ana rita von doellinger magalhães rita... · comportamento de forma a beneficiar a relação...

99
Universidade do Minho Instituto de Educação janeiro de 2017 A importância da relação professor/aluno no ensino do Instrumento Ana Rita Von Doellinger Magalhães A importância da relação professor/aluno no ensino do Instrumento UMinho|2017 Ana Rita Von Doellinger Magalhães

Upload: trinhnhi

Post on 21-Jan-2019

216 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Universidade do MinhoInstituto de Educação

janeiro de 2017

A importância da relaçãoprofessor/aluno no ensino do Instrumento

Ana

Rita

Von

Doe

lling

er M

agal

hães

A

imp

ort

ân

cia

da

re

laçã

o p

rofe

sso

r/a

lun

o n

o e

nsi

no

do

In

stru

me

nto

U

Min

ho|2

017

Ana Rita Von Doellinger Magalhães

Ana Rita Von Doellinger Magalhães

janeiro de 2017

A importância da relaçãoprofessor/aluno no ensino do Instrumento

Universidade do MinhoInstituto de Educação

Trabalho realizado sob a orientação doProfessor Doutor Ricardo Barceló

Relatório de Estágio

Mestrado em Ensino de Música

iii

Agradecimentos

Agradeço aos meus pais, pelo orgulho e por tornaram tudo possível,

Agradeço ao meu irmão, pela sua presença e incentivo,

Agradeço ao Professor Gil Magalhães, que tanto me ajudou neste percurso,

Agradeço a todos os meus amigos e companheiros durante todos estes anos,

Agradeço ao meu supervisor, Professor Doutor Ricardo Barceló,

E agradeço ao Fábio, pelo apoio e pelo suporte incondicionais.

iv

v

Resumo

Poucos são os autores que abordaram o tema da importância da relação professor-aluno no

ensino da música, sendo este tema maioritariamente explorado na área do ensino generalista. Foi esta

falta de informação que me levou a focar neste tema, levando à realização deste relatório.

Este estudo baseia-se então principalmente na observação da interação entre o aluno e o

professor cooperante e entre o aluno e a minha figura enquanto professora estagiária, para tentar

perceber qual a importância que o professor pode ter na vida dos alunos, conseguindo, ou não,

influenciá-los a estarem mais motivados e mais empenhados no estudo do seu instrumento, mais em

concretamente na flauta transversal. O objetivo principal foi então perceber esses aspetos e o que pode

ser feito para melhorar toda a experiência do aluno na sua aquisição dos conhecimentos necessários.

A investigação foi realizada mediante um estudo de caso múltiplo, de modo a analisar vários dos

aspetos envolvidos no ensino da música, tendo como centro a Academia de Música José Atalaya, Fafe -

Portugal, durante o ano letivo de 2015/2016, com os alunos de flauta transversal, envolvendo também

para uma análise mais alargada os alunos de Orquestra de Sopros, na vertente de Música de Conjunto.

A observação, o diálogo com os alunos, os inquéritos e entrevistas foram os meios que me

permitiram retirar conclusões sobre o tema em estudo. A informação assim obtida ajudou-me a ter uma

melhor perceção do tipo de relação que eles têm com o seu professor, e a confirmar que cada aluno vê a

figura do professor de uma forma bastante própria e pessoal e que o tipo de relação estabelecida

influencia o seu interesse pelo estudo do instrumento e da música em geral. Graças à investigação

realizada, consegui, de facto, concluir que esta aproximação aluno/professor é benéfica para ambas as

partes, no sentido de que o professor pode conhecer melhor as limitações e virtudes de cada um dos

alunos, aproveitando assim as características individuais dos mesmos em prol de uma aprendizagem

bem-sucedida. Portanto, este projeto de intervenção permitiu-me então verificar que um conhecimento

mais aprofundado das características de personalidade de cada um dos alunos por parte do professor

pode dar frutos positivos, e a partir daí desenvolver capacidades para os cativar, adaptando o seu

comportamento de forma a beneficiar a relação interpessoal e a motivação para o estudo do discente.

Palavras – Chave: Relação professor-aluno; ensino da música; afetividade; interação pedagógica; flauta.

vi

vii

Abstract

There are few authors who approached the subject of the importance of the teacher-student

relationship in music teaching, being it mostly explored in a generalist teaching sense. It was this lack of

information that led me to focus on this issue, which I will develop in this report.

This study is based mainly on the observation of the interaction between the student and the

cooperating teacher and between the student and my image as a trainee teacher, to try to understand the

importance that the teacher can have on the lives of the students, managing or not to influence them to

be more motivated and more committed to the study of the student’s instrument, the transverse flute, to

be more precise. The main goal was then to understand these aspects and what can be done to improve

the overall experience of the student in the achievement of the required knowledge.

The research was conducted through a multiple case study to analyse several of the aspects

involved in music teaching, having as its center the Academia de Música José Atalaya, Fafe - Portugal,

during the academic year 2015/2016, with the students of transverse flute, and for a broader analysis

also involving students of the Wind Orchestra, in the Music for Groups area.

The observation, the dialogue with the students, the surveys and the interviews were the means

which enabled me to draw conclusions about the topic under study. The information thus obtained has

helped me to have a better perception of what kind of relationship they have with their teacher, and to

validate that each student sees the figure of the teacher in a very unique and personal way and that the

kind of relationship established influences their interest for the study of the instrument and of music in

general. Thanks to the research undertaken, I could conclude that, in fact, this proximity student/teacher

is beneficial to both parts, in the sense that the teacher can understand better the limitations and virtues

of each of the students, thus taking advantage of the individual characteristics for a successful learning.

Therefore, this interventional project enabled me to acertain that a deeper knowledge by the teacher of the

personality characteristics of each of the students can be productive, and thencefor to develop capacities

to captivate, adjusting their behaviour to benefit the interpersonal relationship and the motivation for the

studying of the learner.

Key Words: teacher-student relationship; music teaching; affection; pedagogical interaction; the flute.

viii

ix

Índice

Declaração ................................................................................................................................ ii

Agradecimentos ........................................................................................................................ iii

Resumo ..................................................................................................................................... v

Abstract ................................................................................................................................... vii

Índice ....................................................................................................................................... ix

1. Introdução ........................................................................................................................ 1

2. Contexto e plano geral de Intervenção ............................................................................... 3

2.2 Caraterização dos intervenientes ............................................................................... 5

3. Registo e observação de aulas coletivas ............................................................................ 7

3.1 Problemática ............................................................................................................. 8

3.2 Objetivos ................................................................................................................... 8

4. Metodologia .................................................................................................................... 11

4.1 Grelhas de observação não participante ................................................................... 11

4.2 Grelhas de observação participante ......................................................................... 12

4.3 Inquéritos ................................................................................................................ 12

4.4 Recolha de informação de escrita suplementar ........................................................ 12

4.5 Entrevista ..................................................................................................................... 12

5. Enquadramento Teórico .................................................................................................. 13

6. Desenvolvimento e avaliação da intervenção .................................................................... 25

6.1 Registos de observação ........................................................................................... 25

6.1.1 Aluno A ............................................................................................................... 26

x

6.1.2 Aluna B ............................................................................................................... 27

6.1.3 Aluna C ............................................................................................................... 27

6.1.4 Orquestra ............................................................................................................ 28

7. Recolha de informação de escrita suplementar ................................................................ 31

7.1 Aluna A ........................................................................................................................ 31

7.2 Aluna B ........................................................................................................................ 31

7.3 Aluna C ........................................................................................................................ 32

8. Instrumentos de recolha de dados ................................................................................... 33

8.1 Análise dos resultados recolhidos .................................................................................. 33

8.1.1 Inquérito ............................................................................................................. 33

8.1.2 Entrevista aos professores ..................................................................................... 40

9. Apresentação de resultados ............................................................................................ 43

10. Conclusão ................................................................................................................... 47

11. Bibliografia .................................................................................................................. 49

12. Anexos ........................................................................................................................ 53

Anexo I – Textos redigidos pelos alunos de flauta Transversal .............................................. 53

Anexos II – Inquéritos realizados pelos alunos ..................................................................... 56

Anexo III – Entrevistas realizadas aos professores cooperantes ............................................ 86

1

1. Introdução

No presente trabalho abordamos o tema A importância da relação professor-aluno no

ensino do instrumento porque consideramos que a pedagogia atual do ensino especializado na

música foca-se principalmente no que está relacionado com o aluno, mas sem aprofundar

significativamente nas características que deve ter ou desenvolver um docente de instrumento.

A nosso ver, o principal desafio radica na motivação de certos alunos que, a certo ponto

da aprendizagem, perdem o entusiasmo e o interesse no estudo do instrumento e de outras

disciplinas ligadas com o ensino da música. Achamos que conseguir que estes alunos “em

crise” voltem a gostar do que fazem é um dos aspetos fulcrais do verdadeiro processo de ensino-

aprendizagem, e que a solução pode surgir da conexão emocional positiva entre o professor e o

aluno.

Apoiada na nossa pequena experiência como docente, mas contando, naturalmente,

com a nossa vivência como estudante, conseguimos perceber a importância que o professor

pode e deve ter na vida do aluno, sendo este assunto um pouco esquecido e até desvalorizado

na área do ensino da música.

A pesquisa também procurou caraterísticas que é conveniente possuírem os docentes

para otimizar o processo de aprendizagem. José Lopes e Silva et al. (2010) elencam algumas

características do professor que levam a um melhor desempenho dos alunos, referindo que

aspetos como a construção de um bom ambiente relacional entre as duas partes só irá

beneficiar a aprendizagem e assegurar os resultados escolares mais elevados.

Por conseguinte, foi relevante analisar certas estratégias que podem ser aplicadas para

melhorar a relação emocional professor-aluno com objetivos pedagógicos, para tornar a

aprendizagem mais interessante e eficaz para os alunos. Nesse sentido, a análise do

comportamento dos alunos durante a fase de observação, permitiu-nos realizar uma intervenção

muito mais eficaz, de acordo com os objetivos previstos.

Durante a investigação analisamos a importância da relação professor-aluno no ensino

musical, mais precisamente no ensino do instrumento. Portanto, o presente trabalho teve, entre

2

outros objetivos, apresentar toda a informação obtida através da consulta da literatura referente

ao tema e detalhar os dados obtidos na aplicação do projeto de intervenção, dando resposta às

perguntas:

Qual é a importância da relação professor/aluno?

Que influência tem a qualidade da ligação emocional entre o aluno e o professor na

motivação e na aprendizagem do aluno.

Cremos que o facto de analisar o processo de ensino, assim como avaliar os seus

resultados, enriqueceu-nos enquanto docentes, particularmente na compreensão da relação

emocional entre ambas as partes envolvidas, revelando certos aspetos nos que interação mútua

pode acarretar benefícios práticos.

3

2. Contexto e plano geral de Intervenção

2.1 Caraterização da Escola – Academia de Música José Atalaya (Fafe)

O projeto de intervenção pedagógica realizou-se na Academia de Música José Atalaya, escola

situada no concelho de Fafe, distrito de Braga. Esta entidade foi criada no ano de 1998 pelo

Maestro José Atalaya, em parceria com a Câmara Municipal de Fafe. A escola integra-se,

juridicamente, na Associação Cultural de Educação pelas Artes (ACEPA), que é uma instituição

sem fins lucrativos e que tem como principal objeto o desenvolvimento cultural local ao nível da

divulgação e ensino da Música no concelho de Fafe.

Desde a sua fundação, a Academia apostou no ensino da Música com a qualidade

necessária ao seu reconhecimento pelo Ministério da Educação.

O ano letivo de 2003/2004 foi decisivo para a instituição, tendo ficado marcado pela

entrada em funcionamento dos Cursos Complementares de Piano e Guitarra, que entretanto

obtiveram reconhecimento oficial. A Academia obteve “Autorização Definitiva de Lecionação” em

16 de Janeiro de 2003, através da autorização n.º 95/DREN.

Mais tarde, em 17 de janeiro de 2012, por despacho do Sr. Diretor Regional de

Educação do Norte, foi-lhe concedida Autonomia Pedagógica pelo período de três anos.

A intervenção da Academia de Música José Atalaya tem sido igualmente marcante no

domínio da promoção e valorização da Música, através da organização e produção de eventos

musicais a nível local e abertos a diversos tipos de público, para além da colaboração com

outras entidades culturais.

A Academia de Música José Atalaya mantém um corpo docente bastante estável,

constituído por cerca de 30 professores, e ensina uma população escolar que ronda os 250

alunos. Merece destaque a grande aposta no Regime Articulado, que proporciona a frequência

gratuita a mais de dois terços dos alunos da instituição.

A especificidade deste ensino reside, obviamente, na formação vocacional que contém

uma forte componente prática, sendo ministrado em salas específicas para o efeito, quer para

aulas individuais de instrumento e canto quer para aulas de conjunto.

4

Esta instituição funciona, também, como um canal facilitador de comunicação e

inserção social: criando disciplina de trabalho através da maximização de qualidades como o

rigor técnico, a vontade, a organização, a concentração, a memória, a agilidade de raciocínio e a

coordenação motora; despertando a imaginação criadora e o sentido estético; desenvolvendo o

espírito crítico enquanto público; convergindo tudo, enfim, numa formação musical e artística

especializada na área de Música.

5

2.2 Caraterização dos intervenientes

Os três alunos que participaram no projeto de intervenção pertencem a graus diferentes

de ensino, nomeadamente 1.º, 2.º e 4.º graus.

A aluna A frequenta o 2.º grau – 6.º ano de escolaridade, e tem 12 anos. Com a ajuda

da professora cooperante, foi possível perceber que a aluna em questão teve um

desenvolvimento muito positivo logo desde o início da sua caminhada no instrumento em causa.

As aulas foram todas muito idênticas, seguindo quase sempre a mesma rotina:

aquecimento, estudos, peças, ensaio com piano, como podemos confirmar de seguida. Por

vezes, quando ainda restava um pouco de tempo, era pedido à aluna para tocar do início ao fim,

sem pianista acompanhador, trabalhando, assim, alguns erros que pudessem existir.

A relação professor-aluno é bastante positiva. Dado que a aluna é esforçada e dedicada,

toda a interação entre as duas partes fica consideravelmente facilitada.

As aulas desta aluna foram sempre muito ativas. Ela apresentava sempre um trabalho

regular feito em casa, fazendo com que não se perdesse muito tempo a explicar alguma dúvida

que eventualmente tivesse.

A aluna B frequenta o 4.º grau – 8.º ano de escolaridade, e tem 14 anos. Juntamente

com a professora cooperante, rapidamente percebemos que a aluna em questão possuía

bastantes dificuldades. Em nosso entendimento, a aluna não demonstra grande gosto pelo

instrumento, o que estará, possivelmente, na base da sua falta de estudo e até desinteresse.

As aulas foram todas muito idênticas, uma vez que a aluno exibia dificuldades em cada

uma das secções. Embora a professora insista em realizar um trabalho mais detalhado com a

aluna, esta não tem mostrado grandes evoluções.

A relação professor-aluno era positiva, embora a aluna não colaborasse tanto como

deveria, sobretudo devido à sua falta de empenho no estudo. Mesmo assim, a docente tentava

sempre incentivar e conversar com a aluna para que esta tentasse superar as suas dificuldades.

Durante todo o ano letivo observámos que a aluna tinha realmente muitos problemas a

nível do seu instrumento, sendo que chegámos a ter uma conversa de uma forma mais informal

6

sobre o assunto. A aluna informou-nos que não gostava do seu instrumento e que já há algum

tempo que desejava desistir dele.

A aluna C frequenta o 1.º grau – 5.º ano de escolaridade, e tem 11 anos. Esta aluna

padece de um problema no ombro e iniciou os seus estudos de flauta a pedido do seu médico,

por razões terapêuticas ou, se se pode dizer, fisioterapêuticas.

As suas aulas revelaram um padrão bastante constante, havendo poucas alterações, que

se verificavam somente quando a docente fazia trabalho de respiração com a aluna, dado que a

mesma apresenta alguns problemas neste particular.

Durante a observação conseguimos perceber que os problemas de respiração se devem

ao facto de a aluna ter um som bastante cheio. Por ser ainda tão nova, é mais difícil de controlar

e trabalhar.

A relação professor-aluno é excelente e a aluna, a nosso ver, nutre mesmo um

sentimento de amizade pela professora de instrumento, o que acaba por ser mais um fator

positivo, uma espécie de bónus, na evolução na aprendizagem.

A aluna apresentou sempre grande vontade de corrigir tudo que lhe foi pedido, tanto

pela docente como por nós, enquanto estagiária, o que se refletiu com êxito na sua constante

evolução ao longo de todo o ano letivo.

7

3. Registo e observação de aulas coletivas

A fase de observação das aulas coletivas iniciou-se em outubro de 2015, consistindo na

observação não participante das aulas de orquestra de sopros, lecionadas pelo professor

cooperante José Ricardo Freitas.

Estas aulas coletivas são constituídas por um grupo de cerca de 35-40 alunos de vários

instrumentos de sopro e de vários níveis (2.º ao 8.º grau), embora faltem alguns instrumentos na

constituição desta orquestra de sopros, como fagotes, tubas e bombardinos e percussão. A falta

destes instrumentos faz-se notar, por vezes, na montagem do repertório. A disparidade de níveis

apresenta geralmente benefícios, dado que os alunos mais velhos conseguem trazer alguma

motivação aos mais novos, uma vez que, nestas condições, o repertório é normalmente de uma

dificuldade mais elevada.

Ao nível da relação com o professor, esta mostrou-se claramente positiva e produtiva. Os

alunos da orquestra de sopros respeitam muito o professor cooperante. O comportamento dos

alunos é bastante propício para o tipo de trabalho que o professor realiza com eles.

Durante as observações em que o professor se dedicava mais a repertório específico

para um concerto ou apresentação em público, os alunos conseguiam perceber o tipo de

trabalho que tinha de ser realizado e cumpriam os objetivos na perfeição.

Uma das dificuldades que notámos foi que, em alguns dos naipes, alguns dos alunos

mais novos apresentavam deficiências ao nível da afinação, problema que foi sendo trabalhado e

corrigido pelo professor cooperante ao longo dos ensaios.

O padrão de comportamentos destes alunos foi-nos bastante útil ao nível de recolha de

informação para este projecto. Os inquéritos por nós realizados têm, com efeito, um grande foco

nestes alunos de orquestra de sopros, uma vez que nos deram um número de respostas muito

mais abrangente do que os alunos de aulas individuais de instrumento.

8

3.1 Problemática

A fase de observação do estágio foi de enorme importância, dado que nos foi possível

analisar a relação entre as duas partes (professor e aluno) e compreender determinados

comportamentos que, do ponto de vista do docente em acção, pode não ser tão percetível.

Os problemas que mais se verificaram nos alunos em geral apresentavam-se ao nível da

timidez para com a professora cooperante, o que intuímos possa estar diretamente relacionado

com a faixa etária dos mesmos.

3.2 Objetivos

Este projeto foi criado e posteriormente desenvolvido a partir de um grande interesse da

nossa parte pelo tema em questão. Em todos os nossos anos enquanto aluna e posteriormente

como professora, o relacionamento entre as duas partes foi sempre alvo da nossa curiosidade,

devido à sua inconstância, como também porque, dentro da área do ensino da Música, a

questão sido pouco investigado até agora. Neste sentido, procurámos analisar e interpretar de

que forma é o que os alunos se relacionam com os professores e vice-versa, tentando concluir

se uma relação mais próxima pode ser benéfica para o ensino do instrumento, fazendo com que

os alunos ganhem mais interesse no mesmo.

Definimos os seguintes objetivos gerais e específicos da nossa pesquisa:

Objetivos gerais

Estudar a importância da relação professor/aluno;

Perceber a influência da interação professor/aluno na motivação para o estudo do

instrumento;

Utilizar estratégias de relacionamento individualizadas no ensino do instrumento;

Compreender a interação relacional entre o docente e os diferentes grupos de alunos.

Objetivos específicos

Realizar entrevistas e inquéritos aos diversos elementos envolvidos, visando obter dados

pertinentes para a nossa investigação;

9

Aferir que ações específicas do docente podem motivar ou, pelo contrário, desmotivar o

aluno;

Analisar os resultados obtidos durante a investigação e tirar conclusões sobre o nosso

tema de estudo.

10

11

4. Metodologia

Para esta investigação adotámos uma metodologia centrada num estudo de caso

múltiplo, onde os diferentes casos necessitam de ser “examinados para fornecer introspeção

sobre um assunto, para refinar uma teoria, para proporcionar conhecimento sobre algo que não

exclusivamente o caso em si” (Coutinho, 2011, p. 296).

O estágio foi constituído por duas fases: a primeira fase baseou-se na observação das

aulas dos três alunos envolvidos no projeto. Esta fase é de enorme importância, dado que nos foi

possível conhecer e avaliar cada um dos alunos e identificar o tipo de relação que mantinham

com a professora do seu instrumento. A segunda fase baseou-se na nossa própria intervenção,

quando então pudemos colocar em prática todas as metodologias por nós previamente

selecionadas.

Já numa fase mais avançada da nossa intervenção entregámos um inquérito, tanto aos

alunos de flauta transversal como aos alunos do contexto coletivo (orquestra), procurando obter

o maior número possível de respostas, o que nos permitiria chegar a conclusões razoavelmente

sólidas.

Para além do inquérito, considerámos pertinente realizar uma entrevista aos dois

professores cooperantes. A entrevista foi o instrumento de recolha de dados que nos colocou em

contato mais direto com os orientadores cooperantes e, também, com a Direção da instituição

em causa, por forma a obtermos informações que serviriam de base para uma pequena análise

de resultados. A entrevista realizada foi baseada num guião, com a maioria das questões pré-

definidas, procurando obter respostas o mais concretas possível e com uma maior relevância

para o tema a ser desenvolvido.

4.1 Grelhas de observação não participante

As grelhas de observação não participante foram elaboradas durante o período de

observação do professor cooperante, e utilizadas ao longo desta fase em ambos os contextos, no

período do mês de outubro até ao mês de fevereiro do ano letivo 2015/2016. Todas estas aulas

foram descritas minuciosamente, devido à sua relevância para a elaboração do relatório.

12

4.2 Grelhas de observação participante

As grelhas de observação participante foram elaboradas durante o período de

intervenção, sendo um guia do trabalho realizado no período compreendido entre o mês de

fevereiro e o final do ano letivo.

4.3 Inquéritos

Os inquéritos são um método muito importante de recolha de informação. De certa

forma, o inquérito foi o recurso que nos facilitou a obtenção de algumas respostas determinantes

por parte dos alunos de instrumento de flauta, bem como dos alunos de orquestra. Este

inquérito servirá como meio de obtenção de respostas acercas do que os alunos em envolvidos

no projeto pensam sobre a relação professor-aluno e quais as características que eles mais

apreciam num professor.

4.4 Recolha de informação de escrita suplementar

A redação realizada pelos alunos envolvidos na intervenção ao nível do instrumento

(flauta transversal) foi um dos meios utilizados para que o aluno pudesse elaborar uma pequena

descrição do que a figura do professor poderia significar para ele, levando-nos a obter

informações sobre o pensamento de cada um dos alunos em relação aos seus docentes.

4.5 Entrevista

A entrevista foi o instrumento de recolha de dados que nos colocou em contato mais

direto com os orientadores cooperantes, a fim de obtermos informações que serviriam de

base para uma pequena análise de resultados.

A entrevista que realizámos foi baseada num guião, com a maioria das questões pré-

definidas, procurando obter respostas o mais concretas possível e com uma maior

relevância para o tema por nós desenvolvido.

13

5. Enquadramento Teórico

José Lopes e Silva & Helena Santos Silva (2010) apoiando-se em investigações, sugerem

que “a melhoria das relações entre professores e alunos pode ser um caminho poderoso e

menos dispendioso para melhorar o sucesso dos alunos” (p.63). Com isto podemos entender

que uma relação construtiva entre ambas as partes realmente pode ajudar o aluno tanto a

ganhar interesse e a motivar-se como também a obter melhores resultados no seu percurso

escolar. Segundo Cornelius-White (2007) a maioria dos alunos que não gosta de frequentar a

escola ou tão-só ir à escola fazem-no porque simplesmente não gostam dos seus professores.

Marcel Postic, na sua obra “A Relação Pedagógica” (1984), demonstra-nos o seu

interesse pela temática da relação pedagógica que surgiu em França, sendo um dos temas mais

privilegiados nas áreas da psicossociologia e psicoterapia. É com base nesta obra que Rui

Trindade (2009) faz notar:

“Neste sentido, pode afirmar-se que a valorização da relação pedagógica

como problemática emergente do campo da reflexão educativa

correspondeu, nesse momento, à afirmação, mais uma vez, da necessidade

de transformação da Escola e dos modos de acção educativa que aí têm

lugar” (p.11)

Leite e Tagliaferro (2005) realizaram uma pesquisa sobre este tema e sobre o que faz do

professor um elemento inesquecível. Os autores trabalham com dimensões afetivas que podem

ser verificadas na actividade docente, que envolve o professor, alunos e conteúdos de

aprendizagem. E assumem que a relação entre os alunos e os conteúdos de aprendizagem pode

ser modificada por um outro fator, o professor. O professor tem um papel de enorme

importância nesta relação, podendo implicar que a mesma seja mais agradável/interessante ou

não, tornando-a, além de cognitiva, também afetiva.

Trindade afirma que a escola é constantemente um “espaço de natureza relacional”

(2009, p. 35), reforçando a ideia de que os professores são uns dos pontos fulcrais no ensino e

no relacionamento entre todas as partes.

Wallon (1968) aborda o tema emoções e afetividades nas crianças como “reações

organizadas que se manifestam sob o comando do sistema nervoso central” (p. 248). O autor,

14

no entanto, defende que a emoção e a afetividade sempre têm um papel de enorme importância

na evolução da criança, sendo que é a partir das mesmas que o indivíduo se vem a formar ao

longo dos anos.

Dantas (1992) afirma que, para Wallon (1968), é a atividade emocional que:

“realiza a transição entre o estado orgânico do ser e a sua etapa cognitiva,

racional, que só pode ser atingida através da mediação cultural, isto é, social.

A consciência afetiva é a forma pela qual o psiquismo emerge da vida

orgânica: corresponde à sua primeira manifestação. Pelo vínculo imediato

que se instaura com o ambiente social, ela garante o acesso ao universo

simbólico da cultura, elaborado e acumulado pelos homens ao longo de sua

história. Dessa forma é ela que permitirá a tomada de posso dos

instrumentos com os quais trabalha a atividade cognitiva. Neste sentido, ela

lhe dá origem” (Dantas, 1992 p.85-86)

É com afirmações como a de Wallon que Leite e Tagliaferro (2005) acabam por concluir

que as próprias interações que ocorrem dentro de um contexto escolar são influenciadas pela

afetividade em todos os aspetos e dimensões do trabalho pedagógico.

Também Leite & Tassoni (2002) salientam que Wallon e Vygotsky possuem uma série de

pontos em comum relativamente à afetividade. Ambos os autores afirmam que a afetividade

possuiu um carácter social que se vai desenvolvendo ao longo dos anos, ganhando cada vez

mais complexidade.

Como material para a sua pesquisa, Leite e Tagliaferro pediram a cada participante que

escrevesse uma carta com o relato da sua experiência pessoal com um determinado professor já

pré-selecionado pelos pesquisadores, trazendo ao de cima todas as recordações que os alunos

tivessem do mesmo e o impacto que ele teve nas suas vidas. Nos resultados está evidente a

importância das práticas pedagógicas do docente na sua sala de aula. Os autores constataram

que “é através da relação interpessoal concreta com outros homens que o indivíduo vai chegar a

interiorizar as formas culturalmente estabelecidas de funcionamento psicológico” (2005, p.258).

Podemos concluir que o professor é uma espécie de intermediário de enorme

importância que pode modificar o sentimento de um aluno em relação a um determinado

conteúdo. Se este entendimento for aplicado à área do ensino da Música, nomeadamente ao

15

ensino de um instrumento, então também poderemos ter como seguro que o interesse por parte

do aluno no instrumento deve-se, em grande parte, à atitude do professor perante os alunos e ao

tipo de relação que ele cria entre todos estes fatores.

Leite e Tagliaferro (2005) conseguiram ainda identificar algumas qualidades referenciadas

pelos envolvidos na pesquisa relativamente ao professor em questão, destacando o facto de o

mesmo ser um professor bastante interessado e comprometido com o ensino e com os alunos.

Os autores frisam a importância das práticas pedagógicas e dos seus efeitos, sendo que:

“destaca-se a repercussão das práticas pedagógicas desenvolvidas pelo

professor em sala de aula, na futura relação que se estabeleceu entre os

sujeitos e o objeto de conhecimento em questão. (…) foi o trabalho

pedagógico desenvolvido em sala de aula, o que transformou o Professor M

em uma figura fundamental e inesquecível para esses alunos.” (p. 260)

Com isto não podemos afirmar, de todo, que um professor é o único fator no interesse

de um aluno por algum conteúdo, mas apresenta-se como um pilar de enorme importância

nesse sentido.

Nesta mesma linha de ideias, a pesquisa de Tassoni (2000) traz-nos informações

também elas bastante pertinentes, sendo que a autora tenta demonstrar-nos como o lado afetivo

na relação professor/aluno pode refletir-se no processo de aprendizagem.

A criança vem desde o seu nascimento a criar processos de interação com o mundo que

a rodeia, principalmente no âmbito familiar, criando assim relações afetivas desde muito cedo. É

desta relação com os outros que a criança vai adquirindo capacidades cognitivas, cabendo

principalmente a pais e irmãos um papel muito especial na sua relação de ensino e

aprendizagem. A autora defende ainda que “toda a aprendizagem está impregnada de

afetividade” (p. 3), levando-nos a concluir que também a relação entre o aluno e professor esteja

impregnada de afetividade e que a mesma se torna um elemento indissociável no processo de

construção de conhecimento.

La Taille refere outro aspeto relevante entre a família e a escola:

“Antes, a família (e a escola) eram estruturas sociais essencialmente

‘adultocêntricas’: a criança devia adaptar-se a uma casa organizada em

função da vida, valores, prazeres e interesses dos adultos. Hoje, a família (e

16

também a escola) tende a ser ‘puericêntrica’: são os adultos que devem se

adaptar ao espaço infantil e adolescente; os filhos são os ‘reis’ da casa,

ouvem as músicas que querem, assistem a seus programas, etc.” (1999, p.

175)

Na sua pesquisa, Tassoni (2000), observando todos os comportamentos das professoras

envolvidas, concluiu que “a afetividade manifestava-se por meio de comportamentos posturais e

por meio de comportamentos verbais” (p. 8), sublinhando que a proximidade das professoras

com os seus alunos acabava por se tornar símbolo de cumplicidade entre eles. Os próprios

alunos apontaram também que essa proximidade física era considerada como “forma de ajudar,

de transmitir segurança e tranquilidade diante das atividades” (p. 10). A autora confirma, de

resto, que toda a proximidade entre as duas partes acabava por ser um ponto positivo para a

relação, fazendo com que os alunos passassem a confiar e a ficarem mais à vontade para

colocação de dúvidas, ou contribuindo para que o processo de ensino se tornasse mais fácil e

agradável para todos os alunos da turma.

Tassoni (2000) não tem dúvidas, na verdade, de que o encorajamento verbal por parte

do professor é de uma enorme importância como fator de motivação para o aluno na realização

de tarefas concretas. A autora enfatiza também a relevância das formas de expressão que

utilizam o corpo, toque, olhar e modulações na voz, estando estas a ganhar cada vez mais

importância no ensino dos dias atuais.

“(…) é possível concluir que a afetividade não se limita apenas às

manifestações de carinho físico e de elogios superficiais” (p.13)

Mediante as entrevistas que foram realizadas às professoras envolvidas na pesquisa, a

autora conseguiu perceber que todas as docentes partilhavam uma certa preocupação em fazer

com que sentimentos mais negativos como a ansiedade e a insegurança fossem banidos das

suas salas, de forma a não interferirem de maneira negativa nas suas aulas e na interação com

os alunos.

Tal como na pesquisa de Tassoni (2000), Negro (2001) procurou identificar a

afetividade presente na relação professor-aluno, concretamente num conjunto de alunos do 4.º

ano de escolaridade. Os resultados foram todos muito idênticos e sem grandes alterações aos de

Tassoni (2000), reforçando a ideia de que os alunos davam valor à proximidade e recetividade

17

entre os dois elementos. Os alunos envolvidos nesta pesquisa definiram que a proximidade era

como nutrir uma amizade, gostando das pessoas e importando-se com o que elas fazem.

Das últimas questões enfatizadas pela autora, temos “a importância das diversas formas

de interação entre as professoras e os alunos, para a construção da autoestima e da

autoconfiança, influindo diretamente no processo de aprendizagem” (2000, p. 15). Concluindo

então que “as experiências vividas em sala de aula permitiram trocas afetivas positivas que, não

só marcaram positivamente o objeto de conhecimento, como também favorecem a autonomia e

fortalecem a confiança dos alunos em suas capacidades e decisões” (2000, p. 15-16).

Numa dimensão de ensino mais pequena e focada, como o ensino de um instrumento,

temos a visão de Gaunt (2008), que, a partir das ideias e comportamentos de 20 professores de

um conservatório de música do Reino Unido, percebe que esses mesmos docentes são mais do

que “meros” professores, são modelos e uma das forças de incentivo para os seus alunos.

Ao longo da pesquisa a autora foi-se deparando com vários aspetos interessantes na

forma de ensinar desses professores, como, por exemplo: gravar a aula do aluno para

posteriormente ser alvo de debate entre as duas partes; questionar o aluno sobre as suas

decisões artísticas; dar feedbacks1, etc. São diferenças como as anteriormente enunciadas que

tornam o ensino do instrumento um caso tão específico do ensino em si mesmo, tornando a sua

abordagem muito própria e particular. Os professores envolvidos confidenciaram à autora que

utilizam todos um padrão de aula: o aluno vem para a aula, têm uma pequena conversa, logo de

seguida interpreta o seu repertório, previamente definido, os estudos ou exercícios técnicos que

sejam necessários e, por fim, recebe o feedback do professor sobre o que executou nessa

mesma aula.

José Lopes e Silva & Helena Santos Silva (2010) também relevam o conceito de

feedback, afirmando que este, conjugado com uma boa prática de ensino, pode ajudar os alunos

na sua autoestima e a aumentar o interesse pelo objeto de estudo.

“Quando feito correctamente, o feedback permite que o professor

informe os alunos do seu progresso na disciplina e na compreensão da

1 Feedback significa, resumidamente, dar resposta a uma determinada solicitação ou a um determinado acontecimento. Neste caso em concreto, ele funciona como uma espécie de vaivém informativo entre professores e alunos e vice-versa. O feedback é dado aos alunos como forma de acompanhamento e aferição do trabalho por eles realizado. E pode ser mais positivo ou mais negativo.

18

matéria que está a ser ensinada. É também uma oportunidade para os

professores reflectirem sobre a forma como estão a ensinar.” (p. 61)

Os autores referem também alguns procedimentos para um feedback construtivo: fazer

muitas perguntas; não dar demasiada importância à classificação; ouvir o aluno atentamente;

agir equilibradamente; dar relevância à conversa e não ao sermão; incentivar a autocrítica do

aluno, etc. Neste caso o feedback não passa de uma conversa entre as duas partes, uma

conversa construtiva e não somente de crítica, por forma a que o aluno consiga então perceber e

corrigir os seus erros. Estaremos, pois, no bom caminho “quando os professores “vêem” a

aprendizagem através dos olhos dos alunos e os alunos “vêem” o ensino como a chave para a

sua aprendizagem”. (introdução – XXII)

Gaunt (2008) questionou também os professores sobre o que eles achavam deste tipo

de ensino (one to one), mais individualizado, e todos os docentes referem o facto de ser mais

amigável, colaborativo e parental, como se de um médico se tratasse. Um dos pontos negativos

referidos pelos professores foi o facto de não estarem muito a par das actividades que os seus

alunos realizam no conservatório, como, por exemplo, se andam num coro ou algo do género.

De uma forma muito geral, a autora acaba por chegar à conclusão que todos os

professores se empenhavam seriamente no ensino do seu instrumento, tentando que cada aluno

adquirisse todos os conhecimentos que conseguisse apreender, ganhando também as

ferramentas necessárias para o seu dia-a-dia.

Tendo em consideração os comentários dos diferentes autores que temos citado, o

papel do docente tem uma enorme relevância em todas as variantes do ensino, pois é

impossível fugir à premissa fundamental: para que haja alguém que aprenda, é necessário que

exista alguém que ensine - daí a importância definitiva do papel do professor.

Segundo Ribeiro (1992, cit in Trindade, 2009), coexistem quatro tipos de relação entre

as duas partes, sendo elas: relação de autoridade; relação de ajuda; relação de agrado e relação

de conflito. A relação de agrado tem como base a atração interpessoal que visa reduzir a

distância entre as duas partes envolvidas; a relação de ajuda refere-se à dimensão do auxílio,

cooperação em determinadas situações e também de “tutoria”, o que transmite uma

importância acrescida a esta relação; na relação de autoridade está presente a relação de poder

e o domínio dos alunos no âmbito da sala de aula; por fim, a relação de conflito, que se baseia

19

nos acontecimentos negativos que podem acontecer nas escolas e que são potenciais geradores

de mal-estar.

Davidson, Moore, Sloboda, & Howe (1998), num estudo realizado em Inglaterra com um

conjunto de 40 alunos, observam quais as caraterísticas dos professores de Música e os

progressos dos seus alunos. Neste trabalho, os autores referem que existem dois grupos de

adultos que exercem uma maior influência na aprendizagem das crianças, sendo eles os pais e

os professores. Podemos verificar que, principalmente no ensino do instrumento, os professores

lidam diretamente com grupos pequenos de alunos ou até individualmente, fazendo com que a

relação entre as duas partes seja especialmente importante na aprendizagem da Música,

comparando a outro tipo de aprendizagem. O estudo em questão anota também que, para a

maioria dos alunos, os seus primeiros professores do instrumento são vistos como uma grande

influência na sua aprendizagem musical.

Rutter (1987) refere que o género do aluno tem um papel muito importante neste tipo

de relacionamento, dado que, por exemplo: as raparigas tendem a responder melhor a carinho e

suporte emocional, levando também em conta que as mesmas colocam ênfase acrescido no

compromisso pessoal e no relacionamento com outros; os rapazes, por norma, são tratados de

forma um pouco diferenciada pelos professores e pais, que dão quase sempre mais importância

ao seu estudo, sucesso e alcance dos objetivos. Davidson, Moore, Sloboda, & Howe (1998), na

sua pesquisa, concluem, por outro lado, que o género do aluno não é um fator de importância,

não existindo diferenças entre raparigas e rapazes.

Durante a sua pesquisa, Davidson, Moore, Sloboda, & Howe (1998) utilizaram as

entrevistas individuais como forma de obtenção de informação, colocando aí quatro alíneas

essenciais para o estudo. A saber:

Classificar as caraterísticas do primeiro e do último professor de cada instrumento

estudado (ou somente um), de acordo com uma determinada escala: amigável para não-

amigável; relaxado ou tenso; conversador ou calado; encorajador ou desmotivador; bom

professor ou mau professor; bom instrumentista ou mau;

Selecionar datas de mudança de professor ou número de meses/anos que o aluno

estudou com cada um dos professores;

20

Descrever as razões pelas quais resolveu trocar de professor;

Descrever se as suas aulas foram individuais ou em grupos.

Relativamente à primeira questão selecionada pelos autores, foi concluído que os alunos

consideram que os seus últimos professores são mais amigáveis, relaxados, conversadores,

encorajadores e mais exigentes que os primeiros. Definem-nos também como melhores

intérpretes, sendo um exemplo a seguir a nível musical. Já debruçados sobre a segunda

questão, concluem que a maioria dos alunos questionados teve uma média de 2,5 professores

ao longo da sua vida académica na área da Música, sendo uma das variáveis desta média o

número de anos que cada aluno estudou. O grupo de alunos que levou os seus estudos até um

nível superior é o maior fator nesta média. Relativamente à questão sobre os motivos que

conduziram a uma mudança de professor, os alunos e os pais responderam que, de uma forma

geral, foi por razões de mudança de casa ou escola, o desejo de encontrar um professor melhor

e a problemática dos preços. Na última questão, focada no facto de as aulas serem individuais

ou de grupo, o estudo regista que poucos dos alunos entrevistados já tinham experimentado os

dois tipos de ensino - ou experienciaram o ensino individual ou o de grupo, separadamente.

Neste trabalho, os autores chegaram a várias conclusões que importa destacar. Por

exemplo: a maioria dos alunos que obtiveram sucesso na aprendizagem musical tiveram um

primeiro professor que foi definido como amigável, conversador, relaxado e encorajador; os

professores que lecionam o instrumento a faixas etárias mais baixas têm de estabelecer como

prioridade uma relação relaxada e amigável com os seus alunos, já os professores com alunos

de faixas etárias mais velhas devem tentar ganhar o respeito dos seus alunos, quer a nível

pessoal quer a nível musical; a pesquisa revelou, ainda, que o sucesso musical e o facto de se

ter mais do que dois professores diferentes do mesmo instrumento podem estar relacionados;

finalmente, conclui-se que, se um aluno desejar atingir níveis altos de excelência no seu

instrumento, é provável que beneficie mais do ensino individual do que do ensino em grupo,

embora existam benefícios em ter os dois tipos de instrução.

Também José Lopes e Silva & Helena Santos Silva (2010), se centram na importância

dos elogios por parte dos professores relativamente aos seus alunos.

21

“o elogio deverá consistir num reconhecimento sincero de um

comportamento bem definido para que os alunos compreendam o que

fizeram para obter reconhecimento por parte do professor” (Woolfolk, 2006)

Segundo os autores, para um elogio ser eficaz ele deve possuir algumas caraterísticas: o

professor deve ser claro na utilização do elogio, para que o aluno perceba exatamente o motivo

pelo qual está a ser elogiado; o professor deve sempre elogiar o esforço do aluno e não a sua

inteligência – na verdade, deve-se dar sempre o maior ênfase ao facto de o aluno ser mais

esforçado relativamente a determinada matéria; o professor deve reconhecer os êxitos dos seus

alunos, fazendo com que os alunos sejam elogiados por metas alcançadas ou apenas melhorias

registadas; convém que o elogio seja um reforço positivo para o aluno – em todo o caso, quando

em grupo, não é recomendável direcionar todos os elogios para um único aluno.

O elogio faz então parte de um grupo de caraterísticas e atitudes que constroem um

ambiente relacional, onde se torna mais fácil a aprendizagem e o ato de “ensinar”.

Caraterísticas afetivas do

professor

Magnitude do efeito

Aumento em percentis no

rendimento escolar do

aluno

Não diretividade 0.76 28

Empatia 0.68 25

Entusiasmo 0.68 25

Encorajamento do pensamento

de ordem superior

0.60 22

Encorajamento à aprendizagem 0.48 18

Adaptação às diferenças 0.41 16

Autenticidade 0.29 11

Crenças centradas no aluno 0.10 4

Figura 1 Efeitos das caraterísticas afetivas do professor no rendimento escolar e atitudes dos alunos, in Lopes, J. & Silva, H. S. (2010). O professor faz a diferença: Na aprendizagem dos alunos. Na realização escolar dos alunos. No sucesso dos alunos. Página 65

Na Figura 1, acima, são apresentadas algumas das caraterísticas afetivas que fazem o

professor. Mediante esta lista podemos concluir que são questões como a não-diretividade que

tornam a experiência da docência numa orientação por parte do professor e não numa

imposição por parte do mesmo, dando espaço ao desenvolvimento do aluno por si só. Aqui, a

22

função do docente é centrada na reflexão sobre o que é dito pelo aluno, certificando-se de que

os conteúdos foram todos adquiridos/compreendidos. Todas as caraterísticas restantes dão foco

à dimensão afetiva da aprendizagem.

Figura 2 Diagrama sobre a dimensão afetiva

Neste contexto, devem os professores ser sensíveis aos problemas dos alunos e devem

ajudá-los? Na maioria das vezes, os alunos chegam às escolas com ideias já bastante definidas e

os professores devem utilizar essas ideias com ponto de partida. Se não o fizerem, pode haver

uma rejeição por parte dos alunos em relação à aprendizagem. Os professores devem, por isso,

delinear estratégias e escolher o caminho de forma a que os alunos aceitem os desafios

propostos, conseguindo assim desenvolver melhor as suas capacidades.

“Construir um ambiente relacional capaz de facilitar a aprendizagem

e assegurar resultados escolares mais elevados implica que o professor

respeite o conhecimento que os alunos trazem para a escola, reconhecendo

como válidas as experiências que estes vivenciam fora do ambiente formal de

aprendizagem, quer em casa quer na comunidade ou no seu grupo de pares.

Além disso, exige que o professor possua características específicas,

nomeadamente de escuta activa, empatia, atenção e respeito pelos outros”

(Lopes e Silva, 2010, p. 64)

Ainda bastante comuns, infelizmente, são determinadas situações vivenciadas pelos

alunos que habitualmente só as descrevem aos professores em que depositam mais confiança.

Cabe então aos professores saberem lidar com essas situações, nunca as desvalorizando ou

23

conferindo-lhes menos importância. Esse “ser sensível” com os problemas dos alunos pode vir a

constituir a base de um professor bem-sucedido, porque consegue obter mais facilmente a

confiança dos educandos.

Outro dos pontos essenciais para saber ser professor é saber ser flexível. Várias vezes,

no decorrer de uma aula, o professor está sujeito a ter de mudar de estratégia, ou porque os

alunos não estão a adquirir os conhecimentos da forma como foi planeada ou porque a aula

simplesmente não está a correr como foi pensada. O professor tem de ter a capacidade de

modificar o caminho a percorrer, para que os alunos queiram aprender e encontrem motivação.

“Os professores apaixonados pelo ensino têm consciência do desafio

que enfrentam nos amplos contextos sociais em que ensinam, têm um

sentido de identidade claro e acreditam que podem fazer a diferença na

aprendizagem e no aproveitamento escolar de todos os seus alunos.

Interessam-se profundamente por eles e gostam deles.” (Day, Estrela, 2010,

p. 58)

Um dos maiores entraves ao bom relacionamento entre professor e aluno é a

indisciplina. E a indisciplina pode manifestar-se nas mais variadas formas: indisciplina do aluno,

do professor, da escola, da família, etc. É por isso fundamental e necessário que a educação

seja eficiente – o professor, o bom professor, deve estabelecer disciplina entre os seus alunos,

pois a disciplina ou a indisciplina influenciam drasticamente, para o bem e para o mal,

respetivamente, todo o processo de ensino-aprendizagem.

Numa sumária análise ao que diz o dicionário para definir a palavra indisciplina,

encontrámos significados e sinónimos como: desobediência, rebeldia, falta de disciplina, etc.

Fácil de concluir, portanto, que a indisciplina é precisamente o contrário do conceito de

disciplina.

A indisciplina na sala de aula, por parte do aluno, verifica-se, desde logo, quando o aluno

não se consegue comportar conforme as exigências estabelecidas pelas regras da escola, na

maioria das vezes não respeitando o professor, nem colegas, nem elemento algum que esteja

diretamente ligado ao estabelecimento de ensino.

“E por falar em indisciplina, essa não deveria ser uma constante

entre professores e alunos. Aulas dinâmicas, divertidas, linguagem clara,

24

objetiva e de fácil entendimento, sempre associando o tema em questão a

situações actuais, de conhecimento dos alunos, utilizando mais a explanação

verbal do que a lousa (vista como um suporte, apoio para registrar, de forma

resumida, alguma informação mais importante), torna as explicações dadas

pelo docente, segundo opinião unânime dos alunos, uma aula motivadora.”

(Siqueira, 2003)

Quais são as possíveis causas da indisciplina nas aulas? Motivos como classes

numerosas, perda de autoridade por parte do professor, formas de lecionar pouco atrativas para

os alunos, entre outros pretextos menos relevantes. Há que referir, por outro lado, a indisciplina

do próprio professor, que se manifesta didaticamente e posteriormente vem a ter efeitos

negativos nos alunos. Má gestão da classe, emprego constante da mesma técnica de ensino e

fraco domínio da matéria a lecionar estão na base da indisciplina em relação ao docente. Como

é óbvio, o professor que domina mal o conteúdo a lecionar ou que se sente inseguro em relação

à matéria acaba por deixar que alunos se apercebam dessa fraqueza. Nesse cenário, os alunos

sentem caminho livre para tomar conta da aula, tendem a descontrolar a aula, multiplicando-se

em perguntas geralmente fúteis e muitas das vezes completamente deslocadas do assunto em

questão.

25

6. Desenvolvimento e avaliação da intervenção

6.1 Registos de observação

Este Estágio Profissional foi realizado entre os meses de outubro de 2015 e junho de

2016, e foi dividido em duas partes: a primeira parte consistiu na observação das aulas nos dois

contextos exigidos (instrumento e orquestra de sopros), dando sempre uma especial atenção às

práticas pedagógicas utilizadas por cada um dos docentes e às características individuais de

cada aluno; a segunda parte foi dedicada à intervenção direta com os alunos.

Na primeira parte, de observação, focámo-nos em entender as características dos dois

contextos, assistindo às aulas semana após semana, tendo algumas conversas informais com os

alunos e com os professores das disciplinas, procurando, assim, compreender melhor cada uma

das partes.

Após as primeiras aulas observadas, conseguimos comprovar que uma das alunas

envolvidas no estudo tinha bastantes dificuldades, se comparada com as outras duas. A aluna

em causa apresentava, em todas as aulas, as mesmas dúvidas, problemas de leitura, problemas

rítmicos, etc. As dificuldades da aluna foram confirmadas pela professora cooperante, que nos

explicou que a aluna vinha denotando este padrão já há algum tempo. Relativamente às duas

outras alunas envolvidas, estas demonstravam algumas facilidades no instrumento e bastante

interesse pela aprendizagem.

Desde o início da fase da observação que percebemos que iria ser impossível envolver a

orquestra de sopros na nossa intervenção na mesma medida das aulas individuais, dado que é

um estudo que necessita de contato bastante direto e individualizado com cada um dos alunos.

Assim, o contexto de orquestra foi realizado em concordância com os planos que o professor

cooperante tinha. Foi-nos dada liberdade para trabalharmos com os alunos várias das obras que

eles foram abordando ao longo do ano, desenvolvimentos que acompanhámos a tempo integral,

fazendo aos poucos uma leitura dos seus comportamentos a nível das aulas e da forma de estar

dos mesmos perante os docentes.

O contexto de aula de instrumento foi onde a intervenção teve um papel mais relevante.

Temos, de facto, como ponto assente que a observação é tão ou mais importante que a

intervenção. Observar foi já meio caminho andado para a intervenção.

26

Apresentamos, a seguir, uma síntese das tabelas de observação preenchidas a cada

aula e relativas aos três alunos envolvidos (A, B e C), bem como à música de câmara:

6.1.1 Aluno A

Consideramos que, durante toda a fase de observação, esta foi a aluna com mais

facilidades a níveis de competências sociais, embora, na nossa presença, se tenha mostrado

inicialmente um pouco fechada e tímida, o que entendemos com normalidade.

A aluna apresentou-se sempre como um elemento bem-disposto, acessível, atento a

tudo o que lhe era dito, aprendendo com rapidez e facilidade. Foi notória também a excelente

relação mantida entre as duas partes, professora e aluna, verificando-se em todas as situações

uma boa comunicação e amizade.

Durante o primeiro período, esta aluna padeceu de uma paralisia facial, que a limitou

nas aulas e até no seu desenvolvimento no instrumento, o que é perfeitamente compreensível. A

docente acompanhou sempre de perto a evolução da aluna, verificando assiduamente o estado

da paralisia e se esta piorava ou regredia. Acabámos por saber que este problema de saúde, que

foi desaparecendo aos poucos, teve origem num quadro de ansiedade. A partir daí, tanto a

docente quanto eu, enquanto estagiária, tivemos o maior cuidado possível no decorrer das aulas

de instrumento para que a aluna não passasse por grandes situações de stress.

Passado um mês, a aluna regressou em grande forma ao trabalho, fazendo com que o

tempo que poderia ter sido dado como perdido fosse recuperado de uma forma rápida e eficaz.

Durante todo o tempo de observação conseguimos perceber que a aluna demonstrava

um maior apreço e aplicação no estudo muito devido à sua relação positiva e, de certa forma,

chegada à docente. Tomámos devida nota, de resto, que, mesmo com o seu passageiro

problema de saúde, a aluna foi sempre de uma dedicação e vontade enormes relativamente ao

seu instrumento, tendo apresentado ótimos resultados durante todo o ano.

27

6.1.2 Aluna B

Ao contrário da aluna A, esta colocou-nos algumas dificuldades ao relacionamento

mútuo. Apresentou-se sempre como uma aluna bastante tímida e fechada em si mesma, tendo

algumas dificuldades na comunicação e relação com a professora. Este tipo de timidez foi

notório durante todo o ano e a nossa presença, enquanto estagiária, também não a fez melhorar

em nenhum desses aspetos.

É de notar também que, de todas as alunas envolvidas no projeto, esta foi a que

apresentou mais dificuldades durante o ano letivo. A nosso ver, na génese destas dificuldades

estaria sobretudo o desinteresse pelo instrumento, que já era bastante visível. Embora a

professora tentasse sempre falar com a aluna, ajudando-a nas suas dúvidas, ela não mostrava

grandes evoluções. A comunicação não funcionava. A professora falava imensas vezes com a

aluna no decorrer da aula, mas ela nunca respondia abertamente, não passando muito das

respostas por monossílabos.

Durante todo o ano, os esforços da professora para tentar chegar mais perto da aluna

foram falhados, pois não havia vontade de comunicação da outra parte.

Nesta fase de observação conseguimos também comprovar que a aluna não realizava

qualquer tipo de estudo em casa, ou, se o fazia, seria de uma forma muito pouco significativa.

Assim se percebe facilmente a razão por que nunca mostrou resultados significativos.

6.1.3 Aluna C

Esta foi a aluna mais nova envolvida no projeto, frequentando ainda o 1.º grau. Durante

toda a fase de observação a aluna mostrou-se sempre bastante motivada e interessada pelo

instrumento. A nosso ver, foi a aluna que reagiu de uma forma mais positiva à nossa presença

na sala, tendo até bastante interesse em questionar-nos sobre o que fazíamos ali e porque

observávamos as suas aulas.

A aluna apresentou-se sempre como um elemento bem-disposto, conversador e

acessível, sendo também muito curiosa. Conseguimos verificar que a relação professora/aluna

era bastante saudável e que a aluna via a professora, até, de uma forma algo maternal.

28

A professora cooperante informou-nos logo no início do ano que esta aluna tinha um

pequeno problema de nascença: o seu ombro era bastante mais direcionado para fora do que o

normal. Soubemos também que a ida da aluna para a Academia estudar flauta transversal tinha

sido uma recomendação do pediatra, na tentativa de corrigir um pouco a anomalia. A professora

foi de um cuidado imenso para com a aluna, tendo sempre atenção ao facto de ela poder estar

cansada ou com dores.

À parte esta situação, a aluna nunca demonstrou problemas com o instrumento,

apresentando-se em todas as aulas com manifesta vontade de tocar e com o seu estudo em dia.

Registamos finalmente que, durante todo o ano, a aluna demonstrou grande vontade de

trabalhar e aprender cada vez mais, o que lhe permitiu uma constante evolução no instrumento.

6.1.4 Orquestra

Relativamente à disciplina de Música de Câmara, mais concretamente Orquestra de Sopros,

falamos de um grupo de alunos com cerca de 35 a 40 elementos dos mais variados

instrumentos de sopros e de vários níveis (2.º ao 8.º grau).

A intervenção neste grupo foi de uma maior dificuldade do que nas aulas individuais.

São muitos alunos, como indiquei acima, e todos com formas bastante distintas de se

comportarem em contexto de aula. O comportamento deles foi sempre variável de aula para

aula, dependendo um pouco do repertório que estivesse a ser trabalhado. O repertório que mais

lhes interessasse ou agradasse era o que levava a um maior sucesso e bom comportamento

durante as aulas.

Desde a fase de intervenção conseguimos verificar que todos os elementos da orquestra

têm uma grande ligação emocional com o professor cooperante, respeitando-o e apreciando-o.

Quanto ao nosso relacionamento com os alunos, fazemos notar, desde logo, que

sentimos algumas dificuldades em “alcançar” inicialmente o grupo dos metais – um grupo mais

irrequieto e um pouco irreverente em relação aos outros. De qualquer modo, com a ajuda do

professor cooperante, estas dificuldades foram sendo ultrapassadas, tendo-se chegado a uma

relação satisfatória. Com as madeiras o nosso contacto estava, por natureza, simplificado: os

alunos sentem uma ligação maior connosco, uma fez que também fazemos parte do grupo.

29

Superadas as pequenas dificuldades iniciais para controlar a aula no seu total, as

sessões foram ficando cada vez mais fáceis de gerir e o trabalho realizado acabou por resultar

muito proveitoso para ambas as partes envolvidas, sobretudo tendo em linha de conta a nossa

pouca experiência com este tipo de grupos com um maior número de elementos.

Pudemos constatar também, aula após aula, que todos os alunos eram bastante

dedicados à evolução do grupo em que estavam inseridos, estudando cada vez mais entre as

aulas e exigindo repertório de maior dificuldade ao professor cooperante.

30

31

7. Recolha de informação de escrita suplementar

Durante o período de observação, e atendendo ao nosso tema de pesquisa,

considerámos pertinente questionar as alunas envolvidas neste processo sobre a sua opinião

relativamente à sua professora de instrumento. Intuímos que teríamos de adotar uma forma o

mais discreta possível e que não fosse demasiado invasiva para elas. Pensámos que, se

interrogássemos directamente as alunas, elas poderiam não se sentir à vontade para falar sobre

o assunto. Para isto pedimos que elas escrevessem um pequeno texto, em forma de carta, onde

descrevessem o que pensam da sua professora ou, se o desejassem, dos seus professores em

geral.

7.1 Aluna A

Na carta, esta aluna refere que, na sua opinião, a professora é muito importante, vendo-

a até como uma mãe. Dá também a entender a relevância que atribui aos professores para a

sua vida e para a sua aprendizagem. “Sem eles não somos nada”, afirma na carta, valorizando o

papel dos docentes para a aprendizagem da leitura, da escrita e da Música. Compreende que os

professores têm, por vezes, que chamar à atenção (utiliza até muito própria, “ralhar”), sabendo

que o fazem por motivos de preocupação com os alunos, porque querem sempre que eles

caminhem na direção correta.

7.2 Aluna B

Na carta, esta aluna escreve que o professor é quem que lhe transmite conhecimento,

quem lhe diz o que está certo ou está errado, orientando-a sempre no seu estudo. Refere

também que os seus professores a tentam sempre cativar para o estudo e para a disciplina,

chamando-a à atenção quando não estuda. A aluna diz que a sua professora de instrumento é a

primeira a tentar cativá-la e motivá-la para o estudo da flauta transversal. Por fim, defende que

os professores têm um papel de enorme importância na vida do aluno, uma vez que são eles

32

que ajudam a chegar mais longe e a alcançar os objetivos, preparando-os assim para um futuro

melhor.

7.3 Aluna C

Na carta, esta aluna diz que gosta muito das suas aulas de instrumento, principalmente

quando estas lhe correm bem. Aborda também o facto de não gostar de tocar acompanhada

pelo pianista. (Na verdade, a aluna mostrou sempre alguma dificuldade na junção com o piano

no decorrer das suas aulas). Afirma que tem noção de que, se estudar menos, as suas aulas

decorrem de uma forma mais difícil, e que para evitar isso é que estuda muito mais. Em toda a

carta a aluna refere-se exclusivamente à professora do seu instrumento, demonstrando uma

certa admiração e declarando que a professora é meiga e que a ajuda bastante. A aluna diz

também que a sua professora é uma excelente intérprete e que deseja tocar com ela, quando for

mais velha.

33

8. Instrumentos de recolha de dados

8.1 Análise dos resultados recolhidos

Durante todo este processo, para além dos relatórios de aula que foram realizados, das

conversas que fomos mantendo com cada um dos alunos envolvidos no projeto e de todas as

observações, decidimos utilizar duas técnicas de investigação qualitativa, sendo elas o inquérito

e a entrevista. O inquérito abrangeu todos os alunos envolvidos no projeto, tanto os de contexto

individual como os de grupo (orquestra), e a entrevista foi realizada somente aos professores

cooperantes das duas partes.

Aqui iremos então apresentar os resultados obtidos tanto dos inquéritos como das

entrevistas.

8.1.1 Inquérito

O inquérito realizado neste projeto foi direcionado a todos os alunos envolvidos, tanto os

de contexto individual como os de contexto colectivo, e teve como finalidade o recolher de

informações sobre determinados aspetos em estudo, nomeadamente quais as qualidades que

eles mais apreciam num professor ou se pensam que uma relação mais próxima com o

professor pode ser positiva ou não. Está dividido em duas secções, a primeira baseada em

escolhas rápidas (resposta direta) e a segunda com perguntas que pedem um pequeno

desenvolvimento e com uma maior necessidade de justificação.

Iremos agora apresentar um gráfico dedicado às perguntas do Grupo I (perguntas de

escolha rápida) e de seguida uma avaliação das respostas do Grupo II.

34

Figura 3 Respostas às perguntas do Inquérito – Grupo I

Trabalhámos com um universo de 30 alunos, de diferentes instrumentos e com idades

que vão dos 10 aos 18 anos. A nosso ver, as respostas foram todas um pouco uniformes neste

grupo. Fazemos notar que estes inquéritos foram respondidos de forma anónima, só havendo

conhecimento da idade e do instrumento dos inquiridos.

Relativamente à primeira pergunta (Gostas de estudar música?) e à segunda (Gostas do

teu instrumento?), podemos concluir que todos gostam, todos responderam positivamente à

pergunta, não restando dúvidas da nossa parte em relação a estas questões.

Porém, na terceira questão (Já alguma vez pensaste em trocar de instrumento?)

podemos verificar uma pequena oscilação, dado que, em 30 alunos, 25 responderam que não,

enquanto os restantes 5 responderam que sim. Depois de uma verificação da nossa parte

relativamente a esta pergunta, constatámos que, dentro dos 5 alunos que responderam que sim,

dois deles andam pelos 17 anos e os outros têm idades compreendidas entre os 10 e os 14

anos. Como não os questionámos os motivos pelos quais pensam nisso, não podemos avançar

razões mais sólidas.

Relativamente à quarta e quinta questões (Gostas do teu professor? Tens boas memórias

dos teus professores ao longo do tempo em que estudas?), obtivemos novamente respostas

unânimes, sendo de concluir que este grupo de alunos aprecia todos os seus professores e

todos possuem boas recordações dos mesmos.

30 30

5

30 30

10 0

25

0 0

29

0

5

10

15

20

25

30

35

Gostas de estudarmúsica?

Gostas do teuinstrumento?

Já alguma vezpensaste em trocar

de instrumento?

Gostas do teuprofessor/s?

Tens boasmemórias dos teus

professores aolongo do tempoem que estudas?

Já alguma vezpensaste em trocar

de professor?

INQUÉRITO - GRUPO I

Sim Não

35

Por fim, a última questão (Já alguma vez pensaste em trocar de professor?) também

redundou numa quase completa unanimidade: apenas um aluno respondeu que já tinha

pensado em trocar de professor. Depois de uma análise aos inquéritos em relação a esta

pergunta, percebemos que se trata de um dos alunos mais velhos do grupo (18 anos). O facto

de ser mais velho poderá explicar a sua vontade de ter a experiência de passar por outro

professor, mas, como não aprofundámos mais a questão, não estamos em condições de o

confirmar.

Grupo II

Este grupo possui três perguntas de resposta mais longa com justificação, sendo elas:

Que qualidades admiras no teu professor de instrumento?

Achas importante uma relação mais próxima entre professor e aluno?

O teu professor de instrumento incentiva-te no estudo e na tua evolução no instrumento?

De que forma achas que ele o faz?

Aluno Respostas

1 Pergunta 1: “Divertido e bem disposto. Sempre disponível para tudo”

Pergunta 2: “Sim, é uma forma de incentivo ao estudo”

Pergunta 3: “Incentiva quando me coloca em projetos que me ajudem a evoluir, como

orquestra e grupos”

2 Pergunta 1: “Animado, engraçado, um grande músico”

Pergunta 2: “Sim, pois o professor incentiva ao estudo e ajuda-nos a ter um futuro melhor”

Pergunta 3: “Sim, ao tocar comigo incentiva-me a estudar para um dia tocar tão bem como

ele, e por vezes levando-me a concurso, pois todos gostam de estudar para ganhar”

3 P1: “Toca bem, é conversadora, é divertida, ensina bem, simpática”

P2: “Sim, porque se eu não tiver uma boa relação com a professora as coisas não funcionam”

P3: “Sim, diz-me para eu estudar mais porque eu sei que se eu não estudar as minhas aulas

não correm bem”

4 P1: “As qualidades que eu admiro na minha professora é que ela toca bem, é divertida,

explica bem”

P2: “Sim, porque se o aluno não tiver uma relação próxima com o professor pode provocar

36

problemas na aprendizagem do aluno”

P3: “Sim, ela explica-me como se toca quando eu não sei”

5 P1: “Bom músico, toca bem, simpático, compreensivo, conversador”

P2: “Sim, pois uma boa relação irá fazer evoluir tanto tecnicamente como a nível pessoal”

P3: “Sim, acompanhando o estudo e dando liberdade para aprendermos com os nossos

erros”

6 P1: “Toca bem, dá boas dicas, é divertido e conversador”

P2: “Sim, porque assim as aulas são mais divertidas”

P3: “Sim, porque ele quer que demos o nosso melhor”

7 P1: “A minha professora é extremamente simpática e divertida, toca muito bem e apoia-me

sempre que precisar”

P2: “Sim”

P3: “Sim”

8 P1: “O professor de oboé é muito simpático, exigente, divertido”

P2: “Sim, porque de uma certa forma um professor deve saber sempre o que se passa”

P3: “Acho que o meu professor ensina de uma forma divertida, como já disse, e com isso ele

ajuda-me muito”

9 P2: “Sim”

P3: “Sim, porque ele ajuda-me muito ao nível da musicalidade”

10 P1: “O meu professor toca bem, é simpático, divertido, conversador e honesto”

P2: “Sim, para não nos chatearmos e também porque podemos desabafar com ele”

P3: “Sim, o meu professor diz que se eu estudar mais poderei atingir os meus objetivos mais

rapidamente e por vezes tenta irritar-me para ver se eu para a próxima consigo fazer melhor”

11 P1: “Toca bem, é simpático, divertido, conversador, conselheiro, inteligente”

P2: “Sim. Acho que o professor e o aluno devem ter uma relação próxima dentro do respeito

para que o aluno se sinta à vontade para falar sobre as várias questões e dúvidas em relação

ao que será o futuro do aluno”

P3: “Sim. Dá-me força e coragem para encarar as dificuldades e conseguir ultrapassar todas

as barreiras”

12 P1: “É divertido, toca bem e é muito incentivador”

P2: “Sim, uma relação de amigo mais velho que nos irá ajudar na nossa caminhada musical”

P3: “Sim, através de atribuição de peças que nos fazem evoluir”

13 P1: “É um exemplo a nível profissional”

P2: “Sim, pois é mais fácil interagir e a confiança é muito importante”

P3: “Sim, pois temos projetos e objetivos a alcançar e isso motiva-me”

37

14 P1: “Penso que ensina bem, é muito simpático, divertido e severo quando deve ser”

P2: “Sim, porque se o aluno estiver mais à vontade com o professor não se sentirá tão

nervoso”

P3: “Sim, porque ajuda-nos a corrigir os erros de imediato e apresenta-nos melhores métodos

de estudo”

15 P1: “Não é apenas um professor, mas sim um amigo para a vida. Tem boas ideias musicais,

toca bem, é espetacular.

P2: “Sim, pois as correm bem melhor”

P3: “Sim, é o primeiro a incentivar para masterclass, audições. Quer sempre mais de nós”

16 P1: “É um excelente profissional, simpático e ajuda sempre”

P2: “Sim, pois as aulas tornam-se mais divertidas e assim estamos mais motivados”

P3: “Sim, ele “puxa” por todos os alunos e quer sempre que demos o nosso máximo”

17 P1: “O espírito de trabalho, a dedicação e o esforço”

P2: “Sim, para a confiança, e à-vontade para conversa, métodos de trabalho”

P3: “Sim, orientando nas formas, método de trabalho e alertando-me para uma futura entrada

na universidade”

18 P1: “A minha professora de instrumento toca bem, é simpática, inteligente, motivadora e

profissional”

P2: “Sim, porque o facto de haver uma proximidade entre o professor e o aluno influencia o

clima da aula e por vezes o incentivo para o estudo”

P3: “Sim. Dá palavras de conforto quando a aula não corre bem (…) ela toca para

exemplificar”

19 P1: “É simpático, toca bem, é divertido e bom professor”

P2: “Sim”

P3: “Sim”

20 P1: “É preocupada com os alunos e com a sua aprendizagem, é bastante motivadora e

exigente. Toca bem”

P2: “Sim, acho que o aluno deve sentir-se seguro e confiante com o seu professor”

P3: “Sim”

21 P1: “Toca bem, simpático, exigente”

P2: “Sim, facilita a aprendizagem”

P3: “Sim, incentiva-me a trabalhar para atingir os meus objetivos”

22 P1: “Toca bem, é simpático, divertido, exigente e incentiva-me a estudar”

P2: “Sim, deve ser aberta e amigável”

P3: “Sim, ajuda-me quando tenho dificuldades”

38

23 P1: “O meu professor é muito divertido, toca bem, é simpático e honesto”

P2: “Sim, porque assim o nosso professor pode perceber melhor as nossas dificuldades”

P3: “Sim, pois fala comigo e tenta ajudar-me nas minhas dificuldades”

24 P1: “A minha professora é muito exigente, toca bem, é simpática e está sempre para o que eu

precisar”

P2: “Sim, desta maneira talvez se consiga ter um aproveitamento ainda melhor”

P3: “Incentiva, apoiando-me e fazendo com que eu gosto da forma como toco”

25 P1: “Toca bem, é simpática, atenciosa e disposta a ajudar”

P2: “Sim, porque favorece a aprendizagem. Deve ser aberta e comunicativa”

P3: “Sim, ele dá-me exercícios específicos para as minhas dificuldades e incentiva-me a

trabalhar para melhorar o meu desempenho”

26 P1: “Eu adoro a minha professora, toca bem e é muito exigente com os alunos. (…) é minha

amiga e ajuda-me muito com os meus problemas”

P2: “Sim. (…) é como um incentivo para querer continuar a estudar música”

P3: “A minha professora incentiva-me muito e quer o melhor nível profissional para mim e por

isso é muito exigente, é assim que deve ser um professor”

27 P1: “Além de excelente professora, motivadora, prestável e tocar extremamente bem, é um

ótimo ser humano. É como uma “segunda mãe” para mim”

P2: “Sim. (…) estamos muito mais à vontade para expor as nossas dúvidas e assim termos

um melhor aproveitamento”

P3: “Sim, muito. A minha professora é extremamente motivadora, sendo bastante atenciosa e

prestável”

28 P1: “É muito bom músico e dá as aulas de um modo que mais ninguém dá”

P2: “Sim, pois se isto não acontecer o ensino poderá ser menor”

P3: “Sim, no final da aula ele diz sempre para estudar muito”

29 P1: “O meu professor de instrumento é bastante divertido. (…) é uma pessoa honesta,

extremamente interessante, conversador e inteligente. Eu admiro o meu professor (…)

P2: “Sim, isso será bastante bom para os alunos. É essencial o aluno ter um ótimo “à-

vontade” com o professor”

P3: “Sim”

30 P1: “Gosto de como a minha professora se esforça para que eu dê sempre o máximo possível

para alcançar os objetivos mais altos”

P2: “Sim, pois ajuda a fortalecer o espírito cooperativo que leva a melhores resultados”

P3: “Sim, a minha professora incentiva-me no estudo e em dar o meu melhor”

39

Depois de uma análise detalhada a cada resposta dada pelos alunos envolvidos,

conseguimos fazer um levantamento de todas as caraterísticas consideradas importantes pelos

alunos em relação aos professores. Passamos então a enumerar todas essas caraterísticas:

divertido/a; bem-disposto/a; engraçado/a; bom músico; conversador/a; simpático/a; boa

capacidade de ensinar; compreensivo/a; inteligente; honesto/a; incentivador/a; exigente;

dedicado/a; motivador/a.

Para uma análise mais simplificada sobre os resultados às questões acima indicadas,

utilizámos cores para distinguir os adjetivos mais utilizados pelos alunos para caraterizarem os

seus professores. A cor laranja fica a marcar o atributo “divertido”; a cor verde destaca o

atributo “bom músico”; a cor azul realça o atributo “simpático”; e, por fim, para a cor rosa

sublinha o atributo “boa capacidade de ensino”.

A maioria dos alunos refere a importância dessas caraterísticas para a aprendizagem

mais fácil e com melhor qualidade, sendo até que alguns deles sublinharam a admiração que

nutrem pelo seu professor, vendo-o, em certos caos, como um “amigo para a vida” e, noutros,

como uma “segunda mãe ou pai”. De um modo geral, os alunos inquiridos reconhecem a

importância que os professores têm na sua vida, muito para além do seu percurso musical e de

aprendizagem, até na ajuda da resolução de problemas do seu dia-a-dia.

Assim como podemos comprovar no Grupo I que a respostas roçaram a unanimidade, o

mesmo acontece no Grupo II, sendo que a maioria dos alunos respondeu de forma bastante

idêntica às três perguntas por nós colocadas.

Podemos então concluir que todos os inquiridos pensam que uma relação mais próxima

entre professor e aluno é benéfico para a aprendizagem do instrumento, defendendo que o estar

à vontade com o professor na aula é positivo para a aprendizagem, desde logo porque facilita a

comunicação entre os dois lados envolvidos no processo.

“A relação do professor com cada aluno é importante para elevar os

níveis de rendimento escolar, bem como para melhorar o bem-estar

socioemocional” (Lopes/Silva, 2010, p. 66)

40

8.1.2 Entrevista aos professores

Realizámos a entrevista, em primeiro lugar, à professora cooperante de instrumento

(flauta transversal). Já leciona há 16 anos e possui, portanto, uma considerável bagagem na

área do ensino. Logo na primeira questão (Que entende por relação professor-aluno?), a docente

respondeu de uma forma bastante objectiva, afirmando que, na sua opinião, esta relação é uma

fase de desenvolvimento e crescimento, sendo que nenhuma das partes pode existir uma sem a

outra. A nossa entrevistada classificou tanto o aluno como o professor como duas partes

bastante ativas na construção do conhecimento, tendo sempre noção que cabe ao professor o

papel principal, enquanto detentor de maior experiência.

Questionámos também a professora cooperante relativamente ao seu tempo de aluna e

sobre aquilo que então mais apreciava num professor. Referiu a importância de um professor

que consiga manter um aluno motivado, para que este atinja os seus objetivos, sempre num

ambiente saudável e sem imposições ao nível do estudo. Admitiu, por outro lado, valorizar

sobremaneira o facto de o professor possuir o dom da palavra, conseguindo, perante os alunos,

exprimir claramente algumas partes mais ambíguas e indefinidas que a aprendizagem e a

execução musical tantas vezes exigem durante a performance. Recordou também que, ao longo

da sua vida enquanto estudante, teve a sorte de se ter cruzado com vários professores que a

ajudaram na sua formação, fazendo com que a mesma ganhasse uma certa versatilidade para o

seu futuro, nos dois âmbitos (instrumentista e docente).

Quando questionada sobre a sua relação com os alunos e a forma como a conduz, a

nossa entrevistada respondeu-nos que uma boa relação com os alunos é o objetivo da maioria

dos professores. Detalhando, pensa que essa boa relação, também extensível aos pais dos

educandos, deverá ser sempre numa conduta onde haja amizade, respeito e trabalho recíproco,

pois o sucesso de ambos dependerá sempre da qualidade do trabalho de todos. Afirma,

igualmente, que várias vezes se dirige aos seus alunos dizendo-lhes que não é detentora da

sabedoria e que a qualidade da arte musical está ligada intimamente à qualidade do trabalho

realizado. Revela, enfim, que procura ter uma boa relação com os bons alunos e uma relação

ainda melhor com os que apresentam mais dificuldades na aprendizagem do seu instrumento,

motivando-os a ultrapassarem as barreiras os bloqueios com que se vão deparando.

41

Perguntámos-lhe se, durante o exercício da sua profissão, já teria vivenciado situações

que a deixassem incómoda ou irritada, ou se sentiu isso nos seus alunos. Respondeu que não.

Admitiu que não foi tudo fácil durante os seus 16 anos de profissão, até porque cada aluno é um

caso, e por vezes há casos que demoram mais a resolver, no entanto entende que são situações

normais da profissão de docente e que todo o processo envolvido na sua resolução a fez crescer

enquanto professora. Reconhece que, em relação aos alunos, por vezes uma chamada de

atenção, ou um comentário por falta de estudo ou aplicação, pode criar algum incómodo ou

irritação, mas diz que, com a aplicação das ferramentas corretas, estas situações tornam-se

mais fáceis de solucionar.

De seguida entrevistámos o professor cooperante de música de câmara (orquestra),

curiosamente também ele com uma carreira de 16 anos na docência. Na primeira questão que

lhe foi colocada (Que entende por relação professor-aluno?), o nosso entrevistado defendeu que

deve existir confiança e o dever de partilha. Partilha do conhecimento, de informação, de valores

morais e éticos, de responsabilidade. Referiu também que o aluno deve sentir confiança na

aprendizagem dos conteúdos e deve ser o professor a instigá-lo, levando-o a ter sentido crítico e

a discutir sobre vários pontos de vista a informação pretendida. Defendeu, por último, que esta

relação deve ser franca, aberta e de confiança acima de tudo.

Enquanto era aluno – disse-nos –, as caraterísticas que mais apreciava no(s)

professor(es) era a humanidade e a experiência. Lembra que sempre apreciou os professores

exigentes, pois, para além da admiração que criavam nele próprio, sentia a paixão que eles

tinham pelo ensino, não pretendendo ser mais do que simples seres humanos. Tentavam

sempre dar a sua opinião, nunca a impondo, alargando espaço para os debates de ideias, de

modo a que cada um se manifestasse de livre vontade, sem pudor ou preconceitos.

Foi-lhe perguntado se, enquanto estudante, teria encontrado esse tipo de qualidades, e

respondeu que teve a felicidade de aprender com personalidades marcantes na sua vida e o

privilégio de poder trabalhar com grandes pedagogos. A este propósito, recordou que os seus

mestres, muito para além da sua extrema qualidade, mantinham sempre presente o sentido de

humanidade, o que marcou indelevelmente.

Quando questionado se fomentava uma boa relação com os seus alunos e de que forma

o fazia, respondeu que essa boa relação facilita o caminho para o sucesso. Com exigência,

trabalho, rigor, disciplina e método. Ressaltou também que, quando planeia conteúdos, tem em

42

vista o desenvolvimento do aluno e as metas a atingir, sendo importante explicar aos alunos

aquilo que é proposto e criar um ambiente saudável na aula. Assim se chega aos objetivos.

Questionado se já teria vivenciado situações, durante o exercício da sua profissão, que o

deixassem incómodo ou irritado a si, ou aos seus alunos, respondeu que essas situações podem

acontecer quando os objetivos não foram alcançados. Referiu que alunos com mais dificuldades

de aprendizagem tendem a ter um comportamento mais lento e alguns revelam desinteresse em

relação à disciplina, ou porque não estudam ou porque não se esforçam o suficiente.

Obviamente que, em 16 anos a lecionar, estas situações acontecem espaçadamente e cada

aluno é diferente do outro, e a relação do aluno com o instrumento também.

Com tantos anos de experiência acumulada, que medidas tomaria actualmente para

evitar eventuais “situações desagradáveis” na sala de aulas? – quisemos saber. O professor

respondeu-nos que é exactamente estribado nesse acumular de anos de docência que, em

situação de crise, rapidamente toma as medidas que a tarimba lhe ensinou serem as mais

corretas, de forma a que tudo volte à normalidade.

43

9. Apresentação de resultados

No decorrer de todo o período de intervenção, o nosso objetivo principal foi criar um laço

de união com os alunos com os quais ou sobre os quais trabalhávamos. Na Música, e

principalmente no ensino do instrumento, uma área em que os alunos lidam de forma muito

próxima e individual com o professor, é difícil obter uma empatia imediata quando lhe é

apresentado na vida dos alunos um novo professor, como nós fomos.

Dentro do pequeno grupo que foi alvo da intervenção, principalmente os alunos de flauta

transversal, conseguimos concluir que eles encaravam os seus professores um pouco como

figuras paternais, conferindo-lhes uma relação tão próxima que os mesmos tornam-se capazes

de exprimir todas as suas ideias, receios, desejos, etc. É de notar que, de facto, este tipo de

proximidade é mais notória derivado da própria condição deste tipo de ensino, em que

praticamente o aluno interage de uma forma bastante direta com o seu professor.

Durante as primeiras aulas que observámos, os alunos envolvidos não se mostravam

muito à vontade com a nossa presença, que criou até uma certa timidez em alguns casos. Neste

cenário, o objetivo que então nos propusemos foi o de criar uma relação com os alunos que, de

algum modo, se pudesse equiparar à relação que eles já tinham com a sua professora.

O papel da professora cooperante nesse momento e o seu comportamento a meu favor

foi crucial, pois durante todo o período de observação deu-me a liberdade para interagir com os

alunos, deixando-me até lecionar algumas aulas. Este contato mais direto com os alunos levou a

que, durante o período de intervenção, a nossa ligação já se apresentasse mais solidificada.

Para facilitar o processo de criação de afeto com os alunos, o diálogo foi determinante.

Passámos a conhecê-los de uma forma mais próxima, descobrindo os seus gostos e aquilo que

os deixa mais ou menos desconfortáveis. O que é importantíssimo, como cita Freud (1996):

“Somente alguém que possa sondar as mentes da criança será capaz de

educá-la e nós, pessoas adultas, não podemos entender as crianças porque

não mais entendemos a nossa própria infância”.

Todo este processo foi bastante enriquecedor e interessante para uma melhor percepção

de todo o caminho a ser percorrido visando criar uma ligação “especial” com cada um dos

alunos. Esta ligação entre ambas as partes só se mostrou benéfica, dado que foi meio caminho

44

percorrido para que o interesse pelas aulas aumentasse. O primeiro ponto que levámos avante

foi conseguir captar a atenção dos envolvidos nas aulas, propiciando a curiosidade pelo

instrumento e pela música no seu todo, contribuindo desta forma para uma melhoria no seu

empenho escolar. A nossa aproximação aos alunos tinha como objetivo principal, nesta primeira

fase, a criação de um incentivo para que se empenhassem mais nos exercícios propostos.

Fomos capazes de verificar que, de facto, a esta proximidade está expressamente relacionada

com uma prática emocional, como referem os autores Hargreves et al.:

“Para todos os professores, bons ou maus, centrados no aluno ou centrados

nas disciplinas, que planejam ou não, ensinar, assim como outros trabalhos

ou profissões que envolvam cuidar de outras pessoas ou prestar serviços,

sempre é uma prática emocional. Esta prática é o que cativa, colore e

expressa os sentimentos das pessoas e os sentimentos daqueles que com

elas interagem (Denzim, 1984). Isto é especialmente verdadeiro para o

processo de ensino. O que os professores fazem entusiasma ou aborrece os

estudantes” (Hargreaves, Earl, Moore e Manning, 2002, p. 132).

Relativamente ao aumento da motivação conseguimos verificar que algumas

caraterísticas e ações do professor poderiam propiciar o interesse do aluno pelo instrumento.

Uma das ações que pensamos ter mais efeitos positivos nos alunos foi a de tocarmos

juntamente com ele no decorrer da aula, sendo que os alunos envolvidos na intervenção

mostraram sempre interesse e curiosidade em alguns aspetos mais técnicos, como por exemplo

o som, dado que nesta faixa etária os alunos ainda não possuem um timbre completamente

definido na flauta transversal. Neste sentido, os alunos envolvidos faziam questões como: como

é que faz isso? Como eu consigo ter o mesmo som? Posso tentar fazer igual? Nestas questões

está implícito que conseguimos criar a curiosidade no instrumento e até uma vontade extra de

estudar e evoluir, sendo este um dos pontos que consideramos mais importante e eficiente na

fomentação da motivação e vontade de estudar.

A relação mais próxima com o aluno pode incentivar um aluno já desinteressado pelo

instrumento?

Esta foi uma das questões mais delicadas com as quais nos deparámos ao longo da

intervenção. Com efeito, um dos alunos envolvidos manifestava um certo desinteresse e evidente

desmotivação em relação ao objeto de estudo. Depois de algumas conversas mais informais

45

com ele, percebemos o que gerava tal desinteresse. Infelizmente, apesar dos nossos repetitivos

esforços para melhorar a condição do aluno, não o conseguimos cativar eficazmente para o

instrumento. Falamos de um aluno num nível um pouco avançado, na faixa dos 14 anos,

desmotivado nas aulas, e que já não demonstrava qualquer interesse pelo instrumento. Ao longo

da intervenção, o nosso objetivo foi sempre chamar à atenção o aluno para o estudo, com um

tipo de abordagem passiva e mais preocupada com o seu bem-estar do que com os resultados,

aliviando um pouco a pressão que é perfeitamente normal em alunos do nível em que este se

encontra. O aluno melhorou. Não de forma espetacular, mas melhorou. Gostamos de pensar

que esta pequena melhoria que verificámos no final do ano poderá ser creditada ao nosso

procedimento.

A análise mais detalhada do inquérito foi uma mais-valia para a nossa intervenção,

sendo já um guia que nos facilitou um pouco mais a abordagem aos alunos. Levámos também

em linha de conta que cada um dos alunos é uma personalidade distinta das outras,

diferenciando cada um deles de uma forma bastante peculiar. Depois de apreendermos quais as

qualidades mais apreciadas nos professores pelos alunos, tomámos a decisão de personalizar o

nosso método de ensino, apostando na abordagem pessoal para cada um deles. Claro que, por

si só, a base de uma boa relação entre professor/aluno não se baseia unicamente em nos

tornarmos naquilo que cada um dos alunos espera do seu professor, mas é um conjunto de

variantes onde o conhecimento sobre o que se está a ensinar e o gosto que se tem pelo ensino

são essenciais, como referem os autores Lopes e Silva:

“É fundamental para o professor conhecer bem o conteúdo que ensina,

conhecer os alunos e os processos de ensino/aprendizagem. Deve também

ter ou desenvolver gosto pelo ensino – o aspecto artístico do seu papel que

lhe deve possibilitar envolver os alunos, motivá-los para o conteúdo, estimulá-

los, inspirá-los e ainda, e fundamentalmente, comunicar-lhes paixão pela

aprendizagem” (Lopes/Silva, 2010, introdução- XV)

Com o grupo de música de câmara (orquestra) desenvolvemos um tipo de interação

bastante idêntico, não sendo tão personalizado a nível de abordagem devido, principal e

naturalmente, à quantidade de elementos envolvidos. O nosso objetivo principal com este grupo

foi sempre o de tentar cativar os alunos para a disciplina. Tivemos continuamente a noção de

que o nosso trabalho iria ser um pouco diferente daquele a que os alunos normalmente estão

46

habituados com o professor cooperante, por causa da nossa pouca experiência com grupos mais

numerosos. Concluímos, assim sendo, que a experiência que desenvolvemos com este grupo foi

de grande aprendizagem para ambas as partes, mas principalmente para nós, pois deparámo-

nos com uma forma de ensino à qual não estávamos tão habituados e, de certa forma,

preparados para desenvolver. Também aqui o professor cooperante teve um papel de enorme

importância no decorrer da nossa intervenção: deu-nos todo o apoio e o acompanhamento

essencial para este projeto.

Toda esta interação mais próxima com os alunos envolvidos teve algum efeito positivo na

sua aprendizagem? Esta é a questão primordial deste projeto, foi a premissa que lhe esteve na

origem. Verificamos que a nossa intervenção possuiu alguns pontos em comum com a pesquisa

de Tassoni (2000) onde conseguimos verificar que a relação entre professor e aluno está

completamente impregnada de afetividade. Verificámo-lo logo durante o período de observação,

presenciando a relação entre a professora cooperante e os alunos envolvidos (aulas individuais

de instrumento), onde verificamos grande cumplicidade entre ambas as partes.

A chave para os resultados dos alunos envolvidos nesta intervenção foi principalmente o

encorajamento verbal, que funcionou com aliado para ambas as partes, tal como o feedback

constante do trabalho que estava a ser realizado. Tendo por base o trabalho de José Lopes e

Silva & Helena Santos Silva (2010), selecionámos, entre outras, um restrito conjunto de ações

que passava por questionar os alunos, não nos focarmos na importância da classificação, ouvir

as preocupações e receios dos alunos, utilizar a conversa como meio principal de comunicação,

e nunca o sermão, ou incentivar o interesse do aluno pelo instrumento. Estes mandamentos

foram de elevada importância em toda a intervenção e nos bons resultados que conseguimos

obter.

As entrevistas realizadas aos professores cooperantes também nos ajudaram a

identificar a importância que ambos atribuem à relação professor/aluno. Conseguimos concluir

que ambos os professores consideram que um dos seus objetivos primordiais é construir um

ambiente relacional bastante positivo no decorrer das suas aulas, referindo até que essa relação

se deve estender até aos Encarregados de Educação. Atribuem também caraterísticas a esta

relação, dizendo que a mesma deve ser “franca, aberta e de confiança”.

47

10. Conclusão

Depois de termos analisado todos os dados recolhidos, e tentando sempre responder à

questão primordial deste projeto, concluímos que a relação do professor com o aluno é um elo

primordial no desenvolvimento do educando, tanto ao nível de conhecimento como ao nível

pessoal. Como é lógico, cada professor tem a sua própria forma, peculiar e pessoal, de se

relacionar com os seus alunos. Diferentemente de outras áreas, o ensino da música,

principalmente o ensino do instrumento, é um momento de lide pessoal do professor com cada

um dos alunos. A forma de lidar com os alunos está, por isso, muito relacionada com a

personalidade do próprio professor e com as suas características, como podemos comprovar

anteriormente. Pela nossa experiência durante este projeto e pela forma como se desenvolveu,

pudemos verificar que os professores que estabelecem uma relação mais próxima com os seus

alunos são capazes de os aliciar para mais para o estudo, como sustenta Nunes (2011):

“Um aluno que sinta no professor alguém que está disposto a ajudá-lo, encontra mais

facilmente motivação para desempenhar as suas tarefas e desenvolver a sua aprendizagem”

(Nunes, 2011, p. 43)

Também este autor vem comprovar os benefícios de uma relação de proximidade entre

o professor e os alunos.

Não podemos deixar de frisar que a tentativa de entender os alunos de uma forma mais

pessoal, mostrando disponibilidade para compreender ou apenas ouvir alguns dos seus receios,

assuntos familiares ou até de saúde, tornou-nos, muito provavelmente, mais capazes para

lidarmos com eles. Em certo sentido, conseguimos que os alunos experienciassem a sala de

aula como um lugar confortável e seguro e percebessem que estavam ali porque queriam e

gostavam, e não por causa da típica obrigação de irem às aulas. Tomemos como exemplo o

caso da aluna que, durante o período na nossa intervenção, foi acometida pelo que aparentava

ser uma paralisia facial, situação dramática e potencialmente traumatizante, sobretudo em tão

tenra idade. O nosso procedimento passou, desde logo, por iniciar o diálogo, tentando, sem

forçar respostas, compreender o que poderia estar na origem desse acontecimento. A nossa

ideia era, na posse da melhor informação possível, mantendo a calma, para tentar perceber se

poderíamos ajudar de alguma forma a aluna ou se tratava de um caso médico, minimizando as

possibilidades de repetição do episódio. Percebemos que a paralisa teve a sua origem num

48

elevado nível de stress provocado pelo que a aluna sentia em relação às exigências. Este

conhecimento ajudou-nos, a partir daí, a tratar a aluna de forma a evitar a ansiedade.

É importante salientar que nós, os professores, não possuímos o poder de controlar o

interesse que o aluno possa ter pelo objeto de estudo - neste caso, o instrumento. Somos

apenas um dos elementos envolvidos neste apaixonante processo. O interesse e o empenho

estão alicerçados na livre vontade do aluno, sendo este sempre influenciado, evidentemente,

pelo professor.

Uma das conclusões mais importantes a que chegámos neste processo e neste trabalho

foi a de que muitos alunos encararam alguns professores como uma espécie de figura paternal.

Verificámos cabalmente esta situação com o aluno mais novo envolvido na intervenção. Já no

período de observação, consegui ver, sem margem para dúvidas, que o aluno encarava a

professora cooperante de uma forma significativamente maternal, depositando nela total

confiança. Portanto, será bom ter presente este facto em futuras relações interpessoais com

alunos que apresentem esta caraterística.

Por último, a questão: devemos ser sensíveis aos problemas dos alunos? Acompanhar

os alunos a nível emocional, percebendo o que os motiva, o que lhes mete medo no seu dia-a-

dia, ajudou-nos a percebê-los melhor, a conseguir motivá-los no seu estudo. Por outro lado,

criámos um ponto de segurança emocional onde cada um dos envolvidos se sentia à vontade

para falar de todos os assuntos que os podiam estar a incomodar, construindo, desta forma, o

ambiente relacional que os autores Lopes e Silva (2010) idealizam na sua obra.

O nosso projeto teve algumas limitações ao longo do seu percurso, visto que para

encontrarmos uma forma mais eficaz de ensinar e motivar os alunos teríamos que pô-los à

prova, confrontando-os com diferentes abordagens ao nível comportamental, apresentando aos

alunos uma atitude mais rígida, rigorosa, outra mais carinhosa e atenciosa, etc. Estes tipos de

comportamentos da nossa parte poderiam criar uma sensação de “experiência” com os alunos e

realmente esse não seria o nosso objetivo.

Por outra parte, o número de alunos envolvidos na intervenção ao nível das aulas de

instrumento foi bastante reduzido, e o trabalho com só três alunos é um número pequeno para

obter resultados sólidos e verdadeiramente representativos.

49

11. Bibliografia

Cornelius-White, J. (2007). Lerner-centered teacher-student relationships are effective: a meta-

analysis. Review of Educational Research, 77(1), 113-143.

Costa, Raquel Campos (2012). A interação professor/aluno nas aulas individuais de instrumento

de cordas. Dissertação apresentada à Universidade Católica Portuguesa para obtenção do grau

Mestre em Ciências da Educação, Música.

Coutinho, C. (2011). Metodologia de Investigação em Ciências Sociais e Humanas: Teoria e

Prática. Coimbra: Edições Almedina.

Dantas, H. (1992). Afetividade e a construção do sujeito na psicogenética de Wallon, em La

Taille, Y., Dantas, H., Oliveira, M. K. Piaget, Vygotsky e Wallon: teorias psicogenéticas em

discussão. São Paulo: Summus Editorial Lda.

Davidson, J. W., Moore, D. G., Sloboda, J. A. & Howe, M. J. (1998). Characteristics of music

teachers and the progress of young instrumentalists. Journal of Research in Music Education, 46

(1), 141-160.

Estrela, M. (2010). Profissão Docente. Porto: Areal Editores.

Freire, P. (1999). Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. Edição 25.

São Paulo: Paz e Terra.

50

Freud, S. (1996). A história do movimento psicanalítico. In S. Freud, Edição standard brasileira

das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (J. Salomão, Trad., Vol. 14). Rio de Janeiro:

Imago. (Original publicado em 1914).

Gaunt, H. (2008). One-to-one tuition in a conservatoire: the perceptions of instrumental and vocal

teachers. Psychology of Music, 36 (1), 215-245.

Hargreaves, A., Earl, L., Moore, S., e Manning, S. (2002). Aprendendo a mudar. Porto Alegre:

Artmed.

Leite, S. A. S. & Tagliaferro, A.R. (2005, julho/dezembro). A afetividade na sala de aula: um

professor inesquecível. Psicologia Escolar e Educacional, 09 (02), 247-260.

Leite, S. & Tassoni, E. (2002). A afetividade em sala de aula: as condições de ensino e a

mediação do professor. Psicologia e formação docente: desafios e conversas. São Paulo: Casa

do Psicólogo.

Lopes, J. & Silva, H. S. (2010). O Professor Faz a Diferença: Na aprendizagem dos alunos. Na

realização escolar dos alunos. No sucesso dos alunos. Lisboa. Lidel

Maturana, H. (2001). Emoções e linguagem na educação e na política. Belo Horizonte: UFMG.

Negro, T. C. (2001). Afetividade e Leitura: a mediação do professor em sala de aula. Monografia,

Faculdade de Educação, UNICAMP. Campinas

Nunes, O. (2011). Como pode a relação professor-aluno potenciar a aprendizagem da economia

numa turma do 10º ano de escolaridade. Relatório da Prática de Ensino Supervisionada.

Mestrado em Ensino de Economia e Contabilidade. Universidade de Lisboa.

51

Postic, M. (1984). Relação Pedagógica. Coimbra: Coimbra Editora Lda.

Presland, C. (2005). Conservatoire student and instrumental professor: the student perspetive on

a complex relationship. British Journal of Music Education, 22 (3), 237- 248.

Ribeiro, A. (1992). Relação educativa. In Campos, B.P. (Coord.), Psicologia do desenvolvimento e

educação de jovens, Vol. I (133-158). Lisboa: Universidade Aberta.

Rutter, M. (1987). Continuities and discontinuities from infancy. Em J. D. Osofsky (ed.),

Handbook of infant development (2ªed). New York: Wikey-Interscience.

Siqueira, D. (2003). Relação professor-aluno: uma revisão crítica. Disponível em:

http://www.usjt.br/proex/arquivos/produtos_academicos/97_33.pdf.

Tassoni, E. C. M. (2000). Afetividade e aprendizagem: a relação professor – aluno. Trabalho

apresentado na XXII Reunião Anual da ANPED, Caxambu, MG. Disponível no site:

www.anped.org.br/textos/2019t.PDF, recuperado em 07/08/2006.

Trindade, R. (2009). Escola, Poder e Saber: A relação pedagógica e debate. Porto. Livpsic.

Vygotsky, L. S. (1994). A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos

psicológicos superiores. São Paulo: Martins.

Wallon, H. (1968). A evolução psicológica da criança. Lisboa: Edições 70.

52

53

12. Anexos

Anexo I – Textos redigidos pelos alunos de flauta Transversal

54

55

56

Anexos II – Inquéritos realizados pelos alunos

57

58

59

60

61

62

63

64

65

66

67

68

69

70

71

72

73

74

75

76

77

78

79

80

81

82

83

84

85

86

Anexo III – Entrevistas realizadas aos professores cooperantes

Nome: Ivone Fernandes

Anos de docência: 16 anos de Serviço

1. Que entende por relação professor-aluno? Por favor, responda de forma ampla.

Na minha opinião, a relação professor-aluno trata-se de uma fase de desenvolvimento e

crescimento, sendo que nenhuma das partes tem sentido de existir sem a outra. Tanto o aluno

como o professor deverão ser sujeitos ativos no processo de construção do conhecimento,

cabendo ao professor ter o papel principal enquanto detentor de maior experiência.

2. Que caraterísticas apreciava num professor na sua época de discente?

Sempre apreciei aquele professor que conseguia fazer com que o aluno estivesse motivado e

atingisse os objetivos propostos num ambiente saudável, sem imposições ao nível do estudo.

Também considero importante que um professor deva ter o dom da palavra, para que consiga

perante os alunos exprimir aquela parte tão ambígua e indefinida que a aprendizagem e

execução musical tantas vezes nos implica durante a performance.

3. Enquanto estudante encontrou esse tipo de qualidades em algum docente?

Felizmente, durante a minha formação foram vários os professores responsáveis pela mesma.

Considero de certa forma vantajoso, pois foram várias as linhas de conhecimento adquiridas o

que permitiu ganhar uma certa versatilidade para o futuro, quer como instrumentista, quer como

docente.

4. Tenta fomentar uma boa relação com os alunos? Se sim, de que forma?

Presumo que deva ser o objetivo de cada professor. Contudo essa boa relação, também

extensível aos responsáveis pelo(s) aluno(s), deverá ser sempre numa conduta onde haja

amizade, respeito e trabalho recíproco, pois o sucesso de ambos, dependerá sempre da

qualidade do trabalho de todos. Aos meus alunos, várias vezes sublinho que não sou detentor da

87

sabedoria e que a qualidade da arte musical está ligada intimamente à qualidade do trabalho

realizado. Procuro ter uma boa relação com os bons alunos e uma relação ainda melhor com os

alunos que apresentam mais dificuldades, motivando-os a ultrapassar as dificuldades.

5. Já vivenciou situações, durante o exercício da profissão docente, que deixassem

incómodo ou irritado a si, ou aos seus alunos? Se sim, quais?

Situações que causassem incómodo e/ou irritação, penso que não. Agora que durante estes 16

anos não foi tudo fácil, não foi. Cada aluno é um caso e por vezes existem casos que demoram

mais a resolver que outros, no entanto acho que são situações normais da profissão docente e

que a sua resolução nos fazem crescer enquanto professores, de dia para dia. Em relação aos

alunos por vezes uma chamada de atenção, ou um comentário por falta de estudo ou aplicação

de sua parte, não quer dizer que não crie algum incómodo ou irritação, mas com a aplicação

das ferramentas corretas, penso que são situações fáceis de solucionar.

6. Com a sua experiência atual, tomaria medidas para evitar certas situações

desagradáveis? Se sim, quais?

Na minha opinião, as medidas a tomar em situações desagradáveis, vão surgindo mediante o

aparecimento das próprias situações. Não é um assunto que me ocupe muito o pensamento

pois não estou à espera que aconteçam situações inóspitas, no entanto quando surgem terão

que se resolver da melhor forma. Acho que com o acumular dos anos, os docentes vão criando

uma certa “bagagem” que permite cada vez com mais facilidade ir superando as peripécias do

dia-a-dia.

88

Nome: José Ricardo Freitas

Anos de docência: 16 anos de Serviço

1. Que entende por relação professor-aluno? Por favor, responda de forma ampla.

Na relação professor - aluno, deve existir confiança e o dever de partilha. Partilha do

conhecimento, informação, de valores morais e éticos, de responsabilidade. O aluno deve sentir

confiança na aprendizagem dos conteúdos e o professor deve instigá-lo, levá-lo a ter sentido

critico e discutir sobe vários pontos de vista a informação pretendida. Pretende-se que a relação

seja franca, aberta e de confiança.

2. Que caraterísticas apreciava num professor na sua época de discente?

A sua humanidade e a sua exigência. Sempre apreciei os professores exigentes, pois para além

da admiração que criavam em mim, sentia a sua paixão pelo ensino e não querendo ser mais do

que simples seres humanos, nos davam a sua opinião, nunca querendo impor a opinião deles,

davam espaço para os debates de ideias de modo que cada um se manifestasse de livre

vontade, sem pudor ou preconceitos.

3. Enquanto estudante encontrou esse tipo de qualidades em algum docente?

Sim, tive a felicidade de encontrar personalidades marcantes na minha vida e o privilégio de

poder trabalhar com grandes pedagogos. Além da sua extrema qualidade, a sua humanidade

está sempre presente o que me marcou indelevelmente.

4. Tenta fomentar uma boa relação com os alunos? Se sim, de que forma?

Obviamente, só assim é mais fácil o caminho para o sucesso. Com exigência, trabalho, rigor,

disciplina e método. Quando planeamos os conteúdos, temos em vista o desenvolvimento do

aluno e metas a atingir, é importante explicar aos alunos o que será proposto e criar um

ambiente saudável á sua volta de modo a que atinja os seus objetivos.

89

5. Já vivenciou situações, durante o exercício da profissão docente, que deixassem

incómodo ou irritado a si, ou aos seus alunos? Se sim, quais?

Situações que causassem incómodo e/ou irritação, são motivadas quando os objetivos não

foram alcançados. Alunos com mais dificuldades de aprendizagem tendem a ter um

comportamento mais lento e alguns revelam um desinteresse em relação à disciplina, ou porque

não estudam, ou porque não se esforçam o suficiente. Obviamente que em 16 anos a lecionar,

estas situações acontecem espaçadamente e cada aluno é diferente de outro e a sua relação

com o instrumento também.

6. Com a sua experiência atual, tomaria medidas para evitar certas situações

desagradáveis? Se sim, quais?

No exercício das minhas funções, não estou a contar com as ditas “situações desagradáveis”,

pois com o acumular dos anos e com a experiencia adquirida, se porventura algo de menos bom

aparecer, rapidamente tomo as medidas que julgo serem as mais certas de modo a que tudo

volte á normalidade.