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ANÁLISE DE MERCADO PARA O SETOR CERÂMICA VERMELHA DE BAIXO NÍVEL TECNOLÓGICO: NORDESTE Outubro de 2012

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ANÁLISE DE MERCADO PARA O SETOR CERÂMICA VERMELHA DE BAIXO NÍVEL

TECNOLÓGICO: NORDESTE

Outubro de 2012

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ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO _____________________________________________ 1

I2. OBJETIVO ________________________________________________ 4

3. METODOLOGIA ____________________________________________ 6

3.1 Principais agentes envolvidos ____________________________________ 16

3.2 Base temporal _________________________________________________ 17

3.3 Critérios Amostrais _____________________________________________ 17

3.4 Questionários __________________________________________________ 18

3.5 Logística de campo _____________________________________________ 19

3.5.1 Equipe de Levantamento de informações _______________________ 19

3.5.2 Área de estudo _____________________________________________ 20

4. PAINEL DA REGIÃO NORDESTE _____________________________ 24

5. ANÁLISE DOS PÓLOS ____________________________________________ 28

5.1 Análise de Mercado ____________________________________________ 28

5.2 Análise da Cadeia Produtiva _____________________________________ 32

6.VISÃO DOS STAKEHOLDERS _______________________________ 35

6.CONSIDERAÇÕES E RECOMENDAÇÕES ______________________ 36

7. REFERÊNCIAS ___________________________________________ 38

ANEXO A: Questionário de pesquisa _________________________________ A-1

ANEXO B: Questionário de campo do Stakeholder _____________________ B-1

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1. INTRODUÇÃO

O perfil do segmento de cerâmica vermelha no Brasil é majoritariamente de uso intensivo de mão-de-obra, onde prevalece de um lado as microempresas familiares com técnicas essencialmente artesanais e, do outro, empresas de pequeno e médio porte que utilizam processos produtivos tradicionais. O Banco do Nordeste do Brasil (2010), aponta que a produtividade média do segmento oleiro-cerâmico brasileiro é da ordem de 15 mil peças/operário/mês, variando conforme a região. Apesar da produtividade observar um aumento de 19% entre o período de 2005 e 2009, destaca-se, ainda, distante da produtividade quando comparada a outros países, salientando a necessidade da modernização do segmento no Brasil. HENRIQUES, SCHWOBA & SKLO (2009) ponderam que a produtividade na Europa é acima de 200 mil peças/operário/mês.

O segmento ceramista é conservador em relação aos produtos, ao sistema produtivo e à tecnologia utilizada. Sua organização é caracterizada por pequenas e médias empresas que precisam ser ampliadas. Há necessidade de eficientização do uso da energia, que hoje se pauta basicamente pelo uso da lenha (algaroba, jurema, poda de cajueiro, etc.), busca pela utilização de outros insumos energéticos, como por exemplo, resíduos de biomassa e briquetes de pó de serrarias. Neste último caso, a possibilidade de absorver resíduos, bem como de outras indústrias, reforça o caráter de maior adequação ambiental da indústria cerâmica. Adicionalmente, torna-se muito importante a modernização do processo produtivo, a fim de otimizar o uso de recursos, e ampliação geográfica do mercado.

Nos últimos anos o segmento ceramista, assim como outros segmentos industriais, tem sofrido os efeitos da globalização da economia. Ao mesmo tempo em que mostra novas oportunidades de mercado, também apresenta ameaças às empresas participantes de um dado mercado nacional. Soma-se a esse fato outros aspectos como nível de atividade da economia dos países, o desenvolvimento de produtos substitutos, o desempenho da indústria da construção civil de cada país, entre outros. Em conjunto, esses fatores têm favorecido o crescimento da produção mundial de revestimentos, que se deve também a significativos avanços tecnológicos. Estes têm permitido às empresas aumentar a produtividade dos seus recursos e melhorar a qualidade dos produtos, atendendo às demandas do mercado. O segmento da cerâmica possui aspectos bastante positivos no que tange à matéria-prima abundante. Também, no quesito ambiental, possui a possibilidade de absorver resíduos de outras indústrias, durabilidade e passível de reutilização ou reciclagem ao final da vida útil com baixo conteúdo energético.

Cabe ressaltar que existe um amplo espaço para uma mudança da estrutura de competição do segmento, passando de uma competição local/regional predatória para um modo cooperativo, possibilitando aumentar os efeitos sinérgicos. As regiões que souberam incorporar em sua cadeia produtiva os benefícios das empresas inovadores, com um relacionamento colaborativo, obtiveram altos índices de desenvolvimento socioeconômico no final do século XX. Segundo Porter (1989), o impacto dessas mudanças fez com que as empresas repensassem as verdadeiras vantagens competitivas de agir isoladamente e as vantagens de se relacionar de forma colaborativa.

A abordagem da economia industrial é utilizada nas pesquisas sobre redes para permitir que se entenda como os diferentes ganhos econômicos de produção (economias de

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escala, de escopo e de especialização) explicam a eficiência das redes. Por exemplo, o ganho de especialização tem sido indicado como relevante fator para explicar por que uma rede de empresas pode ser mais eficiente do que uma firma integrada (verticalizada) na produção de certo bem. O ganho de escala tem papel relevante no acesso a recursos, na provisão conjunta de serviços ou no suporte de investimentos em P&D. Já o ganho de escopo pode ser a base de formação de acordos que visam à utilização colaborativa de equipamentos e know-how. A perspectiva da economia industrial assume que as redes podem apresentar uma eficiência superior ao modelo tradicional da grande empresa verticalizada.

O novo arranjo organizacional por redes, de forma colaborativa1, fortalece os agentes na

medida em que eles se unem por um objetivo comum, obtendo ganhos como poder de barganha, redução de custos e riscos em ações conjuntas como o marketing, aprendizagem coletiva e inovação colaborativa.

Tais questões são reforçadas quando observada a distância entre a produtividade entre o Brasil e a Europa é possível ter uma dimensão de quão distante o segmento está dos padrões internacionais. Conjuntamente, vislumbra-se a médio prazo uma tendência de expansão do setor, incorporando técnicas mais modernas de produção, assim como um movimento de concentração, possibilitando ganhos de escala e de escopo.

Na confirmação da tendência de concentração de mercado e/ou arranjo colaborativo por parte do segmento e na incorporação de técnicas mais modernas no processo produtivo, este movimento possibilitará a oferta de produtos mais elaborados, incorrendo no aumento do valor agregado do produto. Este encadeamento possibilita o segmento, em particular as empresas de baixo perfil tecnológico outrora, a ultrapassar os seus respectivos nichos de mercado locais, assegurando a demanda e viabilizando os investimentos na melhoria e ampliação do processo produtivo.

O segmento faz uso corrente do insumo de “lenha” como principal vetor energético no processo produtivo, conjuntamente não é observado, em regra, o manejo florestal adequado, incorrendo na ampliação dos impactos ambientais do segmento nos ecossistemas locais, se somando ainda a outros problemas ambientais e sociais. Segundo HENRIQUES, SCHWOBA & SKLO (2009), o uso de lenha não permite atingir um rendimento empresarial adequado, devido as grandes perdas, baixa produtividade e baixa qualidade dos produtos.

.A utilização de temperaturas mais baixas e ciclos de queima mais rápidos nas indústrias cerâmicas podem reduzir os impactos ambientais relacionados ao consumo de energia nesse setor. Dutra et al. (2009) afirmam que no Brasil, a maioria dos ciclos de queima de produtos de cerâmicos utiliza processo lento (24h a 30h), ocasionando baixa produtividade e grande consumo de energia térmica, indicando, preliminarmente, que a inclusão de processos de queima mais rápida, poderia reduzir a perda no processo produtivo, assim como a redução do insumo energético e de seus desdobramentos negativos sobre o meio ambiente.

Neste contexto, elenca-se a possibilidade de incorporação de um novo vetor energético, como o gás natural, entretanto este ainda é atualmente limitado geograficamente a rede

1 Segundo Antunes, Balestrin e Verschoore (2010), numa rede de cooperação uma das dificuldades iniciais

estão relacionadas à adesão e ao comprometimento dos empresários com estratégias colaborativas propostas pela rede, porém, em uma rede de cooperação a instituição rede deve estar em primeiro lugar, os interesses individuais não devem se sobressair.

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de abastecimento. Esta possibilidade se insere num contexto futuro de reordenação setorial, por meio da concentração e de ampliação de escopo e de escala, alterando os tradicionais critérios do setor no sentido da suas vantagens comparativas de estarem próximos as jazidas de argila e próximo ao mercado consumidor.

Segundo dados do Ministério de Minas e Energia (MME, 2010), o número de empresas no país é de 7.400 e a tendência é de ampliação da participação dos empreendimentos de maior porte na produção nacional, destacando o faturamento anual de R$7 bilhões, contando com 293 mil empregos diretos e 900 mil empregos indiretos.

Cabe observar que o segmento de Cerâmica Vermelha, de modo geral, apresenta deficiências em dados estatísticos e indicadores de desempenho consolidados, ferramentas indispensáveis para acompanhar o seu desenvolvimento e monitorar a competitividade, corroborando a necessidade dos entes governamentais, em conjunto com os representantes da cadeia produtiva se articularem na questão da consolidação de uma estratégia contínua de levantamento de dados e de análise das tendências de mercado, no sentido de auxiliar no planejamento e na construção de ações voltadas a ensejar o dinamismo econômico, alinhadas com a sustentabilidade ambiental.

Isto posto, avaliar o mercado de cerâmicas vermelha de baixo nível tecnológico sob a ótica da sustentabilidade é um enorme desafio, por outro lado vislumbra-se uma janela de oportunidade para a implementação de técnicas orientadas as melhores práticas, havendo a possibilidade de saltos quantitativos e qualitativos, possibilitando o desdobramento de melhoria em direção a eficiência energética, melhor manejo dos recursos florestais, redução da emissão de gases do efeito estufa, aumento do valor de mercado dos produtos comercializados, ampliação do mercado de trabalho local, dentre outras.

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2. OBJETIVO

Este documento possui como objetivo apresentar o estudo de mercado de cerâmicas vermelha de baixo padrão tecnológico para a região Nordeste. Neste sentido foi necessário desenvolver uma metodologia de identificação preliminar dos nichos de

produção de cerâmica vermelha na região do Nordeste2 de baixo perfil tecnológico,

incluindo destacar seus critérios de definição. Conjuntamente, fez-se presente a necessidade do desenvolvimento de questionários da pesquisa de campo, assim como no questionário da entrevista focal junto aos stakeholders, assim como no detalhamento da análise de mercado, com base nas informações de campo, conjugadas com as informações secundárias disponíveis.

Em outros termos, no caso Nordeste, busca-se indicar preliminarmente as características do mercado de cerâmicas vermelhas da região citada, avaliando as falhas na cadeia produtiva, salientando os potenciais reflexos positivos na situação de intervenção e indicando aperfeiçoamentos via ação de mercado, no âmbito da metodologia “Market for

Poors3 (M4P)”.

Cabe destacar que diferentemente da Região do Seridó, dada a dimensão da área de estudo (Nordeste), sua complexidade entre diferentes atores regionais, diferentes estágios tecnológicos, além do tempo disponível para a realização do levantamento das informações, buscou-se uma estratégia distinta.

Neste contexto foi elencada a necessidade de um realinhamento do objeto de pesquisa, inserido no contexto da região e suas dimensões, assim como na metodologia. O levantamento das informações nas regiões pólo, assim como a realização de entrevista focais com diversos atores da cadeia produtiva, buscou-se elencar as informações de produção e de mercado. A conjugação das informações primárias e das entrevistas focais, possibilitam uma visão e um melhor entendimento do segmento, indicando de forma mais assertiva as necessidades de intervenção.

Dentre as questões centrais a serem elencadas pelo presente estudo, com base nas informações de campo em conjugação com as entrevistas focais e de dados secundários, cabem citar:

- Identificação preliminar dos nichos de produção de cerâmica vermelha de baixo nível tecnológico

- Escolha de três pólos de produção;

2 Por solicitação do Instituto Nacional de Tecnologia (INT) a área de abrangência do estudo foi alterada,

deslocando-se do Brasil para o Nordeste. Esta alteração se deve a própria dinâmica interna dos estudos em desenvolvimentos realizados em paralelo pelo INT, no âmbito de eficiência energética e de redução de emissão dos gases do efeito estufa (GEE), buscando, assim, aproveitar os resultados já alcançados de outros Projetos, retroalimentando o levantamento de informações no que tange aos produtores de cerâmica vermelha de baixo perfil tecnológicos, possibilitando, em extensão, resultados mais assertivos. 3

O M4P é uma abordagem para desenvolver sistemas de mercado para que funcionem mais eficazmente e de forma sustentável e proveitosa para as cerâmicas de baixo perfil tecnológico. Está focado sobre as limitações subjacentes que impedem o desenvolvimento eficaz dos sistemas do mercado para estas cerâmicas. Nesse contexto, a sustentabilidade é entendida como a capacidade do mercado para garantir que os bens e serviços diferenciados e relevantes continuem a serem ofertados e consumidos pelas cerâmicas de baixo perfil tecnológico, além do período de intervenção da agência financiadora de cooperação.

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- Descrição inicial do mercado cerâmico de baixo perfil tecnológico (três pólos):

estimativa do número de produtores e níveis de produção, tecnologia utilizada, insumos e combustíveis utilizados, sistema de comercialização, sustentabilidade no fornecimento de estes e das jazidas existentes.;

- Análise indicativa dos atores da cadeia produtiva na localidade (três pólos):

descrição da cadeia de valor, identificação dos atores/provedores e identificação das organizações que intervêm na cadeia de valor;

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3. METODOLOGIA

Com o intuito de identificar preliminarmente os pólos produtores de cerâmicas vermelhas de baixo padrão tecnológico na região Nordeste, foi elencada uma estratégia alternativa, tendo em vista a insuficiente disposição pública de informações secundárias. Para a identificação dos pólos buscou-se dois eixos de trabalho, sendo:

i- Levantamento de informações em publicações, artigos, teses, entre outras que indicassem os principais centros produtores (cidade/região) do nordeste;

ii- Espacialização das informações pertinentes as variáveis centrais, nas quais possuem inter-relações com o objeto de estudo. Foram indicadas algumas variáveis chaves, sendo: desmatamento, vias de acesso, lavras de argila e o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M). Cabe observar que outras variáveis foram inicialmente elencadas e estudadas, mas tais não acrescentaram aprimoramento do estudo.

Quanto ao primeiro eixo do trabalho cabe observar que a pesquisa de levantamento de informações secundárias é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos. Embora em quase todos os estudos seja exigido algum tipo de trabalho dessa natureza, há pesquisas desenvolvidas exclusivamente a partir de fontes bibliográficas. Boa parte dos estudos exploratórios pode ser definida como pesquisas bibliográficas. Os livros constituem as fontes bibliográficas por excelência. Em função de sua forma de utilização, podem ser classificados como de leitura corrente ou de referência. Os livros de leitura corrente abrangem as obras referentes aos diversos gêneros e também as obras de divulgação, isto é, as que objetivam proporcionar conhecimentos científicos ou técnicos. Os livros de referência, também denominados livros de consulta, são aqueles que têm por objetivo possibilitar a rápida obtenção das informações requeridas, ou, então, a localização das obras que as contêm. Publicações periódicas são aquelas editadas em fascículos, em intervalos regulares ou irregulares, com a colaboração de vários autores, tratando de assuntos diversos, embora relacionados a um objetivo mais ou menos definido. As principais publicações periódicas são os jornais e as revistas. Estas últimas representam nos tempos atuais uma das mais importantes fontes bibliográficas. Enquanto a matéria dos jornais se caracteriza principalmente pela rapidez, a das revistas tende a ser muito mais profunda e mais bem elaborada.

A principal vantagem do levantamento de informações secundárias reside no fato de permitir ao pesquisador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente. Essa vantagem torna-se particularmente importante quando o problema de pesquisa requer dados muito dispersos. Por outro lado, essas vantagens da pesquisa bibliográfica têm uma contrapartida que pode comprometer a qualidade da pesquisa. Não raro, as fontes secundárias apresentam dados coletados ou processados de forma equivocada. Assim, um trabalho fundamentado, exclusivamente, nessas fontes tenderá a reproduzir ou mesmo a ampliar esses erros. Para reduzir essa possibilidade, convém aos pesquisadores assegurarem-se das condições em que os dados foram obtidos, analisar em profundidade cada informação para descobrir possíveis incoerências ou contradições e utilizar fontes diversas.

No que tange aos aspectos do segundo eixo, o georeferenciamento das informações oferece uma ótima ferramentas de apoio à decisão. A versatilidade na manipulação dos dados

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georreferenciados, a possibilidade de operar sobre plataformas de baixo custo, como os computadores pessoais, e a relativa simplicidade de operação o tornam um recurso bastante interessante, pois permitem que decisões sejam tomadas a partir de critérios definidos de forma objetiva e eficaz. Um dos ganhos em relação à forma tradicional de analisar o ambiente é o aumento da objetividade, possibilitando a tomada de decisões sobre uma base mais técnica e menos subjetiva.

Isto posto, cabe elencar as principais cidades/localidades destacadas pela literatura pesquisada. A Tabela 01 apresenta as principais cidades produtoras de cerâmicas vermelha na região Nordeste, conjuntamente destaca-se o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M). Apesar de se haver pesquisado inúmeros documentos, de fontes diversas, é possível haver a omissão de alguma cidade produtora, dadas as disposições das informações. Por outro lado, cabe observar que este documento não possui o objetivo stricto sensu de listar todas as cidades produtoras, e sim auxiliar no seu mapeamento, assim como no entendimento da dinâmica do mercado de cerâmicas vermelhas no nordeste brasileiro.

Informações georreferenciadas são dados ou objetos referenciados com base em sua localização geográfica. Georreferenciamento é, portanto, a associação de um determinado dado a uma representação geográfica específica. No âmbito do trabalho desenvolvido foram realizadas as seguintes etapas no georeferenciamento das informações, sendo:

- Definição do problema;

- Levantamento e aquisição da base dados;

- Organização e operacionalização da base de dados;

- Realização de análises;

- Interpretação e consolidação dos resultados.

Cabe ponderar que a espacialização das informações busca indicar áreas potenciais de produção de cerâmicas vermelhas de forma indicativa, considerando o cruzamento das informações, entretanto é possível fornecer um maior grau de detalhamento das informações, possibilitando uma maior assertividade das análises, sendo para tanto necessário

desenvolver um sistema de informações georeferenciado4, que neste caso foge ao escopo do

projeto inicial.

4 Sistemas de Informações Geográficas (SIG) devem ser entendidos como um conjunto de programas,

equipamentos, metodologias, dados e pessoas (usuários), perfeitamente integrados, de forma a tornar possível a coleta, o armazenamento, o processamento e a análise de dados georeferenciados, bem como a produção de informação derivada de sua aplicação. Podem ser incorporadas aos programas computacionais de SIG, outras funções de análises espaciais, por exemplo, aplicação da metodologia proposta como uma ferramenta de análise no interior do SIG, possibilitando de forma modular a incorporação de funções aplicadas a economia, energia e meio ambiente, assim como análises estatísticas.

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Fonte: Elaboração própria com base ASSUNÇÃO & SICSÚ (2001), BNDES (2008), CETEM (2011), COELHO (2009), COSTA & JUSSANI (2008), COSTA (2007), REDE APL (2012) &, PNUD (2003).

Tabela 01 – Listagem das Principais Cidades Produtoras de Cerâmica vermelha (Nordeste)

As informações georeferenciadas das cidades produtoras de cerâmica vermelha na região Nordeste, com base nas informações secundárias é apresentada na Figura 01. Soma-se, também, a espacialização das informações pertinentes à classificação dos solos (argila), desmatamento do bioma Caatinga, as vias de acesso, assim como o IDH municipal das cidades produtoras (Figuras 02, 03, 04 e 05).

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Fonte: Elaboração própria com base ASSUNÇÃO & SICSÚ (2001), BNDES (2008), CETEM (2011), COELHO (2009), COSTA & JUSSANI (2008), COSTA (2007), REDE APL (2012), PNUD (2003), entre outros.

Figura 01 – Espacialização das Principais Cidades Produtoras de Cerâmica vermelha (Nordeste)

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Fonte: Elaboração própria com base em dados da EMBRAPA e IBAMA.

Figura 02 – Espacialização da Classificação do Solo (Nordeste)

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Fonte: Elaboração própria com base em dados do MMA.

Figura 03 – Espacialização do Desmatamento (Caatinga - Nordeste)

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Fonte: Elaboração própria com base em dados do IBGE.

Figura 04 – Espacialização das Vias de Acesso (Nordeste)

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Fonte: Elaboração própria com base em PNUD, 2003.

Figura 05 – Espacialização do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal e

Produtores de Cerâmicas Vermelha (Cidades Selecionadas)

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Após a efetivação das duas etapas, as informações foram sobrepostas possibilitando a visualização espacial das regiões, auxiliando, assim, a identificação preliminar das 3 cidades ou pólos de produtores de baixo perfil tecnológico a serem pesquisadas. Com base na proposta metodológica, identificou-se 3 pólos, sendo:

- Itabaiana (Sergipe);

- Ibiassucê (Bahia);

- Itapecuru Mirim (Maranhão);

É válido ponderar que mesmo as cidades de maior dinamismo econômico e tecnológico na região Nordeste possuem atividades de produção de cerâmicas vermelhas de baixo padrão tecnológico, reforçando a necessidade de se enveredar esforços públicos e privados no sentido de promover um realinhamento do segmento em direção a práticas produtivas de baixo impacto ambiental e promotor do desenvolvimento inclusivo.

Considerando a Identificação preliminar dos nichos de produção de cerâmica vermelha de baixo nível tecnológico e a escolha de três pólos de produção, fez-se presente a necessidade de se estabelecer as diretrizes do levantamento de informações junto aos principais atores da cadeia de valor, sendo necessário definir qual tipo de pesquisa a ser realizada.

Green e Tull (1978) definem pesquisa como sendo um processo sistemático, objetivo e completo de investigação de um assunto ou problema. Este processo inicia-se com a definição clara e concisa do assunto ou problema a ser pesquisado. Após essa etapa, ocorre a definição da ferramenta a ser utilizada para a coleta de dados e onde coletar estes dados se faz necessário.

Quanto ao tipo de pesquisa, ou seja, quanto aos fins, o estudo se caracterizou como uma pesquisa exploratório-descritiva. De acordo com Mattar (1996) a pesquisa exploratório-descritiva é adequada quando a compreensão do fenômeno a ser investigado é incipiente. Molhotra (1993) pondera:

“A pesquisa com dados qualitativos é a principal metodologia utilizada nos estudos exploratórios e consiste em um método de coleta de dados não estruturado, baseado em pequenas amostras e cuja finalidade é promover uma compreensão inicial do conjunto do problema de pesquisa.”

A pesquisa exploratória proporciona a formação de idéias para o entendimento do conjunto do problema. Essa situação se aplica ao presente estudo, uma vez que não foram encontrados estudos de mercado particulares sobre as regiões previamente identificadas, assim como funcionam estes mercados. Argumenta-se que a pesquisa exploratória é realizada sobre um problema ou questão que ainda carece de mais estudos e tem como objetivo procurar idéias ou hipóteses. A pesquisa descritiva expõe as características de determinada população ou fenômeno, estabelece correlações entre variáveis e define sua natureza. Não têm o compromisso de explicar os fenômenos que descreve, embora sirva de base para tal explicação.

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Neste contexto, optou-se metodologicamente por uma pesquisa composta em duas etapas, sendo:

i- Utilização de um questionário de campo sucinto com perguntas centrais a serem respondidas pelos produtores de cerâmicas vermelhas de baixo padrão tecnológico nos 3 três pólos previamente identificados;

ii- Realização de entrevistas focais com os principais atores da cadeia de valor do segmento de cerâmicas vermelhas;

Em termos gerais, a investigação de campo foi constituída pela seguinte seqüência, sendo definição do objeto de estudo, elaboração do questionário de campo, realização do pré-teste (interno), execução do plano de amostragem, coleta de amostras, tabulação dos dados de campo, realização de análises e interpretação dos resultados e documentação.

A pesquisa de levantamento de informações foi idealizada em duas vertentes, realizada por

meio da aplicação de questionários semi-estruturados (Anexo A) aos produtores de cerâmica vermelhas de baixo nível tecnológico na região Nordeste (3 pólos) e de entrevistas focais

(Anexo B) aos entes participantes da cadeia, não limitados a região. Estipulou-se 3 pesquisas a serem realizadas por pólo produtor no Nordeste, obtendo-se, assim, um montante de 09 produtores de cerâmicas vermelhas na região do Nordeste pesquisados, distribuídos geograficamente na região, assim como de 03 entrevistas focais com os não produtores (stakeholders). A conjugação das informações dos questionários e das entrevistas, associada a utilização de dados secundários, possibilitaram uma compreensão do mercado mais ampla, abrindo espaço para o melhor entendimento da dinâmica do setor na região, assim como possibilita o subsídio para a reflexão de futuras intervenções no segmento na busca da implementação das melhores práticas no processo, associadas a ações de redução da pobreza no âmbito do enfoque Market for Poors (M4P). A figura 06 ilustra o modelo esquemático do levantamento das informações.

Fonte: Elaboração própria.

Figura 06 – Modelo Esquemático de Metodologia de Levantamento de Informações

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Preliminarmente à pesquisa de levantamento de informações, os pesquisadores foram orientados previamente sobre os objetivos da pesquisa, a metodologia do trabalho a ser implementada e sobre o preenchimento dos questionários, buscando, desta forma, um resultado mais assertivo.

Na entrevista focal foi necessário cautela na escolha do respondente, pois a escolha não poderia ser aleatória. Era essencial que a escolha recaísse sob alguém que possuísse uma visão integrada da cadeia de valor. Neste sentido foram identificadas instituições e pessoas chaves para contribuir na elaboração do estudo, inserido na temporalidade do estudo e da dinâmica da região.

A metodologia aplicada para a realização do estudo de mercado em questão, contempla:

- A explicitação dos principais agentes envolvidos no processo;

- As bases temporais de realização das pesquisas;

- Os critérios amostrais utilizados;

- A elaboração de questionários para as pesquisas.

No contexto da proposta do trabalho, optou-se pelo levantamento primário de dados, por meio telefônico, pois julgou-se necessário realizar um estudo complementar para que se pudesse trabalhar com os diversos aspectos que compõe a dinâmica do segmento ceramista de baixo perfil tecnológico na região dos pólos identificados.

Cabe ilustrar que o trabalho de campo se justifica, entre outros, quando o fenômeno não pode ser estudado fora do seu contexto sem perda de utilidade da pesquisa; não se possui o controle sobre os eventos/comportamentos dos fatos/pessoas envolvidos na pesquisa, além do foco do trabalho refere-se a sua compreensão. Conjuntamente, faz-se uso da utilização de outras fontes com o intuito de evidenciar os fatos e as relações entre os agentes da cadeia produtiva.

Na medida do desenvolvimento da pesquisa, os questionários prontos foram coletados, tendo como desdobramento as seguintes etapas:

i. Filtro preliminar das informações;

ii. Tabulação das informações e organização;

iii. Verificação da digitação;

iv. Elaboração do banco de dados em Excel;

v. Relatório preliminar descritivo;

vi. Análise dos dados;

vii. Documentação.

3.1 PRINCIPAIS AGENTES ENVOLVIDOS

As ações direcionadas à redução da pobreza e na promoção da sustentabilidade podem ser

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classificados segundo seus enfoques predominantes. Assim sendo, existem ações com características desenvolvimentistas (avaliados pela análise dos benefícios econômicos tanto do empreendedor quanto do produtor, tendo como objeto a propriedade ceramista); ações de natureza social (avaliados por métodos qualitativos e experimentais focados no nível ou qualidade de vida da população local, tendo como objeto o entorno da propriedade ceramista) e ações que agreguem os dois enfoques, como é o caso deste trabalho. Nesse caso, o grau de complexidade de uma avaliação é aumentado, especialmente se pretende também elencar e quantificar as possíveis intervenções futuras, considerando outros beneficiários da cadeia produtiva.

Nesse contexto, os principais agentes diretos seriam: a população local, trabalhadores do segmento de cerâmicas, os produtores de cerâmicas, instituições de apoio técnico, associações e sindicatos, as prefeituras municipais; os governos estaduais; o governo federal. No que tange aos agentes indiretos, destacam-se a rede varejista; o setor industrial (fornecedores de fornos e equipamentos), o setor energético, o meio ambiente, assim como a sociedade.

3.2 BASE TEMPORAL

As pesquisas de campo foram realizadas em um momento do tempo com os produtores de cerâmicas vermelhas nos pólos identificados na região Nordeste, conjuntamente com a realização de entrevistas focais com stakeholder, participantes entre diversos segmentos da cadeia produtiva, sendo: fornecedores de tecnologia, banco de fomento, consultores, além de outros profissionais atuantes no perfil de baixo perfil tecnológico.

3.3 CRITÉRIOS AMOSTRAIS

Decidiu-se pela utilização de amostragem não-probabilística (amostragem por julgamento5.

Nesta técnica o pesquisador pode, arbitrariamente ou conscientemente, decidir os elementos a serem incluídos na amostra. Este técnica não utiliza a seleção aleatória, pois confia no julgamento pessoal do pesquisador. Cabe observar, que segundo Malhotra (2001), as amostras não probabilísticas podem oferecer boas estimativas das características da população, mas não permitem precisão dos resultados amostrais, considerando que as estimativas obtidas não são estatisticamente projetáveis sobre a população.

Para alguns problemas de pesquisa, exigem-se estimativas altamente precisas de características da população. Em tais situações, a eliminação do viés de seleção e a capacidade de se calcular erros amostrais tornam as amostras probabilísticas desejáveis. Todavia, a amostragem probabilística nem sempre apresenta resultados mais precisos. Se os erros amostrais tendem a constituir um fator importante, então a amostragem não-probabilística pode ser preferível, uma vez que o uso do julgamento pode permitir maior controle sobre o processo.

Outra consideração é a homogeneidade da população em relação as variáveis de interesse. Uma população mais heterogênia justificaria uma amostragem probabilística, porque seria mais importante assegurar uma amostra representativa.

5 Na prática os objetivos do estudo é que determinam o tipo de amostragem. Conjuntamente, considerações de

ordem operacional de campo não devem ser negligenciadas. Deve-se ter em mente os custos associados e o tempo necessário para a realização da amostragem probabilística no interior do desenvolvimento do trabalho, observando as distâncias e a logística de apoio para a região de estudo (Região Nordeste).

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Na amostragem por julgamento os elementos da amostra são julgados como adequados baseado em escolhas de casos específicos, na população onde o pesquisador está interessado. As amostras não-probabilísticas são também, muitas vezes, empregadas em trabalhos estatísticos, em alguns casos tendo em vista impossibilidade de se obterem amostras probabilísticas, como seria desejável. No entanto processos não-probabilísticos de amostragem têm também sua importância. Cabe observar que diferentemente dos grandes centros urbanos onde é possível se deslocar em grandes distâncias de forma rápida e de baixo custo, em regiões de difícil acesso, particularmente na região de estudo.

Este caso de amostragem não-probabilística pode ocorrer, também, quando na inacessibilidade a toda a população. Essa situação ocorre com muita freqüência na prática. O pesquisador é forçado a coletar a amostra na parte da população que é acessível.

3.4 QUESTIONÁRIO

O questionário é a técnica de investigação composta por um número, em geral, elevado de questões apresentadas por escrito às pessoas, tendo por objetivo central o conhecimento de opiniões, crenças, sentimentos, interesses, expectativas, situações vivenciadas. As vantagens do questionário, em relação a outras técnicas, são:

- Garante o anonimato das respostas;

- Permite que as pessoas o respondam no momento em que julgarem mais conveniente;

- Não expõe os pesquisadores à influência das opiniões e do aspecto pessoal do entrevistado

- Possibilita atingir grande número de pessoas, mesmo que estejam dispersas numa área geográfica muito extensa;

O objetivo do questionário é traduzir a informação desejada em um conjunto de questões específicas que os entrevistados/respondentes tenham capacidade de responder. Conjuntamente, o questionário deve motivar e incentivar o entrevistado/respondente a se deixar envolver pelo assunto, cooperando de forma direta na assertividade do levantamento. Uma das preocupações pertinentes ao desenvolvimento do questionário refere-se a pesquisador/executor na etapa do planejamento, minimizar o cansaço e o aborrecimento do entrevistado, esforçando, também na redução das repostas incompletas e não respostas.

Conjuntamente, faz-se presente elencar as principais etapas dispostas no planejamento dos questionários de campo, sendo:

- Necessidade de se ter claramente a população alvo;

- Características da população alvo;

- Especificação das informações necessárias a serem respondidas;

- Especificação do método de entrevista;

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- Determinar o conteúdo das perguntas individuais;

- Determinar o formato das perguntas individuais;

- Planejar as questões de modo a superar a incapacidade e/ou má vontade dos entrevistados;

- Determinar a estrutura das questões;

- Ter previamente indicações do método de tratamento dos dados;

- Elaborar o “fraseado” das questões para o público alvo;

- Identificar forma e o layout;

- Realização do pré-teste;

- Realização do teste de aderência;

Na execução buscou-se a padronização do questionário, possibilitando, assim, sua comparabilidade, precisão das informações, conjuntamente a operacionalidade dos dados de campo quando observado a necessidade do processamento dos dados. Mais ainda, a execução foi orientada a evitar perguntas de interpretação ambígua, assim como filtros, minimizando possíveis erros e não respostas.

Cabe ressaltar, que os questionários que constam no anexo A e B, foram elaborados visando à obtenção de dados padronizados, de modo a que fosse possível uma comparação com outras pesquisas já realizadas na região por diferentes institutos, que atuam nessa atividade, bem como possa permitir, futuramente, com uma mesma base de dados, inferir estudos comparativos interestaduais, inter-regionais e internacionais. Destaca-se que os questionários foram elaborados de forma a abranger os questionamentos elencados pelo Instituto Nacional de Tecnologia (INT).

3.5 LOGISTICA DE PESQUISA

Circunscrito a área de estudo da região do Nordeste, em particular nos três pólos identificados, no âmbito do levantamento primário de dados para apoio ao “Estudo de Mercado do Setor Cerâmica Vermelha de Baixo Nível Tecnológico: Região Nordeste ”, cabe destacar algumas informações de campo.

3.5.1 EQUIPE DE LEVANTAMENTO DE INFORMAÇÕES

A equipe de levantamento de informações foi composta por dois pesquisadores com conhecimento sobre a temática. Considerando que o levantamento de informações foi dado por meio de entrevistas pessoais (entrevista focal), em conjugação com levantamento por meio telefônico, a logística se restringiu no levantamento das pessoas chaves a serem

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entrevistadas (stakeholders), assim como no contato com os produtores.

3.5.2 ÁREA DE ESTUDO

A partir da última década o Nordeste brasileiro passou a apresentar os maiores índices de crescimento de sua história, elevando a sua participação no Produto Interno Bruto (PIB) corrente nacional de 13,1% em 2005 para 13,5% em 2009 (IBGE, 2011). De acordo com esta referência, o PIB brasileiro e nordestino aumentou, respectivamente, em 3,2% e 5,9% em 2005, 4% e 4,5% em 2006, 5,6% e 6,1% em 2007, além de 5,2% e 5,5% 2008. Em 2009, quando ocorreu contração de -0,3 no PIB nacional, o PIB nordestino aumentou em 1%.

Como o foco do estudo se refere ao setor cerâmico, baseado principalmente na produção de telhas, tijolos e blocos utilizados na construção civil, cabe relatar ainda que o ritmo de crescimento do número de empregos formais nesta indústria civil ratifica esta pujança econômica da região. Em 2010 foi registrada alta de 27,4% na taxa de ocupação do Nordeste quando comparada à 2009, enquanto no mesmo período o crescimento do emprego formal no Brasil foi de 15,1% (IBGE, 2011). O índice de atividade do setor de construção civil, como principal consumidor final, tem reflexo direto no aquecimento ou desaceleração da demanda imputada ao setor ceramista.

Quando abordada as informações das cidades pólos escolhidas é importante destacar que a cidade de Itapecuru Mirim, localizada no Estado do Maranhão (Figura 07), distante a 121 km da capital, possui 62.110 habitantes, ocupando uma área de 1.471km

2 representando , tendo

uma renda per capita de R$ 3.755,66 (Preços correntes6), observando a incidência da

pobreza em 58,88% da população residente. O Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) atinge o patamar de 0,609 na cidade.

6 O valor de um bem quando é expresso a preços correntes, quando são contemplados pelos valores monetários

da época, sem levar em conta o ajuste para inflação. Ou seja, quando se refer ao valor do produto ou serviço a preços correntes, isto quer dizer que este será apresentado pelo valor que vigorava na época em questão.

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Fonte: IBGE, 2012

Figura 07 – Localização da Cidade Pólo de Itapecuru Mirim (Maranhão)

Quanto a questões produtivas é válido observar que dados publicados por INT (2012) apontam que o Estado do Maranhão conta com 150 empresas de cerâmica vermelha, sendo 78 delas de maior porte (acima de 200 milheiros/empresa.mês) e cerca de 15 delas sindicalizadas. A produção envolvida é da ordem de 57.000 milheiros/mês (média de 380 milheiros/empresa.mês) sendo 67% de blocos e 33% de telhas, envolvendo a oferta de 3.000 empregos diretos (20 trabalhadores/empresa), apresentando seu pólo produtivo na cidade de Timon, na margem esquerda do rio Paranaíba e próxima de Teresina, onde operam 10 empresas de maior porte, produzindo cerca de 14.000 milheiros/mês (média de 1.400 milheiros/empresa.mês). A demanda mensal de argila é da ordem de 90.000 t, a produção final de 110.000 t/mês e a média produtiva por empresa de 380 milheiros/empresa.mês (SCHWOB, 2007). O consumo equivalente em lenha é da ordem de 65.000 m³/mês, sendo de lenha efetivamente cerca de 40%, enquanto o de resíduos representa a parcela complementar. Dados do SEBRAE (2003) complementam as informações de produtividade, destacando que a produtividade do Estado atinge 17.928 peças por pessoa/ano.

A cidade de Ibiassucê localizada no Estado da Bahia (Figura 08), distante a 629 km da capital por meio rodoviário, possui 10.062 habitantes, ocupando uma área de 426km

2, tendo uma

renda per capita de R$ 1.830,75 (Preços correntes). O Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) atinge o patamar de 0,659 na cidade.

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Fonte: IBGE, 2012

Figura 08 – Localização da Cidade Pólo de Ibiassucê (Bahia)

Segundo APL Bahia (2010), na Bahia existem 480 unidades industriais voltadas a produção de cerâmicas vermelha, gerando 11.350 empregos diretos, tendo majoritariamente a produção de blocos (90%) e de telhas (7%). Cabe observar que a produção do estado não atende completamente a demanda do estado, havendo uma capacidade instalada de 1,6 bilhão de peças/ano.

Segundo INT/EELA (2012), o estado possui o sexto lugar no cenário da produção nacional, assumindo uma participação de 3,7%. O consumo de argila é da ordem de 445.000 t por mês, para produzir 370.000 t de produto final, com uma média de 1.9 kg/milheiro, ligeiramente inferior à média nacional, indicando a produção de peças menores.

Estudo elaborado pelo INT/EELA (2012), destaca as principais regiões de produção por estado no Nordeste, sendo: Região do Planalto; Região da Chapada; Região do Grande Recôncavo; Região Metropolitana (Localizada na Grande Salvador); Região do São Francisco; Região Nordeste (Situada ao norte da Grande Salvador); Região da Mata Atlântica (Situada na região ao sul do Grande Recôncavo, próxima à região litorânea) e Região do Extremo Sul (Situada na região entre o norte do Espírito Santo, o nordeste de Minas Gerais e a região litorânea)

Cabe ponderar que o Estado da Bahia possui boa potencialidade de reservas e diversidade de materiais argilosos, havendo, assim, recursos naturais para a sua expansão, por outro lado faz-se presente a necessidade de modernização técnica e tecnológica, sendo este um dos motivos que impactam diretamente no meio ambiente.

A cidade de Itabaiana localizada no Estado de Sergipe (Figura 09), distante a 51 km da capital por meio rodoviário, possui 86.967 habitantes, ocupando uma área de 337km

2, tendo

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uma renda per capita de R$ 16.307 (Preços correntes). O Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) atinge o patamar de 0,678 na cidade.

Fonte: IBGE, 2012

Figura 09 – Localização da Cidade Pólo de Itabaiana (Sergipe)

Segundo APL Sergipe (2010), no Sergipe existem 76 unidades industriais voltadas a produção de cerâmicas vermelha no âmbito da APLs Cerâmica Vermelha, gerando 2.061 empregos diretos e 6.200 indiretos. O setor é basicamente composto por empreendimentos de médio e pequeno porte. A produção dos produtos é orientada a telhas, lajotas, blocos, canaletas, ladrilhos, tendo como principal insumo energético a lenha, basicamente originária da Bahia. O eucalipto e a algaroba são espécies utilizadas na queima. Destaca-se a predominância da tecnologia utilizada do forno Hoffman, tendo uma produção anual equivalente a 465 milhões de blocos. O mercado consumidor dos produtos é subdividido em:

- Território do Agreste: Sergipe e Bahia;

- Território do Baixo São Francisco: Alagoas;

- Território Sul Sergipano: Sergipe e Bahia.

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4. PAINEL DA REGIÃO NORDESTE

Com relação ao Nordeste, a produção está localizada principalmente nos Estados do Ceará, Bahia e Pernambuco, vindo em seguida Rio Grande do Norte, Maranhão e Piauí. Segundo dados do Ministério de Minas e Energia (MME, 2009), a região Nordeste tem uma produção de aproximadamente 21% da nacional, mas consome cerca 22%, revelando ser um pequeno importador de produtos de cerâmica vermelha. Esses pólos são geralmente determinados pela existência de bacias sedimentares compostas de depósitos de argila, material utilizado na fabricação de seus produtos (tijolos maciços, lajes, blocos cerâmicos de seis e oito furos, blocos para lajes e telhas).

De um modo geral, é um segmento de cerâmicas vermelhas é nativo da região, devido a vantagem comparativa do acesso as jazidas de argila, além do segmento ser caracterizado por, em regra, possuir uma estrutura familiar de gestão, atuando muitas vezes de maneira informal, onde a presença das micro e pequenas olarias ainda é importante, possuem ainda relativo baixo custo de instalação e possibilidade de explorar jazidas de maneira irregular, representando brechas que permitem a entrada de novos produtores, por outro lado possuem a problemas associados à exploração de jazidas, problemas associados à instabilidade do mercado, gestão organizacional e tecnológica, além da sazonalidade e da falta de capital de giro. Cabe observar que a argila é a principal matéria prima do segmento, na qual também é consumido por outros setores, tais como: cerâmica de revestimento de base seca, cimenteiro, agregado leve, entre outros.

Segundo o BNB (2010), não existem levantamentos regulares e precisos que possam mostrar a evolução do número de empresas nesse setor para o Nordeste, ou seja, o Setor Cerâmico Brasileiro, de um modo geral, apresenta-se deficiente em termos de dados estatísticos e indicadores de desempenho, ferramentas indispensáveis para que se aperfeiçoe o monitoramento e a competitividade.

A cadeia produtiva da indústria de cerâmica é relativamente simples, o que significa dizer que seus efeitos encadeadores para trás são reduzidos, existindo basicamente a exploração da jazida e o transporte da matéria-prima. Um dos principais insumos consumidos por essa indústria é a energia, proveniente principalmente da lenha, usada para alimentar os fornos responsáveis pela queima dos materiais (BNB, 2010). Dado o freqüente uso de “lenha” como insumo energético, a indústria cerâmica no Nordeste é associada às práticas de degradação ambiental. As empresas produtoras de cerâmicas estão instaladas próximas às jazidas, que se situam normalmente nas regiões da Zona da Mata e do Semi-árido. Nesse sentido, a utilização de lenha por parte dessas indústrias contribui para agravar o frágil ecossistema das referidas regiões.

Conforme o Anuário Brasileiro de Cerâmica Vermelha (MME, 2009), a produção mensal média por empresa é de 1,3 milhão de peças/empresa, enquanto a produtividade média é da ordem de 15,3 milheiros/trabalhador. O consumo específico de lenha e resíduos vegetais, dominantes no País é da ordem de 588 m

3/empresa/mês (1,6 m

3/milheiro). O consumo de

energia elétrica do setor é da ordem de 113 milhões kWh/mês (47,6% do setor cerâmico), com uma média de 16.600 kWh/empresa/mês e de 91 kW/99 kVA de demanda média de potência ativa e reativa por empresa. A potência elétrica total (ativa e aparente) para atender as 5.500 empresas do segmento no País é da ordem de 619 MW/673 MW, valores equivalentes a cerca de 0,77% da capacidade instalada no País e 0,36 % do consumo de energia elétrica no Brasil. Quanto à produção regional de cerâmica vermelha, o Sudeste

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contribuiu com a maior parcela (44,4%), o Nordeste com 21,3% da produção nacional, índice semelhante à região Sul (Figura 10). No que se refere ao Nordeste, o Ceará e a Bahia assumem a condição de maiores produtores, cabendo a esses Estados quase que metade da produção da Região.

Nota (*): Porcentagem do Estado em relação ao total do Brasil

Fonte: BNB, 2010

Figura 10 – Produção Brasileira por Região (mil milheiros/mês) - 2008

Segundo BNB (2010), o segmento apresenta-se como um grande empregador no Brasil, abrigando um contingente de 403 mil postos de trabalho, indicando sua dimensão e importância dentra da economia nacional e regional. Quanto aos vínculos empregatícios ligados a essa atividade, verifica-se que a região Nordeste abriga 77 mil vínculos ou 19,1% do Brasil. Pernambuco e Bahia são os maiores detentores de postos de trabalho no Nordeste, com 19,9% e 22,7% dos postos de trabalho da Região, respectivamente.

Estima-se que o setor de Cerâmica Vermelha abriga em todo o Brasil cerca de 5,5 mil empresas com capacidade de produção acima de 50 milheiros/mês, sendo que, deste total 1.003 encontram-se sediadas na região Nordeste, representando 18,2% do total, respondendo por 21,3% da produção nacional. Vale destacar que o Nordeste, mesmo assumindo o terceiro posto no número de empresas, suplanta em 252 empresas o somatório das regiões Centro-Oeste (438) e Norte (313), que é de 751 estabelecimentos. Especificamente no que se refere ao Nordeste, o Ceará é o Estado com o maior número de empresas registradas, totalizando 254 empresas, equivalente a 25,3% da Região, contra 22,7% relativo à Bahia, que possui 227 empresas, respondendo esses dois Estados por 43% da produção nacional e 48% do número de empresas no Nordeste.

O consumo per capita do segmento vem aumentando consideravelmente, onde dados do MME (2012) indicam que o consumo triplicou nas últimas duas décadas para o país, com tendência a continuidade de crescimento. A Figura 11 destaca o consumo por região e per capita, onde é possível observar que ainda existe uma forte demanda reprimida para a região Nordeste, considerando que a mesma se situa 21% abaixo do índice per capita da região Sudeste.

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Fonte: BNB, 2010

Figura 11 –Brasileiro por Região e Per Capita - 2008

É importante observar que a ABNT estipula em sua Norma NBR 7171/83 que os blocos cerâmicos de vedação “não devem apresentar defeitos sistemáticos tais com trincas, quebras, superfícies irregulares, deformações e não uniformidade da cor”. Para que a Norma seja cumprida é preciso que as fábricas de produtos cerâmicos adotem um modelo mínimo de gestão tecnológica, ou seja, um modelo de “inspeção de qualidade”. No entanto, com base nos dados divulgados por Assunção e Sicsú (2001), onde indicam que isto não corresponde à prática do setor, sendo que 22,20% da empresas estudadas no Nordeste não realizam controle mínimo de qualidade. Considerando-se a importância da qualidade para os custos e a imagem da empresa, a proporção dos que não fazem controle de qualquer espécie é preocupante.

Quando observada a cadeia de valor do segmento, a mesma caracteriza-se por duas etapas distintas, sendo: a primária (que envolve exploração e transporte da matéria-prima, neste caso, a argila); e a de transformação (para elaboração do produto final). Independentemente dessas fases serem ou não desempenhadas pela mesma empresa, estão intimamente interligadas e interferem no desempenho da cadeia produtiva. A forte relação com o setor primário se confirma pelo uso de recursos naturais, tais como argilas e lenha.

Assunção e Sicsú (2001) afirmam que a imagem do produto ao consumidor não é positiva, tomando como exemplo o mercado local ou regional formado por depósitos de materiais de construção e empresas construtoras, a imagem da indústria regional de produtos cerâmicos não é das melhores. Essa imagem está associada a falta de qualidade dos produtos, a baixa relação entre preço e qualidade, a falta de padronização dos produtos (tijolos com vários tamanhos), a falta de pontualidade na entrega dos produtos e a falta de assistência após as vendas.

As atividades do segmento de cerâmicas vermelhas são consideradas agressivas ao meio ambiente, sendo percepção decorrente da utilização de lenha oriunda de vegetação nativa como insumo para a queima dos produtos. Isto decorre, principalmente, pela ausência de manejo florestal sustentável, na qual permitiria uma recomposição natural da mata, diminuindo, por extensão, o impacto ambiental.

Quanto as questões pertinentes a relação do segmento com a área de pesquisa e desenvolvimento, Assunção e Sicsú (2001) destacam que poucos são os empresários que se preocupam com gastos em P & D. Mesmo naquele universo de poucos, segundo eles, os gastos não são sistemáticos nem significativos. Segundo dados da pesquisa realizada, 67% das empresas consultadas não realizam nenhum gasto com desenvolvimento de produtos ou

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pesquisa Desses dados, podem-se extrair duas características da indústria de cerâmica vermelha nordestina: as inovações dentro dessa indústria tendem a ser incrementais e marginais e as suas principais fontes de inovações encontram-se fora das empresas cerâmicas, i.e., no relacionamento estabelecido entre elas e outras empresas e instituições especializadas na pesquisa e desenvolvimento tecnológicos.

Assunção e Sicsú (2001) constataram que a indústria de cerâmica vermelha no Nordeste, já instalada, oferece várias fronteiras de inovações a partir das quais poderão ser desencadeados novos investimentos. Dentre os principais campos de ocorrência da capacitação e inovação são: legalização da exploração de jazidas; aumento do conhecimento científico das jazidas e da matéria-prima; elevação do nível de escolaridade e motivação, bem como do nível de qualificação da mão-de-obra ocupada na produção; mudança da mentalidade e da cultura empresariais; aumento do controle de qualidade dos insumos e dos produtos cerâmicos; utilização de métodos e equipamentos mais adequados de produção, especialmente nas fases de secagem e da queima; uso alternativo de combustível na queima e racionalização no uso de energia, integrando a fase de secagem com a da queima.

O BNB (2010) pondera que de uma maneira geral, o segmento de Cerâmica Vermelha na região Nordeste, apesar de ser uma atividade rentável e de grande apelo social, se apresenta com foco difuso, processos produtivos semi-artesanais com elevado índice de desperdício, problemas ambientais e falta de profissionalização de sua estrutura produtiva e administrativa. Um cenário onde se vê o comprometimento do desenvolvimento sustentável da atividade, a qual, sem sombra de dúvida, é de extrema importância socioeconômica para todo o Nordeste. Desta maneira, considerando que a maioria das empresas que integram o setor de Cerâmica Vermelha se refere a micro, pequenas e médias empresas, as quais de maneira geral, apresentam deficiências nas áreas dos sistemas integrados de gestão da produção e de finanças, elenca-se a necessidade da elaboração de projetos de capacitação em conjunto com universidades, centros de formação, empresas de consultorias e outros órgãos de desenvolvimento no sentido de melhor desenvolver e ampliar cada um dos sistemas de gestão.

Por fim, faz-se presente ressaltar a limitação de informações divulgadas quanto ao setor, em particular a região Nordeste, restringindo a análise mais detalhada quanto ao estudo de mercado do segmento de cerâmicas vermelhas de baixo perfil tecnológico na região citada. Neste sentido, assume maior importância os levantamentos de informações e pesquisas de campo desenvolvidos no âmbito deste trabalho, solicitado pelo Instituto Nacional de Tecnologia (INT), possibilitando, assim, um melhor entendimento da dinâmica do setor, assim como na consolidação de informações que subsidiem ações futuras no âmbito do planejamento setorial, assim como nas ações direcionadas a redução de emissão dos gases efeito estufa, de eficiência energética, alinhadas com a promoção da renda local.

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5. ANÁLISE DOS PÓLOS

5.1 ANÁLISE DE MERCADO

Como apresentado no capítulo 2, após a efetivação das etapas de georeferenciamento das informações e do levantamento secundário das informações foi possível elencar potenciais pólos de produção de cerâmicas vermelhas de baixo padrão tecnológico na região Nordeste. Por meio da metodologia desenvolvida, foi realizada a identificação preliminar de 3 cidades ou pólos de produtores, sendo:Itabaiana (Sergipe); Ibiassucê (Bahia) e Itapecuru Mirim (Maranhão). Neste sentido, este capítulo se direciona a investigar a dinâmica interna dos mercados das referidas regiões/cidades pólos, buscando ter uma visão mais próxima da realidade, possibilitando subsidiar futuras ações direcionas ao aprimoramento da operação do mercado, induzindo a ampliação da renda local e da sustentabilidade ambiental.

Os pólos foram pesquisados por meio de questionário de informações, dada a dinâmica do

processo de entrevista, foi priorizada a elaboração de um questionário mais enxuto7 e focado

nos aspectos produtivos e de mercado. Quanto as informações obtidas nas cidades de Itabaiana (Sergipe); Ibiassucê (Bahia) e Itapecuru Mirim (Maranhão), concernente a estrutura de mercado indica-se a existência da atomização da produção, i.e., prevalece as empresas de pequeno porte numa estrutura de competição concorrencial. Cabe observar que a região de Itabaiana possui uma diferenciação tecnológica, tendo a participação de fornos mais eficientes, impactando positivamente sobre a viabilidade dos empreendimentos.

A pesquisa possui uma rota de encadeamento de questões a serem desenvolvidas com o intuito de capturar as informações de forma fidedigna, por outro lado sem induzir as respostas, assim como não “cansar” o entrevistado. Por outro lado, abre se espaço para ouvir e contextualizar os questionamentos e indagações dos entrevistados, no sentido da pesquisa estar aberta a questões não pensadas e que podem ser relevantes para o ambiente e o melhor entendimento da pesquisa. Desta forma, cabe expressar o entendimento do entrevistado no tocante ao rendimento dos fornos e da sazonalidade, sendo:

“O rendimento do forno (Hoffman) é bom, mas devido a sazonalidade opero abaixo da capacidade instalada, consumindo mais lenha.”

Produtor de Cerâmica Vermelha – Itabaiana (SE)

Quanto aos fornos utilizados destaca-se a presença dos fornos Hoffman no pólo de Itabaiana (Sergipe), enquanto no pólo de Ibiassucê (Bahia) verificou-se a presença dos fornos abóboda. Já no pólo de Itapecuru Mirim (Maranhão) foi observada a presença tanto do forno Hoffman quanto abóboda. Soma-se ainda a questão do fornos, quando na avaliação dos produtores sobre a eficiência (rendimento) dos fornos utilizados, destaca-se que 89% dos pesquisados nos pólos responderam que seus fornos possuíam um bom rendimento. Este dado é interessante pois indica que mesmo havendo grandes lacunas no processo produtivo, 7 Considerando o objetivo central do estudo, o tempo para a sua realização e questões de rigor metodológico,

inserido na contextualização da dinâmica setorial da região Nordeste, optou-se pela realização de entrevistas mais focadas aos aspectos produtivos e de mercado, havendo, assim, menor disponibilidade de informações primárias, restringindo em parte a extensão das análises quando comparado ao estudo realizado na Região do Seridó. Ressalta-se que o presente estudo busca indicar uma visão mais próxima da realidade do segmento de cerâmicas vermelhas, afirmando ainda necessidade da realização de estudos complementares para se ter uma visão probabilística das informações (Projeções populacionais).

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tais não são observados de forma consistente pelos produtores. Esta realidade abre espaço para necessidade de ser enveredados esforços de promover uma maior proximidade entre os produtores e os agentes da cadeia produtiva, dedicados ao desenvolvimento tecnológico e econômico do segmento de cerâmicas vermelhas. Conjuntamente, cabe apontar o relato pessoal do produtor, na região de Ibiassucê, quanto à incorporação de inovação que tecnológica:

“Tenho 3 fornos abóboda e estou desenvolvendo 4 fornos próprios de maior rendimento.”

Produtor de Cerâmica Vermelha – Ibiassucê (BA)

Tais afirmações trazem à tona a necessidade de se articular ações visando estratégias comerciais que reduzam a exposição a sazonalidade, assim como na integração das universidades e institutos de tecnologia junto aos produtores de cerâmica vermelha. Esta é uma lacuna a ser vislumbrada pela ações de mercado no âmbito do Market for Poor (M4P). No que se refere a sazonalidade, uma possível solução direciona-se a diferenciação do produto, seja por meio de ações de marketing, seja por ações em modificações na estrutura produtiva que configure uma melhor qualidade do produto, entre outras ações. Enquanto a inovação tecnológica no segmento deve ser repensada as estratégias atuais, considerando que existem linhas de financiamento, existe demanda, existe tecnologia, existe capacidade de pagamento por parte do produtores, mas a interação entre os agentes ainda é insuficiente para alavancar o segmento.

Quando abordada a questão dos insumos no processo produtivo, todos os respondentes indicaram fazer uso da lenha, indicando,assim, haver espaço para a incorporação de ações direcionadas a redução da emissão dos gases efeito estufa (GEE), assim como na substituição do insumo energético por outras fontes, possibilitando ganhos de rendimento no processo produtivo. Soma-se, ainda o relato pessoal do produtor quanto a questão ambiental no pólo de Itabaiana:

“Meu empreendimento utiliza majoritariamente resíduo (80% pó de serra) e faz uso de crédito de carbono.”

Produtor de Cerâmica Vermelha – Itabaiana (SE)

Tal informação apresenta uma dualidade de entendimento, onde mesmo em regiões menos dinâmicas economicamente é possível incorporar ações de aperfeiçoamento da gestão ambiental, incorrendo na ampliação da receita (Não Operacional) por meio de créditos de carbono, viabilizando a sustentabilidade do negócio, alinhada a preservação ambiental. Conjuntamente, a questão de conformidade legal pertinente a redução de emissões foi elencada na pesquisa junto aos produtores nos pólos pesquisados, cabendo destacar a existência e o conhecimento da exigência legal por parte de 87% dos respondentes.

Dentre os pesquisados, todos afirmaram possuir terreno próprio e que a empresa é formalizada. Cabe destacar que todas as empresas responderam ter licença ambiental apesar da resistência indicada pelos entrevistados da sua necessidade. Destaca-se a esta questão o relato pessoal do produtor quanto a licença ambiental:

“Eles (órgão ambiental) solicitam de nós o mesmo rigor quanto das grandes

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empresas (Pirelli e Michellan) para tirar a licença ambiental. É muita burocracia.”

Produtor de Cerâmica Vermelha – Itabaiana (SE)

Este é um questionamento constante dos produtores quanto a burocracia para se obter a licença ambiental, assim como na desproporção entre as exigências requeridas pelos órgãos ambientais e a dimensão do negócio. Esta é uma lacuna a ser avaliada, abrindo espaço para que intervenções via mercado, possam dinamizar o segmento, sendo uma alternativa possível a promoção de outros agentes que via de regra não atuam em mercados menos dinâmicos economicamente, apesar de haver claramente uma disposição e capacidade de pagamento. A promoção refere-se a especificamente incorporar na cadeia de valor as agências ou consultores ad hoc com conhecimento específico para apoio nas questões de financiamento, eficiência energética e de licenciamento ambiental, além de estratégias de mercado.

Quando abordada a análise de mercado a variável preço possui fundamental importância, neste sentido verificou-se os preços dos produtos de tijolos, telhas, além das lajotas e blocos. Assim como no estudo desenvolvido para a região do Seridó, observou-se uma considerável variabilidade entre os preços de venda praticados dos produtos, como por exemplo o preço médio do tijolo entre os produtores pesquisados, onde atinge o valor de R$ 269, no entanto em Itabaiana o preço de um dos produtores é de R$ 180 e outro produtor em Ibiassucê é de R$ 350,00 o milheiro. Os valores médios dos produtos são apresentados na Tabela 02.

Tabela 02 – Preço Médio dos Produtos (R$/1.000)

Fonte: Elaboração própria com base nos dados de pesquisa (v3).

Conjuntamente, cabe destacar que na região de Itabaiana o relato pessoal do produtor quanto a diferença do preço de venda do produtor e do depósito:

“O preço de venda é de R$180 o milheiro, entretanto o preço de revenda do depósito é de R$270 o milheiro.”

Produtor de Cerâmica Vermelha – Itabaiana (SE)

A conjugação da informação da sazonalidade e da apropriação de grande parte da margem pelos revendedores indica que o mercado de cerâmicas vermelhas, para as regiões estudadas, não possuem perfeita informação entre todos os agentes, i.e., prevalece a assimetria de informação, impactando diretamente na variável preço, sendo esta uma das questões mais relevantes no estudo de mercado. Quando ocorre a assimetria de informação, os produtores não estimam com maior grau de certeza sua demanda, assim como não estipulam qual será o lucro, incorrendo em maior incerteza no que tange aos aspectos produtivos, potencializando o desvio de eficiência do mercado (falha de mercado).

Dentre os produtores pesquisados obteve-se um número médio de 76 pessoas trabalhando na empresa. No entanto, foi observada uma dispersão dos dados, i.e., pesquisou-se empresas com 13 trabalhadores e empresas com 209 trabalhadores. Esta informação

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possibilita enriquecer as análises quando incorpora padrões diferenciados de produção.

Quanto a informação do faturamento anual, com base nas informações da pesquisa observou-se que a média do faturamento anual é de R$4.635.055, considerando todos os pólos pesquisados. É válido observar que os produtores de cerâmica vermelha do pólo de Ibiassucê possuem as menores receitas quando comparadas aos outros pólos, i.e., abaixo de R$1.000.000/ano.

Como apresentado no estudo dirigido a Região do Seridó, o faturamento médio constitui-se em um indicador de eficiência relativa, pode ser utilizado tanto para comparações interssetoriais como para interempresariais. Considerando os dados da pesquisa dos pólos foi observado que o faturamento médio mensal por pessoa atinge o patamar de R$ 54.311,73, estando assim acima da média nacional de R$19.600. Conjuntamente, ao se destacar a produtividade por peça, constatou-se a valor médio mensal é de 14.806 peças por pessoa/ano.

Quando avaliado os principais destinos da produção dos produtores dos pólos pesquisados, cabe destacar a que o pólo de Itabaiana (Sergipe) não se limita a atender ao mercado local, atendendo a capital e o estado de Alagoas. Quanto ao pólo de Itapecuru Mirim, este atende o mercado de São Luís (Maranhão), nesta mesma linha se direciona a produção dos entrevistados no pólo de Ibiassucê, onde atendem o mercado local e de Vitória da Conquista (Bahia). É valido observar que esta é uma lacuna a ser destacada, onde prevalece o atendimento do mercado local, sendo necessárias ações para a expansão do atendimento espacial do mercado consumidor.

A distribuição dos produtos originários dos produtores de cerâmica vermelha pode ser executada de forma direta, a partir da venda dos produtos de olarias e cerâmicas para o consumidor final, nesse caso com foco regional, ou quando se trata de grandes cerâmicas vendendo diretamente ao mercado corporativo e ao Governo. Por outro lado, a distribuição indireta, por meio de atacadistas e varejistas especializados (home centers e lojas de materiais de construção) é um dos principais canais de escoamento dos produtos até os consumidores finais no Brasil.

Neste sentido, constatou-se que a venda direta ou venda para as construtoras possuem uma baixa participação entre os pólos pesquisados. Por outro lado, a participação do atravessador atinge uma maior participação no pólo de Ibiassucê, indicando uma vulnerabilidade do segmento, pois boa parte da margem é absorvida pelo atravessador, reduzindo, assim, a lucratividade do empreendimento. Neste contexto, deve-se avaliar outras formas de canais de comercialização, em particular na venda para as construtoras, por outro lado, deve-se investir na padronização dos produtos, no sentido de superar barreira de mercado, atingindo e ampliando, outros nichos de mercado.

Os produtores dos pólos pesquisados majoritariamente não possuem perspectiva de realização de novos investimentos para os próximos 3 anos. Dentre aqueles que afirmaram a perspectiva de novos investimentos, tais se concentrarão na ampliação da produção (novos fornos, reflorestamento, compra de jazida e diversificação da produção (telha). Nesta perspectiva de novos investimentos, os produtores buscarão apoio no Banco do Nordeste do Brasil (BNB) para o financiamento da expansão, assim como na utilização de recursos próprios. Cabe ressaltar que os mesmos afirmam que não buscarão apoio de alguma instituição externa para a melhor aplicação deste investimento, tanto na ótica das melhores práticas quanto na ótica da rentabilidade do investimento, com exceção de um produtor que afirmou que buscará apoio da ANICER.

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Quando avaliado o setor pelo lado da demanda, destaca-se que são os seus produtos principais: tijolos, blocos, telhas, elementos vazados, lajes, lajotas, ladrilhos vermelhos, tubos e agregados leves. Segundo o SEBRAE (2008), no Brasil a diversidade de produtos é muito elevada pelas próprias exigências do mercado consumidor que, muitas vezes, forçam uma variedade de dimensões que acabam afetando a padronização dos produtos. Parte da demanda local é atendida pelos produtores dos pólos, entretanto a produção ultrapassa os limites regionais.

Quanto incorporada a avaliação dos pontos fortes do mercado é possível destacar o ambiente econômico de crescimento, possibilitando a expansão do processo produtivo e de geração de renda. Este ambiente propicio de expansão é alimentado pelo contínuo aumento da renda nos últimos 10 anos dos segmentos de menor renda no país, em particular na região Nordeste, induzindo uma demanda por expansão na construção e de melhoria das residências, assim como a Copa do Mundo de 2014 e o Programa Federal “Minha Casa Minha Vida”.

Como contraponto, no que tange aos pontos fracos, observando que os problemas não se diferem em larga escala daqueles observados para a região do Seridó, deve-se pontuar que os produtos não possuem uma padronização, reduzindo o espaço para a entrada em nichos de mercados mais nobres; canais de distribuição com forte participação de intermediários; falta de estrutura para escoar a produção; insumo energético (lenha) de baixo rendimento, induzindo a elevada perda; exposição a sazonalidade; restrições ambientais crescentes no setor; estrutura produtiva com métodos arcaicos, produção possui forte impacto ambiental.

5.2 ANÁLISE DA CADEIA PRODUTIVA

Assim como desenvolvido no estudo para a região do Seridó, entende-se que a análise da cadeia de valor é determinante para fortalecer a posição estratégica de uma empresa diante o mercado. A análise da cadeia de valor auxilia a fornecer subsídios para o processo de formulação de estratégias.

Neste contexto, assim como foi proposto na análise preliminar da cadeia produtiva dos pólos pesquisados no Nordeste, considerando as informações obtidas pelas entrevistas, assim como a disponibilidade de informações secundárias. A cadeia produtiva principal é formada basicamente por mineração, fornecedores de insumos e serviços. A argila, principal matéria prima do processo produtivo, tem origem na mineração, deforma que a qualidade está intrinsecamente relacionada à do produto.

A título de ilustração a Figura 12 elenca os principais elos da cadeia produtiva do setor de cerâmica vermelha, ressaltando que a cadeia produtiva é curta. No tocante à prestação de serviços, pode-se destacar a assistência técnica das empresas que fornecem as máquinas para a produção da cerâmica. Os principais clientes para os produtores de cerâmica vermelha são: o setor da construção civil representada pelos construtores e os incorporados nesse ramo; e as casas de materiais de construção. Na cadeia auxiliar estão as instituições regulamentadores, órgãos governamentais, instituições de apoio, agentes financeiros e os fornecedores de equipamentos.

É válido ilustrar a cadeia de valor para os pólos em questão, observando que as informações

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são baseadas em comunicações pessoais, assim como por fontes secundárias. Quanto os fornecedores de energia elétrica na cadeia de valor, cabe destacar as concessionárias CEMAR, COELBA e ENERGIPE, em alguns casos pontuais é possível observar a existência de geradores elétricos (próprio). Quanto ao insumo de lenha, tal é fornecida pelas prefeituras quando poda das árvores, por produtores rurais quando lenha. Outros serviços são disponibilizados, tendo grande relevância a questão da mão de obra, sendo esta fornecida pelos trabalhadores locais dos pólos.

Fonte: SILVA, E.E, ARAÚJO P. & JÁCOME, P. 2008.

Figura 12 – Cadeia Principal da Cerâmica Vermelha

Quanto as entidades de apoio assume relevância o SEBRAE, SENAE, SINDICER dos estados, associações ceramistas. No que tange a questão de financiamento ganha corpo a participação do Banco do Brasil (BB), Caixa Econômica (CEF), Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES), Banco do Nordeste do Brasil (BNB), conjugado com a utilização de recursos próprios.

No que tange as instituições governamentais, destacam-se as prefeituras, governos estaduais, INMETRO, IBAMA, Gerência de Estado Desenvolvimento da Indústria, Comércio e Turismo, INT, MME, MMA, MCT, entre outros.

Em relação ao mercado consumidor, como já mencionado na análise de mercado, tais não variam significativamente de acordo com o pólo, mas maior em menor grau atendem seu mercado local. Entre os Estados consumidores destacam-se Alagoas, Sergipe e as cidades de São Luís (Maranhão) e Da Vitória da Conquista (Bahia). Tendo como compradores

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pequenos compradores (auto-consumo), depósitos, atravessador e depósito.

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6. A VISÃO DOS STAKEHOLDERS

Em relação ao apoio governamental, seja técnico, seja de financiamento, as instituições oficiais buscam atender, mas existe um descompasso entre tal apoio e o interesse do empresariado na aplicação mais adequada do investimento e desinteresse pelo licenciamento ambiental que encontra resistência por parte dos ceramistas. Estes fatos atuam como freio para a indústria cerâmica na região diante do crescimento vivenciado atualmente pelo setor de construção civil no Nordeste, por meio de políticas públicas visando maior acesso das populações à moradia e em virtude das construções para o megaevento da Copa do Mundo de 2014.

O Banco do Nordeste do Brasil (BNB), como agente financiador público, informa que a maior restrição para a concessão de financiamento se refere à inexistência de licença ambiental por parte do ceramista. O BNB opera o Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE), criado pelo artigo 159, alínea “c” da Constituição Federal e regulamentado pela Lei nº 7.827, de 27/09/1989, tratando-se de um instrumento de política pública federal voltado para o desenvolvimento econômico e social do Nordeste, por meio da execução de programas de financiamento aos setores produtivos, de forma a contribuir com o plano regional de desenvolvimento que preconiza a redução da pobreza e das desigualdades sociais.

As garantias a serem oferecidas no financiamento pelo BNB são implementadas por meio de alienação fiduciária, para o caso de equipamentos, garantia fidejussória, avalista de nota de crédito ou fiador com contrato, para investimentos em infraestrutura. Adicionalmente, por meio de recursos do FNE foi criado o programa Cresce Nordeste, com menores taxas de juros e prazos mais longos, para financiar empreendedores de todo o Brasil que queiram investir no Nordeste.

A demanda da produção cerâmica é puxada pelo mercado da construção civil, seja diretamente para construtoras, seja destinado ao depósito varejista para venda ao consumidor final. Ainda que haja a formação de associações, há um grande número de ceramistas competindo individualmente pelo menor preço, o que provoca corrosão nas margens de lucro destas empresas. Durante as pesquisas, muitos proprietários pontuaram a existência de concorrência desleal por parte de ceramistas ilegais que não são regularizados, tanto pelo aspecto fiscal diante da inexistência de CNPJ quanto sob a questão ambiental por não possuírem licenciamento para operação.

Cabe salientar que o setor cerâmico apresenta bons índices de rentabilidade, fato este confirmado pelo gerente de uma cerâmica, ainda mais quando se considera os subsídios governamentais. A este respeito, durante a realização das pesquisas, por um lado os ceramistas apresentam uma série de dificuldades enfrentadas, desde o licenciamento ambiental, passando pelo financiamento e alcançando a carga tributária, além dos encargos trabalhistas.

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7. CONSIDERAÇÕES E RECOMENDAÇÕES

O setor de cerâmicas vermelhas na região Nordeste possui um grande mercado em expansão, considerando os diversos eventos decorrentes das políticas setoriais do país, seja no Programa Minha Casa Minha Vida (Programa Habitacional), seja nos eventos esportivos (Copa Do Mundo), assim como na melhor distribuição de renda do país ao longo dos últimos 10 anos, induzindo a expansão da construção civil e do auto-consumo. Por outro lado, existe uma tendência de reestruturação produtiva, sobretudo de base tecnológica, na qual incorrerá na alteração do padrão de competição para o próximos anos na região.

Segundo SEBRAE (2009), diversos estudos de caso pesquisados indicam que diversas regiões no país já estão articuladas e começam a apresentar melhores padrões de competição. Regiões como o Sul (liderados por Santa Catarina) e Centro-Oeste (liderados pelo Mato Grosso do Sul) conseguiram reunir a iniciativa privada (empresas do setor), instituições representativas (sindicatos de classe e associações), as instituições governamentais (universidades federais) e não-governamentais (SEBRAE) em torno do objetivo comum de aumentar o grau de competitividade do setor e evitando, assim, o desaparecimento de uma das mais tradicionais formas industriais encontradas no país. No entanto, é preciso se modernizar. E essa modernização tem um custo que às vezes nem todo empresário, ou setor econômico, está disposto a pagar.

A partir dos dados apresentados das regiões estudadas, conjuntamente com as informações secundárias dispostas, no âmbito do contexto verificado, é possível compreender, preliminarmente, algumas questões centrais no tocante à análise de mercado do segmento de cerâmicas vermelhas, cabendo ponderar que para a manutenção dos mercados existentes e até mesmo sua expansão no mercado doméstico, como no internacional faz se presente o investimento em busca de inovação, de produtos e processos, o que contribuirá para a diminuição dos custos de produção e aumento do valor agregado e qualidade de produtos. Tais tarefas poderão trazer contribuições no que diz respeito à abertura de novos nichos de mercado, diferenciação no posicionamento dos produtos brasileiros, bem como melhores retornos das vendas.

Não menos importante refere-se à necessidade de outro modelo de gestão, buscando uma melhor inserção no mercado, possibilitando auferir ganhos de escopo e de escala. Este novo modelo de gestão deve permear a agenda ambiental, possibilitando a regularização dos produtores junto aos órgãos ambientais, assim como possibilitando o acesso à crédito em condições mais favoráveis, incentivando, em particular, a substituição dos fornos tradicionais pelos fornos mais eficientes e na utilização de lenha de reflorestamento.

As atividades do segmento de cerâmicas vermelhas são consideradas agressivas ao meio ambiente, sendo percepção decorrente da utilização de lenha oriunda de vegetação nativa como insumo para a queima dos produtos. Isto decorre, principalmente, pela ausência de manejo florestal sustentável, na qual permitiria uma recomposição natural da mata, diminuindo, por extensão, o impacto ambiental. Cabe observar que todos os respondentes dos pólos afirmaram fazer uso da lenha, indicando, assim, haver espaço para a incorporação de ações direcionadas a redução

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da emissão dos gases efeito estufa (GEE), assim como na substituição do insumo energético por outras fontes, possibilitando ganhos de rendimento no processo produtivo.

A burocracia para se obter a licença ambiental, assim como na desproporção entre as exigências requeridas pelos órgãos ambientais e a dimensão do negócio é uma lacuna a ser avaliada, abrindo espaço para que intervenções via mercado, possam dinamizar o segmento, sendo uma alternativa possível a promoção de outros agentes que via de regra não atuam em mercados menos dinâmicos economicamente, apesar de haver claramente uma disposição e capacidade de pagamento. A promoção refere-se especificamente na incorporação na cadeia de valor de agências ou consultores ad hoc, com conhecimento específico para apoio nas questões de financiamento, eficiência energética e de licenciamento ambiental, além de estratégias de mercado.

Por fim, abre-se espaço para ressaltar o esforço do Instituto Nacional de Tecnologia (INT) na busca da melhor compreensão do mercado de cerâmicas vermelhas de baixo padrão tecnológico, assim como na divulgação das informações, evidenciando suas lacunas e possibilitando as informações para o planejamento setorial. Conjuntamente, destaca-se a articulação institucional do INT junto a diversas instituições no sentido de promover a aproximação dos agentes da cadeia produtiva, fomentando a incorporação de novas práticas de gestão e de inovação tecnológica, potencializando, assim, a sustentabilidade do segmento no longo prazo.

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ANEXO A: QUESTIONÁRIO DE PESQUISA

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ANEXO B: QUESTIONÁRIO DE CAMPO DO STAKEHOLDER

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