análise das teorias básicas de transformação social

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UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE FACULDADE DE LETRAS E CIÊNCIAS SOCIAIS DEPARTAMENTO DE SOCIOLOGIA MESTRADO EM SOCIOLOGIA RURAL E GESTAO DE DESENVOLVIMENTO MO2: Estruturas Sócio – económicas nas Zonas Rurais Análise das Teorias Básicas de Transformação Social (ensaio) Docente: Prof. Doutor Firmino Gabriel Mucavele Discente: Domingos Elias Bihale Maputo, Julho de 2009

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UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANEFACULDADE DE LETRAS E CIÊNCIAS SOCIAIS DEPARTAMENTO DE SOCIOLOGIA MESTRADO EM SOCIOLOGIA RURAL E GESTAO DE DESENVOLVIMENTOMO2: Estruturas Sócio – económicas nas Zonas RuraisAnálise das Teorias Básicas de Transformação Social (ensaio) Domingos Elias BihaleMaputo, Julho de 2009Análise das teorias básicas de transformação socialDomingos Elias BihaleÍndiceEpílogo ..................................

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Page 1: Análise das teorias básicas de transformação social

UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE

FACULDADE DE LETRAS E CIÊNCIAS SOCIAIS

DEPARTAMENTO DE SOCIOLOGIA

MESTRADO EM SOCIOLOGIA RURAL E GESTAO DE DESENVOLVIMENTO

MO2: Estruturas Sócio – económicas nas Zonas Rurais

Análise das Teorias Básicas de Transformação Social

(ensaio)

Docente: Prof. Doutor Firmino Gabriel Mucavele Discente: Domingos Elias Bihale

Maputo, Julho de 2009

Page 2: Análise das teorias básicas de transformação social

Análise das teorias básicas de transformação social Domingos Elias Bihale

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Índice

Epílogo ..................................................................................................................................................3

Introdução ..............................................................................................................................................4

A. Transformação Social: uma abordagem conceptual .........................................................................5

B. Transformação social ao longo da história.......................................................................................6

C. Teorias básicas de transformação Social .........................................................................................7

1. Teorias Cíclicas ..........................................................................................................................7

2. Análise dialéctica ou de Conflito .................................................................................................8

3. Teorias funcionalistas e evolucionistas ...................................................................................... 10

4. A análise pós – industrial e pós – moderno. ............................................................................... 11

D. Analise das teorias de transformação social ................................................................................... 12

Considerações finais ............................................................................................................................. 14

Bibliografia .......................................................................................................................................... 16

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Análise das teorias básicas de transformação social Domingos Elias Bihale

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Epílogo

O estudo da mudança está no centro de análise sociológica, desde o início da disciplina até ao presente. Teorias e análises foram propostas para explicar a mudança, incluindo: (a) teorias cíclicas que enfatizam o movimento de sociedade entre pólos opostos; (b)análise dialéctica, que demonstra a dinâmica das mudanças inerentes a desigualdades; (c)analises funcionalistas, que enfatizam a evolução das formas societárias simples para as mais complexas como um esforço correspondente para preencher novas necessidades e requisitos; (d) perspectiva evolucionista, para a qual a desigualdade é a força motriz da evolução e mudança social; e (e) criticas, quer “pós industrial” quer “pós moderna”, sobre as influencias da tecnologia e sistemas de informações de ponta na transformação da sociedade (Turner, 2000:209).

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Análise das teorias básicas de transformação social Domingos Elias Bihale

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Introdução

No presente ensaio analisa-se as teorias básicas que explicam as mudanças na estrutura das

sociedades humanas ao longo da história, isto é, a partir das sociedades primitivas até às

sociedades pós-modernas. O objectivo é identificar as teorias e seus pressupostos básicos, para

com base nelas, encontrar a alguma explicação da transformação social, partindo do pressuposto

de que o mesmo fenómeno social (no caso vertente a transformação social) pode ser vista de

diferentes ângulos. O ensaio foi desenvolvido com base em pesquisa bibliográfica.

O ensaio começa com uma abordagem conceptual da transformação Social e de seguida faz-se

uma abordagem sucinta da transformação social ao longo da história. A seguir discute-se as

teorias básicas de transformação social, nomeadamente as teorias cíclicas, a análise dialéctica

ou teoria de conflito, as teorias funcionalistas e evolucionistas e a análise pós – industrial e pós

– moderno. Depois segue uma análise crítica das teorias e finalmente tece-se as considerações

finais.

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Análise das teorias básicas de transformação social Domingos Elias Bihale

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A. Transformação Social: uma abordagem conceptual

Nas teorias sociológicas, as noções de transformação se misturam muitas vezes com as noções

de desenvolvimento, progresso e evolução, merecendo, portanto, um tratamento relacionado

(Bottomore, 1987:63). Na verdade, o desenvolvimento das forças produtivas, isto é, o aumento

do conhecimento e do controle da natureza, afigura-se ser um elemento mais importante na

transformação da sociedade. O desenvolvimento como processo está ligado ao avanço

científico, tecnológico e ao progresso. Dai que haja alguma lógica no tratamento menos

diferenciado destas noções.

Literalmente, o termo “transformação” significa acto de “mudança de forma, metamorfose,

evolução, alteração; reforma”; e o termo “social” é tido como pertencente ou respeitante à

sociedade …; diz-se a problemas relativos à organização e à satisfação das necessidades em

sociedade” (Dicionário da Língua Portuguesa, 1999). Nesta ordem, transformação social pode

ser entendida como a mudança que ocorre na organização e na satisfação das necessidades em

sociedade. A sociedade organiza-se em estruturas materiais, privilégios e poder que por sua vez

definem os sujeitos sociais em grupos etários, estratos sociais, ordens, classes sociais,

estabelecendo distinções entre as pessoas e as hierarquias. É nestas características que se

desencadeia a transformação social.

Costa (1992), diz que a transformação social é a alteração nas características dos protagonistas1

tais como as ligadas à inovação tecnológicas, ao desenvolvimento de sistemas de ensino e de

segurança social, as mudanças nos mercados económicos e nas instituições políticas, aos

movimentos migratórios ou outros, que conduzem, por sua vez, a mudanças nas ideias, nos

valores, nas acções colectivas, nos estilos de vida e nas práticas quotidianas. Castro (2000:268)

corrobora com o conceito trazido pelo Costa e de forma simples diz que a transformação social

são alterações fundamentais no domínio dos valores fundamentais na sociedade, mediante a 1 Pessoas e grupos de pessoas

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Análise das teorias básicas de transformação social Domingos Elias Bihale

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presença de forças inovadores. Para Castro. Assim, a prevalência das forças conservadoras

garante a continuação do status quo, enquanto o domínio de forças inovadoras sobre as

conservadoras causam mudanças sociais.

Neste ensaio, transformação social entende-se como alterações ou mudanças no conjunto de

status, papéis sociais e rede de status, isto é, mudança na estrutura social (inclusivamente

mudanças no tamanho da sociedade) ou em determinadas instituições sociais ou nas relações

entre as instituições.

B. Transformação social ao longo da história

A sociedade humana vem conhecendo muitas transformações ao longo dos séculos e em ritmos

diferentes. Há 40.000 anos a transformação social foi bastante lenta. Com o desenvolvimento da

agricultura entre 12.000 e 18.000 anos atrás o processo foi mais comum do que na era da caça e

recolecção, mas continuou um processo lento. A transformação passou a ser mais constante e

incessante nos últimos 300 anos e tem sido cíclica desde há grande parte da era agrária de há

cerca de 4.000 a 5000 anos. A revolução industrial veio imprimir uma nova dinâmica na

transformação social (Turner, 2000:197).

A revolução industrial teve como consequência imediata o desenvolvimento do capitalismo, a

modernização e a industrialização que impulsionaram mudanças sociais profundas. Por outro

lado, a industrializarão e desenvolvimento económico consequente introduziu alterações no

processo de urbanização resultante no êxodo rural; a família, o parentesco e as ligações locais

desorganizaram-se nas cidades, os jovens passaram a ser mais autónomos e o poder dos pais

entrou em decadência, principalmente o dos idosos; começou a verificar-se uma proliferação de

associações voluntárias vocacionadas a assistência social e promoção de ajuda mútua (agências

humanas); a estratificação social aprofundou-se e evidenciou as classes sociais; a organização

política mudou e mudaram igualmente a cultura e as atitudes; finalmente, surgiram elites novas

diferentes das elites tradicionais. Assim, a estrutura social dividiu-se entre tradicional e

moderna, com características diametralmente opostas (Rocher, 1971:123 -133; Henlin, 2006).

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Baldridge em 1975 já dizia que a transformação social era mais rápida que na era da revolução

industrial e que muitas vezes as mudanças ocorriam nas famílias. A família já não era uma

unidade essencialmente de produção agrícola e manufacturas. A produção era feita fora de casa

e a família se transformara em unidade de consumo. Mesmo a divisão social do trabalho na

família tendia a mudar, como resultado do avanço tecnológico (Baldridge, 1975:140). Passados

actualmente trinta e quatro anos, a transformação social ocorre a um ritmo vertiginoso.

Actualmente a revolução da informação promete mudar significativamente as futuras gerações

(Turner, 2000). Ainda de acordo com Turner, a Sociologia sempre se preocupou com a

interpretação das transformações sociais desde o seu surgimento como ciência: a

industrialização e seus efeitos na reorganização das sociedades, nas relações sociais e na vida

quotidiana. Actualmente se preocupa com a compreensão das transformações associadas com a

pós – industrialização e a emergente era da informação.

C. Teorias básicas de transformação Social

Várias teorias são usadas para compreender as transformações sociais ao longo da História:

teorias cíclicas, análise dialéctica, teorias funcionalistas e evolucionistas, a análise pós –

industrial e pós – moderno.

1. Teorias Cíclicas

As teorias cíclicas foram defendidas por sociólogos impressionados pelos eventos históricos

marcantes: ascensão e queda das grandes civilizações (Romana, Grega, dinastias Chinesas, entre

outras) (Sterwat & Glynn, 1971:290). Nesta vertente destaca-se os trabalhos de Herbert Spenser

(1874-1896) e Vilfredo Pareto (1916) apud, Sterwat & Glynn (1971:290); Bottomore

(1987:268/73); Turner, (2000:204); Henslin (2006:209 -410).

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Na óptica da teórica cíclica de transformação social:

Qualquer sociedade a evolução gira em torno de perfil militante2 e perfil industrial3.

Cada um desses pólos gera pressões para o movimento em direcção ao pólo oposto. O

sistema é altamente regulador, cria estagnação económica e indignações, as quais são

eventualmente articuladas em crenças e pressões políticas para a descentralização do

poder. Pelo contrário, o sistema descentralizado é menos actuante, gera problemas de

coordenação e controlo, que levam ao aparecimento de movimentos políticos para o

controlo mais firme através da centralização;

A centralização política leva à retracção económica, causa insatisfação da população e

estagnação no desenvolvimento económico e no fluxo de capital. Essa situação cria

pressões de descentralização de poder, mas esta descentralização de poder causa tanta

especulação quanto a expansão;

A transformação social é provocada entre grupos pelo poder político, havendo períodos

alternados de governo duro por uma elite vigorosa e recém – triunfante, e de governo

humanitário e brando por uma elite em declínio.

2. Análise dialéctica ou de Conflito

Karl Marx e seus contemporâneos enfatizaram que as sementes de transformação social são

geradas dentro de formas sociais, mas ao contrário da análise cíclica, os teóricos de conflito

destacam a revolução como principal força motriz para a mudança (Turner, 2000). Os marxistas

argumentam que na sociedade existem dois grupos sociais: classe dominante e classe dominada.

O poder da classe dominante emana da propriedade e controlo dos meios de produção e por

meio deste poder a classe dominante explora e oprime a classe dominada. Como resultado,

existe um conflito de interesses básico entre as duas classes. Esta relação é, mantida com

recurso à ideologias de classe que são conceitos criados pela classe dominante para justiçar e

legitimar a sua dominação e projectar uma imagem distorcida da realidade. Os membros de

2 Sociedade militante é aquela em que o poder está concentrado e centralizado. 3 Sociedade industrial é aquela em que o poder está descentralizado.

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ambas classes tendem aceitarem o status quo como normal e natural e ficam desatentas à

verdadeira natureza da exploração e opressão. Assim, os conflitos de interesses entre as classes

encobrem-se e produz uma relativa estabilidade, mas as contradições e os conflitos básicos das

sociedades de classes permanecem irresolutas. Portanto, a revolução constitui a única forma de

imprimir mudança de um estrato para outro na sociedade de classes (Halambos & Holborn,

1991: 40).

Os neomarxistas procuram outras fontes estruturais de conflitos sociais, isto é, fonte permanente

que provoca e alimenta os conflitos à estrutura da organização social, ao seu modo de

funcionamento. Para os neomarxistas a distribuição desigual da autoridade4 pelas pessoas ou

grupos é a principal fonte estrutural de conflitos sociais. Em toda a colectividade humana há

sempre pessoas ou grupos submetidos a uma autoridade. Como resultado, entre as pessoas ou

grupos existem sempre pessoas ou grupos que exercem uma autoridade maior ou menor e

pessoas ou grupos submetidos a essa autoridade – relações de dominação – sujeição. Os

conflitos sociais partem da dicotomia da autoridade: dominação versus sujeição totais.

Da dicotomia de autoridade surge um conflito de interesses entre os que exercem a autoridade e

os que obedecem. Os que têm cargo de autoridade têm interesses em comum que não podem ser

partilhados pelos que estão sujeitos a essa autoridade: conflito de interesses ou oposição de

interesses. Assim, os que exercem a autoridade têm interesse em manter o status quo e os que se

sujeitam têm o interesse em mudança do status quo. Surgem assim grupos que consistem em um

conjunto de pessoas que possui uma certa organização, um programa de acção explícito, fins

bastante precisos (sindicatos, partidos, movimento social, etc.). A dicotomia de autoridade

implica logicamente a dualidade de oponentes. A permanência na vida social explica-se,

portanto, pela origem estrutural do conflito. O conflito e a divisão de autoridade são

4 A autoridade é a probabilidade de que uma ordem com um conteúdo específico implique a obediência de um dado

grupo de pessoas. A autoridade de difere do poder que é a probabilidade de que um actor implicado numa relação

social consiga aquilo que apesar da resistência encontrada, seja qual for a base em essa probabilidade se funde.

Enquanto o poder depende de características individuais e status, a autoridade depende do papel. Assim, as fontes

estruturais de conflitos devem ser procuradas na autoridade (Rocher, 1989:83).

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necessidades inerentes à estrutura e ao funcionamento do sistema social, mas provocam

simultaneamente conflitos que afectam e modificam o sistema. O conflito é o principal factor

estrutural da historicidade das sociedades, pois provoca a mudança, a evolução ou revolução na

organização social (Rocher, 1989: 78-81).

Como se pode depreender, na Análise dialéctica reforça-se as contradições internas de um dado

sistema de organização social. De acordo com Turner (2000), na linha dialéctica um dado

padrão de organização económica gera sua própria transformação, possibilitando os menos

privilegiados a se organizar na busca de seus interesses em mudar o sistema. Nesta linha, a

desigualdade é a principal fonte de mudança: um sistema complexo de organização social cria

desigualdade por tempo, opera para agravar a situação daqueles em situação inferior. Porém, à

medida que suas indignações crescem e as pessoas se mobilizam na luta pelos seus interesses de

redistribuição, elas obrigam a mudança na política, na economia e na redistribuição de riqueza.

Portanto, nessas teorias só o conflito e a revolução poderão exigir a redistribuição da riqueza e

alterará, por conseguinte, a estrutura social.

3. Teorias funcionalistas e evolucionistas

As teorias funcionalistas e evolucionistas foram defendidas do Auguste Comte, Herbert

Sepenser e Hobhouse apud Sterwat & Glynn (1971); Bottomore (1987); Turner, (2000) e

Henslin (2006) e preconizam que:

A descoberta da agricultura e o crescimento populacional foram principais impulsos de

transformação social ao longo da história;

A evolução das sociedades passou de diversos estágios distintos: simples sem líder (caça

e recolecção); simples com líder (horticultura); composta (horticultura avançada;

duplamente composta (agricultura); triplamente composta (moderna industrial);

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Ao longo dessa evolução a sociedade conheceu três eixos funcionais: (1) produção -

reprodução ou operacional –posições e unidades envolvidas com a produção económica

e socialização de novos membros da sociedade; (2) Controle e supervisão – posições e

unidades que supervisionam a produção e; (3) regulação – posições que facilitam o

movimento de mercadorias, serviços, informação, etc;

A transformação social é resultado do desenvolvimento intelectual do ser humano que é

formulado em três estágios: teológico, metafísico e positivo. Esse progresso intelectual é

acompanhado pelo desenvolvimento moral e por mudanças nas instituições sociais;

A cada fase particular do desenvolvimento das forças produtivas corresponde um modo

de produção e um sistema de relações de classe estabilizado e mantido pela classe

dominante. Mas a continuação do desenvolvimento das classes produtivas modifica as

relações entre as classes e as condições de conflitos, e no decurso, a classe tida como

dominada pode derrubar o modo de produção e o sistema de relações sociais existentes e

estabelecer uma nova ordem social.

Nesta perspectiva, a evolução gira em volta do crescimento em tamanho e complexidade da

sociedade, criando problemas de integração. Esses problemas são resolvidos a nível

estrutural pela concentração de poder de controlo social pelos governos, sistemas de

mercado e em toda cadeia de valor.

4. A análise pós – industrial e pós – moderno.

A análise pós – industrial e pós – moderno são perspectivas novas e buscam a interpretação

das mudanças que ocorrem actualmente na chamada “era da informação”.

Na linha analítica pós – industrial e pós – moderno, a transformação social é produto de

avanços tecnológicos na produção e nas comunicações. Segundo Turner (2000), as

sociedades contemporâneas estão se tornando tão fluidas que provocam uma

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“descentralização” à regulamentação e o controlo do governo e das organizações que se

perdem à medida que a sociedade se torna heterogénea, os valores e as crenças culturais

mais abstractos, os mercados complexos e capazes de comprar e vender praticamente

qualquer coisa; a vizinhança e a comunidade são perdidas em subúrbios constantemente em

transformação; o governo democrático torna-se palco dos media e a tecnologia desvincula as

pessoas do trabalho. Desta forma, as pessoas se desligam umas das outras no trabalho, no

lar, na vizinhança, na política e até culturalmente. Em fim, a tecnologia e sistemas de

informação de ponta são motores de transformação social.

D. Analise das teorias de transformação social

As teorias de transformação social têm o crédito de delinearem várias mudanças cumulativas

significativas na história da sociedade humana: crescimento, o aumento em escala no sentido da

igualdade social e política e contribuíram para o desenvolvimento da vida social da

humanidade, em todo o desenvolvimento da ciência, indústria e tecnologia.

Todavia, e de acordo com Bottomore (1987:274), “uma análise sociológica de transformação

social exige, em primeiro lugar, um modelo mais preciso e menos ambicioso do que as teorias

gerais (…), e que possibilite a formulação de problemas e apresentação sistemática dos

resultados”. Por isso para analisar o processo de transformação social é necessário olhar para o

que muda, a forma como muda, a direcção, o ritmo e as razões da mudança e os principais

factores desta mudança.

Mais do que evidente é que a transformação social ocorre na estrutura social e ela se transforma

de diferentes maneiras, em velocidades distintas e por diversas razões. Porém existem vários

factores que imperam para transformação social.

Bottomore (ibidem: 276/7) diz que a transformação social pode ocorrer em função dos desejos e

decisões conscientes dos indivíduos; actos individuais influenciados pelas mudanças nas

condições políticas económicas; convulsões e tensões intestinais de uma estrutura ou sistema

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político – económico (por exemplo, capitalismo, ou socialismo; influencias externas (conquistas

ou contacto cultural); indivíduos ou grupo de indivíduos destacados; confluência ou disposição

de elementos de fontes diversas que convergem para um ponto (por exemplo nas revoluções) e;

parafraseando Bottomore, pode-se falar ainda de ocorrências fortuitas como epidemias e pestes.

Para Castro (2000:269), existe um processo em vários níveis que promove continua reflexão

sobre as condições dos valores existentes, sua manutenção ou transformação. Desta forma, o

questionamento da estrutura, instituições e cultura permite-lhes a actualização. Trata-se do

questionamento do status quo com interesse de mudança.

Normalmente quem questiona é a classe que não se beneficia do status quo prevalecente, pois,

enquanto a manutenção do status quo interessa às classes dominantes e aos detentores de poder,

as mudanças interessam às classes dominadas e aos que não detém o poder. É uma dialéctica de

factores, cujos graus de profundidade variam consoante o nível de intervenção entre os

diferentes estratos sociais. Assim, as mudanças podem ser periféricas – aquelas que não atingem

os valores nucleares da sociedade como a moda, o estilo de construção, modo de cumprimentar

entre pessoas, etc –, ou as mudanças podem atingir os valores nucleares da sociedade,

manifestando-se nos sistemas sociais (económico, político, jurídico, religioso, de educação,

entre outros) e determinam o surgimento de uma “nova sociedade”. Por exemplo, a

implementação do socialismo numa sociedade de economia de mercado.

A alteração de símbolos culturais, o desenvolvimento tecnológico, as desigualdades sociais, as

dinâmicas internas das instituições e a demografia são factores de transformação social que são

apresentados por Turner (2000). Segundo este sociólogo, a difusão de sistemas de símbolos de

uma população para outra provoca aliteração de símbolos culturais, porque as línguas, valores,

crenças, normas institucionais e tecnologias têm sido difundidas. O conhecimento sobre como

transformar o meio ambiente causa alterações na estrutura social, pois desenvolve-se

conhecimentos novos para obtenção de recursos, produção de mercadorias e serviços e sua

distribuição.

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Por outro lado, os movimentos populacionais provocam o aumento do tamanho da população,

exige maior produtividade, mais alimentos, vestuário, escolas e hospitais, novos padrões de

organização política, novas leis e alteram os símbolos culturais, alterando assim a estrutura

social. A desigualdade e o surgimento de categorias de classe, género e raça são a razão

principal da transformação social à medida que as diferenciações na distribuição de dinheiro,

poder, prestígio, saúde, educação e outros recursos de valor geram tensão social entre os que

têm e os que não têm, criando pressões sociais ou mesmo conflito. É no conflito ou na resolução

deste que surge a transformação social5.

Considerações finais

Transformação social pode ser entendida como alterações ou mudanças na estrutura social

(inclusivamente mudanças no tamanho da sociedade) ou em determinadas instituições sociais

ou nas relações entre as instituições.

A sociedade humana vem conhecendo muitas transformações ao longo dos séculos e em ritmos

diferentes, mas a revolução agrária ocorrida entre 12.000 e 18.000 anos atrás e a revolução

industrial nos séculos XVIII e XIX, marcaram profundamente o processo de transformação

social;

A Sociologia sempre se preocupou com a interpretação das transformações sociais desde o seu

surgimento como ciência e por esta razão várias teorias são usadas para compreender as

transformações sociais ao longo da História, destacando-se as teorias cíclicas, análise dialéctica,

teorias funcionalistas e evolucionistas, a análise pós – industrial e pós – moderno. As teorias

cíclicas defendem que a transformação social é provocada entre grupos pelo poder político,

havendo períodos alternados de governo duro por uma elite vigorosa e recém – triunfante, e de

5 “ O conflito é um factor interactivo determinante e poderoso no processo de transformação social, pois representa uma luta consciente e intermitente pela conquista de status, fruto das sinergias libertadas e canalizadas pela ideologia e integra um encadeamento de fenómenos que concorrem para a mudança social: ideias, valores, motivação, ideologia, consciencialização” (Castro, 2000:274).

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governo humanitário e brando por uma elite em declínio; a análise dialéctica vinca o conflito

com principal força motriz de mudança. Para as teorias funcionalistas e evolucionistas, a

evolução das sociedades passou de diversos estágios distintos: simples sem líder (caça e

recolecção); simples com líder (horticultura); composta (horticultura avançada; duplamente

composta (agricultura); triplamente composta (moderna industrial). E a análise pós – industrial

e pós – moderno olham para o avanço das tecnologias de informação e comunicação com a

alavanca da transformação social na actualidade.

As teorias de transformação social têm o crédito de delinearem várias mudanças cumulativas

significativas na história da sociedade humana, mas uma análise sociológica de transformação

social exige um modelo mais preciso e menos ambicioso do que as teorias gerais, que possibilite

analisar o processo de transformação social, olhando para o que muda, a forma como muda, a

direcção, o ritmo e as razões da mudança e os principais factores desta mudança.

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Análise das teorias básicas de transformação social Domingos Elias Bihale

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Bibliografia

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