afretamento de navios grande porte no transporte de ... · pdf file3 desde a década de...

Download Afretamento de Navios Grande Porte no Transporte de ... · PDF file3 desde a década de 30. Refletindo esse indicador, o comércio marítimo mundial também apresentou retração de

If you can't read please download the document

Upload: nguyenhanh

Post on 06-Feb-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 1

    Afretamento de Navios Grande Porte no Transporte de Minrio de Ferro: Estudo de Caso da Vale S/A

    Autoria: Fellipe Faanha Adriano, Lo Tadeu Robles, Sergio Sampaio Cutrim Resumo O transporte martimo responsvel por 80% do transporte mundial de mercadorias. Navios graneleiros de grande porte reduziram custos logsticos na exportao de minrio de ferro, apesar da sua relativa pouca disponibilidade e restries fsicas nos portos. O artigo analisa esse mercado de transporte pela oferta de navios, formas de contratao e a correlao entre valores de frete e preos do produto. Estudo de caso da Vale compreende referncias bibliogrficas e aplicao de entrevistas semiestruturadas, constatando-se a estratgia da Vale para operar navios de grande porte num mercado complexo e voltil com variaes diretamente associadas da economia mundial.

  • 2

    1. Introduo

    O cenrio globalizado atual tem como caracterstica relaes comerciais entre regies geograficamente distantes, como Brasil e pases da sia, decorrentes da necessidade crescente de matrias primas e produtos manufaturados. O transporte martimo o maior responsvel pela transferncia dessas cargas. Segundo Magalhes (2007), esse modal responde por mais de 80% do comrcio mundial de mercadorias. No Brasil, segundo a Agncia Nacional de Transportes Aquavirios - ANTAQ, rgo regulador das atividades de transporte aquavirio e da infraestrutura porturia o transporte de mercadorias, via martima, em tonelagem, foi responsvel por 96% das exportaes. (Antaq, 2011). Do ponto de vista tecnolgico, tm se se apresentado avanos significativos, por exemplo, o aumento da eficincia dos navios tanto em velocidade como capacidade de carga, representando reduo de custos e economias de escala. Um exemplo tpico o da Vale S/A. Aps a crise financeira mundial de 2008, o principal centro consumidor do minrio de ferro, passou da Europa para a China. Para continuar com o produto vivel, a Vale buscou economias de escala com utilizao de navios maiores, obtendo a reduo do custo unitrio do frete por tonelada transportada. No entanto, essa estratgia apresenta limitaes, a saber, comparativamente, so poucos os navios de grande porte ofertados para afretamento e restries fsicas em portos, seja pela profundidade de canal de acesso e beros, como pela extenso desses beros, fazendo com que apenas alguns clientes conseguem receber navios desse porte. A empresa tem desenvolvido alternativas para superar tais obstculos, inclusive algumas j em prtica, como a utilizao de navios da classe Valemax (navios com capacidade superior a 400.000 DWTi) contam com um ponto de transhipment em Subic Bay, Filipinas, onde o produto transbordado para navios de menor porte capazes de atracar nos portos dos grandes centros consumidores. A Vale tambm se apresenta como uma das maiores contratantes de navios graneleiros de grande porte e, nesse sentido, o presente estudo tem como objetivo compreender o funcionamento desse mercado de afretamento para o transporte de minrio de ferro, focalizando o caso da empresa. Dessa forma, apresentam-se os processos de contratao de navios, caracterstica de sua oferta mundial e analisa-se a correlao entre o ndice de preos do mercado de afretamento e a evoluo do preo do minrio de ferro no mercado internacional.

    2. O transporte martimo

    O transporte martimo tem papel relevante no desenvolvimento da humanidade, pois foi pelo mar que foram feitas as primeiras trocas comerciais e, mais tarde, as grandes descobertas (Ferreira, 2010). A evoluo do transporte martimo de cargas est ligada ao desenvolvimento dos portos e o aperfeioamento dos navios, numa relao intrnseca de causas e efeitos. O comrcio mundial ocasionou a necessidade da produo e de transportes cada vez maior. Magalhes (2007) aponta o modal martimo como a espinha dorsal da globalizao, respondendo por mais de 80% do comrcio mundial de mercadorias e apresentando taxa mdia anual de crescimento estimada em 3,1% nas trs ltimas dcadas. O modal martimo tem seu comportamento associado evoluo da economia global, acompanhando as crises econmicas, como a que ocorreu em 2008. Dados da Conferncia para Desenvolvimento e Comrcio das Naes Unidas UNCTAD (sigla em ingls), a economia mundial terminou 2009 apresentando recesso de 2,1%, primeiro cenrio de queda

  • 3

    desde a dcada de 30. Refletindo esse indicador, o comrcio martimo mundial tambm apresentou retrao de 13,6%. No entanto, j em 2010, com a economia mundial em recuperao, crescendo 3,9%, o comrcio martimo responde apresentou a significativa taxa de 15,7%. (Unctad, 2010). No Brasil, segundo dados da ANTAQ, a via martima em 2011 foi responsvel por 84% em valor e 96% das exportaes, conforme ilustra a Figura 1.

    Figura 1. Participao do modal martimo no comrcio exterior brasileiro. Fonte: ANTAQ (2011).

    O ano de 2009 foi sido marcado por queda nas operaes dos portos brasileiros, cerca de - 4,6% em relao a 2008, porm em 2010, observou-se a retomada do seu crescimento, inclusive batendo recorde movimentao. Em 2011, novamente o recorde foi superado (Antaq, 2011). A Figura 2 apresenta que o granel slido , em volume, o tipo de carga mais movimentado no Brasil, com cerca de 60% de todas as cargas transportadas..

    Figura2.Brasil:Evoluonamovimentaodecargas,pornatureza. Fonte: Adaptado de ANTAQ (2011).

    2.1 Caractersticas Transporte Martimo O transporte martimo apresenta-se como a alternativa mais econmica para o transporte de grandes volumes, tais como granis slidos e lquidos, principalmente por taxas de frete relativamente menores, compensando a menor velocidade na movimentao, a qual, integrada no sistema logstico poder funcionar como uma forma de armazenagem em trnsito. (Bowersox, Cooper e Closs, 2001). No transporte internacional, aponta Ballou (2006), o transporte martimo o que melhor se apresenta, pois, com o aumento da capacidade dos navios, o transporte mais econmico garantiu o acesso a matrias primas geograficamente dispersas, colocando-as a preos competitivos em mercados cada vez mais distantes.

  • 4

    2.2 Transporte de Granis Slidos O transporte de granis slidos possui quatro peculiaridades, segundo Stopford (2009):

    - Elevado volume: Transportes de granis, para serem viabilizados, so necessrios que haja um volume suficiente para o movimento de um navio;

    - Manuseio e acondicionamento: Produtos como minrios e carvo so movimentados a granel por equipamentos automticos e especializados;

    - Valor da carga relativamente mais baixo: Para produtos de maior valor agregado mais vantajoso transport-los em lotes menores. Commodities, como o minrio de ferro, podem ser estocadas por mais tempo;

    - Regularidade do fluxo de comrcio: quanto maior a regularidade de recebimento e expedio das cargas, mais se tornam viveis sistemas de manuseio de granel.

    A maior movimentao martima de granis de minrio de ferro, seguido pelo carvo (Stopford, 2009). A Tabela 1 evidencia que a soma todas as outras cargas negociadas em mercado spot, em bolsas de mercadorias, entre os anos de 2001 e 2002, no se iguala s transaes de minrio de ferro. Observa-se tambm que sua consignao mdia a maior, atingindo quase 150.000 t por viagem, indicando o uso de navios de grande porte.

    Tabela 1: Cargas de granis slidos negociadas em mercado spot (2001 - 2002)

    Fonte: Adaptado de Stopford (2009).

    Somente seria possvel tornar o minrio de ferro brasileiro competitivo no mercado do Extremo Oriente, ao se transformar distncias fsicas em econmicas, afirmou Magalhes (2007), com a utilizao de navios especializados de grande capacidade, sem guindastes de bordo, com roteiros fixos a partir de terminais de alto desempenho nas operaes de embarque e desembarque de minrio.

    2.3 Navios graneleiros e suas classes No presente trabalho, o termo navio graneleiro ser usado para se referir aos navios para o transporte de granis slidos, visto que os granis lquidos no fazem parte do seu escopo. Os navios graneleiros so destinados ao transporte de grandes quantidades de carga homognea, a granel, como minrio de ferro, carvo, cimento, trigo, dentre outros, e se caracterizam por um longo convs principal em que o nico destaque so os pores por onde so feitas as operaes de com carga/descarga.

  • 5

    Tabela 2: Classes de navios graneleiros e suas respectivas dimenses

    Fonte: Adaptado de Magalhes (2007) e Propulsion Trends in Bulk Carriers MAN B&W (2007).

    A Tabela 2 apresenta a classificao desses navios em relao ao seu porte expresso em DWT. O termo Panamax designa os navios que tm o tamanho mximo para transitar atravs do canal do Panam, ou seja, 275 m de comprimento; 32,3 m de largura e 12 m de profundidade. A denominao Capesize se refere a navios de grande porte e que excedem as dimenses dos Canais do Panam e de Suez, utilizando-se do contorno do Cabo da Boa Esperana como rota. Os navios Very Large Bulk Carrier - VLBC so navios com DWT acima de 250.000 MT como o Bergh Stahl e o Brasil Maru. A classe Valemax se refere a navios com projeto realizado pela prpria Vale S.A., representando uma nova gerao de navios graneleiros, com capacidade de 400.000 DWT. A Figura 3 apresenta distribuio de navios por idade, mostrando a tendncia de navios cada vez maiores. Navios Smallsize com menos de cinco anos praticamente no tem representao na frota, enquanto que no mesmo perodo, os VLBC tm a maior quantidade de unidades. Salienta-se que o relatrio da MAN B&W de 2007, no considerando os 18 Valemax atualmente em operao.

    Figura 3. Idade da frota mundial de navios de granis slidos. Fonte: Man B&W - Propulsion Trends in Bulk Carriers (2012).

    O aumento dos tamanhos dos navios graneleiros se iniciou por volta de 1960 com a classe Handysize. O aumento do porte dos navios apresenta desafios e limitaes sob dois pontos de

  • 6

    vista: da engenharia naval e do sis