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Adolesc. Saude, Rio de Janeiro v. 8, n. 1, p. 51-58, jan/mar 2011 Adolescência & Saúde 51 RESUMO Objetivo: Durante a adolescência, o indivíduo passa por transformações físicas e fisiológicas que modificam sua composição corporal e proporcionam crescimento e desenvolvimento. Para possibilitar a mensuração destas transformações e auxiliar o profissional de saúde no diagnóstico e em intervenções salutares neste período, a avaliação nutricional se torna um pro- cedimento necessário e constante na rotina de atendimentos clínicos. Este artigo objetiva auxiliar o profissional da área de saúde a realizar o diagnóstico nutricional e proporcionar aos adolescentes a melhor conduta nutricional. Síntese dos dados: A antropometria é um método que avalia o estado nutricional por meio da aferição das medidas corporais. Com base nas curvas e tabelas de referência reconhecidas universalmente e nos pontos de cortes preconizados pelo Ministério da Saúde é possível diagnosticar distúrbios nutricionais, por exemplo, magreza e excesso de peso. Conclusão: Existem vários critérios para a avaliação antropométrica do adolescente, todos apresentam limitações e benefícios, mas ainda auxiliam o profissio- nal de saúde quando treinado e bem equipado a promover ações de saúde dentro da sua rotina. PALAVRAS-CHAVE Antropometria, estado nutricional, nutrição do adolescente. ABSTRACT Objective: During adolescence, physical and physiological changes modify body composition, spurring growth and development. In order to measure these changes and assist healthcare practitioners with diagnoses and interventions during this stage, constant nutritional assessments are necessary in routine clinical care. This paper attempts to help healthcare practitioners draw up the nutritional diagnoses, advising adolescents on the best nutritional conduct. Data synthesis: Anthropometry is a method that assesses nutritional status through body measurements. Based on universally acknowledged reference curves and tables, with cut-off points recommended by the Ministry of Health, nutritional disorders such as malnutrition and overweight can be diagnosed. Conclusion: There are several anthropometric assessment criteria for adolescents that, despite their limitations and benefits, help healthcare practitioners when trained and well equipped to promote health activities during their routine work. KEY WORDS Anthropometry, nutritional status, adolescent nutrition. Avaliação nutricional: antropometria e conduta nutricional na adolescência Nutrition assessment: nutritional anthropometry and conduct in adolescence Ana Maria Lourenço 1 Stella R. Taquette 2 Maria Helena Hasselmann 3 1 Nutricionista, mestranda do PPGCM – UERJ 2 Doutora em Medicina – Profª Adjunta da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro 3 Profª Adjunta do Instituto de Nutrição da Universidade do Estado do Rio de Janeiro ARTIGO DE REVISÃO Ana Maria Lourenço ([email protected]) - Rua Joaquim Távora, 310/1003 – Icaraí – Niterói – RJ Recebido em 30/08/2010 - Aprovado em 20/12/2010 > > > >

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  • Adolesc. Saude, Rio de Janeiro v. 8, n. 1, p. 51-58, jan/mar 2011 Adolescência & Saúde

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    RESUMOObjetivo: Durante a adolescência, o indivíduo passa por transformações físicas e fi siológicas que modifi cam sua composição corporal e proporcionam crescimento e desenvolvimento. Para possibilitar a mensuração destas transformações e auxiliar o profi ssional de saúde no diagnóstico e em intervenções salutares neste período, a avaliação nutricional se torna um pro-cedimento necessário e constante na rotina de atendimentos clínicos. Este artigo objetiva auxiliar o profi ssional da área de saúde a realizar o diagnóstico nutricional e proporcionar aos adolescentes a melhor conduta nutricional. Síntese dos dados: A antropometria é um método que avalia o estado nutricional por meio da aferição das medidas corporais. Com base nas curvas e tabelas de referência reconhecidas universalmente e nos pontos de cortes preconizados pelo Ministério da Saúde é possível diagnosticar distúrbios nutricionais, por exemplo, magreza e excesso de peso. Conclusão: Existem vários critérios para a avaliação antropométrica do adolescente, todos apresentam limitações e benefícios, mas ainda auxiliam o profi ssio-nal de saúde quando treinado e bem equipado a promover ações de saúde dentro da sua rotina.

    PALAVRAS-CHAVEAntropometria, estado nutricional, nutrição do adolescente.

    ABSTRACTObjective: During adolescence, physical and physiological changes modify body composition, spurring growth and development. In order to measure these changes and assist healthcare practitioners with diagnoses and interventions during this stage, constant nutritional assessments are necessary in routine clinical care. This paper attempts to help healthcare practitioners draw up the nutritional diagnoses, advising adolescents on the best nutritional conduct. Data synthesis: Anthropometry is a method that assesses nutritional status through body measurements. Based on universally acknowledged reference curves and tables, with cut-off points recommended by the Ministry of Health, nutritional disorders such as malnutrition and overweight can be diagnosed. Conclusion: There are several anthropometric assessment criteria for adolescents that, despite their limitations and benefi ts, help healthcare practitioners when trained and well equipped to promote health activities during their routine work.

    KEY WORDSAnthropometry, nutritional status, adolescent nutrition.

    Avaliação nutricional: antropometriae conduta nutricional na adolescênciaNutrition assessment: nutritional anthropometry andconduct in adolescence

    Ana Maria Lourenço1

    Stella R. Taquette2

    Maria Helena Hasselmann3

    1 Nutricionista, mestranda do PPGCM – UERJ 2 Doutora em Medicina – Profª Adjunta da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro3 Profª Adjunta do Instituto de Nutrição da Universidade do Estado do Rio de Janeiro

    ARTIGO DE REVISÃO

    Ana Maria Lourenço ([email protected]) - Rua Joaquim Távora, 310/1003 – Icaraí – Niterói – RJ Recebido em 30/08/2010 - Aprovado em 20/12/2010

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    APRESENTAÇÃO

    Adolescência é um período de vida no qual há mudanças no desenvolvimento bioló-gico, psíquico e social. A forma como ocorrem estas transformações varia consideravelmente entre os indivíduos e as sociedades. Fatores so-ciais, culturais e econômicos envolvidos neste processo podem acentuar ainda mais as dife-renças já existentes entre os adolescentes de mesma idade e sexo1.

    A avaliação nutricional nesta fase da vida deve considerar as características dos indivídu-os, incluindo o ritmo de crescimento e outros fatores envolvidos – genéticos, hormonais e ambientais – já que neste período o adolescen-te, além do fenômeno biopsicossocial, vivencia transformações físicas e fi siológicas como, por exemplo, o desenvolvimento dos caracteres se-xuais secundários e o estabelecimento da capa-cidade reprodutora – a maturação sexual2.

    A maturação sexual que ocorre nesta fase de vida gera alterações na composição corporal dos adolescentes, como o aumento do peso corporal em torno de 50% e da es-tatura em 15% a 20%, quando comparados com a idade adulta, o que acarreta maior anabolismo e um aumento de apetite para propiciar o alcance das necessidades ener-géticas de proteína e de micronutrientes3.

    A nutrição adequada é essencial nesse perío-do, pois auxilia no alcance do potencial biológico esperado para o crescimento e desenvolvimento do organismo. Nesse sentido, a detecção de ado-lescentes com riscos nutricionais passa a ser uma importante tarefa para os profi ssionais de saúde4.

    O rastreamento destes indivíduos por meio da avaliação nutricional não somente possibilita o acompanhamento e monitoramento do esta-do nutricional desses jovens, como também pro-picia o conhecimento dos fatores determinantes de agravos nutricionais e suas consequências na saúde desta população.

    Dentre os métodos empregados na ava-liação do estado nutricional, a antropometria é apontada como um recurso prático5 que deve

    ser utilizado pelos profi ssionais para analisar o adolescente nas intervenções clínicas, de tria-gem ou mesmo no monitoramento de tendên-cias nutricionais6.

    AVALIAÇÃO ANTROPOMÉTRICA

    A antropometria é o método utilizado na avaliação do estado nutricional do indivíduo bem como o da coletividade. Segundo Jelliffe7, a antropometria em investigação de nutrição se ocupa da medição das variações nas dimensões físicas e na composição global do corpo humano em diferentes idades e em distintos graus de nu-trição. Desta forma, as medidas antropométricas variam de acordo com a idade e o grau de nutri-ção. É considerado um método de baixo custo, não-invasivo, útil e amplamente utilizado para identifi car distúrbios nutricionais como obesida-de e défi cits nutricionais, além de ser objetivo e sensível para detectar precocemente alterações no estado nutricional8. Portanto, representa um bom recurso para rastrear grupos. Adicionalmen-te, os procedimentos são precisos e acurados, desde que técnicas padronizadas sejam usadas9. Para a avaliação individual deve-se utilizar dados sequenciais do indivíduo; a associação com ou-tros métodos auxilia o diagnóstico nutricional10.

    Com base nas medidas antropométricas, tais como o peso ou massa corporal e a esta-tura, são construídos os índices antropométri-cos, por exemplo, o índice de massa corporal (IMC) e estatura para idade (EI). Os índices an-tropométricos podem ser expressos em forma de desvio-padrão (escore Z) ou em percentil8. Quando comparados com os valores considera-dos de referência, curva de referência segundo idade e sexo11, passam a ser denominados indica-dores antropométricos, por exemplo, percentual de adolescentes com baixa estatura para idade.

    Um padrão ou curva de referência é a re-presentação resumida da distribuição de de-terminada medida antropométrica ou índice antropométrico segundo idade para cada sexo. As curvas de referência servem para classifi car e

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    diagnosticar o estado nutricional de um indiví-duo ou população5.

    Na prática clínica, a escala mais utilizada é, devido a sua simplicidade, a de pontos estipu-lados por percentis, ao passo que para estudos epidemiológicos ou em pesquisas clínicas o es-core Z é mais recomendado8.

    ÍNDICES ANTROPOMÉTRICOS

    1. ESTATURA PARA IDADE

    Utilizado para acompanhar o crescimento linear6 do adolescente. Este índice possibilita avaliar a distribuição da estatura por faixa etária e sexo. A medida da estatura é comparada a valores de referência para a população segundo idade e sexo correspondente12. O diagnóstico do crescimento é dado através de percentil e escore Z. Os pontos de corte defi nidos pela Or-ganização Mundial da Saúde (OMS) em 2007 são descritos no Quadro 1.

    O crescimento físico adequado é muito im-portante para proporcionar condições ideais de desenvolvimento geral e produtividade, assim o monitoramento ou avaliação periódica da esta-tura é de suma importância nesta fase de vida12.

    2. DOBRAS CUTÂNEAS

    Na mensuração das dobras cutâneas utili-za-se uma técnica não invasiva para estimar a gordura subcutânea. A dobra de gordura sub-cutânea e a pele são medidas através de calibra-

    dores padronizados em certas regiões do corpo como tríceps, subescapular e suprailíaca13.

    O conhecimento das categorias de dobra cutânea aumenta a acurácia para identifi car aqueles indivíduos com maior gordura total ou outros fatores de risco. Entretanto, o seu uso não é recomendado na rotina clínica para avaliação de obesidade no curso inicial de vida, devido à falta de dados de referência prontamente dispo-níveis para crianças e adolescentes, a erros de medidas originados pela inexperiência e à falta de treinamento dos profi ssionais de saúde e de bons critérios para intervenção13.

    3. CIRCUNFERÊNCIA DE CINTURA

    Tem sido relacionada como um indicador de gordura centralizada (obesidade central) e utilizada como um marcador de risco para sín-drome metabólica, dados que a literatura mos-tra que existe uma relação entre tecido adiposo visceral acumulado e aumentado risco de saúde e doenças metabólicas13-17.

    Por ser uma ferramenta simples, confi ável e barata18 e defi nida como um bom preditor de gordura abdominal, com consequente relação com doenças cardiovasculares, diabetes Melli-tus tipo 2 e morte prematura, o seu uso pode auxiliar o clínico de saúde no refi namento do diagnóstico de excesso de peso gerado pelo ín-dice de massa corporal15.

    Porém não é recomendado o seu uso na ro-tina clínica devido à incompleta informação13 e à falta de padronização e de defi nições de valores normais e dos pontos de cortes associados com

    Quadro 1. ESTATURA PARA A IDADE PARA ADOLESCENTES DE 10 A 19 ANOS

    Diagnóstico Nutricional Valores críticos

    Muito baixa estatura para a idade < percentil 0,1 < escore Z -3

    Baixa estatura para a idade≥ percentil 0,1 e

    < percentil 3≥ escore Z -3 e < escore Z -2

    Estatura adequada para a idade ≥ percentil 3 ≥ escore Z -2

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    riscos de saúde variando com idade, sexo e etnia para adolescentes18. Existe a necessidade de novos estudos a partir de diferentes populações para se estabelecer valores de referência internacionais16.

    4. ÍNDICE DE MASSA CORPORAL (IMC)

    O IMC expressa a relação peso por estatura como uma taxa13 e é usado como indicador para a adiposidade de uma forma global15.

    Ele pode ser calculado diretamente através da fórmula Peso (kg)/ [Estatura (m)]2 ou deter-minado através de tabelas ou nomogramas. A OMS recomenda o uso do IMC associado a es-tágio de maturação sexual para os adolescentes e as dobras subcutâneas triciptal e subescapular quando na classifi cação da obesidade6. Entre-tanto, como é difícil a mensuração das pregas cutâneas nos serviços de saúde, o uso exclusivo do IMC é observado19. Ainda que muito utiliza-do, apresenta algumas limitações20,21, como a pertinência do uso de uma curva de referência local ou internacional, a infl uência da maturação sexual na composição corporal5 e não distinção entre massa gorda e massa magra13,16.

    Com relação a que curva usa, vários debates vêm sendo travados. Além das limitações já apre-sentadas, para Farias Junior et al.21, por exemplo, também existe uma grande divergência em rela-ção aos pontos de corte que serão preconizados para diagnóstico de sobrepeso e obesidade na adolescência. Na literatura estão disponíveis vá-rios padrões de referências, assim como critérios

    para classifi car o estado nutricional, dentre estes pode-se citar Cole et al.22, International Obesity Task Force – IOTF23, OMS10,11, Centers for Disease Control and Prevention24 e Conde e Monteiro5.

    A curva de referência preconizada pela OMS do ano de 2007 foi criada a partir da re-construção da curva de referência de crescimen-to recomendada pelo National Center for Health Statistics (NCHS) de 1977 para crianças e ado-lescentes de 5 a 19 anos25. Após os ajustes esta-tísticos para confecção da nova curva de cresci-mento, a OMS em 2007 passou a recomendar o uso desta nova curva como referência e lançou os pontos de corte de IMC por idade para ado-lescentes como mostra o Quadro 2.

    Posteriormente, em 2009, o Ministério da Saúde26 subdividiu os pontos de corte para obe-sidade e magreza, criando novos pontos de cor-te – magreza acentuada e obesidade grave – que inexistiam na classifi cação anterior (Quadro 3).

    O IMC maior ou igual ao percentil 99 está fortemente associado à presença de comorbida-des, excesso de adiposidade e persistência da obe-sidade na idade adulta. Apesar de ainda não estar disponível nos gráfi cos de crescimento, a gravida-de da obesidade pode sugerir uma intervenção mais agressiva. A incorporação dos pontos de cor-te de IMC mais elevados nos gráfi cos e na rotina clínica dos serviços de saúde favoreceria melhores abordagens de tratamento na adolescência13.

    Vale ressaltar que de acordo com Onis et al.27 na avaliação da magreza de crianças e ado-lescentes, o IMC para a idade deve ser usado complementado pelo índice baixa EI.

    Quadro 2. IMC POR IDADE PARA ADOLESCENTES DE 10 A 19 ANOS (2007)

    Diagnóstico nutricional Valores críticos

    Baixo IMC para Idade < percentil 3 < escore Z -2

    IMC adequado ou eutrófi co ≤ percentil 3 e < 85≥ escore Z -2 e < escore Z -1

    Sobrepeso≥ percentil 85 e< percentil 97

    ≥ escore Z +1 e < escore Z +2

    Obesidade ≥ percentil 97 ≥ escore Z +2

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    CONDUTA NUTRICIONAL

    Para a realização do diagnóstico nutricional individual, o profi ssional de saúde deve avaliar o adolescente, considerando idade e gênero.

    A aferição da estatura e do peso corporal deverá ser feita usando técnicas adequadas pa-dronizadas e classifi cadas segundo os padrões estabelecidos e recomendados pelo Ministério da Saúde. Os indicadores EI e IMC para idade em percentis (ou desvio-padrão) para cada gênero devem ser calculados e, posteriormente, registra-dos em prontuário ou fi cha de atendimento6,28.

    Muitos serviços utilizam os gráfi cos (dis-poníveis no site http://www.int/growthref/em/)11, que poderão ser arquivados no pron-tuário do adolescente auxiliando o acompanha-mento do crescimento e desenvolvimento dele nas avaliações posteriores28.

    Caso o serviço de saúde possibilite o uso de outros métodos de avaliação, como pregas cutâneas e circunferências, estes podem com-plementar o diagnóstico nutricional28.

    A avaliação da maturação sexual através dos estágios de Tanner29 (disponível em http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/pran-cha_masculino_14102009.pdf)30 para mamas (sexo feminino) e genitália (sexo masculino)

    deve ser realizada para auxiliar na interpretação do diagnóstico nutricional.

    O Ministério da Saúde26 preconiza que quando na presença de distúrbios nutricionais como baixa estatura (EI com percentil percentil 97 e ≤ percentil 99,9

    ≥ escore Z +2 e ≤ escore Z +3

    Obesidade Grave > percentil 99,9 > escore Z +3

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    Para melhor visualização da postura profi s-sional perante a avaliação nutricional e posterior conduta nutricional, o Quadro 4 exemplifi ca procedimentos realizados conforme situações diferenciadas num atendimento clínico.

    Durante a consulta, o profi ssional de saú-de deve orientar o adolescente para uma vida saudável, incentivando a prática regular de ati-vidade física e o consumo de alimentos saudá-veis que possibilite a oferta de macro e micro-nutrientes necessários para o seu crescimento e desenvolvimento. Além disso, deve desestimular o uso de alimentos gordurosos ou de alta densi-

    dade calórica31. Para melhor clareza, os autores detalham estas ações em 10 passos para uma alimentação saudável disponível no endereço eletrônico http://www4.ensp.fi ocruz.br/bi-blioteca/dados/txt_465569599.pdf.

    CONSIDERAÇÕES FINAIS

    Até o momento não existem critérios de classifi cação ou pontos de corte bem defi nidos para a avaliação antropométrica de adolescen-tes. Todos apresentam limitações, e a criação de um padrão de referência internacional de cres-cimento para crianças e adolescentes11, consi-derando critérios como população, desenho de estudo, tamanho da amostra, medidas e mode-lagem estatística necessárias para o fornecimen-to de dados, foi de primordial importância para esta construção, mas mesmo assim atualizações sistemáticas merecem ser realizadas32. Pesqui-sas nesta área devem ser implementadas para o aperfeiçoamento de metodologias antropo-métricas e não antropométricas que permitam investigar as mudanças na composição corporal ocorridas neste período.

    A interpretação dos dados antropométricos na adolescência não pode se basear exclusiva-mente na sua adequação por idade e sexo. É preciso levar em conta o grau de maturação se-xual, assim como é necessário construir padrão de referências que considere o desenvolvimento pubertário nesta apreciação8.

    É imprescindível que os serviços de saú-de incorporem na sua rotina uma avaliação da maturação sexual mesmo que simplifi cada, pois existe variação individual na época da ocorrên-cia desses eventos em populações de adolescen-tes saudáveis.

    Enfi m, a avaliação antropométrica auxilia os profi ssionais de saúde no diagnóstico de dis-túrbios nutricionais e na promoção de ações de saúde e adequada conduta nutricional.

    Erros na realização, na leitura ou na anota-ção das medidas para a realização da avaliação do estado nutricional podem ocorrer como, por

    Quadro 4. CASOS HIPOTÉTICOS DE AVALIAÇÃO NUTRICIONAL DE ADOLESCENTES E CONDUTA NUTRICIONAL

    Num ambulatório de uma Unidade de Saúde, dois adolescentes aguardavam atendimento

    clínico. A equipe de enfermagem fez as medidas antropométricas de peso e

    estatura, anotando no prontuário. Durante o atendimento clínico foi verifi cado o estágio

    de maturação sexual.

    Caso 1 – Adolescente com idade de 14 anos e 9 meses, gênero masculino, apresentando estado nutricional adequado pelo IMC para idade e estágio inicial de maturação sexual

    Conduta nutricional: O profi ssional de saúde deve orientar para uma alimentação saudável e demais ações básicas de saúde se houver necessidade.

    Caso 2 – Adolescente com idade de 12 anos e 4 meses, gênero masculino, apresentando estado nutricional pelo IMC para idade compatível a sobrepeso e estágio fi nal de maturação sexual.

    Conduta nutricional: O profi ssional de saúde deve orientar para uma alimentação saudável e demais ações básicas de saúde além de referenciar para o serviço de nutrição para restabelecer o padrão saudável do estado nutricional e acompanhar o crescimento e desenvolvimento do adolescente.

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    exemplo, a mensuração do peso e da estatura na rotina dos serviços de saúde. Muitas vezes, os próprios profi ssionais consideram estas ativida-des procedimentos simples que não demandam grande conhecimento e se julgam capazes de realizá-los sem treinamento6. Isso acarreta erros no diagnóstico e consequente conduta incorre-ta. Portanto, existe uma necessidade de treinar e reciclar as equipes de saúde para a realização dos procedimentos antropométricos, bem como

    a frequente revisão e manutenção dos equipa-mentos que possibilitem aferições confi áveis para o acompanhamento do desenvolvimento do adolescente.

    Na presença de distúrbios nutricionais, intervenções salutares e acolhedoras devem ser incorporadas às práticas dos profi ssionais de saúde envolvidos na promoção e acompa-nhamento do estado de saúde e nutricional do adolescente.

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    58 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL: ANTROPOMETRIA E CONDUTA NUTRICIONAL NA ADOLESCÊNCIA

    Lourenço et al.