRAVIMETRIA DOS RSU ............................................................. 12

2.2.2. GRANULOMETRIA DOS RSU ....................................................... 14

2.2.3. PESO ESPECÍFICO ......................................................................... 16

2.2.4. UMIDADE ....................................................................................... 18

2.2.5. TEMPERATURA ............................................................................. 19

2.2.6. PERMEABILIDADE........................................................................ 21

2.2.7. RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO ........................................... 23

2.2.8. COMPRESSIBILIDADE .................................................................. 33

2.3. TIPOS DE RUPTURAS EM ATERROS DE RSU E AS MAIORES CATÁSTROFES REGISTRADAS ................................................................................. 42

CAPÍTULO 3 ........................................................................................................................ 47

ix

3. MATERIAIS E MÉTODOS ...................................................................... 47

3.1. INSTRUMENTAÇÃO INSTALADA NO ATERRO DE RSU ................. 47

3.2. PIEZÔMETROS SIFÃO .......................................................................... 54

3.2.1. DESCRIÇÃO ................................................................................... 55

3.2.2. ACOMPANHAMENTO DE PERFURAÇÃO E INSTALAÇÃO ...... 57

3.2.3. PROCEDIMENTOS DE LEITURAS................................................ 61

3.3. INCLINÔMETROS ................................................................................. 62

3.3.1. ACOMPANHAMENTO DE PERFURAÇÃO E INSTALAÇÃO ...... 64

3.3.1.1. PERFURAÇÃO ........................................................................ 64

3.3.1.2. INSTALAÇÃO DOS TUBOS ................................................... 64

3.3.2. PROCEDIMENTOS DE LEITURAS................................................ 66

3.3.2.1. TORPEDO DE LEITURAS ....................................................... 66

3.3.2.2. UNIDADES DE LEITURA ....................................................... 68

3.3.2.3. CÁLCULO DOS DESLOCAMENTOS ..................................... 69

3.3.2.4. PROCESSAMENTO DOS RESULTADOS .............................. 71

3.4. MARCOS SUPERFICIAIS ...................................................................... 73

3.5. PLUVIÔMETROS ................................................................................... 75

3.6. ESTABILIDADE EM ATERROS DE RSU ............................................. 78

3.6.1. ESTABILIDADE - TEORIA DO EQUILÍBRIO LIMITE ................. 79

3.7. METODO DOS ELEMENTOS FINITOS (MEF) ..................................... 81

CAPÍTULO 4 ........................................................................................................................ 85

4. RESULTADOS .......................................................................................... 85

4.1. LEITURAS DA INSTRUMENTAÇÃO ................................................... 85

4.1.1. RESULTADO DAS LEITURAS – PIEZÔMETROS SIFÃO ............ 85

4.1.1.1. COTAS PIEZOMÉTRICAS ...................................................... 85

4.1.1.2. PRESSÕES DE GÁS ................................................................. 86

x

4.1.1. RESULTADO DAS LEITURAS – INCLINÔMETROS ................... 88

4.1.2. RESULTADO DAS LEITURAS – PLUVIÔMETROS ..................... 92

4.2. ANÁLISES DE ESTABILIDADE ........................................................... 93

4.3. RETRO-ANÁLISES DE ESTABILIDADE – MÊS DE DEZEMBRO ...... 99

4.3.1. LEITURAS DA INSTRUMENTAÇÃO .......................................... 100

4.3.1.1. PIEZÔMETROS SIFÃO - COTAS PIEZOMÉTRICAS ........... 100

4.3.1.2. PIEZÔMETROS SIFÃO - PRESSÕES DE GÁS ..................... 100

4.3.1.3. INCLINÔMETROS................................................................. 101

4.3.1.4. PLUVIÔMETROS .................................................................. 104

4.3.2. VISITAS DE CAMPO .................................................................... 104

4.3.2.1. OBSERVAÇÕES .................................................................... 105

4.3.3. RETRO-ANÁLISE DE ESTABILIDADE – DEZEMBRO 2009 ..... 111

4.4. ANÁLISES DE ESTABILIDADE - MÊS DE ABRIL DE 2010 ............. 119

4.4.1. LEITURAS DA INSTRUMENTAÇÃO .......................................... 120

4.4.1.1. PIEZÔMETROS SIFÃO – COTAS PIEZOMÉTRICAS .......... 120

4.4.1.2. PIEZÔMETROS SIFÃO – PRESSÕES DE GÁS .................... 121

4.4.1.3. INCLINÔMETROS................................................................. 121

4.4.1.4. PLUVIÔMETRO .................................................................... 125

4.4.2. VISITAS DE CAMPO .................................................................... 126

4.4.2.1. OBSERVAÇÕES .................................................................... 126

4.4.3. RETRO-ANÁLISES E ANÁLISE DE ESTABILIDADE – ABRIL 2010…………………………………………………………………………………...130

4.4.3.1. RUPTURA LOCAL ................................................................ 132

4.4.3.2. RETRO-ANÁLISE DE ESTABILIDADE ............................... 132

4.5. ANÁLISE DE DESLOCAMENTOS HORIZONTAIS E VERTICAIS- POR MEF 134

4.5.1. RETRO-ANÁLISE DE DESLOCAMENTOS HORIZONTAIS ...... 134

xi

4.5.2. ANÁLISE DE DESLOCAMENTOS - PARÂMETROS DA LITERATURA………………………………………………………………………..142

CAPÍTULO 5 ...................................................................................................................... 146

5.1. CONCLUSÕES ..................................................................................... 146

5.2. RECOMENDAÇÕES PARA ESTUDOS FUTUROS ............................. 147

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................... 148

xii

LISTA DE FIGURAS

Figura 2. 1 - As quadri-fases dos RSU (adaptado de BEAVEN et al., 2009). ..... 7

Figura 2. 2 - Fases ilustrando o efeito da perda de massa dos RSU (adaptado de MACHADO et al., 2009). ............................................................................................. 8

Figura 2. 3 - Comparação entre renda per capita e matéria orgânica dos RSU no município do Rio de Janeiro/RJ. .................................................................................. 13

Figura 2. 4 - Distribuição Granulométrica do lixo para diferentes idades (JESSBERGER, 1994 apud DE LAMARE NETO, 2004). .......................................... 15

Figura 2. 5 - Distribuição granulométrica de RSU brasileiros por CARVALHO (1999) e faixa granulométrica sugerida por JESSBERGER (1994). ............................. 16

Figura 2. 6 - Variação do Teor de Umidade dos RSU com a profundidade (adaptado de JUCÁ et al, 1997). ................................................................................. 18

Figura 2. 7 - Variação da coesão aparente com a umidade (adaptado de GABR & VALERO, 1995). ........................................................................................................ 19

Figura 2. 8 - Variação da temperatura do RSU com a profundidade, Aterro de Ano Liossia, Atenas (Grécia), (adaptado de COUMOULOS et al., 1995 apud CARVALHO, 1999). .................................................................................................. 20

Figura 2. 9 Variações da temperatura com a profundidade comparando com as concentrações de metano (HANSON et al., 2006). ...................................................... 20

Figura 2. 10 - Ensaios de infiltração realizados no Aterro Bandeirantes (MACHADO et al., 2010) ........................................................................................... 22

Figura 2. 11 - Relação entre coesão aparente e ângulo de atrito de resíduos sólidos urbanos (adaptado de WOJNAROWICZ et al., 1998). .................................... 24

Figura 2. 12 - Curva tensão x deformação (adaptado de KÖLSCH, 1993). ....... 25

Figura 2. 13 - Trajetória de tensões encontrada em ensaios de CD e CU de grandes dimensões em RSU (adaptado de CARVALHO, 1999). ................................. 27

Figura 2. 14 - Trajetória de tensões encontrada em ensaios de CD e CU de grandes dimensões em RSU (adaptado de NASCIMENTO, 2007). ............................. 28

Figura 2. 15 - Ensaio triaxial de grandes dimensões para uso em RSU.(a) antes da execução do ensaio. (b) após a execução do ensaio. SHARIATMADARI et al. (2009). ........................................................................................................................ 29

xiii

Figura 2. 16 - Relação entre a deformação axial e radial em condições de compressão isotrópica. SHARIATMADARI et al. (2009). .......................................... 30

Figura 2. 17 - Efeito da deformação isotrópica ou anisotrópica sobre o incremente de tensão corrigida, SHARIATMADARI et al. (2009). ............................. 30

Figura 2. 18 - Resultados típicos de trajetória de tensões para solos turfosos (a) OIKAWA & MIYAKAWA (1980) e (b) MESRI AND AJLOUNI (2007) apud SHARIATMADARI et al., (2009). ............................................................................. 32

Figura 2. 19 - Curva teórica de compressibilidade do RSU (adaptado de GRISOLIA & NAPOLEONI, 1996). ........................................................................... 36

Figura 2. 20 - Recalques total e anual em RSU (adaptado de GANDOLLA et al. 1994). ......................................................................................................................... 37

Figura 2. 21 - Recalques registrados por um marco superficial instalado em aterro Vila Albertina/SP (DE JORGE et al., 2004). ..................................................... 38

Figura 2. 22 Resultados de módulos cisalhantes e de deformação obtidos para o resíduo estudado a partir de ensaios cross-hole (apud CARVALHO, 1999) ................ 41

Figura 2. 23 - Tragédia do Morro do Bumba (Foto: ESTADO DE SÃO PAULO, 2010). ......................................................................................................................... 43

Figura 2. 24 - Tipos de rupturas possíveis em aterros de RSU (DIXON & JONES, 2004). ............................................................................................................ 44

Figura 2. 25 - Rumpke (USA), 1996 (KÖLSCH, 2010). ................................... 45

Figura 2. 26 - Payatas (Filipinas), 2000 (KÖLSCH, 2010). .............................. 46

Figura 2. 27 - Bandung Indonésia, 2005 (KÖLSCH, 2010). ............................. 46

Figura 2. 27 - Seção de ruptura circular dividida em fatias (ORTIGÃO & SAYÃO, 2004). .......................................................................................................... 81

Figura 3. 1 - Seções de instrumentação principal e secundária. ......................... 48

Figura 3. 2 - Vista esquemática com as seções de instrumentação principal e secundária. .................................................................................................................. 49

Figura 3. 3 - Vista do talude consolidado a jusante do aterro. ........................... 51

Figura 3. 4 - Seção principal de instrumentação contendo dois inclinômetros e três piezômetros do tipo sifão. ..................................................................................... 53

Figura 3. 5 - Seção secundária de instrumentação. ........................................... 53

xiv

Figura 3. 6 - Vista superior do piezômetro sifão. .............................................. 55

Figura 3. 7 - Piezômetro sifão (dimensões em cm). .......................................... 56

Figura 3. 8 - Perfuração sendo executada para instalação de piezômetro sifão. . 57

Figura 3.9 - Tubo externo envolto por uma pasta impermeável de bentonita. ... 58

Figura 3. 10 – (a) Ranhuras ao longo da “câmara de pressão de gás” (tubo externo 50mm); (b)Proteção da parte ranhurada da “câmara de pressão de gás” (tubo externo de 50mm). ...................................................................................................... 58

Figura 3. 11 - Furos na base da “câmara piezométrica” (tubo interno de 25mm). ................................................................................................................................... 59

Figura 3. 12 - Conexões do piezômetro sifão. .................................................. 60

Figura 3. 13 - Manômetro para leitura de pressão de gás. ................................. 60

Figura 3. 14 - Leituras do nível piezométrico. .................................................. 61

Figura 3. 15 - Leituras de gás. .......................................................................... 62

Figura 3. 16 - Inclinômetro: torpedo, unidade de leitura automática, tubos de acesso PVC (GEO-RIO, 2000). ................................................................................... 62

Figura 3. 17 - Esquema de leituras do inclinômetro (adaptado de GEO-RIO, 2000). ......................................................................................................................... 63

Figura 3. 18 - Rebites nas emendas do tubo. .................................................... 64

Figura 3. 19 - Vedação das emendas do tubo.................................................... 65

Figura 3. 20 - Fases de instalação do tubo de acesso (adaptado de GEO-RIO, 2000). ......................................................................................................................... 66

Figura 3. 21 – Foto e medidas do torpedo do inclinômetro (dimensões em cm).67

Figura 3. 22 - (a) Unidade leitora Geokon GK603 e (b) unidade leitora Encardio Rite EDI-53. ............................................................................................................... 68

Figura 3. 23 - Vista interna dos deslocamentos dentro do tubo com o torpedo de inclinômetro (UFBA, acesso em janeiro de 2011). ...................................................... 70

Figura 3. 24 - Cálculo dos deslocamentos com o inclinômetro (GEO-RIO, 2000). ................................................................................................................................... 70

xv

Figura 3. 25 - Resultados típicos de leituras e deslocamentos com o inclinômetro (GEO-RIO, 2000). ...................................................................................................... 71

Figura 3. 26 - Exemplo de gráfico típico de apresentação de resultados e informações para o eixo A de deslocamento, apresentando a variação de leituras e o deslocamento acumulado (ORTIGÃO, 1999). ............................................................. 72

Figura 3. 27 - Leituras dos deslocamentos sendo realizadas pelo autor desta dissertação. ................................................................................................................. 73

Figura 3. 28 – Detalhes do marco superficial usado.......................................... 74

Figura 3. 29 - Marco superficial 1 – MS-01 ..................................................... 75

Figura 3. 30 - Foto do pluviômetro utilizado nas leituras pluviométricas. ......... 76

Figura 3. 31 - Foto do pluviômetro ville de Paris instalado próximo ao aterro. . 77

Figura 4. 1 - Variações das cotas piezométricas para o período de acompanhamento do aterro. ........................................................................................ 86

Figura 4. 2 - Leituras da pressão de gás para o período analisado. .................... 87

Figura 4. 3 - Direção das ranhuras A e B dos tubos de inclinômetro do aterro de RSU estudado. ............................................................................................................ 88

Figura 4. 4 - Gráfico de leituras do IN01 na direção A e B. .............................. 89

Figura 4. 5 - Gráfico de leituras do IN02 na direção A e B. .............................. 90

Figura 4. 6 - Gráfico de leituras do IN03 na direção A e B. .............................. 91

Figura 4. 7 - Gráfico de leituras do IN04 na direção A e B. .............................. 92

Figura 4. 8 - Precipitação registrada durante o monitorado no aterro. ............... 93

Figura 4. 9- Representação do cálculo do ru. .................................................... 94

Figura 4. 10 - Seção principal de instrumentação analisada, segundo estudos anteriores, utilizando um ru de 0,4 com Método de Bishop Simplificado no software GEOSLOPE 2004. ...................................................................................................... 95

Figura 4. 11 - Análise de estabilidade da seção principal de instrumentação para topografia do mês de dezembro de 2009, utilizando ru medido em campo, indicado pelo PZ03 de 0,42. .............................................................................................................. 97

xvi

Figura 4. 12 - Análise de estabilidade da seção principal de instrumentação para topografia final prevista para o encerramento, utilizando com ru medido em campo, indicado pelo PZ03 de 0,42. ........................................................................................ 97

Figura 4. 13 - Análise de estabilidade da seção secundária de instrumentação para topografia do mês de dezembro de 2009, utilizando ru medido em campo indicado pelo PZ05 de 0,55. ...................................................................................................... 98

Figura 4. 14 - Análise de estabilidade da seção secundária de instrumentação para topografia final prevista para o encerramento, utilizando ru medido em campo, indicado pelo PZ05 de 0,55. ........................................................................................ 98

Figura 4. 15 - Gráfico das variações das cotas piezométricas para o mês de dezembro de 2009. .................................................................................................... 100

Figura 4. 16 - Leituras da pressão de gás para o mês de dezembro de 2009. ... 101

Figura 4. 17 - Gráfico de leituras do IN01 ...................................................... 102

Figura 4. 18 - Gráfico de leituras do IN02. ..................................................... 102

Figura 4. 19 - Gráfico de leituras do IN03. ..................................................... 103

Figura 4. 20 - Gráfico de leituras do IN04. .................................................... 103

Figura 4. 21 - Índices de precipitação registrados no mês de dezembro de 2009. ................................................................................................................................. 104

Figura 4. 22 - Localização da ruptura interna e localização aproximada da trinca. ................................................................................................................................. 105

Figura 4. 23 - Seção topográfica de dezembro de 2009 (em vermelho), seção topográfica prevista para o encerramento e instrumentação instalada na seção principal do aterro.................................................................................................................... 105

Figura 4. 24 - Seção topográfica de dezembro de 2009 (em vermelho), seção topográfica prevista para o encerramento e instrumentação instalada na seção secundária de instrumentação do aterro....................................................................................... 106

Figura 4. 25 - Ruptura ocorrida no final do ano de 2009 (em vermelho). ........ 107

Figura 4. 26 - Ruptura ocorrida e “lixo” obstruindo a pista de acesso (em vermelho).................................................................................................................. 107

Figura 4. 27 - Foto da trinca no platô do aterro............................................... 110

Figura 4. 28 - Foto da mesma trinca. .............................................................. 110

xvii

Figura 4. 29 - Retro-análise da ruptura localizada próximo a seção secundária de instrumentação, considerando ru=0,7 em todo o RSU. ............................................... 112

Figura 4. 30 - Análise de estabilidade da seção principal de instrumentação para topografia de dezembro de 2009. ............................................................................... 113

Figura 4. 31 - Análise de estabilidade da seção principal de instrumentação para topografia de topografia prevista para o encerramento. .............................................. 113

Figura 4. 32 - Análise de estabilidade da seção secundária de instrumentação para topografia de dezembro de 2009. ....................................................................... 114

Figura 4. 33 - Análise de estabilidade da seção secundária de instrumentação para topografia de prevista para o encerramento. ....................................................... 114

Figura 4. 34 - ru crítico para seção principal de instrumentação - análise de estabilidade com a topografia do mês de dezembro de 2009. ..................................... 116

Figura 4. 35 - ru crítico para seção principal de instrumentação - análise de estabilidade com o “as built” com as cotas previstas no encerramento do aterro. ....... 117

Figura 4. 36 - ru crítico para seção secundária de instrumentação - análise de estabilidade com a topografia do mês de dezembro de 2009. ..................................... 118

Figura 4. 37 - ru crítico para seção secundária de instrumentação - análise de estabilidade com o “as built” com as cotas previstas no encerramento do aterro. ....... 119

Figura 4. 38 - Variações das cotas piezométricas para o mês de abril de 2010. 120

Figura 4. 39 - Leituras das pressões de gás para o mês de abril de 2010. ........ 121

Figura 4. 40 – Deslocamentos acumulados do IN01 na direção A e B. ........... 122

Figura 4. 41 - Deslocamentos acumulados do IN02 na direção A e B. ............ 123

Figura 4. 42 - Deslocamentos acumulados do IN03 na direção A e B. ............ 124

Figura 4. 43 - Deslocamentos acumulados do IN04 na direção A e B. ............ 125

Figura 4. 44 - Precipitação registrados no mês de abril de 2010 no aterro estudado. ................................................................................................................... 126

Figura 4. 45 - Ruptura próxima ao PZ01. ....................................................... 127

Figura 4. 46 - Detalhe da quebra do tubo de piezômetro PZ01. ...................... 127

Figura 4. 47 - Execução de uma cava na tentativa de recuperação do PZ02. ... 128

xviii

Figura 4. 48 - Seção principal de instrumentação, com sérios problemas de drenagem (Foto tirada no dia 10 de abril de 2010). .................................................... 129

Figura 4. 49 - Seção principal de instrumentação do aterro com sérios problemas de drenagem, com acúmulo de chorume nas bermas (Foto tirada no dia 26 de abril de 2010). ....................................................................................................................... 129

Figura 4. 50 - Seção principal de instrumentação do aterro (cotas de dezembro de 2009, janeiro, fevereiro e março de 2010 em verde, vermelho, magenta e azul, respectivamente). ...................................................................................................... 130

Figura 4. 51 - Seção secundária de instrumentação do aterro (cotas de dezembro de 2009, janeiro, fevereiro e março de 2010 em verde, vermelho, magenta e azul, respectivamente). ...................................................................................................... 130

Figura 4. 52 - Provável superfície de ruptura local do talude da seção principal de instrumentação do aterro....................................................................................... 132

Figura 4. 53 - Análise de estabilidade da seção principal, com a topografia de março e ru indicado pelo PZ03 de 0,56 para o mês de abril de 2010, FS resultante de 1,37 global e 1,04 estabilidade local no talude de 15m. ............................................. 133

Figura 4. 54 - Análise de estabilidade da seção secundária, com a topografia de março e ru indicado pelo PZ05 de 0,64 para o mês de fevereiro de 2010, FS resultante de 1,44 para ruptura global e 1,09 para talude inferior junto a estrada de acesso. ....... 133

Figura 4. 55 - Geração da malha de elementos finitos. ................................... 136

Figura 4. 56 - Configuração inicial do aterro (sem lixo “fresco”). .................. 137

Figura 4. 57 - Tela da configuração do problema e distribuição do tempo de construção de cada célula. ......................................................................................... 138

Figura 4. 58 - Malha deformada, apresentando um deslocamento total de 2,75m. ................................................................................................................................. 139

Figura 4. 59 - Pontos mais críticos em vermelho, próximo ao platô do aterro e aos piezômetros PZ01 e PZ02 rompidos no mês de abril de 2010. ............................. 140

Figura 4. 60 - Deslocamentos horizontais críticos estimados, próximos aos antigos PZ01 e PZ02 atingindo até 1,40m de deslocamento horizontal. ..................... 141

Figura 4. 61 - Seção transversal próximo ao inclinômetro IN01 alcançando a marca de 0,66m de deslocamento horizontal. ............................................................ 142

Figura 4. 62 - Malha deformada, apresentando um deslocamento total de 0,30m ................................................................................................................................. 143

xix

Figura 4. 63 - Deslocamentos horizontais críticos estimados, próximos aos antigos PZ01 e PZ02 atingindo 0,086m de deslocamento horizontal. ......................... 144

Figura 4. 64 - Seção transversal próximo ao inclinômetro IN01 alcançando a marca de 0,086m de deslocamento horizontal............................................................ 144

xx

LISTA DE TABELAS

Tabela 2. 1 - Comparação entre renda per capita e percentual dos diversos componentes dos RSU do município do Rio de Janeiro (adaptado de COMLURB, 2005). ......................................................................................................................... 10

Tabela 2. 2 - Fatores que exercem forte influência sobre a composição dos resíduos (adaptado de XAVIER de BRITO, 1999). ..................................................... 11

Tabela 2. 3 - Gravimetria dos componentes de Resíduos Sólidos Urbanos. (adaptado de CALLE (2007). ...................................................................................... 14

Tabela 2. 4 - Massas específicas de alguns aterros de RSU não pré-tratados (adaptado de CALLE, 2007). ...................................................................................... 17

Tabela 2. 5 - Permeabilidade de Aterros Sanitários (adaptado de CALLE, 2007). ................................................................................................................................... 23

Tabela 2. 6 - Parâmetros de resistência ao cisalhamento de RSU – coesão aparente e ângulo de atrito (CALLE, 2007). ................................................................ 33

Tabela 2. 7 - Relação de catástrofes segundo KOERNER & SOONG (1999). .. 45

Tabela 3. 1 - Dados das instalações dos piezômetros sifão. .............................. 54

Tabela 3. 2 - Dados das instalações dos tubos de inclinômetros. ...................... 54

Tabela 3. 3 - Dados das instalações dos marcos superficiais. ............................ 54

Tabela 3. 4 - Características do torpedo Geokon Model 6000. .......................... 67

Tabela 3. 5 - Características do torpedo Torpedo EAN-25/2M. ........................ 68

Tabela 3. 6 - Características da unidade leitora GK603. ................................. 69

Tabela 3. 7 - Características da unidade leitora EDI-53 INS. ........................... 69

Tabela 3. 8 - Especificação técnica do pluviômetro digital instalado no aterro de RSU estudado. ............................................................................................................ 76

Tabela 3. 9 - Especificações técnicas do pluviômetro ville de Paris instalado no aterro. ......................................................................................................................... 77

Tabela 4. 1 - Valores de ru de campo para o mês de dezembro de 2009 ............ 95

Tabela 4. 2 - Parâmetros de resistência utilizados em estudos anteriores .......... 96

xxi

Tabela 4. 3 - Resumo das análises de estabilidade segundo parâmetros adotados segundo estudos anteriores .......................................................................................... 99

Tabela 4. 4 - Parâmetros de resistência utilizados nas análises de estabilidade deste estudo. ............................................................................................................. 111

Tabela 4. 5 - Resumo das análises de estabilidade segundo parâmetros adotados. ................................................................................................................................. 115

Tabela 4. 6 - Fatores de segurança mínimos admitidos (ABNT NBR 11682, 2006). ....................................................................................................................... 115

Tabela 4. 7 - Valores de ru de campo ............................................................. 131

Tabela 4. 8 - Resumo das análises de estabilidade. ......................................... 134

Tabela 4. 9 - Parâmetros adotados na analise de recalques por elementos finitos. ................................................................................................................................. 135

Tabela 4. 10 Parâmetros adotados na analise de deslocamentos por elementos finitos segundo valores típicos encontrados por CARVALHO (1999) ....................... 142

1

CAPÍTULO 1

1.1. INTRODUÇÃO

Segundo o IBGE (2010), a porcentagem de resíduos sólidos coletados nos domicílios

aumentou mais de 20% nos últimos 17 anos. Porém, no ano de 2000 ainda estimava-se que

em 64% dos municípios brasileiros, todo o lixo produzido era disposto em terrenos que não

passam por nenhum tipo de controle, ou seja, em lixões. Em contrapartida, após 19 anos da

criação do projeto-lei, a câmara dos deputados aprovou em 2010 a Política Nacional de

Resíduos Sólidos (PNRS) que obriga aos municípios planejar e executar a disposição final

ambientalmente adequada dos rejeitos gerados.

A falta de planejamento e investimentos em saneamento nos últimos 30 anos no Brasil

fez com que grande maioria dos resíduos sólidos acabasse indo diretamente para lixões. Na

última década, muitos municípios vieram a adequar os antigos lixões, a condição de aterros

controlados, como é o caso do aterro estudado. A solução de adequar antigos lixões a

condição de aterros controlados não resolve o problema da disposição final dos resíduos,

porém adéqua a melhores condições o local de despejo dos rejeitos.

Os resíduos sólidos urbanos (RSU) dispostos a céu aberto (lixões) representam um

passivo ambiental que pode custar muito caro para as futuras gerações. Os aterros urbanos

dispostos segundo critérios geotécnicos, em países em desenvolvimento como o Brasil, ainda

são as formas mais utilizadas para disposição de rejeitos. Tal condição é extremamente

agressiva e criticada do ponto de vista ambiental, trazendo conseqüências muitas vezes

irreversíveis ao meio ambiente e comunidades próximas aos locais dos aterros de resíduos.

A concentração da população em torno dos centros urbanos faz com que a disposição

final dos resíduos sólidos urbanos se torne um problema de difícil solução. A crescente

demanda de bens de consumo tem refletido exponencialmente na geração de resíduos sólidos

mundialmente. A evolução tecnológica dos materiais e insumos com o desenvolvimento de

embalagens sofisticadas, tem se refletido diretamente no aumento da geração de resíduos

sólidos no mundo inteiro.

As grandes metrópoles são as que mais sofrem para adequar áreas para disposição dos

resíduos, o que exige a otimização da capacidade dos atuais aterros sanitários ou aterros

controlados, exigindo alturas cada vez maiores. Com o aumento da geração de resíduos pelo

consumo humano, aumentam-se as cargas e volumes diários que chegam até os aterros. Como

2

conseqüência, muitos locais tem exigido o monitoramento constante, por sempre estarem no

limite de suas capacidades de operação. A partir deste ponto, o problema dos aterros de RSU

deixou de ser um problema sanitário para se tornar um problema geotécnico. As sobrecargas

excessivas podem ocasionar processos de instabilização, oferecendo riscos aos operários,

catadores, construções irregulares no seu entorno, causando prejuízos sócio-econômicos e

ambientais, além de oferecer riscos de vida à população local.

1.2. OBJETIVO

Esta dissertação tem por objetivo principal obter parâmetros de resistência (c – coesão

aparente1 e φ’ – ângulo de atrito efetivo) de um aterro de RSU, através de retro-análises de

rupturas ocorridas em um aterro de resíduos sólidos monitorado, ajustando os parâmetros

adotados nas análises de estabilidade de acordo com as leituras da instrumentação instalada no

aterro.

Têm-se por objetivos específicos:

1. Descrever as observações feitas nas diversas vistorias de campo, verificando

algumas condições que antecederam as rupturas ocorridas no aterro durante períodos

chuvosos, como a presença de trincas, problemas de drenagem pluvial, aumento das pressões

de gases, entre outros fatores que antecederam as instabilidades.

2. Descrever a instalação e as leituras da instrumentação geotécnica localizada

diretamente no maciço de RSU, como: piezômetros do tipo sifão (também conhecidos como

piezômetros vector), inclinômetros, marcos superficiais e pluviômetros.

3. Análise paramétrica dos RSU, utilizando o Método dos Elementos Finitos (MEF),

estudando e comparando os deslocamentos verticais (recalques) e horizontais, tendo como

base os parâmetros encontrados na literatura sobre o assunto.

1.3. METODOLOGIA ADOTADA E ORGANIZAÇÃO

Este estudo compreende um monitoramento geotécnico de 10 meses de um aterro de

resíduos sólidos.

1 No caso de resíduos sólidos há uma elevada resistência a tração que pode ser considerada como coesão

aparente no modelo Mohr-Coulomb.

3

1.3.1. METODOLOGIA

A primeira etapa metodológica deste trabalho tratou da busca de artigos e teses para

contemplação da revisão bibliográfica sobre o assunto, principalmente no que diz respeito a

comportamento mecânico de aterros de RSU.

A segunda etapa da metodologia foi a que tratou do acesso aos dados para esta

pesquisa. Tal liberação de dados só foi possível com a assinatura de um termo de

compromisso de sigilosidade, onde ficou exposto que, em nenhum momento se deixaria claro

o local da pesquisa nem as empresas envolvidas no monitoramento e nem os projetistas que

realizaram o estudo de adequação ambiental do antigo lixão, onde apenas cita-se o termo

“estudos anteriores” quando se refere ao projeto de encerramento do aterro. Devido a este

fato, alguns detalhes do monitoramento não puderam ser divulgados.

Em paralelo com as duas primeiras etapas da metodologia, optou-se em descrever o

procedimento básico da instalação da instrumentação geotécnica em RSU, onde o autor desta

dissertação acompanhou de perto os detalhes técnicos envolvidos para a instalação de 5

piezômetros sifão, 4 tubos de inclinômetro, 5 marcos superficiais e dois pluviômetros. Ficou

clara a dificuldade na perfuração dos RSU, sendo a duração desta etapa de 5 meses.

Após o acompanhamento da instalação da instrumentação, várias leituras foram

realizadas, sendo no mínimo realizada uma vistoria mensal no aterro com finalidade de

observar sinais de instabilidade, como trincas e problemas de erosão. As demais leituras eram

realizadas por técnico em instrumentação geotécnica que acompanhou diariamente as leituras

da instrumentação instalada do aterro. Em seguida, a partir das leituras de instrumentação,

fazia-se sua interpretação. Inicialmente, houve maior dificuldade na interpretação das leituras

de inclinômetro, que eram realizadas com o auxílio de planilhas Excel® e após utilizando o

software Gtilt®. Para auxiliar nas interpretações de pequenos deslocamentos horizontais,

utilizou-se o artifício do uso de um “cone de acurácia”, onde este representaria duas linhas

cônicas acompanhando os dados das leituras sendo que o cone representa a acurácia associada

ao sistema torpedo em conjunto com a unidade leitora. Tal “cone de acurácia” foi útil na

identificação de pequenas tendências de movimentação horizontal no maciço.

O acompanhamento de algumas rupturas nos taludes do aterro de resíduos permitiu a

retro-análise de três casos de rupturas utilizando o software SLIDE 5.0®, ocorridos em

diferentes épocas. Buscou-se estudar os deslocamentos no aterro após verificar que algumas

leituras de instrumentação pareciam tendenciosas em certas profundidades. Por fim, utilizou-

se o Método dos Elementos Finitos (software Plaxis 9.0®), comparando parâmetros e

4

deslocamentos verticais (recalques) e deslocamentos horizontais com os deslocamentos

horizontais medidos com o auxílio dos inclinômetros instalados no maciço. A instalação

tardia dos marcos superficiais no aterro fez com que se tivesse um período muito curto de

leituras para identificar um modelo de comportamento de recalques de RSU, sendo que nas

recomendações finais deste trabalho sugere-se que o modelo adotado seja verificado e

adequado conforme se tenha maior volume de leituras destes deslocamentos verticais.

1.3.2. ORGANIZAÇÃO DA DISSERTAÇÃO

Esta dissertação é dividida em 5 capítulos, sendo este primeiro capítulo de introdução

com os principais objetivos da dissertação, além de uma breve descrição da metodologia

adotada.

O Capítulo 2 apresenta aspectos gerais de resíduos sólidos, apresentando

características físicas, químicas e biológicas, com enfoque em resistência ao cisalhamento e

compressibilidade dos RSU. São descritos os principais parâmetros encontrados na literatura e

dificuldades na obtenção destes, através de ensaios in situ e de laboratório, retro-análises de

estabilidade. Também são descritas as teorias de análise de estabilidade utilizando a Teoria do

Equilíbrio Limite e recalques utilizando Método dos Elementos Finitos. Ainda, o capítulo

relata diversas catástrofes e os diferentes tipos de rupturas em aterros de RSU.

O Capítulo 3 apresenta a instrumentação instalada no aterro de RSU estudado e as

respectivas seções de instrumentação, nomeadas de seção principal e seção secundária de

instrumentação. O Capítulo ainda detalha os tipos de instrumentos instalados no aterro e

funcionamento, como o piezômetro do tipo sifão específico para aterros de RSU. Detalhes e

observações durante a instalação da instrumentação são descritos.

No Capítulo 4 são apresentadas as leituras observadas no período de 10 meses de

monitoramento, incluindo duas fases críticas de estabilidade, dezembro de 2009 e abril de

2010 onde se registrou mais de 270 mm de chuva em menos de 12h no local. Retro-análises

de estabilidade foram realizadas através da adoção de parâmetros da literatura, ajustadas ao

modelo de ruptura comparando as análises com dados da instrumentação. Ainda neste mesmo

capítulo, apresenta-se uma análise paramétrica utilizando o Método dos Elementos Finitos,

visando estimar os deslocamentos verticais e horizontais esperados para o aterro e comparar a

influência de cada parâmetro nas análises.

Finalmente, o Capítulo 5 aborda as conclusões finais deste trabalho e recomendações

para futuros trabalhos envolvendo este aterro ou outros aterros de RSU.

5

CAPÍTULO 2

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Este capítulo é destinado ao estudo e revisão das propriedades mecânicas dos resíduos

sólidos. Uma breve revisão sobre resíduos sólidos, suas propriedades físicas, químicas e

biológicas, envolvendo temperatura, umidade, resistência ao cisalhamento, compressibilidade,

monitoramento de aterros de RSU, casos de ruptura, entre outros. Ainda são apresentados o

Método do Equilíbrio Limite e Método dos Elementos Finitos utilizados para as análises de

estabilidade e previsão de deslocamentos, respectivamente.

2.1. RESÍDUOS SÓLIDOS

A Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT NBR 10.004 (2004) – define o

lixo como os "restos das atividades humanas, considerados pelos geradores como inúteis,

indesejáveis ou descartáveis, podendo-se apresentar no estado sólido, semi-sólido ou líquido,

desde que não seja passível de tratamento convencional".

Porém, aquilo que já não apresenta nenhuma serventia para quem o descarta, para

outro pode se tornar matéria-prima para um novo produto ou processo (IBAM, 2001). Neste

caso, segundo a própria norma NBR 10.004 (2004), o conceito de lixo acaba não englobando

materiais que possam ser reciclados ou usados ou manufaturados por terceiros. Ou seja, o

termo resíduo sólido designa com maior abrangência o significado da palavra “lixo”.

Os resíduos sólidos urbanos são aqueles gerados pela comunidade, com exceção de

resíduos industriais, de mineração e agrícolas. Incluem os resíduos de origem doméstica e

resíduos procedentes de: comércio, escritórios, serviços, limpeza de vias públicas, mercados,

feiras e festejos bem como móveis, materiais e eletrodomésticos inutilizados. Esses resíduos

se constituem numa mistura heterogênea de materiais sólidos que podem ser parcialmente

reciclados e reutilizados, vêm se constituindo em um dos maiores problemas da sociedade

moderna.

2.2. CARACTERÍSTICAS DOS RSU E DE ATERROS DE RSU

Segundo o IBAM (2001), a geração de resíduos sólidos domiciliares no Brasil é de

cerca de 0,6kg/hab./dia e mais 0,3kg/hab./dia de resíduos de varrição, limpeza de logradouros

e entulhos. Algumas cidades, especialmente nas regiões Sul e Sudeste, como São Paulo, Rio

de Janeiro e Curitiba, alcançam índices de produção mais elevados, podendo chegar a

6

1,3kg/hab./dia, considerando todos os resíduos manipulados pelos serviços de limpeza urbana

(domiciliares, comerciais, de limpeza de logradouros, de serviços de saúde e entulhos).

O problema da disposição final dos RSU assume hoje uma magnitude alarmante.

Considerando apenas os resíduos urbanos e públicos, o que se percebe é uma ação

generalizada das administrações públicas locais ao longo dos anos em apenas afastar das

zonas urbanas o lixo coletado, depositando-o por vezes em locais absolutamente inadequados,

como encostas florestadas, manguezais, rios, baías e vales. (IBAM, 2001).

Decorre daí a necessidade de um melhor entendimento do comportamento a médio e

longo prazo destes maciços, assim como a resposta dos mesmos a distintas técnicas

construtivas e operacionais, as quais isoladamente ou em conjunto possam gerar um aumento

na vida útil e um melhor aproveitamento do espaço físico a eles destinados. Acrescente-se a

estes aspectos, a importância nos dias atuais para a recuperação e reaproveitamento de antigas

áreas de disposição, as quais demandam igualmente o conhecimento das condições

geomecânicas do maciço, assim como a previsão do seu comportamento futuro.

Os aterros podem se classificar de acordo com o tipo de disposição final utilizada,

como segue:

• Lixões - Forma irresponsável de jogar o lixo sobre um local qualquer sem

nenhum tipo de controle contra poluição ou contaminação;

• Aterros controlados – Conforme descrito anteriormente produz poluição

localizada, não possui impermeabilização da base e sem sistema de tratamento

de chorume e de dispersão dos gases;

• Aterros sanitários - Forma de disposição de RSU que obedece a critérios de

engenharia e normas operacionais específicas, permitindo o confinamento

teoricamente seguro em termos de controle de poluição ambiental e proteção à

saúde publica.

Nos lixões ou aterros controlados estão ausentes os critérios de engenharia de

disposição do resíduo e, por isso, são criticados pelo ponto de vista sanitário e ambiental.

Porém, as adequações a antigos lixões a condição de aterros controlados é realidade na grande

maioria dos municípios brasileiros.

Para projetar um aterro sanitário ou adequar um lixão a condição de aterro controlado,

a informação geotécnica é essencial. Para isso são necessários dados geológicos,

meteorológicas, hidrogeológicos e geotécnicos. Dados dos resíduos a serem dispostos são

7

também relevantes. Conhecimento de dados geotécnicos e dados sobre os resíduos são

necessários nas análises de estabilidade, de deformação e vida útil do aterro de RSU.

Se tratando de RSU, as propriedades mecânicas ainda são avaliadas empregando, para

esses materiais, os métodos convencionais de ensaios de campo e laboratório desenvolvidos

para solos. Cuidados devem ser tomados ao se estender para o RSU os conceitos e as teorias

clássicas da Mecânica dos Solos, pois existem significantes diferenças entre estes dois

materiais. O RSU de natureza altamente complexa e heterogênea apresenta elevados índices

de vazios e, portanto, uma grande compressibilidade. Apresenta partículas de natureza muito

diferente sendo que algumas delas são muito deformáveis e podem degradar, provocando o

fenômeno o adensamento do aterro.

A caracterização contínua dos resíduos sólidos é um dos passos mais importantes em

qualquer administração pública que queira buscar uma solução ambiental adequada

(MAHLER, 2010). A caracterização visa estudar muito além das suas características físicas,

mas sim entender todo o comportamento de uma sociedade no sentido de prever nos novos

projetos de aterro a evolução na produção de resíduos sólidos.

Basicamente, o RSU se trata de um material extremamente heterogêneo, que pode ser

distinguido por quatro fases compostas conforme apresentado na Figura 2. 1, são elas: ar,

lixiviado (composto por água drenável), água retida (matéria orgânica, contendo umidade do

RSU) e a matéria sólida contendo os resíduos inorgânicos.

Va

Vw-d

Vw-r

Vs

Vw

VOLUMES

Ma

Mw-d

Mw-r

Ms

Mw

MASSAS

Va

Vv

Vs

VT

MATERIA SÓLIDA (SECA)

ÁGUA RETIDA

ÁGUA DRENÁVEL

AR

Figura 2. 1 - As quadri-fases dos RSU (adaptado de BEAVEN et al., 2009).

8

Onde:

VT=Volume total;

VS=Volume de sólidos;

VV=Volume de vazios;

Va=Volume de ar;

Vw=Volume de água total;

Vw-d=Volume de água drenável;

Vw-r=Volume de água retida;

Ma=Massa de ar;

Mw-d=Massa de água drenável;

Mw-r=Massa de água retida;

MS=Massa de sólidos.

Já na Figura 2. 2, de MACHADO et al. (2009), é apresentada a relação da perda de

volume em função da biodegradação da parcela orgânica dos RSU.

ANTES DABIODEGRADAÇÃO

APÓSBIODEGRADAÇÃO

VOLUME

AR

ÁGUA

PASTASÓLIDA

(MATRIZ)

FIBRAS

ÁGUA

PASTASÓLIDA

(MATRIZ)

FIBRAS

AR

(1+α)∆Vs

∆Vs

Vsp+∆Vsp

Vsf

Vv+α∆Vs

Vs+∆Vs

Vp(1+α)∆Vs

V+(1+α)∆Vsa

Figura 2. 2 - Fases ilustrando o efeito da perda de massa dos RSU (adaptado de MACHADO

et al., 2009).

Onde:

9

∆Vs=parcela de volume do RSU que varia (matriz);

Vsp=Volume da pasta sólida (matriz) do RSU;

Vsf=Volume de fibras do RSU;

VV=Volume de vazios;

α=Taxa de compressão dos RSU a longo prazo

Va=Volume de ar;

Vw=Volume de água total;

Vp=relação entre o volume da pasta e volume total dos RSU.

Atualmente é de conhecimento que as características dos resíduos sólidos variam para

cada cidade, para cada bairro até, em função de diversos fatores, como o porte, a atividade

dominante (industrial, comercial e turística), os hábitos da população (principalmente quanto

à alimentação e forma de se vestir), ao clima e ao nível educacional (XAVIER DE BRITO,

1999).

KAIMOTO (2005) cita que até duas décadas atrás, o princípio de projetos de aterros

considerava somente os critérios sanitários. No Brasil era comum adotar os conceitos e os

parâmetros da Europa e dos EUA. No entanto, a adoção destes conduziu a situações críticas

de instabilidade nos aterros. Atualmente sabe-se que diversos fatores influenciam nas

características dos RSU, e devem ser estudados caso a caso, como em problemas de geotecnia

em geral. As características dos resíduos, do clima e da operação em aterros são

completamente diferentes de aterro para aterro, variando desde a renda da população local

supracitado e a sazonalidade de quando é realizada a amostragem para caracterização do

RSU.

A Tabela 2. 1 apresenta um exemplo de dados comparativos de renda per capita e tipo

de resíduo gerado para diferentes áreas de estudo do município do Rio de Janeiro, em

pesquisa realizada pela COMLURB (2005). Nota-se que, quando maior a renda per capita da

área, menor a quantidade de matéria orgânica que estes cidadãos geram. Cabe observar que a

implantação da coleta seletiva tende a aumentar a porcentagem de matéria orgânica.

10

Tabela 2. 1 - Comparação entre renda per capita e percentual dos diversos componentes dos

RSU do município do Rio de Janeiro (adaptado de COMLURB, 2005).

REGIÃO

CENTRO¹ ZONA

SUL² TIJUCA³

DEL

CASTILHO

PENHA/

GALEÃO PAVUNA

ZONA

OESTE4

CAMPO

GRANDE BANGÚ

SANTA

CRUZ

RENDA PER CAPTA MÉDIA

(R$) 465,61 1.394,60 1.095,21 353,76 399,41 349,12 809,80 313,38 269,30 212,21

PAPEL (%) 11,93 18,58 14,04 12,72 14,18 12,30 14,22 12,63 9,87 10,35

PLÁSTICO (%) 15,76 16,10 15,50 15,40 14,01 15,20 16,56 14,91 14,97 14,07

VIDRO (%) 3,88 3,98 3,87 3,83 2,69 2,26 4,36 2,84 2,09 1,93

MATÉRIA ORGÂNICA

PUTRECÍVEIS

(%)

62,77 52,18 59,66 61,13 61,74 63,82 57,09 62,47 66,14 67,21

METAL (%) 1,88 1,79 1,59 1,76 1,60 1,62 1,71 1,63 1,37 1,31

INERTE (%) 0,47 1,33 0,49 0,45 0,96 0,94 1,46 0,64 0,79 0,09

OUTROS (%) 3,30 6,04 4,85 4,73 4,82 3,85 4,59 4,88 4,77 5,03

TOTAL GERAL (%)

100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00

TEOR DE UMIDADE (%)

50,11 47,73 51,93 56,47 46,49 57,05 49,20 45,74 50,28 44,63

PESO ESPECÍFICO

(kg/m³) 146,55 137,44 148,17 149,63 146,63 162,92 130,52 149,18 157,47 159,02

PESO DA

AMOSTRA (kg) 1.476,12 2.247,87 1.421,65 1.665,95 2.035,00 3.316,72 2.031,80 1.819,65 1.175,50 950,85

1 Início da implantação da Coleta seletiva em Novembro de 2003

2 Início da implantação da Coleta seletiva em Fevereiro de 2002

3 Início da implantação da Coleta seletiva em Maio de 2003

4 Início da implantação da Coleta seletiva em Maio de 2003

A composição gravimétrica do RSU espelha o nível de renda da população, e é de se

esperar que regiões mais ricas gerem um menor percentual em massa de material orgânico,

haja visto que é grande o consumo de alimentos semi-prontos e processados. Por sua vez, é

maior a geração de resíduos de papel, próprios de uma população intelectualmente

diferenciada. Sobre as variações sazonais da produção de RSU, sabe-se que em épocas de

chuvas fortes o teor de umidade no lixo tende a crescer, que em épocas festivas há um

aumento do percentual de latinhas, ou ainda que no outono cresce o número de folhas a serem

recolhidas. Ou seja, há diversos fatores que influenciam no tipo e produção dos RSU.

XAVIER DE BRITO (1999) resumiu os principais fatores que exercem forte

influência sobre as características dos resíduos, que estão listados na Tabela 2. 2 a seguir.

11

Tabela 2. 2 - Fatores que exercem forte influência sobre a composição dos resíduos (adaptado

de XAVIER de BRITO, 1999).

FATORES

INFLUÊNCIA

1 - Climáticos

• Chuvas Aumento do teor de umidade

• Outono Aumento do teor de folhas

• Verão Aumento do teor de embalagens de bebidas (latas, vidros e plásticos rígidos)

2 - Épocas Especiais

• Carnaval Aumento do teor de embalagens de bebidas (latas, vidros e plásticos rígidos)

• Natal / Ano Novo / Páscoa Aumento de embalagens (papel/papelão e plásticos maleáveis e metais) Aumento de matéria orgânica

• Dia das Mães Aumento de embalagens (papel/papelão e plásticos maleáveis e metais)

• Férias Escolares Migração temporária da população em regiões não turísticas Aumento populacional em locais turísticos

3 - Demográficos

• População urbana Quanto maior a população urbana, maior a geração per capita

4 - Sócio-Econômicos

• Nível Cultural Quanto maior o nível cultural, maior a incidência de materiais recicláveis e menor a incidência de matéria orgânica

• Nível Educacional Quanto maior o nível educacional, menor a incidência de matéria orgânica

• Poder Aquisitivo Quanto maior o poder aquisitivo, maior a incidência de materiais recicláveis e menor a incidência de matéria orgânica

• Poder Aquisitivo (no mês) Maior consumo de supérfluos perto do recebimento do salário (fim e início do mês)

• Poder Aquisitivo (na semana) Maior consumo de supérfluos no fim de semana

• Lançamento de Novos Produtos Aumento de embalagens

• Promoções de Lojas Comerciais Aumento de embalagens

• Campanhas Ambientais Redução de materiais não biodegradáveis e aumento de materiais biodegradáveis

As características dos resíduos podem ser reunidas em três grupos, a saber:

características físicas, químicas e biológicas. Destes três grupos, aquele que mais interfere no

dimensionamento do Sistema de Coleta e da disposição, considerando eventualmente a

existência de um programa de coleta seletiva e reciclagem, é o das características físicas, por

influenciar visceralmente todos os aspectos da gestão dos resíduos sólidos (XAVIER DE

BRITO, 1999).

CARVALHO (1999) diz que as principais propriedades mecânicas dos RSU

(resistência ao cisalhamento e compressibilidade) são fortemente influenciadas pela

composição e estado de alteração do resíduo bem como pelo comportamento mecânico de

12

cada material que o compõe. As informações sobre essas propriedades do RSU são escassas e,

em alguns casos, os dados publicados são contraditórios.

O aterro de RSU é um ecossistema complexo, no qual processos físicos, químicos e

biológicos promovem a degradação da matéria orgânica com geração de efluentes líquidos e

gasosos, modificando a pressão no interior da massa de resíduos. (ALCANTARA, 2007).

Logo, a quantificação das propriedades mecânicas desses materiais é uma tarefa difícil dada a

influência da composição heterogênea do RSU, a presença de componentes com diferentes

formas e dimensões o que dificulta, sobremaneira, a obtenção de amostras de boa qualidade, a

definição do tamanho das amostras e os tipos de ensaios mais adequados para serem

utilizados.

Nos itens a seguir serão relacionadas as principais propriedades e características dos

RSU, porém, fica clara a grande disparidade entre os dados, o que só confirma que ao tratar

de resíduos sólidos, tratamos de material de extrema heterogeneidade e complexidade.

2.2.1. GRAVIMETRIA DOS RSU

Os resíduos domiciliares brasileiros têm se apresentado com taxas de matéria orgânica

da ordem de 50 a 60%, típicas de países em desenvolvimento, e maiores que os encontrados

em países desenvolvidos. A Figura 2.3 apresenta um gráfico comparativo entre renda per

capita e porcentagem de matéria orgânica gerada segundo os dados da Tabela 2.1 para o

município do Rio de Janeiro/RJ.

13

Figura 2. 3 - Comparação entre renda per capita e matéria orgânica dos RSU no município do

Rio de Janeiro/RJ.

Este teor orgânico elevado propicia, entre outros fatores, um elevado teor de umidade.

O conteúdo orgânico controla o processo bioquímico, especialmente a geração de gases e

lixiviados. O conteúdo orgânico também afeta os parâmetros de resistência e a

deformabilidade dos resíduos.

A Tabela 2. 3 (CALLE, 2007), apresenta as gravimetrias dos componentes de diversos

aterros sanitários do mundo (Bangkok, Pequin, Nairobi, Hong-Kong, New York, Istambul,

Atenas, Cochabamba e Wollongong, Kuwait, Belo Horizonte, Doña Juana, Brasilia,

Bandeirantes, Muribeca, Olinda e Salvador, Califórnia e Spruitville).

14

Tabela 2. 3 - Gravimetria dos componentes de Resíduos Sólidos Urbanos. (adaptado de

CALLE (2007).

RSU 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19

MATÉRIA ORGÂNICA 67 55 60 51 60 50 49 71 50 26 32 44 45 74 15 20 58 59 61

PAPEL 10 2 15 24 10.5 13.6 26 2 20.6 43 37 25 5 12 3 22 16 19 10

VIDRO 3 2 2 3 2 4.2 - 1 3.3 6.1 4 1 1 4 10 6 2 2 1

METAL 3 5 2 2 2.4 3.35 3 1 2.6 7.6 6 1 1 3 3 5 3 4 2

PLÁSTICO 11 17 8 12 15 - 15 3 12.6 12 17 - 1 5 - - 20 7 3

OUTROS 6 - 13 8 10.1 - 7 21 6.1 3.3 6 19 46 2 22 46 1 5 14

PEDRA+SOLO - 10 - - - 1.99 - - - - - - - - - - - - -

MADEIRA+BORRACHA+COURO - 6 - - - 23.7 - 1 - - - 7 1 - 7 3 - 4 6

TÊXTIL - 3 - - - 3.56 - - 4.8 1.9 - 3 - - 10 - - - 3

1. Brasil - Aterro de Belo Horizonte/MG 7. Brasil - Aterro de Brasília/DF 13. China - Aterro de Pekin

2. Brasil - Aterro bandeirantes/SP 8. Bolívia - Aterro de Cochabamba 14. Kenia - Aterro de Nairobi

3. Brasil - Aterro de Muribéca/PE 9. Kuwait - Aterro da Cidade do Kuwait 15. Hong Kong - Aterro de Hong Kong

4. Brasil - Aterro de Olinda/PE 10. USA - Aterro na Califórnia 16. USA - Aterro de New York

5. Brasil - Aterro de Salvador/BA 11. África do Sul - Aterro de Spruntville 17. Austrália - Aterro de Wollogong

6. Colombia - Aterro de Doña Juana 12. Tailândia - Aterro de Bangkok 18. Grécia - Aterro de Atenas

19 . Turquia - Aterro de Istambul

REGIÃO

Como já foi descrito anteriormente, observa-se que o percentual de matéria orgânica

para países em desenvolvimento é mais elevado do que para países desenvolvidos. Assim,

essa característica deve ser levada em consideração no momento da escolha do método de

tratamento e disposição dos RSU (BORGATTO, 2006).

A partir do início da disposição dos RSU no aterro, há predomínio de componentes

sólidos, e o processo de degradação biológica transforma a matéria orgânica sólida inicial

numa considerável quantidade de gases e líquidos. Estas alterações são dependentes do teor

de umidade, conteúdo orgânico e das condições climáticas locais, mais especialmente da

temperatura.

2.2.2. GRANULOMETRIA DOS RSU

A análise da distribuição do tamanho das partículas dos RSU é realizada utilizando-se

as mesmas análises granulométricas utilizadas na Mecânica dos Solos. A Figura 2. 4 apresenta

curvas granulométricas de RSU com idade variando entre 8 meses a 15 anos.

15

Figura 2. 4 - Distribuição Granulométrica do lixo para diferentes idades (JESSBERGER,

1994 apud DE LAMARE NETO, 2004).

Nota-se que o percentual de materiais com granulação mais fina tende a aumentar com a

idade do RSU, o que era esperado devido à biodegradação da parcela orgânica dos rejeitos. Este

fato comprovado por (CARVALHO, 1999) conforme a Figura 2.5, que apresenta as curvas

granulométricas estudado pelo autor do RSU do Aterro Bandeirantes com aproximadamente

15 anos, onde observa-se que o resíduo é composto por partículas mais finas que as

apresentadas pela faixa sugerida por JESSBERGER (1994) apud DE LAMARE NETO

(2004), para resíduos sólidos da Alemanha.

16

Figura 2. 5 - Distribuição granulométrica de RSU brasileiros por CARVALHO (1999) e faixa

granulométrica sugerida por JESSBERGER (1994).

2.2.3. PESO ESPECÍFICO

Uma das características determinantes no comportamento geotécnico de qualquer

aterro é o estado de tensões induzido pelo peso próprio dos materiais que o constituem. Desta

forma, torna-se incoerente o estudo do comportamento mecânico de qualquer material

aterrado sem que seja conhecido seu peso específico.

Quanto maior a percentagem de matéria orgânica na massa de lixo, maior o seu peso

específico, fato comprovado por de DE LAMARE NETO (2004), que ao analisar a

composição gravimétrica do resíduo sólido proveniente de várias regiões da cidade do Rio de

Janeiro, constatou que para regiões mais pobres os resíduos apresentavam maior peso

específico que o gerado nas porções mais nobres da cidade. Como já visto anteriormente, o

desenvolvimento econômico implica em maior consumo de alimentos processados e semi-

prontos, descartáveis, embalagens, etc., o que diminui o percentual de material de origem

orgânica no lixo gerado.

SILVEIRA (2004) determinou pelo método da cava as massas específicas de

Paracambi/RJ, Santo André/SP, Gramacho/RJ e Nova Iguaçu/RJ. Descreveu os

procedimentos usados nos ensaios in situ e as dificuldades encontradas na realização de tais

CARVALHO (1999)

17

ensaios. Com o uso do percâmetro2 CARVALHO (2002) fez alguns ensaios em paralelo a

SILVEIRA (2004) e observou-se uma boa concordância entre os resultados. CARVALHO

(2002 & 2006) descreve o procedimento (Percâmetro) para retirada de amostras indeformadas

de aterros, possibilitando a determinação de outras grandezas, como massa específica,

capacidade de campo, umidade e porosidade.

Na Tabela 2. 4 são apresentados alguns valores de pesos específicos de RSU. Há uma

grande variação dos resultados encontrados, provinda das diferenças de procedimento na

compactação, diferenças na composição dos resíduos, fruto das diferentes épocas dos estudos

e regiões.

Tabela 2. 4 - Massas específicas de alguns aterros de RSU não pré-tratados (adaptado de

CALLE, 2007).

Autor Peso Específico (kN/m³) Observações

Merz & Stone (1962) 2,2 a 2,7 Não compactado

Sowers (1968) 4,7 a 9,4 Compactado

Schomaker (1972) 2,9 a 8,8 Não compactado à bem compactado

Bromwell (1978) 3,1 a 9,3 Não compactado à bem compactado

Ham et al. (1986) 6,6 Compactado

Sargunan et al. (1986) 5,5 a 6,9 Pouco compactado

Landva & Clark (1986) 6,8 a 16,2 Compactado

Watts & Charles (1990) 5,9 Londres, resíduo in situ compacto

Oweis & Khera (1990) 6,3 a 9,4 Compactado

Sharma et al. (1990) 7,2 Sem relatos sobre compacidade

Galante et al. (1991) 9,9 a 10,9 Compactado

Richardson & Reynolds (1991) 15 Sem relatos sobre compacidade

3,0 a 9,0 Não compactado

5,0 a 8,0 Medianamente compacto

9,0 a 10,5 Compactado

Vam Impe (apud Manassero et al 1996) 5,0 a 10,0 Bélgica

Jessberger (1997) 3,0 a 17,0 -

Hendron et al. (1999) 9,1 Bogotá - Aterro de Doña Juana

Zomberg et al. (1999) 10,0 a 15,0 Sem relatos sobre compacidade

Kavazanjian (2001) 10,0 a 20,0 USA - Azusa (aumenta com a profundidade)

Gotteland et al. (2001) 10 França - Montech, Tarn

jasem (2002) 5,8 Kuwait, in situ

Carvalho (2002) 11,7 Brasil - Santo André/SP. Ensaio de campo - percâmetro

Silveira (2004) 14,8 a 12,2 Brasil - Paracambí/RJ. Ensaio de campo - cava e percâmetro

Silveira (2004) 18,2 Brasil - Gramacho/RJ. Ensaio de campo - cava

Silveira (2004) 9,15 Brasil - Nova Iguaçu/RJ. Ensaio de campo - cava

Fassett et al. (1994)

Conforme citado anteriormente, o grau de compactação do aterro exerce influência

relevante sobre a condição de peso específico do RSU. Tal afirmativa encontra grande

aceitação uma vez que o RSU é constituído de material com elevado índice de vazios e de alta

compressibilidade. Ao estudar os efeitos da compactação na compressibilidade do RSU do

2 Percâmetro: equipamento que mede peso específico, permeabilidade, a variação da vazão do percolado com o tempo e a capacidade de campo de uma amostra indeformada de resíduos sólidos.

18

aterro Bandeirantes, MARQUES (2001) verificou que o teor de umidade da massa de lixo,

assim como nos solos, é um fator relevante no processo de compactação dos aterros de RSU.

2.2.4. UMIDADE

O teor de umidade do RSU depende de vários fatores como sua composição

granulométrica inicial, composição gravimétrica, condições climáticas, procedimentos

operacionais, a taxa de decomposição biológica e a eficiência do sistema de drenagem de

chorume e gases.

A Figura 2. 6 apresenta resultados de JUCÁ et al. (1997) e compara dados

encontrados por GABR & VALERO (1995). JUCÁ et al. (1997) apresenta resultados de

umidade obtidos através de ensaios de SPT no aterro da Muribeca (PE) apresentando teores

de umidades em profundidade variando entre 20 a 50%.

Figura 2. 6 - Variação do Teor de Umidade dos RSU com a profundidade (adaptado de JUCÁ

et al, 1997).

Um aspecto importante a considerar sobre a influência do teor de umidade no

comportamento mecânico do maciço é a diminuição da coesão aparente do RSU conforme o

aumento do teor de umidade. Segundo GABR & VALERO (1995), conforme apresentado na

19

Figura 2. 7, para teores de umidade variando entre 55 e 70%, os valores da coesão aparente

podem sofrer reduções consideráveis passando de cerca de 100 kPa para 40 kPa.

Figura 2. 7 - Variação da coesão aparente com a umidade (adaptado de GABR & VALERO,

1995).

2.2.5. TEMPERATURA

A temperatura no interior de aterros de RSU constitui importante fator para a

deflagração e evolução dos processos de degradação dos resíduos sólidos urbanos.

COUMOULOS et al. (1995) apud CARVALHO (1999) realizaram uma série de

medidas de temperatura, em diferentes períodos do ano, no aterro Ano Liossia, na Grécia,

tendo obtido valores entre 40 e 60°C a pequenas profundidades e entre 5 a 15°C a grandes

profundidades, conforme apresenta a Figura 2. 8. Registre-se que estes valores não

apresentaram variações significativas, por conta de alterações na temperatura ambiente, nas

diferentes épocas dos levantamentos. A variação da temperatura de acordo com a

profundidade se dá principalmente devido a concentração de oxigênio próximo a superfície,

que acelera o processo de degradação liberando maior quantidade de energia na forma de

calor.

0

20

40

60

80

100

120

50 55 60 65 70 75

Inte

rcep

to C

oe

são

(kP

a)

Teor de umidade (%)

Ensaios Triaxiais

γseco=7,4 - 8,2kN/m³

20

Figura 2. 8 - Variação da temperatura do RSU com a profundidade, Aterro de Ano Liossia,

Atenas (Grécia), (adaptado de COUMOULOS et al., 1995 apud CARVALHO, 1999).

A Figura 2. 9 trata de um estudo realizado por HANSON et al. (2006) que apresenta

os limites inferiores e superiores para medições de temperatura e de metano em profundidades

em um aterro de RSU nos EUA. Segundo o estudo, a variabilidade de temperaturas e

concentrações de metano são maiores na superfície do que em grandes profundidades.

Figura 2. 9 Variações da temperatura com a profundidade comparando com as

concentrações de metano (HANSON et al., 2006).

0

5

10

15

20

25 30 35 40 45 50 55 60 65P

rofu

nd

idad

e (

m)

Temperatura (°C)

05.07.1990/30°C

05.09.1990/35°C

12.11.1990/11°C

27.03.1991/22°C

FURO 7

0

5

10

15

20

25

30

35

25 30 35 40 45 50 55 60 65

Pro

fun

did

ade

(m

)

Temperatura (°C)

05.07.1990/30°C

05.09.1990/35°C

12.11.1990/11°C

27.03.1991/22°C

FURO 9

Temperatura (°C) Composição de metano (%)

Prof

undi

dade

(m

)

Limite Inferior de Temperatura

Limite Superior de Temperatura

Limite Inferior de Gás

Limite Superior de Gás

21

2.2.6. PERMEABILIDADE

O fluxo através de resíduo urbano saturado pode ser razoavelmente caracterizado pela

Lei de Darcy, expressa pela Equação (1):

q = A.k.i (1)

Onde q é o fluxo volumétrico do lixiviado, A a seção transversal ao fluxo, k a

condutividade hidráulica e i o gradiente hidráulico.

A permeabilidade de RSU deve ser estimados para a concepção do sistemas de

drenagem do aterro. De acordo com a regulamentação recente para a criação de aterros

sanitários, o chorume produzido no interior da aterro deve ser recolhido e, portanto, a

instalação de coleta de chorume e de sistemas de remoção é necessária (MACHADO et al.,

2010).

Fragmentos de plástico podem ter um efeito considerável sobre a permeabilidade de

RSU. No caso do fluxo saturado, fragmentos de plástico (impermeáveis) pode obstruir o fluxo

de chorume nos RSU. Quanto maior a quantidade e o tamanho dos fragmentos de plástico, a

maior influência sobre a permeabilidade (XIE et al., 2006 apud MACHADO et al. 2010).

A Figura 2.10 apresenta os resultados de ensaios de infiltração realizados no Aterro

Bandeirantes (MACHADO et al., 2010). A dispersão dos valores obtidos pode ser atribuída

em grande medida, a heterogeneidade dos resíduos sólidos urbanos e à efeito de bloqueio do

fluxo dos componentes plásticos. No entanto pode-se notar uma diminuição da

permeabilidade dos resíduos conforme a profundidade aumenta.

22

Figura 2. 10 - Ensaios de infiltração realizados no Aterro Bandeirantes (MACHADO et al.,

2010)

A Tabela 2. 5 apresenta dados levantados por CALLE (2007). De forma geral, a

permeabilidade varia de 10-2 cm/s a 10-4cm/s, a qual é compatível com os valores obtidos para

areias finas e limpas.

Permeabilidade (m/s)

Pro

fund

idad

e (m

)

23

Tabela 2. 5 - Permeabilidade de Aterros Sanitários (adaptado de CALLE, 2007).

AUTOR ANÁLISE k (cm/s) OBSERVAÇÕES

Fungaroli et al. (1979) Lisimetro 1x10-3

a 2x10-3

Resíduos triturado

Koriates et al. (1983) Laboratório 5,1x10-3

a 3,2x10-3

-

Oweis & Khera (1986) Ensaios de campo 1x10-3

-

Oweis (1990) Ensaios de campo 1,5x10-4

Carga variável

Massanero (1990) Ensaio em poço 1,5x10-3

a 2,6x10-2

Ensaio de Bombeamento (15-20m)

Brandl (1990) Ensaios de campo 2x10-3

a 7x10-4

Com.com rolo. ens. de carga variável

Landva & Clark (1990) Ensaio em poço 1x10-3

a 4x10-2

-

Cepollina et al. (1994) Ensaio em poço 1x10-5

Aterro Bandeirantes/SP

Brandl (1994) Laboratório 2x10-4

a 3x10-3

Compacto

Ehrlich et al. (1994) Ensaios de campo 1x10-3

Gramacho/RJ - Fluxo horizontal

Beaven & Powrie (1995) Laboratório 1x10-5

a 1x10-4

Pressão conf. de 0 a 600kPa

Gabr & Valero (1995) Laboratório 1x10-5

a 2x10-3

-

Blengino et al. (1996) Ensaios de campo 3x10-5

a 3x10-4

Ens. Car. Var. em furos (30-40m)

Santos (1998) Ensaios de campo 1x10-5

Muribéca/PE Furos de sondagem

Mahler & Aguilar (2001) Perm. Guelph 4,73x10-2

Jacarepaguá/RJ

Carvalho (2002) Ensaios de campo 9,48x10-4

Santo André/SP

2.2.7. RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO

KNOCHENMUS et al. (1998) definem que as principais propriedades mecânicas a

serem consideradas para o estudo da estabilidade de taludes de resíduos são a

compressibilidade e a resistência ao cisalhamento. Por sua vez, estas propriedades sofrem

influências das variações ocorridas dentro de um maciço em função da decomposição, da

idade do resíduo, condições de estocagem, drenagem, entre outras.

Uma parcela significativa de resistência dos resíduos sólidos urbanos, mobilizada com

o aumento das deformações, pode ser explicada pelo efeito de reforço que alguns de seus

constituintes fibrosos (plásticos, papéis, pedaços de madeira, etc) passam a desempenhar,

contribuindo assim para um incremento do intercepto de coesão. Neste sentido, KOCKEL &

JESSBERGER (1995) propõe analisar os resíduos como uma matriz composta, constituída

por duas componentes: uma básica, onde estão presentes as partículas finas e médias

(≤120mm), e uma reforçada, que engloba as partículas fibrosas e de maiores dimensões

(>120mm). Os mesmos autores, a partir de ensaios laboratoriais, mostraram que a resistência

ao cisalhamento da componente básica da matriz (partículas ≤120mm) é quase que totalmente

condicionada pela resistência friccional, com ângulos de atrito máximo entre 42°e 45°,

mobilizados com elevadas deformações. Por outro lado, a parcela de coesão é preponderante

24

na componente reforçada da matriz, sendo função direta da resistência à tração dos

“elementos de reforço” e mobilizada com deformações específicas superiores a 20%.

A Figura 2. 11 apresenta os resultados obtidos em ensaios de laboratório e envoltórias

propostas por SIGH & MURPHY (1990) e OWEIS & KHERA (1990) apud

WOJNAROWICZ et al., 1998 para o ângulo de atrito e coesão aparente para distintas

configurações das amostras.

Figura 2. 11 - Relação entre coesão aparente e ângulo de atrito de resíduos sólidos urbanos

(adaptado de WOJNAROWICZ et al., 1998).

A resistência ao cisalhamento de solos é usualmente estimada por meio de ensaios in

situ, ensaios de laboratório (triaxiais, cisalhamento direto) e retro-análise de dados de campo.

Em se tratando de RSU, a realização de ensaios no Brasil não é uma realidade. Geralmente,

estas propriedades são estimadas através de casos de retro-análises de rupturas em aterros,

como é o caso deste trabalho.

Se tratando de retro-análises de estabilidade, deve-se tomara cuidado com o emprego

de parâmetros de resistência obtidos de retro-análises, pois existe um número infinito de

combinações de resistência ao cisalhamento o qual satisfaz a equação de equilíbrio (uma

equação e duas incógnitas) e, portanto, a solução não pode ser obtida precisamente.

25

A definição dos parâmetros de resistência a partir de retro-análise faz parte do escopo

deste trabalho, onde foi possível retro-analisar duas rupturas e que comparando com dados de

instrumentação instalada no aterro, incluindo quatro inclinômetros instalados diretamente nos

resíduos, o que auxiliou no ajuste dos parâmetros de resistência.

De acordo com modelo proposto por KÖLSCH (1993) os materiais fibrosos (plásticos,

panos/trapos, etc...) presentes na composição do lixo seriam capazes de criar forças de tração

que dependeriam do vínculo das fibras com a massa do lixo, isto é, seriam função da tensão

normal atuante. Deste modo, a resistência ao cisalhamento seria composta por duas parcelas

distintas: a 1ª referente às forças de atrito no plano de cisalhamento e a 2ª referente às forças

de tração das fibras ou coesão aparente (pseudo-coesão) devido às fibras. A interação entre

essas duas parcelas está representada na curva tensão x deformação da Figura 2. 12.

.

IVIIIIII

Deformação s

Tensão de Cisalhamentoτ

τmax

Z

Atrito

Traçãomax

IVIIIIII

Atrito Atrito + Tração Atrito + Tração AtritoDecrescente

Figura 2. 12 - Curva tensão x deformação (adaptado de KÖLSCH, 1993).

Esta curva mostra que, para pequenas deformações (Fase 1), existe apenas a

mobilização das forças de atrito; à medida que as deformações vão aumentando e as fibras

começam a ser tracionadas (Fase 2), a parcela das forças de tração aumenta até atingir um

valor máximo correspondente à resistência a tração ou vínculo das fibras com a massa do lixo.

A partir deste valor máximo (Z máx.) entra-se na Fase 3 com a redução gradativa da parcela

das forças de tração até atingir a Fase 4 onde a resistência ao cisalhamento se limitaria à

parcela devida ao atrito. A parcela de resistência devida ao atrito aumenta linearmente com o

aumento da tensão normal, ao passo que a parcela devida as forças de tração das fibras,

conforme apresentado na Figura 2. 12 (KÖLSCH, 1993), só contribui efetivamente na

26

resistência ao cisalhamento a partir de um determinado valor de tensão normal (I), com esta

contribuição crescendo até um valor máximo (II), a partir do qual tende a decrescer (III), até

se anular (IV). Assim, a contribuição de cada uma dessas parcelas na resistência ao

cisalhamento do RSU varia de acordo com a tensão normal atuante, além naturalmente da

deformação, conforme já referido anteriormente.

De modo a caracterizar separadamente cada uma das parcelas referidas, KÖLSCH

(1993) desenvolveu equipamento destinado exclusivamente à medição das forças de tração

das fibras. As forças de atrito foram determinadas através de ensaios de cisalhamento direto

após a redução das partículas do lixo, eliminando deste modo o efeito das fibras.

Os plásticos (fibra) podem favorecer taludes mais íngremes, mas tal não deve ser

tomado como uma garantia da estabilidade em longo prazo. O efeito da fibra pode diminuir

com o tempo, pela degradação promovida pela ação do chorume afetada pela temperatura.

(MAHLER et al., 1998a).

Os parâmetros de resistência (coesão aparente e ângulo de atrito) adotados no cálculo

da estabilidade de taludes de depósitos de resíduos sólidos urbanos têm sido estudados com

mais acurácia, principalmente, nos últimos dez anos. Dado, porém, a complexidade do

problema, o assunto continua sendo susceptível a muitas discussões e interpretações (DE

LAMARE NETO, 2004).

A obtenção destes parâmetros normalmente é feita através de ensaios de laboratório

(triaxiais e cisalhamento direto), com equipamentos de grande porte, utilizando-se amostras

re-moldadas ou retro-análises, com base em observações das condições de ruptura verificadas

no campo e, ainda, métodos in situ como ensaios de Palheta (Vane Test), sondagens à

percussão (SPT), ensaios de cone ou piezocone, pressiométricos ou de penetração dinâmica.

Mais recentemente, têm sido desenvolvidos equipamentos (caixas de grande porte) para

ensaios de cisalhamento direto no campo com amostras indeformadas (amostras superficiais).

No caso dos ensaios de laboratório, a maior dificuldade encontrada se refere à coleta e

obtenção de amostras representativas em função da composição muito heterogênea e com

elementos de grandes dimensões presentes no lixo. Além disso, a necessidade de

equipamentos (triaxial e cisalhamento direto) de porte, com dimensões compatíveis (no

mínimo 5 a 10 vezes superiores a partícula de maior diâmetro do lixo) e proteção adequada

quanto à corrosão e segurança dos operadores contribuem para a elevação dos custos destes

ensaios. Neste aspecto, de acordo com CARVALHO (1999), as dimensões dos corpos de

prova parecem influenciar os resultados de resistência ao cisalhamento, conforme

27

comprovado em ensaios triaxiais do tipo CD com o lixo coletado no Aterro Sanitário

Bandeirantes em São Paulo. Os resultados destes ensaios apresentaram valores de ângulo de

atrito de cerca de 27º e coesão aparente variando de 42 a 55 kPa para corpos de prova de 15 x

30 cm e ângulo de atrito de cerca de 21º e coesão aparente entre 45 e 60 kPa para corpos de

prova de 20 x 40 cm. Assim, os corpos de prova com menores dimensões tenderam a

apresentar maiores valores de resistência.

CARVALHO (1999) conduziu 65 ensaios triaxiais de grandes dimensões em materiais

de resíduos sólidos de 15 anos do Aterro de Bandeirantes. Os ensaios CD e CU foram

executados na umidade natural e em circunstâncias saturadas. A Figura 2. 13 mostra a

trajetória de tensões típicas obtidos nos ensaios CD e CU, executados em amostras com de

RSU, chegando a parâmetros de coesão aparente e ângulo de atrito efetivos da ordem de 42-

60 kPa e 21-27°, respectivamente. Este gráfico demonstra a geração de excesso de

poropressão em materiais de RSU em condições não-drenadas. Conseqüentemente, o ângulo

de atrito interno é elevado em comparação com os resultados obtidos dos ensaios CD.

Comportamento similar foi relatado por NASCIMENTO (2007), que conduziu 24 ensaios

triaxiais em resíduos de 4 anos de idade, conforme apresentado na Figura 2. 14.

Figura 2. 13 - Trajetória de tensões encontrada em ensaios de CD e CU de grandes dimensões

em RSU (adaptado de CARVALHO, 1999).

°

°

°

°

°

°

28

Figura 2. 14 - Trajetória de tensões encontrada em ensaios de CD e CU de grandes dimensões

em RSU (adaptado de NASCIMENTO, 2007).

Um ensaio triaxial de grandes dimensões (Figura 2. 15) foi utilizado por

SHARIATMADARI et al. (2009) para avaliar o comportamento mecânico de RSU. Este

equipamento triaxial inclui um sistema de carregamento com uma capacidade de 300 kN e um

software que permite o sistema executar testes triaxiais de deformação controlada. O

instrumento teve duas câmaras diferentes para medir as variações volumétricas.

°

°

°

°

°

°

29

Figura 2. 15 - Ensaio triaxial de grandes dimensões para uso em RSU.(a) antes da execução

do ensaio. (b) após a execução do ensaio. SHARIATMADARI et al. (2009).

A primeira câmara, triaxial comum, registrou as mudanças no volume de água para

dentro as amostras (ou as mudanças no volume das amostras, na amostra saturada - partículas

incompresíveis). Na segunda câmara, conectou-se à água para limitar a tensão/deformação, e

foi usada para medir a mudança do volume de total da amostra. No caso da segunda câmara,

os valores medidos do volume foram corrigidos a fim de levar em consideração a deformação

triaxial da célula. A deformação triaxial da célula era pequena comparada à mudança do

volume das amostras, mesmo para baixas tensões aplicadas. As mudanças de volume mais

elevadas sempre foram registradas pela segunda câmara do que pela primeira câmara, e a esta

diferença foi creditada à compressibilidade das partículas dos resíduos, conforme apresentam

as Figura 2. 16 e 2.17.

30

Figura 2. 16 - Relação entre a deformação axial e radial em condições de compressão

isotrópica. SHARIATMADARI et al. (2009).

Figura 2. 17 - Efeito da deformação isotrópica ou anisotrópica sobre o incremente de tensão

corrigida, SHARIATMADARI et al. (2009).

Os ensaios triaxiais não-drenados (CU) são utilizados para avaliar o comportamento

em materiais saturados, mas o excesso de poropressão gerado durante a fase de cisalhamento

31

é um dos aspectos mais interessantes e mais intrigantes do comportamento não drenado de

RSU.

Em algumas regiões do mundo, os RSU possuem elevado grau da saturação (umidade)

que faz com que o comportamento frente a solicitações seja não-drenado. Frente a isto, o

comportamento das poropressões foi estudado por diversos pesquisadores, inclusive no Brasil

e como resultado dos dados obtidos em 5 anos de monitoramento efetuado no Aterro Sanitário

Bandeirantes, KAIMOTO & CEPOLLINA (1997) chegaram às seguintes conclusões:

• As pressões de chorume nos maciços antigos indicam uma distribuição

errática, com clara evidência de empoleiramento e bolsões;

• As pressões internas de gás, lidas diretamente através de manômetro acoplado

à câmara específica dos piezômetros em sifão, têm resultados variáveis e às

vezes elevados da ordem de até 100 a 170 kPa, muitas vezes superior aos

níveis de pressão do chorume no mesmo ponto.

A poropressão nas amostras de RSU tende a aumentar rapidamente durante o

cisalhamento e a estabilizar em valores perto da linha de ruptura. Tal comportamento é

identificado igualmente nos solos turfosos, que segundo SHARIATMADARI et al. (2009),

são provavelmente os materiais mais similares a RSU frente ao comportamento não-drenado.

Além disso, os solos turfosos são influenciados igualmente pelo processo da biodegradação

(SHARIATMADARI et al., 2009). Algumas trajetórias de tensões típicas em solos turfosos

são apresentadas na Figura 2. 18.

32

Figura 2. 18 - Resultados típicos de trajetória de tensões para solos turfosos (a) OIKAWA &

MIYAKAWA (1980) e (b) MESRI AND AJLOUNI (2007) apud SHARIATMADARI et al.,

(2009).

A má operação em aterros de RSU, muitas vezes sobrecarregados, na tentativa de

estender sua vida útil tem conduzido a graves acidentes. No que se referem as retro-análises,

as maiores dificuldades são de que sempre existem uma infinidade de combinações de

parâmetros de resistência (coesão aparente, ângulo de atrito e peso específico) que satisfazem

as condições de equilíbrio e, também, as próprias incertezas quanto aos reais mecanismos de

ruptura ocorridos no campo o que pode conduzir a escolha de parâmetros inadequados.

Porém, como é o caso deste estudo, retro-análises apoiadas em dados de instrumentação,

principalmente de leituras de deslocamentos horizontais com uso de inclinômetros podem

colaborar na obtenção de parâmetros mais representativos.

33

Sabe-se que das variações dos parâmetros de resistência ao longo do tempo, a que é

mais marcante é a coesão aparente. Conforme citação de MAHLER et al.. (1998b), as fibras

tornam-se menos resistentes com o tempo, o que parece ser bastante coerente devido à

degradação de sacolas plásticas e demais fibras contidas nos RSU.

A Tabela 2. 6 que trata de um levantamento de parâmetros realizado por CALLE

(2007), apresenta grande variação dos parâmetros de resistência e que estes variam de acordo

com a idade, país, condição econômica do país, além das condições de compactação e ensaios

de onde foram retiradas as amostras de RSU.

Tabela 2. 6 - Parâmetros de resistência ao cisalhamento de RSU – coesão aparente e ângulo de

atrito (CALLE, 2007).

Autor c' (kPa) φφφφ (°) Tipo de Ensaio Observações Local

Carvalho (1999) 42 – 60 21 – 27 CD Resíduo antigo, Bandeirantes Brasil

Cowladn et al (1993) 10 25 - Aterro-Shuen wan Hong Kong

Gabr & Valero (1995) 0 a 27,5 20,5 a 39 Cisalhamento Resid antigos-Pioneer Crossing USA

Greco & Oggeri (1993) 16 21 Cisalhamento γ=5kN/m3 Chivasso Itália

Greco & Oggeri (1993) 24 22 Cisalhamento γ=7kN/m3

Itál ia

Jessberger & Kochel (1991) 22 46 Triaxial Grande dimensão (ε=20%) Alemanha

Jessberger (1995) 41 a 51 42 a 49 Cisalhamento Resíduos novos Alemanha

Kavazanjian et al (1999) 43 31 Cisalha anel dir Diâm=46cm, Monterrey, Califórnia USA

Kolsch (1993, 1995) 0 26,4 Cisalhamento Resíduos novos Alemanha

Kolsch (1993, 1995) 0 17,7 Cisalhamento Resíduo antigo Alemanha

Landva & Clark (1990) 19 a 22 24 a 39 Cisalhamento Tensões normais sup. a 480kPa Canadá

Landva & Clark (1990) 23 24 Cisalhamento Edmonton Canadá Canadá

Landva & Clark (1990) 16 33 Cisalhamento Blackfoot, Canadá, Resíduo antigo Canadá

Landva & Clark (1990) 19 39 Cisalhamento Blackfoot, Canadá, Resíduo antigo Canadá

Landva & Clark (1990) 0 41 Cisalhamento Hansport, Canadá, Resíduo antigo Canadá

Lukas (1985) 39 34,5 CU Chicago USA

Richardson & Reynolds (1991) 10 18 a 43 Cisalhamento Tensão normal entre 14 a 38 kPa -

Shimizu (1996) 15 – 91 8 – 24 - Residuo antigo - CD, Tokyo port Japão

2.2.8. COMPRESSIBILIDADE

A compressibilidade do RSU se constitui num importante fator a ser considerado para

a previsão das deformações dos maciços compactados. A previsão de recalques das massas de

resíduos permite uma melhor avaliação de desempenho dos elementos que fazem parte da

estrutura de um aterro (camadas de cobertura, sistemas de coleta de gases e fluidos, reforço,

drenagem superficial, caixas de passagem, poços de inspeção). Ademais, a quantificação da

deformabilidade das massas de lixo auxilia num importante aspecto do gerenciamento dos

34

resíduos sólidos, que é a melhoria das estimativas de vida útil dos aterros, uma vez que

permite calcular a capacidade volumétrica adicional de armazenamento que os recalques

geram.

O resíduo depositado se transforma devido à ação integrada de processos físico-

químicos e biológicos. As modificações biológicas desempenham um papel sensível, atuando

sobre os resíduos putrescíveis, de degradação mais fácil, tais como restos de verduras, frutas,

carnes, folhas, e, em certa medida, sobre os resíduos de celulose, tais como papéis, cartões,

papelões e madeira (SANTOS & PRESA, 1995). Esta decomposição resulta na liberação de

energia na forma de calor e gases (principalmente metano CH4).

A matéria orgânica, inicialmente sólida, sofre ação microbiológica, o que provoca sua

transformação em uma grande quantidade de gases metano (CH4), gás carbônico (CO2), ácido

sulfídrico (H2S), amoníaco (NH3), dentre outros gases; e uma menor quantidade de líquido

(chorume). GANDOLLA et al. (1994) defendem que cerca de 25% da massa total do depósito

é transformada em biogás.

Deve-se salientar que a degradação por ação biológica ocorre sob duas condições: a

aeróbia, e a anaeróbia, ou seja, com presença ou não de oxigênio. A transformação aeróbia

(com presença de oxigênio) é mais rápida, ao passo que a degradação anaeróbia (sem

presença de oxigênio) é mais lenta. TAPAHUASCO (2005) apud CARDIM (2008), ao avaliar

os recalques de células experimentais construídas no Aterro do Jockey Clube de Brasília com

diferentes materiais para camada de cobertura (argila compactada e entulho de construção),

constatou que as células cobertas com entulho de construção, que possibilitavam a aeração do

resíduo confinado, apresentavam maiores deslocamentos verticais que os observados nas

células cobertas com material argiloso compactado. O mesmo ocorreu na maior parte do

monitoramento do Aterro deste trabalho, onde a cobertura dos RSU era realizada por

materiais de construção, e foi possível notar (pela topografia mensal) de que os deslocamentos

eram elevados (verticais e horizontais).

A fase líquida, gerada em função da degradação biológica da matéria orgânica

presente no lixo, também contribui para a redução de volume do maciço uma vez que,

inicialmente há a conversão de material sólido em líquido, e este por sua vez desloca-se,

aumentando a porosidade do meio. Em segundo lugar, ao percolar, este líquido pode

ocasionalmente, solubilizar partículas e conduzi-las, depositando-as em vazios maiores ou

levando-as para fora do maciço (semelhante à erosão do subsolo - efeito piping).

35

SOWERS (1973), GANDOLLA et al. (1994), SANTOS & PRESA (1995),

MANASSERO et al. (1996) e CARVALHO (1999) apresentam seqüências de fatores que,

segundo os autores, favorecem os mecanismos geradores de recalques em aterros, e estes

podem ser descritos, de maneira resumida como sendo:

• Re-arranjo estrutural decorrente do peso próprio e da ação de sobrecargas de

camadas sobrejacentes do aterro e dos materiais de cobertura;

• Perda de massa para o exterior do depósito, sobretudo pela fuga de gases;

• Migração de fragmentos, solubilizados em água infiltrada ou em chorume, e

depositados em vazios maiores dentro da massa de lixo;

• Transformações físico-químicas causadas por processos de corrosão, oxidação

e degradação dos componentes inorgânicos;

• Dissipação da pressão neutra de líquidos e gases.

Vale então ressaltar que são muitas as diferenças que regem os mecanismos de

recalques nos solos e nos resíduos. Assim sendo, não se deve lançar mão das premissas da

Mecânica dos Solos Clássica para a previsão de recalques em resíduos sem as devidas

adaptações, sempre que necessárias.

GRISOLIA & NAPOLEONI (1996) propuseram uma curva teórica subdividida em

fases, capaz de explicar os mecanismos controladores do recalque em depósitos de RSU,

como apresentado na Figura 2. 19.

36

Materiais degráveis

Materiais inertes estáveis

Materiais altamente deformáveis

dh/h

log t

h Dados exp. de Grisolia

dh

I

II

IIIIV

V

dh

Figura 2. 19 - Curva teórica de compressibilidade do RSU (adaptado de GRISOLIA &

NAPOLEONI, 1996).

As fases representadas podem assim ser descritas:

• Fase I – Deformação inicial, redução da macroporosidade;

• Fase II – Recalque residual dos materiais altamente deformáveis;

• Fase III – Deformação lenta e decomposição da matéria orgânica;

• Fase IV – Deformação concluída;

• Fase V – Deformação residual.

GRISOLIA & NAPOLEONI (1996) defendem ainda que os depósitos de RSU

recalcam cerca de 10 a 30% somente sob a ação de seu peso próprio, e que cerca de 90% dos

recalques totais esperados ocorrem nos dez primeiros anos após o fechamento do aterro.

GANDOLLA et al. (1994), confirmaram tais afirmações quando realizaram ensaios em

células experimentais, conforme pode ser observado na Figura 2. 20.

37

Figura 2. 20 - Recalques total e anual em RSU (adaptado de GANDOLLA et al. 1994).

A Figura 2. 21 apresenta o gráfico da variação de magnitude e da velocidade dos

deslocamentos verticais ao longo do tempo de um marco superficial instalado no maciço do

Aterro Sanitário de Vila Albertina, na Zona Norte do Município de São Paulo (DE JORGE et

al., 2004). As leituras apresentadas nos gráficos correspondem ao período de julho de 1996 a

abril de 2004, quando o aterro já se encontrava encerrado. Pode-se observar no gráfico do

marco superficial neste período foi registrado um recalque acumulado da ordem de 300 cm.

38

Figura 2. 21 - Recalques registrados por um marco superficial instalado em aterro Vila

Albertina/SP (DE JORGE et al., 2004).

A grande dificuldade para se fazer previsões de recalque com base nas leituras é a

separação dos recalques imediatos dos que ocorrem ao longo do tempo (CEPOLLINA et al.,

2004). No caso do aterro discutido neste trabalho, o monitoramento de recalques foi

prejudicado devido à instalação dos marcos superficiais serem tardios, somente após o

encerramento do local, sendo que ainda as leituras eram somente mensais.

É possível encontrar diversos tipos de modelos utilizados para estimar a

compressibilidade no maciço de resíduos sólidos urbano. Segundo NASCIMENTO (2007), a

maioria dos modelos existentes pode ser dividida nas seguintes categorias:

• Modelos de consolidação, que se utilizam da Teoria do Adensamento

Unidimensional de Terzaghi para a previsão dos recalques;

• Modelos que se apóiam na descrição do processo reológico;

• Modelo de biodegradação, onde a degradação da matéria orgânica provoca

redução de volume da massa de resíduos, podendo ser avaliada por modelos de

geração de gás;

• Modelos baseados em regressões logarítmicas, hiperbólicas, bi-linear,

multilinear, etc.;

• Modelos baseados em dados de campo.

O recalque final dos resíduos apresenta-se como um valor de difícil avaliação, sendo

composto por um recalque inicial, observado em um curto período de tempo após a

39

construção do aterro, e por um secundário, que ocorre ao longo de um período de tempo

significativo. A taxa de recalques diminui com o tempo e com o aumento da profundidade do

resíduo em relação à superfície do aterro (MARQUES, 2001). Sob seu peso próprio, os

resíduos normalmente apresentam recalques que atingem de 5% a 30% de sua espessura

original, sendo que a maior parte deste ocorre nos primeiros dois anos após sua disposição

(MANASSERO et al., 1996).

Os recalques de aterros de RSU normalmente são estimados considerando um

mecanismo de consolidação unidimensional (aproximações elásticas ou relações do tipo e x

logσ. A definição de um adequado modelo para previsão de recalques, assim como de seus

parâmetros de cálculo, apresenta-se como principal fator limitante nas análises de

deformabilidade de aterro sanitários. Tal dificuldade decorre da interação de diferentes

mecanismos (fluência, degradação biológica, etc) no processo de compressão dos resíduos, os

quais seguem leis próprias de comportamento e são governados por parâmetros distintos entre

si. A proposição e utilização de métodos empíricos, formulados a partir da observação e

interpretação de dados obtidos de aterros sanitários específicos, têm sido relatado por diversos

autores.

De maneira muito semelhante à Teoria do Adensamento Unidimensional de Terzaghi,

utilizada para o estudo dos recalques totais em solos, os recalques em resíduos podem ser

divididos em três etapas, a saber:

i. Compressão inicial – efeito relacionado à sobrecarga inicial causada pelo

despejo de material, bem como dos processos de compactação. Ocorre

imediatamente após a aplicação da sobrecarga.

ii. Compressão primária – esta etapa de compressão dos RSU está relacionada

com a redução de volume que a massa de lixo apresenta quando há a drenagem

dos líquidos presentes no interior do aterro.

iii. Compressão secundária – o mecanismo que rege esta etapa do recalque nos

RSU se baseia nos processos de degradação que se desenvolvem no interior da

massa de lixo.

A magnitude dos recalques em aterros, decorrentes de solicitações mecânicas

(recalques inicial e primário) podem ser aferidas através da Equação (2), que é muito

conhecida pela Engenharia Geotécnica para a determinação dos recalques em solos

normalmente adensados (NA), sob condição oedométrica:

40

∆�� � ������ . � . ��� ������∆��

����� (2)

Onde:

∆H1 – recalque da camada de espessura H0

e0 – índice de vazios inicial

Cc – coeficiente de compressão

σ'v0 – tensão efetiva vertical inicial

∆σv – acréscimo de tensão vertical

Importante notar que o coeficiente Cc não está propriamente ligado ao trecho da reta

virgem e sugere que quanto maiores os teores de matéria orgânica, maiores os valores

encontrados para o índice de compressão.

Após determinado período de tempo, o adensamento primário tende a diminuir,

iniciando-se então a compressão secundária do material. Segundo SOWERS (1973), esta

parcela dos recalques estaria relacionada à ação combinada da compressão mecânica e das

alterações físico-químicas e biológicas do resíduo.

Para a determinação matemática do fenômeno, propôs a seguinte Equação (3):

∆�� � ������ . ��. ��� ���∆�

� � (3)

Onde:

∆H2 – recalque da camada de espessura H0

e0 – índice de vazios inicial

Cα – Coeficiente de compressão secundária (da ordem de 0,02 para RSU)

t – tempo

O coeficiente Cα está relacionado ao índice de vazios inicial do processo, bem como

às condições favoráveis à biodegradação. É um parâmetro de difícil determinação dado a

complexidade em se determinar e0 e de estabelecer as condições de decomposição. Alguns

autores utilizam o valor estimado de 0,02 para este coeficiente.

CARVALHO (1999) analisou dados de ensaios cross-hole e estimou os coeficientes

de Poisson (ν) dos RSU do Aterro Bandeirantes, onde algumas velocidades das ondas

41

apresentaram alguns resultados erráticos, mas a maioria dos valores obtidos encontram-se

entre 0,27 a 0,38, obtendo-se valores médios de 0,33.

MATASOVIC & KAVAZANJIAN (1998) também encontraram para o Aterro de OII

(Califórnia) valores de ν altamente dispersos ao longo do perfil e adotaram ν = 0,33 como

valor apropriado para este aterro. Já SHARMA et al. (1990) apresentam valores de ν = 0,46

para o aterro de Richmond (Califórnia), valor elevado para lixo fresco em especial

considerando as condições de compactação brasileiros.

CARVALHO (1999) ainda cita que os módulos cisalhante (G) e de deformação (E)

obtidos para valores máximos e mínimos de peso específico estimados para o Aterro

Bandeirantes apresentaram uma leve tendência de aumentar com a profundidade. Os valores

de G e E calculados para o ensaio cross-hole são menores que aqueles apresentados por

SHARMA et al. (1990) para resíduo disposto no Aterro de Richmond (Califórnia). SHARMA

et al. (1990) encontraram valores de 28,9MPa e de 84,4MPa para o módulo cisalhante e de

deformação, respectivamente, considerando um peso específico de 7,37kN/m3. Os valores

correspondentes para o resíduo urbano de São Paulo foram da ordem de 8MPa e 25MPa, para

peso específico do RSU de 8kN/m3. Para peso específico de 12kN/m3, os valores médios

obtidos para o módulo de cisalhamento e de deformabilidade são de 14,5 e 40MPa,

respectivamente. A Figura 2.22 apresenta os resultados encontrados por CARVALHO (1999)

no Aterro Bandeirantes dos módulos cisalhantes e de deformação através de ensaios cross-

hole.

Figura 2. 22 Resultados de módulos cisalhantes e de deformação obtidos para o resíduo

estudado a partir de ensaios cross-hole (apud CARVALHO, 1999)

42

Os valores encontrados por CARVALHO (1999) serão utilizados nas análises por

MEF para fins comparativos com a retro-análise de deslocamentos horizontais que encontrou

valores para E próximos aos encontrados para solos turfosos (100 a 600kPa).

2.3. TIPOS DE RUPTURAS EM ATERROS DE RSU E AS MAIORES

CATÁSTROFES REGISTRADAS

Mais recentemente uma grande ruptura em um antigo lixão localizado em uma

encosta, no município de Niterói/RJ, atingiu mais de 50 casas, onde cerca de 45 pessoas

morreram. Tida como uma das maiores tragédias já ocorridas no Brasil, este sinistro se tornou

alvo diário da mídia e de políticos que se aproveitaram da situação para suplicar recursos ao

Governo Federal para obras emergenciais no estado.

O deslizamento da Favela do Morro do Bumba em Niterói (Figura 2. 23), construída

sobre um antigo lixão, matou famílias inteiras, e é um alerta para as grandes metrópoles

brasileiras. O volume de chuvas do mês de abril de 2010 foi extremamente elevado na região

Sudeste do país, mas ninguém pode ignorar especialmente os administradores municipais, que

os temporais com grandes precipitações são comuns no verão e início do outono.

43

Figura 2. 23 - Tragédia do Morro do Bumba (Foto: ESTADO DE SÃO PAULO, 2010).

É importante frisar que os projetos e construções de aterros de resíduos no Brasil têm

sido caracterizados pela adoção de critérios e de parâmetros de projeto baseados na

experiência de países do Primeiro Mundo, sem que haja uma confirmação ou validação para

as condições de nosso país. Conforme já fora demonstrado, os nossos resíduos têm

composição, em termos de matéria orgânica e umidade, bastante diferente dos daqueles países

e a simples adoção de parâmetros geotécnicos “importados” para nossos aterros sanitários.

KOERNER & SOONG (1999) reconhece que há dois tipos fundamentais de formas de

rupturas em aterros, as rotacionais e translacionais. As rupturas rotacionais são geralmente

circulares, dependendo do tipo de RSU e de sua disposição. As rupturas translacionais são

lineares ao longo de um único plano ou consistem em diversos segmentos lineares. Uma

ruptura composta é uma possibilidade onde uma superfície rotacional segue em uma

translacional, ou inversamente.

DIXON & JONES. (2004) relaciona os possíveis tipos e formas de rupturas que

podem ocorrer em aterros de RSU (Figura 2. 24).

44

Figura 2. 24 - Tipos de rupturas possíveis em aterros de RSU (DIXON & JONES, 2004).

(a) Estabilidade do subleito (b) Integridade do subleito

(c) Estabilidade do Talude de RSU (d) Estabilidade do “liner”

(e) Integridade do “liner” (f) Estabilidade do “liner” muito íngreme

(g) Integridade do “liner” muito ingreme (h) Integridade do “liner” superficial

(i) Integridade do sistema de drenagem (j) Integridade do sistema de gás

45

KOERNER & SOONG (1999) relaciona as principais catástrofes, tipos de ruptura e os

volumes envolvidos em casos de ruptura de aterros de RSU, conforme Tabela 2. 7.

Tabela 2. 7 - Relação de catástrofes segundo KOERNER & SOONG (1999).

Ano Local Tipo de Ruptura Volume envolvido (m³)

1984 América do Norte Rotacional Simples 110.000

1988 América do Norte Translacional 490.000

1989 América do Norte Rotacionais Múltiplas 500.000

1993 Europa Translacional 470.000

1994 Europa Translacional 60.000

1996 América do Norte Translacional 1.100.000

1997 América do Norte Rotacional Simples 100.000

1997 América do Norte Translacional 100.000

1997 África Translacional 300.000

1997 América do Sul Translacional 1.200.000

KÖLSCH (2010) relaciona diversas rupturas ocorridas, destacando as ocorridas em

Rumpke (USA), 1996 (Figura 2. 25), Payatas (Filipinas), 2000 (Figura 2.26) e Bandung

Indonésia, 2005 (Figura 2. 27).

Figura 2. 25 - Rumpke (USA), 1996 (KÖLSCH, 2010).

46

Figura 2. 26 - Payatas (Filipinas), 2000 (KÖLSCH, 2010).

Figura 2. 27 - Bandung Indonésia, 2005 (KÖLSCH, 2010).

47

CAPÍTULO 3

3. MATERIAIS E MÉTODOS

3.1. INSTRUMENTAÇÃO INSTALADA NO ATERRO DE RSU

Este capítulo trata do acompanhamento da instalação da instrumentação no aterro de

RSU, presenciada constantemente pelo autor desta dissertação. São relatados os

procedimentos básicos adotados para a instalação e também para operação da instrumentação

que foram utilizados para monitoramento geomecânico do aterro controlado de RSU.

A previsão do encerramento do aterro controlado em questão era para o ano de 2006,

porém, devido a dificuldades legais e ambientais de liberação de nova área para instalação de

um aterro para o município, foram estudadas algumas soluções dando uma estimativa de

extensão da vida útil do aterro em cinco anos, aumentando a capacidade total em

aproximadamente 1.155.800 m³ de RSU.

Com o aterro sobrecarregado, tornou-se necessário um estudo para adequação

ambiental e ainda com monitoramento geotécnico constante. Os instrumentos instalados no

maciço do aterro são:

– Piezômetro sifão (PZ) – total de 5 equipamentos instalados;

– Inclinômetro (IN) – total de 4 equipamentos instalados;

– Pluviômetro (PL) – total de 2 equipamentos;

– Marcos superficiais (MS) – total de 5 equipamentos.

A locação e detalhes adicionais dos instrumentos estão apresentados no esquema da

Figura 3. 1. Já a Figura 3. 2 apresenta uma vista esquemática com as seções instrumentadas.

48

Figura 3. 1 - Seções de instrumentação principal e secundária.

Seção principal de instrumentação

Seção secundária de instrumentação

49

Figura 3. 2 - Vista esquemática com as seções de instrumentação principal e secundária.

Foram projetadas duas seções de instrumentação geotécnica, avaliadas como as

mais críticas em termos de estabilidade. Inicialmente, tomou-se uma seção

correspondendo aproximadamente ao eixo do aterro, próximo ao alinhamento do

talvegue preexistente no relevo original do terreno, antes da disposição de lixo no local,

indicativa, portanto, das maiores espessuras do depósito; esta seção foi denominada de

seção principal (ver Figura 3. 1). Na ombreira direita do aterro, próximo às edificações

A e B, foi lançada a seção secundária (ver Figura 3. 1), estudada em função do relevo

julgado potencialmente mais suscetível a instabilização. O estudo de adequação

ambiental previu além de monitoramento, o planejamento da construção do aterro.

A seguir, se descreve o “as built” do aterro:

1ª Etapa: Construção do dique

Estudos de casos similares à expansão mostram que geralmente as superfícies

potenciais críticas de escorregamento passam nas proximidades dos pés dos taludes

onde as deformações distorcionais são bem maiores que as volumétricas. Há casos que

50

apresentaram uma total mobilização da sua resistência ao cisalhamento colocando o

talude numa condição próxima do colapso ou de escorregamento.

Para garantir a condição de equilíbrio com uma adequada margem de segurança

geralmente são introduzidos nesses locais elementos adicionais que corroborem com a

estabilidade do maciço, seja por peso próprio através de aterros, muros de arrimo, etc.,

ou por ganho de resistência ao cisalhamento através de elementos estruturais tais como

estacas, estruturas de solos reforçados com placa pré-moldada de concreto, etc.

No caso do aterro em estudo foi executada a construção de um dique com

resíduos da construção civil e demolições (entulhos de obras) ao longo de todo o sopé

do talude, isto é, até o encontro com a encosta em terreno natural.

A construção do dique foi feita a partir do atual sopé do talude em direção a

montante do aterro em duas camadas, uma até a cota 85m e a outra até a cota 95m.

2ª Etapa: Re-conformação do talude consolidado a jusante do aterro

Nesta segunda etapa foi executada a re-conformação do talude já consolidado a

jusante do aterro, através da disposição de lixo em camadas de 5m de espessura por

cima deste talude até atingir a declividade 1(V):2(H). Foram incluídas bermas de

equilíbrio de 4m de largura, entre as camadas alteadas. Na Figura 3. 3 se apresenta uma

vista do talude já consolidado a jusante do aterro.

51

Figura 3. 3 - Vista do talude consolidado a jusante do aterro.

Previamente à disposição do lixo (re-conformação do talude), a totalidade do

revestimento superficial vegetal existente, na sua maioria composto de grama, foi

retirada com os devidos cuidados, e estocada em local adequado para sua posterior re-

utilização.

Com a presente ocupação, estendeu-se a vida útil do aterro por mais 2,3 anos,

aproximadamente, disponibilizando-se um volume de aterramento de lixo da ordem de

600.000m3.

3ª Etapa: Disposição no platô na cota 140m a montante do aterro

Uma vez finalizada a disposição que estava prevista na 2ª etapa, deu-se a

ocupação no platô na cota 140m, a montante do aterro.

A conformação do alteamento em camadas de 5m de espessura utilizou a

continuidade da declividade obtida durante a ocupação do talude a jusante (2a Etapa),

inclusive do espaçamento adotado para as bermas de equilíbrio.

Com a presente ocupação estendeu-se a vida útil do aterro por mais 1,3 anos,

aproximadamente, disponibilizando-se um volume de aterramento de lixo da ordem de

342.000m3.

52

4ª Etapa: Disposição na porção intermediária

Uma vez finalizado o alteamento na terceira etapa, foi dada continuidade à

ampliação com a disposição do lixo na porção intermediária compreendida entre o

talude resultante do alteamento da 3ª Etapa e a porção do platô na cota 140m ainda não

ocupada localizada a jusante do aterro, cuja expansão deu-se na 2a Etapa.

Cabe destacar que esta ocupação é a mais crítica em termos de estabilidade do

aterro como um todo, fato este verificado nas análises de estabilidade e deslocamentos

verticais e horizontais verificados principalmente no mês de abril de 2010.

A conformação proposta do alteamento em camadas de 5m de espessura dando

continuidade das declividades obtidas nas 2a e 3ª Etapas, inclusive do espaçamento

adotado para as bermas de equilíbrio.

Com a ocupação estendeu-se a vida útil do aterro por mais 0,6 anos,

aproximadamente, disponibilizando-se um volume de aterramento de lixo da ordem de

160.000m3.

Estas etapas foram simuladas nas análises por MEF da construção do aterro no

software Plaxis 9.0®, tentando representar ao máximo o “as built” do aterro.

Estando posicionado em uma área urbana, confinado em um vale e formando um

maciço com altura expressiva, a operação do aterro de resíduos sólidos em questão

exige monitoramento e controle constantes para evitar acidentes principalmente no que

se refere a inundações, incêndios e deslizamentos de taludes.

A seção principal de instrumentação é apresentada em corte na Figura 3. 4,

contendo dois inclinômetros e três piezômetros do tipo sifão.

53

Figura 3. 4 - Seção principal de instrumentação contendo dois inclinômetros e três

piezômetros do tipo sifão.

A seção secundária de instrumentação é apresentada em corte na Figura 3. 5

contendo dois inclinômetros e dois piezômetros do tipo sifão.

Figura 3. 5 - Seção secundária de instrumentação.

A Tabela 3. 1 apresenta o resumo das instalações dos piezômetros do tipo sifão.

Na Tabela 3. 2 se apresenta o resumo das instalações dos tubos de inclinômetros. Já a

Tabela 3. 3 apresenta características dos marcos superficiais instalados.

54

Tabela 3. 1 - Dados das instalações dos piezômetros sifão.

COMPRIMENTO

EXECUTADO

COTA

BOCA DO

FURO

m m

PZ 01 SEÇÃO PRINCIPAL 29/10/2009 25,77 124,97

PZ 02 SEÇÃO PRINCIPAL 03/09/2009 29,87 124,94

PZ 03 SEÇÃO PRINCIPAL 20/11/2009 30 124,63

PZ 04 SEÇÃO SECUNDÁRIA 31/07/2009 27,75 111,14

PZ 05 SEÇÃO SECUNDÁRIA 15/08/2009 29,3 125,75

PIEZÔMETROSEÇÃO

INSTRUMENTAÇÃO

DATA DA

INSTALAÇÃO

Tabela 3. 2 - Dados das instalações dos tubos de inclinômetros.

COMPRIMENTO

EXECUTADO

COTA

TERRENO

m m

IN 01 SEÇÃO PRINCIPAL 11/11/2009 30 121,99

IN 02 SEÇÃO PRINCIPAL 26/09/2009 29 110,98

IN 03 SEÇÃO SECUNDÁRIA 20/07/2009 29 133,37

IN 04 SEÇÃO SECUNDÁRIA 25/08/2009 17 123,84

INCLINÔMETROSEÇÃO

INSTRUMENTAÇÃO

DATA DA

INSTALAÇÃO

Tabela 3. 3 - Dados das instalações dos marcos superficiais.

COTA DO

INSTRUMENTO

m

MS 01 SEÇÃO PRINCIPAL 01/07/2010 156,88

MS 02 SEÇÃO PRINCIPAL 01/07/2010 141,32

MS 03 SEÇÃO PRINCIPAL 01/07/2010 118,45

MS 04 SEÇÃO SECUNDÁRIA 01/07/2010 142,84

MS 05 SEÇÃO SECUNDÁRIA 01/07/2010 134,89

MARCO

SUPERFICIAL

SEÇÃO

INSTRUMENTAÇÃO

DATA DA

INSTALAÇÃO

3.2. PIEZÔMETROS SIFÃO

Os piezômetros tipo sifão permitem medir as pressões de gás e de líquidos

percolados, separadamente, por um processo de sifão. A descrição e detalhes do

instrumento podem ser encontrados em VAL et al. (1994) e ANTONIUTTI et al.

(1995).

Logo, estes equipamentos foram instalados no aterro de RSU com o objetivo de

avaliar as poropressões nos líquidos e gases nos diques de contenção e no interior das

55

células de lixo, subsidiando, dessa forma, a avaliação da estabilidade do maciço de

resíduos.

3.2.1. DESCRIÇÃO

Os piezômetros sifão instalados nesta obra são constituídos de dois tubos

concêntricos, o interno para o registro da pressão no chorume e o externo para a

avaliação da pressão no gás. Este tipo de piezômetro (Figura 3. 6 e 3. 7) mostra-se

adequado para o caso de aterros sanitários, pois evita a formação de bolhas de gás, que

são observadas quando da utilização dos piezômetros de tubo aberto convencionais

(Casagrande), o que cria falsos níveis de líquidos.

Figura 3. 6 - Vista superior do piezômetro sifão.

PASTA DEBENTONITA

FURO

VÁLVULA 20 mm

REDUÇÃO PVC 25x20 mm

TUBO PVC 50mm

TUBO PVC 25mm

GÁS

CHORUME

56

Figura 3. 7 - Piezômetro sifão (dimensões em cm).

20

PASTA DEBENTONITA

CAP 50mm

5020

DE

PE

ND

E D

A P

RE

SS

ÃO

DE

S

150

TUBO PVC PERFURADOSOMENTE NA BASE 25mm

AREIA FINA

AREIA GROSSA

SEIXOS

200

TUBO RANHURADO

T PVC 50x25 mm

REDUÇÃO PVC 50x25 mm

VÁLVULA 20 mm

REDUÇÃO PVC 50x25 mm

2050

2020

130

TUBO PVC 50mm

TUBO PVC 25mm

PASSAGEM DO CHORUME + GASES

CHORUME

GASES

CHORUME

30

φ=150mm

57

3.2.2. ACOMPANHAMENTO DE PERFURAÇÃO E INSTALAÇÃO

Os instrumentos foram instalados em perfurações especialmente executadas para

tal fim, nos locais indicados na Figura 3. 1.

Foram empregados equipamentos adequados para a execução da perfuração do

solo e dos resíduos sólidos, com diâmetro de 75mm.

Os furos foram revestidos em toda a extensão. Foi utilizada bentonita para

estabilização. Após a conclusão da perfuração, o furo foi lavado com água limpa

(Figura 3. 8).

Figura 3. 8 - Perfuração sendo executada para instalação de piezômetro sifão.

A instalação dos instrumentos é realizada imediatamente após a execução das

respectivas perfurações. Após o término da perfuração, antes de se levantar o

revestimento, foi realizada a limpeza do furo, (Figura 3.9), até 80cm acima do tubo

perfurado, (30 cm acima da parte inferior do tubo de 25mm perfurado), colocado o tubo

de PVC e preenchido o espaço anelar entre a parede do furo e o tubo com pasta de

bentonita, até 1,0m acima do furo, antes de se levantar o revestimento. O revestimento

deve ser então levantado com cuidado.

58

Figura 3.9 - Tubo externo envolto por uma pasta impermeável de bentonita.

A zona na qual as poropressões são medidas é referida como “câmara

piezométrica”, ou seja o tubo de 25mm. A zona na qual as pressões de gás são medidas

é referida como “câmara de pressão de gás”, ou seja o tubo de 50mm. Ao longo do

comprimento da “câmara de pressão de gás” (50 cm), o tubo externo de 50mm é

ranhurado e protegido por um filtro de material granular (Figura 3. 10).

(a) (b)

Figura 3. 10 – (a) Ranhuras ao longo da “câmara de pressão de gás” (tubo externo

50mm); (b)Proteção da parte ranhurada da “câmara de pressão de gás” (tubo externo de

50mm).

Especial atenção é dada à vedação acima e abaixo da “câmara de pressão de gás”

externa de 50mm. Primeiramente é colocada a pasta de bentonita no furo, com teor de

59

umidade em seu limite de liquidez (aproximadamente 440%). Após isto, o tubo de

50mm é então inserido na pasta de bentonita, permitindo um bom envolvimento. Foi

tomado o cuidado de colocar quantidade suficiente no furo, de forma que a parte

ranhurada do tubo externo não fique nem abaixo nem acima da superfície da pasta de

bentonita. Pequenas quantidades de pasta foram adicionadas para completar o nível

desejado, tendo-se o cuidado de evitar o preenchimento das ranhuras, pois tal erro

comprometeria o funcionamento do instrumento. O filtro granular é constituído

tipicamente por areia e seixos quartzosos.

Esta parte ranhurada protegida pelo filtro permite a entrada dos gases e o

chorume, sendo que, por gravidade, o chorume segue até a parte inferior do tubo de

25mm perfurado (Figura 3. 11), funcionando como um sifão, sendo que os gases ficam

no espaço anelar entre o tubo de 50mm e 25mm. Ao final, o espaço anelar entre os dois

tubos é fechado no topo por conexões (Figura 3. 12). Após, uma manilha de proteção

foi construída em volta do tubo para evitar danos ao equipamento.

Figura 3. 11 - Furos na base da “câmara piezométrica” (tubo interno de 25mm).

60

Figura 3. 12 - Conexões do piezômetro sifão.

Uma válvula é colocada lateralmente ao tubo externo junto ao fechamento de

topo, onde um manômetro pode ser facilmente adaptado para as leituras de pressão de

gás (Figura 3. 13).

Figura 3. 13 - Manômetro para leitura de pressão de gás.

A extremidade superior da “câmara piezométrica” (tubo de 25mm) é dotada de

um tampão de vedação, para protegê-lo da introdução de materiais estranhos.

61

3.2.3. PROCEDIMENTOS DE LEITURAS

A determinação do nível d'água nos instrumentos é feita com o auxilio do

indicador de nível d'água elétrico, também chamado de “piu” (Figura 3. 14). Em caso de

alteração da cota do topo do tubo de leitura, a nova cota é anotada, para ser descontada

no cálculo da cota piezométrica. Quaisquer anomalias ou eventos observados que

possam ter influência no nível d'água indicado por um instrumento são anotadas.

Figura 3. 14 - Leituras do nível piezométrico.

As leituras de gás são realizadas com a instalação do manômetro na válvula

adaptada à câmara (Figura 3. 15). O manômetro é instalado, para após então abertura da

válvula. Em caso de dúvida de leituras, pode-se realizar uma leitura do nível

piezométrico antes da abertura da válvula e uma após a leitura de gás. A diferença entre

as leituras, multiplicadas pelo peso específico do chorume é igual à pressão de gás

estimada.

62

Figura 3. 15 - Leituras de gás.

A experiência mostra que quando não há deposição de lixo nas proximidades do

piezômetro, as leituras praticamente não sofrem alteração em períodos curtos. Com o

passar do tempo, a tendência que se observa é uma diminuição dos valores de pressão.

3.3. INCLINÔMETROS

A Figura 3. 16 apresenta as partes em que compõem o equipamento: um torpedo

(o sensor de inclinação), cabo elétrico, unidade de leitura e os tubos de acesso

ranhurados.

Figura 3. 16 - Inclinômetro: torpedo, unidade de leitura automática, tubos de acesso

PVC (GEO-RIO, 2000).

O inclinômetro consiste num torpedo sensor o qual é introduzido num tubo-guia

vertical de observação, fornecendo dados que permitem medir perfis de deslocamentos

horizontais de massas de solo. O inclinômetro mede o ângulo de inclinação do tubo-

guia com a vertical, na posição em que o torpedo se encontra, conforme apresenta a

63

Figura 3. 17. A partir da medida deste ângulo, pode se determinar qual o tipo de

movimento e onde ele ocorre com maior intensidade.

Figura 3. 17 - Esquema de leituras do inclinômetro (adaptado de GEO-RIO, 2000).

Durante as leituras, foram utilizados dois instrumentos diferentes. Nas leituras

de dezembro a fevereiro, foi utilizado o torpedo Geokon Model 6000 e a unidade leitora

GK-603. Devido a problemas de sinal com a unidade leitora da Geokon causados pelo

chorume, utilizou-se o torpedo digital EAN-25/2M, da empresa Encardio Rite e unidade

leitora EDI-53 INS deste mesmo fabricante. A partir do momento que se utilizou um

novo sistema de inclinômetro, optou-se em realizar uma nova leitura zero dos tubos

inclinométricos.

A A

B

B

SEÇÃO TUBO DE ACESSO

INCLINÔMETRO(Dimensões em mm)

CALDA DE CIMENTO E BENTONITA

80150

TORPEDO

TUBO DE ACESSO

64

3.3.1. ACOMPANHAMENTO DE PERFURAÇÃO E INSTALAÇÃO

3.3.1.1.PERFURAÇÃO

Foi empregado uma tipo de sonda para a execução da perfuração do solo e

resíduos sólidos, com diâmetro de 150mm. A perfuração em lixo é de extrema

dificuldade, sendo que os furos foram revestidos em toda a extensão com uso de pasta

de bentonita. Após a conclusão da perfuração, o furo foi lavado com água limpa.

3.3.1.2.INSTALAÇÃO DOS TUBOS

Os tubos de inclinômetro são de alumínio ranhurado com diâmetro nominal de

80 mm e em seções de 3 m de comprimento. Como acessórios de instalação, tem-se:

luvas, tampas, massa plástica impermeabilizante para juntas, fita crepe e rebites. As

emendas entre os tubos são realizadas com luvas de alumínio rebitadas (Figura 3. 18).

Figura 3. 18 - Rebites nas emendas do tubo.

Ainda, existe o procedimento de verificação e preparação dos tubos, quanto ao

alinhamento das ranhuras e outros possíveis defeitos. Os tubos que apresentarem torção

superior a 2 graus por metro linear (o que ocorre raramente) são rejeitados.

No momento da instalação, as luvas são vedadas com massa plástica (ou

silicone) e fita crepe (fita tape ou adesiva, conforme apresenta a Figura 3. 19) para

evitar o ingresso de sujeira e colmatação do tubo.

65

Figura 3. 19 - Vedação das emendas do tubo.

O tubo de acesso é instalado previamente no terreno através de furo com pelo

menos 150 mm de diâmetro até uma profundidade tal que atravesse o campo de

deslocamentos previstos para a obra. O furo foi estabilizado com revestimento no trecho

em solo e com pasta de bentonita.

A extremidade inferior do tubo deve ser localizada em região do terreno que não

se deve deslocar. O tubo é orientado por ocasião da instalação de tal forma que as

ranhuras concordem com os eixos principais da obra.

As fases de instalação do tubo de acesso (Figura 3. 20) constam de:

1. Introdução do tubo de acesso no furo, mantendo o alinhamento das

ranhuras conforme os eixos principais da obra;

2. Acoplamento dos segmentos de tubo, rebitando-os com no mínimo três

linhas de rebites. O tubo é preenchido com água limpa para garantir a

flutuação e evitar tensões nos rebites;

3. Preenchimento total do espaço anelar entre o tubo e as paredes do furo

com calda de cimento-bentonita (no traço 1:10) que deve ser aplicada

pelo método ascendente e através de mangueira de injeção;

4. Inserção da tampa de proteção.

66

Figura 3. 20 - Fases de instalação do tubo de acesso (adaptado de GEO-RIO, 2000).

3.3.2. PROCEDIMENTOS DE LEITURAS

O monitoramento das leituras é realizado, a princípio, todos os dias, sendo em

seguida adaptados os intervalos de tempo conforme a necessidade e ou existência de

mudanças significativas. Quando a leitura acusar um novo movimento do aterro, o

intervalo entre as leituras consecutivas vai diminuindo de acordo com a tendência do

movimento (como ocorreu em alguns casos após precipitação intensa no local), e se o

movimento diminuir de intensidade o intervalo de leituras aumenta novamente.

3.3.2.1.TORPEDO DE LEITURAS

Os torpedos possuem corpo de aço inox do tipo deslizante, percorrendo o tubo

de baixo para cima efetuando as leituras conforme indicado na Figura 3. 21. O sensor é

guiado por rodas-guia auto-alinháveis que mantêm o instrumento posicionado no centro

do tubo. Ambos sensores de inclinação são do tipo servo-acelerômetro biaxial. A

distância entre rodinhas (L) é de 50 cm para ambos torpedos, correspondente à distância

entre duas leituras consecutivas.

CALDA DE CIMENTO E BENTONITA

TAMPA DE PROTEÇÃO

1 2 3 4

67

Figura 3. 21 – Foto e medidas do torpedo do inclinômetro (dimensões em cm).

A seguir, as Tabelas 3. 4 e 3. 5 apresentam os dados dos fabricantes sobre as

características de cada torpedo:

Tabela 3. 4 - Características do torpedo Geokon Model 6000.

Medidas limites ± 53° em relação a vertical; Resolução ± 0.025 mm/500 mm;Limite de temperatura: 0 to 50° C;Distância entre rodinhas: 500 mm;

Dimensões 25 mm Ф x 700 mm longitudinal;

50 70

TORPEDO

68

Tabela 3. 5 - Características do torpedo Torpedo EAN-25/2M.

Medidas limites ± 30° em relação a vertical;Resolução ± 0.025 mm/500 mm;Limite de temperatura: 0 to 80°C;Distância entre rodinhas: 500 mm;

Dimensões 32 mm Ф x 700 mm longitudinal;

3.3.2.2.UNIDADES DE LEITURA

Foram empregadas duas unidades de leitura diferentes. Nos meses de dezembro

a março, foi utilizada uma unidade leitora da empresa Geokon GK603 (Figura 3. 22-a).

Já nos meses seguintes, foi utilizada uma unidade leitora da empresa Encardio Rite EDI-

53 (Figura 3. 22-b) ambas do tipo automático, sendo as leituras registradas na memória

interna podendo ser transmitidas via cabo RS232 para um computador normal.

Figura 3. 22 - (a) Unidade leitora Geokon GK603 e (b) unidade leitora Encardio Rite

EDI-53.

A Tabela 3. 6 e a Tabela 3. 7 descrevem as características técnicas de cada uma

das unidades de leitura.

(a) (b)

69

Tabela 3. 6 - Características da unidade leitora GK603.

Faixa de entrada ±10 V Resolução 1 parte em 40.000 Acurácia ±0.15% F.S. Temperatura de operação 0°C to 50°C

Tabela 3. 7 - Características da unidade leitora EDI-53 INS.

Faixa de entrada ± 2 V Resolução 1 parte em 64.000 Acurácia ±0.15% F.S. Temperatura de operação 0 to 50° C

3.3.2.3.CÁLCULO DOS DESLOCAMENTOS

O cálculo dos deslocamentos é simples e está apresentada na Figura 3. 23 e 3. 24

através da Equação (4):

δh= L∑ sen θ (4)

Onde:

δh é o a variação do deslocamento (na profundidade medida);

L é o comprimento entre as rodas (geralmente de 0,50m)

sen θ é o ângulo medido pelo inclinômetro (geralmente é dado em dígitos pela

unidade leitora).

70

Figura 3. 23 - Vista interna dos deslocamentos dentro do tubo com o torpedo de

inclinômetro (UFBA, acesso em janeiro de 2011).

Figura 3. 24 - Cálculo dos deslocamentos com o inclinômetro (GEO-RIO, 2000).

A Figura 3. 25 apresenta um resultado típico de inclinômetro em que se

localizou a superfície de ruptura pela variação brusca das inclinações medidas em torno

de 4m de profundidade. Para o caso do torpedo da Encardio Rite, só é necessário

realizar a leitura uma vez, sendo que o sensor é biaxial. São realizadas uma leitura em

A0 e uma em A180 com a finalidade de zerar o erro padrão.

δh

m

1234

δh

θ

L

71

Figura 3. 25 - Resultados típicos de leituras e deslocamentos com o inclinômetro (GEO-

RIO, 2000).

3.3.2.4.PROCESSAMENTO DOS RESULTADOS

O processamento e apresentação de resultados é realizado automaticamente em

um computador através de software ou planilha Excel®, que importa os arquivos

diretamente da unidade de leitura em arquivos .txt, verificando a qualidade dos dados e

apresentando os resultados na tela do PC (Figura 3. 26). Foram utilizados

primeiramente planilhas Excel® para após o software Gtilt® para apresentação dos

resultados das leituras.

Superfície deruptura

-400 -300 -200 -100 0 100 200 300 4000

1

2

3

4

5

6

7

8

Variação das leituras

Profundidade(m)

Deflexão (mm)

-10 -5 0 5 100

1

2

3

4

5

6

7

8

72

Figura 3. 26 - Exemplo de gráfico típico de apresentação de resultados e informações

para o eixo A de deslocamento, apresentando a variação de leituras e o deslocamento

acumulado (ORTIGÃO, 1999).

No Brasil, não há registros de instalação de tubos inclinométricos diretamente na

massa de resíduos, em aterros de RSU. Tal procedimento é criticado por diversos

autores no mundo inteiro devido principalmente aos elevados deslocamentos laterais

que ocorrem nos aterros de RSU, causando muitas vezes a perda de torpedos

inclinométricos (MAHLER, 2010). Porém, verificou-se que a perda de torpedos pode

ser evitada, simplesmente descendo primeiro no tubo inclinométrico o torpedo cego,

que serve justamente para verificar se o tubo oferece condições de passagem para o

torpedo que mede os deslocamentos.

A Figura 3. 27 apresenta o autor da dissertação realizando leituras de

inclinômetro.

-500 0 500 1000 1500

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

12

13

140 30 60 90 120 150 180

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

12

13

14

19-01-9925-01-9902-02-9904-02-9905-02-9910-02-9918-02-9903-03-99

Variação nas leituras (x10-4rad) Deslocamento horizontal (mm)

Pro

fund

idad

e (m

)

73

Figura 3. 27 - Leituras dos deslocamentos sendo realizadas pelo autor desta dissertação.

3.4. MARCOS SUPERFICIAIS

Foram instalados cinco marcos superficiais no aterro controlado com a função de

auxiliar no monitoramento dos deslocamentos verticais do maciço de RSU.

Conforme ilustrado na Figura 3. 28, o medidor de deslocamentos superficiais ou

marco superficial consiste basicamente em um pino metálico, formado por uma haste de

aço com diâmetro de 25mm e 25 cm de comprimento com cabeça esférica de 25mm de

diâmetro, instalada em um bloco cúbico de concreto com aresta de 0,5m.

74

Figura 3. 28 – Detalhes do marco superficial usado.

Uma vez que o pino metálico consiste na referência sobre a qual serão

posicionadas a mira e a régua para nivelamento, colimação e poligonação do medidor de

deslocamentos superficiais, este é executado de modo que o pino metálico fique

centralizado na área do topo do bloco de concreto.

Para instalação de um medidor de deslocamentos superficiais, executa-se uma

trincheira trapezoidal a partir da superfície, com base inferior quadrada de 0,6m de lado,

0,55m de profundidade. Executa-se uma camada de regularização da superfície do

fundo da trincheira de espessura de 5cm feita com argamassa. Executa-se o bloco de

concreto contido por forma lateral e posiciona-se o pino metálico no centro do topo do

bloco de concreto de modo que o topo espera fique 3cm acima do topo do bloco.

Por ocorrência de movimentos de equipamentos de terraplenagem e/ou

ocorrência de trânsito próximo ao instrumento, a caixa de proteção deverá ser cercada

por uma grade de proteção bem visível à distância, tanto de noite como de dia.

A Figura 3. 29 apresenta um dos marcos superficiais instalados no aterro.

75

Figura 3. 29 - Marco superficial 1 – MS-01

A instalação de marcos superficiais foi providenciada para contribuir no

monitoramento dos recalques e deslocamentos horizontais do aterro. Tal instrumentação

viabilizaria o ajuste de parâmetros de compressibilidade dos RSU, em modelos

computacionais matemáticos. É importante ressaltar a periodicidade das leituras e

cuidado na perda de tais equipamentos. Porém, conforme relatado no Capítulo 2, os

marcos superficiais ainda não possuem periodicidade de medições recomendada, que

seria diária ou no mínimo uma vez a cada 7 dias dependendo das condições de operação

e movimentação do aterro. Somente foi apresentada a sua instalação e procedimento

para leituras para que futuramente estes dados possam servir para ajustes no modelo

matemático que será apresentado no Capítulo 4.

3.5. PLUVIÔMETROS

Foram instalados dois pluviômetros no aterro. O pluviômetro digital (Figura 3.

30), por se tratar de um equipamento movido a energia de baterias, constantemente

merecia manutenções. Logo, foi instalado no local um pluviômetro convencional, ville

de Paris.

76

Figura 3. 30 - Foto do pluviômetro utilizado nas leituras pluviométricas.

O pluviômetro digital com transmissão sem fio via rádio freqüência foi

desenvolvido para controle da precipitação da água da chuva e possui as seguintes

especificações, conforme a Tabela 3. 8.

Tabela 3. 8 - Especificação técnica do pluviômetro digital instalado no aterro de RSU

estudado.

Indicação da quantidade de chuva total ou das últimas 24h simIndicação de chuva fraca ou forte simFunção de alarme programávelEscala de 0 a 1.000 mm 24H / 0 a 10.000mm totalResolução 1mm nas duas escalas

O pluviômetro ville de Paris (Figura 3. 31) é produzido em plástico cristal e

suporte em plástico, tem escala de graduação de 5 a 150 mm/m². As especificações

técnicas do pluviômetro ville de Paris seguem na Tabela 3. 9.

77

Figura 3. 31 - Foto do pluviômetro ville de Paris instalado próximo ao aterro.

Tabela 3. 9 - Especificações técnicas do pluviômetro ville de Paris instalado no aterro.

Escala do Pluviômetro 5 a 150 mm/mm²

Divisão do Pluviômetro 2mm

Dimensões 22x3cm

Material Plástico

Peso 100g

78

3.6. ESTABILIDADE EM ATERROS DE RSU

Os problemas da estabilidade são freqüentemente conseqüências do excesso de

água no aterro de resíduos após grandes precipitações. Em combinação com outras

condições de limite, a água é fator de colapso. A água ou o chorume que infiltra,

causam saturação da massa de lixo que, conseqüentemente, influencia o peso específico,

ocasionando aumento nas pressões hidrostáticas ou gerando excesso de poropressão que

afetam a estabilidade do aterro. Ainda, a saturação dos vazios do aterro pode causar uma

interação com o fluxo do gás desenvolvimento de pressão de gás pode aumentar,

influenciando também na estabilidade do maciço.

A análise de estabilidade de um aterro de RSU envolve além dos procedimentos

convencionais de análises de estabilidade de taludes e/ou encostas, fatores como o

“efeito fibra”, oriundos principalmente de sacolas plásticas, e ainda a influência das

pressões de gases oriundos dos processos anaeróbicos dos resíduos.

BORGATTO (2006) fez retro-análises do escorregamento ocorrido no Aterro

Sanitário Bandeirantes considerando o efeito reforço das fibras a fim de, com a

utilização do programa computacional GGU-Stability, e comparando os resultados

chegou a fatores de segurança em torno de 20% maiores dos indicados nos relatórios do

IPT.

Por outro lado, o comportamento distinto das deformações e dos recalques do

lixo conduz a uma consolidação mais rápida, e baixa a porosidade na parte inferior do

aterro, o que pode causar um fluxo preferencial do lixiviado. O fluxo preferencial pode

igualmente resultar das propriedades hidráulicas anisotrópicas do material, com a

diferença em condutibilidades hidráulicas horizontais e verticais (MÜNNICH et al.,

2006). As deformações elevadas ocorrem tanto na forma de recalques, assim como

movimentos horizontais.

Os escorregamentos em taludes são causados por uma redução da resistência

interna do material constituinte (solo, RSU, etc.) que se opõe ao movimento da massa

deslizante e/ou por um acréscimo das solicitações externas aplicadas ao maciço,

geralmente causadas por mudança nas condições geométricas ou sobrecargas.

BORGATTO (2006) relaciona as principais causas de instabilidades descritas a

seguir:

• Causas externas – ações externas que alteram o estado de tensão atuante

sobre o maciço resultando num acréscimo de tensões cisalhantes que,

79

igualando ou superando a resistência ao cisalhamento, levam à ruptura.

Podem ocorrer devido ao aumento da inclinação do talude, deposições de

material ao longo da crista do talude, efeitos sísmicos, cortes no pé do

talude, etc;

• Causas internas – ações internas que atuam reduzindo a resistência ao

cisalhamento, sem alterar visualmente a geometria do maciço. Podem

ocorrer devido ao intemperismo/decomposição, erosão interna, ciclagem

da poropressão, decréscimo da coesão aparente, etc;

• Mudanças no regime hidráulico sub-superficial – ações que podem

ocorrer na fundação do maciço devido à elevação do lençol freático,

elevações do artesianismo, empuxo hidrostático da água preenchendo

fendas verticais, etc.

3.6.1. ESTABILIDADE - TEORIA DO EQUILÍBRIO LIMITE

O objetivo da análise de estabilidade é avaliar a possibilidade de ocorrência de

escorregamento de massa de solo ou resíduos presentes em talude natural ou construído.

Em geral, as análises são realizadas comparando-se as tensões cisalhantes mobilizadas

com resistência ao cisalhamento. Com isso, define-se um fator de segurança (FS) dado

pela Equação (5):

�� � ������

(5)

Onde:

FS = Fator de segurança, onde alcançando-se valores igual a 1,0 tem-se o

limite da ruptura, acima de 1,0 considera-se o talude estável, e abaixo de 1,0

não possui significado físico;

τf = Resistência ao cisalhamento oferecida pela base;

τf = Resistência ao cisalhamento mobilizada pela sobrecarga ou carga.

Por fator de segurança entende-se o valor numérico da relação estabelecida entre

a resistência ao cisalhamento disponível do material e a resistência ao cisalhamento

mobilizado para garantir o equilíbrio do corpo deslizante, sob o efeito dos esforços

atuantes.

80

O método de análise por equilíbrio limite consiste na determinação do equilíbrio

de uma massa ativa do material, a qual pode ser delimitada por uma superfície de

ruptura circular, poligonal ou de outra geometria qualquer. O método assume que a

ruptura se dá ao longo de uma superfície e que todos os elementos ao longo desta

superfície atingem a condição de FS, simultaneamente.

Como premissas básicas comuns aos métodos de cálculo de ruptura pelo

equilíbrio limite têm-se que:

− A ruptura se dá por um plano (análise bidimensional);

− As forças externas são o peso próprio, as sobrecargas e a subpressão;

− O problema é estático;

− As leis da Mecânica dos Meios Contínuos se aplicam ao material;

− A lei de Mohr-Coulomb aplica-se à ruptura (Equação 6):

� �! " #! $%& '! (6)

Onde:

τ é a máxima tensão cisalhante suportada pelo material

no plano considerado em kN/m²;

c’ é a coesão do material em kN/m² (no caso de

resíduos, coesão aparente);

σ’ é tensão normal efetiva do material no plano

considerado em kN/m²;

φ’ é o ângulo de atrito efetivo do material em °.

− O coeficiente de segurança é constante ao longo da cunha (ou plano) de

ruptura.

Equilíbrio Limite é um método que visa determinar o grau de estabilidade a

partir das dos seguintes procedimentos:

i. Postula-se um mecanismo de ruptura; isto é, arbitra-se uma determinada

superfície potencial de ruptura (circular, planar, etc.). O solo acima da

superfície é considerado como corpo livre;

ii. O equilíbrio é calculado pelas equações da estática: (ΣFv = 0, ΣFh = 0,

ΣM = 0). O equilíbrio de forcas é feito subdividindo-se a massa de solo

em fatias e analisando o equilíbrio de cada fatia, conforme a Figura 2. 28.

81

Figura 2. 28 - Seção de ruptura circular dividida em fatias (ORTIGÃO & SAYÃO,

2004).

Onde:

R – raio da superfície potencial de ruptura;

bi – largura da base da fatia;

Ei – Empuxo lateral a jusante;

Ei+1 – Empuxo lateral a montante;

Xi – Força de cisalhamento jusante;

Xi+1 – Força de cisalhamento a montante;

Ti – Força de cisalhamento na base da fatia;

Ni – Força normal atuante na base da fatia;

αi – Ângulo da base da fatia com a horizontal;

li – Distância horizontal da lateral da fatia até o centróide da fatia;

Wi – Peso do material da fatia.

O método proposto por Bishop em 1955 utilizando nas análises de estabilidade

neste estudo, aborda a análise da estabilidade de um talude utilizando a divisão da cunha

de ruptura em diversas fatias. Considera-se neste método o equilíbrio de momento e de

forças verticais. Este método é uma modificação do Método das Fatias, porém levando

em conta as reações (em módulo, direção e sentido) entre as fatias adjacentes.

3.7. METODO DOS ELEMENTOS FINITOS (MEF)

O uso de computadores cada vez com maior desempenho, fez com que o uso do

Método dos Elementos Finitos (MEF) fosse difundido na solução de projetos

82

complexos. A capacidade de simular diversas condições de contorno, incorporando

diferentes etapas construtivas e modelos constitutivos diversos, tornou o MEF uma

ferramenta útil para problemas geotécnicos, que muitas vezes apresentam alto grau de

complexidade.

Apesar de ter sido originalmente desenvolvido para análise de problemas

estruturais, a teoria original do MEF foi modificada de forma a permitir a análise de

situações envolvendo outros campos da engenharia. Na resolução de um problema pelo

MEF são utilizadas as aproximações baseadas no método dos deslocamentos, método de

equilíbrio e método misto. As incógnitas principais são os deslocamentos, no método

dos deslocamentos, enquanto que no método de equilíbrio as incógnitas são as tensões.

Já o método misto apresenta como incógnitas tanto os deslocamentos quanto as tensões.

Programas de elementos finitos específicos para a Geotecnia têm sido

desenvolvidos a fim de prever o comportamento dos solos. O uso em simulações de

aterros de RSU são raros no Brasil. Estes programas conseguem realizar milhares de

cálculos por segundo, permitindo minimizar certas simplificações utilizadas em cálculos

convencionais, além de permitir a previsão e a reprodução do comportamento do

solo/estrutura das obras.

A análise numérica tem como vantagem a determinação dos deslocamentos

totais, verticais e horizontais, servindo de elementos de comparação de dados de

instrumentação instalada no aterro, além de retroanálises de seu comportamento.

Neste trabalho optou-se pela utilização do programa de elementos finitos Plaxis

9.0®. O programa Plaxis 9.0® apresenta uma interface gráfica, de ambiente Windows,

amigável. Como dados de entrada para o programa, desenha-se a geometria do seu

problema, são definidas as condições de contorno, posição do nível d´água, é

selecionado o tipo de material para cada item, o modelo constitutivo de cada tipo de

solo e define-se o tipo de análise a ser realizada – Axissimétrica ou plana de

deformação.

O programa Plaxis9.0® permite simular a construção da obra em etapas, ou seja,

simulou-se a operação das fases projetadas do aterro de RSU, definindo o tempo

utilizado para cada etapa (estágio de carregamento) conforme estudo desenvolvido para

adequação ambiental e o “as built” do aterro, além da possibilidade da criação de

intervalos entre as diversas etapas de construção.

83

Em todos os casos, o aterro foi considerado como sendo infinito, sendo

constituído de camadas de lixo antigo e lixo fresco. Foram simulados os recalques

primários da camada de lixo fresco, a partir de execução das células de 5m de altura.

A malha de elementos finitos é gerada automaticamente pelo programa, com

elementos triangulares, optando-se por elementos de 6 ou 15 nós. A malha pode ser

refinada globalmente ou em locais específicos a serem definidos.

O programa Plaxis9.0® possui 6 modelos constitutivos que governam o

comportamento do material – Mohr-Coulomb, Jointed Rock, Hardening Soil, Soft Soil

Creep, Soft Soil e Linear-Elástico. Os modelos constitutivos necessitam de diferentes

parâmetros e dados de entrada. Optou-se neste trabalho, face os dados disponíveis e tipo

de problema, o uso de somente um modelo para a representação dos materiais – o Mohr-

Coulomb.

O modelo constitutivo Mohr-Coulomb é um modelo elástico perfeitamente

plástico, empregado para representar a ruptura por cisalhamento de solos e rochas. O

modelo Mohr-Coulomb é assim classificado devido à hipótese de que o material

comporta-se como linear elástico até atingir a ruptura, não havendo endurecimento

devido ao fluxo plástico, ou seja, a superfície de plastificação é fixa. Portanto, o

material apresenta um comportamento linear elástico até atingir uma determinada tensão

de escoamento, que se mantém constante com o acréscimo de deformações plásticas.

Os principais parâmetros geotécnicos necessários como dados de entrada para

este modelo são:

φ´ – ângulo de atrito efetivo (°);

c’ – coesão (kPa) – no caso de lixo, coesão aparente;

E – Módulo de estasticidade (MPa);

kx – Permeabilidade horizontal (cm/s);

ky – Permeabilidade vertical (cm/s);

γsat – Peso Específico saturado (kN/m³);

γd – Peso Específico seco (kN/m³);

k0 – Coeficiente de empuxo no repouso (kN/m³);

ν – Coeficiente de Poisson.

As análises visarem comparar parâmetros da literatura com alguns parâmetros

adotados, simulando os deslocamentos encontrados pelos inclinômetros e as etapas de

construção do aterro. Nas etapas de construção é possível o uso das opções de

84

atualização das poropressões e da malha de elementos finitos. A atualização da malha é

recomendada em situações em que se prevê a ocorrência de grandes deformações (como

no caso de aterros de RSU). A matriz de rigidez é atualizada com base na geometria

deformada da etapa. A opção de atualização das poropressões foi utilizada a fim de se

introduzir o efeito da submersão dos materiais, o que resulta, normalmente, em uma

redução da tensão efetiva atuante nas camadas compressíveis de RSU.

Para a obtenção dos deslocamentos de um ponto específico a ser estudado na

análise numérica, optou-se no programa pela seleção de um ou mais pontos específicos

a fim de se determinar deslocamentos, poropressões ou tensões atuantes ao longo da

construção do aterro, tendo como saída um gráfico ou uma tabela com os valores

obtidos.

As malhas de elementos finitos foram constituídas por elementos triangulares de

15 nós. Os contornos laterais foram considerados indeslocáveis horizontalmente e a

base indeslocável vertical e horizontalmente. Ressalte-se que as dimensões da malha

foram suficientes para evitar a influência dos contornos na magnitude dos

deslocamentos previstos. Todas as análises foram executadas sob estado de deformação

plana.

O cálculo das etapas construtivas do aterro foi realizado pelo programa Plaxis

9.0®, através da opção de cálculo denominada Plastic Analysis, com atualização da

malha e das poropressões em cada etapa. O processo de cálculo foi dividido em fases,

permitindo a ativação de um estágio de carregamento aproximadamente como foi à

execução dos resíduos mais frescos, com células de 5m distribuídas em 12 etapas

distintas durante o período aproximado de 5 anos aproximadamente.

85

CAPÍTULO 4

4. RESULTADOS

Neste capítulo, são apresentados os resultados das leituras da instrumentação do

aterro durante o período de 10 meses. São também discutidas as análises de estabilidade

do aterro de RSU. Observou-se que nas análises de estabilidade desenvolvidas segundo

estudos iniciais, que os dados utilizados foram conservadores, principalmente no que

diz respeito a parâmetros de poropressão (ru) utilizados. Dentre as diversas análises de

estabilidade, ainda são discutidas as retro-análises de dois meses (dezembro 2009 e abril

de 2010) com elevadas pluviometrias duas rupturas de porte significativo, registrando

movimentos bruscos através dos inclinômetros. Foi também realizada a retro-análise de

deslocamentos horizontais utilizando o Método dos Elementos Finitos na seção

principal de instrumentação do aterro, visando ajustar parâmetros comparando os

deslocamentos horizontais encontrados no modelo matemático com os dados de

deslocamentos horizontais de inclinômetro.

4.1. LEITURAS DA INSTRUMENTAÇÃO

4.1.1. RESULTADO DAS LEITURAS – PIEZÔMETROS SIFÃO

Conforme descrito anteriormente, os piezômetros sifão instalados nesta obra são

constituídos de dois tubos concêntricos, o interno para o registro das variações

piezométricas no chorume (“câmara piezométrica”) e o externo para a avaliação da

pressão de gás (“câmara de pressão de gás”).

4.1.1.1.COTAS PIEZOMÉTRICAS

A Figura 4. 1 apresenta o gráfico das variações de leitura para todo o período

acompanhado de mais de 10 meses.

86

Figura 4. 1 - Variações das cotas piezométricas para o período de acompanhamento do

aterro.

Durante o acompanhamento, foram observadas as quebras de 3 equipamentos. O

primeiro piezômetro comprometido foi durante a operação do aterro, o PZ05 onde

houve ruptura do tubo após intensas passagens de caminhões de lixo próximos ao

instrumento. Durante tentativa de recuperar o instrumento, houve ocorrência de chuvas

torrenciais e o equipamento foi perdido devido inundação do local.

Nota-se que no gráfico acima há variações bruscas em algumas leituras. No

piezômetro PZ02, por exemplo, nota-se que as leituras variaram muito no período de

abril. Neste período observou-se a quebra do equipamento, logo após deslizamento de

um talude a montante do instrumento. No mesmo período, o PZ01 foi soterrado pela

ruptura do mesmo talude.

No mês de junho, apenas dois piezômetros estavam funcionando no

monitoramento de todo o aterro (PZ03 e PZ04).

4.1.1.2.PRESSÕES DE GÁS

A Figura 4. 2 apresenta o gráfico das variações de leitura para todo o período

acompanhado de mais de 10 meses.

95

100

105

110

115

120

125

130

04/09/2009 19/10/2009 03/12/2009 17/01/2010 03/03/2010 17/04/2010 01/06/2010

Co

ta P

iezo

tric

a (m

)

Data

PZ01PZ02PZ03PZ04PZ05

87

Figura 4. 2 - Leituras da pressão de gás para o período analisado.

Nota-se que o piezômetro PZ03 apresentou maiores variações durante o período

de monitoramento do aterro. Após período de chuvas de abril, o PZ03 apresentou queda

brusca nas leituras. Suspeita-se que o tubo tenha desencaixado, já que houve indícios de

movimentação registrados em torno de 6m de profundidade, fazendo inclusive com que

o medidor de nível d’água não passasse mais em torno de 6m de profundidade.

O sistema de drenagem de gases existente constitui-se basicamente em colunas

de tubos justapostos de concreto perfurados, apoiados, em grande parte, no sistema

interno existente de drenagem de chorume, que é composto de drenos de brita.

Ainda, em nenhum dos drenos foi verificado o reaproveitamento ou queima do

biogás. É de se destacar que, considerando que a composição do biogás encontrada em

aterros no Brasil é de aproximadamente 55% de metano (CH4), 40% de gás carbônico

(CO2) e 5% de nitrogênio (N2) e outros gases, sendo o gás metano quase 21 vezes mais

danoso que o dióxido de carbono em termos de efeito estufa, queimar o biogás na saída

dos drenos é uma alternativa que se recomenda, quando não há aproveitamento

energético, esperando-se com a queima reduzir-se em, aproximadamente, 20% a

emissão de gás metano para a atmosfera.

0

10

20

30

40

50

60

04/09/2009 19/10/2009 03/12/2009 17/01/2010 03/03/2010 17/04/2010 01/06/2010

Pre

ssã

o d

e g

ás

(kP

a)

Data

PZ01

PZ02

PZ03

PZ04PZ05

88

4.1.1. RESULTADO DAS LEITURAS – INCLINÔMETROS

Os resultados foram processados em planilhas Excel® e no software G-Tilt® e

plotados versus profundidade. Os gráficos seguintes apresentam os resultados para cada

instrumento.

As direções das ranhuras A e B são determinadas em função da tendência de

movimento. A direção A+ sempre será a direção provável de deslocamentos principais,

ou seja, neste caso a ranhura que aponta perpendicular à jusante do talude, conforme

mostra a Figura 4. 3.

Figura 4. 3 - Direção das ranhuras A e B dos tubos de inclinômetro do aterro de RSU

estudado.

Cada leitura fornece os deslocamentos em milímetros plotados em função da

profundidade nas direções A e B.

As Figuras 4. 4 a 4. 7 apresentam os gráficos de deslocamentos nos eixos A e B

durante o período de 10 meses.

Seção principal de instrumentação

Seção secundária de instrumentação

89

Figura 4. 4 - Gráfico de leituras do IN01 na direção A e B.

-30

-28

-26

-24

-22

-20

-18

-16

-14

-12

-10

-8

-6

-4

-2

0

Elev.(m)

-500 -250 0 250 500

-30

-28

-26

-24

-22

-20

-18

-16

-14

-12

-10

-8

-6

-4

-2

0

-500 -250 0 250 500

-30

-28

-26

-24

-22

-20

-18

-16

-14

-12

-10

-8

-6

-4

-2

0

Elev.(m)

-500 -250 0 250 500

-30

-28

-26

-24

-22

-20

-18

-16

-14

-12

-10

-8

-6

-4

-2

0

-500 -250 0 250 500

LEGENDInitial 2 mar2010

3 mar2010 4 mar201014 abr201015 abr201016 abr201019 abr201020 abr201022 abr201026 abr201021 mai201025 mai201026 mai201027 mai201028 mai201031 mai201010 jun201011 jun201014 jun201015 jun201016 jun201017 jun201021 jun201025 jun201028 jun201029 jun201030 jun2010

Cumulative DeflectionDirection A

Deflection (mm)

Cumulative DeflectionDirection B

Deflection (mm)

Ref. Elevation m

90

Figura 4. 5 - Gráfico de leituras do IN02 na direção A e B.

-30

-28

-26

-24

-22

-20

-18

-16

-14

-12

-10

-8

-6

-4

-2

0

Elev.(m)

-50 -25 0 25 50

-30

-28

-26

-24

-22

-20

-18

-16

-14

-12

-10

-8

-6

-4

-2

0

-50 -25 0 25 50

-30

-28

-26

-24

-22

-20

-18

-16

-14

-12

-10

-8

-6

-4

-2

0

Elev.(m)

-50 -25 0 25 50

-30

-28

-26

-24

-22

-20

-18

-16

-14

-12

-10

-8

-6

-4

-2

0

-50 -25 0 25 50

LEGENDInitial 30 abr2010

3 mai2010 4 mai2010 5 mai2010 6 mai2010 7 mai201021 mai201025 mai201026 mai201027 mai201028 mai201031 mai201010 jun201011 jun201014 jun201015 jun201016 jun201017 jun201018 jun201021 jun201025 jun2010

Cumulative DeflectionDirection A

Deflection (mm)

Cumulative DeflectionDirection B

Deflection (mm)

Ref. Elevation m

91

Figura 4. 6 - Gráfico de leituras do IN03 na direção A e B.

-30

-28

-26

-24

-22

-20

-18

-16

-14

-12

-10

-8

-6

-4

-2

0

Elev.(m)

-15 -7,5 0 7,5 15

-30

-28

-26

-24

-22

-20

-18

-16

-14

-12

-10

-8

-6

-4

-2

0

-15 -7,5 0 7,5 15

-30

-28

-26

-24

-22

-20

-18

-16

-14

-12

-10

-8

-6

-4

-2

0

Elev.(m)

-15 -7,5 0 7,5 15

-30

-28

-26

-24

-22

-20

-18

-16

-14

-12

-10

-8

-6

-4

-2

0

-15 -7,5 0 7,5 15

LEGENDInitial 2 mar2010

3 mar2010 4 mar2010 5 mar2010 8 mar2010 9 mar201010 mar201011 mar201016 mar201019 mar201029 abr2010 3 mai2010 4 mai2010 5 mai2010 6 mai2010 7 mai201021 mai201010 jun201011 jun201014 jun201015 jun201016 jun201017 jun201018 jun201021 jun201025 jun201028 jun201029 jun201030 jun2010

Cumulative DeflectionDirection A

Deflection (mm)

Cumulative DeflectionDirection B

Deflection (mm)

92

Figura 4. 7 - Gráfico de leituras do IN04 na direção A e B.

Nos gráficos, é possível notar deslocamentos acumulados de mais de 600mm,

com é o caso do inclinômetro IN01. Grande parte deste deslocamento foi registrado

após grande período chuvoso do mês de abril, com registro de mais de 270mm de

precipitação em menos de 12h de chuva intensa. Ainda, nos gráficos nota-se que não

estão registrados todas as leituras. Porém, a leitura inicial que se tem é do início do mês

de março, após troca de inclinômetro.

4.1.2. RESULTADO DAS LEITURAS – PLUVIÔMETROS

Durante o período monitorado, registraram mais de 926mm de chuva, durante o

período de dezembro de 2009 a junho de 2010. A maior chuva torrencial registrada foi

em abril, onde no dia 09 choveu 274mm em menos de 12h.

A Figura 4. 8 mostra o gráfico de precipitações para o período observado.

-18

-16

-14

-12

-10

-8

-6

-4

-2

0

Elev.(m)

-300 -150 0 150 300

-18

-16

-14

-12

-10

-8

-6

-4

-2

0

-300 -150 0 150 300

-18

-16

-14

-12

-10

-8

-6

-4

-2

0

Elev.(m)

-300 -150 0 150 300

-18

-16

-14

-12

-10

-8

-6

-4

-2

0

-300 -150 0 150 300

LEGENDInitial 29 abr2010

3 mai2010 4 mai2010 5 mai2010 6 mai2010 7 mai201021 mai201010 jun201011 jun201014 jun201015 jun201016 jun201021 jun201025 jun201028 jun201029 jun2010

Cumulative DeflectionDirection A

Deflection (mm)

Cumulative DeflectionDirection B

Deflection (mm)

Ref. Elevation m

93

Figura 4. 8 - Precipitação registrada durante o monitorado no aterro.

4.2. ANÁLISES DE ESTABILIDADE

Tratando-se de estabilidade de taludes, a água é um dos fatores mais

importantes. Na natureza a água pode apresentar pressão positiva ou negativa e estar em

movimento ou não (hidrostática) sob condição de fluxo. A influência da água na

estabilidade pode ser atribuída a:

• Mudança nas poropressões, alterando a tensão efetiva,

conseqüentemente, a resistência ao cisalhamento dos RSU;

• Variando o peso da massa, em função de mudanças no peso especifico

(influenciando o valor do parâmetro de poropressão - ru);

• Desenvolvimento de fluxo, gerando erosões internas (piping) e/ou

externas na massa de RSU, além das forças de percolação.

Do volume de água que cai na superfície do aterro, parte se infiltra, outra

evapora e parte flui superficialmente (runoff) ou fica retido em depressões superficiais.

Frente a sobrecargas, o maciço saturado tende a ter comportamento não-drenado,

ocasionando excessos de poropressão que diminuem a resistência ao cisalhamento do

aterro. O aumento da cota piezométrica eleva também o parâmetros de poropressão (ru)

a ser considerado nas análises de estabilidade.

0

50

100

150

200

250

300

03/12/2009 03/01/2010 03/02/2010 03/03/2010 03/04/2010 03/05/2010 03/06/2010

Pre

cip

ita

ção

(mm

/dia

)

Data

94

A Figura 4. 9 apresenta um exemplo de leitura piezométrica, onde o hp é a altura

piezométrica medida pelo indicador de nível d’água (“piu” elétrico), seguido do cálculo

do ru.

Figura 4. 9- Representação do cálculo do ru.

O parâmetro de poropressão (ru), definido pela relação entre poropressão e

tensão vertical, expressa pela Equação (7):

)* � *��

� *+., (7)

Onde:

u = poropressão medida (kPa);

γ = peso específico dos RSU (kN/m³);

h = altura de lixo acima de onde está se medindo a poropressão (m).

A Tabela 4. 1 apresenta os valores de ru calculados para cada piezômetro no mês

de dezembro 2009, tendo-se adotado para os RSU o peso específico de 11kN/m³:

NA

γ

NT

95

Tabela 4. 1 - Valores de ru de campo para o mês de dezembro de 2009

Piezômetrou

(kPa)h

(m)σσσσv

(kPa)r u

PZ01 40,00 20,40 224,40 0,18PZ02 52,80 23,36 256,96 0,21PZ03 87,30 18,96 208,56 0,42PZ04 74,50 18,83 207,13 0,36PZ05 106,40 17,44 191,84 0,55

Avaliando os valores encontrados, notou-se que os parâmetros utilizados em

estudos anteriores no aterro foram demasiados conservadores, no que diz respeito

principalmente a valores de parâmetros de poropressão, que haviam sido tomados como

críticos com ru = 0,4.

Na Figura 4. 10 é apresentada a superfície crítica com ru = 0,4 e o FS=1,021 em

estudos anteriores.

Figura 4. 10 - Seção principal de instrumentação analisada, segundo estudos anteriores,

utilizando um ru de 0,4 com Método de Bishop Simplificado no software GEOSLOPE

2004.

Decidiu-se primeiramente avaliar a estabilidade do aterro de RSU, utilizando os

parâmetros de poropressão in situ, medidos com o auxilio dos piezômetros. Vale

lembrar que as medidas estimadas de ru são pontuais e neste estudo foram extrapoladas

para as camadas inteiras de resíduos.

Em todas as análises de estabilidade foi empregados o Método de Equilíbrio

Limite (Bishop Simplificado), sendo que as simulações foram realizadas com o

programa SLIDE5.0 da Rocscience. Foram analisadas duas seções geotécnicas, a

ru lixo fresco = ru lixo antigo = 0,4

96

seção principal e secundária de instrumentação. Em todas as análises, para o terreno

natural de fundação, foram considerados parâmetros efetivos com condição drenada de

carregamento.

Conforme dados da

Figura 4. 10 Figura 4. 10 os parâmetros adotados em estudos anteriores para

analisar a estabilidade são os apresentados na Tabela 4. 2.

Tabela 4. 2 - Parâmetros de resistência utilizados em estudos anteriores

γ γ γ γ c' φφφφ '

(kN/m³) (kPa) (°)

Lixo fresco 11 30 20

Lixo antigo 11 30 20

Solo natural de fundação 18 20 35

Resíduos de construção 20 0 38

Material

Para a seção principal, adotou-se um ru de 0,42 e para a seção secundária um ru

de 0,55, conforme apresentado Tabela 4. 1, segundo dados de piezometria de campo

para o mês de dezembro de 2009.

Considerou-se que o nível de água NA, se encontra próximo a superfície de lixo

antigo, sendo assim, o lixo fresco apresenta valores de ru igual a zero .

Ainda, foram analisadas duas situações. A topografia do mês de dezembro de

2009 segundo topografia levantada pela empresa responsável e a topografia do prevista

para o encerramento determinada no estudo de adequação ambiental do antigo lixão.

Os resultados encontrados são apresentados nas Figuras 4.11 a 4. 14. Já a

apresenta o resumo dos resultados encontrados nas análises.

97

Figura 4. 11 - Análise de estabilidade da seção principal de instrumentação para

topografia do mês de dezembro de 2009, utilizando ru medido em campo, indicado pelo

PZ03 de 0,42.

Figura 4. 12 - Análise de estabilidade da seção principal de instrumentação para

topografia final prevista para o encerramento, utilizando com ru medido em campo,

indicado pelo PZ03 de 0,42.

ru lixo fresco = 0

ru lixo antigo = 0,42

ru lixo fresco = 0

ru lixo antigo = 0,42

98

Figura 4. 13 - Análise de estabilidade da seção secundária de instrumentação para

topografia do mês de dezembro de 2009, utilizando ru medido em campo indicado pelo

PZ05 de 0,55.

Figura 4. 14 - Análise de estabilidade da seção secundária de instrumentação para

topografia final prevista para o encerramento, utilizando ru medido em campo, indicado

pelo PZ05 de 0,55.

ru lixo fresco = 0

ru lixo antigo = 0,55

ru lixo fresco = 0

ru lixo antigo = 0,55

99

Tabela 4. 3 - Resumo das análises de estabilidade segundo parâmetros adotados

segundo estudos anteriores

Topografia dezembro 0,42 1,46

Topografia final 0,42 1,14

Topografia dezembro 0,55 1,60

Topografia final 0,55 1,30

Principal

Secundária

Seção Topografiar u (mês de

dezembro)FS

Conforme se observa nas análises de estabilidade, a seção principal possui dois

pontos críticos de instabilidade. Um deles é junto ao dique de contenção de resíduos

inertes composto de sobras de construção civil e demolição, o que não representa a

realidade. Segundo análises com os parâmetros de resistência utilizados em estudos

anteriores, o talude de resíduos inertes já haveria rompido o que não corresponde à

realidade do dique, pois o mesmo é constituído de matacões de mais de 5m de diâmetro

e aparentemente apresenta-se estável.

Os valores encontrados para os Fatores de Segurança para a topografia estimada

do estudo para adequação ambiental e de encerramento foram em torno de 14% maiores

dos que os encontrados em estudos anteriores, mesmo considerando parâmetros de

poropressão maiores dos que os utilizados nos estudos anteriores. O fato pode ser

explicado devido à não consideração do parâmetro de poropressão na camada de RSU

fresco, o que é natural, já que os RSU mais frescos encontram-se menos compactados e

menos saturados que os resíduos antigos. Desta forma, os RSU mais frescos tendem a

desenvolver menos excessos de poropressão frente às sobrecargas.

4.3. RETRO-ANÁLISES DE ESTABILIDADE – MÊS DE DEZEMBRO

Durante o final do mês de dezembro de 2009 foram registradas chuvas intensas.

Além disso, devido à época do ano, as cargas de lixo aumentaram muito, devido às

festas de fim de ano. Neste período, estes e demais fatores ocasionaram numa ruptura

local, próxima à seção secundária de instrumentação. Serão discutidas as leituras da

instrumentação e após a retro-análise de estabilidade do local, juntamente com

observações em campo e descrição das leituras da instrumentação instalada no aterro.

100

4.3.1. LEITURAS DA INSTRUMENTAÇÃO

4.3.1.1.PIEZÔMETROS SIFÃO - COTAS PIEZOMÉTRICAS

Referente aos gráficos das cotas piezométricas (Figura 4. 15) nota-se que houve

variações de níveis de chorume no PZ05, local este que estava em constante sobrecarga

devido à operação do aterro. A variação das leituras piezométricas será discutida

adiante, juntamente com a retro-análise de estabilidade.

Figura 4. 15 - Gráfico das variações das cotas piezométricas para o mês de dezembro de

2009.

Nota-se que não houve leituras nos piezômetros PZ01 e PZ02 no período de

04/12 até 31/12 por motivo de que os dois instrumentos estarem com a boca do tubo

muito alta em relação à cota do terreno não sendo possível realizar a medição. O fato se

deve a condições de operação do aterro, onde houve preocupação em deixar a boca do

tubo fora do maciço de lixo que vinha avançando em direção aos tubos.

4.3.1.2.PIEZÔMETROS SIFÃO - PRESSÕES DE GÁS

As leituras de pressão de gás são realizadas com a instalação do manômetro na

válvula adaptada a câmara, com a posterior abertura da válvula.

95

100

105

110

115

120

01/12/2009 06/12/2009 11/12/2009 16/12/2009 21/12/2009 26/12/2009 31/12/2009

Co

ta P

iezo

tric

a (m

)

Data

PZ01PZ02PZ03PZ04PZ05

101

A Figura 4. 16 apresenta as variações das leituras de pressão de gás para o mês

de dezembro de 2009.

Figura 4. 16 - Leituras da pressão de gás para o mês de dezembro de 2009.

De acordo com o gráfico da Figura 4. 16, observa-se que somente alguns

piezômetros (PZ01 e PZ03) apresentam leituras de gás diferente de zero. A leitura do

PZ03 (entorno de 50kPa) foi inspecionada durante visita de inspeção nos dias 12 e 13 de

janeiro de 2010, e constatou-se que a pressão da mesma não deve se tratar de um bolsão,

sendo que a pressão medida cai em poucos segundos para 10kPa.

4.3.1.3. INCLINÔMETROS

Os deslocamentos versus profundidade são apresentados acompanhados pelo

denominado cone de incerteza (0,2mm/m). Este cone corresponde à incerteza do

sistema, inerente à qualquer inclinômetro, e auxilia a identificar pequenas tendências de

movimentações. Os gráficos dentro do cone indicam que não ocorreram deslocamentos

significativos, ou que foram inferiores ao limite de acurácia do instrumento.

Nas Figuras 4. 17 a 4. 20 são apresentadas as leituras registradas para o mês de

dezembro de 2009, em termos dos gráficos de deslocamento para cada eixo de leitura.

0

10

20

30

40

50

60

70

80

01/12/2009 06/12/2009 11/12/2009 16/12/2009 21/12/2009 26/12/2009 31/12/2009

Pre

ssã

o d

e gá

s (k

Pa)

Data

PZ01PZ02PZ03PZ04PZ05

102

Figura 4. 17 - Gráfico de leituras do IN01

Figura 4. 18 - Gráfico de leituras do IN02.

Eixo A Eixo B

Figura 1 Gráfico de leituras do IN01

0

5

10

15

20

25

30

-20 0 20

Pro

fun

did

ade

(m)

.

Deslocamento (mm)

Cone de Acurácia

07/12/2009

09/12/2009

11/12/2009

14/12/2009

17/12/2009

21/11/2009

23/12/2009

27/12/2009

29/12/2009

0

5

10

15

20

25

30

-20 0 20

Pro

fun

did

ade

(m)

.

Deslocamento (mm)

Eixo A Eixo B

0

5

10

15

20

25

-20 0 20

Pro

fund

idad

e (m

) .

Deslocamento (mm)

Cone de Acurácia

07/12/2009

09/12/2009

11/12/2009

14/12/2009

17/12/2009

21/11/2009

23/12/2009

27/12/2009

29/12/2009

0

5

10

15

20

25

-20 0 20

Pro

fund

idad

e (m

) .

Deslocamento (mm)

103

Figura 4. 19 - Gráfico de leituras do IN03.

Figura 4. 20 - Gráfico de leituras do IN04.

EixoA Eixo B

0

5

10

15

20

25

-10 0 10 20

Pro

fund

idad

e (m

) .

Deslocamento (mm)

Cone de Acurácia

08/12/2009

10/12/2009

14/12/2009

16/12/2009

18/12/2009

22/11/2009

28/12/2009

30/12/2009

0

5

10

15

20

25

-20 0 20

Pro

fund

idad

e (m

) .

Deslocamento (mm)

Eixo A Eixo B

Figura 1 Gráfico de leituras do IN04

0

2

4

6

8

10

12

14

16

-10 0 10

Prof

undi

dade

(m)

.

Deslocamento (mm)

Cone de Acurácia

08/12/2009

10/12/2009

14/12/2009

16/12/2009

18/12/2009

22/11/2009

28/12/2009

30/12/2009

0

2

4

6

8

10

12

14

16

-10 0 10

Pro

fund

idad

e (m

) .

Deslocamento (mm)

104

Segundo as leituras de inclinômetro do período do mês de dezembro de 2009, nota-se

que somente um dos equipamentos registrou deslocamentos significativos (IN03 com 13mm

na direção A+), porém são considerados deprezíveis, ao lembrar que deslocamentos

horizontais em aterros de RSU chegam a centímetros ou até mesmo metros de deslocamento

sem haver rupturas.

4.3.1.4. PLUVIÔMETROS

Os registros indicam um total de 201mm de precipitação para o mês de

dezembro de 2009 (Figura 4. 21), sendo os maiores índices registrados nos dias 05 e 31

de dezembro, com registros de 33 e 27mm, respectivamente.

Figura 4. 21 - Índices de precipitação registrados no mês de dezembro de 2009.

4.3.2. VISITAS DE CAMPO

Durante as visitas de campo no início do mês de janeiro de 2010, foram

observados problemas de estabilidade próximo a seção secundária de instrumentação,

onde ocorreu no final do ano de 2009 uma ruptura. A seção principal aparentemente

apresentava-se estável e as leituras de instrumentação não apresentavam movimentações

significativas.

0

5

10

15

20

25

30

35

Pre

cip

ita

ção

(mm

/dia

)

Data

105

4.3.2.1.OBSERVAÇÕES

A Figura 4. 22 apresenta o local da ruptura e das trincas, sendo as duas

localizadas próximas à seção secundária de instrumentação.

Figura 4. 22 - Localização da ruptura interna e localização aproximada da trinca.

Já a Figura 4. 23 apresenta a seção principal de instrumentação.

Figura 4. 23 - Seção topográfica de dezembro de 2009 (em vermelho), seção topográfica

prevista para o encerramento e instrumentação instalada na seção principal do aterro.

Seção principal de instrumentação

Seção secundária de instrumentação

Local da ruptura

Localização das trincas (extensão aproximada de 50m)

106

Na Figura 4. 24 se apresenta a seção transversal secundária de instrumentação do

aterro com a topografia de dezembro de 2009.

Figura 4. 24 - Seção topográfica de dezembro de 2009 (em vermelho), seção topográfica

prevista para o encerramento e instrumentação instalada na seção secundária de

instrumentação do aterro.

As fotos nas Figuras 4. 25 e 4. 26 mostram a ruptura sob diferentes ângulos.

107

Figura 4. 25 - Ruptura ocorrida no final do ano de 2009 (em vermelho).

Figura 4. 26 - Ruptura ocorrida e “lixo” obstruindo a pista de acesso (em vermelho).

ESCALA (CATADOR

)

108

A respeito da ruptura no talude, observou-se que:

1. Trata-se de ruptura de um dos taludes, sendo este muito íngreme

(inclinação maior que 50°) e com altura elevada (em torno de 12m);

2. A obstrução da drenagem próxima ao local provavelmente colaborou

para a ruptura, sendo que, durante uma visita, observou-se surgência

constante de chorume na crista do talude e sistema de drenagem

obstruído. Estes fatores, aliados a fortes índices de precipitação

registrados no final do mês de dezembro de 2009 (ver Figura 4. 21)

levaram a instabilização do talude, deflagrando a ruptura no local.

3. Além disso, o aumento das cargas de resíduos no final de ano pode ter

colaborado para a ruptura local. Ou seja, não há tempo suficiente para o

material se “acomodar”, ficando grandes vazios entre os resíduos. Os

vazios colaboram para a instabilidade do aterro em geral. A sobrecarga

ocasiona o aumento do valor de ru (parâmetro de poropressão) o que foi

constatado pelo PZ05 (conforme Tabela 4. 1);

4. A alta permeabilidade do material de cobertura permitiu que muita água

entrasse nas células do aterro, podendo ter provocado o fenômeno

conhecido por “piping” (ou erosão interna);

5. A falta de material de cobertura adequado, combinado com a morfologia

do terreno natural colaborou com o acumulo de água próximo ao local

do PZ04 e PZ05;

6. As leituras de pressão de gás e níveis piezométricos do PZ05 (Figuras 4.

15 e 4. 16 respectivamente) mostram variações nas leituras nos dias 15 e

28/12 que são os períodos pós chuvas intensas (ou durante as mesmas)

conforme pode ser visto na Figura 4. 21. O piezômetro PZ05 se localiza

à montante do local onde houve uma obstrução do sistema de drenagem

o que também pode ter contribuído para a as variações de poropressão e

de gás. A visita a campo flagrou o comprometimento do sistema de

drenagem, onde foi possível notar o acúmulo de lixiviado na berma a

montante do PZ05. Em relação às leituras de gás, a alta permeabilidade

do material de cobertura colabora para entrada de oxigênio nos vazios

dos resíduos e reação aeróbica nas camadas superiores do aterro. No

verão, período de chuvas intensas, as reações anaeróbicas são estimadas

109

com produção de CH4 (gás metano) e H2S (gás sulfídrico) frutos da

degradação da matéria orgânica;

A respeito das trincas no platô no aterro, observou-se que:

1. A trinca possuia aproximadamente 50m de comprimento, localizando-se

paralela a crista do talude;

2. Possuia desnível de até aproximadamente 0,50m, e parecia estável (ver

Figuras 2. 27 e 4. 28);

3. A trinca favorece a saturação dos resíduos no talude. Ainda, favorece a

ocorrência de um fenômeno conhecido por “piping”;

4. O PZ04, a jusante do talude, apresenta sinais de movimentações

horizontais a 6m de profundidade a partir da boca do tubo. Este fato foi

comprovado no dia 12 de janeiro de 2010, após um técnico de campo

não conseguir utilizar o equipamento de medição da marca Encardio (de

maior comprimento e espessura). Ainda, a leitura dos inclinômetros

IN03 e IN04 mostra tendências de movimentações na direção positiva

do eixo A, nesta mesma profundidade.

110

Figura 4. 27 - Foto da trinca no platô do aterro.

Figura 4. 28 - Foto da mesma trinca.

5. A trinca observada parece mais se tratar de uma acomodação de resíduos

frescos depositados no talude de lixo antigo, formando uma espécie de

111

degrau após o adensamento dos resíduos frescos. Porém, tal

acomodação pode ter colaborado para que o talude a jusante fosse

instabilizado.

4.3.3. RETRO-ANÁLISE DE ESTABILIDADE – DEZEMBRO 2009

Conforme discutido no Capítulo 2, observa-se que os parâmetros dos RSU

possuem ligação direta com diversos fatores que são influenciados principalmente na

composição gravimétrica dos resíduos. Optou-se em retro-analisar o caso de ruptura

considerando valores da literatura. Adotou-se para peso específico o valor de 11 kN/m³,

o mesmo utilizado em estudos anteriores.

Conforme discutido também no Capítulo 2, há grande dispersão de valores de

parâmetros de resistência ao cisalhamento descritos na literatura. A Tabela 2. 6

apresentou diversos resultados de ensaios realizados em RSU no mundo. Optou-se em

considerar o parâmetro de poropressão na camada de RSU fresco também, devido à

extrema saturação do maciço.

Além disso, as chuvas começaram no no dia 27/12 com maior intensidade na

noite do dia 31/12, sendo que as leituras piezométricas só foram realizadas no dia 31/12

na parte da tarde. Decidiu-se então, não utilizar os valores de ru calculados em função

da instrumentação, e sim variar este parâmetro até atingir o limite crítico de estabilidade

do talude (FS=1,0), para reproduzir a ruptura ocorrida na noite do dia 31/12.

De acordo com a retro-análise da ruptura localizada próxima a seção secundária

de instrumentação, chegou-se aos valores da Tabela 4. 4, com ru=0,7

Tabela 4. 4 - Parâmetros de resistência utilizados nas análises de estabilidade deste

estudo.

γ γ γ γ c' φφφφ '

(kN/m³) (kPa) (°)

Lixo fresco 11 15 27

Lixo antigo 11 40 25

Solo natural de fundação 18 20 35

Resíduos de construção 20 20 38

Material

A Figura 4. 29 apresenta a retro-analise realizada no talude da seção secundária

de instrumentação (FS=1,01).

112

Figura 4. 29 - Retro-análise da ruptura localizada próximo a seção secundária de

instrumentação, considerando ru=0,7 em todo o RSU.

As Figuras 4. 30 a 4. 33 apresentam os resultados para a topografia do mês de

dezembro de 2009 e para a topografia prevista para o encerramento para as seções

principal e secundária de instrumentação, com valores de ru medidos para o mês de

dezembro de 2009 no lixo velho e ru=0 no lixo fresco.

ru lixo fresco = 0,7

ru lixo antigo = 0,7

113

Figura 4. 30 - Análise de estabilidade da seção principal de instrumentação para

topografia de dezembro de 2009.

Figura 4. 31 - Análise de estabilidade da seção principal de instrumentação para

topografia de topografia prevista para o encerramento.

ru lixo fresco = 0

ru lixo antigo = 0,42

ru lixo fresco = 0

ru lixo antigo = 0,42

114

Figura 4. 32 - Análise de estabilidade da seção secundária de instrumentação para

topografia de dezembro de 2009.

Figura 4. 33 - Análise de estabilidade da seção secundária de instrumentação para

topografia de prevista para o encerramento.

A Tabela 4. 5 apresenta o resumo das análises de estabilidade para o mês de

dezembro de 2009.

ru lixo fresco = 0

ru lixo antigo = 0,55

ru lixo fresco = 0

ru lixo antigo = 0,55

115

Tabela 4. 5 - Resumo das análises de estabilidade segundo parâmetros adotados.

Topografia dezembro 0,42 1,74

Topografia encerramento 0,42 1,35

Topografia dezembro 0,55 1,77

Topografia encerramento 0,55 1,55Secundária

Seção Topografiar u (mês de

dezembro)FS

Principal

Considerando a Norma Brasileira de Estabilidade de Taludes e Encostas (ABNT

NBR 11682, 2006) a Tabela 4. 6 trata dos fatores de segurança mínimos admitidos para

taludes e encostas. Seguindo a norma, para o caso do aterro de RSU, podemos

considerar o grau de segurança para perdas de vidas como baixo e o grau de segurança

para perdas materiais e ambientais como alto, temos um FS mínimo de 1,3 sobre o

método do cálculo.

Tabela 4. 6 - Fatores de segurança mínimos admitidos (ABNT NBR 11682, 2006).

Então, considerou-se o valor de FS = 1,3 como o valor mínimo para estabilidade

do aterro de RSU. A seguir foram analisadas as estabilidades com a topografia final

estimada para o encerramento e a topografia do mês de dezembro de 2009,

considerando ru igual a zero na camada de RSU fresco.

Nas Figuras 4. 34 e 4. 37 são apresentados resultados de FS versus ru.

Grau de segurança

Perdas de vidas

Grau de segurança

Perdas materiais e ambientais

Alto Média Baixo

Alto 1,5 1,4 1,3

Médio 1,4 1,3 1,2(*)

Baixo 1,4 1,3 1,10( *)

(*) A adoção de fatores de segurança iguais ou inferiores a 1,2 só será permitida quando os parâmetros de resistência do solo puderem ser confirmados por retroanálise, para as condições mais desfavoráveis de poro-pressões.

No caso de estabilidade de blocos rochosos os fatores de segurança podem ser parciais, incidindo sobre γ, φ , C’ , em função da incerteza sobre estes parâmetros, devendo ser justificado pelo projetista. Deve-se também adotar um fator de segurança mínimo sobre o método de cálculo empregado, igual a 1,1

116

Figura 4. 34 - ru crítico para seção principal de instrumentação - análise de estabilidade

com a topografia do mês de dezembro de 2009.

A Figura 4. 35 apresenta resultados de FS com cálculos de estabilidade da seção

principal de instrumentação do aterro com a topografia do mês de dezembro de 2009,

variando o ru do lixo antigo para determinar o ru correspondente ao FS igual a 1,3 ,

tendo se obtido um ru=0,64.

0.4

0.6

0.8

1

1.2

1.4

1.6

1.8

2

2.2

2.4

0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1

FS

ru

117

Figura 4. 35 - ru crítico para seção principal de instrumentação - análise de estabilidade

com o “as built” com as cotas previstas no encerramento do aterro.

A Figura 4. 35apresenta resultados de FS com cálculos de estabilidade da seção

principal de instrumentação do aterro com a topografia estimada para o encerramento do

aterro, variando o ru do lixo antigo para determinar o ru correspondente ao FS igual a

1,3 , tendo se obtido um ru=0,46.

Já nas Figura 4. 36 e 4. 37 se tem a análise da estabilidade crítica da seção

secundária em função do ru de campo:

0.4

0.6

0.8

1

1.2

1.4

1.6

1.8

2

0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1

FS

ru

118

Figura 4. 36 - ru crítico para seção secundária de instrumentação - análise de

estabilidade com a topografia do mês de dezembro de 2009.

A Figura 4. 37 apresenta resultados de FS com cálculos de estabilidade da seção

secundária de instrumentação do aterro com a topografia de dezembro de 2009,

variando o ru do lixo antigo para determinar o ru correspondente ao FS igual a 1,3 ,

tendo se obtido um ru=0,72.

0.4

0.6

0.8

1

1.2

1.4

1.6

1.8

2

2.2

2.4

0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1

FS

ru

119

Figura 4. 37 - ru crítico para seção secundária de instrumentação - análise de

estabilidade com o “as built” com as cotas previstas no encerramento do aterro.

A Figura 4. 37 apresenta resultados de FS com cálculos de estabilidade da seção

secundária de instrumentação do aterro com a topografia estimada para o encerramento

do aterro, variando o ru do lixo antigo para determinar o ru correspondente ao FS igual a

1,3 , tendo se obtido um ru=0,66.

4.4. ANÁLISES DE ESTABILIDADE - MÊS DE ABRIL DE 2010

O mês de abril de 2010 registrou um evento chuvoso extremo (Fig. 4. 36). A

chuva que inundou a capital do Rio de Janeiro no dia 5 de abril de 2010 durou mais de

36 horas e provocou centenas de deslizamentos. O número de mortos foi superior a 250

e 10800 pessoas perderam suas casas no estado do Rio de Janeiro. No aterro em

questão, chegou a chover 274mm no dia 05 para o dia 06 de abril. O mês de abril teve

um acumulado de 417mm no aterro. Tal pluviometria foi a principal responsável por

duas rupturas locais no aterro ocorridas neste mês.

Assim, analogamente ao caso do mês de dezembro de 2009, serão discutidas as

leituras da instrumentação e a retro-análise de estabilidade do local, juntamente com

observações em campo.

0.4

0.6

0.8

1

1.2

1.4

1.6

1.8

2

2.2

2.4

0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1

FS

ru

120

4.4.1. LEITURAS DA INSTRUMENTAÇÃO

4.4.1.1.PIEZÔMETROS SIFÃO – COTAS PIEZOMÉTRICAS

Durante o mês de abril de 2010, dois piezômetros foram soterrados após

deslizamento ocorrido próximo a seção principal. Ainda no mês de março de 2010,

houve quebra e soterramento de outro piezômetro durante a operação do aterro na seção

secundária.

A Figura 4. 38 apresenta as variações de leitura para o mês de abril de 2010.

Figura 4. 38 - Variações das cotas piezométricas para o mês de abril de 2010.

Após uma ruptura local na seção principal de instrumentação, o PZ01 foi

soterrado. O PZ02 apresentou leituras indicando efeito das chuvas intensas dos dias 04 e

05. Notou-se em torno do PZ02 grande quantidade de percolado. Confirmou-se no final

do mês a quebra do tubo, pois se verificou a quebra do tubo de gás, fazendo com que o

sifão funcionasse de forma inadequada escoando boa parte do chorume do seu entorno

para dentro do tubo piezométrico, fazendo com que os indicativos das cotas

piezométricas deste instrumento fossem extremamente elevadas, a partir do dia 08 de

abril de 2010. Assim as leituras do piezôemtro PZ02 a partir do dia 08 de abril não

foram consideradas.

95

100

105

110

115

120

125

130

01/04/2010 06/04/2010 11/04/2010 16/04/2010 21/04/2010 26/04/2010

Co

ta P

iezo

tric

a (m

)

Data

PZ01PZ02PZ03PZ04PZ05

121

4.4.1.2.PIEZÔMETROS SIFÃO – PRESSÕES DE GÁS

A Figura 4. 39 apresenta as variações das leituras das pressões de gás para o mês

de abril de 2010.

Figura 4. 39 - Leituras das pressões de gás para o mês de abril de 2010.

As leituras do PZ03 baixaram bastante após o descolamento das conexões na

boca do tubo. Conforme estudo realizado, suspeita-se que este tubo tenha sofrido uma

ruptura em torno de 6m de profundidade. O assunto é tópico apresentado em análise de

estabilidade do maciço.

As demais leituras de pressões de gás demonstram estabilidade, apresentando

baixos valores ou zero de pressão de gás para o PZ04 antes da sua ruptura.

4.4.1.3.INCLINÔMETROS

Próximo ao inclinômetro IN01 foram constatados deslocamentos horizontais

acumulados de mais de 20 cm na superfície após o período de chuvas. A provável

superfície de ruptura foi identificada em torno de 9m de profundidade da cota do terreno

do IN01. Tal movimentação pôde ser verificada em campo, ao se observar extrema

saturação da berma, afundamento da do platô, elevados recalques (>1,0m) e ainda

constatadas as quebras dos tubos PZ01, PZ02 (a 4m de profundidade) e da câmara de

gás do PZ03 (estima-se a quebra da câmara de gás em torno de 6m da superfície do

terreno).

0

10

20

30

40

50

60

70

80

01/04/2010 06/04/2010 11/04/2010 16/04/2010 21/04/2010 26/04/2010 01/05/2010

Pre

ssão

de

s (k

Pa

)

Data

PZ01PZ02PZ03PZ04PZ05

122

Nas Figuras 4. 40 a 4. 43 são apresentadas as leituras registradas para o mês de

abril de 2010.

Figura 4. 40 – Deslocamentos acumulados do IN01 na direção A e B.

-30

-28

-26

-24

-22

-20

-18

-16

-14

-12

-10

-8

-6

-4

-2

0

Elev.(m)

-250 -125 0 125 250

-30

-28

-26

-24

-22

-20

-18

-16

-14

-12

-10

-8

-6

-4

-2

0

-250 -125 0 125 250

-30

-28

-26

-24

-22

-20

-18

-16

-14

-12

-10

-8

-6

-4

-2

0

Elev.(m)

-200 -100 0 100 200

-30

-28

-26

-24

-22

-20

-18

-16

-14

-12

-10

-8

-6

-4

-2

0

-200 -100 0 100 200

LEGENDInitial 2 mar2010

3 mar2010 4 mar201014 abr201015 abr201016 abr201019 abr201020 abr201022 abr201026 abr2010

Cumulative DeflectionDirection A

Deflection (mm)

Cumulative DeflectionDirection B

Deflection (mm)

Ref. Elevation m

Terratek

123

Figura 4. 41 - Deslocamentos acumulados do IN02 na direção A e B.

-30

-28

-26

-24

-22

-20

-18

-16

-14

-12

-10

-8

-6

-4

-2

0

Elev.(m)

-75 -37,5 0 37,5 75

-30

-28

-26

-24

-22

-20

-18

-16

-14

-12

-10

-8

-6

-4

-2

0

-75 -37,5 0 37,5 75

-30

-28

-26

-24

-22

-20

-18

-16

-14

-12

-10

-8

-6

-4

-2

0

Elev.(m)

-50 -25 0 25 50

-30

-28

-26

-24

-22

-20

-18

-16

-14

-12

-10

-8

-6

-4

-2

0

-50 -25 0 25 50

LEGENDInitial 2 mar2010

3 mar2010 4 mar2010 5 mar2010 8 mar2010 9 mar201011 mar201016 mar201019 mar201023 mar201030 mar201010 abr201012 abr201013 abr201014 abr201015 abr201016 abr201019 abr201020 abr201022 abr201026 abr201027 abr201028 abr201029 abr201030 abr2010

Cumulative DeflectionDirection A

Deflection (mm)

Cumulative DeflectionDirection B

Deflection (mm)

Ref. Elevation m

Terratek

124

Figura 4. 42 - Deslocamentos acumulados do IN03 na direção A e B.

-30

-28

-26

-24

-22

-20

-18

-16

-14

-12

-10

-8

-6

-4

-2

0

Elev.(m)

-10 -5 0 5 10

-30

-28

-26

-24

-22

-20

-18

-16

-14

-12

-10

-8

-6

-4

-2

0

-10 -5 0 5 10

-30

-28

-26

-24

-22

-20

-18

-16

-14

-12

-10

-8

-6

-4

-2

0

Elev.(m)

-10 -5 0 5 10

-30

-28

-26

-24

-22

-20

-18

-16

-14

-12

-10

-8

-6

-4

-2

0

-10 -5 0 5 10

LEGENDInitial 2 mar2010

3 mar2010 4 mar2010 5 mar2010 8 mar2010 9 mar201010 mar201011 mar201016 mar201019 mar201023 mar201030 mar201012 abr201013 abr201014 abr201015 abr201016 abr201019 abr201020 abr201022 abr201026 abr201027 abr201029 abr201030 abr2010

Cumulative DeflectionDirection A

Deflection (mm)

Cumulative DeflectionDirection B

Deflection (mm)

Ref. Elevation m

Terratek

125

Figura 4. 43 - Deslocamentos acumulados do IN04 na direção A e B.

Houve uma ruptura registrada pelo IN01 na direção A sentido positivo, sendo

que o deslocamento acumulado chegou a mais de 20cm. No IN04 notaram-se apenas

deslocamentos superficiais. Os demais deslocamentos observados pelos outros

inclinômetros são superficiais, não havendo indicação de ruptura profunda.

4.4.1.4.PLUVIÔMETRO

A Figura 4. 44 apresenta o gráfico de precipitações para o mês de abril de 2010.

-18

-16

-14

-12

-10

-8

-6

-4

-2

0

Elev.(m)

-75 -37,5 0 37,5 75

-18

-16

-14

-12

-10

-8

-6

-4

-2

0

-75 -37,5 0 37,5 75

-18

-16

-14

-12

-10

-8

-6

-4

-2

0

Elev.(m)

-75 -37,5 0 37,5 75

-18

-16

-14

-12

-10

-8

-6

-4

-2

0

-75 -37,5 0 37,5 75

LEGENDInitial 19 mar2010

23 mar201014 abr201016 abr201020 abr201022 abr201026 abr201027 abr201028 abr201029 abr201030 abr2010

Cumulative DeflectionDirection A

Deflection (mm)

Cumulative DeflectionDirection B

Deflection (mm)

Ref. Elevation m

Terratek

126

Figura 4. 44 - Precipitação registrados no mês de abril de 2010 no aterro estudado.

4.4.2. VISITAS DE CAMPO

Apresentam-se a seguir um resumo das visitas realizadas no mês de abril de

2010.

4.4.2.1.OBSERVAÇÕES

Durante o período de chuvas torrenciais, houve uma ruptura local próximo à

seção principal de instrumentação do aterro. Ainda, na seção secundária de

instrumentação houve outra ruptura local, fechando um dos acessos ao aterro.

A Figura 4. 45 ilustra a ruptura que ocasionou a quebra do piezômetro PZ01 e

PZ02. Esta ruptura talvez poderia ter sido evitada se a altura o talude não fosse superior

a 8m. No momento da ruptura o talude possuía mais de 15m de altura. Os problemas de

drenagem atrelados a chuvas torrenciais no local também podem ter contribuído para a

ruptura.

A cota da boca do tubo do PZ01 estava muito elevada, impossibilitando as

leituras do início do mês de abril de 2010 deste piezômetro.

0

50

100

150

200

250

300

Pre

cip

itaç

ão

(mm

/dia

)

Data

127

Figura 4. 45 - Ruptura próxima ao PZ01.

A Figura 4. 46 apresenta o detalhe do tubo danificado devido à ruptura na massa

de lixo.

Figura 4. 46 - Detalhe da quebra do tubo de piezômetro PZ01.

Não foi possível a recuperação do PZ01 e nem do PZ02. Foram realizadas

algumas escavações na tentativa de recuperar o tubo do PZ02. A Figura 4. 47

apresentam algumas fotografia da cava realizada na tentativa de recuperar o PZ02.

128

Figura 4. 47 - Execução de uma cava na tentativa de recuperação do PZ02.

Foi impossível saber o exato local onde houve a ruptura. Segundo análises de

estabilidade e de deslocamentos por MEF, estima-se que o tubo tenha rompido em torno

de 6m.

Com a execução da cava próximo ao PZ02, foi possível identificar grande

saturação do maciço nesta área. A cava de aproximadamente 4 a 5m de profundidade foi

alagada por aproximadamente 2m de altura de percolado.

Após as rupturas locais, outra empresa assumiu os trabalhos de terraplanagem no

aterro, sendo que algumas mudanças na geometria puderam ser notadas em uma das

visitas ao local, no dia 26 de abril de 2010. Porém, os problemas de drenagem

continuaram. As Figuras 4. 48 e 4. 49 mostram fotos comparativas do antes e depois da

seção principal de instrumentação. Nota-se que nos dois casos há acúmulo de percolado

nas bermas, o que poderia ser corrigido através de sistemas provisórios de drenagem

pluvial, como por exemplo, execução de trincheiras drenantes nas bermas e taludes.

129

Figura 4. 48 - Seção principal de instrumentação, com sérios problemas de

drenagem (Foto tirada no dia 10 de abril de 2010).

Figura 4. 49 - Seção principal de instrumentação do aterro com sérios problemas de

drenagem, com acúmulo de chorume nas bermas (Foto tirada no dia 26 de abril de

2010).

130

4.4.3. RETRO-ANÁLISES E ANÁLISE DE ESTABILIDADE – ABRIL 2010

Foram analisadas duas seções geotécnicas, a seção principal e secundária de

instrumentação. As Figuras 4. 50 e 4. 51 apresentam as seções principais e secundárias

respectivamente.

Figura 4. 50 - Seção principal de instrumentação do aterro (cotas de dezembro

de 2009, janeiro, fevereiro e março de 2010 em verde, vermelho, magenta e azul,

respectivamente).

Figura 4. 51 - Seção secundária de instrumentação do aterro (cotas de dezembro de

2009, janeiro, fevereiro e março de 2010 em verde, vermelho, magenta e azul,

respectivamente).

131

Em todas as análises, foram considerados parâmetros efetivos, com condição

drenada de carregamento.

A Tabela 4. 7 apresenta os valores dos ru calculados para cada piezômetro em

relação às leituras do mês de abril de 2010. É importante observar que não houve

leituras nos PZ01 e PZ05 neste mês. O PZ05 foi soterrado em março de 2010, mas nos

meses anteriores a abril de 2010 era o piezômetro que mais variava, indicando as

sobrecargas que estavam sendo depositadas no aterro. O PZ01 foi soterrado após a

ocorrência de ruptura próxima a seção principal de instrumentação.

Tabela 4. 7 - Valores de ru de campo

Piezômetrou

(kPa)h (m)

σσσσv (kN/m²)

r u OBS

PZ01 7,3 20,49 225,4 0,03 Perda total do instrumentoPZ02 33,9 24,51 269,6 0,13 Perda total do instrumentoPZ03 80 16,99 186,9 0,56 Perda das leituras de gásPZ04 82 17,27 190 0,49 Instrumento comprometidoPZ05 116,2 16,59 182,5 0,64 Perda total do instrumento

O valor de ru do piezômetro PZ03 aumentou consideravelmente (0,38 para 0,56).

Os valores dos ru estão acima dos valores tomados como críticos nas análises de

estabilidade em estudos anteriores, estudos anteriores, que tiveram como ru máximo 0,4

nas análises de estabilidade e nesta condição demonstrava fatores de segurança muito

próximos de 1, conforme discutido anteriormente.

Para a seção principal, foi adotado o ru de 0,56 e para a seção secundária um ru

de 0,64, conforme Tabela 4. 7. Devido às condições de drenagem observadas em

campo, adotou-se o parâmetro de poropressão também na camada de lixo novo, ou seja,

considerou-se que o nível de água (NA), se encontrava próximo a superfície de lixo

novo, condição extrema de saturação.

A topografia do mês de março de 2010 foi utilizada nas análises de estabilidade.

Devido às altas chuvas do mês de abril de 2010 o aterro foi temporariamente interditado

pela Defesa Civil do município. Observou-se que a alteração da topografia é

insignificante em relação ao mês anterior.

Foram adotados os parâmetros de resistência ao cisalhamento contidos na Tabela

4. 4. Foram confirmadas com as rupturas locais com as condições de piezometria de

abril de 2010 nas análises que seguem no subitem seguinte.

132

Em relação à condição de saturação do aterro, se utilizou os parâmetros de

poropressão nas camadas de lixo fresco e lixo antigo.

4.4.3.1.RUPTURA LOCAL

Durante as visitas e interpretações dos dados de leitura foi possível identificar

uma tendência de movimentação, segundo leituras do IN01, além de identificar extrema

saturação, afundamentos na berma superior (cota 140m), elevados recalques e ainda

foram constatadas as quebras dos tubos PZ01, PZ02 e o tubo de gás do PZ03.

A Figura 4. 52 apresenta a provável superfície desta ruptura, identificada pelo

IN01.

Figura 4. 52 - Provável superfície de ruptura local do talude da seção principal de

instrumentação do aterro.

Foram danificados os PZ01, PZ02 e PZ03 nesta ruptura. A ruptura local talvez

pudesse ter sido evitada se a altura máxima dos taludes (8m) não tivessem sido

superadas.

4.4.3.2.RETRO-ANÁLISE DE ESTABILIDADE

Os resultados das análises desenvolvidas podem ser observados nas Figura 4. 53

e 4. 54.

133

Figura 4. 53 - Análise de estabilidade da seção principal, com a topografia de março e ru

indicado pelo PZ03 de 0,56 para o mês de abril de 2010, FS resultante de 1,37 global e

1,04 estabilidade local no talude de 15m.

Figura 4. 54 - Análise de estabilidade da seção secundária, com a topografia de março e

ru indicado pelo PZ05 de 0,64 para o mês de fevereiro de 2010, FS resultante de 1,44

para ruptura global e 1,09 para talude inferior junto a estrada de acesso.

A Tabela 4. 8 apresenta o resumo com os valores das análises de estabilidade

desenvolvidas.

ru lixo fresco = 0,56

ru lixo antigo = 0,56

ru lixo fresco = 0,64

ru lixo antigo = 0,64

134

Tabela 4. 8 - Resumo das análises de estabilidade.

r u

(mês de abril)

Principal Topografia março 0.56 1.37 1.04Secundária Topografia março 0.64* 1.44 1.09

Seção TopografiaFS

GlobalFS

Local

* Valor tomado como referência, após quebra do PZ05.

Através das análises realizadas, observou-se que as rupturas locais analisadas

foram as que se deflagraram no início do mês de abril, o que mostra que a adoção dos

parâmetros foi coerente e coincidente com as retro-analises realizadas para o mês de

dezembro de 2009.

4.5. ANÁLISE DE DESLOCAMENTOS HORIZONTAIS E VERTICAIS-

POR MEF

Cinco marcos superficiais foram instalados no aterro visando estudo do

comportamento dos recalques da massa de resíduos. O Método dos Elementos Finitos

(MEF) foi usado como ferramenta para estimativa dos recalques primários dos RSU.

Sendo assim, o monitoramento dos recalques em campo será utilizado para ajuste do

modelo matemático, em vista da falta de dados (relativo a ensaios) nos resíduos do

local.

Foi possível perceber algumas mudanças nas tendências de movimentação no

maciço, segundo dados de leituras de inclinômetro. Ressalta-se que o monitoramento do

aterro ficou comprometido, devido a alguns instrumentos terem sido danificados por

movimentos excessivos do aterro durante as chuvas do mês de abril de 2010 e por conta

dos equipamentos usados na reconformação. Ainda no início do mês de julho de 2010 o

piezômetro PZ03 ficou totalmente comprometido devido a movimentações do maciço.

Adotou-se o critério de ruptura de Mohr-Coulomb na análise de elementos

finitos. Para a malha, adotou-se o elemento triangular de 15 graus de liberdade. Buscou-

se representar o “as built” nas análises numéricas o mais próximo da realidade, tanto a

geometria quanto o intervalo temporal das etapas contrutivas.

4.5.1. RETRO-ANÁLISE DE DESLOCAMENTOS HORIZONTAIS

Abaixo, na Tabela 4.9 seguem os parâmetros dos RSU adotados:

135

Tabela 4. 9 - Parâmetros adotados na analise de recalques por elementos finitos.

Modelo γ γ γ γ c' φφφφ ' E ν kx ky

(kN/m³) (kPa) (°) (kPa) (m/dia) (m/dia)

Lixo fresco Mohr-Coulumb 11 15 27 500 0,25 0,01 0,01

Lixo antigo Mohr-Coulumb 11 40 25 2,50E+04 0,30 1,00E-03 1,00E-03

Solo natural de fundação Mohr-Coulumb 18 20 35 5,00E+04 0,35 1,00 1,00

Resíduos de construção Mohr-Coulumb 20 20 38 1,00E+05 0,30 1,00 1,00

Material

Nota-se que o valor utilizado para o módulo de deformação (E) e o coeficiente

de poisson (ν) utilizados para o lixo fresco nas análises numéricas são muito baixos,

próximo a valores de solos turfosos ou argilas arenosas orgânicas quaternárias. Tal valor

pode ser atribuído devido ao fato da má compactação dos resíduos e elevado índice de

vazios.

Tomando a seção principal de instrumentação, foi gerada a malha de elementos

finitos, refinando-a na camada de lixo fresco (mais susceptível a deformações),

conforma pode-se observar na Figura 4. 55.

136

Figura 4. 55 - Geração da malha de elementos finitos.

A configuração das células de RSU adotada com altura de 5m, conforme “as

built” previsto em estudo de adequação ambiental. No total, foram distribuídas 12

células de RSU no tempo total de aproximadamente cinco anos. Abaixo seguem

características geométricas do aterro:

- Um aterro controlado composto por 12 camadas de 5m de espessura,

resultando numa altura total, a partir da cota 95m, de 60m (cota 155m);

- Um platô no topo do aterro, na cota 155m, ocupando uma área de 19.150m2

(projeção horizontal);

- Um dique a jusante do aterro construído com material inerte (resíduos da

construção civil e demolições), ocupando uma área de 9.900m2.

Na Figura 4. 56 é apresentada a configuração inicial para as análises do aterro

em estudo.

137

Figura 4. 56 - Configuração inicial do aterro (sem lixo “fresco”).

Na Figura 4. 57 apresenta-se uma tela de configuração da análise numérica.

x

y

01 2

34

5 6 78 9

10 111213

1415

16 1718 19

20

21 2223 24

25 2627 28

2930

31323334

35363738394041

42434445

46474849

505152535455

565758

59606162636465

66

67686970717273

7475767778798081

8283848586878889909192 93

94 9596 97 98 99100101102103104105106107108109110111112

113114115116 117118119120 121 122123124125

126 127

128

129

130

131

132133 134

135 136137

138 139

138

Figura 4. 57 - Tela da configuração do problema e distribuição do tempo de construção

de cada célula.

Os resultados da análise forneceram um deslocamento total de 2,75m local

(Figuras 4. 58 e 4. 59). Ressalta-se que o deslocamento total é somente o somatório da

deposição do lixo novo.

139

Figura 4. 58 - Malha deformada, apresentando um deslocamento total de 2,75m.

A Figura 4. 59 mostra a deformação total em gradação de cores. Nota-se que

justamente o local onde houve as rupturas dos PZ01 e PZ02 é o que aparece em

vermelho na Figura 4. 59, com os maiores deslocamentos.

140

Figura 4. 59 - Pontos mais críticos em vermelho, próximo ao platô do aterro e aos

piezômetros PZ01 e PZ02 rompidos no mês de abril de 2010.

Na Figura 4. 60 observa-se que os maiores deslocamentos horizontais (em torno

de 1,40m) encontram-se próximos ao local dos inclinômetros IN01 e IN02.

141

Figura 4. 60 - Deslocamentos horizontais críticos estimados, próximos aos antigos PZ01

e PZ02 atingindo até 1,40m de deslocamento horizontal.

Traçando-se uma seção transversal no modelo matemático, o deslocamento

máximo estimado no ponto do IN01 foi entorno de 0,66m conforme se observa na

Figura 4. 61, sendo que o medido pelo equipamento atualmente é também de 0,60m.

Considera-se que os resultados obtidos são aceitáveis.

A

A’

142

Figura 4. 61 - Seção transversal próximo ao inclinômetro IN01 alcançando a marca de

0,66m de deslocamento horizontal.

4.5.2. ANÁLISE DE DESLOCAMENTOS - PARÂMETROS DA LITERATURA

Como foi descrito anteriormente, utilizou-se um valor extremamente baixo do

módulo de deformação (E) nas retro-analises para deslocamentos horizontais registrados

por um inclinômetro (IN01). A seguir, irá ser analisado a mesma seção, porém alterando

o valor do do módulo de deformação dos resíduos frescos para 15MPa e 40MPa

resíduos antigos, segundo CARVALHO (1999) descreve nas análises dos ensaios cross-

hole do Aterro Bandeirantes, conforme descrito no Capítulo 2. A Tabela 4. 10 apresenta

os valores adotados nesta análise.

Tabela 4. 10 Parâmetros adotados na analise de deslocamentos por elementos finitos

segundo valores típicos encontrados por CARVALHO (1999)

Modelo γ γ γ γ c' φφφφ ' E ν kx ky

(kN/m³) (kPa) (°) (kPa) (m/dia) (m/dia)

Lixo fresco Mohr-Coulumb 11 15 27 1.50E+04 0.25 0.01 0.01

Lixo antigo Mohr-Coulumb 11 40 25 4.00E+04 0.30 1.00E-03 1.00E-03

Solo natural de fundação Mohr-Coulumb 18 20 35 5.00E+04 0.35 1.00 1.00

Resíduos de construção Mohr-Coulumb 20 20 38 1.00E+05 0.30 1.00 1.00

Material

143

Os resultados são apresentados nas Figuras 4. 62 a 4. 64, onde foram

encontrados valores muito menores de deslocamentos, não condizentes os

deslocamentos horizontais registrados pelo IN01. Os deslocamentos totais encontrados

foram em torno de 30cm próximos ao platô do aterro de RSU, sendo os deslocamentos

horizontais em torno de 8cm próximos ao IN01.

Figura 4. 62 - Malha deformada, apresentando um deslocamento total de 0,30m

144

Figura 4. 63 - Deslocamentos horizontais críticos estimados, próximos aos antigos PZ01

e PZ02 atingindo 0,086m de deslocamento horizontal.

Figura 4. 64 - Seção transversal próximo ao inclinômetro IN01 alcançando a marca de

0,086m de deslocamento horizontal.

A

A’

145

Logo, temos que na simulação utilizando parâmetros muito baixos de E e ν,

mostrou maior coerência nas previsões, comparando com os deslocamentos

registrados pelos inclinômetros.

Ressaltasse que não foram realizados ensaios de caracterização nos RSU do

local, muito menos ensaios do tipo cross-hole. Porém, comparando os modelos

utilizados com a instrumentação instalada, pode-se verificar que a instalação de

inclinômetros diretamente no maciço de RSU auxiliou na interpretação das

cunhas de rupturas e nas observações de movimento no aterro.

146

CAPÍTULO 5

5.1. CONCLUSÕES

Diante da experiência acumulada e dos resultados obtidos, pode-se afirmar que

as retro-análises de estabilidade e de estimativas de recalques atenderam aos objetivos

propostos, apresentando compatibilidade entre análises e dados de instrumentação.

A respeito da instrumentação de campo instalada no aterro, pode-se dizer que o

uso de inclinômetros em aterros de RSU é fundamental para análise de deslocamentos

horizontais no aterro, possibilitando identificar a provável superfície de ruptura. A

utilização de piezômetros sifão em aterros de RSU mostrou-se de grande valia no que

diz respeito ao uso das leituras de níveis piezométricos para cálculo dos parâmetros de

poropressão (ru) para análises de estabilidade. As leituras de gás auxiliaram no aspecto

da identificação da formação de bolsões e maio produção de gás em períodos chuvosos

e quentes.O uso de pluviômetros possibilitou a comparação das variações

principalmente nas pressões de gás e níveis piezométricos.

As retro-análises de estabilidade mostraram boa compatibilidade com a

instrumentação de campo, principalmente com os dados de leitura de inclinômetros. A

análise de parâmetros de resistência do aterro de RSU através das retro-análises

mostraram-se eficazes na estimativa de parâmetros de resistência ao cisalhamento (c e

φ’). Em épocas de alta pluviometria, a consideração da saturação do maciço para fins de

retro-análises de estabilidade apresentaram boa concordância com as rupturas ocorridas

no aterro.

Sobre as análises de deslocamentos totais, verticais e horizontais com uso do

MEF, tem-se que os valores de deslocamentos encontrados são coerentes comparando

com outros aterros monitorados no Brasil e no mundo, apresentando deslocamentos

superiores a 2m. A retro-análise numérica de deslocamentos horizontais utilizando

dados de instrumentação geotécnica (inclinômetros) chegou a parâmetros de resistência

muito próximos aos encontrados para solos turfosos e argilas orgânicas.

147

Em relação as observações de campo, notou-se que a presença de trincas nem

sempre está associada à instabilidade. Geralmente, as trincas verificadas se tratavam de

recalques diferenciais entre as células de lixo antigo e lixo fresco.

Verificou-se nas análises com os parâmetros utilizados neste estudo indicaram

para o aterro um FS global > 1.3, o que e aceitável para casos de aterros controlados e

aterros sanitários.

5.2. RECOMENDAÇÕES PARA ESTUDOS FUTUROS

Recomendam-se ensaios de campo e de laboratório adicionais para verificação

de parâmetros para as análises de estabilidade e recalques. Dentre os ensaios de campo

pode-se citar:

• Ensaio de cava;

• Percâmetro;

• Caracterização completa do RSU:

• Morfologia;

• Gravimetria;

• Granulometria completa;

• Cross-hole ou ensaios dinâmicos.

Dentro os ensaios de laboratório sugerem-se os ensaios de grandes dimensões:

• Cisalhamento direto;

• Triaxiais (CU e CD).

Ainda, sugere-se que o uso de inclinômetros em aterros de RSU seja

amplamente difundido, não só com o intuito monitorar ou de difundir instrumentação

geotécnica em aterros de resíduos, mas sim para auxiliar na obtenção de parâmetros em

retro-análises de rupturas que possam vir acontecer.

148

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