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ANÁLISE DA EVOLUÇÃO DA TECNOLOGIA DE APLICAÇÃO DE PRODUTOS FITOSSANITÁRIOS Alexandre de Souza (Jacto S.A.) [email protected] Wagner Luiz Lourenzani (UNESP) [email protected] Timóteo Ramos Queiroz (UNESP) [email protected] No Brasil os produtos agropecuários sempre tiveram grande impacto na formação do produto interno bruto e com destaque para o superávit da balança comercial. Historicamente, até o período da 2ª Guerra Mundial, a estrutura agrária manteve-se embasada em grandes latifúndios e também na monocultura (cana de açúcar, café) que eram encontrados nas áreas litorâneas. No período pós-guerras, com a revolução verde, houve necessidade de mais terras para o cultivo de novos produtos, como a soja, e também para a expansão das pastagens destinadas à produção pecuária. Além dessa expansão houve a busca por maior produtividade. Para isso houve a necessidade de buscar novas tecnologias resultando na criação máquinas e equipamentos que dessem suporte à esta ampliação de volume e produtividade. Este trabalho trata-se de um estudo de caso da Indústria de Máquinas Agrícolas Jacto S/A em seu desenvolvimento de pulverizadores e também de bicos, demonstrando como a inovação de máquinas evoluiu em decorrência das ampliações e alterações de demandas. Palavras-chaves: Agricultura, Tecnologia, Pulverizadores XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente. São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010.

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ANÁLISE DA EVOLUÇÃO DA

TECNOLOGIA DE APLICAÇÃO DE

PRODUTOS FITOSSANITÁRIOS

Alexandre de Souza (Jacto S.A.)

[email protected]

Wagner Luiz Lourenzani (UNESP)

[email protected]

Timóteo Ramos Queiroz (UNESP)

[email protected]

No Brasil os produtos agropecuários sempre tiveram grande impacto

na formação do produto interno bruto e com destaque para o superávit

da balança comercial. Historicamente, até o período da 2ª Guerra

Mundial, a estrutura agrária manteve-se embasada em grandes

latifúndios e também na monocultura (cana de açúcar, café) que eram

encontrados nas áreas litorâneas. No período pós-guerras, com a

revolução verde, houve necessidade de mais terras para o cultivo de

novos produtos, como a soja, e também para a expansão das pastagens

destinadas à produção pecuária. Além dessa expansão houve a busca

por maior produtividade. Para isso houve a necessidade de buscar

novas tecnologias resultando na criação máquinas e equipamentos que

dessem suporte à esta ampliação de volume e produtividade. Este

trabalho trata-se de um estudo de caso da Indústria de Máquinas

Agrícolas Jacto S/A em seu desenvolvimento de pulverizadores e

também de bicos, demonstrando como a inovação de máquinas evoluiu

em decorrência das ampliações e alterações de demandas.

Palavras-chaves: Agricultura, Tecnologia, Pulverizadores

XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente.

São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010.

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1 – Introdução

No Brasil, desde sua descoberta em 1.500 até por volta de 1960, excetuando o ciclo do ouro e

das pedras preciosas, os produtos agropecuários tem sido importantes para a economia do país

tanto para consumo interno quanto para exportação. Inicialmente, os colonizadores se

preocuparam apenas com um sistema de produção agrícola que atendesse às necessidades

básicas da colônia que eram a produção de açúcar para a exportação e o plantio de alimentos

essenciais que atendesse as necessidades da população. Neste período os produtos que se

destacaram foram: a cana-de-açúcar, o couro, o fumo, o cacau, a borracha e o café

(RODRIGUES, 2002).

A estrutura agrária brasileira, em face da opção econômica de não industrialização e da

monocultura, era muito concentrada e se manteve sem alteração até o período entre a I e a II

Guerra Mundial, apesar da queda da oligarquia açucareira e ascensão da oligarquia cafeeira

(LOPES, 2006).

A partir de 1970, com o aumento da produção de soja, houve uma revolução no campo, pois

precisou fazer abertura de novas fronteiras agrícolas que antes eram realizadas pela criação de

bois. Novas fronteiras foram conquistadas no Centro-Oeste e Nordeste (Bahia e Maranhão), o

que propiciou aumento de áreas cultivadas que no período de 1997 a 2006, houve um

acréscimo de 30%, passando de 36,5 milhões de hectares, para 47,2 milhões de hectares e a

produtividade que era de 78,4 milhões de toneladas de grãos, passou a ser em torno de 120

milhões de toneladas no mesmo período, com um ganho de 52%. Esses aumentos qualitativos

e quantitativos de produção foram realizados por meio do uso de novas tecnologias e

competente gestão nas propriedades (CONAB, 2008).

Atualmente, os produtos agropecuários representam cerca de 30% do Produto Interno Bruto

(PIB) do país, respondendo por 35% das exportações com um saldo em torno de 57 milhões

na balança comercial (CONAB, 2008). O Brasil é o maior exportador no mundo de cana-de-

açúcar, citrus (principalmente suco) e café. A partir de 2003, carne bovina e a de frango

também aparecem como líderes. (NEVES, 2005)

Todo este desempenho, de acordo com Rodrigues (2002), é fruto de um processo de

modernização, iniciado na segunda metade do século passado. Atualmente, a agricultura é

realizada com muita pesquisa e uso intensivo de tecnologias mais modernas, incluindo

satélites e informática, visando à melhoria da competitividade que estão submetidos no setor.

Pacotes tecnológicos avançados têm sido disponibilizados para o processo produtivo e para a

administração dos negócios, como também o uso de novos insumos químicos e orgânicos,

menos agressores ao meio ambiente e equipamentos eletrônicos.

Dentre os insumos químicos, existem os defensivos agrícolas, que tem por finalidade o

controle da população dos alvos biológicos que estejam causando danos ou concorrendo para

a redução da produtividade em áreas agrícolas. Mas, para que o resultado seja positivo, é

preciso o conhecimento e utilização dos parâmetros corretos de aplicação. Segundo Santos

(2002), sob o ponto de vista da tecnologia de aplicação, o bico e as pontas de pulverização são

componentes de grande influência no sucesso ou fracasso do resultado, quando se aplica

defensivos agrícolas.

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A utilização de agroquímicos é um fator importante na manutenção de altas produtividades

agrícolas. Entretanto, há grande preocupação com os efeitos da sua aplicação sobre o meio

ambiente, visto que a maioria deles caracteriza-se por ser poluidor ou contaminante

ambiental.

Neste contexto, busca-se analisar, sob a abordagem econômica e ambiental, a evolução da

tecnologia de aplicação de produtos fitossanitários no Brasil.

Portanto, o objetivo geral deste trabalho de pesquisa é caracterizar a evolução tecnológica da

aplicação de produtos fitossanitários. Para alcançar o objetivo geral, alguns objetivos

específicos foram formulados para conhecer a evolução dessa tecnologia. São estes:

a) entender como é a aplicação de produtos fitossanitários;

b) conhecer quais os fatores que influenciam no desempenho desta operação;

c) conhecer a evolução da tecnologia de aplicação de produtos.

2- Metodologia

A metodologia utilizada para a elaboração da pesquisa foi a de métodos qualitativos, com

levantamento de dados por meio de uma pesquisa bibliográfica, coleta de dados secundários

em documentos, sites, revistas, publicações, teses, jornais, livros, monografias, entre outros.

Para Teixeira e Pacheco (2005) o método qualitativo não adota instrumental estatístico como

base do processo de análise de um problema para sua generalização, não pretende numerar ou

medir unidades ou categorias homogêneas.

Para Glazier (1992) apud Dias (2000) o método qualitativo não é um conjunto de

procedimentos que depende fortemente de análise estatística para suas inferências ou de

métodos quantitativos para a coleta de dados.

Quando o pesquisador desenvolve conceitos, idéias e entendimentos a partir de padrões

encontrados nos dados, ao invés de coletar dados para comprovar teorias, hipóteses e modelos

é característica da pesquisa qualitativa indutiva (RENEKER, 1993, apud DIAS, 2000).

Segundo Rodrigues (2007), o método qualitativo é descritivo porque as informações obtidas

não podem ser quantificáveis, os dados são analisados indutivamente e têm como base, a

interpretação dos fenômenos e uma atribuição de significados.

A pesquisa foi teórica ou bibliográfica, pois buscou explicar o problema a partir de referências

teóricas publicadas em documentos sobre a evolução da tecnologia de aplicação de produtos

fitossanitários e a evolução das pontas de pulverização.

Para Ribeiro e Sousa (2006), a pesquisa bibliográfica consiste no exame da literatura

científica, para levantamento e análise do que já se produziu sobre determinado tema.

A pesquisa bibliográfica recupera o conhecimento científico acumulado sobre um problema

(RODRIGUES, 2007). A pesquisa bibliográfica tem por finalidade conhecer as diferentes

formas de contribuição científica que se realizaram sobre determinado assunto ou fenômeno

(JUNG, 2003).

Para a consecução dos objetivos propostos foi realizado um estudo de caso sobre a evolução

da tecnologia de equipamentos para aplicação de defensivos agrícolas. Este estudo de caso

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abordou a experiência do desenvolvimento de tecnologias de aplicação da Indústria de

Máquinas Agrícolas Jacto S/A, localizada no município de Pompéia/SP.

De acordo com Cervo e Bervian (2003) o estudo de caso é a pesquisa sobre um determinado

indivíduo, família, grupo ou comunidade que seja representativa do seu universo, para

examinar aspectos variados de sua vida. É um estudo exaustivo que investiga inúmeros

aspectos do objeto de estudo.

O estudo de caso é um processo específico para o desenvolvimento de uma investigação

qualitativa que procura descobrir o que a de mais essencial e característico na situação em

estudo (GONÇALVES, SÁ e CALDEIRA, 2005).

Para o desenvolvimento da pesquisa e alcance dos objetivos propostos, este trabalho foi

organizado em cinco capítulos. O primeiro deles introduz sobre a temática em discussão, bem

como a justificativa e os objetivos estabelecidos para o trabalho. A metodologia está

identificada e caracterizada no segundo capítulo. Na terceira parte do trabalho encontra-se a

fundamentação conceitual que norteou a pesquisa. No quarto capítulo foi realizada a análise

da evolução da tecnologia de aplicação de produtos fitossanitários e, por fim, no quinto

capítulo, as considerações finais sobre a pesquisa.

3.2 - Inovações no Agronegócio

A inovação caracteriza-se como um tipo de mudança que introduz novas práticas na

organização, seja na produção ou na administração.

Para Schumpeter (1985), a inovação é um conjunto de funções evolutivas que alteram os métodos

de produção, criando diversas formas de organização do trabalho e, ao se produzir mercadorias

que não existiam, possibilita a abertura de outros mercados mediante a criação de diferentes usos

e consumos.

De acordo com Freeman (1994), inovação é o processo que abrange as atividades técnicas, a

concepção, o desenvolvimento e a gestão e resulta na comercialização de novos ou

melhorados produtos, ou na primeira utilização de novos ou melhorados processos.

A demanda crescente por produtos agrícolas, a incorporação de populações marginalizadas ao

mercado consumidor e a necessidade de técnicas agrícolas que agridam menos o meio

ambiente necessitam de implementação de inovações nos segmentos que compõem a cadeia

agroindustrial. (SANTINI et al., 2006)

Para Santini et. al (2006), as inovações podem ser do tipo radical ou incremental. As do tipo

radical não causam mudanças estruturais na economia, ocorrem de forma contínua, diferindo

na velocidade em que são adotadas. São notadas na melhoria de produtos, processos,

organizações e sistemas de produção que já existem. As do tipo radical implicam em

mudanças revolucionárias, diferenciadas, mudando completamente os produtos, processos ou

sistemas existentes.

A inovação depende da dimensão do mercado, pois envolve custos muito altos para pesquisa e

desenvolvimento (P&D), e somente os mais desenvolvidos têm condições para sustentar

(NANTES, 2009).

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3.3 - Tecnologias de aplicação de produtos fitossanitários

A utilização de agroquímicos é um fator importante na manutenção de altas produtividades

agrícolas e seu desenvolvimento e a aplicação vêm aumentando rapidamente em âmbito

mundial, desde meados da década de 1940. Entretanto, devem ser considerados os efeitos da

produção, formulação, transporte, manuseio, armazenamento e aplicação dos defensivos

agrícolas sobre o meio ambiente, visto serem a maioria deles poluidores ou contaminantes

ambientais.

O emprego de agroquímicos apresenta dois pontos cruciais para o ambiente: são biocidas e

alguns muitos persistentes, podendo ser transportados para outros locais por água e vento, por

exemplo, e também acumular em cadeias alimentares.

Segundo a Associação Nacional de Defesa Vegetal (ANDEF), os produtos fitossanitários têm

a função de proteger as plantas do ataque de pragas, doenças e plantas daninhas, mas também

podem ser perigosas se forem utilizadas de forma incorreta (ANDEF, 2009).

Produtos fitossanitários, de acordo com a Lei 7.802/ 1.989, do MAPA, são os produtos e os

agentes do processo físico, químico ou biológico (...), cuja finalidade seja alterar a

composição da flora ou da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa de seres vivos

considerados nocivos. A aplicação consiste na deposição de gotas sobre um alvo desejado,

com tamanho e densidade adequada ao objetivo proposto. (ANDEF, 2009)

Para Santos (2005) existe uma diferença entre pulverização e aplicação. A pulverização “é um

processo fisico-mecânico de transformação de uma substância sólida ou liquida em partículas

ou gotas ou mais uniformes e homogêneas possíveis”, enquanto a aplicação “consiste na

deposição em quantidade e qualidade do ingrediente ativo definido, representado pelo

diâmetro e densidade (número) de gotas sobre o alvo desejado”.

Para a aplicação desses produtos, é necessário ter uma tecnologia com conhecimentos

científicos. Para MATUO (2001) apud ANDEF (2009) entende-se como Tecnologia de

Aplicação de Produtos Fitossanitários, o emprego de todos os conhecimentos científicos que

proporcionem a correta colocação do produto biologicamente ativo no alvo, em quantidade

necessária, de forma econômica, com o mínimo de contaminação de outras áreas.

Ponta de pulverização é um componente do bico de pulverização e é responsável pela

formação das gotas. Conforme a Figura 1, o bico é composto por todo o conjunto com

estruturas de fixação na barra (corpo, peneira, ponta e capa). (ANDEF, 2009)

Fonte: ANDEF (2009)

Figura 1: Componentes do bico

Existem diferentes tipos de pontas de pulverização, classificados em função da energia

utilizada para a formação das gotas, que podem ter diferentes tamanhos:

a) Gotas grandes (> 400 µm): são menos arrastadas pela deriva e apresentam menores

problemas com a evaporação no trajeto da ponta ao alvo. Por outro lado, proporcionam menor

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cobertura da superfície a ser tratada e concentração de gotas por cm², possuem baixa

capacidade de penetração na cultura e elevam a possibilidade de escorrimento do produto nas

folhas (Figura 2).

Fonte: ANDEF (2009)

Figura 2: Gotas grandes

b) Gotas médias (200-400 µm): possuem características intermediárias entre as grandes e as

pequenas. Se não houver qualquer indicação na bula do produto fitossanitário, deve-se utilizar

gotas de tamanho médio, com o objetivo de reduzir a probabilidade de erros na aplicação

(Figura 3).

Fonte: ANDEF (2009)

Figura 3: Gotas médias e pequenas

c) Gotas pequenas (<200 µm): são mais arrastadas pela deriva e apresentam grandes

problemas com evaporação durante a aplicação. Porém, proporcionam cobertura do alvo e

quantidade de gotas por cm² normalmente altas (sob condições climáticas adequadas),

possuem também alta capacidade de penetração na cultura e reduzem a possibilidade de

escorrimento do produto nas folhas (Figura 4).

Fonte: ANDEF (2009)

Figuras 4: Gotas muito pequenas

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4 - Análises da evolução tecnológica da aplicação de produtos fitossanitários

Esse tópico do trabalho trata-se de um estudo de caso, que foi realizado por meio de dados

secundários (documentos, site) para caracterizar a evolução de equipamentos tecnológicos

para aplicação de produtos fitossanitários desenvolvidos pela Indústria Máquinas Agrícolas

Jacto S/A.

4.1 – Histórico da Indústria de Maquinas Agrícolas Jacto S/A

A Indústria Máquinas Agrícolas Jacto S/A é uma empresa familiar de capital nacional situada

na cidade de Pompéia, Estado de São Paulo que teve início em 1948, com produção de uma

polvilhadeira para pulverização na lavoura. Até então, as polvilhadeiras existentes no país

eram importadas. Este equipamento tinha um formato diferenciado e se fixava nas costas do

trabalhador, inovando no mecanismo de distribuir o pó com duplo movimento: para cima e

para baixo. Naquela época, a empresa se constituía em uma oficina onde se consertava de

tudo.

Com a produção em série das povilhadeiras, em 1949, foi registrada a Indústria Máquinas

Agrícolas Jacto. Desde então, a empresa se diversificou e produz diversos tipos de

equipamentos para pulverização.

A partir de 1979, passou a produzir colhedora de café e em 2008 lançou a primeira colhedora

de laranjas no Brasil.

A escolha desta empresa para objeto de estudo deveu-se ao fato de ter em seu quadro de

funcionários, um grupo que se dedica à pesquisa e desenvolvimento (P&D) de produtos

adequados à necessidade do mercado e também de fácil acesso a informações.

4.2 – Evoluções dos equipamentos para aplicação de produtos fitossanitários

De acordo com a pesquisa realizada, a evolução dos equipamentos para aplicação de produtos

fitossanitários na Indústria Máquinas Agrícolas Jacto S/A se apresentou da seguinte forma:

Categoria 1: polvilhadeira costal

O primeiro equipamento construído pela Jacto foi o PJC em 1948. É um aplicador de

defensivos na formulação pó, visando minimizar a dificuldade de se aplicar produtos dessa

natureza, sem alto grau de contaminação ambiental, animal e humana. Foi 1ª polvilhadeira

com tecnologia nacional, baseada num modelo americano. A polvilhadeira é um equipamento

capaz de gerar gotas em função de uma determinada pressão exercida sobre a calda (Jacto,

2008).

Constitui-se de uma máquina ágil (Figura 5), com inovador formato, sistema de fixação nas

costas, bem como no próprio mecanismo de distribuição, de ciclo duplo, com maior ganho

operacional (maior rapidez na aplicação) e maior segurança ao operador.

Segundo informações pesquisadas sabe-se que as primeiras máquinas apresentaram defeitos e

tiveram que ser substituídas. Além disso, este equipamento formava uma „nuvem de veneno‟,

condição inadmissível nos dias atuais. O nome Jacto surgiu dessa imagem, pois formava um

“rastro” similar aos deixados pelos aviões à jato.

8

Fonte: Indústria Máquinas Agrícolas Jacto S/A (2009)

Figura 5: Polvilhadeira costal PJC

Categoria 2: pulverizador costal manual

A Polvilhadeira PJC após algum tempo tornou-se um equipamento que necessitava de

melhorias e em 1959 surgiu a PJH que é uma máquina que existe até hoje; depois vieram o

PJ16, X15, HD20 e o modelo SP em 2009. Está reformulação foi necessária por que houve

mudança significativa na formulação dos defensivos, migrando dos pós molháveis para as

soluções concentradas e concentrados emulsionáveis, havia necessidade de mudança da

máquina também; assim surgiu os pulverizadores costais.

O primeiro equipamento PJH era feito em latão (Figura 6), mas em 1964 houve uma

revolução no conceito de produção da Jacto, com a importação de uma sopradora de plástico

alemã, marca Kautex, em 1966, o que deu início da „era do plástico‟ na Jacto. Todos os

demais modelos desde então foram produzidos em polietileno, com melhorias significativas

de mecanismos de aplicação e ergonomia (Figura 7).

Fonte: Indústria Máquinas Agrícolas Jacto S/A (2009)

Figura 6: Pulverizador costal PJH latão

9

Fonte: Indústria Máquinas Agrícolas Jacto S/A (2009)

Figura 7: Pulverizador costal PJH polietileno

Categoria 3: pulverizador para culturas diversas, tracionados por animal e trator

Dando continuidade a evolução destes equipamentos, em 1972, com o advento da ferrugem

do café, houve a necessidade de se ampliar a capacidade de controle dessa doença. Por isso

foi produzido um pulverizador de tração animal, com motor traseiro, destinadas a obter maior

rendimento operacional para o controle da broca do café, lagarta do algodão, ferrugem do

café, que eram os principais problemas da época. Este lançamento possibilitou um grande

ganho operacional, se comparado ao trabalho somente humano. Para a operação da maquina

tracionada por animal, era necessário um animal dócil para o trabalho no campo, problema

superado rapidamente.

Categoria 4: pulverizador para culturas arbóreas de grande alcance e qualidade de

aplicação

Considerando os avanços dos equipamentos, foram projetados pulverizadores destinados à

pulverização de culturas de grande porte em grandes áreas, que na época estavam em

expansão.

Com o advento destes equipamentos, houve maiores ganhos relacionados ao rendimento

operacional, pois a ocorrência de pragas e doenças nas grandes áreas exige rapidez e

eficiência de controle. Foram disponibilizados comandos de pulverização com alavancas e a

cabo (para maior praticidade e acionamento do trator), tanques em fibra (que possibilitava

reforma dos tanques na propriedade mesmo, caso tivessem alguma avaria), sensor de plantas

(com a pulverização se dando somente onde existia a planta);

Novas tecnologias sempre causam certo impacto, mas essas foram bem assimiladas pelos

produtores. Os tanques de fibra, apesar de possibilitarem a fabricação de máquinas mais

compactas e a facilidade de reforma, apresentavam dificuldade de limpeza interna, devido a

ranhuras. Foram disponibilizados também os tanques plásticos para esses modelos (Figura 8).

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Fonte: Indústria Máquinas Agrícolas Jacto S/A (2009)

Figura 8: Pulverizador para culturas arbórea de grande alcance

Categoria 5: pulverizador para culturas perenes de grande alcance, qualidade de

aplicação e maior autonomia

Atendendo à necessidade de grandes produtores rurais, a empresa produziu os equipamentos

que garantem maior autonomia nas pulverizações. São equipamentos que possuem tanques

plásticos de 4000 litros, sensores de plantas, comando a cabo e alto rendimento operacional

(Figura 9). Porém, foram registrados problemas referentes à resistência dos tanques e

adequação a algumas áreas de espaçamento muito estreito ou sem condução com podas.

Fonte: Indústria Máquinas Agrícolas Jacto S/A (2009)

Figura9: Pulverizador para culturas perenes de grande porte

Categoria 6: pulverizador para culturas perenes, com aplicação bilateral e tecnologia

‘multisprayer’.

Melhorando cada vez mais a tecnologia, foi desenvolvido um novo sistema composto por

módulo-ventiladores independentes, que garantem uma aplicação convergente, com menor

volume de calda, maior velocidade de aplicação e melhor deposição em todas as partes da

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planta (independente do estágio de desenvolvimento e grau de enfolhamento da cultura).

Existem duas configurações no equipamento, com 6 e 8 ventiladores (Figura 10).

Este sistema multisprayer pode ser considerado, na sua totalidade, um grande avanço para o

segmento de culturas perenes, mas é importante ressaltar o ineditismo do uso do controlador

eletro-eletrônico nesse segmento de produtos.

Toda mudança de conceito gera certo desconforto e a busca nesse momento é pela aceitação

da tecnologia através de amplo trabalho de campo e apresentação dos ganhos proporcionais à

tecnologia existente. Trabalhos preliminares mostram consideráveis ganhos de rendimento

operacional e agronômico, com excelente sanidade e qualidade dos frutos.

Fonte: Indústria Máquinas Agrícolas Jacto S/A (2009)

Figura 10: Pulverizador Multisprayer 8 ventiladores

4.3 – Caracterização e classificação das inovações nos equipamentos para aplicação de

produtos fitossanitários

Para proporcionar uma síntese e melhor caracterização das inovações nos equipamentos de

produtos fitossanitários foi confeccionado o Quadro 1. A intenção foi evidenciar

historicamente as evoluções, prováveis motivadores e conseqüências.

Categoria

(Ano)

Perfil da

inovação Principais inovações

Motivadores da

inovação Impactos trazidos

1) polvilhadeira costal

(1948) Incremental

Melhor ergonomia,

praticidade e economia.

Redução da

contaminação dos

operadores

Maior mobilidade do

operador e maior

rendimento

2) pulverizador costal

manual

(1959 e 1966)

Radical Confecção em polietileno

(“era do plástico”)

Defensivos líquidos

ou emulsionáveis

Aplicação de defensivos

líquidos e o polietileno

entra no processo

produtivo

3) pulverizador,

tracionados por

animal e trator (1972)

Radical

Tração animal, ou moto-

mecanizado, aumento

maciço de volume

Ampliação de volume

de produção e área

Grande aumento de

rendimento e volume de

pulverização

4) pulverizador para

culturas arbóreas de

grande alcance

Incremental Pulverização em maiores

alturas e alcance

Aplicação em culturas

arbóreas

Alcance dos jatos e

ampliação de volume de

defensivos

12

(década de 1980)

5) pulverizador para

culturas perenes de

grande alcance

(década de 1990)

Incremental Sensores de plantas e cabos

de comandos

Demandas das

culturas perenes

Maior alcance dos jatos e

uso em culturas de grande

adensamento

6) pulverizador para

culturas perenes, com

aplicação bilateral e

tecnologia

„multisprayer‟

(anos 2000)

Radical Aplicação bilateral e a

tecnologia „multisprayer‟

Necessidade de maior

rendimento e

economia de

defensivos

Aplicação bilateral com

direcionamento mais

eficiente de jatos

Fonte: Elaborado pelos autores.

Quadro 1 – Caracterização e classificação das inovações nos equipamentos para aplicação de produtos

fitossanitários da Indústria Máquinas Agrícolas Jacto S/A

4 – Considerações Finais

Apesar de ser muito importante no sistema atual de produção agrícola, a aplicação de

fitossanitários tem sido uma preocupação crescente dos diversos estamentos da sociedade, por

causa de riscos potenciais ao meio ambiente e ao homem.

Têm sido constantes as exigências para que o produtor rural utilize de forma correta e

criteriosa os fitossanitários. Para que isso ocorra, é preciso que o produtor esteja bem

informado sobre tecnologia de aplicação, pois, muitas vezes, estes são eficazes, porém não

são eficientes, porque não foi utilizado a melhor técnica ou equipamento.

Tem-se, como resultados concretos de inovação nas últimas décadas, a significativa redução

de doses no uso dos produtos fitossanitários, tais como fungicidas, herbicidas e inseticidas.

Quanto à toxidade, os avanços da pesquisa também são expressivos. Tais avanços são mais

positivos quando o uso destes produtos se alia ao Programa de Manejo Integrado de Pragas e

Doenças, bem como de outras técnicas, tais como a agricultura de precisão e o plantio direto.

Verificou-se, nesta pesquisa, que são vários os tipos de pulverizadores hidráulicos existentes.

Estes vão desde os mais simples, utilizados em pequenas áreas, até os mais sofisticados, com

os pulverizadores de barra autopropelidos. Nesses equipamentos, os bicos de pulverização

representam um componente fundamental, pois influenciam diretamente na segurança e

qualidade da aplicação. A manutenção, conservação, controle de tamanho, deriva e deposição

das gotas geradas pelos bicos são fatores essenciais para se obter sucesso na aplicação e

causar danos mínimos ao ambiente e ao homem, na aplicação de qualquer defensivo agrícola.

Sugerem-se critérios que possam condicionar o desenvolvimento tecnológico de máquinas e

equipamentos utilizados na aplicação de produtos fitossanitários:

- Equipamentos que ofereçam maior eficiência contra os principais alvos que afetam a saúde,

sanidade e a produtividade das lavouras;

-Tecnologias que possibilitem a utilização de produtos em doses tão baixas quanto possível,

com reduzida ou nenhuma toxidade, de modo a reduzir os riscos de exposição para o homem

e para os animais silvestres e domésticos;

-Tecnologia que colabore com o baixo impacto ambiental; e,

- Máquinas e equipamentos com custos cada vez mais reduzidos ao produtor.

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