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Ministério da Saúde Fundação Oswaldo Cruz - FIOCRUZ Escola Nacional de Saúde Pública ANÁLISE DE UM ACIDENTE FÚNGICO NA BIBLIOTECA CENTRAL DE MANGUINHOS: UM CASO DE SÍNDROME DO EDIFÍCIO DOENTE por Maria Cristina Strausz Dissertação apresentada à Escola Nacional de Saúde Pública para obtenção do grau de Mestre em Ciências da área de Saúde Pública Orientadores: Jorge Mesquita Huet Machado e Leila de Souza da Rocha Brickus Junho de 2001

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Ministério da Saúde

Fundação Oswaldo Cruz - FIOCRUZ

Escola Nacional de Saúde Pública

ANÁLISE DE UM ACIDENTE FÚNGICO NA BIBLIOTECA CENTRAL DE MANGUINHOS:

UM CASO DE SÍNDROME DO EDIFÍCIO DOENTE

por

Maria Cristina Strausz

Dissertação apresentada à Escola Nacional de Saúde Pública para

obtenção do grau de Mestre em Ciências da área de Saúde Pública

Orientadores: Jorge Mesquita Huet Machado e

Leila de Souza da Rocha Brickus

Junho de 2001

2

Agradecimentos:

Sinto-me profundamente grata a todas as pessoas que de alguma

forma contribuíram para que eu pudesse vivenciar esses últimos dois anos de

muito trabalho e estudo, revertendo para meu crescimento profissional e pessoal.

Em primeiro lugar, a meus filhos queridos, Leon e Amanda, simplesmente por

existirem e, por isso, fazerem com que eu deseje ser sempre uma pessoa melhor;

A meus pais e família, por todo amor e carinho;

A Sérgio, meu companheiro, que, com seu amor e dedicação, me faz viver meus

melhores dias, trazendo a tranqüilidade necessária para, entre outras coisas, poder

estudar e crescer;

Aos meus amigos, colegas e companheiros, profissionais de saúde do Programa

de Saúde do Trabalhador do Município do Rio de Janeiro e do Hospital dos Servidores do

Estado, que me apoiaram na decisão de partir para um crescimento profissional, através

do mestrado;

Aos meus amigos e colegas da Fundação Oswaldo Cruz, que de muitas formas

contribuíram para o desenvolvimento desta dissertação;

Aos meus amigos e colegas da Biblioteca Central de Manguinhos e do Cict, que

muito me ensinaram sobre o dia-a-dia de uma biblioteca e que sempre se colocaram à

disposição para o esclarecimento de quaisquer dúvidas ou informações pertinentes ao

objeto deste estudo;

Aos meus amigos e professores da Escola Nacional de Saúde Pública e, em

especial do Cesteh, não só pelas atitudes de companheirismo, como pelas críticas e

sugestões;

Finalmente, a Jorge e Leila, pela orientação e pela força.

3

Resumo:

Partindo de um acidente de contaminação por fungos ocorrido em

dezembro de 1997 na Biblioteca Central de Manguinhos, vamos testar a

aplicabilidade de uma proposta metodológica de análise sócio-técnica de

acidentes, que foi desenvolvida pelo Centro de Estudo de Saúde do Trabalhador

e Ecologia Humana (CESTEH/FIOCRUZ), para análise de acidentes industriais

ampliados. O acidente ocorreu como um fato anunciado meses antes, quando os

trabalhadores da biblioteca denunciaram, através de um abaixo-assinado, os

problemas de descontrole da temperatura ambiente, que se traduzia em

desconforto, sintomas respiratórios e afastamento do trabalho, decorrentes

daquelas condições. O evento foi caracterizado como um caso de Síndrome do

Edifício Doente, que é um problema decorrente da má qualidade do ar de

interiores, especialmente em ambientes climatizados artificialmente. Neste

sentido, despertou a atenção dos profissionais de bibliotecas do Brasil para um

problema bastante comum, embora pouco estudado, especialmente no campo da

Saúde Pública e, dentro dela, o campo da Saúde do Trabalhador.

Palavras-chave: análise de acidentes; Síndrome do Edifício Doente;

saúde do trabalhador

4

Abstract:

From a fungus contamination accident occurred in December 1997 at Manguinhos

Central Library in Rio de Janeiro we decided to test an accidents social-technical analysis

methodological proposal developed by the Worker Health and Human Ecology Studies

Center (CESTEH/FIOCRUZ), for industry accidents analysis. The accident occurrence

had been priorly advertised by library employees indiction, through a signed petition, when

problems in controlling environment temperature caused discomfort, breathing symptoms

and work absence, resulting from these conditions. This event was distinguished as the

Sick Building Syndrome case, and is caused by inside bad air quality, specially at

artificially climated ambiences. This brought the Brazilian libraries professionals attention

to an ordinary problem, although not very well known, specially in the Public Health field

and inside it, the Worker Health field.

Key Words: accident analysis; Sick Building Syndrome; worker`s

health.

5

ABREVIATURAS

ABNT – Associacao Brasileira de Normas Técnicas

AIPA – Análise Interdisciplinar e Participativa de Acidentes

DORT -Distúrbios Óstero-articulares Relacionados ao Trabalho

IE – Incidência de queixas nos expostos

INE – Incidência de queixas nos não expostos

LER – Lesões por Esforços Repetitivos

QAI – Qualidade do ar de interiores

RA – Risco atribuível

SED – Sindrome do Edificio Doente

ufc/m3 – unidade de formação de colônia por metro cúbico

6

Quadro de Figuras

Figura 1 – Geração Histórica dos Acidentes ..................................................................................... 24

Figura 2 – Componentes Estruturais e Disciplinas Envolvidas na AIPA ............................................ 33

Figura 3 – Planta do 1º pavimento da Biblioteca Central de Manguinhos .......................................... 48

Figura 4 – Planta do 2º pavimento da Biblioteca Central de Manguinhos .......................................... 49

Figura 5 – Pontos de coleta e trabalhadores expostos – 1º pavimento ...............................................62

Figura 6– Pontos de coleta e trabalhadores expostos – 2º pavimento ................................................63

Foto 1 – Contaminação por Fungos no Ambiente ................................................................................36

Foto 2 – Contaminação do Acervo por Fungos .....................................................................................37

Foto3 – Contaminação do Acervo por Fungos ..................................................................................... 38

Foto 4 – Contaminação do Acervo por Fungos .................................................................................... 39

Foto 5 – Limpeza por Aspiração do Acervo e do Ambiente ................................................................. 44

Foto 6– Limpeza por Aspiração do Acervo ........................................................................................... 45

Tabela 1 – Distribuição dos trabalhadores segundo grau de exposição .............................................. 58

Tabela 2 – Distribuição de freqüência das queixas dermatológicas ..................................................... 58

Tabela 3 - Distribuição de freqüência das queixas respiratórias ........................................................... 58

Tabela 4 - Distribuição de freqüência das outras queixas ..................................................................... 59

Tabela 5 – Distribuição dos resultados de avaliação clínica e encaminhamentos ................................ 59

Tabela 6 – Resultado das Provas de Função Respiratória, segundo a presença de queixas............... 60

Tabela 7 – Fungos identificados na Biblioteca de Manguinhos em Janeiro e Junho de 1997 .............. 67

Tabela 6 – Contaminantes Químicos presentes nos meses de Janeiro, Junho e Setembro ................ 70

Gráfico 1 – Umidade Relativa do Ar em Janeiro, Junho e Setembro de 1997 ...................................... 64

Gráfico 2 – Temperatura interna e externa em Janeiro, Junho e Setembro de 1997 ........................... 65

Gráfico 3 – Fungos Totais presentes no ar ambiental em Janeiro, Junho e Setembro de 1997........... 68

7

Sumário

Capítulo I: Introdução Considerações iniciais ...............................................................................................8

Escolha do Tema ......................................................................................................9

Formulação da Situação-Problema .........................................................................11

Relevância do Estudo .............................................................................................13

Capítulo II: Revisão da Literatura 1. Introdução ..........................................................................................................15

2. A Evolução da Investigação dos Acidentes de Trabalho ....................................19

3. A Análise Interdisciplinar e Participativa de Acidentes ........................................21

4. A Síndrome do Edifício Doente ...........................................................................25

Capítulo III: Objetivo e Metodologia 1. Objetivo .............................................................................................................31

2. Metodologia .......................................................................................................31

Capítulo IV: O Acidente de Contaminação Fúngica ..........................................34

Capítulo V: Os Componentes Social, Tecnológico e Epidemiológico 1. O Componente Social: As medidas de enfrentamento imediato e a

construção da rede interdisciplinar de intervenção .................................................43

2. Os Componentes Tecnológicos Condicionantes do Acidente ............................47

3. Os Componentes Gerenciais Condicionantes do Acidente ................................52

4. Os Componentes Epidemiológico e Ambiental .................................................. 54

4.1. Avaliação de Saúde ........................................................................................ 54

4.2. Avaliação Ambiental ........................................................................................ 61

Capítulo VI: Discussão dos Resultados ..............................................................71

Capítulo VII: Conclusões ..................................................................................... 73

Bibliografia ............................................................................................................. 75

Anexo I - Inquérito Epidemiológico da Biblioteca de Manguinhos .......................... i

Anexo II - Roteiro de Entrevista .............................................................................. ii

Anexo III – Resolução nº176 – ANVISA ................................................................. iii

Anexo IV – Portaria nº 3523/GM – MS .................................................................. xiv

8

Capítulo I: Introdução

Considerações iniciais:

Este estudo teve como origem, a minha inserção como assessora de

assistência da Coordenação de Saúde do Trabalhador da Fundação Oswaldo

Cruz, desde maio de 1995. Deste ponto de vista pude acompanhar os momentos

que antecederam o acidente de contaminação fúngica, bem como atuar na

elaboração de estratégias de enfrentamento imediato e de acompanhamento das

medidas institucionais de climatização do prédio, a fim de se restabelecer as

condições ambientais satisfatórias à saúde dos trabalhadores e de conservação

do acervo da biblioteca, nos anos que se seguiram.

Durante este percurso, tive como interlocutores diversos atores

institucionais, como Comissão de Saúde e direção da biblioteca, colegas da

Coordenação de Saúde do Trabalhador, Associação de Funcionários e técnicos

da área ambiental e de saúde. Para a elaboração desta dissertação, contei ainda

com relatórios da área ambiental e de saúde, bem como entrevistas para a

elucidação de alguns fatos polêmicos.

A escolha do referencial metodológico se deu, não só pela necessidade

de sistematização das informações obtidas, como pelo desafio de testar uma

nova proposta metodológica com uma aplicação um pouco diferente daquela para

qual se propunham os seus autores, inicialmente.

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Escolha do Tema:

O tema "acidente em biblioteca" foi escolhido para dar visibilidade à

importância oculta dos acidentes de trabalho no setor de serviços, do qual as

bibliotecas são um exemplo. Este setor da economia tem adquirido importância,

nos últimos anos, enquanto captador de mão-de-obra para o mercado em geral.

Embora tenha sido observado empiricamente que os trabalhadores que

realizam suas atividades em bibliotecas são freqüentemente acometidos por

problemas de saúde relacionados ao ambiente de trabalho, ainda não há estudos

que comprovem o que a prática evidencia. Estudar o tema e divulgar os

resultados, dá visibilidade às questões de saúde desses trabalhadores e

ambientes.

Segundo Machado-1991, "o acidente de trabalho, embora presente no

cotidiano do trabalhador desde os primórdios da história do trabalho, só se torna

objeto de estudos mais sistemáticos quando da ocorrência do processo de

industrialização e das lutas operárias a partir do Século XIX. Nesse período são

formuladas as primeiras teorias sobre acidentes de trabalho." (Machado,1991)

Desde então, o acidente de trabalho tem sido visto como um evento de

responsabilidade do trabalhador nele envolvido. A cultura de culpabilização da

vítima perpetua-se até os dias de hoje, e a Saúde do Trabalhador, enquanto

campo interdisciplinar, veio trazer um novo enfoque sobre os acidentes de

trabalho e as doenças dele decorrentes. A contribuição das Ciências Sociais,

trouxe uma abordagem sócio-técnica dos acidentes de trabalho, enquanto a

Ergonomia moderna trouxe uma nova visão do posto de trabalho .

A abordagem clássica da saúde ocupacional, avalia as conseqüências

do trabalho sobre a saúde e, embora procure adotar uma linha multidisciplinar,

conserva uma metodologia de análise de acidentes tecnicista, monocausal e

imediatista, sem se aprofundar em seus mecanismos e eventos condicionantes.

Historicamente, o desenvolvimento de metodologias de análise dos

acidentes de trabalho privilegia a indústria como campo de investigação. Afinal,

elas são conseqüência de necessidades trazidas pela revolução industrial, que

transformou o mundo, trazendo não só o desenvolvimento como novos padrões

de doenças e acidentabilidade. Mas há outras razões. Acidentes industriais

adquirem importância epidemiológica por sua gravidade e abrangência. Além de

10

sua complexidade e sua importância econômica, o setor conta com a demanda

dos trabalhadores organizados. Dentre outras áreas onde se desenvolvem estas

metodologias estão a aeroespacial, transportes em geral e energia nuclear, com

influencia direta sobre as metodologias de análise de acidentes em geral.

A mudança do perfil da atividade econômica no decorrer dos últimos

quinze anos, nos trouxe a necessidade de desenvolver metodologias de análise

de acidentes em outros setores da economia, com ênfase no setor de serviços.

Contudo, a transposição das metodologias do setor industrial para outros setores

freqüentemente esbarra nas limitações inerentes a todo tipo de adaptação.

O crescimento do setor de serviços, aliado à flexibilização dos

contratos e à precarização das relações de trabalho tem trazido um incremento de

exposições a novos riscos ocupacionais e doenças relacionadas ao trabalho. Os

Distúrbios Ósteo-Articulares Relacionados ao Trabalho (DORT) ou Lesões por

Esforços Repetitivos (LER) e a Síndrome do Edifício Doente (SED) são alguns

exemplos de síndromes modernas relacionadas diretamente à organização e ao

ambiente de trabalho. As LER/DORT, mundialmente estudadas, já se configuram

como epidemia. A SED ainda carece de estudos mais profundos em climas

tropicais, como no Brasil, embora já seja estudada há mais de vinte anos nos

países dependentes de climatização artificial.

Neste contexto, este estudo pretende analisar um caso de Síndrome do

Edifício Doente utilizando como base metodológica uma nova proposta de análise

de acidentes desenvolvida pelo Centro de Estudo de Saúde do Trabalhador e

Ecologia Humana (Cesteh), da Fiocruz.

11

Formulação da Situação-Problema:

Durante as festas de Ano Novo de 1996/7, a Biblioteca Central de

Manguinhos foi alvo de intensa proliferação de fungos. O evento havia sido

precedido por outros problemas como as constantes queixas relativas à saúde

dos funcionários, o que por sua vez, já tinha justificado a criação de uma

comissão de saúde.

Essa comissão tinha como objetivos monitorar a temperatura ambiental

e mobilizar os trabalhadores para que se tomassem providências com relação a

seu provável desajuste. O monitoramento revelou que a temperatura encontrava-

se muito abaixo do nível de conforto térmico, chegando a 14ºC no decorrer do dia,

um indicativo seguro de que as condições ambientais estavam influindo

negativamente na saúde dos trabalhadores.

As baixíssimas temperaturas tinham como justificativa a preservação

do acervo. No entanto, o sistema de refrigeração era costumeiramente desligado

durante a noite, fins de semana e feriados, quando os funcionários não se

encontravam no ambiente, mas o acervo sim. Deste modo, o aumento da

temperatura ambiental, provocada pelo fechamento da biblioteca com o

desligamento do sistema de refrigeração por vários dias consecutivos, em pleno

verão, por ocasião do feriado prolongado do fim do ano de 1996, conjugado ao

alto grau de umidade relativa do ar decorrente da intensa chuva no período,

forneceu as condições propícias para que fungos já presentes no ambiente

proliferassem de maneira descontrolada, contaminando todo o ambiente.

O acidente desencadeou ações de Vigilância em Saúde do

Trabalhador na instituição, com o envolvimento de diversos atores sociais, como

presidência da instituição, direção da biblioteca, sindicato de trabalhadores, a

comissão interna de saúde e órgãos ligados à Saúde do Trabalhador. O

diagnóstico inicial indicou que o acidente foi provocado por problemas ligados à

climatização da biblioteca.

Este evento foi caracterizado como acidente pelo fato de ter sido um

fenômeno agudo de contaminação ambiental.

As ações desenvolvidas a partir do acidente visaram preservar a saúde

dos trabalhadores, recuperar o acervo e restabelecer condições ambientais que

fossem satisfatórias tanto para a conservação do acervo quanto para o conforto

12

dos trabalhadores e usuários.

Concomitantemente, foi elaborado pelo órgão de Saúde do

Trabalhador um inquérito epidemiológico para detecção de queixas relacionadas

à exposição, que serviu como base para encaminhamentos ao serviço médico.

Também foram colhidas amostras do ar ambiente, com a finalidade de identificar

os microrganismos e compostos químicos presentes.

Uma assessoria de controle microbiológico foi contratada, para

identificar e quantificar os fungos no ambiente, assim como fornecer orientações

quanto à sua patogenicidade e métodos de higienização/desinfecção do acervo.

Os problemas relativos ao funcionamento do sistema de ar

condicionado foram muitos e se arrastaram ao longo dos anos subseqüentes.

Este estudo visa aprofundar as análises realizadas por ocasião do

acidente, por meio de uma metodologia que possa abranger toda a complexidade

nele envolvida.

13

Relevância do Estudo:

Existem vários aspectos relevantes neste estudo. Em primeiro lugar, a

utilização da proposta metodológica de Análise Interdisciplinar e Participativa de

Acidentes (AIPA), baseada na análise sócio-técnica de acidentes industriais

desenvolvida por Paté-Cornell, na França.

Este estudo pretende testar a aplicabilidade desta metodologia, que foi

desenvolvida para análise de acidentes químicos ampliados, ou seja, um tipo de

acidente de alta complexidade, em outro campo de estudo, no caso a análise de

um acidente em biblioteca, no setor de serviço. No caso do acidente em questão,

a AIPA é aplicável devido ao nível de complexidade envolvido: um acidente de

contaminação ambiental, provocado por fatores gerenciais e tecnológicos,

envolvendo as relações sociais do trabalho, com reflexo sobre a saúde dos

trabalhadores.

Sua relevância também se deve ao interesse causado pelo acidente,

que despertou a atenção de bibliotecas do Estado do Rio de Janeiro e do Brasil.

Afinal, bibliotecas são ambientes acolhedores de acervos em papel, que é um tipo

de material que funciona como habitat natural de fungos. Nesse tipo de ambiente,

qualquer desequilíbrio climático pode levar a uma proliferação desordenada,

causando não só dano ao acervo, como à saúde dos trabalhadores.

Segundo Rocha (1998) "Os materiais orgânicos em geral,

especialmente os de origem natural, como o papel, o couro e o pergaminho,

necessitam de uma determinada quantidade de água em sua estrutura molecular.

Ademais, são materiais hidroscópicos, isto é, que possuem propriedades de

perda ou aquisição de água. (...) A presença de umidade e a variação de

temperatura pode danificar o material eletrônico e bibliográfico mantido nos prédio

de bibliotecas. Por este motivo, a principal preocupação por parte de profissionais

de bibliotecas e arquivos é a conservação do acervo, acreditando-se que as

baixas temperaturas e umidade relativa do ar sejam as mais adequadas,

ignorando que estes fatores aliados ao enclausuramento podem determinar o

adoecimento de seus ocupantes."

Em terceiro lugar, as pesquisas sobre a Síndrome do Edifício Doente

no Brasil encontram-se em fase ainda incipiente, concentrando-se,

preferencialmente em prédios de escritórios, com características bastante

14

diferenciadas de prédios acolhedores de bibliotecas em geral. Este estudo

denuncia a existência de “bibliotecas doentes” em nosso país, além de ampliar a

área de atuação desta linha de pesquisa emergente.

15

Capítulo II: Revisão da Literatura

1. Introdução:

A preocupação com a relação trabalho, ambiente e saúde está

colocada desde a antigüidade, sendo que observações e estudos de maior ou

menor relevância vêm sendo realizados desde então.

Hipócrates já demonstrava uma certa preocupação com a relação entre

o ambiente e a saúde no seu tratado “Ares, Águas e Lugares”. Segundo Rozen

(1983), no período medieval houve um relato afirmando que as “pragas ocorrem

principalmente por causa da ‘decomposição do ar’ e estende-se largamente na

civilização(...) Esta é a razão por que pestes ocorrem muito mais freqüentemente

em cidades densamente povoadas do que em qualquer outra parte(...)”. Ainda na

Antigüidade, a relação entre trabalho e saúde é observada empiricamente. Um

relato em papiro egípcio associava ocupação e saúde e comentava sobre a vida

difícil das pessoas; ou ainda nos escritos hipocráticos e de outros pensadores da

época, embora os médicos da Antigüidade clássica não estivessem interessados

na saúde dos trabalhadores manuais.

Mas é no século XVII que Ramazini vai estabelecer a relação entre

algumas formas de trabalho e as doenças, através da observação da freqüência

de acometimento de certas patologias em pessoas que exerciam determinados

ofícios, com sua descrição detalhada. Além disso, observou o reflexo das

condições adversas de trabalho aliadas às precárias condições de higiene sobre a

saúde dos homens. Avançou um pouco mais ao insinuar que estas condições são

determinadas pela posição social do indivíduo. (Rozen, 1983)

No século XVIII, a partir do desenvolvimento da medicina social

francesa, que era uma "medicina das coisas e lugares", a preocupação com o

ambiente urbano toma corpo, em função dos problemas causados pela

industrialização, que provocou a evasão dos trabalhadores do campo para as

cidades, trazendo toda a sorte de problemas oriundos da super-população. Já

havia a percepção de que se necessitava um rearranjo urbano a fim de debelar as

epidemias trazidas pelo ar através dos miasmas (emanações pútridas). Um

famoso químico da época, Fourcroy, estudava as relações entre os organismos

vivos e o ar. (Foucault,1998; Rozen,1983)

16

Porém, é com o incremento da industrialização na Inglaterra, na

primeira metade do século XIX, que a insalubridade das longas jornadas, dos

ritmos intensos, dos ambientes abafados e mal iluminados, começaram a

comprometer a reprodução da força de trabalho. Neste contexto é criado o

primeiro serviço de medicina do trabalho.

A medicina do trabalho ou medicina dos operários, ou da força de

trabalho segundo Foucault, surge como uma das vertentes da medicina social

inglesa, a partir do século XIX, num contexto de revoltas e epidemias, onde o

pobre passa a ser visto como elemento perigoso. A medicina do trabalho surge

como parte de um modelo de saúde autoritário, que visava o controle médico da

classe pobre. (Foucault, 1998)

O final do século XIX foi rico em estudos e pesquisas no campo da

medicina do trabalho. Esses estudos foram elaborados em países de capitalismo

avançado, onde a industrialização já deixava profundas marcas no corpo dos

trabalhadores e evoluíram passo a passo com a medicina social. (Rozen, 1983)

Os estudos de Taylor trouxeram como conseqüência a implantação dos

princípios da Administração Científica, que propunha, em primeiro lugar, a

fragmentação das tarefas através da "análise científica" do trabalho, onde o

estudo dos tempos e movimentos visava eliminar os movimentos inúteis e assim

aumentar o ritmo do trabalho, buscando o "tempo ótimo" para a realização de

cada tarefa. O segundo princípio tratava da seleção e treinamento, buscando o

homem certo para cada tarefa que era designada pela gerência. O terceiro

princípio propunha à gerência o planejamento e controle do trabalho, onde

defendia a existência de especialistas responsáveis por cada uma das funções

produtivas. Desta forma, deixava de existir o contramestre, que dominava todo o

processo de trabalho, da matéria-prima ao produto final. A administração científica

do trabalho revolucionou o processo fabril, trazendo a intensificação da produção,

além das transformações no perfil dos acidentes de trabalho e novas formas de

adoecimento. (Fleury & Vargas, 1983)

No início do século XX, a adoção por Ford dos princípios de Taylor na

incipiente indústria automobilística, alavancou a produção em massa. Isto se deu

a partir da introdução da esteira rolante na linha de montagem dos automóveis,

com funcionamento ininterrupto, combinando a execução de operações

extremamente parceladas pelos trabalhadores. Fixo no seu posto de trabalho, o

17

homem passou a ser parte da engrenagem da máquina, que eliminou o

trabalhador qualificado, rebaixando-o a mero executor de pequenos movimentos

sem a interferência de sua mente. (Fleury & Vargas, 1983)

O século XX foi palco de profundas transformações no mundo do

trabalho, a partir da II Guerra, com a renovação constante de tecnologias e a

introdução de substâncias químicas sintetizadas na indústria, de forma geral,

gerando poluição ambiental, não só ao que se refere ao interior como ao exterior

das fábricas, apesar da manutenção do processo de trabalho taylorista/fordista. A

intensificação do ritmo de trabalho e as longas jornadas tornam-se fatores

importantes de risco.

A medicina do trabalho torna-se insuficiente para intervir sobre os

problemas de saúde trazidos pelos avanços tecnológicos do pós-guerra, que

trouxeram a elevação dos custos diretos e indiretos conseqüentes dos acidentes

e agravos à saúde dos trabalhadores. Neste contexto, surge a Saúde

Ocupacional como uma nova racionalidade científica, baseada na multi-

disciplinaridade como forma de intervenção sobre os riscos ambientais.

Segundo Laurell, “o pensamento clássico da Saúde Ocupacional

entende o trabalho como um problema ambiental, uma vez que põe o trabalhador

em contato com agentes que lhe causam acidentes e enfermidades. Esta

conceituação reproduz claramente a forma tradicional da medicina, que vê a

doença como um fenômeno que ocorre no indivíduo”. (Laurell & Noriega,1989)

Desta forma, é adotado um modelo de intervenção dotado de uma

abordagem limitada de risco e de ambiente de trabalho, que se expressa em

determinadas medidas curativas sobre o organismo doente e ações pontuais

sobre os locais de trabalho. Quanto à ocorrência de acidentes, seu enfoque é

local e imediatista, onde busca-se um culpado que é sempre a própria vítima.

A partir de meados dos anos 60, é concebida a Saúde do Trabalhador,

como fruto de um movimento social que questiona o sentido da vida e do trabalho,

o uso do corpo e o valor da liberdade, surgido nos países industrializados. Este

movimento leva, alguns países, à exigência da participação dos trabalhadores nas

questões de saúde e segurança. (28)

O enfoque e a intervenção sobre a saúde do trabalhador sofrem

transformações com a introdução do pensamento das ciências sociais na saúde

18

coletiva e com a contribuição dos trabalhadores organizados. As questões

ambientais são incorporadas na discussão do processo de adoecimento, não

mais isoladamente, mas articuladas com o processo de trabalho. Isto se dá a

partir do crescimento do movimento sindical italiano, influenciando o movimento

sindical europeu e latino-americano.

O movimento social e dos trabalhadores impõe a adoção de novas

políticas sociais em forma de lei, onde a “Carta del Lavoro” (Lei 300, de 20 de

Maio de 1970) desponta como um marco nas relações sociais do trabalho,

incorporando os princípios fundamentais da agenda dos trabalhadores, como a

não delegação da vigilância da saúde ao Estado, a não monetização dos riscos, o

reconhecimento do saber operário, além da realização de estudos e investigações

independentes, o acompanhamento da fiscalização e o melhoramento das

condições e dos ambientes de trabalho. (Mendes & Dias, 1991)

A introdução de novas tecnologias como a automação e a

informatização, trouxe modificações na organização do trabalho, permitindo ao

capital diminuir sua dependência dos trabalhadores, ao mesmo tempo que

aumentaram as possibilidades de controle. A organização do trabalho assume

importância na determinação do processo saúde-doença, deslocando o perfil de

morbidade das doenças profissionais clássicas para as doenças relacionadas ao

trabalho. (Mendes & Dias, 1991)

O objeto da Saúde do Trabalhador passa a ser definido como o

processo saúde-doença, rompendo com a concepção hegemônica que

estabelece um vínculo causal entre a doença e um agente específico, ou a um

grupo de fatores de risco presentes no ambiente de trabalho.

19

2. A Evolução da Investigação dos Acidentes de Trabalho

Os acidentes de trabalho passam a constituir objeto de estudo

sistemático a partir do século XIX, com o avanço do processo de industrialização

e das lutas operárias dele decorrentes. As primeiras inspeções sanitárias aos

ambientes de trabalho são instituídas na Inglaterra em 1897, onde a noção de

risco é aprofundada, estabelecendo-se diferenças segundo o tipo de agente de

risco ocupacionais, que são classificados como: físicos, mecânicos, químicos e

biológicos, incorporando após a II Guerra os riscos ergonômicos e, mais

recentemente, os riscos psicossociais, decorrentes das tensões envolvidas no

processo de trabalho.

A criação da chamada “gestão científica” dos acidentes de trabalho

favorece a criação de várias teorias. Em primeiro lugar, a teoria da culpa, que

direciona a investigação do acidente em duas direções possíveis: uma ação

dolosa do empregado (ato inseguro) e uma ação dolosa do empregador (condição

insegura, criada por imprudência, negligência ou falta de diligência). Esta

metodologia de análise é ainda amplamente utilizada nos dias de hoje. (Machado

& Gomes, 1995)

A teoria da culpa é utilizada de várias formas, que oscilam da imperícia

profissional e das características individuais do trabalhador, até a adequação

entre o trabalhador e o posto de trabalho, onde se baseia a ergonomia. De acordo

com esta metodologia, onde a análise do acidente é realizada pela própria

empresa, o trabalhador é sempre culpado e a responsabilidade da empresa,

freqüentemente mascarada.

Em contraponto à teoria da culpa, foi desenvolvida na Alemanha no

final do século XIX a teoria do risco social, onde cabe ao empregador indenizar o

trabalhador acidentado, posto que o acidente é visto como conseqüência do

trabalho e um risco inerente ao negócio. Esta teoria foi adotada como estratégia

empresarial para encobrir sua responsabilidade jurídica e financeira sobre o

acidente. Neste contexto, o acidente passa a ter um tratamento securitário, sendo

criadas as caixas de pecúlio, organizadas pelos próprios trabalhadores, e os

seguros de acidentes para a proteção do capital. (Machado & Gomes, 1995)

20

Porém, a crise das seguradoras, gerada pelo pagamento de inúmeras

indenizações por acidentes de trabalho, provocou uma releitura da teoria de risco

social, onde a sociedade deveria assumir os efeitos positivos ou negativos do

acidentes de trabalho, à medida que os bens ou serviços produzidos nas

unidades produtivas são consumidos pela sociedade. Assim, o Estado assume

financeiramente o acidente de trabalho como parte de sua política social.

(Machado & Gomes, 1995)

A partir dos anos 60, na Europa e 80 no Brasil, a investigação de

acidentes no campo da saúde do trabalhador passa a utilizar-se de ferramentas

oriundas da saúde pública, como a epidemiologia, aliadas às disciplinas

tecnológicas e das ciências sociais, apontando para a influência da organização

do trabalho na história dos acidentes e incorporando a participação dos

trabalhadores. Desta forma, dá um salto de qualidade quando comparada às

análises tradicionais dos acidentes de trabalho.

A Medicina Social supera a falsa dicotomia entre risco profissional e

risco social, introduzindo a denominação saúde do trabalhador , na qual são

incorporadas a inserção social e a dinâmica do processo de trabalho no lugar da

identificação de fatores de risco isolados no ambiente de trabalho. (Machado &

Gomes, 1995)

A investigação de acidentes no campo da saúde do trabalhador utiliza-

se de ferramentas oriundas da saúde pública, como a epidemiologia, aliadas às

disciplinas tecnológicas e das ciências sociais, buscando compreender a

influência da organização do trabalho na história dos acidentes. Sob o olhar da

epidemiologia, um acidente, independente da sua magnitude, é interpretado como

evento deflagrador de ações, denunciando uma situação de risco não prevista ou

sanada anteriormente. Um acidente de trabalho típico é sempre um evento

anunciado no decorrer do tempo, através de sinais, que se traduzem em

incidentes, acidentes de pequena repercussão ocupacional ou econômica,

queixas dos trabalhadores relativas ao desconforto, “stress” e sofrimento psíquico,

longas e intensivas jornadas de trabalho, presença de sintomas ou doenças

relacionadas ao trabalho, geralmente não reconhecidas ou valorizadas pela

empresa.

O desenvolvimento de metodologias de investigação em Saúde do

Trabalhador utiliza-se do enfoque interdisciplinar e interinstitucional, buscando

21

superar a fragmentação das ações isoladas e a arrogância de um saber

hegemônico e colocando em evidência a relação da saúde com o processo de

trabalho. As novas metodologias de análise de acidentes deixam de se ocupar da

visão estática dos postos de trabalho, enfocando a análise do processo de

trabalho, buscando-se identificar não mais um culpado, mas os fatores técnicos e

sociais envolvidos.

A introdução de uma abordagem de análise interdisciplinar enriquece a

compreensão dos acidentes, abrangendo uma gama de fatores que buscam

sistematizar uma hierarquia condicionante do evento. A incorporação das

dimensões social, política e ideológica, permite ver o trabalhador e seu corpo

historicamente determinado, e implica na articulação com saberes anteriores,

reconstruídos sob uma ótica social. (Freitas, Porto & Machado,1997)

3. A Análise Interdisciplinar e Participativa de Acidentes (AIPA)

A Análise Interdisciplinar e Participativa de Acidentes (AIPA) é uma

proposta metodológica criada pelo Centro de Estudos de Saúde do Trabalhador e

Ecologia Humana, como uma tentativa de superação das atuais abordagens de

análise de acidentes industriais, buscando vincular os eventos aos aspectos

sociais e gerenciais ou organizacionais na geração dos mesmos, por meio de

uma análise sócio-técnica. (Freitas et al., 1997; 1998 e 2000)

A vertente social na análise dos acidentes se refere à organização

sindical, nível de democratização ou hierarquização das relações de trabalho,

políticas de gerenciamento de riscos e, mais globalmente, às políticas sociais e

econômicas implementadas no país ou região. (Porto, 1994)

A vertente tecnológica entende o acidente como conseqüência de uma

ou mais disfunções do processo, em que a característica patológica do sistema

tende a se manifestar de forma imediata e abrupta, em oposição às situações

"normais" de poluição crônica (...) a isso somadas as contínuas exposições às

cargas de trabalho (...) podendo vir a gerar no futuro, doenças graves. (Freitas et

al., 1998)

O impacto dos fatores relacionados à organização do trabalho aliado

aos fatores tecnológicos é percebido sobre o corpo e a mente dos trabalhadores,

manifestando-se como sintomas de doenças já conhecidas ou não, reconhecidas

22

oficialmente ou não, intoxicações agudas e crônicas, todos eles dificilmente

reconhecidos institucionalmente como acidente de trabalho.

Quanto à abordagem, a AIPA defende, como uma metodologia criada

no seio da Saúde do Trabalhador, a mudança de foco de análise, considerando a

organização real do trabalho e seu papel no evento. Esta mudança implica em

ampliar o foco de análise para todo o processo de trabalho, incluindo aí os

aspectos gerenciais e organizacionais, deslocando as investigações de como

aconteceu para porque aconteceu. Dentro deste contexto, inclui-se a participação

dos trabalhadores, não mais como geradores, mas como atores no processo de

análise do acidente. Daí a denominação "participativa".

A interdisciplinaridade proposta sob a perspectiva da AIPA adota o

conceito de Fourez (1995) quando "não se destina a criar um novo discurso que

se situaria para além das disciplinas particulares, mas seria uma "prática"

específica visando à abordagem de problemas relativos à existência cotidiana.

Desta forma, o seu objetivo não será criar uma nova disciplina científica, nem um

discurso universal, mas resolver um problema concreto." (...) " Sob esta

perspectiva, a interdisciplinaridade é vista como uma prática essencialmente

política, ou seja, como uma negociação entre diferentes pontos de vista, para

enfim decidir sobre a representação considerada como adequada tendo em vista

a ação. Torna-se evidente, então, que não se pode mais utilizar critérios externos

e puramente racionais para mesclar as diversas disciplinas que irão interagir. É

preciso aceitar os confrontos de diferentes pontos de vista e tomar uma decisão

que, em última instância, não decorrerá de conhecimentos, mas de um risco

assumido, de uma escolha finalmente ética e política."

A "intervenção interdisciplinar em vigilância tem um potencial de

superação das restrições técnicas das abordagens disciplinares. Os componentes

tecnológicos, epidemiológicos e sociais dessa ação interdisciplinar atuam como

mediadores da relação entre processo de trabalho e saúde. Logo, ao levarmos

em consideração esses três componentes estruturais e a dinâmica dessa relação,

somos obrigados a pensar e agir interdisciplinarmente." (Machado,1991)

Segundo Freitas, Machado e Porto (2000) "A geração histórica dos

acidentes configura uma relação hierárquica entre os elementos interdisciplinares

múltiplos, dependendo dos setores, empresas e tecnologias analisados, que

23

reorganizam a estrutura de relações entre os elementos sociais, tecnológicos e de

saúde, conforme apresentado na Figura 1.

De acordo com as fases de prevenção da AIPA, a contextualização dos

acidentes e suas causas devem estar intrinsecamente relacionadas com

possibilidades preventivas. Desta forma, destacam-se três fases de prevenção,

quais sejam:

1. fase estrutural: extrapola o nível da empresa e envolve as

características da sociedade no qual o processo produtivo se insere, expressando

a interação social com as situações de trabalho, o território, as instituições, a

legislação, os movimentos sociais, o nível de organização social e cidadania da

população geral e dos trabalhadores envolvidos em situações de risco.

2. fase operacional: pode ser dividida em duas fases. A primeira é

onde se define a concepção de risco tecnológico, o sistema organizacional e de

gerenciamento das empresas, bem como a localização da planta. A segunda fase

se realiza quando a empresa começa a operar. É o momento de monitoração

contínua dos riscos, onde os diversos elementos presentes no processo de

trabalho interagem, formando situações de risco, que, em determinado momento,

resultam em um evento de risco, podendo gerar perdas materiais e humanas.

3. fase mitigadora ou de recuperação: são as medidas curativas ou

reparadoras na fase de conseqüências, essenciais para minimizar os efeitos

sobre o número de vítimas e a gravidade das lesões.

A fase estrutural envolve os níveis mais globais de causalidade, por

meio de condicionantes macroestruturais no nível da sociedade e do setor

econômico, até o nível da empresa, em que as causas subjacentes adquirem o

contorno das falhas gerenciais que conformam as situações de risco. (Freitas et

al.,2000))

24

Figura 1 A Geração Histórica dos Acidentes

25

5. A Síndrome do Edifício Doente

A qualidade do ar de interiores de ambientes climatizados é uma

preocupação mundial há mais de vinte anos, principalmente em países

dependentes de climatização artificial. O tema “Síndrome do Edifício Doente”

(SED) tem sido estudado em diversos países do mundo, buscando demonstrar a

importância da qualidade do ar de interiores em ambientes climatizados

artificialmente.

Em países tropicais, como no Brasil, a Qualidade do Ar de Interiores (QAI)

e a SED são preocupações recentes e ainda carecem de estudos mais profundos.

Porém, a crescente utilização de sistemas de ar condicionado têm chamado a

atenção de pesquisadores de diversas áreas e do Ministério da Saúde (Portaria

3523 de 25 de agosto de 1998 e Resolução - RE n º 176, de 24 de outubro de

2000 - ANVISA) e vários estudos já comprovam a influência de agentes químicos,

físicos e biológicos nas manifestações patológicas de trabalhadores expostos a

este tipo de ambiente. (Aleksadrovwicz et al, 1970; Bardana & Montanaro, 1991;

Blumenthal, 1984; Brickus & Aquino Neto, 1999; Croce, 1989; Dockery et al.,

1989; Minami,, 1989; Molhave, 1992; Rocha, 1998; Skov, 1992; Valentin et al.,

1998)

A Portaria ministerial nº 3523/98 estabelece a aprovação de

"Regulamento Técnico contendo medidas básicas referentes aos procedimentos

de verificação visual e do estado de limpeza, remoção de sujidades por métodos

físicos e manutenção do estado de integridade e eficiência de todos os

componentes dos sistemas de climatização, para garantir a Qualidade do Ar de

Interiores e a prevenção dos riscos à saúde dos ocupantes de ambientes

climatizados". A Portaria exige, ainda, que responsáveis técnicos habilitados

respondam pelo estado geral das instalações, além de implantar e manter no

imóvel um Plano de Manutenção, Operação e Controle – PMOC, coerente com a

legislação de Segurança e Medicina do Trabalho. Este plano se refere não só à

limpeza e manutenção dos ductos de ar condicionado, como do sistema como um

todo, considerando suas zonas primárias, secundárias e terciárias. (Dantas e

Ricardi, 2000)

Este trabalho pretende abordar a SED por uma vertente da Saúde

Coletiva e da Saúde do Trabalhador.

26

O termo Síndrome do Edifício Doente (SED) é utilizado para descrever

situações nas quais os ocupantes de um determinado edifício experimentam

efeitos adversos à saúde e ao conforto. Esses efeitos parecem estar vinculados

ao tempo de permanência no edifício, mas nenhuma doença específica, ou causa,

pode ser identificada. As reclamações podem estar localizadas em uma

determinada área ou sala, ou podem estar disseminadas por todo o edifício.

(Rocha, 1998)

Os problemas na saúde causados por poluentes no ar interno podem

ser sentidos logo após a exposição, ou vários anos depois. Poluentes comumente

encontrados no ar interno são responsáveis por vários efeitos adversos à saúde.

Existem, no entanto, incertezas relacionadas à concentração ou período de

exposição, necessários para produzir problemas de saúde específicos. Além

disso, cada indivíduo reage diferentemente para cada poluente usualmente

encontrado no ar interno. (Aleksandrowicz et al., 1970; Bardana & Montanaro,

1991; Dockery et al., 1989; Vail & Homann, 1990).

A SED existe quando mais de 20% dos seus ocupantes apresentam

sintomas de alergias respiratórias com irritação e obstrução nasal, irritação e

secura na garganta, cefaléia, irritação e sensação de secura ocular,

manifestações dermatológicas como desidratação e irritação da pele,

ocasionalmente associado com rachadura na superfície da pele exposta ao

ambiente, dores articulares, letargia, fadiga, sonolência, dificuldade de

concentração ou sensibilidade a odores, sendo que estes sintomas desaparecem

ou são minimizados quando evita-se a exposição dos susceptíveis à poluentes

ambientais, sem qualquer alteração das demais variáveis causais. As

manifestações alérgicas são bastante freqüentes e uma característica dos

indicadores dos efeitos é a marcante variação da sensibilidade entre pessoas,

sendo relativisada a relevância da exposição quantitativa, quando em níveis

aceitáveis, sendo sua importância reforçada quando em patamares elevados.

(Bardana & Montanaro, 1991; Brickus & Aquino Neto, 1999; Croce, 1989; Dockery

et al., 1989)

Normalmente, esses sintomas aumentam durante a permanência no

prédio, durante o horário de trabalho e diminuem rapidamente ao sair do prédio

para o almoço e ao retornar para casa. A maioria dos sintomas, com exceção dos

cutâneos, melhora nos fins de semana e desaparece completamente nas férias.

27

Enfim, a SED implica, necessariamente, em um local de trabalho desagradável,

com eficiência de trabalho reduzida e aumento no absenteísmo.

O estudo e a investigação da SED engloba a cooperação de diversas

disciplinas como epidemiologia, química, microbiologia, engenharia, arquitetura e

toxicologia, entre outras.

As mudanças arquitetônicas ocorridas a partir do final dos anos 70 nos

países desenvolvidos, no sentido de conservação de energia através de uma

melhor eficiência nos sistemas de refrigeração e aquecimento, gerou os

chamados prédios selados, onde o microclima artificial tornou-se gerador de

novos poluentes do ar interior. Porém, esta síndrome também foi observada em

edifícios que são ventilados naturalmente. A SED é um problema mundial, e a

circulação mecânica do ar parece ser um fator bastante importante. Milhões de

pessoas, no mundo inteiro, trabalham em locais onde a ventilação é regulada

através de sistema de circulação mecânica do ar.

A existência de ‘prédios doentes’ coincide com as mudanças no meio

ambiente interno, que ocorrem não apenas devido à introdução de novos

produtos em materiais de construção, consumo e mobiliário, como também às

trocas arquitetônicas no ambiente interno. Os compostos químicos emitidos no ar

por esses produtos novos podem ser relacionados ao aumento de problemas

médicos relatados e apresentados por pessoas que passam uma parcela de

tempo significativa nesses locais.

Os poluentes do ar de interiores podem-se dividir em quatro tipos:

materiais particulados, aerossóis, vapores e gases. Esses, por sua vez, podem

ser compostos químicos orgânicos ou inorgânicos, e biológicos.

"A introdução de novos produtos e materiais na composição de

materiais de construção, mobiliário e limpeza é responsável pela emissão de

Compostos Orgânicos Voláteis (COV) responsáveis em grande parte pela

deterioração da qualidade do ar de interiores. Carpetes, móveis, roupas, tapetes,

etc. liberam fibras, formaldeído e outras substâncias químicas. A evaporação de

COV oriundos de materiais de construção, acabamento, decoração e de

mobiliário além de produtos de consumo utilizados para manutenção e cuidados

pessoais, móveis e decoração, e a incursão de ar externo., é uma das principais

fontes dessas substâncias em recintos fechados. Outras fontes importantes são

os processos de combustão e emissões metabólicas de microorganismos.

28

Contribuem ainda para agravar o quadro, processos que melhoram o transporte

desses compostos para a fase vapor, tais como umidificadores e uso de produtos

à base de aerossol. Até mesmo os sistemas de ar condicionado, supostamente

purificadores e condicionadores de ar, podem ser uma das causas principais de

poluição no ar interno." (Rocha, 1998)

"Atividades específicas como fumar cigarros e tirar fotocópias

contribuem com um acréscimo de COV adicional (WOLKOFF et al.,1993). Cada

uma dessas fontes citadas faz com que os COV em ambientes fechados sejam

altamente variáveis, tornando difícil a detecção da fonte. Em outras palavras, as

fontes de COV são numerosas, e uma fonte relativamente pequena pode

ocasionar um grande impacto na qualidade do ar devido a baixos fatores de

diluição, ou seu alto grau de toxidez." (Rocha, 1998)

"Os fungos, bactérias e ácaros são os principais contaminantes dos

ambientes condicionados, por se reproduzirem em qualquer ambiente que

apresente meios favoráveis à sua nutrição. O material particulado (pó), funciona

num primeiro momento como um substrato ideal para a multiplicação microbiana.

Num segundo momento, a matéria particulada vai atuar como elemento sinérgico

no ecossistema biológico, através do aumento da umidade relativa do ar nas

superfícies, aumentando o crescimento microbiano. Simples processos de

limpeza, como varrer, aspirar a vácuo e espanar a poeira, normalmente removem

as partículas grandes. Entretanto, freqüentemente aumentam por re-suspensão, a

concentração de partículas pequenas no ar." (Rocha, 1998)

Dentre os poluentes biológicos destacam-se os fungos, bactérias e

ácaros. Estes organismos crescem e se reproduzem na poeira presente nos

locais de trabalho, ou encontram condições ideais para este fim nas fibras de

papel, couro, madeira e tecidos.

Dentre as partículas suspensas na atmosfera que podem causar

problemas alérgicos respiratórios estão os fungos. Em sua maioria, desenvolvem-

se em material orgânico em decomposição, enquanto alguns são parasitas

obrigatoriamente. Necessitam para o seu crescimento de fontes de carbono,

nitrogênio e hidrogênio, além de fatores adicionais e utilizam-se das mais diversas

temperaturas. Em sua maioria, se reproduzem a partir de elementos chamados

esporos, que são transportados pelo ar atmosférico e inalados pelo corpo

humano.

29

Os fungos presentes no ar de interiores (anemófilos) têm sua

concentração aumentada em ambientes úmidos e, em geral são responsáveis

pela ocorrência de casos de rinite e asma de sintomatologia perene. Eles se

encontram em altas concentrações em edifícios fechados no inverno, em países

frios e em países quentes, no verão, devido ao uso de ar condicionado. As

espécies de fungos mais freqüentemente presentes nestes ambientes são:

Penicillium, Aspergillus, Fusarium e Rhodotorula. (Gambale et al., 1989)

Os fungos são seres de elevado peso molecular e, por esta razão, com

grande capacidade antigênica. Em sua estrutura são encontrados numerosos

determinantes antigênicos com a peculiaridade de terem reações cruzadas entre

si. Os fungos anemófilos considerados mais importantes no desenvolvimento de

manifestações alérgicas no homem são: Penicillium, Aspergillus, Alternaria e

Cladosporium. (Gambale et al., 1989; Minami, 1989)

Temperatura e umidade são condições importantes para o crescimento

fúngico. A faixa ideal de temperatura para crescimento fúngico pode variar entre

15 e 60ºC. Em geral necessitam de temperaturas e umidade elevadas, porém as

espécies Aspergillus e Penicillium têm a habilidade de crescer em substratos com

7-8% de umidade e em presença de baixas temperaturas. (Gambale et al., 1989;

Minami, 1989)

Os ácaros seus cadáveres e suas fezes são conhecidos há mais de 30

anos como alérgenos da poeira domiciliar. Eles se alimentam de escamas de

pele, restos de alimentos e de insetos, grãos de pólen, fibras de lã ou algodão,

plantas e outros que se acumulam em frestas entre tacos do piso, carpetes,

cortinas, estofados, etc. Ácaros da poeira domiciliar ou laboral incluem, em ordem

de aparecimento e severidade: conjuntivite alérgica; rinite perene, cuja

intensidade varia com a estação do ano; rinite associada com crises

asmatiformes; asma pura e, com menor freqüência dermatite e urticária.

As bactérias presentes em ambientes refrigerados têm seu habitat no

filme biológico das bandejas de condensação do sistema, onde encontram

condições perfeitas de temperatura e umidade. Entre elas, se destacam a

Legionella, Norcadia, Streptomyces, Pseudomonas, Actinomyces, etc.

As condições climáticas também têm papel fundamental como

facilitadoras do desenvolvimento e reprodução de microrganismos. Os fungos e

os ácaros necessitam de umidade e calor para se desenvolverem. Em regiões de

30

maior altitude, a temperatura tende a ser mais baixa, assim como o ar mais seco.

No Estado do Rio de Janeiro e especificamente na capital a umidade relativa do

ar no verão, que é a estação das chuvas, varia de 80 a 100%, com temperaturas

entre 30 e 40ºC.

Para termos melhores condições de vida, os aparelhos e sistemas de

ar condicionado são utilizados cada vez mais, principalmente no setor de

serviços, como escritórios, transportes, hospitais e bancos; bem como no

comércio, shoppings e nos grandes edifícios .

Porém, a manutenção preventiva destes aparelhos e sistemas estão,

na maioria das vezes, distantes da nossa cultura e, portanto, se tornam

disseminadores de microrganismos e outros poluentes do ar interno. Desta forma,

a falta de manutenção leva a variações na temperatura e umidade relativa do ar,

gerando as condições propícias ao desenvolvimento da SED. (Dantas & Ricardi,

2000)

Em alguns casos, tais como bibliotecas, arquivos, museus e centrais de

computadores, os ambientes de trabalho são climatizados artificialmente visando

à conservação de aparelhos geradores de calor, como sistemas de

computadores, aparelhos hospitalares e outros, ou mesmo para a conservação de

papel, filmes e outros materiais que sofrem danos em condições de altas

temperaturas e umidade relativa do ar. Para tanto, muitas vezes as condições

climáticas são adequadas para a conservação destes bens materiais, deixando de

se observar as condições de conforto térmico (20 a 25ºC para temperatura e de

50 a 55% de umidade relativa do ar). (Rocha, 1998)

31

Capítulo III: Objetivo e Metodologia

1. Objetivo

Demonstrar a aplicabilidade da proposta metodológica da

Análise Interdisciplinar e Participativa de Acidentes (AIPA), na análise

do acidente de contaminação fúngica ocorrido na Biblioteca Central de

Manguinhos.

2. Metodologia

Este estudo pretende analisar o acidente de contaminação

fúngica ocorrido na Biblioteca Central de Manguinhos, localizada no

município do Rio de Janeiro, em dezembro de 1996, estabelecendo a

relação da exposição a fungos e baixas temperaturas com as queixas

(respiratórias e dermatológicas) apresentadas pelos trabalhadores.

Utilizará como referencial metodológico a Análise

Interdisciplinar e Participativa de Acidentes (AIPA), identificando e

discutindo os componentes estruturais disciplinares e os componentes

causais do acidente, segundo os seus vários estratos: macro-estrutural, ao nível da política de administração pública; local, onde se

analisa os componentes gerencial, organizacional e tecnológico; e o

estrato epidemiológico, onde se revela o impacto do acidente sobre o

ambiente e sobre a saúde dos trabalhadores.

A população em estudo foi dividida em dois grupos, de

acordo com a localização do setor de trabalho no prédio, em mais

expostos e menos expostos. O grupo de trabalhadores mais expostos

foi composto de pessoas que desenvolviam suas funções diretamente

no acervo, como bibliotecários, estagiários e higienizadores do acervo,

ou que circulavam por estes ambientes desenvolvendo as atividades

de apoio, como recepção de usuários, limpeza predial e vigilância. O

grupo de trabalhadores menos expostos foi composto de funcionários

da área de administração e de informática. Os trabalhadores destes

32

setores foram considerados como menos expostos, por não ter contato

direto com o acervo, apesar do sistema de refrigeração propiciar a

troca de ar entre os diversos ambientes do prédio, sem distinção. O

período em estudo é de janeiro a setembro de 1997.

A interdisciplinaridade proposta no presente estudo, realiza-

se a partir da análise dos seguintes relatórios: da Coordenação de

Saúde do Trabalhador, da avaliação ambiental realizada pelo Cesteh,

da empresa de controle microbiológico e da comissão de funcionários

constituída meses antes do acidente; de pareceres de profissionais

ligados à área de engenharia, micologia, pneumologia e dermatologia;

da avaliação clínica e laboratorial dos trabalhadores e de entrevistas

com alguns atores institucionais que vivenciaram os momentos pré e

pós-acidente. (figura 2)

É importante ressaltar as limitações resultantes de uma

análise realizada quatro anos após um acidente e da realização de um

trabalho interdisciplinar baseado em relatórios, entrevistas e pareceres.

Quanto às entrevistas, se a distância temporal torna o olhar do

entrevistado menos emocional e mais polarizado, esta mesma

distância pode fazê-lo cair em omissão por esquecimento de fatos. Já

os relatórios e pareceres datam do período em estudo e, portanto não

sofrem este tipo de limitação.

O grande desafio, então, é contar com o olhar interdisciplinar

da observadora sobre este material. Outro problema se refere aos

possíveis vièses decorrentes do fato de a pesquisadora pertencer à

instituição em estudo, contribuindo com uma reflexão contínua e um

julgamento apurado pelo tempo, tornando a análise inevitavelmente

parcial.

33

Figura 2 - Componentes Estruturais e Disciplinas Envolvidas na Análise Interdisciplinar e Participativa de Acidentes

Aplicado ao Acidente Fúngico da Biblioteca de Manguinhos

Social:

• Comissão de Funcionários • Associação de Servidores • Comissão de Saúde • Direção da Biblioteca • Coordenação de Saúde do Trabalhador • Presidência da Fundação

Saúde:

• Epidemiologia • Clínica Médica • Micologia • Dermatologia Ocupacional • Pneumologia Ocupacional

Tecnológico:

• Microbiologia • Química • Engenharia

34

Capítulo IV: O acidente de contaminação fúngica na Biblioteca Central de Manguinhos

O novo prédio da Biblioteca Central de Manguinhos foi construído com

o objetivo de abrigar o valioso acervo que começou a ser formado por Oswaldo

Cruz em 1900 e que até 1981 ocupava o Castelo, de estilo mourisco tombado pelo

Patrimônio Histórico. A biblioteca foi transferida porque o piso do castelo começou

a ceder em função do peso do acervo.

Foi então instalada em um local provisório, que, segundo o "Estudo

para a Implantação da Nova Biblioteca de Manguinhos" (1991), ocupava locais

impróprios para a conservação de documentos, por apresentar infiltrações e

vazamentos, até a construção de um novo prédio projetado procurando "ser

moderno, funcional, voltado à preservação do acervo, à globalização

universalização e facilitação de seu uso (...) Visa a preservação do seu acervo

considerado raro, assegurando-lhe o necessário apoio técnico."

O novo prédio possui uma área útil construída de cerca de 5.600m2 e

sua localização visava atender "às exigências de centralização do edifício,

segurança, solo resistente, e conta vias de acesso já existentes." Foi entregue à

administração da biblioteca em janeiro de 1995. Parte do acervo foi aberto ao

público em maio e a inauguração oficial aconteceu em 5 de agosto de 1995.

A contaminação fúngica que determinou o acidente vinha tomando

espaço no decorrer de 1996 por problemas no sistema de ar condicionado.

Segundo relato de funcionários, desde setembro daquele ano algumas coleções

começaram a apresentar focos de contaminação, havendo necessidade de

intensificar a rotina de higienização do acervo, apesar das limitações impostas

pela carência de pessoal para a execução desta tarefa.

O acidente aconteceu como um fato anunciado meses antes, quando

os funcionários denunciaram, através de um abaixo-assinado, as péssimas

condições de trabalho, traduzidas em desconforto, dores musculares, de garganta

e de ouvido, alergias respiratórias, sinusite, gripes e pneumonias, decorrentes das

35

baixas temperaturas no ambiente, que chegavam a até 14ºC. A temperatura

ambiente muito baixa ocasionava constantes reclamações por parte dos usuários

e funcionários da biblioteca, apesar de a situação dos funcionários ser mais

delicada, tendo em vista a sua permanência diária (cerca de 8 horas) no local.

Quando começaram as chuvas de verão, o aumento da umidade

relativa do ar, juntamente com a elevação e a oscilação da temperatura interna,

decorrente da prática de manter o sistema de refrigeração desligado nos finais de

semana e à noite, fez com que os fungos que já habitavam a biblioteca no

decorrer do ano proliferassem de forma explosiva.

Esse episódio foi registrado na 1ª semana de Janeiro/97, pelo órgão de

Saúde do Trabalhador da instituição, com a solicitação de inspeção urgente,

devido às grandes proporções do evento, que se traduzia em um ambiente úmido

e carregado, onde os móveis, estantes, computadores, telefones, enfim, tudo

estava coberto de branco. Foi então determinada a interdição do acervo ao público

e a reorganização do trabalho da biblioteca, a fim de se reduzir ao mínimo a

exposição ocupacional.

Cabe ressaltar que o referido acidente ocorreu entre os dias 31 de

dezembro de 1996 e 4 de janeiro de 1997, quando a biblioteca foi reaberta e

constatada a contaminação. Apesar de grande parte dos funcionários e usuários

da biblioteca estarem de férias nesta ocasião, foi verificado, no decorrer da

investigação, que os referidos fungos já faziam parte do cotidiano da biblioteca,

apresentando-se como uma “poeira branca”, durante todo o ano de 1996 e,

portanto, que uma exposição crônica e insidiosa já molestava os trabalhadores

mais susceptíveis a fenômenos alérgicos.

Além disso, os problemas identificados anteriormente, como a

oscilação de temperatura, favoreceram a proliferação de microorganismos e uma

maior emissão de compostos, usualmente presentes nesses ambientes. O

aumento da umidade relativa do ar decorrente do início das chuvas de verão,

chegando a até 100% aliado às constantes oscilações de temperatura,

36

conseqüente da falta de manutenção e climatização adequadas, fez proliferarem

os fungos que já habitavam o acervo.

Foto 1 –Contaminação por fungos no ambiente

37

Foto 2 – Contaminação do acervo por fungos

38

Foto 3 – Contaminação do acervo por fungos

39

Foto 4 – Contaminação do acervo por fungos

40

Segundo relato de funcionários, no decorrer do ano de 1996, houve

conflitos com a direção e mobilização dos funcionários, juntamente com o

sindicato na tentativa de reconhecimento institucional do problema. A empresa

responsável pela operação do sistema alegava que não havia problema algum,

bem como a empresa responsável pela manutenção e a direção da biblioteca.

Mas o acervo já sofria os efeitos do excesso de umidade, passando a ser

higienizado folha a folha para desinfecção de fungos. Suspeitava-se, então, que

as temperaturas eram mantidas baixas para tentar diminuir a umidade do

ambiente.

De acordo com (Barcellos et al, 1996) foi constituída através da

Portaria 002/96 do Cict, uma comissão de trabalhadores. O objetivo principal da

comissão era fazer um levantamento das condições de funcionamento do sistema

de refrigeração do prédio e a sua compatibilização com os diversos usos do

prédio, ou seja, o armazenamento e a manipulação de documentos em papel e

meio magnético, o trabalho de técnicos e pesquisadores e a permanência de

usuários na biblioteca. Durante o período de trabalho da comissão, foi analisado o

projeto do sistema de ar condicionado e avaliado seu funcionamento através de

medições diárias de temperatura de diversos ambientes.

Para tanto, foi utilizado um termômetro de álcool com precisão de um

grau Celsius (diferente do utilizado pela empresa de manutenção do sistema, de

precisão de 2,5 graus). O período de avaliação correspondeu à primavera no Rio

de Janeiro, quando não são previstas temperaturas extremas. As medições

realizadas no exterior do prédio registraram temperaturas que variaram de 20 a

31º C no período de 23 de setembro a 17 de outubro de 1996. Foi observado no

período em estudo pela comissão:

sistema de ar condicionado do prédio é composto por sub-sistemas que

dividem o prédio em oito áreas de cobertura, quatro em cada pavimento;

A temperatura no interior do prédio oscilou de 16 a 29º C no período, sendo

também observado variações de temperatura em uma mesma sala no decorrer

do período em estudo (de 16 a 24 ºC);

41

Foi observada uma variação de até 8º C num mesmo dia, entre os diversos

compartimentos do prédio. As menores temperaturas foram encontradas nos

sub-sistemas que cobrem o acervo da biblioteca e as maiores verificadas no

extremo leste do segundo andar do prédio. Nesta área é que estão localizados

equipamentos de informática que geram calor, podendo por vezes a

temperatura interna ultrapassar a externa;

Foi relatado desconforto térmico dos funcionários em condições de

temperatura abaixo de 20º C e acima de 25º C. A faixa de variação prevista

pela ABNT (NBR 6401) é de 21 a 23 º C, enquanto a encontrada no prédio foi

de 16º a 19º C;

A umidade relativa do ar observada foi acima de 60%, o que é extremamente

danoso para o material mantido na biblioteca, com várias obras apresentando

desenvolvimento de fungos.

O relatório da comissão concluiu que:

funcionamento do ar condicionado era irregular, com amplas variações de

temperatura entre os sub-sistemas;

Os fatores que influenciavam a variação de temperatura no prédio eram a

incidência de luz solar sobre as salas, os diversos sub-sistemas de

refrigeração e a presença de equipamentos que geravam calor;

A variação de temperatura e o excesso de umidade relativa do ar estavam não

só danificando os equipamentos eletrônicos e papéis mantidos no prédio, mas

comprometendo a saúde dos funcionários e usuários da biblioteca, que vinham

apresentando infecções respiratórias recorrentes e outros problemas de saúde,

constituindo-se em reclamações diárias.

Como medidas mitigadoras foram propostas:

controle efetivo dos sub-sistemas de refrigeração da biblioteca, mantendo-se

seu funcionamento ininterrupto, com temperaturas em torno de 22º C e

umidade relativa do ar em 50%, considerados parâmetros ideais, segundo

normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), visando

42

sobretudo a conservação ideal dos diferentes materiais bibliográficos e

equipamentos eletrônicos, bem como proteger a saúde dos funcionários e

usuários do prédio;

A instalação de equipamentos de desumidificação, de esterilizadores do ar e

de monitoramento de temperatura e umidade relativa do ar, a fim de evitar a

deterioração dos materiais mantidos na biblioteca;

A instalação de aparelho adicional de refrigeração na sala onde se concentram

os aparelhos eletrônicos geradores de calor, além de bloqueio da luz solar

direta sobre esta sala;

Que os editais de licitação para a contratação de firmas visando a manutenção

do sistema central de ar condicionado deverão prever, sempre, o cumprimento

das normas da ABNT para os aspectos de temperatura, umidade relativa do ar,

movimentação, renovação e pureza do ar, bem como de ruído.

Em outubro de 1996 foi solicitado pela comissão de funcionários ao

Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS), a análise de

material biológico do interior da biblioteca, a partir da qual foi emitido um laudo

microbiológico relatando a existência de fungos dos gêneros Aspergillus e

Penicillium.

A partir destes acontecimentos, promoveu-se um contato entre os

trabalhadores e a empresa responsável pela manutenção do ar condicionado, pois

o problema estaria relacionado à climatização. A empresa na ocasião não se

responsabilizou pela solução do problema.

Nesta ocasião, os funcionários já procuravam soluções alternativas

como abrir janelas e vedar as saídas de ar para as salas a fim de poderem

permanecer no local de trabalho. Ainda de acordo com relatos de funcionários, a

direção foi pressionada a desligar o ar condicionado toda vez que a temperatura

caísse abaixo de 20º C, sob ameaça de paralisação das atividades.

43

Capítulo V: Os Componentes Social, Tecnológico e Epidemiológico

1. O Componente Social e o Cenário Imediatamente após o Acidente: medidas de enfrentamento imediato e a construção da rede interdisciplinar de intervenção

A perspectiva interdisciplinar da AIPA, como uma ferramenta da

Vigilância em Saúde do Trabalhador, pressupõe uma intervenção coletiva de

diversas áreas do conhecimento. (Freitas et al., 1998)

Desta forma, constatado o acidente fúngico, no primeiro dia útil do ano,

foram estabelecidas as estratégias de enfrentamento, em conjunto com todas as

instâncias institucionais envolvidas, incluindo a associação de funcionários. É

importante enfatizar que a participação dos funcionários se deu durante todo o

processo de investigação e análise do acidente, não só através da representação

da sua associação em reuniões como em assembléias que contavam com a

participação dos atores institucionais envolvidos.

Foi solicitado emergencialmente ao Laboratório de Micologia Médica

uma visita técnica para identificar macroscòpicamente os fungos presentes

naquele ambiente. Esta visita constatou a presença de Aspergillus e Penicillium,

além de outros fungos de baixa patogenicidade, que poderiam causar processos

alérgicos respiratórios e/ou dermatológicos. Esta visita técnica foi de importância

fundamental na orientação dos exames laboratoriais a serem realizados na

ocasião.

A primeira medida recomendada foi a aeração natural do ambiente,

com a abertura de portas e janelas e a interdição da biblioteca ao público em

geral, além da restrição da circulação de funcionários nas áreas contaminadas.

Em seguida, foi providenciada a aquisição de equipamentos de proteção individual

para os funcionários executarem a limpeza, que iniciou pela higienização do chão

e superfícies. A isso, seguiu-se a contratação em caráter emergencial de pessoal

de limpeza, que foi especialmente treinado para a higienização do acervo.

(Machado et al., 1997)

44

Foto 5 – Limpeza por aspiração do acervo e do ambiente

45

Foto 6 – Limpeza por aspiração do acervo

46

Com a biblioteca interditada, foi realizada uma primeira reunião com os

funcionários, quando foram dadas recomendações de como agir em relação ao

manuseio do acervo, usando devidamente os equipamentos de proteção individual

(EPIs) e determinadas as áreas de restrição total ou parcial de circulação.

Foram caracterizados os grupos segundo o nível de exposição para

exames clínicos e laboratoriais, além disso, foi realizado um inquérito

epidemiológico para detecção de queixas clínicas possivelmente relacionadas à

exposição, o que subsidiou a triagem dos trabalhadores para realização de

exames laboratoriais e radiografias de tórax. Com essas medidas preliminares os

trabalhadores identificados com problemas alérgicos foram orientados e

encaminhados ao Núcleo de Saúde do Trabalhador. (Machado et al., 1997)

Em Fevereiro foi contratada uma empresa de assessoria técnica

microbiológica, que realizou a análise do ar ambiental com identificação e

determinação da toxicidade dos fungos, e orientou as condutas frente à

contaminação. A análise das amostras do ar ambiental mostrou que o mesmo

encontrava-se abaixo do limite estabelecido como crítico (750 ufc/m3) excetuando-

se a área da recepção que, como região de confluência de outras áreas,

apresentava índice de contaminação acima do limite máximo de tolerância.

Esta situação, aparentemente sob controle, justificou-se pelas

condições estabelecidas na fase anterior à coleta do material, onde a biblioteca

permaneceu fechada ao público e com ventilação natural por cerca de 10 dias.

Do ponto de vista qualitativo, os gêneros de fungos isolados na

biblioteca são comuns e prevalentes na cidade do Rio de Janeiro (Lacaz, Baruzzi

e Siqueira Jr, 1972). Quanto à análise toxigênica de alguns espécimes (Aspergillus

e Fusarium), as cepas isoladas foram submetidas a testes de triagem para a

produção de toxinas com resultado negativo, fato este que condiciona a agressão

ao ser humano como imunoalergênico, atingindo apenas indivíduos susceptíveis

(Minami, 1989), porém com grande repercussão ocupacional. (Machado et al.,

1997; Rocha,1998)

47

2. Os componentes tecnológicos condicionantes do acidente

A Biblioteca de Manguinhos da Fundação Oswaldo Cruz - Ministério da

Saúde, está localizada em Manguinhos (lat 22°51’, long 43°14’28” e altitude 5 m),

próxima a uma região industrial e comercial. O prédio, de dois andares, construído

em 1995, possui estilo contemporâneo, com traços e acabamentos neo-clássicos,

acompanhando a arquitetura do edifício sede, principal. A área em volta é

totalmente arborizada e o terreno, que foi uma depressão natural, recebeu aterro

para as fundações. Além de 5.600 m2 de área útil, existe no interior do prédio um

jardim interno. Esse jardim, devido às portas laterais ficarem abertas,

proporcionava um aumento de umidade relativa do ar no prédio, principalmente no

primeiro andar.

No primeiro andar localizam-se a recepção, duas salas de consultas,

área técnica de reprografia, sala de higienização e restauração do acervo e salas

administrativas. Já no segundo andar estão localizados dois armazéns de acervo,

duas salas de xerox e cabines de leitura. A iluminação é artificial do tipo

fluorescente e em algumas estantes o foco luminoso está muito próximo do

acervo.

O sistema de refrigeração do prédio é composto por subsistemas, que

dividem o prédio em oito áreas de cobertura; quatro em cada pavimento. Os

fatores que influenciam a temperatura no prédio são a incidência de radiação solar

sobre as salas, o funcionamento dos diversos subsistemas de refrigeração e a

presença de equipamentos com geração de calor.

48

Figura 3

Planta do 1º pavimento da Biblioteca Central de Manguinhos

49

Figura 4

Planta do 2º pavimento da Biblioteca Central de Manguinhos

50

Segundo o "Estudo para Implantação da Nova Biblioteca de Manguinhos",

procurou-se projetar "um edifício tão flexível que qualquer parte possa ser usada

para qualquer propósito", onde "as condições ambientais fossem apropriadas para

qualquer utilização da área". (Sict,1991)

Foi prevista a instalação de um sistema de ar condicionado no edifício como

um todo, para permitir inclusive, futuras adaptações e remanejamento, em função

das péssimas condições climáticas da cidade do Rio de Janeiro para guarda e

conservação de documentos ( calor e umidade intensos ). Foi recomendado que a

temperatura do prédio fosse mantida entre 22 a 24ºC ( temperatura de conforto

térmico ), embora o ideal para a conservação do papel seria entre 16 e 19ºC e que

se mantivesse a umidade relativa do ar em 50% +/- 5% no decorrer do ano. As

precauções contra a umidade foram ressaltadas, recomendando-se "máximo

cuidado com as instalações hidráulicas, a impermeabilização do telhado, o

escoamento das águas pluviais e ao lado da torre de refrigeração". (Sict,1991)

O relatório da empresa de assessoria técnica microbiológica detectou

algumas falhas no projeto de construção do prédio, como ausência de calhas de

escoamento de águas pluviais, o que permitia que a água da chuva escorresse

livremente pelas paredes externas o que, aliado à má vedação das janelas,

proporcionava infiltrações e aumento da umidade relativa do ar no ambiente

interno. (Machado et al., 1997)

Segundo relato de um funcionário da área de engenharia, as calhas de

escoamento foram retiradas do projeto inicial por uma pessoa de grande influência

na instituição, que não pertencia à área de engenharia, "para não terem de

ocupar-se em limpá-las periodicamente". Mas apesar desta interferência gerencial,

a principal causa apontada no relatório pela proliferação de fungos seria a

ineficácia do sistema de controle do ar condicionado, decorrente de manutenção e

operação inadequadas. O choque térmico, ocasionado pelo desligamento do

sistema de refrigeração ao final do dia, provocava condensação dentro dos

armazéns. Este foi um fator agravante, não apenas pela possibilidade de

51

infestação microbiana, mas também por acelerar processos de deterioração do

acervo.

De acordo com um dos entrevistados, houve uma alteração importante

no projeto da planta física do segundo andar, introduzindo divisórias para a

criação de ambientes não contemplados no projeto anterior, visando o

acolhimento de equipamentos geradores de calor. O projeto original do sistema de

ar condicionado não foi adaptado à nova realidade. Isto gerou, posteriormente, a

necessidade de tal alteração. Porém, esta adaptação ficou comprometida pela

impossibilidade de climatização dos diversos ambientes, decorrente de uma falha

de execução do projeto que não isolou totalmente os armazéns, causando mistura

do ar. A flexibilidade a que se propunha o projeto não se concretizou e ainda

gerou um grande problema.

Chama a atenção a existência de dois "projetos originais": o primeiro,

datado do final dos anos 70, que previa que o prédio fosse ocupado totalmente

pelo acervo bibliográfico e um segundo, já sob a nova direção da biblioteca, que

foi modificado para atender à instalação do Centro de Informação Científica e

Tecnológica, ou seja, um local com necessidades diferenciadas de climatização, a

fim de abrigar funcionários (temperatura de conforto térmico) e equipamentos

geradores de calor.

Uma das falhas do projeto apontado no relatório da assessoria

microbiológica diz respeito à presença do jardim interno, o que também favoreceu

o aparecimento e a colonização de fungos no ambiente da biblioteca.

Posteriormente foi detectado que apesar do edifício ter sido construído sobre um

terreno pantanoso, somente parte do solo foi impermeabilizada, sobre a qual

foram construídos o edifício principal e a central de ar condicionado, porém, o

terreno sob os jardins que circundam os prédios e sob o jardim interno, não

recebeu impermeabilização. A impermeabilização sob o jardim interno foi feita

após o acidente, de acordo com recomendações do relatório.

Os problemas com a climatização persistiram por quase dois anos após

o acidente. Um dos entrevistados aponta que houve erro na concepção do projeto

52

do ar condicionado, pois não levou em conta a localização do prédio onde seria

instalado tal sistema, ou seja, sobre um terreno úmido, baseando-se apenas em

tabelas padronizadas de climatização.

Outro fato importantíssimo diagnosticado relativo à umidade excessiva

no interior do prédio foi a detecção de um alto grau de vapor de água na tomada

de ar do exterior (100% de umidade relativa do ar) proveniente do processo de

evaporação da água do solo não impermeabilizado. Este problema foi sanado com

a suspensão da captação do ar externo por esta via. Outra forma de

desumidificação do ar encontrada foi a vedação de três das cinco grades de

captação do ar, favorecendo uma passagem mais lenta do ar pela central. Desta

forma, hoje, a umidade relativa do ar se mantém em torno de 50%.

Foi detectado que a água gelada chegava à central à 14º C, quando

deveria chegar a cerca de 6-7º C, por entupimento dos drenos e alagamento do

leito de condução dos ductos. Este era um problema de manutenção não

diagnosticado anteriormente. Além disso, foi detectado que as válvulas de controle

de temperatura estavam todas queimadas, o que tornava o ambiente interno

extremamente frio.

A pane do sistema de refrigeração, como causa imediata do acidente,

foi conseqüência da queima de um grupo de compressores, o que não permitia

que a água gelasse, aumentando a temperatura interna.

3. Os componentes gerenciais condicionantes do acidente

Alguns fatores gerenciais contribuíram para a sucessão de problemas

que gerou o acidente. Por exemplo, não foram estabelecidas normas e

procedimentos de regulação do sistema de ar condicionado desde a sua

implantação, o que impossibilitou a manutenção da temperatura e umidade

relativa do ar constantes. Até a ocasião do acidente, não havia acompanhamento

institucional dos serviços de manutenção. É importante salientar que a empresa

contratada para a manutenção não era credenciada pelo fabricante, como de

53

praxe, o que fez com que a aparelhagem perdesse a garantia ao ser ligada pela

primeira vez.

Além disso, este contrato não previa a operação do sistema nem a

reposição de peças. Um funcionário relata que a empresa de refrigeração foi

contratada apenas para a manutenção, ficando um funcionário da área

administrativa da biblioteca responsável pela operação do sistema de ar

condicionado. A mesma fonte relata que a rotina era de desligamento do ar

condicionado todas as noites e nos fins de semana com vistas à economia de

energia elétrica. Um funcionário da área de engenharia relata que alguns

funcionários da área administrativa também interferiam na operação do sistema, o

que é contestado por funcionários e pela direção da biblioteca.

O contrato com a empresa de manutenção também não previa a

reposição de componentes ficando esta sob a responsabilidade da instituição,

como até hoje.

Outro fator condicionante do acidente à nível gerencial foi a falta de

reconhecimento institucional quanto à gravidade do descontrole da temperatura

enquanto desencadeador de acidente de trabalho coletivo.

À nível macro-estrutural, podemos citar o engessamento institucional

diante da política federal de contratação de serviços e de recursos humanos, na

ocasião do acidente.

54

4. Os Componentes Epidemiológico e Ambiental:

4.1. Avaliação de Saúde

A população exposta ocupacionalmente consistiu de 122 trabalhadores,

agrupados segundo setor, relação de trabalho e intensidade da exposição. Foi

composto por funcionários e prestadores de serviço da biblioteca, sub-dividido em

dois grupos, de acordo com o nível de exposição (tabela 1). Os grupos foram

considerados de maior ou menor exposição, de acordo com o contato com o

acervo, consistindo de servidores, prestadores de serviços e estagiários.

(Machado et al., 1997)

Foi elaborado um inquérito epidemiológico com o objetivo de detectar

queixas relativas à saúde e sua associação com a exposição ao ambiente de

trabalho, além do planejamento das medidas de controle implementadas a partir

de então. A investigação clínica se concentrou nas repercussões pulmonares,

dermatológicas e alérgicas, em razão das características dos fungos identificados

ao exame macroscópico, pela micologia médica do Hospital Evandro Chagas. As

perguntas sobre queixas (sintomas) dermatológicos, respiratórios e outros,

referiram-se à exposição aguda (menos de 15 dias). O inquérito foi respondido por

92 pessoas, sendo que os 30 que não o fizeram localizavam-se entre a categoria

de menor exposição e, para fins deste estudo, foram consideradas sem queixas.

(Machado et al., 1997)

Considerando 122 questionários respondidos, 61 trabalhadores (50%)

relatavam queixas dermatológicas nos 15 dias que antecederam o acidente

(tabela 2). Por este motivo, foi realizada uma triagem dermatológica, por médica

clínica geral, onde foram examinados 25 trabalhadores que ainda apresentavam

este tipo de queixa naquele momento, dos quais 07 foram encaminhados ao

Ambulatório de Dermatologia Ocupacional do Cesteh. Destes, 04 apresentaram

lesões compatíveis com processos alérgicos, possivelmente relacionados à

exposição fúngica; entretanto, apenas 1 caso pode se caracterizado como

55

efetivamente relacionado a tal exposição. Os demais apresentavam lesões

incompatíveis com a exposição (ex. escabiose) ou simplesmente ausência de

lesão no momento do exame, provavelmente decorrente do afastamento da

exposição. (Machado et al., 1997)

O inquérito epidemiológico identificou 46 (37.7%) de trabalhadores que

referiam queixas respiratórias nos 15 dias que o antecederam (tabela 3). A

avaliação pneumológica consistiu de RX de tórax para todos os trabalhadores,

prova de função respiratória e consulta médica no Ambulatório de Pneumologia do

Cesteh, para os trabalhadores mais expostos e os que referiam queixas.

Nenhum exame radiológico de tórax revelou alteração pulmonar

compatível com lesão sistêmica causada por Aspergillus. As alterações

observadas foram, em sua maioria, cardiovasculares e em 01 caso evidenciou-se

lesão pulmonar antiga calcificada, provavelmente por complexo primário de

Tuberculose Pulmonar. (Machado et al., 1997; Pennington, 1986)

Calculou-se o risco relativo (RR) de queixas dermatológicas entre os

grupos de diferentes graus de exposição, sendo este de 13.5%, segundo a

expressão: RR=(IE=0,76/ INE=0,56 X100). Onde IE significa a incidência de

queixas nos mais expostos e INE significa a incidência de queixas nos menos

expostos. O mesmo indicador de relação entre exposição e efeito para as queixas

respiratórias, apresentou um resultado de menor significância, ou seja, um RR de

apenas 10.4%, segundo a expressão RR = (IE=0,50/INE=0,48X100). Se

considerarmos o risco atribuível, segundo a expressão RA= (IE-INEx100)

encontramos forte associação entre exposição e queixas dermatológicas (0.2%),

já em relação às queixas respiratórias, esta associação é quase nula (0.02%).

(Tabelas 5 e 6)

A prova de função respiratória foi eleita como exame de triagem para

detecção de possíveis lesões pulmonares decorrentes da exposição. Foi realizada

em 73 trabalhadores, divididos em três grupos: o primeiro, em março/97, de 25

trabalhadores do acervo, realizado pelo ambulatório de Pneumologia Ocupacional

do Cesteh. O segundo grupo, em abril/97, de 20 estagiários e prestadores de

56

serviços, que desenvolviam suas atividades no acervo; realizado pelo ambulatório

de Pneumologia da UERJ, por problemas logísticos no ambulatório do Cesteh. O

terceiro grupo foi uma reavaliação dos trabalhadores que apresentaram alterações

no primeiro exame, além daqueles expostos ou com queixas que estavam de

férias ou afastados naquela ocasião, num total de 28 pessoas. Estes exames

foram realizados entre junho e julho/97, já no Ambulatório de Pneumologia

Ocupacional do Cesteh. (Machado et al., 1997)

Se considerarmos a prevalência de alterações na prova de função

respiratória (tabela 7), temos uma freqüência de 10,9% (8/73) de resultados

alterados, devendo-se destacar que foram selecionados os grupos de maior

exposição para realização do exame. As alterações observadas, 8 casos, se

concentraram no grupo considerado de maior intensidade de exposição, 6 casos,

sendo somente 2 no grupo de menor exposição. Ressalta-se que estes

trabalhadores referiam queixas respiratórias. Deve-se destacar, também, a

presença de alterações em 3 pessoas que não apresentavam queixas, sendo 1

com obstrução grave, o que reforça a sensibilidade do exame como uma prova de

detecção precoce de alterações respiratórias. (Machado et al., 1997)

A etapa seguinte foi a realização de exame clínico de 95 (80%) dos 122

trabalhadores convocados. Dos 27 trabalhadores não submetidos a exame clínico,

01 aposentou-se e 01 foi transferido de Unidade. Os restantes eram trabalhadores

de setores distantes da área de contaminação e, por isto, não tiveram interesse

em fazê-lo ou ainda, se recusaram a atender à convocação, e foram considerados,

para fins deste estudo, como saudáveis. Estes exames foram realizados pelas

médicas do Núcleo de Saúde do Trabalhador (NUST), com o objetivo de dar um

fechamento ao conjunto de exames e conclusão diagnóstica. (Machado et al.,

1997)

Dentre os 97 trabalhadores examinados, 68 (71,1%) foram

considerados saudáveis ao exame clínico e 14 (14,4%) com outras alterações não

relacionadas à exposição. Apenas 06 pessoas (6,2%) apresentaram alterações

possivelmente relacionadas à exposição fúngica (manifestações alérgicas

57

respiratórias ou dermatológicas). Cabe ressaltar ainda que dois (02) trabalhadores

mantiveram-se em licença médica por mais de 30 dias e 01 solicitou transferência

de Unidade (Tabela 8).

Foi realizado hemograma completo dos 97 trabalhadores, onde a

contagem de eosinófilos no sangue foi destacada por ser um indicador de reação

alérgica, muito sensível porém inespecífico. A eosinofilia, aumento relativo e/ou

absoluto dos eosinófilos no sangue periférico, foi observada em 18 (18,9%)

trabalhadores avaliados, dos quais 04 apresentaram exame parasitológico de

fezes positivo, o que também contribui para o aumento dos eosinófilos. Destes,

apenas 01 permaneceu com a alteração na contagem de eosinófilos após o

tratamento da parasitose, podendo-se concluir que 15 (15,8%) trabalhadores

sofreram algum processo alérgico na ocasião do acidente. Vale a pena observar

que a grande maioria dos trabalhadores que apresentaram eosinofilia no primeiro

exame, negativaram após afastamento das atividades e das medidas de aeração

do ambiente. A Tabela 9 revela uma agregação dos casos de eosinofilia com a

presença de queixas respiratórias, o que pode estar associado a quadros de

alergia respiratória em decorrência da exposição fúngica. ((Machado et al., 1997)

Foi também realizada a avaliação imunológica específica para

aspergilose, apresentando 100% de negatividade. (Pennington, 1986; Blumenthal,

1984; Seah,1984)

58

Tabela 1 Distribuição dos trabalhadores segundo o grau de exposição

Grau de Exposição Freq Percent

Mais Expostos 50 40.98% Menos Expostos 72 59.02%

Total 122 100.00%

Tabela 2 Distribuição de freqüência das Queixas Dermatológicas

Queixas Dermatológicas Freq Percent

Sim 61 50.00% Não 61 50.00%

Total 122 100.00%

Tabela 3 Distribuição de Freqüência das Queixas Respiratórias

Queixas Respiratórias Freq Percent

Sim 46 37.70% Não 76 62.3%

Total 122 100.00% Tabela 4 Distribuição de Freqüência de Outras Queixas

Outras Queixas Freq Percent

Sim 28 23.00% Não 94 77.00%

Total 122 100.00%

59

Tabela 5

Freqüência de Queixas Dermatológicas segundo categoria de exposição

Categoria de Exposição Sim Não Ign

Mais Expostos 32 10 8 Menos Expostos 28 22 22

Total 60 32 30 Tabela 6 Freqüência de Queixas Respiratórias segundo categoria de

exposição

Categoria de Exposição Sim Não Ign

Mais Expostos 20 20 10 Menos Expostos 25 27 20

Total 45 47 30 Tabela 7 Distribuição dos resultados das Provas de Função Respiratória

Prova de Função Respiratória Freq Percent

Normal 64 52.46% Obst Leve 6 4.92% Obst Média 1 0.82% Obst Grave 2 1.64% Não fizeram 49 40.16%

Total 122 100.00%

60

Tabela 8 Distribuição de Resultados de Avaliação Clínica e Encaminhamentos

Exame Clínico Freq Percent

Normal 68 70.1% DPOC/Enc. Pneumologia 7 7.2% Enc. Dermatologia 6 6.2% Enc. Alergologista 2 2.1% Outros 14 14.4%

Total 97 100.0% Tabela 9 Freqüência de Eosinofilia segundo a presença de queixas respiratórias

Queixas Respiratórias Eosinofilia Percent

Sim 11 61.2% Não 7 38.8%

Total 18 100.0%

Tabela 6: Contaminantes químicos (µg/m3) presentes na biblioteca nos meses de Janeiro, Junho e Setembro de 1997 BM-4 BM-5 BM-6 BM-2 BM-1 BM-3 I E I/E I E I/E I E I/E I E I/E I E I/E I E I/E PTS

Janeiro 67,7 33,4 2,0 77,5 24,5 3,2 55,3 ND NA 123,7 45,2 2,7 150,1 ND NA 83,8 23,6 3,5Junho 46,9 28,9 1,6 35,2 27,5 1,3 64,3 ND NA 84,4 36,7 2,3 90,7 ND NA 45,3 25,7 1,8

Setembro 51,5 40,3 1,3 43,8 33,4 1,3 45,7 ND NA 69,3 41,9 1,6 104,7 ND NA 50,8 37,5 1,3BTX

Janeiro 7,7 2,7 2,8 6,1 4,9 1,2 10,7 ND NA 13,8 5,9 2,3 8,4 ND NA 5,1 6,1 0,8Junho 10,7 6,6 1,6 8,6 10,5 0,8 15,3 ND NA 20,2 9,1 2,2 14,7 ND NA 7,8 7,5 1,0

Setembro 11,6 7,1 1,6 8,2 12,2 0,7 18,7 ND NA 21,9 10,7 2,0 11,8 ND NA 9,2 8,9 1,0COVT

Janeiro 60,7 22,0 2,8 100,1 45,9 2,2 157,8 ND NA 90,7 70,6 1,3 194,0 ND NA 134,8 73,2 1,8Junho 127,1 45,7 2,8 145,7 50,9 2,9 212,8 ND NA 134,7 58,3 2,3 267,3 ND NA 90,3 63,8 1,4

Setembro 152,7 68,0 2,2 138,9 60,4 2,3 267,8 ND NA 115,3 71,4 1,6 227,4 ND NA 111,5 67,5 1,7Formaldeído

Janeiro 8,2 3,8 2,1 9,3 5,1 1,8 19,4 ND NA 10,4 9,6 1,1 9,4 ND NA 15,7 7,9 2,0Junho 12,3 5,5 2,2 9,5 7,3 1,3 23,6 ND NA 18,4 13,1 1,4 16,1 ND NA 15,5 9,6 1,6

Setembro 15,1 4,8 3,1 11,8 5,3 2,2 20.9 ND NA 16,8 8,8 1,9 19,5 ND NA 21,7 7,5 2,9Acetaldeído

Janeiro 6,3 5,3 1,2 5,7 5,2 1,1 10,9 ND NA 8,5 4,6 1,8 7,7 ND NA 11,0 5,1 2,2Junho 17,5 7,3 2,4 15,1 8,7 1,7 16,9 ND NA 23,8 7,7 3,1 17,0 ND NA 18,4 8,8 2,1

Setembro 25,7 6,6 3,9 20,1 7,4 2,7 31,8 ND NA 18,3 8,4 2,2 28,6 ND NA 20,6 8,2 2,5ABREVIAÇÕES: BM-1: Saguão da recepção; BM-2: sala de leitura de periódicos; BM-3: sala de referência; BM-4: armazém A; BM-5: armazém B e BM-6: sala de informática. I: interno; E: externo; I/E: interno/externo; PTS: partículas totais em suspensão; BTX: benzeno, tolueno e xileno; COVsT: Compostos orgânicos voláteis totais; ND: não detectado; NA: não aplicável

70

71

Capítulo VI

Discussão dos resultados

A urgência por uma solução do impasse instalado com a interdição da

biblioteca, forçou a revisão do contrato de manutenção e a contratação de

pessoal para a higienização do acervo, o que já era solicitado desde o

aparecimento dos primeiros sinais de fungos no ambiente. Um ano após este

episódio a administração da biblioteca trocou a firma que prestava manutenção

no sistema de ar condicionado.

Algumas medidas de engenharia foram tomadas, como o controle da

carga térmica e eliminação das infiltrações na casa de máquinas, aumento na

potência do grupo de resistências de aquecimento de ar; aplicação de isopor

nos vidros e silicone nas esquadrias; esvaziamento do leito de condução dos

ductos de água gelada sob o jardim, fechamento dos septos dos armazéns até

o teto e isolamento do jardim interno com parede de vidro com o intuito de

melhor controlar a umidade interna. Estas medidas foram tomadas nos meses

que se passaram após o acidente, pois não se conseguiu determinar uma

causa única para a manutenção da umidade relativa do ar a níveis próximos a

100%. Isto apontava para a necessidade de buscar novas causas e,

consequentemente, novas soluções de engenharia.

O reconhecimento institucional do problema de descontrole ambiental,

fez com que o monitoramento constante da umidade relativa do ar e da

temperatura, antes usados de forma reivindicatória de melhores condições de

trabalho, se tornassem instrumentos técnicos auxiliares para a solução do

problema.

Segundo critérios definidos pelos estudos de Indoor Environment,

considera-se como Síndrome dos Edifícios Doentes (SED), um acréscimo de

10% no número de casos de sintomas na população exposta ao ambiente em

questão. No caso deste acidente, esta proporção de incremento foi

ultrapassada, considerando-se o alto índice de queixas respiratórias (37,7%) e

dermatológicas (50%), possivelmente relacionadas a alergias desencadeadas

72

por fungos e potencializadas por temperaturas abaixo dos níveis de conforto

térmico.

A ausência de manifestações dermatológicas no momento do exame,

está diretamente relacionada à labilidade dos sintomas quando excluída a

exposição. Esta se deu tanto pelas medidas de aeração do ambiente, quanto

pelo afastamento da exposição, por medidas administrativas, o que reforça o

nexo entre as queixas e as condições ambientais.

Esta investigação mostrou que os níveis de fungos em partículas totais

em suspensão, apresentavam níveis elevados o bastante (entre 600,0 e 960,7

ufc/m3) para ocasionarem, não só efeitos adversos à saúde, como pneumonias,

sinusites e/ou abscessos pulmonares por Aspergillus. Segundo a Resolução

nº176 de 2000 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, os níveis aceitáveis

de fungos totais não devem ultrapassar a 750 ufc/m3. A baixa patogenicidade

da maioria dos fungos minimizou a possibilidade de ocorrência de casos

graves. Desta forma, os danos à saúde ficaram limitados a manifestações

alérgicas que cederam quando afastada a exposição. Por ocasião da avaliação

ambiental realizada após a higienização estes níveis diminuíram

consideravelmente.

Esses resultados sugerem que a contaminação quantitativa vai ser

responsável pelo aparecimento de casos leves e a qualidade da contaminação

pelo aparecimento ou não de casos graves que também estará relacionado a

suscetibilidade das pessoas expostas.

73

Capítulo VII: Conclusões

Este estudo nos mostra que a AIPA é uma proposta metodológica

perfeitamente aplicável a este acidente, ao possibilitar elencar, de forma

sistematizada e hierarquizada, os seus fatores condicionantes.

Além disto, podemos inferir sobre a sua aplicação em outros acidentes

com o mesmo nível de complexidade, independente do setor da economia. A

AIPA trás à tona os problemas gerenciais como potencialmente geradores de

acidentes de trabalho, enquanto as metodologias tradicionais de análise de

acidentes apontam o fator humano como seu principal gerador.

A aplicabilidade da AIPA neste acidente, também se deu por tratar-se

de uma situação de descontrole ambiental, gerando exposições múltiplas a

agentes físicos e biológicos, levando a efeitos de complexidade variável.

A infestação fúngica da biblioteca ocorrida em Dezembro/96 foi um

evento caracterizado como “Síndrome do Edifício Doente” e despertou o

interesse de outras bibliotecas do Rio de Janeiro e de outros estados, por

apontar para um tipo de problema pouco discutido entre os trabalhadores desta

atividade. Apesar de haver uma vasta bibliografia sobre conservação de

acervos e arquitetura de bibliotecas, poucos estudos discutem a saúde destes

trabalhadores.

A Síndrome do Edifício Doente, no caso em estudo, é um evento

desencadeado pelos mesmos fatores técnicos e gerenciais condicionantes do

acidente. Este episódio veio culminar um processo insidioso de exposição a

fungos, provocado por baixas temperaturas e alta umidade relativa do ar, o que

já vinha cronicamente afetando os trabalhadores. Embora a literatura aponte

incertezas relacionadas à concentração ou período de exposição necessários

para produzir agravos à saúde, neste caso foi observado que as queixas

apresentadas referiram-se ao período de exposição aguda, ou seja do

momento imediatamente após o acidente de proliferação dos fungos (até 15

dias).

Por outro lado, o acidente fúngico também pode ser visto como

agudização da SED, não diagnosticada ou valorizada institucionalmente até

74

então, comprometendo a qualidade do ar e a saúde dos trabalhadores por

fatores físicos (temperatura e umidade) e biológico (fungos). Desta forma, o

acidente dá visibilidade ao problema da SED, pois só a partir dele houve de

fato um movimento institucional em direção à solução de um problema que se

arrastava há diversos meses. Isto mostra a lentidão com que se movem as

instituições púbicas, o que é um condicionante macro-estrutural.

A vigilância à saúde dos trabalhadores de bibliotecas, passa a ser tema

de particular atenção, por ser uma população de trabalhadores exposta

ocupacionalmente a risco químico e biológico, decorrente de climatização

artificial.

A publicidade adversa desta infestação fúngica gerou não apenas

solidariedade de outras bibliotecas brasileiras como também pedido de ajuda

de diferentes partes do país. A Biblioteca Central de Manguinhos é agora

considerada uma biblioteca de referência para questões relativas à qualidade

do ar no Brasil.

75

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i

ANEXO I

Inquérito Epidemiológico da Biblioteca de Manguinhos

Janeiro de 1997

Diante dos problemas que vêm ocorrendo na Biblioteca de Manguinhos, atribuídos à

possível inadequação do sistema de refrigeração, a Coordenação de Saúde do Trabalhador

está realizando um levantamento dos agravos à saúde observados pelos seus trabalhadores

que possam estar relacionados a esta situação.

Este inquérito é uma das etapas da avaliação do problema e visa dentre outras coisas

direcionar o atendimento médico especializado e subsidiar ações que possam solucioná-lo.

Identificação

Nome:

Cargo/Função:

Vínculo com a Instituição:

Matrícula:

Setor de Trabalho:

Nos últimos quinze dias você apresentou:

1- Algum sintoma respiratório como: tosse com ou sem expectoração, falta de ar, cansaço,

chiado ou outros ? SIM ( ) NÃO ( )

Especifique:

2- Algum problema de pele como coceira, ardência, vermelhidão, inchaço ou outros?

SIM ( ) NÃO ( )

Especifique:

3- Algum problema de mucosas (conjuntiva, lábios, etc.) como coceira, ardência,

vermelhidão, inchaço ou outros? SIM ( ) NÃO ( )

Especifique:

Outras observações que você considera relevantes:

ii

ANEXO II

ROTEIRO DE ENTREVISTA

1. Qual é o horário de funcionamento da BM?

2. Quem é o responsável (qual sua qualificação: administrativo, vigilante, limpeza,

etc.) por ligar e desligar as luzes e o equipamento de ar condicionado?

3. Existiam normas de procedimentos quanto à utilização do equipamento de ar

condicionado?

4. Qual era o procedimento para o horário noturno e fins de semana?

5. Seu funcionamento era ininterrupto?

6. Existia no local um funcionário responsável pela operação do sistema?

7. Qual era a qualificação dele?

8. Quando foi entregue a aparelhagem na fundação?

9. Qual a data de instalação do equipamento e início da operação?

10. Qual a data da entrega das obras de construção do prédio, da instalação do ar

condicionado e período de transferência do acervo e dos funcionários ?

11. Quais eram as empresas responsáveis pelo projeto, pela operação e

manutenção do ar condicionado?

12. Era a mesma que vendeu o equipamento?

13. O sistema de ar condicionado já havia sido desligado anteriormente? Com que

freqüência?

14. Houve pane no ar condicionado ou foi desligado propositadamente?

15. Alguns funcionários desligavam o ar condicionado, ou vedavam saídas ou

ainda abriam as janelas para aumentar a temperatura interna?

16. Há relatos de que o sistema de ar condicionado nunca funcionou

adequadamente. O que você acha desta afirmação?

17. Havia sinais de presença de fungos anterior ao acidente?

18. Outras informações relevantes:

iii

ANEXO III

Resolução - RE n º 176, de 24 de outubro de 2000 - ANVISA O Diretor da Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, no uso da atribuição que lhe confere a Portaria nº 724, de 10 de outubro de 2000, c/c o art. 107, inciso II, alínea "a" e seu § 3º; considerando o interesse sanitário na divulgação do assunto; considerando a preocupação com a saúde, a segurança, o bem-estar e o conforto dos ocupantes dos ambientes climatizados; considerando a disponibilidade dos dados coletados, analisados e interpretados e o atual estágio de conhecimento da comunidade científica internacional, na área de qualidade do ar ambiental interior, que estabelece padrões referenciais e/ou orientações para esse controle; considerando o disposto no Art. 2º da Portaria GM/MS n.º 3.523, de 28 de agosto de 1998; considerando que a matéria foi submetida à apreciação da Diretoria Colegiada que a aprovou em reunião realizada em 18 de outubro de 2000, resolve: Art. 1º Determinar a publicação de Orientação Técnica elaborada por Grupo Técnico Assessor, sobre Padrões Referenciais de Qualidade do Ar Interior, em ambientes climatizados artificialmente de uso público e coletivo, em anexo. Art. 2º Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.

GONZALO VECINA NETO

ANEXO

Orientação Técnica elaborada por Grupo Técnico Assessor sobre Padrões Referenciais de Qualidade do Ar Interior em ambientes climatizados artificialmente de uso público e coletivo

I - HISTÓRICO

O Grupo Técnico Assessor de estudos sobre Padrões Referenciais de Qualidade do Ar Interior em ambientes climatizados artificialmente de uso público e coletivo, foi constituído pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária ANVISA, no âmbito da Gerência Geral de Serviços da Diretoria de Serviços e Correlatos e instituído por membros das seguintes instituições:

Sociedade Brasileira de Meio Ambiente e de Qualidade do Ar de Interiores/BRASINDOOR, Laboratório Noel Nutels, Instituto de Química da UFRJ, Ministério do Meio Ambiente, Faculdade de Medicina da USP, Organização Panamericana de Saúde/OPAS, Fundação Oswaldo Cruz/FIOCRUZ, Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho FUNDACENTRO/MTb, Instituto Nacional de Metrologia Normalização e Qualidade Industrial/INMETRO, Associação Paulista de Estudos e Controle de Infecção Hospitalar/APECIH e, Serviço de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde/RJ, Instituto de Ciências Biomédicas ICB/USP e Agência Nacional de Vigilância Sanitária.

Reuniu-se na cidade de Brasília/DF, durante o ano de 1999 e primeiro semestre de 2000, tendo como metas:

1. estabelecer critérios que informem a população sobre a qualidade do ar interior em ambientes climatizados artificialmente de uso público e coletivo, cujo desequilíbrio poderá causar agravos a saúde dos seus ocupantes;

2. instrumentalizar as equipes profissionais envolvidas no controle de qualidade do ar interior, no planejamento, elaboração, análise e execução de projetos físicos e nas ações de inspeção de ambientes climatizados artificialmente de uso público e coletivo .

iv

II - ABRANGÊNCIA O Grupo Técnico Assessor elaborou a seguinte Orientação Técnica sobre Padrões

Referenciais de Qualidade do Ar Interior em ambientes climatizados artificialmente de uso público e coletivo, no que diz respeito a definição de valores máximos recomendáveis para contaminação biológica, química e parâmetros físicos do ar interior, a identificação das fontes poluentes de natureza biológica, química e física, métodos analíticos ( Normas Técnicas 001, 002, 003 e 004 ) e as recomendações para controle ( Quadros I e II ).

Recomendou que os padrões referenciais adotadas por esta Orientação Técnica sejam aplicados aos ambientes climatizados de uso público e coletivo já existentes e aqueles a serem instalados. Para os ambientes climatizados de uso restrito, com exigências de filtros absolutos ou instalações especiais, tais como os que atendem a processos produtivos, instalações hospitalares e outros, sejam aplicadas as normas e regulamentos específicos.

III - DEFINIÇÕES

Para fins desta Orientação Técnica são adotadas as seguintes definições, complementares às adotadas na Portaria GM/MS n.º 3.523/98:

a) Aerodispersóides: sistema disperso, em um meio gasoso, composto de partículas sólidas e/ou líquidas. O mesmo que aerosol ou aerossol.

b) ambiente aceitável: ambientes livres de contaminantes em concentrações potencialmente perigosas à saúde dos ocupantes ou que apresentem um mínimo de 80% dos ocupantes destes ambientes sem queixas ou sintomatologia de desconforto.1, 2

c) ambientes climatizados: são os espaços fisicamente determinados e caracterizados por dimensões e instalações próprias, submetidos ao processo de climatização, através de equipamentos.

d) ambiente de uso público e coletivo: espaço fisicamente determinado e aberto a utilização de muitas pessoas.

e) ar condicionado: é o processo de tratamento do ar, destinado a manter os requerimentos de Qualidade do Ar Interior do espaço condicionado, controlando variáveis como a temperatura, umidade, velocidade, material particulado, partículas biológicas e teor de dióxido de carbono (CO2).

f) Padrão Referencial de Qualidade do Ar Interior: marcador qualitativo e quantitativo de qualidade do ar ambiental interior, utilizado como sentinela para determinar a necessidade da busca das fontes poluentes ou das intervenções ambientais

g) Qualidade do Ar Ambiental Interior: Condição do ar ambiental de interior, resultante do processo de ocupação de um ambiente fechado com ou sem climatização artificial.

h) Valor Máximo Recomendável: Valor limite recomendável que separa as condições de ausência e de presença do risco de agressão à saúde humana.

IV - PADRÕES REFERENCIAIS

Recomenda os seguintes Padrões Referenciais de Qualidade do Ar Interior em ambientes climatizados de uso público e coletivo.

1 - O Valor Máximo Recomendável para contaminação microbiológica deve ser < 750 ufc/m3

de fungos, para a relação I/E < 1,5, onde I é a quantidade de fungos no ambiente interior e E é a quantidade de fungos no ambiente exterior.3

Quando este valor for ultrapassado ou a relação I/E for > 1,5, é necessário fazer um diagnóstico de fontes para uma intervenção corretiva.

É inaceitável a presença de fungos patogênicos e toxigênicos.

v

2 Os Valores Máximos Recomendáveis para contaminação química são: 2.1 - < 1000 ppm de dióxido de carbono ( CO2 ), como indicador de renovação de ar externo,

recomendado para conforto e bem-estar.2 2.2 - < 80 mg/m3 de aerodispersóides totais no ar, como indicador do grau de pureza do ar e

limpeza do ambiente climatizado.4

3 Os valores recomendáveis para os parâmetros físicos de temperatura, umidade, velocidade e taxa de renovação do ar e de grau de pureza do ar, deverão estar de acordo com a NBR 6401 Instalações Centrais de Ar Condicionado para Conforto Parâmetros Básicos de Projeto da ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas.5

3.1 - a faixa recomendável de operação das Temperaturas de Bulbo Seco, nas condições internas para verão, deverá variar de 230C a 260C, com exceção de ambientes de arte que deverão operar entre 210C e 230C. A faixa máxima de operação deverá variar de 26,50C a 270C, com exceção das áreas de acesso que poderão operar até 280C. A seleção da faixa depende da finalidade e do local da instalação. Para condições internas para inverno, a faixa recomendável de operação deverá variar de 200C a 220C.

3.2 - a faixa recomendável de operação da Umidade Relativa, nas condições internas para verão, deverá variar de 40% a 65%, com exceção de ambientes de arte que deverão operar entre 40% e 55% durante todo o ano. O valor máximo de operação deverá ser de 65%, com exceção das áreas de acesso que poderão operar até 70%. A seleção da faixa depende da finalidade e do local da instalação. Para condições internas para inverno, a faixa recomendável de operação deverá variar de 35% a 65%.

3.3 - a faixa recomendável de operação da Velocidade do Ar, no nível de 1,5m do piso, deverá variar de 0,025 m/s a 0,25 m/s. Estes valores são considerados médios quando medidos com instrumento de alta sensibilidade.

3.4 - a Taxa de Renovação do Ar adequada de ambientes climatizados será, no mínimo, de 27 m3/hora/pessoa, exceto no caso específico de ambientes como lojas, centros comerciais, bancos e outros, onde a taxa de ocupação de pessoas por m2 é crítica. Nestes casos a Taxa de Renovação do Ar mínima será de 17 m3/hora/pessoa, não sendo admitido em qualquer situação que os ambientes possuam uma concentração de CO2, maior ou igual a estabelecida nesta Orientação Técnica como Valor Máximo Recomendável.

3.5 - o Grau de Pureza do Ar nos ambientes climatizados será obtido utilizando-se, no mínimo, filtros de classe G-3 nos condicionadores de sistemas centrais.2

Os padrões referenciais adotados complementam as medidas básicas definidas na Portaria GM/MS n.º 3.523/98, de 28 de agosto de 1998, para efeito de reconhecimento, avaliação e controle da Qualidade do Ar Interior nos ambientes climatizados. Deste modo poderão subsidiar as decisões do responsável técnico pelo gerenciamento do sistema de climatização, quanto a definição de periodicidade dos procedimentos de limpeza e manutenção dos componentes do sistema, desde que asseguradas as freqüências mínimas para os seguintes componentes, considerados como reservatórios, amplificadores e disseminadores de poluentes.

vi

Componente Periodicidade Tomada de ar externo mensal Unidade filtrante mensal Serpentina de aquecimento mensal Serpentina de resfriamento mensal Umidificador mensal Ventilador semestral Plenum de mistura/casa

de máquinas semestral

Inspeção semestral

V - FONTES POLUENTES Recomenda que sejam adotadas para fins de pesquisa e com o propósito de levantar dados

sobre a realidade brasileira, assim como para avaliação e correção das situações encontradas, as possíveis fontes de poluentes informadas nos Quadros I e II.

QUADRO I

Possíveis fontes de poluentes biológicos

Agentes biológicos

Principais fontes em ambientes interiores

Principais Medidas de correção em ambientes

interiores Bactérias Reservatórios com

água estagnada, torres de resfriamento,

bandejas de condensado, desumificadores, umidificadores, serpentinas de

condicionadores de ar e superfícies úmidas e

quentes.

Realizar a limpeza e a conservação das torres de resfriamento; higienizar os

reservatórios e bandejas de condensado ou manter tratamento contínuo para eliminar as fontes; eliminar as infiltrações; higienizar

as superfícies.

Fungos Ambientes úmidos e demais fontes de

multiplicação fúngica, como materiais porosos

orgânicos úmidos, forros, paredes e isolamentos

úmidos; ar externo, interior de condicionadores e

dutos sem manutenção, vasos de terra com

plantas.

Corrigir a umidade ambiental; manter sob controle rígido vazamentos, infiltrações e

condensação de água; higienizar os ambientes e componentes do

sistema de climatização ou manter tratamento contínuo para eliminar

as fontes; eliminar materiais porosos contaminados; eliminar ou

restringir vasos de plantas com cultivo em terra, ou substituir pelo

cultivo em água (hidroponia); utilizar filtros G-1 na renovação do

ar externo.

vii

Protozoários Reservatórios de água contaminada, bandejas e

umidificadores de condicionadores sem

manutenção.

Higienizar o reservatório ou manter tratamento contínuo para

eliminar as fontes.

Vírus Hospedeiro humano. Adequar o número de ocupantes por m2 de área com aumento da renovação de ar.; evitar a presença de pessoas

infectadas nos ambientes climatizados

Algas Torres de resfriamento e bandejas de condensado.

Higienizar os reservatórios e bandejas de condensado ou manter tratamento contínuo para eliminar

as fontes. Pólen Ar externo. Manter filtragem de acordo com

NBR-6401 da ABNT Artrópodes Poeira caseira. Higienizar as superfícies fixas e

mobiliário, especialmente os revestidos com tecidos e tapetes; restringir ou eliminar o uso desses

revestimentos. Animais Roedores, morcegos e

aves. Restringir o acesso, controlar os

roedores, os morcegos, ninhos de aves e respectivos excrementos .

QUADRO II Possíveis fontes de poluentes químicos

Agentes químicos Principais fontes em ambientes

interiores

Principais medidas de correção em ambientes

interiores CO Combustão

(cigarros, queimadores de fogões e veículos

automotores).

Manter a captação de ar exterior com baixa

concentração de poluentes; restringir as fontes de combustão; manter a

exaustão em áreas em que ocorre combustão; eliminar a infiltração de CO proveniente de fontes externas; restringir

o tabagismo em áreas fechadas.

CO2 Produtos de metabolismo humano e

combustão.

Aumentar a renovação de ar externo; restringir as fontes de combustão e o tabagismo em áreas fechadas; eliminar

a infiltração de fontes externas.

viii

NO2 Combustão. Restringir as fontes de combustão; manter a

exaustão em áreas em que ocorre combustão; impedir a

infiltração de NO2 proveniente de fontes externas; restringir

o tabagismo em áreas fechadas.

O3 Máquinas copiadoras e

impressoras a laser .

Adotar medidas específicas para reduzir a contaminação

dos ambientes interiores, com exaustão do ambiente

ou enclausuramento em locais exclusivos para os

equipamentos que apresentem grande

capacidade de produção de O3.

Formaldeído Materiais de

acabamento, mobiliário, cola, produtos de

limpeza domissanitários

Selecionar os materiais de construção, acabamento e mobiliário que possuam ou emitam menos formaldeído;

usar produtos domissanitários que não contenham formaldeído.

Material particulado Poeira e fibras. Manter filtragem de acordo com NBR-6402 da ABNT; evitar isolamento

termo-acústico que possa emitir fibras minerais,

orgânicas ou sintéticas para o ambiente climatizado; reduzir as fontes internas e externas; higienizar as superfícies fixas

e mobiliários sem o uso de vassouras, escovas ou

espanadores; selecionar os materiais de construção e acabamento com menor

porosidade; adotar medidas específicas para reduzir a

contaminação dos ambientes interiores (vide biológicos);

restringir o tabagismo em áreas fechadas.

Fumo de tabaco Queima de cigarro, charuto, cachimbo, etc.

Aumentar a quantidade de ar externo admitido para

renovação e/ou exaustão dos poluentes; restringir o tabagismo em áreas

fechadas.

ix

COV Cera, mobiliário, produtos usados em

limpeza e domissanitários,

solventes, materiais de revestimento, tintas,

colas, etc.

Selecionar os materiais de construção, acabamento,

mobiliário; usar produtos de limpeza e domissanitários

que não contenham COV ou que não apresentem alta taxa de volatilização e toxicidade.

COS-V Queima de combustíveis e

utilização de pesticidas.

Eliminar a contaminação por fontes pesticidas,

inseticidas e a queima de combustíveis; manter a captação de ar exterior afastada de poluentes.

COV Compostos Orgânicos Voláteis. COS-V Compostos Orgânicos Semi-Voláteis.

Observações - Os poluentes indicados são aqueles de maior ocorrência nos ambientes de interior, de efeitos conhecidos na saúde humana e de mais fácil detecção pela estrutura laboratorial existente no país.

Outros poluentes que venham a ser considerados importantes serão incorporados aos indicados, desde que atendam ao disposto no parágrafo anterior.

VI - AVALIAÇÃO E CONTROLE

Recomenda que sejam adotadas para fins de avaliação e controle do ar ambiental interior dos ambientes climatizados de uso coletivo, as seguintes Normas Técnicas 001, 002, 003 e 004.

Na elaboração de relatórios técnicos sobre qualidade do ar interior, é recomendada a NBR-10.719 da ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas.

Norma Técnica 001

Qualidade do Ar Ambiental Interior. Método de Amostragem e Análise de Bioaerosol em Ambientes Interiores.

Método Analítico OBJETIVO: Pesquisa, monitoramento e controle ambiental da possível colonização,

multiplicação e disseminação de fungos em ar ambiental interior. DEFINIÇÕES: Bioaerosol: Suspensão de microorganismos (organismos viáveis) dispersos no ar. Marcador epidemiológico: Elemento aplicável à pesquisa, que determina a qualidade do ar

ambiental. Aplicabilidade: Ambientes de interior climatizados, de uso coletivo, destinados a ocupações

comuns (não especiais). Marcador Epidemiológico: Fungos viáveis. MÉTODO DE AMOSTRAGEM: Amostrador de ar por impactação com acelerador linear. PERIODICIDADE: Semestral. FICHA TÉCNICA DO AMOSTRADOR

x

Amostrador: Impactador de 1, 2 ou 6 estágios. Meio de Cultivo: Agar Extrato de Malte, Agar Sabouraud Destrose a 4%, Agar Batata Dextrose ou outro, desde que cientificamente validado.

Taxa de Vazão: 25 a 35 l/min, recomendado 28,3 l/min. Tempo de Amostragem: 10 min. Em áreas altamente contaminadas um tempo de amostragem menor pode ser recomendável.

Volume Mínimo: 140 l Volume Máximo: 500 l Embalagem: Rotina de embalagem para proteção da amostra com

nível de biossegurança 2 (recipiente lacrado, devidamente identificado com símbolo de risco biológico) Transporte: Rotina de embalagem para proteção da amostra com nível de biossegurança 2 (recipiente lacrado, devidamente identificado com símbolo de risco biológico)

Calibração: Semestral Exatidão: ± 0,02 l/min. Precisão: ± 99,92 %

ESTRATÉGIA DE AMOSTRAGEM: selecionar 01 amostra de ar exterior localizada nas proximidades da entrada da tomada de

ar externo na altura de 1,50 m do solo. selecionar ao menos 01 amostra de ar interior por andar ou de cada área servida por um

equipamento condicionador de ar. Para grandes áreas recomenda-se :

Área construída (m2) Número mínimo de amostras

3.000 a 5.000 8 5.000 a 10.000 12

10.000 a 15.000 15 15.000 a 20.000 18 20.000 a 30.000 21 Acima de 30.000 25

o amostrador deve estar localizado na altura de 1,50m do solo, no centro do ambiente ou em zona ocupada.

PROCEDIMENTO LABORATORIAL: Método de cultivo e quantificação segundo normatizações universalizadas. Tempo mínimo de incubação de 7 dias a 250C., permitindo o total crescimento dos fungos.

BIBLIOGRAFIA:

1. "Standard Methods for Examination of Water and Wastewater". 17 th ed. APHA, AWWA, WPC.F; "The United States Pharmacopeia". USP, XXIII ed., NF XVIII, 1985.

2. NIOSH- National Institute for Occupational Safety and Health, NIOSH Manual of Analytical Methods (NMAM), BIOAEROSOL SAMPLING (Indoor Air) 0800, Fourth Edition.

3. IRSST Institute de Recherche en Santé et en Securité du Travail du Quebec, Canada, 1994.

4. Members of the Thecnicae Advisory Committee on Indoor Air Quality, Commission of Public Health Ministry of the Environment Guidelines for Good Indoor Air Quality in Office Premises, Singapore.

xi

Norma Técnica 002

Qualidade do Ar Ambiental Interior. Método de Amostragem e Análise da Concentração de Dióxido de Carbono em Ambientes Interiores.

Método Analítico OBJETIVO: Pesquisa, monitoramento e controle do processo de renovação de ar em

ambientes climatizados. APLICABILIDADE: Ambientes interiores climatizados, de uso coletivo. MARCADOR EPIDEMIOLÓGICO: Dióxido de carbono ( CO2 ) . MÉTODO DE AMOSTRAGEM: Equipamento de leitura direta. PERIODICIDADE: Semestral. FICHA TÉCNICA DOS AMOSTRADORES: Amostrador: Leitura Direta por meio de sensor infravermelho não dispersivo ou célula

eletroquímica. Calibração: Anual ou de acordo com especificação do fabricante. Faixa: de 0 a 5.000 ppm. Exatidão: ± 50 ppm + 2% do valor medido

ESTRATÉGIA DE AMOSTRAGEM: selecionar 01 amostra de ar exterior localizada nas proximidades da entrada da tomada de

ar externo na altura de 1,50 m do solo. selecionar ao menos 01 amostra de ar interior por andar ou de cada área servida por um

equipamento condicionador de ar. Para grandes áreas recomenda-se :

Área construída (m2) Número mínimo de amostras 3.000 a 5.000 8 5.000 a 10.000 12

10.000 a 15.000 15 15.000 a 20.000 18 20.000 a 30.000 21 Acima de 30.000 25

O amostrador deve estar localizado na altura de 1,50m do solo, no centro do ambiente ou

em zona ocupada. PROCEDIMENTO DE AMOSTRAGEM: As medidas deverão ser realizadas em horários de

pico de utilização do ambiente.

Norma Técnica 003 Qualidade do Ar Ambiental Interior. Método de Amostragem. Determinação da Temperatura,

Umidade e Velocidade do Ar em Ambientes Interiores. Método Analítico OBJETIVO: Pesquisa, monitoramento e controle do processo de climatização de ar em

ambientes climatizados.

xii

APLICABILIDADE: Ambientes interiores climatizados, de uso coletivo. MARCADORES: Temperatura do ar ( °C ) Umidade do ar ( % )

Velocidade do ar ( m/s ) . MÉTODO DE AMOSTRAGEM: Equipamentos de leitura direta. Termo-higrômetro e Termo-

anemômetro. PERIODICIDADE: Semestral. FICHA TÉCNICA DOS AMOSTRADORES: Amostrador: Leitura Direta Termo-higrômetro. Princípio de operação: Sensor de temperatura do tipo termo-resistência.

Sensor de umidade do tipo capacitivo ou por condutividade elétrica. Calibração: Anual Faixa: 0º C a 70º C de temperatura 5% a 95 % de umidade Exatidão: ± 0,8 º C de temperatura ± 5% do valor medido de umidade Amostrador: Leitura Direta Termo-anemômetro. Princípio de operação: Sensor de velocidade do ar do tipo fio aquecido ou fio térmico. Calibração: Anual Exatidão: ± 0,03 m/s ± 4% do valor medido

Norma Técnica 004 Qualidade do Ar Ambiental Interior. Método de Amostragem e Análise de Concentração de

Aerodispersóides em Ambientes Interiores. Método Analítico OBJETIVO: Pesquisa, monitoramento e controle de aerodispersóides totais em ambientes

interiores climatizados. Aplicabilidade: Ambientes de interior climatizados, de uso coletivo, destinados a ocupações

comuns (não especiais). Marcador Epidemiológico: Poeira Total (µg/m3 ). MÉTODO DE AMOSTRAGEM: Coleta de aerodispersóides por filtração (MB-3422 da

ABNT). PERIODICIDADE: Semestral. FICHA TÉCNICA DO AMOSTRADOR: Amostrador: Unidade de captação constituída por filtros de PVC, diâmetro de 37 mm e

porosidade de 5 µm de diâmetro de poro específico para poeira total a ser coletada; Suporte de filtro em disco de celulose; Porta-filtro em plástico transparente com diâmetro de 37 mm.

Aparelhagem: Bomba de amostragem, que mantenha ao longo do período de coleta, a vazão inicial de calibração com variação de 5%.

Taxa de Vazão: 1,0 a 3,0 l/min, recomendado 2,0 l/min. Volume Mínimo: 50 l Volume Máximo: 400 l Tempo de Amostragem: 50 l ---› 17 min ; 400 l ---› 133 min Embalagem: Rotina Transporte:

xiii

Calibração: Em cada procedimento de coleta Exatidão: ± 5% do valor medido PROCEDIMENTO DE COLETA: MB-3422 da ABNT. PROCEDIMENTO DE CALIBRAÇÃO DAS BOMBAS: NBR- 10.562 da ABNT PROCEDIMENTO LABORATORIAL: NHO 17 da FUNDACENTRO

VII - INSPEÇÃO

Recomenda que os órgãos competentes de Vigilância Sanitária com o apoio de outros órgãos governamentais, organismos representativos da comunidade e dos ocupantes dos ambientes climatizados, utilizem esta Orientação Técnica como instrumento técnico referencial, na realização de inspeções e de outras ações pertinentes nos ambientes climatizados de uso público e coletivo.

VIII RESPONSABILIDADE TÉCNICA

Recomenda que os proprietários, locatários e prepostos de estabelecimentos com ambientes ou conjunto de ambientes dotados de sistemas de climatização com capacidade igual ou superior a 5 TR (15.000 kcal/h = 60.000 BTU/h), devam manter um responsável técnico com as seguintes atribuições:

a) realizar a avaliação biológica, química e física das condições do ar interior dos ambientes climatizados;

b) proceder a correção das condições encontradas, quando necessária, para que estas atendam ao estabelecido no Art. 4º desta Resolução;

c) manter disponível o registro das avaliações e correções realizadas; e d) divulgar aos ocupantes dos ambientes climatizados os procedimentos e resultados das

atividades de avaliação, correção e manutenção realizadas. Considera como responsável técnico, o profissional que tem competência legal para exercer

as atividades descritas nas análises preconizadas, em conformidade com a regulamentação profissional vigente no país.

A responsabilidade técnica pelas análises laboratoriais realizadas deverá estar desvinculada da responsabilidade técnica pela realização dos serviços de limpeza e manutenção do sistema de climatização.

________________________ 1 World Health Organization. Indoor air quality: biological contaminants; Copenhagen,

Denmark, 1983 (European Series nº 31). 2 American Society of Heating, Refrigerating and Air-Conditioning Engineers,Inc.

ANSI/ASHARAE 62-1989. Standard-Ventilation for Acceptable Indoor Air Quality, 1990. 3 Kulcsar Neto, F & Siqueira, LFG. Padrões Referenciais para Análise de Resultados de

Qualidade Microbiológica do Ar em Interiores Visando a Saúde Pública no Brasil Revista da Brasindoor. 2 (10): 4-21,1999.

4 Conselho Nacional do Meio Ambiente CONAMA, Resolução n.º 03 de 28/06 / 1990. 5 ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas, NBR 6401 Instalações Centrais de Ar

Condicionado para Conforto Parâmetros Básicos de Projeto, 1980.

xiv

ANEXO IV

(DOU 166 31.8.98, Seção I, pags. 40 a 42)

Portaria nº 3.523/GM

Em, 28 de agosto de 1998

O Ministro de Estado da Saúde, no uso das atribuições que lhe confere o artigo 87, Parágrafo único, item II, da Constituição Federal e tendo em vista o disposto nos artigos 6º, I, “a”, “c”, V, VII, IX, §1º, I e II, §3º, I a VI, da Lei n.º 8080, de 19 de setembro de 1990;

considerando a preocupação mundial com a Qualidade do Ar de Interiores em ambientes climatizados e a ampla e crescente utilização de sistemas de ar condicionado no país, em função das condições climáticas;

considerando a preocupação com a saúde, o bem-estar, o conforto, a produtividade e o absenteísmo ao trabalho, dos ocupantes dos ambientes climatizados e a sua inter-relação com a variável qualidade de vida;

considerando a qualidade do ar de interiores em ambientes climatizados e sua correlação com a Síndrome dos Edifícios Doentes relativa à ocorrência de agravos à saúde;

considerando que o projeto e a execução da instalação, inadequados, a operação e a manutenção precárias dos sistemas de climatização, favorecem a ocorrência e o agravamento de problemas de saúde;

considerando a necessidade de serem aprovados procedimentos que visem minimizar o risco potencial à saúde dos ocupantes, em face da permanência prolongada em ambientes climatizados, resolve:

Art. 1º Aprovar Regulamento Técnico contendo medidas básicas referentes aos procedimentos de verificação visual do estado de limpeza, remoção de sujidades por métodos físicos e manutenção do estado de integridade e eficiência de todos os componentes dos sistemas de climatização, para garantir a Qualidade do Ar de Interiores e prevenção de riscos à saúde dos ocupantes de ambientes climatizados.

Art. 2º Determinar que serão objeto de Regulamento Técnico a ser elaborado por este Ministério, medidas específicas referentes a padrões de qualidade do ar em ambientes climatizados, no que diz respeito a definição de parâmetros físicos e composição química do ar de interiores, a identificação dos poluentes de natureza física, química e biológica, suas tolerâncias e métodos de controle, bem como pré-requisitos de projetos de instalação e de execução de sistemas de climatização.

Art. 3º As medidas aprovadas por este Regulamento Técnico aplicam-se aos ambientes climatizados de uso coletivo já existentes e aqueles a serem executados e, de forma complementar, aos regidos por normas e regulamentos específicos.

Parágrafo Único. Para os ambientes climatizados com exigências de filtros absolutos ou instalações especiais, tais como aquelas que atendem a processos produtivos, instalações hospitalares e outros, aplicam-se as normas e regulamentos específicos, sem prejuízo do disposto neste Regulamento Técnico, no que couber.

Art. 4º Adotar para fins deste Regulamento Técnico as seguintes definições:

a. ambientes climatizados: ambientes submetidos ao processo de climatização.

b. ar de renovação: ar externo que é introduzido no ambiente climatizado.

c. ar de retorno: ar que recircula no ambiente climatizado.

d. boa qualidade do ar interno: conjunto de propriedades físicas, químicas e biológicas do ar que não apresentem agravos à saúde humana;

xv

e. climatização: conjunto de processos empregados para se obter por meio de equipamentos em recintos fechados, condições específicas de conforto e boa qualidade do ar, adequadas ao bem estar dos ocupantes.

f. filtro absoluto: filtro de classe A1 até A3, conforme especificações do Anexo II.

g. limpeza: procedimento de manutenção preventiva que consiste na remoção de sujidades dos componentes do sistema de climatização, para evitar a sua dispersão no ambiente interno.

h. manutenção – atividades técnicas e administrativas destinadas a preservar as características de desempenho técnico dos componentes ou sistemas de climatização, garantindo as condições previstas neste Regulamento Técnico.

i. Síndrome dos Edifícios Doentes: consiste no surgimento de sintomas que são comuns à população em geral, mas que, numa situação temporal, pode ser relacionado a um edifício em particular. Um incremento substancial na prevalência dos níveis dos sintomas, antes relacionados, proporciona a relação entre o edifício e seus ocupantes.

Art. 5º Todos os sistemas de climatização devem estar em condições adequadas de limpeza, manutenção, operação e controle, observadas as determinações, abaixo relacionadas, visando a prevenção de riscos à saúde dos ocupantes:

a. manter limpos os componentes do sistema de climatização, tais como: bandejas, serpentinas, umidificadores, ventiladores e dutos, de forma a evitar a difusão ou multiplicação de agentes nocivos à saúde humana e manter a boa qualidade do ar interno.

b. utilizar, na limpeza dos componentes do sistema de climatização, produtos biodegradáveis devidamente registrados no Ministério da Saúde para esse fim.

c. verificar periodicamente as condições físicas dos filtros e mantê-los em condições de operação. Promover a sua substituição quando necessária.

d. restringir a utilização do compartimento onde está instalada a caixa de mistura do ar de retorno e ar de renovação, ao uso exclusivo do sistema de climatização. É proibido conter no mesmo compartimento materiais, produtos ou utensílios.

e. preservar a captação de ar externo livre de possíveis fontes poluentes externas que apresentem riscos à saúde humana e dotá-la no mínimo de filtro classe G1(um), conforme as especificações do Anexo II.

f. garantir a adequada renovação do ar de interior dos ambientes climatizados, ou seja no mínimo de 27 m3/h/pessoa.

g. descartar as sujidades sólidas, retiradas do sistema de climatização após a limpeza, acondicionadas em sacos de material resistente e porosidade adequada, para evitar o espalhamento de partículas inaláveis.

Art. 6º Os proprietários, locatários e prepostos, responsáveis por sistemas de climatização com capacidade acima de 5 TR ( 15.000 kcal/h = 60.000 BTU/H), deverão manter um responsável técnico habilitado, com as seguintes atribuições:

a. implantar e manter disponível no imóvel um Plano de Manutenção, Operação e Controle – PMOC, adotado para o sistema de climatização. Este Plano deve conter a identificação do estabelecimento que possui ambientes climatizados, a descrição das atividades a serem desenvolvidas, a periodicidade das mesmas, as recomendações a serem adotadas em situações de falha do equipamento e de emergência, para garantia de segurança do sistema de climatização e outras de interesse, conforme especificações contidas no Anexo I deste Regulamento Técnico e NBR 13971/97 da Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT.

b. garantir a aplicação do PMOC por intermédio da execução contínua direta ou indireta deste serviço.

c. manter disponível o registro da execução dos procedimentos estabelecidos no PMOC.

xvi

d. divulgar os procedimentos e resultados das atividades de manutenção, operação e controle aos ocupantes.

Parágrafo Único. O PMOC deverá ser implantado no prazo máximo de 180 dias, a partir da vigência deste Regulamento Técnico.

Art. 7º O PMOC do sistema de climatização deve estar coerente com a legislação de Segurança e Medicina do Trabalho. Os procedimentos de manutenção, operação e controle dos sistemas de climatização e limpeza dos ambientes climatizados, não devem trazer riscos a saúde dos trabalhadores que os executam, nem aos ocupantes dos ambientes climatizados.

Art. 8º Os órgãos competentes de Vigilância Sanitária farão cumprir este Regulamento Técnico, mediante a realização de inspeções e de outras ações pertinentes, com o apoio de órgãos governamentais, organismos representativos da comunidade e ocupantes dos ambientes climatizados.

Art. 9º O não cumprimento deste Regulamento Técnico configura infração sanitária, sujeitando o proprietário ou locatário do imóvel ou preposto, bem como o responsável técnico, quando exigido, às penalidades previstas na Lei n.º 6.437, de 20 de agosto de 1977, sem prejuízo de outras penalidades previstas em legislação específica.

Art. 10º Este Regulamento Técnico entra em vigor na data da sua publicação, revogadas as disposições em contrário.

JOSÉ SERRA

xvii

ANEXO I

PLANO DE MANUTENÇÃO, OPERAÇÃO E CONTROLE – PMOC.

1 - Identificação do Ambiente ou Conjunto de Ambientes:

Nome (Edifício/Entidade)

Endereço completo N.º

Complemento Bairro Cidade UF

Telefone: Fax:

2 - Identificação do Proprietário, Locatário ou Preposto:

Nome/Razão Social CIC/CGC

Endereço completo Tel./Fax/Endereço Eletrônico

3 - Identificação do Responsável Técnico:

Nome/Razão Social CIC/CGC

Endereço completo Tel./Fax/Endereço Eletrônico

Registro no Conselho de Classe ART*

* ART = Anotação de Responsabilidade Técnica

4 – Relação dos Ambientes Climatizados:

Tipo de Atividade N.º de Ocupantes Identificação do Ambiente ou Conjunto de Ambientes

Área Climatizada Total

Carga Térmica

Fixos Flutuantes

NOTA: anexar Projeto de Instalação do sistema de climatização.

5 - Plano de Manutenção e Controle

Descrição da atividade Periodicidade Data de execução

Executado por

Aprovado por

a) Condicionador de Ar (do tipo “expansão direta” e “água gelada”)

verificar e eliminar sujeira, danos e corrosão no gabinete, na moldura da serpentina e na bandeja;

limpar as serpentinas e bandejas

verificar a operação dos controles de vazão;

verificar a operação de drenagem de água da bandeja;

verificar o estado de conservação do isolamento termo-acústico ;

verificar a vedação dos painéis de fechamento do gabinete;

xviii

Descrição da atividade Periodicidade Data de execução

Executado por Aprovado por

verificar a tensão das correias para evitar o escorregamento;

lavar as bandejas e serpentinas com remoção do biofilme (lodo), sem o uso de produtos desengraxantes e corrosivos;

limpar o gabinete do condicionador e ventiladores (carcaça e rotor).

verificar os filtros de ar:

• filtros de ar (secos)

verificar e eliminar sujeira, danos e corrosão;

medir o diferencial de pressão;

verificar e eliminar as frestas dos filtros;

limpar (quando recuperável) ou substituir (quando descartável) o elemento filtrante.

• filtros de ar (embebidos em óleo)

verificar e eliminar sujeira, danos e corrosão;

medir o diferencial de pressão;

verificar e eliminar as frestas dos filtros;

lavar o filtro com produto desengraxante e inodoro;

pulverizar com óleo (inodoro) e escorrer, mantendo uma fina película de óleo.

b) Condicionador de Ar (do tipo “com condensador remoto” e “janela”)

verificar e eliminar sujeira, danos e corrosão no gabinete, na moldura da serpentina e na bandeja;

verificar a operação de drenagem de água da bandeja;

verificar o estado de conservação do isolamento termo- acústico (se está preservado e se não contém bolor);

verificar a vedação dos painéis de fechamento do gabinete;

lavar as bandejas e serpentinas com remoção do biofilme (lodo), sem o uso de produtos desengraxantes e corrosivos;

limpar o gabinete do condicionador.

verificar os filtros de ar:

• filtros de ar

verificar e eliminar sujeira, danos e corrosão;

verificar e eliminar as frestas dos filtros;

xix

limpar o elemento filtrante.

c) Ventiladores

verificar e eliminar sujeira, danos e corrosão;

verificar a fixação;

verificar o ruído dos mancais;

lubrificar os mancais;

verificar a tensão das correias para evitar o escorregamento;

verificar vazamentos nas ligações flexíveis;

verificar a operação dos amortecedores de vibração;

Descrição da atividade Periodicidade Data de execução

Executado por Aprovado por

verificar a instalação dos protetores de polias e correias;

verificar a operação dos controles de vazão;

verificar a drenagem de água;

limpar interna e externamente a carcaça e o rotor.

d) Casa de Máquinas do Condicionador de Ar

verificar e eliminar sujeira e água;

verificar e eliminar corpos estranhos;

verificar e eliminar as obstruções no retorno e tomada de ar externo;

• aquecedores de ar

verificar e eliminar sujeira, dano e corrosão;

verificar o funcionamento dos dispositivos de segurança;

limpar a face de passagem do fluxo de ar .

• umidificador de ar com tubo difusor (ver obs.1)

verificar e eliminar sujeira, danos e corrosão;

verificar a operação da válvula de controle;

ajustar a gaxeta da haste da válvula de controle;

purgar a água do sistema;

verificar o tapamento da caixa d’água de reposição;

verificar o funcionamento dos dispositivos de segurança;

verificar o estado das linhas de distribuição de

xx

vapor e de condensado;

• tomada de ar externo(ver obs.2)

verificar e eliminar sujeira, danos, e corrosão;

verificar a fixação;

medir o diferencial de pressão;

medir a vazão;

verificar e eliminar as frestas dos filtros;

verificar o acionamento mecânico do registro de ar ( “damper”);

limpar (quando recuperável) ou substituir (quando descartável) o elemento filtrante;

• registro de ar (“damper”) de retorno(ver obs.2)

verificar e eliminar sujeira, danos e corrosão;

verificar o seu acionamento mecânico;

medir a vazão;

• registro de ar (“damper”) corta fogo (quando houver)

verificar o certificado de teste;

verificar e eliminar sujeira nos elementos de fechamento, trava e reabertura;

verificar o funcionamento dos elementos de fechamento, trava e reabertura;

verificar o posicionamento do indicador de condição(aberto ou fechado);

• registro de ar (“damper”) de gravidade (venezianas automáticas)

verificar e eliminar sujeira, danos e corrosão;

Descrição da atividade

Periodicidade Data de execução

Executado por Aprovado por

verificar o acionamento mecânico;

Lubrificar os mancais;

Observações:

1. Não é recomendado o uso de umidificador de ar por aspersão que possui bacia de água no interior do duto de insuflamento ou no gabinete do condicionador.

2. É necessária a existência de registro de ar no retorno e tomada de ar externo, para garantir a correta vazão de ar no sistema.

e) Dutos, Acessórios e Caixa Pleno para o Ar

Verificar e eliminar sujeira (interna e externa), danos e corrosão;

xxi

Verificar a vedação das portas de inspeção em operação normal;

verificar e eliminar danos no isolamento térmico;

verificar a vedação das conexões.

• bocas de ar para insuflamento e retorno do ar

verificar e eliminar sujeira, danos e corrosão;

verificar a fixação;

medir a vazão;

• dispositivos de bloqueio e balanceamento.

verificar e eliminar sujeira, danos e corrosão;

verificar o funcionamento;

f) Ambientes Climatizados

Verificar e eliminar sujeira, odores desagradáveis, fontes de ruídos, infiltrações, armazenagem de produtos químicos, fontes de radiação de calor excessivo, e fontes de geração de microorganismos;

g) Torre de Resfriamento

Verificar e eliminar sujeira, danos e corrosão ;

Notas:

1) As práticas de manutenção acima devem ser aplicadas em conjunto com as recomendações de manutenção mecânica da NBR 13.971 - Sistemas de Refrigeração, Condicionamento de Ar e Ventilação – Manutenção Programada da ABNT, assim como aos edifícios da Administração Pública Federal o disposto no capítulo Práticas de Manutenção, Anexo 3, itens 2.6.3 e 2.6.4 da Portaria n.º 2296/97, de 23 de julho de 1997, Práticas de Projeto, Construção e Manutenção dos Edifícios Públicos Federais, do Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado – MARE. O somatório das práticas de manutenção para garantia do ar e manutenção programada visando o bom funcionamento e desempenho térmico dos sistemas, permitirá o correto controle dos ajustes das variáveis de manutenção e controle dos poluentes dos ambientes.

2) Todos os produtos utilizados na limpeza dos componentes dos sistemas de climatização, devem ser biodegradáveis e estarem devidamente registrados no Ministério da Saúde para esse fim.

3) Toda verificação deve ser seguida dos procedimentos necessários para o funcionamento correto do sistema de climatização.

6 – Recomendações aos usuários em situações de falha do equipamento e outras de emergência:

Descrição:

OTAVIO AZEVEDO MERCADANTE