texto_lilian calmon hirdes_estudo da série “ilha rá-tim-bum”
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Sumário
Introdução...............................................................................................................................1
1 – Mapeamento da pesquisa...............................................................................................21.1 – Justificativa Individual...............................................................................................21.2 – Justificativa Geral......................................................................................................21.3 – Objetivos....................................................................................................................41.4 – Metodologia...............................................................................................................9
2 – Os pequenos diante da telinha....................................................................................112.1 – O conceito de infância..............................................................................................112.2 – Seriado “Ilha Rá-Tim-Bum”: aprendizado gradativo.............................................132.3 – Programa “Bom Dia & Cia”: consumidor em potencial..........................................142.4 – Educação: o papel dos pais......................................................................................15
3 – “Ilha Rá-Tim-Bum”: Leitura narrativa.....................................................................173.1 – Argumento...............................................................................................................173.2 – Personagens..............................................................................................................173.3 – Ambiente..................................................................................................................20
4 – “Ilha Rá-Tim-Bum”: Análise formal..........................................................................224.1 – Tratamento formal....................................................................................................224.2 – Recursos formais......................................................................................................22
4.2.1 – Cena “Hipácia se lembra de Arielibã”..............................................................224.2.2 – Cena “Morte de Solek”....................................................................................24
5 – “Ilha Rá-Tim-Bum”: Leitura temática.......................................................................255.1 – Eixos estruturais.......................................................................................................255.2– Grau de universalidade..............................................................................................255.3 – Formulação do tema.................................................................................................275.4 – Envolvimento emotivo.............................................................................................28
Considerações finais............................................................................................................29
Bibliografia..........................................................................................................................32
Anexos –Tabela de organização das fontes.......................................................................34Anexos – Entrevista: Patrícia Konder Lins e Silva..........................................................35Anexos – Decupagem das cenas de “Ilha Rá-Tim-Bum”................................................42Anexos - Ficha técnica: “Ilha Rá-Tim-Bum”.......................................................................48
Introdução
A tecnologia nos meios de comunicação acarreta o desaparecimento da infância ou,
pelo contrário, possibilita um melhor desenvolvimento das potencialidades das crianças?
O livro “Crecer em la era de los médios eletrônicos. Trás la muerte de la infância”1,
do inglês David Buckingham, professor do Instituto de Educação da Universidade de
Londres, debate as implicações dos meios de comunicação eletrônicos para a definição das
experiências culturais das crianças de hoje. Qual postura tomar diante dessa realidade?2
A postura protecionista defende soluções que atribuam a responsabilidade sobre a
influência da programação televisiva na infância aos indivíduos, às famílias, aos pais e às
próprias crianças. Uma outra vertente propõe que as decisões sejam tomadas no âmbito
público das instituições sociais e culturais com a aplicação dos direitos à proteção, à
provisão, à participação e à educação, a fim de garantir qualidade na programação infantil.
David Buckingham acredita que devemos achar uma forma de preparar as crianças
para se desenvolverem e participarem do mundo adulto dos meios de comunicação e, se
necessário, para mudá-lo.
1 BUCKINGHAM, David. Crecer em la era de los médios eletrônicos. Trás la muerte de la infância. Madrid: Ediciones Morata, 2002.2 BORGES, Eliane. “Crescer na era dos meios eletrônicos”. Grupo de Pesquisa em
comunicação e educação da Universidade Federal de Santa Catarina. Disponível em http://www.comunic.ufsc.br/resenhas/res_bucking.htm . Acesso em 11/04/2005 .
1
1 – Mapeamento da pesquisa
1.1 – Justificativa Individual
Escolhi Comunicação Social por acreditar que é possível pensar em uma
contribuição dos meios de comunicação para a transformação da sociedade. Ao definir o
tema para a monografia de conclusão de curso, resolvi focar o meu estudo na televisão, que
está presente em 89,9% dos lares brasileiros, segundo dados da Pesquisa Nacional de
Amostragem por Domicílios (PNAD) de 2002. Além disso, reconhecendo a infância como
uma fase de formação dos valores básicos do ser humano, optei por avaliar a qualidade de
um seriado televisivo voltado para o público infantil.
1.2 – Justificativa Geral
Uma pesquisa do Instituto Ipsos3 entrevistou 5.500 pais e responsáveis por crianças
e adolescentes de 2 a 17 anos em dez países, entre eles Estados Unidos, Reino Unido e
China, perguntando o que seu filho faz todos os dias.
No Brasil, 57% dos 500 entrevistados responderam que seus filhos assistem à
televisão durante pelo menos três horas por dia. Já 31% disseram que seus filhos assistem à
televisão de uma a duas horas por dia. Só 5% falaram que seus filhos não vêem televisão.
Cabe destacar que a televisão está presente em 89,9% dos lares brasileiros e o rádio, em
3 CASTRO, Daniel. 2004. “Superligados na TV – Pesquisa realizada em dez países revela que crianças brasileiras são campeãs em ver televisão”. Sulrádio. Disponível em http://www.sulradio.com.br/destaque_tv_criancas_brasileiras.htm, 17/10/2004. Acesso em 07/04/2005.
2
86%, segundo dados da Pesquisa Nacional de Amostragem por Domicílios (PNAD) de
20024.
Além disso, 43% dos pais brasileiros disseram que seus filhos não ocupam parte
nenhuma de seu tempo lendo livros ou brincando com os amigos, 79% disseram que suas
crianças não praticam esportes coletivos e 69% afirmaram que eles não usam
computadores.
É preciso lembrar, porém, que a pesquisa da Ipsos foi realizada apenas em centros
urbanos como Belo Horizonte, Recife, Rio de Janeiro, São Paulo, e Porto Alegre. O medo
da violência nas ruas explicaria a alta incidência de crianças que não brincam com amigos,
disse Beth Carmona, presidente da TVE Brasil5.
Essa presença dos meios de comunicação no cotidiano das crianças foi discutida por
profissionais da indústria global de mídia, pesquisadores e educadores na 4ª Cúpula
Mundial de Mídia para Crianças e Adolescentes, realizada no Brasil, na cidade do Rio de
Janeiro, de 19 a 23 de abril de 2004.
A Cúpula é uma ação da “World Summit on Media for Children Foundation”, que,
iniciada em 1995, em Melbourne, Austrália, se transformou no mais importante fórum
internacional sobre a qualidade de produção da mídia para crianças e adolescentes6. Em
2007, a 5ª Cúpula Mundial de Mídia para Crianças e Adolescentes será na África do Sul.
4 “Rádio Pela Infância”, 2004. Agência de Notícias dos Direitos da Infância. Nº 65. Disponível em http://www.andi.org.br/noticias/templates/boletins/template_radiopi.asp?articleid=3680&zoneid=25, 04/2004. Acesso em 06/04/2005.
5 CASTRO, Daniel. 2004. “Superligados na TV – Pesquisa realizada em dez países revela que crianças brasileiras são campeãs em ver televisão”.
6 “Informações gerais”. 2004. 4ª Cúpula Mundial de Mídia para Criança e Adolescente. Disponível em http://www.riosummit2004.com.br/. Acesso em 06/04/2005.
3
Durante o encontro, foi apresentado um levantamento realizado pela Faculdade de
Jornalismo da Universidade de los Andes7, no Chile, o qual concluiu que, entre os países
hispano-americanos, não existe uma definição ou um conceito unânime do que seja
qualidade em televisão.
O estudo apontou que, de acordo com a opinião de pais, crianças, anunciantes e
produtores, os critérios para o reconhecimento de bons programas são baseados nas
características positivas e negativas apresentadas.
Os elementos que contribuem para a idéia de qualidade são os conteúdos
educativos, compreensíveis e apropriados à faixa etária, a diversidade de personagens, a
utilização de técnicas criativas e a transmissão de valores positivos.
Já a violência verbal ou física, os conteúdos sexuais (voyeurismo, fetichismo,
exibicionismo ou assédio e contato físico forçado), a linguagem grosseira (conteúdos
ofensivos) e a criação de estereótipos étnicos, raciais ou de gênero são características que
desqualificam os programas.
1.3 – Objetivos
O objetivo deste trabalho é questionar se um programa infantil, além de divertir as
crianças, pode e/ou deve se propor a transmitir valores educativos. Para isso, foi escolhida
como fonte principal a série “Ilha Rá-Tim-Bum”, uma co-produção da TV Cultura com a
7 “Mídia de qualidade: um estudo latino-americano”. 2005. Rio Mídia. Disponível em http://www.multirio.rj.gov.br/riomidia/, 21/03/2005. Acessado em 06/04/2005.
4
Fundação Bradesco, orçada em R$ 10 milhões8, com criação e roteiro de Flávio de Souza e
direção de Maísa Zakzuk e Fernando Gomes.
Com o propósito de unir qualidade de entretenimento à educação, a TV Cultura9, em
1990, lançou a série infantil “Rá-Tim-Bum”, que se tornou um marco do gênero. Ela deu
origem, em 1994, ao Castelo “Rá-Tim-Bum”. Deste momento em diante, teve início um
novo capítulo na história da TV Cultura e da programação voltada ao público infantil. Em
1996, foi lançado o programa “Cocoricó” e, em 2002, o seriado “Ilha Rá-Tim-Bum”, que
ganhou o I Prêmio Criança do Brasil, em 11 de novembro de 2002, em São Paulo, como o
melhor programa cultural para crianças da televisão brasileira10.
A série “Ilha Rá-Tim-Bum” é exibida pela TVE Brasil e pela TV Cultura de
segunda a sexta-feira, às 14h30m, com meia hora de duração. O estudo será realizado com
base nos programas exibidos nos dias 21, 22, 23, 24 e 25 de março de 2005 pela TVE
Brasil. Portanto, o volume de material pesquisado corresponde a duas horas e meia.
Os 54 episódios contam a história de cinco jovens nascidos em São Paulo que,
perdidos no mar, chegam a uma ilha desconhecida. Sem ter como ir embora, Gigante,
Rouxinol, Majestade, Raio e Micróbio vão viver grandes aventuras. A história é narrada
8 DIONISIO, Rodrigo. 2002. “‘Ilha’ (enfim) estréia na Cultura”. Observatório da Imprensa. Disponível em http://novaescola.abril.com.br/ed/157_nov02/html/de_olho.htm, 30/06/2002. Acesso em 11/04/2005.
9 “TV Rá-Tim-Bum”. TV Cultura. Disponível em http://www2.tvcultura.com.br/publicidade/hotsite/tvratimbum/noticia_tvratimbum.especial.SET04.pdf . Acesso em 06/04/2005.
10 “Prêmios da TV Cultura”. TV Cultura. Disponível em http://www.tvcultura.com.br/tvcultura/sobretv/premios.htm. Acesso em 06/04/2005.
5
pelos bichos Rá, um tatu, Tim, um passarinho, e Bum, um bicho-preguiça. A série é
voltada para um público de crianças entre 7 e 11 anos11.
Em meio às dificuldades para sobreviver na luta do Bem contra o Mal, os heróis
aprendem que precisam se juntar e deixar de lado as diferenças para vencer o vilão Nefasto,
um micróbio gigante que quer acabar com a humanidade.
De acordo com as informações destinadas a pais e educadores12, as situações
apresentadas na série “Ilha Rá-Tim-Bum” pretendem contribuir para a formação emocional
adequada à convivência em grupo. Cabe questionar, por meio da análise a ser feita, se a
produção da TV Cultura alcança esses objetivos aos quais se propôs e de que maneira.
A página eletrônica da série tem a intenção de complementar o conteúdo abordado
na televisão. Nela, encontram-se informações sobre várias áreas do conhecimento como
História, Matemática e Ecologia. Além disso, há jogos educativos que visam estimular o
raciocínio lógico e a construção de conhecimento de forma lúdica. Para a TV Cultura, a
televisão e a Internet são veículos que podem se complementar e enriquecer o processo
educativo.
No quadro abaixo, nota-se o perfil do telespectador da série “Ilha Rá-Tim-Bum” e o
perfil do programa infantil “Bom Dia & Cia”, do SBT, que será o material de comparação
da pesquisa, exibidos no 4º trimestre de 2004, segundo o Ibope-Telereport.
11 “Informações para pais e educadores”. Ilha Rá-Tim-Bum. Disponível em http://www.ilharatimbum.com.br/pais-profs/paiseprofessores.htm. Acesso em 06/04/2005.
12 “Informações para pais e educadores”. Ilha Rá-Tim-Bum. Disponível em http://www.ilharatimbum.com.br/pais-profs/paiseprofessores.htm. Acesso em 06/04/2005.
6
O “Bom Dia & Cia” é exibido de segunda a sexta-feira, das 9h às 12h45m, com
produção geral de Thais da Costa Bastos e produção de Juliana Vieira Soares. A direção de
produção é de Leon Abravanel Jr. Os programas transmitidos nos dias 29, 30, 31 de março
e 01 e 04 de abril serão citados durante a pesquisa.
Perfil da Audiência – ILHA RÁ-TIM-BUM
Adh% Classe Social Sexo Idade Panregional - 2001
UNIVERSO GSP A/B C D/E Masculino Feminino 04 a 11 12 a 17 18/24 25/34 35/49 50+
100 15 36 49 47 53 43 12 7 17 14 7
Perfil da Audiência – BOM DIA & CIA
Adh% Classe Social Sexo Idade Panregional - 2001
UNIVERSO GSP A/B C D/E Masculino Feminino 04 a 11 12 a 17 18/24 25/34 35/49 50+
100 19 49 32 49 51 33 19 11 15 15 8
Observação: A Idade Panregional - 2001 refere-se a uma alteração dos critérios de faixa etária realizada
naquele ano.
Abaixo, estão os dados de audiência do seriado “Ilha Rá-Tim-Bum”, segundo o
Ibope-Telereport, com a seguinte base: médias de dados domiciliares, no 4º trimestre de
2004, na Grande São Paulo. A primeira linha do quadro indica as médias do período. A
segunda linha aponta os maiores índices alcançados no período13.
13 Informações fornecidas pela área de planejamento estratégico da TV Cultura.
7
rat% rat# tvr% tvr# shr% rch% rch#
1,9 93,7 39,6 1960,8 4,8 4,1 202,7
3,5 170,6 46,2 2290,0 7,5 6,6 325,9
Rat: audiência, sendo em % em relação ao universo e em números absolutos de domicílios (#). Ou
seja, em média são 93.700 domicílios a assistir ao seriado “Ilha Rá-Tim-Bum”.
TVR: porcentagem e número absoluto de aparelhos ligados no horário. Em média, no horário do
seriado “Ilha Rá-Tim-Bum” estão ligados 39,6% dos aparelhos de televisão.
SHR: Share ou participação sobre os ligados. O seriado “Ilha Rá-Tim-Bum” atinge 4,8% dos
aparelhos ligados em seu horário.
RCH: Reach ou Alcance. Representa o quanto de domicílios do universo são atingidos em
determinado período. Chama-se também de Audiência Acumulada. Ou seja, em três meses, o
programa alcança cerca de 4,1% de todos os domicílios da Grande São Paulo, o que representa 202
mil domicílios.
Pela tabela de preços da TVE Brasil14, o valor do anúncio no intervalo do seriado
“Ilha Rá-Tim-Bum”, para o mercado nacional, é de R$ 2.564,10 com base em 30 segundos.
Como comparação, o preço do comercial no intervalo do programa infantil “Bom Dia &
Cia”, para o mercado nacional15, é de R$ 14.416 com base em 30 segundos. O valor do
anúncio no intervalo do “Sítio do Picapau Amarelo” da Rede Globo16, para o mercado
nacional, é de R$ 17.920 com base em 30 segundos.
14 “TVE Brasil – Marketing”. TVE Brasil. Disponível em http://www.tvebrasil.com.br/newsletter/tab_preco_nacrb.html. Acesso em 06/04/2005.
15 Informações fornecidas pelo Departamento Comercial do SBT. Preços válidos a partir de abril de 2005.16 Informações fornecidas pela Direção Geral de Comercialização da Rede Globo. Preços válidos de 1º de abril a 30 de setembro de 2005.
8
1.4 – Metodologia
Desde o início, já tinha em mente o interesse de pesquisar algum programa
televisivo relacionado à infância. Dessa forma, a primeira etapa consistiu na escolha do
programa “Ilha Rá-Tim-Bum”. Em seguida, como material comparativo, escolhi o
programa “Bom Dia & Cia”.
Como já havia lido, há alguns anos, o livro A televisão levada a sério17 de Arlindo
Machado, tratei de buscar uma nova fonte bibliográfica ligada à história do conceito de
infância, a fim de complementar o meu estudo. Recebi, do amigo e jornalista Sergio Souto,
a indicação do livro O Desaparecimento da Infância18 do norte-americano Neil Postman.
Para fonte de pesquisa, utilizei, também, a Internet, com destaque para as páginas
eletrônicas do “Ateliê da Aurora – criança, mídia & imaginação”19, “Midiativa – Centro
Brasileiro de Mídia para Crianças e Adolescentes”20, “ANDI – Agência de Notícias dos
Direitos da Infância”21 e “Rio Mídia – Centro Internacional de Referência em Mídias para
Crianças e Adolescentes”22.
Considerei relevante entrevistar a pedagoga Patrícia Konder Lins e Silva, diretora e
orientadora pedagógica da Educação Infantil e do Ensino Fundamental I da Escola Parque
(Gávea – Rio de Janeiro), que já foi consultora de programas infantis como, por exemplo, o
programa “Teca na TV”, do Canal Futura. Por mensagem eletrônica, tentei entrevistar
Maísa Zakzuk, que dirigiu o seriado “Ilha Rá-Tim-Bum”, no entanto, não recebi resposta.
17 MACHADO, Arlindo. A televisão levada a sério. São Paulo: Senac, 2000.18 POSTMAN, Neil. O Desaparecimento da Infância. Tradução de Suzana Menescal de A.
Carvalho e José Laurenio de Melo. Rio de Janeiro: Graphia, 1999. 19 http://www.aurora.ufsc.br/aurora.htm20 http://www.midiativa.tv/index.php/midiativa/content/view/full/9821 http://www.andi.org.br/22 http://www.multirio.rj.gov.br/riomidia/
9
Como metodologia para o exame do programa, tive como base os capítulos 12 e 13
do livro Televisão e educação23 de Joan Ferrés, os quais abordam o método para a análise
crítica de séries e filmes de televisão.
Ao longo da realização desse trabalho, por meio das pesquisas estudadas, pude notar
com mais clareza a forte presença da televisão na rotina das crianças e, conseqüentemente,
ratifiquei a idéia de que é necessário um cuidado especial ao se pensar a criação de um
programa voltado para o público infantil.
23 FERRÉS, Joan. Televisão e educação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.
10
2 – Os pequenos diante da telinha
2.1 – O conceito de infância
Para servir como base teórica para o estudo da televisão, foi escolhido o livro A
televisão levada a sério24 de Arlindo Machado, professor do Programa de Estudos Pós-
graduados em Comunicação e Semiótica da PUC/SP e do Departamento de Cinema, Rádio
e Televisão da ECA/USP.
O autor parte do pressuposto de que a televisão e qualquer outro meio de
comunicação não estão destinados a ser algo necessariamente bom ou ruim. Ele vai contra a
idéia de que só existe banalidade na televisão, porque, na verdade, o fenômeno da
banalização é resultado da apropriação industrial da cultura, podendo, assim, atingir
qualquer forma de produção intelectual do homem25.
Ao decidir o que vamos ver ou fazer na televisão, ao eleger experiências que vão merecer a nossa atenção e o nosso esforço de interpretação, ao discutir, apoiar ou rejeitar determinadas políticas de comunicação, estamos, na verdade, contribuindo para um conceito e uma prática de televisão. O que esse meio é ou deixa de ser não é, portanto, uma questão indiferente às nossas atitudes com relação a ele26.
Para estudar o tema da infância, optou-se pelo livro O Desaparecimento da
Infância27 do norte-americano Neil Postman, professor titular do Departamento de
Comunicação da Universidade de Nova York. A principal tese do autor é que a infância
está em fase de extinção. Na primeira parte de sua obra, é descrito o surgimento do conceito
de infância.
No mundo medieval, a idéia de infância não era necessária, porque jovens e velhos
compartilhavam o mesmo mundo social e intelectual. No entanto, com a invenção da
24 MACHADO, op. cit.25 MACHADO, Arlindo. Idem, ibdem, p. 9 e 12.26 MACHADO, Arlindo. Idem, ibdem, p. 12.27 POSTMAN, op.cit.
11
prensa tipográfica, um novo mundo simbólico foi criado, exigindo, assim, uma nova
concepção da idade adulta.
A partir de então, os jovens, para se tornarem adultos, precisariam aprender a ler e,
conseqüentemente, fazer parte do mundo da tipografia. A natureza especial da infância
passou a ser a aprendizagem na escola.
O que tinha acontecido – a mudança estrutural subjacente – era que por meio da tipografia e sua serva, a escola, os adultos adquiriram um controle sem precedentes sobre o ambiente simbólico do jovem, e estavam, portanto, aptos e convidados a estabelecer as condições pelas quais uma criança iria se tornar adulto28.
Com o desenvolvimento do conceito de infância, a sociedade passou a ocultar dos
jovens uma coleção de segredos sobre relações sociais, relações sexuais, dinheiro,
violência, doença e morte. A tarefa do adulto passou a ser, então, a preparação da criança
para a administração do mundo simbólico adulto, visto que o acesso a determinadas
informações era justamente o que separava os dois mundos29.
Para Neil Postman, a paternidade da era sem crianças poderia ser atribuída a Samuel
Morse, por ter sido o principal responsável pelo envio da primeira mensagem elétrica
pública no mundo30. O telégrafo, assim, mudou a qualidade e a quantidade das informações
às quais as crianças teriam acesso. No entanto, a fronteira entre o que era ser adulto e o que
era ser criança foi se diluindo, de fato, com a chegada da televisão, que só requer aptidões
naturais e o entendimento da fala.
As crianças são um grupo que não sabem certas coisas que os adultos sabem. Na Idade Média não havia crianças porque não havia para os adultos meio de contar com informação exclusiva. Na Era De Gutenberg surgiu esse meio. Na Era da Televisão ele se dissolveu31.
28 POSTMAN, Neil. Idem, ibdem, p. 59.29 POSTMAN, Neil. Idem, ibdem, p. 64.30 POSTMAN, Neil. Idem, ibdem, p. 82.31 POSTMAN, Neil. Idem, ibdem, p. 99.
12
Para Neil Postman, a idade adulta significa mistérios e segredos descobertos. Se a
mídia eletrônica fornece a mesma informação para todos, não há qualquer tipo de mistérios
e segredos a serem desvendados pelos jovens.
2.2 – Seriado “Ilha Rá-Tim-Bum”: aprendizado gradativo
Na série “Ilha Rá-Tim-Bum”, os cinco jovens vivenciam a passagem da infância
para o mundo adulto enfrentando, a cada episódio, um novo desafio para a sobrevivência do
grupo. Por meio dessas experiências, eles aprendem lições e, paulatinamente, vão
conhecendo os segredos dos adultos como, por exemplo, a morte do amigo Solek, um
lagarto sapiens. A estadia na ilha pode ser entendida como uma “escola ao ar livre”,
ensinando a eles sobre a reflexão e a construção do conhecimento, o estímulo ao
desenvolvimento de uma personalidade atuante e transformadora e o incentivo à busca de
mudanças para uma melhor qualidade de vida, tanto pessoal quanto coletiva32.
Cabe destacar que o amadurecimento emocional dos jovens é construído pouco a
pouco, visto que, como destacou Neil Postman, “mas é claro que se despejarmos sobre as
crianças uma vasta quantidade de material adulto da pesada, a infância não poderá
sobreviver”33. Assim, pode-se dizer que o seriado “Ilha Rá-Tim-Bum” acredita na idéia de
que as crianças não possuem o conhecimento dos adultos e, portanto, devem ser ensinadas a
lidar com a descoberta desses mistérios de maneira gradativa.
32 “Informações para pais e educadores”. Ilha Rá-Tim-Bum. Disponível em http://www.ilharatimbum.com.br/pais-profs/paiseprofessores.htm. Acesso em 06/04/2005.33 POSTMAN, op.cit, p. 102.
13
2.3 – Programa “Bom Dia & Cia”: consumidor em potencial
O programa “Bom Dia & Cia”, do Sistema Brasileiro de Televisão (SBT), é
apresentado por Kauê Satin, de 13 anos, e Jéssica Esteves, de 12 anos. Eles são os
responsáveis por fazerem as “chamadas” dos desenhos animados, os quais são as maiores
atrações do programa. Além disso, os dois apresentadores dançam músicas infantis e
contam, diariamente, uma história, cuja lição de moral é explicada por eles. O cenário do
programa é composto por uma estante enfeitada com brinquedos e ursos de pelúcia e por
um painel de fotos e desenhos enviados pelos telespectadores.
Apesar de terem 13 e 12 anos, eles se comportam de maneira mais infantil do que o
esperado. Em seus diálogos, são repetidas, a toda hora, expressões como “demais”, “super”,
“muito divertido”, “eu estou adorando muito” e “vocês vão se divertir bastante”. As
músicas cantadas, a maneira de dançar e o tom de voz de ambos se assemelham aos de uma
criança de, aproximadamente, seis anos.
A inserção de anúncios publicitários é freqüente no programa “Bom Dia & Cia”.
No dia 01/04/2005, por exemplo, a apresentadora afirma que precisa dar um “super
recadinho” aos telespectadores, um novo produto chamado “Toddynho cremoso”.
Durante o programa exibido em 29/03/2005, após explicarem a lição de moral da
história contada, eles emendam com o anúncio de livros de histórias vendidos pelo Baú da
Felicidade. O Baú faz parte do Grupo Sílvio Santos, o qual é formado, também, pela
Liderança Capitalização, responsável pelo título Tele Sena, o banco Panamericano, o
Teatro Imprensa, a Perícia de Seguros, o Centro de Serviços Compartilhados, a Produtora
14
Promolíder e o Sistema Brasileiro de Televisão (SBT)34. Abaixo, segue a transcrição desse
diálogo:
Kauê: Eu estava aqui pensando e concordo com a coruja Lucrécia, a nossa imaginação pode nos levar para qualquer lugar. Jéssica: Mas nós podemos ajudar a nossa imaginação lendo um livro, que é muito importante para a nossa vida. E falando em livro, eu aposto que vocês aí de casa estão querendo saber como conseguir os livrinhos de historinhas do Baú, não é verdade Kauê?Kauê: Com certeza, Jéssica! Para levar o seu livrinho de histórias do Baú junto com um cd ou fita cassete basta comprar um carnê do Baú. E o carnê está à venda nas lojas e representantes do Baú, nas lotéricas, nos correios, nas agências do Banco Panamericano e também com os vendedores que batem à sua porta.Jéssica: Aí, pessoal, vocês viram como é fácil conseguir os seus livrinhos. Então, não percam mais tempo, peçam logo para a mamãe.
Como afirmou a professora da Faculdade de Educação da Universidade do Estado
do Rio de Janeiro (UERJ), Rita Ribes, que, a partir de 1980, a criança assumiu um novo
lugar social na relação com os adultos. Assim, o público infantil passou a ser visto como
cliente e não filho do cliente. Segundo ela, antigamente, os anúncios diziam “Não esqueça
do seu filho! Ele quer! Compre para o seu filho!” e, hoje em dia, o discurso é voltado
diretamente para as crianças35.
2.4 – Educação: o papel dos pais
Com relação à influência dos programas televisivos na vida da criança, a pedagoga
Patrícia Konder Lins e Silva (ver anexo com a íntegra da entrevista) diz que os pais têm um
papel fundamental na educação do filho, dando-lhe a direção desejada para a sua criação.
34 “Grupo Sílvio Santos”. Baú da Felicidade. Disponível em http://www.bau.com.br/grupo_ss/default.asp. Acessado em 18/06/2005.
35 “Encontros com a Mídia”. Rio Mídia. Disponível em http://www.multirio.rj.gov.br/riomidia/. Acessado em 18/06/2005.
15
A TV faz parte da vida toda, não adianta você impedir a criança de ver televisão. Se você não for um bom educador, pode até jogar a TV fora que a criança não vai ser mais bem educada por causa disso. Não é a TV que vai transformá-la em mal educada36.
Segundo a pedagoga, da mesma forma que os pais criticam o que acontece no
mundo com argumentações diversas, eles devem dizer ao filho, de uma maneira natural, o
que achou do que foi visto na televisão. Assim, por mais que a criança continue a assistir a
um programa de má qualidade, o comentário feito acaba sendo absorvido por ela. “Você
educa a criança num todo”, afirma.
Por sua experiência como consultora de programas infantis, Patrícia define
qualidade como o cuidado no momento de escolher e abordar os temas exibidos, seguindo o
politicamente correto, mas sem ser moralista. “Em um programa infantil, você tem que
tomar muito cuidado com o que vai ser dito para a criança. E, ainda por cima, não pode ser
chato. O que é dificílimo”, destacou.
Essas novas gerações são tomadas por imagens. Eu posso até ficar muito triste, porque na minha geração tinha a leitura – e nada substitui a leitura como exercício de imaginação, de refletir, – mas eu não posso ficar chorando um passado que se foi. Eu reconheço que a imagem venceu37.
36 SILVA, Konder Lins e, Patrícia. 2005. Diretora e orientadora pedagógica da Educação Infantil e do Ensino Fundamental I da Escola Parque (Gávea - Rio de Janeiro). Entrevista realizada em 10 de maio.
37 SILVA, Konder Lins e, Patrícia. 2005. Diretora e orientadora pedagógica da Educação Infantil e do Ensino Fundamental I da Escola Parque (Gávea - Rio de Janeiro). Entrevista realizada em 10 de maio.
16
3 – “Ilha Rá-Tim-Bum”: Leitura narrativa
3.1 – Argumento
A história do seriado “Ilha Rá-Tim-Bum” tem início quando cinco jovens, atrasados
para uma apresentação de coral numa ilha próxima, resolvem pegar uma lancha para
alcançar seus companheiros de canto. No entanto, sem prever que o combustível da
embarcação acabaria, Gigante, Rouxinol, Majestade, Raio e Micróbio ficam à deriva.
Em um determinado momento, Raio descobre uma ilha que, segundo Micróbio, não
figura em nenhum mapa pesquisado pela sua enciclopédia virtual. Eles vão parar nesse
lugar recém-descoberto povoado por bichos esquisitos e dominado por um monstro
maníaco. Sem ter como ir embora, os personagens vão viver grandes aventuras.
O argumento da série é que os cinco heróis, em meio às dificuldades para a
sobrevivência, terão que se unir para vencer o vilão Nefasto. Além disso, terão que
aprender a conviver em grupo.
3.2 – Personagens
Os personagens da série podem ser divididos em heróis, amigos, vilões, inimigos e
narradores. Os amigos são Solek, um tipo evoluído, simpático e muito inteligente de lagarto
sapiens, Hipácia, a única humana da ilha, uma matemática muito sábia, Suzana, a cobra
emplumada, Nhã-Nhã-Nhã, a aranha gigante, em quem o instinto, às vezes, fala mais alto, e
a família dos monstrinhos Coiso, com a esposa Coisa e o filho Coisinha.
Os vilões são o feiticeiro Arielibã, que, tentando fazer clones de si mesmo para
povoar o planeta Terra, causou o acidente genético que deu vida a Nefasto. Do tamanho de
um ser humano adulto, Nefasto deseja usar os heróis para estudar a melhor maneira de levar
17
a humanidade à autodestruição. Os inimigos são Polca, uma lagarta, Zabumba, um temível
zangão, que controla toda a ilha com câmeras, Brurgue, a planta carnívora, e Vrunja, a
lontra chifruda.
Os narradores são os bichos Rá, um tatu, Tim, um passarinho, e Bum, um bicho-
preguiça. Os heróis são Gilberto Soares, Rosana Pereira da Silva, Maíra Rocha, Ramiro
Serrano e Milton Pereira da Silva.
São eles (os personagens) que fazem a história avançar e os que lhe emprestam significação. A leitura narrativa exige a análise dos personagens, daquilo que eles são em um sentido primário e do que representam no conjunto da história38.
Gilberto Soares é um garoto de quinze anos, o mais velho da turma, que recebeu o
apelido de Gigante por ter crescido rápido. Ele é esportista e possui um forte espírito de
liderança. O esporte trouxe para a sua vida muita disciplina, confiança em si próprio e nos
outros. Fisicamente, é branco, alto, magro, tem cabelo louro e olhos azuis.
Já trabalhou como “office-boy” e como monitor de acampamento. Para conquistar
os seus objetivos, ele planeja, desenha e cria esquemas para cada ação. Essa é a maneira,
segundo ele, de ter tudo sob controle. Os seus passatempos são os esportes e o desenho. O
seu objeto é um caderno de desenho. Os seus ídolos são os esportistas em geral. A sua frase
é “É fogo, torcida brasileira!”.
Rosana Pereira da Silva, de quatorze anos, é filha de empresários e uma típica
adolescente da classe média e alta paulistana. O seu apelido é Rouxinol, porque possui uma
voz privilegiada para o canto. Fisicamente, é branca, de estatura mediana, magra, tem
cabelo preto, liso e comprido e olhos negros.
38 FERRÉS, op. cit, p. 137.
18
É consumista, ingênua e romântica. No entanto, questiona se realmente precisa de
tudo que compra. Os seus passatempos são passear no shopping para conhecer as novidades
e comer chocolate. O seu objeto é uma bolsinha. O seu ídolo é a cantora americana Britney
Spears. A sua frase é “Muito prazer, Rouxinol”.
Com doze anos, Maíra Rocha pretende ser escritora e, se possível, “majestade” de
algum país, o que inspirou o seu apelido de “Majestade”. Ela é filha de um professor
universitário e de uma bailarina. Fisicamente, é negra, de estatura mediana, magra, tem
cabelo preto encaracolado e olhos pretos.
Maíra quer sempre saber o motivo de tudo o que ocorre e faz questão de apresentar
suas idéias. Para ela, o seu forte é escrever. Ela registra em seu diário tudo o que pensa. Ao
escrever, o que estava confuso em sua cabeça, torna-se mais organizado e, assim, ela acaba
conseguindo entender melhor o que acontece ao seu redor. O seu passatempo é escrever. O
seu objeto é um diário secreto. O seu ídolo é a rainha Cleópatra. A sua frase é “Me inclua
fora dessa!”.
Ramiro Serrano, um garoto de dez anos, foi apelidado de Raio por ser rápido para
ter grandes idéias. Ele possui uma imaginação delirante, e, por isso, vive mais na fantasia
do que na realidade.
Ramiro gosta de inventar palavras e de fazer pergunta sobre tudo e sobre todos. Ele
diz ter vocação para ser repórter. Com ajuda do câmera Micróbio, os dois fizeram
reportagens sobre a ilha desconhecida. Eles sonhavam vender esse material um dia e, desse
modo, ficarem ricos.
Fisicamente, é negro, de estatura mediana, magro, tem cabelo curto encaracolado e
olhos pretos. O seu passatempo é a música. O seu objeto é um aparelho de som. Os seus
ídolos são Prince, Winton Marsalis e Bach. A sua frase é “Tudo de bom para você”.
19
O mais novo da turma é Milton Pereira da Silva, irmão caçula de Rouxinol,
apelidado de Micróbio. Ele é muito estudioso e, também, muito medroso. Por ser muito
curioso, não se separa da sua enciclopédia virtual Elencyclo, que o ajuda a conhecer o
mundo. Fisicamente, é branco, de estatura mediana, magro, tem cabelo preto curto e olhos
pretos.
Milton gosta de fazer experiências, porque, ao observar o que acontece, descobre
muito sobre o mundo em que vive. O seu passatempo é estudar. O seu objeto é a
enciclopédia virtual chamada Elencyclo. Os seus ídolos são Isaac Asimov, Carl Sagan,
Einstein. A sua frase é “Desculpe se eu nasci”.
É conveniente analisar o que representam os heróis dos filmes e das séries, detectar os valores que assumem. Em seus mitos, as culturas e as sociedades manifestam os seus valores mais preciosos39.
3.3 – Ambiente
A história do seriado se passa numa ilha localizada no meio do oceano atlântico, que
não está registrada nos mapas. O local é habitado por bichos muito diferentes daqueles que
os jovens estão acostumados. A vegetação também é diferente, ou seja, o que,
normalmente, é grande, na ilha, é pequeno. As cores são trocadas ou estranhas, como, por
exemplo, flores verdes com caules roxos. Algumas plantas só existem naquele lugar. Tal
ambiente contribui para a criação de um clima de aventura, suspense e mistério. Os cinco
heróis terão que aprender a desvendar e a explorar esse novo lugar.
Por estarem sozinhos em uma ilha desconhecida, eles têm a possibilidade de se
comportar da maneira que considerarem melhor, sem estarem presos às normas impostas
39 FERRÉS, Joan. Idem, ibdem, p. 137.
20
por seus familiares e professores. Eles se encontram, portanto, livres e expostos a todo o
tipo de acontecimentos.
A chegada dos jovens à ilha acabou por transformar a realidade da mesma. Eles irão
produzir a desestabilização da situação inicial da história. Até então, não acontecia nada de
novo no local há muito tempo.
Na ilha Rá-Tim-Bum, há cinco cenários bem definidos: a torre de Nefasto, a
caverna dos Coisos, a árvore da Hipácia, a teia da Nhã-nhã-nhã e o canto do Solek (ver
anexo).
21
4 – “Ilha Rá-Tim-Bum”: Análise formal
4.1 – Tratamento formal
De acordo com o tratamento formal dado ao seriado “Ilha Rá-Tim-Bum”, o gênero é
de aventura. O estilo é de comédia, considerada como o instrumento para distrair o público
enquanto o conhecimento é transmitido. O tom da série pode ser considerado divertido.
4.2 – Recursos formais
Nesta etapa, pretende-se observar a utilização dos recursos visuais – planos,
ângulos, composição, movimentos de câmera, iluminação, cor e truques – e sonoros –
diálogos, músicas e efeitos sonoros – utilizados na filmagem de “Hipácia se lembra de
Arielibã” (cena 7) e “Morte de Solek” (cena 11).
O motivo dessa escolha deve-se ao fato de que nessas cenas, especificamente, são
utilizados diversos recursos visuais e sonoros, a fim de intensificar o significado do que
está sendo trabalhado pelos personagens.
4.2.1 – Cena “Hipácia se lembra de Arielibã”
No episódio “Pela bondade, beleza e verdade!”, o recurso de “flash-back” é
utilizado para fazer com que a personagem Hipácia se lembre de um momento, revelando
algo do passado. A câmera, ao se aproximar do rosto da personagem, perde o foco e torna-
22
se branca. O "fade out" é o escurecimento ou clareamento gradual da imagem partindo da
sua intensidade normal de luz40.
Nesse momento, é feita a passagem para a cena que está sendo recordada. Nela, as
ações de Arielibã, em um laboratório, são apresentadas ao som de uma música de mistério.
Quando ele cita os seus experimentos, uma máquina diferente é exibida.
No momento da briga entre os dois, Hipácia é empurrada e cai em cima de uma
manivela. As imagens passam a ser exibidas em “slow motion”, isto é, em movimento
retardado41.
A máquina envia um raio para o pote, que está nas mãos de Arielibã, o qual o deixa
cair. Ele passa a sentir que está mudando e, por isso, o enfoque é dado para as suas mãos,
que começam a tomar a forma física característica do vilão Nefasto. O telespectador pode
notar que um dos olhos do personagem está verde.
A partir desse instante, com o objetivo de destacar a mutação do personagem, são
utilizados luzes, sons e feitos especiais. Surgem purpurinas e o personagem em mutação é
envolvido por redemoinhos rosas. Quando Hipácia põe as mãos no queixo, assinalando uma
reação de surpresa, há uma “piscada” branca e a história volto para o tempo que estava
anteriormente.
40 “Vocabulário do roteirista”. Roteiro de Cinema – o portal do roteiro cinematográfico. Disponível em http://www.roteirodecinema.com.br/manuais/vocabulario.htm . Acesso em 13/06/2005.
41 “Vocabulário do roteirista”. Roteiro de Cinema – o portal do roteiro cinematográfico. Disponível em http://www.roteirodecinema.com.br/manuais/vocabulario.htm . Acesso em 13/06/2005.
23
4.2.2 – Cena “Morte de Solek”
No episódio “Haluma Kaii”, o personagem Solek, que vinha sofrendo durante os
dois últimos episódios, acaba morrendo. Enquanto os jovens estão ajoelhados ao seu redor,
pode ser ouvida uma música de ninar criança. A câmera, partindo dos pés, foca a ferida do
personagem, que aparece em um vermelho brilhante.
Até então, a cena se passava à noite, ou seja, em um ambiente escuro. No entanto,
Solek pede para que os jovens “chamem” algo indefinido, a fim de que ele não faça a
passagem para a morte no escuro.
Assim, os jovens, após darem alguns passos, fazem um movimento de erguer as
mãos da terra para o céu e, depois, do céu de volta para a terra. A câmera mostra Solek de
olhos fechados. A partir desse instante, o ambiente torna-se claro e iluminado. Solek abre
os seus olhos e diz a frase lema do seriado “Haluma Kaii”, que quer dizer “viva a vida”.
Com as mãos, o personagem Gigante fecha, finalmente, os olhos do amigo.
24
5 – “Ilha Rá-Tim-Bum”: Leitura temática
5.1 – Eixos estruturais
No seriado “Ilha Rá-Tim-Bum”, cada episódio tem um tema e um enredo com
começo, meio e fim, o que é chamado de enredo vertical. No entanto, a série também
apresenta um enredo horizontal, isto é, os segredos vão sendo revelados no decorrer dos 54
capítulos. Os episódios, assim, são apresentados em ordem cronológica.
A primeira fase da leitura temática consiste em descobrir os eixos estruturais, considerados como sendo as linhas de força ou constantes ideológicos em torno das quais são organizados os núcleos narrativos. O fato de ser estruturado o filme ou o capítulo da série em blocos narrativos permite descobrir constantes que vão se repetindo nos diversos blocos. Os eixos estruturais conferem unidade e coerência à estrutura narrativa42.
O eixo narrativo principal da série é o confronto constante entre o vilão do Mal (ver
anexo “Cena 1: Nefasto é informado sobre a chegada de seres humanos na ilha”) e os cinco
heróis do Bem (ver anexo “Cena 2: Nhã-nhã-nhã avisa Hipácia sobre a chegada dos jovens
na ilha”).
A cada episódio, a constante a se repetir é a necessidade do grupo de colegas salvar
o integrante que está em situação de perigo (ver anexo “Cena 5: Maíra é cumprimentada
pelos amigos”). O fato de a série ter sido estruturada com um enredo vertical e um enredo
horizontal facilita a constatação desse eixo.
5.2– Grau de universalidade
Na segunda fase da leitura temática, é dado mais um passo no processo de
generalização ou abstração.
É preciso observar se a história, os personagens e as situações admitem um certo grau de universalidade, um certo grau de abstração, de simbolismo. Ou seja, é preciso descobrir se eles
42 FERRÉS, op. cit, p. 138.
25
têm valor somente na sua singularidade e individualidade ou permitem uma interpretação mais ampla, se podem ser considerados símbolos43.
No episódio inicial da série, já na primeira aparição dos narradores, eles chamam a
atenção dos telespectadores para o fato de que o seriado trata de uma história antiga, ou
seja, da luta do Bem contra o Mal. A diferença, segundo eles, é o modo como a história é
contada, o qual é considerado moderno, visto que o começo, o meio e o fim não são
apresentados em seqüência cronológica.
Cada um dos personagens encarna uma característica específica. Gigante encarna a
função de líder do grupo. Raio é apresentado como o divertido e o imaginativo e Majestade
é vista como a questionadora. Rouxinol é quem toma a iniciativa de manter tudo em ordem.
Micróbio é o mais inteligente da turma, por exemplo, cita frases consagradas de grandes
escritores. (ver anexo “Cena 3: Turma avista a Ilha”). Dessa forma, como afirmou Joan
Ferrés44, os personagens superam uma dimensão definida para adquirirem uma dimensão
nova com um valor acrescido.
A grandeza de algumas obras de arte narrativa reside, em grande parte, no fato de que, funcionando perfeitamente como histórias concretas e tornando-se absolutamente verossímeis como tais, transcendem-se a si mesmas. A concretização, sem perder o seu valor como tal, se enriquece como valor acrescido pelo simbolismo (Dom Juan, como símbolo do conquistador, e Otelo como símbolo do ciúme)45.
5.3 – Formulação do tema
De acordo com Jean Ferrés, a leitura narrativa, a análise formal e a leitura temática
preparam o terreno para a formulação do tema, compreendido como intenção final dos
autores ou como a significação final da história46.
43 FERRÉS, Joan. Idem, ibdem, p. 139.44 FERRÉS, Joan. Idem, ibdem, p. 139.45 FERRÉS, Joan. Idem, ibdem, p. 139.46 FERRÉS, Joan. Idem, ibdem, p. 139.
26
No seriado “Ilha Rá-Tim-Bum”, o tema geral é a solidariedade (ver anexo “Cena 8:
Polca e Suzana conversam entre si”).
4. Sentido moral que vincula o indivíduo à vida, aos interesses e às responsabilidades dum grupo social, duma nação, ou da própria humanidade. 5. Relação de responsabilidade entre pessoas unidas por interesses comuns, de maneira que cada elemento d grupo se sinta na obrigação moral de apoiar o(s) outro(s)47.
Para o criador e roteirista do programa, Flávio de Souza48, a idéia é mostrar a
importância da solidariedade, ensinando que, para resolver um problema, todos precisam se
ajudar. (ver anexos “Cena 4: Turma conversa sobre como sobreviver na ilha” e “Cena 6:
Reunião da turma para decidir divisão tarefas”)
A visão de vida apresentada pelo seriado pretende contribuir para a formação
emocional adequada à convivência em grupo e incentivar a busca de mudanças para uma
melhor qualidade de vida. Por exemplo, para que um acerto seja demonstrado, os heróis,
antes de aprender uma nova lição, precisam errar.
5.4 – Envolvimento emotivo
A última etapa da leitura temática é a análise do envolvimento emotivo. Dentre os
capítulos estudados, a cena emblemática é o falecimento de Solek, o lagarto sapiens amigo
da turma, que foi assassinado pelo inimigo Zabumba. O sofrimento durou os três últimos
episódios, a fim de destacar o processo de agonia, morte e ressurgimento espiritual do
personagem.
Trata-se de recuperar as sensações e impressões que o filme ou a série espontaneamente provocam, para reformulá-las de acordo com os mecanismos de envolvimento emocional:
47 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio Século XXI: o dicionário da língua portuguesa. 3º ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999, p 1.879.
48 DIONISIO, Rodrigo. 2002. “‘Ilha’ (enfim) estréia na Cultura”. Observatório da Imprensa. Disponível em http://novaescola.abril.com.br/ed/157_nov02/html/de_olho.htm, 30/06/2002. Acesso em 11/04/2005.
27
identificação e projeção. Trata-se de ver quais as emoções que os personagens, as situações e o desenlace despertaram49.
Para um seriado voltado para o público infanto-juvenil, essa morte, principalmente,
no final da série, serviu para retratar a reflexão sobre aproveitar a vida em seus pequenos
momentos. Dessa forma, a perda de um colega querido serve como instrumento para
demonstrar o valor que deve ser dado à vida. A última frase dita por Solek é justamente o
ensinamento divulgado pelo seriado. O significado da expressão “haluma kaii”, que quer
dizer, “viva a vida”, só é revelado pelos narradores nesse instante.
A cena da despedida dos jovens de Hipácia também buscar comover os
telespectadores (ver anexo “Cena 14: Turma se despede de Hipácia”). Quando os jovens
vão embora da ilha em um balão, a presença da música tema do seriado cria o ambiente de
saudade e de fim da aventura. (ver anexo “Cena 15: Turma diz tchau para Polca e
Hipácia”).
Considerações finais
A preocupação com a qualidade do seriado “Ilha Rá-Tim-Bum” produzido para
crianças e jovens pode ser entendida como o ponto mais importante da pesquisa realizada.
Baseado no que foi divulgado pelo levantamento da Faculdade de Jornalismo da
Universidade de los Andes50, no Chile, a série estudada apresenta características
reconhecidas como as de um bom programa televisivo.
49 FERRÉS, op. cit, p. 141.50 “Mídia de qualidade: um estudo latino-americano”. 2005. Rio Mídia. Disponível em http://www.multirio.rj.gov.br/riomidia/, 21/03/2005. Acessado em 06/04/2005.
28
O fato de o grupo de jovens ser formado por pessoas com idades que variam entre
sete e 15 anos, de etnias diversas e com vocações distintas contribui para a valorização da
diversidade entre os personagens, o que foi destacado como positivo pelo estudo chileno.
É possível constatar que a produção do seriado estava ciente da relevância de se
transmitir valores positivos e educativos para os seus telespectadores. No contexto da luta
do Bem contra o Mal, os colegas tinham que superar as diferenças e se unir, a fim de
salvarem o integrante que estava em perigo. Dessa forma, como foi publicado na página
eletrônica do seriado51, uma das intenções do programa é contribuir para a formação
emocional adequada à convivência em grupo. A solidariedade como tema geral da série
confirma esse propósito.
Outro ponto destacado no estudo chileno é a utilização de técnicas criativas de
narração nos programas televisivos. Apesar de o tema abordado ser muito antigo, a história
é contada por um tatu, um passarinho e um bicho-preguiça de um jeito moderno, com o
começo, o meio e o fim não sendo apresentados em seqüência cronológica.
Nos episódios analisados, não são notados conteúdos sexuais como voyeurismo,
fetichismo, exibicionismo ou assédio e contato físico forçado, linguagem grosseira e
conteúdo ofensivo, os quais são considerados características negativas de um programa.
O amadurecimento emocional dos jovens, portanto, é construído pouco a pouco. O
seriado defende a tese de que as crianças não possuem o conhecimento dos adultos e, por
isso, devem ser ensinadas a lidar com a descoberta dos mistérios da vida de maneira
gradativa.
51 “Informações para pais e educadores”. Ilha Rá-Tim-Bum. Disponível em http://www.ilharatimbum.com.br/pais-profs/paiseprofessores.htm. Acesso em 06/04/2005.
29
Por meio do exemplo série “Ilha Rá-Tim-Bum”, torna-se claro que um programa
infantil pode se propor a transmitir valores educativos. No entanto, a questão que
permanece em aberto é se os programas voltados para as crianças deveriam ter a obrigação
de se preocupar com os valores que são passados. É papel de pais, pesquisadores,
educadores e profissionais da indústria global de mídia incentivarem essa discussão nos
fóruns nacionais e internacionais. A 5ª Cúpula Mundial de Mídia para Crianças e
Adolescentes será realizada na África do Sul em 2007.
Penso que a postura adequada a ser tomada diante das implicações dos meios de
comunicação eletrônicos na vida das crianças seja a união das duas posturas apresentadas
pelo inglês David Buckingham, professor do Instituto de Educação da Universidade de
Londres, em seu livro “Crecer em la era de los médios eletrônicos. Trás la muerte de la
infância”52.
É necessário, obviamente, atribuir aos pais a responsabilidade sobre a influência da
programação televisiva na infância. No entanto, é fundamental que pensemos em medidas
de proteção às crianças no âmbito público das instituições sociais e culturais.
Como escreveu o jornalista Eugênio Bucci sobre o livro “Alfabetto: autobiografia
escolar”, no qual Frei Betto conta as suas memórias desde o jardim-de-infância até o
ginásio:
Segundo as mais diferentes pesquisas, uma criança brasileira passa entre três e quatro horas por dia diante da tela acesa. E isso desde antes, muito antes de começar a freqüentar uma escola. Isso desde um tempo do qual não conseguirá se lembrar se, um dia, muito depois, resolver escrever sua autobiografia escolar. (...) É que às vezes penso que a TV, que deveria abrir-nos tantas janelas para o mundo, tornou nossa infância — paradoxalmente — mais monótona53.
52 BORGES, Eliane. “Crescer na era dos meios eletrônicos”. Grupo de Pesquisa em comunicação e educação da Universidade Federal de Santa Catarina. Disponível em http://www.comunic.ufsc.br/resenhas/res_bucking.htm . Acesso em 11/04/2005 .
30
Bibliografiaa) Livros e artigosCARMONA, Beth. “A participação da criança na televisão brasileira”. In: FEILITZEN,
Cecília Von, CARLSSON, Ulla. (orgs). Criança e a mídia: imagem, educação, participação. São Paulo: Cortez e Brasília: Unesco, 2002, p. 331-35.
FEILITZEN, Cecília Von, BUCHT, Catharina. Perspectivas sobre a criança e a mídia. Tradução de Patrícia de Queiroz Carvalho. Brasília: Unesco, 2002.
FERRÉS, Joan. Televisão e educação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio Século XXI: o dicionário da língua portuguesa. 3º ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.
MACHADO, Arlindo. A televisão levada a sério. São Paulo: Senac, 2000.
PACHECO, Elza Dias (org.). Televisão, criança, imaginário e educação: dilemas e diálogos. 3º ed. Campinas: Papirus, 2002.
53 BUCCI, Eugênio. 2002. “O aluno que não via televisão”. Revista Escola. Edição 157. Disponível em http://novaescola.abril.com.br/ed/157_nov02/html/de_olho.htm. Acesso em 11/04/2005.
31
POSTMAN, Neil. O Desaparecimento da Infância. Tradução de Suzana Menescal de A. Carvalho e José Laurenio de Melo. Rio de Janeiro: Graphia, 1999.
b)Outras fontesBUCCI, Eugênio. 2002. “O aluno que não via televisão”. Revista Escola. Edição 157.
Disponível em http://novaescola.abril.com.br/ed/157_nov02/html/de_olho.htm. Acesso em 11/04/2005.
BORGES, Eliane. “Crescer na era dos meios eletrônicos”. Grupo de Pesquisa em comunicação e educação da Universidade Federal de Santa Catarina. Disponível em http://www.comunic.ufsc.br/resenhas/res_bucking.htm . Acesso em 11/04/2005 .
CASTRO, Daniel. 2004. “Superligados na TV – Pesquisa realizada em dez países revela que crianças brasileiras são campeãs em ver televisão”. Sulrádio (Jornal Folha de São Paulo). Disponível em http://www.sulradio.com.br/destaque_tv_criancas_brasileiras.htm, 17/10/2004. Acesso em 07/04/2005.
DIONISIO, Rodrigo. 2002. “‘Ilha’ (enfim) estréia na Cultura”. Observatório da Imprensa. Disponível em http://novaescola.abril.com.br/ed/157_nov02/html/de_olho.htm, 30/06/2002. Acesso em 11/04/2005.
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“Grupo Sílvio Santos”. Baú da Felicidade. Disponível em http://www.bau.com.br/grupo_ss/default.asp. Acessado em 18/06/2005.
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“Informações para pais e educadores”. Ilha Rá-Tim-Bum. Disponível em http://www.ilharatimbum.com.br/pais-profs/paiseprofessores.htm. Acesso em 06/04/2005.
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“Rádio Pela Infância”, 2004. Agência de Notícias dos Direitos da Infância. Nº 65. Disponível em http://www.andi.org.br/noticias/templates/boletins/template_radiopi.asp?articleid=3680&zoneid=25. Acesso em 06/04/2005.
32
“TVE Brasil – Marketing”. TVE Brasil. Disponível em http://www.tvebrasil.com.br/newsletter/tab_preco_nacrb.html. Acesso em 06/04/2005.
“TV Rá-Tim-Bum”. TV Cultura. Disponível em http://www2.tvcultura.com.br/publicidade/hotsite/tvratimbum/noticia_tvratimbum.especial.SET04.pdf . Acesso em 06/04/2005.
“Vocabulário do roteirista”. Roteiro de Cinema – o portal do roteiro cinematográfico. Disponível em http://www.roteirodecinema.com.br/manuais/vocabulario.htm . Acesso em 13/06/2005.
c) EntrevistaSILVA, Konder Lins e, Patrícia. 2005. Diretora e orientadora pedagógica da Educação
Infantil e do Ensino Fundamental I da Escola Parque (Gávea - Rio de Janeiro). Entrevista realizada em 10 de maio.
Anexos –Tabela de organização das fontesNº MATERIAL MEIO DATA DE EXIBIÇÃO PALAVRAS-CHAVE
Eonte principal
1
Ilha Rá-Tim-Bum
Cena - Nefasto é informado sobre a chegada de seres humanos na ilha
Produzido pela TV Cultura.
25 de março de 2005Ilha Rá-Tim-Bum; “Perdidos no mar”; Torre de
Nefasto;
2
Ilha Rá-Tim-Bum
Cena - Nhã-nhã-nhã avisa Hipácia sobre a chegada dos jovens na ilha
Produzido pela TV Cultura.
25 de março de 2005Ilha Rá-Tim-Bum; “Perdidos no mar”; Teia da
Nhã-nhã-nhã
3Ilha Rá-Tim-Bum
Cena - Turma avista a ilha do barco
Produzido pela TV Cultura.
25 de março de 2005 Ilha Rá-Tim-Bum; “Perdidos no mar”; Oceano
4
Ilha Rá-Tim-Bum
Cena - Turma conversa sobre como sobreviver na ilha
Produzido pela TV Cultura.
25 de março de 2005 Ilha Rá-Tim-Bum; “Perdidos no mar”; Praia
5
Ilha Rá-Tim-Bum
Cena - Maíra é cumprimentada pelos amigos
Produzido pela TV Cultura.
21 de março de 2005Ilha Rá-Tim-Bum; “Enquanto seu lobo não
vem!”; Ilha
6 Ilha Rá-Tim-Bum Produzido pela TV 21 de março de 2005 Ilha Rá-Tim-Bum; “Enquanto seu lobo não
33
Cena - Reunião da turma para decidir divisão tarefas
Cultura. vem!”; Ilha
7
Ilha Rá-Tim-Bum
Cena - Hipácia se lembra de Arielibã
Produzido pela TV Cultura.
22 de março de 2005Ilha Rá-Tim-Bum; “Pela bondade, beleza e
verdade!”; Laboratório de Arielibã
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Ilha Rá-Tim-Bum
Cena - Polca e Suzana conversam entre si
Produzido pela TV Cultura.
22 de março de 2005Ilha Rá-Tim-Bum; “Pela bondade, beleza e
verdade!”; Torre de Nefasto
9Ilha Rá-Tim-Bum
Cena - Solek agoniza
Produzido pela TV Cultura.
23 de março de 2005Ilha Rá-Tim-Bum; “A aventura final”; Caverna
dos Coisos
10Ilha Rá-Tim-Bum
Cena - Surge o espírito de Arielibã
Produzido pela TV Cultura.
24 de março de 2005Ilha Rá-Tim-Bum; “Haluma Kaii” Torre de
Nefasto
11Ilha Rá-Tim-Bum
Cena - Solek morre
Produzido pela TV Cultura.
24 de março de 2005 Ilha Rá-Tim-Bum; “Haluma Kaii”; Ilha
12
Ilha Rá-Tim-Bum
Cena - Narradores se despedem dos telespectadores
Produzido pela TV Cultura.
24 de março de 2005 Ilha Rá-Tim-Bum; “Haluma Kaii”; Praia
13
Ilha Rá-Tim-Bum
Cena - Gilberto quer se vingar de Zambumba
Produzido pela TV Cultura.
24 de março de 2005 Ilha Rá-Tim-Bum; “Haluma Kaii”; Ilha
14
Ilha Rá-Tim-Bum
Cena - Turma se despede de Hipácia
Produzido pela TV Cultura.
24 de março de 2005 Ilha Rá-Tim-Bum; “Haluma Kaii”; Ilha
15
Ilha Rá-Tim-Bum
Cena - Turma diz tchau para Polca e Hipácia
Produzido pela TV Cultura.
24 de março de 2005 Ilha Rá-Tim-Bum; “Haluma Kaii”; Céu
Eontes de apoio
16“Bom dia e CIA” Produzido pelo SBT.
29, 30, 31 de março e 01 de abril de 2005
Bom dia e CIA; SBT; Publicidade
17Entrevista pedagoga Patrícia
Konder Lins e Silva10 de maio de 2005 Escola Parque; Consultoria; Televisão
Anexos – Entrevista: Patrícia Konder Lins e Silva
Entrevistada: Pedagoga Patrícia Konder Lins e Silva, diretora e orientadora pedagógica da Educação
Infantil e do Ensino Fundamental I da Escola Parque (Gávea – Rio de Janeiro), que já foi consultora de
programas infantis como, por exemplo, o programa “Teca na TV”, do Canal Futura.
1- Os pais têm um papel em relação ao que seus filhos assistem na televisão?
Os pais têm um papel fundamental na educação dos filhos em relação à absolutamente tudo –
televisão, cinema, teatro, amigos. O pai é quem dá a direção desejada para a criação do seu filho. E é
fundamental que dê, porque isso é educação. Educação é alguém que cuida de alguém e que dá a direção
que acha que tem quer dar. Alguém que participa, alguém que conversa...
No entanto, tem pai que diz para o filho, “Não veja televisão, porque a televisão é perniciosa” ou “Na
minha casa não há televisão”. Isso é viver fora do mundo. Tem gente que não compra televisão, no entanto,
34
isso é querer deixar seu filho sem idéias sobre o mundo. Televisão tem coisas ótimas e tem coisas horríveis,
assim como o cinema e o teatro.
Um outro problema é que muitos pais trabalham e não conseguem controlar o que o filho vê. De uma
experiência minha, eu acho que todas as vezes que o pai oferece a uma criança de até dez, doze anos, um
programa alternativo a televisão, a criança vai com o pai e com a mãe. A questão é que isso não é mais
oferecido, porque a vida familiar está mudando muito. Então, essa participação do pai muda também. Eu não
estou criticando a televisão, eu estou quase criticando o pai que não participa da vida do filho.
2- O exemplo dado pelos pais passa para as crianças?
Claro. O modelo passa, agora, não é só isso. O importante é ver o quanto o pai tem interesse em se
relacionar com o filho, porque a televisão é hipnotizante. O filho está assistindo televisão, mas, se você chegar
para ele e disser “Vamos dar uma volta na praia? Vamos tomar sorvete na esquina, andar de bicicleta na
praça?” A criança levanta imediatamente para ir. Ela só está ali, porque nada mais está sendo oferecido de
interessante. Para uma criança pequena, tudo que é com o pai e com a mãe é interessante. Só que os pais
também não têm toda a culpa, porque o mundo mudou muito. Agora, todo mundo trabalha, o pai e a mãe
chegam em casa e não agüentam ir à praça, por exemplo. Eles querem, talvez, ver televisão para não pensar
em mais nada.
Temos que pensar que vivemos num mundo muito mudado e essa cultura da imagem não é a cultura
em que eu fui criada. A minha geração, que tem agora 60 anos, não foi criada na cultura da imagem. Eu li
Monteiro Lobato, eu não assisti ao Monteiro Lobato. Faz muita diferença. A cultura da imagem é da geração
dos meus filhos, é a de vocês, o que é muito interessante. A questão não é a televisão, é o conjunto da sua
relação com seus filhos. Você critica várias coisas do mundo, com argumentações diversas, então, o
programa de TV você também deve falar que achou um horror, o que acaba ficando na cabeça da criança.
Ela pode até não deixar de ver, mas já pensa naquilo um pouco diferente. Ela pode continuar vendo
durante dez anos seguidos, mas o comentário permanece. A mãe que diz isso toca o filho num todo, e não só
em relação à TV. Você educa a criança num todo. Eu não acho que a TV seja um terror em si, porque meus
filhos são normais e viram muita TV.
3- A televisão, como única opção de lazer, é saudável?
É aí que eu digo, os pais não oferecem mais nada a seu filho, nem um sorvete na esquina, um
teatrinho ou um museu? Hoje em dia, as famílias preferem a televisão. Um site, em inglês, em um dos vários
artigos, diz que foi criada a geração dos “cliqueratis”, que são crianças de dez anos hoje. Essas são crianças
da interatividade, que nasceram no computador. Eles querem uma televisão interativa, não conseguem muito
nem ficar naquela passividade. Eu pensava na TV como uma mídia passiva. Mas, como apareceu uma outra
que não é, o ser humano passou a interagir. A televisão está dando nó em pingo d’água para tentar se tornar
interativa. Agora, você vota, você isso e aquilo, porque os empresários vão dar um jeito de unir, telefone,
televisão e computador. O que se coloca para as crianças menores, agora, não é mais a televisão, é o
computador. São crianças que nasceram com o computador e é muito diferente de quem nasceu sem esse
instrumento poderosíssimo.
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Essas crianças vão ter uma escola com computadores. Essa escola está se transformando. Então, é
tudo muito diferente. Essas novas gerações são tomadas por imagens. Eu posso até ficar muito triste, porque
na minha geração tinha a leitura – e nada substitui a leitura como exercício de imaginação, de refletir, – mas
eu não posso ficar chorando um passado que se foi. Eu reconheço que a imagem venceu. Posso achar,
enfim, que existem outras opções, – sempre vai haver leitores,– mas a maior parte, agora, está na cultura da
imagem, a qual tem uma linguagem própria, uma especificidade própria muito interessante. A TV para mim
não é um demônio. Ela faz parte do mundo. A criança só fica no que é ruim, só emburrece, se em tudo ela
está sendo emburrecida em sua casa.
4- A escola tem algum papel quanto à orientação do uso da televisão pelas crianças?
A gente até tenta passar um filtro, mas eu acho que a escola é para aumentar a experiência das
crianças e não para repetir as experiências que elas já têm. Então se a criança vê, digamos, “Castelo Rá-Tim-
Bum” em casa, por que veria na escola?
5- Talvez no sentido de orientar quanto ao uso da TV?
A Escola Parque tem, atualmente, na nossa “home page” uma agenda cultural para várias idades.
Recomendamos o teatro, a exposição do museu para as crianças irem com os pais. Programa de TV é raro a
gente indicar, se bem que eu acho que a gente talvez pudesse indicar, porque tem coisas bem interessantes
na TV. Eu acho que criança adora – eu adoro – acho bárbara a televisão. Tem documentários sensacionais.
6- Patrícia, você tem uma gama de interesses bastante diversificada...
Acho que por isso eu fui ser educadora. Eu tinha tal vontade de saber sobre tudo um pouquinho e, lá
na escola, eu posso falar de física, de química, de qualquer coisa, a qualquer hora. Eu acho que o papel da
escola, hoje, é fazer pessoas assim. Eu acredito que o ser humano é curioso. Vocês já devem ter visto que a
criança pequena fuça tudo. Eu acho que a espécie humana é curiosa, porque ela tem a capacidade de
pensar. Ela pensa sobre tudo a sua volta. A partir de quando ela começa a não querer pensar? A ter preguiça
de pensar? Porque pensar é um exercício complicado. Eu acho que a escola tem que se preocupar com isso.
Instigar essa curiosidade que já existe, que está ali, e fazer a criança se interessar pelo pensamento e pelo
conhecimento, pelas coisas que acontecem - imersão na cultura. Eu vejo muita televisão, mas não vejo
programas infantis, porque eu tenho a tendência de achá-los chatos.
7- Por quê?
Pode ser que seja uma idiossincrasia minha. Eu gostava de Monteiro Lobato, porque era uma grande
aventura, não tinha essa preocupação de bem e mal, que é muito complicado.
8- Você acha que não assiste por ser adulta ou a qualidade que não lhe atrai?
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A história do “Ilha Rá-Tim-Bum” é uma coisa que me encanta. Eu acho que a criança adora a
aventura do Robinson (Crusoé). Estar numa ilha sozinha, e ter que fazer as coisas. Agora está muito em
moda essa coisa do sobrenatural e de monstros, isso não me agrada muito. Se bem que o “Harry Potter” é de
bruxa e fez um sucesso estrondoso entre as crianças. Eu gosto da aventura, coisa bem ingênua e, na
aventura, sempre tem o bem e o mal. Você tem provações.
Quando o programa “Teletubbies” estreou no Brasil, eu participei da atualização do programa. Eu
fiquei impressionada com a qualidade de um programa voltado para uma faixa de idade de dois, três anos em
média. Achei de uma inteligência inacreditável.
Depois que eu conheci a criadora do programa, eu vi que ela realmente pesquisou a cabeça das
crianças dessa idade. As repetições que as pessoas começaram a gozar – “de novo”, “de novo” – é
característico de uma criança de dois anos, porque ela quer de novo uma coisa da qual gostou. A criança
pequena não aprende da primeira vez. É na terceira vez que ela está percebendo.
9- O que você destacaria de bom nos “Teletubbies”?
Ele dá consciência à criança de sua vida, porque era muito ingênuo. Eles pulavam, corriam. Para as
pessoas, tudo parecia muito sem nexo, mas, para uma criança de dois anos, aquilo era a sua vida. A criança
gosta da repetição, porque assegura a sua compreensão. Eu achava o programa bom.
10- O inglês David Buckingham diz que a gente deve achar uma forma de preparar as crianças para se
desenvolver e para participar do mundo adulto, dos meios de comunicação e se necessário mudá-lo.
Você concorda com essa visão?
Acho que isso vem ao encontro do que eu disse. Você faz isso na relação que você tem com a
criança. Você não chega senta ela e prepara, o que adianta é você ver junto, criticar, mas aí não é só a TV, é
tudo. Eu não demonizo a televisão. Eu acho que a TV faz parte de um todo. Acho que a mãe deve sentar com
a criança, assistir ao programa, falar mal e, quando vir alguma coisa boa, chamar o filho para ver também.
Mas tem que ser verdadeiro, não pode ser moralista e fingir gostar de coisa chata.
11- Você trabalhou como consultora do programa infantil “Teca na TV”, do Canal Futura, e participou
da entrada dos “Teletubbies” no Brasil. Para você, o que significa qualidade em televisão?
Achei essa experiência muito interessante, porque eu participei da criação desse programa e até do
nome. Foi muito legal. Eu comecei a fazer o programa desde o início. As pessoas estavam criando um
programa e me chamaram para dar uma assessoria pedagógica, então comecei a participar da criação do
personagem e da realização de cada roteiro, dava palpites – “Vai por aqui, vai por ali”. Eu resolvi fazer uma
coisa pedagógica, aí comecei a ter idéias até muito boas de questões para as crianças. Eu dava uns
pequenos problemas paras as crianças resolverem e eu estava achando ótimo.
12- A roupinha dela era bem de criança...
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A Teca começou com cinco, seis anos e depois chegou aos onze. Era meio incoerente, a gente
mesmo começou a discutir isso, olha que coisa esquisita. Era confuso, mas era para uma criança de seis,
sete anos. O que foi interessante é que realmente eu, que fui toda com gás de educadora fazer um grande
programa de educação, percebi que tinha ficado chatérrimo. Num entretenimento, isso é uma coisa muito
chata. Comecei a me achar chatérrima, meio telecurso segundo grau, um horror. Eu não tinha a consciência
disso imediatamente, mas tinham as outras pessoas que entendiam de televisão e começaram a dar um
jeitinho.
13- E o que vocês listam? Como sabem o que precisa ser feito para criar um bom programa?
Listávamos a personalidade da Teca. Se ela tinha amigos, se não tinha, se ela era órfã, se não era.
Fazíamos a construção de todo o personagem, mas o programa foi lançado meio duro e depois foi
amolecendo. A Teca foi criando vida própria. Hoje, eu nem sei como ela está.
14- A qualidade no programa seria o cuidado na hora de escolher o tema?
A qualidade na hora de escolher, na hora de abordar o tema, o que é bem complicado. A gente lia
cada roteiro com os roteiristas. Uma vez por semana, todos os roteiristas vinham e liam seus roteiros e nós
éramos três pedagogas e todas palpitando – “Isso pode dizer, aquilo não pode”. Era para seguir o
politicamente correto. Coisas que a gente acha que não tem importância, mas tem e precisam ser discutidas.
As pessoas acham que as crianças podem fazer coisas que, na verdade, não podem.
Por exemplo, dois irmãos. É normal que briguem? Não é normal que briguem. A mãe chega lá e diz
não quero brigas nessa casa e acabou. Por que você faz isso com duas crianças? Porque tem gente que
acha tão normal que deixa para lá aquela briga, que vai se transformar eternamente num problema de
relação. Os roteiristas e as pessoas acham normal isso e a nossa função era dizer que não era normal. Não
podem se estapear, porque ao mostrar isso na TV, vai tornar essa coisa pública. Realmente, você tem que ser
politicamente correto, sem ser chato, o que é o grande desafio.
15- A qualidade de um programa de televisão vai envolver, necessariamente, o dinheiro investido?
Eu acho que não. Com talento, não é preciso tanto dinheiro. Agora, em TV, há uma problema
enlouquecido de dinheiro. O “Teca na TV”, por exemplo, tem uma estrutura mais “simples”. Eu percebi que
achava a Teca muito artificial com a sua roupa. Ela tinha milhões de enfeites na cabeça. Mas aprendi que o
figurino tem que ser bem cuidado. A Teca precisava ser bonitinha. Mas eu continuava achando muito distante
a possibilidade de uma menina se identificar com ela.
16- Essa identificação é importante?
Aprendi com pessoas de televisão que, é preciso cuidar da imagem. Ela é uma língua particular,
uma língua própria. Você não pode fazer uma coisa muito “suja”. Eu tenho uma experiência com os meus
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filhos. Sabe estética dos filmes dos anos 40 e 50? Quando ponho o filme na televisão, eles vão embora na
primeira cena. Eu acho que tem haver com essa coisa de cuidar, porque, por menos dinheiro que você tenha,
algum dinheiro há, e a imagem tem que atrair o olhar.
17- A qualidade é, então, esse cuidado?
Em um programa infantil, você tem que tomar muito cuidado com o que vai ser dito para a criança. E,
ainda por cima, não pode ser chato. O que é dificílimo.
18- A utilização de personagens de diversas etnias também é pensada?
Tudo é pensado, obviamente. O roteirista faz a história de cada personagem. Os roteiristas fazem
junto com o diretor, porque senão o roteirista não consegue escrever. É curioso, porque como um romancista,
você tem que dar vida para ao personagem. Se ele é órfão, se não é, se tem tia e avó, se fica gripado, se
estuda em escola partícula ou pública... Um histórico completo é feito e explicado para o roteirista. Assim, fica
mais fácil para ele fazer a relação entre os personagens.
19- Há muita diferença quando um programa é voltado para uma faixa etária determinada como, por
exemplo, de três anos?
Eu acredito que uma criança de três anos veja pouca televisão. Ela não tem atenção o tempo todo na
TV. Ela apenas fica com a televisão ligada, mas também faz outras coisas. As crianças conseguem fazer
várias coisas ao mesmo tempo. Mas, na verdade, é diferente sim na hora de pensar um programa. Por isso
que no o “Teca na TV” havia aquela confusão. Se ela tinha seis anos, a gente estava pensando nas trocas de
uma criança de seis anos com outras crianças em torno dessa idade. Mas a gente dizia que o nosso
programa era para crianças de treze anos de idade e ficava meio esquisito. Mas nós dizíamos isso, porque
vinha, não sei de onde, uma voz que dizia que o nosso programa era para crianças de treze anos.
20- Você considera que o programa “Teca na TV” transmite valores educativos?
Eu acho que o “Teca na TV” tem essa preocupação. São apresentadas atitudes de solidariedade, de
justiça, de pensar sobre a vida das crianças e seus conflitos. Tenta-se fazer uma coisa crítica e positiva, com
valor educativo. O “Teca na TV” era um programa politicamente correto, que passava valores positivos para
as crianças e, ainda, era divertido. E como conseguir não virar chato e não ser moralista? Esse é um
programa com boa moral, que construía uma moral descente e não moralista.
21- Na televisão, os valores negativos prevalecem sobre os positivos?
Essa discussão envolve o mundo atual. Por exemplo, o programa “South Park”, que eu acho
altamente pernicioso, é engraçadíssimo. É de uma maldade, mas é engraçado. Só que esse é um programa
para adulto e não para criança. O mundo também está frouxo nisso. Voltamos, assim, à discussão de como
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se deve proteger a criança que vai assistir ao “South Park”, porque não adianta impedir. É aí que entra o
papel do pai e da mãe com as críticas em relação ao programa.
22- Na página eletrônica do “Ilha Rá-Tim-Bum”, da TV Cultura, é comentado que o programa foi
pensado para estimular valores educativos e propõe o debate na família sobre a qualidade do que é
assisitido. Esse seria o grande ponto?
Acho que o importante é ser critico em relação ao que se vê. Agora, não é só com relação à TV. Não
se pode deixar a criança sozinha assistindo a um programa. Você vai conversar com ela sobre o que está
sendo exibido naturalmente. Não é para parar e debater. A criança acharia muito chato.
23- O que não é educativo?
Para ver se é educativo vamos pensar que valores morais o programa passa. A segunda etapa é ver
se desperta o interesse pelas coisas do mundo. Alguns documentários que contam histórias e relatam
depoimentos de pessoas são interessantíssimos. Claro, alguns são chatos também.
24- Você não restringe demais ao falar só dos valores morais?
A primeira coisa que me vem à cabeça são valores morais. Um programa para criança, hoje em dia,
tem que passar valores morais. Eu acho, por exemplo, que essas novelas das seis passam valores morais
péssimos. Eu acho que são altamente perniciosas para as crianças. Eu já vi uma de vampiros, que tem
sempre um núcleo infantil. Esse núcleo é erotizado precocemente. Todos têm namorado e namorada, dão
beijos e se apaixonam. Se você der uma bola para crianças de oito ou nove anos brincarem, jogarem futebol,
correrem, elas esquecem do namoro. Agora, por que razão não esquecem? Porque elas vêem televisão,
vêem a novela. Na escola, a erotização precoce das crianças chega muito a mim. Eu estou falando dos
programas que considero perniciosos para as crianças.
25- O que você acha dos programas infantis que inserem anúncios publicitários em sua programação?
Acho isso um horror, o “Teca na TV” não tem isso. Há anúncios em si perniciosos. Na Inglaterra, isso
não acontece. Nos EUA, há muita porcaria.
26- No Brasil, o que você destacaria como de qualidade?
Eu estou bastante por fora agora, porque não estou vendo, mas acredito que “O Sítio do Picapau
Amarelo” deva ser bom. O “Ilha Rá-Tim-Bum” deve ser bom, a “Teca na TV” deve ser boa. Bons dentro das
possibilidades financeiras e de investimento que você faz naquilo. A Angélica tinha no meio do programa dela
o que eu chamava de uma novelinha. Eu participei disso e parti para a transformação. Foram três tentativas
de transformação, mas não deu certo.
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A TV é um meio muito esquisito e eu, que sou de fora, não cheguei a compreender direito. É uma
politicagem terrível, então vai depender de você estar no grupo de quem chamou você. Mas, se o seu chefe
cai, você sai junto. É muito estranho televisão. E eu participei de um momento da Globo que não era só
Angélica, tinham também várias tentativas de criação de outros programas infantis. Mas quando caiu minha
equipe, caiu todo mundo. Com a Angélica, eu achava que a gente podia tentar fazer muita coisa, porque ela
era muito conhecida. Então, através daquele programa, ela podia passar coisas ótimas.
27- Você saiu com uma frustração maior da tentativa feita em “Teca na TV”?
Eu não saí frustrada. Acho que foi muito bom estar lá dentro e ver todos os problemas que se passa,
como é difícil colocar um programa no ar. É uma luta e eu acabei saindo da Teca porque quis, porque na
época estava trabalhando demais e não agüentava mais. Já tinha perdido a graça, já tinha lido tanto roteiro
que já estava querendo fazer o meu roteiro. Acabou a vontade.
28- O que você achou desse roteiro de perguntas? Você gostaria de acrescentar algo que não foi
abordado nas perguntas anteriores?
Achei ótimo e fiquei com essa pergunta que vocês me fizeram, o que é valor educativo em um
programa de televisão? Acho que isso vai ficar na minha cabeça para eu pensar mais. Primeiro, eu penso no
valor moral e, depois, penso no divertimento, que é o conhecimento – saber é bom. A gente não pode é
segurar esses valores só para a televisão. Esses valores a que eu me referi são para qualquer coisa. A TV faz
parte da vida toda, não adianta você impedir a criança de ver televisão. Se você não for um bom educador,
pode até jogar a TV fora que a criança não vai ser mais bem educada por causa disso. Não é a TV que vai
transformá-la em mal educada. A televisão manifesta o mundo.
Realmente, é impressionante a violência e nós vivemos nesse mundo. É preciso conversar com as
crianças sobre a violência. A televisão não faz grandes campanhas, nem as TVs educativas, não fazem
grandes campanhas de combate à violência. Algumas vezes faz através do governo, como, por exemplo, a
do “use camisinha”, mas as TVs educativas não fazem grandes campanhas. Eu estou pensando nesse
assunto hoje em dia. Eu acho que a TV educativa devia fazer isso.
Anexos – Decupagem das cenas de “Ilha Rá-Tim-Bum”
Título do episódio: “Perdidos no mar” (episódio 1)Cena 1: Nefasto é informado sobre a chegada de seres humanos na ilhaLocal: Torre de Nefasto
Em diversas telas de televisão, localizadas em uma parede, são transmitidas imagens de humanos em uma cidade caótica: meios de transporte superlotados, ruas repletas de gente e muito trânsito.
[Polca observa os televisores. Nefasto chega.]
Polca (Bela Horrenda): O que são essas coisas, mestre?Nefasto: Coisas do mundo que eu brevemente conquistarei. Então, Bela Horrenda... (polca do rosto pra cima)Polca (Bela Horrenda): Sim, chefe supremo.
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Nefasto: Conte-me o que vê.Polca (Bela Horrenda): Eu... eu... Eu vejo bichos humanos dentro de grande conchas.[personagens estão frente a frente]Nefasto: (risada agressiva e de terror) Interessante, mas totalmente incongruente. [música agitada] Veja, Bela Horrenda, é exatamente o oposto. Esses grandes bichos se alimentam de humanóides. Repare como eles tentam fugir, inutilmeeenteee. Serão todos degustados e digeridos. Polca (Bela Horrenda): Bravo, mestre dos mestres.Nefasto: Eles tentarão escapar de mim também quando eu colocar o meu plano em prática. Não vai perguntar que plano é esse?Polca (Bela Horrenda): Sim, sim que plano é esse mestre?Nefasto: Meu plano é destruir todo e qualquer ser humano e conquistar suas cidades, mas de maneira definitiva, fatal, extremamente violenta.Bela Horrenda: Bravo mestre!Nefasto: Para tanto, precisarei visitar clandestinamente uma das minhas futuras cidades para estudar o inimigo, ou seja, esses seres asquerosos e insignificantes.
[Chegada de Zambumba]
Zabumba: Como o senhor não precisará fazer isso, mestre supremo. [Zabumba chama Nefasto para observar o televisor] Tem cinco desses, desses monstrinhos muito perto daqui nessa direção.Nefasto: Excelente, Zabumba. Excelente notícia, Zabumba.
Título do episódio: “Perdidos no mar” (episódio 1)Cena 2: Nhã-nhã-nhã avisa Hipácia sobre a chegada dos jovens na ilhaLocal: Teia da Nhã-nhã-nhã
Diante de Nhã-nhã-nhã, Hipácia joga pó mágico, que estava guardado entre os seus seios, em um pote com formato de concha.
Hipácia: É a pessoa, ela está chegando!Nhã-nhã-nhã: Que pessoa? Vindo da onde? Por quê? Para quê? E como Hipácia sabe que ela está chegando?Nhã-nhã-nhã: O que Hipácia vê aí?
[Entram os narradores. Os bichos estão em primeiro plano.]
Bum, um bicho-preguiça: Você também deve estar querendo saber quem é essa ela, por que ela está chegando e como Dona Hipácia sabe disso, né?Tim, um passarinho: Nós também estamos, tá?Rá, um tatu: Mas não sabemos, viu?Bum, um bicho-preguiça: Não temos a menor idéia, né?Tim, um passarinho: Tá?Rá, um tatu: Viu?
Título do episódio: “Perdidos no mar” (episódio 1)Cena 3: Turma avista a IlhaLocal: No oceano
Do barco à deriva, Raio avista uma ilha.
Raio: Olhem, uma ilha! Linda![Gigante e Micróbio olham]Raio: É uma “lindilha”!Micróbio: Essa ilha não existe. [procurando a ilha na Encyclo, sua enciclopédia virtual]Raio: Como não?Micróbio: Como disse Shakespeare, “Há mais mistérios entre o céu e a terra do que sonha nossa vã filosofia”.Gigante: Olha aqui, miragem ou real, a gente tem que chegar lá, falô. Então, vamos remar aí, galera![Jovens remando]
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Título do episódio: “Perdidos no mar” (episódio 1)Cena 4: Turma conversa sobre como sobreviver na ilha Local: Na praia, alguns sentados na areia outros em pedras.
Majestade: A gente precisa procurar água e comida.Rouxinol: Nessa selva?Raio: Na selva tem selvagem, não tem? E se eles forem canibais ou pigmeus? Ou pigno-canibais? Majestade: Esse lugar tem a menor cara de ser desabitado.
Título do episódio: “Enquanto seu lobo não vem!” (episódio 51)Cena 5: Maíra é cumprimentada pelos amigos Local: No interior da ilha.
Solek e Gigante arrumam o balão pelo lado de fora. Rouxinol e Raio estão dentro do mesmo. Majestade chega acompanhada de Polca.
Majestade: Oi...Suspiros de surpresa e alegriaGigante: Olha, eu já achava você bacana, hein, aí você vem...Majestade: Excedi suas expectativas.Gigante: É isso aí!Rouxinol: Você é um orgulho para todas as mulheres do mundo, Má![Polca coloca cada uma das mãos nas cabeças de Majestade e Rouxinol]Raio: Maíra adorável!barulhos e sons de comemoração. [Raio beija a mão de Polca.]Raio: Seja bem-vinda ao nosso grupo de heróis.Polca: Obrigada!Majestade: Sobrou esse pedacinho [apontando a testa] aqui pra você.[Gigante, incentivado pelos tapinhas no ombro dados por Solek, beija a testa de Maíra]
risadas de alegria
[Maíra aparenta dúvida]
Majestade: Gente cadê o Miltinho?Gigante: É, aí é que tá, nós temos que resolver mais esse problema.
Título do episódio: “Enquanto seu lobo não vem!” (episódio 51)Cena 6: Reunião da turma para decidir divisão tarefas Local: No interior da ilha.
Polca, Rouxinol e Maíra sentadas de um lado e Raio, Micróbio e Solek sentados do outro lado.
Raio: E o que a gente vai fazer e como?Gigante: O que a pessoa que tá por dentro da onda mandar.Palmas para MajestadeMajestade: Não necessariamente.
[Hipácia caminha]
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Majestade: O laboratório do senhor Arielibã com a máquina para fazer o Nefasto voltar a ser um micróbio microscópico tem que existir em algum lugar dessa ilha. E a gente precisa fazer isso enquanto ele (Nefasto) tá sob efeito Fênix. Então, vamos dividir em três turmas. Uma procura o laboratório. Solek, Gigante e Raio: A gente.Majestade: Isso, vocês três. Uma ajuda os Coisos a procurarem os meninos.Polca levanta o dedo, se prontificando a ajudar.Majestade: Tá, você. E outra vai atrás da dona Hipácia porque parece que ela tá doidona.Rouxinol levanta o dedo, se prontificando a ajudar.Polca: Eu vim lá de cima e ela tá parecendo um bicho.Raio: Eu acho que a gente já viu esse filmeMajestade: Então pronto, vambora, agora, já! Enquanto o seu lobo não vem! Como que é mesmo o nosso lema? Todos (Solek, Gigante e Raio): Pela bondade, a beleza e a verdade! Haluma Kaii![Riem alegres e abrem os seus braços]
Título do episódio: “Pela bondade, beleza e verdade!” (episódio 52)Cena 7: Hipácia se lembra de Arielibã Local: Laboratório de Arielibã
Arielibã estava fazendo uma experiência em seu laboratório. Música de mistério.
Hipácia: Do que se trata Ariel?Arielibã: Experimentos... (máquina diferente é mostrada)Hipácia: Você ainda não desistiu de criar uma nova espécie!Arielibã: A raça humana provou ser um fracasso, Hipácia! Se eu tenho condições de criar uma espécie melhor em todos os sentidos, ora, por que não fazê-lo? Hipácia: Quem você pensa que é? Você não tem o direito de causar a morte de milhões de pessoas para substituí-las por isso? (um pote com um micróbio é exibido)Arielibã: Não se exalte Hipácia! Não se exalte! Isso é apenas um estudo.
[Hipácia pega o pote das mãos de Arielibã]
Hipácia: Eu não permitirei que você brinque com vidas.Arielibã: Me devolva isso, Hipácia!Hipácia: Não tente me deter, Ariel! Eu já me decidi.Arielibã: Largue isso e não se meta nos meus experimentos.
[Arielibã puxa o pote das mãos de Hipácia e a empurra. Ela cai em cima da manivela. A máquina envia um raio para o pote nas mãos de Arielibã. Cena em câmera lenta.]
[Arielibã deixa o pote cair no chão. As suas mãos vão tomando a forma característica de Nefasto. Ele ainda contorce o rosto, com os olhos arregalados.]
Luzes, sons e efeitos especiais.
Título do episódio: “Pela bondade, beleza e verdade!” (episódio 52)Cena 8: Polca e Suzana conversam entre siLocal: Na torre de Nefasto.
Suzana, a cobra emplumada: E aqueles monstrinhos insuportáveis sabem qual é o último ingrediente do mofta shabáa?Polca: Eu sei disso, mas como a gente pode obrigar esses malditos a revelar esse segredo?Suzana, a cobra emplumada: Ameaçando fazer mal aos outros, lindinha! Eles não agüentam saber que os amiguinhos vão sofrer!Risadas agressivas
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Título do episódio: “A aventura final” (episódio 53)Cena 9: Solek agonizaLocal: Na Caverna dos Coisos.
Solek é carregado em um carrinho por Coiso, Coisa e Rouxinol.
Raio: Ai não, o que foi que aconteceu?Coiso: O coisuma coisou uma coisa de coisar para coisar o coisante. Mas o coisante se coisou na coisante e a coisa se coisou nele.Close Raio: Uma lança de pesca!Rouxinol: É!Rouxinol: Fica aqui Raio com o Solek que eu preciso ir até a dona Hi, tá?Raio: Ele tá muito machucado?[Solek fica gemendo e suspirando. Apesar da dor, ele abraça a cabeça de Raio, que está agachado.]Título do episódio “Haluma Kaii” (episódio 54)Cena 10: Surge o espírito de ArielibãLocal: Na torre de Nefasto.
Imagem da torre com gritos de Nefasto com o cajado segura forte em Majestade. Quando ia jogar em Polca e Gigante, aparece o espírito de Arielibã, que joga um raio em Nefasto. Ele se desequilibra.
Gigante: Professora Rocha!
[Gigante joga injeção de própolis para Majestade que injeta em Nefasto, que começa a se contorcer. Enquanto ele desaparece, o corpo de Arielibã vai surgindo.]
Título do episódio: “Haluma Kaii” (episódio 54)Cena 11: Solek morreLocal: no interior da ilha
[Raio está com Solek. Micróbio se aproxima e toca no ombro de Raio.]
Música de criança.
[Rouxinol chega devagar e se ajoelha diante de Solek. Todos fazem carinho no amigo. Eles choram.]
Raio: E o mofta shabáa, cadê?[Rouxinol faz sinal com o rosto de que não há o que fazer. Solek geme.]Raio: Mas tem que ter alguma coisa pra fazer.Rouxinol: O mofta shabáa não funciona se a pessoa ta assim.
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Majestade se aproxima. Depois Gigante e CoisosSolek: eu tava “espeiando” (esperando) só pra dá um tchauzão... [Raio dá o seu lugar a Gigante] Oh Gigante, você não vai me dá um aperto de mão “caia” (cara).[Gigante chora e dá um beijo na testa de Solek.]Gigante: Era eu que ia levar a lança, cara!Solek: Não “picisa” (precisa) ficar triste, porque eu tô alegre, porque eu vou encontrar o meu pai.
[Raio e Micróbio choram.]
Solek: Quando a gente morre, vem uma pessoa que já “moieu” (morreu) buscar a gente. Eu escolhi o meu pai. Porque aí... eu não vou ficar com medo... quando chegar lá no desconhecido. Não fica triste cara.Gigante: Solek, me escuta, quando eu morrer você vem me buscar, cara? Vem me buscar!Solek: Tá, eu venho te buscar pra você não precisa ficar triste. [seguram as mãos um do outro]Chama, pra eu não ir no “iscuio”(escuro).
[Gigante se levanta e dá alguns passos. Ele é seguido pelos outros. O grupo faze um movimento de erguer as mãos da terra para o céu e, depois, do céu para a terra. Solek está de olhos fechados. O ambiente escuro, torna-se claro. Solek abre os olhos e diz Haluma Kaii. Gigante fecha os olhos de Solek.]
Gigante: Vai pagar por isso, vou matar esse inseto maldito!Gritos de Não! Rouxinol: Gilbertoooo!!! [Micróbio consola a irmã abraçando suas costas]
Título do episódio: “Haluma Kaii” (episódio 54)Cena 12: Narradores se despedem dos telespectadoresLocal: Na praia.
Em segundo plano, estão Rouxinol, Micróbio e Majestade com o corpo de Solek.
Rá, um tatu: Chegou a hora, viu?Tim, um passarinho: Esta é a nossa última participação, tá?Bum, um bicho-preguiça: Porque uma hora, a história acontece sozinha, né?Tim, um passarinho: É. E nos contamos toda essa história para divulgar bons valores, tá?Rá, um tatu: Como a solidariedade, a coragem, a amizade, viu?Tim, um passarinho: E a leitura, a troca de experiências, o pacifismo, tá?Bum, um bicho-preguiça: O bom humor e a valorização da vida, né?Rá, um tatu: E pra quem não sabe, haluma kaii quer dizer viva a vida, viu?Tim, um passarinho: então tchau, tá?Todos os bichos: Haluma kaii!
Título do episódio: “Haluma Kaii” (episódio 54)Cena 13: Gilberto quer se vingar de ZambumbaLocal: No interior da ilha.
Gigante: Me larga!Raio: Vê o que você vai fazer. Gigante: Ninguém e nem você vai me impedir!Raio: Isso não tá certo! Isso é errado!Majestade: Você é o herói, quer virar um mostro, um vilão?Gigante: Solek precisa ser vinga... Majestade: Vingado? Quer virar um assassino como o Zabumba! Um alucinado demente?[Gilberto chora e todos se abraçam.]
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Título do episódio: “Haluma Kaii” (episódio 54)Cena 14: Turma se despede de HipáciaLocal: No interior da ilha.
Hipácia abre os braços e caminha em direção aos cinco jovens. Eles abraçam Hipácia, dão as mãos e caminham mais um pouco.
Música de selva
Surgem borboletas. Todos formam uma fila e, batendo palmas ritmadas, dão voltas em torno fogueira.
Título do episódio: “Haluma Kaii” (episódio 54)Cena 15: Turma diz tchau para Polca e Hipácia Local: Na praia.
No balão, a turma diz tchau para Polca e Hipácia. O céu azul contrasta com o balão amarelo.
Música tema do programa
Turma diz tchau três vezes. O balão segue no céu.
Anexos - Ficha técnica: “Ilha Rá-Tim-Bum”
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