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ANAIS EDITORES Félix H. D. González Ana C. R. Berreta Anne R. Guadagnin Faculdade de Veterinária Universidade Federal do Rio Grande do Sul Porto Alegre - RS, Brasil 2014

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ANAIS

EDITORES

Félix H. D. González

Ana C. R. Berreta

Anne R. Guadagnin

Faculdade de Veterinária

Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Porto Alegre - RS, Brasil

2014

EDITORES

Félix Gonzalez

Faculdade de Veterinária – Universidade Federal do Rio Grande do

Sul

Av. Bento Gonçalves 9090. Porto Alegre - RS 91.540-000

[email protected]

Ana Claudia Ramos Berreta Faculdade de Veterinária – Universidade Federal do Rio Grande do

Sul

Av. Bento Gonçalves 9090. Porto Alegre - RS 91.540-000

[email protected]

Anne Rosi Guadagnin Faculdade de Veterinária – Universidade Federal do Rio Grande do

Sul

Av. Bento Gonçalves 9090. Porto Alegre - RS 91.540-000

[email protected]

COMISSÃO ORGANIZADORA

Prof. Dr. Félix Hilario Diaz González

Ana Claudia Ramos Berreta

Angélica Petersen Dias

Anne Rosi Guadagnin

Mariana Soares da Silva

Rafael Marques Gomes

Catalogação na fonte: Ana Vera Finardi Rodrigues – CRB 10/884

Copyright 2014 by Félix H.D. González.

Todos os direitos reservados. Não é permitida a reprodução total ou parcial

desta publicação sem a autorização escrita e prévia dos editores.

S612 Simpósio Nacional da Vaca Leiteira (1. : 2014 : Porto Alegre).

Anais do 1º Simpósio Nacional da Vaca Leiteira / Editores:

Félix H. D. González, Ana C. R. Berreta, Anne R. Guadagnin. –

Porto Alegre, 2014.

239 p. ; il.

1. Medicina veterinária : vacas leiteiras I. González, Félix

H. D. II. Berreta, Ana C. R. III. Guadagnin, Anne R.

CDD 636.2

AUTORES CONTRIBUINTES

Bolívar Nóbrega de Faria

Recursos Humanos no Agronegócio Ltda - Belo Horizonte

[email protected]

Carlos Bondan

Serviço de Análises de Rebanhos Leiteiros – Universidade de Passo

Fundo

[email protected]

Enrico Ortolani

Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia– Universidade de São

Paulo

[email protected]

Felipe Cardoso

Department of Animal Science – University of Illinois

[email protected]

José Luiz Vasconcelos

Departamento de Produção Animal – Universidade Estadual Paulista

Júlio de Mesquita Filho

[email protected]

Manoel Francisco de Sá Filho

Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – Universidade de São

Paulo

[email protected]

Marcelo Cecim

Departamento de Clínica de Grandes Animais, Centro de Ciências

Rurais – Universidade Federal de Santa Maria

[email protected]

Márcio Nunes Correa

Faculdade de Veterinária – Universidade Federal de Pelotas

[email protected]

Marcos Neves Pereira

Departamento de Zootecnia - Universidade Federal de Lavras

[email protected]

Vivian Fischer Departamento de Zootecnia – Universidade Federal do Rio Grande do

Sul

[email protected]

APRESENTAÇÃO

A presente publicação reúne as palestras proferidas durante o

1º Simpósio Nacional da Vaca Leiteira, que o Laboratório de Análises

Clínicas Veterinárias, da Faculdade de Veterinária da Universidade

Federal do Rio Grande do Sul, organizou por iniciativa de um grupo

de alunos de Medicina Veterinária desta Universidade formandos em

2015/1.

O rebanho leiteiro do Rio Grande do Sul está entre os mais

produtivos e de maior taxa de crescimento na indústria leiteira do

Brasil. O potencial de crescimento corre em paralelo com as maiores

expectativas de demanda regional e nacional.

Os médicos veterinários que militam na pecuária de leite

devem ser cientes de que, os trabalhos, tanto de campo, como de

pesquisa estão permeados pela multidisciplinariedade, que envolve

conceitos de nutrição, metabolismo, clínica, reprodução, medicina

preventiva, produção e manejo alimentar.

No evento testemunhado pelo presente material, foram

convidados a participar palestrantes de várias Universidades do Brasil

e dos Estados Unidos, engajados no estudo da clínica, a nutrição e a

reprodução da vaca leiteira de alta produção. Trata-se de três áreas

responsáveis por mais de 80% dos limitantes na produção de gado

leiteiro. Os aspectos clínicos tratados aqui enfocam basicamente os

transtornos metabólicos e as doenças do periparto. O propósito do

evento é iniciar uma sequência de eventos que permitam a reciclagem

de conhecimentos em buiatria leiteira, de forma bianual, permitindo a

atualização aos profissionais que cada vez exigem mais atividades de

profundização.

Nosso mais sincero agradecimento aos professores e

pesquisadores que atenderam ao nosso chamado. Especiais

agradecimentos também às empresas e instituições que se vincularam

e apoiaram este evento, Laboratório BRAVET, Bayer Animal Care,

Ibasa/Importadora Bagé, KetoVet, Kera e Revista Balde Branco, bem

como a Universidade UniRitter (Laureate International Universities).

O simpósio contou com o apoio institucional da Fundação de Apoio a

Pesquisa do Rio Grande do Sul (FAPERGS) e da Pró-reitoria de

Extensão da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Os editores

Porto Alegre, novembro de 2014.

SUMÁRIO

1 MANEJO NUTRICIONAL PRÉ E PÓS-PARTO PARA

OTIMIZAR A FERTILIDADE EM VACAS DE LEITE 15

Felipe C. Cardoso

2 SUPLEMENTAÇÃO DE METIONINA PARA

MELHORAR A PRODUTIVIDADE DA VACA

LEITEIRA. ......................................................................... 34

Marcos Neves Pereira

3 COMO A DIETA PODE AFETAR A COMPOSIÇÃO

DO LEITE. ......................................................................... 52

Bolívar Nóbrega de Faria

4 CONTROLE LEITEIRO .................................................. 91

Carlos Bondan

5 TRANSTORNOS METABÓLICOS DA VACA

LEITEIRA NO PERÍODO DE TRANSIÇÃO ................ 107

Enrico Lippi Ortolani

6 TRANSTORNOS NO PERÍODO DE TRANSIÇÃO DA

VACA LEITEIRA COM ÊNFASE NAS

ENFERMIDADES UTERINAS E DA GLÂNDULA

MAMÁRIA ......................................................................... 127

Márcio Nunes Côrrea

7 BIOTÉCNICAS DA REPRODUÇÃO PARA

MELHORAR A FERTILIDADE DA VACA

LEITEIRA. ......................................................................... 152

Manoel Francisco de Sá Filho

8 O QUE DEVO SABER PARA DEFINIR O

PROTOCOLO DE IATF A SER UTILIZADO? ............ 189

José Luiz Moraes Vasconcelos

9 ESTRESSE CALÓRICO EM VACAS LEITEIRAS:

EFEITO SOBRE O METABOLISMO E A

QUALIDADE DO LEITE ................................................. 206

Vivian Fischer

10 BEM-ESTAR DE VACAS LEITEIRAS: MELHOR

PRODUÇÃO COM A VACA FELIZ .............................. 230

Marcelo da Silva Cecim

15

1. MANEJO NUTRICIONAL PRÉ E PÓS-PARTO PARA

OTIMIZAR A FERTILIDADE EM VACAS DE LEITE1.

Felipe C. Cardoso

1.1 Introdução

O sucesso reprodutivo é crítico para o sucesso econômico e

para a sustentabilidade de fazendas de leite em qualquer sistema de

produção. O sucesso reprodutivo depende de uma série de eventos

fisiológicos coordenados, incluindo retorno da ciclicidade ovariana

após o parto, desenvolvimento e ovulação de um oócito viável,

fertilização, involução uterina, desenvolvimento e implantação

embrionária e permanência da prenhez até a maturação fetal (Butler,

2003; Garnsworthy et al., 2008). A formulação de dietas e o manejo

da alimentação durante o período seco, período do periparto e período

imediato após o parto podem facilitar ou interromper diversos dos

passos citados acima antes da prenhez ser estabelecida e mantida

(Butler, 2003; Garnsworthy et al., 2008; Thatcher et al., 2011). As

taxas de concepção para vacas de alta produção que estão ciclando é

alta (> 70%) mas muitas vacas (> 50%) apresentam morte embrionária

1 Cardoso, F. C. Manejo nutricional pré e pós-parto para otimizar a

fertilidade em vacas de leite. Anais. I Simpósio Nacional da Vaca Leiteira.

Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 2014. 239 p.

16

precoce e falham em manter a prenhez (Diskin and Morris, 2008). Os

maiores pontos de ênfase relacionando nutrição e reprodução em

vacas de leite são a severidade e a duração do estado de nutrientes

negativo, o chamado balanço energético negativo (BEN), que no

começo da lactação é fortemente influenciado pelo manejo nutricional

e do ambiente durante o período de transição desde o final da prenhez

até o início da lactação.

O período de 6 a 8 semanas em torno do parto é conhecido

como o período de transição ou peripartum, crítico para determinar o

bem-estar e a lucratividade de vacas individualmente durante a

lactação seguinte (Drackley et al., 2005). Programas de manejo do

período de transição que não são adequados resultam em alta

prevalência de doenças da produção (i.e. deslocamento de abomaso)

em rebanhos leiteiros (Mulligan & Doherty, 2008). Distúrbios no

metabolismo durante o período de transição podem ter influência

direta ou indireta na fertilidade e transições difíceis têm impacto

negativo posteriormente na reprodução (Chapinal et al., 2012). Uma

grande variedade de estratégias nutricionais para facilitar as

adaptações metabólicas e fisiológicas da gestação até o início da

lactação têm sido propostas (Friggens et al., 2004; Roche et al., 2013).

Os objetivos deste artigo são de revisar as causas do BEN e o

impacto em distúrbios metabólicos, de relacionar como estes

distúrbios influenciam a reprodução e de avaliar como diferentes

estratégias nutricionais antes e depois do parto podem afetar o BEN e

a adequação dos nutrientes. O tema central do artigo é que o manejo

17

para promover maior ingestão de matéria seca (IMS) de dietas

corretamente balanceadas após o parto é o fator unificador de sucesso

durante o período de transição para otimizar a reprodução.

1.2 Fertilidade, Produção de Leite e Doenças do Periparto

Uma informação que é aceita por todos é a de que a fertilidade

de vacas de leite modernas está piorando, especialmente para a

genética Holstein, pelo menos em parte pela consequência indesejada

de seleção continuada para alta produção de leite. Esta informação foi

desafiada recentemente (LeBlanc, 2010; Bello et al., 2012). Existe

uma grande distribuição do sucesso reprodutivo tanto dentro do

rebanho como entre rebanhos. Por exemplo, entre cinco rebanhos na

California totalizando 6.396 vacas, encontrou-se que vacas que

estavam no mais baixo quartil para produção de leite nos primeiros 90

dias após o parto (32,1 kg/dia) tiveram menor probabilidade de retorno

ao ciclo estral aos 65 dias pós-parto quando comparado a vacas no 2º

quartil (39,1 kg/dia), no 3º quartil (43,6 kg/dia) ou no 4º quartil (50,0

kg/dia), de forma que a produção de leite não afetou a taxa de prenhez

(Santos et al., 2009). Mudanças de manejo e sistemas de manejo

inadequados potencialmente são mais limitantes para a fertilidade de

vacas de leite modernas do que a sua genética per se.

Vacas de leite são suscetíveis a doenças da produção durante

o periparto e início da lactação (Mulligan et al., 2006; Ingvartsen &

Moyes, 2013; Roche et al., 2013). Existe pouca evidência de que a

produção de leite per se contribua para maior ocorrência de doenças.

18

Entretanto, o pico de ocorrência de doenças (logo após o parto)

corresponde com o momento de maior BEN, com o pico de

concentração sanguínea de ácidos graxos não esterificados (AGNE) e

com a maior aceleração na produção de leite (Ingvartsen et al., 2003).

O pico na produção de leite ocorre muitas semanas após. Doenças

associadas com maior BEN no pós-parto estão também relacionadas

com subótima performance reprodutiva, incluindo fígado gorduroso

(Rukkwamsuk et al., 1999; Jorritsma et al., 2003) e cetose (Walsh et

al., 2007; McArt et al., 2012). Vacas que perderam mais de 1 unidade

(escala de 1-5) no escore de condição corporal (ECC) apresentaram

maior incidência de metrite, retenção de placenta e doenças

metabólicas (deslocamento de abomaso, hipocalcemia e cetose) e

também maior intervalo do parto até a primeira cobertura do que vacas

que perderam menos de 1 unidade durante o período de transição.

Indicadores do BEN são altamente correlacionados com perda

de produção de leite, aumento da prevalência de doenças e redução na

fertilidade (Ospina et al., 2010; Chapinal et al., 2012). Entretanto, o

grau no qual o BEN é o causador de doenças do periparto e não

somente um fenômeno associado, precisa ser examinado criticamente

(Roche et al., 2013). Por exemplo, a resposta inflamatória pode

reduzir a IMS em vacas no período de transição, causando alterações

no metabolismo e predispor vacas a um maior BEN ou maior

prevalência de doenças (Bertoni et al., 2008; Graugnard et al., 2012,

2013; Ingvartsen & Moyes, 2013).

19

Aumento na concentração de AGNE no pós-parto imediato e

redução na concentração de glicose estão fortemente associados com

a taxa de prenhez à primeira cobertura em um programa de

inseminação artificial em tempo fixo (IATF) (Garverick et al., 2013).

Apesar da concentração de AGNE não ter sido diferente entre vacas

que ovularam ou não antes do programa de IATF, a taxa de prenhez

reduziu com a maior concentração de AGNE e aumentou com a maior

concentração de glicose 3 dias após o parto (Garverick et al., 2013).

McArt et al. (2012) concluíram que vacas com cetose subclínica

diagnosticada entre 3 a 7 dias pós-parto tiveram 0,7 chances de serem

classificadas como prenhes ao primeiro serviço e 4,5 vezes mais

chances de serem removidas do rebanho nos primeiros 30 dias após o

parto quando comparadas a vacas que desenvolveram cetose 8 dias

após o parto ou mais tardiamente. Vacas que conseguem se adaptar à

subsequente lactação (Jorritsma et al., 2003) e conseguem evitar

problemas metabólicos (Ingvartsen et al., 2003) ou desbalanço

fisiológico (Ingvartsen and Moyes, 2013) são capazes de suportar alta

produção de leite e reproduzir com sucesso.

20

1.3 Balanço Energético Negativo (BEN) e Fertilidade Subótima

As vacas não têm a capacidade de consumir nutrientes

energéticos através de IMS voluntária após o parto para suprir os

requerimentos para produção de leite. Consequentemente, o BEN

ocorre por um período de dias a semanas durante o começo da

lactação. Apesar de estudos não terem demostrado uma forte relação

entre o grau de BEN e a fertilidade, o tempo para o valor mínimo do

BEN e a direção e/ou grau de mudança no BEN parecem ser fortes

indicadores (Whitaker et al., 1993; Butler, 2003; Reist et al., 2003).

Os mecanismos potencialmente envolvidos nos efeitos danosos do

BEN na reprodução incluem: (1) lento retorno da ciclicidade ovariana,

(2) impacto na qualidade, viabilidade, ou função do ovócito ou do

corpo lúteo, e (3) desenvolvimento de lipidose hepática.

Em geral, vacas que ovulam mais cedo depois do parto tem

maior fertilidade (Butler, 2003; Bossaert et al., 2008; Galvão et al.,

2010). A produção de estrógeno pelo folículo dominante, a

recuperação da secreção e pulsatilidade de LH, e a resposta do ovário

ao LH vão determinar o sucesso da ovulação. O estado do BEN no

pós-parto é negativamente associado com a performance reprodutiva

em parte porque interrompe aqueles 3 fatores (Butler, 2003). A

insulina é o hormônio que normalmente reflete o estado energético e

a adequação nutricional à dieta, podendo ser a primeira ligação entre

os sistemas metabólico e reprodutivo. Baixas concentrações de

insulina e IGF-I (insulin-like growth factor 1) foram associadas à

baixa qualidade do corpo lúteo e do ovócito (Jorritsma et al., 2003).

21

A lipidose hepática está negativamente associada com a

fertilidade (Rukkwamsuk et al., 1999), o que pode ser um efeito

indireto do excessivo BEN em vacas. Entretanto, talvez existam

efeitos negativos diretos da infiltração hepática por lipídeos e a

reprodução. Um grande número de funções vitais do fígado é

negativamente afetado por cetose e infiltração hepática de lipídeos no

pós-parto imediato (Loor et al., 2007). Um exemplo é o aumento da

taxa de apoptose, identificada pela análise do fígado pela técnica de

micro arranjo (Loor et al., 2007) e mais recentemente por métodos

funcionais diretos (Tharwat et al., 2012).

1.4 Manejo nutricional para controlar o BEN e otimizar a

fertilidade.

O balanço energético negativo no pós-parto inicia com a

síntese de leite, entretanto, a severidade do BEN em vacas é

fracamente associada com a produção de leite ou a secreção energética

de leite. O grau e duração do BEN está fortemente associado com IMS

(Zurek et al., 1995; Drackley et al., 2005). Consequentemente,

alimentação e estratégias de manejo para vacas no período seco,

durante o período de transição ou no pós-parto imediato devem buscar

fornecer os nutrientes necessários mas também promover o apetite e a

vigorosa IMS após o parto (Grummer et al., 2004).

Alguns fatores importantes a serem considerados para

promover o apetite e a alta IMS após o parto são: (1) reduzir fatores

estressantes externos e manter as vacas confortáveis, (2) evitar escore

22

de condição corporal (ECC) excessivamente alto ou baixo, (3)

prevenir o consumo exagerado de energia durante o período seco, (4)

assegurar a ingestão de forragens com alto valor de fibra efetiva e

evitar a ingestão excessiva de carboidratos rapidamente fermentáveis

na dieta após o parto, (5) reduzir a diferença cátion-ânion da dieta

(DCAD) antes do parto mas aumentar na dieta da vaca durante o pós-

parto imediato, e (6) garantir suporte de nutrientes para o sistema

imunológico. Estratégias nutricionais para auxiliar vacas em fazer

estas adaptações foram revisados (Friggens et al., 2004; Beever, 2006;

Ingvartsen, 2006; Drackley & Dann, 2008; Lean et al., 2013a, b;

Roche et al., 2013).

Bach et al. (2008) concluíram que o manejo não-nutricional

representou mais de 50% da variação média de produção de leite (20,6

a 33,8 kg/dia) entre 47 rebanhos que consumiam exatamente a mesma

dieta. Emmanuel et al. (2007, 2008) demonstraram que quantidades

crescentes de grão de cevada aumentaram as concentrações de

endotoxina no fluído ruminal e que, em situações de baixo pH no

rúmen, aumentou a absorção ruminal de endotoxinas. Fatores

estressantes não-nutricionais podem reduzir a IMS e predispor vacas

a problemas de saúde no pós-parto. Vacas que desenvolveram metrite

(Hammon et al., 2006; Huzzy et al., 2007) ou cetose (Goldhawk et al.,

2009) após o parto tiverem menor IMS ou comportamento de consumo

reduzido antes do parto.

Enquanto a utilização de dietas steam-up ou close-up antes do

parto, recomendadas por muitos anos, existe na literatura uma falta de

23

fatores positivos associados ao seu uso com a saúde, a produção, ou a

reprodução de vacas. A estratégia mais simples e o princípio

nutricional mais facilmente defendido para a alimentação de vacas nos

períodos seco e de transição é o de alimentar vacas para atender mas

não exceder os requerimentos nutricionais (Drackley & Dann, 2008).

Diversos trabalhos do nosso grupo de pesquisa demonstraram que

dietas com energia controlada durante o período seco contribuem para

um período de transição de maior sucesso (Grum et al., 1996; Dann et

al., 2005, 2006; Douglas et al., 2006; Janovick et al., 2011; Graugnard

et al., 2012, 2013; Ji et al., 2012). Nossos estudos indicam que o

consumo prolongado de energia durante o período seco pode reduzir

a IMS após o parto (Douglas et al., 2006; Dann et al., 2006; Janovick

& Drackley, 2010, 2014). O consumo excessivo de energia resulta em

resposta negativa de indicadores metabólicos como altas

concentrações de AGNE e beta-hidroxibutirato (BHB) no sangue e

mais triglicerídeos no fígado após o parto (Douglas et al., 2006;

Janovick et al., 2011). Alterações celulares e de genes no fígado (Loor

et al., 2006, 2007) e no tecido adiposo (Ji et al., 2012) potencialmente

podem explicar muitas das alterações que ocorrem na vaca. O

consumo excessivo de energia no pré-parto aumenta o “maquinário”

enzimático no tecido adiposo para mobilização de triglicerídeos após

o parto, com alterações na transcrição de genes que levam à redução

na lipogênese, aumento da lipólise e redução na capacidade da insulina

de inibir lipólise (Ji et al., 2012). Controlar o consumo de energia no

período seco também aumentou a função de neutrófilos no pós-parto

24

(Graugnard et al., 2012) ocasionando melhoria na função do sistema

imune.

Cardoso et al. (2013) analisaram as associações entre o regime

energético de alimentação no pré-parto e a performance reprodutiva

de vacas de raça Holandesa. Dados individuais de 408 vacas foram

utilizados. Tratamentos nutricionais foram divididos em vacas

recebendo dieta com energia controlada (CE; NEL = 13,7 Mcal/dia)

ou vacas recebendo dieta com alta energia (HE; NEL = 22,1 Mcal/dia)

durante o período seco distante (FO, 60 até 28 dias antes do parto) ou

período seco próximo (CU, 28 dias antes do parto até o parto). O

modelo COX revelou uma diferença estatística em dias até a prenhez

(DTP) entre HE e CE durante CU (mediana = 167 e 157 dias, hazard

ratio = 0,696; Figura 1). Vacas que foram alimentadas com dietas HE

durante CU perderam mais ECC (escala 1–5) durante as primeiras 6

semanas pós-parto do que vacas alimentadas CE (−0,43 e −0,30,

respectivamente). Vacas que foram alimentadas com HE durante o

período seco tiveram mais chances de apresentarem deslocamento de

abomaso ou cetose quando comparadas a vacas que receberam CE.

1.5 Conclusão

Formulação e alimentação de dietas apropriadas, que limitam

o consumo total de energia para suprir, e não exceder, os

requerimentos de vacas durante o pré-parto podem auxiliar a aliviar o

BEN após o parto. Efeitos destas dietas em indicadores de

metabolismo para saúde são geralmente positivos, sugerindo o

25

potencial para redução das doenças do periparto e melhora da

fertilidade. Estratégias para a formulação de dietas que estimulem a

IMS e diminuam o BEN no pós-parto imediato são menos

pesquisadas. Entretanto, o balanço entre fibra fisicamente efetiva e

fermentação do amido nestas dietas é crítico.

26

Figura 1. Curvas de survival function para dias até a prenhez (DTP) para 332 vacas Holstein alimentadas com dieta de

energia controlada (CE = azul) ou alta energia (HE = vermelho) durante as 4 últimas semanas antes do parto. Linhas

azul e vermelha representam a mediana dos valores para DTP onde 50% das vacas estavam prenhes.

Adaptado de Cardoso et al. (2013).

27

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34

2. SUPLEMENTAÇÃO DE METIONINA PARA MELHORAR

A PRODUTIVIDADE DA VACA LEITEIRA2

Marcos Neves Pereira

2.1 Introdução

A formulação de dietas para gado leiteiro considerando a

exigência nutricional por aminoácidos (AA) é uma ferramenta para

reduzir o teor de proteína bruta (PB) na dieta e para melhorar o

desempenho animal. Dietas com baixa PB e adequadas em AA são

desejáveis, pois aumentam a eficiência de uso do N alimentar (relação

entre o N secretado no leite e o N consumido), reduzem a perda

ruminal de amônia e o impacto ambiental negativo da produção

animal, e podem reduzir o custo alimentar do rebanho e aumentar o

desempenho leiteiro, especialmente a secreção de proteína no leite

(Schwab, 2010). A suplementação com metionina (Met) em torno do

parto também pode atuar positivamente sobre a saúde e a longevidade

de vacas leiteiras (Osorio et al., 2013).

2 Pereira, M.N. Suplementação de metionina para melhorar a produtividade

da vaca leiteira Anais. I Simpósio Nacional da Vaca Leiteira. Porto Alegre:

Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 2014. 239 p.

35

Mais de 700 AA existem na natureza (Wu, 2013) mas apenas

20 constituem as proteínas presentes nos animais. Dentre estes 20 AA,

10 são considerados nutricionalmente essenciais, ou indispensáveis,

devendo ser supridos pela dieta. A síntese de proteína é um evento

determinado geneticamente, sendo que cada proteína é formada por

uma sequência única e imutável de AA. Especialmente importante na

pecuária leiteira é a síntese de caseína pela glândula mamária. Além

da função na síntese de proteína, que afeta todo o metabolismo em

células vivas (e.g. enzimas são proteínas), os AA livres também

regulam vários processos fisiológicos, incluindo a resposta imune. Os

AA também são usados para a síntese de vários compostos contendo

N, como hormônios, nucleotídeos (RNA e DNA), neurotransmissores,

etc. Os aminoácidos “não-proteicos” são encontrados nos fluídos

fisiológicos e são determinantes do metabolismo, e portanto da saúde

e produção de vacas leiteiras. Exemplos destes AA são a

homocisteína, a glutationa e a taurina, todos sintetizados a partir de

Met.

Modelos nutricionais utilizados para a formulação de dietas

estimam o desaparecimento da proteína e de AA do lúmen intestinal

(metabolizáveis) e assumem que estes são utilizados com eficiência de

conversão fixa para suportar funções metabólicas (INRA, 1989; NRC,

2001; Fox et al., 2004). Mesmo sabendo que os procedimentos

matemáticos contidos nestes modelos são insuficientes para descrever

a complexa biologia de ruminantes (Doepel et al, 2004; Hanigan et al,

2006; Lapierre et al., 2006; Lapierre et al, 2012), estes têm sido

36

considerados como de acurácia suficiente para direcionar a

formulação de dietas para rebanhos leiteiros (Pacheco et al., 2012).

Segundo predições destes modelos, a Met é o aminoácido mais

limitante do desempenho leiteiro em dietas formuladas com grão e

forragem de milho e soja e/ou concentrados proteicos de origem

animal (exceto de peixe).

O objetivo deste artigo é discutir de forma prática a

formulação de dietas para vacas leiteiras por AA, enfatizando a

necessidade da suplementação com Met em dietas baseadas em milho

e soja, típicas dos sistemas de produção de leite do Brasil. O modelo

do NRC (2001) será adotado para exemplificar os conceitos, por ser o

modelo nutricional oficial dos EUA, pela sua larga adoção pela

indústria leiteira e por possibilitar o acesso gratuito dos usuários

(https://nanp-nrsp-9.org/nrc-dairy-model/).

2.2 Aspectos Básicos da Nutrição Proteica de Ruminantes

Em ruminantes, os AA absorvidos no intestino podem ter

origem na proteína microbiana sintetizada no rúmen, na proteína

dietética não degrada no rúmen (Proteína Não-Degradável no Rúmen,

PNDR) e na proteína endógena (NRC, 2001). A proteína microbiana

é a maior fonte de AA para absorção no intestino delgado,

especialmente em dietas formuladas com baixo teor proteico. Em

dietas contendo baixo teor de PB, a contribuição dos AA microbianos

para o total de AA absorvidos (metabolizáveis) é maior que em dietas

formuladas com teor excessivo de proteína e de PNDR. Maximizar a

37

função ruminal é o primeiro passo para obter sucesso na formulação

de dietas por AA e obter alto desempenho animal em dietas com baixa

inclusão de concentrados proteicos. Manter teores dietéticos

adequados de carboidratos fibrosos e não-fibrosos e o suprimento

adequado de amônia, aminoácidos e peptídeos para o rúmen (Proteína

Degradável no Rúmen, PDR) são necessários para obter alta eficiência

de síntese de proteína microbiana (g de microrganismos / g de matéria

orgânica fermentada no rúmen). Compreender a demanda por AA dos

microrganismos ruminais é uma fronteira a ser explorada na nutrição

proteica de precisão para vacas leiteiras (Kajikawa et al., 2002).

A Figura 1 ilustra de forma simplificada a digestão de proteína

em ruminantes. Parte da proteína verdadeira na dieta e o nitrogênio

não-proteico da dieta ou reciclado do sangue para o rúmen são

degradados no rúmen e o N é incorporado à proteína microbiana ou

absorvido como amônia para o sangue. Em condições normais (fluxo

não excessivo de amônia do rúmen para o sangue), a amônia será

convertida em ureia pelo fígado, sendo esta reciclada para o rúmen ou

excretada pela urina e pelo leite (N-Ureico no Leite, NUL). A perda

urinária de amônia para o ambiente representa um poluente e pode

contribuir para o aquecimento global, sendo uma ineficiência dos

ruminantes. A taxa de crescimento microbiano no rúmen é maior

quando ocorre aporte adequado de carboidratos fermentáveis,

simultaneamente ao suprimento dietético de fibra efetiva em teor

adequado para controlar a ocorrência de acidose ruminal. Alta taxa

(velocidade) de síntese microbiana e/ou aporte ruminal de PDR não

38

excessivo podem reduzir a perda ruminal de amônia, o que é desejável

nutricionalmente e ambientalmente.

39

Figura 1. Diagrama simplificado da digestão de proteína em ruminantes.

40

Parte da proteína verdadeira da dieta pode passar pelo rúmen

em forma não degradável (PNDR). A digestibilidade intestinal da

PNDR difere entre as fontes proteicas, bem como a composição em

AA essenciais da PNDR digerida no intestino (NRC, 2001). Fontes

proteicas de alto valor biológico fornecem AA que são limitantes na

proteína microbiana, relativamente à exigência de AA para síntese de

proteína no corpo (incluindo a glândula mamária). Animais requerem

AA, não PB. O perfil de aminoácidos da proteína microbiana (% de

AA essenciais na PB) é bom, relativamente ao perfil de AA da proteína

do leite. Farelo de soja tem alto teor de Lisina (Lis) na PNDR digerida

no intestino e baixo teor de Met, enquanto proteína oriunda de milho

(glúten) é rica em Met, mas é pobre em Lis. A proteína microbiana

sintetizada no rúmen é deficiente em Histidina (His), relativamente à

proteína do leite.

2.3 Etapas na Formulação de Dietas por Aminoácidos

2.3.1 Fornecer carboidratos de forma adequada.

A proteína microbiana sintetizada no rúmen tem bom perfil de

AA e boa digestibilidade intestinal. Para maximizar a síntese ruminal

de proteína microbiana deve-se fornecer forragens de alta

digestibilidade e com adequado tamanho de partícula e grãos

adequadamente processados, provendo uma mistura de fontes de

carboidratos fermentáveis e fibra fisicamente efetiva que maximize a

41

função (saúde) ruminal, sendo capaz de propiciar alto consumo de

matéria seca e alto fluxo de proteína microbiana para o duodeno. A

nutrição de proteína se inicia com bom domínio e compreensão da

nutrição de carboidratos. Uma dieta adequadamente formulada em

carboidratos resultará em alta secreção de gordura e de proteína no

leite

2.3.2 Atender a demanda de proteína do rúmen.

A exigência de proteína do rúmen (PDR) é diretamente

proporcional à disponibilidade de matéria orgânica fermentável no

rúmen. Em maior consumo de matéria orgânica fermentável, maior é

a demanda ruminal por PDR, já que mais proteína microbiana será

sintetizada. Excesso de PDR relativamente à demanda para

crescimento microbiano deve ser evitado, pois aumentará a perda

ruminal de amônia e reduzirá a proporção do N na dieta incorporado

na proteína do leite. O modelo do NRC (2001) prediz o balanço de

PDR no rúmen (Figura 2). O balanço representa o suprimento dietético

de PDR subtraído da exigência de PDR dos microrganismos do rúmen.

Na metodologia do NRC 2001, a exigência de PDR do rúmen é

diretamente proporcional ao consumo de NDT (energia), quando o

rúmen está em balanço positivo de PDR (N não é limitante do

crescimento microbiano). A meta na formulação é manter o balanço

de PDR levemente positivo, indicando que a exigência ruminal por

AA, peptídeos e amônia está sendo atendida, mas sem excesso

relativamente à disponibilidade de energia para crescimento

42

microbiano. Excesso de N no rúmen pode resultar em excesso de ureia

no leite e no sangue, o que tem implicações negativas para a indústria

(menor proporção de proteína verdadeira na proteína bruta do leite) e

pode afetar negativamente a eficiência reprodutiva de rebanhos

leiteiros.

O teor de NUL do rebanho é uma ferramenta para monitorar

o balanço entre o teor dietético de PDR e o suprimento de carboidratos

fermentáveis no rúmen. O teor de NUL do rebanho deve ser avaliado,

com o intuito de fazer ajustes no suprimento dietético de PDR e na

disponibilidade de carboidratos fermentáveis, adequando a predição

do modelo à realidade dos ingredientes da dieta e dos animais sendo

alimentados. Norte-americanos têm recomendado teores de NUL

entre 8 e 10 mg/dL, dificilmente obtiveis no Brasil, provavelmente em

decorrência da baixa degradabilidade ruminal do amido no milho com

textura dura do endosperma (milho flint) cultivado no país. Teores de

NUL entre 11 e 14 mg/dL são considerados baixos, e desejáveis, em

nossos rebanhos leiteiros. Teor muito baixo de NUL sugere que

deficiência de PDR pode estar limitando a síntese de proteína

microbiana no rúmen, enquanto teor excessivamente alto representa

alta perda ruminal de N dietético na forma de amônia.

43

Figura 2. Estimativas do modelo do NRC (2001) para o balanço de PDR no

rúmen e PNDR, fluxos de proteína metabolizável, e teores de PDR e PNDR

da dieta.

2.3.3 Atender a demanda de proteína metabolizável e energia do grupo

de animais.

A proteína metabolizável (PM) representa a PB (N x 6,25) que

desapareceu do lúmen intestinal e que é assumida como disponível

para os tecidos do animal. A PM representa a mistura de todos os AA

digeridos no intestino, não sendo uma medida precisa da exigência

nutricional por AA essenciais (Arriola et al., 2014). Uma regra prática,

44

seria formular a dieta considerando o consumo de matéria seca

estimado pela média do grupo de animais (peso vivo e produção de

leite médios), e ter a estimativa da produção de leite permissível por

PM equivalente à produção de leite média + 1 desvio padrão (Figura

3). Esta é uma sugestão que agrega alguma margem de segurança ao

nutricionista, apesar de alguns nutricionistas usarem o leite médio para

estimar o leite permissível por PM, em vez do leite médio + 1 desvio

padrão. Dietas adequadamente balanceadas em proteína e energia têm

diferença entre a produção de leite permissível por PM de no máximo

2 kg da produção de leite permissível por energia líquida (NEl).

45

Figura 3. Estimativas do modelo do NRC (2001) para produção de leite

permissível por proteína metabolizável (PM) e por energia líquida (NEl) e

do balanço de PM e energia.

46

2.3.4 Atender à exigência de lisina na proteína metabolizável.

Em dietas com baixo teor proteico formuladas para atender a

demanda por PM, mas sem serem excessivas em balanço de PDR,

atender a demanda de Lis como % da PM é um desafio, especialmente

no Brasil, onde o uso de concentrados proteicos de origem animal é

proibido (e.g. farinha de sangue). Mesmo em dietas com farelo de soja

como concentrado proteico majoritário (alimento rico em Lis), o teor

de Lis na PM pode ser abaixo do recomendado (Figura 4). Segundo o

modelo do NRC (2001), o teor de Lis na PM deve ser ao redor de

6,83% (Whitehouse et al., 2013). Atingir esta recomendação pode ser

difícil na prática, a experiência sugere que almejar teores de Lis ao

redor de 97% (6,6% da PM) a 95% (6,5% da PM) deste valor parece

ser adequado. Nestes casos, pode ser requerida a suplementação de Lis

através de suplementos de baixa degradação ruminal (Lis encapsulada

ou parcialmente protegida da degradação ruminal).

2.3.5 Atender à exigência de metionina na proteína metabolizável.

Uma fonte de Met protegida da degradação ruminal ou um

precursor de Met de baixa metabolização no rúmen (éster isopropílico

do ácido 2-hidróxi-4-metiltio-butírico, HMBi) deve ser acrescida à

dieta para resultar em relação entre Lis e Met na PM de 3,00 (2,28%

de Met na PM, caso tenha 6,83% de Lis na PM), a recomendação para

o modelo do NRC 2001 (Whitehouse et al., 2013). Estimativas do

fluxo de AA essenciais digestíveis são fornecidas pelo modelo (Figura

47

4), e devem ser usadas para monitorar a adequacidade da dieta quanto

aos teores de Met e Lis na PM. Existem sugestões que His pode ser o

próximo AA limitante da produção de leite em dietas formuladas com

baixo teor de PB (Lee et al., 2012). Isto ocorre porque nestes casos a

dependência de AA microbianos para o fluxo de PM para o animal é

proporcionalmente maior que em dietas com excesso de proteína, e

His é um AA cujo teor na proteína microbiana é baixo relativamente

ao teor na proteína do leite. Como regra prática, tem sido sugerido que

o teor de His na PM deveria ser mantido no mínimo 0,1 unidades

percentuais acima do teor de Met, apesar desta recomendação não ter

forte suporte experimental.

48

Figura 4. Estimativas do modelo do NRC (2001) para o fluxo de AA essenciais digestíveis e teor de AA na proteína

metabolizável.

49

2.4 Conclusão

Vacas leiteiras exigem AA, não proteína bruta. Modelos

nutricionais são uma ferramenta para formular dietas por AA, criando

oportunidade para aumentar a eficiência de utilização do N dietético e

reduzir o custo de concentrados proteicos da dieta, sem penalizar, ou

mesmo aumentando, o desempenho leiteiro. O AA mais limitante em

dietas baseadas em milho e soja, típicas do Brasil, é a Met. Atender à

exigência nutricional por este AA requer suplementação,

maximização da função ruminal e suprimento adequado de Lis na PM.

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WU, G. Amino acids - Biochemistry and Nutrition. CRC Press, Boca

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52

3. COMO A DIETA PODE AFETAR A COMPOSIÇÃO DO

LEITE.3

Bolivar Nóbrega de Faria

3.1 Introdução

A composição e a porcentagem de proteína do leite de vacas

têm recebido grande interesse nos últimos anos, principalmente por

influir diretamente no rendimento industrial. Uma queda na

concentração de proteína de 3,55% para 2,90% representa a

necessidade de aproximadamente 1.580 litros de leite adicionais para

se produzir uma tonelada de queijo do tipo Cheddar.

Os resultados da alteração no teor de proteína do leite através

da manipulação da dieta giram em torno de 0,6 unidades percentuais

(sendo mais prováveis 0,1 a 0,2 unidades). É modesto, se comparado

ao potencial de alteração do teor de gordura do leite, que gira em torno

de 3,0 unidades percentuais. Porém, à medida que se aumenta o teor

de proteína do leite, geralmente também aumenta a produção de leite,

o que já não ocorre com a gordura (Waldner et al., 2004).

3 Faria, B.N. Como a dieta pode afetar a composição do leite. Anais. I

Simpósio Nacional da Vaca Leiteira. Porto Alegre: Universidade Federal do

Rio Grande do Sul. 2014. 239 p.

53

Além da nutrição, vários aspectos como estação do ano,

composição racial, estádio de lactação e doenças podem afetar o teor

de proteína do leite. A sazonalidade relaciona-se com a temperatura

ambiente e disponibilidade de alimentos. Altas temperaturas e

umidade reduzem o teor de proteína e a produção de leite, pois o

animal reduz o consumo de alimento. Entre as raças leiteiras, a

Holandesa possui a menor porcentagem de proteína no leite enquanto

a Jersey é a que possui a maior. A mudança na composição do leite

utilizando a seleção de animais é lenta, e não produz resultados

imediatos, pois a herdabilidade das características é baixa.

Os níveis de gordura do leite podem ser mais influenciados

pela dieta. Maiores níveis de gordura no leite também têm sido

buscados pelos laticínios, uma vez que aumenta do rendimento de

alguns produtos nobres, como alguns tipos de queijo. Com isso, novas

formas de pagamento têm sido propostas se valorizando cada vez mais

os constituintes do leite. Além disso, concentrações baixas de gordura

do leite têm sido relacionadas direta ou indiretamente a várias doenças

metabólicas, como o deslocamento de abomaso, laminite e,

principalmente, a acidose ruminal subaguda. Dessa forma, saber como

a dieta afetas o perfil dos constituintes do leite pode ser uma boa forma

de se monitorar ou estimar a saúde dos animais.

A compreensão da composição do leite pode ser interessante

ao produtor que precisa planejar a lactação da vaca para maximizar os

lucros. Isso envolve a compreensão do efeito da alimentação, do

manejo reprodutivo e da genética sobre a lactação. O conhecimento da

54

composição do leite também é importante para a indústria

processadora, que depende da manipulação das suas características

físicas e químicas para a elaboração de diferentes produtos lácteos,

assim como para assegurar a sua qualidade.

O objetivo desta revisão é abordar os fatores nutricionais da

vaca que interferem na concentração de alguns componentes do leite.

3.2 Síntese dos Carboidratos do Leite

A lactose é o principal carboidrato encontrado no leite, sendo

um dissacarídeo composto por uma molécula de glicose ligada a uma

molécula de galactose (Figura 1).

Figura 1. Fórmula estrutural de uma molécula de lactose e suas moléculas

formadoras.

55

A lactose possui um papel muito importante na síntese do

leite. Sua função está relacionada com a manutenção da osmolaridade

do leite e nos processos de produção e secreção (Larson, 1995), ou

seja, é o grande responsável por atrair a água para o leite (cerca de

50% da pressão osmótica para a síntese do leite), sendo o principal

responsável pelo volume do leite produzido (Muhlbach, 2003). Cada

grama de lactose do leite arrasta aproximadamente 10 vezes o mesmo

peso em água. Devido à estreita relação entre a síntese de lactose e a

quantidade de água atraída para o leite, a lactose é o componente

menos variável do leite (Tabela 1).

Tabela 1. Variações nos constituintes de 257.540 amostras de leite nos

estados de São Paulo, Paraná e Santa Catarina (Ribas et al., 2004).

Constituinte do

leite

Concentração média

(%)

Desvio

padrão

Lactose 4,55 0,19

Proteína 3,24 0,24

Gordura 3,69 0,62

Sólidos totais 12,32 0,79

Segundo Hurley (2004) a lactose é relativamente insensível às

mudanças na dieta das vacas, no entanto, vacas subnutridas

apresentam redução na produção de leite e na percentagem de lactose,

sendo que estes sintomas são revertidos quando dietas adequadas são

fornecidas.

56

3.3 Compostos Nitrogenados do Leite

Como principais representantes das proteínas do leite estão as

caseínas (α, β, κ), e as lactoglobulinas (α e β), que representam mais

de 90% da proteína total do leite, além de albumina sérica e

imunoglobulina G (Figura 2). A caseína constitui de 76 a 86% da

proteína presente no leite, sendo o componente determinante do

rendimento industrial na produção de queijo. É sintetizada pelas

células secretoras, como resultado da expressão de quatro genes (dois

genes para α-caseína, s1 e s2; um para β-caseína e um para κ-caseína),

sendo secretada na forma de micelas, que são grupamentos de várias

moléculas de caseína ligadas a íons como o fosfato e o cálcio, e se

encontram em suspensão no leite (De Peters & Cant, 1992).

57

Figura 2. Composição da fração proteica do leite de bovinos (Reis et al., 2008).

58

Ao contrário das caseínas, existem proteínas que se encontram

em solução no leite, sendo chamadas de proteínas do soro do leite.

Estas proteínas possuem duas fontes principais, podendo ser

produzidas na glândula mamária, como a α-lactoalbumina e β-

lactoglobulina, ou podem passar diretamente do sangue para a

glândula mamária, como a albumina sérica e as imunoglobulinas (De

Peters & Ferguson, 1992). O leite possui ainda uma fração de

nitrogênio-não proteico (NNP), constituindo cerca de 5% da proteína

bruta do leite, composta principalmente de ureia (aproximadamente

48%) e em menor quantidade de creatinina, amônia e outros

compostos nitrogenados (De Peters & Ferguson, 1992) (Tabela 2).

Tabela 2. Fração de nitrogênio-não proteico do leite bovino (Bremel, 1995)

Componentes Concentração

(mg N/dL)

Aminoácidos 3,7

Ureia 8,4

Creatina 1,2

Creatinina 0,2

Ácido úrico 0,8

Ácido orótico 1,2

Carnitina e acetil-carnitina 0,2

3.4 Gordura do Leite

A gordura é o principal componente energético do leite, sendo

responsável pelas propriedades físicas, características industriais,

qualidades organolépticas do leite e seus derivados e, por isso,

59

possuem um importante valor econômico (Bauman e Griinari, 2003).

Segundo Riel (1991), o tipo de gordura predominante no leite de vaca,

com 97% a 99% dos lipídeos totais são os triglicerídeos. Os restantes

são os fosfolipídeos e esteróis, especialmente o colesterol. Os

triglicerídeos são constituídos principalmente de ácidos graxos, sendo

na gordura do leite constituídos em sua maioria de ácidos graxos de

cadeia saturada (Tabela 3). A gordura é o constituinte do leite mais

sensível às variações, sendo possível observar variações não somente

em relação à raça, mas também ao longo da lactação (Figura 3).

Tabela 3. Composição de gordura do leite in natura ou em pó (Adaptado de

Jenkins e McGuire, 2006).

Constituinte do leite In Natura Em Pó

Água 88,32 2,47

Gordura 3,25 26,71

Ácidos graxos

(% do total)

Saturados 64,90 66,10

Monoinsaturados 28,30 31,30

Poli-insaturados 6,80 2,60

Ultimamente várias pesquisas têm despertado interesse para o

perfil de lipídeos do leite. Isso está mais relacionado aos seus efeitos

na saúde humana, como é o interesse nas concentrações de ácido

linoleico conjugado (CLA) e não somente em relação aos seus efeitos

sobre os bovinos. Os CLA são compostos naturalmente encontrados

na gordura de ruminantes que exercem efeitos benéficos à saúde

humana. Dentre os benefícios destacam-se efeitos anticarcinogênicos,

60

alterações na partição de nutrientes e no metabolismo de lipídeos,

propriedades antidiabéticas e antiaterogênicas, modulação da resposta

imune, dentre outras (Bauman et al., 2001). Portanto, seria desejável

que as concentrações do CLA no leite fossem aumentadas, já que são

a maior fonte de CLA na dieta de humanos (Bauman et al., 2000).

61

Figura 3. Variação do perfil da gordura do leite durante as primeiras semanas de lactação em relação às concentrações

obtidas na 16ª semana (Adaptado de Palmquist, 1993).

62

Com relação aos ruminantes, o foco tem sido dado a dois

isômeros específicos, o cis-9 trans-11 e o trans-10 cis-12 (Figura 4).

O primeiro devido ao seu papel como um anticarcinogênico e o

segundo, devido aos seus efeitos sobre o metabolismo de lipídeos

(Bauman et al., 2001).

Figura 4. Estrutura química do ácido linoleico e dos isômeros de CLA

C18:2 cis-9, trans-11 e C18:2 trans-10, cis-12 (Bauman et al., 2001).

3.5 Síntese de Carboidratos do Leite

A produção de lactose no úbere está relacionada à síntese de

propionato no rúmen e disponibilidade de produtos gliconeogênicos.

Quanto maior a disponibilidade de glicose para a glândula mamária,

maior será a possibilidade de produção de lactose (Figura 5) e,

consequentemente, de produção de leite.

63

UTP + glicose 1-P UDP-glicose + P-P (1)

UDP-glicose UDP-galactose (2)

UDP-galactose + glicose lactose + UDP (3)

Figura 5. Via metabólica de síntese de glicose na glândula mamária

(Larson, 1995).

UTP= uridina trifosfato; UDP= uridina difosfato; UDP-glicose= uridina

difosforil glicose; UDP-galactose= uridina difosforil galactose; P-P=

pirofosfato; Enzimas: (1) uridina difosforil glicose pirofosfarilase; (2)

uridina difosforil galactose-4-epimerase; e (3) lactose sintetase (composta

por galactosil transferase e α-lactoalbumina).

A glicose que o bovino necessita como precursor para a

síntese de lactose na glândula mamária é sintetizada no fígado via

gliconeogênese, principalmente a partir do ácido propiônico,

sintetizado via degradação ruminal dos carboidratos oriundos da dieta.

Outra fonte importante de substrato para a gliconeogênese são os

aminoácidos, oriundos da dieta ou de mobilização corporal,

principalmente no período pós-parto e/ou balanço energético negativo

(Figura 6). Após a absorção pelas células secretoras da glândula

mamária, cerca de 60 a 70% da glicose é destinada para a síntese de

lactose. No entanto, a glicose também tem outras funções importantes

na síntese dos constituintes do leite, sendo um importante estimulador

para a síntese de proteica, substrato para síntese de glicerol e da

gordura do leite.

64

Figura 6. Fontes dos principais substratos utilizados para a síntese da lactose do leite.

65

3.6 Síntese de Compostos Nitrogenados do Leite

As proteínas do leite (caseínas e lactoglobulinas) são

sintetizadas nas células secretoras da glândula mamária a partir de

aminoácidos provenientes do sangue ou transportados do sangue

(Figura 7). No entanto, alguns aminoácidos podem ser sintetizados na

própria glândula mamária através da utilização de precursores como a

glicose e outros aminoácidos. A síntese de proteína nas células

secretoras ocorre no retículo endoplasmático rugoso. A estrutura da

proteína é pré-determinada pela informação genética contida no DNA

presente no núcleo da célula. O DNA serve de molde para a síntese de

uma fita de RNA que contém a informação sobre a sequência de

aminoácidos para as proteínas. Vacúolos presentes no citoplasma são

formados para transporte da proteína sintetizada até o lúmen.

Algumas proteínas presentes no leite não são sintetizadas na

glândula mamária e são transportadas pelo sangue até entrarem no

lúmen alveolar. A albumina encontrada no leite é produzida no fígado

e sua concentração no leite reflete a concentração no sangue. As

imunoglobulinas são transportadas para o leite via sangue e vasos

linfáticos de origem do baço e linfonodos. Linfócitos B produtores de

anticorpos podem se alojar na glândula mamária para auxiliar na

síntese de imunoglobulinas do colostro (Larson, 1995).

Outro composto nitrogenado importante do leite, a ureia, não

é produzido diretamente pela glândula mamária. O nível de nitrogênio

ureico no leite (MUN) está negativamente associado à eficiência da

66

utilização do nitrogênio da dieta para síntese proteica do leite. Como

a ureia se difunde livremente entre os fluidos do organismo animal,

sua concentração na glândula mamária reflete a concentração no

sangue (Nousiainen et al., 2004). Qualquer fator que interfira na

eficiência da utilização da amônia presente no rúmen pelos

microrganismos ruminais irá resultar em aumento da quantidade de

ureia no sangue. A baixa eficiência é parcialmente devido à perda de

nitrogênio amoniacal no rúmen. Estima-se que entre 40 a 80% do

nitrogênio bacteriano tem origem na amônia ruminal (Hristov e

Broderick, 1996), e que a concentração ruminal de amônia é

inversamente relacionada à disponibilidade de carboidratos.

67

Figura 7. Fontes dos principais substratos utilizados para a síntese da proteína do leite.

68

3.7 Síntese de Gordura do Leite

Segundo Harding (1995), a gordura do leite é sintetizada nas

células epiteliais alveolares, mais especificamente nas áreas do

citoplasma ocupadas pelo retículo endoplasmático rugoso. Os

principais precursores da gordura do leite são ácidos graxos voláteis

(AGV), o acetato e o butirato, originados na fermentação ruminal de

forragens e outros alimentos ricos em fibra, e os ácidos graxos não

esterificados da corrente sanguínea. Esses substratos irão dar origem

aos ácidos graxos, que posteriormente formarão os triglicerídeos do

leite (Figura 8).

69

Figura 8. Fontes dos principais substratos utilizados para a síntese da gordura do leite.

70

Ácidos graxos de cadeia curta, contendo entre 4 e 8 carbonos,

e de cadeia média, com 10 a 14 carbonos, provem quase que

exclusivamente da síntese “de novo”. Já os ácidos graxos de cadeia

longa, constituídos por cadeias superiores a 16 carbonos, são

derivados da captação direta dos lipídios da corrente sanguínea pela

glândula mamária (Bauman e Griinari, 2003). Os ácidos graxos com

16 carbonos podem ser obtidos através das duas fontes. Cerca de

metade dos ácidos graxos do leite são sintetizados pela própria

glândula mamária, a partir da síntese “de novo” tendo como principal

fonte de carbono, principalmente, o acetato produzido na fermentação

ruminal (Bauman e Griinari, 2003).

Outra fonte de carbonos para a síntese “de novo” na glândula

mamária é o β-hidroxibutirato produzido pelo epitélio ruminal, a partir

do butirato. Os ácidos graxos pré-formados captados pela glândula

mamária e diretamente usados para a síntese de gordura do leite são

derivados das lipoproteínas circulantes e dos ácidos graxos não

esterificados originários da absorção dos lipídios no trato

gastrointestinal e da mobilização de reservas corporais,

respectivamente. A lipólise (mobilização de gordura corporal) é

responsável por menos de 10% dos ácidos graxos da gordura do leite,

sendo a maior parte dos ácidos graxos de cadeia longa do leite

proveniente da absorção intestinal (Bauman e Griinari, 2003).

As gorduras de origem vegetal da dieta das vacas leiteiras são

altamente insaturadas, desta forma, essas gorduras quando ingeridas

71

sofrem no rúmen a biohidrogenação, antes de serem absorvidas pela

corrente sanguínea na forma de triglicerídeos ligados a lipoproteínas.

Esses triglicerídeos são transportados pelo sangue até a glândula

mamária, onde sofrem a quebra em subunidades de glicerol e ácidos

graxos livres que podem, então, ser absorvidos pelas células da

glândula mamária.

3.8 Fatores nutricionais que interferem nos compostos

nitrogenados do leite.

De forma geral, as estratégias nutricionais que visam o

aumento da proteína do leite devem ter como princípio o maior

suprimento de aminoácidos e energia (glicose) para a glândula

mamária. A utilização de aminoácidos pela glândula mamária é

dependente de uma série de fatores como, irrigação sanguínea da

glândula mamária, concentração arterial de aminoácidos, eficiência no

transporte e regulação intracelular das vias metabólicas (Bequette et

al. 1998). A eficiência na conversão de aminoácidos em proteína é

baixa e inconstante (27 a 42%), e varia de acordo com o fornecimento

de aminoácidos metabolizáveis (Doeppel et al., 2004). Segundo

Murphy e O’Mara, (1993), a limitação da produção de proteína pela

glândula mamária é devida principalmente aos aminoácidos

essenciais, como a metionina, lisina e histidina. De forma geral, lisina

e metionina são consideradas aminoácidos limitantes (Schwab et al.,

1992).

72

Vários experimentos têm sido realizados na tentativa de se

corrigir a relação lisina/metionina através da suplementação desses

aminoácidos na forma protegida, como hidroxi-análogos ou

precursores. No entanto, os resultados quanto aos amentos das

concentrações de proteína no leite são variáveis (Figura 9), uma vez

que está resposta depende de outras variáveis importantes como dieta

base, ingestão de matéria seca, níveis energéticos e proteicos da dieta,

quantidade de fibra fisicamente efetiva, além do potencial genético do

animal.

O aumento no fornecimento de aminoácidos para a glândula

mamária pode ser obtido através do aumento na quantidade de

aminoácidos que chegam ao intestino delgado, ou seja, proteína

microbiana e proteína degradável no rúmen (PNDR). Com o maior

suprimento de aminoácidos absorvidos e disponíveis, além de um

melhor perfil de aminoácidos não haveria ou diminuiria a limitação

dos principais aminoácidos essenciais para a síntese proteica (Murphy

e O’Mara, 1993). Além disso, os aminoácidos resultantes da

mobilização proteica endógena também colaborariam para esse

melhor e maior pool.

73

Figura 9. Variação da proteína do leite (%) de vários experimentos realizados com diferentes dietas, fontes e

concentrações proteicas (Jenkins & McGuire, 2006).

2.6 2.7 2.8 2.9 3 3.1 3.2 3.3 3.4

Met (16,1)

Met (18,9)

F. Soja + Met (15,6)

Met + Lys (19,5)

Met (19,5)

Glutem Milho + Met (16,2)

Met (19,5)

F. Soja Tostado + Met (15,0)

Milho moído (15,7)

F. Soja Tostado (15,0)

Soja espandida + Met (15,7)

Soja espandida (15,7)

Controle (16,1)

Controle (18,8)

Controle (15,6)

Controle (19,5)

Proteína do Leite (%)

74

Em dietas a base de silagem de milho e/ou suplementadas com

milho, o aminoácido mais limitante tende a ser a lisina. Em dietas ricas

em soja e outras leguminosas pode haver limitação de metionina, por

haver grande suprimento de lisina (Tabela 4). A utilização de

aminoácidos protegidos, em especial lisina e metionina, tem

apresentado resultados modestos (Misciatteli et al., 2003). No entanto,

há aumentos significativos na eficiência de absorção dos aminoácidos

em função da energia metabolizável da dieta. Mais estudos são

necessários para verificar outros aminoácidos possivelmente

limitantes. Além disso, o alto custo de suplementação dos

aminoácidos protegidos tem limitado seu uso nos países onde estes

suplementos estão disponíveis.

O teor de proteína bruta da dieta possui efeito muito pequeno

sobre o teor proteico do leite (De Peters e Ferguson, 1992), relatou

aumento de 0,02% para cada 1% de aumento na proteína da dieta. No

entanto, o fornecimento de dietas com deficiências de proteína pode

reduzir a concentração deste nutriente em 0,1 a 0,2 unidades

percentuais (Sutton, 1989), além de limitar a produção de leite. Pode-

se dizer que a variação no teor proteico da dieta afeta muito mais a

produção de leite do que sua composição.

A proteína bruta da dieta não está correlacionada (p> 0,25)

com a porcentagem de proteína no leite, mas fracamente

correlacionada com a produção de proteína no leite. Por outro lado, a

75

proteína do leite aumenta linearmente com o teor de PNDR na dieta

(NRC, 2001).

76

Tabela 4. Composição de aminoácidos essenciais da proteína do leite (g/100g aminoácidos), proteína microbiana

(g/100g aminoácidos) e fontes de alimentos (g/100g aminoácidos). Adaptado de Fonseca e Santos (2000).

Fonte Arg His Ile Leu Lys Met Phe Thr

Leite 3,7 2,7 6,0 10,0 8,3 2,7 5,3 4,6

Proteína microbiana 5,1 2,0 5,7 8,1 7,9 2,6 5,1 5,8

Silagem de milho 1,7 0,8 2,8 6,5 1,8 0,8 3,0 2,5

Farelo de glúten de milho

(21%)

4,2 2,9 2,5 8,0 2,5 2,1 3,3 3,8

Farelo de glúten de milho

(60%)

2,8 1,8 3,4 14,1 1,5 2,8 5,7 3,0

Farelo de soja 6,9 2,2 5,1 6,9 5,9 1,3 4,5 3,5

77

No entanto, é muito difícil separar o efeito proveniente do

aumento do teor da proteína da dieta e o aumento no teor de energia

ingerido pelo animal, tendo em vista que o teor de proteína da dieta

aumenta a eficiência microbiana, influenciando positivamente a

ingestão de matéria seca e a digestibilidade da dieta. A relação entre o

aumento na ingestão de energia e o aumento no teor de proteína do

leite é mais importante que a relação entre o teor de proteína ingerido

na dieta e o aumento no teor de proteína do leite (Griinari et al., 1997).

O aumento da ingestão de energia por vacas em lactação aumenta a

concentração de proteína no leite. Estas mudanças na ingestão de

energia são geralmente, obtidas por aumento da relação

concentrado/volumoso, por mudanças na fonte de carboidratos ou por

utilização de grãos processados.

78

Tabela 5. Desempenho de vacas primíparas alimentadas com diferentes relações volumoso/concentrado na dieta (De

Peters & Cant, 1992).

Componente lácteo Relação concentrado/volumoso

80:20 65:35 50:50 35:65 Efeito 1

Leite (kg) 20,8 21,6 22,3 23,4 L, Q

Proteína (%) 3,11 3,12 3,22 3,26 L, Q

Lactose (%) 5,28 5,33 5,33 5,55 L

Gordura (%) 3,83 3,72 3,68 3,33 L, Q 1 Efeitos Linear (L) ou Quadrático (Q) do aumento da proporção de concentrado na dieta (p < 0,05).

79

Há limites para a elevação da produção de proteína do leite,

com o aumento de concentrados na dieta, que seria no ponto em que o

pH cai sensivelmente e reduz a população celulolítica do rúmen.

Dietas com elevados teores energéticos costumam reduzir a gordura e

aumentar a proteína do leite. Pode-se aumentar potencialmente o

fornecimento ou perfil de aminoácidos disponíveis no intestino através

da utilização de maiores quantidades de proteína não degradável nu

rúmen. No entanto, só haverá benefício quando a fonte de PNDR

completar positivamente a proteína microbiana e a composição da

proteína dos demais alimentos, uma vez que as fontes de PNDR

normalmente substituem as fontes de degradação ruminal na dieta, que

estimulam a fermentação microbiana (Wright et al., 1998). A

subnutrição e dietas com baixos teores de proteína diminuem a

porcentagem de proteína no leite, sendo que este quadro pode ser

revertido por meio da adição de proteína extra, quando a proteína for

o limitante.

3.9 Fatores nutricionais que afetam a gordura do leite.

O conteúdo e composição da gordura do leite podem ser

fortemente afetados pela dieta. Em ruminantes, a composição dos

ácidos graxos da dieta não é fortemente refletida na composição dos

ácidos graxos da gordura do leite. Isso ocorre devido à presença do

rúmen, onde os constituintes lipídicos da dieta são alterados pelo

metabolismo microbiano (Bauman e Griinari, 2003).

80

Os triglicerídeos não são fermentados no rúmen, portanto não

são fonte de energia para os microrganismos ruminais. Ao atingirem

o rúmen, as gorduras podem passar por duas transformações pelos

microrganismos ruminais: lipólise e biohidrogenação. A lipólise é um

processo que libera ácidos graxos livres no rúmen a partir de lipídeos

esterificados das plantas e, depois passam por um processo de

biohidrogenação (Jenkins, 1993). A taxa de lipólise varia de acordo

com a quantidade e a composição dos ácidos graxos da gordura

fornecida na dieta (NRC, 2001). A biohidrogenação é uma forma de

proteção, uma vez que os triglicerídeos insaturados possuem certa

toxicidade aos microrganismos ruminais. Esse processo consiste em

desfazer as duplas ligações dos triglicerídeos insaturados e acrescentar

um átomo de hidrogênio, formando uma ligação simples com o

carbono (Figura 10). Isso é nada mais que um processo de saturação

do triglicerídeo.

81

Figura 10. Esquema da biohidrogenação ruminal.

No processo de biohidrogenação, enzimas microbianas

saturam o ácido linoleico (C18:2) adicionando hidrogênio nas duplas

ligações até que a molécula seja totalmente saturada e transformada a

ácido esteárico. No processo de formação do ácido esteárico, produtos

intermediários são formados, como os ácidos trans 18:1 e ácidos

linoleicos conjugados (CLA). Esses intermediários passam do rúmen

ao intestino onde são absorvidos. Os maiores substratos da

biohidrogenação ruminal são o ácido linoleico e linolênico e a taxa de

biohidrogenação dos ácidos graxos é mais alta à medida que o grau de

insaturação aumenta. Para a maioria das dietas a taxa de

82

biohidrogenação do ácido linoleico e linolênico é de 70-95% e 85-

100%, respectivamente (Doreau & Ferlay, 1994; Beam et al., 2000).

Quando dietas ricas em concentrado são fornecidas, a taxa de

hidrogenação é reduzida, o que pode ser atribuído à inibição da lipólise

em pH ruminal baixo provocado por essas dietas (Van Nevel &

Demeyer, 1995; Van Nevel & Demeyer, 1996b). A hidrogenação

também é afetada quando uma quantidade excessiva de lipídios não

protegidos está presente na dieta.

Dois importantes intermediários no processo de

biohidrogenação são o trans-11 18:1 (ácido trans-vaccênico)

formados a partir de ácido linoleico e ácido linolênico e cis-9, trans-

11 ácido linoleico conjugado (CLA) formado na biohidrogenação do

ácido linoleico. Esses intermediários estão presentes em quantidades

apreciáveis na gordura dos ruminantes, em uma relação de 3:1 (CLA:

trans-vaccênico), mas no rúmen CLA cis-9, trans-11 é apenas um

intermediário transitório, enquanto o trans-vaccênico é que se acumula

no rúmen.

Em condições de ácidos graxos insaturados em excesso no

rúmen ou pH ruminal baixo, alguns isômeros trans de ácidos graxos

podem ser formados. Esses ácidos graxos estão associados com

depressão da gordura do leite (Griinari et al., 1998; Baumgard et al.,

2000; Bauman & Griinari, 2003). Portanto, dependendo de quanto os

ácidos graxos saem do rúmen na forma saturada, como ácido esteárico,

ou na forma dos intermediários insaturados influenciará em quanto de

energia será disponibilizada para absorção e os efeitos dos ácidos

83

graxos na gordura do leite. Dessa forma, a dieta e alterações no

ambiente ruminal podem mudar as vias da biohidrogenação resultando

em mudanças nos ácidos graxos intermediários.

Outro aspecto importante que deve ser levado em

consideração na dieta é a quantidade e efetividade da fibra utilizada, o

que reflete diretamente na condição ruminal e gordura do leite (Tabela

6). A fibra efetiva atua estimulando a ruminação e produção de saliva,

o que mantém o pH em níveis favoráveis para digestão da fibra,

resultando em maior disponibilidade de ácido acético, o principal

precursor da gordura no leite.

84

Tabela 6. Ácidos graxos voláteis no rúmen e depressão da gordura do leite em vacas alimentadas com dieta de baixa

fibra, composta por alta quantidade de grãos e pouca forragem (Bauman & Griinari, 2003).

Dietas

Controle Baixa fibra

Leite (kg/dia) 19,1 20,9

Conteúdo de gordura, % 3,6 1,7*

Produção de gordura, g/dia 683 363*

Ácidos graxos voláteis no rúmen (% molar)

Acetato 67 46*

Propionato 21 46*

Butirato 11 9

Proporção acetato: propionato 3,2 1,0*

Produção no rúmen (moles/dia)

Acetato 29,4 28,1

Propionato 13,3 31,0*

Taxa de entrada no corpo (mg/min kg.75)

β-hidroxibutirato 3,40 4,43 * p< 0,05

85

Dietas com grandes quantidades de carboidratos prontamente

fermentáveis e reduzida quantidade de fibra, ou dietas com quantidade

adequada de fibra, mas com fibra efetiva física, possuem pouca

habilidade de manutenção do funcionamento normal do rúmen,

podendo assim, levar a depressão na gordura do leite (Bauman e

Griinari, 2003).

A inclusão de lipídeos na dieta pode promover alterações

sobre a gordura do leite, o que mais uma vez é influenciado pelas

alterações no ambiente ruminal (Palmquist et al, 1993). Os efeitos

observados, quando da adição de gordura à dieta, foram dependentes

do tipo e quantidade da gordura fornecida. O fornecimento de

quantidades moderadas ou elevadas de gordura insaturada reduz de

maneira significativa o teor de gordura do leite, podendo esta queda

ser de até uma unidade percentual.

Griinari et al. (1998), confirmaram que dietas pobres em fibra

e ricas em ácidos graxos insaturados (óleo de milho) aumentam o

conteúdo de C18:1 trans. Segundo estes mesmos autores, este tipo de

dieta está associado a uma diminuição significativa na produção e

conteúdo da gordura do leite, bem como na concentração de ácido

esteárico, e menores valores ruminais de pH. Isso provavelmente

indica que houve uma redução das etapas finais da biohidrogenação

ruminal. O aumento da concentração intestinal de trans-vaccênico

diminui a capacidade lipogênica da glândula mamária (taxas de

incorporação de acetato em ácidos graxos) e a expressão de genes de

enzimas relacionadas ao transporte de ácidos graxos circulantes,

86

diminui a síntese “de novo” de ácidos graxos, a dessaturação de ácidos

graxos e a formação de triglicerídeos. O mecanismo que

provavelmente os esses ácidos graxos insaturados diminuem a

produção de gordura do leite envolve a redução na expressão do

mRNA de enzimas chave associadas à síntese de gordura do leite

(Baumgard et al., 2002). Kalscheur et al, (1997) observaram que vacas

alimentadas com dietas ricas em concentrado apresentaram

diminuição da gordura do leite, acompanhada por aumento no

conteúdo de C 18:1 trans.

Certos aspectos relacionados a formas de manejo de

alimentação também alteram a ingestão de fibra e, consequentemente,

a gordura do leite. Pode-se destacar entre as deficiências no manejo a

baixa quantidade e qualidade de volumoso, sendo muitas vezes

compensados pela substituição por subprodutos fibrosos e

concentrados; cochos mal dimensionados, o que estimula a

competição entre os animais, instalações inadequadas quanto ao

conforto animal, proporcionando menores tempos de ruminação e

elevação do estresse.

3.10 Considerações Finais

O aumento no teor de proteína do leite é interessante para as

indústrias processadoras, pois permite maior rendimento industrial,

além da menor quantidade de água a ser transportada e removida no

beneficiamento. No entanto, para o produtor o aumento no teor de

proteína do leite só trará benefícios com a implementação de um

87

sistema de pagamento por componentes, onde o pagamento pela

produção extra de proteína cobre os custos de produção. No entanto, a

opção por aumentar o teor de proteína do leite através da manipulação

nutricional, deve sempre avaliar a alternativa mais rentável disponível

antes de proceder às alterações.

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91

4. CONTROLE LEITEIRO4

Carlos Bondan

4.1 Introdução

O controle leiteiro é uma ferramenta de mensuração mensal

da produção, dos eventos e da qualidade do leite de cada vaca do

rebanho em um determinado período de tempo. A interpretação destas

informações fornece subsídios para as decisões de manejo nutricional,

sanidade da glândula mamária, reprodução, descartes, acasalamentos

e qualidade do leite. Permite ainda, manter registros vitalícios,

valorizando o plantel através das informações de lactações encerradas,

avaliações genéticas e rastreabilidade.

Os benefícios do controle leiteiro podem ser comprovados

pela média de produção dos rebanhos que utilizam esta ferramenta.

Enquanto a produção média brasileira em 2013 foi de 4,39 L/vaca/dia

e a gaúcha de 7,96 L/vaca/dia, os rebanhos sob controle leiteiro

apresentaram médias de 26,8 ± 8,63 L/vaca/dia com teores de sólidos

totais de 12,2 ± 0,95, demonstrando que a profissionalização é o

caminho para o sucesso na atividade.

4 Bondan, C. Controle leiteiro. Anais. I Simpósio Nacional da Vaca Leiteira.

Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 2014. 239 p.

92

Este texto tem o objetivo de esclarecer a metodologia utilizada para a

operacionalização do controle leiteiro, desde o cadastro das

propriedades e dos animais, até a coleta mensal das informações

individuais de cada vaca e a interpretação dos resultados. Porém, estas

informações não terminam aqui, pois há um aperfeiçoamento contínuo

do controle leiteiro conforme as demandas dos produtores e da

assistência técnica.

4.2 Como iniciar o controle leiteiro.

Primeiramente o produtor ou técnico deve solicitar ao SARLE

pelo e-mail: [email protected] ou pelo telefone: (54) 3316-8191/8194 uma

ficha de cadastro do cliente e as fichas de cadastro dos animais.

93

4.2.1 Cadastro de Cliente

DADOS DO CRIADOR

Rebanho nº Região

Produtor

CPF Fone Fax

Endereço

Cidade UF CEP

E-mail

DADOS DO CONTROLADOR

Controlador

Endereço

Cidade UF CEP

Fone Cel.

E-Mail:

DADOS PARA COBRANÇA DAS ANÁLISES

Nome destino da cobrança

Endereço

Cidade UF CEP

Fone Cel.

E-mail:

CGC ou CPF Número de animais:

94

4.2.2 Cadastro dos Animais

FICHA INICIAL DE IDENTIFICAÇÃO DOS ANIMAIS

SCL Nº_________

Vaca: (nome por extenso)

N° do brinco e/ou apelido:

RAÇA: GS: Nº REGISTRO: DATA NASCIMENTO:

NOME DO PAI:

RAÇA: GS: Nº REGISTRO:

NOME DA MÃE:

RAÇA: GS: Nº REGISTRO:

DADOS REPRODUTIVOS

DATA DE PARIÇÃO: ORDEM DE LACTAÇÃO:

DATA ÚLTIMA COBERTURA: REPRODUTOR:

BEZERRO STFC*

PROPRIETÁRIO:

Depois de realizado o cadastro no SARLE o produtor receberá

um relatório de campo, o qual deverá ser preenchido no dia da

realização do controle.

95

Exemplo de Relatório de Campo

96

4.2.3.Legendas

1. Nome do produtor

2. Data do controle

3. Número do cadastro do rebanho no SARLE (código)

4. Cidade onde se encontra a propriedade

5. Assinatura do proprietário/responsável

6. Número do registro genealógico e nº do animal no cadastro

do SARLE

7. Data do nascimento, último parto e último serviço

8. Produção de leite do controle leiteiro realizado no mês

anterior

9. Número da amostra e apelido do animal (o nº da amostra é

correspondente ao apelido do animal). No exemplo: a

amostra 1 corresponde ao animal de apelido 547

10. Campo para preenchimento das pesagens de leite

correspondentes as ordenhas: manhã, tarde e noite

11. Códigos de lactação: são códigos de explicação da lactação

que serão utilizados para anotar eventos ocorridos no animal

no dia do controle como, por exemplo, mastite, cio, doenças

e será usado também para o envio de informações de

descarte (eliminação) e venda de animais

12. Evento: São códigos de eventos reprodutivos acontecidos no

mês anterior do controle atual como, por exemplo, data de

parto, coberturas e data de secagem

13. Data (dia/mês) é a data em que ocorreram os eventos

reprodutivos. Exemplo: O animal pariu, com isto teve o

código 2 (parto) e em seguida a data do evento “parto”

14. Reprodutor: campo a ser preenchido com o número do

registro do reprodutor que a vaca foi inseminada

15. Bezerro: são informações referentes ao parto

97

4.2.4 Tabela de Códigos de Explicação de Lactação

CÓDIGOS DOS

FATORES QUE

AFETAM O

CONTROLE

CÓDIGOS DE

DESCARTE

(ELIMINAÇÃO)

CÓDIGOS DE

CAUSAS DE

MORTE

CÓDIGOS DE

VENDA

11-aborto 40-baixa produção 60-choque

elétrico, raio

70-para rebanho

dentro do estado

12-amamentando 41-baixa gordura 61-deslocamento

do abomaso

71-para rebanho

fora do estado

13-cetose 42-causa

desconhecida

62-doença 72-em leilão

14-cio 43-deslocamento

do abomaso

63-intoxicação

15-corpo estranho 44-esgotamento do

úbere e problemas

na ordenha

64-febre do leite

16-deslocamento

de abomaso

45-febre do leite 65-ferimento

17-diarréia 46-ferimento 66-idade

avançada

18-em exposição 47-idade avançada 67-timpanismo

19-febre do leite 48-mastite 68-outros

20-ferimento do

úbere

49-ordenha lenta

21-lactação

induzida

50-outras causas

22-mastite 51-outras doenças

23-metrite 52-problemas de

pernas e pés

24-nervosismo 53-problemas

reprodutivos

25-ordenha

perdida

54-temperamento

nervoso

98

26-outros

ferimentos

55-açougue

27-outros

problemas de

saúde

28-podridão no

casco

29-amostra de leite

perdida

30-recém parida

31-sem apetite

32-timpanismo

33-tratado com

ocitocina

34-amostras com sangue

35-sem amostra

36-coagulada

37-sem conservante

4.2.5 Tabela de Códigos dos Eventos Reprodutivos

Código Descrição

1 Em Lactação

2 Parto

3 Secagem

4 Cobertura

8 Aborto

99

4.2.6 Códigos de Bezerros

Sexo (S) Tamanho (T) Facilidade de parto (F) Condição (C)

1-macho

2-fêmea

3-

gêmeos

1-pequeno

2-médio

3-grande

1-parto sem auxílio

2-parto com tração fácil

3-parto com tração

difícil

4-parto com cirurgia

5-parto com má

apresentação

1-bezerro vivo

2-bezerro

morto

4.2.7 Observações

Não esquecer de preencher e assinar a ficha de controle com

a data de coleta, informações da ordenha e dos eventos

ocorridos durante o mês

No caso de cadastro de novos animais no controle, preencher

obrigatoriamente a ficha inicial de identificação dos animais

A assinatura do proprietário e/ou controlador são campos

obrigatórios

100

4.3 Como realizar as coletas.

4.3.1 Material necessário:

Relatório de campo

Frascos para análise de CCS e composição (contendo

conservante Bronopol) fornecidos pelo SARLE

Material para a pesagem do leite conforme o sistema de

ordenha

4.3.2 Execução

Pesagem/volume do leite:

O leite individual de cada animal deverá ser pesado ou o

volume de cada animal deverá ser registrado conforme as

características da ordenhadeira e transcrito para o relatório de campo.

Balde ao pé: O leite poderá ser pesado ou seu volume medido

em balde transparente com escalas. A espuma deve ser descontada.

Canalizado: O leite deverá ser medido em amostradores

próprios para ordenhadeiras canalizadas.

Coleta da amostra:

A amostra deverá ser coletada em frasco específico, fornecido

pelo SARLE contendo conservante (Bronopol) O frasco deverá ser

identificado na tampa com o número da ordem amostral fornecida pelo

SARLE

Homogeneização do leite antes da coleta da amostra

101

Balde ao pé: o leite deverá ser passado de um balde para outro

por 3 (três) vezes consecutivas.

Canalizado: agitar o leite no amostrador utilizando fluxo de ar

durante um segundo por litro de leite, e no mínimo 10 segundos.

Como coletar a amostra:

Balde ao pé: utilizar uma concha para a coleta, a concha deve

ser ambientada mergulhando-a no mínimo três vezes na massa de leite,

coletar o volume respeitando as marcas de cada ordenha. Nunca

encher o frasco totalmente.

Canalizado: abrir o registro do medidor e coletar o volume

respeitando as marcas de cada ordenha. Nunca encher o frasco

totalmente.

Após 20 minutos da coleta da amostra os frascos deverão ser

homogeneizados para dissolução do conservante.

Caixa de amostras:

Ordenar os frascos na caixa na mesma sequência do relatório

deixando os novos animais por último (Figura 1).

102

1 2 3 4 5 6

7 8 9 10 11 12

13 14 15 16 17 18

19 20 21 22 23 24

25 26 27 28 29 30

Figura 1. Sequência na qual os frascos devem ser acondicionados na caixa,

conforme consta no relatório de campo.

Enviar na caixa o relatório de campo preenchido.

Preencher sobre a tampa da caixa o nome do produtor (número

do rebanho no SARLE), número das caixas caso haja mais de uma e o

nome do interessado (Figura 2).

Independentemente do tipo de transporte, as amostras deverão

ser entregues diretamente no SARLE de 2ª a 6ª das 08h às 20h e aos

sábados das 08h às 12h, em até 72h após a coleta.

103

CAIXA: 01 de 03

INTERESSADO: CEPAGRO

ou REBANHO 45

Figura 2. Marcação da caixa para envio ao laboratório.

4.4 Resultados

Os resultados são encaminhados via e-mail, ou poderão ser

acessados pelo site www.sarle.upf.br. O produtor deverá solicitar o

login e a senha ao SARLE pelo e-mail [email protected].

São encaminhados 6 relatórios mensais:

a) Relatório R1- Coleta

Este relatório deverá ser preenchido com as pesagens/volume

do leite de cada animal e os eventos, deverá acompanhar a caixa com

as amostras de leite.

104

b) Relatório R2- Informações dos últimos 12 meses

Neste relatório constam as informações dos resultados das

análises de cada animal (% gordura, proteína, produção e CCS), bem

como as médias individuais e do rebanho, referente ao último controle

e aos 12 meses anteriores.

c) Relatório R2.2- CCS

Este relatório informa os resultados das análises do leite para

composição (% gordura, proteína, lactose, sólidos), contagem de

células somáticas (CCS) e a pesagem/volume do leite de cada animal.

Neste relatório constam ainda as seguintes informações de cada

animal: % da CCS que cada animal representa no tanque e o impacto

de CCS na média geral do tanque.

d) Relatório R3.1- Produção

Apresenta dados de produção individual dos animais, com

projeção de produção para 305 dias, projeção para a idade adulta e a

média do rebanho.

e) Relatório R3.2- Desempenho reprodutivo

Neste relatório constam todas os informes reprodutivos (parto,

idade, dias em lactação, 1º serviço, número de coberturas, projeção

intervalo entre partos, dias em aberto, próximo parto, data de secagem

e dias secos) de cada animal em individual e uma média do rebanho.

105

f) Relatório GR- Gráficos

Apresenta gráficos de desempenho do rebanho.

i. Avaliação do potencial de produção de leite em

função da proteína

ii. Avaliação da dieta: risco de acidose/cetose

iii. Adequação de fibra e energia da dieta

iv. Dispersão da ureia

v. Produção de leite individual

vi. Distribuição das matrizes em lactação CCS atual

x CCS anterior em escore linear

vii. Avaliação do coeficiente G:P (gordura: proteína)

4.5 Problemas e Procedimentos

Perda de uma das pesagens: deixar o espaço correspondente

em branco, sem estimar valores.

Perda de parte do leite de uma amostra: desprezar a quantidade

restante e deixar o espaço correspondente em branco, sem estimar

valores.

Marcação de produção de leite no campo de outra vaca: se não

for possível identificar a tempo, deixar o espaço correspondente em

branco, sem estimar valores.

Perda de amostra total de leite: colocar o código de perda de

amostra na coluna correspondente e manter o frasco na caixa de

amostras em seu respectivo lugar.

106

Perda de uma das amostras de leite: colocar o código de perda

de amostra na coluna correspondente e manter o frasco na caixa de

amostras em seu respectivo lugar.

Animais doentes: se o animal estiver em ordenha, realizar o

controle normal e anotar o código de explicação da lactação; se não

estiver em ordenha, anotar o código de explicação da lactação e deixar

os espaços de produção em branco. O frasco de amostra do leite deve

permanecer em seu lugar na caixa. Em hipótese alguma estimar

produção.

Animal fora da propriedade no dia do controle: deixar os

espaços de produção em branco, e o frasco de amostra de leite em seu

lugar correspondente.

4.6 Contatos

SERVIÇO DE ANÁLISES DE REBANHOS LEITEIROS (SARLE)

UNIVERSIDADE DE PASSO FUNDO - Campus I

BR 285 km 171

Caixa postal 611

CEP 99001-970

Passo Fundo-RS

Fone: (54)- 3316-8191/8194

E-mail: [email protected]

107

5. TRANSTORNOS METABÓLICOS DA VACA LEITEIRA NO

PERÍODO DE TRANSIÇÃO5

Enrico Lippi Ortolani

5.1 Introdução

Define-se período de transição como as quatro últimas e

primeiras semanas em relação ao parto. Nesse período a vaca leiteira

está sujeita a ser acometida por várias enfermidades, com destaque às

de origem metabólica (Herdt, 2013). Várias condições predisponentes

facilitam o surgimento dessas enfermidades. No período pré-parto

citam-se os seguintes fatores: (i) a grande mobilização de nutrientes

para o crescimento fetal, colostrogênese e o desenvolvimento

mamário; (ii) ajustes metabólicos necessários para favorecer a

mobilização de gordura e os teores de cálcio ionizável; e (iii) a

representativa diminuição na ingestão de matéria seca. No período

pós-parto, embora ocorra uma lenta recuperação no apetite, o animal

deve subsistir a uma rápida mobilização e perda de nutrientes para

atender a crescente produção leiteira, em especial no concernente a

gliconeogênese (Herdt, 2013).

5 Ortolani, E. Transtornos metabólicos da vaca leiteira no período de

transição. Anais. I Simpósio Nacional da Vaca Leiteira. Porto Alegre:

Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 2014. 239 p.

108

Dentre as enfermidades metabólicas que se manifestam no

período de transição, destacam-se as seguintes: hipocalcemia

acompanhada ou não de síndrome do animal caído; cetose com

presença ou não de esteatose hepática; edema mamário; deslocamento

do abomaso e hipomagnesemia (Herdt, 2013). Considerando a

frequência e a relevância em nosso meio, serão destacadas duas

enfermidades: a hipocalcemia da vaca parturiente e a cetose da vaca

leiteira.

5.2 Hipocalcemia da Vaca Parturiente

5.2.1 Definição e Sinonímias

Define-se a hipocalcemia como a dificuldade das vacas

leiteiras em manter a homeostase do cálcio livre plasmático,

momentos antes ou em seguida ao parto, gerando inicialmente quadro

de tetania, seguido de paresia e paralisia, que se não foram tratadas

levam frequentemente o animal à morte (Ortolani, 1995b). A

hipocalcemia tem as seguintes sinonímias: paresia da parturiente,

febre vitular ou febre do leite. Porém, essas duas últimas

denominações são incorretas, pois as vacas não têm síndrome febre e

numa das fases clínicas podem até apresentar hipotermia.

109

5.2.2 Aspectos Epidemiológicos

O primeiro estudo epidemiológico no Brasil detectou uma

incidência de 4,25% em rebanhos leiteiros do Vale do Paraíba (SP).

Contudo, deve-se mencionar que os rebanhos retinham vacas além da

6ª gestação, e que a partir da 3ª lactação ocorreu aumento exponencial

na incidência, atingindo na 12ª lactação 31% (Ortolani, 1995a). A

letalidade foi alta (12,8%), em especial em vacas velhas ou tratadas

em fases adiantadas da doença. Outros estudos nacionais identificaram

incidências de 1,8% e 5,2% (Corassin, 2004; Coelho, 2004). Vacas

das raças Jersey podem ser mais acometidas que outras raças,

ocorrendo o mesmo em vacas gordas (> 3,5 de condição corporal com

escores entre 1-5) no dia do parto em relação às magras (Radostits et

al., 2007).

De acordo com dados nacionais, a hipocalcemia é

inicialmente notada nas primeiras 24 horas pós-parto (64%),

reduzindo-se no segundo dia (31%) e diminuindo muito no 3º dia a

seguir (5%) (Ortolani, 1995 a). Porém, também é detectada em

algumas vacas nos últimos dias anteriores ao parto (Radostits et al.,

2007).

5.2.3 Prejuízos Econômicos

Essa enfermidade provoca grandes prejuízos econômicos,

pois além de diminuir a produção leiteira (até 80 L), nas primeiras seis

semanas de lactação, causa mortalidade (Ortolani, 1995a) e

110

predispõem a chance do surgimento de outras doenças do período de

transição, na seguinte ordem: cetose (23,5x), distocia (7,3x quando

ocorre no período pré-parto), mamite (5,4x) , metrite (4,7x), retenção

de secundinas (4,3x), menor eficiência reprodutiva (4,2 x) e

deslocamento do abomaso à esquerda (3x) (Corassin, 2004; Herdt,

2013). A hipocalcemia é, depois da distocia, a segunda principal causa

de decúbito patológico (doença da vaca caída), sendo responsável pelo

surgimento de 38% destes casos (Herdt, 2013).

5.2.4 Metabolismo do Cálcio na Vaca Leiteira

No plasma se encontram duas frações principais de cálcio

(Ca): o cálcio livre (Ca2+) ou ionizável (48%) e o cálcio ligado às

proteínas (52%). Quadros de hipocalcemia só ocorrem quando a

fração de cálcio ionizável se reduz abaixo dos 50%. Os teores de cálcio

ionizável são finamente mantidos dentro de valores específicos (1,0 a

1,25 mmol/L) por vários mecanismos hormonais. Na hipocalcemia a

paratireoide produz o hormônio da paratireoide (PTH), que estimula a

hidroxilação da molécula 25-hidroxicolecalciferol nos rins, formando

a vitamina D3, muito mais potente que o composto anterior. A

vitamina D3 aumenta a absorção intestinal de Ca pela síntese de

proteínas específicas para carrear Ca dos intestinos. Porém, há

necessidade dessa vitamina se ligar a receptores específicos e aptos

nos enterócitos. Além disso, a vitamina D3 aumenta a ressorção de Ca

nos ossos e a reabsorção nos túbulos renais. O PTH pode per se ter

uma ação semelhante à vitamina D3 nos ossos e rins. Na hipercalcemia

111

entra em ação a calcitonina, produzida pela tireoide, que excreta Ca

pela urina e promove deposição de cálcio nos ossos (Ortolani, 1995

b).

5.2.5 Patogenia da Hipocalcemia

A hipocalcemia é fruto do déficit entre a demanda de Ca

dispendido e a quantidade deste elemento obtido na absorção intestinal

e reabsorção óssea no período do periparto. A maior perda de Ca é

para a produção de colostro, que contém o dobro deste elemento (2,2

g/L) em comparação ao leite normal. Vacas entre a 3ª e 6ª lactações

atingem o ápice da produção de colostro. Vacas boas produtoras

podem perder muito mais Ca pelo leite (23 g/dia) que para formação

do feto no final da gestação (11 g/dia). Superordenha do colostro nos

primeiros dois dias de lactação podem desencadear quadros de

hipocalcemia.

Toda vaca no dia do parto apresenta uma diminuta

hipocalcemia. Para reduzir este déficit de Ca tanto os processos de

ressorção óssea como de absorção intestinal necessitam estar bastante

ativos. Porém, exatamente nestes dias existe uma crise na obtenção de

cálcio. Quanto mais velha for a vaca menor é a capacidade de

mobilizar Ca dos ossos devido ao reduzido número de receptores para

a vitamina D3 nos enterócitos. Vacas Jersey também têm o mesmo

problema em relação ao número de receptores. Vacas que, em

sucessivas lactações, têm hipocalcemia apresentam dificuldade de

aumentar os receptores para vitamina D3 antes do parto (Goff, 2008).

112

Dietas muito ricas em Ca, P, Na e K no pré-parto interferem na

produção de vitamina D3, ocorrendo o contrário em relação às dietas

pobres em Ca. Vacas que recebem no final da gestação dietas ricas em

sais catiônicos (Na+; K+) apresentam pH sanguíneo superior a 7,35, o

que parece interferir negativamente na ligação do PTH aos seus

receptores nos ossos, diminuindo a ressorção óssea, e nos rins

interferindo na reabsorção tubular de cálcio (Herdt, 2000; Goff, 2008,

DeGaris e Lean, 2008).

5.2.6 Quadro Clínico

A hipocalcemia pode apresentar três estágios clínicos, de

acordo com o teor de Ca livre no plasma (Ortolani, 1995b). No

primeiro estágio, o animal mantém a consciência, mas apresenta os

seguintes sinais nervosos: excitamento, tremores de cabeça e tetania

com hipersensibilidade. Manifesta ranger de dentes e protrusão de

língua, rigidez dos membros e aspecto de cavalete, podendo ficar em

decúbito lateral. A temperatura retal pode se elevar até os 41º C. Esse

estágio dura no máximo 8 h.

No segundo estágio, a consciência fica deprimida e o animal

se torna sonolento, a tetania desaparece e há paresia muscular, as

pupilas se dilatam e ocorre insensibilidade cutânea. O esfíncter anal se

relaxa e as fezes se tornam secas. E comum a atitude de “auto

auscultação”. As vacas apresentam hipotermia, esfriamento de

extremidade e a pele e muflo ficam secos. Chama a atenção a

taquicardia com hipofonese (Barreto Jr. et al., 2011). O pulso pode

113

ficar imperceptível, o movimento de rúmen desaparece e sobrevêm o

meteorismo gasoso e é comum a instalação da síndrome do animal

caído. A temperatura retal diminuí sensivelmente apresentando

quando de hipotermia.

No terceiro estágio, há perda de consciência, flacidez de

musculatura e instalação de quadro comatoso, com hipotermia

(<36ºC). A taquicardia é destacada (> 130 bat./min). A ausência de

tratamento provoca iminente morte por falência cardiorrespiratória.

Em condições nacionais os quadros de hipocalcemia são

acompanhados de hipofosfatemia e normomagnesemia (Ortolani,

1995a).

5.2. 7 Tratamento

Deve ser realizado com infusão lenta (IV) de soluções

contendo cálcio. A reversão do quadro está intimamente ligada ao grau

de hipocalcemia. Geralmente, o déficit de Ca plasmático é na ordem

de 6 g e tratamentos com essa quantidade resolvem 70% dos casos,

porém parte deles necessitam quantidades superiores (Ortolani,

1995a). Doses excessivas de cálcio provocam recorrência da

hipocalcemia horas após a terapia, devido à liberação de calcitonina.

Intoxicações iatrogênicas pelo Ca podem ocorrer matando o animal

por parada cardíaca, mas podem ser revertidas com uso de sulfato de

atropina (10 mg/animal). Vacas em decúbito respondem bem ao

tratamento com doses adicionais (9 g) de fósforo (IV).

114

5.2.8 Prevenção

A prevenção deve ser realizada quando a incidência for

superior a 1%. Isso é feito manipulando a dieta nos últimos 20 dias

pré-parto. Deve-se evitar o oferecimento dietético excessivo de

potássio e fósforo, que devem ficar restritos a 15 e 35 g/vaca/dia,

respectivamente. Por outro lado, estimula-se a adição de cloreto e

enxofre na dieta para gerar um balanço ligeiramente aniônico. As

dietas usuais a base de volumosos, concentrados e silagem têm mais

cátions que ânions, contendo uma diferença cátion-ânion da dieta

(DCAD) em média de +100 a +300 mEq/kg MS. Para tornar a dieta

aniônica existem sais comerciais específicos ricos em cloreto

(NH4+Cl) e enxofre (SO4Ca.2H20), os quais são suplementados no

final de gestação, em torno de 120 a 200 g/vaca/dia, suprimindo-os no

dia do parto. Essa quantidade proporciona que o balanço permaneça

entre -150 a 0 mEq/kg MS, onde se obtêm os melhores resultados na

prevenção. A constatação que a dieta aniônica está atuando é a queda

no pH urinário, que deve-se situar-se em torno de 6,0 em vacas de raça

Holandesa e entre 5,5 e 6,0 em vacas Jersey (Goff, 2008; DeGaris e

Lean, 2008).

A dieta aniônica provoca uma ligeira acidose metabólica

sistêmica que por seu turno aumenta a produção de vitamina D3 e de

PTH, aumentando a ação dos osteoclastos na ressorção óssea, na

reabsorção urinária e na absorção intestinal de Ca. Essa acidose

provoca também melhor aderência do PTH aos seus receptores ósseos

e renais. Recomenda-se ainda na dieta pré-parto que a quantidades de

115

Ca não ultrapasse 70 g/vaca/dia e ofereçam entre 40 a 50 g de Mg

(Ortolani, 1995b; Goff, 2008; DeGaris e Lean. 2008).

5.3 Cetose da Vaca Leiteira

5.3.1 Definição

A cetose ocorre no início da lactação, devido a um déficit no

metabolismo energético, em especial na gliconeogênese, causado pela

alta demanda de nutrientes no pico da lactação podendo levar a um

quadro de hipoglicemia e acetonemia. Isso provoca diminuições na

produção leiteira e no apetite e o surgimento de sinais nervosos.

5.3.2 Aspectos Epidemiológicos

Teoricamente, quanto mais alta for a produção leiteira maior

é risco do surgimento de cetose. Vários trabalhos nacionais já

relataram a presença de cetose em nossos rebanhos, com uma

incidência acumulada de 13 % a 24 % (Coelho, 2004; Corassin; 2004;

Garcia, 2010). Ela é mais frequente em vacas no decorrer da 2ª a 6ª

lactações, com maior incidência na 3ª e 4ª lactações, quando a

produção leiteira é mais alta. A cetose tipo I é mais frequente em vacas

que pariram em condições corporais menores (< 3,5), enquanto na

cetose tipo II ocorre o contrário (> 3,5); a cetose tipo III (secundária)

pode acometer fêmeas com diferentes condições corporais. O pico de

116

ocorrência é mais tardio no tipo I (3ª semana pós-parto) do que no tipo

II (1ª semana), podendo ser variado no tipo III.

5.3.3 Prejuízos Econômicos

Estudo nacional constatou que vacas cetóticas têm uma

redução láctea durante a lactação de 427 L, ou seja, 4,11% inferior a

vacas hígidas (Corassin, 2004). A cetose aumenta o surgimento de

risco de doenças na seguinte ordem: 6,17x de deslocamento do

abomaso à esquerda e 3,4x para metrite e mamite. Por outro lado,

aumentam o risco de cetose as seguintes enfermidades: hipocalcemia

23,6x; retenção de placenta 3x e pneumonia 4,75 x (Corassin, 2004;

Herdt, 2013; Ortolani, 2014).

5.3.4 Metabolismo da Glicose e Geração de Corpos Cetônicos na Vaca

Nos monogástricos, cerca de 60% da glicose sistêmica é

proveniente da absorção dos carboidratos dietéticos, porém nos

ruminantes estes são fermentados no rúmen. Assim, os ruminantes têm

que gerar glicose quase que unicamente pelo processo de

gliconeogênese hepática. Cerca de 60% da fonte de glicose é derivada

do propionato produzido no rúmen, 30% dos aminoácidos, 5% do

lactato e 5% do glicerol. Os requerimentos de glicose são variáveis de

acordo com a fase produtiva. Uma vaca prenhe no final de gestação

necessita de 500 g de glicose/dia, porém no pico da lactação esta

117

quantidade mais que triplica numa fêmea com produção acima de 20

L de leite (Herdt, 1988).

Os ruminantes têm pequeno estoque de glicogênio hepático,

sendo os depósitos de gordura a principal forma de energia

armazenada no organismo. A mobilização dessas gorduras é feita pela

ação das lipases. No superávit energético as gorduras são estocadas,

ocorrendo o inverso em casos de déficit. Assim, a alta secreção de

insulina bloqueia a ação das lipases, porém o glucagon, o hormônio

do crescimento, a adrenalina, o balanço energético negativo (BEN), o

estresse e o jejum fortemente estimulam as lipases, que mobilizam os

triglicerídeos e os transformam em glicerol e ácidos graxos livres,

também denominados de ácidos graxos não esterificados (AGNEs).

Esses últimos são carreados aos hepatócitos para serem oxidados ou

esterificados.

No déficit energético os AGNEs são grandemente oxidados

gerando energia e acetilcoenzima A (acetil-CoA). Em condições

normais, esse composto se combina com o oxalacetato formando o

citrato, que entra no ciclo de Krebs, gerando ATP e podendo formar

glicose. Porém, quando a produção de acetil-CoA for superior ao

oxalacetato disponível ele é transformado em acetoacetato e este em

acetona e β-hidroxibutirato (βHB), conhecidos como corpos

cetônicos. Isso ocorre abundantemente na cetose, devido à grande

oxidação dos AGNEs. Excesso de corpos cetônicos provocam redução

da disponibilidade de glicose para a glândula mamária, menor

proliferação de linfócitos e decréscimo de atividade dos neutrófilos.

118

Conjuntamente com os altos AGNEs os corpos cetônicos deprimem o

apetite e aumentam o grau de resistência insulínica. O βHB pode ser

transformado, em 5% das vacas cetóticas em álcool isopropílico, que

provoca o surgimento de vários sintomas nervosos.

Os AGNEs podem também ser esterificados no citosol dos

hepatócitos, se unindo ao glicerol e sendo envelopados por colesterol,

fosfolipídeos e proteína formando lipoproteína (LDH-VLDL) para ser

utilizada nos tecidos extra-hepáticos. Porém, se a quantidade de

AGNEs no citosol for muito grande superior a capacidade da

esterificação, as moléculas de AGNEs se condensam e são depositadas

em forma de gordura provocando quadro de esteatose hepática,

comum na cetose tipo II.

O principal fator predisponente para o surgimento da cetose é

a depressão e lenta recuperação do apetite a partir do parto,

acompanhado do pico da lactação nesse período quando a mobilização

de nutrientes é máxima. Assim, a cetose prevalece quando o BEN é

muito significativo, quer seja por desbalanço nutricional ou por menor

apetite, ou pelo fato que as vacas gordas apresentam menor depressão

no apetite pós-parto e maior mobilização de gorduras que vacas

magras (Herdt, 1988; 2000; 2013).

119

5.3.5 Categorias de Cetose

Várias classificações de cetose foram propostas até hoje.

Classicamente, classificava-se como primária ou secundária (Herdt,

2000). A primária causada pela falta de carboidrato na dieta no pós-

parto para prover de glicose e manter a alta produção de leite e a

secundária, determinada pelo menor apetite causado por outra doença

concorrente.

Nova proposta foi feita por Holtenius e Holtenius (1996),

comparando-se a cetose à diabetes mellitus humana. A cetose tipo I

ocorre no pico da lactação sem outra doença concorrente e com

esteatose hepática, caracterizada por hipoglicemia e hipoinsulinemia

em vacas que receberam dietas pobres em energia no pós-parto, e que

parem com condição corporal abaixo de 3,5 semelhante ao descrito na

forma primária clássica.

A cetose tipo II se manifesta nos primeiros 15 dias pós-parto,

caracterizada por hiperinsulinemia, hiperglicemia e alta resistência

insulínica (estado que a insulina diminui a sua ação biológica nos

tecidos insulino-dependentes: por exemplo, musculatura e gordura),

em vacas superalimentadas no pré-parto e que pariram com alta

condição corporal (> 3,5), frequentemente com doenças concorrentes

e esteatose hepática. Contudo, estudos posteriores verificaram que a

hiperinsulinemia e hiperglicemia eram pouco frequentes e que muitos

quadros inflamatórios poderiam incrementar a resistência insulínica

(Herdt, 2013).

120

Uma classificação errônea divide a cetose em clínica e

“subclínica” de acordo com os teores de corpos cetônicos e a presença

ou não de sintomas clínicos (Herdt, 2013) ignorando que o diagnóstico

clínico é firmado pela presença de sinais clínicos e/ou exame

laboratorial positivo. Além disso, a presença de sinais clínicos está

ligada a capacidade das vacas tolerarem corpos cetônicos, pois

algumas se mantem assintomáticas com alta acetonemia, e outras

manifestam a doença com teores menores (Herdt, 2000).

Assim, é lógico classificar a cetose em três formas. A cetose

tipo I causada por privação alimentar no pós-parto; a cetose tipo II

gerada por excesso de alimentação no pré-parto; e a cetose tipo III, ou

secundária, em vacas bem manejadas dieteticamente no pré e pós-

parto, mas acometidas por enfermidades concorrentes após o parto.

5.3.6 Quadro Clínico

Embora etiologicamente existam três tipos de cetose, quanto

ao quadro clínico pode-se dividir em duas formas: a típica, presente

em 95% dos casos, e a nervosa ou bizarra. A forma típica tem uma

evolução clínica média de 16 dias no tipo I e de 8 dias no tipo 2. Em

ambos os casos, é marcada por um tripé de sintomas: hipogalaxia,

hipofagia e sintomas nervosos. A hipogalaxia gira em torno de 30%,

mas pode atingir até 80%. A hipofagia chega a 50%, sendo mais

destacada nos casos tipo II. O apetite pode ser seletivo e o animal

priva-se de consumir primeiro o concentrado, depois o volumoso,

podendo desenvolver pica, ingerindo cama, areia ou terra. Isso leva a

121

uma perda evidente de peso corpóreo atingindo até 70 kg no primeiro

mês pós-parto. Os animais podem apresentar sonolência, olhar fixo,

ataxia, pequenos cambaleios e cegueira parcial. As grandes funções

podem estar modificadas devido aos quadros concorrentes. Devido à

diminuição do apetite pode ocorrer afundamento na fossa paralombar

esquerda em 70% dos casos e constipação e fezes ressecadas em 50%.

Muitas vacas com cetose tipo I e III apresentam pelame eriçado. Cerca

de 50% das fêmeas manifestam odor cetótico pelo ar expirado.

O quadro de cetose nervosa ou bizarra surge subitamente. São

comuns os sintomas de hiperestesia, delírio, agressividade, intensa

sialorreia, amaurose levando a ataxia, cambaleios e quedas, e apoio da

cabeça em obstáculos. Caso esses animais não sejam devidamente

tratados podem sucumbir após o surgimento de quadro depressivo

(Radostits et al., 2007; Herdt, 2013).

5.3.7 Diagnóstico

Como os sintomas nem sempre são tão evidentes assim, é

fundamental o diagnóstico confirmativo da enfermidade. Nova

ferramenta foi desenvolvida, disponível e barata em nosso meio, que

permite o diagnóstico rápido ao “pé-do-animal” por meio da

determinação de βHB em sangue total mensurado em tiras reativas,

por química seca (Precision Xtra), o qual apresenta alta sensibilidade

e especificidade (Araújo, 2014). Confirma-se o diagnóstico com

valores iguais ou superiores a 1,4 mmol/L de βHB, e suspeito entre

1,2 e 1,3 mmol/L. No rebanho pode ser realizada essa prova de rotina

122

para o diagnóstico de cetose, estabelecendo exames na cetose tipo I no

15º, 21º e 28º, e na cetose tipo II no 4º, 7º e 12º dias pós-parto.

5.3.8 Tratamento

O tratamento deve atingir as seguintes metas: diminuições da

lipólise e da cetogênese, e aumentos da glicemia e do consumo de

matéria seca. Geralmente, 50% das vacas não tratadas apresentam

recuperação espontânea lenta. O arsenal de tratamento conta com

diferentes tipos de medicamentos, a base de glicose (1.500 mL solução

20% IV); precursores de glicose (propileno-glicol 300 mL/dia por 5

ou mais dias ou glicerol/glicerina 300 mL/dia por quatro dias via oral);

corticosteroides (dose única de 20 mg de dexametasona, 1 g de

cortisona ou 5 mg de flumetasona); e medicamentos contendo fósforo

e vitamina B12 (Butafosfan 25 mL/dia, correspondente a 0,43 g de P e

1.250 µg de vitamina B12/dose), por 3 dias consecutivos (Herdt, 2013).

Os tratamentos devem ser priorizados de acordo com as

condições clínicas, assim: a glicose deve ser administrada na cetose

tipos I e III e nas formas bizarras; precursores de glicose em todos os

tipos de cetose; corticosteroides na cetose tipo II, devendo ser evitado

seu uso em animais com quadros inflamatórios; e os suplementos de

fósforo e B12 na cetose tipo I. Nos quadros mais rebeldes de cetose

tipo II (glicemia > 2,2 mmol/L; βHB > 2,4 mmol/L e alta resistência

insulínica) deve-se empregar glicose, os precursores e principalmente

corticosteroides (Gordon, 2013).

123

5.3.9 Prevenção

Deve-se iniciar na 8ª semana pré-parto com a oferta de

quantidades adequadas de nutrientes. Daí até o parto a ingestão de

matéria seca (MS) reduz-se sensivelmente (2% do peso vivo a 1,5%

em kg de MS; ex. vaca de 500 kg passa da ingestão de 10 kg MS/dia

para 7,5 kg), principalmente nas últimas três semanas. Isso deve ser

compensado com o aumento na densidade energética nessas semanas

finais. Da 8ª à 4ª semana pré-parto as vacas devem receber dieta com

12 % de proteína bruta (PB), 50% de NDT e 40% de Fibra Detergente

Neutro (FDN), passando a oferecer, em seguida, 15% de PB, 60% de

NDT e 35% de FDN. Do ponto de vista prático, no primeiro período

a dieta deve conter 10% de concentrados energéticos e 90% de

volumosos (50% de silagem e 40% de capins tenros e feno),

recebendo, em seguida, 30% de concentrados e 70% de volumosos.

Durante as últimas oito semanas pré-parto o ganho de peso

diário deve atingir 0,2 kg/dia fazendo com que a condição corporal

permaneça entre 3,0 e 3,25. No primeiro mês pós-parto a dieta deve

ser fornecida com 19% de PB, 73% de NDT e 30% de FDN,

mantendo-se a relação volumoso: concentrado em 60:40. Nos meses

posteriores a dieta conterá 18% de PB, 60% de NDT e 32 % de FDN.

Do ponto de vista prático, a quantidade de concentrados energéticos

oferecido nos primeiros três meses pós-parto é baseado na produção

láctea, ou seja: vacas produzindo mais de 27 L recebem 1 kg de

concentrado/2 L de leite; com produção de 18 a 27 L recebem 1 kg de

124

concentrado/2,5 L de leite e com produção entre 13 e 18 L recebem 1

kg de concentrado/3 L CE leite.

A suplementação da dieta com 335 g/vaca/dia de monensina

no último mês de gestação e no decorrer do pós-parto aumentou a

gliconeogênese, diminuiu os teores de βHB e aumentou a produção

láctea. O combate aos vários tipos de estresse às vacas no período de

transição é essencial, para não provocar reduções na ingestão da

matéria seca e aumento na incidência de cetose. A prevenção das

várias enfermidades presentes no pós-parto é de grande importância

para diminuir o risco de ocorrência de cetose (Herdt, 2013).

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127

6. TRANSTORNOS METABÓLICOS NO PERÍODO DE

TRANSIÇÃO DA VACA LEITEIRA COM ÊNFASE NAS

ENFERMIDADES UTERINAS E DA GLÂNDULA MAMÁRIA6

Marcio Nunes Corrêa

Andressa Stein Maffi

Beatriz Riet-Correa

Ismael Mateus Cavazini

Marcelo Moreira Antunes

Viviane R. Rabassa

Cássio C. Brauner

6.1 Introdução

O período de transição em vacas leiteiras compreende as três

semanas que antecedem e as três que sucedem o parto (Goff & Horst,

1997). Doenças como a hipocalcemia, metrite, cetose, deslocamento

de abomaso e mastite geralmente ocorrem neste período (Ziguer et al.

2007). As doenças do periparto de vacas leiteiras constituem um

complexo, de modo que uma condição patológica predispõe a

ocorrência de outra. Por exemplo, uma vaca que apresenta

6Correa, M.N. et al. Transtornos metabólicos no período de transição da vaca

leiteira com ênfase na enfermidades uterinas e da glândula mamária. Anais. I

Simpósio Nacional da Vaca Leiteira. Porto Alegre: Universidade Federal do

Rio Grande do Sul. 2014. 239 p.

128

hipocalcemia é 4 vezes mais susceptível à ocorrência de retenção de

placenta e 16,4 vezes mais susceptível à ocorrência de cetose.

O início da produção de leite impõe grandes desafios para os

mecanismos responsáveis pela homeostase energética, proteica e

mineral da vaca. Durante o início da lactação, fatores homeorréticos

são responsáveis pelo direcionamento de grande quantidade de energia

para a glândula mamária e síntese de leite. Nesta fase, a vaca acaba

mobilizando reservas corporais e passa a enfrentar um estado de

balanço energético negativo (BEN). Neste período, as vacas sofrem

uma diminuição da resposta imunológica. Este estado de

imunossupressão em que o animal se encontra deve-se à diminuição

da atividade dos neutrófilos e dos linfócitos (Kehrli et al. 1989),

decorrentes das alterações do padrão de consumo alimentar e das

alterações hormonais e metabólicas a que a vaca leiteira está sujeita

durante o periparto. Todos esses fatores predispõem a um aumento

acentuado do risco de desenvolver doenças que influenciam

negativamente a resposta produtiva e reprodutiva (Youngquist &

Threlfall, 2007). Assim, o BEN, a inflamação e a resposta imune estão

diretamente relacionados, podendo atuar como causa ou consequência

de enfermidades comuns no periparto.

No periparto, a concentração de cálcio associa-se com o

decréscimo na contração muscular e com a imunocompetência. O

cálcio é necessário para a realização de várias funções vitais, na síntese

de leite, na contração muscular e desempenhando funções como

segundo mensageiro ou como cofator em diversas vias metabólicas

129

intracelulares (Bruno, 2010). Durante o período seco, as necessidades

de cálcio da vaca são baixas (manutenção e desenvolvimento fetal),

ocorrendo incremento acentuado após o parto para a síntese de leite.

Entretanto, os mecanismos de controle do organismo não conseguem

mobilizar tamanha exigência, levando a quadros de hipocalcemia

subclínica e clínica.

A hipocalcemia na forma subclínica contribui para a

diminuição da contração da musculatura lisa, da motilidade do rúmen

e abomaso, redução da ingestão de matéria seca e da produção de leite

no início da lactação, assim como predispõe ao desenvolvimento de

outras doenças. Esta desordem atinge cerca de 20 a 40% de vacas

leiteiras no período pós-parto, e pode persistir em até cerca de 22%

dos animais até os 10 dias pós-parto (Charbonneau et al. 2008). A

diminuição das reservas de cálcio intracelular no sistema imune

prejudica de forma direta a resposta celular a um estímulo de ativação,

contribuindo para um estado de supressão imunitária. Diversos autores

indicam que cortisol, hormônio do crescimento (GH) e fator de

crescimento semelhante a insulina (IGF) alteram a proliferação de

linfócitos. Também, níveis elevados de ácidos graxos não

esterificados (AGNE) e de beta- hidroxibutirato (BHB) são sugeridos

como agentes imunossupressores. Estudos in vitro demonstram que a

presença desses metabólitos em níveis elevados reduz a atividade de

polimorfonucleares e torna os animais mais suscetíveis a doenças

uterinas e a mastite.

130

6.2 Metabolismo e Relação com Enfermidades Uterinas

Os casos de retenção de placenta, metrite e endometrite clínica

e subclínica afetam a regeneração do endométrio e o retorno a

ciclicidade, resultando em atraso na primeira inseminação, aumento

no número de inseminações por concepção, aumento no intervalo

entre partos e redução da taxa de parição (Hussain & Daniel, 1991).

Os tratamentos dessas enfermidades resultam no aumento dos custos

de produção.

Dentre os fatores decisivos para o sucesso de uma nova

concepção no pós-parto recente de vacas, estão o retorno à ciclicidade

ovariana e o término da involução uterina de forma fisiológica. Muitos

são os fatores que influenciam o desempenho reprodutivo de bovinos

de leite, como a nutrição, o manejo, a detecção e sincronização de cio,

e a correta inseminação (Garnsworthy et al. 2008; Schefers et al.

2010). Além disso, algumas alterações ocorridas durante o pré-parto,

como a redução de ingestão de matéria seca e a maior demanda de

energia, podem comprometer o estado nutricional do animal e o seu

sistema imunológico, facilitando a ocorrência de doenças uterinas,

afetando o desempenho reprodutivo (Sordillo, 2009).

Antes do parto o lúmen uterino é estéril, ocorrendo a

contaminação do útero por micro-organismos durante o parto, os quais

são eliminados durante o processo de involução uterina. Quadros de

infecção uterina ocorrem quando os mecanismos de defesa do

organismo não conseguem debelar a infecção havendo um desbalanço

entre os mecanismos de defesa local e as bactérias patogênicas.

131

Animais que tiveram quadros de retenção de placenta, distocias, partos

gemelares, abortos e curtos períodos de gestação, têm mais risco ao

estabelecimento destas infecções (Sheldon et al. 2006; Benzaquen et

al. 2007; Bell & Roberts, 2007). O estabelecimento, a gravidade e a

persistência dos diferentes tipos de infecção são influenciados

basicamente pela condição do ambiente uterino, por fatores genéticos,

além da imunidade inata e adquirida (Willians et al. 2007). A

expressão dos sinais clínicos depende da interação entre resposta

imunológica, quantidade e patogenicidade dos agentes microbianos

(Azawi, 2008).

6.3 Retenção de Placenta

A retenção de placenta (RP) caracteriza-se pela falta de

expulsão da placenta no período de 12 horas após o parto, sendo

associado mais frequentemente com abortos, distocias e gestações

gemelares, mas apresentando também fatores de risco como idade

avançada, estresse, falhas de manejo, hipocalcemia e cetose,

deficiências de vitaminas A e E, deficiências minerais como iodo e

selênio, intoxicações, distúrbios hormonais, doenças como brucelose,

leptospirose e rinotraqueite infecciosa bovina. A incidência de RP

varia entre rebanhos, sendo de 3 a 27%, podendo chegar a 46% em

partos gemelares. Casos não complicados não têm efeito significativo

sobre a fertilidade e sobre o intervalo parto-concepção, porém podem

apresentar como sequela a ocorrência de metrite. Os prejuízos

causados pela retenção placentária podem ultrapassar 150 reais (em

132

torno de U$68,00) por caso tratado, e são devidos a perdas de leite,

que alcançam 250 L em média (levando em conta o leite descartado

pelo uso de antibióticos mais o que a vaca deixou de produzir pela

enfermidade), gastos com tratamento e mão de obra, atraso de 15 dias

para concepção, descarte de 6% dos animais acometidos pela doença,

além da mortalidade que apresenta valores médios de 1,5% dos casos

(Corrêa et al. 2010).

Além das consequências diretas da RP sobre a produção de

leite, também é um fator de risco para outras desordens reprodutivas e

doenças como a cetose, laminite e mastite. Como consequência, a RP

afeta negativamente o desempenho reprodutivo, podendo ser

observado o aumento no intervalo entre o parto e a primeira ovulação,

redução da taxa de concepção ao primeiro serviço e menor taxa de

prenhez (Fourichon et al. 1999; Bell & Roberts, 2007; Tillard et al.

2008; Sartori et al. 2013). Relatos de ocorrência de RP em vários

países incluem os Estados Unidos com 7,8% dos animais, Coréia com

18,3% e Alemanha com 27,8% (Drillich et al. 2006).

Estudos indicam a relação de RP com desbalanços de cálcio e

fósforo (Pelissier, 1976). Vacas hipocalcêmicas são mais pré-

dispostas à ocorrência de RP, por via indireta, devido ao maior risco

de partos distócicos. Ademais, a imunossupressão gerada pelos baixos

níveis de cálcio, associada a quadros de RP, predispõem estes animais

a um quadro clínico de endometrite.

Segundo Gunnink (1984), o sistema imune identifica a

placenta como um corpo estranho. Em seu estudo, avaliando nível de

133

fagocitose dos leucócitos, observou que vacas com RP tiveram menor

capacidade fagocítica comparada à de vacas saudáveis. Esta menor

atividade de leucócitos foi observada antes, durante e após o parto em

outros estudos (Gunnink, 1984a, 1984b, 1984c). Vacas com redução

da atividade de leucócitos apresentam redução na capacidade de

ingestão de matéria seca duas semanas antes e duas semanas após o

parto (Romaniukowa, 1984). No estudo realizado por Kimura et al.

(2002), vacas com RP apresentavam baixa função de neutrófilos desde

o pré-parto até duas semanas pós-parto.

Vacas com níveis elevados de AGNE, indicando alta

lipomobilização, têm alteração tanto da função dos linfócitos quanto

da proliferação e secreção de imunoglobulina M e de interferon

(Lacetera et al. 2004), afetando também a capacidade oxidativa e

viabilidade dos polimorfonucleares (Scalia et al. 2006).

Concentrações plasmáticas de AGNE pré e pós-parto acima de 300 e

600 µmol/L, respectivamente, são consideradas fatores de risco para

RP e metrite (Ospina et al. 2010). A RP é um dos principais fatores

predisponentes da metrite, sendo que 20 a 25% das vacas com RP

desenvolvem metrite (Dubuc et al. 2011).

134

6.4 Metrite

Os eventos do pós-parto, juntamente com vários mecanismos

de defesa do útero, facilitam a eliminação da flora bacteriana

indesejável (Senger, 2005). As contrações do miométrio permitem a

eliminação de grande parte dos lóquios. O retorno à ciclicidade

ovariana (estro) é o fator natural mais importante, assim como o

aumento das concentrações de estradiol, que favorece a migração de

leucócitos para o trato reprodutivo. A secreção ovárica de estrogênio

antes da primeira ovulação promove uma maior resistência uterina a

infecções, possibilitando o retorno precoce à atividade reprodutiva

(Hafez & Hafez, 2000). Porém, casos de lipidose hepática têm sido

associados com uma extensão no período anovulatório no pós-parto

(Reist et al. 2000), reduzindo o desempenho reprodutivo de vacas

leiteiras em lactação (Jorritsma et al. 2000), e favorecendo a doenças

uterinas, como a metrite.

A metrite séptica no pós-parto de vacas leiteiras caracteriza-

se por toxemia grave e abundante corrimento uterino com odor

pútrido, acompanhado ou não de retenção de placenta, é uma

inflamação que atinge todas as camadas do útero. A sua etiologia é

multifatorial, admitindo-se uma combinação de fatores, como

retenção de placenta, insuficiente involução uterina pós-parto e

infecção uterina ascendente. A ocorrência é maior no período de 2 a 4

dias pós-parto, tendo como fatores predisponentes a ocorrência de

distocias, retenção de placenta, obesidade e debilidade orgânica.

135

A metrite puerperal aguda pode apresentar incidência variável

entre 11 e 36%. As perdas econômicas ocorrem de forma indireta,

como a redução na produção de 266 L de leite até o dia 119 de

lactação, incluindo o leite descartado pelo tratamento. Além disso,

prejuízos com o aumento de 7% nas taxas de descarte e redução da

vida útil da vaca em 6 a 8 meses. A metrite ainda altera a involução

uterina e reduz o desenvolvimento folicular pós-parto, elevando o

intervalo parto-concepção e comprometendo os resultados da

inseminação artificial (Corrêa et al. 2010).

A contaminação bacteriana do útero no pós-parto é comum,

requerendo uma resposta imune de forma rápida das células de defesa,

principalmente neutrófilos. O recrutamento de neutrófilos é iniciado

por meio de citocinas pró-inflamatórias, geradas a partir do

endométrio, no momento de reconhecimento das bactérias. Produção

de baixos níveis de citocinas pró-inflamatórias, incluindo o fator

necrose tumoral α (TNFa), IL-1β e IL-6, tem sido associada com o

desenvolvimento de metrite (Galvão et al. 2011). Vacas com atividade

de leucócitos reduzidos apresentam maior propensão a apresentarem

quadros de metrite e mastite no pós-parto (Cai et al. 1994). Além disso,

a redução na ingestão de matéria seca que se inicia no pré-parto e se

estende até o pós-parto imediato, associada à grande demanda

metabólica, gera um déficit negativo de energia e, conforme abordado

anteriormente, vacas com níveis elevados de AGNE apresentam

alteração da capacidade dos linfócitos de proliferar e secretar

imunoglobulina M e interferon (Lacetera et al. 2004), afetando

136

também a capacidade oxidativa e viabilidade dos polimorfonucleares

(Scalia et al. 2006). Vacas que perderam entre 1 e 1,5 pontos de

condição corporal entre o período seco e o pós-parto apresentam um

balanço energético negativo mais intenso e maior tempo para

recuperação da condição corporal, entre a primeira e quarta semana de

lactação, do que as vacas que perderam 0,75 pontos de ECC. Esses

animais apresentam maior ocorrência de metrite (62% x 27%) e

doenças metabólicas, como cetose, deslocamento de abomaso e

hipocalcemia (23% x 2%). Os animais com maior perda de ECC

apresentaram 103 dias em aberto, enquanto os animais com perda

moderada de ECC tiveram 87 dias em aberto (Kim & Suh, 2003).

Atualmente, vem-se estudando alguns marcadores que

indicam o risco do animal apresentar metrite antes da ocorrência de

sinais clínicos. O quadro clínico de metrite é marcado por alterações

em proteínas hepáticas, conhecidas como proteínas de fase aguda,

sendo a haptoglobina uma proteína de fase aguda positiva e a

paraoxanase e a albumina proteínas de fase aguda negativa. Um estudo

demonstrou aumento dos níveis de haptoglobina em torno do parto,

em vacas com metrite (Huzzey et al. 2009). Redução nos níveis de

albumina indicam alterações hepáticas e está relacionado com

incidência de doenças uterinas (Bertoni et al. 2008; Burke et al. 2010).

No estudo realizado por Schneider et al. (2013) pode-se observar que

vacas com metrite apresentavam redução na atividade de paraoxanase

no dia 7 pré-parto e de albumina aos 21 dias antes do parto. Neste

estudo também foi possível observar uma maior taxa de prenhez dos

137

animais saudáveis aos 150 dias pós-parto, comparado aos animais com

metrite.

6.5 Endometrite

A endometrite é uma enfermidade caracterizada por uma

inflamação do endométrio e sua ocorrência se dá a partir dos 21 dias

pós-parto, não estando associada com envolvimento sistêmico. Esta

enfermidade tem sido subdividida em endometrite clínica e

endometrite subclínica, sendo a endometrite clínica caracterizada pela

presença de conteúdo purulento ou mucopurulento dos 21 aos 26 dias

pós-parto. O quadro de endometrite subclínica caracteriza-se pela

presença de mais de 18% de polimorfonucleares na citologia uterina

no período de 21 aos 33 dias pós-parto, ou mais de 10% de

polimorfonucleares dos 34 aos 47 dias pós-parto. Vacas com quadros

de endometrite subclínica não apresentam descarga de conteúdo

uterino, porém, apresentam efeito negativo na reprodução (Sheldon et

al. 2006).

Um estudo recente realizado por Krause et al. (2014)

demonstrou que vacas com ciclos estrais normais tiveram menores

níveis de células polimorfonucleares (26,3%) quando comparado a

vacas anovulatórias (53,4%). Estudos realizados por Sheldon et al.

(2008, 2009) demostraram que em torno de 40% dos animais de alta

produção, mantidos em sistemas intensivos, podem apresentar metrite

nas três primeiras semanas após o parto, com persistência da

enfermidade na forma de endometrite clínica em até 20% dos animais.

138

Assim como na retenção de placenta e na metrite, os casos de

endometrite estão associados com uma redução da função imune. Kim

et al. (2005) observaram que vacas com endometrite apresentaram

linfócitos com capacidade fagocítica reduzida já no pré- parto.

Há uma relação positiva entre endometrite, BEN

(caracterizado por AGNE e BHB elevados) e quadros de cetose

(Hammon et al. 2006; Galvão et al. 2010). Demonstrou-se maior

incidência de endometrite em animais com esteatose hepática (Fronk

et al. 1980) ou com acetonemia durante o puerpério recente

(Markusfeld, 1985).

Outro fator a ser levado em consideração é a maior tendência

que animais com sobrepeso no período seco têm de desencadearem

quadros mais intensos de BEN e cetose no pós-parto, por apresentarem

maior perda de condição corporal e terem um maior atraso na

recuperação de condição corporal. É sabido que animais com

sobrepeso no pré-parto tem maior tendência à hiperlipomobilização no

pós-parto, o que leva a quadros mais intensos de BEN e por

consequência acentuação da imunossupressão. Vacas com elevada

condição corporal (acima de 3,5) no pré-parto apresentam uma

redução no metabolismo hepático, resultando em uma menor atividade

oxidativa quando desafiadas no pós-parto. A concentração elevada de

AGNE no fígado leva também ao aumento de proteínas de fase aguda,

principalmente haptoglobina, sendo possível detectar este perfil

durante o pré-parto. Sua detecção pode ser um bom indicador no

diagnóstico precoce de enfermidades do peri-parto, uma vez que as

139

vacas com endometrite apresentam níveis mais elevados desta

proteína já no pré-parto (Schneider et al. 2013).

6.6 Metabolismo e Relação com a Mastite

Mastite é a inflamação da glândula mamária que afeta uma

elevada proporção de vacas (Seegers et al. 2003). Economicamente, é

considerada a principal doença do gado leiteiro, uma vez que

apresenta elevada prevalência e os custos com perdas e tratamentos

são geralmente elevados (Seegers et al. 2003). Animais acometidos

por mastite apresentam alterações na glândula mamária (Schwegler et

al. 2013), como edema, vermelhidão, dor; alteração no aspecto e na

composição do leite, como o aumento da contagem de células

somáticas (Hortet & Seegers, 1998), além de apresentarem um queda

crônica na produção (Bar et al. 2007). Dependendo da severidade da

mastite, alterações sistêmicas também podem estar presentes e

incluem a diminuição da ingestão de matéria seca e alterações dos

padrões fisiológicos durante o exame clínico. Em casos mais graves

há severa desidratação e endotoxemia. Além disso, a mastite clínica

altera as concentrações metabólicas sanguíneas, modificando assim o

perfil hormonal da vaca, prejudicando sua fertilidade (Hockett et al.

2000; Lavon et al. 2010).

Dependendo do agente etiológico e das outras condições

envolvidas, pode ocasionar a morte do animal. Não é incomum a

mastite ser um dos principais, senão o principal motivo de descarte de

vacas leiteiras nos rebanhos. Grande parte do que determina o animal

140

a desenvolver ou não a doença está relacionada com a capacidade do

agente causador em vencer as defesas inatas e adquiridas da glândula

mamária e se multiplicar, assim como a capacidade do animal em

responder aos estímulos patogênicos e desenvolver uma resposta

imune de forma rápida e que seja eficaz.

Como já citado, durante o periparto, além do BEN, as vacas

passam por uma fase de imunossupressão, que pode ser definida como

a baixa capacidade do organismo em formar uma resposta imune

rápida e eficaz para combater uma infecção. Durante esta fase, os

animais estão mais propensos ao surgimento de doenças infecciosas,

entre elas a mastite. Observa-se que aproximadamente 25% das

mastites ocorrem durante as primeiras duas semanas de lactação e que

a maioria são causadas por agentes oportunistas, o que indica

influência da condição imune nesta fase.

Com o objetivo de avaliar se o BEN é o principal causador

desses distúrbios, pesquisadores induziram restrição alimentar em

vacas no meio da lactação e procederam com infusões intramamárias

de endotoxinas, observando que o BEN neste momento não afetou

significativamente a expressão de moléculas de adesão sob a

superfície de leucócitos bovinos (Perkins et al. 2001; Moyes et al.

2009). Em outro estudo, inocularam quantidades semelhantes de

Escherichia coli em grupos de vacas no início ou meio da lactação,

identificando que as vacas periparturientes tiveram crescimento

bacteriano mais rápido, infecção mais severa e maior temperatura

corporal do que as vacas no meio da lactação (Shuster et al. 1996).

141

As principais células envolvidas no sistema imune da glândula

mamária são os neutrófilos e os linfócitos. Os neutrófilos são um dos

principais tipos celulares do sistema imune, pois são a primeira linha

de defesa, respondendo de forma rápida (em minutos) e não precisam

de contato prévio com o agente. Uma de suas principais funções é a

fagocitose. Os linfócitos representam uma segunda linha de defesa,

muito importante pelo fato da memória imunológica. O

estabelecimento de uma infecção em qualquer órgão ou tecido é

dependente de um balaço delicado entre os mecanismos de defesa

nativos do organismo e a capacidade da bactéria de resistir a condições

desfavoráveis de crescimento. Quando há desequilíbrio, como no caso

da imunossupressão, a doença ocorre.

Com o objetivo de avaliar o efeito da produção de leite sobre

a imunossupressão durante o periparto, foram utilizadas um grupo de

vacas com glândula mamária (inteiras) e outro com vacas

mastectomizadas, nas quais se avaliou a capacidade dos neutrófilos

em eliminar micro-organismos (atividade da mieloperoxidade). As

vacas mastectomizadas tiveram uma rápida recuperação da habilidade

fagocitária dos neutrófilos, enquanto que nos animais inteiros foram

necessárias cerca de três semanas após o parto para haver essa

completa recuperação (Kimura et al. 1999). Em virtude desse fato,

alguns trabalhos vêm investigando componentes metabólicos

individuais associados ao BEN. A cetose é a elevação dos corpos

cetônicos na corrente sanguínea, urina ou leite, associado a um

declínio na glicose sanguínea. Os corpos cetônicos são resultado da

142

excessiva mobilização lipídica que ocorre nas vacas em BEN e da

incapacidade do fígado em metabolizar o excesso de ácidos graxos

(González et al. 2000). Os corpos cetônicos são utilizados como

energia alternativa por diversos tecidos. Entretanto, muitas das células

imunes são afetadas negativamente pelos níveis de metabólitos típicos

de um ambiente cetônico (baixa glicose, elevação nos corpos

cetônicos e presença de AGNE).

Dessa forma, diversos trabalhos vêm demonstrando que vacas

cetônicas apresentam quadros mais severos de mastite do que vacas

saudáveis (Oltenacu & Ekesbo, 1994; Kremer et al. 1993). Linfócitos

de vacas com cetose clínica e subclínica, cultivados in vitro,

responderam menos a desafios patogênicos, quando comparados com

linfócitos de vacas saudáveis (Kandefer & Szerszen et al. 1992).

Ademais, houve uma diminuição na expressão de moléculas de

superfície associadas com a função de neutrófilos sanguíneos (Zerbe

et al. 2000).

A excessiva mobilização lipídica no período de transição leva

a um acúmulo de AGNE na corrente sanguínea, o que causa efeitos

maléficos sobre a função das células imunes. Estudos in vitro

demonstraram a diminuição da função, viabilidade e proliferação das

células mononucleares quando em contanto com AGNE (Scalia et al.

2006; Ster et al. 2012). Portanto, níveis elevados de AGNE na

proximidade do parto são preditivos para a subsequente mastite

(Moyes et al. 2009; Schwegler et al. 2013), além de outras desordens

143

como o deslocamento de abomaso, cetose clínica, metrite e retenção

de placenta (Ospina et al. 2010).

Além dos metabólicos envolvidos diretamente com o BEN

(AGNE, corpos cetônicos) sabe-se que o cálcio também exerce um

papel importante sobre a ocorrência das mastites. A função principal

do cálcio está relacionada com a contração muscular. Dessa forma, em

vacas hipocalcêmicas o canal do teto da glândula mamária pode ficar

aberto e favorecer a penetração de patógenos ambientais para o

interior da luz do órgão. Além disso, vacas caídas e que ficam com os

tetos expostos ao solo por longos períodos também tem chances

maiores de desenvolver mastites. A hipocalcemia também age como

mais um fator estressante para a vaca durante o pré-parto, já que os

animais com hipocalcemia subclínica apresentam níveis mais

elevados nas concentrações plasmáticas de cortisol, quando

comparados com vacas saudáveis, prejudicando ainda mais o

organismo já imunossuprimido (Horst & Jorgensen, 1982). Ademais,

o cálcio também exerce influência sobre a imunocompetência celular,

uma vez que é importante na sinalização intracelular para a ativação

das células imunes (Kimura et al. 2006). Apesar dos maiores prejuízos

serem observados com a forma clínica da doença, é importante

ressaltar que grande parte das vacas permanecem com hipocalcemia

subclínica durante as primeiras semanas após o parto, influenciando a

função imune (Goff et al. 1996). Foi demonstrado que as vacas com

hipocalcemia clínica foram 8,1 vezes mais propensas a desenvolverem

mastite do que as vacas saudáveis (Curtis et al. 1983).

144

6.7 Considerações Finais

O período de transição influencia a vaca leiteira em nível

produtivo e reprodutivo no decorrer da lactação, sendo por isso

considerado um momento crucial no ciclo de produção da vaca. A

ocorrência de mastite e enfermidades uterinas são reconhecidas como

os principais problemas na sanidade dos rebanhos leiteiros e o

metabolismo está diretamente relacionado com a ocorrência dessas

enfermidades, uma vez que fatores como o BEN, corpos cetônicos e

hipocalcemia influenciam diretamente a resposta imune dessas vacas

nesse período.

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152

7. BIOTÉCNICAS DA REPRODUÇÃO PARA MELHORAR A

FERTILIDADE DA VACA LEITEIRA7

Manoel F. Sá Filho

Laís M. Vieira

Bruna M. Guerreiro

Carlos A. Rodrigues

Pietro S. Baruselli

7.1Resumo

A inseminação artificial (IA) e a transferência de embrião

(TE) são relevantes tecnologias para aumentar a produtividade em

rebanhos especializados na produção de leite. Os programas de

sincronização da ovulação para inseminação artificial em tempo fixo

(IATF) ou a transferência de embrião em tempo fixo (TETF) são

ferramentas que permitem aumentar o número de fêmeas inseminadas

ou aptas a receberem um embrião, eliminando a necessidade de

detecção de estro, aumentando a eficiência reprodutiva dos rebanhos.

Atualmente, os protocolos de sincronização da ovulação estão

estabelecidos e apresentam resultados satisfatórios e previsíveis

quando aplicados em propriedades com adequado manejo nutricional

e sanitário. Vários estudos foram realizados para estabelecer

7 Sá Filho, M.F. et al. Biotécnicas da reprodução para melhorar a fertilidade

da vaca leiteira. Anais. I Simpósio Nacional da Vaca Leiteira. Porto Alegre:

Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 2014. 239 p.

153

programas reprodutivos aplicados ao manejo das propriedades

comerciais com os protocolos de IATF e de TETF existentes. Tais

programas visam facilitar e intensificar a aplicação dessas

biotecnologias, bem como adequá-los aos objetivos específicos de

cada fazenda. Atualmente, dentre as formas de intensificação do uso

da IA/IATF e/ou TE/TETF, o estabelecimento de programas de

ressincronização das fêmeas não gestantes após o primeiro serviço

merecem destaque. Os programas de ressincronização eliminam a

necessidade de observação de estro (facilitam o manejo e aumentam a

taxa de serviço), reduzem o intervalo entre o parto e a concepção

(aumentam a eficiência reprodutiva) e aumentam o número de

produtos oriundos de IA/TE (incremento do ganho genético),

determinando maior lucratividade às propriedades produtoras de leite.

Em resumo, o aprimoramento das técnicas de IATF e produção in vitro

de embriões (TE/TETF) associadas aos programas de

ressincronização são ferramentas eficientes para o alcance máximo da

eficiência reprodutiva dos rebanhos de forma organizada, pré-

determinada e previsível, ou seja, com elevada precisão. Portanto, uma

vez estabelecido o objetivo da atividade rural, esses programas são

incorporados ao sistema de produção e de gestão, aumentando a

produtividade e a rentabilidade da propriedade.

154

7.2 Introdução

A produtividade em fazendas de leite está diretamente

vinculada à eficiência reprodutiva do rebanho. De maneira resumida,

a eficiência reprodutiva pode ser definida como a habilidade de fazer

a vaca se tornar gestante rapidamente após o parto (para obtenção de

intervalo entre partos próximos a 12 meses a vaca deve conceber entre

75 e 85 dias pós-parto) e com o menor número de coberturas possível.

A inseminação artificial (IA) é a biotécnica mais utilizada em todo o

mundo para difundir material genético superior nos rebanhos bovinos.

Apesar do Brasil ainda empregar pouco essa biotecnologia, verifica-

se um considerável aumento no percentual de matrizes bovinas

inseminadas, passando de cerca de 5% em 2002 para

aproximadamente 10% no ano de 2012 (Baruselli et al., 2012b). Com

a intensificação do uso da IA, o país vem apresentando satisfatório

avanço no melhoramento genético do rebanho, pelo incremento do

número de bezerros nascidos de touros geneticamente superiores.

Assim, o uso de biotecnologias da reprodução, tais como a IA, visando

o aumento no ganho genético do rebanho pode proporcionar

significativo aumento da produtividade e da rentabilidade da

agropecuária.

Verifica-se que o crescimento da utilização da IA no país está

associada ao maior emprego dos programas reprodutivos que utilizam

a técnica da inseminação artificial em tempo fixo (IATF). Em 2013,

segundo dados levantados pelo nosso grupo de pesquisa, estima-se que

8.750.000 sincronizações para IATF foram comercializadas no Brasil

155

(estimativa levando em consideração a venda de produtos para

sincronização). A Associação Brasileira de Inseminação Artificial

(ASBIA, 2014) reportou a comercialização de 13.024.033 de doses de

sêmen no mesmo ano. Dessa forma, estima-se que 67% das

inseminações artificiais realizadas no Brasil empregam técnicas de

sincronização para inseminação artificial em tempo fixo.

A IATF baseia-se na utilização de fármacos comercialmente

disponíveis para sincronizar o ciclo estral e a ovulação de vacas e

novilhas, viabilizando a IA em momentos pré-determinados, sem a

necessidade da prévia detecção do estro. Atualmente existem diversos

protocolos de IATF comercialmente disponíveis em todo o mundo. No

entanto, os protocolos comumente utilizados na América do Sul são a

base de progesterona (P4) e estradiol (E2) (e.g. dia 0 = E2+P4; dia 8 ou

9 = remoção da P4+E2 + prostaglandina; dia 10 = IATF 48 a 54 h após

a remoção da P4). A técnica de IATF já está bem estabelecida e os

resultados são satisfatórios e previsíveis. Esta biotecnologia é capaz

de contornar, com relativo sucesso, os principais entraves que

reduzem a eficiência reprodutiva em fêmeas submetidas a programas

de IA. Entre as dificuldades, pode-se citar a dificuldade de mão de

obra qualificada no campo e falhas na detecção de estro.

Após vários estudos para ajustar tecnicamente os protocolos

de IATF, surgiu a necessidade de adequar a IATF na rotina de manejo

das propriedades comerciais brasileiras. Tais ajustes visam

principalmente, facilitar e intensificar a utilização dessa ferramenta,

bem como adequar os programas reprodutivos aos objetivos

156

específicos de cada fazenda. Dentre as formas de intensificação do uso

da IATF, o estabelecimento de programas de ressincronização das

fêmeas não gestantes após a primeira IATF merece destaque. Esse tipo

de programa elimina a necessidade de observação de estro e,

principalmente, aumenta o número de produtos oriundos de IA, que

determinam aumento de produtividade e maior lucratividade à

atividade.

Além do emprego da IA para o melhoramento genético, a

utilização da transferência de embrião (TE) tem apresentado

expressivo aumento no Brasil, passando de 200.000 embriões

produzidos em 2004 para 350.000 em 2011 (Viana, 2012). Na

atualidade, a Sociedade Brasileira de Tecnologia de Embriões (SBTE)

estima que mais de 400.000 embriões bovinos são produzidos por ano

no Brasil. A TE potencializa o ganho genético por multiplicar tanto

touros quanto doadoras geneticamente superiores. Os protocolos para

TE em tempo fixo (TETF) em receptoras de embriões também foram

intensamente pesquisados e atualmente estão estabelecidos para o

emprego nas propriedades rurais (Baruselli et al., 2010). Semelhante

à IATF, os protocolos de TETF empregam E2+P4 no dia 0; remoção

da P4+E2 + prostaglandina + gonadotrofina coriônica equina (eCG) no

dia 8; TETF no dia 17. Os requisitos necessários para a utilização da

TE em larga escala são semelhantes aos observados para IA. Além

disso, devido à dificuldade na criopreservação de embriões produzidos

in vitro (90,7% do total de embriões produzidos no Brasil), na

atualidade os programas de TE estão limitados à utilização de

157

embriões não criopreservados. Nesse sentido, vários grupos de

pesquisa estão trabalhando para estabelecer um protocolo de

criopreservação de embriões produzidos in vitro para impulsionar a

utilização da TE em larga escala. Adicionalmente, visando agregar

vantagens de ambas as biotecnologias (IA e TE), pesquisas têm sido

desenvolvidas para avaliar a eficiência reprodutiva e o incremento

genético quando são associadas em fazendas comerciais produtoras de

leite.

Portanto, o presente manuscrito tem como objetivo discorrer

sobre o emprego de diferentes programas reprodutivos que visam a

intensificação do emprego da IATF e da TETF, bem como a

associação dessas biotecnologias em fazendas comerciais. Serão

abordadas, principalmente, as técnicas que apresentam impacto

significativo na eficiência reprodutiva de fêmeas leiteiras.

7.3 Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF)

Durante as últimas décadas, a seleção de fêmeas bovinas

geneticamente superiores para a produção de leite tem sido

correlacionada com a reduzida fertilidade dos rebanhos leiteiros. Além

dos fatores relacionados à alta produção de leite, o estresse térmico

também tem sido relatado como contribuinte das alterações

fisiológicas responsáveis pela menor fertilidade de vacas de leite

(Lopez et al., 2004, Wiltbank et al., 2006). No entanto,

reconhecidamente, a redução do desempenho reprodutivo de vacas de

leite de alta produção foi modificada e ocorreu uma tendência de

158

melhora nos últimos anos (Norman et al., 2009). Alguns pesquisadores

correlacionam a melhor eficiência reprodutiva com o emprego

estratégico e sistemático da IATF em larga escala nos rebanhos

(Norman et al., 2009).

Essa técnica é uma importante ferramenta para minimizar

falhas reprodutivas (e.g. baixa taxa de detecção de estro) observadas

no sistema de produção de leite, seja devido às falhas na detecção do

estro ou ao anestro pós-parto. Dados da literatura relatam semelhante

taxa de concepção (Cerri et al., 2004) e menor intervalo parto-

concepção (87,4 ± 1,8 vs. 94,6 ± 1,8 dias, P= 0,005; Teixeira, 2010)

quando as vacas de leite são submetidas à IATF comparado ao manejo

de IA após detecção de estro. Em resumo, o uso de IATF pode

melhorar os resultados reprodutivos e consequentemente, a

viabilidade da propriedade leiteira, especialmente quando a taxa de

detecção de estro é baixa (Giordano et al., 2011, Giordano et al., 2012,

Ribeiro et al., 2012, Bisinotto et al., 2013, Galvão et al., 2013).

Visando a intensificação do uso da IATF, novas abordagens

têm sido feitas em relação à ressincronização da ovulação para as

demais IATFs nos animais que não se tornaram gestantes nas

inseminações anteriores (Cavalieri et al., 2007). Os programas de

ressincronização em fêmeas de leite também têm dois possíveis

momentos para serem iniciados: (1) antes do diagnóstico de gestação

(ressincronizar as fêmeas gestantes ou não gestantes à IATF prévia), e

(2) no momento do diagnóstico de gestação (ressincronizar somente

as vacas não gestantes). Estudo realizado em vacas de leite

159

demonstrou semelhante taxa de prenhez após ressincronização 25 dias

(antes do diagnóstico de gestação) ou 32 dias (no momento do

diagnóstico de gestação) após IATF prévia (Thompson et al., 2010).

Apesar da similar taxa de prenhez, quando a ressincronização foi

realizada antes do diagnóstico de gestação (25 dias após IATF prévia)

o intervalo parto-concepção reduziu 3,2 dias comparado com a

ressincronização realizada no momento do diagnóstico de gestação

(Thompson et al., 2010).

Outros estudos foram realizados na tentativa de acelerar ainda

mais a ressincronização após a IATF de vacas de leite. Vieira et al.

(2014b) avaliaram a eficiência reprodutiva de vacas em lactação

submetidas à ressincronização 13 dias (dia 13) após IATF

(Experimento 1) e verificaram o efeito do tratamento com benzoato de

estradiol (1,5 mg) na sincronização da emergência da nova onda

folicular e na atividade do corpo lúteo (Experimento 2). No

Experimento 1, um total de 183 vacas em lactação (25,2 ± 8,8 L

leite/dia) foi distribuído em dois grupos: Controle (n=93) e

Ressincronização (n=90). Posteriormente, a primeira IATF as fêmeas

do grupo Controle foram inseminadas após a detecção de estro entre

os dias 18 e 25 pós IATF. As fêmeas do grupo Ressincronização foram

ressincronizadas com a inserção de um dispositivo de P4 e 1,5 mg de

benzoato de estradiol no dia 13. No dia 21, os dispositivos de P4 foram

removidos. As fêmeas do grupo Ressincronização classificadas como

não gestantes baseado na vascularização do corpo lúteo (ultrassom

modo doppler) ou ausência de corpo lúteo receberam 1 mg de

160

cipionato de estradiol, 0,150 mg de PGF2α e foram inseminadas 48 h

após. Nesse estudo, as taxas de corpo lúteo com vascularização no dia

21 (P= 0,003) e taxa de prenhez aos 30 dias após a 1ª IATF (P= 0,02)

foram menores nas fêmeas do grupo Ressincronização (40,0%, 36/90

e 14,9%, 13/87) em relação às do grupo Controle (62,4%, 58/93 e

32,6%, 28/86; respectivamente, Figura 1). No entanto, não houve

diferença (P= 0,98) na taxa de prenhez obtida após a 2ª IA entre o

grupo Controle (25,0%; 3/12) e Ressincronização (22,6%, 12/53).

Ainda, Vieira et al. (2014b) verificaram em outro experimento que

apesar do grupo Ressincronização apresentar a emergência da nova

onda folicular 3,2 ± 1,4 dias após tratamento com benzoato de

estradiol e apresentar semelhante taxa de vascularização do corpo

lúteo nos dias 13 (Controle: 87,8% e Ressincronização: 84,4%) e 15

(Controle: 90,6% e Ressincronização: 86,9%), a vascularização do

corpo lúteo do grupo Ressincronização foi reduzida a partir do dia 17

(dia 17: 71,9%, dia 19: 51,9% e dia 21: 40,6%) em relação ao grupo

Controle (dia 17: 89,4%; dia 19: 88,9% e dia 21: 76,1%; Figura 2).

Esses dados são indicativos de que o tratamento com 1,5 mg de

benzoato de estradiol 13 dias após IATF prévia induziu a regressão do

corpo lúteo e diminuiu a taxa de concepção à IATF realizada

previamente, inviabilizando o emprego dessa metodologia de

ressincronização.

161

Figura 1. Taxa de corpos lúteos (CL) vascularizados no dia 21 pós IATF

prévia e taxa de prenhez à primeira e segunda IATF em animais

ressincronizados no dia 13 com 1,5 mg de benzoato de estradiol e

dispositivo de progesterona ou sem tratamento após primeira IATF

(Controle). Adaptado de Vieira et al. (2014b).

Figura 2. Taxa de vascularização do CL após IATF (dia 0) em animais

ressincronizados no dia 13 com 1,5 mg de benzoato de estradiol e

dispositivo de progesterona ou sem posterior tratamento (Controle).

Adaptado de Vieira et al. (2014b).

162

Dessa forma, para melhor compreensão da eficiência de

diferentes manejos de ressincronização, foram simulados três

programas reprodutivos: IA 12 h após observação de estro (grupo

Estro) com taxa de serviço de 50% para cada 21 dias, IATF com

ressincronização a cada 25 (grupo Ressinc 25 d) ou 32 dias (grupo

Ressinc 32 d), com o objetivo de estimar o intervalo parto-concepção,

intervalo entre partos e taxa de fêmeas gestantes aos 250 dias pós-

parto. Para os diferentes manejos foram estabelecidas as seguintes

taxas de concepção: até o terceiro serviço semelhante a 30%, após o

terceiro serviço 20% e perda gestacional entre 30 e 60 dias de 15%.

Diferentemente da ressincronização em bovinos de corte que tem

início 22 dias após a IATF prévia, em bovinos de leite sugere-se

intervalo de 25 dias para o início da ressincronização para que o

diagnóstico de gestação, os tratamentos de sincronização e a IATF

sejam realizados sempre nos mesmos dias da semana (considerando

visita semanal do veterinário no mesmo dia da semana). Diante disso,

pesquisas recentes mostraram a possibilidade de utilização de GnRH

ou benzoato de estradiol no início do protocolo de ressincronização 25

dias após IATF com taxas de concepção semelhantes entre os

fármacos.

O manejo reprodutivo com IATF associada às consecutivas

ressincronizações (25 ou 32 dias após IATF prévia) reduziu o intervalo

parto-concepção (grupo Ressinc 25d: 146,3 dias, grupo Ressinc 32d:

151 dias e grupo Estro: 155,4 dias), intervalo entre partos (Ressinc

25d: 14,1 meses, Ressinc 32d: 14,3 meses e Estro: 14,4 meses) e o

163

percentual de fêmeas gestantes 250 dias pós-parto (Ressinc 25d:

75,8%, Ressinc 32d: 73,9% e Estro: 69,3% dias; Figura 3). Portanto,

com o estabelecimento do manejo reprodutivo conforme a

disponibilidade do médico veterinário e principalmente, de acordo

com o objetivo da propriedade é possível a obtenção de índices

zootécnicos que favoreçam a produtividade e a rentabilidade da

propriedade de leite.

164

Figura 3. Simulação da progressão da taxa de fêmeas não gestantes após

período voluntário de espera conforme o manejo reprodutivo. (1) IA 12 h

após observação do estro; (2) IATF com consecutivas ressincronizações 25

dias após IATF prévia; e (3) IATF com consecutivas ressincronizações 32

dias após IATF prévia. Para os cálculos, considerou-se: 50% de taxa de

detecção de estro a cada 21 dias, 30% de taxa de concepção até o terceiro

serviço, 20% de concepção após o terceiro serviço e 15% de perda

gestacional entre 30 e 50 dias de gestação. DEL:dias em lactação.

165

7.4 Transferência de Embrião (TE)

A utilização da TE em vacas de leite não é apenas uma

ferramenta que acelera o ganho genético, mas também uma

biotecnologia que melhora a eficiência reprodutiva dos rebanhos. Com

o emprego da TE é possível minimizar os efeitos deletérios do estresse

térmico (Rodrigues et al., 2007b) e aumentar os índices reprodutivos

de vacas repetidoras de serviço (fêmeas que não possuem

comprometimento do trato reprodutivo, porém recebem três ou mais

inseminações e não se tornam gestantes; Rodrigues et al., 2007a).

Ainda, visto que com o manejo da TE é possível ressincronizar as

fêmeas que não apresentam corpo lúteo (CL) no momento da TE,

existe a possibilidade de diminuir o intervalo entre serviços e aumentar

a probabilidade da fêmea se tornar gestante antecipadamente no

período pós-parto.

O efeito prejudicial do estresse térmico na fertilidade de vacas

da raça Holandesa já está bem estabelecido. É um fator extrínseco que

compromete negativamente a eficiência reprodutiva (Hansen et al.,

2001) e provoca consideráveis perdas econômicas nos rebanhos

leiteiros (Rensis e Scaramuzzi, 2003). Pesquisas relatam que vacas em

lactação apresentam menor capacidade de termorregulação durante o

período quente do ano comparado às novilhas (Sartori et al., 2002,

Ferreira et al., 2011). No entanto, em ambas as categorias tanto os

ovócitos (Ferreira et al., 2011), quanto em embriões em estágios

iniciais de desenvolvimento (Ealy et al., 1993, Hansen e Aréchiga,

1999, Hansen et al., 2001, Al-Katanani e Hansen, 2002) são

166

comprometidos pelo estresse térmico. Em temperaturas elevadas, o

processo de maturação do ovócito é interrompido e,

consequentemente, a capacidade de fecundação é prejudicada

(Hansen, 2009). Além disso, embriões sobre estresse térmico

apresentam comprometimento no desenvolvimento inicial,

apresentando bloqueio em 8 a 16 células por incapacidade de realizar

a ativação de seu genoma durante o desenvolvimento inicial (Hansen,

2009). Desta forma, visto que os embriões bovinos são transferidos

para o útero da receptora entre o estágio de mórula e blastocisto (> 32

células) e os principais efeitos deletérios do estresse térmico ocorrem

no início do desenvolvimento embrionário, a TE tem sido utilizada

como estratégia reprodutiva para atenuar os efeitos prejudiciais do

estresse térmico na fertilidade (Putney et al., 1989, Drost et al., 1999,

Hansen e Aréchiga, 1999, Al-Katanani e Hansen, 2002, Rodrigues et

al., 2004a).

Na tentativa de avaliar o desempenho reprodutivo de vacas

leiteiras brasileiras após IA ou TE ao longo do ano, dados

retrospectivos com considerável número de animais foram analisados

pelo nosso grupo de pesquisa (Rodrigues et al., 2007b, Freitas et al.,

2010). Na primeira análise, 12.875 IA e 4.822 TE foram avaliadas no

período de 2001 a 2006 na Fazenda Agrindus em Descalvado, SP

(Rodrigues et al., 2007b). Os dados foram indicativos de que durante

os meses mais quentes do ano a taxa de concepção reduziu quando a

IA foi utilizada. No entanto, quando a TE foi empregada nesse mesmo

período, não houve redução na taxa de concepção conforme a época

167

do ano, sendo superior em fêmeas submetidas a TE (41,9%)

comparada às vacas inseminadas artificialmente (28,5%; Figura 4).

Uma segunda análise foi realizada com os dados da mesma

fazenda, porém, utilizando vacas da raça Holandesa repetidoras de

serviço (> 4 serviços). Assim como no estudo anterior, foi observado

que a TE apresentou taxas de gestação constantes ao longo do ano,

sendo sempre superior a TE (41,7%, 1.609/3.858) comparado com a

IA (17,9%, 1.019/5.693). Esses estudos são indicativos de que o

manejo com TE pode ser uma alternativa eficaz para alcançar índices

reprodutivos satisfatórios em fêmeas durante os períodos de estresse

térmico e em fêmeas repetidoras de serviço (Rodrigues et al., 2007a).

168

Taxa d

e c

oncepção, %

0

10

20

30

40

50

60

IA

TE

* **

* *

* **

** *

*

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

A

Taxa d

e c

on

cep

ção

, %

0

10

20

30

40

50

60

IA

TE

* **

* *

* **

** *

*

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

B

Figura 4. Taxa de concepção em vacas da raça Holandesa de alta produção

submetidas a inseminação artificial (IA) ou transferência de embrião (TE):

(A) fêmeas não repetidoras de serviço (IA = 12.875 e TE = 4.822) e (B)

fêmeas repetidoras de serviço (≥ 4 serviços; IA = 5.693 e TE = 3.858).

Adaptado de Rodrigues et al. (2007a,b).

169

Assim como para os programas de IA, a utilização da TE em

larga escala constatou o estabelecimento de protocolos para

transferência de embriões em tempo fixo (TETF), que eliminou a

necessidade de detecção de estro e aumentou a eficiência reprodutiva

das receptoras de embrião (Bó et al., 2002, Baruselli et al., 2010,

Baruselli et al., 2011). Estudos realizados pelo nosso grupo de

pesquisa nas condições brasileiras de manejo (Rodrigues et al. 2010)

demonstraram que a utilização da TETF resultou em maior taxa de

aproveitamento (P< 0,0001) e superior taxa de prenhez (P= 0,001)

comparado aos animais submetidos ao tratamento com prostaglandina

(i.e., apenas receptoras com CL) e observação de estro seguida de TE

(Figura 5). Diferentemente da TE após a observação do estro, o

emprego da TETF aumentou o número de receptoras (vacas da raça

Holandesa em lactação) aptas à transferência de embrião. No grupo de

animais que receberam TETF, receptoras sem CL apresentaram a

mesma taxa de prenhez a TETF que receptoras com CL.

170

Figura 5. Desenho esquemático da eficiência reprodutiva de vacas da raça Holandesa repetidoras de serviço submetidas

a dois programas de transferência de embrião (TE): (1) Administração PGF2α em receptoras com corpo lúteo,

171

(cont.) observação visual de estro 1 a 5 dias após tratamentos e TE 6 a 8 dias após observação de estro e (2) TE em

tempo fixo (dia 0: TETF; implante auricular de norgestomet + 2 mg de benzoato de estradiol; dia 8: remoção do

implante + 400 UI de eCG + 1,0 mg de cipionato de estradiol + PGF2α; dia 17: transferência de embrião em tempo fixo).

Taxa de ocorrência de estro: número de animais observados em estro em relação ao número de animais tratados com

PGF2α; Taxa de aproveitamento em relação às fêmeas em estro: número de animais aptos a receber um embrião em

relação ao número de animais observados em estro; Taxa de aproveitamento: número de animais aptos a receber um

embrião em relação ao número de animais tratados (PGF2α ou protocolos de TETF); Taxa de concepção: número de

animais gestantes em relação ao número de animais que receberam a TE; Taxa de prenhez: número de animais gestantes

em relação ao número de animais tratados. Adaptado de Rodrigues et al. (2010).

172

Vale ressaltar que a obtenção de resultados satisfatórios em

manejos que envolvem a TE é dependente de diversos fatores, dentre

eles, o congelamento do embrião. Em um estudo retrospectivo com

vacas da raça Holandesa criadas em regiões tropicais, nosso grupo de

pesquisa avaliou a influência do congelamento do embrião produzido

in vivo no estabelecimento da gestação (Rodrigues et al., 2007c).

Nessa análise, verificou-se taxas superiores em receptoras que

receberam um embrião fresco (43,9%, n = 2.634) comparado com as

que receberam um embrião previamente congelado (39,5%, n =

2.237). Resultados semelhantes (27,2% para embriões fresco vs.

24,1% para embriões congelados) foram obtidos recentemente por

Vieira et al. (2014a), sugerindo que o uso de embriões produzidos in

vivo frescos aumentam os índices reprodutivos de receptoras da raça

Holandesa em programas de TE.

7.4.1 Transferência de embriões produzidos in vitro.

Dentre as biotecnologias da reprodução existentes, a produção

in vitro de embriões (PIVE) pode ser considerada uma importante

ferramenta para promover aumento no ganho genético nos rebanhos

leiteiros. Entretanto, diferentemente dos resultados obtidos em fêmeas

Bos indicus (Pontes et al., 2010), a PIVE em vacas leiteiras de alta

produção (Bos taurus) ainda necessita de aprimoramentos. Além da

variação individual existente na resposta entre as doadoras aos

programas (Merton et al., 2003, Pontes et al., 2009), têm sido relatadas

diferenças nas taxas de blastocistos produzidos entre as categorias de

173

fêmeas existentes nas propriedades (Ferreira et al., 2011, Guerreiro et

al., 2014b).

A menor resposta de vacas Bos taurus nos programas de OPU-

PIVE (ovum pick-up 8 -produção in vitro de embriões) pode ser

relacionada à menor população ovariana de folículos antrais quando

comparado a Bos indicus (Batista et al., 2014) além de diversos

aspectos adicionais relacionados principalmente a menor competência

oocitária (Ambrose et al., 1999, Rodrigues et al., 2004b, Block et al.,

2010, Baruselli et al., 2012a). Neste sentido, a tentativa de melhorar

os resultados na PIVE em vacas leiteiras, a utilização de protocolos

superestimulatórios em doadoas de ovócitos adultas utilizando FSH

previamente à OPU-PIVE pode ser considerada como uma alternativa

(Goodhand et al., 1999, Sendag et al., 2008). Vieira et al. (2014b)

reportaram aumento na PIVE em vacas lactantes (VL) e não lactantes

(VNL) da raça Holandesa após tratamento de superestimulação (VL:

controle 1,0 ± 0,4; FSH 1,5 ± 0,5; VNL: controle 2,7 ± 0,6; FSH 4,4 ±

0,8; P= 0,01).

A fase do desenvolvimento folicular em que a punção

folicular (OPU) é realizada tem sido associada ao sucesso na PIVE

(Pavlok et al., 1992, Blondin e Sirard, 1995, Fair et al., 1995,

Hagemann et al., 1999, Hendriksen et al., 2004). A aquisição do

potencial de desenvolvimento oocitário tem sido associada com o

8 OPU: Ovum Pick-Up pode ser traduzido como aspiração folicular

ovariana.

174

crescimento folicular, ou seja, o potencial de desenvolvimento eleva-

se à medida que o diâmetro folicular aumenta e aproxima-se do pico

de LH (Lonergan et al., 1994, Arlotto et al., 1996, Sirard et al., 2006,

Caixeta et al., 2009, Sirard, 2011, Sirard, 2012). Mourot et al. (2006)

relataram as diferenças nos perfis de expressão gênica de ovócitos

oriundos de folículos com diferentes tamanhos, por exemplo, os níveis

de mRNA mais elevados para PSMB2, SKIIP, CDC5L, RGS16, e

PRDX1 em ovócitos de folículos mais do que 8 mm. Além disso, Chu

et al. (2012) demonstraram aumento da expressão de PTTG1, BTG4,

Papola e genes LEO1 em ovócitos de doadoras superovuladas quando

comparado a doadoras não tratadas. Considerando-se que esses genes

estão relacionados com a transcrição e a regulação do ciclo celular, os

autores sugerem que a estimulação com FSH exógeno poderia permitir

a acumulação de mais mRNA, o que resultaria no aumento da

qualidade dos ovócitos. Portanto, o uso de protocolos de sincronização

da onda folicular e superestimulação antes da OPU é uma estratégia

importante para melhorar a eficiência dos programas de OPU-PIVE

em bovinos de leite.

No entanto, além da variação individual existente na resposta

entre as doadoras aos programas de PIVE (Merton et al., 2003, Pontes

et al., 2009), tem sido relatadas diferenças nas taxas de blastocistos

entre as categorias de fêmeas existentes nas propriedades (Ferreira et

al., 2011, Guerreiro et al., 2014b{Ferreira, 2011 #886). Dessa forma,

na tentativa de verificar o impacto da categoria animal na eficiência

dos programas de OPU-PIVE, Guerreiro et al. (2014b) relataram que

175

quando se utiliza novilhas pré-púberes, da raça Holandesa, de 8-10

meses de idade, obtem-se menor número de embriões por sessão de

OPU-PIVE (novilhas pré-púberes: 0,5 ± 0,2a; novilhas púberes: 1,0 ±

0,5b; vacas lactantes: 1,1 ± 0,6b; vacas não lactantes: 3,9 ± 0,6c;

P<0,0001). Porém, novilhas púberes apresentaram produção de

embriões semelhante àquela obtida em fêmeas em lactação durante a

época não quente do ano. Essa baixa taxa de produção de embriões

observada em fêmeas pré-púberes pode ser decorrentes do número de

genes diferencialmente expressos entre doadoras jovens e adultas

(Dorji et al., 2012). Ainda, a baixa competência oocitária observada

em fêmeas pré-púberes pode ser associada ao grande número de

células apoptóticas presentes nos blastocistos produzidos por essa

categoria (Zaraza et al., 2010). Dessa forma, novilhas pré-púberes da

raça Holandesa ainda apresentam menor eficiência quando submetidas

à programas de OPU-PIVE, portanto, novos estudos devem ser

desenvolvidos na tentativa de melhorar tais resultados.

Ainda, a necessidade de aprimorar a técnica para aplicação em

animais jovens tem sido cada vez mais requerida devido ao emprego

da avaliação genômica, ferramenta capaz de identificar,

precocemente, indivíduos com maior potencial genético. A avaliação

genômica aumenta a confiabilidade da seleção genética tradicional

(provas zootécnicas) e diferenças esperadas na progênie,

principalmente quando estas são aplicadas em animais jovens

(Coutinho et al., 2010). Portanto, a intensificação da PIVE em fêmeas

jovens e geneticamente superiroes viabiliza a obtenção de

176

descendentes antes das mesmas atingirem a puberdade, aumentando o

potencial reprodutivo da fêmea, bem como reduzindo o intervalo de

gerações de maneira significativa.

Fêmeas pré-puberes apresentam elevada população folicular

(Erickson, 1966, Revel et al., 1995) o que determina elevado interesse

na utilização desta categoria animal em programas de OPU-PIVE.

Entretanto, estudos relataram que ovócitos de animais jovens possuem

menor eficiência para PIVE quando comparado a animais adultos

(Khatir et al., 1996, Presicce et al., 1997, Majerus et al., 1999, Palma

et al., 2001). Alternativamente, existem relatos de aumento na

eficiência da produção de embriões quando se utilizou oócitos de

bezerras previamente superestimuladas com gonadotrofinas exógenas

(Armstrong et al., 1994, Armstrong et al., 1997). No Brasil, estudos

recentes avaliaram a PIVE em bezerras da raça Holandesa submetidas

a protocolo superestimulatório utilizando progesterona durante os sete

dias que entecederam a OPU e 140 mg de FSH administrado em quatro

doses (40, 40, 30 e 30 mg), sendo a primeira, 48h antes do processo

de OPU (Guerreiro et al, dados ainda não publicados). Um total de 32

fêmeas foi distribuído em quatro grupos experimentais: novilhas

púberes sem tratamento prévio (NOV, controle positivo; n=8);

bezerras de 2-4 meses de idade sem tratamento prévio (BEZ, controle

negativo; n=8); bezerras de 2-4 meses de idade com progesterona

(BEZ-P4, n=8) e bezerras de 2-4 meses de idade com progesterona e

140mg de FSH (BEZ-P4FSH, n=8). Verificou-se que bezerras

superesestimuladas com FSH obtivieram maior número de folículos

177

aspirados (BEZ-P4FSH: 58.6a vs. NOV: 22.3b vs. BEZ: 23.1ab vs.

BEZ-P4: 25.6ab; P=0.03), oócitos totais (BEZ-P4FSH: 29.6a vs.

NOV: 9.4b vs. BEZ: 11.9b vs. BEZ-P4: 11.4b; P=0.006) e oócitos

viáveis (BEZ-P4FSH: 17.0a vs. NOV: 5.0b vs. BEZ: 2.6b vs. BEZ-

P4: 4.1b; P=0.004) por sessão de aspiração quando comparado aos

demais grupos. Porém, estudos adicionais são necessários para

melhorar a compreensão e os resultados obtidos nos programas de

OPU-PIVE nesta categoria animal.

O número de embriões produzidos por sessão de aspiração é

fundamental para viabilidade econômica dos programas reprodutivos

dentro dos rebanhos leiteiros. Estudos sugerem que tanto fêmeas Bos

taurus quanto Bos indicus que possuem elevada população de

folículos antrais (PFA) presentes nos ovários produzem mais embriões

por sessão de aspiração quando comparadas àquelas com baixa

população (Pontes et al., 2010, Guerreiro et al., 2014a). Entretanto,

estudos retrospectivos mostraram que apesar da quantidade de oócitos

recuperados estar diretamente relacionda com o número de embriões

produzidos por sessão de OPU em doadoras da raça Holandesa, essa

relação não foi confirmada quando avaliou-se o estabelecimento

gestacional dos embriões conforme número de oócitos recuperados

(Bragança et al., 2014). A taxa de concepção foi semelhante (P=0,66)

após transferência de embriões provenientes de doadoras com alto

(43,5%), médio (46,2%) e baixo (38,3%) número de oócitos

recuperados após a OPU. Dessa forma, estudos adicionais necessitam

ser desenvolvimentos para esclarecer e confirmar tal associação.

178

O real sentido prático do uso de PIVE está estreitamente

relacionado com a geração de descendentes em quantidades e custos

satisfatórios. Ainda existem poucos estudos que relataram a prenhez

por TE (P/TE) em seus resultados. Estudos recentes compararam a

eficiência da taxa de concepção de embriões produzidos in vivo com

embriões produzidos in vitro em receptoras da raça Holandesa em

lactação (Rodrigues et al., 2014). Verificou-se menor taxa de

concepção para os embriões produzidos in vitro tanto aos 30 (43,8%,

273/624 vs. 26,5%, 82/309; P <0,0001), como aos 60 dias de gestação

(34,4%, 213/620 vs. 20,4%, 63/309; P <0,0001). Entretanto, a perda

gestacional entre 30 dias e 60 dias foi semelhante entre os grupos (in

vivo: 20,8%, 56/269 vs. in vitro: 23,2%, 19/82; P = 0,79). Diante do

potencial da técnica, vários estudos estão sendo realizados em todo o

mundo com o objetivo de melhorar a quantidade e qualidade dos

embriões produzidos in vitro para aumentar a eficiência reprodutiva

dos programas que utilizam essa biotecnologia.

7.5. Conclusão

O emprego das técnicas de reprodução (IA e TE) para

multiplicar indivíduos superiores resulta em significativo avanço

genético dos rebanhos. No entanto, a aplicação da IA e TE nas

propriedades rurais ainda apresenta limitações, principalmente devido

às dificuldades de execução do manejo e da disponibilidade de mão de

obra qualificada. Dessa forma, o desenvolvimento e aprimoramento

das técnicas de sincronização para IATF e programas de

179

ressincronização e TE são ferramentas eficientes para alcançar elevada

eficiência reprodutiva de forma organizada e com alta precisão.

Portanto, uma vez estabelecido o objetivo da atividade rural, esses

programas são incorporados ao sistema de produção e de gestão,

aumentando a produtividade e a rentabilidade da propriedade.

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189

8. O QUE DEVO SABER PARA DEFINIR O PROTOCOLO DE

IATF A SER UTILIZADO?9

Marcos H.C. Pereira

José Luiz .M. Vasconcelos

8.1 Introdução

Protocolos para sincronização do ciclo estral têm sido

utilizados no manejo reprodutivo de vacas em lactação e envolvem a

administração sequencial de hormônios para sincronizar o momento

da ovulação e permitir a ovulação de um ovócito fértil e inseminação

(IA) em momento pré-determinado. As taxas de ovulações

sincronizadas são superiores a 80% [1] e o maior desafio é aumentar

a prenhez e a manutenção da gestação. A expressão de estro em

protocolos de sincronização da ovulação pode ser um bom preditor da

fertilidade por estar associado à maior sincronização [1], melhor

ambiente hormonal pré e pós-IA [1], menor incidência de ciclos curtos

[2] e por aumentar a manutenção da gestação [1, 3, 4].

Vacas em lactação têm alto metabolismo dos hormônios

esteroides [5] com menor concentração de estrógeno (E2) próximo ao

9 Pereira, M.H.C.; Vasconcelos, J.L.M. O que devo saber para definir o

protocolo de IATF a ser utilizado? Anais. I Simpósio Nacional da Vaca

Leiteira. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 2014.

239 p.

190

estro ou ovulação [5-7]. Concentração sérica de E2 tem correlação

positiva (0,57) com a proporção de vacas apresentando

comportamento de estro e intensidade de estro e correlação negativa

entre produção de leite e duração do estro (-0,45) [8]. Estratégias para

aumentar E2 e expressão de estro em protocolos têm sido avaliadas em

estudos, como: a adição de E2 em protocolos Ovsynch [9], tratamento

com E2 para induzir ovulação [3, 10], aumento do intervalo entre

prostaglandina (PGF) e momento da IATF [11] e aumento da duração

do protocolo [1].

Uma sequência de experimentos foi realizada para avaliar se

vacas em lactação que apresentam estro em protocolos a base de E2/P4

tem maior prenhez e menor perda de gestação.

8.2 Materiais e Métodos

Esta analise retrospectiva foi realizada a partir de projetos

desenvolvidos em 13 fazendas no Brasil, de janeiro de 2010 a janeiro

de 2014. Foram utilizadas 7.433 vacas em lactação que ovularam ao

seguinte protocolo de IATF: dispositivo intravaginal de P4 contendo

1,9 g de P4 (CIDR, Zoetis) novo, utilizado previamente por 9 ou 18

dias e 2,0 mg (i.m.) de benzoato de estradiol (BE, 2,0 mL de Estrogin,

Farmavet) no dia -11, 25 mg (i.m.) de dinoprost tromethamine (PGF;

5,0 mL de Lutalyse, Zoetis) no dia -4, retirada do CIDR e 1,0 mg (i.m.)

de cipionato de estradiol (ECP 0,5 mL, Zoetis) no dia -2, e IATF no

dia 0 ou TET no dia 7. No dia -4 as vacas foram marcadas na base da

191

cauda com bastão de cera (tail-chalk) e vacas em que o tail-chalk foi

removido completamente no dia 0 foram consideradas em estro.

Os ovários foram avaliados por ultrassonografia para avaliar

o diâmetro do maior folículo presente no dia 0 e para avaliar a presença

de corpo lúteo (CL) no dia 7. Vacas com CL no dia 7 foram

consideradas sincronizadas ao protocolo e apenas estes animais foram

utilizados nesta análise.

As variáveis binomiais foram analisadas utilizando

procedimento GLMMIX do SAS (SAS Institute Inc.) com fazendas

como efeito aleatório e outras variáveis incluídas no modelo quando

apropriado (P< 0,10). O procedimento GLM foi utilizado para

determinar se cada medida individual influenciou na prenhez de forma

linear, quadrática ou cúbica. O procedimento LOGISTIC foi utilizado

para terminar os valores de intercept e slope(s) e construir as curvas

utilizando os valores mínimos e máximos para cada medida

individual. Os resultados são mostrados como média dos quadrados

mínimos. Foi considerado significativo quando P≤ 0,05, e tendência

quando P< 0,10.

8.3 Resultados

A Tabela 1 mostra que, no diagnóstico de gestação aos 32 e

aos 60 dias, vacas que expressaram estro tiveram maior prenhez por

IA (P/IA) e prenhez por transferência de embriões (P/TE) e menor

perda de gestação. Não houve interação entre técnica reprodutiva e

expressão de estro na prenhez e na perda de gestação.

192

Tabela 1. Efeito da expressão de estro na prenhez (%) por IA, prenhez (%) por TE e perda de gestação em vacas em

lactação sincronizadas ao protocolo.

IATF TETF P

Sem estro Estro Sem estro Estro IAxTE Estro

Prenhez

32 d 25,5 (222/846) 38,9 (1785/4584) 32,7 (193/606) 46,2 (645/1397) 0,01 < 0,01

60 d 20,1 (179/846) 33,3 (1530/4584) 25,1 (150/606) 37,5 (525/1397) 0,06 < 0,01

Perda de gestação 20,1 (43/222) 14,4 (255/1785) 22,7 (43/193) 18,6 (120/645) 0,21 0,01 IATF: inseminação artificial em tempo fixo; TETF: transferência de embrião em tempo fixo

193

Independente da expressão de estro (P< 0,01), vacas que

ovularam folículos menores (<11 mm) ou maiores (>17 mm)

apresentaram menor P/IA (Figura 1). Não houve efeito do diâmetro do

folículo ovulatório na P/TE em vacas que expressaram estro (P= 0,34),

porém, vacas que não expressaram estro apresentaram menor P/TE

quando ovularam folículos de maior diâmetro (P= 0,05).

Figura 1. Efeito do diâmetro do folículo no dia 0 na P/IA ou P/TE aos 60

dias em vacas que apresentaram estro ou não. IA sem estro P< 0,01;

estro P< 0,01, TE sem estro P= 0,05; estro P= 0,34.

Em vacas que apresentaram estro, o diâmetro do folículo não

impactou na perda de gestação na IATF (P= 0,43) ou TETF (P= 0,34),

mas em vacas que não apresentaram estro, vacas que ovularam

folículos de maior diâmetro tiveram maior perda de gestação na IATF

(P= 0,04) e TETF (P= 0,04).

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

11 16 21

Pren

hez

(%)a

os

60

d

Diâmetro do folículo (mm) no d0

P<0.01

IA Estro Sem estro

P<0.01

11 16 21

P=0.34

P=0.05

TE

194

Figura 2. Efeito do diâmetro do folículo no dia 0 na perda de gestação entre

32 e 60 dias na IA e TE em vacas que apresentaram estro ou não. IA sem

estro P= 0,04; estro P= 0,43, TE sem estro P= 0,04; estro P= 0,34.

Houve efeito positivo da concentração de P4 no dia 7 na P/IA

em vacas que expressaram estro (P= 0,01) ou não (P= 0,02). Não

houve efeito da P4 no dia 7 na P/TE (sem estro P= 0,76; estro P= 0,52).

0

10

20

30

40

50

60

11 16 21

Perd

a d

e g

esta

çã

o (%

)

Diâmetro do folículo (mm) no d0

IA Estro Sem estro

P=0.43

P=0.04

11 16 21

P=0.34

P=0.04

TE

195

Figura 3. Efeito da concentração de P4 no dia 7 na P/IA e P/TE aos 60 dias

em vacas que apresentaram estro ou não. IA sem estro P= 0,02; estro P=

0,01, TE sem estro P= 0,52; estro P= 0,76.

A expressão de estro em protocolos de IATF e TETF está

associada a aumento na fertilidade. Em protocolos de IATF, a

otimização do diâmetro do folículo ovulatório, aumento da P4 no dia

7 após IA e expressão de estro está associada a maior fertilidade.

Entretanto na TETF, a associação de fertilidade com diâmetro do

folículo ovulatório ou P4 no dia 7 é menos evidente e parece estar

principalmente relacionada à expressão de estro.

8.3.1 Protocolos podem aumentar a detecção de estro e a concepção?

Realizou-se estudo para avaliar se em protocolos de

sincronização da ovulação, o momento da aplicação da PGF interfere

na concepção de vacas Holandesas em lactação submetidas à

inseminação artificial em tempo fixo (IATF) ou transferência de

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

0 1 2 3 4 5

Pren

hez (%

) a

os

60

d

Concentração de Progesterona (ng/mL) no d7

P=0.02

IA

Estro Sem estro

P=0.01

0 1 2 3 4 5

P=0.76

P=0.52

TE

196

embrião em tempo fixo (TETF). Em cada fazenda (n=10), vacas

(n=1085; DEL 205 ± 136; produzindo 34 ± 11 kg/leite/dia) foram

distribuídas aleatoriamente para receber a aplicação de PGF no dia 7

ou 8 do protocolo (dia 0 BE + CIDR; PGF dia 7 ou 8; dia 8 ECP e

retira CIDR).

Melhores taxas de concepção foram observadas no grupo de

animais que receberam a PGF no dia 7, na IATF e na TETF, em

relação ao grupo que recebeu a PGF no dia 8 (Tabela 2). Resultados

mostram a importância de antecipar a aplicação da PGF e que os

benefícios podem estar relacionados tanto como no transporte de

gametas, fertilização, desenvolvimento embrionário inicial, bem

como mudanças no ambiente uterino e hormonal.

197

Tabela 2. Concepção por IA ou por TE nos dias 28 e 60 de gestação e perda de gestação, em vacas recebendo PGF nos

dias 7 ou 8 do protocolo de sincronização

IATF TETF P

PGF d7 PGF d8 PGF d7 PGF d8 d7 x d8

Concepção 28 d 32,9 (238) 20,6 (168) 47,0 (243) 40,7(244) < 0,01

Concepção 60 d 30,0 (238) 19,2 (168) 37,9 (243) 33,5 (244) < 0,01

Perda 28 – 60 d 7,7 (87) 5,5 (42) 20,4 (116) 19,4 (100) 0,68

198

Em outro estudo aumentou-se o intervalo entre a PGF e a

IATF. Vacas Holandesas em lactação ciclando foram dividas

aleatoriamente para receber os protocolos: (8 d) d0 BE + CIDR; PGF

7 ou 8; d8 ECP e retira CIDR; ou (9d) d0 BE + CIDR; PGF 7; d9 ECP

e retira CIDR. Neste estudo (Tabela 3) o protocolo 9 d aumentou a

expressão de cio, mas não houve efeito do protocolo na concepção.

Entretanto o protocolo com maior intervalo entre a PGF e a IA resultou

em menores taxas de perda de gestação. Os resultados deste trabalho

indicam que melhoras na fertilidade pela menor taxa de perda de

gestação podem estar relacionadas à otimização do folículo

ovulatório, aumento da expressão de estro e otimização do proestro.

199

Tabela 3. Efeitos da duração do protocolo na expressão de cio,

sincronização e concepção.

Duração do protocolo

8 d 9 d P

Expressão de cio¹ 63,4

(240/385)

73,0

(269/374)

< 0,01

Sincronização² 92,8

(352/379)

91,5

(339/370)

0,52

Concepção¹

Aos 32 d 45,0

(175/385)

43,9

(166/374)

0,77

Aos 60d 38,1

(150/385)

40,4

(154/374)

0,52

Perda de gestação 14,7 (25/175) 7,6

(12/166)

0,04

Concepção²

Aos 32 d 48,1

(170/352)

47,9

(163/339)

0,96

Aos 60d 40,5

(145/352)

43,9

(151/339)

0,37

Perda de gestação 15,2 (25/170) 7,8

(12/163)

0,03

¹Todas vacas inseminadas. ² Vacas sincronizadas (CL 7d após IA)

8.3.2 Aumento da P4 em protocolos de IATF também pode aumentar

a concepção?

Um estudo foi realizado para avaliar se a fertilidade de vacas

em lactação submetidas a protocolos a base de E2 e P4 poderiam

aumentar através da combinação de GnRH com benzoato de estradiol

200

no início do protocolo, pelo aumento da concentração de P4 durante o

período de desenvolvimento do folículo. Além disso, foi avaliada a

utilização de duas doses de PGF ao final do protocolo.

Vacas Holandesas em lactação (n=1.808) foram divididas

aleatoriamente durante 2 estações do ano (quente ou fria) para receber

um dos seguintes tratamentos:

I. Controle: CIDR + 2 mg de benzoato de estradiol no

dia -11, PGF no dia -4, retirada do CIDR + 1,0 mg de

cipionato de estradiol no dia -2, e IATF no dia 0

II. 2PGF: igual ao controle, com adição de uma segunda

dose de PGF no dia -2

III. GnRH: igual ao 2PGF com adição de 100 µg de

GnRH no dia -11.

A estação do ano teve grande efeito na fertilidade das vacas,

sendo que durante a estação fria foi observada melhor P/IA (Tabela

4). O protocolo com GnRH aumentou a percentagem de vacas com

CL no momento da PGF (Controle= 56,9%; 2PGF= 55,8%; GnRH=

70,5%) e P4 na PGF (Controle= 3,28 ± 0,22; 2PGF= 3,35 ± 0,22;

GnRH= 3,70 ± 0,21 ng/mL).

O protocolo GnRH aumentou a P/IA aos 32 e 60 após IATF

em relação ao controle, sendo que o protocolo 2PGF apresentou

resultados intermediários (Tabela 4). O efeito positivo do protocolo

GnRH foi detectado apenas na estação fria do ano. O uso de GnRH

combinado com benzoato de estradiol no início de protocolos a base

201

de E2/P4 aumentou a fertilidade, particularmente durante a estação fria

do ano.

202

Tabela 4. Efeitos do protocolo de IA na fertilidade de vacas em lactação

Critérios analisados Protocolo

P Controle 2PGF GnRH

P/IA 32 d todas vacas

Fria 41,0 (116/283) 44,2 (125/283) 50,9 (148/291) 0,05

Quente 19,0 (61/321) 21,8 (71/326) 23,4 (71/304) 0,40

P < 0,01 < 0,01 < 0,01

Combinados 30,0 (177/604) 33,2 (196/609) 37,3 (219/595) 0,02

P/IA 60 d todas vacas

Fria 32,9 (93/283) 36,4 (103/283) 41,6 (121/291) 0,09

Quente 16,2 (52/321) 18,7 (61/326) 19,1 (58/304) 0,59

P < 0,01 < 0,01 < 0,01

Combinados 25,1 (145/604) 28,0 (164/609) 31,0 (179/595) 0,06

P/IA 32 d vacas sincronizadas

Fria 46,6 (110/236) 49,0 (120/245) 55,7 (142/255) 0,11

Quente 22,5 (52/231) 26,0 (60/231) 27,4 (61/223) 0,47

P < 0,01 < 0,01 < 0,01

Combinados 34,7 (162/467) 37,8 (180/476) 42,5 (203/478) 0,05

P/IA 60 d vacas sincronizadas

Fria 37,7 (89/236) 40,4 (99/245) 45,5 (116/255) 0,20

Quente 19,5 (45/231) 21,7 (50/231) 21,5 (48/223) 0,81

P < 0,01 < 0,01 < 0,01

Combinados 28,7 (134/467) 31,3 (149/476) 34,3 (164/478) 0,18

.

203

8.4 Conclusões

A concentração de P4 durante o desenvolvimento do folículo

ovulatório e a expressão de estro em protocolos de IATF são fatores

importantes para se obter melhore índices de P/IA.

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206

9. ESTRESSE CALÓRICO EM VACAS LEITEIRAS: EFEITO

SOBRE O METABOLISMO E A QUALIDADE DO LEITE10

Vivian Fischer

Marcelo Tempel Stumpf

Alexandre Sausenbach Abreu

Elissa Forgiarini Vizzotto

9.1 Cenário – por que o estresse térmico é importante?

Cenários mais pessimistas apontam para um inequívoco

aumento nas médias de temperatura na Terra em até 4°C até 2100

(IPCC, 2007). Os sistemas de produção animal, ao estarem inseridos

e serem diretamente dependentes das condições naturais vigentes,

serão afetados por tais modificações.

As condições climáticas afetam e desafiam o animal a se

adaptar às condições ambientais para manter a homeostase e o bem-

estar. Nos trópicos e em condições de pastagem, o gado é exposto ao

sol, além de outros agentes meteorológicos como umidade, chuva e

10 Fischer, V.; Stumpf, M.T.; Abreu, A.S.; Vizzotto, E.F. Estresse calórico

em vacas leiteiras: efeito sobre o metabolismo e a qualidade do leite. Anais.

I Simpósio Nacional da Vaca Leiteira. Porto Alegre: Universidade Federal

do Rio Grande do Sul. 2014. 239 p.

207

vento durante várias horas por dia. A intensificação da atividade

pecuária, reduzindo o espaço por animal e modificando o ambiente

pode dificultar ou mesmo impedir que animais encontrem alternativas

para se adaptarem a essas condições, tornando-os mais suscetíveis ao

estresse, resultando em mudanças fisiológicas que diminuem o seu

desempenho produtivo (Deitenbach et al ., 2008).

Podem se esperar efeitos diretos em animais expostos a altas

temperaturas, tais como alterações comportamentais, como o aumento

na ocorrência de interações agonísticas (Vizzotto, 2014), maior tempo

em ócio, redução tempo de pastejo diurno e aumento no noturno,

maior ingestão de água (West, 2003; Fischer et al., 2014); alterações

fisiológicas, como aumento nas frequências respiratória e cardíaca

(Mitlöhner et al., 2001; Dalcin, 2013), escore de ofegação e

temperatura retal (McManus et al., 2009; Stumpf, 2014; Fischer ET

AL., 2014) e redução no consumo de alimento (West, 1994; Rhoads

et al., 2009).

Mecanismos homeorréticos são acionados de forma a tornar o

animal capaz de se adaptar e se manter em um equilíbrio dinâmico

com as novas contingências impostas. O animal necessita dissipar

calor ao meio em busca de manter sua homeostase, ou seja, manter a

temperatura interna dentro dos níveis normais de 38 a 39,5˚C (Stober,

1993). Mecanismos de dissipação de calor requerem energia, a qual

pode provir da sua partição em detrimento da glândula mamária

através de alterações hormonais acionadas e controladas pelo eixo

hipotálamo-hipófise-adrenal (Baumgard & Rhoads, 2013).

208

Os efeitos negativos do estresse térmico são mais evidentes em

animais com elevada produção devido à maior geração de calor

metabólico (Kadzere et al., 2002). Animais zebuínos, normalmente

mais tolerantes ao calor, devido às suas adaptações de forma corporal,

superfície de pele, número de glândulas sudoríparas e características

do pelame, sofrem mais intensamente à medida que a sua

produtividade aumenta. Entre as estratégias dos animais para

minimizarem o estresse térmico, se destacam a redução da carga

térmica, redução da produção de calor metabólico e aumento da

dissipação de calor (Berman, 2012).

Na zona de conforto térmico, em torno de 75% da perda de calor

ocorre por radiação, convecção e/ou condução. No entanto, quando a

temperatura ambiente excede a temperatura crítica superior, o

gradiente de temperatura torna-se pequeno para que ocorra

resfriamento por esses meios. Inicia-se então a termólise,

especialmente por mecanismos evaporativos para manter o balanço

térmico e a evaporação, por meio da sudorese e/ou respiração,

tornando-se a principal via de dissipação de calor, responsável por

80% da perda de calor corporal. Em condições de umidade relativa do

ar aumentada, há dificuldade na evaporação e o ambiente torna-se

mais estressante para o animal (Collier et al., 2006).

Animais mantidos em ambientes com temperaturas acima da

temperatura crítica superior podem se considerar em estresse térmico,

já que dependem de mecanismos de dissipação de calor. A mediação

de tais mecanismos se dá pelo eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, o

209

qual é abastecido de informações provenientes das unidades

termoreceptoras e termosensitivas no sistema nervoso central (Baker,

1989). Uma das primeiras respostas do animal ao ambiente estressante

é a redução no consumo de alimentos (Castanheira, 2009), na busca

de reduzir a produção de calor proveniente de processos digestivos

(calor metabólico) e maior consumo de água, para repor as perdas

promovidas pela evaporação. Estima-se aumento de consumo de 1,2

kg de água para cada 1˚C de aumento na temperatura ambiental

mínima (West, 2003). Em adição, os animais aumentam suas

exigências de mantença, necessárias para suportar as mudanças

fisiológicas para dissipação de calor: ofegacão, suor, aumento nas

reações químicas, síntese e mantença da funcionalidade das proteínas

de choque térmico (Tomanek et al., 2010), e aumento na atividade

celular induzida pelos níveis elevados de adrenalina (Gaffin &

Hubbard, 1996). De acordo com o NRC (2001), estresse médio a

severo pode elevar entre 7 a 25% tais exigências, embora Fox &

Tyluki (1998) sugiram aumentos de até 30%. Ocorre vasodilatação das

vias sanguíneas e aumento do fluxo de sangue para as zonas

periféricas do animal, para que ocorra resfriamento por contato com o

ar mais frio. A elevação na frequência cardíaca promove aumento

nesse fluxo sanguíneo, auxiliando o processo. Na busca de elevar as

perdas de calor por evaporação, os animais elevam também a

frequência respiratória, podendo prevenir o aumento da temperatura

retal até índices de temperatura e umidade (ITU) de 80 (Silanikove et

al., 2000). O aumento nas perdas de gás carbônico em virtude do

210

aumento da frequência respiratória altera a proporção entre as

concentrações de CO2:HCO3 sanguíneos, a qual deve se encontrar por

volta de 20:1, e é o principal sistema de tamponamento do sangue

(Kadzere et al., 2002). Para compensar essas perdas, o CO2 diminui,

levando a um quadro de alcalose respiratória e aumento do pH

sanguíneo. A redução no teor de CO2 força os rins a excretarem maior

quantidade de bicarbonato (tamponante), na tentativa de manter a

proporção de 20:1 estável (Beatty et al., 2006). Além disso, a reação

CO2 ↔ HCO3 se desloca para a esquerda, para compensar as perdas

de gás carbônico. O menor teor de bicarbonato promove uma

subsequente redução no pH sanguíneo, provocando acidose

metabólica compensatória.

Mecanismos de sobrevivência sobrepõem aqueles relacionados

à produção de leite. Os efeitos aditivos do menor consumo de

alimentos, maiores exigências de energia para mantença, possíveis

distúrbios metabólicos e maior destinação de energia aos processos de

perda de calor geram as reduções nos níveis produtivos dos animais.

211

9.2 Efeitos sobre produção de leite

Até recentemente se creditava a redução na produção de leite à

diminuição no consumo de alimento (Baccari, 2001). A redução da

produção leiteira varia entre 20 e 40% em animais severamente

estressados (West, 2003; Abreu et al., 2011). Segundo Wheelock et

al. (2010), 40 a 50% dessa redução se deve ao menor consumo de

alimentos (efeito indireto), sendo o restante em virtude de outros

mecanismos induzidos pelo estresse (efeitos diretos). Além do menor

consumo, ocorre redução de até 35% na eficiência de utilização de

energia para fins produtivos (McDowell et al., 1976).

Silanikove et al. (2009) sugerem outro mecanismo de ação para

explicar a redução na produção leiteira. Sob estresse térmico agudo,

ocorre aumento na concentração de um peptídeo derivado da clivagem

da β-caseína pela plasmina, o qual bloqueia os canais de potássio da

membrana apical das células epiteliais mamárias, promovendo

despolarização potencial da membrana, reduzindo o metabolismo

celular, sua atividade secretória e, por conseguinte, diminuindo a

produção láctea. Os efeitos negativos do estresse térmico sobre a

produção leiteira (Figura 1) dependem do nível de produção antes do

estresse (quanto maior a produtividade, maior a redução na produção)

e do estádio de produção (vacas no terço médio reduzem mais a

produção do que vacas ao início ou final da lactação (Bernabucci et

al., 2010).

212

Figura 1. Variação do consumo e da produção leiteira em vacas estressadas

termicamente (HS) e vacas com alimentação restrita (PF). Fonte: Rhoads et

al. (2009).

213

9.3 Efeitos do estresse calórico sobre a composição do leite –

características químicas

Vacas mantidas em ambientes com índice de temperatura e

umidade (ITU) superiores a 72, produziram leite com menores teores

de proteína, alfa e beta caseínas. Todavia, os efeitos sobre os teores de

gordura foram contraditórios (Bernabucci et al., 2002). A principal

causa da redução nos teores de proteína nesse estudo foi a redução nos

níveis de αs e β-caseínas, provavelmente em virtude do menor aporte

de energia e proteína. Essas caseínas são ricas em grupos fosfato e são

os componentes acídicos das micelas (Schmidt, 1980).

Reduções no teor de proteína no leite foram descritos em

bovinos por Rhoads et al. (2009), embora não tenham detectado

diferenças nos teores de gordura e lactose (Figura 2). Ao contrário do

relatado por Abreu et al. (2011) os quais verificaram que vacas

leiteiras sob estresse térmico severo sem acesso a sombra produziram

leite com menores teores de proteína (2,75 vs 2,99%), porém maiores

teores de gordura (3,61 vs 3,40%) e nitrogênio ureico (23,70 vs 18,81

mg/dL), não encontrando diferença para os teores de lactose (4,37 vs

4,34).

Segundo Sevi & Caroprese (2012), a exposição ao sol em altas

temperaturas pode promover aumento na permeabilidade dos

capilares, elevando a quantidade de enzimas proteolíticas no leite, de

forma a reduzir a concentração proteica. Em adição, a redução na

oferta e consumo de pasto nos meses mais quentes, bem como o menor

aporte de energia e nitrogênio, contribuem para os valores

214

encontrados. O citado aumento na permeabilidade dos capilares

também promove aumento nas concentrações de enzimas lipolíticas,

resultando em decréscimo na síntese e alteração no perfil lipídico do

leite (Sevi & Caroprese, 2012). Esses autores observam que a menor

taxa de passagem no rúmen aumenta o tempo de exposição da digesta

ao processo de biohidrogenação, de forma que os ácidos graxos

insaturados são convertidos em saturados e têm seus teores reduzidos

no leite. O estresse térmico e a redução na qualidade da forragem em

virtude da maior atividade metabólica vegetal atuam em conjunto

diminuindo o consumo (Renna et al., 2011) e a produção de ácido

acético no rúmen, principal precursor da gordura láctea.

Os efeitos negativos do estresse térmico sobre os níveis de

lactose no leite são decorrentes do uso da glicose como fonte de

energia ao animal, reduzindo o aporte à glândula mamária e posterior

síntese desse componente, além do efeito direto da queda no consumo

de alimentos. Alterações na concentração de lactose, por sua vez, são

mais difíceis de ocorrer, já que sua queda é acompanhada por menores

níveis de produção de leite.

215

Figura 2. Variação da concentração de lactose, proteína e gordura lácteas

provenientes de vacas estressadas termicamente (HS) e vacas com

alimentação restrita (PF). Fonte: Rhoads et al. (2009).

216

9.4 Efeitos do estresse calórico sobre a composição do leite –

características físicas

Em trabalhos realizados durante o verão (Mariani et al., 1994;

Bernabucci & Calamari, 1998; Calamari & Mariani, 1999), foram

verificados valores de pH mais alto e de acidez titulável mais baixa

em animais em estresse térmico. No entanto, Abreu et al. (2011)

relataram menores valores de pH, crioscopia e densidade e maior valor

de acidez titulável em vacas estressadas termicamente sem acesso a

sombra em relação àquelas com acesso a sombra. Também, os autores

encontraram que vacas estressadas termicamente produziram leite

com menor estabilidade (testes do álcool e do tempo de coagulação

sob temperatura de 144°C, Figura 3).

217

12

14

16

18

20

22

24

Produção de Leite (L)

62

64

66

68

70

72

74

76

78

80

Teste do Álcool (%etanol v/v)

0

50

100

150

200

250

300

Tempo de coagulação a 144°C (s)

0

5

10

15

20

25

Acidez titulável (°D)

Figura 3. Valores de produção de leite, estabilidade no teste do álcool e tempo de coagulação e acidez titulável de vacas

com (linha preta) e sem acesso a sombra (linha vermelha). Fonte: Fischer et al. (2012).

218

Os efeitos do estresse térmico sobre a estabilidade do leite no

teste do álcool podem ser relacionados à redução no consumo de

alimentos dos animais. De fato, a restrição de consumo per se resultou

em redução na estabilidade do leite (Zanela et al., 2006; Abreu et al.,

2011; Stumpf et al., 2013) e épocas do ano de menor oferta de

alimentos promovem maior incidência de leite instável (Ponce &

Hernández, 2001; Marques, 2004).

Ademais, distúrbios metabólicos provenientes do estresse

térmico, ao alterar de forma significativa as condições fisiológicas do

animal, apresentam grande potencial de reduzir a estabilidade do leite,

conforme relatado por Marques et al. (2011) ao induzirem acidose

metabólica através do fornecimento de sal aniônico em bovinos

leiteiros.

9.5 Efeitos do estresse calórico sobre o metabolismo

O estresse térmico provoca mudanças na homeostase e na

homeorrese das vacas lactantes. Ocorrem alterações no perfil

hormonal caracterizadas principalmente por um declínio e aumento,

respectivamente, naqueles com efeitos anabolizantes e catabolizantes,

alterando o metabolismo pós-absortivo da energia, lipídeos e

proteínas, com prejuízos à função hepática e aumento do estresse

oxidativo. Ocorre prejuízo à resposta imunológica e ao desempenho

reprodutivo. Os efeitos sobre o metabolismo podem ser quantificados

pela mensuração das variáveis fisiológicas, tais como a temperatura

corporal, frequência respiratória, concentrações hormonais e

219

equilíbrio ácido-base e hidroeletrolítico (Bernabucci et al., 2010).

Assim, ocorre diminuição do hormônio do crescimento, catecolaminas

e glicocorticoides. Este estado endócrino reduz os níveis circulantes

de tiroxina (T4) e triiodotironina (T3), e, em consequência, a

diminuição da taxa metabólica basal e da produção de calor (Johnson,

1980; Yousef, 1987).

Vacas em balanço energético negativo decorrente de estresse

térmico, apesar de ingerirem menos, não apresentam reduções na

secreção e na sensitividade à insulina (Wheelock et al., 2010) e podem

ter seus níveis de somatotropina reduzidos (Li et al., 2006). Dessa

forma, as vacas se tornam metabolicamente inflexíveis, uma vez que

não podem oxidar ácidos graxos para gerar energia, pois esse processo

contribui ao incremento de calor metabólico (Baumgard & Rhoads,

2013). Não se detectam elevações em ácidos graxos não esterificados

no sangue (Shwartz et al., 2009) e os animais passam a ser

dependentes de glicose como fonte de energia. Como consequência, o

aporte de glicose à glândula mamária diminui, com consequente

redução da síntese de lactose, o que diminui a produção de leite.

Vacas sem acesso a sombra, mesmo em condição de estresse

térmico leve, apresentaram maiores valores de Na, mas valores

menores de hematócrito, PCO2, TCO2, HCO3, excesso de base, e

tenderam a apresentar hemoglobina baixa (Abreu, comunicação

pessoal). Foram observados maiores concentrações de ureia,

creatinina e albumina no sangue de vacas severamente estressadas

pelo calor (Abreu, comunicação pessoal). Devido às maiores perdas

220

renais de HCO3- e perda de saliva, pela redução da ruminação nos

animais ofegantes no calor, as vacas estressadas pelo calor são mais

propensas a sofrer acidose ruminal e metabólica.

9.6 Estresse térmico em fases não produtivas (crescimento de

novilhas e período seco de vacas)

Vacas que sofreram estresse térmico durante o período seco

apresentaram menor produção leiteira durante 280 dias na lactação

subsequente (28,9 vs 33,9 kg/dia), possivelmente devido à menor

proliferação celular observada no pré-parto, não sendo observados

efeitos sobre a apoptose (Tao et al., 2011). Também foi observado

menor concentração de proteína láctea (3,01 vs 2,87%). O estresse

térmico durante o período seco reduz o consumo e debilita a

imunidade dos animais (Tal et al., 2013).

Em comparação com as vacas estressadas termicamente durante

o período seco, os animais que ficaram sob resfriamento (ventiladores

e aspersores) ganharam mais peso antes do parto, mas perderam mais

peso e condição corporal no início da lactação. As vacas com

resfriamento produziram mais leite do que vacas mantidas sob estresse

térmico (34,0 vs 27,7 kg/dia), mas os tratamentos não afetaram a

composição do leite (Figura 4). Os tratamentos não influenciaram a

insulina circulante e os metabólitos pré-parto, mas vacas sob

resfriamento apresentaram menor concentração plasmática de glicose,

aumento dos ácidos graxos livres, e tenderam a ter menor

concentração de insulina no pós-parto em comparação com vacas

221

estressadas termicamente. O resfriamento das vacas no pré-parto não

afetou as respostas de insulina para o teste de tolerância à glicose e o

teste de desafio à insulina antes do parto e aos 28 após o parto (Tao et

al., 2012).

9.7 Medidas mitigadoras de estresse térmico

Em termos de medidas de adaptação, é geralmente mais rápido

alterar o ambiente para melhorar o bem-estar, produção e reprodução

(West, 2003; Renaudeau et al., 2012).

Figura 4. Produção de leite de vacas sob estresse térmico com (símbolo

preto) ou sem resfriamento (símbolo vazado) durante o período seco. Fonte:

Tao et al. (2011).

222

Raças de origem europeia sofrem mais o estresse térmico

devido à sua alta produtividade, reduzindo o seu limiar de conforto

térmico (Silva et al., 2002). Por isso, os criadores brasileiros têm

procurado combinar as características desejáveis das raças europeias

e zebuínas, através da produção de animais mestiços, geralmente

usando Holandês e Gir (Girolando). O rebanho nacional é composto

por aproximadamente 95% de animais mestiços (Martinez &

Verneque, 2001), representando cerca de 70% da produção de leite

(Alvim et al., 2005).

As raças diferentes reagem de forma diferente ao estresse

térmico (McManus et al., 2009). Além disso, os avanços na produção

animais em áreas como a nutrição e a reprodução resultaram em

aumento significativo na produção de leite, o que resultou em uma

maior taxa de calor metabólico e, portanto, aumentando a necessidade

de dissipação de calor (Silanikove et al, 2000;. Baumgard et al ., 2007).

O cruzamento entre as raças Holandês e Gir é usado há décadas

para obter animais mais tolerantes ao calor. A comparação entre

animais pertencentes aos grupos genéticos Holandês, 50% Holandês e

50% Gir e 75% holandês e 25% Gir, mostrou que as vacas 50% H 50%

G apresentaram menores frequências respiratórias e cardíacas,

temperatura retal e escore de ofegação comparadas ao grupo 100%

Holandês, enquanto o grupo 75% H 25% G apresentou valores

intermediários (Stumpf, 2014).

Criar animais em um ambiente com conforto para proporcionar

bem-estar, pode melhorar o desempenho produtivo do animal.

223

Portanto, para minimizar os efeitos nocivos do clima sobre os animais

em países tropicais é importante para mitigar o efeito negativo das

variáveis climáticas consideradas responsáveis pelo estresse por calor.

Nos locais, caracterizado pelo clima subtropical de altitude com

umidade elevada, a velocidade do vento contribui para a dissipação de

calor dos processos de animais por convecção, mas a alta umidade

reduz a capacidade de dissipação de calor do corpo, por meio de

evaporação (Azevedo et al, 2009). O resfriamento evaporativo é a

forma principal de perda de calor disponível para os animais

homeotérmicos quando a temperatura ambiente é superior à

temperatura do corpo, e este processo é mais eficiente quando a

umidade relativa é baixa (Robinson, 2004).

O uso de sombra serve para atenuar o efeito da radiação solar,

diminuindo a temperatura do corpo (Mitlohner et al., 2001; Kendall et

al., 2006; Tucker et al., 2007; Fischer et al., 2014). No entanto, deve-

se prover área em torno de 9 m2 por vaca para evitar competição entre

os animais pela sombra (Schutz et al., 2010).

O provimento de instalações como galpões dotados de

aspersores na linha do cocho aliado a ventiladores, tipo fixo ou tipo

móvel, ou galpões com sistema de resfriamento no piso ou nas camas,

são ferramentas nos rebanhos comerciais dos países desenvolvidos.

Existem diferenças entre os sistemas quanto à capacidade de reduzir a

temperatura corporal e a frequência respiratória, aumentar o tempo em

que a vaca fica deitada e aumentar o consumo de alimentos. O

provimento de conforto térmico durante o período seco exerce efeitos

224

positivos sobre o sistema imune, desenvolvimento placentário e

desenvolvimento do terneiro, com reflexos positivos sobre a produção

de leite na lactação subsequente (Tao et al., 2013).

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230

10. MONITORAMENTO DO BEM-ESTAR ANIMAL COMO

FERRAMENTA DE DIAGNÓSTICO PRECOCE E

MANUTENÇÃO DA SAÚDE PRODUTIVA EM REBANHOS

LEITEIROS11

Marcelo Cecim

Não há muito tempo atrás falar na preocupação com o

conforto e o bem-estar de animais de produção era um assunto que

gerava risadas e desdém, pois acreditava-se que para um animal ser

lucrativo precisava apenas de boa sanidade, boa genética e boa

nutrição. Hoje depois de décadas de seleção, chegamos a um modelo

de vaca leiteira que, apesar de produzir mais leite, tem uma expectativa

de vida cada vez menor e uma crescente infertilidade. Em termos de

evolução das espécies, uma raça que vive e se reproduz menos está

fadada a extinção. No entanto, insiste-se em chamar este fenômeno de

"melhoramento genético".

É necessário entender que à medida que optamos por animais

maiores e mais produtivos, suas exigências serão maiores também.

11 Cecim, M. Monitoramento do bem-estar animal como ferramenta de

diagnóstico precoce e manutenção da saúde produtiva em rebanhos leiteiros.

Anais. I Simpósio Nacional da Vaca Leiteira. Porto Alegre: Universidade

Federal do Rio Grande do Sul. 2014. 239 p.

231

Muito trabalho tem sido direcionado no sentido de reconhecer as

demandas nutricionais crescentes nestes animais para poder produzir

mais. Infelizmente, isso não tem sido suficiente para mantê-las

felizes. Ainda entendemos muito pouco de necessidades sociais, de

adaptação a técnicas de manejo e até mesmo da expectativa individual

de cada vaca. Em relação a isso, sempre vale lembrar o comentário de

Louis Patenaude, proprietário da recordista Gillette Smurf, uma vaca

canadense que viveu 16 anos e produziu mais de 225.000 kg de leite,

quem disse: "Ela foi uma vaca que nunca precisou ser mimada".

Longevidade e fertilidade são indiscutivelmente a opinião das vacas

sobre a sua qualidade de vida. Em nossa realidade, o valor econômico

da longevidade é enorme. A maior parte das fazendas leiteiras no sul

do Brasil está tentando aumentar o plantel, e cada descarte

involuntário atrasa o processo. Em rebanhos estáveis, cada descarte

involuntário precoce, representa uma novilha que o produtor precisa

comprar de si mesmo. Com um custo de recria da novilha oscilando

entre R$ 850,00 e R$ 1.300,00 e um valor de mercado de venda desta

novilha entre R$ 4.500,00 e R$ 6.000,00, cada vez que isso acontece

o produtor faz uma operação comercial com algo próximo a 400% de

prejuízo. Em um rebanho em crescimento como o nosso, a venda de

novilhas rende muito mais que a produção de leite. Além disso, com

um descarte menor, as novilhas selecionadas terão sem dúvida melhor

mérito genético. Também a lucratividade individual de uma vaca

aumenta com a idade, pois não só sua produção bruta aumenta até a

quarta ou quinta lactação, mas quanto maior o número de lactações

232

menor será o custo proporcional da recria deste animal. O resultado

final é que animais com baixa vida produtiva, dificilmente serão

lucrativos, mesmo que produzam muito leite. Aí temos o impacto do

bem-estar sobre a própria sustentabilidade do negócio.

Qual a expectativa de vida produtiva das vacas leiteiras ao

redor do mundo? Estima-se que esteja ao redor de 4,7 lactações no

Reino Unido e 5,3 na Nova Zelândia. Um estudo avaliou 69 milhões

de lactações de vacas de raça Holandesa em diferentes regiões dos

EUA. A expectativa de vida produtiva variou de 2,73 lactações na

região nordeste até 1,94 lactações na região sudeste. Este resultado

assustador indica que se não fosse o advento da sexagem, em breve

haveria rebanhos em que cada vaca produziria menos de uma filha, e

a raça entraria em extinção. Qual a situação no sul do Brasil, onde a

linhagem canadense é a mais utilizada? Estes dados não existem. No

entanto é bastante comum encontrarmos rebanhos onde 30 ou até 35%

dos animais em lactação são vacas de primeira cria. Nestes casos, a

expectativa de vida é menor que 3 lactações e é óbvio que a vida dos

animais nestes rebanhos não é boa.

Existem diferentes formas para a vaca externar a sua

insatisfação com o sistema, as mais leves estão relacionadas a quadros

depressivos e incluem comer menos, ficar menos tempo deitada, estar

mais tempo em pé, ter menor tempo de ruminação, ter cios mais curtos,

etc. Tais sinais, como são de difícil observação acabam passando

despercebidos. Ou seja, como elas não são escutadas, os transtornos

tentam falar mais alto, deslocando abomaso, fazendo cetose, metrite

233

ou uma mastite séria. Quando nada funciona e elas de fato desistem,

já que vaca não foge, a solução é morrer. Um produtor ou técnico

quando afirma que vai descartar esta ou aquela vaca por problema de

casco ou úbere, está no mínimo tendo uma atitude covarde, jogando a

culpa na vaca. Na verdade é a vaca que está dizendo ao dono que não

quer mais viver ali, ou seja, ela o está descartando.

Hoje, na medicina humana, entendemos que prevenção e

diagnóstico precoce são as melhores estratégias de lidar com os nossos

problemas de saúde. Em medicina de produção leiteira temos a mesma

situação, apenas chamamos de ambiência e monitoramento.

Ambiência são todos aqueles fatores pelos quais permitimos que as

vacas expressem seu comportamento normal, ou seja, ambiência são

as ferramentas do bem-estar.

Se uma vaca pudesse de fato escolher o que fazer durante o

dia, o que ela faria? A distribuição do tempo das atividades é uma

ferramenta básica na análise do bem-estar. Mais especificamente, uma

vaca gosta de deitar em cama seca por 12 a 14 horas por dia, a maior

parte deste tempo ruminando. Em torno de 5 horas são dedicadas à

alimentação; 2 a 3 horas elas passam bebendo caminhando e

socializando; em torno de uma hora ruminando em pé; até 3 horas por

dia ela aceita estar presa ou na ordenha.

Aí iniciam os problemas: vacas pastando em piquetes com

baixa oferta precisam comer por cinco horas ou mais, vacas com calor

deitam por menos tempo, duas ordenhas diárias mais o tempo de

espera normalmente passam de 4 horas, falta de cama seca aumenta o

234

ócio em pé. Este “tempo extra” acaba sendo retirado do tempo

deitada, e ruminando, que é a grande expressão de conforto da vaca.

Todos estes fatos comuns no dia a dia de um rebanho são sinais de que

falta conforto e bem-estar para as vacas. No final das contas, prover

conforto para um rebanho leiteiro é um conjunto de atitudes,

instalações e manejo que permitam que o animal expresse o

comportamento normal, em outras palavras, que façam o que uma

vaca feliz gostaria de fazer.

Reconhecer bem-estar de um rebanho leiteiro é algo que pode

ser feito por qualquer um sem nenhum equipamento especial, apenas

precisa saber o que, quando e como observar, quantificar os resultados

e anotar. Para isso foram criadas classificações que são conhecidas

como escores de monitoramento, usando principalmente os escores

de: consumo, preenchimento de rúmen, uso do tempo, ambiência,

interação social, conforto térmico, consistência e composição de fezes,

locomoção etc. Estes comportamentos representam a opinião da vaca

sobre as coisas que lhe são ofertadas. A análise conjunta de todos os

escores representa a análise do próprio sistema produtivo, mas, sob a

ótica da vaca. Isto pode ser usado com muita eficiência para a

composição de um mapa de pontos de riscos e seguranças do sistema,

como uma análise FOFA (pontos fortes e oportunidades, pontos fracos

e ameaças). Esta é a estratégia básica das companhias de seguro na

definição de risco do cliente e do prêmio a ser pago. O problema inicia

com o tempo que tudo isso consome, e, com a capacidade do avaliador

em entender a inter-relação dos escores e formular soluções práticas e

235

viáveis. É humanamente impossível acompanhar e anotar atividade de

um rebanho 24 horas por dia. Todo tratador experiente sabe quando

uma vaca não está bem, muito embora ela não esteja doente.

Infelizmente esta informação, embora valiosa, é tardia. Se a vaca é

reconhecida como não estando bem, é porque ela não comeu, está

deprimida, deu menos leite, andou mais devagar etc. Tudo isso na

verdade são sinais que a vaca “está mal” e o diagnóstico já é tardio,

em pelo menos 24 horas. Aí entram os sistemas de monitoramento de

comportamento. São ferramentas pelas quais a vaca pode dizer que

não se sente bem, 1 ou 2 dias antes de deixar de comer, 3 dias antes de

diminuir a produção e 4 ou 5 dias antes de ficar doente, permitindo

desta forma uma ação proativa e não reativa ao problema. Entendemos

que muito embora as alterações de comportamento não digam qual é

exatamente o problema da vaca, elas avisam ao tratador que este

animal requer uma olhada especial, ou seja, elas permitem um

diagnóstico precoce.

O uso do tempo e do consumo de alimento hoje são

considerados os principais indicadores de que um animal está bem.

Portanto, cada vez que uma vaca altera estes parâmetros do seu

comportamento diário, sabemos que alguma coisa não vai bem, e que

ela merece uma olhada mais próxima. Esta é, sem dúvida, é a melhor

medida preventiva que podemos usar. Os pedômetros são usados

essencialmente na identificação do cio. As coleiras que associam

deslocamento e ruminação tornam esta identificação bem mais

precisa. A coleira brasileira C-Tech, recentemente lançada no

236

mercado, é a primeira a conter algoritmos relacionados ao conforto,

além da detecção de cio. Este sistema é provido de um acelerômetro

que detecta a posição da cabeça da vaca com 40 leituras por segundo,

daí são formados pacotes de comportamento a cada hora, onde são

identificados minutos em: atividade (caminhando, comendo,

montando bebendo), minutos em ruminação e minutos em ócio. Estes

pacotes de dados são enviados automaticamente, 2 ou 3 vezes ao dia,

para um programa que compara o comportamento de cada vaca com

ela mesma nos 15 dias anteriores e também com o resto do rebanho.

Cada vez que uma vaca aumenta seu tempo de atividade, diminuindo

a ruminação e o ócio, o programa reconhece como cio. Por outro lado,

quando existe um aumento no ócio com redução da ruminação e

também da atividade, o sistema entende como alteração de

comportamento e o animal deve ser examinado. Ao final da ordenha,

duas listas são geradas contendo os brincos dos animais alterados. Se

houver internet na fazenda, as listas podem ser automaticamente

enviadas por SMS para o celular do veterinário, por exemplo. Também

o comportamento individual e do lote a cada hora pode ser

acompanhado de qualquer lugar pelo gerente ou proprietário. É

importante salientar, que este equipamento à exceção de cio, não gera

diagnósticos, mas reconhece que algo mudou para pior ou melhor no

dia de uma vaca em particular, ou no seu lote.

Classicamente, um bovino dedica seu dia a 3 atividades

principais, de 8 horas cada: ruminação, deslocamento e ócio. Hoje

entende-se que a ruminação é uma variável mais sensível que o

237

consumo, pois ruminando menos, a taxa de esvaziamento cai e no dia

seguinte cai o consumo. O tempo de ruminação pode aumentar em

consequência do aumento do conforto, do consumo total e de fibra

longa na dieta. Vai diminuir no estresse térmico, nos quadros de dor,

na redução de consumo ou simplesmente na falta de conforto. Os

bovinos preferem ruminar deitados, portanto a qualidade de cama

também afeta a ruminação.

As primeiras observações de campo em rebanhos que utilizam

esta tecnologia mostram informações surpreendentes, como por

exemplo, a alta frequência de cios curtos (5 ou 6 horas). A queda de

minutos de ruminação é normal no dia do parto (até 50%), porém,

vacas que fazem uma boa transição, retornam aos 400-500 minutos de

ruminação por dia, já no quinto dia pós-parto. As vacas que

apresentarão mastite, metrite ou cetose até o dia 21, mostram uma

ascendência da curva de ruminação bem mais lenta. As vacas que

deslocam abomaso entre o dia 14 e 21 mostram baixo tempo de

ruminação entre os dias 0 e 7 depois do parto.

Portanto, estamos aprendendo a escutar a opinião das vacas,

principalmente durante uma fase crítica que é a transição. Os próximos

estudos devem direcionar-se no acúmulo destes dados e a construção

de uma base dados comportamentais das vacas em sistemas produtivos

no Brasil. Isto permitirá a criação de um programa de predição de

desafios e doenças, que levará ao diagnóstico precoce e, por fim,

poderá diminuir o descarte involuntário através do entendimento das

necessidades individuais da vaca.

238

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