anÁlise da implementaÇÃo de sistemas de chegada...

Click here to load reader

Upload: vothien

Post on 11-Nov-2018

212 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • ANLISE DA IMPLEMENTAO DE SISTEMAS DE

    CHEGADA VIRTUAL DE NAVIOS E SUAS

    IMPLICAES COMERCIAS E CONTRATUAIS

    Fillipe Manhes de Faria

    Projeto de Graduao apresentado ao Curso

    de Engenharia Naval e Ocenica da Escola

    Politcnica, Universidade Federal do Rio de

    Janeiro, como parte dos requisitos necessrios

    obteno do ttulo de Engenheiro Naval.

    Orientador: Floriano Carlos Martins Pires

    Junior, D.Sc.

    Rio de Janeiro

    Maro de 2018

  • i

    ANLISE DA IMPLEMENTAO DE SISTEMAS DE CHEGADA VIRTUAL DE

    NAVIOS E SUAS IMPLICAES COMERCIAS E CONTRATUAIS

    Fillipe Manhes de Faria

    PROJETO DE GRADUAO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO DE

    ENGENHARIA NAVAL E OCENICA DA ESCOLA POLITCNICA DA UNIVERSIDADE

    FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSRIOS

    OBTENO DO TTULO DE ENGENHEIRO NAVAL.

    Examinada por:

    ___________________________________________

    Prof. Floriano Carlos Martins Pires Junior, D.Sc.

    ___________________________________________

    Prof. Claudio Luiz Barana Vieira, Ph.D.

    ___________________________________________

    Prof. Luiz Felipe Assis, D.Sc.

    RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL

    MARO de 2018

  • ii

    Manhes de Faria, Fillipe

    Anlise da implementao de sistemas de chegada virtual

    de navios e suas implicaes comerciais e contratuais/

    Fillipe Manhes de Faria Rio de Janeiro: UFRJ/ Escola

    Politcnica, 2018.

    VIII, p. 51, il.; 29,7 cm

    Orientador: Floriano Carlos Martins Pires Junior

    Projeto de Graduao UFRJ/ Escola Politcnica/ Curso

    de Engenharia Naval e Ocenica, 2018

    Referncias Bibliogrficas: p. 50-51

    1. Contratos de Afretamento de Navios e Operaes de

    Terminais de Minrio. 2. Chegada Virtual e Suas

    Caractersticas. 3. Chegada Virtual em uma Perspectiva

    Contratual e Comercial.

    I. Carlos Martins Pires Junior, Floriano. II. Universidade

    Federal do Rio de Janeiro, Escola Politcnica, Curso de

    Engenharia Naval e Ocenica. III. Anlise da

    Implementao de Sistemas de Chegada Virtual de Navios

    e Suas Implicaes Comercias e Contratuais.

  • iii

    todos que tornaram possvel a realizao deste sonho,

  • iv

    AGRADECIMENTOS

    Primeiramente a toda a minha famlia, em especial ao meu pai, Jorge, minha me,

    Rosangela, e minha av, Irma, pelo criao, apoio, amor e carinho dados a mim, me

    tornando a pessoa que sou hoje. Sem vocs nada disso seria possvel.

    todos os meus amigos, infncia, escola, CEFET, intercmbio e principalmente amigos

    adquiridos na UFRJ, meus companheiros nessa caminhada.

    minha namorada Paola, pelo suporte nos momentos dificeis, carinho, pacincia e

    amor.

    Agradeo ao meu orientador Floriano Carlos Martins Pires Junior pelo apoio e

    ensinamentos a mim concedidos durante a realizao deste trabalho.

    E a todos os professores que contribuiram na minha formao, me transmitindo

    conhecimentos e experincia.

  • v

    Resumo do Projeto de Graduao apresentado Escola Politcnica/ UFRJ como parte

    dos requisitos necessrios para a obteno do grau de Engenheiro Naval.

    ANLISE DAIMPLEMENTAO DE SISTEMAS DE CHEGADA VIRTUAL DE

    NAVIOS E SUAS IMPLICAES COMERCIAS E CONTRATUAIS

    Fillipe Manhes de Faria

    Maro/2018

    Orientador: Floriano Carlos Martins Pires Junior

    Curso: Engenharia Naval e Ocenica

    Em um mundo onde questes ambientais so levadas cada vez mais em considerao,

    a implementao de sistemas de chegada virtual de navios pode ser uma forma eficiente

    de reduzir a emisso de gases poluentes provenientes do transporte martimo. Atravs

    do controle de velocidade das embarcaes, transformando o tempo de fila no porto em

    tempo navegando, temos uma economia no consumo de combustvel, e

    consequentemente, uma reduo na emisso de gases poluentes. Neste trabalho foi

    abordado o problema prtico da implementao do sistema de chegada virtual, com

    enfoque nos problemas comerciais e contratuais que tal implementao acarreta.

    Tambm foi abordado o funcionamento deste sistema, sendo analisados os ganhos

    econmicos e ambientais resultantes de sua implementao, e a influncia de alguns

    parmetros para eficincia do mesmo.

    Palavras-chave: Chegada virtual, Afretamento, Problemas Contratuais, Terminal

    porturio, Estadia, Sobrestadia.

  • vi

    Abstract of undergraduate project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of the

    requirements for the degree of Engineer.

    ANALYSIS OF THE IMPLEMENTATION OF VIRTUAL ARRIVAL SYSTEMS AND

    THEIR COMMERCIAL AND CONTRACTUAL IMPLICATIONS

    Fillipe Manhes de Faria

    March/ 2018

    Advisor: Floriano Carlos Martins Pires Junior

    Course: Naval and Ocean Engineering

    In a world where environmental issues are increasingly taken into account, the

    implementation of virtual arrival systems is an efficient way to reduce the emission of

    polluting gases from maritime transportation. Through the control of ship speed, we are

    able to transform the time of queue in the port by time in navigation, creating an economy

    in the consumption of fuel, and consequently, a reduction in the emission of polluting

    gases. In this work, the practical problems due the implementation of the virtual arrival

    system was addressed, focusing on the commercial and contractual problems that such

    implementation entails. It was also approached the operation of this system, analyzing

    the economic and environmental gains linked to its implementation, and the influence of

    some parameters for its efficiency.

    Keywords: Virtual Arrival, Charter, Contractual Issues, Port, Terminal, Laytime,

    Demurrage.

  • vii

    Sumrio

    1. Introduo ................................................................................................... 1

    1.1. Motivao ............................................................................................ 2

    1.2. Objetivo ................................................................................................ 3

    2. Contratos de afretamento de navios e operao de terminais de minrio ... 4

    2.1. Contratos de afretamento martimo ...................................................... 4

    2.1.1. Contrato de Afretamento por Tempo (Time Charter Party) .............. 5

    2.1.2. Contrato de Afretamento a Casco Nu (Bareboat) ............................ 5

    2.1.3. Contract of Affreightment (COA) ..................................................... 6

    2.1.4. Contrato de afretamento por Viagem (Voyage Charter Party) ......... 6

    2.2. Terminais porturios de minrio de ferro .............................................. 7

    2.2.1. Chegada no porto ........................................................................... 9

    2.2.2. Aviso de prontido (NOR) ............................................................... 9

    2.2.3. Estadia (Laytime) .......................................................................... 11

    2.2.4. Sobrestadia (Demurrage) ............................................................. 14

    3. Chegada virtual e suas caractersticas ...................................................... 15

    3.1. Chegada virtual na prtica ................................................................. 17

    3.2. Distncia de controle .......................................................................... 19

    3.3. Impactos da implementao de sistemas de chegada virtual ............. 26

    4. Chegada virtual em uma perspectiva contratual e comercial ..................... 35

    4.1. Tipos de terminais porturios ............................................................. 35

    4.2. Consideraes contratuais e comerciais ............................................ 38

  • viii

    4.2.1. Laytime, demurrage e despatch .................................................... 38

    4.2.2. Perspectiva do terminal ................................................................ 40

    4.3. Proposio de um sistema de chegada virtual ................................... 40

    4.3.1. Contrato de afretamento ............................................................... 41

    4.3.2. Funcionamento do sistema ........................................................... 41

    5. Concluses ............................................................................................... 49

    6. Referncias Bibliogrficas ......................................................................... 50

  • 1

    1. INTRODUO

    Com a globalizao, o crescimento das relaes comerciais entre os pases tem

    crescido cada vez mais, alavancando o desenvolvimento do transporte martimo de

    carga e passageiros. Naturalmente, a demanda por beros nos portos aumenta,

    gerando filas de navios esperando para poderem operar. Em um mercado de

    combustveis com altos preos, que pode representar mais da metade do preo anual

    de operao de um navio, fica clara a existncia de um incentivo para que os armadores

    reduzam a velocidade das embarcaes, com o intuito de atingir um tempo de chegada

    revisado devido a um atraso j conhecido no porto de destino. Assim, evita-se utilizar

    toda potncia do motor, atingindo um gasto maior de combustvel, somente para ter que

    esperar, em uma fila, a disponibilidade de um bero para poder atracar. Esse processo

    foi introduzido por duas associaes de renome na indstria martima, INTERTAMKO e

    OCIMF(2010). O sistema de Chegada Virtual, como conhecido, tem como principais

    objetivos, reduzir os custos de combustvel, diminuir a emisso de gases poluentes e

    congestionamentos nas reas adjacentes ao porto. Devido a esses fatores, a

    implementao desse sistema tem grande potencial de ser aceita pelas partes

    envolvidas. Na figura [1] pode-se notar a importncia do transporte martimo para as

    relaes comercias entre os pases, como seu constante crescimento.

    Figura 1 - Comrcio Internacional martimo, por tipo de carga, anos selecionados

    (milhes detoneladas carregadas). Fonte: UNCTAD, 2015.

  • 2

    No que diz respeito a emisso de gases, o transporte martimo emite por volta

    de 1000 milhes de toneladas de CO2 anualmente, sendo responsvel por cerca de

    2,5% da emisso global de Green House Gas (GHG). Devido ao desenvolvimento

    energtico e econmico, e caso o mercado se mantenha com o mesmo comportamento

    de costume, a emisso de gases poluentes devido ao transporte marinho, apresenta

    uma projeo de crescimento entre 50% a 150% para o ano de 2050. Estes dados

    corroboram a necessidade da implementao de sistemas que reduzam tais emisses

    de gases poluentes.

    O principal foco desse trabalho uma primeira anlise nos problemas contratuais

    e comerciais que a implementao do sistema de chegada virtual de navios poder

    acarretar. Sendo uma questo pouco abordada nos trabalhos relacionados a esse tema.

    Portanto sero apresentados neste trabalho: o funcionamento do sistema na prtica,

    uma anlise do impacto de sua implementao levando em considerao resultados de

    outros estudos j realizados, a influncia de alguns parmetros na sua eficincia e, por

    fim, sero abordados os problemas comerciais e contratuais que poderiam ser gerados

    com a implementao de sistemas de chegada virtual, sendo proposto um sistema que

    solucionasse eventuais imbrglios.

    Ento nos deparamos com os sequintes questionamentos que nortearo a

    confeco deste trabalho: como contornar possveis problemas comercias e contratuais

    na implementao de sistemas de chegada virtual? Como estimar o real impacto da

    implementao de tal sistema? Como os parmetros do problema impactam na

    efetividade do mesmo?

    1.1. Motivao

    Este projeto tem como motivao as melhorias que as implementaes de

    sistemas de chegada virtual trariam para a sociedade, tanto economicamente quanto na

    questo ambiental, j que a emisso de gases poluentes, efeito estufa, um assunto

    bastante discutido nos dias atuais. Outro fator que devemos lembrar, o

    congestionamento de embarcaes nas zonas portuarias, que traz riscos de acidentes

    e requer um maior controle por parte do porto. Ento um estudo que proporcione mais

    respaldo para implementao de um sistema com essas caractersticas, um grande

    motivador.

  • 3

    1.2. Objetivo

    O principal objetivo deste trabalho gerar um estudo a cerca da possvel

    implementao de sistemas de chegada virtual, com enfoque nos problemas comerciais

    e contratuais que tal ao acarretaria. Sendo mais uma fonte de pesquisa para o

    entendimento desse sistema. O estudo tambm visa encontrar uma soluo para

    problemas contratuais e comerciais que a implementao desse sistema geraria. Para

    tanto preciso analisar, quais alteraes nas formas de contrato devem ser feitas, para

    garantir que os sistemas de Chegadas Virtuais no gerem conflitos de interesse entre

    as partes.

  • 4

    2. CONTRATOS DE AFRETAMENTO DE NAVIOS E

    OPERAO DE TERMINAIS DE MINRIO

    O captulo a seguir aborda toda a fundamentao e base terica utilizadas no

    projeto, pois so elementos que garantem o melhor entendimento do problema

    analisado e as solues propostas neste trabalho. Ele dividido em duas partes: na

    primeira, discutiremos os tipos de contrato de afretamento martimo, papel das partes e

    seus deveres: na segunda parte, falaremos sobre portos de minrio de ferro, dando

    enfoque no sistema de chegada de navios nestes terminais, como tambm, os

    parmetros contratuais envolvidos em tal ao.

    2.1. Contratos de afretamento martimo

    Os contratos de afretamento martimo so realizados quando as partes fazem

    um acordo para que uma embarcao transporte carga de um local a outro, mediante o

    pagamento de uma taxa, conhecida como frete. So partes contratantes nos contratos

    de afretamento, de um lado, o armador, que corresponde figura do fretador e, do outro,

    o afretador.

    O afretador aquele que toma a embarcao em afretamento, mediante o

    pagamento de frete, para explorar a atividade de transporte de mercadorias, ou seja,

    o lado que utiliza a embarcao com o fim de transporte de carga, que pode ser prpria

    ou de terceiros.

    J o armador a pessoa fsica ou jurdica que prepara a embarcao para ser

    utilizada comercialmente transportando mercadorias ou passageiros. Um ponto que

    devemos ressaltar a diferena entre armador e proprietrio da embarcao. O

    proprietrio o dono do navio, ou seja, a figura no qual a embarcao esta registrada,

    como este proprietrio pode ou no ser o armador, h dois tipos de armador: armador

    proprietrio e armador no-proprietrio. O armador proprietrio, como o prprio nome

    indica, aquele que prepara e explora comercialmente sua prpria embarcao. J o

    armador no-proprietrio aquele que prepara, arma e explora comercialmente o navio

    de terceiros.

    So os seguintes tipos de contrato de afretamento existentes: Contrato de

    afretamento por Tempo (Time charter Party - TCP), Contrato de afretamento a casco nu

  • 5

    (Bareboat - BCP), Contrato de afretamento por Viagem (Voyage Charter Party - VCP) e

    Contract of Affreightment (WILFORD, 1989).

    2.1.1. Contrato de Afretamento por Tempo (Time Charter Party)

    O contrato de afretamento por tempo caracteriza-se pela utilizao dos servios

    do navio, por um tempo determinado, no qual o armador disponente coloca o navio

    completamente armado, equipado e em condio de navegabilidade, disposio do

    afretador por tempo. O fretador detm a posse e o controle da gesto nutica da

    embarcao, em outras palavras, o armador deve tomar todas as providncias

    necessrias para que o navio tenha navegabilidade, o que inclui, a contratao do

    comandante e tripulao. Note que o navio continua sob a posse do fretador, atravs de

    seu preposto, o capito. A gesto comercial fica a cargo do afretador mdiante uma

    taxa, conhecida como hire, pagvel em intervalos determinados, durante o perodo do

    contrato. A gesto comercial significa que o afretador angaria cargas para serem

    transportadas, alem de emitir os documentos relacionados a atividade de transporte de

    carga. Ento o afretador uma espcie de administrador do navio, que decide quais

    rotas a embarcao deve seguir, administrando toda a relao comercial de transporte

    de mercadorias. No que diz respeito a responsabilidade civil, o afretador (armador)

    responder pelos eventuais danos ocasionados carga transportada, e o fretador

    responder pelos prejuzos e perdas causados a terceiros, ocorridos durante as viagens.

    2.1.2. Contrato de Afretamento a Casco Nu (Bareboat)

    O contrato de afretamento a casco nu caracterizado pela utilizao de um navio

    por um tempo determinado, no qual, o afretador assume a gesto nutica e comercial

    da embarcao, pagando uma taxa, conhecida como hire, pagvel em intervalos

    determinados durante o perodo do contrato, para o fretador, que dispe o seu navio a

    casco nu. O navio entregue ao afretador desprovido de comandante, tripulao e

    outros fatores que so necessarios para se ter uma navegabilidade. Sendo assim, o

    afretador a casco nu se torna o responsvel por contratar e controlar o comandante, que

    pode ser indicado pelo dono do navio. Nesta modalidade de contrato o afretador se torna

    o armador no proprietario da embarcao, j que assume todas as competncias

    necessrias para a navegabilidade do mesmo, por exemplo, contratar seguros de casco,

  • 6

    P&I Club (Protection and Indemnity Associao de Clubes de Seguro), contratar

    tripulao etc. Alm disto, no que concerne responsabilidade civil, o afretador

    responder pelos eventuais danos ocasionados carga e pelos prejuzos causados a

    terceiros durante a aventura martima.

    2.1.3. Contract of Affreightment (COA)

    Os contract of affreightment (contratos de afretamento), so contratos em que o

    armador faz um acordo com outra parte, afretador, para que seja transportada uma certa

    quantidade de carga, geralmente grandes quandidades, durante um perodo de tempo,

    em muitos casos longos perodos. Podemos dizer ento, que nesse tipo de contrato,

    uma parte responsvel por fornecer a carga e a outra o navio para viagens peridicas.

    um acordo muito utilizado para empresas que querem escoar sua produo via

    transporte martimo.

    Existem alguns formularios padronizados que so utilizados para determinar

    responsabilidades e obrigaes entre as partes envolvidas nesse tipo de contrato, por

    exemplo, NYPE 93 (New York Produce Exchange Form) emitido pela Associao de

    Shipbroker e Agentes (U.S.A).

    So clusulas desse tipo de contrato: durao da viagem, velocidade carregado

    e em lastro, portos envolvidos, taxa de aluguel, entrega, entre outros. Um ponto a se

    ressaltar a reduo da velocidade, prevista em contrato, caso ocorra, gera uma

    penalidade para o fretador, exceto em casos onde a reduo de velocidade est prevista

    em contrato.

    2.1.4. Contrato de afretamento por Viagem (Voyage Charter Party)

    um tipo de contrato para transportar uma determinada carga, no em um

    periodo de tempo, mas somente a uma taxa por tonelada pr-estabelecida, somente

    para uma ou poucas viagens, entre portos pr-acordados. So muito utilizados por

    empresas que no necessitam escoar uma produo de tempos em tempos, mas sim

    por empresas que possuem uma certa quantidade de carga para ser transportada

    esporadicamente. Nesse tipo de contrato, cabe ao armador a gesto nutica e comercial

    do navio, que dever estar tripulado, equipado e preparado em todos os sentidos para

  • 7

    enfrentar a viagem. Alm disso, no que concerne responsabilidade civil, o armador

    responder pelos eventuais danos ocasionados carga e pelos prejuzos causados a

    terceiros durante a viagem.

    A tabela [1] nos ajuda a entender de forma resumida as diferenas entre os tipos

    de contrato de afretamento martimo existentes.

    2.2. Terminais porturios de minrio de ferro

    Neste captulo iremos abordar as caractersticas de terminais porturios de

    minrio de ferro, dando um enfoque no sistema de chegada nesses portos. Discutiremos

    todos as etapas da chegada de um navio e os termos contratuais envolvidos nessa

    ao, por exemplo, laytime.

    CONTRATOS CARACTERSTICAS GESTO RESPONSABILIDADE

    Contrato de Afretamento por

    Tempo (Time Charter

    Party)

    Navio entregue armado, com tripulao e comandante, para realizar viagens determinadas pelo afretador

    Nutica - Fretador Comercial - Afretador

    Carga - Afretador Terceiros - Afretador

    Contrato de Afretamento a

    Casco Nu (Bareboat)

    Navio entregue desarmado e sem tripulao, onde toda a responsabilidade de armar o navio do afretador

    Nutica - Afretador Comercial - Afretador

    Carga - Afretador Terceiros - Afretador

    Contract of Affreightment

    (COA)

    Transporte de uma certa quantidade de carga em um certo periodo de tempo atravs de viagens peridicas, onde o afretador fornece a carga e o fretador o navio

    Nutica - Fretador Comercial - Fretador

    Carga - Fretador Terceiros - Fretador

    Contrato de afretamento por

    Viagem (Voyage Charter

    Party)

    Aluguel de um espao em um navio para uma ou poucas viagens, onde o fretador fornece o navio e o afretador a carga

    Nutica - Fretador Comercial - Fretador

    Carga - Fretador Terceiros - Fretador

    Tabela 1 - Resumo dos tipos de contratos de afretamento de transporte martimo

  • 8

    O terminal de minrio de ferro uma subcategoria dos terminais graneleiros, que

    so terminais porturios que se especializam na manipulao e armazenamento de

    carga a granel no conteinerizada, podendo ser carga lquida ou seca. Em suma, um

    terminal de minrio um porto graneleiro de carga seca especializado no transporte,

    embarque, desembarque e armazenamento de minrio de ferro.

    Esse tipo de terminal tem como caracterstica distinta dos terminais para cargas

    conteinerizadas, sua localizao. Diferentemente dos terminais de container que so

    localizados em grandes centros urbanos, terminais porturios de minrio de ferro

    possuem um sistema integrado entre mina, ferrovia e porto, sendo posicionado

    estrategicamente em zonas litoraneas mais prximas possveis de minas de extrao e

    em regies que possuam uma infraestrutura ferroviaria adequada para interligar a mina

    ao terminal. Outro ponto a se observar, so as a profundidade da gua e a grande rea

    de construo, j que embarcaes desse porte exigem enormes estoques de minrio

    no terminal e tambm grandes instalaes de armazenamento. A figura [2] nos mostra

    o Porto de Tubaro, um dos principais terminais de minrio do Brasil.

    Figura 2 - Vista area do Porto de Tubaro - ES

    Apesar da implementao de tcnicas eficientes de carregamento e

    descarregamento dos navios, para a reduo da taxa de ocupao no porto, em muitos

    casos ocorrem a formao de filas, que o ponto chave de motivao da implementao

    dos sistemas de chegada virtual.

  • 9

    2.2.1. Chegada no porto

    Para o nosso trabalho, fazer uma reviso dos elementos presentes na chegada

    de navios em terminais de minrio de ferro importante para o melhor entendimento da

    situao. A chegada dos navios nesse tipo de porto caracterizada por sua

    aleatoriedade. Esse efeito pode ser diminuido em portos privados, j que somente uma

    empresa tem o controle e planejamento das viagens a serem feitas. Porm em terminais

    pblicos, esse efeito notorio, pois as viagens so planejadas e controladas por

    diversas empresas diferentes. Como o processo de chegada aleatorio, temos a

    formao de filas de navios aguardando para a operao, uma vez que podemos ter

    momentos em que varios navios chegam ao mesmo tempo, por exemplo.

    Um dos motivos que geram essa irregulariadade nas chegadas dos navios so

    os atrasos durante a viagem. Esses atrasos podem ser devido aos seguintes fatos:

    condies adversas de mar e vento, problemas no navio (motores e outros

    equipamentos), trfego intenso, exigindo mudanas de velocidade e manobras. O

    processo de fila tambm pode ser gerado no s pela aleatoriedade das chegadas dos

    navios no terminal, mas tambm por problemas no porto, atrasos nos processos de

    carga e descarga de embarcaes, falha em equipamentos portuarios e greves.

    Nesses portos, em sua maioria, teremos atendimentos logsticos aos navios com

    a utilizao de FILAS por ordem de chegada, no modelo de atendimento primeiro a

    entrar primeiro a sair (First In, First Out FIFO). Esta modalidade de atendimento

    incentiva os armadores a disporem seus navios aos interessados, o mais rpido possvel

    no local acordado contratualmente para operar, ou seja, temos o aumento das

    velocidades dos navios, em alguns casos de interesse, para que o navio possa chegar

    o mais rpido possvel para ser atendido.

    Nos tens a seguir, so abordados alguns elementos contratuais das chegadas

    dos navios, tempo de operao e tempo no porto, esses elementos so fundamentais

    para o entendimento das implicaes contratuais da implementao de sistemas de

    chegada virtual.

    2.2.2. Aviso de prontido (NOR)

    O aviso de prontido uma notificao feita pelo comandante do navio ao

    afretador, embarcador, consignatrio ou outra pessoa, de que o navio chegou ao porto

  • 10

    e est pronto para realizar a operao de embarque ou desembarque da carga, de

    acordo com o que foi previsto em contrato, em sua maioria deve ser dado de forma

    escrita, segundo o que previsto em contrato, embora no exista disposio legal nesse

    sentido.

    A NOR importante para o clculo do tempo de estadia ou laytime, que ser

    abordado no prximo item desde trabalho. a partir desse aviso que o tempo de estadia

    comea a contar, salvo excees previstas em contrato. Porm s ser permitido o inicio

    da contagem do laytime se a embarcao estiver com todas as condies fsicas e

    legais para fazer a operao, por exemplo, preparo dos pores, navio liberado pelas

    autoridades e condies para o recebimento de carga.

    Algumas clusulas em contratos de afretamento esto ligadas ao aviso de

    prontido. Na tabela [2] temos o exemplo de duas dessas clusulas que so

    amplamente utilizadas.

    Tabela 2 - Clusulas contratuais atreladas ao aviso de prontido

    Clusula Caracterstica

    Whether in Port or Not

    Se o porto no estiver acessvel para chegada do navio, a NOR poder ser emitida na chegada da embarcao ao local mais prximo, onde, geralmente, as embarcaes aguardam para adentrar o porto.

    Whether in Berth or Not

    Se o local para carga ou descarga for um bero e se ele no estiver imdiatamente acessvel, a NOR poder ser expedida na chegada ao porto, mesmo que tenha que esperar por um bero

    O aviso de prontido tambm utilizado para alocao dos navios na fila para

    atracamento, no sistema FIFO, j mencionado anteriormente. Sendo assim, o navio que

    emite o NOR, automaticamente entra no final da fila para poder realizar a operao de

    carga ou descarga. Na figura [3] temos uma esquematizao do processo de chegada

    de uma embarcao em um porto mineraleiro, com todos os elementos discutidos at

    ento.

  • 11

    Figura 3 - Esquematizao do processo de chegada de um navio em um terminal de

    minrio

    2.2.3. Estadia (Laytime)

    Estadia ou laytime perodo de tempo, acordado pelas partes, durante o qual o

    fretador colocar seu navio disposio do afretador para as operaes de

    carregamento e descarga, sem pagamento adicional de frete (WILSON, 1988). Quando

    o perodo do laytime ultrapassado, inicia-se a contagem da sobrestadia ou demurrage,

    que ser discutido no prximo item.

    Se levarmos em considerao os interesses do afretador, para ele interessante

    que o perodo de laytime seja o mais extenso possvel, pois, em caso de atrasos

    decorrentes de imprevistos, ele estar coberto pelo prazo do laytime e no ter que

    pagar pela sobrestadia. J para o armador, mais vantajoso que o navio seja liberado

    o quanto antes para que ele possa fazer novas viagens.

    O laytime geralmente calculado utilizando uma taxa de carregamento ou

    descarga para aquela operao no porto. Quando o laytime estipula um certo nmero

    de dias ou dias corridos, o acordado que seja um periodo consecutivo de 24 horas,

  • 12

    exceto quando temos no contrato os dias especificos a serem excludos. Em alguns

    casos utilizada a forma contratual de contar somente os dias trabalhados no porto,

    conhecido como working days, onde temos a excluso de feriados e domingos. Nessa

    modalidade temos o dia como um todo contado para fins contratuais, e mesmo que o

    afretador no tenha a inteno de carregar ou descarregar o navio naquele dia, ou

    impedido de faz-lo devido ao mau tempo, os dias seram contados. O tempo em horas

    de um dia til em que um navio ser requisitado para carregar ou descarregar ir

    depender do porto, e os sbados normalmente iro contar como um dia inteiro, embora

    no seja comum o trabalho tarde. H diversos mtodos de calcular o laytime previsto

    em contrato, j mencionamos anteriormente os mais usuais, porm, temos outras

    maneiras que esse clculo pode ser feito, na tabela [3], podemos ver algumas formas

    de clculo muito utilizados nos contratos de afretamento martimos:

    Forma de clculo de laytime Caracterstica

    Running Days Dias corridos, incluindo sbados, domingos e feriados

    Weather Working Days Dias de trabalho, no porto, durante o qual possvel carregar ou descarregar sem a interferncia das condies climticas

    Weather Permitting Ser levado em considerao somente perodos em que as condies climticas permitam o trabalho de carregamento ou descarregamento

    Sat Shex Working Days Dias de trabalho no porto, excluindo-se sbados, domingos e feriados;

    Sat Shinc Significa: Saturdays, Sundays and Holidays Included, onde temos que, sbados, domingos e feriados so computados no tempo de estadia.

    Tabela 3 - Formas de clculo do perodo de estadia

  • 13

    Existem situaes em que as partes desejam antecipar ou retardar o incio da

    estadia. Nesse caso, necessrio incluir clusulas no contrato de afretamento. Na

    tabela [4] podemos ver um resumo dessas clusulas bastante usuais.

    Tabela 4 - Clusulas contratuais que viso antecipar ou retardar o incio da estadia

    Clusula Tipo Caracterstica

    Time Lost Waiting For Berth To Count As Loading / Discharging Time ou As Laytime

    Antecipar

    Se a indisponibilidade de bero for a razo principal que impede que o navio emita o aviso de prontido, o tempo de estadia comear a ser contado assim que o navio comear a esperar pelo bero, e continuar a correr, at o momento que o navio parar de esperar pelo bero.

    Wether In Berth Or Not ou Berth No Berth

    Antecipar

    Determina que se o local designado para embarque e/ou desembarque for um bero, e o bero no estiver acessvel de imdiato para o navio, o aviso de prontido poder ser dado logo que o navio chegar ao porto onde o bero designado estiver localizado e o tempo de espera por um bero por conta do afretador.

    Wether In Port Or Not Antecipar

    O aviso de prontido pode ser dado mesmo que o navio esteja fora dos limites comerciais do porto, ou seja, deve ter chegado ao ancoradouro ou lugar onde os navios normalmente esperam para entrar no porto

    Notice Period Retardar Determina um perodo de carncia entre a entrega do aviso de prontido e o incio do tempo de estadia.

    In Regular Turn Retardar

    Determina que o navio pode emitir o aviso de prontido assim que chegar ao seu destino, mas a contagem do tempo de estadia so comear quando o navio atracar.

    Time To Start: Hours After Ship is Reported Ready

    Retardar Tambm estabelece um tempo de carncia entre o momento em que o aviso de prontido dado e o incio da estadia

  • 14

    Vale ressaltar que alguns contratos prevem a interupo da contagem do tempo

    de estadia em alguns casos, como, greves de trabalhadores porturios ou

    congestionamentos que impeam o acesso da embarcao ao bero. Lembrando

    sempre que essas interrupes devem ser previstas em contrato, caso no tenha

    nenhuma meno, o tempo de laytime continuar sendo computado durante tais

    adversidades.

    Quando o periodo de laytime estabelecido em contrato, o afretador pode utiliza-

    lo da maneira que lhe convm, levando em considerao que no pode ultrapassar esse

    tempo acordado, sendo passvel de multa (Sobrestadia). Outro fator que vale destacar

    que o processo de carga e descarga fica a cargo do afretador; com isso o processo

    pode ser feito com velocidades diferentes em dias diferentes, e assim, o fretador no

    pode reclamar que a ao de carga e descarga poderia ter sido feita em menor tempo.

    Porm, quando as operaes de carga ou descarga terminam, o afretador no tem

    direito de reter o navio por mais tempo, mesmo que o perodo de estadia ainda no

    tenha acabado. Portanto, o laytime chega ao fim quando o processo de carga/descarga

    concluido ou no momento que o tempo acordado expira, quando tem inicio a contagem

    da sobrestadia.

    2.2.4. Sobrestadia (Demurrage)

    Para o fretador interessante estar de posse do seu navio o mais rpido

    possvel, para que outras viagens possam ser feitas. Quando o processo de

    carregamento/descarregamento muito demorado, extrapolando o tempo de estadia

    acordado, natural que o contrato preveja uma multa a ser paga ao afretador, para que

    o mesmo seja ressarcido do dano de no poder executar outra viagem. O contrario

    tambm previsto em contrato, se o afretador entregar o navio antes do final do periodo

    de laytime, o fretador paga uma taxa para o afretador, conhecida como despatch ou

    prmio, que funciona como um incentivo pela presteza no processo de carga/descarga,

    normalmente esse valor a metado do valor da sobrestadia.

    Para se calcular o valor a ser pago de demurrage ou despatch pode se usar

    valores fixos diarios, por exemplo, demurrage de US$10,000.00/dia e despatch de

    US$5,000.00/dia. Pode ser calculado tambm em funo da tonelagem que falta ser

    carregada ou descarregada. A forma que essas taxas sero calculadas devem estar

    previstas em contrato.

  • 15

    3. CHEGADA VIRTUAL E SUAS CARACTERSTICAS

    A chegada virtual foi introduzida por INTERTANKO e OCIMF (2010), visando

    uma economia global, uma poltica ambiental, atravs da reduo das emisses de

    gases, como tambm outros ganhos, e um sistema que consiste em um acordo para

    que a velocidade de um navio seja reduzida durante uma viagem, com o intuito de atingir

    um determinado tempo de chegada, previamente calculado devido a um atraso, j

    conhecido, no porto de destino. Em outras palavras, um sistema que, ao reduzir a

    velocidade da embarcao, troca o tempo de fila no porto pelo tempo navegando. Essa

    reduo de velocidade vai resultar em uma reduo no consumo de combustvel,

    consequentemente, reduzindo a emisso de gases poluentes.

    notorio o desperdicio associado a prtica de navegar com a mesma velocidade

    de servio, quando sabido um atraso no porto, pois no adianta chegar no porto e no

    poder ser atendido. Ento, quando se concorda com a reduo da velocidade, alm da

    questo econmica e ambiental, tambm temos uma reduo do tempo de ancoragem,

    espao de tanques de combustvel e dissipao do congestionamento perto do porto,

    que tambm gera uma reduo no risco de abalroamentos.

    Esse trabalho tem como objetivo abordar o tema da chegada virtual tendo como

    foco os problemas contratuais e comerciais envolvidos em sua implementao. Essas

    implicaes advm do fato de que a parte responsvel por pagar o combustvel pode

    no ser o operador do navio ou at mesmo o problema contratual de qual parte

    responsvel por pagar o tempo de porto. Sendo assim, uma cooperao entre as partes

    e contratos que preveem tais problemas so fundamentais.

    Um ponto que devemos destacar que uma boa cooperao entre as partes

    envolvidas traz melhorias tambm para o planejamento da viagem; com as duas partes

    alinhadas, teremos uma viagem mais bem planejada, e por consequncia, teremos uma

    diminuio nos riscos de atrasos. As partes podem acordar perodos de manuteno,

    mudanas na tripulao e carregamento de suprimentos na embarcao.

    Nesta anlise devemos levar em considerao que a velocidade tima praticada

    nas viagens de afretamento diretamente ligada ao mercado, caso o mercado de

    afretamento esteja aquecido, ou seja, temos uma situao de alta demanda por viagens,

    praticam-se maiores velocidades, j que temos muitas viagens a serem feitas. Porm

    quando o mercado no est aquecido, as velocidades timas tendem a serem menores,

  • 16

    pois o custo de viagem possui uma maior importncia. Essa questo deve ser levada

    em considerao, uma vez que velocidades de servio baixas, restringem a aplicao

    da chegada virtual, pois as variaes de velocidade so menores.

    OCIMF (2010) estipulou quais so as condies previas para que a chegada

    virtual possa ser realizada:

    Um atraso j conhecido no porto de destino;

    Acordo entre as partes do contrato. Outras partes podem ser envolvidas nas

    decises, como terminais, receptores da carga ou terceiros com interesse

    comercial;

    Uma clusula contratual que estabelece os termos para a implementao da

    chegada virtual;

    Um acordo sobre como calcular e reportar o desempenho do navio;

    Um acordo sobre como atribuir benefcios entre as partes envolvidas.

    Como dito anteriormente, os principais objetivos da implementao da chegada

    virtual so econmicos, com o menor consumo de combustvel e ambientais, com

    menores emisses de gases poluentes. A teoria de arquitetura naval afirma que quanto

    maior a velocidade de embarcao, maior sua resistencia ao avano e assim maior

    seu consumo de combustvel, que obedece um comportamento no linear. Corbett

    (2009) demostrou que a reduo de velocidade dos navios, tambm conhecida como

    slow steaming, reduz em at 70% a emisso de carbono, para rotas de navios porta-

    contentores. Portando, a velocidade dos navios tem um papel importante na economia

    e sustentebilidade ambiental no transporte martimo.

    H. Jia (2017) fez um estudo dos impactos da implementao da chegada virtual

    para navios VLCC em escala global, e concluiu que, dependendo de quanto desse

    "excesso" de tempo no porto pode ser utilizado em navegao, as economias com o

    consumo de combustvel podem ir de 7,26%, com apenas uma reduo de 25% do

    tempo em excesso no porto, at 19%, se todas as ineficincias aparentes forem

    removidas, todo tempo em excesso removido. Isso corrensponde de 77 a 226 toneladas

    de leo pesado por viagem, e economias na ordem de 39000 dolares a 105000 dolares

    por viagem. Por consequente tendo uma reduco na emisso de CO2 de 240 toneladas

    para o cenario de 25% de reduo do tempo at 539 toneladas para o cenario de 100%

    de reduo. Vale ressaltar que devido as incertezas do transporte martimo o cenario

    com 100% da reduo do tempo excedente utpico, porm esse estudo consolida a

    importncia da implementao da chegada virtual no transporte martimo.

  • 17

    Ucha (2013) realizou avaliaes do potencial de impacto da implementao da

    chegada virtual em um porto de minrio de ferro com movimentao de carga prpria,

    bero nico, que atende uma mesma frota composta de navios de mesmo porte. Foram

    realizadas simulaes para diversos cenrios, utilizando distncias de controle distintas

    (1500 MN, 3000MN e 4500 MN), onde foi analisado o consumo de combstivel, tempo

    de espera no porto e emisso de gases poluentes para cenrios sem o controle de

    velocidade e para cenrios onde o sistema de chegada virtual foi implementado. Foi

    demostrado pelo estudo de caso, uma reduo bastante significativa do nmero de

    navios no fundeadouro, no tempo de fila, consumo de combustvel e consequentemente

    na emisso de gases poluentes, sem alterao do atendimento dos navios previstos.

    Corroborando com o fato de que a implementao de tal sistema traz muitos ganhos

    econmicos e socio-ambientais. Uma discusso mais aprofundada dos resultados

    obtidos nos estudos de Ucha ser feita nas prximas sees.

    3.1. Chegada virtual na prtica

    A chegada virtual consiste primeiramente na escolha de um raio imaginrio que

    ser o comeo da zona de controle da chegada virtual. Ao ingressar no sistema de

    controle, ou seja, ao adentrar a zona delimitada pelo raio de controle, os comandantes

    das embarcaes devero informar ao terminal, atravs dos seus agentes de

    navegao, sua localizao, velocidade de servio, velocidade atual, distncia ao porto

    de destino, seu ETA (Tempo estimado de chegada) no porto de destino, condies de

    mar, quantidade de combustvel a bordo, consumo dirio e outras informaes

    acordadas em contrato. Com essas informaes o terminal adotar o sistema de filas

    FIFO, ou seja, o primeiro a chegar ser o primeiro a ser atendido, levando em

    considerao o ETA inicial quando o navio entra na zona de controle. Aps colocar essa

    embarcaao na fila, o terminal ir calcular qual deve ser o seu novo ETA levando em

    considerao o atraso existente, programao de carga, transporte mina-ferrovia-porto

    e laydays, dos navios que sero atendidos primeiramente.

    O terminal ao calcular o novo ETA deve levar em considerao a velocidade

    mnima que a embarcao pode navegar. Essas informaes sero fornecidas pelos

    fabricantes dos motores, como tambm uma velocidade segura para a tripulao devido

    a condies de mar. A Diesel United-Sulzer (2013), fabricante de motores martimos,

  • 18

    em seu boletim DUQ1-169E, diz que durante o funcionamento contnuo em baixa carga,

    para atingir baixas velocidades de navegao, a superfcie do anel do pisto do motor

    se torna suscetvel a corroso, por conta da diminuio de temperatura, porm, segundo

    o fabricante, alguns procedimentos devem ser adotados no intuito de se evitar maiores

    problemas ao motor da embarcao (motor de combusto principal MCP). Cada motor

    possui seu limite de potncia e projetado para trabalhar nesse limite, porm quando

    h necessidade de trabalhar numa faixa de operao diferente da projetada, por

    exemplo, reduzir a velocidade, devero ser observadas as recomendaes do

    fabricante do motor. Sendo assim, antes de uma embarcao participar de um sistema

    de chagadas virtual, o armador dever procurar instrues do fabricante para conhecer

    os limites operacionais da sua embarcao.

    Aps determinada a nova data de chegada e velocidade, o terminal enviar

    instrues ao navio para que o comandante siga viagem com a nova velocidade,

    mudando assim, seu ETA. Ao receber as instrues, o navio deve acatar, e adequar sua

    velocidade indicada pelo terminal. Vale ressaltar, que essas informaes sero

    atualizadas diariamente ou a cada dois dias, para que o processo seja o mais eficiente

    possvel. O comandante tambm tem livre escolha de adotar uma velocidade que gere

    segurana para sua tripulao, devido as condies de mar e vento adversas. Na figura

    [4] temos uma imagem que ilustra como funciona o processo de chegada virtual,

    mostrando a aplicao do controle de velocidade.

  • 19

    Figura 4 - Demonstrao do processo de chegada virtual. Fonte: Adaptado de OCIMF

    (2010)

    Portanto, o terminal ser responsvel pela implementao e fiscalizao do

    sistema de chegada virtual, sendo incumbido por dar as instrues e fazer os clculos

    necessarios para o seu funcionamento. As barreiras enfrentadas por tal sistema so

    barreiras contratuais, conflitos de interesse entre as partes e sistema de fiscalizao.

    Esses temas sero abordados no prximo captulo, onde sero discutidos os problemas

    contratuais e possveis solues.

    3.2. Distncia de controle

    No trabalho de Ucha (2013), foi feita uma simulao de diferentes cenrios para

    a implementao da chegada virtual no porto de Tubaro, para navios mineraleiros. No

  • 20

    referido trabalho, foi determinada uma distncia de 3000 milhas nuticas do porto como

    zona de controle para um primeiro cenrio, e em outro cenrio fez a variao para trs

    distncias distintas (1500, 3000 e 4500 milhas nuticas), sendo analisados os resultados

    dessas simulaes. Prem nesse item, iremos determinar os parmetros necessrios

    para escolher essa distncia de controle, fazendo uma anlise complementar a de

    Ucha (2013), das situaes envolvidas e tentar determinar uma distncia tima.

    Devemos determinar alguns parmetros para entender melhor como funciona a

    distncia nesse processo de implementao da zona de controle. Determinando uma

    velocidade de servio de 15 ns e uma velocidade mnima de 8 ns, podemos ver no

    grfico mostrado na figura [5] que quanto maior a distncia de cobertura para a

    chegada virtual, maior o atraso que o sistema pode corrigir. O atraso mximo

    calculado atravs da diferena de tempo ao percorrer uma determinada distncia a 15

    ns e o tempo para percorrer a mesma distncia em uma velocidade de 8 ns. Em

    outras palavras, caso um atraso no porto seja conhecido, um navio, praticando uma

    velocidade de 15 ns, reduz sua velocidade para 8 ns, que a velocidade mnima,

    supondo que a distncia de controle 1000 milhas nutica, a diferena do tempo de

    viagem se a embarcao reduzisse para 8 ns pelo tempo de viagem com a

    embarcao mantendo os 15 ns :

    Tempo de viagem simulao de 15 ns = 1000

    15 = 66,667

    Tempo de viagem real a 8 ns = 1000

    8 = 125

    Atraso mximo que poderia corrigir = 125 horas - 66,667 horas = 58,337 horas

    Nesse caso o mximo de atraso que poderia ser corrigido de aproximadamente

    58 horas. Se o atraso fosse de 70 horas (diferena de ETA virtual para ETA proposto

    pelo terminal), seria necessario que a reduo de velocidade ocorresse a uma distncia

    maior, para que a nova previso de chegada pudesse ser cumprida. Portanto a distncia

    de controle pode ser um limitador de eficincia do sistema, onde mesmo com a reduo

    de velocidade praticada, o tempo de fila pode no ser totalmente transferido para tempo

    navegando.

  • 21

    Figura 5 - Atraso mximo em funo da distncia de controle

    Olhando no grfico da figura [5], podemos ver que para um raio de cobertura de

    3000 milhas nuticas, o sistema consegue corrigir at 175 horas de atraso, j para 6000

    milhas nuticas, temos uma correo de 350 horas. Em outras palavras, dado um atraso

    no porto, a probabilidade de se determinar um novo ETA mais eficiente, que cobre

    maiores atrasos, cresce proporcionalmente ao crescimento da distncia de controle.

    Outro fator que deve ser entrar na discusso a diferena entre as velocidades

    mnima permitida e a velocidade de servio da embarcao. Quando estamos em uma

    situao de crise, como estamos vivenciando no momento, os navios praticam o

    slowsteaming, utilizando velocidades reduzidas.

    Foi feita uma anlise dessa variao de velocidades praticadas pelos

    armadores. No grfico mostrado na figura [6], podemos ver uma reduo dos atrasos

    mximos que podem ser corrigidos se as velocidades de servio caem, ou seja, ao

    reduzir a diferena entre a velocidade de servio e a velocidade mnima, tambm

    reduziremos a diferena do tempo navegando com a velocidade mnima pelo tempo

    navegando com a velocidade de servio, essa diferena igual ao atraso mximo que

    pode ser corrigido. Portanto, nos momentos de crise, a eficincia da implementao do

    processo de chegada virtual pode ser reduzida, visto que as diferenas de velocidade

    sero mais restritas.

    0,0

    100,0

    200,0

    300,0

    400,0

    Atr

    aso

    mxim

    o (

    ho

    ras)

    Distncia de atuao da chegada virtual (MN)

    Distncia de ao X Atrasomximo

  • 22

    Figura 6 - Atraso mximo em funo da distncia de controle para velocidades de

    servio distintas

    Se um projeto de um sistema de chegada virtual desejar ter o atraso mximo

    corrigvel de 150 horas, para uma embarcao que possui velocidade de servio de 10

    ns e velocidade mnima de 8 ns, a distncia de controle requerida seria 6000 milhas

    nuticas. Contudo, para uma embarcao com velocidade de servio de 15 ns e

    velocidade mnima de 8 ns, a distncia de controle requerida 2500 milhas nuticas,

    como podemos ver na figura [6].

    Ucha (2013) em seu trabalho realizou simulaes no ProModel, de um ano,

    para alguns cenrios distintos. Foram considerados navios de mesma caracterstica,

    para um porto com somente um bero, e taxas de atendimento nicas, que para alguns

    cenrios foram alteradas. Os resultados das simulaes forneciam: dias de viagem (a

    partir da distncia de controle), velocidades, quantidade de navios carregados,

    quantidade de navios no sistema, tempo mdio fundeado, quantidade mdia e mxima

    de navios no fundeadouro e quantidade de navios em viagem. Com esses resultados

    foram calculados o consumo de combustvel, considerando a proporcionalidade ao cubo

    da velocidade (Alderton, 2011) e emisses de CO2, utilizando-se o fator 3,13 (Second

    IMO Study, 2009). Para um dos seus cenrios, foram simuladas 6 etapas diferentes (A,

    B, C, D, E, F), onde foram determinados o consumo de combustvel e as emisses de

    gases poluentes de navios mineraleiros destinados ao porto de Tubaro. Nas etapas A

    e B foram simuladas a distncia de ao de 3000 milhas nuticas, com e sem aplicao

  • 23

    do controle de velocidade. J nas etapas C e D, a distncia de ao foi de 1500 milhas

    nuticas, tambm com e sem aplicao do controle de velocidades. Por fim, as etapas

    E e F simulam a distncia de 4500 milhas nuticas, seguindo o mesmo padro de com

    e sem aplicao do controle de velocidade. Na figura [7] temos os resultados

    encontrados para tais simulaes.

    Figura 7 - Resultados de simulao de chegada virtual para trs distncias de controle

    distintas encontrados no trabalho de Ucha (2013)

    Em posse destes resultados de Ucha (2013), algumas analises foram feitas

    para tentar entender a interferencia da distncia de controle no consumo de

    combustvel, emisso de gases e tempo no porto, que so os objetivos da

    implementao da chegada virtual.

    Na anlise feita anteriormente, notamos que a eficincia em cobrir maiores

    atrasos aumenta com o aumento da distncia de controle. Com os resultados obtidos

    na simulao, foi calculado a reduo do tempo mdio fundeado das embarcaes aps

  • 24

    a aplicao do sistema de controle de velocidades. Na figura [8] podemos ver o grfico

    da reduo do tempo de espera em funo das distncias de controle quando aplicado

    o controle de velocidade, utilizando-se dos resultados de Ucha (2013).

    Figura 8 - Reduo do tempo de fila em funo das distncias de controle aplicadas

    Corroborando com os resultados obtidos anteriormente, quanto maior a

    distncia de controle, maior a reduo do tempo fundeado dos navios aps a

    implementao da chegada virtual. Esse resultado esta de acordo com o esperado,

    como a eficincia em corrigir atrasos aumenta com a distncia, era natural que para

    grandes distncias tivessemos uma maior reduo no tempo em fila das embarcaes.

    Para uma distncia de 1500 milhas nuticas tivemos somente uma reduo de 13% no

    tempo medio em fila das embarcaes. Com o aumento da distncia de controla para

    3000 e 4500 milhas nuticas, j notamos uma reduo do tempo de fila em 41% e 71%

    respectivamente.

    Outro fator importante a ser analisado o consumo de combustvel, e

    consequentemente, a emisso de CO2 para cada uma das distncias de controle

    simuladas. Os resultados obtidos nesse estudo para consumo de combustvel e

    emisso de CO2 so referentes somente a navegao durante a distncia de controle,

    sendo assim, devemos comparar a economia de combustvel em toneladas para cada

    13%

    41%

    71%

    0%

    10%

    20%

    30%

    40%

    50%

    60%

    70%

    80%

    1500 3000 4500

    Red

    uo

    perc

    en

    tual

    do

    tem

    po

    de f

    ila

    Distncia de controle (MN)

    Reduo do tempo de fila para diferentes distncias de controle

  • 25

    uma das distncias de controle estudadas por Ucha. Como podemos ver na figura [9]

    abaixo, plotamos a economia total de combustvel, em toneladas, durante a viagem para

    as trs distncias de controle estudadas. Em outras palavras, a diferena de

    combustvel consumido quando no temos o controle de velocidade pelo combustvel

    consumido utilizando o controle de velocidades.

    Figura 9 - Economia de combustvel em funo das distncias de controle aplicadas

    Como podemos notar no grfico, quanto maior a distncia de controle, maior a

    economia de combustvel em uma determinada viagem, tornando o sistema mais

    eficiente. Por serem diretamente relacionados, a emisso de CO2 tambm se comporta

    da mesma maneira. Esse resultado colabora ainda mais com as outras anlises feitas

    anteriormente, onde nos diz que, o aumento da distncia de controle torna o sistema

    mais eficiente

    Apesar de na teoria quanto maior a distncia, mais eficiente o sistema de

    chegada virtual, temos algumas implicaes prticas que devemos considerar na hora

    de escolher a distncia de controle a ser aplicada em um terminal. O principal fator que

    determina um possvel limite para a distncia de controle adotada, seria o aumento das

    incertezas durante a viagem, em decorrencia de condies desfavorveis de mar e

    vento que o navio pode se submeter. Quando essa distncia muito grande, esses

    77159,98

    132763,66

    198066,85

    0

    50000

    100000

    150000

    200000

    250000

    1500 3000 4500Eco

    no

    mia

    de c

    om

    bu

    st

    vel (t

    on

    )

    Distncia de controle (MN)

    Economia de combustvel para diferentes distncias de controle

  • 26

    fatores so potencializados, se tornando mais dificil um possvel controle. As condies

    de mar afetam as velocidades dos navios na gua em relao ao fundo, como

    referncia, consideravelmente, onde podero ocasionar atrasos nas viagens. Portanto,

    uma zona de controle muito grande deve ser evitada, j que teriamos muitas incertezas

    e uma dificuldade maior de controle desse sistema.

    Infelizmente esses fatores so dificeis de mensurar para se achar uma distncia

    de controle tima. Sendo assim, recomendvel que a distncia seja a maior possvel,

    levando em considerao a dificuldade de controlar o sistema. Muitos fatores na rea

    naval so determinados de acordo com a experincia, a escolha da distncia de controle

    de um sistema de chegada virtual tambm apresenta esse comportamento. Um fator

    que pode ser analisado seria o atraso mximo em uma simulaao sem o controle de

    velocidades e determinar qual seria a distncia necessria para corrigir tal atraso, esse

    poderia ser o ponto de partida para uma possvel escolha.

    3.3. Impactos da implementao de sistemas de chegada

    virtual

    Como foi visto anteriormente, a implementao do processo de chegada virtual,

    gera beneficios econmicos e ambientais, porm, no discutimos ainda o quo relevante

    seriam esses benefcios. Precisamos ento fazer uma anlise global dos impactos

    gerados e discutir sua relevncia para a sociedade e para as partes envolvidas no

    processo.

    Primeiramente vamos determinar a economia de combustvel em termos

    percentuais para viagens reais, ou seja, quantos por cento de reduo de consumo de

    combustvel temos durante uma viagem, para isso iremos utilizar os resultados de

    Ucha como parmetro. Como foi visto na seo anterior, temos os resultados de

    economia do consumo de combustvel, em toneladas, para diferentes distncias de

    controle. Agora devemos entender o quanto essa economia representa para o consumo

    total da viagem.

    O consumo por navio considerado nos estudos de Ucha (2013), para uma

    velocidade de servio de 15 ns, de 66,09 t/dia para cada embarcao.

  • 27

    Para uma indicao da ordem de grandeza do impacto potncial da

    implementao de sistemas de chegada virtual no consumo total de um navio, foram

    estimados os efeitos de tal implementao para trs distncias que correspondam a

    rotas tpicas de mineraleiros que frequentam o terminal de Tubaro, tornando possvel,

    quantificar em termos percentuais qual ser a reduo do consumo de combustvel ao

    adotarmos esse sistema.

    As rotas selecionadas foram: Rotterdam - Tubaro, Dalian (China) - Tubaro e

    Sohar (Om) - Tubaro. Utilizando o site Ports.com, podemos determinar a distncia

    entre os portos e tambm o tempo de viagem em dias. Podemos ver nas figuras [10],

    [11] e [12], os resultados obtidos.

    Figura 10 - Distncia da rota Tubaro - Rotterdam, site Ports.com

  • 28

    Figura 11 - Distncia da rota Tubaro - Dalian, site Ports.com

    Figura 12 - Distncia da rota Tubaro - Sohar, site Ports.com

  • 29

    Com esses dados, podemos calcular o consumo total de leo combustvel para

    essas trs rotas, multiplicando o consumo dirio 66,09 t/dia (Ucha, 2013) pelo tempo

    de viagem em dias. A tabela [5] nos mostra os resultados encontrados.

    Tabela 5 - Consumo de combustvel por navio para cada uma das rotas

    Rotas Consumo de combustvel por navio

    Rotterdam - Tubaro 1143,35 ton

    Dalian - Tubaro 2537,85 ton

    Sohar - Tubaro 1665,47 ton

    A tabela [5] nos fornece o consumo de somente um navio durante as rotas

    estipuladas. Para uma anlise do impacto da implementao da chegada virtual,

    devemos transformar a economia de consumo de combustvel total estudada por Ucha

    (2013) em uma economia de consumo de combustvel por navio, ou seja, devemos

    determinar qual a economia de combustvel, ao implementar a chegada virtual, para

    cada um dos navios simulados.

    Ao dividir a economia de combustvel, para cada uma das distncias de controle,

    pelo nmero de navios em cada simulao, teremos um valor mdio da economia de

    combustvel para cada embarcao. A seguir, na tabela [6], temos os resultados.

    Tabela 6 - Economia de combustvel para as trs distncias de controle simuladas por

    Ucha (2013)

    Distncia de controle Economia de combustvel por navio

    1500 MN 197,84 ton

    3000 MN 346,64 ton

    4500 MN 503,99 ton

    No grfico mostrado na figura [13], podemos ver quais foram as redues do

    consumo de combustvel, ao implementarmos a chegada virtual, para trs diferentes

  • 30

    raios de controle, levando em considerao trs rotas distintas. Vale ressaltar, que foram

    consideradas somente viagens de ida para esta anlise.

    Figura 13 - Reduo percentual do consumo de combustvel em funo das distncias

    de controle simuladas por Ucha (2013), para as trs rotas analisadas

    Os resultados mostraram que o processo de chegada virtual tem um impacto

    considervel no consumo de combustvel. Para a rota Rotterdam - Tubaro tivemos uma

    reduo de 44,1% para a maior distncia de controle, o que um valor bastante

    expressivo, j para a menor distncia a reduo foi de 17,3%. A rota que originada em

    Dalian, por ser a mais distante, possui redues percentuais menores, para a maior

    distncia de controle foi de 20% e para a menor foi de 7,8%. Por fim, a rota Sohar -

    Tubaro, que possui valores intermdiarios, para a maior distncia a reduo foi de

    30,3% e para a menor distncia foi de 11,9%.

    No ponto de vista do dono da embarcao, a implementao de um sistema com

    essas caractersticas pode se tornar vantajoso, devido a atratividade gerada pela

    reduo bastante significativa do consumo de combustvel. Os resultados nos mostram

    tambm que para rotas muito longas, essa reduo tende a ser menor, o que natural,

  • 31

    pois o tempo navegando sem o controle de velocidades maior. Na questo ambiental

    teremos resultados de mesma magnitude, pois a emisso de gases poluentes

    proporcional ao consumo de combustvel, sendo assim, teriamos grandes redues,

    principalmente nas regies prximas ao porto de destino.

    Em uma perspectiva econmica, podemos analisar o potencial que esse sistema

    possui. Utilizando o preo do leo combustvel nos ultimos anos, podemos quantificar o

    valor economizado e entender a volatilidade desses valores. No grfico mostrado na

    figura [14], temos o valor do leo combustvel em dolares por tonelada, no perodo de

    fevereiro de 2017 at fevereiro de 2018.

    Figura 14 - Preo do leo combustvel em dolares por tonelada. Fonte: Bunkerworld

    (2018)

    Se pegarmos o periodo entre junho e julho de 2017, temos um preo de 680 $/t,

    que geraria uma economia para um navio de aproximadamente 135.000,00 dolares, se

    levarmos em considerao a menor distncia de controle. J em fevereiro de 2018, o

    preo do leo combustvel 925 $/t, que no melhor dos casos, levando em considerao

    a maior distncia de controle, poderia acarretar em uma economia de aproximadamente

    465.000,00 dolares. Esses valores mostram que a implementao de sistemas de

    chegada virtual possui um grande potencial de atratividade, j que os ganhos

    econmicos podem ser bastante significativos.

    Outro estudo realizado para constatar o impacto gerado pela chegada virtual foi

    realizada por H. Jia (2017), que apresentam uma anlise feita em escala global. Foram

  • 32

    estudadas 5066 viagens feitas por 483 Very Large Crude Carriers (VLCCs) entre 210

    portos de 44 pases diferentes.

    Figura 15 - Consumo de combustvel, custo e emisso de gases poluentes por viagem

    Utilizando-se de formulaes matemticas, para as 5066 viagens coletadas, foi

    calculado um consumo medio de combustvel de 1248 toneladas e um custo mdio de

    630.342,00 dolares por viagem. J a emisso de CO2 ficou com uma mdia de 3886

    toneladas por viagem. Esses dados nos mostra a situao real do consumo e emisso

    de gases no transporte martimo global, e so mostrados na figura [15].

    H. Jia (2017) propos calcular os impactos da implementao da chegada virtual

    para 4 cenrios distintos em funo da reduo do tempo de porto das embarcaes.

    No primeiro cenrio, para uma reduo do excesso do tempo no porto de 25%, a mdia

    de economia de consumo de combustvel foi de 7,26%. Para o segundo cenrio, com

    excesso de tempo no porto reduzido em 50%, o consumo mdio de combustvel caiu

    12,5%. No terceiro cenrio, reduco de 75% no tempo em excesso no porto, a reduo

    do consumo de combustvel foi de 16%. Por fim, no quarto cenrio onde todo o excesso

    de tempo no porto foi transformado em tempo de navegao, a reduo mdia de

    consumo de combustvel chegou a 19%. Esses dados so mostrados na figura [16].

  • 33

    Figura 16 - Economia percentual de combustvel por viagem em funo da reduo do

    tempo excessivo de porto

    Esses valores tambm foram representados em economia de custo de

    combustvel. Para o primeiro cenrio a economia de consumo de combustvel mdia foi

    de 77 toneladas, que siginifica uma reduo de custo de aproximadamente 39.000

    dolares. Ou seja, para toda as 5066 viagens analisadas, dos 483 navios da frota, a

    economia chega por volta de 195 milhes de dolares. J para o quarto cenrio, essa

    economia chega na casa dos 525 milhes de dolares. Na questo de emisso de gases,

    a emisso de CO2 vai de uma reduo de 240 toneladas para o cenrio (1) at uma

    reduo de 653 toneladas para o quarto cenrio. A figura [17] nos mostra esses

    resultados.

    Figura 17 - Economia de combustvel e reduo do custo por viagem em funo da

    reduo do tempo excessivo de porto

    Os resultados obtidos nesse estudo reforam os beneficios gerados ao se

    implementar um sistema de controle de velocidades no transporte martimo em escala

  • 34

    global. Apesar dos resultados no serem to expressivos como na analise feita com os

    resultados de Ucha (2013), temos valores considerveis de reduo de custo de

    viagem que podem atrair as partes envolvidas no processo de transporte martimo. A

    abordagem dessa anlise foi em funo da reduo do tempo excessivo das

    embarcaes no porto, onde o cenrio quatro, que transforma todo esse tempo de fila

    em tempo navegando, dificilmente pode ser atingido no mundo real, j que na prtica,

    cadeias logsticas no so perfeitas. Porm a implementao de um sistema dessa

    magnitude pode gerar redues elevadas no tempo excessivo de porto, e como foi

    mostrado aqui, pode gerar ganho significativos, que em escala global so bastante

    expressivos.

    Agora que sabemos como funciona o sistema de chegada virtual e os beneficios

    atrelados a sua implementao. O proximo passo fazer uma discusso de quais

    implicaes comerciais e contratuais essa implementao acarretaria na prtica. Ser

    que todas as partes estariam satisfeitas? Quais medidas devem ser tomadas para

    solucionar eventuais problemas? O que deve mudar nos contratos de afretamento

    praticados atualmente?

  • 35

    4. CHEGADA VIRTUAL EM UMA PERSPECTIVA

    CONTRATUAL E COMERCIAL

    At esse momento j foram mostrados como funciona o sistema de chegada

    virtual, quais seus requisitos de implementao, quais suas finalidades, a influncia de

    alguns parmetros na eficincia do sistema, quais seus efeitos no que tange o consumo

    de combustvel e a emisso de gases poluentes etc. Porm, quais seriam as implicaes

    contratuais que a implementao de tal sistema acarretaria?

    Para entender as consideraes contratuais e legais que devem ser feitas antes

    de implementar o sistema de chegadas virtual, temos que entender as partes envolvidas

    no transporte de carga e os diferentes tipos de contratos praticados por essas partes.

    Como foi abordado no capitulo [2], h diferente tipos de contratos de afretamento, que

    por muitas vezes so estabelecidos mais de uma vez para uma mesma embarcao.

    Por exemplo, um navio afretado a casco n para uma empresa, essa empresa afreta

    o mesmo nvio pela modalidade time charter para outra empresa, que por fim faz um

    contrato de afretamento por viagem para uma quarta parte do processo.

    Em um contrato de afretamento por time charter o fretador fica sob controle das

    instrues do afretador, que responsvel pelos custos de combustvel da embarcao.

    J em um contrato por viagem, o afretador no possui nenhum controle sobre a

    embarcao, sendo o fretador o responsvel pelos custos operacionais, como o

    combustvel. Ento devemos anlisar tais questes, para entender os beneficiados pela

    implementao da chegada virtual e como podemos solucinar contratualmente conflitos

    de interesse que possam ser gerados por tal implementao.

    4.1. Tipos de terminais porturios

    As implicaes contratuais e comerciais que surgem com o controle de

    velocidade, por meio da chegada virtual, so originadas das relaes contratuais entre

    as partes de um contrato de afretamento. O tipo de terminal porturio tem papel

    fundamental nessa relao, se levarmos em considerao os terminais de minrio de

    ferro, que temos como enfoque nesse trabalho, teremos dois tipos: terminais privados e

    terminais pblicos.

  • 36

    Terminais privados so caracterizados por serem administrados pela iniciativa

    privada, na maioria das vezes por concesso do estado. Denominados terminais de uso

    privado (TUP), essas instalaes tm como foco a movimentao de passageiros ou a

    operao ou o armazenamento de mercadorias destinadas ou provenientes de

    transporte aquavirio. O governo recentemente sancionou a Lei n 12.815, de 2013, a

    nova Lei dos Portos, que um marco regulatrio do setor, j que tornou mais facil a sua

    abertura. Durante a vigncia da Lei dos Portos anterior, n 8.630, de 1993, um terminal

    privado s recebia autorizao para operar se comprovasse que seria destinado

    movimentao de carga prpria, ou seja, somente seria possvel embarcar ou

    desembarcar mercadorias pertencentes ao seus proprietrios. Porm uma das

    mudanas regulatrias a liberdade que os TUPs possuem para operar carga prpria

    e de terceiros, dividindo na prtica em dois subgrupos: Portos privados que operam

    somente com carga propria e portos privados que operam tambm com carga de

    terceiros, como o Porto Sudeste, mostrado na figura [18] abaixo.

    Figura 18 - Porto Sudeste, Itagua - RJ, terminal de iniciativa privada que opera carga

    de terceiros

    Levando em considerao a implementao do sistema de chegada virtual,

    portos privados que operam cargas proprias, possuem menores implicaes contratuais

  • 37

    e comerciais, pois os navios so operados pelas prprias empresas que administram o

    porto. Portanto, os conflitos de interesse entre as partes se tornam menos presentes

    nessa modalidade de terminal porturio, j que todos os navios so operados por uma

    s empresa, fato esse, tambm torna mais fcil o controle de velocidade das

    embarcaes. Quando mudamos de modalidade e acrescentamos a operao de carga

    para terceiros em um terminal porturio privado, acrescentamos tambm outras partes

    no processo. Aumentamos ento a possibilidade de aparecimetno de conflitos

    contratuais e de interesse, por exemplo, a ordem de atendimento, mesmo que um navio

    chegue na prtica antes do outro, problemas de estadia e sobrestadia tambm se

    tornam mais presentes.

    Outro tipo de porto existente o pblico, mostrado na figura [19], que ao contrrio

    de um porto privado, administrado pelo estado e recebe cargas de qualquer

    procedncia de acordo com a demanda do transporte martimo. Com isso, o sistema

    tem muitas partes envolvidas, acarretando um aumento de implicaes contratuais, j

    que teremos um maior nmero de contratos de afretamento, cargas de diferentes

    empresas competindo pelo bero e um aumento na ocorrncia de contratos que

    envolvem laytime e demurrage. Por vezes, um determinado porto pblico opera somente

    com navios controlados por um nico operador, por exemplo a Petrobras, acarretando

    na mesma configurao de portos privados exclusivos. Portanto, terminais que so

    controlados por diferentes agentes, e com cargas de diferentes embarcadores devem

    ser o foco de anlise para possveis problemas que a implementao da chegada virtual

    pode acarretar em uma perspectiva contratual e comercial.

    Figura 19 - Porto do Rio de Janeiro, terminal pblico administrado pela CDRJ

  • 38

    4.2. Consideraes contratuais e comerciais

    Quando se tem o objetivo de implementar um sistema de controle de velocidades

    como a chegada virtual devemos levar em considerao alguns elementos instrnsecos

    ao transporte martimo, principalemente as relaes entre as partes em um contrato de

    afretamento. Ento, contratos bem elaborados sero necessarios para que no haja

    disputas em grande escala, onde direitos e deveres devem ser bastante ajustados.

    Para que a implementao da chegada virtual seja possvel, alguns elementos

    do processo devem ser avaliados, e consequentemente, alterados para evitar conflitos

    de interesse entre as partes.

    4.2.1. Laytime, demurrage e despatch

    Uma dos principais obstaculos aparentes para a implementao de um sistema

    de controle de velocidades o clculo do laytime. Esse clculo importante pois

    determina se existiu demurrage, multa paga pelo embarcador ao armador no caso em

    que o tempo de porto excede o tempo mximo de laytime pr-estabelecido em contrato,

    tambm determina se o despatch, prmio dado ao embarcador pela prontido de

    entregar a embarcao antes do trmino do laytime, precisa ser cumprido. Portanto, h

    constantemente muito dinheiro envolvido nessas relaes contratuais, significando que

    essa uma questo de frequentes disputas entre as partes de contrato de afretamento.

    Para que a contagem do laytime possa ser iniciada pelo armador, a embarcao

    deve chegar no porto de destino acordado em contrato, estando pronto para operar e o

    armador deve emitir o aviso de prontido para o afretador. As clusulas que determinam

    se uma embarcao chegou ou no no porto devem estar explicitadas no contrato de

    afretamento. Em alguns casos quando especificado um bero, o navio s poder emitir

    o aviso de prontido quando chegar a este determinado bero. Caso o contrato somente

    explicite o nome do porto, o navio pode emitir o aviso de prontido quando adentrar as

    imdiaes do porto, estando pronto para a operao.

    O problema central dessa questo quando seria iniciado a contagem do tempo

    de laytime com a implementao do controle de velocidades. Se as partes decidirem

    por continuar a contar o tempo assim que a embarcao chega no porto, pela

    perspectiva do armador, apesar de uma economia no combustvel significativa, ele

  • 39

    perde possveis ganhos de sobrestadia, pois o laytime menor, se comparado ao

    sistema sem esse controle de velocidade. J na perspectiva do embarcador seria

    interessante, pois com o laytime menor, poderia evitar perdas com demurrage e at

    gerar possveis ganhos de despatch. Essa uma alternativa que possvelmente no

    seria aceita pelos armadores, at porque, em alguns casos, o combustvel no pago

    pelo mesmo, gerando somente perdas na questo do laytime. Portanto a melhor

    alternativa nesse caso, seria adotar o comeo da contagem do laytime a partir da

    chegada virtual do navio, ou seja, ao adentrar no raio de controle, seria calculado o

    tempo de chegada da embarcao, e seria utilizado esse tempo como o comeo do

    laytime. Se formos analisar pela perspectiva das duas partes nessa configurao,

    teremos para o armador a possvel economia de combustvel, sem alteraes no tempo

    de laytime, j que comearia no memo momento que comearia se no houvesse o

    controle de velocidades, sendo benfico tal implementao. J para o afretador, no

    teriamos mudanas, o tempo de laytime seria igual e a operao ocorreria no mesmo

    momento. Obviamente, por no ser uma chegada real, os contratos devem ser muito

    bem redigidos para evitar possveis confuses e duplas interpretaes.

    O despatch que a prontido do embarcador em devolver a embarcao antes

    do tempo previsto, tambm serve para o outro lado. Na prtica comum dos contratos de

    afretamento martimos, o armador tem a obrigao de proceder a viagem com prontido.

    Em outras palavras, o navio deve proceder a viagem sem atrasos significativos ou

    desvios, sendo uma pratica j difundida e com aplicao obrigatria, a no ser que as

    partes concordem em no exerc-la. Portanto, se um navio deliberadamente reduzir sua

    velocidade, o afretador pode alegar que o armador no est cumprindo esse termo,

    contestando que o navio no cumpriu o contrato e que eles tm o direito de deduzir o

    tempo perdido devido a reduo de velocidade sob a clusula de off-hire. Portanto,

    algumas medidas devem ser tomadas para que o armador no viole suas obrigaes

    contratuais e legais, devem ser incorporadas ao contrato de afretamento clusulas, que

    permitam ao armador redues de velocidade para se adequar ao sistema de chegada

    virtual. Para proteger os armadores de possveis reivindicaes advindas de terceiras

    partes, o afretador deve incorporar tais clusulas no bills of lading atrelado ao contrato

    de afretamento. Entretando, a incorporao de uma clusula que prev a

    implementao da chegada virtual em um bills of lading pode no ser suficiente para

    proteger os armados de reivindicaes advindas de terceiros, j que podem existir leis

    requerendo das embarcaes uma prontido, que no podem ser soprepostas por uma

  • 40

    clusula no bills of lading. Esse um dos principais receios dos armadores para

    aceitao de um sistema de chegada virtual.

    4.2.2. Perspectiva do terminal

    Os terminais portuarios so pontos fundamentais na implementao do sistema

    de chegada virtual de navios, pois o responsvel por administrar as velocidades a

    serem praticadas dentro da zona de controle pr-estabelecida. Como foi mostrado

    anteriormente, para o porto os ganhos com a implementao de tal sistema so a

    diminuio da poluio nas reas adjacentes e uma diminuio no trfego de navios nas

    imediaes do porto. Ento naturalmente, para os portos benfica a implementao

    da chegada virtual e possvelmente os terminais portuarios queiram adot-la em seus

    processos. Contudo, o porto deverar implementar tal sistema utilizando ferramentas

    claras e objetivas, para evitar possveis complicaes junto s outras partes do

    processo.

    As relaes com todas as partes nesse processo devem ser bastante

    transparentes e amarradas muito bem contratualmente. Um dos principais problemas

    que podem surgir a questo da ordem de atendimento das embarcaes. Ao adentrar

    na zona de controle seriam calculadas as chegadas virtuais das embarcaes e

    posteriormente dada a ordem de reduo de velocidades. Porm, pode haver

    armadores que no queiram reduzir a velocidade e cheguem no destino antes das

    outras embarcaes que acataram as instrues dadas pelo porto. Mesmo que essas

    embarcaes cheguem antes, a ordem de atendimento ser de acordo com a chegada

    virtual dos navios. Este fato poderia gerar problemas de reinvidicao por parte de

    alguns desses armadores que no reduziram suas velocidades, imaginando que por

    terem chegado antes devem ser atendidos primeiramente. Ento fica clara a

    necessidade de o porto implementar um sistema que seja transparente e que todas as

    partes tenham acesso, com tudo muito bem amarrado contratualmente.

    4.3. Proposio de um sistema de chegada virtual

    Levando em considerao os possveis problemas comerciais e contratuais que

    a implementao de sistemas de chegada virtual pode gerar, se faz necessria a

  • 41

    proposio de um sistema que visa evitar possveis implicaes para todas as partes

    envolvidas. Como mencionado anteriormente, o sistema deve ser transparente e deve

    buscar previnir qualquer tipo de desvantagem ou vantagem para alguma das partes.

    4.3.1. Contrato de afretamento

    Um contrato de afretamento bem feito pea fundamental para evitar possveis

    disputas entre as partes relacionadas ao transporte de determinada carga. Portanto,

    para que um sistema de controle de velocidades funcione, todos os elementos inerentes

    para o funcionamento do mesmo, devem ser muito bem explicitados no contrato de

    afretamento. de suma importante que fique claro os direitos e deveres atribuidos as

    partes, quais aes devem ser tomadas, quando ser permitido o aviso de prontido, e

    consequentemente, o comeo da contagem do laytime, e todas as caractersticas

    inerentes ao processo. Todas as informaes adicionadas nos contratos de afretamento

    sero feitas atravs de clusulas especificas para a implementao da chegada virtual.

    A incluso da clusula de chegada virtual no bills of lading, para proteger os armadores

    de eventuais reinvidicaes de terceiros, tambm deve ser realizada.

    4.3.2. Funcionamento do sistema

    Um sistema de chegada virtual de navios consiste em controlar as velocidades

    das embarcaes quando um atraso no porto conhecido. Isso j foi amplamente

    discutido nesse trabalho, mas como deve funcionar esse sistema para que possamos

    sanar eventuais problemas contratuais que possam surgir?

    O sistema de chegada virtual de navios consiste basicamente em quando um

    navio atingir uma certa distncia, pr-estabelecida, do porto, o terminal calcula quando

    o navio ir chegar. Se um atraso conhecido, o porto calcula o tempo que essa

    embarcao ficaria esperando na fila e fornece instrues para que o navio reduza a

    velocidade, levando em considerao a velocidade minima que o navio pode praticar.

    Um fator que pode gerar controversias como devemos calcular o ETA (Tempo

    estimado de chegada) das embarcaes. Na teoria, o comandante da embarcao deve

    informar suas condies de navegao, incluindo velocidade praticada, e em posse

    dessas informaes, o porto deve calcular o tempo de chegada dessa embarcao.

    Porm, um sistema funcionando dessa forma abre precedentes para possveis conflitos,

  • 42

    onde um navio pode questionar a clculo do ETA para si ou para outrem, como tambm

    possveis fraudes, pois os navios podem fornecer informaes que no so verdadeiras.

    Por exemplo, temos uma situao em que o mercado de afretamento est aquecido, o

    armador calcula uma velocidade tima para a embarcao realizar uma determinada

    viagem. Durante a viagem foi verificado um problema no motor, que fez com que a

    embarcaes perdesse potncia, acarretando na reduo da velocidade. Ao entrar no

    sistema de controle de velocidades, o armador informa sua velocidade de acordo com

    a praticada antes do problema acontecer, pois ele quer ser atendido o mais rapido

    possvel para poder sanar os problemas que o motor apresentou, constituindo assim,

    uma fraude. Portanto, o sistema deve ser elaborado para que fraudes como estas no

    possam ocorrer, utilizando procedimentos padronizados e transparentes.

    Nos dias atuais as ferramentas de vessel tracking esto bastante difundidas e

    acessveis a todos. Essas ferramentas so capazes de monitorar qualquer navio pelo

    mundo utilizando-se de satlites, mostrando assim, o trafego martimo global e fornece

    as atualizaes de posio da frota mundial de navios mercantes, mesmo quando esto

    em areas profundas e remotas. Armadores e operadores usam o servio para monitorar

    suas frotas ou at mesmo da concorrncia, melhorando seus entendimentos de

    mercado e aumentando suas eficincias. J afretadores e profissionais de logstica

    adquirem uma melhor viso do tempo de chegada esperado e melhoram suas

    eficincias operacionais. Logo, uma ferramenta j utilizanda pelas partes presentes

    no processo de chegada virtual, e sua utilizao deixa o processo transparente, visto

    que, todos tero acesso.

  • 43

    Figura 20 - Mapa de controle via satlite de embarcaes (Marine Traffic)

    Utilizando-se ento dessa ferramenta de rastreabilidade dos navios via satlite,

    as informaes fornecidas pelos operadores das embarcaes podem ser verificadas,

    evitando assim, possveis fraudes. Um exemplo dessas ferramentas o MarineTraffic,

    cujo mapa de controle pode ser visto na figura [20]. Esta ferramenta fornece todas as

    informaes de viagem de toda frota mundial, como distncia j percorrida, distncia do

    porto, velocidade mxima e mdia, tempo restante de viagem e o tempo estimado de

    chegada, como mostrado na figura [21]. Entretando, o ETA calculado em funo da

    velocidade praticada pela embarcao no momento, o que torna impreciso o resultado.

    Embarcaes perto de adentrar na distncia de controle, poderiam aumentar a

    velocidade para que o tempo de chegada calculado fosse menor, mesmo que no

    pretendessem praticar essa velocidade pelo resto da viagem. Ento chegamos em outro

    problema, como determinar a velocidade que ser utilizada para calcular o tempo

    estimado de chegada, pois a velocidade no momento que a embarcao entra na zona

    de controle pode ser facilmente alterada.

  • 44

    Figura 21 - Informaes fornecidas pela ferramenta MarineTraffic

    Ento ser proposto um mtodo que vai diminuir esse tipo de manipulao dos

    resultados. O sistema vai adotar duas distncias de controle distintas, onde a primeira

    se mantm igual ao sistema j conhecido, ou seja, seria a distncia onde seria aplicado

    o controle de velocidade das embarcaes. J a segunda distncia seria utilizada para

    o clculo do tempo estimado de chegada (ETA). A velocidade utilizada para calcular o

    ETA da chegada virtual ser a velocidade mdia da embarcao durante as duas

    distncias de controle. Em outras palavras, antes de atingir a zona de controle de

    velocidade, a embarcao ser monitorada durante uma distncia pr-determinada,

    sendo utilizado a sua velocidade mdia nesse trecho como velocidade para clculo do

    tempo estimado de chegada. A seguir um exemplo prtico para melhor entendimento,

    onde a figura [22] ilustra as distncias de controle utilizadas.

    Distncia de controle inicial = 3000 MN

    Distncia de controle de velocidade = 1500 MN

    Tempo ao atingir distncia de controle inicial = 14/02 s 23:15h

    Tempo ao atingir distncia de controle de velocidade = 19/02 s 14:30h

  • 45

    Velocidade mdia no trecho de controle = 3000 1500

    111,25 = 13,4831 ns

    Tempo restante de viagem = 1500

    13,4831 = 111,25 horas

    ETA = 24/02 s 5:45h

    Figura 22 - Ilustrao das distncias de controle propostas

    O tempo estimado de chegada sendo calculado dessa maneira evitaria possveis

    manipulaes, sendo bem transparente e aberto para verificao de todas as partes. No

    exemplo apresentado foi utilizada uma distncia de controle inicial duas vezes maior do

    que a distncia de controle de velocidade, o que facilitou os clculos, pois o tempo

    restante de viagem da embarcao, ao atingir a zona de controle de velocidades, ser

    igual ao tempo que demorou para a embarcao percorrer a rota entre as distncias de

  • 46

    controle. Ou seja, da hora que o navio est a 3000 MN do porto at a hora que o navio

    est a 1500 MN do porto, passaram se 111,25 horas, que ser tambm o tempo

    necessario para o navio percorrer as 1500 MN restantes.

    No capitulo [3] deste trabalho, foi discutida a influncia da distncia de controle

    na eficincia do sistema, onde foi mencionado que a distncia de controle no deve ser

    muito elevada devido