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INSTITUTO FERNANDES FIGUEIRA FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ MINISTÉRIO DA SAÚDE Atenção Humanizada ao Recém-Nascido de Baixo Peso – Método Canguru: a proposta brasileira, os conhecimentos e as práticas dos profissionais de saúde em maternidades públicas da cidade do Rio de Janeiro Marcia de Abreu e Silva Hennig Rio de Janeiro 2005

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INSTITUTO FERNANDES FIGUEIRA

FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ

MINISTÉRIO DA SAÚDE

Atenção Humanizada ao Recém-Nascido de Baixo Peso – Método Canguru: a proposta brasileira, os conhecimentos e as práticas dos

profissionais de saúde em maternidades públicas da cidade do Rio de Janeiro

Marcia de Abreu e Silva Hennig

Rio de Janeiro

2005

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Departamento de Ensino

Programa de Pós-Graduação em Saúde da Criança e da Mulher

Atenção Humanizada ao Recém-Nascido de Baixo Peso – Método Canguru: a proposta brasileira, os conhecimentos e as práticas dos

profissionais de saúde em maternidades públicas da cidade do Rio de Janeiro

Marcia de Abreu e Silva Hennig

Dissertação apresentada à Coordenação de Mestrado em Saúde da Criança e da Mulher do Instituto Fernandes Figueira da Fundação Oswaldo Cruz, para obtenção do Título de Mestre.

Orientadora: Profª Drª Maria Auxiliadora de Souza Mendes Gomes Co-orientadora: Ms. Nicole Oliveira Mota Gianini

Rio de Janeiro, Fevereiro de 2005

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Marco Pólo descreve uma ponte, pedra por pedra.

“Mas qual é a pedra que sustenta a ponte?”

Pergunta Kublai Khan.

“A ponte não é sustentada por esta ou aquela pedra – responde

Marco – mas pela curva do arco que elas formam”.

Kublai Khan permanece em silêncio refletindo. Depois

acrescenta:

“Porque falar das pedras? Só o arco me interessa”.

Pólo responde:

“Sem as pedras o arco não existe”.

Ítalo Calvino, As Cidades Invisíveis

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Ao meu marido Carlos

Christiano, pelo amor, dedicação,

companheirismo, bom humor e

também pela co-autoria deste

trabalho.

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Agradecimentos

Aprendi que se depende sempre de tanta diferente gente Toda pessoa sempre é a marca das lições diárias de tantas outras pessoas

E é tão bonito quando a gente entende Que a gente é tanta gente onde quer que a gente vá

É tão bonito quando a gente sente que nunca está sozinho Por mais que pense estar...

Gonzaguinha, Caminhos do Coração (Pessoa = Pessoas)

Nunca pensei que fosse ficar tão feliz ao escrever este agradecimento.

Tantas pessoas a quem agradecer... Isto só pode significar muitos amigos e é grande a

alegria ao constatar isto. Gostaria de mencionar todos, mas sei que por mais que tente

sempre vai faltar. Por isso eu agradeço a todos e, em especial:

Agradeço a minha orientadora Maria Auxiliadora de Souza Mendes

Gomes, pela construção e desenvolvimento desta pesquisa.

A minha co-orientadora Nicole Oliveira Mota Gianini, pela atenção e

disponibilidade, com palavras sempre tão carregadas de afeto e incentivo e que foram

tão fundamentais neste caminho.

Pela alegria de ser novamente aluna, com muitos “deveres de casa”,

trabalhos de grupo e pelas grandes risadas compartilhadas, agradeço aos meus colegas

de mestrado, em especial, Mônica Marinatto, a Moni, pela ajuda, compreensão,

paciência e apoio em momentos fundamentais do curso.

A Suzane Menezes, com quem não só “dividi” a orientadora, mas

principalmente, pela divisão de angústias e percalços encontrados pelo caminho.

A amiga Letícia Guida da Fonseca, agradeço o apoio e incentivo, tão

importantes no momento da decisão de fazer este mestrado.

As amigas fonoaudiólogas, aqui representadas por Adelaide da Rocha e

Silva de Carvalho e Vânia Isabel de Andrade, pela compreensão e disponibilidade ao

acudirem, sem aviso prévio, aos meus incontáveis pedidos: “Por favor, pode atender

para mim hoje? E amanhã, pode também?” Vocês não tem idéia do quanto me

ajudaram.

A amiga e sócia Mirna Miguel Passos Godoy por partilhar das muitas

questões aqui trabalhadas e pelo apoio em todos os momentos desta pesquisa.

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A Jorge Vargas, como amigo, e companheiro de longa data neste meu

percurso na Neonatologia e, como chefe, pela paciência e compreensão de tantas

ausências durante a execução este trabalho.

A Maria Bethânia Borba, pela cumplicidade com minhas “inquietações”

diante do objeto em estudo.

Aos meus cunhados, Carla e Oscar, que mesmo de tão longe, ajudaram

com as traduções.

A Gisélia Borges, que me ajudou a tornar tantas coisas possíveis,

inclusive este trabalho.

Aos maravilhosos bebês e suas mães, co-autores deste trabalho.

Aos profissionais que possibilitaram a realização desta pesquisa.

A todos, MUITO OBRIGADA!

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RESUMO

Este trabalho contextualiza a proposta brasileira na Atenção Humanizada ao Recém-Nascido de Baixo Peso - Método Canguru (AHRNBP-MC), partindo do histórico do método no mundo e sua aplicação no Brasil.

Partindo da leitura documental de fontes primárias que incluíram textos oficiais produzidos pelo Ministério da Saúde, o estudo proporcionou uma reflexão sobre a AHRNBP-MC como estratégia de qualificação do cuidado neonatal.

Com o objetivo de identificar os conhecimentos e as práticas sobre a AHRNBP–MC de profissionais médicos e de enfermagem em maternidades públicas da cidade do Rio de Janeiro, realizamos um estudo descritivo transversal realizado através de questionário sobre as características das onze maternidades públicas da cidade do Rio de Janeiro, selecionadas para o estudo e de questionário sobre o conhecimento e as práticas da Atenção Humanizada ao Recém-Nascido de Baixo Peso – Método Canguru, respondidos por 148 médicos e enfermeiros atuantes nestas unidades.

Os resultados aqui apresentados permitem mapear a forma de cuidado neonatal que atinge 74% dos prematuros e 67% dos muito baixo peso (MBPN) atendidos no Sistema Único de Saúde (SUS), no município do Rio de Janeiro, segundo dados do Sistema de Informação sobre Nascidos-Vivos – SINASC.

A análise do processo de implantação da AHRNBP-MC proposta pelo MS nos permite mapear uma experiência consideravelmente mais ampla do que a dos países que adotaram ou discutem o Método Canguru em cenários de extrema dificuldade de acesso à assistência neonatal e mais ampla do que aquela encontrada nos países desenvolvidos, nos quais também encontramos os elementos ligados às intervenções no ambiente e na forma do cuidado neonatal, incluindo aqui o incentivo ao contato pele-a-pele.

Em nosso estudo observamos, em relação a situação das unidades do estudo quanto à capacitação na AHRNBP-MC, que 135 profissionais participaram do curso de capacitação de 40 horas, sendo que destes, 117 permanecem na unidade. Dentre as onze unidades, cinco ofereceram estratégias locais para treinamento. Com relação aos elementos de estrutura e da rotina do cuidado neonatal, das onze maternidades estudadas oito possuem a 2ª e 3ª etapas do método, sendo cinco adequadas em relação à Norma do MS para os critérios da 2ª etapa, oito adequadas para a 3ª etapa e destas, seis com estrutura para o seguimento.

Destacamos que oito maternidades dispõem de iluminação setorizada, porém em nenhuma delas há existência de tratamento acústico.

Dentre os resultados relacionados às práticas destacamos que 83% dos profissionais relataram que as principais informações dadas aos pais na 1ª visita são sobre o quadro clínico do bebê; 81% referiram estimular a mãe para o cuidado com o bebê, exercendo a maternagem e 34% dos profissionais referiram utilização de sucção não nutritiva como estratégia de minimização de dor e desconforto.

Desta forma concluímos que, apesar do conhecimento teórico sobre a Atenção Humanizada, os profissionais ainda não o utilizam plenamente em sua prática clínica sugerindo que a abrangência de suas diretrizes ainda não está completamente assimilada.

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ABSTRACT

This work starts describing the way the method is used in other countries and how it is applied in Brazil, contextualizing the Brazilian propose in the Humanized Care of Low Weight Newborn -Kangaroo Care (AHRNPB-MC).

Our primary source to systemize the experience was the analysis of documents, including official papers produced by the Brazilian health department.

The study provided a reflection on the AHRNPB-MC and may be use as tool for comparison of the Brazilian neonatal care.

With the objective to identify the knowledge and practices regarding the Human Attention of Low Birth Weight – Kangaroo Care a study was conducted using doctors and nurses in Rio de Janeiro City public hospitals. The study was accomplished by using a questionnaire applied in eleven pre-selected Rio de Janeiro City public hospitals. The questionnaire was answered by 148 doctors and nurses direct involved with Human Attention of Low Birth Weight – Kangaroo Car.

As results we found that regarding strategies for relieve pain/discomfort, 34% utilize non-nutritive suction. 83% answered that the new born clinic information are the core discussion during the parents’ first visit. 81% also give mother incentive to care for the new born using “buddy”. Those results allow us to map the way the new born treatment is practice in 74% of the premature and 67% of Low Weight Newborn born in public hospitals in the county of Rio de Janeiro, accordingly to data from SINASC (live-born information system).

At the end of our study we came to the conclusion that even though the knowledge of Humanized Care is present among the doctors and nurses it is not widely used. This fact suggests that the doctors and nurses have not yet discovered the full capacity of this type of neonatal treatment.

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ÍNDICE

Apresentação ……………………………………………………………………. i

Introdução e Justificativa ……………………………………………………....... 5

Objetivos ……………………………………………………………………........ 8

Método da Pesquisa …………………………………………………………....... 9

Referências Bibliográficas .................................................................................... 16

Artigos submetidos a publicação:

Humanização em Terapia Intensiva Neonatal-A Proposta Brasileira……............ 17

Conhecimentos e Práticas dos Profissionais de Saúde sobre a AHRNBP-MC .… 42

Apêndices ..…………………………………………………………………......... 70

Anexos ................................................................................................................... 93

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Características das unidades de estudo ........................................................ 51

Tabela 2. Características de funcionamento das unidades de estudo .......................... 52

Tabela 3. Situação das unidades do estudo quanto à capacitação na AHRNBP-MC... 52

Tabela 4. Elementos selecionados da estrutura e das rotinas do cuidado neonatal ..... 53

Tabela 5. Estratégias apontadas para minimizar ruído e luminosidade ...................... 54

Tabela 6. Práticas assistenciais na perspectiva da AHRNBP-MC ............................. 55

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LISTA DE APÊNDICES

Apêndice 1. Questionários ........................................................................................ 70

Apêndice 2. Questionário para avaliação pelos experts ............................................ 83

Apêndice 3. Termos de Consentimento Livre e Esclarecido .................................... 87

Apêndice 4. Autorização dos Hospitais .................................................................... 91

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LISTA DE ANEXOS

Anexo 1. Norma da AHRNBP-MC .......................................................................... 93

Anexo 2. Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa do IFF – CEP/IFF .................... 97

Anexo 3. Comprovante de envio para revista .......................................................... 99

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APRESENTAÇÃO

Nove horas da manhã: UTI neonatal cheia. De bebês, de médicos, de

residentes, de acadêmicos, de técnicos de enfermagem, uma ou outra mãe presente. É

hora da dieta, de troca de medicamentos, de examinar as crianças, de dar o banho.

Radinho tocando no posto de enfermagem. Alarmes disparam, abrem e fecham-se

portinholas de incubadoras, todos os profissionais falam ao mesmo tempo...

– PSIIIIIIIUUUUUUUUUUUUU!!! Dá para falar mais baixo? Dá para diminuir

o barulho?

Eu pergunto, também gritando, tentando fazer com que minha voz se sobreponha

a todos os outros sons. “Muxoxo” geral, reclamações sendo cochichadas, olhares

fulminantes, mas o ruído diminui bastante.

– Mania de fono! Silêncio! Ora essa, não vê que estamos trabalhando?

Precisamos falar!

Numa incubadora está a técnica terminando o banho do RN. Aproximo-

me dela e digo:

– Posso fazer um ninho? Se ele ficar aconchegado vai se sentir mais

acolhido e ficará mais tranqüilo...

Olhar impaciente da técnica: – vai demorar? E diz para o RN: “quanta

frescura, né bebê? Até parece que vai ser assim em casa!”

Hora do round: “Filho de Sonia”; nasceu de parto cesáreo, Apgar 5/8,

32 semanas de idade gestacional, com 1.200g – AIG, evoluiu com desconforto

respiratório nas primeiras horas de vida, com piora progressiva. Colocado em

ventilação mecânica, permaneceu 14 dias entubado e 7 dias em CPAP nasal. Fez 14

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dias de antíbioticoterapía iniciando dieta trófica no 5º dia de antibiótico, com aumento

gradual e ponderal satisfatório. Ultrassonografia transfontanela normal.

Hoje está com 36 semanas e 1 dia, peso de 1.505g. Agora só falta comer.

– Marcia, quando que o “filho de Sonia” vai começar a sugar? Só falta isto para ele ir

embora... Não demora que eu não agüento mais esta mãe aqui dentro!

Estas situações sempre me causaram uma certa perplexidade. Em vários

aspectos: pela “lógica” de que, ao se estabilizar e iniciar um processo de recuperação de

um recém-nascido, tudo fosse magicamente acontecer, independente do que ocorreu

desde o nascimento: começar a sugar (isto é tão simples!); a mãe assumir abruptamente

os cuidados de seu bebê, apesar de, até então, isto não lhe ter sido permitido; ainda ter

leite e automaticamente, ao colocar o bebê no seio, conseguir amamentar; afinal, isto é

natural!!!

Escolher como estudo a “Atenção Humanizada ao Recém-Nascido de

Baixo Peso – Método Canguru” está diretamente ligado ao meu trajeto profissional.

Minha formação como fonoaudióloga e psicomotricista, trabalhando em

unidades de cuidado intensivo desde a década de 1980, tornou possível ao longo deste

período participar das muitas mudanças que ocorreram, principalmente na última

década, nas unidades neonatais.

Hoje, a boa prática em saúde pressupõe uma visão humanista que, ao lado

do cuidado individualizado, esteja atenta às repercussões emocionais trazidas pelas

separações precoces entre pais-bebê, suas conseqüências no desenvolvimento do apego,

assim como na futura qualidade de vida dessa família.

Esta prática, como refere Gomes (2000), revelou-me a fundamental

importância da assistência especializada, integral e multiprofissional a mães e bebês nas

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instituições de saúde, bem como a importância entre a comunicação inicial do binômio

mãe/bebê.

A atenção com a humanização dos cuidados intensivos neonatais vem

crescendo e vagarosamente criando uma nova mentalidade nos profissionais de saúde

que a compõem. A preocupação com a sobrevivência está ao lado da busca pela

diminuição da morbidade e das iatrogenias que possam advir desta internação. Os

crescentes estudos acerca do comportamento dos bebês, principalmente dos prematuros,

vêm contribuindo enormemente para a compreensão do desenvolvimento dessas crianças

e dos efeitos que as separações precoces e prolongadas de seus pais, acrescidas dos

procedimentos dolorosos a que são submetidas durante este período, possam trazer.

A contemporaneidade e a formulação desta nova atenção nas práticas de

saúde neonatais, formuladas pelo Ministério da Saúde (MS), vem ocorrendo desde o

Programa de Humanização do Pré-Natal e Nascimento (PHPN), da Iniciativa Hospital

Amigo da Criança (IHAC) e, por último, pela Norma da Atenção Humanizada ao

Recém-Nascido de Baixo Peso – Método Canguru (AHRNBP-MC).

A estratégia utilizada para o estabelecimento desta atenção é realizada

através da capacitação de profissionais de nível superior, com o objetivo de difundir e

instrumentalizar profissionais da área de saúde na utilização da Norma do Método

Canguru (MS, 2000).

A distância entre o discurso e a realidade somada às dificuldades

encontradas na incorporação deste método foram, para mim, o principal determinante

para este trabalho, tornando imperativa a necessidade de estudar e refletir no assunto,

sendo, o primeiro passo, identificar os conhecimentos e as práticas dos profissionais.

Esta dissertação é apresentada sob a forma de dois artigos: “Atenção

Humanizada ao Recém-Nascido de Baixo Peso – Método Canguru: a proposta

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brasileira” e “Conhecimentos e práticas dos profissionais sobre a Atenção Humanizada

ao Recém-Nascido de Baixo Peso – Método Canguru em maternidades públicas da

cidade do Rio de Janeiro”.

Ao final de cada artigo encontra-se a bibliografia própria, no formato da

revista a qual será submetido assim como os resultados encontrados.

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“Nada é mais difícil de manejar, mais perigoso de conduzir, ou de mais incerto sucesso do que liderar a introdução de uma nova ordem nas coisas. Pois o inovador tem contra si todos os que se

beneficiavam das antigas condições e apoio apenas tíbio daqueles que serão beneficiados com a nova ordem”.

Maquiavel

1 – INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA

No Brasil, a mortalidade neonatal ganhou maior visibilidade desde o início

da década de 90, principalmente em função da redução proporcional de óbitos pós-

natais. Assim sendo, a adoção de medidas para o enfrentamento dos problemas

existentes na assistência perinatal, incluindo o atendimento de maior complexidade,

passou a integrar a agenda de prioridades das políticas públicas em saúde no Brasil

(GOMES, 2004).

O Baixo Peso ao Nascer (BPN), definido como peso abaixo de 2500g, e a

prematuridade são grandes responsáveis pela mortalidade neonatal, representando 69%

de todos os óbitos neonatais, e pelos distúrbios funcionais entre os sobreviventes (MS,

1999).

Os prematuros e recém-nascidos de baixo peso ao nascer (RNBP) são

indivíduos de extrema fragilidade que necessitam de cuidados muito especiais por

possuírem maior risco de serem acometidos por enfermidades perinatais, como a

hemorragia cerebral e retinopatia da prematuridade, ou por distúrbios metabólicos como

a hipoglicemia. Necessitam também de mais aquecimento, maior eficiência na

identificação e no tratamento das infecções, mais contato com suas mães e pais, uma

atenção particular de profissionais habilitados e uma assistência de alta qualidade dos

serviços de saúde.

A reversão dos altos índices de mortalidade neonatal passa pela melhoria

da qualidade do cuidado perinatal, incluindo melhor manejo obstétrico e melhoria dos

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cuidados imediatos aos RN nas UTI neonatais, unidades intermediárias e alojamentos

conjuntos nas maternidades.

O Programa de Assistência à Saúde Perinatal, elaborado pelo MS, define

em suas Bases Programáticas a ASSISTÊNCIA À SAÚDE PERINATAL (MS, 1991 a)

como:

“Os cuidados oferecidos à unidade mãe-feto nos períodos pré-natal,

parto, pós-parto, e ao recém-nascido para facilitar a sua adaptação ao meio ambiente e

promover o seu crescimento e desenvolvimento normais. Engloba ainda os cuidados

referentes ao período pré-concepcional, procurando assegurar a fecundação em momento

de homeostase”.

No contexto específico da melhoria da assistência neonatal, as estratégias

de humanização vêm despertando interesse crescente na literatura mundial. É fato que

hoje, o atendimento humanizado é um desafio no cuidado médico global. Os avanços

técnico-científicos da medicina não podem mais abrir mão da perspectiva humanista.

Observar que tanto o acolhimento quanto o vínculo são também

tecnologias vitais não apenas para o bebê, mas para o adequado funcionamento da díade

mãe-bebê; é possibilitar o cuidar, numa perspectiva humanizada, implicada numa atitude

de respeito ao bebê e sua família, possibilitando que sejam vistos como sujeitos, e não

apenas como objetos da assistência (LAMY, 2000).

De acordo com Oliveira e Joaquim (2002), o Método Canguru no Brasil

difere do tradicional modelo idealizado na Colômbia no fim da década de 70. O modelo

brasileiro visa fundamentalmente uma mudança no paradigma da atenção ao recém-

nascido de baixo peso, sua mãe, família e dos profissionais envolvidos nesse

atendimento, buscando principalmente uma abordagem mais humanizada.

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O método brasileiro se caracteriza por se desenvolver em três etapas,

interligadas, onde o sucesso de uma etapa depende do adequado trabalho realizado na

etapa anterior (OLIVEIRA e JOAQUIM, 2002).

Na primeira etapa, após a identificação da gestante com risco de ter um

bebê de baixo peso, a gestante recebe orientações específicas sobre os cuidados a serem

tomados com ela e o bebê. No caso do recém-nascido necessitar permanecer na unidade

de terapia intensiva neonatal e/ou de cuidados intermediários, especial atenção é dada

para estimular a entrada dos pais na unidade, orientar sobre as condições clínicas da

criança, oferecer suporte e estímulo para o contato pele a pele com o bebê. É trabalhado

também o estímulo à lactação e à participação dos familiares nos cuidados com o bebê.

A segunda etapa prevê o bebê em situação clínica estável, sua mãe segura

e orientada nos cuidados com seu filho, na enfermaria de alojamento conjunto, mantendo

a posição canguru pelo período que ambos (mãe e bebê) acharem seguro e conveniente.

A terceira etapa baseia-se no acompanhamento ambulatorial após a alta,

com orientação e acompanhamentos especializados.

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2. OBJETIVOS

- Sistematizar a proposta brasileira sobre Atenção Humanizada ao Recém-Nascido

de Baixo Peso – Método Canguru (AHRNBP-MC) e destacar a diferença entre o

Método Canguru no Brasil e no mundo.

- Identificar a rotinas, os conhecimentos e as práticas dos profissionais de

maternidades públicas no Município do Rio de Janeiro sobre aspectos selecionados

do cuidado neonatal na perspectiva da AHRNBP-MC;

- Conhecer elementos da estrutura e das rotinas de funcionamento da Enfermaria

Canguru (2ª etapa do Programa) e do seguimento pós-alta (3ª etapa do Programa)

nessas maternidades que contemplam as três etapas do Método.

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3. MÉTODO DA PESQUISA

Para alcançar o objetivo de contextualizar a experiência brasileira na

Atenção Humanizada ao Recém-Nascido de Baixo Peso-Método Canguru (AHRNBP-

MC), empreendemos uma leitura documental com base em fontes primárias (textos

oficiais produzidos pelo Ministério da Saúde: Relatório de Gestão da Secretaria de

Políticas de Saúde (MS, 2000-2002) e o Manual Técnico da AHRNBP-MC (MS, 2002))

e com leitura de autores que discutem humanização, buscando estudar a lógica de

construção desta estratégia de cuidados no Brasil.

Com o objetivo de identificar as rotinas das unidades, os

conhecimentos e as práticas dos profissionais, utilizamos o referencial da Pesquisa

Avaliativa, definida por Contrandriopoulos et al (1997) como “o procedimento que

consiste em fazer um julgamento ex-post de uma intervenção usando métodos

científicos” (p. 37).

Neste campo, assumimos também o referencial teórico de Hartz

(1997) que enfatiza o risco de estudos que negligenciam as dimensões “complexas”

na pesquisa avaliativa na área da saúde, produzindo resultados provavelmente pouco

úteis para influenciar o comportamento organizacional.

Entendemos que este foi o caso da intervenção em estudo. A revisão

das práticas assistenciais ao recém-nascido e sua família, buscando os fundamentos

básicos propostos pela Atenção Humanizada ao Recém-Nascido de Baixo Peso,

representa um desafio importante para o sistema de saúde no geral e para os serviços

em particular. Este é evidentemente um processo complexo e que não ocorre de

forma imediata ou linear.

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Assumindo um postulado da avaliação normativa, de que existe uma

forte relação entre o respeito aos critérios e às normas escolhidas e os efeitos reais de

um programa ou intervenção (Rossi & Freeman, apud Hartz, 1997), optamos por

mapear neste estudo os elementos da estrutura, das rotinas e práticas assistenciais nas

Unidades Neonatais que passaram pela capacitação realizada pelo Ministério da

Saúde.

Assim sendo, partindo das rotinas e protocolos definidos na Norma e

no Manual de Capacitação na “Atenção Humanizada ao Recém-Nascido de Baixo

Peso – Método Canguru”, foram selecionados indicadores objetivando a análise de

sua incorporação pelas Unidades Neonatais capacitadas.

Indicadores:

1. Elementos da estrutura e das rotinas do cuidado neonatal

a. Número de profissionais treinados no Curso Teórico-Prático em atividade

na Unidade Neonatal/Enfermaria Canguru;

b. Ocorrência de estratégias locais de treinamento/disseminação das rotinas

preconizadas;

c. Horários para presença dos pais;

d. Direito de visita de avós;

e. Existência de práticas facilitadoras para presença da mãe;

f. Existência de Enfermaria Canguru;

g. Número de leitos na Enfermaria Canguru;

h. Rotinas clínicas para início da segunda etapa e para seguimento

ambulatorial.

2. Conhecimentos e práticas dos profissionais da Unidade Neonatal sobre aspectos

selecionados do cuidado neonatal na perspectiva da AHRNBP-MC:

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a. Estratégias frente a situações de dor e/ou desconforto do RN;

b. Identificação dos fatores ambientais que interferem no bem-estar do RN;

c. Estratégias para adequação do meio ambiente em relação a ruídos e

estímulos visuais.

Seleção das Maternidades:

Foram incluídas no estudo as maternidades públicas da Cidade do Rio

de Janeiro que participaram com pelo menos três (3) profissionais do Curso de

Capacitação no período 2000 – 2002, de acordo com lista fornecida pelo Centro de

Referência da AHRNBP-MC na região sudeste:

Hospital Maternidade Oswaldo Nazareth (Praça XV)

Hospital Maternidade Alexander Fleming

Hospital Maternidade Carmela Dutra

Hospital Maternidade Herculano Pinheiro

Instituto Municipal da Mulher Fernando Magalhães

Hospital Maternidade Leila Diniz

Hospital Rocha Faria

Hospital Geral de Bonsucesso

Maternidade Escola – UFRJ

Hospital Pedro Ernesto – UERJ

Instituto Fernandes Figueira – FIOCRUZ

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Fontes de informações das maternidades estudadas:

No trabalho de campo, as informações foram obtidas a partir dos dados

fornecidos pelas unidades através de questionários com perguntas abertas e fechadas

aplicadas às chefias médica e de enfermagem, profissionais médicos e de enfermagem

que atuam como rotina e plantonistas nas Unidades Neonatais selecionadas, utilizando-

se instrumento previamente validado (anexo 1).

Em cada maternidade, a aplicação dos questionários foi previamente

agendada através de contato telefônico com as chefias de serviço e realizada após

consentimento livre e esclarecido de cada profissional. Foram necessárias, em média,

três visitas em cada unidade. Nestas visitas os questionários foram respondidos pelas

chefias, pelos profissionais que compõem as rotinas e por, pelo menos, dois plantonistas

de cada unidade.

Avaliação do Instrumento para coleta de dados:

A validação do questionário foi realizada através da aplicação de um

estudo de sensibilidade (validade de face/conteúdo), realizada por experts no assunto.

A validade de face foi testada através de instrumento com notas que

variam de 1 a 7, segundo critérios de Feinstein (1975) para “sensibilidade de

instrumentos” (Fallowfield, 1995; Oxman & Guyatt, 1991; Oxman et al., 1993; Gordis,

1979). Foi adotado para validade o ponto de corte de 75, conforme sugerido por Streiner

e Norman (1989, p. 90) para aceitabilidade mínima do valor de confiabilidade (anexo 2).

No quadro abaixo temos as notas discriminadas pelos juízes:

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CRITÉRIOS JUIZ 1

JUIZ 2

JUIZ 3

JUIZ 4

MÉDIA % ITEM

CLAREZA DE ÍTENS 5 5 7 7 6 85,7%

POSSIBILIDADE DE VIESES 4 6 6 7 5,7 81,4%

SUBJETIVIDADE NAS QUESTÕES 5 5 7 7 6 85,7%

REDUNDÂNCIA DOS ÍTENS 6 7 7 7 6,7 95,7%

UTILIZAÇÃO BEM SUCEDIDA 7 6 7 7 6,7 95,7%

ATENDE AOS OBJETIVOS 7 6 5 7 6,2 88,5%

MÉDIA POR JUIZ 5,6 5,8 6,5 7 - -

% POR JUIZ 80% 82,8% 92,8% 100% - -

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“Numa ciência, onde o observador é da mesma natureza que o objeto, o observador, ele mesmo, é uma

parte de sua observação” Lévi-Strauss.

O TRABALHO DE CAMPO

A pesquisa de campo teve início após um período difícil para a maioria

das maternidades municipais, pela superlotação de leitos dentre outras ocorrências

naquele período. Mesmo assim, as entrevistas em sua maior parte, ocorreram de forma

bastante agradável. Apesar da recusa de duas chefias em participar da pesquisa, a

maioria dos profissionais foi bastante solícita durante o trabalho.

Não obstante a satisfação de novamente reencontrar velhos conhecidos,

devo confessar que não foi sem um certo constrangimento que me apresentava para o

trabalho. Muitas vezes me senti como alguém, no mínimo, muito inconveniente! Esta

sensação permaneceu ao longo da pesquisa, aumentada pela recusa, por vezes

indelicada, de alguns profissionais em responder ao questionário.

Em outras situações, foi necessário retornar mais de três vezes ao mesmo

local, e sair sem nenhum questionário respondido. Durante essa etapa do trabalho,

presenciei algumas situações vividas pelas equipes, em que muitas vezes me questionei

se era possível falar em humanização diante daquele cenário. Nesses momentos, a

sensação de estar sendo inconveniente era imensa.

Porém, a generosidade dos cento e quarenta e oito profissionais que se

propuseram a me dispor de dez minutos do seu tempo, apesar de toda a sobrecarga de

trabalho, fez com que as adversidades ocorridas fossem plenamente superadas.

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QUESTÕES ÉTICAS

Este projeto foi elaborado segundo as diretrizes e normas

regulamentadoras de pesquisa envolvendo seres humanos – Resolução 196/96 do

Conselho Nacional de Saúde, sendo submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa do

Instituto Fernandes Figueira – FIOCRUZ. Foram solicitadas autorizações das Direções

das Maternidades selecionadas para o estudo, assim como foi solicitado o consentimento

de todos os profissionais entrevistados através do Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido (anexo 3).

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. BRASIL. Ministério da Saúde. Mortalidade perinatal e neonatal no Brasil. Brasília,

DF, 1999.

2. BRASIL. Ministério da Saúde. Programa de Assistência à Saúde Perinatal/Bases

Programáticas. Brasília, DF, 1991a.

3. CONTANDRIOPOULUS AP at alli. A Avaliação na Área da Saúde: Conceitos e

Métodos. Avaliação em Saúde. Dos Modelos Conceituais à Prática na Análise da

Implantação de Programas. In: HARTZ ZMA (Org). Editora Fiocruz, 1997.

4. GOMES MASM. O Recém-Nascido de Alto Risco: Teoria e Prática do Cuidar.

Organização da Assistência Perinatal no Brasil. In MOREIRA, MEL; LOPES, JM A;

CARVALHO, M. (Org). Coleção Criança, Mulher e Saúde, Editora Fiocruz, 2002.

5. HARTZ ZMA et al. Avaliação do Programa Materno-Infantil: Análise de

Implantação em Sistemas Locais de Saúde no Nordeste do Brasil. . Dos Modelos

Conceituais à Prática na Análise da Implantação de Programas. In: HARTZ ZMA

(Org). Editora Fiocruz, 1997.

6. LAMY ZC. Unidade neonatal: um espaço de conflito e negociações. Tese de

Doutorado. IFF/Fiocruz, Rio de Janeiro, 2000.

7. OLIVEIRA ND, Joaquim MCM. A Atenção Humanizada ao Recém-Nascido de

Baixo Peso (Método Canguru) e a Amamentação. In REGO (Org). Aleitamento

Materno. Rio de Janeiro, Editora Atheneu, 2002. p.401-408.

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ARTIGO 1

Humanização em Terapia Intensiva Neonatal - A Proposta Brasileira

Humanization in Neonatal Intensive Care – The Brazilian Propose

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Humanização em Terapia Intensiva Neonatal - A Proposta Brasileira

Humanization in Neonatal Intensive Care – The Brazilian Propose

Resumo: Contextualizar a experiência brasileira na Atenção Humanizada ao Recém-

Nascido de Baixo Peso-Método Canguru (AHRNBP-MC), partindo do histórico do

método no mundo e sua aplicação no Brasil.

Para sistematizar a experiência partiu-se da leitura de documentos através de

fontes primárias que incluíram textos oficiais produzidos pelo Ministério da Saúde.

O estudo proporcionou uma reflexão sobre a AHRNBP-MC como estratégia de

qualificação do cuidado neonatal.

Palavras-chave: humanização – assistência neonatal – política pública de saúde

Abstract: This work starts of describing the way the method is used in other countries

and how it is applied in Brazil, contextualizing the Brazilian propose in the Humanized

Care of Low Weight Newborn -Kangaroo Care (AHRNPB-MC).

Our primary source to systemize the propose was the analysis of documents,

including official papers produced by the Brazilian health department.

The study provided a reflection on the AHRNPB-MC and may be use as tool for

comparison of the Brazilian neonatal care

Keywords: Humanized care - neonatal assistance - neonatal care - public health -

kangaroo care

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Introdução

A humanização no ambiente da Unidade de Terapia Intensiva Neonatal

(UTIN) é uma questão de importância crescente nos estudos de qualidade da atenção ao

recém-nascido de risco. Isto tem especial relevância diante da maior visibilidade do

componente neonatal da Mortalidade Infantil, observada desde o início da década de 90.

A partir deste período, a Mortalidade Neonatal passou a ser o principal componente da

Mortalidade Infantil, em função, principalmente, da redução proporcional de óbitos pós-

natais e estagnação do componente neonatal precoce (Lansky et al., 2002).

A maior visibilidade dos óbitos neonatais, decorrentes inclusive, da

melhoria dos sistemas de informação, condicionou a inclusão da assistência obstétrica e

neonatal, em seus diferentes níveis de complexidade, na agenda de prioridades das

políticas de saúde nos três âmbitos de gestão do nosso sistema de saúde (Gomes, 2004).

Embora a redução da morbi-mortalidade neonatal esteja atrelada a uma

série de intervenções que buscam a melhoria das condições do pré-natal e da atenção ao

parto e nascimento, uma intervenção que se mostrou expressiva nos últimos anos, foi a

ampliação de leitos neonatais capazes de atender recém-natos prematuros e/ou

gravemente enfermos.

Os prematuros (recém-natos com idade gestacional < 37 semanas) e

recém-nascidos de muito baixo peso ao nascer (peso ao nascer < 1500 g) são indivíduos

de extrema fragilidade que necessitam de cuidados muito especiais por possuírem maior

risco de serem acometidos por enfermidades perinatais, como a hemorragia cerebral e

retinopatia da prematuridade, ou por distúrbios metabólicos como a hipoglicemia.

Necessitam também de mais aquecimento, maior eficiência na identificação e no

tratamento das infecções, mais contato com suas mães e pais, uma atenção particular de

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profissionais habilitados e uma assistência de alta qualidade dos serviços de saúde

(Prochnik e Carvalho, 2001).

A maior disponibilização de estudos sobre as especificidades do período

neonatal e do impacto do ambiente da terapia intensiva sobre o desenvolvimento infantil

nas suas múltiplas dimensões, mostra a importância do período de internação (por vezes,

muito prolongado) e suas repercussões na vida futura do bebê e sua família (Lansky et

al., 2002; Prochnik e Carvalho, 2001; Santoro e Santoro, 2002).

No Brasil, a partir de 1999 foi implantada pelo Ministério da Saúde (MS)

a Atenção Humanizada ao Recém-Nascido de Baixo Peso – Método Canguru

(AHRNBP-MC), abrangendo publicação de portarias normatizadoras, elaboração de

manual técnico e um amplo processo de disseminação nos vários estados da federação.

A AHURNBP-MC engloba um conjunto de estratégias voltadas para a implementação

de um cuidado cujo principal objetivo é promover o bem-estar biopsicosocial do bebê e

de sua família, facilitando essa interação. Visa ainda aumentar o vínculo mãe-filho,

estimular o aleitamento materno, incentivar maior confiança dos pais no manuseio do

bebê, reduzir o número de recém-nascidos na Unidade Intermediária, promover melhor

relacionamento da família com a equipe de saúde, diminuir infecção hospitalar e tempo

de permanência no hospital (MS, 2001). A AHRNBP envolve intervenções na Unidade

Neonatal e o estímulo a posição Canguru (manter o RN de baixo peso, ligeiramente

vestido, em decúbito prono, na posição vertical, contra o peito do adulto).

Com o objetivo de contextualizar a experiência brasileira na AHRNBP-

MC e destacar a diferença entre o método no Brasil e no mundo, este artigo faz uma

leitura do processo de implantação desta proposta no Brasil, no contexto das diferentes

estratégias de humanização do cuidado neonatal e do Método Canguru em outros países.

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Estratégia Metodológica

Para alcançar o objetivo de contextualizar a experiência partiu-se de uma

leitura documental com fontes primárias que incluem textos oficiais produzidos pelo

Ministério da Saúde: Relatório de Gestão da Secretaria de Políticas de Saúde (MS,

2000-2002) e o Manual Técnico da AHRNBP-MC (MS, 2002) e com apoio na literatura

de autores que discutem humanização, estudando a lógica de construção desta estratégia

de cuidado neonatal.

Os quatro fundamentos que norteiam o método no Brasil: acolhimento do

bebê e sua família; respeito às singularidades (cuidado individualizado); promoção do

contato pele-a-pele o mais precoce possível; envolvimento da mãe nos cuidados com o

bebê foram discutidos à luz da literatura selecionada, visando marcar a diferença de

concepção na implementação da proposta brasileira em relação a outros países.

MÉTODO CANGURU

1. O Histórico do Método

O Método Mãe-Canguru (MMC) foi criado em 1978, no Instituto

Materno-Infantil (IMI) de Bogotá, na Colômbia, a partir de uma situação crítica de

superlotação de recém-nascidos prematuros e de baixo peso, na tentativa de redução das

elevadas taxas de mortalidade perinatal por infecções cruzadas causadas, por exemplo,

pela situação de se encontrar mais de uma criança em cada incubadora e pela ausência

de recursos tecnológicos. Este quadro produzia altas taxas de mortalidade neonatal,

assim como freqüente abandono materno.

Seu idealizador, Dr Edgar Rey Sanabria desenvolveu o método que

consistia na redução do tempo de permanência do recém-nascido na incubadora, na

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colocação do bebê no colo da mãe, na posição canguru (contato pele-a-pele e postura

preventiva ao refluxo gastroesofágico e aspiração pulmonar), na alimentação exclusiva

ao seio e no acompanhamento ambulatorial especializado – “follow up”.

O trabalho teve continuidade com o Dr. Hector Martinez Gómez e

posteriormente, com o Dr. Luis Navarrete Pérez, médicos pediatras da mesma instituição

(Charpak et al., 1999).

Por falta de avaliações, o MMC recebeu muitas críticas nacionais e

internacionais o que gerou avaliações críticas sistemáticas permitindo modificar as

pautas iniciais do Programa MMC.

Com base nestas avaliações foi criado, em 1993, na Clínica Del Nino de

Bogotá, o Programa Método Mãe-Canguru ISS – World Lab. (Instituto de Seguro Social

e World Laboratory). A coordenação deste programa é realizada pelas médicas Nathalie

Charpak e Zita Figeroa de Calume, e serviu como base de orientação aos manuais

aplicados no Brasil (Charpak et al., 1999).

Hoje, na Colômbia, o programa é essencialmente ambulatorial, não

existindo enfermaria Canguru. O Método é praticado no domicílio materno, com

acompanhamento ambulatorial (Prochnik e Carvalho, 2001).

2. Panorama dos Países mais Desenvolvidos no Cuidado Neonatal

Como já mencionado anteriormente, em países do primeiro mundo, com

estrutura neonatal adequada, o contato pele a pele significa qualificação no cuidado

neonatal, estratégia de melhoria na perspectiva da humanização no cuidado do recém-

nascido.

Nos serviços de neonatologia da Grã-Bretanha, Alemanha, Dinamarca,

Suécia, Canadá, França, África do Sul o método é praticado como um processo de

estreitamento do vínculo afetivo mãe-bebê (Charpak et al., 1999).

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Na Alemanha, o MMC foi introduzido em 1982, com rápida

disseminação até 1996, sendo que, em 91% dos 175 serviços de Neonatologia

investigados por Stening e Roth usavam o MMC (Silva, 2003).

Nos países que dispõem de tecnologia, o Método contribui para a

humanização e para o fortalecimento do vínculo mãe-bebê, beneficiando tanto as mães

quanto os bebês (Klaus e Kennell, 1995; Silva, 2003).

De acordo com Venancio e Almeida (2004), vários países europeus

adotaram a prática do MMC confirmando com suas pesquisas, grande parte dos achados

iniciais acerca das vantagens do Método.

Atenção Humanizada Ao Recém-Nascido De Baixo Peso – Método Canguru” no Brasil No Brasil, os primeiros hospitais a trabalharem com a posição canguru

foram os hospitais Guilherme Álvaro em Santos - SP em 1992 e o Instituto Materno e

Infantil de Pernambuco – IMIP, na cidade do Recife – PB em 1993 (Prochnik e

Carvalho, 2001).

A partir destas experiências, vários outros hospitais brasileiros

começaram a utilizar as posturas de colocação do RN sobre o peito da mãe, porém nem

sempre com metodologia e critérios adequados (Oliveira, 2004).

A observação de que o estabelecimento de posturas do RN sobre o peito

materno também favorecia uma abordagem psico-afetiva saudável, facilitando um maior

vínculo afetivo e melhor desenvolvimento para a criança, despertou interesse por

pesquisas e observações desta nova prática.

Venâncio e Almeida (2004), em seu trabalho de revisão citam a

associação de medidas protetoras (adequação postural, atenuação de ruído e

luminosidade excessivas e o contato pele a pele) com a possibilidade da presença e

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participação dos pais no cuidado e o contato pele a pele trouxeram novas perspectivas

para estimular adequadamente o desenvolvimento neurocomportamental dos bebês.

Com a intenção de padronizar esse tipo de cuidado, o Ministério da Saúde

redigiu uma minuta para o atendimento humanizado ao RN de baixo-peso, cujo maior

objetivo foi o de estabelecer uma mudança no paradigma da atenção ao RN.

Desta forma, diferentemente de sua origem na Colômbia, o Programa, no

Brasil, não tem como objetivo a substituição da estrutura (equipamentos / recursos

humanos) necessária ao cuidado com o recém-nascido de risco (“substituir incubadora”)

e sim, a adoção deste método como promoção de uma mudança institucional na busca de

atenção à saúde, centrada na humanização da assistência e no princípio de cidadania da

família (MS, 2002).

O Método Mãe Canguru é incluído na política governamental de saúde

pública, no Brasil, como um procedimento de assistência médica, com remuneração

garantida pelo governo (inclusão na tabela SUS em 02/03/2000).

Como etapa central no processo de disseminação desta política pública,

foi realizado um amplo programa de capacitação dos profissionais das diferentes

especialidades que lidam com o RN, sua mãe e sua família. Este processo, coordenado

pelo Ministério da Saúde, foi realizado pelos Centros de Referência em diferentes

estados.

Atenção Humanizada Ao Recém-Nascido De Baixo Peso X Posição Canguru

Intervenções visando minimizar o impacto da internação neonatal

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Budin, considerado o primeiro perinatologista da era moderna, já dizia

que os saberes sobre a criança e a mulher não se dissociavam e, reconhecia que era

essencial a criação de um vínculo entre a mãe e o seu bebê (Lamy, 2000).

Porém, com o desenvolvimento da tecnologia que viabilizou a sobrevida

de RN cada vez de menor peso e idade gestacional e com os conhecimentos sobre

infecção hospitalar, houve, principalmente nas décadas de 70 e 80, uma tendência de

isolamento dos neonatos de risco de suas mães.

No Brasil o Programa Atenção Humanizada ao Recém-Nascido de Baixo

Peso – Método Canguru (AHRNBP-MC) se caracteriza por um novo paradigma de

atenção e cuidados à criança, à mãe e à família, observando-se suas características e

individualidades, sendo mais amplo que a posição Canguru, distinguindo-se

significativamente do Método originalmente aplicado na Colômbia.

A esta nova abordagem somam-se as altas tecnologias (equipamentos)

encontradas nas UTI Neonatais e as “tecnologias leves”, que associam a dimensão

clínica à “dimensão cuidado” (MS, 2002).

Nesta associação se ancora a Atenção Humanizada que inclui

acolhimento, visão integral da família e elementos do ambiente / cuidado na UTI (som,

luz, estímulos, dor) que vão além da Posição Canguru.

A base literária dos quatro fundamentos da AHRNBP-MC teve início na

década de 80, com os trabalhos pioneiros de Klaus e Kennel (1995), pediatras

preocupados com a importância dos cuidados maternos para o melhor desenvolvimento

do bebê chamam a atenção para o efeito que a separação precoce e prolongada de mãe e

bebê podem trazer como fator de risco para atraso no desenvolvimento e seqüelas

neurológicas. Além disso, os autores referem ainda como efeitos negativos, maus tratos

familiares e até mesmo abusos infantis.

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Estes mesmos autores propõem a existência de um período vulnerável,

logo após o nascimento, onde a separação poderia trazer problemas futuros na formação

de vínculos afetivos (bonding) entre mãe e filho (Klaus e Kennell, 1993).

De acordo com Silva (2003), o conceito de ecologia familiar proposto por

Brofenbrenner (1996) onde o vínculo mãe-bebê, presença do pai / avó, relação do casal,

se o ambiente doméstico é ou não estimulante para criança, e outros fatores da dinâmica

familiar são equivalentes aos riscos biológicos para o desenvolvimento do RN prematuro

que se mostra susceptível às influências ambientais.

Lamy (1995) cita dois autores Kaplan & Mason (1960) que enfatizaram a

importância das práticas hospitalares e do papel desempenhado pelos profissionais de

saúde neste momento de crise. Por outro lado consideram que podem, quando

adequadas, desempenhar uma influência positiva.

Esta abordagem abrange a mãe, a família e também a equipe de

profissionais responsável por esse atendimento, buscando motivar para mudanças

importantes em suas ações como cuidadores.

Neste aspecto, é importante mencionar que questões como experiência

materna e satisfação com o parto, o estabelecimento de vínculo mãe-bebê, a confiança

materna para o cuidado com o bebê e a duração do aleitamento materno passam a ser

valorizados, inclusive, como importantes na avaliação de qualidade da atenção perinatal

(Jackson et al., 1999).

Outra questão contemporânea na discussão sobre a boa prática neonatal

se refere ao impacto do ambiente de terapia intensiva, repleto de estímulos estressantes e

de procedimentos invasivos, os quais, embora essenciais para a sobrevivência do RN,

têm impacto negativo no seu desenvolvimento (Klaus e Kennell, 1995; Klaus e Kennell,

1993; Hoath, 2001; Bhutta e Anand, 2002).

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Dentre os principais aspectos envolvidos neste item do processo de

revisão de práticas na assistência neonatal, destacamos as estratégias para minimizar o

efeito do excesso de som e luminosidade e medidas para reduzir o desconforto do recém-

nascido em procedimentos intrusivos (álgicos ou não).

Os estudos de Als et als.(2004) mostram que os prematuros que

receberam cuidados individualizados, isto é, modificação e adaptação dos cuidados

fornecidos em resposta ao reconhecimento individual do comportamento da criança

expresso através de limites de estresse, apresentaram melhor desempenho no

desenvolvimento cortical, observado através de uma maior auto-regulação e

comportamento calmo ao longo de toda intervenção médica.

A Atenção Humanizada, no Brasil, sofreu grande influência da Pediatria

do Desenvolvimento e do NIDCAP (Newborn Development Care and Assessment

Program) e pode ser considerada uma abordagem opcional de cuidados individualizados

oferecidos de forma hospitalar e ambulatorial, por meio da atuação interdisciplinar,

favorecendo o desenvolvimento do RN e sendo facilitador do vínculo mãe-bebê (MS,

2002).

Os trabalhos de Charpak (2001) e os de Anderson et al (2004) também

mostram que o contato pele a pele precoce entre a mãe e o RN favorece o senso de

controle (domínio) e autoconhecimento resultando numa maior confiança e melhor

vínculo mãe-bebê, fator preditivo para uma amamentação duradoura.

Essa proposta se caracteriza principalmente pela mudança na forma do

cuidado neonatal baseada em quatro fundamentos básicos: o acolhimento do bebê e sua

família; respeito às singularidades (cuidado individualizado); promoção do contato pele-

a-pele o mais precocemente possível; envolvimento da mãe nos cuidados com o bebê.

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Este conjunto de cuidados se traduz na Norma de Atenção ao Recém-

Nascido de Baixo Peso – Método Canguru, que vai abranger o cuidado deste, a unidade

intensiva e o acompanhamento ambulatorial. Está dividido em três etapas.

A primeira etapa está focada nos aspectos psico-afetivos que cercam o

nascimento de um recém-nascido, prematuro ou gravemente enfermo, impossibilitado de

ir para o alojamento conjunto, priorizando uma intervenção multidisciplinar iniciada

ainda no ambiente da UTI. Neste momento, aos cuidados técnicos relativos ao

atendimento do RN inclui-se o cuidado à mãe e à família, no sentido de orientar não só

quanto às condições de saúde da criança, como também estimular o livre acesso dos pais

à UTI favorecendo o contato tátil com o RN, assim como a co-participação da mãe nos

cuidados com o bebê, promovendo um processo contínuo na formação da ligação afetiva

entre bebês e seus pais.

O conhecimento sobre estes aspectos vem despertando interesse de vários

pesquisadores, como Klaus e Kennel (2000) demonstraram na revisão de 17 estudos

sobre o assunto, em que as primeiras horas e dias após o parto são um período facilitador

da vinculação mãe-bebê.

Winnicott (1990), considera que o holding (relação direta entre os pais e

o bebê, no sentido de reter, conter, sustentar, segurar) é indispensável para o

desenvolvimento inicial do potencial do bebê, abrangendo tudo aquilo que uma mãe faz

por seu bebê. No caso dos RN prematuros, na UTI, poderíamos dizer: tudo aquilo que é

possível para esta mãe fazer por seu bebê.

Esta etapa exige da equipe neonatal, instrumentos que permitam

reflexão sobre suas práticas junto ao RN e a sua família. O Programa tem perspectiva

interdisciplinar revelando “(...) um momento de amadurecimento da assistência neonatal

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em que se compreende que o tratamento do RN envolve muito mais do que apenas a

utilização de procedimentos e técnicas” (MS, 2002).

A segunda etapa caracteriza-se pela melhora e estabilidade clínica do

bebê possibilitando o acompanhamento contínuo da mãe na enfermaria canguru.

O enfoque desta etapa é marcado por uma efetiva participação da mãe nos

cuidados do bebê e no seu desenvolvimento psico-afetivo, base das interações entre a

criança e seus pais.

A formação do vínculo não é um acontecimento imediato, vai-se

construindo por meio de interações sucessivas. Quanto mais oportunidades de interação

ocorrem entre mãe e bebê mais apropriado será o vínculo e, conseqüentemente, melhor

resposta materna às necessidades do filho, menos probabilidade de negligência, maus

tratos e abandono.

Lamy (1995) citando Lebovici afirma: “o destaque é posto sobre o elo

existente entre comportamento do bebê, concebido como comunicação, e a resposta da

mãe, e vice-versa” (p. 40).

A terceira etapa objetiva a continuidade da assistência através do

acompanhamento ambulatorial, individualizado, buscando observar o desenvolvimento

global do bebê, através de um programa de follow up.

A importância da identificação precoce de fatores de risco para alterações

no desenvolvimento é largamente descrita na literatura, através de protocolos, screenings

e testes avaliativos específicos para o acompanhamento de bebês de risco.

Vários estudos confirmam a importância de programas interdisciplinares

preventivos de follow up de prematuros, especialmente no 1º ano de vida com o intuito

de promover o desenvolvimento da criança e minimizar as possíveis seqüelas de saúde

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do período neonatal (Brofenbrenner, 1996; Charpak, 2001; Nobre et al., 2004; Oliveira,

2002; Holanda e Silva, 2002).

Processo de Implantação da Proposta

No Brasil, o processo de construção da Norma, do Manual Técnico e dos

Cursos de Capacitação foi elaborado pela Área Técnica de Saúde da Criança do MS com

a participação de um grupo interdisciplinar de consultores com atuação efetiva na terapia

intensiva neonatal, buscando uma proposta diferenciada para além da mera substituição

de tecnologia e vinculada às estratégias de humanização. Na composição desse grupo,

encontramos uma expressiva maioria de profissionais com especialização em cuidado

neonatal e com experiência profissional e acadêmica nos diferentes aspectos que

compõem o complexo universo da atenção na Unidade Neonatal, desde o atendimento

em sala de parto até o seguimento dos egressos (MS, 2002).

A partir do estabelecimento da Norma em 05/07/2000, houve a

necessidade de se desenvolver uma estratégia para sua implementação nas diversas

unidades hospitalares. A equipe de consultores em conjunto com os técnicos da área da

Criança do Ministério da Saúde, desenvolveu um programa de treinamento teórico-

prático sobre Atenção Humanizada ao Recém-Nascido de Baixo Peso – Método

Canguru, chamados Cursos de Capacitação, dirigidos aos profissionais de nível superior,

inseridos na terapia intensiva neonatal: médicos, enfermeiros, fisioterapeutas,

fonoaudiólogos, psicólogos, terapeutas ocupacionais, nutricionistas e assistentes sociais.

Esta capacitação consiste em habilitar os profissionais para exercerem um

atendimento humanizado, considerando as peculiaridades físicas e psicológicas de cada

caso; as particularidades do psiquismo específico da gestação, superposto ao da

puérpera, mãe de um recém-nascido prematuro; as características do ambiente do

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cuidador até as interações comportamentais pais-bebê e o desenvolvimento do apego.

Técnicas de manuseio, vigilância quanto aos sinais de risco, estimulação sensorial

vinculada principalmente ao contato pele a pele e o acompanhamento do crescimento e

do desenvolvimento dessas crianças são abordadas nesse curso. A metodologia é calcada

em aulas expositivas, leituras de textos, dinâmica de grupo, dramatizações, debates e

exercícios práticos.

Cada unidade interessada em treinar seus profissionais para o

desenvolvimento desta proposta, inscreve cinco profissionais, de preferência observando

um caráter interdisciplinar, que são treinados em conjunto. Assim sendo, ao término do

curso, aquele hospital contará com cinco profissionais capacitados para desenvolver a

abordagem metodológica, tornando-a assim mais fácil de ser implementada29, ao

considerar os profissionais capacitados como multiplicadores do método.

Através deste processo, no período de agosto de 2000 a dezembro de 2002,

foram realizados 59 cursos com um total de 1.850 profissionais, de 269 maternidades,

capacitados no método (MS, 2003; MS 2000-2002).

Não se tem, ainda, estudos finalizados sobre o impacto destes Cursos na

mudança de postura dos profissionais que foram considerados capacitados no método.

Estratégias de Disseminação

Para disseminar o programa, o Ministério da Saúde iniciou a produção de

material e treinamento para a adoção da Norma, realizados através de Seminários

Nacionais, de Centros de Capacitação de profissionais e da elaboração de Manual

Técnico norteador desta abordagem.

Foram definidos pelo MS como Centros de Referência para Capacitação

unidades hospitalares que apresentavam características organizacionais e de estrutura

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hospitalar compatíveis com a proposta de treinamento estabelecida, elegendo como

prioridade de implantação da metodologia, as maternidades pertencentes ao Sistema de

Referência de Gestação de Alto Risco do Ministério da Saúde.

Os primeiros centros de capacitação foram: Instituto Materno e Infantil de

Pernambuco (IMIP), em Recife – PB; Maternidade Escola Assis Chateaubriant e

Hospital César Calls, em Fortaleza – CE; Hospital Universitário da Universidade Federal

do Maranhão, em São Luís – MA; Secretaria Municipal de Saúde do Estado do Rio de

Janeiro e o Hospital Universitário de Santa Catarina, em Florianópolis – SC.

A fim de obter homogeneidade e qualidade nos cursos de capacitação foi

criado o Manual Técnico pela Área Técnica da Saúde da Criança e com a colaboração de

consultores especializados. O Manual Técnico reúne conhecimentos acerca das

particularidades físicas e biológicas e das necessidades especiais de cuidados técnicos e

psicológicos da gestante, da mãe, do recém-nascido de baixo peso (RNBP) e de toda a

família, abrangendo toda a equipe multidisciplinar responsável pelo atendimento dos

RNBP.

A AHRNBP-MC como estratégia de humanização em saúde

É importante registrar que, ao final da década de 90, o processo de

implantação da política pública direcionada ao atendimento de recém-nascidos de baixo

peso, foi inserida num cenário no qual já encontrávamos as propostas de humanização

presentes, há décadas, na pauta dos movimentos feministas em relação ao parto e aos

direitos reprodutivos das mulheres (Gomes, 2004). Este conjunto de propostas estava,

entretanto, mais voltado para as questões referentes ao parto e recém-nascido de baixo

risco. A proposta da AHRNBP-MC por sua vez, tem como foco principal as situações de

risco que dificultam o desenvolvimento da relação mãe-bebê.

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Na leitura dos documentos do Ministério da Saúde é possível perceber

um cuidado para que esta diretriz não seja uma proposta de substituição de tecnologia e

sim uma nova abordagem, muito mais ampla, “(...) que requer dos profissionais

conhecimentos acerca das particularidades físicas e biológicas e das necessidades

especiais de cuidados técnicos e psicológicos da gestante, da mãe, do recém-nascido de

baixo peso e de toda a família. Abrange também a equipe de profissionais responsável

por esse atendimento, buscando motivá-la para mudanças importantes em suas ações

como cuidadores” (MS, 2002).

A proposta da AHRNBP-MC está apresentada, portanto, como estratégia

de qualificação do cuidado, inserida no movimento mais global de humanização da

assistência. Em outro documento, encontramos a implementação desta diretriz inserida

na política de atenção à saúde da criança do MS, da qual um dos principais eixos

para a promoção da saúde da criança é a humanização e promoção da qualidade da

atenção prestada (MS, 2002).

Outro ponto que julgamos importante destacar a AHRNBP-MC está

calcada na certeza de que o profissional é o responsável por esta mudança de paradigma

de cuidados e deverá tornar-se um multiplicador deste conceito de humanização. Isto é:

ser capaz, através de suas ações, de propagar um novo conceito de assistência que não se

limita ao seu conhecimento técnico específico, mas que evoca outra dimensão de cuidar,

que alia tecnologia e fator humano.

A proposta de mudança do modelo tecnocrático incorporado às práticas

foi elemento central para a elaboração do curso de capacitação, que inclui sensibilização

e treinamento dos profissionais, permitindo-os entrever que os recursos humanos são o

fator mais decisivo para a implantação deste novo paradigma.

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É importante frisar que também em outras áreas as normas e protocolos

que regem os cuidados inerentes à Terapia Intensiva (MS, 2001; Lamy, 2000) estão

sendo intensamente discutidos, com o objetivo de minimizar o impacto negativo de

intervenções por vezes invasivas e agressivas. Isso necessariamente requer uma nova

perspectiva para o processo de trabalho nesses ambientes.

Para Deslandes (2004) o termo “humanização” vem sendo utilizado com

freqüência no âmbito da saúde, para qualificar as formas de assistência que valorizem a

qualidade do cuidado do ponto de vista técnico, associadas ao reconhecimento dos

direitos do paciente, de sua subjetividade e referências culturais, implicando ainda a

valorização do profissional e do diálogo intra e interequipes.

Não é, portanto, uma mudança fácil. Concordamos com Deslandes (2004)

de que há de se ter em conta que não se muda uma cultura de assistência unicamente

com capacitações dirigidas aos profissionais, que se faz necessário investimento sério

na formação dos profissionais de saúde, para que seja possível fortalecer idéias outrora

consideradas utópicas ou fora do “papel” da assistência.

Sobre esse aspecto, consideramos que a composição do grupo responsável

pela elaboração e implantação da AHRNBP-MC (técnicos do MS e consultores) foi

absolutamente estratégica para a superação da clássica fragmentação entre ações de

humanização e ações assistenciais. Encontramos, pelo perfil desse grupo, a possibilidade

de uma fala “de dentro” do espaço de cuidado intensivo neonatal, o que, certamente,

contribuiu para a legitimidade das reflexões e proposições apresentadas.

Com freqüência a humanização em saúde nos é apresentada como um

desafio que parece ser de responsabilidade exclusiva da ação do profissional dirigida

aos usuários dos serviços de saúde. Contudo não podemos e não devemos esquecer

que o cuidado, a humanização também deve ser estendida ao profissional através de

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ações que envolvam seu processo de trabalho, ou como textualmente no Manual

Técnico da AHRNBP-MC: cuidar do cuidador.

Neste sentido, além da preocupação com o RN e sua família, a AHRNBP-

MC também se debruçou sobre a questão do cuidado com profissional de saúde,

propondo ações que visam estabelecer melhores condições de trabalho para equipe,

procurando diminuir o estresse provocado pela própria rotina da unidade intensiva. O

revezamento periódico dos profissionais dentro da Unidade neonatal (UTI, Unidade

Canguru e Ambulatório de Follow-Up) e a visita compartilhada entre as equipes são

exemplos de propostas apresentadas na Norma, sob a denominação de “Cuidando do

Cuidador”.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise do processo de implantação da AHRNBP-MC proposta pelo

MS nos permite mapear uma experiência consideravelmente mais ampla do que a dos

países que adotaram ou discutem o Método Canguru em cenários de extrema dificuldade

de acesso à assistência neonatal. Nesses cenários, o Método Canguru é apontado como

estratégia de substituição de tecnologia (pela ausência ou insuficiência quantitativa de

leitos levando a uma imperiosa necessidade de redução do tempo de internação neonatal)

e de incentivo ao Aleitamento Materno. Por outro lado, a experiência brasileira também

é mais ampla do que aquela encontrada nos países desenvolvidos, nos quais também

encontramos os elementos ligados às intervenções no ambiente e na forma do cuidado

neonatal, incluindo aqui o incentivo ao contato pele-a-pele.

Entretanto, os desafios ainda são muitos. Especificamente em relação à

AHRNBP-MC, entendemos que sua incorporação plena pelas maternidades brasileiras,

requer estratégias de educação continuada, da mesma forma como ocorre em outros

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aspectos do cuidado neonatal. Além disso, reiteramos a importância de estudos que

avaliem sua implantação e seu impacto nos resultados neonatais em nosso país. Por fim,

devemos reiterar que esses desafios não podem ser descontextualizados da situação atual

do atendimento perinatal no setor público brasileiro, especialmente dos aspectos ligados

à assistência obstétrica e neonatal de risco. Dificuldades de acesso, fragmentação entre a

assistência pré-natal e a atenção ao parto, práticas assistenciais inadequadas e

superlotação nas maternidades estão bem documentadas em diferentes regiões

brasileiras. (Gomes, 2004).

Nesse sentido, encontramos apoio na Política Nacional de Humanização

do MS proposta a partir de 2003 (MS, 2005). Assumir que, muito mais que um mero

“programa”, a humanização deve ser eixo articulador de todas as práticas em saúde, é

tarefa imprescindível para gestores e trabalhadores nas diferentes esferas do sistema de

saúde. As reflexões e experiências dos profissionais que estão trabalhando na

perspectiva da AHRNBP-MC podem e devem ser aproveitadas para essa tarefa.

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ARTIGO 2

Conhecimentos e Práticas dos Profissionais de Saúde sobre a

“Atenção Humanizada ao Recém-Nascido de Baixo Peso – Método Canguru”

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Conhecimentos e Práticas dos Profissionais de Saúde sobre a

“Atenção Humanizada ao Recém-Nascido de Baixo Peso – Método Canguru”

HEALTH PROFESSIONAL’S KNOWLEDGE AND PRACTICES ABOUT

“HUMAN ATTENTION OF LOW BIRTH WEIGHT- KANGAROO CARE ”

Título abreviado: Conhecimentos e Práticas sobre Atenção Humanizada

Resumo

Objetivo: identificar os conhecimentos e as práticas sobre a Atenção

Humanizada ao Recém-Nascido de Baixo Peso – Método Canguru de profissionais

médicos e de enfermagem em maternidades públicas da cidade do Rio de Janeiro.

Método: estudo descritivo transversal realizado através de questionário sobre as

características das onze maternidades públicas da cidade do Rio de Janeiro, selecionadas

para o estudo e de questionário sobre o conhecimento e as práticas da Atenção

Humanizada ao Recém-Nascido de Baixo Peso – Método Canguru, respondidos por 148

médicos e enfermeiros atuantes nestas unidades.

Resultados: em relação às estratégias apontadas para minimizar ruído e

luminosidade, 39% dos profissionais referiu atender rapidamente aos alarmes/cuidados

no uso dos equipamentos e 88% apontou a diminuição da luminosidade em pelo menos 1

período em 24h. Como estratégias para dor/desconforto, 34% referiram usar a sucção

não nutritiva e 9% citaram utilizar glicose. 83% relataram serem as informações do

quadro clínico as principais informações aos pais na 1ª visita. 81% incentivam a mãe no

cuidado com o bebê através da maternagem. O exame físico é o procedimento em que é

permitida a presença da mãe para 73% dos entrevistados. 59% usam como critério para a

ida do bebê ao colo materno pela primeira vez a estabilidade clínica e 25% só o

permitem se o RN estiver em ar ambiente.

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Conclusão: apesar do conhecimento teórico sobre a Atenção Humanizada, os

profissionais ainda não o utilizam plenamente em sua prática clínica sugerindo que ainda

não está completamente assimilada a abrangência desta forma de cuidado neonatal.

Abstract:

Objective: To identify the knowledge and practices regarding the Human Attention of

Low Birth Weight – Kangaroo Care from doctors and nurses in Rio de Janeiro City

public hospitals.

Method: The study was accomplished by using a questionnaire applied in eleven pre-

selected Rio de Janeiro City public hospitals. The questionnaire was answered by 148

doctors and nurses direct involved with Human Attention of Low Birth Weight –

Kangaroo Care.

Results: Regarding the strategies in order accomplish noise and light reduction, 39%

mentioned answering promptly to equipment alarms/warnings, 88% mentioned dimming

the light at least once in a 24 hour period. Regarding strategies for relieve

pain/discomfort, 34% utilize non-nutritive suction and 9% mentioned using glucose.

83% answered that the new born clinic information are the core discussion during the

parents’ first visit. 81% also give mother incentive to care for the new born using”

buddy”. 73% allow the mother to be present for the new born physical exam. 59% utilize

clinical stability as the criteria for allowing the mother to hold the new born for the first

time but 25% only allow it to happen if the new born is breading regular air.

]

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Conhecimentos e Práticas dos Profissionais de Saúde sobre a

“Atenção Humanizada ao Recém-Nascido de Baixo Peso – Método Canguru”

INTRODUÇÃO

A crescente visibilidade da mortalidade neonatal tem sido um desafio

para o sistema de saúde brasileiro. A mortalidade neonatal ganhou maior visibilidade

desde o início da década de 90, principalmente em função da redução proporcional de

óbitos pós-natais. Assim sendo, a adoção de medidas para o enfrentamento dos

problemas existentes na assistência perinatal, incluindo o atendimento de maior

complexidade, passou a integrar a agenda de prioridades das políticas públicas em saúde

no Brasil1.

O Baixo Peso ao Nascer (BPN), definido como peso abaixo de 2500g, e

a prematuridade são grandes responsáveis pela mortalidade neonatal, representando 69%

de todos os óbitos neonatais, e pelos distúrbios funcionais entre os sobreviventes2.

Nos países desenvolvidos, a implantação e o impacto das ações

desenvolvidas na área perinatal somados ao desenvolvimento da neonatologia e às novas

tecnologias surgidas nas duas últimas décadas, têm possibilitado a sobrevida de RN cada

vez menores. No Brasil, as elevadas taxas de mortalidade neonatal ainda se constituem

um desafio para o nosso sistema de saúde.

Ao lado da preocupação inicial com as taxas de sobrevivência dos

neonatos de risco nos últimos anos, uma outra questão despertou grande preocupação: as

conseqüências advindas das intervenções realizadas no período da hospitalização, por

vezes prolongada, desses RN. Os olhares se voltaram, então, às seqüelas em seu

desenvolvimento, percebendo-se a importância de estudar não só os elementos

biológicos, mas também os aspectos psicossociais envolvidos e as conseqüências que o

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ambiente, neste caso a unidade de neonatal (UN), poderia trazer para o crescimento e

conseqüentemente, para a qualidade de vida desses bebês e de suas famílias.

A preocupação com a separação precoce e prolongada de mãe-bebê e

família, os procedimentos dolorosos e/ou desconfortáveis, excessivo manuseio, ruído

constante, alimentação enteral, menor prevalência de aleitamento materno, maior

exposição a complicações que cursam com graves seqüelas, maior demanda de atenção

especial e de alto custo, suscitou várias linhas de pesquisa sobre as formas e

conseqüências de intervir neste ambiente3,4,5,6,7,8.

Várias propostas de intervenção, centradas na presença e participação da

mãe, surgiram com resultados que chamam a atenção no que se refere ao

desenvolvimento global da criança, incluindo as interações sociais e desempenho

escolar, a partir da década de 809,10.

No Brasil, a partir do final da década de 90, esta preocupação traduziu-se

na “Atenção Humanizada ao Recém-Nascido de Baixo Peso – Método Canguru”

(AHRNBP-MC) elaborada e implementada pelo Ministério da Saúde (MS), através de

Norma, protocolos e de um amplo processo de capacitação nas diferentes regiões do

país.

O Método é definido pelo MS11 como:

“(...) um tipo de assistência neonatal que implica contato pele a pele

precoce entre mãe e o recém-nascido de baixo peso, de forma crescente e

pelo tempo que ambos entenderem ser prazeroso e suficiente, permitindo,

dessa forma, uma maior participação dos pais no cuidado a seu recém-

nascido (...) Só serão considerados como Método Canguru os sistemas

que permitam o contato precoce, realizado de maneira orientada, por

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livre escolha da família, de forma crescente e segura e acompanhado de

suporte assistencial por uma equipe de saúde adequadamente treinada”.

A AHRNBP-MC se caracteriza principalmente pela mudança na forma

do cuidado neonatal baseada em quatro fundamentos básicos:

� acolhimento do bebê e sua família;

� respeito às singularidades (cuidado individualizado);

� promoção do contato pele-a-pele o mais precoce possível;

� envolvimento da mãe nos cuidados com o bebê.

O método brasileiro caracteriza-se por ser desenvolvido em três etapas,

interligadas, onde o sucesso de uma etapa depende do adequado trabalho realizado na

etapa anterior12.

Na primeira etapa, após a identificação da gestante com risco de ter um

bebê de baixo peso, ela recebe orientações específicas sobre os cuidados a serem

tomados com ela e o bebê. No caso do recém-nascido necessitar permanecer na unidade

de terapia intensiva neonatal e/ou de cuidados intermediários, especial atenção é dada

para estimular a entrada dos pais na unidade, orientar sobre as condições clínicas da

criança, oferecer suporte e estímulo para o contato pele a pele com o bebê. É trabalhado

também o estímulo à lactação e à participação dos familiares nos cuidados com o bebê.

A segunda etapa prevê o bebê em situação clínica estável, sua mãe segura

e orientada nos cuidados com seu filho, na enfermaria de alojamento conjunto, mantendo

a posição canguru pelo período que ambos (mãe e bebê) acharem seguro e conveniente.

A terceira etapa baseia-se no acompanhamento ambulatorial após a alta,

com orientação e acompanhamentos especializados.

Para essa abordagem do cuidado neonatal, a readequação das rotinas foi

acompanhada pelos desafios inerentes à incorporação de novas práticas, da mesma

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forma como acontece em outros aspectos assistenciais. Vale destacar que o uso

criterioso de antimicrobianos e a nutrição enteral precoce (trófica), práticas já

consagradas pelas evidências científicas, ainda não estão plenamente incorporados no

cotidiano das Unidades Neonatais (UN)13,14,15,16.

Em nosso meio, potencializando as dificuldades na incorporação de novas

práticas, encontramos a carência de leitos intermediários e de terapia intensiva,

dificuldades na estrutura dos leitos existentes e superlotação nestas unidades,

características que estão bem documentadas no setor público brasileiro 1.

Entendendo que as propostas trazidas pela AHRNBP-MC se concretizam

em práticas e rotinas assistenciais, esse artigo visa identificar os conhecimentos e as

práticas sobre a Atenção Humanizada ao Recém-Nascido de Baixo Peso – Método

Canguru de profissionais médicos e de enfermagem, em maternidades públicas da cidade

do Rio de Janeiro.

2. DESENHO DO ESTUDO

Estudo descritivo transversal, no campo da Pesquisa Avaliativa, sobre os

conhecimentos e práticas dos profissionais de saúde sobre a “Atenção Humanizada ao

Recém-Nascido de Baixo Peso – Método Canguru” em maternidades públicas da cidade

do Rio de Janeiro.

Partindo das rotinas e protocolos definidos na Norma e no Manual de

Capacitação da “Atenção Humanizada ao Recém-Nascido de Baixo Peso – Método

Canguru”, foram selecionados indicadores, objetivando conhecer sua incorporação pelas

Unidades Neonatais capacitadas.

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Foram incluídas no estudo as maternidades públicas da Cidade do Rio de

Janeiro que participaram com pelo menos três profissionais no Curso de Capacitação, no

período de 2000/2002.

Este estudo foi elaborado, segundo as diretrizes e normas

regulamentadoras de pesquisa envolvendo seres humanos – Resolução 196/96 do

Conselho Nacional de Saúde, sendo submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa do

Instituto Fernandes Figueira – FIOCRUZ. Foram solicitadas autorizações das Direções

das Maternidades selecionadas para o estudo, assim como foi solicitado o consentimento

de todos os profissionais entrevistados, através do Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido.

Das doze maternidades selecionadas, onze participaram da pesquisa. A

exclusão de uma maternidade ocorreu, por dificuldades de autorização junto ao Comitê

de Ética da instituição.

As maternidades participantes do estudo foram:

o Instituto Fernandes Figueira - FIOCRUZ

o Hospital Geral de Bonsucesso

o Hospital Estadual Rocha Faria

o Maternidade Escola da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ

o Hospital Pedro Ernesto da Universidade Estadual do Rio de Janeiro – UERJ

o Hospital Maternidade Oswaldo Nazareth (Praça XV)

o Instituto Municipal da Mulher Fernando Magalhães - IMMFM

o Hospital Maternidade Carmela Dutra

o Unidade Integrada de Saúde Herculano Pinheiro - UISHP

o Hospital Maternidade Alexander Fleming

o Maternidade Leila Diniz

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As informações foram obtidas a partir dos dados fornecidos pelas

unidades, e de questionários aplicados às lideranças (chefias médica e de enfermagem e

pelos profissionais da rotina, também médicos e enfermeiros) e plantonistas.

O agendamento das entrevistas foi realizado previamente, por contato

telefônico com os chefes de serviço das unidades, com uma breve apresentação do

trabalho e o objetivo do estudo.

Os questionários foram aplicados durante a visita da pesquisadora. Em

razão da disponibilidade de horário dos entrevistados, no momento da primeira visita e

pelo organograma da unidade, houve necessidade de retorno às maternidades, buscando

sempre que possível 100% das lideranças de cada serviço.

O compromisso central da pesquisa foi obter informações das chefias e

dos profissionais de rotina em função do seu papel formador de opinião, no processo de

trabalho das Unidades Neonatais. Entretanto, julgamos interessante obter uma visão,

ainda que exploratória, das práticas dos plantonistas. Para tanto, optamos por entrevistar

pelo menos, dois plantonistas de cada maternidade, presentes nos dias das visitas.

Foram aplicados dois tipos de questionários: um para as chefias médica e

de enfermagem e outro para profissionais da rotina (diaristas) e plantão. As questões

foram referentes às mesmas variáveis, porém apresentadas com diferentes formulações,

dependendo da inserção do entrevistado.

Em relação às chefias, procuramos investigar mais especificamente as

orientações que são dadas para o conjunto da equipe, frente às normas de cuidado na

perspectiva da Atenção Humanizada.

Para os profissionais da rotina e plantões, as questões foram formuladas

em dois aspectos: que orientações receberam e quais eram as suas práticas nas situações

específicas que foram selecionadas para a entrevista.

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Os indicadores referentes aos elementos da estrutura e das rotinas do

cuidado neonatal abrangeram:

a. Número de profissionais treinados no Curso Teórico-Prático em atividade na

Unidade Neonatal/Enfermaria Canguru;

b. Ocorrência de estratégias locais de treinamento/disseminação das rotinas

preconizadas;

c. Horários para presença dos pais;

d. Direito de visita de avós;

e. Existência de práticas facilitadoras para presença da mãe;

f. Existência de Enfermaria Canguru;

g. Números de leitos na Enfermaria Canguru;

h. Rotinas clínicas para início da segunda etapa e para seguimento ambulatorial

(3ªetapa).

Para os profissionais, os indicadores foram referentes às:

a. Horários para presença dos pais;

b. Direito de visita de avós;

c. Existência de práticas facilitadoras para presença da mãe;

d. Estímulo/permanência no contato pele a pele;

e. Identificação de estratégias para adequação do meio ambiente em relação a

ruídos e

f. estímulos visuais;

g. Estratégias ante condutas dolorosas e/ou causadoras de desconforto no RN.

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3 – RESULTADOS

A seguir são apresentadas as tabelas (Tabelas 1, 2 e 4) que evidenciam as

características das unidades estudadas. Estes dados foram fornecidos pelas chefias ou

direções de cada serviço, com dados referentes ao ano de 2003.

Tabela 1 – Características das Unidades de Estudo M

1 M 2

M 3

M 4

M 5

M 6

M 7

M 8

M 9

M 10

M 11 Total Média

N de Leitos UTI

06 12 14 04 20 05 20 09 10 08 08 116 10,54 (04-20)

N Leitos UI 20 28 38 10 34 15 07 30 10 10 12 214 19,25 (07-38)

N RN Nasc. Vivos

4.363 5.267 5.788 4.287 4.966 4.162 5.047 2.859 2.059 470 906 40.174 3652,18 (470-5788)

N RN < 37 sem

336 1.025 676 336 546 407 364 593 SI 121 323 4.727 429,72 (121-1025)

N de RN < 1500 g

74 264 156 78 203 87 SI SI SI 31 75 968 88 (31-264)

N Admis. Unid. Neo

1.539 1.940 1.034 1.110 699 811 722 SI 827 154 337 9.173 833,90 (154 -1940)

N Leitos Un. Cang.

06 08 03 04 06 05 - - 05 - - 37 5,28 (03-08)

N Admis. Un.Cang.

SI 361 67 52 101 78 - - SI - - 659 94,14 (52-361)

Dentre as unidades incluídas no estudo, as maternidades 7, 8 e 11 não

possuem Unidade Canguru. A maternidade 9, apesar de ter sido apontada tanto pelas

lideranças quanto pelos plantonistas, como tendo uma clientela com perfil de

prematuridade e de muito baixo peso, não soube informar o número de nascidos com

estas características no ano de 2003.

Tabela 2 - Características de funcionamento das Unidades do Estudo

SIM NÃO Estrutura de preparo para gestante de risco 7 3 Pré-parto individualizado 5 6 Permitido Acompanhante no Pré-parto 7 4 Permitido Acompanhante na Sala de Parto 7 4 Pessoas específicas para suporte a gestante no trabalho de parto/parto 3 8

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No item estrutura de preparo para gestante de risco, a maternidade 4 não é

considerada referência para gestação de risco, apesar de receber RN de risco. Embora

esteja apresentado que 7 das unidades do estudo permitem acompanhante, só 36%

relataram presença de acompanhante.

No que se refere à situação das unidades do estudo, quanto à capacitação

na AHRNBP-MC (Tabela 3), verificamos que das 11 maternidades, 135 profissionais,

variando de 3 a 8, participaram do curso de capacitação de 40 horas. Esses cursos,

realizados em uma semana de trabalho, têm a duração de 40 horas, conduzidas

consecutivamente, sendo realizados através de aulas expositivas, práticas clínicas,

discussões e oficinas. Dos 135 profissionais, 87% permanecem na unidade.

Tabela 3 - Situação das unidades do estudo quanto à capacitação na AHRNBP-MC

M 1

M 2

M 3

M 4

M 5

M 6

M 7

M 8

M 9

M 10

M 11 Total

N profissionais com curso de 40 h 12 05 12 26 38 09 13 11 SI 03 06 135

N profissionais com curso de 40 h que permanecem na unidade

11 05 10 25 30 06 11 11 SI 03 05 117

Estratégias locais para treinamento

S S S S N S N N SI N N 05

N profissionais capacitados nos treinamentos unidade

56 20 - 29 - 49 - - - - - 154

Apesar da maternidade 9 não informar, foi possível identificar através do

questionário, 5 profissionais que realizaram treinamento no método, sendo dois

capacitados com curso de 40 horas. Todos os 5 permanecem em atividade na unidade.

Apenas 5 unidades realizaram estratégias locais de treinamento.

Na tabela 4, apresentamos alguns elementos selecionados da estrutura e

das rotinas do cuidado neonatal, abrangendo a participação da família na unidade, tais

como: acesso à família, estratégia para permanência da mãe durante a internação do

bebê, as estratégias ambientais para controle de luz e ruído e adequação das unidades à

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norma do MS para os critérios da 2ª e 3ª etapas (enfermaria canguru e acompanhamento

ambulatorial).

Tabela 4 - Elementos selecionados da estrutura e das rotinas do cuidado neonatal

M 1

M 2

M 3

M 4

M 5

M 6

M 7

M 8

M 9

M 10

M 11

Total S

Acesso livre mãe S N N N S S S S N S N 06

Acesso livre pai 1ª etapa

N N N N S S N S N S N 04

Direito visita avós 1ª etapa

S S S S S S S S N S S 10

Direito visita outros 1ª etapa

S S S N S N N N N S S 06

Estratégia para permanência da mãe

S S S S S S S S S S S 11

Incentivo ao contato pele a pele na 1ª etapa

S N N S N N S S N N N 04

Atividades de apoio e suporte durante

permanência da mãe S S S N S N N S S N S 07

Iluminação setorizada S S N S S S N S N S S 08

Tratamento acústico N N N N N N N N N N N 0

Adequação à norma (MS) dos critérios

para 2ª etapa S N S S S S - - N N - 05

Acesso livre do pai na 2ª etapa

N N S N S S - - N S - 04

Dir visita de outros 2 etapa

S S S S S S - - S S - 08

Adequação à norma (MS) dos critérios

para 3ª etapa S S S S S S - - S S - 08

Estrutura para seguimento 3ª etapa

S N S S S S - - N S - 06

Em relação à norma para os critérios da 2ª e 3ª etapas, consideramos

adequadas as unidades que responderam com pelo menos 70% dos quesitos exigidos

pelo MS.

Nenhuma das unidades pesquisadas apresentou qualquer tipo de

tratamento acústico, apesar do grande número de pessoas (profissionais, pacientes,

funcionários administrativos, dentre outros) e equipamentos existentes nas unidades.

Na tabela 5 são apontados os itens que foram prevalentes nas respostas

dadas aos questionários no que diz respeito a ruído e luminosidade, sendo cento e dois (n

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= 102) de profissionais de chefia (n = 22) / rotina (n = 80) e quarenta e seis (n = 46) de

profissionais plantonistas, totalizando cento e quarenta e oito profissionais (n = 148).

Tabela 5 - Estratégias apontadas para minimizar ruído e luminosidade

Chefias / Rotinas N=102

Plantonistas N=46

Total N=148

Ruído - Atender rapidamente aos alarmes / cuidados no uso dos equipamentos

44% 28% 39%

- Restrição uso celular 43% 24% 37% - Não tem 28% 39% 31% - Alguém reclama 31% 28% 30% - Proibição aparelho sonoro 11% 13% 12% Luminosidade - Diminuir a luminosidade em pelo menos 1 período em 24h

84% 95% 88%

- Cobrir Incubadora 18% 24% 20%

Mais de uma estratégia para diminuição de ruído foi identificada pelos

profissionais, assim como para redução da luminosidade, sendo o mais freqüente apagar

as luzes e deixar somente uma iluminação central acesa, nos períodos da tarde, após a

visita médica, e durante a madrugada.

Com relação ao ruído, foi questionado a cada profissional, como

considerava, dentre baixo, médio, alto e muito alto, o ruído habitual da unidade. Um

profissional não apontou nenhuma classificação por considerar que o volume do ruído

depende de cada equipe, variando assim, de dia para dia. Dos 147 profissionais que

responderam, apenas 1,3% considerou o ruído baixo; 36% consideraram médio, 46%

consideravam alto e 15% consideraram muito alto. Grande parte relatou ser o período da

manhã o mais ruidoso por ser o horário das visitas médicas, estando presentes neste

horário, a maioria dos profissionais. Outra observação dos profissionais foi o nível do

ruído, que pode variar bastante – de médio para alto e de alto para muito alto, de acordo

com a equipe do dia.

Na elaboração do questionário, houve a preocupação de incluir outros

indicadores significativos na atenção humanizada, cujo caráter é bastante específico da

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prática individual de cada profissional, o que difere um pouco dos dados apresentados

nas tabelas acima. A seguir serão apresentados os resultados referentes a estes itens

(Tabela 6). Mais de um quesito foi dado como resposta pelos profissionais. Em relação

às estratégias para redução de dor / desconforto do RN, a sucção não nutritiva foi eleita

por 70% dos profissionais como a estratégia mais utilizada.

Tabela 6 – Práticas assistenciais na perspectiva da AHRNBP-MC

Rotinas Plantonistas Total A- Estratégias para dor/desconforto N=80 N=46 N=126 Sucção Não Nutritiva 31% 39% 34% Conversar com o bebê 16% 24% 19% Posturais 10% 28% 17% Farmacológicas 14% 22% 17% Adequação dos procedimentos (agrupar/intervalar) 5% 17% 10% Glicose 10% 7% 9% B - Principais informações aos pais na 1ª visita N=70 N=46 N=116 Quadro clínico 84% 80% 83% Apresentação das normas do hospital e higiene 31% 54% 40% Orientação sobre amamentação 30% 17% 25% De acordo com a demanda dos pais 9% 11% 9% C - Estímulo para a mãe no cuidado com o bebê N=70 N=46 N=116 Maternagem 76% 89% 81% Orientação sobre amamentação 35% 24% 31% Cuidados assistenciais 23% 24% 23% D - Procedimentos em que a mãe participa N=70 N=46 N=116 Exame físico 78% 63% 73% Procedimentos não invasivos 46% 59% 51% Cuidados assistenciais 25% 54% 37% Maternagem 40% 17% 32% E - Momento em que o RN de risco deve ir ao colo da mãe pela 1ª vez

N=70 N=46 N=116

Estabilidade ventilatória e hemodinâmica 73% 39% 59% Ainda entubado 36% 21% 30% Só em ar ambiente 19% 35% 25%

Nestas perguntas, temos uma redução do número de profissionais de

rotina que responderam, já que alguns desses profissionais têm atividades

predominantemente no Alojamento Conjunto ou de natureza gerencial. Optamos por

abordar os seguintes aspectos: principais informações para os pais na 1ª visita a UN,

estímulo para a mãe no cuidado com o bebê, procedimentos em que a mãe participa,

momento em que o RN deve ir ao colo da mãe pela primeira vez, se estimula o contato

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pele a pele e em que momento o profissional estimula este contato. Responderam esses

quesitos 116 profissionais (n=116).

Na primeira visita dos pais a UN, 83% responderam ser o quadro clínico

a principal informação dada e 40%, a apresentação das normas do hospital e

procedimentos de higiene. Apenas 9% relataram informar de acordo com a demanda dos

pais.

Maternagem (interação entre mãe e RN através do tocar, conversar, estar

próxima do bebê o maior tempo possível) foi o principal estímulo para a mãe no cuidado

com o bebê para 81% dos entrevistados; 31% estimulam com orientações sobre

amamentação.

O total de 73% dos profissionais relatou ser o exame físico o

procedimento em que é permitida a participação da mãe; 51% informaram que são os

procedimentos não invasivos (incluindo coleta de sangue arterial).

Em relação à questão sobre o momento em que o RN de risco deve ir ao

colo da mãe pela primeira vez, 59% dos profissionais citaram a estabilidade clínica

como critério, porém para 25% é permitido ir ao colo apenas os RN que já se encontram

sem qualquer tipo de assistência ventilatória (ar ambiente).

Os 99% dos entrevistados afirmaram estimular o contato pele a pele.

Quanto ao momento em que o profissional estimula esse contato, 64% o fazem ainda na

unidade de terapia intensiva (UTI) e 15% exclusivamente na unidade de cuidados

intermediários (UI); no entanto, 26% dos profissionais confundem tocar, com contato

pele a pele (RN ligeiramente vestido, em decúbito prono, na posição vertical, contra o

peito do adulto).

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DISCUSSÃO

As 11 maternidades estudadas apresentam características diferentes no

que se refere ao número de leitos, variando entre 04 e 20 leitos de UTI e 07 e 38 leitos

de UI. Essas unidades foram responsáveis pelo atendimento de 4.727 prematuros

nascidos na Cidade do Rio de Janeiro em 2003, dos quais 968 com peso inferior a 1500

g (Tabela 1). Assim sendo, as rotinas, os conhecimentos e práticas dos profissionais que

cuidam desses recém-natos aqui apresentados permitem mapear a forma de cuidado

neonatal que atinge 74% dos prematuros e 67% dos muito baixo peso (MBPN)

atendidos no Sistema Único de Saúde (SUS), no município do Rio de Janeiro, segundo

dados do Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos – SINASC17. (Tabela 1).

Foi interessante notar que a grande maioria dos profissionais não

identificava o método pelo seu nome - Atenção Humanizada ao Recém-Nascido de

Baixo-Peso-Método Canguru (AHRNBP-MC), reconhecendo-o apenas ao ouvirem a

palavra canguru.

A AHRNBP-MC no Brasil difere bastante da idealizada e implementada

em seu país de origem, a Colômbia. De Método Canguru ou Mãe Canguru, a proposta

brasileira como o próprio nome o diz, é muito mais abrangente, fundamentando-se num

contexto de assistência neonatal mais amplo, baseado em cuidados individualizados,

intervenção centrada na família, contato pele a pele precoce como facilitador do vínculo

entre pais e bebê, intervenções no meio ambiente e na assistência neonatal prestada

através de seus profissionais, objeto deste estudo. Entretanto a “marca” canguru é muito

forte e as respostas dos profissionais sugerem que ainda não está completamente

assimilada esta abrangência da proposta brasileira.

Dentre as unidades estudadas, 7 dispõem de estrutura física diferenciada

para internação conjunta mãe-bebê, correspondendo à segunda etapa da AHRNBP-MC

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(Enfermaria Canguru). A literatura é vasta sobre a importância do contato mãe-bebê, o

mais precoce possível, para a formação do vínculo parental. É necessário oferecer um

espaço físico que permita não só um maior e constante contato físico, mas também que

possibilite adquirir gradualmente a confiança em sua capacidade de cuidar e proteger seu

filho 18,19,20,21,22,23.

Sabemos que a influência da separação precoce e prolongada entre mãe e

bebê pode interferir negativamente na formação do vínculo afetivo. Budin, primeiro

perinatologista moderno, já em 1907 observava que: ”as mães, quando separadas dos

filhos ainda muito pequenos, perdem todo o interesse por aqueles que não puderam

cuidar ou afagar”. Para Klaus e Kennel24, a prematuridade e o longo período de

internação desses bebês, com conseqüente afastamento familiar, são a gênese de

diversos fatores de risco para atraso do desenvolvimento, abuso e maus tratos familiares

24,25.

No que se refere a outras estratégias de humanização da atenção ao parto

e nascimento, encontramos em 7 das 11 unidades a possibilidade de acompanhante no

pré-parto e sala de parto, sendo que 5 maternidades já contam com pré-parto

individualizado. Três maternidades relataram trabalhar com suporte específico para a

gestante no trabalho de parto / parto. Estes são indícios suficientes de que a revisão das

rotinas de atenção ao parto e nascimento está em curso, o que vem ao encontro das

propostas da OMS e do MS1. Entretanto, os desafios ainda são muitos. Um exemplo

claro é a proporção de partos com acompanhante sempre inferior a 50% (Tabela 2).

Mesmo que apenas na resposta ao questionário, encontramos referência a

existência de estratégias para o preparo de gestantes de risco, em 3 das unidades

pesquisadas. Vale lembrar que para a própria norma do MS, o início da atenção

adequada ao RN antecede ao período do nascimento, quando, uma vez identificada a

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gestação de risco, esta gestante deve ser encaminhada para unidades de referência de

risco e serem oferecidas informações sobre cuidados médicos específicos e humanizados

26.

Para instrumentalizar os profissionais na AHRNBP-MC, o MS elaborou

um Programa de Disseminação da Atenção Humanizada, realizado através de cursos de

capacitação com a duração de 40 horas, conduzidas consecutivamente, em uma semana

de trabalho, com aulas expositivas, práticas clínicas, discussões, oficinas realizadas pelo

grupo de consultores que elaborou o Manual Técnico, base da Norma da AHRNBP-MC.

Esses cursos são realizados por todo o país, através de Centros de Referência, sendo

responsável, no Rio de Janeiro, a SMS-RJ. Além desta capacitação, estratégias locais de

capacitação e reciclagem fazem parte do programa, com cursos variando de 06 a 20

horas, de acordo com a disponibilidade de cada unidade.

Em nosso estudo, destacamos como positivo o fato de 87% dos

profissionais treinados no curso de 40 horas pelo centro de referência, ainda

permanecerem em atividade na unidade. Também identificamos 5 maternidades que

ofereceram treinamento local, capacitando 154 profissionais (Tabela 3). Dentro desta

perspectiva foi interessante observar que grande parte dos profissionais vincula a

AHRNBP-MC apenas à posição canguru (manter o RN de baixo peso, ligeiramente

vestido, em decúbito prono, na posição vertical, contra o peito do adulto) e identifica a

atenção humanizada ao momento da redução de luz do ambiente: “Aqui diminuímos a

luz quando acaba a visita... nós chamamos de hora da humanização!”

Na lógica do MS e de seus consultores não está contemplada a aferição de

incorporação dos conhecimentos ministrados no curso. Os profissionais capacitados têm

a missão de difundir os conhecimentos do curso nas suas unidades.

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Na tabela 4, identificamos elementos da estrutura e das rotinas do cuidado

neonatal referentes às estratégias ambientais e sua adequação à Norma, em relação aos

acessos de mãe e pai às unidades; uma situação bastante peculiar foi evidenciada. Ao

perguntarmos se havia acesso livre dos pais para ver seu bebê, a quase totalidade dos

profissionais respondeu que sim, com uma ressalva: a necessidade de estabelecimento de

horário, em algumas unidades, para a entrada do pai (4 unidades com acesso livre) ou da

mãe (6 unidades com acesso livre), nas situações em que esta não estivesse internada

com o bebê, por questões de segurança pública (unidades situadas em área de risco).

Em relação ao direito de visita dos avós (tabela 4), ainda na 1ª etapa

(UTIN), esta parece ser uma prática já incorporada pelas unidades (10 em 11 unidades),

o que ainda não ocorre em relação ao direito de visita de outros - irmãos do bebê,

alguém escolhido a critério da mãe (6 em 11 unidades). De acordo com a AHRNBP-MC,

a idéia principal que norteia o conceito de família ampliada é o reconhecimento de que

um bebê sozinho não existe e que zelar pela preservação dos vínculos afetivos familiares

é prevenir a saúde de todos os integrantes desses grupos e do bebê 21,26,27,.

Ainda na tabela 4, observamos que 100% das unidades estudadas

ofereceram estratégias para permanência da mãe durante a internação do RN, facilitando

o estabelecimento do vínculo entre a mãe e bebê. A condição da prematuridade

associada a não permanência da mãe junto ao bebê pode trazer sérias dificuldades para a

formação do vínculo parental, situação amplamente descrita na literatura9,19, 28,29,30.

A presença de atividades de suporte durante a permanência da mãe é

garantida por 7 maternidades. As estratégias utilizadas variam desde acompanhamentos

em grupos orientados por equipe interdisciplinar (psicólogos, assistentes sociais,

fonoaudiólogos, enfermeiros) até grupos de musicoterapia, atividades artesanais e de

leitura. A possibilidade de um espaço onde os conflitos, as dúvidas e as experiências

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possam ser ouvidas e compartilhadas, contribui para minimizar os efeitos estressantes do

período de internação do bebê, assim como contribuir para uma melhor ambientação e

permanência da mãe nesse período 20,31,32,33,34,35.

Várias recomendações em relação ao ruído e a luz são descritos na

literatura para minimizar os efeitos dos estímulos ambientais excessivos produzidos

pelas UTI neonatais sobre o desenvolvimento dos RN3,6,36. Contudo, em relação ao

ruído, freqüentemente esses cuidados são desconsiderados (Tabela 5): cerca de 31% dos

entrevistados relataram não dispor de nenhuma estratégia para redução de ruído.

Também merece ser ressaltado que nenhuma das 11 Unidades Neonatais contava com

tratamento acústico.

Os efeitos advindos da longa exposição de um RN prematuro e/ou de

baixo peso a um ambiente ruidoso podem trazer como conseqüência, alto risco de

hemorragia intraventricular, intercorrência freqüentemente precursora de uma variedade

de desordens do desenvolvimento cerebral. Em razão da imaturidade neurológica e

instabilidade fisiológica, esses bebês gravemente doentes são especialmente vulneráveis

ao excesso de ruído das UTIN, resultando em danos neurológicos e dificuldades na

organização cerebral 4,3.

Em nossa pesquisa observamos que apesar dos profissionais referirem

como ruidosa a unidade onde trabalham, quando perguntávamos sobre os cuidados

tomados para redução de ruídos, dos 148 profissionais, apenas 39% apontaram atender

rapidamente aos alarmes e cuidados no uso de equipamentos como medida para

diminuição sonora. O uso do telefone celular foi bastante criticado, porém apenas 37%

referiram restrição quanto ao seu uso e 30% disseram reclamar quando o barulho estava

tornando-se insuportável!

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Diferentemente do ruído, a diminuição setorial da luminosidade foi

relatada por grande parte dos profissionais de chefia e rotina (88%) e pela quase

totalidade dos plantonistas (95%). Foi interessante observar que, apesar da grande

maioria das unidades usar algum tipo de protetor (lençol, emborrachado, cueiro) como

black out nas incubadoras, apenas 20% apontaram o fato como recurso para redução de

luz.

A constante exposição à luz é uma das características de unidade de

cuidados intensivos onde a necessidade de contar com ambiente muito iluminado facilita

a adequada monitorização dos pacientes e permite adequação ao trabalho noturno.

A anatomia ocular do prematuro faz com que retenha maior quantidade

de luz em sua retina. Como conseqüência à exposição luminosa constante, o neonato

pode apresentar dificuldades para se ajustar ao ciclo dia / noite, podendo levar a

alterações dos ciclos circadianos endógenos que podem interferir na consolidação

normal do sono ou mesmo à sua privação. A adequada utilização dos ciclos dia / noite

permite melhora na sincronização de seus ritmos biológicos, aumento das horas de sono

noturno, melhora na eficiência alimentar e ganho ponderal além de possibilitar ao bebê

explorar e interagir com o meio e com seus pais 26.

Dentre as práticas assistenciais na perspectiva da AHRNBP-MC (Tabela

6) no que se refere às estratégias para dor / desconforto do RN, recursos como técnicas

posturais (17%), adequação dos procedimentos, ou seja, agrupar / intervalar o manuseio

doloroso (10%) e a utilização de glicose (9%) são apontados pelos entrevistados.

Encontramos ainda 17% que relataram usar fármacos durante a realização de

procedimentos sabidamente dolorosos (punção lombar, drenagem torácica, pós-

operatórios potencialmente dolorosos, dissecação venosa, dentre outros citados). Nesse

contexto, de utilização não tão freqüente dos recursos mencionados acima, foi

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surpreendente encontrar 34% dos profissionais indicando a sucção não nutritiva como

paliativo em procedimentos dolorosos e 19% referindo conversar com o bebê como

forma de tranqüilizar ou avisar sobre o procedimento realizado. Concordamos com

Chermont37 de que existe um lapso entre o conhecimento e a conduta clínica e que isto

se deve a falhas na incorporação dos conhecimentos científicos a respeito da presença,

do diagnóstico e do tratamento da dor na prática diária dos profissionais de saúde.

O reconhecimento que o recém-nascido sente dor e que é capaz de

responder aos estímulos nociceptivos já é um consenso na comunidade médica. O estudo

do desenvolvimento fetal e do comportamento dos prematuros nos permite conhecer os

efeitos que a exposição à dor podem provocar nos sistemas sensoriais do neonato. Sua

reduzida capacidade de inibição da dor, associada à sua capacidade de percepção

dolorosa podem refletir-se negativamente, por meio de alterações orgânicas, fisiológicas

e comportamentais repercutindo no desenvolvimento do SNC e até na interação mãe-

bebê37,38,39,40,41.

Com relação às principais informações dadas aos pais na primeira visita a

UN, um percentual expressivo de profissionais (83%) relatou ser o quadro clínico a

primeira e principal informação dada aos pais. Essa resposta era sempre seguida de uma

observação: “da forma mais simples possível, sem termos técnicos para que eles possam

entender o real estado do bebê...” Apesar da preocupação explícita nessa fala, em tornar

acessível a informação aos pais, fica clara a dificuldade dos profissionais em ouvir a real

demanda dos pais sobre o seu bebê. Lamy35, citando Green (1979) descreve os pais de

bebês internados em UN como “... simplesmente incapazes de entender o que está

acontecendo”. De acordo com nosso estudo apenas 9% informam de acordo com a

demanda dos pais 18,24,28,42.

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A importância e os benefícios advindos da presença e participação dos

pais desde a internação do bebê é inquestionável, portanto julgamos importante observar

num mesmo contexto, as respostas dadas sobre o estímulo dado para a mãe no cuidado

com o bebê e nos procedimentos em que é permitido a mãe participar.

Tocar, conversar, estar próximo do bebê o maior tempo possível

(maternagem) foram itens respondidos por 81% dos profissionais em relação ao estímulo

no cuidado com o bebê, porém apesar de bastante reconhecido pela literatura, os

benefícios que esta maternagem pode trazer como atenuante nos manuseios dolorosos

e/ou desconfortáveis18,22,30,41, apenas 32% dos entrevistados citaram procedimentos em

que a mãe participa.

Nos cuidados assistenciais (troca de fraldas, sucção não nutritiva), 23%

estimulam como forma de cuidado e 37% como forma ativa de participação da mãe nos

procedimentos. Esta prática não só reforça a confiança materna no cuidado, como

também estimula a responsabilidade parental 18,30. Devemos lembrar que esse enfoque

dos profissionais não pode ser desvinculado de uma atenção cuidadosa às possibilidades

de cada mãe em cada momento.

Para 31% dos entrevistados, o estímulo ao cuidado se dá ao incentivar a

ida da mãe ao banco de leite para ordenha de leite e para manutenção da lactação

(orientação sobre amamentação). Embora esse estímulo, inegavelmente, contribua para

reforçar na mãe sua importância na melhora do seu bebê 11,18, entendemos que assim

como para as outras formas de participação deve-se levar em conta seu desejo e suas

possibilidades. É importante refletir que nessas situações de promoção da maternagem,

da participação, nos cuidados assistenciais e no aleitamento materno, existe uma linha

muito tênue entre o estímulo e a cobrança.

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Desde o início ficou claro para nós, que os entrevistados confundiam

“participar” e “assistir” quando questionados sobre os procedimentos em que a mãe

participa. É claro que estar ao lado, tocar, já é participar, mas a pergunta referia-se a

participação ativa/direta no cuidado. Desta forma, assistir correspondeu a 73% dos

profissionais que responderam no exame físico e a 51% outros procedimentos, incluindo

coleta de sangue arterial que, apesar de “não invasivo” é, segundo vários trabalhos,

extremamente doloroso2. Um dado interessante foi que a maioria dos profissionais

esclareceu deixar a critério da mãe permanecer ou não durante o procedimento,

demonstrando um cuidado “novo” na prática dos profissionais de saúde.

Chamou-nos a atenção, a dificuldade ainda presente nos profissionais em

permitir a ida de um RN de risco ao colo. Apesar de 59% responderem que depende de

estabilidade clínica para ir ao colo materno pela primeira vez, apenas 30% responderam

permitir este contato com o bebê estabilizado, mas ainda entubado.

Não há na literatura contra-indicação para que um RN, estável

clinicamente, porém entubado, possa ir ao colo. Entendemos a necessidade de extrema

cautela, assim como de equipe técnica disponível para tornar possível esta ação, porém

chamou nossa atenção o fato dos profissionais relutarem, francamente, a incorporar tal

ação a sua prática.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao final de nosso estudo, apesar de em várias situações, ficar claro que

muitos dos conceitos da atenção humanizada estão bastante difundidos e, a priori, o

profissional os conhecer, eles ainda não foram plenamente incorporados em sua prática

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clínica. Ainda é grande a lacuna entre os conhecimentos e a aplicação prática das

mudanças propostas pela AHRNBP-MC. Elas requerem mais do que a adoção de rotinas

e o treinamento formal de alguns profissionais. É necessária a educação permanente em

todos os níveis de formação dos profissionais de saúde que cuidam de RN.

A inadequação na estrutura das Unidades Neonatais em nosso país,

encontrada também nos relatos dos profissionais das maternidades visitadas nesse

estudo, certamente contribui para aumentar a dificuldade de implementação de uma

prática comprometida com a singularidade de cada família. Por outro lado, embora a

proposta brasileira inclua todo o período de internação do neonato, ficou evidente que os

profissionais ainda relacionam basicamente a AHRNBP-MC à segunda etapa, Unidade

Canguru.

Por fim, é importante reiterar que a riqueza das propostas trazidas pela

AHRNBP-MC justifica os esforços de todos os profissionais, visando a superação dos

desafios cotidianos. Nesse sentido, novos estudos que possam contribuir para a avaliação

ampla da implantação e dos resultados do cuidado neonatal sob essa perspectiva

certamente ajudarão na melhoria do cuidado neonatal em nosso país.

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APÊNDICE 1

QUESTIONÁRIOS

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INFORMAÇÕES GERAIS DA UNIDADE

HOSPITAL: _________________________________________________

ENDEREÇO:_________________________________________________

TELEFONE: _________________________________________________

RESPONSÁVEL: _____________________________________________

DATA: ___/___/____

1. Nº DE LEITOS NA UNIDADE:

• UTI: _________

• UI: __________

• ALOJAMENTO CONJUNTO: __________

• UNIDADE CANGURU: _______________ � Não se aplica

• AMBULATÓRIO – 3ª ETAPA __________ � Não se aplica

2. Nº DE NASCIDOS (2003):

VIVOS: __________; NASCIDOS VIVOS PREMATUROS: ___________;

NASCIDOS VIVOS < 1500g __________________________.

3. Nº TOTAL DE ADMISSÕES DE RN NA UNIDADE NEONATAL (UTI + UI) NO ÚLTIMO ANO

(2003): _____________________.

4. Nº DE ADMISSÕES NA UNIDADE CANGURU: ___________ � Não se aplica

5. Nº DE ACOMPANHAMENTOS NO AMBULATÓRIO: ______ � Não se aplica

6. Nº DE MÉDICOS DIARISTAS: � UTI � UI

7. Nº DE MÉDICOS PLANTONISTAS: � UTI � UI

8. Nº DE ENFERMEIRAS DIARISTAS: � UTI � UI

9. Nº DE ENFERMEIRAS PLANTONISTAS: � UTI � UI

10. Nº DE TÉCNICOS DE ENFERMAGEM DIARISTAS: � UTI � UI

11. Nº DE TÉCNICOS DE ENFERMAGEM PLANTONISTAS: � UTI � UI

12. Nº DE MÉDICOS NO AMBULATÓRIO (FOLLOW UP): ________________

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13. QUAIS SÃO AS ESTRATÉGIAS DE PREPARO DA GESTANTE DE RISCO, ACOMPANHADA

NO PN DESTA UNIDADE OU AQUI INTERNADA, PARA O NASCIMENTO DE UM BEBÊ DE

RISCO?

___________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________

14. É PERMITIDO ACOMPANHANTE NA SALA DE PARTO? � N � S

15. O PRÉ-PARTO É INDIVIDUALIZADO? � N � S

16. É PERMITIDA A PERMANÊNCIA DE ACOMPANHANTE NO PRÉ-PARTO?

� N � S

Quem: _________________________ Horário:__________________________

17. 15. O HOSPITAL CONTA COM PESSOAS ESPECÍFICAS PARA SUPORTE À MULHER EM

TRABALHO DE PARTO/PARTO (DOULA)? � N � S

18. QUAL O PERCENTUAL DE PARTOS COM ACOMPANHANTE NO ANO DE 2003? (Delimitar o

período que tem informado)________________

19. QUANTOS PROFISSIONAIS FIZERAM O CURSO ATENÇÃO HUMANIZADA AO RECÉM-

NASCIDO DE BAIXO PESO – MÉTODO CANGURU DE 40 H?

Médico: ___OBST ; _____PED/NEO ____ Enfermeiro

____ Fono _____ Fisio

_____ TO _____ Nutricionista

Outros __________________________________________ � Sem informação

20. QUANTOS PROFISSIONAIS QUE FIZERAM O CURSO DE 40 HORAS AINDA PERMANECEM

EM ATIVIDADE NA MATERNIDADE? Médico: _____G.O. ; _____PED/NEO ____ Enfermeiro

____ Fono _____ Fisio _____ TO _____ Nutricionista

Outros: ____________________________________ � Sem informação

21. FORAM DESENVOLVIDAS OUTRAS ESTRATÉGIAS LOCAIS PARA TREINAMENTO DOS PROFISSIONAIS NA ATENÇÃO HUMANIZADA AO RECÉM-NASCIDO DE BAIXO PESO – MÉTODO CANGURU?

� N � S

Quais: _______________________________________________________________ Carga Horária: ________________________________________________________

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Quem desenvolveu? ____________________________________________________

22. QUANTOS PROFISSIONAIS FIZERAM?

Médico: _____G.O. ; _____PED/NEO ____ Enfermeiro

____ Fono _____ Fisio _____ TO _____ Nutricionista

Outros: ____________________________________� Sem informação

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QUESTIONÁRIO PARA GERÊNCIA DA UNIDADE NEONATAL

Maternidade: ____________________________________________________________

Chefia: � Médica � Enfermagem

Nome: __________________________________________________________________

Data: ____/____/____ Tempo de Formado: ______________ Sexo: 1. M; 2. F

Trabalha também na rede: 1. privada 2. estadual 3. municipal 4. federal 5. docência

1. Você participou do Curso “Atenção Humanizada ao Recém-Nascido de Baixo Peso – Método

Canguru?”

� Não � Sim Quando? _______________________________________

Onde? _______________________________________________________________

2. Total de horas deste treinamento? ___________________________________________

3. Fez reciclagem? � Não � Sim Quando? ___________________________ 4. Qual (is) a (s) orientação (ões) para a equipe em relação ao contato mãe-bebê, na sala de parto, nas situações de risco?

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 5. Quais as estratégias para informar à mãe ou à família sobre as condições clínicas do bebê antes que ela possa ir vê-lo na Unidade Neonatal? _____________________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________________

6. Esta maternidade dispõe de algum tipo de estratégia para a permanência da mãe junto ao bebê após a alta obstétrica?

� Não � Sim

Outras:________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________________

� Permanecer no Alojamento Conjunto � Alojamento de Mães (hotelzinho) � Estar para as mães � Vale transporte � Garantia de refeição � Casas de apoio � Nenhuma

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7. Existe horário de visita materna caso a mãe não fique internada? � Não � Sim

Qual? UTI ___________________ UI______________________

8. Horário de visita pai:

� livre � horário definido Qual: ____________________________ 9. Existe direito de visita de outro familiar?

� não � sim Quem: _______________________ 10. Qual (is) a(s) orientação(ões) para a equipe à estimulação da mãe no cuidado com o bebê?

_____________________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________________

11. Qual (is) a(s) orientação(ões) para a equipe em relação ao contato pele a pele?

_______________________________________________________________________

_______________________________________________________________________

_______________________________________________________________________

_______________________________________________________________________

12. Existem atividades de apoio/suporte às mães durante o período de internação neonatal?

� Não � Sim Quais? _________________________________________

_______________________________________________________________________

13.A Unidade Neonatal conta com iluminação setorizada / individualizada?

� Não � Sim � Parcialmente 14. Em caso negativo, qual a estratégia utilizada para promover períodos de redução da luminosidade? _____________________________________________________________________________________

15. Classifique o ruído habitual desta unidade:

� Baixo � Médio � Alto � Muito alto 16. Há tratamento acústico no ambiente?

� Não � Sim Qual: _____________________________________________ 17. São realizados cuidados quanto a redução de ruído na Unidade Neonatal?

� Não � Sim Qual: ______________________________________

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18. A equipe discute os casos em conjunto? � Não � Sim 19. Em caso afirmativo, onde é realizada a discussão dos casos? _________________________________

_____________________________________________________________________________________

20. Quem participa das discussões?

_____ Médico ____ Enfermeiro

____ Fono _____ Fisio _____ TO _____ Nutricionista _____ Assist. Social _____ Psicólogo

Outros __________________________________________________________________

21. A equipe realiza estratégias em relação ao manejo dor/desconforto do bebê durante o período de internação?

� Não � Sim Quais: __________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________________

� enrolamento, � “contenção facilitada”, � contato pele a pele, � sucção não nutritiva, � sacarose 22. Qual a orientação para a equipe sobre cuidados individualizados? _______________________________________________________________________

_______________________________________________________________________

_______________________________________________________________________

_______________________________________________________________________

_______________________________________________________________________

23. Quais os critérios para o início da 2ª etapa? _______________________________________________

_____________________________________________________________________________________

24. Qual o tempo médio de permanência do bebê no contato pele-a-pele?___________________________

25. É possível a mãe ausentar- se por período ≥ 12 horas durante a 2ª etapa?

� Não � Sim

26. Qual a rotina para o RN nestes casos?

_____________________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________________

27. Horário de visita pai:

� livre � horário definido Qual: ____________________________ Freqüência ____________________

28. Existe direito de visita de outro familiar?

� Não � sim Quem: _______________________ Freqüência ____________________

Horário _______________________

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29. Na 2ª etapa onde fica o bebê nos momentos em gque a mãe precisa sair do contato pele a pele

brevemente? � incubadora, � “berço aquecido”, � berço simples

_____________________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________________

30. Quais são os critérios deste serviço para alta hospitalar dos bebês egressos da 2ª etapa?

_____________________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________________

31. Qual a estrutura para apoio no seguimento pós-alta dos bebês egressos da 2ª etapa?

� Garantia de retorno freqüente à unidade

� Acesso à unidade neonatal a qualquer momento de urgência

� Agendamento ambulatorial assegurado na alta hospitalar

� Agenda ambulatorial aberta permitindo retorno não agendado caso a criança necessite

� Outras ______________________________________________

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QUESTIONÁRIO PARA PROFISSIONAIS

Unidade: ________________________________________________________________

Responsável pelas Informações: _____________________________________________

Categoria Funcional: ______________________________________________________

Data: ____/____/____ Tempo de Formado: ______________ Sexo: 1. M; 2. F

Trabalha também na rede: 1. privada 2. estadual 3. municipal 4. federal 5. docência

1. Você participou do Curso “Atenção Humanizada ao Recém-Nascido de Baixo Peso – Método

Canguru?”

� Não � Sim Quando? _____________

Onde? _______________________________________________________________

2. Total de horas deste treinamento? ____________________________________________

3. Fez reciclagem? � Não � Sim Quando? ________________________________

4. Qual (is) a(s) orientação(ões) dadas em relação ao contato mãe-bebê, na sala de parto, nas situações de risco?

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 5. Quais são as estratégias da equipe para a primeira visita da mãe à Unidade Neonatal?

� estimular/convidar a mãe; � dizer que pode tocar; � dizer que é importante tocar; � acompanhar; � não tem _____________________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________________

6. Existe horário de visita materna caso a mãe não fique internada? � Não � Sim

Qual? UTI ___________________ UI______________________

7. Horário de visita pai:

� livre � horário definido Qual: ____________________________ Freqüência ____________________

8. Existe direito de visita de outro familiar?

� Não � sim Quem: _______________________ Freqüência ____________________Horário _______________________

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9. Quais são as principais informações dadas à mãe/pai na 1ª visita? � informações do quadro clínico; � apresentação das normas do hospital � depende da demanda dos pais;

Outros:___________________________________________________________________________________________________________________________

10. Como você estimula a participação da mãe na atenção ao bebê?

_______________________________________________________________________

_______________________________________________________________________

_______________________________________________________________________

_______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

11. Quando e em quais procedimentos a mãe pode participar? _____________________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________________

12. Em que momento o RN deve ir ao colo da mãe pela primeira vez?

_____________________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________________

13. Você estimula o contato pele a pele? � Não � Sim

Em que momento?

_____________________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________________

14. Qual o tempo médio de permanência do bebê no contato pele-a-ele?____________________________

_____________________________________________________________________________________

15. Nesta unidade são realizados períodos de redução da luminosidade?

� Não � Sim 16. Em caso afirmativo, quais / como? ______________________________________________________

_____________________________________________________________________________________

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17. Em caso negativo, por que? ______________________________________________

________________________________________________________________________

18.Classifique o ruído habitual desta unidade?

� Baixo � Médio � Alto � Muito alto 19. Há tratamento acústico no ambiente?

� Não � Sim Qual: _________________________________________________

20. São realizados cuidados quanto a redução de ruído na Unidade Neonatal?

� Não � Sim Qual: __________________________________________

_____________________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________________

21. A equipe discute os casos em conjunto? � Não � Sim 22. Em caso afirmativo, onde é realizada a discussão dos casos?

_____________________________________________________________________________________

23. Quem participa das discussões?

_____ Médico ____ Enfermeiro

____ Fono _____ Fisio _____ TO _____ Nutricionista ______ Assist. Social ______ Psicólogo

Outros: ________________________________________________________________

24. Quais estratégias você realiza para redução da dor/desconforto do recém-nascido durante a internação? � analgesia medicamentosa � sucção não nutritiva � sacarose � contato pele a pele ou

contenção facilitada pela mãe � contenção facilitada pelo profissional � outras ____________

_______________________________________________________________________ 25. Há estratégias que você use no manuseio do RN?

� Não � Sim � às vezes � enrolamento, � “contenção facilitada”, � contato pele a pele, � sucção não nutritiva, � sacarose

• Quais? ________________________________________________________

__________________________________________________________________

• Em que momento?

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

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APÊNDICE 2

QUESTIONÁRIO PARA AVALIAÇÃO

DA VALIDADE DE FACE PELOS EXPERTS

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QUESTIONÁRIO DE VALIDAÇÃO-EXPERTS

AVALIAÇÃO DO INSTRUMENTO PARA COLETA DE DADOS

(S/O = “Sua Opinião”) 1) Como classifica o instrumento em termos de clareza de itens?

Inaceitável Pobre Bom Excelente 1 2 3 4 5 6 7

S/O__________________________________________________________

_____________________________________________________________

2) A forma e o conteúdo das questões do instrumento podem gerar vieses

nas respostas (favor discriminar os itens sujeitos a vieses)

Bastante provável Provável Pouco provável Improvável

1 2 3 4 5 6 7

S/O__________________________________________________________

_____________________________________________________________

3) Em que extensão serão necessárias decisões subjetivas para responder às questões formuladas pelo instrumento? (Favor discriminar os itens)

Grande Boa Limitada Pequena 1 2 3 4 5 6 7

S/O__________________________________________________________

_____________________________________________________________

4) Quantos itens são redundantes/desnecessários? (Favor descrevê-los na

linha abaixo)

Muitos Alguns Poucos Nenhum 1 2 3 4 5 6 7

S/O__________________________________________________________

_____________________________________________________________

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5) Na sua opinião, a utilização deste instrumento será bem sucedida?

Improvável Pouco provável Provável Bastante provável 1 2 3 4 5 6 7

S/O__________________________________________________________

_____________________________________________________________

Considerando como objetivos deste instrumento:

• Objetivo geral:

� avaliar a implantação da “Atenção Humanizada ao Recém-Nascido de Baixo Peso –

Método Canguru” em maternidades públicas da cidade do Rio de Janeiro que

participaram do programa.

• Objetivos específicos:

� Descrever as rotinas e práticas ligadas à presença dos pais durante a internação na Unidade Neonatal;

� Conhecer as práticas e conceitos dos profissionais das Unidades Neonatais sobre aspectos selecionados

do desenvolvimento e das características comportamentais do recém-nascido de baixo-peso;

� Identificar os conhecimentos e as práticas dos profissionais das Unidades Neonatais sobre o impacto

dos fatores ambientais no desenvolvimento do recém-nascido de baixo-peso;

� Comparar elementos da estrutura e das rotinas de funcionamento da Enfermaria Canguru (2ª etapa do

Programa) e do seguimento pós-alta (3ª etapa do Programa) das maternidades selecionadas com a

Norma do MS.

6) Em que extensão as entrevistas atendem a estes objetivos?

Pequena Limitada Boa Grande 1 2 3 4 5 6 7

S/O:_________________________________________________________

_____________________________________________________________

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APÊNDICE 3

TERMOS DE CONSENTIMENTO

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TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Eu ________________________________________________________,

na função de _________________________________________________, na

Instituição ______________________________________________________,concordo

em participar do projeto de pesquisa Avaliação da Implantação do Programa “Atenção

Humanizada ao Recém Nascido de Baixo Peso – Método Canguru” em Maternidades

Públicas da Cidade do Rio de Janeiro, realizado pela mestranda Marcia de Abreu e

Silva Hennig, da Pós-Graduação em Saúde da Criança do Instituto Fernandes

Figueira/FIOCRUZ. Este Programa de Atenção Humanizada está inserido na política de

atenção à saúde da criança do Ministério da Saúde e foi implementado através de normas

e protocolos e de um amplo processo de capacitação nas diferentes regiões do país. Esta

pesquisa tem como principal objetivo avaliar a implantação desta política de saúde em

Maternidades Públicas da Cidade do Rio de Janeiro, que participaram da capacitação do

programa. A avaliação se dará através da aplicação de entrevistas fechadas sobre a

descrição e o conhecimento das práticas dos profissionais de nível superior que atuam

nas Unidades Neonatais. Esta pesquisa não trará nenhum risco ou dano aos profissionais,

aos pacientes ou a instituição onde se dá a avaliação. Fica esclarecido que tenho

liberdade de recusar a participar ou retirar este consentimento, em qualquer fase da

pesquisa, sem qualquer tipo de penalização ou prejuízo e que os dados coletados e suas

conclusões poderão ser obtidos junto à pesquisadora sempre que houver interesse por

mim. O pesquisador também está comprometido com a manutenção do sigilo acerca das

informações prestadas, resguardando minha individualidade e divulgando apenas o

conjunto dos resultados, sendo que estes resultados só poderão ocorrer em publicação

científica da área.

Rio de Janeiro, ____/____/ ____ ________________________________________

Marcia de Abreu e Silva Hennig

Rio de Janeiro, ____/____/ ____ ________________________________________

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TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Eu______________________________________________________________,

responsável pelo Serviço de ________________________________________________

da Instituição __________________________________________________, autorizo a

aluna Marcia de Abreu e Silva Hennig, da Pós Graduação em Saúde da Criança e da

Mulher do Instituto Fernandes Figueira/FIOCRUZ, a realizar a aplicação de questionário

à profissionais de nível superior deste departamento para a realização do projeto de

dissertação de Mestrado de título: Avaliação da Implantação do Programa “Atenção

Humanizada ao Recém Nascido de Baixo Peso – Método Canguru” em Maternidades

Públicas da Cidade do Rio de Janeiro, de sua autoria e que tem como orientadora a

Profª Drª Maria Auxiliadora de Souza Mendes Gomes.

Esta autorização fica condicionada aos seguintes termos: 1) os dados coletados e

suas conclusões poderão ser obtidos junto ao pesquisador sempre que houver interesse

por esta instituição; 2) o pesquisador manterá sigilo acerca das informações,

resguardando a individualidade dos entrevistados envolvidos e da unidade, divulgando

apenas o conjunto dos resultados; 3) a publicação dos resultados da pesquisa só poderá

ocorrer em publicação científica da área.

Rio de Janeiro, ____/____/ ____ ____________________________________________

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TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Eu_________________________________________________________,

_________________________________________________, concordo em submeter o

projeto de pesquisa Avaliação da Implantação do Programa “Atenção Humanizada ao

Recém Nascido de Baixo Peso – Método Canguru” em Maternidades Públicas da

Cidade do Rio de Janeiro, realizado pela mestranda Marcia de Abreu e Silva Hennig, da

Pós-Graduação em Saúde da Criança do Instituto Fernandes Figueira/FIOCRUZ, a um

estudo de sensibilidade (validade de face/conteúdo). A avaliação se dará através da

aplicação de entrevistas fechadas sobre a descrição e o conhecimento das práticas dos

profissionais de nível superior que atuam nas Unidades Neonatais de Maternidades

Públicas da Cidade do Rio de Janeiro, que participaram da capacitação do programa. A

validade de face será testada através de instrumento com notas que variam de 1 a 7,

segundo critérios de Feinstein (1975) para “sensibilidade de instrumentos” (Fallowfield,

1995; Oxman & Guyatt, 1991; Oxman et al., 1993; Gordis, 1979). Será adotado para

validade o ponto de corte de 75, conforme sugerido por Streiner e Norman (1989, p. 90)

para aceitabilidade mínima do valor de confiabilidade.

Esta avaliação fica condicionada aos seguintes termos: 1) os dados coletados e

suas conclusões poderão ser obtidos junto ao pesquisador sempre que houver interesse

por esta instituição; 2) o pesquisador manterá sigilo acerca das informações,

resguardando a individualidade dos entrevistados envolvidos e da unidade, divulgando

apenas o conjunto dos resultados; 3) a publicação dos resultados da pesquisa só poderá

ocorrer em publicação científica da área.

Rio de Janeiro, ____/____/ ____ _________________________________________

Marcia de Abreu e Silva Hennig

Rio de Janeiro, ____/____/ ____ ________________________________________

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APÊNDICE 4

AUTORIZAÇÃO DOS HOSPITAIS

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Ao Comitê de Ética em Pesquisa

Instituto Fernandes Figueira / FIOCRUZ

Informo que tenho ciência e estou de acordo com

a realização da Pesquisa “Avaliação da Implantação

da Atenção Humanizada ao Recém-Nascido de Baixo

Peso – Método Canguru em Maternidades Públicas da

Cidade do Rio de Janeiro”, da Mestranda Marcia de

Abreu e Silva Hennig nesta Instituição, desde que

aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do

IFF/FIOCRUZ.

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ANEXO 1

NORMA DA ATENÇÃO HUMANIZADA AO RECÉM-NASCIDO

DE BAIXO PESO – MÉTODO CANGURU

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Norma da Atenção Humanizada ao Recém-Nascido de Baixo Peso – Método Canguru

Três etapas da Atenção Humanizada – Método Canguru

1ª etapa:

Período após o nascimento de um recém-nascido de baixo peso que, impossibilitado de ir para o

alojamento conjunto, necessita de internação na unidade. Nessa etapa, os procedimentos deverão

seguir os seguintes cuidados especiais;

1.1 – orientação à mãe e à família sobre as condições de saúde da criança, ressaltando as

vantagens do método. Estimular o livre e precoce acesso dos pais à Unidade Neonatal,

propiciando sempre que possível o contato tátil com a criança.

1.2 – ressaltar, sempre, a importância da atuação da mãe e da família na recuperação da criança.

1.3 – após o parto, os primeiros cinco dias deverão ser utilizados para prestar todos os

ensinamentos à mãe e à família. Portanto, deve ser assegurada à puérpera a permanência na

unidade hospitalar, pelo menos durante esse período, recebendo todo o suporte assistencial

necessário.

1.4 – decorrido esse período, se a criança não preencher os critérios de entrada na etapa seguinte

(2ª) e houver necessidade da volta da mãe ao domicilio, deverão ser asseguradas à puérpera

as seguintes condições:

• vinda diária à unidade hospitalar, onde manterá contato com seu filho, receberá

orientação e manterá ordenha do leite;

• auxílio transporte para a vinda diária à unidade de saúde;

• refeições durante a permanência diurna na unidade;

• espaço adequado para a permanência, que permita descanso e possa ser utilizado

para palestras. Esse espaço, servirá também para o congraçamento entre mães, o que

propiciará maior confiança materna;

• o pai terá acesso à unidade e será estimulada sua participação nas reuniões com a

equipe de saúde.

2ª Etapa:

O recém-nascido encontra-se estabilizado e poderá ficar com acompanhamento

contínuo de sua mãe. Nessa etapa, após o período de adaptação e treinamento realizados na etapa

anterior, a mãe e a criança estarão aptas a permanecer em enfermaria conjunta, onde a posição

canguru será realizada pelo maior tempo possível. Essa enfermaria funcionará como um

“estágio” pré-alta hospitalar da mãe e do filho.

2.1 – São critérios de elegibilidade para a permanência nessa enfermaria:

2.11 Da mãe:

• certeza de que quer participar deste tipo de assistência, se tem disponibilidade de

tempo e existência de um serviço social de apoio;

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• certeza de que a decisão seja tomada por meio de consenso entre mãe, familiares e

profissionais da saúde;

• capacidade de reconhecer as situações de risco do recém-nascido (mudança de

coloração da pele, pausas respiratórias, regurgitações e diminuição de

movimentação);

• conhecimento e habilidade para colocação da criança em posição canguru.

2.1.2 Da criança:

• estabilidade clínica;

• nutrição enteral plena (peito, sonda gástrica ou copo);

• peso mínimo de 1.250g;

• ganho de peso diário maior que 15g..

2.2 Para que possa haver ganho de peso, deve-se garantir a amamentação a cada duas horas no

período diurno e a cada três horas no período noturno.

2.3 As crianças que não apresentarem ganho adequado de peso devem realizar a

complementação láctea com leite posterior da própria mãe, via sonda gástrica ou copo.

2.4 A utilização de medicamentos orais (complexo vitamínico, medicação contra refluxo

gastroesofágico, xantinas, etc.) não contra-indica a permanência nessa enfermaria.

2.5 A administração de medicação intravenosa intermitente, através de dispositivo intravascular

periférico, também não contra-indica a permanência em posição canguru.

2.6 São critérios para a alta hospitalar com transferência para a 3ª etapa:

• mãe segura e bem orientada e familiares conscientes quanto ao cuidado domiciliar

da criança;

• mãe psicologicamente motivada para dar continuidade ao trabalho iniciado na

maternidade;

• compromisso materno e familiar para a realização do método por 24 horas/dia;

• garantia de retorno freqüente à unidade de saúde;

• peso mínimo de 1.500g;

• criança com sucção exclusiva ao peito e ganho de peso adequado nos três dias que

antecederem a alta;

• garantia, se houver necessidade de complementação da dieta, de que ela não esteja

sendo ministrada por sonda gástrica;

• condição de acompanhamento ambulatorial assegurada, sendo que na primeira

semana a freqüência deverá ser de três consultas; na segunda semana de duas

consultas; na terceira semana e nas seguintes, de pelo menos uma consulta até o

peso de 2.500g;

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• condição de recorrer à unidade hospitalar de origem a qualquer momento de

urgência, quando ainda na terceira etapa.

3ª Etapa:

Essa etapa consiste no adequado acompanhamento da criança no ambulatório

após a alta.

3.1 São atribuições do ambulatório de acompanhamento:

• realizar exame físico completo da criança tomando como referencias básicas o grau

de desenvolvimento, o ganho de peso, o comprimento e o perímetro cefálico,

levando-se em conta a idade gestacional corrigida;

• avaliar o equilíbrio psicoafetivo entre a criança e a família;

• corrigir as situações de risco, como ganho inadequado de peso, sinais de refluxo,

infecção e apnéias;

• orientar e acompanhar tratamentos especializados, como exame oftalmológico,

avaliação audiométrica e fisioterapia motora;

• orientar esquema adequado de imunizações.

3.2 O seguimento ambulatorial deve apresentar as seguintes características:

• ser realizado por médico treinado e familiarizado com o seguimento do recém-

nascido de risco;

• observar a periodicidade já referida em item anterior;

• ter agenda aberta, permitindo retorno não agendado caso a criança necessite;

• levar em conta que é a criança que determinará o tempo de permanência em posição

canguru, o que ocorre, de modo geral, quando ela atinge o termo ou o peso de

2.000g;

• após o peso de 2.500g, o acompanhamento passa a ser orientado de acordo com

as normas para acompanhamento de crescimento e desenvolvimento do

Ministério da Saúde.

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ANEXO 2

PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA DO IFF – CEP/IFF

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ANEXO 3

COMPROVANTE DE ENVIO PARA REVISTA

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