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FACULDADE DE ECONOMIA E FINANÇAS IBMEC PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO E ECONOMIA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM ADMINISTRAÇÃO DESTINAÇÃO DE SUPERÁVIT EM FUNDOS DE PENSÃO NO BRASIL UMA ANÁLISE DAS MEDIDAS GOVERNAMENTAIS PARA MITIGAÇÃO DO RISCO DE INSOLVÊNCIA HELANO SILVA EUGÊNIO DE SOUZA ORIENTADOR: PROF. DR. RAIMUNDO NONATO SOUSA SILVA Rio de Janeiro, 25 de junho de 2009

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FACULDADE DE ECONOMIA E FINANÇAS IBMEC PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM

ADMINISTRAÇÃO E ECONOMIA

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DESTINAÇÃO DE SUPERÁVIT EM FUNDOS DE PENSÃO NO BRASIL

UMA ANÁLISE DAS MEDIDAS GOVERNAMENTAIS PARA MITIGAÇÃO DO RISCO DE INSOLVÊNCIA

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Rio de Janeiro, 25 de junho de 2009

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II

“DESTINAÇÃO DE SUPERÁVIT EM FUNDOS DE PENSÃO NO BRA SIL. UMA ANÁLISE DAS MEDIDAS GOVERNAMENTAIS PARA MITIGAÇÃO D O RISCO DE

INSOLVÊNCIA”

HELANO SILVA EUGENIO DE SOUZA

Dissertação apresentada ao curso de Mestrado Profissionalizante em Administração como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em Administração. Área de Concentração: Administração Financeira

ORIENTADOR: PROF. DR. RAIMUNDO NONATO SOUSA SILVA

Rio de Janeiro, 25 de junho de 2009.

III

“DESTINAÇÃO DE SUPERÁVIT EM FUNDOS DE PENSÃO NO BRA SIL. UMA

ANÁLISE DAS MEDIDAS GOVERNAMENTAIS PARA MITIGAÇÃO D O RISCO

DE INSOLVÊNCIA”

HELANO SILVA EUGENIO DE SOUZA

Dissertação apresentada ao curso de Mestrado Profissionalizante em Administração como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em Administração. Área de Concentração: Administração Financeira

Avaliação:

BANCA EXAMINADORA:

_____________________________________________________

Professor Dr. RAIMUNDO NONATO SOUSA SILVA (Orientador) Instituição: Ibmec/RJ _____________________________________________________

Professora Drª. SILVIA DUARTE Instituição: Ibmec/RJ _____________________________________________________

Professor Dr. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES Instituição: UFF

Rio de Janeiro, 25 de junho de 2009.

IV

FICHA CATALOGRÁFICA

658.15 S726d

Souza, Helano Silva Eugenio de. Destinação de superávit em fundos de pensão no Brasil. Uma análise das medidas governamentais para mitigação do risco de insolvência / Helano Silva Eugenio de Souza - Rio de Janeiro: Faculdades Ibmec, 2009. Dissertação de Mestrado Profissionalizante apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração das Faculdades Ibmec, como requisito parcial necessário para a obtenção do título de Mestre em Administração. Área de concentração: Administração financeira. 1. Previdência Complementar – Fundos de Pensão. 2. Equilíbrio - Superávit. 3. Teoria dos Stakeholders. 4. Teoria da Regulação em previdência complementar.

V

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho especialmente ao meu pai, Hélcio, que hoje desfruta do melhor de Deus - sua presença, pelas tantas e tantas provas de grandeza e de amor por mim em toda sua vida. Minha fé e alegria perdurarão frente às tribulações, como me ensinou. A ti, pai, minha prece silenciosa (como de seu costume) e meu eterno carinho. À minha mãe, Mirian, pelos sinais de fortaleza, luta, fé e carinho que sempre me encantaram. À minha esposa, Alessandra, que, com amor, firmeza, resignação e compreensão, pôde, em meio à tribulação, ser o refúgio que eu precisava. Te amo. Ao meu filho, Gabriel, que, mesmo sem compreender plenamente minhas ausências neste lapso de tempo, permaneceu me amando e aguardando, dentre outros tantos, meus ensinamentos musicais. Aos meus irmãos, Hélcio Filho, Cristiano e Neto, que, junto comigo, vivenciaram da vida todo espectro que ela pode mostrar - da dor à alegria – sempre unidos.

“Na vida, quando nos faltam palavras para formar o discurso estruturado, resta-nos evocar, com simplicidade e fé, a crença em nossos valores mais fortes e preciosos.”

VI

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, motivo maior de tudo o que tenho e sou.

Ao professor Raimundo Nonato, por ter aceito a orientação deste projeto e contribuído

fortemente para sua conclusão com sua experiência e valorosos direcionamentos.

Aos professores Antonio Carlos Magalhães e Sílvia Duarte, membros da banca examinadora,

que com suas sugestões, conferiram mais solidez a este estudo.

À Petrobras, por ter investido em minha formação e disponibilizado condições necessárias à

conclusão deste Programa de Mestrado.

À minha esposa, Alessandra, e meu filho, Gabriel, pelo amor desmedido, resignação

impensável e imensa compreensão frente às minhas ausências e tensões nesses tempos

difíceis.

Ao meu pai que, mesmo apenas em minha memória, continua a me formar e incentivar. Ainda

o ouço em meus pensamentos dizendo, como de costume: “Você é forte!”.

VII

À minha mãe, Mirian, pelo amor incondicional e pelas incansáveis orações.

Ao amigo e atuário Robson Aguiar, por sua inestimável ajuda nas formulações matemáticas e

nos comentários construtivos.

À amiga Rebeca de Castro, pela revisão cuidadosa e sugestões excepcionais, como de

costume.

À amiga Layla Borghi, pelo amparo com sua amizade, incentivo e sugestões.

Aos amigos Odilanei Morais, pelas dicas e Claudio Rodrigues e William Borges pelas trocas

e motivações.

Ao pessoal do IBMEC: Rita de Cássia (Coordenação), Wagner (Biblioteca), Fabiano

(Biblioteca), Nelson (Biblioteca) e Denise (Secretaria de professores) pela gentileza, atenção e

profissionalismo.

Ao Edifício Algarve, pela cessão do salão de festas por meses a fio; este foi meu refúgio para

redigir.

À música, que sempre me mostrou a certeza de um mar sereno quando, em meio às minhas

tempestades interiores, me apegava aos seus alentos.

VIII

RESUMO

Nos últimos cinco anos anteriores à crise mundial iniciada em 2008, os fundos de pensão

brasileiros contabilizaram excelentes ganhos a ponto de, ao invés de discutirem o tratamento

de déficits, como era normal para muitos deles nas últimas três décadas, passou-se a averiguar

as possibilidades e metodologias de destinação de superávits.

No entanto, com os efeitos da crise e em alinhamento a um ciclo de melhorias no sistema de

previdência complementar, especialmente na elevação dos controles e dos níveis de

governança, o governo lançou a Resolução CGPC n° 26/08 que apresenta regras de apuração

de resultado e tratamento dos superávits nas entidades.

O presente trabalho, portanto, explora a mecânica regulatória governamental, apresentando as

medidas prévias à destinação de superávit contidas na Resolução CGPC nº 26/08 e analisa

seus principais efeitos para o resultado de uma EFPC, verificando suas vantagens em prol da

proteção do investimento previdenciário dos participantes.

Além da apresentação dos principais pontos abordados pela supracitada norma, com a

finalidade de verificar o nível de eficácia das medidas conservadoras adotadas, realizou-se,

para um plano fictício, um teste de sensibilidade a variações das premissas de taxa de juros

atuarial e tábua de mortalidade - dois dos principais fatores de ajustes técnicos prévios à

permissão de destinação de excedentes. Os resultados mostraram que os as medidas de ajustes

impostas pela norma apresentaram-se como significativas.

Palavras Chave: 1. Previdência Complementar – Fundos de Pensão. 2. Equilíbrio - Superávit. 3. Teoria dos Stakeholders. 4. Teoria da Regulação em previdência complementar.

IX

ABSTRACT

Within the last five years prior to the 2008 world crisis, Brazilian pension funds have reached

such excellent outcomes that possibilities, as well as methodologies, of handling the surpluses

began to be ascertained, instead of discussing how to deal with shortages, as usual.

Nevertheles, in the uproar of the before mentioned crisis, lined up with a cycle of

improvements in the system due to an increase in the levels of control and governance,

Government discloses CGPC n. 26/08 Resolution, which broaches the rules of outcome

definition and management of shortages and surpluses in the entities.

Thus, this study investigates the dynamics of Governmental regulation, introducing the

measures previous to the destination of surplus encompassed in Resolution CGPC n. 26/08

and analyses its main effects to an EFPC result, verifying its advantages in favor of protecting

participants´ pension funding .

This study brings about the main issues encompassed in the above mentioned regulation, in

addition to that, aiming to gauge the efficacy degree of the conservative measures adopted, a

sensitivity test of a fictional plan was carried out. This test considered the variations in the

premises of actuarial interest rates and the valids mortality table – the two of which are to be

considered key factors in the technical-actuarial adjustments prior to the permission to allot

assets. Outcomes indicated that adjustments related to the regulation turned out to be relevant.

Keywords: 1) Complementary Pension –Pension Funds. 2) Balance – Surplus. 3)

Stakeholders Theory. 4) Complementary Pension Ordinance Theory.

X

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Diagrama de Stakeholders-chave de fundos de pensão ..........................................19

Figura 2 – Diagrama de dimensões que afetam fundos de pensão...........................................37

Figura 3 – Períodos da vida do participante para o plano de benefícios ..................................44

Figura 4 – O superávit atuarial em nível de reserva de contingência.......................................58

Figura 5 – O superávit atuarial em nível de reserva para ajuste de plano ................................59

Figura 6 – O déficit atuarial......................................................................................................60

Figura 7– Relação entre taxa de juros e custo do plano / reserva matemática .........................87

Figura 8 – Relação entre longevidade (tábuas de mortalidade) e custo do plano / reserva

matemática................................................................................................................................90

XI

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Dados dos Três Maiores Fundos de Pensão Brasileiros .........................................13

Tabela 2 – Modelo de balanço patrimonial de fundo de pensão ..............................................51

Tabela 3 – Modelo de demonstração de resultado de fundo de pensão ...................................52

Tabela 4 – Plano de Contas de EFPC (Reservas e Fundos) ....................................................54

Tabela 5 – Distribuição de taxas de juros atuariais utilizadas em planos BD no Brasil .........88

Tabela 6 – Amostragem de tábuas de mortalidade no Brasil ..................................................93

Tabela 7 – Esperança completa de vida ao nascer de tábuas de mortalidade...........................94

Tabela 8 – Sensibilidade da Provisão Matemática à premissa de Taxa de Juros Atuarial .....102

Tabela 9 – Sensibilidade da Provisão Matemática à premissa de Tábua de Mortalidade de

Válidos ...................................................................................................................................103

Tabela 10 – Sensibilidade da Provisão Matemática às premissas de Taxa de Juros Atuarial e

Tábua de Mortalidade de Válidos .........................................................................................105

Tabela 11 – Níveis de Patrimônio Antes e Depois da Aplicação da Norma – Estabelecimento

de Patrimônio de Corte ..........................................................................................................107

Tabela 12 – Premissas atuariais 2008 (Taxa de Juros Atuarial e Tábua de Mortalidade de

Válidos) de planos BD dos três maiores fundos de pensão brasileiros .................................113

XII

LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 – Ativos EFPC x PIB (%) ........................................................................................11

Gráfico 2 – Composição dos Ativos de EFPC .........................................................................12

Gráfico 3 – Sensibilidade da Provisão Matemática à premissa de Taxa de Juros Atuarial ...101

Gráfico 4 – Sensibilidade da Provisão Matemática à premissa de Tábua de Mortalidade de

Válidos ...................................................................................................................................103

Gráfico 5 – Sensibilidade da Provisão Matemática às premissas de Taxa de Juros Atuarial e

Tábua de Mortalidade de Válidos ..........................................................................................104

Gráfico 6 – Níveis de Patrimônio Antes e Depois da Aplicação da Norma – Estabelecimento

de Patrimônio de Corte ..........................................................................................................110

Gráfico 7 – Grau de Cobertura das Reservas Matemáticas dos Três Maiores Fundos de Pensão

Brasileiros ..............................................................................................................................112

XIII

LISTA DE ABREVIATURAS

ABRAPP Associação Brasileira das Entidades de Previdência Complementar

ALM Asset and Liability Management

APIMEC Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais

BD Benefício Definido

CD Contribuição Definida

CGPC Conselho de Gestão da Previdência Complementar

CPC Conselho da Previdência Complementar

CV Contribuição Variável

CLT Consolidação das Leis do Trabalho

CMN Conselho Monetário Nacional

CNPB Cadastro Nacional de Planos de Benefícios

EAPC Entidade Aberta de Previdência Complementar

EFPC Entidade Fechada de Previdência Complementar

IAS Internacional Accounting Standard

IBGC Instituto Brasileiro de Governança Corporativa

INSS Instituto Nacional do Seguro Social

MPAS Ministério da Previdência e Assistência Social

MPS Ministério da Previdência Social

OECD Organisation for Economic Co-operation and Development

PREVIC Superintendência Nacional de Previdência Complementar

RGPS Regime Geral de Previdência Social

SPC Secretaria de Previdência Complementar

XIV

SUMÁRIO

Lista de figuras ...................................................... ...................................................................................X Lista de tabelas ...................................................... .................................................................................. XI Lista de gráficos .................................................... .................................................................................XII Lista de abreviaturas.............................................. ................................................................................XIII 1. INTRODUÇÃO ............................................... .................................................................................... 1 1.1. APRESENTAÇÃO........................................... .................................................................................... 1 1.2. FORMULAÇÃO DO PROBLEMA................. .................................................................................... 6 1.3. OBJETIVOS.................................................... .................................................................................... 9 1.3.1. OBJETIVO GERAL.................................... .................................................................................... 9 1.3.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS ...................... .................................................................................... 9 1.4. RELEVÂNCIA................................................. .................................................................................. 10 1.5. ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO................. .................................................................................. 14 2. REFERENCIAL TEÓRICO .......................... .................................................................................. 16 2.1. A TEORIA DOS STAKEHOLDERS................ .................................................................................. 16 2.1.1. DEFINIÇÃO DOS STAKEHOLDERS-CHAVE CONSIDERADOS NO ESTUDO..................... 18 2.2. A TEORIA DA REGULAÇÃO........................ .................................................................................. 23 2.3. A RELAÇÃO ENTRE O INTERESSE DOS STAKEHOLDERS E A AÇÃO REGULATÓRIA

GOVERNAMENTAL – O CRESCIMENTO DA GOVERNANÇA CORPORATIVA............................. 31 3. O AMBIENTE DE FUNDOS DE PENSÃO.. .................................................................................. 34 3.1. FUNDAMENTOS........................................... .................................................................................. 34 3.1.1. TIPOS DE PLANOS DE BENEFÍCIOS..... .................................................................................. 42 3.1.2. A ESTRUTURA DO CÁLCULO ATUARIAL............................................................................. 44 3.1.3. ESTRUTURA CONTÁBIL E APURAÇÃO DO RESULTADO.................................................. 50 3.2. RISCO E SOLVÊNCIA EM PLANOS BD....... .................................................................................. 61 3.2.1. O RISCO EM PLANOS BD ....................... .................................................................................. 61 3.2.2. SOLVÊNCIA EM PLANOS BD ................ .................................................................................. 64 3.3. AS REGRAS DE DESTINAÇÃO DE SUPERÁVIT - HISTÓRICO LEGAL E RESOLUÇÃO CGPC N°

26/08.................................................................. .................................................................................. 66 3.3.1. A APURAÇÃO DO RESULTADO............ .................................................................................. 70 3.3.2. DESTINAÇÃO E UTILIZAÇÃO DO SUPERÁVIT .................................................................... 71 4. METODOLOGIA DA PESQUISA ................ .................................................................................. 77 4.1. TIPO DE PESQUISA...................................... .................................................................................. 77 4.2. MODELO APLICADO NA PESQUISA.......... .................................................................................. 79 4.2.1. APRESENTAÇÃO DO MODELO ADAPTADO......................................................................... 79 4.2.2. VARIÁVEIS................................................ .................................................................................. 85 4.3. DESCRIÇÃO DOS DADOS UTILIZADOS.... .................................................................................. 95 4.4. MEDIDAS DE ANÁLISE DOS RESULTADOS DO MODELO......................................................... 96 4.4.1. GRAU DE COBERTURA DAS RESERVAS MATEMÁTICAS – GCRM (%) .......................... 96 4.4.2. RELAÇÃO RESULTADO / RESERVA MATEMÁTICA – RR (%) ........................................... 97

XV

4.4.3. RESULTADO ANTERIOR (RESa) E RESULTADO POSTERIOR (RESp) À APLICAÇÃO DA RESOLUÇÃO CGPC N° 26/08........................ .................................................................................. 98

4.5. LIMITAÇÕES DO MODELO......................... .................................................................................. 99 5. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS DA PESQUISA .................................... 101 5.1. EFEITOS NA RESERVA MATEMÁTICA PARA VARIAÇÕES NA TAXA DE JUROS ATUARIAL......

........................................................................... ................................................................................ 101 5.2. EFEITOS NA RESERVA MATEMÁTICA PARA VARIAÇÕES NA TÁBUA DE MORTALIDADE.......

........................................................................... ................................................................................ 103 5.3. EFEITOS NA RESERVA MATEMÁTICA PARA VARIAÇÕES NA TAXA DE JUROS ATUARIAL E

TÁBUA DE MORTALIDADE............................................................................................................ 104 5.4. EFEITOS NO RESULTADO PARA VARIAÇÕES NA TAXA DE JUROS ATUARIAL E TÁBUA DE

MORTALIDADE COM USO DE DIFERENTES NÍVEIS DE PATRIMÔNIO................................... 106 5.5. GRAU DE COBERTURA DAS RESERVAS DOS TRÊS MAIORES FUNDOS DE PENSÃO E

PREMISSAS UTILIZADAS – ILUSTRAÇÃO.... ................................................................................ 111 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................... ................................................................................ 115 6.1. CONCLUSÕES............................................... ................................................................................ 115 6.2. RECOMENDAÇÕES PARA PESQUISAS FUTURAS..................................................................... 118 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............. ................................................................................ 120 APÊNDICE A – PLANILHA DE IMPLEMENTAÇÃO DO MODELO ADOTADO NA PESQUISA ...

........................................................................... ................................................................................ 126 ANEXO A – TÁBUAS DE MORTALIDADE UTILIZADAS NO MODELO DA PESQUISA ......... 127

GLOSSÁRIO ....................................................... ................................................................................ 130

1

1. INTRODUÇÃO

1.1. APRESENTAÇÃO

Este trabalho pretende apresentar e analisar as medidas governamentais lançadas

recentemente em prol da mitigação do risco de insolvência nos fundos de pensão que se

propõem a realizar processo de destinação de superávit atuarial a participantes e

patrocinadores.

Como breve contextualização do ambiente que trataremos, observe-se que, no Brasil, os

benefícios concedidos pela previdência social são estabelecidos para gerar coberturas,

principalmente, de aposentadoria, morte e invalidez para os contribuintes vinculados a

empresas inseridas no regime da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT. Tais coberturas

materializam-se em benefícios estabelecidos para atender até um teto monetário, não

cobrindo, portanto, as necessidades dos trabalhadores de renda superior a este teto.

Com isso, o mercado de previdência privada ou complementar aflora como alternativa para

formação de poupança previdenciária adicional, mediante a vinculação do empregado a

planos de benefícios que, através do acúmulo e aplicação de contribuições ao longo da vida

laborativa, possam cobrir, mesmo que parcialmente, a diferença remuneratória existente, no

2

futuro, entre o valor percebido do sistema oficial de previdência e o patamar salarial de final

de carreira, para o caso de benefício de aposentadoria programada.

Segundo a Constituição Federal de 1988, atualizada pela Emenda Constitucional nº 20, de

15/12/1998, o regime de previdência privada é facultativo, organizado de forma autônoma em

relação ao regime geral de previdência social, e baseado na constituição de reservas que

garantam o benefício contratado.

Conforme Hoefling (2008), pode-se identificar na legislação citada a existência de cinco

princípios constitucionais do regime de previdência complementar privada: a

complementaridade, a autonomia organizacional, a facultatividade, a contratualidade e a

constituição de reservas, já comentada.

Neste regime, uma Entidade Fechada de Previdência Complementar – EFPC, comumente

chamada de fundo de pensão, oferece planos de benefícios para os empregados de empresas

que, tendo formalizado sua condição de patrocinador, passam a contribuir juntamente com

seus empregados, doravante chamados de participantes, ao longo da carreira laboral para a

formação das reservas mencionadas na Carta Magna.

Segundo Pereira (1997), as entidades de previdência privada (atualmente de previdência

complementar ou fundos de pensão) são pessoas jurídicas de direito privado que administram

os recursos oriundos de contribuições de empregados, os participantes, e empregadores, as

patrocinadoras, para pagamentos de benefícios futuros.

3

Os fundos de pensão, portanto, atuam como investidores institucionais, captando

contribuições, investindo tais recursos no mercado e pagando os benefícios contratados ao

longo de sua existência.

Tais atribuições ensejam o surgimento de dois elementos importantes que servirão de base

para o assunto proposto ao longo deste trabalho: a) a constituição da reserva total formada

pelas receitas de contribuições dos participantes e patrocinadores e seus correspondentes

rendimentos; e b) o montante de obrigações que deverão ser cobertos por tal reserva.

Conde e Ernandes (2007) ensinam o seguinte:

“Considerando o princípio do cálculo das reservas matemáticas, podemos afirmar que o plano se

encontra em equilíbrio quando a Entidade mantém em seus ativos os recursos necessários para a

cobertura dos compromissos futuros. (...)

Do lado do ativo, são discriminados todos os bens e direitos da Entidade (disponível, investimentos,

realizável, permanente e outros).

Do lado passivo, são indicados o exigível não atuarial (contas a pagar e outras obrigações) e o exigível

atuarial, que, como o próprio nome diz, corresponde às obrigações da entidade atuarialmente

calculadas, representada pelas reservas matemáticas(...)”

Deste modo, pode-se resumir que, por conceituação contábil e atuarial, o ativo do fundo de

pensão deve lastrear o seu passivo e, com isso, estabelecer uma relação de equilíbrio que,

conforme as bases legais aplicáveis, pode resultar em déficit ou superávit.

4

Acerca disto, Hoefling (2008) lembra que no âmbito da Lei Complementar n° 109/01, que

rege os fundos de pensão, seu art. 7° determina o permanente equilíbrio econômico-financeiro

e atuarial. Todavia, considerando-se que a ciência atuarial tende a projetar, com base em

experiências passadas, resultados futuros com razoável grau de acerto, fatores imprevistos

podem alterar este cálculo.

Para Pinheiro (2005), o equilíbrio atuarial não pode ser tão precisamente avaliado quanto o

financeiro, em especial porque, para o cálculo atuarial, devem ser levados em conta hipóteses

sobre as quais não se tem certeza total, como as taxas de rentabilidade futuras, a taxa de

mortalidade dos participantes, a taxa de reposição salarial, a evolução do número de

participantes etc.

Se, por um lado, a chance de ocorrência de déficit é bastante razoável, em vista dos diversos

fatores de risco inerentes ao negócio de previdência, por outro lado, em situações favoráveis

tanto de negócio quanto de mercado, a ocorrência de superávit também é possível e suas

decorrências devem ser tratadas a contento com vistas à proteção dos interesses tanto do

participante quanto do patrocinador, sendo estas as partes mais interessadas na segurança de

seu investimento.

Perceba-se que, em primeira análise, é ponto pacífico que a ocorrência de superávit em fundo

de pensão configura-se situação positiva para todas as partes envolvidas. No entanto, tal

situação carece de olhar cuidadoso, visto que, com a disponibilidade de recursos para serem

destinados entre os interessados, é notória a formação de um clássico problema de relação

agente-principal em grande escala, à medida que os principais atores podem guardar

interesses diferentes, sendo eles: participantes, assistidos, patrocinadores e governo.

5

Os fundos de pensão, que têm por obrigação institucional garantir o cumprimento de seu

estatuto e dos regulamentos de seus planos, colocam-se em meio a essas três partes quando

apresenta o dever de honrar com todas as obrigações perante os interessados (stakeholders).

Muitas vezes, o ambiente jurídico torna-se palco desta relação, visto que a supracitada

ambiguidade de interesses, por vezes, gera situações de conflito não dirimidas nas vias

administrativas.

Nos últimos cinco anos, o mercado de fundos de pensão brasileiro tem provado de excelentes

rentabilidades, principalmente motivadas pelo desempenho excepcional das carteiras de renda

variável. Deste modo, ao invés de preocupações de contorno com o fantasma dos déficits

atuariais de outros períodos, a nova conjuntura tem suscitado, entre algumas Entidades

Fechadas de Previdência Complementar, o fomento sobre a destinação de superávits a

participantes, assistidos e patrocinadores.

Segundo o Secretário de Previdência Complementar, Ricardo Pena, o sistema de fundos de

pensão fechou o ano de 2007 com superávit de R$ 76 bilhões (Revista Investidor

Institucional, 2008). No entanto, principalmente em virtude da séria crise financeira mundial,

motivada pelo caso das subprimes americanas que assolou os mercados em 2008, ao final

deste mesmo ano os fundos apresentaram resultado superavitário de R$ 39 bilhões, segundo

números da Secretaria de Previdência Complementar (Agência Estado, 2009). Tanta perda

decorreu do não atingimento das metas de rentabilidade de, aproximadamente, 90% dos

fundos de pensão nacionais.

Deste modo, temendo um acesso de euforia por parte dos fundos de pensão e,

consequentemente, a tomada de decisões administrativas temerárias que pudessem ferir os

interesses dos participantes e a segurança do seu investimento previdenciário, o Secretário

6

justificou a decisão do governo brasileiro, através do Conselho de Gestão da Previdência

Complementar – CGPC, de promulgar a Resolução CGPC nº 26, de 29/09/2008. Uma rígida

normatização que regula tanto a forma de destinação dos excessos de recursos das EFPC

quanto o modo de saneamento de suas insuficiências.

Afirma, ainda, Ricardo Pena que “As regras visam estabelecer limites conservadores para a

destinação de superávit. Antes, havia fundações prometendo valores vultosos aos

participantes. Por isso, pedimos para percorrer uma lista de eventos. Hoje pode estar

sobrando, amanhã pode estar faltando.” (Revista Investidor Institucional, 2008)

A lista de eventos descrita pelo Secretário é o principal objeto de estudo deste trabalho e está

descrita ao longo de seu desenvolvimento. Ela se refere a um grupo de pontos de controles e

orientações de ajustes técnicos a ser observado pelos fundos de pensão, de maneira preliminar

ao processo de destinação de superávit, à busca de mitigação dos riscos de desequilíbrios

futuros.

O presente trabalho, portanto, explora a mecânica regulatória governamental, apresentando os

componentes das regras de destinação de superávit contidas na Resolução CGPC nº 26/08 e

analisa seus principais efeitos e implicações para o resultado de uma EFPC, verificando suas

vantagens em prol da proteção do investimento previdenciário dos participantes.

1.2. FORMULAÇÃO DO PROBLEMA

O mercado de fundos de pensão vivencia hoje a complexa questão da destinação de superávits

que, tratada a partir de iniciativas de algumas EFPCs, seus patrocinadores e entidades

7

sindicais representantes dos participantes, tem como crivo a ação governamental com seu

forte aparato regulatório de proteção da poupança previdenciária.

Diversas EFPCs, embaladas pelos robustos ganhos financeiros dos últimos cinco anos no

Brasil, alcançaram com folga suas metas atuariais e acumularam superávits em níveis

consideráveis. Em especial aquelas que detinham forte posição em renda variável.

Tais Entidades há algum tempo encontram-se na ânsia não só de ajustar seus planos de

benefícios de forma a reduzir contribuições ou aumentar benefícios, mas também de retornar

recursos aos patrocinadores e participantes, sendo esta uma inovação questionada por entes

sindicais em busca do resguardo das reservas formadas nos fundos.

A legislação até então em vigor já considerava os superávits com permissão de revisão de

contribuições e benefícios sob já rígidas condições. As Entidades poderiam realizar ajustes em

planos que detivessem excedente patrimonial em nível superior a 25% de suas reservas

matemáticas, sendo obrigatória a revisão de plano no terceiro ano consecutivo de ocorrência

de superávit. Esta determinação legal, embora estipulada para minorar a exposição dos fundos

de pensão aos riscos inerentes ao negócio, por vezes foi questionada em diversas esferas do

mercado quanto à sua forma e aplicabilidade.

Até então, mesmo por ausência de previsão legal ou mesmo por efetiva indisponibilidade de

recursos, não existia nenhuma iniciativa amplamente divulgada entre as EFPCs de tentativa de

devolução de receitas de contribuições a participantes ou patrocinadores. Com a recente

situação favorável dos mercados e constatação de retornos elevados das EFPCs, o tema veio à

tona.

8

Como ilustração, observe-se o que publicou o site Financeone (abril 2008): “as entidades

fechadas de previdência complementar (fundos de pensão) acumularam nos últimos cinco

anos um superávit de R$ 43,5 bilhões, informou ontem, o secretário de Previdência

Complementar (SPC) do Ministério da Previdência, Ricardo Pena.”

Ainda de acordo com a referida matéria, o Secretário afirmou que de 1.006 planos de

previdência (existentes em 370 fundos de pensão), 98 foram responsáveis por esse resultado

positivo em 31 de dezembro de 2007. Esse superávit corresponde aos recursos disponíveis

após a formação de uma reserva de contingência (que representa 25% de todos os

compromissos financeiros das entidades), obrigatória por lei, de R$ 32,6 bilhões.

Aproveitando a recente escalada de rentabilidade, a Caixa de Previdência dos Funcionários do

Banco do Brasil - PREVI, o maior fundo de pensão do país, já havia iniciado, cerca de três

anos atrás, seus ajustes de planos em virtude de seu superávit obtido, conforme também

noticiou o site Financeone (abril 2008): “A Previ (Caixa de Previdência dos Funcionários do

Banco do Brasil), por exemplo, tem reduzido as contribuições e a SPC estima que somente ela

seja responsável por cerca de R$ 30 bilhões de superávit do sistema.”

Em contraponto a todo este movimento otimista, observou-se, em 2008, a personificação do

principal risco que assola as EFPCs: o risco de mercado. Acrise das subprimes, de grandes e

mundiais proporções, cujo ápice se deu em outubro de 2008 com o registro de uma das

maiores baixas da história do índice IBOVESPA, assolou as economias e seus efeitos levarão

bastante tempo para serem sanados.

O Governo brasileiro, atento a todo esse complexo cenário, editou a recente Resolução CGPC

n° 26, de 29/09/2008. Conforme o atual secretário de previdência complementar, ali estão

9

contidas regras que “atuam de forma a proteger o participante, já que estabelecem normas

rígidas para a devolução dos excedentes, proporcionalmente às contribuições”. Acrescenta

ainda que “A Lei Complementar 109 previa que o excedente deveria ser utilizado para

compor uma reserva de contingência de até 25% das reservas matemáticas. Caso o superávit

superasse esse percentual, o valor teria que ser destinado à “reserva especial para revisão de

plano”, sem especificar o que seria essa revisão.”

Diante do exposto, a questão básica deste estudo consiste em responder à seguinte pergunta:

em quanto a interferência regulatória do governo no processo de destinação de superávit em

fundos de pensão beneficia a mitigação de riscos de insolvência e, por conseqüência, contribui

também para a proteção do investimento previdenciário complementar dos participantes e

patrocinadores de planos BD de fundos de pensão?

1.3. OBJETIVOS

1.3.1. OBJETIVO GERAL

O objetivo geral deste estudo é o de medir a eficácia da intervenção regulatória do governo no

processo de destinação de superávit em fundos de pensão, através da Resolução CGPC n°

26/08, em prol da mitigação de riscos de insolvência e, por conseguinte, da maior proteção do

investimento previdenciário complementar dos participantes e patrocinadores.

1.3.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Como objetivos específicos desta dissertação, salientem-se os seguintes aspectos:

10

1) Trazer à luz os itens de revisão de planos de benefícios definidos (BD) como medidas

determinadas pelo governo brasileiro preliminares ao processo de destinação de

superávit, para redução de riscos de insolvência em fundos de pensão.

2) Evidenciar a relevância e eficácia dos ajustes das premissas de taxa de juros atuarial e

de tábuas de mortalidade prévios à destinação de superávit em EFPC, investigando a

sensibilidade a essas premissas dos resultados de um plano hipotético de benefício

definido (BD), doravante denominado Plano Alfa.

1.4. RELEVÂNCIA

Três abordagens principais respaldam a realização deste trabalho. Em primeiro lugar, a que

diz respeito ao porte e importância das EFPCs na economia e na sociedade brasileira. Em

segundo lugar, o papel deste segmento para o estudo em finanças, enquanto área do

conhecimento. Por fim, o fato de ser oportuna a discussão sobre destinação de superávits no

mercado de fundos de pensão, em vista do viés ocasionado pela crise mundial em 2008,

gerando discussões ainda mais aprofundadas sobre risco e governança destas Entidades.

Segundo dados da ABRAPP – Associação Brasileira de Entidades Fechadas de Previdência

Complementar, os ativos dos fundos de pensão no Brasil totalizaram, em 2008, R$ 445

Bilhões. Tal monta representa cerca de 15,7% do PIB nacional e têm apresentado tendência

de crescimento, quando analisados dados históricos deste indicador (vide gráfico 1).

11

Gráfico 1 – Ativos EFPC x PIB (%) Fonte: ABRAPP (Dezembro 2008)

Segundo Pena (2008), em maio de 2008, o Brasil representava o oitavo sistema de

previdência complementar do mundo, contando com 370 fundos de pensão, mais de 2.300

patrocinadores, sendo 87% destes empresas privadas, administrando mais de 1.000 planos de

benefícios, com recursos da ordem de R$ 420 bilhões, cobrindo aproximadamente 3% da

população economicamente ativa e já pagando mensalmente mais de 600 mil benefícios de

aposentadoria e pensões.

Em complemento a isto, observe-se a constituição das carteiras de investimentos dos fundos

de pensão, representando o alcance destas entidades nas diversas categorias de investimentos

existentes:

12

117.306 ; 28%

271.543 ; 64%

10.692 ; 3% 12.915 ; 3% 6.775 ; 2%

Renda Fixa Renda Variável Imóveis Empréstimos Outros

Gráfico 2 – Composição dos Ativos de EFPC Fonte: ABRAPP (Dezembro 2008)

Pena (2008) comenta ainda que, como investidores institucionais, os fundos de pensão

passaram a acompanhar mais de perto suas aplicações financeiras em títulos públicos e

privados, no mercado de ações e também no segmento imobiliário. Com mais de R$ 140

bilhões investido em Bolsa de Valores, as entidades fechadas de previdência complementar

têm desempenhado um ativismo societário pelo qual têm procurado induzir as companhias

listadas às boas práticas de governança corporativa, respeito aos minoritários e

sustentabilidade social e ao meio ambiente.

Para melhor conhecimento de características das entidades formadoras desse mercado,

apresentam-se, na Tabela 1, dados relevantes a este estudo dos três maiores fundos de pensão

do país1 (os quais totalizam aproximadamente 45% dos investimentos do mercado - números

de Dezembro 2008) no que concerne aos planos de benefício definido (BD) que administram:

1 Ranking ABRAPP - Consolidado Estatístico Dezembro 2008 – Quesito Investimentos.

13

Valores Monetários em R$ Milhões

Total de Participantes (Ativos e Assistidos)

Ativos para cobertura de Benefícios

Reserva Matemática

Resultado do Exercício

Superávit / (Déficit)

PREVI - Plano 1 102.982 92.533,55 66.221,33 26.312,21 PETROS - Plano Petros Sistema Petrobras 79.933 39.543,59 39.423,03 120,56 FUNCEF - Reg/Replan Saldado 56.685 25.300,59 27.394,66 (2.094,06)

Tabela 1 – Dados dos Três Maiores Fundos de Pensão Brasileiros Fonte: Relatórios das entidades publicados em seus respectivos sites – Dezembro 2008

Apresentado o porte das EFPC, evidencia-se seu poder na formação de poupança e

investimentos institucionais e, por conseguinte, no fomento econômico e social do país. Tal

argumento aponta para um amplo e interessante campo de exploração de idéias em finanças.

No que concerne ao micro-ambiente dos fundos de pensão, tratar o assunto destinação de

superávit é considerar o rico momento vivenciado pelo mercado nacional, ao discutir cenário

de crise e seus impactos, ensejando que a cautela nesta destinação deva ser redobrada.

Portanto, a pesquisa do tema pauta-se na pujança dos fundos de pensão na economia

brasileira, sua importância e riqueza para o estudo em finanças, bem como pela oportunidade

tanto para o cenário acadêmico, que carece de avanços em tal área do conhecimento, quanto

para o mercado de previdência complementar, que está em plena discussão do objeto deste

estudo.

Tal discussão tem se dado inclusive em âmbito judicial, visto que alguns entes associativos

questionam, em ações impetradas contra a Resolução CGPC n° 26/08 - principal foco deste

trabalho - a legalidade quanto à permissão de retorno de valores ao patrocinador de fundo de

pensão. Essa discussão foge ao escopo do estudo, mas ilustra sua complexidade e

importância.

14

1.5. ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO

Este estudo encontra-se dividido em seis capítulos, estruturados da seguinte forma:

O primeiro capítulo traz a apresentação de considerações iniciais, a formulação do problema,

os objetivos a serem alcançados, a relevância do estudo e a estrutura do trabalho.

O segundo capítulo trata da exposição do referencial teórico que embasará as formulações

sobre o tema.

O terceiro capítulo destina-se à exploração do ambiente de fundos de pensão, no qual são

apresentados alguns fundamentos sobre o mercado, conceitos de risco, solvência e liquidez

em planos do tipo benefício definido e, ainda, sobre as regras de destinação de superávit em

fundos de pensão.

O quarto capítulo traz a descrição da metodologia da pesquisa. São analisados os principais

conceitos sobre os fins e meios de pesquisa constantes na literatura e justificada a escolha da

metodologia a ser utilizada para o alcance dos objetivos do trabalho. Neste capítulo também é

descrito o modelo utilizado e todo o instrumental necessário para a sua aplicação, inclusive as

variáveis a serem experimentadas.

O quinto capítulo é destinado à análise dos resultados da aplicação do modelo.

15

O sexto capítulo apresenta as considerações finais, retomando-se os objetivos do estudo e

ressaltando-se as conclusões da pesquisa, com posteriores recomendações para pesquisas

futuras.

16

2. REFERENCIAL TEÓRICO

O desenvolvimento das análises contidas neste estudo encontram fundamentação em duas

teorias: teoria dos Stakeholders e teoria da Regulação. Ambas serão apresentadas a seguir

para a contextualização do debate proposto.

2.1. A TEORIA DOS STAKEHOLDERS

Observando o macro-ambiente em que estão inseridos os fundos de pensão, assim como a

natureza das relações dos atores que estão em seu entorno e o grau de diversidade do interesse

de cada um no desempenho ou nos fluxos de direitos e obrigações gerados por uma EFPC,

constata-se que se está diante de uma relação fundamentada na teoria dos stakeholders.

Segundo Freeman (1984), stakeholder constitui “qualquer grupo ou indivíduo que pode afetar

ou é afetado pela realização dos objetivos da empresa”. Este caráter de correspondência

biunívoca, logo de início, já representa a importância das influências dos agentes externos e

internos a uma organização para a condução de suas atividades.

De forma complementar, Rowley (1998) afirma que os stakeholders são grupos ou pessoas

que influenciam o contexto organizacional na busca do atingimento de seus objetivos. Uma

definição alinhada com aquela apresentada por Freeman (1984), posto que ambos os conceitos

levam à idéia de integração entre grupos e a organização. Desta vez, no entanto, ocorre o

termo “objetivos”, relevante para o estudo em curso visto que é no cumprimento dos objetivos

dos fundos de pensão que se fundamenta esta pesquisa.

17

Borenstein (1999) explica que “as ações dos stakeholders provocam modificações no

ambiente externo, restringindo as ações da organização. Esta, internamente, adaptar-se-á ao

novo ambiente externo e/ou tentará influir nele, para diminuir ou reverter a ação externa.”

Em um clássico caso de relação entre agente e principal, o macro-ambiente de fundos de

pensão ilustra claramente estas restrições citadas pelo autor. A ação do governo, das entidades

de classes, quando da defesa dos interesses de participantes e assistidos, e dos patrocinadores,

exerce sua força, ora política, ora econômica, na busca do melhor direito que lhes couber.

Frooman (1999) também explorou esta questão observando que a teoria dos stakeholders deve

fornecer um método de como estes atores tentam influenciar uma organização na tomada de

decisão, afetando assim seu comportamento.

“A capacidade da empresa conseguir obter vantagem competitiva nos relacionamentos com

seus stakeholders pode ser a chave do sucesso organizacional” (Martins, 2001). Mas o que é

sucesso organizacional para fundos de pensão? Segundo seus objetivos, resumidamente, cabe

aos fundos receber e aplicar contribuições e pagar, a contento, os benefícios contratados.

Os stakeholders não podem ser evitados, porque fazem parte do processo de gestão. Porém a

empresa pode alavancar seus resultados sabendo lidar com esses grupos de influência e para

isso necessitará de habilidades gerenciais capazes de vislumbrar horizontes inusitados e de

alta potencialidade (Martins, 2001). É neste ponto que figuram os esforços dos fundos de

pensão em acompanhar os anseios dos participantes e assistidos e dos patrocinadores, sem

deixar de lado a determinante influência governamental em sua ação regulatória.

18

Campbell (1997) defende a teoria dos stakeholders, pois acredita que seja fundamental para

compreender como a organização deve ganhar dinheiro nos negócios sem perder de vista a

sua responsabilidade social. Esta visão pode ser estendida para o ambiente de fundos de

pensão ao tempo que tal responsabilidade social pode ser identificada na relação direta

travada com os beneficiários.

Sobre os fundos de pensão, a Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do

Mercado de Capitais de São Paulo (Apimec/SP, 2009) discorre que: “estes têm

responsabilidades para com os seus beneficiários diretos e seus dependentes em primeiro

lugar, mas também devem se preocupar com todos os seus stakeholders.” E acrescenta que:

“Quanto maior o fundo de pensão, maior é sua abrangência sócio-econômica e mais diverso o

seu público de interesse. As fundações com patrocinadores estatais, por exemplo, têm

obrigações que atingem praticamente toda a sociedade. E fundações de estatais com capital

aberto têm responsabilidades maiores ainda. Além dos beneficiários e dos patrocinadores, esta

última categoria de fundação precisa ainda disponibilizar informações abordando aspectos

positivos ou negativos, com eqüidade, clareza, abrangência e dinamismo. Só assim é possível

uma correta avaliação dos riscos para as patrocinadoras e, como conseqüência, para os seus

investidores, clientes e fornecedores, entre outros stakeholders.” (Apimec/SP, 2009)

2.1.1. DEFINIÇÃO DOS STAKEHOLDERS-CHAVE CONSIDERADOS NO ESTUDO

Para o uso no estudo aqui proposto, apenas alguns stakeholders interessarão à análise. Deste

modo, convém conceituar o termo Stakeholders–chave como elementos atuantes que, segundo

Martins (2001), afetam decididamente o processo produtivo organizacional, de forma direta

ou indireta, sendo ainda indispensáveis para o atingimento dos objetivos propostos. Campbell

(1997) os denomina Stakeholders ativos.

19

Considerando que o tipo e quantidade de stakeholders variam em função do negócio, pode-se

selecionar como stakeholders-chave de um fundo de pensão pertinentes a este estudo: a)

participantes, aposentados e pensionistas; b) patrocinadores e instituidores; e c) governo. A

seguir, apresenta-se diagrama representativo destes stakeholders e o detalhamento da atuação

de cada um sobre um fundo de pensão.

Figura 1 – Diagrama de Stakeholders-chave de fundos de pensão

2.1.1.1. PARTICIPANTES E ASSISTIDOS

A Lei complementar n° 109/01 conceitua:

Participante – “a pessoa física que aderir aos planos de benefícios.”; e

Benef ícios e Informa ções

Governança

Informa ções Regula ção Fiscaliza ção

Custeio Custeio

Gestão e fiscaliza ção

Informa ções

20

Assistido – “o participante ou seu beneficiário em gozo de benefício de prestação

continuada.”

Com estes conceitos, temos que estes stakeholders e, por conseguinte, seu familiares,

configuram a parte mais interessada no desempenho e solvência do fundo de pensão ao longo

do tempo. Seus benefícios no futuro dependem disto.

Black (1992) discorre a respeito da dificuldade de os beneficiários conhecerem e terem ação

sobre os planos de benefícios como principais em uma relação de agência com o fundo de

pensão:

“Beneficiários de pensão (principais) são incapazes de monitorar as ações dos gestores e

fideicomissários dos planos (agentes); deve haver mais de um principal (se incluirmos patrocinadoras

de planos de Benefício Definido); e deve haver uma rede extensa de agentes (tais como gestores de

investimentos) cujas motivações e recompensas devem ser difíceis de alinhar e de observar.” (Black

(1992), tradução livre do autor)

A afirmação elucida a dificuldade de participantes de planos de pensão acompanharem seus

investimentos previdenciais, o que sugere a necessidade de regras de governança bem

desenvolvidas e intervenções regulatórias governamentais que promovam o amparo a estes

stakeholders e a segurança de seu investimento.

Observe-se ainda que, com base nos fundamentos de consumo da escola econômica

neoclássica2, há espaço para se discutir se os participantes e assistidos teriam maior interesse

2 Vide Oreiro (1999).

21

em manter resguardados para o futuro ou desfrutar no presente a parte que lhes cabe nos

excedentes patrimoniais de um plano de pensão.

Deste modo, constata-se que o participante e o assistido vivenciam um dilema econômico, no

qual, por hora, guardam uma consciência previdenciária e franco interesse na proteção do seu

investimento futuro, mas, de outra feita, podem preferir dispor de - e consumir - recursos

financeiros no presente, conforme suas conveniências, caso não haja movimento algum de

censura. Embora tal discussão não faça parte do escopo do presente trabalho, trata-se de

variável que impacta as diretrizes estratégicas dos investimentos dos fundos de pensão,

podendo tornar-se aspecto importante a ser considerado nas decisões, à medida que

participantes e assistidos venham a exercer maior poder de voto.

Assumindo-se que os stakeholders compreendem que os excessos de patrimônio devem

permanecer no fundo de pensão caso sejam necessário para garantia da sua solvência

financeira e econômica, pressupõe-se que participantes e beneficiários apoiariam ações do

governo para o resguardo destes valores, à exceção das condições de superávit que extrapole

os limites de segurança legalmente estabelecidos, situação na qual usufruiriam de ajustes de

plano em seu favor.

2.1.1.2. PATROCINADORES

Pode-se conceituar patrocinador como sendo a empresa que patrocina plano de previdência

complementar para seus empregados constituído em fundo de pensão por meio de celebração

de convênio de adesão3.

3 Vide Lei complementar 109/01, Art. 13.

22

O ato de patrocinar enseja o aporte de contribuições a plano de benefício de modo a formar,

juntamente com os esforços econômicos do participante, as reservas necessárias para a

cobertura de obrigações contratadas de benefícios de pensão da população abrangida pelo

plano.

Os patrocinadores, por um lado, têm o investimento previdenciário complementar como uma

ferramenta de captação e retenção de talentos humanos e garantia da rotatividade de seu corpo

funcional quando da oferta de uma transição mais equitativa da fase laboral para a

aposentadoria. Por outro lado, ao longo de uma trajetória de patrocínio, a empresa pode

encontrar-se em situações de escassez financeira para o custeio de suas operações e não

deixaria de lançar mão de recursos financeiros outrora aportados aos planos patrocinados,

caso existisse tal possibilidade. Observe-se, portanto, que os gestores das instituições

patrocinadoras, via de regra, agirão sempre no sentido de maximizar o valor da empresa para

seus acionistas (Brealey et al, 2002).

Tendo em vista os objetivos e metodologia deste trabalho, apenas assumir-se-á que o

patrocinador preferirá aceitar a manutenção do investimento previdenciário no fundo de

pensão.

2.1.1.3. GOVERNO

A legislação brasileira estabelece que as funções de regulação e fiscalização das EFPCs são

de responsabilidade do Ministério da Previdência Social, por meio do Conselho de Gestão da

Previdência Complementar - CGPC e da Secretaria de Previdência Complementar - SPC,

respectivamente. Estes órgãos atuam junto aos fundos de pensão conferindo organização e

fomentando o desenvolvimento do mercado previdenciário fechado nacional.

23

Para o equilíbrio da relação agente-principal travada entre fundo de pensão e participantes, a

ação regulatória do ente governamental torna-se imprescindível, visto que estabelece as regras

de governança, conduta e proteção do investimento previdenciário.

Cabe evidenciar que o governo atua como fomentador de poupança para os investimentos

nacionais de longo prazo e os fundos de pensão apresentam atuação forte nesse sentido.

Assim, cabe evidenciar que, não só em virtude da proteção do investimento particular do

participante - ou mesmo do patrocinador - o governo guarda pleno interesse no máximo

resguardo da poupança formada nas EFPCs para que, da mesma forma, sejam preservadas as

fontes de financiamento e desenvolvimento nacional de longo prazo que estas entidades

representam, através de suas diversas carteiras de investimentos.

2.2. A TEORIA DA REGULAÇÃO

A regulação de dado setor da economia, bem como dos serviços públicos privatizados, requer

a existência de instrumentos normativos que possam condicionar, com atualidade e rapidez, o

comportamento dos agentes econômicos, o que vem a suprir a insuficiência da lei para

cobertura total da atividade administrativa, para assegurar sua eficiência e até mesmo para

proteção dos direitos fundamentais (Silva, 2005).

Partindo-se desta idéia, pode-se apresentar outra teoria que dá suporte ao presente estudo: a

teoria da Regulação. Sua origem remonta a fatos e personagens históricos relevantes para a

compreensão do atual modo de ação do governo na estruturação e equilíbrio do mercado de

fundos de pensão, com a proteção do bem-estar social e do direito dos indivíduos, aqui

caracterizado pelo investimento previdenciário complementar dos participantes.

24

Segundo Smith (1776), a riqueza das nações é resultado da atuação dos indivíduos que,

movidos apenas pelo próprio interesse (self-interest), promoviam o crescimento econômico e

a inovação tecnológica. Esta é a fundamentação do liberalismo econômico.

O termo “mão invisível”, apregoado por Smith (1776) em “A riqueza das nações”, significa

que, numa economia de mercado, apesar da inexistência de um ente que coordene o interesse

comum, a interação dos indivíduos parece ocorrer numa determinada ordem, como que

havendo uma "mão invisível" que os orientasse. Com isso, os mercados se organizam e,

consequentemente, os preços, produção e demais fatores econômicos se ajustam, conferindo,

naturalmente, uma distribuição dos recursos e o bem-estar à população.

Ao conceituar a “mão invisível”, Adam Smith ensina que os objetivos particulares de cada

participante na competição são consistentes com as metas sociais. Esta é a base do

funcionamento da economia de mercado. (Benjó, 1999).

Esta teoria foi muito útil, ajudando a racionalizar e tornar mais eficiente o comércio entre as

nações. Auxiliou também a encorajar os governos a retornar à posição de regulador, atividade

que era ineficiente e que prejudicava o bem-estar (Agle et al, 2008).

No entanto, a metáfora da “mão invisível” diz respeito a como o mercado, sob condições

ideais, garante uma alocação eficiente de recursos escassos. Mas, na prática, as condições

normalmente não são ideais. Por exemplo, a competição não é completamente livre, os

consumidores não são perfeitamente informados e a produção e o consumo desejáveis

privadamente podem gerar custos e benefícios sociais. Daí parte a defesa da ação

governamental na promoção do equilíbrio de mercado.

25

Keynes (1926), em seu ensaio “The end of lessaiz-faire”, observou que não é verdade que os

indivíduos possuem uma prescritiva “liberdade natural” em suas atividades econômicas. Não

há acordos perpétuos conferindo direitos entre aqueles que têm e aqueles que adquirem. O

mundo não é tão governado “de cima”, ou muito menos tão conduzido “de baixo”, a ponto do

interesse social e o privado sempre coincidirem. Não é uma dedução correta dos princípios da

economia que o self-interest esclarecido sempre atua no interesse público.

Em contraponto à visão de Smith e, por conseguinte, ao liberalismo do século XIX, Keynes

defendia na Inglaterra a regulação estatal através do uso, principalmente, de políticas

econômicas monetárias e fiscais.

No entanto, segundo Benjó (1999), os extremos da ação governamental não só na economia

como também em todas as relações sociais e políticas, ocorreu no mundo no decorrer dos

decênios. Os últimos regimes totalitários na Rússia, Itália, Alemanha Nazista, além de outros

mais, foram expressão máxima do intervencionismo como antítese ao liberalismo econômico

(e cultural) e dissolução da sociedade através de sua completa estatização.

Observa ainda Benjó (1999) que tantas e dicotômicas visões em meio a grandes discussões

entre pensadores econômicos e sociais ao longo da história dão fundamento à conceituação

dos dois tipos modernos de Estado: o Liberal (Séculos XVIII, XIX e tendência predominante

da atualidade), favorecedor da economia capitalista, e o Social (final do século XIX até início

dos anos 1970).

Após a revolução Russa de 1917, evento que influenciou fortemente a condução do cenário

político-econômico mundial em direção ao Estado-Social, no Brasil dos anos 20, Eloy Chaves

deu início às tentativas de implantação de nossa própria engenharia social com as caixas de

26

previdência. No entanto, isto trouxe o agigantamento das dimensões do Estado-providencial,

os custos inflados da provisão desses serviços e desarticulação de sistemas alternativos, mais

parcimoniosos, de provisão social através de iniciativas privadas (Castro, 1995).

Afirmam Franchinni e Castro (2002) que a progressiva difusão da idéia de intervenção do

Estado na economia afirmou-se historicamente no período entre as duas guerras mundiais, nos

Estados Unidos, e na Europa Ocidental a partir do segundo pós-guerra. Nas décadas de 20 e

30, a crise emergiu como horizonte imanente (quase divino) da regulação pelo mercado das

dinâmicas econômicas. Na realidade, a crise do liberalismo, do laissez-faire4 e de seu sistema

de governança internacional culminaram na grande depressão.

Para Benjó (1999), após a segunda guerra mundial, a intervenção estatal na economia

consagra-se como única prerrogativa para a coexistência com a economia de mercado. A

tutela estatal passou a estar presente em setores liberais e conservadores da Europa e EUA,

através de mecanismos de proteção. A burocracia e as pesadas estruturas estatais tomam

amplo lugar nas economias.

A partir dos anos 35, afirmam-se, nos Estados Unidos, a heterodoxia econômica keynesiana e

os compromissos sociais dinâmicos da administração do então presidente americano

Roosevelt. Com a derrota da Alemanha, o modelo americano torna-se o paradigma de

referência de um processo de reconstrução das economias européias, fortemente marcado pela

ativa intervenção do Estado na regulação econômica. O capitalismo implanta, então, embora

4 Trecho da célebre frase em língua francesa atribuída ao comerciante Legendre (séc. XVII): “laissez-faire, laissez-aller, laissez passer”; em tradução literal: “deixai fazer, deixai ir, deixai passar”. (Adaptado de “The end of laissez-faire” (Keynes, 1926). A frase referia-se à defesa do mercado livre nas trocas internacionais entre as nações, em lugar do protecionismo de elevadas tarifas alfandegárias. Esta foi a máxima diretamente associada ao Liberalismo econômico de cuja teoria Adam Smith foi um dos maiores defensores.

27

de modo diferenciado segundo os países, toda uma institucionalização salarial, incluindo o

desenvolvimento do direito de trabalho e da previdência social (Cocco, 1999).

Mais à frente, ao final da década de 70, a revolução liberal de Margareth Tatcher na Inglaterra

representou a ruptura com o Estado-paternalista e privilegiou-se a eficiência econômica como

o único meio de aumentar a riqueza nacional. O movimento liberal inglês (hoje denominado

neo-liberalismo) contagia as economias ocidentais.

À mesma época, a reinvenção do Estado na visão americana marcou o fim da soberania do

Estado-providência, não sendo isso apenas uma ruptura com o socialismo. A redução de

tamanho propõe ao Estado novas funções a serem assumidas. O surgimento do Estado-

Regulador faz-se necessário para permitir a liberdade de atuação dos agentes econômicos e

incentivar o crescimento auto-sustentado. A base de sustentação é a premissa de que a

sociedade tem condições de resolver, de forma mais eficiente, mais descentralizada e menos

custosa, grande parte de seus problemas. (Benjó, 1999)

No âmbito da teoria da Regulação, afirmam Franchinni e Castro (2002), os períodos de

crescimento são concebidos como etapas marcadas por regimes de acumulação que asseguram

a concordância entre as normas de produção e consumo, permitindo acumulação de capital.

Contudo, uma vez que o regime de acumulação não se sustenta sozinho, são necessárias

normas institucionalizadas que o assegurem. Em outras palavras, é a articulação de tais

formas parciais de regulação, tais como a relação salarial, a gestão da moeda, a intervenção do

estado, a adesão ao regime internacional e a concorrência, que possibilitam a permanência e a

continuidade do regime de acumulação.

28

Em complemento, Komatsu (2004) afirma que a regulação também é essencial em setores que

se caracterizam por concentrar interesses difusos, como na conservação e preservação

ambiental, e na proteção ao consumidor. Nestes exemplos, fica mais claro que a regulação não

pode ser entendida apenas por sua faceta econômica. A regulação precisa ser considerada

também como uma função pública que integra a proteção e garantia de interesses sociais, e

estar devidamente inserida nas regras da sociedade, da mesma forma como se garante os

direitos de propriedade, por exemplo.

Nessa linha, Holden e Rajapatirana apud Benjó (1999) observam que há três circunstâncias

em que a ação regulatória é eficiente: nos monopólios naturais, nos mercados anti-

competitivos e nos ambientes de inadequada segurança para o consumidor (cidadão). Cada

qual requer um tratamento regulatório diferenciado e é nesta última circunstância onde se

encaixa relação entre governo e fundos de pensão.

Komatsu (2004) cita a OECD – Organisation for Economic Co-operation and Development5,

a qual discorre que sob a denominação de ‘regulação’ encontram-se diversos instrumentos

através dos quais o poder público define e aplica regras às empresas e aos cidadãos, o que

inclui leis, normas legais, formais e informais, regras e orientações que muitas vezes atingem

setores governamentais e não governamentais, e mesmo órgãos auto-reguladores, para os

quais o papel ou o poder de Estado tenha sido delegado.

5 A OECD, estabelecida na França desde 1961 e congregando 30 países-membros, tem como missão: reunir os

governos de países comprometidos com a democracia e a economia de mercado ao redor do mundo para apoiar o

crescimento econômico sustentável, aumentar o emprego, aumentar o nível de vida, manter a estabilidade

financeira, auxiliar o desenvolvimento econômico de outros países e contribuir para o crescimento do comércio

mundial. (Fonte: Site OECD. Disponível em:

http://www.oecd.org/pages/0,3417,en_36734052_36734103_1_1_1_1_1,00.html. Acesso em: 22/04/2009.)

29

Ainda conforme Komatsu (2004), a OECD enquadra a regulação e seus objetivos em três categorias:

1) Regulação econômica: categoria que vem recebendo mais destaque e trata da interferência direta

nas decisões de mercado, como na definição de preços, no estabelecimento de critérios para

competição (como a entrada e saída de operadores em mercados e setores econômicos produtivos). As

reformas para regulação econômica geralmente procuram incrementar a eficiência econômica da

atividade produtiva, reduzindo ou revendo barreiras à competição e inovação, freqüentemente através

de políticas de desregulação (redução da interferência estatal), ou ainda, da readequação do quadro

regulatório em funcionamento.

2) Regulação social: engloba as ações de proteção direta do interesse público em setores como saúde,

segurança, meio ambiente e seguridade social, direitos humanos etc. Neste caso, o objetivo não está na

obtenção de resultados econômicos, apesar deles ocorrerem e muitas vezes, serem significativos.

Reestruturar este tipo de regulação procura verificar a necessidade da interferência, construir ou rever

regulamentos, procedimentos e outros mecanismos, que podem variar de incentivos de mercado

(estabelecimento de metas e flexibilização de regras, por exemplo) a processos de participação e

decisão popular.

3) Regulação administrativa: processos e formalidades burocráticas (red-tape) geralmente através dos

quais os governos podem, desde colher informações, até interferir em decisões econômicas individuais,

que podem ter impacto substancial no desempenho do setor privado. A revisão da regulação

administrativa geralmente equivale à desburocratização, ou seja, a redução, simplificação e

eliminação de procedimentos burocráticos formais.

Observada a conceituação apresentada, constata-se que a regulação de fundos de pensão

encontra-se enquadrada na Regulação Social.

30

Destaca-se, ainda que grande atenção tem sido dada à dimensão econômica e política da

regulação, mas pouco se tem aprofundado quanto à sua dimensão social. Um novo quadro

conceitual, portanto, precisa dar igual peso a esta dimensão da regulação (Komatsu, 2004).

Segundo Benjó (1999), a economia moderna e globalizada nos leva à plena consciência da

necessidade de um Estado mínimo, capaz de recuperar sua importância original,

desempenhando atividades de caráter normatizador, regulador e fiscalizador da sociedade

civil. A administração deve ser, antes de tudo, capaz de exercer o poder de polícia sobre os

serviços prestados à sociedade, buscando dirimir conflitos, garantindo estabilidade de

regulamentos e prestando consultoria quanto ao entendimento das prescrições normativas

estabelecidas.

No que concerne à história da regulação da previdência complementar no Brasil, esta remonta

à década de 70, quando a economia brasileira expandia-se fortemente e o seu crescimento era

liderado pelo Estado, acumulando aos seus papéis fundamentais o papel de empresário à

frente das empresas estatais. Àquela época, os fundos de pensão de quase uma dezena dessas

empresas foram instituídos para atender a necessidade de retenção de talentos e a formação de

poupança estável, visando o fomento aos investimentos de longo prazo e, deste modo, à

continuidade do desenvolvimento nacional em meio ao 2° Plano Nacional de

Desenvolvimento (ABRAPP, 2005).

Em uma atividade previdenciária, fortemente social e de caráter de longo prazo como é a

previdência complementar, configura-se uma grande dependência da estabilidade regulatória.

Os contratos individuais estabelecidos neste ambiente perduram por mais de trinta anos e são

fortemente galgados no cumprimento das normas legais e infra-legais. Portanto, o respeito ao

31

princípio fundamental da estabilidade de regras é condição básica para o fortalecimento e

crescimento deste mercado.

Partindo deste princípio, a regulamentação do mercado de previdência complementar nasceu

em 1977 com a Lei n° 6.435. Onze anos depois, a Emenda Constitucional n° 20/1988 foi o

ponto de partida para sua reestruturação, a qual ocorreu mais à frente com o advento das Leis

Complementares n° 108/2001 e n° 109/2001.

O debate em torno da evolução da forma de atuação do governo e da criação de elementos

para a proteção do investimento dos participantes foi fundamental para o estabelecimento das

regras de formação de bases sólidas que têm conduzido a poupança previdenciária

complementar para o seu atual grau de desenvolvimento.

Recentes iniciativas do governo em criar uma agência regulatória de previdência

complementar – a PREVIC - reforçam a idéia de uma atuação mais robusta e independente de

um ente dotado de orçamento próprio para a melhor regulação deste mercado. Atualmente a

proposta de criação desta agência encontra-se em trâmite no Congresso Nacional e no Senado

Federal.

2.3. A RELAÇÃO ENTRE O INTERESSE DOS STAKEHOLDERS E A AÇÃO

REGULATÓRIA GOVERNAMENTAL – O CRESCIMENTO DA GOVERNANÇA

CORPORATIVA

A teoria dos Stakeholders reforça a idéia de que a entidade que gerencia o patrimônio do

acionista - nesse caso o participante - deve lançar mão de mecanismos que elevem o nível de

32

transparência, equidade, prestação de contas e responsabilidade corporativa6 em suas

operações para com as partes interessadas.

Hoefling (2008) ilustra esta questão quando discorre sobre a importância do princípio

constitucional da transparência na previdência complementar. O autor observa que tal

princípio é um dos mais importantes, pois, através dele, o participante terá acesso aos

investimentos de seu plano de benefício, rendimentos, taxas pagas, se o plano é superavitário

ou deficitário. Com isso, o participante pode constatar a higidez financeira da entidade

responsável pela administração do plano de previdência complementar. Acrescenta, ainda,

que essas informações prévias são essenciais para a segurança e flexibilidade do plano, no

caso de adoção de medidas para seu equacionamento.

Com a teoria da Regulação, constata-se que o governo, principalmente através da ação da

SPC e do Conselho Monetário Nacional (CMN), age juntamente com as estruturas de gestão e

de fiscalização internas das EFPCs para criar condições de estruturação e funcionamento

daqueles mecanismos de governança em prol da redução dos riscos a que estão sujeitos os

fundos de pensão.

O conceito de governança corporativa segundo o IBGC – Instituto Brasileiro de Governança

Corporativa - ratifica esta idéia: “sistema pelo qual as sociedades são dirigidas e monitoradas,

envolvendo os relacionamentos entre acionistas/cotistas, conselho de administração, diretoria,

auditoria independente e conselho fiscal. As boas práticas de governança corporativa têm a

6 Vide o Código das Melhores Práticas de Governança Corporativas editado pelo IBGC. Disponível em: http://www.ibgc.org.br/CodigoMelhoresPraticas.aspx. Acessado em: 18 fevereiro 2009.

33

finalidade de aumentar o valor da sociedade, facilitar seu acesso ao capital e contribuir para a

sua perenidade.”7

Nesse sentido, o governo tem normatizado o ambiente de fundos de pensão quanto à estrutura

de gestão, definição de limites de aplicação de recursos, estabelecimento de parâmetros

mínimos atuariais, dentre outras medidas de proteção. O conservadorismo do governo no

processo de destinação de superávit apenas reforça o movimento em prol da mitigação dos

riscos incorridos em uma atividade que envolve tantas e complexas forças atuantes, muitas

vezes contrárias ao equilíbrio econômico-atuarial.

Em resumo, considerando que o investimento previdenciário realizado por participantes e

patrocinadores carecem de acompanhamento e de proteção, defende-se que as mais recentes

evoluções da regulação do mercado de previdência complementar tem sido um dos caminhos

de sua projeção a elevados níveis nos quesitos de transparência, equidade, prestação de contas

e responsabilidade, promovendo a proteção aos interesses dos participantes e patrocinadores.

Portanto, torna-se claro que, partindo-se do pressuposto de que um fundo de pensão deve

manter, ao longo de sua existência, sua liquidez e solvência, cumprindo, assim, com suas

obrigações institucionais, a ação do governo na evocação do princípio contábil do

conservadorismo na atuação das EFPCs através de regulamentação é naturalmente salutar.

7 Vide Site IBGC. Disponível em: http://www.ibgc.org.br/Secao.aspx?CodSecao=17. Acessado em 18 fevereiro 2009.

34

3. O AMBIENTE DE FUNDOS DE PENSÃO

3.1. FUNDAMENTOS

A história dos arranjos securitários de proteção do cidadão contra infortúnios é longa e seu

início data dos primórdios das sociedades rurais, como versa Capelo (2000):

Em outro estágio da organização social, ainda primitiva e predominantemente rural, com a

intensificação do povoamento, outros riscos ganharam destaque, como os cataclismos, as guerras, as

epidemias, as frustrações de safras, a invalidez, a velhice, a viuvez, a orfandade e outros infortúnios. A

posse da terra, para os senhores feudais, e o apoio mutualista no seio da família, para os campesinos,

eram as bases do sistema de proteção social de então.

Ainda Capelo (2000), elucida que, mais à frente, com a evolução social, a industrialização e a

monetização da sociedade, diversas iniciativas foram empreendidas em prol da estruturação

dos atuais mecanismos de proteção social. As casas de misericórdia, as caixas de socorro

mútuo, as fraternidades e os dotes tontini8 são exemplos destas iniciativas e seu

desenvolvimento deságua hoje nos modelos públicos e privados brasileiros de amparo social e

previdenciário.

Atualmente, a previdência brasileira é formada por três setores:

1) o Regime Próprio de Previdência, que abrange os servidores públicos e militares;

8 Conforme Capelo (2000), os “tontines” foram um conjunto de arranjos securitários, de anuidades e de seguros, criados pelo banqueiro napolitano Lorenzo Tonti e por ele introduzidos com algum sucesso da França na segunda metade do século 17, podendo ser considerados como os precursores dos atuais fundos de pensão capitalizados da Previdência Complementar. Transportados para a América do Norte no século 19, são hoje um sistema banido pela legislação da maioria dos países, em virtude dos graves defeitos que incorporam.

35

2) o Regime Geral de Previdência Social - RGPS, administrado pelo INSS – Instituto

Nacional do Seguro Social, que trata de cobrir principalmente os eventos de aposentadoria,

morte e invalidez para faixas salariais básicas; e

3) o Regime de Previdência Privada (ou Complementar), que complementa os valores de

benefícios concedidos pelos demais regimes.

Ao abordar especificamente o Regime de Previdência Privada, a Constituição Federal de 1988

define que:

“Art. 202. O regime de previdência privada, de caráter complementar e organizado de forma autônoma

em relação ao regime geral de previdência social, será facultativo, baseado na constituição de reservas

que garantam o benefício contratado, e regulado por lei complementar.”

O sistema de previdência complementar privado brasileiro foi oficialmente regulamentado em

julho de 1977, por meio da Lei nº 6.435/77. A idéia básica desta legislação era promover,

conforme cita o texto constitucional, a regulação de um mercado que, já existindo na prática,

necessitava de ordenamentos formais.

Conforme destaca Martinez (1996), o termo previdência complementar somente tem sentido a

partir da Lei Elói Chaves, de 1923, que foi ponto de partida da Previdência Social básica

brasileira. Entretanto, algumas entidades de previdência privada organizadas durante a

segunda metade do século XX, chegaram até 1977 sem sistematização legislativa, sendo

submetidas, até então, ao Código Civil e às normas comerciais e de seguro privado.

36

Com isso, importantes instituições de previdência privada existentes no país estabeleceram

suas atividades bem antes da edição da Lei nº 6.435/77, tendo como exemplo as duas maiores

em patrimônio: Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil – PREVI, fundada

em 1967, e a Fundação PETROS de Seguridade Social, entidade de previdência patrocinada

pela Petrobras, estabelecida em 1970. Muitos dos modelos e práticas adotadas por estas e

outras instituições pioneiras foram base para este marco legal.

A Lei nº 6.435/77 deu lugar, em 2001, à Lei Complementar nº 109/01, que passou a definir

que o regime privado de previdência fosse operado por entidades de previdência

complementar cujo objetivo principal seria instituir e executar planos de benefícios de caráter

previdenciário que se assemelhassem aos da previdência oficial.

De acordo com a referida Lei, as entidades de previdência complementar são classificadas em

abertas e fechadas. As Entidades Abertas de Previdência Complementar (EAPC) são

sociedades que ofertam planos disponíveis a qualquer indivíduo, mediante o pagamento de

contribuições, ao passo que as Entidades Fechadas de Previdência Complementar (EFPC),

organizadas sob a forma de fundação ou sociedade civil sem fins lucrativos, são aquelas

acessíveis exclusivamente:

a) aos empregados ou servidores dos patrocinadores, sendo estes empresa ou grupo de

empresas ou, ainda, União, Estados, Distrito Federal e Municípios, respectivamente;

ou

b) aos associados ou membros dos Instituidores, sendo estes pessoas jurídicas de caráter

profissional, classista ou setorial.

37

Os fundos de pensão, integrando o sistema de previdência complementar fechado, têm como

proposta a administração de planos de benefícios através dos quais, em suma, acumulam e

aplicam contribuições dos participantes e patrocinadores. Cumpridas as condições de

concessão de cada tipo de benefício, comprometem-se com o pagamento das contraprestações

previstas em seus regulamentos.

Portanto, as EFPCs desempenham o papel de captadores e gestores de poupança

previdenciária, a qual é aplicada através da estruturação de carteiras de investimentos, motivo

pelo qual tais entidades são denominadas também de investidores institucionais.

Note-se que o complexo ambiente em que encontra-se inserido um fundo de pensão pode ser

representado na figura 2, na qual são apresentadas as principais dimensões que afetam sua

ação e determinam em que macro-ambiente seus stakeholders acabam por atuar.

Financeira

Econômica

JurídicaPolítica

Atuarial

Regulatória

Demográfica

Trabalhista

Assistencial

Social

Fundo de Pensão

Figura 2 – Diagrama de dimensões que afetam fundos de pensão

Tais dimensões podem ser brevemente descritas como segue:

38

a) Social

A influência da dimensão social em um fundo de pensão passa pela análise de seu papel na

estrutura das famílias abrangidas por seus benefícios. A estabilidade e o planejamento familiar

dependem da renda de benefícios percebida e, por conseguinte, a garantia do pagamento de

tais benefícios é sinal de ordem social para este extrato de população.

Em complemento a esta visão, tomemos o exemplo de pessoas que falecem e deixam pensões

a seus familiares. Neste momento, o fundo de pensão torna-se o porto seguro para o amparo

destas pessoas, caso o plano abranja cobertura de morte.

b) Financeira

A dimensão financeira diz respeito a uma das faces técnicas que compõem a missão de uma

EFPC. Desde os arranjos financeiros idealizados para o cálculo e pagamento de benefícios até

os conceitos e estruturas de investimentos determinam a importância desta dimensão para

entidade desta natureza.

c) Econômica

Pode-se ilustrar a dimensão econômica pela influência dos Fundos de Pensão na economia

nacional – como formadores de poupança na condição de investidores institucionais – e pelo

caráter econômico da renda gerada para a classe assistida.

d) Política

39

Os fundos de pensão são afetados pela dimensão política à medida que sofrem influência de

entes que lutam por seus interesses da maneira que mais lhe convém, utilizando-se de redes

políticas de relacionamento e influências para atuar em prol de seus objetivos. A exemplo

disso, cabe citar a ação dos sindicatos patronais ou laborais que militam em prol de melhorias

de benefícios e das condições de custeio dos planos.

Para os fundos de pensão patrocinados por estatais, esta dimensão ganha uma força adicional

quando, mesmo que indiretamente e dentro do legalmente previsto, a ação governamental

acaba por interferir nas atividades da Entidade.

e) Jurídica

A dimensão jurídica influencia fortemente as EFPCs, visto que suas atividades tratam de itens

normalmente de difícil acesso por grande parte da população abrangida e seu trato no âmbito

administrativo torna-se, por vezes, insuficiente. Sendo assim, o dia-a-dia operacional acaba

por apresentar demandas nascidas da controvérsia proveniente da diversidade de

interpretações legais das regras dos planos e dos demais ordenamentos legais, assim como dos

interesses muitas vezes antagônicos das partes envolvidas – principalmente EFPC,

fornecedores, participantes, beneficiários, patrocinadores e governo.

Dependendo do tempo de existência e do grau de maturidade da EFPC (benefícios concedidos

há mais tempo), seu contencioso costuma apresentar volume considerável de causas e

elevados valores normalmente vinculados a itens previdenciais, fazendo com que esta seja a

vertente mais complexa e robusta a ser tratada no eixo jurídico.

40

Ressalte-se que cabe ao fundo de pensão enfrentar cada questão com fundamento na máxima

proteção da poupança previdenciária de seus participantes, beneficiários e dependentes.

f) Regulatória

O processo de regulação da economia tem seu fundamento na tentativa de atenuação da

assimetria de informações de um dado mercado através da intervenção governamental através

de força legal em vista de um mínimo equilíbrio de mercado, onde proteções básicas aos

investidores são conferidas ou, pelo menos, incentivadas.

Assim, a dimensão regulatória acaba por interferir diretamente no funcionamento das EFPCs,

afetando vários níveis de decisão: o modelo de gestão, a definição de critérios técnicos de

cálculos de benefícios e custeios, bem como as regras mais complexas de destinação de

superávit tratadas neste estudo.

g) Demográfica

Fundos de pensão lidam com populações de participantes e beneficiários, recebendo destes as

contribuições e a eles concedendo os benefícios estabelecidos nos regulamentos dos planos.

Considerando que tais populações guardam características demográficas e biométricas que

têm direta influência no cálculo de benefícios e contribuições, assim como na mensuração das

reservas necessárias ao cumprimento das obrigações do fundo, a dimensão demográfica

assume lugar de grande importância nas vertentes técnicas tratadas em uma EFPC.

41

Envelhecimento, estilo de vida, hábitos, mortalidade, entrada em doença e entrada em

invalidez da população são considerados os principais elementos demográficos para os fundos

de pensão e o perfil de cada um destes aspectos é estudado para um preciso cálculo atuarial.

h) Trabalhista

A dimensão trabalhista influencia fortemente os fundos de pensão, visto que, em geral, os

contratos de cálculo e pagamento de benefícios previdenciais são decorrentes de itens

constantes das relações de trabalho, tais como: valor de salário, índice de reajuste salarial,

encerramento de vínculo trabalhista (condição para a concessão de benefício) e tempo de

contribuição durante o período de emprego.

Para o universo das entidades fechadas, a previdência complementar representa um benefício

ofertado aos empregados de empresas patrocinadoras, o que enseja que tal benefício consta

dos processos, análises e decisões atinentes às áreas de recursos humanos de tais empresas.

Além disso, forças atinentes aos movimentos sindicais agem direta e constantemente na

discussão das melhores condições trabalhistas, influenciando sobremaneira os processos de

definições e ajustes de planos de benefícios.

i) Assistencial

Esta dimensão diz respeito especificamente aos fundos de pensão que operam benefícios de

caráter assistencial, tais como os de oferecimento de atendimento de saúde à população

abrangida.

42

j) Atuarial

A dimensão atuarial resume o complexo ambiente técnico em que se encontram inseridas as

EFPCs. É com base nos cálculos atuariais que os custeios de planos de benefícios

complementares são estabelecidos com vistas ao pleno equilíbrio e solvência de suas

obrigações contratadas. Aliada às dimensões financeira, econômica e demográfica, a

dimensão atuarial configura o eixo onde são tratadas as soluções para os problemas em

previdência.

3.1.1. TIPOS DE PLANOS DE BENEFÍCIOS

Hendriksen e Van Breda in Chan, Silva e Martins (2006) definem plano de pensão como

sendo “um esquema de remuneração de empregados após o momento em que se aposentam.

Comumente, isto envolve uma série de pagamentos, mas o termo não exclui a possibilidade

de pagamento de uma única quantia”. Sem prejuízo conceitual, o termo plano de benefícios

pode assumir a mesma definição.

Povoas (2000) define plano de benefícios como sendo uma estrutura sistematizada e técnica

de benefícios previdenciários para atender, de forma generalizada ou seletiva, às necessidades

previdenciárias, fora da instituição da previdência oficial, de um grupo de pessoas, coletiva ou

individualmente consideradas.

43

De forma mais simplificada, pode-se ainda definir plano de benefício como um arranjo de

pagamento de benefícios previdenciais galgado em um conjunto de regras, direitos e

obrigações, reunidas em regulamento no âmbito de um ente de previdência complementar.

Os fundos de pensão administram planos de benefícios que podem ser do tipo benefício

definido - BD, contribuição definida - CD ou contribuição variável - CV. Segundo a

Resolução CGPC nº 16, de 22 de novembro de 2005, os tipos de planos de benefício são

caracterizados da seguinte maneira:

“Art. 2º Entende-se por plano de benefício de caráter previdenciário na modalidade de benefício

definido aquele cujos benefícios programados têm seu valor ou nível previamente estabelecidos, sendo

o custeio determinado atuarialmente, de forma a assegurar sua concessão e manutenção.

Art. 3o Entende-se por plano de benefícios de caráter previdenciário na modalidade de contribuição

definida aquele cujos benefícios programados têm seu valor permanentemente ajustado ao saldo de

conta mantido em favor do participante, inclusive na fase de percepção de benefícios, considerando o

resultado líquido de sua aplicação, os valores aportados e os benefícios pagos

Art. 4o Entende-se por plano de benefícios de caráter previdenciário na modalidade de contribuição

variável aquele cujos benefícios programados apresentem a conjugação das características das

modalidades de contribuição definida e benefício definido.” 9

9 Conde e Ernandes (2007) explicam que “a terminologia BD e CD é internacionalmente conhecida. Já o tipo

CV é uma inovação brasileira, e foi inicialmente utilizado na legislação das entidades abertas, pois a idéia era ter

um termo mais abrangente em substituição do CD. E assim foi feito: nas entidades abertas não se utiliza o termo

CD, e sim, CV. (...) Apesar da terminologia CV vista neste texto, existe uma miscelânea de conceitos, sendo que

alguns denominam de “planos mistos”, outros de “híbridos” e aqueles que preferem dar um nome próprio, tipo

XYZ, sem entrar no mérito da questão.”

44

Para efeito deste trabalho, serão concentrados esforços na exploração de detalhamentos

atinentes a planos BD, conforme estabelecido na delimitação do tema.

3.1.2. A ESTRUTURA DO CÁLCULO ATUARIAL

Os fundos de pensão, como citado anteriormente, administram seus planos de benefícios

gerindo fluxos de caixa cujas principais componentes são o recebimento de contribuições e o

pagamento de benefícios.

Em geral, planos BD operam em regimes financeiros de capitalização (para seus principais

benefícios), através dos quais o custeio dos benefícios a serem pagos – contabilmente

denominados “recursos utilizados” - provém das contribuições realizadas pelos participantes –

contabilmente denominadas “recursos coletados” – e dos rendimentos auferidos de aplicação

no mercado financeiro – receitas de investimentos.

Figura 3 – Períodos da vida do participante para o plano de benefícios Fonte: Conde e Ernandes (2007)

Considere-se, assim, na formação do fluxo de caixa supracitado, conforme ilustra a figura 3, a

existência de duas fases principais na vida de um participante de fundo de pensão: a fase de

acumulação de reservas (período de atividade) e a fase de fruição de benefício (período de

inatividade). Em linhas gerais, observa-se que o equilíbrio do plano de benefícios se dá a

partir da correta mensuração dos valores a serem aportados na fase de acumulação que

custearão plenamente a fase de fruição.

45

Nesse sentido, para o registro contábil das suas obrigações e direitos, o fundo de pensão lança

mão do cálculo atuarial que, de acordo com Conde e Ernandes (2007), tem por objetivo

principal medir o risco inerente às incertezas dos eventos geradores de despesas das operações

previdenciais e, por conseguinte, determinar as receitas de contribuições que geram o

equilíbrio do fluxo de caixa no longo prazo para toda a população coberta pelos planos de

benefícios.

Ainda segundo Conde e Ernandes (2007), no caso das Entidades de Previdência, há os riscos

por morte prematura, por incapacidade total e permanente, por aposentadoria e por

desemprego e, ainda, o mútuo auxílio financeiro. Portanto, estes são os principais eventos

geradores de despesas em operações previdenciais e seu caráter incerto estabelece a

necessidade de aplicação de fatores de probabilidade sobre os valores de despesa calculados

com base nas regras dos planos.

No tocante à receita previdenciária, a mesma necessidade se apresenta, dada a incerteza da

sobrevivência futura da população para o cumprimento das obrigações contributivas para o

plano. Assim, fatores de probabilidade devem ser aplicados às contribuições futuras, também

calculadas conforme as regras do plano, para o estabelecimento da esperança matemática de

sua ocorrência. Quando da avaliação atuarial, o atuário constata ou restabelece a adequação,

através do plano de custeio, dos recursos que devem ser arrecadados para cobertura dos

benefícios futuros, ou seja, das contribuições a serem arrecadadas (de participantes e

patrocinadores).

Em resumo, Conde e Ernandes (2007) comentam que um dos maiores objetivos dos cálculos

atuariais, aplicados às entidades de previdência é o de proporcionar o equilíbrio financeiro-

atuarial dos seus planos de benefícios. Colocam-se de um lado todas as obrigações do plano

46

de benefícios e, do outro, seus recursos, e a situação ideal é o equilíbrio entre esses valores.

Tal condição de equilíbrio está relacionada fundamentalmente ao acompanhamento atuarial.

O cálculo atuarial é formado por duas componentes principais que incidem diretamente em

cada unidade de fluxo: a financeira, dado que os valores tratados são monetários e o dinheiro

tem valor no tempo, e a probabilística, dada a incerteza dos eventos de pagamento e

recebimento. Conforme versa Capelo (1986), “a probabilidade estatística é o principal

elemento que a Matemática Atuarial acrescenta em seus cálculos que, de resto, se apóiam na

Matemática Financeira convencional”.

Quando do encerramento do exercício dos planos de benefícios, o atuário elabora o balanço

atuarial que apresenta os valores presentes atuariais – VPA dos fluxos de receitas e despesas

esperadas para toda a vida de participantes ativos, assistidos e dependentes considerados.

Como o cálculo de VPA constitui um exercício de previsão de compromissos futuros

posicionados na data da avaliação, para a elaboração destes cálculos, o atuário parte de

determinadas bases técnicas denominadas premissas atuariais. Em planos BD, as principais

premissas consideradas nos cálculos atuariais constituem:

Tábua Biométrica – Também denominada tábua de mortalidade, sobrevivência ou invalidez,

é o instrumento que mede a expectativa de vida e de morte dos participantes ou a

probabilidade de um participante em atividade se invalidar.

Não se tendo certeza do prazo que cada participante receberá seus benefícios, os fundos de

pensão se baseiam em experiências biométricas pré-calculadas para definição de um tempo

provável. Além disso, não sendo sabido que todos irão se aposentar de forma programada,

47

podendo alguns se invalidar ou falecer, tais estimativas são realizadas com base nas tábuas

biométricas.

Quanto à tábua de mortalidade, quanto menos mortes gerar em cada idade, ou seja, quanto

mais longeva for, maior o custo do plano, pois mais benefícios serão pagos ao longo do

tempo. Consequentemente, maior será a obrigação do plano de benefícios.

Quanto à tábua de entrada em invalidez, há dois efeitos esperados do agravamento das

expectativas de perda da capacidade laboral do empregado: a) a redução da obrigação, em

virtude de menos pessoas serem habilitadas ao recebimento da aposentadoria programada –

benefício mais caro da EFPC; e b) a elevação da obrigação pelo fato de mais pessoas

receberem benefícios decorrentes da incapacidade total ao trabalho (aposentadoria por

invalidez). Considerando-se que a mortalidade de inválidos (outra tábua normalmente

utilizada) é maior que a de válidos, espera-se que no cômputo final as obrigações reduzam

com o aumento da intensidade de entrada em invalidez considerada na população.

Capacidade Salarial e de Benefício – A expressão “capacidade”, muito utilizada nos

Estados Unidos e assim traduzida para o português, pode ser entendida como sendo o poder

de compra do salário ou do benefício entre duas datas de reajustes.

Teoricamente, quando o salário ou o benefício é reajustado, sua capacidade é de 100%, e à

medida que se distancia da data de reajuste, tanto o salário como o benefício sofrem

“achatamentos” e com isso a capacidade se reduz.

A aplicação desse mecanismo nos cálculos atuariais reconhece, portanto, as sobras ou as

perdas no custo do plano e nas reservas matemáticas, aproximando-a da realidade.

48

Taxa de Rotatividade – É o instrumento que mede a expectativa de desligamento do

participante do plano de benefícios, ou ainda, da desistência do plano. O efeito é análogo ao

da mortalidade e da invalidez.

Entrada de Gerações Futuras – Os cálculos atuariais contemplam a reposição de

participantes que irão se desligar do plano de benefícios. Os participantes que ainda irão se

inscrever no Plano podem ter as mais variadas características no tocante à remuneração,

idade, tempo de filiação e outros regimes de previdência social. Quanto ao participante que

está se desligando do plano, este pode estar sendo substituído por menos ou por mais de um

participante.

Assim, a junção de todas essas hipóteses pode reduzir a quantidade de participantes no futuro

ou gerar uma massa virtual de participantes, de tal sorte que esta poderá ou não compor os

valores futuros referentes a benefícios e contribuições.

Taxa de Crescimento Salarial – É uma estimativa colocada no plano que identifica qual a

remuneração do participante na data da aposentadoria. Parte-se do pressuposto que o

participante poderá obter promoções, vantagens ou achatamentos que terão um impacto

positivo ou negativo na remuneração a ser recebida na data da aposentadoria, repassando tal

efeito para o benefício.

Taxas de Juros – Todo sistema estruturado no regime de capitalização parte do pressuposto

da acumulação de capitais. Como hipótese, considera-se que contribuições de participantes e

patrocinadores serão aplicadas no mercado financeiro e espera-se que tenham um retorno real,

portanto acima da inflação, equivalente a uma determinada taxa de juros utilizada para o

49

desconto dos fluxos esperados (probabilísticos) de pagamentos e recebimentos no decorrer da

existência do fundo.

Como efeito esperado desta premissa, quanto maior a taxa de juros embutida nos cálculos

atuariais, menor o custo do plano e sua obrigação para com os beneficiários.

Mais adiante, detalhar-se-ão as premissas de taxa de juros e tábua de mortalidade, por serem

objetos centrais desta pesquisa.

Por fim, como item fundamental utilizado para as análises que serão dispostas nesta pesquisa,

convém apresentar o conceito de reserva ou provisão matemática (obrigação atuarial), sendo

este largamente difundido no mercado e utilizado pela norma contábil.

Para Conde e Ernandes (2007), provisão matemática refere-se ao valor determinado

atuarialmente que equilibra as responsabilidades futuras num contrato entre plano de

benefícios e participante. Ou seja, corresponde à diferença entre os encargos do plano de

benefícios e do participante, avaliados pela mesma tábua de mortalidade e taxa de juros à

mesma época.

Em linhas mais claras, os autores elucidam ainda que: “Reserva Matemática corresponde à

diferença, em determinado momento, entre o valor atual dos benefícios futuros do plano e o

valor atual das contribuições futuras; logo, reserva matemática é o valor que o Plano de

Benefícios deve ter em seu patrimônio, capaz de garantir seus compromissos futuros”.

50

3.1.3. ESTRUTURA CONTÁBIL E APURAÇÃO DO RESULTADO

Para o estudo proposto, faz-se necessária uma breve exploração da estrutura contábil de um

fundo de pensão, bem como da caracterização e forma de apuração de seu resultado.

3.1.3.1. ESTRUTURA CONTÁBIL

A Resolução CGPC n° 5, de 30 de janeiro de 2002, alterada pelas Resoluções CGPC n° 10, de

05 de julho de 2002, n° 01, de 24 de janeiro de 2003 e n° 13, de 1° de outubro de 2004,

estabeleceu os procedimentos contábeis das EFPCs e, conforme Silva, Chan e Martins (2007),

introduziu significativas mudanças na prática contábil, sendo a principal a obrigatoriedade de

contabilização por planos de benefícios ao invés de apenas por entidade, como era até então a

prática de mercado. Tal inovação visou evitar que o superávit de um plano ocultasse o déficit

de outro, distorcendo as análises da situação patrimonial de cada um.

Os principais modelos de demonstrações contábeis que devem ser elaborados e divulgados

por fundos de pensão correspondem ao balanço patrimonial, à demonstração de resultado de

exercício e às notas explicativas. Outras demonstrações também são requeridas, como a

demonstração dos fluxos financeiros a demonstração patrimonial e de resultados, o

demonstrativo da composição consolidada do exigível atuarial, dentre outros.

Abaixo, é apresentado o modelo geral do balanço patrimonial de uma EFPC e, em seguida, a

demonstração de resultados, conforme a Resolução CGPC n° 5/02, Anexo C.

51

Tabela 2 – Modelo de balanço patrimonial de fundo de pensão Fonte: Resolução CGPC n° 05/02, Anexo C

A T I V O

P A S S I V O

DISPONÍVEL

REALIZÁVEL

Programa Previdencial

Programa Assistencial Programa Administrativo

Programa de Investimentos

Renda Fixa Renda Variável

Investimentos Imobiliários Operações com Participantes

Outros Investimentos

PERMANENTE

Imobilizado

Diferido

EXIGÍVEL OPERACIONAL

Programa Previdencial Programa Assistencial Programa Administrativo

Programa de Investimentos

EXIGÍVEL CONTINGENCIAL

Programa Previdencial Programa Assistencial Programa Administrativo

EXIGÍVEL ATUARIAL

Provisões Matemáticas

Benefícios Concedidos Benefícios a Conceder ( - ) Provisões Matemáticas a Constituir

Provisões para Ajustes no Plano

RESERVAS E FUNDOS

Superávit Técnico Acumulado

Reserva de Contingência Reserva para Revisão de Plano

( - ) Déficit Técnico Acumulado

Fundos

Programa Previdencial Programa Assistencial Programa Administrativo

Programa de Investimentos

52

D E S C R I Ç Ã O

( + ) ( - ) (-/+) ( - ) ( + ) (+/-) (-/+) (-/+) (+/-) ( = ) ( + ) ( - ) (-/+) ( - ) ( + ) (+/-) (+/-) ( = ) ( + ) ( + ) ( - ) (-/+) ( - ) (+/-) (+/-) ( = )

PROGRAMA PREVIDENCIAL Recursos Coletados Recursos Utilizados Constituições/Reversões de Contingências Custeio Administrativo Recursos Oriundos do Programa Administrativo Resultados dos Investimentos Previdenciais Constituições/Reversões de Provisões Atuariais Constituições/Reversões de Fundos Operações Transitórias Superávit (Déficit) Técnico do Exercício PROGRAMA ASSISTENCIAL Recursos Coletados Recursos Utilizados Constituições/Reversões de Contingências Custeio Administrativo Recursos Oriundos do Programa Administrativo Resultados dos Investimentos Assistenciais Operações Transitórias Constituições (Reversões) de Fundos PROGRAMA ADMINISTRATIVO Recursos Oriundos de Outros Programas Receitas Despesas Constituições/Reversões de Contingências Recursos Transferidos para os Programas Previdencial/Assistencial Resultados dos Investimentos Administrativos Operações Transitórias Constituições (Reversões) de Fundos

(+/-) (+/-) (+/-) (+/-) (+/-) (+/-) (+/-) (+/-) (-/+) ( - ) (+/-) (+/-) ( = )

PROGRAMA DE INVESTIMENTOS Renda Fixa Renda Variável Investimentos Imobiliários Operações com Participantes Relacionados com o Disponível Obrigações Tributárias Outras Exigibilidades Outros Investimentos Constituições/Reversões de Contingências Custeio Administrativo Resultados Recebidos/Transferidos de Outros Programas Operações Transitórias Constituições (Reversões) de Fundos

Tabela 3 – Modelo de demonstração de resultado de fundo de pensão Fonte: Resolução CGPC n° 05/02, Anexo C

Segundo Silva, Chan e Martins (2007), o Balanço Patrimonial e a Demonstração de

Resultados das EFPCs possuem diversas peculiaridades, que as distinguem das demais

entidades mercantis ou financeiras. A principal diferença é que a contabilidade é totalmente

elaborada por programas e por tipo de plano de benefícios.

Conforme o item IV do Anexo E da Resolução n° 05/2002, cada programa tem a seguinte

caracterização:

53

Programa Previdencial – é o programa que registra a atividade precípua e de existência

obrigatória em uma EFPC, destinado ao registro contábil dos planos de benefícios de caráter

previdenciário.

Programa Assistencial – é o programa destinado ao registro contábil dos fatos relativos aos

planos de benefícios de assistência à saúde.

Programa Administativo – é o programa destinado ao gerenciamento da administração dos

planos de benefícios.

Programa de Investimentos – é o programa destinado ao gerenciamento das aplicações de

recursos da EFPC.

Para Chan, Silva e Martins (2006), “o fundamento para a contabilização por programa adveio

da necessidade de contabilizar em separado a atividade assistencial da previdencial sem que

para isto seja necessária a manutenção de duas escriturações contábeis para a mesma pessoa

jurídica. Dessa forma, a opção do órgão regulador foi a adoção de uma contabilidade por

“centro de custos”, segregando as principais atividades da entidade.”

Para tratar especificamente do resultado das EFPCs e da destinação de superávit, detalha-se,

na tabela 4, o grupamento de contas denominado “reservas e fundos” e seus componentes, que

servirão de base referencial para a análise:

54

2.4.0.0.00.00 RESERVAS E FUNDOS 2.4.1.0.00.00 SUPERÁVIT TÉCNICO ACUMULADO 2.4.1.1.00.00 RESERVA DE CONTINGÊNCIA 2.4.1.2.00.00 RESERVA PARA REVISÃO DE PLANO 2.4.2.0.00.00 (-) DÉFICIT TÉCNICO ACUMULADO 2.4.3.0.00.00 FUNDOS 2.4.3.1.00.00 PROGRAMA PREVIDENCIAL 2.4.3.1.01.00 FUNDOS PREVIDENCIAIS 2.4.3.2.00.00 PROGRAMA ASSISTENCIAL 2.4.3.2.01.00 FUNDOS ASSISTENCIAIS 2.4.3.3.00.00 PROGRAMA ADMINISTRATIVO 2.4.3.3.01.00 FUNDOS ADMINISTRATIVOS 2.4.3.3.09.00 SEGREGAÇÃO DE PLANOS - ADMINISTRATIVO 2.4.3.4.00.00 PROGRAMA DE INVESTIMENTOS 2.4.3.4.01.00 FUNDOS DOS INVESTIMENTOS 2.4.3.4.09.00 SEGREGAÇÃO DE PLANOS - INVESTIMENTOS

Tabela 4 – Plano de Contas de EFPC (Reservas e Fundos) Fonte: Resolução CGPC n° 05/02, Anexo A – Planificação Contábil Padrão

As contas relacionadas ao superávit dos planos, relativas à reserva de contingência e reserva

para revisão de plano, têm suas funções descritas da seguinte forma pela Resolução CGPC n°

05/02, Anexo B:

Reserva de Contingência - registrar o excedente patrimonial em relação aos compromissos

totais, até o limite de 25% do total das provisões matemáticas.

Reserva para Revisão de Plano - registrar o excedente patrimonial em relação aos

compromissos totais no que superar 25% do total das provisões matemáticas.

Convém salientar que ao tempo da elaboração deste estudo, uma Comissão Temática foi

instituída pelo CGPC para realizar a revisão do plano de contas em vigor. Dessa forma,

brevemente, a Comissão sugerirá àquele Conselho uma nova versão da planificação contábil

de EFPC.

Conforme publicou a Revista Investidor Institucional (Novembro 2008), dentre as alterações

propostas, destacam-se:

55

• A utilização obrigatória do PGA - Plano de Gestão Administrativa;

• Inclusão das modalidades de investimento previstas na Resolução 3.456 do Conselho

Monetário Nacional (CMN);

• Revisão das demonstrações contábeis (revisão da demonstração de resultados do

exercício e a criação do demonstrativo de mutação do ativo líquido, em atendimento

ao IAS 26 – International Accounting Standard 26;

• Implementação da segregação dos ativos de investimentos das atividades

previdenciária, assistencial e administrativa;

• Fortalecimento do CNPB (Cadastro Nacional de Planos de Benefícios), focando ainda

mais os planos e fixando a idéia de que os fundos de pensão são seus administradores;

• Segregação do patrimônio e dos resultados da atividade administrativa em um plano à

parte;

• Instituição de “regime de caixa” para contribuições de participantes de planos de

benefícios constituídos por instituidores;

• Flexibilização do custeio administrativo – tentativa de encerrar com o limitador de

sobrecarga administrativa de 15%, em troca de maior transparência nas despesas

administrativas à SPC e aos participantes.

56

3.1.3.2. APURAÇÃO DO RESULTADO

Referindo-se à contabilidade comercial em geral, Marion (1998) diz que a cada exercício

social (normalmente, um ano) a empresa deve apurar o resultado dos seus negócios. Comenta

ainda que para saber se obteve lucro ou prejuízo, a contabilidade confronta a receita (vendas)

com as despesas. Se a receita foi maior que a despesa, a empresa teve lucro. Se a receita foi

menor que a despesa, teve prejuízo.

Na ótica de uma EFPC, considerações devem ser realizadas para adequação deste conceito de

resultado. Primeiramente, verifique-se que fundos de pensão caracterizam-se como entidades

sem fins lucrativos, como se observa no texto da Lei Complementar n° 109, de 29 de maio de

2001:

“Art. 8° (...) § 1o As entidades fechadas organizar-se-ão sob a forma de fundação ou sociedade civil,

sem fins lucrativos.”

Sendo assim, tais entidades não apresentam lucro ou prejuízo em suas operações e sim

superávit ou déficit atuarial, ou seja, condições para o cumprimento das obrigações futuras ou

insuficiência de recursos para a sustentação de seus compromissos no longo prazo.

Acrescentando às conceituações sobre o resultado de EFPC, Conde e Ernandes (2007)

ensinam o seguinte:

“Do lado do ativo, são discriminados todos os bens e direitos da Entidade (disponível, investimentos,

realizável, permanente e outros).

57

Do lado passivo, são indicados o exigível não atuarial (contas a pagar e outras obrigações) e o exigível

atuarial, que, como o próprio nome diz, corresponde às obrigações da entidade atuarialmente

calculadas, representada pelas reservas matemáticas.

Para efeito de comparação, o Ativo Líquido, que é o ativo da Entidade menos o Exigível Não Atuarial,

e do outro lado o exigível atuarial e que, colocados em confronto, podem surgir três situações:

(1) Ativo Líquido = Exigível Atuarial. Esta situação é de equilíbrio, naquele momento.

(2) Ativo Líquido > Exigível Atuarial. Esta situação indica no momento um superávit técnico, ou seja,

a entidade dispõe de recursos mais do que suficientes para a cobertura dos compromissos

assumidos com os participantes.

(3) Ativo Líquido < Exigível Atuarial. Esta situação indica uma insuficiência da Entidade diante de

seus compromissos.”

Para iniciar futuras discussões quanto aos resultados do modelo proposto nesta pesquisa,

serão ilustradas as três situações emblemáticas em relação ao equilíbrio de resultado em

fundos de pensão.

3.1.3.2.1. O SUPERÁVIT ATUARIAL EM NÍVEL DE RESERVA DE CONTINGÊNCIA

A figura 4 apresenta uma estrutura de ativo x passivo de plano de benefício em fundo de

pensão apurado no encerramento de um ano “x” qualquer que mostra, além da situação de

equilíbrio, a constituição de reserva de contingência legalmente estabelecida no montante de

até 25% da reserva matemática.

58

Ativo Passivo

Reserva Matemática

Reserva de Contingência

Cobertura plena da Reserva

Matemática

Até 25% da RM

Figura 4 – O superávit atuarial em nível de reserva de contingência

Cabe observar que a reserva de contingência corresponde a um “colchão” de segurança

definido nos aparatos legais para proteção quanto aos diversos riscos a que estão expostos os

fundos de pensão, conforme citados anteriormente.

Embora isto esteja fora do escopo deste estudo, convém expor que, atualmente, o mercado

tem empreendido discussões acerca deste patamar de 25%. Os questionamentos giram em

torno tanto de seu volume quanto da lógica de sua aplicabilidade, visto que as diferenças entre

as estruturas de solvência das dezenas de diferentes planos de benefícios brasileiros e as

várias motivações para seus resultados levaria à necessidade de uma análise mais profunda da

volatilidade das reservas e patrimônios. Por conseguinte, caberia avaliar o risco de solvência,

para, a partir daí, haver o exercício de mensuração do nível ideal de reserva de contingência.

Para efeito deste estudo, a reserva de contingência sempre será considerada em seu patamar

legalmente estabelecido.

59

3.1.3.2.2. O SUPERÁVIT ATUARIAL EM NÍVEL DE RESERVA PARA REVISÃO DE

PLANO

A figura 5 apresenta uma estrutura de ativo x passivo de plano de benefício em fundo de

pensão apurado no encerramento de um ano “x” qualquer que mostra, além da situação de

equilíbrio e de formação da reserva de contingência, a constituição de reserva para ajuste de

plano, principal objeto das análises deste estudo.

Ativo Passivo

Reserva Matemática

Reserva de Contingência

Reserva para ajuste de plano

Cobertura plena da Reserva

Matemática

Até 25% da RM

Figura 5 – O superávit atuarial em nível de reserva para ajuste de plano

Verifique-se que, para qualquer hipótese a ser formulada a respeito da destinação de

superávit, deve-se partir desta situação de equilíbrio, na qual o valor a ser destinado a

participantes e patrocinadores, via ajuste de plano, será proveniente tão somente da reserva

para ajuste de plano.

60

Cabe lembrar que, conforme a norma em vigor, a apuração do montante de reserva para ajuste

de planos válida em um dado encerramento de exercício só deve ocorrer após o cumprimento

dos requisitos prévios já abordados anteriormente, dentre os quais, o ajuste de taxa de juros e

de tábua de mortalidade, avaliados neste trabalho.

Para todos os efeitos, caso a redução de taxa de juros ou mudança de tábua acarrete um

aumento de reserva matemática a níveis que superem o excedente que anteriormente

correspondia à reserva de ajuste de plano, é notório que será frustrada a tentativa de ajuste de

plano empreendida pela entidade.

3.1.3.2.3. O DÉFICIT ATUARIAL

A figura 6 apresenta uma estrutura de ativo x passivo de plano de benefício em fundo de

pensão apurado no encerramento de um ano “x” qualquer que mostra a formação de uma

situação de insuficiência patrimonial para cobertura das obrigações previdenciais, portanto, de

déficit atuarial.

Ativo Passivo

Reserva Matemática

Déficit Atuarial

Cobertura parcial da Reserva

Matemática

Figura 6 – O déficit atuarial

61

Embora o tratamento do déficit não esteja no escopo deste estudo, observe-se que a mesma

norma que trata da destinação de superávit também trata o saneamento de déficit atuarial.

3.2. RISCO E SOLVÊNCIA EM PLANOS BD

Para o estudo da destinação de superávit em fundos de pensão, é fundamental explorar alguns

conceitos de risco e de solvência que gravitam em torno deste ambiente, visto que as

implicações de qualquer movimento em direção da destinação de resultados positivos em

fundos de pensão deve ser galgada na análise pormenorizada destes dois pilares.

3.2.1. O RISCO EM PLANOS BD

Segundo Pereira (1997), um fundo de pensão sofre a ação dos mais variados riscos,

influenciando na sua situação atuarial. A identificação e estimação desses riscos é essencial,

tanto durante a fase de planejamento como no decorrer do funcionamento de uma entidade.

Pereira defende também a importância de avaliar a sensibilidade da solvência do fundo a

possíveis variações na estrutura desses riscos, que podem ser causadas por forças internas ou

externas e por variações razoáveis no plano de benefícios.

Sendo assim, para análise da destinação de superávit, com base no que demonstrou Rieche

(2005), convém apresentar os principais tipos de risco a que estão sujeitos os fundos de

pensão e que servirão de referência para as análises deste estudo:

“Risco de Mercado - O risco de mercado pode ser definido como o risco de perdas no valor do

portfólio decorrentes de flutuações nos preços e taxas de mercado. Os retornos esperados de um

62

investimento podem variar em decorrência de diversos fatores de mercado, cada qual com um risco

específico: taxas de juros, taxas de câmbio, preços de commodities e preços de ações.

Risco de Crédito - O risco de crédito refere-se ao risco de que uma mudança na qualidade do crédito

(por piora ou por default, no caso extremo em que as obrigações contratuais não são honradas) de uma

contraparte reduza o valor do portfólio. (...)Para um fundo de pensão, os empréstimos a participantes

são a fonte mais óbvia de risco de crédito, mas ele também existe em diversos outros instrumentos

financeiros, tais como swaps,títulos, ações e opções.

Risco operacional - Não há uma definição única para risco operacional. O Comitê da Basiléia o define

como “o risco de perdas resultantes de processos internos, indivíduos e sistemas inadequados ou falhos

ou de eventos externos. A definição inclui o risco legal, mas exclui o risco de reputação e o risco

estratégico.” O risco operacional está associado à operação do negócio e pode ser subdividido em três

tipos: risco de pessoas (incompetência e fraude); risco de processos (organização ineficiente, fluxo de

informações e de processos deficiente, responsabilidades mal definidas, gerando sobreposição ou

perda de comando, má utilização de modelos financeiros, execução errada de ordens e não

cumprimento de limites de operação); e risco de tecnologia (processamento de dados sujeitos a erros e

falhas de equipamentos).

Risco de Liquidez - Não ter liquidez suficiente é uma ameaça à operação normal dos negócios, ao

passo que o inverso é uma indicação de decisões de investimento subótimas. O risco de liquidez é o

risco financeiro de uma possível perda de liquidez, podendo ser de dois tipos [Jorion (1998)]:

• de mercado/produto – é o risco de que uma instituição não seja capaz de executar uma transação ao

preço de mercado atual em função de insuficiência de atividade no mercado, podendo ser gerenciado

por meio do estabelecimento de limites em determinados mercados ou produtos; e

• de fluxo de caixa/obtenção de recursos – diz respeito à incapacidade em cumprir com alguma

obrigação, forçando a liquidação de ativos em condições desfavoráveis, e é afetado por diversos

fatores (como maturidade dos passivos, fontes e condições do financiamento), podendo ser gerenciado

63

por meio do planejamento adequado das necessidades (com a limitação dos intervalos entre os fluxos

de caixa).”

Risco de Descasamento entre Ativos e Passivos - A gestão do risco de descasamento entre ativos e

passivos visa garantir o pagamento de aposentadorias ao menor custo e maior segurança possíveis.(...)

Pode-se interpretar o objetivo básico de um fundo de pensão como sendo o de decidir – a cada

momento – uma taxa de contribuição (mínima) e uma estratégia de investimentos de forma que os

passivos sejam cobertos com alta probabilidade, com base em três fontes de recursos: a) receitas do

portfólio de ativos; b) contribuições regulares feitas pelos patrocinadores e/ou pelos participantes

ativos; e c) contribuições emergenciais feitas pelos patrocinadores para cobrir déficits. A esse processo

de decisão dá-se o nome de gestão ativo-passivo, ou asset-liability management (ALM).(...) A

coordenação entre o fluxo de investimentos e obrigações visa sincronizar o cronograma de

pagamentos, procurando impedir que ele ocorra nos piores pontos do fluxo de caixa e, com isso,

reduzir a volatilidade. Os gestores confrontam-se, portanto, com dois objetivos interdependentes: a) um

de natureza estratégica (longo prazo), em que se define uma alocação ótima; e b) outro de natureza

tática (curto prazo), em que se define um percentual que funcionará como margem de manobra para

que se tenha alguma flexibilidade para ajustes na política anteriormente definida.”

Observe-se, de antemão, que o processo de destinação de superávit em fundos de pensão

passa, principalmente, pela análise dos riscos de mercado, de liquidez e de descasamento de

ativos e passivos, visto que o não estabelecimento de reservas para suporte de oscilações

nestes riscos podem comprometer severamente o resultado do plano, ensejando ajustes

contributivos para o restabelecimento da situação de equilíbrio.

64

3.2.2. SOLVÊNCIA EM PLANOS BD

Para a realização de exploração dos efeitos das regras de destinação de superávit em fundos

de pensão, faz-se necessária a realização de abordagem conceitual sobre solvência em Planos

BD.

De início, verifique-se que a Lei Complementar n° 109/01 dispõe o seguinte:

“Art. 18. (...) § 3o As reservas técnicas, provisões e fundos de cada plano de benefícios e os exigíveis a

qualquer título deverão atender permanentemente à cobertura integral dos compromissos assumidos

pelo plano de benefícios, ressalvadas excepcionalidades definidas pelo órgão regulador e

fiscalizador.”

De acordo com Pereira (1997), a solvência de um fundo de pensão está determinada pelo fato

de a entidade poder honrar com seus compromissos, ou seja, pagar suas contas. Estas

organizações conduzem a acumulação de uma vasta soma de dinheiro, que precisa ser

gerenciada e investida com grande senso de responsabilidade e oportunidade para que estejam

sempre solventes econômica e financeiramente.

Ainda Pereira (1997) apresenta dois tipos de solvência, cujos conceitos serão úteis a este

estudo:

Solvência econômica - Uma entidade está solvente economicamente, quando se calcula o

valor presente de todas as suas obrigações e verifica-se que o valor corrente dos seus ativos se

iguala ou ultrapassa esses compromissos.

65

Solvência financeira - Diz-se que um fundo de pensão está solvente financeiramente, quando

houver disponibilidades líquidas para cobrir as obrigações à medida que ocorrem. Para tanto,

cumpre monitorar as despesas de um fundo de pensão, mês a mês, para adequar os

desinvestimentos às necessidades de liquidez.

Portanto, resume-se que a solvência econômica está diretamente ligada ao conceito de

equilíbrio atuarial, enquanto que a solvência financeira encontra fundamento na análise de

liquidez da entidade ao longo do tempo de maturidade de suas obrigações. Ambos

representam conceitos relacionados com a monitoração dos riscos inerentes ao fundo,

especialmente os de mercado e de descasamento de ativos e passivos.

As razões que levam um fundo de pensão à insolvência, segundo Pereira (1997) são:

• Cobrança de contribuições inconsistentes com os benefícios assumidos;

• Ocorrência de mortes, entradas em invalidez e sobrevivências de participantes em

discrepância com as previstas nas tábuas biométricas;

• Aplicações em investimentos que não proporcionem rentabilidades no mínimo iguais à

taxa de juros atuarial utilizada; e

• Aplicações de recursos que não atendem às necessidades de liquidez de uma entidade.

Acrescente-se que os regramentos governamentais para o processo de destinação de superávit

em fundos de pensão, em exploração nesta pesquisa, tratam de exigir dos gestores de planos

de benefícios o ajuste de alguns fatores determinantes de solvência econômica e financeira,

66

dentre os quais podem ser destacados: a taxa de juros atuarial (meta) e as tábuas biométricas

de sobrevivência.

3.3. AS REGRAS DE DESTINAÇÃO DE SUPERÁVIT - HISTÓRICO LEGAL E

RESOLUÇÃO CGPC N° 26/08

De início, podemos citar Cunha Jr. (2007) que afirma: “os planos de aposentadoria devem ser

destinados ao equilíbrio, não é sua função gerar déficit ou superávit”. Em tese, este é o ideal:

a mensuração dos custeios dos planos constantemente compatíveis com as obrigações a serem

cobertas.

No entanto, diversos fatores tais como adversidades do ambiente macroeconômico,

imprecisão no estabelecimento de premissas nos cálculos atuariais - cujo exercício apresenta,

inevitavelmente, margem de erro - a estrutura financeira, operacional e de governança de cada

entidade, as variações de investimentos em mercado, dentre outros, geralmente levam os

fundos de pensão à manutenção de um estado de desequilíbrio seja em maior, seja em menor

grau.

Torna-se elementar a observação de que, para os gestores de fundos de pensão, o superávit é a

situação mais desejada, embora deste ponto tenha início uma discussão mais aprofundada de

como, quando e a partir de que monta patrimonial se deve iniciar um processo de destinação

do excedente.

O tratamento da destinação de superávit em fundos de pensão remonta aos primórdios da

legislação específica do setor. Primeiramente, à Lei nº 6.435/77, que trazia as seguintes

determinações:

67

“Art. 46. Nas entidades fechadas o resultado do exercício, satisfeitas todas as exigências legais e

regulamentares no que se refere aos benefícios, será destinado: à constituição de uma reserva de

contingência de benefícios até o limite de 25% (vinte e cinco por cento) do valor da reserva

matemática; e, havendo sobra, ao reajustamento de benefícios acima dos valores estipulados nos § 1o e

2o do artigo 42, liberando, se for o caso, parcial ou totalmente as patrocinadoras do compromisso

previsto no § 3o do mesmo artigo.”

No trecho apresentado, já se pode observar: a) a preocupação governamental com o

cumprimento das exigências técnicas dos planos para cobertura de benefícios anterior à

destinação de excedentes; b) a prioridade para reajustamento de benefícios acima dos índices

inflacionários, ao invés de qualquer outro tipo de destinação; c) um exercício inicial de

redução de obrigação do patrocinador quando de situação favorável do plano; e d) a

estipulação do percentual de 25% da reserva matemática para representar o mínimo

necessário de margem de solvência a ser preservado para mitigação de riscos de desequilíbrio.

Em 2001, sem tanta inovação ao que estava posto, a Lei Complementar n° 109/01 apresentou

o seguinte texto:

“Art. 20. O resultado superavitário dos planos de benefícios das entidades fechadas, ao final do

exercício, satisfeitas as exigências regulamentares relativas aos mencionados planos, será destinado à

constituição de reserva de contingência, para garantia de benefícios, até o limite de vinte e cinco por

cento do valor das reservas matemáticas.

§ 1o Constituída a reserva de contingência, com os valores excedentes será constituída reserva especial

para revisão do plano de benefícios.

§ 2o A não utilização da reserva especial por três exercícios consecutivos determinará a revisão

obrigatória do plano de benefícios da entidade.

68

§ 3o Se a revisão do plano de benefícios implicar redução de contribuições, deverá ser levada em

consideração a proporção existente entre as contribuições dos patrocinadores e dos participantes,

inclusive dos assistidos.”

Em síntese, apenas a criação da conta de reserva especial para revisão de plano e a

obrigatoriedade desta revisão em até três exercícios consecutivos de registro de tal reserva

foram as reais inovações, gerando no mercado diversos pontos de questionamentos. A

exemplo disso, Cunha Jr. (2007), em meio às discussões sobre o assunto em foros específicos,

trouxe à tona alguns pontos relevantes, quais sejam:

• A lei não define o que é superávit;

• A apuração do superávit deve ser verificada na data da avaliação atuarial;

• Os resultados (déficit ou superávit) verificados entre duas avaliações refletem a

variação de parte dos fatores que interferem no equilíbrio do plano (patrimônio real –

reservas teóricas);

• Não seria o caso de estabelecer níveis (qualificação) de superávit e tratar a sua

destinação de acordo com seus níveis?;

• A quem pertence o resultado positivo em um plano de benefício definido?;

• A primeira destinação do superávit deve ser a formação de reserva de contingência?

Independente do tipo ou grau de capitalização? Independente dos riscos associados ao

plano?;

69

• Existe um nível ideal de superávit? Por quê 25%? Até 25%? Por que três anos de

reserva para revisão do plano? De que forma o risco associado ao plano pode ser

considerado?;

• Deve haver prioridades na utilização do superávit?;

• O tempo de permanência do superávit deve ser considerado para definir a sua

destinação?;

• Planos abertos e fechados (saldados) devem ter o mesmo tratamento?;

• A causa do superávit deve ter influência na sua destinação? Ex: superávit decorrente

de rentabilidade deve ter tratamento diferente de superávit decorrente de crescimento

salarial abaixo da hipótese?;

• É possível ser justo na destinação do superávit? Como destinar àquele (e só àquele)

que proporcionou sua formação? Isso seria justo em planos que se assentam na

solidariedade entre participantes?

Embora parte destes questionamentos permaneça em discussão, alguns foram considerados

pelo governo brasileiro através de norma regulamentar que, em análise preliminar, objetivou

realizar avanços significativos na direção da proteção do investimento previdenciário

complementar.

O CGPC lançou, em 29 de setembro de 2008, a Resolução CGPC n° 26/08 cuja ementa

dispõe sobre as condições e os procedimentos a serem observados pelas entidades fechadas de

70

previdência complementar na apuração do resultado, na destinação e utilização de superávit e

no equacionamento de déficit dos planos de benefícios de caráter previdenciário que

administram, além de outras providências.

São três os principais objetos tratados pela norma: 1) a apuração do resultado; 2) a destinação

e utilização de superávit; e 3) equacionamento de déficit. Destes, a presente pesquisa aborda a

apuração do resultado e a destinação e utilização de superávit, visto que um é base para o

outro, não fazendo parte do escopo o equacionamento de déficit.

3.3.1. A APURAÇÃO DO RESULTADO

Conforme a Resolução CGPC n° 26/08, na apuração do resultado, dentre outros quesitos que

devem ser observados anteriormente à destinação de superávit, destacam-se:

• Observância do período de apuração do resultado: sempre ao final de cada exercício

• A precificação dos ativos e passivos: com os seguintes quesitos como considerações

preliminares à apuração do resultado:

“I - a satisfação das exigências regulamentares relativas ao custeio do plano, mediante o uso de

modelos e critérios consistentes;

II - os riscos que possam comprometer a realização dos objetivos do plano de benefícios, nos termos da

Resolução nº 13, de 1º de outubro de 2004;

71

III - a adequada precificação dos recursos garantidores do plano de benefícios, levando em conta o

valor ajustado ao risco para cada modalidade operacional, mediante o uso de modelos e critérios

consistentes;

IV - os parâmetros técnico-atuariais estabelecidos na Resolução n° 18, de 28 de março de 2006;e

V - o correto provisionamento das contingências passivas imputáveis ao plano de benefícios,

observados os princípios contábeis e as normas legais vigentes.”

• A constituição e manutenção dos fundos previdenciais: uso de propriedade na

constituição e manutenção de fundos previdenciais, com a observação da estrutura

técnica do plano de benefícios e indicação de fonte de custeio e finalidade, dentre

outros detalhamentos.

• O método de financiamento: não será admitida a alteração do método de

financiamento para fins de apuração do resultado do plano de benefícios.

3.3.2. DESTINAÇÃO E UTILIZAÇÃO DO SUPERÁVIT

Quanto à destinação e utilização de superávit, as disposições da Resolução CGPC n° 26/08,

estabelecem o que segue:

3.3.2.1. DEFINIÇÃO DA RESERVA DE CONTINGÊNCIA E RESERVA ESPECIAL:

A citada Resolução apresenta os seguintes conceitos de reserva de contingência e reserva

especial:

72

“Art. 7° O resultado superavitário do plano de benefícios será destinado à constituição de reserva de

contingência, até o limite de 25% (vinte e cinco por cento) do valor das reservas matemáticas, para

garantia dos benefícios contratados, em face de eventos futuros e incertos.

Parágrafo único. Para os fins do disposto no caput, serão consideradas as reservas matemáticas

atribuíveis aos benefícios cujo valor ou nível seja previamente estabelecido e cujo custeio seja

determinado atuarialmente, de forma a assegurar sua concessão e manutenção, bem como àqueles que

adquirem característica de benefício definido na fase de concessão.

Art. 8º Após a constituição da reserva de contingência, no montante integral de 25% (vinte e cinco por

cento) do valor das reservas matemáticas, os recursos excedentes serão empregados na constituição da

reserva especial para a revisão do plano de benefícios.”

3.3.2.2. CUMPRIMENTO DE LISTA DE QUESITOS TÉCNICOS PRÉVIOS:

Além das regras já apresentadas de formação das reservas de contingência e especial, a

Resolução CGPC n° 26/08 indica ainda condições prévias para a destinação do superávit,

quais sejam:

• Mensuração das causas do superávit: com base em parecer atuarial e estudo

econômico-financeiro, identificar, mensurar e avaliar a perenidade das causas que

deram origem ao superávit;

• Ajuste de tábuas biométricas: adoção, além de outras hipóteses consideradas

necessárias, de tábua biométrica que gere expectativas de vida completas iguais ou

superiores às resultantes da aplicação da tábua AT-2000;

73

• Ajuste de taxas de juros atuariais: adoção, além de outras hipóteses

consideradas necessárias, de taxa real de juros de 5% (cinco por cento) ao ano para

as projeções atuariais do plano de benefícios;

• Tratamento do desenquadramento de investimentos: dedução da reserva

especial do montante financeiro equivalente ao desenquadramento dos limites

relativos à composição e diversificação dos recursos garantidores de que trata a

norma aplicável;

• Tratamento das dívidas dos patrocinadores para com a entidade: dedução da

reserva especial do montante financeiro equivalente aos valores correspondentes

aos contratos de confissão de dívida firmados com patrocinadores relativos,

principalmente, a: contribuições em atraso, equacionamento de déficit e serviço

passado.

3.3.2.3. CUMPRIMENTO DE LISTA DE PRINCIPAIS QUESITOS E ORIENTAÇÕES

COMPLEMENTARES:

• Revisão voluntária e revisão obrigatória – a revisão obrigatória deverá ocorrer após

o decurso de três exercícios de acumulação de reserva especial e o valor deve

corresponder à integralidade da reserva especial acumulada. Já na revisão voluntária,

admite-se que haja destinação parcial da reserva especial, desde que observada a

natureza do superávit. Caso este seja apurado em função de causa conjuntural, sua

destinação e utilização devem estar embasadas em parecer atuarial e em estudos que

comprovem sua viabilidade e segurança.

74

• Cumprimento de proporção contributiva – na destinação da reserva especial,

deverão ser identificados os montantes atribuíveis aos participantes e assistidos, de um

lado, e ao patrocinador, de outro, observada a proporção contributiva do período em

que se deu a sua constituição, a partir das contribuições normais vertidas nesse

período.

A Resolução n° 26/08 dita, ainda, as formas de revisão do plano de benefícios, determinando

a ordem de aplicação de cada modalidade:

• Redução parcial ou integral de contribuições ou suspensão da cobrança de

contribuições no montante equivalente a, pelo menos, três exercícios –

considerando o ajuste do plano de custeio, podem ser estabelecidos ajustes de

contribuições, respeitados os quesitos de proporção entre participantes e assistidos,

bem como de patrocinadores. As condições estabelecidas para este ajuste de

contribuições são:

a) para participantes e assistidos: utilização da reserva especial para quitação das

contribuições extraordinárias10 porventura devidas.

b) para patrocinador: utilização da reserva especial para quitação das

contribuições extraordinárias e das eventuais dívidas existentes perante o plano

de benefícios.

10 Conforme a Lei Complementar n° 109/01, Art. 19, parágrafo único, as contribuições para plano de benefício em fundo de pensão classificam-se em: “I – normais, aquelas destinadas ao custeio dos benefícios previstos no respectivo plano; e II – extraordinárias, aquelas destinadas ao custeio de déficits, serviço passado e outras finalidades não incluídas na contribuição normal.

75

• Melhoria dos benefícios – a melhoria de benefícios é condicionada à previsão no

regulamento e na nota técnica atuarial do plano de benefícios. Especificamente para os

planos de benefícios patrocinados pelos entes de que trata o art. 1º da Lei

Complementar n.º 108, de 2001, a utilização da reserva especial para melhoria dos

benefícios deverá ocorrer sob a forma de benefício temporário, não incorporado ao

benefício mensal contratado, a ser pago enquanto houver recursos específicos

destinados a este fim.

• Reversão de valores de forma parcelada aos participantes, aos assistidos e/ou ao

patrocinador – Somente aplicável a planos em extinção e pode ser utilizada em

conjunto com a melhoria dos benefícios. Está condicionada à comprovação do excesso

de recursos garantidores no plano de benefícios, mediante: a cobertura integral do

valor presente dos benefícios e realização de auditoria prévia. A reversão de valores

deverá ser parcelada, iniciando-se pelo valor equivalente à devolução da última

contribuição recolhida e assim retroativamente, respeitado o prazo mínimo de 36 meses

para a duração do parcelamento e o cumprimento das obrigações fiscais.

Considerando-se, a priori, que todo movimento para ajuste de plano deve ser embasado por

estudos técnicos que o fundamente, como forma de conferir ainda mais segurança ao processo

de destinação de superávit, o Governo ainda estabelece dois pontos de controle relevantes:

• Aprovação da Secretaria de Previdência Complementar - SPC – A destinação da

reserva especial deverá ser submetida à aprovação da SPC antes do início da reversão

de valores.

76

• Auditoria específica – o fundo de pensão deverá promover, às suas custas, a

realização prévia de auditoria independente específica para avaliação dos recursos

garantidores e das reservas matemáticas do plano de benefícios, nos casos em que a

destinação da reserva especial envolver a reversão de valor aos participantes, aos

assistidos e/ou ao patrocinador.

Registre-se, ainda, que, em 30 de dezembro de 2008, a SPC baixou a Instrução SPC n° 28,

através da qual estabeleceu orientações e procedimentos a serem adotados pelas entidades

fechadas de previdência complementar para a execução da Resolução CGPC n° 26/08. Os

pontos abordados pela citada Instrução apenas aclaram a Resolução em tela, não inovando em

nada seu conteúdo.

77

4. METODOLOGIA DA PESQUISA

Este capítulo procura apresentar a forma de condução do processo de pesquisa deste estudo.

Analisam-se os principais conceitos quanto aos fins e meios de pesquisa constantes na

literatura e justifica-se a escolha da metodologia a ser utilizada para o alcance dos objetivos

do trabalho.

4.1. TIPO DE PESQUISA

Coletou-se de Collis e Hussey (2005) os seguintes detalhamentos acerca do tipo de pesquisa

proposta:

O presente trabalho pode ser caracterizado, de acordo com seu objetivo, como uma pesquisa

exploratória, realizada sobre problema ou questão de pesquisa quando há pouco ou nenhum

estudo anterior, tendo por objetivo a busca de padrões, idéias ou hipóteses, ao invés de testar

hipóteses ou confirmar uma hipótese.

De acordo com o processo - ou seja, o método adotado pelo pesquisador - classifica-se a

pesquisa como quantitativa, pois é focada na mensuração de eventos por meio de coleta e

análise de dados numéricos e aplicação de testes estatísticos.

A lógica da pesquisa é indutiva, pois representa um estudo no qual a teoria se forma a partir

da observação da realidade empírica, no caso, um teste de sensibilidade. O método indutivo

vai do específico para o geral.

78

No que concerne aos resultados da pesquisa, pode ser caracterizada como básica, pois é

conduzida para o aumento do entendimento de uma dada questão, sem enfatizar sua aplicação

imediata. O objetivo é a contribuição para o conhecimento, em vez de se resolver um

problema específico.

No paradigma quantitativo, dentre as suposições metodológicas aceitas observam-se os

“estudos experimentais”. Agora, conforme Barros e Lehfeld (2000) “a experimentação é

sempre realizada em situação de laboratório, isto é, com o controle de circunstâncias e

variáveis que possam interferir na relação da causa e efeito que está sendo estudada.”

Em complemento, Cervo e Bervian (2002) indicam que a pesquisa experimental “caracteriza-

se por manipular diretamente as variáveis relacionadas com o objeto de estudo. Neste tipo de

pesquisa, a manipulação das variáveis proporciona o estudo da relação entre causas e efeitos

de um determinado fenômeno. Com a criação de situações de controle, procura-se evitar a

interferência de variáveis intervenientes”.

Sendo assim, para o alcance dos objetivos deste trabalho, propõe-se a implementação de um

modelo matemático através do qual serão realizados testes de sensibilidade da reserva

matemática de um plano BD fictício à variação das premissas de taxa de juros atuariais e de

tábuas biométricas. Além disso, propõe-se a realização de testes de sensibilidade do resultado

deste mesmo plano às variações tanto de seu patrimônio, dadas as variações das premissas

pré-citadas.

79

4.2. MODELO APLICADO NA PESQUISA

Para responder suas questões de pesquisa, Silva, Chan e Martins (2007) utilizaram um modelo

de análise do equilíbrio atuarial dos planos de benefícios, realizando teste de sensibilidade a

partir da simulação do desenvolvimento de plano de benefícios hipotético simplificado, com o

uso de um só benefício de renda de aposentadoria temporária, buscando isolar o efeito de

eventuais desvios na premissa de ganhos reais de investimentos (meta atuarial) e retratando-o

em uma evolução temporal de resultados e seus reflexos nas demonstrações contábeis de um

plano de benefício definido - BD.

Considerando que os objetivos deste trabalho diferem dos levantados por Silva, Chan e

Martins (2007), o modelo de teste de sensibilidade será adaptado, observadas as formulações

atuariais constantes de Capelo (1986), especialmente naquilo que concerne ao cálculo de

benefício de renda de aposentadoria programada vitalícia antecipada e de contribuições

laborais antecipadas. Ambas servirão de base para o cálculo das reservas matemáticas do

modelo proposto neste estudo.

4.2.1. APRESENTAÇÃO DO MODELO ADAPTADO

A proposta do presente estudo é a de realizar um teste de sensibilidade às premissas atuariais

de taxa de juros e tábuas de mortalidade em um plano de benefício definido - BD fictício,

utilizando como parâmetros de cálculo algumas das características médias da população ativa

do plano de benefício definido da Fundação Petrobras de Seguridade Social – PETROS,

entidade fechada de previdência complementar patrocinada pela Petróleo Brasileiro S/A –

PETROBRAS, empresa de cujo quadro de empregados o autor faz parte.

80

Desta forma, elaborou-se um modelo reduzido de cálculo de obrigação atuarial, representada

pela reserva ou provisão matemática decorrente do cálculo de valor presente atuarial líquido

de um benefício de aposentadoria programada vitalícia pago ao grupo de participantes

proposto.

Convém reforçar que todas as formulações aqui apresentadas encontram fulcro em parte no

modelo apresentado por Silva, Chan e Martins (2007) e em parte nos ensinos de Conde e

Ernandes (2007) e Capelo (1986).

Nesta linha, define-se que o valor da reserva (ou provisão) matemática de benefícios a

conceder – RMBAC – utilizado no modelo estará estabelecido conforme a seguinte

formulação:

RMBAC = VPABC – VPACGA, onde:

Valor presente atuarial de benefícios a conceder – VPABC – cálculo do valor presente

atuarial de todos os benefícios esperados por serem pagos aos participantes atualmente ativos

no fundo de pensão, sendo sua formulação algébrica:

x

txtx D

DäBQVPABC +

+ ⋅⋅⋅⋅=12 , onde:

Q = quantidade de participantes

B = benefício de aposentadoria programada vitalícia devida no futuro ao participante

81

txä + = valor anual de uma série de pagamentos iguais à unidade de capital, pagável ao

participante enquanto viver e a partir da idade “x+t” ou prêmio único puro de uma

renda unitária anual, constante, vitalícia e antecipada. Corresponde à comutação tx

tx

D

N

+

+

txD + = )(. txtx vl +

+

xD = xx vl .

x = idade atual do participante ativo

t = tempo de participação do plano até a aposentadoria (período contributivo)

Valor presente atuarial das contribuições da geração atual – VPACGA - cálculo do valor

presente atuarial de todas as contribuições esperadas por serem recebidas pelo fundo de

pensão dos participantes atualmente ativos, sendo sua formulação algébrica:

+

−⋅⋅⋅= +

24

1112

x

txx

N

NNCQVPACGA , onde:

12 = quantidade de contribuições mensais em um ano

Q = quantidade de participantes

C = valor da contribuição mensal de participante ativo

82

xN = ∑∞

=+

0hhxD

txN + = ∑∞

=++

0hhtxD

x = idade atual do participante ativo

t = tempo de participação do plano até a aposentadoria (período contributivo)

Considerando a taxa de juros e as probabilidades de sobrevivência da tábua de mortalidade

parte do cálculo desta reserva matemática, poderemos, a partir daí, lançar mão deste modelo

para realizar o cálculo dos parâmetros propostos anteriormente para o teste de sensibilidade,

cujos passos a serem adotados apresentam-se a seguir:

Passo 1 – Caracterização do plano hipotético (Plano Alfa) e de pressupostos para cálculo –

cenário de referência:

a) Tipo de plano – benefício definido – BD

b) Estado do plano: em extinção (fechado ao ingresso de novos participantes)

c) Benefício previdenciário considerado: aposentadoria programada vitalícia.

Principal benefício ofertado pelo Plano Petros. Por simplificação, não é

considerada, neste modelo, reversão deste benefício em pensão para

dependentes.

83

d) População padrão: 28.159 participantes em atividade na Petrobras,

patrocinador do Plano Petros.

e) Idade atual do participante padrão: 50 anos (correspondente à média da

idade dos participantes ativos do Plano Petros).

f) Modalidade de contribuição considerada no modelo: contribuição normal,

conjunta (participante + patrocinador) e paritária (participante = patrocinador)

g) Valor de contribuição laboral mensal: R$ 200,00 (devida a partir da idade

atual do participante até a idade de aposentadoria)

h) Valor de benefício mensal: R$ 3.635,00 (renda de aposentadoria programada

vitalícia antecipada contratada para fruição a partir da aposentadoria. Valor

correspondente a cálculo de média aritmética simples do valor bruto de

benefício de aposentadoria programada dos participantes aposentados do Plano

Petros.)

i) 13° salário e 13° benefício: inexistentes

j) Idade de início de fruição de benefício de aposentadoria: 55 anos

k) Regime financeiro: mutualista de capitalização11

11 O regime financeiro de capitalização será entendido como aquele que considera, na fixação das reservas técnicas, o compromisso total da entidade para com os participantes, de tal modo que, em relação a esses compromissos, possa a entidade atendê-los sem a utilização de outros recursos de sua arrecadação, se as condições estabelecidas se verificarem. (Resolução MPAS/CPC N° 01, de 9 Outubro 1978)

84

l) Método de financiamento: agregado12

m) Ótica de cálculo de reserva matemática: visão prospectiva13

n) Premissa inflacionária: nula

o) Taxa de administração: nula

p) Taxa de juros atuarial real: 6% a.a.

q) Tábua de mortalidade: AT-83 (mínima estabelecida pela legislação das

EFPCs) em sua versão masculina.

Passo 2 – Implantação das formulações propostas em planilha eletrônica, MS Excel 2007;

Passo 3 – Cálculo da reserva matemática do plano hipotético (Plano Alfa) que servirá de

cenário de referência;

Passo 4 – Variação dos parâmetros de taxa de juros atuarial e anotação dos efeitos gerados

na reserva matemática em comparação com o cenário de referência;

Passo 5 – Variação dos parâmetros de tábuas de mortalidade e anotação dos efeitos gerados

na reserva matemática em comparação com o cenário de referência;

12 A principal característica deste método é estabelecer um “prêmio médio” através da proporção entre o “valor presente dos benefícios” de todos os participantes ativos e o “valor presente dos salários”. As contribuições são niveladas se a população se mantiver madura/estacionária, constituir reservas e caracterizar-se como um método grupal (Conde e Ernandes, 2007). 13 Visão prospectiva: olha para o futuro e estabelece que no momento x+t reserva = (Valor presente dos benefícios futuros) – (Valor presente dos prêmios futuros) (Capelo, 1986). Leia-se “prêmios” como contribuições de empregados em atividade.

85

Passo 6 – Variação dos parâmetros de taxa de juros atuarial e de tábua de mortalidade e

anotação dos efeitos gerados na reserva matemática em comparação com o cenário de

referência;

Passo 7 – Definição de diferentes níveis de patrimônio, inclusive aqueles que proporcionem

reserva de ajuste de plano no momento imediatamente anterior ao ajuste de premissas

orientado pela Resolução CGPC n° 26/08;

Passo 8 – Aplicação dos efeitos da Resolução CGPC n° 26/08 no Plano Alfa (cenário de

referência), considerando a variação dos parâmetros de taxa de juros atuarial e de tábua de

mortalidade e anotação das mudanças geradas no resultado atuarial dados os diferentes

níveis de patrimônio propostos.

4.2.2. VARIÁVEIS

Conforme exposto anteriormente, a listagem dos principais quesitos prévios de revisão de

plano estabelecidos pelo governo prévios à destinação de superávit excedente à reserva de

contingência (25% da reserva matemática), é a seguinte:

• Mensuração das causas do superávit

• Ajuste de tábuas biométricas

• Ajuste de taxas de juros atuariais

• Tratamento do desenquadramento de investimentos

86

• Tratamento das dívidas da entidade

Embora se perceba a importância de cada um dos quesitos de ajuste orientados pelo Governo,

preferiu-se selecionar as medidas de redução de ajuste de taxa de juros atuariais (desconto) e

de ajuste de tábuas biométricas (mortalidade, no caso) para implementação no modelo

proposto, em função de restrições de recursos para realização do estudo e da elevada

expressividade apresentada por tais premissas, buscando-se de forma lógico-indutiva,

responder às questões básicas levantadas.

Procede-se, a seguir, a conceituação, justificativa de escolha e definição de parâmetros das

variáveis propostas a serem utilizados.

4.2.2.1. TAXA DE JUROS ATUARIAL

4.2.2.1.1. CONCEITUAÇÃO E JUSTIFICATIVA DE ESCOLHA DA VARIÁVEL

Para todo sistema estruturado no regime de capitalização, tem-se como pressuposto a

acumulação de capitais, conforme Conde e Ernandes (2007). Na condição de premissa,

imagina-se que os capitais serão aplicados no mercado financeiro e terão um retorno ou uma

rentabilidade real, acima da inflação, equivalente a esta taxa de juros.

Analisando-se o ativo garantidor do pagamento de benefícios, percebe-se que a rentabilidade

esperada de longo prazo empregada sobre este ativo para a formação de montante que supra

as necessidades de curto, médio e longo prazo do fundo deve ser refletida também na

definição desta taxa de juros. Portanto, ela apresenta estreito relacionamento com as projeções

87

econômicas do país e com a previsão de rentabilidade das carteiras de investimentos do fundo

de pensão, assim como os conceitos de liquidez e solvência já explorados anteriormente.

Quando se trata especificamente do cálculo atuarial, a taxa de juros entra como fator de

desconto dos fluxos de benefícios e contribuições que comporão a reserva matemática. Isto já

sugere a forma de comportamento de tal reserva – e, por conseguinte, o custo do plano -

perante as modificações da taxa escolhida.

Figura 7– Relação entre taxa de juros e custo do plano / reserva matemática Fonte: Conde e Ernandes (2007)

Na figura 7, constata-se a relação inversa entre a taxa de juros atuarial e o custo do plano ou o

valor da reserva matemática. Portanto, à medida que se aumenta a taxa de juros, reduz-se o

valor da reserva matemática e vice-versa.

Ressalte-se que, conforme preceitua a legislação de fundos de pensão em vigor, o patamar

máximo de utilização da taxa de juros atuarial real é de 6% a.a14. Deste modo, nenhum

cálculo pode se valer de nível mais elevado de juros, de forma a obter valor mais reduzido de 14 Vide Resolução CGPC N° 18, de 28/03/06, onde estão estabelecidos os parâmetros técnico-atuariais para

estruturação de plano de benefícios de entidades fechadas de previdência complementar.

88

reserva matemática, a ponto de correr-se o risco de uma menor valoração das reais obrigações

do fundo de pensão para com os participantes e assistidos.

Convém observar que, atualmente, estudos indicam a tendência no mercado brasileiro de

convergência das taxas gerais de rentabilidade das carteiras de previdência complementar para

patamares inferiores aos 6% a.a. ora estabelecidos, o que tem motivado, há tempos, a

discussão no mercado em torno do movimento de redução e seu reflexo nas apurações de

obrigações atuariais15.

Como constatação deste movimento, percebe-se, na tabela 5, a distribuição das taxas de juros

utilizadas por 101 planos BD de fundos de pensão brasileiros. Embora a predominância

massiva seja do patamar de 6% a.a., já se observa um movimento de redução de taxa. Seja por

influência das perspectivas de mercado no longo prazo, seja por incentivo governamental

visando à austeridade na apuração de reservas matemáticas (caso das regras de destinação de

superávit, por exemplo), esta cautela parece já ter se consolidado no mercado nacional.

Tabela 5 – Distribuição de taxas de juros atuariais utilizadas em planos BD no Brasil Fonte: Revista dos Fundos de Pensão, n° 333, outubro 2007, pg. 53.

15 Consultar REIS, Adacir. Fundos de Pensão e Mercado de Capitais. Adacir Reis (Organizador), Ed. Peixoto Neto, Instituto SanTiago Dantas de Direito e Economia.

89

Os dados ora apresentados podem ser tidos como válidos para a atualidade, visto que a

mudança da premissa de taxa de juros sofre pouca variação nos processos de definição de

premissas pelos fundos de pensão. Além disso, a força de lei para o estabelecimento de teto

em 6% já vigora há bastante tempo, não havendo casos registrados de fundos de pensão que

ultrapassem este teto.

4.2.2.1.2. DEFINIÇÃO DOS PARÂMETROS

Observando-se o disposto até então, para realização do teste de sensibilidade à taxa de juros,

será utilizado, no modelo proposto mais adiante, um intervalo de taxa de 6 a 4% a.a., com

intervalos de 0,5 ponto percentual e apresentação de valores obtidos para a reserva

matemática.

Note-se que o ajuste de taxa de juros indicado pela Resolução CGPC n° 26/08 aponta para 5%

a.a. e tal valor encontra-se no intervalo estabelecido, da mesma forma que se encontra neste

intervalo o teto legal de 6%a.a.

4.2.2.2. TÁBUA DE MORTALIDADE

4.2.2.2.1. CONCEITUAÇÃO E JUSTIFICATIVA DE ESCOLHA DA VARIÁVEL

Para qualquer estudo correlacionado com o uso e aplicação de tábuas de mortalidade, faz-se

necessária a compreensão mais aprofundada do instrumento, sua construção e composição, a

fim de melhor acompanhar o cálculo de probabilidades de ocorrência de renda ou de

contribuição em um dado tempo de existência de um grupo definido, em função de sua

possível longevidade.

90

Uma tábua de mortalidade é formada a partir da observação do comportamento de uma

“Coorte” que, segundo Capelo (1986), corresponde a um “grupo de pessoas nascidas vivas

num mesmo espaço geográfico, num mesmo intervalo de tempo, fechado a migrações e que

tem a sua trajetória de vida analisada através de diversos indicadores demográficos até que o

mais longevo de seus participantes faleça”.

Da análise deste conceito, percebe-se a complexidade de montagem de tais instrumentos, em

virtude, principalmente, do tempo requerido para este estudo e da mobilidade da população ao

longo do tempo (Capelo, 1986). Deste modo, através de metodologias estatísticas e

simplificações aceitáveis, os demógrafos constroem as tábuas que, hoje inúmeras, são

utilizadas para o cálculo de rendas de aposentadoria, dentre outras aplicações.

A figura 8 representa a relação entre longevidade e custo do plano / reserva matemática.

Considerando que a relação é diretamente proporcional, conclui-se que, em geral, quanto mais

longeva for a tábua de mortalidade, mais obrigações o plano vai ter em seu cálculo atuarial.

Figura 8 – Relação entre longevidade (tábuas de mortalidade) e custo do plano / reserva

matemática

91

Para uso no modelo proposto, cabe apresentar as componentes das tábuas de mortalidade que

serão utilizadas nos testes de sensibilidade deste trabalho (vide anexos). Deste modo,

conforme Conde e Ernandes (2007) e Capelo (1986), temos que:

χ = uma pessoa de idade “x”

χq = probabilidade anual de morte ou probabilidade de uma pessoa de idade “x” falecer antes

de atingir a idade “x+1”

χl = número de pessoas vivas com idade “x”

χL = número de pessoas vivas no meio do ano. Corresponde a 2

1++ χχ ll

χT = Quantidade de existência ou o número de anos que, a partir da idade x, viverão os

componentes do grupo inicial χl , até a sua extinção. Corresponde a ∑∞

=+

0hhxL

Complementarmente às variáveis apresentadas, serão necessárias as seguintes comutações16:

xv = fator financeiro de acumulação ou desconto.

χD = xvl .χ

16 O cálculo das comutações foi desenvolvido em 1795 pelo alemão Hans-Nicolas Tettens e pelo inglês George Barret em 1786, no sentido de simplificar o “cálculo atuarial” (Conde e Ernandes, 2007). A tabela de comutações facilita o cálculo atuarial de rendas e demais, à medida que já embute os componentes do cálculo financeiro e atuarial em fatores únicos.

92

χN = ∑∞

=+

0hhxD

χä = valor anual de uma série de pagamentos iguais à unidade de capital, pagável a um

indivíduo enquanto viver e a partir da idade “x” ou prêmio único puro de uma renda unitária

anual, constante, vitalícia e antecipada. Corresponde à comutação xD

χea = esperança completa de vida. Corresponde à comutação xl

w = última idade de uma tábua de mortalidade

4.2.2.2.2. DEFINIÇÃO DOS PARÂMETROS

Para fundamentação da escolha das tábuas na realização dos testes de sensibilidade, observe-

se a tabela 6 que faz parte de estudo realizado pela consultoria Watson Wyatt em 2007,

constante de Alvernaz e Teixeira (2007). Ela demonstra, a partir de pesquisa realizada em 70

planos de benefícios no Brasil, quais as tábuas mais utilizadas para o cálculo de mortalidade

de ativos válidos, classe correspondente à população que será aplicada no modelo proposto.

93

Tabela 6 – Amostragem de tábuas de mortalidade no Brasil Fonte: Alvernaz e Teixeira (2007) – Pesquisa Watson Wyatt

Com isso, pondera-se que as tábuas de mortalidade a serem testadas no modelo sejam as três

seguintes, escolhidas por sua predominância no mercado brasileiro de EFPC e pela

conveniência de seus graus crescentes de longevidade resultante da aplicação de suas

probabilidades gerais, conforme ilustrado na tabela 7:

1) AT-83: tábua mínima da previdência complementar atual17, versão masculina;

2) AT-2000: tábua mínima para destinação de superávit, conforme a Resolução n°

26/08, de larga aplicação em cálculos de rendas de fundos de pensão brasileiros na

atualidade. Versão masculina; e

3) RP-2000 Geracional18: tábua mais longeva das três, que apresenta amplo uso em

cálculos atuariais nos Estados Unidos e surge como alternativa de uso no Brasil por

sua conceituação largamente aceita na comunidade atuarial. Versão feminina.

17 Vide Resolução CGPC N° 18, de 28/03/06, onde estão estabelecidos os parâmetros técnico-atuariais para

estruturação de plano de benefícios de entidades fechadas de previdência complementar.

94

Tábua de Mortalidade Esperança de Vida ao Nascer (anos)

AT 83 – Annuity Table 1983 M 78,69AT 2000– Annuity Table 2000 M 80,07RP 2000 Geracional F 82,56

Tabela 7 – Esperança completa de vida ao nascer de tábuas de mortalidade19

4.2.2.3. PATRIMÔNIO

4.2.2.3.1. CONCEITOS E APLICAÇÕES PARA O MODELO

Pressupondo-se o modelo previdenciário explorado neste trabalho como sendo de

capitalização, devemos tecer algumas considerações sobre o patrimônio líquido, também

denominado ativo garantidor de benefícios (ou ainda recurso garantidor de benefício),

formado para lastrear a obrigação previdencial (reserva matemática).

O patrimônio total investido em mercado de um fundo de pensão de grande porte é formado,

tradicionalmente, por quatro carteiras de investimentos, sendo elas: renda fixa, renda variável,

imóveis e operações com participantes.

Anualmente, a entidade fechada de previdência complementar formula sua política de

investimentos levando em consideração, principalmente, seu grau de maturidade20, o

18 As tábuas geracionais (diferentemente das tábuas estáticas – AT-83 e AT-2000) permitem avaliar o evento

mortalidade antecipando os efeitos do aumento da expectativa de vida que certamente ocorrerá em virtude da

melhoria das condições da vida humana, significando que um participante com 40 anos em 2005 teria uma

probabilidade de morte diferente de um outro participante que completou 40 anos em 2000. (Watson Wyatt,

2009).

19 Esperança completa de vida ao nascer das tábuas calculada com base nas comutações apresentadas anteriormente. 20 O conceito de “maturidade” em fundos de pensão está diretamente ligado ao estado de seu fluxo de caixa quanto ao equilíbrio entre o volume de pagamento de benefícios e o volume de recebimento de contribuições.

95

montante dos recursos garantidores das reservas técnicas e o modelo de gestão dos recursos

do seu plano de benefícios.

Para tornar o patrimônio investido líquido para cobrir benefícios (recurso garantidor de

benefício), é necessário deduzir toda e qualquer reserva financeira que não seja destinada à

cobertura de obrigações atuariais, tais como os exigíveis operacional, financeiro,

administrativo e assistencial, bem como os fundos previdencial e administrativo.

Para o desenvolvimento deste estudo, visto que seu objeto de análise é o efeito no equilíbrio

da aplicação das regras de destinação de superávit, o patrimônio líquido a ser considerado será

diretamente arbitrado para refletir condições ideais para testes.

4.3. DESCRIÇÃO DOS DADOS UTILIZADOS

Para o presente estudo foi realizada consulta a dados de participantes ativos e aposentados do

Plano Petros (BD), que são empregados e ex-empregados vinculados à Petrobras,

patrocinadora majoritária do Plano.

A base de dados utilizada é datada de setembro/2008 e foi a efetivamente utilizada para o

cálculo das obrigações atuariais com benefícios pós-emprego da Petrobras, em cumprimento

da determinação da Deliberação CVM n° 371/00 do exercício de 2008.

Na apresentação e análise de resultados também foram utilizados dados dos três maiores

fundos de pensão brasileiros coletados de seus sites, referentes aos exercícios de 2006 a 2008,

Caso este balanceamento seja negativo, isto representa que o fundo de pensão passa a ter seu grau de liquidez diretamente influenciado pelos ganhos dos investimentos.

96

os quais, apenas de maneira ilustrativa, serão comparados com os resultados do modelo

proposto neste trabalho.

4.4. MEDIDAS DE ANÁLISE DOS RESULTADOS DO MODELO

Para a compreensão das análises dos resultados do modelo aplicado neste estudo,

apresentamos, a seguir, alguns conceitos e formulações de indicadores utilizados.

4.4.1. GRAU DE COBERTURA DAS RESERVAS MATEMÁTICAS – GCRM (%)

Refere-se ao quociente observado entre o patrimônio destinado ao cumprimento de obrigações

atuariais, aqui representado por Pj, e a Reserva Matemática do Plano, aqui representada ora

por RMi e ora por RMn, conforme o momento anterior ou posterior à aplicação da Resolução

CGPC n° 26/08.

Pode-se apresentar sua formulação algébrica da seguinte maneira:

100xRM

PGCRM j

j = , onde:

GCRMj – Grau percentual de cobertura de Reserva Matemática proporcionado por um Patrimônio Pj.

Pj = Patrimônio de ordem j, onde j indica quantos níveis de patrimônio se pretende

testar no modelo.

RM = Reserva Matemática do plano em um momento qualquer

97

4.4.2. RELAÇÃO RESULTADO / RESERVA MATEMÁTICA – RR (%)

Esta relação representa o quanto o resultado representa da Reserva Matemática do plano. Tal

medida corresponde diretamente ao percentual citado pela Legislação quando esta trata do

registro contábil do superávit.

Quando a relação Resultado / Reserva Matemática resultar em até 25%, o plano apenas

resguarda tal valor na rubrica 2.4.1.00.00 - Reserva de Contingência do plano de contas da

EFPC. De outra forma, se o resultado exceder estes 25%, tal monta será registrada na rubrica

2.4.2.00.00 – Reserva para Ajuste de Plano.

Apresentamos, portanto, a formulação algébrica para a relação em tela:

100xRM

RESRR= , onde:

RR = Relação entre o resultado e a reserva matemática do plano em um momento

qualquer

RES = Resultado do plano em um momento qualquer

RM = Reserva Matemática do plano em um momento qualquer

98

4.4.3. RESULTADO ANTERIOR (RESa) E RESULTADO POSTERIOR (RESp) À

APLICAÇÃO DA RESOLUÇÃO CGPC N° 26/08

Conforme demonstrado neste estudo, a Resolução CGPC n° 26/08 orienta que, ao final de um

dado exercício, o plano que apresente resultado superavitário superior à Reserva de

Contingência, sendo esta correspondente a até 25% das Reservas Matemáticas, pode verificar

sua condição para destinação de excedente, caso, dentre outros pontos, atenda ao uso de taxa

de juros atuarial de 5% a.a. e de tábua de mortalidade mínima AT-2000.

Com isso, a parte final do modelo prevê a situação de resultado do cenário de referência

proposto para o Plano Alfa (com juros de 6% a.a. e tábua de mortalidade AT-83) anterior e

posterior à aplicação dos ajustes técnicos de taxa de juros atuarial e de tábuas de mortalidade

para destinação de superávit.

O ponto de partida para o patrimônio será a adoção de valores iniciais que corresponderão a

percentuais arbitrados de cobertura das reservas matemáticas que variarão de 170 a 110%.

A idéia é de demonstrar o quanto restaria de resultado no plano após a aplicação da norma,

dado que vários patamares de cobertura de obrigações são utilizados. Com isso, intenciona-se

verificar o nível necessário de cobertura patrimonial das reservas do plano para garantir que,

após aplicadas as medidas de ajuste de taxa de juros e de tábua de mortalidade, o plano ainda

possa destinar superávit.

Ilustra-se, a seguir, as formulações algébricas correspondentes ao que se pretende testar neste

item:

99

aja RMPRES −= , onde:

RESa= Resultado do plano anterior à aplicação da Norma

Pj = Patrimônio de ordem j, onde j indica quantos níveis de patrimônio se pretende

testar no modelo.

RMa = Reserva Matemática do plano anterior à aplicação da norma

pjp RMPRES −= , onde:

RESp = Resultado do plano posterior à aplicação da norma

Pj = Patrimônio de ordem j, onde j indica quantos níveis de patrimônio se pretende

testar no modelo.

RMp = Reserva Matemática do plano posterior à aplicação da norma

4.5. LIMITAÇÕES DO MODELO

Embora as sensibilidades relativas esperadas às variáveis independentes escolhidas sejam

razoáveis para fundamentação de hipóteses sobre o fenômeno estudado, convém citar as

limitações do modelo adotado:

• Embora o benefício de aposentadoria programada vitalícia utilizado represente a maior

parcela do custo de um plano de benefício definido tradicional, provavelmente um

100

modelo contendo uma gama mais ampla de benefícios, incluindo rendas decorrentes

de morte e invalidez, acarretaria resultados diferentes daqueles esperados na

modelagem proposta.

• Optou-se pelo uso de uma população de controle com características médias

homogêneas (idade, nível de contribuição, valor de benefício na aposentadoria etc.)

em virtude da indisponibilidade de recursos para o desenvolvimento de modelagem

que abrangesse população de características heterogêneas. Tal pormenor pode

representar fator de variação à realidade apresentada em um plano de pensão real.

101

5. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS DA PESQUISA

Neste capítulo apresentaremos os resultados do modelo proposto. Ele consistiu de três

principais estágios: 1) a montagem de testes de sensibilidade para as duas premissas

escolhidas: taxa de juros e tábua de mortalidade, conforme os parâmetros já sugeridos

anteriormente; e 2) a apresentação de um grupamento de cenários de diferentes níveis

patrimoniais para verificação dos resultados obtidos com cada um deles na situação antes e

depois da aplicação das determinações da Resolução CGPC nº 26/08, conforme as

formulações apresentadas no item 4.8 deste estudo; e 3) a apresentação de uma ilustração da

situação dos três últimos anos de resultado dos três maiores fundos de pensão brasileiros.

5.1. EFEITOS NA RESERVA MATEMÁTICA PARA VARIAÇÕES NA TAXA DE JUROS

ATUARIAL

Sensibilidade da Provisão Matemática à Taxa de JurosEm R$ Milhões

11.94812.833

13.81114.895

16.099

6,00% 5,50% 5,00% 4,50% 4,00%

Gráfico 3 – Sensibilidade da Provisão Matemática à premissa de Taxa de Juros Atuarial

102

O gráfico 3 mostra os reflexos no valor da reserva matemática originária de R$ 11.948

Milhões, calculada com as definições do cenário de referência do Plano Alfa, quando varia-se

a premissa de taxa de juros atuarial no intervalo proposto de 6 a 4% a.a., com intervalos de

0,5 ponto percentual.

R$ Milhões %6,00% 11.948 0 0,00%5,50% 12.833 885 7,41%5,00% 13.811 1.863 15,60%4,50% 14.895 2.947 24,67%4,00% 16.099 4.151 34,74%

Taxa de JurosVariação

Sensibilidade da Provisão Matemática à Taxa de Juro sProvisão Matemática

R$ Milhões

Tabela 8 – Sensibilidade da Provisão Matemática à premissa de Taxa de Juros Atuarial

A tabela 8 demonstra que a mudança de taxa de 6% para 5% a.a., conforme o que orienta a

implantação da Resolução nº 26/08, provocou variação de R$ 1.863 Milhões no valor da

Reserva Matemática, ou seja, 15,6% de elevação de obrigação do plano com relação ao valor

de referência.

O teste demonstra elevada sensibilidade do cálculo da reserva matemática às variações na taxa

de juros, a ponto de impedir a destinação de superávit no Plano Alfa, caso seu resultado

originário superasse em menos de 15,6% o valor da reserva de contingência. Deduz-se então,

que o Governo optou acertadamente pela exigência de adequação desta premissa em virtude

de sua elevada sensibilidade.

A tendência já consolidada de redução das taxas gerais de juros brasileiras é sinal desta

medida governamental, através da qual os planos já iniciariam um movimento de redução de

taxas de juros atuariais para patamares menores nos cálculos dos valores presentes atuariais de

fluxos de caixa previdenciais.

103

5.2. EFEITOS NA RESERVA MATEMÁTICA PARA VARIAÇÕES NA TÁBUA DE

MORTALIDADE

Sensibilidade da Provisão Matemática à Tábua de MortalidadeEm R$ Milhões

11.948

12.232

12.636

AT- 83 AT- 2000 RP- 2000

Gráfico 4 – Sensibilidade da Provisão Matemática à premissa de Tábua de Mortalidade

de Válidos

Por sua vez, o gráfico 4 mostra os reflexos no valor da reserva matemática originária de R$

11.948 Milhões, calculada com as definições do cenário de referência do Plano Alfa, quando

varia-se a premissa de tábua de mortalidade conforme as três tábuas propostas para teste: AT-

83, AT-2000 e RP-2000.

R$ Milhões %AT- 83 11.948 0 0,00%

AT- 2000 12.232 284 2,37%RP- 2000 12.636 688 5,76%

Sensibilidade da Provisão Matemática à Tábua de Mor talidade

Tábua de MortalidadeVariaçãoProvisão Matemática

R$ Milhões

Tabela 9 – Sensibilidade da Provisão Matemática à premissa de Tábua de Mortalidade de Válidos

Consultando-se a Tabela 9, observa-se que a variação observada da AT-83 para a AT-2000,

conforme o que orienta a implantação da Resolução nº 26/08 para destinação de superávit,

104

provocou crescimento em R$ 284 Milhões no valor da Reserva Matemática, ou seja, 2,37% de

elevação de obrigação do plano com relação ao valor originário.

O teste evidencia razoável sensibilidade do cálculo da reserva matemática às variações nas

tábuas de mortalidade de válidos. Embora tal sensibilidade seja bem inferior àquela

apresentada pela premissa de taxa de juros atuarial, ainda assim pondera-se que o Governo,

adotou esta como medida acertada de ajuste de premissa para possibilitar a destinação de

superávit.

Visto que a tendência da população é a de envelhecimento cada vez mais acentuado, os

movimentos de incentivo aos estudos de aderência de tábuas deve ser uma máxima adotada

pelo Governo para com os fundos de pensão.

5.3. EFEITOS NA RESERVA MATEMÁTICA PARA VARIAÇÕES NA TAXA DE JUROS

ATUARIAL E TÁBUA DE MORTALIDADE

Provisão Matemática Em R$ Milhões

14.17211.948

(500)1.5003.5005.5007.5009.500

11.50013.50015.50017.500

AT -83 e6%

AT -2000 e

6%

RP -2000 e

6%

AT -83 e5,5%

AT -2000 e5,5%

RP -2000 e5,5%

AT -83 e5%

AT -2000 e

5%

RP -2000 e

5%

AT -83 e4,5%

AT -2000 e4,5%

RP -2000 e4,5%

AT -83 e4%

AT -2000 e

4%

RP -2000 e

4%

Gráfico 5 – Sensibilidade da Provisão Matemática às premissas de Taxa de Juros Atuarial e Tábua de Mortalidade de Válidos

105

O gráfico 5 apresenta os reflexos no valor da reserva matemática originária de R$ 11.948

Milhões, calculada com as definições do cenário de referência do Plano Alfa, quando varia-se

as premissas de taxa de juros atuarial e de tábua de mortalidade de válidos, de acordo com os

parâmetros propostos para testes.

R$ Milhões %AT - 83 e 6% 11.948 0 0,00%

AT - 2000 e 6% 12.232 284 2,37%RP - 2000 e 6% 12.636 688 5,76%AT - 83 e 5,5% 12.833 885 7,41%

AT - 2000 e 5,5% 13.152 1.204 10,08%RP - 2000 e 5,5% 13.599 1.651 13,81%

AT - 83 e 5% 13.811 1.863 15,60%AT - 2000 e 5% 14.172 2.224 18,61%RP - 2000 e 5% 14.666 2.718 22,74%AT - 83 e 4,5% 14.895 2.947 24,67%

AT - 2000 e 4,5% 15.304 3.356 28,09%RP - 2000 e 4,5% 15.851 3.903 32,67%

AT - 83 e 4% 16.099 4.151 34,74%AT - 2000 e 4% 16.564 4.616 38,63%RP - 2000 e 4% 17.173 5.225 43,73%

Sensibilidade da Provisão Matemática à Taxa de Juro s e à Tábua de Mortalidade

Taxa de JurosVariaçãoProvisão Matemática

R$ Milhões

Tabela 10 – Sensibilidade da Provisão Matemática às premissas de Taxa de Juros Atuarial e Tábua de Mortalidade de Válidos

A Tabela 10 evidencia que a variação observada de aplicação da Resolução CGPC n° 26/08

no Plano Alfa posicionado no cenário de referência, ou seja, mudando-se a taxa de juros

atuarial de 6 para 5% a.a. e da tábua AT-83 para a AT-2000, provocou elevação em R$ 2.224

Milhões no valor da Reserva Matemática, ou seja, 18,37% de crescimento da obrigação do

plano com relação ao valor originário.

Com isso, evidencia que, afora outras medidas constantes na norma em questão, apenas a

aplicação destas duas medidas seria de grande impacto para um plano de benefícios.

106

5.4. EFEITOS NO RESULTADO PARA VARIAÇÕES NA TAXA DE JUROS ATUARIAL

E TÁBUA DE MORTALIDADE COM USO DE DIFERENTES NÍVEIS DE PATRIMÔNIO

Para averiguação do nível de eficácia das medidas do Governo de ajuste de taxas de juros

atuarial e de tábuas de mortalidade, imaginou-se a realização de uma análise de diferentes

posições de resultados anteriores e após a aplicação das medidas de ajuste de taxa de juros e

de tábuas de mortalidade de válidos, partindo-se de diferentes níveis iniciais de patrimônios.

Para tanto, tomou-se oito diferentes volumes patrimoniais que conferissem ao plano um

amplo espectro de níveis de cobertura de sua obrigação originária, constante do cenário de

referência.

Os resultados desta fase do teste estão apresentados na tabela 11:

107

Tabela 11 – Níveis de Patrimônio Antes e Depois da Aplicação da Norma – Estabelecimento de Patrimônio de Corte

Em R$

Grau de cobertura da reserva

matemática - GCRMPatrimônio

Reserva Matemática de Referência

(Taxa de 6% a.a. e Tábua AT-83)

Resultado Antes da aplicação da

Norma

Relação Resultado / Reserva Matemática (RR)

anterior à aplicação da Norma

Reserva Matemática após aplicação da

Norma(Taxa de 5% a.a. e Tábua AT-2000)

Resultado após aplicação da

Norma

Relação Resultado / Reserva Matemática (RR) posterior à aplicação da

Norma

Pode destinar superávit?

170,00% 20.311.672.203 11.948.042.472 8.363.629.731 70,00% 14.171.993.400 6.139.678.803 43,32% Sim160,00% 19.116.867.956 11.948.042.472 7.168.825.483 60,00% 14.171.993.400 4.944.874.556 34,89% Sim150,00% 17.922.063.708 11.948.042.472 5.974.021.236 50,00% 14.171.993.400 3.750.070.308 26,46% Sim148,27% 17.714.991.750 11.948.042.472 5.766.949.278 48,27% 14.171.993.401 3.542.998.349 25,00% Não 140,00% 16.727.259.461 11.948.042.472 4.779.216.989 40,00% 14.171.993.400 2.555.266.061 18,03% Não 130,00% 15.532.455.214 11.948.042.472 3.584.412.742 30,00% 14.171.993.400 1.360.461.814 9,60% Não 120,00% 14.337.650.967 11.948.042.472 2.389.608.494 20,00% 14.171.993.400 165.657.567 1,17% Não 110,00% 13.142.846.719 11.948.042.472 1.194.804.247 10,00% 14.171.993.400 (1.029.146.680) -7,26% Não

107

108

A tabela 11 demonstra que, em uma situação bastante favorável, com um patrimônio inicial

de R$ 20,3 Bilhões, correspondendo a um GCRM de 170% da reserva matemática, o Plano

Alfa apresentaria um RESa - resultado do plano anterior à aplicação da norma - de R$ 8,4

Bilhões. Com a aplicação da norma este resultado (RESp) passaria a R$ 6,2 Bilhões,

correspondendo a uma RR – relação resultado / reserva matemática – de 43,32%. Isto

equivale a 18,32 pontos percentuais de patrimônio que seriam registrados na conta “reserva

para revisão de plano”, portanto acima dos 25% destinados à “reserva de contingência”. Com

isto, deduz-se que, nestas condições, o plano poderia destinar superávit após a aplicação da

norma.

Em outro extremo da tabela 11, observa-se que em situação bem menos favorável que a

anterior, com um patrimônio inicial de R$ 13,1 Bilhões, correspondendo a um GCRM de

110% da reserva matemática, o Plano Alfa apresentaria um RESa de R$ 1,2 Bilhões. Com a

aplicação da norma este resultado passaria a ser deficitário em R$ 1 Bilhão, correspondendo a

uma RR de -7,26%, levando o plano a estado de insolvência econômica. É claro que, em tais

condições, a norma não seria aplicada e, por conseguinte, resultado algum seria destinado.

Como forma de obtenção de um GCRM inicial de “corte”, a partir do qual, após a aplicação

da Resolução n° 26/08, o plano poderia ter reservas registradas na conta “reserva para revisão

de plano”, calculou-se, por recorrência21, uma RR de 25% da reserva matemática após

aplicação da norma e verificou-se que patrimônio inicial corresponderia a esta relação final de

resultado / reserva matemática retornando-se as premissas atuariais para o cenário de

referência.

21 Através da ferramenta “Atingir Meta” do MS Excel 2007.

109

Sendo assim, como consta da tabela 11, para obtenção de um RR posterior à aplicação da

norma de, no mínimo 25%, calculou-se um patrimônio de R$ 17,7 Bilhões, que corresponde a

um GCRM inicial de 148,27% da reserva matemática. Com este patrimônio, restaria ao Plano

Alfa um RESp de R$ 3,5 Bilhões.

Isto significa que, nestas condições apresentadas para o Plano Alfa, qualquer resultado inicial

que excedesse R$ 5,8 Bilhões seria suficiente para gerar obrigação de destinação de superávit

do plano para com seus participantes e patrocinadores, de acordo com o que preconiza a

Resolução CGPC n° 26/08.

Como forma de melhor ilustrar os resultados da aplicação do modelo, plotou-se os principais

dados obtidos no gráfico 6. No eixo das ordenadas observa-se a medida RR inicial, variando

de 70 a 10%. No eixo esquerdo das abcissas verifica-se o resultado do Plano Alfa após a

aplicação da norma e no eixo direito das direito a medida RR após a aplicação da norma. Nas

colunas, a borda verde representa a faixa sujeita a destinação de superávit e a vermelha a faixa

que não atende às condições de destinação de superávit após a aplicação da Resolução CGPC

n° 26/08 por apresentar resultado inferior a 25% da Reserva Matemática, portanto, sem

formação de “reserva para revisão de plano.

110

6.140

3.543

(1.029)

-7,26%

25,00%

43,32%

(2.000)

(1.000)

-

1.000

2.000

3.000

4.000

5.000

6.000

7.000

70,00% 60,00% 50,00% 48,27% 40,00% 30,00% 20,00% 10,00%

Resultado / Reserva Matemática (%) Anterior à Norma

Res

ulta

do e

m

R$

Milh

ões

Apó

s a

Nor

ma

-10,00%

-5,00%

0,00%

5,00%

10,00%

15,00%

20,00%

25,00%

30,00%

35,00%

40,00%

45,00%

50,00%

Res

ulta

do /

Res

erva

Mat

emát

ica

(%)

Apó

s a

Nor

ma

Resultado em R$ milhões após a norma RR: Resultado/Reserva Matemática após a norma

Gráfico 6 – Níveis de Patrimônio Antes e Depois da Aplicação da Norma – Estabelecimento de Patrimônio de Corte

Enfim, em análise estrita ao que se apresenta neste modelo, deduz-se que, com as medidas

governamentais estabelecidas na Resolução CGPC n° 26/08, desconsiderando-se os demais

fatores não testados e constantes da norma, seria necessário um excesso patrimonial inicial de

quase 50% para que o Plano Alfa intentasse destinar superávit. Tal monta reputa-se como

deveras elevada, visto que pouquíssimos planos brasileiros detêm, atualmente, excedente de,

pelo menos 25% de suas reservas matemáticas. Que dirá 50%.

A extrema assimetria de características dos planos de benefícios definidos dos 370 fundos de

pensão no Brasil, tais como regras de formação de benefícios, hipóteses atuariais utilizadas e

fatores históricos de formação de resultados, não nos permite criar regra geral alguma quanto

ao patamar inicial de patrimônio suficiente para destinação de seus superávits a ponto de

podermos equiparar os resultados obtidos do modelo às realidades dos planos nacionais.

111

No entanto, à luz da teoria dos Stakeholders e observada a expressividade das variações

observadas na aplicação do modelo, apresenta-se como razoável a dedução de que é elevada a

eficácia da ação governamental com os ajustes propostos na Resolução CGPC n° 26/08.

Sendo assim, afora outros fatores constantes da norma que poderão ser mais ou menos severos

a uma ou outra entidade, apenas os elementos taxa de juros atuarial e tábua de mortalidade de

válidos já gerariam elevados efeitos de proteção ao investimento previdenciário

complementar dos participantes da maioria dos planos BD nacionais, caso estes estivessem

em condições patrimoniais para planejar uma destinação de superávit.

5.5. GRAU DE COBERTURA DAS RESERVAS DOS TRÊS MAIORES FUNDOS DE

PENSÃO E PREMISSAS UTILIZADAS – ILUSTRAÇÃO

Apenas com efeito ilustrativo para este estudo, apresenta-se, através do gráfico 7, a evolução

nos anos de 2006 a 2008 do GCRM dos três maiores fundos de pensão do país: PREVI,

PETROS e FUNCEF.

112

PREVI - Plano1 PETROS -

Plano Petros FUNCEF -Reg/Replan

Saldado

2006

2007

2008

139,73%

100,31%

92,36%

185,27%

93,14% 101,39%

161,00%

89,56% 101,66%

2006 2007 2008

Gráfico 7 – Grau de Cobertura das Reservas Matemáticas dos Três Maiores Fundos de Pensão Brasileiros

Fonte: Publicações dos Sites das Respectivas Entidades

Analisando-se o gráfico 7 observa-se que, previamente à aplicação da Resolução n° 26/08, a

única entidade que estaria em condições para destinar superávit seria a PREVI, apresentando

139,73% de cobertura das reservas matemáticas de seu Plano 1.

A tabela 12 demonstra as premissas de Taxa de Juros e de Tábua de Mortalidade de Válidos

utilizadas para os cálculos atuariais dos três referidos fundos de pensão:

113

Taxa de Juros AtuariaisTábua de Mortalidade

de VálidosPREVI - Plano 1 5,75% AT-83PETROS - Plano Petros Sistema Petrobras 6,00% AT-2000FUNCEF - Reg/Replan Saldado 5,50% AT-83

Tabela 12 – Premissas atuariais 2008 (Taxa de Juros Atuarial e Tábua de Mortalidade de Válidos) de planos BD dos três maiores fundos de pensão brasileiros

Constata-se que, à luz da Resolução n° 26/08, os três teriam que promover ajustes em suas

premissas. No entanto, conforme demonstrado anteriormente, apenas a PREVI estaria, a

priori , em condições de destinar superávit, devendo, para tanto, rever sua taxa de juros

atuarial de 5,75% para 5% a.a., assim como a sua tábua de mortalidade de válidos da AT-83

para a AT-2000.

Como já abordado de modo geral, dada a grande diferença de características entre o Plano

Alfa aqui proposto e o Plano 1 administrado pela PREVI, não se poderia realizar qualquer

relação entre os efeitos observados no modelo apresentado para explicar quaisquer medidas,

movimentos ou mesmo ações técnicas no plano da PREVI.

No entanto, se tomarmos a liberdade de realizar uma comparação simplificada apenas quanto

aos efeitos relativos obtidos nas sensibilidades calculadas para o Plano Alfa, podemos

observar o que segue:

• Considerando-se que, no Plano Alfa, foi necessário um GCRM superior a 148,27% da

RMa – reserva matemática anterior à aplicação da norma como mínimo para

destinação, poder-se-ía, apenas com a estrita observação deste indicador, ventilar a

hipótese de que o GCRM observado no Plano 1 da PREVI em 2008, no patamar de

139,73%, seria insuficiente para garantir que, após realizados os ajustes técnicos

114

necessários já comentados em suas premissas atuariais, haveria sobra de superávit

para realização de destinação.

• Mesmo com a redução da taxa de juros atuariais e ajuste de tábua de mortalidade,

pelas sensibilidades apresentadas neste modelo e salvo o cômputo de outras

obrigações da entidade aqui desconsideradas, o Plano 1 da PREVI estaria em

condições de ajustar estas hipóteses antecipadamente para os patamares mínimos da

Resolução CGPC n° 26/08 sem comprometer sua solvência econômica.

115

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste capítulo são revistos os objetivos do estudo e apresentadas as conclusões do teste de

sensibilidade, bem como apresentadas as limitações do estudo e as recomendações para

pesquisas futuras.

6.1. CONCLUSÕES

O objetivo geral deste estudo foi o de apresentar as medidas de intervenção do governo

brasileiro no processo de destinação de superávit em fundos de pensão, através da Resolução

CGPC n° 26/08, em prol da mitigação de riscos de insolvência e, por conseguinte, da maior

proteção do investimento previdenciário complementar dos participantes e patrocinadores.

No sentido de investigar o problema levantado neste estudo: “avaliar em quanto a

interferência regulatória do governo no processo de destinação de superávit em fundos de

pensão beneficia a mitigação de riscos de insolvência e, por conseqüência, contribui também

para a proteção do investimento previdenciário complementar dos participantes e

patrocinadores de planos BD de fundos de pensão”, objetivou-se especificamente a

mensuração da eficácia de duas das citadas medidas governamentais: a redução de taxa de

juros atuarial e mudança de tábua de mortalidade de válidos na apuração do resultado para

destinação de superávit.

A literatura disponível sobre o assunto aqui tratado, especialmente sobre análise de risco de

insolvência e de destinação de superávit em fundos de pensão, apresentou-se bastante escassa.

Com isso, tomou-se como referencial teórico na pesquisa bibliográfica a Teoria dos

116

Stakeholders e a Teoria da Regulação que, para todos os efeitos, fundamentam as ações

governamentais em prol da defesa dos investidores previdenciários, com a proteção do

indivíduo e de seu núcleo familiar como fundamento do direito previdenciário geral, bem

como o incentivo para formação de um mercado mais equilibrado e simétrico em

informações.

Para atingimento do objetivo de evidenciar a relevância e eficácia dos ajustes das premissas

de taxa de juros atuarial e de tábuas de mortalidade prévios à destinação de superávit em

EFPC, investigou-se, primeiramente a sensibilidade a essas premissas das reservas

matemáticas de um plano hipotético de benefício definido (BD) – Plano Alfa e,

posteriormente, aplicou-se simulações de resultados com o estabelecimento de cenários de

patrimônios de amplo espectro para observação do comportamento do plano.

Com isso, procurou-se estabelecer um nível mínimo de patrimônio inicial do plano que

permitisse a destinação de superávit após a aplicação das medidas de ajuste de premissas

previstas da norma governamental: taxa de juros atuarial de 6% a.a. (moda atualmente

observada nos planos brasileiros) para 5% a.a. (máximo exigido para apuração de reservas

para destinação de superávit) e de mudança da tábua de mortalidade AT-83 (tábua mínima de

amplo uso nos planos BD brasileiros) para a AT-2000 (mais longeva e mínima exigida para

destinação de superávit)

Ao final da aplicação do modelo, observou-se que o volume patrimonial inicial mínimo

necessário para início de formação de reserva para ajuste de plano ficou próximo de 50% das

reservas matemáticas. Tal patamar é considerado bastante significativo, dado que apenas em

condições de extrema favorabilidade de mercado alguns poucos fundos de pensão nacionais

teriam as condições de alcançar tal volume de recursos.

117

Observou-se ainda que o incentivo governamental de ajuste das duas premissas testadas

representa uma sinalização para o movimento de redução das taxas de juros básicas da

economia (SELIC) e do crescente aumento da longevidade da população brasileira esperadas

para os anos futuros. Estes fatores mostram-se determinantes para a solvência dos fundos de

pensão, com seus fluxos de obrigações projetados a horizontes de longuíssimo prazo e,

portanto, sujeitos aos efeitos duradouros destas duas premissas.

Embora este estudo tenha constatado a eficácia do ajuste das premissas apresentadas, observa-

se como fundamental o despertar do Governo para o incentivo à definição de modelos mais

acurados e criação de medidas objetivas de mensuração de risco plano a plano para

estabelecimento dos níveis individuais de reservas de contingência.

Em amparo a esta idéia, dentre as questões acerca do assunto apresentadas no decorrer deste

trabalho, Cunha Jr. (2007) questiona as regras de destinação de superávit por não

considerarem: o risco específico por plano, os fundamentos históricos e estruturais dos

superávits, o direito de posse dos excedentes apresentados (geração atual ou passada) e o

patamar fixo e legalmente imposto de formação de reserva de contingência (25% da reserva

matemática).

Com isso, resta-nos concluir que o mercado parece caminhar no sentido de acompanhar o

risco de insolvência de forma cada vez mais severa. No entanto, dadas as características dos

planos, as regras de destinação de superávit poderiam tornar-se, mais flexíveis e alinhadas às

características particulares de cada plano de benefício a elas sujeitos.

118

6.2. RECOMENDAÇÕES PARA PESQUISAS FUTURAS

Os estudos do equilíbrio e solvência econômica ou financeira em fundos de pensão têm

tomado lugar de destaque nos mercado mundiais, demandando esforços em diversas frentes e

com diferentes abordagens. A exemplo disso, os estudos de ALM – Asset and Liability

Management, através dos quais desenvolve-se modelos estocásticos de mensuração de risco

tanto do ativo quanto do passivo das entidades, têm, cada vez mais, se tornado necessidade

básica nos fundos de pensão.

Especialmente o tema de destinação de superávit necessitará de aprofundamentos mais

sólidos, à medida que o mercado for se desenvolvendo na direção de um ambiente mais

estruturado e com ações governamentais cada vez mais galgadas em mensurações de graus de

risco medidos por ferramentas cada vez mais desenvolvidas. Deste modo, explorações mais

profundas sobre o tema são bem justificadas, quais sejam:

• Ampliação do modelo de cálculo de reserva matemática e resultado atuarial para

mensuração mais precisa das medidas para ajuste de plano prévio à destinação de

superávit;

• Extrapolação da mensuração de impacto das demais medidas governamentais de

ajustes de planos da Resolução CGPC n° 26/08;

• Sugestão de modelagens de cálculo de exposição ao risco para estabelecimento de

níveis de reservas de contingência, plano a plano, levando-se em consideração as

peculiaridades de cada um;

119

• Coleta de dados de resultados dos principais fundos de pensão no Brasil e realização

de estudos estatísticos de chance de distribuição de superávit em ambiente real;

• Exploração de um cenário no qual o assistido e o participante optariam por desfrutar,

no presente, a parte que lhes cabe de todos os excessos do plano de pensão; e

• Realização de estudo de caso do Plano 1 da PREVI para averiguação de hipóteses

criadas neste estudo. Principalmente aquelas correspondentes aos efeitos da Resolução

n° 26/08 na decisão de destinação de superávit no exercício de 2009, dada a posição

de superávit no encerramento de 2008.

120

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126

APÊNDICES

APÊNDICE A – PLANILHA DE IMPLEMENTAÇÃO DO MODELO ADOTADO NA PESQUISA

127

ANEXOS

ANEXO A – TÁBUAS DE MORTALIDADE UTILIZADAS NO MODELO DA PESQUISA

Tábua de Mortalidade AT-83 Masculina

Fonte: SOA – Society of Actuaries. Código da Tábua: 830. Disponível em: http://xtbml.soa.org:8080/xtbml/table.zip. Acesso em: 06/05/2009

128

Tábua de Mortalidade AT-2000 Masculina

Fonte: SOA – Society of Actuaries. Código da Tábua: 885. Disponível em: http://xtbml.soa.org:8080/xtbml/table.zip. Acesso em: 06/05/2009

129

Tábua de Mortalidade RP-2000 Feminina

Fonte: SOA – Society of Actuaries. Código da Tábua: 991. Disponível em: http://xtbml.soa.org:8080/xtbml/table.zip. Acesso em: 06/05/2009

130

GLOSSÁRIO

Para a montagem deste Glossário, consultou-se o Dicionário de Termos Técnicos da

Previdência Complementar da ABRAPP/ICSS/SINDAPP (2005) e o Dicionário Houaiss On-

Line (UOL).

Assistido - participante de Plano de Benefícios, ou seu beneficiário, em gozo de benefício de

prestação continuada.

Atuária – Vide “Ciências Atuariais”

Atuário - pessoa graduada em Ciências Atuariais, registrada no IBA, responsável por lei, a

quem compete privativamente a elaboração dos planos técnicos, avaliando riscos, fixando

prêmios, contribuições e indenizações, e a avaliação das reservas matemáticas das empresas

privadas de seguros, capitalização, entidades de previdência social ou complementar. No

mercado econômico-financeiro, promove pesquisas e estabelece planos e políticas de

investimentos e amortizações.

Ativo do Plano - somatório de todos os bens e direitos do Plano de Benefícios. Vide

“Recurso Garantidor”.

Avaliação Atuarial - estudo realizado periodicamente, apoiado em levantamento de dados

estatísticos da população estudada e em bases técnicas atuariais, por meio do qual o atuário

avalia o valor dos compromissos e o valor dos recursos necessários à garantia da solvência e

equilíbrio do Plano de Benefícios.

131

Balancete Contábil - demonstrativo mensal que tem por finalidade apresentar a posição

financeira, patrimonial e de resultados dos Planos de Benefícios e da EFPC.

Balanço Patrimonial - demonstrativo que tem por finalidade apresentar a posição financeira

e patrimonial da EFPC em determinada data.

Bases Técnicas - ver “Hipóteses Atuariais”.

Beneficiário - dependente do participante, ou pessoa por ele designada, inscrito no Plano de

Benefícios nos termos do respectivo Regulamento, para fins de recebimento de benefícios por

ele oferecidos.

Benefício - 1) prestação previdenciária assegurada por Plano de Benefícios administrado por

EFPC, correspondente a pagamento em espécie, desde que cumpridos os requisitos previstos

no respectivo Regulamento; 2) prestação previdenciária básica assegurada pelo regime geral

de previdência social, correspondente a pagamento em espécie.

Benefício de Pagamento Único - benefício de caráter previdenciário cujo pagamento é

efetuado em uma só prestação.

Benefício de Prestação Continuada - benefício de caráter previdenciário pago

periodicamente, sob a forma de renda ou de anuidades.

Benefício de Risco - benefício de caráter previdenciário cuja concessão depende da

ocorrência de eventos não previsíveis, como a morte, a invalidez, a doença ou a reclusão.

132

Benefício Definido (BD) - modalidade de benefício cuja metodologia de cálculo é definida

nos termos do Regulamento, sendo as contribuições determinadas atuarialmente de forma a

garantir a sua concessão e manutenção nos níveis inicialmente contratados.

Benefício Programado e Continuado - benefício de caráter previdenciário cuja concessão

decorre de eventos previsíveis, previamente planejados pelo participante, desde que estejam

atendidos os requisitos previstos no Regulamento do Plano de Benefícios (condições de

elegibilidade), e cujo pagamento é realizado de forma periódica.

Cálculo Atuarial - metodologia de cálculo que adota os conceitos de risco inerentes às

Ciências Atuariais.

Ciências Atuariais - ramo da Matemática com atuação nas áreas de avaliação de riscos,

cálculos no setor de seguros, pecúlios, planos de aposentadoria, pensões, financiamento e

capitalização.

Contribuição - valor vertido ao Plano de Benefícios pelo participante, assistido ou

patrocinador, para o custeio dos benefícios e das despesas administrativas, conforme definido

no plano de custeio referente ao Plano de Benefícios.

Contribuição Definida (CD) - modalidade de benefício que tem como base de cálculo o

montante constituído pelas contribuições vertidas para o seu custeio e o correspondente

retorno líquido dos investimentos, apurado nos termos do Regulamento do Plano de

Benefícios.

133

Déficit Técnico - insuficiência patrimonial para cobertura dos compromissos do Plano de

Benefícios.

Demonstração de Resultados de Exercício - demonstrativo que informa receitas e despesas

reconhecidas durante o exercício, de forma a evidenciar o resultado líquido dos Planos de

Benefícios da EFPC.

Demonstrações Contábeis - conjunto de relatórios emitidos anualmente pelas EFPCs,

compondo-se do Balanço Patrimonial, Demonstração de Resultados, Demonstração dos

Fluxos Financeiros e respectivas notas explicativas às demonstrações contábeis.

Equilíbrio Técnico Atuarial - expressão utilizada para denotar a igualdade entre o total dos

recursos garantidores de um Plano de Benefícios, acrescido das contribuições futuras, e o total

dos compromissos atuais e futuros desse plano.

Estatuto - conjunto de princípios e normas que norteiam a EFPC e definem as diretrizes para

os atos de seus órgãos de administração, deliberação e fiscalização.

Exigível Atuarial - conta contábil que registra o total das Reservas Matemáticas do Plano de

Benefícios.

Expectativa de Vida - tempo estimado de vida para uma pessoa, a partir da sua idade atual,

extraído de uma tábua de sobrevivência.

Fator Atuarial - fator calculado com base em premissas que poderão ser de natureza

financeira, biométrica e demográfica, dentre outras, com o objetivo de preservar o equilíbrio

134

entre compromissos e obrigações recíprocas, a exemplo do cálculo de contribuições, prêmios

de seguro etc.

Governança Corporativa - sistema implantado no âmbito da EFPC, consistente na adoção

de princípios, regras e práticas de governança, gestão e controles internos capazes de

possibilitar o pleno cumprimento de seus objetivos.

Juros Atuariais - ver “Taxa de Juros Atuariais”.

Liquidez do Plano - existência, em dado momento, de ativos realizáveis capazes de cobrir os

compromissos financeiros do Plano de Benefícios em curto prazo.

Meta Atuarial - ver “Meta Mínima Atuarial”.

Meta Mínima Atuarial - valor mínimo esperado para o retorno de investimentos dos

recursos garantidores do Plano de Benefícios, geralmente fixado como sendo a taxa de juros

adotada na avaliação atuarial conjugada com o Índice do Plano.

Método de Financiamento Atuarial - metodologia adotada pelo atuário para estabelecer o

nível de constituição das reservas necessárias à cobertura dos benefícios estruturados no

regime financeiro de capitalização, em face das características biométricas, demográficas,

econômicas e financeiras dos participantes.

Mutualismo - princípio pelo qual os riscos inerentes ao Plano de Benefícios são avaliados em

função da coletividade e não individualmente, gerando solidariedade entre os participantes.

135

Órgão Fiscalizador - órgão definido por lei para supervisionar, fiscalizar, coordenar, orientar

e controlar as atividades das EFPCs.

Passivo Atuarial - valor atual, calculado atuarialmente, dos compromissos presentes e

futuros do Plano de Benefícios para com a sua massa de participantes na data da avaliação.

Participante - pessoa física que adere ao Plano de Benefícios administrado por uma EFPC.

Patrimônio Líquido do Plano - ver “Ativo do Plano”.

Patrocinador - empresa ou grupo de empresas, a União, os Estados, o Distrito Federal, os

Municípios, suas autarquias, fundações, sociedades de economia mista e outras entidades

públicas que instituam, para seus empregados ou servidores, Plano de Benefícios de caráter

previdenciário, por intermédio de EFPC.

Plano de Benefícios - conjunto de regras definidoras dos benefícios de caráter previdenciário,

bem como as relações jurídicas estabelecidas entre seus participantes, patrocinadores ou

instituidores, comum à totalidade das pessoas que a ele aderem, e que possui independência

patrimonial, contábil e financeira.

Plano de Contas - codificação alfanumérica estabelecida pelo órgão regulador das EFPCs

para padronizar a escrituração contábil.

Plano de Custeio - documento elaborado, com periodicidade mínima anual, pelo atuário

responsável pelo acompanhamento do Plano de Benefícios, no qual é estabelecido o nível de

contribuição necessário à constituição das suas reservas garantidoras de benefícios, fundos e

136

provisões, e à cobertura das demais despesas, em conformidade com os critérios fixados pelo

órgão regulador e fiscalizador.

Política de Investimentos - documento elaborado e aprovado no âmbito da EFPC, com

observância da legislação e de acordo com os compromissos atuariais do Plano de Benefícios,

com o intuito de definir a estratégia de alocação dos Recursos Garantidores do Plano no

horizonte de no mínimo cinco anos, com revisões anuais.

Premissas (ou Hipóteses) Atuariais - premissas ou hipóteses biométricas, demográficas,

econômicas e financeiras utilizadas pelo atuário na elaboração da avaliação atuarial do Plano

de Benefícios, adequadas às características do conjunto de participantes e ao respectivo

Regulamento.

Recursos Coletados - contribuições pagas ou devidas pelos patrocinadores, participantes e

assistidos, de acordo com o Regulamento e a Nota Técnica Atuarial do Plano de Benefícios,

mais os acréscimos de mora dos pagamentos em atraso.

Recursos Garantidores - parcela do Ativo destinada à cobertura dos benefícios oferecidos

pelo plano. Corresponde à diferença entre o Ativo do Plano e os exigíveis: operacional,

financeiro, administrativo e assistencial, bem como os fundos previdencial e administrativo.

Recursos Utilizados - valores pagos ou devidos a título de Benefício, Resgate ou

Portabilidade, de acordo com o Regulamento do Plano de Benefícios.

137

Regime Financeiro - método técnico adotado pelo atuário para estabelecer o nível e as

épocas de realização das contribuições necessárias para a cobertura dos benefícios

assegurados pelo Regulamento do Plano de Benefícios.

Regime Financeiro de Capitalização - regime que objetiva fixar taxas de custeio uniformes

por um período de tempo capazes de garantir a geração de receitas equivalentes ao fluxo de

fundos integralmente constituídos, para garantia dos benefícios iniciados durante o mesmo

período de tempo.

Regime Geral de Previdência Social - programa de natureza previdencial, de caráter

obrigatório e contributivo, instituído e administrado pelo Estado e gerenciado pelo Instituto

Nacional do Seguro Social – INSS.

Regulamento - instrumento que veicula o conjunto de normas disciplinadoras do Plano de

Benefícios.

Renda Vitalícia - prestação mensal paga vitaliciamente pelo Plano de Benefícios ao assistido,

considerando sua sobrevivência ou de seu grupo familiar.

Reserva de Contingência - conta contábil que registra o valor do Superávit Técnico do Plano

de Benefícios, limitada a 25% do valor da reserva matemática, com o objetivo de oferecer

garantia para os benefícios do Plano de Benefícios.

Reserva Especial para Revisão do Plano de Benefícios - conta contábil que registra o valor

do Superávit Técnico do Plano de Benefícios que exceder ao valor da Reserva de

Contingência, com o objetivo de ser utilizado, de forma voluntária, em até 3 (três) exercícios

138

consecutivos, na redução das contribuições ou na melhoria dos benefícios. (Conceito

revisitado e detalhado pela Resolução CGPC n° 26/08)

Reserva (ou Provisão) Matemática - valor monetário que designa os compromissos da

EFPC em relação a seus participantes em uma determinada data. Corresponde à soma da

Reserva Matemática de Benefícios a Conceder (RMBAC) e a Reserva Matemática de

Benefícios Concedidos (RMBC).

Reserva Matemática de Benefícios a Conceder (RMBAC) - corresponde à reserva

matemática relativa aos participantes que ainda não estão recebendo benefício pelo plano. A

determinação do seu valor depende do regime financeiro e do método de financiamento

atuarial adotado para a definição do custeio do Plano de Benefícios.

Reserva Matemática de Benefícios Concedidos (RMBC) - corresponde à reserva

matemática relativa aos assistidos em gozo de benefício pelo plano. Representa o valor atual

do compromisso da EFPC em relação a seus atuais assistidos, descontado o valor atual das

contribuições que esses assistidos e/ou respectivo patrocinador irão recolher à EFPC.

Risco - possibilidade de ocorrência de perda ou de ganho em virtude de desvio na meta

estabelecida, provocado por acontecimento aleatório.

Tábuas Biométricas - instrumentos estatísticos e demográficos utilizados pelos atuários para

medir, em cada idade, as probabilidades dos eventos de morte, sobrevivência, morbidez e

invalidez de determinado grupo de pessoas vinculadas a um Plano de Benefícios.

Tábua de Mortalidade – ver “Tábuas Biométricas”

139

Tábua de Sobrevivência - ver “Tábuas Biométricas”.

Taxa de Desconto - ver “Taxa de Juros Atuariais”.

Taxa de Juros Atuariais - hipótese utilizada na avaliação atuarial destinada a projetar o

comportamento, a longo prazo, dos retornos dos investimentos dos recursos garantidores,

excluído o efeito da inflação, e também para determinar o valor atual de qualquer

compromisso diferido do Plano de Benefícios.

Valor Atual - valor financeiro apurado em uma determinada data, obtido pela aplicação da

taxa de desconto (baseada na taxa de juros) sobre um fluxo futuro de um valor ou uma série

de valores.

Valor Atual das Contribuições Futuras - expressão habitualmente utilizada para designar o

valor atual do fluxo projetado das contribuições futuras que ingressarão no Plano de

Benefícios, calculado atuarialmente, considerando as hipóteses biométricas e econômicas

utilizadas, apurado na data da avaliação atuarial.

Valor Atual dos Benefícios - expressão habitualmente utilizada para designar o valor atual

do fluxo projetado dos benefícios futuros a serem pagos aos participantes do Plano de

Benefícios, calculado atuarialmente, considerando as hipóteses biométricas e econômicas

utilizadas, apurado na data da avaliação atuarial.

Valor Presente - ver “Valor Atual”.

140

Valor Presente das Contribuições Futuras - ver “Valor Atual das Contribuições Futuras”.

Valor Presente dos Benefícios - ver “Valor Atual dos Benefícios”.

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