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VI Seminário Internacional Direito e Saúde
X Seminário Nacional Direito e Saúde
Conhecimento e LegitimidadeConhecimento e Legitimidade
Conhecimento científico e a legitimidade dos riscos como uma questão de saúde pública
LD Castiel
Comentários preliminares
Se tiver que comer nove porções de frutas e legumes por dia para viver, eu não quero viver.
Odeio estas malditas frutas e legumes.
E o ômega-3 e a esteira e o eletrocardiograma e a mamografia e a ultra-sonografia pélvica
e, oh, meu Deus, a colonoscopia.
E com tudo isso, chegará o dia em que te colocarão em uma caixa, até vir a próxima geração de idiotas que também irá dizer tudo sobre a vida e definir para você o que é apropriado.
Woody Allen – Whatever Works
(Tudo pode dar certo)
Gravier Productions - 2009
+ ou – 3:00 min de projeção.
04/07/2011 - 06h28
•Que riscos? Que controle?•Riscos mensuráveis – probabilidade de um evento indesejável.Na saúde, riscos epidemiológicos:•Controle: •normativo coletivo (disciplinar) – Ex.: vacinação (prevenção)•normativo individual (comportamental) – controle de peso, colesterol (promoção de saúde)•Os controladores do próprio vôo.•Riscos/prazeres nas formas de se viver e os discursos científicos em tempos de ideologia da cientificidade que estabelece modos corretos - porque mais saudáveis - de se comportar.• A ciência pode normatizar abusivamente o terreno do viver humano.
Colocando o Problema:
• Indivíduos com estilo de vida saudável geram uma população saudável?
• Discutível.• Campanhas de promoção de saúde não fazem
distinções quanto às pessoas e situações específicas, relativas a como as pessoas vivem e se relacionam.
• Tratam a todos como se fossem equivalentes, no interior de categorizações homogeneizadas.
• Convocam indivíduos a assumirem escolhas apropriadas sem considerar pré-condições coletivas para a saúde individual.
• P. ex: 1.000 pessoas em 100.000 morrem de infarto ao ano,
• Pesquisas mostram que se todos se dedicam a exercícios diários, os infartos passam a 700.
• A “saúde da população” cresce 30%...• Mas e a saúde dos indivíduos desta população?• Se começam a exercitar-se, a possibilidade de
não morrer de ataque cardíaco cresce de 99% para 99,3%...
• Quando a questão dos riscos em saúde se coloca, surge a dimensão da necessidade de ensinar as pessoas a fazerem as melhores escolhas.
• Que para serem bem informadas devem ser cientificamente corretas.
• Assim, devem escolher preferencialmente obedecer às normas estabelecidas pela epidemiologia.
• Um pouco de teoria conspiratória para temperar...
VAN LOON – Risco e a cultura tecnológica
• O Risco nos coloca diante de uma sensibilidade apocalíptica/catastrófica na cultura ocidental moderna – a sociedade de risco.
• Riscos expõem a loucura da razão - a propensão auto-destrutiva do pensamento moderno.
• Tomados individualmente, riscos podem ter etiologia inteligíveis, racionais.
• Podem ser razoavelmente descritos, explicados, antecipados e sofrerem intervenções.
• Tomados como fenômeno cumulativo e complexo, os riscos parecem ser bem menos razoáveis.
• Tomados como um fenômeno geral abstrato, os riscos geram um ambiente apocalíptico.
• Ou seja, a racionalidade iluminista é uma aquisição ambivalente.
•Os enfoques racionais são limitados em sua proposta de legitimidade pois seu redutivismo ordena, divide, simplifica e exclui.
•Mais, legitimam-se como produtores indiscutíveis de verdades baseadas em evidências e determinam imperativos éticos sobre o que é bom e o que é mau.
•E definem quem deve ser culpabilizado e quem não deve.
• Abandonando progressivamente a Deus como responsável pelos destinos humanos,
• o homem forçou a si mesmo a prover explicações alternativas para perigos, desastres, calamidades, catástrofes,
• bem como os meios de regulá-las e prevení-las.• Tornando a antecipação em cálculo racional,
perigos puderam ser operacionalizados como riscos em termos de probabilidade.
• E, assim, de controle.
• As consequências inesperadas deste foco por meio da ajustes tecnológicos são vigilância excessiva e monitoramento constante,
• que criam uma cultura de aversão ao risco que pode ser afetada por obsessividade e paranóia.
• Pessoas se sentem avassaladas pela grande quantidade de informação sobre riscos em suas vidas cotidianas.
• Esta sobrecarga torna reações racionais razoáveis ao risco praticamente impossíveis.
• Se tudo é arriscado, então o risco perde seu apelo à sensibilidade.
• A ironia da moderna tecnociência: enquanto procura expandir seu controle sobre as contingências, produz mais contingências.
• Ao invés de um senso de maior segurança, os sistemas tecnológicos de segurança e regulação geraram sensibilidades aumentadas ao risco.
• Então, na atualidade, o risco:
• É uma categoria política/cultural central nas sociedades ocidentais.
• Organiza, monitora e regula indivíduos, grupos sociais e instituições.
• Constitui-se em aspecto central da subjetividade e da existência humana;
• É encarado como algo administrável pela intervenção humana;
• Está associado às noções de escolha, responsabilidade e culpa.
Riscos podem servir como aliados do moderno aparelho de estado.
Riscos foram convocados para:• aumento da alocação de recursos para a
tecnociência,• controle governamental sobre processos sociais,• criação de interesses e espetáculos para a
mediação de massa,• indução de mais necessidades para consumo e,
assim, mais oportunidades para a mercadorização da segurança,
• expansão da lei e aumento da necessidade percebida para o controle e intervenção policial e militar,
• garantia do futuro da humanidade.
• O objeto virtual ‘risco’ é real?
• Só a dimensão probabilística calculável?
• E a dimensão das crenças humanas?
Isto tudo depende dos pressupostos epistemo-filosóficos assumidos.
• Se real = material, presente
• Se real = aquilo que gera realidade (se a realidade também é constituída pela dimensão mítica, simbólica das crenças e do imaginário humano) .
• Assim, o dispositivo de auto-cuidado/prevenção /precaução extensivas , para além de sua efetividade, pode atuar também como uma forma de dar sentido ao novo individualismo.
• O excesso de auto-cuidado dos indivíduos pode fazer com que a vida se confunda com uma série de prevenções e terapias. No limite, a grande meta parece ser o de enganar a velha ceifadora...
QUINO
QUINO
• Assim, tais indivíduos são compelidos:• a seguirem recomendações de auto-
cuidado, • a adotarem comportamentos saudáveis
virtuosos• e a consumirem produtos e expedientes
preventivos como fórmula para a desejada vitalidade longeva
• e minimizar as manifestações do malestar provenientes de aspectos precários dos modos de vida atual.
• A fatorização da morte em riscos demanda vigilância intensa em tempo integral.
• Assim, a presença dosificada da morte se manifesta no dia a dia em função da preocupação com os riscos.
Isto nos conduz a um estudo de caso:Isto nos conduz a um estudo de caso:
Isto nos conduz a um estudo de caso:Os Riscos e as...
Desconstruindo Harry...
...Potter
• As "Relíquias da Morte", três objetos lendários que a Morte deu aos 3 irmãos Peverell para evitá-la:
• a Varinha das Varinhas", a Pedra da Ressurreição e a Capa da Invisibilidade.
• Varinha das varinhas - Elder Wand em inglês e Varinha de Sabugueiro em português. É uma varinha inquebrável e invencível.
• Criada por bruxos capazes de enfrentar a morte. Seu dono poderia ser fraco e com a varinha se tornaria poderoso.
• É passada de bruxo para bruxo, derrotando-se o antigo possuidor.
• A Pedra da Ressurreição foi dada pela Morte ao segundo irmão que resolveu trazer pessoas de volta à vida.
• Ele usou a pedra para que trouxesse à vida a mulher com quem sonhou em se casar, antes de sua morte prematura.
• A mulher apareceu à sua frente, porém fria e triste, pois ao retornar ao mundo dos mortais, não mais lhe pertencia e sofria.
• Levado à loucura, o segundo irmão suicidou-se, para se juntar à mulher que amava.
• Ao terceiro irmão foi dado o manto da invisibilidade.
• O manto impediu que a morte descobrisse onde estava o seu possuidor que morreu na velhice
• E na sua hora foi junto com a morte amigavelmente.
• Será o manto o auto-cuidado em saúde com vistas à longevidade, uma forma de impedir que a morte chegue antes da hora?
Pesquisador Harry Potter e
o Sumo Coordenador do CNPq
de Hogwarts
Em fim, de volta ao princípio - Woody Allen:
Você pode viver para chegar a cem anos de se você desistir de todas as coisas que fizeram você querer viver até os cem anos.
Lucas Cranach – Fonte da Juventude
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